REDES SOCIAIS E TEORIA SOCIAL: REVENDO OS
FUNDAMENTOS DO CONCEITO
Sonia Acioli
Resumo
Este artigo discute os vrios usos e abordagens utilizadas em relao expresso redes
sociais, que tem sido naturalizada e associada
apenas s tecnologias da informao. um
estudo conceitual que pretende situar historicamente a noo de redes, buscando ainda
identificar as formas as quais a expresso redes sociais tem sido articulada e as abordagens empreendidas. Para tal, foi realizada uma
reviso bibliogrfica tendo como base os campos da Sociologia, Antropologia, Informao e
Comunicao por serem essas as reas aonde
a noo de redes teve sua origem sendo tambm mais freqentemente utilizada. Buscando
pensar as possibilidades de anlise utilizando a
noo de rede, esboamos trs possveis abordagens inspiradas na leitura de Barnes, J.
A. e Mitchell, J. Clyde. So elas: uma abordagem metafrica, voltada filosofia de rede ou
ainda a uma aproximao conceitual; uma analtica centrada na metodologia de anlise de
redes, e, uma tecnolgica, cuja preocupao
est voltada para as redes de conexes, para
as possibilidades que se colocam em relao
s interaes possveis na sociedade atravs
de redes eletrnicas, de informaes, interorganizacionais. Entendemos que em todas essas abordagens d-se uma relao direta com
a informao, se percebemos informao como
processo de troca permanente. Portanto, traba-
lhar com a idia de redes significa trabalhar de
forma articulada com a idia de informao.
Concluindo, nesse mundo em redes, onde h
mais quantidade do que qualidade de informao, a possibilidade de fragmentao de saberes e culturas, e, portanto de sujeitos muito
grande. Nesse sentido, pode-se pensar na relativizao dos espaos internos - entendidos
como o local alm da valorizao desses
mesmos espaos, j que as ordens local e global se interpenetram e podem reinventar formas de comunicao e saberes.
Palavras-Chave
Redes sociais, cincias sociais
que vem se travando em vrios campos do
1 INTRODUO
Podemos perceber atualmente a na-
conhecimento - Comunicao, Sade, E-
turalizao da noo de redes que geral-
ducao, Economia, Geografia, Adminis-
mente se apresenta articulada s tecnologias da informao. Esse que um debate
trao - e especificamente no seu campo
de origem o das Cincias Sociais, parece
Inf.Inf., Londrina, v. 12, n. esp., 2007.
Redes sociais e teoria social: revendo os fundamentos dos conceitos
apontar para a necessidade de uma con-
Sonia Acioli
Em Cincias Sociais, rede seria o
conjunto de relaes sociais entre um con-
textualizao do termo e de sua utilizao.
O presente trabalho tem por objetivo
desnaturalizar a noo de redes, situandoa historicamente, buscando ainda identificar os usos aos quais a expresso redes
sociais tem sido articulada e as vrias a-
junto de atores e tambm entre os prprios
atores. Designa ainda os movimentos pouco institucionalizados, reunindo indivduos
ou grupos numa associao cujos limites
so variveis e sujeitos a reinterpretaes
(COLONOMOS, 1995).
bordagens empreendidas.
Falar em redes significa trabalhar com
concepes variadas nas quais parecem
misturar-se idias baseadas no senso comum, na experincia cotidiana do mundo
globalizado ou ainda em determinado referencial terico-conceitual. Existe, portanto
Para a Antropologia Social a noo
de redes sociais busca apoiar "a anlise e
descrio daqueles processos sociais que
envolvem conexes que transpassam os
limites de grupos e categorias" (BARNES,
1987, p.163).
uma diversidade de definies, que, no
Sem interesse classificatrio, mas
entanto parecem conter um ncleo seme-
buscando pensar as possibilidades de an-
lhante relacionado imagem de fios, ma-
lise utilizando a noo de rede, esboamos
lhas, teias que formam um tecido comum.
trs possveis abordagens inspiradas na
Loiola & Moura (1997, p.54) ressaltam que:
leitura de Barnes, J. A. e Mitchell, J. Cly-
"A presena de um ponto central, de uma
de3. So elas: uma abordagem metafrica,
fonte geradora/ propulsora, no figura no
que estaria voltada filosofia de rede ou
significado popular de rede. A igualdade e
ainda a uma aproximao conceitual; uma
a complementaridade entre as partes so
analtica centrada na metodologia de anli-
seus aspectos bsicos, reforados pela
se de redes, e, uma tecnolgica, cuja preo-
regularidade entre as malhas".2
cupao est voltada para as redes de co-
O termo rede sugere ainda fluxo, movimento, indicando uma aproximao com
nexes, para as possibilidades que se colocam em relao s interaes possveis
as mais variadas reas de conhecimento
na sociedade atravs de redes eletrnicas,
conforme apontamos inicialmente.
de informaes, interorganizacionais. Ressaltamos ainda que a identificao de a-
Segundo Aurlio B. Holanda rede seria o entrelabordagens no tem como objetivo criar oamento de fios, cordas, [..] com aberturas regulares fixadas por malhas formando uma espcie de
3
tecido.
Barnes e Mitchell so antroplogos e parecem ter
2
sido os primeiros a esboar esse tipo de anlise,
A nfase sugerida pelas palavras em itlico das
juntamente com E. Boff.
prprias autoras.
Inf.Inf., Londrina, v. 12, n. esp., 2007.
Redes sociais e teoria social: revendo os fundamentos dos conceitos
Sonia Acioli
posies e, sim mostrar a necessidade de
elementares de parentesco (dcada de
complementaridade entre as mesmas.
40). Em 1940, Radcliffe-Brown usa o termo
Entendemos que em todas essas
abordagens d-se uma relao direta com
a informao, se percebemos informao
como processo de troca permanente.
Como aponta Lvy (1998, p.183):
Se todo processo interfaceamento, e portanto traduo, porque
nenhuma mensagem se transmite
tal qual, em um meio condutor neutro, mas antes deve ultrapassar
descontinuidades que a metamorfoseam. A prpria mensagem
uma movente descontinuidade sobre um canal e seu efeito ser o de
produzir outras diferenas.
"redes". Barnes (1972) preocupava-se com
a heterogeneidade dos usos da noo de
redes, alertando que a idia de "redes" pudesse tornar-se mais uma palavra da moda, sem definio clara, nem uso especfico. Barnes (1972) e Mitchell (1969), referem-se necessidade de distinguir o uso
metafrico do analtico no que se refere s
redes.
2.1 Do Uso Metafrico ao Analtico
Para Barnes (1972), no existe uma
teoria de redes sociais, sendo possvel a
Portanto, trabalhar com a idia de redes significa trabalhar de forma articulada
com a idia de informao.
adaptao da noo de rede diversas
teorias. A concepo bsica de redes - tanto para uso metafrico, quanto para o uso
Ao buscarmos retomar as razes his-
analtico - seria a de que a configurao de
tricas da noo de redes trabalharemos
vnculos interpessoais entrecruzados so
com duas abordagens - a metafrica e a
de forma inespecfica conectados s aes
analtica. Posteriormente, tentaremos apre-
dessas pessoas e s instituies da socie-
sentar alguns autores - anos 80/90 - cujos
dade. A idia que permeia a metfora de
trabalhos nos parecem se aproximar das
redes, a de indivduos em sociedade,
abordagens apresentadas, incluindo ento
ligados por laos sociais, os quais podem
a tecnolgica.
ser reforados ou entrarem em conflito entre si.
2 REDES: UMA BREVE CONTEXTUALIZAO
A expresso rede social total cunhada
por Radcliffe-Brown na dcada de 50, pre-
A noo de redes / redes sociais nas-
tende caracterizar a estrutura social en-
ce na Antropologia Social. A primeira apro-
quanto uma rede de relaes institucional-
ximao remonta Claude Lvi-Strauss
mente controladas ou definidas. Como res-
em sua anlise etnogrfica das estruturas
salta Boissevain (1987), para Radcliffe-
Inf.Inf., Londrina, v. 12, n. esp., 2007.
Redes sociais e teoria social: revendo os fundamentos dos conceitos
Brown, haveria um pressuposto bsico da
Sonia Acioli
2.2 Do Uso Analtico ao Metafrico
existncia de uma estrutura social que pu-
Segundo Mitchel (1969), Barnes in-
desse ser isolada e comparada com outras
troduz a idia de redes sociais como recur-
estruturas sociais, atravs do isolamento
so de anlise por volta de 19544. Radcliffe-
de relaes sociais institucionalmente con-
Brown numa abordagem sociocntrica per-
troladas. Bossivain, em sua crtica ao mo-
cebe a rede social como uma rede na qual
delo de Radcliffe, nos adverte quanto
todos os membros da sociedade ou parte
necessidade de observarmos as constan-
da sociedade esto imersos (BARNES,
tes mudanas a que esto submetidas as
1972). Para Barnes, a metfora apresenta-
relaes sociais e a impossibilidade de que
da por Radcliffe teria sido transformada em
sejam apreendidas e descritas somente em
estudos operacionais com nfase no as-
termos de normas. Radcliffe parece ter u-
pecto metodolgico das anlises das rela-
sado a noo de rede numa abordagem
es sociais. Para esse mesmo autor, teria
metafrica, na medida em que nos remete
sido Elizabeth Bott (1971) uma das primei-
a uma imagem de interconexo de rela-
ras antroplogas a usar a idia de rede
es sociais, sem deter-se na especifica-
enquanto uma ferramenta de anlise dos
o das propriedades dessas intercone-
relacionamentos entre pessoas, seus elos
xes. Mitchell (1969) nos indica que como
pessoais e entre as organizaes do con-
metfora a noo de rede no permite a
texto em que se inserem. Na metfora de
percepo de vrios aspectos das relaes
Radcliffe, a rede social envolve todos os
sociais tais como - ausncia de ligao,
membros da sociedade, que existem inde-
intensidade, status, papel social. A preocu-
pendentemente de qualquer investigador.
pao de Mitchel parece ser a de tensionar
A rede social pode por vezes ter membros
as duas possibilidades de uso - o metafri-
mais centrais, ainda assim, essa centrali-
co e o analtico, na medida em que tam-
dade seria uma construo da investigao
bm sugere os limites colocados para o
em andamento.
uso analtico de redes que limitaria a representao de pessoas em "ns" de uma
rede, e os relacionamentos entre eles em
"linhas" ou "elos". Nesse sentido, o mesmo
autor lembra que a noo de redes sociais
como mtodo de anlise deve ser usada
lise de redes, Barnes ressalta alguns dos
critrios de anlise: tamanho da rede, ou
seja, o nmero de unidades na rede; aten4
Nesse momento na Antropologia, a nfase eram
as anlises estruturalistas representadas pelos
trabalhos de Evans-Pritchard e Fortes (dcadas de
Antropologia.
40/50).
Inf.Inf., Londrina, v. 12, n. esp., 2007.
de modo complementar a outros mtodos
da Sociologia e da
Ao desenvolver uma proposta de an-
Redes sociais e teoria social: revendo os fundamentos dos conceitos
Sonia Acioli
o dada aos efeitos em "A" da relao
observao tornam-se insuficientes para
entre "B" e "C"; se o estudo sobre ques-
uma melhor compreenso da realidade
tes relacionadas contatos indiretos ou a
social. A possibilidade de perceber rela-
categorias / questes individuais.
es mais ou menos simtricas; mais ou
Radcliffe refere-se uma rede total que contm todos os laos sociais existentes - no entanto, a maior parte dos estudos
lidam com redes parciais - que contm apenas elos sociais de um tipo especfico.
Uma questo importante na anlise
de redes a identificao de cliques5 e o
estudo de sua organizao em grupos,
menos densas; indicam diferenas nos
possveis canais de informao e conseqentemente, distintos padres de comunicao entre os membros da rede.
Em redes que tem um grande nmero de membros, utiliza-se como estratgia
comear a anlise por um indivduo e seus
contatos mais diretos. O tamanho da rede
como tambm a possibilidade de que se-
, portanto importante para definirmos a
jam elos importantes na troca de determi-
anlise, como tambm a multiplicidade de
nado tipo de informaes.
links, ou seja, de relaes existentes, e a
Esses estudos tm como ponto de
partida analisar a realidade social a partir
das relaes sociais, e no a partir dos
atributos dos indivduos. Nesse sentido, as
unidades numa rede podem no ser necessariamente indivduos, mas tambm
grupos.
Geralmente as unidades de uma rede
so representadas graficamente por pontos, e as relaes por linhas. So utilizados
grficos e anlises matemticas ("graphy
theory")6, que se usados sem articulao
com dados de entrevistas, questionrios e
qualidade das relaes - descontnuas, a
importncia dos papis que os indivduos
definem para si mesmos nas relaes, sua
intensidade, durabilidade, freqncia. Como membro de uma rede, o indivduo
percebido como uma pluralidade de relaes. Para captar essa pluralidade, o estudo de redes tem que se debruar em entrevistas e observao participante.
A proposta de anlise de redes constitui-se, portanto numa ferramenta conceitual, analtica e metodolgica, o que ressalta a impossibilidade de desvincularmos as
possveis abordagens a serem utilizadas.
Cliques so entendidas como grupos de atores
direta e fortemente ligados todos os outros.
6
Na dcada de 50 Moreno utilizou a teoria dos grafos em sua Sociometria, e mais tarde foi tambm
usada nas abordagens da Psicologia Social. (Scherer-Warren, 1999. p. 22).
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Sonia Acioli
3 PENSAR EM REDES: OS USOS ME-
Sociedade para Elias se constituiria a
TAFRICO, ANALTICO E TECNOLGI-
partir dessa rede de funes / relaes de-
CO
sempenhadas pelas pessoas. O autor usa
No pensamos de modo comparti-
mentado, portanto esse esforo em indicar
usos da noo de redes deve-se a extrema
variedade de formas como essa noo
utilizada. No entanto, esses usos esto
imbricados, sendo mais ou menos enfatizados em determinados trabalhos. Dessa
forma a metfora rede desenvolvida por
vrios autores dentre os quais citaremos
apenas alguns.
Ao refletir a relao indivduo / sociedade Norbert Elias entende o social, o todo, enquanto um conjunto de relaes.
"Tais relaes so sempre relaes em
processo, isto : elas se fazem e desfazem, se constroem, se destroem, se reconstroem" (WAIZBORT, 1999, p.92). Dessa forma, a sociedade pode ser percebida
como uma rede de indivduos em constante relao, sugerindo a idia da interdependncia.
a metfora da rede para explicitar sua concepo relacional de sociedade.
Para ter uma viso mais detalhada
desse tipo de inter-relao, podemos pensar no objeto de que deriva
o conceito de rede: a rede de tecido. Nessa rede, muitos fios isolados ligam-se uns aos outros. No
entanto, nem a totalidade da rede
nem a forma assumida por cada
um de seus fios podem ser compreendidas em termos de um nico
fio, ou mesmo de todos eles, isoladamente considerados; a rede s
compreensvel em termos da maneira como eles se ligam, de sua
relao recproca (ELIAS, 1994
p.35).
Mlton Santos articula tanto uma abordagem prpria da Geografia, quanto da
teoria social. Santos (1996) correlaciona a
no homogeneidade dos espaos no
homogeneidade das redes, lembrando que:
Num mesmo subespao, h uma superposio de redes, que inclui redes principais e redes afluentes ou tributrias, constelaes de pontos e traados de linhas"
Numa palavra, cada pessoa que
passa por outra, como estranhos
aparentemente desvinculados na
rua, est ligada a outras por laos
invisveis, sejam estes laos de trabalho e propriedade, sejam de instintos e afetos. Os tipos mais dspares de funes tornaram-na dependentes de outrem e tornaram outros
dependentes dela. Ela vive, e viveu
numa rede de dependncias
(ELIAS, 1994, p.22).
(SANTOS, 1996, p.214).
Para esse autor, atravs das redes
podemos reconhecer trs nveis que articulam o global, o regional e o local. So eles:
o nvel mundial; o territrio, pas ou Estado;
e o lugar - "onde fragmentos de rede ganham uma dimenso nica e socialmente
concreta" (SANTOS, 1996, p.215). As re-
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des teriam um movimento dialtico de opo-
interaes sociais, espaciais, informais
sies, confrontos e alianas - incluindo os
e/ou institucionalizadas e temporais, que
sistemas de poder - que interferem em to-
se estabelecem nesse campo.
dos os nveis. As redes so virtuais, mas
tambm reais, so tcnicas, mas tambm
Explicitando essa busca metodolgica
Scherer-Warren (1996, p.10)7 ressalta:
sociais, portanto so por vezes estveis,
A anlise em termos de redes de
movimentos implica buscar as formas de articulao entre o local e o
global, entre o particular e o universal, entre o uno e o diverso, nas interconexes das identidades dos
atores com o pluralismo. Enfim trata-se de buscar os significados dos
movimentos sociais num mundo
que se apresenta cada vez mais
como interdependente, intercomunicativo, no qual surge um nmero
cada vez maior de movimentos de
carter transnacional, como os de
direitos humanos, pela paz, ecologistas, feministas, tnicos e outros.
mas tambm dinmicas. Elas incluem em
si mesmas um movimento social de dinmicas ao mesmo tempo locais e globais, o
que indicaria uma tenso entre foras de
globalizao e de localizao.
Ele ressalta que:
Mediante as redes, h uma criao
paralela e eficaz da ordem e da desordem no territrio, j que as redes integram e desintegram, destroem velhos recortes espaciais e
criam outros. Quando ele visto
pelo lado exclusivo da produo da
ordem, da integrao e da constituio de solidariedades espaciais
que interessam a certos agentes,
esse fenmeno como um processo de homogeneizao. Sua outra
face, a heterogeneizao, ocultada. Mas ela igualmente presente
(SANTOS, 1996, p.222).
O uso analtico de rede ou ainda a
Scherer-Warren (1996) ressalta que
os estudos que indicam como caminho investigativo a anlises de redes nos estudos
de aes coletivas, tem apontado para a
idia de que as aes coletivas surgem de
redes - que interagem e influenciam-se
mutuamente.
Nesse
metodologia de anlise de redes tem sido
sentido, o
reconhecimento
utilizada especialmente na anlise das
dessas redes seria um agente facilitador da
chamadas redes de movimentos, redes de
compreenso dos processos de mobiliza-
solidariedade, que so expresses vincu-
o, de formao das redes, como tambm
ladas estudos do campo dos movimentos
dos "caminhos" percorridos pela informa-
sociais. Esses trabalhos partem da anlise
o nesses movimentos. Dessa forma se-
de redes utilizada pela Antropologia Social,
riam articuladas vrias dimenses de an-
articulando conhecimentos das Cincias
todolgico que facilite
Scherer-Warren cita vrios autores que vem trabalhando com essa abordagem: Klandermans (1992);
a apreenso das Melucci (1966); Ayres (1997) e os brasileiros: Doimo (1995); Silva (1993,1996); Moura (1994).
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Sociais e da Geografia, como caminho me-
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lise, de forma complementar, de modo a
informao teria uma interferncia nos flu-
perpassar os seguintes indicadores: territo-
xos de poder.
rialidade e desterritorializao - interao
Para esse autor: A presena na rede
entre os vrios espaos comunitrios, arti-
ou a ausncia dela e a dinmica de cada
culaes locais, regionais e nacionais -
rede em relao s outras so fontes cru-
temporalidades
ciais de dominao e transformao de
histricas;
sociabilidade
poltico-tico-cultural - articulao das redes
submersas com as
redes tico-
polticas.
O uso tecnolgico dos mais discu-
nossa
sociedade
(CASTELLS,
1999,
p.497).
Para Castells, as redes so estruturas
abertas com possibilidade de expanso
tidos atualmente e nesse campo estamos
ilimitada, desde que os novos ns compar-
englobando o ncleo de tecnologias da
tilhem os mesmos cdigos de comunica-
informao - redes de informaes, redes
de conexes ou redes temticas, redes
interorganizacionais, ou seja, grupos que
utilizam o termo rede no sentido de meio
de acesso a informaes, contato com
grupos ou pessoas atravs de redes de
computadores.
o. Refere-se, portanto a racionalidade da
ordem global, aonde parece no haver a
possibilidade de incorporao de outros
cdigos de comunicao.
As redes temticas ou de conexo se
constroem de forma bastante espontnea,
ainda que geralmente estimuladas por uma
Castells (1999, p.78) ao apresentar
pessoa ou um grupo. Loiola e Moura
o que denomina o paradigma da informa-
(1997) ressaltam que essas redes so es-
o identifica a lgica de redes como uma
truturas informais que articulam indivduos
das caractersticas de qualquer sistema
que passam a interagir por reas de inte-
nas novas tecnologias da informao devi-
resse, como tambm podem desenvolver
do complexidade das interaes. Seria a
relaes afetivas.
possibilidade de "estruturar" o no - estruturado, preservando a flexibilidade. Nesse
sentido a lgica de redes na tecnologia da
As redes interorganizacionais seriam
redes institucionais cuja composio geralmente pr-definida relacionada determinada poltica institucional. Seriam, por-
tanto redes com maior
O autor aponta como caractersticas desse novo
paradigma: so tecnologias para agir sobre a inforo.
mao; penetrabilidade de seus efeitos; lgica de
redes; flexibilidade; convergncia de tecnologias
especficas para uma sistema altamente integrado
(p.77-78).
Inf.Inf., Londrina, v. 12, n. esp., 2007.
grau de formaliza-
Redes sociais e teoria social: revendo os fundamentos dos conceitos
Sonia Acioli
Essas possibilidades de trabalho em
alianas e coligaes que os atores cons-
rede geralmente esto relacionadas a
troem com o objetivo de consolidao do
pressupostos de flexibilidade, democratiza-
seu poder.
o, menor grau de hierarquizao, indi-
As redes nascem num espao infor-
cando a ampliao de espaos pblicos de
mal de relaes sociais, mas seus efeitos
negociao. Parece-nos que esses pres-
so visveis para alm desse espao atra-
supostos devem ser olhados com cuidado,
vs das relaes com o Estado, a socieda-
e algumas perguntas bsicas devem conti-
de e de outras instituies representativas.
nuar a ser feita: Quem decide? Quem de-
A partir de interaes estratgicas se dari-
tm as informaes? As redes parecem
am novas perspectivas de anlise, ou um
apagar diferenas, criando uma pseudo-
novo
igualdade.
(COLONOMOS, 1995).
4 ALGUMAS CONSIDERAES FINAIS
Como aponta Colonomos (1995), o
debate sobre redes no campo das cincias
sociais ao iniciar-se traz em seu bojo a oposio entre estruturalismo e individualismo metodolgico.
A Sociologia de redes transnacionais
aponta uma mudana de paradigma, indicando a relativizao dos espaos internos
na gnese dos movimentos sociais. Os
espaos internos teriam um papel diferente
na medida em que sua origem e consolidao estariam referidas aos espaos transnacionais. Essa nova forma de pensar os
individualismo
metodolgico
Giddens (1991) nos confronta com a
questo da modernidade e suas descontinuidades. Ele ressalta na modernidade a
reivindicao de que o conhecimento
circular, ou seja, circula dentro e fora do
ambiente que descreve.
As tendncias globalizantes da
modernidade so simultaneamente
extensionais e intencionais - elas
vinculam os indivduos a sistemas
de grande escala como parte da dialtica complexa de mudana nos
plos local e global. Muitos dos fenmenos freqentemente rotulados
como ps-modernos na verdade dizem respeito experincia de viver
num mundo em que a presena e
ausncia se combinam de maneiras
historicamente
novas
(GIDDENS, 1991, p.175-176).
movimentos sociais estaria criando uma
imbricao maior entre espaos internos e
Podemos, portanto pensar que nesse
espaos externos, a partir das quais se
mundo em redes, onde h mais quantidade
dariam interaes que constituiriam a g-
do que qualidade de informao, a possibi-
nese desses movimentos. Esse autor a-
lidade de fragmentao de saberes e cultu-
ponta que os estudos de rede ressaltam as
ras, e, portanto de sujeitos muito grande.
Inf.Inf., Londrina, v. 12, n. esp., 2007.
Redes sociais e teoria social: revendo os fundamentos dos conceitos
Nesse sentido, o entrelaamento entre o
local e o global torna-se uma reorganiza-
Sonia Acioli
entretanto no mais se assemelham s nossas prticas.
o do tempo e do espao que pode como
H, portanto uma ordem global, que
diria Giddens, dissolver o sujeito num
impe sua racionalidade como nica, a
mundo de signos sem centro. Da a neces-
todos os lugares e especificamente or-
sidade de pensar o local e o global de mo-
dem local. Essas duas ordens ainda que
do articulado, com tambm as vrias for-
aparentemente opostas, como vimos, so
mas de valorizao dos espaos internos -
interdependentes, mas indicam lgicas di-
entendidos como os espaos locais.
ferentes. A ordem global associada a
Rede , portanto um tema que persis-
uma populao esparsa, pautada em esca-
te, transformando-se, incorporando grupos
las superiores, onde a solidariedade pro-
de campos tericos e at mesmo ideolgi-
duto da organizao, e onde se daria a
cos diversos. No entanto, voltando ao pen-
busca contnua por informao. A ordem
samento de Barnes, e utilizando uma ex-
local associada a uma populao reunida
presso de Lucien Sfez9 entendemos que
pelo territrio, pautada na escala do cotidi-
o tema redes no deve se tornar mais um
ano, onde a organizao seria produto da
daqueles termos "confusionantes", que
solidariedade, e onde se daria a busca por
servem para tudo e no explicam nada.
comunicao (SANTOS, 1996, p.272).
Esse sentimento de ambigidade
No entanto, essas ordens se interpe-
com relao noo e s realidades das
netram, tm interdependncia e podem
redes citado por Santos (1996, p.222)
fazer surgir possibilidades de interaes
que para explicitar esse carter hbrido cita
no previstas, novas formas de estrutura-
Latour (1991, p.166-167):
o da realidade, e conseqen-temente a
o papel dos mistos exatamente o
de unir as quatro "regies" criadas
como sendo diferentes : o natural, o
social, o global, o local, de modo a
evitar que "os recursos conceituais
se acumulem nos quatro extremos
[...] "levando a que "ns, pobres sujeitos-objetos, humildes sociedades-natureza, pequenos locaisglobais, sejamos literalmente esquartejados entre regies ontolgicas que mtuamente se definem e
reinveno de formas de comu-nicao de
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Sonia Acioli
Sonia Acioli
Graduao em Enfermagem pela Pontficia
Universidade Catlica do Rio de Janeiro
(1980), Mestrado em Cincias da Sade pela
Fundao Oswaldo Cruz (1994) e Doutorado
em Sade Coletiva pelo Instituto de Medicina
Social da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (2003). Atualmente Professora
Adjunta do Depto de Sade Pblica e da PsGraduao em Enfermagem da Faculdade de
Enfermagem da UERJ e Procientista da
mesma universidade.
[email protected]
Title
Social Nets And Social Theory: Reviewing The
Concept Bases
Abstract
This article discusses the various usages and
approaches related to the expression social
nets, which has been naturalized and associated only to the information technologies. It is a
conceptual study intending to situate historically
the notion of nets aiming, in addition, to identify
the ways in which the expression social nets
has been articulated and the undertaken approaches. To achieve this, a bibliographical
revision was accomplished, having the fields of
Sociology, Anthropology, Information and
Communication as basis, for these were the
fields where the notion of nets had its origin,
and where this term has been utilized the most.
In order to think about the analytical possibilities using the notion of nets, we drew three
possible approaches inspired on Barnes, J. A.
e Mitchell, J. Clyde. They are: a metaphoric
approach, related to net philosophy or even to
a conceptual approach; an analytical one, focused on network analysis methodology and a
technological one, which concern is on connection nets, for the possibilities related to the
possible social interactions through electronic,
informational, inter organizational nets. We
Inf.Inf., Londrina, v. 12, n. esp., 2007.
Redes sociais e teoria social: revendo os fundamentos dos conceitos
understand that in all those approaches, there
is a direct relation with information, if we consider information as a permanent exchange
process. Thus, to work with the idea of nets
means to work in an articulated way with the
notion of information. Concluding, in this world
of nets, where there is more amount than quality of information, the possibility of culture and
knowledge and, thus, subjects fragmentation is
very big. In this sense, we may think about
making the internal spaces considered as
the place relative, besides the valorization of
those spaces, whereas the local and global
orders interpenetrate and they can reinvent
ways of communication and knowledge.
Keywords
Social nets, social sciences
desque se colocan en relacin a las interacciones posibles en la sociedad a travs de redes
electrnicas de informaciones entre organizaciones. Se entiende que en todos esos enfoques acaece una relacin directa con la informacin, se percibe informacin como proceso
de cambio permanente. Por lo tanto, trabajar
con la idea de redes significa trabajar de manera articulada con la idea de informacin. Concluyendo, en eso mundo de redes, donde hay
ms cantitad que calidad de informacin, la
posibilidad de fragmentacin de saberes y culturas, y por lo tanto de sujetos, es muy grande.
En eso sentido, se puede pensar en la relativizacin de los espacios internos entendidos
como el local adems de la valorizacin de
esos mismos espacios, ya que las ordinaciones
local y global se interpenetran y pueden reinventar formas de comunicacin y de saberes.
Palabras Clave
Red social; ciencia social
Ttulo
Sonia Acioli
Redes Sociales y Teora Social: Reviendo los
fundamentos del concepto
Resumen
Este artculo discute los varios usos y enfoques
utilizados en relacin a la expresin Redes
sociales, que es naturalizada y asociada solamente a las tecnologas de la informacin. Es
un estudio conceptual que intenta situar histricamente la nocin de redes, buscando tambin
identificar las formas a las cuales la expresin
redes sociales es articulada y los enfoques
emprendidos. Para tanto, fue cumplida una
revisin bibliogrfica teniendo como base los
campos de la Sociologa, Antropologa, Informacin y Comunicacin porque fue en ellos
que la nocin de redes tuvo su origen, siendo
tambin ms frecuentemente usada. Buscando
pensar las posibilidades de anlisis usando la
nocin de red, fueron delineados tres enfoques
posibles inspirados en la lectura de Barnes,
J.A. y Mitchell, J.C. Son ellos: metafrico, volvido para la filosofa de red o aun para una
aproximacin conceptual; analtico, centrado
en la metodologa de anlisis de redes; y tecnolgico, cuya preocupacin est volvida para
las redes de conexiones, para las posibilidaInf.Inf., Londrina, v. 12, n. esp., 2007.