ESO 1008 - História Do Escutismo Mundial
ESO 1008 - História Do Escutismo Mundial
Primeira edição
Setembro de 1998
Objectivos específicos
Conteúdos
Calcula-se que existem actualmente 25 milhões de escuteiros, rapazes e raparigas, em todo o mundo.
Perto de 250 milhões de pessoas, que segundo os cálculos mais prudentes, protagonizaram a "aventura
escutista" ao longo dos seus noventa anos de vida.
Este acampamento foi um enorme sucesso e provou ao seu organizador, Robert Baden-Powell
(carinhosamente chamado pelos escuteiros - B.-P.), que os seus métodos e a sua formação agradavam
aos jovens e atingiam bons resultados.
Em Janeiro de 1908, B.-P. lança um livro intitulado Scouting for Boys (título que traduzido para
português significa Escutismo para Rapazes). Este manual foi publicado em 6 fascículos ao ritmo de dois
por mês, cada fascículo custava quatro pences. Foi um sucesso imediato.
Baden-Powell não tinha, com efeito, a intenção de criar uma nova organização de juventude, mas de
contribuir para uma actualização pedagógica dos já existentes. Mas não foi essa a opinião dos jovens:
estes queriam ser escuteiros e mais nada! Começava assim o maior movimento de jovens do mundo.
Na época vitoriana, as famílias eram numerosas. Quando o professor morreu, em 1860, já contava mais
sete filhos: Warington, com treze anos, George com doze, Augustus com onze, Francis com nove, Robert
(B.-P.) com três, Agnes, a única rapariga, com dezoito meses e Baden com três semanas. Três outras
crianças tinham falecido em tenra idade e Augustus iria perecer apenas com treze anos. Embora os
Powell vivessem mais desafogadamente do que uma boa parte das famílias da sua época, não eram
propriamente abastados e Henrietta, quando enviuvou, viu-se a braços com dificuldades para educar a
sua prole.
Mas Henrietta Powell era uma mulher de armas! Ensinou aos filhos, juntamente com a leitura e a escrita,
as virtudes da perseverança e do trabalho, bem como da partilha: as crianças não tinham dinheiro de
bolso ou mesada mas existia uma caixa comunitária onde todos os membros da família iam buscar
dinheiro quando dele precisavam, deixando um papel com a indicação do montante que haviam retirado.
O jovem B.-P. cresceu nesta alegre família, tendo como ídolo o irmão mais velho, Warington, que se
preparava para largar para o mar, na Marinha Mercante. Mas, para Agnes e para o pequeno Baden, o
irmão preferido, aquele que lhes fazia brinquedos dos materiais mais incríveis e papagaios para deitarem
no parque vizinho da sua casa, era B.-P..
Este gostava imenso de brincar com os mais novos, ainda que também apreciasse estar sozinho a ler.
Além disso, conseguia tocar de ouvido qualquer instrumento e tinha especial prazer em pintar e
desenhar. Tanto o pai como a mãe eram razoavelmente dotados como artistas; contudo, Henrietta ficou
preocupada quando viu B.-P. servir-se indiferentemente da mão esquerda e da direita, ou até de ambas,
para manejar o lápis e os pincéis.
Pela mesma altura, B.-P. começou a revelar outros talentos apreciáveis. Tornou-se incontestável o seu
talento como cantor e comediante. Ele próprio escrevia as comédias que depois representava, e
aprendia todas as cançonetas da moda.
Escusado será dizer que Henrietta Baden-Powell não punha sequer a hipótese de algum dos filhos vir a
seguir a precária, e então mal afamada, carreira de actor; ou mesmo de artista. Esperava que
Charterhouse, o prestigioso colégio onde B.-P. obtivera uma bolsa de estudo em 1870, o transformasse
num “cavalheiro” victoriano...
Mas B.-P. demonstrava nítida preferência pelos jogos e desafios de futebol e pelas suas actividades na
Mata. Quando cresceu um pouco, passou a partilhar as férias ao ar livre com os seus irmãos mais velhos.
Faziam longas marchas, andavam de canoa e à vela num iate projectado por Warington. Quando estavam
a bordo, cabiam a B.-P. como mais novo, as tarefas de camaroteiro: cozinhar e lavar os pratos. Os seus
Parecia óbvio que B.-P. entrasse, por tradição familiar, na Universidade de Oxford. Mas, com grande
indignação de sua mãe, não passou na admissão.
Com dezanove anos e sem saber que fazer, B.-P. leu num jornal que ia haver provas para admissão ao
Exército. Os candidatos seleccionados seriam treinados para oficiais e prestariam serviço na Índia.
Interessado, B.-P. continuou a ler: «matemática, francês, geografia, desenho»... Resolveu tentar a sua
sorte. Durante doze escaldantes dias de Julho, B.-P. bateu-se com uma infinidade de perguntas.
Quando saíram os resultados ficou admirado ao ver-se em quinto lugar, entre 718 candidatos. A mãe
rejubilou. Como se tinham equivocado acerca do seu inteligente filho os professores de Oxford!
Nos primeiros anos, B.-P. ia ganhar muito pouco como oficial de cavalaria, mas a família juntou-se para
financiar o «alferes R.S.S. Baden-Powell» em tudo de quanto necessitava na sua nova existência. Em 30
de Outubro de 1876, todos se foram despedir dele quando partiu para a índia.
A carreira militar
Assim principiou a carreira de Baden-Powell no Exército. Permaneceu nas fileiras mais de trinta anos
onde desenvolveu grande parte das ideias que mais tarde apareceram no movimento escutista.
Baden-Powell passou os primeiros oito anos de militar como alferes na Índia. Nessa fase não havia
propriamente guerra e os piores inimigos das guarnições eram a doença e o aborrecimento.
B.-P. distinguia-se nos desportos, sobretudo no pólo. Foi poupando, gastando muito menos em comida e
bebida do que os outros oficiais, até ter dinheiro para comprar um pónei chamado Hércules. Apesar de
feio e esquelético, Hércules depressa se tornou um excelente cavalo de pólo e o seu novo dono passou a
financiar as suas próprias despesas desportivas, ensinando outros póneis.
Além do desporto, os oficiais nas remotas paragens da Índia tinham ainda outra paixão: o teatro amador.
Baden-Powell era muito requisitado porque sabia cantar, representar, dizer piadas e pintar cenários -
com as duas mãos ao mesmo tempo!
Entretanto, Baden-Powell progredia na sua formação militar. Em Junho de 1878, com vinte e um anos,
passou com a mais alta classificação nos exames e foi promovido a tenente.
Pouco tempo depois era atacado de um mal crónico e, decorridos dois anos sobre a sua chegada à
Índia, B.-P. voltava a Inglaterra com baixa.
A 5 de Outubro de 1880, o tenente Baden-Powell, agora com vinte e três anos e totalmente curado,
abandonava a Inglaterra para regressar ao seu regimento. Este fora colocado no Afeganistão, a noroeste
da Índia, local onde os ingleses se tinham envolvido numa guerra de religião. Comandava-o o coronel
Baker-Russell, que Baden-Powell havia de descrever como «uma personalidade, sem sombra de dúvida!...
Era o tipo de homem com quem você hesitaria em brincar, e teria toda a razão».
Além disso, passou muitas noites a cavalo, a fazer patrulha: «De sentinela», como então se dizia. B.-P.
passara do faz-de-conta da Mata para a realidade da vida militar.
Nessa altura, já alguns desenhos e artigos de Baden-Powell tinham sido publicados em jornais e revistas
mas ele estava decidido a voar mais alto. O seu primeiro livro, editado em 1884, apresentava
recomendações para a exploração e elaboração de mapas do território inimigo, bem como relatórios de
reconhecimento dos movimentos do inimigo.
Antes de regressar de novo à Índia, passou treze anos no Exército inglês, em diversas regiões da Europa
e da África, e deu à estampa alguns livros. Transformou-se num homem com grande autodomínio,
bastante calado, cuja força residia em incluir os seus homens em todas as decisões significativas,
obtendo em troca respeito e dedicação.
Baden-Powell foi extremamente marcado por África. Gostava não só do continente como das pessoas.
Logo no início da sua vida militar, estudava os dialectos locais onde quer que se deslocasse; deste modo
conseguiu conhecer os povos africanos. Respeitava-os quer como aliados, quer como adversários.
A maior nação guerreira africana era a dos Zulus e Baden-Powell nunca esqueceu o seu primeiro con-
tacto com um exército Zulu ou «impi» em marcha. Costumava recordar: «Ouvi um ruído longínquo que, a
princípio, me pareceu o som de um órgão a tocar numa igreja e julguei que estávamos a aproximar-nos
de uma missão escondida atrás do monte.
«Mas, quando chegámos ao cimo da elevação, vimos avançar na nossa direcção, vindas lá do fundo do
vale, três longas colunas de homens que marchavam um a um e cantavam um hino lindíssimo. De vez em
quando um deles entoava algumas notas em solo a que respondia o coro ensurdecedor de todo o
“impi”, composto de vozes de baixo e de timbres mais agudos, em total harmonia.»
B.-P. apressou-se a tirar a música de ouvido e, tanto quanto possível, as palavras: «Eengonyama
Gonyama! Invubu! Jaboo! Ja-boo! Invubu!» Passados anos havia de ensinar esta letra a um grupo de
rapazes sentados em redor de uma fogueira, numa região completamente diferente, do interior de
Inglaterra.
Os amigos Zulus de Baden-Powell ficaram muito impressionados com a sua coragem e destreza. Ele
orgulhava-se dos nomes que lhe atribuíam e que chamavam a atenção para aspectos característicos da
sua personalidade: M'hlalapanzi, «O homem que faz os seus planos com cuidado antes de os pôr em
prática»; Kantankye, isto é, «O do chapéu grande». Como sucede com muitos ruivos, B.-P. queimava-se
facilmente; por isso, usava sempre o chapéu de abas largas que adoptara na sua primeira comissão na
África do Sul, em l884-l885. Esse chapéu tornou-se uma espécie de distintivo de B.-P. e seria um dia
integrado no que foi o primeiro uniforme dos escuteiros.
Em 1897, Baden-Powell regressou à Índia. Tinha quarenta anos, era coronel e fora colocado como
comandante do 5º Regimento, aquartelado na difícil fronteira noroeste.
Como comandante, Baden-Powell era inteiramente responsável pela formação dos seus homens e
esforçava-se por aplicar algumas das suas ideias.
A característica mais revolucionária do treino dado pelo coronel Baden-Powell era o empenho que ele
punha em que os seus homens gostassem do que estavam a fazer.
Dividia os recrutas em pequenos grupos e fazia-lhes palestras cheias de piadas e episódios das suas
experiências de patrulha e reconhecimento. Depois, os homens aplicavam a teoria à prática, em exercí-
cios realizados individualmente ou dois a dois.
Aqueles que passavam nos testes obtinham o título de «batedor» e recebiam uma braçadeira especial - a
«flor de lis». Alguns anos mais tarde, o movimento dos Escuteiros transformá-la-ia num dos símbolos
mais conhecidos do mundo.
Baden-Powell registou muitas dessas ideias sobre treino e actividades ao ar livre na sua obra «Manual do
Escutismo», que viria a tornar-se um êxito.
Mas B.-P. estava demasiado absorto para dar atenção a tão inesperada popularidade! Em Maio de 1899,
após dois anos na Índia, B.-P. regressava de licença, projectando voltar ao seu regimento na Índia antes
do final do ano. Mas, decorridas apenas duas semanas, era colocado na África do Sul, onde o Império
Britânico se encontrava ameaçado pelos holandeses, os Boers. A guerra parecia inevitável.
Em princípios de Julho, o coronel Baden-Powell embarcava para a África do Sul onde enfrentaria os
acontecimentos que iriam fazer dele um herói.
Quando Baden-Powell chegou à África do Sul atribuíram-lhe como base uma cidade cuja localização tinha
importância estratégica: Mafeking. Tratava-se de uma cidade tradicionalmente pacífica, situada na linha
de fronteira entre as duas forças rivais - o Exército britânico e os aguerridos Boers. Também constituía o
principal depósito de abastecimentos das tropas britânicas.
Mafeking ficava junto ao rio Molapo, na colónia do Cabo, e não possuía qualquer tipo de defesa. Logo
que começou a ficar claro que a guerra era inevitável e que a cidade ia ser cercada, o coronel Baden-
Powell iniciou a sua fortificação. Os seus adversários Boers mereciam-lhe o maior respeito. Sem demora,
promoveu a construção de um abrigo subterrâneo que protegesse dos projécteis inimigos: braços de
voluntários cavaram trincheiras e carros e carroças serviram para barricadas nas estradas.
Depois de um comboio bem escoltado ter transportado a maioria das mulheres e crianças de Mafeking
para lugar seguro - a cidade de Kimberley, no Sul - Baden-Powell instalou-se no seu quartel-general, e
analisou a situação. Tinha consciência do perigo que ameaçava os restantes nove mil habitantes de
Mafeking e de que a mal equipada guarnição inglesa, com os seus 1250 homens, era insuficiente para
enfrentar os Boers.
Mas, quando a população foi verificar os estragos, viu que eram de pouca monta. B.-P. enviou ao Quartel
General uma pitoresca mensagem: «Tudo bem. Bombardeamento de quatro horas. Um cão morto».
Entregou-a a um homem da cidade com instruções para proceder de modo que os Boers a
interceptassem «acidentalmente». Nos dias seguintes, repetiu a manobra, conseguindo convencer o
inimigo de que as forças defensivas se encontravam melhor equipadas do que na realidade estavam.
Durante a noite, enviava dois homens a percorrer a cidade accionando o único holofote que o regimento
dispunha, a fim de dar a ilusão de que Mafeking estava protegida contra investidas nocturnas por uma
cadeia de holofotes.
Nas primeiras semanas de cerco, Baden-Powell sabia muito pouco do que se passava fora de Mafeking.
Os relatos recebidos não mereciam confiança visto basearam-se apenas em rumores. Ciente de que
podia decorrer bastante tempo, talvez meses, sem qualquer auxílio, assumiu a direcção dos serviços
essenciais e introduziu o racionamento dos bens alimentares. Entretanto, chegara o Verão e, no intuito
de complementar o racionamento imposto, Baden-Powell incentivava os habitantes a cultivarem a sua
horta, para além de manterem as trincheiras em bom estado e consertarem os buracos causados pelos
constantes bombardeamentos.
B.-P., sempre cheio de energia, sabia como era importante, quer para os soldados, quer para os civis,
alguma trégua que quebrasse a tensão. Ao domingo, as hostilidades eram interrompidas e, depois da
solenidade religiosa, a população dedicava-se a «desporto, récitas infantis, concertos e brincadeiras de
toda a espécie» imaginadas pelo próprio Comandante em Chefe.
Apesar do seu aspecto despreocupado, o coronel Baden-Powell tomava as suas responsabilidades muito
a sério. A noite, fazia jus ao seu cognome africano de Impeesa - O lobo que nunca dorme. A coberto da
escuridão, esgueirava-se para fora da cidade e inspeccionava as linhas inimigas.
O coronel Baden-Powell achava que os rapazes tinham de passar a ajudar, em vez de serem mais um
embaraço. Um dos oficiais de Baden-Powell, o major Cecil, foi encarregado de organizar um novo
destacamento com os rapazes que tivessem idade superior a nove anos.
Começou com um grupo de dezoito rapazes, constituído por um primeiro-sargento, um sargento, dois
cabos e catorze soldados rasos. O entusiasmo foi geral. O major Cecil incutia-lhes a disciplina e ensinava-
os, recorrendo a jogos e competições.
A seu tempo, o Corpo de Cadetes de Mafeking seria reconhecido oficialmente como fazendo parte da
defesa de Mafeking. O episódio mais gratificante para os cadetes deu-se quando a cidade esgotou os
seus selos e o fotógrafo local se aliou ao editor do Mafeking Mail para imprimir algumas séries para uso
temporário. Nos selos figurava o retrato do primeiro-sargento dos cadetes, na sua bicicleta, preparando-
se para entregar o correio.
Alguns anos mais tarde, Baden-Powell recordou-os. Os cadetes tinham-lhe mostrado que rapazes muito
novos sabem ser responsáveis nos momentos de perigo. O Corpo de Cadetes de Mafeking foi, na
verdade, um elo fundamental da cadeia que conduziria à criação do Movimento Mundial dos Escuteiros.
Embora o moral continuasse elevado, em grande parte devido à calma e à confiança aparentadas por B.-
P., a possibilidade de resistência dos habitantes e da guarnição de Mafeking diminuía. O Natal de 1899
veio e passou. Com a alvorada do novo século chegaram à África do Sul milhares de soldados ingleses.
Em Mafeking cresceu a esperança de receberem reforços sucessivos; mas breve se desvaneceu quando,
em Fevereiro, o coronel Baden-Powell soube que as tropas só viriam em Maio.
As reservas de alimentos, dinheiro e munições estavam prestes a esgotar-se. Como sempre, B.-P. tinha
imensas ideias. Promoveu a emissão de notas pelo banco de Mafeking e organizou quatro grandes
cantinas que serviam sopa feita segundo a receita seguinte: «Meio cavalo, 113 Kg; farinha de milho, 7
Kg; casca de aveia, 21 Kg. Obtém-se cerca de 590 litros de sopa com a consistência do mingau». A
«sowens», uma espécie de papa de aveia, tornou-se a dieta por excelência e era tão insípida que toda a
gente acolheu com prazer uma inesperada praga de gafanhotos. Era sabido os gafanhotos terem «o
aroma e a contextura de uma corda mascada», mas B.-P. conseguiu descobrir uma pequena quantidade
de pó de caril que contribuiu para melhorar ligeiramente o seu gosto.
Decorridos seis meses chegaram mensageiros exaustos que traziam correspondência extremamente
atrasada das famílias e dos amigos, e uma missiva da rainha Vitória para Baden-Powell: «Continuo a
observar, com confiança e admiração, a persistente e resoluta resistência tão corajosamente levada a
cabo sob o seu competente comando», escrevia a rainha. Mas os reforços não chegaram.
Abril chegara ao fim. O cerco durava há quase duzentos dias. Dentro de quatro semanas as reservas de
alimentos esgotar-se-iam e começavam as epidemias. Baden-Powell anunciou que as rações sofreriam
um novo corte. Os ingleses não capitulariam.
Ao fim de duzentos e dezassete intermináveis dias, chegou a Mafeking uma coluna de socorro inglesa.
Entretanto, em Londres, o dia 17 de Maio de 1900 decorrera como tantos outros numa capital
atarefada. Às 21 horas, o trabalho terminara mas havia ainda muita gente nas ruas. Em todas as
esquinas os leitores dos jornais devoravam os títulos à procura de notícias da guerra - sobretudo
pormenores da resistência de Mafeking sob as ordens de Baden-Powell. Em todos aqueles meses de
cerco, a nação inteira acolhera Baden-Powell no seu coração. Mafeking não era apenas uma cidade a
chegar ao seu termo.
MAFEKING FOI SOCORRIDA. A GUARNIÇÃO JÁ TEM ALIMENTOS. O INIMIGO FOI POSTO EM DEBANDADA.
O público britânico, normalmente imperturbável, perdeu a cabeça de entusiasmo. Pessoas que não se
conheciam apertavam a mão e abraçavam-se nas ruas. Muitos espectáculos foram interrompidos para
poder ser dada a notícia. Todos se juntaram para aclamar Baden-Powell e cantar o hino nacional. Nunca
Londres conhecera noite tão festiva!
B.-P. era o herói do dia. «Três vivas para Baden-Powell!», ouvia-se constantemente. E assim, com o feliz
desenlace do cerco, Baden-Powell tornou-se famoso.
Mas B.-P. não gostava da fama e da adulação que lhe valiam as suas aventuras de Mafeking e que con-
siderava «detestável notoriedade». Teve de se habituar à ideia de que nunca mais deixaria de ser uma
figura eminente, com todas as pressões e responsabilidades inerentes.
Recebeu milhares de cartas, especialmente de jovens que tinham lido a descrição dos seus feitos e
queriam pedir-lhe conselho.
Em 1900, Baden-Powell foi promovido a General; com os seus quarenta e três anos, era o General mais
novo do Exército Britânico. Permaneceu na África do Sul cerca de três anos e durante esse período foi
responsável pela criação da Força Policial da África do Sul. Esta, encarregada de manter a ordem,
possuía um uniforme próprio, desenhado por B.-P. e o seu treino tinha um cunho muito mais
personalizado do que o treino militar normal.
A Polícia separou-se pouco depois do Exército, desempenhando o papel não só de unidade militar como
de fonte amigável de auxilio às comunidades.
De regresso a Londres, na Primavera de 1903, para assumir o posto de Inspector Geral de Cavalaria, B.-
P. encontrou bastantes alterações. Deixara um país com alto grau de prosperidade e que experimentava
agora os efeitos da guerra dos Boers: recessão comercial, baixa de salários e aumento do desemprego.
A juventude tendia para o vandalismo, a embriaguez e o crime. Baden-Powell ficou desolado ao ver
«milhares de rapazes e jovens, pálidos, de peito cavo, acocorados, figuras míseras a fumar cigarros uns
após outros».
B.-P. teve ocasião de verificar que o livro que escrevera antes do cerco de Mafeking estava em vias de se
tornar um êxito de livraria. Obviamente seu novo estatuto de herói nacional fizera subir as vendas, mas
mais importante era o facto de as suas teses sobre a formação do carácter atraírem grande número de
leitores.
Nos dois ou três anos seguintes, Baden-Powell preocupou-se de modo especial com a necessidade de
haver alguém que desse apoio aos rapazes que encontrava quando percorria o país. Começou a
preparar o esquema de formação que haveria de transformar-se no movimento escutista.
B.-P. leu todos os livros que encontrou sobre organizações juvenis. Sentiu-se especialmente atraído pelo
de Ernest Thompson Seton, um perito em costumes e tradições dos índios.
Baden-Powell ficou interessado no facto de Seton apontar a destreza manual e a capacidade de seguir
pistas como actividades educativas para os tempos livres dos jovens. Quando os dois homens se conhe-
ceram e trocaram impressões, B.-P. sentiu que ficara com algumas ideias construtivas.
As primeiras obras que Baden-Powell escrevera tratavam exclusivamente do treino de homens para a
guerra; mas agora o seu objectivo era ajudar os rapazes a valorizar-se para a paz. O escutismo pre-
tendia ser um meio de os rapazes se conhecerem melhor a si próprios, saberem avaliar as suas capa-
cidades e os seus pontos fortes e fracos, e aprenderem a enfrentá-los. Os objectivos do movimento
consistiam em fazer o bem e formar o carácter do rapaz.
A ideia de Baden-Powell de criar uma organização de escuteiros começava a tomar forma mas era
indispensável despertar o interesse de outras pessoas.
Escreveu dois folhetos, que mandou imprimir para distribuir pelos amigos. Obteve uma reacção
entusiástica e foi instigado a desenvolver mais o projecto e a dar conhecimento do manual.
Tendo concluído o seu tempo como Inspector-Geral da Cavalaria, Baden-Powell foi promovido a Tenente-
General em Junho de 1907, e colocado na Reserva. Passados trinta anos, deixava agora de ter qualquer
função militar e podia dedicar-se totalmente ao seu novo projecto.
Antes de principiar a escrever o manual básico Escutismo para Rapazes, tinha de assegurar-se de que as
ideias resultavam na prática.
O escutismo
Nota: a leitura do texto que se segue deve ser acompanhada do visionamento do diaporama/vídeo: UMA
AVENTURA NO SÉCULO XX.
Ilha de Brownsea - uma obscura ilhota perto da Ilha de Wright, no Canal da Mancha, em Agosto de 1907.
Hoje, o Movimento Escutista Mundial congrega mais de 17 milhões de jovens em cerca de 150 países e
territórios espalhados por todo o mundo.
É a historia do Escutismo, a historia das suas relações com os grandes acontecimentos do século, da
complexa teia de influências e de interacções que sobre ele se exercem, que aqui se procurará relatar:
No início do Século, o mundo continua a ser dominado pelas potências europeias. É certo que os
Estados Unidos acabam de se transformar na lª potência industrial, e que o Japão infligiu, no Extremo
Oriente, uma pesada derrota à Rússia czarista.
Mas a extensão dos impérios coloniais da França e da Inglaterra, a vastidão do território e dos recursos
populacionais da Rússia, o crescente poderio militar e industrial da Alemanha, mantêm firme no Velho
Continente a direcção da política mundial.
A Inglaterra, no final de um século que a virá alcandorar-se à posição de primeira superpotência mundial,
emerge lentamente da época Vitoriana. Foi na Inglaterra do século XIX que se iniciou e desenvolveu em
primeiro lugar a Revolução Industrial. Foi a Inglaterra do século XIX que estendeu o seu domínio sobre o
maior império que a Terra jamais conhecera.
Mas, nos primeiros anos do Século XX, a Inglaterra sofre as consequências do seu próprio sucesso. A
industria britânica enfrenta uma terrível concorrência por parte das novas potências industriais: A
Alemanha, os Estados Unidos e o Japão. O carvão inglês tem de ser extraído a profundidades cada vez
maiores, e torna-se demasiado caro. A crise económica provoca uma diminuição dos salários, o aumento
do desemprego e da miséria e, com eles, do vandalismo e da delinquência.
A Guerra dos Boers, na África do Sul, assinala os primeiros reveses graves para o poderio militar
britânico.
A concentração industrial e urbana, operada ao longo do século XIX, tinha tornado cada vez mais
miseráveis as condições de vida de uma grande parte da população. Em Londres, um terço da população
sofre de sub-alimentação.
Já nem as próprias mulheres correspondem à imagem idealizada que delas se fazia na época vitoriana
agora, em manifestações de rua, as sufragistas reivindicam o direito de voto para as mulheres, e outros
direitos cívicos.
Baden-Powell sente-se particularmente chocado com o espectáculo dos mendigos nas ruas das grandes
cidades. A visão daqueles adolescentes pálidos, de tórax deprimido, acocorados com o queixo espetado
nos joelhos, (...), rebaixando-se ate a mendicidade", persegue-o implacavelmente.
Ao longo da sua carreira militar - muito pouco ortodoxa, refira-se - ele tinha podido constatar até que
ponto a vida na natureza, o ar livre, o espírito de equipa e, sobretudo, a atribuição de responsabilidades,
eram capazes de transformar os caracteres e, em particular, de contribuir para o amadurecimento dos
jovens - conforme as peripécias do cerco de Mafeking, o mais brilhante episódio da sua carreira, lhe
tinham demonstrado.
Baden-Powell persuade-se de que a melhor maneira de formar bons cidadãos está nas mãos dos
próprios jovens, desde que lhes seja dada uma oportunidade. Estes, repartidos em pequenos grupos
conduzidos por um jovem líder escolhido de entre eles mesmos, encarregar-se-iam da sua própria
educação, ainda que sob a vigilância benevolente de adultos voluntários.
É nesta mesma época que o suíço Claparede afirma: "Em matéria de educação, é a própria criança que
deve permanecer a autoridade suprema...”.
Encorajado por amigos, Baden-Powell vai procurar adaptar estas ideias a educação dos adolescentes.
Na ilha de Brownsea, durante 10 dias de acampamento, vai por à prova as suas instituições com um
grupo de 22 rapazes recrutados nos mais diversos meios sociais. A confirmação das suas ideias ficou
bem patente na rapidez com que aquele bando heteróclito se cimentou num grupo unido, capaz de
decidir por si mesmo o que queria fazer, e de o levar a cabo sem receber ordens, apenas pela honra de
cumprir para com a confiança nele depositava, sem perspectiva de recompensa ou de castigo.
Foi um êxito em toda a linha. A 9 de Agosto de 1907, quando o Acampamento de Brownsea foi
levantado, tinha começado a história do Escutismo.
A INFÂNCIA DE UM MOVIMENTO
(1908-1914: Os Anos da Expansão Inicial)
Entre Janeiro e Abril de 1908, Baden-Powell publica, em 6 fascículos vendidos nos quiosques, o
"Escutismo para Rapazes" - esse "escutismo em tempo de paz" que ele sugere às organizações de
juventude já existentes para melhoria dos seus programas educativos.
Com o sucesso vieram, no entanto, as primeiras críticas. As correntes que apodavam o Escutismo de
pacifista ou de militarista anulavam-se mutuamente.
A esquerda britânica - o Partido Trabalhista tinha nascido em 1906 - acusava-o de tentar recuperar a
juventude para as ideias conservadoras, em defesa do "establishment".
Os conservadores, por sua vez, qualificavam B.-P. de socialista, com base no Artigo 4º da Lei do
Escuteiro, que proclama que este e amigo de todos e irmão de todos os outros escuteiros, qualquer que
seja a sua classe social...
Pormenor curioso, quer Harold MarcMillan quer Harold Wilson, respectivamente Primeiros Ministros
Conservador e Trabalhista nos anos 50-60, nunca esconderam o seu orgulho em terem sido
escuteiros!...
Para alguns críticos actuais, o Escutismo inserir-se-ía num movimento mais vasto de reacção
generalizada por toda Europa, de que Nietzsche e o Darwinismo social tinham fornecido um alibi plausível
às velhas elites. Nesse sentido, o Movimento Escutista seria apenas uma forma tipicamente britânica da
remobilização geral contra a ameaça de mudanças sociais que, depois de 1917, acabaria por conduzir
às contra-revoluções totalitárias dos anos 20 e 30.
A profunda hostilidade dos regimes totalitários contra o Escutismo, bem como o seu florescimento
sobretudo nos regimes democráticos e nos mais diversos ambientes culturais, contradiz esta tese - pelo
menos no que se refere àquilo que o Escutismo, de facto, veio a ser.
Estranha e inesperadamente, organizou-se também uma forte oposição contra o "projecto escutista" no
seio das diferentes igrejas reformadas da Grã-Bretanha, em nome de uma alegada ausência de fins
religiosos do Escutismo, também uma parte da Hierarquia Católica o viria a condenar anos mais tarde,
embora, como veremos, por outras razões.
Mas o êxito e a expansão crescentes do Escutismo levaram de vencida todas as oposições. Entre 1908 e
1910, o Movimento surge nos mais importantes domínios britânicos - Canadá, Austrália, Índia, Nova
Zelândia, Hong-Kong - mas também no Chile, na Bélgica, na Holanda, na França, na Dinamarca na
Noruega, na Suécia e nos Estados Unidos.
0 caso deste país, pelas características e pelas suas repercussões, merece ser analisado em maior
detalhe. Na primeira década do século XX, estava em curso nos Estados Unidos aquela que foi decerto a
primeira política de ambiente do nosso tempo, sob a égide do Presidente Theodore Roosevelt. Datam
desta época a criação de muitos Parques Nacionais e outros espaços protegidos, e a adopção de
medidas de protecção dos recursos naturais.
A sociedade americana estava assim madura para acolher com entusiasmo os ideais de natureza e de ar
livre do Escutismo, quer nas áreas onde o convívio com uma natureza quase virgem era ainda uma
realidade pouco ameaçada, quer nos meios urbanos da Costa Leste.
Outro aspecto interessante é o da implantação social do Escutismo americano, desde o seu início. Diz-se
que Baden-Powell teria exprimido aos dirigentes americanos a sua preocupação quanto a ausência
naquele país, de uma classe abastada e ociosa como a aristocracia britânica, capaz de proteger e dirigir
a organização escutista ao mais alto nível, como acontecia no seu país de origem. Ora, nos Estados
Unidos, o Escutismo nascente beneficiou sobretudo do serviço e da atenção de uma população urbana
recém-fixada nas cidades do interior por exigência de um sector secundário e terciário em plena
expansão e por conseguinte senhora de um importante excedente de tempo livre em relação ao seu
antigo horário de trabalhadores rurais.
O Escutismo espalha-se pois pelo imenso território da União a uma velocidade incrível, sendo lendária a
acção dos Comissários itinerantes que deixavam atrás de si um rosário de novas unidades escutistas
quase todas em povoações ao longo das linhas de caminho de ferro!
Em Portugal, o "vírus escutista" penetra por volta de 1912, por via do "contágio" de Macau pela colónia
de Hong-Kong.
Quando se inicia a sua fulgurante expansão internacional, pode dizer-se que o Escutismo tinha
estabelecido e fixado o seu método educativo nas suas características fundamentais.
É mais ou menos pela mesma altura, pois, que se inicia a sua especialização qualitativa. Os Escuteiros
Marítimos são reconhecidos logo em 1912, se bem que se conheçam actividades marítimas desde 1908.
Aumenta também a pressão, por parte dos rapazes mais novos, ainda em plena infância, para se
juntarem aos seus irmãos adolescentes nas actividades escutistas.
Atento ao risco de infantilização de uma proposta educativa dirigida e adaptada essencialmente aos
adolescentes, Baden-Powell procura individualizar uma secção específica para os mais novos, problema
que só é resolvido com carácter definitivo com a criação dos Lobitos, em 1916, e graças a acção
decisiva de uma jovem colaboradora: Vera Barclay.
Na primeira grande reunião de escuteiros, o "rally" de Crystal Palace em 1910, entre os cerca de 10.000
rapazes presentes encontra-se um punhado de raparigas, decididas a tirarem tanto proveito do
Escutismo como os rapazes!
Vencendo as resistências iniciais de surpresa e talvez mesmo de desconfiança - pois estamos em plena
época das sufragistas e dos movimentos feministas - as raparigas teimam em ser escuteiras. Em menos
de 1 ano, são mais de 6.000.
Com a criação do Movimento paralelo das Guias - na altura seria impensável uma organização única para
ambos os sexos... - Baden-Powell tenta enquadrar de forma consistente este súbito afluxo de raparigas.
Aparentemente, todavia, as primeiras dirigentes das Guias - entre as quais a própria irmã de B.-P. -
deixam-se ultrapassar pela rápida e contínua emancipação da mulher. Uma orientação educativa
demasiado vitoriana e desadaptada aos novos tempos faz estagnar o Guidismo. Só em 1918, com a
publicação do livro "Guidismo" pelo próprio Baden-Powell, o Movimento das Guias receberá o impulso
decisivo.
A PROVA DE FOGO
(A Guerra de 1914-1918: a "Crise da Puberdade" do Movimento Escutista)
Em 1914, rebenta a Grande Guerra. Foram muitos os que previram que a conflagração mundial iria
destruir o Escutismo, quer no seu berço britânico quer enquanto Movimento internacional. Não seriam os
escuteiros obrigados - apesar de irmãos como proclamava o 4º Artigo da sua Lei - a bater-se uns contra
os outros?
Por muito lógica que parecesse esta previsão, foi exactamente o contrário que se passou. Apesar da
tremenda provação a que foram submetidos, e da terrível sangria que a guerra provocou nos quadros de
adultos voluntários e nos escuteiros mais velhos os jovens portaram-se a altura e "aguentaram" a
organização praticamente sozinhos.
É certo que os "tempos heróicos" do Escutismo terminam com a Guerra de 1914-1918, mas a extensão
da tragédia iria dar uma nova dimensão ao Movimento Escutista.
As tarefas desempenhadas pelos escuteiros estavam ligadas ao esforço de guerra dos respectivos
países, mas mantinham-se dentro dos limites que hoje seriam aceites por qualquer objector de
consciência, e granjearam-lhes uma enorme estima junto da opinião pública.
Outra consequência da guerra foi a crescente importância do papel dos dirigentes femininos no seio de
um movimento até então estritamente masculino, sob o impulso das circunstâncias excepcionais então
vividas.
Também o Guidismo conheceu, pelas mesmas razões, uma evolução espectacular durante a Guerra,
apoiado na nova liderança de Olave Baden-Powell, mulher do Fundador do Escutismo e do Guidismo -
curiosamente, até então, uma bem sucedida Comissária Regional do Movimento Masculino!...
Mas a grande consequência da catástrofe, para o Escutismo, foi sem dúvida a confirmação, no espírito
de Baden-Powell, de que a grande vocação do Movimento Escutista teria de ser, daí em diante, a
construção da Paz. Em 1917, ele escrevia: "As nações, desiludidas por esta guerra, buscam melhores
maneiras de preservar a paz do que simples pedaços de papel controlados por políticos pouco
escrupulosos (...) o Movimento dos Escuteiros, ainda que numa escala por enquanto relativamente
reduzida tem raízes entre a juventude de todos os países civilizados, e desenvolve-se de dia para dia.
Pode considerar-se que, se nos próximos anos uma proporção considerável da futura geração de
cidadãos de cada nação fizesse parte desta fraternidade aqueles ficariam unidos por lapsos de amizade
pessoal e de compreensão recíproca como jamais existiu no passado, e que permitiria encontrar uma
solução para os terríveis conflitos internacionais."
Para o velho soldado, a grande lição da guerra e a sua recusa como solução. Construir a Paz por meio
da Fraternidade entre os jovens de todo o mundo tornar-se-á a obsessão dos seus últimos anos, a
preocupação maior da sua vida.
DA ADOLESCÊNCIA À MAIORIDADE
(Os anos 20: a Confirmação)
Esta preocupação, Baden-Powell vai pô-la em prática sem tardar: em 1920, tem lugar o 1º Jamboree
Mundial - grande acampamento internacional concebido para acolher escuteiros de todos os países num
clima de fraternidade -, em 1922 é fundada a Organização Mundial do Escutismo.
É neste ambiente que, em 1920, se reúnem em Londres 8.000 jovens de 21 países independentes -
muitos deles das novas nações europeias - para o lº Jamboree Mundial. Projectados como momento forte
Tão importante como o Jamboree e, entretanto, a reunião de dirigentes de todos os países que tem lugar
nos dois dias anteriores, também em Londres. Uma 2ª Conferência Internacional é convocada para 1922,
em Paris.
Nela, são lançadas as bases de uma verdadeira organização internacional, com uma Conferência bienal,
um Comité internacional eleito, e um Secretariado permanente. Trinta países - entre os quais Portugal -
são considerados fundadores da Organização Mundial do Escutismo.
Baden-Powell e os outros "Chefes Históricos" lançavam assim as bases de uma "Liga dos Jovens de
Todas as Nações", em que muitos tem querido ver a inspiração do modelo da Sociedade das Nações
É também nos anos 20 que se desenvolve o Escutismo de inspiração católica. A primeira associação de
escuteiros católicos é a italiana, que em 15 de Junho de 1916 obtém do Papa Bento XV a aprovação
formal e a nomeação de um Assistente Geral. Em França e na Bélgica formam-se unidades de Escuteiros
católicos. Logo por ocasião da 1ª Conferencia Internacional, em 1920, os dirigentes católicos italianos,
belgas e franceses fundam autonomamente um Secretariado Internacional para os Escuteiros Católicos.
Mas a Igreja, de início, vê o Escutismo com indisfarçada suspeição, sobretudo em França. O Arcebispo de
Paris condena-o. A revista dos Jesuítas, "Études", critica vivamente o livro "Escutismo para Rapazes".
Para compreender estas reservas, é necessário ter em conta o ambiente da época e a história recente
da Igreja.
Em fins do século XIX, a Igreja fora abalada por duas violentíssimas crises: a perda do poder temporal,
com a unificação da Itália e a ocupação dos Estados Pontifícios por Vítor Manuel do Piemonte; e o
confronto com as novas ideologias filosóficas, com destaque para o positivismo racionalista. Pio IX tomou
posição contra estas proposições modernistas, "Syllabus". As orientações laicizantes da II República, em
França, e a ofensiva de Bismarck contra os católicos, na Alemanha, são exemplos do anticlericalismo
reinante no virar do século. Apesar da abertura as questões sociais patente nas encíclicas de Leão XIII,
os Papas continuam a condenar o modernismo, o positivismo, o laicismo, e várias outras correntes
filosóficas.
É neste clima que os Bispos franceses, muito naturalmente, reagem contra um método em que julgam
entrever elementos de algumas daquelas doutrinas e que, para mais, é á partida suspeito porque de
origem anglo-saxónica e de inspiração alegadamente protestante.
Entretanto, um jovem Jesuíta, o Pe. Sevin, estuda a fundo o Escutismo britânico e dedica-se a justificar e
a valorizar o seu método educativo à luz da doutrina católica. Será ele, nos próximos 20 anos, o principal
mentor e "ideólogo" de um escutismo de inspiração católica, Movimento da Igreja.
O jovem Escutismo católico recebe enfim um impulso decisivo com o pontificado de Pio XI, que procura
revitalizar a Acção Católica e os movimentos de educação da Igreja. É ele que, no Ano Jubilar de 1925,
dirige aos Escuteiros Católicos o "slogan" com que se poderia resumira sua vocação e identidade : "Sede
não só escuteiros católicos, mas católicos escuteiros!"
Os cursos de formação de dirigentes, dirigidos a partir do Campo de Formação de Gilwell Park, assinalam
a institucionalização pelo Escutismo, com duas décadas de avanço sobre o mundo empresarial, de uma
função hoje considerada como uma das chaves do sucesso de qualquer organização. A formação de
dirigentes iria ter, de futuro, um papel de primeiro plano na consolidação da unidade do Escutismo
Mundial facultando a todos os educadores voluntários um referencial básico comum, independentemente
do seu país ou da "côr local" nele assumida pelo método escutista.
No fim da década, surge na Grã-Bretanha o conceito de Agrupamento local, como conjunto de unidades
das varias secções etárias, para melhorar a coordenação entre estas numa mesma localidade. Hoje, e
tida por fundamental esta coordenação, assegurada por um Chefe de Agrupamento eleito, sem poderes
de ingerência na vida das secções, e responsável perante um Conselho de Agrupamento constituído por
todos os animadores adultos.
Ao atingir a sua maioridade, em 1929, o Escutismo e um Movimento não só cheio de saúde e de vigor.
mas também verdadeiramente internacional. A sua expansão e fortalecimento tinham coincidido, ao longo
da década, com um período de prosperidade económica e de bem-estar.
Com o advento dos anos 30, o cenário iria mudar radicalmente. Em 1929, com o "crack" da Bolsa de
Nova Iorque, rebenta a crise económica mundial trazendo na sua esteira desemprego persistente,
agitação social desenvolvimento de nacionalismos exacerbados, triunfo das ditaduras, e, por fim, uma
guerra ainda mais terrível e mortífera do que a anterior....
A Grande Depressão do início dos Anos 30 desorganizou por completo o tecido económico, social e
político das nações industrializadas.
Nos Estados Unidos, o "New Deal" assinala uma ruptura com o tradicional não-intervencionismo do
Governo Federal nas questões económicas e sociais.
O advento destes regimes terá, inevitavelmente, consequências sobre o Movimento Escutista. Este, de
momento, está ocupado a enfrentar o desafio do desemprego juvenil são criados numerosos centros de
formação profissional onde são acolhidos tanto escuteiros como outros jovens não-escuteiros.
Mas os sinais são inequívocos Mussolini tinha já procurado absorver o Escutismo italiano integrando-o
nos "Balillas", a organização juvenil fascista. Em 1927, o Movimento e dissolvido em todas as cidades
Italianas com mais de 20.000 habitantes. Um ano mais tarde, chega a interdição total e definitiva.
Nos regimes autoritários, o poder político via naturalmente com desconfiança um movimento de
juventude estruturado, com quadros formados nas próprias fileiras, dotado de uma rede de
comunicações própria e de contactos internacionais generalizados e autónomos, que escapava assim
totalmente ao seu controle. Da mesma forma, a Fraternidade Escutista Mundial tornava-se mais do que
inconveniente para os objectivos de ideologias promotoras de um nacionalismo agressivo e exacerbado,
ou mesmo do racismo puro e simples.
Esta hostilidade tornou-se cada vez mais aberta: em 1933, a criação da Juventude Hitleriana assinalou o
fim do conturbado e desorganizado escutismo alemão dos anos 20.
Em todos os países em que o fascismo e o nazismo conquistaram o poder, o Escutismo foi interdito e
substituído por organizações de juventude oficiais, únicas e obrigatórias.
Para melhor compreendermos as razões desta profunda oposição, vale a pena recordarmos o que
Baden-Powell disse a Mussolini, em 1933. Conta o próprio Baden-Powell "Depois de me explicar as
razões que o tinham levado a criar os Balila e os princípios da sua instrução - segundo ele extraídos do
método escutista - o 'Duce' pediu-me para lhe sugerir algumas críticas.
Ao que eu lhe respondi que o seu movimento era obrigatório em vez de ser voluntário. Que visava um
nacionalismo estreito em vez da compreensão internacional. Que era um treino puramente físico e
não desenvolvia o lado espiritual. E que desenvolvia o espírito da massa em vez de formar o
caracter do indivíduo".
Perto do fim da sua vida, Baden-Powell continuava a acreditar na fraternidade entre as nações, apesar
das nuvens que se encastelavam no horizonte.
Em 1937, no 5º Jamboree Mundial, realizado na Holanda, ele despede-se dos Escuteiros "0 emblema do
nosso Jamboree e o astrolábio. Era o instrumento pelo qual os antigos navegadores atravessavam os
mares. Que ele nos guie também na vida (...). Parti com este emblema e espalhai o espírito de boa
vontade. Chegou para mim o momento de vos dizer adeus (...). Muitos de nós não voltarão a ver-se (...).
Peço a todos que guardem esta insígnia do Jamboree (...). Ela recordar-vos-á (...) as amizades que
conquistastes aqui, contribuindo assim para o advento de um reino divino de Paz e de Boa Vontade. E
agora, que Deus vos abençoe a todos".
Nos primeiros anos da 2ª Guerra Mundial, ouviram-se de novo vozes profetizando o desaparecimento do
Escutismo - tanto mais que desaparecera, entretanto, o seu Fundador e líder histórico. Mais uma vez,
como veremos, estas profecias estavam erradas.
É certo que, em fins de 1940, o Escutismo já se encontra oficialmente abolido na Bélgica, na Grécia, no
Luxemburgo, na Holanda, em França, na Noruega, Bulgária, Irão, Estónia, Lituânia, Letónia, e Jugoslávia.
As comunicações entre as associações vão-se rarefazendo até cessarem de todo.
Por toda a parte, contudo, o ideal escutista permanecia vivo e actuante. Nos Estados Unidos, os
Escuteiros mobilizaram-se como vinte anos antes, chamando a si inúmeras tarefas de carácter civil e de
apoio à economia. No último semestre de 1941, recolhem sozinhos mais de 87% das 6 mil toneladas de
alumínio para reciclar entregues ao governo. No ano seguinte, recolhem 240 mil toneladas de papel, e
11.500 toneladas de borracha - estas últimas apenas numa quinzena, antes que o governo, com a
capacidade de armazenamento totalmente saturada, fosse obrigado a pedir-lhes para parar! Em 1945,
no fim da guerra, há cerca de 67.000 pequenas hortas - os "Victory Gardens" - cultivadas pelos
Escuteiros, em reforço da produção de alimentos.
Manter o Escutismo num país em guerra podia ser uma tarefa difícil. Fazê-lo sob as bombas que
semeavam o terror e a morte por entre a população civil, era ainda mais problemático. E, sob um regime
de ocupação, tocava as raias do milagre. Mas o milagre produziu-se. O Escutismo revelou-se como um
dos antídotos mais eficazes contra o veneno totalitário. Viver a Lei do Escuta mesmo que isso fizesse
correr riscos graves, significava para os adolescentes viver os valores que eram espezinhados pelo
ocupante.
Esta atitude traduzia-se em actos de resistência como a ajuda aos aviadores aliados em fuga, o
encobrimento dos judeus e outros perseguidos, múltiplas acções de espionagem e de sabotagem. Muitos
chefes e caminheiros passaram à Resistência e à clandestinidade, e muitos deles pagaram com a vida o
seu ideal.
Mas as páginas mais sublimes desta epopeia clandestina foram escritas pelos caminheiros, jocistas e
outros, que partiram voluntariamente para a Alemanha, com os trabalhadores recrutados a força para o
Serviço de Trabalho Obrigatório. Trabalhando na clandestinidade, organizando clãs de caminheiros nas
fábricas e nos campos de concentração procuravam elevar o moral daqueles novos escravos e ajudá-los
a suportar as condições sub-humanas que lhes eram impostas. Muitos deles nunca chegaram a voltar...
O Escutismo não esperou pelo fim das hostilidades para renascer. A passagem dos exércitos
libertadores, surge como do nada, reorganiza-se aceleradamente, no meio do maior entusiasmo. Ainda
troavam os canhões e já se desenvolvia um imenso movimento de solidariedade, através do acolhimento
Os números mostram a importância que o Escutismo teve para os adolescentes durante a guerra: em 8
países ocupados pelos nazis (Bélgica, Checoslováquia, Dinamarca, França, Holanda, Luxemburgo,
Noruega e Polónia), os escuteiros passam de 331.000 em 1939 a 613.000 em 1946!! E, no censo de
1947, descobre-se com surpresa geral que o efectivo mundial subira de 3.305.000 (em 1939) para
mais de 4 milhões de escuteiros!
A guerra tinha apesar de tudo cobrado um pesado tributo, fazendo desaparecer 11 associações
nacionais.
Mas em 1947, em França, e a reconciliação e a esperança no futuro que são celebradas pelos 25.000
escuteiros reunidos para o 6º Jamboree Mundial - o "Jamboree da Paz".
O comportamento dos Escuteiros durante a guerra, a expansão do Movimento nos próprios países
ocupados e o imediato reatar de relações sinceras e fraternas entre os Escuteiros de todos os países -
vencedores e vencidos -, foram a mais bela resposta que a juventude do mundo podia ter dado à
confiança que o Velho Chefe tinha depositado nela.
Este crescimento é mais do que simplesmente quantitativo. Na complexa situação internacional do pós-
guerra entre os fenómenos que iriam marcar a história da última metade do século XX, um foi
particularmente importante para o futuro do Movimento Escutista: a emergência de um grande número
de novas nações independentes, surgidas do desmantelamento dos impérios coloniais, primeiro na Ásia
e no Mundo Árabe, depois em África: o futuro Terceiro Mundo.
À escala mundial, este fenómeno conduziu a um conjunto de situações sem precedentes: o Movimento
dos Não-Alinhados, a transformação da ONU numa assembleia verdadeiramente mundial - em suma, a
uma internacionalização da vida política, económica e cultural, pela primeira vez a uma escala
verdadeiramente planetária.
O mesmo fenómeno repercute-se também sobre as práticas e as estruturas da Igreja. Surgem problemas
pastorais inéditos. São nomeados bispos autóctones. No Sacro Colégio, a maioria dos novos cardeais
não são italianos e alguns, pela primeira vez, não são de raça branca.
No Escutismo, o centro de gravidade do Movimento começa a deslocar-se para fora do seu berço
europeu. Em 1922, em Paris, entre os 31 países fundadores, 22 pertenciam ao Velho Continente. Em
1955, entre 56 organizações nacionais reconhecidas, só 18 eram europeias. No início dos anos 30,
havia em todo o mundo uns 2 milhões de Escuteiros, metade dos quais nos Estados Unidos, um bom
quarto nos diferentes domínios e territórios britânicos, e o resto sobretudo na Europa continental. Antes
Nos anos 50, a situação é radicalmente diferente. É verdade que os acontecimentos entretanto
verificados na Europa terão contribuído para isso. Países em que o Escutismo possuía raízes profundas,
como Lituânia, a Estónia e a Letónia, deixaram de existir como nações independentes. Noutros, como a
Bulgária e a Roménia, a Checoslováquia, a Hungria e a Jugoslávia, ou nunca voltou a ser autorizado, ou
foi novamente banido após um curto período de ressurgimento, com a queda daqueles países na órbita
da União Soviética.
Seja como for, é nos Anos 50 que têm lugar os primeiros Jamborees Mundiais fora da Europa - o 8º, no
Canadá, nas Cataratas do Niagara - e no Terceiro Mundo - o 9º nas Filipinas - o mesmo se passando com
as Conferências Mundiais. Em 1959, na 17ª Conferencia Mundial realizada em Nova Delhi, Nehru,
dirigente histórico dos Não-Alinhados, presta uma vibrante homenagem ao Escutismo sublinhando o
potencial quase ilimitado que este representa para as jovens nações do Terceiro Mundo, ainda em fase
de construção.
Esta dinâmica de "mundialização" cria necessidades organizativas inteiramente novas. Para utilizar uma
analogia sugestiva, pode dizer-se que a Organização Mundial do Movimento Escutista, criada depois da lª
Guerra Mundial à imagem da Sociedade das Nações enfrenta agora o desafio de ter de se organizar à
imagem das Nações Unidas! (Ou seja, de se dotar de uma estrutura supranacional provida de meios
reais e importantes, se possível especializados em diversos campos de acção).
Este desafio só será plenamente aceite no início dos anos 70, com a criação em Genève de um Bureau
Mundial profissionalizado e de meios significativamente mais importantes do que até então. Entretanto,
logo em 1947, é constituído o primeiro órgão de coordenação regional: uma Conferência e um Comité
Pan-Americanos, primeiro passo para uma descentralização indispensável, prosseguida com a criação de
Secretariados Regionais no Cairo e em Manila.
Mas é também nos anos 50 que o mundo começa a descobrir uma evolução cada vez mais marcada do
modo de vida e dos valores da geração jovem.
OS ANOS DA REVOLTA
(Os Anos 60 e as Rebeliões Juvenis)
Sobrevivente de duas guerras mundiais, e na década de 60 que Escutismo vai ter de enfrentar aquele
que será talvez o seu maior desafio. Trata-se aliás não de um, mas de um conjunto de desafios sem
precedentes na sua diversidade, na sua intensidade.
Nos anos 60, a juventude torna-se cada vez mais um corpo social individualizado, com comportamentos
e valores próprios e distintos dos das outras gerações. Nos países industrializados, o desenvolvimento
económico e o aumento dos tempos livres dão origem a vastas possibilidades de actividades de lazer,
com uma orientação frequentemente consumista, que põem o Escutismo perante uma concorrência para
a qual não estava preparado.
Entretanto, o aumento da escolaridade e o adiamento da entrada na vida activa criam nos jovens uma
maior necessidade de participação e de intervenção na sociedade manifestada por exemplo num
associativismo mais aguerrido, autor de reivindicações de caracter político e social.
O Escutismo não permaneceu impermeável a estes problemas. Já no fim dos anos 50, a crise do
Caminheirismo em França teve a sua origem na Guerra da Argélia e na divergência quanto às posições a
tomar perante ela.
Em Portugal, a guerra colonial roubava ao Escutismo uma geração inteira de jovens, no momento em
que estes se preparavam para assumir responsabilidades de chefia.
Outros, descontentes com o total silêncio do Movimento em relação às questões políticas, vão procurar
fora dele uma resposta mais adequada as suas aspirações.
O Escutismo não está preparado para ir tão longe no terreno da política. Todavia, as aspirações dos
jovens a uma maior participação e intervenção merecem-lhe por todo o lado tentativas de resposta. Em
França, é criada uma nova secção etária propriamente adolescente, os Pioneiros, propondo aos jovens
um verdadeiro programa de serviço e de desenvolvimento das suas comunidades. A sua simbologia e os
seus modelos de identificação baseiam-se no mito dos "novos pioneiros", dos desbravadores de novos
horizontes, dos criadores do mundo novo. Mas no contexto económico e cultural da primeira metade dos
anos 60, esses modelos correspondem ainda ao mito do desenvolvimento ilimitado, como o
demonstramos exemplos propostos a esta nova secção a construção de Brasília, a Barragem de
Assuão...
Habituados a conviver sem restrições no ambiente escolar e nos tempos livres, os jovens também já não
aceitam uma separação estanque entre ambos os sexos. Nos países escandinavos, primeiro, a seguir na
Europa Central, as associações de Escuteiros e de Guias começam a fundir-se para dar resposta a esta
aspiração. Por vezes, devido a condicionalismos locais, são os Escuteiros que unilateralmente passam a
admitir raparigas nas associações outrora exclusivamente masculinas.
O Escutismo católico, enfim, numa conjuntura já tão rica de estímulos e de dificuldades, de desafios e de
contradições, sofre o impacto do Vaticano II. Com o concílio, também o Escutismo católico vai tentar o
seu "aggiornamento". É certo que, em muitos meios, o Concilio vem confirmar uma renovação litúrgica e
pastoral já iniciada. Esse "aggiornamento" traduz-se com frequência por uma maior abertura do
Escutismo as questões políticas e sociais, uma maior ousadia na abordagem dos problemas, um maior
comprometimento comunitário, a aceitação de um papel missionário e evangelizador.
Noutros meios, o clero local parece deixar de confiar no Escutismo como instrumento da Pastoral juvenil
adequado aos tempos pós-conciliares o que o precipita, inevitavelmente, na marginalização e no
descomprometimento.
O final dos anos 60 foi marcado pela radicalização da juventude, que assumiu formas mais ou menos
violentas - desde a utopia bucólica dos "hippies" californianos ate ao paroxismo das barricadas
erguidas nas ruas de Paris, em Maio de 68. A efervescência juvenil sacudiu uma sociedade já num difícil
período de mutação. A crise, desfecho lógico da década mas nem por isso menos brutal, afectou
profundamente a maioria das organizações de juventude.
O Escutismo não foge a regra: programas desadaptados às novas necessidades e aspirações dos jovens,
deficiente liderança, hesitações quanto à modernização, dissidências, agravados para mais com factores
demográficos como a queda da natalidade, provocam uma preocupante erosão dos efectivos. Esta
erosão faz-se sentir sobretudo nas secções mais velhas, e torna as crianças e os pré-adolescentes
maioritários no Movimento, fazendo-o correr sérios riscos de infantilização.
OS ÚLTIMOS 15 ANOS
(1970 - 1986: um Escutismo na senda da Modernização)
Pormenor significativo: a crise dos anos 60 e essencialmente uma crise do Escutismo Europeu e dos
países desenvolvidos.
Ora, o que se passa nas associações europeias afecta cada vez menos o conjunto do Escutismo Mundial,
Este, durante as décadas de 60 e de 7O, continua a crescer paulatinamente. Em 1967, tinha
ultrapassado a "barreira" dos 10 milhões de membros.
É nos países em desenvolvimento que esta expansão e mais impressionante. Em 1968, os países
industrializados fornecem ainda 75% do efectivo mundial, e os anglo-saxónicos mais de 50%. Em
meados da década de 70, a Região Ásia-Pacífico representa já mais de metade do efectivo, tornando o
Terceiro Mundo maioritário. Se, no passado, o Escutismo tinha conseguido sobreviver, enquanto
movimento internacional, as guerras e outras vicissitudes da história, o mérito pertencia essencialmente
a sua faculdade de adaptação a culturas, tradições e necessidades sociais diferentes.
No início dos anos 70, uma série de memoráveis Conferências Mundiais lançam as bases das
transformações que o Escutismo Mundial iria interiorizar, por forma a promover e reforçar essa
adaptação. A mais importante, resultante da crescente implantação do Escutismo nos países em
desenvolvimento e a de uma orientação cada vez mais clara para o desenvolvimento comunitário e para
a educação para o desenvolvimento.
Para os Escuteiros católicos, a publicação da encíclica "Populorum Progressio" pelo Papa Paulo VI, em
1967, vem justificar e confirmar a vocação do Escutismo para o desenvolvimento do HOMEM TODO E DE
TODOS OS HOMENS.
O Bureau Mundial, transferido para Gèneve em 1968 para facilitar os contactos com um maior numero de
organizações internacionais compreende agora uma equipa mais numerosa e verdadeiramente
internacional.
No Velho Continente, entretanto, a crise persiste e conhece mesmo um agravamento na primeira metade
dos anos 70 o choque petrolífero de 1973 vem complicar a situação com uma componente de
dificuldades económicas, ausente ate então; mas é ele também que vem despertar a consciência das
populações para a problemática do ambiente e da conservação dos recursos naturais.
Para alguns, o Escutismo terá perdido então a oportunidade histórica de assumir uma posição política
não sectária - porque ainda não partidarizada - num domínio onde não lhe seria difícil reivindicar uma
autoridade fundada na sua história.
O Escutismo europeu, no entanto, empenha-se numa via aberta desde as décadas anteriores pelo
desenvolvimento da cooperação europeia, comprometendo-se declaradamente no diálogo com outras
organizações de juventude, no âmbito do Conselho da Europa, primeiro, e da CEE, depois, ou ainda no
quadro da cooperação pan-europeia com organizações juvenis dos países de Leste.
Em Portugal, o Escutismo ganha um tremendo impulso com o advento da democracia, nos anos de 74,
75 e 76. No início dos anos 50, não havia em Portugal mais de 3 ou 4 mil escuteiros. Em 1973, seriam
uns 15 mil. Hoje, só o Corpo Nacional de Escutas ultrapassa os 40 mil.
Na generalidade das associações europeias, a queda dos efectivos foi travada, e o maior crescimento
parece voltara verificar-se nas secções dos adolescentes e dos jovens adultos. Por toda a parte, o
Escutismo interessa-se pelo desemprego dos jovens, pelos problemas da migração, pelas políticas
governamentais de juventude, pela formação profissional dos jovens e pelo ingresso na vida activa, pela
educação para a Paz... - e lança projectos concretos nestes domínios.
Pelo mundo fora, os Escuteiros estão activos na promoção da saúde pública e da alfabetização, na
produção de alimentos, na protecção dos recursos naturais.
Em 1982, ano em que se comemora o 75º Aniversário do Escutismo, o reconhecimento desta acção
chega na forma do Prémio UNESCO de Educação para a Paz, atribuído pela primeira vez.
0 DESAFIO DO FUTURO
(1986-2000: Um Escutismo "Pós-Industrial")
Hoje, a uns escassos 13 anos do ano 2000, a Humanidade enfrenta um conjunto de desafios sem
precedentes na sua História. Fenómenos como a revolução informática, as biotecnologias, os brutais
desequilíbrios económicos e demográficos entre vastas regiões do planeta, a exploração do espaço para
fins industriais e militares, a corrida aos armamentos e o equilíbrio de terror entre as superpotências, as
novas formas de organização política e social que irrompem por toda a parte, na família, no trabalho, no
associativismo, estão a transformar a realidade em que nos movemos a um ritmo e a uma profundidade
tais que nos arriscamos a perder o controle das nossas vidas, a não ser que nos reeduquemos
completamente para acompanhar e gerir a Mudança.
Terá cada criança, cada jovem, a oportunidade de crescer, de ser reconhecido como uma pessoa, de
aprender a viver com os outros, de descobrir um ideal?
Na alvorada do Século XXI, o Escutismo quer ter uma resposta. Acreditando, para já, que a sua força e a
sua originalidade estão em desafiar os jovens a tornarem-se artesãos do seu próprio crescimento.
Nascido na sua primeira década, interagindo com os principais acontecimentos e processos históricos
que marcaram o nosso século profundamente influenciado por eles, o Escutismo foi mais do que uma
simples "Aventura no Século XX". Ele é, na realidade, parte integrante da própria aventura do Século
XX...
Uma aventura que há-de prosseguir pelo Século XXI, à espera que lhe tracemos o enredo e lhe criemos
os personagens.
FIM...?
2. O escutismo em Portugal
O Corpo Nacional de Escutas - Escutismo Católico Português - nasceu em Braga a 27 de Maio de 1923.
Foram seus fundadores o Arcebispo D. Manuel Vieira de Matos e Dr. Avelino Gonçalves, que em Roma
mantiveram os primeiros contactos com o Movimento, quando ali assistiram, em 1922, a um desfile de
20.000 Escutas, por ocasião do Congresso Eucarístico Internacional que nesse ano se realizou na Cidade
Eterna. Depois de bem documentados regressaram a Braga e rodearam-se de um grupo de 11
bracarenses corajosos e valentes que, a 24 de Maio de 1923, faziam a sua primeira reunião, no prédio
n.º 20 da Praça do Município, para estudarem a possibilidade e oportunidade da criação de um grupo de
Scouts Católicos em Portugal. Assim nasceu o Corpo de Scouts Católicos Portugueses, cujos estatutos
foram aprovados a 27 de Maio desse mesmo ano pêlo governador civil de Braga, e confirmados em 26
de Novembro pela portaria n.º 3824 do Ministério do Interior e Direcção Geral de Segurança, começando
a partir desse dia a existir oficialmente, com legalidade e personalidade jurídica.
A 26 de Maio de 1924 é publicado o Decreto-lei n.º 9729, que confirma a aprovação dos estatutos e
alarga a todo o território Português o âmbito da Associação. Em Janeiro de 1925, reuniu em Braga, pela
primeira vez a Junta Nacional com: D. Manuel Vieira de Matos, Director Geral; D. José Maria de Queirós e
Lencastre, Comissário Nacional; Dr. Avelino Gonçalves, Inspector-Mór; Cap. Graciliano Reis S. Marques, 1º
Vogal e Álvaro Benjamim Coutinho, 2º Vogal.
O Movimento estende-se de Norte a Sul de Portugal e, como meio de informação entre todas as
Unidades apareceu em Fevereiro de 1925 o 1º número do jornal "Flor de Lis" que mais tarde, em Janeiro
de 1945, se apresentava em forma de Revista.
Ainda em 1925, a 28 de Fevereiro, o Diário de Governo, com o Decreto n.º 10589, de 14 de Fevereiro,
ratifica a aprovação dos Estatutos do CNS, cujo documento foi assinado por Manuel Teixeira Gomes,
Presidente do Ministério, Helder Armando dos Santos Ribeiro, Ministro da Guerra. A 15 de Março foi
aprovada a nova redacção do Regulamento Geral e ainda nesse ano, alguns responsáveis do Movimento
deslocaram-se a Roma e foram recebidos pelo Papa Pio XI, que lhes dirigiu palavras de muito apreço e
encorajamento pelo progresso e expansão do Movimento, em Portugal.
No ano de 1934 foi publicado o 1º Regulamento que permite a entrada de Senhoras para o CNS como
Dirigentes de Alcateias e 12 de Abril do mesmo ano, Baden-Powell chega a Lisboa acompanhado de sua
esposa e 700 Dirigentes ingleses. Devido ao seu precário estado de saúde não pôde sair do barco, mas
um garboso desfile com cerca de 2 mil Escutas foi ao cais saudar o Chefe Mundial que nos visitava pela
segunda vez. Em Novembro foi publico o novo Regulamento onde aparece oficialmente a nova
designação de ESCUTAS em substituição de "Scouts", desaparecendo definitivamente o CNS para
aparecer o CNE.
Em 1935, reunido no Porto, o Conselho Nacional substitui o termo de "Director" por Assistente e
"Inspector" por Secretário (Nacional). 1936 é um ano difícil para o CNE, talvez o mais crítico de toda a
sua existência! A Organização Escutista de Portugal é extinta pela Portaria n.º 8488, publicada no Diário
do Governo de 13 de Agosto de 1936, e o CNE volta a regular-se pelo Decreto n.º 10589, de 14 de
No meio das dificuldades surgem notas de apreço e reconhecimento de dois amigos do CNE: suas
Santidades Pio XII e Paulo V.
"É que a Associação Portuguesa de Escutas Católicos pelos seus muitos e grandes serviços prestados...
bem merece da Igreja. Mais de 60.000 jovens ele procurou formar no Amor e na Prática da Fé, da
Piedade, da Caridade e das outras virtudes."
E em 1934, em nome de Pio XII, escreve ainda J. B. Montini: «É também digno de todo o louvor o espírito
que tem animado o CNE: fidelidade e obediência à Hierarquia, para "bem servir" e "da melhor vontade"».
No momento de tantas dúvidas e no meio de tanta esperança e Fé, as palavras do fundador, D. Manuel
Vieira de Matos:
«Queridos rapazes, metade do meu coração é vosso, levai-o convosco» E acrescentava às palavras de
Pio XI: «Deveis ser os primeiros na profissão de fé cristã, os primeiros na dignidade da vida, os primeiros
na pureza, os primeiros em todas as manifestações da vida cristã». «Depois de Deus, a dedicação até ao
sacrifício dos seus dirigentes, e o seu magnífico órgão a "Flor de Lis" encerram certamente o segredo do
extraordinário progresso desta que consideramos a mais benéfica instituição juvenil».
Com as transformações da sociedade portuguesa, que viria a assistir à Revolução de Abril de 1974,
também no CNE se operam transformações. Em Julho de 1974 a Junta Central considera-se
demissionária e o Conselho Nacional nomeia uma Comissão Executiva que passa a gerir a Associação.
Este processo conduz à aprovação dos novos Estatutos, em 9 de Março de 1975, em consequência dos
quais é empossada a primeira Junta Central eleita por sufrágio directo, tendo como Chefe Nacional Ma-
nuel António Velez da Costa, o qual viria a ser reconduzido no cargo em 1980, igualmente através de
eleições nacionais.
Em 1976, uma conclusão do Conselho Nacional admite, com condições, a admissão de jovens de sexo
feminino para as várias secções, altura que é considerada por alguns sectores da como o lançamento da
coeducação no CNE. Em 1978 realiza-se o 15º Acampamento Nacional em Aveiro, já com um campo
sénior, para a IIIª secção, entretanto criada, para os jovens dos 14 aos 17 anos, com os Estatutos de
1975.
Com o seu mandato a terminar, a equipa de Velez da Costa, numa "ponta final impressionante",
consegue dirigir a Associação num caminho que passou, em 1981, por um revisão estatutária (concluída
em 26 de Setembro) até à revisão geral do regulamento do CNE, que ficaria concluída em princípios de
1984, para entrar em vigor em 1 de Março do mesmo ano. No ano seguinte (29.5.1982), uma
representação dos Comités Mundial e Europeu deslocam-se a Portugal, onde entregam ao CNE e à AEP,
que recentemente haviam fundado e constituído a FEP (Federação Escutista de Portugal), o respectivo
diploma. Caminho que assistiu ainda à realização do 16º Acampamento Nacional em Setúbal, em 1983,
numa altura em que davam os primeiros passos do acordo celebrado entre o CNE e o MSC (Movimiento
Scout Católico de Espanha), após uma Cimeira Ibérica das duas associações. Tudo, entretanto, recheado
com duas prendas: a "Medalha de Bons Serviços Desportivos", e o reconhecimento do C.N.E. Escutismo
Católico Português) como Instituição de Utilidade Pública, conforme despacho do Primeiro Ministro,
publicado no Diário da República, IIª série, de 3 de Agosto de 1983 (Despacho de 20 de Julho de 1983).
Rumo à actualidade
Os últimos quinze anos ficam marcados por uma grande expansão do Escutismo e aumento dos
efectivos, em todo o continente e regiões autónomas.
Novas áreas são desenvolvidas. A do ambiente com a inauguração em 1988, do Centro Nacional de For-
mação Ambiental, em S. Jacinto, com toda a gama das mais diversas campanhas, onde se destaca a de
"Um Milhão de Árvores".
Campanhas como a do calendário escutista, a do seguro escuta, a da sede própria e outras vêem,
concretizar o nosso património.
A nível pedagógico dá-se realce ao aparecimento das metodologias educativas das quatro secções,
livros, revistas, fichas e manuais.
Como resultado destes eventos foi a presença maciça no Jamboree da Holanda em 1995 e do Moot na
Suécia em 1996 que são bem o testemunho do grande desenvolvimento que ocorre a todos os níveis.
Seminários como o da Família em 1994 e o congresso "Valores e Missão" em 96/97, concretizam a forte
maturidade e implantação do Escutismo Católico em toda a sociedade portuguesa.
A última palavra para a organização do CNE, com a publicação dos últimos estatutos, diversos re-
gulamentos e regimentos e os mais diversos protocolos com destaque para os dos Países de Língua Ofi-
cial Portuguesa.
A diocese de Coimbra manteve-se sob o jugo árabe. Porém, o primeiro bispo que nos aparece após a
reconquista cristã é D. Paterno (falecido em 1087), que está na origem da escola-catedral coimbrã.
Abrangendo actualmente uma área com 5.300 Km2, distribuídos por quatro Regiões Pastorais, e 24 arci-
prestados, a diocese conta 550.000 habitantes, o que corresponde a uma densidade populacional de
104 hab./Km2.
História
Quanto à História da Região Coimbra do CNE, consultando o livro «Radiosa Floração», constata-se que a
Junta Regional foi filiada em Outubro de 1926 (10 de Outubro) e o seu Núcleo de Coimbra em 1927 (16
de Janeiro). Filiaram-se neste propósito o Grupo 30 (S. Tomás de Aquino), agora incorporado no Agru-
pamento 195/CNE – Sé Velha ainda a Alcateia 11 (Rainha Santa Isabel) do mesmo Agrupamento, em
Dezembro de 1926.
Em 1927 aparecem o Grupo 4 de Seniores (Duarte de Almeida), a Alcateia 12 (Sta. Clara), integrada de-
pois no Agrupamento 162/CNE – Santa Clara, e ainda o Grupo 31 (Sto. António), integrado no
Agrupamento 109/CNE - Santo António dos Olivais, respectivamente nos meses de Julho, Outubro e
Dezembro.
Em 1930 aparece filiada, em Julho, a Alcateia nº 12 (Menino Jesus) de Coimbra, integrada mais tarde no
Agrupamento 109/CNE – Santo António dos Olivais.
Em Abril de 1934 é filiada a Alcateia 49 (Menino Jesus), de Condeixa-a-Nova, e nessa localidade ainda,
em Maio, o Grupo 97 (Sta. Cristina).
Em 1936 aparece, em Abril, a filiação do Grupo 120 (Sagrada Família), do Seminário Maior, pertencente
agora ao Agrupamento 115/CNE - Seminário Maior de Coimbra mas não reactivado aquando da
reactivação deste Agrupamento que havia sido extinto pela OSN 394.
Bem, esta é uma perspectiva do CNE da Região de Coimbra nos seus primórdios. De notar que se acham
aqui Unidades que hoje não são mais desta Região. A par com os Grupos 56, de Cacia - Aveiro; 41 de
Calvão - Vagos; 42, de Vista Alegre - Ílhavo, já referidos, vêm ainda os Grupos 46 (Nª Srª do Rosário), de
Cimo-de-Vila - Ílhavo; 129 (Sto. António), de Arcos - Anadia.
Isto foi o que entre 1930 e 1937 pudemos apurar de entre os dados estatísticos da Região de Coimbra.
Hoje, ou melhor, desde 1938, sobre S.S. o Papa Pio Xl, esses Grupos fazem parte da nova
Região/Diocese de Aveiro que havia sido extinta em 1882, em virtude da Bula «Gravissimum Christi
Ecclesiam regendi et gubernandi munus», de 30.9.1881, passada pelo Papa Leão XIII, a pedido de D.
Luís I, respeitante à remodelação das circunscrições das dioceses em Portugal.
Essa Diocese de Aveiro havia tido o seu primeiro Bispo na pessoa de D. António Freire Gameiro de
Sousa, em 18.4.1774, sendo instituída por S.S. o Papa Clemente XIV, pelo Breve «Militantis Ecclesiae», de
12.4.1774.
A última década foi marcada por uma grande expansão do Escutismo e aumento dos efectivos, em toda a
Região de Coimbra, fruto em parte da dinâmica imprimida pela Formação de Dirigentes a nível regional,
concretizada com a realização de vários Cursos de Formação, nomeadamente Cursos de Iniciação Prática
e Cursos de Aprofundamento Pedagógico. A necessidade de espaços adequados à concretização das
Acções de Formação levou a que a Região se empenhasse de “alma e coração” na construção de um
Centro de Formação de Dirigentes.
AEP (Associação dos Escoteiros de Portugal) e AGP (Associação das Guias de Portugal)
Agrupamentos extintos
Fontes de Informação
Adelino Marques. 70 anos de Escutismo Católico em Coimbra, revista “Flor de Lis”, Lisboa, Novembro de
1996, páginas 12 e 13.
Bastin, Robert. Baden-Powell – Cidadão do Mundo, Edição do Corpo Nacional de Escutas, Lisboa, 1980,
292 páginas.
Bosco, Terésio. Robert Baden-Powell – O Fundador do Escutismo, Edições Salesianas, Porto, Janeiro de
1990, 78 páginas.
Bovet, Pierre. Le Génie de Baden-Powell. Édition de la Maison des Scouts. Paris, 1921.
Carlos Mana. 75 anos de Escutismo Católico em Portugal, revista “Flor de Lis”, Lisboa, Março/Abril de
1998, páginas 8 a 12.
Carlos Mana. 75 anos de vida, revista “Flor de Lis”, Lisboa, Maio de 1998, páginas 6 e 7.
Carter, M. E. Life of Baden-Powell. Longmans, Green and Co, Londres, 1956, 214 páginas.
Corpas, Pedro. Robert Baden-Powell. Edições Salesianas, Porto. 1999. ISBN 972-690-353-X.
Courtney, Júlia Robert Baden-Powell. O inspirado general que fundou o movimento escutista. Editora
Replicação, Lisboa, 1990, 64 páginas. Excelente livro, profusamente ilustrado.
Diaporama/Vídeo, Uma Aventura no século XX. Texto e selecção de imagens de João Paulo Feijoo.
Sonorização de Pe. António Rego. Montagem de Carlos Mana, Carlos Alberto X. Francisco, João Paulo
Feijoo. Colaboração de José Tomaz Ferreira. Departamento Nacional de Formação do CNE, Lisboa, 1983.
Escutismo Católico – Valores e Missão, “Lumen”, Lisboa, Setembro/Outubro de 1998, Ano 59 – Série III,
nº 5, pp. 15 – 37.
Janovitz, Pluvio. Baden-Powell. Una Vita per la felicità. Ed. Borla. Florença, 1977.
Laszlo Nagy. 250 milhões de escuteiros. A história do escutismo mundial contada pelo antigo secretário
geral da Organização Mundial do Movimento Escutista. É um documento, apaixonante que contém um
excelente resumo da vida de Baden-Powell.
Serge Saint-Michel e Lazlo Nagy (texto), Bernard Dufossé (desenho). Baden-Powell, Edições Fleurus,
Paris, 1989, 32 páginas. Biografia sumária de Baden-Powell em banda desenhada.
Após o visionamento atento do diaporama/vídeo – “UMA AVENTURA NO SÉCULO XX” e com base no que
aprendeu, responder às seguintes questões:
1. O pensamento pedagógico de B.-P., na linha de outros grandes
educadores do princípio do século, propunha uma alternativa ao ensino
colectivo e autoritário do Estado. Em que se baseava esta “educação
alternativa”?
2. Quais as principais críticas surgidas inicialmente contra o Escutismo?
3. Em tempo de guerra (1914-1918), o Escutismo multiplicou as suas
acções. Poderão estas ser consideradas como contributos para a
guerra, próprias de um Movimento belicista?
4. Na década de 20, a partir de Gilwell Park, o Escutismo institucionaliza
uma acção hoje considerada como uma chaves do sucesso de qualquer
organização. Qual?
5. Quais as principais diferenças entre o Escutismo e os movimentos
juvenis estatais das ditaduras totalitárias apontadas por B.-P. a
Mussolini?
6. Mais uma vez ao contrário do esperado, a guerra (1939-1945) revelou
a força do Movimento. Diga uma das formas encontradas no fim da
mesma para auxiliar as Unidades Escutistas dos países devastados.
7. A expansão mundial e o surgimento de novos países levaram ao
aumento do peso dentro do Movimento dos países do Terceiro Mundo e
à alteração da distribuição geográfica do Escutismo. Qual foi a solução
encontrada para gerir este “novo figurino” do Movimento?
8. A década de 1960-1970, foi uma época negra para o Escutismo
europeu, que chega ao seu final em crise franca: quais os seus
principais problemas?
9. No período de 1970-1986, o Escutismo reforma-se e vira-se para novos
domínios e problemas, que encara de frente e com o espírito
interventivo: interessa-se pelo desemprego dos jovens, pelos problemas
da migração, pelas políticas governamentais da juventude, pela
formação profissional dos jovens... Em reconhecimento desta acção
recebeu no ano de 1982 um prémio. Qual?