1981 Sexualidade e Solidao “Sexually ast Sela es’ rd. Dara Boe. aes ie nasa m8 ‘Em um iro publieado em 1880 e dedicado ao tratamento ‘moral da loucura, um polqulatra frances, Leuret, expe ama netra pela qual va tratado um de seus pacientes = de quem hhaviatgtado e,naturalmenie, como voots podem imagar fazendo com que ele the conte seu deliro detalhadamente. “Mas td fss0" retruca © medica, "nao passa de loueura. ‘ace vai me prometer que nao acreitard mats misao" 0 pact cente hesta, mas depos promete "Isso nao basta, retruca 0 mesic, voce ame fez eateupo de promessase depons i ‘manteve™ Abreentaoatorneia de agua faa em cima da eabe ‘cade seu paclente “Sim, sm, sos louco™grita 0 paciente. 0 Jato de agua ¢ interrompido, 0 tnlerrogatoro comer ‘Sim, reconhega que so louco", repete 0 paciente. "Mas ‘erescenta ele "et 30.0 reconego porque voce esta me lor ‘cando". Novo ato de gua fna. “Beta bem, esta bent. dizo St. ‘Re "ew reeonheee. Sou loueo, ¢ tudo Isto nao passa de To “Obter de alguém que sofre de uma doenga mental a confs- sao de que € louco € um procedimento muito antigo na terapdutiatradilonal Em eros dos sevios XVI ¢ XV ‘santramos numerosos exempos do que se pederiachamar de terapias da verdad Porem a teenies st por Leet 197 198, 198 Senne Stn 98 pletamente diferente, Leuet no tenta pers 0 eu pact ente de que suas és sto falsas ou loucas. Ele ¢ totalmente ‘nawerente a resperto ao que se passa na eabeea do St. AO ‘que ombsdico deseja obter€ um ato preciso a airman exp feta: "Sou Toueo." Desde a epoca ~ fa 20 anos aproximada ‘mente ~ em que I pela prstena ver exme techy de Leute ‘mantive em mente o proeto de analisara forma e a histria ‘dessa praca singular: Leuret apenas se satsfaz quando Set paciente declara: "Sou lovee" of melhor: “Tado ito n80 pas ‘i de loucura.” Ble se baseia na hipotese de que a loucura ‘como reads desaparece a partir do momento em que 0 pa" ‘lente reconhece a verdadee erlara ner len ‘Temos aqui, de fat, 0 oposto do ato da linguagem perfor- rmativa. A afrmacao destrot no sujet falante a realidad que fomnot essa mesma afrmacao verdadeira. Em que concepia dda verdade do discursoe da subjedidade se basciaexsa pr a singular, no entanto, (20 habitual? Pata Jusllear 0 interesse que atrfuo ao que parece ser um assunto extrema mente especializado, permtam:-me voltar brevemente atras Durante on anor que antacedet a Segunda Guerra Mundin ¢ matsainda depots da guerra. toda aflosaia nos paises da ‘opa continental ena Franca fol domnada pela Mlosofia do st. Jest. tee sgntie ae 3 Alnana en stn como tela par ‘excellence fundamentar todo o saber eo principio de qual. ‘quer sguiicagas no sje sgneante ao impacto de Hs ‘Serf que a questao deve sa importancia, masa earacteristica central do sujettotambem esta ligada a um contexto inst clonal $4 que a uniersidads eamnane, deme yea ea foresee com Descartes, 9 pid progredis de mancira cates. ana. Porém, devemos tamblem eonsiderat a conjuntura poi fh Ante-n ahsirdn das gverra, dante da constataeao dos ‘massacres e do despotism, surge a idela de que seguramente ‘abla ao sujettoinddual dar tm sentido as suas escotnas fexisenciais. Com a distensao e 0 distanciamento do pos. fuerra.aimportincia até ent atibulda a losfia do sulto ‘to parcecu mate tao evident Certs paras kane ale (lado orc‘OA wena Fave Dts e Ears ‘entao ocultos, foram revelados, no sendo mals possivel titlos.Paradoxalmente, essa MlosoBa da conseléndia 180 Soeguinaeotabeteves wa Mua dy sabes pes has” ‘mente uma flosaia do saber clentiio, Allis, como Aosta flo sentido, ela haviafracassado em levar em conta os meca- ‘lemor formadores de sgnieagao ¢aestrutira dos setenae de sentido (Com a luckier demasiadamente fc doa posterior ~ que fx amerieanns chamaeam the monday-morning quarter "eu dia que dua vias diam conduztr para lem dessa f- ‘soa do Sujetto. A primetra era a teria do saber objeuvo, tentendide como analise dos sistemas de signfieacto, como ‘semiologa. Era. via do positvismo logic. A segunda era avia Aberta por uma cert cacola de ingoistea, de potcansiive e de Antropologia- tres disetplinas que se agrpavam sob a rub 2"estruturalismo'- Nao foram esta avian das quate me ser Wt Que me permitam daclarar, uma vex mals, que mio sou estruturalista~ eu o confesso com todo o devido pesar- nem {um moo anatuco, Ninguente perio. rente entreanto, cexplorar uma outra pista. Tentel sit da filsofa do sult fa ‘endo uma genealoga do suelto moderno, que abordo como ‘uma realidad historic e cultural, ou sea, com alguna cot ‘58 capaz de se transformar. o que, obviamente,€ importante ‘do ponto de vista polteo. partir desse profeto geal, so pos- ‘Svels dots modes de abordagem. Uma das maneiras de abor dar o sujeito em geral conatste no exame das constracoes, {eoneas modernas. Nessa perspectiva, tenet analisar as {eo- "as da sieito cama see que fala fee 9 faa. os ase XVIle XVII. Mas tambeém € possivel apreender a questo do sujelto de manetra mas prstica, a partir do estudo das inet {ules que fizeram, de certos sujeltos, objetos de saber e de Afominagto: os aslo, as pisoes. ‘Cootara de eotudar as formas de apreenado que o auetto ria‘ respetto dele mesmo. Porém, ua ver que comece pelo ‘Segundo Upo de abordagem, deve mudar de opiniao sobre va- Flom pnts, Premitam-me fazer aqul, de quelquer forma. @ ‘minha autoeritica, Tale seja possive, se nos aivermos a {erm de tte amen, 181 -Sematdade Sto 95 certas proposes de Habermas, distingulr tes pes prinet pals de tenleas as tecnicas que permite predart- ransfor ‘Sstemas de signos:e,finalmente, as teenieas que permite ‘determinar a conduta dos indvidos, impor certs final ‘des ou determinados objetivas. Temos entao as tecnicas de producdo, as tenis de signticacao ou de eomunieagao, eas fe qt existe, em todas as sociedades, um outro tipo de tens fast aquelas que permilem aoa indinauos real, por eles ‘esmas. um certs numero de operacces em seu corp. em ‘sun alma, em seus pensamentos, em suas ondutas, de mado {fpruurirneles ua transformagao. ma mediiccao, © 8 ating um cert estado de perfeleao, de felildade, de pureza. ‘e poder sobrenatural. Chamemos essas teenies de teenicas 'Sequisermos anallsar a genealoga do sult na chvlizagto ‘cident, preciso considerar nao apenas as teenleas de do ‘minacao. mas também as tenicas de si. Devernos mostrar a Interacto que se produ entre as dois pos de teenicas,Talver ‘eu tenha tai demas, quando cotudava os hozpitos, a> prsbes ete, nas teenicas de dominacao. Everdade que aqullo ‘Que chamainos de “diseiplina’¢ algo que tem uma import ‘dos aspectos da arte de governar as pessoas em ossas soc Ase Tetdoemtudado ocanpudy pues oineado come poor to de partda as teenicas de dominacao,gostarta de estar, durante os proximos anos, as relagdes de poder partindo das plea uma série de obrigacdes de verdade:€ preciso descobrir A verdade, ser esclarecido pela Verdade. dizer a verdade © 0u- twas tantas Imposicdes que sao consideradas Importantes, ‘quer para a conaituleao, quer para a ransformacao de s ‘Atualmentc,o que seria verdade como dever em nossas sociedades cristas? O eristianiome. como sabemos, ¢ uma onfisso, Isto significa que oerstanismo pertence au tipo them particular de elie aqrlae que tmpiem ot he as praticam obrigacoes de verdade. No cristanismo, essas brite sao rumerses. Ha, pn exeuplo, a obtigaae de Ssustentar como verdadeiras um canjumto de proposicoes ‘que constituem o dogia, @obrigacao de considera certs96 net Fone Das Eertos rs comofonte permanente de verdade ca de actar a ect Soes de cetassuoriiaes em materia de Yerdade. Pore Siruatusunscag aie tanaute flrma de signe dover fade, Cada cristae deve se sondar par vrtfiar quem ele 0 {ue ce pasea em sou propio inter alas cometias, as Clneagae Be guste cle ae oui ni Sw, cada um dove tier Eos clsas outros, testemunhando ass contra ele propo. sves dois conjunts de obrisactes~as que se referee aol ao dopa, eas eiatvas ss mes elma esto Iados, Se un eitte quer sundar quem pecan da ie Ge Fe Ey investments’ nao se pode eonecber que haja um Sess @verdade sem que aaa sa punteada, 0 Daca {Sinem deve iron deed da lure descobir a verdade sobre ‘emeamn Toren a relagto entre as dane origagtes€ com Pennie diese no tui en ratio, No bude tho, € 9 mesmo tpe de ihminacao que eonduz 0 indviduo a dcabequem de Ceo que ea verdad, Grats wens i escobre que os nao pascava de ums hao, Gostaria de em. {Saer qu nao ooome mesmo no cain: a dencoberta Geatmesmo nto yevea como una ido. Hatt uma tarela qu 9 pode er nna, Dos cbetvos defn esa Sea, tentacbese sedis capazes de energie. assim ono Serer de Sescobura fealdade do gue ne psa em nos. Ase. ft» reton irae ne de ado apo 8 meso, no por fucose ust, ms orgie ce € mutta ei. ato tos renunciar a nds mesos: ¢ quanto mals queremos re ‘ua ns tesmoe raise neceadio Guar areatidade “orn enmos eto” eptal a forming da verdad ‘darenancia realidade Co ceme das tenias de st praca das plo enstansmo. ‘ecentemente o profesor Peter Brown me declarou que em sun opi, nose tela era entender que aconece fara ques semeliade tena se mtr nan eure Enstae no slomagralo de nossa subjetdade.& fo. e um {oii qu esata ep devrdade een ‘lon da era Gist uma importncia conideravel ¢ uma 1081 Senna Sitio 97 Amportancia que nao parou de aumentar. Por que existe uma lugagao tao fundamental entre asexualidade, a subjetiidae © ‘2 obniacao de verdade? F essa questin nie apreiman met ‘tabatho daquele de Rechard Senne © pono de part de now seminsriofoum tech de Sao Francisco de Sales: “Vou Thesrelatar um aspocto da honest dade do elefante, Um elefante jamais trea de femea, © ama ‘mente acasala de tres em tes anos, somente por cinco dias ¢ ‘de manera to secreta que ninguém jamais ¢ vis nesse ato [Noentantn, ele visto claramente qusndo. 0 sexo da, ates de qualquer coisa, vai diretamente para algum ro, no qual lava todo o seu corpo, sem querer de forma agua reornar & ‘manada antes de estar purficado. Nao sa0 belas e honestas fisposigoes em um animal, peas quats ele ensina A pessoas ‘saaadasa ndo sc abandongrem demastadamente aos prazeres fds sents eda carne?" “Todos reconhecerao aqu! 0 modelo do comportamento se- sual deconte, A monogamie, a idelidade ea procayao fig ‘am entre as principals, etaivez as unleasjustificatvas do ato ‘sexual un ato que, mesmo nessas condicoes, permanece i traneeeamente pir. Cretan a maioia dene ns tend 8 airibuir esse modelo quer ao ristianism, quer sociedad dda mora eaptalista ou da moral dita burduesa. Mas fquel ‘surpreso ao verificar, quando comece! a estuda-fo, que esse ‘modeo.eeencontrava tambem na iteratura latina ¢ helen (a, Sao as mesmas fdas, as mesmas paras eas vezes, a mesma referencia ao eefanteEfelvamente os figeoos pa ‘hos dos senlon qe preeeieram e se segiram A morte de Cristo propuseram uma etea sexual que, embora fesse em parte nova ea, no entamto, bastante seminante ao que € Udo como a etica eista, Flzemos aparece, de manetra muito con ‘incente, em nosso seminario, que esse modelo flasdico de ‘comportamento sexual, o modelo do elefante, nao era 0 nico ‘onthecdo posto em prtica na epoca. Ee competia com vi “rancid Sal, nado ls ot, 1908, yon, Pe isa Te Be et Cama, 168m ea SON pe TS