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TCC Ii - 30.10

Os Transtornos Alimentares em adolescentes são complexos e impactam negativamente a saúde física e psicológica, exigindo tratamento nutricional para restaurar o equilíbrio e promover uma relação saudável com a alimentação. Esta revisão sistemática analisa a eficácia do tratamento nutricional como parte de uma abordagem multidisciplinar, destacando a importância de intervenções individualizadas. A pesquisa foi realizada em bases de dados como LILACS, SciELO e PubMed, abrangendo estudos publicados nos últimos 10 anos.

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TCC Ii - 30.10

Os Transtornos Alimentares em adolescentes são complexos e impactam negativamente a saúde física e psicológica, exigindo tratamento nutricional para restaurar o equilíbrio e promover uma relação saudável com a alimentação. Esta revisão sistemática analisa a eficácia do tratamento nutricional como parte de uma abordagem multidisciplinar, destacando a importância de intervenções individualizadas. A pesquisa foi realizada em bases de dados como LILACS, SciELO e PubMed, abrangendo estudos publicados nos últimos 10 anos.

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A IMPORTÂNCIA DO TRATAMENTO NUTRICIONAL NOS TRANSTORNOS

ALIMENTARES EM ADOLESCENTES: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA


The importance of nutritional treatment in eating disorders in adolescents: a systematic review

RODRIGUES, A. L. T.,
Graduanda do Curso de Nutrição – Universidade Paulista
RIBEIRO, B. S.
Graduanda do Curso de Nutrição – Universidade Paulista
CIENI, I .K.De F.
Graduanda do Curso de Nutrição – Universidade Paulista
MENEZES, C.
Docente do Curso de Nutrição – Universidade Paulista

Resumo
Os Transtornos Alimentares (TAs) são desafios complexos para a saúde, afetando negativamente a saúde
física, psicológica e social, especialmente durante a adolescência, período marcado por mudanças intensas.
Inseguranças em relação ao corpo, influências sociais e da mídia contribuem para uma percepção distorcida do
corpo e da alimentação. Nestes transtornos, a relação entre alimentação e comportamento se torna distorcida,
levando a padrões alimentares disfuncionais e comportamentos prejudiciais. O tratamento nutricional é
fundamental para restaurar o equilíbrio nutricional e promover uma relação saudável com a alimentação, exigindo
uma abordagem multidisciplinar que reconheça a individualidade de cada paciente e suas necessidades
específicas. Trata-se de uma revisão sistemática, realizada a partir de buscas nas bases de dados bibliográficas
Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), biblioteca eletrônica Scientific Electronic
Library Online (SciELO), PubMed. As pesquisas selecionadas foram publicadas nos idiomas português e inglês e
que estivessem disponíveis na íntegra (online). Com objetivo de investigar a eficácia do tratamento nutricional
como parte da terapia para adolescentes com transtornos alimentares
Palavras-chave: Comportamento alimentar; Adolescência; Transtornos Alimentares; Nutricionista;
Tratamento Nutricional.

Abstract
Eating Disorders (EDs) are complex health challenges, negatively impacting physical, psychological, and
social well-being, especially during adolescence, a period marked by intense changes. Body insecurities, social
influences, and media pressure contribute to a distorted perception of body image and food. In these disorders, the
relationship between eating and behavior becomes distorted, leading to dysfunctional eating patterns and harmful
behaviors. Nutritional treatment is crucial to restore nutritional balance and promote a healthy relationship with
food, requiring a multidisciplinary approach that recognizes the individuality of each patient and their specific
needs. This is a systematic review conducted through searches in the bibliographic databases Literatura Latino-
Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Scientific Electronic Library Online (SciELO), PubMed.
Selected research was published in Portuguese and English and available in full text (online). The aim was to
investigate the efficacy of nutritional treatment as part of therapy for adolescents with eating disorders.
Keywords: Eating behavior; Adolescence; Eating disorders; Nutritionist; Nutritional treatment

1. Introdução
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a adolescência abrange jovens entre 10 e 19
anos, enquanto o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei n. 8069 de 13 de julho de 1990, define esse
período com início aos 12 e finalizando aos 18 anos. Durante essa fase, as pressões sociais, culturais e familiares
podem desempenhar um papel importante no desenvolvimento de distúrbios alimentares, uma vez em que
ambientes onde a dieta e o peso são frequentemente discutidos ou valorizados excessivamente cria-se uma
atmosfera propícia e prejudicial para tal. Os adolescentes enfrentam um período de mudanças físicas intensas,
marcadas pelo crescimento e pela puberdade, como o aumento do peso, o desenvolvimento dos órgãos sexuais

1
secundários e a redistribuição da gordura corporal, o que pode gerar desconforto e insatisfação com seus corpos,
especialmente quando comparados a ideais inatingíveis de beleza. Paralelamente, a adolescência é uma fase de
instabilidade emocional, onde as flutuações hormonais e as pressões sociais contribuem para uma montanha-
russa de sentimentos, que muitas vezes podem se manifestar como mecanismos de enfrentamento para lidar com
emoções difíceis, tais como a ansiedade, depressão, o estresse e a baixa autoestima (Bechara, 2015).
Os Transtornos Alimentares (TAs) são condições graves que afetam o comportamento alimentar, o peso
e a percepção da forma corporal. Eles resultam em complicações médicas e psiquiátricas que impactam
diretamente a qualidade de vida e exigem intervenções nutricionais adequadas. Essas condições surgem de uma
complexa interação entre fatores biológicos, psicológicos e sociais, afetando especialmente adolescentes, um
grupo vulnerável às pressões sociais e culturais relacionadas à imagem corporal e à alimentação (Galmiche et al.,
2019). Dentre os tipos de distúrbios alimentares, os mais comuns citados na literatura, a Anorexia Nervosa (AN),
Bulimia Nervosa (BN) e Transtorno da Compulsão Alimentar (TCA), são os que apresentam prevalência
significativa na adolescência (Felden et al., 2015).
A Anorexia Nervosa, comum nessa fase, é caracterizada por uma preocupação extrema com o peso,
distorção da imagem corporal e restrição severa da ingestão alimentar, levando a uma perda de peso prejudicial à
saúde. Os comportamentos típicos incluem jejuns, uso de laxantes e exercícios excessivos, frequentemente não
percebidos por familiares (Park, 2020). Essa condição resulta em desnutrição e pode causar sérios problemas de
saúde, como doenças cardíacas e comprometimento do sistema nervoso central (Alvarenga et al., 2011). A
prevalência de sintomas de anorexia é alarmante em estudos nacionais, com índices que variam de 13% a 21%
entre adolescentes (Hulsmeyer, 2011; Alvarenga et al., 2011). Além da Anorexia Nervosa, outro transtorno que
afeta significativamente adolescentes é a Bulimia Nervosa, que é caracterizada por episódios de compulsão
alimentar seguidos de purgação, como vômitos autoinduzidos. Enquanto os indivíduos com bulimia geralmente
mantêm um peso normal, os episódios ocorrem em segredo e podem resultar em complicações médicas sérias,
incluindo danos ao esôfago e problemas dentários (Almeida et al., 2021). O Transtorno da Compulsão Alimentar
(TCA) é caracterizado por episódios recorrentes de compulsão sem comportamentos compensatórios, o que
frequentemente leva ao ganho de peso e obesidade. Essa condição, reconhecida recentemente no DSM-V, está
associada a problemas de saúde como diabetes tipo 2 e doenças cardíacas (Davis et al., 2020).
O índice de prevalência vem aumentando no mundo todo, tanto em países desenvolvidos, como em
desenvolvimento como o Brasil e o apoio de profissionais de saúde, incluindo nutricionistas, é fundamental na
prevenção e no tratamento dos TAs, permitindo intervenções que promovam uma relação saudável com a
alimentação e o corpo (Gomes, 2014; Cruz et al., 2018). A abordagem deve ser individualizada e multidisciplinar,
garantindo um tratamento eficaz e uma recuperação sustentável para os adolescentes. O presente estudo tem
como objetivo investigar a eficácia do tratamento nutricional como parte da abordagem terapêutica multidisciplinar
para adolescentes com transtornos alimentares.

2. Metodologia
Trata-se de uma revisão sistemática de literatura baseada na análise de artigos referente a importância do
tratamento nutricional nos transtornos alimentares em adolescentes. Os artigos foram selecionados por meio de
busca nas bases de dados Pubmed, Scielo e Lilacs no primeiro semestre de 2024. Os descritores usados na
busca dos artigos foram selecionados após consulta no Descritores de Ciências da Saúde (DeCS). Foram usados

2
os seguintes descritores e suas respectivas traduções em inglês: Comportamento Alimentar (Eating Behavior);
Nutrição (Nutrition)Transtornos Alimentares (Eating Disorders); Adolescentes (Adolescents); Tratamento
Nutricional (Nutritional Treatment). Nesta revisão foram incluídos artigos publicados em português e inglês que
abordam a temática descrita acima. O período de delimitação foi de 10 anos (2014 a 2024). Os critérios de
inclusão foram estudos que respondiam o objetivo do presente estudo e abordavam adolescentes, transtornos
alimentares e intervenções nutricionais, enquanto os critérios de exclusão foram estudos fora do contexto dos
transtornos alimentares em adolescentes ou que não abordavam o tratamento nutricional. O fluxograma na figura
abaixo descreve como foi realizada a seleção dos artigos utilizados em nossa pesquisa:
Figura 1: Fluxograma do processo de seleção dos artigos.

Fonte: As autoras, 2024.

3. Resultados
As estratégias de busca forneceram um total de 585 referências. Para a busca na base de dados 494
registros que foram excluídos com base no título e duplicados, resultando em 91 resumos sendo selecionados
quanto à relevância. A partir dessa tela de resumos, um total de 27 registros foram identificados para revisão do
texto completo. No geral, 08 registros foram incluídos na revisão de escopo. Os artigos foram categorizados como
pesquisa qualitativa, estudo observacional, ensaio clínico controlado, estudo de etiologia e estudo de prevalência.
Os resultados foram apresentados no quadro 1, contendo as principais informações dos artigos científicos sobre
os papéis do nutricionista na identificação, prevenção e triagem de transtornos alimentares na adolescência.

3
Quadro 1 Relação dos artigos selecionados para resultados, São Paulo 2024.
Referência Objetivo Delineamento e Resultados
Amostra

Autoestima, insatisfação corporal e Verificar a influência Estudo transversal, de 62,3% das


internalização do ideal de magreza da autoestima, da base escolar, realizado adolescentes
influenciam os comportamentos de insatisfação corporal em 2012 na cidade de demonstraram baixa
risco para transtornos alimentares? e da internalização Juiz de Fora (MG), com autoestima; 23,2%
do ideal de magreza adolescentes do sexo manifestaram
Fortes et al., 2015
nos comportamentos feminino entre 12 e 16 insatisfação corporal;
de risco para anos. 46,4% apresentaram
transtornos alta internalização do
alimentares de ideal de magreza; a
adolescentes do prevalência dos
sexo feminino. comportamentos de
risco para transtornos
alimentares foi de
21,7%.

Recovery Trajectories in Adolescent Documentar as Estudo realizado com 77,0% das


Girls with Anorexia Nervosa trajetórias de 215 adolescentes de 14 participantes foram
recuperação entre a 16 anos que diagnosticadas com
Bédard et al 2024
adolescentes com participaram de um anorexia típica e
anorexia nervosa acompanhamento 23,0% com anorexia
com base em 3 especializado em atípica. A inclusão de
marcadores de transtornos marcadores de
remissão: mudanças alimentares. remissão, além do
no peso corporal, peso corporal,
restrição alimentar e ofereceu uma visão
exercício excessivo. mais completa das
experiências dos
pacientes.

Factors associated with weight gain Identificar os fatores Estudo realizado com O ganho de peso nas
in anorexia nervosa inpatients. associados ao ganho 107 pacientes primeiras 2 semanas
de peso durante a adolescentes de 13 a de internação e a
Chatelet et al 2020
internação de 15 anos, com uma introdução de um
pacientes com internação por anorexia protocolo em torno da
anorexia nervosa. nervosa maior ou igual reintrodução alimentar
a 7 dias. rápida foram fatores
fortes associados ao
ganho de peso ideal
após 2 semanas de
internação.
Internações em
unidades
psiquiátricas, o
diagnóstico de
compulsão obteve
resultados associados
ao ganho de peso

4
inadequado.

Somatic Outcomes and Nutritional Melhorar o manejo Revisão da literatura O artigo destaca em
Management of Anorexia Nervosa. nutricional da sobre como lidar diversos momentos a
anorexia nervosa, nutricionalmente em importância do
Stheneur et al 2023
oferecendo casos de anorexia manejo nutricional
orientações práticas nervosa e destaca a adequado e o
para os profissionais importância de um acompanhamento
de saúde. Ele discute trabalho multidisciplinar. pelo profissional
a desnutrição nutricionista na equipe
extrema, a avaliação do paciente para além
do gasto energético e de estabilizar o
destaca a paciente
importância de uma nutricionalmente,
abordagem prevenir episódios
multidisciplinar para futuros.
otimizar o tratamento
e a qualidade de vida
dos pacientes

Preventing Nutritional Disorders in Orientar profissionais As posições delineadas


Adolescents by Encouraging a de saúde sobre como são baseadas na O artigo destaca a
Healthy Relationship With Food. auxiliar adolescentes revisão da literatura e importância de uma
a desenvolverem no consenso abordagem proativa e
Kumar et al 2020 positiva em relação à
uma relação colaborativo de
saudável com a especialistas de nutrição de
comida, com foco na membros adolescentes, focando
prevenção de interdisciplinares dos na prevenção de
distúrbios Comitês de distúrbios alimentares
nutricionais. As Nutrição/Obesidade e através da educação,
recomendações Transtorno Alimentar da do apoio
abordam a prática Society for Adolescent individualizado e da
clínica, a educação Health and Medicine. promoção de uma
do paciente e a relação equilibrada
necessidade de os com a comida e o
profissionais de corpo. Envolver os
saúde se cuidadores para
posicionarem a favor corroborar essas
de mensagens mensagens e criar
nutricionais positivas uma cultura familiar
direcionadas aos saudável em torno da
adolescentes. nutrição e do exercício
é igualmente
importante. Os
profissionais podem
atuar em diferentes
áreas para promover
decisões positivas
sobre alimentação
entre os adolescentes,
alcançando todos os
lugares onde eles se

5
desenvolvem.

Adherence of nutritional support pre- Analisar a aderência O estudo foi realizado As prescrições de
scriptions to clinical practice guide- do suporte nutricional com 177 adolescentes suporte nutricional
lines in patients with anorexia ner- na prática clínica que foram internados para os pacientes
vosa. para pacientes com com anorexia nervosa seguiram com mais
anorexia nervosa e de 2006 a 2009. frequência as
Alanon et al 2019
comparar a recomendações do
efetividade, NICE/SMHC do que
segurança e custo do as da APA, que esteve
suporte. associada a um maior
ganho de peso.
Pacientes que
seguiram as
recomendações do
NICE/SMHC tiveram
internações mais
curtas e custos
reduzidos, devido ao
seu estado nutricional
mais favorável na
admissão.

Negative childhood experiences and Analisar a relação O estudo foi realizado As experiências
disordered eating in adolescents in entre eventos com 170 adolescentes estressantes durante
a weight management program: The negativos da vida e que se apresentaram a a infância foram
role of depressive symptoms. resultados um programa de significativamente
relacionados ao peso controle de peso. relacionadas ao status
Darling et al 2020
(como status de de peso, F = 2,78, p <
peso, 0,05, e alimentação
comportamentos desordenada, F =
alimentares 5,51, p < 0,001, nas
desordenados e análises de regressão.
sensibilidade à Eventos estressantes
insulina) em um da vida não foram
grupo de relacionados à
adolescentes que sensibilidade à
estão buscando insulina. Os sintomas
tratamento para depressivos mediaram
sobrepeso, a associação entre
obesidade e experiências
transtornos estressantes e
alimentares transtornos
alimentares (b =
0,001, [IC = 0,0002,
0,0011]). Os sintomas
depressivos não
mediaram essa
associação para o
status de peso ou
sensibilidade à

6
insulina.

Identifying potential cases of eating Identificar pacientes Os investigadores Foram identificados


disorders in an acute medical que se apresentam examinaram os 192 casos de
hospital. em um hospital prontuários eletrônicos transtornos
médico com de pessoas com 16 alimentares, de um
Cheung et al 2024 sintomas comuns de anos ou mais em busca total de 598 episódios
transtornos de sinais e sintomas de atendimento. 83
alimentares e comuns de transtornos casos foram
determinar, por meio alimentares (ED), em considerados
de prontuários, se pacientes que se possíveis TAs devido
esses casos são apresentaram em um a sinais clínicos
diagnosticados como hospital na Austrália, de inexplicáveis, mas não
transtornos 2018 a 2020. foram confirmados por
alimentares. falta de histórico
clínico. Apenas 19,1%
das apresentações
foram diagnosticadas
como transtornos
alimentares no
prontuário.

Fonte: autoria própria, 2024.

4. Discussão
Com base na literatura, evidencia-se que a discussão sobre o tratamento nutricional em adolescentes com
transtornos alimentares é essencial para entender como a nutrição impacta a recuperação física e psicológica
nessa faixa etária crítica e de transições tão significativas. Os transtornos alimentares (TAs) não apenas afetam o
estado nutricional, mas também comprometem o desenvolvimento emocional e cognitivo, necessitando de
intervenções adequadas e individualizadas. A partir da análise dos artigos selecionados para o desenvolvimento
do presente estudo, é possível discutir sobre a relevância de abordagens nutricionais integradas e individualizadas
para garantir a recuperação e promover uma relação saudável com a alimentação.
Os TAs, como a anorexia nervosa (AN), bulimia nervosa (BN) e transtorno da compulsão alimentar (TCA),
apresentam taxas significativas de morbidade e mortalidade, especialmente em adolescentes. Diversos estudos
evidenciaram diferentes abordagens para compreender e tratar os TAs, especialmente no que se refere à
adequação das práticas nutricionais em ambientes clínicos e os fatores psicossociais que influenciam a saúde
alimentar de adolescentes. Ao comparar os estudos, observou-se que, enquanto Fortes et al. (2015) e Alañón
Pardo et al. (2019) enfocam populações já afetadas por transtornos alimentares, o artigo da Society for Adolescent
Health and Medicine (2020) prioriza a prevenção, abordando adolescentes de forma geral, independentemente de
já apresentarem sinais de transtornos alimentares. Diante da complexidade dos TAs, as pesquisas mais recentes
enfatizam a importância de uma abordagem multidisciplinar para o tratamento, combinando suporte nutricional,
intervenções psicológicas e o envolvimento da família. O suporte nutricional, em particular, é fundamental para
esses pacientes, especialmente aqueles com baixo peso, visando à recuperação do estado nutricional e à
prevenção de complicações médicas (Verscheren et al., 2020).
A pesquisa de Fortes et al. (2015) ressalta a relevância de fatores psicossociais específicos, como a

7
insatisfação corporal, na formação dos transtornos alimentares, ao passo que Alañón Pardo et al. (2019) destaca a
eficácia de práticas de suporte nutricional baseadas em diretrizes específicas para pacientes com anorexia
nervosa, indicando a relevância de políticas de saúde pública voltadas tanto para a prevenção quanto para o
tratamento especializado. Além disso, a influência das redes sociais, marcada pela exposição constante a
imagens idealizadas, intensifica a pressão pela “perfeição” física e promove a comparação corporal. Esse
comportamento leva à insatisfação com a própria imagem e pode desencadear distorções de autoimagem e
práticas alimentares prejudiciais (Amaral et al., 2019).
Outros fatores, como questões emocionais, também desempenham papel importante em transtornos como
a ansiedade, depressão e baixa autoestima que estão associados ao desenvolvimento de TA, por terem a
alimentação frequentemente utilizada como mecanismo para lidar com emoções negativas. Isso pode gerar um
ciclo de restrição alimentar e compulsão, associado a práticas purgativas, como evidenciam Souza e Pessa
(2016). A importância do tratamento nutricional reside em sua capacidade de romper esse ciclo vicioso,
fornecendo as ferramentas para que os adolescentes restabeleçam uma relação saudável com a comida,
enquanto abordam as causas subjacentes da baixa autoestima, como a insatisfação corporal, por meio de terapia
psicológica.
A análise dos artigos examinados destaca também a importância de uma abordagem que contemple tanto
a prevenção quanto intervenções clínicas, considerando as diferenças individuais e o contexto social dos
adolescentes. Um enfoque na saúde geral e no bem-estar psicológico pode reduzir a incidência de transtornos
alimentares antes mesmo de sua manifestação, reforçando o papel essencial do tratamento nutricional no manejo
desses transtornos. Assim, a intervenção nutricional adequada visa restabelecer um peso saudável e corrigir as
sequelas físicas e psicológicas da desnutrição, além de aprimorar o estado nutricional para potencializar a eficácia
das terapias psicológicas, prevenir a síndrome de realimentação e tratar deficiências nutricionais (Bédard, 2024).
O papel do nutricionista envolve uma abordagem preventiva, focada na educação proativa sobre nutrição,
desenvolvimento e imagem corporal. A adoção da “dieta total”, que promove o consumo de todos os grupos
alimentares em proporções equilibradas, evitando a exclusão ou demonização de alimentos. Essa abordagem
favorece uma relação equilibrada e saudável com a comida, contribuindo para a prevenção de transtornos
alimentares. A reabilitação nutricional também é essencial, priorizando uma alimentação natural e, em casos
graves de desnutrição, recomendando a nutrição enteral. Em um estudo sobre recuperação de peso em
adolescentes com anorexia nervosa, foram identificadas três principais trajetórias: ganho de peso lento, moderado
e rápido, o que ressalta a necessidade de personalização do tratamento nutricional, adaptando-se às
particularidades de cada adolescente (Berona et al., 2023).
Dufresne et al. (2023) aprofundam a análise ao identificar diferentes grupos de pacientes com anorexia
nervosa, categorizados como “respondedores rápidos”, “respondedores graduais” e “respondedores instáveis”.
Esses perfis reforçam a complexidade do transtorno e a necessidade de múltiplos fatores serem considerados na
avaliação e planejamento do tratamento, reforçando mais uma vez, a importância da individualização do cuidado
(Dufresne et al., 2023). A personalização do tratamento nutricional deve considerar a idade, o estágio de
desenvolvimento, a gravidade do transtorno e a presença de comorbidades.
Estudos longitudinais evidenciam diferentes trajetórias de recuperação entre adolescentes com
transtornos alimentares, mostrando que pacientes com anorexia nervosa podem responder de maneira distinta ao
tratamento. A combinação do tratamento nutricional com psicoterapia e suporte médico é essencial para

8
estabilizar o peso e reduzir comportamentos de risco, como a restrição alimentar e o exercício excessivo.
Pacientes “instáveis” tendem a apresentar recaídas, o que demanda uma intervenção nutricional constante e
ajustes regulares para prevenir a recorrência dos sintomas (Bédard, 2024). Portanto, o tratamento nutricional deve
ser abrangente, promovendo não apenas a restauração do peso, mas também ajudando os adolescentes a
desenvolverem uma relação saudável com a comida e uma imagem corporal positiva. Recomenda-se a educação
nutricional desde a pré-adolescência, com orientações baseadas em uma “dieta total” que evite a categorização de
alimentos como “bons” ou “ruins”, favorecendo uma alimentação balanceada e sem restrições, capaz de atender
às necessidades fisiológicas e psicológicas dos adolescentes. Além disso, em contextos de insegurança alimentar,
cabe aos profissionais de saúde serem sensíveis às limitações dos recursos disponíveis, promovendo estratégias
que garantam uma nutrição adequada e acessível (Jornal de Saúde do Adolescente, 2020).
O êxito do tratamento nutricional depende de uma abordagem personalizada, levando em conta variáveis
como idade, estágio de desenvolvimento, gravidade do transtorno alimentar e comorbidades. A análise, de modo
geral, revela que o tratamento nutricional desempenha um papel essencial no manejo de adolescentes com
transtornos alimentares, fornecendo uma visão ampla e abrangente sobre o papel da nutrição na recuperação e
bem-estar desses jovens. Cada estudo contribui com perspectivas específicas que enriquecem a compreensão
sobre a importância da nutrição em todas as fases do tratamento desses transtornos.

5. Conclusão
A intervenção nutricional em adolescentes com transtornos alimentares é essencial, desempenhando
papel central na recuperação física e mental desses jovens. Este tratamento, quando realizado em conjunto com
apoio psicológico e acompanhamento médico, contribui para a restauração do peso saudável e para a construção
de uma relação equilibrada com a alimentação. A revisão de estudos sobre o tema reforça a importância de
abordagens multidisciplinares e individualizadas, que considerem fatores como a idade, o estágio de
desenvolvimento, a gravidade do transtorno e possíveis comorbidades, garantindo que o tratamento se adeque às
necessidades específicas de cada adolescente.
O nutricionista, nesse contexto, não se limita à prescrição de dietas, mas atua como educador, oferecendo
suporte emocional e incentivando a construção de uma rotina saudável. Sua atuação, focada na individualização e
na educação alimentar, é fundamental para que o adolescente desenvolva habilidades para enfrentar os desafios
do transtorno e adote práticas alimentares positivas e sustentáveis. Além disso, o nutricionista colabora com
outros profissionais de saúde para que a abordagem do tratamento abranja aspectos físicos, psicológicos e
sociais, todos relevantes para o processo de cura.
Em conclusão, o tratamento nutricional é uma peça-chave na recuperação de adolescentes com
transtornos alimentares, integrando-se ao suporte psicológico e médico para promover a saúde integral. A
abordagem multidisciplinar e individualizada não apenas ajuda no combate aos transtornos alimentares, mas
também previne recaídas e possibilita o desenvolvimento de uma relação saudável com a alimentação e o próprio
corpo. Investir nesse tipo de intervenção é essencial para garantir um futuro mais saudável para os jovens,
prevenindo complicações e contribuindo para o bem-estar físico e emocional ao longo da vida.

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