Hobsbawm, nesse texto trata da “Era dos Impérios” entre 1875 e 1914.
Nesse
período, houve um aumento significativo no número de governantes
autodenominados "imperadores" ou considerados merecedores desse título, tanto na
Europa quanto fora dela. O colonialismo foi um aspecto central desse período, com
potências como Grã-Bretanha, França, Alemanha, entre outras, dividindo e
administrando territórios em todo o mundo.
Além disso, o autor menciona a introdução do termo "imperialismo" na política
na Grã-Bretanha nos anos 1870, tornando-se amplamente utilizado nos anos 1890
para descrever um fenômeno novo e poderoso na política mundial. A análise do
imperialismo, especialmente a versão de Lênin, destacou as raízes econômicas do
novo imperialismo no capitalismo monopolista, enfatizando a divisão territorial do
mundo entre as grandes potências capitalistas e sua relação com a Primeira Guerra
Mundial.
Hobsbawm aborda as diferentes perspectivas sobre o imperialismo, com
alguns argumentando contra suas raízes econômicas importantes e seu impacto
negativo nas economias coloniais. Enquanto os marxistas destacavam as vantagens
das classes dirigentes metropolitanas com o imperialismo, outros argumentavam
com base em aspectos psicológicos, ideológicos e culturais.
O autor tratando da complexidade do imperialismo no contexto da economia
global do século XIX, destaca que a divisão do globo tinha uma dimensão
econômica evidente, mas essa dimensão não explica completamente o período do
imperialismo. O desenvolvimento econômico não pode ser visto como o único motor
por trás da expansão imperialista. Mesmo os homens de negócios envolvidos em
atividades como a exploração de minas sul-africanas não podem ser reduzidos a
meros buscadores de lucro, pois também estavam sujeitos a influências políticas,
emocionais, ideológicas e patrióticas associadas à expansão imperial.
Além disso, o texto ressalta que é possível estabelecer uma conexão
econômica entre as tendências do desenvolvimento econômico nos centros
capitalistas e sua expansão nas periferias, mas não é plausível atribuir
exclusivamente à economia a explicação para o imperialismo. Mesmo os cálculos
estratégicos das potências rivais devem ser analisados considerando a dimensão
econômica. A globalização da economia, que se acelerou consideravelmente no
século XIX, criou uma rede densa de transações econômicas, comunicações e
movimentos de bens, dinheiro e pessoas, ligando os países desenvolvidos ao
mundo não desenvolvido.
Essa interconexão econômica global levou os Estados europeus a se
interessarem por regiões antes consideradas periféricas, como a bacia do rio Congo,
devido à necessidade de novos mercados e recursos naturais. A expansão colonial
foi impulsionada pela busca de mercados e pela rivalidade entre economias
industriais concorrentes, intensificada pela pressão econômica dos anos 1880.
Assim, o "novo imperialismo" foi um subproduto natural desse contexto econômico e
político, refletindo a busca por vantagens monopolistas ou substanciais em territórios
do Terceiro Mundo.
A complexa relação entre os motivos econômicos, políticos e ideológicos por
trás da expansão imperialista no final do século XIX se da por:
1. Motivos Econômicos: A aquisição de territórios coloniais era impulsionada por
interesses econômicos, como a busca por novos mercados, matérias-primas
e vantagens comerciais. A competição entre as potências industriais levou à
repartição das partes não ocupadas do Terceiro Mundo, com o objetivo de
garantir posições monopolistas ou vantagens substanciais para as economias
nacionais.
2. Motivos Políticos e Estratégicos: Além dos interesses econômicos, a ação
política desempenhou um papel crucial na colonização. As potências
buscavam estabelecer bases estratégicas para controlar rotas comerciais,
acessos marítimos e terrestres vitais para seus interesses globais. O controle
de regiões-chave, como Gibraltar, Malta, Bermudas e Aden, era fundamental
para garantir o domínio marítimo e o abastecimento de carvão.
3. Motivos Ideológicos e de Status: A aquisição de colônias também era
motivada por questões ideológicas e de status. O imperialismo era visto como
um símbolo de poder e prestígio, associado à bandeira tremulando em
territórios distantes. O controle de colônias tornou-se um símbolo de status
para as potências, refletindo a competição e rivalidade entre elas.
4. Imperialismo Social e Legitimação: O imperialismo também foi utilizado para
diminuir o descontentamento interno, oferecendo glória e conquistas exóticas
como forma de legitimar o sistema político e social representado pelo Estado
imperial. O imperialismo incentivou as massas a se identificarem com o
Estado e a nação imperiais, conferindo legitimidade ao sistema.
Esses diferentes aspectos - econômicos, políticos, ideológicos e de status - se
entrelaçaram na era dos impérios, moldando as motivações e justificativas por trás
da expansão colonial das potências europeias e dos EUA.
Durante a Era dos Impérios, a pressão por expansão colonial era
impulsionada por grupos econômicos ligados ao comércio ultramarino e às indústrias
que utilizavam matéria-prima ultramarina, justificando-a em nome de vantagens
nacionais 15. Esse período foi marcado por uma mudança no sistema econômico,
com o abandono do laissez-faire e o surgimento de grandes sociedades anônimas e
oligopólios, além da crescente intervenção do Estado nos assuntos econômicos.
A análise socialista, principalmente marxista, integrava o colonialismo como
parte de uma "nova etapa" do capitalismo, reconhecendo a importância da expansão
ao mundo não industrializado nesse contexto. O imperialismo do final do século XIX
foi resultado da concorrência entre economias industrial-capitalistas rivais,
intensificada pela busca por mercados em um período de incerteza econômica. Essa
expansão colonial não apenas teve impacto econômico, mas também cultural,
influenciando a ocidentalização das elites locais e criando a possibilidade de uma
nova elite social baseada na educação de estilo ocidental em algumas regiões,
como a África subsaariana.
Além disso, o imperialismo teve diferentes significados e impactos para os
países metropolitanos, como a Grã-Bretanha, que dependiam de sua relação
especial com os mercados ultramarinos e as fontes de produtos primários para
manter sua supremacia econômica. A era do imperialismo também foi marcada pela
conquista do globo pelas imagens, ideias e aspirações transformadas da minoria
"desenvolvida", influenciando as sociedades colonizadas de diversas maneiras.
As ideologias que inspiraram essas elites na era do imperialismo remontam
aos anos entre a Revolução Francesa e meados do século XIX, como o positivismo
de Auguste Comte. A resistência das elites ao Ocidente era, na verdade, uma forma
de ocidentalização, mesmo quando se opunham à ocidentalização indiscriminada
em áreas como religião, moral e ideologia.
Hobsbawm também destaca o caso de Mahatma Gandhi como exemplo do impacto
específico do imperialismo. Gandhi, nascido em uma casta modesta, adquiriu
educação profissional e política na Inglaterra, refletindo a fusão de elementos
ocidentais e orientais em sua abordagem. Sua experiência na África do Sul o
preparou para se tornar uma figura-chave no movimento nacional indiano após a
Primeira Guerra Mundial.
Além disso, o trecho aborda a incerteza gerada pelo imperialismo, confrontando a
elite branca com as massas de diferentes etnias e questionando a sustentabilidade
dos impérios. Também menciona a influência do exotismo e a educação em moldes
ocidentais para minorias, bem como a transformação das ciências sociais ocidentais
devido à dominação colonial. Destaca que, apesar da crítica pós-colonial, o
interesse ocidental em espiritualidade oriental e nas artes não ocidentais foi
significativo, influenciando as vanguardas do início do século XX.
METODOLOGIA DO AUTOR
A metodologia do autor parece envolver uma abordagem histórica e analítica
para examinar o impacto do imperialismo nas elites e na sociedade em geral. Ele
utiliza fontes históricas e teóricas para sustentar suas argumentações, fazendo
referências a eventos específicos, ideologias e figuras históricas relevantes para
ilustrar seus pontos, também, parece ser multidisciplinar, envolvendo elementos da
história, da teoria política e social, e possivelmente da antropologia cultural para
analisar o impacto do imperialismo de forma abrangente e contextualizada. Ele
busca compreender não apenas a dominação e exploração decorrentes do
imperialismo, mas também as formas de resistência, adaptação e transformação que
surgiram nas sociedades colonizadas.
Além disso, o autor parece adotar uma abordagem comparativa ao analisar
as interações entre o imperialismo ocidental e as sociedades colonizadas,
destacando as diferentes respostas e transformações que ocorreram nesses
contextos. Ele também parece considerar as críticas pós-coloniais e as perspectivas
de resistência e adaptação das sociedades colonizadas diante da influência do
Ocidente.
QUAL O PROBLEMA, A ARGUMENTAÇÃO E A TESE DO AUTOR
Hobsbawm aborda o impacto do imperialismo nas elites e na sociedade em
geral, destacando a necessidade de ocidentalização para os governos e elites
confrontados com a dependência ou conquista. Ele discute como as ideologias que
inspiraram essas elites na era do imperialismo remontam aos anos entre a
Revolução Francesa e meados do século XIX, como o positivismo de Auguste
Comte. A resistência das elites ao Ocidente era, na verdade, uma forma de
ocidentalização, mesmo quando se opunham à ocidentalização indiscriminada em
áreas como religião, moral e ideologia.
O problema abordado pelo autor é a complexidade das interações entre o
imperialismo ocidental e as sociedades colonizadas, destacando como a influência
do Ocidente moldou não apenas as elites, mas também as massas e minorias. A
argumentação se desenvolve ao mostrar como figuras como Mahatma Gandhi
representam a fusão de elementos ocidentais e orientais, refletindo a influência do
imperialismo em suas trajetórias e ideologias.
A tese do autor parece ser a de que o imperialismo não apenas impôs a
dominação ocidental, mas também gerou respostas e transformações nas
sociedades colonizadas, moldando líderes antiimperialistas e influenciando a cultura,
a política e a educação nessas regiões. Ele destaca a complexidade dessas
interações e ressalta a importância de compreender o impacto do imperialismo de
forma abrangente, considerando tanto os aspectos de dominação quanto de
resistência e transformação.