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Apocalipticos e Integrados Completo

Apocalipticos e Integrados

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TRAE CONSLNO inde t3o ampla de seus wabilidade, mr aregéncia adequada sc de cificil manuseio, io, € manusear um gi- cara parte e perder de cmenias as mais vatia- lassificapdes, cujo ob- imido controle, Diante ex tipos ou niveis, 20 macirias definigdes de as que se apoi- sso do comportamen- sade conceitos que se sc das divisdes da Co- sci serd fungao refle- sis com a perspectiva “nivel de Comunica- em seu “envolvimento smsociolégico estabe- “gan de complexida- sci de Comunicagiio. "ee “tipo de estrutura sara sua classificagio mssificaso, gradagio, clo. Segmentar para, e=urso das tipologias s~o8 dos niveis m: sa” do famoso ensaio 968-237-289), Deuma Se de um paradoxo. spa que o limite é0 mente definida que 0 licionais. wz Ge construir esta PARADIGMAS EM TEORIA Da COMUNICAGKO: UMA REVISAO CRITICA {eorizagao. Assim, nada a estranhar que, paralelamente a tudo isso, um outro viés tenha acontecido, produzindo alguns dos melhores momentos da reflexio sobre a Comunicagio. Por vezes caminhando longe, por vezes se entrelagando, existiu outra perspectiva de discus- Sto, Trata-se do lado onde o fendmeno revelava ser mais exclusivo, particular ¢ especifico, enquanto novidade na vida social. Era a criti. ca politica dos Meios de Comunicagao de Massa e da elogiiente ques- {Go cultural que eles arrastavam. E esta discussdo - muito pouco preo- cupada com uma “ciéncia da Comunicacao” e mais atenta na direcio crucial da “Cultura de Massa” - que esquentou o debate. Com ela, ou- {10s estilos, outros quadros e matrizes ocuparam 0 cendtio. Uma dife- rente reunido de idéias e textos formou um dos mais importantes aradigmas do campo. Um conjunto de esforgos se coneentrou na ques- {Bo da existéncia de uma cultura sob impacto, que assistia, perplexa, a improvavel transformago do planeta em categoria sociolégica, apocalipticos e integrados Vimos a dificuldade enfrentada por uma linha de pensamento, cujo objetivo era construir uma teoria cientifiea da Comunicagao, ‘Vamos conhecer, agora, um outro estilo que a literatura da Comuni- cago também consagrou. No panorama das teorizagdes, uma “rea nobre” foi articulada em tomo da nogio de “Cultura de Massa”, A expressio designa um conjunto tio importante, que chegou 2 ser con- fundida com a totalidade do campo. Por vezes, estudar Cultura de Massa era estudar Comunicagio, De fato, a discusstio dos meios-que- Falam-para-as-massas ¢ das coisas que eles dizem foi crucial no deba- te da Comunicagdo. Mais uma vez, a abrangéncia do material dispo- nivel é imensa, ¢ os inevitaveis cortes acompanham-nos, Estes trabalhos possuem uma lgica bem definida. O quadro no qual se inscrevem pode ser chamado de “paradigma do tribunal”. E, isto, por uma razdo muito simples: eles realizaram um verdadeiro jul. ol ‘A SOCIEDADE DO SONHO: COMLNICACAO, CULTURA CONSLMO gamento da Indtistria Cultural. E evidente que existe uma inadequa- 40 dos tribunais como instaneia académica de conhecimento. Ainda assim, niio devemos descartar a importincia do modelo. Muito a0 sua incluso no debate é fundamental, pois nele esté uma das condiges fundadoras do pensamento sobre a Comunicagdo de Massa, Nio se trata de algo falido ou morto; ele trouxe inestimével contribuigdo diante de uma novidade complexa e perigosa. Conhecer seus dilemas é a homenagem de resgaté-lo, Procurar novos espelhios para refletir a Industria Cultural significa recuperar o diélogo com estratégias analiticas que a antecederam. - Assim, revisitando esta literatura, constata-se uma recorréncia. Existe nela a adogdo de um ponto de vista exterior ao objeto. A visio no 6 de dentro, interna, imersa no espago de seu universo de signifi- cages. Apesar disso ser algo prioritirio, a visio corrente & externa, de fora, como que presa nas fronteiras da regido, sem penetrd-la. O “paradigma do tribunal” enquadra-se claramente na critica e este & um ponto sensivel de sua fragilidade. Aqui, é preciso dizer que nossa revisdio do “paradigma do tribu- nal” esta calcada no estudo classico de Umberto Eco sobre as verten- tes polarizadoras dessa discussdo, que ele chamou de apocalipticas © integradas (Eco, 1976). De um lado, para a posigio apocaliptica, a Inddstria Cultural era pouco mais que um projeto de dominagao, co- lonizagao, repressao, autoritarismo e engodo das massas. A Indiistria Cultural significava uma méquina de imposigao da ideologia domi- nante - ideologia dos dominantes, bem entendido - sobre 0 resto da sociedade. De outro lado, a posigdo integrada defende a Indéstria Cultural como capaz.de democratizar a cultura para as massas. Para estes, ela socializa a informagio, educa, abre o acesso aos bens da chamada “alta” cultura. ponto importante € que a producio intelectual tipica dos dois ‘grupos dé a sensagiio de um tribunal, cujo objetivo é sentenciar o fendmeno social. O farto material das duas vertentes atesta umn duvi- doso gosto pelo maniquefsmo. E nitido que a grande maioria dos au- tores embarca, prazerosamente, no sentimento de um amplo e defini- tivo julgamento. Num sentido, todos esto no clima que inspirou.a. propria expressdo Indistria Cultural. Na verdade, Adorno e Horkheimer criaram um termo para denunciar outro -Cultura de Massa PARADIGMAS EM TeDRIA DA CoMUNICACAO: UMA REVISKO CRITICA ue traria subjacente a dia de democracia na cultura. Com isto eles Concordavam, definitivamente. A postura jurfdica e normativa norteia a ctiagao do termo Indiistria Cultural, e explicita o espirito que vai dar o tom do discurso, Os integrados pretendiam com o termo Cultura de Massa conotar “algo como uma cultura surgindo esponta- rneamente das préprias massas, em suma, la forma contemporanea de arte popular”. A nova expresso denuncia, pois a “Indtistria Cultural 6 integragio deliberada, a partir do alto, de seus consumiddores” (Ador- no, 1971:287). As palavras de Adorno sao elogiientes. A questo cifra-se na opo- sigdo onde ou a cultura surge espontaneamente de baixo ou é imposta do alto. Assim, temos o réu, que ¢ a Indiistria Cultural; os “advogados da coisa”, que sio os integrados; e os acusadores, que sio os _apocalipticos. Instalou-se um julgamento, Busca-se uma insdlita di puta sobre a sentenga apropriada para a Indiistria Cultural, ¢ 0 debate intelectual deixa a cena. Dessa mancira, um faro social torna-se alvo de uma critica pol tica e moral que fornece a regra do jogo. Em que pese esta visio complicada do fenémeno, certos argumentos substanciais séo produ- zidos. Um deles € quanto ao carter de sistema presente neste univer- 0 simbélico; outro € que a Industria Cultural se nutre das representa (¢6es sociais, e imprime sobre esse material usado uma nova qualida- de (Adorno, 1971:287), Com bons argumentos e grandes problemas, © modelo do tribunal é © dominante até o inicio dos anos 60." E af que Umberto Eco publica o livro “Apocaliticos ¢ Integrados”, que passa a limpo as idéias de defensores e acusadores da Industria Cultu- ral. Jé no prefécio, anuncia que sera feita a revisio de certas “linhas metodolégicas gerais”, diz. que “injusto” reduzir todas as posigdes a dois termos polémicos, ¢ que a Indistria Cultural sera tomada numa “acepedio a mais descongestionada possivel” (Eco, 1976:7). Este trabalho de profilaxia - “descongestionar” - quer dizer inventariar as linhas gerais da argumentagao das duas vertentes. Assim, Eco decifra 0 “paradigma do tribunal”, expondo.quinze argumentos apocalipticos ¢ nove integrados. Reproduzindo a at- mosfera de tribunal, as posigdes apocalipticas so chamadas de “pegas de acusagio" e as integradas, de “defesa da Cultura de Mas- sa”. Vamos ver esse julgamento, comegando pelos argumentos da ‘A SOcIEDADE Do SONHO: CoMUNICAGAO, CULTURA E CONSUMO acusagao. A ordem de apresentagdo nio implica a primazia do con- tetido, s apocalipticos acusam os Meios de Comunicagao de Massa de serem generalistas, refratérios as “solugdes originais”. Sao incapazes “para a especificidade, presos ao limite imposto pelas “médias de gos- to”. Seus piblicos sio impessoais, ndo tém identidade. Os midia nao utilizam linguagem diversificada, seu projeto é comunicar 0 consen- So. A conseqiiéncia é que acabam por dirimir a diferenga, que é forea viva na sociedade. Decretam uma espécie de anulagio da diferenga cultural, enfatizando um discurso que espalha apenas a semelhanga. Sua tendéncia é a construgao da homogeneidade, do mesmo, pela des- tuigdo das “caracteristicas culturais préprias de cada grupo étnico” (Eco, 1976:40). Outta critica dos apocalipticos & a narcotizagio da consciéncia Os Meios de Comunicagao de Massa descaracterizam, retiram, des- troem mesmo, a “consciéneia” dos grupos sociais aos quais se di gem, Um ptiblico sem consciéncia de si, sem espago de pensamento ¢ identidade de grupo, “nio pode manifestar exigéncias face & Cultura de Massa, mas deve sofrer-Ihe as propostas sem saber que as sofre” (Eco, 1976:40). ponto seguinte esta baseado nas idéias de cultura “superior” & “inferior”. O argumento se complica por possuir uma concepeao pro- blemética de cultura. A idéia de alta ou baixa cultura é muito datada, e niio tem maior rendimento dentro de uma concepeao mais refinada do termo. Esta visio, bastante usada por apocalfpticos e por integra- dos, é inafiangével do Angulo em que se entende cultura na maioria das produgdes da Antropologia Social hoje. Na tradigao de debate do conceito de cultura, a Antropologia fez. sistemAticas revisdes ctiticas aos de maior referencial etnocéntrico, assumindo as concepgbes mais relativizadoras, particularmente, a visio da cultura como um sistema simbdlico."” Em todo caso, o argumento apocaliptico é que os midia seriam meros tradutores - simplérios e de mé fé - das produgdes cul- {urais que jé foram a“ponta de langa” da vanguarda da “alta cultura”. E, isto, no intuito de transformar 0 “avango cultural” em um travestido conservacionismo. Eles niio rompem “tradigdes estilisticas”, apenas homologam “o que jé foi assimilado”, desenvolvendo “fungdes mera- ‘mente conservadoras” (Eco, 1976:40). PARADIGMAS EM TEDRIA DA COMUNICACAO: UMA REVISKO CRfTICA. A quinta “pega de acusago” ¢ polémica, Nela, questionam a.atu- , agdo da Indistria Cultural sobre as emogdes do piiblico. A critica é que ela distribui “emogées prontas”; mais modemamente, seria dizer { “enlatadas”, Neste jogo de remexer sensagoes, os midia divulgam “ emocionalidade acabada, morta, totalmente presa e complementada , em si mesma. O piblico fica alienado da sua concepeao, realizacao e vivéneia, Emogao erilatada € emogao esvaziada de forca transformadora do ser ¢ de sua existéncia social, B a emogao sem a forga oferecida enquanto tal e apenas por si; sem peso pessoal, social ou politico (Eco, 1976:40). A sexta critica € que os Meios de Comunicagao de Massa no podem existir fora do jogo das leis do mercado capitalista, Eles defi- nnem-se por essas leis e s6 podem produzir e transmit o que é sanci- onado pelos controladores desses mercados. Seu destino é 0 de ser sustentado pela publicidade de produtos e servigos, Portanto, procu- Tam persuadir 0 pblico quanto & natureza de seu proprio desejo. Os ’ midia estariam inteiramente subjugados por uma “economia baseada no consumo” (Eco, 1976:40), Outro argumento retoma a concepeao de que a cultura possui niveis de superioridade e inferioridade. Agora nfio mais ligado a sensibilizagao do gosto estético, 0 argumento ataca o nivel da racionalidade dos mfdia, Seus produtos, mesmo levando ao ptiblico produgées da alta cultura, fazem-no em formulas condensadas, cuja caracteristica é a inexisténcia de esforco intelectual por parte do re- ceptor, Eles trabalham com “férmulas” que nao provocam “nenhum esforgo por parte do fruidor” da mensagem, Isto quer dizer arte comunicada “em pequenas doses”, alta cultura destocada, destilada, enfraquecida (Eco, 1976:41), Como desdobramento desta pauperizagio, ainda no quadrodacon- cepsao hierarquizada da cultura, 0 oitavo argumento € contra oO, nivelamento dos produtos culturais veiculados pelos Meios de Comu- nicago, Os apocalipticos consideram que, para os mia, pouco impor- ta se alguma coisa ¢ “alta” ou “baixa” cultura, tudo recebe o mesmo (ratamento, Mais grave ainda: tudo é deliberadamente confundido, fa- zvendo-se passar por uma mesma coisa. Por isso é que é possivel um semandrioilustrado misturar matérias, equiparando “um muscu de arte” om 0 “mexerico sobre o casamento da estrela” (Eco, 1976:41 ), a ‘A SOCIEDADE DO SoNHO: COMUNICACKO, CULTURA E CoNsUMO ‘Annona acusagio é na linha do processo de alienagto. A aliena- .¢40 & um desdobramento obrigat6rio do fato de que a midia, primeiro, “condensa”, , depois, “nivela” os produtos da cultura “superior” com todo o resto. Eles criam um conjunto de “faits divers”, um liquidifica- dor igual a si mesmo, anulando as significagSes disjuntivas que a cul- tura possui. Com isto, alienam o receptor das mensagens culturais ¢_ induzem-no a uma postura “acritica”. Na verdade, “desencoraja-se 0 ‘esforgo pessoal pela posse de uma nova experiéncia” (Eco, 1976:41). ‘Acabamos todos caindo numa passividade absoluta e politicamente__ ddegenerativa, Interessa aos detentores dos meios de produgo - por isso mesmo, donos dos mfdia - que se viva uma eterna percepgio do mundo contemplativa e marcada pela “passividade”. Neste projeto alienador tragado pela Indvstria Cultural, até a pré- pria consciéncia hist6rica - categoria fundamental do discurso apocalfptico ~ é entorpecida. Isto serve aos interesses politicos domi nantes. Os midia repetem exaustivamente o presente (no Ultimo capf- tulo, veremos que se trata de tempo totémico), superinformando 0 plano da atualidade, Nas palavras de Fico, (1976:42) os midia “enco- rajam uma imensa informagio sobre o presente, ¢ assim entorpecem toda a conscincia histérica”. (0 décimo primeiro argumento 6 de dificil encaixe neste julgs- mento da Indiistria Cultural, Trata-se da eritica aos midia formulada em termos de uma espécie de “psicologia da atengo” ou do “com- portamento”. Neste sentido, foge ao padrdo das eriticas que incidem alternadamente sobre 0s planos “politico”, “cultural” e “moral”. A critica agora est4 voltada mais para um quadro “psicolégico”, carac~ terizador de uma “natureza” humana. De uma forma diferente, este argumento quer dar a idéia de que existiria uma fruigdo mais “natu-_ ral”, por assim dizer, das produgGes da “alta” cultura, que acaba frus- trada pela forma de transmissao feita pelos mfdia. Eles s6 exigem. “atengdo superficial”, “fruig&o epidérmica”, ¢ essa atengao “viciada” desnaturaliza a recepeao (Bco, 1976:42). © argumento “psicolégico” parece fora do tom das eriticas pocalipticas, dominadas pela discussao de alto e baixo no plano cul- tural, esquetda ¢ diteita no plano politico, certo e errado no plano moral. Assim procedendo, 0s apocalfpticos abrem luta em todas as frentes, pois argumentos “psicoldgicos” sero uma “teorizagio” tipi- PARADIOMAS ES TEDRIA DA COMUNICACAO: UMA REVISAO CRITICA ado universo de produtores de Comunicagio de Massa, e, portanto, arguments usados pelos integrados. Na décima segunda “pega de acusago”, voltamos as frentes tra- dicionais - politica e cultura - de sustentagio da critica aos Meios de Comunicagdo, O tema aqui é que a Indiistria Cultural impde uma rede de “simbolos”, “mitos” e “tipos” reconheciveis, reduzindo a experi- @ncia individual. Outra vez, 0 primado do universal, do geral e do homogéneo, forcando a anulagao do particular, do heterogéneo e da diferenga. E a singularidade do individuo e da individualidade que tende para o grau zero (Eco, 1976:42). ‘Através deste procedimento - este é 0 décimo terceiro ponto da acusago -, 0s Meios de Comunicagao operam com todos os elemen- tos do gosto médio e da “opiniio coum’. Os midia “desenvolvem ‘sempre uma ago social conservadora”, porque suas mensagens sio obrigadas a funcionar “como uma continua reafirmagio do que j4 pensamos” (Eco, 1976:42). E nesta mesma linha da acusago de reacionarismo politico que se pode enquadrar o peniiltimo argumento apocalfptico. Os Meios de Comunicacdo de Massa, mesmo quando querem evitar parecer preconceituosos, estilo “'sob o signo do mais absoluto conformismo”. E, isto, tanto no plano dos “costumes”, quanto dos “prinefpios soci- ais”, “teligiosos” ou “tendéncias politicas”. Assim, acabam sempre favorecendo “projecdes orientadas para modelos oficiais” (Eco, 1976:42). 0 diltimo argumento é uma metralhadora giratéria e uma sfntese. Ele Fepete as principais vertentes da critica. De certa maneira, ele fala «de todos os demais, pois acusa tanto a “distorcida” fungao da midia na dimensdo “cultural” quanto o “posicionamento politico” orienta- «lo para a perpetuacao do “capitalismo” e para 0 “controle das mas- sas”, Os midia sfo tfpica “superestrutura do regime capitalista”, para “controle” e “planificago” das consciéncias. Pretensos dispositivos «le distribuigdo dos “frutos da cultura superior”, fazem-nos “esvazia- «los da ideologia e da critica que os animava”. Querem ser lugar de «livulgago da “cultura popular”; porém, “ao invés de crescerem es- ypontaneamente de baixo, so impostos de cima” (Eco, 1976:42).Numa yyalavra, os Meios de Comunicagao de Massa sao 0 perigoso porta-voz, «la sociedade de consumo ¢ de uma ideologia capitalista da existéncia, o ‘A SOCTEDADE Do SoM. COMUNICAGAO, CULTURA B CoNsUNO Assim, essas stio as quinze principais “pegas de acusa¢io” orga- nizadas no que Umberto Eco apropriadamente chamou um “cahier de doléances” da Indéstria Cultural. E claro que uma grande discussio numa cépsula deixa necessariamente de lado muita coisa. Umberto Eco corta, retin, intervém, criando um mapa que no poderia ser idntico ao territério. E evidente, portanto, que nem todas as questées, temas, autores ¢ textos esto contemplados dentro destas fronteiras. Nao € preciso falar da totalidade. O importante é que estio retra- tadas, de fato, as grandes proposigdes que essa vertente de analistas da Indstria Cultural - 0s apocalipticos - desenvolveu em seus traba- hos. Para classificar tudo isso, Umberto Eco revisou diversos auto- res. Examinando as referencias feitas, para os argumentos da acusa- ‘Ho, vemos que uma parte substancial desta produgio foi inventariada, Através da filtragem critica do material, os argumentos circulam pe- los textos de Adorno, MacDonald, Clement Grinberg, Gilbert Cohen- | S€at, Leo Handel, Enrico Fulchignini, Claude Frére, Hannah Arendt, | Edgar Morin, Francesco Albertoni, Violete Morin, Coulton ‘Waugh, | S. Becker, Carlo Della Corte, Lyle W. Shannon, Fedele D'Amico, | Emest Van den Haag ¢ Renato Solmi. No trabalho de filtragem dos | materiais e posigdes dos apocalipticos, Umberto Eco niio est sozi- | nho, Um quadro semelhante a este foi organizado por Leo Bogart no livro “A Era da Televisio”, de 1956, e outro por Aldo Visalberghi no artigo “Sociedade e Indiistria Cultural”, de 1961 Nesta filtragem das posig6es dos eriticos da Cultura de Massa, lum ponto destaca-se: a sustentago dos argumentos estii no reacio= natismo politico ¢ na inadimpléncia cultural do novo fenémeno aque. a sociedade assistia. E evidente que essa avaliagio suscitou polémi- cas. A critica pesada néo foi a tinica visio sobre a Indtistria Cultural. Ela sofreu a contracarga de um discurso de defesa. A posigiio dos apocalipticos passou a se defrontar sistematicamente com a dos assim chamados integrados. Duas concepgées opost cado da Comunicagao de Massa I6gico do problema emergente, Assim, trafegando na contramao das “pecas de acusagio” apocalipticas, estavam as posig6es dos integrados que tomaram o fe- némeno pela ética siméttica e inversa. Sua “defesa da Cultura de Massa” expressa-se em argumentos que procuram legitimar a produ- a [PARADIOMAS EM TEORIA DA CoMUNICAGAO: UMA REVISKO CRINICA ‘eo dos midia. O conjunto dos defensores da Indéstria Cultural nfo é, entretanto, homogéneo. E possivel distinguir dois grupos. De um lado, 0s “produtores”, comprometidos com o sistema da midia, defendem. -no com a radicalidade de quem vive de fazer Indiistria Cultural. Es- tes desenvolvem um “discurso simplista, de dentro do sistema, sem nenhuma perspectiva critica”. De outro lado, os que tém 0 crédito de ‘uma anélise mais densa e consistente. Nao estio comprometidos pes- soal, ideol6gica ou profissionalmente com a Indistria Cultural. O fa | moso “A estratégia do desejo”, de Ernst Dichter, é um bom exemplo do primeiro caso. Os trabalhos de David Manning White, Arthur, Schlesinger, Gilber Selds, Daniel Bell, Edward Shilds, Eric Larrabe € George Friemann sio exemplos do segundo caso (Eco, 1976:43). Assim, a primeira tese de defesa da Cultura de Massa ¢ fatalista, Ela afirma a inevitabilidade dos midia no mundo moderno. Sua pro- dugdo simbélica € constante, e tende para a universalidade, Nao é subproduto do capitalismo, e, sim, um desdobramento diteto do pro- cess0 de industrializagio da sociedade, seja qual for o “modo de pro- dugGo” que 0 presida, Os Meios de Comunicagiio de Massa e seu dliscurso so o signo da sociedade planetéria que se instaurou no mundo 1p6s-Revolugio Industrial. Em qualquer sistema econémico ou polit co, alguma espécie de Indiistria Cultural vai fomentar umecumenismo simbélico, cuja raiz esté na inevitabilidade, em algum grau, da indus- ‘vializagao no mundo moderno. Como prova, afirmam que eriticas ao constrvadorismo estético, ‘10 nivelamento do gosto, ou ao estilo paternalista da comunicagio de valores seriam aplicdveis perfeitamente as produgSes culturais daqui- loque era o chamado “mundo comunista”. A Indiistria Cultural é par- te dos regimes politicos pés-Revolugo Industrial e do préprio estilo sli modernidade. Criticar a fruigdo dos bens culturais divulgados pe- Jos midia € impregnar-se de uma representagdo etnocéntrica do ser Iwumano. Os apocalipticos, ao reificarem a imagem da cultura e do Inumanismo incompativel com a mistura de Michelangelo e estrelas ‘le cinema, procedem como um “humanista antigo movenddo-se com limpida autonomia pelos vérios campos do cognoscivel” (Eco, 5)._A Indistria Cultural €a possibilidade real de tudo ¢ todos, sob determinadas circunstinicias, comunicarem-se. Ea extensfio pré- ppria de uma sociedade e de uma técnica. 'A SOCTEDADE DO SON: COMUNICACKO, CULTURA & CONSUMO Os integrados afirmam que a critica & Indéstria Cultural passa por uma definigdo arbitréria do que deve ser mais genuinamente “hu- mano”. Essa concepgiio ¢ distorcida por ideais discutiveis. © meca- nismo é escolher uma imagem do ser humano absolutamente adequa- dda ao jogo acusat6rio, e condenar, entdo, os produtos dos midia como inadequados a ela, O ponto é que essa imagem nao é nem fidedigna nem relativa. A critica $6 € possivel se a concepgao apocaliptica par- ticular for assumida, de forma etnocéntrica, como o verdadeiro espe- Iho do “humano” como umn todo. Os integrados, ao duvidar da repre- sentagflo apocaliptica do “humanismo”, esto interrogando o que esti por detrds da critica a Indistria Cultural. Para eles, ela nao disputa nada com nenhuma forma de “cultura superior” ou “erudita”. Na ver- dade, estas manciras de ver a cultura s6 so possiveis através daque- tas formas de representar o “humanismo” (Eco, 1976:46). terceiro ponto dos integrados é um questionamento aos “aris tocréticos” apocalfpticos. A defesa, aqui, esta baseada na tese de que ‘oactimulo de informagiio que uma populacao pode receber pelos Meios, ‘de Comunicagio de Massa acaba se transformando em algo intelectu- almente produtivo, A quantidade de informagées pode resultar em salto de qualidade. Para os integrados, recusar que 0 actimulo de in- formag6es possa transferir-se em qualidade da formagao intelectual e, sensfvel é ter uma concepgao “pessimista da natureza humana” (Eco, 1976:46). Nao existe razio para que a quantidade de informagio re- cebida nfo opere uma “mutago qualitativa”, ‘A quarta forma de defesa € nao responsabilizar os mfdia pela introdugio da dimensiio “circense” da vida social. Eles niio inventa- ram nem a distragao gratuita nem o prazer negative que obtemos de

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