0 notas0% acharam este documento útil (0 voto) 189 visualizações8 páginasGUARNIERI, Waldisa Russio C. - Museologia e Museu
Do livro "Waldisa Rússio: textos e contextos de uma trajetória profissional".
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i of 1
14 Museologia e museu
Waldisa Riissio
1979
Temos nos habituado, talvez por certo comodismo, a usar indistin-
mos Museografia e Museologia, como se fossem equiva-
= tamente os ter ,
2 cia mental, temos aceitado comumente
lentes, Também por certa iné
que Museologia seja apenas uma técnica.
Na realidade, a Museologia nasce com a Museografia para, aos
poucos, vencer a gradacao que separa 0 ) grapho do logos. Assim, de inicio
temos efetivamente a Museografia, mera descrigao do fato museolégico
e soma de conhecimentos praticos servindo @ finalidade de montagem
de exposigdes e apresentacdo de objetos. Porém,, gradativamente, 4
medida que se desenvolvem os proprios museus, a Museografia vai se
constituindo em aspecto de uma ciéncia em construcao, a Museologia. E
esta se faz, cada vez mais, sistema de conhecimento, resultante de obser-
vacao e experimento com método prdprio, partindo para a formulacao
de leis e o reconhecimento do fato museolégico, definido em categorias —
e hierarquizado, 4 :
0h
i €a ciéncia do Museu e das suas relagGes com aS
Objet le; €, também, a ciéncia que estuda a relagdo entre o Homeme@ —
0, 010 Artefato, tendo o Museu como cenario desse relacionament®-
Coleire
iene 2
ee Constructo, a Museologia vai se libertando da
aegis Bator oe 3 le fendmenos, para considerar o fat
¢ torna inteligivel em
” e chegando a mais profunda tefle
Museu-Homem Sociedade’. ele
A ¥De inicio, ela se confunde com o surgimento e a evolucao dos organismos
museolégicose surge, pois, muito mais como uma Historia dos Museus, no
cantido de“Cronica”, de mera narracéo de eventos: actiagao, o surgimento
Ga ideia, a construgio ou adaptacdo de edificio, a estoria da colesao.
Mais tarde, entra-se na fase de “descricao”; das salas, do revestimento
eventual das paredes, dos suportes e vitrines e, a partir de algumas ex-
periéncias pioneiras, tenta-se firmar regras de técnicas de apresentacio,
expostas, entretanto, em tom pretensamente axiomatico.
Nasce, a seguir, a preocupacdo com a luz eas cores, com um sentido
quase “dramatico”.
Com 0 desenvolvimento da Quimica e da Fisica (principalmente, a
Otica ea Dinamica) e coma incorporacao de seus conhecimentos a apli-
cacao museografica, evolve-se da apresentacao estética para a adequada
conservacao e, ai, bifurca-se o caminho das indagagoes e o curador de
museu tem duas opcodes de filosofia e de trabalho: dar prioridade a con-
servacao das pecas ou a sua exposicao
Dai um novo questionamento que coloca em posigées antitéticas a
conservacio e a exposicao. Chega-se, finalmente, a posicao somatoria de
que uma adequada conservacao possibilita melhor exposicao ¢ que uma
exposicio adequada nao pode prescindir de boas técnicas de conservacio.
O profissional de museu (curador) passa, enfaticamente, a se denominar
conservador. E a esse conjunto de técnicas de conservacao € exposicao, so-
madoaohist6rico dos museus e das colecdes, denominou-se Museografia.
PARADIOM
E dentro desse contexto que surge, em 1882, a Escola do Louvre,
preocupada com as técnicas museograficas, porém calcada nitidamente
num embasamento de Historia da Arte e Estética, que constituem - ainda
__ hoje - 0 arcabouco de seu ensino.
Keorse:
Enesse contexto que, 50 anos mais tarde, sur, imei
esse cont , , surge a primeira escola
ate a, inicialmente chamada de “Curso de veers fruto do
; ee de Gustavo Barroso e por ele considerado como
a bh fonte de ensinamento e cultura, de devocao a histéria
es ne de formacao e aperfeicoamento de funcionariosF gertecricade Museus”, ministrada data
seyamente pratico", abarcava a "Py
no Restauracto; de Cronlogil
de erfldice, Band
ara, Induent
1s, Mec
Mota
quem vai ensaiar, js, uma distin
inir Museografia com
Ea
ae rapho e do 19gos, a0 defi
sto a7 jog muses”, € Museologia como
«se refere 205 Muses
fo dos Museus se engi
Psicologia e da Sociologia «0 adv
edo, a “Ciencia dos Museus” vai s
mento conceitual se liga um out
daelabor
jento, ena tentativa
useolégica, em
e¢ 0 aprofunda
aseolo
eg nl nee
do a tentar estabeles
¢, consequentemente, dos respect
Be
[meu ver, pouco significat
‘0s “momentos” dentro demficado a seu respeito,alem da suv preg
com a Biblioteca, sofreu trés incéndios, o ulema
98 de César), sabe-se que era um museu de preter,
rando retratar e sintetizar 0 universo a0 redor
‘pois, da Filosofia Antiga (para o qual igual
a igualmente
pada com a cosmovisdo e com a descoberta co
‘mantinha um vasto corpo de sibiose profesores,ocupadon
jexatasalém dos dominios ja explorades por Aristteles, Tetras,
Heron, de Alexandria, inventaaturbinaa vapor. primeiro
‘maquina vapor. Arquimedes fundava a Hidrosttia travis
ncontestaveis.?
resultado nio apenas do exquema cientic,
lg social (aristocratico), 0 Museu de Alexandria
centro de pesquisa e convivio ~ constituirse em uma
al do museum latino (com o qual, entretanto, nao tem
Unido entre arquivo (documenta), biblioteca e musey
{de dar a0 museu uma Cosmovisio, da qual ele seria um
@ do museui como centro de convivio, pesqu
“embora restrito a inteligencia da época, localizaca 1
tos estratos da aristocracia; ¢
{vel'e empirico da Universidade e do campus w
rarenascentista, apo:
ito quese segue é 0 da aber :
‘acatedral sintetiza
fermentacao do medievo,em que
1a Religiao ea Arte. Como nos diz Lu
ds bomen: Cap, §6 ("Petia de uns
Teg Fornc, da Erilopésgoenaseniclopédicos das igreas medievais, com seus are
oe Tramanacom final sobre-humano, foram sucedidos oy, o8cee
Fe earamentainl Des cms
pelaesposicto aeloile adiquirirtuma nova experioncia,c day ene node
se diferencia
evs nie eaursiana formato de wine nova discipina Histon da ne
‘Aeuforia dos noves mundos descobertos, o mercantiismo nascente,
gs novas concepcdes religiosas, toda a conjuntura, enfim, conduzem
‘a0 Antropocentrismo.
2. fuses Rouscomnene
(© Ufiizi serd 0 protétipo dese momento, chamando-se “Galeria”
po apenas por ser um mused! de arte mas porque a propria palavra
TMluapa! fieara proscrita do vocabulério, num tabu de maldicao, a partir
do infortinio alexandrino.
© Ufiizi, prototipo do museu da abertura renascentista, revela as
seguintes caracteristicas:
4) primeiros sintomas de um acervo seletivo e representativo;
) clara concepcdo do didlogo entre o Homeme a Arte, manifestacio
do seu espitito;
) primeiras tentativas de “especializacao”, pois o Museu de Arte
‘comeca a ser cogitado como algo diverso do Museu de Ciencia;
4) tenfativa deuma abertura mais popular, embora dentro das limitagoes
do contexto social que Ihe 6 contemporaneo. (Na verdade, essa “visita-
‘0 aberia a tocdos” restringe-se aos jovens artistas da época. Todavia,
para um modelo social aristocratico, iss6 representa uma abertura)
AEKGEHEN OS
Umterceiro momento ers representado pelo Romantismo, profunda
eee do Rea ‘humano. Com diferentes raizes ¢ dando ori-
luentes diversos mas dentro de um mesmo contexto, surgem os
dois prototipos desse momento: 0 Louvre e 0 Museu Britanico.
devon d° proceso gestatério desseterceiro momento, entretan,
: doused Pr dvd namaste aueiréculminar no surgimento
_ ticos de aquisigao dos Propileus?), organizados com padres
_ Tigorestético, Gabe-se,
% os oberaes espana due Rubensauxiiougrandemente
3 Noceawaseyntes | decoleta do seu
Her racio da gvilidade doa
‘Mas; indiscutivel
‘acervo, pontilhado pelo subjetivismo em termo:
a, individualmente
Memento umestudo de Diderot” que ¢0 primeira conhecido sobre
‘organiza
a inicial
B adedese atender inquietacdo as reivindicagbes da intelectualidace
xo programatica para museus, o Louvre, desde a abertura da
foo Palacio de Luxemburgo, em 1749, resulta ainda da nece
Ga epoea, numa fase que é também, de profundo romantismo politico
Dlenide reabilitaro termo “museu”, 0 Louvre assumira as seguinte
caracteristicas:
B) preccupacio com a organizacio de museus;
B) preocupacio cam a utilizacio social do museu, embo:
(com pretensdes nitidamente enciclopédicas e abrangente
Peetearacteristica de utlizacao social se toma ainda mais evidente ne
Museu Betinico, ummuseu resultante de doacdes individuais, ce aquisicos
Hela Coroa, equesers,em cariter efetivo,o primeino museu realmente pubic
IAlem disso, o Museu Britanico, diferentemente do Louvre, que
Tanterd preocupacdes predominantemente estéticas, ira voltar
Manticamente para a Antiguidade, mas a coleta de seu acervo resullara
Gieniffiea pela valorizacao da Arqueologia nascente. Assim, 0 ext
FomiAntico junfa-se ao cienfficismo que, vindo cesce 0 periocio da
Wes", itd manifestar-se novamente no Pos-Romantismo.
TEtesse periodo Romantico,¢ antecedendo ao nosso Romantica «
SP ResSoRomantismo Litersrio(, aids, aoRomantismo Literario Europes
Gute onos:0 primeiro museu, por ato do regente Dom Joo,
Mom Joao Vi, a 25 de maio de 1818, “a ser instalacio no Campo d
Ja Coro
j slitge o Museu Nacional de Arqueologia, no MexicoAuysaus Npwouts
4 Commowromucsoni
xem davida,em meio grande Revolucto Romania oxo
carat Smeamentone novos derivate, surges
emer cfonale regional, €- 20% POUucOS, Vase formando aida
utter aloe em eapsnzadon moreno egal
uses om pes ceoirtaados umerosos museusns tara
sae parenerinteanentecnesdeornane devising
1 ab,
Wuseus de
abe, entao, indagar se nao estaremos vivendo um quarto momenta
do processo gestatorio e conceitual museologico,
Nossa época tem-se
vada urbanizacio e pela industrializacd0 pronunciada, transformada
Tecjusive, em alavanca-mestra do desenvolvimento, entendido este
timo um processo estrutural gestaltico € sistemico, volitivo em nivel
fgvernamenta, impulsionador da substtuigto de modelos hisrco,
caracterizado pela modernizacio, pela acele
‘Ao fim do proceso Romantic (do qual, penso, nao saimos de todo,
ainda) je podem indicarnovas caracteristicas para os museus, saber
2) constituem um acervo predothinantemente nacional, mesmo
‘quando se trata de museus ecleticos;
b) constituem recintos “abertos” a populacao;
@) sdo, em sua maioria, érpfios mantidos pelos governos, ou com sua
france participagio, mesmo quando Tao Se constituem em orgs
ais;
4) oecletismo de alguns museus ndo tem, todavia, uma pretensio
predominantemente universalista;
¢) a seletividade da colecao é mais importante que a sua expressio
mumérica,
‘No periodo atual, que convencionaremos designar de industrializaci,
as organizacbes museoldgicas sofrem o impacto da“ especializacao” ine-
rentea esta fase de transicao de um para outro novo modelo histrico de
estrutura social. O museu das sociedades pré-industriais situa-se, como
todas as demais organizacoes, no nivel delas; indiferengado, sem init
estrtia ou mal estruturado,e vivendo exclusivamente de um acer
lo qual também quase nunca se tem uma visado sistémica.
Hej a preocupagdo de racionali i
“apseictene iidade operacional se reflete 4
rae nea ee ‘museus nao apenas quanto aos seus acervos, 2
‘estruturas” de suporte técnico e administrativ°.
Musologine musey"Segunda Revolucio Industrial”, que coincide
Mundial, mas cujos contornos se pressentem
H de 1914-1918, essas caracteristicas se tornam
dos museuis nos fornece uma visio estruturale uma
tnutunil, refletida na preocupacdo com as unidades
termos de organizacio burocratica, ou seja,racional,
que se traduz em duias preocupacdes diferentes: a
VO, projecilo para o futuro (mais nitida &
larnos museus de ciencia, mas que nao exclui e nao deve
HA.que se refere ao Aspecto Prospectivo dos Museus em
ilosofia ce trabalho ena acio de tais museus como agentes
‘muilaingas qualitativas nos varios niveis da sociedade
lo de tensbes, em que as nagdes e 0s povos atraves-
slog em tempos socioldgicos nitidamente desiguais
‘mais, se tem consciencia, numa época em que o
da vez mais solitario e alienado, e mais consciente de
Museu sero reintegrador,o elemento de compreen-
entendida esta como a fase inspiracional que
igjamento,atividade racional e racionalizante; a Utopia,
Hmuseu eo terreno das probabilidades, que vai
ente esta rejeicdo que faz dele uma criatura histérica,
da felicidade imaginada’
f
essa transcendéncia que ele 36 ira encontrar no
yma ciéncia que produziu, no artefato que logrou
n jo que deu aos objetos do munclo ao seu redor,
ficados pelo seu trabalho; esse registro ¢ esse trabalho
#8e nos museus, sob a forma de objetos ¢ artefatos,