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Educação: uma breve introdução
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E-book215 páginas2 horas

Educação: uma breve introdução

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Sobre este e-book

Com a tradução de "Educação", disponibilizada pela Editora Dialética, trazemos um assunto que, como destaca o próprio autor, Gary Thomas, é de interesse da sociedade, porém, digamos assim, pouco se sabe sobre ele quando comparado a outras questões sociais, como a economia. É com este pro- pósito, aliás, que Thomas justifica a motivação de escrita desta obra: para além da sua experiência há décadas como professor, o autor busca perguntar, investigar e, por fim, responder: afinal de contas, o que é a educação? O livro, noutras palavras, busca compreender, junto a uma breve análise de conjuntura política, as categorias, bem como as tradições intelectuais que buscaram definir quais são a natureza e os objetivos da educação.
IdiomaPortuguês
EditoraEditora Dialética
Data de lançamento2 de dez. de 2024
ISBN9786527047308
Educação: uma breve introdução

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    Educação - Gary Thomas

    Capítulo 1

    Começos

    Estima-se que o tempo dos Homo sapiens no planeta terra gira em torno de 30.000 anos a 200.000 anos. Ninguém, ipsis litteris , sabe exatamente este tempo. O que é certo, porém, é que os cérebros de nossos ancestrais Homo sapiens eram iguais aos nossos. Somos, fisicamente, a mesma pessoa: hoje em dia não temos neurônios adicionais assim como não temos uma conexão neural melhor. Mas as nossas ferramentas para pensar – nossas ideias, hipóteses, teorias, modelos – foram maravilhosamente improvisadas. Como desenhar, escrever e pensar, tudo isso foi aprendido, às vezes com grande dificuldade, e o aprendizado disso, posteriormente, foi repassado. A única razão pela qual nós somos melhores em pensar e fazer as coisas agora – a única razão que Aristóteles, Michelangelo e Einstein brilharam no firmamento intelectual nos últimos dois mil anos e não há 30.000 anos – é que nós acumulamos conhecimento e passamos ideias e informações de uma geração a outra. Com a acumulação de conhecimento, simplesmente melhoramos e melhoramos.

    A progressiva trajetória dos Homo sapiens sobe vertiginosamente não apenas devido a nossa inteligência, mas por causa da nossa capacidade em cristalizar e armazenar conhecimentos em sons e linguagens específicas para então brincar com isso – ou seja, construí-lo, forjá-lo, moldá-lo e modelá-lo –, usando-o ao mesmo tempo para se agarrar ao passado e imaginar e planejar o futuro. Mas o que é realmente inteligente nisso é que podemos compartilhar e construir conhecimento; nós passamos tudo isso aos nossos filhos, amigos e colegas. Da nossa inteligência, então, surgiu algo quase mais importante que a inteligência em si. Surgiu o aprendizado sobre como compartilhar ideias, transmitir habilidades e conhecimentos. É daí que vem a educação.

    A educação acontece numa miríade de formas comunicativas: pais explicando ideias às suas crianças; amigos conversando e compartilhando ideias; as pessoas demonstrando habilidades umas às outras; artesãos qualificados treinando um ofício aos seus pupilos; professoras e professores ensinando jovens nas escolas e universidades. A educação, com efeito, acontece ao longo da vida: nas imortais palavras de Riff, em West Side Story, é do ventre ao túmulo ("it’s womb to tomb"). Tudo, em suma, é educação. E deveríamos, enfaticamente, lembrar que educação não apenas trata do que acontece nas escolas e universidades. Este livro aborda principalmente as escolas e o que se passa nelas, pois as escolas são instituições especializadas que, teoricamente, construímos para fins educativos. Mas devemos lembrar que educadores lutaram ao longo do tempo histórico para tornar a escola mais relacionada à educação, uma vez que estes dois fenômenos, quais sejam, a escola e a educação, tristemente não estão relacionados entre si.

    Na verdade, as citações mais famosas sobre educação apontam para uma conexão putativa entre educação e escolas, e são descaradamente rudes as segundas. Por exemplo, Mark Twain afirmou: Nunca deixei minha escolaridade interferir na minha educação. Algo similar foi dito por Winston Churchill, que declarou o seguinte: A única vez que minha educação foi interrompida foi quando estava na escola. E Albert Einstein, por sua vez, afirmou que educação é o que resta quando esquecemos tudo que lembramos na escola. Quais eram, então, suas mensagens? A de que as escolas não são necessárias para a educação; na verdade, talvez elas até atrapalhem.

    Como chegamos ao ponto onde as mentes mais pensantes (juntamente com as mentes menos pensantes) se ressentem do tempo passado na escola? Como chegamos à posição onde educação e escolaridade são, para muitos, tão distantes entre si? Vale a pena relembrar que a raiz latina da palavra educação é educere, que se traduz para algo como trazer à tona – isto é, um cultivo, uma nutrição de talentos e habilidades interiores. Resta perguntar, deste modo, como as atividades das escolas se tornaram tão distantes disso? Para tentar esclarecer esta questão, começarei com uma breve análise do crescimento das escolas e de certas questões que acompanharam tal crescimento.

    Escolas e educação

    O conhecimento detalhado sobre como inicialmente as escolas funcionavam e nossas primeiras evidências quanto à forma como a educação é entendida vêm da Grécia Antiga, nos séculos V e IV a.C. Na verdade, a palavra escola vem do grego schole e, interessantemente, schole significa lazer, apontando, assim, uma pista sobre como as ideias referentes à educação mudaram entre então e agora. Deste modo, ao que parece, a suposição era que o lazer era sinônimo de aprendizado e contemplação. Os gregos tinham escolas básicas para ensinar leitura e aritmética, bem como tinham faculdades efébias – noutras palavras, escolas secundárias para nós – com exames de fim de semestre em geometria, gramática, música e retórica. Isso, creio eu, é bastante familiar.

    Eles também tinham seus ginásios, como a Academia de Platão e o Liceu de Aristóteles, onde homens jovens (e apenas homens) treinavam nus para o público. Junto ao esporte nudista, tinha-se ensino, discussão e pesquisa. Ora, adicionam-se roupas e certamente podemos ver aqui o início da universidade moderna.

    Platão sonhava com um Estado ideal em A república e ele tinha muito a dizer sobre a educação provida pelo Estado. Antecipando os pensamentos de educadores progressistas que surgiram dois mil anos depois, Platão disse (colocando seu caso na forma de diálogo socrático, como é de costume):

    Agora, todo este estudo de cálculo e geometria... deve ser apresentado a eles ainda enquanto jovens, e não sob uma instrução compulsória. ‘Por que isso?’ ‘Porque’, disse eu, ‘uma alma livre não deve se dedicar servilmente a nenhum estudo; embora os trabalhos corporais realizados sob restrição não causem dano ao corpo, nada que é aprendido compulsoriamente permanece na mente.’ ‘Verdade’, disse ele. Então, meu amigo, não mantenha as crianças nos estudos por compulsão, mas por brincadeira (A República, 536 d-e; 537a).

    Platão apresenta aqui uma tensão que permanece reconhecível nos dias de hoje e que está no cerne de grande parte que irei discutir neste livro. Isso está entre duas linhas de pensamento divergentes sobre educação: (a) deveríamos dizer às crianças fatos e ideias e dizer a elas para aprenderem com isso, ou (b) devemos encorajá-las a descobrir o conhecimento por si próprias?

    Platão talvez tenha oferecido um comentário não apenas como contrapeso ao que parece ter sido uma tendência didática desenvolvida no currículo da Grécia Antiga, mas também uma resposta a certa brutalidade de seus métodos disciplinares, e uma das histórias da época dos Mímicos de Herondas⁶ são uma amostra disso. Nesta história, The Schoolmaster, uma mãe leva seu errante filho a um professor, reclamando sobre desobediência e indolência. Ela pede a ele que bata no seu filho até que o miserável último suspiro fique apenas em seus lábios!.

    "Ele nem sabe a letra Alpha, a menos que alguém grite com ele cinco vezes, reclama a mãe. O tutor, Lampriskos, está pronto a obedecer: Onde está meu cortador, aquele relho que uso para espancar inúteis? Coloque-o na minha mão antes que minha bile me estrangule. A surra procede, evidentemente com entusiasmo, mas eventualmente Lampriskos relaxa porque o jovem agora está listrado como uma cobra d’água. Mas a mãe o chama novamente, Não pare... bata nele até o sol cair!. Parece, com isso, que a Grécia Antiga não era o melhor local para um estudante recalcitrante. Além disso, presumia-se que mais punições levavam a uma melhor aprendizagem, como quando Lampriskos sugere uma reflexão tardia: Apenas espere; faremos com que ele se debruce sobre um livro e lhe daremos mais, até que ele aprenda a ler melhor do que a própria Clio".

    Pode-se notar que a competição de narrativas que cercaram o processo de aprendizagem não mudou muito ao longo do último milênio. À luz dos Mímicos de Herondas, as injunções de Platão para dar ênfase à brincadeira ao invés da coerção podem talvez ser vistas como uma das primeiras tentativas de reforma educacional: podemos ver as sementes de um debate sobre quem são as crianças e sobre o que devemos esperar delas.

    Os romanos mantiveram várias das tradições helenísticas na escolaridade, incluindo sua predileção pelo flagelo. Agostinho de Hipona, no século IV d.C., nota: Fui colocado na escola para aprender algo que não sabia para que servia; e, não obstante, se fosse lento para aprender, eu apanhava. A flagelação, como se pode ver, é um tema persistente: A. F. Leach destaca, a partir das passagens perdidas em Horácio e Juvenal, que as escolas eram quase que definidas pela sua violência: "A edificação ou culto do caráter... foi efetuada começando a escola pelo amanhecer, gritando e açoitando os estudantes com uma vara ou bengala (ferula), tawse (scutia) e bétula (flagellum)⁷, muito parecido com o que acontecia nas escolas inglesas por volta de 1850". O flagelamento parece ter se desenvolvido quase como uma forma de arte para acompanhar o processo de aprendizagem.

    Ao olharmos para as escolas ao longo dos tempos, somos forçados a concluir que a consistência do castigo físico está certamente conectada ao que se esperava dos jovens que as frequentavam. Se as crianças quisessem fazer o que os professores lhes perguntavam, por que a necessidade de apanharem? A necessidade para espancamento, porém, sempre foi uma questão de deliberação, e mesmo na Roma Antiga havia disputa sobre seu valor: Quintilian, um grande educador romano, por exemplo, desaprovava o uso de punição corporal (ele, de modo decepcionante, passou a sugerir que isso era adequado apenas para escravos – o que lhe fez desvirtuar qualquer condição de que ele poderia ter sido um liberal à frente de seu tempo).

    O ensino romano seguiu amplamente o modelo grego. Havia pequenas escolas para garotos – e apenas garotos privilegiados (e lembrem-se também que um terço da população da Roma Antiga era composta por escravos) – e tutores para garotos e garotas. Os garotos mais jovens atendiam a escola secundária, o que significa que lhes era ensinado gramática (diferentemente do significado atual de escola secundária no Reino Unido, onde isso também significa escola seletiva⁸). Então eles frequentavam a escola de retórica, onde obviamente lhes era ensinado retórica. A ênfase na retórica era porque, Leach sugere, o objetivo da educação romana era formar garotos para a vida pública, bem como ser advogado ou chefe de Estado e geralmente ambos, e isso era feito treinando-o para falar em público.

    O progresso na jornada educacional retrocedeu depois da queda de Roma até que, no século VIII d.C., Carlos Magno, rei dos francos, criou o seu capitulário – às vezes também chamado de Carta do Pensamento Moderno –, no qual ele ordenou: Todo monastério e toda abadia têm sua escola na qual os meninos podem aprender os Salmos, o sistema de notação musical, canto, aritmética e gramática.

    O principal entre os conselheiros intelectuais de Carlos Magno foi o estudioso inglês Alcuíno de York, que escreveu manuais de gramática, retórica e dialética. Foi Alcuíno quem desenvolveu o currículo no trivium – com gramática, lógica e retórica – e, em seguida, o quadrivium, com aritmética, astronomia, geometria e música. Juntas, essas disciplinas compreendiam as sete artes liberais dos estudos clássicos, que se tornaram posteriormente o currículo de graduação das primeiras universidades de Bolonha, Paris e Oxford nos séculos XI e XII d.C.

    A influência da Igreja na criação destas instituições não pode ser subestimada. Quer fossem estabelecidas pelo papa, pelo rei ou pelo imperador, as novas universidades eram controladas pela Igreja e o seu corpo docente era composto quase inteiramente por frades franciscanos ou dominicanos.

    Embora o renascimento da educação nesta época fosse principalmente competência do quadro eclesiástico, um tipo de aprendizagem (um tipo religioso, no caso) espalhava-se à população em geral. Logo após o capitulário, Theodulf, bispo de Orleans, ordenou que os padres estabelecessem escolas em cada cidade e vila. (Vale a pena notar, aqui, que a influência eclesiástica no ensino está presente até hoje, mesmo numa sociedade secular, onde mais ou menos um terço de todos os estudantes da Inglaterra são educados em escolas com alguma afiliação religiosa formal).

    As mudanças significativas que emergiram do mini-renascimento cultural não vieram apenas do capitulário de Carlos Magno. Elas também surgiram de um novo olhar para o racionalismo na medida que as ideias de Aristóteles começaram ser recepcionadas no começo do pensamento eclesiástico através das figuras de Tomás de Aquino e William de Ockham (aquele famoso pela navalha) nos séculos XIII e XIV d.C. No instante em que o racionalismo começou a desafiar a doutrina, pensou-se na natureza do conhecimento, da investigação e do ensino. Projetos relacionados às formas de ensino apareceram nas escolas catedrais e monásticas e nas universidades – a lectio, ou seja, a leitura de um texto por um professor sem perguntas e a disputatio, isto é, a colocação de um assunto para disputa e

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