Comportamento Eleitoral em Mueda
Comportamento Eleitoral em Mueda
COMPORTAMENTO ELEITORAL NO DISTRITO DE MUEDA: Anlise do voto leal e a persistncia do Eleitorado de Mueda a favor da FRELIMO (1994-2009)
COMPORTAMENTO ELEITORAL NO DISTRITO DE MUEDA: Anlise do voto leal e a persistncia do Eleitorado de Mueda a favor da FRELIMO (1994-2009)
Trabalho de Fim de Curso (Monografia) apresentado/a em cumprimento parcial dos requisitos exigidos para obteno do grau de Licenciatura em Cincia Poltica, na Faculdade de Letras e Cincias Sociais da Universidade Eduardo Mondlane. AUTOR _______________________________ FIDEL TERENCIANO SUPERVISOR _______________________________ PROFESSOR DOUTOR JOS JAIME MACUANE CO-SUPERVISOR _______________________________ PROFESSOR DOUTOR LUS DE BRITO
OPONENTE _________________________
NDICE LISTA DE TABELAS E GRFICOS ............................................................................................. I COMPROMISSO DE HONRA ...................................................................................................... II EPGRAFE ................................................................................................................................... III DEDICATRIA ........................................................................................................................... IV AGRADECIMENTO ..................................................................................................................... V ABREVIATURAS ....................................................................................................................... VII RESUMO ................................................................................................................................... VIII PARTE I.......................................................................................................................................... 1 CAPTULO I .................................................................................................................................. 1 1. 1.1. 1.1.1. 1.1.2. 1.2. 1.2.1. 1.3. 1.4. 1.5. 1.5.1. 1.5.2. 1.5.3. 1.6. INTRODUO ....................................................................................................................... 1 Objectivos ............................................................................................................................ 3 Geral: ................................................................................................................................ 3 Especficos: ...................................................................................................................... 3 Contextualizao e objecto de estudo .................................................................................. 4 Objecto de Estudo ............................................................................................................ 6 Problemtica ........................................................................................................................ 7 Questes de Partida .............................................................................................................. 9 Hipteses: ........................................................................................................................... 10 Hiptese Bsica: ............................................................................................................. 10 Hiptese secundria 1: ................................................................................................... 10 Hiptese secundria 2: ................................................................................................... 10 Justificativas ....................................................................................................................... 11
CAPTULO II ............................................................................................................................... 13 2. 2.1. 2.2. 2.2.1. 2.2.2. 2.3. ENQUADRAMENTO TERICO ........................................................................................ 13 Reviso da literatura .......................................................................................................... 13 QUADRO TERICO ........................................................................................................ 26 Teoria da Lealdade partidria ......................................................................................... 26 Lealdade Partidria dos Eleitores.................................................................................. 27 Conceptualizao ............................................................................................................... 29 I
2.4.
Modelo de Anlise .................................................................................................................... 34 CAPTULO III .......................................................................................................................... 35 3. 3.1. PROCEDIMENTOS METODOLGICOS....................................................................... 35 Limitaes do Estudo .................................................................................................... 39
CAPTULO V ........................................................................................................................... 53 5. INFLUNCIA DOS FACTORES SCIO-ECONMICOS E A RELAO HISTRICA ENTRE A FRELIMO E O DISTRITO DE MUEDA NA CONFIGURAO DO COMPORTAMENTO ELEITORAL EM MUEDA .................................................................... 53 5.1. Comportamento Eleitoral em Mueda Vs. Factores Scio-Econmicos ......................... 54
5.2. O Papel da ligao histrica entre FRELIMO e o Distrito de Mueda na Construo da Identificao Partidria do Eleitorado de Mueda ...................................................................... 60 5.2.1. 5.3. Inexistncia de aces mobilizadoras dos Partidos da Oposio ............................... 63 Absteno eleitoral e a sua ligao com os votos expressos a favor da FRELIMO ...... 66
CAPTULO VI .......................................................................................................................... 70 6.1. Aces Mobilizadoras da FRELIMO em Mueda e a sua ligao com o Papel dos Lderes de Opinio na Construo do Comportamento Eleitoral ............................................. 70 6.2. O impacto das Aces mobilizadoras na deciso do voto em Mueda ........................... 74
II
COMPROMISSO DE HONRA
Declaro que este trabalho de fim de curso nunca foi apresentado na sua essncia para obteno de qualquer grau acadmico, e que constitui fruto do meu empenho e da minha investigao, estando indicadas no texto, assim como na bibliografia, as fontes que foram utilizadas na elaborao do mesmo.
II
EPGRAFE
__________________________________
A instituio social que se chama eleio um ritual regularmente repetido, que termina com a contabilizao dos votos. No entanto, a contagem dos votos o final de um longo processo Social (...). Os diversos modelos de explicao desse fenmeno competem entre si exactamente ao tentar reconstruir o processo social que levou a um dado resultado eleitoral, e tentar tambm explicar porque ocorreu exactamente uma dada distribuio das vontades polticas e no outra.
III
DEDICATRIA
= Aos meus pais Terenciano Lauia e Ana Rosa S. Muchichera Nicoco = Vocs so e sempre sero a minha razo de existncia e fonte de inspirao.
IV
AGRADECIMENTO
Espera-se que este trabalho seja o incio duma longa caminhada no mundo intelectual, e por via disso, h que agradecer os que contriburam na efectivao desta caminhada: A Deus, o senhor que ordena todas as coisas na terra, agradeo seu sustento incansvel. Aos meus pais (Terenciano Lauia e Ana Rosa), que tanto amo, respeito-os, imploro-os, em fim, eles so meu espelho. Tudo o que fao tenho em vista experiencia deles. Absolutos agradecimentos vo para o meu Supervisor PhD. Jos Jaime Macuane, que incansavelmente deu duras crticas e comentrios em cada passagem do meu trabalho. Desde o primeiro minuto, acreditou que seria possvel guiar-me na elaborao desta humilde monografia. Agradecimentos estendem-se ao meu Co-supervisor PhD. Lus de Brito, pelos comentrios enrgicos, pelas sugestes e conselhos bem como a forma como devia abordar o tema. Tambm agradeo ao departamento de CP & AP, no seu todo, aos docentes que ensinaram-me os trilhos das Cincias Sociais, em particular a Cincia Poltica, entre eles, PhD. Joo Pereira; PhD. Isabel; PhD. Domingos; MA. Padil; MA. Lumbela; MA. Egdio; dr Muendade, ao Chefe do departamento Prof. Alexandrino (que exemplo de humildade) entre outros, vocs sero sempre um adgio a seguir. Agradecimentos profundos vo para meus irmos: Deva (Edelson), Jos, Hlder, e aos meus terceiranistas (Edimilson, Leonel, Tobias), s minhas irms (Felizarda, Rita, Ancha). Obrigado manos/manas por tudo que vocs tm proporcionado. Pelos ensinamentos nos momentos que convivemos juntos, agradeo ao (Tio Pascoal, tia vitoria, Tio Raimundo, vov Nicoco) In memria No devo esquecer dos meus tios: Lus, Leo (Ou simplesmente TITIO LEO), tio Cipriano, Daniel, Abudo, Hermenegildo, e as minhas tias: (mama Tima), tia Estefnia, Cacilda, Ftima, que tanto agradeo pelo esforo que me deram nesta etapa da vida.
Aos meus sinceros amigos Achirafi, Bacar, Belafonte, Malipa, Pinda, Sineque, Stlio, Tidnio, Pino, Ndugo, Faquiro, Amaral (minha bssola na colheita de dados em Mueda e no sei o que seria deste trabalho sem ti) e entre outros meus manos. Obrigado perenemente por tudo. Agradecer a presena incansvel dos meus peritos (Tony, Aly Ntombe, Mano Gimo e Farlay). No esqueo o papel importantssimo de ti Da Tnia, nia e as minhas mes: Tnia e Snia que sempre acreditaram em mim, obrigado e estou sem palavra para vs descrever. Aos colegas da turma de Cincia Poltica 2010 (os manos Mate, Crmen, Nelson e outros que tanto os admiro) e em especial aos colegas do meu grupo de estudos dos denodados GRUPO 1 (Rgio, Justo, Raj, Juvinaldo, Nascimento, Simio, Saide/Bay, Horcio), vocs me ensinaram em prol do crescimento intelectual. Obrigado CAMARADAS. A comunidade de Mueda que me recebeu com respeito e forneceu-me as informaes detalhadas que eu necessitava para o enriquecimento do trabalho. Sem vocs no sei o que seria do fundamento deste trabalho. Obrigado aos eleitores do Planalto de Mueda. A todos que directa ou indirectamente ajudaram na efectivao deste trabalho. No tenho palavras para descrever-vos, mas para j digo (obrigado) .
VI
ABREVIATURAS
Comisso Nacional de Eleies Frente de Libertao de Moambique/Partido Instituto Nacional de Estatstica Ministrio de Administrao Estatal Movimento Democrtico de Moambique Plano Estratgico de Desenvolvimento Distrital Partido Independente de Moambique Resistncia nacional de Moambique/Partido Secretariado Tcnico de Administrao Eleitoral
VII
RESUMO
O presente estudo tem como objectivo analisar o comportamento do eleitorado no distrito de Mueda, a fim de perceber as dinmicas do eleitorado de Mueda na sua relao com a FRELIMO, sobretudo das eleies de 1994 at as eleies gerais de 2009. Nesta perspectiva, procuramos perceber as motivaes que esto por detrs da contnua tendncia do eleitorado votar a favor da FRELIMO, ou seja, procurar perceber porque a persistncia do eleitorado a favor da FRELIMO. Mais ainda, o estudo defende o pressuposto segunda a qual a persistncia e lealdade do eleitorado de Mueda a favor da FRELIMO so explicadas em ltima instncia pelo processo de estruturao de Mueda enquanto uma entidade histrica da FRELIMO e que, por via disso, os eleitores esto alienado pela FRELIMO. Isso tem como suportes bsicos os condicionalismos histricos-estruturais de Moambique, desde o perodo colonial at aps a independncia. Ademais, o estudo mostra que as vivncias histricas e os valores colectivos que esto enraizados dentro da colectividade, cuja transmisso feita de gerao em gerao, constituem um factor extremamente importante para a persistncia e a lealdade do eleitorado de Mueda a favor da FRELIMO.
VIII
partidria, pode-se admitir que o cenrio de Mueda vai comprovar os fundamentaremos da teoria da lealdade onde nota-se relaes de comprometimento e compromisso provindas qui, do hbito entre o partido FRELIMO (produto normal), e os eleitores de Mueda (seus compradores leais). Mediante estas questes, importa evidenciar que as formas e as diversas manifestaes dos eleitores em Moambique, em particular os de Mueda, resultante das estruturas histricos do passado, bem como consequncia directa da cultura poltica vigente em Moambique antes da implementao do multipartidarismo em 19941, isto , o momento em que Mueda, foi e constitua-se como o centro das poucas zonas libertadas em Moambique sob domnio da FRELIMO e no necessariamente uma zona libertada, visto que Mueda estava sob domnio do exrcito Portugus. Este trabalho encontra-se organizado da seguinte forma: Tem duas partes, a primeira: estrutura-se da seguinte maneira: primeiro captulo que compreende a introduo do trabalho, os objectivos, a problemtica, a pergunta de partida, as hipteses, e a justificativa do trabalho; O segundo captulo engloba o enquadramento terico que da meno a reviso da literatura, onde apresentamos as diversas abordagem sobre o comportamento eleitoral. Elucidmos tambm alguns estudos no contexto Moambicano e igualmente engloba a conceptualizao bem como o modelo de anlise; O terceiro captulo composto pelos procedimentos metodolgicos que foram usados na elaborao do trabalho. A segunda parte do trabalho disserta-se sobre a anlise e interpretao dos resultados e engloba os seguintes captulos: O quarto captulo est dedicado a apresentao e descrio do distrito de Mueda; O quinto captulo faz uma anlise das informaes colhidas ao longo das entrevistas sobre a Influncia dos factores scio-econmicos e a relao histrica entre a FRELIMO e o distrito de Mueda na configurao do comportamento eleitoral em Mueda e para efeito elaborados trs subcaptulos: a questo do comportamento eleitoral em Mueda e a sua relao com os factores scio-econmicos; Num segundo momento discutiu-se o Papel da ligao histrica entre FRELIMO e o Distrito de Mueda na Construo da Identificao Partidria do Eleitorado de Mueda;
Nos referimos necessariamente aps a independncia de Moambique e at o perodo da implementao do multipartidarismo em Moambique, com a Constituio de 1990 e a realizao das primeiras eleies fundadoras.
Em terceiro lugar discutimos sobre no existncia de aces mobilizadoras dos Partidos da Oposio. Tambm dissertamos sobre a absteno eleitoral e a sua ligao com os votos expressos a favor da FRELIMO. No sexto captulo da segunda parte do trabalho discutimos duas temticas: por um lado, abordamos sobre as aces mobilizadoras da FRELIMO em Mueda e a sua ligao com o papel dos lderes de opinio na construo do comportamento eleitoral e por outro lado, discutimos o impacto das aces mobilizadoras na deciso do voto em Mueda. Finalmente o stimo captulo e ltimo captulo ficou reservado para as concluses do trabalho.
1.1.
Objectivos
Com vista a materializao dos propsitos deste trabalho, necessrio ser dirigido por alguns objectivos a saber:
1.1.1. Geral:
Analisar a lealdade e a persistncia do eleitorado do distrito de Mueda a favor do partido FRELIMO, nas eleies de 1994 at s eleies de 2009.
1.1.2. Especficos:
Identificar os pressupostos que ajudam a compreender o comportamento eleitoral em Mueda; Explicar os factores que determinam a persistncia do eleitorado de Mueda a favor da FRELIMO. Mostrar a importncia da trajectria histrica na formao do voto leal e persistente em Mueda a favor da FRELIMO.
1.2.
O debate sobre o distrito de Mueda e a estruturao do comportamento eleitoral, convida-nos a reflectir sobre a histria antroposociocultural, poltica e econmica do distrito, muito antes do perodo que pretendemos analisar. Assim, o nascimento de Moambique como nao resultou da guerra contra os colonizadores portugueses levada a cabo pela FRELIMO (Frente de Libertao de Moambique) entre 1964 a 1974 (West, 2008). Isto foi auxiliado a partir das bases recuadas na recm-independente Tanznia de orientao socialista e a FRELIMO cedo estabeleceu a sua base central no planalto de Mueda, geralmente entre as simpatizantes populaes maconde (idem). Com apoio militar da China, da URSS e de outros pases do bloco de Leste, a Frente tinha expulsado os portugueses de zonas substanciais das provncias setentrionais de Tete, Niassa e Cabo Delgado2 (incluindo a maioria do planalto de Mueda) quando o golpe militar de 1974, em Lisboa, derrubou Marcelo Caetano e abriu caminho para a independncia de Moambique, em 1975, sob o poder da FRELIMO (Henriksen, 1983; Munslow, 1983). A orientao socialista da FRELIMO foi consolidada em 1977, com a adopo oficial do marxismo-leninismo pelo partido (Munslow 1983 apud West, 2008). Ora, o processo histrico da FRELIMO em Mueda foi construdo desde os anos que o distrito de Mueda constitua-se como sendo a zona rodeada pelas poucas zonas sob domnio total da FRELIMO, ou seja, zonas libertadas. E esta proximidade que existe desde o perodo antes das eleies fundadoras de 1994 est de entre os vrios factores que concorrem para explicar a ligao intrnseca entre a FRELIMO e o eleitorado de Mueda. Mais ainda, sob a liderana do movimento de libertao (FRELIMO), Moambique independente tornou-se um Estado socialista de partido nico baseado nos princpios do centralismo democrtico e num sistema poltico e administrativo altamente hierarquizado (Lina Soiri, 1999).
2
Como tem-se destacado entre muitos autores chamam estas zonas por (zonas libertadas). Estas que foram compreendidas como sendo as zonas que estavam sob domnio da FRELIMO, mesmo no perodo da Guerra da descolonizao em Moambique. Ou seja, o aparecimento das zonas libertadas implica assim uma modificao no contedo da luta; a zona libertada torna-se uma zona em que a nvel de organizao da vida poltica, econmica e das relaes sociais de produo se rompe com o sistema de explorao do Homem pelo Homem. E as conquistas revolucionrias das Zonas Libertadas so estendidas a todo o Pais, e ampliadas. Veja: GEFFRAY, C. (1990); HANLON, J. (2004); HENRIKSEN, T. H. (1983); Noticias (1986).
Este perodo em que o Estado foi guiado pela ideologia socialista foi muito crtico e controverso3. Para sustentar esta posio, Anne Pitcher (2003) fundamenta que atravessou-se rapidamente um perodo de crise e subsequente transio, bem como mudanas ocasionais do modelo socialista de governao, ao mesmo tempo que o Governo Socialista da FRELIMO lutava pela sobrevivncia aos dezassete4 anos de conflito contra RENAMO. Como forma de corrigir estes problemas, inicia um processo de reformas econmicas que foi acompanhada pela liberalizao poltica (Macuane, 1996). Esta passagem ilustrada quando em 1989, no V Congresso do Partido, FRELIMO abandonou sua ideologia marxista-leninista e transformou-se num partido de frente mais ampla. Ademais, Macuane (op. cit) explica que isso possibilitou um caminho aberto para que as condies estruturais e estruturantes seguissem finalmente o modelo capitalista (Idem). Ora, o processo de abertura poltica tambm foi caracterizado por um amplo debate sobre a organizao institucional da nova repblica que culminou com a promulgao da nova Constituio em Novembro de 1990. Entre outras mudanas notveis foi introduzido pela primeira vez o multipartidarismo e Moambique deixou de ser Repblica Popular para tornar-se simplesmente Repblica de Moambique5 (Macuane 1996). Oponente duradoura da FRELIMO na guerra civil, a RENAMO assinou um Acordo Geral de Paz em 1992 e comeou a edificar um partido poltico e a fazer a sua campanha para as eleies. Nestes primeiros pleitos em Moambique, a FRELIMO ganhou com 44% dos votos para Assembleia da Republica mas a RENAMO transformou-se numa robusta fora de oposio, ganhando 38% do voto nas eleies para a Assembleia da Repblica de 1994.
Muitos debates sobre a gnese do socialismo da FRELIMO foram levados a cabo por diversos acadmicos, como por exemplo: Henrikson, Cahen, Brito, Geffray, Saul, Chichava, e demais. 4 O debate sobre os anos concretos da guerra civil tem sido complexo, pois para um grupo de autores como: Chichava, Brito, Plissier, Newitt, Rocha, Serra, Macuane, preferem dizer que a guerra civil vigorou num intervalo de 16 anos, e outros como Pitcher, Hanlon, MacQueen, Pereira e Shenga, dizem que a guerra entre irmos da mesma ptria durou quase 17 anos. 5 Encontram-se diferenas substantivas e claras, pois Repblica uma forma de governo na qual o chefe do Estado eleito pelos cidados ou seus representantes, tendo a sua chefia uma durao limitada. A eleio do chefe de Estado, por regra chamado presidente da repblica, normalmente realizada atravs do voto livre e secreto; enquanto Repblica popular o ttulo frequentemente utilizado por governos socialistas, em sua maioria de orientao marxista-leninista, para designar um tipo de Estado republicano. Fonte: Wikipedia, enciclopdia livre, acesso em 12 de Abril de 2013, 04h35min.
Notou-se ainda que, a democratizao deu um passo mais em frente com as eleies governamentais locais de 1998 e de 2003 e com as eleies gerais em 1999 e em 2004.
1.3.
Problemtica
O problema que se pretende analisar circunscreve-se sobre o comportamento poltico-eleitoral dos eleitores do distrito de Mueda, sobretudo nas eleies gerais de 1994 2009. A partir dos estudos feitos sobre o mesmo tema, apresentaremos as diversas abordagens no contexto Moambicano e particularmente em Mueda. O argumento principal a apresentar que no distrito de Mueda, na provncia de Cabo Delgado, h uma permanente e contnua tendncia do eleitorado depositar seu voto a favor da FRELIMO desde as primeiras eleies gerais de 1994 at as eleies gerais de 2009. Isto ilustrado pelos resultados oficiais das quatro eleies gerais que indicam o seguinte: nas eleies de 1994, 1999, 2004 e 2009, a FRELIMO consegui amelharar votos nas seguintes percentagens: 92%, 86%, 94% e 96% respectivamente. Ora, neste contexto analisar os resultados que se tem registado ao longo dos quatro pleitos (1994, 1999, 2004 e 2009) importa dizer que verificou-se uma persistncia do eleitorado a favor da FRELIMO neste distrito. Ou seja, Mueda diferentemente dos outros distritos vizinhos que a sua tendncia tem sido de baixar os nveis esmagadores que FRELIMO tem conseguido em cada pleito continua persistnte e leal a FRELIMO. Este cenrio demostra um domnio quase total da FRELIMO em relao ao eleitorado de Mueda. Isso leva-nos a categorizar que os eleitores de Mueda so fiis e persistem constantemente a votar na FRELIMO mesmo passado quase 15 anos, isto , desde as primeiras eleies, o eleitorado ainda contnua leal e persistente ao partido FRELIMO. Por exemplo, h contnuas crises de governao (altos nveis alarmantes de corrupo, nepotismo e a identificao poltico-partidrio dos funcionrios pblicos com certas agremiaes polticas (neste caso a FRELIMO) que verifica-se em Moambique e particularmente em Mueda, que de alguma forma periga a boa gesto da coisa pblica virada aos servios e satisfao do cidado. A questo da m governao sobretudo na gesto no eficiente da Rs pblica, que culmina com a tendncia de depresso e empobrecimento cada vez mais da populao do distrito de Mueda, falta de servios mnimos e tambm falta de oportunidades aos cidados de Mueda), que at ento so leais a FRELIMO e que continuamente votam a favor do mesmo partido com nmeros acima de 90% dos votos expressos nos quatro pleitos eleitorais como ilustramos acima. 7
Importa realar que nesta perspectiva deu-se mais nfase aos efeitos das polticas ou polticas pblicas conduzidas pela FRELIMO no poder ao longo dos 39 anos de governao, onde a medida que o tempo se vai, as expectativas duma vida melhor criadas na ocasio da adeso na FRELIMO na luta de libertao at aps a independncia, esto cada vez mais se desfazendo (Brito, 1995: 487)6. Ademais, esta forma de manifestao dos eleitores de Mueda pode tambm ter ligaes pela combinao dos factores conjunturais e factores histricos, estes ltimos, mais estruturantes que so parte integrante do processo de construo e consolidao do comportamento eleitoral Mueda. Aqui d-se mais enfase aos factores conjunturais que tm demostrado que alguns eleitores optam continuamente em votar na FRELIMO, como uma medida destinada a manter as dinmicas da cultura poltica vigente no Pas e particularmente em Mueda e evitar de todas as formas uma possvel decadncia do partido FRELIMO, que em parte ou no seu todo o eleitorado de Mueda contnua leal. Porm, um outro elemento que explica o comportamento eleitoral em Moambique a distribuio regional do voto (clivagens campo vs. cidade) que reflectem na estruturao das atitudes polticas eleitorais das zonas rurais e urbanas. Neste contexto percebe-se que a expresso do voto e do comportamento poltico eleitoral em Moambique meramente regional em favor de cada partido (FRELIMO e Renamo, Outros). Assim, associando esta situao a questes da marginalizao ou incluso de alguns grupos regionais do Pas na mquina governamental, podese constatar que h um nmero considervel dos principais dirigentes histricos e quadros da FRELIMO que so oriundos das provinciais do Sul do pas, e alguns relativamente oriundos da provncia de Cabo Delgado, o que favorece o processo de identificao das respectivas populaes com este partido (Brito, 1995: 489). Por outro lado, foi precisamente nas provncias Nortenhas do Pas (Niassa e Cabo Delgado), nas chamadas (zonas libertadas), onde se desenvolveu durante muito tempo a luta de libertao cuja presena poltico-militar da FRELIMO, mais se fez sentir (idem).
O itlico do autor.
Ademais, constata-se que os melhores eleitorais da FRELIMO situam-se precisamente em alguns distritos de Maputo, na maior parte dos distritos de Gaza, e na Zona do planalto de Mueda (outro bero histrico da FRELIMO, donde saram muitos combatentes e quadros histricos) (Brito, op. cit). Neste ltimo, o partido FRELIMO conseguiu as seguintes percentagens nas votaes: 1994: 92%, 1999: 86%, 2004: 94% e 2009: 96%. Contudo, estes elementos nos chamam ateno a ideia segunda a qual apesar dos enormes problemas que forma arrolados acima, o eleitorado do distrito de Mueda leal e persiste em votar na FRELIMO.
1.4.
so:
Questes de Partida
1. Quais so as razes que explicam a persistncia e a lealdade dos eleitores do distrito de Mueda, ao que se refere ao voto a favor do partido FRELIMO? 2. E porque permanece a tendncia do voto a favor deste partido, no eleitorado de Mueda, apesar dos problemas da governao e ineficincia dos servios bsicos?
1.5.
Hipteses:
As hipteses que tomamos como ponto de partida para a realizao do estudo, so:
10
1.6.
Justificativas
Foram vrios os determinantes para a escolha do tema, dentre eles destacamos: o simples interesse de enriquecer os estudos existentes sobre temtica do comportamento eleitoral na literatura Moambicana, mas partindo do pressuposto das perspectivas da Cincia Poltica. No se decepando de algum modo as outras perspectivas que possam interpretar o fenmeno com vista a enxergar o mesmo com as outras balizas e reas do saber, como por exemplo: sociologia, histria, etc. Pensamos que importante e necessrio realizar um estudo neste distrito que vai auxiliar a perceber algumas dinmicas sobre a matria inerente ao comportamento poltico eleitoral em Moambique. Este tema relevante na sociedade no geral na medida em que ao procurarmos entender as razes que determinam o comportamento do eleitorado no distrito de Mueda, percebemos que esta situao tambm pode ser vista em outras pontos do Pas, como por exemplo o eleitorado de Gaza, de Muidumbe, Inhambane, e alguns dos distritos de Maputo7. Mas ainda o tema portante na sociedade no geral e em particular os interessados, pois podero se informar das formas de manifestao do comportamento do eleitorado daquele ponto do Pas e as suas nuances relativas as escolhas eleitorais8. Em relao a relevncia deste tema no campo de anlise (das cincias sociais) e em particular a cincia poltica, importa referir que o debate sobre o comportamento eleitoral, as escolhas que os eleitores fazem, a forma como os eleitores decidem, a capacidade do eleitor avaliar e chegar a concluso que este ou aquele partido que tem de escolher explicado em grande parte pelas diversas manifestaes do comportamento eleitoral e de salientar que j existem estudos e teorias explicativas do comportamento eleitoral.
No se pretende fazer um estudo comparado, e muito menos um estudo de caso nestes locais, uma tentativa de demonstrar com base nos dados estatsticos e resultados oficiais das eleies dos quatro pleitos que so objecto de anlise, que em outros pontos do Pas, tambm nota-se o mesmo cenrio. Seria interessante um estudo nestes locais, para perceber, e posteriormente fazer-se um estudo comparado das razes da persistncia do voto a Favor da FRELIMO, nestes locais. 8 Escolhas eleitorais nos referimos essencialmente as escolhas que o eleitorado faz para eleger os seus representantes, ao nvel local ou ao nvel nacional. Ainda percebe se como sendo as escolhas que os eleitores fazem para a eleio do Presidente da Repblica, que rgo mximo no tocante a soberania nacional.
11
Entendemos ainda que este tema de cariz importante na cincia poltica porque vai dar uma dosagem sobre o debate que foi levado a cabo na cincia poltica dos anos 50 at actualmente ao que se refere as escolhas eleitorais, as motivaes e os determinantes dessas escolhas eleitorais. Contudo, foram os contactos que adquiri no processo de ensino e aprendizagem, a forma de ver o mundo, as diversas interpretaes sobre o comportamento eleitoral na componente de escolhas eleitorais, que impulsionaram no desenvolvimento deste estudo sobre as percepes e interpretaes das escolhas eleitorais em Mueda, nas eleies de 1994 2009. A escolha dos pleitos dos perodos de 1994, 1999, 2004 e 2009, foi pelo facto de procuramos harmonizar por um lado as percepes sobre comportamento eleitoral no distrito de Mueda analisados conjuntamente com os processos eleitorais que at ento j foram realizados no Pas e por outro lado, pelo facto de percebermos que h tendncias de similaridades nos resultados dos pleitos acima indicados.
12
2.1.
Reviso da literatura
Um dos pontos mais controversos nos estudos sobre o comportamento eleitoral a tentativa de explicar as razes e as causas por detrs da contnua ou mudana que leva os sujeitos alterarem ou a permanecerem a sua opo de uma eleio outra (Antunes, 2008). Mediante esta colocao, importa descrever sobre os estudos que se tomam como referncias tericas na anlise sobre o comportamento eleitoral. Portanto, Freire (2001), Antunes (2008), demonstram claramente que os estudos sobre o comportamento eleitoral so dominados por quatro grandes abordagens: a abordagem sociolgica, com defensores como (Berelson, Lazarsfeld & Mcphee, 1954; Lipset e Rokkan, 1967; Lazarsfeld, Berelson, & Gaudet, 1994;). Encontramos ainda abordagem psicossociolgica com defensores como (Campbell, Converse, Miller, & Stokes, 1960; Miller & Shanks, 1996) apud (Antunes, 2008). Vejamos que para Antunes (op. cit) estes estudos em ltima instncia fornecem uma explicao rgida para a estabilidade das opes do eleitorado mas que demonstram em muitos casos algumas limitaes no esclarecimento das razes que levam alguns eleitores a votar de forma diferente em eleies consecutivas. Mais na dianteira est abordagem de escolha racional apadrinhada por (Arrows, 1986; Downs, 1957 e Buchanan & Tullock, 2001). 13
Embora esta abordagem como evidncia Radmann (2001); Antunes (2008) fornea indcios interessantes para melhor compreenso da volatilidade no comportamento eleitoral9, demonstrase insuficiente ao que se refere a explicao do facto duma considervel maioria de eleitores votarem com uma notvel persistncia. Finalmente, abordagem da identificao partidria ou seja abordagem psicossocial, evidenciada por Antunes (2008). Este apresenta-se a luz dos estudos actuais sobre a identidade social 10 e teve como defensores de raiz (Merton & Kitt, 1950; Hyman & Singer, 1968; Campbell, Manro & Alford, 1986), (Idem). Todavia, os estudos sobre o comportamento eleitoral em grande parte so guiados pelas perspectivas tericas que explicam este ou aquele fenmeno tendo em conta as suas ferramentas de anlise. Assim, iniciar um debate sobre as teorias dominantes que velam sobre o comportamento eleitoral, convida-nos a trazer tambm os principais argumentos sustentados por cada abordagem.
2.1.1. Comportamento eleitoral na abordagem Sociolgica e psicossociolgica Uma parte significativa da literatura procura explicar as decises eleitorais, ou seja, o comportamento eleitoral focalizando-se na influncia do contexto social e psicolgico. No mundo moderno assistimos a mudanas cada vez mais rpidas do paradigma civilizacional e do contexto social, levando a que as teorias baseadas nesta dimenso tenham evoludo de forma a adaptarem-se s novas realidades (Antunes, 2008). Esta parte um roteiro histrico dos principais desenvolvimentos nas abordagens sociais do comportamento eleitoral. Numa primeira seco, expe-se a abordagem sociolgico do comportamento eleitoral e seguidamente vamos expor a abordagem Psicossociolgica do comportamento eleitoral.
Para um debate mais aprofundado sobre a temtica da volatilidade eleitoral, veja: Emerson Urizzi Cervi, 2002. O debate levado a cabo sobre a temtica dos modelos explicativos do voto, e ao que se refere a abordagem psicossocial ou de identidade partidria, com mais detalhes veja: a tese de Doutoramento de Antunes, Rui Jorge; Identificao partidria e comportamento eleitoral: factores estruturais, atitudes e mudanas no sentido do voto; Coimbra, 2008.
10
14
Assim, destacamos que as abordagens sociolgicas e psicossociolgicas mostram-se mais relevantes e adequadas na anlise do comportamento eleitoral dentro do contexto poltico e social especfico e com suas especificidades11. Como forma de argumentar esta posio, daremos mais nfase cultura poltica que acreditamos auxiliar a compreenso do comportamento dos eleitores do distrito de Mueda, que constitui o nosso pano do fundo. A abordagem sociolgica do comportamento eleitoral teve alguns expoentes destacveis, dentre eles: Siegfried (1913), Lipset (1959); Lazarsfeld e outros (1965), Lipset e Rokkan (1967), Bourdieu (1979)12, para alm de muitos outros. O ponto de partida desta abordagem, segundo Lipset (1959) apud Freire (2001) que uma das preocupaes da sociologia poltica consiste na anlise das condies sociais que configuram e reconfiguram cultura poltica dentro dum contexto. Para tal, Lipset (op. cit) enfatiza que preciso entender as condies sociais que podem concorrer para explicar quer as divises bem como os consensos polticos, os traos caractersticos da prpria cultura poltica. De acordo com Figueiredo (1991) apud Freire (2001, p: 26):
`` tais condies constituem o contexto no qual as prprias instituies, as prticas, as ideologias e os objectivos polticos se formam e actuam. Nesse sentido, para compreender o voto de um jovem ou de um idoso, necessrio conhecer o seu contexto social e poltico: onde esses eleitores vivem e como vivem nesse contexto.
Segundo Castro (1992), os argumentos da abordagem sociolgica mostram que o estudo do comportamento eleitoral teve incio na sociologia e foi responsvel por grande parte da produo nesta rea. Neste contexto, a perspectiva original desta bordagem macro pois parte da ideia de que os factores histricos-estruturais e culturais globais conformam as caractersticas sociais, econmicas e polticas de uma sociedade, fazendo drenar determinadas clivagens sociais que se expressam atravs de partidos especficos, com os quais sectores do eleitorado se identificam (Idem).
11
Segundo Figueiredo (1991) apud Radmann (2001) o contexto poltico refere-se conformao institucional do sistema poltico e as interaces polticas institucionalizadas. Os contextos sociais referem-se s estruturas sociais e s formas bsicas de organizao da vida social nas quais os indivduos fazem parte. 12 Os estudos de Bourdieu, tambm podem ser enquadrados na teoria sociolgica sobre o comportamento poltico dos eleitores, pelo facto de dar nfase aos determinantes sociais da aco poltica.
15
Mais ainda, a participao poltica dos indivduos pode ser explicada pelo ambiente socioeconmico e cultural em que vivem e pela insero em determinados grupos sociais ou categorias demogrficas, no campo poltico (Castro, 1992), ou seja, os grupos sociais se expressam atravs dos partidos polticos com os quais se identificam e a participao poltica se processa a partir das interaces sociais dentro de um determinado contexto (Meires, 1994, apud Radmann, 2001). Para Figueiredo (1991, p. 21) a partir das expectativas, opinies e atitudes individuais dos eleitores, este modelo busca compreender o seu comportamento poltico, visto como uma funo do ambiente social no qual ocorre a socializao poltica ao longo do tempo e do conjunto de atitudes que se consolidam nesse processo. Os estudos de Lipset (1967), Radmann (2001), Antunes (2008), demonstram que em funo das influncias que recebe nas interaces dentro dos diversos grupos de que participa, o eleitor levado a votar, ou no, em uma ou outra direco, enfim, levado a escolher um determinado curso de aco (Figueiredo, 1991, p. 21). Algumas concluses de Castro (op. cit, p: 13) nos ajudam a perceber estas dinmicas: as concluses mais gerais a que chegou enfatizam a ideia segunda a qual, a influncia do grupo ao qual pertence o eleitor importante para explicarem a sua escolha partidria. Mas tambm, os eleitores que trabalham ou vivem juntos votam mais provavelmente nos mesmos candidatos (Idem). E indivduos em situao social semelhante tm mais probabilidade de interagir; se vivem juntas, e em condies externas iguais, as pessoas muito provavelmente podem desenvolvam necessidades e interesses tambm semelhantes, e tendem a ver o mundo da mesma maneira e ter interpretaes parecidas a experincias comuns (Meires, 1994 apud Castro, 1992, p: 17). Os estudos feitos por Lazarsfeld et al. (1965) apud Castro (1992, p: 21) mostram que na deciso dos eleitores em votar num determinado partido ou candidato, parece mais importante a influncia do lder de opinio13 que se comunica com cada eleitor dentro de seu grupo, do que
13
Para Walf (1992), os lderes de opinio, representam o sector da populao mais activo na participao poltica e mais decidido no processo de formao das atitudes do voto, relacionados com factores econmicos, culturais, de motivao e intelectuais dos indivduos examinados. Neste contexto, compreendemos por lderes de opinio: os
16
os instrumentos formais de comunicao poltica14 (campanha poltica) atravs dos meios de comunicao de massas15,ou seja, as condies sociais, o meio em que o indivduo/eleitor est inserido so importantes na estruturao das atitudes sociopolticas e consequentemente do comportamento poltico-eleitoral (Lipset, 1959; apud Freire, 2001).
2.1.2. Abordagem psicossociolgica ou modelo Michigan sobre o comportamento eleitoral Um dos aspectos importante a fundamentar que em alguma literatura pode ter a designao de Modelo de Michigan, pois foi uma teoria desenvolvida por professores da Universidade de Michigan entre eles: (Angus Campbell; Philip Converse; Warren Miller e Donald Stoker). Isso levou com que muita das vezes a abordagem psicossociolgica do comportamento eleitoral tivesse est designao (Freire, 2001: 41). Radmann (2001) afirma que a corrente psicossociolgica sobre o comportamento eleitoral, pode ser considerada um ramo de orientao mais micro da corrente sociolgica do comportamento eleitoral. Sem negar a relevncia da contribuio da sociologia, que considera-a insuficiente. Por exemplo, Antunes (2008, p: 21) adianta que a influncia dos factores sociais seria mais remota, no daria conta das flutuaes de curto prazo das decises de voto. Essa corrente prope uma abordagem baseada nas atitudes, em que se procuram as motivaes e percepes que levariam os indivduos imediatamente escolha partidria e consequentemente ao comportamento poltico. Campbell et al. (1965) apud Castro (1992, p: 16) mostra que as variveis de atitude so consideradas intervenientes entre os factores sociais que caracterizam os indivduos (como raa, escolaridade ou status socioeconmico) e ou at o comportamento eleitoral propriamente dito.
chefes do bairro/quarteires, das aldeias, das localidades, dos postos, os lderes tradicionais, curandeiros, chefes de cl, etc. 14 Veja com mais detalhes: MESQUITA, Mrio (2004). O quarto equvoco: o poder dos mdia na sociedade contempornea. 2 Ed. Coimbra: Minerva Coimbra, p: 89. 15 Um debate mais aprofundado sobre o assunto veja: LAZARSFELD, P. PERELSON, E. & GAIDET, H. (1965), The people's choice. Nova Iorque e Londres, Columbia University Press.
17
Assim, atitudes forneceriam uma explicao mais completa porque estariam mais prximas do comportamento, em uma masmorra causal e temporal (Idem). A abordagem psicossociolgica sobre o comportamento eleitoral defende que a participao poltica e comportamento eleitoral esto directamente ligados s percepes e motivaes dos indivduos em relao poltica e aos partidos (Radmann, 2001, p: 15). Tendo como base as explicaes da abordagem psicossociolgica e a sociolgica sobre o comportamento eleitoral, importante demonstrar que:
`` Tudo leva a crer que, para explicar o comportamento eleitoral, ao que se refere a direco do voto, no h como excluir variveis de tipo social, cultural e psicolgico; no h como ignorar factores macroestruturas, que definem os diferentes contextos sociais nos quais os eleitores vivem (Castro, 1992, p: 17).16
Freire (2001) fundamenta que o modelo psicossociolgico do comportamento eleitoral procurou superar as limitaes da abordagem sociolgica, combinando-a com uma abordagem de carcter mais ou menos psicolgica. Nesta perspectiva o indivduo a unidade de anlise e considera-se mais as atitudes polticas dos eleitores que so consequncia directa da cultura poltica bem como a sua proximidade ao fenmeno que se pretende explicar 13 e 33-36; Figueiredo, 1991, p: 20 apud Freire, 2001, p: 42). De acordo com a teoria da socializao poltica aliada teoria da psicossociologia, as diversas formas de manifestao das atitudes dos indivduos18 e a sua relao com os fenmenos polticos, formam-se muito antes dos indivduos terem idade para votar e so um reflexo do ambiente social imediato (famlia, grupos de vizinhana, grupos de amigos) e em especial ateno o contexto familiar (Figueiredo, 1991, apud Freire, 2001, p: 41).
17
16
So concluses que autora chegou, depois de apresentar os pressupostos da abordagem sociolgica e psicossociolgica do comportamento eleitoral, no artigo (Sujeito e estrutura no comportamento eleitoral, 1992: 17). 17 O fenmeno que se pretende explicar necessariamente o comportamento poltico dos eleitores ou seja o comportamento politico-eleitoral dos eleitores. Foi as formas razoveis que encontramos para evitar repetidamente escrever: comportamento eleitoral. 18 Estas atitudes como fundamenta Freire (2001, p: 24) dizem respeito a forma como os indivduos percebem os fenmenos polticos e a conjuntura econmica, social, poltica, cultural.
18
Assim, as atitudes adquiridas atravs da socializao passam necessariamente a integrar a estrutura da personalidade dos indivduos e tornam-se a base para a formao das opinies, avaliao e inclinaes para a aco frente ao ambiente poltico mais amplo (Idem).
2.1.3. Comportamento eleitoral na abordagem de escolha racional Em princpio, fundamental dizer que, a obra An Economic Theory of Democracy, da autoria de Downs (1999) uma das obras que explorou e aplicou a teoria da escolha racional na Cincia Poltica. Tal teoria prope a explicao do comportamento social e poltico partindo do pressuposto segundo o qual as pessoas so racionais e agem intencionalmente, calculando os custos e os benefcios de cada aco antes de decidirem, maximizando seus ganhos (Idem). No mesmo argumento, Oliveira (2012, p: 21) demonstra que a teoria da escolha racional sobre o comportamento eleitoral foi desenvolvida com base nos estudos da economia poltica de Arrow (1963)19 na qual enfatiza que argumentos econmicos so relacionados com uma escolha ou resultado. Presumiu-se de acordo com Arrow (op. cit) apud Oliveira (2012, p: 24) que se as hipteses da escolha racional so capazes de explicar o funcionamento do mercado, podem igualmente explicar o funcionamento poltico. Logo por um lado, enquanto os consumidores esto para as empresas, os votantes esto para os partidos polticos. Por outro lado, os consumidores procuram maximizar a utilidade, as empresas o lucro, e os eleitores esto em busca da maximizao da utilidade de seu voto e os partidos buscam alavancar os ganhos eleitorais (Idem). Percebe-se segundo esta abordagem que os polticos agem motivados pela busca de prestgio, poder e renda, desenvolvendo para este fim, aces que visam maximizao de seu apoio, promovendo polticas orientadas para esta finalidade. Esta hiptese demonstrada por Downs (1999, p: 71) quando argumenta que os governos conquistam votos ao aumentar os gastos pblicos, porm, perdem quando elevam os impostos.
19
Mais detalhes, veja em: ARROWS, Kenneth. Social choice and individual values. New Haven: Yale University Press, 1963.
19
Segundo Figueiredo (2008) apud Oliveira (2012) o Homus politicus da teoria downsiana racional, e procura sempre minimizar os efeitos da condio de incerteza da vida poltica movido por razes egostas. Assim, a maior parte dos eleitores composta por esta concepo do Homus politicus. Mas so irrelevante como sustenta Downs, as caractersticas psicolgicas que os eleitores possuem, embora o autor no o considere uma mquina calculista como na concepo dos Homus econmicos presente nas teorias utilitaristas. Um indivduo racional para Downs (1999, p: 28) se comporta da seguinte forma: 1. Ele sempre pode tomar uma deciso quando confrontado com uma srie de alternativas; 2. Ele classifica todas as alternativas na ordem de sua preferncia; 3. Seu ranking de preferncia transitivo; 4. Ele sempre escolhe entre todas as alternativas possveis, aquela que fica em primeiro lugar no ranking ordenado de preferncia; 5. Ele sempre toma a mesma deciso quando confrontado com as mesmas alternativas. Para Downs (1999, p: 67) todos os que tomam decises racionalmente no modelo proposto, incluindo (partidos polticos, grupos de interesse e governos) possuem as mesmas qualidades. Um homem racional, portanto, sempre opta pela alternativa que lhe proporciona maior utilidade (Idem). Assim, um eleitor ao agir racionalmente leva em considerao os benefcios esperados, resultantes da actividade governamental para escolher o candidato ou partido que lhe trar a maior utilidade ou opta por abster-se de votar. Para decidir se vai participar ou no da eleio, o eleitor realiza um clculo que inclui a tarefa de escolher um candidato, os custos referentes ao deslocamento e as possveis vantagens que podem ser obtidas caso decida votar. Se tais benefcios esperados superarem os custos, o eleitor participa da eleio (Downs, op. cit). Neste contexto Downs (op. cit) sugere que os partidos se posicionem ideologicamente de modo a contemplar maior quantidade possvel de grupos sociais, o que Figueiredo (2008) chama de prrequisitos20 para o sucesso eleitoral.
20
Mais detalhes sobre o debate a respeito dos pr-requisitos dos partidos polticos numa competio poltica eleitoral, tendo em conta a abordagem de escolha racional, veja: Figueiredo (2008).
20
Contudo, as abordagens inspiradas pela teoria da escolha racional consideram a deciso do voto como produto duma aco racional individual orientada por clculos de interesse, que levam o eleitor a se comportar em relao ao voto como um consumidor no mercado (Caplan, 2007: 137)21. Neste contexto, a esfera da poltica visualizada como um mercado poltico, onde os polticos tentam vender seus produtos e os cidados assumem o papel de consumidores, que vo escolher aqueles produtos que melhor diminuem seus custos e maximizem ou optimizem seus ganhos22.
2.1.4. Comportamento eleitoral na abordagem de Identidade poltica / Identificao partidria O debate sobre o processo de construo de identidades partidrias tem sido complexo para tentar explicar a natureza das manifestaes do comportamento eleitoral. Nesta perspectiva, compreender as identidades polticas como fundamento para identificao partidria, nos chama mais ateno ao processo de estruturao dessas identidades polticas e consequentemente a identificao h um partido. Assim, a identificao partidria como sugere Silveira (1998, p: 26) a relao estabelecida em funo da lealdade, confiana e vnculos tradicionais com o partido ou com o candidato. Aqui o voto pode ser produto de tradio familiar, pertencimento ao reduto eleitoral, bem como relaes de lealdade estabelecidas e gosto por um certo partido (Idem). Segundo Silveira (op. cit) as manifestaes do comportamento eleitoral, proveniente do personalismo tradicional podem ser compreendidos como sendo uma identificao com a qual o eleitor cria com o partido ou candidato em funo de qualidades especiais que so consideradas como um dom destas lideranas (idem). Essa identificao pode ser da decorrncia do magnetismo carismtico do lder ou de relaes sociais tradicionais que se estabelecem entre o contexto social, o eleitor e o candidato (op. cit., p. 64).
21
Um debate aprofundado, veja: CAPLAN, Bryan (2007), The Myth of the Rational Voter: Why democracies choose bad policies, EUA, University Press, Ney Jersey. 22 Referncia neste tipo de abordagem encontra-se na obra de Anthony Downs, Uma Teoria Econmica da Democracia; Traduo de Sandra Guardini Teixeira Vasconcelos. So Paulo: EDUSP, 1999.
21
Segundo Silveira (op. cit) a identificao partidria pode estar associada ao comportamento eleitoral personalizado pela confiana e lealdade que os eleitores tm com lder. Como lembra a autora, esta corresponde antiga concepo duma identificao com o candidato construda em funo de admirao, magnetismo, devoo, fidelidade, lealdade pessoal, subordinao ao chefe poltico local ou regional, tradio familiar ou pertencimento ao reduto eleitoral (Idem). Muitos autores, dentre eles Freire (2001), Silveira (1998), Campbell et al (1960) fundamentam que as atitudes polticas compreendidas na perspectiva da abordagem da identificao partidria, podem ser vistas para:
Caracterizar a orientao efectiva dos indivduos em relao a determinados grupos do seu ambiente. Quer as teorias sobre os grupos de referncia, quer os estudos sobre o comportamento em pequenos grupos se tm referido atraco ou repulso em relao aos grupos como uma identificao. O partido poltico surge como o grupo em relao ao qual o indivduo pode desenvolver uma determinada identificao, positiva ou negativa, com certo grau de intensidade Campbell et al
Outro elemento importante nas caractersticas da identidade poltica a identificao grupal tradicional. Para Silveira (1998) est refere-se ao voto definido em funo da identificao com grupos de referncia (grupo tnico, comunidade religiosa, categoria profissional, gnero, regio). Ora, essa identificao construda a partir de relaes de lealdade, de sentimentos de pertencimento ao grupo e de tradio24.
23
Uma explicao mais detalhada demonstra claramente que a identificao partidria, se intensifica e isso significa necessariamente que h uma identificao dos indivduos com um partido. Veja com mais aprofundamento: Campbell et al (1960), apud Freire (2001). 24 Com mais detalhes, veja: SILVEIRA, Flvio Eduardo. Factores que influenciam o voto conforme os tipos de eleitores. In: A deciso do voto no Brasil. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1998, p. 122-139.
22
2.1.5. Estudos sobre comportamento eleitoral em Moambique Segundo Elsn (s/d) os estudos sobre o comportamento eleitoral no podem ser vistos de forma isolada, pois devem ser considerados em seus contextos especficos de anlise e em suas singularidades. Mais ainda, h uma srie de condio estruturais e conjunturais diversas que influenciam o acto de votar. Por isso, os resultados duma eleio reflectem necessariamente um determinado momento e situao singular do espao poltico onde ocorre a eleio25. Assim, importante discutir tambm as explicativas do comportamento eleitoral a luz do contexto da literatura nacional. Porm, partindo das discusses levadas a cabo a ttulo de exemplo por Brito26, Pereira27 e outros estudiosos no contexto Moambicano, na matria inerente ao comportamento eleitoral em Moambique, nos convidam claramente aceitar que o eleitorado Moambicano esta fragmentado e que cada ngulo compe caractersticas prprias. Assim, por um lado encontramos o eleitor das zonas urbanas e por outro lado encontramos o eleitor das zonas rurais e que cada um desses possui suas caractersticas e posies diferenciadas sobre o campo poltico28. Para Baloi (2001) o comportamento eleitoral em Moambique reflecte uma combinao de factores conjunturais e factores histricos, estes ltimos mais estruturantes. Apelando ainda para o peso de factores conjunturais onde argumenta-se que alguns eleitores optaram pela FRELIMO como uma medida destinada a manter o partido dentro do circuito do sistema democrtico e assim evitar qualquer desmoronamento deste partido (Idem). Lundin (1995) avana que os limites contextuais so extremamente determinantes, pois em ltima instncia referenciam importncia destes elementos na deciso do eleitorado. Os elementos contextuais e as clivagens sociais aqui consideradas so: posio socioeconmica, trajectria social, prestgio da profisso, formao educacional, religio e cultura urbana ou rural.
25
O artigo que Elsn escreveu est intrinsecamente relacionado com as manifestaes do comportamento eleitoral, cujo ttulo : Comportamento poltico eleitoral; s/d. 26 Consultado em: BRITO, Lus. O comportamento eleitoral nas primeiras eleies multipartidrias em Moambique. In MAZULA, Brazo. Moambique: Eleies, Democracia e Desenvolvimento. Maputo, Elo Grfica, Lda., 1995. 27 PEREIRA, Joo. Comportamento Eleitoral em Marromeu. Maputo, EM-Faculdade de Letras e Cincias Sociais, Dissertao. 1996. 28 Com vista a ter uma percepo ampla sobre as dinmicas do comportamento eleitoral em Moambique e a sua fragmentao, veja em: Lus de Brito, 1995; Pereira, 1996; Brito, L.; Pereira, J.; Rosrio, D.; e outros, 2005; Pereira, 2007; que apresentam estudos sobre as dinmicas do comportamento eleitoral em Moambique.
23
Silveira (1998) apud Baloi (2001) explica que a tentativa de absorver as diversas possibilidades de comportamento eleitoral em Moambique, acaba levando-nos a enquadrar variadas correntes explicativas do voto a partir do grau de importncia de factores estruturais-colectivos ou cognitivos-individuais na determinao da deciso eleitoral. Como tem explicado Brito, em muito dos seus escritos, que uma teoria do comportamento eleitoral pode ser capaz de prever a tendncia do voto de grupo de eleitores, sem necessariamente explicar os motivos das escolhas. Ou inversamente pode explicar o conjunto dos comportamentos, mas ser incapaz de prever como certos eleitores agiro (Brito, s/d)29. Os argumentos apresentados por Brito (1995) assim como Pereira (1996) nos chamam ateno a ideia de que o comportamento eleitoral em Moambique pode ter fundamento bsico na questo da distribuio regional do voto, ou seja, pode ser associado aos aspectos pertencentes s clivagens campo e cidade, que tem reflectido necessariamente na formao do voto das zonas rural e das zonas urbano (Idem). Assim, Brito (1995, p: 488) constatou que o debate em relao a distribuio regional do voto pode ser demostrado pelo facto da FRELIMO em 1994, ter ganhado com uma votao superior a 75%, nos quatro crculos eleitorais do Sul do Pais (Maputo-Cidade; Maputo-Provncia; Gaza e Inhambane); e dois crculos no Norte (Niassa e Cabo Delgado), enquanto a Renamo teve domnio quase total nas provncias do Centro e Norte (Sofala, Manica, Tete, Zambzia e Nampula), tambm com uma votao acima de 75%. Neste contexto, como forma de ilustrar a persistncia do voto nos dois crculos da regio nortenha do Pas (Cabo Delgado e Niassa), mas especificamente no distrito de Mueda, em Cabo Delgado o partido FRELIMO teve uma votao nas seguintes percentagens: 1994: 92%; 1999: 86%; 2004: 94% e 2009: 96%. Considerando os argumentos de Brito (op. cit) e a demostrao das percentagens que a FRELIMO conseguiu nas votaes acima apresentadas, observa-se que expresso do voto distribuda numa escala regional e em favor de cada partido (FRELIMO e RENAMO).
29
Estas colocaes tm sido fundamentadas pelo autor Lus de Brito, nas suas discusses sobre modelos explicativos do voto, com uma frase clebre: A nossa capacidade de prever como os eleitores vo votar muito menor que a nossa capacidade de explicar porque que votaram de uma determinada maneira.
24
Tal como o caso da diferenciao na distribuio do voto nas zonas rurais e urbanas, tambm visvel a demarcao regional do voto e das manifestaes do comportamento eleitoral no Pas que procuram se enquadrar na histria recente do Pas. Neste contexto, est uma forma de demonstrar que a distribuio do voto e as formas de manifestao do comportamento eleitoral pode ter ligaes fortes com a recente histria de Moambique (guerra de libertao, guerra civil, marginalizao de alguns grupos da elite do Centro do Pas, desconfiana poltica da FRELIMO em relao s populaes das zonas do Centro do Pas, etc.)30. Segundo Brito (1995) a maioria dos principais dirigentes histricos e numerosos quadros da FRELIMO so oriundos das provinciais do Sul e relativamente do Norte do Pas, oque favorece o processo de identificao das respectivas populaes com este partido. Por outro lado, foi precisamente nas provncias Nortenhas do Pas (Niassa e Cabo Delgado) nas chamadas (zonas libertadas) que se desenvolveu durante muito tempo a luta de libertao e onde a presena poltico-militar da FRELIMO mais se fez sentir (Idem). Como resultado disso, o comportamento eleitoral em Moambique associado a maior afluncia do voto favorvel a FRELIMO, assentou-se nestas regies, ou seja, os melhores resultados eleitorais da FRELIMO situam-se precisamente nos distritos onde a FRELIMO tem grande influncia, como o caso do distrito de Mueda/nas zonas do planalto de Mueda que um bero histrico da FRELIMO, donde advm muitos quadros militares, onde o partido FRELIMO obteve nas eleies de 1994 2009 a seguinte votao: 1994 (92%), 1999 (86%), 2004 (94%) e 2009 (96%).
30
25
2.2.
QUADRO TERICO
2.2.1. Teoria da Lealdade partidria No presente estudo, tomou-se em considerao a teoria da lealdade partidria como a perspectiva terica para anlise que levamos a cabo em todo trabalho, em virtude do nosso foco de anlise ser a lealdade e persistncia que so parte integrante da teoria da lealdade partidria. Por outro lado, pelo facto destes elementos (lealdade, persistncia) constiturem as variveis dependentes do nosso estudo e que melhor explicam os fenmenos do comportamento eleitoral em estudo. Mais ainda, a escolha desta teoria ligando aos estudos sobre o comportamento eleitoral no contexto Moambicano, permite-nos associar os elementos da teoria da lealdade com as dinmicas contextuais, conjunturais e estruturais que so importantes para compreender o comportamento poltico eleitoral em Moambique. Tambm por compreendermos que nesta teoria encontram-se elementos suficientes como (lealdade, fidelidade, comprometimento, confiana, habito) que explicam a persistncia do voto em algumas regies do Pas e concretamente no distrito de Mueda. Em relao teoria, convm dizer que at recentemente esta teoria no atraia ateno na cincia e grande parte de estudos detalhados sobre a lealdade surgem com escritores criativos e acadmicos como (Jacoby & Chestnut31, Goman32, Kotler33), fundamentalmente pelo economista e poltico Hirschman (1970)34 que com um interesse particular, procurou desenvolver uma teoria sobre a lealdade (Ewin, 1992, p: 32)35. Para Oliver (1999) apud Patrocnio (2012) a lealdade a existncia de um comprometimento profundo em comprar um produto ou servio de forma consistente no futuro.
31 32
Jacoby J. and Chestnut, R.W., 1978, Brand Loyalty: Measurement and Management, New York: John Wiley. Obra de Goman, Carol K., 1990, The Loyalty Factor, Berkeley: KCS Publishing. 33 Kotler, Philip (2000): Administrao de Marketing. So Paulo: Prentice-Hall. 34 Foi com base neste autor, nas colocaes desenvolvidas por este autor, que desenvolvemos a teoria da lealdade: Hirschman, Albert O., 1970, Exit, Voice, and Loyalty: Response to Decline in Firms, Organizations and States, Cambridge, MA: Harvard University Press. 35 Veja-se com mais detalhes: Ewin, R.E., 1992, Loyalty and Virtues, Philosophical Quarterly, 42 (169), p: 403-19. New York: Fordham University Press. Mais ainda, veja em: Foust, Mathew A., 2012, Loyalty to Loyalty: Josiah Royce and the Genuine moral Life, New York: Fordham University Press.
26
Esta aco configura uma relao de compras repetidas de produtos da mesma marca ou empresa, apesar de todas as influncias situacionais e esforos de marketing da concorrncia apresentarem potencial para incitar um comportamento de mudana no consumidor (Idem). Assim, o comprometimento do consumidor com a marca, produto, servio ou empresa um importante factor na construo da fidelizao e da lealdade dentro dessa relao entre o cliente e a empresa (Patrocnio, 2012). Olhando os pressupostos que a teoria da lealdade partidria apresenta, convm dizer que os elementos da teoria explicam de facto a persistncia e a lealdade do eleitorado de Mueda a favor da FRELIMO no perodo em que nos propusemos analisar. Pois, no contexto de Mueda a lealdade partidria pode compreender-se a como um factor determinante para a existncia dum comprometimento profundo dos eleitores com o partido FRELIMO e isso se reflecte na compra do produto (neste caso a FRELIMO e as suas propostas eleitorais, por meio do voto), duma forma continua e consistente no futuro, e associamos esta situao com a questo da votao persistente do eleitorado de Mueda. 2.2.2. Lealdade Partidria dos Eleitores A lealdade do eleitor definida como aqueles eleitores que so favorveis as atitudes que dizem respeito os ideais dum partido, resultante do comportamento eleitoral repetido (Anderson e Srinivasan, 2003, apud Riet, 2010, p: 28). Nesta perspectiva, os pressupostos da teoria da lealdade partidria segundo Riet (2010), podem ser explicadas pela baixa frequncia de eleies, a baixa qualidade de controlo sobre o cumprimento de campanha e promessas eleitorais, e a ausncia de preo que so diferenas importantes que possam sugerir que a marca/partido equitativamente desempenhem um papel mais proeminente na poltica. Segundo (Riet, loc. cit) os eleitores habituais tm um baixo nvel de envolvimento na poltica e no comportamento eleitoral repetitivo, logo estes eleitores no parecem leais e genunos assim como se pressupe. Ademais, os eleitores podem geralmente ser divididos em dois grupos, os eleitores habituais e eleitores com alto envolvimento. Entre os eleitores habituais, a lealdade aumentada atravs da criao do conhecimento da marca (neste caso o partido), anncios e outras formas de dar ateno e transformar a marca em novidades (coisas novas).
27
Enquanto os eleitores com alto envolvimento so menos afectados pela percepo da marca e respondem mais imagem da marca forte. As partes podem criar uma imagem da marca forte por ser distinta e nica, mas tambm adequadas e consistentes em suas aces e ideologias de modo a atrair o mesmo grupo de eleitores por um longo tempo, o que ir criar o hbito neles e consequente a lealdade (Idem). Na perspectiva deste trabalho, vai se olhar para a lealdade36 dos eleitores, usando os princpios do marketing, como forma de demostrar como o processo da lealdade partidria no distrito de Mueda, joga um papel crucial na cabea dos eleitores e em ultima instncia compreender a persistncia e a lealdade do eleitorado de Mueda em relao a FRELIMO desde as primeiras eleies de 1994 at as eleies de 2009, com votos expressos de uma forma esmagadora. Contudo, os elementos como comportamento de compra repetida juntamente com uma atitude fortemente positiva em relao uma marca/partido, so elementos que podemos encontrar no contexto de Mueda, pois a partir dos dados das votaes de 1994, 1999, 2004 e 2009, pode-se categorizar que o eleitorado de Mueda vota persistentemente de uma forma repetida e tem uma relao positiva com partido FRELIMO. Outro elemento importante na adequao desta teoria ao nosso objecto de estudo o processo de criao da imagem da marca ou partido na conscincia dos eleitores, por meio de anncios e outras formas de criar ateno. No contexto de Mueda, compreendemos que a imagem do partido FRELIMO est criada e continuamente se consolidando de algum modo com auxlio dos chefes locais ou tradicionais que tem procurado implantar as diversas formas de anunciar a marca (o partido FRELIMO), sobretudo por meio de aces mobilizadoras no eleitorado de Mueda. De entre outras razes, esta patente a relao histrica existente entre o partido FRELIMO e o eleitorado de Mueda bem como as diversas formas e aces mobilizadoras que em ltima instncia ajudam na criao da marca (partido FRELIMO) e consequentemente jogam um papel fulcral para atrair este grupo de eleitores para continuar leal por um longo tempo, o que fez com que criassem o hbito entre eles em relao ao partido FRELIMO e no confiana nos outros partidos ou produtos.
36
Em Ingls, Loyalty, que na traduo pode ser: Lealdade ou Fidelidade. Para o nosso caso, usaremos (Lealdade).
28
2.3.
Conceptualizao
Conceitos principais: Comportamento Eleitoral, Voto, Lealdade Eleitoral, Partidos Polticos. Em busca duma explicao dos conceitos principais da nossa pesquisa, nos propusemos a desenvolver duma forma sintetizada. 2.3.1. Comportamento Eleitoral Segundo Limeira e Maia (2010) comportamento eleitoral entendido como um processo social que se desenvolve ao longo do tempo e se desdobra em trs etapas, sendo que cada uma dessas etapas sofre influncias da comunicao poltica transmitida pela imprensa ou propaganda eleitoral37 ou ainda por meio das interaces sociais. Ou seja nas palavras de Limeira e Maia (loc. cit) os comportamentos polticos se expressam de diversas formas: pode ser pelas opinies declaradas, pelas actividades individuais cotidianas pblicas ou no ou por actividades colectivas, demonstraes e excurses. Eles se expressam tambm pelo pertencimento a organizaes e em ltima instncia atravs do voto (Idem). De uma forma geral o comportamento eleitoral comporta trs componentes ou etapas: a primeira que o processo de formao de opinio sobre o processo poltico no seu todo e em particular quando o eleitor obtm s informaes sobre os candidatos; a segunda etapa compreende o processo de formulao de deciso sobre quem votar e como votar; e a finalmente a terceira etapa o acto de votar38. 2.3.2. Voto Brito (1995) define o voto como sendo o acto pessoal do cidado eleitor que assim exprime a sua vontade, entendida outrora como livre escolha entre o conjunto de candidatos ou partidos.
37
Para uma viso mais aprofundada do assunto, veja: Tnia Limeira e Tnia Maia (2010), Comunicao poltica e deciso de voto: o que as pesquisas revelam. Artigo publicado na revista Ponto e Vrgula, pg.: 42-55. 38 Cf. p: 24.
29
Para Amora (2003) apud Valverde (2006)39 compreende o voto como um modo de manifestar a opinio num pleito eleitoral. Segundo Pinto (2003) voto o meio pelo qual exercida a parte activa do direito de sufrgio40. Mais ainda, Valverde (op. cit) compreende que o voto o instrumento pelo qual os eleitores expressam sua vontade, escolhendo quem os representar. Neste contexto, atravs do voto que o eleitor expressa sua confiana ou no confiana a um determinado candidato ou partido. 2.3.3. Lealdade Eleitoral A lealdade eleitoral definida como uma combinao de medidas atitudinais e comportamentais da lealdade ou seja, a lealdade eleitoral definida como aqueles eleitores que so favorveis as atitudes que dizem respeito os ideais dum partido, resultante do comportamento eleitoral repetido (Anderson e Srinivasan, 2003, apud Van Riet, 2010); 2.3.4. Partidos Polticos Segundo Gramsci41 apud Mezzaroba (1994: 42)42 Partido Poltico uma organizao que agente da vontade colectiva. Ainda neste sentido, Acquaviva (2000)43 trazendo a perspectiva de Edmund Burke, diz que partidos polticos so grupo de pessoas que se unem para promover num processo de cooperao, o interesse nacional mediante o emprego dum processo especfico com o qual todos os seus membros se acham de acordo. Novamente Mezzaroba (op. cit) citando as lies de Robert Michels, diz que partido poltico uma potncia oligrquica repousada sobre uma base democrtica que possibilita a dominao das elites sobre os eleitores, dos mandatrios sobre os mandantes e dos delegados sobre os que delegam.
39
Veja mais detalhes em: VALVERDE, Thiago Pellegrini. Voto no Brasil: democracia ou obrigatoriedade? Disponvel em <http://www.papiniestudos.com.br/ler_estudos.php? idNoticia=40>. Acesso no dia 3 de Setembro de 2013. 40 Mais detalhes, veja: PINTO, Djalma. Direito Eleitoral, 1a ed. So Paulo, Atlas, 2003. Pag. 68. 41 Gramsci, que da corrente Neomarxista, a sua definio de Partido poltico, esta dotada de pressupostos claramente marxistas. 42 Veja-se em: MEZZAROBA, Orides. O Partido Poltico: Concepo Tradicional e Orgnica. In: Revista de Informao Legislativa. Braslia: Senado Federal Subsecretaria de Edies Tcnicas, ano 31, n. 122, 1994. 43 Mais detalhes sobre este aspecto, veja-se em: ACQUAVIVA, Marcus Cludio. Teoria Geral do Estado. 2. ed. Ver. So Paulo: Saraiva, 2000.
30
Igualmente Bastos (2002)44 conceitua partido poltico como sendo uma organizao de pessoas reunidas em torno do mesmo programa poltico com a finalidade de assumir o poder e mant-lo ou, ao menos de influnciar na gesto da coisa pblica atravs de crticas e oposio. Para o presente trabalho, tendo em conta as colocaes dos conceitos, ou seja, se inspirando na discusso conceptual dos autores acima, compreendemos por Comportamento Eleitoral como sendo as manifestaes que se expressam por meio de opinies polticamente declaradas, e em ltima instncia atravs do voto. Voto no presente estudo, entende-se como sendo o acto pessoal de escolher um determinado candidato ou partido mediante a influncia ou no, do meio sociopoltico em que esta inserido. Partidos Poltico para este estudo, compreendemos como sendo uma organizao poltica de pessoas que se renem em torno dum programa poltico e com objectivo de assumir o poder poltico ou de influnciar na gesto da rs pblica.
44
Veja-se com mais detalhes em: BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito Constitucional. So Paulo: Celso Bastos Editor, 2002.
31
2.4.
O presente estudo pretende ostensivamente analisar a persistncia e a lealdade do eleitorado de Mueda a favor do partido FRELIMO nos pleitos de 1994, 1999, 2004 e 2009. E vai centrar-se basicamente na persistncia e lealdade dos eleitores de Mueda nestes pleitos. Ora, nesta perspectiva, considerou-se dois tipos de variveis. Por um lado temos a varivel dependente que (persistncia e lealdade dos eleitores de Mueda a Favor da FRELIMO nos pleitos de 1994 2009) e por outro lado, temos as variveis independentes (aces mobilizadoras da FRELIMO, a falta de confiana dos outros partidos, as ligaes histricas entre Mueda e a FRELIMO; socializao poltica, cultura poltica e o papel dos lderes de opinio). Associando estas variveis com teoria usada neste estudo, pode constatar-se que os elementos que perfazem as duas variveis, como (persistncia e lealdade, a falta de confiana, as ligaes histricas entre Mueda e o partido FRELIMO, socializao e a cultura politica bem como as aces mobilizadoras) encontramos tambm na interpretao que fizemos da teoria usada para a anlise dos dados e informaes do presente estudo. Contudo, a imagem e as ideologias do partido FRELIMO esto criadas e vo se consolidando com apoio dos lderes de opinio, que procuram implantar as diferentes formas de anunciar a marca FRELIMO no contexto de Mueda, usando diferenciados tipos de aces mobilizadoras. A persistncia do eleitorado a favor da FRELIMO em Mueda, estruturado a partir da relao histrica-estrutural existente entre o partido FRELIMO e o distrito de Mueda, que ajuda na criao da marca (partido FRELIMO) e consequentemente jogam um papel fulcral para atrair que o eleitorado de Mueda persiste e continue leal a favor da FRELIMO por um longo tempo. Ademais, no presente estudo as variveis independentes explicam a varivel dependente. Pois a persistncia e a lealdade do eleitorado de Mueda a favor da FRELIMO resultado directo dos factores histricos-estruturais que a FRELIMO e o distrito de Mueda ostentam, isto , a forte ligao que num passado recente possuram, pelo facto da FRELIMO sobretudo nas provncias nortenhas do Pas ter-se instalado com maior rigidez, aos arredores do distrito de Mueda (zonas libertadas) bem como a mobilidade com que a populao de Mueda aderiu s fileiras da FRELIMO nos primrdios da dcada de 60 do sculo XX, cujo esta recente ligao sustenta as relaes fortes entre o distrito de Mueda e a FRELIMO.
32
Uma outra varivel independente o papel dos lderes de opinio. E partimos do pressuposto de que estes desempenham um papel preponderante na socializao e na transmisso dos valores colectivos de gerao para gerao. Neste aspecto percebe-se que estes so determinantes na estruturao do comportamento poltico eleitoral em Mueda, pois so os agentes importantes na mobilizao e na definio do voto dos eleitores do distrito de Mueda. Mais ainda, em relao as aces mobilizadoras que evidenciamos como sendo uma das variveis independentes, podemos compreender que estas se referem essencialmente as campanhas polticas eleitorais, aos comcios e as diversas reunies que os partidos polticos possam efectivar no contexto de Mueda, com vista a convencer e activar as predisposies polticas latentes e transforma-los em voto manifesto para o seu partido. No contexto de Mueda, o partido FRELIMO contam com o apoio da liderana de base (lderes comunitrios, chefes do bairro, do quarteiro, etc). Aliado a isso, est presente a ideia da confiana que maior parte do eleitorado de Mueda tem com FRELIMO e a total falta de confiana em relao aos partidos alm da FRELIMO que por via disso nasceu a identificao partidria do eleitorado de Mueda com FRELIMO. Assim, dentre outros factores que concorrem para explicar a persistncia e a lealdade dos eleitores de Mueda a favor da FRELIMO, os mais visveis so os que compem o leque das variveis independentes acima explcitas. Ou seja, ao analisarmos est relao importante tambm no perder de vista o factor histricos-estruturais que dentro deste podemos encontrar outras ramificaes importantssimas para compreender a persistncia e a lealdade dos eleitores de Mueda a favor da FRELIMO, a destacar: as vivncias histricas, a transmisso da histria do distrito de gerao para gerao, laos histricos, as ligaes existentes entre Mueda e a FRELIMO, incluso dos dirigentes histricos provenientes de Mueda na mquina administrativa do Pas, entre outros.
33
Varivel dependente: PERSISTNCIA E A LEALDADE DOS ELEITORES DE MUEDA A FAVOR DA FRELIMO: 1994 a 2009
34
CAPTULO III
3. PROCEDIMENTOS METODOLGICOS
Como diversas literaturas discutiram este ponto, os procedimentos metodolgicos de acordo com Barreto e Honorato (1998) apud Ventura (2002) podem ser compreendidos como sendo os mtodos e tcnicas que se usam para a efectivao dum trabalho cientfico. Em seguida abordaremos sobre: mtodo de estudo, tipo de observao, tipo de documentao consultada, as entrevistas, o tipo de amostragem, o mtodo bem como a tcnica usada para analise dos resultados. Como mtodo de abordagem adaptamos o Dedutivo. Para Richardson (1999), Neto (2007)45 defendem que este mtodo fundamenta-se na ideia segunda a qual necessrio que se formulem hipteses a partir de leis gerais, que depois estas (s hipteses) so confrontadas com a realidade. A opo da escolha deste mtodo de abordagem pelo facto de tratar-se dum mtodo que tem em vista estudar o objecto de estudo partindo dum conhecimento apriori sobre o problema, alinhando-se deste modo com possveis conjecturas (neste caso as hipteses do trabalho). Ora, no caso concreto, a pesquisa partiu para este estudo com um conhecimento prvio do problema, sobre a persistncia e a lealdade do eleitorado de Mueda a favor da RELIMO, desde as eleies de 1994, 1999, 2004 e 2009, com votao nas seguintes percentagens: 92%, 86%, 94% e 96% respectivamente. Isso de algum modo ajudou a trazermos elementos prticos e tericos sobre o objecto de estudo em anlise. No presente estudo, a colheita de dados foi eminentemente qualitativa, pois esta teve como propsitos extrair o significado, percepes e interpretaes dos prprios eleitores de Mueda, sobre a persistncia e a lealdade destes em votar na FRELIMO nos pleitos que nos propusemos analisar. Todavia, este estudo foi auxiliado pela abordagem quantitativa. Neste aspecto, est colheita de dados (qualitativo e quantitativo) se associa ao mtodo dedutivo, no sentido de solidificar e refutar os argumentos apresentados na construo do problema, na anlise multidimensional do objecto de estudo bem como nas hipteses que inicialmente foram construdas.
45
Consultado em: NETO, Carvalho (2007), Como fazer uma monografia, Fortaleza, 1 Edio, Brasil.
35
Em relao observao, importa dizer que o processo de observao foi realizado mediante a participao do observador, ou seja, observao directa, com participao individual do pesquisador, aproveitando-se desta forma das habilidades particulares46 do observador que permitiram ter maior facilidade de contacto com os observados. Esta observao por sua vez foi acompanhada pelas entrevistas semi-estruturadas47. A documentao directa intensiva que foi consultada, constituda maioritariamente por livros, artigos cientficos, monografias, peridicos, teses, dissertaes bem como relatrios diversos sobre o comportamento eleitoral no seu todo, em particular Moambique, sobre a histria do distrito de Mueda e a histria da FRELIMO. Para alm desta documentao, utilizamos tambm os dados quantitativos: os resultados eleitorais constantes no apuramento estatstico feito pelo STAE dos quatro pleitos que analisamos bem como a cartografia eleitoral elaborada por Brito (IESE)48 e a cartografia da distribuio nacional, provincial e distrital do voto feita tambm por Brito (idem). Tendo como base os dados quantitativos acima referenciados foi possvel obter dados histricos e numricos (tambm quantitativos) que possibilitaram uma melhor interpretao do objecto de estudo. Mais ainda, foram feitas entrevistas no terreno aos lderes da opinio (chefes de bairro, chefes de quarteiro, autoridade comunitria, chefe de posto administrativo)49 como forma de captar a partir destes a sua capacidade de influncia no processo da socializao poltica, bem como as suas potencialidades de influnciar a comunidade em diversas matrias de natureza poltica, as suas tendncias e tendenciosidades relativas sua identificao poltica partidria, que so factores explicativos para estruturao do comportamento poltico-eleitoral num determinado contexto.
46
Muitos autores preferem chamar de astcias, do latim astutia, que significa (as habilidades, as estratgias, as manobras, manhas, inteligncia, esperteza do pesquisador com vista a permitir ter maior facilidades de contacto com os observados). Veja em: MACEDO, J. M. C (Anselmo e a astcia da razo), s/d. 47 Entrevistas semi-estruturadas de acordo com MARCONI, M e LAKATOS, E. (2003), so aquelas de inspirao etnogrfica, no sentido de se estabelecer um encontro construtivo fundamentado na linguagem e altos comunicativos. 48 Instituto de Estudos Sociais e Econmicos de Moambique. 49 Os lderes de opinio representam o sector da populao mais activa na participao poltica e mais decidido no processo de formao das atitudes do voto, relacionados com factores econmicos, culturais, de motivao e intelectuais dos indivduos examinados.
36
Tambm em grosso modo foram feitas entrevistas estratificadas aos eleitores de Mueda50 que constituem a nossa amostra por excelncia. A amostra do estudo no abrangeu os membros activos do partido FRELIMO em Mueda (chefes de circulo, Secretria da OMM, Secretario distrital), como forma de captar destes membros da FRELIMO as suas percepes em relao as dinmicas do comportamento poltico eleitoral em Mueda, ou seja, no foram ouvidos em forma de entrevista, alguns membros activos do partido FRELIMO, pelo facto do estudo no prever e muito menos includos este extrato como parte integrante do estudo. No presente estudo foram realizadas 18 entrevistas. Todas elas no distrito de Mueda mas distribudos nos postos administrativos (Chapa, Imbuho, Mueda e Ngapa). Contudo, no total de 18 entrevistas que englobou indivduos de ambos sexos por um lado eleitores com idades compreendidas a partir dos 18 a 23 anos e por outro lado eleitores com idade acima de 50 anos, com experiencia na participao nos processos polticos eleitorais51 dos quais 4 (quatro) foram entrevistados os lderes de opinio52 (lderes tradicionais, chefes do bairro, chefes das localidades), dentre eles (1 mulheres e 3 homens) e 14 entrevistas foram exclusivamente constitudos por eleitores residentes no distrito de Mueda nos respectivos postos administrativos, dentre eles (2 Mulheres e 12 Homens)53.
50
No ser usado a tcnica de questionrio ou inqurito, que claramente poderia abordar outros aspectos sobre o comportamento eleitoral em Mueda, e tambm pelo facto de a priori perceber que poderiam no existir condies para obter as informaes fidedignas, desta feita, usamos as entrevistas semi-estruturadas. 51 A escolha desta estratificao deveu-se h duas razes: Por um lado os eleitores de 18 a 24 anos, engloba todos eleitores em potncia com idade de votar, salvo os casos previstos na lei, e que por meio do contexto social sofrem influncia no processo de estruturao das suas atitudes sociopolticas e consequentemente a forma de votar. Por outro lado, escolhemos eleitores com idade acima de 50 anos com experincia em processos polticos eleitorais, pelo facto de englobar indivduos com uma experincia de vida, desde independncia at os pleitos eleitorais que nos propusemos analisar, e deste procuramos compreender o processo de estruturao do comportamento eleitoral em Mueda e a influncia que o contexto social tem em relao aos indivduos. 52 Segundo Walf (1992), no seu livro: Teoria da Comunicao demonstra que num processo poltico, os lderes de opinio, representam o sector da populao mais activa na participao poltica e mais decidido no processo de formao das atitudes do voto, relacionados com factores econmicos, culturais, de motivao e intelectuais dos indivduos examinados. 53 O desequilbrio do gnero deveu-se ao facto de: por um lado a pesquisa atingir um nmero consideravelmente pequeno, e tambm por usar-se a tcnica de bola de neve, que muita das vezes o desenrolar da bola sempre incidiu aos eleitores do sexo masculino, e por outro lado, as diversas vezes que incidiu em eleitores do sexo feminino, estas na sua maioria no se disponibilizaram, alegando que no detinham informaes suficientemente satisfatrias, para conversar sobre as dinmicas do comportamento poltico eleitoral em Mueda.
37
Distribuio dos indivduos em sexo e o nmero total das entrevistas Tabela 1: Nmero de eleitores entrevistados 12 2 Lderes de Opinio Total em percentagem (%) 82 % 18 %
SEXO
Total
Masculino Feminino
15 3
O processo de seleco da unidade da amostra foi com base na amostragem no probabilstica intencional54, ou seja, usou-se a tcnica da amostragem intencional55 (esta que consistiu em selecionar um subgrupo de populao que com base nas informaes disponveis, foram considerados ser representativos de toda a populao e que tambm em princpio partiu-se do pressuposto de que este subgrupo tinham um conhecimento suficiente em relao s dinmicas inerentes ao comportamento poltico eleitoral em Mueda) e partiu-se do pressuposto que tinham informaes consistente e chaves que pretendamos colher. Esta tcnica foi auxiliada pelo critrio de seleco, ou seja, tcnica de seleco das unidades da amostra bola de neve56 (que uma tcnica realista e adaptativa na qual os atores que fizeram
54
Mais detalhes, consulte: MARCONI, Marina & LAKATOS, Eva (2009) Metodologia do Trabalho Cientifico: Procedimentos bsicos, pesquisa bibliogrfica, projecto e relatrio, publicaes e trabalhos cientficos 7 Ed. 3 Reimpresso. So Paulo, Atlas. 55 Mais detalhes sobre o desenvolvimento e explicaes deste tipo de amostra, Veja em: In amostra (estatstica). In Infopdia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. [Consulta. 2013-04-12]. Disponvel na www: <URL: http://www.infopedia.pt/amostra- (estatstica)>. 56 Bola de neve, do ingls snowball sampling. A amostra bola de neve uma tcnica realista e adaptativa na qual os atores que iro fazer parte da pesquisa so indicados pelos prprios pesquisados. De acordo com tal tcnica, pergunta-se para um pr-determinado grupo de atores (zona de primeira ordem), como sugere WASSERMAN; FAUST (1999) apud Matheus, R (2005) ou o primeiro estgio, (ROTHENBERG, 1995), com quem ele tem laos, resposta que serve como indicao do prximo grupo de atores na rede a ser pesquisado (segundo estgio, ou zona de segunda ordem). Matheus (2005) fundamenta ainda que a pesquisa prossegue at que no sejam indicados novos atores.
38
parte desta pesquisa forma indicados pelos prprios pesquisados), mas partiu-se dum ponto de referncia (sede dos bairros, nas sedes dos postos administrativos, sedes das localidades).57 Mais ainda, usou-se o estudo de caso que segundo Yin (2009) uma investigao emprica que investiga um fenmeno contemporneo dentro do seu contexto de vida real especialmente quando os limites entre o fenmeno e o contexto no esto claramente definidos. A escolha do estudo do caso deveu-se ao facto do nosso mtodo de abordagem ser o dedutivo, cujas lies que se podem tirar do estudo de caso terem a intenes evidentemente particulares mas em algumas vezes generalistas e pelo facto do seu propsito procurar aprofundar os conhecimentos em relao a certos elementos de um certo objecto de estudo. Assim, o estudo de caso incidiu sobre o distrito de Mueda. Em relao anlise e interpretao dos resultados, usou-se a tcnica de anlise de contedo dos resultados obtidos, recorrendo-se quase na totalidade aos aspectos qualitativos. Associadamente recorreu-se a uma examinao profunda dos pontos bsicos desenvolvidos na extenso da reviso bibliogrfica, que permitiram criarmos s categoriais que possibilitaram a colocao das ideias, das revelao ou dos discursos dos entrevistados na ementa dos objectivos previamente anunciados para este estudo. Isso facilitou tambm a organizao e categorizao do trabalho na parte que se relaciona anlise e interpretao dos resultados, que apresentamos em captulos e subcaptulos inerentes ao comportamento poltico eleitoral no contexto de Mueda.
3.1.
Limitaes do Estudo
A representatividade das percepes femininas do total dos entrevistados foi fraca. Isso deveu-se h duas razes: por um lado, porque a pesquisa atingiu um nmero consideravelmente pequeno e tambm por usar-se a tcnica de bola de neve, que muita das vezes o desenrolar da bola sempre incidiu nos eleitores do sexo masculino e por outro lado, as diversas vezes que a bola calhou em um dos eleitores do sexo feminino, na sua maioria no se disponibilizaram para a entrevista
57
De notar que o distrito de Mueda composto por cinco postos administrativos (Chapa, Imbuho, Mueda, Negomano e Ngapa), e estes compostos pelas seguintes localidades: Chapa (Chapa); Imbuho (Imbuho e Namaua); Mueda (Lipelua, Litembo, Miula, Mpeme e Vila de Mueda); Negomano (Negomano); Ngapa (Chipinga, Natsenge, Ngapa e Nonge). Fonte: INE, Cabo Delgado, Wikipdia, Enciclopdia Livre, acesso: 17 de Junho de 2013.
39
alegando que no detinham informaes suficientemente satisfatrias para conversar sobre as dinmicas do comportamento poltico eleitoral em Mueda; Mais ainda, este estudo teve como limitaes o simples facto das entrevistas no serem realizadas em todos cinco (5) postos Administrativos de Mueda, somente atingiu-se a 4 postos administrativos, e a causa Sui generis deste incidente foi falta de recursos financeiros. A primeira dificuldade deste estudo o facto de no ter tido financiamento com vista a uma deslocao com facilidade para o local de estudo, como forma de colher os dados tambm duma forma confortvel. A segunda dificuldade o facto da lngua de alguns dos entrevistados ser Maconde e que por via disso, em alguns casos recorreu-se a intrpretes para melhor compreender-se o pano do fundo das entrevistas58.
58
A escolha de Cabo Delgado, sobretudo o distrito de Mueda, apesar das limitaes da lngua, pelo facto de ter um interesse intrnseco sobre o tema como forma de procurar perceber a causa sui generis da persistncia dos eleitores em votar na FRELIMO. Mas tambm pelo facto do estudante que autor da monografia, ser natural daquela provncia Nortenha do Pas e uma forma de retribuir a provncia que lhe viu nascer.
40
PARTE II 4. APRESENTAO, ANLISE E INTERPRETAO DOS RESULTADOS CAPTULO IV 4.1. APRESENTAO E DESCRIO DO DISTRITO DE MUEDA
Neste captulo as nossas intenes centrar-se-o na localizao, descrio e caracterizao do distrito de Mueda que constitui o nosso campo de estudo. Isso vai proporcionar-nos um panorama relativamente geral da regio em estudo nas diversas vertentes (poltica, econmica, social, cultural, etc.) que dalguma forma vai ajudar a estabelecer uma base analtica mais slida do nosso objecto de estudo. Assim, sobre os limites geogrficos59 o distrito de Mueda localizado na parte norte da Provncia de Cabo Delgado, demarcando a Norte com o Rio Rovuma (Fronteira com a Repblica Unida da Tanznia) a Sul com os distritos de Montepuez, Meluco e Muidumbe, a Este com o distrito de Mocmboa da Praia e a Oeste com o distrito de Mecula da Provncia de Niassa e pelo rio Lugenda (PILILO, 1989: 24)60. De salientar que o distrito de Mueda integra a micro-regio norte de Cabo Delgado constituda pelos distritos de Mueda, Muidumbe, Nangade, Mocmboa da Praia e Palma (Idem). Tem uma superfcie aproximada de 14.150 Km2 e uma populao estimada de cerca de 153.800 habitantes61. 4.1.1. Diviso administrativa Tendo em conta os dados do MAE (2005) administrativamente o distrito de Mueda est subdividido em 5 postos Administrativos nomeadamente:
59 60
Vide, Atlas Geogrficas, Vol. I, pg. 12. Vide em Comisso Nacional do Plano. Enumerao da populao e agregados familiares das cidades e alguns distritos e postos administrativos de Moambique, serie estimativas demogrficas, Maputo, 1991, tabela No 3, p.5. Tambm sobre o mesmo assunto vide: PILILO, Fernando., Moambique: evoluo da toponmia e da diviso territorial, 19974-1987, Maputo, 1989. 61 Fonte: INE III Recenseamento Geral da Populao e Habitao 2007. (INE- estatstica do distrito de Mueda, 2012) Estatstica Distrital (Estatsticas do Distrito de Mueda) 2012 Instituto Nacional de Estatstica.
41
Posto Administrativo de Imbuho, Chapa, Posto Sede, Negomano e Ngapa62 e estes Postos Administrativos esto subdivididos em 14 localidades conforme ilustra o quadro abaixo: Tabela 2: Quadro: Diviso Administrativa do distrito Posto Administrativo Mueda Sede 1. 2. 3. 4. Localidades Mueda Sede Litembo Miula Mpeme
Chapa
1. Chapa Sede 2. Lipelua 3. Nanhala 1. Imbuho Sede 2. Namaua 1. Negomano Sede 1. 2. 3. 4. Ngapa Sede Chipingo Nachitenge Nonge
Imbuho Negomano
Ngapa
INE (2013), Adaptado pelo Autor. 4.1.2. Caractersticas fsico-geogrficas 4.1.2.1. Clima O distrito de Mueda tem temperaturas mdias anuais regra geral inferiores a 22C, ou seja, a temperatura quase a mesma em todo ano. O perodo hmido, quente e chuvoso vai de Novembro ao ms de Abril, e perodo seco e fresco de Abril a Novembro (MAE, 2005). O distrito de Mueda possui um clima tropical hmido de Savana, embora localmente possam exceder esses valores (MAE, 2005). Alm disso, a precipitao mdia anual superior a 1000 mm e a evapotranspirao potencial de referncia est entre 1300 a 1500 mm (idem).
62
De salientar que os postos administrativos de Ngapa e Ne gomano ficam situados a um distncia de 60 e 172 km da Sede Distrital respectivamente.
42
4.1.2.2. Relevo e Solo O distrito de Mueda constitudo por uma vasta plataforma de relevo ondulado com planaltos de variedades altitudes, na qual se observam baixos planaltos com altitudes que vo de 200-500 metros a volta dos quais se estendem uma plancie com altitude que varia entre 100-200 metros (atlas geogrfico, vol. I, apud Nachaque, 1998). Podemos ainda destacar que no Distrito de Mueda podemos encontrar alguns retalhos de planaltos mdios, sendo o mais importante o planalto de Mueda, com 847 m de altitude (idem). Em relao aos solos importante referir que a composio dos solos no distrito de Mueda constituda fundamentalmente por solos arenosos avermelhados na parte nordeste do distrito, solos franco-argilosos e argilosos vermelhos na parte ocidental do distrito (idem), ou seja, para Daniel (1997) os solos do Planalto de Mueda no constituem um complexo homogneo. 4.1.2.3. Recursos hdricos Em geral, o Distrito de Mueda conhecido como uma das regies da Provncia de Cabo Delgado, com graves carncias de gua superfcie. Isso deve-se pelo facto da regio ser atravessada por poucos cursos de gua, dos quais os rios Rovuma, Messalo e Lugenda, so conhecidos como principais e Muirite, Muera, Chude, Omba e Ntamba como rios secundrios, que durante os meses de Agosto e Setembro ficam completamente secos, causando deste modo graves e srios problemas populao da regio (Nachaque, 1998). 4.1.3. Caractersticas econmicas Com este subcaptulo pretende-se descrever de forma resumida a evoluo de algumas actividades chaves que de algum modo constituem a base do desenvolvimento socioeconmico do distrito de Mueda. Assim descrio incidir fundamentalmente nas reas: agricultura, infraestruturas e servios. No tocante agricultura, nota-se que os aspectos mais marcantes se confinam necessariamente na evoluo das formas de organizao do campesinato, os mtodos que o campesinato usa para o cultivo e certos rituais63 ela ligada.
63
A semelhana das outras sociedades africanas em geral, e Moambicanas em particular, a populao de Mueda praticam certos rituais ligados a agricultura como: Ritos de lupaleko (imunizao) das machambas contra os feiticeiros, que consiste no enterramento em qualquer dos cantos em redor da machambas, de uma cabaa ou panela
43
Mais ainda, agricultura a actividades econmica principal. E destacam-se dentre outras culturas: o milho, a mandioca, a mapira, o amendoim, o feijo, abobora, entre outras. E plantam rvores de fruto como: mangueiras, cajueiros, ananaseiros, entre outros (Cooperao Sua, 1982)64. No distrito de Mueda distinguem-se dois tipos de sistema agrcolas principais, nomeadamente a agricultura itinerante que praticada nas zonas baixas e com mais terras para o cultivo e o sistema de rotao de culturas que praticada nas zonas altas e com maior densidade populacional, visando nestes aspectos o aproveitamento racional da pouca terra disponvel (idem). Na sociedade tradicional, a agricultura desenvolvida com fins de subsistncia familiar e feita em grosso modo dentro dum espao pertencente a povoao familiar (Dias, 1974)65. 4.1.3.1. Infra-estruturas Em relao s infra-estruturas, importa fundamentar que em Mueda tm sido realizadas obras de manuteno de rotina peridica de estradas com uso de mo-de-obra intensiva. As estradas de terra batida so transitveis ao longo de todo ano, excepto nos anos que se registam chuvas intensas (MAE, 2005). Mas as viaturas de grande porte dos madeireiros tm sido as principais causadoras da degradao das vias de acesso. Nos ltimos anos tem-se registado o crescimento do nmero de transportadores de passageiros e de carga respectivamente. E este facto deve-se ao melhoramento das rodovias de/e para os outros pontos da provncia (idem). Contudo, existem uma pista de aterragem asfaltada operacional, que tem permitido a movimentao normal de aeronaves. O distrito de Mueda deste modo servido por transporte pblico terrestre, embora irregular (MAE, 2005). Mais ainda, o distrito de Mueda dispe de comunicao via rdio. Neste momento est em curso a fase de automatizao da rede telefnica.
de barro contendo ntela e/ou inumba (droga) contra feiticeiros, para impedir que estes atentem contra os rendimentos das machambas. O outro ritual a proibio de assobios e conversas com estranhos durante a sementeira, para garantir que as sementes germinem bem; e algumas pessoas dotadas de certos poderes sobrenaturais, que so geralmente curandeiras-feiticeiros, tem a capacidade de criar cobras que protegem a machambas contra qualquer malefcio preparado por um feiticeiro e que atente contra as boas colheitas. Veja em: OLIVEIRA, Maria ngelo R. de, 1988. 64 COOPERAO SUA (1982): MOAMBIQUE: Plano a mdio e longo prazo para o desenvolvimento de Mueda. Relatrio. Ministrio de Agricultura, Maputo. 65 DIAS, Jorge., Os Macondes de Moambique, Lisboa, Junta de Investigao do Ultramar, Vol. I, 1974, P. 103.
44
O distrito ressente-se pelo facto das TDM66 funcionarem apenas at as 17 horas e os correios funcionam normalmente, embora com pouca afluncia (idem). No distrito de Mueda, o sector de gua enfrenta inmeros problemas e um pouco por todo distrito surgem conflitos sobre este recurso. Os subsistemas existentes tm avariado permanentemente e muitas aldeias no tm acesso a fontes de gua melhorada, obrigando as populaes a percorrerem distncias que vo at 1 dia de caminhada (MAE, 2005: 4). Contudo, no distrito de Mueda funcionam 3 pequenos sistemas de abastecimento de gua. Para tal, as populaes que habitam na zona baixa, o abastecimento realizado atravs de furos, poos e em muitas zonas, as populaes vem-se obrigados a consumir gua imprpria (idem)67. Tabela 3: Agregados Familiares segundo distribuio da principal fonte de gua no distrito de Mueda, 2012. DISTRITO DE MUEDA FONTE DE GUA Nmero total de AF % 29 0.1 gua canalizada dentro de casa 93 0.3 gua canalizada fora de casa 1,109 4.1 Poo/furo protegido 4,152 15.2 Fontenria 14,078 51.5 Poo sem bomba (cu aberto) 7,448 27.2 Rio/Majune/Lagoa 380 1.4 gua da chuva 2 0.0 gua mineral 52 0.2 Outros 27, 343 100 Nmero total Fonte: INE III Recenseamento Geral da Populao, 2007, actualizado em 2012. Adaptado pelo autor.
66 67
Telecomunicaes de Moambique. De salientar que no distrito de Mueda, j existe o sistema de gua canalisada, mas para um nmero reduzido de agregados familiar (total de 122 famlias) num total de 27,343 mil famlias (INE, 2007).
45
O sistema de fornecimento de energia elctrica vila de Mueda carece de reabilitao. Apesar de terem canalizado a rede de energia elctrica nacional (energia da Cahora Bassa), um grosso modo de famlias ainda no usufrui desde bem precioso. Por exemplo, num universo de 27,343 famlias, somente 114 agregados familiares que usufruem deste bem. Tabela: 4: Agregados Familiares segundo principal fonte de Energia na habitao no distrito de Mueda - 2012 DISTRITO DE MUEDA FONTE DE ENERGIA Nmero total de AF % 114 0.4 Electricidade 74 0.3 Gerador/Placa solar 20 0.1 Gs 14.359 52.5 Petroleo/platina/querosene 29 0.1 Bateria 872 3.2 Vela 11.729 42.9 Lenha 146 0.5 Outros 27, 343 100 Total Fonte: INE III Recenseamento Geral da Populao, 2007, actualizado em 2012. Adaptado pelo autor. 4.1.4. Educao O distrito possui 91 Escolas das quais (89 do ensino primrio nvel 1 + 2). Como ilustrado na Tabela: 5 DISTRITO DE MUEDA ESTABELECIMENTO DE ENSINO Nmero total de escolas Escolas Primarias (EP1 + EP2) EP1 Publicas Privadas/comunitrias EP2 Publicas Privadas/comunitrias 2008 a 2010 84 83 61 61 0 22 22 0 2010 a 2012 91 89 64 64 0 25 25 0 Variao 2008-2012 em % 7.1 7.2 4.9 4.9 13.6 13.6 46
2 2 0.0 Escolas Secundarias Gerais (ESG1 + ESG2) 1 1 0.0 ESG 1 1 1 0.0 Publicas 0 0 Privadas 0 1 0.4 ESG 2 0 2 0.6 Publicas 0 0 Privadas 0 0 Escolas Tcnicoprofissional 0 0 Publicas Pivadas 0 0 Fonte: MINED Direco de Planificao e Cooperao (2012). Adaptado pelo autor.
4.1.5. Sade O distrito de Mueda esta servido por 8 unidades sanitrias, que possibilitam o acesso progressivo da populao aos servios do Sistema Nacional de Sade, apesar de a um nvel bastante insuficiente como se conclui dos seguintes ndices de cobertura media: Uma unidade sanitria por cada 22 mil pessoas; Uma cama por cada 1000 habitantes; Um profissional tcnico para cada 2.600 residentes no distrito (PEDD Mueda, 2012). Ademais, apesar dos esforos realizados importa reter que o estado geral da conservao e manuteno das infra-estruturas no suficiente. De realar a necessidade de manuteno da rede de bombas de gua bem como a rede de estradas e pontes que na poca das chuvas tem tido problemas de transitabilidade. Na tentativa de demostrar a ineficincia bem como os problemas da governao no distrito de Mueda, onde o eleitorado leal e persiste em votar na FRELIMO, comparativamente apresentaremos uma tabela dos dados estatsticos do distrito de Montepuez, na provncia de Cabo Delgado, que vota na FRELIMO mas no de uma forma esmagadora como o caso do distrito de Mueda, cujos dados estatsticos do distrito de Montepuez mostram uma melhoria substantiva dos servios bsicos, sobretudo a fonte principal de energia, gua e os servios de sade, os mesmos comparados com os servios existentes no distrito de Mueda, um distrito leal e persistente ao partido FRELIMO. 47
Tabela 6: Agregados Familiares segundo distribuio da principal fonte de gua no distrito de Montepuez, 2012. DISTRITO DE MONTEPUEZ FONTE DE GUA Nmero total de AF % 400 0.8 gua canalizada dentro de casa 1,268 2.4 gua canalizada fora de casa 7,253 22.0 Poo/furo protegido 1,768 3.4 Fontenria 39,429 69.1 Poo sem bomba (cu aberto) 1,567 3.0 Rio/Majune/Lagoa 32 0.1 gua da chuva 4 0.0 gua mineral 79 0.2 Outros 51,799 100 Nmero total Fonte: INE III Recenseamento Geral da Populao, 2007, indicadores socio-demogrficos distritais, Provncia de Cabo Delgado, actualizado em 2012. Adaptado pelo autor.
Em seguida apresentamos os dados estatsticos sobre os Agregados Familiares segundo principal fonte de Energia na habitao no distrito de Montepuez 2012 Tabela: 7 DISTRITO DE MONTEPUEZ FONTE DE ENERGIA Nmero total de AF % 2.201 3.5 Electricidade 299 0.6 Gerador/Placa solar 34 0.1 Gs 23,484 41.9 Petroleo/platina/querosene 80 0.2 Bateria 366 0.7 Vela 25.232 52.6 Lenha 266 0.4 Outros 51, 799 100 Total Fonte: INE III Recenseamento Geral da Populao, 2007, indicadores socio-demogrficos distritais, Provncia de Cabo Delgado, actualizado em 2012. Adaptado pelo autor.
48
Em relao aos servios de sade, de extrema importncia referenciar que o distrito de Montepuez tem um total de 9 unidades sanitrias (comparativamente ao distrito de Mueda, este distrito est relativamente melhor), pois de alguma forma permite o acesso gradual da populao aos servios do Sistema Nacional de Sade. Como ilustrado da seguinte maneira: COBERTURA MEDIA DISTRITAL Cada uma unidade sanitria est para 5 730 mil pessoas; Uma cama numa unidade sanitria corresponde 44 habitantes; Um servidor do Servio Nacional de Sade tcnico est para 423 residentes no distrito (PEDD Montepuez, 2012).
Fazendo uma analise comparativa em relao principal fonte de gua, energia e os servios de sade, entre a situao que se vive no distrito de Mueda (que tm votado persistentemente a favor do partido FRELIMO nos pleitos de 1994, 1999, 2004 e 2009, com a votao em: 92%, 86%, 94% e 96% respectivamente), e os dados do distrito de Montepuez, de igual modo da Provncia de Cabo Delgado (cuja votao a favor da FRELIMO desde os pleitos de 1994, 1999, 2004 e 2009, tem sido de 62%, 58%, 73% e 78% respectivamente), compreendemos que, apesar do eleitorado de Montepuez no ter votado duma forma esmagadora como apresentamos acima, o governo distrital tem sido relativamente eficiente e eficaz no provimento dos servios mnimos para a populao daquele distrito, sobretudo a questo da fonte principal de gua, energia e servios de sade. Nesta perspectiva, apesar de ter ouvido colocaes dos nossos entrevistados em Mueda, que votam na FRELIMO persistentemente pois acreditam numa mudana na forma da gesto da coisa pblica, sobretudo no provimento dos servios bsicos como o caso do melhoramento da fonte principal de gua e de energia, bem como os servios de sade, compreende-se que no tem sido muito linear, visto que, para o caso do distrito de Montepuez, mesmo com uma votao no puramente esmagadora a favor da FRELIMO, o distrito se encontra numa situao melhor ao que se refere aos problemas evidenciados (fonte principal de gua, energia e os servios de sade), e que o distrito de Mueda acredita que o simples facto de votar persistentemente na
49
FRELIMO, implicaria necessariamente no melhoramento do provimento dos servios bsicos para a populao. Enquanto o distrito de Mueda, com a votao esmagadora que se registam nos pleitos que analisamos, nota-se que os dados estatsticos apontam desfavoravelmente ao que tange a proviso dos servios pblicos (fonte de gua, energia e servios de sade). Esta situao demostra que apesar dos diversos problemas de governao que o distrito de Mueda enfrenta, como ilustrado nos exemplos acima (fonte principal de gua; fonte principal de energia e os servios de sade), o eleitorado de Mueda vota persistentemente a favor da FRELIMO, como uma medida relacionada a lealdade partidria do eleitorado e no necessariamente uma situao em que os eleitores fazem uma anlise de custo e beneficio do acto de ir votar num certo partido ou candidato nos moldes da perspectiva econmica 68, que foi avanada na reviso da literatura deste trabalho. Portanto, estes so os problemas de governao referenciados.
4.1.6. Actividades Econmicas e Industriais no distrito de Mueda As actividades econmicas e industriais do distrito de Mueda resumem-se existncia de agroprocessamento e turismo caseiro. Ora, no sector de indstria agro-processamento existem as seguintes unidades: 63 moageiras, das quais 49 operacionais e 14 paralisadas, 2 maquinetas de descasque de arroz (MAE, 2005, actualizado pelo INE, 2008). No sector da indstria madeireira, funcionam as seguintes unidades: 3 serraes mveis e 1 carpintaria (Idem). Existem no distrito de Mueda operadores autorizados para explorao de pedras semipreciosas (guas marinhas). Contudo, tem-se registado um movimento de furtivos que aliciam as populaes locais com produtos diversos, em troca da explorao ilegal dos minerais (MAE, 2005 e PEDD, 2008-201269).
68 69
Veja em Downs (1999). Plano Estratgico do Desenvolvimento Distrito de Mueda 2008 a 2012.
50
O distrito de Mueda esta relativamente isolado dos principais centros comerciais da provncia. Por exemplo a sua rede comercial limitada, apesar de reconhecer que existem elos comerciais agrcolas. Mesmo sendo um distrito fronteirio, no h dados que confirmem oficialmente trocas comerciais entre as populaes do distrito de Mueda e da Tanznia (MAE, 2005). No distrito de Mueda funcionam dois sistemas paralelos concorrentes. Por um lado, encontramos o comrcio formal que compreende as lojas, cantinas rurais e por outro lado, o comrcio informal que envolve sobretudo os jovens e mulheres que a ela recorrem como forma de subsistncia e aumento de renda familiar (Idem). E a rede comercial est distribuda de forma desigual, j que a maioria dos estabelecimentos comerciais est concentrada na sede do Distrito. 4.1.7. Histria do distrito Os estudos feitos nos mostram claramente que a partir do ltimo quartel do sculo XIX, foi se encontrando os povoamentos dos Macondes denominados por nomes dos respectivos Rgulos como Panalidimo (actual Namaua), Panachipungu (actual Imbuho), Namachangano,
Panambavala (Miula), Mbomela, Likomantili, Ndyankali, Nanachombe e Nachilavi (MAE, 2005). Estes ltimos prximos do rio Mueda, donde surgiu o topnimo do distrito Mueda. Na era colonial, em 2 de Setembro de 1967, Mueda foi elevada a categoria de vila com a denominao de circunscrio dos Macondes, que abrangia os actuais distritos de Muidumbe e Nangade (MAE, 2005 e PEDD, 2008). Um ano a seguir proclamao da Independncia Nacional em 1976, a circunscrio dos Macondes passou a chamar-se distrito de Mueda e abrangia o actual distrito de Muidumbe (idem). No ano de 1986 na sequncia da nova diviso administrativa, Mueda passou a constituir uma unidade administrativa separada de Muidumbe. Mueda foi crescendo de maneira heterognea, a partir das imigraes dos Macuas do litoral, Ngonis, Yaos, Maku e at Swahilis da terra vizinha da Repblica Unida da Tanznia (MAE, 2005). A populao de Mueda maioritariamente falante da lngua Shimakonde. Outras lnguas faladas: Emacua, Kisuahil, Maku, Yao, Mtambu, Ngoni e kimuani, para alm da lngua oficial, o Portugus.
51
Tal como acontece no resto da provncia a estrutura da sociedade de Mueda assenta no regime matrilinear. As comunidades vivem em aldeias e outros aglomerados populacionais junto s vilas (PEDD, 2012). A dana uma das actividades ligadas ao ciclo de vida da comunidade praticada em momentos de dor, recordao dos antepassados, ritos de iniciao, momentos de alegria e agradecimentos aos antepassados pelos xitos na produo agrcola e outras benesses (PEDD Mueda, 2012). As populaes do distrito de Mueda acreditam na existncia de uma fora sobrenatural que est ligada aos destinos das comunidades (chuva, sorte, morte, luz e vida). Esta percepo da vida leva a que as populaes se agreguem em organizaes religiosas diversificadas que tem por fim preparar uma vida eterna para cada indivduo (PEDD Mueda, 2012). As seitas religiosas mais conhecidas so agrupadas em 2 congregaes nomeadamente, Crist e Islmica. A maior parte da populao do distrito de Mueda que no se encontra enquadrada num dos dois grupos das congregaes pratica a religio africana mais conhecida por Animista (op. cit). 4.1.7.1. Liderana tradicional Segundo o PEDD (2012), a liderana tradicional, assegurada pelos seguintes representantes do poder ao nvel das comunidades: Chefe da Aldeia/ Secretrio; Chefe do bairro; Chefe do quarteiro; Chefe de cl Ancio; Curandeiros;
Outras personalidades na comunidade so respeitadas e legitimadas pelo seu papel social, cultural, econmico e religioso. Na liderana tradicional existe uma espcie de diviso de trabalho e de funes entre os diferentes lderes das comunidades. Assim, os Secretrios tm hoje como funo principal a mobilizao da comunidade para as tarefas sociais e econmicas. Os lderes tradicionais tratam principalmente dos aspectos tradicionais, tais como cerimnias, ritos e conflitos sociais (PEDD Mueda, 2008).
52
CAPTULO V
5. INFLUNCIA DOS FACTORES SCIO-ECONMICOS E A RELAO HISTRICA ENTRE A FRELIMO E O DISTRITO DE MUEDA NA CONFIGURAO DO COMPORTAMENTO ELEITORAL EM MUEDA
Neste captulo objectivamente vamos se concentrar em fazer uma anlise em relao s informaes que obtivemos nas entrevistas realizadas no campo. Nesta perspectiva, vamos focar diversos pontos, dentre eles destacamos: a questo do comportamento eleitoral aliada aos factores scio-econmicos ou seja a importncia dos factores scio-econmicos na configurao e estruturao do comportamento eleitoral em Mueda; vamos ainda discutir o papel da ligao histrica entre FRELIMO e o Distrito de Mueda na construo da identificao partidria do eleitorado de Mueda e seguidamente vamos falar da inexistncia de aces mobilizadoras dos Partidos da Oposio. Mais ainda, iremos abordar a questo da absteno eleitoral e a sua ligao com os votos expressos a favor da FRELIMO. Acreditamos que estes aspectos ajudaram a termos mais fundamento em relao ao nosso objecto de estudo, e os resultados disso auxiliou para o estabelecimento duma base analtica mais slida.
53
Nesta parte de trabalho, o nosso maior foco explicar e argumentar como os factores scioeconmicos no distrito de Mueda, tem influenciado na construo do comportamento poltico eleitoral em Mueda e olhar esses factores como sendo a causa sui generis da forma como tem-se manifestado os eleitores do mesmo distrito de eleio para eleio. Assim, partindo das colocaes de Antunes (2008), quando ilustra em relao a corrente psicolgica para explicar o comportamento eleitoral, analisado a partir das expectativas, opinies e atitudes individuais dos eleitores, muita das vezes busca-se compreender o comportamento poltico-eleitoral, dentro duma funo da esfera social, na qual ocorre a socializao poltica ao longo do tempo bem como o processo de percepo e anlise em relao aos aspectos polticos, econmicos, sociais, culturais, etc (Idem, p. 21)70. Foram as vrias inquietaes a respeito das situaes que acontecem hoje em dia no distrito Mueda e tentamos mostrar como estes tm tentado estruturar o comportamento poltico-eleitoral. De acordo com os dados do MAE (2005) e INE (2013) v-se em termos estatsticos, claramente existncia de grandes problemas na ordem do dia. Problemas de ndole econmica, infraestruturas, sade, gua, energia, etc. que assolam um grosso modo do eleitorado de Mueda, como por exemplo o distrito da regio de Provncia de Cabo Delgado, com agricultura no mecanizada como a actividade econmica principal, que devia ser uma agricultura com vista a dar maior rendimento populao, mas o que se nota, que os investimentos do governo distrital esto longe de corresponder s expectativas da populao71e um dos distritos da provncia com graves carncias de gua na superfcie e isso visvel pelo facto do sector de gua enfrentar inmeros problemas e um pouco por todo distrito.
70 71
Antunes (2008). uma tese fundamentada tendo em conta os argumentos dos nossos entrevistados que declararam inmeras vezes que no viam claramente as aces do governo distrital, e muito menos em ajudar os camponeses a melhorar as suas produes. Diferentemente ao que acontecia nos anos 80, onde os governos distritais eram responsveis pela mobilizao de recursos para a produo massiva da populao. Foram estes e outros discursos que ns deparamos ao longo das nossas entrevistas no distrito de Mueda.
54
Mais ainda, de acordo com os dados do PEDD-Mueda (2012) os subsistemas existentes tm avariado permanentemente e muitas aldeias no tm acesso a fontes de gua melhorada (idem, p: 14). Ora, no distrito de Mueda funcionam 3 pequenos sistemas de abastecimento de gua. Para tal, as populaes que habitam na zona baixa, o abastecimento realizado atravs de furos e poos. Em muitas zonas, as populaes vem-se obrigados a consumir gua imprpria (PEDD, 2012). Outro problema esta relacionado ao sistema de fornecimento de energia elctrica no distrito de Mueda que carecem desde muito de reabilitao. Apesar de terem canalizado a rede de energia elctrica nacional (Cahora Bassa) somente um pequeno agregados familiar que usufrui72. Os problemas inerentes aos aspectos scio-econmicos vo mais alm. Pois h ainda grandes problemas relativos as infra-estruturas, nomeadamente: estradas, pontes (MAE, 2005; INE, 2013) mas que paulatinamente estes problemas esto sendo resolvidos. Um dos problema que mais afecta os cidados do distrito de Mueda, a falta de Escolas que ilustrado na tabela 5 deste trabalho, onde avanam-se as informaes segunda as quais em todo distrito existem apenas 91 Escolas das quais (89 so do ensino primrio do 1 e 2 nvel e mais 2 Escolas Secundarias do 2 Grau). Estes dados que se apresentam so relativamente baixo tendo em conta que a populao total do distrito estimada em 153. 80073 , na sua maioria jovens com idade compreendida entre 11 a 18 anos de idade (INE, 2012). Em relao ao servio de sade um caso ainda crtico, visto que o distrito de Mueda tem 8 unidades sanitrias, que permitem o acesso gradual da populao aos servios da Sade. Os nmeros so bastantes insuficientes para a cobertura mdia distrital, isto , cada 1 unidade sanitria esta para cada 22 mil pessoas; 1 cama por cada 1000 habitantes e 1 profissional tcnico para cada 2.600 residentes no distrito (MAE, 2005, PEDD, 2012).
72
Por exemplo, num total de 27, 343 agregados familiares, somente 114 famlias tem energia elctrica nas suas casas. 73 Fonte: INE III Recenseamento Geral da Populao e Habitao 2007. (INE-estatstica do distrito de Mueda, 2012) Estatstica Distrital (Estatsticas do Distrito de Mueda) 2012 Instituto Nacional de Estatstica.
55
Assim, relativamente importante ainda afincar que em relao aos problemas scio-econmicos que o distrito vive, e como estes tem reflectido na maneira como os eleitores tomam as suas decises polticas eleitorais, pode compreender-se de duas maneiras: temos um grupo pr (que acredita que a FRELIMO tem feito alguma coisa e por via disso e por fora do habito so obrigados a votar na FRELIMO como forma de recompensar aquilo que a este partido tem feito para eles) e temos outro grupo que afirma categoricamente o desagrado e o descontentamento da governao e que ponderam mudar a sua forma de votar em caso de no se notar melhorias num futuro muito breve. Mais ainda, pensamos que pertinente apresentar a trajectria histrica ou se quisermos a parte da histria de Mueda ligada a FRELIMO. O distrito de Mueda permanece como uma ilustrao do funcionamento do sistema colonial, das suas contradies internas e da necessidade de violncia que o Estado colonial tinha para se manter quando j no era capaz de responder s presses populares. Neste contexto as primeiras reivindicaes de independncia nacional para todo Moambique comeam nos finais da dcada de 50, do seculo XX, dentre outros grupos em diferentes pontos do Pas, surge um grupo de camponeses macondes situados nos confins do territrio setentrional de Cabo Delgado (Arquivo, 1993). Ora, Adam (1993), explica que o processo de confrontao e fortalecimento das tropas no planalto de Mueda comeam tambm a partir de 1957, como forma de se precaver e tentar de alguma forma antecipar o ambiente nacionalista acentuado pela independncia de Tanznia. Foi neste contexto que nos finais da dcada de 50, do seculo XX, surgiu no planalto de Mueda o movimento cooperativa Liguilanilu, composta por naturais locais que tinha como presidente: Lzaro Nkavandame. Analisando o contexto, compreende-se que dentre outras razes, este movimento surge como contestao das polticas coercivas de produo, de cultivo de plantas (Adam, 1993). Por exemplo, Adam (1993) mostra que o planalto de Mueda ser sempre uma referncia para quem queira abordar sobre a temtica relacionada a luta armada de libertao nacional, levada a cabo pela FRELIMO, contra as tropas coloniais Portuguesas. 56
Deste modo o planalto constitui o que se pode designar por santurio dessa luta, que culminou com a independncia de Moambique em 25 de Junho de 1975, e Mueda constitui-se como um cenrio importante da luta pela independncia de Moambique, que dentre outras figuras proeminentes do distrito de Mueda que actualmente algumas delas so figuras influentes na FRELIMO, destacam-se: Lzaro Nkavandame; Joaquim Alberto Chipande, Faustino Vanomba, Raimundo Pachinuapa, Joo Namiba, Cornlio Joo Mandanda, Lago Lidhimo, entre outros (idem). Aps o incio da luta de libertao, muitos dos membros se refugiaram no interior do planalto, quer nos centros da FRELIMO, quer nos locais independentes ou seja zonas libertadas (Adam, 1993). Foi neste perodo em que a FRELIMO traou estratgias, no s para proteger a populao dos ataques inimigos, mas tambm uma forma de organizao de produo em moldes colectivos (Adam, 1993). Contudo, a ideia de aldeias comunais parece ter a sua origem na experiencia vivida nas chamadas zonas libertadas (algumas delas se encontravam em redor do distrito de Mueda)74, pois durante a luta armada de libertao nacional, para a FRELIMO estes tinham constitudo um modelo em termos de organizao politica, econmica, social (idem). Nesta perspectiva, estes factores demostram o contexto em que ocorrem s dinmicas do comportamento poltico eleitoral no distrito de Mueda sobretudo a persistncia e a lealdade do eleitorado a favor da FRELIMO nas eleies de 1994 a 2009. Todavia, de caracter importante sustentar que os factores que explicam o comportamento poltico eleitoral (oque leva com que alguns grupos da sociedade votem duma certa forma) so vrios, mas para o presente estudo estes so os elementos que identificamos no contexto de Mueda e se apresentam mais fortes ao ponto de relegar para um segundo plano os factores scio-econmicos que tambm influenciam de alguma forma na estruturao do comportamento poltico eleitoral em Mueda. Assim, apresentamos alguns resultados das entrevistas realizadas com os eleitores de Mueda, onde um dos entrevistados disse o seguinte:
Apesar de reconhecer as dificuldades que muitos de ns aqui em Mueda vivemos, sobretudo a falta de transporte, problemas de gua, no termos energia e sermos esquecidos pela FRELIMO, ns ainda
74
Sobre o conceito Zonas libertadas, consulte FRELIMO, Rumo ao Socialismo, 3 Congresso, Maputo, p: 21.
57
confiamos. Mesmo com o fraco fornecimento de servios bsicos, como sade, escolas, estradas, ns sabemos que a FRELIMO tem feito muito para ns, pois a FRELIMO tem ns ajudado e sempre esteve connosco desde a luta pela independncia. Tudo que tenho por causa da FRELIMO, por isso vou votar sempre na FRELIMO e vou falar para meus filhos votarem na FRELIMO, pois ns ajuda, nosso pai e nasceu e cresceu aqui em Mueda75
Perante estas palavras, compreendemos que apesar dos problemas que o distrito de Mueda vive, o eleitorado vota persistentemente no partido no Poder, neste caso a FRELIMO, embora existam tendncias de mudana do status quo em Mueda. Uma situao a salientar o facto de constatarmos a existncia de problemas scio-econmicos, mas fazendo uma anlise profunda, percebe-se que estes no influenciam na forma como se estrutura o comportamento poltico eleitoral em Mueda. Isto , apesar da insuficincia dos servios relativamente bsicos, os eleitores de Mueda continuam leais e persistem em votar na FRELIMO. Isto , no contexto de Mueda no se trata necessariamente daquelas situaes em que os eleitores fazem uma anlise instrumental do valor do seu voto (custo e benefcio) em Mueda, mas uma situao em que votar na FRELIMO constituiu um hbito e por via disso nasceu o comprometimento, que so condies sine qua non para o nascimento e fortalecimento da lealdade partidria. Todavia, o voto a favor da FRELIMO ou a persistncia do eleitorado a favor da FRELIMO nesta perspectiva assemelha-se a uma recompensa ou agradecimento por tudo que a FRELIMO tem feito naquele distrito, ou seja, pelo facto do governo da FRELIMO prover alguns servios mnimos ento existentes, os eleitores de Mueda sentem a necessidade de agradecer, e isso o fazem votando persistentemente na FRELIMO.
75 76
Annimo; Tcnico na Administrao distrital., Entrevistado em Mueda-Sede., 01 de Outubro de 2013. Annimo; Negociante. Entrevistado em Mueda-Sede, no dia 31 de Setembro de 2013.
58
Seguidamente tm eleitores que no compactuavam com a ideia de votar na FRELIMO como sinnimo de recompensa. So aqueles eleitores como explicamos anteriormente, que ponderavam a mudana da forma de votar e de ver os processos polticos, bem como a sua participao na poltica caso estes problemas prevalecessem por muito tempo. E isso ilustrado pelas palavras dum dos entrevistados:
.... A FRELIMO aqui em Mueda tem apoio, a FRELIMO aqui vai ganhar, e sempre votou-se na FRELIMO, porque a FRELIMO apoia mesmo que seja de uma forma mnima. Sabemos que no satisfaz todas coisas mas o mnimo faz, e ns no queremos o mnimo, ns aqui em Mueda por sermos filhos prprios da FRELIMO eles deviam fazer muito mais. Hoje sabemos que o distrito de Mueda j vasta e tudo isso por causa da FRELIMO. Aqui em Mueda no temos empresas e nem entidades como nos outros distritos e a FRELIMO que ns ajuda. Mas no ajuda muito, faz pouco. Muitos jovens j esto revoltados, se a FRELIMO continuar a fazer somente poucas coisas vai perder um dia aqui em Mueda ou as pessoas no iro votar77.
Neste contexto, compreendemos que apesar dos eleitores reconhecerem o papel que a FRELIMO enquanto partido que faz a gesto da Rs pblica desembrenha no progresso ou ate desenvolvimento do distrito, os eleitores de Mueda querem mais, pois essa a lei universal da vida78, e isso demonstra que os eleitores reconhecem que os problemas so maiores e que o facto de votar continuamente na FRELIMO deixa este partido numa situao de relaxamento e consequncia disso no faz muito esforo com vista a resoluo dos grandes problemas da ordem do dia que assolam a comunidade de Mueda, ou seja, no tem feito quase nada para continuar a ganhar simpatia e proximidade do eleitorado de Mueda. Por outro lado, tendo em conta as palavras dos entrevistados, compreendemos que este cenrio poder levar h uma situao em que se um dos partidos da oposio conseguir mobilizar um grupo de apoiantes no distrito de Mueda e consequentemente conseguir simpatia no eleitorado de Mueda, a forma de votar e a configurao do comportamento eleitoral em Mueda se transfigure num outro sentido.
77 78
Horcio Ntchanhenga; pensionista; Entrevistado em Mueda no dia 02 de Outubro de 2013. O homem sempre quer mais em detrimento dos outros, o egosmo (vide: Thomas Hobbes, O Leviat)
59
5.2. O Papel da ligao histrica entre FRELIMO e o Distrito de Mueda na Construo da Identificao Partidria do Eleitorado de Mueda
Na nossa concepo tendo em conta as colocaes de Freire (2001: 45-46) o voto implica mais do que uma escolha, pois o reflexo do processo de adeso duma determinada situao ou a causa, relacionado ao contexto sociocultural, econmico, social em que esto inseridos indivduos e grupos. Para tal, votar significa expressar a adeso ou o posicionamento poltico do eleitor de acordo com a ideia que ele possui acerca do campo poltico e o local que pretende e ocupa em tal espao (idem). Na mesma perspectiva, se o voto ou escolha uma deciso, seja ela individual ou coletiva, tomada com base em certos critrios e em um determinado momento, a identificao um processo que vai comprometendo o indivduo, ou a famlia, ou alguma outra unidade social significativa ao longo do tempo, para alm do tempo da poltica79 (Idem). Partindo do pressuposto de que a identificao partidria a possvel relao que pode se estabelecer em funo da lealdade, confiana e vnculos tradicionais com um certo partido ou com o candidato. Podemos compreender que grosso modo do eleitorado de Mueda nas diversas formas de fazer as suas escolhas polticas eleitorais, esto sempre presente os pressupostos ou alguns elementos da identificao partidria. E isso demostrado nas palavras dum dos entrevistados:
Ns aqui em Mueda somos unidos, no h nenhum outro partido alm da FRELIMO que possa arrancar as nossas razes, porque confiamos e vamos confiar at a nossa morte. Ns aqui em Mueda, parece que j consumimos o sangue da FRELIMO e no podemos largar. Ns somos prprios da FRELIMO, ns somos a FRELIMO, e a FRELIMO nasce aqui e no podemos largar. A FRELIMO somos ns, todos aqui em Mueda. Mueda so prprios da FRELIMO, e somos filhos da FRELIMO e estamos crescendo com a FRELIMO. Ns achamos que gozamos da bno da FRELIMO e o partido sensibilizou muito este distrito, por isso achamos que somos primeiros filhos da FRELIMO, pois foi aqui onde ganhou os primeiros apoiantes 80
Aqui, percebemos que a questo da lealdade aplicvel no contexto de Mueda; Mas est lealdade deve ser associada a duas situaes (comprometimento e o hbito).
79
Aplicamos o termo (tempo da poltica), para significar necessariamente o tempo do processo eleitoral, o tempo das visitas governamentais, o caso das visitas abertas do Presidente da Republica, etc. 80 Flix Lus; Antigo combatente e pensionista., entrevistado em Mueda, no dia 05 de Outubro de 2013.
60
Assim, um nmero considervel de eleitores de Mueda, sentem estar comprometidos com a FRELIMO e votar contra este partido significaria necessariamente uma traio, ou seja, o comprometimento nos remete ideia de compromisso e no votar na FRELIMO implica faltar a palavra ou no executar o compromisso. Por isso eleio aps eleio, um grosso modo do eleitorado de Mueda sente-se auto obrigado e coagido por diversas razes a votar na FRELIMO, como podemos ilustrar a entrevista a baixo:
Os lderes comunitrios aqui em Mueda so a base para a destruio dos partidos da oposio, no deixam interveno dos partidos da oposio aqui em Mueda e a nossa deciso de quem votar depende muito deles. Pois somos unidos, e quem votar contra oque os lderes comunitrios dizem mandado embora deste distrito ou da localidade81
Em relao ao hbito, percebemos que o eleitorado de Mueda na sua maioria vota na FRELIMO como sinnimo do hbito. E isso ilustrado com um dos nossos entrevistados:
Eu e muitos outros colegas do bairro votamos na FRELIMO porque j estamos habituados. No podemos trocar de partido, isso seria ofender a ns mesmos. Eu no posso votar contra a FRELIMO, j estou habituada a ela. Desde que nasci, muito antes de conhecer mulher, j conhecia a FRELIMO, pois ela lutou e libertou o Pas. Desde a juventude vivo a partir da FRELIMO e assim vai custar largar este partido que amo. O meu hbito a FRELIMO no porque d-me dinheiro, mas sim porque gosto e confio, confio muito este partido, e sou fiel a ele 82
A identificao partidria pode estar aliada a falta de alternativas ou talvez produto directo das influncias da comunidade ou tradio familiar e isso que pode ser potenciado pelas relaes de lealdade estabelecidas e gosto por um certo partido. Para tal, ao longo duma das entrevistas com um dos eleitores, disse que:
Aqui em Mueda, poder ser difcil largar-se a FRELIMO, pois ns no vimos nenhum outro partido aqui em Mueda, ou seja no existem. Isso no significa que os partidos da oposio so proibidos de chegar aqui, ou so proibidos de instalar sua sede e exercer suas actividades livremente, oque acontece que eles sabem da histria da FRELIMO aqui em Mueda, ento os partidos sentem que no tero espao, e s aparecem em momentos de campanha e no so muitos partidos, um ou dois partidos.
81 82
61
Tambm no vamos largar a FRELIMO porque para ns de Mueda como nosso pai, nossa me e nosso filho. No podemos trocar por nada83
Porm, identificao do eleitorado de Mueda ao partido FRELIMO pode estar associada tambm um comportamento eleitoral personalizado que nasceu pela confiana e lealdade que os eleitores tm com o partido. E esta situao pode ter fundamentos na ideia de que das diversas formas de identificao partidria, o principal aspecto para efectivao da identificao a confiana. Isso que quase a totalidade dos eleitores entrevistados afirmaram que confiavam levianamente na FRELIMO e que os chefes locais ou tradicionais desempenhavam um papel preponderante na socializao e mobilizao quase total do eleitorado de Mueda em votar na FRELIMO, como ilustra nosso entrevistado:
Eu voto na FRELIMO, fielmente porque confio e acho que deve ser assim aqui em Mueda e em todo Pas. A FRELIMO lutou por muito tempo. Por exemplo no tempo da guerra de independncia, a guerra contra a Renamo, e eles no tinham nenhum salrio e sem recompensa, ento eu acho que tenho de votar na FRELIMO, como forma de pagar o sofrimento que a FRELIMO passou. E os chefes ou autoridades tradicionais aqui em Mueda tambm nos chamam ateno para votarmos na FRELIMO e no em outro partido, pois os chefes so da FRELIMO84
Um aspecto importante nas caractersticas da identificao partidria meramente a identificao grupal tradicional. Esta que comporta aspectos como: voto definido em funo de identificao com um certo grupo de referncia (grupo tnico, comunidade religiosa, categoria profissional, gnero, regio). Para o caso do eleitorado do distrito de Mueda, compreendemos que a identificao partidria que se associa as categorias que demostramos acima, a identificao com o grupo de pertena regional e tnica aliada a confiana. Isso pode ser demostrado tendo em conta uma as palavras dum dos nossos entrevistadas:
A minha confiana com a FRELIMO porque aqui na regio de Mueda, aqui no planalto de Mueda quase todos falam da FRELIMO e dizem muita das vezes que ela nasceu aqui em Mueda e que devemos muito a FRELIMO, por isso tenho de ser da FRELIMO e votar sempre na FRELIMO. o partido que est mais prximo, nasceu aqui, e todos falam da FRELIMO a nossa gerao que tm (+ 40 anos) vai
83 84
Annimo; Carpinteiro e pensionista; entrevistado em Mueda Sede, no dia 01 de Outubro de 2013. Napalena Nkalipa, pensionista; entrevistado em Mueda-Namaua, no dia 06 de Outubro de 2013.
62
ser difcil deixarmos de votar na FRELIMO, tornar difcil, pois tudo sentimos na FRELIMO. A no ser a gerao dos jovens, estes at podero votar contra a FRELIMO, no sei85
5.2.1. Inexistncia de aces mobilizadoras dos Partidos da Oposio Um dos pressupostos que levamos em conta ao analisarmos a persistncia e a lealdade dos eleitores de Mueda a favor da FRELIMO foi a tentativa de compreender tambm o papel dos partidos da oposio no contexto de Mueda, ou seja, procurarmos perceber como os partidos da oposio se fazem ou no sentir no contexto de Mueda. Portanto os pressupostos que avanaremos neste subcaptulo vo sustentar a hiptese segunda a qual a oposio no existe ou no se faz sentir em Mueda e esta situao pode ser a razo relativamente principal dos votos quase absolutos a favor da FRELIMO em Mueda.87 Assim, como forma de demostrar estes argumentos recorremos as palavras dum dos nossos entrevistados que afirmou o seguinte:
Aqui em Mueda a oposio no existe, no se faz sentir e nenhum partido da oposio tm sede. A maioria dos seus apoiantes j abandonaram os partidos da oposio porque no tem sede para as suas reunies e nem para debater outros assuntos importantes para o distrito de Mueda. A oposio aqui em Mueda uma pessoa, que representante do partido mas sem um lugar fixo para saber-se que aqui pertence ao partido Renamo ou MDM etc 88
Annimo, domestica; entrevistado em Mueda-Imbuho Sede, no dia 31 de Setembro de 2013. Fabiano Nambavila, pensionista; entrevistado em Mueda-Miula, no dia 10 de Outubro de 2013. 87 Mais detalhes a respeito deste debate, visite a cartografia eleitoral no site: WWW. IESE. AC. MZ 88 Annima, domestica; entrevistado em Mueda-Mpeme, no dia 01 de Outubro de 2013.
63
mostram os objectivos que querem alcanar, por isso est sendo e ser difcil votarmos na oposio Nos no conhecemos os partidos da oposio, e quando a oposio vem aqui em Mueda no convence, enquanto a FRELIMO nos convence89
Sobre o aspecto da regionalizao do voto, um dos entrevistados foi mais longe e afirmou o seguinte:
Aqui em Mueda o nosso principal partido a FRELIMO. Aqui em Mueda vai ser difcil deixarmos a FRELIMO, porque a oposio no se faz sentir muito e tambm no sabe convencer o povo. S no centro do Pais, a oposio pode convencer, pois a RENAMO, MDM nasceram l. E aqui no Norte custa muito agente largar a FRELIMO, pois este partido est aqui na zona desde os anos 60, no tempo da luta de libertao90
Assim, a partir destas palavras, percebemos que por um lado, a oposio inexistente, ou seja, existe disfuncionalmente. Somente em alguns momentos que se fazem sentir. Porm a poltica no feita somente em tempos de campanha ou em tempos de processos eleitoral, ela feita continuamente. nesta perspectiva que entendemos que est uma das razes que leva com que maior parte do eleitorado de Mueda continue a votar na FRELIMO. Por outro lado, percebemos que a questo no s de no fazer-se sentir; Oque acontecido que os principais quadros destes partidos da oposio e muito menos os apoiantes dos mesmos partidos no tem feito quase nada para ganhar a simpatia de alguns eleitores no distrito de Mueda, simplesmente em momentos de campanha ou em processos eleitorais que tem-se feito presentes, e isso foi ilustrado com um dos entrevistados:
No vou confiar em nenhum outro partido alm da FRELIMO, porque no conheo, ou seja difcil confiar numa coisa que no conhecemos aqui no distrito as pessoas no conhecem os partidos, porque no esto organizados, no tem objectivos, no fazem campanha e os seus dirigentes nunca chegam aqui em Mueda e eu gostaria que os partidos viessem aqui em Mueda, para haver concorrncia, porque assim poderia melhorar o distrito 91
89 90
Annimo; Negociante, entrevista realizada em Mueda-Sede, no dia 02 de Outubro de 2013. Annimo; Professor, entrevistado em Mueda-Litembo, no dia 01 de Outubro de 2013. 91 Annimo, entrevista realizada em Mueda-Chapa Sede, no dia 31 de Setembro de 2013.
64
Com estas palavras percebemos que apesar da no existncia quase efectiva dos partidos da oposio ou fraca actuao dos mesmos partidos em Mueda, existem aqueles defensores da ideia do multipartidarismo efectivo onde anseiam existncia de partidos se confrontando polticamente e ideologicamente com vista a alastrar a sua base de apoio e consequentemente conquista da mquina governamental. Razo disso, muitos jovens como sustentou um dos entrevistados92, esto espera deste momento, pois se sentem injustiados com a maneira da gesto da coisa pblica em Mueda e aguardam que alguma coisa melhore no seio do distrito93. Mais ainda, a existncia dos partidos da oposio significaria para alguns dos nosso entrevistados a mudana do foco e da forma como a FRELIMO tem tratado o distrito.
92
Os jovens no distrito de Mueda so tidos como sendo os defensores do MDM, e os eleitores com ida de (40 +), v isso como um perigo. Apesar de reconhecer que existem eleitores que do enfase a ideia de que devem existir outros partidos porque a FRELIMO esqueceu Mueda, e j no trs nenhum desenvolvimento. 93 Idem.
65
5.3. Absteno eleitoral e a sua ligao com os votos expressos a favor da FRELIMO Nesta parte do trabalho, vamos discutir os pressupostos segundo os quais, os nmeros dos votos que indicam 92%, 86%, 94% e 96%, nos pleitos de 1994, 1999, 2004 e 2009 respectivamente, a favor da FRELIMO no distrito de Mueda, que combinados com os factores histricos-estruturais no contexto do presente trabalho preferimos chamar de persistncia e lealdade do eleitorado a favor da FRELIMO, no significam necessariamente que o eleitorado de Mueda no seu todo vota vivamente na FRELIMO, mas sim que a participao poltica eleitoral no tocante a absteno eleitoral tem se registrado em grosso modo. Assim, comeamos a apresentar as colocaes de Lipset (1959) segundo as quais, so vrios factores que concorrem para explicar a maior ou a menor participao em processos eleitorais. E ele destaca trs condies: em primeiro lugar necessariamente o ponto de contacto que o indivduo mantm com a poltica governamental; Em segundo lugar o acesso a informao94; Em terceiro lugar a presso social no sentido da votao bem como a existncia de presses mltiplas. Em termos prticos, ao que tange a participao eleitoral, a identificao partidria tem um impacto mobilizador, pois quanto mais forte essa identificao, maior o envolvimento poltico dos cidados e tambm maior ser a sua propenso para ir votar (Campbell et al. 1960, pag. 128). A identificao partidria desempenha um papel fundamental no processo por um lado, de construo e consolidao das bases de apoio dos partidos, mas tambm desempenham um papel importantssimo para mobilizar as mesmas bases de apoio a se fazerem presente nas actividades inerentes ao processo poltico-eleitoral. Isso pode ser constatado e sustentado, com base nas palavras dum dos entrevistados:
Eu sou da FRELIMO, vivo da FRELIMO, nasci com a FRELIMO e sempre vou votar, mesmo que caia chuva vou na mesa de voto e votarei sempre na FRELIMO. Meu sangue corre FRELIMO e votar contra, seria trair a mim mesmo Nunca faltei em nenhuma reunio do partido, mesmo comcios, palestras aqui no distrito de Mueda, eu sempre me fao presente. Porque eu amo e gosto este partido95
Fundamentou ainda:
94
Se referimos necessariamente as informaes de ndole poltica ou seja que tem alguma ligao com a poltica governamental. 95 Annimo, desempregado, entrevista realizada em Mueda-Mpeme, no dia 01 de Outubro de 2013.
66
Antes do dia das eleies ns reunimos para se lembrar que somente devemos votar na FRELIMO. Nos dias de eleies ns se convidamos um ao outro e todos ns votamos no mesmo partido que a FRELIMO. Pelo menos ns que temos participado nas reunies96
A votao que atinge na mdia os 90% a favor da FRELIMO no significa que o eleitorado no seu todo votou taxativamente a favor da FRELIMO. Isso ilustrado por um lado, pelos resultados eleitorais (nveis de absteno media em cada pleito eleitoral que analisamos)97 pois nota-se que em cada pleito eleitoral, h uma tendncia do eleitorado se distanciar da FRELIMO, significando em ltima instncia a fragilidade da lealdade e da persistncia a favor da FRELIMO no contexto de Mueda. Por outro lado, a votao acima dos 90% no pode ser vista como sendo resultados que mostram uma votao quase na totalidade dos eleitores a favor da FRELIMO, pois estes so percentagens dos eleitores que foram votar. Isso confirmado pelas sensibilidades e informaes que obtivemos no processo das entrevistas com alguns dos eleitores que tivemos oportunidade de dialogar com eles. Por exemplo um dos entrevistados fundamentou o seguinte:
Ns jovens vamos parar de votar na FRELIMO, veja que somos desempregados, no temos condies para conseguir emprego e a FRELIMO simplesmente esqueceu nosso distrito. Para mim, seria bom se existisse oposio aqui em Mueda, para votarmos. Pois a gerao dos nossos pais, avs, vo morrer e ns que iremos votar contra a FRELIMO. Estes mais velhos votam porque ganham penses e nos no ganhamos nada, no temos nenhum benefcio pelo facto de votarmos na FRELIMO98
Com estas palavras compreende-se que os jovens acreditam ainda que os mais velhos sobretudo (avs, pais, etc), est gerao poder desaparecer e que eles enquanto estrato que constitui sangue novo que vo decidir o rumo dos acontecimentos num futuro prximo. A segunda percepo que a FRELIMO poder continuar tendo os votos expressos acima dos 90% ao menos ao que se refere os votos expressos a seu favor, visto que nos momentos de votao (dias
96 97
Idem. de capital importante demonstrar que nos quarto pleitos eleitorais, a mdia de absteno no distrito de Mueda foi de: 1994 (8%); 1999 (39%); 2004 (53%) e 2009 (48%). 98 Annimo, desempregado, entrevista em Mueda-Mpeme, no dia 01 de Outubro de 2013. 99 Annimo, desempregado, entrevista realizada em Mueda-Sede, no dia 03 de Outubro de 2013.
67
de votao) um nmero considervel de eleitores que so simpatizantes e se identificam com a FRELIMO sobretudo pelas aces que a FRELIMO tem encaminhado, tem-se mobilizado e vo em massa votar na FRELIMO, enquanto um grosso nmero de eleitores no se fazem presente para a votao, ou seja, se abstm 100. Encontramos discursos tpicos das comunidades ou aglomerados que no tem nada a perder ao afirmarem que tinha parado de ir votar nos ltimos dois pleitos eleitorais porque no enxergavam o rendimento de ir votar, mas claramente se faziam e sempre se fazem presente nos postos de recenseamento, reconhecendo deste modo a importncia cvica do recenseamento eleitoral, como ilustrado com palavras do entrevistado:
Sabemos que estamos em Mueda, uma terra em qu e a maioria vota na FRELIMO, em que quase todos s falam da FRELIMO, e que o partido FRELIMO amado e gostado nesta comunidade, mas algumas pessoas que pensam como eu, e principalmente a camada jovem, no v a vantagem de ir votar, ou seja, oque tem acontecido que nos vamos votar e os mais velhos que vo comer, recebem as penses e nos no, passamos fome, nas nossas casas sem comida. Temos certificados de estudos, mas no temos emprego, os certificados apodrecem nas nossas casas, no temos e no h emprego e soluo sentar em casa, isolar-se do que os outros vo fazer nos dias de eleies101
Como forma de ilustrar o debate a cima, apresentamos as mdias dos votos expressos a favor da FRELIMO e absteno eleitoral nos pleitos de 1994 a 2009 no distrito de Mueda: Tabela 8: Votos a favor da FRELIMO e a Mdia de absteno eleitoral no distrito de Mueda (1994 a 2009). Eleies de: Votos expressos a favor da FRELIMO Absteno em Mueda
100
1994 92% 8%
A mdia de absteno no contexto de Mueda nas eleies que nos propusemos analisar de: 1994 (8%); 1999 (39%); 2004 (53%) e 2009 (48%). 101 Annimo, Comerciante, entrevistado em Mueda-Mgapa, no dia 31 de Setembro de 2013. 102 Annimo, carpinteiro e estudante, entrevistado em Mueda-Chapa, Lipelua, no dia 01 de Outubro de 2013.
68
Assim, subentende-se que a votao nos pleitos de 1994 a 2009, a favor da FRELIMO no significa necessariamente que os eleitores de Mueda no seu todo votam na FRELIMO, mas sim so nmeros que do significado e significncia aos votos expressos, ou seja, votos na urna e que na sua maioria pertencentes a um grupo de eleitores que se identifica com as polticas governamentais e que acreditam tirar vantagens pelo facto de se fazerem presente as mesas de voto e votar na FRELIMO. de notar ainda que so inmeras pessoas que no se fazem presente nas respectivas mesas de voto alocadas para o efeito nos dias de votao, preferindo ficar em suas casas, pois no encontram nenhum incremento pelo facto de irem votar. Esta situao justificada pela falta de oportunidades, que somente favorvel a uns em detrimento da maioria. No contexto de Mueda, ao que se refere a absteno eleitoral, nota-se uma tendncia de acrscimo, ou seja, em Mueda de eleies aps eleies, nota-se que a participao poltica nos processos eleitorais tem sido baixa, estando reservada h um grosso modo de eleitores que se identificam pelo partido FRELIMO e das polticas governamentais, como foi ilustrado em alguns depoimentos acima. Isso mostra a tendncia dos sectores mais excludos da sociedade se distanciarem com os processos polticos no seu todo, e em particular aos processos eleitorais, visto que no encontram um incremento pelo acto de ir votar. Neste caso, deu-se o exemplo mais soante que (a questo das penses para os antigos combatentes da luta de libertao). Esta penso a jovem legalmente no tem idade para receb-la, visto que em termos legais para aqueles veteranos de guerra ( um subsdio para os que participaram na luta de libertao nacional. Assim, so vrios os pressupostos que podem explicar a absteno eleitoral em Mueda, dentre outros, destacamos a excluso de alguns grupos nas relaes socialmente construdas no dia-adia; as filiaes polticas e partidrias do eleitorado de Mueda; a desconfiana bem como o esgotamento com o governo do dia; a influncia que sofrem os eleitores que se abstm nos seus grupos de pertena bem como a sua condio sociopoltica, econmica nos momentos precedentes a ocorrncia das eleies. Contudo, em Mueda a absteno pode ser compreendida como sendo uma medida em que os eleitores tomam pelo facto de estarem descontentados pelas polticas e polticas governamentais e as ms condies de vida em que maior parte do eleitorado de Mueda se encontra.
69
CAPTULO VI 6.1. Aces Mobilizadoras da FRELIMO em Mueda e a sua ligao com o Papel dos Lderes de Opinio na Construo do Comportamento Eleitoral
Esta uma temtica que se enquadra numa tentativa de explicar e demostrar o papel que as aces mobilizadoras desempenham na construo do comportamento poltico e eleitoral bem como a sua relevncia na persistncia e na lealdade dos eleitores de Mueda a favor da FRELIMO. E vamos de alguma forma tentar demostrar tendo em conta as entrevistas que realizamos no local de estudo. Assim, partindo do pressuposto de que os lderes de opinio num processo poltico, muita das vezes representam o sector da populao mais activo com vista a participao e mobilizao em aspectos meramente polticos, e tambm so o centro mais decisivo no processo de formao das atitudes e comportamentos sobre o voto e a poltica. E isto consubstancia-se com as colocaes de Pereira (2007)103, quando discutiu o processo de formao de opinio pblica. Os lderes de opinio desempenham um papel extremamente importante no processo de construo do comportamento poltico eleitoral em Mueda. E isso foi demostrado por um lado pelas entrevistas que tivemos com os lderes da opinio, e por outro lado fundamentado pelos prprios eleitores. Como inicialmente afincou um dos lderes de opinio:
Ns lderes comunitrios somos grandes mobilizadores da populao, sempre chamamos ateno a populao para ir recensear, ir votar mas no influenciamos em que votar. Temos explicado ao povo como devemos se comportar nos dias de votao, mas nunca dissemos a eles em que devem votar, simplesmente explicamos como devem votar e aqui em Mueda existem rumores que ns influenciamos os eleitores para votarem na FRELIMO104
Estas palavras foram diversas vezes postas em causa, pois na opinio de muitos dos nossos entrevistados/eleitores, os lderes de opinio eram mobilizadores sim, mas tambm que representavam a FRELIMO, pois eram da FRELIMO e que faziam de tudo para destruir a oposio. Como ilustrou o nosso entrevistado:
103
Mais detalhes veja em: Pereira, J. C. G. (2007). Onde que os eleitores Moambicanos adquirem as suas informaes polticas. Artigo publicado pelo IESE, Conference Paper nmero 30. 104 Vtor Mbonda, Lder Comunitrio, entrevistado em Mueda-Sede, no dia 31 de Setembro de 2013.
70
Os lderes tradicionais ou comunitrios na minha forma de perceber so os grandes mobilizadores para votarmos na FRELIMO. So eles que vm nos dizer quando teremos reunio no partido, eles dizem quem devemos votar e tambm eles explicam que no queremos outro partido aqui no planalto de Mueda para alm da FRELIMO105
Mais ainda, outros dos entrevistados demostraram sempre a mesma tendenciosidade, pois os lderes de opinio claramente influenciavam na forma como eles votavam. Ademais, o simples facto da comunidade no ter acesso por exemplo aos manifestos, a campanha ser restrita a um ou dois partidos, etc, percebe-se que os lderes de opinio devem ter uma voz activa no processo de construo das atitudes polticas e consequentemente na expresso do voto. Est posio d importncia os lderes da opinio na construo do comportamento eleitoral, e a influncia que estes tm na determinao do voto num contexto especfico. Compreendemos que estas palavras do entrevistado englobam dois aspectos importantes: por um lado, percebemos que os lderes de opinio em Mueda so a forma motora para a fragilizao quase total dos partidos da oposio ou da sua ineficincia e inexistncia no contexto de Mueda, por outro lado, compreende-se que os lderes de opinio fortificam a FRELIMO na base e so eles que mobilizam os eleitores e do indicaes a forma como os eleitores devem votar e em que votar. Outra componente importante quando analisamos o papel dos lderes de opinio em Mueda na construo das atitudes sociopolticas e eleitorais. De acordo com um dos eleitores entrevistados:
Os chefes de quarteiro, os chefes do bairro, as autorid ades tradicionais, so os responsveis pela mobilizao e participao das reunies, comcios tanto o partido FRELIMO assim como do governo. Muitas das vezes ns percebemos ou distinguimos as reunies com o smbolo (bandeira). Quando a reunio do partido FRELIMO, o lder comunitrio anda de casa em casa com a bandeira da FRELIMO e tambm no local da reunio ou comcio colocam a bandeira da FRELIMO. Quando a reunio do governo ele anda com a bandeira do governo e tambm no local da reunio colocam a bandeira do Governo106
105 106
Annimo; entrevistado em: 02 de Outubro de 2013. Annimo, entrevistado em: 01 de Outubro de 2013.
71
Est estratgia de vangloriar, pois a partir destas distines a populao consegue distinguir o tipo de reunio que ser realizada e quem convocou, se o partido ou o governo, apesar de saber-se que no tem existido tanta rigorosidade nestas distines como nos explicou o mesmo do entrevistado:
Neste distrito de Mueda, os lderes comunitrios s falam da FRELIMO, no falam nem do governo nem de outros partidos, s da FRELIMO. Por exemplo, dizem: a FRELIMO que fez escolas, hospitais, trouxe gua, portanto devemos votar nela. Mas tambm os lderes ocupam cargos no partido FRELIMO aqui no distrito e para mim um alargamento da FRELIMO e esto a controlar-nos mesmo que nos chamem nos comcios do governo com bandeira do governo ou identificados com roupa e bandeira do Governo, nos sabemos que so da FRELIMO107
Os lderes de opinio em Mueda desempenham um papel considervel na construo do comportamento poltico eleitoral, este por sua vez intencional, pois tm como pressupostos bases influnciar aos eleitores a quem devem votar. Mais ainda importncia reconhecer o papel que esta camada desempenha no processo de consciencializao poltica no seu todo, que todo o cidado tem de participar nos processos polticos eleitorais. E esta liderana tradicional tem feito um papel importantssimo na mobilizao e na divulgao das informaes populao para se fazerem presente em comcios, reunies, nos recenseamentos, no dia de eleies, etc. H uma situao que nos foi relatada com um dos entrevistados:
Aqui em Mueda, quando termina o recenseamento, os lderes comunitrios marcam reunies nas escolas para levarmos os nossos cartes de eleitores para irem carimbar e ai nos informam que devemos votar na FRELIMO, porque aquilo confirmao de que vamos votar na FRELIMO. Mesmo este ano (em Junho de 2013), pediram os nossos cartes para carimbar; E tambm eles fazem campanha para a FRELIMO no perodo de campanha eleitoral108
Estas palavras so importantes para compreender as diversas formas de mobilizao, pois os lderes de opinio no distrito de Mueda tem feito de tudo com vista a controlar o eleitorado de Mueda e mobilizar de todas maneiras para votar na FRELIMO. Por via disso, tem-se cometido muitas e diversificadas irregularidades como forma de ampliar a base de apoio da FRELIMO em Mueda.
107 108
72
Estas irregularidades que no tem nenhum suporte legal na legislao eleitoral em vigor109. O exemplo que encontramos a questo da obrigatoriedade que os eleitores de Mueda esto sujeitos a levar os cartes nas clulas/estruturas da FRELIMO com vista a carimbar, que significa puramente violao da periodicidade fixa do recenseamento e a devida consulta dos cadernos eleitorais. Com esta prtica, muitos eleitores compreendem que o simples facto de deixar os seus cartes de eleitores ou seus nomes em algumas listas pertencentes ao partido FRELIMO aps o fim do perodo legal/normal do recenseamento significa um comprovativo de que vo votar no mesmo partido.
109
73
Nesta componente do trabalho, o principal objectivo demostrar como as aces mobilizadoras (campanhas eleitorais, mobilizaes dos partidos polticos, comcios, reunies, etc) influenciam na forma como os eleitores de Mueda fazem as suas escolhas polticas eleitorais. Assim, no distrito de Mueda um dos pontos que conseguimos denotar a fraca mobilizao do eleitorado, ou seja, o eleitorado pouco ou quase nunca mobilizado pelos partidos. E esta situao ficou a cargo das chefaturas tradicionais. Mais ainda a nfima mobilizao poltica notase em perodos de campanha eleitoral, quer dizer quando est prximo aos processos eleitorais. Como afirmou um dos entrevistados:
A FRELIMO s nos quer quando tempo de eleies, aps isto desaparece, ns esquece. S faz duas coisas ou trs coisas durante os prximos cinco anos e quando chega no perodo de campanha, dizem: nos fizemos esta estrada, nos construmos poos e nos ficamos felizes e votamos na FRELIMO novamente. Mas eles tm de vir sempre aqui em Mueda, vir ouvir nossos problemas e tentar resolver. Mas no fazem isso110
Nessa perspectiva compreendemos que os partidos polticos e at a FRELIMO dificilmente se fazem presente em Mueda. Para a FRELIMO, sai em vantagem graas as estruturas locais que esto ao seu servio e do governo. Por via disso conseguem fazer-se sentir. Enquanto para os partidos da oposio a sua visibilidade fica ainda mais complicada pelo facto de por um lado, no terem sede e nem ter representantes e por outro lado, o facto dos principais dirigentes destes partidos no se fazerem presente ou chegam em Mueda111. Ademais, no distrito de Mueda tendo em conta as entrevistas realizadas, as campanhas eleitorais apesar de serem de 1 ou 2 partidos tm um papel importante para sensibilizar e cativar o eleitorado nas matrias inerentes ao processo poltico eleitoral. Em seguida demostramos como o nosso entrevistado abordou sobre o assunto:
110 111
Annimo., desempregado, entrevista realizada no dia 01 de Outubro de 2013. Nesta componente, compreendemos que os dirigentes dos partidos da oposio podem no chegar em Mueda pelo facto de evitar represlias e repreenso da comunidade local, e isso pode de facto encontrar uma explicao na conjuntura poltica e histrica entre o distrito de Mueda, o partido FRELIMO e a sua relao com os partidos da oposio.
74
As campanhas podem fazer a FRELIMO permanecer no poder, porque uma forma de cativar ou recordar o povo o que a FRELIMO e oque ela foi e tambm importante que o eleitor seja aproximado e atendido da mesma forma como no tempo de campanha. Aqui em Mueda no tempo de campanha chegavam carros, visitas frequentes de ministros, mas aps s eleies abandonam o nosso distrito112
Em relao as formas como o eleitorado de Mueda tem-se informado sobre os diversos feitos do Pais, muitos deles afirmaram que no o tinham lido nem se quer uma vez o manifesto eleitoral e que dificilmente acompanhavam o debate poltico nacional, por isso davam maior confiana aos lderes comunitrios em Mueda:
Ns confiamos os lderes comunitrios porque eles informam-nos sobre coisas que acontecem no Pas. Aqui em Mueda muitos no tm televiso e no leem jornal, ento os lderes comunitrios que ns informa Por isso confiamos neles. So eles que no co municam diversos assuntos daqui em Mueda e do Pais. Quando o partido FRELIMO ou o governo quer informar algo, fala com os lderes comunitrios e eles vem ns informar de casa em casa...114
Com estas palavras, percebemos que os lderes de opinio desempenham um papel preponderante no processo de construo do comportamento poltico-eleitoral em Mueda. Apesar de reconhecer-se o papel destes, no deixamos de fora a possibilidade dum nmero considervel de eleitores de Mueda no dar aval oque estes representantes de base do povo tmlhes informado no dia-ps-dia. Pois se isso no acontece-se em Mueda, no poderiam existir divergncias em relao o que alguns eleitores neste estudo demostraram e por outro lado o que os lderes de opinio afirmaram neste estudo muito contraditrio. Mais ainda, apesar da dimenso importante do papel dos lderes de opinio na mobilizao da populao nas diversas vertentes, compreendemos duas assunes:
112 113
Annimo, lder religioso. Entrevista realizada em Mueda- Sede, no dia 01 de Outubro de 2013. Idem. 114 Annimo; Pensionista. Entrevista realizada em Mueda-Sede, no dia 13 de Outubro de 2013.
75
A primeira que o lder de opinio tem tido um papel preponderante na mobilizao da populao com vista a sua participao nas diversas componentes da participao poltica eleitoral e isso claramente foi confirmado por alguns dos entrevistados e no contacto feito aos prprios lderes de opinio. A segunda assuno que muitos dos eleitores que entrevistamos, demonstraram que a liderana tradicional, os chefes do bairro e diversas componentes na liderana da estrutura da comunidade, muito que fazem destruir outros partidos alm da FRELIMO e mobilizam em forma de comunicados e informaes quase totalidade da populao de Mueda para votar constantemente na FRELIMO, consequentemente os eleitores persistentemente estarem ligados e leais ao partido FRELIMO.
76
O trabalho desenvolvido ao longo dos captulos anteriores tinha como objectivo analisar a lealdade e a persistnte do eleitorado do distrito de Mueda a favor do partido FRELIMO, nas eleies de 1994 at as eleies de 2009 e desenvolveu-se em conformidade com a seguinte pergunta de partida: quais so as razes que explicam a persistncia e a lealdade dos eleitores do distrito de Mueda a favor da FRELIMO? E porque permanece a crena do voto a favor deste partido, no eleitorado de Mueda? Para a anlise do objecto de estudo do trabalho, usou-se a teoria da lealdade partidria secundada com as diversas teorias sobre o comportamento eleitoral: a teoria sociolgica, psicossociolgica, a racional e a identidade partidria. Usamos tambm o mtodo dedutivo, bem como o mtodo de estudo de caso. Mais ainda, abordagem de colheita de dados foi eminentemente qualitativa auxiliada pela abordagem quantitativa, bem como, usamos a tcnica no probabilstica de amostragem intencional auxiliada pela tcnica de bola de neve. Como tal, partimos do pressuposto de que a persistncia e a lealdade do eleitorado a favor da FRELIMO em Mueda no perodo em que analisamos resultado da ligao histrica existente entre a FRELIMO e o distrito de Mueda bem como pelas vivncias histricas e os valores colectivos que esto enraizados dentro colectividade que so transmitidos de gerao em gerao. Assim, ao procurarmos identificar a razo da persistncia e da lealdade do eleitorado de Mueda, compreendemos que dentre outras razes, pelo facto dos eleitores confiarem profundamente na FRELIMO e no ter alternativas nas suas escolhas eleitorais, aliado a inexistncia qui no funcionamento dos partidos da oposio em Mueda. Ora, o estudo sobre o comportamento eleitoral no seu todo e especificamente para o caso de Mueda, no pode ser compreendido duma forma generalizada pois este deve ser considerado em seu contexto especfico de anlise e suas diversas singularidades, ou seja, deve-se compreender que h um conjunto de factores estruturais e conjunturais que influenciam o simples acto de votar no contexto de Mueda.
77
Por isso, os resultados de uma eleio em Mueda reflectem necessariamente um determinado momento e situao singular do momento e espao poltico em que ocorre a eleio. Os resultados do trabalho nos ajudam a concluir que apesar da ineficincia da governao, pouco ou quase inexistentes servios pblicos bsicos, bem como falta de oportunidades de emprego, a razo da persistncia do eleitorado em votar na FRELIMO est associado ao hbito e por via disso nasceu o comprometimento que so as balizas para a consolidao da lealdade partidria. Mais ainda, da analise feita dos dados obtidos ao longo do trabalho, podemos de forma detalhada concluir que: 1 O voto leal e a persistncia do eleitorado do distrito de Mueda a favor da FRELIMO resultado directo da simpatia histrica que existe entre o partido FRELIMO e o distrito de Mueda, por via disso, elementos como a socializao poltica bem como as aces mobilizadoras da FRELIMO a partir dos lderes de opinio, desempenha um papel crucial na estruturao do comportamento poltico eleitoral em Mueda. Isso leva com que na deciso sobre quem votar, anlise retrospectiva do desempenho e os feitos do governo na legislatura que antecede as eleies sejam afastados para um segundo plano. Nestes moldes, o voto do eleitorado de Mueda sinnimo de retribuio por tudo que a FRELIMO tm feito naquele distrito. 2 Em relao a identificao ou lealdade partidria do eleitorado a favor da FRELIMO no distrito de Mueda e as aces mobilizadoras da FRELIMO, compreendemos por um lado que a lealdade ou identificao partidria do eleitorado est relacionado com comportamento poltico eleitoral personalizado dos eleitores, que nasceu da confiana que os eleitores tm com o partido FRELIMO. Por outro lado, esta situao consolidada pelos diversos mecanismos de sensibilizao e as aces mobilizadoras que a FRELIMO usa ou aplica, sobretudo usando o papel preponderante dos chefes locais ou tradicionais. Assim, chegamos a concluso que os chefes locais desempenham um papel fundamental quer na sensibilizao poltica bem como na alienao da totalmente do eleitorado de Mueda a favor da FRELIMO, ou seja, nesta ltima componente compreende-se que os chefes locais ou tradicionais so mobilizadores por excelncia (so eles responsveis a dar informaes a populao, so eles que mobilizam a populao a fazer-se presente em comcios, reunies, etc, e em quase todo processo poltico-eleitoral). 78
Nesta perspectiva, a liderana comunitria desempenha um papel preponderante na consciencializao do processo poltico no seu todo, por outro lado, est liderana representa a FRELIMO nos escales de base e que tem feito de tudo para destruir, fazer desaparecer os partidos da oposio no distrito de Mueda. 3 Os nmeros percentuais que apontam uma votao a favor da FRELIMO em: 92%, 86%, 94% e 96%, nas eleies gerais de 1994, 1999, 2004 e 2009 respectivamente, no significam meramente que os eleitores de Mueda no seu todo votam a favor da FRELIMO, mas sim deve entender-se que uma parte do eleitorado pr-FRELIMO (eleitores simpatizantes e que se identificam com e pelas aces da FRELIMO) tem-se mobilizado para votar na FRELIMO e por via disso fazem-se quase todos presentes no dia de eleies e votam em coro a favor da FRELIMO. Por outro lado, existe um nmero considervel de eleitores de Mueda que no vo votar como consequncia da m governao, falta de servios mnimos para a populao, ilustrados nas tabelas 3, 4, 5 do presente trabalho e sobretudo falta de oportunidades de emprego para muitos cidados de Mueda, como evidenciaram alguns eleitores entrevistados cuja as revelaes podem ser encontradas ao longo do trabalho. Por ltimo, tendo como base os pressupostos da teoria da lealdade partidria, igualmente conclumos que as dinmicas do eleitorado de Mueda e a sua relao com a FRELIMO evidenciam os fundamentos da teoria da lealdade partidria que foram avanados no quadro terico do presente trabalho, onde nota-se uma relaes de comprometimento e compromisso provindas qui do hbito entre o partido FRELIMO, que neste caso (produto normal) e os eleitores de Mueda (seus compradores leais). Contudo, os elementos que figuram nos factores mais determinantes do voto em Mueda, tendo em conta as diferentes colocaes acima, destacamos: influncia que os eleitores sofrem no seu contexto poltico (cultura politica) e social (grupo de pertena em que o eleitor est inserido); influncia dos lderes de opinio (na estruturao do comportamento politico eleitoral), cujos estes lderes de opinio so favorveis ao partido FRELIMO, alis que pertencem as estruturas do partido FRELIMO; as percepes e motivaes que os eleitores possuem em relao o partido FRELIMO (a questo da confiana, o comprometimento, hbito) que se denota no seio do 79
eleitorado do distrito de Mueda; o papel da identificao poltica grupal (pelo facto de alguns dirigentes histricos serem oriundos do distrito de Mueda, deste modo se sentem representados na governao) e a ligao histrica existente entre Mueda e o partido FRELIMO que tambm desempenha um papel fulcral na estruturao do comportamento eleitoral e sobretudo no voto.
80
REFERNCIAS BIBLIOGRFIAS
ACQUAVIVA, Marcus Cludio (2000), Teoria Geral do Estado. 2. ed. Ver. So Paulo: Saraiva. ASAM, Yussuf (1993), Mueda, 1917-1990: Resistncia, Colonialismo, libertao e Desenvolvimento/ in ARQUIVO, 14, p: 36. AMNCIO. L. (1998), Identidade Social e relaes intergrupais. In J. Vala & M. B. Monteiro (Edits). Psicologia Social, 5 ed., Lisboa, Fundao Calouste Gulbenkian. p: 387. ANTUNES, Rui Jorge (2008), Identificao partidria e comportamento eleitoral: factores estruturais, atitudes e mudanas no sentido do voto; Coimbra. Tese de Doutoramento. ARQUIVO (1993), Maputo (Moambique), 14, p: 117-128. ARROWS, Kenneth (1963), Social choice and individual values. New Haven: Yale University Press. BASTOS, Celso Ribeiro (2002), Curso de Direito Constitucional. So Paulo: Celso Bastos Editor. BRITO, Lus de (1995), O comportamento eleitoral nas primeiras eleies multipartidrias em Moambique. In MAZULA, Brazo. Moambique: Eleies, Democracia e Desenvolvimento. Maputo, Elo Grfica, Lda., p: 473-496. CASTRO, Mnica Mata de (1992), Sujeito e estruturas do comportamento eleitoral, Revista Brasileira de Cincias Sociais, n 20. CAPLAN, Bryan (2007), The Myth of the Rational Voter: Why democracies choose bad policies, EUA, University Press, Ney Jersey. COOPERAO SUA (1982), MOAMBIQUE: Plano a mdio e longo prazo de desenvolvimento de Mueda. Relatrio. Ministrio de Agricultura, Maputo. DIAS, Jorge (1974), Os Macondes de Moambique, Lisboa, Junta de Investigao do Ultramar, Vol. I, p: 103. DOWNS, Anthony (1999), Uma Teoria Econmica da Democracia; Traduo de Sandra Guardini Teixeira Vasconcelos. So Paulo: EDUSP.
81
EDUARDO, Flvio (1998), Factores que influenciam o voto conforme os tipos de eleitores. In: A deciso do voto no Brasil. Porto Alegre: EDIPUCRS, p: 122-139. ELSN, J (s/d), Comportamento poltico eleitoral. S/l. EMERSON, Urizzi Cervi (2002), Comportamento Eleitoral Voltil e Reeleio: As Vitrias De Jaime Lerner No Paran, Rev. Sociol. Polt., 19, Curitiba, p: 123-134. Disponvel em http://www.scielo.br/pdf/rsocp/n19/14627.pdf. EWIN, R.E., (1992), Loyalty and Virtues, Philosophical Quarterly, 42 (169), New York: Fordham University Press, p: 403-19. FIGUEIREDO, Marcus (1992), A deciso do voto: democracia e racionalidade. So Paulo: Ed. Sumar/ANPOCS. FOUST, Mathew (2012), Loyalty to Loyalty: Josiah Royce and the Genuine moral Life, New York: Fordham University Press. GOMAN, Carol (1990), The Loyalty Factor, Berkeley: KCS Publishing. HIRSCHMAN, Albert (1970), Exit, Voice, and Loyalty: Response to Decline in Firms, Organizations and States, Cambridge, MA: Harvard University Press. INE (2012), Estatsticas do Distrito de Mueda. Disponvel em: http//www.ine.gov.mz. INE (2012), Estatsticas do Distrito de Montepuez. Disponvel em:
http//www.ine.gov.mz. KOTLER, Philip (2000), Administrao de Marketing. So Paulo: Prentice-Hall. LAL, Anica e EOSTHEIMER, Andreia (2004), Transio e consolidao democrtica em frica: Como limpar as ndoas do processo democrtico? Os desafios da transio e democratizao em Moambique (1990-2003), Maputo, Kourand-Adenauer-Stifting. LAZARSFELD, P. PERELSON, E. & GAIDET, H. (1965), The people's choice. Nova Iorque e Londres, Columbia University Press. LIPSET, S. M., & Rokkan, S (1967), Estrutura das clivagens, sistema de partido, e voto de alinhamento: Perspectivas da nao Cruzada, New York: Free Press. LIMEIRA, Tnia & MAIA, Tnia (2010), Comunicao poltica e deciso de voto: o que as pesquisas revelam. Artigo publicado na revista Ponto e Vrgula, p: 42-55. LUNDI, Ire (1995), Por uma leitura tnica dos partidos polticos. In MAZULA, Brazo. Moambique: Eleies, Democracia e Desenvolvimento. Maputo, Elo Grfica, Lda, p: 423-471. 82
MAE (2005), Perfil do distrito de Montepuez, Provncia de Cabo Delgado. Acessado em 12 de Outubro de 2013. Disponvel em: http//www.metier.co.mz ou http//www. MAE.ac.org. MACUANE, Jos Jaime (2000), Instituies e Democratizao no Contexto: Multipartidarismo e Organizao Legislativa em Moambique (1994-1999). Rio de Janeiro, Instituto Universitrio de Pesquisas do Rio de Janeiro, Tese de Doutoramento. MARCONI, M. A & LAKATOS, E. M. (2003), Fundamentos de metodologia Cientfica, 5 Ed. So Paulo. Atlas. MARCONI, Marina & LAKATOS, Eva (2009), Metodologia do Trabalho Cientifico: Procedimentos bsicos, pesquisa bibliogrfica, projecto e relatrio, publicaes e trabalhos cientficos 7 Ed. 3 Reimpresso. So Paulo Atlas. MEZZAROBA, Orides (1994), O Partido Poltico: Concepo Tradicional e Orgnica. In: Revista de Informao Legislativa. Braslia: Senado Federal Subsecretaria de Edies Tcnicas, ano 31, n. 122. MESQUITA, Mrio (2004), O quarto equvoco: o poder dos mdia na sociedade contempornea. 2 Ed. Coimbra: Minerva Coimbra, p: 89. MIERES, Pablo (1994), Desobedincia e Lealdade. El voto en ele Uruguay de fin de siglo. Montivido Colecci n CLAEH, Editorial FINDE SIGLO. NETO, Carvalho (2007), Como fazer uma monografia, Fortaleza, 1a. Edio, Brasil. OLIVEIRA, Maria (1986), Analise das relaes de produo na sociedade Macondes (1885-1984), Lisboa, Universidade Nova de Lisboa, Depart. de Antropologia Dissertao de licenciatura. OLIVEIRA, Isabel (2012), A teoria da escolha racional e o comportamento eleitoral neo pentecostal, Rio de Janeiro, revista pensamento plural, pelotas, Brasil. PATROCINIO, Rachel Farias do (2012), A comunicao boca a boca nas redes sociais e seu impacto no comprometimento afectivo do cliente. Belo Horizonte, Dissertao de Mestrado. PEREIRA, Joo (1996), Comportamento Eleitoral em Marromeu. Maputo, EMFaculdade de Letras e Cincias Sociais, Dissertao de licenciatura. PEREIRA, J. C. G e SHENGA, C., (2005), Fortalecimento da Democracia Parlamentar nos Pases da SADC: Moambique, relatrio do Pais, SANA, frica do Sul. 83
PLISSIER, Ren (s/d), Naissance du Mozambique, Rsistance et Rvoltes Anticoloniales (1854-1918). PILILO, Fernando (1989), Moambique: evoluo da toponmia e da diviso territorial, 19974-1987, Maputo. PINTO, Djalma (2003), Direito Eleitoral, 1a ed. So Paulo, Atlas, p: 68. Plano Estratgico do Distrito de Montepuez (2008), Montepuez. Plano Estratgico do Distrito de Mueda (2008), Mueda. RADMANN, Alis Rejane Heinemann (2011), Eleitorado Brasileiro: uma anlise ao comportamento eleitoral, Porto Alegre. REPBLICA DE MOAMBIQUE (2005), Perfil do Distrito de Mueda, provncia de Cabo Delgado. Ministrio da Administrao Estatal. RIET, Andy Van (2010), Um modelo bsico de lealdade eleitoral: Uma aplicao da teoria do marketing convencional para marketing poltico. Braslia. SOIRI, Lina (1999), Moambique: aprender a caminhar com uma bengala emprestada? Ligaes entre descentralizao e alvio pobreza. VALVERDE, Thiago Pellegrini (2001), Voto no Brasil: democracia ou obrigatoriedade? Disponvel em <http://www.papiniestudos.com.br/ler_estudos.php?idNoticia=40>.
84
ANEXOS
85
Anexos 1
Lista de Pessoas Entrevistadas
Nome do Entrevistado
Data
Annimo
Tcnico
01 de Outubro de 2013
Administrao distrital Annima Annimo Annimo Bernardo Akuseka Annimo Annima Fabiano Nambavila Horcio Ntchanhenga Issufo Abdulahi Annimo Annimo Annimo Annimo Nkume Manuel Desempregada Chefe do bairro Campons Pensionista Negociante Pensionista Pensionista Pensionista Lder religioso Professor Carpinteiro e Estudante Desempregado Negociante Carpinteiro pensionista Napalena Nkalipa Pensionista e chefe da Mueda-Namaua localidade Vtor Mbonda Annimo Lder Comunitrio Professor Mueda-Sede Mueda-Mgapa 31 de Setembro de 2013 01 e Outubro de 2013 06 de Outubro de 2013 Mueda-Mpeme Mueda-Mpeme Mueda-Mgapa Mueda-Sede Mueda-Sede Mueda-Imbuho Mueda-Miula Mueda-Sede Mueda-Sede Mueda-Litembo Mueda-Chapa Mueda-Mpeme Mueda-Chapa e Mueda Sede 01 de Outubro de 2013 01 de Outubro de 2013 31 de Setembro de 2013 13 de Outubro de 2013 02 de Outubro de 2013 31 de Setembro de 2013 10 de Outubro de 2013 02 de Outubro de 2013 01 de Outubro de 2013 01 de Outubro de 2013 01 de Outubro de 2013 01 de Outubro de 2013 31 de Setembro de 2013 01 de Outubro de 2013
86
Perfil do entrevistado:
Este guio de entrevistas enquadra-se numa pesquisa acadmica, e visa obter conhecimento complementares sobre a persistncia e a lealdade dos eleitores de Mueda a favor da FRELIMO, nos pleitos de 1994 2009.
O interesse destas perguntas exclusivamente acadmico, e Agradece-se antecipadamente, toda a colaborao que possa ser dedicada.
SECO NICA
1. Qual o seu papel por um lado na construo de um comportamento poltico por meio da vossa actuao e consequentemente a deciso do voto? 2. Partindo do princpio de que satisfazer os eleitores mais difcil, porque a poltica envolve a tomada de compromissos, o que significa que os partidos e suas bases eleitorais, muitas vezes no conseguem o que querem. Enquanto Lder de opinio, qual a sua viso sobre este ponto? 3. Na influncia sobre o voto, qual seu papel enquanto lder desta comunidade? 4. As suas formas de mobilizao enquanto lder apartidrio, no se confundem com aces da FRELIMO? 87
5. Nas reunies do partido aqui na comunidade, voc mesmo sendo ou no um membro do partido FRELIMO, tens participado? E qual tem sido a sua atitude? 6. Sobre as campanhas eleitorais, alguma vez j fez a favor da FRELIMO? 7. Qual a viso que a populao nesta localidade tem em relao a FRELIMO? E oque vocs como lderes de opinio tem feito para mudar ou melhorar estas percepes? 8. Oque representa a FRELIMO para vocs lderes da opinio? e nos dias de hoje?
Observaes:
MUITO OBRIGADO, SUAS RESPOSTAS E A SUA COLABORACAO FOI MUITO UTIL. 2013
88
Perfil do entrevistado:
Este guio de entrevistas enquadra-se numa pesquisa acadmica, e visa obter conhecimento complementares sobre a persistncia e a lealdade dos eleitores de Mueda a favor da FRELIMO, nos pleitos de 1994-2009.
O interesse destas perguntas exclusivamente acadmico, e Agradece-se antecipadamente, toda a colaborao que possa ser dedicada.
1. Tem sido pacfico nesta comunidade mudar as suas escolhas e recorrer a outro partido? 2. Em sua opinio, qual a importncia das campanhas eleitorais? 3. Acha que as campanhas eleitorais tm sido um ponto forte para a consolidar a marca FRELIMO nesta comunidade? 4. Como v as campanhas eleitorais na criao e proximidade entre o eleitorado de Mueda e a os Partidos? 5. As campanhas eleitorais, tanto da FRELIMO, assim como de outros partidos, tm ajudado na deciso sobre quem votar? 6. Qual a sua viso em relao aos partidos da oposio? 7. Sobre a confiana: em relao aos partidos da oposio; e em relao a FRELIMO. 89
8. O seu voto a favor de um partido, pela confiana que tens pelo partido ou porque no encontra outra alternativa alm da FRELIMO?
1. Sabendo que a FRELIMO tem uma histria forte neste distrito e que j se constitui em um hbito, ser que o hbito tem tido um papel preponderante no seu voto e no voto dentro da comunidade? 2. Qual o papel dos laos histricos que o distrito tem com a FRELIMO, na definio do voto e na contnua votao da FRELIMO pelos eleitores de Mueda? 3. As vossas vivncias, contos, histrias do vosso distrito, tem influenciado na vossa forma de votar? 4. Ser que o passado histrico do distrito de Mueda que teve ligaes fortes com a FRELIMO tem jogado um papel forte na construo do comportamento eleitoral? 5. Reconhecendo que existiram ligaes fortes entre o distrito de Mueda e a FRELIMO, em sua opinio, este factor tem influenciado na vossa persistncia em votar na FRELIMO? 6. O voto contnuo dos eleitores de Mueda para a FRELIMO tem ligaes fortes pela transmisso da histria do distrito pelos seus antepassados? 7. Ser que a histria tem um peso na sua deciso do voto individual e colectivo? SECO: C Socializao Poltica, cultura poltica, influncia dos lderes de opinio
1. O seu voto tem como consequncia a cultura poltica e as formas de manifestao e actuao do jogo poltico em Moambique? 2. Tem tido oportunidades de ler os programas e assistir debates nacionais sobre a poltica e como este aspecto influncia na sua deciso do voto?
90
3. Ser que os lderes de opinio nas suas formas de actuao (Comunicados, informaes, anncios, etc.), tem influenciado na construo do comportamento polticos e consequente a forma de expresso do voto na comunidade? 4. O seu voto da sua escolha ou esta associada a influncia da comunidade? SECO:D OUTROS
1. Em que tem votado continuamente nas eleies ps eleies ps eleies? E porque? 2. Ter votado em diferentes partidos alguma vez? E quais as razoes? Como sentiuse? 3. A FRELIMO tem melhorado ou piorado algumas coisas com vista a ter mais apoio aqui em Mueda? 4. Oque vos leva a votar continuamente num determinado partido? 5. Porque vota fielmente na FRELIMO? 6. Quais so os elementos que te levam a deciso de uma determinada forma de votar? 7. Como decide o seu voto? 8. Como nasce a sua identificao com o partido que tem votado continuamente? 9. Toda gente vota num nico partido porque? Observaes:
MUITO OBRIGADO, SUAS RESPOSTAS E A SUA COLABORACAO FOI MUITO UTIL. 2013.
91
Anexo 3:
RESULTADO DA VOTAO NO DISTRITO DE MUEDA: ELEIES DE 2004
92
93
94
95
96