RICKY B.
Uma História Oficialmente Impossível
J. J. BENITEZ
© Editorial Planeta, S. A., 1997 Yucatán (México)
Ilustração da Capa: foto de Ricky, por gentileza do engenheiro.
Procedência das ilustrações: fotos Beatriz Sandoval, Blanca Rodríguez,
Eduardo Cañizares, família Aguilar, família Herrera, Iker Jiménez, o
engenheiro, J. J. Benítez, Jiménez del Oso, José Martínez, Lucy Lovick,
Magdalena Godoy, María del Carmen Aguilar, Manuel Colón, Satcha Benítez y
Sebastián Moreno.
ÍNDICE
Primera parte.................................. ........................................................ 3
USA................................ .......................................................................... 4
ESPANHA.................................................................................................. 8
EGITO...................................................................................................... 36
ESPANHA................................................................................................. 65
USA.......................................................................................................... 85
MÉXICO, D. F. ....................................................................................... 114
USA .............................................................................................. .........117
MÉXICO, D. F ........................................................................................ 170
ESPANHA............................................................................................... 181
YUCATÁN (MÉXICO).............................................................................. 211
Primera parte
Os heterodoxos pensam, falam, escrevem e atuam para uns poucos. Se
você pertence à grande massa, se jamais olha para o céu ou para si
mesmo, não perca tempo lendo esta investigação. Não comprenderás...
J. J. BENÍTEZ
Para Blanca, que me acompanhou até o final
USA
Segunda-feira, 2 de setembro (1996).
05 horas.
Atravesso o Distrito Federal sem problemas. Continua chovendo.
Aeroporto Internacional Benito Juarez.
"Ah, meu Deus!... Começamos bem. O tráfego aéreo é uma espessa teia de aranha.”
O vôo da United Airlines decola atrasado. Pelas minhas contas, 28 minutos e 30
segundos.
"Só falta chegar atrasado para o encontro com Ricky...!"
E ao medo, este indesejável "companheiro" de viagens, se junta o nervosismo.
"Bem... Eu estou chegando!”
O relógio marca 8 horas, 36 minutos e 10 segundos.
"Adeus..., México!"
E pela frente... Duas mil milhas!
Eu abro o caderno de "anotações". E examino as imagens de Ricky, a suposta
alienígena... Pela enésima vez.
Eu sei de cor...
"Será realmente um "deles”?... Não, eu me recuso a pensar... Agora não...”
E eu me apego ao questionário. E o repasso. E o corrijo...
- Café?
- Claro, senhorita... Todo o café do mundo.
E a aeromoça observa de canto de olho, as fotos da bela "gringa".
E comenta, piscando para mim:
- Sua namorada é muito bonita...
Eu dou um sorriso com relutância.
"Se você soubesse..."
10:30, hora local.
Aterrissagem impecável.
Aplausos para o capitão Khein.
E a grande metrópole americana brilha orgulhosamente no horizonte.
"É chegado o momento!”'
E ao deixar o avião acontece "algo”...
"Onde está o "companheiro"?... O que ocorreu com o acentuado e implacável medo?"
E enquanto caminho apressadamente para o controle de passaporte, respondo para
mim mesmo, surpreso:
"Sim, me sinto tranquilo... Estranhamente em paz..." examino as mãos.
Pulso normal.
"Mas, onde foi parar o familiar e penoso tremor de algumas horas atrás?"
Respirei fundo e sorri para mim mesmo... “A força... Ela está de volta!...”
"Merdi Vienne... ”Abueno”!"
E eu procuro... Procuro nos intermináveis e funcionais corredores...
"Um telefone!... Preciso de um telefone!... Ricky esperar minha chamada!”
Mais surpresas...
"Merda..."
Centenas de orientais - os inevitáveis e onipresentes japoneses – fazem fila na frente
das cabines de imigração.
10,40.
"Incrível!...
"Um dos aeroportos mais movimentados do mundo e não vejo um único telefone..."
"Eu empurro" com a mente. Inútil. O funcionário não tem pressa.
10.50.
"Falta pouco..."
Cerca de trinta japoneses me separam da linha verde.
Os nervos protestam... e eu também. Primeiro susto.
Um inspetor se aproxima da fila. E me “escolhe”! ...
"Não é de admirar... Ao lado de tantos "Japoneses" devo parecer o Michael Jordan.
E exige os documentos.
Motivo de sua visita aos Estados Unidos?
E eu hesito...
"O que eu posso dizer? Como posso explicar? Como eu posso dizer que tento me
encontrar com uma mulher que, talvez, é e não é humana? "Será capaz de
compreender e entender? Será que vai admitir que uma suposta compatriota sua –
Ricky - não é o que parece?
Como falar-lhe de extraterrestres... Infiltrados entre nós? "
E eu escolho por um lacônico e asséptico... "Profissional... assunto profissional."
Mas o funcionário, insatisfeito, trata de desnudar com os olhos.
E digo para mim mesmo:
"Situação complicada..."
Eu não sei por que, talvez porque eu sou malvado, mas estas situações me divertem...
E desconfiado e minucioso, revisa o passaporte de novo.
"Calma - insisto mentalmente -. Acima de tudo, calma...”
E revolvo no sótão das desculpas, procurando uma razão (?) moderadamente
credível.
Mas, por enquanto, nada aparece...
E a situação – afortunado Destino! - se envenena.
De repente, ele para em uma folha. Lê e volta para os meus olhos. E eu percebo uma
incipiente e velada agressividade.
Assinala um dos selos bola - em vermelho, para maior desgraça - e se arma até os
dentes...
"Ah, meu Deus!... Também é má sorte!”
E cheio de suspeitas, azedo por dentro e por fora, pergunta:
- Profissão?
Esse selo - carimbado pela República de Cuba – atiça o individuo.
- Jornalista – respondo de pronto orgulhosamente. E o inspetor rapidamente...
- Você é comunista?
E frio como o mármore, entro em um jogo divertido... e perigoso.
- Currista... Sou currista. (1)
Mas o obtuso, obviamente, não capta a "mudança”
"Como traduzir para o Inglês uma expressão tão taurina?"
- Caguista?
E segurando o riso com dificuldade, repito desafiante:
- Currista...! De Curro!
E ele traiçoeiro, se revela: fala espanhol! Ainda bem que eu não citei o senhor seu
pai... Por entre os dentes.
E mais uma vez, ele exige uma explicação.
-? Cuguista... O que é cuguista? E eu me irrito...
- O sistema político-social perfeito, caro amigo. E atordoado, ele insiste...
- Em Espanha são cuguistas?
E eu recorro ao Curro Romero...
(1) "Currista: Partidário, apaixonado por touradas. Fã de touros e toureiros (N do a.)
- Só os inteligentes... E perplexo, se “fecha em copas".
- Mas, vamos ver... É isso é democrático?
E eu o desarmo...
- Diga-me... Deus é democrático? Ele se rende...
E com um estudado e oportuno sorriso, ponho um fim ao "embate"
E o "gringo", nas nuvens, se suaviza. "Obrigado, Curro! “
- Tudo bem, senhor cuguista..., mas, por que veio, exatamente?
E solto outra verdade. Ou melhor, meia verdade...
- Eu tenho um compromisso com uma "estrela”...
E o funcionário, temendo um novo enfrentamento, se rende.
- De cinema...? Que sorte! ... Tenha um bom dia!
E ao recuperar o passaporte, arremato a frase mentalmente:
"Sim..., uma "estrela" do firmamento...” Nunca melhor dito.
11.04.
- Minha vez... Finalmente!
E a polícia analisa e verifica a ficha de ingresso.
Contempla a fotografia daquele descarado e olha para cima, me examinando.
Eu sustento o olhar examinador.
Finalmente entediado, digita no minúsculo computador.
E eu leio com ele:
"Não existe".
A chave - o equivalente a "estar limpo" de antecedentes - me libera.
E o selo, golpeando o passaporte, soa ao engatilhar de armas.
"Autorizado o ingresso nos EUA... Agora sim... Agora começa a grande corrida. E
Ricky é o objetivo”
E saio voando pelos corredores...
"Será que ela vai reconhecer a verdade?... Aceitará que não é daqui?... Será que
admitirá a versão aparentemente fantástica do engenheiro?... Ou me mandará
passear? Em breve tirarei as dúvidas... Em breve...”
11.10.
"Um telefone!... Mas o que acontece neste maldito aeroporto? Preciso de um telefone!”
E destino (?) aperta a corda... Como é sábio!
E remexo nos bolsos. E na bolsa que me acompanha...
"Nada!... Nem um centavo!”
Com os nervos e a pressa, eu esqueci o mais importante: moedas...
Eu pergunto. Subo. Eu volto a descer. Corro...
E na estúpida “caça” das moedas, procuro me animar:
"Estou perto... sim... Ricky está lá fora... Vou conhecê-la!... A verdade é minha!”
Pobre iludido!
Como imaginar, nesta corrida frenética contra o tempo, o que me preparava o
caprichoso Destino (?)?
11.15.
Desisto.
Não há maneira de obter moedas de 25 centavos...
Incrível!
Eles dizem que uma unha - uma moeda - uma batalha foi perdida...
Bem, este é o meu caso.
"45 minutos de atraso!... Ricky pensará que eu falhei, por não ter ido até agora...”
E o Destino, Impassível (?) - "Em seu devido tempo" - alivia...
E o faz pela boca de um amável japonês.
"Os cartões de crédito... Como não pensei nisso antes?... Eu sou um inútil!”
E a voz quente e acolhedora de Ricky - por que não! - Responder ao primeiro toque.
- Finalmente!
E o Destino (?) se "explica”...
- Você está bem? ... Você fez uma boa viagem? ... Eu estava preocupada... Eu tive
que sair e acabo de voltar... Apenas um minuto antes de sua chamada...
Assombroso!
A aparente perda de tempo não foi casual...
"O que teria acontecido se ligasse... e ninguém respondesse? Provavelmente nada...
Ou sim?
"Mas" alguém "(?) me presenteou com 45 minutos de angústia. Uma enorme
angústia...”
Coincidência? Eu duvido...? “Sutilezas de meus “primos”? É possível...
E eu comprovo que é verdade: o medo de Ricky ficou no México...
Eu me sinto seguro. Determinado...
E a mulher sugere que eu espere do lado de fora do portão “internacional”.
E surpreende-me novamente... "Nós estaremos aí em poucos minutos..." Estaremos?
... Mas quantos são? Oh, Deus!
Eu deveria supor...
Nunca "trabalham" sozinhos... Mas que bobagem eu estou pensando? Tranquilidade!
E meu coração me leva ao Distrito Federal do México... "Blanca... Deveria estar aqui!”
E apressadamente eu me encaminho para o ponto combinado. "Estaremos?... Não
importa!... Hoje eu posso com um regimento.”
Pobre coitado!
E ignorando o que estava sendo preparado, eu continuei a subir por aquela ilusão...
"Eu não estou acreditando! Estou prestes a conhecê-la!... Será a mesma das fotos? E
se fosse outra?”
E eu me corrijo...
"Não... Isso seria...? Cruel?... Impossível? Milagroso? Descobrirei a incógnita?...
Ricky é um deles?”
ESPANHA
Esta grande incógnita - uma das mais irritantes nos meus vinte e cinco anos de
investigação do fenômeno OVNI – fez ato de presença há dez anos. Na verdade, tudo
começou com uma carta de meu bom amigo e veterano investigador Ignacio Darnaude
Rojas Marcos. A carta aparecia datada de 06 de julho de 1986. Em essência, dizia
assim (1):
»ROMANCE COM UMA UMMITA EM...
»FONTE DE INFORMAÇÃO: Lyana... É uma grande amiga do engenheiro...
»Ela nos relatou esta história em nossa visita à sua casa em 04/07/86. Lyana é casada
com um engenheiro norte-americano e, normalmente, vive nos Estados Unidos...
»Ela tem quatro filhos e é professora de História Universal em uma escola secundária
dos EUA, e também é autora de roteiros cinematográficos.
»O PROTAGONISTA: Aproximadamente 50 anos, engenheiro, boa aparência,
atraente, bem-sucedidos com as mulheres, está no ramo da construção e ganha muito
dinheiro. Normalmente vive em... e passa o verão em ...
»SINOPSE DOS FATOS: Este engenheiro foi uma noite jantar em um restaurante...
Ele viu uma jovem jantando sozinha, começou a conversar com ela, comeram juntos,
e depois a levou para sua casa, onde ela passou vários dias, como hóspede. Fizeram
amor e viveram como amantes.
»Na moça tudo era normal, mas parecia "estranha" por alguns detalhes estranhos no
seu comportamento. Ela costumava comer apenas comida vegetariana. O engenheiro
foi para... para fazer alguns trabalhos, e quando voltou, lhe disseram que sua amiga
tinha passado um dia e meio em uma colina próxima, sem comida.
»Ela disse-lhe que tinha havido um acidente de ônibus no México, e que nele, morreu
uma mulher, que tinha uma cicatriz em sua perna. A convidada aproveitou esta
circunstância para tomar posse do corpo da falecida, ressuscitá-lo e viver dali em
diante usurpando sua personalidade. Pode realizar tão extraordinária operação, por
ser extraterrestre vindo de um planeta chamado "UMMO". A singular hóspede relatou
a seu amigo, numerosos detalhes da vida e costumes de seu planeta natal.
»O engenheiro, intrigado com tais eventos anômalos, viajou para..., e em uma
biblioteca localizou livros que tratavam do planeta UMMO e descobriu que os dados
fornecidos pelo seu "romance alienígena" coincidiam com as informações contidas
nestes textos.
»Ela mostrou uma cicatriz em uma das pernas, em correspondência com seu relato de
sua entrada no corpo da mexicana acidentada.
»Durante as conversas, a moça lhe garantiu que seus compatriotas planetários
estavam vindo para buscá-la e iriam levá-la com eles.
(1) Por elementares razões de segurança, e eu espero que o leitor vá compreendendo
gradualmente, eu ocultei a identidade de alguns dos principais protagonistas desta
história desconcertante, evitando também a localização geográfica de determinados
cenários. A gravidade do que está exposto aqui, assim o exige.
»Uma noite, quando os dois se aproximavam de... Em uma curva, uma luz muito forte
se aproximou, e o engenheiro perdeu o controle do carro. Ela ficou muito excitada e
disse: "São eles vindo até mim!" Depois de um tempo, o objeto luz afastou-se,
desaparecendo no horizonte, e o engenheiro pode dirigir o carro novamente. Eles
voltaram para a casa e foram para a cama. Na manhã seguinte, o proprietário
descobriu que sua amiga tinha desaparecido. E ele não voltou a ter notícias dela.
»INVESTIGAÇÃO SUBSEQUENTE: Esta informação, como se vê, vem de uma
conversa "de segunda mão", nada rigorosa e sem a necessária precisão. É importante
agora entrevistar o engenheiro em profundidade, para recolher todos os dados
relevantes sobre estes acontecimentos tão chamativos, submetê-los às
imprescindíveis checagens e comprovações, e preparar um relatório sobre os fatos já
verificados.
Lembro-me que depois de ler esta carta, convencido de que "aquilo" só poderia ser o
produto de uma mente febril, eu resolvi arquivá-la, esquecendo o aparentemente
fantástico acontecimento. Grave erro da minha parte? Ou será que não tinha chegado
o momento? Agora, com a perspectiva de tempo a meu favor, me inclino pela
segunda. E antes de prosseguir com os detalhes desta fascinante investigação, o
coração me pede que me desnude. Será justo e saudável que o leitor saiba o que
esperar desde o início.
Como eu disse, em maio deste ano (1997) se cumpriram minhas "bodas de prata" com
a investigação sobre os "não identificados". Eu dei mais de cem vezes a volta ao
mundo. Eu entrevistei pessoalmente mais de 10 mil testemunhas. Eu vi essas naves
“não-humanas" em quatro oportunidades. E eu disponho, em off, uma grossa e
privilegiada documentação demonstrando como incontáveis civilizações afastadas da
Terra nos visitam, observam e nos "controlam" à milhares de anos. Bem, este
impressionante bagagem informativa significa, entre outros benefícios, uma meia dúzia
de certezas e um oceano de dúvidas. No meu caso, é absolutamente verdade que
quanto mais eu investigo, menos eu sei. Mas, como eu disse, existe algo que eu tenho
muito claro: para além da realidade física dessas "humanidades", estou convencido de
sua poderosa, sutil e inexorável "influência" sobre o comportamento do homem. Pelo
menos, sobre os atos e consciência dos indivíduos. Vou ser mais preciso. Faz tempo -
muito tempo - que suspeito (que sei) que algumas dessas civilizações "controlam" ou
"dirigem" (me faltam as palavras) a vida de muitos seres humanos. Muito mais do que
podemos imaginar...
"Investigar os investigadores.” A frase que eu tenho repetido indefinidamente. Esta é
uma das chaves para entender o que eu estou dizendo. Ela é baseada na acumulação
de incríveis "coincidências" - vividas, por exemplo, pelos verdadeiros investigadores,
os de campo - que me atrevo a acreditar e insinuar que a história resgatada por
Ignacio Darnaude começou a ser investigada "no momento certo". Antes, solícito, eu
deveria conhecer e penetrar o fenômeno OVNI com mais profundidade. E por quase
dez anos, de fato, tenho sido intensivamente "treinado" para adaptar-me e aceitar o
que, à primeira vista, pode parecer um arrepiante relato da mais pura ficção científica.
Hoje eu sei que a história que eu vou contar é perfeitamente possível. Mas também sei
que, poucos chegarão a aceitá-la.
Não importa. Eu também já disse em público e em privado: os ufólogos estão fazendo
história. Nós investigamos e difundimos para o presente, sim, mas acima de tudo, para
os historiadores e a sociedade do futuro.
E desnudado meu coração, eu vou continuar com os acontecimentos, tentando
respeitar a ordem cronológica em que se registraram. Uma ordem, com sua própria
“ordem” interna, que ratifica essa aparentemente ousada afirmação: "Eles sabem,
controlam e dirigem."
Ignacio Darnaude Rojas-Marcos, o investigador que «levantou a lebre». (Foto J. J.
Benitez.)
Coincidência? Eu duvido...
Tudo nesta história, insisto, parece magicamente travado. Magicamente planejado.
Magicamente projetado para que "em seu devido momento", um pesquisador,
aparentemente por acaso, fique por dentro do assunto. Como eu estava alheio,
naquele ano de 1988, sobre o que me reservava o Destino! À princípio, ao começar a
construção do meu definitivo “quartel general” no sul da Espanha, só estava realizando
um velho e acalentado sonho.
Mas - agora eu sei - nesta mudança estava se escondendo "algo" mais... Porque,
diante de minha surpresa, "Ab-ba", minha nova casa, seria erguida à escassos 200
metros de distância da residência de verão de um dos principais protagonistas do que
poderia ser chamado de "caso Ricky".
Coincidência? Eu duvido...
Dos 87.268 quilômetros quadrados de Andaluzia, este serviçal foi "escolher" um lugar
remoto onde, "casualmente", ficava a casa do engenheiro citado por Darnaude. Dos
mais de sete milhões de habitantes de Andaluzia - "por acaso" - um em particular,
apenas um, o famoso engenheiro, iria ser meu vizinho... (1).
E a partir daquele ano decisivo de 1988, os eventos se desencadearam. Por razões de
boa vizinhança, Blanca, minha esposa, e eu acabamos tendo contato - igualmente por
aparente "casualidade" - com este vizinho. Claro, naquele tempo, este servidor
ignorava quem era realmente aquele engenheiro. Eu não sabia nada sobre ele. Talvez
o mínimo em uma jovem e tímida amizade: se dedicava aos negócios, tinha a mente
aberta, com um sentido de humor invejável e, apesar de seus 60 anos, possuia uma
excelente forma física e mental.
E chegou o ano de 1995. E com nossa mudança definitiva para "Ab-ba”, as visitas
mútuas se tornaram mais freqüentes. E foi em uma dessas plácidas reuniões quando,
no "momento certo", veio a surpresa. Como era costume em mim – pura deformação
profissional - em uma daquelas conversas eu lhe perguntei sobre um dos meus
assuntos favoritos: os OVNIs.
O engenheiro sorriu. E eu percebi que ele estava levando o assunto muito a sério.
-Sim, eu os vi - disse, apontando para o mar. Aqui mesmo, na companhia de outras
pessoas...
Eu o vi hesitar. E logo, adotando certa precaução, lançou uma frase que me pôs em
guarda.
-Mas eu tenho uma história melhor...
Invocando nossa discrição, passou a relatar - superficialmente - a incrível aventura
com Ricky.
Durante dois minutos, conforme avançava na exposição, eu fiquei colado ao assento.
Mas eu não disse nada. Aquela história soava familiar. E ao voltar para "Ab-ba", eu me
apressei a consultar os arquivos. Não me equivoquei. Estava diante do evento e o
protagonista, descritos por Ignacio Darnaude em julho de 1986. Quanta "casualidade"!
(1) Talvez em outra oportunidade me anime a relatar as curiosas "coincidências" que
se uniram no ano de 1988, assim como em 1994, para que se tornasse uma realidade, o
desejado sonho de viver no sul. (N do a.)
E durante meses - até outubro de 1995 - alternei outras pesquisas com uma série de
interrogatórios prévios nos quais, honestamente, eu tentei pegar alguma mentira no
que foi relatado pelo paciente e sempre cordial engenheiro. No total, mantivemos seis
longas conversas. Quatro delas gravadas. E seguindo uma elementar tática
psicológica, fiz com que cada um dos interrogatórios ocorresse o suficiente distanciado
do para que, em caso de fantasia ou invenção, a suposta testemunha cairia
irremediavelmente em contradição. Mas, diante de meu espanto, as sucessivas
versões foram sempre impecáveis, precisas, rigorosamente iguais. Em nenhum
momento eu consegui pegá-lo em uma mentira. E uma pungente dúvida se apoderou
de mim, impiedosamente.
Estava diante de uma história real? Durante muito tempo, assim me consta, eu sei
que, independentemente do tempo, apesar da solidez do relato do engenheiro, umas
valiosíssimas fotografias tiradas pelo meu amigo, nunca me recusei a acreditar. Era
demasiado fantástico... De fato, guardou uma única recordação de sua aventura
amorosa. Sem documentos, sem endereço, sem nome... E isso, precisamente, foi o
segundo grande obstáculo na investigação. Mas uma "força" estranha e inflexível foi
me puxando até que, finalmente, eu embarquei na investigação. Sem dúvida – adianto
agora – uma das mais difíceis, complexas, trabalhosas e delicadas em que estive
envolvido. Uma investigação que, pela sua natureza, não fui capaz de encerrar.
Confesso humildemente. Embora, pensando bem, eu não fui capaz ou não queria?
Ainda que pareça incrível, o engenheiro não recordava o nome e nem o apelido da
norte-americana.
- Para isso eu sou um desastre – reconheceu várias vezes. Além disso, o nome era
estranho...
- E de onde você tirou “Ricky”?
- Foi a primeira vez que a vi. Alguns trabalhadores tinham me falado dela, de uma
forasteira muito bonita, que passeava solitária pelo povoado. Ela se alojou em um dos
apartamentos de uma amiga minha e eu me interessei por esta estrangeira quando
tive oportunidade. Marta, o proprietário dos apartamentos, me confirmou a notícia. Era
norte-americana "especial", de uma beleza que chamava a atenção e, de fato, ela
estava sozinha. Então pedi que nos apresentasse. E assim foi. Poucos dias depois,
nesta mesma casa, enquanto estava jogando cartas com alguns amigos, Marta
apareceu com uma de suas filhas pequenas e a bela estrangeira. E eu me lembro que
coloquei a menina sobre os joelhos e lhe pedi para escolher as cartas. Aquilo
aparentemente irritou a norte-americana, que me acusou de "estar corrompendo uma
criança." Quando lhe perguntei por que, se limitou a responder que “não devia ensinar
jogo de azar para as crianças, porque isso perturbava o seu desenvolvimento mental."
Aquela franqueza, aquele gênio, aquele caráter forte, eu não sei por que, mas me
recordou o protagonista de um filme: o sargento Ricky. E ficou o apelido. Desde então,
eu sempre a chamei assim. E ela achava engraçado.
Mas é hora de passar para a história propriamente dita. Mergulhado naqueles
interrogatórios, procurarei fazer uma reconstrução geral da mesma, colocando – por
enquanto - alguns dos principais fatos e circunstâncias. O restante dos detalhes, em
benefício de uma melhor compreensão, vai aparecendo gradualmente.
A verdade é que, naquele período de conversas, nem tudo foi bem. Apesar dos
esforços de meu amigo, as datas do "incidente" estavam apagadas em sua memória.
E por mais esforço que coloquei, que nós colocamos, por mais referências que
buscamos, tudo que consegui deixar claro, é que a curta convivência com Ricky tinha
ocorrido, "após a morte de Franco". Não era muito, mas eu não desanimei. Agora,
após dois anos de iniciada a investigação, eu suspeito que o apagão mental também
contivesse o seu "porquê". De uma forma sutil, o lapso me forçaria a usar toda a
"artilharia pesada", colocando a prova, mais uma vez, o que certamente distingue o
verdadeiro investigador: perseverança, tenacidade e paciência.
- Mas, nunca soube o seu nome verdadeiro?
- Sim, me disseram... Mas eu não me lembro. Como eu disse, era estranho...
Não se esqueça - cansou de repetir o engenheiro ao longo dos interrogatórios - que a
minha relação com ela foi uma simples "paquera". Nada sério. Algo puramente
circunstancial. Eu estava divorciado há muitos anos e, simplesmente, aquela
estrangeira era espetacular...
-Bem, o que aconteceu?
- Naquela mesma tarde eu conversei a sós com ela. Eu lhe expliquei que voltaria no
final de semana seguinte e que, se quisesse, poderia vir a minha casa. A verdade é
que eu fiquei encantado...
- Como era fisicamente?
- Devia ter uns trinta anos. Alta, esbelta, com longos cabelos negros. Olhos azuis,
profundos e belos. Cara de menina e uma figura aparentemente frágil e deslumbrante.
E na tarde de sexta-feira seguinte, veio andando pela praia. E pouco faltou para que
não ocorresse o encontro. Eu estava no andar térreo e não a ouvi chamar. Ricky
entrou pela parte de trás da casa e foi direto para cima. Ainda bem que a vi quando se
dirigia novamente para a praia... (1).
E eu comecei a cortejá-la. Nós saímos para jantar e a aventura durou cerca de dois
meses.
Neste tempo, meu amigo engenheiro, começou a notar "algo" estranho.
Aparentemente, o comportamento de sua "namorada" não era muito normal...
- A princípio, sendo honesto, eu pensei que era uma "gringa" louca. Uma
extravagante. Só bebia leite e comia verduras. Bebia muito leite. E com o leite, uma
variedade de pílulas. Em seu apartamento, em uma maleta, guardava mais de 20
frascos com medicamentos. Mas eles não eram convencionais. Em cada pote, preto,
aparecia uma etiqueta com algo assim como uma fórmula química. Agora eu lamento
não ter examinado cuidadosamente.
- Na hora das refeições sempre tínhamos problemas. Quando ela me via devorar um
bife, a recriminação era fulminante: "Você está se matando, sabia?"
E acrescentava, com uma segurança que me deixava perplexo: "Você tem um
organismo que pode viver 220 anos. Quando você come isso, você está eliminando
possibilidades de vida... Você está louco!”
(1) O local onde ficavam estes apartamentos - e que a partir de agora, vou me referir
como a população "A" – fica uns quatro quilômetros da casa do engenheiro. (N. do a.)
A suposta alienígena em um dos passeios da Andaluzia. (Cortesia do engenheiro.)
Ricky, a bela norte-americana.
Imagem tirada pelo engenheiro. (Cortesia de meu amigo.)
- Que fosse vegetariana, não significa que seja algo estranho...
- É que havia mais, muito mais. O seu comportamento, em geral, era evasivo. Ele saia
para comprar seu leite e se trancava no apartamento. E lá ficava escrevendo. Acho
que vi cerca de 40 ou 50 pequenos cadernos com capas pretas, cheios com uma
escrita muito miúda. Quando perguntei o que fazia, respondia que "ela apontava tudo."
A verdade é que a sua curiosidade era insaciável e suas perguntas eram muito
estranhas.
- Por quê?
- Parecia uma menina de doze anos. De repente, ela ficava olhando para um pinheiro
e perguntava que idade tinha. "Por que algumas pessoas se dão as mãos e outros se
beijam? Que sistema político tem neste país?..." Eram perguntas absurdas. De uma
infantilidade tal, que eu pensei que esta mulher tinha vivido em reclusão por muito
tempo. Fascinava-lhe, por exemplo, passear de automóvel e levá-la para os povoados
vizinhos. Ficava absorta em uma barraca de peixe. Uma vez, quando ela descobriu na
minha casa, umas cabeças de garoupa empalhadas, ela voltou a censurar-me,
dizendo que "aquele costume era horrível."
"Em Sevilha, durante uma visita turística, ela ficou espantada ao ver o grande número
de garrafas armazenadas no supermercado de El Corte Inglês.
- Por que você diz que seu comportamento era esquivo?
- Ela era uma observadora, mas à distância. Nos restaurantes, quando saíamos para
almoçar ou jantar, sempre escolhia o canto mais distante. E ficava de costas para a
parede, de modo que pudesse observar os comensais.
Geralmente, eu vinha para visitá-la nos fins de semana. Bem, o resto da semana
passava em seu apartamento. Dava longas caminhadas ao pôr do sol, mas não falava
com ninguém. Também não tomava sol. Como eu disse, se encerrava e escrevia.
- Você chegou a ler o conteúdo destes livros?
- Também não. E foi uma lástima. Perguntava-lhe o que escrevia e ela respondia: "Eu
escrevo tudo o que eu vejo, e tudo o que eu penso...”
- O problema é que, como eu disse, eu a considerava uma "louca". E não a levava a
sério.
Até que, um dia, no final da relação, o engenheiro descobriu "algo" que o intrigou.
- Francamente, me assustei. Ao vê-la nua eu notei uma grande lacuna que
apresentava na parte de trás de sua perna direita. Especificamente, na região dos
músculos da perna. Era enorme. Quase se via o osso. A verdade é que
impressionava. Cabia um punho. E eu perguntei-lhe o que tinha acontecido. Suas
palavras me deixaram petrificado, mas era chover no molhado e não lhe dei crédito.
- Ela respondeu que, na verdade, era um ser extraterrestre, que havia tomado o corpo
de uma mulher que morreu em um acidente de ônibus no México.
- Está bem! - Respondi, pensando que estava brincando -. Então você é uma
alienígena...
- E Ricky, em tom sério, sem um pingo de brincadeira, disse "que tinha entrado no
corpo de uma mulher que morreu de hemorragia." Ele acrescentou que, "entre os
mortos naquele ônibus, era o corpo menos danificado".
"Como deve entender, eu deixei seguir, suspeitando que ela não estava bem da
cabeça. Mas era tão bonita que não levei em conta...
Por horas, ao longo daqueles meses, eu insisti na questão do suposto acidente. Mas o
engenheiro - uma consequência lógica do seu ceticismo - não pode dar mais detalhes.
Tudo parecia tão fantástico, que não se preocupou em aprofundar-se na revelação de
sua amiga. Lembrava, no máximo, de dois ou três detalhes a mais.
- Me disse que o ônibus despencou e a mulher sangrou por várias horas presa nas
ferragens.
E isso foi tudo. Sobre isso, meu amigo não sabia nem a data ou o local do incidente.
Outro sério obstáculo para a realização da investigação. O México é um país enorme
e, infelizmente, a cada ano, os casos de "camionazos" - como são denominados por
lá, os acidentes de ônibus – se contam às dezenas. Mas vamos passo a passo...
- E eu compreendi - o engenheiro comentou - por que sempre usava calças.
- A propósito, e quanto à maquiagem?
- Nunca. Ela não era nada feminina. Eu nunca vi uma mulher que se cuidasse menos.
Não se perfumava. Não se pintava. E vou dizer mais, não tinha senso de pudor.
Quando entrava no banheiro, nunca fechava a porta. Ela não se importava.
Na minha busca para recolher o máximo de informações sobre a personalidade e
costumes de Ricky, fui obrigado, é claro, a questionar o engenheiro sobre suas
relações sexuais com a suposta alienígena. E pouco a pouco, meu amigo foi
revelando detalhes que, posteriormente, seriam altamente esclarecedores. Por
exemplo: Ricky era uma mulher fria. Nunca experimentou um orgasmo. Ela apenas
agradava o seu amante. Havia aspectos sexuais que dominava. Em outros, no
entanto, era uma completa ignorante.
- Talvez o que mais me chamou a atenção - arredondou meu amigo - era a sua
estranha forma de "desfrutar" do sexo. Quando fazíamos amor, puxava os cabelos.
Perguntado por que ela fazia aquilo, respondia que no couro cabeludo está uma das
zonas erógenas da mulher. E eu pensei: "É como uma cabra".
- Você acha que se apaixonou?
- Não. A nossa, como eu disse, foi uma relação superficial e distante.
- Te usou?
- Possivelmente. Mas se o fez, foi com um objetivo absurdo ou que não consigo ver
claramente. Eu respondia suas incríveis perguntas, a levava para passear, e
finalmente, colocava-a em contato com "algo" que parecia interessá-la muito. Mas não
havia amor. Além disso, eu tive a sensação que carecia de sentimentos.
Ricky, claro, continuou a insistir em sua origem "não humana". E ela disse a seu
amante que "eles procediam do que nós chamamos de constelação de Orion.”
Especificamente, em um mundo que é chamado de "Acron".
E o engenheiro começou ficar em dúvida.
- Quando me falou de "Acron” consultei uma enciclopédia. E eu vi que a temperatura
deste lugar era de cerca de 600°C. Eu te peguei! Pensei. E ao vê-la novamente,
convencido de que era tudo uma brincadeira, eu perguntei com algum sarcasmo: que
temperatura você tem no seu mundo?
"Setecentos graus", ele respondeu de imediato. Eu fiquei perplexo. Então, de forma
natural, acrescentou que "eles viviam abaixo da superfície, protegido por uma crosta
calcária." Como você pode imaginar, eu não saía do meu espanto. E me explicou que
não tinham o céu.
- Eu suponho que você não se interessar pela verdadeira aparência física destes
supostos seres...
- Nem um pouco. Por que fazer isso se não acreditava em suas palavras? Ela
continuou assegurando que era extraterrestre e quanto a mim, na verdade, entrava em
um ouvido e saía pelo outro. A moça era muito bonita e isso era tudo que importava.
Mas, pouco a pouco, eu fui presenciando atitudes que me confundiram. Por exemplo:
quando dormia na minha casa, nas primeiras horas da madrugada, eu a via
desaparecer da cama e, quase nua, ia até o terraço e começava a praticar uma
espécie de dança estranha. Algo como a “Tandava” de Shiva Natarásh (deus hindu). E
assim permanecia por horas... Na manhã seguinte, ao questioná-la sobre por que
desse comportamento singular, Ricky respondia que "aquilo" era uma forma de entrar
em harmonia com o cosmos.
Naturalmente, o cada vez mais confuso engenheiro, meio brincando e meio sério,
terminou perguntando o motivo de sua "visita" à Terra.
- "Eu vim", disse ela, "para investigar".
- Investigar?
"- Sim - acrescentou - entre outras coisas, a um velho Maia que conserva a memória
genética e pode ler os hieróglifos...
"E ela me disse que, depois de entrar no corpo da mulher, viveu por um tempo no
México, investigando o assunto dos maias. Ali, aparentemente, teve outro namorado.
Um mexicano...
Ricky, realmente, falava castelhano, embora - segundo o engenheiro - com um
sotaque mexicano notável.
Ao me interessar pelo grau de inteligência da estranha personagem, meu amigo foi
retumbante:
- Brilhante.
E recorreu a um novo exemplo.
- Eu presumo ser um excelente jogador de xadrez. Bem, uma vez lhe mostrei um jogo
verdadeiramente diabólico: o “Otelo”. Eu tenho praticado por mais de vinte anos e
nunca ganhei uma. Eu a ensinei a jogar e na primeira partida, depois de alguns
minutos, ela me destroçou. Aquilo me tocou fundo. Como era possível?
- Questão de genética - Ricky argumentou.
- E eu tentei de novo. Mas, foi uma derrota após a outra.
- E você nunca vai ganhar de mim... – Arrematou a danada. E assim foi.
A relação entre o engenheiro e a bela norte-americana iria durar, aparentemente, pelo
espaço de cerca de três meses. Nem esse dado vital aparecia claramente na memória
do meu amigo. Somente lembrava que a visitava cada fim de semana e que,
ocasionalmente, faziam viagens curtas para lugares como Faro, em Portugal, Sevilha
e Marbella. Na última cidade aconteceu algo que o engenheiro, logicamente, não
poderia esquecer...
- Fomos jantar com alguns amigos. Lembro-me bem de dois deles: Túlio e Henrique. E
agora você vai ver o porquê. O ponto é que Túlio, milionário e um pouco prepotente,
começou a pontificar, dizendo que ele se encontrava além do bem e do mal. Aquela
atitude irritou Ricky e ,depois de qualificá-lo de "imbecil", confidenciou-me:
- Este amigo de vocês vai morrer em breve... Depois Enrique e, finalmente, você...
- Quando perguntei como ela podia saber, limitou-se a replicar "que via a aura das
pessoas e que essa era a ordem das mortes.”
- Algum tempo depois, recebi a notícia da morte de Túlio. E Henrique, de fato, foi o
segundo...
Tentando encontrar uma explicação racional para o comportamento anômalo de Ricky,
eu também fiquei interessado na possibilidade de que consumisse drogas. O
engenheiro negou.
- Eu, pelo menos, no tempo em que a conheci, nunca tive essa impressão. Nem
mesmo fumava. Quanto à bebida, como eu já disse muitas vezes, só bebia leite. Tanto
que, quando a beijava, cheirava a leite... Parecia que estava beijando uma vaca. E eu
vou lhe dizer mais: Ricky era abertamente contra as drogas. Uma noite fomos jantar e
viu uns bêbados. Eles estavam cantando. Eu nunca esqueci o seu comentário:
- Como é possível que uma droga possa provocar esses sentimentos?
E o romance continuou. Ricky nunca se retratou de suas desconcertantes declarações
e engenheiro, entretanto, embora envolto na dúvida, optou por ignorar a suposta
origem "não-humana" de sua amiga. Na verdade, e nisso estava certo, a suposta
extraterrestre nunca apontou uma evidência sólida e irrefutável. Mas então veio o
último dia...
- Nós fomos jantar assim como muitas outras noites. E nós fomos para um lugarejo
próximo. E, como sempre, leite e verduras...
- E, em torno de uma hora da manhã, decidimos voltar. A noite estava escura.
Nenhuma lua e bastante desagradável. E a poucos quilômetros da cidade "A", em uma
longa reta, acelerei. Eu dirigia um Citroen GS Pallas.
- Ricky, ao meu lado, continuava tranquila e silenciosa. Mas então eu ouvi-a gemer. E
em uma fração de segundo se encolheu. E colocando-se em posição fetal, me virou as
costas, deslizando para o chão do carro. E os gemidos pioraram.
- O que é isso? - Gaguejei assustado -. O que há de errado!...
» Ela não respondeu. E seguiu no piso, enrolada e aterrorizada.
» Eu levantei o pé do acelerador e, naquele momento, uma estranha luz nos envolveu.
» Ricky gemia muito, com crescente desespero.
- O que é isso? - Exclamei perplexo.
» Minhas mãos brilhavam!... Melhor dizendo, refletiam uma luz branca leitosa.
- Que é isso...!
» E eu parei o carro. E ao abrir a porta e colocar o pé no chão, atordoado verifiquei
que a luz vinha de cima. Era um grande foco, com uma luz rara e muito poderosa. Eu
estava deslumbrado. Eu nunca vi nada assim... Aquela luz era espessa, quase
sólida... Ele iluminava o carro inteiro e parte da estrada e no campo.
» E dentro de segundos eu ouvi um barulho. Algo como um surdo e prolongado
“toooong”... E "aquilo" desapareceu tão repentinamente como tinha aparecido.
» Eu fiquei paralisado. E quando eu reagi, entrei de volta no veículo. Ricky continuava
encolhida no fundo do carro. Seus gemidos eram mais suaves e espaçados.
- Deus Santo... Ricky!... O que é tudo isso?...
» Eu tentei acalmá-la e me acalmar.
» E, finalmente, com a voz trêmula, sumida em um grande pânico, ela conseguiu
pronunciar uma frase que eu nunca vou esquecer:
- É uma nave espacial... E vem me buscar.
» A interroguei.
- Uma nave espacial?...
» Mas a mulher, dominada pelo medo, nem sequer parecia me ouvir. E repetiu várias
vezes:
- Leve-me para casa...! Leve-me para casa!...
» Foi inútil. Eu não consegui tirar dela outra palavra. E, com o susto no corpo, retomei
a marcha, deixando-a em seu apartamento. Eu continuei para a minha residência,
tentando ordenar os pensamentos. O que foi tudo aquilo? O que tinha acontecido?
Uma nave espacial?
» E naquela noite eu percebi que Ricky poderia ter razão. Mas já era tarde demais...
» Na manhã seguinte, quando eu fui até o seu apartamento, a bela norte-americana
tinha desaparecido sem deixar vestígios. Perguntei para a dona, a empregada e todo
mundo... Ninguém sabia de nada. Ricky simplesmente havia desaparecido. Nós
entramos em seu apartamento. Sua pequena mochila e as maletas desapareceram
com ela. Perguntei no povoado. Ninguém soube me dizer. Ninguém a viu partir. No
apartamento, aparentemente pago antecipadamente, não descobrimos nenhum sinal
de desordem ou partida repentina. Tudo parecia normal. Claro, Ricky não deixou nem
um bilhete. Somente a chave.
» E eu nunca mais a vi. Jamais tive notícias dela... e lamento minha estupidez.
Lamento não ter acreditado nela. Hoje, talvez, seria mais sábio...
Felizmente, o engenheiro conservava uma série de valiosas fotografias de Ricky,
tiradas durante o seu breve romance. (Cortesia do engenheiro.)
“Ela não gostava muito das fotografias - comentou o engenheiro - mas,
inexplicavelmente, me permitiu tirar algumas." (Cortesia do engenheiro.)
Imagem captada na casa do engenheiro. Junto da norte-americana, Petru e Henrique.
Este último falecido. (Cortesia do engenheiro.)
O engenheiro - cuja identidade não estou autorizado a divulgar – abraçado a Ricky.
Com eles, Petru e Henrique nas proximidades da localidade “A”. (Cortesia do
engenheiro.)
Por fim, a título de hipótese de trabalho, aceitando que tudo fosse real, um rio de
interrogações terminou afogando-me.
Até aqui, em resumo, a história do romance entre o engenheiro e a misteriosa Ricky, e
do não menos enigmático final. E antes de prosseguir, eu me recuso a deixar passar
em branco, as reflexões que estes relatos provocaram em mim. E, como sempre, vou
ser absolutamente honesto e transparente.
Por que foi "escolhido" um lugar tão remoto e isolado como a população “A”? naquelas
dadas imprecisas - entre 1975 e 1986 - o local possuía apenas uns 700 habitantes. É
claro que, se tudo obedecia a um plano, a região era ideal: longe dos grandes centros
urbanos, auto-estradas, aeroportos, meios de comunicação e, acima de tudo,
investigadores...
E por quê este engenheiro? Talvez por causa da localização da sua casa? Pelas
características físicas e psicológicas do personagem? Talvez porque, anos depois, um
investigador terminaria residindo no cenário onde ocorreram os fatos?
E o que pensar do suposto acidente de ônibus? Isso aconteceu realmente? Houve
uma mulher com hemorragia? Que tipo de civilização é capaz de ressuscitar
cadáveres?
Se Ricky era um "deles", porque estava com medo? Foi tudo uma magistral
representação teatral? Já faz muito tempo, nós pesquisadores suspeitamos que o
fenômeno OVNI poderia oferecer um objetivo claro de consciência coletiva.
Nada, portanto, seria mera coincidência. Ao contrário. Cada avistamento, cada
aterrissagem ou a cada encontro próximo com os tripulantes destas naves poderia ser
cuidadosamente planejado. Se assim for, o caso de Ricky foi preparado para que
"alguém" no momento apropriado, se preocupasse em investigá-lo e difundi-lo?
Primeiro, se não fosse este extraordinário “final”, o mais provável é que Ricky seguisse
dormindo em meus arquivos. Foi a consistência, a milimétrica precisão, a esmagadora
sinceridade do engenheiro e sua firme recusa em aparecer neste livro com a sua
verdadeira identidade, o que, na verdade, me moveu a aprofundar-me em semelhante
labirinto. A descrição do que aconteceu na última noite, se encaixa perfeitamente com
o que sabemos do fenômeno OVNI. Um caso típico, atrevo-me a enfatizar. Típico no
que se refere à nave, na luz projetada e sobre a abordagem a um automóvel. Não tão
"típico" assim, é claro, com relação ao resto da história.
Segundo, a versão original - em primeira mão - tinha pouco a ver com o que Darnaude
detalhou. A palavra "UMMO" jamais apareceu em minhas longas e múltiplas
conversas com o engenheiro (1). Em princípio, como veremos, o assunto é muito mais
complexo e de transcendental.
Ignacio Darnaude estava certo quando, no final de sua carta, sugere aos
investigadores que realizem uma análise completa e rigorosa dos fatos. Efetivamente,
as surpresas, deixaram-me sem fôlego.
Como entender o súbito desaparecimento de Ricky? A nave a tinha levado? Além
disso, se a história era verdadeira, como entrou na Espanha? Foi este o único caso de
"infiltrados" na sociedade humana? A verdade é que, no mágico fenômeno UFO, nada
mais me surpreende... E tudo segue me surpreendendo.
E a partir de 1995, com a minha mudança definitiva para Andaluzia, devagar e quase
involuntariamente, fui me envolvendo na investigação. Os casos de "transformação" –
para chamá-los de alguma maneira - me atraiam particularmente. Em 1980 tive a
oportunidade de investigar o primeiro. E me surpreendeu. Um guarda de trânsito, perto
de Jerez de la Frontera, tinha testemunhado alguns fatos surpreendentes (2). Em
resumo, o nosso homem, depois de perseguir, com sua moto, a um objeto voador não
identificado, comprovou espantado como a nave "tornou-se" primeiro um silencioso
caminhão de mudanças e depois em dois carros de luxo, perfeitamente alinhados, na
estrada Trebujena. E ele chegou a ver os ocupantes do primeiro carro, chegando a
conversar, inclusive, com o motorista. Os "indivíduos" eram - ou pareciam - seres
humanos comuns.
(1) Os famosos "Ummitas" - supostos extraterrestres - desceram na Terra em 1950,
mesclando-se, aparentemente, com a raça humana. Eu passei muitos anos investigando
o assunto e eu estou em condições de garantir que, ao contrário das alegações de
alguns, o fenômeno é real. Lamentavelmente, ninguém o tem investigado com um
mínimo de rigor e seriedade. É possível que no futuro próximo, eu decida revelar o que
acabei descobrindo. (N. do A.)
(2) O minucioso relato foi publicado em meu livro “A ponta do iceberg” (N. do A.)
Anos mais tarde, em setembro de 1989, na praia de Los Bateles, Conil (Cádiz), cinco
jovens da cidade e uma patrulha da Guarda Civil foram também testemunhas de outro
evento como traços semelhantes (1). Dois estranhos e gigantescos seres - sem rosto -
deitaram-se na areia. E, em segundo, depois de terem trocado uma pequena esfera
azul, se levantaram e caminharam em direção ao povoado. A surpresa e a confusão
das testemunhas não tinham limite: aqueles seres tinham mudado sua aparência.
Agora apareciam como um homem e uma mulher, vestidos com roupas normais. E o
casal, como eu disse, calmamente entrou em Conil, hospedando-se em um hotel. As
identidades - Alemãs - eram falsas...
Uma luz, leitosa quase sólida, envolveu o automóvel do engenheiro. (Ilustração de J.
J. Benítez.)
Monforte de Lemos (Galiza). Da esfera branca "saiu" um avião de passageiros.
(Ilustração de J. J. Benítez.)
(2) Ampla informação sobre o assunto em “A quinta coluna” (N. do A.)
Curiosamente, quatro anos após o caso de Jerez, em julho de 1978, duas jovens
americanas protagonizaram uma história muito semelhante. A informação, procedente
de Ignacio Darnaude, dizia assim:
"Dirigindo ao longo de um trecho de estrada livre e solitária, ao sul de Wyoming, Mickie
Eckert e sua amiga, Kathy Eckard, de uns vinte anos, viveram o que o renomado
ufólogo Timothy Green Beckley chamou de "o encontro UFO mais estranho que já viu
"(1)."
As mulheres estavam se dirigindo para o leste, em direção à Nebraska, e pararam na
beira da estrada para observar o que parecia um acidente. Dirigindo as luzes para o
local em questão, ficaram surpresas ao ver três objetos circulares que estavam
suspensos no ar, a vários metros do solo.
"E de repente, aqueles objetos se tornaram dois carros esportivos. E avançaram para
nós."
Aterrorizadas, as jovens pularam em seu carro e se afastaram em alta velocidade.
Mas, de repente, logo trás, brilharam umas luzes. Eram dois caminhões... Dois
caminhões que aparentemente surgiram do nada.
As mulheres, então, resolveram dar a volta, indo para Salt Lake City. Mas os
caminhões misteriosos fizeram o mesmo, retomando a perseguição. Depois de muitos
quilômetros conseguiram distanciar-se, entrando finalmente na cidade. E respiraram
aliviadas. Elas entraram em uma loja de departamento e acabaram rindo do que
aconteceu. Mas, ao voltar ao estacionamento, Mickie descobriu uma pequena luz, do
tamanho de uma bola de basquetebol, imóvel sobre a área. Elas correram de volta
para o carro e fugiram. E por várias centenas de quilômetros, tudo transcorreu
normalmente. Mas, ao cruzar uma silenciosa e pequena localidade no centro de
Wyoming, dois enormes objetos se situaram na altura do veículo, acompanhando-o.
Mickie acelerou, mas o veículo não respondeu, como se uma força estranha o
controlasse.
Finalmente, em um lugar solitário, o carro parou misteriosamente. E nesse instante,
uma bola de luz penetrou no interior do veículo, atingindo Kathy. Em seguida, a esfera
e os UFOs desapareceram.
Desnorteadas e mortas de medo, as mulheres viram então, longos comboios de
caminhões que circulam nos dois sentidos. E antes que conseguissem reagir, se
converteram em OVNIs triangulares, providos de suas cúpulas e voando a dois metros
do chão. E, depois de experimentar uma sacudida, o carro foi elevado a cerca de seis
metros da estrada.
Mas o pesadelo não tinha acabado.
Ao serem devolvidas à terra, diante delas apareceu outro carro. Kathy, sem imaginar o
que as esperava, saltou, correu até o motorista. Logo, sua companheira a viu
regressar, com o rosto transtornado.
- Ligue! - Gritou para Mickie.
(1) O singular caso foi investigado, entre outros, pelo referido Beckley e por John D.
Herrera. (N. do A.)
E esta constatou a presença de um enorme cão preto com os olhos brilhantes. E
nesse instante, dentro do veículo das americanas, sentado no banco de trás, apareceu
um indivíduo estranho. As mulheres fugiram aterrorizadas, e o carro, cão e indivíduo
se extinguiram.
E no silêncio da noite, surgiu um ruído surdo e distante.
"- Ficamos arrepiadas.”
» E um grupo de luzes apareceu no horizonte. E o ruído tornou-se cada vez mais
intenso. E, de repente, as luzes se uniram, transformando-se em uma gigantesca
nave. E uma poderosa luz laranja nos cegou.
"- Foi incrível - disse Mickie - A estrada se encheu de pessoas. Havia dezenas, talvez
centenas, transportando tubos...”
Mas de repente tudo desapareceu. O carro se recusou a ligar e, em breve, um veículo
se aproximou. O motorista disse que estava indo para Chicago e se ofereceu para
levar as confusas e aterrorizadas mulheres.
» Nós paramos em um motel e alugou um quarto. Mas, bastou fechar a porta, e as
luzes se apagaram e a TV ligou. E uma tênue iluminação se filtrou através das
paredes. Então percebemos que não tínhamos escapado. "
Depois de uma noite sem dormir, Mickie e Kathy telefonaram para a polícia. E ao
acompanhá-las até o local onde haviam deixado o carro, tudo parecia mudado: o
“guard-rail” da estrada era diferente, assim como os sinais e tudo ao redor. Em um
campo próximo foram encontrados os restos de uma vaca e um carneiro. Da primeira,
havia apenas o esqueleto. A segunda estava destroçada...
Neste mesmo ano, 1997, ao investigar a recente onda de UFOs sobre Galicia, em
companhia do excelente investigador de campo Marcelino Requejo, eu tive a chance
de conhecer e interrogar outra testemunha um caso, igualmente surpreendente, de
"transformação". Em suma, o jovem, vizinho de Monforte de Lemos e cuja identidade
não estou autorizado a divulgar, nos explicou o seguinte:
"Em agosto de 1995, no auge das festividades do padroeiro, eu fui com minha
namorada, para o parque situado ao pé do castelo. A noite estava esplêndida. E pouco
antes de meia-noite, pelo oeste, observamos uma luz. Era como uma bola de tênis,
com uma espécie de auréola ou neblina ao redor. A cor era branca. Um branco fosco,
muito raro... E estava se aproximando. Mas fazia com oscilações estranhas. Algo
como um movimento de ziguezague, mas na vertical... E em silêncio, sem ruído,
acabou situando-se quase acima de nossas cabeças.”
- Nós estávamos mudos...
» E de repente, eu não sei como explicar, aquela esfera luminosa se "aniquilou "... E
ao mesmo tempo (?) vimos aparecer um avião de passageiros... Foi assombroso!...
Era um avião normal, com suas luzes e sons típicos... Um som que chegava em
ondas, como os aparelhos de hélice.
"Nós estimamos a sua altitude em cerca de três mil metros aproximadamente. E o
"avião", ao "sair" (?) da esfera, mudou de rumo e desaparecendo para o sul.”
Quando sugerimos a possibilidade de uma confusão - isto é, um OVNI e um avião de
passageiros coincidiram no tempo e no espaço - a testemunha balançou a cabeça
negativamente. Ele acrescentou: "O céu estava limpo e, naquele momento, não vimos
nenhum avião. A aproximação da esfera branca durou cerca de três minutos. Naquele
tempo, se tivesse coincidido com tráfego normal, teríamos detectado.
» O que já não sei exatamente, é se a tal esfera se converteu no aparelho, ou se este
“saiu” da esfera luminosa... Tudo foi instantâneo. A "bola" de luz desapareceu e em
seu lugar, insisto, surgiu o avião... E o fez quando a mesma estava imóvel.
Em outras palavras – segundo a testemunha - o suposto “avião” começou a voar no ar
e partindo da velocidade zero!
Obviamente, se tudo isso é verdade – e não duvido da credibilidade das pessoas
interrogadas - estamos diante de uma “tecnologia” (?), que pode estar milhares, talvez
milhões de anos à frente. Por conseguinte, em vista da narrativa, porquê rejeitar, a
priori, a história do engenheiro? De certa forma, o caso Ricky poderia ser considerado
igualmente como um fenômeno de "transformação".
E em outubro do referido ano de 1995, como eu disse, eu comecei a trabalhar. A
princípio, honestamente, com muito pouco entusiasmo. O panorama – como já
comentei – não era para soltar foguetes.
O que eu tinha nas mãos? Por onde eu poderia começar? Meu objetivo, naquele
momento, focou em Ricky. Eu entendi que era uma das chaves. Se eu pudesse
chegar até ela, talvez lograsse esclarecer as dúvidas. Mas como fazê-lo?
O engenheiro não lembrava o nome dela, e muito menos o seu apelido. Não dispunha
de endereço ou número de telefone. Para piorar a situação, as datas do evento,
navegavam em uma lagoa escura de 11 anos...
E por um tempo, diante da impossibilidade física de avançar, decidi embarcar em
outras investigações, mantendo o assunto Ricky em “marcha lenta”.
“Algo”, em suma, salvo coleção de fotografias, me dizia que as peças iriam se
encaixando..., "no devido momento". E aproveitei as breves estadias em "Ab-ba" para
retomar as conversas com o meu desmemoriado amigo e estabelecer os primeiros
contatos com Marta. E os telefonemas para os EUA foram dando frutos. A proprietária
se mostrou solícita com o meu pedido de colaboração. Também se lembrava de Ricky,
no entanto, vagamente. Suas lembranças eram tão vaga que foi impossível trazer à
tona, o verdadeiro nome da estrangeira. Eu tive que me conformar.
Naturalmente, estas fotografias, algumas em cores, foram exploradas até a exaustão.
Mas não contribuíram muito. No verso, não havia datas ou anotações de qualquer tipo.
E eu me segurei na única coisa disponível: as pessoas que apareciam nestas fotos e
que, como o engenheiro, poderiam ter estabelecido qualquer contato ou relação com a
norte-americana.
Um dos amigos - Henrique, que morreu de infarto - foi evidentemente descartado. Eu
pedi ao engenheiro para localizar a Petru. Aparentemente, a única sobrevivente.
Na Semana Santa do ano seguinte (1996), Marta visitaria a população "A" e, quem
sabe, talvez então ocorresse o "milagre".
Francamente, eu não saía do meu espanto. Como era possível que ninguém,
absolutamente ninguém, se lembrasse da identidade de Ricky? Agora eu entendo e eu
sorrio. Cada investigação deve manter um ritmo, suspense e uma determinada
dificuldade, em "benefício", especialmente, do próprio investigador.
Ao mesmo tempo, fui em busca de Marta, a proprietária do apartamento em que Ricky
ficou, seus filhos, e a governanta que - de acordo com o engenheiro - também
chegaram a conhecer a suposta alienígena.
Novo balde de água fria...
Marta residia a muitos anos nos Estados Unidos. Quanto aos filhos, todos estavam
ausentes. Victoria, a governanta, e responsável por estes apartamentos durante as
longas ausências da proprietária, inicialmente, me recebeu cautelosa. É claro que,
além do engenheiro, ninguém sabia das minhas verdadeiras intenções. Em princípio -
e é isso que eu expliquei para Victoria – se tratava da busca por uma norte-americana.
Mas, como eu disse, a governanta se esquivou de mim. Lembrava, sim, da bela jovem
que manteve o romance com o engenheiro. E isso foi tudo. Provavelmente, com razão,
não quis comprometer-se a fornecer informações, enquanto não fosse expressamente
autorizada por Marta. E, embora o engenheiro tivesse intervindo a meu favor, se
mostrou inflexível.
E em 12 de abril de 1996, finalmente, eu pude conhecer Marta e suas filhas. E por
vários dias, em sucessivos interrogatórios, tentei investigar e estabelecer um mínimo
de ordem naquele pesadelo.
Infelizmente, nem Ana nem Alina, as filhas, foram capazes de esclarecer o que mais
me obcecava naquele momento. Ninguém sabia o verdadeiro nome da misteriosa
forasteira. A primeira, nascida em 1968, era uma criança quando Ricky visitou o lugar.
A segunda, nascida em 1975, era quase um bebê. Na verdade, suas lembranças eram
muito difusas.
Quanto à governanta, prontamente informada pela proprietária sobre minha intenções
inofensivas, se prontificou a colaborar, embora inicialmente não foi de grande ajuda.
- Ela era uma moça muito triste - disse Victoria. Ela saía pouco. Ela estava sempre
sozinha...
Uma vez, a governanta entrou no apartamento de Ricky, mas não vi nada de estranho.
Tudo parecia em ordem...
Para Victoria, de um modo geral, era apenas mais uma turista, embora um pouco
"estranha" e retraída. E, como se fosse uma maldição, a identidade da norte-
americana ficou no ar. E, por mais voltas que dessem, nem Marta, nem suas filhas,
nem a governanta, conseguiram trazer à tona o irritante nome.
Com as datas ocorreu a mesma e péssima sorte. Não houve maneira de se
concentrar, nem mesmo no ano. Para aquelas mulheres, o romance do engenheiro
com Ricky não tinha importância. E, logicamente, ao ignorar a suposta origem "não-
humana" da inquilina e do que aconteceu na estrada na última noite, a passagem da
"gringa" pelo apartamento foi desaparecendo rapidamente.
No entanto, nem tudo foi fracasso nessas conversas. De repente, em uma delas, Ana
apontou um esperançoso raio de luz.
Ricky não tinha vindo sozinha para o povoado "A"... A descoberta, depois de meses de
buscas infrutíferas, sacudiu-me.
E Ana falou de um médico, também americano, que, aparentemente, acompanhou a
evasiva Ricky durante os primeiros dias de sua estadia no apartamento de sua mãe.
- Ele disse que se chamava Spain. Era muito simpático. Só falava Inglês. E eu me
lembro que disse ter estudado na Universidade de Madison...
Marta, a proprietária do apartamento onde Ricky se hospedou. (Foto J. J. Benítez.)
Ana, a filha de Marta, que me colocou na pista do misterioso acompanhante de Ricky.
(Foto J. J. Benítez.)
Victoria, que também conheceu a bela e estranha norte-americana. (Foto J. J.
Benítez.)
Eu tentei refinar. Mas foi há muitos anos e ela não pode satisfazer a minha furiosa
curiosidade.
-Não muito alto. Com óculos. Cabelo castanho encaracolado... Mais ou menos a
mesma idade de Ricky. Talvez um pouco mais...
A oportuna Informação foi confirmada por Marta e Victoria que, com efeito, de repente,
lembraram do tal Spain. Mas nem uma das duas pode ir mais longe em suas
memórias, além da valiosa contribuição de Ana.
Elas recordavam, porém, que o igualmente enigmático companheiro de Ricky
abandonou o apartamento e o povoado “A” muito antes da bela norte-americana. Mas
também não estavam muito seguras.
Quanto ao modo de transporte utilizado pelo casal para chegar ao lugar, nem idéia. O
que estava claro é que eles não tinham carro nem motocicleta.
E com a inflamável pista nas mãos, abordei outra questão crucial: o livro de registro de
hóspedes. Se o suposto médico entrou com Ricky no apartamento, é possível que seu
apelido Spain figurasse em alguma das páginas.
Marta interrogou Victoria e esta, por sua vez, deu de ombros.
- Quem sabe onde esses livros podem estar...! Muitos anos se passaram...
A resposta da governanta voltou a mergulhar-me na decepção. Mas eu reagi. Se fosse
necessário – apontei com entusiasmo contagioso - e contando com a permissão de
Marta, eu mesmo iria ajudar na pesquisa. Honestamente, eu estava pronto para
colocar a casa de cabeça para baixo. O que eu não sabia naquele momento era que,
naquela época, a obrigação de apresentar os arquivos de cada cliente na polícia ou
Guarda Civil era muito elástico e relativo. Logo depois, ao consultar no quartel da
Guarda Civil a que pertencia o povoado "A", o tenente deixou as coisas claras:
-Naqueles anos, muitos apartamentos eram nada menos do que ilegais. As entradas
de hóspedes eram informais... Raramente possuíam um registro... E eu duvido que os
tenham.
Esta, aliás, era o caso dos apartamentos de Marta. Mas eu me agarrei à tênue
esperança, como um náufrago a uma madeira. Eu insisti, tentando convencê-los do
que eles já sabiam. Se existissem esses livros, talvez, em algum lugar, pudesse
aparecer o nome, endereço, número de telefone, ou número de passaporte do
providencial Spain.
Mas a busca, aparentemente, era tão trabalhosa que o meu apelo deve ter soado
como algo impossível. E por vários meses, a paciente governanta me viu batendo na
porta do apartamento, sempre com a mesma pergunta e com o mesmo desejo.
-Não..., os livros não apareceram.
E sistematicamente, Victoria prometia continuar a aparentemente impossível "caça"
dos ditos registros.
É engraçado. Se não fosse por aquela quase absurda tenacidade, é provável que esta
investigação tivesse sido abortada ou severamente atrasada. Mas "eles" sabem...
E, simultaneamente a essas infrutíferas abordagens, decidi abrir uma segunda linha
de investigação, que me permitisse chegar até Sapin. Blanca seguiu aqueles passos
com preocupação. O tema Ricky tornou-se um desafio pessoal. Eu não falava de outra
coisa, não pensava em mais nada... Todos os meus esforços, e meu curto
conhecimento, foram hipotecados em favor do que, sem dúvida, foi se tornando uma
obsessão: encontrar Ricky. E minha esposa, conhecendo-me como me conhece, se
manteve a uma distância segura, sabendo que, no meu caso, quanto maior a
dificuldade, maior o empenho...
E encomendei as primeiras solicitações de busca, a um casal de amigos nos EUA. E
Lona e Tom Woods, de Wisconsin, receberam a árdua missão com entusiasmo. Não
havia muito que eu poderia oferecer: um nome, uma profissão e uma universidade em
que, aparentemente, tinha completado o curso de medicina. Mas eu continuava
confiando na minha estrela da sorte...
É claro que, sabendo do tal Spain, me faltou tempo para visitar novamente o
engenheiro. E sim, o fato era de seu conhecimento... Mas concluiu desta forma:
-Agora que você mencionou – se debateu entre as brumas da memória - sim, eu ouvi
sobre esse indivíduo... Mas eu nunca o conheci. Quando comecei a sair com Ricky,
ele já tinha ido embora...
O engenheiro não foi capaz de esclarecer se ele era um namorado, parente ou amigo.
Além disso, nunca falou com Ricky sobre este personagem. E me vi assaltado por esta
inevitável companheira de viagem: a dúvida. Outra mais...
Se a norte-americana era o que dizia ser, qual o papel que desempenhava o
enigmático companheiro em tudo isso? Tratava-se de outro suposto alienígena? Como
e por que foi embora? Por que deixou Ricky sozinha?
Eu tive que colocar freio nas especulações. Assim não iria a lugar nenhum.
E Marta voltou para os Estados Unidos, prometendo manter-me a par de qualquer
nova pista. Talvez seu ex-marido, agora aposentado nos EUA e que administrou os
apartamentos por anos, poderia lembrar algum outro detalhe sobre o casal em
questão.
E antes de partir, a proprietária me surpreendeu com uma revelação que - eu não sei
por que - eu também me recuso a ignorar. Talvez não tenha relação com o caso.
Talvez sim...
O ponto é que, falando sobre outras questões, e como é muito comum em minhas
conversas, o fenômeno dos "não identificados", finalmente surgiu. E Marta disse algo
que me deixou inquieto.
- Foi em uma madrugada. Eu estava amamentando a mais nova das minhas filhas...
Na época morávamos aqui nos apartamentos... Lembro-me que estava sentada perto
da janela. E de repente, pela colina próxima ao vilarejo, apareceu uma estranha,
poderosa e silenciosa luz...
Lona e Tom Woods, o providencial casal de Wisconsin que me ajudou na difícil busca
de Spain. (Foto Satcha Benítez.)
O fato ocorreu no Verão de 1970. E eu digo que as palavras de Marta me deixaram
desconfortável, pois, novamente, se fosse verdadeira a história de Ricky, era provável
que esses seres tinham "preparado o terreno", realizando uma revisão abrangente do
lugar e as pessoas que, direta ou indiretamente, poderiam entrar em contato com os
"infiltrados". Eu sei que a teoria é arriscada, mas na impressionante casuística dos
OVNIS, só o fantástico é real...
E eu me pergunto: O que fazia o objeto na frente dos apartamentos que, anos depois,
seriam ocupados por Ricky e Spain?
E forçado a um novo compasso de espera, pela enésima vez me lancei na estrada,
tentando afastar-me de Ricky. Eu não consegui. As imagens da norte-americana se
misturavam com outras investigações, acordando-me, inclusive, de madrugada. Isto
não era normal. Nunca, um assunto OVNI – supondo que disso se tratasse – se
introduziu em minha mente de forma tão violenta. O que estava acontecendo? Parecia
que uma "força" Invisível me empurrava impiedosamente para Ricky.
E minha resistência, efetivamente, durou pouco.
Em 11 de junho, estando em Barcelona, recebi uma chamada que me colocou de volta
no olho do furacão, da embrulhada investigação.
Era Lona, minha querida amiga de Wisconsin. O casal, para minha surpresa, havia
localizado dois Spain que, aparentemente, coincidiam com os dados fornecidos por
Ana. Posteriormente, em uma longa carta, após detalhar os muitos esforços
implementados, e que nunca poderei agradecê-los o suficiente, Tom e Lona Woods
passaram a me informar as possíveis localizações de ambos. Um dos Spain residia no
leste dos Estados Unidos. O outro, no norte. No total, segundo suas investigações, o
número de pessoas com nome Spain, existentes nos EUA se aproximava de uma
centena. O problema é que os dois figuravam como médicos. Qual deles era o
companheiro de Ricky?
E eu comecei a contemplar a possibilidade de viajar para os Estados Unidos e
interrogá-los pessoalmente. Mas o que eu poderia dizer? Perguntaria-lhes por sua
hipotética origem extraterrestre? Como contar-lhes a história de sua atraente
compatriota?
Não, aquilo seria uma loucura. E eu tentei me acalmar. Eu tinha que encontrar outra
fórmula. Eu tinha que começar do início. Qual dos Spain tinha visitado o povoado "A"?
Uma vez concluída esta importante premissa, e eu pensaria em alguma coisa...
E, como um primeiro passo, redigi duas cartas em inglês, com texto idêntico. As duas
diziam textualmente:
» Prezado Senhor:
» Suponho que esta carta o surpreenderá. Eu sou um escritor. Eu vivo no pequeno
povoado costeiro de... E a razão para escrever a você é a seguinte: Estou preparando
um livro sobre este povoado e eu estou entrevistando inúmeros estrangeiros que
residem lá ou que o visitaram em alguma ocasião. Pois bem, conversando com os
moradores, várias pessoas me falaram de... Spain, um médico norte-americano que
visitou... na década de setenta. Essas pessoas elogiaram este médico e,
honestamente, eu gostaria de localizá-lo e perguntar-lhe sobre suas impressões a
respeito deste povoado. Depois de consultar vários centros só foi possível obter os
nomes e endereços de dois Spain médicos. Um deles, o senhor. Mas eu estou em
dúvida. Foi o senhor que visitou... nesta época?
» Eu ficaria muito grato se pudesse me esclarecer esse ponto. Em caso afirmativo, se
lhe for oportuno, lhe enviaria um pequeno questionário, ou eu entraria em contato com
o senhor.
» Desculpe o transtorno. E um milhão de agradecimentos por antecedência.
Espero que os céus, e os respectivos Spain, saibam perdoar essa pequena mentira.
Mas, honestamente, eu não me atrevi a me apresentar com a verdade. Ainda não...
E nestas mesmas datas - junho 1996 - o engenheiro, finalmente, me colocava no
rastro de Petru, a amiga que aparecia nas fotografias, em companhia do falecido
Henrique e de Ricky. Dias mais tarde, ao retornar de umas pesquisas em
Extremadura, parei em Sevilha, tendo uma longa entrevista com a, amável e
surpreendente, Petru.
A contribuição deste testemunho naqueles difíceis momentos seria de suma
importância. E não porque soubesse o nome da norte-americana - novamente a
maldição – mas por sua precisão na fixação de datas. Ao visualizar as fotos onde
aparecia com Henrique, Petru me proporcionou um dado, que centrava a época em
que Ricky teve o romance com o engenheiro. Eu suponho que deve ter percebido
minha alegria.
Henrique fez uma cirurgia delicada "em 1980". Bem, de acordo com Petru, aquelas
fotografias foram tiradas pelo engenheiro em um fim de semana, " pouco antes ou logo
após a cirurgia."
1980!
Eu não podia acreditar... Apesar da imprecisão, aquilo era um triunfo. Bom Deus,
como pode tão pouco elevar o ânimo de um investigador...
Em 1980, na verdade, Ana, a garota que sentou nos joelhos do engenheiro quando
estava jogando cartas, poderia ter 11 ou 12 anos. Em princípio, encaixava. Agora eu
tinha de refinar este "pouco antes ou logo após."
Quanto a Ricky, Petru não tinha muito que dizer. Somente teve contato com ela
naquele fim de semana e não houve nada para chamar sua atenção.
- Em todo caso – acrescentou - seus olhos... Eles eram muito azuis e bonitos.
E, radiante, fui me encontrar novamente com o engenheiro. Desta vez eu tive sorte. Ao
mencionar a data da operação, meu amigo, examinando as fotos, assentiu com a
cabeça. E convicto acrescentou:
- Aquela visita à minha casa, foi após a operação de Henrique... Lembro-me porque
ele ainda estava se recuperando.
Posterior a 1980... Mas quando? A informação era vital para tentar ordenar o quebra-
cabeça. O problema é que as vias de acesso a tal data começavam a se esgotar. E o
instinto me empurrou de volta para Victoria.
- Os livros...? Impossível... Provavelmente foram jogados fora por Tom, o então marido
da proprietária...
E da euforia, em minutos, passei para o desespero. A bomba soltada pela governanta
me derrubou. Sem força e sem vontade de continuar.
Blanca já tinha advertido, e ao contar-lhe o que aconteceu, seu fino olfato a fez
exclamar:
- Não confie nisso... Tenho certeza que ela não se deu ao trabalho de procurar.
E acrescentou, tratando de compensar:
- Além disso, te sobram os Spain...
É verdade, mas aqueles livros, caso existissem, poderiam me poupar tempo e esforço.
E, como se tudo estivesse meticulosa e finamente planejado, justamente naqueles
dias chegaram até nos, uns rumores que davam razão à minha esposa e explicavam
(?) o refratário comportamento da velha governanta. Por motivos alheios a esta
investigação, Victoria, aparentemente, não nos olhava com bons olhos. Motivo?:
Nossa amizade com o empreiteiro que tinha levantado "Ab-ba". Este homem, um
morador, como Victoria, do povoado "A", tinha inimizade com a governanta dos
apartamentos. E sem saber, Blanca e eu acabamos sofrendo as conseqüências deste
desentendimento...
É engraçado como, às vezes, uma investigação pode acabar truncada ou ficar em
perigo por razões que nada têm a ver com a referida investigação.
Mas, a julgar pelo que aconteceu nas semanas seguintes, "tudo estava planejado e
bem planejado”...
Por uma série de defeitos detectados em nossa casa - resultado de negligência ou de
algo pior - a amizade com contratante acabou esfriando. E a notícia, claro, correu pelo
pequeno povoado.
Mão santa. A partir desse momento, a atitude de Victoria sofreu uma mudança
considerável. E, ao voltar a vê-la, fiquei surpreso. De repente (?) – fiquei louco de
vontade de perguntar por quê - "havia uma possibilidade de que os livros de registro
pudessem ainda encontrar-se no apartamento."
Santo Deus! ...
E agora eu me pergunto: o que teria acontecido se esses defeitos de construção, em
vez de aparecer "causalmente" naquela época, tivessem sido detectados no ano
seguinte, ou, simplesmente, nunca?
Coincidência? Eu duvido...
O ponto é que, da noite para o dia, graças à vontade da governanta, este serviçal
recuperaria o castigado ânimo.
Os livros estavam na casa. A intuição nunca engana. Mas "algo" (?) também me dizia
para continuar a manter a paciência. Mais cedo ou mais tarde apareceriam. Melhor
dizendo, "em seu devido tempo". E eis que, nesta aventura intrigante, ainda teriam que
acontecer "algumas coisas”... Alguns fatos de especial significado no conjunto da
história.
Mas tentarei não quebrar a ordem cronológica dos acontecimentos. Só então
poderemos entrar de cabeça fria no sutil e incrível "fundo" do caso Ricky.
A tensa espera, no entanto, teve seu preço...
A falta de notícias dos Spain, e a longa busca dos livros de registro, deixaram-me
nervoso. E o nervosismo - perigoso inimigo do pesquisador – esteve a ponto de
arruinar todo o processo.
Estava decidido: viajaria para os Estados Unidos. A montanha iria até Maomé...
Blanca me pediu calma. Não era o momento. Eu não sabia nem a identidade de Ricky.
E ela me propôs uma trégua. Em agosto - "causalmente" - devia viajar para os EUA
para tratar do assunto do “doutorado” do meu filho Satcha. Se até então não houvesse
resposta, poderia me lançar à busca dos Spain. Ela acertou, é claro...
E o Destino (?), Implacável, desencadeou a próxima fase da “operação”.
EGITO
Casualidade? Eu duvido.
Uma noite, o telefone tocou. Era Manuel Delgado, um grande especialista sobre o
Egito. Estava preparando uma nova viagem ao famoso país e nos pediu para
acompanhá-lo.
Aquele mês de julho de 1996, como eu vinha dizendo, foi talvez o mais crítico. Apesar
das sensatas e reconfortantes palavras da minha esposa, minha mente continuava
funcionando. Passava horas construindo e demolindo hipóteses, contemplando as
fotografias da suposta alienígena e visitando o apartamento um dia sim e outro
também. E imaginação transbordava, envolvendo-me em estranhas especulações...
"Se Ricky não era humana e tinha se "introduzido "(?) no corpo da mulher acidentada,
que destino teve o cadáver? Foi enterrado?... Não, isso não era possível...
O que poderia acontecer se eu acabasse encontrando Ricky?... E sobre a sua
família?... Estava ciente da hipotética personalidade suplantada? ... Como reagiriam
se lhes mostrasse as fotos de sua filha "viva"? ... Porque a verdadeira Ricky, a
primeira, tinha que ter sido declarada oficialmente morta... Ou não?... "
Estas e muitas outras conjecturas terminaram me arrastando até um preocupante
estado de ansiedade. E Blanca, ágil e com grande tato, cortou pela raiz, aceitando o
convite de Manolo Delgado. E pela primeira vez em anos, estávamos prontos para
desfrutar de duas semanas de férias. Lembro-me que, relutantemente, concordei.
Mas, no fundo, eu percebi que ela estava certa. Minha obsessão por Ricky
aconselhava um fulminante distanciamento do caso.
E em 16 de julho, terça-feira, às 16 horas, 15 minutos e 50 segundo, um MS-888 da
companhia Egypt Air decola do aeroporto de Madrid-Barajas, com destino ao Cairo.
Poucas horas antes – ao meio dia - em uma pequena cidade de Jaén, ocorria um
evento que, emaranhava ainda mais, o confuso assunto da bela norte-americana.
Mas, eu não tive conhecimento do que aconteceu em Los Villares, até o nosso retorno
para a Espanha. E graças a Deus...!
"Isso é loucura..." Foi inútil. Os argumentos desmoronavam frente à repentina,
granítica e aparente ridícula idéia. Hoje, ainda, eu fico me perguntando: de onde
chegou aquela "idéia"? Era realmente minha?
"E o que eu perco em fazê-lo?... Ninguém tem que saber.”
E timidamente, olhando para cima, procurei a constelação de Orion. E tornei meu
aquele "pensamento" (?), provável catapultado desde muito tempo:
"Se eu estou no caminho certo, se o caso Ricky é autêntico, se a hipótese dos
"Infiltrados" possui algum fundamento, "eles" me darão um sinal.”
A excursão, na companhia de velhos e queridos amigos, parecia promissora. O que eu
não podia imaginar, naquele momento, é que o grupo, composto de 64 pessoas, iria
ser testemunha de uma série de "fenômenos" e "achados" cada um mais bizarro.
Alguns "acontecimentos" que, se não me engano, estavam intimamente relacionados
com Ricky. Para ser exato, com os "seres" que puxavam os fios deste monumental e
descarada "teatro".
E feito o incomum pedido, uma benéfica placidez enxugou os resíduos de tensão.
Eu suspeito que, para o leitor desinformado, esta atitude pode ser chocante e até
mesmo gerar algum sorriso zombeteiro. É lógico. Para mim, no entanto, após 20 anos
de luta com o fenômeno dos "não identificados", é uma postura quase natural. Nesse
longo período de tempo eu vi, ouvi e tive contato com situações anômalas, das quais
não tenho nenhuma explicação.
Na verdade e confesso sem vergonha, esses "seres" conhecem, monitoram e
controlam. Eu sei que a afirmação não é científica, mas nem tudo é ciência no
complexo alambique do espírito humano. E eu acrescento esperançoso: A intuição
também circula através desses circuitos. E com incrível força!
Pois bem, este sexto sentido, de mão dada com a experiência, diz-me que tudo está
"programado".
Essas civilizações "não-humanas" sabem quem nós somos, o que fazemos, e por que
nos movemos. Além disso, em muitos casos, são "eles" os que "desenham" nossa
linha de conduta e nossos – supostamente – livres movimentos. Mas esta convicção
pessoal poderia nos arrastar para muito longe e não é este o meu propósito.
Ocorreu na noite de nossa chegada ao Hotel Mena House, no Cairo. Mas, obviamente,
ninguém soube. Nem mesmo Blanca. Foi "algo" muito íntimo.
Eram duas da manhã - ainda não sei bem por que - apareci na varanda do quarto. No
começo eu atribuí ao calor: 27°C. Agora eu não tenho tanta certeza...
Ao fundo, entre a névoa e a escuridão, aparecia uma das pirâmides. E os meus olhos
e meu coração deslizaram sem querer (?) para aquele firmamento vivo branco e
pulsando. E para minha grande consternação, a familiar imagem de Ricky se instalou
entre as estrelas. E cansado, eu não tive forças para afastá-la. E um pensamento
repentino, implacável e avassalador, tomou conta de mim. Eu tentei dissolvê-lo.
Impossível. E continuou me torturando...
A verdade é que, fiel às minhas convicções, naquela madrugada de 17 de julho,
formulei o mencionado pedido. Mas, humano afinal de contas, eu cometi um erro. Isso
eu imagino, pelo menos...
Em vez de esperar o sinal - o que quer que fosse – eu me adiantei aos
acontecimentos, estabelecendo um rígido e particular "evento":
"Duas luzes no céu... uma ao encontro da outra e em rota de colisão... E ao se unirem,
um flash".
Eu sou um desajeitado... Quando eu vou aprender?
E em minha estúpida soberba, eu me atrevi a estabelecer um prazo inexorável para a
realização da tal "resposta". O sinal deveria ocorrer durante a minha estadia no Egito.
Nem preciso dizer que, a partir daquele dia 17 de julho, os meus olhos ficaram mais
atentos ao céu, do que aos tesouros e maravilhas egípcias. Mas ninguém notou.
Aquela quarta-feira, e na quinta-feira, 18, tudo transcorreu normalmente. Ou seja, sem
notícias sobre o meu secreto "pacto". Isso foi o que eu deduzi...
Após as visitas ao planalto de Gizé e ao obelisco inacabado de Aswan, permaneci um
longo tempo atento ao céu. Segundo e lamentável erro. Inconscientemente, eu
associava o sinal com a noite.
Blanca, desconfiada, percebeu alguma coisa. Mas soube respeitar aquele enigmático
isolamento. E não perguntou nada... por enquanto.
Eu não sei explicar, mas eu sabia que aqueles "seres" estavam nas proximidades.
Muito perto... E os fatos, como nós veremos mais adiante, me dariam razão.
Sexta-feira, 19.
Seguindo o programa, o grupo seguiu para os templos de Abu Simbel. Dia atarefado.
Assistimos o espetacular nascer do sol no deserto, enchemos os bolsos de meteoritos,
contemplamos a obra colossal de Ramsés II e, ao pôr do sol, navegamos pelo rio Nilo,
desembarcando na ilha de Philae (ou Filas).
No meu caderno de campo, entre desenhos e notas de todos os tipos, podemos ler:
"... Negativo. Outro dia "em branco". O sinal permanece sem acontecer... Ou eu me
equivoquei?...”
Sim e não.
Aparentemente, apenas aparentemente, as "luzes em uma rota de colisão" não
marcaram presença. E eu continuei esperando.
Em 20 de julho, sábado, entramos no Oberoi Shehrayar, um dos navios que cruzam o
Nilo.
E ocorreu "algo" que chamou a atenção de alguns membros da expedição. Não
muitos. No entanto, considerando o "assunto" como fortuito, ficamos em silêncio.
Visitamos a Ilha de Elefantina e a pedreira de Sehel.
E em meu caderno, outra anotação negativa:
"... Atenção! Seguem sem aparecer... »
Domingo, 21.
Primeiro sobressalto.
Percorremos Kom Ombo e às 15:30 horas, o grupo reuniu-se no salão do navio. Aquilo
era um hábito quase diário. No final do dia, geralmente ao final da tarde,
aproveitávamos para conversar e compartilhar histórias e experiências. Desta vez, a
presença do Dr. Jimenez del Oso, que se uniu recentemente à expedição, alterou
parcialmente os hábitos. E o encontro da noite se estendeu. Agora, com a benéfica
perspectiva proporcionada pelo tempo, até este pequeno detalhe me parece “mágico”.
E eu explico. O que aconteceria naquele salão exigia um máximo de testemunhas.
Mais ainda: seria vital que estivessem presentes, praticamente todos os viajantes. E
nada melhor para conseguir isso, do que organizar uma conversa amigável e
descontraída, com uma das personalidades mais carismáticas do mundo do mistério.
E Fernando Jimenez del Oso, com sua tradicional bondade, se prestou, encantado, à
rodada de perguntas.
Coincidência? Eu duvido...
Duvido que o "impacto" teria sido o mesmo, se tivesse ocorrido em outras
circunstâncias. Tudo, eu insisto, parecia "amarrado e bem amarrado”...
E nisto estávamos quando, de repente, às 16 horas, Emilio Bourgon se manifestou,
alertando-nos. E se fez um silêncio mortal. E todos, instintivamente, consultamos
nossos respectivos relógios.
Como era possível?
O anúncio de Emilio foi apenas o gatilho. O seu relógio – ou melhor, o calendário do
relógio - não marcava o dia 21. Ele marcava o dia 20. E, desconfiado, formulou a
pergunta chave:
- Alguém mais notou uma anomalia semelhante? E o escândalo estourou.
O relógio de Emilio não era o único atrasado. E aqueles que perceberam a estranha
alteração no dia anterior, se manifestaram.
No total, em uma primeira contagem, foram registrados 13 relógios com calendários
deslocados!
Que diabos estava acontecendo?
A maioria indicava o dia 19, sexta-feira. Outros, assim como o de Bourgon, ficaram
"detidos" no dia 20 e alguns até mesmo na quinta-feira, 18. O de Antonio Cañizares,
no entanto, saltou para o dia 22. O de Blanca, minha esposa, apareceu ancorado no
dia 19, o dia da visita a Abu Simbel (1).
Naturalmente, ali terminou o sossegado bate-papo. E juntos, tentando manter a calma,
analisamos a maciça "epidemia de calendários loucos", em uma vã tentativa de
encontrar uma explicação lógica e racional. É claro, nós falhamos.
Em muitos dos relógios - como foi o caso de Blanca, com um Ellesse - o salto do
calendário "para a frente" poderia ser justificado pelo manuseio incorreto da coroa. O
contrário, no entanto, não era viável. Entretanto, curiosamente, exceto o relógio de
Cañizares, o resto aparecia "congelado" em datas "inadmissíveis". Se estávamos no
domingo 21, como explicar que os calendários indicavam 18, 19 e 20? As respectivas
engrenagens não admitiam uma reversão dessa natureza. Nem mesmo por engano,
ao manusear estas coroas.
(1) De acordo com as minhas notas, as pessoas que sofreram algum tipo de anomalia
em seus relógios foram as seguintes: David Sentinella, Ana Morgado, Javier
Fernandez, Monica Pereira, Maria Díez, Francisco José Dominguez, Vina Harjani,
Antonio Cañizares, Emilio Bourgon, Manuel Delgado, Esperança Casa, Sandra
Gonzalez e Blanca Rodriguez. (N do A.)
Nos eletrônicos, o problema era ainda mais complicado. O do Emilio, para citar um
deles, exigia um mínimo de cinco operações para conseguir que os dígitos do
calendário pudessem retroceder 24 horas.
Uma brincadeira?
A sugestão foi categoricamente rejeitada. Com que fim?
O suposto brincalhão, além do mais, deveria ter tido o apoio de 12 outros cúmplices.
E, ainda assim, eu insisto, nos relógios não eletrônico, só poderia ter ido “para a
frente”. Nunca para trás.
Mas, o que eu estou dizendo de "12 cúmplices"? Na realidade, o número de relógios
alterados foi 15! Porque, alguns dias depois, dois outros membros do meu grupo
também me mostraram seus respectivos e igualmente “enlouquecidos” relógios. O de
Pilar Cabota foi preso no sábado, 20. Quanto à Hilde Alemán, o relógio - sem
calendário - apareceu quebrado. Simplesmente parou. O mais intrigante é que esta
última passageira guardava seu relógio em uma mochila desde a quarta-feira, 17. Em
outras palavras, tinha ficado no quarto do hotel, com a bagagem.
E eu tive um pressentimento. A quarta-feira, 17, como deve recordar, foi justa e
"causalmente" o dia de meu singular "pacto"...
Em suma, se os calendários não podiam recuar e ninguém manipulou os relógios
eletrônicos, somente restava pensar que "algo ou alguém" os deteve. Que outra
explicação nós tínhamos?
Se tivesse sido apenas um ou dois relógios, o assunto, provavelmente, teria passado
despercebido. Mas 15...
E alguém finalmente colocou o dedo na ferida, sugerindo uma hipótese que tremulava
nas mentes de alguns:
"Uma força desconhecida tinha de ter influenciado os equipamentos, ou, pelo menos,
nos mecanismos de arraste dos dias.”
E essa possibilidade - quase automaticamente passou para "algo" muito familiar para
este confuso investigador:
Ovnis!
Como sabem os estudiosos e seguidores do fenômeno dos "não identificado", em
várias ocasiões, a proximidade com estas naves, já alterou diversos dispositivos. Em
particular, os motores de combustão interna e instrumentos elétricos ou eletrônicos.
Não sabemos a razão, mas pode muito bem ser devido aos poderosos campos
eletromagnéticos gerados por tais objetos.
E as dúvidas continuaram a perseguir-me.
OVNIs?
Eram os responsáveis por aquela confusão?
Mas quando? Quando eles poderiam ter influenciado os relógios? Tinham se
aproximado do grupo no Cairo? Talvez nas excursões realizadas até aquele
momento?
Naturalmente, ninguém viu nada. Uma notícia semelhante poderia se espalhar como
pólvora... OVNIs? "Invisíveis"?
Não seria a primeira vez... Estas naves - como já foi demonstrado através de radares
e filmes - desfrutam de uma tecnologia tão inatingível para nós, que podem voar para
qualquer lugar, sem que o olho humano perceba. Os instrumentos, no entanto, eles
são capazes de "perceber" esta presença. Era este o caso dos 15 relógios "loucos"?
E uma incontrolável emoção foi me conquistando.
Minhas suspeitas pareciam confirmar-se. A intuição dificilmente se equivoca.
Algum tipo de nave – sabe lá quantas - "seguia e controlava" o grupo.
Mas para quê? Aquele pressentimento tinha algo a ver com o meu “pedido”?
E, certamente, perplexo, eu me refugiei em absoluto silêncio. E, como de costume,
com a minha estupidez de costume, eu fui incapaz de "ler nas entrelinhas". E eu
continuei agarrado a "palavra de ordem", convencido de que a "demonstração" em
breve ocorreria.
Pobre “míope”!
E o Destino (?) continuou "fazendo e desfazendo”...
Perdido no labirinto de relógios, a segunda e a terça-feira, passaram em um flash.
Conforme me aprofundava no estranho fenômeno, mais claro se desenhava no meu
cérebro: "aquilo" tinha que obedecer a uma “manobra” dos meus “primos”...
O relógio de Hilde Alemán, parado deste o dia 17, quarta-feira, podia ser uma chave.
Mas, se assim fosse, por que não se manifestam mais claramente? O que esperavam
para me dar a cobiçada "resposta"? Será que estavam me preparando para "algo"
mais substancial?
Sim e não...
A verdade é que, contra todas as probabilidades, naqueles dias tensos, eu não
detectei nada de anormal. E o "sinal" permaneceu ausente. E na minha busca para me
convencer de que o "pacto" se cumpriria, pousei em uma imagem que, em grande
parte, apontou a esperança: o Sinai.
Estúpido que sou! Como eu não tinha me dado conta?
Aquele maciço era o lugar ideal. A montanha-UFO por excelência – estava seguro -
seria o cenário escolhido. Ali se apresentariam as "luzes em rota de colisão”...
E meu ânimo voltou a se recompor. E fomos aproximando-nos da seguinte surpresa.
Melhor dizendo, aproximando-me...
Quarta-feira, 24.
E às 16:30 hs, depois de um almoço simples no hotel Mercure em Luxor, a expedição
se dirigiu alegre para o aeroporto. Um vôo da Egito Air, contratado desde a Espanha,
para 18 horas daquele dia, nos levaria para a famosa Península do Sinai. O programa
era simples, mas cansativo. A chegada na pequena cidade de Sharm el Sheikh, ao sul
da montanha de Deus, estava prevista para 19:25 (hora local). Jantar no hotel e, logo
em seguida, de ônibus, os 64 expedicionários marchariam até perto do, não menos
lendário, mosteiro de Santa Catarina ao pé do Sinai. De lá, por volta das duas da
manhã da quinta-feira, 25 de julho subiríamos até o cume, onde, supostamente,
Moisés recebeu as Tábuas da Lei
O objetivo era ver o nascer do sol e depois descer, parando no referido mosteiro.
Finalmente, ao pôr do sol, voltar para o hotel - o Sonesta Beach Resort - na citada
Sharm el Sheikh.
As altas temperaturas – 50°C à sombra - não recomendavam uma subida à luz do dia.
Mas, como é bem sabido, o homem propõe e a "Nave Mãe" dispõe...
Recordo que, enquanto nos dirigíamos ao aeroporto de Luxor, ao repassar o apertado
itinerário previsto para as próximas 24 horas, eu expliquei a minha preocupação para
Blanca. A jornada seria exaustiva. Estávamos a oito dias em ritmo intenso e a fadiga
começava a cobrar seu preço. Adicionar agora, uma noite inteira sem dormir, uma
escalada difícil - quase 2.300 metros - a um dos picos do maciço granítico, retornar
também a pé e a posterior visita à Santa Catalina, me pareceu excessiva e perigosa. E
minha esposa compartilhou esta inquietação. Mas o grupo - um dos mais queridos e
mais bem dispostos que já conheci - não fez nenhum comentário. Se fosse necessário
sacrificar-se, eles se sacrificariam.
E mentalmente, em uma tentativa de "suavizar" a surra que nos aguardava, formulei
um pedido:
Talvez "eles" poderiam evitar... Não seria mais lógico e saudável que a penosa subida
ocorresse na madrugada do dia seguinte? Uma noite de descanso viria bem a calhar...
E sabendo que os desejos se cumprem, (1) mantive-me atento. "Algo coisa" iria
acontecer. "Algo" iria quebrar o programa previsto.
Eu não me equivoquei.
No entanto, o que eu não sabia, é que a perfeita “manobra” encerrava também outra
"interessante, sutil e transcendental intencionalidade."
Eu disse: "eles" sabem e programam...
Segundo meu caderno de campo, nem meia hora tinha decorrido desde a nossa
chegada no aeroporto. A bagagem foi verificada e, de repente, com os cartões de
embarque na mão, um dos guas surgiu com a notícia:
"Cancelado”... O vôo para o Sinai estava cancelado.
(1) Não é o momento para estender-me em uma explicação de, por que eu acredito que
os sonhos inevitavelmente se cumprem. Se o leitor está interessado na "fórmula", eu
recomendo dois livros "muito especiais”: Mágica Fé e A 33.000 pés. (N. dos ET) grato!
Incredulidade. Protestos...
"Inexplicável e misteriosamente" (?), o avião que devia nos levar para Sharm el
Sheikh... "Não existia." Para ser exato, alguém - aparentemente outro grupo passou à
nossa frente, decolando aquela mesma manhã para o Kuwait. Simplesmente, nos
"roubaram" o avião.
Para aqueles que conhecem o funcionamento (?) de alguns países árabes, esta
dramática situação não é excepcional. E nós, os veteranos, já não nos
surpreendemos. Este servidor sorriu por dentro, aplaudindo a "fulminante rapidez" com
que foi executado o meu desejo. Mas, obviamente, eu continuei em silêncio. Eu
"sabia" que iríamos voar para o Sinai... "No seu devido momento".
E o grupo - exceto os perplexos organizadores – se acomodou da melhor maneira
possível, improvisando conversas, um jogo de cartas ou desfrutando de um sono
reparador. Este servidor, por sua vez, se concentrou no caderno de “anotações”
registrando o que acontecia. E Blanca, observando a minha, absoluta e
incompreensível paz, chamou-me de tudo...
Discussões. Novas negociações. Indignação. Mais protestos. Ameaças...
Inútil. Tudo parecia inútil. E os responsáveis pela expedição chegaram a levantar a
possibilidade de cancelar o desejado vôo para o Sinai. Voltaríamos para o Cairo.
E eu continuei a escrever, seguro do que a intuição ditava para mim ...
E, como eu disse, não me equivoquei.
"Em seu devido momento", a justificada bronca surtiu efeito. E às nove da noite, a
diretora da companhia aérea em Luxor, apresentou-se no terminal, assumindo a difícil
negociação. Minutos depois, a Egypt Air resolvia o problema: em duas horas, outro
avião nos levaria para Sharm El Sheikh.
E eu prossegui com as anotações. Blanca me olhou intrigada. E eu respondi com um
sorriso malicioso.
E depois de sete horas de espera, às 23 horas, o grupo - esgotado e entediado -
decolava de Luxor.
Naturalmente, a dura realidade obrigou os organizadores a reprogramar a viagem. E,
para grande alívio de todos, a subida ao Sinai foi adiada para a noite de quinta-feira e
madrugada de sexta-feira. Isso significou uma mudança decisiva nos planos e uma
injeção de moral para minhas íntimas e secretas convicções. "Mudança decisiva"
especialmente para este investigador...
Eu nunca tinha duvidado. E agora, muito menos. Aquela inesperada reviravolta (?) no
programa foi minuciosa e friamente calculada pelos mesmos "seres" que alteraram os
relógios. E em breve, muito em breve, eu receberia outra "confirmação". Talvez a mais
espetacular, apesar de não chegar a entendê-la, até semanas mais tarde. Uma
"confirmação" em forma de "descoberta" que resumia tudo: a sua presença e a
resposta ao meu “pedido”.
Quinta-feira, 25.
Como eu poderia esquecer? Naquele dia, às margens do Mar Vermelho significou
muito para este velho e cansado andarilho. Quem poderia imaginar o que me
reservava o Destino (?) a partir das 18 horas?
Naquela noite, dormimos bem. A verdade é que é necessitávamos. A partida, desde
Sonesta Beach, para a base do Sinai, foi marcada para as 22 horas. Três horas de
ônibus, e em torno de uma hora da manhã, aproximadamente, o início da temida
subida. Em outras palavras, quase como um presente, nós teríamos um dia inteiro
livre. E cada um tentou aproveitar o máximo.
Uma das opções - escolhida por quase todo o grupo - foi a praia. As águas, turquesa e
cristalinas, do sul da península do Egito, eram irresistíveis. E Blanca e eu, juntamente
com muitos dos viajantes, mergulhamos nelas, agradecendo aos céus por tanta
bondade.
E pouco antes das 18 horas, já pensando nos preparativos para a iminente viagem,
decidimos mergulhar pela última vez. Desta vez fizemos com um equipamento de
mergulho básico. O fundo do mar, repleto de corais e recheado de incontáveis
cardumes de peixes tropicais, foi um espetáculo que não podíamos ignorar.
Lembro-me que foi um sacrifício. Blanca sente terror das profundezas e nunca tinha
mergulhado. E concordou com uma condição: que não me separasse dela por nada.
E confiantes, adentramos no mar que se abria em frente ao hotel. E por um tempo
tudo transcorreu perfeitamente...
Minha esposa foi se soltando e, em uma tentativa de que ganhasse a confiança, eu
me afastei lenta e calculadamente. No início, sem perdê-la de vista. Então, vendo que
ela aceitava a situação e seguia natação relaxada, desci para uma profundidade
maior, me afastando dela. Grande erro...
E eu desfrutei como uma criança. Explorei as florestas de coral vermelho e preto. Eu
deslizei entre as barreiras de recifes e brinquei com os cardumes de peixes dourados.
O azul, atravessado por milhares de luzes, a harmoniosa dança de algas e a
indescritível paz daquele mundo me encheram de gratidão. E como tenho por hábito,
cada vez que eu pratico um mergulho, eu me ajoelhei no fundo arenoso e agradeci ao
"Vovô" por tanta beleza.
Necessitando de oxigênio, agitei as nadadeiras, buscando a superfície. E eu percebi
que eu estava longe de Blanca...
Mas o que estava acontecendo?
A cem metros da costa, minha esposa agitava os braços me fazendo sinais.
Entrei em pânico.
E eu nadei rápido, xingando meu descuido. Eu pensei, inclusive, em um tubarão. Mas,
ao me aproximar, rejeitou a idéia. As águas não eram tão profundas...
E ao chegar até ela, meu coração afundou: ela chorava inconsolável. Estava com
medo.
A área, infestada de afiados corais, a princípio me fez desconfiar que talvez fosse
aquele o motivo de sua inquietação. Provavelmente sem querer, tinha ido para o
enraizado e perigoso ambiente coralífero.
Sim e não.
Tentei acalmá-la. E levei-a para um lugar de pouca profundidade. Foi aí que eu
imaginei compreender o motivo de seu amargo pranto. Da perna direita escorria uma
chocante mancha de sangue.
Mas não era isso.
E a duras penas, entre soluços, me fez ver que, de fato, tinha se arranhado em uma
das colunas de coral. Mas esse não era o real motivo de sua aflição...
Examinei o corte e, depois de verificar que não era de maior gravidade, eu sorri,
tentando acalmá-la. As lágrimas, no entanto, não cessaram.
E mostrando a mão direita tentou me dizer algo. Tremia, sim, mas eu atribuí à longa
permanência na água e ao susto.
- O anel...! - Exclamou por fim, em voz fraca.
E então percebi. No dedo "médio" não aparecia o anel de ouro que eu havia lhe dada
há dois anos em seu aniversário.
- Eu o perdi...!
Seu pranto tocou minha alma. Aquilo sim justificava o seu choque. Eu sabia do intenso
apreço que ela sentia por aquele presente. Um carinho tal, que a fazia usá-lo somente
em determinadas circunstâncias. Por exemplo, em viagens especiais. E eu estendo
nestes detalhes, porque agora, com o benefício do tempo e da distância, eu vejo e
compreendo a sutileza dos "seres" que nos acompanharam. Blanca estava usando,
naquele momento, um total de quatro anéis. Três na mão esquerda – de menor valor
sentimental - e um quarto na mão direita: o anel grosso que tinha acabado de perder.
Seu querido anel.
Coincidência? Eu duvido...
E procurando uma forma para acalmá-la, perguntei sobre como e onde aconteceu.
Aparentemente, ao sentir o toque com coral, levantou-se, descobrindo, com angústia,
o espetacular fluxo de sangue. E instintivamente levou a mão direita para a ferida. Foi
nesse momento que - Inexplicavelmente (?) - o referido anel escorregou do dedo,
caindo entre pedras, corais e areia. Blanca não o viu cair, mas, em um movimento, ela
percebeu a perda. E deduziu que ele havia escapado do dedo. Estes detalhes – e o
leitor saberá perdoar o meu excessivo detalhamento - são importantes agora, quando
atordoado, eu recordo o que aconteceu e o que "descobriria" dois meses depois...
E eu digo que o anel escorregou "inexplicavelmente" porque - isso eu sei – ele sempre
se encaixou perfeitamente, e sem folgas, no dedo. Obviamente, se estivesse
consciente de uma possível perda, nunca se atreveria a usá-lo durante um mergulho.
Mais ainda: depois de meia hora na água - segundo suas próprias palavras - seguia
perfeitamente ajustado, sem indício de instabilidade. Assim como o resto dos anéis,
que - "causalmente" - não sofreram qualquer alteração.
Estas reflexões, eu insisto, nasceram após os fatos e como consequência da
"surpresa" que me esperava. Com isto quero dizer que, a infeliz perda (?) foi, pelo
menos "suspeita". Blanca não perdeu os anéis menos importantes. Curiosamente,
desapareceu o mais apreciado... Por quê? Muito simples. Se tivesse sido outro dos
anéis, o mais provável, é que, este criado não tivesse sequer se preocupado em
procurar. E era vital que eu mergulhasse de novo... Mas eu estou caindo na tentação
de me adiantar aos acontecimentos.
Em relação ao local do incidente, Blanca não soube precisar. Ela apontou vagamente,
uma área circular de cerca de 30 ou 40 metros de diâmetro e acrescentou:
- Por ali...
Eu estremeci.
No entanto, por mais que eu insistisse, não houve maneira de localizar o ponto exato.
Infelizmente, movida pelo choque e a dor, terminou se afastando do local exato,
perdendo assim, qualquer chance de memorizar uma referência, um sinal, para
facilitar a busca. Em suma: não possuía uma única referência válida. Sua única e
repetitiva frase era aquele desolador “por ali”...
E nisto estávamos, quando - eu não sei como ou de onde - apareceu ao nosso lado,
um jovem mergulhador.
Francamente, naqueles momentos de nervosismo, eu não reparei em seu rosto. E o
mesmo aconteceu com Blanca.
Uma oportuna imagem de Blanca em Sharm el Sheikh, momentos antes de mergulhar.
Na mão direita, o anel de ouro desaparecido misteriosamente no Mar Vermelho. (Foto
J. J. Benítez.)
Na mão esquerda de Blanca, os três anéis de menor valor sentimental que,
curiosamente, permaneceram em seu lugar, durante o mergulho. (Foto J. J. Benítez.)
E em Inglês, delicadamente, mas com firmeza, sugeriu à desolada mulher que o
acompanhasse até a costa. E ocorreu "algo" que não consegui explicar. A presença
daquele indivíduo tranquilizou-me. E deixei-o fazer.
O lógico - e estas deduções vieram somente depois - é que eu mesmo a tivesse
levado para a praia. A ferida exigia certos cuidados mínimos. Mas, não.
Sem saber porquê, fiquei imóvel e observei-os ir embora. E, de repente, "senti" a
necessidade imperiosa de mergulhar de novo e rastrear o fundo.
E agora eu me pergunto várias vezes: de onde saiu aquele mergulhador?
Lembro-me que naquela hora, as águas, onde estávamos mergulhando, estavam
desertas. A maioria do grupo e os hóspedes do hotel já tinham se retirado.
Como ficou sabendo o que estava acontecendo conosco?
Nem mesmo se interessou pela ferida...
Por que, desde o princípio, se empenhou em tirá-la do mar? Qual o motivo de tanta
insistência? Por que não perguntou nada? Além disso, porque sua atenção se centrou
em Blanca, me ignorando?
Coincidência? Eu duvido...
E empurrado, como eu disse, por uma espécie de "força" implacável, eu ajustei os
óculos, indo em direção ao impreciso “por ali”.
E eu mantive uma luta interna, que eu também não fui capaz de esclarecer. Por um
lado, o senso comum e a experiência – disponho do título de mergulho de uma
"estrela" – me diziam que o esforço era pouco menos que estéril. Por outro lado, no
entanto, "algo" sutil e férreo, tinha me hipotecado, quase hipnotizado: devia descer,
tinha que procurar... Mas naquele momento eu não estava ciente da possível origem
daquela misteriosa "força". E justifiquei o esforço para encontrar o anel, na imagem de
uma Blanca choroso e triste. Simplesmente me comoveu e eu queria agradá-la.
Hoje já não estou tão certo deste argumento... E sigo me perguntando:
"O que teria acontecido se, no meu debate interior, o bom senso tivesse prevalecido?"
Mas tudo estava "escrito". Meticulosamente "escrito". E esta poderosa "força" afundou
comigo no mar... E me “escoltou e dirigiu" até o fim.
A hipotética área marcada por minha esposa não era muito profunda. Isso me
encorajou... Relativamente.
Ele tomando uma das massas de corais como ponto de partida, eu fui mergulhando
em círculos.
O fundo, acarpetado de pedras, coral, e cascalho, desta vez se apresentou como um
território atormentado e zombeteiro. E o desânimo também desceu até as
profundezas.
Aquilo era impossível...
Tropeçar no pequeno anel teria sido um milagre e, como disse Deus em: A 33 000
pés, nem Ele acredita em milagres...
Mas, inexplicavelmente (?), aquela "força" - vigorosa e intransigente - seguiu puxando
aquele perplexo mergulhador. E continuei a explorar e analisar cada buraco, cada
pedra, cada moita de algas ao meu alcance.
E o tempo, como eu suspeitava, foi se queimando inútil e inexoravelmente.
Os retornos regulares à superfície davam-me uma discreta coragem. Blanca, na costa,
permanecia atenta e na expectativa. Eu não podia, não queria decepcioná-la. Aquele
anel era um tesouro. Eu tinha que encontrá-lo.
E novamente regressava ao fundo, na esperança de descobrir um revelador reflexo
dourado.
E hoje eu me espanto diante de tanto empenho e tenacidade. Em circunstâncias
"normais", uma busca de 15 minutos teria sido mais do que suficiente para descartar e
abandonar o ridículo esforço. Mas as "circunstâncias", obviamente, não eram
"normais"... "Algo" ou "alguém" parecia particularmente interessado em que eu ficasse
na água.
E continuei até sete. Provavelmente o momento "programado".
Depois de uma hora de trabalho infrutífero, cansado e com sintomas de frio, finalmente
tomei a decisão de suspender a busca. E considerei que a preciosa jóia estava
perdida.
Com um amargo sentimento de fracasso, me dirigi à costa.
E sucedeu "algo" também incomum...
Em vez de nadar na superfície - que teria sido a coisa certa - eu escolhi sair,
mergulhando quase preso ao fundo. Foi uma tentativa inconsciente de aproveitar a
estadia na água? Eu nunca soube.
Eu fui avançando lenta e suavemente, sobre as, cada vez mais perto, agulhas de
coral.
Para dizer a verdade, aquele não era um comportamento ortodoxo. Mergulhar em tão
pouca profundidade, com a constante ameaça das faces cortantes dos corais, era
imprudente. Além disso, por que fazer isso? A suposta área de buscas havia ficado
para trás. Aquilo não fazia sentido. Por que não fiz o habitual? Porque deixar de nadar
na superfície? Por que eu não levantei, ao chegar a um metro ou um metro e meio de
profundidade?
A "explicação" estava chegando...
E, de repente, com apenas 40 centímetros de água, evitando os afiados perfis e
sujeitando-me a eles para me equilibrar do ataque da correnteza, "alguma coisa"
chamou minha atenção. Foi como um flash nos olhos...
E, em uma pequena área arenosa, a dois palmos dos óculos, brilhava um objeto semi-
enterrado.
Eu estava praticamente sobre ele. Se tivesse desviado uns centímetros, talvez eu não
o tivesse visto... Mas, como eu disse, tinha que ser assim.
Agarrei-me à esporas do coral. Apesar de tímidas, as ondas tinham força suficiente
para me empurrar e me chocar contra as agulhas.
Eu o contemplei incrédulo.
E um segundo flash me gritou “sim”, que “aquilo” era real, que eu não estava
sonhando. Eu não podia acreditar...
E eu me apressei a pegá-lo, retirando gentilmente do fundo.
Incrível!
Com muito esforço, nervoso e inseguro, eu me levantei. E, estendendo a palma da
mão, examinei-o atordoado.
E um terceiro flash me penetrou até o coração.
Devo ser honesto. Naquele momento, naquele preciso instante, outro "louco
pensamento" (?) desceu do céu. Mas - racionalista estúpido! - Eu o rechacei na
mesma velocidade com que chegou.
Demasiado fantástico!
Ainda assim, recordo que eu olhei para o mais puro azul. Mas ali, obviamente, não
havia nada... Ou sim?
Blanca, pressentindo alguma coisa, deu alguns passos para a água. E estava intrigada
com a minha imobilidade absoluta.
- Por um momento eu pensei que você o tivesse encontrado... Ela explicou mais tarde.
O brilho e a limpeza - sem sinais de corrosão – contribuíram, e não foi pouco, para
meu espanto. Pode parecer absurdo, mas era como se "alguém" tivesse acabado de
depositá-lo intencionalmente entre os corais.
E aquele "pensamento impossível" (?) voltou com violência. Mas, como eu disse, era
tão desproporcional para o meu limitado entendimento, que o expulsei novamente.
"Aqui está a prova... Esta é a "resposta" ao seu pedido”.
Recusei-me a aceitá-lo.
Esquecendo o desaparecimento do anel de ouro, foi ao encontro da ansiosa mulher.
Eu sorri e, silenciosamente, pegando sua mão direita, eu ajustei o "achado" no dedo
"médio".
E voltei a assustar-me.
Ele encaixou perfeitamente!
Blanca o examinou e me olhou fixamente. E eu, com um encolher de ombros, respondi
e um segundo sorriso enigmático.
Na verdade, "aquilo" era incrível...
Após uma hora de inútil procura (?), em vez de encontrar anel de ouro, fui "tropeçar"
(?)... Com um anel de prata!
Depois de ouvir o relato da pequena odisséia, Blanca, tão confusa quanto eu,
exclamou:
- Isto não é normal!
A peça tinha ao seu redor, sob forma de ornamento, uma simples e funcional
seqüência de desenhos, perfurados no metal precioso. No total, nove pontos ou
círculos (?), e outras linhas ou barras (?) verticais, intercaladas entre eles, e à mesma
distância. E tudo isso encerrado ou confinado entre duas finas linhas paralelas.
No interior, com o auxílio de uma lupa, descobrimos um "R" Inglês também gravado e
circunscrito em um círculo. À sua direita, podia ler-se um número: "925". A poucos
milímetros no mesmo quadrante desta zona interna, um pequeno espaço escavado -
um retângulo - onde o acúmulo de poeira e outras substâncias, não permitiam ver
nada.
Naturalmente, os primeiros movimentos se centraram na localização do possível
proprietário. Foi em vão. Nenhuma informação. Ninguém tinha perdido o misterioso
anel de prata.
Como era possível?
O brilho impecável, sem vestígios de deterioração, sugeria uma perda muito recente.
Naquelas águas, sujeitas à uma intensa luz solar, qualquer objeto de prata iria
escurecer rapidamente. Por outro lado, já que ele estava na areia, era estranho que
não tivesse sido engolido. As correntes, e o movimento incessante do leito do mar,
teriam enterrado-o em questão de horas...
Obviamente, tudo parecia apontar para uma perda ocorrida naquela manhã, ou talvez,
no máximo, no dia anterior. Contudo, o aviso não teve nenhum efeito. Ninguém o
reclamou.
E entre Blanca e eu, deu-se uma situação curiosa.
Longe de confortá-la, o "presente" mergulhou-a em uma densa tristeza. De alguma
forma, aquele anel vinha a recordá-la constantemente da perda irreparável de seu
amado anel de ouro. Eu entendi. O que já não era tão normal é que, no meu caso, o
"recém chegado" poderia ofuscar o desconforto causado por esse extravio.
Certamente assim foi. Eu não posso explicar, mas por alguma "razão" que intuía, me
senti compensado. Eu não estava pensando, logicamente, no valor material do
"achado" bem abaixo do valor do anel de ouro. Era um sentimento. Algo íntimo que, na
minha confusão, aparecia intimamente associado com o "sinal" que eu tinha solicitado
logo após chegar ao Egito. Mas esta intuição (?) não seria ratificada durante aqueles
dias. Isso viria "em seu devido momento". Especificamente, em setembro daquele
mesmo ano...
O assunto, finalmente, para a maioria dos que tinham ouvido falar dele, foi relegado
para o que parecia ser: uma espetacular e incomum coincidência.
O enigmático anel de prata encontrado por J. J. Benítez nas aguas do Mar
Vermelho, em frente a Sharm el Sheikh. (Foto Blanca Rodríguez.)
No interior do anel de prata, um dos contrastes: um "R" em um círculo circunscrito. Ao
lado dele, o número: "925" (Foto Manuel Colon)
Coincidência? Eu duvido...
Eu não disse nada.
O que eu poderia dizer? Que faz muito tempo que não acredito na sorte? Que tudo
aquilo fazia parte de uma delicada e complexa trama? Quem teria acreditado em mim?
Nem eu estava cem por cento com certeza...
Além disso, os que me rodeavam naquela inesquecível viagem - incluindo Blanca -
ignoravam a primeira parte desta intrigante história. Eles não sabiam nada do meu
"pedido". Eles não tinham conhecimento da minha "aliança" com aqueles "seres": um
"sinal" que confirmaria a veracidade do caso Ricky.
E eu fiz o único que eu poderia fazer: deixar que os acontecimentos continuassem seu
curso.
E seguiram, é claro. E como!
O Sinai!
Ao sair do ônibus, perto do milenar mosteiro de Santa Catarina, um familiar
formigamento em meu estômago me preveniu. "Alguma coisa" iria acontecer...
Momentaneamente, eu esqueci o singular incidente nas águas do Mar Vermelho.
Ainda obcecado com o possível avistamento das "luzes em uma rota de colisão", o
início daquela madrugada de sexta-feira, 26 de julho, me reacendeu.
"Desta vez sim. Desta vez não vão falhar...”
Como eu disse, a montanha de Deus era o lugar apropriado. Que melhor cenário para
um "sinal" desta natureza?
Sim, ali, naquela impenetrável escuridão, se produziria a resposta desejada.
E como um novo Moisés, ataquei, com ímpeto, as primeiras rampas.
Estúpido arrogante!
1 hora e 15 minutos.
O grupo, alegre e descansado, começou com calma. Pela frente uma subida difícil que
nos levaria a 2.300 metros de altitude. Não havia pressa. O único objetivo era chegar.
Chegar ao topo e contemplar o amanhecer. Algo que, provavelmente, Moisés também
fez.
Estremeci.
O céu parecia especialmente pintado para aquela ocasião. Eu nunca vi tantas estrelas
surgirem na noite. E isso fazia sentido. Aquela não ia ser apenas mais uma noite...
Aquela era a minha noite.
Pobre ingênuo!
O ser humano precisa uma dose de humildade de vez em quando. Eu estava prestes
a receber isso...
"desta vez sim. Desta vez aparecerão."
E impulsionada por estes pensamentos entrei no caminho propriamente dito... e na
decepção.
A rota de subida ao Sinai - imaginada como algo romântico, sereno e tranquilo - era na
verdade algo parecido com a Quinta Avenida, em Nova York. Desde o primeiro
momento me vi sufocado por um intenso movimento de homens e camelos, um
contínuo ir e vir de lanternas, um vozerio de pessoas de mil raças e uma legião de
escandalosos, gesticuladores e pegajosos vendedores do divino e do humano.
Mítico e sagrado Sinai?
Talvez nos livros e nos filmes...
2 horas.
Novo olhar para o céu. Tudo continua calmo.
A mochila e o suor dizem "aqui estou eu".
"Desta vez sim... Eu posso sentir isso... Desta vez aparecerão..."
os expedicionários começam a sentir o esforço. Começamos a nos distanciar. Os
veteranos e os mais "espertos" hesitam, e contratam os serviços dos incansáveis
camelos árabes. Continuam avançando nas oscilantes e incômodas montarias. E um
odor azedo e um enxame de moscas seguem com eles.
Eu tento não ficar obcecado. O importante é chegar.
Eu encorajo a minha esposa. Mas seu meio sorriso fica congelado pela dor.
Eu me sinto ridículo. Ela sofrendo e eu atento a uns supostos "seres" e de uma não
menos, suposta "aparição" ao estilo bíblico.
Blanca resiste bem, mas precisa parar e recuperar o fôlego a cada cem ou duzentos
passos.
A subida vai serpenteando e ficando mais íngreme.
Quando eu vou aprender?
Apesar da lanterna, a subida abrupta me obriga a manter a atenção nas pedras.
Felizmente, a densa escuridão oculta os precipícios que, sem dúvida, nos
acompanhavam à direita e esquerda.
O Sinai se coloca definitivamente em pé. A encosta se empina sem piedade. Os
joelhos começam a tremer. Estou encharcado de suor. Um pouco mais...
Blanca, pálida, se deixa cair na beira do caminho.
2 horas e 30 minutos.
Dou uma olhada para a escuridão. E as estrelas me observam com curiosidade. Eu
devo ser o único que as interroga a cada cinco ou dez minutos.
Ninguém fala. A montanha é um imenso e angustiante ofegar.
Busco com irritação entre o brilho das estrelas.
Animo-me.
"... Duas luzes em rota de colisão..."
"Restam quatro horas antes do amanhecer... Ainda há tempo. "Blanca se apóia no
meu braço. E continua devagar, mancando, mas sem um único protesto. É admirável!
Mas onde estão eles? O que estão esperando?
Oh Deus, o que estava faltando... Em um dos cantos se levanta uma "tenda".
Água, chá, coca-cola, mais bugigangas, mais vendedores de fósseis, mais camelos,
mais moscas...
A escuridão é tão densa que eu não consigo distinguir o topo.
Está decidido. Eu não me importo com o calor. Da próxima vez vou subir durante o
dia... E sozinho.
Quanto falta?
Por um momento eu penso em me desfazer da mochila. A dor transpassa as costas.
Impossível saber onde está o grupo. Passam a minha frente, um grupo de dóceis e
inevitáveis japoneses.
O que eles fazem no Sinai?
Não devo pensar... Basta caminhar. Somente caminhar. Caminhar...
Eu tenho que me controlar. Não é bom pensar...
E o coração protesta, e com razão.
Blanca pede outra parada para tomar o fôlego. O cansaço cobra seu preço: os
músculos se tornam rígidos. Está mancando. Eu acho que ela sofreu alguma tensão
muscular.
Mais Beduínos. Eles conhecem o lugar com perfeição e nos assaltam em pontos
estratégicos.
Incrível! Eles vendem pilhas, lanternas, água com açúcar e até mesmo "hot dogs"...
3 horas.
Enésima exploração dos céus. Eu percorro as constelações com binóculos.
Começo a pensar em Moisés. "Impossível... Com seus oitenta anos não teria
conseguido subir... A Bíblia é uma farsa..."
Calma absoluta.
As "luzes" seguem sem aparecer.
Já não sei o que digo... Não devo pensar... Mas também devo pensar... que não devo
pensar.
"Talvez no topo?... Claro, isso seria o natural."
"Eu estou ficando louco?"
"Não... Provavelmente já estava antes de pisar no Sinai."
3 horas e 30 minutos.
Onde estão os guias e organizadores? Desapareceram. Isso é um desastre... Se
alguém sofre uma parada cardíaca, fica aqui mesmo... Protestarei...
«Duas luzes em rota de colisão? ... Que merda!"
Eu já não sei o que é mais devastador: o cansaço ou a decepção. Decepção pelo que
me rodeia e, acima de tudo, pela minha ingenuidade.
E eu me surpreendo. Quão frágil é o ânimo humano! Em poucos minutos eu passei do
entusiasmo para o desânimo.
Corrigindo. E eu peço desculpas aos organizadores e aos céus.
O "sinal" chegará... Ele tem que vir. "
E eu olho e não olho para o céu. E eu espero e não espero...
"... E, finalmente, um flash."
O suor irrita os olhos. Eu me engasgo.
"Maldito tabaco!... Eu tenho que deixar de fumar..." Sim, ânimo... Um último esforço.
Mas Blanca não me ouve. É um autômato, como a maioria da expedição.
"A propósito, onde estão eles?..."
Água. Preciso de água. Os cantis estão secos.
"Malditos beduínos!... Quando eles têm de aparecer... desaparecem. Mas que culpa
têm os beduínos? Se eu soubesse, eu não teria me envolvido nesta aventura... Ou
sim?"
Os pensamentos se atropelam. Imagine então o sábio Dr. Jimenez del Oso,
comodamente instalado em sua cama de hotel, em Sharm el Sheikh.
"Droga!... Eu disse que não devo pensar..."
4 horas.
Blanca chora silenciosamente. Não pode continuar. A dor a encurrala. Faço uma
pausa. Busco água. Tento animá-la... Eu me sinto fraco e impotente.
- Agora não... Agora não devemos desistir... Estamos chegando perto.
- Você tem certeza?
E eu minto.
- Eu já vejo o cume.
É o ápice? A verdade é que somente consigo distinguir um distante bosque de feixes
luminosos. E calculo o tempo que ainda falta. Deus! ... Ainda falta uma hora...
Guardo os números e improviso.
- Estamos quase lá...
Blanca não acredita, mas, ciente da situação, me segue, chorosa e se arrastando.
É engraçado. Não procuro mais o "sinal". Eu já não estou interessado. Apenas
imploro. Peço aos céus para chegar... Poder chegar...
4 horas e 30 minutos.
Finalmente as escadas!
Mas as últimas centenas de metros, toscamente lavrados e em pedrados pelos antigos
monges de Santa Catarina, longe de aliviar a subida, são um suplício extra. A
inclinação do caminho é tão brutal que os joelhos reclamam e se recusam a funcionar.
E as pernas - o que sobrou delas - quase sem conseguir caminhar, se arrastam na
conquista de cada degrau.
Praticamente carrego a minha esposa.
O cume! ... Agora sim. Começo a distingui-lo...
Ao longe, recortando-se sobre o branco elétrico das estrelas, eu vejo uma massa
disforme e umas tímidas luzes amarelas.
Ou são alucinações?
A língua estala. Nova e obrigatória parada. E inspiro até inalar toda a montanha.
- Eu não posso... Eu fico aqui.
Estou ofegando como uma baleia. Incapaz de pronunciar uma palavra, deixando-me
guiar pelo instinto, eu arrasto minha esposa sem a menor cerimônia.
Pobre Blanca!
4 horas e 40 minutos.
Detenho-me de repente.
- O que foi isso?...
Eu vi pelo oeste.
"O sinal"!
Blanca não entende, mas agradece pela pausa.
- Binóculos!
Procuro. Busco desesperadamente.
"Eu sabia... Eu sabia!"
E eu me perco novamente no emaranhado de estrelas.
"Onde?... Onde eles estão?... Eu juro que era uma luz..."
O suor escorrendo pela testa, me faz compreender. Algumas estrelas se "movem",
sim, mas por causa da irritação nos olhos. O resto é o poder da imaginação e o
intenso desejo de que apareçam...
No entanto, eu não desisto.
É incrível!
O "susto" me devolve a esperança.
"No cume... Sim, no cume... Aqui estamos afinal... Este é o momento... "
4 horas e 50 minutos.
E quase engatinhando, bombeando forças de qualquer lugar, chegamos ao cume.
Blanca, exausta, cai por terra.
E eu, de joelhos, beijo o Sinai, liberando a alma.
Em um último anseio, agarro-me aos céus, atento apenas ao meu "objetivo".
Mas os minutos passam. E com eles, a noite e a débil esperança.
"Negativo..."
O coração se recusa a aceitar o que, com toda a razão, proclama o cérebro.
E com raiva, embebido pelo frio do fracasso, "leio" nas estrelas. E "leio" cinismo e
zombaria.
Um dos momentos, durante a descida pelo maciço do Sinai (Foto de J.J. Benitez)
J.J. Benitez no cume do Sinai (Foto de Blanca)
"Negativo..."
E cheio de dor eu busquei a solidão do meu quarto, em Sharm el-Sheikh.
O pretendido "sinal", na verdade, era apenas uma ilusão.
Blanca, suponho, associou aquela tristeza, ao duro castigo recebido no Sinai.
E a íntima e secreta decepção - ninguém sabia que aquele aparente infantil "jogo" - se
une a um horror final. O cume sagrado é tudo, menos solenidade e devoção.
No fundo encarei e agradeci pela volta da humildade.
Mas as surpresas e decepções tinham apenas começado.
Novas tendas, novos e mais inflamados vendedores, centenas de exaustos peregrinos
e uns ridículos metros quadrados para descansar.
Aquilo parecia um pesadelo.
Meu pedômetro (marcador de passos) assinalava 5521 passos! E tal esforço para
isso?
Sábado, 27 de julho, 1996.
6 horas e 10 minutos.
Às cinco da manhã, a bordo do vôo 266 da Egito Air, com destino ao Cairo, eu estive
prestes a abrir meu atormentado coração. Mas, confesso um terrível senso de ridículo
me parou.
Eu fiz errado. Deveria ter contado para Blanca.
O Sol adverte. E ilumina o único que valeu a pena, naquele dia quase eterno: a
grandeza do infinito, epiléptico e austero maciço.
Saúdo-o com melancolia.
Os últimos dias no Egito transcorreram sem nenhuma "novidade" (?).
Mais uma vez, eu tinha me precipitado. "Eles" não atenderam ao pedido. Ou sim?
Eu reconheço que as visitas às pirâmides no planalto de Gizé, Memphis, Saqqara e do
Serapeum, aliviaram e confortaram, em parte, o ânimo destroçado.
E me reconforto como posso.
"Talvez não fosse necessário. Talvez a solução do caso Ricky dependa apenas de
minha sabedoria... Talvez um "sinal", neste momento da investigação, seja jogar com
vantagem..."
Tinha colocado tanta ilusão naquele "sinal" que, o aparente fracasso não me permitiu
ver claramente durante muitos dias...
E desta vez, o autômato fui eu.
Aquela descida foi um dos capítulos mais amargos dessa intrigante e única história.
Eu me sentia ridículo. Desapontado. Abandonado...
Tenho muito que aprender!
Domingo, 28.
Precipitado? Na verdade estou equivocado? Nova surpresa.
Sim e não...
A caminho de Quéops, Quéfren e Miquerinos, Nieves Perez, outra companheira de
viagem, me mostrou seu relógio. Com uma lógica estranheza, explicou como tinha
detectado uma anomalia incomum. Justamente na recente madrugada, por volta de
meia-noite, a máquina falhou e parou. Após 90 minutos, igualmente sem explicação,
começou a funcionar novamente.
Mas ninguém percebeu.
Como de costume, este desajeitado investigador não se deu conta do que aconteceu
no Egito, até muito tempo depois.
Honestamente, eu não tenho jeito...
Naquela hora - de acordo com meu caderno de anotações - eu estava no Mena House
Hotel, no terraço do quarto, pensando no "porquê" da falha no encontro com aqueles
"seres". Assim está escrito:
"... 24 horas, meia-noite (na solidão do terraço do quarto 262). Por que falhou? Por
que eles falharam? Por que não se produziu o "sinal"? Ou sim?"
"1 hora: cansado, eu me retiro para a cama... E, com certeza, "sei" que eles estão
aqui..."
Nieves, claro, estava no mesmo hotel. Curiosa e coincidentemente, o lugar onde, dez
dias antes, tinha ocorrido o incomum "pacto"...
Com aquele, pela minha contagem, foram 16 relógios afetados... Por não se sabe "o
que".
Mas, então, a notícia me deixou frio. Tomei nota e assunto encerrado. Como eu disse,
eu me sentia ferido e acabei deslizando para um ceticismo tão pouco aconselhável,
como a posição tomada até aquele amanhecer, no cume do Sinai.
Eu não quero me justificar, mas era compreensível. Eu sou humano, ainda que minha
mulher pense o contrário...
Segunda-feira, 29.
Fim da viagem e um saboroso "toque final" na agenda. Naquela noite, se a polícia
egípcia não mudasse de idéia (leia-se dólares), o grupo poderia penetrar nas
profundezas da Grande Pirâmide e desfrutar o mágico recinto sem o peso das
centenas de turistas que a visitam diariamente.
Hora prevista: meia-noite. Condição necessária 27 dólares americanos por cabeça.
E mais uma vez a surpresa...
Eu leio no caderno de "anotações":
"... Durante o passeio pelos túneis do fascinante Serapeum - eram 16 horas, uma
familiar e velha "sensação" (?) assalta-me, junto a um dos gigantescos e supostos
"sarcófagos"...
Hoje à noite, na Grande Pirâmide... "Hoje à noite, o "flash" no céu..."
E junto com a anotação, eu acrescento:
"E uma merda!..."
Aquele estranho "pensamento" (?) regressou nos túneis de Serapeum.
Na foto, de J. J. Benítez, Blanca, sua mulher, junto a um dos 24 gigantescos e
supostos «sarcófagos». (Só a tampa, pesa 19 toneladas.)
Aquela última noite no Egito, «alguém» sobrevoou a Esfinge e as pirâmides... (Foto J.
J. Benítez.)
Naturalmente, bastante zangado, eu não prestei muita atenção ao súbito
"pensamento" (?). Mas, mesmo assim, ficou registrado.
Outra piada do subconsciente?
E convencido de que assim era, esqueci o suposto "alerta". Além disso, pouco faltou
para que desistíssemos do mencionado passeio noturno à imponente Quéops. Blanca
sofre de claustrofobia e não achei oportuno que fosse descer pelas estreitas e
asfixiantes galerias da pirâmide. Quanto a mim, depois de já ter descido às diferentes
câmeras em outras ocasiões, faltou interesse para o que estava programado.
E em um primeiro momento, decidimos ficar no hotel e nos ocuparmos da, sempre
complicada, bagagem.
Mas o Destino (?) - Como não - tinha outros planos...
Nos últimos minutos, durante o jantar, aquele "algo" tão difícil de explicar - um pouco
de "força" invisível (?), intuição (?) e pressentimento (?) - golpeou minha mente, me
provocando.
"Eu tinha que ir... Eu tinha que estar presente naquela quente e calma madrugada... »
Mas por quê?
Já havia renunciado ao "sinal"... Blanca, com o afinadíssimo sexto sentido, que
caracteriza as mulheres, percebeu minha inquietação. E deu um jeito para -
suavemente - justificar nossa presença no planalto de Gizé.
"Era a última noite. Valeria a pena sentar-se ao pé do colosso e, assim, despedir-se do
belo Egito. Não entraríamos. Simplesmente, fumaríamos um cigarro à luz da lua e
deixaríamos voar a imaginação e os sentimentos..."
Sorri-lhe agradecido.
O que eu faria sem esta maravilhosa mulher?
Unimo-nos ao iludido grupo.
Foi tal e como planejamos... mas melhor.
Os responsáveis egípcios aceitaram, após pagamento de 1.500 libras, a abrir a
pirâmide. Outras 50 por pessoa e um "extra" de 500 para a polícia. Os expedicionários
se perderam entre as fileiras de pedras. E Blanca e eu, sentados perto da boca de
entrada, nos deixamos levar.
Que razão tem o "Vovô" quando recomendou em “A 33.000 pés”, "investe cada minuto
como se fosse um milhão de dólares e "perde" um milhão de dólares a cada minuto!"
Fizemos isso. Investir cada momento, em silêncio, na contemplação da obra titânica,
na lenta e majestosa procissão pelo céu e, acima de tudo, na revisão de nossas
próprias vidas.
Mas, apesar do consolidado ceticismo, de vez em quando, ao percorrer os brancos
perfis de Quéops com o olhar, um trovão em forma de "voz" me esperava no topo:
"Nós estamos aqui!"
E um calafrio colocava os sentimentos em pé. Mas o fazia calmamente. Desta vez não
recebi a visita do desespero. Nem da inquietação ou nervosismo.
Aquela "voz" - ou o que quer que fosse - vinha sempre com suavidade. Quase com
ternura.
E da mesma forma eu respondi.
Olhos e coração levantaram-se lentamente para as estrelas e, apesar de não ver
nada, voltaram em paz.
Estavam lá?
Agora eu sei que sim, mas, naqueles deliciosos momentos, pouco importava...
Eu sei o que estou dizendo. Estou certo de que esses "seres", mais uma vez,
navegavam por cima de nossas cabeças. E eu estou convencido, por duas razões.
Primeira - e talvez a mais importante - porque eu pressenti. Segunda, porque, ao
retornar à Espanha, constatei-o fisicamente.
A mágica noite terminou às três em ponto, depois de um alegre e descontraído bate-
papo com Carmen Bautista, a bióloga do grupo, e Pepe Rodriguez, seu marido, o
tenor que soltou a voz - e que voz - a uma viagem difícil de superar.
Uma lástima! ...
Se tivesse continuado mais meia hora ao pé de Quéops, a noite teria sido perfeita.
Mas, como costumo dizer, tudo está "escrito". Meticulosamente escrito...
ESPANHA
O que posso pensar? O que você pensaria?
Hoje, 16 de julho de 1997, um ano após a viagem para o Egito, enquanto escrevo
estas apressadas linhas, volto a sorrir por dentro. Definitivamente, a intuição nunca
trai.
Mas vamos continuar em 1996, e que o leitor julgue por si mesmo.
O que aconteceu no nosso retorno?
Se eu tivesse de descrevê-lo, eu não saberia como. Genial? Fantástico? Incrível? ...
A verdade é que nos esperavam duas surpresas e outras tantas decepções. Ou foram
três surpresas?
Eu diria que sim, apesar de que a terceira - de grande tonelagem - não se
materializaria até setembro. Mas "eles", sabiamente, me "advertiram" em agosto...
Tudo começou com um telefonema. "Fotos? Que fotos?... Não, eu não sabia de nada".
Manolo Delgado, talentoso fotógrafo, tão surpreso quanto eu, foi direto ao ponto.:
- OVNIs! Nas fotos do Egito aparecem OVNIs...
OVNIs?
A notícia deixou-me perplexo.
Mas era isso. Ao revelarem seus filme, os proprietários descobriram com espanto, que
em algumas das imagens, apareciam objetos voadores não identificados, que, como
foi dito, ninguém viu durante a viagem.
Custou-me acreditar.
- Meu bom amigo, cético, pelo que se sabe, se adiantou à questão fundamental:
- Está provado... O exame laboratorial não deixa dúvidas.
E investigações posteriores lhe dariam razão. "Aquilo" não era uma fraude, nem uma
falha no processo de revelação.
Pura e simplesmente, ao tirar as típicas fotografias de paisagens e monumentos,
alguém tinha captado "algo" mais. "Algo" físico, sólido e com volume, mas invisível ao
olho humano. "Algo" capaz de voar e permanecer parado sobre as cabeças de alguns
viajantes, alheios a essa "outra realidade".
Alheios? Corrigindo. Para dizer a verdade, desde o incidente de relógios, alguns
começaram a suspeitar... "que não estávamos sozinhos."
Os dois afortunados expedicionários que conseguiram capturar as imagens - podem
não ser os únicos (1) - foram, a Inglesa e Lucy Lovick e o valenciano Eduardo
Cañizares. Ambos, como eu disse, ao reverem as suas fotos, foram surpreendidos
pela presença de alguns objetos "que nunca estiveram lá." Obviamente, se tivessem
sido vistos, não teriam se contentado com um único disparo...
Dois dos OVNIs tinham "surgiram" nas tomadas feitas na excursão a Abu Simbel, na
manhã do dia 19 de julho. O de Lucy - um disco azul - "descansava" descaradamente
sobre o templo de Ramsés II. O do jovem Cañizares "mostrava-se" ao longe,
provavelmente na vertical do lago Nasser, "coincidindo" (?) com uma foto em que
aparece a mãe do fotógrafo.
A segunda rodada, conseguida pelo mesmo, e não menos perplexo Cañizares,
correspondia à última noite, a de segunda-feira, 29, quando o grupo entrou na Grande
Pirâmide. Desta vez, Eduardo, e outros exploradores, ficaram "entretidos" fazendo
diferentes fotos do céu - era quase lua cheia - e da radiante Quéops. Não é preciso
dizer que, nem ele, nem ninguém detectou nada de anormal sobre o platô de Gizé.
Minto.
Mas eu escutei, eu senti "algo"... Mas eu arquivei de maneira íntima e pessoal. E isso
não foi comentado.
Mas havia mais...
Logo após o nosso retorno para a Espanha, para completar esta primeira surpresa,
chegou em minhas mãos, uma carta de outra companheira de aventura no Egito:
Magdalena Godoy. Na carta revelava um fato que confirmou as velhas suspeitas e me
fez sorrir de novo.
Naquela noite de 29 de Julho, às 03:30 hs, apenas 30 minutos após s partida de
Blanca e deste investigador, Magdalena e Antonio Hernando, outro membro da
expedição, decidiram deixar o interior de Quéops e dar uma passeio pelos arredores.
Pois bem, naquele momento, um estranho "fenômeno" (?) os deixou sem palavras. Na
vertical da Grande Pirâmide se registrou um grande "flash"... Talvez vários.
Uns silenciosos e potentes "relâmpagos"... E lembrei-me do singular "pacto": "Duas
luzes em rota de colisão... e, finalmente, ao reunir-se, um "flash".
Era aquele, o "sinal" estipulado, e que eu havia esperado inutilmente?
Se foi, eu nunca soube...
E agora, na frieza da distância, me vejo assaltado por uma "idéia" (?) que eu não devo
e nem quero silenciar.
"Não foi melhor assim? Não era mais objetivo e imparcial, que o "flash" fosse
testemunhado por outras pessoas? Se eu tivesse sido a única testemunha, o "evento"
poderia ter sido minimizada e sujeito às lógicas suspeitas."
"Sutilezas" de meus "primos"? Coisas mais incríveis eu já tinha visto... e que eu ainda
tinha para ver.
(1) A partir daqui apelo aos 64 integrantes daquela viagem, convidando-os para que
revissem novamente as suas fotos. Talvez agora pudessem reparar em "algo" que tenha
passado despercebido na primeira vez... (De nada.)
Claro, o rio de acontecimentos empurrou-me (?) a rever nossas próprias fotos. E por
dois dias, com a ajuda inestimável de Blanca, providos de lupas, exploramos cada
milímetro quadrado das cerca de 400 imagens tiradas no Egito.
Surpresa "extra"!
Para nosso assombro, em meia dúzia aparecia igualmente uma "coleção" de
enigmáticos e desconhecidos (?) objetos voadores.
E eu sorri novamente.
...O que posso pensar? O que você pensaria? A intuição, obviamente, não trai.
As fotos em questão correspondiam a muito diferentes excursões, espalhadas por
toda a viagem: platô de Gizé, Rio Nilo, Abu Simbel, Vale dos Reis... E o Sinai!
E eu tive que admitir o meu erro. "Eles" realmente estiveram perto durante a
desoladora jornada na montanha de Deus... Mas, como sou estúpido! Não soube
confiar no mais importante: o coração.
E após submetidas à adequada e rigorosa análise, os especialistas concordaram:
"Não eram manchas próprias da revelação. Muito menos reflexos ópticos ou defeitos
nos negativos."
Simplesmente... "Não sabiam". Ninguém sabia como explicar.
Este serviçal, no entanto, se arriscou...
"Aquilo", assim como o que foi capturado por Lucy e Eduardo, poderiam ser Ovnis.
Ovnis "invisíveis". Por que fazer rodeios? "Aquilo", para mim, eram naves "não-
humanas" que "escoltaram" o grupo. E não foi um ou dois dias...
O "porquê" era outra questão.
Em vista destas fotografias, do igualmente irritante enigma dos relógios, dos "flashes"
sobre a pirâmide de Quéops e do que a intuição me gritava, eu não tive escolha senão
capitular.
Aquela viagem, na verdade, foi e encerrou muito mais do que um esplêndido e
benéfico passeio.
O que aconteceu logo após chegar no Cairo?
Na madrugada do dia 17, este investigador solicitava uma "prova". "Algo" que
confirmasse a condição do caso Ricky. Tratava-se de uma história verdadeira?
E naquela mesma noite, os relógios começaram a falhar. Coincidência? Eu duvido...
E nos dias seguintes, convencido de que o "sinal" iria ocorrer, não deixei de
inspecionar os céus.
E nessas excursões, os Ovnis nos acompanharam. E foram fotografados...
"Acidentalmente" (?).
Coincidência? Eu duvido...
E em plena tensão, sentindo como nunca, a "presença" desses "seres", chegamos ao
domingo, 21.
E a "falha" (?) coletiva dos relógios se tornou pública. "Alguma coisa" estava
acontecendo. Não era normal que 18 relógios fossem alterados simultaneamente (1).
Coincidência? Eu duvido...
E no dia 24, quarta-feira, preocupado com o esgotamento geral, eu faço um pedido:
"Que seja adiada a comprometida subida ao Sinai."
E em meia hora (!), inexplicavelmente (?), o vôo seria cancelado.
Coincidência? Eu duvido...
E no dia seguinte, graças ao adiamento, nós desfrutamos de algumas horas livres. E
de forma não menos estranha, Blanca perde (?) seu amado anel de ouro. E este
perplexo mergulhador terminaria "tropeçando" (?)... Com outro anel de prata!
Coincidência? Eu duvido...
E, nesse momento, um súbito "pensamento" (?) parece descer dos céus:
"Aqui está a prova... Esta é a "resposta" ao seu pedido".
Coincidência? Eu duvido...
E, para nossa consternação... "Ninguém sabia de nada, ninguém tinha perdido o anel."
Coincidência? Eu duvido...
Finalmente - e pode que eu esteja esquecendo outras "coincidências" - uma "idéia"
(?) sacode-me nos túneis do Serapeum: "Hoje à noite, na Grande Pirâmide... Hoje à
noite, o "flash" no céu..."
E na madrugada de 29 para 30 de Julho, dois expedicionários observam surpresos,
uma série de "flashes" sobre a majestosa Quéops.
Coincidência? Eu duvido...
(1) Em 09 de julho (1997), às 15 horas, recebi em "Ab-ba" uma grata chamada do meu
bom amigo Ramoncín, cantor, compositor, poeta, escritor e, acima de tudo, uma boa
pessoa. Relembramo-nos a inesquecível viagem para o Egito e - surpresa! - me
confirma que no caso dele, falharam seus dois relógios e a câmera de vídeo. Palavras
exatas: "... Curiosamente, a minha câmera sofria de espasmos e mortes súbitas muito
estranhas, das quais posteriormente se recuperava como se nada tivesse acontecido.
Também um relógio Swacht, do tipo que não falham nem com uma martelada, mudava
constantemente de data e hora, e, finalmente, um magnífico Longines automático
simplesmente parou e só voltou a funcionar após chegar a Madrid... Não foi um
contacto de primeiro nem de quarto grau, mas gostaria muito que tivesse acontecido...
"Coincidência? Eu duvido...
Como o Mestre dizia: "Quem tem ouvidos... que ouça"
E naquele labirinto - eu confesso - ficou no ar, uma densa dúvida. Outra? Não,
possivelmente, a "grande dúvida".
O misterioso anel de prata!
Eu estive tentado a deixar temporariamente o caso Ricky de lado e dedicar-me, em
primeiro lugar, na localização do ourives que o tinha fabricado. Em seguida, na busca
do legítimo proprietário... Se é que ele existisse.
Naquela época - agosto de 1996 - eu não fui capaz defini-lo, mas "algo" me dizia que,
o anel resgatado no Mar Vermelho, poderia estar relacionado com a bonita gringa ou,
talvez, com algumas das peças do quebra-cabeças.
Era uma neblina, quase imperceptível, mas contínua e pingando segurança interior.
No entanto, fui afastado "sutilmente". Afastado... "Por enquanto". Tudo chegaria em
seu momento...
E agora eu vejo claramente. A monumental decepção que me aguardava nos EUA
necessitou de "certos mecanismos" que me equilibraram e me encorajaram a
continuar nesta tarefa difícil.
Que magnífico trabalho de "ourives" do Destino (?)!
Como um "toque para chamar a atenção" - este toque destinado, sem dúvida, para
lembrar-me, na época, do férreo "controle" desses "seres" - que no início daquele mês
de agosto, recebi uma ligação que eu nunca vou esquecer.
Desta vez, o "alerta" veio através de Iker Jimenez, um jovem e promissor investigador.
Ele aparentemente tentou me localizar durante os últimos dias de julho, mas,
obviamente, não foi possível.
"Eu não sei por que, mas, ao saber deste caso - disse ele, sem perceber a extensão
de suas próprias palavras - Eu pensei em você..." (!). (Em setembro, ambos
compreenderíamos.)
E o nobre e esforçado Iker me informou - muito superficialmente - de um avistamento
de OVNI relatado na pequena cidade de Los Villares, na província de Jaén, sul da
Espanha.
"Mais um...", pensei.
Mas não...
Com seu entusiasmo habitual, o investigador fez-me ver que aquele "encontro
imediato" tinha algo de especial.
E eu acho que ele tinha!...
Mas, felizmente, não entrou em detalhes. Limitou-se a esboçá-lo:
"Um vizinho foi testemunha, fora do povoado e em plena luz do dia, da quase
aterrissagem de uma nave espacial e a saída de três tripulantes para o exterior..."
O evento teria ocorrido ao meio-dia 16 de julho. "Causalmente", o dia da nossa partida
para o Cairo. Mas este servidor não se deu conta da "coincidência" até semanas mais
tarde, quando aconteceu o que aconteceu...
E como eu tenho como hábito, eu anotei, assegurando-lhe que eu me ocuparia do
assunto "o mais breve possível".
E foi isso.
Como eu disse, "providencialmente" (?), o bom Iker não fez alusão a "algo", que foi
observado pela testemunha (um ancião), na cúpula do Ovni.
Isto é - insisto - tudo parecia "amarrado e bem amarrado"...
Esta, em definitiva, foi a surpresa "extra" - de grande tonelagem - que somente se
encaixaria, no referido mês de setembro. Uma surpresa que, francamente, eu não me
recuperei.
E ao tomar novamente as rédeas do caso Ricky, me vi assaltado - nessa ordem - por
duas decepções e outra esperançosa e inesperada surpresa.
Vejamos...
Naturalmente, logo após pisar em "Ab-ba" me faltou tempo para ir até a agência de
correios.
Droga! Os "Spain" não tinham respondido! Muito bem. Estava decidido. Eu iria
encontrá-los... E iniciei os preparativos para ir até os EUA. Se fosse necessário
"passaria um pente fino" em todo o território norte-americano. O que estou dizendo,
Estados Unidos! ... Eu os procuraria até no fim do mundo!
E iria encontrá-los... E tiraria as dúvidas... E ficaria sabendo quem foi o misterioso
companheiro da suposta alienígena...
Blanca, conhecendo minha teimosia, se conformou, dando como certo, que eu
terminaria localizando o médico que visitou a cidade "A''... "Não se sabe quando."
A segunda decepção - quase simultânea - atuaria como "motor auxiliar" impulsionando
com mais força, a iniciativa de encontrar os Spain.
Ao ver-me novamente, Victoria, a governanta, balançou a cabeça negativamente.
"Nada..."
Os rebeldes livros de registro de hóspedes seguiam sem aparecer.
E eu não duvidei de sua palavra. Eu sabia que estava procurando. Outra questão era
saber se ainda existiam.
E eu decidi abandonar a valiosa, mas hipotética pista. Eu não poderia cruzar os braços
e esperar eternamente. Eu tinha que agir. Eu tinha que encontrar os Spain, o meu
último cartucho...
Pobres e incorrigível apressado! Quando me entrará na cabeça que tudo chega... "no
seu devido momento"?
Em 8 de agosto, efetivamente, "alguma coisa" começou a "se mexer" nesse hospício...
Ana, a filha de Marta, a proprietária dos apartamentos, retornou dos Estados Unidos.
E, ao entrevistá-la pela enésima vez, suponho que comovida pela infrutífera
tenacidade daquele investigador, prometeu ocupar-se pessoalmente dos livros
desaparecidos.
Me senti animado, apesar da esperança me parecer fraca e remota...
O que mais eu poderia fazer?
E fiz, naturalmente, o que não devia.
Eu fui então, cair em outro erro perigoso: Eu me deixei ser dominado pelos nervos.
E conforme foi se aproximando a data da partida - marcada para 22 de agosto, quinta-
feira - eu tornei-me insuportável.
Parecia um principiante...
Nem eu mesmo conseguia justificar aqueles infantis e contínuos conflitos. Foi
doloroso... Após 24 anos de luta, com as mais difíceis e inimagináveis situações, eu
me comportava como um novato...
O que este caso escondia? O que intuía? Por que tinha conseguido desmantelar-me?
Desmantelar-me? Não, muito pior... Eu estava transtornado.
Tremia sem razão. Passava horas em frente ao mar, traçando e desfazendo planos,
supondo e deixando de supor, imaginando, forçando as revoluções da mente e,
definitivamente, esgotando-me.
Eu era um ausente, mas tudo me incomodava.
Nelly, minha irmã, Joaquin Otazu, meu cunhado, e Blanca, que padeceram aquele
calvário, não podiam acreditar no que viam.
Eles obviamente nunca souberam... E eu espero que possam me perdoar.
Nos últimos dias, a crise se aprofundou. E do nervosismo e confusão desviei para o
medo. E agora eu entendo...
Foi algo irracional: um profundo sentimento de pânico frente ao desconhecido, de
frente para Ricky...
E eu cheguei a cogitar - muito seriamente - na possibilidade de renunciar.
"Talvez eu não esteja pronto - repetia como um robô. Talvez seja demais para mim...
Deus!... O que eu realmente estou enfrentando?"
Se a história era verdadeira, que tipo de civilização estava por trás?... Poderia ser
perigoso?... Eu não estava indo longe demais na investigação do fenômeno OVNI?...
Blanca, mais uma vez, soube resistir. E foi bálsamo e bom senso. E, como pôde,
tentou devolver-me o equilíbrio. E, apesar de eu não ter a coragem de confessar a raiz
de tanto sofrimento, ela percebeu. E tratou colocar as coisas no seu devido lugar, com
uma traumática e profética frase:
- Se o caso é verdadeiro, dificilmente chegará ao fim.
Hoje eu sei. Blanca estava certa. Mas, no entanto, eu segui em frente...
E o Destino (?) foi misericordioso...
Dois dias antes da viagem - de novo a "causalidade"? - "tropecei" (?) com Ana.
Estávamos indo jantar em um restaurante na população "A", juntamente com um casal
de amigos, Beatriz e José Maria Borrell, quando, de repente, "alguém" agitou as
cordas desta desconcertante história.
Foi um "estrondo"...
O medo, e a tenebrosa confusão que me governavam, se dissolveram em um
segundo.
Mão Santa!
Ana obviamente satisfeita, com um sorriso maroto, disse - como se não fosse nada
importante - "que acabara de encontrar alguma coisa"...
Eu fiquei sem palavras. Petrificado.
Finalmente, balbuciei:
- Alguma coisa... O quê?
Mas a jovem com pressa, entrou em seu carro, desaparecendo e deixando-me em
suspense.
E concluiu com um zombeteiro "amanhã às quatro e meia na minha casa".
Eu não reagi.
"O que é este misterioso "algo"? Os livros? Informação sobre Spain?"
Eu não me lembro se eu comi. O que é certo é que quase não dormi.
Quão complicado e teatral pode ser o Destino (?)!
O que estava acontecendo? Por que agora, faltando 48 horas para a viagem aos EUA,
o caso Ricky começava a andar novamente?
E eu pressenti. Senti uma mudança de direção no curso da investigação.
Eu não me equivoquei.
No dia seguinte, 21 de agosto de 1996, quarta-feira, meia hora adiantado - quem
poderia suportar aquele suplício! - Apertei a campainha do apartamento.
E a Providência me deu seu "presente" especial de Natal (1). Melhor dizendo, "isso"
chegaria pouco tempo depois. Antes, para não perder o hábito, o Destino (?) iria
brincar comigo...
E uma Victória triunfante depositou em minhas mãos pecadoras um venerável e
empoeirado caderno de capa preta. Mas ela não disse nada.
Interroguei-a ansioso.
Inútil.
Ela manteve o sorriso e aconselhou que o revisasse.
- Foi um milagre... - Sentenciou convencida.
Dei-lhe dois sonoros beijos. Mas eu não tive paciência. E dentro do carro - suponho
que com o olhar divertido e astuto do Destino (?) - folheei-o nervoso e
apressadamente.
Impossível. Feito uma pinha de nervos, eu olhei, mas não vi.
- Calma! - Eu disse a mim mesmo, em uma tentativa de cortar aquele caos mental.
E, lentamente, como se minha vida dependesse disso, eu comecei no início. E eu fui
lendo as centenas de nomes, endereços, números de telefone, documentos de
identidade e de passaportes que apareciam manuscritos nas amareladas 50 páginas.
"Mas o que eu devo procurar? Eu não sei a identidade de Ricky... O nome de
Spain?... Sim, isso seria um "bingo"... E se o casal se hospedou com o nome da
mulher?... Nesse caso, eu estou perdido..."
Eu comprovei com entusiasmo, que junto ao registro de todos os hóspedes, também
continha a correspondente data de entrada e, às vezes, a de saída do apartamento.
"Spain!... Sim, tem que constar... Spain?... "Spain" não é um nome comum entre os
norte-americanos... Que estranho!... Um "Spain" visitando a Espanha?..."
Mas estas reflexões iriam morrer em segundos, diante de uma decepcionante
"descoberta".
(1) Não se trata de um erro. Eu acho que sou o único mortal que celebra o Natal duas
vezes por ano. Uma, como todo mundo, em dezembro. Outra, em 21 de agosto. E, como
está explicado em Cavalo de Tróia, estou convencido de que essa era a verdadeira data
do nascimento do meu admirado e amado Jesus de Nazaré.
A princípio eu não percebi isso. No entanto, conforme fui dominado-me, a triste
realidade se impôs. E me afundei na desolação.
"Não pode ser!... Isso é cruel."
Eu pulei para o meio do livro. O mesmo... "Droga!..."
E o mesmo aconteceu com o resto das folhas.
O livro mostrava uma lista de todos os indivíduos, nacionais e estrangeiros, que, de
fato, ficaram nos apartamentos, mas em umas datas muito distantes do ano chave:
1980.
"Cruel... sim! Desta vez, o destino (?) se passou... »
E mais uma vez eu percebi que estava novamente na "estaca zero".
Ainda assim, como um paciente franciscano, comecei de novo...
"Spain!... Por favor, Aparece! ».
Foi em vão. O nome de Maraes não constava nem mesmo por engano.
E desanimado, eu desisti.
Eram quase 18:30.
Eu estive tentado a voltar na casa de Ana e perguntar.
"O que foi que elas disseram que tinham encontrado?"
Infelizmente (?), Em vez de seguir este "impulso" (?), arranquei o carro, dirigindo-me
para "Ab-ba".
"Talvez eu não tenha analisado com rigor suficiente", eu tentava me consolar.
Sim, eu tinha que tentar de novo...
E destino (?) pisou no acelerador.
Logo ao passar o portão, Blanca, animado, saiu ao meu encontro.
- Victoria está chamando...! Encontraram algo! Você tem que voltar!
Acreditando que se referia ao caderno de capa preta, eu o mostrei, acrescentando, em
um tom azedo:
- Eu sei... Aqui está. E minha mulher me interrompeu nervosamente.
- Não...! Acaba de ligar! ... Há algo mais! Olhei para o relógio. Eram 1830... A hora do
"presente" de Natal!
E confuso e intrigado voltei para a população 'A'. Eu não estava entendendo nada...
Desta vez, foi Ana quem me recebeu. Instantaneamente eu percebi um caderno em
suas mãos. Um humilde caderno de capa vermelha, maior do que o anterior.
E eu pensei ver nele, o Destino (?), Sorrindo como um cúmplice.
Mantinha-o aberto em uma das páginas quadriculadas. E a expressão de felicidade da
mulher me disse tudo.
E foi entregando-me, assinalando a parte inferior da providencial folha.
E em silêncio, mais do que ler, eu devorei aquelas oito linhas, também manuscritas.
Eu acho que fiquei pálido.
Victoria me ofereceu uma cadeira. E tremendo, com medo de que tudo fosse um
sonho, interroguei-a com um olhar.
Ana assentiu segura e divertida. E eu acho que nós estávamos cientes de quão crucial
era a "descoberta". A investigação, de fato, acabava de estrear um novo e promissor
capítulo.
E meu primeiro pensamento foi para o "Vovô". "Obrigado, Senhor!..."
Ali estava!
E eu li uma terceira vez. E uma quarta...
Bingo!
E eu retornei, embebido por uma chuva de idéias, de planos...
"Agora, tudo é diferente... Eu posso comer o mundo..."
Pobre ingênuo!
O Destino (?) não tinha dito a sua palavra final...
E Blanca, ao ler, ficou igualmente pálida.
- Não é possível...! - Exclamou incrédula.
- É sim...! - Respondi, sorrindo.
Concluída a leitura foi este atordoado investigador que recebeu um sonoro beijo. E
Blanca perguntou sarcasticamente:
- Você é realmente humano? Você não é um deles?
Naturalmente, eu a deixei em dúvida.
E eu me fechei na "descoberta". Ainda havia muito a ser verificado, muito para
planejar... e, infelizmente, não tinha tempo. No dia seguinte, de madrugada,
empreenderíamos uma longa viagem. Uma viagem que, graças àquele caderno de
anotações, parecia mais clara e definida.
Clara e definida, porque - finalmente! - tinha em meu poder, duas informações
importantes:
As identidades reais de Spain e Ricky!
Na primeira linha do registro, com boa caligrafia, aparecia o nome e sobrenome do
companheiro da suposta alienígena. Abaixo, na segunda, terceira e quarta, um
endereço e um número de telefone.
A rua e a cidade de um dos Spain, previamente localizado por Lona e Tom Woods!
Especificamente, o que residia no norte do EUA.
Bingo!
E na quinta linha - escrito pela mesma mão - o nome completo de uma mulher.
Eu deduzi que só poderiam pertencer a Ricky. Anna e Victoria que, como foi dito,
tinham esquecido aquele nome, reconheceram de imediato.
Segundo bingo!
E nas últimas três linhas, outro endereço, o número do passaporte e os nomes de uma
grande metrópole norte-americana e do estado correspondente.
O "presente" de Natal foi esplêndido...
"Merdi Vienne... "Abueno"! "(1).
A informal "ficha de polícia" - de procedimento e que revelava a estadia do casal na
população "A" - estava complementada por uma informação igualmente decisiva.
À direita de ambas as identidades, separadas por suas barras verticais, podia ser lido
algumas palavras e alguns números.
Em um primeiro exame eu interpretei como o nome de uma rua e umas datas.
O grupo superior, relacionado ao registro de Spain, dizia textualmente:
"\ Prim 10.
"15/11-28/11 - 14 noites".
A referência inferior - em frente aos dados de Ricky, dizia assim:
"\ Prim 12.
»Dezembro 2/81 ".
Terceiro bingo!
1981!
(1) Uma expressão usada por Deus em “A 33.000 pés”. Sem tradução.
Petru e o engenheiro estavam certos. Aquele era o ano em que a suposta alienígena e
seu acompanhante "apareceram" (?) na população 'A'.
Mas nem tudo estava tão claro...
O que significava aquele "Dic. 2"? Era o dia do súbito e inexplicável "desaparecimento"
(?) da bonita jovem?
A lógica me disse que não.
Se o casal entrou no apartamento em 15 de novembro e o romance com o engenheiro
aconteceu após a saída do médico - ou seja, a partir de 29 do mesmo mês - o "02 de
dezembro" não se encaixava com a partida repentina. Muito próximo... Como já foi
mencionado, embora o engenheiro não conseguisse se lembrar das datas, estimou, no
entanto, que a relação durou pelo menos por três meses. O "desaparecimento" de
Ricky, portanto, tinha que ocorrer nos primeiros meses de 1982.
E deduzi que aquele “Dic. 2” (02 de dezembro) podia significar uma mudança de
apartamento.
Por razões desconhecidas, ao ficar sozinha, Ricky mudou-se para o número 12 na
mesma rua Prim. E o fez, naquele dia "02 de dezembro." E assim ficou registrado no
"livro de hóspedes".
Infelizmente, a pessoa responsável por estas anotações, parecia não ter deixado
nenhum registro da partida da "gringa". Por mais voltas que eu desse no caderno, eu
fui incapaz de encontrar o precioso dado.
Nem Ana e Victoria, a quem passei a questionar naquela noite, souberam esclarecer a
incógnita. Nem sequer sabiam quem realizou aquele registro. A letra, disseram,
poderia pertencer a Marta ou, talvez, a Tom, seu marido.
E as velhas dúvidas floresceram...
"Se Ricky "desapareceu" sem ninguém ver, quem pagou a conta?... Ou foi paga
antecipadamente?... Nesse caso, sabia ou sabiam a data exata da partida?... Que eu
soubesse, Ricky nunca falou sobre este assunto... E era estranho. Um turista sempre
planeja seu retorno. Mais ainda quando o retorno - supostamente para os Estados
Unidos - deveria ser de avião... Se saiu sem pagar? Segundo Marta, a resposta é não
... Então, estava tudo cuidadosamente planejado?... "
De qualquer forma, a única coisa clara no momento, é que o tal Spain tinha
permanecido 14 dias na população 'A'. Para ser rigoroso, 14 noites...
Em suma, devia entrevistar novamente a proprietária dos apartamentos. Marta, porém,
estava nos Estados Unidos. E me conformei. Lá eu a localizaria. Lá trataria de resolver
estas pequenas-grandes questões.
Também não tive sorte com o engenheiro. Apesar dos meus esforços, não consegui
localizá-lo. E embora tivesse quase certeza da identidade do Ricky, eu gostaria de
esclarecer todas as dúvidas e, aliás, dar a boa notícia.
No entanto, eu estava satisfeito. Em poucas horas, o Destino (?) colocou à minha
disposição, muito mais do que reuni em um ano de investigações. E curiosa e
desconfiadamente, na véspera da grande viagem...
Coincidência? Eu duvido...
E antes de prosseguir, eu entendo que o leitor merece uma explicação.
Por que não revelei a identidade do Ricky? Por que eu não revelei os endereços e
cidades em que viviam o médico e a mulher em 1981? Eu meditei muito.
E mesmo se algo ficou dito em uma das notas de rodapé de página, insistirei nisso. O
problema - como veremos - não é tão simples.
Simplesmente, devido à natureza do caso, não considerei prudente. E eu me baseio
em duas razões. Talvez em três...
Primeiro.
Se a história é falsa, se tudo se refere a uma confusão ou uma fábula, que direito eu
tenho de comprometer Ricky e seu companheiro?
Se isto fosse um engano, seriam apenas alguns turistas...
Estarem envolvidos em um incidente OVNI poderia fazê-los rir... ou não.
Segundo.
Se os fatos são verdadeiros - como eu imagino - por que entregar essas "pessoas" (?)
à voracidade das pessoas e, o que é pior, às garras de alguns determinados Serviços
de Inteligência?
Os investigadores estão bastante informados, e por dentro da via de "especial
interesse" demonstrado nestas questões por agências como a CIA e o FBI, entre
outros. Nós sabemos com que "ardor" perseguem estas naves e os possíveis
"infiltrados"...
Em função disto, quanto menos facilitar para eles, muito melhor... "Para todos"...
Porém há mais. E a terceira razão se situa em um terreno estritamente pessoal.
Se Ricky fosse o que parecia ser - e eu iria descobrir a conta-gotas - não seria eu que
estragaria seus "planos"...
Uma coisa é a investigação - que deve ser praticada com rigor e até aos limites
razoáveis - e outra muito diferente, é a denúncia.
Para cúmulo - quase sem querer (?) - este criado terminaria fazendo parte desta
incrível história...
E um anormal e inexplicável (?) simpatia por Ricky foi crescendo em meu coração...
No final da primeira parte da investigação, se comprovaria com suspeita, de como o
investigador se tornava quase em um "protetor" (?).
Talvez, por isso, ao chegar a um ponto específico no processo de investigação, eu não
tive escolha, a não ser "parar" (?) e refletir.
Eu seguia sendo imparcial? Eu não estava me colocando ao lado dos possíveis
"infiltrados"? Em que tipo de "jogo" eu tinha me envolvido? Eu me sentia usado?
Mas esta delicada situação surgiria algum tempo depois. Agora devo me ater aos
acontecimentos, tal e como ocorreram.
E fecho o parêntese.
A aventura continuava. E não tardaria a "complicar-se"...
Amparo, mãe de Eduardo Cañizares, em Abu Simbel, com o Lago Nasser atrás dele.
No fundo, à direita, um objeto que ninguém viu. No detalhe, o OVNI ampliado.
Nesta ampliação pode ser visto como o desenfoque da nave e as montanhas é o
mesmo. A maior nitidez na proa do que na popa, faz suspeitar que o objeto estava se
movendo da direita para a esquerda. (Cortesia da família Cañizares.)
OVNI movendo-se sobre a Grande Pirâmide, capturado pelo jovem Cañizares na
madrugada de 29-30 Julho de 1996. Claro, ninguém viu o objeto e nem suas
estranhas evoluções. (Cortesia de Eduardo Cañizares.)
Outro OVNI brilhante fotografado à direita de Quéops. (Cortesia de Eduardo
Cañizares.)
Um disco azul, invisível aos olhos humanos, sobre Abu Simbel. Naquele momento -
cerca de nove horas da manhã de 19 de julho de 1996 - o sol estava atrás do
fotógrafo. (Cortesia de Lucy Lovick.)
Ampliação do OVNI fotografado - involuntariamente - por Lucy Lovick. Observe o perfil,
perfeitamente nítido e definido. O misterioso objeto se apresenta na frente das nuvens.
(Cortesia de Lucy Jane Lovick.)
Eduardo Cañizares, durante a inesquecível viagem para o Egito. (Cortesia de E.
Cañizares.)
Lucy Jane Lovick, autora da fotografia de um OVNI "invisível", sobre o Templo de
Ramsés II em Abu Simbel (Cortesia de Lucy Lovick.)
Magdalena Godoy observou uma série de estranhos "flashes" sobre Quéops. Mas,
nem ela, nem Antonio Hernando souberam explicar... (Cortesia de Magdalena Godoy.)
Nascer do sol no deserto líbio, rumo a Abu Simbel.
No detalhe, à distância, aparece outro objeto estranho que ninguém viu. (Foto J. J.
Benítez.)
Antonio Hernando, testemunha dos "flashes" sobre a Grande Pirâmide. (Foto J. J.
Benítez.)
Ampliação do misterioso objeto captado no deserto líbio.
USA
Quinta-feira, 22 agosto, 1996.
O vôo da Delta (109 Y) decolou de Madrid-Barajas às 14 horas, 31 minutos e 55
segundos, de acordo com meu cronômetro.
E acariciei a frustrada carta...
Por que não havia colocado-a no correio? O aparelho subiu ao nível de cruzeiro
(33.000 pés) em pouco mais de 14 minutos. «Mais uma vez os velhos medos?»
temperatura exterior: 56 graus abaixo de zero. Vento: 98 quilômetros por hora. "Ou foi
a intuição?"
Distância do vôo e tempo estimado até Atlanta - primeira escala - 4.322 milhas e oito
horas e 30 minutos, respectivamente.
«E sem poder fumar... Malditos "gringos" inquisidores!»
Quanto à carta, eu não soube responder...
Sinceramente, no último minuto, "algo" me impulsionou (?) a não fazer isso.
E a breve carta, dirigida à Ricky, me acompanhou até os EUA.
Nela, como tinha feito com os Spain, notificava-lhe que era um jornalista e estava
preparando um livro sobre a população "A", pedindo sua colaboração.
Eu queria preparar o terreno? ... Adiantar-me ao Destino (?)?
Coitado! Quando eu vou aprender? "Talvez seja melhor assim...".
E continuei a escrever no inseparável caderno de campo ...
«Eu nunca gostei das mentiras... Talvez eu possa explicar pessoalmente...
Pessoalmente?»
E fui me perder na outra preocupação séria. Uma ansiedade que não me abandonou
durante todo o vôo.
Pessoalmente? ... Primeiro eu tinha que encontrá-la... Sim, eu tinha um endereço, mas
de 1981! ...
Quinze anos era muito tempo... Poderia estar morta... (?)
Pela segunda vez?
Que absurdos eu estava pensando!
Poderia estar vivendo em outro endereço... Em outra cidade... Em outro país... Em
outra parte do universo...
«E dá-lhe pensamentos estúpidos!... Ou não são tão estúpidos?...» E Blanca,
percebendo minha inquietude, pegou minha mão, implorando por calma. Impossível...
«Como farei para me encontrar com ela?...» Em Daytona, a primeira etapa da viagem,
eu não conhecia praticamente ninguém. Era a segunda ou terceira vez que a visitava...
«Ir até a polícia? ... De jeito nenhum!...» E, deixando o problema nas mãos do Destino
(?) - Algo aconteceria ou me ocorreria - e me dediquei a examinar o outro lado do
dilema.
"Bem, suponhamos, o que já é muito, que eu a localizo... Como entrar no assunto?...
O que dizer a ela?... Expor-lhe a verdade sem rodeios? Melhor dizendo, a suposta
verdade... O mais provável é que ela me mande para "aquele lugar"... Ou talvez não?
Como reagiria uma pessoa normal, se alguém lhe perguntasse de forma séria: "Você é
um extraterrestre? Diga-me: Você invadiu o cadáver de um ser humano? Como fez
isso? E por que?"... "É verdade que teve um romance com um engenheiro espanhol?"
"Você se recorda que um OVNI posicionou-se sobre o carro em que estavam
viajando?"
» Por que e como "desapareceu" sem deixar vestígios?"
» Você poderia mostrar a ferida na perna direita?"...
» Como eu disse: ela pode bater com a porta na minha cara. E com razão...
» Além disso, se o Ricky for ou não for humana, é lógico que negue tudo.
» Belo panorama!"
E a ansiedade foi se contorcendo. E o senso comum levantou novamente sua voz,
recriminando-me daquela aparente "loucura". E foi inevitável: acabei caindo em uma
mistura de ceticismo, impotência, censura continua e um tímido "se", para o caso
Ricky.
» E se tudo fosse uma ilusão?... Eu fui enganado?... O engenheiro será um agente da
CIA? ...
» Impossível... Ele é comunista!...
» Além disso, se fosse uma trama ou invenção, na segunda ou terceira entrevista iria
entrar em contradição...
» E se ele é um especialista?
» Não, o engenheiro sabe somente de negócios, mulheres e cozinha...
» Meu Deus!... O que estou fazendo neste avião?"
Atlanta.
17 horas (hora local).
Escala técnica.
"Outra casualidade? Eu duvido...
E o Destino (?) deu um toque...
Enquanto esperamos para o próximo embarque, alguém se aproximou de Blanca. E se
identificou como Carmen. Também veio no vôo de Madrid. Era uma espanhola,
residente em Daytona.
Aparentemente - que coincidência! - reconheceu minha esposa para algumas fotos
que tinha visto há algum tempo atrás. Umas fotos mostradas por Leire, a filha mais
velha de Blanca, durante uma estadia de estudo na mencionada cidade da Flórida.
Leire e o filho de Carmen - novamente, o "acaso" (?) - eram amigos...
- Que coincidência! - exclamaram em uníssono as mulheres, logicamente
desconsertadas.
Coincidência?
E este servo, sentindo "alguma coisa", ficou atento. Mas, obviamente, eu permaneci
em silêncio.
E o Destino (?), como eu disse, continuou sua paciente e minuciosa "obra"...
Horas mais tarde, ao aterrissarmos em Daytona, conheceríamos toda a família de
Carmen. E lá, no aeroporto, na "hora certa", apareceu Andrés Goyanes, o filho da
providencial passageira. Uma peça fundamental na incontrolável "engrenagem" desta
aparentemente - somente na aparência - "louca" história...
E eu me pergunto:
"O que teria acontecido se tivesse feito a viagem em outra data?... Por que voávamos
"justamente" com aquela companhia aérea dos EUA?... Seria "normal" que nós
coincidíssemos com esta espanhola?..."
De um ponto de vista estritamente científico, o conjunto de parâmetros necessários,
para que Carmen e nós viajássemos no mesmo avião, era simplesmente
astronômica...
"Sutilezas" dos meus "primos"?
Francamente, eu acho que sim. Como entender então, o que aconteceu depois?
E deste "casual" (?) encontro, surgiria uma amizade que, em uma questão de horas,
me forneceria "frutos muito especiais"...
Andrés, especialista em informática, fez amizade com meu filho Satcha, engenheiro de
computação. E além de nos fornecer os procedimentos para o processo de mestrado
que o jovem Benitez deveria cursar, ficou encantado ao aceitar uma proposta
inusitada: ajudar-me a encontrar "uma agulha em um palheiro"...
Por que eu pensei em Andrés Goyanes?
Certamente - graças a Deus! - Obedeci a intuição...
Aquele era o "instrumento". Não deveria perder tempo...
E lembrei-me, divertido e perplexo - é difícil acostumar-se à implacável "marcação" do
Destino (?)- do que anotei um pouco antes em minha agenda: "... Algo aconteceria ou
me ocorreria..."
E assim, misteriosamente, sem sobressaltos, a investigação se encaminhou para as
excelentes - quase mágicas - vias da Internet.
E depois de dois dias, as consultas começaram dar frutos. Os dados fornecidos por
agências como Busca profissional e Intensiva de Desaparecidos; e Sociedade de
Pesquisa do Inexplicável, entre outros, foram decisivos.
A localização de Ricky estava em curso.
Domingo, 25.
Para minha surpresa, Andrés me forneceu uma lista de nomes, iguais ao da suposta
alienígena. Todos possuíam telefone "não privado".
A extensão da listagem, contudo, desencorajou-me. O nome em questão estava
distribuído pelo País.
Paciência. Essa era a chave ... E fechamos o cerco.
Primeiro, uma revisão completa dos nomes e sobrenomes "gêmeos" existentes no
Estado que constava na minha agenda. Em seguida, a mesma operação, mas na
grande metrópole.
E respiramos aliviados...
Aqueles que coincidiam com o nome da bela desconhecida, finalmente foram
reduzidos... para oito! "Já é nosso!" Mas não... Como uma maldição, a rua que me
servia como referência, e que constava no bloco de anotações, não acompanhava
nenhum destes oito usuários.
... Eu imaginei o pior...
"Quinze anos é muito tempo... Será que estamos equivocados?... Talvez esses nomes
não tenham relação com aquele que eu busco... Talvez Ricky agora esteja vivendo em
outro lugar... Mas onde?..."
E eu pensei em agir impiedosamente, em direção ao "caminho do meio":
"Ligava para cada um dos números..." Minha fiel e boa estrela, não me abandonaria.
"Certamente, ao começar, "aparecerá" (?) a protagonista desta história..."
No fundo, nem eu acreditei nisso. Mas tinha que fazer alguma coisa. Eu sentia que
estava perto. Muito perto... Pode apostar que estava! ...
Mas tudo tem "seu tempo" e seu processo prévio...
Andrés calmamente sugeriu uma alternativa... mais racional.
Perguntou ao computador a relação dos indivíduos e razões sociais ou comerciais
estabelecidos na rua que constava em minhas anotações, e na qual, supostamente,
Ricky residia em 1981.
E os medos foram confirmados. Quinze anos não era uma piada...
Ao rever as centenas de usuários, nós percebemos que tínhamos voltado ao início:
Ricky não constava neste endereço.
E eu comecei a tremer...
E agora... O quê fazer? Nosso "objetivo", de fato, poderia estar vivendo em qualquer
lugar do país... ou no exterior.
No entanto, eu não desisti. E esta "força" (?) desconhecida que surge nos momentos
decisivos me envolveu, levantando-me acima do aparente fracasso.
"Vamos começar de novo..."
Talvez tenhamos nos descuidado de alguns "detalhes".
Mas, qual?
E de repente, ao estudar pela enésima vez a "ficha da polícia," Eu notei "algo" que, de
fato, não nos demos conta. Não era muito, mas...
E para combinar com as informações que acompanham os oito nomes selecionados,
pensei ver uma luz fraca. Andrés e eu nos olhamos...
- Pode ser... - Meu companheiro murmurou baixinho.
E a inesperada (?) pista reduziu os "candidatos"... Para dois!
E eu comecei a rezar.
Esse "algo" que tinha passado despercebido era o código postal que "alguém" -
mágica e providencialmente - escreveu no velho "livro de visitas"... Se a norte-
americana ainda vivia na mesma cidade, mas tinha mudado de domicílio, os primeiros
dígitos do código tinham que ser idêntico. E o Destino (?) mostrou a cara... E
"coincidentemente", dos dois usuários cujos códigos quase coincidiam com o que
estava anotado em 1981, apenas um tinha uma inicial, exatamente igual ao do nome
de Ricky.
Coincidência? Eu duvido...
Eram 14 horas.
E, embora seja uma prática comum nos EUA, "aquilo" me surpreendeu: o "finalista", o
"gringo" selecionado, não apresentava o seu endereço. Apenas a cidade, estado e o
salvador código...
Por que estou surpreso? Eu não poderia explicar... No entanto, algum tempo depois,
entendi aquela sutil, mas clara "sensação" (?).
Tudo, na verdade, tinha o seu "por que" nesta tortuosa e fascinante aventura... Então
chegou o momento da verdade. Tínhamos um telefone, uma possibilidade...
O que devíamos fazer? Simplesmente ligaríamos?
E dizer o quê? Como atacaríamos o delicado assunto?
Então se impôs uma certa lógica (?).
Primeiro de tudo...
"Tratava-se de Ricky? Será que estamos realmente diante da "turista" que visitou a
Espanha em 1981?
"Se o interlocutor (?) disser que não, para que continuar?..."
Andrés, que conhecia apenas parte desse labirinto, não captou - eu acho - o medo que
começava a me sufocar.
"Medo? Do que?"
Também não sou capaz de esclarecer. No entanto, ali estava, agarrando-se em mim,
como nos piores momentos...
«Pânico de que seja a autêntica Ricky? ... Que negue que esteve na localidade "A"? ...
Ou é medo da verdade? ... "
Como eu disse, eu não sabia ou não queria explicar.
E uma multidão de idéias se juntou ao sigiloso terror, inutilizando-me.
"Tudo bem... Suponhamos que fizemos "bingo"... Aceitamos que é Ricky... Digamos
que sim, que confirme sua visita ao sul da Espanha... E depois?... Como faço para que
me receba? O que diabos eu lhe digo?...
"Eu não posso alertá-la, nem insinuar a verdadeira razão para a chamada... Não por
telefone..."
E o instinto (?) trabalhou rapidamente. "Eu não tenho muitas alternativas..." Eu escolhi
a mentira inofensiva enviada para os Spain:
«Como escritor, eu preciso saber a sua opinião sobre a referida população "A".»
Conseguiria convencê-la? Estaria de acordo? Aceitaria a minha presença de bom
grado?
E desmontado pela tensão, eu tive que pedir ao meu parceiro para que "fosse o
escolhido" e que "fizesse o primeiro contato"...
Ele ligou para o número de telefone.
Esses 10 dígitos pareciam intermináveis...
O previamente acordado com Andrés era simples... Em teoria: verificar se estávamos
diante da pessoa que nos interessava.
Isso foi vital. Prioridade.
Então, no caso de "bingo", eu assumiria...
E tudo dependeria de minha habilidade e - por que não! - do Destino (?).
E eu confiei...
E eu me coloquei nas mãos da "força" (?) que sempre me acompanha...
Silêncio.
Andrés, imperturbável, ajustou os óculos.
Eu respirei profundamente.
Mas eu não consegui me safar da angústia...
Silêncio.
"O que está acontecendo...?"
E eu deduzi que tínhamos ligado em uma hora errada.
"Não há ninguém em casa?"
E com os nervos rígidos, fuzilei-o com o olhar.
Silêncio.
"O que é isso?... Oh Deus!... Por favor, responda!" De repente, levantando a mão,
solicitou calma. «Calma? ... Aonde! ... "
E observei como se concentrava, prestando atenção a "alguma coisa"...
"Por que você não fala?"
E o silêncio, no quarto 212 do hotel Aku * Fiki, converteu-se em chumbo.
Andrés piscou. Parecia duvidoso. Finalmente, dirigindo-se a mim, balançou a cabeça...
Anunciando um "não".
"Não?... O quê?... Por quê?... Erramos o número? "Momentos depois, vendo desligar
o aparelho, eu desmoronei.
- O quê foi? - gritei.
Mas o meu amigo - ausente - não respondeu...
- Andrés!
E, em resposta, sem olhar para mim, mais uma vez apresentou a palma da mão
esquerda. E balançando-a suavemente exigindo tudo o que eu não tinha: calma.
- Droga! ...
Ele repetiu a operação, usando os números que ambos sabíamos de memória.
"Um erro?... Sim, com certeza..."
E eu segurei nesta hipótese, como um náufrago a uma tábua.
Silêncio.
E mais uma vez, aquela automática concentração.
"Mas o que está acontecendo?..." Silêncio.
E o instinto (?) me avisou. "Algo não está bem..."
Andrés, carrancudo, confirmou a negra suspeita.
Irritado, desligou.
Silêncio.
E eu me recusei a perguntar.
"Para quê?... Eu já sei a resposta... Este telefone não tem nada a ver com Ricky...
Enésimo fracasso... E começar tudo outra vez!"
Naturalmente, eu me precipitei... uma vez mais. A intuição não estava errada. Fui eu
quem não soube interpretá-la corretamente.
Andrés terminou dando de ombros, quebrando o doloroso silêncio com duas palavras
que me ressuscitaram... em parte:
- Uma secretária eletrônica.
E simplificou.
-Na gravação você ouve a voz de um homem... falando os números do telefone.
Deve ter sentido minha confusão. E garantiu:
- Não há dúvida... Eu confirmei em segunda chamada.
- Um homem? Falando?
Andrés Goyanes. Outra casualidade nesta investigação? Eu duvido... (Foto J. J.
Benítez.)
Mas o amigo, é claro, não pode satisfazer a minha agitada curiosidade.
"Então, se o número estava correto, o que aconteceu?"
Eu imaginei o pior.
"O nome e o sobrenome são de um homem."
Se for assim, adeus à frágil esperança...
"E se fosse um membro da família ou amigo? Poderia ser até o marido?... Ricky?
Casado?"
E a aflição espetou-me no estômago.
Se "aquilo" era outra "frivolidade" do Destino (?), eu sinceramente não vi graça...
"E agora? Onde é que estamos?... No começo?... No final... ou em nenhuma parte?"
Senhor Bom Deus! Por isso dizem que o peixe é caro...!
Discutimos.
O esforçado Goyanes - ele chegou a tomar o desafio como algo pessoal - defendia a
idéia de repetir a chamada e deixar uma mensagem na maldita secretária eletrônica.
Fiquei receoso.
Isso significava "avisar".
Se eu realmente estava no caminho certo, se aquele era o telefone de Ricky e se a
norte-americana era uma suposta alienígena, poderia suspeitar... e "desaparecer" (?)
novamente.
Andrés, perplexo diante de tanta imaginação (?), negou com a cabeça. E me trouxe de
volta à realidade.
- É apenas uma mensagem... Algo asséptica...
E apesar de eu reconhecer que ele estava certo, o instinto - às minhas costas -
continuou sussurrando:
"Atenção!... Ricky pode ser... ou não ser humana... "Mas venceu a sensatez (?).
"Por que dou por certo, que a mulher é um alienígena?... Isto precisa ser
comprovado."
E eu me juntei à proposição razoável.
E do "outro lado" na metrópole distante, ficou gravada uma mensagem simples,
inocente e concisa:
"... Eu sou fulano de tal... Escritor... Eu vivo na Espanha, mas agora estou nos Estados
Unidos... Estou tentando localizar fulana... Voltarei a ligar... Saudações."
E lançada a "isca" optamos por dar tempo ao tempo...
16 horas.
O mesmo quarto e o mesmo nervosismo, embora um pouco aliviado pela decepção
apresentada.
«Provavelmente, esse número não era o de Ricky...»
E o Destino (?), às vezes brutal, agiu sem contemplações.
Desta vez quase não houve silencioso nem tenso espera... "Aquilo" simplesmente nos
pegou de surpresa. Santo Deus! ...
Como transmitir isto? Como descrever tamanho susto?
E André, enfadado, chamou o número pela quarta vez.
E antes que eu chegasse a sentar-me na frente dele... Surpresa!
- Bom dia!
A súbita e inesperada saudação de meu amigo me transformou em estátua.
Aparentemente, alguém estava com pressa especial para atender a chamada. O
telefone deve ter tocado - no máximo - duas vezes...
Era estranho... Sim, muito estranho.
E então eu pensei... E continuo pensando: "Parece que estavam esperando... Será
que "sabiam" que, mais cedo ou mais tarde, acabaria chamando?"
Intuição? Era o "anjo" (?) que sempre anda na ponta dos pés?
Ou será que "o plano" estava seguindo seu curso... Inexoravelmente?
E Andrés, em Inglês, formulou a pergunta capital:
- É o telefone de Fulana de Tal...?
E este servo, imóvel, sem palavras e sem coração, começou a desmoronar.
Silêncio.
E, incrédulo perguntou novamente.
- Você é Fulana de Tal...?
Estremeci.
"Ele está se dirigindo a uma mulher!"
- Tem certeza? - Insistiu.
Silêncio.
E o coração, sem aviso, começou a galopar...
E eu entendi.
«Se a resposta para a primeira pergunta tivesse sido negativa, meu amigo não teria
feito a segunda...»
E teimoso - maravilhosamente teimoso - tentou confirmar a identidade de sua
interlocutora pela a terceira vez.
- Eu falo com...?
Silêncio.
E embora o galopante coração gritasse "SIM!", na minha mente - não sei porquê -
apareceu um despedaçado e gigantesco "NÃO!".
"Não... Não... Eu não sou Ricky... »
Mas tudo estava amarrado e bem amarrado...
E levantando o olhar, sem conseguir acreditar, meu amigo me deu um generoso e
significativo sorriso.
E eu soube...
"Bingo!"
E Andrés, afirmando com a cabeça, desarmou-me.
"Bingo!" Era ela!
E explodi.
E como uma criança, sem medida ou controle, levantei os braços e o rosto para o teto
e agitando os punhos fechados.
"Merdi Vienne... "Abueno"!... Você é grande!... O maior!"
E eu pulei sobre a cama... E desci e voltei a saltar... "É ela!"
E Andrés, como pôde, retomou a conversa com Ricky. "Oh, Deus!... É Ricky!"
E, de repente, com a respiração descontrolada, eu me dei conta: era a minha vez.
Eu tinha que me recompor.
Mas como?... "Aquilo" era mortal... Não podia acreditar!... Como era possível?...
Tínhamos acabado de encontrar a "gringa"!...
Mas, assim?... Do nada?... Na primeira!
Não, "aquilo" não era normal...
Coincidência? Eu duvido...
E naqueles momentos críticos, cego por aquele "primeiro premio" eu não valorizar o
notável esforço prévio. Mesmo assim, eu continuo me perguntando:
Meticuloso "Planejamento"?
E do Inglês, Goyanes passou para o castelhano.
Disfarçando a impaciência que transbordava por todos os poros deste perplexo e
desarmado investigador, ajustando-se friamente ao que tínhamos acordado, falou a
meu respeito, explicando o motivo da chamada.
Silêncio.
E eu estava ciente da gravidade do momento. "Irá aceitar?"
E Andrés, com grande ênfase, me colocou lá em cima...
Mas a mulher, inexplicavelmente (?) - assim detalharia meu amigo mais tarde - cortou
a exagerada coluna de incenso, replicando curta e grossa.
E hoje eu ainda sigo sem entender... Ou sim?
E Andrés, perplexo, entregou-me o telefone.
- Ela disse que tudo bem - gaguejou.
E ao começar a falar, eu me perdi. E emaranhado em nervos, apenas consegui emitir
desajeitados e rudes monossílabos...
E ocorreu "algo" desconcertante.
Como se pudesse ler dentro de mim, adivinhando (?) a intensa emoção que estava me
segurando, aquela voz - doce, quente e segura - foi acalmando-me. Guiando-me.
Animando-me...
E lentamente, inexoravelmente, me dominou. E o fez com facilidade. Como se me
conhecesse por toda a vida e fazendo uso dos mais simples recursos:
- Desculpe-me você... Eu também não gosto de secretária eletrônica. Eu adoro a
Espanha. Seja bem-vindo aos Estados Unidos... Eu estou à disposição... Diga-me...
Desculpe meu espanhol ruim... Quer que falemos em Inglês? Naturalmente eu vou te
ajudar...
Tranquilo...
Sim... Assombroso!
Mas, como um idiota, recuperado o humor, em vez de ir para o que importava, eu me
desviei com uma pergunta desnecessária.
- Então você é Ricky?
E a voz, com infinita paciência, sem alterar-se, disse que sim.
E eu me sentei. E voltei a levantar-me...
E, ainda nervoso, o aparelho quase escorregou por entre os dedos.
Senhor Deus! Como fazer? Como dizer que aquele foi, sem dúvida, um dos momentos
mais intensos desta fascinante aventura? Como descrever o tremor, a alegria, a
surpresa e a emoção ao ouvir aquela voz?
Depois de tanto tempo, esforço, ansiedade e dúvidas... Ali estava!
Simplesmente, ali estava Ricky!
E mais uma vez eu tropecei na mesma estupidez.
- Tem certeza que é você mesmo...?
E meu amigo e Ricky riram ao mesmo tempo.
E o riso da mulher, transparente e contagiante, me deixou fascinado.
E a partir daquele momento, tudo foi "sim". "Sim" ao meu desejo de entrevistá-la. "Sim"
para colaborar com o suposto livro. "Sim" para visitá-la em sua casa. "Sim" para o que
fosse necessário... Incrível!
Na verdade, uma sequência, muito suspeita de "sins"...
Não, "aquilo" não era normal. E, perplexo, então me perguntei... e agora:
«A que se deve tanta cordialidade e tão retumbantes sins? Por que não formula uma
única pergunta? Por que não consigo captar um único sinal de receio? "Não, aquela
atitude não era lógica. Ricky, afinal de contas, não sabia nada daquele estrangeiro,
supostamente escritor, supostamente interessado em um remoto e humilde vilarejo
espanhol... Ou "sabia"?»
«Por que aceitava sem hesitação?... E acima de tudo, por que não titubeou quando
expus que a entrevista deveria ser pessoalmente e em sua casa!»
Não, "aquilo" não era normal entre os desconfiados "gringos"...
E eu tive... e tenho ... um pressentimento (?): "Ela sabe ... "Eles" sabem... "
E eu vou mais longe:
«Estava me esperando?... Estavam "guiando-me"?... Que papel desempenhava na
realidade, este ingênuo investigador em tudo isto?»
Eu sei que estas impressões não são (?) - ou não parecem - científicas e racionais...
Então foda-se ciência! Como já foi visto - e iremos vendo - "sensações, intuições e
pressentimentos" (?) seriam tão sólidos e eloquentes como os fatos objetivos. Talvez
até mais...
E Ricky, sempre cordial e acolhedora, deixou-me falar.
Mas, de repente, quando tentava me justificar, listando as virtudes da população "A",
me interrompeu. Foi a única vez. E o fez com um comentário que deslizou
rapidamente em meu subconsciente. Uma alusão a um personagem que eu tinha
esquecido...
Spain!
O médico - disse isso - tinha avisado-a... (!)
Ricky estava ciente!... Sabia das minhas intenções de escrever um livro sobre a
referida população "A"!
Ela disse que Spain falou com ela pelo telefone, logo depois de receber minha carta.
E nesses atropelados instantes, não raciocinei. Menos mal!
Se tivesse feito, poderia ter escorregado...
No entanto, logo após desligar o telefone, eu fui martelado por uma insistente "idéia"
(?)
«Por que o médico, sem perder tempo, entrou em contato com sua companheira de
viagens? »
«Na carta, eu não a mencionava... »
E uma velha suspeita continuou criando raízes.
«Spain!... Pode ser um "deles"?... Como "desapareceu" naquele 29 de novembro de
1981? Por que você abandonou sua companheira de quarto? Ou não foi assim?...
Será que continuou "perto" dela? »
E comecei a entender por que a segunda carta - destinada à suposta alienígena -
nunca foi colocada no correio...
"Havia necessidade?... Ricky estava informada."
E eu mantive um prudente silêncio, não prestando atenção - aparentemente - ao
comentário da norte-americana sobre o "diligente" Spain. Mas o "alerta" foi
imediatamente processado... E a intuição (?) "gritou":
«Atenção! ... Perigo! »
E desejava fazer-lhe mil perguntas... "Deus!... Eu a tenho ao alcance da mão! "
E ela, cordial - excessivamente cordial (?) - talvez tivesse respondido... Ou não?
Mas "alguém" (?), com os dedos de ferro, estrangulou a tentação. Não havia chegado
a hora...
E o coração da história - a verdade sobre sua hipotética origem "não-humana" - ficou
temporariamente congelado...
E foi nesses últimos momentos, enquanto tentava amarrar os detalhes que deveriam
levar-me até ela, que ela pronunciou o único "não".
Um "não" suave, mas firme.
Eu não sei por que fez isso, mas perto do final da intensa conversa, solicitei-lhe o seu
endereço. Aquilo era parte da logística, dos detalhes antes da desejada reunião.
Talvez tenha sido consequência da deformação profissional...
Se no último momento se recusasse à entrevista, possuindo seu endereço, ficava o
recurso de apresentar-me em sua casa... de surpresa. Uma idéia arriscada, eu sei,
mas que já tinha dado resultado em outras aventuras... Mas, como eu disse, se
recusou terminantemente.
- Vamos deixar isso para mais tarde.
E embora eu não entendesse, eu aceitei, é claro... E hoje me assalta outra dúvida:
Por que se negou? Por que, no entanto, dias depois, aceitaria voluntariamente e sem
hesitação, o pedido para escrever seu endereço, com seu próprio punho e letra, no
meu caderno de campo?
"Sabia" o que aconteceria meses depois, em Yucatán? Estava ciente da importância
daquelas linhas manuscritas e do que elas poderiam revelar aos peritos em caligrafia?
Obviamente, se tivesse aceitado, se eu tivesse anotado, naquele momento, o nome da
rua e número da casa, não teria sido a mesma coisa...
E eu não posso deixar de me admirar.
Mas eu estou caindo no vício de adiantar-me aos acontecimentos...
E a despedida foi igualmente... Como definí-la? Curiosa? Intrigante? Anormal?...
- Fique em paz com o universo.
Sim, é possível que fosse apenas uma maneira de falar. Mas, por que conseguiu me
arrepiar?
Que sensação estranha!
E ao interrogar Andrés, entre divertido e feliz, confirmou que, de fato, a conversa não
foi um sonho.
Meu Deus! Acabei de falar com Ricky! Eu havia localizado-a!
O que parecia quase impossível se tornou realidade... e, da maneira mais simples e
natural.
Eu me lembrei do engenheiro. Ele, talvez, teria gostado de estar no meu lugar...
E Andrés concordou comigo:
- O comportamento de Ricky é incomum entre os esquivos "gringos".
E por um tempo trocamos opiniões. Não, "aquilo" não era normal.
Por que não questionou? Era admissível tanta facilidade? ...
Este servo, afinal, é um perfeito desconhecido nos EUA.
Era habitual para um cidadão dos EUA aceitar receber em casa, um estrangeiro que
não conhece?
Por que o esquecido Spain alertou-a? Eles mantinham contato depois de todos esses
anos?
Spain!
E por que não aproveitar o dia? Por que não ligar também para ele?
Dito e feito.
E a "sorte" (?),novamente de cara, nos serviu o médico em uma bandeja...
Incrível!
Parecia que eles tinham entrado em acordo... A voz de Spain respondeu
imediatamente. Bastou ligar.
"Que estranho", pensei. Coincidência? Eu duvido...
Estávamos em Agosto. Em pleno período de férias. E, além disso, em um domingo...
Não, "aquilo" não era normal...
E amabilíssimo (!), admitiu ter recebido minha carta, e ter visitado a população 'A' em
1981.
E o instinto (?) - não sei por que - me advertiu.
E ocultei a recente conversa com Ricky. Ainda assim, Spain surpreendeu-me...
Que curioso!
Se Ricky foi cordial... Spain foi muito mais.
Se Ricky parecia conhecer-me a vida toda... Spain não ficava para trás.
Se Ricky não fez perguntas... Spain muito menos.
Se Ricky facilitou... Spain o fez em cada frase.
Se Ricky respondeu à chamada com uma especial velocidade... Spain foi exatamente
igual.
Se Ricky prometeu cooperar no livro... Spain foi ainda mais longe: eu poderia contar
com suas fotografias.
Não eram muitas coincidências? O que estava acontecendo? Quem era realmente
aquele médico?
E o mais alarmante: por que o "solícito e bondoso" Spain não mencionou Ricky em
nenhum momento?
Que curioso!
Se ele sabia do meu interesse pelos estrangeiros que tinham conhecido o povoado
espanhol, e não perdeu tempo, indo logo avisar a amiga das minhas intenções, por
que não se referiu a sua parceira? Também era uma fonte de informação...
Mas não... Nem uma palavra!
E o instinto (?) disparou o alarme novamente: «Aqui ocorre "algo" estranho».
E eu segui o jogo.
E hoje, no final de julho de 1997, como imaginei, apesar de repetidas promessas, eu
continuo esperando as fotos e comentários...
E eu sei que nunca chegarão. Intuição? Provavelmente.
E por um momento - perto do final da conversa - contemplei a possibilidade de viajar
para o norte e visitá-lo. Mas "alguém" - talvez esta "força" invisível, oportuna e
implacável - disse "não".
"Haverá tempo para investigar o segundo e não menos enigmático personagem.
"Agora, Ricky tem prioridade."
E naquela noite, ao colocar em ordem os acontecimentos do dia, escrevi no caderno
de campo:
"... Eu tive sorte (?), mas o caso, longe de esclarecer, se escureceu de repente..." E
matizo: Sorte?
Não, o termo não é o correto. Estou mais inclinado para o habitual: "planejamento"
meticuloso... por parte "deles".
E nas horas que se seguiram ao "histórico" domingo, ao examinar muito de perto estes
acontecimentos, fui convencendo-me... um pouco mais.
"Que precisão!... Que controle!"
E esta convicção me arrastou para algo pior.
"O que me reserva o Destino (?)?... O que me espera na grande metrópole?... Quem
realmente é Ricky?"
E um familiar "fantasma" bateu na porta novamente...
..."Ricky!"
E eu não pude evitá-lo...
"Que tipo de ser eu estou enfrentando?"
E se instalou por completo...
"Humano?"
E eu fui retrocedendo e retrocedendo...
"É um "deles" com aparência humana?"
E eu lutei, sim, mas a "fera" era poderosa...
"Tudo está indo melhor do que o esperado - repetia em um inútil esforço para expulsá-
la - No terceiro dia de sua chegada nos EUA já realizou a parte mais difícil..."
Mas o obscuro "inquilino" tornou-se carne e sangue.
"Oh, Deus! De novo, não!"
E o medo me venceu...
"Sim... medo!... Este "hóspede" indesejável...! "
E nos dias seguintes, ele tornou-se o proprietário.
Somente o nome de Ricky, sua imagem, sua voz ou a recordação do obrigatório
encontro com ela, desencadeava um cataclismo interior e um pânico destrutivo.
«Deus do céu! »
»Como entender isso depois de todos esses anos?... Depois de haver interrogado
mais de 10 mil testemunhas de Ovnis? »
Isso, talvez, fosse o problema...
« Testemunha Ovni... ou muito mais? Como classificá-la? ... Onde está a raiz deste
terror?"
E a resposta - devastadora - era sempre a mesma:
"Ricky não é mais uma testemunha... Ricky pode ser um "deles"! Um "deles"! Um
"deles"!"
Em 25 anos de pesquisas, jamais tive a oportunidade - que eu saiba (?) - de ver um
desses "seres", de dialogar cara a cara com "eles"... Agora, no entanto, os indícios e a
intuição (?) me diziam que "sim", que estava "muito perto"... "Um "deles"!"
E o pressentimento (?), Como eu disse, gerou o medo.
Mas não foi um pânico... Como definir isso?... Complicado. Não me desmantelou por
fora, como aconteceu na Espanha, pouco antes de partir para os EUA. Desta vez me
consumia por dentro...
E apesar de achar que ninguém percebeu, a deterioração foi tal que eu acabei
adotando uma firme e, obviamente, infeliz decisão:
"Retardei... indefinidamente... a viagem para a grande metrópole."
E, naturalmente, me justifiquei...
"Eu não estou preparado... Preciso de mais informações. Primeiro devo investigar o
suposto acidente de ônibus... "
E outra "voz" (?), ao mesmo tempo, denunciou a verdade:
"Eu não posso, eu não quero encontrar-me com essa "mulher" (?)".
E naquele momento, e também gora, custou-me entender... e aceitar isso.
Eu sei que não havia justificativa.
"Claro que eu estou pronto!"
A realidade era outra...
Simplesmente, eu estava com medo.
Como são enganosas, por vezes, as aparências! Não é certo que a experiência vai
vacinar você contra tudo...
E Blanca, desnorteada, assistiu de uma insana mudança de planos. Em vez de agir
com a lógica - ou seja, aproveitar a estadia nos Estados Unidos para visitar Ricky - eu
anunciei nossa próxima saída... Para o México!
Pediu explicações, é claro...
Mas, querendo apenas me afastar, eu permaneci em silêncio...
- O que vamos fazer com Ricky? Ela prometeu te receber.
Eu refugiei-me na falsa desculpa do ônibus. E Blanca obviamente protestou. E
implorou...
Mas o terror tinha vencido.
E eu me agarrei cegamente à segunda etapa da viagem...
Segundo os planos, uma vez localizados Ricky e Spain, deveríamos entrar no cenário
dos fatos e investigar o suposto e importantíssimo acidente de ônibus.
E minha esposa, indignada, me lembrou do que eu já sabia:
- Você nem sabe o ano do evento...
E acrescentou à queima-roupa:
- Nem o ano e nem o lugar! Essa busca, seu idiota, vai levar meses!
Deus!... E como explicar?... Como confessar que tudo era consequência do medo?...
Eu sabia bem que o rastreio do "acidente" era quase impossível...
E teimoso, incapaz de reconhecer a minha fraqueza, eu distanciei-me de seus
sensatos conselhos, fixando a partida para a Cidade do México, para o sábado, 31 de
agosto. E de certa forma... "Descansei".
«Ricky?... Não, eu não quero saber nada dela... Por enquanto. Eu prefiro esgotar-me
em bibliotecas e arquivos da policia asteca, à enfrentar a viagem para a grande
metrópole...
"Bom Deus! Quanto dano e confusão o medo pode causar!"
Quarta-feira, 28.
Ao me encontrar com Marta, no sul, a angústia foi arrefecendo (?). E o estrondo
interior parecia ceder. Mas era apenas uma miragem... E fui me focar em alguns dos
detalhes que tinham ficado em aberto na Espanha. Entretanto, as sucessivas
conversas com a proprietária dos apartamentos da população "A" foram menos
rentáveis do que o esperado. Marta não hesitou.
Ao mostrar as identidades e endereços de Ricky e Spain, informadas no livro de
hóspedes, negou sem perder o controle.
Não, aquela não era a sua letra, muito menos a de seu ex-marido.
- Então...?
Mas não conseguiu ir mais longe.
E flutuou no ar uma hipótese:
"As fichas em questão podem ter sido preenchidas por um dos supostos "turistas".
Talvez pelos dois... »
Para Marta parecia estranho. Pelo menos, incomum.
Deixe-me explicar.
Em 1981, tanto ela como Tom, falavam e escreviam em Inglês corretamente. O lógico,
portanto, assim como acontecia com o resto dos registros do famoso bloco de
anotações, é que as oito linhas tivessem sido escritas pelos proprietários...
Algum tempo depois, esta insignificante (?) "peça" se encaixaria também no "quebra-
cabeça".
E serviria para reafirmar o que eu já disse: "Tudo amarrado... e bem amarrado."
Com o segundo detalhe também não havia nenhum problema.
Marta examinou a ficha novamente e explicou convencida:
-Está muito claro. Aqui diz... Spain, de fato, se hospedou por 14 noites nos
apartamentos... E em 29 de novembro de 1981, ao ficar sozinha, provavelmente por
comodidade, Ricky decidiu se mudar para o número 12, da rua Prim...
E as suspeitas iniciais foram confirmadas. O que eu discordei foi com os comentários
finais.
"Sozinha?... Por comodidade?”
Francamente, eu hesitei...
Mas, claro, eu não disse nada.
E a proprietária, como já tinha mostrado anteriormente, não conseguiu esclarecer o
“quando” e “como”, do "desaparecimento" da "gringa". Mas entramos em acordo sobre
algo:
O irritante "Dic. 2" não significava a data da partida.
E acrescentou uma valiosa informação:
- A hospedagem foi paga por Spain... e foi pagamento adiantado.
E, assim como o engenheiro e o resto das pessoas que conheceram Ricky, disse
convicta:
- Eu nunca a vi manusear dinheiro, nem cheques ou cartões de crédito...
E eu pulei para outro assunto, não menos intrigante...
- Namorados?
E a mulher, com o seu fino instinto, acreditava que não.
- Ricky e Spain, namorados? Não, de jeito nenhum...
E concluiu:
- Aquela era uma amizade (?) muito estranha... Dormiam juntos, sim, mas não se
comportam como amantes... Nunca vi uma carícia, um beijo, um detalhe...
E revelou algo que, aparentemente, Ricky havia confessado a ela:
- A relação amorosa não era com Spain, mas com um dos irmãos dele.
Dias mais tarde iria comprovar que ela estava certa...
E eu me perguntei, e continuo a me perguntar: "Então, por que Spain acompanhava
Ricky?... Se não eram namorados, qual era o objetivo da viagem?
"Estranho, sim... muito estranho...”
E a velha suspeita cresceu.
E, depois de rever mais uma vez, as fracas memórias de Marta, eu arrumei uma
maneira de me encontrar com Tom, o ex-marido.
Bem, desta vez, apesar de dois dias dedicados a isto, e a mediação da proprietária,
fracassei miseravelmente.
Por razões que não consegui esclarecer, o norte-americano - que vive na mesma
cidade onde Marta trabalha – se esquivou de mim constantemente.
Estava claro. Ele não queria revirar a memória, nem responder as perguntas sobre os
"hóspedes" de 1981...
Eu não tive escolha.
E a entrevista foi adiada... por enquanto. "O que Tom sabe?... Melhor dizendo, o que
está escondendo?...
Qual o motivo desta atitude inexplicável?... O que pode prejudicá-lo... ou prejudicá-
los? ... Qual foi o acordo (?) com os supostos "turistas"? O que chegou a ver?
Quinta-feira, 29.
E naquela manhã, de repente, o indesejável "companheiro" acordou com inusitada
violência.
E aconteceu o que, por vezes, resolve ocorrer comigo. Blanca já está acostumada. Eu,
no entanto, não.
E em um típico ataque, necessitando de uma solução para anular aquele pânico voraz,
lancei mão da "cirurgia”...
"Eu tenho que tentar... Sim, o "bisturi" será o melhor... O degolarei...”
Pobre ingênuo!
E a emenda foi pior que o soneto...
E Blanca, atônita, me viu pegar o telefone e ligar para Ricky.
"Sim... Eu vou enfrentar.”
E ao fazer isso, fui me animando.
"... É apenas uma "gringa”... Um simples cidadão que visitou a Espanha... Um pouco
estranha, sim, mas com um endereço, uma casa, um telefone... Eu devo seguir o
conselho: não sair da linha...”
E Ricky - como era de se esperar! - Respondeu ao primeiro toque...
E eu senti o baque.
E a suposta coragem começou a ir embora... Ela não parecia surpreendida.
«Não, “isto” não é normal... »
E se mostrou amável, doce e encantadora como na ocasião anterior.
E, finalmente, eu desmoronei...
Mas aconteceu... Aconteceu de novo!
Como é estranho e desconhecido é o espírito humano!
Eu não sei como ou de onde veio, mas recuperando momentaneamente a lucidez,
soltei algo que surpreendeu a mim mesmo:
- Quem sabe na próxima semana... Você pode me receber?
E aceitou com a maior naturalidade, e de imediato.
E eu percebi estava suando. Era um suor frio...
E naquela luta desigual, o medo seguiu me desarmando.
"É um "deles"!... retroceda!... Cancele a data!”
E Ricky, com aquele desconcertante poder de adivinhação, aliou-se à voz do medo. E
me preveniu:
- Eu pressinto que vou te decepcionar... Minhas recordações são fracas... Lamento
que tenha vindo de tão longe... para nada.
E reforçando o tom sério, acrescentou muito lentamente:
- Tem certeza de que só quer falar sobre o povoado “A”?
Mas, desajeitado como sempre, não tive reflexos. Eu não soube "ler nas entrelinhas”...
Naqueles momentos críticos, eu estava preso em meu próprio paradoxo.
"Como isso é possível?... Eu tinha acabado de adiar a viagem para a cidade de Ricky
e ainda assim, ali estava eu!... Perguntando se podia me atender... Na próxima
semana!
»Coisa de louco... sim! "
E como um robô, eu improvisei:
"Não importa que suas recordações sejam fracas... Eu vou te ajudar...”
E, apesar do medo, eu consegui complicar ainda mais aquele comportamento
delirante.
E fiquei de confirmar o dia de minha viagem para a grande metrópole...
E ao desligar, tive vontade de morrer.
"O que eu fiz?”
E a "fera" foi impiedosa.
E o fez sem piedade... e com uma frase:
"... Tem certeza de que só quer falar sobre o povoado “A”?"
E aquele velho pressentimento (?) apareceu de mãos dadas com o terror.
"O que ela quis dizer?... O que estava insinuando?”
E eu só fui capaz de pensar (?) em uma direção. "Sim... Ela sabe... Sabe a verdade...
Ricky é um "deles"!... E está me esperando!”
E, como eu disse, o remendo foi pior que o soneto...
E amaldiçoei a minha atitude...
E ali mesmo eu recuei...
"Para o inferno Ricky! Foda-se o engenheiro e a história dos "infiltrados"!
"Em minha agenda aguardam novas investigações...”
«Por que complicar a minha vida com "isso" ?»
E com medo, eu renunciei a tudo. Especialmente... a mim mesmo.
Estava decidido: cancelaria inclusive a planejada viagem para o México.
"Mas, o quê está acontecendo? Melhor dizendo, o que está acontecendo comigo?"
E Blanca, vendo aquele rosto contorcido, não ousou sequer perguntar. E fez bem...
Aquela, certamente, era uma situação séria e perigosa. E pouco faltou para que o
caso Ricky afundasse para sempre nos arquivos...
Mas, obviamente, estava esquecendo "alguém"... O implacável Destino (?)!
Sexta-feira, 30.
Não sei por que (?) mas, felizmente, eu mantive Blanca afastada destas decisões e
tormentos. "Sim... hoje mesmo eu vou dar-lhe a notícia... Voltaremos para a
Espanha... Adeus Ricky!...
"E como vou explicar isso?...
"Vamos ver... Eu vou pensar em alguma coisa...”
Mas o Destino (?), como eu disse, estava atento...
E naquela manhã, enquanto caminhávamos sem rumo - tudo estava acabado para
mim - aconteceu "algo”...
Como é verdade, que a vida e as mais sólidas decisões, podem variar em trinta
segundos! ...
Nem naquele momento, e muito menos agora, eu soube a razão. Talvez, isso sim, eu
suspeitei...
E imaginei que "aquilo" continha uma possível dupla leitura:
"Ou a instabilidade deste pobre e bagunçado investigador não chegou ao fundo, ou o
"planejado" – eu não sei bem por quem - continua o seu curso... apesar de mim
mesmo.
»Eu não sei por quem?... Mentiroso! "
Todo cada um interprete como puder ou souber!
O ponto é que, enquanto minha esposa estava praticando um de seus esportes
favoritos – olhava vitrines – e este servo, a seu lado, em silêncio ruminava uma
fórmula mágica (?) que tentasse justificar nosso regresso a Espanha, fui "tropeçar" (?)
com "aquilo”...
E me detive instantaneamente.
"Explicar isso?... Impossível!”
Somente recordo que uma "força" todo-poderosa me arrastou para dentro... E eu juro
por tudo que é sagrado que eu não tive nada a ver com os meus próprios movimentos
e palavras!
E Blanca, perplexa, se juntou a seu igualmente perplexo marido.
Meia hora depois, deixava a agência de viagem com uma passagem de avião na mão
e um "não entendo nada" no coração...
"Uma passagem para a grande metrópole!”
Data: 02 de setembro, segunda-feira...
"O que está acontecendo?"
Aeroporto de partida e retorno: México, D. F.
"Mas eu não quero...!"
E Blanca, sentindo a cruel batalha interior, me tomou em seus braços...
- Parabéns!
E eu a olhei e, incrédulo, voltei a examinar a passagem...
«Parabéns? Por quê? ... Eu não fui... Eu só quero voltar para a Espanha. "
Mas minha esposa nunca soube desses pensamentos.
"Estou realmente louco? '"
- E uma "voz" (?) se apressou a replicar:
"Sim, maravilhosamente louco..."
E o que Blanca também não adivinhou é que, ali mesmo - como não - me arrependi de
novo...
Mas desta vez, essa "força" me cobriu. E eu me senti estranhamente em paz.
Estranhamente amparado...
E suportei a investida do medo.
E eu compreendi que nada no mundo – nem eu mesmo – podia separar-me do caso
Ricky.
E naquela “pirueta” do Destino (?) havia "algo" mais. "Algo" que - agora eu sei - tinha
de ser assim...
E eu aceitei.
E Blanca, inteligentemente, também assumiu... Conformada.
Contra todas as probabilidades - que não era meu costume – comprei somente uma
passagem de avião. Blanca não me acompanharia nesta transcendental viagem.
"Por quê?... Aparentemente, não faz sentido... "
Minhas suspeitas foram reforçadas.
Eu tinha pouco a ver com a repentina decisão de entrar na "oportuna e causal”
agência de viagens.
"Aquilo" não foi coisa minha...
Se tivesse agido fria e conscientemente, em primeiro lugar... não teria passado pela
porta.
Finalmente, dado o pânico que me inspirava a suposta alienígena, o lógico é que
tivesse preferido - quase exigido – que alguém me acompanhasse e fosse testemunha
do encontro ...
E quem melhor do que a minha mulher!
A verdade é que nós analisamos e discutimos. E Blanca encontrou outra explicação...
Mas eu duvidei.
Naquele momento da viagem, Tirma, minha filha caçula, estaria conosco. E Blanca
pensou que o fato de voar sozinho para a grande metrópole, obedecia principalmente,
o meu desejo de não deixá-la sozinha.
A justificativa, no entanto, não me convenceu.
"Aqui flutua "algo" mais... E acho que entendo...
"Eu tenho que enfrentar Ricky sozinho?... Por quê?
E também não consegui entender a absurda “manobra” de viajar para a cidade de
Ricky, saindo da capital asteca. Se tivesse sido responsável por minhas ações na
agência de viagens, por senso comum, tempo e economia, o normal é que o salto
fosse planejado a partir do lugar onde eu estava: Flórida.
Pouco tempo depois, é que ficou claro ...
Tinha que ser assim.
A decepção que me aguardava na metrópole, poderia ter prejudicado as seguintes e
"obrigatórias" fases da investigação...
E eu sigo maravilhando-me.
"Que precisão! Que minucioso controle!”
Sábado, 31.
E com o medo, temporária e discretamente contido por aquela benéfica "força", juntei
coragem e repeti a chamada para a bela "gringa". E também não pareceu surpresa...
Simplesmente me deixou falar.
E ao anunciar que iria pousar na segunda-feira em sua cidade, sem perder a habitual
e perturbadora calma, como a maior naturalidade (?) do mundo, comentou:
- Perfeito... Ao chegar no aeroporto, por favor me avise ... Eu ficarei feliz em passar
para te pegar...
E o instinto (?), atentíssimo, tocou meu ombro. "Perfeito? ... Encantada de passar para
me pegar?...
"Não, essa atitude, esta "hospitalidade "(?) não são normais."
E, de repente perguntou:
- Como vou saber te reconhecer?
E eu me vi preso na minha própria mentira...
Logicamente, não a informei das fotografias que estavam em meu poder,
providencialmente (?) tiradas pelo engenheiro em 1981 ou 1982. Isso fazia parte da
"outra" história... A verdadeira...
Em suma, eu sim poderia identificá-la... Ela a mim, no entanto, não... Ou sim?
Mas não vamos antecipar os acontecimentos...
E escapei do conflito sem muita imaginação.
- Muito simples - dissimulei -. Basta escrever meu nome em um papel...
E Ricky cometeu um erro. Ou não foi um erro?
- Tudo bem... J. J. BENÍTEZ... com maiúsculas.
E foi uma chicotada...
«J. J.? ... Como sabe de minhas iniciais de "guerra"? ... Na primeira conversa, nem
Andrés nem eu as mencionamos... E muito menos na segunda... Que eu me lembre,
eu sempre me apresentei com o nome completo: Juan Jose... "
E as suspeitas se agitaram e levantaram-me com o ímpeto de um furacão...
"Não pode ser!... Está ciente!”
"Então...
"Sim... ela é!... É um "deles"! "
E a anedota, aparentemente sem importância, acabaria desempenhando um "papel
interessante" nesta aventura cada vez mais intrigante...
Mas "disso" eu iria me dar conta bem no meio da histórica segunda-feira, 02 de
setembro de 1996... Estranho Destino (?)!
E regressando a Daytona, às 14 horas, finalmente decolamos com destino ao
México... e ao desconhecido.
A sorte estava lançada...
MÉXICO, D.F.
Domingo, 1 de setembro.
Pobre ingênuo!
Não, o medo não tinha sido sufocado.
E conforme fui me aproximando da inevitável e temida segunda-feira... ele foi se
soltando.
E eu experimentei umas contínuas e acentuadas estocadas na boca do estômago...
E a poderoso "força" que o manteve à distância nas últimas horas pareceu descuidar-
se... em parte.
Apesar de não ser manifestar como o pânico corrosivo das outras vezes, ainda assim
me deixou sem ar...
E eu me senti um órfão.
"Onde está aquela "força"?... Por que me abandona?... Por que precisamente agora?"
De qualquer form, será melhor que me refugie novamente no fiel diário. Ele, melhor do
que eu, saberá transmitir o estado de ânimo deste perturbado viajante, durante o dia
anterior à viagem para a grande metrópole norte-americana...
Leio textualmente:
"... O Distrito Federal amanhece chuvoso. Tão cinza e tempestuoso como o meu
coração...
»Visita ao Zócalo...
"Impossível chegar até a Basílica de Guadalupe. Nós ficamos sem saudar a Virgem...
A chuva cai torrencialmente...
"Deus! Isto é insuportável! Estou tremendo!... Eu quero... e não posso! Ricky me
apavora...
»16 horas.
»Passeio com Blanca e Tirma pela "zona rosa".
"Entramos em um cinema. Assistimos “Independence Day”...
»Outra "baboseira" norte-americana! ... Quando vão aprender que a realidade UFO
supera a ficção? ...
"Sim, Ricky seria um grande filme...
»18 horas.
"Falta pouco!... Eu acho que estou pálido...
"Eu preciso ser corajoso! "Eles" sabem... Eu acho.
"O que devo fazer quando a ver?... O que posso dizer?... Como devo começar?...
Levo as fotos de 1981? Vai me deixar gravar?... Permitirá fotografá-la?...
"E se eu for seqüestrado?...
"Que absurdo! Aqui vamos nós!...
"Você tem que estar preparado para tudo... Quem sabe?...
"Mas... O mais provável é que me mande passear...
"Extraterrestre, eu?... Eu um alien?... Mas, no que acredita!”
"Fim da entrevista.
"Ou não?
»21 horas.
»Jantar em Garibaldi... Em má hora! ... "Os ladrões querem nos lograr. Vinte mil
pesetas por uma garrafa de vinho branco... e ruim!...
"Explodo... E o stress acumulado cai sobre os “piratas” do restaurante Novo México. A
polícia intervém... mas também está "comprada”... Que desastre de país!
"Eu me recuso a pagar... Tento regatear. Faço ameaças.
"No final desembolso 400 pesos... Por todo o jantar!
"Que canalhas!
"2:00 hs da madrugada.
"Dormir?... O que eu mais queria!...
"Aqui estou eu, escrevendo e fazendo registros tão frágeis e de pouco valor...
»Valor? Que valor?... Onde ele está?
"Sim... Eu sei...
"Ricky poderia ser um "deles". E me esperava!
"Em poucas horas ela estará à meu alcance... Ou eu ao seu! E como eu faço? Como
controlar? Como esconder o pânico?
"Blanca também não dorme...
"Eu sei que sabe... Eu sinto... Mesmo um cego perceberia o trovão dessa angústia...
»Retroceder? Impossível! Agora não!
"Eu olho para fora da janela.
"Sim... Ele é capaz de me ajudar...
"E o meu último pensamento é para o "Avô".
"Não devo pedir, eu sei, mas, por favor, me dê força...
"As estrelas tremulam azuis ao longe...
"Sim, eu também posso escrever os versos mais tristes esta noite...
"Eu posso escrever e descrever o medo, pois eu sou o medo.
"Tenho frio...
"Tomara que não amanheça!"
USA
Segunda-feira, 2 de setembro (1996).
05 horas.
Eu estou dormindo.
Atravesso o Distrito Federal sem problemas. Continua chovendo.
Aeroporto Internacional Benito Juarez.
"Ah, meu Deus!... Começamos bem. O tráfego aéreo é uma espessa teia de aranha.”
O vôo da United Airlines decola atrasado. Pelas minhas contas, 28 minutos e trinta
segundos.
"Só falta chegar atrasado para o encontro com Ricky...!"
E ao medo, este indesejável "companheiro" de viagens, se junta o nervosismo.
"Bem... Eu estou chegando!”
O relógio marca oito horas, 36 minutos e dez segundos.
"Adeus..., México!"
E pela frente... Duais mil milhas!
Eu abro o caderno de "anotações". E examinou as imagens de Ricky, a suposta
alienígena... Pela enésima vez.
Eu sei de cor...
"Será realmente um "deles"?... Não, eu me recuso a pensar... Agora não...”
E eu me apego ao questionário. E o repasso. E o corrijo...
- Café?
- Claro, senhorita... Todo o café do mundo.
E a aeromoça observa de canto de olho, as fotos da bela "gringa".
E comenta, piscando para mim:
- Sua namorada é muito bonita...
Eu dou um sorriso com relutância.
"Se você soubesse..."
10:30, hora local.
Aterrissagem impecável.
Aplausos para o capitão Khein.
E a grande metrópole americana brilha orgulhosamente no horizonte.
"É chegado o momento!”'
E ao deixar o avião acontece "algo”...
"Onde está o "companheiro"?... O que ocorreu com o acentuado e implacável medo?"
E enquanto caminho apressadamente para o controle de passaporte, respondo para
mim mesmo, surpreso:
"Sim, me sinto tranquilo... Estranhamente em paz..." examino as mãos.
Pulso normal.
"Mas, onde foi parar o familiar e penoso tremor de algumas horas atrás?"
Respirei fundo e sorri para mim mesmo... “A força... Ela está de volta!...”
"Merdi Vienne... ”Abueno”!"
E eu procuro... Procuro nos intermináveis e funcionais corredores...
"Um telefone!... Preciso de um telefone!... Ricky esperar minha chamada!”
Mais surpresas...
"Merda..."
Centenas de orientais - os inevitáveis e onipresentes japoneses – fazem fila na frente
das cabines de imigração.
"Incrível!...
"Um dos aeroportos mais movimentados do mundo e não vejo um único telefone..."
"Eu empurro" com a mente. Inútil. O funcionário não tem pressa.
10.50.
"Falta pouco..." Cerca de trinta japoneses me separam da linha verde.
Os nervos protestam... e eu também.
Primeiro susto.
Um inspetor se aproxima da fila. E me “escolhe”! ...
"Não é de admirar... Ao lado de tantos "Japoneses" devo parecer o Michael Jordan.
E exige os documentos.
Motivo de sua visita aos Estados Unidos?
E eu hesito...
"O que eu posso dizer? Como posso explicar? Como eu posso dizer que tento me
encontrar com uma mulher que, talvez, é e não é humana? "Será capaz de
compreender e entender? Será que vai admitir que uma suposta compatriota sua –
Ricky - não é o que parece? Como falar-lhe de extraterrestres... Infiltrados entre nós? "
E eu escolho por um lacônico e asséptico... "Profissional... assunto profissional."
Mas o funcionário, insatisfeito, trata de desnudar com os olhos.
E digo para mim mesmo: "Situação complicada..."
Eu não sei por que, talvez porque eu sou malvado, mas estas situações me divertem...
E desconfiado e minucioso, revisa o passaporte de novo.
"Calma - insisto mentalmente -. Acima de tudo, calma...”
E revolvo no sótão das desculpas, procurando uma razão (?) moderadamente
credível. Mas, por enquanto, nada aparece... E a situação – afortunado Destino! - se
envenena.
De repente, ele para em uma folha. Lê e volta para os meus olhos. E eu percebo uma
incipiente e velada agressividade.
Assinala um dos selos bola - em vermelho, para maior desgraça - e se arma até os
dentes...
"Ah, meu Deus!... Também é má sorte!”
E cheio de suspeitas, azedo por dentro e por fora, pergunta:
- Profissão?
Esse selo - carimbado pela República de Cuba – atiça o individuo.
- Jornalista – respondo de pronto orgulhosamente. E o inspetor rapidamente...
- Você é comunista?
E frio como o mármore, entro em um jogo divertido... e perigoso.
- Currista... Sou currista.
Mas o obtuso, obviamente, não capta a "mudança”
"Como traduzir para o Inglês uma expressão tão taurina?"
- Caguista?
E segurando o riso com dificuldade, repito desafiante:
- Currista...! De Curro!
E ele traiçoeiro, se revela: fala espanhol! Ainda bem que eu não citei o senhor seu
pai... Por entre os dentes.
E mais uma vez, ele exige uma explicação.
-? Cuguista... O que é cuguista? E eu me irrito...
- O sistema político-social perfeito, caro amigo. E atordoado, ele insiste...
- Em Espanha são cuguistas?
E eu recorro ao Curro Romero...
- Só os inteligentes... E perplexo, se “fecha em copas".
- Mas, vamos ver... É isso é democrático? E eu o desarmo...
- Diga-me... Deus é democrático? Ele se rende... E com um estudado e oportuno
sorriso, ponho um fim ao "embate"
E o "gringo", nas nuvens, se suaviza. "Obrigado, Curro! “
- Tudo bem, senhor cuguista..., mas, por que veio, exatamente?
E solto outra verdade. Ou melhor, meia verdade...
- Eu tenho um compromisso com uma "estrela”... E o funcionário, temendo um novo
enfrentamento, se rende.
- De cinema...? Que sorte! ... Tenha um bom dia!
E ao recuperar o passaporte, arremato a frase mentalmente:
"Sim..., uma "estrela" do firmamento...” Nunca melhor dito.
11.04.
- Minha vez... Finalmente!
E a polícia analisa e verifica a ficha de ingresso. Contempla a fotografia daquele
descarado e olha para cima, me examinando.
Eu sustento o olhar examinador.
Finalmente entediado, digita no minúsculo computador.
E eu leio com ele: "Não existe".
A chave - o equivalente a "estar limpo" de antecedentes - me libera.
E o selo, golpeando o passaporte, soa ao engatilhar de armas. "Autorizado o ingresso
nos EUA... Agora sim... Agora começa a grande corrida. E Ricky é o objetivo”
E saio voando pelos corredores...
"Será que ela vai reconhecer a verdade?... Aceitará que não é daqui?...
Será que admitirá a versão aparentemente fantástica do engenheiro?... Ou me
mandará passear? Em breve tirarei as dúvidas... Em breve...”
11.10.
"Um telefone!... Mas o que acontece neste maldito aeroporto? Preciso de um telefone!”
E o destino (?) aperta a corda... Como é sábio!
E remexo nos bolsos. E na bolsa que me acompanha...
"Nada!... Nem um centavo!”
Com os nervos e a pressa, eu esqueci o mais importante: moedas...
Eu pergunto. Subo. Eu volto a descer. Corro...
E na estúpida “caça” das moedas, procuro me animar:
"Estou perto... sim... Ricky está lá fora... Vou conhecê-la!... A verdade é minha!”
Pobre iludido!
Como imaginar, nesta corrida frenética contra o tempo, o que me preparava o
caprichoso Destino (?)?
11.15.
Desisto.
Não há maneira de obter moedas de 25 centavos...
Incrível! Eles dizem que uma unha - uma moeda - uma batalha foi perdida... Bem, este
é o meu caso.
"45 minutos de atraso!... Ricky pensará que eu falhei, por não ter ido até agora...”
E o Destino, Impassível (?) - "Em seu devido tempo" - alivia...
E o faz pela boca de um amável japonês.
"Os cartões de crédito... Como não pensei nisso antes?... Eu sou um inútil!”
E a voz quente e acolhedora de Ricky - por que não! - Responder ao primeiro toque.
- Finalmente!
E o Destino (?) se "explica”...
- Você está bem? ... Você fez uma boa viagem? ... Eu estava preocupada... Eu tive
que sair e acabo de voltar... Apenas um minuto antes de sua chamada...
Assombroso!
A aparente perda de tempo não foi casual...
"O que teria acontecido se ligasse... e ninguém respondesse? Provavelmente nada...
Ou sim?
"Mas" alguém "(?) me presenteou com 45 minutos de angústia. Uma enorme
angústia...”
Coincidência? Eu duvido...? “Sutilezas de meus “primos”? É possível...
E eu comprovo que é verdade: o medo de Ricky ficou no México...
Eu me sinto seguro. Determinado...
E a mulher sugere que eu espere do lado de fora do portão “internacional”.
E surpreende-me novamente... "Nós estaremos aí em poucos minutos..." Estaremos?
... Mas quantos são? Oh, Deus!
Eu deveria supor...
Nunca "trabalham" sozinhos... Mas que bobagem eu estou pensando? Tranquilidade!
E meu coração me leva ao Distrito Federal do México... "Blanca... Deveria estar aqui!”
E apressadamente eu me encaminho para o ponto combinado. "Estaremos?... Não
importa!... Hoje eu posso com um regimento.”
Pobre coitado!
E ignorando o que estava sendo preparado, eu continuei a subir por aquela ilusão...
"Eu não estou acreditando! Estou prestes a conhecê-la!... Será a mesma das fotos? E
se fosse outra?”
E eu me corrijo...
"Não... Isso seria...? Cruel?... Impossível? Milagroso? Descobrirei a incógnita?...
Ricky é um deles?”
11.20.
E de repente, com os nervos a galope, recordo de "algo”...
"Maldição!"
E eu tento afugentá-lo...
"Que bela hora... maldito seja! Agora... não importa mais.”
Mas a dúvida fica martelando... "E se ela não aparecer...»
E o senso comum resposte por mim... "Não... Ela prometeu”.
E eu fico revoltado...
"Como eu pude esquecer? O endereço é vital! O que eu faço se ela não aparecer?”
E noto outro "detalhe”...
"Ela também mencionou... Por quê?... Por que não quis dar-me o seu endereço "E
hoje -? Eu - eu creio que entendo...
Tinha que ser assim...
No entanto, o nervosismo deixa tudo obscuro...
"Eu já não sou o que era... A velhice não perdoa irmão.”
Porta de acesso ao terminal internacional. Eu dou uma olhada em volta.
"Como me acalmar?... Como fazer para que recupere a razão?
Mas o coração "sabe". Têm "suas razões", e por isso salta pela boca...
E o Destino (?), meticuloso, aquece o ambiente... O que eu vejo?
Um fluxo intenso de veículos flui por uma via de serviço, de mão única, que corre larga
e esmerada a 10 metros deste agitado investigador. Proibido estacionar.
E os carros, ônibus e táxis param apenas o tempo suficiente para embarcar e
desembarcar passageiros. O lugar é um frenesi...
Malas de viagem. Gritos. Abraços. Despedidas... e centenas de pessoas entrando e
saindo. "Onde eu devo ficar?... Isto aqui é um caos...”
E eu escolho a beira da calçada, em frente à vidraças enormes.
"Eu a reconhecerei?... Espero que sim... Sua imagem está gravada a fogo...
"Além disso, suponho que se lembrará do combinado: uma placa com o nome..."
11.40.
Quinto alarme. E tão falso quanto os anteriores... «Não... Nem essa... Essa não é
Ricky... »
Cada veículo, ao frear nas proximidades, me acelera...
Enésimo cigarro. Na verdade, eu não fumo: eu me consumo em cada tragada...
"... Nós estaremos aí em poucos minutos...
»Minutos?... Eles começam a parecer séculos... "E os nervos, desalinhados, me
dublam.
"Será que são altos ou baixinhos com cabeças grandes? "E dá-lhe estupidez! "Eu não
tenho jeito mesmo!
"Esta espera me agonia."
Mais japoneses... Eles são uma praga... Mais malas...
Mais ônibus... Mais gritos... Mais confusão...
"Assim não tem condições... Como poderei identificá-la?”
11.45.
"O que pode ter acontecido? Este atraso não me agrada...”
E dou uma recapitulada (?).
"Passaram apenas 15 ou 20 minutos desde nossa conversa... Paciência! "E tento me
consolar.
"Talvez morem longe..."
Mas os nervos, impertinentes, não dão trégua. "Sim... Moram na constelação de
Orion!... Akron! "Que péssima conselheira é a impaciência!... E dúvidas pinicam como
corvos... Internacional? Ela disse Nacional ou Internacional. E o senso comum – pobre
coitado - faz o que pode...
"Sim... Internacional... Pedaço de asno!”
E, aos corvos, se somaram as moscas raivosas... "Espere um minuto... Esta é a porta
Internacional?”
E o caipira, com medo, vai perguntar... "Inacreditável!... E isso, que eu dei 90 voltas ao
redor do mundo!...”
- Sim, exatamente - confirma um policial, indicando o monumental letreiro que aparece
acima da entrada -. Este é o Internacional... E não fume! ... Isso perturba os outros...
E alem de burro... cego.
E, em vez de assumir, o burrito explode com o agente...
«Parar de fumar? ... Nem pensar! ...
"Eu também me incomodo com sua arma... com sua cara... a sua falta de
desodorizante... E eu suporto!
Desta vez, felizmente, o "gringo" não sabe espanhol. E eu me salvo...
11,50.
E da vilã incerteza - é claro - eu fui entrando em uma, mais do que notável,
indignação. "E se tudo fosse uma brincadeira?"
Mas o Destino (?), de repente, o impede...
E súbita e inexplicavelmente (?), a área vai esvaziando.
E fica um silêncio... E eu fico sozinho...
"O que diabos está acontecendo? Onde está a multidão? Onde estão os carros? "
Coincidência? Eu duvido... E então eu vejo!
Ao longe, um solitário veículo se move. E meu coração me abandona... E eu a ele...
E cada um segue o seu caminho... apressadamente. Aproxima-se lentamente. Muito
lentamente... Como se calculasse...
"Sim, eu distingo duas siluetas."
É um utilitário branco mal conservado.
"Quem dirige é um homem?... Sim »
E o instinto (?) se arma... "E ao seu lado... uma mulher.”
Mas, sem aviso prévio, o mistério se rompe... "Droga!"
E as portas automáticas se abrem e vomitam um novo caos.
E "aquilo" me surpreende... Coincidência? Eu duvido...
E uma centena de gesticuladores e conversadores japoneses – na hora pareciam
milhares - armados de bagagem até os dentes, irrompe pela calçada, em torno de
mim, me empurrando... e me sepultando.
"Porca miséria!... Agora não!”
E eu salto...
E tento me sobressair entre os inoportunos orientais...
O carro branco parou pouco mais de 15 metros. "Será possível?"
E empurro... E tropeço...
"Sorry!... Desculpe! Mentira! Não, eu não sinto muito! "E eu abro caminho entre os
pacotes... E xingo...
«Como se diz "malditos" em japonês?»
E ao escapar do "perigo amarelo" eu fico parado. Paralisado.
Os ocupantes do suspeito carro observam a balbúrdia com atenção.
"Ou atentos a este servo?"
Parecem hesitar.
E o coração retorna.
E em plena palpitação, em plena zona vermelha ... Diz que sim!
"Não há dúvida!... É ela!”
Eu posso vê-la através do pára-brisa. "É Ricky! '
Um, dois, três calafrios...
Eles conversam entre si.
"É a mesma das fotos!... Ou não? "Os óculos de sol me enganam...
"Sim!"
O coração insiste...
"Sim!"
A mulher finalmente abre a porta e sai. E permanece parada junto ao veículo...
O motorista não se mexe. Suas mãos estão no volante.
"Sim!... É a bela "gringa"!”
E um arrepio percorreu minha espinha...
E aconteceu "algo”... "Algo" que, obviamente não soube calibrar naqueles "momentos
especialíssimos”... Mas o subconsciente tomou nota.
Na verdade, foram três "detalhes”... entrelaçados
E incrédulo, perplexo e feliz, permaneci como um poste, com a bagagem de mão aos
pés.
"Abençoada e providencial imobilidade!" Naquele momento, eu nem sequer me dei
conta... Agora eu sei: "alguém" (?) provavelmente queria que fosse assim... Era vital
que não movesse um músculo. E eu não o fiz...
E fiquei tentado a avançar e chegar até ela.
Mas, como eu disse, o Destino (?), sutil, não permitiu, e me deteve...
Mas, como de costume, este desajeitado investigador se daria conta, somente muito
mais tarde...
Seria naquela noite, no hotel, ao lembrar e anotar o que aconteceu, quando eu me dei
conta...
"Não, aqueles "detalhes" não foram lógicos ou normais...»
E por alguns segundos, Ricky também não se moveu.
Parecia contemplar e analisar (?).
"Mas, a quem? Aos turbulentos japoneses? Ao "poste" que, por sua vez, a observava
perplexo, a uma distância de 10 metros?”
Então, eu não soube... Agora sim...
E brevemente "chega" o primeiro e anormal “detalhe”: Ricky não tem nada nas mãos...
"Nenhuma placa!... Nenhum nome!”
Mas o coração, a galope, não me deixa pensar...
"Sim!... A mesma!... É a Ricky das fotos! Obrigado... “Avô”!"
Como se lesse os pensamentos... Caminha em minha direção!
Segunda e não menos singular "detalhe”...
O faz com passo firme... Determinada. Sem hesitação.
"Como sabe?... Ela não me conhece fisicamente...
"Ou sim?
"Então..."
E aquele calafrio é o mesmo de agora... "Sim... Um "deles"! E sorri...
Ela está à quatro metros!
Sorri aberta e acolhedoramente... "Para quem está sorrindo?"
E como um tolo, eu viro minha cabeça.
Não, atrás apenas está um emaranhado "perigo amarelo"...
"Então...
E o coração, exausto, lamenta.
"Idiota!... Para quem você acha que pode estar sorrindo?”
E o sorriso vai se transformando. Agora é de cumplicidade...
Isso, pelo menos, é a minha apressada interpretação.
E este "alguém" (?) que me amarra ao cimento... me solta.
"É suficiente...
"O que devia "captar"... já foi "anotado" na mente.
"Mensagem recebida".
E impulsionado - quase catapultado - por uma "força" que não identifico... eu vou ao
seu encontro. "Eu minto... É claro que eu a conheço... "E isso acontece de novo.
"Não, “isto” também não é normal".
E ao chegar até ela, ainda sorrindo, sem palavras, como "algo" estabelecido, me
carimba dois beijos...
"Mas..."
E colocar as mãos sobre os meus ombros... E aperta gentilmente...
Terceiro e desconcertante "detalhe".
"Não, o comportamento não é típico de uma norte-americana... Não com um
estranho."
E a sensação é inconfundível...
"Sim... Conhecemos-nos... Conhecemos-nos de "algo”... "Eu instintivamente eu me
reviro.
"De quê? De onde?
"Nós só falamos ao telefone...
"E o que isso tem a ver com o pânico que tomou conta de mim?
"Eu sonhei com ela, sim... Eu a imaginei...
"Mas...
"Não, isso não é normal."
E aquela voz limpa e morna como o sol da grande metrópole, finalmente aparece:
- Bem vindo!
E eu sigo mudo. Incapaz de pronunciar nem mesmo um prosaico "Olá".
Essa mulher me fascina... "Oh, Deus!"
E a cena me leva para longe... Muito longe... Mas, por modéstia, eu prefiro o silêncio.
"É muito forte... ». (1)
A partir dali, durante a meia hora em que viajamos pela estrada, as memórias se
interligaram.
Fundiram-se...
Eu acho que foram os nervos. Que nervos!
Aqueles minutos foram indigestos... Foi o aturdimento total! "Ricky!... Está aqui... e eu
com ela!
E o Destino (?), insaciável, preparou o seguinte e dramático "ato"...
E, por expresso desejo de Ricky, ocupei o assento do co-piloto.
(1) Uma pista: Leia Cavalo de Tróia 1, a partir de “31 de março, Sexta-feira”... Para
bom entendedor...
Coincidência? Eu duvido...
Nesta intensa aventura, até os mínimos "detalhes" apareciam minuciosamente
"estudados”...
E de repente eu vi.
No chão, a meus pés, eu descobri uma "esquecida" (?) folha de papel branco. E nela,
com grossas linhas pretas, as iniciais e o sobrenome deste atordoado investigador.
E o subconsciente voltou para à carga:
"Por que não foi usado?... O que estão insinuando?”
Mas era muito cedo para entender... Tudo chegaria... "no momento certo". E vieram as
apresentações.
E o homem ao volante disse que seu nome era Rex. E me acolheu com idêntica
simpatia.
Primeiro susto...
E, de repente, em um castelhano tão remendado, como se fosse feito por um tradutor
automático, mostrando um meio e enigmático sorriso, o indivíduo disse:
- Eu também sou uma estrela...
E instintivamente - Não sei por que (?) – eu retrocedi para a cena do inspetor no
aeroporto...
E penetrando (?) em minha mente, ele acrescentou: - Uma estrela da música... não do
cinema ... Segundo susto... e um novo e inacabado sorriso.
Coincidência? Eu duvido...
E eu não soube e não consegui reagir.
E arrancou o carro de imediato, deixando-me perplexo. Mas "aquilo" foi apenas o
começo...
E Ricky, fechada em um igualmente misterioso e sonoro silêncio, me perfurou.
Podia sentir a tensão, o calor de seus pensamentos em minha nuca. E eu quase não
me atrevi a pensar... "Pensar? No quê? Primeiro eu devo me acalmar.”
E eu percebi que não era o momento ou o lugar apropriado. Eu não podia lhe falar da
"outra" história...
Não ali, na presença do estranho condutor.
Foi a intuição (?)?... Certamente.
E de canto de olho, engolindo a duras penas, o constrangedor silêncio inicial, eu fui
“radiografando "o aparentemente excêntrico Rex.
Grande erro...
«Que exemplar! - Eu disse a mim mesmo, alarmado - O que Ricky faz com um
personagem assim? »
Alto... Magro como um poste... Perfil de pássaro e com uma montanha de ossos
apontando sob a pele pálida...
Idade?... A julgar pelas enrugadas mãos e sulcos que salpicadas seu rosto... cerca de
70.
E aquele "poste", de cabelos brancos e descuidadamente reunidos em um rabo de
cavalo, percebeu (?) os intensos e prolongados olhares.
E o que é pior: Adivinhou (?) minhas conjecturas! Terceiro susto...
- Sessenta e cinco... para ser exato. E o súbito comentário me aniquilou.
"Terra engula-me!
"Mas como?... Como ele fez isso?”
E a resposta, pontual, apareceu como as anteriores: sob a forma de um sorriso... Um
inconfundível sorriso de cumplicidade.
E, apesar da agradável temperatura... Senti frio...
Um frio... sim ... premonitório.
"Onde eu estou?... Ou melhor, com quem?”
E Rex, forçando um sorriso, voltou a "responder". E, assustado, tentei deixar a mente
"em branco". Impossível... Tão impossível como se recusar a respirar voluntariamente.
E lembrei-me de recentes e não tão ridículos pensamentos:
"Estaremos? Mas quantos são?
"Oh, Deus!
"Eu deveria supor...
«Nunca "trabalham" sozinhos. »
E desta vez, o desgastado semblante ficou sério...
E eu entendi.
E Ricky - eu acho que consciente da minha confusão - tentou reconduzir-me e alterar
o suspeito lance...
E puxando o assunto da população “A”, procurou distanciar-me do negro presságio.
Mas não conseguiu...
"Quem é esse indivíduo?... Um músico?... Um médium? E o que faz ao lado de
Ricky?...
»Pode ser um "deles"?"
E o instinto (?), rápido, como aconteceu com Spain, me avisou:
“Atenção... perigo!”
A "gringa", perguntou e se interessou pelo local em que visitou há quinze anos.
Mas... Como dizer? ... Essa curiosidade soou... artificial... calculada... difícil de
acreditar... Com uma óbvia segunda intenção. Era como um tatear. Ricky parecia estar
me provando. Era como se ela desejasse ter certeza. Como se pretendesse se
certificar que, de fato, este escritor conhecia e vivia na localidade “A”...
E não a enganei. Sempre respondi com precisão e em detalhes. E ao mesmo tempo,
dissimuladamente, aproveitei a oportunidade de examiná-la de cima para baixo...
Horas depois, a própria Ricky, explicaria o porquê daquele exaustivo interrogatório. E
embora eu saiba que me antecipo aos acontecimentos, eu entendo que devo
esclarecer, aqui e agora, a "razão" que a levou a esse comportamento.
Aparentemente, depois de terminada a conversa telefônica com Spain, o médico
imediatamente voltou a ligar para ela. E lhe deu um estranho aviso:
"Atenção!... O escritor espanhol poderia ser um agente da CIA... "
E eu me pergunto:
"Por que esse medo?... Que interesse poderia ter a Agência norte-americana de
Inteligência - por sinal, os principais especialistas no fenômeno UFO - naqueles
cidadãos...? O que escondiam?... Era simples precaução?... Mas por quê?... Ou foi um
comentário... "Inteligentemente" colocado por Ricky na conversa?”
Concluído o importante parágrafo, eu vou continuar com a descrição da suposta
alienígena...
«Alienígena? »
O engenheiro estava certo?
Não, claro que não...
Aparentemente, era apenas uma mulher normal... Muito normal... E eu disse bem,
“aparentemente”...
Ricky ainda era bonita, sim, apesar de seus quase 50 anos.
Cerca de 1,80 de altura... Corpo atlético... Sem um pingo de gordura... Ombros
largos...
Pele macia e rosada, levemente polvilhada por minúsculas constelações de sardas...
Rosto alto, estreito, oval e seguro... Emoldurada por uma cabeleira sedosa e apoiada
sobre as clavículas... O negro escuro das fotos de 1982 tinha desaparecido sob uma
chuva de cinza... As sobrancelhas... luminosas...
Quanto aos olhos... Infinitamente azuis! Magnéticos... Doces e inquisidores ao olhar...
Impossível de esquecer e, acima de tudo, de evitar...
Com aquele sorriso caloroso e a voz acariciante... A "chave" de sua personalidade...
Nariz pequeno, acomodado, e timidamente arrebitado... Lábios finos, insinuantes
como o horizonte e castigados por incipientes e inexoráveis rugas verticais...
Dentadura alinhada... Impecavelmente branca... Queixo pequeno... Sensual...
Mãos longas... Sempre em repouso... Unhas transparentes e discretamente
aparadas...
Sem maquiagem... Sem adornos... Sem anéis... Talvez, para o meu gosto, apesar de
sua beleza, inexplicavelmente... pouco feminina.
Sim, este foi um ponto que me chamou poderosamente a atenção.
Ricky não possuía aquela aura sutil que distingue as mulheres...
"Como isso é possível?"
E recordei os unânimes comentários de pessoas que a conheceu na Espanha:
«Muito estranha... Fria... Quase viril... »
Nem a roupa lhe fazia justiça. Uma blusa até os joelhos, em azul desbotado, e com os
dois primeiros botões soltos... E como o único complemento, uma pequena bolsa de
tecido preto, frisada em um cordão da mesma cor, apoiada no ombro, junto ao quadril
direito.
E ao percorrer as pernas... O que já havia sido comentado pelo engenheiro e as
mulheres da localidade "A":
«Ela nunca usava saia...»
De fato, uma calça larga, azul marinho, escondia cuidadosamente umas pernas
longas.
E eu pensei na grande lacuna descoberta por meu amigo, o engenheiro.
"Continuava ali?... Como fazer para verificar e, acima de tudo, para fotografar?...
Como pedir isso?...
"Não... Branco me mata...”
Mas o Destino (?), desconcertante, tornava fácil aquilo que era difícil... "No seu devido
momento".
E, como eu disse, eu fui respondendo a suas específicas e intencionais perguntas-
armadilha...
"Sim, eu moro perto da localidade "A"... Setecentos habitantes... Pescadores... E eu
conheço Marta... Sim, eu sou um escritor... E preparo um livro sobre o local...”
E, de repente, Rex interveio novamente:
- Que tipo de livro?
E temendo outro "assalto" interior, respondi sem muitos detalhes:
- Normal... Sobre costumes.
A mentira, no entanto, durou apenas cinco ou dez segundos...
E auxiliado por aquele intrigante meio sorriso, comentou, preciso e impiedosamente:
- E veio de tão longe para falar... apenas... deste local... E me desarmou.
Mas Ricky, oportuníssima, imperativa e recriminadora, lhe aconselhou, em inglês, para
que se concentrasse em dirigir e ficasse atento à iminente saída da auto-estrada...
E eu notei "algo" que iria gradualmente verificando...
Naquela "equipe" - se é que era isso - a mulher comandava. Ela decidia e deliberava...
Ricky, em suma, era o "chefe" (?).
E não me equivoquei...
A pergunta-comentário de Rex não ficou dissolvida ou esquecida...
E suavizando o tom, Ricky a resgatou. E repetiu:
- Tem certeza de que quer somente informações da população "A"?
Eu me virei e mirei-a perplexo.
“Mais uma vez essa... Como posso dizer?... Insinuação?” Mas, silenciando o impulso –
pouco faltou para soltar a verdade - apenas sorri enigmaticamente. E ela - estou
convencido – entendeu e me entendeu...
E lendo (?) em minha mente, acrescentou insinuante: - Eu estou com medo de
decepcioná-lo...
E naquele momento - não sei como nem porquê - Eu soube... Eu soube o que me
esperava...
Mas, em uma lógica reação defensiva, eu me recusei a aceitar.
Pobre ingênuo!
12h30.
Rex desviou para um subúrbio. E logo parou em frente de uma casa de três andares.
A rua, solitária, sem um único veículo, sem um único pedestre, intrigou-me novamente.
Mas, francamente, eu não prestei muita atenção. Minha preocupação era outra...
"E agora... O quê faço?... Como faço para conseguir ficar a sós com o Ricky? "
E praticamente não tive que pensar...
Tudo foi simples... Suspeitosamente simples.
O indivíduo do meio sorriso introduziu o utilitário na garagem da casa e, fazendo sua,
a minha preocupação, apontou para a esquina da rua...
- Você deve estar querendo tomar um café... e conversar. Tenho que cuidar de alguns
assuntos... Até mais tarde...
E desapareceu pela porta estreita que comunicava a garagem com a propriedade.
"Alguns assuntos?"
Mas desisti. Talvez estivesse vendo "fantasmas" onde certamente não havia... Ou
sim?...
Depois, com o passar do tempo, esses pequeno-grandes eventos seriam
cuidadosamente analisados. E os resultados alimentaram as antigas suspeitas...
"Por que não fui convidado a entrar na casa desde o início?... Por que fui praticamente
"forçado" – de bagagem na mão – a me encerrar com Ricky naquele bar?... Não
tinham café em casa? De quais "assuntos" Rex iria se ocupar?”
E sinceramente me deixei levar, aproveitando a interessante "oportunidade" que me foi
entregue de bandeja...
Coincidência? Eu duvido...
E minutos depois, diante de uma fumegante e reconfortante xícara de café, eu voltei a
ser presa daqueles profundos e envolventes olhos azuis...
Sim... Foram momentos angustiantes...
"O que eu faço?... O que eu digo? Por onde eu começo?" Provavelmente irá me
mandar passear... com certeza! ... "Uma extraterrestre?... Eu, um alienígena?... Mas,
no que você anda acreditando?”
E Ricky, acomodados no silêncio, bebendo lentamente um grande copo de água,
seguiu me observando. Analisando-me. Despindo-me com o olhar... Sorrindo
maliciosamente... com os olhos.
E este envergonhado investigador, sentindo o peso do sutil e implacável exame, fez o
que pôde.
Primeiro avaliei.
Comecei com as memórias... Cuidadosamente... e por ordem, evitando a história do
engenheiro.
Mas, tal e como anunciou, "não lembrava nada de nada."
Incrível!
Não sabia como chegou na localidade “A” (?)... "De carro?... De ônibus?... De
carona?”
Nada... Tudo apagado... Inexplicável e misteriosamente apagado (?)... Eu insisti, mas
foi inútil.
Naturalmente, eu não acreditei. Era impossível que ela não conseguisse lembrar...
E a estranha "amnésia" me deixou em alerta. Havia algo de estranho. Muito estranho...
Segundo assalto: a passagem pelos apartamentos. Bem, mais um fracasso...
Também não soube dizer por que escolheram aquela pousada (?)...
Mais ainda: ignorava (?) por que Spain, companheiro de quarto, tinha partido antes
dela (?)...
Quanto ao meio de transporte utilizado pelo médico para ir embora da localidade "A"...
"Nem idéia" (?)...
Sua saída do povoado também ficou no ar. (Não é uma piada.)
Em resposta, disse:
-Acho que foi em maio...
Mas não soube dizer "como" (?)...
E eu entendi.
Eu estava seguindo uma tática e um caminho errado...
Ricky, tranquilo, balançando naquele olhar de cumplicidade, me gritava... sem
palavras.
"Eu estou perdendo meu tempo, sim... Ela "sabe”... "Sabe" que não é "isto" o que me
levou a localizá-la... e visitá-la.”
E lendo (?) novamente o meu íntimo - em suma, incentivando-me – repetiu, lenta e
pausadamente:
- Tem certeza que só quer falar sobre isso...? E eu me rendi.
E ali mesmo- muito superficialmente - detalhei o motivo da minha viagem para os
EUA.
E ocorreu o oposto do que eu imaginava...
Conforme falava e me aprofundava na, aparentemente fantástica, história do
engenheiro e seu romance com a suposta alienígena, o rosto - longe de fechar-se - foi
se adocicando...
E o sorriso foi se ampliando - milímetro por milímetro - ao ritmo das palavras.
Não me interrompeu. Não fez um único comentário. Nenhum protesto. Não afirmou
nem negou...
Simplesmente, como eu disse, sorriu...
E eu não soube o que fazer ou dizer...
"Como devo interpretar essa atitude enigmática?... É verdade?... Ricky é um "deles"?
"Finalmente, simulando surpresa, exclamou:
- Investigador de Ovnis... Que interessante! Não, “aquilo" não era normal...
E confessou algo que eu também não consegui interpretar... Corretamente:
- Eu sabia que você não estava aqui para escrever um livro... sobre a localidade “A”...
Mas não entrou em detalhes.
E, perplexo, esperei um veredicto.
Foi em vão...
Ricky, desfrutando de minha ansiedade, ficou em pé. E, agasalhando-me em seu
indefectível sorriso, ordenou:
Disse que quer gravar as minhas palavras... Ok... Vamos para casa. Este não é o
lugar adequado...
E, perplexo - sem um "sim" ou "não" - literalmente me arrastou pela rua.
13,30.
E o Destino (?), sem pressa, deu - e me deu - outra reviravolta...
Depois de subir por uma estreita e cansativa escada de madeira, ela me convidou
para entrar na casa do enigmático casal.
Rex, sentado no chão, ao telefone, levantou o olhar, recebendo-me com o seu habitual
e inacabado sorriso.
E por alguns segundos eu permaneci imóvel, Junto à porta, tentando me situar e
absorver - eu confesso - até o último detalhe. Mas, infelizmente, não havia muito para
explorar...
Eu estava em uma reduzida sala, de cinco por quatro metros, cheio de prateleiras,
cheias, por sua vez, de alimentos enlatados, pequenas garrafas coloridas -
possivelmente medicamentos (?)- e livros. Pelo que consegui ler, a maioria era de
romances... E nem um único livro sobre OVNIs! A espartana mobília era completada
por uma geladeira velha, uma mesa dobrável junto à parede e o telefone, no qual o
músico estava falando, sobre uma prateleira pendurada a meio metro de um, rangente
e enegrecido, piso de pinus.
Na minha frente, sem porta, em uma penosa escuridão, se abria um segundo
aposento. E eu deduzi que poderia ser o quarto. Eu teria gostado de entrar. Dar uma
espiada... Mas o casal - pelo que eu vi em seguida - não parecia muito disposto a me
mostrar a casa...
Cadeiras? Nenhuma...
Por último, à minha esquerda, também sem porta, o resto do mini-apartamento: uma
cozinha muito estreita, apertada, com dois "aquecedores" elétricos, uma pequena pia
e uma simples e pequena quantidade de pratos, copos e outros potes, tudo de
porcelana.
Do banheiro, nem sinal.
Qual foi a minha impressão?
Aquelas "pessoas" (?) viviam nos limites do razoável ...
Não demonstrava o menor interesse pelo que geralmente preocupava o povo norte-
americano.
Não vi eletrodomésticos de último modelo. Nem ar condicionado...
Nem mesmo uma modesta televisão...
Era sim, um lugar pouco acolhedor. Sem vida. Sem cor. Pouco atraente. Sem um
único quadro. Sem fotografias familiares...
Suspeito, sim... Muito suspeito...
E Ricky, nervosa - foi a única vez que percebi que estava realmente excitada - se
dedicou a andar (?), para cima e para baixo, pela pequena sala.
De vez em quando se detinha. Observava seu companheiro, e ao me olhar,
recompunha apressadamente o sorriso perdido. Ela parecia desconfortável e ansiosa
para que o "poste" concluísse a chamada.
Mas Rex, imperturbável, continuou sua monótona e inexpressiva ladainha em Inglês...
- Sim. . Claro... Eu entendo... Espero que sim... Não se preocupe... Não, não há
problema... Tudo controlado... Sim, claro... Eu vou chamá-lo de imediato...
E o instinto (?) me lançou um "flash", "Com quem está falando?”
Mas, obviamente, pela falta de provas, o "flash" terminou se extinguindo.
E terminada a conversa, homem e mulher trocaram um, intenso e significativo, olhar.
Mas ninguém disse nada...
E eu assisti a uma cena... estranha.
À primeira vista, um "incidente" leve. Sem importância.
Um ano depois (agosto de 1997), ao ouvir pela enésima vez a gravação com Ricky e
descobrir (!) aquele som de fundo, comecei a ligar os pontos...
E ao voltar à "estranha seqüência", uma "idéia" (?) desceu do céu novamente...
"Tudo amarrado e bem amarrado."
E eu sorri para mim mesmo...
E agora eu me pergunto:
"Como é possível que eu não tenha captado o misterioso "bip" durante a entrevista?
"E o mais intrigante: por que, as pessoas que também ouviram a fita, também não
perceberam aquele tipo de som?
"Por que eu fui detectá-lo depois de tanto tempo?
"Provavelmente... tinha que ser assim.”
O ponto é que, como eu disse, aconteceu "alguma coisa”... Ansioso para interrogá-la,
eu lancei mão do gravador e do caderno de campo.
Mas, inexplicavelmente (?), Ricky não se moveu. Ela não disse nada.
E se refugiou em Rex, questionando-o sem palavras.
E ambos, tensos, continuaram em silêncio. Honestamente, eu não compreendi...
Alguma coisa estava acontecendo. "Mas o quê?"
E creio que adivinhei o "problema":
"As cadeiras!... Melhor dizendo... A falta de cadeiras!”
E condescendente, desprezando a gravidade do assunto, eu resolvi imitar Rex,
sentando-me no chão.
E Ricky, com o sorriso perdido, ficou pálida...
E quando estava para me acomodar no chão, formulei a pergunta que canalizou
violenta situação... "beneficiando", involuntariamente, meus anfitriões.
- Eu posso fumar?
E com toda a honestidade, como já aconteceu em outras ocasiões, se a resposta
fosse negativa, teria guardado os cigarros e, simplesmente, teria aguentado...
E já estava disposto a fazê-lo.
E por alguns segundos – na expectativa - eu esperei por uma resposta.
Novas e eloqüentes troca de olhares...
E em uníssono, a uma só voz, responderam com um, redondo e desproporcional...
"Não!"
Mas não me pegou de surpresa...
Os Estados Unidos é um país que persegue os fumantes, mas não tem escrúpulos em
enviar jovens para matar seres humanos no Vietnam ou na Guerra do Golfo...
E antes que conseguisse guardar os cigarros, Ricky me tomou pelo braço. E
ressuscitando o sorriso, em um tom exagerado, mais do que sugerir, ordenou:
- Lá embaixo, no pátio, se pode fumar...
Eu respondi que não era tão ruim assim... e ainda podia ficar sem fumar...
E eu reforcei o argumento com algo tão certo como o anterior:
- O silêncio da casa favorecerá a nitidez da gravação.
Inútil.
Como se fosse uma cruzada, Rex se aliou à mulher, quase me "empurrando" para
segui-la.
E agora eu entendo...
Hoje, depois de "descobrir" o misterioso "bip", eu entendo a razão para aquela
obsessiva atitude...
Era primordial que eu deixasse o apartamento! Era vital que permanecesse em um
lugar... a céu aberto!
Mas, naquele momento, é claro, não suspeitei. E eu atribui a "manobra", a esta
tendência doentia dos "gringos" de não serem “fumantes passivos”...
Pobre ingênuo!
Quando vou aprender que, no fenômeno Ovni, nada é casual?
Mas quando cheguei á porta, com Ricky se lançando escada abaixo, eu tive uma
última... e providencial reação.
Temendo que as condições acústicas do referido pátio não fossem boas, eu ameacei
voltar, tentando fazer com que reconsiderassem.
E eu testemunhei uma cena que me intrigou...
Rex, quase de costas, assumindo que este servo descia pelas escadas, se envolveu
em outro telefonema.
Foram segundos...
E arriscando-me, tentando descobrir para quem telefonava, permaneceu imóvel e em
silêncio.
Mas enquanto teclava os números - cheguei a somar nove dígitos - o indivíduo
reparou na minha presença (?).
E aconteceu algo que, em princípio, não tinha por que ter acontecido: subitamente
desligou...
E, girando lentamente, me presenteou com aquele insuportável meio sorriso.
E eu senti como uma chama subindo desde o estômago, deixando-me vermelho de
vergonha...
Eu tentei me desculpar, correspondendo com outro sorriso.
Impossível. O sentimento de ridículo me desarmou...
E o "poste", com o fone em sua mão, esperou pacientemente.
Estava claro: não voltaria a ligar... enquanto eu estivesse lá.
E eu fugi como pude, me perdendo atrás dos passos de Ricky.
E eu me perguntei, e sigo me perguntando:
"Por que interrompeu a ligação? Para quem ele estava ligando?
"Se eu não errei na soma, os nove números representam "alguém", localizado fora do
estado...
"Quem é esse indivíduo?... E, acima de tudo, porque este investigador não deve ouvir
a conversa?”
E ao descer pela íngreme escada, um nome surgiu em minha mente: "Spain!"
Coincidência? Eu duvido...
Ricky, alarmada, veio ao meu encontro. Subia rapidamente. Mas, ao ver-me, se
tranquilizou.
Finalmente, sem palavras, levou-me para a parte de trás da propriedade.
Ali, de fato, no piso térreo, surgiu um, igualmente estreito pátio, com cinco por cinco
metros, situado entre muros altos - sem janelas - dos edifícios circundantes. Um céu
azul brilhante me cumprimentou. E Ricky apontou um dos cantos, convidando-me para
que me instalasse. E acrescentou suavemente:
- Pode esperar um minuto?
Eu concordei, naturalmente.
E eu a vi desaparecer pela porta que dava para a, estreitíssima e perigosa escada.
O lugar, a julgar pelo grau de abandono, há muito tempo não era usado. A mesa de
madeira e três cadeiras de plástico que estavam em um canto, estavam soterradas por
uma grossa camada de poeira e terra.
E eu tive que pegar o lenço para tentar limpar a mesa e um dos assentos.
"Blanca me mata...", foi o meu único pensamento, ao verificar a sujeira que ficava no
tecido.
Mas, de repente, fui assaltado por um segundo pensamento:
"Se o casal sabia do mau estado do quintal, porque se esforçou para levar-me até
ele?... Não teria sido mais hospitaleiro realizar a entrevista no apartamento?
"Não, “isto” também não é normal..."
Mas, como eu disse, a resposta, em minha opinião, viria muito mais tarde e habilmente
"disfarçada" na gravação...
“Sutilezas” dos meus “primos”?
E por falar em "primos", como devia interpretar a longa ausência de Ricky?
Mais de cinco minutos!
Por que subiu?... Por que me deixar sozinho? O que foi que planejaram na solidão do
apartamento? Eles voltaram a telefonar?... Por que, ao lembrar a seqüência, vem à
minha mente - inevitavelmente - o familiar, e mais do que suspeito, nome do médico?
E incapaz de esclarecer este mistério, aproveitei a "trégua" (?) para ajustar o gravador
e a câmera fotográfica, e revisar o questionário.
«Câmera? ... Ela me permitirá fotografá-la? E por que não?... Não reclamou que o
engenheiro o fizesse... "
E consciente da importância do momento, eu disse a mim mesmo, com alguma
apreensão:
"Bem... Chegou a hora da verdade!
» Reconhecerá o que aconteceu na localidade "A"?... Aceitará que ela é uma
alienígena? Admitirá que tomou posse de um cadáver... Retornando à vida? "Pobre
tolo!"
E o Destino (?) fechou o cerco...
Seis ou sete minutos depois, uma Ricky descontraída e amigável sentou na minha
frente, aparentemente disposta a satisfazer a curiosidade deste ingênuo investigador...
E, talvez não seja importante, mas me deixou chocado...
E assim aconteceu.
A mulher, ao sentar-se, ignorou a sujeira da cadeira. E, sem olhar, simplesmente se
acomodou...
Obviamente não se desculpou. Não deu nenhuma explicação para a sua longa e
incompreensível ausência.
E sem mais delongas, eu peguei o gravador, preparado (?) para o que eu imaginei ser
o ponto final daquela aventura...
Ponto final?... Deus santo!... Como sequer suspeitar o que me esperava?
E ao começar, por delicadeza, perguntei se tinha permissão para usar seu nome e
suas declarações. Obviamente, o fato de gravar, já encerrava um consentimento
implícito. Mas eu queria ter certeza.
Nova surpresa...
Sem conhecer o conteúdo do questionário, Ricky assentiu rapidamente e com
segurança.
- Você me inspira confiança... Eu sei que você não me decepcionará.
Não, "aquilo" também não foi muito normal...
É verdade que nunca traio a confiança, mas, naquele momento, ela não podia saber o
destino da gravação.
Ou sim?...
14 horas.
E iniciar uma conversa que, pouco a pouco, me conduziria ao desastre... e à grande
decepção.
Mas, antes de prosseguir com a transcrição da mesma, convém que o leitor seja
prevenido.
Por razões pessoais, uma parte da gravação foi "congelada”... por enquanto.
Ninguém chegou a ouvi-la. Nem mesmo a minha mulher...
Talvez mais tarde - se eu conseguir chegar ao fundo deste dilema – eu me atrevo a
revelar...
O resto aparecerá, tal e como foi registrado. Sem maquiagem. Sem qualquer
retoque...
Uma entrevista desnuda. Uma conversa em que Ricky, mais uma vez, me
surpreendeu.
E conseguiu, tanto pelo que confessou, como pelo que silenciou e, sobretudo, pelo
que deixou transparecer...
De muitas destas questões, no entanto, eu não ficaria por dentro, até a metade do ano
de 1997, ao finalizar a segunda viagem ao Yucatán.
Verdadeiramente, esta investigação foi um show à parte, dado pelo Destino (?).
- Bem... aqui estamos novamente ...
»São duas da tarde de segunda-feira, 2 de setembro, 1996...
»Primeira gravação com Ricky...
»Comecemos pelo princípio.
»Novembro 1981...
»Você chega à localidade "A"... Por quê?... Qual o motivo para viajar para aquele
lugar?
- O.K. - Respondeu sem pressa -. Estávamos viajando pela Itália... de férias. Esse ano
fazia muito frio na Europa e decidimos ir até a Espanha... para o sol.
»Nós passamos por Granada e chegamos até Málaga. Mas não gostamos e
continuamos...
»E ali estava a localidade "A"... Um pequeno povoado. Muito tranquilo. Alegre...
- Você estava com Spain?
- Sim
- Você o conhecia há muito tempo?
- Sim, tínhamos uma amizade antiga...
E ali, nas primeiras palavras, comecei a detectar algo incomum. Estranhas e
incompreensíveis contradições...
- Ele queria me conhecer.
E Ricky hesitou... Eu acho que se deu conta da incoerência e, sem perder a calma,
tentou remendar. Mas não conseguiu.
- Spain não tinha muito tempo... Ele é um médico... E queria me conhecer... em
Roma...
Sim, muito estranho...
Se eram velhos amigos - eu me perguntei - por que pretendia conhecê-la?
Mas, prudentemente, não fiz comentários. Era melhor assim...
Naqueles frios momentos – logo no início da conversa - preferia uma Ricky confiante...
(?).
- Muito bem - eu prossegui, ignorando o deslize (?) -... Estamos em 15 de novembro...
Vocês aparecem na localidade “A” gostam do lugar...
Eu insisti no que já sabia.
-... Certo, e como chegaram?...
E Ricky, sorrindo maliciosamente, respondeu como fizera no café...
- Não lembro. Silêncio.
E a mulher percebeu a minha incredulidade. E, bruscamente, abandonou a sorriso e
ficou séria.
Eu a vi inspirar e expirar com força. Ela parecia contrariada. Mas eu me mantive firme,
aguardando uma retificação... um comentário.
- Eu realmente não me lembro...
E, hábil, desviou a questão.
-... Provavelmente perguntei e alguém recomendou os apartamentos de Marta...
Não, não era isso, o que eu tinha perguntado. E ela sabia...
E agora eu me pergunto:
"Por que respondeu assim?... Não dava para acreditar naquilo... O que ela pretendia?
O que estava tentando me dizer... nas entrelinhas?”
Mas não forcei o ritmo...
- Spain não fala espanhol...
- Não.
- E você sabe falar?
- Sim
- Onde você aprendeu?
- No México...
- E por que foram parar naquele lugar? O que havia de tão especial?
A velha tática de formular as perguntas, com palavras diferentes, não funcionou.
Atenta e ágil, ela não caiu na armadilha...
- Como eu disse, era um lugar tranqüilo...
E acrescentou algo que me confundiu:
-... Apesar de que, eu não o escolhi...
E reabrindo o sorriso, acrescentou:
- Nunca vou contra a maré... Você sabe... O Destino...
Não, eu não tinha porque saber... nem ela porque insinuar...
Mas o que eu estou achando estranho?
Aquela conversa foi uma contínua e insistente “Insinuação”...
- E a quê se dedicava na época?
E voltou a se esquivar.
- Eu queria ler e estudar Dante... em italiano. Por isso eu viajei para a Itália...
E nesse instante, das contradições, passou descaradamente... para as mentiras. Mas,
disso eu não fiquei ciente, até o meu regresso para a Espanha.
-... Eu estava entrando no meu trigésimo quinto aniversário e Dante, com esta idade,
desceu ao inferno... E eu fui para a localidade "A"...
Naquele novembro de 1981, Ricky tinha acabado de fazer 33 anos... não 35.
Mas desta e das seguintes e mais graves mentiras, eu não estava ciente naquele
momento...
- Foi uma idéia romântica...
E de repente hesitou. Consumiu alguns segundos e exclamou, lamentando-se:
- Eu esqueci o que eu ia dizer...
Que estranho!
Naqueles momentos, eu considerei os lapsos como algo normal... Hoje, no entanto,
após a descoberta do misterioso "beep", eu já não sei o que pensar... Curioso e
suspeitosamente, quando Ricky pronunciou as últimas duas palavras - "idéia
romântica" - o suposto sonar se torna mais alto e mais próximo... E a mulher
interrompe sua exposição...
Sim, muito estranho...
E, de fato, como veremos, se repete ao longo de toda a gravação.
E uma idéia (?) aparentemente descabelada - eu sei - me persegue desde a
"descoberta", do mencionado e enigmático som:
“Ricky estava sendo “controlada” por uma daquelas naves "invisíveis", semelhantes às
que, sem dúvida, nos acompanharam no Egito?"
E, embora os estudos sobre o repetitivo "bip" não estejam concluídos, me atrevo a
imaginar que sim...
Mas vamos continuar com a acidentada conversa.
Ricky, de repente pareceu recuperar a memória... Mas o comentário, obviamente, não
encaixou com a idéia inicial...
-... Nós buscávamos o sol...
Sim, uma nova contradição...
Desejava descer ao inferno, ou buscar o sol?
E, atordoado, eu a deixei continuar.
-... Sim, por isso nos detivemos na localidade “A”. Na verdade, queríamos fugir do
frio...
- Quanto tempo permaneceu ali?
- De novembro a maio.
"Aquilo", também me chamou a atenção. Ricky recordava com detalhes muitos dos
detalhes de sua estadia na localidade “A” e, no entanto, ficava em "branco" diante das
outras questões... Questões vitais, é claro...
E mais uma vez eu me pergunto:
"Por quê? O que estava tentando me comunicar?”
E decidido, entrei de cheio na história do engenheiro. Eu estava começando a ficar
cansado de tanto rodeio...
- É verdade que conhece o nosso amigo em comum, o engenheiro...
- Sim
E o “Beep” surge novamente. E o soa nítido. Muito próximo.
- E também é verdade que saiu com ele...
- Bem, vamos por partes... O que você acha?
E fui direto.
-... Ele afirma... que você não é daqui ... Que você é extraterrestre... Que tomou o
corpo de uma norte-americana... Acidentada no México...
E entre fortíssimos "bips", balbuciando, tentou ordenar as idéias.
- Bem... é... Quero explicar isso muito bem, mas eu não tenho as palavras... É uma
maneira muito interessante de formar... uma memória... que...
Honestamente, surpreendeu-me novamente.
Por que toda essa confusão? Por que não dizer isso abertamente?
-... Na verdade, o engenheiro... manipulou alguns detalhes... para fixar uma memória...
E se deteve.
E o sonar (?) prosseguiu implacável.
E eu me vi obrigado a ajudá-la.
- Então, qual é a verdade? ... O que aconteceu no acidente de ônibus?
- Sim... Eu tive um acidente... em Yucatán ... Em 1975... Eu acho.
E novamente as inconsistências...
Se ela recordava, por exemplo, das datas de entrada e saída da localidade “A”, por
que tinha dúvidas do ano do acidente?
-... Foi muito grave...
E entrou em uma série de detalhes que, a longo prazo, seriam igualmente
comprometedores ... para ela.
-... O ônibus teve um problema com a suspensão...
Naquele momento, obviamente, não sabia da importância daquela declaração. Seria
depois, após uma exaustiva investigação em Yucatán, quando recordaria, alarmado,
daquela palavra "suspensão". Ela havia pronunciado em setembro de 1996...
Mas não vamos nos antecipar aos acontecimentos.
-... O motorista perdeu o controle... E saiu da estrada... E o ônibus ficou com as rodas
para cima... E fiquei presa... Um amigo meu morreu... e também outras pessoas... Ele
era um ônibus de uma empresa de pequeno porte... Barato... Regional... Os motoristas
trabalhavam um tempo... sem dormir.
- Saiu nos jornais?
- Eu não me lembro...
Curioso. Ricky, como eu digo, parecia lembrar-se apenas do que lhe interessava...
-... E eu fiquei presa por duas horas...
Nova mentira... Não foi isso que o engenheiro confessou...
-... E meu namorado gritou para que arrastassem o ônibus, porque eu poderia perder
minhas pernas...
E seguiram as mentiras.
-... E enquanto eu estava entre as ferragens, eu me perguntava: Como farão para
levantar o ônibus, em um lugar tão remoto?
- Estavam no meio do mato?
- Sim... Perto da cidade de Mérida...
E eu digo que prosseguiram as mentiras porque, tal e como iria verificar algum tempo
depois, nem o lugar era selvagem, e muito menos... um "local remoto".
E hoje, com a vantagem da perspectiva do tempo, esta cadeia de mentiras me faz
suspeitar de "alguma coisa”... "Muito interessante"
Ela provavelmente sabia que eu me envolveria com o evento. E que acabaria
descobrindo as circunstâncias que o rodearam...
Nesse caso, por que ela lançou aquelas grosseiras imprecisões? O que pretendia? O
que insinuava?
E Ricky, fria e calculista, continuou com os detalhes. Alguns detalhes
escandalosamente falsos...
-... Yucatán é muito plano... E descemos por um barranco... Lembro-me bem... muito
profundo... Nunca voltei ao lugar...
Ao visitar o local fiquei perplexo. Ali não havia nenhum barranco...
-... De alguma forma, um homem entrou por um buraco e me disse que iriam levantar
o ônibus... E o motor caiu sobre mim... E eu desmaiei... E eu tive um sonho... Eu vi
muitos homens ao meu redor... e me diziam: "Tudo está bem... Não se preocupe..."
Eles pareciam médicos, mas mais atenciosos E ao chegar ao hospital, o médico
proferiu as mesmas palavras...
Que inteligente mistura de verdades e mentiras!
Como eu pude verificar em seu devido momento, o motor jamais caiu sobre ela.
Jamais saiu do lugar...
Mas este ingênuo investigador, naquele momento, não sabia disso...
E imaginando o desenlace, continuei:
- Você perdeu muito sangue?
- Não só estava imobilizada na altura dos joelhos...
E "aquilo" soou igualmente falso. O engenheiro tinha sido muito claro:
«Ricky assegurou que o cadáver sangrava.»
Desta vez, porém, a suposta alienígena não mentiu. Fui eu e o engenheiro que
interpretamos mal suas palavras. E o erro, infelizmente, atrasaria e obscureceria a
investigação...
Mas eu volto a cair no habitual: me adiantar aos fatos...
- Quanto tempo você ficou no hospital?
- Somente dois dias... porém eles me mandaram para a rua, e eu não conseguia
andar... Minha perna direita foi engessada e gradualmente os tecidos apodreceram...
Sim e não.
Ricky voltava a manipular os fatos... As coisas não foram bem assim...
-... E fiquei alguns dias na casa do meu namorado em Mérida. Mas as pernas se
inflamaram... Ficaram negras... como fígado ... E me recomendaram que aplicasse
gelo... Mas como encontrar gelo em Mérida? ...
Obviamente, a "gringa" estava brincando comigo...
E riu divertida.
"Como encontrar gelo em Merida?». Muito simples. Em 1975, a capital de Yucatán já
era uma próspera cidade e o suficiente desenvolvida para encontrar gelo em qualquer
lugar...
E eu me pergunto:
"Por que inserir um comentário tão infantil na conversa?"
Obviamente, estava perseguindo "algo"...
-... E eu voltei ao hospital, mas o médico somente receitou uns comprimidos
antiinflamatórios...
E, de repente, com um cinismo que ainda me espanta, Ricky interrompeu a exposição,
perguntando:
- Você realmente está interessado nestes detalhes?
Eu assenti com a cabeça, sem me dar conta da importância de minha atitude. E a
mulher continuou com meias-verdades.
-... Mas a perna piorou... E ao visitar novamente o médico e tirar o gesso... aquilo foi
um desastre... Tudo estava infectado pela necrose... Precisava de cirurgia plástica...
Eu estava querendo ir para o Peru... Era tão importante quanto o assunto de Dante...
E eu pensei em fazer a cirurgia em Mérida... Eu conversei com alguns médicos, mas
seus métodos eram primitivos, antigos...
Falso! Esmagadoramente falso!
Em uma de minhas estadias em Mérida, tive a oportunidade de conversar com os
cirurgiões plásticos mais antigos da cidade. Bem, em 1975, as técnicas cirúrgicas de
reparo naquela cidade, eram tão corretas, como as de qualquer outro lugar na Europa
ou Estados Unidos. E o que é pior: Ricky não consultou nenhum especialista... Nos
arquivos médicos, pelo menos, não consta...
-... E regressei para os EUA... E aqui eu fiz a cirurgia.
- Por que viajou para Yucatán?
- Sempre quis ir... desde muito jovem ... Em 1972 eu estava na Flórida, e um dia eu vi
um mapa de Yucatán... Estava muito perto... E peguei um avião...
- Você conhecia alguém?
- Não.
- E falava espanhol?
- Um pouco...
E a minha pergunta seguinte - eu suspeito o motivo – modificou sua atitude.
De um tom aparentemente (?) vivo e cordial, saltou rapidamente para um grave. E o
rosto escureceu...
- De onde é sua família?
E resistindo, entre os dentes, respondeu:
- De...
Foi curioso...
Jamais consegui que desse mais detalhes sobre seus parentes. Nem nas sucessivas
cartas após essa conversa - todas sem resposta – nem nos telefonemas posteriores...
Cada vez que toquei no assunto, Ricky se esquivou, se mostrando evasiva e
desconfiada.
Coincidência? Eu duvido...
E percebendo que eu não deveria me aprofundar neste assunto - pelo menos por
enquanto - eu me aventurei em outra das parcelas da já abalada história do
engenheiro...
- O que você pode me dizer “Acron”?... Ele diz que você...
Não me deixou terminar.
- Eu não me lembro se nós conversamos sobre isso... Falou brincando.
Mais uma vez, a "amnésia".
- Eu não me lembro...
E os sons - o misterioso "bip" - Em primeiro plano...
- Você se interessava pelo fenômeno Óvni? Mais "bips”...
E com indiferença, como se fosse algo anedótico, respondeu em voz baixa:
- Sim... sim...
E acelerei.
- De acordo com o engenheiro, você, como extraterrestre, veio à Terra para estudar a
memória genética dos Maias... entre outras coisas.
E recuperando o sorriso de cumplicidade, sem qualquer surpresa, disse calmamente:
- O.K... Provavelmente, a história que eu contei a ele, foi a seguinte: eu viajei à
Palenque, em Chiapas, com um namorado que era do Yucatán... E lá encontramos um
índio, um velho maia... Nós fumamos maconha e ele nos explicou que tinha memória
genética... que sabia mais do que os antropólogos e arqueólogos, que levava
informações na massa do sangue ... que ninguém havia lhe ensinado...
E leu os hieróglifos... E contou a história de seu povo...
- Em outras palavras - resumi desanimado: Tudo falso.
E Ricky foi taxativa.
- Sim... amigo.
E percebi que estava desmoronando...
- Mas por quê? Por que o engenheiro iria inventar uma história dessas?
E com uma habilidade especial para "manobrar", evitou uma resposta direta.
- Todos nós inventamos memórias... Está provado que todos nós temos memórias
falsas... E é difícil dizer quando uma memória torna-se falsa... Me compreende?
Não, eu não entendi.
E o que era pior: não conseguia assimilar aquela atitude retorcida.
E acrescentou triunfante:
- Eu conheço o engenheiro e sei de sua vaidade... E eu também sei do seu machismo
e sua grande imaginação poética...
«Imaginação poética? Um engenheiro com imaginação?»
E eu tive a nítida sensação de que não conhecia o meu amigo ou, simplesmente
voltava a mentir...
E os "bips" se agitaram novamente entre as palavras de Ricky.
E concluiu:
- Por isso eu posso entender por que criou esta história...
E exaltando-se, disse:
- Ele é um manipulador... E eu acho que ele montou esta fábula... para te entreter...
Não, isso não era verdade. E eu tentei protestar, mas Ricky, desabafando, me
impediu...
- Ele tem uma grande inteligência, uma grande curiosidade e uma excelente
imaginação... mas é perverso.
E finalmente contra-ataquei.
- Mas diga-me, se tudo é uma diversão... para "me entreter", como explica, que contou
a história para outras pessoas... em 1986? Eu não tive conhecimento da mesma até
anos mais tarde.
Silêncio.
E, desconcertada, se refugiou em um...
- Eu não sei...
E agora, ao ouvir como os "bip" se intensificam durante este crucial silêncio, volto a
suspeitar:
"Será que ela mentiu?"
Mas suas palavras, apesar de tudo, me debilitaram. "Provavelmente estava certa... O
engenheiro me enganou.”
E eu não soube "ver" além...
E eu continuei... quase por inércia.
- Bem... Ele também explicou que você era uma pessoa muito estranha... Só bebia
leite, que ele carregava em sua bagagem uma grande quantidade de frascos,
possivelmente remédios, com fórmulas químicas...
E soltando uma gargalhada, adiantou a resposta. E, temeroso e hesitante, eu concluí a
exposição.
-... E disse que você, vendo-o comer carne, repreendeu-o: "Você está se suicidando."
Nova gargalhada e outro golpe ao meu, já esgotado ânimo.
- Invenção... VÉ possível que tomasse vitaminas... Eu não me lembro... Mas comia e
bebia de tudo...
- De tudo?
- Sim - disse, exibindo uma súbita e invejável memória - Paella, vinho de Rioja, peixe
frito, legumes...
E lançou algo que, posteriormente, descobriria como sua enésima mentira:
-... O nosso amigo, o engenheiro, naquela época estava se tornando um vegetariano...
- Também comentou que você anotava tudo em uns cadernos com capas pretas...
- Sim, isso é verdade.
Ufa! Finalmente uma verdade!
-... Eu, naquele momento, queria escrever um grande romance americano...
- E por isso fazia tantas e absurdas perguntas?
- Eu não entendo...
Para mim pareceu que sim, mas eu disfarcei.
- O engenheiro diz que você o bombardeava com perguntas quase infantis... Por
exemplo: "Por que umas pessoas se beijam e outras se dão as mãos?"
E Ricky hesitou novamente...
- Eu não sei... Eu não me lembro...
E eu continuei cutucando
- Fumava em 1982?
- Sim, acho que sim... Fumei cigarros espanhóis.
E ao mentir - de acordo com pessoas que a conheceram, nunca a viram fumar - os
"bips" da gravação se aceleraram...
E o desfile de mentiras seguiu adiante.
- Então, também não é verdade que você dançava seminua de madrugada?
- Eu...?
- De acordo com o engenheiro, assim você se colocava em harmonia com o universo...
E depois de soltar outra gargalhada - por que não! - evitou a pergunta.
- Pura fantasia...! Eu tomava banho de mar, sim, quando eu era jovem e louca... Eu
gostava de brincar com o plâncton... e ver a lua refletida nas águas e no meu corpo
nu... Mas isso foi há muito tempo...
Eu insisti.
- Ou seja, você nega... Nega que dançava à noite no terraço da casa do engenheiro...
E fria, protegida pelos "bips", ratificou.
- Eu já te disse isso: pura fantasia! Aquela conversa, de fato, começava a não fazer
sentido. Tudo, ou quase tudo, era falso. Tudo inventado...
E, ao mesmo tempo, embora naquele momento não tivesse muito claro, tudo
generosamente regado por um suspeito rio de mentiras...
E eu estava chegando ao final... Para a grande e definitiva decepção.
- Nosso amigo também garante que você não tinha pudor...
- Pudor?
- Sim, eu explico... Você andava nua pela casa ou não fechava a porta do banheiro
quando fazia suas necessidades...
- Ah! Eu entendo... Sim.. isso é verdade ... Eu sou assim...
Ele ressaltou suas palavras com algo que eu não concordo.
-... Os americanos dos anos sessenta são assim...
- Será que isso tem alguma coisa a ver com o fato de que nunca colocou maquiagem?
- Eu não sei...
E recorreu a outra mentira que eu descobriria meses mais tarde, durante as
investigações em Yucatán.
-... Eu sempre fui assim...
- Bem... Vamos passar para o mais importante... E inspirei temeroso.
- O que você acha do que aconteceu na última noite, quando regressavam para a
localidade “A”...? Lembra-se da nave?... Por que se assustou?... Por que disse que era
uma nave espacial que vinha para buscá-la?
E naqueles momentos, enquanto levantava as perguntas, os enigmáticos "bips" - em
seqüências de três e dois bips - tornaram-se avassaladores. Evidentemente, agora eu
sei, aquele foi o momento chave.
E os "bip" soaram de cinco em cinco. Quase raivosos...
Coincidência? Eu duvido...
E Ricky, impassível, me afundou.
- Tudo inventado...! Completamente inventado!
E ali, finalmente, eu vim abaixo...
"Mas o que eu esperava? Uma declaração assinada? Um sonoro "sim"? O
reconhecimento de que, na verdade, era uma alienígena?... "Pobre tolo!
E, como tal, sem me interar de nada, eu argumentei:
- Mas, de acordo com o engenheiro, na manhã seguinte... você tinha ido embora
E rematou - por que não! -... Mentindo.
- Marta sabe como eu saí...
E confuso, me lembrei da última entrevista com a proprietária dos apartamentos. Ricky
mentia! Marta não sabia como ela deixou o lugar... Ninguém sabia.
E hoje, ao ouvir a fita pela enésima vez, vejo-me diante da gélida "mulher" (?)...
"Quanta frieza! Que magnífica representação!... A menos que, aquela atitude - insisto
– encerrava uma segunda e oculta intenção...”
Mas, é claro, com a falta de provas concretas, eu não consegui ver.
E a incrível segurança de Ricky foi me minando... - Você sabia que o engenheiro me
ajudou a sair da Espanha?
Novo balde de água fria...
Não, naquele momento, não sabia nada sobre o assunto.
E percebendo minha confusão... me pulverizou.
-... Sim, meu caro amigo... Ele me acompanhou para comprar a passagem...
E, desarmado, lamentei minha escandalosa ingenuidade.
O engenheiro nunca falou daquela passagem de avião...
E eu tentei pensar rápido.
"Na verdade, se ela desapareceu na noite ou na madrugada do incidente com o Óvni,
dificilmente poderia ter tirado a passagem... Ou compraram antes?”
E confuso... Eu caí na armadilha.
E me inclinei a acreditar que Ricky estava dizendo a verdade.
E amaldiçoei o engenheiro...
Pobre estúpido!
Se eu deduzia que estava mentindo constantemente, como eu poderia lhe dar crédito?
Ossos do ofício, eu acho...
- Então, o engenheiro sabia sobre a passagem...
E me cercou, incapacitando-me de refletir.
- Nós fomos para Sevilha e comprei a passagem... O vôo sairia de Madrid... Eu creio
que fez escala em Málaga... E de lá fui para Nova York...
E empurrando com o olhar... Cravou-me na cadeira.
- Marta estava ciente... Ela não disse?
E indignado comigo mesmo, repeti a pergunta:
- E diz que ele te ajudou?
E hoje, conhecendo a versão do engenheiro, eu sigo me surpreendendo diante do
cinismo (?) da suposta alienígena.
- Sim... sim.
- E em que data foi isso?
- Mais ou menos, em maio...
- Passou todo o tempo na localidade “A”?
- Sim... embora, de vez em quando, fazíamos viagens curtas...
- Você se lembra de que lugares?
E rápida, montada em meias-verdades, sem perder o adorável (?) sorriso, disse.
- Cadiz... Ceuta... Toledo...
E ao citar a última cidade - não sei por que (?) - disse com ênfase:
- Sim... também estivemos em Toledo...
Na minha volta para a Espanha, o engenheiro negou incisivo e com raiva:
"Eu nunca fui a Ceuta com Ricky... e muito menos a Toledo."
E agora, sabendo o que sei, sou assaltado por outra irritante pergunta:
"Porque mencionar Ceuta e Toledo?... Foi um deslize... ou uma "pista"?... O que ela
quis dizer?... Tratava-se uma "insinuação”..., para investigar nestas cidades?... Mas, o
que devia investigar?
«E hoje... "algo" (?) me diz que "aquilo" não foi uma falha... na memória da "gringa"»
Mas tudo chegaria... "No seu devido momento".
-... Málaga... Portugal... Sevilla...
- É verdade - eu a interrompi, recordando o evento ocorrido em Marbella - o
engenheiro me falou de outra coisa curiosa...
E ao falar sobre a previsão certeira sobre as mortes de Túlio Enrique e o próprio
engenheiro, simplesmente sofreu um enésimo ataque de “amnésia”...
- Eu não sei... não me recordo...
O que ela recordava - à sua maneira, é claro - foi o que ocorreu em um grande
armazém em Sevilha...
- Nosso amigo - expliquei sem entusiasmo - diz que você se assustou ao entrar no
supermercado... e ver tantas garrafas.
E rindo baixinho - por que não! - Negou.
- O consumismo me deprime... não me assusta.
- Mas ele disse que você pegou a mão dele... aterrorizada.
- Outra invenção...
E não sei por que - talvez porque eu me recusava a aceitá-lo - Eu deixei escapar um
comentário... sobre o que eu já sabiam.
- Então a história da nave e do carro ... pura invenção ...
- Sim...
E arrematou.
- O resto contém alguma verdade... Está habilmente construído... Isso, porém, não...
Totalmente inventado!
E astuta, foi maltratar meu amigo, chamando-o de "malvado, fantasioso, comunista e
perturbador”
E com pés e mãos amarrados... Eu não consegui defendê-lo!
E isso eu tenho lamentado...
Finalmente, considerando que Ricky conhecia o enganador melhor do que eu, fiquei
interessado pelas razões que - segundo ela – teriam provocado a fraude.
E ela se aventurou em outra mentira.
- Sempre teve um grande interesse pelos extraterrestres. Ele é um especialista...
Um especialista?
Nada está mais longe da realidade...
Mas eu precisei de tempo para averiguar, na personalidade e cotidiano do engenheiro,
para compreender que a afirmação de Ricky era infundada.
Segundo minhas informações, até a noite do avistamento na estrada, nunca deu
atenção a estes temas. Tinha interesse, sim, como qualquer pessoa levemente curiosa
e inteligente. Mas daí a considerá-lo um "especialista”... havia um abismo.
Além disso, se não fosse por esta investigação, provavelmente teria terminado se
esquecendo dos Ovnis...
E, timidamente, contra-ataquei:
- Há algo que eu não entendo... Se isso é uma fábula, por que ele se recusa a revelar
sua identidade?... O que ganha em uma montagem tão arriscada?... Ele deve saber
que, se tudo é falso, eu vou descobrir mais cedo ou mais tarde...
E Ricky, que aparentemente ignorava (?) a questão da identidade, gaguejou insegura.
E os sinais sonoros enfureceram...
- Não se esqueça – se escapou como pôde -... Ele é diabólico...
- Resumindo... Você acha que isso é uma fraude...
- Eu não acho... Eu tenho certeza...
E o instinto (?) - Eu acho – me iluminou.
- Bem... é possível que ele esteja mentindo...
E disparei à queima-roupa.
-... Mas você também pode estar mentindo...
E respondeu com "algo" que ainda me intriga.
- Você é um investigador... Deixe-se guiar pela intuição!
E sorriu divertida.
"Que tipo de resposta era aquela?... Ser guiado pela intuição?
Normalmente – isso digo eu - é que, se Ricky fosse uma cidadã comum e normal, a
insinuação deveria ter sido rejeitada imediatamente...
"E a singular resposta terminou fortalecendo uma velha suspeita: Sim, este "anjo" que
nunca se equivoca, segue gritando...
"Ricky é... o que o engenheiro assegura.”
E, espantado, continuei agarrado à misteriosa recomendação.
- Agora eu não sei... mas esta intuição, naquele momento, me disse que sim... que
você poderia ser uma alienígena...
E foi desconcertante.
Ao invés de rejeitar ou negar, como fez anteriormente, sorriu de novo...
E baixando os olhos... me deixou sem resposta. E cego e estúpido, como de costume,
não captei... E prossegui.
- Porque - vamos ser sinceros - se você fosse um extraterrestre, nunca me diria.
Ou sim?
Novo, interminável e complacente sorriso.
E preenchendo-me com aquele olhar azul, respondeu conciliadora.
- Se você é um bom investigador, acabará sabendo... Acabará encontrando as
provas...
- Provas?...
Eu disse: cego e estúpido...
E agora eu tenho certeza. Ricky, com aquelas veladas palavras, estava declarando
abertamente. Se fosse um ser humano e nada mais, por que recorrer a uma resposta
tão enigmática? O lógico teria sido cortar pela raiz ou, simplesmente, me mandaria...
pentear macacos cósmicos.
E, paciente, disse:
- Sim, provas... Provas de que eu sou... o que afirma o engenheiro...
- E se eu as encontrar... O que você diria?... Reconheceria que não é daqui?
Ela suspirou.
E os "bips" - enlouquecidos - quase responderam por ela.
- Em primeiro lugar... Encontre-as.
E a conversa virou-se para outros assuntos que, como já foi anunciado, eu não posso
revelar... por enquanto.
Por fim, ao me interessar por suas ocupações, Ricky explicou que - desde 1982,
desde o seu retorno da localidade “A”, a sua vida mudou "radicalmente”... E
pronunciou a palavra com ênfase. "Radicalmente".
Mas, naquele momento, a sutileza passou quase despercebida por este atordoado
investigador...
E continuou, detalhando que, "depois de um longo processo de reflexão na localidade
“A”, decidiu-se por ingressar em uma escola de enfermagem." E tornou-se parteira.
E fez uma piada. Ou devo dizer uma suposta piada?
-... E agora, graças a este trabalho, tenho a oportunidade de plantar sementes...
Extraterrestres...
E arrematou, aproximando-se do gravador.
-... E ninguém pode suspeitar...
E este servo, como um completo tolo, arredondou a suposta frivolidade.
- Vocês também penetram nos corpos durante a gravidez?
- Sim, claro... Assim é muito mais fácil...
- Então – concluí, acompanhando o ritmo - isso é uma invasão... Vocês estão em toda
parte...
E rindo da minha própria piada acrescentei:
-... Qualquer um, qualquer investigador... eu mesmo... podíamos ser...
extraterrestres...
E de repente, dinamitando o sorriso, sentenciou:
- Você que está dizendo...
E, apesar do aparente tom de brincadeira, um calafrio me advertiu.
E hoje, ligando as coisas, vem à mente aquela estranha sensação, quando a vi pela
primeira vez no portão Internacional.
"Sim... conhecemos-nos... Conhecemos-nos de "algo”...”
16 horas.
E terminada a gravação, recordando que não possuía o endereço, eu implorei a ela
que escrevesse no caderno de campo.
E ela não hesitou.
E dócil, sem a menor resistência, prosseguiu.
E anotou o nome e sobrenome, acrescentando o número da casa, a rua, a cidade, o
estado, o código e o seu telefone.
E ela o fez com calma. Divertindo-se.
E aquelas quatro linhas – como veremos "no devido momento" - seria de particular
importância... E eu volto a perguntar:
"Por que se recusou a fazer por telefone e, no entanto, não fez nenhuma objeção na
hora de registrá-lo com suas próprias mãos?... Será que ela sabia o que estava
fazendo?... Estava ciente da importância daquela escrita para os peritos em
caligrafia?”
Hoje, ao conhecer os resultados dessas análises, tenho certeza que sim... Ela sabia...
E, à sua maneira, contribuiu para armar o quebra-cabeça... Fornecendo-me uma
valiosa "prova".
Coincidência? Eu duvido...
E antes de deixar o quintal, fui mostrar-lhe as fotografias tiradas pelo engenheiro na
localidade “A”.
Examinou-as com cuidado e, sorrindo, comentou com prazer.
- Que tempos aqueles...! Sim... A localidade “A” foi importante...
E, misteriosa, acrescentou quase para si mesma:
Estou em dívida com o engenheiro... Ele me ajudou... Inconscientemente.
- Te ajudou...? No quê?
Mas, negando com a cabeça, ficou em silêncio.
Sessão de fotos.
E com a mesma docilidade, deixou-me tirá-las.
Com óculos de sol... Sem óculos... Em close...
Eu não podia acreditar.
Nem um único protesto. Nem um sinal de contrariedade... Pelo contrário, posou
sorridente, obedecendo todas as minhas indicações.
Não, “aquilo” não era normal...
E, meticuloso, ao repassar novamente o questionário, percebi a falta uma pequena
questão.
E mostrando-lhe o registro de hóspedes de 1981 – as oito linhas fotocopiadas e
coladas no caderno - perguntei se ela reconhecia a letra.
- Sim - respondeu sem hesitação - É a minha.
Mais adiante, os peritos em caligrafia comprovariam que Ricky tinha voltado a mentir...
em parte.
E disse algo que confirmou as suspeitas de Marta: o endereço que aparecia abaixo do
seu nome e sobrenome era, de fato, o do irmão de Spain, com o qual, realmente teve
uma relação amorosa...
E me concentrei naquilo que já comentei:
"Se Ricky, em 1981, era namorada de um irmão de Spain, o que fazia o médico
naquela misteriosa viajem?"
E a partir daquele momento, com o retorno ao apartamento, tudo transcorreu à grande
velocidade.
E eu sei: eu fui o culpado...
Eu me esforcei para sair de lá... a todo custo.
É compreensível... Eu acho.
Em minha mente ressoavam umas cruéis e fatigantes frases:
"Tudo inventado..."
E eu caí em uma grande decepção.
"O engenheiro mente..."
E o que então eu considerei como um dos maiores fracassos da minha carreira...
terminou me escurecendo. "Não se esqueça... Esse homem é diabólico." Simples e
lamentavelmente: Não desejava continuar com aquela história.
Eu me senti enganado. Estafado.
Apesar destes vinte e cinco anos de investigação e suposta experiência... Eu me
comportei como um novato.
"Ponto final!"
E eu decidi abandonar o local – fugir seria o termo correto - o mais rápido possível. E
hoje, é claro, eu me arrependo...
Mas o destino (?) é assim: aparentemente volúvel. Aparentemente caprichoso.
E aconteceu de novo...
Aconteceu "algo" que, pelo menos para mim, não tem explicação racional.
Sim, de novo o enigmático Destino (?)...
Enquanto Ricky tentava me convencer (?) para que os acompanhasse para jantar em
um restaurante, um último vestígio de profissionalismo (?) me lembrou que estava
faltando um "detalhe".
Mas eu o ignorei.
"O que importa... se tudo é falso?... Foda-se o buraco na perna!”
Mas o instinto (?) forçou firmemente...
"Você tem que ver!... Deve fotografá-lo!" E, como eu disse, aconteceu de novo...
"Como é que ele fez?... Eu nunca soube.”
O ponto é que, Rex, adivinhando (?) a luta interna, interrompeu a mulher. E, de
repente, para meu espanto, pediu-lhe para levantar a calça.
E, atordoado, eu o olhei de cima abaixo.
"Mas... Como era possível?”
E, como sempre, respondeu (?) sem palavras e com aquele, incipiente e mal
desenhado sorriso.
E Ricky, como a coisa mais natural, obedeceu sem questionar.
Não, "aquilo" também não era normal...
Eu não sei o que mais me impressionou: a capacidade de "adivinhação" (?) do
homem, ou a perna de Ricky...
Grande parte da região traseira da perna direita aparecia vermelha e materialmente
costurada por um emaranhado de longas e dramáticas cicatrizes.
A grande lacuna na região dos "gêmeos" - onde cabia um punho, segundo o
engenheiro - tinha sido habilmente restaurada. No entanto, a cirurgia plástica não pode
impedir que a imagem final fosse quase repulsiva.
E eu entendi por que Ricky nunca usava saias...
E eu digo que, incompreensivelmente, saltando sobre a decepção, esse providencial
instinto (?) obrigou-me a lançar mão da câmera. E, quase como um autômato, eu
apressei-me a fotografar aquele desastre.
E repito: nada naquela seqüência foi normal...
"Como Rex conseguiu penetrar dentro de mim?... Porque Ricky – afinal de contas,
uma mulher (?) – concordou com o pedido...?”
"E o mais intrigante: por que concordou em ser fotografada... ainda mais, duas vezes?”
Coincidência? Eu duvido...
E Ricky insistiu. E eu voltei a recusar o convite.
“Eu agradeço... A verdade é que estou cansado... Jantaremos da próxima vez...”
E hoje, como eu disse, eu lamento.
Quanta estupidez!
Mas as coisas são como são...
Naquele momento - derrotado pelo suposto fracasso e vítima da confusão – eu não
teria resistido a outra conversa com tão estranhos anfitriões.
E Rex, tomando novamente a iniciativa, perguntou se "eu precisava de algo mais."
E, brincando (?), ele acrescentou:
"Uma foto com a extraterrestre... por exemplo?" Fiquei pálido.
"Como ele sabe?..."
Ele não estava presente durante a conversa com Ricky.
E encontrei apenas uma explicação possível: a mulher deve tê-lo informado durante
sua longa ausência, enquanto a esperava no quintal.
Hoje, é claro, eu não tenho tanta certeza...
Dito e feito.
Novas imagens para recordar (?)...
Ricky, com o passaporte na mão... sim, o passaporte... e junto a este perplexo
investigador. E, em todas, uma Ricky feliz e complacente... Apenas Rex se recusou a
posar.
- A estrela não sou eu - ele se desculpou com um toque de ironia.
E, ao recordar os últimos minutos no apartamento, honestamente, eu ainda me
espantado.
"Se a história era uma farsa, a quê obedecia aquele obsessivo interesse de facilitar o
meu trabalho?... Por que este empenho para que fotografasse Ricky?... O que
buscavam?... Sabiam que, por enquanto, não divulgaria essas imagens?... Porque
Rex sugeriu que eu tirasse fotos com ela?... Por que ele, no entanto, se esquivou de
minha câmera?... Por que tanta insistência para que aceitasse o convite para jantar?”
Obviamente, tudo "aquilo" era tão singular... como suspeito.
Em minha opinião, nenhum norte-americano sensato teria se comportado assim.
"A menos que..."
Mas no momento eu não soube ver. E agora eu sei: não era o momento.
17 horas.
E certamente aliviado, eu estava de volta no desengonçado utilitário branco.
E com Rex ao volante - desta vez mudo e misteriosamente distante - abandonamos o
solitário bairro, dirigindo-nos ao hotel onde eu passaria a noite por necessidades de
conexão. Se dependesse mim, naquela mesma tarde teria voltado ao Distrito Federal
do México...
Mas o controle desta aventura - por que não! - Não estava em minhas mãos.
E Ricky, acomodada no banco de trás, supondo que percebendo a minha desolação,
procurou me aliviar.
E boa parte do percurso foi aproveitado para um cuidadoso "exame", interessado-se
por minha pessoa, família, amigos e projetos.
E fez muitas perguntas...
E creio que eu respondi por educação. Quase automaticamente e sem o menor
entusiasmo.
Para dizer a verdade, a visita à grande metrópole podia ser simplificada, naquele
momento, por aquelas três devastadoras frases:
"Tudo inventado... O engenheiro está mentindo... Ele é um homem diabólico.”
E deprimido e humilhado, eu me fechei sobre mim mesmo.
E, tudo ao meu redor, foi desaparecendo e perdendo o interesse.
"Tudo?... Não, tudo não...
"E a prova disso, é que eu não esqueci a última pergunta de Ricky.
"Como eu poderia esquecer?"
Aconteceu no final do trajeto. Curiosa e muito suspeita... Nos últimos momentos, em
frente ao hotel. Sim, curiosa e muito suspeita...
De repente, em um tom aparentemente (?) brincalhão, a mulher se interessou por
"algo" que, no meu curto conhecimento, não se encaixava na história. Uma história
supostamente falsa...
Ou sim, tinha tudo a ver?
- Você gostaria de... vir com a gente...
Ela pareceu meditar o final da frase.
E, sem perder o sorriso, concluiu:
-... Com os extraterrestres...?
Mas, esgotado, não tive reflexos. Eu não percebi o insólito da pergunta. Não me
aprofundei.
"A quê obedecia tão desconcertante insinuação?... Era apenas uma piada?... E por
que no momento da despedida?”
E o instinto (?) - Não sei por que – continua me dizendo que "aquilo" foi muito mais do
que uma piada...
Infelizmente, como eu digo, naqueles momentos obscuros, não me dei conta.
Eu só me lembro que respondi, de forma muito séria:
- É claro que eu adoraria... desde que me garantissem uma passagem de retorno.
E Ricky, prescindindo do sorriso, transpassou-me com seus brilhantes olhos azuis.
E hoje daria um ano de minha vida, em troca de seus pensamentos...
E eu me pergunto:
"Se ela realmente era uma alienígena, realizará o meu sonho?" (1).
E ao nos despedirmos, abraçando-me carinhosamente, sussurrou em meu ouvido:
- Ânimo...! E lembre-se: confie na intuição!
E eu vi-os afastarem-se, perdendo-se no trânsito da grande cidade.
"Bom Deus!
"Estou sonhando?... O que é tudo isso?”
E suas palavras - como um aviso – soam e soarão para sempre no meu coração...
"Confie na intuição!"
Curioso... sim.
"Por que tanta insistência?... Por que dar tanto valor à intuição?...
"A intuição!... Naquela época, a única que seguia confiando no engenheiro... "Muito
suspeito... sim.
(1) Aviso aos navegantes (principalmente Blanca): Se este pobre iludido desaparecer
algum dia... Por favor, não percam seu tempo procurando por mim... Não é
brincadeira... Ou sim?
E não se equivocou.
E com o crepúsculo - rendido e percebendo o cheiro de derrota – fui me recolher na
solidão do aposento.
E durante horas, em companhia do caderno de campo e uma ansiedade angustiante,
eu lutei muito...
Foi inútil.
A serenidade havia desaparecido. E os pensamentos, em desordem, caíram como
abutres... O golpe – assim eu estimei naquele momento - foi mortal.
"Tudo falso... Tudo inventado.”
E eu sei. Hoje, com o benefício do tempo e da distância, aquele comportamento pode
parecer paradoxal. Mais ainda, nem eu mesmo entendo...
Eu me lembro, por exemplo, como, ao rever a gravação, o instinto (?) se cansou de
gritar:
"Mentira!... Ricky está mentindo!”
E assim era, realmente...
Meses depois, concluídas as investigações em Yucatán, chegaria a somar 36
descaradas mentiras, além de outro bom punhado de contradições, silêncios
suspeitos, "desvios" intencionais na conversa e numerosos e pouco plausíveis ataques
de “amnésia”.
No entanto, naquela fatídica (?) segunda-feira, pesou mais a enfática negação da
suposta alienígena.
E eu caí na armadilha.
E, apesar dos desesperados gritos da intuição... Inclinei-me a acreditar que Ricky
estava dizendo a verdade.
"Tudo é o produto da febril imaginação poética do engenheiro”.
E estúpido, cego e desmoralizado, eu não me dei conta de uma das "chaves" de meu
encontro com a mulher. Uma "chave" tão sutil quanto valiosa e na qual Ricky – por
sorte - insistiu várias vezes:
"Confie na intuição!"
E, embora as últimas linhas escritas naquela noite sejam significativas - "Em quem eu
devo acreditar? Quem está mentindo?" - A triste realidade é que, a decepção acabou
saturando-me.
E o instinto (?) foi atropelado... "Tudo está acabado." Adeus à cruel e retorcida história!
"... Simplesmente, outro fracasso." Pobre ignorante!
Como sequer suspeitar que, a incrível aventura, apenas estava começando?
E hoje eu posso senti-lo. Tinha que ser assim...
Primeiro devia conhecê-la. Entrevistá-la. Gravar suas palavras. Suas mentiras... e os
enigmáticos "bips".
Depois...
Mas não vamos nos adiantar aos acontecimentos.
E o dia iria terminar com mais uma surpresa... Sinceramente, para mais voltas que eu
dou, eu não consigo entender. Eu não consigo esclarecer a incógnita...
E aconteceu logo após a minha entrada no hotel. De repente... o telefone tocou.
E eu me sobressaltei.
Pensei em Blanca. Só ela conhecia meu paradeiro na grande metrópole.
Mas não...
Era Ricky!
No começo, ela hesitou. Depois, endireitando o ânimo, e não sei se recorrendo à
adulação, parecia querer se justificar.
- Desculpe... Você me causou uma boa impressão...
E corrigiu.
-Nos causou uma impressão muito agradável... Silêncio.
- E eu desejo que me faça um favor...
Desta vez fui eu quem hesitou.
- Você dirá... Silêncio.
E eu tive uma sensação estranha...
- Não revele minha identidade... nem onde eu moro...
Sim, foi um pressentimento... Naturalmente, concordei.
E, acrescentou, implorando...
- E muito menos... ao engenheiro. Eu não posso explicar, mas naquele momento, eu
"soube" (?) que a mulher voltava a mentir. O pressentimento era nítido: aquela não era
a verdadeira razão para a sua chamada...
E a tranquilizei, lembrando-a do que foi acordado durante a gravação: a entrevista era
confidencial. Enquanto ela não autorizasse explicitamente, ninguém saberia seu
verdadeiro nome, nem a cidade onde ele morava.
E, como garantia, ofereci-lhe a única coisa que tenho: a minha palavra.
- Ok. - concluiu docemente -... Eu sei que você não me decepcionará.
E, como eu disse, por mais voltas que eu tenha dado, não consigo entender por que -
o autêntico, porque – de tão inexplicável chamada. Sim, tudo era muito confuso...
"Se a história de Acron era uma fábula, o que lhe preocupava?... Se não desejava
revelar a sua identidade, por que permitiu que gravasse e a fotografasse à vontade?...
"E o mais absurdo: que interesse poderia ter meu amigo por alguém, de que nem
sequer lembrava o nome?
"Foi, talvez, uma desculpa para controlar meus movimentos?"
E aquele pressentimento ainda está vivo... Finalmente, um sono profundo veio para
ajudar este abatido investigador.
E, inquieto, recordo um daqueles agitados sonhos...
Nele - talvez como resultado de tanta confusão - aparecia o engenheiro... como um
destacado agente da CIA, o temido serviço de inteligência norte-americano...
A história, em suma, não era nada mais do que uma inteligente e venenosa manobra,
inventada pelos mencionados serviços secretos... para envenenar a opinião pública...
mais uma vez.
E, apesar de eu saber que foi apenas um sonho, está dito.
E “Ricky”; como se fosse a coisa mais natural, levantou a calça, mostrando-me as
sequelas do grave acidente ocorrido no México. (Foto J. J. Benítez.)
MÉXICO, D.F.
Terça-feira, 3 de setembro (1996).
Eu não sei como, mas eu soube...
Logo que me viu, Blanca adivinhou o que aconteceu nos EUA. É que o fracasso, eu
suponho que aterrissou comigo no Distrito Federal. Na verdade, aparecia pendurado
no olhar...
E depois de escutar atentamente o que aconteceu na grande metrópole, sem
hesitação, movida por este prodigiosa sexto sentido, sentencoiu indignada:
- Ela mente...! Essa mulher te enganou!
Eu não acreditei.
E avaliei as suas afirmações como um gentil e amável sopro de oxigênio.
Eu insisti, tentando convencê-la.
A negativa de Ricky foi rotunda. Não havia opção ou margem para dúvidas.
Era difícil, sim, mas convinha adequar-se à idéia: o engenheiro mentiu.
Mas, para minha surpresa, tenaz - quase obstinada - Blanca não cedeu.
E me refrescou a memória:
- O que você acha das mentiras?
E argumentou com razão:
- Uma só mentira invalida todo seu testemunho...
Sim, certo... mas, naquele momento, a ferida era tão profunda que eu não pude, ou
não queria aceitar seus sensatos conselhos.
"Ponto final!"
Quando regressasse à Espanha procuraria engenheiro, mas, apenas para exigir uma
explicação e, provavelmente, para recriminá-lo por sua falta de consideração com um
suposto amigo...
E minha esposa compreendeu.
"Ponto final!"
A decisão estava tomada.
Pobre coitado!
Mais uma vez, eu esquecia o grande protagonista desta história: o Destino (?)...
E o Destino (?), astuto, se vestiu de mulher. Blanca, com sua aguçada inteligência,
deixou passar as horas. Deixou que me tranquilizasse...
E naquela mesma tarde, no momento oportuno, foi remover, onde, aparentemente,
não havia nada. E o fez, pressionando o ponto mais sensível deste investigador: a
curiosidade.
Simplesmente fingindo concordar com a minha decisão de desistir da história de
Ricky, insinuou, tentadora e maliciosamente:
- Tudo bem, mas, já que estamos no México... Por que não verificar os jornais? ... Se
houve o acidente, ali pode estar a chave.
E acordei...
E Blanca, sagaz, pisou no acelerador.
-... Se o engenheiro disse a verdade, neste acidente deve ter ocorrido algo estranho...
Mão santa.
E é justo que eu reconheça. Se não fosse por essa inteligente e oportuníssima
intervenção da minha esposa e eficaz colaboradora, as investigações teriam morrido...
O mérito, portanto, era dela.
E o Destino (?), eu imagino, sorriu zombeteiro...
E na manhã seguinte, quarta-feira, impulsionado apenas pela curiosidade - que
magnífica arma para o investigador! - fui sozinho para a Cidade Universitária, para
visitar a Biblioteca Nacional.
E o incrível e surpreendente Destino (?) sentou-se comigo no quarto andar.
E esperou...
Mas, de repente, lembrando as palavras da "gringa", as poucas forças esmoreceram.
"Sim... teve um acidente... em Yucatán... em 1975... Eu acho.”
Eu não tinha nem certeza da data! Por onde procurar, então?
1975?
E, assumindo que Ricky não mentiu, como fazer para encontrar? E se fosse em 1976?
É claro que também pode ter ocorrido em 1974... Meu Deus!
Quão pouco faltou para que me levantasse e abandonasse a quase impossível
empreitada! E aconteceu de novo...
"Algo" ou "alguém" me amarrou à cadeira. Aquilo não fazia sentido, eu sei... No
entanto, solicitei os jornais de Yucatán. E o senso comum protestou. Mas aquela
inconfundível "força" o deixou sem palavras.
E por instinto (?) comecei por 1975. E aconteceu algo mais... Algo incompreensível,
para o qual eu não tenho nenhuma explicação... Ou sim?
Após receber o arquivo do Diário de Yucatán, em vez de começar a pesquisa pelo
início, pelo mês de janeiro, fui direto para o final: para dezembro! Por quê?
Sinceramente... Eu não sei.
Coincidência? Eu duvido...
Eram onze da manhã, segundo consta no caderno de campo.
Mas é interessante que eu interrompa a narrativa e abra um breve parêntese. Uma
explicação que destaca a "singularidade" daquela pesquisa na Biblioteca Nacional.
Deixe-me explicar.
Aqueles que conhecem o México, e conhecem a preocupante taxa de sinistros que se
registram diariamente em suas estradas, poderá entender o quão duro é uma
investigação na qual, infelizmente, eu não sabia quase nada: lugar exato do ocorrido,
data...
E lancei mão dos números.
Algum tempo depois, em outra consulta na Biblioteca Regional de Mérida, capital do
estado de Yucatán, tropecei (?) com alguns dados que ilustram o que eu digo.
Ao revisar o Diário Sudeste, fiquei impressionado com a seguinte notícia:
Em 25 de dezembro do referido ano de 1975, o então diretor do Autotransporte
Federal, em Mérida, Dom Eugenio Herrero García, apresentava uma estatística
chocante. Entre 18 e 24 deste mês de dezembro, os acidentes nas estradas da
jurisdição federal totalizaram 658, com 122 mortos e 559 feridos.
Em outras palavras, quase uma centena por dia!
E eu fecho o parêntese com o pensamento que me acompanhou naquela manhã, ao
penetrar na citada Biblioteca Nacional do México:
"Sem uma única pista... localizar o acidente mencionado por Ricky é quase um
milagre...”
E agora eu me pergunto:
"Diante de um panorama tão sombrio - com uma média de cem acidentes por dia -
como explicar que este investigador permanecesse "amarrado" à cadeira?... Era
normal que iniciasse as pesquisas... por onde eu comecei?”
Sim, estranho... Muito estranho.
12:15.
E ao encarar aquela primeira página do Diário de Yucatán, correspondente à terça-
feira, 16 dezembro, 1975, fiquei petrificada.
E eu li, incrédulo.
E eu pensei ouvir as gargalhadas do Destino (?).
E consultei o relógio pela segunda vez. Sim... tinha transcorrido apenas uma hora e
quinze minutos desde o início da pesquisa...
Coincidência? Eu duvido...
E eu me levantei.
E, nervoso, eu tive que sair da sala momentaneamente, refugiando-me em um
cigarro...
E eu abençoei Blanca.
Minutos depois eu lia pela terceira vez...
E a voz de Ricky soou quente e oportuna em minha memória:
"Ânimo!... E lembre-se: confie na intuição”!
Sim, eu tinha encontrado!... Era verdade!... O acidente existiu!... O nome do Ricky
estava entre os feridos!
E, lentamente, muito lentamente, eu mergulhei de volta na leitura das três colunas.
E hoje, entre calafrios, eu me pergunto:
"Como foi possível?... Como pude encontrá-lo?... O que, ou quem, tomou as rédeas?”
Não, “aquilo” não era normal...
A reportagem - sem imagens - aparecia logicamente com destaque (na primeira
página), como a notícia principal do dia em Yucatán.
Eis aqui o texto na íntegra:
“Eventos Policiais
»MORREM 5 PESSOAS AO CAPOTAR UM ÔNIBUS PERTO DE HOLACTÚN
»Feridos seis passageiros do veículo, que vinha da Praia de Carmen. O motorista
solicita amparo.
"Um ônibus do Autotransporte Oriente, que saiu ontem às 05h30, da Praia de Carmen,
Quintana Roo, e se dirigia à esta cidade, com cerca de 25 passageiros, capotou perto
das 10:30 Hs, próximo de Holactún, e como consequência do acidente, cinco pessoas
morreram e seis pessoas ficaram feridas.
"Até a madrugada de hoje apenas dois corpos foram identificados: José Enrique
Aguilar Mendez, estudante de tecnologia de Merida, 18 anos de idade e residente em
Valladolid, e Miguel Angel Perez Aguilar, artesão de 19 anos e residente em Praia de
Carmen.
"Os cinco passageiros morreram ao ficarem prensados dentro do veículo. Perez
Aguilar quebrou o pescoço e, além disso, um tubo do veículo perfurou a jugular. Os
danos no ônibus foram substanciais.
"Os feridos são: Audomaro Martin Pool, que foi atendido no Centro Médico do
Sudeste; José de Jesus Alvarez Canto, 30 anos de idade e patrão de Perez Aguilar,
atendido no hospital Juarez de Seguro Social; Juan Herrera Salazar, de 51 anos de
idade e motorista de ônibus; Maria del Carmen Aguilar Mendez, 19 anos, irmã de um
dos falecidos; Victoria Rosado, viúva de Farjal, de 65 anos e residente nesta cidade, e
a turista norte-americana... de 27 anos; os quatro últimos foram atendidos na clínica
Mérida do IMSS.
»PRIMEIRAS DILIGÊNCIAS
"De acordo com as primeiras informações tomadas no local do acidente pelo
secretário da 3ª Mesa da DAP, Weyler A. González Herrera, na altura do quilômetro
31,800 da estrada Becal-Puerto Juarez, trecho Holactún-Ticopó, o ônibus marca
Sultana, placa T-5326, com número 08, dirigido de leste a oeste por Juan Bautista
Herrera Salazar, saiu da estrada e, depois de bater em três postes "sinalizadores",
voltou novamente para a estrada, mas uma das extremidades do veículo colidiu com
outro sinal, de modo a que o ônibus capotou sobre uma lateral e em seguida, sobre o
próprio teto, que devido ao peso da carroceria, ficou amassado até a altura dos
encostos dos assentos.
»RESGATE
"O motorista Herrera Salazar foi resgatado dos escombros por um grupo de
socorristas, que quebraram o vidro dianteiro. Para remover os mortos e feridos foi
necessário remover as chapas retorcida das laterais.
"Conforme relatado pelo Secretário Gonzalez Herrera, o motorista disse a princípio
que o capotamento ocorreu quando um lenhador cortou sua frente, tentando
atravessar a estrada do sul para o norte e, para não atropelá-lo, o motorista fez uma
manobra defensiva para a direita.
"Herrera Salazar solicitou e obteve o amparo da justiça federal.
"Um repórter e um fotógrafo deste jornal, que foram ao local do acidente constataram
que o capotamento ocorreu em uma reta, plana, a cerca de 200 metros de uma curva
e cerca de dois quilômetros a oeste de Holactún. Eles também descobriram rastros do
rodado direito do veículo e marcas no pavimento, que atravessavam a estrada na
diagonal, em um trecho de cerca de 50 metros.
»DECLARAÇÕES DO CONDUTOR
"Entrevistado por um repórter na sala de emergência da clínica T-1 de Seguro Social,
o motorista Herrera Salazar afirmou que a causa do acidente foi uma manobra brusca
que ele foi obrigado a realizar à direita, para evitar a colisão de frente um carro
vermelho que invadiu a pista oposta na altura do quilômetro 31, em uma curva que
está logo após Seve. (Como podemos ver, esta versão não coincide com as
fornecidas pelo DAP).
"Herrera disse que ao desviar para direita, derrubou quatro "sinalizadores" do
acostamento e depois perdeu o controle da direção do veículo, que voltou para a pista,
, atravessou ela, saiu pelo lado esquerdo e capotou.
"O motorista, que sofreu contusões e escoriações em várias partes do corpo,
acrescentou que ele ficou prensado entre seu assento e o teto do ônibus. Por outro
lado... uma norte-americana que viajava no ônibus disse, com as poucas palavras que
sabia em espanhol, que ignorava o que tinha acontecido, pois perdeu a consciência
quando o acidente ocorreu, e quando se recuperou uma hora depois, já estava no
Seguro Social. Ela sofreu contusões e escoriações em várias partes do corpo.
"O Dr. Alberto Câmara Guerra, chefe da seção de emergência da Clínica Tl, relatou às
19h15, que Victoria Rosado, outra que ficou ferida no acidente, estava sendo operada
em ferimento grave na cabeça, e que uma jovem, Maria del Carmen Aguilar Mendez
também recebeu atendimento médico, mas já tinha sido liberada e foi para casa. Maria
del Carmen sofreu contusões e escoriações.
"Na Central de Emergência do Hospital Juárez de Seguro Social, uma enfermeira
disse que, pela manhã, foram atendidos cinco feridos do acidente, mas todos foram
liberados, já que nenhum ficou gravemente ferido.
"DESCRIÇÃO
"Na funerária Pérez Rodríguez foram entregues dois cadáveres não identificados, e
um cadáver na funerária Poveda. O secretário da Mesa 2ª, Sr. González Herrera, deu
a seguinte descrição:
»Os corpos entregues na primeira sala mencionada, são de uma mulher e um homem.
A primeira possui cerca de 50 anos de idade, morena, olhos castanhos, cabelos lisos,
escasso e grisalho, nariz e boca regulares, físico normal, 1,60 metros de altura e usa
vestido florido com fundo roxo. O segundo está na casa dos 60 anos, olhos castanhos,
cabelos escuros e lisos, boca e nariz normais, barba e bigode raspados, físico normal,
de 1,64 metros de altura, com camisa escura de manga curta, calça preta e camiseta
branca.
»O cadáver entregue na outra funerária é uma mulher de uns 35 anos de idade, de cor
clara, olhos castanhos, cabelos castanhos ondulados, físico robusto, altura de 1,60
metros, com duas blusas de cor marrom e com listras de várias cores, calça vermelha,
e sapatos marrons de borracha.
Nos dias seguintes, 17 e 18 de Dezembro, o jornal em questão - também na capa - de
voltava a falar sobre o acidente, relatando a identificação de outros dois corpos: os de
Oída Isabel Ortegon Barrera e Maria Parra. Faltava então, um quinto cadáver para
identificar.
Em uma dessas notas - a de quarta-feira, 17 – a seção de Eventos, adiantava a
versão oficial das possíveis causas do acidente. Dizia assim:
»Por outra parte, a Polícia Rodoviária Federal enviou ontem ao DAP, o relatório sobre
o acidente, no qual se indica que o veículo sofreu danos que foram calculados
calculados em cem mil pesos.
"O relatório do trágico acidente, elaborado pelo oficial Pastor Camino Rendon, afirma o
seguinte: Às 11h15, na altura do km 31,800 da estrada Becal-Puerto Juarez, trecho
Holactún-Ticopó, ônibus Sultana 1972, com placas T-5326, viajando de leste para
oeste, dirigido por Juan Bautista Herrera Salazar, que não diminuiu a velocidade ao
entrar em uma curva para à esquerda, desviou demais para a direita, então invadiu a
pista oposta margeando à sua esquerda, e quando o motorista tentou voltar
novamente para a pista com o ônibus, este capotou no asfalto, derrapou para fora da
estrada, onde ficou com as rodas para cima e o teto amassado até a altura dos
assentos. "
Em suma - segundo a polícia – o responsável havia sido o motorista...
E isso foi tudo.
Nos dias que se seguiram - a minha pesquisa avançou até os primeiros meses de
1976 - o jornal ignorou o tema, enterrando o caso para sempre.
E do quinto e desconhecido morto... nunca mais se falou. Um morto que,
aparentemente, nunca seria identificado, contribuindo bastante para obscurecer o já
misterioso evento...
Mas vamos por ordem.
E eu me concentrei na última consulta: as páginas do jornal “Novedades de Yucatán”.
A informação, também de primeira página, era idêntica, com uma exceção. Uma
diferença pequena, mas muito interessante: o “Novedades” oferecia a imagem do
ônibus destruído. Uma imagem providencial ...
Quanto à Ricky, os dados coletados por Javier Rosado, o jornalista que cobriu o
acidente, eram as seguintes:
"... de nacionalidade norte-americana, 27 anos de idade (de passeio), contusões no
dorso do nariz e do queixo, escoriações em ambas as pálpebras e hematomas em
várias partes do corpo..."
E, assim como seu colega, o “Novedades” dava por encerrado o assunto, não o
mencionando nunca mais...
E de certa forma era compreensível. Aquele "camionazo" era apenas um, de muitos.
Um dos cem, registrados diariamente nas estradas mexicanas. Aparentemente... um
"acidente" sem nenhum mistério.
Excesso de velocidade... Possível distração do condutor... E o desastre.
Uma imagem valiosa. O ônibus destruído, no qual Ricky estava viajando. O texto
abaixo da foto no jornal “Novedades”, diz o seguinte: "São de se admirar, os danos
materiais do ônibus de Autotransportes Oriente, com placa de S. P. F. T-5326, que
capotou ontem cedo no trecho Hda-Holactún-Hda-Ticopó, da estrada Mérida-Puerto
Juarez, com um saldo de cinco mortos e seis feridos. "(Foto Jose Martinez).
Diário de Yucatán, com a notícia do dia: o gravíssimo acidente do ônibus que se dirigia
de Playa Carmen à Mérida. (Cortesia do Diário de Yucatán.)
E por um tempo, perplexo diante da facilidade com que fiz a "descoberta", não reagi.
E os detalhes me impediram de ver a coisa como um todo... Horas depois, mais calmo
e sossegado, ao analisar os documentos fotocopiados na Biblioteca Nacional, comecei
a perceber que nem tudo era tão simples. As versões sobre as possíveis causas do
acidente não coincidiam...
E o mais importante: os dados jornalísticos colocavam em dúvida as afirmações de
Ricky.
E Blanca, triunfante, confirmou suas suspeitas. A norte-americana estava mentindo...
E eu tive que admitir. Vejamos alguns exemplos...
Na fotografia, o motor do ônibus, localizado na parte traseira, aparecia intacto. A
imagem do “Novedades” era reveladora...
E agora eu me pergunto:
Por que o jornal publicou esta foto e não qualquer outra?... Se fosse mostrada outra,
com a frente do ônibus, este investigador não perceberia aquele "detalhe" do motor...
Coincidência? Eu duvido...
E Blanca e eu concordamos:
- Por que Ricky disse que caiu sobre ela...? Isso era impossível... Por que mentiu?
E ao explorar a mencionada foto, também observei que o terreno - como diziam os
jornais -... Era plano!
E lembrei-me das enfáticas palavras da “gringa”
"... E descemos por um barranco... Lembro-me bem... muito profundo.”
Barranco?
"Sim, mais uma mentira..."
E ao consultar um mapa de Yucatán, verifiquei o que já havia intuído, lendo as
informações...
O lugar do acidente – o quilômetro 31 da estrada que liga a cidade de Mérida com a
Playa del Carmen - não era, de jeito nenhum, o lugar “remoto e perdido na selva",
mencionado por Ricky na gravação. Muito pelo contrário...
Semanas depois, eu confirmaria no local. O ponto em questão se encontra a escassos
15 ou 20 minutos de Mérida, a capital. Uma região muito movimentada, longe da
floresta e, insisto, plana como a palma da mão.
Mas o que mais chamou a nossa atenção foi o capítulo sobre as "feridas”...
"Foi muito grave", disse Ricky.
E assim parecia, a julgar pelas informações e, acima de tudo, pelas violentas e
intermináveis cicatrizes que apresentava em sua perna direita.
E surgiu outra embaraçosa dúvida...
"Se foi tão grave, por que a incluíram entre os feridos leves?... Por que as notícias não
mencionam a gravíssima lesão na perna?... Por que falam somente de hematomas e
escoriações no nariz, pálpebras e queixo?... Devo interpretar isso como um lapso dos
repórteres?”
Eu me recusei a acreditar.
Por anos eu trabalhei na difícil seção de Eventos, e sei que uma ferida desta
magnitude não passa despercebida por médicos e jornalistas...
E Blanca concordou.
E, pouco a pouco, contrastando as afirmações de Ricky, com o conteúdo do noticiário
local, o meu alarme aumentou.
Ali, de fato, tinha "algo" estranho...
E, para confirmar, coloco outra frase intrigante da "suposta alienígena”:
"... O ônibus teve um problema com a suspensão..."
Reconheço que, na época, o "detalhe" não foi suficientemente avaliado. Ficamos
surpresos, sim, mas não percebemos seu verdadeiro significado. Em nenhuma das
notícias, se fazia referência a algo tão específico. Falou-se de uma "manobra
defensiva" para tentar se esquivar de um lenhador e de um carro vermelho. Enquanto
isso, o informe policial acusava o motorista por excesso de velocidade...
E, perplexos, fizemo-nos a mesma pergunta:
"De onde é que Ricky tirou este detalhe da suspensão?"
Meses depois, na segunda viagem ao Yucatán, este surpreso investigador descobriria
que, realmente, esta poderia ser a causa da perda de controle por parte do motorista.
E as palavras de Ricky adquiriram um novo e eloqüente significado...
"Sim, ela tinha razão... Mas como é que soube?... A falha na suspensão nunca foi
mencionada por ninguém, nem em público ou privado.
"E hoje eu estou convencido: aquela foi uma interessante "pista", colocada
intencionalmente por Ricky na conversa...
"E eu começo a entender porque era vital que eu a entrevistasse antes de começar a
investigação em Yucatán...»
E a insistente recomendação funcionou... e continua funcionando:
"Confie na intuição!"
E, da noite para o dia - graças a uma pirueta do Destino (?) - a grande decepção se
viu amenizada. A "descoberta" na Biblioteca Nacional não apagou o sentimento de
fracasso, mas conseguiu me incentivar, fazendo-me ver o absurdo da minha
intransigente postura.
E Blanca, mais uma vez, focou no problema...
- Primeiro investigue o acidente... Depois, se quiser renuncie...
E eu aceitei.
No fundo ela tinha razão. Aquele evento, obscuro, cheio de lacunas e contradições,
escondia muito do que tinha sido publicado...
"Confie na intuição!"
E eu fiz.
E não me equivoquei...
Viajaria para Mérida, sim, e tentaria reconstruir os eventos.
Não importava que tivessem passado 21 anos...
Aquela situação extrema não era nova para mim. Eu podia...
Procuraria o motorista, os feridos, os sobreviventes... Falaria com os policiais,
testemunhas, com os médicos, com os jornalistas...
Eu tinha que descobrir o que aconteceu. Tudo o que aconteceu...
O que aconteceu naquela estrada?... Por que o motorista culpava primeiro a um
lenhador e, logo depois, a um carro que o obrigou a fazer a manobra?... Um veículo
vermelho que invadiu a pista contrária?
E por que o relatório oficial oferece outra versão?
«Sim, “algo" não se encaixa... »
Mas primeiro eu tinha que esclarecer outro assunto...
Antes de me aprofundar no acidente do ônibus, necessitava acertar uma conta
pendente... Sim, uma conta antiga... com o engenheiro.
E, de comum acordo, fizemos a viagem para casa.
E o Destino (?), benevolente, nos concedeu alguns dias de relativo repouso.
E eu digo bem: somente alguns dias...
Por que a grande surpresa - quem diria! – Estava para surgir...
ESPANHA
Eu estava feliz, sim. No fundo, eu estava feliz...
Essas experiências são sempre desconfortáveis e constrangedoras. Este servo pelo
menos, não as suporta...
Eu nunca gostei de desmascarar ninguém. Eu nunca gostei de chamar alguém de
mentiroso (1).
E o Destino (?), atento e compassivo, evitou que localizasse o engenheiro.
Aparentemente, ele estava viajando.
E como eu disse, aliviado, adiei a obrigatória e desagradável entrevista com o
"diabólico amigo."
E imaginando que o retorno para o México iria demorar, eu decidi retomar outras
investigações...
Pobre coitado!
E o Destino (?) - porque não! - Se apresentou sem aviso prévio.
Quinta-feira 19 de setembro (1996).
18h30.
Lembro-me de andava veloz pela estrada do Norte, indo para o País Basco. Um novo
caso tinha feito eu me esquecer momentaneamente de Ricky.
E agradeci aquele fôlego...
E, de repente, no rádio apareceram as vozes de três velhos conhecidos...
E Blanca, ao meu lado, aumentou o volume.
Eles eram o Dr. Jimenez del Oso e os investigadores Lorenzo Fernández Bueno e Iker
Jiménez Elizari.
Era uma entrevista na Rádio Nacional, no programa conduzido e dirigido por Julio
César Iglesias, outro veterano no mundo do mistério.
Naquela ocasião, o tema escolhido, era um familiar encontro com humanóides...
O caso de Los Villares, na província espanhola de Jaén!
(1) Agora sou eu que estou mentindo como um velhaco. É claro que eu adoro
desmascarar as tortuosas e desajeitadas manobras dos chamados "vampiros da
ufologia." Para os não avisados, alguns supostos cientistas, negadores profissionais,
mais próximos da Inquisição, do que à verdadeira ciência... Mas isso é outra história.
Coincidência? Eu duvido...
E recordando a já distante conversa telefônica com Iker, prestei bastante atenção.
E após esboçar o incidente protagonizado por Dionísio Ávila, um dos jovens ufólogos
deteve-se em um ponto extremo que eu desconhecia completamente. Um "detalhe"
que, como já mencionei, havia sido providencialmente "esquecido" (?) pelo bom Iker
na nossa primeira conversa.
Coincidência? Eu duvido...
E foi fulminante.
Blanca e eu nos olhamos atordoados... E eu senti o cabelo eriçado.
"Incrível!"
E pouco faltou para que parasse.
- Você ouviu o mesmo que eu?...
E a minha mulher concordou igualmente desconcertada.
E lendo meus pensamentos, Júlio César perguntou novamente:
- Uns sinais...? Na nave?
E Lorenzo, sem pressa, confirmou o que tinha dito:
- Sim... isso afirma a testemunha... Dionísio viu algo parecido com um emblema...
Duas barras verticais e um círculo... Barra, círculo, barra.
E um implacável tremor me sacudiu a cabeça.
Não podia acreditar! ...
"Barra... círculo... barra!
"Mas, “isso” é...”
E instantaneamente, como um relâmpago, um familiar "pensamento" (?) desceu do
céu:
"Aqui está a prova... Esta é a "resposta" ao seu pedido!”
Deus! ...
O anel de prata!
Os símbolos eram idênticos aos descritos pelo morador de Los Villares...
Coincidência? Eu duvido...
"Mas...
"Sim, eu sei... não há explicação racional.
"Como é possível?... Como entender e justificar semelhante "coincidência"?”
E então eu soube...
Mas, por vergonha, não me atrevi a insinuar.
E Blanca, mais sincera e corajosa, falou para mim:
- Esse anel não foi perdido... Agora eu sei...
"Alguém" o deixou na água... para você encontrá-lo ...
16 de julho!
O dia de nossa chegada no Egito...
A nave pousava perto de Los Villares ao meio-dia, e este investigador formulou seu
estranho pedido... naquela mesma madrugada.
Coincidência? Eu duvido...
E, apavorado, fiquei em silêncio.
Apavorados ou feliz?
Na verdade, tudo ao mesmo tempo...
E as palavras de Ricky voltaram para mim: "Confie na intuição!"
Sim, eu não podia negar... Eu não podia duvidar.
"Qual tinha sido o meu "pedido"?
"Nada mais nada menos do que um "sinal", uma "resposta" destes “seres", que
indicasse claramente a autenticidade do caso Ricky.
"Pois bem, ali estava!
"Justo no momento certo!... Quando eu mais precisava!... Curioso e
providencialmente..., depois da grande decepção!
"Definitivamente, tudo amarrado e bem amarrado...”
Coincidência? Eu duvido...
E ocorreu.
Eu suponho que era lógico...
Apesar da esmagadora evidência... eu rejeite o que acabara de ouvir.
"Talvez eu esteja errado... A testemunha se confundiu... O "emblema" na nave não
pode ser o mesmo... Eu tenho a certeza que me deixei sugestionar.”
E Blanca, naturalmente, sorriu compassiva.
Mas a semente germinou...
E o Destino (?) afastou-se satisfeito.
Missão cumprida.
E a curiosidade fez o resto...
Quarenta e oito horas depois, alterando todos os planos, eu reunia-me com Iker e
Lorenzo em Madrid.
E ali, de fato, recebi a primeira confirmação. Os sinais eram idênticos!
Mas, teimoso e desconfiado, eu relutei em admiti-lo...
"Eu tinha que ouvir dos lábios do protagonista!... Eu tinha que ver ele desenhando os
enigmáticos símbolos! "
E em 24 de setembro, às 14h45, os pacientes e nobres investigadores - atendendo ao
meu chamado - se apresentaram em Jaén.
Pouco depois chegávamos na casa de Dionísio Ávila, no pacato e branco povoado de
Los Villares...
E durante toda a tarde, aquele aposentado de 66 anos, praticamente analfabeto,
amabilíssimo, repetiu o que aconteceu na manhã de 16 de julho de 1996.
E, tal e como anunciaram Iker e Lorenzo, eu não encontrei nenhuma contradição no
extenso e detalhado relato.
Meses depois, segundo o costume, voltei à casa da testemunha, submetendo-a a um
novo e completo interrogatório.
A versão, impecável, foi a mesma...
E o mesmo aconteceu nas visitas seguintes. O encontro, a princípio, parecia
genuíno...
E embora não seja minha intenção, me estender agora exposição deste evento Onvi -
haverá tempo para contemplá-lo em detalhes na interrompida série "Humanóides" (1)
– eu considero oportuno sim, que o leitor tenha um mínimo de informações sobre este
evento incomum.
Aqui está, então, é um resumo de minhas conversas com o amigo Ávila:
(1) Por enquanto, a citada coleção integra os livros “A ponta do iceberg” e “A quinta
coluna”.
Os fatos, como eu disse, aconteceram por volta do meio-dia em um quente 16 de
julho, terça-feira...
- Naquela manhã fui para o meu passeio habitual ao redor do povoado.
E Dionísio apontou para Linda, a pequena cachorra com quem, o modesto agricultor
divide a casa. E passou a explicar...
- Eu fui para o monte de Barreiro, pouco mais de meio quilômetro, na companhia da
cachorra... Ali me sentei para descansar, ao pé de um carvalho...
Mas, o inocente passeio pelo olival, terminaria de forma surpreendente...
- E de repente, quando subia por uma das ondulações, a cadela parou... E, inquieta,
enfiou o nariz na terra... Mas imaginei que tinha percebido outro cão, e não prestei
muita atenção... E continuei a andar...
E ao chegar ao referido monte, nosso homem parou. E descobriu "algo" que,
logicamente, o intrigou...
- No começo eu pensei em alguma engenhoca de ICONA (Instituto para la
Conservación de la Naturaleza – Um órgão Espanhol)... E eu chamei a cadela... Mas o
animal não queria aproximar-se e eu tive que gritar... Então ela se juntou a mim, ainda
desconfiada e muito receosa... E ignorando a verdadeira natureza do que tinha à sua
frente, o aposentado se aproximou da suposta “engenhoca”...
E descreveu-o desta maneira:
- Era circular... Cerca de três metros de diâmetro... Parecido com a metade de uma
laranja... e com uma espécie de cúpula no topo...
- E, espantado, fui me aproximando...
-... Era muito estranho, senhor... Pairava no ar... Talvez 30 ou 40 centímetros da
grama... E eu notei um cheiro horrível... Como posso explicar... Sim, um cheiro de
carbureto...
E Dionísio entrou em detalhes...
- Era muito brilhante... Eu diria que era como cristal... Mas eu não posso garantir... E
por baixo se escutava um ruído... Lembrou-me o que faz o gás quando escapa do
cilindro de gás... mas, mais lento.
E, sem pensar duas vezes, fiquei rodeando o objeto...
- Eu estava tão perto... Talvez a meio metro... E eu podia tocá-lo, mas não tive
coragem... Quem era eu para fazer isso?... E no alto se distinguiam umas janelas
redondas e escuras... Você já viu vigias de navios?... Eram mais ou menos assim... No
total, seis... Três de um lado e o resto do outro... Na frente...
E quando perguntei por que ele não decidiu tocar a "engenhoca", Dionísio falou,
chateado:
- Eu não gosto que me chamem de curioso... Bendita ingenuidade!
E a testemunha veio a confirmar o que realmente havia me levado a visitá-lo...
- E, em um dos lados da cúpula, entre os dois conjuntos de janelas, vi também dois
"paus" e um "zero”... Eu não posso dizer se eles eram pintados... Eles eram bem
grandes... Cada "pau" vertical media um palmo, mais ou menos... O "zero", no entanto,
era menor... Cerca de doze ou quinze centímetros de diâmetro...
Ao meio-dia de 16 de julho de 1996. Próximo de Los Villares (Jaén) aparece uma nave
e três seres. No alto do objeto, a testemunha distingue uma espécie de “emblema”: Os
mesmos símbolos que adornam o anel de prata “encontrado” (?) por J.J. Benitez no
Mar Vermelho (Ilustração de J.J. Benitez)
Dionísio Ávila com “Linda”, no lugar do encontro com a nave e os tripulantes. (Foto J.J.
Benitez)
E obviamente insisti, implorando para que repetisse a explicação...
E ele o fez sem hesitar.
E sempre foi a mesma coisa...
-... Como te disse, esse emblema - ou o que fosse - aparecia no topo da "engenhoca"
e entre os grupos de janelas... E destacava a sua versão... Um "pau" vertical..., um
"zero”... e outro "pau ...
"Mas, por que você está tão interessado no emblema?
E eu fiquei em silêncio.
"O que eu poderia dizer?"
Naturalmente, Dionísio Ávila nunca viu o anel de prata...
Por fim, embora as dúvidas tivessem desaparecido, pedi-lhe que o desenhasse.
E achando estranho, mas gentil, se ocupou da tarefa.
"Incrível!
"São os mesmos sinais!" E eu perguntei como um perfeito idiota...
- Você tem certeza?
E o homem, com mais razão do que um santo, protestou, desconfortável...
- Por que iria inventar uma coisa dessas?
Eu disse, com mais razão do que um santo...
"Do que ou de onde, aquele aposentado poderia saber de minha "descoberta" no Mar
Vermelho?... Que tipo de "montagem" teria sido necessária para envolvê-lo no caso de
Ricky e nas experiências no Egito?... Praticamente, acabávamos de nos conhecer...
Como sequer imaginar que um compatriota assim, se prestasse a uma conspiração
tão retorcida?... Mas, uma conspiração... Por parte de quem?... E para quê?...
“... Sim, coisa de louco...”
"E agora eu sei: aquele bom homem foi apenas um "instrumento"... Uma "peça" a mais
no quebra-cabeça...
"Sim, tudo amarrado e bem amarrado...»
E, atordoado, eu continuei ouvindo-o...
-... E ao terminar de rodear aquela "coisa", eu voltei para o carvalho... Foi quando eu
os vi...
E naquele momento – conforme a testemunha - surgiu o medo...
-... Eu não sei de onde saíram nem como eles chegaram... Simplesmente, ao me virar,
apareceram na frente da "engenhoca”... E me olharam... Eram três... Duas mulheres e
um homem... Tinham 1,70 metros, mais ou menos... Vestiam uns macacões apertados
e brilhantes... Eu minto... No começo eu pensei que eles estavam nus...
- Eu não sei como te explicar...
E eu pedi para ter calma. E fiz muito bem...
-... Você verá... Era como se as roupas fossem pintadas...
"Sim, precioso... Brilhavam como papel alumínio... E por mais que olhasse, não vi
zíperes ou botões... Os "macacões" eram de uma única peça... Você me entende?
Eu assenti com a cabeça. A descrição era típica, muito comum nos encontros de
terceiro grau...
-... Eles estavam alinhados... Quase não se moviam... E não tiravam o olho de mim...
E, como eu disse, eu comecei a notar algo estranho... Se você quiser, pode chamá-lo
de medo... As coisas como elas são...
"Tinham as cabeças peladas e olhos oblíquos... Como os índios do Peru... O resto,
exceto a boca, era normal... Não vi os lábios... Mas eram belos...”
E, visivelmente emocionado, insistiu...
- Sim, muito bonitos... Aquelas pessoas não podiam ser más...
E quando perguntei por que ele estava tão certo de que era um homem e duas
mulheres, respondeu sem rodeios:
- Pelos seios e quadris, senhor... Eu sou simples, mas não estúpido... O homem
também apresentava o "pacote”... Você sabe do que eu estou falando?
E Dionísio entrou na reta final de sua experiência...
- E, de repente, apareceu a "luzinha”... Não sei de onde veio... Eu não posso dizer se
eles jogaram, mas a verdade é que caiu aos meus pés...
Pelo que eu pude entender, quando falou de uma "luzinha”, a testemunha se referia a
uma luz de tamanho reduzido, semelhante - segundo suas palavras - "a uma lâmpada
de uma bicicleta ou uma motocicleta"
-... E eu me inclinei e a recolhi do chão... E ao lado dela havia duas outras pedras
muito chamativas... E eu também as peguei na mão...
E ele apressou-se a esclarecer:
- Mas... (! Que mistério, nossa) ao pegar a "luzinha”... Já não era mais uma "luzinha”...!
E buscando minha compreensão, concluiu:
-... Você talvez não acredite em mim... Eu não o culpo... mas digo a verdade...
A "luzinha” tornou-se uma pedra!
Naturalmente, eu olhei para ele, incrédulo...
E o homem ratificou com veemência:
- Uma pedra, sim... Escura... Redonda como uma bola de tênis e cheia de labirintos...
- Labirintos? - Perguntei intrigado.
- Sim, com sinais e marcas... Um labirinto!
Momentos depois, os seres e a nave desapareceram. Esfumaçaram-se...
E ali ficou o aterrorizado e descomposto aposentado, com as pedras na mão... e sem
saber para onde olhar...
E voltou para Los Villares, tomado por um ataque de pânico.
-... E por vários dias, nossa, eu não era uma pessoa. Eu não comia... Não dormia...
E, logicamente, pedi-lhe para me mostrar as misteriosas pedras.
E uma delas - a esférica, que foi jogada a seus pés - mais uma vez me deixou
perplexo.
- Deus!
"O que é tudo isso?... O que está acontecendo?”
Desenho da nave e do “emblema”, feitos pela testemunha de Los Villares. (Foto J. J.
Benítez.)
Poderia ser este o autêntico aspecto do «ser» que «ressuscitou» e tomou posse do
corpo da norte-americana acidentada em Yucatán em 1975? (Gentileza de Dr.
Jiménez del Oso.)
Os sinais do anel de prata e os que apareciam na nave observada nas proximidades
de Los Villares (Jaén) eram idênticos (Foto J. J. Benítez.)
A superfície porosa e preta aparecia, de fato, cheia de símbolos. Uns sinais
incompreensíveis...
E três em particular - destacadíssimas - intrigaram-me...
Uma barra vertical... um círculo... e outra barra também vertical!
«Não, “isto” não é normal...» Coincidência? Eu duvido...
E eu reconheço que deixei a população, atolado na incerteza...
O que eu poderia pensar?
"Não se trata apenas da incrível "coincidência" (?) entre os sinais de "meu" (?) anel e
do "emblema" na nave... Agora, para piorar a situação, entra em cena uma pedra com
os mesmos símbolos e, supostamente jogada aos pés de Dionísio Ávila pelos
tripulantes do Óvni...
"Sim, para ficar louco..."
Mas, felizmente, eu me recusei a pensar.
Antes de tirar conclusões, tinha de realizar um minucioso e severo exame. Deveria
verificar a natureza e a origem das pedras, assim como o tipo de instrumento (?)
utilizado na execução das enigmáticas gravações...
Não que eu desconfiasse da testemunha, mas...
E graças à bondade do protagonista, as três pedras ficaram sob minha custódia,
sendo transferidas, primeiro para as universidades de Granada e Madrid, e
posteriormente, para os Laboratórios da Polícia Científica de outras duas grandes
cidades espanholas.
E meses depois - ao saber dos resultados - surgiria a surpresa. Mais uma...
E naquela época - na segunda conversa com o aposentado – eu me vi "assaltado" (?)
por um "pensamento" (?) que se tornou mais forte no meu coração...
E eu me recuso a ignorar. Talvez não seja importante... Talvez sim...
O fato é que, conforme fui penetrando na história de Dionísio, a aparentemente
maluca "idéia" (?), como eu disse, se instalou como uma possibilidade que devia
considerar...
E hoje é quase uma certeza...
"Era aquele o aspecto real do "ser", que - de acordo com o engenheiro – “ressuscitou”
e tomou posse do corpo da norte-americana acidentada em Yucatán?"
Deixe-me explicar.
"Eram, os seres observados em Los Villares, os que eu prosseguia?... Eram estas as
criaturas que supostamente ressuscitavam cadáveres?... Era uma dessas entidades a
que, em definitivo, se alojava no corpo de Ricky?”
«Olhos puxados... Sem lábios... Luminosos... Belíssimos... »
E cada vez que eu penso nisto, uma suave,, morna e familiar voz sussurra:
"Confie na intuição!" Fique dito...
E no meu retorno à "Ab-ba", após a primeira visita a Los Villares, eu tratei fazer um
balanço.
Dionísio Ávila na área onde a nave pousou. Abaixado, o pesquisador Lorenzo
Fernández Bueno, apontando para uma das possíveis marcas deixadas pelo objeto.
(Cortesia de Iker Jiménez.)
A testemunha, desenhando a nave que viu na manhã de 16 de julho de 1996, nos
arredores de Los Villares (Foto J. J. Benítez.)
A pedra esférica lançada aos pés do aposentado. Um dos símbolos é idêntico ao
“emblema” que a nave apresentava, e também aos sinais do anel de prata (Foto J. J.
Benítez.)
E acima de tudo brilhou o capítulo das "coincidências" (?).
"Incrível!... Simplesmente incrível!”
Peguei caneta e papel e fui me entreter em um curioso e divertido "jogo". E contabilizei
as "coincidências" (?) que tiveram que ocorrer para que este investigador "tropeçasse"
(?) com o anel de prata.
E ao recordar as que mais se sobressaiam, novamente sorri por dentro...
«Não, “isto” não é normal.»
Eis aqui o excitante "trabalho" do Destino (?):
1. Um vôo – Luxor-Sharm el Sheikh - cancelado ... Inexplicavelmente.
2. Um providencial atraso na partida do avião que, finalmente, nos levaria para o Sinai.
3. A saudável suspensão do acesso à Montanha de Deus, marcado para a noite de 24
de julho de 1996.
4. Blanca disposta a mergulhar... Inédito!
5. Seu marido afastando-se... Muito Importante!
6. Blanca usando seu amado anel de ouro... Raramente o tirava de casa.
7. Blanca ferida por um coral, levando a mão à perna.
8. Blanca incapaz de lembrar o local exato onde supostamente "perdeu" (?) o anel.
9. Um súbito mergulhador desconhecido que - sem perguntar – retira Blanca da água.
10. Um marido totalmente idiota que, incompreensivelmente, permanece no mar, em
vez de acompanhá-la e ajudá-la.
11. A perda (?), propriamente dita, do anel de ouro. Se tivesse perdido qualquer dos
anéis restantes – de menor valor sentimental – este servo provavelmente não teria se
dado ao trabalho de procurar.
12. Uma atitude incomum e desaconselhada na prática do mergulho: mergulhar aré
ficar quase no seco... e entre as perigosas agulhas de coral.
Sim, até mesmo um cego poderia ver isso... Muitas "casualidades". Muitas
"coincidências”...
E embora eu saiba que nada disso é científico... Eu disse:
Foda-se a ciência!
E por falar em "coincidências", como que eu devo considerar aquele novo telefonema?
Coincidência? Eu duvido...
Eram os últimos dias daquele inesquecível setembro quando Andrés Gomez Serrano,
outro excelente investigador e melhor amigo, me pôs a par de uma história de uma
aterragem de Óvni que, de alguma forma, poderia estar relacionada com a de Los
Villares.
O novo caso, investigado por Gomez Serrano, um homem que soma a bagatela de 40
anos em ufologia, havia ocorrido cerca de onze horas da noite do mesmo dia 16 de
julho, mas nas proximidades da cidade de Algeciras.
Testemunhas: os moradores de um bairro, que viram descer um objeto silencioso e
brilhante sobre "La Rejanosa" uma fazenda próxima.
E lá fui eu, comprovando o que Andrés anunciou...
Em uma encosta, realmente, apareciam três círculos bem definido, 6, 3,70 e 2,90
metros de diâmetro, respectivamente, com o mato estranhamente queimada...
E digo bem: "estranhamente queimada”.
A Aroeira espinhosa, a Jara e a grama que cresciam no distante campo, não estavam
completamente destruídas, como teria sido normal em um incêndio. Além das
suspeitas e perfeitas circunferências das manchas, o matagal em seu interior aparecia
enegrecido e ressecado... em parte.
E observamos algo muito comum em aterrissagens Ovnis...
A energia propulsora (?) da nave havia se comportado de forma seletiva, afetando, por
exemplo, as coroas de espinhos e respeitando, no entanto, caules e folhas coriáceas.
Incompreensível, sim...
E o mesmo acontecia com os lentiscos.
Para nossa surpresa, a ramagem estava chamuscada... por zonas.
"Como isso é possível?... Como explicar racionalmente que umas hipotéticas chamas
queimam apenas o lado de um tronco, deixando o resto sem consumir?”
E o que dizer de insetos e caracóis? Muitos apareciam queimados, mas apenas o
interior.
Intrigante, sim...
Algum tempo depois, as análises realizadas em amostras de solo, plantas, insetos,
caracóis e outros restos de animais, coletados por Gómez Serrano e um empregado
nos três círculos, apresentaram um resultado tão familiar para ufólogos como
surpreendente para os cientistas:
"O local tinha sido submetido a uma temperatura acima dos mil graus Celsius...
»E foi "cozido e desidratado" seletivamente...
»Tipo de energia: "Desconhecida”...
»Radiação: "não detectada”.
Curiosamente, como eu disse, a um palmo das marcas, o mato grosso e abundante
aparecia intacto...
E a suspeita foi imediata:
"Embora os efeitos sobre o monte de Barreiro não sejam semelhantes, estamos diante
da mesma civilização "não-humana", que aterrissou 11 horas antes em Jaén?"
É muito provável...
Na época eu fiz, e agora eu faço as seguintes perguntas:
"Por que eu fui "avisado" da existência deste segundo caso?... Era tão importante?...
Em 1996, foi detectado um número tão grande de avistamento de OVNIs que o
acompanhamento e a investigação eram quase impossíveis... Se tratava de uma
ratificação?
Conhecendo, como eu acredito conhecer, o "estilo" desses "seres”... Não seria nada
estranho.
Mas as "ratificações" - admitindo a hipótese - não terminaram por ai...
E o Destino (?), desta vez, especialmente gentil, me oferecia - de bandeja – uma
terceira constatação.
Não que fosse necessário, mas, de qualquer maneira, eu fiquei grato.
E veio, como sempre... "Em seu devido momento".
O veterano investigador Andrés Gomez Serrano no centro de um dos círculos que
apareceram na fazenda "La Rejanosa”, perto de Algeciras. Incrível e misteriosamente,
o fogo ou calor afetaram apenas a parte superior do cardo que Gomez Serrano está
segurando... (Foto J. J. Benítez.)
Na aterrissagem Óvni em Algeciras, a vegetação ficou queimada e desidratada de
forma seletiva. Na imagem, um dos cardos calcinados unicamente na parte superior.
(Foto J. J. Benítez.)
As análises das amostras recolhidas nos círculos foram desconcertantes para os
cientistas: “Algo” havia provocado uma temperatura superior a mil graus Celcius. Os
insetos e caracóis, no entanto, apareciam intactos por fora e queimados por dentro.
(Foto J. J. Benítez.)
A aroeira, no interior de um dos círculos de Algeciras, com a ramagem calcinada... por
zonas. (Foto J. J. Benítez.)
Em agosto de 1997, enquanto escrevia estas linhas, tive a sorte de receber em minha
casa, outro velho e querido amigo, Sebastian Moreno, jornalista da revista Tiempo.
E ao longo da tarde, ao conversar - por que não! - sobre o fenômeno dos "não-
identificados", compartilhou comigo sobre "algo" que lhe aconteceu três dias antes da
aterrissagem em Los Villares. “Algo” associado a uma misteriosa foto...
Coincidência? Eu duvido...
E, embora eu tenha tomado nota das suas explicações, pedi-lhe para colocá-lo por
escrito. Dias depois, eu recebia a imagem em questão e o seguinte texto:
«... O incidente ocorreu em 13 de julho (1996), sábado, às 12h30, quando circulava
em um táxi pela estrada que liga Almáchar com Vélez-Málaga.
"Era um dia sem nuvens...”
“Almáchar é um povoado branco, situado no alto.”
"Eu viajava desde Torre del Mar, em direção a esta localidade.”
"E, a cerca de dois quilômetros do lugar, tive uma visão do povoado. Então,
aproveitando que o carro estava indo devagar, eu disparei a câmera, uma Nikon
equipada com um zoom de 30-105 milímetros.”
"O que eu queria era obter uma panorâmica, que servisse de recordação para Slaya,
um menino bielorrusso de 12 anos, que havia passado um mês com uma família da
citada localidade de Almáchar, acolhido por um programa de solidariedade com os
afetados pelo desastre de Chernobyl. Eu estava acompanhado de Slaya e sua tia Inna
Kuzina, russa, 24 anos, professora de Espanhol e Inglês.”
"No instante de captar a foto, não foi observado nada de anormal no céu.”
"Esse disco surgiu após a revelação em um estabelecimento da rede, aqui na Rua
Narvaez de Madrid. Em vista da anomalia, voltei para a loja onde foi revelado e
comprovaram que era "algo impresso no filme, não um defeito na revelação." A
direção para onde vai este disco branco que é do norte para o sul da vizinha província
de Jaén.”
"Eu pensei que poderia ser um balão meteorológico. Mas o chefe do Serviço
Meteorológico de Málaga que confirmou a ausência de qualquer balão na região.”
"Durante esse fim de semana, alguns caixas eletrônicos de bancos na região sofreram
danos. É o único dado aleatório que eu encontrei, como um empregado da Caja Sur,
em Torre del Mar. .. »
Curioso...
Horas antes das descidas em Los Villares e Algeciras, alguém completamente alheio a
essa história e localizado "por acaso" entre as duas populações, fotografava -
"acidentalmente" - um objeto "invisível”...
E este "alguém" – veja como quiser! - era um amigo deste investigador...
Coincidência? Eu duvido...
E este "alguém" - pelo amor de Deus! - decide passar uns dias de folga nas
proximidades da minha casa...
Coincidência? Eu duvido...
E uma visita à localidade “A” coincide com a escrita destas linhas...
Coincidência? Eu duvido...
Sim, o leitor terá de concordar comigo: coincidências demais...
E, ao receber a fotografia de Sebastian Moreno, pude ratificar o que foi anunciado pelo
repórter:
"Aquilo" voando sobre Almáchar não era um defeito na emulsão ou uma falha no
processo de revelação...
"Aquilo" também não era uma nuvem...
Em 13 de julho de 1996, um objeto foi fotografado nos arredores de Almáchar. No dia
16 daquele mesmo mês, ao meio-dia, outro Ovni pousava em Los Villares (Jaén).
Horas mais tarde, uns moradores de Algeciras viram descer um brilhante e silencioso
aparato na fazenda "La Rejanosa”. Se tratava do mesmo objeto?
"Aquilo" não tem nada a ver com balões meteorológicos, aviões ou helicópteros...
E eu acrescento, de minha colheita:. "Aquilo" emite luz própria...
"Aquilo" apresenta um perfil tão definido como familiar...
"Aquilo", simplesmente, é uma nave desconhecida (?), Invisível ao olho humano...
"Aquilo", provavelmente mantém uma estreita relação com as experiências no Egito...
"Aquilo", definitivamente, tinha muito a ver com Ricky...
E agora mesmo, ao pronunciar-me, retumba na memória, o conselho da, cada vez
menos suposta alienígena:
"Confie na intuição!"
No quador, o OVNI "invisível" captado sobre a população Málaga de Almáchar.
(Cortesia de Sebastian Moreno)
Ampliação do objeto fotografado por Sebastian Moreno
O repórter Sebastian Moreno, autor da fotografia do Ovni “invisível” sobre Almáchar,
em Málaga (Cortesia de Sebastian Moreno)
27 de setembro (de 1996), sexta-feira.
E o Destino (?), finalmente me autorizou a localizar o engenheiro.
E chegou a hora...
Chegou a hora de acertar uma velha dívida.
E às onze horas da manhã, nervoso e altivo, cruzava o umbral da residência do
"diabólico" nas imediações da localidade “A”...
E eu digo que este Destino (?) sentou-se ao meu lado..., divertido e na expectativa.
Eu disse "diabólico"?
"Pobre tolo!"
E por vários minutos eu permaneci em silêncio. Impassível. Melhor dizendo,
aparentemente impassível...
E contemplei-o ávido, tentando descobrir o cinismo e a imaginação poética que não
tinha sido capaz de detectar nas anteriores e numerosas conversas.
"Tudo inventado... O engenheiro está mentindo.”
E percebeu algo...
- Você está preocupado...? Posso te ajudar?
Eu poderia ter resumido em uma frase - "Sua história é uma fraude” - mas escolhi o
ziguezague...
Eu precisava de tempo. Eu queria ouvir. Eu queria ver e analisar suas reações.
Ele não poderia enganar-me de novo... E eu respondi com uma verdade... camuflada.
- Sim, eu estou preocupado... por você.
E imediatamente depositei o pequeno gravador preto sobre a mesa. Mas não o ativei.
E medindo cada palavra, fui resumir as recentes aventuras nos EUA, centrando-me
apenas na pessoa de Ricky.
E seu rosto foi se iluminando.
E, no final, agradavelmente surpreso, exclamou:
- Você a localizou...? Bravo!... Mas, diga-me, como?... Onde?...
E me surpreendeu.
Sua atitude parecia sincera.
Por mais que eu explorasse, tudo soava autêntico... O olhar, o tom, os gestos...
E eu reforcei a guarda.
"Não, de novo não!... Agora estou avisado!... O "diabólico" não poderá envolver-me
novamente!”
Mas o instinto (?), incompreensivelmente, ficou ao lado dele:
"Se tudo é falso, por que eu não capto qualquer sinal de hesitação?... Se a história é
uma fábula, o engenheiro deveria titubear... Ele teria que prever a postura e as
respostas de Ricky..." Mas não.
Meu amigo reagiu inocentemente. Quase como uma criança.
E feliz e satisfeito, sem suspeitar do que o esperava, seguiu perguntando...
- Ela se lembra de mim...? Como ela está?
Eu não podia acreditar...
Um dos dois: ou seu cinismo e frieza eram maiores do que o indicado pela “gringa”...
ou a farsante era ela.
- Eu tenho certeza que recorda de ti - anunciei ameaçador -... E muito bem...
- O que ela disse?... Reconhece que é um extraterrestre?
E de novo aquele tom direto. Não rodeios... E minha segurança vacilou.
E, abandonando as táticas em ziguezague, eu o fulminei.
- Ela disse que você é diabólico... Que essa história de Akrón, da nave, do carro e seu
desaparecimento... é uma invenção sua...
Empalideceu.
E afundei as palavras até o cabo...
-... E disse mais... Ricky afirma que você está mentindo... Que está me usando...
Silêncio.
E voltou a confundir-me.
Não houve reação. Nenhum protesto...
E em seus olhos, entre a surpresa, eu pude ver pairar a tristeza...
E, como eu suspeitava me senti mal.
Finalmente, desconcertado, balbuciou:
- Mas... O que você está dizendo?
E chegou a hora...
Chegou a hora de acertar uma velha dívida.
E inflexível, estrangulando a embaraçosa situação, eu pressionei o gravador, pedindo-
lhe para ouvir as graves afirmações de sua antiga amante...
E ele continuou me confundindo.
Longe de explodir ou curvar-se diante da suposta verdade... se isolou.
Por um tempo, ficou imerso na gravação...
E apenas ocasionalmente, o vi balançar a cabeça negativamente, discordando dos
comentários de Ricky.
E o instinto (?) levantou a voz pela segunda vez:
“Atenção!... Isto não é normal...”
E no final, delicadamente, mas com firmeza, disse:
- Mentira...! Esta mulher está mentindo!
E eu percebi...
"Oh, Deus!... Eu estou como no começo... mas pior...”
E levantou o rosto, severo e sem hesitação, proclamou:
- Eu lhe dou minha palavra de honra...! Eu não inventei nada!... O caso do Óvni na
rodovia ocorreu sim!... Ela disse: é uma nave espacial que veio por minha causa!... O
Akron era verdade!...
Ele repetiu o que eu tinha ouvido dezenas de vezes.
-... Ela, inclusive, ao mencionar este lugar, apontou para o céu e disse: "Vocês o
conhece como o Cinturão de Órion."
E lento, mas seguramente, saltou de perplexidade à indignação.
- Como pode negar isso...? Como pode dizer que eu inventei o caso da luz sobre o
carro?
E continuei em silêncio, observando-o...
E o meu amigo foi repassando algumas partes da entrevista com a suposta
alienígena...
E desabafou.
-... Eu nunca fui um vegetariano na minha vida...! Isso é fácil de comprovar... Pergunte
a minha família ou meus amigos...
Tomei boa nota. Eu verificaria, é claro...
-... E eu juro que dançava nua no terraço...!
Isso, por falta de testemunhas, era mais difícil de provar.
-... Mas que cinismo...! Por que afirma que comia e bebia de tudo?... Só bebia leite!...
E, como eu disse, foi esquentando.
-! ... E não fumava...
Ao chegar ao capítulo das viagens, explodiu.
-... Nunca fomos a Ceuta...! Eu nunca visitei Toledo com ela!... Está mentindo!...
Ele acrescentou com um segurança impossível de fingir:
- E ela sabe que está mentindo...! Eu gostaria de vê-la e dizer-lhe na cara! ... Por
favor... acredite em mim!...
E percebi como eu desmoronava...
E, atordoado, cada vez mais confuso e desmoralizado, eu continuei assistindo a
implacável sequência de negações.
-... Imaginação poética? E o que é isso? Quando você conheceu um engenheiro com
imaginação?...
Correto. Eu poderia contá-los nos dedos de uma mão...
-... Meu assunto são os negócios! ... Você sabe disso!
Eu realmente sabia...
Disto eu já tinha me ocupado. Este homem só tem obsessão por dinheiro, a política,
as mulheres e boa comida... E eu acho que por essa ordem.
-... Eu perverso?... Diabólico?
E se ofendeu.
-... Não seja ingênuo...! Pense! ... Ela é a única que te usou!
E o instinto (?) concordou, apontando:
"Sim, esse é um sentimento muito familiar: Ricky está nos usando... aos dois.”
Mas, lutando contra o instinto (?), me revirei.
E necessitando de argumentos em favor de Ricky, me lembrei de outra das enfáticas
declarações da norte-americana.
E, rebobinar a fita, eu procurei a passagem em que - fria e direta - garante que o
engenheiro ajudou-a a comprar a passagem de avião.
E deduzi que as palavras o encurralariam.
"Ricky – pensei confiante - não inventar uma coisa assim..."
Mas, afundando-me um pouco mais, rebateu:
-! Falso... Totalmente falso!
E estendeu-se em algo que nunca havia me contado.
-... Como pode ser tão diabólica?... Ela está manipulando os fatos!... Uma vez, sim,
fomos a uma agência de viagens. Foi em uma daquelas breves viagens para Sevilha...
A agência em questão era propriedade do Partido Comunista, ao qual eu pertencia e
pertenço... E consultamos os preços... Eu tinha amigos na agência e, logicamente,
poderia obter um substancial desconto... E assim concordamos...
E rematou sem piedade:
- Mas isso foi tudo... Eu nunca comprei esta passagem! E ela muito menos! ...
"Foi uma simples consulta... Nem mesmo fizemos a reserva... Além disso, agora
mesmo parece que estou vendo-a, na agência, ao meu lado, silenciosa e distante...
era como se aquilo não fosse com ela... Ela não fez perguntas... Permaneceu
indiferente...
"E nunca mais voltamos a esta, ou qualquer outra agência..."
E arrematou
- Ela mente...! E você sabe, porque você falou com Marta...
Eu tive que concordar...
Como já expliquei, a proprietária dos apartamentos ignorava o sistema utilizado por
Ricky para abandonar a localidade “A”. Na verdade, ninguém sabia...
E ai, finalmente, eu vim abaixo.
"Em quem você acredita?... Quem está dizendo a verdade?...
"Meu amigo parece sincero...
"Ricky, por outro lado..."
E, em uma última e desesperada tentativa, eu pressionei.
- Por favor... Se isto é uma fraude, seja honesto... Eu entenderei... Diga-me que é uma
brincadeira... Está tudo bem...
Mas, por Deus, não me atormentes... Eu pensei que você fosse um amigo...
E embora eu assumisse que não iria entender, eu acrescentei suplicante:
-... Tudo isso significa muito para mim... Vai além da pura investigação...
Ele sorriu tristemente.
E olhando-me fixamente, me desarmou...
- Como você pode pensar uma coisa dessas...? Eu nunca te prejudicaria! ... Eu não
ganharia um amigo... para perdê-lo por uma frivolidade...
E impotente, como um último recurso, ele lançou mão de algo que, para mim, era
definitivo:
- Eu te dou minha palavra! ... O que mais eu posso fazer?
E eu sei que é ridículo, mas a última recomendação Ricky se aliou ao engenheiro:
"Confie na intuição!"
E eu fiz isso...
E ao deixar a casa, percebi com espanto, como a balança inclinava-se para o meu
amigo. E, ao analisar a situação, Blanca concordou comigo:
- Ricky não me inspira confiança... Está mentindo... Isso está claro. O engenheiro, no
entanto, não caiu em uma única contradição...
Se eu tivesse que escolher, eu escolheria a versão do último.
E insistiu no caso do México:
- A chave pode estar no ônibus...
No dia seguinte, sábado, eu não sei se insatisfeito, o Destino (?) voltou a nos reunir.
E o engenheiro, acompanhado de sua esposa, chegava em "Ab-ba" para um jantar
íntimo. A reunião na qual - providencialmente (?) - também participaria Julio Marvizón
Preney, outro brilhante investigador.
E eu consegui conduzir o amigável encontro para o problema que me preocupava:
Ricky.
E Julio, por dentro da investigação, ouviu atentamente as conhecidas explicações do
nosso homem.
E deixei-o pensar...
E na manhã de domingo, Julio e Angelines, sua esposa, me apresentavam um
veredicto:
- O engenheiro não está mentindo...
Aquilo me reconfortou.
E eu percebi que tinha chegado o momento. Eu tinha que voar para o Yucatán. Eu
devia ocupar-me do acidente.
Ali, provavelmente, como anunciava o sexto sentido de Blanca, estava a solução para
a complexa charada...
E Blanca - como não - acertou.
Mas, primeiro, por uma elementar prudência, eu defini dois novos objetivos.
Primeiro: fechar o cerco em torno do engenheiro! Seguiria interrogando-o sem pausa
nem piedade.
Continuaria indagando...
E sem ele saber, eu fui mais fundo em sua vida e hábitos, solicitando dois amigos
inspetores, até mesmo um relatório da polícia.
Semanas mais tarde, veio a resposta...
Segundo: na minha ânsia de apressar a investigação, optei por abrir quatro novas
frentes. E verdade seja dita, cada uma mais trabalhosa...
Para começar, a passagem de avião. Haviam transcorrido 14 anos, sim, mas eu queria
tentar.
Eu sabia que a busca por esse bilhete - aceitando que ele tinha sido vendido - era
quase impossível... Não importava.
Moveria céus e terra. Tinha que verificar se, como afirmava Ricky, foi comprado pelo
engenheiro ou pela norte-americana...
Vistos.
Se a "gringa" e Spain entraram na Espanha "normalmente", talvez constasse em
arquivos policiais dos consulados que facilitavam o processo.
E eu comecei a tremer...
"Por onde eu começo? Pelos consulados espanhóis nos EUA? Pelo de Roma?
"E se não existissem tais registros?... Como descobrir então, a forma de entrada no
país?”
E ignorando os obstáculos e dificuldades eu me lancei à "caça e captura" dos
hipotéticos vistos e dos supostos controles de entrada e saída na alfândega.
Blanca, alucinada, me deixou seguir em frente.
Terceira Frente: cartões de crédito.
Seguindo o conselho dos policiais que me auxiliaram nestas investigações, devia
realizar outra busca não menos árdua: qualquer vestígio que servisse para confirmar a
identidade de Ricky e seu parceiro. Eu tinha visto último passaporte da mulher (1996),
mas eu não confiava...
E uma vez que eu não poderia recorrer às autoridades norte-americanas, uma das
pistas, era a forma de pagamento dos supostos "turistas".
Supondo, é claro, que possuíssem os mencionado cartões de crédito...
Finalmente, e diante do natural assombro de minha esposa, eu dei os primeiros
passos na tentativa de localizar o ourives que poderia ter confeccionado o misterioso
anel de prata.
E o ponto de partida foi a gravação interna: o "R" circunscrito em um círculo.
Se o Destino (?) se dignasse a me favorecer, o segundo movimento - mais complexo,
como se fosse possível - seria destinado à identificação do legítimo proprietário.
"Ou não havia tal proprietário?"
Quanto aos símbolos que o adornam, também mobilizei uma legião de especialistas,
em um não menos complexo esforço de resolver o possível significado dos mesmos.
E o primeiro relatório me intrigou...
De acordo com código Morse, os sinais podiam ser "traduzidos", como "ET".
O ponto - neste caso, o círculo – correspondia à letra “E”. A linha, por sua vez, o "T".
Sim, eu disse bem...
"ET"!
Extraterrestre!
E repetida nove vezes...
Coincidência? Eu duvido...
Mas eu estou novamente me adiantando aos acontecimentos...
E a nossa partida para a América, aproveitando uma obrigatória viagem para
promoção de um de meus livros, foi marcada para o final de outubro do mesmo ano de
1996.
E o Destino (?) – naquele momento eu não entendi – limitou a permanência em
Yucatán à quatro ridículos dias. Outras obrigações exigiam a minha presença na
Espanha...
No entanto eu não desanimei.
E encarei o desafio.
Seria suficiente.
Penetraria no enigma. Eu o resolveria.
Pobre ingênuo! Quando vou aprender?
E dias antes da nova e excitante viagem, o Destino (?) tencionou a corda...
Foi no sábado, 12 de outubro.
Ignacio Darnaude y Liana Romero. Graças a eles, o caso «Ricky» veio à tona. (Foto
Blanca Rodríguez.)
A verdade é que, desde o retorno dos Estados Unidos, eu desejava apresentar meus
"achados" ao mestre Darnaude, o homem que levantou a lebre do caso Ricky.
E, naquele dia surgiu uma oportunidade...
E o Destino (?), generoso, moveu os fios, fazendo com que a entrevista acontecesse
na casa de Liana Romero, a norte-americana que, por sua vez, alertou Ignacio
Darnaude sobre a existência engenheiro.
Coincidência? Eu duvido...
E nesse encontro, insisto, o Destino (?) avisou.
E eu digo que ele usou Darnaude para responder a uma pergunta que me
atormentava há muito tempo...
"Se os fatos são verdadeiros, em qual momento se produziu a invasão do
extraterrestre no corpo da "gringa"?... No momento da morte?... Horas depois?...
Talvez durante o tempo que ela ficou presa no ônibus?”
E de repente, durante a sobremesa, o mestre em investigação lançou uma hipótese
não iria esquecer e que, em suma, veio a complicar a já emaranhada história...
- Se o que o engenheiro conta é verdade - falou Ignacio - e eu me inclino a crer que
sim, essa entidade, ou o que seja, teve que entrar rapidamente na primeira Ricky...
E acrescentou.
-... Provavelmente em segundos ou décimos de segundo, após a morte, quando a
norte-americana, a verdadeira, estava presa entre a ferragem...
"Depois, ao resgatá-la, ninguém suspeitou.
“Ricky estava viva..."
"Estava ferida, sim, mas já não era a autêntica, a verdadeira...
E argumentou com razão:
-... E quem seria capaz de demonstrar ou simplesmente, argumentar que aquela
mulher era uma "ressuscitada"?
Ninguém é claro.
Talvez... Uns "loucos" como nós.
E, a aparente fantástica "idéia" (?), como o leitor já deve ter adivinhado, me colocou
frente à outra delicada situação:
«Se a "invasão" (?) ocorreu nos termos indicados por Darnaude... eu tenho diante de
meu nariz, não uma, mas duas Ricky!»
"A verdadeira, de antes do acidente de dezembro de 1975, e a “postiça”, posterior ao
evento!”
"Uma coisa de loucos, sim!"
E o caso, de fato, se escureceu... um pouco mais. Se as investigações fossem
positivas, se chegasse a descobrir algo de anormal no incidente do ônibus, eu seria
obrigado a estender as investigações...
Nesse caso, diante da possibilidade da existência de duas Ricky, eu deveria arrumar
uma maneira de entrevistar as pessoas que conheceram uma e outra.
«Se uma “nova” Ricky (?) penetrou na “primeira”, família, amigos, namorados, etc.,
devem ter recebido algum tipo de mudança.»
"Ou não?"
Eu disse: coisa de louco...
YUCATÁN (MÉXICO)
02 de dezembro de 1996, quinta-feira. 12 horas.
A verdade é que nós não começarmos com o pé direito... E era lógico.
E seguindo o costume, depois de nos instalarmos na cidade de Mérida, capital do
estado mexicano de Yucatán, revisei o plano. Um plano que recordava de memória...
E Blanca, cética, balançou a cabeça negativamente.
E eu lhe dei a razão...
Objetivos demais para tão pouco tempo.
Não importava. Eu estava seguro. Eu sabia que iria encontrar "alguma coisa”...
Em princípio, no caderno de campo apareciam os seguintes personagens e temas a
investigar:
"Motorista do ônibus acidentado. Seu testemunho era vital...
"Relatório da Polícia Rodoviária Federal. Eu tenho que consegui-lo. Talvez mencione
algum "detalhe" que foi deixado de lado pela imprensa...
"Os agentes que participaram do resgate. Igualmente vital... É imprescindível que
interrogue a todos...
"Testemunhas do capotamento... se existirem. É possível que apareçam no relatório
da polícia...
"Ferido e viajantes em geral. Outra fonte informativa de primeira classe...
"Repórteres que cobriram o evento. Apesar de tantos anos transcorridos, talvez se
lembrem do que aconteceu. Talvez tenham uma versão diferente dos fatos... Isso
acontece com freqüência.
"Médicos que atenderam Ricky. A falta de informações sobre a gravíssima lesão na
perna direita tem me obcecado. Eu não consigo entender...
"Judiciário. Poderiam apontar alguma coisa...
"Funerárias.
"Pessoal que retirou o veículo.”
E, ativando o piloto automático, sem perder um minuto, lançamo-nos em uma busca
frenética...
Mas, obviamente, tropeçamos com o grande inimigo: os 21 anos que nos separava de
1975...
"Onde reside o motorista?"
Sem o relatório da polícia, no qual, certamente, deveria estar o endereço, a procura
fracassou...
E comprovamos, com horror, que os "Herrera” existentes em Yucatán se contavam às
centenas.
Supondo, é claro, que residisse naquele estado.
Mas eu não desisti.
Sobravam os motoristas que trabalhavam em linhas regulares de ônibus. Eles talvez,
os mais velhos, tinham que saber o atual paradeiro de Juan Bautista Herrera Salazar.
E foi a vez das empresas de ônibus... Novo fracasso: Autotransportes de Oriente, a
empresa proprietária, em 1975, do “Sultana” acidentado, não existia mais...
E tentando não me asfixiar com a difícil busca do motorista, a deixei temporariamente
de lado, focando no capítulo dos policiais.
E o Destino (?) começou a dar voltas novamente...
Obviamente tinha outros "planos". Mas nervoso, eu não soube ver...
E depois de uma dúzia de telefonemas, eu desisti.
Era incrível!
Nenhum dos cinco agentes, que constavam nas notícias, estava em Mérida...
Aparentemente, dois deles, o comandante Jorge Martinez Lugo e Pastor Manuel
Camino Rendón, autor do relatório, se mudaram para o Distrito Federal.
Um terceiro, Angel Aguilar, residia em Cancun. O quarto, Marcial Martin Pantoja... não
poderia falar: ele tinha morrido...
E quanto ao último, Oscar Daniel Escalante Cantó... nenhum vestígio. Seu nome
constava na lista telefônica de Mérida, mas as sucessivas tentativas de localização
foram inúteis.
Coincidência? Eu duvido...
E passando adiante – cedo ou tarde os encontraria - dirigi minhas pesquisas aos
jornalistas que cobriram o evento.
E o Destino (?), eu acho, sorriu satisfeito. Esse sim era o caminho certo...
18 horas.
Diário Novedades.
Ali, de fato, surgiu a primeira luz...
Para dizer a verdade, pouco teria conseguido se não fosse pela generosa e eficaz
ajuda da gentil equipe do periódico de Yucatán. Desde o primeiro momento, com o
diretor, Juan Antonio Arenas de la Rosa, comandando, os repórteres se envolveram
na investigação, colaborando em todos os tipos de procedimentos. Um deles em
particular, Joaquín Tamayo, seria decisivo...
Comecei pelo princípio: a obrigatória consulta ao colega que cobriu o grave acidente
de 15 de dezembro de 1975...
E a decepção foi imediata.
Para meu desespero, Javier Rosado - agora aposentado - confessou que nunca
esteve no local do acidente. Simplesmente, limitou-se a contemplar a fotografia de
Pepe Martinez e escrever a nota, com os dados fornecidos pela Polícia Rodoviária
Federal...
E foi enfático:
Eu não acredito nas versões fornecidas pelo motorista... Essa foi uma maneira de
proteger-se...
E, ao questioná-lo sobre o grave ferimento que, supostamente, a norte-americana
deveria apresentar, Rosado se mostrou cético...
- Estranho... Eu não me lembro...
E acrescentou, confirmando minhas suspeitas.
-... Uma lesão dessas características teria constado nos relatórios médicos e
policiais...
»E eu te digo mais: com um ferimento assim, não teria deixado o hospital em poucas
horas...
E eu me alarmei.
"Algo", de fato, não se encaixava...
Ricky, segundo o engenheiro, foi muito precisa:
"... E eu tomei o corpo de uma mulher que sangrou até a morte..."
Sangrou?
Não era isso o que relatavam os jornais, nem o que assegurava Javier Rosado...
-Entre os feridos não havia ninguém a sangrar...
Como era possível?
E o erro - o meu erro – uma falha na interpretação das palavras da suposta alienígena,
me manteria confuso por um tempo...
E O destino (?) continuou acrescentando frustrações.
O fotógrafo José Martinez, o homem que chegou a ver o ônibus acidentado, também
não podia falar...
Um ataque cardíaco o levou para o túmulo em 27 de março de 1991.
E aquele golpe sim, me afetou seriamente...
Seu testemunho teria sido importante... Ele esteve lá. Ele captou a única imagem
conhecida do incidente...
E, desanimado, me preparei para abandonar a redação. Fracassos demais para um só
dia...
Mas o Destino (?) veio ao meu encontro, impedindo a saída...
E no último momento, lembrei-me (?) de algo. Talvez estivesse fantasiado, sim, mas...
E perguntei.
E dois dos jornalistas, Eduardo Valdes e Álvaro Ruiz, chefe de Informação, para minha
surpresa, assentiram com a cabeça...
Maldita precipitação!
Quando eu vou aprender que a paciência é o motor de qualquer investigação?
- Sim... na época, em 1975, houve muitos casos de Óvnis em Yucatán e outros
estados próximos ...
E Blanca e eu nos olhamos.
E o Destino (?) acendeu uma pequena-grande luz. A intuição (?) nunca trai. "Se a
história era verdadeira...,"eles" tiveram que aparecer... Uma operação como essa - eu
suponho - não se improvisa...
E por hora nos envolvemos em uma nova pesquisa. Desta vez, nas páginas
amareladas do “Novedades”...
E o que encontramos deixou-nos perplexos.
Uma voz distante e familiar soou atrás de mim:
"Confie... confie na intuição!”
E eu sorri para mim mesmo...
Os dados eram muito significativos: entre fevereiro e maio, centenas de pessoas em
Yucatán tinham testemunhado a passagem e pouso de inúmeros objetos voadores
não identificados...
Suspeito, sim...
Segundo estas informações, os OVNIs foram vistos em San Isidro de Ochil, Homun,
Tecoh, Seye, Uman, Motul, Nolo, Merida, Tekit Chiquila, Sabaché, Acanceh, Uxmal,
Cancun, Akumal, Tulum, Xel-Ha e Campeche, entre outros lugares...
Em uma dessas aparições - ocorrida em San Isidro de Ochil, a sudeste de Mérida - o
“Novedades”, além de assistir "ao vivo", apresentou um interessante “furo” jornalístico:
em 21 de fevereiro, em primeira mão, publicava a imagem de uma das naves, feliz e
oportunamente capturada pelo falecido Pepe Martinez.
E, em uma segunda reportagem, publicada no domingo, 23 de fevereiro, também em
destaque, o jornalista e testemunha excepcional, Victor Tenreiro, além de narrar em
detalhe às silenciosas evoluções do objeto, apresentava o testemunho dos moradores.
E entre eles havia um que me chamou a atenção...
Dizia textualmente:
"... Evelio Nah Dzul, um residente da fazenda Lepan do município Tecoh, disse às
autoridades de aviação e em nossa presença, que em uma ocasião estava próximo da
represa de San Francisco, a cerca de quatro quilômetros de Tecoh, quando viu uma
luz brilhante que repousava sobre o manancial, no dia seguinte, e alarmado com o
observado, reportou isto ao Sr. Marcos Cocom, Comandante da Polícia, que nesse
mesmo dia, acompanhado por Leonardo Quetzal e o próprio Nah Dzul, se dirigiu à
represa, onde inspecionou completamente sem nenhum resultado. Havia apenas
marcas na grama, como se tivessem depositado pesados fardos".
Incrível e sutil Destino (?)!
Naquele momento eu não soube por quê. Eu não entendi por que a descida de um
OVNI na represa de San Francisco (lago sagrado para os maias) chamou minha
atenção. À primeira vista, não tinha nenhum grande mistério. Na ufologia, a grama
esmagada é quase rotina...
21 de fevereiro de 1975. Primeira página do Diário “Novedades”, com a fotografia de
um OVNI brilhante sobre San Isidro de Ochil. A intensidade e grandiosidade das
aparições eram tais que, todas as noites, centenas de moradores de Yucatán
acabavam indo para o campo para tentar ver os misteriosos objetos. (Cortesia do
“Novedades”.)
Pepe Martínez, autor das fotografias do ônibus acidentado e do luminoso Óvni sobre
San Isidro del Ochi. (Gentileza de Beatriz Sandoval, viúva do fotógrafo)
O Óvni permaneceu estático sobre as assombradas testemunhas. E apesar de terem
sido apenas alguns segundos, Pepe conseguiu fotografá-lo. Casualidade? Eu duvido...
Surpresa!... O "coração" dos avistamentos de Ovnis registrados em 1975 na Península
de Yucatán coincidiu com o Quilômetro 31 da estrada entre Playa del Carmen e
Merida. O lugar do acidente! Também na costa do Caribe foram observados vários
objetos. Segunda surpresa: nesta área, naquela época, vivia a primeira Ricky...
Coincidência? Eu duvido...
Algum tempo depois, ao interrogar um dos sobreviventes do ônibus, lembrei-me do
testemunho de Dzul e me maravilhei... mais uma vez.
E eu vi o rosto do Destino (?), sorrindo maliciosamente...
Coincidência? Eu duvido...
Mas continuemos com os acontecimentos daquele primeiro dia em Yucatán.
Na verdade, o que nos incomodou, foi outro "detalhe”...
E ao "descobri-lo" (?), atordoado, eu pensei que fosse um erro.
Meses mais tarde, dispondo de uma informação mais completa sobre o caso Ricky,
repararíamos em outra curiosa "coincidência" (?): Parte da onda de avistamentos
ocorrida no início de 1975, ocorreu também em uma área de "especial interesse”...
Numerosas e misteriosas "luzes" cruzariam os céus da faixa costeira onde está
Cancun, Playa del Carmen, Akumal, Xel-Ha e Tulum...
E... Surpresa!
Naquela época, a primeira Ricky – digamos que a verdadeira - estava vivendo naquela
área. Exatamente, na modesta aldeia de pescadores da Playa del Carmen...
E Insisto:
Coincidência? Eu duvido...
E uma, aparentemente, fantástica teoria ganhou espaço no meu coração:
"Aqueles avistamentos, curiosos e muito suspeitos sobre o km 31, onde o ônibus iria
tombar, e no litoral, onde vivia a "gringa", não poderia ser puro acaso."
E eu continuei a especular...
"Esses Óvnis "preparavam "alguma coisa..."
E as perguntas me atropelaram:
«"Controlavam", talvez, o movimento diário dos ônibus que circulavam nos dois
sentidos, a partir de Mérida para o Caribe? »
«"Selecionaram" então, o ônibus "adequado"?»
«"Seguiram" os passos do motorista?»
E o mais importante:
«Já haviam "escolhido" o ser humano onde deveria "instalar-se" o novo "inquilino"?
«Eles estavam “espionando" a "gringa"!»
E a intuição (?) respondeu sem hesitação?
"Afirmativo!"
E estas supostas "fantasias" me empurrariam para muito mais longe...
Victor J. Tenreiro, repórter do “Novedades” e testemunha excepcional dos OVNIs que
sobrevoavam Yucatán em 1975. (Foto Blanca Rodriguez.)
Álvaro Ruiz, chefe de informações do “Novedades”, mostrando a primeira página do
jornal, que fala de um dos excessivos avistamentos de OVNIs. (Foto Blanca
Rodriguez.)
"Se o instinto não falhava, se tudo estava amarrado e bem amarrado, quem causou o
acidente? "Eles"? Foram "eles" os responsáveis pelas cinco mortes? Ou, apenas
"sabiam" o que ia acontecer... "
Sim, muito forte.
Eu me recusei a seguir por esse caminho.
O principal eram as provas. Os fatos...
Logo veríamos...
E eu não vou negar.
A "descoberta" me excitou. Encheu-me de força e de entusiasmo.
E o resto do dia foi consumido em novos esforços e chamadas, visando dois objetivos
igualmente cruciais: a localização dos feridos listados nas notícias e das famílias dos
jovens mortos no acidente.
O instinto (?) me dizia que um deles tinha que ser o amigo que, aparentemente,
acompanhava Ricky no ônibus.
"... E um amigo meu morreu..."
E a lógica assinalou Miguel Perez Aguilar, de 19 anos. De acordo com os jornais, era
morador de Playa del Carmen. O outro, José Enrique Aguilar Mendez, de 18 anos, por
residir em Valladolid, devia ter subido no ônibus nesta última cidade.
Mas eu devia confirmar.
As investigações, no entanto, foram estéreis. Na funerária Poveda "não sabiam... não
conservavam nenhum arquivo”.
Naturalmente, não acreditamos. Simplesmente se recusaram a cooperar. Muito
trabalho...
Quanto aos "Perez" e "Perez Aguilar" que constavam na lista telefônica de Playa del
Carmen... outro desastre.
Nenhum deles era parente do falecido. E o que era pior: ninguém tinha conhecimento
do evento de dezembro de 1975...
E, até certo ponto, isso era normal. Portanto, não poderiam saber, mas eu estava
cavando na direção errada...
Em relação aos feridos, a febril busca foi igualmente catastrófica.
Não acertamos uma!
Para começar, nenhum dos cinco feridos, mencionados nos jornais, constava na lista
telefônica de Mérida.
E, é claro, o rastreio se encaminhou para o infinito...
Os sobrenomes de Audomaro Piscina Martin, por exemplo, se repetiam por dezenas
de milhares de povoados da península. Levaríamos semanas para localizá-los...
Supondo, é claro, que ainda estivesse vivo.
Com José de Jesus Alvarez Canto, padrão do suposto amigo de Ricky, o quadro foi o
mesmo... ou pior.
Não aparecia como usuários de telefone das populações mexicanas na faixa costeira
de Playa del Carmen e Cancun, e nem o conheciam...
Perguntamos, inclusive, em delegacias deste litoral.
Negativo...
E sobre a viúva de Farjal? Estava com 65 anos no momento do acidente; o mais
provável é que estivesse morta...
E reneguei a minha estrela.
"Sim, o relatório da polícia é vital."
E, exaustos, desistimos da busca do último dos feridos: a jovem Mari Carmen Aguilar,
de 19 anos de idade, irmã de José Enrique, um dos jovens que, como eu disse,
perdeu a vida no capotamento.
E me consolei: "Amanhã será outro dia..."
O Destino (?) comandava.
Eu estava certo...
13 de dezembro, sexta-feira. 6 horas.
Joaquin Tamayo, o ágil e inquieto repórter do “Novedades”, acordou-me com boas
notícias. Melhor dizendo... aparentemente boas.
Ele tinha encontrado o médico que administrava o departamento de emergência na
clínica T-1, na tarde do acidente... O hospital em que Ricky entrou.
E às nove, eufórico, após confiar à Blanca, algumas das tarefas pendentes, dirigi-me
para a casa do Dr. Câmara Guerra, já aposentado.
O homem ouviu pacientemente. Leu as notícias e viu as fotografias da norte-
americana, especialmente as da perna direita.
E concluiu:
- Foram milhares, os pacientes que passaram por minhas mãos em mais de quarenta
anos de vida profissional... Desculpe... Eu lembro vagamente daquele acidente, mas
não desta mulher...
E acrescentou, afundando na desolação:
-... Eu dirigia o departamento, mas note que havia outros médicos e um punhado de
estagiários...
E, ao fazer uma das obrigatórias perguntas, coincidiu com o já apontado por Javier
Rosado, o repórter que escreveu a notícia para o “Novedades”:
- Se a ferida na perna foi como você diz, teria constado no prontuário... E garanto-lhe
que não teria sido liberada em poucas horas...
Novamente, o maldito assunto da cicatriz! "Aquilo", realmente, não se encaixava...
E aceitando a triste realidade, Joaquin e eu alinhamos o seguinte objetivo: a clínica
Mérida de IMSS, também chamado de T-1, onde, como eu disse, foi atendida a
suposta alienígena...
Nosso propósito era tão simples como utópico: localizar o histórico dos feridos e os
nomes dos médicos que haviam trabalhado na Emergência, na tarde de segunda-feira,
15 dezembro, 1975...
Pobre iludido!
Arquivos de 1975?
E o responsável sorriu divertido...
- Estamos no México, senhor.
Sim, eu esqueci.
Enésimo fracasso.
Nem prontuários médicos, nem nomes dos médicos... Nada! Tudo destruído ou
desaparecido!
Mas a visita não foi tão negativa, quanto este aturdido investigador acreditou no
princípio...
O Destino (?) seguia ali, atento... Muito atento.
E, graças à insistência e as excelentes relações de Tamayo com os funcionários do
hospital, o chefe de arquivo terminaria dando-nos um pequeno, mas decisivo dado.
Um número que encurtaria o caminho até outro dos protagonistas da história: Juan
Bautista Herrera Salazar, o motorista do ônibus...
E esse número - o de Seguro Social do motorista – nos levaria a um segundo
hospital...
Mas, antes, nos aguardava um novo calvário
Novo fracasso. O Dr. Alberto Câmara Guerra não recordava da "gringa", nem do
ferimento sério na perna direita.
O hospital onde Ricky foi atendida. (Foto J. J. Benítez.)
Joaquin Tamayo entendeu a necessidade de consultar o relatório da Polícia
Rodoviária Federal.
Como eu disse, era vital para tentar entender o que aconteceu no acidente e, é claro,
descobrir o endereço dos envolvidos.
Procuradoria Geral de Justiça.
E para lá nos dirigimos...
E nos deparamos com um inimigo “extra”: a burocracia.
Na referida sede de Justiça, o assessor de imprensa, Jorge Barrera, tentou amenizar a
peregrinação até o afortunado relatório.
Missão Impossível!
Os documentos depositados, aparentemente, no Arquivo Geral do Estado, não eram
de domínio público, apesar de transcorridos 21 anos... E tudo foi inútil.
As sucessivas petições e chamadas, incluindo para a licenciada Piedad Peniche
Acevedo, diretora desse arquivo, deram em nada...
- Tens que apresentar uma solicitação...
E me resignei. Eu faria isto, é claro.
E, quase galopando tentamos a sorte novamente na funerária Poveda.
E expliquei. E implorei...
Mas o diretor, Guido Espadas Canton, recusou-se novamente...
Não existiam arquivos... Não era possível localizar o local de residência das famílias
dos dois jovens que morreram...
E pode ser que tenha dito a verdade, mas nem Tamayo, nem este servo acreditaram
nele...
Quinto assalto.
Registro Civil.
Ali deviam aparecer as certidões de óbito e as ordens de sepultamento de alguns dos
cinco mortos...
Mas não.
O gesto de boa vontade do responsável, Cleominio Zoreda Novelo, permitindo o nosso
acesso ao porão, não serviu de nada.
Depois de uma hora de minuciosa busca entre livros empoeirados e arquivos,
verificamos com desolação que tínhamos perdido tempo... mais uma vez.
Incrível!
Nem mesmo constava a certidão de óbito de Oída Isabel Ortegon, residente em
Mérida na data do evento!
Em outras palavras: legalmente... ainda estava viva!
Na verdade, tudo é possível no México...
E o Destino (?), finalmente teve misericórdia. Aconteceu na visita seguinte, no hospital
de Segurança Social, onde foi internado ao motorista de ônibus. Tamayo mostrou o
nome e o número fornecido na T-1 e simplesmente solicitou o endereço de Juan
Bautista Herrera Salazar.
E, como sempre, para não perder o costume, recebeu - recebemos - o obrigatório
balde de água fria...
E nos miramos estupefatos.
Em princípio, a petição não violava nenhum segredo de Estado...
Mas o pessoal administrativo, inflexível, não cedeu.
- Isso que pedem é confidencial.
E nós lhes demos razão, mas insistimos...
Somente pretendíamos averiguar seu lugar de residência. E nós mentimos:
- Se trata de algo importante... Uma herança.
Segunda negativa.
E ao devolvermos o papel, uma das secretárias, de repente, encurtou a luta:
- Além do mais... o senhor Herrera está morto.
Morto?
E senti-me afundando...
"Seu testemunho era fundamental!... Ele realmente poderia esclarecer o que
aconteceu no ônibus!”
E eu suponho que a minha súbita palidez comoveu a funcionária.
E piscando o olho, deixou cair uma preciosa pista...
- Talvez a viúva possa ajudar... Seu nome é Cristina Diaz e vive aqui em Mérida... Mas
eu não lhes disse nada...
Bendita palidez e bendita secretária!
E, apesar da punhalada... prosseguimos.
E a movimentada manhã terminaria na redação do “Novedades”, com um enésimo
ataque aos telefones dos policiais envolvidos no relatório da polícia.
E entre um fracasso e outro, Joaquin me passou uma nota:
"Weyler González Herrera, falecido."
E eu me recusei a continuar lutando... por enquanto.
E a nova perda - o funcionário que realizou as diligências - fez transbordar o copo
daquela manhã, aparentemente inútil...
E o Destino (?), naturalmente, me acompanhou até o hotel.
E ali - por que não! - Sorriu zombeteiro... Blanca tinha boas notícias.
Um de seus esforços havia dado frutos. Menos mal!
Depois de um trabalhoso rastreamento, a paciente mulher terminaria localizando, em
Valladolid, Yolanda, a mãe de Maria del Carmen Aguilar Mendez, uma das feridas e,
como foi dito, a irmã de um dos jovens falecidos. E Yolanda iria dar-lhe a boa notícia:
Maria del Carmen residia atualmente em Mérida... Bingo!
E naquela mesma noite, depois de um número grande de tentativas, consegui falar
com ela.
E marquei um encontro para o dia seguinte...
Seu relato, como veremos, seria interessante. Muito interessante...
Impulsionado pelo inesgotável otimismo de Blanca, tratei de me sobrepor à notícia da
irreparável morte do motorista.
A investigação é assim. Não se pode cobrir ou pretender tudo...
E me consolei (?) pensando na família de Herrera Salazar.
"Talvez nem tudo estivesse perdido... Talvez conheçam a verdade... Talvez Juan
Bautista tenha falado com eles sobre o que aconteceu na manhã de 15 de
dezembro...»
E aproveitando a valiosa pista fornecida pela gentil secretária, nos debruçamos, mais
uma vez, sobre a familiar lista telefônica de Mérida. Mas o entusiasmo esmoreceu na
primeira olhada.
Os "Diaz", como imaginávamos, eram muitos. E tentamos com os “Herrera Diaz".
E o Destino (?) foi compassivo...
Eram apenas oito.
E foram consultados, um a um...
Por fim, a voz de uma criança confirmaria que Juan Bautista Herrera era o seu avô.
Bingo!
Minutos depois, Marco Antonio Herrera Diaz, pai do menino, nos deu o telefone de sua
mãe.
E cordial, mas obviamente curiosa e desconfiada, a viúva aceitou receber-nos naquela
mesma tarde.
E às 17h30min, Cristina Diaz, e vários de seus filhos, nos abriram as portas da casa,
no bairro de Miraflores.
E evitando qualquer referência ao assunto da suposta alienígena, expliquei que eu era
um escritor e que, por uma série de circunstâncias, o acidente com o ônibus fazia
parte de um livro que eu estava preparando.
E, honestos e sinceros, foram respondendo minhas perguntas. Desta vez, os 21 anos
que nos separavam de 1975 jogaram a meu favor. Os possíveis problemas com a
justiça já não contavam...
Agora só a verdade importava.
- O que aconteceu naquele ônibus?
E estas, em suma, foram suas explicações:
-... Meu marido morreu em 07 de julho de 1976...
E eu fiz as contas: cerca de sete meses depois do ocorrido.
-... Depois do acidente - continuou a viúva - sofreu três ataques cardíacos. E no quarto
acabou morrendo...
E naquele momento eu fui assaltado por um "pensamento" (?). Que não silenciarei...
"Poderia ter influência, o tombamento do Sultana, com os ataques do coração?"
E hoje, sabendo o que eu sei, eu vou ainda mais adiante...
"Se no acidente se registrou uma "presença" estranha, se houve "algo" além do que foi
relatado pelos jornais, quem provocou o rápido desaparecimento da inconveniente
testemunha?... "Eles"?
"Não seria a primeira vez... nem a última."
E a viúva e os filhos continuaram...
-... Nosso pai tinha uma grande experiência. Ele conhecia bem aquela rota. Ele a tinha
feito uma infinidade de vezes... E, quanto à a curva em que capotou, não era
perigosa...
E José Enrique Herrera, motorista de profissão, apontou outro fato importante:
-... Ele não queria dirigir aquele "transporte"... era velho ... Ele tinha problemas, mas
ele foi forçado...
"Ele morreu convencido de que o capotamento foi devido a uma falha mecânica.
Aquilo não constava na imprensa nem, aparentemente, no relatório da Polícia
Rodoviária Federal. Insisti no último ponto.
O filho acrescentou:
-... De acordo com meu pai, e um mecânico que também estava viajando no ônibus, é
possível que, antes de entrar na curva, tenha quebrado o eixo de direção...
Um mecânico?
Aquilo também era novo para mim...
Mas, ao me interessar pela identidade do passageiro em questão, a família não soube
informar.
E eu passei para as diferentes versões sobre a possível causa do incidente.
E o citado José Enrique Herrera foi igualmente sincero:
-... Veja bem, provavelmente nenhuma delas é correta... Nosso pai foi forçado a se
proteger, culpando um lenhador e, posteriormente, a um carro vermelho que invadiu a
pista oposta... A verdade, a que ele defendeu até o fim, foi outra... Alguma coisa
quebrou no "veículo"...
E comentou resignadamente:
-... Mas isso não interessava para a empresa... Você sabe: indenizações, problemas
com seguro...
»Era mais fácil e mais barato colocar a culpa no mais fraco... O motorista...
»E todos concordaram: excesso de velocidade...
E admitindo essa triste possibilidade - bem conhecida por motoristas e caminhoneiros
mexicanos - me fixei no que mais me interessava.
- Em além desta hipotética ruptura..., ele viu ou ouviu algo estranho...? Pode ter havido
alguma outra causa que contribuiu para causar o acidente?
Mas a família não captou a camuflada intenção das perguntas.
E com todo o tato de que fui capaz, esclareci a questão.
-... Sim, "outras causas"... Assustou-se? ... Notou "algo" estranho no céu ou na
estrada? ... Ele disse ter visto, por exemplo, alguma "luz" perto do ônibus? ...
Silêncio.
Simplesmente se limitaram a negar.
Eles não sabiam nada sobre isso. Seu pai, pelo menos, nunca fez qualquer
comentário.
- De qualquer forma - acrescentaram - eu deveria falar com Fernando... Ele, assim
como nosso pai, trabalhava também nestes mesmos ônibus da linha... Talvez saiba
coisas que nós não sabemos... Fernando era muito próximo a ele...
O tal Fernando, de fato, era o filho mais velho de Herrera. E naquele tempo morava
em Cancun...
E tomei nota. Naturalmente que iria localizá-lo...
Qualquer detalhe, por menor e mais insignificante que pudesse parecer, poderia ser
um raio de luz naquele, cada vez mais, intrincado quebra-cabeça...
E a reunião terminaria com outra pista: o "Resgate", o motorista do caminhão-guincho
que, ao que parece, levantou e endireitou o Sultana.
E naquela mesma noite, enquanto estávamos envolvidos na localização do
mencionado "Resgate", cheguei a uma conclusão:
"A versão da família Herrera não está correta."
Deixe-me explicar:
Se o veículo tivesse sofrido quebra na direção, dificilmente teria manobrado tal e como
apontavam os relatórios. Uma falha dessa natureza não permite que o motorista
consiga manobrar o ônibus para a direita e esquerda, como estava escrito nos jornais
e relatórios policiais. Ele simplesmente teria avançado em uma única direção...
Deus!
Eu estava de volta ao início! Talvez pior!
Mas o dia - graças a Deus - terminaria positivamente...
Depois de nos apresentarmos na oficina mecânica onde trabalhava o "Resgate", um
trabalhador nos levaria a um açougue de propriedade de Patas, um dos filhos do
motorista do caminhão-guincho. E este faria a última conexão: seu pai vivia em Penal,
um bairro isolado de Mérida. Não possuía telefone, mas, se voltássemos no dia
seguinte, um dos seus empregados nos levaria até ele.
E então concordamos...
14 de dezembro, sábado.
Não quer dizer que a conversa com o "Resgate" foi esclarecedora, mas não podíamos
ignorá-la. Como eu disse, no momento da investigação, todas as peças são
teoricamente importantes...
E José Natividad González González, o "Resgate", também contribuiu com sua parte...
Ele se lembrava do incidente, sim, mas com lógicas lacunas.
- A Federal alertou a empresa e esta, por sua vez, telefonou-me... E subi no guindaste,
um Dina, modelo 72, de propriedade da Autotransporte de Oriente, a empresa
proprietária do ônibus...
"E cerca de duas horas da tarde, mais ou menos, eu cheguei lá...
"Era assustador, senhor!...
E José falou sobre algo novo, ratificado posteriormente pelos passageiros do ônibus e
testemunhas do evento.
- Aquilo foi um massacre...! Os corpos foram alinhados no terreno. Eu contei 10 ou
12...
"Dez ou doze?
Algum tempo depois, de fato, descobriríamos com horror, que o "Resgate" estava
certo. Os mortos não eram cinco, como foi dito oficialmente, mas muitos mais...
Sim, tudo é possível no México.
Onde o voluntarioso "Resgate" errava, era referente à hora de chegada ao local...
E, embora à primeira vista possa parecer irrelevante, continuarei com rigor.
De acordo com nossos cálculos - feitos no final da investigação - o Dina poderia ter
chego ao km 31 por volta das três da tarde... com sorte. E a prova está nas próprias
palavras de José:
-... Ao chegar, já tinham levado os feridos... no caminho cruzei com as ambulâncias...
Se considerarmos que o acidente ocorreu por volta de meio-dia, e que os feridos
ficaram presos por cerca de quatro horas, o guindaste, de fato, teve que entrar na
cena dos fatos, às três ou quatro horas...
E Natividad González também confirmou outra das afirmações dos jornalistas do
"Novedades":
- Um Barranco? Naquele lugar? Não, senhor... Você está confundindo... Aquilo é
plano, como uma tábua... Blanca e eu nos olhamos. Sim, Ricky estava mentindo.
Ao afirmar as possíveis causas do acidente, o "Resgate" encolheu os ombros. Ele
pensou por um momento e disse convencido:
- Eu conhecia Herrera... Ele era um bom motorista... E eu vou lhe dizer o que eu
sempre pensei... É muito estranho que, faltando apenas 30Km de Mérida, ele
resolvesse "apertar o passo" e correr...
E, deixando o instinto (?) falar, declarou:
-... Eu não sei o que foi... Mas, ali aconteceu algo estranho.
E sem saber, acertou.
Mas teríamos que esperar o encontro com Maria del Carmen Aguilar para começar a
confirmar...
O motorista do ônibus, Juan Bautista Herrera Salazar, com a sua esposa, Cristina
Diaz, pouco tempo depois do acidente. (Cortesia da família Herrera.)
José Natividad González, o "Resgate", motorista do caminhão-guincho que levantou o
ônibus. (Foto Blanca Rodriguez.)
18 horas.
Depois de uma nova e inútil tentativa de contato com os homens da Rodoviária
Federal, fomos para o hotel Hyatt.
O grande fracasso com os policiais havia me deixado desconcertado.
"Eu não conseguia entender... A que se devia esta incrível impossibilidade de contato
com o comandante Martinez Lugo e com o autor do relatório, Camino Rendon?"
E eu suspeitei de algo.
"O Destino (?) deixou para outro momento... O momento certo."
Coincidência? Eu duvido...
E no Hyatt esqueceria momentaneamente essas preocupações.
Ali, enfim, entramos em contato com uma testemunha direta do misterioso evento.
Nossa primeira testemunha...
E Maria del Carmen Aguilar Mendez, acompanhada por seu marido, o Dr. Jorge
Burgos, observou-nos intrigada.
Não lhe faltavam motivos...
"Por que tanto interesse por um acontecimento de 1975? Quem são esses
investigadores, vindos de tão longe?"
E em primeiro lugar, como aconteceu com Herrera, eu contornei a razão capital.
Haveria tempo, talvez, para revelar a verdade...
E, como eu pude, me justifiquei, utilizando a velha desculpa do livro em preparação.
E, lentamente, fomos ganhando a confiança do casal.
María del Carmen, com idêntica gentileza, colocou para fora suas recordações.
Algumas memórias vivas que, é claro, a comoveram...
Mas não havia alternativa.
E duro, frio e inflexível, iniciei o interrogatório. A gravação se prolongaria até bem tarde
da noite...
Aqui está parte dela:
- Tudo começou muito antes - explicou a irmã de José Enrique, enchendo-nos de
perplexidade desde o primeiro momento. Eu não sei se acreditarão em mim, mas eu
tive um pressentimento... Sonhei algo feio... Eu vi um acidente... E eu passava horas
chorando... Mas minha mãe tentou me acalmar...
E o Destino (?), realmente, se enfureceu com os Aguilar Mendez.
- Veja você... 48 horas antes da morte de meu irmão, no sábado, dia 13, Deus levou
meu pai... Aos quarenta e dois anos de idade...
»E nós o enterramos no domingo 14, em Valladolid.
Curiosamente, esta dolorosa circunstância, e outras igualmente inexplicáveis,
marcariam o fim da existência do jovem José Enrique Aguilar...
Incrível Destino (?), sim!
- Meus pais eram separados... Minha mãe morava em Mérida... E nós tivemos que
viajar para esta cidade para dar-lhe a triste notícia...
»E nós decidimos fazer isso imediatamente...
»Então, como planejado, na segunda-feira 15, por volta das sete horas da manhã,
fomos para o terminal rodoviário...
»Mas - coincidência? -... Perdemos o "transporte"... Nós o vimos partir... E eu me
lembro que eu gritei: "Vamos! Nós ainda podemos alcançá-lo!"
»Mas... Meu irmão se recusou a correr...
»E voltamos para casa, dormir mais um pouco...
"E às 10 horas, mais ou menos, nós voltamos para o terminal...
- Então embarcamos e saímos...
- A que horas deveria ser?
- Umas dez e meia... O "transporte" saiu.
- Ele estava cheio?
- Não totalmente...
A mulher continuou com dificuldade. Aquela inesperada "recordação" do trágico dia
começava a doer de novo...
Mas eu não iria ceder.
-... E tudo estava normal... até que chegamos em Chichen Itza... O ônibus parou e o
motorista desceu para comprar um refrigerante... Era uma parada regular...
- Por que você diz que "tudo estava normal"?
- Porque, a partir de Chichén, coisas estranhas aconteceram... Tínhamos andado meia
hora até aquele momento e, como eu disse, tudo tinha transcorrido monotonamente...
A velocidade era correta... Talvez 80 Km/hora ...
»E então eu vi dois estrangeiros subirem... Eles eram altos... Cerca de 1,80... Com
chapéus de couro e câmeras fotográficas...
»E ao sairmos, observei a primeira anormalidade: todos os passageiros
adormeceram...
O instinto (?) me alertou.
- Adormeceram...? Isso pode ser normal...
- Não foi - acrescentou Maria del Carmen, sem se dar conta da importância do que ela
estava dizendo. Aquele sono coletivo foi súbito... Denso... Muito profundo... Algo
estranho.
E, instintivamente, Blanca e eu nos olhamos.
"Sim, este fenômeno é familiar. Muito familiar..."
Estranho? ...
E pressionei.
- Por que raro?
- Foi instantâneo... Pesadíssimos, os olhos se fecharam... Como se estivéssemos
drogados... Até meu irmão e eu dormimos.
- Eu não entendo...
- É simples... Por causa do velório, José Enrique e eu tínhamos passado dois dias sem
dormir... E na tarde de domingo, 14, fomos para a cama cedo... Era cerca de sete... E
descansamos profundamente, até as seis da manhã...
E eu fiz as contas.
Estava claro: isso significava um total de 11 horas!
Blanca e eu cruzamos um novo e significativo olhar.
E eu acho que aquilo inspirou o mesmo pensamento:
"Como puderam cair no sono depois de 11 horas de sono reparador?"
"Suspeito, sim... Muito suspeito..."
Mas, apesar dos dados reveladores, continuei a fazer de advogado do diabo...
- Talvez esteja exagerando... Se o ônibus partiu de Playa del Carmen, às cinco e meia
da manhã, era lógico que os passageiros dormissem...
E desta vez interveio o Dr. Burgos.
- Você está certo... mas há duas coisas que eu não entendo... Primeiro: porque a partir
de Chichen... De acordo com minha esposa, entre Valladolid e esta última população
ninguém dormiu... Além disso, depois de cinco horas e meia de viagem, as pessoas
deveriam ter chegado a Valladolid dormindo. Mas não foi assim...
»E a segunda coisa: é igualmente incomum para dois jovens de 18 e 19 anos, que
descansaram por tantas horas, dormir em 30 minutos de viagem.
E eu reconheci por dentro, que falava de forma sensata. Mas eu não fiz nenhum
comentário.
Eu procurei alguma contradição...
- Se você, María del Carmen, caiu nesse sono profundo, como é que soube que os
outros também estavam dormindo?
- Porque eu sou hiperativa... E acordei pouco antes do acidente... Fiquei espantada...
Ninguém respirava. Ninguém falava. Até meu irmão estava dormindo profundamente...
»E inquieta, muito agitada, terminei acordando-o... Eu lembro que ficou bravo.
- Por que você não ficar quieta de uma vez? - Ele disse...
»E foi então que decidimos mudar de lugar... Eu estava no da janela e mudei-me para
o do corredor...
»Em uma hora ruim!
»Se eu não tivesse acordado, se eu não mudasse de lugar, talvez hoje ele estivesse
vivo...
Sim, o Destino (?) minucioso, novamente.
E eu continuei com o importante assunto do misterioso "sono".
- Ele também afetou o motorista? Você viu se cabeceava?
- Sim, é claro que eu vi... E me alarmou... Mas tudo correu muito rapidamente...
»Logo após sentar, o ônibus começou a acelerar... E começou a ir a mais de cem...
»Lembro-me como um mexicano, um homem mais velho, se levantou indignado...
Lançou uma grosseria e se foi até o motorista, para que diminuísse...
"Não houve tempo."
Que estranho!
E eu me fiz uma pergunta que, até agora, não tem resposta:
»Se o repentino sono atingiu o motorista, por que acelerou? ...
Nestas condições, entre cabeceios, o instinto de sobrevivência age automaticamente...
E, ao contrário de acelerar, o motorista reduz a velocidade... "
E foi o instinto (?), eu acho, o único que se atreveu a responder:
"Foram "eles"? Foam esses "seres", os responsáveis pelo "sono" súbito e a
aceleração imediata do Sultana?"
E, embora eu ache que dificilmente poderei demonstrá-lo, hoje eu estou convencido
de que foi assim...
E a testemunha, quebrada pela emoção, continuou o relato.
- Não houve tempo... Foi instantâneo... O ônibus sofreu uma sacudida e começou a
ziguezaguear... E o motorista perdeu o controle...
"Eu fechei meus olhos... E quando abri, vi meu irmão, dormindo... Eu não entendo!
Todo mundo dormia!"
- Não pode ser - interrompi incrédulo. Ninguém acordou com a sacudida?
- A princípio não. E agora que você mencionou... Eu não sei explicar.
Este servo, no entanto, acreditava entender...
Se fosse o que eu imaginava - se o "sonho" tinha sido induzido - o fato de despertar
não dependia apenas da vontade...
Mas isso - eu sei - são apenas especulações. Ou não?
E a voz de Ricky repetiu incansavelmente durante a conversa:
"Confie na intuição!"
-... E foi tudo vertiginoso...
»Nós saímos da estrada... E o ônibus, de alguma forma, voltou para ela... E saiu de
novo capotando várias vezes... Uma, duas, três... Eu não sei quantas...
»Finalmente parou... E eu ouvi um estrondo... Algo como o som de latas, mas muito
forte...
»Então o silêncio... E o motor rugiu, acelerando...
»Depois, nada...
»Outra vez aquele silêncio agonizante...
»E nós ficamos de cabeça para baixo...
»O silêncio foi quebrado também! E começaram os gritos... os gemidos...
»Minha mão! Meu pé!
»E os estrangeiros uivavam...
»Tentei me mover, mas estava prensada pelo braço esquerdo.
»E eu pensei: o que eu estou fazendo aqui?
»Eu chamei o meu irmão, mas não respondeu. Não conseguia vê-lo...
»E eu vi que eu estava sobre uma vala... Vi as formigas... E assim permaneci até que
eles me tiraram. "
- A que horas poderia ser?
- As 12, mais ou menos... Faltavam apenas alguns quilômetros para Mérida...
- Quando chegaram os primeiros socorros?
- Eu não posso dizer com precisão, mas passou um tempo.
»E então, a confusão foi ainda maior... As pessoas do lado de fora, gritavam e batiam
nos vidros e placas... E uma coisa horrível aconteceu... A mulher hesitou. E a animei...
- Alguns conseguiram entrar e apalparam os mortos e feridos... E nós fomos roubados!
Levaram tudo: Jóias, dinheiro, relógios!... Eles me levaram a bolsa e meu irmão
apareceu com os bolsos da calça para fora...
»Foi uma vergonha!
E Carmen passou para a fase seguinte da tragédia.
E o Destino (?) ficou em pé... E por uma boa razão! Nem Blanca nem eu poderíamos
imaginar o que nos reservava...
-... E pelas quatro, me tiraram... Aquilo, senhor, era uma loucura!... Maçaricos,
cadáveres, sangue, pessoas gritando, o cheiro de gasolina... Eu não entendo como o
ônibus não pegou fogo... Foi um milagre...
Eu instintivamente pensei:
"Sim, um "milagre"... controlado."
-... Fui levada para uma ambulância... E de lá eu pude ver meu irmão... morto.
»Mas eu estava atordoada.
E Carmen Aguilar, sem querer, abriu a caixa de surpresas.
-... Na ambulância, em uma das macas, descansava uma estrangeira... Uma norte-
americana, eu acho...
»E ao ver-nos, nos demos as mãos e nos abraçamos... A coitada tinha as pernas
esmagadas...
- Uma norte-americana? Como era?
- Alta... morena, olhos azuis ... Muito bonita...
E o surpreendente Destino (?) - Tenho certeza - sorriu divertido.
- Mas - gaguejei nervoso - você tem certeza? Você disse uma norte-americana?
- Sim... só falava Inglês...
- Ela disse o seu nome?
- Eu acho que não...
E, perplexo, pressentindo algo importante, eu continuei interrogando-a sem rumo...
- Como estava vestida?
- Com calças e uma camisa...
- Vocês conversaram...? O que a "gringa" disse?
- Nada... Não trocamos uma única palavra...
- Estava com hemorragia?
A mulher olhou para mim de forma estranha.
- Eu não sei...
- Você prestou atenção à suas feridas?
- Não muito bem... Como eu disse, eu só me lembro das pernas... Elas estavam muito
machucadas...
- Você percebeu alguma coisa estranha ao abraçá-la?
E Carmen, com uma paciência franciscana, sem entender o motivo daquelas
aparentemente, absurdas perguntas, ficou em silêncio. Ela tentou se lembrar e,
finalmente, exclamou surpresa:
- Eu nunca parei para pensar sobre isso, mas... Houve algo que me chamou a
atenção... Suas mãos, seu corpo... pareciam de gelo... Estava fria...
E o doutor interveio com sua habitual sensatez:
- Isso é normal em um estado de choque...
Sim e não... Mas, obviamente, eu me contive. E, determinado, impulsionado pela
intuição (?), mostrei as fotos de Ricky.
- Você a reconhece...? Era esta a norte-americana da ambulância?
E imediatamente, espantada, disse: - Sim... a mesma... Mas, como você sabe?
Eu não podia acreditar!
Senhor Deus!
Nossa primeira testemunha, supostamente encontrada ao acaso (?), coincidiu com
Ricky no translado para o hospital!
Coincidência? Eu duvido...
E eu aproveitei o embalo.
- Então... Você disse que a bela norte-americana estava consciente...
- Exatamente...
E lembrando-me de outra das afirmações de Ricky, sorri para mim mesmo...
"... O motor caiu em cima de mim... e eu desmaiei..."
Sim, a suposta alienígena mentiu duas vezes.
A primeira, ao jornalista que a interrogou na Emergência do hospital:
"... Por outro lado - publicou o Diário de Yucatán - uma norte-americana, que viajava
no ônibus, disse com as poucas palavras que sabe espanhol, que ela ignorava o que
tinha acontecido, pois perdeu a consciência quando o acidente ocorreu e, quando se
recuperou uma hora depois, já estava no Seguro Social..."
A segunda, em 1996, a este ingênuo investigador... E eu me pergunto:
"Por que essa dupla mentira?... Por que uma por escrito em 1975, ao alcance de todo
o mundo, e outra gravura?
»Para deixar registrado? De modo que ninguém pudesse duvidar?
"É possível..."
-... Plenamente consciente - continuou María del Carmen, forçando memória - E eu
discordo de meu marido... A "gringa" não apresentava sintomas de um estado de
choque... Eu a vi assustada, sim, mas muito sensata... Depois de nos abraçarmos se
interessou pela hora e deitou calmamente na maca...
- A hora? E por que perguntou a hora?
- Eu não sei... Eu acho que também roubaram seu relógio...
- Mas eu não entendo...
- Eu também não... E foi curioso. Foi muito insistente e em Inglês...
»Que horas são? Que horas são?
»Perguntou duas ou três vezes... Mas ninguém a entendia...
Eu não sei por que... o instinto (?) voltou a me alertar.
"Não, "aquilo" não era normal."
-... E sua insistência foi tanta que, finalmente, um dos enfermeiros, que compreendia
um pouco do idioma da "gringa", tirou o relógio e mostrou-lhe...
»Então, como eu disse, ficou tranqüila e deitou-se... E não falou durante todo o
trajeto...
»A hora! Que estranho!
»De acordo com a testemunha, deviam ser umas quatro...
E uma inquietante pergunta me persegue, desde que Maria del Carmen Aguilar fez
esta interessante revelação:
"O que estaria por trás dessa obsessão? Por que Ricky, ou a suposta alienígena,
estava tão preocupada com a hora?"
E de repente eu me lembrei do amigo da norte-americana, que também morreu no
acidente.
- Tenho a informação que a "gringa" viajava com um companheiro. Ela perguntou por
ele?
- Que nada... Estava interessada apenas na hora...
E Carmen adicionou um presente à sua, já preciosa, informação.
- Por falar nisso... Eu o conhecia. Seu nome era Miguel...
- Miguel Perez Aguilar!
- Sim... Ele trabalhava como artesão em Playa del Carmen... Sua família ainda vive em
Valladolid... Bingo!
E a intuição (?) trabalhou veloz...
Se o jovem artesão residia na referida aldeia de pescadores, o mais provável é que o
seu patrão, José de Jesus Alvarez Canto, ainda estivesse em Playa del Carmen...
Mas por que não tínhamos dado a ele?
E agora eu sei: "Tudo em seu tempo."
-... O que aconteceu com aquele rapaz, o Miguel, também foi assombroso... Eu
conto...
»Note que, ao parar em Valladolid, ele desceu do "transporte"... E correu para ver a
sua família... Ele pegou roupas limpas, mas ao retornar para a estação, o ônibus tinha
acabado de sair...
»Bem, o que é o destino, pegou um táxi e nos alcançou na região das vias...
Obrigando-nos a parar...
»E entrou com muita raiva...
- Quase me deixam! - Ele gritou com a "gringa"...
Minutos depois perdia a vida.
O obstinado Destino (?)... Sim.
- Então, também viu a norte-americana no ônibus...
- Certamente... Ela estava sentada na parte de trás, entre os estrangeiros...
E recordo que Miguel deu-lhe uma maleta preta.
- E o que foi feito da maleta?
- Não faço idéia... Na ambulância, não a estava carregado... Provavelmente a
roubaram...
- A propósito, você chegou a ver se Miguel e sua amiga estavam dormindo?
- Todos!
- Bem, o que aconteceu ao chegar no hospital?
- Era cerca de cinco horas...
Ela foi retirada por primeiro... Ela reclamava... Parecia muito dolorida...
»E eu vi algo que me horrorizou... Ela era tão formosa que todos queriam agarrá-la... e
tocá-la.
»E ela exclamava: "Oh Oh!"
»E eu não a vi mais...
»Quanto a mim, eles me colocaram na sala de emergência e, logo, um médico
apareceu, um primo meu... Ele me atendeu...
- Um parente seu estava na Emergência?
- Sim... Ele agora vive em Valladolid. Você pode perguntar...
Segundo bingo! Estava claro. A visita à Valladolid era obrigatória. Mas quando?
Nosso tempo de estadia em Yucatán estava acabando...
E eu comecei a me desesperar.
E o Destino (?) - Por que não -! Sorriu maroto... Insisti sobre as possíveis causas do
acidente.
- Qual é a sua opinião?
Mas a testemunha, indecisa, não especificou.
- Alguém falou de um infarto... Disseram que o motorista sofreu um ataque... Eu não
sei... Para mim, ele adormeceu...
E o Destino (?) seguiu desconcertando-nos. Nova surpresa...
-... No "transporte" também viajava outro bom amigo... Um mecânico que chamam
Panchito... Poderão localizá-lo em Valladolid... Ele se dirigia a Mérida para os
preparativos do casamento... Eu acho que ele se casaria no dia 20 daquele mesmo
mês...
»O pobre, foi um dos primeiros a sair...
»Talvez tenha informações sobre as causas do acidente...
Não podia acreditar!
Um mecânico? O mecânico! O passageiro mencionado pelos Herrera!
Coincidência? Eu duvido...
E as surpresas continuaram. Porque, ao me aprofundar no capítulo dos estrangeiros
que embarcaram em Chichén Itzá, Carmen apontou um fato que - se fosse verdade -
emaranhava ainda mais o caso Ricky...
E eu creio que emaranhou!
-... Um dos mortos, que nunca foi identificado, era exatamente um dos dois
estrangeiros, que embarcaram em Chichen...
- E como é que você sabe?
- Eu o ouvi na Emergência... Médicos e jornalistas comentaram que tinha o rosto
desfigurado...
Eu argumentei cético:
- Ele pode ser qualquer um dos passageiros...
- Não... A descrição correspondia a um deles... Além disso, segundo disseram, era o
único falecido que não estava carregando bilhete... Você sabe: truques do motorista...
Em alguns paradas, aceitava passageiros, mas sem um bilhete ...
E o instinto (?), Não sei por que, tomou nota. Algum tempo depois, aquele "quinto
morto", nos levaria pela rua da amargura, desgastando ainda mais a investigação.
Mas desta incrível história, me ocuparei no seu devido momento...
E ao finalizar a gravação, eu me senti relativamente satisfeito.
E anotei no caderno de campo:
"... Depois de ouvir Maria del Carmen Aguilar Mendez... Tenho quase certeza de que
Ricky poderia ser aquilo que o engenheiro assegura."
Maria del Carmen Aguilar em 1975. (Cortesia da testemunha.)
Jose Enrique Aguilar Mendez, 18 anos, morreu no acidente do Sultana. (Cortesia da
família Aguilar.)
Mas, convinha ter certeza. Refletir. Ligar os pontos. As interessantes declarações da
testemunha exigiam uma fria e profunda meditação. Era necessário compará-las com
as de outros sobreviventes. A "enfermidade" que me consome - a "doença de dados" -
exigia novas provas. Mais testemunhas.
O problema era quando... Quando e como obtê-los?
Dentro de algumas horas decolaríamos para Cidade do México e, de lá, retornaríamos
para a Espanha...
A redação de um livro muito "especial" - A 33 000 pés - tinha hipotecado nos meses
seguintes.
E surgiu a voz temperada e prudente de Blanca:
- Calma! Vamos deixar nas mãos da Providência! Ela "sabe"... Não se lamente... É
quase impossível reunir mais informações em um espaço tão curto de tempo... Ânimo!
Isto, como planejamos, era apenas um levantamento inicial...
E me conformei. "Sim, vamos deixar nas mãos do Destino (?)...
"Vamos retornar... no momento certo".
15 de dezembro, domingo.
Vigésimo primeiro aniversário do acidente do Sultana!
E nós... em Yucatán. Coincidência? Eu duvido...
No início da manhã viajamos até o local do ocorrido.
O que estava procurando? Nem mesmo eu sei... No entanto, obedeci ao instinto (?).
A estrada, embora modernizado, conservava o traçado de 1975. Apenas a largura e os
acostamentos modificavam a imagem publicada no "Novedades".
E ao chegar ao quilômetro 31, reconhecemos a famosa curva.
Tempo de trajeto de Mérida: 40 minutos.
Com isso deduzi que, na época, com um caminho mais estreito - 4,5 metros - e um
pavimento em piores condições, as ambulâncias tiveram que levar este mesmo tempo
para chegar a hospitais da capital. Talvez um pouco mais.
E, ao desembarcarmos, Blanca e eu concordamos: Ricky, de fato, tinha nos
enganado.
Primeiro o engenheiro. Em seguida, a este confuso e confiante investigador...
O terreno, para onde quer que nós olhássemos, é uma planície vasta e interminável.
«Barranco? Um profundo barranco? Um lugar remoto e selvagem? "
Pobre ingênuo!
A estrada, como os jornalistas informaram, mantinha um intenso fluxo de veículos. Era
lógico. Por ali fluía tráfego procedente do leste da península e que, por sua vez,
buscava a populosa costa do Caribe.
"Nem remoto nem selvagem!"
E por duas horas, trabalhei em todos os tipos de medições, explorando até mesmo os
campos próximos à curva.
O que pretendia?
Como eu disse, não tinha nem idéia...
«Encontrar talvez algum pedaço do ônibus? Um vestígio do acidente? ... Qualquer
coisa que lançasse um pouco de luz? "
O esforço era absurdo. Muitos anos se passaram. A estrada, como eu disse, foi
ampliada e seu entorno praticamente removido...
Mas, ainda assim, surdo aos sensatos conselhos da minha esposa e do taxista que
estava conosco, eu deslizei pelo mato, percorrendo palmo a palmo, vários dos setores
coincidentes com o ponto em que, supostamente, o ônibus capotou.
Para a direita e à esquerda da estrada, o campo, improdutivo e emaranhado, aparecia
colonizada por uma vegetação espinhosa e de tamanho médio, composto quase
exclusivamente de capim e mato alto e infectado de répteis.
Como é verdade é que o bom Deus proteger os inocentes... e os investigadores
perdidos!
E ao segundo "alerta", o segundo susto com as víboras, eu desisti.
Meses depois, na próxima e espetacular viagem ao Yucatán, ao inspecionar o local
novamente, compreenderia que aquela primeira investida, foi uma perda de tempo.
Simplesmente o lugar estava errado...
A fotografia do "Novedades" que serviu como referência - onde aparece o ônibus e o
guindaste - foi mal interpretado. O cenário dos fatos estava, precisamente, no lado
oposto ao que este servo penetrou com tanto entusiasmo quanto inconsciência. Isto é,
para a esquerda da pista, no sentido Holactún-Merida.
Mas não é justo lamentar-se...
Nem tudo foi negativo nesta aproximação.
A intuição (?), ao nos empurrar para quilômetro 31, sabia o que estava fazendo...
E depois de vasculhar a estrada várias vezes, eu e Blanca delineamos algumas
hipóteses perturbadoras.
Vamos ver.
Em primeiro lugar, em vista do traçado e das informações, a possibilidade de uma
falha na direção, ficou praticamente descartada.
Deixe-me explicar.
Entre a citada aldeia Maia de Holactún e a curva onde, aparentemente, o Sultana
capotou - uma curva à esquerda -, somamos um total de dois quilômetros e 200
metros. Bem, este trecho é quase reto. Em particular, o quilômetro imediatamente
anterior à referida curva.
Comento de outra forma:
Se o veículo capotou, supostamente, na curva ou nas proximidades dela, o
ziguezaguear teve de ocorrer, necessariamente, nestes últimos mil metros...
Ou o que é o mesmo: se Herrera Salazar manobrou, deixando a estrada e voltando
para ela, a quebra da direção, como suspeitávamos, era incompatível com o
ziguezaguear.
Quilômetro 31 da estrada entre Merida e Playa del Carmen. No fundo, no sentido de
Mérida, a curva à esquerda em que capotou o Sultana. Ricky tinha mentido de novo...
Onde estava o profundo barranco? (Foto Blanca Rodriguez.)
J. J. Benitez no matagal em que, supostamente, capotou o ônibus em que Ricky
viajava. (Foto Blanca Rodriguez.)
Segundo, naquela época (dezembro de 1975), o velho ônibus cruzava o centro de
Holactún, obrigando o motorista a uma redução notável na velocidade e, até mesmo,
em muitos casos, forçando a parar (hoje existe um contorno).
E surgiu a dúvida...
"Como explicar a súbita aceleração do Sultana?... Como entender que uma máquina
com muitos problemas, passasse, em tão pouco tempo, de trinta ou quarenta
quilômetros por hora, para mais de cem? "
E foi instinto (?) quem desenhou a possível explicação...
Uma explicação louca, sim, mas fundamentada na experiência (?):
"Foram "eles"? Pode um OVNI "invisível" causar tão repentina e violenta aceleração?"
O extenso estudo dos "não identificado" nos diz que sim...
São milhares de casos conhecidos, em que todos os tipos de veículos são
misteriosamente freados ou acelerados por estas naves e contra a vontade dos
motoristas.
"Foi esta, em suma, a causa da perda de controle por parte do motorista? Ou havia
algo mais?"
E o instinto (?) não se equivocaria... Havia algo mais!
Mas esta "descoberta" - definitiva, de acordo com meu limitado conhecimento -
chegaria... "No momento certo".
Finalmente, no que diz respeito à própria curva, a família Herrera estava certa.
Não era nem um pouco perigosa...
Era uma curva suave, prolongada e com excelente visibilidade.
Sim, aqui aconteceu "algo" estranho... Muito estranho.
"Mas o quê?"
E o Destino (?) ficou em silêncio, deixando a questão no ar.
E agora eu sei por quê...
Antes tinha que resolver "outras incógnitas".
E no início da tarde daquele domingo, 15 de dezembro, 1996, um Destino (?)
impassível, quase cruel, nos afastava, temporariamente, de Yucatán.
E em pleno vôo para a Cidade do México tratei de recapitular.
E eu escrevi no meu caderno de "anotações":
»... O que temos?...
»Muito e pouco... Tudo depende...
»Vamos fazer um balanço:
»1. Curioso e suspeitosamente... Numerosos Óvnis foram observados em um
triângulo, cujo centro coincide com o km 31...
"O local exato do acidente!"
E curiosamente e suspeitosamente... meses antes do evento.
»Coincidência? Eu duvido...
»2. Curioso e suspeitosamente... Dezenas de naves não identificadas voariam
também sobre a faixa costeira onde - na época - residia a "primeira", a autêntica Ricky.
"Coincidência? Eu duvido...
»3. Curioso e suspeitosamente... Dois estrangeiros subiriam no Sultana em Chichen
Itza ...
"E curiosamente e suspeitosamente... a partir desse momento, os passageiros cairiam
em um sono profundo e anormal...
Um "sono" bem conhecido na ufologia...
"Uma espécie de torpor, induzido pelas naves que se aproximam das testemunhas...
"Coincidência? Eu duvido...
»4. Curioso e suspeitosamente... o veículo iria sofrer uma sacudida, acelerando
rapidamente...
"Coincidência? Eu duvido...
»5. Curioso e suspeitosamente... o veterano Juan Bautista Herrera Salazar - com 30
anos de experiência - perder o controle ... Em uma reta de um quilômetro!
"Coincidência? Eu duvido...
»6. Curioso e suspeitosamente... Uma vez resgatado, o corpo da "gringa" parecia frio
como o gelo...
"Coincidência? Eu duvido...
»7. Curioso e suspeitosamente... A norte-americana não estava preocupada, nem
mesmo perguntou por seu amigo...
"Coincidência? Eu duvido...
»8. Curioso e suspeitosamente... só estava preocupada com as horas e perguntou
várias vezes...
"Coincidência? Eu duvido...
»9. Curioso e suspeitosamente... Ricky não voltaria a abrir a sua boca nos 40 ou 50
minutos que durou a viagem até o hospital em Mérida...
"Coincidência? Eu duvido...
»10. Curioso e suspeitosamente... o "quinto morto", um dos dois estrangeiros, que
embarcaram em Chichen - nunca seria identificado ... Nem enterrado em Yucatán...
"Coincidência? Eu duvido...
"Sim, muitas "casualidades"... mais uma vez."
E, a estas singulares "coincidências" (?) se somariam algumas outras, resultado de
intensa investigação desencadeada meses depois, na segunda e inesquecível
aventura na terra de Yucatán...
Mas isso é outra história. Uma história mágica e "oficialmente" impossível...
E para fechar o caderno, as suspeitas se vestiram como segurança:
»A suposta alienígena era, cada vez, menos suposta.
E Ricky, ao longe, sussurrou:
"Confie na intuição!"
E o Destino (?), então, só então, falou com voz séria...
E ele o fez, logo que acabamos de desembarcar na capital asteca, e pela boca da
amiga que - "causalmente" - nos acompanhou nessas poucas horas na Cidade do
México.
E a notícia - particularmente "oportuna" - me fez sorrir para mim mesmo... "Sim, todo
amarrado e bem amarrado." O "aviso" chegava... "No momento certo".
"Como é possível que não tivesse sabido muito antes?... Nossa amizade é antiga...
Muito antiga... "
E o Destino (?) sorriu maroto.
Alguém, um parente desta mulher, disse que ela havia conhecido - durante oito anos! -
Um engenheiro químico... Não humano!
Um indivíduo de origem extraterrestre... camuflada entre nós. Deus! Outro "infiltrado"?
E curioso e suspeitosamente, logo ao chegar à Espanha, o Destino (?) voltou à
carga...
E este perplexo investigador receberia, quase simultaneamente, outros dois "avisos"
de idêntica magnitude.
Primeiro: (?) Um grupo de supostos "Alemães" - mais de 20 - hospedados em um hotel
ao sul do meu país, havia "desaparecido" da noite para o dia, "esquecendo" de
bagagens e pertences...
E algumas testemunhas afirmaram terem os visto entrarem em um Óvni, decolando
em silêncio e desaparecendo no firmamento...
Senhor Deus!
Não, isso não era normal...
Segundo: Seres "não-humanos" trabalhavam, aparentemente, em uma região da
África do Sul... Disfarçados de médicos...
Coincidência? Eu duvido...
E eu pensei que iria morreu.
"O que eu estava enfrentando? Que tipo de "invasão" estava assistindo: quantos são,
na verdade? Como reconhecê-los? Quem é quem? Desde quando estão aqui?"
Blanca e eu nos rendemos às evidências:
"A aventura, sim, mal começou."
E o Destino (?) - eu sei, sorriu maroto...
FIM DA PRIMEIRA PARTE (1)