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Apropriação Coleção Justaposição - Tadeu Chiarelli - Compressed

Tadeu Chiarelli

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APROPRIACAO|COLECAO|JUSTAPOSICAO™ Tadeu Chiarelli crador Os termos “apropriagéo”e “apropriacionismo” surgiram como indicatives de mals uma modalidade artistica no fim dos anos 70) ls sintetizavam a produgao de uma série de artistas que tentava, de alguma maneira - e por via sobretudo da fotografia -, dar conta ¢ explictar as modificacées que a proliferacdo das imagens veiculadas pelos melas de comunicacio de massa (equi ‘cluidas igualmente aquelas origingrias na historia da arte) causaram na sensibilidade contemporines. Embasando a producéo de artistas como Robert Longo, Richard Prince, Sharie Levine e avtios, estavam os textos de autores como Douglas Crimp, Thomas Lawson e Craig Owens, entre outros, que, recuparanda certas formulacdes de Walter Benjamin, ‘eavaliavam e atentavam para o papel que sobretudo a fotografia assumira no cempo da arte contemporsnea Entre outros aspectos, tals autores, além do chamarem a atencéo pare a presenca da imagem foiografica no cotdiano contemporaneo, Consideravam 0 caréter “opaco” ~ destituido de qualquer objetividade imediata = assumido pelo signa fotogréfico, quando apropriado e descontextualizado de seu ambiente de origem*. Por outro lado, o entranhamento radicat(e, de alguma maneia, definitiva) da imagem fotogréfica no campo das artes visuals ‘comtempordneas marcava o crescimento da importancia de outta maneira de encarar a arte € a vida, uma sensibildade ja muito istanciada daquela que teria frjado a modernidade, se uso Intenso que viris artistas comecaram a fazer da imagem Fotografca chamou a atengfo dos estudiosos para essa pritica ue - se assumiu outra natureza, ganhando foros definitivos de modalidade artistica autinoma nos anes 70 -, de maneira alguma, tera se orginado naquale perodo, A pratica da apropriagio de imagens fotogcficas, como se sabe, remonta dos trabalhos dos artistas dadatstas do inicio do século %X. Eles radicalizaram a experiéncia da colagem instituida pelos cubistas que, por sua vez, também nao debava de ser uma smanifestacio igualmente de apropriasio'. Também no conceite de reody made proposto pelo artista francés Marcel Duchamp estava implicita a nogio de apropriagio. E essa sun estratégie teria miltiplas consequéncias no campo da historia da arte, sobretudo apés a Segunda Guerra Mundial. Ela Tnfluenciou uma série de artistas, no mundo todo, que passou a utilzaro ready made como uma tstica atistice contra a sociedad 2 3 ate burguesas Tnplicita ou, pelo menos, muito proxima a pritica da apropriacdo estaria a prética do coleclanismo, que muitos artistas, durante ‘odo 0 século passado, riam usar como estatégia para desestruturar os conceitos da arte insttuda. Aproprar-se néo significa, em principio, aproprar-se de apenas um ou dois objetos ou imagens de uma mesma natuteza, ou com ‘oma ou varias caracteristicas comuns. Aproprar-se & matarsimbolicamente 0 objeto ou a imagem, € rtiri-los do flxo da vida -iele continuo devi, que vai da concepcdo/producdo até a destruigio/morte ~, colocando-0s lado a lado a outros objetos, com Antuitos 0s mais diversos. ‘Guando trezidos para o émbito de arte, as estratéglas de apropriagdo e de colecdo tendem a problematizar dois valores ainda ‘suito araigadas no senso comum, sobre @ arte e o objeto aitistico. Flas desestruturam a nocao de ate pautada nos conceitos de ‘Sriinalidade e de valoriacio do gesto crador do artista ~ nocies muito valorizadas, desde 0 inicio da modemidade. 0 artista "S05 se apropria de objetos e/ou imagens ¢ 0s coleciona, transformando essas atvidades em elementos estruturais de suas petticas, subvert, na base, aquelos concoltos romanticos de originalidade e de autorie. ‘Apesar do extremo interes que virios artistas, em vires partes do mundo, vim nutvindo sobre as préticas da apropriacao e do salecionism - incorporando-as e/ou tovnando-as consituivas de suas poéticas -, praticamente nada ainda foi escrito sobre 0 ‘2ssunto no Brasil. bjetive de Arrpriagees/Colegces, que 0 Santander Cultural apresenta ao piblico de Porto Alegre, & tracar um primelto mapa ‘essa praticas no ambito do cicuito artstico brasileiro, Levando em conta as transformacdes que as praticas da apropriaco Cersderactespretinineres sobre as potas da apropriagloe 2 arte base e colecionismo assumiram no terreno da arte durante todo o século passado, esta mostra pretende pontuar algumas das Beincipais contribuigGes nesse campo, cesde as primelras formulagbes da apropriacao de imagens ino Brasil no inicio do século WL até as proposigdes vecentissimas de apropriagdes e colegdes de objetos ¢/ou imagens, j8 nos primettes anos do século MXI Existe muito pouea documentagdo sobre o uso da fotografia por artistas e intelectusisbrasileios, entre o fim do século XIX ¢ 0 Inicio do século sequinte. 0 uso da fotografie por artistas e intelectual: do modernismo brasileiro também & um assunto que até hoje fol pouco estudado, Ne contexte moderista, as duas contibutgbes mals transtormadors sugidas no ambito da fotografia estdo ligadas 4 fotomontagem, Refro-me & producio do poeta Jorge de Lima, suas fotomontagens realizadas no fim dos anos 30, © Aquelas de Alberto da Veiga Geignard, do Fim da década sequinte, ambas presentes nesta exposicdo. Apos estas duas experiéncias, 0 que se conhece sia 35 fetemontagens de Athos Bulcdo, dos primeirs anos da década de 50, © que também integram esta masta Parece curioso 0 fato de as produgdes desses trés artistas serem fotomontagens de cunho surrealista ~ tendéncia aceita com iguma restricdo no ambito de madernismo, Uma anslise dessa questdo ajuderia a entender melhor no apenas a produgao desses ‘Es artistas ~ que formariam o primeiro “nécleo histérico” desta expesicao - mas, sobretudo, o catéter marginal que elas Ssumiram, tanto no quadro do modernismo quanto daguele das obras de cada um eles As procucies dos trés artistas se enquadram no campo da fotomontagem de derivacao surrealista, sbretudo aquelas concebidas = produzidas pelo artista alamo Nax Est ~ muito embora, no case d3 producdo de Guignard, os esquemas visuas ligados & jpespectiva tradicional (e usada com farga por test) nao sejam utilizados Niels, veremas a mesma inquietante procura de criacao de espacos onfrices, onde figuras estranhas se colocam como metéforas ‘© slegorias impossives de serem decodificadas objetivamente. a fotomontagem sem titulo, de Alberto da Veiga Guignard, no primeira plano, &dieit, percebem-se as velas de uma embercacko ‘909s 2 4gua, encimacias por um vestido de mulher em movimento. Nz parte esquerda, um engumelo formade por uma explosic e, + fundo, dominando a cena, um rosto de perfil, cujo olho esquerdo, aténito, domina a cena estranha. A reuniao de imagens ‘Exteemamente familiares nao garante, absolutamente, qualquer logic para o entendimento e o consume fmediato da obra: ela ‘Pece pulsar frente a nossos olnas, impermedvel, neganclo-so a qualquer interpretacdo que a decodifique em definitive. iss € 25 demais fotomontagens do artista esto vinculadas a sua produ pctéria, sobretudo aquela em que o agenciamento es planos nfo tende 2 obedecer a lagica tradicional da porspectiva renescentista, mas sim ao elemento plano do suporte Bictorico. As relacies da pintura de Guignard com suas fotomontagens ainda aguardem quem efetivamente se proponha a esvend-as' > lgamento do Tempo, de Jorge de Lima, vsualizase, 3 esquerda, uma coluna cuja verticaldade reafrmade, ¢ 20 mesmo ‘tempo subveitida, pela figura 20 fundo, & greta: uma mulher, com una langa sala e um casaco com as mangas quarmecidas de Pale. Da manga direita, sai um estranho aparelho de onde sobressai o rosto de uma mulher de cabeca para baixo, cujos cabelos [Gousam no sol. Tel instrumento, por sua vez, €ligado a um tubo conectado ao capacete de um escafendio, que faz as vezes de ‘Gbe—2 da mulher de caseco... 0 caréter ascensional da coluna, 20 mesmo tempo em que & reforcado pele figura de capacete, & Sebvertido pola mulher de cabelos longos, apontando para bai. 4 Totomontavens de Jorge de Lima sio muito préximas aquelas de Max Emst: cenas inslitas ocorrendo em espagos continucs, ‘Setados dentro dos rigores da representagao ~ repletos de indices onfrcos, povoados por seves mutantes, mistos de mulher & feaquina, mulher ¢ animal. Es Pecondacdes de Viagem ~ 0 Turista I, de Athos Bulcio, também & visivel a heranga surrealista; frente a ums suntuosa SSestueio, Upica da arquiteture ociéental, no primeio plano, &direita, una figura sobre um pedestal ~ com carpo ce mulher e fe masculino - observa algo que ocorre 2 sua esquerdo. Mais atré, na mesme direcdo, entie 0 edificio e a escultura, um Sezatedo de madeira com a palavra Inglesa snotes (cobras) gravada varias vezes € quardado por duas figuras mascutinas mas das do seculo iseculo 1, Keo que ate ntagen. a Velge ccita com Bo desses, que elas concebides lizatios & a a. ec id imagens obra: ela jamento io suporte rmuther € suntuosa lee mulher e Hermetica, opaca apesar da aparenteraturalidad com que as imagers povoam o espace da fotografia-undo -, tal fotomontagem impae-se como uma grande alegoria cuj significado parace em stem suspense. Como foi dito, a surveatisma e 2 fotomontagem foram muito marginalizedos durante © modeinismo brasleto. Se sureatstas foram o antropofagismo de Tarsla do Amaral, a primeira fase da producac de Cicera Dias, a obre de Ismael Nety e as primeicas pinturs brasileiras de Guignard, tals presencas n2o configuraram uma primazia dos influxos surealistas na cortente principal do modemismo brasileiro. Pelo contro: eles foram suplantados, soretudo na produggo daqueles ento considerades 0s principals Imodernistas (Candido Portnarie Emiliano Di Cavalcanti), por um realism sintético e idealizaco bem de acorda com o idedrio sgrandilogiente de uma arte bresilere engajada na vetratacao da paisagem humana do pats. fm busca de um imaginario de facil assmilacdo pela maior da populaglo - uma producio mats “democritica’, que descrevesse pecullaridades etnias e comportamentais do “povo brasileiro” a ate propugnada pelos modemistas vetava o uso de procedimentos ‘qe ousessem questionar os pardimetros de uma arte pautada no nacioralisma e nas técnica artisticas conveneionais, Assim, os ‘nflunos desestruturagoves da estética surelist, a apropriago, 0 uso de imagens ou de cbjetos j8 prontos para a producdo de obras estavam banidos do horizonte modemista". Aposar de Murilo Mendes, em seu texto sobre as fotomontagens de Jorge de Lima, ter se refeido ao caréter democratico (€ revolucionario) daquels técnica’, apenas a partir dos anos 60 € que os artistas baslleites rassaram @ se utilizar com mais ‘ntensidade da apropriagio de imagens e/eu objetos para a producdo de suas obras, Nos anos 70, o artista e designer Alosio Magalies explorou o carater democratico da pratice da fotomontagem. E tal exploracio acorreu por meio de um tipo especial de fotomontagem concebido palo artista, seus cartemas, representados nesta mostra por ‘importantes exemplares do acervo do Museu de Arte Moulerna Aloisio Magalndes, de Recife, ‘Ao contrério das fotomontagens surrealist, dads e/ou construtivstes®, os cartemas foram concebidos para serem produzides @ pattir da apropriagio de cartdes-postals infustiaizados e vendidos, no Brasil, em bancas de jomats e revstas. 0 interessado, sdqirindo de uma sb vee (ou juntando aos poueos) ura quantidade razoavel de cartdes-posteis (que podiam ser de uma tniea ou e varias imagens ciferentes),devera clé-os num suportebldimensional.estabelecendo relactes de contgidade entre os mesmos, Diferentemente das outras fotomontagens, na producio dos cartemas nio estavam previstoso recorte das cenase/ou a introduc de pedagos de uma imagem recortada e colada sobre outra. A iéia era abedecer a0 caréter modular do cartdo-posta original ~ ‘que assumiu aquelas dimensées-padréo seguindo uma légica industrial - apenas jogando com a justaposigao e a inversio alternada dos mesmos. A partir de obediéncia a estas rearas basicas, ¢ executor do proposta crave, sobre o suporte escolhide (uma folha ce papel sesistente, de preferéncia), um jogo de texturas visuais que acabava por subverter a suposta objetividade @ o reallsmo éa(s) image(s) dos cardes, utilizzdos coma matrzes para 3 execucio do trabalho. Sendo assim, por meio de apropriagéo, da coleydo e da mantpulacao de imagens j8 prontas e produzidas para o consumo afrmativo de conas estereotipadas das grandes cidaces ou de tipos humanos ~ forjadas para colaborarem na legitimagao da struturas do poder estabelecido -, qualquer cidadao {independentemente de sua formago cultural) tomava-se capac de produzir lum novo universo imagético, aberto a indmeras possibilidades de interpretacdo, Entre os anos 60 ¢ 70 - provavelmente influenciad pelos influnos e desdabramentos da arte no objetual internacional -, 0 circuito artistco brasisiro vu surgi, além de Alcisio Magathaes, varios artistes que igualmente incorpoteram a suas paétices imagens ‘eiculadas industielmente por melo de cartaes-postats. Dentre eles, esta mostte apresenta Farnese de Andrade que, em algumas de ‘5u2s formas cradas a partir de objetosaprogriades e combinados entre si, usou essas imagens veiculadas em grande quantdade! Em Armia de Zndio, por exemple - obra pertencente ao Museu de Arte Moderna de Sio Paulo, 0 cartfo-postal colado sabre a parte ‘terior da porta do mével popular por ele apropriad (fotografia que representa a imagem de um grupo de mulheras indiganas ‘ebalhando) direciona toda a potencialidade signifcativa da obra, uma vez que ele € 0 préprio ceme do trabalho. 1 bre de Farnese de Andrade permaneceu durante anos em incémoda suspensio, Alheia as transformaces @ a consegiente Superacso das vertentes construtivas da arte brasileira do pés-querrae ‘ndiferente as vertentes que tentevem tazer para o Aambito das artes visuals a experiéncia de vida nas grandes metrépoles do pais, a obva de Famese buscou falar de uma espécie de “substiato local”, de um “inconsciente brasileiro" que, de alguma maneira, negava, ou colocava em diva, a positividade © a “nsia de transformacdo presente naquelas outas vertentes, Resultado: suas assemblages ecaixas, ambiguas e amarcas formulagBes sobre um Brasil arcaico e avtoritério ~ cefatério a mudangas de qualquer orcem -, permaneceram em silencio provocatva, ‘evocando certas caracteristicas de nossa cultura que uma parte do circuito de arte brasleito no quis e nao que’ encarar. Apropriar-se de objetos e coleciond-los, pode-se dizer, foram, durante muitos anos, as bases de cua poética. 0 critice Olivo Tavares de Araijo veafirma esse aspecto fundamental da obra de Andrade, a0 descrever a genese desses suas praticas: “Desde os anos 60, na verdade, ele tinha, por habito,recolherdetritos atiradas as prais pelas Sguas ¢ utiizava elgumas chapas de madeira assim obtidas como matrizes para impressao, Ajuntave assim, também, um bricabraque estranhissimo: bonecos Aestrogados e cobertos de crecas, restos de esqueletos de pequerias animals, vagetacdes e formas de vida marinha ealeiBcadas, ® assim por diate. Sem grande intencionaidade, @ primeira montagem surgiu em um dia de 1963", Aquela que parecia ser uma prética sem maior importancia, como pode cer vito, foi 30s pouccs gankando priordade dentro da rotina do artista, até que desse “ricebraque estranhissimo” surasse 0 primal resultado formal dessa atividade iiciada 2 partir {de um mero habit... Descrito 0 intio dessas préticas de aproprar-se e colacianat, Tavares de Araujo aponta onde Famese ia buscar © arsenal de objetos para o desenvolvimento de seus trabalhos: “Desde que eomesou a trabalhar com objetos, Famese nunca produziu os elementos fgurativos de que se serve: ao modela, nfo esculpe, embora, eventualmente, poss reelaborer um pouco certs formas naturas... eu ponto de partida 6 o de ume espécie de Aarque6logo do presente, ou do passado recente, que exuma um insdlito € riquissimo acervo. As praias ¢ ao Lixo marinho se Somaram, com 9 cover dos encs,vérios outros fornecedares' demolighe, colegdes de exyotos, antiques. até uma incrvel ‘olecdo do fotagrafias antigas herdadas de um tio que foi, em sua Epoca, o mais juste fotdigrafa da regiao™ 0 que era um habito, ume ativicade tipica do solitéria que passeia pela praia e apanha uma.concha equi, um pequeno objeto destrogado al... vei aos pouces se tomando uma pratica cada vez mals essencll na vida do artista, ue, coma foi visto, necesita ‘expandir 0 namero de lugares onde possa continua a recolher seus abjetas, mantendo essa estan relacdc com o mundo, € ainda ‘© mesmo critico quem narra com precisSo sensibilidade o processo de fatura das cabas e assemblages de Farnese de Andrade: “Durante longo tempo, és vezes muitos anos (.., Farnese vai, lentamente, germinando cada peca. Tabalha e retrabatha od infinitum, cria nicieos de assemblages que so perrutam, até que um dia a obra se revele em sua inteieza (e iso, para ele, @ uma espécie de descoberta).Famese deixa que as formas convivam entre si, decide tudo muito intuitivamente, por ert e zceto, por justaposicio, por comparacdo ~ com e pelo alho™ Avropriar,colecionar,justapor...Atvidades cotidianas, aparentemente to simples, genham transcendéncta insuspetta quando percebidas como as estruturas da obra desse inséto colecionador chamado Farnese de Andrade, Nelson Leimer, surgido no ambiente artstio paulistano no fim dos anos 50, desenvolvepraticemente toda a sua obra a partir des dois prncipios que estruturam esta exposicao: apropriagdo e colegda, Desde suas combining paintings, do inicio dos ancs 6D! — ‘onde reunia, num mesmo superte, o resultado de uma pintura gestual,reaizada com tinta automotiva, com a superficie plana de uma fotografia 0 artista tende a trabalhar por meio da apropriagio de abjetos e/ou imagens 8 prontos. Retirados do fluxo geral da vida (para onde caminhariam inexoravelmente rumo 8 destrulcia), Lefmer os acumula, os guarda, Fessado algum tempo, elo retira aqueles mesmos objetos e/ou imagens da letarga ou do estado de suspensio onde os dexara, 0s coleca de novo na vida, No entanto, apesar de Leimer tirar e devolver aquilo que havia se apropriado, sua devolugio nfo ocorr, em primcive lugar, no ‘mesmo ambiente neutrelizado pela banelidade do cotidiano, mas sim num local sacialmente aceito como hospedeiro de objctos fxpeciais © ravos: museus, galerias e centros cultures. For outro lado, quand esse objeto ressurge nesses espaces, ele vem rearticulado com outro, e outio, ¢ out Nelson Leimes, portanto (e coma Fammese de Andrade © os demais artistas aqui apresentados até agora), trabalha com os Conceitos de apropriagdo e colegéo mas, igualimente, com aqueles de destocamento, Desiocamento ce materia e ceslacamento de sentido também, incrivel objeto necesita quando pattir dos a Foren, as identidades entre Leimer e os artistas aqui citados parecem cemegar a terminar por aqui. Ele, 20 contrévio daqueles, ‘= ver de sempre tender a crar um objeto Gnico a partir da untao de varios, ou de varias imagens, volta-seiqualmente pare @ Sales justaposic2o de objetos em espacos determinadas". Essa axtratégia tio “simples normalmente causa uma intensificagio & estranhamento no pablico: parece que ali nio houve nenum trabalho fdeativo nem operacional de porte... Ese tipo de ‘Ssposicdo,tHo comum nas intervencdes de Leimer, parece dizer que qualquer um poder‘a produzita... nda mais se atentarmos aie 0 ato de que os cbjetos por ele colecionatas e dispastos normalmente por meio da simples justapesigio ndo foram produzidos por ele nam softeram sua intervengie manual direta O artista apropria-se de objets, coloca-os no chi, ou sobre dispositivas arquitetonicos, sem nenhum segreda de composiclo. E como se tudo i850 ndo fossesuficiente para intrigaro espectador, esses objetos realhidos, guatdados e mostrados por Leitner 2 mancira tao simples, tio pouco “atistica’ sio produzidos em larga escalaindustelal e ~ por sefem destinados 8 massa da ‘epulacto brasileira (mas nao apenas) ~ ferem nossos olhos, ansiosos por formas palatave's de bom gost. Sho trabathos de arte, esses que Nelson Leimer produz? Sem divide, se comparades 8s formulacées pictorces do séeulo XIX, € ‘mesmo a algumas manifestasoes da pintura eda escultura do sécul WX ~ onde eanceitos de belez e harmonia ¢/ou de eriginalidade © raridade eram fundamentais ~, com certeza ndo sdo. No entanto, suas produges ~ como as de todos os artistas presentes em Aproprigbes/Colegées ~ trefeqem na. cena atistica por essa vertente que ganha seu inoressejustamente no deslocamento ou na suspensdo de sentiéos que a: objetos assumem quando transferidos Fisicamente (e serio justamente ai onde estaria quardado © rau ce “atisticidade” que os un). Lsimer, ao contririo de Guignard, Bulcao, Lina, Magalhdes e Farnese de Andrade, apenas racicalize as potencialidades desse tipo de deslocamento, usando objetos e/ou imagens que absolutamente nada tem a ver com o universo das “belas-artes’ Em sua intervengéo no espaco erquitetinico do Santander Cultural, o artista aceitou apropriar-sa dos antigos balcdes de marmore (que crcundam a parte central do téreo do edifcio, onde uncionava uma agéncia banca, Essesbalcbes sinuosamente delimitavam ¢ assim insttuiam, de maneira sui, os espacos de circulago de piblico e o espaco de ciculacio dos antigas empregados da agéncia bancéria, Em estabelecinentos dese tipo, o que impera € 0 fluxo de pessoas como o melhor sintom do fluxo do capital Para esse lugar ~ 0 balcdo do banco ~, onde a troca de méos do capital estabelaceu um curso, uma transtoriedade infinite (metafora de nossa sociedade), Nelson Leimer props um corsa, o fuxo, 0 fret. Observando esses objetos apropriados, colecionados e justapostos pelo artista, 0 espectador atento veré que aquela série de brinquedos © objetos ornamentais pode signiticar muito mais do que simples bringuedas e objetos deceratvos. ‘Acstratigia da justaposigao pur e simples de objetospreexistentes, radicalizada por Nelson Leimer, ganharé outos desdobramentos @ possibilidades nos demais trabalhos apresentados nesta mostra. {im Protegei as Feras e us Ciiangas ~ obra pertencente 20 Museu de Arte Mogerna de Sto Paulo -, @ reprodugdo de uma imagem sacra (de gosto popular com produeéo em massa), retratando um anje protegenda uma garotinha prestes a cuzar um racho de aguas revoltas, Alfredo Wicolaiewsky justapds a reprodugio de um stil de filme, onde Frankenstein se dirge a outre garotinha, e ambos estao na frente de um ric ou lago. Essas imagens de origens tao distintas aparentemente no possuem nada am comum: a primeita & 3 reproducio de ume imagem de devocio, 2 segunda, a reproducao de uma imagem de filme B, americano: a primera mostra um anjo que protege uma crianca, ‘8 sequnds, um monstro que, de maneira ambgua, aproxima-se de uma garata..Noentanto, a0 vermos as duas imagens justapostas pelo arbitrio co artista, passamos @ tracar todos os paralelos possiveis entre elas, com @ ‘ntulto de chagarmos a uma suposta signlficagdo, implicite raquelas imagens emparelhadas, No entanto, por mais que notemos seus pontos de contato ~ a presence de erangas em perigo, a presenga da agua, a presenca de adultos ete. ~, 0 signficado que supestamente justifcaria aguela justaposiedo parece Ficar além de uma légica plausive,tigada a0 senso comum. Frente & obra, frente aqueles varios sigificantes que 2 compSem, observa-se uma transiteriedadeininterrupta de sentidos possiveis, cuja raza de ser parece localizarse, justamento, nesse fluxo capaz de tiansformar em pura opacidade aqueles signficantes antes Intaligivels e faclmente decodificaves. 2 Grande parte da producdo de Alfedo Nicolaiewsky inscreve-se dentro dessa ttica de apropriacdo/justaposicio de imagens. No Inicio de sua carrera - nos anos 60 -, ele as reproduria por meio do desenho e da aquarela, em obras de forte acento critico & exdtico, Apés um perfodo mais dedicado & pintura,o artista volta a valer-se da apropriagzo, agora alargando seu universo de colecionader:constitai obras compostas de objetos justapostos os mais variados, como pinturas, embalagens, pratos etc. Sao obras irdnicas, onde Nicolaiewsky propbe comentérios mordazes sobre a arte e suas rlagSes com a historia da ate e o catidiane'™, As obras que presenta nesta mostra do conta de sua produclo dos dtimas anos da década passada, quando 0 carster probxo da fase anterior dé ugar uma atitude mais fia frente ao proprio tabalho,preerinda ptr pelo uso de imagers processades pelo computador Desde os anos 80, Rosingela Rennd vem coletanda imagens fotagrificas e também todos outros elementos cue constituiriam uma “cultura material/imaterial’, criada desde o advento da fotografia, em meades do sécula XIX: porta-ratrates, passe-partout de Fotografias convencionais, molduras de diapesitives,dlbune de fotografia, legendae de fates publicadss em jones e evistas ete. [Um arguive e um museu, ou um arquive/museu ce onde a artista retira © material necessavio para a produgio das propre fotogratias, instlagaes, objetos, videos et Uma fotografa que nao fotografa, Rennd vem desenvolvendo sua obra partir justamente, da reartculago de imagens e objetos desse arquivo/museu, nos qusis realizasut's ou contundentesintereréncias, salientando certes aspectos antes pouce visveis ou criando significados para seus achados a partir da vedaedo ou anulacéo total au parcial da imagem apropriada, Em Aproproctes/Colertes, a artista esta representada por ses fotagratas de sua Série Vermetha: aU, seis antigas Fotografias de homens © meninos trajando uniformes militares, em poses hiedtica, esto quase totalmente anuladas pela cor vermelha que Renn a elas acrescentou no pracesso de ampliagdo das imagens. A distancia, aquelas obras sdo como sels retangulos vermelhos, monocromatices. Ao nos aproximarmes, no entanto, & possivel vislumbrar aos pouces as fmagens fantasmaticas daqueles fomens e criancas petcidos no tempo @ na cor, que parece querar tuagéclos em definitive. Na culture brasileira recente, a imagem do militar ~ ou de adultos e joven vestidas com unifrmes militares ~ canhou conotagées muito negativas, devido & traumatica experiencia cue foi a ditadura militar que, mesmo terminada, nos anos 89, ainda est& presente em parte signficativa da populacao. Nesse sentido, a possibilidade de estar & frente de imagers fotogaficas bastante ampliadas de militares ou de pessoas vestdas como tal, em si mesma, nao ¢ uma experléncia das mals agradaveis Por outro lado, 2 cor vermelha possiilita uma série de associacdes simbélicas muito interessantes ¢ conflitantes ente si: la pode simbolizar tragédia (0 que estaria muito de acordo com as imagens dos militares), mas também amor, sexo, a suposta, atureze mais recndita da muther, € mesma tadas as vertentes polticas de esquerda ‘Ao nos eolocarmes frnte aquelas grandes Fotografias de militares cheios de imponéncia,filtrados pelo vermelho, percebe-se, de ovo, 2 mesma sensacio ja descrta ao comentar 2 obra de Alredo Nicolaiewskytrefro-me 3 transtoriedade de sigificades, ou a0 Fluxo dos mesmas, entre cada imagem @ 0 vermelho @ entre todas as imagens justapostas com pequenas intewalas, Se um dia represertaram pessoas, individuos determinados, com biografias particulaes, hoje aquelas Imagens comportam-se como ‘cones muses, exalando possibildades de significado que munca se completam por inteto, engejando irremediavelmente 0 espectador na ingléria taefa de decifr-is. rata de apropriagdes e colegdes @ tatar de arquivos, de museus ~ instituigSes humanas sempre em mutacéo, em ampliagée, € cca ramaticidade maior & nunca se complotavem um dia. E nesse contexto cue se enguadra o projeto Fotografia Rejetod, estabelecido por Mario Ramo e Adriana off, com parte apcetentada nesta mostra, s dois atstas coletam fotosrfias © negativos de filmes encontrades perdides ou jogados fora nas ruas des cidedes, Tal coleso, ‘niciaga por Ramiro ainda no periodo em que viveu na Alemanha, prossegue com a participagio de Adriana Boff e, is primers imagens de ambiencia alemd, agora vim sendo agregadas imagens de canas braslerat as mats varndas, Grande parte das fotos coletadas pelos dois artists € de retratos amadores de grupos de individuos. Nessas fotos, as pessoas aparecem comemorande rituais muito tipicos no mundo ecidental: aniversdrios, casamentos,batiados, viagens etc Nesse acuiva, também sio encontrados retratos indviduais, alguns deles rasgados.. sk ela colecio, prineiras pessoas arquve, > ee No verdade, por terem sido achadss nas ruas, essa imagens, quando recuperadas pelos artistas, vém canegadas de interferéncias {que denunciam com clareza 0 fato de terem sido, de alcum modo, rejeitadas elas apesentam escoriagBes, rasgos, manchas ete Nesse processo de recuperacao, cabera aos artistas, em alguns casos, restaurar o estégio original da foto, na medida das possibilidades apresentades™; em outros, eles revelardo/ampllarSo a cena retratada: mas, na matoria, buscardo deixar as fotos como as encortraram. Na verdade, toda a atragao do trabalho desses artistas com o interessantissimo arquivo que vém formando gana seu ponto mais alto nas relagbes quo estabelacem entre as fotos encontradas e of espages onde elas séo exibidas. Quando parte desse arquivo foi apresentada recentemente na Usina do Gasbmetro, em Porto Alegre, 2 disposicéo das imagens soltarias, em pares ou em pequenos grupos pelas paredes daqueleedficio, chamava a atengdo para 2s peculiaridades daquele lugar, fazendo com que as imagens e o espaca de exposicdo interaglssem, um contaminando 0 outro. 34 em Aprapriacbes/Cotecoes, 0 segmento do imagens apresentacas, por ter sido cisposto em tiés pains em forma de “U" — perfeitamente dentro dos padroes de uma museografia de viés modernista ~, acabou ganhando uma autonomia maior, fazendo com que o piblico atentasse para as velacdes improvavets entre as fotos apresentadas, e mesmo para certas qualidades plistcas fe algumas das imagens, conseguidas a partir das escorlagbes que sofreram. Reunida numa Wciea que, de alguma maneir, coments a ordem estabelecida pelos painéis da exposigdo, aquela amostra do Projeto de Mario Ramiro © Adriana Golf atesta como os procedimentos de apropriaclo e deslocamento podem atingir a condigdo de transcender pooticamente o referente som, no entanto, necessariamente, alcancar um Gnico e l6gico significado, Como toda cobra poética, a strie Fotagrafia Rejeitoda, antes de indicar um significado preciso, preferesugeri, ustamente,aquele transito de visas possiblidades de signficagzo, num otamo pulsar frente a nossos athos Fabiana Rossarola desenvolve uma intrigante operago: apropria-se de fotos banals, amadoras, que representam seus amigos mais proximos (e que poderiam ter se perdido em qualquer rus, para seem encontradas por Mario Ramiro e Adviana Boff.... De posse dessas imagens, ela comeca a processilas por meio de fotocopiadaras coleridas, ampliand-as, até que atinjam (e/ou ultapassem) 0 tamanho natural dos retratados, Na seoiéncia, a artista tansfeve essas imagens para o tecido que, ap0s ser recortado - assumindo a forma do retratado -, & estofado com fibrasintéties CO interesse do trabalho esta, justamente, no resultado de todo esse procesco que, Fnaizade, como que reintegra a0 campo do real as imagens que, apts tarem sido fotografadas,existiam apenas no Smbito da virtuaidede bidimensional da fotografia. Em expressdes ligadas 8 “cultura material/imaterial” da fotografia ~ tais como “tirat seu retrato”,“eaptar sua imagem” e muitas Dutras ~, estd implicta » agéo do roubo, da apropriagio. Fotografar & trar de alquém au de alge alguma coisa, € apropriar-se desse algo: transformar 0 presente fugidio em passado estitic, o objetive em alegérco, & transformar a vida em morte Nesse sentido, a transformagdo que Fabiana Rossarola produz nas imagens que retratam as pesscas de sua relacio parece fracerber as caraceristicas mais mérbidas da fotografia. Por melo do procedimento descrito anteriormente, a artista reitera 0 catéter de profunda cristalizacao pelo qual passam as imagens quando fotogratadas. Fotografar seus amigos, transfer a imagem resultante pare 0 tecido e depois transforma-lo em objeto tridimensional, ao inves de negar a eristalizagdo a que a fotografia submete tudo o que capture, intensificaa ainda mals: seus objetas parecem parantesirsnieos daqueles tracicionais bonecos de cera que, simulando & vide, reiteram a morte, Caso sejajustaposta essa relagdo estranha de Fabiana Rossarola com a fotografia 8 prtica do colecionismo, seré visto, entdo, 0 ‘quanto sua produgao amplis 0 universo de questionamentos suscitados por esta mostra: a pritica de colecionar (por retirar os bjetos do fluxo natural da exstincia rumo & destrucio) é ~ como a fotegrfia - uma antecipsgio, ou uma alegoria de morte, Esse arquivo de imagens tridimensionais proposto pela artista, em vee de tornar visivel uma afetividade adoravel, envolvendo todo o rol de amizades que a cerca, perversamente manifesta um cariter morbida efetichista que sé aumenta as potencialidades poéticas de seu trabalho, Nesse rol de colectes bizaras que povoam a mostra Apropriagées/Colegdes, destca-se aquelarepresentada pelos dioramas © Bequenas pinturas produridas por Walmar Cora, Num prmito othr, eses trabelhos do artista gaicho pouco ou nada parece trazer de inustado, Pele contac: tipcaspintuas naturaistas dedicadas fauna, de inicio, o Unico fato a estranhar€ asses tabathos aparentemente de cunho ddateo (parecendo terem sido feito par velhas aula de boieja)estarem numa exposigao de arte contemporénea. No entanto, quando nes postamos frente esse imagens metcuiosamentepintadas, vamos percebendo 20s poucos que ali no se tata exatamente de representacdes naturatistas de animals que povoam o cotidiano das matas do pais. Na seqléncia, prredbemos também que, de fat, a verade supostamenteinerente 8 estéicanaturalistando passe de um mito paiva de et 4questonado por um talento mats perverse. Como se tivesse deixado se impregnar pelo esprto de um artista viafante europeu ou americano do século XIX ~ tornado completamente Louca frente a exuberncia © 2 esplendor da natweza baslia =, Walmor 8. Comes pinta sere totalmente improvavels, muito enbora possuam uma femiaridade tomada hora Hibridos de mamiferos ¢insetos, passers epeises, mamiferaé¢ aves, mamifeoso pebes, esses sre cridos per alm B. Comes falam de um mundo fantisticn, representa a tacderma de uma fauna fentstica que pertubam nosia percep, sobretudo pela fatw de que, na etulidade, eles ndo se apresentarem mais como merasalucinagées aisticas, mas como possibilidades cientics. Nao gratuitamente dividindo o panel com as crstlizagdes de sere cAndide« pervesamente proposts por Fabiana Rosso, «ss arquive de avimais metamorfoseados e reresentados nas pnturas de Nalmor B. Correa desafia nasa cence na vedade da esttica do natural, embora, como foi dito, sinalize para uma natueza transformada em puro ariicio e artitreriedade, Muito de Quem passer por cima ver... - intervencta de Vieginia de Medeiros no espaco do Santander Cultural também esta ligado a relacoes muito proximas ante colecionismo e marte. A artista ver juntand, fer slgum tempo, fotograis pblicadas em revistasespecalstas em elataro cotilanoolamouriado de Decsonaliéadeseelerades pelos meios de comunicagdo de mass, sobetudo em uma coluna determinada da revista Cos, onde 20 apresentadas fotos de cara inteiro deaies,cantras, mulheres da soledade e aspirants. © que desde 9 inicio chamou a atengdo de Vigna de Nedeiros foi que, em sua maior, as mulheres ~ de diferentes iades, profess esttus ~ posavam de uma determinada manera: am sorso crstalizado nos bios, uma das pernas ligeiramente colocada & frente do corpo, es méos segurande uma bosae os bragasenvoltos num sale cu estla. Emldurendo esa pose, grande parte delas posava com vestses longos, usava jase esta com os cabelos cuidadosamente penteados. A artista, ineressada om identfcar e problematzar os estereétipos db imagem da mulher no campo socal, num segundo momento comparou esas fotos com ouras de seu antigo arquivo pessoal, replete de retratos once ela mesma aporeca em poses ruta semethantes aquelas da revista. Cram fotos de uma época em que ~ 20 construe sua personaldadepsicossocal~ Vigna ‘tentava constituit-se como mulher, 2 partir dos esterebtipos femininosestabeecidas pela sociedade de massa, Conscionte dessa relago intrnseca entre svas fotos pessoais © aquelas de inimeras mulneres, a artista desenvolveu una éstiategia para, pelo menos simbolicamente, dest os esquemas predeterminadcs socilmente para a constituigo desse mito da feminiiade pautado na pura superfiaade. ‘A antsta, ap6s ampliar essa imagens por meio de ftocSpias em pretoe-branco, secona cada uma dees, enatzando algunas partes das fotos: aquelas que representam o rstocrstalizado num sorriz, os pulsos com pulses e/oureléciose os mos com andis, sequando a bola sobre o vestdo, os pés adomnades com sandslias ou sapatossofisticados, um normalmente Vrado para a cette 0 outro para ftente {sas partes, or sua vez sao tansferdas par aot de cimento que, apésreceberem as imagens, io intaladas no chlo. Nesse rocesso de instalag, a atista, no ato de supostamente recnstitulr as imagens secionada, vai misturando as pares das diversas ftogrfies, demonstrando cabelmente 0 quanto aquelas imagens, artes de apresenterem indivduaidades, mostram dervardes de um mesmo conceit estraificado de mulher. Dispostas no chio, tomando toda a extensdo do espago dedicada a0 fuxo do piblico, a artista assim obriga 0 vistante a caminhar sobre sua itervengdo. Ao fezb, a laotastendem a trincare quebar, a9 mesmo tempo em qué as imagens impressas ' Rossarola, as mios vestidos segundo fem poses = Virginia tendem a perder cada ver mais a nitidez. Com o tempo, destuido o trabalho, ele se transforma quase num ritual de mocte simbolica de um estereétipo de mulher que, durente décadas, vem sendo refargado pelas imagens copiosamente divulgadas pelos mmeias de comunicacia de massa Dentro desse contexto de trabathos que necessitam fundementalmente da presenga do espectacor para que possam ocorte, loncontiase a instalaca0 Conedor, de Elida Tesser. A artista, faz muito tempo, esta voltada para a exploragdo postica, atstica, do ato de eolecionar, No entanto, a origem primeira esse trabalho nio esta propriamente no objetivo de conceber uma colegsa determinads, mas, sim, de propor una aleyoria de perda e da dor da perda. carrer proposto pela artista repete com Fidelidade absolutaaexata medida do corredor que separava a porta de seu apartamento lle porta do apartament de seu av, j flecida.Tragado pela morte o parente, vagado pela vida o corredor que os separava € 0s unia, 2 artista como que trensferiu para o espaco da arte aquele Lugar at& entZo viva e Wansposto ainda apenas em e por sua emia Devido & perds, aquele espaco de separacdo traz na prépria denominacdo em lingua portuguesa o fluxo dos sentimentos da artista: onde antes flufa 0 impeto do encontro e do afeto ~ coredor -,agera flui a dor. Exata percepcBo teve a artista: ao perder alguém muito préxima, notamos que tudo a nossa volta permanece igual, s6 que, ae mesmo tempo, tudo parece mudado... Aguilo ue sempre foi banal, “rvisivel” (como as possibilidades poeticas de uma simples palavra ~ cortedor), ganha uma dimensio até nto improvavel A partir dessa percepcio cheia de urgéncia, que entende que num corredor pode corre a dor, 2 artista, entio, propde um novo ‘po de colecionismo: juntar nesse corredar todos os objetos banals do cetdiano ~ das mas variadas origens, dos mais diferentes materais, visando as mats diferentes funSes -, mas possuidores de algo que os une icremediavelmente na cultura de origem portuguesa: todos, indiscriminadamente, tem seus nomes marcades pelo sufxo dor E, como se isso nao bastasse, nio cabia - segundo a légica paética da artista ~ apenas ir se apropriando desses objetos de repente tomados tho especias. Era necessirio integra a esse processo outra figura, o doador. Assim, eada conhiecido de Elida Tessler— um dosder em potenciat-, quando solicitado, enviou ou entregou artista um objeta terminado em do, sem saber © que seria feito dele, Babador/coador/berbeado:/aspirador/abridor/desentupidor/defunador/ventilador/computadot/arampeatir. Na instalacao da artista, o ato de oltar esté iremediavelmente conectado ao ato de compreender o significado daquela reuniae de objeto, a partir de seus significantes em portugués. Ou seja: 0 corredor e todos aquels objetos ali reunidos tomam-se representagoes de si mesmos, alegorias da dor Comeder, de Elida Tessler,atesta com clareza como as artes visuas, na atuaidade, quando despidas da necessidade de, a todo momento, explictar suas especficidades, podem agora adentrar em outros universos - nos meandos da narrativa, no teritério zs palavras, por exemplo ~ sem perder sua particular consciéncia de tempo e espaco. Em Recepticulos da Meméria, de Paulo Gaiad, as pessoas igualmente so convidadas a participar de sua estruturegao. Ainda mais do que ra instalacBo de Elica Tessler, elas so, nesse caso, a propria razio da existéncia do trabalho, Gaiad solicita 4s pessoas — por meio de contatos pessoais, e-mails etc. ~ que the enviem qualquer tipo de objeto capaz de Sintetizar momentos expeciais de suas vidas, sobretudo aqueles ocorridos durante a inflncia de cada um. Objetos que ainds mantém alguma significacae para seus proprietrios orginais porque foram impregnados de um sentido inexistente no in hoje eles sfo os depositivios de uma afetividade que simboliza © tempo passado de forma inexorivel e, por isso, totalmente ‘deaizado, Recebidos esses objetos caregadus de simbologie, o artista os reinterpreta, reiterando sentidos neles conticos e/ou conferindo novos signifcados a eles. Tas procedinientos ocorrem quando Gaiad coloca esses objetos em catves de metel.egregando a eles outros objetos e materia civerses. 23 Nessascaixas, acontece 0 encontro de duas afetividades: 3 do proprietria primero do cbjeto, que projetou naquela coisa inerte uma série de deseos,frustragées e sentimentos, e aquelz do prOarie artista que, an ordenar o objeto recebida dentro da caika - tecceito lugar, optou-se por concentiar a exposicio onde, no inicio das atividades exercidas naquele edifcio, ram guardades [S tesouros do banco (inheiro, titulos, agdes et.), antes de serem intercambiados com a clientela ‘Ovisitante interessado em percorrer Apropriagbes/Coleces sera obrigado a adzntrar ao outro Lado dos balcées de marmore, onde antes ocoriam as tansagdes, crculando agora com total liberdade pelos tesautas formados pelas colecoes dos artistas. 3, preferencialmente REFERENCIAS B1BLIOGRAFICAS ADES, 0, Photomonteg. Londres: Thames and Hudson, 1096, ARAUDO, 0.7. 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Salvo engano, 0 que 8 se oroguaa seb @ asunto esteve sempre ‘enone a ptcio dum cute aris, Fata estos que fore ina sanordica sobre 2 questo no Bras * Para mats considerate sobre a5 fotomontagens de Giga, lr, neta catiings, otto “Our Gagner. ° presen evel ce carta “seria metas em algunas pinturas es cos artistas tans no camcarzn, meu vat uma verte metasa forstica/sureaists” dere dasa cones do maces so * Dade importante a absenar emborao suelo terha sida maginaiado éarante o madera rast a ret meta do suo, ee tnt una os bases de um segmanto muito sitive do pradugo local so [s-quens, como, inclusive, poder ser nataco em garde pert ds bras apresentadas nesta epost Suzs Sauer ero pautades na estate ‘ancl sures: o Conca de wansfemacaodo srt nage cud objeto, p65 sz apropriagSoe seu deslocamanta de context, Pas ¢ roduc arstcacorerpernea trai, un Ja mdsimas on esttca sulin, baseod ne deslacarento em esranhamerts @ qe define @ bseza como o encontro de um guara-chuva «urna miquine de esto sobre uma mes de operagzo ~ pret sar ertencia,incsive, coma 8 Cdnone ce us nova ertododa * MENDES, M4, “Nota Limi?’ Is LINA,Jerge de Pinta em Pon io de “Innere: Toogafia Luso-Brsaa, 1963. 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