SILVIO
SANTOS
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Diretor editorial: Luis Matos
Editora-chefe: Marcia Batista
Assistentes editoriais: Aline Graça e Letícia Nakamura
Preparação: Cely Couto e Abordagem Editorial
Revisão: Guilherme Summa e Giacomo Leone Neto
Revisor técnico: Levy Fioriti
Arte: Aline Maria e Valdinei Gomes
Capa: Zuleika Iamashita
Imagem de capa: Moacyr Lopes Júnior/Folhapress
Imagens do miolo: Arquivo de colecionador/Levy Fioriti e Flor (Antonio
Carlos Severo, Célio Junior, Claudine Petroli, Erasmo Souza, Hiroto
Yoshioka, Ionannis Hatiras, João B. Silva, Jose Castro, Manoel Motta,
Milton Carvalho, Moacyr dos Santos e Roberto Remanis)
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Angélica Ilacqua CRB-8/7057
Batista, Marcia B336s
Silvio Santos : a biografia / Marcia Batista,
Anna Medeiros. – – São Paulo : Universo dos
Livros, 2017.
280 p. : il., color.
ISBN: 978-85-503-0247-8
1. Santos, Silvio, 1930-Biografia 2.
Apresentadores (Teatro, televisão, etc.) – Biografia
3. SBT-Sistema Brasileiro de Televisão - História I.
Título II. Medeiros, Anna
17-1494 CDD 927.9145
Universo dos Livros Editora Ltda.
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Marcia Batista e Anna Medeiros
SILVIO SANTOS
Ao Silvio Santos, o
maior comunicador da
televisão brasileira e,
acima de tudo, um
grande homem.
SUMÁRIO
PRÓLOGO
UM HOMEM DO BRASIL
Capítulo 1
A ESTREIA DE SENOR NO PALCO DA VIDA
Capítulo 2
O FARO PARA OS NEGÓCIOS
Capítulo 3
A ESTREIA NA CAPITAL PAULISTA
Capítulo 4
O BAÚ DA FELICIDADE
Capítulo 5
UM MARCO NA ERA DA TELEVISÃO
Capítulo 6
O PRIMEIRO CASAMENTO
Capítulo 7
A NOVA FASE NA REDE GLOBO
Capítulo 8
A LUTA PELO PRIMEIRO CANAL DE TV
Capítulo 9
A ESTREIA DA TVS
Capítulo 10
O SEGUNDO CASAMENTO
Capítulo 11
O NASCIMENTO DO SBT
Capítulo 12
OS PRIMEIROS PASSOS DO SBT
Capítulo 13
O HOMEM QUE ENXERGA COM A ALMA
Capítulo 14
SBT É REINVENÇÃO
Capítulo 15
A RAINHA DA TELEVISÃO BRASILEIRA
Capítulo 16
UMA QUESTÃO DE SAÚDE
Capítulo 17
ASPIRAÇÕES POLÍTICAS
Capítulo 18
NOVOS ARES NO SBT
Capítulo 19
VOANDO ALTO
Capítulo 20
COLHENDO FRUTOS
Capítulo 21
SBT NO SÉCULO XXI
Capítulo 22
MAIS DE 35 ANOS DE HISTÓRIA
Capítulo 23
PASSADO, PRESENTE E FUTURO
Capítulo 24
EPÍLOGO
DEPOIMENTOS
CARTA
PRÊMIOS E HOMENAGENS
NOTAS DE FIM
BIBLIOGRAFIA
OUTRAS REFERÊNCIAS
SOBRE AS AUTORAS
PRÓLOGO
Não é fácil falar sobre Silvio Santos, um dos maiores e mais bem-sucedidos
empresários no cenário nacional e, sem maiores exageros, aquele que é a
personificação da própria história da televisão brasileira. No entanto, nenhum
assunto relevante e de peso é de fato fácil de narrar. O próprio Silvio já disse
para sempre desconfiarmos daquilo que vem sem esforços. Realizar um projeto
que envolve uma biografia tão vasta não tem nada de simples, mas o desafio é
recompensador.
Assim como muitos brasileiros, crescemos assistindo ao SBT. Sendo de
gerações próximas, temos lembranças de domingos acompanhando o Silvio
Santos, de manhãs ouvindo canções da Mara Maravilha, rindo com os episódios
do seriado Chaves e até mesmo recordações de novelas mexicanas que
marcaram época. Ah, e como esquecer das entrevistas maravilhosas da rainha da
televisão brasileira – Hebe Camargo? E as gargalhadas com a turma de A Praça
é Nossa?
Essas memórias afetivas aconteceram graças a um nome: Silvio Santos. Por
isso, o desejo deste projeto aos poucos foi tomando forma e, desde que iniciamos
as pesquisas, há dois anos, sabíamos que o trabalho seria colossal e
extraordinário, haja vista a história desse grande homem. Mas, aos poucos,
fomos nos impressionando ainda mais.
Escrever uma biografia é quase como entrar na casa de alguém sem pedir
licença, sabe? Como aquela visita que chega para o café sem ser convidada, mas
que acaba ficando a tarde inteira porque a conversa rende. E, quando percebem,
visita e anfitrião vão se conectando, pois a intimidade do café gera novas
descobertas.
Quando chegamos à casa de Silvio e nos convidamos para o café, sabíamos o
superficial dos acontecimentos. Aos poucos, ao longo da jornada, fomos
estabelecendo uma conexão ainda maior com sua figura. Quando descobrimos
suas qualidades e seus desafios, suas vitórias e quedas, seus sentimentos e estilo
de vida, criamos uma identificação, que, para nós, representou até mesmo um
enorme crescimento pessoal.
Querendo saber mais sobre esse homem que já angariou tantas conquistas em
sua trajetória profissional, passamos a buscar aqueles que tiveram proximidade
com o apresentador. Nomes como Décio Piccinini, Roque, Leão Lobo, Mara
Maravilha, Florina Fernandez (a Flor) e até mesmo Maisa Silva ajudaram a
montar as peças desse quebra-cabeça. Outros nomes não tão conhecidos pelo
público, mas que conhecem muito bem a rotina do Silvio ao longo dos anos de
bastidores também foram igualmente importantes para o projeto. Figuras como
Felipe Ventura, que tem 26 anos e há quase duas décadas é presença
indispensável no Teleton, e o segurança Maurício Sobral, que desde 1993 está ao
lado do apresentador, ajudaram muito durante a pesquisa.
Somos imensamente gratas a esses e todos os nomes que se encontram ao
longo do livro. Todos contribuíram prontamente e com muito carinho, e esse
projeto não seria possível sem a ajuda de tanta gente querida e disposta a
compartilhar seu tempo para homenagear um nome tão conhecido pelo público
brasileiro.
Certas da inspiração que a história de Silvio pode representar para qualquer
pessoa interessada em realizar seus sonhos, esperamos que este livro possa
contribuir de maneira positiva para a documentação dessa memória viva da
comunicação brasileira. Silvio Santos vem aí!
As autoras
UM HOMEM DO BRASIL
O dia 30 de agosto de 2001 foi um divisor de águas para Silvio Santos. Nesse
dia, ele esteve durante horas em sua própria casa cara a cara com a morte. A
morte se apresentou para Silvio na forma de um sequestrador desesperado
carregando não somente uma, mas duas armas cheias de balas, prontas para
serem disparadas. Para Fernando Dutra Pinto, havia dois cenários nesse dia: ou
ele matava ou ele morreria.
Na hipótese de ele matar para conseguir escapar da emboscada em que havia
se metido, quem sairia perdendo seria Silvio Santos, ou, em outras palavras, o
Brasil inteiro, que perderia o homem que é praticamente o sinônimo da televisão
brasileira, que estabelece há mais de cinquenta anos uma relação muito forte
com seu telespectador. Relação essa que ficou ainda mais explícita em um dos
dias mais tensos da vida de Silvio. Nesse dia, o Brasil não desgrudava dos
noticiários, pois um deslize qualquer dos envolvidos poderia significar uma
tragédia.
Em entrevista à Rádio Jovem Pan, falando para Joseval Peixoto e Anchieta
Filho, que compunham a bancada do Jornal da Manhã, o próprio Silvio Santos
falou sobre a certeza de que havia escapado da morte por um triz: “Eu posso
garantir a você que se o governador não fosse ontem até a minha casa, eu tenho
certeza, não é um palpite, eu poderia morrer, o Fernando certamente morreria e
mataria três ou quatro policiais que lá estavam.”
Todos os acontecimentos se desenrolaram de uma forma surreal. Afinal, era
para ser um dia de alívio e alegria, já que uma das filhas de Silvio Santos
acabara de ser resgatada, depois de sete dias sequestrada. Mas o alívio durou
pouco, e a família Abravanel foi surpreendida novamente pelo perigo. O Brasil
assistia atentamente a policiais rodeando a casa transformada em cativeiro, mas
não havia nada que pudessem fazer; Silvio e Fernando encaravam-se de frente,
sabendo que só ali a questão poderia ser resolvida. E tudo começou com o
resgate de Patricia.
Na madrugada do dia 28 de agosto de 2001, mais precisamente às 2h50 da
manhã, Patricia Abravanel chega aos prantos em casa, na mansão de seu pai,
Silvio Santos, localizada no Morumbi, em São Paulo. A emoção de todos é
tamanha que foram precisos muitos minutos de choro, abraços e agradecimentos
até que algo pudesse ser dito. Afinal, Patricia acabara de ser libertada após uma
semana mantida em cativeiro.
Foram momentos de muita tensão em que a família Abravanel, muito
religiosa, pedia incessantemente a Deus que Patricia voltasse para casa com
vida. Era um grande alívio, por fim, as súplicas terem sido atendidas. A
tranquilidade voltaria a reinar na casa. Em teoria.
O trabalho da polícia não havia acabado com a libertação da filha de Silvio
Santos. Agora seria preciso prender os criminosos e recuperar os R$ 500 mil do
resgate, valor negociado e entregue por Guilherme Stoliar, sobrinho de Silvio
Santos, que chegou a ocupar cargos importantes de direção no SBT, chegando à
presidência do conglomerado.
Primeiramente, os policiais conseguiram prender, no município de Cotia,
Marcelo Batista Santos, o “Pirata”, que acabou confessando sua participação no
sequestro. Marcelo não só confessou como também entregou o comparsa Esdras
Dutra Pinto, de apenas 19 anos, que acabou preso em sua casa, em São Miguel
Paulista. Faltavam ainda mais dois integrantes do bando: Fernando Dutra Pinto e
sua namorada, Jenifer, que deveriam estar com o dinheiro do resgate.
Fernando, entretanto, daria novos contornos a essa história aparentemente já
encerrada e com final feliz. Após a libertação de Patricia, ele se hospedou em um
flat em Barueri, levando consigo as armas do crime e o dinheiro que havia
faturado com o sequestro. Para hospedar-se no flat, utilizou o nome falso de
Claudemir Souza e afirmou ser músico.
Todavia, não demoraria para o hóspede ser personagem de suspeitas por parte
dos funcionários do local, uma vez que a própria camareira se deparou com
armas de fogo enquanto limpava o quarto. Assustada, avisou então aos
responsáveis pelo empreendimento sobre o fato. Mal sabia ela a procedência de
tais armas.
Logo, um delegado em São Paulo foi avisado sobre o suspeito e uma equipe
foi deslocada até o local informado. Os policiais chegaram ao flat e foram
notificados da saída do suspeito. Seguiram, então, até o quarto para realizar a
averiguação. No local vazio, os policiais encontraram não só as armas, como
também R$ 464.850,00, aumentando ainda mais a desconfiança de que o tal
Claudemir seria o sequestrador da filha de Silvio.
Os policiais esperaram o suspeito chegar ao hotel a fim de prendê-lo ali
mesmo. Quando o sequestrador finalmente chegou ao flat, com o cabelo tingido
de loiro, seguiu tranquilamente para o elevador, onde apertou o andar de seu
apartamento. Ele não seguiu sozinho, foi acompanhado por um dos policiais que
imediatamente informou a prisão de Fernando. Caso se tratasse de um criminoso
comum, ele teria se entregado ali mesmo, imaginando que haveria outros
policiais além daquele e que, por isso, não conseguiria encontrar um jeito de
escapar. Acontece que ele não era assim: sua coragem atingia a ousadia para
conseguir o que queria – coragem que impressionaria até mesmo Silvio Santos.
Fernando não obedeceu à ordem de prisão e sacou duas armas, disparando
contra o policial. Nesse momento, os outros policiais que estavam à espreita
também começaram a atirar, dando início a uma troca de tiros entre o
sequestrador e os policiais. Apesar de estar sozinho, Fernando consegue, de
maneira impressionante, escapar, deixando mortos dois policiais e um terceiro
ferido.
Percebendo que estava cercado, decidiu não descer pelo elevador; quebrou o
vidro de uma janela, segurou-se entre o vão das paredes – estreitas o bastante
para que ele não sofresse uma queda livre – e desceu os nove andares até o chão.
Como estava ferido, deixava rastros de sangue por onde passava.
A história que já parecia mais um roteiro de megaprodução de Hollywood
ganhou ares ainda mais cinematográficos: começava a perseguição e a epopeia
de Fernando, que trocou de carro três vezes e ainda utilizou um táxi para fugir do
cerco policial. As frotas estavam todas mobilizadas para encontrar o
sequestrador. Mas, apesar de uma operação gigantesca, nem assim foi possível
prender o sagaz criminoso.
E onde Fernando reapareceu? Às 7h da manhã do dia seguinte, ele estava na
casa de Silvio, deixando todos surpresos e em choque. Até o próprio Fernando
quase não acreditava, pois imaginava ter uma chance em cem de conseguir
entrar na casa do apresentador.
Para conseguir esse feito quase inacreditável, ele pulou o muro da casa do
apresentador após cortar o fio de energia da cerca elétrica. Mesmo com toda a
segurança que um homem do porte de Silvio carrega junto de si, não foi possível
detê-lo.
Pulando o muro da mansão, partiu com ainda mais convicção de que
conseguiria atingir seus objetivos. Foi então que ele tomou uma atitude
inesperada: rendeu e manteve em cárcere privado o próprio Silvio Santos.
Seguindo em direção ao apresentador, ele sabia muito bem qual era o seu
objetivo e o que iria negociar em troca de sua vida: um helicóptero para fugir da
polícia, uma enfermeira e a presença de um juiz corregedor. Ele queria fazer de
tudo para não ir para a prisão.
Fernando e Silvio ficaram frente a frente durante horas na cozinha da casa. Ao
mesmo tempo em que temia que algo pudesse dar muito errado, custando-lhe a
vida, Silvio observava com curiosidade a inteligência fora do comum daquele
sequestrador.
A polícia logo cercou a casa de Silvio, e deu início à negociação que deixaria
o país inteiro grudado nos meios de comunicação temendo pela vida do
apresentador, refém em sua própria cozinha e com duas armas apontadas para si.
Após algum tempo de negociação, surgiu a esperança de que Silvio estivesse
livre, mas apenas sua esposa Iris, suas quatro filhas e algumas amigas que
tinham vindo ver Patricia foram libertadas. O país ainda não podia respirar com
alívio, o desfecho ainda não tinha sido concretizado.
Conforme o tempo ia passando, Fernando acabou exigindo a presença do
governador Geraldo Alckmin. Silvio logo teve a certeza de que, caso não
conseguisse trazer o governador à sua casa, ele não somente seria morto, como
também muitos outros policiais.
Foram mobilizados helicópteros, a Polícia Militar, e até o pai e uma irmã de
Fernando Dutra Pinto para tentar convencer o sequestrador a liberar Silvio. Nada
foi acertado. A última esperança para que o apresentador sobrevivesse era que
Alckmin chegasse logo, atendendo ao pedido desesperado de Silvio.
Cada segundo que passava era um sofrimento a mais para a família
Abravanel, bem como para os demais brasileiros. Afinal, Fernando já havia sido
inconsequente o suficiente para aparecer na casa do apresentador, o que mais ele
seria capaz de fazer?
Geraldo Alckmin finalmente chegou à mansão às 13h54, após quase sete
horas de negociação. Essas foram horas de muita tensão, apesar de o
apresentador ter tentado levar tudo na maior tranquilidade possível para não
irritar ou preocupar o sequestrador.
Nesse momento, havia uma multidão em frente à casa aguardando
ansiosamente qualquer notícia: policiais, fotógrafos, repórteres e curiosos
aglomeravam-se cada vez mais em uma cena que reforçava a associação dos
acontecimentos a um filme com traços de thriller policial.
Enfim, Fernando Dutra Pinto decidiu render-se e foi levado pela polícia. Uma
vez que o sequestrador não estava mais lá, Silvio Santos, com um semblante
tranquilo como de quem acabara de fazer uma reunião corriqueira de negócios,
acompanhou o governador Geraldo Alckmin até o portão e retornou para sua
casa, acenando para todos.
Silvio conseguiu sorrir. Seu sorriso pareceu um recado para a família, bem
como para o país inteiro, de que todos poderiam respirar tranquilos novamente,
pois ele estava a salvo.
Essas horas de tensão foram noticiadas não somente pela imprensa nacional,
como também a internacional, tendo sido destaque no The New York Times. Em
território brasileiro, a população pareceu ter parado para acompanhar cada
segundo da negociação para a libertação do empresário.
A ironia do destino – ou talvez demonstração da importância que esse homem
tem no Brasil – ficou por conta da cobertura televisiva feita pela Globo, maior
concorrente da emissora de Silvio, atingindo índices recordes de audiência para
o horário da manhã. Quem mais senão o homem do Baú para provocar e
destrinchar tamanhos acontecimentos?
A ESTREIA DE SENOR NO PALCO
DA VIDA
Fruto de uma família judaica, Senor Abravanel, filho de Alberto e Rebeca
Abravanel, seria o primeiro dos filhos do casal a nascer em uma terra tão
distante da Europa de seus antepassados. O fato, certamente, deu-se muito pelo
contexto histórico, mas talvez também tenha sido arquitetado pelo destino.
Afinal, seria em terras brasileiras que Senor demonstraria todo o seu talento e
carisma. Como muitas famílias judaicas ao longo de séculos, a família
Abravanel também precisou se mudar constantemente para que pudesse
sobreviver aos ataques e perseguições que vitimaram judeus em muitos
momentos. Felizmente, seu refúgio final foi o Brasil.
O menino Senor tinha um nome que soava muito diferente aos ouvidos
brasileiros. Mas como surgiu esse nome tão distinto? A história começa com um
antepassado muito distante de Silvio: um importante estadista português que
recebeu o título de “Dom”, palavra utilizada para designar homens da nobreza e
que, muito provavelmente, se origina da palavra hebraica “Adon”, cujo
significado é “senhor” (“señor”, em espanhol) ou “mestre”. Dom Isaac
Abravanel desempenhou um papel essencial na recuperação das finanças em
Portugal, tendo posteriormente a mesma atuação decisiva na Espanha. Na época
da Inquisição, os Reis Católicos Fernando e Isabel pediram a Dom Isaac para
que permanecesse junto a eles ainda que os judeus estivessem sendo mortos e
expulsos da região, pois todos os condenavam pelos males que afligiam o reino.
Em 1492, foi assinado um decreto que estabelecia a expulsão dos judeus em
um prazo de quatro meses, levando consigo tudo o que pudessem carregar
(exceto ouro). Após essa data, os judeus que ainda permanecessem na Espanha
deveriam escolher entre o batismo cristão ou a morte. Dom Isaac não aceitou a
proposta dos reis de proteger sua família com a condição de que abandonassem
suas crenças e se convertessem ao catolicismo. Ao ver seu povo sofrer e fugir,
partiu com a família para a Itália, vindo a morrer em Veneza quando ainda se
dedicava à política e à literatura.
Certa vez, em 1988, em um programa de Silvio, uma telespectadora de
Uberaba ligou para entrevistá-lo e perguntou qual era seu nome completo. Na
ocasião, o apresentador não apenas informou seu nome de batismo, Senor
Abravanel, como também contou sobre sua origem. Em um relato carregado de
emoção, ele cita a passagem sobre a expulsão de Dom Isaac da Espanha, quando
o nobre disse aos reis: “o povo judeu vai e eu vou junto”. Em seguida, revela que
o nome Senor foi escolhido pelo pai como uma adaptação de Dom ao português
brasileiro, derivado da palavra señor.
Não foi somente Dom Isaac que teve importantes ocupações na família
Abravanel. Netos e bisnetos de Dom Isaac Abravanel também alcançaram
posições de destaque na Itália e acabaram imigrando para a Salônica, na Grécia.
A cidade foi a terra natal de Alberto Dom Abravanel, pai de Silvio. Ele nasceu
em 1897 e, assim como muitos judeus, viu-se ameaçado quando o Império
Turco-Otomano aliou-se à Alemanha – país que já tratava os judeus como
cidadãos de segunda classe – durante a Primeira Guerra Mundial. Para escapar
do alistamento obrigatório do Exército, Alberto fugiu da região onde morava e
foi tentar a vida em outros países da Europa. Durante sua jornada, trabalhou
como comerciante, profissão que o filho herdaria com talento de sobra anos mais
tarde, no Rio de Janeiro.
Sem perspectivas após diversas tentativas de estabelecimento na Europa,
Alberto partiu para o longínquo e desconhecido Brasil em 1924. Foi nesse país,
no Estado do Rio de Janeiro, que Alberto conheceu a futura esposa, Rebeca,
imigrante turca e dez anos mais nova que ele. Assim como muitos imigrantes,
carregavam na mala os sonhos e as esperanças de uma nova fase na terra onde
teriam a possibilidade de construir uma vida mais próspera. Foi nessa época da
chegada do pai de Silvio ao Brasil que a população judaica começou a crescer
significativamente no país, muito embora a imigração tenha se iniciado bem
antes do século XX, com o desembarque dos primeiros judeus ainda no século
XVII.
Após a proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, estabeleceu-
se na Constituição da República de 1891 a separação entre Estado e Igreja e,
consequentemente, a liberdade religiosa – o direito essencial para todos,
principalmente para os judeus em um país majoritariamente católico. Já nas
décadas de 1920 e 1930, muitos judeus desembarcaram em terras brasileiras,
tentando fugir do antissemitismo cada vez mais ostensivo na Europa.
Em 12 de dezembro de 1930, no nascimento do primogênito, o casal
Abravanel decidiu batizar o filho de Senor, em homenagem a seus antepassados
e em adequação ao idioma local. Além de Senor, Rebeca e Alberto tiveram mais
cinco filhos: Beatriz, Perla, Sara (Sarita), Leon e Henrique. Quando Silvio
nasceu, a família morava na Travessa Bem-te-vi, no bairro da Lapa, no Rio de
Janeiro. O bairro é considerado reduto da boemia carioca e guarda em suas
famosas construções, como os Arcos, muito da história da cidade. Na década de
1930, o local foi berço de sambas importantes da história, como algumas
composições de Noel Rosa. Foi nesse mesmo período, entretanto, que Getúlio
Vargas assumiu a presidência e passou a exercer controle rigoroso sobre as
atividades boêmias (e de prostituição) da região.
Nesse cenário, o menino Silvio pareceu desde sempre carregar em suas veias
toda a alegria de viver do bairro da Lapa. Não só a alegria, diga-se de passagem,
como também o ar de malandro carioca, pois, desde cedo, fazia de tudo para
entrar nas sessões de cinema (uma de suas grandes paixões) sem pagar. Tudo em
companhia do fiel escudeiro, seu irmão Leon. Havia uma sessão de cinema,
entretanto, que os irmãos não admitiam perder: era a série americana Vale dos
Desaparecidos, lançada em 1942 e dividida em quinze sessões. Para esse caso
específico, os irmãos não ousavam-se arriscar e, por isso, guardavam dinheiro
para pagar as entradas e garantir seu momento de diversão.
Leon sempre foi uma figura importante na vida de Silvio, e os dois parecem,
para além da relação de irmãos, terem desenvolvido uma amizade e afinidade
especial desde crianças. Durante o primário, frequentaram juntos a Escola
Primária Celestino da Silva, na Rua do Lavradio, no centro do Rio de Janeiro.
Mais tarde, estudaram na Escola Técnica de Comércio Amaro Cavalcanti, no
Largo do Machado, onde Silvio se formou como técnico em Contabilidade. Com
seu jeito brincalhão e carismático desde sempre, é muito fácil imaginar Silvio
aprontando no colégio, ou mesmo fazendo de tudo para entrar na sala de cinema
sem pagar. Para uma mãe rigorosa como Rebeca, educar o desenvolto filho era
um desafio.
Com a paixão que os dois irmãos demonstravam pela sétima arte, era difícil
impedi-los de ir ao cinema. O filme favorito de Silvio, aliás, é o Sempre no meu
coração. Uma história muito disseminada conta que a mãe linha-dura teria salvo
a vida de Silvio e Leon. Em um desses dias em que os irmãos desejavam ir ao
cinema, Silvio acordou com febre. Rebeca, então, não teria permitido que os
filhos saíssem de casa – e uma fatalidade teria ocorrido no dia, pois o local
acabou pegando fogo. Essa história, porém, foi corrigida por Silvio durante os
preparativos para a exposição sobre ele no Museu da Imagem e do Som de São
Paulo, o MIS. Segundo o apresentador, tal fato nunca existiu.
Rebeca era realmente uma mulher forte que buscava impor certa disciplina em
casa. Foram as circunstâncias da vida que a fizeram agir assim: mãe de seis
filhos, de repente se viu diante de um marido viciado em jogos que gastava todo
o dinheiro da família. Esse vício acarretou, inclusive, a perda da loja da família
na Praça Mauá em função de dívidas. Sobre essa época, Silvio se lembra de
momentos muito difíceis, como consta no livro A fantástica história de Silvio
Santos:
ʻEra um drama, porque o que ele ganhava na loja de dia, gastava de noite no
cassino. Eu tinha catorze anos naquela época e estava cursando o segundo ano de
contabilidade na Escola Técnica de Comércio Amaro Cavalcanti. Aborrecido
com a situação, saí da escola e comecei a me virar. Depois de dois meses, voltei
às aulas. ,
Para conseguir criar a família e aliviar a pressão que sofriam no orçamento
doméstico, Rebeca começou a trabalhar como costureira. A renda obtida com o
serviço, entretanto, era muito baixa para dar conta de todos os custos que
envolvem uma família numerosa. Vendo-se nessa situação, Rebeca precisou
controlar os gastos e exigir dos filhos que ajudassem em casa, uma vez que não
seria possível sustentar todos com as atitudes de Alberto. Como já revelou
Silvio, sua mãe dizia que se eles não trabalhassem não teriam mais o que comer.
O futuro bilionário se viu na necessidade de trabalhar aos 14 anos para
conseguir sobreviver com sua família. Mas, o que um menino poderia fazer
nesse momento? Sua intenção era encontrar uma forma de ganhar o máximo de
dinheiro no menor tempo possível. Ele chegou a verificar em repartições
públicas e casas comerciais as possibilidades de emprego, mas nada atendia às
suas necessidades.
Diante da extrema dificuldade, e precisando encontrar uma atividade rentável,
a cabeça de empreendedor de Silvio Santos começaria a se manifestar. Seguindo
os passos de seu pai, foi então que o futuro se descortinou na figura da profissão
de camelô.
O FARO PARA OS NEGÓCIOS
O recado de Rebeca estava dado: impossibilitada de continuar bancando o
sustento de toda a família, era preciso que seus filhos a ajudassem naquele
momento crítico. Silvio precisaria tornar-se responsável e pensar em uma forma
simples de ganhar dinheiro rapidamente no alto de seus 14 anos. O tino para os
negócios começaria a despontar nesse momento, quando precisava encontrar
uma saída o quanto antes. A resposta não demoraria a vir e partiria, como
sempre, do próprio povo brasileiro.
O ano de 1945 foi marcado por um momento de euforia política. A última
eleição direta no país acontecera em 1930. O resultado, que deu vitória ao
candidato governista Júlio Prestes, não foi aceito pelos oposicionistas, instigando
a Revolução de 1930. O vitorioso Prestes nem chegou a tomar posse da cadeira
de presidente: após o golpe de Estado, o até então presidente do Estado de São
Paulo foi exilado e quem assumiu o “governo provisório” foi o candidato
oposicionista Getúlio Vargas. O que era para ter sido um mandato temporário
acabou resultando na Era Vargas, quinze anos em que o gaúcho de São Borja
governou o país com “mão de ferro”.
Em fevereiro de 1945, com a pressão cada vez maior a favor de um respiro
democrático, Vargas anunciou uma reforma constitucional que daria abertura à
realização de novas eleições diretas. Esse era um momento importante para o
país, e a população eleitora não via a hora de exercer seu direito de voto.
Alguém com um olhar atento como o de Silvio não poderia deixar de notar esse
sentimento em terras brasileiras. Andando pelas ruas do centro do Rio de
Janeiro, Silvio observava o trabalho dos camelôs nas imediações. Passou a
considerar essa possibilidade de ganhar dinheiro, mas, para tanto, teria de
responder às perguntas que o inquietavam: o que mais atraía o público? Qual era
o diferencial dos camelôs que mais vendiam?
Foi com essa curiosidade em mente que Silvio se deparou com um camelô que
fazia sucesso vendendo capinhas para títulos de eleitor – nada surpreendente
quando pensamos no contexto. Ora, já que as pessoas iriam votar, elas
precisariam de uma capinha para proteger o seu documento eleitoral, não é
mesmo? Pura estratégia de negócio: a demanda encontrando a oferta. E a
demanda estava borbulhante, pois não havia muitos concorrentes.
Mas Silvio não queria apenas vender, queria vender mais e melhor e, por isso,
foi atrás do campeão de vendas da região, um alemão que oferecia “simples”
canetas para seus clientes. O futuro camelô desejava aprender todas as táticas e
as melhores práticas de comércio. Observando por diversos dias o comerciante
alemão, ele percebeu que o carisma que o homem demonstrava junto aos clientes
ajudava muito no momento da venda. E algo que nunca faltou para Silvio – aliás,
o que ele sempre teve de sobra – é carisma.
Durante o período de “estágio a distância”, Silvio também descobriu onde o
vendedor abastecia seu estoque. Estava aberta a caixa dos segredos das vendas
para Silvio. Considerando-se preparado para encarar o batente e testar a
estratégia que tinha bolado para vender muito em pouco tempo, comprou
algumas canetas, sempre úteis e ainda mais necessárias para marcar o candidato
à presidência escolhido na cédula de votação.
Silvio então se instalou em sua barraquinha e, além dos produtos, oferecia aos
transeuntes entretenimento na forma de truques de mágica. Quem passasse pelo
local poderia ver e ouvir Silvio manuseando suas moedas e baralhos. Mas, só era
possível presenciar essa cena em um período limitado, das onze ao meio-dia,
pois ele exercia o ofício apenas durante o horário de almoço do guarda que fazia
vigilância dura em cima dos ambulantes.
Também nessa época, era seu fiel escudeiro seu irmão Leon, que ficava
vigiando o guarda durante o período de almoço em um bar próximo para avisar
Silvio sobre qualquer emergência ou necessidade de fugir. Silvio e Leon
dividiam-se nessas atividades enquanto ainda estudavam na Escola Técnica,
onde o então camelô se formaria em Contabilidade. A primeira leva de produtos
foi vendida com agilidade e tornou-se preciso repor constantemente os estoques.
O sucesso de vendas deu-se pela união feliz de dois fatores: a demanda do
momento e o talento pessoal de Silvio. Já nessa época, era possível perceber
traços do grande comunicador que ele se tornaria.
Rapidamente o jovem vendedor continuou ganhando mais dinheiro e a mãe
não precisava se preocupar tanto com as finanças da família. Na realidade, ele
ganhava muito mais do que precisava trabalhando apenas uma hora por dia. Por
muito tempo, Silvio focou-se na atividade de camelô, vendendo muitos produtos
a cada dia. E tudo isso apenas durante o período de refeição dos guardas, pois
teria sérios problemas se fosse pego. Na época, ele já treinava para o que viria a
se tornar: um grande empresário. Tendo refletido sobre isso:
ʻComo camelô, eu já era um empresário. Mantinha três funcionários. Um
ficava olhando quando vinha o rapa. O outro cuidava do estoque de canetas e o
terceiro funcionava como farol. Ele chegava de quinze em quinze minutos e
dizia: “Gostei da caneta, me dá uma”, chamando a atenção dos clientes. ,
Um fato de sua vida de camelô poderia ter lhe trazido problemas, mas, com
todo o talento que possuía, Silvio conseguiu rapidamente reverter o cenário.
Certa vez, enquanto vendia seus produtos, o diretor de fiscalização acabou
flagrando-o e lhe pediu que parasse de atuar na região. Mas, em vez de levar o
garoto ao Juizado de Menores, como deveria fazer, acabou lhe dando um cartão.
Talvez essa passagem também tenha sido traçada por seu destino, para que
chegasse ao primeiro meio de comunicação em que utilizaria seus dotes
artísticos: o rádio. Ao conversar com Silvio, o diretor percebeu a potente voz do
camelô que estava bem na sua frente e sugeriu que ele procurasse um conhecido
seu na Rádio Guanabara para fazer um teste.
Interessado em saber como era o funcionamento de uma rádio e com a remota
possibilidade de um novo trabalho, Silvio não hesitou em procurar o contato que
havia recebido quase de mão beijada. Era algo realmente interessante: em
meados da década de 1940, quando ainda não havia canais de televisão no país,
o rádio era o lugar onde a magia acontecia e os ídolos nacionais estavam. Na
época, o concurso para entrar na Guanabara era muito disputado, pois era o
sonho daqueles que queriam fazer parte do fervilhante mundo artístico. Desta
vez, havia trezentos candidatos disputando uma vaga, nomes que, anos mais
tarde, viriam a se consagrar nacionalmente, como é o caso do humorista Chico
Anysio. Mesmo com a competição acirrada, o talento de comunicador chamou a
atenção dos profissionais da Guanabara, concedendo a Silvio a primeira posição
no concurso. Logo de cara, ele foi aprovado como locutor no teste da rádio e
acabou por conquistar seu primeiro trabalho artístico.
Silvio começou então a conciliar o trabalho de camelô com a função de
locutor em outras cinco horas do dia. Tudo isso com apenas catorze anos, o que
torna sua história ainda mais impressionante. E a história estava apenas no
início. Mesmo que tivesse talento artístico apurado, seu sangue de empreendedor
também corria forte nas veias. O emprego como locutor pouco lhe rendia no
final do mês e, por isso, Silvio acabou deixando a emissora de rádio para se
focar nas vendas como camelô – algo que dava muito mais dinheiro.
O curioso é que o DNA de camelô parece nunca ter saído do apresentador. Em
um vídeo recente divulgado por sua filha nas redes sociais, ele surpreendeu e
divertiu a todos ao dar uma dica “malandra” de como os espectadores poderiam
acessar o SBT de uma TV paga, algo que durante um tempo não foi permitido:
“Você vai na Santa Ifigênia e compra essa anteninha aqui. Só de fio, ela tem
cinco metros. Você coloca atrás da televisão, é facílimo. Tem até um ímã, você
pode colocar na porta e pronto. Ele fica preso e você assiste à televisão. Olha a
imagem do SBT que nós estamos pegando aqui.”
Quando completou 18 anos, Silvio ainda era camelô, mas teve que exercer
outra atividade obrigatória para os jovens brasileiros que atingem a maioridade:
o serviço militar. Mais uma vez, a vida mostraria que não seriam poucas as suas
habilidades ou sua capacidade de conseguir lidar com o que aparecesse à frente.
Servindo ao Exército, foi parar na Escola de Paraquedistas, onde chegou
inclusive a realizar saltos que foram considerados de boa qualidade técnica. A
Escola de Paraquedistas exigia enorme dedicação, impossibilitando a
continuidade das vendas no trabalho como camelô. Trabalhando no Exército,
Silvio pareceu ter sentido falta de respirar ares artísticos, e acabou retornando às
rádios. Para isso, usava suas folgas aos domingos para trabalhar de graça na
Rádio Mauá. A paixão e a vontade de trabalhar com comunicação, nesse caso,
falaram mais alto do que o desejo de descansar.
Algo digno de nota é que, certamente, Silvio sempre honrou muito o valor do
trabalho e a dedicação para atingir seus objetivos. Desde os 14 anos, quando
iniciou seu caminho profissional como camelô, nunca parou de buscar novas
ocupações. Não havia preguiça que o impedisse de conquistar seus sonhos.
Estratégia e inteligência para os negócios sempre guiaram suas decisões, assim
como a paixão pelas realizações. Em entrevista à Veja, o apresentador disse se
considerar sortudo:
ʻSou uma pessoa de sorte. Não levei a vida, a vida é que me levou. Não tenho
grandes sonhos, mas uma coisa que eu gostaria é de morrer sem precisar ir ao
hospital.”1 ,
Terminando o serviço que deveria cumprir no Exército, Silvio não desejava
mais retornar à atividade de camelô. Estava animado com o trabalho na estação
de rádio e desejava continuar em tal caminho. Nesse momento de sua trajetória,
retornou para o rádio na Tupi e, em seguida, foi para a Rádio Continental, cujos
estúdios ficavam em Niterói. Morando no Rio de Janeiro, era preciso pegar a
barca e fazer a travessia Rio-Niterói para cumprir seu expediente como locutor e
depois retornar para casa. O trajeto de retorno ao Rio de Janeiro era realizado
durante a noite, no último horário da barca. Nessas ocasiões, Silvio começou a
perceber o silêncio que imperava no local. Por que não transformar a viagem dos
passageiros em um momento mais agradável?
Comunicador nato e conhecedor do mundo das rádios, ele percebeu que
incluir música no ambiente da barca seria uma ótima ideia, e que deixaria o
trajeto mais animado não só para ele, como para todos que realizavam a viagem.
A partir do desenrolar dessa ideia, rapidamente Silvio encontraria uma nova
oportunidade de ganhar dinheiro. Para reproduzir música na barca, precisaria
arranjar alto-falantes. E, para isso, precisava de dinheiro ou de alguém que
pudesse bancar sua ideia em regime de parceria. Acreditando em sua nova
empreitada, pediu demissão da Rádio Continental e foi atrás da aparelhagem
para realizar seu projeto na barca. Fez, então, uma proposta para uma loja de
eletrodomésticos: eles cederiam os alto-falantes e Silvio faria anúncios de
produtos da loja. E quem iria recusar ter uma voz como aquela divulgando suas
ofertas?
Pensando em ampliar a gama de anunciantes para seus alto-falantes, decidiu
chamar colegas de profissão – de seu ofício de locutor – para fazerem os
anúncios, permitindo que o próprio Silvio pudesse ir atrás de novos clientes para
o negócio da barca. Mais uma vez ele estava inovando, atuando dessa vez como
corretor de anúncios. Foi nesse momento que ele passou a se ver como um
verdadeiro homem de negócios, afinal, gostava de veicular os anúncios em seus
alto-falantes, gerenciando a equipe para que tudo saísse conforme o planejado.
Com a crescente empolgação, o negócio de alto-falantes ainda teria mais uma
expansão; mais uma chance de lucro capturada pelo olhar atento do jovem
empresário.
Apesar de tirarem folga da barca aos domingos, Silvio e sua equipe decidiram
fazer a viagem para Paquetá, onde muitas pessoas curtiam seu dia de descanso.
O trajeto durava horas, que muitas vezes se mostravam intermináveis. Logo, a
viagem que deveria ser de lazer se transformaria em trabalho novamente, pois os
alto-falantes começaram a ser usados para animar a longa jornada. A música foi
o remédio encontrado para curar o tédio. Com a melodia, os passageiros
começaram a se entusiasmar e entraram na dança.
O baile ficava tão animado que causava muita sede nos participantes. Para se
refrescar, os passageiros tinham apenas água à disposição, que chegava até a
acabar em algumas noites mais agitadas. Empreendedor que era, Silvio logo
visualizou outra oportunidade de venda: por que não servir aos passageiros
sedentos outras opções além de água? Com a ideia e a estratégia na cabeça,
rapidamente colocou em prática seu novo plano e foi atrás de um parceiro para
realizá-lo. Nesse caso, bateu na porta da cervejaria Antarctica para conseguir
uma estrutura de bar onde pudesse vender as cervejas e os guaranás da
companhia. Como tudo que costumava fazer, o bar de Silvio não teve um
resultado diferente: deu muito certo. A venda das bebidas foi um sucesso, e as
viagens na barca transformavam-se em uma grande festa.
A propósito de suas vitórias, Silvio certa vez foi questionado pela jurada
Aracy de Almeida durante uma edição do Show de Calouros, em 1987, e
comentou:
ʻRealmente, eu costumo ter mais vitórias do que derrotas por um motivo:
quando o ser humano está com a razão, Deus é o seu advogado. Ninguém vence
o ser humano quando ele tem razão. Quando o ser humano não está com a razão,
Deus é o juiz, e o demônio é o advogado de quem está sem razão. Quem tem
razão, forte ou fraco, vence sempre, o bem sempre vence o mal. O mal pode
vencer por alguns minutos, por algum tempo, mas o bem sempre vence o mal. E
não teríamos razão para viver, mesmo que essa vida termine no pó, não teríamos
nenhuma razão para viver se o mal vencesse o bem. ,
Não parecia haver limites para a inventividade e ousadia de Silvio, que
decidiu implementar junto ao bar também um bingo. Claro que ele próprio seria
o apresentador e o animador do sorteio, assim poderia voltar a exercer seus dons
artísticos. Com o objetivo de aumentar ainda mais a venda de bebidas na barca,
passou a oferecer uma cartela de bingo para quem comprasse uma bebida.
Querendo participar da animada brincadeira, os clientes não paravam de
consumir as cervejas e refrigerantes de Silvio. Com os bingos do empreendedor,
a viagem parecia mais uma animada quermesse do que um passeio comum.
Nesse momento, o que conquistava os clientes não era somente a oportunidade
de ganhar brindes, mas a chance de participar do momento de entretenimento
que o condutor da alegria oferecia a todos na barca.
Ali, Silvio fazia seu próprio programa, só que ainda fora das telinhas.
Conduzir seus espectadores era algo que naturalmente estava se desenrolando,
ainda que de forma inconsciente, desde sempre. Todo o sucesso com seu
empreendimento estava despertando a consciência de que era bom nas
transações comerciais e que poderia se dar muito bem nessa área. Fosse
conseguindo anunciantes para a sua “rádio” na barca, fosse liderando o bingo,
Silvio percebia que toda a estratégia (se feita de maneira correta) poderia
conduzi-lo ao sucesso. Agora o visionário abria seus olhos para um novo
universo, uma nova gama de oportunidades: o mundo dos negócios unido ao do
entretenimento. Seus dons artísticos e seu carisma, que o permitiam ser um líder
nato diante do público, também se evidenciavam.
Um feito surpreendente da época é que, com toda essa estratégia, o bar da
barca tornou-se o lugar onde mais se vendia cerveja da Antarctica, o que fazia de
Silvio o maior vendedor do produto no Rio de Janeiro. Parecia que o jovem já
estava acostumado a se sair muito bem em tudo o que fazia. A vida de um
vencedor, no entanto, não se dá sem que apareçam percalços. A diferença entre
quem tem sucesso e alcança seus objetivos e quem fica no meio do caminho está
na forma de lidar com as situações difíceis. Silvio sempre tentou contornar os
desafios da vida fazendo das dificuldades mais um degrau para os próximos
passos.
Tudo ia bem, o bar e o bingo eram um sucesso e havia diversos anunciantes
dispostos a negociar espaço em seus alto-falantes. Mas, uma situação que Silvio
não poderia ter previsto aconteceu: em um dos trajetos, a barca quebrou,
impossibilitando a continuidade das viagens e, consequentemente, do
faturamento do negócio. O futuro apresentador se viu diante de uma
encruzilhada: estava endividado com os custos de manter o negócio ativo e não
tinha mais como ganhar dinheiro para quitá-los. Era preciso pensar em uma nova
forma de gerar lucros, já que a barca demoraria três meses para ser consertada.
Era chegado o momento de Silvio arriscar-se mais uma vez e dar à vida a
chance de apresentá-lo a novas oportunidades – e por que não novas vitórias?
Foi aí que ele aceitou o convite feito pelo diretor da Antarctica para conhecer
São Paulo, a cidade onde descobriria a mágica da televisão e apresentaria seu
primeiro programa. Silvio foi a São Paulo sem nenhuma oportunidade certa, com
a cara e a coragem para conseguir chances de trabalho até então inéditas. Mas,
quando chegou à capital paulista, já não era mais Senor Abravanel, e sim Silvio
Santos.
A ESTREIA NA CAPITAL PAULISTA
Chegando à capital paulista, Senor já se apresentava como Silvio Santos, o nome
artístico que decidiu adotar e que seria conhecido por todo o território brasileiro.
A curiosidade que sempre surge para aqueles que conhecem a trajetória do
apresentador é: como Senor Abravanel transformou-se em Silvio Santos? A
primeira parte do nome surgiu de Rebeca, que costumava chamá-lo assim desde
pequeno. Já o sobrenome Santos partiu dele mesmo. Silvio ganhava todos os
concursos de locutor dos quais participava, graças ao seu talento nato para o
entretenimento e, para não ser impedido de participar dos outros que vieram a
seguir, começou a apresentar-se como Silvio Santos, pois, de acordo com o ele
mesmo, “os Santos sempre ajudam”.
O apresentador conta essa história de maneira brincalhona, mas o fato é que
Silvio Santos é um nome comum e tipicamente brasileiro. Certamente, isso
passou pela cabeça de Senor Abravanel, que desde menino percebeu a
importância de ganhar o carinho e conquistar a identificação do público. Para
além da escolha do próprio Silvio e também da identificação do público com um
nome comumente brasileiro, há outros fatores que podem ter influenciado na
escolha do nome artístico. No cinema, há um mito de que artistas que possuem a
mesma inicial no nome e sobrenome têm mais chance de obter sucesso. Assim
aconteceu com Charles Chaplin, Marcello Mastroianni, Federico Fellini e
Marilyn Monroe. No caso do rádio brasileiro, a superstição envolvia as sílabas
do nome: caso o artista do rádio tivesse cinco sílabas no nome, maior a chance
de ele fazer sucesso. Tal foi o caso de Hebe Camargo, Orlando Silva, entre
outros. E também Silvio Santos – Sil-vi-o San-tos.
Apesar de não estar muito certo em relação ao que São Paulo tinha a lhe
oferecer, o jovem Silvio foi conhecer a cidade junto ao diretor da Antarctica,
hospedando-se no centro. Estava no coração da capital e assim era difícil não
ficar observando todo aquele movimento de pessoas. Cidadãos que, assim como
ele, buscavam uma forma de vencer na vida.
Foi em uma dessas observações que Silvio encontrou um velho conhecido seu,
um locutor com quem havia trabalhado no Rio de Janeiro. Após toda a emoção e
o entusiasmo diante dos artifícios do destino que possibilitaram o encontro
naquela nova cidade, o colega comentou com Silvio que a Rádio Nacional estava
procurando locutores em São Paulo. Essa era a dica que Silvio precisava e que
acabou postergando seu retorno ao Rio de Janeiro. A princípio, queria participar
do concurso de locutores para ganhar algum dinheiro, mas o pessoal da rádio
acabou impedindo sua participação, pois não o consideravam mais um amador,
mas sim um profissional, afinal, atuava há anos como radialista na capital
carioca.
Como estavam precisando de profissionais na emissora de rádio, fizeram uma
proposta para que ficasse durante três meses em experiência na função. A ideia
pareceu muito atrativa, e Silvio viu a oportunidade de explorar melhor a cidade,
além de ganhar um dinheiro extra ao longo da estadia, já que seu salário seria de
5 mil cruzeiros por mês. Já era 1954 quando assinou seu primeiro contrato de
locutor com a Rádio Nacional. Nessa época, São Paulo abrigava a primeira
emissora da televisão brasileira, a TV Tupi. Comandada pelo paraibano Assis
Chateaubriand, fazia parte do seu grupo Diários e Emissoras Associados, que
incluía também publicações impressas. Alguns anos depois, o próprio Silvio
ingressaria no mundo da televisão e também na TV Tupi.
Apesar de estar em uma situação favorável, ainda havia algo que o
preocupava: a dívida do bar que havia montado na barca para vender as bebidas
Antarctica. Como o bar podia ser transportado, pensou que resolveria a situação
trazendo-o para São Paulo, assim poderia instalar-se em algum lugar para
realizar suas vendas e recuperar o investimento. O ponto encontrado para o
negócio, batizado de “Nosso Cantinho”, era entre as ruas das Palmeiras e Ana
Cintra, em frente à Igreja Santa Cecília. Como não poderia tocar o bar sozinho,
já que cumpria expediente na Rádio Nacional como locutor, precisava encontrar
alguém de confiança para se tornar sócio e cuidar do negócio em sua ausência. A
questão era: quem poderia ser?
A solução se revelou na figura de Ângelo Pessuti, que na época era casado
com Maria de Lourdes, irmã de ninguém menos do que Hebe Camargo. Quem
diria? E a parceria com Ângelo seria o melhor que poderia acontecer no
momento. Mas, seria possível resolver a situação assim? Após algum tempo
apostando na venda de bebidas e sanduíches do “Nosso Cantinho”, Silvio
percebeu que não conseguiria juntar dinheiro suficiente para pagar o que devia.
Era chegado o momento de ter uma ideia mais lucrativa e, também, de se
desfazer do bar.
O que poderia ser feito, explorando as habilidades que possuía, que lhe
trouxesse mais rentabilidade? Ele começou a pensar em possibilidades e,
certamente, aproveitou a experiência que adquirira na barca (e o sucesso
conquistado) para idealizar a nova empreitada. Foi assim que surgiu o projeto
“Brincadeiras para você”. Totalmente formulada por ele, era uma revista que
reunia palavras cruzadas, charadas e passatempos como mais uma forma de
entreter o público. Mas não era só para diversão do público que a revista havia
sido criada. Pensando em aumentar sua renda, o jovem empresário encontrou na
publicação uma forma de voltar a ser corretor de anúncios, uma profissão que já
havia sido lucrativa na época da barca. Silvio vendia a publicação em casas
comerciais, que distribuíam o produto gratuitamente aos clientes.
Com mais essa experiência, ele poderia voltar à figura do empresário que
oferecia entretenimento ao público – algo que sempre estaria presente em sua
trajetória profissional. Agora, voltava também à vida dupla de locutor e homem
de negócios, mas, com a alma inquieta que tinha, e sempre sabendo que poderia
ir além, não demorou para acrescentar mais atividades que ocupassem seu
tempo. O carisma e o faro aguçado para o verdadeiro entretenimento trariam
boas-novas para sua vida.
Também em frente à Igreja Santa Cecília, região onde anteriormente ficava
seu bar, Silvio começou a montar shows de circo. E não só montou como
também teve que entrar como apresentador de espetáculos circenses. Era ele
quem introduzia as sessões e os artistas, fazia piadas e entrava em contato com o
público para que todos ali se divertissem o máximo possível. Muitas vezes, não
era recebido com alegria, pois algumas sessões começavam com atraso.
Mas Silvio sempre dava um jeito de quebrar o gelo e trazer o público para
junto de si. Ele divertia o público, se divertia, e ganhava cada vez mais dinheiro:
com todas essas atividades, conseguia faturar até 40 mil cruzeiros por mês, bem
mais que os 5 mil de seu primeiro salário em São Paulo com a Rádio Nacional. É
impressionante perceber que Silvio aumentou em oito vezes seus ganhos iniciais.
Nota-se que a decisão de desistir do bar e tentar algo mais lucrativo foi muito
acertada. Aos poucos ele foi conseguindo chegar aonde queria. A preocupação
em relação à dívida já não lhe atormentava mais, pois, com todo o trabalho e
dedicação que empreendeu durante mais esse período, foi conseguindo quitá-la.
Notável desde sempre é o empenho com que Silvio leva sua vida profissional.
Não somente a determinação como também a coragem de ousar quando
necessário. Com o sucesso das apresentações, os espetáculos começaram a
extrapolar os limites da cidade, seguindo para o interior. As caravanas de Silvio
ficaram famosas por diversas cidades, levando alegria Brasil afora.
Curioso também é um apelido que ganhou na época: “Peru que fala”. Sendo
de pele muito clara, com facilidade ficava vermelho, com as faces rosadas. E
havia dois motivos para isso: ele falava muito durante seu trabalho de animador
e também ficava com vergonha de algumas piadas que fazia. Surgiam assim as
famosas “Caravanas do Peru que fala”. Certamente foi uma fase que trouxe
muitas memórias para a vida de Silvio, mas não deixou de ser uma época muito
difícil também.
Cada vez mais a caravana fazia shows e viajava para destinos fora de São
Paulo, e não eram poucos os custos envolvidos na realização da apresentação:
aluguel de lona, pagamento dos artistas, custos das viagens e muitos outros. Para
o idealizador, pouco sobrava de lucro quando descontado todo o valor que a
estrutura do espetáculo exigia. Um dos maiores custos que a caravana tinha, e
que estava inviabilizando economicamente o negócio, era o transporte. Para
resolver esse problema de logística, a única solução seria um transporte próprio
que fosse propício ao deslocamento da caravana. Era mais um obstáculo a ser
contornado.
A saída encontrada foi buscar parceria para conseguir um jipe, que na época
custava 200 mil cruzeiros. Para isso, Silvio pensou em tratar com quem vivia de
negociações. Como era período de eleições, viu a oportunidade de propor uma
troca para políticos: faria dezenas de shows divulgando o candidato em troca do
jipe. Primeiramente, entrou em contato com o candidato Cunha Bueno, que
gostou da ideia, mas só poderia financiar metade do jipe. Faltando 100 mil
cruzeiros para conseguir o tão almejado veículo, foi atrás de outra possibilidade
de parceria, indicada pelo próprio Cunha Bueno, Carlos Kherlakian. Conseguiu
fechar mais shows com ele, mas não pelo valor suficiente para comprar o
veículo. Como o deputado só conseguiria disponibilizar mais 50 mil cruzeiros,
Silvio precisou entrar com a outra metade, obtida por meio de empréstimos.
Mais uma vez, via-se diante de dívidas.
Enfim conseguira seu jipe para viabilizar a caravana. Infelizmente não como
tinha planejado, afinal, precisava recuperar o dinheiro investido para concluir a
transação, que não retornaria com facilidade. Não foi pouco o trabalho
despendido para fazer a caravana acontecer. Para realizar os comícios
negociados com os políticos, precisava fazer a propaganda, armar o palanque e
ainda animar e apresentar os shows. Era praticamente uma maratona,
considerando que ele ainda trabalhava como locutor na Rádio Nacional.
Trabalhando arduamente e com pouco descanso, não é difícil imaginar que sua
saúde tenha apresentado oscilações na época, afinal, o desgaste era imenso. Tudo
isso somado à pressão psicológica de ter que pagar mais uma dívida acabou
resultando em fragilidade e perda de peso.
Quando se lembra dessa época, Silvio já disse em entrevistas ter pensado em
desistir de tudo, pois não sabia se aguentaria. Mas, com a força de vontade de
sempre, não desistiu e seguiu lutando.
Como muitas das adversidades que passamos na vida, essa também foi uma
época de aprendizado para Silvio, uma lição que lhe seria muito cara para tornar-
se quem é hoje. Foi nessas caravanas – ou desde a época de camelô – que ele
aprendeu a se aproximar do público, a criar empatia e um canal direto para que a
população se identificasse com sua figura. Afinal, se não houvesse confiança por
parte do povo, suas empreitadas não teriam tanto sucesso.
Foi nessa época que, devido a toda a intimidade que desenvolveu com o
público, Silvio chamou a atenção de alguém que viria a ser muito importante em
sua vida profissional: Manoel de Nóbrega. O já renomado locutor era alguém
com quem Silvio tinha muito em comum. Assim como Silvio, Manoel também
era natural do Estado do Rio de Janeiro, mas de Niterói. Também como o “Peru
que fala”, iniciou sua carreira artística ainda na capital carioca, onde trabalhou
como radialista em emissoras de lá. Na década de 1940 mudou-se para São
Paulo, onde trabalhou em emissoras de rádio como Cultura, Nacional e Tupi.
Além de radialista, acompanhou e participou do início da TV brasileira,
apresentando programas em diversas emissoras paulistas, como a TV Paulista,
segunda emissora inaugurada em São Paulo (após a TV Tupi).
Manoel de Nóbrega desempenhou um importante papel na história do humor
no rádio e na televisão brasileira. Ele foi o idealizador do A Praça da Alegria,
programa de grande sucesso na televisão e que, um dia, faria parte da
programação da própria emissora de Silvio Santos. O formato do programa
surgiu em 1957 na TV Paulista, que posteriormente seria incorporada pela Rede
Globo de Televisão. Manoel de Nóbrega interpretava o personagem que se
sentava na praça e dialogava com os diversos tipos cômicos que apareciam com
recorrência por ali.
E como foi que Manoel teve a ideia de um formato de humor que até hoje
diverte muitos lares brasileiros? Curiosamente, não foi no Brasil, mas sim na
Argentina. Certa vez que esteve de férias em Buenos Aires, observava da janela
do seu hotel um homem sentado em uma praça que atraía os mais diversos tipos
de pessoas diariamente para um bate-papo. Era o homem da praça original. Foi
seu filho, Carlos Alberto de Nóbrega, que levou o mesmo formato de programa
ao Sistema Brasileiro de Televisão, alguns anos após a morte do pai, que ocorreu
em 1976. A Praça é Nossa estreou em 7 de maio de 1987, programa que até hoje
faz parte da grade da emissora como um sucesso atemporal.
Mas até que a história chegasse nesse difícil momento da perda de um amigo
na vida de Silvio, muitas águas ainda rolariam na relação entre esses dois
importantes nomes da comunicação brasileira. Com o sucesso de público das
caravanas do Peru que fala, Nóbrega resolveu convidar Silvio para trabalhar com
ele apresentando os quadros “As aventuras do Peru que fala” e “Cadeira de
Barbeiro” em seu programa na Rádio Nacional. Entusiasmado com o talento que
percebera em Silvio, não só como locutor, mas também como vendedor,
Nóbrega ainda o escalou para fazer parte do seu programa A Praça da Alegria,
mas, dessa vez, como locutor comercial. Silvio, um comunicador nato, entrava
cada vez mais em contato com o mundo da televisão, que se estabelecia como
forma de entretenimento da população brasileira.
Além de radialista e apresentador de programas de televisão, Manoel de
Nóbrega também era empresário. A sua atividade nos negócios envolvia a gestão
do Baú da Felicidade – aquele que viria a se tornar o império de Silvio Santos.
Tendo aproximado os dois profissionalmente, o destino se encarregaria de traçar
os caminhos para que Silvio não só se envolvesse, mas também assumisse o
controle total das operações do Baú.
O BAÚ DA FELICIDADE
O Baú da Felicidade chegou ao conhecimento de Silvio através de Manoel de
Nóbrega. Mas não foi Nóbrega o cabeça por trás da ideia. Assim como ele
apresentou o Baú a Silvio, também foi outra pessoa quem lhe mostrou o negócio.
Em 1957, Nóbrega foi procurado na Rádio Nacional por um alemão com uma
proposta simples: oferecer um baú de brinquedos anual aos clientes, com a
facilidade de ser pago ao longo de todo o ano, em diversas prestações.
Visualizando o potencial do negócio, Nóbrega ficou muito interessado na
proposta. Porém, havia um único obstáculo para a concretização do acordo: ele
não tinha dinheiro para investir. Entretanto, isso não viria a ser um empecilho
para o nascimento da empresa. O alemão propôs, então, um acordo: entraria com
o investimento inicial, em troca veicularia anúncios nos programas da Rádio
Nacional, que trariam visibilidade ao produto e potencializariam as vendas.
Esses anúncios seriam pagos pelo próprio Nóbrega e a empresa ficaria em seu
nome, devido à sua reputação e credibilidade como locutor diante do público.
Parecia uma proposta em que os dois lados sairiam ganhando, afinal, Nóbrega
não precisaria investir o dinheiro que não tinha e a outra parte conseguiria
divulgação em uma rádio com enorme audiência a custo zero.
Assim que os anúncios começaram a ser transmitidos, começaram a surgir
centenas de clientes interessados no tal baú de brinquedos. Era um sucesso para
uma empresa com tão pouco tempo de vida, considerando que as vendas
rapidamente ultrapassaram a quantidade de mil baús. O que era um sonho para
Nóbrega acabou se tornando um pesadelo, não só para ele, como também para os
clientes que esperavam ansiosamente a chegada dos brinquedos. A espera
acabou em frustração, pois nunca receberiam o que compraram. Nóbrega, que
não entendia o que estava acontecendo, foi atrás do alemão para saber quando os
clientes receberiam os produtos que lhes eram de direito. A resposta que recebeu
foi um balde de água fria, um problema que também estava em suas mãos.
O outro sócio do Baú da Felicidade havia perdido todo o dinheiro, sem
possibilidade de reaver a quantia e, muito menos, cumprir com as obrigações
impostas pelas vendas que haviam sido realizadas. Nóbrega viu-se então diante
de um grande problema. Como uma estrela do rádio, o locutor passou a ser
procurado pelos clientes que estavam se sentindo enganados, afinal, ele garantira
a entrega dos baús em seus anúncios. Parecia que Nóbrega estava em um poço
sem fundo: não só teria que resolver essa situação, como ainda teria que pagar
pelos anúncios na Rádio Nacional. O cenário era crítico e o locutor precisava
encontrar uma saída, ou alguém capaz de lhe trazer uma solução. Quem saberia
lidar com o público e evitar escândalos? Para ele, não restava a menor dúvida de
quem era a melhor pessoa para a tarefa: o Peru que fala.
Nóbrega procurou Silvio para explicar a situação em que estava metido, e que
era urgente informar aos clientes que tudo seria resolvido e o dinheiro devolvido.
Para isso, era preciso que ficasse de pronto atendimento na sede do Baú da
Felicidade, acalmando os ânimos dos clientes para impedir que um escândalo se
instaurasse em torno do tema. A princípio, Silvio, mesmo considerando Nóbrega
um amigo, não aceitou o pedido, pois já tinha muitas coisas para lidar por si só.
Como poderia cuidar da sua vida profissional atribulada e ainda receber os
clientes do Baú? Para ele, não era uma ideia plausível.
Acontece que Nóbrega estava desesperado e fez questão de mostrar sua
aflição a Silvio, com a intenção de comovê-lo sobre a importância da causa.
Vendo o amigo tão angustiado, ele não pôde mais recusar ajuda e acabou
assumindo a difícil missão. Foi assim que Silvio teve que se dirigir ao endereço
na Rua Líbero Badaró, ao lado do Hotel Othon Palace, onde ficava a sede da
empresa. Conhecendo Nóbrega, e tendo visto o sucesso de vendas do negócio,
imaginou que fosse se deparar com uma empresa próspera e totalmente
organizada, algo condizente com seu potencial.
Mas, surpreendentemente, chegou ao local e descobriu que o suposto
escritório estruturado ficava no fundo de uma loja de péssima aparência. Para
seu assombro, a degradação da fachada era ainda mais gritante no escritório do
Baú – ou no porão em que se localizava. Quando chegou ao local, ainda
encontrou uma moça e o tal do alemão trabalhando em cima de um mísero
caixote. Logo se identificou como o novo encarregado das operações, pedindo
para que o homem se retirasse. Era preciso colocar a mão na massa rapidamente
para começar a receber os clientes e informá-los como Nóbrega havia lhe
orientado.
Sobre esse dia, o próprio Silvio contou algumas lembranças em entrevista à
apresentadora Hebe:
ʻEu comecei o Baú sem absolutamente nenhum tostão. Nenhum real, nenhum
centavo. Eu cheguei em uma localidade, em uma loja que estava totalmente
destruída e que o Nóbrega me disse que era o Baú da Felicidade. [...] Ele me
pediu que eu devolvesse o dinheiro para quem tinha comprado o novo Baú,
porque a empresa estaria terminada. Naquele dia que eu estive lá vieram
aproximadamente oito ou dez pessoas, não mais do que isso. Eu tenho até um
livro marcado com o número de cada pessoa que queria renovar o seu carnê. ,
Foram dias recebendo os clientes e reafirmando o compromisso em reparar
todo o prejuízo a que foram submetidos. Diversas vezes, quase como em um
texto decorado, falava-lhes que o dinheiro seria devolvido prontamente. Nesse
momento, também dizia aos clientes que não poderiam mais adquirir o produto,
afinal, a empresa encerraria suas atividades. Mas, será que esse seria o desfecho
da história? Será que nunca mais ouviríamos falar do Baú da Felicidade?
A história está aí para provar que não foi nada disso que aconteceu, e que, na
verdade, a empresa do porão prosperaria e daria origem ao imenso grupo de
Silvio Santos. Fato incrível que só poderia se tornar real com alguém de tamanha
inventividade e capacidade para negociação. Nesse momento, Silvio conseguiu
enxergar nas idas e vindas dos clientes exigindo seu baú de brinquedos uma
possibilidade de sucesso em termos de negócio, desde que fosse bem
administrado. Ousado como era, não poderia deixar uma chance como essa
passar despercebida. Logo que percebeu o potencial do Baú, procurou Nóbrega
para lhe fazer a proposta. Disse que acreditava que aquilo poderia dar certo, e
propôs uma sociedade ao estilo da selada anteriormente com o alemão: enquanto
entrava com um investimento conforme suas possibilidades, o colega da Rádio
Nacional permaneceria como responsável pela publicidade, pagando pelos
anúncios de divulgação.
Sabendo que poderia confiar muito mais em Silvio do que no alemão,
Nóbrega aceitou a proposta de sociedade, evitando assim que a empresa
fechasse. Agora era o momento de reestruturar a forma de gerenciar a empresa
para alcançar a prosperidade. Silvio, como um exímio gestor, começou a
empreender diversas mudanças nos mais variados aspectos da empresa. A
primeira medida da nova gestão foi alterar a embalagem do baú de brinquedos,
deixando-a mais atrativa. A antiga embalagem mais parecia um caixão, o que
não era nem um pouco agradável aos olhos dos clientes. Além disso, passou a
oferecer os brinquedos em catálogos; dessa forma, o próprio cliente escolheria o
brinquedo que iria receber no fim do ano, após pagar todas as mensalidades.
Uma simples mudança que certamente traria mais satisfação ao público.
Como Silvio sabia que os vendedores eram os principais contatos dos
consumidores com a empresa, também passou a exercer uma vigilância rigorosa
sobre eles. Percebeu que muitos mentiam com o objetivo de concluir a venda
com mais facilidade. Essa atitude desonesta não era vantajosa nem para os
clientes nem para a empresa, que, no fim, não entregaria o prometido.
Acompanhando de perto o dia a dia de sua força de vendas, Silvio começou a
demitir aqueles que não tinham uma conduta ética e adequada à nova política de
gestão, impedindo que as práticas inapropriadas se alastrassem pela empresa.
Foi assim que, aos poucos, o negócio foi tomando um caminho adequado e
crescendo conforme era possível. Logo após a estabilização e sucesso nas vendas
dos brinquedos, em 1958, o olhar de Silvio já se voltava para possibilidades de
expansão. Ora, já que o modelo de pagamento de carnês em troca de produtos
estava dando certo e gerando aceitação do público, por que não começar a
oferecer outros produtos que pudessem agradar ainda mais? Foi assim que novas
linhas foram entrando no catálogo do Baú da Felicidade. Logo, a empresa passou
de especialista em baú de brinquedos para fornecedora de louças e, em seguida,
utilidades domésticas. E não demoraria para que Silvio visualizasse novas
ofertas de produtos exclusivos para os clientes do Baú, solicitados por ele a
grandes empresas, como a Estrela.
Dessa forma, foi possível mudar do porão deplorável para uma sala mais
ampla (ainda que pequena) na Rua Xavier de Toledo, ainda no centro de São
Paulo. Um grande avanço para Silvio, que não precisaria mais ver seus clientes
sendo recebidos no porão dos fundos de uma loja nada convidativa. Com sua
visão ambiciosa e destemida de gestor, ele dava passos cada vez mais largos no
comando do Baú. Para se ter ideia, ele negociou uma boneca exclusiva com a
Estrela, tendo que comprar 40 mil unidades do brinquedo – o que criava a
necessidade de um altíssimo número de vendas.
Nóbrega acompanhava tudo de longe e ficou muito assustado quando soube
do alto valor com o qual a empresa estava se comprometendo por causa da visão
otimista de seu sócio. Quando soube da negociação dos produtos exclusivos,
sentiu que era o momento de elucidar seus sentimentos em relação aos rumos do
Baú da Felicidade. É fato que ele ainda estava traumatizado pela sociedade
desastrosa com o alemão e, por isso, não conseguia ver com bons olhos qualquer
necessidade de investimento para fazer a empresa crescer. Era óbvio que ele não
estava na mesma sintonia que Silvio. Ciente das ambiciosas negociações da
empresa, afirmou que temia a coragem do amigo, com receio do que poderia
acontecer com eles se dessem um passo muito ousado. Propôs, assim, que Silvio
ficasse com toda a empresa, já que não se sentia dono ou merecedor de qualquer
fruto que o Baú pudesse render.
O novo dono do Baú não pensou duas vezes sobre a proposta e nem precisou
ser convencido como da primeira vez. Aceitou ser o único responsável pelo Baú,
mas queria, de alguma forma, recuperar o dinheiro que Nóbrega havia perdido
por causa da falcatrua do alemão. Para selar o acordo entre ambos, o ex-sócio
recebeu 5 mil cruzeiros, como forma de compensação pelas perdas e pela antiga
responsabilidade por uma empresa que não estava mais à beira da falência. O
valor recebido pelo fim do contrato certamente foi muito inferior em relação a
tudo que o Baú ainda faturaria. Mas, o fato é que a empresa só tomou grandes
proporções em virtude da ousadia, dedicação e visão de Silvio.
Foi então que Silvio fundou a empresa Silvio Santos, que, futuramente, se
tornaria o grupo homônimo. Certamente, esse momento em 1958 foi um marco
histórico, não só para o empreendedor, mas para todo o país, que ainda
testemunharia uma vida inteira de trabalho e dedicação, voltado especialmente
às classes populares da nação. No centro da cidade, a sede da empresa passou
por dois endereços, primeiramente na Rua Xavier de Toledo e mais tarde na Rua
Quirino de Andrade. Nesse último local permaneceu por mais tempo,
apresentando um crescimento cada vez mais vertiginoso.
Em 1963 houve a mudança de nome para BF Utilidades Domésticas, tornando
a empresa popularmente conhecida como Baú da Felicidade. A vida trataria de
transformar esse pequeno negócio em um grande motivo de felicidade para
Silvio – ou um deles, já que muitas empresas se formariam a partir dessa.
Chegada a década de 1960, não era somente a carreira de empresário de Silvio
que andava a passos largos; agora, ele estava próximo de atuar no que viria a ser
uma das grandes paixões da sua vida: a televisão.
UM MARCO NA ERA TELEVISÃO
Nóbrega podia não ter o espírito audaz e empreendedor de Silvio, mas em um
ponto tinha razão: os contratos que estavam sendo fechados para a fabricação
dos produtos exclusivos eram muito ousados. De repente, Silvio teve que vender
milhares de produtos para não correr o risco de entrar em falência mais uma vez.
Para conseguir atingir sua meta de vendas, ele precisava encantar os clientes e
necessitava de algo realmente atrativo para conquistá-los.
Como era um homem de soluções criativas, logo percebeu que não precisava
ir longe para divulgar o Baú: encontrou nos shows das caravanas a resposta para
o seu dilema. Com a grande quantidade de shows que elas alcançavam e a
presença marcante em diversos lugares, não demorou muito para que o Baú se
tornasse bastante popular e para que as vendas atingissem os números esperados.
Silvio, mais uma vez, evitava o temido encerramento das operações.
Em 1963, no momento da virada para BF Utilidades Domésticas, a linha de
produtos disponíveis era bem mais extensa, incluindo itens como geladeiras,
televisores e panelas. Os clientes não escolhiam mais os produtos que desejavam
em catálogo, pois podiam dirigir-se a uma das lojas do próprio Baú para comprar
o que precisavam. Pouco antes disso, em junho de 1960, houve mais um fato
marcante na trajetória, que definiria boa parte do rumo que Silvio tomaria em
sua vida: a estreia do programa Vamos Brincar de Forca. A partir desse
momento, o locutor de rádio passaria a ser também apresentador de televisão.
Na década de 1960, após dez anos de estreia da televisão brasileira, o meio de
comunicação buscava firmar sua audiência junto ao público, tendo que criar seus
próprios trunfos frente aos populares e já estabelecidos rádio e cinema. Era
preciso estimular o hábito de assistir à televisão entre os potenciais
telespectadores e, para isso, as emissoras necessitavam de uma programação
cativante. Nessa época, Silvio já era um renomado e popular locutor da Rádio
Nacional, com uma voz consagrada diante do público. Por isso, foi convidado
para apresentar o referido programa, que iria ao ar no período noturno na TV
Paulista.
Para a sua estreia nas telinhas, aproveitou o que de melhor sabia fazer:
brincadeiras com sorteios de prêmios e shows ao estilo circense. O programa foi
marcante para a televisão brasileira e também em sua carreira.
Logo, Silvio percebeu que poderia se dar bem como apresentador de televisão
e que deveria investir na área. Para além de seu sucesso pessoal, também
enxergou um potencial crescimento de seus negócios a partir de um trabalho de
divulgação que atingiria cada vez mais clientes. Foi assim que começou a tomar
forma a ideia do Programa Silvio Santos, a atração que tomaria conta dos
domingos nos lares brasileiros. Para esse programa, partiu do próprio
apresentador a ideia de adquirir um espaço na televisão para sua nova aposta.
Animado com os bons índices de audiência, Silvio adquiriu duas horas na
grade de programação aos domingos para lançar sua própria vitrine. O programa,
com horário inicial do meio-dia às duas da tarde, estreou em 2 de junho de 1963.
Esse seria apenas o início de uma longa história na televisão brasileira – que
continua sendo escrita.
O programa chegou a entrar para o Guinness Book, em 1993, por ser o mais
duradouro do mundo, na época, sendo exibido há 30 anos. E não parou por aí,
em junho de 2017 o Programa Silvio Santos completou impressionantes 54 anos
no ar. Não é um recorde para qualquer um.
Com base em tudo que já fazia e tendo em vista o modelo do Baú da
Felicidade, Silvio fez de seu novo programa um momento de shows,
brincadeiras e prêmios. Ou seja, ele se encarregava de divertir as tardes de
domingo dos seus telespectadores. O programa que tinha apenas duas horas de
duração rapidamente teve seu horário estendido e passou a ocupar a tarde inteira
dos domingos. Aos poucos, e conforme a televisão ia se estabelecendo no país,
Silvio conquistava o público e também mais clientes para sua empresa, o que
muito lhe agradava. Desde o primeiro programa, o apresentador ganhava o
carinho do povo. Assim, o Programa Silvio Santos conseguiu criar nos
telespectadores o hábito de reservar seu domingo para assistir à televisão. Os
quadros principais eram: “Cuidado com a Buzina”, “Só Compra Quem Tem”,
“Rainha por um Dia”, “Partida de 100” e “Pergunte e Dance”. Quando estreou
na televisão, o foco publicitário do programa era apenas o Baú da Felicidade,
como pensado originalmente. Durante a exibição, Silvio promovia o negócio
para torná-lo cada vez mais conhecido a fim de também conseguir alavancar as
vendas. O apresentador, entretanto, logo percebeu que poderia ir além: por que
ficar só no Baú da Felicidade se poderia atrair outros anunciantes graças ao
sucesso e credibilidade que estava conquistando junto ao público? Ele percebeu
que seu programa poderia ser uma ótima vitrine de produtos, além dos seus
próprios. Foi assim que surgiu a Publicidade Silvio Santos Ltda., uma empresa
que passaria a controlar todas as transações de publicidade que envolviam o
grupo. E, mais uma vez, o empresário não parou por aí.
O sucesso do programa fez com que Silvio aproveitasse a oportunidade de
atuar em outra frente. Afinal, já que fazia a divulgação de produtos em seu
programa, por que não produzir esses comerciais? A Studios Silvio Santos
Cinema e Televisão Ltda. era sediada nos antigos estúdios da TV Excelsior, na
região da Vila Guilherme, em São Paulo. Nesse estúdio de cinema seriam
produzidas até mesmo atrações para outras emissoras, utilizando a expertise que
o grupo adquirira no mundo da televisão. Nessa época, Silvio não só investiu no
crescimento de seu grupo empresarial, como também estreitou as relações com
profissionais que ficariam ao seu lado por décadas. Tal é o caso dos consagrados
Roque e Lombardi.
Lombardi – ou sua voz – tornou-se imortal na televisão brasileira pelo seu
protagonismo no Programa Silvio Santos. Afinal, quem não se lembra do bordão
“É com você, Lombardi!”, a deixa para que o vozeirão invadisse o programa
com seus anúncios? Realmente, trata-se de um marco na história da televisão
brasileira. Luís Lombardi Neto nasceu em São Paulo, em 1940, e desde pequeno
tinha o sonho de ser locutor de rádio. Ele conheceu seu eterno patrão nos
estúdios da TV Paulista, quando Silvio já apresentava programas. Na época,
Lombardi fazia um teste para trabalhar como locutor esportivo na emissora.
Impressionado com a potência e o talento daquela voz, Silvio o convidou para
fazer parte do seu programa. Havia uma peculiaridade nessa participação,
entretanto: Lombardi não poderia aparecer nem mesmo mostrar sua imagem
longe do programa.
A intenção de Silvio era criar um personagem que carregasse junto a si um
mistério em relação à sua imagem. Para isso, era preciso que apenas a voz fosse
conhecida e reconhecida, já que era muito marcante. O personagem de fato
manteve o seu mistério por muitas décadas, pois o público só descobriu sua
verdadeira imagem no século seguinte. Por muitos anos os telespectadores,
encantados com a voz de Lombardi, imaginavam como seria a figura daquele
homem que os acompanhava todos os domingos. Até o final da sua vida, em 2
de dezembro de 2009, Lombardi trabalhou ao lado de Silvio em seu programa. A
parceria que o apresentador havia estabelecido na década de 1960 se revelou
muito duradoura e proporcionou um enorme sucesso à atração.
Outro personagem mítico que Silvio ajudou a construir junto à população
brasileira foi o seu assistente de palco Roque. Roque, na realidade, conhecia
Silvio desde 1955, mas somente na futura emissora do apresentador é que a
relação ficaria marcada por todo o Brasil. O atual diretor de palco do SBT
encontrou com Silvio ainda na Rádio Nacional. Na época, ele conta que estava
desempregado e foi tentar arranjar alguma ocupação na rádio para ter sua
carteira assinada. Começou a trabalhar na portaria e como office boy. A forma
com que os dois se aproximaram em posições tão distantes foi no mínimo
curiosa. Cada vez mais conhecido e admirado pelo público, Silvio tinha
inúmeros fãs e recebia muitas cartas desde a época da rádio. Logo, as
correspondências enviadas para Silvio eram entregues por Roque, que passou a
ficar mais próximo do futuro patrão.
Certamente, ao longo de sua trajetória, Silvio soube valorizar e incentivar o
desenvolvimento de muitas estrelas. Dessa forma, conquistou sucesso e
credibilidade não só para ele, mas também para muitos que estiveram ao seu
lado durante a longa jornada. O caminho desse grande empreendedor também é
o caminho das pessoas que construíram esse legado em sua companhia.
Ao passo que seguia se dedicando e expandindo o sucesso do Programa Silvio
Santos, também concentrava esforços na expansão de suas unidades de negócio.
Fruto da necessidade ou da oportunidade bem aproveitada, fato é que o Grupo
Silvio Santos não parava de crescer.
O Baú da Felicidade caía nas graças do público e, conseguindo vender os
produtos exclusivos que desenvolveu, o homem do Baú partiu para outras
frentes. Ele queria fornecer cada vez mais produtos para os brasileiros, que
sempre respondiam muito bem às suas empreitadas. O ano de 1964 foi
tumultuado para o Brasil: em termos políticos, os ânimos estavam acirrados, pois
o então presidente João Goulart não era bem-visto por uma parcela das classes
política e empresária, receosa com as reformas de base que o presidente desejava
fazer. O 1o de abril de 1964 entrou para a história como o dia do golpe que tirou
Jango do poder, bem como o início da ditadura militar no país. Em meio ao caos
político, a inflação acumulada de 1964 foi de 89,9%, o que prejudicava muito o
poder de compra da população brasileira.
Diante do cenário, Silvio teve a sacada de distribuir moradias por meio do
Plano da Casa Própria no Baú da Felicidade. Criou-se até mesmo o Festival da
Casa Própria, programa exibido aos sábados na TV Tupi para promover o novo
projeto. A atração somava prêmios, música e diversão, e também era onde o
apresentador realizava os sorteios das casas que iriam para os clientes do Baú. A
urna de sorteio, inclusive, era moldada no formato de uma casa. O apelo de dar
uma casa própria para os clientes e telespectadores era muito forte e a demanda
crescia cada vez mais. Porém, houve uma questão legislativa que atrapalhava o
crescimento da iniciativa: para que ocorresse o sorteio, era preciso que o grupo
adquirisse com antecedência as tais moradias, exigindo um alto investimento e
imensa burocracia no processo.
A solução encontrada foi a criação de uma construtora do próprio grupo, o que
reduziria os custos e aceleraria o processo. Foi assim que, em 1965, nasceu a
Construtora Comercial BF, que posteriormente viria a ser a Baú Construtora. Em
seguida, novos negócios seriam incorporados ao grupo em virtude do progresso.
Esse também foi o caso da Concessionária Vimave, que tornou-se necessária
devido aos sorteios de carros. Nesse ritmo, o crescimento vertiginoso do grupo
se mostrou eficiente e sustentável.
O embrião do negócio que viria a ser o Banco Panamericano foi fundado em
1969, a Baú Financeira. Inicialmente, a empresa foi criada com o objetivo de
impedir que o dinheiro adquirido com as prestações do Baú fosse desvalorizado
e, consequentemente, investido no cenário de alta inflação em que o Brasil vivia.
Entre 1965 e 1975, dez empresas foram incorporadas ao Grupo Silvio Santos,
com atuações que variavam do entretenimento ao ramo de construtoras. A essa
altura, não parecia haver limites para o tamanho da estrutura.
A estratégia de Silvio de apoiar a figura do artista na do empresário e vice-
versa rendia cada vez mais resultados. Sua visão de longo prazo e de
oportunidades viabilizava negócios nos mais variados mercados. E a persona do
artista ia muito bem, obrigado, crescentemente mais admirado e reconhecido.
Em 1964, Silvio ganhou pela primeira vez o importante Troféu Imprensa na
categoria Melhor Animador. Esse era o reconhecimento de todo o seu talento,
um potencial que vinha sendo cultivado desde antes da sua estreia na televisão.
O Troféu Imprensa foi criado em 1958 pelo jornalista Plácido Manaia Nunes,
com o objetivo de celebrar os destaques da música e da televisão brasileira
anualmente. É o mais antigo prêmio anual do gênero.
Silvio sempre valorizou muito o Troféu e, em 1970 teve a oportunidade de
adquirir seus direitos autorais e, posteriormente, de produzir e transmitir o
prêmio em sua própria emissora de televisão. Já em 1971, Silvio apresentaria a
importante premiação no Programa Silvio Santos. O programa na TV Paulista
deu tão certo que em 1965 ele foi chamado para apresentar um programa
noturno semanal que nasceria com o nome Festa dos Sinos, até se transformar
em Silvio Santos Diferente, que chegou até a ser transmitido pela TV Tupi. No
ano seguinte, em 1966, a TV Paulista foi adquirida pela Rede Globo de Televisão
e um contrato de cinco anos de duração foi assinado. Nesse mesmo período,
Silvio e sua equipe realizaram uma façanha que mostra quão significativos o
apresentador e seu programa foram para o país inteiro: conquistaram uma
audiência maior do que o Programa Jovem Guarda, o maior sucesso da época,
apresentado por Roberto Carlos.
Será que ele conseguiria imaginar, no início de sua carreira como locutor, ou
mesmo ainda menino, como camelô no Rio de Janeiro, os triunfos que alcançaria
ao longo da vida? O mais impressionante é que Silvio parece fazer tudo com
leveza, como se o trabalho fosse uma divertida brincadeira. O próprio
apresentador já disse que aos domingos só quer entrar nos lares brasileiros como
uma criança, deixando transbordar o seu lado infantil. Encarando o trabalho
como diversão ou não, não há como negar que o seu império foi construído com
enorme dedicação e esforço. Afinal, só alguém com um objetivo muito claro na
vida, que não desiste nunca, é capaz de bancar as jogadas ousadas que Silvio
empreendeu diversas vezes.
Certa vez, respondendo a perguntas da plateia no programa De Frente com
Gabi, Silvio deixou um grande ensinamento sobre negócios, ou sobre como ele
chegou lá:
ʻUma das coisas que não deve preocupar quem quer se meter em qualquer
tipo de negócio são os elogios ou as críticas. Se você fizer o que sua intuição
manda, e usar o bom senso, deixando de lado a vaidade, você tem todas as
possibilidades de conseguir o seu objetivo. Só não consegue o objetivo quem
sonha em demasiado, só não consegue o objetivo quem pretende dar o passo
maior do que a perna, quem acredita que as coisas são fáceis. Todas as coisas são
difíceis, as coisas têm que ser batalhadas. Se você conseguir algo facilmente,
desconfie, porque não é tão fácil quanto parece. ,
Com o sucesso em seu ofício como apresentador, logo apareceria para Silvio
uma pequena luz sinalizando novos caminhos. Já que era um especialista em
produzir e apresentar programas, por que não criar sua própria emissora? Uma
emissora de televisão sempre foi um negócio gigante, com necessidade de
investimento bilionário.
Era um sonho ousado, mas não tanto a ponto de desmotivar alguém com o
perfil de Silvio. Ao contrário, a perspectiva o atraía ainda mais. Afinal, ele
queria – e sabia que podia – conquistar sempre mais. O contrato com a Globo
também estava chegando ao fim, o que levantava muitos questionamentos para
Silvio e para todos ao seu redor: será que ele continuaria na emissora? Será que
partiria para novos rumos? A história se encarrega de mostrar a magnitude do
caminho que ainda estava reservado para o apresentador.
O PRIMEIRO CASAMENTO
Ainda que quase ninguém soubesse, pouco depois de estrear seu primeiro
programa na TV Paulista, Silvio Santos já era um homem casado. Para alguns,
seu status de relacionamento passava despercebido, até porque ele fazia questão
de manter a discrição na época. O fato é que Silvio era um artista crescentemente
admirado e com cada vez mais fãs, chegando a ocupar posto de galã com seu
sorriso carismático. Quando colocava sua voz para fora, no rádio ou na televisão,
o apresentador aumentava sua fama e também conquistava mais admiração. Na
década de 1960, à diferença dos dias de hoje, ser visto como um homem casado
não era interessante para um artista renomado. O mundo das celebridades
brasileiras ainda estava em ascensão, havia uma crença geral de que astros
casados poderiam perder pontos com as fãs. Nenhum deles, incluindo Silvio,
queria arriscar sua credibilidade – ou sua fama.
Mas quem havia conquistado o coração do apresentador na década de 1960?
Seu nome era Maria Aparecida, mais conhecida como Cidinha. Silvio e Cidinha
se casaram no dia 15 de março de 1962, quando ele estava com 31 anos. Junto à
estreia na televisão, Silvio estreava sua vida a dois. O casal se conheceu na
Rádio Nacional, quando Silvio trabalhava como locutor. Como já mencionado, o
rádio era o reduto dos artistas nesse momento da história brasileira, o lugar onde
a magia acontecia. Assim como Cidinha, muitas moças cumpriam expediente na
porta das emissoras para conhecer seus ídolos, donos das vozes que ecoavam
através das ondas de seus radinhos.
Quando conheceu Silvio, Cidinha não trabalhava e, por isso, gostava de ir até
a sede da rádio para encontrar seus artistas prediletos. Foi em uma dessas visitas
que o futuro casal acabou se conhecendo. No início, no entanto, não houve clima
de romance, eles eram apenas bons amigos que desfrutavam muito do papo e da
companhia um do outro. Talvez já houvesse um sentimento lá no fundo, mas era
difícil dizer. O importante é que, no fim, o que era apenas amizade acabou se
tornando amor verdadeiro.
O amor do jovem casal acabou resultando, inclusive, em uma mudança de
endereço por parte de Silvio. O apresentador morava na Rua Ipiranga, mas,
incentivado pela paixão que crescia entre eles, acabou se mudando para a pensão
de dona Duzolina Bandeira Vieira – ou dona Gina –, a mãe de Cidinha.
Inclusive, foi nessa pensão, localizada na Rua Treze de Maio, que Silvio recebeu
aquele famoso telefonema de Manoel de Nóbrega implorando por socorro no
caso do Baú da Felicidade. Para o jovem Silvio, o momento era de emocionantes
acontecimentos em várias esferas da vida.
Apaixonados, Cidinha e Silvio resolveram se casar. Mas, devido ao medo que
o futuro marido tinha de perder seu posto de celebridade, o casamento foi
realizado praticamente às escondidas, sem muito alarde. Afinal, ele não queria
que sua vida pessoal atrapalhasse o sucesso profissional. A situação não deve ter
sido fácil para Cidinha, obrigada a omitir muitas vezes que era esposa do famoso
Silvio Santos. Para colegas, ela chegou a admitir que se incomodava em ter que
fingir não ser casada com seu próprio marido. Chegou até a dizer a uma amiga
que tinha vontade de pregar a certidão de casamento na porta da casa onde
morava com Silvio, para que parassem de importuná-la com essa pergunta.
Ainda que apaixonada pelo marido, ela não gostava de ter que provar sua
posição como esposa. O próprio apresentador, em reflexão posterior sobre a
situação, chegaria a se arrepender de ter feito isso com Cidinha. Ele sabia que
não era justo com a esposa, afinal, ela era muito parceira e esteve ao seu lado
não só nos momentos de alegria, como também em situações de dificuldade.
Quando o Baú da Felicidade ainda estava expandindo suas atuações, muitas
funções eram desempenhadas pelo próprio Silvio (como o embrulho dos baús,
por exemplo) e por Cidinha. Em alguns momentos, parecia uma missão
impossível embrulhar todos os baús que deveriam ser entregues. Mas Silvio
contou com a parceria da esposa, que trabalhava noites adentro no processo de
embalagem. Alguns amigos do casal também chegaram a participar da operação.
Após o casamento, Silvio e Cidinha ainda moraram durante um tempo na
pensão de dona Gina. Mas, em busca de trilhar seus caminhos e ter o próprio
espaço, o jovem casal se mudou para uma casa alugada em outra região da
cidade de São Paulo. A primeira viagem que fizeram juntos como marido e
mulher foi para o Rio de Janeiro. A motivação não era apenas o lazer, mas
também uma razão muito especial: levar Cidinha para conhecer a família de
Silvio, que agora era sua família também. Porém, a viagem que começou como
uma visita tranquila à família acabou se transformando em uma verdadeira
aventura, com direito a uma situação inusitada na volta.
Para viajar de São Paulo ao Rio de Janeiro, Silvio conseguiu um carro da
marca francesa Javelin, percorrendo o trajeto de ida da maneira mais calma
possível. Mas a volta não foi tão bem assim. O carro acabou quebrando na
estrada, deixando-os na mão. Sem a opção de consertar o veículo, era preciso
conseguir outro meio de transporte para retornar para casa. A forma encontrada
para resolver a situação foi pegar carona na carroceria de um caminhão. O que
era para ser uma ocasião romântica acabou se transformando em uma situação
cômica: dois recém-casados sendo levados por um caminhão estrada afora.
Pelo fato de Silvio ter tentado esconder seu verdadeiro estado civil, não há
muitos registros do apresentador ao lado de sua primeira e amada esposa. Há um
vídeo curioso, entretanto, não só pela presença de Cidinha, mas também por
mostrar a dimensão da popularidade de Silvio desde a década de 1960. A
gravação foi feita na estreia do filme O Puritano da Rua Augusta, dirigido e
estrelado por Mazzaropi. O filme era sobre um pai de família que causa
problemas para sua segunda mulher e os filhos ao fazer campanha moralista
contra maiôs, rock e libertinagem – uma comédia de costumes bem típica do
cineasta.
O evento foi realizado em janeiro de 1965, no hoje já fechado Cine Art-
Palácio, que era localizado na Avenida São João, 419. Nos registros filmados, há
uma multidão aguardando os artistas convidados e também os que participaram
do filme. Rapidamente, é possível perceber Silvio chegando com Cidinha ao seu
lado para a exibição. Nessa ocasião, Silvio apresentou o elenco do filme no
palco do cinema e o vídeo mostra o narrador chamando-o de “o popular cartaz
da televisão”. Silvio também pode ser visto à vontade abraçando os artistas que
compõem o elenco do filme.
Apesar de toda fama e popularidade junto ao público brasileiro, na intimidade
o apresentador era tratado de maneira muito simples pela mulher. Afinal, para
Cidinha ele não era Silvio Santos, “o popular cartaz da televisão”, mas apenas
“Neco” – apelido carinhoso cujo significado era o diminutivo de “boneco”.
Cidinha teve uma importância fundamental na vida de Silvio, pois foi ela quem
apresentou e trouxe ao convívio muitas pessoas que viriam a ser essenciais na
vida do apresentador.
Uma das figuras mais marcantes na vida pessoal e profissional de Silvio foi
Mário Albino Vieira, irmão de Cidinha. No início, Mário não tinha muita
intimidade com o seu cunhado, pois não confiava plenamente no marido de sua
irmã. Porém, em um futuro não tão distante ele viria a trabalhar com Silvio em
suas empresas, chegando a ser inclusive presidente do Grupo Silvio Santos.
Albino continuaria ao lado de Silvio mesmo após a dura perda que os dois
sofreriam. A vida, certamente, reservava um duro golpe para toda a família.
Com Cidinha, Silvio teve duas filhas. A primeira foi Cintia Abravanel, que
nasceu no ano seguinte ao casamento, em 1963. Cintia, mesmo com toda a fama
e riqueza que teve ao seu redor, guarda como principal lembrança da infância
uma simples conversa que teve com seu tio Mário Albino, como relatou à revista
IstoÉ Gente: “Ele disse que tinha pintado o céu para mim com um pincel
encantado”.2 Pela escolha do momento, não é de se estranhar que a primogênita
de Silvio tenha sempre demonstrado muito interesse pelas artes. Ela chegou,
inclusive, a administrar o Teatro Imprensa (que seria incorporado ao Grupo
Silvio Santos) durante muitos anos, tendo sido responsável também pela
adaptação para os palcos da novela Carrossel, fenômeno de público do SBT.
A segunda filha do casal, Silvia Abravanel, não tem laço de sangue, mas de
coração. Silvia entrou em 1971 na vida da família Abravanel, quando Cintia já
tinha mais de sete anos. A primogênita diz se lembrar até hoje do dia em que a
irmã chegou à casa da família, recebida com muita alegria por todos.
Conforme relatou durante participação no programa Eliana:
ʻEu chamo a Silvinha até hoje de ‘irmã atrás da porta’. Lembro que voltei da
escola aflita, porque sabia que ela estava chegando em casa. Fui correndo pro
quarto, direto pro berço – que estava vazio. Fiquei superdecepcionada. Não vi
um bebezinho. Mas, quando virei, a Silvinha estava no colo do meu pai, atrás da
porta. Desde esse dia, a gente nunca mais se separou. ,
Silvia, na realidade, poderia ter sido filha de Manoel de Nóbrega, que recebeu
o pedido de adoção diretamente da mãe da criança. Nóbrega respondeu à mulher
que não poderia ficar com a menina, pois já era um homem de idade avançada e
também tinha um filho adulto. Carlos Alberto, nascido em 1936, já estava com
mais de trinta anos quando do nascimento de Silvia. Silvio e Cidinha decidiram,
então, pela adoção e a receberam com alegria poucos dias após seu nascimento.
Agora, com mais uma menina para criar, a família parecia ainda mais completa.
É notável a forte ligação que Silvio e Manoel de Nóbrega estabeleceram desde
sempre. Esse vínculo se estendeu também para o filho de Manoel, o igualmente
humorista Carlos Alberto de Nóbrega, que relembrou à revista Contigo! um
momento engraçado da relação dos dois, quando estava prestes a se casar:
“Eu precisava comprar o enxoval para meu primeiro casamento. Ao chegar
em Buenos Aires, Silvio me convenceu a comprar muamba e revender no
Brasil, porque as coisas eram muito baratas. Voltamos com lapiseiras,
barbatanas, isqueiros a gás, roupas de náilon… Ganhamos quatro vezes
mais”.3
A vida para Cidinha e Silvio era aparentemente tranquila. Apesar da vida
dupla que o apresentador parecia levar, o dia a dia seguia normalmente para a
família, mesmo tendo que omitir sua mulher para o público e para as fãs em
vários momentos. Todavia, uma ocorrência de grande impacto abalou
repentinamente a paz no lar Abravanel. Essa notícia atingiu em cheio o
apresentador.
Durante uma viagem em que desfrutava da companhia do marido na Europa,
em 1973, Cidinha sentiu fortes dores no estômago, indicando que algo poderia
estar errado com sua saúde. As suspeitas foram confirmadas da pior forma
possível: Cidinha foi diagnosticada com câncer no aparelho digestivo. Durante
quatro anos, ela sofreu com essa doença devastadora, sem ter certeza sobre sua
expectativa de vida. Foram duros anos de tratamento intensivo, que marcaram
toda a família, especialmente Silvio, que padecia de uma tristeza profunda diante
da situação.
Silvio já era um homem de posses, mas, ainda assim, o câncer é uma doença
implacável mesmo para aqueles que possuem os mais modernos recursos
disponíveis para tratamento. Essa enfermidade revela que em muitos momentos
da vida o dinheiro de nada serve. Silvio sentiu a angústia na pele, pois seu
patrimônio não pôde salvar a vida de sua amada mulher.
Na época, o apresentador não mediu esforços em busca do melhor tratamento
para o câncer que acometia a esposa. A esperança ainda existia, mas foi se
esvaindo conforme os anos passavam.
Na tentativa de salvá-la, Silvio enviou Cidinha para realizar um tratamento em
Nova York em 1976, onde permaneceu internada por vários meses em uma
clínica na metrópole norte-americana. O tratamento, no entanto, mostrou-se
ineficiente, e logo Cidinha retornou ao Brasil com poucas chances de
sobrevivência. Já em território brasileiro, teve que ser internada diversas vezes
no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. As duras batalhas se
seguiram até que Cidinha não suportou mais. Depois de várias tentativas
frustradas, não havia mais o que fazer. Silvio ficou viúvo precocemente, antes de
completar 50 anos, e com duas filhas para criar.
Os últimos dias de Cidinha foram no Albert Einstein, mais especificamente na
unidade de tratamento intensivo. O adeus do casal aconteceu ali mesmo, na UTI,
com Cidinha já muito debilitada. Mesmo à beira da morte, a mulher continuava
sendo a esposa amorosa e parceira que sempre se dedicou ao marido. Ainda que
estivesse muito doente e precisando de cuidados, não deixava de se importar
com o seu “Neco”: “Neco, você tomou seu café da manhã?”. Alguns minutos
depois de externar sua preocupação carinhosa, deu seu último suspiro. Cidinha
faleceu no dia 22 de abril de 1977. Para Silvio, essa foi uma experiência
devastadora, que deixaria marcas para sempre em sua vida.
Silvio é avesso a entrevistas, mas, quando os telespectadores fazem perguntas
em relação aos detalhes de sua vida pessoal, ele não hesita em responder. Foi
assim quando uma telespectadora o questionou, em 1988, sobre as maiores dores
e alegrias da sua vida. Nessa ocasião, a resposta foi sincera e emocionante.
Muitos poderiam até supor que Silvio citaria momentos da carreira, como o
nascimento de sua emissora com o título de maior alegria, por exemplo. Mas,
surpreendentemente, ambas as respostas estavam relacionadas a questões
familiares:
ʻA minha maior tristeza foi a morte da minha primeira mulher, Cida, aos 39
anos, com câncer no estômago. A minha maior alegria foi ter conhecido a minha
atual esposa, Iris. ,
Os anos que se passaram durante a doença de Cidinha foram dramáticos para
Silvio, mas também muito importantes em termos profissionais. Seria nessa
época que ele daria largos passos para a realização de muitos sonhos. A
disparidade de emoções que experimentava nesse momento demonstra que nada
foi fácil para o empreendedor, pois, ainda que tenha alcançado muitas conquistas
ao longo de sua trajetória, como ele mesmo gosta de enfatizar, também enfrentou
duras perdas no caminho.
A NOVA FASE NA REDE GLOBO
A Rede Globo de Televisão é a maior emissora brasileira da categoria, não
apenas em termos nacionais, como também em parâmetros mundiais, sendo
considerada a segunda maior emissora do mundo. De acordo com a reportagem
do G1, somente em 2016, o Grupo Globo, que abrange os negócios da Globo
Comunicação e Participações (TV aberta, TV paga, revista, internet etc.),
apresentou um faturamento de impressionantes R$ 15,3 bilhões, com um lucro
líquido de R$ 2 bilhões. Detalhe que os expressivos números ainda representam
uma retração em relação a 2015, considerando a recessão econômica enfrentada
pelo país.4
Não há como negar que o conglomerado de mídias fundado pelos irmãos
Marinho é insuperável em termos de produção e faturamento. O próprio Silvio
Santos, com seu SBT, uma das principais concorrentes da Rede Globo em termos
de transmissão aberta, ressalta a liderança ocupada pela emissora, uma posição
que ele afirma ser imbatível. Em um bate-bola com a plateia do programa De
Frente com Gabi, o dono do SBT falou sobre a emissora rival, que também já
contemplou seu programa:
ʻNós de televisão estamos vendo que, por mais que a Record queira se
aproximar da Globo, em todos esses anos ela não passou de 11 pontos e
ultimamente tem caído para 10, para 9, para 8 pontos. O que significa que o
público dificilmente vai deixar a Globo. A Globo é um muro e ultrapassar esse
muro a gente só consegue de vez em quando. Claro que você tem um jogo de
futebol entre o Corinthians x São Paulo na Bandeirantes que pode dar 30 ou 40
pontos, mas no dia seguinte as pessoas voltam para a Globo. ,
A história da emissora teve início alguns anos após a chegada da televisão no
Brasil. A concessão solicitada pela Rádio Globo para a abertura de um canal de
televisão foi aprovada em julho de 1957, pelo então presidente Juscelino
Kubitschek. Para viabilizar a mais nova emissora brasileira, o jornalista Roberto
Marinho (que já era dono do consagrado jornal O Globo) fez uma parceria com o
grupo americano Time Life, empresa que buscava emissoras latino-americanas
para aplicar investimentos. Após anos de preparação para que pudesse
finalmente entrar no ar, a Rede Globo estreou no canal 4 do Rio de Janeiro em
26 de abril de 1965. Nessa época, ainda não havia a famosa vinheta do “Plim
Plim”, que só seria encomendada em 1971 pelo diretor da emissora, José
Bonifácio (Boni), para marcar a passagem de ida e de volta dos intervalos
comerciais. Ele desejava que o sinal sonoro (que mais tarde se tornaria um ícone
da emissora) fizesse a família voltar para a frente dos televisores.
A história de Silvio com a Rede Globo de Televisão começou pouco depois de
ele estrear seu Programa Silvio Santos. Parece curioso para quem não viveu a
época, mas o maior concorrente da Globo já fez parte de sua grade de atrações.
Pensando em uma expansão nacional, a Rede Globo adquiriu a TV Paulista em
maio de 1966, quando passou a exibir também a programação do canal e o
Programa Silvio Santos. No ano seguinte à aquisição, a TV Paulista passou a se
chamar TV Globo São Paulo.
Em sua programação, a Globo contava com alguns programas para atingir
classes mais populares de telespectadores, como o Dercy Espetacular, que foi ao
ar em 1966. A própria Dercy Gonçalves, estrela do show, trabalharia mais tarde
na emissora de Silvio.
Quando a TV Globo adquiriu a TV Paulista, foi firmado um contrato entre a
nova emissora e o apresentador com duração de cinco anos. Finalizado esse
primeiro contrato, o destino de Silvio era incerto, restando apenas especulações
sobre a continuação do programa na emissora. Para a Globo, não se tratava
apenas do perfil do programa, mas de uma questão mais estratégica e financeira
que estava dificultando o acordo. O programa de Silvio era pago e faturado pelo
próprio, já que o espaço na programação havia sido adquirido por ele mesmo.
Dessa forma, ele vendia todos os anúncios e ficava com a comissão, assim como
utilizava o horário para vender os seus carnês do Baú da Felicidade.
Na ocasião, apesar de ser um líder absoluto de audiência, o fato não estava
proporcionando os benefícios esperados para a emissora. Para a Globo, esse não
era um cenário favorável ou confortável, já que os diretores não podiam intervir
em um programa que constava em sua grade. O contrato estava por um fio, pois
Silvio não conseguia estabelecer um acordo. Jornais do país especulavam a
respeito do destino da atração, afinal, sua popularidade era enorme e sua
audiência imbatível aos domingos, das 11h30 às 18h30. Um dos grandes
sucessos do programa era o quadro “Cidade contra Cidade”, uma gincana entre
diferentes cidades, geralmente do interior do Estado, que levavam caravanas ao
programa. Os representantes das cidades não só se empenhavam para vencer o
quadro, mas também disputavam o grande prêmio: uma ambulância novinha. Foi
uma das atrações recordistas de audiência no programa, chegando a atingir o
índice de 40 pontos. Para termos uma ideia, a audiência da chegada do homem à
Lua, comandada por Neil Armstrong, em 1969, rendeu 41,4 pontos. Silvio
conseguiu um ponto a menos.
Em 1969, ao mesmo tempo em que apresentava o programa na emissora,
também era possível acompanhar Silvio no canal paulista da Rede Tupi, às
quintas-feiras, comandando o programa Sua Majestade, o Ibope. O apresentador
recebia os mais diferentes convidados para que julgassem as atrações que ele
apresentaria ao público. Nota-se que a popularidade de Silvio não era obra do
acaso – ele sempre estava interessado em ouvir a opinião do povo, bem como
saber exatamente o que desejavam em termos de produtos ou entretenimento.
Quando a Rede Globo chamou o apresentador para conversar sobre a
renovação de contrato, determinou que só fecharia um novo acordo caso o
programa estivesse em conformidade com algumas novas ideias e condições.
Algo que, obviamente, não o agradou. Os dirigentes da Rede Globo explicaram
que a filosofia da emissora estava mudando e, por esse motivo, o programa
precisaria sofrer alguns ajustes. Foi exigido que o apresentador mudasse o foco
popularesco – algo tão caro a Silvio e tão intrínseco ao seu jeito de fazer
entretenimento.
O apresentador sabia que era justamente esse um dos grandes motivos de seu
sucesso com o público, o enfoque popular que gerava identificação com os
brasileiros. Além disso, ele mesmo sempre cultivou o jeito simples de ser que
tornava o programa divertido para todos. Em 1983, ele deu uma declaração ao
jornal O Estado de S. Paulo, que resumia a questão:
ʻOs intelectuais não me compreendem. Querem que eu toque música clássica.
Mas eu não gosto, não adianta insistir. Meus programas são populares e eu me
identifico com o povo. Não posso esquecer minhas origens de camelô.5 ,
Compreendendo a fórmula do sucesso, ele não podia nem queria abrir mão de
seu diferencial. Dessa forma, quando foi interpelado pelos diretores da emissora
a mudar o programa, não aceitou fazer nenhuma concessão. Sua resposta foi
curta e grossa: já que não queriam renovar o contrato, não haveria problema,
pois ele preferia procurar outra emissora que se adequasse melhor ao estilo do
Programa Silvio Santos.
Foi nesse momento que Silvio percebeu que sua popularidade não seria
suficiente para mantê-lo em uma emissora. Era muito desagradável ver a
continuação da atração ameaçada pela decisão de outras pessoas que tinham
propostas completamente diferentes e queriam acabar com a essência do
programa.
E não era somente o programa de Silvio que a Rede Globo estava tentando
tirar do ar. Outras atrações com perfil semelhante, mais populares, também
estavam sofrendo a mesma pressão. Foi o caso do Chacrinha, que também teve
seu programa retirado da grade. Mas Silvio não esperou que ninguém decidisse
seu destino e começou a arquitetar possibilidades para resolver a situação da
melhor forma. Estava cada vez mais claro que deveria ter sua própria emissora,
onde poderia imprimir sua filosofia de gestão. Havia duas possibilidades para
alcançar o objetivo: adquirir participação em uma emissora já existente ou obter
uma concessão para operar sua própria emissora de televisão em São Paulo.
No Brasil, não há propriedade privada de canais de televisão aberta como
Globo ou SBT, pois todas pertencem ao Estado brasileiro e são concedidas por um
tempo determinado por meio de um processo de licitação, sobre o qual o
governo tem poder de decisão. Para concorrer a um processo de licitação dessa
natureza é necessário que a empresa tenha, pelo menos, 70% do seu capital
controlado por acionistas brasileiros, além de obedecer ao limite de até dez
estações em todo o país, para que se evite a situação de monopólio, em que o
mercado acaba controlado por uma só empresa. Estando apta a participar, é
necessário realizar uma proposta de programação, levando em consideração as
capacidades técnica e financeira, e comprovando assim a viabilidade de
implantação do projeto. Essa proposta é avaliada pelo Ministério das
Comunicações, que concede pontos aos diferentes critérios de análise, liberando
a concessão à empresa que obtiver a melhor média final.
Naquele momento de incertezas sobre o futuro, não havia nenhuma
concorrência aberta para o processo de concessão. A oportunidade que surgiu
diante de Silvio foi, na realidade, a aquisição de participação em outra emissora:
a TV Record.
Um dos sócios, Paulo Machado de Carvalho, informou ao apresentador que
João Batista do Amaral queria vender sua parte de 50% nas ações da emissora.
Era a chance de Silvio de realizar o sonho da grade própria de comunicação.
Iniciou-se, então, o processo de negociação para adquirir metade da
participação na TV Record. Entretanto, havia certa hesitação por parte da equipe
de Silvio, pois a emissora não estava em boa situação financeira e poderia ser
um mau negócio para o Grupo. Os trâmites seguiram com total sigilo da equipe
do apresentador. O medo compartilhado era de que Silvio pudesse até ser banido
da TV Globo caso a transação não desse certo. Se o pior acontecesse, ele ficaria
sem emissora e sem o seu grande programa dominical. A situação exigia uma
análise cuidadosa, afinal todos estavam preocupados com as dívidas da Record e
com a reestruturação técnica, que exigia mais investimentos e seria
imprescindível para recuperar o crescimento e a saúde financeira da empresa.
Durante a negociação, a equipe de Silvio não percebeu – ou não pensou – que
poderia ser “deixada para trás”. Não estavam preocupados com a possibilidade
de outro grupo adquirir as ações, afinal, quem teria dinheiro para investir, ainda
mais em uma empresa em maus lençóis?
Apesar do cenário desfavorável, Silvio estava convencido de que concretizar o
negócio era a coisa certa a se fazer. Por isso, logo foram providenciados os
contratos para definição dos parâmetros e da conclusão do acerto.
Quando já estava tudo certo e faltavam apenas as assinaturas, uma notícia
inesperada impediu o acordo e surpreendeu a todos: Paulo Machado de Carvalho
anunciou que a Record já havia sido comprada. Quem teria realizado a compra?
A situação parecia inverossímil, mas era real: a Gerdau, poderoso grupo
siderúrgico brasileiro, passara à frente nas negociações. Para tanto, eles cobriram
a oferta realizada por Silvio e efetuaram o pagamento à vista, superando o
parcelamento que havia sido combinado anteriormente.
Foi a pior notícia possível para Silvio: ele ainda não tinha como transmitir seu
principal programa e também frustrou seus planos de adquirir a participação em
uma emissora de televisão. Silvio não conseguia se resolver com os dirigentes da
TV Globo e já acreditava que seu programa seria descontinuado da emissora. Foi
um breve momento de desesperança, mas logo a situação se tornaria favorável
novamente.
Um belo dia, o próprio dono da TV Globo, Roberto Marinho, ligou para Silvio
pedindo que ele continuasse com o programa, pois ele pessoalmente gostava da
atração e queria renovar o contrato. Eram as tão aguardadas boas-novas. Sobre
todo o desconforto em relação à negociação com a diretoria e o telefonema
milagroso do jornalista Roberto Marinho, Silvio comenta no livro de Arlindo
Silva:
ʻSe Deus fecha uma porta, abre uma janela. Foi quando o imprevisível
aconteceu: o doutor Roberto Marinho me telefonou, muito gentilmente, dizendo
que fazia questão de que eu continuasse na TV Globo. […] Fiz o novo contrato
diretamente com o doutor Roberto Marinho e fiquei na Globo por mais cinco
anos.6 ,
Silvio assinou o contrato de renovação até 1976 com a emissora, mas havia
um porém: no contrato foi estipulada uma cláusula que o impossibilitava de ser
sócio de qualquer emissora de televisão ou rádio do país. Houve certo incômodo
na assinatura, mas o apresentador deixou pra lá, pois não enxergava no momento
qualquer possibilidade de descumprimento das condições. Contudo, a vida
mostraria rapidamente que seu pensamento estava equivocado. A Gerdau logo se
viu frustrada com a compra das ações da Record, pois suas expectativas de
parceria não foram concretizadas. Assim, desejava se desfazer de sua
participação na TV Record o mais breve possível.
A siderúrgica colocou à venda sua parte das ações já em 1972. De
conhecimento do fato, Silvio começou a se movimentar para não perder a chance
dessa vez. Entretanto, existia o impeditivo da cláusula do contrato com a Globo.
Como resolver a situação? A solução encontrada foi utilizar o nome de outra
pessoa como responsável pela transação. O escolhido foi Joaquim Cintra
Godinho, um amigo de Demerval Gonçalves, o então diretor do Grupo Silvio
Santos. Enfim, Silvio conseguiu realizar seu desejo e o segredo estava a salvo
com Cintra Godinho, pois nem mesmo Paulo Machado de Carvalho sabia que as
ações estavam sendo adquiridas para o apresentador.
Após esse contrato, o outro sócio da TV Record ainda ofereceu metade de sua
parte das ações para Silvio. Caso aceitasse, obteria um total de 75% das ações,
tornando-se sócio majoritário. Apesar de estar ansioso para adquirir a própria
emissora, ele resolveu não aceitar a proposta em virtude das dívidas pendentes.
Mas em pouco tempo o cenário mudaria novamente.
Na Globo, o programa de Silvio seguia com grande sucesso graças a quadros
fixos que garantiam a audiência excepcional. Esse era o caso, por exemplo, do
quadro “Só Compra Quem Tem”, por meio do qual o apresentador sorteava
carros novinhos para os telespectadores com a ajuda de patrocinadores. O
“Arrisca Tudo”, outra atração famosa, era um jogo de perguntas e respostas que
concedia um prêmio de 1 milhão de cruzeiros àqueles que acertassem todas as
questões. Outro quadro emocionante que cativava o público era o “Boa Noite,
Cinderela”, pelo qual Silvio conversava com crianças para descobrir os seus
sonhos, ajudando a realizá-los. As atrações mantinham o público grudado na tela
durante todo o programa, o que resultava em índices impressionantes de
audiência, chegando a 89 pontos.
Em 1976, apesar de todo o sucesso, o segundo contrato de Silvio com a TV
Globo chegou ao fim, e dessa vez não houve ligação de Roberto Marinho para
renovação da relação profissional. Após mais de onze anos apresentando a
atração semanalmente, o último Programa Silvio Santos foi ao ar no dia 25 de
julho. O escalado para substituir o líder dos domingos foi Moacyr Franco, que
desde 1970 já trabalhava na emissora apresentando seus programas Moacyr
Franco Especial e Moacyr Franco Show. Difícil seria repetir o sucesso que o
homem do Baú conquistara.
Agora, Silvio precisava tomar novos rumos para sua carreira de apresentador e
desejava ir cada vez mais além. A compra das ações da Record havia dado certo,
mas ele ambicionava uma emissora própria, com a sua cara e filosofia, e para
isso necessitava da concessão do Estado. Ainda no início da década de 1970, o
animador pleiteou junto ao general Emílio Garrastazu Médici a concessão dos
canais da TV Excelsior, que saiu do ar. Ainda que os funcionários torcessem pela
vitória por parte do apresentador, o presidente Médici não autorizou a concessão.
Não foi dessa vez que Silvio conseguiu sua emissora.
Com a nova conquista, a notícia de que não teria mais espaço na TV Globo não
era nada preocupante para Silvio e seus telespectadores. Afinal, seus planos já
estavam muito mais focados na construção de uma emissora própria.
A LUTA PELO PRIMEIRO CANAL DE
TV
Em 1974, o Brasil completava dez anos de governo militar e não havia
perspectiva de mudança do cenário. O general Emílio Garrastazu Médici
terminava seu mandato, que ficou conhecido tanto pelo “Milagre Brasileiro”
(crescimento econômico e baixa inflação) quanto pelo período do auge da
repressão na ditadura. A década de 1970, especialmente em virtude do governo
Médici, recebeu o título de “Anos de Chumbo”, a fase mais repressiva da era
militar. A censura atingiu seu ápice após o Ato Institucional número 5 (AI-5),
decretado pelo presidente-general Costa e Silva em dezembro de 1968. Com o
fim do mandato de Médici, o general Ernesto Geisel assumiu o poder. Após a
posse de Geisel, também é substituído o quadro do Ministério das
Comunicações, responsável pelas concessões dos meios de comunicação
brasileiros. Quem assumiu o posto de ministro das Comunicações foi Euclides
Quandt de Oliveira.
No ano seguinte ao início do mandato, o governo Geisel abriu licitação para o
canal 11, do Rio de Janeiro. Essa era a grande chance de Silvio e ele sabia que
não poderia perdê-la. Com a frustração diante da TV Excelsior e também da
situação da TV Record, ele estava mais que preparado para começar o processo e
conquistar sua própria emissora. Ele e sua equipe precisariam de um plano
perfeito de programação para ganhar a licitação e colocar a emissora no ar no
menor tempo possível.
Era de conhecimento do público que Silvio estava pleiteando a oportunidade
do canal 11. E, com a popularidade que tinha no meio artístico e entre seus
telespectadores, acabou ganhando uma multidão de torcedores que desejavam
sua vitória nesse projeto tão especial.
Curiosamente, o apresentador ganhou apoio até mesmo de críticos nessa
batalha. Carlos Imperial (famoso produtor artístico brasileiro), que era um dos
opositores ao formato do programa de Silvio, demonstrou seu apoio à campanha
do animador em sua coluna na revista Amiga TV, em abril de 1975. Imperial
escreveu:
“Silvio compra os horários das estações de TV e paga diretamente aos
artistas. Nunca artista algum reclamou de falta de pagamento. Não trabalho
(nunca trabalhei ou nem vou trabalhar) para o Silvio Santos. Pelo contrário,
minhas críticas em relação ao seu programa dominical nunca foram
agradáveis. Mas, justiça seja feita, ele tornou-se um sinônimo de bom
emprego e do trabalho compensador.”
Nessa mesma coluna, Carlos Imperial ainda exalta a postura de homem de
negócios:
“Tenho que reconhecer nele o excelente empresário e o homem correto das
nossas comunicações. Por favor, ministro Quandt de Oliveira, dê um
presente de mãe para filho ao artista brasileiro. Dê esse canal 11 ao único
empresário artístico que nos respeitou até hoje. Em nome de todos os
artistas deste imenso Brasil, faço um apelo ao ministro: dê o canal 11 a
quem gosta da gente. O Silvio Santos.”7
Mas não era somente o desejo da população e de uma forte torcida que faria
com que Silvio conseguisse seu tão sonhado canal de televisão. Era preciso
provar para o governo que possuía conhecimento e planejamento para montar a
estrutura que tal empreitada exige, bem como conseguir sustentá-la de maneira
saudável financeiramente a longo prazo. Não era de ontem que o apresentador
pensava em ter sua emissora e, por isso, ele estava muito bem preparado para
convencer o Estado e responder a qualquer questionamento que lhe fosse feito.
Silvio tinha um plano perfeito, que envolvia gráficos e justificativas sobre como
seria a emissora. A intenção do apresentador era demonstrar que conseguiria até
mesmo manter o canal somente anunciando os produtos de suas próprias
empresas. Essa realidade, claro, só seria possível para um conglomerado sólido
como o Grupo Silvio Santos.
A campanha que já tinha clamor público também precisava funcionar nos
bastidores. Para isso, a equipe do animador era peça fundamental, e também
deveria se empenhar para colocar a emissora em pé. Arlindo Silva, que também
trabalhou com Silvio no Grupo, teve um papel ativo e importante na jornada.
Para agilizar a campanha, Arlindo foi ao Rio de Janeiro a pedido do próprio
apresentador para mostrar o enorme livro que compreendia o plano da emissora
a Gabriel Richaid, procurador de Golbery do Couto e Silva, que era o então
chefe da Casa Militar do general Geisel, além de uma importante figura no
processo de licitação. Arlindo apresentou, nessa viagem estratégica à capital
carioca, o planejamento da emissora para o dr. Richaid, que ficou encarregado de
levá-lo até o chefe da Casa Militar.
Arlindo conta em seu livro que, duas semanas após o encontro em um
restaurante árabe no Rio de Janeiro, o dr. Richaid telefonou dizendo que o plano
já estava nas mãos de Couto e Silva, ressaltando que ele havia se impressionado
com a questão do autofinanciamento, em que as empresas do próprio grupo
sustentariam o funcionamento da emissora. Outra figura importante da equipe de
Silvio nesse processo de licitação foi Demerval Gonçalves, diretor do Grupo
Silvio Santos, já que seu papel consistia em viajar a Brasília para falar com
pessoas importantes do governo, demonstrando a seriedade do plano que
estavam desenvolvendo para o canal.
A intenção de Silvio era evidenciar que seu plano incluía a preocupação com o
desenvolvimento de todo o Brasil, e não somente do seu grupo. Em reuniões no
Planalto, explicava que poderia contratar muito mais pessoas do que já
empregava na época, agora na produção do canal. Além disso, era importante ter
uma empresa autossustentável em um momento em que o setor inteiro estava em
crise, visto que a TV Excelsior havia falido e o Jornal do Brasil, que tinha
adquirido dois canais em processos semelhantes de licitação, não viabilizara
nenhum. Como a criação de um canal de televisão é algo de alta complexidade e
necessita de grande investimento, era importante transmitir credibilidade ao
governo. Afinal, Silvio Santos podia ser o carismático e brincalhão apresentador
de um programa de entretenimento aos domingos, mas, para além desse papel,
era um dedicado e responsável empresário com a intenção de expandir seus
negócios sempre de maneira consciente.
A torcida era geral para que Silvio conseguisse seu tão almejado objetivo. Era
quase consenso que não existia ninguém melhor do que ele para receber a
concessão do canal 11 do Rio de Janeiro. Dentro do âmbito governamental,
estavam todos convencidos de que ele era a melhor opção. A imprensa, além de
engrossar o coro a essa opinião, chegou até a apoiar a campanha. Sobre a
população, nem se fala. Os telespectadores e admiradores de Silvio nem
precisaram ser convencidos de que ele deveria ter sua própria emissora de
televisão.
Para que não restassem dúvidas sobre a decisão, o ministro Quandt de
Oliveira resolveu conversar diretamente com o empresário, questionando e
conferindo tudo o que estava planejado nos papéis. Silvio teve que se sair muito
bem e não pôde cometer nenhum deslize em sua “prova final”, pois corria o
risco de colocar tudo a perder. Mas ele estava preparado para esse momento. Na
realidade, ele vinha se preparando para conquistar sua própria emissora durante
toda a vida. Assim, ele chegou totalmente pronto para as reuniões com o homem
que decidiria a importantíssima etapa de sua carreira.
Quando iniciou sua vida profissional como camelô e tinha que se virar para
conquistar clientes, quando entrou como locutor na rádio e começou a lidar com
o público, quando dava uma de animador na barca, quando virou apresentador de
programa de televisão e tornou-se imbatível, não só na audiência como também
no papel de garoto-propaganda de seus produtos (que administrava como
ninguém); todos esses momentos o prepararam para superar as mais difíceis
provas quando chegasse a hora certa.
Finalmente, foi recebida com imensa alegria por todos do Grupo Silvio Santos
e todos que torceram a notícia de que um canal de televisão por fim seria
concedido ao apresentador. Certamente, o mais feliz era Silvio, que saboreava o
gosto de uma imensa conquista pessoal pela qual tanto lutara. Toda a sua
dedicação desde os tempos de menino estava sendo recompensada na figura do
apresentador e homem de negócios de sucesso. Definitivamente, Silvio se sentiu
realizado, como previu em uma entrevista à revista Veja, em abril de 1971,
quando a concessão dos canais que antes pertenciam à TV Excelsior era apenas
um desejo, conforme registro no portal Notícias da TV:
ʻHoje, tenho um único interesse: comprar as concessões dos canais 2 e 9,
cassados pelo governo no ano passado. Meu objetivo é ter uma emissora, e vou
ter. Comecei minha carreira como locutor, como um soldado, e gostaria de
terminar como um marechal. Só no dia em que eu tiver uma emissora de TV me
sentirei realizado. Se perder algum dinheiro nisso, não faz mal.8 ,
Nessa mesma entrevista, ele confessou que chegou além de sua própria
imaginação: “Consegui muito mais do que aquele rapaz que chegou a São Paulo,
vindo do Rio, com um terno e um ordenado de 5 mil cruzeiros, podia sonhar. Por
isso, reafirmo: não posso parar, seria ingratidão com o público que me deu tudo.”
No dia 16 de outubro de 1975, o presidente Ernesto Geisel assinou o decreto
número 76.448 concedendo o canal 11 a Silvio Santos. Nesse dia, nos estúdios
da Vila Guilherme, houve uma grandiosa festa entre Silvio e seus funcionários
para celebrar esse momento histórico. A assinatura do documento oficial da
concessão foi realizada em 22 de dezembro do mesmo ano, no gabinete do
ministro das Comunicações. Ainda que nesse momento o escopo fosse
infinitamente menor do que representa hoje o Sistema Brasileiro de Televisão,
foi então que o SBT surgiu.
Na cerimônia de assinatura, o novo dono de uma emissora de televisão
brasileira agradeceu a confiança que o governo havia depositado nele e
reafirmou seu compromisso em colocar todo o plano em prática. Também esteve
presente Manoel de Nóbrega, que foi apresentado como diretor-superintendente
do canal 11. Todos que estiveram presentes na cerimônia ouviram um Silvio
emocionado relembrar sua trajetória. O sentimento, entretanto, também era de
grande expectativa diante do futuro, pois não seriam poucos os desafios para
colocar a emissora no ar.
Era um desejo do governo, assim como do próprio Silvio, viabilizar o início
de sua emissora no menor tempo possível, algo que exigia muito cuidado e
dedicação de todos os envolvidos. Toda a equipe sabia que teria muito trabalho a
realizar dali para a frente. Os planos de Silvio eram pra lá de ambiciosos; mesmo
antes da primeira transmissão da televisão a cores no Brasil, que aconteceu em
1972, ele já imaginava os melhores e mais inovadores equipamentos do gênero
para sua emissora. Apesar de já possuir um estúdio com equipamentos próprios,
onde gravava seus programas em São Paulo, era preciso muito mais para
viabilizar uma emissora. O desafio era conseguir tudo em tempo hábil,
considerando que a estrutura demandaria um alto investimento.
Para obter a aparelhagem necessária, Silvio viajou para os Estados Unidos em
busca de negócios. O investimento necessário seria de 60 milhões de cruzeiros,
uma quantia que deveria ser paga em 5 anos. Logo que entrou no ar com a
emissora, o próprio empresário rememorou essa passagem:
ʻUm dos desejos do senhor ministro das Comunicações era que o canal 11
fosse instalado rapidamente. E esse desejo era uma necessidade minha e de toda
uma classe. Eu parti para os Estados Unidos e fiz um investimento de 60 milhões
de cruzeiros que vou pagar em 5 anos. Disse que queria todo o material pronto
em 90 dias, e os diretores das duas empresas deram risada, não acreditaram. ,
Desacreditando que ele conseguiria tudo no período curtíssimo de três meses,
as empresas elaboraram um contrato exigindo multas caso o grupo não
conseguisse a tempo as guias de importação e os contratos de financiamento,
itens essenciais para que o negócio fosse concretizado. Ainda ameaçaram Silvio,
dizendo que se o material produzido não fosse retirado no dia combinado em
contrato, ele deveria pagar a armazenagem de todo o mês. Além disso, caso não
recebessem o dinheiro na mesma data, ele pagaria um adicional de 5% de tudo o
que estava adquirindo.
Apesar da descrença e das exigências rigorosas, Silvio não pensou em desistir
em nenhum momento nem imaginou que não conseguiria cumprir o contrato.
Seguiu firme na negociação, concordando com todas as exigências contratuais.
O mais novo dono de uma emissora brasileira estava acostumado a enfrentar os
desafios que apareciam na sua vida, assim como a obter vitórias surpreendentes,
que só são possíveis quando a pessoa está no lugar certo e no momento certo. E
aquele era o momento da sua emissora.
Quando se preparava para estruturar sua emissora, Silvio ficou sabendo por
meio dos jornais que a estrutura da extinta TV Continental seria leiloada. Esse
fato chamou a sua atenção, pois poderia ser a solução para conseguir uma parte
dos equipamentos necessários para transmissão de sua futura programação.
A sede da TV Continental na cidade localizava-se na Rua das Laranjeiras,
tendo sofrido ação de despejo do local em 1971, pouco antes de decretar sua
falência. A extinção da emissora aconteceu em 1972, quando o Departamento
Nacional de Telecomunicações (DENTEL), que existia sob a governança do
Ministério das Comunicações, cassou sua concessão. A TV Continental, também
conhecida posteriormente como TV Guanabara, era uma emissora de televisão
com sede no Rio de Janeiro transmitida pelo canal 9 e inaugurada em 1959,
tornando-se a terceira emissora carioca após a TV Tupi (Canal 6) e a TV Rio
(Canal 13). Na década de 1960, a emissora viveu um período áureo, contando
com artistas renomados como Elizeth Cardoso e Agnaldo Rayol em sua grade.
Assim como diversas outras emissoras, também entrou em uma crise financeira,
o que acabou acarretando em salários atrasados e inúmeras falhas técnicas.
Um dos braços direitos de Silvio na operação de estruturação de sua emissora
foi Luciano Callegari, com quem chegou a compartilhar sua visão: “Se
arrematarmos tudo do leilão, não vamos precisar esperar oito meses pela
construção da torre e da antena.” Para muitos, especialmente para a imprensa,
aquele material que estava sendo leiloado não valia nada, era apenas sucata.
Porém, a visão de Silvio era diferenciada, ele não se deixaria levar pelas
opiniões contrárias, apostando em sua decisão de participar do leilão. O que
chamava a atenção do apresentador e de sua equipe nesse edital eram a torre, o
transmissor e a antena, que estavam localizados no alto do Morro do Sumaré, no
Rio de Janeiro, um excelente ponto para as ambições da futura emissora.
Feito o lance, conseguiram adquirir todo o material do leilão. A visão da
imprensa diante da jogada ousada era de que estavam iniciando a emissora já
com estratégias muito equivocadas. O próprio Jornal da Tarde questionou, em
uma matéria de 30 de outubro de 1975: “Para que o animador de televisão Silvio
Santos deseja os velhos e obsoletos equipamentos de transmissão da TV
Continental, fechada em 1971?”. O jornal e todos que questionaram a atitude
tiveram que admitir o erro e assumir que a intuição de Silvio estava correta.
Logo após a aquisição, descobriu-se que os velhos equipamentos da TV
Continental não só funcionavam perfeitamente, como já transmitiam a cores.
Mesmo para Silvio Santos, que apostou com confiança na negociação, foi uma
surpresa descobrir o potencial dos equipamentos que agora faziam parte da sua
emissora. Ao contrário do que diziam, ele estava começando com o pé direito.
Enquanto isso, os americanos ainda não haviam entregado o equipamento
prometido ao empresário. Por isso, ele teve que retornar aos Estados Unidos para
cobrar o material. Agora, foi ele quem lançou mão do contrato como arma de
negociação, exigindo o pagamento de uma multa caso não entregassem
conforme o acordado.
Os americanos não duvidaram da capacidade de Silvio. Aliás, ninguém mais
duvidaria; parecia impossível, mas em poucos meses estava tudo pronto para que
a TVS entrasse no ar. Menos de sete meses se passaram entre a assinatura da
concessão da emissora e a primeira transmissão. Em 14 de maio de 1976 a TVS
entrava no ar, com grandes expectativas por parte de sua gestão e dos próprios
telespectadores.
Vale lembrar que todo esse processo ocorreu em um período muito difícil na
vida pessoal do apresentador, que envolvia a doença de sua amada esposa
Cidinha. Entre tantas montanhas-russas que vivenciava em sua vida, Silvio se
manteve firme em busca de seu sonho. Outra situação traumática que enfrentou
nessa época foi a morte do grande amigo Manoel de Nóbrega, que faleceu
devido a um câncer. Nóbrega se foi em 17 de março de 1976, pouco tempo
depois de estar presente na cerimônia de oficialização da concessão de seu
amigo e pouco antes da estreia da emissora. A própria filha de Silvio, Patricia
Abravanel, comentou, em entrevista ao Portal R7, a importância que Manoel de
Nóbrega teve na vida do pai:
ʻEu acho que temos de dar honra a quem merece honra. Além de ícone da TV,
o Manoel de Nóbrega foi uma das pessoas que acreditou no meu pai. Se ele não
tivesse acreditado, nada disso estaria aqui. Aquela época do começo da TV reuniu
muitas pessoas boas, talentosas e amigas. E tudo aconteceu.9 ,
Apesar das dificuldades que enfrentava em sua vida particular, Silvio não
deixou os fatos atrapalharem a serenidade que precisava cultivar para ampliar
suas conquistas profissionais. Esse seria apenas o início da história de Silvio
Santos como dono de emissora de televisão. Afinal, há mais de 41 anos ele
controla um verdadeiro império televisivo.
A ESTREIA DA TVS
Há cerca de 41 anos, Silvio Santos entrava no ar com sua primeira emissora de
televisão. Como ele mesmo disse na época, não haveria tempo para uma
celebração especial, eles apenas “iniciariam os trabalhos”. E não foi pouco
trabalho para viabilizar o começo da emissora, além dos esforços para manter
seu funcionamento do dia a dia, ou mesmo para cumprir as exigências do
Ministério das Comunicações, como o período determinado em que a emissora
deveria estar no ar. O processo de licitação também envolvia horas mínimas de
programação a serem cumpridas.
Em maio de 1976, a TVS Rio de Janeiro fazia sua estreia na comunicação
brasileira com algo inusitado, bem ao estilo Silvio Santos: o dono do canal
contava detalhadamente o que havia acontecido durante os meses que
antecederam a estreia, bem como os pormenores que incluíam a descrença da
parte de muitos de que Silvio conseguiria atingir seu objetivo. Seguindo sua
abordagem típica, ele citou Deus como forte condutor dos acontecimentos: “Mas
quando há boa vontade, Deus ajuda e tudo acontece”. Esse era um momento
marcante na vida do profissional, afinal, até pouco tempo antes nem ele mesmo
acreditava que poderia chegar tão longe.
Silvio já comentou que na época em que estava com problemas para exibir o
seu programa em outras emissoras, o jornalista Moysés Weltman questionou o
porquê de ele nem ao menos tentar ganhar a concessão do canal do Rio de
Janeiro. Silvio achou uma loucura na época, respondendo ao amigo: “Moysés,
você acha que vão dar televisão para o camelô? Você está ficando louco? Você
acha que vão dar televisão pro ‘Peru que fala’?”. Apesar da resposta, aquela
ideia permaneceu em sua mente, possivelmente semeando novos caminhos.
Talvez se Silvio não tivesse enfrentado problemas para encontrar um “lar”
para o seu Programa Silvio Santos, ele nunca teria pensado em ter sua própria
emissora. Afinal, como ele mesmo já disse, “se tornou dono de televisão porque
os donos de televisão fecharam as portas para ele”. Mas, com as ideias
visionárias que sempre apresentou, seria difícil imaginar que não se aventuraria
por esses caminhos. Até porque ele nunca foi de desistir diante das dificuldades;
ao contrário, parecia se estimular ainda mais ao se deparar com um novo desafio.
Maio de 1976 seria só o início de mais uma caminhada desafiadora em sua
vida. E Silvio podia até se considerar um simples camelô, mas os números dessa
época já demonstram que a história não era bem assim. Afinal, quando a TVS
começou a operar, o grupo já contava com diversas empresas e milhares de
funcionários – conquistas que certamente não são para qualquer um.
Em 1976, a emissora contava com uma grade de programação que abrangia o
período das 18h até a meia-noite, todos os dias. Logo na primeira programação
da rede de transmissão televisiva, Silvio Santos já apostava em séries e filmes –
duas paixões dele e de seu irmão, Leon, desde a infância –, que eram exibidos
diversas vezes para ocupar a grade. Ele inaugurou a “Sessão Corrida”, onde
repetia por três vezes os filmes, informando ao telespectador em que momento o
filme estava.
Leon não estava ao lado de Silvio apenas como irmão. Ele foi alguém muito
importante também profissionalmente. Chegou a apresentar o Programa Silvio
Santos quando Silvio não conseguia – algo que é muito difícil, pois Silvio faz
questão de não perder os compromissos. Na década de 1970, de acordo com
memórias do blog “O Baú do Silvio”, Leon chegou, inclusive, a ter um programa
próprio na emissora Tupi. Ele também foi repórter das promoções do Baú, indo
às casas dos clientes fazer matérias. Na TVS, Leon permanecia ao lado de Silvio.
Além de filmes e séries, no início da emissora havia produções nacionais
como o horóscopo da radialista e astróloga brasileira Zora Yonara, apresentado
às 21h, atração patrocinada por uma empresa de fraldas.
Logo na estreia do canal, não foi possível transmitir um programa importante:
o do próprio dono. O imbatível Programa Silvio Santos começou a ser
transmitido na TVS quando Silvio encerrou seu contrato com a Rede Globo de
Televisão. A estreia do programa na emissora de Silvio aconteceu em agosto de
1976, quase três meses após a estreia da própria emissora. Esse foi um grande
trunfo para trazer audiência para o canal, pois, assim que o programa entrou no
ar, a emissora apresentou elevado índice de audiência, alcançando a segunda
colocação do ranking.
Silvio, apesar das duras batalhas que enfrentava em sua vida pessoal, estava
muito feliz profissionalmente nesse momento: sua emissora estava sendo
concretizada e ele era reconhecido como um importante e influente profissional
da área. Para a sua alma de eterno menino brincalhão, esse era um verdadeiro
sonho sendo realizado.
Poucos dias depois de entrar no ar com a TVS, ainda em maio de 1976, Silvio
recebeu na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro o título de “Carioca
Honorário” pelos feitos que vinha realizando ao longo de sua vida. Como bom
carioca da Lapa, esse era um momento emocionante para ele. Com a Assembleia
lotada, contando com a presença de funcionários, amigos e seus pais, Alberto e
Rebeca Abravanel, Silvio recebeu o título e relembrou, muito emocionado, seu
começo como camelô nas ruas do Rio de Janeiro. Era muito significativo para
ele que sua primeira emissora fosse um canal da própria cidade.
Em 1978, a emissora contava com a programação ampliada. Aos poucos,
Silvio foi estendendo a grade e tentando implementar inovações para
gradualmente se estabelecer como um grande canal.
A telenovela também foi introduzida na emissora ainda em 1977. Essa forma
de entretenimento cada vez mais caía nas graças do público brasileiro, que criara
o hábito de ficar grudado na telinha para saber a continuidade da história. A
paixão que o brasileiro tem (e sempre teve) por novelas começou em 1951, com
a transmissão na TV Tupi da primeira telenovela da história: Sua vida me
pertence. Com apenas quinze capítulos, o que hoje seria considerado uma série,
era exibida às terças e às quintas-feiras e transmitida ao vivo, pois ainda não
havia o videotape. Para a nova geração, deve ser difícil imaginar uma televisão
executada dessa forma.
Sua vida me pertence não foi somente a primeira telenovela brasileira, mas
também a primeira a exibir um beijo entre os protagonistas, algo considerado um
escândalo na época. Escrita e dirigida por Walter Forster, a telenovela também
contou com a atuação do consagrado Lima Duarte. Exibida primeiramente
apenas em alguns dias da semana, foi somente em 1963 que a telenovela
brasileira assumiu seu caráter diário. Isso aconteceu com 2-5499 Ocupado,
exibida na extinta TV Excelsior.
Na TVS foi exibida a telenovela brasileira O Espantalho, que contou com a
participação dos atores consagrados Nathalia Timberg e Rolando Boldrin. O par
romântico ficou por conta dos atores Carlos Alberto Riccelli e Suzy Camacho.
Essa foi uma novela histórica, pois foi a primeira produção do gênero dos
Estúdios Silvio Santos. A história era sobre um tema muito recorrente da política
e da sociedade brasileira: a corrupção. O corrupto, no caso, era o vice-prefeito
que se preocupava apenas com o lucro e não com problemas públicos, como a
poluição das praias em sua cidade.
Também em 1978 seria introduzido na TVS o jornalismo. Um programa em
formato de noticiário passou a ter espaço na grade, onde se transmitia as notícias
locais, bem como algumas coberturas esportivas. A produção e a gravação desse
informativo eram feitas em São Paulo e enviadas ao Rio de Janeiro por
intermédio de malote. As gravações eram realizadas uma vez por semana, às
segundas-feiras, e transmitidas de segunda a sábado. Esse jornal era gravado de
maneira bem distinta e peculiar se comparado à forma como é feito o jornalismo
televisivo atualmente: havia um locutor apresentando as notícias do dia
ilustradas com imagens recortadas de jornal. Nessa época, não havia
transmissões via satélite ou coberturas de grandes acontecimentos ao vivo.
Nesse momento, Silvio já tinha uma imagem consolidada como homem de
negócios. Até mesmo pelo expressivo número de funcionários em suas
empresas, é de se notar que o grupo era um negócio “parrudo”. Em junho de
1972, Silvio Santos criou a holding Silvio Santos S/A Administração e
Participações para conseguir unificar a administração de todas as suas empresas,
que, na época, totalizavam dez. Ao longo da década de 1970, Silvio ampliou
diversos de seus negócios: a Publicidade Silvio Santos expandiu sua atuação,
passando a produzir conteúdo para a televisão e para o cinema. O nome da
empresa foi alterado para Marca Filmes, pois seu foco não era mais somente a
publicidade.
A única empreitada da empresa no cinema, entretanto, foi o sucesso de
bilheteria Ninguém segura essas mulheres. O único filme da produtora de Silvio
foi lançado em maio de 1976 e dividido em quatro episódios, que contavam com
roteiro, elenco e diretor próprios: “Marido que volta deve avisar”,
“Desencontro”, “Pastéis para uma mulata” e “O furo”.
Luciano Callegari foi o responsável pela produção do lançamento, que chegou
a contar com Tony Ramos e Aizita Nascimento no elenco. Um dos episódios foi
dirigido por José Miziara e os outros por Anselmo Duarte (importante diretor
brasileiro, que ganhou a Palma de Ouro em Cannes em 1962 com O pagador de
promessas), Jece Valadão e Harry Zalkowistch. Segundo informações da Ancine,
o filme atingiu a impressionante marca de 1,3 milhão de telespectadores, o que o
tornou o 123º filme com maior bilheteria da história do cinema brasileiro. O
sucesso do filme deixou os fãs de cinema decepcionados, pelo fato de ter sido a
única produção da Marca Filmes no cinema. Inicialmente, a produção deveria se
chamar Os tram-biques, mas o próprio Silvio Santos pediu para que esse título
fosse alterado. O empresário temia ser prejudicado pelo filme, caso o título fosse
associado de maneira pejorativa ao seu nome. O título final, Ninguém segura
essas mulheres, também ficou a cargo de Silvio, que teve a ideia inspirado no
slogan nacionalista “Ninguém segura este país”.
Na década de 1970 também houve o nascimento de outros negócios, como foi
o caso da empresa de previdência e de seguros do grupo (Aspen). O plano de
previdência foi algo inovador no mercado, tanto que, depois de regulamentada a
operação desse setor no Brasil, a Aspen recebeu do governo brasileiro uma
“Carta-patente número 1”. Em seguida, a empresa teve seu nome alterado para
Asprevi, e depois Aposentec Previdência Privada.
Na década de 1980, Silvio enfrentaria mais uma vez as incertezas em relação
ao seu programa recorde de audiência. Até então, o Programa Silvio Santos era
exibido simultaneamente na TV Tupi (São Paulo e Rio de Janeiro), na TV Record
e na emissora de Silvio. Acontece que a maior dessas emissoras enfrentava uma
grave crise financeira. A TV Tupi havia sido pioneira na televisão brasileira e na
América do Sul, tornando-se líder absoluta de audiência na primeira década de
transmissão da televisão, nos anos 1950. No fim da década de 1970, entretanto,
enfrentava uma grave crise financeira, sem conseguir pagar os salários dos
funcionários. Em 1978 houve até um incêndio na sua sede em São Paulo, que
tirou a emissora do ar durante alguns minutos e queimou equipamentos que
haviam sido adquiridos havia pouco tempo. Após a cassação de diversas das
suas concessões, a TV saiu do ar em 1980, pouco antes de completar trinta anos
transmitindo sua programação.
Antes mesmo de assistir à emissora sendo encerrada, Silvio já se preocupava
com o destino de seu programa. Afinal, a TV Tupi, dentre aquelas que exibiam a
atração, era a única que contava com uma rede de forte presença nacional. O
apresentador havia renovado seu contrato com a emissora até janeiro de 1982,
mas, já preocupado com o futuro, acrescentou uma cláusula de que poderia
ingressar em outra rede de televisão para transmitir o seu programa sem
nenhuma multa adicional. Apesar do sucesso absoluto, o programa parecia
encontrar contínuos obstáculos para se manter no ar.
Foi com tristeza que funcionários, artistas e até o próprio Silvio assistiram ao
encerramento da TV Tupi. Os funcionários da emissora chegaram a fazer uma
vigília de dezoito horas tentando impedir que o fim da emissora se concretizasse.
Enviaram até mesmo uma carta solicitando reconsideração ao então presidente
João Figueiredo. Nenhuma das tentativas surtiu efeito. Foi um momento difícil
para todos ver a mensagem dos funcionários “Até breve, telespectadores amigos.
Rede Tupi” e também presenciar o término das transmissões. Afinal, saía do ar a
primeira emissora de televisão brasileira.
Além da TV Tupi de São Paulo, outros seis canais foram cassados nessa época:
TV Piratini (Porto Alegre), TV Ceará (Fortaleza), TV Itacolomi (Belo Horizonte),
TV Rádio Clube (Recife), TV Tupi (Rio de Janeiro) e TV Marajorara (Belém). O
cenário era precário para a televisão brasileira. Outros canais que não foram
extintos, mas que faziam parte da Rede Tupi, ficaram preocupados que tivessem
o mesmo destino. Dessa forma, filiaram-se à TVS de Silvio, criando a necessidade
de um novo gerenciamento. Assim, foi criado dentro do grupo o Departamento
de Outras Emissoras (DOE), especificamente para a gestão desses canais.
Com a cassação dos sete canais da TV Tupi, além de outros dois canais que já
não possuíam mais transmissão (TV Excelsior, em São Paulo, e TV Continental,
no Rio de Janeiro), havia a possibilidade de uma nova abertura de licitações.
Afinal, era preciso que a televisão brasileira saísse dessa situação de crise. Antes
do início do processo, entretanto, houve uma tentativa de barrá-lo junto ao
governo, pois poderia ser o fim da televisão brasileira, já que o mercado não se
sustentaria com tantas redes. Com a extinção da TV Tupi, o mercado de televisão
se acirraria ainda mais, tornando-se cada vez mais competitivo. Essa opinião era
compartilhada pelo Grupo Silvio Santos, que levava em consideração a
possibilidade de faturamento (o “bolo publicitário”) existente no mercado. Havia
um medo geral de que mais emissoras de televisão seguissem pelo caminho da
pioneira TV Tupi e outras que acabaram no mesmo beco sem saída.
O Ministério das Comunicações, entretanto, não atendeu a esse apelo,
iniciando, em 30 de setembro de 1980, o processo de licitação para duas novas
redes de televisão, que compreendiam uma junção dos canais que tiveram sua
concessão cassada. Operando apenas no Rio de Janeiro, Silvio Santos visualizou
nesse momento a possibilidade de aumentar seu escopo de atuação,
transformando a TVS em uma verdadeira rede de televisão. Parecia que mais uma
vez o destino estava ao lado de Silvio para que ele continuasse dando passos
ousados em sua carreira.
Assim como no processo de licitação do canal 11 do Rio de Janeiro, essa não
seria uma batalha fácil. Afinal, ele deveria provar ao Ministério das
Comunicações que era capaz de viabilizar o projeto de uma rede de televisão,
fazê-la crescer de maneira financeiramente saudável e ainda atender às
exigências mínimas da grade de transmissão. Mas Silvio, novamente, já estava
preparado para esse momento. Confiante, ele queria estimular uma campanha de
opinião pública a seu favor, como aconteceu durante a licitação da sua primeira
emissora. No entanto, mais uma vez, a verdadeira batalha das negociações estava
reservada aos bastidores.
O SEGUNDO CASAMENTO
Silvio teve dois grandes amores ao longo de sua vida: Cidinha e Iris. Como o
próprio Silvio já disse, a maior alegria de sua vida foi ter encontrado sua
segunda esposa, após perder tragicamente o primeiro amor. A atual esposa do
apresentador é sua companheira há décadas e sempre esteve ao lado dele nas
vitórias e também nos momentos difíceis. A princípio era apenas amizade. Os
dois se conheceram em 1975, no Guarujá, quando Silvio ainda estava casado
com Cidinha e a família enfrentava a difícil batalha pela sobrevivência dela
contra o câncer. Com a iminência de adquirir sua primeira emissora de televisão,
certamente esses foram anos de fortes emoções para Silvio.
A paixão de Silvio pelo Guarujá é algo antigo, que já gerou inclusive um
negócio milionário: em 2007 ele desembolsou R$ 150 milhões para construir o
luxuoso hotel Sofitel Jequitimar, na praia de Pernambuco. O hotel cinco estrelas
possui uma estrutura gigantesca, com mais de trezentos quartos, auditório, salas
de convenção e um luxuoso SPA. Os laços afetivos da família pelo local são tão
fortes que em 2015 a filha mais nova, Renata Abravanel, se casou no Guarujá,
na propriedade do Hotel Jequitimar. Certamente, esse é um lugar que guarda
muitas lembranças inesquecíveis na história da família Abravanel. Também,
pudera, foi justamente no Guarujá onde Iris e Silvio se conheceram. A futura
esposa, então com 19 anos, era uma apaixonada por praia. Em um belo dia
estava curtindo o sol com os amigos quando viu Silvio chegar do mar após um
passeio de lancha. Nesse momento, nasceu uma amizade entre os dois. Iris
relembrou o momento do primeiro encontro em entrevista para a revista
Claudia:
ʻFoi no Saco do Major, no Guarujá. Eu tinha 19 anos, era rata de praia, estava
preta e me lambuzava de mariscos crus quando Silvio desceu de uma lancha.
Falei: “Caramba, que brancura!”. Os amigos dele o enfiaram debaixo de uma
pedra para poupá-lo do sol. Eu era professora, o Silvio estava casado.10 ,
Iris Pássaro, como é o sobrenome de sua família, foi a primogênita de Genaro
Rubens e Nina Pássaro, casal que tinha mais três filhos. A família morava no
bairro do Brás, em São Paulo, onde Iris cresceu. Seu pai era versátil e teve
diversas profissões ao longo da vida: fotógrafo, pintor e metalúrgico.
Quando ainda morava no Brás, Iris chegou a vender enciclopédias de porta em
porta e atuou também como professora de primário, lecionando em escolas da
prefeitura. Quando Silvio a conheceu em férias no Guarujá, convidou-a para
trabalhar no Baú da Felicidade, o que fez com que a moça deixasse de lado a
carreira no magistério. Com a convivência que os dois passaram a ter na
empresa, aos poucos a paixão foi florescendo. Acreditando cada vez mais no
romance, ambos decidiram se casar oficialmente na propriedade do apresentador,
em 1981.
Quem não gostou do relacionamento a princípio foi o pai de Iris, afinal, sua
jovem filha estava encantada por um homem que já tinha mais de 50 anos, era
viúvo e pai de duas filhas fruto de união anterior. A ideia parecia absurda para
um descendente de italianos que levava uma vida simples no Brás. Mas, não teve
jeito, o casal estava apaixonado, e Rubens foi convencido por uma conversa que
teve com Silvio de que deveria aprovar o namoro. Talvez, Rubens não estivesse
totalmente convencido nesse momento, mas não restava outra opção a não ser
ceder.
Após iniciar o relacionamento com Silvio, Iris ainda começou um curso de
jornalismo na Faculdade Cásper Líbero, em São Paulo. Não foi possível finalizar
o curso, entretanto, porque a primeira filha do casal estava a caminho. O curioso
é que Silvio viveria sempre rodeado de mulheres, com nada menos do que seis
filhas. A dedicação que Silvio sempre teve pelo trabalho, desde que iniciou sua
vida profissional como camelô, também seria transmitida às filhas. Todas
começaram trabalhando como estagiárias nas empresas do grupo para que
pudessem se preparar para assumir, possivelmente, posições de liderança no SBT,
o que já acontece hoje. Não houve moleza pelo fato de serem filhas do “patrão”;
elas tiveram que ralar desde o começo para ganhar a confiança do pai e dos
diretores da emissora.
Tanto Iris quanto Silvio sempre fizeram questão de conduzir a família em uma
realidade mais próxima da classe média do que cercada pelos luxos que
certamente poderiam adquirir com sua fortuna. Tudo que Silvio sempre prezou
na vida, como o caráter e a disciplina (especialmente no trabalho), foi exigido de
todas as filhas, para que não perdessem de vista a realidade.
São tantas mulheres na vida de Silvio que ele brinca de chamá-las pelo
número. A primeira filha com Iris era a filha número três, já que com Cidinha
havia tido duas filhas, Cintia e Silvia Abravanel.
Daniela nasceu em julho de 1976. Ela é a diretora artística do SBT atualmente,
além de ter sido incluída no quadro de acionistas do grupo. Durante a gravação
do Troféu Imprensa de 2017, o pai elogiou a sensibilidade artística da filha,
talento que a faz merecer tal posição. Ela é responsável pela grade de
programação da emissora e já tomou decisões muito acertadas para o
crescimento do SBT, como a recontratação da apresentadora Eliana e o remake da
novela Chiquititas, que foi sucesso de audiência. Daniela é a protagonista de um
vídeo famoso ao lado do pai quando tinha apenas 3 aninhos. Ela participou da
brincadeira do foguete no programa Domingo no Parque. A brincadeira era um
sucesso. Para ganhar os presentes, a criança tinha de dizer “sim” ou “não” de
dentro da cabine assim que um botão, que emitia luz vermelha, acendia à sua
frente. O detalhe era que, ali dentro, ela não podia ouvir nada. Muito pequena,
Daniela se atrapalhou e só respondia “sim ou não” toda vez que o botão acendia,
arrancando gargalhadas gostosas da plateia e do pai.
A segunda filha do casal, e a quarta de Silvio, é Patricia, que nasceu em
outubro de 1977. Patricia parece ter puxado o carisma e o talento de
apresentadora do pai. Seu programa Máquina da Fama, em que os convidados
deveriam interpretar artistas famosos no palco, foi um verdadeiro sucesso no SBT.
Ela está em diversos programas na emissora, é uma das integrantes do famoso
“Jogo dos Pontinhos” de Silvio, e foi escalada para cobrir a licença-maternidade
de uma das maiores estrelas do canal, Eliana, o que mostra a confiança
depositada em seu talento. Um fato curioso é que a primeira vez em que Patricia
pegou num microfone foi no programa da Mara Maravilha, em 1988. Desinibida
e totalmente à vontade diante das câmeras, mesmo sendo apenas uma criança,
ela roubou a cena e chegou até a dublar a música “What a Feeling”, popularizada
por Irene Cara.
Vale lembrar que Silvia, a segunda filha de Silvio de seu primeiro casamento,
também está em destaque na programação do SBT. Em julho de 2015, ela se viu
diante de um desafio: foi escalada para apresentar o Bom Dia & Cia e não só deu
conta do recado como divide a apresentação do programa infantil até hoje com
os talentos mirins do SBT.
Já a quinta filha de Silvio é Rebeca Abravanel. Ela nasceu em dezembro de
1980 e atualmente comanda a área de comunicação da Jequiti Cosméticos,
empresa que vem apresentando expressivo crescimento e é aposta do Grupo
Silvio Santos. Ela também assumiu o Roda a Roda Jequiti, programa diário que
era apresentado pelo pai e passou para seu comando em junho de 2017. Renata
Abravanel, ou filha número seis de Silvio, nasceu no ano de 1985 e certamente
tem o DNA para a gestão dos negócios da família. Não à toa, é preparada para ser
a sucessora oficial do empresário. Renata estudou Administração nos Estados
Unidos e sempre chamou a atenção do pai. Silvio já disse que a caçula
administra como ninguém, por isso hoje, com pouco mais de 30 anos, ela já é
acionista e vice-presidente do grupo.
Depois que as filhas nasceram, Iris virou mãe em tempo integral. Ela se
dedicava apenas ao lar e ao marido e praticamente não ia aos estúdios do SBT.
Quando dá entrevistas, ela gosta de ressaltar que sua história não foi apenas um
conto de fadas, pelo contrário: teve dificuldades, quedas e uma boa dose de
superação. Não há como não se lembrar do marido quando ela ressalta esse
aspecto. Afinal, foram muitos os percalços enfrentados.
Uma das crises envolvendo o casal ocorreu na década de 1990. Eles sofreram
um desgaste na relação, chegando inclusive ao divórcio. Os dois lados
reconheciam a culpa no momento da separação. De acordo com a própria Iris, o
marido exercia um controle sufocante sobre ela e sentia muito ciúme, o que
atrapalhava a relação dos dois. Certamente, além da questão do ciúme, ser
esposa de um homem com a fama de Silvio Santos não é tarefa fácil. E Iris
sentiu isso na pele. E, como as brigas estavam ficando constantes, a separação
foi inevitável em 1992.
Felizmente, o amor falou mais alto e a separação não durou muito. Cerca de
um ano depois de ter saído de casa, Silvio retornou ao lar. No regresso do
marido, Iris decidiu que nunca mais se separariam e que deveriam passar o resto
da vida juntos. Até hoje os dois estão casados, dividindo os compromissos
profissionais em São Paulo com momentos de lazer na casa que possuem em um
condomínio na Flórida, nos Estados Unidos.
Outra desavença que o casal enfrentou durante o casamento não envolvia
somente os dois, mas chegou a incluir as filhas também. O motivo foram as
diferenças religiosas entre Silvio e Iris. Silvio, de origem judaica, também criou
as filhas para que seguissem as tradições de sua religião. Ainda hoje, por
exemplo, comemoram juntos o Yom Kipur, uma das celebrações mais
importantes para a religião judaica. O Yom Kipur propõe aos judeus uma
reflexão profunda sobre seus atos e, portanto, a necessidade do perdão. Nesse
dia, há um jejum de 24 horas e diversas orações são feitas. Silvio sempre
abençoa as filhas e solicita que transmitam esses valores judaicos aos seus netos.
Além disso, todas estudaram hebraico e fizeram o Bar Mitzvá, tradicional rito de
passagem para a maturidade. Para o apresentador, nunca houve outra religião.
A princípio, Iris não tinha muito interesse em religião – era católica, mas não
praticante. Em entrevista à revista IstoÉ, ela comentou que foram seus
funcionários de casa que a incentivaram a se converter para a igreja evangélica.
Por muitos anos ela participou de cultos na Igreja Vida Nova, na zona oeste de
São Paulo. Durante esse período, ela também fez atos de caridade e chegou a
participar de projetos de educação para crianças carentes, relembrando os
tempos no magistério. Aos poucos, as filhas foram se interessando e seguiram o
mesmo caminho de Iris, tornando-se evangélicas também.
No começo, era algo muito estranho para Silvio ver suas filhas fazendo
pregações. Quando percebeu que elas seguiam um novo rumo, o apresentador
ficou incomodado, o que acabou gerando conflitos entre ele e a mulher. Silvio
achava que Iris estava influenciando as filhas de maneira negativa, algo que a
esposa não concordava. Essa reação contrária aconteceu apenas no início.
Conforme Silvio foi percebendo que suas filhas estavam seguindo um caminho
do bem, até mesmo com ideias semelhantes às que presenciava em sua religião,
passou a não ser mais contrário às suas escolhas. Passado o incômodo e susto do
apresentador ao ver sua família adotando uma religião diferente da sua, hoje a
situação é até inversa. No dia a dia da família Abravanel, Silvio faz orações com
sua mulher e suas filhas, e também leem juntos o Antigo Testamento da Bíblia.
Em 2015 Silvio chegou, inclusive, a visitar ao lado da esposa o Templo de
Salomão, sede da Igreja Universal do Reino de Deus. A igreja hoje é liderada
pelo bispo Edir Macedo, que também é proprietário da TV Record. Durante a
visita, Silvio e Iris foram acompanhados pelo bispo Edir Macedo e sua esposa. A
visita do apresentador ao templo marcou um reencontro com o bispo, que não
via há mais de dezessete anos. Durante o passeio, houve uma gravação para o
programa da TV Record, Domingo Espetacular, no qual os dois também
relembraram fatos marcantes de suas trajetórias.
Iris, assim como Silvio, sempre foi low-profile em relação ao dinheiro e à
posição social que a família ocupa. Ela sempre foi muito racional em relação ao
uso do dinheiro e nunca gostou de ser o centro das atenções, sendo
extremamente discreta. A guinada profissional, no entanto, fez com que
ganhasse visibilidade. E tudo aconteceu a partir de um desejo de ajudar o SBT.
Em 2007, Silvio queria deixar de transmitir apenas as novelas mexicanas da
Televisa, produzindo e exibindo suas próprias produções novamente. A questão
era que, para viabilizar uma telenovela, o dono da emissora precisava de novos
talentos para sua casa. Mas estava com dificuldades, pois a maioria dos nomes
conhecidos e experientes já estava trabalhando na Globo, que é imbatível no
gênero. Era preciso encontrar urgentemente um profissional para dar conta do
recado.
Iris já havia atuado como colunista da Contigo, mantendo entre 1992 e 1995
uma coluna chamada “Bate-papo”. As 78 crônicas publicadas foram compiladas
no livro Recados disfarçados, lançado em 2010, pela Companhia Editora
Nacional. O título do livro se refere, literalmente, aos recados disfarçados que
Iris dava ao marido em suas colunas, até mesmo durante a separação. Leão
Lobo, então editor da Contigo e um dos responsáveis pelo início das colunas de
Iris na revista, comentou sobre essa fase:
“O Décio [Piccinini] era diretor da revista Contigo e eu era o editor. Um dia
ele chegou para mim e falou assim: ‘O que você acha de a gente colocar a
dona Iris fazendo uma coluna? Ela está querendo’. Respondi que achava
maravilhoso. Quando chegamos no domingo para fazer o programa [Show
de Calouros], o Silvio veio nos perguntar quanto a Iris ganharia por coluna.
Depois que dissemos o valor, ele questionou: ‘Mas isso aí multiplicado por
quatro, né? Já que a coluna é semanal, ela ganhará tanto por mês?’.
Concordamos. Com o bom humor de sempre, ele foi até o meio do palco e
voltou sorrindo. ‘Mas é assim que ela vai se tornar independente’[risos].
Hoje ela é um estrondoso sucesso no SBT. Eu e Décio somos muito
orgulhosos por termos dado a primeira oportunidade à dona Iris. O talento
já estava ali, só precisava de uma chance mesmo.”
Anos após essa primeira experiência na Contigo, Iris estava diante de uma
nova oportunidade. Confiante de que conseguiria êxito na função, ela sugeriu ao
marido que fizesse ela mesma as novas novelas do SBT. E, como todos já sabem,
recebeu o aval de Silvio para seguir em frente. Após tantos anos, Iris retomaria a
atividade profissional. Depois de conversar com o diretor de dramaturgia do SBT,
ela começou a fazer possíveis sinopses para novelas, bem como procurar a
equipe que estaria ao seu lado para que o objetivo fosse cumprido. O sonho
começou a se tornar realidade.
A primeira novela que saiu dessa nova fase profissional de Iris foi Revelação,
exibida entre dezembro de 2008 e junho de 2009. Assim como a novela seguinte,
Vende-se um véu de noiva (adaptação de Janete Clair), a primeira não teve um
ibope muito alto. No início do trabalho, certamente pensava-se que Iris não
aguentaria por muito tempo a pressão da nova rotina. Ledo engano, pois o
talento, aliado à força de vontade, mostrou que ela viera para ficar,
desmistificando o estereótipo da “esposa do patrão”. Apesar do baixo índice de
audiência em suas primeiras novelas, Iris perseverou.
A antiga propriedade que havia sido o cenário do reality show Casa dos
Artistas passou a ser o escritório de Iris e sua equipe. Em 2012 foi lançada
Corações feridos, mais uma novela para o seu currículo. Mas seria a seguir, com
os remakes de Carrossel e Chiquititas, que Iris Abravanel demonstraria seu
verdadeiro potencial. Com esses dois sucessos, ela alcançou a notoriedade. No
ano de 2012, com o trabalho de Iris, o SBT arrecadou mais de R$ 100 milhões em
licenciamento, além de alcançar a vice-liderança de audiência. A seguir, Iris faria
Patrulha Salvadora e Cúmplices de um resgate. A segunda novela, que era sobre
duas gêmeas interpretadas pela atriz e cantora Larissa Manoela, fenômeno de
público, tornou-se uma das novelas brasileiras que ficou mais tempo no ar.
Desde 2008, quando sua primeira novela entrou na grade do SBT, somam-se sete
novelas com autoria de Iris Abravanel.
O NASCIMENTO DO SBT
No início da década de 1980, Silvio já tinha conseguido a concessão de sua
primeira emissora há mais de quatro anos. Porém, a TVS era apenas o primeiro
passo do apresentador como dono de televisão, e ele tinha muito mais para
conquistar. A emissora era uma concessão do canal 11 do Rio de Janeiro e que,
portanto, só transmitia sua grade de programação para a cidade natal de seu
dono. Mas isso era pouco para os planos do apresentador: ele queria uma
emissora que se transformasse em uma verdadeira rede, um sistema de televisão.
Desde o início da era da televisão no Brasil com a Tupi, em 1950, diversas
foram as emissoras que sucumbiram diante de seus telespectadores. Não foram
poucos os canais (como a própria TV Tupi e a TV Excelsior) extintos em
decorrência das graves crises econômicas do período. Para o governo brasileiro
estava claro que a liberação de concessões era um processo muito delicado, que
envolvia um planejamento verdadeiramente cuidadoso para que fosse viável.
Afinal, em caso de fracasso, os impactos econômicos seriam muitos. O próprio
Silvio, antes de conseguir a TVS, já havia tentado uma concessão sem sucesso.
Foi somente com o projeto apresentado para a sua emissora, em 1975, com a
questão da sustentabilidade financeira pelas próprias empresas do grupo, que o
Ministério das Comunicações lhe concedeu o seu tão sonhado canal.
Com a nova concessão instaurada em 30 de setembro de 1980, seriam mais
duas redes disponíveis. Essa era uma oportunidade e tanto para Silvio e seu
grupo, que viam ali a possibilidade de construir um sistema de televisão com
maior abrangência e influência. No início, Silvio e seu grupo tentaram convencer
o Ministério das Comunicações a cancelar o processo de licitação, para que as
emissoras já existentes fossem fortalecidas. Assim, essas emissoras não
padeceriam do mesmo mal de tantas outras, acabando na extinção. Com o
processo de licitação aberto, entretanto, o jogo era outro e Silvio e sua equipe
estavam mais preparados do que nunca. Agora, eles voltariam a lutar por mais
essa chance de fortalecimento como meio de comunicação brasileiro.
Silvio sabia que era um forte candidato para conquistar uma das duas redes
que estavam em jogo. Afinal, era reconhecido como um empresário muito
capacitado e com solidez financeira. Além disso, já era um veterano em termos
de conhecimento sobre televisão, já que trabalhava nessa área desde a década de
1960. Apesar da confiança que tinha em si mesmo, não eram poucos os que
concorriam pelo mesmo objetivo. Na hora de decidir pelo nome de seu grupo,
Silvio optou por não utilizar rede, trocando por sistema. Havia algumas outras
opções de nomes com “rede” também: Rede Brasileira de Televisão (RBT),
Rede Nacional de Comunicações e Rede SS de Televisão. O nome acatado foi
sugestão de José Eduardo Piza Marcondes, que chegou a ser diretor do SBT.
Então, além do Sistema Brasileiro de Televisão de Silvio, o Ministério das
Comunicações recebeu propostas de oito outros candidatos: Rede Piratininga de
Rádio e Televisão, Rede Capital, Rede Rondon de Comunicações, Sistema
Brasileiro de Comunicação, TV Manchete, Grupo Visão, Rádio Jornal do Brasil e
o Grupo Abril.
Para avaliar como estava a opinião pública, Silvio encomendou uma pesquisa
de ibope sobre o tema. O resultado foi que a maioria dos entrevistados achava
que ele realmente deveria estar entre um dos ganhadores das redes. Ele se
apresentava como melhor candidato à concessão para o público em todas as
regiões em que a pesquisa foi conduzida, bem como entre todas as classes
sociais. Isso demonstrava a aceitação que ele tinha nos mais diversos perfis de
públicos.
Apesar de contar com toda a torcida da população, o jogo não estava
finalizado e muito menos com a vitória decretada para Silvio. Afinal, nesse caso,
não era o povo que decidiria o destino das emissoras de televisão, mas o
governo, na figura do Ministério das Comunicações. Vale ressaltar que, apesar
de ter o comando total da TVS nessa época, Silvio também detinha boa parte das
ações da TV Record, o que o colocava na figura de importante gestor da
emissora. Paulo Machado de Carvalho, o outro acionista da rede, só veio a
descobrir tempos depois sobre o papel de Silvio em sua televisão, e não gostou
nada da novidade. Mas, àquela altura do campeonato, Silvio já possuía as ações
e tinha indiscutível poder de comando na emissora. Por diversas vezes participou
da contratação de funcionários e de decisões estratégicas – afinal, o destino da TV
Record também era de seu interesse.
Nessa época, Silvio havia conseguido os direitos de transmissão do concurso
Miss Brasil, que durante 26 anos tinha sido um fenômeno de audiência do
conglomerado de mídia Diários Associados, grupo fundado por Assis
Chateaubriand e que apresentava o concurso de beleza desde 1955. Em 1981,
Silvio utilizou a TV Record para transmitir o Miss Brasil. Na ocasião, a
transmissão chegou a alcançar mais de 40 pontos de audiência, número que
representava um feito histórico para o evento. Mas a Record passaria por
diversas crises financeiras até que, em 1989, Silvio e Paulo Machado de
Carvalho decidiram vender a emissora. Quem adquiriu 100% das ações da
Record em São Paulo, em São José do Rio Preto e em Franca foi o bispo Edir
Macedo.
Em 1981, Silvio finalmente alcançaria a concessão da rede que tanto sonhava.
Mas foi preciso mais do que a pesquisa de opinião pública para chegar à reta
final. Assim como no caso da concessão da TVS, Silvio e sua equipe tiveram que
batalhar muito para alcançar o objetivo. Mais uma vez, membros da sua equipe,
como Luciano Callegari e Arlindo Silva, estiveram presentes nessa importante
fase profissional. Algumas viagens para Brasília foram necessárias, assim como
algumas reuniões com peças-chave do governo. Dessa vez, o ministro das
Comunicações era Haroldo Corrêa de Mattos, o homem que teria a palavra final
na decisão das concessões. Mostrando mais uma vez a seriedade e a viabilidade
do seu projeto para um sistema de televisão, o empresário e sua equipe
obtiveram mais uma importante vitória. Agora, estava nascendo o Sistema
Brasileiro de Televisão.
No dia 25 de março de 1981, foi assinado o decreto número 85.841 pelo
presidente da República João Figueiredo. A Silvio foi concedida a rede de quatro
canais, que compreendia a TV Tupi de São Paulo, a TV Marajoara de Belém, a TV
Piratini de Porto Alegre e a TV Continental do Rio de Janeiro. Tanto o canal de
São Paulo como a TV Marajoara e a TV Piratini eram, anteriormente, de
propriedade da TV Tupi. Agora, Silvio tinha canais em cidades estratégicas
nacionalmente: São Paulo e Rio de Janeiro. Para ele, era muito importante ter
um canal em São Paulo, afinal, apesar de sua primeira emissora ter sido uma
concessão no Rio de Janeiro, seus estúdios localizavam-se na terra da garoa,
mais especificamente na Vila Guilherme.
Os outros cinco canais que estavam em processo de concessão (TV Italacomi
de Belo Horizonte, TV Rádio Clube do Recife, TV Ceará de Fortaleza, TV Tupi do
Rio de Janeiro e TV Excelsior de São Paulo) foram concedidos à empresa Bloch,
outro importante grupo de mídia brasileiro, fundado por Adolpho Bloch, um
ucraniano que imigrou para o Brasil com sua família em 1922. O grupo seria
fundador de publicações que marcaram época na comunicação brasileira. Em 26
de abril de 1952, Adolpho Bloch lançou seu maior sucesso editorial: a revista
Manchete.
A publicação da empresa de Bloch passou a ser concorrente de umas das
principais publicações nacionais, a revista semanal O Cruzeiro, lançada a partir
de 1928 pelo Grupo Diários Associados. A Manchete chamou atenção devido à
sua alta qualidade editorial – que cobriu o nascimento de Brasília e tinha um
quadro de peso entre seus colaboradores, como Carlos Drummond de Andrade,
Manuel Bandeira e Fernando Sabino.
Com a concessão adquirida junto ao Ministério das Comunicações em 1981,
foi fundada dois anos depois, em junho de 1983, a TV Manchete. O primeiro
programa da emissora foi a atração Mundo Mágico, que trazia grandes astros da
música nacional e internacional. Alguns nomes que se apresentaram na atração
foram Blitz, Paulinho da Viola, Lucinha Lins, Erasmo Carlos e muitos outros.
Após a apresentação de Mundo Mágico, a Rede Manchete passou o filme
Contatos imediatos de terceiro grau, dirigido por Steven Spielberg, que não
havia sido exibido em rede nacional até então. Com a exibição do filme, a
emissora atingiu um marco impressionante: venceram a liderança da Rede Globo
de Televisão durante o horário de exibição. Apesar de ter apresentado atrações
importantes na história da televisão brasileira, a Rede Manchete seria mais uma
das emissoras a falir por conta de problemas financeiros. Em 10 de maio de
1999, a emissora saiu do ar em decorrência de uma grande dívida.
Diante do cenário instável em que sempre se encontrou a televisão brasileira,
era com muita alegria, e ao mesmo tempo senso de responsabilidade, que Silvio
Santos recebia a nova missão de gerenciar uma rede de televisão com diversos
canais. Os desafios, obviamente, não seriam poucos.
A assinatura do contrato de concessão foi efetuada por Silvio em Brasília, em
19 de agosto de 1981. O apresentador e dono da mais nova rede de televisão
brasileira aproveitou o momento solene para ter mais uma atitude inusitada:
iniciou as transmissões do SBT justamente com a assinatura do contrato. Silvio,
emocionado, não somente se mostrou aliviado pelo fato de a “novela” ter
chegado ao fim, como também aproveitou o momento para agradecer àqueles
que estiveram ao seu lado (e torceram por ele) durante o processo de licitação.
Entre os agradecidos estavam o público telespectador que acompanhava o
trabalho dele desde o rádio e também, especialmente, as donas de casa (as fiéis
companheiras, como ele as chama).
Não era à toa que Silvio estava emocionado na ocasião. Como ele mesmo
disse, foi um período intenso de trabalho e compromisso, afinal, 10 milhões de
dólares foram investidos no novo projeto que estava encabeçando. O Grupo
Silvio Santos, na época já com mais de 12 mil funcionários, teria somados ao seu
quadro 1.600 representantes dos antigos canais que Silvio acabara de adquirir.
Na solenidade, estiveram presentes sua esposa Iris, amigos, colegas de profissão
e autoridades. Era uma imensa plateia. Havia também representantes de sua
equipe, que, assim como ele, abriram mão de estar com a família para que a
concessão fosse conquistada. Silvio se declarou feliz, porém nervoso, enquanto
ʻ
enviava um recado à esposa Iris: Eu estou feliz, um pouco nervoso, mas feliz.
Feliz porque estou vendo diante de mim a minha esposa, os meus amigos, alguns
dos meus colegas e as autoridades que dirigem o nosso país. Para minha esposa
Iris, que está aqui na plateia, eu quero dizer que não se preocupe. O trabalho vai
aumentar, mas eu continuarei sendo o bom marido e pai que sempre fui. Eu
dirijo o meu trabalho, o meu trabalho não me dirige. ,
Aos funcionários, Silvio disse que seria muito mais colega de profissão e
muito menos patrão. Com muita emoção e orgulho, ele ressaltou as dificuldades
e as conquistas que acompanhavam o dia a dia na profissão, que não deixava de
ser apaixonante justamente por isso. Diante das autoridades governamentais que
se fizeram presentes na assinatura do contrato, ele fez questão de reassumir o
compromisso que levava com convicção de prestar os melhores serviços em
benefício do Brasil e da própria população. Afinal, como ele sempre fez questão
de frisar, o apoio do povo brasileiro foi crucial em todas as suas conquistas.
Silvio, muito emocionado pelo fato de estar fazendo a primeira transmissão de
seu sistema de TV, finalizou citando Deus e demonstrando o apreço que tem pelo
país e seu povo: “Peço a Deus que me dê saúde, que me ilumine e que me ajude.
Peço também que ele abençoe este país e o povo admirável e carinhoso que aqui
vive.” Esse era um momento glorioso para o menino filho de imigrantes judeus e
de classe média carioca.
Certa vez, em seu programa no SBT, o próprio Silvio comentou sobre sua
ʻ
trajetória: Eu não nasci dono de televisão. Eu fui dono de televisão porque os
donos de televisão fecharam as portas para mim. Quando se fecha uma porta,
Deus abre uma janela. Fui obrigado a ser dono de televisão ao comprar 50% de
ações. Eu não nasci dono de televisão, eu nasci animador de programas,
continuaria sendo animador de programas se os homens não fossem tão
vaidosos, tão poderosos. ,
Toda a equipe do SBT teria um trabalho árduo à sua frente para unificar a
gestão de todos os canais da emissora, funcionando realmente como um sistema
de televisão, e para garantir a qualidade na programação. A assinatura do
contrato de concessão era um momento de celebração, mas, a partir desse ponto,
iniciava-se uma nova jornada. E Silvio sempre foi conhecido por ser bastante
exigente com sua equipe, o que era necessário para que o grupo funcionasse
conforme seus objetivos.
Inaugurado o SBT, em agosto de 1981, era preciso “acolher” os antigos
funcionários dos outros canais, alocando-os em novas funções, além de resolver
as situações das dívidas pendentes que agora eram responsabilidade de Silvio.
Tudo que ele não precisava naquele momento era pendurar uma dívida quando
era necessário fôlego financeiro para investir em sua rede de televisão e fazê-la
crescer. Para evitar ter que lidar com esse problema, Silvio, através de um acordo
com a TV Record, importou dois transmissores de sinal RCA e comprou uma
antena que foi colocada na torre da emissora localizada na Avenida Paulista.
Dessa forma, ele teria sua própria estrutura em São Paulo e não precisaria usar a
da TV Tupi. A atual torre do SBT, localizada no Sumaré, foi arrematada
posteriormente em leilão da ex-Tupi.11
Em 2000, Silvio chegou a pagar quase R$ 6 milhões em dívidas de direitos
trabalhistas da antiga TV Tupi, que foram assumidas pelo SBT após a aquisição da
emissora. Mais de oitocentos funcionários da Tupi passaram a trabalhar no SBT.
Alguns desses, como muitos profissionais que Silvio contratou em suas
empresas, passaram décadas trabalhando ao seu lado. Além dos desafios
estruturais, a grande questão do SBT era como atender às exigências do
Ministério das Comunicações. Afinal, havia uma grade de programação a ser
cumprida. Passado o momento solene e emocionante da assinatura, agora
estariam em pauta outros desafios e objetivos para a equipe que tanto trabalhara
para conseguir a concessão do canal. Uma vez que já tinham permissão para
operar, era preciso colocar a mão na massa e trabalhar.
OS PRIMEIROS PASSOS DO SBT
Quando inaugurou sua rede de televisão, que chamou de SBT, Silvio Santos já era
um mito. O cenário tinha dois lados: havia (como sempre) a torcida para que
tudo desse certo e também os desafios de uma responsabilidade maior. Desde a
década de 1960 os brasileiros estavam acostumados a acompanhar de perto o que
o seu ídolo fazia. Foi assim também com o nascimento do SBT. A expectativa era
alta para saber qual seria a cara da emissora nessa nova fase e como seria seu
desempenho, visto que muitas empresas de grandes grupos de mídia já haviam
sucumbido antes de Silvio. Ele não queria ver seus empreendimentos tendo o
mesmo destino que seus antigos colegas e concorrentes.
O primeiro desafio importante após a concretização da etapa estrutural era
atender às exigências estipuladas pelo Ministério das Comunicações. Sendo uma
rede de televisão, o SBT precisava operar como tal e cumprir a grade mínima de
doze horas diárias de programação, determinadas por lei. Agora que Silvio tinha
uma emissora com maior abrangência, poderia adotar sua filosofia em toda a
grade, sem ter que se preocupar com interferências – o que o incomodava
durante a época na Rede Globo.
Desde o primeiro momento, o empresário apostou em uma programação mais
popular, o que logo de cara já lhe rendeu destaque na audiência. Isso fez com
que ele apostasse crescentemente nesse tipo de programação para um público
que se tornava cada vez mais fiel. Uma estratégia utilizada desde o início foi a
transmissão de desenhos animados para agradar ao público infantil. Esse era um
dos trunfos do SBT para alcançar boa audiência.
Hoje em dia, muitos canais abertos deixaram de exibir desenhos, mas Silvio,
ao contrário, não pretende retirar de sua grade esse tipo de atração.
Recentemente, houve até um questionamento da parte de sua equipe sobre esse
direcionamento, afinal, com leis cada vez mais restritas em relação à publicidade
voltada ao público infantil, essa programação acaba não trazendo tanto retorno
para a emissora. Silvio, no entanto, segue com a mesma opinião. De acordo com
a coluna “TV e Famosos” do Portal UOL, o dono do SBT foi categórico em sua
ʻ
postura: O SBT não vai deixar de exibir desenhos animados, não. Não me
interessa se estou perdendo dinheiro (nas manhãs) porque (para mim) exibir
desenhos é uma obrigação para com as crianças. O SBT não está aqui só para
fazer dinheiro, tem outras coisas (envolvidas).12 ,
Além disso, ele fez questão de ressaltar a importância dos desenhos na história
da emissora: “Se quiserem tirar os desenhos da grade depois que eu morrer,
fiquem à vontade, mas enquanto eu estiver vivo eles vão continuar. O
telespectador do SBT Brasil de hoje era o telespectador do Chaves vinte anos
atrás. A criança é o mais fiel dos telespectadores.”
Um dos grandes sucessos do SBT e uma das mais marcantes atrações infantis
foi o programa do palhaço Bozo. A atração estreou na emissora ainda em 1981 e
ficaria no ar até 1991, marcando a vida de muitas crianças. O Bozo, na verdade,
não foi invenção do Silvio: ele adquiriu os direitos do personagem criado nos
Estados Unidos, em 1946, por Alan Livingston, um produtor musical. O Bozo
teve sua estreia no álbum Bozo at the Circus da gravadora Capitol Records,
tornando-se grande fenômeno não só musical, como também de programas de
televisão e de licenciamento. O famoso palhaço teve mais de duzentos
intérpretes. O Brasil foi um dos poucos lugares no mundo em que o personagem
alcançou êxito semelhante ao dos Estados Unidos.
Quando adquiriu os direitos para criar o seu próprio programa com o Bozo,
Silvio pensou, primeiramente, que ele seria a melhor pessoa para interpretar o
palhaço. Passado esse primeiro momento de empolgação, a ideia se mostrou
duvidosa, percebendo que não faria bem à sua imagem misturar a persona do
apresentador e empresário com a de um palhaço, uma vez que não seria difícil
para o público reconhecê-lo, considerando seu jeito único. Ele decidiu então
contratar o ator Wanderley Tribeck, que vinha sendo treinado por um dos mais
notáveis intérpretes do palhaço na época, o americano Larry Harmon. Wandeko
Pipoca, como era conhecido, foi intérprete do famoso palhaço até 1983, sendo
que o disco do Bozo gravado por ele ultrapassou 100 mil cópias vendidas. No
SBT, o palhaço foi interpretado por diversos atores, como Arlindo Barreto, Luís
Ricardo e Marcos Pajé. Um dos grandes motivos de sucesso da atração e do
personagem era justamente seu carisma junto ao público infantil, especialmente
quando pedia uma “bitoca no nariz” ou quando distribuía prêmios pelo telefone,
bem ao estilo Silvio Santos.
A aquisição dos direitos do famoso palhaço foi uma decisão muito acertada da
parte de Silvio. Além do enorme sucesso de audiência, ele bateu recorde de
venda de discos, chegando a conquistar três discos de ouro. Sua aparência
chamativa com cabelo cor de fogo e maquiagem exagerada não assustava as
crianças, ao contrário, lhes chamava muito a atenção. O palhaço, apesar de sua
popularidade, não apresentava o programa sozinho. Durante a atração havia
outros personagens que se juntavam a ele, como era o caso da Vovó Mafalda,
uma vovó carismática e bem-humorada, interpretada por Valentino Guzzo.
Outra exigência do Ministério das Comunicações era que uma parte da grade,
5% da programação, fosse preenchida com programas jornalísticos. Por isso,
pouco tempo após a estreia da emissora, entrava no ar o primeiro telejornal do
SBT, chamado de Noticentro. Gravado nos estúdios da Vila Guilherme, em São
Paulo, o programa jornalístico era o primeiro do gênero a ser apresentado
durante a manhã. A equipe que compunha o jornal era formada por antigos
funcionários da TV Tupi e tinha nomes como Humberto Mesquita, Almir
Guimarães e Gilberto Ribeiro. Após pouco menos de um ano, em 1982, o
programa Noticentro passou a ser transmitido ao vivo, alterando seu horário para
as 19h. Contudo, a atração não era uma grande aposta jornalística da parte de
Silvio. Famoso por não dar tanto foco ao gênero em sua emissora, o programa só
entrara no ar para cumprir as exigências contratuais da concessão.
Outras apostas do SBT na área do jornalismo foram o jornal 24 Horas, que
iniciava à meia-noite, e o Jornal da Cidade. Nenhuma dessas atrações teve
muito destaque, o que fez Silvio pensar em novas estratégias, até mesmo para
aumentar seu faturamento. Após alguns anos com esse jornais, o SBT trouxe à sua
grade de programação uma nova proposta de telejornalismo: o jornal TJ Brasil,
apresentado pelo jornalista Boris Casoy. Com a aposta, a emissora queria
melhorar a visibilidade que tinha no gênero e, assim, impulsionar a receita.
Apesar de estar estreando como apresentador de telejornal nessa atração do SBT,
Boris já era um veterano da comunicação brasileira. Ele iniciou sua carreira
jornalística ainda jovem, como o patrão Silvio, aos 15 anos como locutor
esportivo de rádio. Na década de 1960, na TV Tupi, adquiriu experiência como
repórter em atrações da emissora.
Um dos grandes responsáveis pelo sucesso do TJ Brasil foi justamente o
âncora, na figura de Boris Casoy. A passagem pela emissora na bancada do
telejornal traria muito prestígio ao jornalista, que ficou na casa até 1997, quando
saiu para a TV Record, sendo substituído pelo jornalista Hermano Henning. Em
reportagem realizada para a Folha de S.Paulo, o jornalista Carlos Eduardo Lins
da Silva, que teve acesso ao piloto do telejornal antes de sua estreia, mostrou-se
entusiasmado com o que o noticiário poderia trazer ao público: “O melhor do
piloto é Boris Casoy. Ele demonstra ser um apresentador seguro e formal, que
transmite a imagem de credibilidade indispensável para o seu papel de âncora.”
Além disso, o jornalista ressaltou o potencial que o programa tinha, sem deixar
ʻ
de citar os desafios também: A estreia de ontem justificou a expectativa de que
Globo e Manchete passem a ter agora um concorrente de nível na área de
telejornalismo. Mas realçou as dificuldades que Casoy e sua equipe terão de
superar até conseguirem produzir um programa capaz de ser reconhecido como
melhor do que o dos adversários.13 ,
As telenovelas sempre tiveram espaço no SBT, especialmente as produções
mexicanas, que representavam um custo menor para Silvio (já que não teria que
produzir) e também eram bem recebidas pelo telespectador do canal. Os dramas
mexicanos exibidos no SBT criaram mania no público, gerando até ídolos a partir
dessas produções. A primeira novela mexicana exibida no SBT, e grande sucesso
de público, foi a atração Os ricos também choram. A trama é sobre o encontro da
mocinha simples, Mariana Villarica, vivida pela atriz Veronica Castro, com o
milionário Don Alberto Salvatierra, que foi interpretado por Augusto Benedico.
As novelas entraram na programação a partir de uma parceria entre o SBT e a
Televisa, um importante grupo de mídia mexicano, fundado em 1973. Junto à
aquisição das novelas mexicanas, chegaria à emissora um programa que se
tornaria ícone da televisão, bem como do próprio SBT: Chaves! Em 2016, o
seriado criado por Roberto Bolaños completou 45 anos de história. No Brasil, o
programa entrou no ar em 1984, fazendo desde então parte da grade da emissora.
Apesar de todo o sucesso, não foi de cara uma aposta da direção do SBT.
Na década de 1980, quando chegou ao SBT com as outras atrações da Televisa,
a diretoria da emissora não ficou impressionada com a turma do Seu Madruga,
Chiquinha, Chaves e companhia. Na realidade, eles acreditavam que a série tinha
uma péssima qualidade e que não havia chance de fazer sucesso. Mais uma vez,
Silvio mostraria que sua visão estava à frente da de muitas pessoas: foi por sua
insistência, por acreditar no potencial da atração, que Chaves estreou na
emissora. Após sua estreia, todos haveriam de concordar com o “patrão”. Chaves
tornou-se fenômeno de audiência em qualquer horário em que fosse transmitido.
Mesmo sendo repetido exaustivamente, os fãs não se cansam da atração. O
famoso episódio da viagem da turma para Acapulco virou um clássico da série.
Um programa que atendia bem ao perfil popular que tanto valorizava Silvio
Santos foi a atração O Povo na TV. Exibida desde 1981, o principal objetivo era
incentivar a população a falar sobre seus problemas, bem como resolvê-los no ar.
Dirigida por Wilton Franco, a atração era exibida ao vivo e contava com a
participação de nomes como Christina Rocha e Sérgio Mallandro. Como tinha
um forte apelo popular, foi conquistando cada dia mais a audiência do público.
Uma vez que era apresentado ao vivo, diversos foram os momentos polêmicos e
inusitados. Com formato irreverente e contestador, o programa saiu da grade do
SBT. Apesar do seu término, ele influenciou diversos programas do gênero, caso
de atrações como Aqui Agora (1991), Cadeia Nacional (1992) e 190 Urgente
(1996).
E o que dizer sobre o programa do patrão? Ou “paitrão”, como muitos fazem
questão de frisar. O Programa Silvio Santos é sucesso absoluto há décadas, e já
faz parte de nossa memória afetiva o apresentador interagindo com a plateia e
distribuindo aviõezinhos de dinheiro. Show de Calouros, apresentado como
quadro fixo desde 1973, permaneceu no programa durante mais de vinte anos. A
fórmula mágica era bem simples: pessoas anônimas apresentavam números
artísticos para que os jurados pudessem avaliar suas performances.
Os jurados eram um show à parte. A bancada era composta por nomes
importantes da classe artística brasileira, como Pedro de Lara, que, assim como
Silvio, antes de estrear na televisão trabalhava como radialista. O pernambucano
estreou no rádio ainda na década de 1960. Foi no Show de Calouros, entretanto,
que viria a se consagrar e se tornar realmente conhecido. Outros jurados foram
Elke Maravilha, Sérgio Mallandro, Sônia Lima, Vagner Montes, Leão Lobo,
Décio Piccinini e Florina Fernandez – mais conhecida como Flor. Além do Show
de Calouros, outras atrações marcantes da época que fizeram história no SBT
foram o Domingo no Parque, o Qual é a Música? e o Jogo da Roleta.
Não era somente o formato dos programas que chamava a atenção do público,
mas, também – e talvez principalmente –, a figura irreverente de Silvio, que
sempre pareceu muito diferente do conceito que se tinha de apresentador de
televisão. São inúmeras as cenas marcantes de Silvio em suas atrações: seja
caindo no palco (como na famosa vez em que desabou em um tanque de água),
seja na sua franqueza com as perguntas dos telespectadores, ou mesmo dando
broncas engraçadas ao vivo em seus funcionários. Silvio nunca fez questão de
esconder sua personalidade sincera e brincalhona.
Sua popularidade, desde o início da trajetória profissional, é decorrente de seu
enorme carisma. Afinal, não é qualquer um que segura um programa durante
horas no domingo e mesmo assim mantém altos índices de audiência. Silvio,
com sua simplicidade no jeito de ser e de se portar diante do público, por
diversas vezes cometeu gafes ou “micos” em seu programa. Ele até ria de si
mesmo nesses momentos, criando uma identificação com o seu telespectador –
afinal, um mito como Silvio Santos também pode cometer erros e se divertir com
eles.
Essas atrações mais populares agradavam em cheio os telespectadores, mas
nem tanto os patrocinadores. Preocupado, Silvio identificou a necessidade de
realizar alterações em sua grade sem perder a essência da emissora, para que
pudesse conquistar uma fatia maior do bolo publicitário. E foi em meados da
década de 1980 que o cenário começou a mudar. Agora, o homem do povo
Silvio Santos precisava dar um toque mais “fino” ao seu sistema de televisão.
O HOMEM QUE ENXERGA COM A
ALMA
Silvio sempre foi muito decidido em sua vida. Até demais às vezes, contrariando
em muitos momentos aqueles que pensavam diferente dele. No SBT, diversos são
os relatos de situações em que o “patrão” acaba desconsiderando as sugestões de
seus funcionários, pois sua intuição e sua visão lhe mostram o caminho correto a
seguir. Ele parece querer ir sempre além do status quo e costuma acertar em suas
decisões.
Mas que homem de negócios bem-sucedido não é assim? Afinal, sejamos
francos, quem deseja construir um império – como é o caso do Grupo Silvio
Santos – precisa ter pulso firme em suas decisões. Poucos conhecem os
bastidores dessa história, mas por pouco o pupilo de Silvio no SBT, Gugu
Liberato, não foi para a Rede Globo de Televisão no auge do sucesso de seu
primeiro programa, Viva a Noite. A permanência de Gugu foi uma das decisões
unilaterais (ou quase) de Silvio.
Em 1987, o programa apresentado por Gugu aos sábados era um verdadeiro
sucesso. Seus quadros, que buscavam agradar a toda a família, bem como os
números musicais, prendiam a atenção do telespectador. A criançada adorava o
fato de Viva a Noite ser transmitido aos sábados, visto que não havia aula no dia
seguinte. Esse era o grande momento de diversão para todos. O êxito que a
atração tinha junto ao público trazia excelentes resultados para o SBT, atingindo
até 35 pontos de audiência. Esse índice significava ultrapassar a Globo e atingir
a liderança em alguns finais de semana – isso sempre um motivo a ser
comemorado, afinal, há décadas a emissora concorrente se estabeleceu no posto
de maior do Brasil. E quem a batia chamava a sua atenção, pois não era feito
para qualquer um. Por essa razão, Gugu entrou na mira da Globo, que passou a
desejar o apresentador em seu rol de funcionários.
Encantado com a possibilidade de trabalhar na Rede Globo, Gugu, mesmo
estando desde 1974 ao lado de Silvio e tendo aprendido muito com ele, decidiu
aceitar o novo desafio para descobrir aonde poderia chegar. Quem trabalha com
televisão enxerga na Globo uma imensa possibilidade de aprendizado e,
obviamente, projeção. O processo de negociação, entretanto, não foi rápido, e
após assinado o contrato, houve muito investimento por parte da Globo:
patrocínio de viagens ao exterior para que o apresentador pudesse estar a par do
que era mais inovador em termos de televisão, liberdade para escolha do formato
do programa, seleção do cenário e muito mais. Rede Globo e Gugu estavam
muito felizes e ansiosos com o novo status de relacionamento. Uma pessoa,
entretanto, não ficou nada satisfeita quando soube da perda de um dos seus
pupilos: Silvio Santos.
Silvio sempre foi muito decidido e assertivo quando se trata da descoberta e
contratação de novos talentos. Com Gugu foi assim, quase uma intuição. Quando
não tinha nem 15 anos, o futuro apresentador era fã do programa de Silvio. Não
um fã como outro qualquer, apenas telespectador, já que sempre tinha ideias de
quadros para melhorar ainda mais a qualidade e o sucesso do seu programa
preferido, explicando suas propostas através de cartas para o apresentador.
Conhecendo apenas sua letra e algumas de suas inovações para um programa de
televisão, Silvio sentiu estar em contato com alguém que tinha talento para a
área. Não pensou duas vezes e chamou o jovem Augusto para trabalhar ao seu
lado na produção do programa, quando ainda era transmitido pela TV Globo, em
1974.
Gugu desenvolveu ainda mais seu talento atuando ao lado de Silvio,
especialmente em seu próprio programa no SBT. Silvio sabia que aquele não era o
momento de o apresentador partir, pois ainda tinha muito a construir ao seu lado.
Quando ficou sabendo da oficialização do contrato, o então chefe de Gugu o
chamou em sua casa para esclarecer a situação, já que não o queria fora do SBT.
Silvio, em virtude dos problemas de saúde que enfrentava à época, estava
preocupado com o futuro do SBT, e sabia que Gugu correspondia a uma peça
importante para a imagem da emissora.
Por fim, o apresentador foi convencido pelo persuasivo Silvio de que não
deveria ir adiante com a troca. Havia um “pequeno” entrave, entretanto: como
poderia comunicar à Globo que não poderia mais trabalhar na emissora depois
de tanto tempo de negociação e preparação? Para Silvio, a solução era muito
simples: ele mesmo falaria com o doutor Roberto Marinho para avisar que Gugu
não deixaria o SBT. Para Gugu, a solução parecia irreal, afinal, como ele poderia
falar com o chefe de outra instituição da comunicação brasileira que nunca nem
tinha visto pessoalmente, ainda mais informando que o contrato não seria
cumprido?
Mas para Silvio já estava decidido e não havia tempo a perder. Eles deveriam
ir imediatamente ao escritório de Roberto Marinho fazer o comunicado. Só que
os dois estavam em São Paulo e o escritório do fundador da Globo era no Rio de
Janeiro. A solução era pegar uma ponte aérea, por isso, seguiram em direção ao
aeroporto para comprar o primeiro horário de passagem disponível para o Rio.
Gugu, chegando ao aeroporto, disse: “Silvio, precisamos comprar a passagem.
Deixa que eu compro na ida e na volta você paga”. Obviamente, Silvio Santos
no aeroporto de Congonhas era um acontecimento. Ainda mais Silvio Santos
estando ao lado de Gugu Liberato: algo surreal para os passageiros que
embarcavam naquele dia. O aeroporto parou com o “evento”, transformando a
situação em algo ainda mais dramático, para não dizer cômico. Pelo pouco
tempo de voo, rapidamente chegaram ao aeroporto do Rio de Janeiro, onde
pegaram um táxi diretamente para o escritório da Globo. Quando chegaram ao
prédio da emissora, Gugu, que já tinha crachá, não precisou nem ser liberado,
enquanto Silvio foi barrado pelos seguranças para que passasse suas
informações.
Primeiramente, seguiram para a sala de Boni no intuito de conversar com o
diretor-geral da concorrente. Ainda tiveram que esperá-lo por um tempo, pois a
secretária informou que ele estava almoçando e só chegaria às 16h. Silvio e
Gugu não viam outra alternativa além de esperar. Quando Boni chegou e os
recebeu em sua sala, Silvio não deixou ninguém falar, já começou a conversa
afirmando que Gugu não poderia e não iria para a Globo. Boni, diante dessa
situação inusitada, disse que a decisão não era da sua alçada, o único que poderia
resolver essa questão era o próprio Roberto Marinho. Silvio não via problema
em falar com ele, afinal, estava ali com esse propósito. Mas, achou melhor Gugu
ficar de fora da conversa e esperá-lo no aeroporto, para onde iria assim que a
situação estivesse resolvida – afinal, ele não aceitaria um “não” como resposta,
nem mesmo do dono da Globo. Silvio e Boni acompanharam Gugu até a saída
do prédio para que ele pudesse pegar um táxi. Quando Gugu entrou no táxi, o
dono do SBT apenas disse: “Vai para o aeroporto e me espera lá”.
Para Gugu, havia um problema: como ele pagaria o táxi se todo o seu dinheiro
havia sido gasto na compra das passagens aéreas? Não tinha jeito, era preciso
pedir o dinheiro emprestado para Silvio. Ao fazer o pedido um tanto quanto
constrangedor, Gugu tentou ser discreto e falar baixinho para Silvio: “Estou sem
dinheiro, dá para pagar o táxi?”. Acontece que discrição não combina muito com
Silvio Santos. Ouvindo o pedido de Gugu, Silvio falou para quem quisesse
ouvir: “Mas, como não tem dinheiro?”. Dá para imaginar a situação hilária?
Silvio, só por ser Silvio Santos, já chama a atenção, pois seu jeito peculiar é
reconhecido por qualquer pessoa que tenha um aparelho de televisão em casa.
Além disso, ele também é um homem de mais de 1,80 metro de altura. Uma
combinação de características que o impedem de passar despercebido em
qualquer lugar. Só pela sua figura, ele já atraía muita atenção para si no
aeroporto. Mas Silvio ainda conseguiu transformar a cena em um episódio
tragicômico, pois chegou gritando no aeroporto: “Gugu, está tudo certo com o
Roberto, você não vai para a Globo, você fica no SBT!”.
Dito e feito. Gugu permaneceu como apresentador no SBT por mais 21 felizes
anos. Para ele, trabalhar tanto tempo ao lado de seu ídolo era uma realização.
Assim como acontece para muitos que estão ao lado desse homem que
revolucionou a televisão brasileira.
SBT É REINVENÇÃO
Silvio realizou sua vontade de comandar uma emissora popular, voltada aos
interesses da maior parte dos telespectadores. Apesar dessa estratégia ter um
bom retorno em termos de audiência, em alguns momentos, a receita publicitária
não era assim tão grande. Obviamente, as marcas que anunciam na televisão
aberta querem estar onde grande parte da população está para ter o maior retorno
possível. Mas há outras questões envolvidas nas estratégias de propaganda.
A década de 1980 foi o período em que a Rede Globo se consolidou como a
emissora líder de audiência no país. Essa consolidação foi um reflexo direto da
forte atuação que a emissora teve nos anos 1970, estabelecendo o seu “padrão
Globo de qualidade”. Um dos grandes trunfos da Globo foi o estabelecimento de
uma grade noturna semanal com a intercalação entre jornais e novelas, categoria
em que a emissora sempre foi muito reconhecida pela qualidade.
Dois nomes importantes na solidificação da Globo enquanto referência de
mercado foram Walter Clark e José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, que
Silvio quase levou para trabalhar no SBT. Os dois construíram muito do que a
emissora é até hoje.
Boni entrou na Rede Globo quase no nascimento da emissora, em 1967. No
início, trabalhava até mesmo sem receber, apenas apostando no negócio. Ao lado
de Clark, ele traçou o plano ambicioso de montar uma grade de programação
atrativa e ainda fazer com que a Globo estivesse entre as maiores do país em
cinco anos – objetivo que ele diz ter sido atingido em apenas três. Para Boni, o
“padrão Globo de qualidade” não se refere apenas a questões técnicas, mas
também a um viés artístico. Ao contrário do SBT de Silvio, a emissora queria dar
um ar mais “refinado” para sua programação.
A década de 1980 foi um momento particularmente bom para a emissora.
Afinal, estava em operação desde 1965 e, ao contrário de antigas emissoras
brasileiras (como a TV Tupi e a Excelsior), não enfrentava uma crise financeira.
As únicas pedras no sapato da Globo eram o SBT e a TV Manchete. E Silvio
queria muito ficar no caminho da Globo. Aos poucos, ele quis ganhar mais
credibilidade como emissora, até mesmo para atrair possíveis patrocinadores.
Para isso, era preciso investir na grade de programação. Mas Silvio não desejava
ser uma cópia da concorrente.
As mudanças começaram a partir de 1987, enquadrando-se nesse cenário o
caso do jornalista Boris Casoy, anteriormente citado. Essa leve alteração de rota
por parte da emissora aconteceu por meio da contratação de novas estrelas, que
ainda se tornariam sinônimo de SBT. Para além da questão da nova estratégia,
Silvio decidiu incorporar à sua grade um programa que para ele era muito
representativo, com um criador tão notório quanto: A Praça da Alegria ou, como
passaria a ser chamado, A Praça é Nossa. Interessado em trazer para a sua casa o
programa marcante da televisão brasileira, Silvio decidiu chamar o filho de seu
falecido amigo Manoel de Nóbrega, Carlos Alberto de Nóbrega, para recriar o
mesmo formato no SBT. O programa faz sucesso desde então na emissora.
Um momento emocionante da história do programa foi protagonizado por
Carlos Alberto e Silvio. Silvio invadiu a estreia do A Praça é Nossa, em 7 de
maio de 1987, sentou-se no emblemático banco da praça e começou um
emocionante discurso, lembrando principalmente do seu falecido amigo Manoel.
Com a voz embargada, ele disse ao filho do amigo:
ʻVocê hoje está sentado nesse banco, Carlos, e, se não fosse ele, nós não
teríamos esse banco nem essa televisão. Você está no banco e você não veio só
como redator […]. Você veio como meu irmão, você veio como meu amigo, uma
pessoa que vai me ajudar a fazer aquilo que seu pai gostaria de fazer comigo.
Você veio para cá para me ajudar. ,
Impossível não se emocionar e Carlos Alberto vai às lágrimas. Quando Silvio
termina sua fala, entram imagens do próprio Manoel em seu eterno banco da
praça, rindo e se divertindo como fazia em todas as apresentações do programa,
que em maio de 2017 completou trinta anos de SBT, já há décadas sob o comando
de Calos Alberto. Silvio entregou, em comemoração ao marco, uma homenagem
ao comediante, que relembrou com carinho da estreia do programa com a
presença do “patrão”. Dessa vez, quem aproveitou para demonstrar os
sentimentos foi Carlos Alberto:
“Eu só tenho que agradecer de coração a você, porque quando eu vim para
cá, no meu primeiro programa, foi talvez o dia mais importante da minha
vida de artista. Porque você fez uma declaração de amor ao amigo, e tudo
aquilo que você falou, você cumpriu até hoje. Se a Praça hoje tem trinta
anos é porque você acreditou em mim, nos momentos difíceis você confiou
em mim e se não fosse a liberdade que eu tenho de trabalho, a total
liberdade, a Praça não teria trinta anos.”
Outra grande aposta do SBT para trazer mais credibilidade à sua programação
foi o apresentador Jô Soares, que estreou seu primeiro programa humorístico, o
Viva o Gordo, na Rede Globo de Televisão. O programa ironizava aspectos
políticos e socioculturais do país, abordando temas que estavam em pauta com
humor. Ele estreou no SBT com o programa Jô Soares Onze e Meia, contratação
que foi comemorada por Silvio no ar, interrompendo até a programação usual.
Na época, com a proposta irrecusável feita, Jô tornava-se o profissional com o
maior salário da televisão brasileira. Após alguns embates públicos entre Silvio e
Roberto Marinho a respeito do destino de Jô, o apresentador dava o seu primeiro
passo na emissora no dia 17 de agosto de 1988. Ele havia decidido mudar de
casa, pois conseguira algo muito almejado de sua parte, que era um programa de
entrevistas. O sucesso do programa aconteceu por conta da qualidade do
entrevistador somada à qualidade do entrevistado, que culminava em um
resultado irreverente e com ótimo conteúdo. Tudo isso com o famoso bordão
“beijo do gordo” ao final da atração.
Jô Soares mostra-se agradecido a Silvio Santos até hoje pela confiança
depositada em sua trajetória profissional. Nesse sentido, um momento marcante
que chegou a ser televisionado foi o reencontro das duas personalidades, anos
depois de terem trabalhado juntos. Nessa ocasião, Jô teceu elogios ao amigo:
“Agradeci a você […] porque você é o responsável por grande parte da
minha vida profissional; sem você isso não teria acontecido, e você tem
uma intuição de fera. Tudo o que você me disse deu certo, e eu espero que
continue sendo assim. […] Você é um dos meus amigos reais, porque às
vezes, o tempo afasta as pessoas, mas nunca afasta as verdadeiras amizades.
[…] Eu me lembro que cê fez um programa de despedida me
homenageando, me pegou de surpresa, […] e na saída, enquanto corria
crédito ainda, microfone ligado, cê falou pra mim: ‘Olha, se não der certo,
as portas aqui tão abertas. Mas vai dar certo. Vou sentir muitas saudades.’ E
eu respondi: ‘Não mais do que eu’, e falei brincando: ‘Por que você
também não volta comigo?’. Você falou: ‘Até que não é má ideia’. No ar!”
Voltando a falar de Gugu, o famoso Viva a Noite esteve ao longo de dez anos
no ar e apresentou quadros que se tornariam inesquecíveis. “Sonho Maluco”,
“Sonho de Última Hora”, “Rambo Brasileiro”, “Face Oculta”, “Eles e Elas”,
“Torre de Taças”, “Banheira do Gugu” e “Cabine Milionária” fizeram muito
sucesso com o público. As apresentações musicais também eram um destaque à
parte. Incluíam, além de renomados artistas da música, canções interpretadas
pelo próprio Gugu como “Meu pintinho amarelinho” e “Baile dos passarinhos”.
Tendo encerrado o programa, Gugu passou a apresentar o Domingo Legal em
1993, migrando vários quadros do programa anterior para a nova atração, como
foi o caso da “Banheira do Gugu”. Por fim, o apresentador ficou até 2009 na
emissora, completando 38 anos no ar.
Outro sucesso estrondoso do SBT foi Mara Maravilha, apresentadora infantil
revelada por Silvio Santos que brilhou no SBT de 1987 até 1994 e recentemente
retornou ao canal. Impressionado com seu talento, Silvio convidou a jovem
moça baiana de apenas 15 anos a se mudar para São Paulo – desde que
terminasse o ano letivo em seu Estado. Mara se lembra com gratidão da
generosidade e cuidado que Silvio sempre teve com ela e a mãe, dona Marileide,
desde que chegaram à cidade. Marileide, que tinha diabetes, recebeu todo o
auxílio do patrão da filha.
Silvio sempre se atentou para que nada faltasse às duas, tendo Mara
praticamente como uma filha. O apresentador deve ter se reconhecido em Mara:
uma jovem carismática, versátil e talentosa, que em pouco tempo se
transformaria em uma grande estrela do SBT. O nome artístico de Mara,
inclusive, foi dado por ele.
O programa Show Maravilha estreou em abril de 1987 e foi uma decisão
acertada. Silvio dizia para a Mara: “A Xuxa é o arroz, você é o feijão. E o feijão
é o melhor!”. Em pouco tempo, o programa caiu nas graças do público e Mara
Maravilha disparou nas vendas de discos e na audiência. A jovem estrela havia
se transformado em um fenômeno, assim como suas “concorrentes” Xuxa e
Angélica.
Com seu vasto conhecimento sobre televisão, Silvio estava sempre atento ao
que acontecia no programa, e assim dava dicas para Mara sempre que percebia
algo que poderia melhorar. Quando sentia necessidade, ele se aproximava para
comentar uma brincadeira que podia ser aprimorada, um detalhe do cenário ou
mesmo da postura da apresentadora. Para Mara, estar ao lado de Silvio era
realizar uma pós-graduação das mais qualificadas sobre o mundo da TV.
A relação que a apresentadora estabeleceu com Silvio durante seu tempo de
SBT se estendeu até quando ela estava afastada das telinhas em virtude do seu
foco na religião. Nessa época, ela só aparecia quando era chamada por ele. Em
uma dessas situações, a generosidade que Silvio demonstrou ficou realmente
marcada na vida da apresentadora. Mara foi a primeira convidada do programa
Nada Além da Verdade, exibido entre 2008 e 2010 no SBT.
O formato do programa era de um gameshow, no qual o participante devia
acertar todas as perguntas para ganhar o prêmio máximo de R$ 100 mil. Mara, já
na metade do jogo e garantindo R$ 50 mil de prêmio, acabou errando uma das
perguntas, o que fez com que perdesse boa parte do dinheiro. Silvio disse a ela
no ar que, infelizmente, ela havia perdido. A participante, feliz apenas por estar
ao lado do apresentador, respondeu que só de ter visto Silvio já havia sido
premiada. Para Mara, a competição se encerrava ali, mas Silvio ainda queria
reverter o cenário. Quando a gravação terminou, Mara conta que foi chamada no
camarim e recebeu uma notícia que a deixou muito grata: “Foi uma das poucas
vezes que eu entrei no camarim do Silvio. Ele falou: ‘Mara, não vai para o ar,
mas eu vou dar os R$ 100 mil para você’. Esse é o Silvio”.
O sonho de Mara sempre foi retornar à sua verdadeira casa: o SBT. Assim,
mais uma vez, Silvio quis resgatar seu talento e trazê-la de volta para a emissora.
E foi em setembro de 2016 que ela reestreou. Dessa vez, na atração chamada
atualmente de Fofocalizando, ao lado de Leão Lobo, Mamma Bruschetta e
Décio Piccinini. O sofá utilizado na atração, inclusive, é o famoso (e mitológico)
sofá branco da Hebe.
Falar do SBT sem falar de Hebe é imperdoável. Também nessa leva, a já
veterana artista e apresentadora marcaria época na emissora. A Rainha da
Televisão Brasileira, assim como Silvio, possuía um carisma ímpar junto ao
público, que sentia no seu famoso sofá uma extensão da própria casa. Foram
muitos os momentos emocionantes que os dois amigos e colegas de profissão,
Hebe e Silvio, compartilharam. Juntos, eles revolucionaram a televisão
brasileira.
A RAINHA DA TELEVISÃO
BRASILEIRA
É impossível falar do SBT sem citar Hebe Camargo. A apresentadora nasceu
Hebe em homenagem à deusa homônima da mitologia grega que representa a
eterna juventude. Eternizada como “Rainha da Televisão”, passou a maior parte
de sua carreira no SBT, tornando-se quase um sinônimo da emissora. Ela nasceu
em 8 de março de 1929, em Taubaté, sendo a nona filha do casal Sigesfredo (seu
Fêgo) e Esther.
Com a mãe, Hebe não tinha uma relação de muita intimidade, o que era
justamente o inverso de sua relação com o pai, de quem recebia muito carinho e
com quem compartilhava uma paixão: a música. Para falar a verdade, toda a
família tinha interesse pela música, mas assim como Hebe um dia viria a ser
cantora, seu Fêgo também tinha a música como profissão. Ainda em Taubaté, era
maestro e violinista da banda que executava a trilha sonora dos filmes em um
cinema no centro da cidade. Quando a inovação do cinema falado estreou,
entretanto, não fazia mais sentido ter uma banda para executar a trilha. Assim
conta Artur Xexéo em Hebe: A biografia: “Do dia para a noite, Fêgo perdeu o
emprego. Referindo-se a 1929, ele costumava dizer que naquele ano, entre São
Paulo e Rio, milhares de músicos ficaram a pão e laranja”.14
Enfrentando dificuldades para encontrar uma forma de sustentar a família em
Taubaté, seu Fêgo levou todos para São Paulo, onde acabou sendo contratado
como membro da orquestra da Rádio Difusora. Percebendo a dificuldade que sua
família enfrentava, Hebe decidiu arrumar um emprego aos 12 anos, assumindo
sua primeira ocupação como arrumadeira na casa de uma família. Logo em
seguida, demonstrando talento para a música, começou a participar dos
concursos de calouros no rádio. Assim como acontecia com Silvio Santos nos
concursos para locutores de rádio, Hebe vencia todos os títulos ao interpretar
canções e, por isso, passou a focar exclusivamente nessa área profissional,
desistindo do emprego de arrumadeira, visto que já conseguia ganhar mais
dinheiro com os concursos.
Foram dois anos de competições, até que finalmente a Rádio Difusora
percebeu que seu talento ia além de caloura, contratando-a em 1944 como
profissional. Essa seria apenas uma das facetas de Hebe como artista.
Trabalhando na rádio, apresentava-se inicialmente em um quarteto (com a irmã e
as primas), depois como parte de uma dupla sertaneja com a irmã Stella
(Rosalinda e Florisbela) para, finalmente, iniciar a carreira solo que lhe valeu o
título de “Estrelinha do Samba” e depois “Estrela de São Paulo”. Em 1946, Hebe
foi contratada pela gravadora Odeon, onde viria a gravar seu primeiro disco em
1947, em que cantava dois sambas. O disco de 78 rotações só possuía um samba
no lado A, “Oh! José”, e um no lado B, intitulado “Quem foi que disse”. O
lançamento só aconteceu anos depois, em 1950.
A história como Rainha da Televisão começa justamente na chegada da TV ao
Brasil: assim como diversos artistas dos Diários Associados, a futura
apresentadora foi até o porto de Santos participar do momento histórico em que
seriam recebidos em solo brasileiro os equipamentos necessários para o
funcionamento da televisão no país. Nesse dia, Hebe mal podia imaginar o
quanto o momento representaria para ela e para futuros telespectadores de todo o
país. Em setembro de 1955, poucos anos depois da primeira transmissão da
televisão brasileira, Hebe também daria seus primeiros passos como
apresentadora: na TV Paulista passou a apresentar O Mundo é das Mulheres, o
primeiro programa feminino da história da televisão nacional. Dirigido por
Walter Forster, diretor e autor da primeira telenovela da história brasileira, Sua
Vida me Pertence, o programa tinha um formato em que quatro ou cinco
mulheres conduziam uma entrevista com um homem, com o questionamento
clássico para o convidado: o mundo é das mulheres?
Até então, a famosa loira da televisão brasileira era morena. Seria após uma
viagem ao exterior, junto com o então companheiro Luís Ramos, que ela
retornou loira. Na realidade, não deixara apenas os cabelos pretos para trás na
viagem, mas também o próprio relacionamento com o dono da Rádio Excelsior.
Aos poucos, Hebe foi ganhando destaque na televisão, chegando a apresentar
diversas atrações simultaneamente. Com a carreira cada vez mais estabelecida,
havia um porém para a felicidade plena da estrela se realizar: casar-se e ter
filhos, a ponto de a apresentadora estar disposta até mesmo a abandonar a
carreira para ter seu sonho realizado. Quando finalmente encontrou o homem
ideal e realizou o sonho de se casar, em julho de 1964, Hebe decidiu largar a
profissão em prol da família. Ao lado do empresário Décio Capuano, satisfez
também seu segundo grande desejo após o casamento: teve seu primeiro e único
filho, o Marcello, em julho de 1965.
Mas Hebe era muito querida por seus fãs para simplesmente desistir da
carreira, e todos esperavam mais da Rainha. Então, pouco tempo depois, Hebe
voltaria à carreira artística, começando a apresentar um programa na Rádio
Excelsior direto de sua casa. Dessa forma, ela conseguia estar perto de seu filho
e ainda atender aos apelos do público. Além do desejo dos fãs, entretanto, havia
a questão financeira do marido, já que seus negócios não iam muito bem.
Em 1966, na Record, Hebe se consagrou como sucesso de audiência, além de
tornar-se reconhecida pela sua marca registrada: o sofá. O programa Hebe, como
chamava, recebeu o cantor Roberto Carlos na sua noite de estreia, algo que já era
um presságio do fenômeno que viria a ser. Mais uma vez, em 1973, a
apresentadora decidiu abrir mão de sua carreira profissional para estar mais
próxima do filho. Afinal, sendo a estrela de televisão que era, não era fácil
acompanhar a rotina e se fazer presente na vida de Marcello. Após um hiato de
anos, a apresentadora retornaria em 1981 às telinhas, na TV Bandeirantes.
Assim como seus programas anteriores, essa atração na TV Bandeirantes
também foi um retumbante sucesso. Ainda assim, após quatro anos no ar, a
emissora decidiu encerrar a atração. Para Hebe, entretanto, a vida de estrela da
televisão brasileira continuaria: em 1985 o SBT a convidaria para fazer parte da
emissora. Como Rainha da Televisão Brasileira, ela representava um nome
estratégico para a busca da emissora de Silvio por maior credibilidade e,
consequentemente, faturamento. Os dois, que se conheciam desde a época em
que Silvio trabalhava na Rádio Nacional, em São Paulo, agora teriam seus
caminhos profissionais interligados.
Em 4 de março de 1986, ela estreou o programa Hebe. Além desse, apresentou
o programa Hebe por Elas, que lembrava um pouco sua estreia na televisão com
O Mundo é das Mulheres. O programa Hebe eternizou o famoso sofá da
apresentadora, no qual diversas personalidades brasileiras eram entrevistadas. De
Pelé a Xuxa, Erasmo Carlos a Zezé Di Camargo & Luciano: quem tinha a honra
de estar diante da cativante e irreverente apresentadora sabia que tinha um
momento marcado na história da televisão. Qualquer artista sentia-se
emocionado por estar ao lado de uma figura tão alegre e única, e esse quesito foi
um fator deveras motivador para Silvio levá-la para o SBT.
Aliás, o primeiro selinho da Hebe na verdade não foi de iniciativa da própria,
mas da cantora Rita Lee, em 1997. Durante entrevista em seu programa, Rita
Lee inadvertidamente lhe roubou um beijo. Em entrevista ao UOL, Rita disse:
“Hebe estava tão rainha, tão rainha que minha boba da corte tacou-lhe um beijo
na boca”. Na hora, sem esperar por aquela situação na frente de tantas câmeras, a
apresentadora ficou assustada. Mas, após ficar sem reação, aproveitou para fazer
uma brincadeira, dizendo: “Você sabe que meu namoro com o Lélio começou
assim, ele me deu um beijo e eu gostei”.
Hebe se referia ao seu companheiro de quase três décadas, o empresário Lélio
Ravagnani. A própria Rita Lee disse que se sentiu tão à vontade com a
apresentadora que não conteve seu ímpeto de beijá-la, afinal, no sofá da Hebe
sentia-se em casa, como se estivesse de pijama. Desde esse dia inusitado da
televisão brasileira, o selinho da Hebe virou marca registrada da apresentadora.
O SBT utilizou muito da sua “hebice”, como diria Walter Forster, para entrar na
alma dos entrevistados e conseguir as melhores respostas para ela e para o
público. Mesmo Silvio Santos, que não gosta de conceder entrevistas, não
resistia ao jeito cativante de Hebe. No final da década de 1980, Hebe utilizaria
seu talento para arrancar uma resposta emocionada, ainda que serena, de Silvio.
Na ocasião, Hebe perguntou se ele não teria feito o anúncio de um suposto
câncer de garganta (fato que apavorou o Brasil) apenas para aparecer, já que ele
parecia tão bem em sua presença. Silvio respondeu à pergunta de maneira
honesta, falando até mesmo sobre questões pessoais do passado:
ʻQuando eu me lembro da minha mulher que morreu e quando eu me lembro
que eu dizia que era solteiro, quando eu me lembro que eu escondia as minhas
filhas para poder ser o galã, para poder ser o herói, quando eu falo com a minha
consciência, eu acho que é uma das coisas imperdoáveis que eu fiz diante da
minha imaturidade. […] E hoje eu vejo as besteiras que fiz e quando eu vejo
alguém fazendo o mesmo que eu fazia, eu olho e digo: “Meu Deus do céu, como
esse homem é infeliz.” Quando eu corri atrás de mulheres como muitos colegas
meus correm, cada dia uma, eu estava à procura de alguma coisa e não sabia o
quê. Depois que eu encontrei a minha segunda mulher, não vão acreditar, mas eu
me satisfaço com ela, me encontrei e encontrei a minha felicidade. Então não iria
fazer propaganda, porque realmente não preciso mais fazer propaganda. ,
Hebe ficou no ar no SBT durante quase 25 anos, sendo que seu último
programa na emissora foi transmitido em dezembro de 2010. Em seguida,
assinou contrato com a Rede TV, onde estreou em março de 2011. Durante o
período na nova emissora, Hebe descobriu um câncer no peritônio, doença que
lhe rendeu diversas internações. É impressionante como mesmo nesse período
ela não perdeu sua marca registrada, a alegria, chegando a declarar que mesmo
que morresse em pouco tempo, morreria feliz.
Em 29 de setembro de 2012, o Brasil ficou de luto, pois uma de suas maiores
estrelas morria após sofrer uma parada cardíaca. Essa triste notícia chegou após
a confirmação de que Hebe retornaria ao SBT. O enterro de Hebe, marcado por
comoção e presença de milhares de fãs e personalidades, foi um evento que
parou o país. Silvio, seu amigo e patrão de décadas, esteve presente nesse triste
momento e se mostrou muito emocionado. Ao lado do caixão de Hebe,
acompanhado de Iris Abravanel, pareceu falar com a apresentadora e não deixou
de dar seu adeus, com um último selinho.
UMA QUESTÃO DE SAÚDE
Silvio quase nunca falta aos seus programas. Religiosamente, entra no ar todos
os domingos pelo SBT, entretendo seus telespectadores durante horas. Quando sai
de férias para relaxar um pouco e curtir um tempo com a família, geralmente
deixa adiantadas as gravações do Programa Silvio Santos – para ele, o
compromisso com o telespectador é algo sagrado e que exige muita
responsabilidade.
Em 1987, entretanto, o apresentador teve que se ausentar por semanas de seu
programa. E o motivo, infelizmente, não foi o descanso ou diversão ao lado da
família. Pelo contrário: ele foi obrigado a se afastar da televisão devido a
questões de saúde. Já havia algum tempo, Silvio vinha sofrendo de um problema
nas cordas vocais que causava rouquidão. O incômodo, que antes era
contornável, foi se agravando e passou a preocupar seriamente o apresentador.
Diante desse cenário, os médicos pediam que ele poupasse a voz, para evitar a
evolução do quadro. A solicitação dos especialistas era totalmente
compreensível, mas como o homem que vivia de sua voz poderia atender à
recomendação? Como ele iria continuar apresentando o programa que dependia
justamente da sua fala?
Antes desse episódio, Silvio enfrentou outra questão de saúde. Com a
experiência vivida ao lado de Cidinha, ele pôde perceber que a vida é muito
delicada e que nem sempre a superação está somente em nossas mãos.
Um aviso importante que sempre era dado aos convidados de seus programas
era sobre a alergia a perfumes que o acometia. Por isso, aqueles que fossem
participar de uma gravação ao seu lado jamais poderiam estar perfumados, para
evitar a ocorrência de reações alérgicas. Com o tempo, a alergia que era simples
passou a incomodar bastante. Algo trivial como estar ao lado de alguém
perfumado se transformou em um pesadelo para Silvio. A alergia acabou
desencadeando a formação de edemas em diversas partes do corpo,
principalmente no nariz, na língua e nas cordas vocais. Silvio se consultou com
vários especialistas do país, mas ninguém era capaz de resolver o problema e
aliviar os sintomas.
Foram muitas tentativas de tratamento para estabilizar a alergia. Farto daquele
incômodo, Silvio resolveu buscar os melhores tratamentos que poderia receber
na época. Durante as viagens que fazia ao redor do mundo, procurava diversas
formas de terapia para a condição que o aborrecia cada vez mais. A exemplo da
luta contra o câncer junto à primeira esposa, decidiu ir aos Estados Unidos para
se tratar com especialistas renomados.
Finalmente, ele conseguiu aliviar suas crises alérgicas constantes por meio da
aplicação de vacinas. Ironicamente, viria a construir nos anos 2000 uma empresa
de cosméticos que teria perfumes em sua linha de produtos – mas, claro,
hipoalergênicos!
Mas essa questão de saúde foi mais tranquila comparando com o que ele
enfrentaria em 1987. Houve até mesmo a suspeita de que Silvio estivesse com
um câncer na garganta, o que levava à pior hipótese: a aposentadoria forçada do
maior apresentador do país. Mais uma vez, Silvio foi aos Estados Unidos em
busca de um tratamento para se curar o mais rápido possível, e recebendo
cuidados intensivos em solo americano, não havia outra opção a não ser ficar
quatro semanas longe de seu programa. Essa era a primeira vez em décadas que
isso acontecia, deixando todos atônitos. Mesmo assim, ainda não havia certeza
sobre a melhora de seu estado de saúde. Era possível que ele tivesse que reduzir
significativamente seu ritmo de trabalho ou até mesmo abandonar sua profissão.
Essa seria, sem dúvida, uma notícia aterradora para o Brasil.
Durante o tempo em que esteve fora do ar e que fez reinar a incerteza sobre o
seu destino, o apresentador pôde sentir ainda mais o carinho do telespectador.
Foram diversas as manifestações de pessoas de todo o país preocupadas com sua
saúde. Nesse período, em janeiro de 1988, ele ficou impressionado com o apoio
que recebeu, mas também se surpreendeu ao constatar seu impacto no sucesso da
emissora. Nas quatro semanas em que seu programa não foi ao ar, o SBT sofreu o
baque da redução drástica de audiência, prejudicando consideravelmente seus
resultados.
Felizmente, após concluir o tratamento com sucesso, Silvio voltou à sua
posição de apresentador e presença obrigatória nos domingos brasileiros. O
período que passou recebendo medicação deixou apenas algumas marcas em sua
aparência, que eram perceptíveis pela redução de peso e respiração debilitada.
Mas logo ele estaria completamente recuperado.
Ao fim do processo, Silvio se deu conta de dois fatos impactantes: o imenso
carinho que o público lhe dedicava, permanecendo fiel em um momento tão
difícil, e a situação crítica do seu país, percebida pelo contraste entre a qualidade
de vida dos americanos e a dos brasileiros. Quando retornou ao seu programa,
ainda com a voz rouca, Silvio fez questão de falar sobre o estereótipo de
indolência atribuído aos brasileiros. Entre diversas reflexões nessa série de
entrevistas em seu próprio programa, ele expôs sua opinião com as emoções à
flor da pele. Em uma fala de minutos, Silvio argumentou:
ʻO americano trabalha duro. Uma das palavras que os americanos aprendem
na escola é trabalho duro, work, work. Mas ele tem casa, ele tem comida, ele tem
hospital, ele tem remédio, ele tem educação para os filhos. Dizem que o
brasileiro é indolente. Indolente por quê? Porque ele também trabalha duro, mas
ele não tem comida, ele não tem casa, ele não tem hospital, ele não tem remédio
e ele não tem educação para os filhos. Então, pra quê trabalhar? Ele é indolente,
ou será, traduzindo o que a Silvinha [Abravanel] disse, ele não ganha pra comer,
não ganha pra morar, não ganha pra pagar hospital, não ganha pra comprar
remédio e não ganha pra educar os filhos? ,
Nessa série de perguntas feitas por membros do SBT, telespectadores e seus
colegas, o apresentador falou aberta e honestamente sobre suas opiniões e
situações que passou ao longo da vida. Parecia que o momento de dificuldade
realmente havia trazido à tona novas ideias e reflexões. Nessa ocasião, inclusive,
aconteceu a pergunta franca de Hebe sobre o alarde que havia feito pela doença,
pergunta que, conforme já dito, o levou à ponderação e sinceridade sobre sua
relação com Cidinha.
Incapaz de adiar sua cirurgia em decorrência do problema na garganta, Silvio
teve que realizá-la em janeiro de 1989, em São Paulo. Instalou-se novamente a
apreensão sobre o destino do apresentador após o procedimento. Para ele, havia
duas possibilidades: ou voltaria a ser animador, ou tentaria ser eleito presidente
da República. A possibilidade de comandar o país representava uma novidade
para ele. E por que não? Em sua cabeça, já que devia tanto ao povo brasileiro e
tinha certeza de que iria se dedicar, a ideia de concorrer ao cargo político mais
importante do país não era tão distante – ainda que não tivesse nenhuma
experiência na área.
ASPIRAÇÕES POLÍTICAS
Silvio Santos é uma das raras unanimidades no Brasil. Ele é inquestionavelmente
o maior apresentador brasileiro de todos os tempos, e realmente poderia ter sido
presidente da nação por duas razões: por quase ter se candidatado à presidência
em 1989 (ano em que Fernando Collor foi eleito) e, mais importante, pelo
impressionante índice de intenção de votos por parte dos eleitores naquele
momento. Para muitos, Silvio não precisava nem se candidatar, já era o
presidente do país.
Na época, a euforia tomava conta da população brasileira, pois era vivenciada
a primeira eleição presidencial direta desde 1960, última votação antes do
mergulho em décadas de ditadura. Pela primeira vez em muito tempo, o país
respirava ares democráticos onde antes só existia a repressão. Para construir a
nação brasileira do futuro, era preciso uma figura de grande visão. O
apresentador, devido à extrema popularidade, era muito procurado por partidos
para candidatar-se a cargos políticos. Silvio seria um pote de ouro para as
organizações partidárias, pois sua presença nos lares brasileiros todos os
domingos conquistava mais simpatia do público do que qualquer político.
No início das abordagens, ele hesitava, pois achava que não deveria entrar
nessa seara. No entanto, começou a se interessar, “flertando” com a candidatura
a prefeito da cidade de São Paulo em 1988, mas não houve continuidade. O
próprio apresentador acabou desistindo. Entretanto, seu relacionamento com a
política não pararia por aí.
Em 1989, os ânimos ficaram ainda mais acirrados com o Brasil voltando à
democracia. Logo, os partidos não perderam tempo para ir atrás de Silvio, e ele
quase foi candidato pelo Partido da Frente Liberal (PFL). Um racha no partido
acabou impactando a candidatura do apresentador e, além disso, diante da
indecisão de Silvio, o então candidato do partido, Aureliano Chaves, impediu de
vez a possibilidade, já que se recusava a renunciar. Para Silvio, entretanto, a
ideia já estava plantada e ele queria ir até o fim.
Em torno de vinte dias antes da eleição, o apresentador oficializou sua
candidatura no Partido Municipalista Brasileiro (PMB), que deveria substituir a de
Armando Corrêa. O PMB inclusive já contava com o número do partido (26) e o
nome do ex-candidato na cédula de votação, algo que deixou a situação um tanto
quanto cômica. Devido à confusão, a campanha política de Silvio teve que
esclarecer que era preciso marcar “26 Corrêa” na cédula para votar no
apresentador. O estranhamento da situação, entretanto, nem passava pela cabeça
do eleitor, somente o anúncio de Silvio sobre sua candidatura pelo PMB acabou
resultando em 29% das intenções de voto – número que o deixava muito
próximo da disputa do segundo turno com o candidato que liderava as pesquisas,
Fernando Collor.
Quem mais além de Silvio Santos seria capaz de disparar nas pesquisas
anunciando que concorreria ao cargo de presidente do país, mesmo sem nunca
ter exercido um cargo público? A razão era a conexão profunda dos brasileiros
que assistiam (e ainda assistem) ao programa do apresentador religiosamente aos
domingos. Esses mesmos brasileiros também sabiam que, quando o apresentador
prometia resolver as questões de habitação, saúde e educação, não falava da boca
para fora como outros políticos – o povo confiava muito mais em suas intenções.
Silvio nunca cansou de dizer que o povo brasileiro havia feito muito por ele e,
por isso, precisava retribuir de alguma forma. E quem assistia à sua campanha
relâmpago e o acompanhava sentia que ele não estava simplesmente proferindo
palavras ao vento. O povo já estava calejado de ouvir mentiras da boca dos
políticos e, para eles, Silvio era diferente. Por isso, todos ficavam esperançosos e
animados quando ouviam o jingle da campanha no horário político: “É o 26, é o
26, com Silvio Santos chegou a nossa vez”. Para estreitar ainda mais a conexão
com o público, a melodia era a mesma do tema de abertura do Programa Silvio
Santos, o célebre “Silvio Santos vem aí”.
Como a candidatura de Silvio havia sido decidida em cima da hora, o
apresentador também teve que correr para preparar toda a propaganda do horário
eleitoral gratuito. Em poucas horas, entretanto, o então presidenciável gravou os
programas do horário eleitoral do primeiro turno nos próprios estúdios do SBT.
Não eram somente os políticos que temiam a popularidade de Silvio e suas
chances de vencer a eleição, pois havia muito mais em jogo. O jornalista
Roberto Marinho também não via com bons olhos essa possibilidade, afinal,
Silvio era o dono da maior concorrente de sua emissora e podia se tornar o
decisor final da concessão dos canais de televisão brasileiros. Segundo relato de
Arlindo Silva, esse desconforto chegou até mesmo a gerar um conflito com o
então presidente do Brasil, José Sarney. Afinal, era o dono da Rede Globo de
Televisão que estava aflito com a possibilidade. Para ele, Sarney havia auxiliado
Silvio em sua pretensão de candidatura.
Tão rápido quanto as esperanças chegaram, elas também se foram. O sonho
dos brasileiros de ver o seu querido e carismático apresentador como presidente
e comprovar seu poder de salvá-los tornou-se apenas uma frustração. Faltando
apenas uma semana para as eleições, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) cassou a
candidatura de Silvio e do partido, alegando que ela não era válida porque as
nove convenções estaduais necessárias para referendar seu nome não haviam
sido realizadas. A ideia de Silvio Santos presidente foi barrada nesse momento.
É difícil saber se Silvio realmente teria encarnado o messias do país. A julgar
pela complexidade e pela situação do sistema político brasileiro, era muito
improvável que a profecia se cumprisse. Talvez, até pelo próprio bem do
apresentador e de sua reputação, o destino tenha se incumbido de impedir que
ele participasse de algo tão complexo (e muitas vezes obscuro) como o cenário
político brasileiro. Mas o fato é que ninguém mais tem a popularidade e o
carinho do Brasil há décadas e mais décadas ininterruptas. Nenhuma figura
pública chegaria perto da quase unanimidade do apresentador e decididamente
não haveria outro personagem para gerar o “efeito Silvio” em eleições
presidenciáveis.
Já que Silvio não estava mais no páreo, as eleições seriam disputadas por
nomes já conhecidos na política brasileira, como Fernando Collor de Mello, Luiz
Inácio Lula da Silva, Leonel Brizola, Mário Covas, Paulo Maluf e Ulysses
Guimarães. O primeiro turno foi decidido e com ele a necessidade de um
segundo: Fernando Collor ficou com 28% do total dos votos, enquanto Luiz
Inácio ficou em segundo lugar com 16,08% do total. O Brasil teria que esperar
mais um pouco para conhecer seu próximo presidente.
Próximo ao segundo turno, a Rede Globo de Televisão promoveu um debate
entre os dois candidatos à presidência da República. O resultado foi decisivo
para a escolha do voto dos eleitores em relação ao segundo turno da votação. De
acordo com especialistas da época, a própria edição do debate por parte da Rede
Globo foi favorável ao candidato Fernando Collor de Mello, que,
posteriormente, acabou sendo eleito com mais de 35 milhões de votos.
No entanto, o mandato do primeiro presidente do Brasil democraticamente
eleito após a Ditadura Militar não viria a durar muito. Após três anos de sua
eleição, em dezembro de 1992, Collor renunciaria ao cargo de presidente, para
evitar a cassação de seus direitos políticos. Os fatos que levaram à sua queda
foram a equivocada política econômica implantada em seu governo e as diversas
denúncias de corrupção que envolveram o seu mandato. Mais uma vez, os
brasileiros acabaram frustrados diante da esperança depositada em um político.
Após o “flerte” com um cargo político importante no país, Silvio voltaria a
cogitar novas tentativas de entrar na política. Devido à sua imensa popularidade
e capacidade de atrair votos, foi sondado para ocupar o posto de governador de
São Paulo. Apesar de ter realizado reuniões com o PST, ele desistiu da ideia,
aconselhado pelos membros da diretoria do Grupo Silvio Santos. Os executivos
estavam preocupados com a interferência da política nos negócios do grupo.
Mais uma vez, ainda em 1992 e novamente com o PFL, cogitou-se a
candidatura de Silvio para prefeito de São Paulo. Como o partido já tinha seu
candidato, o deputado Arnaldo Faria de Sá, houve um racha para decidir quem
concorreria à prefeitura. A convenção que supostamente teria dado vitória a
Silvio, na sede do Corinthians, acabou sendo anulada pelo TSE em virtude dos
acontecimentos do evento. Mais uma vez, Silvio via sua tentativa de exercer uma
função política frustrada.
Apesar das grandes chances que o apresentador teria em qualquer eleição,
nada seguiu adiante. Parece que a profissão de político não é mesmo para Silvio
Santos, ao contrário do cargo de animador e apresentador de programa. Por ora,
a política fora aposentada da vida dele. Passada essa “febre”, agora o foco
retornava para as suas empresas, em especial o SBT. E a década de 1990
reservava importantes mudanças para a emissora.
NOVOS ARES NO SBT
Passada a “onda política” na vida de Silvio, suas atenções retornaram às
empresas e ao crescimento do SBT. O sonho de dar casa, moradia e educação aos
brasileiros já não estava mais em pauta, tendo em vista todas as tentativas
frustradas para alcançá-lo.
Dez anos após a transmissão inaugural do SBT, durante a assinatura do contrato
da concessão em Brasília, a emissora já havia superado suas fases de nascimento
e infância. Agora o momento era de consolidação de sua atuação, bem como
uma busca por conteúdos cada vez mais relevantes para o telespectador. Em
1990, a emissora teve uma média de 9,1 pontos de audiência, tornando-se a vice-
líder isolada, que perdia apenas para a imbatível Rede Globo, com média de 25,3
pontos. Para o Brasil, entretanto, a época não era das mais fáceis.
Logo no início do mandato do primeiro presidente eleito após décadas de
ditadura, uma notícia deixou os brasileiros perplexos: Fernando Collor de Mello
anunciou um pacote com medidas econômicas radicais que envolviam, entre
outras questões, o confisco dos depósitos bancários e até mesmo das poupanças.
A fim de combater a inflação que atingia o índice de 80%, o novo presidente
causou desespero geral na nação. Apesar da tentativa drástica, não houve queda
da inflação. Ao contrário: a crise econômica do país continuou se agravando.
Como a performance econômica impacta diretamente na popularidade do
governante, Collor foi perdendo com rapidez sua simpatia com o povo brasileiro.
Para além da crise econômica, o governo começou a ser denunciado por
corrupção: ministros, assessores e até mesmo a primeira-dama, Rosane Collor,
foram alvos de suspeita de desvio de verba. Em maio de 1992 todo o escândalo
de corrupção veio à tona através da denúncia do irmão de Collor, Pedro Collor,
que revelou o esquema comandado por Paulo César Farias, o tesoureiro da
campanha. Foi instalada então uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI)
para que as gravíssimas acusações fossem investigadas. Era um triste desfecho
para o país que festejava seu retorno às vias democráticas.
Durante os meses em que as denúncias eram investigadas, o Brasil ficou
paralisado, mas os “caras-pintadas”, movimento estudantil que lutava pela saída
do presidente, não cessava. A maior das passeatas do movimento reuniu cerca de
15 mil jovens no centro de São Paulo. Em 29 de setembro de 1992, o Congresso
Nacional decidiu pelo impeachment de Fernando Collor. Para evitar sua
cassação e a perda de direitos políticos, o presidente decidiu renunciar ao seu
cargo em 30 de dezembro de 1992.
Assim como todo o país, o SBT também precisava encontrar alternativas para
enfrentar a crise econômica do início da década de 1990. A intenção era
continuar investindo em uma programação de qualidade que trouxesse mais
retorno publicitário. Já em 1991, a emissora recebeu uma proposta de compra no
valor de US$ 150 milhões. Questionado por sua diretoria, mais uma vez Silvio
respondeu de maneira categórica: “Não quero vender. E não recebo ninguém que
queira conversar sobre a venda por menos de US$ 300 milhões”.
A década de 1990 trouxe diversos programas que integrariam o rol de
clássicos da emissora. Em comemoração aos dez anos do SBT, uma nova grade de
programação foi planejada e estruturada. Em agosto de 1991, estreou um dos
programas que se tornaria uma verdadeira febre entre os telespectadores mais
jovens: o Programa Livre, com Serginho Groisman. A atração passou a dominar
as tardes do SBT durante dez anos.
Assim como Silvio Santos, Serginho também é de origem judaica e sua
família sofreu com a perseguição durante a Segunda Guerra Mundial: uma das
suas avós teve os pais e os irmãos mortos em um campo de concentração.
Apesar de ter alimentado o sonho de ser cantor, formou-se em Jornalismo, uma
escolha decisiva para a carreira de apresentador que traçaria ao longo de sua
vida.
Serginho foi um dos “presentes” da emissora em comemoração aos seus dez
anos. Não foram somente as entrevistas e a participação da plateia que fizeram a
fama do programa, mas também alguns quadros que se destacaram. Um dos
casos foi o “Beijo, abraço ou aperto de mão”, em que alguns casais ficavam
conversando durante todo o programa e, ao final, deveriam escolher uma dessas
opções de interação.
O programa também foi povoado por convidados nacionais e internacionais de
renome como Bon Jovi, Shakira e Ricky Martin. Apesar das grandes estrelas que
passaram pela atração, um dos momentos mais marcantes para os
telespectadores, e para o próprio apresentador, foi a edição do programa gravada
no Presídio do Carandiru, em que os próprios detentos formaram a plateia.
Em 1999, Serginho trocaria o SBT pela Rede Globo, onde também passaria a
apresentar um programa no mesmo formato, o Altas Horas. A atração permanece
até hoje na grade da emissora.
Após a saída de Serginho do SBT, o programa passou a ser apresentado por
outros profissionais, cada dia por alguém diferente: Ney Gonçalves Dias, Márcia
Goldschmidt, Lu Barsoti, Christina Rocha e Otávio Mesquita. Novos
apresentadores, entretanto, resultariam em uma “nova cara” para o programa.
Em 2000, o Programa Livre começou a ser apresentado por Babi Xavier.
Após alterações no horário e no dia de transmissão do programa, ele teve seu fim
em dezembro de 2001.
Outro programa que estreou na emissora ainda em 1991 foi o telejornal Aqui
Agora. Apesar de sua reputação controversa devido aos traços sensacionalistas,
serviu de inspiração para o molde de outras atrações, como é o caso do Cidade
Alerta. O slogan do programa era “um jornal vibrante, uma arma do povo, que
mostra na TV a vida como ela é!”, e em sua equipe estavam repórteres renomados
como Celso Russomanno, Christina Rocha, Jacinto Figueira Júnior (conhecido
como “o homem do sapato branco”) e César Tralli, entre outros. O nome da
atração era inspirado em um programa da extinta TV Tupi, que trazia reportagens
populares e muitos conflitos. Quando a TV Tupi foi extinta, o programa também
foi encerrado.
Famoso por exibir manchetes escandalosas, matérias com câmeras na mão que
envolviam sequestros, tiroteios e muitas situações de violência, o programa
focava em reportagens policiais e crimes que chocavam a sociedade – a própria
definição de sensacionalismo. Pelo seu formato polêmico, foi considerado
referência tanto positiva como negativa. Apesar disso, revelou nomes
importantes do jornalismo brasileiro atual, como é o caso do próprio César
Tralli.
O momento mais chocante do programa aconteceu em 1993, com o episódio
anunciado como “O Pulo do Morte”. Na ocasião, um dos repórteres da atração
mostrou a todo o Brasil o drama de uma jovem que queria cometer suicídio. O
programa chegou a mostrar a queda de oito andares da jovem, que faleceu. Após
essa situação, a emissora enfrentou um processo judiciário, em que foi
condenada a pagar R$ 100 mil de indenização aos familiares da moça que se
suicidou.
Um nome inesquecível do programa é o do repórter Gil Gomes. O repórter,
que havia iniciado no jornalismo ainda no rádio, chamava a atenção pela forma
com que noticiava as reportagens: com uma voz marcante e trejeitos quase
teatrais, dava ares ainda mais sombrios aos terríveis acontecimentos que eram
apresentados. Apesar de criticado pelo seu sensacionalismo e ar popularesco, o
programa trazia grandes índices de audiência para a emissora. Na cobertura do
acidente de avião que matou o grupo Mamonas Assassinas em 1996, tragédia
que chocou o país inteiro, foi registrado o maior pico de audiência.
Um dos diretores da atração, Albino Castro, concorda que o programa foi
inovador, tanto sob um viés positivo quanto negativo. Ele comentou em
entrevista para a Folha de S.Paulo: “Cometemos erros, exageros, achávamos que
o sensacionalismo daria audiência. Mas acertamos ao encontrar uma linguagem
popular na TV, que está hoje no Fantástico, está em todos os lugares”.15 Durante
os anos em que esteve no ar, o telejornal também viria a cobrir importantes
acontecimentos do Brasil e do mundo. A Olimpíada de Barcelona, o massacre do
Carandiru, o impeachment do presidente Collor e o chocante assassinato de
Daniella Perez (filha da autora de telenovelas Glória Perez) foram temas de
matérias do programa.
Uma outra inovação da atração foi a exibição de conteúdos gravados e
disponibilizados por cinegrafistas amadores – algo totalmente intrínseco à era da
internet. Todo esse tipo de conteúdo violento exibido no programa também era
enviado através de VHS por telespectadores que vivenciavam ou presenciavam
tais situações extremas. Mas, não era somente a violência que tinha espaço no
telejornal, pois até mesmo as fofocas de celebridades faziam parte da
programação. Com o famoso bordão “vou destilar o meu veneno”, Nelson
Rubens comentava fatos sobre o cenário artístico. Leão Lobo também foi levado
por Silvio ao programa para comentar os fuxicos e conta que a famosa gravata
vermelha, que o marcaria para sempre na atração, foi um “toque” do próprio
Silvio:
“Ele pediu que eu fizesse o programa de smoking. Eu até achei esquisito a
princípio pois ia ao ar às 6 horas da tarde. Mas acatei e fiz o programa de
smoking durante 6 meses. E então encontrei com ele nos corredores do
camarim, e ele virou para mim e falou assim: ‘Muito bom o que você está
fazendo. Só tem uma coisa. Não usa mais as outras gravatas. Usa só a
vermelha.’
Na hora eu achei estranho. Aí falei pra camareira: ‘Olha, o Silvio falou pra
não usar mais as outras gravatas, só a vermelha.’ Imediatamente ela passou
a mão em todas as outras, enrolou, botou num saquinho e guardou. E aquilo
ficou na minha cabeça. Mas por que só a vermelha, né?
Hoje, anos depois que o Aqui Agora acabou, eu ainda passo na rua e as
pessoas falam: ‘Ai, eu lembro tanto de você no Aqui Agora com aquela
gravatinha vermelha.’ O Silvio tem uma visão que é especial. Por isso que
eu falo que ele é mestre. Ele sabe dos detalhes, do toque.”
Após anos de sucesso e polêmicas, o Aqui Agora saiu do ar em 1997. A
emissora ainda tentou retornar com a atração em 2008, com assuntos menos
sensacionalistas e incluindo até mesmo a responsabilidade social na pauta. O
retorno, entretanto, não vingou; após estrear em março de 2008, o próprio Silvio
Santos determinou que o programa deveria ter uma média de oito pontos de
audiência. O índice não foi alcançado e, em pouco mais de um mês, foi retirado
do ar novamente.
Outro foco de Silvio para o crescimento da emissora já naquela época foram
as telenovelas. Interessado em reestruturar e ampliar o núcleo de teledramaturgia
do SBT, contratou profissionais de peso da área para compor o setor: Silvio de
Abreu, Rubens Ewald Filho e Nilton Travesso, que se tornaria diretor-geral. O
desafio não era fácil, e Nilton tinha ciência disso, como disse em entrevista em
agosto de 1996 no Jornal do Brasil:
ʻFoi um dos mais violentos desafios que assumi na vida. A cobrança de todos
os lados é grande. Ousamos abrir um espaço novo, criando estúdios e uma
cidade cenográfica. Toda essa infraestrutura estava ausente em São Paulo há
vinte anos, desde os tempos áureos da TV Tupi. ,
Éramos Seis, escrita por Silvio de Abreu, foi considerada uma das maiores
produções em termos de novela no SBT. A trama, exibida de maio a dezembro de
1994, era baseada no romance homônimo da escritora brasileira Maria José
Dupré. A novela foi um sucesso para as expectativas da própria emissora:
enquanto a média esperada era de 10 pontos de audiência, chegou a atingir o
dobro, conquistando 20 pontos. Em 1995, a novela ganhou o Troféu Imprensa na
categoria de “Melhor Novela”, sendo a única do SBT a ter conquistado esse título.
A produção lançou artistas que hoje são reconhecidos no país inteiro: Ana Paula
Arósio, Caio Blat e Otaviano Costa.
Após o fim de Éramos Seis, o SBT passou a exibir outra novela dirigida por
Nilton Travesso: As Pupilas do Senhor Reitor. Também inspirada em um
romance homônimo, foi exibida até julho de 1995 na grade da emissora. No
elenco, constavam nomes de peso como Juca de Oliveira, Débora Bloch e
Eduardo Moscovis. A escolha dos artistas renomados foi um dos fatores que
cativou o público em relação à novela.
Com essa programação, o SBT buscava alcançar não somente altos índices de
audiência, como também a credibilidade do público, conforme o projeto iniciado
ainda na década de 1980.
A produção da emissora crescia cada vez mais, mas a gestão passou a ser um
empecilho, visto que no ínicio dos anos 1990 o SBT tinha operações em cinco
pontos diferentes da cidade de São Paulo: Vila Guilherme, Rua dos Camarés,
Teatro Ataliba Leonel, Sumaré e Anhanguera.
Para Silvio e o próprio SBT, era importante centralizar todo o funcionamento
da emissora em um espaço único, para que a gestão fosse controlada com mais
eficiência e apresentasse a evolução pretendida. Mas, para reunir em um só lugar
todo o SBT era preciso encontrar um local com muito espaço disponível. Além
disso, seria necessário um projeto excepcionalmente grandioso.
VOANDO ALTO
Silvio nunca sonhou pequeno. O destino do menino que começou sua carreira
como camelô pode ter sido uma surpresa, mas ele sabe que lutou diariamente
para realizar suas conquistas, enfrentando cansaço, críticas, derrotas e tudo o que
pode ser incluído em uma “típica” história de sucesso, não se intimidando diante
dos desafios. Apesar de considerar inviável a possibilidade de o Ministério das
Comunicações conceder uma emissora de televisão a um ex-camelô, Silvio não
hesitou em traçar seu melhor plano e apostar tudo nessa chance com ousadia e
simplicidade.
Sua simplicidade, aliás, é algo que marca os funcionários do SBT. Diversos são
os relatos, como o de Maisa Silva, que retratam Silvio como um homem que
trata a todos igualmente, independentemente da posição ou da condição social.
Maisa conta que a humildade de Silvio foi o ensinamento mais valioso nesses
ʻ
dez anos ao lado do apresentador: Não tem como negar que além de ele ser um
mito, um ícone, ele é uma pessoa muito boa. Tem muita gente que acaba de
entrar numa carreira e tem um destaque maior e se sente no direito de ser melhor
que os outros. A humildade foi o maior ensinamento que o Silvio me passou. Ele
é melhor que muita gente profissionalmente, mas faz questão de ser igual a todo
mundo. ,
A humildade e o trabalho duro resultaram em grandes conquistas ao
apresentador. O SBT foi uma delas e o Centro de Televisão (CDT) foi outra. Afinal,
um complexo de televisão instalado em uma área com mais de 230 mil metros
quadrados parece coisa de filme de ficção, assim como muitos momentos da
história de Silvio.
O CDT nasceu para solucionar um problema que a emissora estava enfrentando.
Antes, Silvio tinha seus próprios estúdios em São Paulo para produzir
programas; depois, passou a ter a concessão de um canal no Rio de Janeiro e, em
seguida, criou o seu sistema de televisão. Em virtude da constante expansão dos
planos televisivos, sua gestão foi de um único local para vários outros
localizados em diversos pontos da cidade de São Paulo – cinco, especificamente.
Após a estabilidade e o crescimento do SBT, essa dispersão estava se tornando um
obstáculo. Afinal, a logística e a operacionalização de uma extensa grade de
televisão não era nada fácil nesse modelo, além de custar muito caro.
Foi então que surgiu o grande projeto do SBT, o Complexo Anhanguera, que
reuniria toda a produção da emissora em um só lugar. Para isso, era necessário
um espaço gigantesco. Não há dúvida de que esse foi um projeto ambicioso e
ousado, considerado até hoje a maior empreitada do Grupo Silvio Santos e, por
isso, também a mais arriscada. Por se tratar de um projeto extremamente
complicado, inicialmente não havia um consenso no Grupo Silvio Santos sobre
sua concretização. Além da dúvida sobre a viabilidade, havia questionamentos
em relação ao tamanho do investimento e ao prazo de conclusão. Outro receio
era a respeito do local do projeto, que deveria ser enorme para abarcar tal
estrutura, e ao mesmo tempo localizado em uma região acessível para não
prejudicar as operações da emissora.
A Rodovia Anhanguera é uma das mais importantes rodovias brasileiras, pois
liga a cidade de São Paulo à região Norte do Estado, bem como às principais
cidades industriais. Seu nome é uma referência ao bandeirante Bartolomeu
Bueno da Silva (1672-1740, séc. XVIII), líder da Guerra dos Emboabas, apelidado
pelos índios de “Anhanguera”, que em tupi significa “diabo velho”. O velho
bandeirante, no Estado de Goiás, em seu afã irascível de encontrar ouro, teve a
ideia de derramar aguardente em uma tigela e atear fogo, ameaçando fazer o
mesmo com os rios da região se os nativos não lhe indicassem o caminho correto
para as minas do precioso metal; daí surgiu o apelido.
Com mais de quatrocentos quilômetros de extensão, é uma das maiores
rodovias do país e começou a ser construída ainda em 1916. Originalmente com
cerca de oitenta quilômetros, foi sendo ampliada ao longo dos anos. Até mesmo
por conectar uma metrópole a cidades industriais, é também uma das rodovias
mais movimentadas do país, com tráfego elevado especialmente no trecho que
liga São Paulo a Campinas.
Esse era um fato que preocupava os dirigentes do Grupo Silvio Santos: sediar
o SBT em uma rodovia desse porte. Afinal, como uma das maiores emissoras do
Brasil poderia ficar refém de um local com alta suscetibilidade de
congestionamentos? Apesar de todos os contras, foi definido que o projeto
deveria seguir em frente, para o bem e o crescimento do SBT. Primeiramente, a
intenção era que a obra levasse quinze anos – algo razoável, tendo em vista todas
as expectativas que envolviam o CDT. O projeto foi aprovado por Silvio, com a
previsão de um orçamento de cerca de 30 milhões de dólares. Mas, a realização
iria muito além do planejado e o voo não seria baixo.
Uma das pessoas que desejava ir além era Guilherme Stoliar, sobrinho de
Silvio Santos e um dos grandes responsáveis pela concretização do projeto
colossal. Há mais de 46 anos no Grupo e mais de 30 anos no SBT, começou como
office boy das lojas do Baú da Felicidade. Atualmente, ocupa a presidência do
grupo, tamanha a relevância do trabalho que construiu ao longo de todos esses
anos.
Quando o projeto Anhanguera estava sendo discutido, Guilherme assumiu a
vice-presidência. Ao estilo Silvio Santos, ele também enxergava além e lutou
para que a obra tivesse a dimensão que merecia. Junto a Luiz Sebastião
Sandoval, presidente do grupo na época, passaram a ser entusiastas e porta-vozes
de um grande CDT. A intenção era apostar no crescimento da própria emissora a
partir de um grande centro de televisão.
No começo, Silvio, apesar de seu histórico de grande visionário
empreendedor, mostrava-se um pouco receoso com o risco de ficar endividado.
Afinal, sonhar mais alto também significava ter um custo maior, que se traduzia
em altos empréstimos. O apresentador, que já tinha utilizado o crédito em outras
ocasiões (por exemplo, para comprar o seu tão sonhado jipe para as caravanas do
Peru que fala), tinha um certo trauma com a possibilidade de se afundar em
dívidas. Mas, não adianta, a máxima dos negócios é que só há crescimento com
investimento e recursos, que podem ser de dinheiro, tempo ou mão de obra.
Apesar da resistência de Silvio, Guilherme e Sandoval decidiram seguir com
seu projeto ambicioso. Ao final da concretização do CDT, o investimento total
seria quatro vezes maior do que o inicial previsto e aprovado, algo em torno de
120 milhões de dólares. A verba foi necessária não somente para a construção do
complexo em si, mas também para os equipamentos que passariam a integrar os
novos estúdios dos sonhos da emissora. Afinal, um complexo de ponta exige a
melhor estrutura.
O Complexo Anhanguera começou a ser adaptado em 1993, com o objetivo
ambicioso de trazer resultados inéditos para o SBT. Além da obra gigantesca, a
emissora continuava apostando em profissionais relevantes para se aproximar da
líder de audiência, a Rede Globo de Televisão.
Um desses casos foi uma mulher com alta credibilidade na televisão brasileira.
Em 1996, o SBT trouxe um nome de peso para o seu quadro de jornalismo: a
apresentadora Marília Gabriela. Com múltiplos talentos, Gabi iniciou sua
carreira na televisão como estagiária do Jornal Nacional. Seu potencial para as
telinhas era tão notável que no mesmo ano, em 1969, começou a apresentar o
Jornal Hoje, em São Paulo. Após passar pelo Fantástico, em 1980 foi chamada
para integrar o TV Mulher, onde atuava junto de Ney Gonçalves Dias e a
sexóloga (e hoje senadora) Marta Suplicy. Gabi também atuou como cantora,
chegando até mesmo a gravar alguns discos. No SBT estreou em 1995, no
programa SBT Repórter, onde permaneceu durante quatro anos, e também no
First Class. Ainda passou a apresentar o seu famoso De Frente com Gabi, onde
encantaria o público com seu talento excepcional de entrevistadora.
Em 2000, Gabi deixou o SBT e foi para a Rede TV. O afastamento não durou
muito, pois em 2002 ela retornaria à emissora de Silvio. O vai e vem se repetiu
algumas vezes, com a mudança mais recente em 2010, quando ficou até 2015.
Gabi não esconde que tem uma certa preferência pelo SBT. Em entrevista ao
ʻ
Portal Terra, em julho de 2013, chegou a afirmar: Já disse isso outras vezes: o
SBT é o melhor lugar para se trabalhar no Brasil. E olha que trabalhei em várias
emissoras.16 ,
Pouco depois do início da atuação de Gabi no SBT, a obra mais imponente da
emissora foi concluída. Em 19 de agosto de 1996, o Complexo Anhanguera foi
inaugurado com grande celebração. O evento teve toda a grandiosidade
merecida, com Silvio Santos muito satisfeito e transbordando a alegria de mais
uma conquista descomunal. Na ocasião, quem esteve ao lado de Silvio foi o
então presidente da República do Brasil, Fernando Henrique Cardoso.
Caminhando junto ao grande homem do evento, Fernando Henrique conheceu
todo o complexo.
Na época, o SBT tinha mais de 2.500 funcionários e o complexo era (e continua
sendo) tão grande que todo o roteiro levou cerca de três horas para ser concluído.
Como era impossível explorar tudo a pé, foram necessários trajetos de carro para
conhecer cada detalhe. O primeiro local que a comitiva presidencial visitou foi o
espaço cenográfico, com capacidade para oito estúdios de gravação. Os
convidados, incluindo o presidente, não somente conheceram a estrutura, como
puderam acompanhar ao vivo a gravação de uma cena da telenovela Razão de
Viver.
Durante gravação da inauguração realizada pelo próprio SBT, Fernando
Henrique Cardoso comentou sobre a “Fábrica de Sonhos” que a emissora
viabilizou: “O setor terciário, o setor de serviços, é o que mais gera emprego. Se
você comparar o investimento em uma unidade fabril por investimento desse
tipo, este aqui gera muito mais emprego. E tem mais criatividade, aqui permite
você imaginar! É uma fábrica de sonhos. Eu acho isso fantástico.”
Guilherme Stoliar, muito feliz e orgulhoso do que haviam alcançado, também
deu seu depoimento: “Eu acho que o país está nascendo de novo e nós
precisamos entender isso, acreditar no nosso negócio e confiar no Brasil”. O
passeio também teve uma parada na área técnica, onde todos puderam conferir
ao vivo os equipamentos de última geração que compunham o novo complexo
do SBT. Além disso, também estiveram nas redações, onde é realizada a gestão de
notícias dos telejornais da emissora.
Após passarem por diversos setores, como o dos figurinos e a praça de
alimentação reservada para os funcionários, houve emoção na despedida entre
Silvio Santos e o presidente Fernando Henrique, que ainda comentou:
“Eu acho que é fantástico que tenha essa possibilidade de dar emprego a
mais brasileiros, ter imaginação e tudo o mais. Olha, isso aqui é a ponte do
primeiro mundo, técnica muito avançada. Eu fiquei pensando: ‘Meu Deus,
como é que alguém concebeu isso, fez um projeto com tanta minúcia para
dar certo e deu certo’.”
Não é à toa que o presidente ficou emocionado e perplexo diante do que viu
na inauguração do Complexo Anhanguera. O CDT é o terceiro maior complexo de
televisão da América Latina, atrás apenas da TV Azteca no México e – claro – da
Rede Globo de Televisão com o Projac, no Rio de Janeiro.
Toda a festa foi realizada em um momento marcante do SBT: também se
comemorava o aniversário da emissora. Há quinze anos da inauguração do
complexo, Silvio Santos fazia a transmissão mítica da assinatura da concessão de
sua rede de televisão. E nada melhor do que celebrar uma conquista histórica
com um novo triunfo. A visita do presidente aconteceu durante o dia, mas a
verdadeira festa foi à noite. Silvio celebrou ao lado dos funcionários do SBT,
todos muito felizes e honrados por compartilhar o momento marcante com o
“Patrão”.
O ano da inauguração do Complexo Anhanguera trouxe muitas conquistas
para Silvio e para suas empresas. Em 1996, o Grupo ultrapassou oito dígitos de
faturamento, atingindo a casa do bilhão. As telenovelas, com os novos espaços
disponíveis, seriam cada vez mais incentivadas no SBT. Até 1997, foram gravadas
diversas tramas: Éramos Seis, As Pupilas do Senhor Reitor, Sangue do Meu
Sangue, Razão de Viver, Ossos do Barão, Pérola Negra e Fascinação.
Como estratégia para aumentar a audiência, o foco estava nessas telenovelas e
no telejornalismo. A vasta produção de novelas, especialmente, transformou-se
em um dos grandes trunfos para conquistar audiência, publicidade e,
consequentemente, faturamento. É certo que a inauguração do Complexo
Anhanguera representou um importante passo para chegar a esse cenário. O
investimento necessário para a construção dessa nova sede não foi pouco. Mas,
para sonhar grande também é preciso alçar voos altos, e o CDT da Anhanguera foi
mais uma grande decolagem para Silvio.
Era evidente que a obra havia exigido recursos como nunca antes do SBT. Mas,
tendo em vista a conclusão da obra em poucos anos após o início, o resultado foi
inovador, ficando claro que o risco valeu a pena.
COLHENDO FRUTOS
O Grupo Silvio Santos estava se acostumando a realizar projetos ousados e até
considerados impossíveis. Foi assim quando colocaram uma emissora de
televisão em poucos meses no ar e quando construíram o CDT da Anhanguera. A
holding, que começou com o Baú da Felicidade, via o passado distante de
pequena empresa se afastar cada vez mais.
Em 1999, as empresas com maior representação para o faturamento do grupo
eram (em ordem): Liderança Capitalização, SBT, Banco Panamericano, BF
Utilidades Domésticas (Baú da Felicidade), Panamericano Prestadora de
Serviços, Vimave – Vila Maria Veículos, Panamericano Arrendamento
Mercantil, Panamericana de Seguros, TV Alphaville e Panamericano
Admistradora de Cartões de Crédito.
A Liderança Capitalização, mais conhecida como Tele Sena, foi fundada em
1945, ano em que Silvio estreou em sua carreira profissional como camelô.
Apesar de ter sido fundada em 1945, foi com a aquisição por parte do Grupo
Silvio Santos, em 1975, que a empresa se transformou em um verdadeiro
sucesso. Ao estilo Silvio Santos, o produto sempre teve destaque em seus
programas, assim como as inovações eram constantes, mantendo os altos índices
de vendas.
A década de 1990 parecia estar se encerrando da melhor forma para o
apresentador, graças à evolução em suas empresas e também no SBT. O período
marcou a revelação de grandes estrelas e lançamentos de sucesso na emissora.
Assim como Mara Maravilha, Eliana foi uma grande descoberta de Silvio.
Seguindo o mesmo caminho da primeira pupila, Eliana viria a se consagrar como
apresentadora e cantora dedicada ao público infantil.
Eliana estreou na televisão em um comercial da famosa e renomada marca de
lingerie Valisere, ainda na década de 1980, quando não tinha nem 15 anos. Mas
seria na década de 1990, no SBT, que apresentaria seu primeiro programa e
despontaria para o sucesso. Antes disso, entretanto, Eliana teve que chamar a
atenção de Silvio Santos, que logo percebeu seu potencial para a apresentação de
atrações. Como integrante do grupo Banana Split, a convite de Gugu Liberato, e
participando esporadicamente do “Qual é a música?”, rapidamente ela se
destacou na emissora.
Em 1991, Eliana começou a apresentar seu primeiro programa, o Festolândia,
também voltado ao público infantil. O que era para ser o início de uma grande
história teve um fim repentino: depois de três meses no ar, Silvio mandou acabar
com a atração. Como um verdadeiro gestor de negócios, ele considerou os custos
do programa muito altos quando comparados ao seu retorno. Para Eliana, que
estava realizada com sua primeira conquista, o golpe foi duro. Ao receber a
notícia, ela não se intimidou nem se conformou de imediato com o fim de seu
contrato. Sem pensar duas vezes, foi atrás de Silvio para pedir outra chance.
A intenção de Eliana era conseguir outro programa para apresentar, contudo,
Silvio lhe respondeu que não havia essa possibilidade no momento. Determinada
a garantir sua chance no SBT, a futura estrela sugeriu que comandasse o Sessão
Desenho, um programa clássico da emissora. A atração estreou juntamente com
o próprio SBT e ficou no ar até 2007, apresentando desenhos que marcaram
gerações inteiras de crianças, como Pica-Pau, Tom & Jerry e Corrida Maluca.
Poucos anos depois, Eliana estreou com a atração de maior projeção para a
sua carreira: o Bom Dia & Cia entrou no ar em 2 de agosto de 1993. Desde
então, é exibido no SBT diariamente, tornando-se o programa infantil mais
longevo da emissora. Originalmente, a atração foi uma criação do diretor Nilton
Travesso, já pensando em Eliana como apresentadora. Ela se tornou tão influente
junto ao público infantil que durante um período o programa passou a se chamar
Eliana & Cia. Eliana também chegou a apresentar o TV animal, atração
anteriormente apresentada por outra loira famosa da emissora, a Angélica, que
estreou no SBT com o programa Casa da Angélica em 1993, e também chegou a
apresentar o Passa ou Repassa.
Desde o programa Sessão Desenho, Eliana já fazia apresentações musicais,
sendo que, ainda em 1993, gravou seu primeiro disco, que se transformou em um
grande sucesso. Logo em seu álbum de estreia, alcançou a marca de 300 mil
cópias vendidas, o que a fez receber um Disco de Ouro pelo trabalho e marcou
ainda mais as conquistas dessa fase.
O mérito do Bom Dia & Cia foi criar um formato inovador em termos de
atração para crianças. Ao contrário das concorrentes, como era o caso das
atrações comandadas por Xuxa e Angélica, e mesmo a de Mara Maravilha na
emissora, o programa de Eliana não era realizado no modelo de auditório, que
recebia os pequenos em sua plateia. O cenário era composto de forma a parecer-
se com uma casa muito divertida. Em vez de interagir com crianças da plateia, a
apresentadora interagia com os personagens que participavam ao seu lado da
atração, como, por exemplo, o famoso boneco Melocoton.
O Bom Dia & Cia era composto por várias atrações, incluindo jogos e
brincadeiras, artistas da música, desenhos e até mesmo um café da manhã com
convidados. O objetivo era transmitir um olhar educativo para ajudar no
desenvolvimento das crianças. Logo na estreia, o programa era exibido antes do
programa da Mara Maravilha, o Show Maravilha. Com o término da atração da
colega de emissora, que foi para uma TV argentina apresentar um novo programa
próprio, o Bom Dia & Cia passou a ocupar a manhã inteira da grade do SBT.
Eliana ficou no SBT até 1998, quando deixou a emissora para apresentar o
Eliana & Alegria na TV Record. Ali permaneceu até 2009, período em que
retornou para o SBT. Atualmente, o programa Eliana ainda está no ar, dessa vez
voltado ao público adulto. Recentemente, a apresentadora teve de se afastar dos
trabalhos na emissora devido ao período de gestação de risco que enfrentou,
antes de dar à luz sua segunda filha, Manuela.
Em entrevista à repórter e apresentadora Chris Flores, do SBT, Eliana ressaltou
ʻ
o apoio que recebeu de Silvio: Ele disse: ‘Eliana, o trabalho passa, a família
fica’, e quando contei a ele que eu estava no hospital, ele ficou muito
preocupado e foi muito carinhoso: ‘Fica aí, cuida da sua filha, para de pensar no
programa, cuida da sua família.’ ,
Outro apresentador marcante da emissora e que também iniciou a carreira na
década de 1990 foi Celso Portiolli. A forma como foi contratado, inclusive, tem
muita semelhança com o início de Gugu Liberato. Apesar de ter iniciado sua
carreira de comunicador no rádio, seu grande sonho era aparecer nas telinhas.
Por isso, assim como Gugu, enviava em cartas sugestões de quadros para Silvio.
Celso enviou em 1993 uma fita VHS contendo sugestões de pegadinhas em
câmeras escondidas para o Topa Tudo por Dinheiro. A maior parte das ideias que
ele enviou a Silvio foi aprovada, o que fez com que o SBT – e o próprio Silvio –
ficasse de olho naquele talento que aparecia “de mão beijada” na emissora.
Primeiramente, ele foi aproveitado como redator do próprio Topa Tudo por
Dinheiro, uma vez que já tinha demonstrado grande habilidade para elaborar as
pegadinhas da atração.
Foi em 1996 que Celso teve a oportunidade de apresentar o Passa ou Repassa,
programa no qual dois times participavam de uma disputa que envolvia um jogo
de perguntas e respostas. Ao longo de sua trajetória profissional no SBT, ele teria
a oportunidade de apresentar diversas atrações. Esse foi o caso do legendário
Domingo Legal, que assumiu após a saída de Gugu da emissora. Após diversas
alterações no período de exibição do Domingo Legal, que reduziu de quatro para
duas horas sua programação, Silvio teria dito, de acordo com Celso em
participação no programa Dudu Camargo, na Super Rádio: “Possivelmente em
2018 você terá um programa de quatro horas, não sei qual o dia e horário, mas
pode ser que dê certo”.
Outro programa da década de 1990, que estreou em 1997, foi o Fantasia.
Logo que entrou no ar, tornou-se um verdadeiro sucesso com sua fórmula
simples para atrair a atenção do telespectador com jogos, interação e garotas
bonitas. Das mulheres que participaram do programa, diversas foram lançadas
para o estrelato: a atriz Fernanda Vasconcellos (atualmente na Rede Globo),
Tânia Mara, Jackeline Petkovic e Lívia Andrade, que atualmente participa do
quadro “Jogo dos Pontinhos” no Programa Silvio Santos. A atração, apesar do
sucesso inicial, não emplacou boa audiência durante muito tempo. Por isso,
acabou saindo do ar nos anos 2000. Em 2007 houve uma segunda tentativa de
emplacar o Fantasia, que também não obteve sucesso, sendo encerrado
definitivamente em 2008.
Também iniciado na década de 1990, o Teleton já está há quase vinte anos no
ar. Poucas pessoas sabem, mas a iniciativa partiu de Silvio por causa de sua neta
com necessidades especiais, a Luana, filha de Silvia Abravanel.
Para exibir a atração beneficente uma vez por ano no SBT, Silvio precisou
adquirir seus direitos autorais. O criador do formato do Teleton foi o comediante
americano Jerry Lewis. O programa original teve sua primeira edição em 1966,
com o objetivo de arrecadar fundos para a Associação da Distrofia Muscular,
doença que acometia o próprio filho de Jerry. O primeiro Teleton estreou no SBT
em maio de 1998 e desde então vem sendo exibido anualmente. Na primeira
edição do projeto, a emissora de Silvio conseguiu arrecadar quase R$ 15
milhões, montante que resultou na construção de uma unidade da Associação de
Assistência à Criança Deficiente (AACD) em Recife.
A cada ano, o SBT cria uma programação especial e intensa para o Teleton, que
dura mais de 24 horas no ar, mais precisamente 27 horas. Para segurar por tanto
tempo o telespectador, ainda que tenha uma causa tão nobre, Silvio aposta na sua
grade de estrelas e em artistas renomados para compor a atração e apresentar o
evento. Em 2016, o Teleton alcançou a impressionante marca de R$ 27 milhões
arrecadados, meta estipulada pelo próprio SBT. Mesmo com a quantia expressiva,
o total representou uma queda em relação ao ano anterior, 2015, que teve mais
de R$ 31 milhões arrecadados.
Ao longo das mais de 24 horas de programação, também são exibidas
reportagens especiais sobre o histórico e a atuação do SBT, tudo ao vivo do
Complexo Anhanguera. O Teleton é uma atração histórica da emissora, e é
planejado e executado com muito cuidado e dedicação. Desde o seu nascimento
no SBT, Hebe Camargo era a madrinha do projeto, e encerrava a transmissão da
maratona em prol da AACD, ao lado de Silvio Santos. Até o final da vida, ela
sempre cumpriu seu papel louvável no fechamento da programação.
A edição de 2017 traz inovações no formato, que buscam adequar a atração à
nova geração da comunicação por meio do conteúdo exclusivo para a internet,
até mesmo com transmissão ao vivo de um canal próprio no YouTube.
Outra febre da emissora que fecharia a década de 1990 com chave de ouro foi
o Show do Milhão. Assim como muitas atrações do SBT, foi inspirado em um
programa americano chamado Quem Quer Ser um Milionário?. A graça do jogo
não era somente o fato de o participante concorrer ao prêmio de R$ 1 milhão,
mas também pelo formato que prendia muito a atenção dos telespectadores.
Afinal, era difícil não se envolver com os participantes e esperar ansiosamente
pela resposta às perguntas de variedades que valiam prêmios cada vez maiores.
Pessoas comuns ficavam diante de Silvio Santos tentando escolher a resposta
certa para as perguntas. O participante era exposto a três rodadas: na primeira
havia cinco perguntas valendo mil reais cada, na segunda também cinco
perguntas, mas por R$ 10 mil cada. Claro que só seguia em frente quem
respondesse corretamente. Na terceira rodada, que aprese ntava uma dificuldade
maior, o candidato deveria responder a mais cinco perguntas, dessa vez valendo
R$ 100 mil cada. A última pergunta, a tão esperada questão final, valia o incrível
prêmio de R$ 1 milhão.
Ao longo das três rodadas, o participante podia solicitar diversos auxílios,
contando com os universitários (que eram literalmente três universitários
convidados), placas da plateia, cartas de baralho (nos quais, conforme a sorte,
algumas alternativas erradas poderiam ser eliminadas) e também a possibilidade
de pular uma questão. Na última pergunta, a que valia R$ 1 milhão, não era
possível solicitar nenhum tipo de ajuda.
A primeira fase do programa foi apresentada de 1999 a 2003. Ao seu final,
houve um fato emocionante: um dos participantes conseguiu acertar a pergunta
máxima e ganhar R$ 1 milhão. Sidney de Moraes tentou por diversas vezes
participar do programa, chegando a gastar R$ 200 em cupons da Revista do SBT
em um mês. Ele conseguiu realizar o seu objetivo quando uma operadora de
celular, que se tornou patrocinadora do programa, lançou uma promoção. Sidney
chegou a adquirir um celular para participar da promoção que o levaria ao Show
do Milhão.
O senhor aposentado faturou o prêmio máximo ao responder corretamente à
seguinte pergunta: “Em que dia nasceu e em que dia foi registrado o presidente
Lula?”. Durante os vinte segundos em que o cronômetro correu, o participante e
futuro primeiro ganhador respirou aliviado e emocionado, dizendo para si
mesmo: “Eu sei!”.
Foi com a alternativa 1, a opção que constava 6 e 27 de outubro, que se tornou
o primeiro (e único) participante a festejar a grande vitória. O próprio Silvio
Santos ficou muito feliz pelo resultado e celebrou junto com ele.
Em 1999, o SBT atingiu a média de 25,1 pontos de audiência no ano, número
que o deixava isolado em segundo lugar no ranking brasileiro. Ao longo de toda
a década de 1990, o melhor índice de audiência da emissora foi registrado em
1994, com a média de 28,6 pontos. Há quase vinte anos no ar, os anos 2000
chegariam com novidades, grandes estrelas e muitas situações marcantes na vida
e trajetória profissional de Silvio Santos. O século XXI seria inovador para o
apresentador e seus negócios.
SBT NO SÉCULO XXI
O século XXI começou agitado para Silvio Santos. O novo milênio foi marcado
por acontecimentos intensos, tanto positivos quanto negativos, afinal, em 2001, o
apresentador enfrentou uma das situações mais delicadas da sua vida, quando
esteve cara a cara com a morte.
Apesar desses sustos, dentre os quais o sequestro de sua filha Patricia, os anos
2000 também representaram um período de importantes mudanças para o Grupo
e para o próprio SBT. Assim como acontecera desde seu surgimento, novos
negócios foram incorporados.
Em 2006 foi lançado um dos carros-chefes do grupo: a empresa Jequiti, marca
de cosméticos de Silvio Santos. Mesmo alérgico a perfumes, Silvio apostou com
tudo na decisão de investir em cuidados para a beleza. Antes de surgir a
empresa, Silvio observava em viagens que fazia com a família o interesse das
mulheres em cosméticos, não só das filhas e esposa, como de todas as outras.
Sabendo que poderia oferecer o melhor em beleza para o seu público, resolveu
investir na ideia.
Não à toa, a Jequiti é uma grande aposta do empresário atualmente. O setor de
Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos no Brasil faturou cerca de R$ 45
bilhões em 2016, o que faz do país o quarto maior mercado do setor. Na
categoria “Perfumes”, conforme dados da Associação Brasileira das Indústrias
de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC), somos o segundo maior
mercado do mundo.
Assim como diversos produtos do grupo, a linha de produtos da Jequiti – que
inclui itens de perfumaria, maquiagem e cuidados diários – possui um espaço
cativo nas atrações do SBT. Um importante programa do SBT hoje é o Roda a
Roda Jequiti, patrocinado pela empresa desde 2008, em que os participantes do
gameshow são consultores e consumidores de produtos da empresa. Com essa
vitrine, a intenção é elevar o reconhecimento da marca e torná-la cada vez mais
presente no dia a dia das suas consumidoras.
No caso dos perfumes, os produtos possuem, além da marca Jequiti, o nome
de grandes estrelas do SBT e mesmo do Brasil: Eliana, Anitta, Patricia Abravanel
e Celso Portiolli são astros que firmaram parceria com a empresa. Todo esse
contexto está ajudando a marca a se tornar cada vez mais relevante dentro da
holding. Com expressivo crescimento, em 2014 a empresa se tornou o segundo
negócio em termos de faturamento, atrás apenas do SBT.
A Jequiti, que tem seu nome inspirado na árvore jequitibá, vem recebendo
nova roupagem no ano de 2017. A intenção é deixar a marca cada vez mais
atrelada à história do Grupo e, especialmente, de Silvio Santos, vinculando os
produtos ao entretenimento – DNA do próprio fundador. O novo slogan da Jequiti
também lembra muito Silvio Santos – “Jequiti, sonha que dá” –, afinal, ele pode
falar com muita propriedade sobre trabalhar para alcançar seus sonhos. Na
campanha, artistas relacionados aos produtos da marca, como Larissa Manoela,
Ivete Sangalo e Luan Santana, dão depoimentos sobre como encaram a vida para
realizar seus maiores desejos.
Com a venda do Banco Panamericano em 2010, buscando resolver a delicada
situação financeira em que o negócio se encontrava, Silvio apostou ainda mais
suas fichas na Jequiti. Por um momento, pensou em vender todo o grupo e
aposentar-se nos Estados Unidos, mas, como não é de desistir, resolveu persistir
e confiar em seu talento de empreendedor.
E por que Silvio pensou em vender todo o grupo? A dívida do Banco
Panamericano ultrapassava o valor de R$ 4 bilhões de reais. Com o banco
quebrando, conseguiu uma saída para a delicada situação em que se encontrava:
vendeu sua participação de R$ 450 milhões ao BTG Pactual. Com a negociação,
Silvio conseguiu liquidar a dívida que ele havia contraído com o Fundo
Garantidor de Crédito (FGC), sendo que o restante foi assumido pelo próprio FGC
em benefício da preservação do sistema financeiro nacional. Ou seja, foi
considerado um bem para o sistema financeiro nacional e o próprio país a
recuperação do Banco Panamericano. Afinal, para além de um banco importante
do Brasil, era o banco do Silvio Santos.
De acordo com matéria de O Estado de S. Paulo em fevereiro de 2011:
“Não foi à toa que Silvio saiu sorrindo da sede do BTG Pactual após a
assinatura do negócio, na noite de ontem. Em uma só tacada, ele quitou
uma dívida de R$ 4 bilhões por pouco mais de 10% do valor. E mais:
protegeu a maior parte de seu patrimônio, que engloba o SBT e a empresa de
cosméticos Jequiti, entre outras. Em contrapartida, abriu mão do banco,
unidade mais rentável de seu grupo.”17
Outro empreendimento relevante que teve seu lançamento também na
primeira década do século XXI foi o hotel Sofitel Guarujá Jequitimar, localizado
na Praia de Pernambuco, na cidade que dá o nome ao empreendimento. Por ser
um hotel cinco estrelas, exigiu um alto investimento da parte do grupo, assim
como a construção do CDT da Anhanguera. Por ser o local onde Silvio conheceu
sua atual esposa, o Guarujá não foi apenas uma escolha estratégica, mas
especialmente pessoal e afetiva. Em nota divulgada à imprensa antes da
ʻ
inauguração, as palavras de Silvio foram: O Guarujá representa parte
importante da minha vida, e muito me alegro em iniciar ali essa nova fase, pois
foi onde conheci a Iris, minha mulher, que gerou as nossas preciosas filhas e,
com sua alegria e entusiasmo, contribuiu para dar colorido à minha existência. ,
Assim como as outras empresas do Grupo, o SBT também teve importantes
momentos no novo milênio. Em 2001, a emissora lançou um grande sucesso de
audiência, incomodando até a Rede Globo: o reality show Casa dos Artistas. O
primeiro reality da história foi produzido décadas antes do Casa dos Artistas,
mais precisamente em 1973. O programa An American Family, exibido pela
emissora norte-americana PBS, estreou o gênero na TV. Como o nome diz, o
centro do programa era uma família americana e sua rotina.
Com o objetivo de retratar o cotidiano de um casal e seus cinco filhos, o
programa teve um total de doze episódios. An American Family mostrava
realmente a vida como ela é, chegando até mesmo a televisionar o pedido de
divórcio da esposa para o marido. Anos mais tarde, em 1991, um programa com
o mesmo formato estreou na MTV americana, conhecido como Real World. Esse
reality chegou a ser transmitido na televisão brasileira como o nome de Na Real,
e mostrava a vida de diversos jovens desconhecidos habitando o mesmo teto. Os
reality shows, que até então eram uma novidade, rapidamente dominariam as
emissoras de televisão em todo o mundo.
Foi uma surpresa para todos quando Silvio Santos anunciou a mais nova
atração do SBT. Sem preparar ninguém previamente, o apresentador anunciou em
2001 o confinamento de 12 artistas em uma mansão localizada no bairro do
Morumbi – local onde hoje é o escritório de Iris Abravanel. Casa dos Artistas foi
o primeiro reality show de confinamento da televisão brasileira. Devido ao seu
ineditismo, além do fato de a Globo estar bem incomodada com o concorrente de
seu próprio reality (o BBB), que estrearia em 2002, a audiência da atração
acabou se tornando a maior do SBT.
A primeira edição do programa teve os seguintes participantes: Bárbara Paz,
Supla, Mari Alexandre, Patrícia Coelho, Alexandre Frota, Mateus Carrieri,
Taiguara Nazareth, Nana Gouvêa, Nubia Óliiver, Marco Mastronelli, Leandro
Lehart e Alessandra Scatena. Assim como os brasileiros foram surpreendidos
com o reality, os participantes também pouco sabiam do que se tratava.
No dia 28 de outubro de 2001, o SBT entrou no ar repentinamente com Casa
dos Artistas. A estreia aconteceu no mesmo dia do lançamento da terceira edição
do No Limite, reality show da Globo. O início foi tão impactante que superou até
mesmo a audiência do Fantástico – primeira derrota da atração global desde sua
estreia.
Em matéria da Folha de S.Paulo no dia 31 de outubro, a inesperada atração
ʻ
foi comentada: Além de prejudicar o No Limite, o SBT quer derrubar a
audiência do Fantástico, um dos maiores faturamentos da Globo. A direção do
programa já foi avisada de que é preciso reforçar as reportagens que deem
audiência. Casa dos Artistas começou a ser produzido em sigilo há um mês.
Liderada por Rodrigo Carelli, ex-mtv, a equipe assinou um termo às escondidas.
Eles deixavam seus carros em um estacionamento e seguiam para o local de
trabalho em uma van. Os artistas só foram contratados na semana passada.18 ,
Com sete semanas de duração, o programa foi uma surpresa até mesmo para
os confinados, como contou Mari Alexandre ao Portal UOL em reportagem de
2016 que marcou os quinze anos da estreia da atração: “Fui ao programa do
Silvio, ele me chamou no camarim e perguntou se eu não queria participar de um
reality show, que eu nem sabia o que era nem ele podia explicar”. O projeto era
tão secreto que até mesmo no SBT não eram muitos os que tinham ciência sobre
os planos. Para que informações não vazassem antes do tempo, apenas alguns
diretores da emissora e o diretor do reality, Rodrigo Carelli, sabiam das ideias de
Silvio Santos.
Sempre em busca de formatos inovadores de atrações ao redor do mundo,
Silvio teria tido a ideia do reality a partir do norte-americano Big Brother, da
produtora Endemol, cujo formato nasceu em 1999. A sacada de Silvio estava em
confinar celebridades conhecidas do público em vez de pessoas comuns. Como a
Globo já havia adquirido os direitos do Big Brother e ficou muito surpresa e
aborrecida com o sucesso de Casa dos Artistas, decidiu processar o SBT por
plágio. O processo corre até hoje na Justiça brasileira.
Casa dos Artistas, ao longo das semanas em que ficou no ar, teve todos os
ingredientes para continuar apresentando altos índices de audiência: romance
entre Bárbara Paz e Supla (dupla que virou queridinha do público), fuga de
Alexandre Frota, discussões entre os participantes e até mesmo desistência.
Todas as polêmicas a que o telespectador adora assistir em novelas, mas na vida
real e com celebridades.
A atração foi um sucesso de público durante toda a exibição. Ao final, quem
saiu da mansão do Morumbi como grande vitoriosa foi a participante Bárbara
Paz, que ganhou o prêmio de R$ 300 mil. Em segundo lugar, como esperado,
ficou o então namorado de Bárbara, Supla. Bárbara já afirmou que o reality foi
um marco em sua vida, como também ficou para a história de Silvio Santos e do
SBT: a média de audiência da grande final foi de 47 pontos, chegando a atingir 55
pontos na grande São Paulo, maior audiência já alcançada pela emissora.
Até mesmo Silvio Santos, o rei dos domingos, ficou muito impactado com a
performance. Constam informações dos bastidores de que ele foi visto chorando
com o resultado, com a aceitação do público, e comentou que nunca mais o feito
se repetiria, já que aquele era um dia histórico. No fim do programa, Silvio
chamou os participantes para elogiá-los pessoalmente – afinal, eles foram os
responsáveis pelo sucesso. Todos comemoraram a noite histórica e ficaram
lisonjeados em receber elogios de uma figura tão importante da televisão
brasileira.
O SBT ainda chegou a fazer mais três edições de Casa dos Artistas, incluindo
artistas e fãs na terceira edição e aspirantes a atores na quarta, que sonhavam em
ser protagonistas de novelas. A última edição do reality show foi ao ar em 2004.
Silvio estava certo quando disse que a conquista da primeira edição não voltaria
a acontecer. Nas edições seguintes, os índices de audiência foram bem reduzidos
em relação ao original. Mas para Silvio, a primeira edição já havia valido a pena.
Afinal, estrear com uma vitória frente ao Fantástico é algo marcante, tendo em
vista tudo que a Rede Globo de Televisão representa em termos de audiência na
televisão aberta.
Silvio já afirmou que é impossível concorrer com a Rede Globo e declarou
que aceita o fato. Mas claro, aceitação não significa desistência, já que não cansa
de tentar emplacar sucessos para disputar com a concorrente, assim como no
caso do reality show. Em 1998, chegou até mesmo a tentar trazer para sua casa
um dos principais nomes da Rede Globo, que tem a emissora em seu DNA: o
Boni. As conversas entre Silvio e Boni até chegaram a evoluir, mas não foram
concluídas. É difícil mesmo imaginar alguém tão “Globo”, tão responsável por
toda a estruturação do crescimento da emissora, atuando na sua principal
concorrente.
Os últimos anos não vêm sendo de grande crescimento para a televisão aberta
em geral. Com um mundo cada vez mais digital e opções on demand que saciam
os desejos e necessidades de todos os consumidores, além de opções de canais
segmentados em Pay TV, a audiência está cada vez mais diluída. Obviamente que
opções como a TV por assinatura são mais caras e muitas vezes não atingem uma
parcela significativa da população brasileira, com quem o SBT possui alta
popularidade. Mas, ainda assim, o Brasil tende a se tornar um país conectado e
on-line.
Não é à toa que o país é o rei dos “memes da internet”: somos o 15o em
conectividade móvel do mundo, segundo dados da Fundação Getulio Vargas em
2016, que contabilizam mais de 168 milhões de smartphones – número 15%
maior em relação ao ano anterior. Além disso, em 2014 atingimos uma
porcentagem de 54,4% da população com acesso à internet, conforme o IBGE.
Não é um cenário fácil, mas, ainda assim, o SBT recebeu notícias positivas em
comparação às outras emissoras. Investimentos feitos na programação e a
parceria com a Televisa resultaram, quando comparados os anos de 2010 e 2015,
em crescimento para o SBT, ao contrário dos concorrentes.
Os números comprovam: de acordo com dados do Ibope, a emissora
aumentou sua participação no faturamento do setor, indo de 12,7% para 13,8%.
O mundo pode estar mudando e novas opções surgindo a cada momento, mas
Silvio Santos ainda é Silvio Santos. Silvio não somente criou novas atrações,
como também lançou novas estrelas que hoje são reconhecidas em todo o
território nacional – isso também no novo século. Esse foi o caso de Maisa Silva,
a pequena irreverente que começou com Silvio logo aos 5 anos.
Maisa é o que pode ser chamado de talento nato: nasceu em 2002 e foi
descoberta aos 3 anos, quando participou de um programa de calouros do Raul
Gil. Desde sua primeira aparição, já deixou marcas com seu carisma e sua
espontaneidade. Em 2007, impressionado com o potencial da menina
comunicadora, Silvio a levou para o SBT, onde teria seu primeiro programa. No
programa infantil Sábado Animado, além de apresentar desenhos, Maisa atendia
a ligação dos telespectadores que participavam de jogos e brincadeiras na
atração.
O programa ao vivo – algo importante de se ressaltar para alguém tão jovem –
chegou a bater o programa da Xuxa em audiência em 2008. A sinceridade da
menina Maisa era um dos principais ingredientes do sucesso do programa. Silvio
ficou muito impressionado com seu talento, chegando a dar um quadro para ela
em seu programa dominical. Ainda em 2008, Maisa estreou no Programa Silvio
Santos com o quadro “Pergunte para Maisa”.
As conversas entre os dois eram um atrativo à parte para a programação,
afinal, o público se divertia muito com o potencial de comunicação entre eles.
Dessa época, Maisa se lembra do carinho e cuidado que o patrão sempre teve
com ela, constantemente preocupado com sua família. Como ela entrou na
emissora muito jovem, uma das questões-chave e que muito preocupava Silvio
era a educação da jovem. Não somente para Silvio Santos, como para toda a
equipe do SBT, visto que as estrelas mirins devem apresentar um boletim
impecável para trabalhar na emissora.
Maisa relembra essas e outras preocupações que o “Patrão” demonstrou na
ʻ
primeira conversa entre eles: Ele me perguntou onde eu morava, se eu estudava
e onde eu estudava, se eu estava feliz, se eu gostava de apresentar, se eu queria
ter um programa, como eram os meus pais. Ele fez uma investigação da minha
vida para saber se eu realmente era feliz e se estava pronta para assumir a
responsabilidade de ter um programa. Para mim era uma brincadeira, mas,
querendo ou não, era uma responsabilidade grande e ele tem esse cuidado de
saber se o funcionário está saudável, está em condições de apresentar o
programa. ,
Após a atração Sábado Animado, Maisa passou a apresentar o legendário
programa infantil Bom Dia & Cia, que por muito tempo foi apresentado pela
outra estrela da casa, a Eliana. Maisa assumiu o programa em 2009. A partir de
2012, ela se descobria também como atriz. Foi transferida para o setor de
teledramaturgia do SBT, onde interpretou a personagem Valéria Ferreira, no
remake da novela Carrossel, escrita por Iris Abravanel.
Maisa retornou ao Bom Dia & Cia mais uma vez aos 11 anos, quando
permaneceu somente um ano, pois voltaria para as novelas. Em 2014 ela fez uma
participação especial em Chiquititas. Atualmente, Maisa está no sucesso
Carinha de Anjo e sua carreira segue em ascensão. Ela estreou em 2015 no
cinema, com o filme da novela Carrossel, que teve a segunda edição no ano
seguinte.
Com apenas 15 anos, Maisa já completa dez anos de SBT em seu currículo.
Para ela, a grande lição que aprendeu com Silvio em sua trajetória foi a
humildade, demonstrada no tratamento carinhoso do apresentador com todos os
funcionários.
Maurício Sobral, segurança de Silvio e no SBT há 24 anos, também ressalta
esse fato. Ele é fã de Silvio desde a década de 1970, quando assistia ao
apresentador nas televisões dos vizinhos, pela janela, porque não possuía
televisor em casa devido às dificuldades financeiras.
Logo em seu primeiro dia no SBT, em 1993, ficou assustado quando soube que
ia conhecer o ícone da televisão brasileira logo de cara. Afinal, ele não tinha se
preparado para a ocasião, nem mesmo tinha feito a barba. Para ele, “todos os
dias com Silvio são marcantes”, pois a atenção que ele dispensa a todos os
funcionários o faz considerá-lo um pai. Sobral diz que o magnetismo do
apresentador é tão grande que mesmo aqueles que são supercomunicativos ficam
meio sem fala perto de Silvio, impressionados com sua presença.
E o patrão sempre surpreende. Cleber Kanai, um cinegrafista considerado
indispensável nos programas de Silvio e Patricia Abravanel, foi demitido pela
área técnica do SBT em 2015 e logo recontratado a pedido do patrão. Quando
Silvio ainda gravava no teatro da Ataliba Leonel, outro fato semelhante
aconteceu. O apresentador chegou para trabalhar e não encontrou Palito,
responsável por cuidar do carro de Silvio; sem pestanejar, ele deu meia-volta e
disse que só voltaria quando Palito fosse recontratado.
E as histórias não param por aí. Um dos jurados do quadro Show de Calouros,
Vagner Montes, sofreu um acidente de moto e, infelizmente, acabou tendo de
amputar a perna. A reação de Silvio, segundo relatou Vagner ao programa
ʻ
Domingo Espetacular, foi emocionante: Na hora mais difícil da minha vida,
ele ligou e disse para o meu pai: ‘Olha eu não posso dar uma perna de carne e
osso, mas a mais moderna do mundo, onde tiver… ele vai usar.’ Quando as
pessoas me perguntam como defino o Silvio Santos, eu respondo: ‘Meu amor’. ,
Outro bonito exemplo do cuidado que Silvio demonstra ter com seus
funcionários foi televisionado. Em agosto de 2013, Carlos Nascimento, âncora
do Jornal do SBT, foi diagnosticado com um câncer no reto, que o obrigou a se
afastar da bancada do jornal que apresentava ao lado de Karyn Bravo. O
jornalista retornou ao SBT em abril de 2014 para receber a estatueta do Troféu
Imprensa na categoria “Melhor Jornal de Televisão”. Ao receber o prêmio ao
lado da colega de bancada, Carlos Nascimento comentou a ajuda importante que
recebeu de Silvio e do SBT em um momento tão difícil da sua vida.
Emocionado, ele falou:
“Quando a gente fica doente, a gente começa a valorizar mais as atitudes e
as pessoas. Então, eu queria contar para vocês o que foi que fez o Silvio
Santos. O meu contrato com o SBT venceu durante a minha doença. Só que,
dois meses antes, apareceu uma pessoa na minha casa com um contrato
novo, dizendo assim: ‘Olha, o Silvio mandou você assinar, você não se
preocupe, você fique em casa, vai se tratar, o dia que você puder voltar a
trabalhar, você volta.’ Então eu devo isso ao Silvio, ao SBT. Bem, eu sei que
ele fez por mim, como ele fez por muito mais gente.”
Após a fala do jornalista, Silvio comentou, com a maior simplicidade, que não
tinha feito nada de mais e que esperava que todas as empresas fizessem isso por
seus funcionários.
A empatia de Silvio é uma notável qualidade sua, fato que não passou
despercebido nos relatos de Juca Kfouri em seu livro Confesso que perdi,
lançado em 2017. Durante a Copa do Mundo de Futebol em 1986, no México,
Kfouri foi responsável pela cobertura do evento esportivo para o SBT, sendo que
era a primeira vez que o canal conquistava o direito à transmissão. Todavia,
acabou tendo que retornar ao Brasil antes do término da Copa, por motivos de
saúde, e foi surpreendido por uma atitude de Silvio. A esse respeito, Kfouri
relatou:
“Houve uma compensação, no entanto, surpreendente. O SBT depositou em
dobro o salário do mês seguinte à Copa. Liguei para quem de direito e
alertei sobre o equívoco. Não era.
– Silvio Santos gostou tanto da cobertura que mandou pagar em dobro –
ouvi de volta.
Que patrão!”19
Da mesma geração de Maisa, Larissa Manoela é um nome de grande projeção
do SBT. Começou na emissora em 2012, na novela Carrossel, interpretando
Maria Joaquina. Esteve também no ar em 2015 e 2016 interpretando as gêmeas
de Cúmplices de um Resgate. É impressionante o quanto Maisa e Larissa
Manoela influenciam os jovens de hoje em dia, não só na televisão como nas
novas mídias, as redes sociais. Ambas possuem mais de 10 milhões de
seguidores cada em suas contas no Instagram, e Maisa possui mais de 3,5
milhões de inscritos em seu canal no YouTube.
Outro nome importante para o SBT nesses últimos anos foi o apresentador
Carlos Massa, mais conhecido como Ratinho. No início da década de 1990, ele
estreou na televisão apresentando programas policiais, primeiro na rede CNT e,
posteriormente, na Record. Em 1998 começou a apresentar o Programa do
Ratinho no SBT, focado nas classes mais populares e tido como sensacionalista
em virtude do conteúdo de suas matérias, assim como a atração jornalística Aqui
Agora.
O jornalismo do SBT, aliás, acabou sendo reforçado nos últimos anos, com
nomes relevantes da área que trouxeram credibilidade para a emissora. Um
desses nomes é José Nêumanne Pinto, jornalista, poeta e escritor. Nêumanne
possui uma vasta carreira jornalística, com passagens em importantes veículos
como Jornal da Tarde e Rádio Jovem Pan. Conhecido pelo bordão que dá nome
à sua coluna, “Direto ao Assunto”, ingressou pela primeira vez no SBT em 1996,
onde ficou até 1997 e, posteriormente, em 2004, apresentando diariamente sua
coluna de comentários políticos e econômicos. A partir de 2007, passou a
apresentar diariamente seu quadro nos telejornais SBT Brasil e Jornal do SBT
Manhã, permanecendo na emissora até 2014. Silvio, inclusive, convenceu o
jornalista a tingir seu próprio cabelo, pois, como ele mesmo lhe dizia, “90% da
comunicação é visual, somente 10% é a fala”.
Outro nome relevante é o de Carlos Nascimento, que, como já citado, afastou-
se do SBT por um período em virtude de um tratamento contra o câncer.
Nascimento é um experiente jornalista e âncora, tendo trabalhado durante
décadas na Rede Globo de Televisão, onde ficou conhecido. O jornalista
ingressou no SBT em 2006, após ser âncora do Jornal da Band na TV
Bandeirantes. Na emissora de Silvio, realizou reportagens especiais para o SBT
Brasil, comandou o Jornal do SBT e o programa O Maior Brasileiro de Todos os
Tempos, atração que elegeu o médium Chico Xavier como o brasileiro que mais
se destacou pelo legado. Atualmente, o jornalista é um dos apresentadores do
noticiário SBT Brasil.
Também apresentadora do SBT Brasil e paraibana, assim como Nêumanne,
Rachel Sheherazade iniciou sua carreira jornalística em seu Estado natal, quando
assumiu um telejornal transmitido pela TV Tambaú, afiliada do SBT. Em 2011,
após ter um comentário seu criticando o carnaval publicado no YouTube,
chamou a atenção de Silvio Santos, que a convidou para trabalhar no SBT, em
São Paulo. Atualmente, divide a bancada do SBT Brasil com Carlos Nascimento e
o jornalista Joseval Peixoto, também âncora do Jornal da Manhã na Rádio
Jovem Pan.
Dois outros grandes nomes do quadro jornalístico do SBT foram Hermano
Henning e Ana Paula Padrão. Henning, especialmente, permaneceu durante mais
de duas décadas na emissora, período em que foi o âncora de diversos dos mais
importantes telejornais transmitidos. Ana Paula Padrão, assim como Carlos
Nascimento uma ex-global, permaneceu no SBT entre 2005 e 2009.
MAIS DE 35 ANOS DE HISTÓRIA
O dia 19 de agosto de 1981 foi histórico para o SBT e para o Brasil. Nesse dia,
Silvio Santos realizou seu grande sonho no qual vinha batalhando havia tantos
anos. Também nesse dia, o Brasil deu boas-vindas a uma emissora que entrou
para a história do país, com seus programas que marcaram tantas épocas e
gerações.
No dia 19 de agosto de 2016 o Sistema Brasileiro de Televisão completou 35
anos. Foram três décadas e meia em que a emissora exerceu diariamente sua
missão de trazer diversão à população brasileira.
Em seu aniversário de 33 anos, em 2014, o SBT lançou uma campanha
idealizada junto à agência Publicis que trazia um texto-manifesto sobre a
vocação da televisão e do próprio Silvio Santos:
Felicidade.
Felicidade é nascer com a vocação de divertir.
É ter mais energia a cada ano que passa.
É ter alegria de realizar sonhos.
É estar próximo de quem você ama.
Mesmo que você ame 200 milhões de pessoas.
Felicidade é ser lembrado, ser querido, ser compartilhado.
Não por algumas pessoas, mas por todas as famílias.
É informar e emocionar.
É multiplicar seus melhores sentimentos.
É mudar, renovar e compartilhar.
Felicidade é fazer tudo isso por vários anos.
E se sentir cada vez mais jovem.
O próprio Silvio Santos tinha muito o que comemorar, visto que no ano
seguinte, em dezembro de 2015, celebraria seus 85 anos. Na época, diversas
publicações fizeram homenagens a ele e mencionaram números que
impressionavam, como o fato de o Grupo Silvio Santos empregar mais de 20 mil
pessoas e faturar cerca de R$ 2,5 bilhões ao ano. Apesar de o SBT ser um
importante responsável por esse faturamento bilionário, o grupo possui empresas
em diversos setores além da mídia: concessionárias de veículos (Vimave),
hotelaria (Jequitimar), cosméticos (Jequiti), entre outros.
Para comemorar os 85 anos do apresentador, uma festa reservada para a
família foi realizada, organizada pelas próprias filhas de Silvio. A decoração da
festa teve como tema o cinema, paixão de Silvio desde que ele entrava escondido
nas sessões do Rio de Janeiro com o irmão Leon, que faleceu na década de 1980.
Para as comemorações dos 35 anos do SBT também houve uma grande
celebração, que envolveu diversos acontecimentos. O objetivo era relembrar o
passado olhando para o futuro, pensando no legado da emissora como um todo e
suas perspectivas. Além de uma grande festa para os funcionários, foi planejada
uma parada que fecharia a Avenida Paulista. A parada acabou não acontecendo,
pois Silvio temia que o evento, que certamente atrairia muitas pessoas, pudesse
colocar em risco sua segurança e a de seus funcionários.
Algumas estreias também foram planejadas para a data comemorativa. Uma
delas foi a novela Carinha de Anjo, uma adaptação de Leonor Corrêa com
supervisão de Iris Abravanel em que Maisa atua. A novela, que ainda está no ar,
completou duzentos capítulos em agosto de 2017, e chegou a atingir a vice-
liderança isolada ao longo de sua exibição.
Outros programas que entraram no ar foram: Corre e Costura (com o
renomado estilista Alexandre Herchcovitch), Hell’s Kitchen – Cozinha sob
Pressão, comandado pela chef Dahoui (anteriormente o programa era
apresentado por Carlos Bertolazzi), Acontece Lá em Casa e Fofocalizando,
atração que marcou o retorno de Mara Maravilha ao SBT.
Além dos 35 anos e das novas atrações, o SBT também estava comemorando o
crescimento da audiência da emissora. De acordo com o site institucional, em
diversos meses do ano houve índices maiores em relação ao ano anterior. Esse
foi o caso do mês de julho, por exemplo, que teve uma média de 8,8 pontos no
horário nobre em 2015, enquanto alcançou 9,1 em 2016, o que representou 4%
de crescimento no período.
Outro fato marcante da celebração da emissora e de seu dono foi a exposição
sobre a vida do próprio Silvio Santos, que estreou em dezembro de 2016, no mês
de comemoração de seus 86 anos. A exposição ficou em cartaz no Museu da
Imagem e do Som (MIS) de São Paulo. A curadoria ficou por conta do diretor do
museu, André Sturm, que atualmente ocupa o cargo de Secretário da Cultura da
Cidade de São Paulo. Além de abranger a vida do apresentador, contou a história
do rádio e da televisão no Brasil, que estão diretamente relacionados à figura de
Silvio Santos. Afinal, como o próprio curador disse ao Estadão: “Antes dele,
domingos eram dias mortos. Ele resolveu comprar um horário e criar isso”.
Silvio aprovou a ideia, mas não quis participar da sua concepção, que nasceu
do próprio André Sturm, como afirmou dessa vez ao Portal Ego:
ʻHá dois anos, eu estava querendo fazer uma exposição sobre a tv, mas é
quase impossível fazer uma mostra sobre toda a história da televisão. Então,
pensei no Silvio Santos. Ele é o cara da tv, tem uma história linda e nem todo
mundo conhece a vida dele do ponto de vista empresarial e humano.20 ,
A exposição “Silvio Santos vem aí”, que foi prorrogada e ficou em cartaz até
março de 2017, contou com aproximadamente trinta áreas. Além das trajetórias
pessoal e profissional do apresentador, também havia espaços na mostra
dedicados a fazer o visitante se sentir em clássicos programas do SBT. Assim, era
possível ter a experiência de participar de quadros famosos do Programa Silvio
Santos como o “Roletrando” e o “Qual é a Música?”. A exposição recebeu ao
todo cerca de 80 mil visitantes, dentre eles nomes da família e artistas
importantes do próprio SBT: Mara Maravilha, Celso Portiolli, Leão Lobo, Danilo
Gentili, entre outros.
A mostra exibiu momentos tão marcantes de Silvio que emocionou até mesmo
suas filhas. Cintia Abravanel, a primogênita, saiu chorando após sua primeira
visita. Daniela, a terceira filha ficou muito emocionada ao entrar na réplica do
Domingo no Parque, programa do qual participou e que faz parte de suas
memórias de infância.
Essa não foi a primeira vez que Silvio ganhou uma homenagem desse tipo.
Em 2001, Silvio Santos foi a inspiração para que a escola de samba carioca
Tradição criasse seu enredo homenageando a trajetória do apresentador:
Olha que glória, que beleza de destino
Pra esse menino Deus reservou,ô ô
Ele cresceu, ele venceu, vive sorrindo
Com muito orgulho, foi camelô.
Nasceu na Lapa
No Rio de Janeiro
Esse artista é o enredo da nossa Tradição.
Foi do rádio, minha gente
Hoje na televisão, oi, patrão!
Faz o dia mais contente, a alegria do povão
Qual é o prêmio Lombardi, diz aí
Qual é a música quem sabe, canta aí
Quem quer dinheiro?
O aviãozinho vai subir
Minhas colegas de trabalho
Que beleza de auditório
Abre a Porta da Esperança
É Namoro na TV
Boa Noite, Cinderela
Gosto de você
Em Nome do Amor,
Eu quero morrer de prazer
Laiá, laiá, oi
Laiá, laiá, oi
É um baú de felicidade
Vamos cantar
Vamos brincar
Vamos sorrir
É domingo, é alegria
Silvio Santos vem aí
Essa foi uma das homenagens mais emocionantes da vida de Silvio, que
contou com a participação de diversas celebridades. Ao longo do desfile, o
apresentador cantou o tema e se divertiu muito com o público. A escola
paulistana Acadêmicos do Tatua-pé também chegou a cogitar uma homenagem
ao apresentador em 2018. Apesar de ter ficado muito feliz com a possibilidade,
pelo fato de ser natural do Rio de Janeiro, mas ter se estabelecido
profissionalmente em São Paulo, o apresentador não poderia participar do
desfile, pois já teria uma viagem ao exterior agendada. Por essa razão, a escola
de samba paulistana optou por utilizar o Maranhão como tema nos desfiles do
Carnaval em 2018. Provavelmente, não vai ser dessa vez que São Paulo vai ver
seu ilustre morador desfilando.
PASSADO, PRESENTE E FUTURO
O SBT é uma emissora que, ao longo dos seus mais de 36 anos de existência,
construiu uma programação com atrações que marcaram época e lançou nomes
que ficaram reconhecidos em todo o território nacional. Mas, ao mesmo tempo, a
emissora (e Silvio) sempre buscam olhar para a frente.
Programas como o do Ratinho, o Jornal do SBT, A Praça é Nossa, Domingo
Legal, Bom Dia & Cia e o do próprio Silvio Santos são sucessos cativos na
grade. O famoso “Jogo dos Pontinhos”, quadro do Programa Silvio Santos, virou
mania nacional e conta com a participação de nomes importantes na emissora
como Helen Ganzarolli e Lívia Andrade – que arrancam boas risadas do público
disputando a atenção do patrão. Além delas, nomes como Flor, Patricia
Abravanel, Mara Maravilha, Maisa, Carlinhos Aguiar, Cabrito Tévez e até
Alexandre Frota fazem participações especiais no quadro.
O SBT investe muito em novas apostas. Uma das estrelas que despontaram
recentemente na emissora foi a própria filha de Silvio, Patricia Abravanel, que
estreou como apresentadora em 2011, e Danilo Gentili, que apresenta o The
Noite desde março de 2014. Patricia chegou a ganhar dois prêmios relevantes:
em 2011 ganhou o Troféu Imprensa na categoria “Revelação” e novamente, em
2013, 2015 e 2016, na categoria “Melhor Apresentadora e Animadora de TV”.
Novidades na grade também são programas como o Acelerados, apresentado
pelo piloto Rubinho Barrichello, que envolve o universo dos carros e da
velocidade. Christina Rocha, que também esteve em importantes atrações do SBT
como o Aqui Agora e o Show de Calouros, apresenta atualmente o Casos de
Família.
Muito em voga atualmente, os reality shows de culinária também fazem parte
da grade do SBT. Bake Off Brasil – Mão na Massa é apresentado por Carol
Fiorentino e tem júri formado por Beca Milano e Fabrizio Fasano Jr. Já BBQ
Brasil – Churrasco na Brasa é apresentado por Chris Flores e conta com o júri
formado pela chef Danielle Dahoui e Carlos Tossi. Ambos os programas eram
apresentados anteriormente por Ticiana Villas Boas, e os churrasqueiros da
primeira temporada do BBQ Brasil eram avaliados por Carlos Bertolazzi e
Rogério Debetti. Outro reality show da grade que está no ar desde 2009 é o
Esquadrão da Moda, apresentado pela modelo e consultora de estilo Isabella
Fiorentino, além do stylist Arlindo Grund.
Nomes de destaque na grade do SBT, e cujo peso no cenário televisivo é
inegável, são os apresentadores Eliana, Raul Gil e Otávio Mesquita. Como dito
anteriormente, nessa nova fase da emissora, Eliana apresenta aos domingos um
programa que leva seu nome e é voltado para a família. Otávio Mesquita, que
apresentava anteriormente o Okay, Pessoal!!! na emissora, hoje comanda o
Operação Mesquita com muito carisma e irreverência nas madrugadas de sexta-
feira e sábado.
Raul Gil, assim como Silvio Santos, é uma importante figura da televisão
brasileira. Depois de 25 anos longe do SBT, ele está de volta à emissora desde
2010. Todos os sábados, Raul – que chegou a integrar a famosa “Caravana do
Peru que Fala” de Silvio – está no SBT com seu formato consagrado de atração
que inclui quadros famosos como o “Jogo do Banquinho”, “Para quem você tira
o chapéu?” e “Eu e as Crianças”.
EPÍLOGO
Silvio Santos é um homem simples. Ele não abre mão do café da tarde ao lado
da esposa Iris e, quando viaja para a residência da família nos Estados Unidos,
seus prazeres se resumem a atividades como fazer supermercado, preparar o
jantar e lavar a louça. Apesar de ser um dos homens mais ricos do Brasil, não
esbanja dinheiro ou ostenta riquezas – afinal, por que desperdiçar um recurso
que pode ser melhor empregado?
Silvio Santos é um homem que veio de baixo. Sua fortuna, e o próprio Grupo
Silvio Santos, foram construídos através de um trabalho incansável, uma
dedicação que não media esforços, além de sua clara visão de oportunidade. A
história do apresentador é um dos maiores exemplos do self-made man.
Mas Silvio é como qualquer outro homem. Como ser humano, possui
qualidades e deslizes ao longo da vida, que o fazem carregar alguns
arrependimentos. Como qualquer homem de negócios, às vezes tem que tomar
decisões questionáveis, que respondem a um objetivo específico. Mas, para seus
admiradores e telespectadores, qualquer derrapada é superada pelos diversos
talentos e o carisma do apresentador.
Para além de tudo, Silvio é um mito, não somente entre os seus fãs, mas
também para aqueles que o conhecem e convivem constantemente com ele.
Como disse Mara Maravilha, Silvio é uma luz, e para Sobral, segurança do SBT,
todos os dias com ele são especiais.
Como todo homem de grande sucesso, Silvio conquista admiração e inspira
uma certa veneração a distância por parte das pessoas, tornando-se uma figura
imponente. Apesar de qualquer status que lhe atribuam, às vezes ele parece
alheio à sua altivez, especialmente nas trapalhadas que comete ao vivo.
Qual é a chave do tamanho fascínio que o apresentador exerce? Por que causa
tanto impacto nas pessoas? Ao longo deste livro, algumas hipóteses foram
reveladas: seu carisma sem fim, o talento para os negócios e a capacidade
excepcional de interagir e se conectar com o outro. Certas respostas, entretanto,
estão guardadas no coração do próprio apresentador, e somente sua alma
conhece todos os segredos. Ou talvez a predestinação tenha seu papel.
Com seis filhas e vários netos, a família de Silvio só cresce. Ser esposa ou
filha de um mito da televisão brasileira deve ser uma grande responsabilidade,
mas essas mulheres carregam em seu sangue a missão de manter vivo o legado
do apresentador. Iris, Cintia, Silvia, Daniela, Patricia, Rebeca e Renata vêm
cumprindo essa célebre tarefa com muito profissionalismo e dedicação,
imprimindo suas personalidades em cada detalhe no Grupo Silvio Santos.
Com tantas décadas de história, olhar para trás é enxergar a vida gloriosa e
impressionante que Silvio construiu. Não é fácil ser Silvio Santos, mas ele está
melhor do que nunca em sua própria pele e não para de projetar ideias para o
futuro. Considerado uma verdadeira máquina de trabalho, o apresentador parece
estar longe de querer se aposentar, apesar de estar preparando muito as filhas
para a sucessão, como forma de manter seu império firme. Agora, resta ao Brasil
aguardar o desenrolar dos fatos para conhecer os próximos capítulos dessa
ilustre biografia. Afinal, Silvio Santos vem aí...
DEPOIMENTOS
Confira a seguir alguns depoimentos sobre Silvio Santos, coletados com
exclusividade para a edição deste livro:
“Silvio Santos, para mim, é sinônimo de amizade e de lealdade. Nós nos
conhecemos desde 1954, quando ele começou a trabalhar na Rádio
Nacional. Ficamos amigos e foi amor à primeira vista. Ele é um grande
amigo e exemplo de profissional. Além da eterna gratidão que tenho pelo
amigo que ele foi do meu pai, posso afirmar que o Silvio mudou a minha
vida em 8 de abril de 1987, quando assinei o primeiro contrato aqui no SBT.
Tanto artística como particularmente, só tenho gratidão ao Silvio, além de
respeito e minha eterna amizade.”
— Carlos Alberto de Nóbrega
“Hoje o Silvio não é mais meu patrão – ele é meu amigo. Ele é amigo de
todos os funcionários. É uma pessoa de coração muito grande e um homem
atencioso com todos, não interessa a função. Se passa pelos corredores do
SBT e tem alguém limpando o chão, ele para e cumprimenta. Esse é o Silvio
Santos! Eu me orgulho de acompanhar o Silvio há 58 anos e ser o
funcionário número 1 dele. Tem até um papo de que sou filho dele com a
Vera Verão.”
— Roque
“Eu orei para voltar a trabalhar ao lado do Silvio. É incrível estar ao lado
dele no palco. Parece sempre a primeira vez, pois é muita luz. Você fica
maravilhada. Todo mundo aqui no SBT é família para ele. Não dá para
descrever esse homem. Tenho muito orgulho da minha trajetória, pois sou a
Mara Maravilha dele. Cria mesmo. Não sou Abravanel, mas meu DNA
artístico é Silvio Santos. Tem pessoas que não podiam morrer, né? O Silvio
é uma delas. Ele é um escolhido de Deus. Assim como Davi e Moisés. O
Silvio veio para essa Terra fazer a diferença. Para mim, ele só perde para
Jesus e não tem para ninguém.”
— Mara Maravilha
“Com o Silvio, aprendi muitas lições que vou levar para o resto da minha
vida. Ele é um mestre e tenho a honra de tê-lo como patrão. Tenho amor e
muita gratidão por ele, pois além de ser um mito, um ícone, ele é uma
pessoa muito boa. Muita gente que tem um destaque um pouquinho maior
se acha no direito de ser melhor que os outros. Mas ele não. A humildade
foi o maior ensinamento que o Silvio me passou. Teve um episódio que não
foi ao ar, mas que nunca vou esquecer: um menino-monstro foi lá no
programa e eu chorei. Mas o Silvio não sabia que eu tinha medo. Ele ficou
superpreocupado quando me viu chorar, parou a gravação, me pegou no
colo e falou: ‘Ô, meu amor. Não fica assim. Eu não sabia.’ Ele é o cara. Ele
é demais.”
— Maisa Silva
“Antes de qualquer coisa, o Silvio representa, para mim, um grande
amigo. Eu o conheci como repórter mais ou menos em 1968. Só posso
agradecer muitíssimo, pois ele transformou meu nome – um jornalista como
milhares de outros que o cercavam – conhecido em todo o território
nacional. A gente já se afastou várias vezes ao longo desses quase cinquenta
anos, trabalhei em diversos outros lugares, mas sempre acabo voltando para
o SBT. Sou muito grato e tento retribuir dando meu melhor em tudo o que eu
faço com ele e para ele.”
— Décio Piccinini
“Existem figuras icônicas como Chacrinha, Hebe, J. Silvestre, Blota
Júnior, Flavio Cavalcanti, Airton Rodrigues e Lolita. Tudo o que sabemos
sobre televisão aprendemos com eles. Cada um com seu brilho e estilo
próprio. Mas o Silvio é a própria história da televisão brasileira. Ele é
fundamental. O maior. Sou muito grato a você, Silvio. Você tem em mim
um defensor. Não que você precise, porque você é brilhante. Mas eu guardo
você no melhor lugar do meu coração.”
— Leão Lobo
“Dizer que Silvio Santos é gênio, mestre da comunicação, maior
animador da TV brasileira já não é mais suficiente para descrever esse artista
que está no palco há 50 anos e se renova a cada domingo. Tão íntimo da
dona de casa quanto das colegas de trabalho, entra tão sem cerimônia na
nossa sala quanto brinca no meio do auditório. E mora no coração da gente!
Ele simplesmente é; dispensa definições!
Na minha carreira, um ídolo, um orientador e até patrão… Lição de
espontaneidade, alegria, capacidade de improviso, domínio de cena,
liderança… Senhor do estúdio, das câmeras e da plateia! Tive muitas aulas
com ele a cada participação em seus programas. Aprendi muito com o
Silvio, mas é impossível assimilar tudo, porque ele é de uma espécie rara: a
dos que já nascem sabendo!”
— Sônia Abrão
“Na década de 1970, assistia aos programas do Silvio Santos pela janela,
olhando a televisão dos vizinhos, porque minha família não tinha condições
de ter aparelho próprio. Lembro que, quando me chamaram no SBT, no
início de 1993, fui contratado e, logo no primeiro dia, já conheci o Silvio.
Fiquei ansioso, porque não estava preparado para o encontro. O Silvio é
mais do que um patrão; é um pai. Todos os dias com o Silvio são marcantes.
Todos sentem isso, até pessoas que são falantes e abertas ficam mais quietas
perto dele, porque ele tem uma presença forte.”
— Maurício Sobral, segurança do SBT
“Eu tenho uma dívida muito grande com o Silvio: tudo o que aprendi e
que faço hoje eu aprendi com o Silvio; ele é o maior apresentador de
televisão do mundo. As três vezes em que fui contratado [no SBT] foi por
obra do Silvio, e as três vezes em que fui demitido foi por colegas
jornalistas. Então não posso me queixar do Silvio em relação a nada. Tenho
uma grande admiração por ele, considero-o um grande comunicador; ele é
uma pessoa muito engraçada, muito interessante, deu uma grande
contribuição para a história da televisão do Brasil. Particularmente, na
minha carreira ele tem um papel da maior relevância, porque foi ele quem,
na verdade, me descobriu para a televisão. O Silvio me ensinou a
importância do verdadeiro processo da comunicação. Ele dizia – e aliás eu
tinha ouvido isso antes com o Orestes Quércia – que comunicar não é o que
você fala, é o que o público entende. Eu acho que o Silvio é o maior
profissional do mundo, ele tem uma enorme facilidade de comunicação
com o público.”
— José Nêumanne Pinto
“Quando eu tinha uns 4 anos, meu avô ganhou um carro no Baú da
Felicidade – um Fusca Ocre –, e fui com o vovô recebê-lo. O programa
naquela época, se não me engano, era ao vivo, e eu queria ir embora,
porque eu estava passando mal. Quando vi o Silvio Santos, ele veio falar
com o meu avô, olhei pra ele e disse assim: ‘Quando crescer, quero
trabalhar com você’. Desde pequenininha, meu sonho era trabalhar com o
Silvio Santos. O Show de Calouros significou tudo em minha vida. O fato
engraçado é que todas as besteiras no programa quem ia fazer? A Flor!
Uma vez eu entrei na guilhotina. Sabe aquela mágica da guilhotina? Fiquei
com medo que cortassem minha cabeça, porque cortou a cenoura, e ficou
muito engraçado! Hoje, sou o resultado de um dom que ele lapidou em
mim. Eu me sinto realizada ao lado dele. Quando eu estava longe, falei para
Deus: ‘Eu gostaria de voltar’. Estar no SBT é reviver o sonho da menininha
que queria estar ao lado do Silvio. É isso o que o Silvio significa para mim:
magia, amor, alegria. Toda vez que vejo o Silvio me dá um frio na barriga.
Eu tenho um carinho de filha com ele. Quando a gente ama muito, muito,
muito é assim.”
— Flor
“Silvio Santos é sem sombra de dúvidas, há 6 décadas, o maior nome da
televisão brasileira. Como dizem os americanos, ele é um self-made man.
Com honestidade e persistência, construiu sua própria empresa! Ele é uma
inspiração para todos e a prova de que podemos conseguir tudo na vida se
tivermos determinação. O mais impressionante é que Silvio Santos
consegue ser vários num só: apresentador, animador, empreendedor,
comunicador, visionário... Silvio Santos tem o que não se pode comprar:
talento e carisma. Ele é uma escola, uma faculdade de comunicação
empírica para todos nós. O que mais me admira nele é o seu amor e a sua
resiliência pela profissão. Aos 86 anos, Silvio Santos, surpreende, supera
tudo e todos. A ele minha eterna gratidão!!!”
— Wellington Muniz, o Ceará
“Conheci o Silvio com 8 anos, mas eu não tinha essa noção de que ele
era o maior ídolo do Brasil. Foi quando vi o discurso deles [de Silvio
Santos e Hebe Camargo, no Teleton] que bateu a vontade de fazer parte
daquela corrente do bem e eu corri para o meu quarto, peguei meu cofrinho
cheio de moedas e pedi para meus pais me levarem até a TV para eu fazer a
minha doação. Hoje, há quase vinte anos indo ao palco do Teleton, sei que a
minha aposta vai ser sempre com a pessoa Silvio, que representa bondade,
generosidade, esperança de um mundo mais digno para todos. Ele sempre
fez questão de me receber ali no palco, por enxergar que eu sou um
representante de todo o povo brasileiro, que a gente deve se mobilizar.
Dividir o palco com ele vai ser sempre uma honra; ele é daquelas pessoas
que inspiram e incentivam a gente a ser melhor a cada dia, e tenho certeza
de que ele deixa em mim um legado para a nova geração que tem que
aprender a lutar buscando uma conscientização de valores e gerando um
fator multiplicador desse sentimento tão simples que é o amor. Então, acho
que ele resume isso tudo.”
— Felipe Ventura
“Já fiz muitos casamentos do pessoal do SBT por indicação do Silvio. Sou
o único religioso no Brasil que tem um elogio gravado pelo Silvio Santos. É
uma honra! Ele, ao fazer testemunho da minha celebração de casamento,
sendo ele judeu e eu cristão, mostrou sua inclusividade, respeito e carinho
por quem trabalha com fé e amor. O ícone da comunicação se mostrou
também um ícone da humildade.”
— Reverendo Aldo Quintão
“Silvio sempre será meu ponto de referência… A simplicidade e a alegria
são pontos altos que ele exterioriza.
A parte mais engraçada é que sou o único apresentador do mundo que já
pegou no bumbum dele, quando o ajudei a subir no carro alegórico, no
Carnaval do Rio, em 2001. Enquanto o estava segurando, olhei para cima e
vi a porta da esperança…”
— Otávio Mesquita
CARTA
Transcrição da carta escrita a mão por Silvio Santos por ocasião do 50°
aniversário do Grupo Silvio Santos:
“Meus amigos,
Vocês que trabalham no Grupo são os responsáveis pelos resultados
obtidos nesses 50 anos. Nos primeiros 15 ou 20 anos, para mim, foi tudo
muito difícil e arriscado, depois, com o talento, lealdade, inteligência e
muito esforço dos homens que até hoje estão à frente do Grupo, minha
participação foi diminuindo, minhas preocupações e responsabilidades
foram aumentando e felizmente fomos conquistando muitas vitórias e
aprendendo com algumas derrotas.
O importante neste meio século foram as oportunidades, o aprendizado e
os empregos que demos a tanta gente. Acredito que todos os que continuam
e todos os que nos deixaram, sentiram o nosso amor, nosso carinho, e nossa
vontade em tê-los como integrantes de uma grande família, que hoje tem
como única finalidade a manutenção das empresas, que possam dar aos seus
colaboradores uma vida melhor, fazendo com que cada dia de trabalho seja
um dia de alegria.
Que cada um de vocês entre no seu serviço, com a mesma satisfação que
eu entro nos meus programas. Que o nosso melhor pagamento, seja a
felicidade que sentimos nas tarefas que estamos realizando. Que nos
próximos anos, o Grupo continue sendo uma casa abençoada, e que vocês
nos ajudem, tendo saúde no corpo e alegria no coração.
O Baú, que começou com três pessoas: Silvio, Alice e Olímpio, se
transformou nesse Grupo com milhares de colaboradores e com uma
bandeira que de um lado tem a palavra “SORTE” e do outro lado tem a
palavra “DEUS”.
Do colega e admirador sempre grato
Silvio Santos
PRÊMIOS E HOMENAGENS
Ao longo de décadas de trajetória profissional, Silvio Santos colecionou
prêmios, pois além de extremamente competente, é uma figura muito querida e
reconhecida pelos brasileiros. A seguir, algumas das premiações e homenagens a
Silvio Santos:
ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DE SÃO PAULO
1997 – Imortal do Rádio Paulista
2000, 2001, 2002, 2003, 2004, 2007, 2008, 2009 Melhor Líder Empresarial
Setorial
TROFÉU IMPRENSA
1964, 1969, 1970, 1971, 1972, 1973, 1974, 1975, 1976, 1980, 1981, 1983,
1984, 1985, 1986, 1987, 1988, 1989, 1990, 1991, 1992, 1993, 1994, 1995, 2017
– Melhor Animador
1971, 1972 – Mais Querido Artista da TV
1973, 1974 – Maior Simpatia e Comunicabilidade
TROFÉU INTERNET
2001, 2002, 2003, 2005, 2006, 2009, 2011, 2012, 2013, 2014, 2015, 2016, 2017
– Melhor Animador
TROFÉU ROQUETTE PINTO
1960 – Melhor Locutor Comercial
1961, 1963, 1964, 1965, 1966, 1967, 1968, 1970 Melhor Apresentador
1969 – Personalidade Artística
OUTROS PRÊMIOS
1976 – Carioca Honorário pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro
2015 – Troféu APCA – Grande Prêmio da Crítica
2015 – Apresentador Mais Confiável do Brasil pelo Ibope/Revista Seleções
2015, 2016 – Troféu “Marcas de Confiança” do Instituto Datafolha
2016 – Ordem do Mérito das Comunicações – Grau Grã-Cruz, pelos serviços
relevantes prestados às Comunicações
2016 – Personalidade mais Admirada do Brasil (Estudo Internacional Britânico)
2016 – Exposição Silvio Santos Vem Aí!, no Museu da Imagem e do Som Som
(MIS) de São Paulo
NOTAS DE FIM
1. JUNIOR, J.; MORAES, F. As férias de Silvio Santos em Orlando. Veja São
Paulo, 7 fev. 2014. Disponível em: <https://vejasp.abril.com.br/cidades/silvio-
santos/>. Acesso em: 1 out. 2017.
2. QUENTAL, P. A filha rebelde de Silvio Santos. IstoÉ Gente, 11 out. 2017.
Disponível em:
<https://www.terra.com.br/istoegente/53/reportagem/rep_filha.htm>. Acesso em:
1 out. 2017.
3. TELLES, R. 30 fatos sobre Silvio Santos que você não sabia. Contigo!, 7 ago.
2015. Disponível em: <http://contigo.uol.com.br/noticias/acervo/30-fatos-sobre-
silvio-santos-que-voce-nao-sabia.phtml#.wdggs3xys8o>. Acesso em: 1 out.
2017.
4. GLOBO fecha 2016 com lucro de R$ 2 bilhões e faturamento de R$ 15,3
bilhões. G1, São Paulo, 4 abr. 2017. Disponível em:
<https://g1.globo.com/economia/negocios/noticia/globo-fecha-2016-com-lucro-
de-r-2-bilhoes-e-faturamento-de-r-16-bilhoes.ghtml>. Acesso em: 1 out. 2017.
5. Redação. Biografia de Silvio Santos reúne detalhes da vida do
apresentador: “Não sou luxurioso”. Extra, Rio de Janeiro, 25 abr. 2017.
Disponível em: <https://extra.globo.com/tv-e-lazer/biografia-de-silvio-santos-
reune-detalhes-da-vida-do-apresentador-nao-sou-luxurioso-21256636.html>.
Acesso em: 18 out. 2017.
6. SILVA, A. A fantástica história de Silvio Santos. 5. ed. São Paulo: Editora do
Brasil, 2000. p. 59.
7. CASTRO, T. Há 40 anos, Silvio Santos colocava no ar sua primeira emissora
de televisão. Notícias da TV/UOL, São Paulo, 8 mai. 2016. Disponível em:
<http://noticiasdatv.uol.com.br/noticia/televisao/ha-40-anos-silvio-santos-
colocava-no-ar-sua-primeira-emissora-de-televisao-11249>. Acesso em: 18 out.
2017.
8. CASTRO, T. Silvio Santos tentou abrir rede de TV em 1970, mas militares não
deixaram. São Paulo, Noticias da TV/ UOL, 1 de novembro de 2015. Disponível
em: <http://noticiasdatv.uol.com.br/noticia/televisao/silvio-santos-tentou-abrir-
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9. PRADO, M. Carlos Aberto de Nóbrega celebra centenário do pai, Manoel da
Nóbrega, gênio criador da televisão. R7 Entretenimento, 20 fev. 2013. Disponível
em: <http://entretenimento.r7.com/famosos-e-tv/noticias/carlos-aberto-de-
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10. ZAIDAN, P. Iris Abravanel fala sobre sua carreira, família e a vida ao lado de
Silvio Santos. Claudia, 22 fev. 2016. Disponível em:
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11. LIMA, R. SBT realiza pintura da sua torre no Sumaré, em São Paulo.
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12. FELTRIN, R. Silvio Santos diz que SBT terá desenhos enquanto ele estiver
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13. CASTRO, T. SBT levou sete anos para investir em jornalismo e lançar Boris
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14. XEXÉO, A. Hebe: a biografia. 1 ed. Rio de Janeiro: Bestseller, 2017. p.31
15. Reportagem Local. “Aqui Agora” não vai repetir erros, diz diretor.
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16. BESSA, G.“O SBT é o melhor lugar para se trabalhar no Brasil”, diz Marília
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17. Redação. “Banco Panamericano é vendido ao BTG.” O Estado de São
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18. CASTRO, D.; MATTOS, L. Programa “Casa dos Artistas” acirra “guerra” entre
Globo e SBT. Folha de S.Paulo, 31 out. 2001. Disponível em:
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19. KFOURI, J. Confesso que perdi. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. p.
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20. VALIATI, C. Silvio Santos vai ganhar exposição no Museu da Imagem e do
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BIBLIOGRAFIA
LIVROS
KFOURI, J. Confesso que perdi: memórias. 1. ed. São Paulo: Companhia das
Letras, 2017.
MARCOS, D. Te contei grandes ídolos: Silvio Santos. 1. ed. São Paulo: Online,
2015.
SILVA, A. A fantástica história de Silvio Santos. 5. ed. São Paulo: Editora do
Brasil, 2000.
XEXÉO, A. Hebe: a biografia. 1. ed. Rio de Janeiro: BestSeller, 2017.
OUTRAS REFERÊNCIAS
BARBOSA, B. SOUTO, L. Em homenagem aos 85 anos de Silvio Santos, parentes e
amigos contam histórias curiosas sobre o apresentador. Extra, 6 dez. 2015.
Disponível em: <https://extra.globo.com/tv-e-lazer/em-homenagem-aos-85-
anos-de-silvio-santos-parentes-amigos-contam-historias-curiosas-sobre-
apresentador-18224509.html>. Acesso em: 1 out. 2017.
CASTRO, T. Silvio Santos tentou abrir rede de TV em 1970, mas militares não
deixaram. Notícias da TV (uol), 1o nov. 2015. Disponível em:
<http://noticiasdatv.uol.com.br/noticia/televisao/silvio-santos-tentou-abrir-rede-
de-tv-em-1970-mas-militares-nao-deixaram-9607>. Acesso em: 1 out. 2017.
HAMILTON. Imagens raras de Léo Santos em 1982. Blog “O Baú do Silvio”, 17
jun. 2011. Disponível em: <http://obaudosilvio.blogs-
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SOBRE AS AUTORAS
ANNA MEDEIROS é graduada em Propaganda e Marketing pela ESPM-SP, e possui
MBA em Bens Culturais pela FGV. Como escritora, já publicou artigos em
publicações como a Revista da Cultura, além de ter publicado em 2016 seu
primeiro livro autoral, Entre rios, pela editora Patuá. Já atuou também na área de
marketing de grandes corporações, tendo participado do planejamento
estratégico em projetos de comunicação de grandes marcas.
MARCIA BATISTA é graduada em Letras pela USP, tendo ingressado no mercado
editorial em 2003, atuando como editora de não ficção na Ediouro. Hoje é
editora-chefe na Universo dos Livros e, desde 2011, vem sendo responsável pela
publicação de inúmeros projetos de sucesso, dentre os quais os best-sellers
Nunca fui santo, livro oficial do ex-goleiro palmeirense Marcos, o qual reuniu
mais de 5 mil pessoas no lançamento; Neymar: conversa entre pai e filho, livro
oficial do craque do Paris Saint -Germain, cujos direitos de publicação foram
vendidos para mais de 27 países; Eu sobrevivi ao Holocausto, relato de Nanette
Blitz Konig, uma das últimas amigas vivas de Anne Frank; e A última mensagem
de Hiroshima, biografia de um sobrevivente da bomba atômica, o senhor Takashi
Morita.