100 FRASES DE NELSON
RODRIGUES: O MAIOR
FRASISTA BRASILEIRO
• A adúltera é a mais pura porque está salva do desejo que apodrecia nela.
• A beleza interessa nos primeiros quinze dias; e morre, em seguida, num insu-
portável tédio visual.
• A dúvida é autora das insônias mais cruéis. Ao passo que, inversamente, uma
boa e sólida certeza vale é como um barbitúrico irresistível.
• A grande vaia é mil vezes mais forte, mais poderosa e mais nobre do que a
grande apoteose. Os admiradores corrompem.
• A liberdade é mais importante do que o pão.
• A pior forma de solidão é a companhia de um paulista.
• A maioria das pessoas imagina que o importante, no diálogo, é a palavra.
Engano, e repito: — o importante é a pausa. É na pausa que duas pessoas se
entendem e entram em comunhão.
• A plateia só é respeitosa quando não está a entender nada.
• A prostituta só enlouquece excepcionalmente. A mulher honesta, sim, é que,
devorada pelos próprios escrúpulos, está sempre no limite, na implacável fron-
teira.
• A televisão matou a janela.
• A verdadeira grã-fina tem a aridez de três desertos.
• Acho a velocidade um prazer de cretinos. Ainda conservo o deleite dos bondes
que não chegam nunca.
• Amar é dar razão a quem não tem.
• Amar é ser fiel a quem nos trai.
• Antigamente, o silêncio era dos imbecis; hoje, são os melhores que emudecem.
O grito, a ênfase, o gesto, o punho cerrado, estão com os idiotas de ambos os
sexos.
• As grandes convivências estão a um milímetro do tédio.
• Com sorte você atravessa o mundo, sem sorte você não atravessa a rua.
• Começava a ter medo dos outros. Aprendia que a nossa solidão nasce da convi-
vência humana.
• Copacabana vive, por semana, sete domingos.
• D. Helder só olha o céu para saber se leva ou não o guarda-chuva.
• Desconfie da esposa amável, da esposa cordial, gentil. A virtude é triste, azeda
e neurastênica.
• Desconfio muito dos veementes. Via de regra, o sujeito que esbraveja está a um
milímetro do erro e da obtusidade.
• Deus está nas coincidências.
• Dinheiro compra tudo, até amor verdadeiro.
• É preciso ir ao fundo do ser humano. Ele tem uma face linda e outra hedionda.
O ser humano só se salvará se, ao passar a mão no rosto, reconhecer a própria
hediondez.
• Em muitos casos, a raiva contra o subdesenvolvimento é profissional. Uns mor-
rem de fome, outros vivem dela, com generosa abund1ncia.
• Entre o psicanalista e o doente, o mais perigoso é o psicanalista.
• Está se deteriorando a bondade brasileira. De quinze em quinze minutos,
aumenta o desgaste da nossa delicadeza.
• Eu me nego a acreditar que um político, mesmo o mais doce político, tenha
senso moral.
• Existem situações em que até os idiotas perdem a modéstia.
• Falta ao virtuoso a feérica, a irisada, a multicolorida variedade do vigarista.
• Hoje é muito difícil não ser canalha. Todas as pressões trabalham para o nosso
aviltamento pessoal e coletivo.
• Hoje, o sujeito prefere que lhe xinguem a mãe e não o chamem de reacionário.
• Invejo a burrice, porque é eterna.
• Jovens: envelheçam rapidamente!.
• É preciso trair para não ser traído.
• Muitas vezes é a falta de caráter que decide uma partida. Não se faz litera-
tura, política e futebol com bons sentimentos:
• Na mulher, certas idades constituem, digamos assim, um afrodisíaco efica-
císsimo. Por exemplo: — 14 anos!
• Nada nos humilha mais do que a coragem alheia.
• Não acredito em honestidade sem acidez, sem dieta e sem úlcera.
• Não admito censura nem de Jesus Cristo.
• Não damos importância ao beijo na boca. E, no entanto, o verdadeiro deflora-
mento é o primeiro beijo na boca. A verdadeira posse é o beijo na boca, e repito:
— é o beijo na boca que faz do casal o ser único, definitivo. Tudo mais é tão
secundário, tão frágil, tão irreal.
• Não existe família sem adúltera.
• Não há nada que fazer pelo ser humano: o homem já fracassou.
• Nossa ficção é cega para o cio nacional. Por exemplo: não há, na obra do Gui-
marães Rosa, uma só curra.
• Num casamento, o importante não é a esposa, é a sogra. Uma esposa limita-se
a repetir as qualidades e os defeitos da própria mãe.
• Nunca a mulher foi menos amada do que em nossos dias.
• O amor entre marido e mulher é uma grossa bandalheira. É abjeto que um
homem deseje a mãe de seus próprios filhos.
• O artista tem que ser gênio para alguns e imbecil para outros. Se puder ser
imbecil para todos, melhor ainda.
• O asmático é o único que não trai.
• O adulto não existe. O homem é um menino perene.
• Nem toda mulher gosta de apanhar. Só as normais.
• O biquíni é uma nudez pior do que a nudez.
• O boteco é ressoante como uma concha marinha. Todas as vozes brasileiras
passam por ele.
• O Brasil é muito impopular no Brasil.
• O brasileiro é um feriado.
• O brasileiro, quando não é canalha na véspera, é canalha no dia seguinte.
• O casamento é o máximo da solidão com a mínima privacidade.
• O cardiologista não tem, como o analista, dez anos para curar o doente. Ou
melhor: — dez anos para não curar. Não há no enfarte a paciência das neuroses.
• O grande acontecimento do século foi a ascensão espantosa e fulminante do
idiota.
• O homem começa a morrer na sua primeira experiência sexual.
• O Natal já foi festa, já foi um profundo gesto de amor. Hoje, o Natal é um orça-
mento.
• O homem não nasceu para ser grande. Um mínimo de grandeza já o desuma-
niza. Por exemplo: — um ministro. Não é nada, dirão. Mas o fato de ser ministro
já o empalha. É como se ele tivesse algodão por dentro, e não entranhas vivas.
• O jovem tem todos os defeitos do adulto e mais um: o da imaturidade.
• O morto esquecido é o único que repousa em paz.
• O marido não deve ser o último a saber. O marido não deve saber nunca.
• O ônibus apinhado é o túmulo do pudor.
• O pudor é a mais afrodisíaca das virtudes.
• O puro é capaz de abjeções inesperadas e totais e o obsceno, de incoerências
deslumbrantes. Somos aquela pureza e somos aquela miséria. Ora aparecemos
varados de luz, como um santo de vitral, ora surgimos como faunos de tapete.
• O sábado é uma ilusão.
• O Ser humano, tal como imaginamos, não existe.
• Os homens mentiriam menos se as mulheres fizessem menos perguntas.
• Quem nunca desejou morrer com o ser amado nunca amou, nem sabe o que é
amar.
• Outrora, os melhores pensavam pelos idiotas; hoje, os idiotas pensam pelos
melhores. Criou-se uma situação realmente trágica: — ou o sujeito se submete ao
idiota ou o idiota o extermina.
• Perfeição é coisa de menininha tocadora de piano.
• Qualquer menino parece, hoje, um experimentado e perverso anão de 47 anos.
• Se Euclides da Cunha fosse vivo teria preferido o Flamengo a Canudos para
contar a história do povo brasileiro.
• Se os fatos são contra mim, pior para os fatos.
• Sem paixão não dá nem para chupar picolé.
• Se todos conhecessem a intimidade sexual uns dos outros, ninguém cumprimen-
taria ninguém.
• Sexta-feira é o dia em que a virtude prevarica.
• Só acredito nas pessoas que ainda se ruborizam.
• Só não estamos de quatro, urrando no bosque, porque o sentimento de culpa
nos salva.
• Só o cinismo redime um casamento. É preciso muito cinismo para que um casal
chegue às bodas de prata.
• Só o rosto é indecente. Do pescoço para baixo podia-se andar nu.
• Sou reacionário. Minha reação é contra tudo que não presta.
• Subdesenvolvimento não se improvisa; é obra de séculos.
• Tarado é toda pessoa normal pega em flagrante.
• Toda coerência é, no mínimo, suspeita.
• Toda mulher bonita leva em si, como uma lesão da alma, o ressentimento. É
uma ressentida contra si mesma.
• Toda mulher bonita tem um pouco de namorada lésbica em si mesmo.
• Toda mulher gosta de apanhar. Só as neuróticas reagem.
• Toda unanimidade é burra.
• Todas as mulheres deviam ter catorze anos.
• Todo amor é eterno. Se não é eterno, não era amor.
• Todo desejo é vil.
• Todo tímido é candidato a um crime sexual.
• Não se apresse em perdoar. A misericórdia também corrompe.
• Tudo passa, menos a adúltera. Nos botecos e nos velórios, na esquina e nas
farmácias, há sempre alguém falando nas senhoras que traem. O amor bem
sucedido não interessa a ninguém.