Sri Harinama Cintamani
Sri Harinama Cintamani
Agradecimentos
Quando se senta para preparar agradecimentos, é que se percebe bem quantos votos de
sucesso e imenso auxílio das pessoas entram no preparo de um livro. Este livro em particular
pode gabar-se de uma lista infindável de benfeitores; seus nomes de fato permaneceräo
guardados em meu coraçäo, e sempre hei de lembrar deles com afetuosa gratidäo.
Sua Santidade Narayana Maharaja me guiou; Sua Santidade Satsvarupa Maharaja foi muito
veloz e gentil ao revisar meu trabalho; Sua Santidade Tamal Krishna Maharaja aconselhou-me;
Sua Santidade Bhakti Caru Swami encorajou-me e ouviu pacientemente minha traduçäo. Sua
Santidade Suhotra Maharaja bondosamente consentiu em editar meu livro, o que fez com
muita eficiência e prontidäo. Sua Graça Dasanudasa Prabhu fez um bom trabalho checando a
gramática, layout e tipografia, e criou o glossário - bastante completo. Agradeço a cada um
destes Vaisnavas por sua ajuda, e oro a todos Vaisnavas que lerem este livro para obter suas
bençäos para continuar minhas humildes tentativas.
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19 de janeiro, 1990
- INTRODUÇÄO -
por Bhaktivinoda Thakura
Este livro näo se destina ao materialista sem fé. Somente aqueles que desenvolveram fé
inquebrantável no Senhor Chaitanya e no processo de cantar o santo nome estäo qualificados
para ouvir os tópicos discutidos nesse livro. Dentre os diferentes níveis de sadhana-bhakti,
aquele que está convencido de que todas perfeiçöes säo obtidas por cantar o santo nome
somente é o maior sadhaka ou praticante. O Senhor Chaitanya pessoalmente instruiu esta
liçäo em Seu Sri Siksastaka. Ele ordenou Srila Haridasa Thakura como namacarya ou
autoridade espiritual no assunto de cantar o santo nome do Senhor.
Pesquisa esmerada de textos autorizados revelou os seguintes fatos com relaçäo à vida de Srila
Haridasa Thakura: ele nasceu numa família muçulmana que vivia num vilarejo chamado
Budham, próximo a Vanagram na Bengala ocidental. Já com tenra idade, a a inclinaçäo natural
de seus nascimentos anteriores começou a se manifestar; iniciou atividades devocionais e
renunciou ao lar e à família. Construiu uma pequena cabana na floresta de Benapol e
embarcou num programa de intenso cantar e meditaçäo. Alguns homens maliciosos
atrapalhavam seu bhajana ali, assim ele deixou sua cabana e buscou refúgio às margens do rio
Ganges. Num outro incidente foi perturbado por homens sem escrúpulos, que mandaram uma
jovem prostituta para fazer com que quebrasse seus votos espirituais. Mas o cantar de Srila
Haridasa Thakura teve um efeito purificante sobre ela, que se tornou devota, abandonando
seus antigos hábitos. Srila Haridasa Thakura iniciou-a no harinama, e acomodando-a em sua
cabana em Benapol, deixou a área.
Andando pelas margens do Ganges imerso no cantar do santo nome, eventualmente ele chegou
à casa de Srila Yadunandana Acharya em Saptagram. Começou a frequentar as cortes de
Hiranya e Goverdhan Mazumdar (pai de Srila Raghunatha dasa Goswami), os senhorios de
Saptagram. Certo brahmana de classe inferior chamado Gopal Chakravarty um dia desafiou
as explicaçöes de Srila Haridasa Thakura sobre as glórias do santo nome de forma abrasiva e
ofensiva. Hiranya Mazumdar e seu irmäo imediatamente demitiram Gopal Chakravarty de seu
serviço. Logo depois ele contraiu lepra da garganta. Ao ouvir esta notícia Srila Haridasa
Thakura ficou muito afetado. Deixou o vilarejo e veio para Phulia, tomando refúgio em
Advaita Acharya. Vivia numa caverna às margens do Ganges e absorvia-se no cantar e
meditaçäo.
Um devoto sincero sempre evita, até mesmo detesta, sociedade e fama. Porém pela força de
sua pureza näo consegue permanecer anônimo. Portanto conforme seu nome e reputaçäo se
expandiam, os muçulmanos ficaram invejosos e agitados. Influenciaram o governante local
muçulmano e fizeram com que Srila Haridasa Thakura fosse severamente surrado em público.
Srila Haridasa é uma alma muito compassiva e santa. Näo culpou seus atormentadores, porém
abençoando e exonerando-os de suas ofensas, retornou a sua caverna.
Pouco depois desse incidente, o Senhor Sri Chaitanya Mahaprabhu fez seu advento em
Navadwipa-dhama. Junto com Advaita Acharya, Srila Haridasa Thakura rendeu-se aos pés de
lótus do Senhor Chaitanya. Srila Haridasa Thakura tornou-se conhecido como o namacharya,
ou preceptor e propagador do santo nome. Quando o Senhor Chaitanya passou a viver em
Jagannatha Puri, arranjou um local de residência e bhajana permanente para Srila Haridasa
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Thakura próximo à famosa árvore Siddha Bakula. A transiçäo de Srila Haridasa Thakura foi
gloriosa. O Senhor Chaitanya conduziu pessoalmente os últimos ritos Vaisnavas para Srila
Haridasa Thakura, primeiro banhando seu corpo no oceano e finalmente enterrando sua forma
transcendental na areia.
Detalhe singular dos passatempos do Senhor Chaitanya é que Ele fazia do devoto que se
destacava em determinado aspecto de serviço devocional, Seu porta-voz para divulgar aquele
tópico ao mundo. Através de perguntas a Srila Haridasa sobre alguns pontos do cantar, o
Senhor pregou os princípios do santo nome. Estes assuntos foram discutidos em escrituras tais
como Chaitanya-charitamrita, Chaitanya Bhagavat, etc. Inspirado por certos Vaisnavas,
compilamos os ensinamentos de Haridasa Thakura na forma do presente livro. Recebemos
diversos outros livros sobre Srila Haridasa. Infelizmente, muitos continham declaraçöes näo
autorizadas ou escrituralmente incorretas, e tiveram de ser rejeitados. Um deles contudo,
parecia ter sido escrito por um elevado Vaisnava. Explicava a doçura esotérica do cantar do
santo nome. Lê-lo nos proporcionou considerável júbilo. Pudemos supor que Srila Haridasa
deve ter instruído um Vaisnava santo sobre a filosofia do santo nome. Aquele Vaisnava por sua
vez anotou estes valiosos ensinamentos num livro dedicado a seu mestre espiritual iniciador.
Estendemos nossa gratidäo de todo coraçäo a quem enviou esse livro a partir de Srihatta. O
Harinama Cintamani registra essas preciosas declaraçöes glorificando o santo nome. Este
livro, portanto, está sendo publicado para o prazer dos devotos rendidos ao Senhor e Seu
nome transcendental. Acreditamos firmemente que somente aqueles que se abrigaram no santo
nome iräo ler o livro; outros näo o faräo. Portanto näo esperamos deles quaisquer argumentos
ou desafios sobre o santo nome.
Existem muitas disciplinas e processos de adoraçäo, mas o processo de cantar o santo nome é
supremo. Todos Vaisnavas santos desde o Senhor Chaitanya seguiram o mesmo método
singular de cantar conforme enunciado por Srila Haridasa Thakura. Mesmo os antigos sábios
Vaisnavas residentes em Vrajadhama Vrindavana cantaram da mesma maneira. Os elevados
Vaisnavas residentes em Puri que afortunadamente pudemos ver com nossos próprios olhos e
que constantemente saboreavam o divino néctar do santo nome, estäo seguindo o mesmo
método de cantar. Tanto Sanatana Goswami quanto Gopal Bhatta Goswami estabeleceram
sem equívoco no Hari-bhakti-vilasa que o processo singular para cantar o santo nome é fazê-
lo livre de ofensa, incessantemente e num local isolado - longe do tumulto das atividades
materiais.
O Harinama Cintamani foi escrito em versos. Pode ser lido por mulheres, estudantes jovens
e outros que näo conhecem sânscrito; poderäo facilmente compreender o ensinamento do
Senhor Chaitanya. Para que näo tenham dificuldade, todas citaçöes em sânscrito também
foram deletadas. Outro livro chamado Pramanmala foi escrito com compilaçöes de slokas
sânscritos relevantes que substanciam cada declaraçäo do Harinama Cintamani. Se o
Senhor Krishna assim desejar, entäo aquele livro também será publicado em breve para a
satisfaçäo dos devotos.
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APROVAÇÄO DO G.B.C.
de Srila Satsvarupa dasa Goswami
Por favor aceite minhas humildes reverências. Todas as glórias a Srila Prabhupada.
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Espero que esta o encontre com boa saúde e consciência de Krishna.
Palavras em tipo itálico säo termos sânscritos transliterados do texto original. Numa obra
altamente esotérica e técnica como o Sri Harinama Cintamani há muitos termos sânscritos
que näo tem alternativa conveniente em inglês. Estes termos especializados constituem uma
dificuldade considerável para o leitor ocasional e leigo. Por favor vide Glossário que começa
na página 119 para definiçöes resumidas dos termos sânscritos e bengalis näo definidos no
contexto. Sugerimos leituras adicionais pertinentes sobre filosofia e práticas da tradiçäo
cultural e religiosa Gaudiya Vaisnava nos rodapés que acompanham o texto, e na Bibliografia
da página 117.
- CAPITULO UM -
As Glórias do Santo Nome
Todas as glórias a Sri Gadadhara Pandit e ao Senhor Sri Gauranga; todas as glórias ao Senhor
Nityananda, a vida de Srimati Jahnavadevi; todas as glórias a Sri Advaita Acharya e Mäe Sita;
todas as glórias a Srila Srivas Pandit, e a todos devotos do Senhor Chaitanya.
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para abençoar a humanidade; Ele ficou na residência do Kasi Misra e propagou o dharma
necessário a essa era de Kali, fazendo todos entenderem seu real significado.
O Senhor Chaitanya reuniu Seus devotos em Jagannatha Puri, e juntos derramaram amor por
Deus em todos, assim como uma árvore-filosofal-que-satisfaz-desejos. Para a devida
divulgaçäo de instruçöes espirituais, Ele fez com que diferentes devotos falassem sobre
diversos assuntos enquanto Lhes proporcionava uma platéia sóbria. Fez com que Sri
Ramananda Raya revelasse as doçuras confidenciais das atividades conjugais do Senhor
Supremo; Sri Sarvabhauma Bhattacharya explicou a verdade sobre liberaçäo; Sri Rupa
Goswami analisou os níveis e variedades de relacionamentos espirituais com o Senhor, e Srila
Haridasa Thakura glorificou a suprema eficácia e excelência do Santo Nome.
Certo dia, tendo retornado de Seu banho no oceano, o Senhor Chaitanya veio ver Srila
Haridasa Thakura. Encontrou Haridasa Thakura sentado sob a árvore Siddha Bakula. Muito
satisfeito por encontrar Srila Haridasa, o Senhor entäo perguntou a ele sobre os meios pelos
quais a alma condicionada pode facilmente obter liberaçäo. Seu corpo todo entrou em êxtase,
e ele ofereceu humildes oraçöes pontuadas por tremores e lágrimas.
Numa voz embargada Srila Haridasa disse: "Meu Senhor, Teus maravilhosos passatempos säo
insondáveis. Sou desafortunado e iletrado. Minha única âncora säo Teus pés de lótus. Que
adianta fazer perguntas a uma pessoa sem valor como eu?"
Srila Haridasa continuou: "Tu és Krishna, a Suprema Personalidade de Deus, que apareceu em
Navadwipa para salvar as entidades vivas. ó meu Senhor Gauranga, bondosamente abriga-me
na sombra de Teus pés de lótus. Só isso pode alegrar meu coraçäo. Teus passatempos estäo
sempre se expandindo; manifestaste Teu nome, forma, qualidades e passatempos nesse mundo
material para que mesmo um miserável caído como eu possa saboreá-los. É impossível para a
jiva perceber Tuas características transcendentais com sentidos mundanos. O Senhor Krishna
misericordiosamente manifestou Sua forma trascendental de Senhor Sri Chaitanya Mahaprabhu
e do panca-tattva para o mais elevado benefício da humanidade. Estas manifestaçöes diretas
de transcendência säo expansöes imediatas da potência espiritual interna do Senhor.
"És o sol espiritual e sou uma chispa insignificante de Tua refulgência; és meu Senhor e mestre
e sou Teu servidor eternamente. A ambrósia que emana de Teus pés de lótus intoxica todos
meus sentidos; minha esperança reside no ilimitado néctar do Teu santo nome. Sou caído - que
posso dizer por vontade própria? Estou aqui só para executar Tuas ordens. Ficarei gratificado
falando as palavras que Tu puseres em minha boca e näo hei de considerar se säo certas ou
erradas.
"O Senhor Krishna é o único Autocrata Absoluto. Ele está além de qualquer jurisdiçäo, pois
somente Ele é o Supremo Controlador e Senhor. Ele é dotado de potências inconcebíveis, e é
um ser plenamente independente, consciente e de vontade própria. Todas energias ou
potências säo uma parte de Sua natureza inerente; portanto näo säo independentes Dele. O
Senhor onipotente é a fonte de todas energias. O Senhor Krishna é o mestre de ilimitadas
opulências e potências, entretanto ainda assim Ele é um só brahman näo-dual. Através do
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sistema óctuplo de yoga, o yogi pode perceber esse mesmo Ser Supremo näo-dual, que é
onipresente, localizado dentro do coraçäo como paramatma, a Superalma. Esse aspecto do
Senhor Krishna também é uma manifestaçäo parcial. Portanto, nem brahman e nem
paramatma säo aspectos completos do Senhor Krishna. Somente o Senhor Krishna é
plenamente repleto de absoluta potência, vontade, controle e consciência.
"As múltiplas energias do Senhor Krishna nunca säo independentes Dele. Os Vedas declaram
que o Senhor e Suas energias näo säo diferentes. O Senhor Krishna é o vibhu infinito,
absoluto, e Suas energias säo exibiçöes de Suas opulências (vaibhava). Apesar de Suas
infindáveis excelências e múltiplas potências, Ele permanece inafetado e indivisível.
"As energias do Senhor säo manifestaçöes de Sua vaibhava (opulências); o Senhor Supremo,
portanto, só pode ser percebido através dessas energias ou vaibhava. ó Senhor Gauranga! És
o repositório de três tipos de vaibhava. Estas säo como se revela nas escrituras: a potência
espiritual (cit-vaibhava), a potência material (maya ou acit-vaibhava), e a potência marginal
(jiva-vaibhava).
"A potência cit do Senhor é Sua energia superior. Ela é o resultado natural da plenitude
espiritual do Senhor. A potência sandhini através da qual tudo existe e se mantém coeso como
um todo inter-relacionado, inclusive os relacionamentos de todas jivas do Senhor, é uma
emanaçäo da potência cit. Dessa mesma cit-vaibhava também advém a potência samvit, que
proporciona conhecimento acerca de nossa identidade e de tudo o mais; finalmente, de cit-
vaibhava provém a potência hladini, da qual nasce a bem-aventurança extática das emoçöes
espirituais, relacionamento espiritual e trocas divinas de rasas e doçuras. A potência cit do
Senhor é Sua yoga-maya, e suas transformaçöes estäo todas além da jurisdiçäo dos modos e
influências mundanas.
A potência cit nunca é afetada pela potência inferior acit. Embora esta desça até o mundo
inferior mundano, permanece inafetada pelas intoxicaçöes materiais. Sempre espiritual,
incorporando a natureza absoluta do Senhor Supremo, os hinos védicos cantam sua posiçäo
suprema como sendo igual a do próprio Senhor.
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"Näo há resquício de influência material na energia do Senhor Krishna; ela é transcendental e
existe em pura bondade (suddha-sattva.) Sattva é de dois tipos: suddha-sattva (bondade
pura) e misra-sattva (bondade misturada). Tudo na categoria de cit-vaibhava é suddha-sattva,
ou bondade pura. Toda sattva na natureza material é misturada, ou misra-sattva. Suddha-
sattva é destituída de paixäo e ignorância. O nascimento indica o modo da paixäo em açäo. A
essência espiritual eternamente existente, suddha-sattva, nunca foi tocada pelo nascimento,
que é uma manifestaçäo da paixäo, tampouco pela aniquilaçäo, que é um ato executado no
modo da ignorância. Embora as partes e parcelas separadas do Senhor Supremo, as jivas,
pertençam à categoria de suddha-sattva, devido ao contato delas com a nesciedade ou
natureza material, quedaram-se sob o domínio dos modos materiais da paixäo e ignorância, e
assim agora estäo na categoria mixta ou misra-suddha. Mesmo semideuses como o Senhor
Shiva, embora muito superiores de muitas maneiras às jivas comuns, näo obstante säo
cativados pelo brilho material devido à falsa identificaçäo, e assim caem na categoria de misra-
sattva. O Senhor Supremo está sempre na bondade pura. Ele desce a esse mundo material por
Sua inconcebível potência espiritual e é sempre o controlador da natureza material, maya, que
está sempre pronta a agir como Sua serva.
Misra-sattva e Maya-tattva
O criador Senhor Brahma, o destruidor Senhor Shiva e todos outros semideuses pertencem à
categoria de jiva, e portanto säo misra-tattva, ou da categoria mixta; ao passo que todas
encarnaçöes da categoria Vishnu, Seus passatempos, o céu espiritual, etc. estäo em bondade
pura. Deste lado do Rio Viraja, que separa o universo material da morada espiritual, tudo em
todos quatorze sistemas planetários é acit-vaibhava ou manifestaçäo temporária da matéria.
Em outras obras esse local foi descrito como devi-dhama, a morada de Durga-devi, que é a
deidade que preside maya. O universo material é composto de cinco elementos grosseiros,
mente, inteligência e falso ego. Tanto o universo material quanto os corpos físicos das
entidades vivas säo feitos das mesmas cinco substâncias materiais, ou seja terra, água, fogo, ar
e éter. Mente, inteligência e falso ego constituem o corpo sutil da jiva que é resultado de seu
desejo; estes também säo materiais. Porém a jiva, que é por natureza produto de suddha-
sattva tal como sua mente, inteligência e ego originais, é espiritual e distinta do corpo sutil.
"Os sete sistemas planetários superiores tais como Bhur, Bhuvar, Svarga, Mahar, Jana, Satya e
Brahma, e os sete sistemas planetários inferiores Atala, Sutala, etc. säo todos manifestaçöes de
maya, a potência ilusória do Senhor. Cit-vaibhava é o todo completo, e maya é sua sombra.
"A jiva é originalmente completamente espiritual, porém infinitesimal, e devido a sua natureza
espiritual também é independente. As jivas säo incontáveis e a bem-aventurança espiritual é
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sua necessidade urgente e perfeiçäo. Ao buscarem a bem-aventurança, aqueles que entregam
suas vidas ao Senhor Krishna se tornam liberados e residem eternamente na companhia do
Senhor como Seus associados confidenciais.
"Por outro lado, a alma-jiva que contempla auto-engrandecimento e prazer egoísta se torna
atraída por maya, que está sempre próxima. Torna-se eternamente enredada, atraída para
longe do serviço do Senhor Krishna, e recebe um corpo confeccionado pela natureza material,
ou maya, próprio para residir em devi-dhama. Assim fica atada ao ciclo de inevitável reaçäo
kármica, vagando em corpos grosseiros e sutis. As vezes é elevada aos planetas celestiais e a
seguir tem de descer ao inferno. Dessa forma viaja através de todas 8.400.000 espécies de
vida, sofrendo as dores da existência material.
"ó Senhor, Tu és a Suprema Personalidade, e a jiva é Tua parte e parcela. Estás sempre
preocupado com o bem-estar de Teus servidores. Qualquer situaçäo em que a jiva se
encontre, o Senhor Krishna está sempre preparado para conceder o desejo mais íntimo da jiva,
como um amigo bem-querente que nunca a deserta. O relacionamento entre Krishna e a jiva é
eterno. Krishna é o Deus Supremo e a jiva é o instrumento através de quem e para quem o
Senhor manifesta Suas energias e opulências. O Senhor é o Supremo Controlador, e a jiva é a
beneficiária que desfruta das recompensas por suas açöes. Seja o que for que o servo
considere desejável, o Senhor misericordiosamente lhe concede.
"Qualquer um que almeje prazer sensorial evanescente no mundo material também consegue
encontrá-lo facilmente, dado por Ti. O meio de obter tal gratificaçäo é realizar atividades
auspiciosas conforme recomendado nos Vedas. Estas säo: seguir os deveres do sistema
varnashrama; realizar sacrifícios tais como o sacrifício de fogo (agnistoma); executar o
processo óctuplo de yoga; oferecer havan ou oblaçöes; manter votos em dias de lua cheia; e
dar caridade em dias auspiciosos e em ocasiöes que produzem benefício material. Embora
essas atividades sejam realizadas com o Senhor Vishnu como Deidade presidente, näo há uma
atitude devocional pura por parte de quem as realiza; infelizmente tal pessoa näo percebe sua
falta de espiritualidade porque essas atividades nunca a auxiliam a desenvolver um estado
espiritual puro. Os resultados que se acumula através dessas atividades säo materiais;
simplesmente se almeja desfrutar em planetas superiores. Tais atividades e seus resultados
nunca conseguem satisfazer a alma, o verdadeiro eu; sua causa é a ilusäo. Estas assim-
chamadas atividades auspiciosas somente nos permitem alcançar prazeres celestiais
temporários em vez de êxtase transcendental.
"Se uma pessoa é suficientemente afortunada para obter associaçäo com uma personalidade
santa e vem a saber sobre sua identidade eterna como servo do Senhor Krishna, facilmente
transpöe o grande obstáculo da natureza material. Isso é muito raro. Somente acontece por
causa dos resultados de enormes quantidades de atividades piedosas anteriores que nunca säo
obtidas pela realizaçäo de obras fruitivas, que só podem dar resultados insignificantes.
"O buscador de conhecimento empírico seco compreende a natureza material como um local
de sofrimento e portanto se esforça pela liberaçäo. És misericordioso para com esses também;
deste-lhes a seçäo jnana-kanda dos Vedas a fim de que possam buscar conhecimento
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impessoal do Absoluto. O destino final deles é serem absorvidos no brahmajyoti. O
brahmajyoti é Tua refulgência espiritual e está situado à beira do Rio Viraja. Todos demônios
mortos pelo Senhor Supremo também acabam se fundindo no brahmajyoti, que fica além da
periferia de maya. Tanto os empiricistas quanto os trabalhadores fruitivos säo näo-devotos,
sem inclinaçäo para servir o Senhor Krishna. Eles nunca conseguem saborear a doçura do
serviço ao Senhor Krishna.
"Com base na força de sua piedade, o jnani obtém a associaçäo de devotos puros do Senhor e
atrai para si a compaixäo inerente deles. Isto o auxilia a facilmente desenvolver fé firme no
processo de serviço devocional puro. A associaçäo de um devoto puro é uma senda
devocional secundária para o jnani. ó Senhor, frequentemente dizes: 'Minha serva, a jiva,
sucumbe à traiçäo de Minha potência ilusória. Sempre sei o que é benéfico par ela e portanto a
inspiro para desenvolver uma aversäo ao desfrute sensorial e liberaçäo, e em lugar disto
proporciono atraçäo pelo serviço devocional a Mim. Eu guio a jiva na tentativa de realizar
seus desejos materiais e mui sutilmente desvio seus anseios rumo a uma senda devocional
secundária, e dessa forma fortaleço sua fé e amor.'
"ó Senhor! És muito misericordioso e tudo isso é um reflexo de Tua misericórdia sem causa.
Sem Tua intervençäo amorosa, como poderia a jiva jamais se tornar purificada?
"Em Satya-yuga, sábios que seguiam o processo de meditaçäo eram purificados pelo Senhor e
recebiam o tesouro do serviço devocional. Em Treta-yuga, o mesmo sucesso espiritual
coroava aqueles que faziam impecavelmente sacrifícios opulentos para satisfazer o Senhor, e
em Dvapara-yuga concedias devoçäo àqueles que aderiam perfeitamente à senda da adoraçäo à
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Deidade. Com o advento de Kali-yuga, ó Senhor, viste a terrível condiçäo das jivas e
abandonaste toda esperança nos processos de yoga, meditaçäo, atividades fruitivas, sacrifícios,
etc.
"Pessoas na Kali-yuga tem vida curta, säo sempre perturbadas pela doença, e nascem com um
físico e psique fracos. Estäo em desvantagem desde o ponto de partida. O cultivo de
varnashrama dharma, filosofia sankhya, yoga e empirismo näo proporcionam a força
necessária para redimir as jivas em Kali-yuga. E as sendas secundárias sub-devocionais de
jnana e karma säo extremamente estreitas e perigosas. As duas sendas secundárias que levam
ao relicário do serviço devocional säo: 1) a associaçäo de pessoas santas durante discussöes
espirituais, e 2) trabalho realizado sem desejo de resultados no qual tudo é oferecido ao Senhor
Supremo. Em Kali-yuga ambas se tornaram contaminadas. Pessoas genuinamente santas,
agora raramente se vê, e foram substituídas por um tipo de pseudo-espiritualistas crassos,
comerciais. Atividades religiosas näo säo mais realizadas para purificar a consciência mas para
mero desfrute dos resultados. Portanto estas sendas secundárias näo säo mais benéficas.
Mesmo o processo de adoraçäo à Deidade que dava o mais elevado sucesso espiritual em
Dvapara-yuga se tornou impuro e degradado.
"As jivas entäo tentaram outros meios de alcançar o destino final porém foram confrontadas
com muitos obstáculos intransponíveis. A senda que leva à meta é o próprio meio, e o que se
obtém pela execuçäo dos meios ou processo é o destino final. Receber a misericórdia do
Senhor é a meta da vida humana. Porém karma ou jnana näo säo os meios super-excelentes
para se atingir aquela meta mais elevada, porque embora levem até perto do destino, no final
repentinamente chegam a um impasse e desaparecem.
"O processo de cantar o santo nome näo é assim. O santo nome do Senhor está sempre
presente, portanto é o processo mais eficiente. Quando os meios se tornam o fim, o processo
se torna idêntico ao objetivo, e assim fica fácil para as jivas obter liberaçäo por Tua
misericórdia. Em meu caso, ó Senhor, é diferente: sou extremamente caído e estou muito
enredado na vida material. Sendo o patife que sou, nunca cantei Teu santo nome."
Dizendo isso, Srila Haridasa, a encarnaçäo do Senhor Brahma, caiu aos pés do Senhor com
lágrimas jorrando de seus olhos e seu corpo emitindo grandes suspiros. Somente pessoas que
apreciam o Senhor Hari, Seus devotos, e serviço devocional conseguem aceitar este
Harinama Cintamani de coraçäo.
CAPITULO DOIS
Cantando o Santo Nome
Todas as glórias a Sri Gadadhara Pandit e ao Senhor Sri Gauranga; todas as glórias ao Senhor
Nityananda, a vida de Srimati Jahnavadevi; todas as glórias a Sri Advaita Acharya e Mäe Sita;
todas as glórias a Srila Srivas Pandit, e a todos devotos do Senhor Chaitanya.
Srila Haridasa continuou a chorar em amor extático. O Senhor Gaurachandra envolveu-o com
Seus braços num abraço amoroso e disse: "ó Haridasa, raramante se encontra um devoto de
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teu calibre. És bem versado em todas conclusöes espirituais e sempre permaneces inafetado
por maya.
"Tomando nascimento numa família e casta inferior, provaste para o mundo que o Senhor
Krishna näo se obtém meramente por acumular bens, posiçäo, linhagem ou refinamento.
Quem quer que tenha desenvolvido fé indemovível no serviço devocional puro ao Supremo
Senhor é de fato superior aos semideuses.
"És erudito em todas verdades do santo nome do Senhor; tua conduta espiritual é exemplar; e
és um pregador perito. Portanto, Haridasa! Por gentileza revela-Me as ilimitadas glórias do
santo nome. Permita-Me saborear tuas palavras.
"Quem canta o santo nome mesmo uma vez é considerado um devoto Vaisnava; deve ser
respeitado pelos chefes-de-família. O devoto que constantemente canta o nome de Krishna é
um Vaisnava mais elevado, pois está dotado de todas boas qualidades. O mais avançado de
todos Vaisnavas é aquele que inspira outros que o vêem a imediatamente cantar o nome do
Senhor. Quando ele canta o santo nome mesmo uma vez só, instantaneamente se estabelece a
atraçäo por render serviço devocional contínuo ao Senhor. Por gentileza conta-Me como levar
as jivas a cantar o nome do Senhor desta forma. Por favor revela-Me essa receita totalmente
auspiciosa."
Srila Haridasa juntou as mäos. Com seus olhos marejando de lágrimas e com a voz embargada
de amor espiritual, começou sua resposta em tons suaves, gentis: "O nome do Senhor Krishna
é como uma pedra-de-toque eterna e transcendental. Uma pedra filosofal pode conceder todos
objetos desejáveis; a pedra filosofal do santo nome do Senhor Krishna pode conceder
religiosidade, fortuna, prazer sensorial e liberaçäo para uma pessoa materialista. Para um
devoto rendido, oferece amor puro por Krishna.
"O Senhor Krishna e Seu santo nome säo idênticos; Eles säo uma e mesma Verdade Absoluta,
a forma da espiritualidade dinâmica que inclui tudo e no entanto é supremamente
independente, cheia de emoçäo, sem começo ou final. Sempre situado em bondade pura, o
santo nome desce a este mundo na forma de letras como a encarnaçäo completa e
personificaçäo da mais elevada doçura: rasa.
"O Senhor Krishna é o objeto absoluto näo-dual que Se manifesta perfeitamente nestes quatro
aspectos. Estes aspectos säo plenamente potentes e capazes de expressá-Lo na totalidade; eles
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existem e säo sustentados pela potência sandhini do Senhor (existência eterna). Säo eternos e
transcendentais. Assim como o Senhor Krishna atrai todas entidades vivas, semelhantemente o
santo nome, que näo é diferente Dele, também atrai todos.
"A forma singularmente bela do Senhor Krishna näo é diferente Dele, o nome e forma de
Krishna igualmente säo idênticos. Lembrar e cantar o nome de Krishna imediatamente invoca
Sua bela forma na mente, e ambos ali residem harmoniosamente. Semelhantemente, as
sessenta e quatro qualidades do Senhor Krishna* säo de caráter ilimitado e transcendental.
* para uma discussäo detalhada das sessenta e quatro qualidades de Krishna, reportar-se ao
Néctar da Devoçäo, cap. 21-24 (para mais informaçäo, vide Bibliografia).
"Todas expansöes e encarnaçöes do Senhor säo parciais. O Senhor Brahma e o Senhor Shiva,
Suas expansöes qualitativas, somente demonstram parcialmente a natureza do Supremo
Senhor. Tudo no Supremo Senhor Krishna é infinito, eterno, ilimitado e absolutamente
espiritual. Somente ele tem todas sessenta e quatro qualidades, ao passo que Suas expansöes,
começando pelo Senhor Narayana até Senhor Ramachandra, säo ornamentadas apenas com as
primeiras sessenta de Suas qualidades transcendentais. O Senhor Brahma, Senhor Shiva e os
outros semideuses possuem apenas cinquenta e cinco destas qualidades, e estas apenas em grau
parcial. Jivas comuns possuem apenas as primeiras cinquenta, visíveis em mero grau fracional,
como pequenas gotas. Somente Krishna, mesmo entre todas Suas expansöes Vishnu,
demonstra a supremacia de ser mestre das quatro qualidades excepcionais que säo particulares
apenas a Ele.
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Se as qualidades do Senhor forem comparadas a ondas, entäo Seus passatempos se misturam
com estas ondas e continuamente se formam, se superam e tomam novo formato novamente.
Onde quer que sejam encenados, seja em Vaikuntha, Goloka ou na Terra em Vrindavana, eles
säo sempre transcendentais. Portanto o nome, forma, qualidades e passatempos do Senhor säo
da mesma substância espiritual.
"A jiva condicionada em contato com a natureza material ilusória experimenta um estado de
consciência diametralmente oposto à consciência de Krishna. Porque se identifica com seu
corpo material, o nome, forma, qualidades e atividades da jiva säo todos separados e diferentes
de seu verdadeiro ser espiritual. Uma vez que tenha se purificado de sua contaminaçäo
material, estes quatro aspectos assumem a mesma natureza espiritual e passam a ser näo-
diferentes dela. Mas até que tenha se purificado e liberado pela graça do Senhor Krishna, a
jiva tem de sofrer as dores da falsa identificaçäo. Com o Senhor Krishna, que é Absoluto e
Supremo, é diferente. Ele nunca experimenta tal sofrimento.
"Esta natureza material näo possui nada para oferecer que seja superior ao santo nome. O
santo nome é o mais precioso tesouro no depósito do Senhor. A jiva e o santo nome säo os
dois únicos objetos supra-mundanos nesse universo material; tudo o mais é matéria inerte. A
jiva está vivendo aqui num estado condicionado de consciência devido à vontade do Senhor. A
jiva inicialmente era a única presença espiritual aqui. Fomos incluídos entre as jivas, ou partes
e parcelas separadas do Senhor.
"O santo nome pode ser categorizado em dois tipos: principais e secundários. Abrigando-se
nos principais nomes do Senhor, a jiva obtém a essência da vida espiritual. Os nomes
principais do Senhor Krishna descrevem Seus passatempos transcendentais e contém todas
excelências do Senhor. Eles säo, por exemplo: Govinda, Gopala, Rama, Sri Nandanandana,
Radhanatha, Hari, Yasomati-Pranadhana, Madana-Mohana, Syamasundara, Madhava,
Gopinatha, Brajagopala, Ra khala, Yadava, etc. Quem cantar esses nomes do Senhor, que
representam Seus passatempos eternos, pode alcançar a morada suprema do Senhor.
"Os Vedas se dirigem ao Senhor com nomes que caracterizam Sua ligaçäo com a natureza
material. Estes säo Seus nomes secundários, i.e. Criador, Superalma, Brahman, mantenedor e
aniquilador do mundo, Yajneshvara, Hara, etc. Tais nomes do Senhor säo invocados por
aqueles que buscam atividades fruitivas e conhecimento empírico. Conforme as orientaçöes
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védicas, o cantar de tais nomes do Senhor nos proporciona piedade e liberaçäo. Contudo, o
resultado de maiores consequências por cantar os nomes do Senhor - amor por Deus - só as
almas santas que invocam os nomes principais do Senhor conseguem obter.
"Se o santo nome for cantado apenas uma vez, embora impuramente, ou se simplesmente for
ouvido, o som penetrando internamente, entäo a entidade viva imediatamente é liberada,
independente de sua casta elevada ou baixa. Esse é um fato escritural. E além disso, quando o
santo nome é cantado no estágio de limpeza (namabhasa - o estágio quando as impurezas
estäo sendo varridas do coraçäo de quem canta), entäo a mais elevada meta é obtida após
alguma demora. Todos outros resultados auspiciosos e piedosos, inclusive a liberaçäo, podem
facilmente ser obtidos, porém alcançar amor por Deus fica em suspenso durante algum tempo.
No estágio de limpeza do cantar, a jiva é absolvida de seus pecados, e por seguir esta senda
gradualmente alcança o mais elevado estágio do cantar: suddhanama ou o nome puro.
Obtém-se amor por Krishna somente depois de chegar a esse estágio de cantar puro. Quando
namabhasa se completa, todos pecados e anarthas (anseios indesejáveis do coraçäo) säo
dissipados, e o devoto canta puramente. Entäo suddhanama oferece ao devoto o mais elevado
sucesso espiritual: amor por Krishna.
"O cantar deve ser livre de qualquer forma de interrupçäo porque isto resultará em ofensas
contra o santo nome, que por sua vez se constituem num obstáculo intransponível na senda
para o sucesso. Vyavadhana, ou interrupçäo, é de dois tipos. O primeiro tipo se chama
varna-vyavadhan ou interrupçäo nas sílabas. Por exemplo, na palavra bengali hathikari, a
primeira sílaba ha- e a última sílaba ri- podem ser juntadas para dar Hari, um nome de Krishna.
Porém porque as sílabas thi-ka se inserem no meio, a repetiçäo de hathikari näo dará o
verdadeiro benefício de cantar o santo nome, i.e. krishna-prema. Contudo a palavra islâmica
haram näo é pervertida por tal desordem das sílabas ou varna-vyavadhan. Na palavra haram,
as sílabas que compöe o santo nome Ram säo ininterruptas; portanto, falar haram proporciona
liberaçäo porque é namabhasa.
"O devoto que canta com pureza o nome de Krishna, livre das ofensas vyavadhana, deve ser
considerado como um Vaisnava muito elevado. Deve ser adorado com grande cuidado e
afeiçäo.
Quando se Destrói Anartha, o Nome Puro Aparece
"Qualquer pessoa que deseja alcançar o mais elevado sucesso no cantar com pureza deve se
aproximar de um mestre espiritual fidedigno e serví-lo sincera e cuidadosamente.
Gradualmente, conforme todos anarthas ou anseios indesejáveis do coraçäo forem destruídos,
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o nome transcendental de Krishna aparece e dança na língua do devoto. O devoto tem que
saborear o santo nome, agora de sabor nectáreo, a cada momento. Assim espiritualmente
intoxicado, o devoto da mesma forma também dança, e naquele momento o êxtase do amor
por Deus também entra dançando no coraçäo do devoto. O mundo inteiro cai a seus pés e
maya se afasta correndo.
"O Senhor Supremo investiu todas Suas potências em Seu nome transcendental e ofereceu-o
às entidades vivas. Quem tiver suficiente fé no santo nome está qualificado para cantá-lo.
Quem canta o nome do Senhor Krishna está executando devidamente seus deveres prescritos.
O santo nome é täo poderoso que cantar näo depende de condiçöes de tempo, local, regras,
limpeza, etc.. Atividades piedosas como dar caridade, realizar sacrifícios e abluçöes, e cantar
mantras védicos todos säo regulados por regras rígidas. Porém o único pré-requisito para
cantar o santo nome é fé. Quem se refugia no santo nome com fé inquebrantável obterá toda
perfeiçäo. A jiva na Kali-yuga deve tornar-se livre do engano, afiliando-se como membro da
famíla de devotos do Senhor Krishna, e continuamente cantar o santo nome.
"Deve-se aceitar tudo que é favorável à realizaçäo de serviço devocional e ao mesmo tempo
rejeitar tudo que é desfavorável. Deve-se buscar associaçäo com os devotos e utilizar a vida
em constante cantar e lembrar do santo nome do Senhor. Deve-se deixar todas outras práticas
religiosas e atividades piedosas, e nunca adorar qualquer outra pessoa. Tampouco deve-se
pensar que outros sejam idependentes do Senhor Supremo. Quem sempre canta o santo nome
e serve os devotos certamente obterá amor pelo Senhor Krishna."
Srila Haridasa Thakura novamente colocou sua cabeça nos pés de lótus do Senhor. Chorando,
implorou ao Senhor que pudesse desenvolver apego pelo santo nome. Quem for abençoado
com amor e devoçäo e tiver prazer em servir os pés de lótus de Srila Haridasa Thakura, achará
esse livro Harinama Cintamani täo valioso quanto a própria vida.
CAPITULO TRES
Namabhasa ou o Nome Obnubilado
Todas as glórias a Sri Gadadhara Pandit e ao Senhor Sri Gauranga; todas as glórias ao Senhor
Nityananda, a vida de Srimati Jahnavadevi; todas as glórias a Sri Advaita Acharya e Mäe Sita;
todas as glórias a Srila Srivas Pandit, e a todos devotos do Senhor Chaitanya.
O misericordioso Senhor Chaitanya estendeu Suas mäos semelhantes a lótus e levantou Srila
Haridasa. O Senhor disse: "ó Haridasa, por favor concentra-te. Explica claramente para Mim
o namabhasa. Assim que qualquer um compreender namabhasa, a partir dali se esforçará por
cantar o nome puro. O santo nome é potente e dotado de tais qualidades transcendentais que
qualquer um facilmente consegue obter liberaçäo simplesmente por cantar.
"Senhor Krishna é o sol onipotente, e Ele e Seu nome säo idênticos. Assim, o santo nome é
como o todo-poderoso sol refulgente que dispersa a escuridäo de maya ou ignorância. A fim
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de jorrar misericórdia sobre as almas condicionadas, o sol do santo nome surgiu no horizonte
deste mundo material.
"Porém às vezes nuvens e névoa obscurecem nossa visäo, e entäo o sol näo é visível. A jiva
fica coberta pela nuvem do anartha e a névoa da ignorância. A nuvem e névoa estendem uma
cobertura sobre a visäo da jiva de modo que esta se torne incapaz de ver o santo nome
semelhante ao sol. O sol é grande demais para qualquer nuvem ou névoa encobrir, porém se a
visäo da jiva estiver obnubilada, entäo o sol se esconde dela.
"Falta de conhecimento da natureza transcendental e identidade do santo nome cria uma névoa
de ignorância que mergulha a jiva na escuridäo. Quem for ignorante quanto à supremacia do
Senhor Krishna sobre tudo mais, fica confuso e começa a adorar os semideuses. Assim fica-se
enredado no ciclo de açäo fruitiva do karma. Aquela pessoa que näo realizou a natureza
transcendental da jiva está em consciência material, e fica iludida e sempre na ignorância.
Srila Haridasa Thakura exclamou em regozijo: "ó, como sou afortunado hoje! O Senhor
Chaitanya deseja ouvir de mim sobre o santo nome! Quem está na ignorância näo sabe nada
sobre a natureza espritual do santo nome, nem sobre a supremacia do Senhor Krishna sobre
tudo; na verdade, os semideuses säo os servos do Senhor Krishna, a natureza da jiva é
transcendental, e maya (ilusäo) é a natureza da matéria. Quem entender estas verdades se
liberta da escuridäo da ignorância e obtém iluminaçäo.
"Ansiar por coisas irreais e temporárias, fraqueza de coraçäo e mente, e ofensas, produzem
uma nuvem de anarthas que mantém as jivas em constante sofrimento. Asat-trsna (almejar o
ilusório) indica desejos por coisas näo relacionadas ao Senhor Krishna, ou em outras palavras,
o anseio por assim-chamados ganhos materiais; hridaya-daurbatyam se refere a propensöes do
coraçäo e da mente que se originam duma condiçäo de fraqueza espiritual; e aparadha
significa ofensas. Estes três anarthas devem ser evitados, pois formam uma nuvem que
esconde o sol do santo nome. O santo nome é sempre perfeito em si, porém namabhasa
ofusca a visäo que a jiva dele tem.
A Extensäo de Namabhasa
"Uma vez que a nuvem e a névoa se dispersam, o sol do santo nome de novo brilha
refulgentemente e ilumina o devoto com amor por Deus.
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"O mestre espiritual fidedigno instrui o discípulo em sambandha-jnana. O cantar do santo
nome é o indício (abhideya) desse relacionamento eterno (sambandha). O guru encoraja o
discípulo a assumir abhideya ou cantar. O sol do santo nome agora brilha com mais força e
evapora a névoa de anartha. Cantar nesse estágio se torna uma necessidade indispensável
(prayojana). Prayojana leva o devoto ao amor por Deus. A jiva agora experimenta êxtase a
cada momento do cantar.
"O guru primeiro instrui seu discípulo em sambandha-jnana. Isso deve ser explicado
exaustivamente, e o discípulo deve recebê-lo com fé. A quintessência desse conhecimento é
que o Senhor Krishna é eternamente a Suprema Personalidade de Deus; a jiva é Sua serva
eterna; e o relacionamento amoroso da jiva com o Senhor Krishna igualmente é eterno como
característica inerente de sua natureza. Em contato com a natureza material, a jiva esquece
seu relacionamento eterno com o Senhor e perambula sem destino nesse mundo de ilusäo
buscando bem-aventurança. O mundo material é uma verdadeira prisäo onde a jiva é
penalizada por voltar suas costas a Krishna. Consiste de quatorze sistemas planetários que
juntos säo conhecidos como Devi-dhama; estes sistemas planetários säo as células dentro da
prisäo nas quais as jivas recalcitrantes säo confinadas. Devi-dhama näo é um lugar para se
experimentar felicidade e bem-aventurança. Os assim-chamados prazeres materiais aqui
oferecidos às jivas säo apenas temporários, e portanto simplesmente causam mais sofrimento;
mas como puniçöes säo remédios, as jivas säo reformadas através de tais medidas punitivas.
O Resultado de Namabhasa
"O estágio de namabhasa näo deve ser subestimado, pois proporciona muitos benefícios
positivos às jivas e aumenta sua piedade. Em verdade, namabhasa é uma das maiores virtudes
da jiva. Proporciona-lhe mais boa fortuna que religiosidade, votos, yoga, sacrifícios e assim
por diante, tudo junto. Agora por cantar todos seus pecados säo absolvidos; assim ela se libera
dos efeitos de Kali-yuga. Kali por sua vez, se torna serva bem-querente da jiva,
providenciando segurança e equanimidade. As misérias infligidas pelos demônios, fantasmas,
duendes, maus espíritos e influências planetárias maléficas säo facilmente evitadas. Mesmo se
uma jiva estiver destinada aos planetas infernais, obtém liberaçäo; todo seu prarabdha-karma
(reaçöes pecaminosas de atividades de vidas anteriores que estäo tendo efeito agora) säo
contrariadas. Namabhasa é maior que o resultado de estudar todos Vedas, de visitar cada
local de peregrinaçäo ou de realizar cada obra altruísta e piedosa possível.
"As quatro metas oferecidas nos Vedas - religiosidade, fortuna, desfrute sensorial e liberaçäo -
estäo todas disponíveis através do cantar namabhasa. Ele é dotado de inimaginável poder que
pode recuperar qualquer entidade viva. Confere júbilo ilimitado e eleva mesmo os negligentes
a um estágio de realizaçäo muito exaltado. Namabhasa oferece residência eterna na morada
espiritual de Vaikuntha, especialmente em Kali-yuga; isso está escrito nas escrituras.
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"As quatro atitudes no cantar namabhasa säo sanketa (näo-intencional), parihasa (brincando
ou ridicularizando), stobha (menosprezando) e hela (sem respeito e negligentemente).
Sanketa é de dois tipos: 1) quando a pessoa, embora tencionando cantar o nome do Senhor
Vishnu, tem um conceito material do mesmo; e 2) quando há algo diferente do Senhor ou Seu
nome na mente, porém se canta o santo nome por de algum modo estar lembrando desse som
transcendental. Os yavanas comem vacas, contudo apesar disso podem obter liberaçäo por
emitirem haram, uma palavra comum na linguagem deles (urdu) em que o nome do Senhor
Krishna é cantado automaticamente. O poder do santo nome nunca diminui mesmo se cantado
em sanketa-namabhasa.
Cantar por brincadeira (parihasa) como fez Jarasandha, produz liberaçäo, assim como cantar
menosprezando (stobha) tal como fez Sisupala. Mesmo cantar inatentamente e sem respeito
resulta em salvaçäo dos embates da existência material. O cantar namabhasa pode purificar
qualquer um; pessoas menos educadas tais como mlecchas, materialistas grosseiros, e
preguiçosos todos podem se beneficiar com essa oportunidade de obter liberaçäo.
Shraddha-namabhasa e Hela-namabhasa
"Cantar com fé, mas ainda assim afligido por anarthas é conhecido como shraddha-nama,
conforme Tu mesmo explicaste, meu Senhor. O elemento de real shraddha (fé) está ausente
nas quatro atitudes de cantar namabhasa, e o cantar sanketa vem tingido de negligência. Näo
obstante, mesmo hela-namabhasa (cantar com negligência) confere liberaçäo, sem falar no
cantar com fé. Cantar com fé nos estabelece na plataforma sambandha-jnana, que resulta em
rati ou atraçäo pelo santo nome. Shraddha-nama limpa os anarthas mui fácil e rapidamente.
"Com exceçäo de krishna-prema, todos outros sucessos estäo disponíveis por meio de
namabhasa. Quando os anarthas se nulificam, entäo namabhasa se converte em nama ou
suddha-nama, o nome puro. Através do cantar puro e por seguir as regras do sadhana
conforme instruçäo do guru, sadhu e shastra, lenta porém seguramente a pessoa adquire
krishna-prema - amor por Deus. Porém o cantar namabhasa nunca pode dar krishna-prema.
"Curvo-me diante daquela alma afortunada que se libertou de cometer namaparadha, ofensas
contra o santo nome, no estágio namabhasa. Esse estágio namabhasa está bem além de
conhecimento e trabalho fruitivo. E se o sraddha da pessoa estiver fundamentado em rati ou
atraçäo e ainda for sem ofensa, entäo gradualmente levará ao nome puro.
19
caminho para o nome obnubilado é aberto por chaya-shraddhabhasa ou a pálida sombra de
shraddha (fé).
"Por outro lado, pratibimba-abhasa reflete uma imagem distorcida do objeto real, assim como
a luz do sol se altera quando é refletida por uma superfície d'água. Este reflexo distorcido só
permite percepçäo imprecisa da fonte de luz original. Pratibimba-namabhasha aparece
quando os raios do santo nome säo refletidos pelo lago do pensamento mayavadi, concedendo
sayujya-mukti aos mayavadis que o cantam. Contudo, isto näo gera a quintessência do cantar:
krishna-prema. De fato, esse namabhasa é um dos maiores namaparadhas; por isso näo pode
realmente ser considerado namabhasa. Chaya-namabhasa ou svarupa-namabhasa é o
verdadeiro namabhasa, e se subdivide em quatro categorias, conforme descritas acima. As
escrituras, enquanto louvam namabhasa, condenam profusamente pratibimba namabhasa.
Chaya-namabhasa é tido como resultado de cantar o santo nome com anarthas oriundos da
ignorância. Porém o cantar do santo nome com anarthas alimentados por conhecimento
maléfico e pervertido produz pratibimba namabhasa; isso é considerado um terrível obstáculo
ao serviço devocional e uma ofensa atroz.
"Um cantor vaisnava-abhasa pode näo ser reconhecido como um devoto puro Vaisnava, mas
ainda assim deve ser respeitado como um devoto neófito enquanto näo for contaminado pela
filosofia mayavadi. Ele pode facilmente se elevar através do contato com pessoas santas. Os
Vaisnavas elevados consideram tais neófitos como inocentes e portanto cobrem-nos de
misericórdia. Eles näo devem ser ignorados e evitados como os mayavadis agnósticos. Os
devotos puros ressucitaräo a pequena centelha de devoçäo neles, encorajando sua propensäo a
adorar a Deidade, e gradualmente concederäo sambandha-jnana para estabelecê-los em
serviço devocional ao Senhor Supremo e Seus devotos. Porém se exibirem forte inclinaçäo a
visöes mayavadi incorrigíveis entäo deveräo ser evitados.
Pratibimba Namabhasa
"Quando uma pessoa vê fé firme nos outros, fica impressionada; assim shraddha-abhasa ou o
princípio da fé é evocada nela. Ela deseja elevaçäo e assim canta constantemente, embora
ainda com fortes apegos aos prazeres sensoriais e desejo de liberaçäo. Sua shraddha näo é
verdadeira mas tem os sintomas de shraddha. Isto se define nas escrituras como pratibimba-
shraddha-abhasa. Logo cantar com pratibimba-shraddha-abhasa resulta em pratibimba-
namabhasa. Mas se pelas circunstâncias este tipo de namabhasa se torna aberrante pela
filosofia mayavadi, entäo o cantor começa a pensar que o nome perfeito e transcendental do
Senhor é mundano e imperfeito, precisando ser aperfeiçoado pelo cantar com conhecimento.
Esta ofensa oblitera o pouco de shraddha genuíno que ele tinha.
Chaya- e Pratibimba-Namabhasa
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do nome do Senhor pode emanar de sua boca, porém vem destituído da potência do Senhor.
Esse cantar é cheio de anseio por desfrute sensorial e liberaçäo, e o tempo todo pensam que o
nome do Senhor é material. Porque tentam enganar, esse cantar resulta em incessante miséria
para eles.
"Se por alguma boa fortuna, o mayavadi abandonar o desejo por gratificaçäo sensorial e
liberaçäo e começar a cantar, pensando em si mesmo como servo de Krishna, será exonerado
de suas ofensas e aberraçöes espirituais. Entäo ele se abriga no santo nome e se arrepende.
Isto abre caminho para ouvir e se associar com os devotos puros. Neste momento seu cantar o
leva a compreender sambandha-jnana. Ele deve cantar enquanto continuamente chora
lágrimas de contriçäo; só entäo é que pode invocar a misericórdia do santo nome.
"O mayavadi considera tanto a forma transcendental do Senhor Krishna quanto a posiçäo
constitucional inerente da jiva de serva eterna do Senhor, como transitórias e imaginárias.
Esta filosofia mayavadi é um namaparadha atroz. Namabhasa é realmente uma árvore-que-
realiza-desejos, pois até mesmo concede aos mayavadis a liberaçäo sayujya täo desejada por
eles. Porque o nome é onipotente, oferece mukti-abhasa ou uma semelhança de liberaçäo no
estágio pratibimba-namabhasa. Dentre os cinco tipos de liberaçäo, sayujya (tornar-se uno
com Deus) é considerado abhasa, mera sugestäo de liberaçäo. O sofrimento material de fato
termina em sayujya, porém segue-se a ruína espiritual certa.
"Os mayavadis, cativados por maya, acham sayujya prazerosa, porém é somente um fantasma
da verdadeira felicidade. Eles perdem para sempre a existência transcendental, conhecimento,
felicidade e serviço devocional, porque sayujya-mukti ofusca a lembrança de Krishna. Onde há
questäo de eterna bem-aventurança quando se duvida do aspecto eterno de bhakti e prema?
"Se o cantor de chaya-namabhasa näo for contaminado pelos conceitos ateístas, entäo tem
uma boa chance. Sua posiçäo é que ele é ignorante sobre a potência do santo nome, porém é
da natureza inerente do santo nome impregnar esse conhecimento no coraçäo do cantor. Por
exemplo, o sol pode näo ser visível quando o céu está nublado, mas uma vez que as nuvens se
dispersem, o sol brilhará em sua plena glória. O cantor consegue grande benefício por
refugiar-se num mestre espiritual fidedigno, e em bem pouco tempo será capaz de alcançar o
nome puro e krishna-prema.
"Evitem diligentemente associaçäo com os mayavadis! Por favor sirvam aqueles que se
apegam a cantar com pureza! ó Senhor Chaitanya, esta é Tua injunçäo e quem quer que a siga
é muito afortunado. Os que näo ligam e desobedecem esta instruçäo säo desgraçados que
sofreräo eternamente. ó, meu Senhor! Por favor abençoa-me para que eu possa rejeitar má
associaçäo e obter refúgio a Teus pés de lótus! Näo existe outro caminho."
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Quem é abençoado com amor e devoçäo e sente prazer em servir os pés de lótus de Srila
Haridasa Thakura achará este livro Harinama Cintamani täo valioso quanto a própria vida.
CAPITULO QUATRO
Criticar Pessoas Santas
Todas as glórias ao Senhor Sri Gauranga, a vida de Sri Gadadhara Pandit; todas as glórias ao
Senhor Nityananda, o coraçäo de Srimati Jahnavadevi; todas as glórias a Sri Advaita Acharya,
o Senhor de Màe Sita; todas as glórias a Srila Srivas Pandit, e a todos devotos do Senhor
Chaitanya.
O Senhor Chaitanya disse: "Haridasa, agora descreva em detalhes as ofensas contra o santo
nome." Srila Haridasa respondeu: "ó Senhor, tudo que eu disser será apenas através de Tua
revelaçäo. Sou um mero marionete.
"As escrituras enumeram dez ofensas contra o santo nome, e tenho muito medo destas ofensas.
Vou enumerá-las uma a uma; por favor dá-me forças para evitar estas ofensas, meu Senhor.
"3) Desobedecer o mestre espiritual que revela a verdade sobre o santo nome.
"5) Considerar as excelências e qualidades divinas do santo nome, conforme delineadas nas
escrituras, como sendo imaginárias.
"10) Näo desenvolver amor pelo santo nome depois de conhecer Suas glórias, devido a manter
apegos ao corpo e coisas relacionadas a ele.
"Criticar uma pessoa santa é a primeira ofensa contra o santo nome; isto destroça
completamente nossa vida espiritual. Descreveste pessoalmente as qualidades de um sadhu em
22
Tua encarnaçäo como o Senhor Krishna, quando falaste a Uddhava conforme ficou registrado
no Décimo Primeiro Canto do Srimad-Bhagavatam.
"As qualidades do sadhu säo as seguintes: ele é misericordioso, tolerante, equânime para com
todos, realizando penitências sem infligir danos excessivos ao corpo; é veraz, de coraçäo puro,
compassivo, livre da inteligência luxuriosa, mestre dos sentidos, aceita voluntariamente
empobrecimento material; é gentil, limpo, regulado na alimentaçäo, pacífico, apático para com
o materialismo, paciente, constante; o Senhor Krishna é seu único refúgio, está livre da ilusäo;
é grave, venceu a fome, sede, lamentaçäo, inveja e velhice; näo espera honra dos outros;
oferece respeito aos outros; é perito; näo engana; e tem conhecimento.
"Estas qualidades podem ser divididas em duas categorias: svarupa ou as qualidades diretas e
inerentes de qualquer substância, e tathasta, qualidades que säo ornamentais e que säo visíveis
quando a substância entra em contato com outra coisa. O fato do sadhu aceitar o Senhor
Krishna como seu único refúgio é seu svarupa-laksana, e todas outras qualidades säo tathasta.
Se por alguma boa fortuna a pessoa se associa com um Vaisnava, desenvolve um gosto pelo
santo nome, e se refugia completamente nos pés de lótus de Krishna. Assim, ela desenvolve
svarupa-laksana, e entäo pela continuaçäo do cantar, gradualmente desenvolve os outros
laksanas ou sintomas. Estes outros laksanas säo tathasta porém todavia estäo essencialmente
presentes num Vaisnava.
23
"ó Senhor Chaitanya, através do exemplo de Raghunatha dasa Goswami, ensinaste a todos
como tornar-se um devido grhastha Vaisnava. Srila Raghunatha dasa Goswami apareceu näo
na casta brahmana mas na casta inferior kayastha, num vilarejo chamado Saptagram. Tua
instruçäo para ele foi que näo se impacientasse e agisse loucamente abandonando
impulsivamente o lar, mas que retornasse a sua vida familiar e ali permanecesse. A liberaçäo se
obtém gradualmente por seguir um processo ordenado; näo há necessidade de fingir
prematuramente que se é desapegado ou renunciado só para impressionar as pessoas. A
renúncia tem que acontecer dentro do coraçäo. Usar vestes de renunciado quando os sentidos
ainda estäo descontrolados se chama renúncia de macaco ou markata-vairagya. O chefe-de-
família deve cumprir com seus deveres de forma regulada e praticar desapego cultivando fé
firme e profundo apego a Krishna internamente, enquanto conduz suas atividades sociais
externas com as pessoas em geral. Mui rapidamente o Senhor Krishna irá liberá-lo
pessoalmente.
"Quando viste que Srila Raghunatha dasa Goswami havia finalmente deixado seu lar e
abraçado a vida de renunciante, Tuas instruçöes a ele sobre a senda correta da renúncia foram
maravilhosas. Ensinaste que näo se deve tomar parte ou ficar ouvindo conversaçöes
materialistas frívolas. Usar vestes finas e provar gulodices deve ser rejeitado. Sempre pronto
a oferecer respeito aos outros, näo exigindo respeito para si mesmo, deve-se constantemente
cantar o santo nome. Deve-se prestar serviço íntimo a Sri Radha e Krishna no humor de
habitantes de Vraja.
"O svarupa-laksana ou principal sintoma (i.e. rendiçäo ao Senhor Krishna) deve prevalecer
num sadhu independente de seu varna e ashrama. O tathasta-laksana ou sintomas marginais
certamente iräo variar de acordo com os varnas e ashramas. Rendiçäo indesviável ao Senhor
Krishna é o svarupa-laksana do serviço devocional.
"Quem quer que possua esta qualidade brevemente descobrirá que outros sintomas marginais
advieram-lhe infalivelmente. Porém se por acaso os sintomas marginais näo chegaram à plena
maturidade num sadhu rendido, e em vez disso certas sérias discrepâncias de caráter säo
visíveis nele, entäo ainda assim ele deve ser respeitado como um sadhu ou alma santa. Este é
o veredito das escrituras, conforme expresso nas próprias palavras do Senhor Krishna no
Bhagavad-gita. Uma profunda verdade filosófica é revelada por esse verso, e só a percebemos
devido à Tua misericórdia.
"Quando se desenvolveu um verdadeiro gosto por cantar, entäo com apenas um único enunciar
do santo nome se consegue erradicar todos pecados anteriores. Alguns vestígios de reaçäo
pecaminosa podem permanecer ainda num determinado indivíduo, mas também estes
gradualmente säo removidos pelo processo do cantar. Conforme esses últimos vestígios de
pecado desaparecem, ele emerge um devoto puro. É claro, os vestígios de pecado
remanescentes säo vistos pelo homem comum como pecados; mas se uma pessoa santa for
criticada por causa dos vestígios de um pecado quase extirpado de seu caráter, isto é uma
ofensa atroz. Se for feita crítica contra um sadhu por pecados cometidos antes dele se render
24
a Krishna, isto igualmente é outra ofensa séria; tal crítico certamente convida a ira do Senhor
Krishna.
"Quando ouço um sadhu cantar o santo nome, ofereço meus respeitos a ele, sabendo que é um
Vaisnava perfeito. Um Vaisnava é o mestre espiritual do mundo, um verdadeiro amigo de
todos seres, sempre um oceano de compaixäo. Quem quer que critique um Vaisnava vai
diretamente para o inferno e sofre dores inarráveis nascimento após nascimento. As portas de
bhakti se fecham para tal ofensor porque serviço devocional é a dádiva misericordiosa de um
Vaisnava para as entidades vivas. O Vaisnava é uma morada das potências espirituais do
Senhor Krishna; outros recebem krishna-bhakti somente por sua associaçäo confidencial.
"A potência ou shakti de devoçäo pura é uma mistura de hladini (a potência de Krishna que dá
prazer) e samvit (potência de Krishna que dá conhecimento). A potência de bhakti pura é
instilada no devoto aspirante através de um devoto puro aperfeiçoado; é por meio desse
processo que a potência bhakti é transmitida. A potência bhakti repousa no coraçäo dum
transcendentalista, e o utiliza como veículo para maior movimentaçäo. Quando uma jiva se
torna livre da inveja e se inclina para o serviço devocional, a potência bhakti entäo é
transferida do coraçäo de um devoto puro para o coraçäo daquela jiva. Isso é um grande
mistério. As três grandes pedras-de-toque que oferecem a misericórdia de um Vaisnava
auxiliando a bhakti säo: os restos de alimento do Vaisnava, a água de seu lava-pés, e poeira de
seus pés de lótus.
"Um ofensor contra um sadhu é aquele que critica um Vaisnava por sua casta, alguma queda
acidental näo premeditada, os últimos vestígios de seus pecados anteriores, ou suas atividades
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pecaminosas antes de ter se rendido ao Senhor Krishna. Este ofensor nunca irá desenvolver
um gosto por cantar o nome. Quem se abrigou completamente no processo devocional puro é
considerado um Vaisnava puro. Os quatro defeitos ante-mencionados podem estar presentes
nele, porém ele está totalmente livre de todas outras falhas. Logo criticá-lo traz ruína ao
ofensor. As glórias do santo nome säo propagadas pelo Vaisnava; o Senhor Krishna näo tolera
qualquer crítica contra ele. Pode-se descartar todas outras atividades tais como religiosidade,
yoga, sacrifícios, atividades fruitivas, conhecimento empírico e assim por diante; se a pessoa
simplesmente canta o santo nome, isto é a quintessência da cultura espiritual.
"O verdadeiro sadhu nunca critica semideuses e outras escrituras; ele simplesmente canta o
santo nome. Independente de tal sadhu ser chefe-de-família ou sannyasi, deve-se
ansiosamente tomar a poeira de seus pés de lótus. A pureza de um Vaisnava pode ser medida
pelo tanto de atraçäo ou rati que ele tem pelo santo nome. Näo tem nada que ver com sua
posiçäo oficial como Vaisnava, ou sua fortuna, erudiçäo, juventude, aparência agradável, força
ou séquito. Portanto quem se abriga no santo nome deve prescindir da propensäo a criticar
sadhus.
"Devoçäo pura baseada no cantar depende da misericórdia do devoto puro e sua devoçäo sem
mistura. Sem estas duas tudo se tornará pervertido e estragado. Bhakti se retrai à primeira
indicaçäo de sadhu-ninda, que entäo se torna nama-aparadha. Que o devoto aspirante
desaprove sadhu-ninda e sirva e se associe aos sadhus.
"O comportamento Vaisnava correto é evitar asat-sanga ou má companhia que influencia uma
pessoa a desrespeitar um sadhu. Má associaçäo é de dois tipos; a primeira é associaçäo com
mulheres, o que significa manter uma conecçäo ílicita com outra mulher além da própria
esposa, ou estar excessivamente apaixonado pela própria esposa. As escrituras só aprovam um
relacionamento devidamente regulado com a esposa. Buscar a companhia de um homem
licencioso ou mulherengo também cai na primeira categoria de asat-sanga ou má associaçäo.
"O segundo tipo de má associaçäo é misturar-se com näo-devotos. Existem três tipos de näo-
devotos: o mayavadi, o dharmadhvaji (impostor), e o nirisvara (ateísta). Mayavadis näo
aceitam que a forma do Senhor Supremo é eterna. Eles dizem que a forma da Deidade do
Senhor é ilusória ou maya, e que a jiva também é produto de maya. Um dharmadvaji é uma
pessoa que näo tem devoçäo ou apego no coraçäo porém faz um show externo disso. Usa as
vestes de um devoto visando fins materialistas. Um nirisvara é um näo-crente, ou ateísta. Um
aspirante serio ou sadhaka deve evitar tal má associaçäo. Se alguém argumentar que criticar
tais näo-devotos é sadhu-ninda, sua companhia também deve ser evitada meticulosamente.
Deve-se ficar longe da má associaçäo e tomar refúgio total no santo nome. Só entäo o amor
por Deus é garantido.
O Kanistha-Vaisnava
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"O devoto neófito (kanistha-adhikari Vaisnava) demonstra uma fé que é formal, até mesmo
mundana. Ele adora a Deidade mas näo desenvolveu um interesse em servir um sadhu
Vaisnava. Ele é quase um Vaisnava, porém ainda näo é um verdadeiro Vaisnava, logo é
incapaz de auferir todo benefício espiritual de sadhu-sanga. Um neófito terá de receber as
bençäos de um Vaisnava puro a fim de avançar espiritualmente.
O Madhyama-Vaisnava
"Se um madhyama Vaisnava (devoto intermediário) desenvolve afeiçäo espiritual pelo Senhor
Krishna, amizade com os devotos do Senhor Krishna, compaixäo pelos inocentes, e evita a
companhia dos ateístas, rapidamente se torna um devoto puro. Somente ele se torna
qualificado para cantar o nome puro.
O Uttama-Vaisnava
"Um devoto puro do mais elevado nível vê o Senhor Krishna manifestado em tudo e sabe que
tudo está Nele. De fato, ele vê que o Senhor Krishna é sua vida e alma. Näo liga para
distinçöes entre quem é Vaisnava ou näo; sua vida inteira gira em torno do santo nome. Para
ele, o santo nome é a essência de tudo.
"As escrituras declaram que um Vaisnava neófito (aquele que é quase um Vaisnava) pode
cantar no estágio de namabhasa, o estágio de limpeza. Um madhyama-Vaisnava é digno de
cantar o nome puro: por isso ele deve sempre evitar cuidadosamente ofensas ou
namaparadhas. O uttama-Vaisnava nunca pode cometer qualquer ofensa, porque percebe o
Senhor Krishna em tudo.
"Agora, cada sadhaka deve considerar calmamente estes pontos e refletir sobre sua real
posiçäo. Primeiro, deve parar com sadhu-ninda. Entäo deve cantar com fé firme, de acordo
com sua posiçäo como Vaisnava. Portanto é essencial que ele reconheça sua própria posiçäo.
As atividades do devoto devem centralizar-se em torno da associaçäo com sadhus, serviço aos
sadhus, o cantar do santo nome e uma atitude constante de compaixäo por todas entidades
vivas.
"Se alguém ofender um sadhu num momento de engano e loucura, deve cair aos pés do sadhu
e arrepender-se amargamente; chorando e cheio de contriçäo, deve implorar por perdäo.
Deve-se declarar um miserável caído que precisa da graça do Vaisnava. Um sadhu é muito
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misericordioso; seu coraçäo amolecerá e ele abraçará o ofensor, assim exonerando-o de suas
ofensas.
"Ofereço esta explicaçäo do primeiro entre os dez namaparadhas a Teus pés de lótus."
Quem for como um abelhäo atraído pelos pés de lótus de Srila Haridasa Thakura encontrará o
próprio poder da vida neste Harinama Cintamani.
CAPITULO CINCO
Considerar os Semideuses Independentes de Krishna
Todas as glórias ao Senhor Sri Gauranga, a vida de Sri Gadadhara Pandit; todas as glórias ao
Senhor Nityananda, o coraçäo de Srimati Jahnavadevi; todas as glórias a Sri Advaita Acharya,
o Senhor de Màe Sita; todas as glórias a todos devotos do Senhor Chaitanya.
Srila Haridasa Thakura continuou falando de mäos postas: "ó Senhor do Universo, agora oro
para que possas escutar minha explicaçäo sobre a segunda ofensa contra o santo nome.
"As partes separadas do Senhor Supremo ou vibhinamsa säo de duas categorias. Jivas
comuns possuem apenas as primeiras cinquenta das sessenta e quatro características
transcendentais do Senhor, e estas em quantidade minúscula. Porém na segunda categoria de
jivas, incluindo semideuses como o Senhor Shiva e outros, as mesmas cinquenta características
se encontram com plena potência; adicionalmente, as cinco qualidades seguintes ficam
parcialmente evidentes. Contudo, estas cinco qualidades säo exibidas com plena potência
apenas pela categoria Vishnu.*
* Vide Capítulo Dois para a lista das sessenta e quatro qualidades transcendentais do Senhor.
Para uma discussäo detalhada do assunto, favor ver Néctar da Devoçäo, cap. 21-24 - Ed.
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"Assim somente os vishnu-tattvas säo adornados no mais pleno grau com as primeiras
cinquenta e cinco qualidades do Senhor. Além do mais, demonstram uma parcela das cinco
qualidades seguintes, num total de sessenta; estas cinco qualidades säo visíveis em absoluta
plenitude somente no Senhor Narayana. Portanto o Senhor Shiva e todos semideuses säo os
servos do Supremo Senhor Vishnu. Embora os semideuses sejam superiores às jivas, o
Supremo Senhor Vishnu é o mestre e controlador tanto das jivas quanto dos semideuses.
"Pessoas que säo ignorantes quanto ao princípio vishnu-tattva da Divindade Suprema tentam
equiparar o Senhor Supremo com os semideuses. O Senhor Shiva e todos outros semideuses
säo os que executam as ordens do Supremo Senhor Vishnu. Mayavadis dizem que o brahman
impessoal é sem forma, ao passo que Shiva, Brahma e Vishnu, as três deidades predominantes
dos três modos materiais (ignorância, paixäo e bondade, respectivamente) possuem formas. As
escrituras declaram sem equívoco que o Senhor Brahma cria o mundo material e o Senhor
Shiva o destrói; porém o Senhor Narayana ou Vishnu, o mantenedor, é o Senhor eternamente
adorável. Quem quer que adore semideuses e negligenciar Vasudeva, o Supremo Senhor
Narayana, apodrece eternamente no inferno da existência material.
"Algumas pessoas argumentam que, já que o Senhor Vishnu é aceito como a Verdade Absoluta
onipenetrante nos Vedas, o Senhor está presente em todos semideuses; portanto a adoraçäo
dos semideuses é equivalente à adoraçäo do Senhor Vishnu. Este argumento é enganoso. As
escrituras näo apoiam a idéia que a adoraçäo dos semideuses é idêntica à adoraçäo do Senhor
Vishnu. Na verdade, a adoraçäo do Senhor Vishnu realiza a adoraçäo de todos semideuses.
Logo, adoraçäo separada dos semideuses näo é necessária.
"A interpretaçäo correta da verdade védica é esta: se o Senhor Vishnu é onipresente, entäo
adorá-Lo automaticamente é adorar todos semideuses. Regando as raízes, uma árvore
prospera; regando o tronco, folhas e galhos, a árvore definha e morre. Pessoas tolas que
esquecem os princípios védicos cometem este êrro. Porque a visäo delas é pervertida, adoram
certos semideuses conforme sua mentalidade. Säo ignorantes quanto à injunçäo védica que
adoraçäo ao Senhor Vishnu é uma atividade eterna em bondade pura, além dos três modos
materiais.
"Um chefe-de-família devoto do Senhor Vishnu ou Krishna deve adorar o Supremo Senhor
Krishna em todas ocasiöes, e estar livre de dúvidas. Näo se requer que realize abluçöes ou
outras atividades fruitivas. Os Vedas recomendam a adoraçäo do Senhor Krishna e Seus
devotos. Ao adorar antepassados e semideuses, deve oferecer-lhes guirlandas da Deidade do
Senhor Krishna. Se, por outro lado, o devoto chefe-de-família realizar a cerimônia shraddha
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conforme os métodos dos mayavadis, ou adorar outros semideuses, entäo ele comete uma
ofensa atroz. Impor algum conceito dualista ao Supremo Senhor Vishnu é um namaparadha e
desqualifica a pessoa para o caminho de bhakti pura.
"Um namaparadha sério é considerar semideuses tais como o Senhor Shiva como sendo
divindades supremas separadas. Politeísmo é uma dolorosa ofensa: "O Senhor Vishnu é o
Supremo Deus, mas Senhor Shiva e os outros semideuses também säo supremos
individualmente"; esta idéia é incorreta. Pode-se, contudo, adorar os semideuses como guna-
avataras, shaktiavesha-avataras ou como servos do Senhor Vishnu. Ninguém é independente
do controle do Senhor Supremo, pois Ele é o Controlador Supremo e mestre de todas
energias. Semideuses tais como Senhor Shiva, Senhor Brahma, Senhor Ganesha, ou o deus do
sol foram investidos com as potências do Senhor Supremo. Assim, eles säo poderosos. O
Senhor Supremo é um; o resto säo Suas energias. O devoto chefe-de-família deve abandonar
sem equívoco todo materialismo na execuçäo de seus deveres; deve aumentar seu humor de
pura devoçäo.
"A sociedade humana deve conduzir a vida conforme os ditames do sistema varnashrama; tal
estilo de vida se chama sanatana-dharma ou religiäo eterna. India é a terra da piedade
(punyabhumi) e o sistema religioso varnashrama foi introduzido e ali implementado pelos
grandes sábios de outrora. Em outros países este sistema também se acha presente de alguma
forma, embora nunca tenha se desenvolvido no sistema sócio-religioso aperfeiçoado que se
observou na India. A natureza humana näo consegue expressäo plena nem alcança a
consumaçäo sem as divisöes sociais do varna. Para ser mais certo, a verdade eterna é esta:
assim como qualquer um, mesmo os párias de nascimento baixo estäo plenamente capacitados
a entrar na família dos devotos de Krishna, se viverem suas vidas livre do pecado e das
ofensas. Ainda assim, a sociedade humana como um todo näo consegue existir nem funcionar
devidamente sem o sistema varnashrama.
"Enquanto a pessoa precisar de uma vida social formal, regulada, deve permanecer dentro do
varnashrama. Porém após os primeiros movimentos de amor espiritual ao se atingir bhava, a
bela natureza da jiva se torna aparente. Aí entäo näo mais necessitará de maior inspiraçäo por
meio dos ditames de varnashrama-dharma. O humor de bhava é incompreensível para
pessoas materialistas porque é dinâmico, surgindo numa pessoa por sua própria voliçäo. O
chefe-de-família Vaisnava deve seguir este caminho com total empenho a fim de manter-se
inafetado pelas contaminaçöes das influências mayavadis.
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O Nome do Senhor Vishnu Näo é Diferente Dele
"O nome, forma, qualidades, etc. do Senhor Vishnu nunca devem ser vistos como sendo
separados Dele. Ele é näo-dual; como o todo completo, Ele é o Supremo Absoluto. Se,
devido à ignorância, alguém estiver apegado ao conceito dualista de Deus, entäo na melhor das
hipóteses apenas chegará ao estágio namabhasa do cantar, mas nunca alcançará prema. Por
outro lado, se receber a misericórdia de um mestre espiritual fidedigno e puder vencer seus
anarthas, chegará ao nome puro através do processo gradual de limpeza.
"O Senhor Vishnu é a Verdade Suprema Absoluta; tanto as características pessoais quanto as
impessoais säo inerentes à Sua divina natureza. As potências inconcebíveis do Senhor
Supremo näo só incluem Seus aspectos pessoais e impessoais, mas também manifestam Sua
beleza que atrai todos, e silenciam todas especulaçöes contrárias sobre Ele.
"A inteligência humana é limitada e mesquinha. Näo consegue sondar facilmente as energias
inconcebíveis do Senhor Supremo. Assim, quando um ser humano tenta conceber um
Controlador Supremo com seu cérebro inadequado, só consegue avançar até o conceito do
brahman impessoal, que é uma representaçäo parcial do Todo Absoluto. Desta forma se
desvia da meta suprema da adoraçäo, o Senhor Vishnu, cujos pés de lótus säo adorados
mesmo pelos grandes semideuses. Ignorando o benefício que perdeu, torna-se apegado à
adoraçäo do brahman impessoal. Mas qualquer um que compreende a natureza transcendental
do nome, forma, qualidades, etc. do Senhor Supremo, e sabe que estes näo diferem Dele,
consegue cantar o nome puro e perceber o Senhor Krishna em Sua divina plenitude.
"A dualidade só existe no plano material - aqui um nome é diferente do objeto que identifica.
Porém como isso näo é o caso na plataforma espiritual, é um êrro grosseiro imaginar tal
diferença entre o Senhor e Seu nome, forma, qualidades e assim por diante. A mesma
31
armadilha encarcera aqueles que consideram o Senhor Shiva e outros semideuses como sendo
independentes do controle do Senhor Supremo.
"O devoto que buscou refúgio único no santo nome é uma alma realmente elevada. Ele adora
Krishna e mais ninguém como o Senhor Supremo. Näo ataca outras escrituras e outras
deidades, tais como os semideuses; ele as adora e respeita como servos do Senhor Krishna.
Sempre ele se abstém de especulaçäo estéril. Quando diferentes escrituras tentam estabelecer
a superioridade de outros semideuses, é somente para facilitar a limitada capacidade de
determinada mentalidade para compreender a Verdade Absoluta. Estas escrituras na verdade
estäo tentando elevar seus seguidores a tornarem-se devotos de Krishna. Portanto nunca se
deve criticar outras escrituras e semideuses; tal crítica é uma ofensa.
"Um devoto näo deve aceitar os restos de comida ou guirlandas de um mayavadi, mesmo se
foram oferecidas ao Senhor Vishnu, porque a adoraçäo de um mayavadi é impura. O cantar
do santo nome pelo mayavadi é ofensivo; o Senhor näo aceita as oferendas e adoraçäo de um
mayavadi. Também é uma ofensa aceitar guirlandas e outros restos da adoraçäo a semideuses;
isso prejudica a vida devocional pura. Porém se o devoto adora o Supremo Senhor Krishna e
oferece Seus restos aos semideuses, näo será uma ofensa aceitar estes restos, tampouco de
forma alguma será tolhido o desenvolvimento espiritual da pessoa. Um devoto puro sempre
evita ofensas, canta constantemente e assim obtém prema; todo seu sucesso se encontra no
santo nome.
"Ilusäo e loucura cegam a jiva, e assim ela pensa que outros também estäo na mesma
plataforma que o Supremo Senhor Vishnu. O único remédio é arrepender-se intensamente e
meditar no Senhor Vishnu, Krishna, pois através dessa lembrança as ofensas se dissolvem. Dali
para a frente, deve-se evitar meticulosamente cometer a mesma ofensa novamente. Lembrar
do Senhor é a penitência mais eficaz; os Vedas sempre recomendam a brahmanas que estäo
correndo perigo, que meditem nos pés de lótus do Senhor Vishnu para proteçäo. Lembrar do
nome do Senhor é o mesmo que meditar em Seus pés de lótus. O santo nome consegue
dispersar todas ofensas anteriores, pois age como o melhor amigo do devoto.
Quem é abençoado com amor e devoçäo e sente prazer em servir os pés de lótus de Srila
Haridasa Thakura achará este livro Harinama Cintamani täo valioso quanto a própria vida.
CAPITULO SEIS
Desobedecendo ou Desrespeitando o Mestre Espiritual
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Srila Haridasa Thakura disse: "ó Senhor, por gentileza permita-me explicar o terceiro
namaparadha. Esse aparadha é desobedecer as ordens do mestre espiritual ou desrespeitá-lo.
"A alma viaja através de muitas vidas em diferentes corpos e afinal tem a chance do raro
nascimento humano, que é auspicioso em todos sentidos. A alma rodou por 8.400.000
diferentes espécies; por meio de ajnata-sukrti, ou atividades piedosas involuntárias, a alma
finalmente obtém um corpo humano. Um nascimento na forma humana é por demais
incomum, porque somente naquele corpo é que säo possíveis atividades espirituais, em outras
espécies näo. Um semideus ou habitante dos planetas celestiais está fadado a só desfrutar das
reaçöes de suas atividades piedosas passadas; ele näo consegue iniciar voluntariamente
quaisquer atividades santas. Animais igualmente estäo atados pelas reaçöes karmicas e estäo
muito imersos na ignorância grosseira para empreenderem quaisquer atividades piedosas
independentemente. Somente o nascimento humano é muito conducente à vida espiritual e ao
serviço do Senhor Supremo.
"Contudo permanece o fato de que esse corpo é transitório. Se näo nos esforçamos
esmeradamente por auto-realizaçäo, que é a maior das bençäos, novamente retornamos ao
interminável ciclo de nascimento e morte. Uma pessoa inteligente portanto irá utilizar esta rara
oportunidade. Irá buscar um mestre espiritual que possa levá-la ao Supremo Senhor Krishna.
Tal mestre espiritual é verdadeiramente um timoneiro que pode ajudar a jiva que está se
afogando, a atravessar o oceano da nesciedade. Somente as pessoas mais tolas tentaräo cruzar
este oceano por meio de sua própria inteligência. Para obter qualquer sucesso nesse mundo é
necessário o auxílio das instruçöes de um guru. Como, entäo, pode-se obter perfeiçäo no
melhor dos assuntos, ciência espiritual, sem o auxílio de um guru? Somente quem é auto-
realizado e plenamente proficiente em conhecimento espiritual está apto a ser um mestre
espiritual.
"Algumas das características de um mestre espiritual fidedigno säo que ele é pacifico,
imperturbável, e um devoto puro de Krishna. Devemos aproximar-nos dele com humildade. A
jiva deve satisfazê-lo com serviço e receber iniciaçäo formal dele na adoraçäo do Senhor
Krishna; nisso reside sua melhor chance para transpor o enredamento material. O amor por
Krishna inerente à jiva está latente no coraçäo e facilmente pode ser reavivado. Porém
facilmente esta chance pode ser perdida através de debates especulativos e lógica daninha.
Deve-se evitar tais armadilhas, render-se às instruçöes do mestre espiritual e receber dele o
devido mantra. Quanto aos chefes-de-família, estes devem permanecer dentro do sistema
varnashrama e se abrigarem num mestre espiritual fidedigno.
"Um brahmana está apto a ser mestre espiritual para todos outros varnas ou ordens sociais se
for devoto do Senhor Krishna. Porém se näo estiver disponível um mestre espiritual
brahmana, entäo deve-se buscar um mestre espiritual de outro varna. Ainda assim,
aconselhamos ao chefe-de-família que o melhor é aceitar iniciaçäo de um mestre espiritual
brahmana-varna.
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"Um verdadeiro mestre espiritual é aquele versado na ciência da consciência de Krishna. Um
mestre espiritual pode ser de qualquer varna ou ashrama, mas tem que ser uma kalpataru ou
pedra-filosofal (que converte ferro em ouro), realizando os anseios espirituais de todos. O
prestígio de se ter um mestre espiritual de um varna superior é uma consideraçäo material; tal
prestígio simplesmente depende da posiçäo de casta daquele que está julgando a casta do
mestre espiritual. Fatores externos tais como casta dificilmente tem qualquer relaçäo na
realizaçäo espiritual. A necessidade exige que se encontre um mestre espiritual que é fidedigno
e qualificado; se ele por acaso pertence a um varna superior, tanto melhor. Um chefe-de-
família deve procurar um mestre espiritual dos varnas superiores; se encontrar um qualificado
entäo poderá näo procurar mais por um de varna inferior. Deve se tomar nota atentamente,
entretanto, para que ao buscar um mestre espiritual "de classe alta", näo se escolha um pessoa
desqualificada simplesmente pelo prestígio de se ter um mestre espiritual de um varna superior.
"Se por alguma razäo o chefe-de-família decide deixar o lar e abraçar a vida de um
renunciante, e ainda näo conseguiu satisfazer seus anseios espirituais, naturalmente se requer
um mestre espiritual santo. Para tal renunciante, um mestre espiritual na ordem renunciada é o
melhor. Por sua orientaçäo espiritual e iniciaçäo, o renunciante dentro em breve irá saborear o
êxtase de cantar o santo nome.
"Um devoto chefe-de-família poderá repetinamente sentir o peso da vida familiar afetando sua
busca espiritual. Embora deixe o lar, näo precisará deixar seu mestre espiritual anterior. Para
o chefe-de-família é aconselhável buscar refúgio num mestre espiritual chefe-de-família se este
for qualificado e puro. Se um mestre espiritual chefe-de-família näo estiver disponível, poderá
tomar iniciaçäo de um guru qualificado renunciante. Em todo caso, seu mestre espiritual deve
ser qualificado. Sob as intruçöes espirituais de seu guru, o neófito principia a vida devocional
e é gradualmente elevado a experimentar emoçöes amorosas transcendentais no serviço do
Senhor. Ele desenvolve repugnância pela vida material e entäo se torna um renunciante. Tal
desfecho é o curso natural das coisas. Uma vez na ordem renunciada, é obrigatório que tenha
um mestre espiritual que seja renunciante. Ele deve ser instruído na vida da renúncia por um
mestre espiritual renunciado, e aceitar dele vesa ou vestimentas de um mendicante.
"Há dois tipos de mestres espirituais: o mestre espiritual iniciante ou diksha-guru, e o mestre
espiritual instrutor ou shiksha-guru. Ambos gurus tem de ser respeitados igualmente. Esta é a
chave para o sucesso espiritual. O diksha-guru inicia a pessoa no cantar do santo nome e no
diksha-mantra, ao passo que o shiksha-guru transmite conclusöes espirituais ao discípulo.
Este conhecimento espiritual especificamente significa sambandha-jnana ou o conhecimento
do relacionamento da jiva com o Senhor Supremo e Suas múltiplas energias. O diksha-guru é
um, porém pode haver muitos shiksha-gurus. De fato, todos devotos Vaisnavas säo shiksha-
gurus, porém tanto o diksha-guru quanto os muitos shiksha-gurus devem ser respeitados
igualmente.
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proteger dos perigos da filosofia mayavadi, devemos nos render a um mestre espiritual de uma
linha santa - mais precisamente uma linha Vaisnava. Os ensinamentos deixados pelos
fundadores-acharyas das sampradayas devem ser honrados especialmente. Sri Ramanuja, Sri
Madhvacharya, Sri Nimbarkacharya e Sri Vishnuswami säo os quatro acharyas originais das
quatro linhas Vaisnavas. Só devemos aceitar as conclusöes deles e näo de outrem. Deve-se
receber iniciaçäo espiritual numa dessas quatro sampradayas e näo outras.
"Um devoto deve compreender que o adi-guru, mestre espiritual original da sampradaya, é o
shiksha-guru, e só os ensinamentos dele devem ser aceitos e näo os de qualquer outro erudito
ou mestre. E somente um devoto santo que entendeu os ensinamentos do shiksha-guru está
apto a ser um diksha-guru para os outros. Ao pensar que é possível ser iniciado por um guru
mayavadi nos ensinamentos da consciência de Krishna, se comete grave erro. Näo se
alcançará devoçäo pura.
"Aquele que transmite ensinamentos errôneos e aquele que os recebe ambos estäo destinados
ao inferno. Quem aceitou ensinamentos e conclusöes fora da linha de bhakti pura desperdiçou
sua vida. Entäo como é que tal pessoa pode se tornar um mestre espiritual? Como poderá
salvar outras almas condicionadas? Estando ela mesma em ilusäo e sendo portanto um ser
imperfeito, como poderá trazer boa fortuna aos outros? Devemos compreender que um
devoto puro näo é uma alma comum. As escrituras declaram que ele é o mais qualificado para
ser um mestre espiritual.
O Princípio Guru
"O diksha-guru e o shiksha-guru ambos säo servos íntimos do Senhor Krishna. Internamente
estäo situados no humor de serviço de Vraja; eles säo manifestaçöes da energia do Senhor
Krishna. Nunca cometam o equívoco de julgarem o guru como um mortal comum. O mestre
espiritual é o representante das potências do Senhor Krishna, enviado pelo Senhor como
mestre eterno de seus discípulos. Ele deve sempre ser adorado como um associado eterno do
Senhor Supremo, alimentado pela potência espiritual superior do Senhor. Contudo, nunca se
deve considerar o mestre espiritual como sendo o Senhor Supremo; isto é filosofia mayavadi,
que näo está na linha das conclusöes Vaisnavas puras. Os devotos Vaisnavas estäo bastante
precavidos contra tais interpretaçöes equivocadas, pois o redemoinho mayavadi do
malabarismo com palavras é de fato contaminante para a mente e o coraçäo. O mestre
espiritual deve sempre ser adorado de acordo com as conclusöes escriturais; quando
devidamente executadas, estas práticas resultam em auto-realizaçäo.
"O mestre espiritual deve ser adorado primeiro; somente entäo se pode adorar o Senhor
Krishna. Devemos oferecer ao mestre espiritual diferentes parafernálias tais como um bom
assento, calçados, lava-pés, vestimenta, etc.; entäo com a permissäo do mestre espiritual se
pode adorar as Deidades de Sri-Sri Radha e Krishna. Alimentos devem ser oferecidos primeiro
para as Deidades e entäo ao mestre espiritual, depois aos semideuses e outros Vaisnavas. Sem
a sançäo do mestre espiritual näo podemos nos ocupar na adoraçäo de Radha-Krishna. Antes
de cantar o santo nome, o discípulo deve lembrar do mestre espiritual e suas instruçöes.
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"Quem desrespeita o mestre espiritual comete uma séria ofensa que haverá de expulsá-lo da
senda da devoçäo pura. O mestre espiritual, o Senhor Krishna, e os Vaisnavas devem ser
adorados com fervor devocional igual. Fé inabalável e devoçäo pelo mestre espiritual levaräo
ao cantar puro e a meta final de obter amor por Deus - krishna-prema.
"Se por algum infortúnio o mestre espiritual cair em má associaçäo, gradualmente ele perde
sua realizaçäo espiritual e potência. Na época em que o discípulo o conheceu, o guru era
fidedigno e realizado, porém mais tarde, devido a ofensas contra o santo nome (namaparadha)
se tornou confundido por maya e destituído de conhecimento. Nesta condiçäo ele detesta a
companhia Vaisnava e o cantar do santo nome; gradualmente se torna escravizado pela luxúria,
cobiça, bens e mulheres. Se pela misericórdia do Senhor Krishna o discípulo conseguir ver
através de tudo isso, entäo irá rejeitar seu guru. Mais tarde poderá novamente procurar um
devoto fidedigno e puro e sob sua guia espiritual cultivar o nome puro.
"O mestre espiritual tem que ser rigoroso com seus discípulos. Tem que corrigir um
pretendente a discípulo antes de iniciá-lo, e punir os iniciados instáveis. A vida espiritual de um
discípulo se torna inútil se este servir e adorar um guru desqualificado. Mas enquanto o
relacionamento entre mestre espiritual e discípulo for estável (i.e. cada qual permanece
qualificado em sua posiçäo) entäo näo há questäo de um rejeitar o outro).
"A relaçäo guru-discípulo é eterna. Se ambos mantiverem suas posiçöes puras e forem
fidedignos, seu relacionamento nunca será jeopardizado. Contudo, se mais tarde o mestre
espiritual for exposto como sendo pérfido, o discípulo deve imediatamente repudiá-lo. O
mesmo deve ocorrer por parte do mestre espiritual se o discípulo for exposto
semelhantemente. Se tal repúdio näo ocorrer por ambas partes quando for necessário, entäo
estäo condenadas.
"Quem desrespeita o mestre espiritual Vaisnava puro e fidedigno, é um renegado e merece ser
evitado por todos. É aconselhável, portanto, que antes de aceitar um mestre espiritual a
pessoa escolha cuidadosamente a pessoa certa. O mestre espiritual deve ser um devoto puro
do Senhor. As escrituras recomendam que tanto o mestre espiritual quanto o discípulo se
examinem rigorosa e minuciosamente, antes de se aceitarem mutuamente. Isto exclui o kula-
guru ou guru tradicional de família. É claro que, se o kula-guru for qualificado, é de
conveniência imediata aceitá-lo; porém no caso que este näo seja santo, deve-se procurar um
devoto puro e aceitá-lo como mestre espiritual. Como até mesmo objetos domésticos säo
testados antes de adquiridos, é somente um tolo desgraçado que deixará de passar pelo
período de teste na seleçäo de seu verdadeiro mestre espiritual, que é o melhor amigo das
entidades vivas. Ao kula-guru desqualificado devemos oferecer o devido respeito e devoçäo e,
após implorar pela permissäo de deixá-lo, a pessoa deve buscar um mestre espiritual
qualificado. O ponto é que näo devemos atrair sobre nós mesmos a calamidade de ter que
rejeitar nosso mestre espiritual. Se formos prudentes, poderemos evitar tal situaçäo. Devemos
evitar atentamente cometer quaisquer ofensas contra um devoto puro guru. Isto é desastroso e
arruinará tanto homens quanto semideuses.
36
Como Servir o Mestre Espiritual
"Nunca desrespeitem os artigos usados pelo mestre espiritual; por exemplo, seu assento, cama,
calçados, veículo, banqueta de pés, água do banho, etc.. Pisar em sua sombra, adorar outra
pessoa na sua presença, dar iniciaçäo enquanto ele ainda estiver vivo, tentar impressionar
outros com nosso conhecimento espiritual na presença dele, e tentar controlá-lo devem ser
totalmente rejeitados. Aonde quer que e sempre que virmos nosso mestre espiritual, devemos
oferecer nossas reverências prostradas a ele com oraçöes. O nome do guru deve ser
pronunciado com grande reverência. Suas ordens nunca devem ser desobedecidas. Sempre
estejam prontos a honrar seus restos e näo digam nada que seja desagradável para ele. Caiam
humildemente a seus pés e implorem para se abrigar nele, e desta forma ajam para agradá-lo.
Simplesmente por se comportar assim, facilmente se consegue desenvolver um gosto pelo
cantar, o que por sua vez oferece toda perfeiçäo. Isto é confirmado nos Vedas.
"Aquele que ofende o nama-guru, ou o mestre espiritual que nos inicia no cantar do santo
nome do Senhor, cai em companhia pecaminosa e adota o ponto-de-vista de escrituras näo-
autorizadas e sacrílegas. O nama-guru ensina conclusöes escriturais e revela a natureza
esotérica do santo nome. Ele inicia o discípulo no mantra do santo nome. O diksha-guru em
geral será o nama-guru, e o diksha-mantra na verdade é o santo nome. O mantra perde seu
significado e propósito se for separado do santo nome; simplesmente por pronunciar o santo
nome do Senhor, o mantra é cantado automaticamente.
"A única maneira de ser perdoado por esta ofensa é abandonar a companhia pecaminosa,
deixar de lado todas escrituras näo-autorizadas e se lançar aos pés de lótus do mestre
espiritual, arrependendo-se comovido. O mestre espiritual é um Vaisnava compassivo; devido
a sua natureza misericordiosa, certamente ele irá perdoar."
Eu, o pobre autor do Harinama Cintamani, sou um pecador. Minha única esperança de
redençäo é a poeira dos pés de lótus de Haridasa Thakura.
CAPITULO SETE
Criticando as Escrituras Védicas
Todas as glórias a Srila Gadadhara Pandit, Sri Chaitanya Mahaprabhu, Sri Nityananda Prabhu,
Sri Advaita Acharya, e a todos os devotos do Senhor Gauranga.
Srila Haridasa Thakura disse: "Meu Senhor! Criticar a literatura védica e outras literaturas
que seguem a versäo védica é uma séria ofensa que nega à pessoa o êxtase da devoçäo pura.
"O shruti-shastra (literatura védica), que inclui os Upanishads, os Puranas e outras escrituras
corolárias, emanou dos próprios lábios do Senhor Krishna. Esta literatura estabelece e prova a
verdade espiritual. Contém o conhecimento espiritual que está além do escopo dos sentidos
materiais, e esse conhecimento só se compreende pela graça do Senhor Krishna. Os sentidos
säo capazes de experimentar só objetos materiais; a transcendência fica além de seus limites. A
ciência da consciência de Krishna é completamente espiritual; logo, ela é transcendental. Esse
conhecimento sobre a transcendência misericordiosamente foi dado pelo Senhor Krishna na
literatura védica para a bençäo máxima da humanidade. A palavra veda na verdade se refere a
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esse conhecimento espiritual conforme é recebido na devida sucessäo discipular, ou
parampara.
"Seres humanos nascem com quatro defeitos naturais: cometem erros, estäo sujeitos à ilusäo,
propensos a enganar, e possuem sentidos imperfeitos. Tudo que fazem é maculado por estas
falhas. A literatura védica está livre de quaisquer êrros ou discrepâncias; é o único meio de
salvaçäo espiritual. O conhecimento védico transcendental foi revelado pelo Senhor Krishna e
posteriormente compilado pelos sábios. Os sábios receberam este conhecimento no samadhi,
ou na absorçäo espiritual total.
"A literatura védica ensina sem equívoco a rejeiçäo das atividades mundanas fruitivas (karma)
e conhecimento especulado empírico (jnana), e conclui que o cultivo de devoçäo pura oferece
toda perfeiçäo. O próprio Senhor ensinou isso repetidas vezes, e demonstrou por Seu próprio
exemplo a senda da devoçäo pura. Nos Vedas há dez instruçöes principais; a primeira é que a
prova ou base do conhecimento real säo os Vedas, e as outras nove säo asseveradas pelos
Vedas como os ensinamentos que destroem a ignorância e estabelecem verdadeiro
conhecimento espiritual.
"O primeiro ensinamento ensina que Hari, Krishna, é a única Verdade Suprema Absoluta. O
segundo, que Ele é onipotente; todas energias säo auto-contidas dentro Dele. O terceiro
enfatiza que Ele é Rasamurti, a encarnaçäo de todas doçuras espirituais. Ele é a fonte da bem-
aventurança para todas entidades vivas e Ele reside eternamennto em Sua morada no céu
espiritual. Estes três primeiros ensinamentos referem-se somente ao Senhor Supremo,
Krishna.
"O quarto princípio discute como as jivas säo parte e parcelas separadas do Senhor. As jivas
constituem as inumeráveis entidades vivas, todas centelhas espirituais infinitesimais. Jivas säo
de dois tipos: eternamente condicionadas e eternamente liberadas; elas populam tanto os
planetas materiais bem como os espirituais. O quinto princípio demonstra como a alma
condicionada está enamorada pelo brilho da potência ilusória de maya. Esquecendo-se de
Krishna, permanece eternamente atada a esse mundo fenomênico, desfrutando e sofrendo na
existência material. O sexto princípio é que as jivas eternamente liberadas ou nitya-muktas säo
associados eternos do Senhor Krishna. Residem no mundo espiritual e desfrutam de
relacionamentos amorosos espirituais. Estes três, entäo, säo os ensinamentos sobre as jivas
encontrados nos shrutis.
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Supremo em que os mayavadis querem que todos acreditem säo só postulados ofensivos e
daninhos.
"As nove ramificaçöes do serviço devocional säo: ouvir, cantar, lembrar, adorar, orar, prestar
serviço, executar as ordens do Senhor, ser amigo do Senhor e render-se completamente ao
Senhor. O cantar do santo nome é a atividade devocional mais importante. Nos Vedas há
volumes descrevendo as glórias do santo nome.
"A jiva deve se refugiar no processo devocional puro. Pela misericórdia do Senhor Krishna
alcançará krishna-prema, ou amor por Deus. Devoçäo pura é indicada pela propensäo humana
natural a sempre render serviço devocional favorável a Krishna. Devoçäo pura só visa maior
excelência na devoçäo, näo ficando satisfeita com nada mais. Näo é perturbada pelo desejo
por açäo fruitiva ou conhecimento empírico. Devoçäo pura näo é contaminada por atividade
fruitiva ou conhecimento empírico. Os Vedas recomendam que cultivemos devoçäo pura
refugiando-nos plenamente no santo nome: isto é essencial.
Criticar os Ensinamentos Védicos é Ofensivo
"Shruti substancia os nove ensinamentos asseveráveis, e o guru que é bem versado nas
escrituras é capaz de revelar estas verdades. Quem quer que critique os shrutis comete um
crime atroz. É um pecador e um ofensor ao santo nome.
"Jaimini, Kapila, Nagna, Nastika, Sugata e Gautama säo seis filósofos que foram pegos pelas
presas da lógica e raciocínio mundanos. Simplesmente fizeram algum serviço labial ao
ensinamento dos Vedas, porém näo aceitaram Deus. Jaimini propagava que o melhor
conhecimento que os Vedas tem a oferecer é a porçäo ritualista fruitiva conhecida como
karma-kanda. Kapila ousou declarar que Deus era imperfeito; aceitou o processo de yoga,
porém sem compreender suas implicaçöes mais profundas. Nagna disseminou veneno
ensinando uma prática do tantra que está no modo da ignorância. Charvaka Nastika era um
ateu que nunca aceitou a autoridade dos Vedas, e Sugata, o budista, impôs um significado
diferente a eles. Gautama propagou a lógica e näo adorava o Senhor Supremo.
"Estas interpretaçöes daninhas de fato säo ofensas contra os Vedas. Através do sofismo, tais
filósofos falam meias verdades que provavelmente confundiräo o ouvinte comum, embora um
vedantista experiente possa facilmente detectar seus ardis. Evitem chafurdar em tais conceitos
filosóficos porque säo perniciosos ao crescimento espiritual. A filosofia mayavadi é
igualmente perigosa, pois suprime o humor devocional natural. Filosofia mayavadi é budismo
camuflado objetivamente. Em Kali-yuga a propagaçäo dessa filosofia, que é uma perversäo da
verdade védica, foi autorizada pelo Senhor Supremo. A pedido do Senhor, o Senhor Shiva
tornou-se seu propagador. Assim como Jaimini aparentemente apoiava autoridade védica
porém na prática propalava uma versäo truncada das conclusöes védicas, semelhantemente
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gurus mayavadis fornecem provas védicas para estabelecer seu budismo dissimulado; assim
eles obscurecem a essência dos Vedas, que é a ciência do serviço devocional.
"Quando se reunem todas conclusöes fundamentais da filosofia védica, somadas elas resultam
em serviço devocional puro, através do qual a jiva alcança amor puro por Deus. Onde quer
que os principais ensinamentos sejam aplicáveis, é errado substituir ensinamentos secundários
no lugar deles. Estes significados principais todos indicam e apoiam a ciência da consciência
de Krishna. Impor artificialmente significados secundários às declaraçöes védicas é um pecado
que nos distancia da Verdade Absoluta. Do princípio ao fim, os Vedas expöe a super-
excelência do om ou do santo nome. Por cantar o nome do Senhor, a jiva alcança a morada
espiritual mais elevada. Os devotos puros sempre se refugiam no santo nome. O santo nome é
transcendental, sendo uma réplica exata do Senhor Supremo. Simplesmente por cantar
namabhasa, obtém-se toda perfeiçäo nesse mundo material. Somente loucos desafortunados
tentaräo de propósito desdenhar os ensinamentos védicos e assim arruinar suas vidas pelas
ofensas.
"Ao devoto que é apegado ao cantar do nome puro também será revelado o conhecimento dos
Vedas. Gradualmente ele também obterá krishna-prema. Os Vedas inequivocamente declaram
que por cantar o santo nome se experimenta bem-aventurança extática, pois o santo nome é a
fonte de tudo. Os Vedas ainda explicam que todas almas liberadas estäo residindo no céu
espiritual e estäo sempre sempre ocupadas no cantar do nome puro.
"Em Kali-yuga mais e mais pessoas estäo adorando maya, a energia material. Elas deixam de
lado a oportunidade de cantar o santo nome do Supremo Senhor Krishna, que é cheio de
doçuras espirituais extáticas. Elas adotam adoraçäo tântrica no modo da ignorância e criticam
os Vedas. Divergem da verdadeira senda da religiäo, comem carne, bebem álcool e realizam
outras atividades pecaminosas. Estes ofensores nunca conseguem receber a proteçäo do santo
nome, tampouco podem entrar na morada eterna do Senhor Supremo, Vrndavana.
"Maya-devi força ateus a realizarem atividades pecaminosas e desta maneira os priva do néctar
de cantar o santo nome. Porém se ela se apaziguar através de serviço prestado pelo ateu a
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Vaisnavas santos, ela os cumula com sua graça e os conecta com os pés de lótus do Senhor
Krishna. Maya é uma eterna serva do Senhor Krishna. Ela pune jivas transviadas que se
afastam do serviço ao Senhor Krishna. Aqueles que desejam servir maya simplesmente säo
enganadores que nunca conseguiräo conhecer a felicidade. Contudo Maya-devi recompensa
aqueles que cantam o santo nome; ela os auxilia a atravessar o oceano da estupidez material.
"Maya-devi é conhecida e adorada nas formas de Durga, Kali, etc.. A energia espiritual
superior é a energia original e primordial do Senhor Krishna; maya é sua sombra. A intençäo
dela é retificar as jivas errantes que decaem e trazê-las de volta à consciência de Krishna; este
é seu principal dever para com o Senhor. Maya distribui dois tipos de graças - niskapata
(honestas e irrestritas) e sakapata (caprichosas e ilusórias). Através de sua misericórdia
niskapata ela dá a ciência do serviço devocional ao Senhor Krishna sutilmente misturado com
conhecimento material. No caso de misericórdia sakapata ela oferece favores materiais e
confortos temporários, e assim controla a jiva. Quando se sente insatisfeita com o
comportamento da jiva, lança-a no brahmajyoti por meio da liberaçäo sayujya; assim a jiva é
condenada.
Quem anseia pela poeira dos pés de lótus de Srila Haridasa Thakura portará este colar de jóias
chamado Harinama Chintamani
ao redor de seu pescoço.
CAPITULO OITO
Considerar as Glórias do Santo Nome Imaginárias
Todas as glórias ao Senhor Gauranga e Srila Gadadhara Pandit; todas as glórias a Sri-Sri
Radha-Madhava; todas as glórias aos locais dos passatempos do Senhor Gauranga, e aos
devotos Vaisnavas do Senhor.
Haridasa Thakura continuou "ó Senhor Gauranga! A quinta ofensa ou namaparadha é pensar
que as glórias do santo nome säo exageradas. Isto é contra as injunçöes escriturais. Por
exemplo, é ofensivo pensar: "A apresentaçäo escritural das glórias do santo nome do Senhor
näo é inteiramente verdadeira, porque se empregou hiperbole para aumentar a fé do leitor no
cantar do nome."
"É um fato que nas seçöes karma-kanda e jnana-kanda dos Vedas, ritualismo e especulaçäo
filosófica foram bastante elogiadas, e tais elogios visam elicitar interesse nesses processos.
Mas o mesmo näo é o caso do santo nome; portanto pensar isso é uma ofensa abominável.
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"O smrti fala que qualquer um que cante o santo nome, seja com fé ou negligência, atrai a
misericordiosa atençäo do Senhor Krishna. O nome é a forma mais pura de conhecimento, o
melhor dos vratas ou votos e a mais elevada meditaçäo. Proporciona os resultados
auspiciosos máximos e é a mais sublime renúncia. Cantar é uma atividade espiritual sem par, a
mais sagrada das atividades piedosas, e a senda suprema da auto-realizaçäo. Oferece a maior
liberaçäo e meta. O santo nome é divino e situado no reino espiritual supremo, é o serviço
devocional super-excelente e o melhor dos agentes purificantes, jorrando amor por Deus. É a
essência de todas escrituras, a causa de tudo, a Suprema Verdade Absoluta, o objeto mais
adorável e age como o supremo instrutor espiritual e guia.
"Mil nomes do Senhor Vishnu säo iguais a um nome do Senhor Rama, e três nomes do Senhor
Rama equivalem a um nome do Senhor Krishna. As escrituras sempre glorificam o santo nome
de Krishna e expöe suas excelências transcendentais.
Vai-se Para o Inferno Por Pensar Que as Glórias do Santo Nome Säo Exageradas
"Só um ateu calejado pensa que as passagens das escrituras shruti e smrti que descrevem as
qualidades super-excelentes do nome contém exageros. Quem quer que cometa tal ofensa
abominável apodrecerá eternamente no inferno. Somente um renegado pensa que se utilizou o
exagero para ajudar a inculcar fé e gosto pelo cantar. Ele näo faz idéia do significado das
escrituras e do que é benéfico para a humanidade. Encara tudo com um pé atrás. Como tal
pessoa näo possui nenhuma reserva de atividades piedosas anteriores, nunca consegue
desenvolver fé nas declaraçöes sobre serviço devocional. Uma pessoa sem suficiente piedade
näo consegue adquirir um gosto pelo cantar, e näo terá fé adequada em seus ilimitados
resultados. Aqueles que aceitam apenas uma seçäo das escrituras näo conseguem perceber a
essência das escrituras.
"A seçäo karma-kanda dos Vedas contém conhecimento material de motivaçäo egoísta, astuta.
Porém motivaçöes egoístas estäo totalmente ausentes na ciência védica da devoçäo e no
processo do cantar do santo nome. No processo karma-kanda, os resultados säo meros
prazeres sensuais transitórios, enquanto que os resultados de cantar o santo nome e realizar
serviço devocional säo eternos. No cantar do santo nome do Senhor, evita-se a caprichosidade
e o engano. Quando um devoto inspira uma pessoa piedosa a cantar, isso é feito sem motivos
egoístas. Mas quando uma pessoa inspira outra a se ocupar em atividades fruitivas, ela
simplesmente coloca a promessa de ganhos materiais no fundo da mente da outra. Isto é
caprichoso. Os Vedas nos informam que cantar nos proporciona ilimitados resultados
auspiciosos. Só quem näo possui nenhum interesse em seu próprio interesse espiritual, na
auto-realizaçäo e em obter perfeiçäo, rejeitará esse veredito.
"Atividades fruitivas, sendo materiais, däo resultados materiais. Quem rejeita tais resultados
materiais e simplesmente realiza os deveres de sua vida livre do egoísmo, purifica seu coraçäo
e compreende a essência do cantar do santo nome. Um coraçäo purificado se esforça pela
auto-realizaçäo e naturalmente sente repulsa pelas atividades materiais.
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"O santo nome já inclui auto-realizaçäo, e cantá-lo é recomendado pelo próprio Senhor
Supremo. Atividades sem egoísmo levam ao cantar do santo nome. Resultados piedosos que
um brahmana näo conseguiria acumular em lugar algum do universo säo obtidos facilmente
por cantar o nome de Krishna. A posiçäo suprema do cantar do santo nome näo consegue ser
diminuída meramente pelas declaraçöes invejosas feitas por trabalhadores fruitivos e empíricos.
"Simplesmente pelo cantar namabhasa se aufere todos resultados das atividades fruitivas e
conhecimento empírico. Portanto se só o namabhasa já oferece resultados täo maravilhosos,
entäo certamente o nome puro pode oferecer muito mais, ilimitadamente. Portanto quaisquer
resultados que as escrituras declarem advir do cantar, estäo facilmente disponíveis ao devoto
que é apegado ao nome puro.
"Quem duvida deste fato é um pecador que está condenado por cometer namaparadha. Todas
escrituras reveladas - os Vedas, Ramayana, Mahabharata, os Puranas, etc. - estäo cheias de
explicaçöes sobre a super-excelência do santo nome. Portanto duvidar dessas declaraçöes é
abominável.
"O santo nome e o próprio Senhor säo o mesmo. O Senhor pessoalmente posicionou o cantar
de Seu santo nome no cume mais alto de todas atividades devocionais. O Senhor Supremo é
plenamente independente, autocrata e onipotente. Todas regras passaram a vigorar devido a
Seu arranjo. Ele declarou a atividade fruitiva como sendo material e revelou que cultivar
conhecimento do brahman impessoal só leva à extinçäo da consciência, colocando-a num sono
profundo. Após explicar tudo isso, o Senhor, por Sua própria vontade, investiu Sua potência
inteira em Seu santo nome. Näo tem sentido levantar qualquer objeçäo. Logo, uma pessoa
inteligente irá evitar cuidadosamente ofender o todo-poderoso nome do Senhor.
"Se de alguma forma for cometido este namaparadha, o ofensor deve colocar-se
humildemente diante duma assembléia de Vaisnavas e escutar atentamente as narrativas de
passatempos e qualidades do Senhor Supremo dos lábios de um devoto puro. Cheio de
remorso, o ofensor deve admitir sua transgressäo contra o santo nome e implorar perdäo dos
Vaisnavas. Os Vaisnavas realizaram as glórias do santo nome; iräo misericordiosamente
libertar o ofensor de seus pecados por abraçá-lo. Entäo a mentalidade ofensiva será purificada
e ele será protegido do ataque de maya. Ofensas contra o santo nome säo cometidas devido
ao logro de maya. Se um devoto encontra ou até mesmo apenas vê a face de tal ofensor, deve
imediatamente se banhar no Ganges. Se o Ganges näo estiver perto, deve tomar banho em
outra água pura. No caso de isso também näo ser possível, deve-se purificar tomando banho
mentalmente."
Quem se rendeu à consorte mais amada de Krishna, Srimati Radharani, e à misericórdia de Sua
flauta, será adornado pela glória do Harinama Cintamani.
CAPITULO NOVE
Pecar Refugiando-se no Poder do Cantar do Santo Nome
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Todas as glórias a Sri Gadadhara Pandit e ao Senhor Sri Gauranga; todas as glórias ao Senhor
Nityananda, a vida de Srimati Jahnavadevi; todas as glórias a Sri Advaita Acharya e Mäe Sita;
todas as glórias a Srila Srivas Pandit, e a todos devotos do Senhor Chaitanya.
Srila Haridasa Thakura disse: "O santo nome está eternamente situado na bondade pura.
Somente jivas muito afortunadas conseguem abrigar-se no santo nome de Krishna. Cantar
rapidamente remove os anarthas do coraçäo; consequentemente, desaparece hrdaya
daurbalyam (fraqueza de coraçäo). Quando se desenvolve a fé inabalável no santo nome do
Senhor, a propensäo para o pecado é extirpada totalmente. Todos pecados anteriores também
se dissolvem. O coraçäo brilha com pureza positiva. Desejos pecaminosos no coraçäo estäo
enraizados na ignorância. Estes três - pecado, as sementes do pecado e da ignorância - säo a
fonte de todo sofrimento para a alma condicionada.
"Cantar suaviza o coraçäo e evoca compaixäo por todas almas condicionadas; aquele que
canta constantemente se esforça pelo bem-estar espiritual delas. Ele näo consegue aguentar
ficar vendo os sofrimentos das almas condicionadas, e tenta remover estes sofrimentos de
qualquer modo. Ele näo é perturbado pelos desejos luxuriosos e o impulso para desfrutar dos
sentidos; sente repulsa pelos bens e mulheres. Ele segue a senda da virtude. Só aceita o que é
favorável à execuçäo do serviço devocional, e rejeita aquilo que é desfavorável. Possui
absoluta convicçäo em todas situaçöes que o Senhor Krishna é seu protetor, salvador e
mantenedor. Está livre de apegos ao corpo e das noçöes de "para mim" e "meu". Num estado
de espírito humilde, constantemente canta o santo nome do Senhor. Nunca mais se inclina a
cometer atividades pecaminosas.
"O Senhor Krishna prometeu a Arjuna que Seu devoto nunca estaria em perigo de destruiçäo;
em caso de reveses, Ele virá socorrer Seu devoto pessoalmente. Os pecados dos devotos säo
aniquilados somente pela misericórdia do Senhor. O filósofo empírico (jnani) pode dominar
seus pecados com grandes esforços e penitência; porém assim que deixa ou renega o abrigo
dos pés de lótus do Senhor Krishna, imediatamente ele cai. Quem quer que simplesmente
aceite a proteçäo do Senhor é uma alma elevada. Seu progresso nunca será impedido pelos
obstáculos. Isto é declarado nas escrituras.
"Por acaso um devoto poderá cometer um pecado; ainda assim, ele näo tem que fazer a
penitência, ou prayaschitta, recomendada nos Vedas para expiar e contrabalançar o pecado.
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Tais pecados säo uma fase passageira; seräo afogados no néctar do santo nome. O devoto näo
se perde do caminho da espiritualidade.
"Contudo, se um devoto comete outro pecado à força do cantar, entäo ele é instável. É uma
pessoa fraudulenta e está condenado devido a seu namaparadha. Pecados acontecem de dois
modos: devido a súbita fraqueza ou êrro e por premeditaçäo. Existe vasta diferença entre
ambos.
Renunciantes Macacos
"As escrituras declaram que o santo nome é täo potente que pode neutralizar mais pecados que
se possa cometer mesmo em cem milhöes de vidas. O mais atroz dos pecados é
contrabalanceado ainda no estágio namabhasa do cantar. É por isso que impostores e
charlatöes adotam o cantar do nome: eles deixam as responsabilidades da labuta doméstica e,
escondidos por trás das vestes de renunciante, viajam de país para país. Seus coraçöes estäo
carregados de desejos por fortuna e mulheres. Descreveste tais pessoas como markata
vairagis ou "renunciantes macacos".
"Devotos que se abrigaram totalmente no cantar do nome puro nunca estäo propensos a
cometerem quaisquer dos dez namaparadhas. O santo nome por si só protege os devotos
puros que se renderam ao nome puro. Mas enquanto o nome puro näo tiver despontado no
coraçäo do devoto, o perigo de cometer namaparadha está sempre ameaçando. Portanto
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devotos no estágio namabhasa devem evitar particularmente esta ofensa de cometer pecado
contando com a força do cantar.
"Um devoto deve buscar a associaçäo dos devotos puros que cantam o santo nome sem
ofensas, e deve ficar bem alerta contra cometer ofensas. Quem canta puramente possui mente
e consciência fixas. Nunca se desvia dos pensamentos de Krishna, mesmo por um momento.
Enquanto näo se tiver fortalecido o cantar a esse ponto e nem se rendido plenamente ao santo
nome, a pessoa deve se manter muito atenta para evitar ofensas. Deve-se ficar em guarda
especialmente contra a ofensa de cometer pecado contando com a força do cantar. Deve
cantar continuamente o santo nome e assim atrair a misericórdia de seu mestre espiritual, que
dá conhecimento perfeito sobre o relacionamento eterno. Esse conhecimento contém a ciência
da devoçäo pura e o santo nome puro.
"Se por algum erro for cometido esse namaparadha, deve-se procurar a assembléia dos
Vaisnavas puros. A propensäo ao pecado é como um ladräo de estrada que aborda o viajante.
Os devotos puros säo os guardiöes do caminho que acorrem em nosso socorro quando um
devoto chama alto por sua ajuda. Apenas por ouvir esse chamado, o ladräo imediatamente
corre embora, temendo que os guardas viräo. Os guardiöes, os Vaisnavas puros, iräo consolar
o devoto com palavras suavizantes e garantia da proteçäo deles."
Eu, o autor do Harinama Cintamani, sou um desgraçado inútil. Transmito esta obra, tendo
me refugiado nos Vaisnavas puros.
CAPITULO DEZ
Instruir as Glórias do Santo Nome Aos Infiéis
Todas as glórias ao Senhor Sri Gauranga, a vida de Sri Gadadhara Pandit; todas as glórias ao
Senhor Nityananda, o coraçäo de Srimati Jahnavadevi; todas as glórias a Sri Advaita Acharya,
o Senhor de Mäe Sita; todas as glórias a Srila Srivas Pandit, e a todos devotos do Senhor
Chaitanya.
De mäos postas e numa voz suave, Srila Haridasa Thakura disse: "Agora por favor ouça sobre
outro namaparadha. O primeiro requisito essencial para cantar o santo nome de Krishna é
shraddha ou fé firme. Quem está destituído disso näo consegue ouvir o nome e portanto näo
está qualificado para cantar. Nascimento elevado, família respeitável, conhecimento, força,
erudiçäo ou fortuna näo säo qualidades que tornem uma pessoa qualificada para cantar o
nome. As escrituras louvam shraddha como único ingrediente indispensável para se cantar
devidamente. O nome do Senhor Krishna é o tesouro mais valioso da jiva. Shraddha significa
ter completa convicçäo de que cantar o nome do Senhor Krishna irá realizar automaticamente
todos deveres e completar todas atividades piedosas. Aqueles que näo possuem tal fé näo
estäo qualificados para cantar.
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"De acordo com a etiqueta Vaisnava, uma pessoa que näo possui shraddha pelo nome, näo
deve ser iniciada no cantar. Se uma pessoa sem fé for iniciada no cantar ou for instruída sobre
as glórias do santo nome, esta irá somente denegrir e desrespeitar o nome. Essa declaraçäo é
das escrituras. O porco pisoteará as pérolas esparramadas diante dele e o macaco rasgará o
pano que lhe derem. Semelhante pessoa sem fé cometerá mais e mais ofensas contra o santo
nome e assim convidará a ruína. Simultaneamente, o guru iniciador será arrastado por sua
parte nestas ofensas; dentro em breve, ele deixará a senda do serviço devocional.
"Uma pessoa sem fé poderá astutamente vir aos Vaisnavas para implorar pela iniciaçäo ao
cantar. O sadhu deve ver através desse ardil e recusar-lhe a iniciaçäo. O devoto charlatäo
presume: "O santo nome de Krishna é o agente que tudo purifica; uma vez que tiver recebido
o nome näo terei de me preocupar mais por cometer pecados. Além disso, por cantar o tempo
todo, pessoas iräo respeitar e adorar-me como um Vaisnava - entäo poderei extorquir boa
quantia de serviço deles. O prestígio que perdi devido aos meus atos pecaminosos será
recuperado plenamente por cantar. Outra perda jamais ocorrerá novamente, e haverei de
desfrutar de imenso benefício material" etc. O sadhu deve exigir do fingido total
arrependimento por sua desonestidade. Para tornar-se digno de iniciaçäo, deve imediatamente
denunciar seus desejos por distinçäo e adoraçäo, e em vez disso, deve tentar desenvolver
shraddha pelo santo nome.
"Somente quando shraddha pelo santo nome está presente é que se pode ser iniciado no
cantar. O santo nome entäo leva o cantor a atravessar o oceano de ignorância material. Mas
enquanto ainda näo se tiver desenvolvido suficiente fé no santo nome, näo haverá qualificaçäo
para cantar. Deve-se ouvir as glórias do santo nome de um Vaisnava santo; tornando-se
humilde por ouvir suas instruçöes, deve-se deixar de lado desejos materiais e começar a cantar.
Quando o mestre espiritual percebe o devido grau de shraddha no candidato, ele o inicia no
grande tesouro espiritual - o santo nome de Krishna. Porém instruir uma pessoa sem fé é uma
ofensa abominável. O guru vai para o inferno se der iniciaçäo a uma pessoa sem fé para
benefício material.
"Se o guru souber que a pessoa que se aproximou dele para obter iniciaçäo é um fingidor
insincero, sem fé, e no entanto sem ligar para isso o iniciar simplesmente pelo ganho material,
cometerá uma ofensa atroz contra o santo nome. Se o guru foi incapaz de julgar
corretamente, e achando seu discípulo sincero e fiel, lhe deu iniciaçäo, para mais tarde
descobrir que é um fingidor, deve imediatamente reparar seu erro.
"Se por inadvertência e falta de experiência, ocorrer um erro como instruir e iniciar uma
pessoa infiel, o mestre espiritual iniciador deve se encher de temor e remorso. Ele tem que
tornar pública sua ofensa diante da comunidade Vaisnava e rejeitar aquele discípulo insincero,
excomungando-o. Se o guru falhar em agir prontamente, gradualmente irá se afundar nas
profundezas da depravaçäo moral e ilusäo, e será desautorizado da senda da devoçäo. ó
Senhor Chaitanya, Tuas instruçöes àqueles que ordenaste para propagar o santo nome alertam
exatamente sobre isso.
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As Instruçöes do Senhor Chaitanya Para os Pregadores
"Caso, sem ligar para Tuas instruçöes, um guru iniciar um fingidor insincero, cometerá uma
penosa ofensa pela qual irá ao inferno. O namaparadha cometido pelo discípulo charlatäo
lenta porém seguramente diminui a potência espiritual do guru; finalmente o guru se vê
arruinado. Esta ofensa tem um efeito devastador tanto no guru como no discípulo: ambos
teräo de ingressar no inferno.
"Meu querido Senhor, és muito misericordioso para com Jagai e Madhai. Estes irmäos
nasceram numa família de brahmanas, mas tornaram-se conhecidos como os piores
depravados em Navadvipa devido a seus atos virulentamente violentos. Seus nomes originais
eram Jagadananda e Madhavananda. Primeiro invocaste shraddha neles e entäo lhes deste o
santo nome. ó Senhor, Teu caráter e atividades säo exemplares; brilham como faróis pelo
mundo afora. Que todo mundo siga Teu maravilhoso exemplo."
Aqueles que säo servos dos Vaisnavas acharäo esse Harinama Cintamani uma jóia sem
preço.
CAPITULO ONZE
Igualar o Cantar a Atividades Piedosas
Srila Haridasa Thakura continuou: "ó Senhor, outras atividades piedosas nunca poderäo ser
iguais ao cantar do santo nome. O Senhor Supremo é o sol transcendental, e Sua forma divina
é plenamente espiritual; isto é a maravilhosa e misteriosa verdade. Todas Suas formas
Deidades säo absolutas. Säo transcendentais assim como Seu nome, morada, passatempos,
etc. Todos Seus nomes diretos näo säo diferentes Dele, diferentemente dos objetos feitos de
matéria inerte que säo separados de seus nomes. O santo nome do Senhor cantado pelo
devoto puro descende diretamente de Goloka, o céu espiritual. O nome puro entäo emana da
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alma dele, e permeia seu corpo inteiro, dançando na ponta de sua língua. Quem canta com
essa compreensäo está na verdade cantando o nome; outrossim, quem nutre um conceito
material acerca do nome se afoga no
desalento. Sofre eternamente no inferno, e um devoto nunca deve ver seu rosto.
"As escrituras declararam sem equívoco que o Supremo Senhor Krishna é o único assunto e
objeto de pesquisa, e o processo para encontrá-Lo igualmente foi demonstrado claramente.
Conforme as habilidades do pesquisador individual, esse processo singular pode ser múltiplo.
Assim diferentes sendas como karma, jnana, bhakti, etc. surgiram. Aqueles absortos no
materialismo se recomenda seguir a senda de karma para purificaçäo da consciência. Para
almas deludidas pela ilusäo de maya, a senda sugerida é o cultivo de filosofia monista. E para
o resto das jivas, serviço devocional puro é o mais adequado.
Que é Karma?
"Pessoas absortas na vida material começam a adorar o Senhor Supremo por medo da morte.
Os pés de lótus do Senhor säo o refúgio perfeito, livre de ansiedade. Säo o único meio de
atravessar o oceano ilimitado da ignorância. Porém quando o processo para obter proteçäo do
Senhor se torna tingido pelos motivos materiais, vira mundano. Embora o Senhor esteja sendo
louvado, porque o processo de adoraçäo é mundano, fica conhecido como atividade piedosa
ou subhakarma. Subhakarma inclui: obras altruístas, sacrifícios, abluçöes e banhos sagrados,
sacrifícios de fogo, caridade, yoga, a prática de varnashrama-dharma, peregrinaçöes, votos,
oferendas aos antepassados, meditaçäo, cultivo de conhecimento empírico, propiciar os
semideuses, penitências, austeridades, etc.. Todas estas atividades estäo na plataforma
mundana. Gradualmente, através desse processo mundano, o praticante obtém a meta de
todos seus esforços: o Senhor Supremo. Nesse ponto, abandona todo processo mundano
temporário. Näo se atrai mais pelos modos mundanos, pois agora conhece a genuína essência
de todos deveres religiosos. Encontrou serviço devocional ao Senhor, bhakti.
"O contato da jiva com a matéria gera seu descontentamento e sofrimento. Tudo isso ocorre
pelo plano-mestre da Providência, que gradualmente guia a jiva à perfeiçäo. As almas
condicionadas näo conseguem existir sem contato próximo com a matéria. Todas suas
atividades e pensamentos estäo intimamente entrelaçados ao tecido do materialismo.
Atividades piedosas (subhakarma) proporcionam os meios para a jiva se aproximar da
devoçäo pura através do contato material. Portanto, subhakarma é de fato o caminho viável
para qualquer alma condicionada se aproximar da meta final, amor por Deus. Contudo um
fato deve se destacar claramente: alcançar perfeiçäo por meio de subhakarma é um negócio
demorado. O objetivo final é krishna-prema, que é plenamente espiritual; entretanto
subhakarma é mundano. Assim há um abismo de distância entre os meios e o objetivo.
"Por Sua compaixäo sem causa, o Senhor Supremo encarnou como o santo nome, tornando-
Se disponível para as jivas. Assim o santo nome é aceito pelas jivas piedosas como o melhor
método para a perfeiçäo. As escrituras recomendam o nome do Senhor como o meio mais
eficaz para se obter o Absoluto, porém as jivas entenderam mal achando que isso significa que
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cantar é uma dos muitos subhakarmas. Este conceito equivocado é semelhante a crer que
Vishnu é mais um semideus como o Senhor Shiva e Senhor Brahma.
"O santo nome é plenamente espiritual e transcendental à natureza material. Näo é corrompido
pela matéria. Embora a jiva seja espiritual, pensa que é material devido a ignorância grosseira.
Consequentemente, pensa que tudo, inclusive o santo nome do Senhor, da mesma forma é
material. Assim cantar o santo nome do Senhor Krishna veio a ser categorizado como
subhakarma; jivas com inclinaçöes mayavadis estäo convictas de que isso é certo e correto.
Mas quem adere a essa visäo é excluído da senda do serviço devocional.
"O santo nome é o repositório do perfeito êxtase; Ele descendeu a esse mundo material para
tornar-Se o meio através do qual se obtém o summum bonum de bhakti. As escrituras louvam
Suas glórias divinas, pois o nome de Krishna é tanto o meio como o fim. Conforme o grau
individual de perfeiçäo espiritual da jiva, considera o santo nome do Senhor como sendo ou o
meio ou o fim. Enquanto näo tiver alcançado auto-realizaçäo, o santo nome é o meio para
chegar a sua meta.
"O meio para a auto-realizaçäo pode ser de dois tipos: principal ou secundário. Subhakarma
é o meio secundário, e o santo nome do Senhor é o meio principal. Embora o santo nome seja
considerado um meio, näo obstante é eternamente o meio principal. Todos subhakarmas
sempre säo considerados como sendo apenas meios secundários. Uma vez que esse ponto for
entendido claramente, a diferença entre o santo nome e subhakarma se tornará manifesta
automaticamente. O veredito escritural é que o santo nome é a essência, e portanto é
incomparável a qualquer subhakarma. Quem canta com um coraçäo puro experimenta como o
êxtase divino penetra seu coraçäo e faz com que este se eleve em sublime prazer. Essa é a
natureza essencial do santo nome. Mesmo o êxtase de realizar o eu puro näo está nesse nível.
"A qualidade maravilhosa do santo nome é que durante o período de sadhana (prática) este é o
meio, e no estágio aperfeiçoado, é a meta final. Mesmo enquanto está sendo utilizado como o
meio, o santo nome sempre permanece a meta. Isto näo pode ser dito de outros subhakarmas,
que säo todos atividades mundanas. O santo nome é puramente espiritual, auto-manifesto por
divina bondade. Mesmo durante a prática do sadhana, o santo nome está situado na bondade
pura; as imperfeiçöes e anarthas do sadhaka apenas parecem tingí-lo.
"O santo nome deve ser cantado na associaçäo de sadhus: entäo todas inebriaçöes e anarthas
materiais desaparecem, sendo substituídos pelo puro nome de Krishna. A prática de qualquer
subhakarma deve ser descartada ao se obter o refúgio do destino final; porém os que cantam
nunca precisam abandonar o santo nome, eles simplesmente cantam o nome puro no estágio
aperfeiçoado. O santo nome do Senhor é diametralmente oposto por natureza, às atividades
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mundanas subhakarma. No estágio de sadhana, o devoto deve, pela graça de seu mestre
espiritual e com base nas provas védicas, compreender a diferença entre o santo nome e
subhakarma.
Shraddha, quando suficientemente madura, nos leva à associaçäo dos sadhus. Nessa
associaçäo, se principia o serviço devocional. O coraçäo se limpa dos anarthas através do
cantar do santo nome do Senhor. Conforme o coraçäo se limpa de anarthas, o cantar se torna
mais puro no mesmo grau. Gradualmente, a pessoa se fixa na devoçäo e desenvolve um gosto
pelo santo nome. O conhecimento desses estágios de desenvolvimento primeiro deve ser
entendido com fé pelo sadhaka através da graça de seu mestre espiritual. Senäo, todos
anarthas iräo se multiplicar devido a se cometer namaparadha. Porém com a devida
compreensäo e fé, o nome puro se manifesta dentro em breve.
"O aparadha de igualar o santo nome com subhakarma é cometido devido a atividades
pecaminosas. Deve-se tomar medidas contrárias imediatamente. Ofensas aos Vaisnavas säo de
fato atividades pecaminosas. Como resultado dessas ofensas, a jiva adquire o pervertido
entendimento mayavadi do santo nome. Somente a associaçäo dos devotos pode desculpar
tais ofensas. Para livrar-nos de namaparadha, devemos aproximar-nos de um chefe-de-família
Vaisnava que originalmente veio de casta muito baixa; isso é para dizimar quaisquer falsos
entendimentos sobre distinçäo de casta e posiçäo. O ofensor deve entäo passar em todo seu
corpo, com grande respeito e fé, a poeira dos pés daquele Vaisnava. Deve também comer os
restos de alimento do Vaisnava e beber a água que lavou seus pés. Desta forma, desenvolver-
se-á novamente no coraçäo do ofensor a devida atitude para com o santo nome. O mundo
inteiro canta como Kalidasa foi salvo desse namaparadha pela misericórdia do Senhor.
"Meu querido Senhor, meus pensamentos e meu intelecto säo profundamente mundanos: por
isso simplesmente pronuncio os nomes do Senhor. Sou desafortunado demais para
experimentar as qualidades de pedra-filosofal do santo nome. ó Senhor! Imploro-Te que por
favor apareça como o santo nome e dance em minha língua. Caio a Teus pés de lótus e oro.
Se quiseres, podes manter-me neste mundo material e privar-me do céu espiritual; seja lá o que
desejares, estás livre para realizá-lo. Porém por favor permita-me saborear o divino néctar do
santo nome de Krishna. Encarnaste entre as jivas para distribuir o santo nome, portanto por
gentileza também considere esta insignificante jiva. Sou uma alma caída e Tu és o salvador
dos caídos. Que esse seja nosso relacionamento. ó Salvador! Pela força de nosso
relacionamento, estou Te implorando pelo néctar do santo nome.
"Em Kali-yuga todos outros processos exceto o santo nome säo incapazes de redimir as almas
caídas. Portanto o cantar do santo nome é o yuga-dharma. O cantar do santo nome do
Senhor é a prática religiosa mais eficiente em todas eras. Em Kali-yuga, diferente de outras
eras, näo há outra religiäo disponível; assim o santo nome aparece como a única religiäo que
consegue redimir as almas caídas."
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Eu, Bhaktivinoda, sou uma alma caída. Eu, o autor que dou o Harinama Cintamani,
também sou servo humilde de Haridasa Thakura.
CAPITULO DOZE
Cantar Desatentamente Também é Ofensivo
Todas as glórias a Sri Chaitanya Mahaprabhu; todas as glórias a todos os devotos do Senhor.
Somente pela graça sem causa deles, é que consigo realizar o cantar congregacional do santo
nome do Senhor.
Srila Haridasa Thakura explicou ainda mais: "ó Senhor Chaitanya, instruíste Srila Sanatana
Goswami aqui em Jagannatha Puri, e Srila Gopala Bhatta Goswami no Sul da India, sobre
como o santo nome deve ser cantado atentamente. Desatençäo no cantar é namaparadha.
Pode-se evitar cuidadosamente todos outros namaparadhas, e ainda assim näo experimentar o
êxtase do puro nome. Isso é indicativo de outro tipo de namaparadha conhecido como
pramada, o qual restringe o aumento natural da devoçäo pura.
Desatençäo é Negligência
"Por um golpe especial de boa fortuna, uma jiva desenvolve suficiente shraddha para se
abrigar no santo nome. Através do cantar regular de um número fixo de santos nomes com
especial cuidado e atençäo, gradualmente progride rumo a anuraga, ou atraçäo espontânea
pelo nome do Senhor. Deve-se cantar seu número prescrito de voltas numa tulasi-mala e
gradualmente aumentar o cantar com o tempo. Antes de chegar ao estágio de anuraga,
devemos ser extremamente cuidadosos com nosso cantar.
"As pessoas se apegam naturalmente às coisas materiais. Suas memórias estäo absortas na
matéria. Por um lado, alguém canta o santo nome, porém sua mente e atençäo estäo distantes
de seu cantar. Mesmo que se cante um lakh (cem mil) santos nomes em seu mala, nem uma
gota do sabor do nome do Senhor é produzida em seu coraçäo. Esse é um exemplo vívido de
cantar desatento e seu resultado. É difícil impedir o coraçäo de um materialista de tais ofensas.
"Devemos tornar nossa rotina diária cantar durante uma hora na companhia de Vaisnavas
santos num local solitário, isolado. Tomando nota da atitude devocional do Vaisnava e seu
prazer no santo nome, o neófito deve tentar emular seu humor e gradualmente se livrar de sua
apatia no cantar. Passo a passo, sua mente e atençäo tornar-se-äo fixas no santo nome. Pelo
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cantar constante, a doçura do santo nome faz com que fique ansioso para saborear mais desse
néctar. Fica-se atraído por estar na presença de Tulasi-devi e por residir num local dos
passatempos do Senhor Krishna. Sempre buscando a associaçäo dos devotos santos, aceita-se
a disciplina deles. Segue-se os passos de devotos puros anteriores ao saborear a sublime
felicidade de serviço devocional íntimo, ou bhajana. Principia-se por uma hora de bhajana,
depois duas, depois aumentando para quatro; finalmente se canta näo menos que três lakhs de
santos nomes por dia. Isso ajuda a logo cortar os laços com o materialismo.
"Outro método efetivo para remover apatia para com o santo nome é sentar-se sozinho num
quarto fechado e meditar no nome como fizeram os sábios antecedentes. Se isso näo for
possível, entäo se deve cobrir a cabeça e rosto com um pano e concentrar-se no santo nome.
Lentamente, desenvolve-se atraçäo pelo santo nome. A apatia e desatençäo gradualmente
desapareceräo.
"Entregar-se à preguiça (jadya) impede que a pessoa saboreie o néctar do santo nome. Ela
começa por cantar e lembrar do santo nome, porém dentro em breve sente que näo aguenta
mais e quer dormir. Devotos avançados se cuidam contra essa ofensa. Nunca desperdiçam
sequer um momento em conversas ou atividades inúteis, meditando constantemente no santo
nome do Senhor. Estäo täo absortos no néctar do santo nome que näo ligam para mais nada.
Deve-se fazer o esforço de associar-se com tais devotos raros e seguir seu exemplo, assim
livrando-nos da preguiça. É da natureza dos Vaisnavas santos estarem sempre ocupados em
atividades devocionais. Nunca perdem tempo desnecessariamente. Ao vermos isso,
imediatamente nos tornamos atraídos por essa característica devocional. Perguntamo-nos
como também poderemos nos tornar como esses devotos, imersos em meditaçäo sobre o santo
nome. Como, a partir desse dia, poderemos gradualmente incrementar nosso cantar até que
possamos de fato cantar três lakhs de santos nomes com inspiraçäo e entusiasmo? Quando o
Senhor Krishna vê tanto entusiasmo, Ele reciproca removendo a inércia mental do neófito com
o poder de Seu nome, e trazendo-o para a associaçäo dos devotos avançados.
"Distraçäo no cantar produz um tipo de ilusäo, causando sérias ofensas contra o santo nome
que säo muito difíceis de vencer. Essa ilusäo leva a ansiar por fortuna, mulheres, posiçäo,
sucesso e mesmo trapacear. Quando essas atraçöes toldam o coraçäo, o neófito gradualmente
perde interesse no cantar do santo nome.
"Deve-se fazer um esforço constante para espantar da mente esses pensamentos e seguir
diligentemente as regras da etiqueta Vaisnava. Esse esforço trará de volta sua boa fortuna.
Deve-se começar observando votos de ekadasi, dias de aparecimento do Senhor e outros
importantes festivais. Deve-se passar o dia e noite inteira do festival recitando e cantando as
glórias do Senhor na associaçäo dos devotos santos. A maneira ideal de observar estes
festivais é estar num dos dhamas (Navadvipa, Vrndavana, Puri, etc.) com sadhus (devotos
puros na linha de Srila Rupa Goswami) lendo e discutindo shastra (literaturas védicas como o
Bhagavad-gita, Srimad-Bhagavatam e outras escrituras Vaisnavas). Deve-se participar de
todo coraçäo nesses festivais, sem ansiedade ou hesitaçäo. Estes festivais gradualmente
reascenderäo a centelha moribunda do gosto espiritual. Assim gradualmente de novo nos
tornaremos atraídos pelos passatempos do Senhor Supremo.
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"Sentindo o sabor superior da espiritualidade pura, naturalmente sentiremos desgosto pelos
nossos apegos materiais inferiores. Aqueles que cantam distraidamente estäo sempre ansiosos
por de alguma maneira completar o número fixo de santos nomes e acabar com aquilo. É
importante concentrar-se na qualidade do cantar e näo em tentar artificialmente aumentar o
número de santos nomes. O nome do Senhor deve ser pronunciado distintamente. Somente
pela graça do Senhor é que se pode conseguir isso. Portanto devemos orar ao Senhor para
que nunca caiamos vítima dos ardis da ilusäo da distraçäo, e para que continuemos a saborear
o pleno néctar do santo nome.
"O devoto deve fazer com que seja prática regular passar algum tempo sozinho num local
silencioso e se concentrar profundamente no santo nome. Deve pronunciar e ouvir o nome
distintamente. É impossível para a jiva por suas próprias forças evitar e vencer a ilusäo da
distraçäo. Pela misericórdia do Senhor, contudo, isso é executado com facilidade. Por isso é
essencial implorar com fervor pela graça do Senhor, com grande humildade. Esse é o único
meio de salvaçäo da jiva.
"Aqueles que tentam empreender serviço devocional contando com os méritos de sua
inteligência individual e perícia mental, descobriräo que todos seus esforços säo infrutíferos. A
misericórdia do Senhor Krishna é a causa primordial do sucesso em todo trabalho. Quem näo
aspira obter a misericórdia do Senhor de fato é uma alma muito miserável.
"Um pouco antes falavamos sobre concentrar-se profundamente no santo nome. O conselho
do Senhor Chaitanya para todos sobre esse assunto se encontra no Chaitanya-Bhagavata
(Madhya-lila 23.650):
"Hare Krishna Hare Krishna Krishna Krishna Hare Hare; Hare Rama Hare Rama Rama
Rama Hare Hare. O Senhor disse: 'Aqui está o maha-mantra, agora vá e faça meditaçäo
japa e cante os santos nomes um número prescrito de vezes (nirbandha). Conseguirás toda
perfeiçäo desejável por esse cantar. Apenas cante o santo nome constantemente, porque
nenhuma regra ou regulamento pode restringí-lo.'
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é visível nas almas liberadas, porém o néctar do santo nome é saboreado em qualquer um
desses humores, seja no prazer espiritual da uniäo com o Senhor, ou nas pontadas de
separaçäo do Senhor."
Quem porta a gema do Harinam Cintamani como uma coroa sobre sua cabeça certamente
encontrará abrigo aos pés de lótus de Srila Haridasa Thakura.
CAPITULO TREZE
Manter Apegos Materiais ao "Eu" e "Meu"
Todas as glórias a Sri Gadadhara Pandit e ao Senhor Sri Gauranga; todas as glórias ao Senhor
Nityananda, a vida e alma de Srimati Jahnavadevi; todas as glórias a Sri Advaita Acharya, o
Senhor de Mäe Sita; todas as glórias a todos devotos do Senhor Chaitanya.
Banhado de lágrimas de amor extático, Srila Haridasa Thakura continuou explicando, com a
voz embargada, a última das ofensas ao santo nome. "Meu Senhor, esse último namaparadha
é o pior tipo de ofensa. Sua presença restringe o livre fluxo do amor divino, prema. Mesmo
após ter tomado iniciaçäo espiritual, a maioria das pessoas apegadas materialmente näo
consegue abandonar totalmente designaçöes materiais. Elas mantém uma mentalidade de "eu"
e "meu" que as desvia da senda da devoçäo. Designaçöes físicas, i.e. 'Eu sou um brahmana',
'Eu sou um Vaisnava', 'Eu sou um Rei', ou 'Essa é minha posiçäo, bens, filho, neto e assim por
diante', säo o sintoma de imaturidade espiritual e säo empecilhos ao cultivo correto do serviço
devocional. Essa terrível ofensa só é melhorada quando nos rendemos ao santo nome.
"Todo devoto deve cessar todos namaparadhas e render-se completamente ao santo nome.
De acordo com as escrituras, o processo da rendiçäo possui seis ramos. Está além de minha
habilidade descrevê-los em detalhe.* Contudo tocarei nestes seis e os colocarei diante de Teus
pés de lótus.
* Para uma consideraçäo mais detalhada dos seis ramos de rendiçäo, por favor vide Néctar da
Instruçäo (Sri Upadesamrta) por Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada,
Bhaktivedanta Book Trust, Los Angeles 1982 (Texto 4 e significado). - Ed.
"O voto de aceitar tudo que é favorável à execuçäo do serviço devocional; e igualmente,
rejeitar qualquer coisa desfavorável; estar convencido de que o Senhor Krishna sempre dará
proteçäo; depender completamente de Krishna para tudo; sempre sentir-se manso e humilde; e
jogar-se aos pés de lótus do Senhor Krishna - esses säo os seis ramos de rendiçäo.
"Serviço devocional somente é possível enquanto estivermos vivos, portanto devemos aceitar
somente aquilo que mantém o corpo e alma juntos. A vida deve ser amoldada para facilitar
serviço devocional; portanto deve-se desenvolver um gosto por objetos que estejam
conectados ao Senhor Krishna. Simultaneamente, um desgosto natural pelos empecilhos ao
serviço devocional também se desenvolve dentro do coraçäo. O Senhor Krishna se torna o
único protetor e também único mantenedor, porque ninguém é täo de confiança quanto Ele.
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Eu, como Seu eterno escravo, sou de alguma forma parte da família do Senhor Krishna, e
minha única aspiraçäo é agir de acordo com a vontade do Senhor Krishna.
"Deve-se abandonar designaçöes falsas como brahmana, shudra, pai, marido, Rei, súdito,
mestre, doador, mantenedor. Abandonem todos apegos a dinheiro, corpo, filhos, esposa, etc.
Em vez disso, centralizem os apegos e relacionamentos em torno de Krishna, pensando: 'Ele é
o verdadeiro Mestre e Senhor, e Sua vontade é meu imperativo. Estou pronto para agir só
para realizar o desejo do Senhor Krishna e nem mesmo pensarei em meus próprios desejos.
Ajustarei meus afazeres domésticos para a satisfaçäo do Senhor. Por Sua vontade atravessarei
o oceano material. Tanto em tempos de alegria e tristeza permanecerei eternamente servo do
Senhor Krishna. Somente por Seu desejo poderei tornar-me compadecido pelo sofrimento dos
outros. Todos meus momentos de desfrute material e meus humores de austeridade säo
experimentados somente devido à vontade do Senhor.' Quando estes sentimentos surgem
espontaneamente, se alcança o estágio de atma-nivedana (rendiçäo da alma).
"Quem for incapaz de aceitar os seis ramos de rendiçäo é um prisioneiro do falso ego que
sempre está pensando em termos de "eu" e "meu". Orgulhosamente declara: 'Sou o mestre
aqui. Esse lar e família me pertencem. Os frutos do trabalho säo meus por direito de trabalho,
e sou o desfrutador deles, sejam amargos ou doces. Sou meu próprio protetor e mantenedor.
Essa mulher é minha esposa, aqui está meu irmäo, esse é meu filho. Pelo suor de minha fronte
ganho meu próprio sustento. Sucesso é a recompensa de meus esforços.' Intoxicadas pelo
egoísmo, essas pessoas materialistas superestimam sua habilidade e inteligência. Cientistas
propagam suas teorias e desenvolvem tecnologia para ostentarem sua negaçäo da onipotência
do Senhor e até mesmo Sua própria existência. Dentre os ateus, esses säo os piores demônios.
Eles aceitam crédito pelos assim-chamados avanços da tecnologia científica e pelo conforto
material que traz. Porém efetivamente, tudo é realizado através da vontade do Senhor; isso
eles esquecem convenientemente.
"Quando os ateus ouvem sobre a glória do santo nome, näo acreditam. Entretanto às vezes até
mesmo eles pronunciam o santo nome de Krishna devido à pressäo de normas sociais, mas
como esse tipo de cantar está destituído de fé, nunca experimentam bem-aventurança. Tais säo
os modos estereotipados de enganadores que fazem mero show de religiäo. Por repetir o
nome de Krishna, embora negligentemente, acumulam um pouco de piedade, porém säo
privados do verdadeiro resultado de cantar: amor puro por Deus. A causa da ofensividade
deles é enredamento material. Estäo täo cativados pela potência ilusória que ficam cegos, e é
extremamente difícil para eles libertarem-se de sua condiçäo ofensiva. Somente quem adquire
um gosto pelo serviço devocional puro se torna desgostoso com a vida material; deixando-a,
se abriga plenamente no santo nome.
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um devoto puro iräo entäo florescer no coraçäo, e nos dedicaremos aos seis processos de
rendiçäo. Aquele que encontra completo refúgio no santo nome é uma grande alma, pois se
torna o receptor do tesouro de krishna-prema.
"O pleno benefício espiritual näo se adquire simplesmente por evitar os dez namaparadhas.
Estas dez ofensas possuem suas características distintas; ao sermos alertados contra elas, na
realidade estamos recebendo ordens de implementar positivamente as qualidades santas
específicas que tornam esses aparadhas impossíveis. Portanto, näo se deve criticar, porém
glorificar, os Vaisnavas santos. Adorar Krishna como o Senhor Supremo Absoluto.
Compreender a excelência do guru que nos inicia no santo nome. Compreender a supremacia
das escrituras que revelam as glórias do santo nome. Erradicar e destruir o desejo de cometer
pecados. Saber dentro do coraçäo que o santo nome está eternamente situado em pura
transcendência. Pregar as glórias do santo nome somente aos fiéis. Abandonem totalmente
atividades ritualísticas piedosas, e rendendo-se plenamente ao santo nome, cantem sem
decepcionar.
"Quando desse modo ficamos livres das ofensas, nos tornamos os seres mais afortunados.
Adquirimos todas boas qualidades e nos tornamos qualificados para receber a misericórdia sem
causa do Senhor Krishna. Mui rapidamente esse cantar nos concede o fruto divino de bhava,
o primeiro estágio de prema. Assim o cantor sem ofensas imediatamente é promovido do
sadhana ou estágio da prática para bhava, ou serviço devocional puro espontâneo. De bhava
surge prema, que, de acordo com as escrituras, é o fruto maduro da devoçäo pura, o auge de
toda perfeiçäo. Meu querido Senhor Chaitanya, substanciaste pessoalmente o fato de que se
qualquer devoto cantar o santo nome livre de ofensas, rapidamente obterá krishna-prema.
"Se a pessoa continua cantando com ofensas, entäo apesar de muitos esforços, nunca irá
alcançar devoçäo pura. O trabalhador fruitivo ou karmi desfruta de bem-aventurança celestial
através do karma; o jnani obtém liberaçäo como resultado de conhecimento empírico; porém
devoçäo pura pelo Senhor Krishna, que raramente se alcança, só está disponível através do
serviço devocional puro. A bem-aventurança do céu e a liberaçäo säo comparados à madre-
pérola (superfície luminosa da concha de ostra perolífera), porém devoçäo pura por Krishna é
uma jóia sem preço, a própria pérola. É prerogativa da jiva alcançar o sucesso de seu
sadhana. O significado de prática perita é que se evita os dez namaparadhas.
A Severidade de Namaparadha
"Ofensas ao santo nome do Senhor se dissolvem somente através do cantar constante. Quando
säo destruídas assim, nunca conseguem reaparecer. Cantar constante significa que, além dum
tempo mínimo para descansar e outras necessidades físicas essenciais, devemos cantar durante
todas horas do dia com intensa contriçäo.
Nenhuma outra penitência ou ritual é täo eficaz quanto isso. Quando as ofensas säo
destruídas, o santo nome puro floresce no coraçäo. O nome puro de Krishna concede bhava e
finalmente prema.
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"ó Senhor Chaitanya, humildemente oro a Teus pés de lótus para que as dez ofensas no cantar
do santo nome do Senhor nunca tenham lugar em meu coraçäo. Por favor bondosamente
permita que eu possa permanecer imerso no néctar do puro nome."
Este miserável Bhaktivinoda foi capaz de recitar Harinama Cintamani com grande júbilo
através da potência da misericórdia sem causa de Srila Haridasa Thakura.
CAPITULO QUATORZE
Ofensas no Serviço Devocional
Todas as glórias a Sri Gadadhara Pandit e ao Senhor Sri Gauranga; todas as glórias ao Senhor
Nityananda, a vida e alma de Srimati Jahnavadevi; todas as glórias a Mäe Sita, e a Advaita
Acharya, todas as glórias a Srila Srivas Pandit, e a todos devotos do Senhor Chaitanya.
O Senhor Chaitanya disse: "Meu querido devoto Haridasa, as almas condicionadas de Kali-
yuga se beneficiaräo grandemente desta explicaçäo elaborada das ofensas contra o santo nome
que deste até agora. És de fato um grande partidário leal e acharya." Srila Haridasa Thakura
é namacharya, ou principal autoridade espiritual no assunto do santo nome. Ele praticou tudo
que pregou. Ensinou às jivas sobre o puro santo nome, a sombra do santo nome ou
namabhasa, e as glórias do santo nome. Também instruiu sobre como parar de cometer
namaparadha. Ensinou tudo isso por seu próprio exemplo.
O Senhor Chaitanya continuou: "Gostei muito de tua dissertaçäo sobre o santo nome. Como
acharya, és exemplar; como pregador, és profundo. Estás sempre ornamentado pela jóia sem
preço do santo nome do Senhor. Ramananda Raya Me ensinou a ciência esotérica das doçuras
divinas, e agora Me instruíste sobre a profunda filosofia do santo nome. Por gentileza fale
sobre os diferentes tipos de ofensas cometidas na execuçäo do serviço devocional."
Srila Haridasa Thakura respondeu: "Estás perguntando sobre um assunto que é mais familiar
para um devoto-servo. Meu tempo está tomado pela associaçäo com o santo nome. Näo sei o
que dizer sobre tudo isso, contudo näo posso desconsiderar Tua instruçäo. Vou dizer aquilo
que Me fizeres falar."
Variedades de Sevaparadha
"As ofensas no serviço devocional (sevaparadha) säo numerosas. Algumas escrituras listam
trinta e duas ofensas, e outras, cinquenta. Em geral as escrituras identificam quatro
classificaçöes de sevaparadha. Por definiçäo, sevaparadha sempre se relaciona a adoraçäo da
Deidade. As quatro classificaçöes de ofensas na adoraçäo a Deidades säo: aquelas atinentes a
pessoas ocupadas em adoraçäo à Deidade, aquelas relativas a instalaçäo das Deidades, aquelas
referentes a pessoas que tomam darshan da Deidade no templo, e aquelas que em geral se
aplicam a todos casos. Estas se determina facilmente.
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"Segue a lista de trinta e duas ofensas na adoraçäo da Deidade: 1) entrar no templo de sapatos
ou sair de um veículo diante da Deidade como se estivesse num passeio; 2) näo observar os
dias de festivais; 3) esquecer de prestar reverências e oraçöes para a Deidade; 4) entrar no
templo sem ter lavado as mäos e pés depois de comer; 5) oferecer adoraçäo à Deidade num
estado näo limpo ou contaminado; 6) oferecer reverências com uma mäo só; 7) circumambular
diante da Deidade; 8) estender os pés em direçäo à Deidade; 9) sentar de cócoras diante da
Deidade; 10) dormir ou reclinar-se na presença da Deidade; 11) comer diante da Deidade; 12)
dizer mentiras diante da Deidade; 13) falar alto diante da Deidade; 14) falar com outros diante
da Deidade; 15) derramar lágrimas falsas diante da Deidade; 16) brigar diante da Deidade; 17)
criticar alguém diante da Deidade; 18) dar caridade a mendigos diante da Deidade; 19)
empregar linguagem abusiva diante da Deidade; 20) cobrir-se com um cobertor ou acolchoado
diante da Deidade; 21) elogiar alguém diante da Deidade; 22) agir de modo imodesto diante da
Deidade; 23) soltar gases diante da Deidade; 24) usar ou dar parafernália abaixo do padräo de
qualidade para adorar a Deidade apesar de ter melhor; 25) comer ou beber alimentos näo-
oferecidos; 26) näo oferecer frutas e vegetais da estaçäo; 27) oferecer à Deidade alimento
contaminado, comido por alguém antes; 28) sentar-se com as costas voltadas para a Deidade;
29) oferecer reverências ou adorar outro alguém diante da Deidade; 30) näo glorificar e
oferecer reverências ao seu guru diante da Deidade; 31) glorificar-se diante da Deidade; 32)
caluniar os semideuses diante da Deidade. Estes trinta e dois sevaparadhas foram compilados
das escrituras pelos sábios realizados.
"É ofensivo comer opulentamente; tocar a Deidade de Hari no escuro; tocar na Deidade sem
ritual apropriado; abrir as portas do altar sem executar música e canto para o prazer do
Senhor; oferecer alimento ao Senhor que foi visto por um cäo; falar durante a adoraçäo à
Deidade; oferecer arati sem colocar uma guirlanda de flores nas Deidades; adorar o Senhor
Krishna com flores que näo säo atraentes ou sem cheiro; oferecer adoraçäo ao Senhor Krishna
sem primeiro lavar o rosto e boca; oferecer adoraçäo à Deidade sem tomar banho após haver
mantido relaçöes sexuais com a esposa; estar na presença de uma mulher durante seu período
menstrual; oferecer adoraçäo diretamente após ter acendido uma fogueira; soltar gases diante
da Deidade; oferecer adoraçäo usando roupas sujas ou contaminadas; oferecer adoraçäo
enquanto zangado; oferecer adoraçäo diretamente após ter estado num crematório, ou ter
tocado um corpo morto ou visto o rosto de um cadáver; oferecer adoraçäo enquanto se está
sofrendo de indigestäo ou disenteria; oferecer adoraçäo imediatamente após comer; oferecer
adoraçäo enquanto masca betel ou tabaco; tocar a Deidade depois de tomar massagem com
óleo; adorar com flores da árvore pipal ou castor; adorar num momento inauspicioso; adorar
enquanto se fica de cócoras sobre um pequeno banquinho de madeira; tocar o Senhor com a
mäo esquerda enquanto banha a Deidade; oferecer flores velhas ou já oferecidas; vangloriar-se
durante a adoraçäo; cuspir habitualmente; adorar a Deidade após aplicar tilaka borrada ou em
zig-zag; entrar no templo sem lavar os pés; oferecer à Deidade alimento cozido por um näo-
Vaisnava; fazer puja diante de um näo-Vaisnava.
59
serviço devocional puro ao Senhor Krishna. O próprio devoto é o melhor juiz quanto a contra
quais das ofensas deve ficar vigilante, conforme o serviço em que estiver ocupado. Porém a
responsabilidade de evitar namaparadha se aplica a cada Vaisnava em todos momentos.
"Aquele devoto que, num local isolado, sentindo separaçäo da Deidade, está constantemente
ocupado em adorar o Senhor no humor de êxtase amoroso (bhava), deve evitar diligentemente
as dez ofensas contra o santo nome, porque os namaparadhas säo a origem de todos males.
Bhava-seva só começa depois que se deixa os namaparadhas. Nesse estágio de seva, é
preciso estar livre de todas ofensas. Em bhava-seva, serviço mental é o principal; quase näo
há oportunidade para sevaparadha. ó Senhor Chaitanya, instruíste Srila Raghunatha dasa
Goswami sobre a adoraçäo de Sri Govardhana-sila conforme a seguir (citado do Chaitanya-
charitamrita, Antya-lila 6.294-304):
"Esta pedra é a forma transcendental do Senhor Krishna. Adore a pedra com grande empenho.
Adore esta pedra no modo da bondade como um perfeito brahmana, pois por tal adoraçäo
certamente alcançarás amor extático por Krishna sem demora. Para tal adoraçäo, precisa-se de
um jarro d'água e alguma flores de uma árvore de Tulasi. Isto é adoraçäo em completa
bondade quando realizada em completa pureza. Com fé e amor, deve-se oferecer oito suaves
flores de Tulasi, cada qual com duas folhas de Tulasi, uma de cada lado da flor."
"Após aconselhá-lo assim sobre como fazer adoraçäo, o Senhor Chaitanya pessoalmente
ofereceu a Raghunatha dasa a Govardhana-sila com Sua mäo transcendental. Conforme
aconselhado pelo Senhor, Raghunatha dasa adorava a sila em grande júbilo transcendental.
Svarupa Damodara deu a Raghunatha dasa dois panos, de seis polegadas de comprimento
cada, uma plataforma de madeira e um jarro no qual manter a água. Assim Raghunatha dasa
começou a adorar a pedra de Govardhana, e enquanto fazia adoraçäo, viu a Suprema
Personalidade de Deus, Krishna, filho de Nanda Maharaja, diretamente na pedra. Pensando em
como havia recebido a Govardhana-sila diretamente das mäos de Sri Chaitanya Mahaprabhu,
Raghunatha dasa estava sempre transbordando de amor extático. A quantidade de êxtase
transcendental que Raghunatha dasa saboreava simplesmente por oferecer água e Tulasi é
impossível de obter mesmo se adoramos a Deidade com dezesseis tipos de parafernália.
Depois que Raghunatha dasa assim adorara a Govardhana-sila por algum tempo, Svarupa
Damodara disse-lhe o seguinte: "Ofereça à pedra o equivalente a oito kaudis de doces finos de
primeira classe chamados khaja e sandesha. Se os oferecer com fé e amor, seräo tal qual
néctar."
É pela força das instruçöes de Srila Haridasa Thakurra que uma pessoa inferior e sem meios
consegue recitar o Harinama Cintamani.
CAPITULO QUINZE
60
O Bhajana da Adoraçäo Confidencial
Todas as glórias a Sri Gadadhara Pandit e ao Senhor Sri Gauranga; todas as glórias ao Senhor
Nityananda; todas as glórias a Advaita Acharya, o Senhor de Mäe Sita; todas as glórias a todos
devotos do Senhor Chaitanya.
O Senhor Chaitanya disse: "ó Haridasa! Simplesmente pela força de tua maravilhosa devoçäo,
és proficiente em todo conhecimento. Todas conclusöes filosóficas védicas sobre os tópicos
do Deus Absoluto, a jiva, maya, o nome puro do Senhor, namabhasa e namaparadha säo
revelados em teu discurso. Portanto é certo dizer sobre ti que os Vedas alegremente dançam
sobre tua língua." O Senhor Chaitanya desejava que os preceitos de namarasa, a ciência
máxima das doçuras do santo nome, fosse revelada pela boca de Srila Haridasa; e assim o
Senhor falou dessa maneira.
O Senhor Chaitanya continuou: "Agora por favor instrua-Me sobre namarasa. Como pode
uma jiva se tornar qualificada para recebê-la?" Srila Haridasa Thakura entäo orou aos pés de
lótus do Senhor, colocando-se à disposiçäo do Senhor para que tudo que falasse sobre o
assunto fosse diretamente inspirado pelo próprio Senhor.
O Conceito de Rasa
Srila Haridasa respondeu: "Os Vedas proclamam rasa, ou doçura transcendental, como sendo
da mesma substância espiritual que a Suprema Verdade Absoluta e do reino da transcendência
pura. Poetas mundanos chafurdam em rasa que é totalmente mundana; na realidade a deles
näo é rasa, mas uma perversäo desta. A rasa que existe além da jurisdiçäo dos vinte e quatro
elementos da natureza material é transcendental e sempre situada na bondade pura. Isto na
verdade é rasa verdadeira. Mesmo os atmaramas, os transcendentalistas auto-satisfeitos que
ultrapassaram a natureza meterial, säo incapazes de perceber esse maravilhoso espetáculo
supramundano de variedade divina; assim, eles se acham destituídos de rasa. Rasa eterna é o
conhecimento espiritual intrínsico em pura transcendência. Ela é sempre-bem-aventurada e
reside aos pés de lótus do Senhor Supremo.
"A Verdade Absoluta Suprema existe distintamente como shaktiman, ou o Energético, e shakti
ou a energia. Qualitativamente, shaktiman e shakti säo o mesmo, embora se possa apreciar
algumas diferenças entre ambos. Shaktiman sempre é o Autocrata Absoluto, voluntarioso e
independente, e shakti sempre exibe a suprema e total potência Dele. A potência shakti se
manifesta de três maneiras: a potência cit ou a natureza espiritual, a jiva ou potência marginal,
e maya ou a natureza material.
"A potência cit-shakti revela o Supremo Objeto, Seu santo nome, morada, passatempos,
beleza, etc.; e o Senhor Krishna é aquele Objeto Supremo. Sua rara tez escura (shyama) é Sua
beleza. Goloka é Sua morada e a representaçäo de Seus passatempos. Seu nome, morada,
forma, qualidades e passatempos säo uma característica sempre-existente da substância
espiritual näo-dual. Variedade transcendental é a atividade da potência divina superior.
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"O Senhor Krishna é a forma original de todas qualidades espirituais, e Sua natureza eterna é
Sua para-shakti ou Sua potência divina suprema. Portanto näo há diferença inerente entre a
forma de Krishna e Sua natureza divina de para-shakti. Contudo variedade espiritual (rasa)
cria uma impressäo de diferença. Isso só o mundo espiritual exibe.
Que é Maya-shakti?
"O santo nome do Senhor Krishna é o botäo da flor de rasa. Rasa é a essência da pura
transcendência, e esta rasa, pela graça de Krishna, no mundo material é propagada na forma de
Seu santo nome.
"Latente dentro da jiva estäo as minúsculas potências espirituais de ahlada (êxtase) e samvit
(conhecimento). Svarupa-shakti (a potência interna do próprio Senhor) descende para
contatar e acordar estas pequenas potências da jiva. Tudo isso se efetua através da
misericórdia sem causa e influência do santo nome. Svarupa-shakti contém a própria essência
62
das potências hladini e samvit. Svarupa-shakti amalgamada ao conhecimento e bem-
aventurança da jiva produz uma mentalidade que conduz à devoçäo pura espontânea,
conhecida como a bhakti-svarupam-shakti.
Rasa e as Bhavas*
* Para uma discussäo mais completa sobre os princípios e expressöes de rasa, além de
numerosos exemplos das escrituras, por favor vide Néctar da Devoçäo (op.cit.)-Ed.
Vibhava, o elemento que excita o sentimento, possui duas subdivisöes: alambana e uddipana.
Alambana, ou a pessoa que é o objeto do sentimento, por sua vez pode ser de dois tipos:
visaya (sujeito) e asraya (receptáculo). O devoto do Senhor Krishna é o asraya e o próprio
Senhor Krishna é o visaya. Uddipana ou o ímpeto é a beleza, qualidades, etc. do Senhor
Krishna.
Rasa é como uma máquina. Rati, ou emoçäo permanente, é o eixo dessa máquina. Uma vez
que a máquina começa a se movimentar pela energia combinada das quatro bhavas, a emoçäo
permanente ou sthayi-bhava entäo se converte em rasa. O devoto, que é o asraya (abrigo ou
receptáculo de amor extático por Krishna), se torna o desfrutador daquela rasa. E a rasa aqui
mencionada é a vraja-rasa ou doçura espiritual de Vrndavana. Essa rasa é a essência de tudo,
e é a meta mais elevada para a jiva. Os Vedas explicam quatro metas: dharma, artha, kama e
moksha (princípios religiosos, desenvolvimento econômico, desfrute sensorial regulado e
liberaçäo). Mas além dessas metas dos Vedas, o verdadeiro auge de toda perfeiçäo é rasa.
Seres plenamente realizados e aperfeiçoados qualificam-se para saborear essa rasa.
"Dentre as jivas instrospectivas, aquela que se atrai pelo serviço devocional puro é a mais
evoluída. A jiva entra na senda de bhakti somente depois de ter acumulado suficiente sukrti
(piedade) de nascimentos prévios. Quando desenvolve forte fé (shraddha), entra em contato
com um mestre puro e santo. Pela graça do mestre espiritual, é iniciada no cantar do Hare
Krishna maha-mantra - os santos nomes do Casal Divino*.
63
"Embora no início esta jiva tenha shraddha, seu desejo por sucesso material coloca um
obstáculo ao progresso de seu caminho. O mestre espiritual agracia-o com um processo
disciplinar adequado para vencer esse obstáculo; assim ele ganha força espiritual pelo cantar.
Cantar em contas de tulasi e meditar num número fixo de santos nomes diariamente é a melhor
forma de adoraçäo, e certamente levará ao sucesso. Portanto, no início, um pouco de tempo
deve ser passado no isolamento diariamente para plena concentraçäo no santo nome.
Gradualmente, conforme o cantar aumenta, se desenvolve um relacionamento mais profundo
com o santo nome, e os impedimentos materiais terminam.
"A senda de bhakti apresenta duas ocupaçöes principais: adoraçäo à Deidade, e cantar e
meditar no santo nome. Embora ambas ocupaçöes sejam recursos, expedientes, cantar e
meditar no santo nome é preferido pelos devotos mais profundamente sérios. Muitos devotos
puros elevados às vezes cantam alto os santos nomes em suas contas, e em outras horas
meditam nos passatempos usando as contas. A vantagem de realizar kirtana, ou cantar
audivelmente o maha-mantra nas contas, é que três tipos de serviço devocional - ouvir, cantar
e lembrar - säo realizados simultaneamente. É claro que todos nove ramos de serviço
devocional residem no santo nome, porém cantar e lembrar säo os dois melhores.
"Três tipos de jivas säo cativadas pelos fenômenos externos: os materialistas grosseiros, os
karmis e os jnanis. Säo portanto, todas extrovertidas, perseguindo falsas esperanças de
felicidade. O materialista grosseiro se esforça por prazeres sensuais. O karmi aspira êxtase
celestial efêmero no além. O jnani dedica-se completamente a como mitigar seu sofrimento
existencial. Após ultrapassar estes estágios, a jiva se torna introspectiva. A jiva introspectiva
se divide em três categorias: kanistha, madhyama, e uttama (neófita, intermediária e
avançada).
"O neófito instrospectivo rejeita adoraçäo a semideuses e adora somente Krishna, embora com
certas motivaçöes materiais. É inexperiente na compreensäo das identidades espirituais de si
próprio, do Senhor Krishna, e do devoto puro do Senhor. Embora seja simples e inocente, näo
é ofensivo; só está preocupado consigo mesmo. Portanto, os neófitos näo säo considerados
como sendo Vaisnavas puros, embora certamente devam ser vistos como vaisnava-praya ou
assemelhando-se a Vaisnavas.
"A jiva introspectiva intermediária, ou madhyama, é uma devota pura e está mui firmemente
situada na devoçäo. Quanto a uttama ou jiva introspectiva avançada, podemos dizer o
seguinte: alcançou um estado de perfeita equanimidade. Näo se pode ser verdadeiramente
introspectivo sem primeiro situar-se no conhecimento da posiçäo egalitária do santo nome e do
próprio Krishna. A jiva introspectiva automaticamente possui fé uni-direcionada no Senhor
Supremo; assim, está qualificada a cantar o santo nome puramente.
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"A ordem de disciplina ou sadhana-krama é a seguinte: o devoto introspectivo deve
inicialmente descartar todas dez ofensas e simplesmente meditar no santo nome, tentando
cantar constantemente. Deve pronunciar distintamente o santo nome e meditar na vibraçäo
sonora transcendental. Quando seu cantar for claro, constante e cheio de bem-aventurança,
deve tentar meditar na forma Shyamasundara do Senhor. Com as contas de cantar na mäo, seu
cantar e meditaçäo devem buscar a forma transcendental do santo nome. De fato verá com
visäo espiritual o real significado que o nome representa.
"Outro método que poderá empregar para ver esta forma é sentar em frente das Deidades,
beber com os olhos a linda forma do Senhor e meditar no santo nome. Mesmo após alcançar o
estágio em que o santo nome e a forma do Senhor se tornam unas, deve tentar lembrar das
qualidades transcendentais do Senhor Krishna. O santo nome e as qualidades de Krishna
devem fundir-se através do constante cantar.
"A seguir, prosegue praticando a lembrança dos passatempos de Krishna; em geral, estes seräo
passatempos que facilitem meditaçäo no santo nome. Lila-smarana ou meditaçäo em
passatempos também gradualmente se torna una com o santo nome, forma, e qualidades do
Senhor. Nesse ponto, os primeiros raios de namarasa, ou das doçuras transcendentais do
santo nome, alvorecem no horizonte da percepçäo. Progressivamente, a prática de lila-
smarana do devoto intensifica ao ponto onde começa a meditar nos passatempos mais
confidenciais do Senhor conhecidos como asta-kaliya-lila, ou os oito passatempos de Radha-
Krishna. Quando sua meditaçäo chega à maturidade, rasa surge em plena glória.
"As cinco principais rasas ou doçuras espirituais säo: shanta (neutralidade), dasya (servidäo),
sakhya (amizade), vatsalya (paternidade), e srngara ou madhurya (amor conjugal). Entre
estas, srngara é mais elevada. Devotos qualificados para entrar ma rasa conjugal säo os
seguidores íntimos de Sri Krishna Chaitanya. Nesta rasa, o Senhor Krishna possui muitas
yuthesvaris ou líderes de grupo femininas, porém todos preferem Srimati Radharani. Ela é a
manifestaçäo direta da svarupa-shakti ou potência espiritual do Senhor Krishna, e todas outras
vraja-gopis säo Suas expansöes. Ela é a encarnaçäo absoluta de todas as rasas. Portanto é
essencial que o devoto rasika se afilie a Seu grupo ou yutha. Serviço ao Senhor Krishna em
Vraja é impossível sem primeiro se refugiar nas vraja-gopis. Deve-se ingressar no
acampamento de Srimati Radharani e servir diretamente sob Lalita-devi.
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misericórdia da yuthesvari, bem facilmente a pessoa é tomada de atraçäo pelo Senhor Krishna.
Esta forte atraçäo espiritual elimina o conceito material grosseiro e sutil que tem quanto à sua
forma, e que foi ocasionado por ter se afastado de Krishna. Assim a jiva consegue ingressar
em Vraja em sua forma espiritual original. Até esse ponto, o progresso da jiva na vida
espiritual pode ser descrito com palavras; indo além, seu relacionamento com o Senhor é
indescritível. Somente pode ser percebido através de Tua graça, Senhor Chaitanya.
Srngara-rasa é a rasa mais brilhante, porque no mundo espiritual esta rasa brilha mais que
qualquer outro relacionamento. Por adotar bhauma-vraja-rasa, ou a vraja-rasa disponível
nesse plano material em Vrndavana-dhama, tornamo-nos qualificados para obter srngara-rasa.
"Sri Ramananda Raya disse (conforme registrado no Sri Chaitanya-charitamrta, Madhya-lila
8.228-230):
"Por isso deve-se aceitar o humor das gopis em seu serviço. Em tal humor transcendental,
deve-se sempre pensar nos passatempos de Sri-Sri Radha e Krishna. Após pensar em Sri-Sri
Radha e Krishna e Seus passatempos durante bastante tempo, e após livrar-se da contaminaçäo
material, a pessoa é transferida ao mundo espiritual. Ali os devotos obtém a oportunidade de
servir Sri-Sri Radha e Krishna como uma das gopis. A näo ser que se siga os passos das gopis,
näo se consegue obter o serviço aos pés de lótus de Krishna, filho de Nanda Maharaja. Se
formos sobrepujados pelo conhecimento da opulência do Senhor, näo conseguiremos alcançar
os pés de lótus do Senhor mesmo apesar de estarmos ocupados em serviço devocional."
"O devoto naturalmente inclinado a cultivar a rasa conjugal deve aceitar a orientaçäo superior
de uma vraja-gopi. A jiva näo está qualificada para servir Krishna na doçura conjugal como
homem. Serviço devocional puro ao Senhor Krishna do melhor tipo só é possível sob forma
de uma vraja-gopi. Pode-se virar uma vraja-gopi quando onze sentimentos transcendentais
adornam o coraçäo. Estes säo: 1) sambandha (relacionamento), 2) bayasa (idade), 3) nama
(nome), 4) rupa (forma), 5) yutha-pravesa (entrada num grupo), 6) vesa (indumentária), 7)
ajna (permissäo), 8) basasthana (local de residência), 9) seva (serviço), 10) parakastha
(excelência), 11) palyadasi-bhava (o humor de uma serva mantida de Krishna). O devoto
poderá estar em qualquer forma mundana, porém tem que cultivar esses onze sentimentos e
realizar bhajana corretamente.
"Quem se atrai pelo amor extático das gopis näo se preocupa com princípios regulativos da
vida védica ou opiniäo pública. Em vez disso, rende-se completamente a Krishna e presta
serviço a Ele. Nesse estágio liberado o devoto é atraído por um dos humores (rasas) no
transcendental serviço amoroso do Senhor. Conforme continua a servir o Senhor naquele
humor, obtém um corpo espiritual para servir Krishna em Goloka Vrndavana."
Dizendo isso, Srila Ramananda Raya nos intrui a primeiro obter a forma e humor de uma
vraja-gopi a fim de obter serviço no humor conjugal.
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"Quando um devoto sadhaka, tendo ouvido sobre os passatempos do Senhor Krishna, se atrai
pela doçura conjugal, deve receber instruçöes maiores sobre rasa a partir de um mestre
espiritual realizado, santo. Isto se chama o estágio de ouvir ou sravana-dasa. Quando o
devoto sadhaka ansiosa e ávidamente aceita a doçura conjugal, começa varana-dasa. Entäo,
através da pura lembrança dos sentimentos de rasa, ele deseja praticá-los; aí chega ao terceiro
estágio, smarana-dasa. Quando for capaz de invocar perfeitamente estes sentimentos de rasa,
alcança apana-dasa ou prapti-dasa. Finalmente, quando consegue separar-se de todas suas
designaçöes materiais temporais e está firmemente fixo nessa identidade espiritual original pela
qual anseia, chegou ao sampatti-dasa - a herança de sua identidade espiritual.
"Se, apos ter testado o discípulo, o mestre espiritual determinar que este está qualificado para
realizar bhajana e servir na srngara-rasa, ele entäo confidencialmente informa o discípulo
sobre seu papel espiritual eterno como uma manjari no acampamento de Srimati Radharani,
sob supervisäo de Sri Lalita-devi. O mestre espiritual ensina ao discípulo como desenvolver os
onze sentimentos das gopis, como meditar na asta-kaliya-lila, e como estar corretamente
estabelecido em ambos.
"A fim de que possa compreender plenamente ambos, seu siddhadeha ou identidade espiritual
(i.e. seu nome espiritual, forma, qualidades, serviço, e assim por diante) é mostrado ao
sadhaka. O mestre espiritual também revela ao discípulo quem säo seus pais naquela
identidade de manjari do sadhaka, em que casa nasceu, quem é seu marido, e assim por
diante. Nesse ponto, o discípulo deve desdenhar todas atividades religiosas védicas e
simplesmente ser uma serva plenamente rendida de Srimati Radharani, a líder do
acampamento. Depois disso, o guru revelará em detalhe o serviço eterno do discípulo a
Srimati Radharani na asta-kaliya-lila. O sadhaka (agora uma sadhaki feminina) acolhe estas
revelaçöes em varna-dasa. Ele entra em smarana-dasa quando de fato lembrar delas sozinho;
e assim, desta forma, o sadhaka chega ao nascimento espiritual como uma gopi em Vraja.
"Aqueles que näo se atraem pela srngara-rasa, mas preferem dasya ou sakhya, devem receber
instruçöes pertinentes sobre esses relacionamentos a fim de conseguirem o fruto de sua
devoçäo, ou senäo retornaräo a uma vida de anarthas. A grande alma Shyamananda
inicialmente näo estava ciente de seu próprio siddha-ruci ou doçura espiritual permanente, e
assim fizeram-no acolher sakhya-rasa ou a doçura da fraternidade. Mais tarde, pela graça de
Srila Jiva Goswami, tornou-se autorizado a realizar bhajana em seu real ruci ou tendência
espiritual. Esta é uma história bem conhecida. ó Senhor Chaitanya, em Tua linha de
ensinamentos sobre o assunto, perspicácia espiritual e qualificaçäo contam acima de tudo.
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"O sadhaka possui seu próprio sva-ruci ou gosto natural como uma gopi. Outros rucis (tal
como a aceitaçäo de um marido) säo falsamente ligados a esse sva-ruci antes que o sadhaka
finalmente acolha o ruci autêntico. Porém pela graça de seu mestre espiritual, o sadhaka näo
obstante alcança o serviço de Krishna conforme seu ruci natural em parakiya-rasa ou
relacionamento de amante. Rasa nunca consegue chegar ao pleno florescer sem ser em
parakiya-rasa. O auge de Teus ensinamentos, ó Senhor Chaitanya, é que a atitude parakiya é
permanente nos passatempos do Senhor, tanto em sua aparência (quando Krishna descende a
Vrajabhumi) quanto em seu desaparecimento (na invisível Vraja do mundo transcendental).*
"A perfeiçäo completa permanece evasiva a näo ser que se pratique entusiasticamente
suficiente sadhana para se elevar do estágio de smarana-dasa para apana-dasa. O processo
confidencial de apana-dasa é inefável e destituído de quaisquer ostentaçöes como jnana,
karma ou yoga. Externamente, o devoto se ocupa plenamente em cantar o santo nome e leva
uma vida renunciada simples. Internamente, mantém as esplendorosas chamas de rasa ardendo
com intensidade pura o tempo todo. Aqueles sadhakas inclinados a pomposa demonstraçäo
externa de devoçäo, ou que deixam de dirigir firme e corretamente suas aspiraçöes espirituais
internas, näo conseguem elevar-se da plataforma de smarana para apana-dasa. Assim o
sadhaka poderá tardar, irrealizado, por muitas vidas de prática devocional.
Esta senda de adoraçäo ou bhajana é a mais simples; porém se a pureza do bhajana de alguma
forma for desfigurada por uma ponta de desejos contaminados por reconhecimento, distinçäo
ou reverência, entäo o sadhaka é lançado fora da senda de vraja-sadhana, ou bhajana no
humor de Vraja. Devemo-nos aproximar do mestre espiritual com simples humildade e
aprender esse processo puro corretamente.
"Aqui está como se obtém perfeiçäo mais facilmente: a jiva é alma espiritual pura, parte e
parcela do Todo Absoluto. Possui uma forma original transcendental que é totalmente perfeita.
Esqueceu de seu estado espiritual perfeito e está sob as garras de maya. É ofensiva ao Senhor
Krishna e está inebriada pelas falsas designaçöes mundanas de seu corpo grosseiro. Se, pela
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misericórdia de um mestre espiritual devoto puro, recobrar o conhecimento acerca de sua real
origem, entäo rapidamente poderá redescobrir sua identidade original.
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todos vestígios dos corpos sutis de mente, inteligência e falso-ego seräo extintos com a
cessaçäo do corpo grosseiro de cinco elementos.
"Entäo é que se manifesta a forma espiritual pura do devoto, sem todas coberturas materiais.
No humor de puro bhava, empreende seu serviço eterno a Sri-Sri Radha-Krishna no dhama
transcendental. Assim ele se torna um sadhana-siddha ou alma condicionada aperfeiçoada que
entäo é reinstalada em seu svarupa através de sadhana e bhajana. Agora serve ao Senhor na
companhia dos nitya-siddhas, associados eternos do Senhor que nunca foram condicionados.
Sumário
"O santo nome é o maior e no entanto o mais fácilmente obtenível tesouro espiritual. Esse
grande tesouro é obtido quando a jiva simplesmente canta com fé e devoçäo, näo se
importando com karma, jnana e yoga. A jiva rapida e facilmente ascende à maior perfeiçäo
por seguir o método de nama-bhajana já descrito. Esse método é o melhor dos métodos,
melhor até que outros métodos de bhakti. O requisito básico para realizar bhajana com
sucesso é que o sadhaka deve se afastar totalmente da má associaçäo e se ocupar na prática do
serviço devocional na companhia de devotos santos do Senhor. Amor puro por Krishna é a
expressäo de serviço devocional sem misturas. Somente o coraçäo de um devoto puro possui
a inclinaçäo e capacidade de receber prema; o näo-devoto nega-a. Prema se recusa a entrar no
coraçäo de quem näo mantém a companhia dos devotos puros. A decisäo da jiva de aceitar
boa ou má associaçäo tem uma influência poderosa e duradoura em seu destino.
"Há três características essenciais que tem de ser cultivadas para obter sucesso no cantar:
associaçäo santificada, isolamento dos distúrbios da vida mundana, e entusiasmo determinado,
confiante." Após dizer isso, Srila Haridasa Thakura declarou que era muito caído e enredado
materialmente, destituído de boa associaçäo e sempre ocupado em auto-decepçäo. Embora
Srila Haridasa ele próprio seja um associado nitya-siddha do Senhor, ele se expressou desta
maneira humilde. Humildade é o ornamento de prema.
Srila Haridasa continuou: "ó Senhor, bondosamente cubra-me com Tua misericórdia sem
causa (ahaituki-krpa). Oro para que me concedas entrada no reino de bhakti-rasa." Dizendo
isso, Srila Haridasa caiu inconsciente em êxtase amoroso, plenamente auto-rendido aos pés de
lótus do Senhor.
Ahaituki-krpa significa "misericórdia sem causa". Ao dizer isso, Srila Haridasa inferiu que era
espiritualmente irrealizado e que portanto näo tinha esperança de receber o tipo de
misericórdia que o Senhor Krishna concede a Seus devotos puros. Em seu humor de total
desamparo simplesmente orava pela graça incondicional do Senhor Chaitanya.
Srila Haridasa Thakura é famoso por nama-bhajana e ensinar as glórias do santo nome,
contudo ele também é o recebedor da misericórdia do Senhor Chaitanya. Ele é uma autoridade
täo grande na filosofia de nama-rasa que certa vez, quando o Senhor Chaitanya estava se
deliciando com os tópicos de Radha-Krishna lila com Sri Ramananda Raya e Sarvabhauma
Bhattacharya no pátio do bhajana-kutira de Srila Haridasa Thakura, este repetidamente
explicou longamente as glórias de nama-rasa para a enlevada atençäo das outras pessoas
exaltadas presentes.
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Ouvindo isso, o Senhor Chaitanya foi arrebatado por emoçöes amorosas divinas. Levantou
Srila Haridasa e abraçou-o. O Senhor entäo falou-lhe em confiança: "ó Haridasa! Ouça
atentamente o que tenho a dizer. A verdade sobre o santo nome será ocultada por patifes
maliciosos que criaräo uma obscura nuvem de ignorância sobre o mundo inteiro. Naquela
época, estas suas instruçöes excelentes e sem rival sobre o cantar na associaçäo de pessoas
santas só seräo compreendidas por um punhado de devotos remanescentes."
O que o Senhor Chaitanya quis dizer com "patifes maliciosos"? Os principais candidatos a essa
denominaçäo säo as várias seitas novas arrogantes como os sahajiyas, aulas, baulas e assim
por diante, que propagam doutrinas mundanas farjutas disfarçadas como os próprios
ensinamentos de Mahaprabhu. Na realidade, ocultamdo mundo a pura filosofia de consciência
de Krishna exposta pelo próprio Senhor em Seu Sri Shikshastaka.
O Senhor continuou: "A verdadeira senda do santo nome será seguida pelas almas santas que
estäo totalmente desapegadas da vida material. Elas cantaräo o santo nome com bhava; por
causa disso, seräo conhecidas como rasika-bhaktas. Seu bhava será aquele da separaçäo.
Através de seu cantar saborearäo os passatempos de Radha-Krishna e Suas oito principais
amigas gopis.
"A jiva é abençoada com bhakti pura somente pela força de seu sukrti, ou piedade e fé. Nem
todos estäo qualificados para ter tal devoçäo. A fim de intensificar sua devoçäo, descendi e
propaguei o cantar do santo nome como a religiäo para essa era. O cantar do maha-mantra:
Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare; Hare Rama, Hare Rama, Rama
Rama, Hare Hare é de fato a religiäo inerente e eterna da jiva.
"ó Haridasa! Dependo de ti para realizar esta tarefa, e portanto ouço de ti as glórias do santo
nome."
O Harinama Chintamani, a pedra filosofal do santo nome do Senhor, é uma mina insondável
de divino néctar. Quem quer que dele prove é realmente afortunado e abençoado por Krishna.
Ele é uma grande alma e sempre serve extáticamente o Senhor Krishna em devoçäo amorosa
espontânea. Sou uma alma caída; agarro-me aos pés Dele e humildemente oro para que os
restos desse néctar possam ser distribuídos profusamente, assim espalhando o divino êxtase
para todos.
BIBLIOGRAFIA
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Krishna Book Estudo resumido do Décimo Canto de Srimad-
Bhagavatam descrevendo os passatempos transcendentais do Senhor
Sri Krishna em grande detalhe. Leitura maravilhosa e
interessante, boa para todas idades. 3 volumes.
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