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Fábulas Fabulosas

Este texto conta a história de um leão que sai para verificar se ainda é o rei dos animais da floresta. Ele pergunta a vários animais quem é o rei, e recebe respostas evasivas ou assustadas. Ao perguntar a um elefante, este agarra o leão e o atira contra uma árvore, mostrando que não reconhece sua autoridade. No final, o leão murmura que não precisava ficar tão zangado apenas por não saber a resposta.
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Fábulas Fabulosas

Este texto conta a história de um leão que sai para verificar se ainda é o rei dos animais da floresta. Ele pergunta a vários animais quem é o rei, e recebe respostas evasivas ou assustadas. Ao perguntar a um elefante, este agarra o leão e o atira contra uma árvore, mostrando que não reconhece sua autoridade. No final, o leão murmura que não precisava ficar tão zangado apenas por não saber a resposta.
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Fbulas fabulosa Millor Fernandes Co! Co! Co! Abriu a porta e viu o amigo que h tanto no via.

. Estranhou apenas que ele, amigo, viesse acompanhado de um co. O co no muito grande, mas bastante forte, de raa indefinida, saltitante e com um ar alegremente agressivo. Abriu a porta e cumprimentou o amigo, com toda efuso. "Quanto tempo!". O co aproveitou as saudaes, se embarafustou casa adentro e logo o barulho na cozinha demonstrava que ele tinha quebrado alguma coisa. O dono da casa encompridou um pouco as orelhas, o amigo visitante fez um ar de que a coisa no era com ele. "Ora, veja voc, a ltima vez que nos vimos foi..." "No, foi depois, na..." "E voc, casou tambm?" O co passou pela sala, o tempo passou pela conversa, o co entrou pelo quarto e novo barulho de coisa quebrada. Houve um sorriso amarelo por parte do dono da casa, mas perfeita indiferena por parte do visitante. "Quem morreu definitivamente foi o tio... voc se lembra dele?" "Lembro, ora, era o que mais... no?" O co saltou sobre um mvel, derrubou o abajur, logo trepou com as patas sujas no sof (o tempo passando) e deixou l as marcas digitais de sua animalidade. Os dois amigos, tensos, agora preferiam no tomar conhecimento do dogue. E, por fim, o visitante se foi. Se despediu, efusivo como chegara, e se foi. Se foi. Mas ainda ia indo, quando o dono da casa perguntou: "No vai levar o seu co?" "Co? Co? Co? Ah, no! No meu, no. Quando eu entrei, ele entrou naturalmente comigo e eu pensei que fosse seu. No seu, no? Moral: Quando notamos certos defeitos nos amigos, devemos sempre ter uma conversa esclarecedora.

Diz que um leo enorme ia andando chateado, no muito rei dos animais, porque tinha acabado de brigar com a mulher e esta lhe dissera poucas e boas (1). Eis que, subitamente, o leo defronta com um pequeno rato, o ratinho mais menor que ele j tinha visto. Pisou-lhe a cauda e, enquanto o rato forava inutilmente pra escapar, o leo gritava: "Miservel criatura, estpida, nfima, vil, torpe: no conheo na criao nada mais insignificante e nojento. Vou te deixar com vida apenas para que voc possa sofrer toda a humilhao do que lhe disse, voc, desgraado, inferior, mesquinho, rato!" E soltou-o . O rato correu o mais que pode, mas, quando j estava a salvo, gritou pro leo: "Ser que V. Excelncia poderia escrever isso pra mim? Vou me encontrar com uma lesma que eu conheo e quero repetir isso pra ela com as mesmas palavras!" (2) (1) Quer dizer: muitas e ms. (2) Na grande hora psicanaltica, que soa para todos ns, a preciso de linguagem fundamental. MORAL: Afinal ningum to inferior assim. SUBMORAL: Nem to superior, por falar nisso.

Relatrio

O gato e a barata A baratinha velha subiu pelo p do copo quase cheio de vinho, que tinha sido largado a um canto da cozinha, desceu pela parte de dentro e comeou a lambiscar o vinho. Dada a pequena distncia, que nas baratas vai da boca ao crebro, o lcool lhe subiu logo a este. Bbada, a baratinha caiu dentro do copo. Debateu-se, bebeu mais vinho, ficou mais tonta, debateu-se mais, bebeu mais, tonteou mais e j quase morria quando deparou com o caro do gato domstico que sorria de sua aflio, no alto do copo. - Gatinho, meu gatinho pediu ela , me salva, me salva. Me salva que assim que eu sair eu deixo voc me engolir inteirinha, como voc gosta. Me salva. - Voc deixa mesmo eu engolir voc? disse o gato. - Me saaalva! implorou a baratinha. Eu prometo. O gato virou o copo com uma patada, o lquido escorreu e com ele a baratinha que, assim que se viu no cho, saiu correndo para o buraco mais perto, onde caiu na gargalhada. Que isso? perguntou o gato. Voc no vai sair da e cumprir sua promessa? Voc disse que deixava eu comer voc inteira. - Ah, ah, ah! ria ento a barata, sem poder se conter. E voc to imbecil a ponto de acreditar na promessa de uma barata velha e bbada? Moral: s vezes a auto depreciao nos livra do peloto

O Rei dos Animais Millr Fernandes Saiu o leo a fazer sua pesquisa estatstica, para verificar se ainda era o Rei das Selvas. Os tempos tinham mudado muito, as condies do progresso alterado a psicologia e os mtodos de combate das feras, as relaes de respeito entre os animais j no eram as mesmas, de modo que seria bom indagar. No que restasse ao Leo qualquer dvida quanto sua realeza. Mas assegurar-se uma das constantes do esprito humano, e, por extenso, do esprito animal. Ouvir da boca dos outros a consagrao do nosso valor, saber o sabido, quando ele nos favorvel, eis um prazer dos deuses. Assim o Leo encontrou o Macaco e perguntou: "Hei, voc a, macaco - quem o rei dos animais?" O Macaco, surpreendido pelo rugir indagatrio, deu um salto de pavor e, quando respondeu, j estava no mais alto galho da mais alta rvore da floresta: "Claro que voc, Leo, claro que voc!". Satisfeito, o Leo continuou pela floresta e perguntou ao papagaio: "Currupaco, papagaio. Quem , segundo seu conceito, o Senhor da Floresta, no o Leo?" E como aos papagaios no dado o dom de improvisar, mas apenas o de repetir, l repetiu o papagaio: "Currupaco... no o Leo? No o Leo? Currupaco, no o Leo?". Cheio de si, prosseguiu o Leo pela floresta em busca de novas afirmaes de sua personalidade. Encontrou a coruja e perguntou: "Coruja, no sou eu o maioral da mata?" "Sim, s tu", disse a coruja. Mas disse de sbia, no de crente. E l se foi o Leo, mais firme no passo, mais alto de cabea. Encontrou o tigre. "Tigre, - disse em voz de estentor -eu sou o rei da floresta. Certo?" O tigre rugiu, hesitou, tentou no responder, mas sentiu o barulho do olhar do Leo fixo em si, e disse, rugindo contrafeito: "Sim". E rugiu ainda mais mal humorado e j arrependido, quando o leo se afastou. Trs quilmetros adiante, numa grande clareira, o Leo encontrou o elefante. Perguntou: "Elefante, quem manda na floresta, quem Rei, Imperador, Presidente da Repblica, dono e senhor de rvores e de seres, dentro da mata?" O elefante pegou-o pela tromba, deu trs voltas com ele pelo ar, atirou-o contra o tronco de uma rvore e desapareceu floresta adentro.

O Leo caiu no cho, tonto e ensanguentado, levantou-se lambendo uma das patas, e murmurou: "Que diabo, s porque no sabia a resposta no era preciso ficar to zangado". M O R A L: CADA UM TIRA DOS ACONTECIMENTOS A CONCLUSO QUE BEM ENTENDE.

Este texto foi extrado de um dos mais geniais livros de Millr: "Fbulas Fabulosas", editado por Jos lvaro - Rio de Janeiro, 1964, pg. 23.
Estentor (do grego: ; gen.: ) um personagem da Ilada, um dos heris que participaram do cerco de Tria, segundo Homero. Sua voz era to forte quanto a de centenas homens que gritassem ao mesmo tempo e permanece como sinnimo de voz potente. Segundo Homero, Estentor foi fulminado pelo deus Hermes, aps desafi-lo a um duelo de voz, e ter perdido.

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