Para entender o texto: Leitura e Redao um livro com um projeto didtico voltado para o Professor, cujo ofcio o de auxiliar
ar o aluno na leitura autnoma e tambm torn-lo um produtor competente de textos. A sensibilidade exigida para a leitura e produo de textos uma qualidade que se desenvolve, trata-se de um processo, e no apenas um dom nato, por isso, os autores Plato e Fiorin (1993) destacam a importncia da explicitao de mecanismos de produo de sentido de texto. Tais explicitaes buscam no somente contribuir, mas tambm melhorar o desempenho dos alunos na leitura e na escrita, ao longo dos seus vrios anos na sala de aula. Para isso nesse livro o professor encontrar anlises de textos, todos comentados diante de cada estudo proposto pelos autores; alm de exerccios de reflexo e ainda atividades voltadas para produo textual, divididos pelos autores em lio. Em cada lio enfoca-se pelo menos um mecanismo de construo do texto. Os autores demonstram primeiramente que so necessrios alguns conhecimentos para ler e produzir textos os quais englobam trs nveis: Conhecimento do sistema lingustico; Conhecimento do contexto sociohistrico em que foi construdo o texto; Conhecimento dos mecanismos de estruturao do significado. Uma vez que a proposta do livro explicar mecanismos de produo do sentido do texto, os autores focalizaram seus estudos nos dois ltimos nveis, porque as gramticas j se ocupam do conhecimento do sistema lingustico. Na lio introdutria so feitas consideraes sobre a noo de texto. O texto no um aglomerado de frases, pois nele o significado das partes depende das correlaes que elas mantm entre si, isto , num texto o sentido de uma frase dado pela correlao que as partes mantm com as demais. Alm disso, para se fazer uma boa leitura deve-se sempre considerar o contexto em que est inserida a passagem a ser lida. Na definio de Plato e Fiorin (ibid:12), entende-se por contexto uma unidade lingustica maior onde se encaixa uma unidade lingustica menor. A frase, por exemplo, uma unidade menor que se encaixa no contexto do pargrafo, unidade maior em relao frase, o pargrafo se encaixa no contexto do captulo, etc. Essa relao acontece de maneira explcita. Porm, o contexto pode ser encontrado de maneira implcita, em que os elementos da situao de produo do texto podem dar como pressuposto o contexto onde ele se situa. Dessa forma, o contexto que envolve a passagem do texto pode manifestarse explicitamente, por meio de palavras, ou implicitamente: na situao concreta em que o texto produzido. A segunda considerao levantada pelos autores a de que em todo texto h um pronunciamento, pois o texto no uma pea isolada, nem a manifestao da individualidade de quem o produziu,
no h neutralidade. Ento, sempre ao produzir textos, existe a manifestao da posio do autor frente a uma questo qualquer, nesse sentido existe uma inteno por trs em todo texto. A estrutura construda de um texto permite observar que as frases no tem significado autnomo, pois o sentido de uma frase se d pela correlao que ela tem com as outras, todas as partes so solidrias. O texto, dessa forma, um tecido. As relaes que acontecem entre textos, ou seja, aos dilogos os quais frequentemente ocorrem entre textos chamada de intertextualidade: onde um texto retoma passagens de outro. Em um texto cientfico, a citao de outros textos feita de maneira explcita, por meio de aspas, e em nota com o nome do autor e obra, de onde se extraiu a citao. J no texto de carter literrio, o dilogo entre outros textos implcito, isto , os dados a respeito da mitologia universal, histricos, literrios, etc., no so mostrados pelo poeta ou escritor. Nos textos literrios, espera-se que o leitor compartilhe e j tenha um conjunto de informaes; assim, o escritor pressupe que o leitor tenha conhecimentos literrios, dentre outras manifestaes culturais, para perceber possveis relaes intertextuais e assim compreender de maneira plena o texto. Os autores destacam a importncia da leitura, pois quanto mais se l, mais se amplia a competncia para apreender o dilogo que os textos travam (ibid:20). A intertextualidade acontece por meio de referncias, aluses e citaes utilizadas com distintas finalidades: seja para reafirmar alguns dos sentidos do texto citado, seja para inverter ou contestar, deformar, alguns dos seus sentidos ou at mesmo polemizar o texto. Alguns dos fenmenos da intertextualidade analisados em poemas dessa lio pelos autores esto a Pardia e a Parfrase. Na lio O texto e suas relaes com a histria retomada a questo de que todo texto um pronunciamento sobre uma dada realidade, mencionada na lio Um. Isso acontece porque o produtor de um texto pronuncia as ideias, as crenas, os valores, as concepes distintas de seu tempo e da sociedade onde vive. Nesse sentido todo texto assimila as ideias da sociedade e da poca em que foram produzidos, ento os textos se relacionam com a histria, mas isso no significa que eles narram fatos histricos de uma nao, mas revelam os ideias, os anseios, os temores, etc., de um povo em certo perodo. Essas ideias so transmitidas linguisticamente e veiculadas atravs do texto, uma vez que no existem ideias puras, dessa maneira, o discurso reflete as relaes sociais. Outro aspecto abordado pelos autores trata-se de processos para depreender os diferentes nveis de leitura de um texto. Nesta lio, depois de analisar alguns textos, pode-se concluir que o leitor cumpre um trajeto partindo da estrutura da superfcie, passando por uma intermediria e, chegando a uma estrutura profunda. Mas para chegar a uma compreenso necessrio haver unidade no texto, uma organizao na sua superfcie capaz de estabelecer harmonia e coerncia no mesmo. Segundo os autores existem trs nveis de leitura distintos que compem a estrutura do texto: 2
Nvel mais superficial ou estrutura superficial, onde aparecem os significados mais concretos e diversificados (como narrador, personagens, cenrios, etc.) Tambm denominada estrutura discursiva. Nvel intermedirio ou estrutura intermediria onde se definem valores dos diferentes sujeitos. a estrutura narrativa. Nvel mais profundo ou estrutura profunda, onde ocorrem os significados mais abstratos e mais simples. No entanto, para alcanar a estrutura mais profunda o leitor deve agrupar os significados aparentados, as oposies, os significados com algo em comum, isto , dividir e classificar os elementos do texto. Em duas lies os autores mostram como se organiza a estrutura narrativa, sobretudo literria, a fim de exercitar a separao de elementos concretos e os abstratos de um texto narrativo. A narratividade ou transformao de estados uma caracterstica encontrada em qualquer texto e que constitui um dos nveis de estruturao do sentido do texto. Nesta estrutura narrativa ocorrem os enunciados, estudados pelos autores: Enunciado de estado: estabelecem uma relao de posse ou de privao entre sujeito e um objeto. Enunciado de ao: indicam a passagem de um enunciado de estado para outro e h a participao de um agente qualquer. Ora, essas estruturas indicam relao de posse e de privao entre um sujeito e um objeto. Contudo, os autores reconhecem que, em geral, na estrutura narrativa se articulam vrios enunciados, assim estes dois enunciados propostos por eles no so o bastante para explicar tudo o que se passa numa narrativa. Dando seguimento nos anlises expostas, eles mostram um estudo de agrupamentos de enunciados dentro de uma estrutura narrativa e os analisa numa fbula. Tais agrupamentos podem ser divididos em fases distintas: manipulao, competncia, performance, sano. Para Plato e Fiorin (ibid:57) , em sntese, a narrativa construda a partir de articulao dessas quatro fases, manipulao Um personagem induz outro a fazer alguma coisa. O que vai fazer precisa: querer ou dever. competncia O sujeito do fazer adquire um saber e um poder. Performance O sujeito do fazer executa sua ao. Sano O sujeito do fazer recebe castigo ou recompensa.
destacado ainda que esse esquema, s vezes, no aparece nas narrativas com essa simplicidade exposta, estes elementos do esquema pressupem uma lgica; porm algumas dessas fases no ocorrem explicitamente no texto ou no se achar todas as fases arranjadas uma aps a outra na narrativa. Continuando o estudo da narrativa na Lio sete, os autores preocupam em descrever os objetos com os quais o sujeito se relaciona com a posse ou a privao desse objeto. Os objetos so distintos, no precisa ser uma coisa, mas tambm riqueza, amor, alegria, etc., enfim tudo aquilo que um sujeito pode adquirir ou perder.
SAVIOLI, Francisco Plato; FIORIN, Jos Luiz. Para Entender o texto leitura e redao. 7 ed. Pp. 03-70. So Paulo, SP: tica, 1997.