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6os Antecedentes - II O Elefante No Escuro

1) O documento discute as dificuldades em resumir e compreender o sufismo através de métodos limitados de estudo, comparando-o a tentativas de descrever um elefante no escuro tocando apenas uma parte. 2) Há muitas definições contraditórias do sufismo por acadêmicos que dependem muito de suas próprias perspectivas limitadas, em vez da experiência direta. 3) A literatura sobre o sufismo é ampla mas poucos tiveram a oportunidade de experimentá-lo diretamente, levando
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6os Antecedentes - II O Elefante No Escuro

1) O documento discute as dificuldades em resumir e compreender o sufismo através de métodos limitados de estudo, comparando-o a tentativas de descrever um elefante no escuro tocando apenas uma parte. 2) Há muitas definições contraditórias do sufismo por acadêmicos que dependem muito de suas próprias perspectivas limitadas, em vez da experiência direta. 3) A literatura sobre o sufismo é ampla mas poucos tiveram a oportunidade de experimentá-lo diretamente, levando
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6 - Os antecedentes II O elefante no escuro

Um homem, que nunca tinha visto gua, ao ser atirado dentro dela de olhos vendados, sente-a. Quando se lhe retira a venda, sabe o que . At ento, s a conhecia por seu eleito. !umi, "ihi #a "ihi Com a expanso da cincia e das artes entre os sarracenos, o gnio sufista afirmou-se quando os sufis se tornaram mdicos e cientistas e deixaram smbolos em seus edifcios e na arte decorativa (parte da qual recebe hoje o nome de arabescos destinados a manter visveis certas verdades eternas, que sinteti!avam, como acreditavam os sufis, a alma humana " procura da harmonia final e da integra#o com toda a cria#o e o seu progresso nesse sentido ( $ % &s resultados do sistema intensamente pr'tico dos sufis, embora muitas ve!es obscuros para estranhos, que desconhecem o verdadeiro significado do sistema, encontram-se espalhados no pensamento, na arte e nos fen(menos m'gico-ocultistas do &riente e do &cidente% )proximando-nos ainda mais da experincia sufista, precisamos dar uma espiada nos mtodos de pensamento e nas idias b'sicas desses msticos% *oderamos come#ar com um poema, um chiste, um smbolo% +i!-se tradicionalmente que os caminhos que levam ao pensamento sufista so quase to variados quanto o n,mero de sufis existentes% ) religio, por exemplo, no pode ser aceita nem rejeitada de pronto, enquanto o estudioso no souber exatamente o que ela significa% ) unidade essencial de toda f religiosa no aceita em todo o mundo, di!em os sufis, porque a maioria dos crentes no se d' conta do que essencialmente a pr-pria religio% .la no tem obriga#o de ser o que geralmente se presume que seja% *ara o sufi, o fan'tico religioso e o escarnecedor da religio so como a pessoa que acredita que a terra seja achatada, discutindo com outra para a qual a /erra cilndrica 0 nenhuma delas tem a menor experincia real do que est' discutindo% 1sso revela uma diferen#a fundamental entre o mtodo dos sufis e o de outros sistemas metafsicos% )credita-se com demasiada freq2ncia que uma pessoa tem de ser crente ou descrente, ou talve! agn-stica% 3e for crente, esperar' que lhe ofere#am uma f ou um sistema que lhe pare#a satisfa!er o que julga serem suas necessidades% *ouca gente lhe dir' que ela talve! no compreenda quais so as suas necessidades% & mundo dos sufis tem dimens4es extras5 para ele as coisas so significativas num sentido em que no o so para pessoas que seguem apenas o treinamento que lhes imp4e a sociedade comum%

/ais pessoas so 6estr'bicas7% 6*erguntado quanto so dois mais dois, um homem faminto responder'8 9:uatro (ou at oito pes;%7 ) totalidade da vida no ser' compreendida, afian#a o ensinamento sufista, se for estudada apenas pelos mtodos que utili!amos na vida cotidiana% 1sso, em parte, porque, embora se possa perguntar8 6) que vem tudo isso<7 numa seq2ncia nominavelmente ra!o'vel de palavras, a resposta no se expressa de maneira semelhante, pois vem atravs da experincia e da ilumina#o% =m instrumento capa! de avaliar coisa pequena no pode, necessariamente, avaliar uma grande% 6*onha em pr'tica o seu conhecimento, pois o conhecimento sem a pr'tica um corpo sem vida7, di! )bu >anifa ( ? % =m cientista lhe dir' que o espa#o e o tempo a mesma coisa, ou que a matria no s-lida, e talve! seja capa! de prov'lo por seus pr-prios mtodos% 1sso, contudo, far' pouca diferen#a para o seu entendimento, e nenhuma para a sua experincia do que tudo isso envolve% +igamos que a matria seja infinitamente divisvel% *ara os prop-sitos pr'ticos, no entanto, h' um limite para o n,mero de divis4es que podemos fa!er de um peda#o de chocolate, se quisermos que as ditas divis4es funcionem como esperamos que funcione um peda#o de chocolate%)ssim sendo, de um lado podemos estar olhando para um peda#o de chocolate, de outro para um objeto que queremos dividir no maior n,mero possvel de peda#os% ) mente humana tende a generali!ar a partir de uma evidncia parcial% &s sufis acreditam que podem experimentar algo mais completo% =ma hist-ria sufista tradicional esclarece um dos aspectos dessa questo e mostra as dificuldades que se op4em at aos estudiosos que se aproximam dos sufis com a inten#o de compreend-los pela aplica#o de mtodos limitados de estudo8 =m elefante pertencente a uma mostra ambulante fora colocado num est'bulo perto de uma cidade que at ento nunca tinha visto um elefante% /endo ouvido falar na maravilha escondida, quatro cidados curiosos foram tentar v-la antes dos outros% Chegados ao est'bulo, verificaram que no havia lu!% ) investiga#o, portanto, teve de ser feita no escuro% =m deles, tocando-lhe a tromba, sup(s a criatura parecida com uma mangueira de 'gua5 o segundo apalpou-lhe uma orelha e concluiu que era um leque% & terceiro, pegando uma perna, comparou-a a um pilar vivo5 e o quarto, tendo posto a mo no dorso do animal, convenceu-se de que era uma espcie de trono% @enhum deles p(de formar uma imagem completa5 e, partindo da parte com que cada um entrara em contato, s- puderam referir-se ao animal em termos de coisas que j' conheciam% & resultado da expedi#o foi uma confuso% Cada qual tinha a certe!a de ter ra!o5 e nenhum dos outros habitantes da cidade compreendeu o que acontecera, nem o que os investigadores haviam, de fato, experimentado% ) pessoa comum desejosa de informar-se a respeito do pensamento sufista procurar', normalmente, os livros de consulta% *oder' procurar a palavra 6sufi7

numa enciclopdia ou recorrer' a livros escritos por eruditos de v'rios gneros, entendidos em religio e em misticismo% 3e assim fi!er, encontrar' um exemplo admir'vel da mentalidade do 6elefante no escuro7% +e acordo com um estudioso persa, o sufismo uma aberra#o crist% 3egundo um lente de &xford, ele sofreu a influncia do Aedanta hindu% =m professor 'rabe-americano dir' que se trata de uma rea#o contra o intelectualismo islBmico% =m mestre de literatura semtica afirmar' haver encontrado nele tra#os do xamanismo da Csia Central% *ara um alemo, ele cheira a budismo acrescentado ao cristianismo% +ois excelentes orientalistas ingleses acharam nele vigorosa influncia neoplat(nica5 um deles, todavia, conceder' que talve! tenha sido gerado independentemente% =m 'rabe, publicando suas opini4es atravs de uma universidade americana, assegura aos leitores que o neoplatonismo (que invoca como ingrediente sufista provm do grego e do persa% =m dos maiores arabistas espanh-is, ao mesmo tempo que proclama uma inicia#o do monasticismo cristo, indica o maniquesmo como fonte sufista% &utro acadmico de no menor reputa#o encontra o gnosticismo entre os sufis5 ao passo que o professor ingls que tradu!iu um livro sufista prefere pensar nele como 6numa seita!inha persa7% Das outro tradutor descobre a tradi#o mstica dos sufis 6no pr-prio Coro7% 6Conquanto as numerosas defini#4es do sufismo, que figuram nos livros 'rabes e persas sobre o assunto, sejam historicamente interessantes, a sua principal importBncia reside em mostrar que o sufismo indefinvel%7( E =ma resenha paquistanesa de Fumi ($?GH-$?HE considera-o herdeiro virtual de todas as grandes correntes do pensamento antigo representadas no &riente *r-ximo% &s que estiveram em contato real com os sufis e assistiram "s suas reuni4es, no precisam de nenhum ajustamento mental nem de um esfor#o da vontade para achar que o sufismo contm as mirades de fios que aparecem em sistemas no-sufistas como o gnosticismo, o neoplatonismo, o aristotelismo, etc% 6&ndas inumer'veis, que beijam a terra e refletem momentaneamente o sol 0 todas do mesmo mar7, o mestre >alIi% *or outro lado, a mente treinada para acreditar na individualidade ou no monop-lio de idias de certas escolas no ser' facilmente capa! de tra!er esse entendimento sinteti!ador " contempla#o do sufismo% & dr% Jhalifa )bdu >aIim mostra-se capa! de recorrer a todas as escolas filos-ficas de cujas idias compartilha Fumi sem ser compelido a considerar uma derivada da outra% +i! ele8 6& seu #athna$i um cristal de muitas facetas, em que vemos refletidas as lu!es fragmentadas do monotesmo semita, do intelectualismo grego, da teoria das idias de *lato e da teoria da causa#o e do desenvolvimento de )rist-teles, do =no de *lotino e do xtase que se une ao =no, das quest4es controvertidas dos muta%allimun (professores , dos problemas &r%enntnistheoretisch de 1bn 3ina e al-Karabi, da teoria da conscincia proftica de Lha!ali e do monismo de 1bn .l-)rabi7%

& que no quer di!er, se a minha posi#o ainda no ficou bem clara, que Fumi comp(s, com os ingredientes acima, um sistema de misticismo% 6*eras no se encontram somente em 3amarcanda%7 ) literatura mundial sobre o sufismo ampla 0 grande n,mero de textos sufistas foi tradu!ido por eruditos ocidentais% *oucos tiveram a vantagem, se que a teve algum, de experimentar o sufismo, ou de conhecer-lhe a hist-ria oral, ou mesmo a ordem em que estudado o seu material formal% 1sso no significa que os seus trabalhos no tenham muito valor% Koram utilssimos ao orientalista, mas podem propender para a incoerncia% Como o escriba lend'rio que tinha de acompanhar a carta que escrevera e l-la pessoalmente por causa da sua ilegibilidade, muitos desses trabalhos reclamam um coment'rio sufista% & efeito das tradu#4es e dos livros discursivos que tm por tema o sufismo sobre o estudante no-iniciado h' de ser not'vel e, por certo, no ser' facilmente esquecido% & mtodo de abordar a questo das tradu#4es tem seus aspectos inusitados% *ondo de parte a questo das diferen#as entre tradutores no que tange a quest4es de acur'cia e significado (que causaram entre eles uma atividade felina, porm irrelevante , verificamos que o material liter'rio oferecido ao leitor cativo em forma tradu!ida pode sofrer estranhas aventuras% Ka!em-se, "s ve!es, tentativas para reprodu!ir em ingls a cadncia ou as rimas originais da poesia oriental, porque, na opinio do tradutor, esse truque ajuda a transmitir o sentido do original% &utros tradutores, contudo, sustentam opinio contr'ria e se abstm de qualquer tentativa de reprodu!ir a mtrica, porque afirmam ser impossvel ou indesej'vel atingi-lo% )lguns textos, alm disso, so tradu!idos com a ajuda de coment'rios no-sufistas (geralmente mu#ulmanos, e at teol-gicos formais cristos % +epois, h' as tradu#4es parciais, apresentadas seletivamente, mutiladas por excis4es que o tradutor se julgou autori!ado a fa!er% :uanto menos ele sabe a respeito das pr'ticas sufistas, tanto mais valentes parecem ser as suas mutila#4es% @o entanto, os escritos sufistas nunca so apenas material liter'rio, filos-fico ou tcnico% .xiste uma tradu#o inglesa de um livro persa, que no foi feita do idioma persa, mas da tradu#o francesa de uma interpreta#o urdu de um cl'ssico resumo persa de um original 'rabe% .xistem vers4es modernas de cl'ssicos persas, editadas por ve!es para eliminar referncias ofensivas "s atuais cren#as religiosas iranianas% )crescentem-se-lhes as obras de escritores no-acadmicos e vulgari!adores cristos (mission'rios , hindus e neo-hindus ocidentais e no-sufistas ocidentais% ) apresenta#o do sufismo ao homem culto comum numa lngua ocidental revela uma condi#o de literatura que talve! no encontre similar em nenhum outro campo% .sse processo caleidosc-pico tem seus pr-prios encantos especiais% ) tendncia a desviar-se do curso pr-prio, verdadeiro ou natural, para encontrar um termo que pare#a impossvel, a no ser que seja 6policotomia7 (segundo o modelo de dicotomia , alcan#ara, com efeito, um ponto divertido cerca de mil anos atr's, quando o pensador judeu )vicebron de D'laga (c% $G?G-c% $GMG ou $GHG

escreveu A 'onte da vida, livro baseado na filosofia sufista iluminista *orque ele escreveu em 'rabe, muitos cristos autori!ados da escola europia do norte, que ento absorviam o saber 6'rabe7, julgaram-no 'rabe% )lguns, pelo menos, acharam que ele era cristo, 6doutrinariamente sadio7, e o proclamaram% &s franciscanos aceitaram-lhe os ensinamentos e transmitiram-nos, com entusiasmo, " corrente crist de pensamento, depois de encontr'-los numa tradu#o latina, feita um sculo ap-s a morte de )vicebron% =ma senhora de forma#o universit'ria, que escreveu autori!adamente sobre o misticismo no &riente Ddio, sentiu mais de uma parte do elefante5 pois no mesmssimo livro di! que o sufismo 6pode ter sido efetuado (sic pelas idias budsticas75 e que os sufis primitivos 6podem ter tido redu!idos contatos com qualquer tipo de literatura helenstica7 0 embora suas idias derivassem de fontes helenistas% .m seguida remata o estudo da maneira sufista decidindo que8 63ua origem e fonte reais se encontram no anseio antiq2ssimo de +eus experimentado pela alma humana7% ) atividade sufista exerceu consider'vel influncia sobre o &cidente cristo, de modo que se poderia fa!er excelente defesa da afirmativa sufista de que a verdade objetiva contm em si mesma uma dinBmica dificilmente neg'vel% .ssa for#a vitalista, contudo, depende, para a sua expresso correta, do alinhamento do receptor humano% @a ausncia dessa prepara#o, a corrente sufista sujeita-se a tomar uma dire#o peculiar% .specialmente suscetvel a tal perverso, o manejo eletivo ou fragment'rio da corrente sufista muito bem ilustrado pelo destino da obra de Lha!ali na .uropa% Lha!ali, procedente da Csia Central ($GMN-$$$$ , escreveu um livro chamado A destrui(o dos 'ilso'os, logo parcialmente tradu!ido e utili!ado pelos apologistas cat-licos contra as escolas mu#ulmanas e contra as escolas crists% ) por#o que caiu nas mos do &cidente, todavia, foi apenas a parte devotada " exposi#o preparat-ria " filosofia% )s obras sufistas de Lha!ali tm de ser lidas como um todo, e suas opini4es acerca do valor dos exerccios sufistas tambm tm de ser adotadas para que ele seja corretamente compreendido% .sse livro, porm, foi respondido por outro 'rabe, 1bn Fushd de C-rdoba ($$?O-$$PN , o qual, sob o nome de )verr-is, tambm foi tradu!ido% .le no conseguiu, todavia, refutar Lha!ali com os seus mtodos escol'sticos, se bem pensasse hav-lo feito% 3em embargo disso, o averrosmo dominou o pensamento escol'stico ocidental e cristo por quatrocentos longos anos 0 desde o sculo Q11 at o fim do sculo QA1% /omados em conjunto, os fragmentos de Lha!ali e o aristotelismo de )verr-is constituram uma corrente sufista dupla (a#o e rea#o que alimentou uma Cristandade totalmente ignorante (no que di! respeito aos escol'sticos da causa iniciadora tanto do gha!alismo quanto do averrosmo% 6R importante observar7, di! Fumi, 6que coisas opostas trabalham juntas, ainda que se oponham nominalmente%7 )"ihi #a "ihi.* &s que tentam estudar o sistema raramente partilham da concep#o sufista fundamental de que o sufismo , ao mesmo tempo, ensinamento e parte de uma

evolu#o orgBnica% Conseq2entemente, quase no h' possibilidade de que a pessoa que est' de fora seja capa! de chegar a conclus4es precisas% Kiando-se apenas em sua faculdade discursiva, ela j' est' incapacitada antes de come#ar% R ao externalista de hoje, tanto quanto ao de ontem, que Fumi se dirige em seu #athna$i8 6+onad o Ii neIbaIht Sa muharam ast8 TiraIi a! 1blis Sa ishq )dam ast7% & que quer di!er8 6:uem for afortunadamente iluminado Uo sufiV 3abe que o sofisma vem do +iabo e o amor, de )do7% 3e os sufis deixam confuso o erudito com suas aparentes contradi#4es, levando-o "s ve!es a cercar as pr-prias conclus4es de tantas qualifica#4es que lhes tiram grande parte do valor, podem acender no te-logo uma c-lera sagrada% & amor, princpio ativo do desenvolvimento e da experincia sufista, igualmente mecanismo e meta, no pode ser admitido como genuno% & reverendo professor W% F% 1nge, em +hristian m,sticism (6misticismo cristo7 , precipita-se ao que sup4e ser o alvo8 6&s msticos sufistas, ou maometanos, empregam muito livremente a linguagem er-tica e parecem, como verdadeiros asi'ticos, haver tentado emprestar um car'ter sacramental ou simb-lico " satisfa#o de suas paix4es7% .sse exemplo cl'ssico evoca vis4es de certos estudiosos ocidentais que abra#aram o sufismo e os revela como adeptos asi'ticos da imita#o da linguagem er-tica (em segredo, pois no o publicam , a qual, por si mesma, esconde a satisfa#o de suas paix4es% .les, por sua ve!, podem achar consolo na opinio de um professor de Cambridge que v o sufismo, mais respeitavelmente, como 6o desenvolvimento da religio primordial da ra#a ariana7% . se o simbolismo sufista, de fato, no tal, mas representa antes experincias realmente vividas, podemos chegar " concluso de que os sufis o at mais vers'teis do que os cuidam os seus mais leais defensores% & sufi literalista seria capa! de engolir uma centena de oceanos, adorar dolos sem os adorar, viajar para a China em estado de embriague! 0 estar no mundo sem pertencer a ele 0 para no falar em suas cem luas e s-is% &s advogados de uma interpreta#o literal das express4es msticas j' receberam, naturalmente, uma resposta adequada de especialistas como .velXn =nderhill8 6& smbolo 0 roupagem que o espiritual toma emprestada ao plano material 0 uma forma de expresso artstica% &u seja, no literal, mas sugestivo, conquanto o artista que o usou possa, "s ve!es, perder de vista a distin#o% +a que as pessoas segundo as quais 9o casamento espiritual; de 3anta

Catarina ou de 3anta /eresa disfar#a uma sexualidade pervertida, e a viso do 3agrado Cora#o envolve uma incrvel experincia anat(mica, ou a divina embriague! dos sufis a apoteose da ebriedade, apenas fa!em pra#a da sua ignorBncia do mecanismo das artes8 como a dama que achava que YlaIe devia ser louco porque di!ia haver tocado o cu com o dedo7%( Z Cumpre admitir que mais f'cil para o estudioso abordar e descrever um aspecto do 6elefante no escuro7 do que formar uma viso externa coerente do sufismo, ao menos para ele% Duitos eruditos sofrem de uma incapacidade psicol-gica de lidar com o tema% 6)lm da incapacidade propriamente dita7, di! Lha!ali, 6outras deficincias impedem que se alcance a verdade espiritual% =ma delas o conhecimento adquirido por meios externos%7 )A alquimia da 'elicidade.* )lm do muro inescal'vel da experincia, h' o problema da personalidade sufista% :ualquer exame comum de escritos e carreiras sufistas seria o bastante para deixar perplexo o investigador menos doutrin'rio% .ntre os sufis tem havido antigos sacerdotes !oroastrianos, cristos, hindus, budistas e outros5 persas, gregos e 'rabes, egpcios, espanh-is e ingleses% .xistem, nas fileiras dos mestres te-logos sufistas, um capito reformado dos banditti, escravos, soldados, mercadores, vi!ires, reis e artistas% 3omente dois so conhecidos de muitos leitores ocidentais contemporBneos8 o poeta e matem'tico &mar JhaXXam, da *rsia, e o prncipe )bu ben-)dam, do )feganisto 0 objeto de um poema de [eigh >unt8 6)bu ben)dam, aumentada seja a sua tribo%%%7 .ntre os que foram diretamente influenciados pelo sufismo podemos citar, ao acaso, Faimundo [,lio, Loethe, o presidente +e Laulle e +ag >ammarsIj\ld, da &@=% .screvendo freq2entemente sob a amea#a de persegui#o inquisitorial, os sufis prepararam livros que conciliam suas pr'ticas com a ortodoxia e defendem o emprego de imagens fantasiosas ) fim de obscurecer os significados de fatores ritualistas, ou parecer meros compiladores de compndios sufistas, eles transmitiram manuscritos cuja essncia sufsta s- deve ser destilada pelos que possuem o equipamento necess'rio% )daptando seus trabalhos a lugares, pocas e temperamentos diferentes, acentuaram, por seu turno, os papis do ascetismo, da piedade, da m,sica e do movimento, da solido e do gregarismo% Kora dos crculos sufistas s- se conseguem manuais sufistas respeitavelmente religiosos% &s tradutores demonstraram reiteradas ve!es que uma pessoa pode ignorar de todo a coerncia existente por tr's do ensinamento sufista e, no obstante, apreciar a obra dos seus grandes poetas% & orientalista 3ir +enison Foss saudou Lertrude Yell, infatig'vel estudiosa e tradutora, para o ingls, do grande >afi!, pela erudi#o e capacidade de julgar% .ntretanto, ela a primeira a admitir8 6. difcil determinar com preciso os fundamentos por que ele U>afi!V apreciado no &riente, e talve! seja impossvel compreender o que os compatriotas fa!em dos seus ensinamentos7( M %

1sso lhe torna ainda mais interessante o tiro no escuro, quando tenta formar uma opinio sobre o objetivo real de >afi!8 6+o nosso ponto de vista, portanto, a substBncia da sua filosofia parece ser que h' pouca coisa da qual possamos estar certos, que o objeto do desejo de todos os homens tem de ser sempre pequeno5 que cada um de n-s se propor' busc'-lo ao longo de uma estrada diferente5 nenhum achar' a sua estrada f'cil de palmilhar, e cada qual poder', se for s'bio, descobrir compensa#4es para a sua faina " beira da estrada7( O % .la no v a atividade sufista como um processo 0 como os sufis a vem 0, mas no p(de deixar de vislumbrar o car'ter estranho e totalmente sufista de >afi! ao descrever, e ao ver, um panorama do pensamento humano no que , para n-s, o presente e no que era, para ele, naturalmente, o futuro distante8 6R como se o seu olho mental, dotado de maravilhosa acuidade, tivesse penetrado nas provncias do pensamento que n-s, de uma idade ulterior, est'vamos destinados a habitar;;( H % ) prescincia de >afi! era to evidente que no podia fugir " observa#o5 mas era tambm desconcertante% . Lertrude Yell no chega a concluso nenhuma a esse respeito% Aoltando ao nosso elefante, os estudiosos, feli!mente, so muito menos doutrin'rios do que os eclesi'sticos% *ara os sufis, ambos se parecem com os visitantes da casa do elefante% 3er' possvel que todos eles viram s- uma das partes< +i!em os sufis8 61sso no uma religio5 a religio75 e8 6& sufismo a essncia de todas as religi4es7% .xiste, pois, entre os sufis e alhures, a tradi#o segundo a qual uma doutrina secreta, transmitida por inicia#o e preservada por uma cadeia de sucesso, explica que o observador de fora, condicionado por seus preconceitos, veja quase todas as formas de religio entre os escritos dos sufis< ) fim de determin'-lo teremos de reportar-nos "s opini4es dos sufis sobre este ponto, o que tem sido geralmente passado por alto pelos estudiosos nosufistas, alm de seguir as tradi#4es de outras escolas, assim como a transmisso, na 1dade Ddia e em outros tempos, de uma cren#a num ensinamento espiritual que transcende a religio formali!ada% ) procura no desinteressante% 6)ntigamente7, de acordo com o xeque )bu el->asan Kushanji, 6o ser sufi era uma realidade sem nome% >oje um nome sem realidade7% .ssa afirma#o, tomada por seu valor nominal, significa, na opinio geral, que abundavam as pessoas que se chamavam sufis, ao mesmo tempo que a verdadeira atividade dos sufis no era compreendida% ., conquanto esta tambm possa ser uma interpreta#o da frase, destina-se aqui a esclarecer um ponto completamente diverso% ) tendncia para acompanhar um fen(meno hist-rico at os seus prim-rdios definidos, to acentuada na fase atual do saber, est', sem d,vida, ligada " necessidade da mente comum de ter um princpio e, se possvel, um fim para tudo% :uase tudo o que o homem conhece atravs dos sentidos tem para ele um princpio

e um fim% 3aber o que alguma coisa nos d' uma sensa#o de estabilidade, um sentimento de seguran#a% Colado o r-tulo ao livro, este pode ser colocado na prateleira 0 o ) a T de uma coisa qualquer% .xistem v'rios mtodos mais ou menos aceitos de estabelecer princpios e fins, ou de criar substitutos para eles por meio de mitos e lendas fabricadas, que no raro tratam do modo como as coisas come#aram e do modo como terminaro% &utra maneira a do imperador chins que ordenou que a hist-ria come#asse por ele e que todos os livros anteriores fossem destrudos% =ma terceira tcnica presumir que determinado evento, locali!ado no tempo e talve! no espa#o, representa um come#o% .ra esta, via de regra, a maneira religiosa, e est' muito vigorosamente marcada no cristianismo familiar, cujo dogma oficial depende dela, apesar de 3anto )gostinho% ) cren#a em que certo acontecimento religioso ,nico produ!iu uma mudan#a completa no destino humano liberou, dentro da cristandade, grande for#a de energia, mas dois fatores, pelo menos, lhe redu!iram o efeito% & primeiro foi o tempo, que, no caso, mostrou haver um limite para a expanso natural e at artificial do cristianismo da 1greja, e um limite para a sua dinBmica dentro do pr-prio terreno%& outro foi um problema escol'stico% *or serem os ensinamentos de ]esus considerados ,nicos (embora, talve!, 6prefigurados e preditos na profecia7 , tornava-se difcil atingir uma perspectiva espiritual no condicionada por essa cren#a% ) religio, o misticismo e a espiritualidade j' no poderiam ser facilmente encarados como um desenvolvimento natural ou uma propriedade comum da humanidade% +e acordo com os sufis, o principal contrapeso no poder do cristianismo formali!ado era a experincia continuada da verdadeira tradi#o de que ele constitua uma distor#o% )ntes mesmo do sculo Q, quando o islamismo possua a cultura mais poderosa e a civili!a#o mais progressiva do mundo conhecido, a teoria de uma doutrina secreta, um ensinamento guardado desde os tempos mais remotos, abrira caminho para o &este partindo deste centro de gravidade% ) primeira e mais poderosa escola sufista da .uropa fundou-se na .spanha, h' mais de um milhar de anos ( N % ) tradi#o no foi, como se poderia pensar, inventada no &cidente para explicar a ascendncia dos pases arabi!ados% )justava-se muito bem ao islamismo, e foi at incidentalmente encorajada por ele, cuja viso da religio, conforme notamos, era tambm a de um processo contnuo representado em toda comunidade% .xistia no .xtremo &riente e despertaria uma resposta nos cora#4es dos que ainda conservavam lembran#as de ensinamentos espirituais anteriores% .ra parte, a teoria da teosofia que explicava as diferentes manifesta#4es religiosas no seio de comunidades que, segundo a religio doutrin'ria de outra marca, nem deviam existir% .ste sentido de unidade da religio espiritual, experiencial ou simb-lica vigia, sem d,vida, nos tempos em que os povos do mundo antigo equiparavam os seus deuses uns aos outros 0 Derc,rio a >ermes, >ermes a /ot so exemplos% . os sufis consideram essa teoria teos-fica sua pr-pria tradi#o, conquanto no limitada ao domnio religioso% +a que, como quer o sufi8

6.stou no pago5 adoro perante o altar do judeu5 sou o dolo do iemenita, o verdadeiro templo do adorador do fogo5 o sacerdote do m'gico5 a realidade espiritual do brBmane que medita de pernas cru!adas5 o pincel e a cor do artista5 a personalidade poderosa, suprimida, do escarnecedor de religi4es% @o tomamos o lugar de outros 0 quando uma chama atirada a outra, ambas se juntam a ponto de no andarem s-s% )rremesse uma tocha numa vela e exclame depois8 9Aejam^ aniquilei a chama da vela^;7 (1shan Jaiser em A 'ala dos sbios% &s sufis utili!am um novo ponto de vista para superar o condicionamento imposto pela sociedade materialista, unilateral% +egradou-se toda a filosofia porque se condensou o ensino da 6sabedoria7% )s pessoas repetem sem cessar trusmos umas para as outras, sem realmente experimentar o que significam% 3e um sufi di!8 6Ka!-se mister um novo enfoque7, no improv'vel que quem quer que o ou#a concorde imediatamente com ele (porque a afirma#o soa significativa e esque#a tudo imediatamente% & sentido das palavras no calou% 6/ome o trigo e no a medida em que est' contido%7 (Fumi, #athna$i, livro 11% /o importante libertar a reflexo das ades4es do pensamento rgido que o grande Fumi come#ou suas duas obras mais relevantes com exerccios nesse sentido, no qual acompanha o processo normalmente seguido pelas escolas sufistas5 e, se bem os tradutores externalistas provavelmente o ignorem, dois dos seus livros so coment'rios sobre as fases e estados do desenvolvimento sufista tal como se manifestam na pr-pria ndole de uma escola sufista% Yem no come#o de "ihi #a "ihi, Fumi cita um dito de Daom que passou para a fala comum e se converteu em provrbio, sabiamente transmitido de boca em boca% 3egundo se afirma, Daom teria dito8 6& pior dos s'bios o que visita os prncipes5 o melhor dos prncipes o que visita os s'bios7% Fumi assinala que o sentido espiritual desse ensinamento que o significado de 6visitar7 depende da qualidade do visitante e do visitado% 3e um grande s'bio visita um prncipe, o beneficiado o prncipe, o qual, por isso mesmo, deve ser considerado como 6visitante7 do s'bio% & que est' muito longe de ser um mero jogo de palavras, como supuseram pessoas menos avisadas% Com o que equivale a uma t'tica de choque, o #athna$i se inicia com um ensinamento, depois do clebre 6Canto do cani#o7, que lembra um conto de fadas a respeito de um prncipe que saiu " ca#a e uma bela jovem% :uando se instala a audincia, disposta a apreciar a hist-ria convencional, Fumi principia a manipul'la para criar reflex4es na mente e combater a tendncia ao 6sono7, sufisticamente considerada a rea#o usual "s hist-rias populares% =m prncipe, que sara para ca#ar, avistou na estrada uma linda criada% )paixonou-se por ela e comprou-a% [ogo depois, ela caiu doente% +esesperado, o potentado ofereceu aos mdicos que a curassem tudo o que pudessem desejar em termos de bens materiais% Como eles fossem incapa!es de fa!-lo, o estado da

mo#a piorou% +esvairado de amor e medo, o prncipe correu para uma mesquita e implorou a ajuda divina% +eparou-se-lhe uma viso em que um ancio lhe assegurava que um mdico logo apareceria% @o dia seguinte, como fora predito, essa personagem chegou% & mdico olhou para a mo#a e compreendeu que todos os remdios experimentados pelos outros facultativos haviam sido mais do que in,teis% Compreendeu que a enfermidade dela decorria do seu estado espiritual% )dotando um mtodo psicol-gico, fe!-lhe perguntas e indu!iu-a a falar, at descobrir que ela estava apaixonada por certo ourives de 3amarcanda% .le disse ao prncipe que a cura se efetuaria se se levasse o ourives " cabeceira da jovem% & ourives, de sua parte, s- viu no chamado do prncipe um reconhecimento da sua importBncia profissional% @em sequer imaginara qual seria o seu destino% :uando ele chegou, os dois se casaram e a rapariga recuperou-se completamente% )t aqui o an-dino da hist-ria pode ter exercido o seu efeito sobre o p,blico, que se entregou ao pra!er de comprovar que bom tudo o que termina bem% Das o mdico, a seguir, preparou um remdio para o ourives5 um remdio que lhe tornou os defeitos espirituais to evidentes que a jovem o viu como ele era e passou a odi'-lo% & ourives morreu e a rapariga p(de amar o prncipe, que desde o incio lhe fora destinado% *ondo de parte as imagens complicadas da hist-ria no original, o ensinamento contm um impacto em muitos nveis% @o se trata apenas de contar uma hist-ria com uma moral primitiva5 trata-se de fa!er um coment'rio a respeito de alguns processos da vida% +i! >adrat-i-*aghman acerca dessa hist-ria8 6Feflita nela, pois, a menos que a sinta inteiramente, voc ser' como a criancinha que deseja tudo a tempo e chora quando as coisas no lhe parecem assim% Construir' uma priso para si mesmo, uma priso de emo#o% ., quando estiver nessa priso, ferir-se-' nas barras pontudas que voc mesmo ter' arranjado para si7% )ntigamente, as idias sufistas eram realmente vividas 0 e poderia haver sufis sem um nome para o seu culto% Aeio depois o perodo moderno, em que o nome existe, mas difcil viv-lo, precisando ser adaptado ao 6disfarce7 0 condicionamento 0 que principia no ber#o e termina quase no t,mulo% :ue idade tem, exatamente, a palavra 6sufismo7< >ouve sufis em todos os tempos e em todos os pases, consoante a tradi#o% &s sufjs existiam como tais e sob esse nome antes do islamismo% .ntretanto, se havia um nome para o praticante, no o havia para a pr'tica% ) palavra 6sufismo7 deriva do su'ismus latino5 foi um erudito teut(nico quem, j' em $N?$, cunhou a latini!a#o que est' agora quase naturali!ada em quase todas as lnguas ocidentais% )ntes dela existia a palavra tasa$$u' 0 o estado, a pr'tica ou a condi#o de ser sufi% 1sso pode no parecer um ponto importante 0 para n-s, mas o para os sufis% Fa!o pela qual no h' um termo est'tico em uso entre eles que lhes designe o culto% Chamam-lhe cincia,

arte, conhecimento, Caminho, tribo 0 usam at um termo hbrido do sculo Q, que talve! se possa tradu!ir por psicoantropologia (na'sani,,atalinsani,,at 0, mas no lhe chamam sufismo% -ari%a-su'i,,a significa o Caminho do sufi5 e forma excelente paralelo com as lnguas ocidentais porque tari%a quer di!er, a um tempo, Caminho e o modo de fa!er alguma coisa, alm de transmitir a no#o de seguir um caminho, uma linha ou uma corrente 0 o Caminho do sufi% & sufismo recebe diversas denomina#4es de acordo com o sentido em que est' sendo discutido% +estarte, pode-se encontrar ilm-al-maari'at (a cincia do conhecer 5 ou el-ir'an (a gnose 5 e as ordens ou grupos organi!ados tendem a chamar-se tari%a% 3emelhantemente, o sufi conhecido por o buscador, o homem bbedo, o iluminado, o bom, o amigo, o pr-ximo, o dervixe, o faquir (humilde, pobre de esprito , ou %alandar, conhecedor (gn-stico , s'bio, amante, esoterista% ]' que no pode haver sufismo sem sufis, aplica-se a palavra sempre a pessoas e no pode ser considerada uma forma abstrata, como, por exemplo, 6filologia7 ou 6comunismo7 podem significar, respectivamente, o estudo das palavras ou uma teoria da a#o comunit'ria% & sufismo, portanto, envolve, ao mesmo tempo, o conjunto dos sufis e a verdadeira pr'tica do seu culto% @o pode realmente significar nenhuma apresenta#o te-rica do Caminho dos sufis% @o existe sufismo te-rico nem intelectual5 assim como no h' movimento sufista, o que seria uma redundBncia, porque todo ser sufista movimento, e movimento que abrange todos os fen(menos de um gnero similar% .xistem, por exemplo, 6sufis cristos7, expresso que pode ser, e tem sido, usada pelos sufis em geral% & sufi at chamado masihi-i-batini (cristo esotrico em alguns sentidos% 3e um sufi apresentasse, a uma mente afeita a catalogar convencionalmente o que se lhe depara, certos fatos respeitantes aos sufis, um computador mental ou eltrico sairia destro#ado da tentativa de arrum'-los num sistema qualquer% Keli!mente, porm, muitas pessoas ainda so capa!es de aceitar a informa#o em v'rios nveis, e ainda sero capa!es de formar com eles algum padro% )qui est' uma srie de fatos relativos aos sufis8 &s sufis aparecem, nos tempos hist-ricos, sobretudo na 'rea do islamismo% *rodu!iram grandes te-logos, poetas, cientistas% )ceitaram a teoria at(mica e formularam uma cincia da evolu#o, mais de seiscentos anos antes de +arSin% /m sido saudados como santos e executados e perseguidos como herticos% .nsinam que existe uma s- verdade fundamental dentro de tudo o que se chama religio% +isseram alguns8 6@o acredito em nada75 disseram outros8 6)credito em tudo7% +i!em alguns8 6@o haja leviandade entre os sufis75 di!em outros8 6@o existe um sufi sem humor7% ) escol'stica e o misticismo op4em-se um ao outro% Das os sufis fundaram, entre outras, uma escola para cada um% .scolas mu#ulmanas< @o, escolas crists, associadas aos agostinianos e a 3o ]oo da Cru!, como estabeleceram o professor *alacios e outros% +epois de ser mstico oriental, o sufi aparece agora como antecessor dos msticos e fil-sofos cat-licos%

3eja-nos permitido ajuntar mais alguns fatos% Conforme a tradi#o, o caf que hoje tomamos foi usado, pela primeira ve!, por sufis a fim de agu#ar a percep#o% @-s envergamos as suas roupas (camisa, cinto, cal#as 5 ouvimos a sua m,sica (andalu!a, m,sica rtmica, can#4es de amor 5 dan#amos as suas dan#as (valsa, a dan#a mourisca 5 lemos as suas hist-rias (+ante, Fobinson Cruso, Chaucer, Luilherme /ell 5 empregamos suas express4es esotricas (6momento da verdade7, 6esprito humano7, 6homem ideal7 5 e jogamos os seus jogos (cartas ( P % )t pertencemos a deriva#4es das suas sociedades, como a franco-ma#onaria, e a certas ordens de cavalaria% /ais elementos sufistas so examinados numa fase subseq2ente deste livro% & monge na cela, o faquir no topo da montanha, o mercador na loja, o rei no trono 0 todos podem ser sufis, mas isto no sufismo% :uer a tradi#o sufista que o sufismo seja um fermento (6& sufismo fermento7 dentro da sociedade humana% 3e ele nunca saiu do campo dos estudos acadmicos porque nunca foi tornado acessvel " escol'stica como tema de investiga#o% ) pr-pria diversidade no lhe permite ser sistemati!ado na forma semipermanente que o deixaria to est'tico que pudesse ser investigado% 6& sufismo7, no di!er do sufi, 6 uma aventura de vida, uma aventura necess'ria7% 3e o sufismo uma aventura, meta da perfei#o humana, alcan#ada pelo rever e pelo despertar, dentro da humanidade, de um -rgo mais elevado de reali!a#o, aprimoramento, destino, por que to difcil de avaliar, locali!ar no tempo, especificar com exatido< *recisamente por ser posto em pr'tica em todas as comunidades e em todos os momentos, o sufismo apresenta tamanha diversidade 0 e este um dos seus segredos% & sufi no precisa da mesquita, da lngua, das litanias, dos livros de filosofia, nem mesmo da estabilidade social dos 'rabes% ) rela#o com a humanidade evolutiva e adaptativa% & sufi no depende da sua reputa#o de saber fa!er m'gicas ou milagres 0 isso menos do que acidental, embora ele possa ter essa reputa#o% & praticante m'gico-religioso de outros sistemas come#a pela extremidade oposta da escada5 sua reputa#o, construda atravs dos seus milagres, provavelmente sustentada por eles% & sufi tem uma reputa#o, mas isso secund'rio para o seu trabalho, visto ser ele uma parte do organismo sufista% ) ascendncia moral, ou a personalidade magntica, alcan#ada pelo sufi no a sua meta, mas o subproduto de sua reali!a#o espiritual, o reflexo do seu desenvolvimento% +i! um sufi8 63e pudesse pensar, a mariposa talve! julgasse a chama da vela desej'vel porque ela parece representar a perfei#o% ) chama o produto da cera, do pavio da centelha que cintila% ) mariposa humana procura a chama ou a pr-pria centelha< &bserve a mariposa% & destino dela, de ser destruda pela chama, visvel para voc e oculto para ela7% (A l.ngua do mudo, citando *aiseem & sufi, naturalmente, s- julgado pelo mundo, de um modo geral, " lu! do que di! e fa!% 1maginemos que ele tenha se tornado milion'rio% & observador de fora, percebendo que o homem se tornou milion'rio por haver adotado um modo

de vida chamado sufismo, encara o fen(meno como processo de produ#o de milion'rios% *ara o sufi em apre#o, no entanto, foram a compreenso e a evolu#o interiores que lhe deram a reali!a#o ntima% & dinheiro pode ser um reflexo exterior dele, mas isso muito menos importante do que as experincias sufistas% & que no significa, como muita gente presumiria, que ele se tornou um milion'rio obcecado pelo misticismo, e que o dinheiro no tem sentido para ele% =m desenvolvimento dessa nature!a no seria possvel ao sufi, porque o material e o metafsico esto ligados de uma forma que se v melhor como um continuum% .le seria o tipo do milion'rio no somente rico mas tambm psicologicamente integrado de maneira completa% R difcil para muita gente absorver to bem este fato fundamental que o leve a ser-lhe de alguma utilidade% @a pr'tica popular, em curso desde Calcut' at a Calif-rnia, a pessoa comum se erguer' "s alturas filos-ficas repetindo sabiamente a si mesma ou a quem quer que se disponha a ouvi-la que 6dinheiro no tudo75 ou que 6dinheiro no tra! felicidade7% & pr-prio fato de se poder expressar essa idia mostra que ela est' enrai!ada numa suposi#o anterior, segundo a qual o dinheiro pode ser considerado, de certo modo, de importBncia transcendental% ) pr'tica demonstra que no % Das o fil-sofo no-sofisticado no percebe a ra!o por que deveria ser% & dinheiro parece poder solucionar os problemas mais prementes do homem pobre% Das o padre lhe di! que o dinheiro no uma boa coisa% *or isso, quando ele ganha dinheiro, talve! no se sinta reali!ado% . no consegue integrar os trs fatores% ) psicologia moderna fe! algum bem ao assinalar, por exemplo, que o anseio de ganhar dinheiro pode ser um sintoma de inseguran#a% Das ela ainda no se integrou5 historicamente, ainda luta, "s ve!es, contra a mar% ) atitude do sufi come#a a operar numa base diferente% /oda a vida luta, di! o sufi, mas a luta precisa ser coerente% & homem comum luta contra um n,mero excessivo de coisas ao mesmo tempo% )inda que uma pessoa confusa e incompleta ganhe dinheiro, ou se transforme num sucesso pessoal, continuar' a ser confusa e incompleta% ) psicologia aprende " medida que progride% & sufismo j' aprendeu5 transforma a mente, fa!endo com que passe da sua incoerncia natural e adquirida para um instrumento por cujo intermdio a dignidade e o destino humanos podem ser levados a uma fase ulterior% ) psicologia de Kreud e de ]ung no tem, para a mente sufista, o frescor que ela transmitiu ao &cidente% &s argumentos sexuais de Kreud so citados pelo sufi xeque Lha!ali em seu A alquimia da 'elicidade (escrito h' mais de novecentos anos como comuns entre os te-logos mu#ulmanos% ) teoria arquetpica de ]ung no se originou do professor ]ung, mas foi exposta pelo mestre sufista 1bn .l)rabi 0 como observa o professor Fom [andau em -he philosoph, o' /bn Arabi% (@ova _orI, Dacmillan, $PMP, p'gina ZG e seguintes% 1mpregnados de A alquimia da 'elicidade de Lha!ali e das obras de 1bn .l)rabi, sufis de todas as ordens esto, por isso mesmo, familiari!ados com esses modos supostamente modernos de pensar e suas limita#4es%

& sufismo no pode ser estudado atravs da psicologia por uma srie de ra!4es, a mais interessante das quais, para o ocidental, ser' provavelmente a de ser o pr-prio sufismo um sistema psicol-gico muito mais adiantado do que qualquer outro j' desenvolvido no &cidente% @em essa psicologia essencialmente oriental, mas humana% R desnecess'rio afirmar esse fato sem corrobora#o% Dencione-se a confisso de ]ung de que a psican'lise ocidental apenas a de um principiante em confronto com a do &riente8 6) pr-pria psican'lise e as linhas de pensamento a que d' origem 0 sem d,vida um desenvolvimento caracteristicamente ocidental 0 no passam de uma tentativa de principiante comparada com o que uma arte imemorial no &riente7( $G % ., todavia, ]ung s- se referiu a certas partes do pensamento oriental% @o se pode estudar o todo pelas partes, e o principiante no pode julgar o trabalho do adepto, em nenhum campo, incluindo o sufismo% ) chamada abordagem cientfica do fen(meno humano da rela#o entre o homem e o resto do ser to limitada quanto a filosofia ordin'ria% ) semelhan#a da ra!o discursiva, a cincia s- opera dentro do crculo conveniente do que se ajusta "s suas preconcep#4es, como nos lembra o professor Lraves8 6%%%os cientistas tomam o cuidado de expressar suas suposi#4es em f-rmulas matem'ticas que, artisticamente aplicadas a problemas como a estrutura do 'tomo ou a temperatura interior das estrelas, d' 9belos; resultados% )plicam-se apenas a casos seguros, preparados 0 se bem permane#am inexeq2veis em casos noestereotipados8 preciso que haja uma equivalncia simp'tica entre a f-rmula e o caso%%% =m belo resultado to bom quanto uma prova demonstr'vel, e s- pode ser suplantado por um resultado ainda mais belo;;( $$ % ) est', mais uma ve!, a doutrina de que no se pode estudar o todo pelas partes, acrescentada ao fato de que no se pode estudar uma coisa toda simultaneamente% +i! o mestre sufista *ir-i-+o-3ara8 6Aoc pode imaginar uma mente observando-se em sua totalidade< 3e ela estivesse toda empenhada na observa#o, que estaria observando< 3e estivesse toda empenhada em ser mente, quem faria a observa#o< ) observa#o do eu ser' necess'ria enquanto houver um eu distinto do no-eu%%%7( $? % )firmam os sufis que o organismo conhecido geralmente como sufismo tem sido a ,nica corrente de experincia direta, evolutiva, que foi o fator determinante de todas as grandes escolas de misticismo% 3e quisermos verific'-lo deveremos, na medida do possvel, seguir o movimento das idias sufistas% 3e elas provarem ter poder de penetra#o, capacidade de influir no pensamento e na a#o de diversas comunidades, poder-se-' inferir o dinamismo espiritual do sistema% .m outras palavras, existe alguma ra!o para supor que a corrente sufista tem o poder de influenciar o pensamento humano, digamos, na .uropa ocidental< +urante o perodo cl'ssico do sufismo, muito bem documentado, ele transp(s o anteparo da

era do obscurantismo, fornecendo poder e desenvolvimento a comunidades de culturas diferentes< & sufismo orgBnico nesse sentido< .sta sugesto subentende que, desde pocas remotas, os mestres sufistas transmitiram o seu saber a quase todas as sociedades% ) tradi#o sufista afirma ter sido este o fato% .m tempos modernos, s- se pode p(r " prova essa afirma#o pela aparncia visvel das pr'ticas sufistas em comunidades muito afastadas dos centros sufistas da Csia% ) essncia da atividade sufista no seria to visvel% 3poderamos esperar encontrar vestgios, aqui e ali, como os rastreadores radioativos injetados, "s ve!es, na corrente sang2nea humana, do saber e da pr'tica sufistas caractersticos, que ainda conservavam cor local% /omemos um exemplo% 3e )fonso, o 3'bio, escreveu em 'rabe, isso pode ser prova de influncia 'rabe% 3e, contudo, se encontrasse entre os irlandeses do sculo 1Q (como de fato se encontrou o smbolo de uma sociedade de inicia#o sufista, isso talve! indicasse, com outra prova, um movimento do saber sufista para o &cidente% &lhamos para certas caractersticas not'veis do sufismo, mas no damos maior relevo " necessidade de fatos superficialmente plausveis de expresso sufista% )qui, portanto, na medida em que elas podem ser transmitidas por palavras comuns, esto as convic#4es sufistas restantes8 )creditam os sufis que, de certo modo, a humanidade est' evoluindo para determinado destino% /odos n-s participamos dessa evolu#o% &s -rgos passam a existir como resultado da necessidade de -rgos especficos (Fumi % .m resposta a essa necessidade, o organismo do ser humano produ! um novo complexo de -rgos% @esta poca de transcendncia do tempo e do espa#o, o complexo de -rgos se relaciona com a transcendncia do tempo e do espa#o% & que as pessoas comuns encaram como explos4es espor'dicas e ocasionais de poder telep'tico ou proftico so vistas pelo sufi simplesmente como os primeiros movimentos desses mesmos -rgos% ) diferen#a entre toda a evolu#o havida at agora e a atual necessidade de evolu#o que nos ,ltimos de! mil anos, ou coisa que o valha, nos foi proporcionada a possibilidade de uma evolu#o consciente, mais rarefeita, to essencial que dela depende o nosso futuro% *odemos denomin'-la, usando as palavras da nossa f'bula, 6como aprender a nadar7% Como se desenvolveram esses -rgos< *elo mtodo sufista% Como saberemos que estamos desenvolvendo-os< 3omente atravs da experincia% @o sistema sufista h' certo n,mero de 6fases7, cuja culminBncia assinalada por uma experincia inequvoca, ainda que inef'vel% :uando acontece, a citada experincia ativa o -rgo em apre#o, fa!-nos descansar da escalada rumo ao alto, e asseguranos for#a suficiente para prosseguirmos na escalada% & acesso "s fases permanente% .nquanto uma delas no tiver sido alcan#ada, a chapa fotogr'fica, por assim di!er, embora exposta e revelada, no foi fixada5 e as experincias reais representam a substBncia fixadora% .ste o significado da experincia mstica, a qual, todavia, quando empreendida em desarmonia com a evolu#o, parece ser apenas algo sublime 0

uma sensa#o de onipotncia ou de gra#a, mas sem qualquer garantia do lugar para onde vai em seguida o feli! ou infeli! mortal% )creditam os sufis que a atividade sufista produ! e concentra o que se poderia denominar for#a centrfuga ou magntica, que atrai outra for#a semelhante em outro lugar% Com a jun#o dessas for#as, o trabalho continua% .ssa uma explica#o das 6mensagens7 misteriosas recebidas pelos professores sufistas, que os mandam para tal e tal lugar, a fim de responder ao chamado da for#a ali abandonada, ou que necessita de seu refor#o% 1sso o m'ximo que se pode explicar em termos formais, em rela#o ao sufismo% :uanto ao resto, a ,nica coisa v'lida o lema sufista8 6:uem no prova, no sabe7% ( Fumi% Notas: ( $ 0 desconcertante para alguns cientistas do sculo 11 saber que, quase um sculo antes de &instein, o dervi2e 3u4$iri estava discutindo, em literatura tcnica, a identidade do tempo e do espa(o aplicada 5 e2peri6ncia su'ista. (Fevela#o do oculto, !ecapitula(o de seus milagres .* ( ? Abu 3ani'a o 'undador de uma das quatro grandes escolas isl7micas de direito, a Quarta &scola. "oi o pro'essor su'ista de 8aud de -ai )'alecido em 9:;*. 8aud transmitiu seus ensinamentos ao disc.pulo #aaru' <ar%hi )o rei =alomo *, 'undador da 'raternidade su'ista denominada >s construtores . ( E ?ro'essor !. A. @icholson, -he m,stics o' /slam, Aondres, ;B;C, pg DE. ( Z #,sticism, Aondres, ;B;;F @ova Gor%, ;BHI. ( M Jer anota(o 3a'iK . ( O +. A. Lell, ?oems 'rom the divan o' 3a'iK, Aondres, nova edi(o, ;BD:, pg. :;. ( H 1bid% ( N >s su'is acompanharam os e2rcitos rabes que conquistaram a &spanha em 9;; d.+. ( P Jer anota(o -arM . ( $G +. N. Oung, #odern man in search o' a soul, Aondres, ;BEB, pgs. DEI-DE;F e ver anota(o +onsci6ncia .

( $$ !obert Nraves, -he cro$ning privilege, Aondres, ;BEB, pgs. PIHPI9. ( $? Dontanha da ilumina#o, QA1, versos BBE;-BBE9, D3%

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