Justiça: o que é a coisa certa a fazer - Michael J.
Sandel
Critérios fundamentais de justiça:
• aumentar o bem-estar;
• respeitar a liberdade;
• promover a virtude.
As teorias de justiça antiga partem da virtude, enquanto as modernas
começam pela liberdade.
Utilitarismo
Jeremy Bentham sustenta que justiça significa maximizar a utilidade,
assegurando a felicidade.
Objeções:
- não atribui devidamente valor à dignidade humana e os direitos
individuais;
- relaciona equivocadamente tudo que tem importância moral a uma
única escala de prazer e dor.
J. Stuart Mill acredita que devemos maximizar a utilidade a longo prazo,
e não caso a caso.
Libertarismo
Pensadores:
• Friedrich A. Hayek
• Milton Friedman
• Robert Nozick: duas condições para a justiça distributiva - justiça na
aquisição de posses e justiça em sua distribuição.
Mercado e moralidade
Questionamentos:
• Até que ponto nossas escolhas no livre mercado são realmente livres?
• Há certas virtudes e bens de natureza tão elevada que transcendem as
leis do mercado e o poder do dinheiro?
Sociedade e critérios de justiça
• Utilitarismo:
Justiça é o que maximizar o bem-estar ou felicidade da sociedade como
um todo.
• Libertarismo:
Justiça é a livre relação entre pessoas sem restrições.
• Virtuosismo:
Justiça é a distribuição moralmente merecida, alocando bens para
recompensar e promover a equidade.
Immanuel Kant
Dignidade e respeito decorrem da racionalidade humana.
A moral está fundamentada no respeito às pessoas como fins em si
mesmas.
A satisfação de desejos é voltada para alguma finalidade além de nós
mesmos.
Desejo não é liberdade, é obediência. Não escolhemos nossas
preferências, elas são uma determinação exterior.
O ser humano é um ser racional mas também senciente (estímulos de
prazer e dor).
Não existe responsabilidade moral sem autonomia.
Autonomia é agir de acordo com a lei que imponho a mim mesmo – e
não de acordo com os ditames da natureza e das convenções sociais.
Heteronomia é agir de acordo com determinações exteriores.
Agir livremente não é escolher as melhores formas para atingir
determinado fim, é escolher o fim em si.
O valor moral de uma ação não consiste em suas consequências, mas
na intenção com a qual a ação é realizada.
O que confere valor moral a uma ação é o dever, que é fazer a coisa
certa pelo motivo certo.
Apenas ações motivadas pelo dever tem valor moral.
Atos de prudência não são atos morais.
Contrastes:
• Moralidade: dever x inclinação
• Liberdade: autonomia x heteronomia
• Razão: imperativo categórico x imperativo hipotético
A razão determina a vontade, e a vontade se torna o poder de escolher
independentemente dos ditames da natureza e das inclinações.
Razão não é um instrumento que permite indentificar os meios para
atingir determinados fins (razão instrumental).
A razão é prática, comanda a vontade.
A razão prática pura cria seus desejos a priori, a despeito dos objetivos
empíricos.
John Rawls
Justiça é definir os princípios que regulamentam condições justas para a
estrutura básica da sociedade.
A teoria de Rawls se refere à estrutura básica da sociedade e à forma
como ela distribui direitos e deveres, renda e fortuna, poder e
oportunidades.
“Véu da ignorância": recurso hipotético que coloca todos em uma
posição original de equidade que permite a escolha dos princípios justos
de um contrato social.
Princípios fundamentais: liberdades básicas e equidade social e
econômica.
Deve-se permitir apenas as desigualdades sociais e econômicas que
beneficiam os membros menos favorecidos de uma sociedade.
Os contratos reais tem peso moral na medida em que concretizam a
autonomia e a reciprocidade.
Obrigação não pressupõe um contrato. Consentimento não é condição
necessária da obrigação.
“As arbitrariedades do mundo devem ser corrigidas ajustando as
circunstâncias da situação contratual inicial".
“Princípio da diferença": só serão permitidas as desigualdades sociais e
econômicas que visem ao benefício dos membros menos favorecidos da
sociedade.
Vale-se de um sistema progressivo de impostos sobre a renda dos mais
ricos com o objetivo de favorecer o bem estar dos mais pobres.
A distribuição de renda e oportunidades não deve ser fundamentada em
fatores arbitrários do ponto de vista moral.
4 teorias de justiça distributiva:
• Sistema feudal ou de castas: hierarquia fixa estabelecida em função
do nascimento.
• Libertária: livre mercado com igualdade de oportunidades formal
(desigual na prática, arbitrariedade no posicionamento social e
econômico).
• Meritocrática: livre mercado com igualdade de oportunidades justa
(insuficiente, arbitrariedade nas aptidões e habilidades naturais).
• Igualitária: princípios da diferença de Rawls.
Objeção:
• E o mérito vindo do esforço pessoal?
- Nem mesmo o esforço pode ser um fator determinante do mérito.
“Afirmar que merecemos ter a característica superior que permite
empreender os esforços para cultivar as nossas aptidões também é
problemático, por que tal característica depende, em grande parte, do
tipo de família que tivemos e das circunstâncias sociais de nossa
infância, cujos créditos não podemos reivindicar. A noção de
merecimento não se aplica aqui".
As qualidades que uma sociedade valoriza em determinado momento
também são moralmente arbitrárias. O que determina que o que se
considera contribuição depende das qualidades que cada sociedade
valoriza.
“A distribuição natural não é justa nem injusta; tampouco é injusto que
as pessoas nascem em uma determinada posição na sociedade. Esses
fatos são simplesmente naturais. O que é justo ou injusto é a maneira
como as instituições lidam com esses fatos".
Aristóteles
Justiça significa dar às pessoas o que elas merecem, dando a cada um o
que lhe é devido.
Dois critérios:
• A justiça é teleológica: para definir direitos é preciso saber o “télos"
(propósito) da prática social em questão.
• A justiça é honorífica: o propósito de uma prática tem a ver com as
virtudes que ela deve honrar e recompensar.
As discussões sobre justiça são debates sobre a honra, a virtude e a
natureza de uma boa vida.
Justiça envolve as coisas e as pessoas a quem elas são destinadas.
Igualdade depende do que está sendo distribuído e das virtudes
relevantes em cada caso.
A justiça discrimina de acordo com o mérito, de acordo com a excelência
relevante.
Para determinarmos a justa distribuição de um bem temos que procurar
o propósito do bem que está sendo distribuído.
Discussões sobre justiça e direitos são discussões sobre o propósito de
uma instituição social e refletem noções conflitantes a respeito das
virtudes que a instituição deveria valorizar e recompensar.
É possível discutir o télos de uma instituição social.
Justiça distributiva se refere a cargos e honrarias.
Todas as teorias de justiça distributiva discriminam. Discriminações
justas dependem do propósito da atividade em questão.
O propósito da política é formar bons cidadãos e cultivar o bom caráter.
É permitir que as pessoas desenvolvam suas capacidades e virtudes
humanas. Não é promover a segurança e facilitar as relações
econômicas.
Comunidades políticas servem para exercitar a capacidade humana de
linguagem e deliberação (necessidade humana da pólis).
A virtude moral resulta do hábito, é ação prática.
O hábito é o primeiro passo na educação moral, mas não é uma
padronização do comportamento. Serve apenas para incorporação da
virtude.
O hábito precisa ser adequado a cada circunstância - julgamento
(sabedoria prática).
Sabedoria prática é algo orientado para a ação aqui e agora. Procura
identificar o mais alto bem humano atingível em cada circunstância.