TANTAS SÃO AS ESTRELAS
Não, eu me nego a acreditar
que uma estrela se apague.
São meus olhos caolhos,
caóticos, carcomidos
pela crua e nua certeza
de uma realidade visível
que me invadem as órbitas
causando-me a ilusão
de que só vejo o que é vivo.
Não, eu me nego a acreditar
que uma voz só é audível
se a boca mexer um som dizível
que se propaga até a invasão
de meus viciados ouvidos
Não, eu me nego acreditar
que um corpo tombe vazio
e se desfaça no espaço
feito poeira ou fumaça
adentro no nada dos nadas
nadificando-se
E é por isso,
que na solidão desse banzo antigo,
rememorador de todos
os que de mim já se foram,
eu desenho a sua luz-mulher
e as pontas de sua estrela
enfeitam os dias que ainda
me aguardam
e cruzam com as pontas
das pontas de outras estrelas
que habitam a constelação
de minhas saudades
(EVARISTO, 2008, pág. 61)