A ARGUMENTAÇÃO NA COMUNICAÇÃO
Philippe Breton
O homem pratica a argumentação desde o momento em que se comunica. Nesse sentido,
tem um saber empírico sobre ela.
A Retórica, em sua concepção inicial:
Argumentação, raciocínio, busca de uma ordem do discurso, manipulação das opiniões e
das consciências, afirmação de que tudo é argumentável; o orador é mais homem de poder
que homem de ética.
O que é Argumentar:
Primeiramente, comunicar.
Não é convencer a qualquer preço (ruptura com a retórica). A argumentação se
restringe em nome de uma ética.
Raciocinar (convencer pela razão).
Uma argumentação nunca será universal (ao contrário da demonstração).
Esquema de Shannon: emissor >> mensagem >> receptor.
Esse esquema serve para explicar a propagação da informação, mas é insuficiente no caso
da argumentação.
O Triângulo Argumentativo
Opinião
ORADOR
ARGUMENTO AUDITPORIO
Contexto de recepção
Opinião: deve ser verossímil
Orador: aquele que argumenta, para si mesmo ou para os outros
Argumento: a opinião apresentada de forma a convencer
Auditório: aquele(s) a quem se dirige o orador na tentativa de convencer
Contexto de recepção: conjunto das opinões, valores e julgamentos que são partilhados
por um auditório previamente ao ato da argumentação, desempenhando papel
importante na aceitação ou recusa do argumento apresentado.
Distinção entre opinião e argumento
O argumento é a forma como a opinião é apresentada, e isso varia de acordo com o
auditório a que se destina.
“Argumentar é também escolher em uma opinião s aspectos que a tornarão aceitável para
um dado público”.
A recepção do argumento
Nenhuma opinião proposta intervém num terreno virgem.
A argumentação não apenas “soma” uma nova idéia; ela implica uma mudança, uma vez
que cada indivíduo deverá assumir um novo ponto de vista.
Limites éticos
A dimensão ética da argumentação é delimitada por três questões:
1) Tudo é argumentável?
2) Todos os argumentos são válidos para defender uma opinião?
3) Há limites para a ação que se pode exercer sobre um auditório?
1) O campo da verosimilhança
A ciência, a fé religiosa e os sentimentos não podem ser incluídos no campo da opinião.
Conhecimento científico – A opinião não pode produzir conhecimentos novos.
Fé religiosa – A fé é partilhada e comunicada, mas não pode ser explicada ou argumentada.
A consciência do sagrado é um componente atemporal da humanidade.
Sentimentos – A metacomunicação: racionalização dos sentimentos
Opinião e informação – A informação é um olhar sobre o real que tende a ser único, a
síntese de testemunhos concordantes; a opinião é um posto de vista que sepre supões um
outro ponto de vista possível.
2) A coerência entre a opinião e o argumento
Usar um argumento muito distante da opinião que se defente é um recurso da demagogia.
3) O público livre para aderir à opinião
Estratégia para convencer a qualquer preço: levar o auditório a acreditar que possui total
liberdade de escolha.
No dia-a-dia, o uso da retórica é mais freqüente do que o uso da argumentação.
Mecanismos de intervenção na liberdade de escolha
A intervenção sobre o vínculo orador/auditório
Apelo aos sentimentos
Uso da sedução (amálgama: relação de contiguidade entre o orador e suas opiniões)
A interenção sobre o vínculo argumento/auditório
Uso freqüente de figuras de estilo (tradição retórica)
“Clareza” da opinião: a opinião seria automaticamente convincente, por ser clara.
A argumentação: um raciocínio de comunicação
A argumentação existe? Ou vivemos uma ilusão de argumentação? E tudo seria, na
verdade, estratégia, sedução ou poder?
Na argumentação, a transferência de opiniões por meio do raciocínio deve ser a linha
dominante. Isso não significa que o apelo aos sentimentos, ao poder e à demonstração
estejam totalmente ausentes.
A razão argumentativa se distingue da razão científica e da retórica das paixões; também se
distingue da manipulação e da violência.