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Denuncia - Operacao Assepticus - Divulg - 30.12.2019

O documento descreve uma denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal contra nove pessoas por crimes de estelionato cometidos contra a Caixa Econômica Federal e o Banco do Nordeste. Os réus faziam parte de uma organização criminosa que fraudava empréstimos bancários por meio de documentos falsos e com a ajuda de funcionários dos bancos. As fraudes eram cometidas desde 2016 e continuaram após a prisão de alguns membros do grupo em 2017.
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Denuncia - Operacao Assepticus - Divulg - 30.12.2019

O documento descreve uma denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal contra nove pessoas por crimes de estelionato cometidos contra a Caixa Econômica Federal e o Banco do Nordeste. Os réus faziam parte de uma organização criminosa que fraudava empréstimos bancários por meio de documentos falsos e com a ajuda de funcionários dos bancos. As fraudes eram cometidas desde 2016 e continuaram após a prisão de alguns membros do grupo em 2017.
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EXMO.(A) SR.(A) DR.

(A) JUIZ(ÍZA) FEDERAL DA 1ª VARA DA SUBSEÇÃO


JUDICIÁRIA DE FEIRA DE SANTANA/BA

Autos Judiciais nº. 39-47.2019.4.01.3304


Ref. IPL nº. 0732/2017
Operação ASSEPTICUS

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pelo procurador da República


in fine assinado, comparece à douta presença de Vossa Excelência, no exercício de
sua atribuição de dominus litis, com fundamento no art. 129, inciso I, da
Constituição da República, para oferecer DENÚNCIA em relação a:

JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA, *1, estando preso


preventivamente e cumprindo prisão domiciliar.

FABIANO TADEU LEFUNDES SAMPAIO, *, estando preso


preventivamente e recolhido no Presídio Regional de Feira de
Santana/BA;

GRAZIELA LISBOA MARQUES, *, estando presa


preventivamente e cumprindo prisão domiciliar;

GRINALSON DE ALENCAR DUTRA, *, estando preso


preventivamente e recolhido no Presídio Regional de Feira de
Santana/BA;

1
As informações foram omitidas para fins de divulgação.
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Telefax: (075) 3211-2000 E-mail: [email protected]
JMNR, MFS e GSR
AQUILEADE CARVALHO DOS SANTOS, * , estando preso
preventivamente e recolhido no Presídio Regional de Feira de
Santana/BA;

MARCOS ROBERTO DOS SANTOS, *, estando preso


preventivamente e recolhido no Presídio Regional de Feira de
Santana/BA;

JOSÉ JESUS DA SILVA, *, estando preso preventivamente e


recolhido no Presídio Regional de Feira de Santana/BA;

TIAGO BARBOSA BOAVENTURA, * , estando preso


preventivamente e recolhido no Presídio Regional de Feira de
Santana/BA;

pelos fatos a seguir expostos:

I. BREVE INTRODUÇÃO:

A investigação que embasou a presente denúncia teve início no ano


de 2017, tendo como ponto de partida o teor das colaborações premiadas dos réus
AGNALDO DOS SANTOS, CARLOS ANDRÉ ALVES DE ARAÚJO e CAMILA
GOMES DE OLIVEIRA nas demandas criminais oriundas do IPL nº 690/13, que
resultou na operação denominada “ALI BABÁ”, deflagrada no município de Feira de
Santana/Ba e outros, em razão da prática de diversos estelionatos e fraudes
praticados contra a CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, em Feira de Santana.

Os fatos por eles relatados, alguns já provados e outros ainda em


investigação pela Polícia Federal, evidenciaram a prática criminosa por parte de
empregados da CEF, servidores da Receita Federal do Brasil, funcionários da
JUCEB e outros indivíduos vinculados à organização criminosa não alcançados
naquela primeira fase de investigação até o mês de julho de 2016.

Também restaram aduzidos outros delitos cometidos pelo contador


JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA, um dos denunciados na “Operação Ali Babá”,
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após ter sido colocado em liberdade provisória, em março de 2017, oportunidade em
que arregimentou velhos e novos parceiros, a fim de se utilizar do mesmo modus
operandi identificado na operação “Ali Babá”, só que, desta vez, em desfavor do
BANCO DO NORDESTE DO BRASIL.

Observa-se que, quanto ao Banco do Nordeste do Brasil, há notícias


da prática criminosa contra esta instituição financeira por parte dos integrantes da
ORCRIM investigada desde a primeira fase da investigação da “Operação Ali Babá”,
mas, por motivos operacionais e ausência de maiores informações, não puderam ser
aprofundadas naquela etapa.

Após diligências empreendidas pela autoridade policial,


evidenciou-se que o contador JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA, juntamente com
AQUILEADE CARVALHO DOS SANTOS (seu antigo colaborador na JUCEB/FSA,
que se tornou seu sócio no novo “escritório do crime”), GRINALSON DE ALENCAR
DUTRA, FABIANO TADEU LEFUNDES SAMPAIO TADEU e outros, voltaram a
praticar delitos de estelionato consistentes na obtenção de valores decorrentes de
contrato de mútuo junto às agências do Banco do Nordeste do Brasil. Tais fraudes
eram cometidas através da utilização de pessoas jurídicas inidôneas, com sócios
inexistentes, ou com a utilização de dados de terceiros de boa-fé, havendo,
inclusive, a participação de empregados do próprio banco, tais como o gerente de
pessoa jurídica denominado JOSÉ JESUS DA SILVA, lotado na Superintendência
do BNB, em Salvador, e do gerente-geral da agência da cidade de CATU/BA,
TIAGO BARBOSA BOAVENTURA, sendo este último citado pelos colaboradores
como agente facilitador da prática dos referidos delitos nos municípios de SEABRA/
BA e IRECÊ/BA.

Para uma melhor compreensão do momento da prática dos delitos


ora investigados, de modo a permitir a individualização da conduta dos novos atores
do crime, tais como empregados da CEF, servidor da RFB ainda não identificado,
funcionários da JUCEB e empregados do BNB, serão abordados os fatos ocorridos

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até JULHO/2016, quando da deflagração da primeira fase da investigação na
operação ALI BABA, extraídos dos termos de colaboração premiada já
mencionados, e os fatos posteriores a 2017.

I.1 DA CONTEXTUALIZAÇÃO FÁTICA:

I.1.1 DOS FATOS DELITUOSOS OCORRIDOS ATÉ JULHO DE 2016


(EXTRAÍDOS DAS COLABORAÇÕES PREMIADAS):

Do teor dos termos das colaborações premiadas firmadas,


extraem-se os seguintes resumos:

a) AGNALDO DOS SANTOS (às fls. 29/30, fls. 158/162 e 177/178 dos presentes
autos):

- as reuniões da ORCRIM ocorriam na casa do DAVI AUGUSTO


FILGUEIRAS VIANA, sendo que este guardava documentos na casa do genitor, na
cidade de Mutuípe/Ba, e que havia a participação de gerentes da CEF e funcionários
subordinados na operacionalização das fraudes;

- citou a gerente DANIELA CUNHA MORENO, CPF 888.545.405-


44, da CEF/FSA, SANTA MÔNICA, agência 3802, como uma das participantes das
fraudes, em razão do volume de operações, bem como por sua ligação com o
investigado ANTÔNIO EDSON RIBEIRO ARAÚJO, vulgo “SINHO”, salientando ser
prática comum a cobrança de valores entre os membros da ORCRIM para
apresentar agentes viabilizadores da fraude, tais como gerentes de bancos e
confeccionadores de documentos inidôneos;

- a gerente TÉRCIA MARIA FREITAS DE LIMA, CPF


240.291.145-04, não visitou a empresa “BOX GUIDO e DAVI”, que ocupava o

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mesmo espaço físico da empresa “BOX DOIS IRMÃOS”, e mesmo assim autorizou a
liberação das quantias de R$ 100.000,00 (cem mil reais), a título de custódia com
cheque; R$ 100.000,00 (cem mil reais), a título de capital de giro; e R$ 120.000,00
(cento e vinte mil reais), a título de CDC veículo;

- DAVI AUGUSTO FILGUEIRAS VIANA e ANTÔNIO EDSON


RIBEIRO ARAÚJO, vulgo “SINHO”, possuíam intimidade com a gerente DANIELA
CUNHA MORENO, da agência CEF 3802, tendo, inclusive, apresentado JOYMMIR
COUTINHO DE SOUZA a ela;

- “SINHO” (ANTÔNIO EDSON RIBEIRO ARAÚJO) fez


empréstimo com a gerente DANIELA CUNHA MORENO, da agência CEF 3802, e
que CAMILA GOMES DE OLIVEIRA (colaboradora), então companheira do
contador JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA, e o próprio abriram conta e obtiveram
empréstimos, utilizando-se de nomes falsos, com a citada gerente;

- DAVI AUGUSTO FILGUEIRAS VIANA agradava a gerente


DANIELA CUNHA MORENO MORENO com presentes valiosos, tais como relógios,
perfumes e champanhe;

- a gerente TÉRCIA MARIA FREITAS DE LIMA liberou


documentos para serem assinados fora da agência, como no caso do empréstimo
realizado por sua esposa IVANILDES BRITO.

- AILA COUTINHO DE SOUZA, CPF 821.318.135-20, irmã de


JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA, tinha conhecimento das fraudes praticadas por
ele, ajudando-o em algumas e, inclusive, o alertou em relação à investigação da
Polícia Federal. Tinha conhecimento dos delitos e participou trocando a carteira de
identidade falsa do dossiê feito pela CEF, em nome de JOYMMIR COUTINHO DE
SOUZA, a fim de atrapalhar as investigações, avisando a ORCRIM do ocorrido;

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- mesmo sem estrutura física compatível, obtiveram altos valores
de empréstimos com as gerentes DANIELA CUNHA MORENO, da agência CEF
3802 e TÉRCIA MARIA FREITAS DE LIMA, agência, CEF 0068;

- a gerente DANIELA CUNHA MORENO, agência CEF 3802,


viabilizou os empréstimos pra AGNALDO DOS SANTOS, DAVI AUGUSTO
FILGUEIRAS VIANAD, CAMILA GOMES DE OLIVEIRA, JOYMMIR COUTINHO DE
SOUZA e outros;

- CLEBSON GLÉRISTON SANTOS BRITO, CPF 960.895.475-49,


é o despachante de veículo que produzia os DUT´s de caminhões e os vendia para
a ORCRIM, cobrando, em média, cerca de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) por
documento;

- “SINHO” cobrou R$ 20.000,00 (vinte mil reais) a DAVI


AUGUSTO FILGUEIRAS VIANA e R$ 10.000,00 (dez mil reais) a AGNALDO para
apresentar a gerente DANIELA CUNHA MORENO, agência CEF 3802, que garantiu
a obtenção de um empréstimo em valor maior;

- JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA obteve empréstimos em


nome de IVANILDES DE BRITO DOS SANTOS, CPF 024.412.915-05, e JACIANE
QUEIROZ DA SILVA, CPF 020.111.035-09, parentes do colaborador AGNALDO,
sem autorização, em valor aproximado de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais), não
tendo, entretanto, o colaborador indicado em qual agência fora realizado.

b) CARLOS ANDRÉ ALVES DE ARAÚJO (às fls. 31/40, fls. 163/176 dos presentes
autos):

- conheceu o contador JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA através


do indivíduo apelidado de “PAULISTA”, que lhe foi apresentado por seu amigo
FABIANO TADEU LEFUNDES SAMPAIO, alcunha “GAGUETE”, o qual já aplicava

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“golpes”, tendo o colaborador levado pessoas até o citado contador para abrir
empresas, que lhe cobrava quantias que variavam de R$ 2.000,00 (dois mil reais) a
R$ 7.000,00 (sete mil reais);

- falou para DAVI AUGUSTO FILGUEIRAS VIANA e ARGILAN que


o contador JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA abria empresas com data de abertura
falsa, retroativa há dois anos;

- o contato na Receita Federal do Brasil e JUCEB era de


responsabilidade do falecido RAMON (providenciava também Carteiras de
Identidades falsas), que era braço direito do contador JOYMMIR COUTINHO DE
SOUZA;
- DAVI AUGUSTO FILGUEIRAS VIANA levava os documentos
adulterados das supostas empresas “envelhecidas”, obtendo a liberação de créditos,
limites, custódias, sendo que oferecia como garantia documentos dos caminhões
(DUT´s) falsificados;

- GRAZIELA LISBOA MARQUES, CPF 970550505-53, sob


orientação do esposo, FABIANO TADEU LEFUNDES SAMPAIO, CPF 705.289.505-
68, vulgo ”GAGUETE”, atuou com nome falso na agência da CEF nº 3802/Santa
Mônica, perante a gerente DANIELA CUNHO MORENO, tendo a documentação
pessoal e jurídica sido providenciada pelo contador JOYMMIR COUTINHO DE
SOUZA, que a apresentou à citada gerente. GRAZIELA LISBOA MARQUES,
inclusive, utilizando-se de nome falso, financiou o veículo Frontier, p.p. OZF 7010;

- FABIANO TADEU LEFUNDES SAMPAIO, vulgo “GAGUETE”,


aplicou “golpes” em instituições bancárias e, depois de saturado o setor privado,
migrou para a CEF em conluio com o colaborador CARLOS ANDRÉ, mas não
esclareceu se usava outros nome falsos;

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- obteve empréstimos através das empresas abertas por JOYMMIR
COUTINHO DE SOUZA (inicialmente, obteve R$ 50.000,00 - cinquenta mil reais;
posteriormente mais R$ 100.000,00 (cem mil reais); cartão CONSTRUCARD, no
valor de R$ 30.000,00 (trinta mil reais); e um limite de R$ 43.000,00 (quarenta e três
mil reais), todos na agência/CEF 0068, sob a gerência de TÉRCIA MARIA FREITAS
DE LIMA. Informou que esta última lhe dizia a documentação que precisava e o
contador JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA a preparava;

- JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA e DAVI AUGUSTO


FILGUEIRAS VIANA compraram DUT´s falsos com o despachante CLEBSON
GLERISTON SANTOS BRITO, tendo o colaborador, inclusive, pago a este último a
quantia de R$ 35.000,00 (trinta e cinco mil reais) por um DUT;

- o contato do DETRAN era realizado através de CLEBSON


GLERISTON SANTOS BRITO, que contactava com uma mulher no SAC ITAPOÃ,
que transferia veículos sem necessidade de vistoria, bem como entregava a
documentação pronta;

- DAVI AUGUSTO FILGUEIRAS VIANA levantou cerca de R$


400.000,00 (quatrocentos mil reais) com a empresa LEU INFORMATICA, na agência
da CEF da Av. José Falcão;

- AILA COUTINHO DE SOUZA, irmã de JOYMMIR COUTINHO DE


SOUZA, tinha conhecimento das fraudes e facilitava para DAVI AUGUSTO
FILGUEIRAS VIANA. Ela era responsável por toda papelada jurídica, prestava
assessoria e monitorava as operações de interesse do grupo. Ela passava
informações pra JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA, que as repassava para DAVI
AUGUSTO FILGUEIRAS VIANA. Informou que, em uma oportunidade que a Polícia
Federal esteve na CEF para obter documentos referente a uma das empresas
investigadas, AILA COUTINHO DE SOUZA comunicou tal fato a JOYMMIR
COUTINHO DE SOUZA, tendo fotografado o material recolhido pela Polícia Federal

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e, em uma reunião do grupo, JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA mostrou a foto de
DAVI AUGUSTO FILGUEIRAS VIANA. Salientou que, por conta disso, JOYMMIR
COUTINHO DE SOUZA destruiu provas;

- AILA COUTINHO DE SOUZA, irmã de JOYMMIR COUTINHO DE


SOUZA, sabia que ele utilizava documentos falsos para abertura de conta nos
bancos sendo conivente com as fraudes;

- a gerente TÉRCIA MARIA FREITAS DE LIMA, mesmo sabendo


que a empresa não tinha estoque suficiente, facilitou a liberação de valor alto de
empréstimo (fl.165 dos autos);

- “SINHO” (ANTÔNIO EDSON RIBEIRO ARAÚJO) cobrou R$


20.000,00 (vinte mil reais) para apresentar a gerente DANIELA CUNHA MORENO
C. MORENO (CEF/agência 3802);

- “SINHO” (ANTÔNIO EDSON RIBEIRO ARAÚJO) “estourou” o


nome da mulher, ALANE DA SILVA REIS, CPF 730.441.135-04, na agência da CEF
nº 3802 e, mesmo sabendo disso, a gerente DANIELA CUNHA MORENO liberou
outro empréstimo para “SINHO”, dessa vem em seu próprio nome;

- JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA conseguiu empréstimo com


nome falso no BNB/FSA;

- a empregada da CEF/agência SUBAE 1611 LORENA DE SOUZA


RIBEIRO, CPF 914.208.735-04, irmã do contador JOYMMIR COUTINHO DE
SOUZA, sabia que CAMILA GOMES DE OLIVEIRA, à época companheira do
contador, requereu empréstimo com nome falso de KAMILLA GOMES OLIVEIRA e,
inclusive, a indicou ao gerente ANDERSON MATOS MOTA;

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- após o vazamento de que estavam sendo investigados,
JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA mandou que o colaborador CARLOS ANDRÉ
trocasse o celular, passando a se comunicar, tão somente, via whatsapp, bem como
retirou todo o material do escritório, temendo pelas suas irmãs. Deixou claro que a
ajuda empreendida por AILA COUTINHO DE SOUZA, irmã de JOYMMIR
COUTINHO DE SOUZA, vazando as informações, prejudicou a operação
policial;

- A gerente TÉRCIA MARIA FREITAS DE LIMA informou que havia


R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais) de empréstimo pré-aprovado e que, se
apresentassem uma garantia (mesmo que a gerente soubesse que o bem não
existia), teria ocorrido a sua contratação;

- quando ficou com raiva de DAVI AUGUSTO FILGUEIRAS VIANA,


avisou à gerente DANIELA CUNHA MORENO, CEF 3802, sobre o fato de DAVI
AUGUSTO FILGUEIRAS VIANA usar documento falso nas operações, salientando
que ela já tinha conhecimento dessa informação e que intermediou o financiamento
de um caminhão;

- EMANUELE MIRANDA PEIXOTO, “Manu”, CPF 025.932.935-51,


era responsável pela confecção de carteira de identidades falsas e conhece o
servidor da Receita Federal do Brasil que “prestava serviços” a JOYMMIR
COUTINHO DE SOUZA;

- DAVI AUGUSTO FILGUEIRAS VIANA tomou empréstimo na


agência da CEF/BOULEVARD utilizando nome falso;

- o prenome do amigo de RAMON (falecido, que trabalhava para


JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA), na RFB era ALEXANDRE;

- a gerente TÉRCIA MARIA FREITAS DE LIMA, da agência/CEF

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0068, solicitou a quantia de R$ 10.000,00 (dez mil reais) ao ora colaborador
(CARLOS ANDRÉ) sob o pretexto de empréstimo e nunca pagou. Informou que
aquela utilizava os serviços do empregado ADELFRAN DE ARAUJO SILVA, CPF
003.297.155-93, a fim de orientar e instruir acerca dos documentos necessários à
obtenção de empréstimos;
- AILA COUTINHO DE SOUZA, irmã de JOYMMIR COUTINHO DE
SOUZA, monitorava todas as agências da CEF em Feira de Santana para
acompanhar a liberação de empréstimos, repassando esta informação a JOYMMIR
COUTINHO DE SOUZA que, muitas vezes, cobrava sua parte antecipadamente;

- TÉRCIA MARIA FREITAS DE LIMA, gerente da agência/CEF


0068, solicitou que lhe fosse apresentada outras pessoas para abrir contas de
pessoas jurídicas, a fim de bater sua meta mensal, tendo o colaborador indicado
AGNALDO, GRAZIELA LISBOA MARQUES, SINHO e DAVI AUGUSTO
FILGUEIRAS VIANA;

- FABIANO TADEU LEFUNDES SAMPAIO, vulgo “GAGUETE”,


utilizava vários laranjas para obter empréstimos, mas não indicou nomes;

- apresentou GRAZIELA LISBOA MARQUES à gerente TÉRCIA


MARIA FREITAS DE LIMA (CEF 0068), tendo sido nesta agência onde realizou o
primeiro empréstimo;

- “SINHO” (ANTÔNIO EDSON RIBEIRO ARAÚJO) conhecia a


gerente DANIELA CUNHA MORENO (CEF 3802) e passou a cobrar para
intermediar seu contato, alegando que parte do dinheiro seria para a gerente;

- DAVI AUGUSTO FILGUEIRAS VIANA dava presentes à gerente


DANIELA CUNHA MORENO;

- DAVI AUGUSTO FILGUEIRAS VIANA dava instruções ao

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empregado da CEF ANDERSON MOREIRA DE JESUS, CPF 706.763.305-25, que
trabalhava com a DANIELA CUNHA MORENO C MORENO;

- DAVI AUGUSTO FILGUEIRAS VIANA apresentou algumas


pessoas à gerente DANIELA CUNHA MORENO C. MORENO, tais como JOYMMIR
COUTINHO DE SOUZA, CAMILA, ANTÔNIO DOS SANTOS, EDUARDO DOS
SANTOS, entre outros;

- JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA providenciou a documentação


falsa para GRAZIELA LISBOA MARQUES praticar os delitos na agência da CEF nº
3802;

- JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA utilizava serviços de um


servidor da RFB, e RAMON e EMANUELE levavam documentos de tais empresas
para o envelhecimento, através de declarações de Imposto de Renda retroativas;

- a gerente TÉRCIA MARIA FREITAS DE LIMA fez contato com o


ora colaborador antes da operação policial e o orientou que procurasse negociar os
débitos para que não fosse alcançado. Soube que ela também avisou a GRAZIELA
LISBOA MARQUES, e que a gerente DANIELA CUNHA MORENO informou a
“SINHO” para pagar os débitos;

- entregou seu veículo Frontier a DAVI AUGUSTO FILGUEIRAS


VIANA a fim deste quitar sua dívida com o despachante CLEBSON GLERISTON
SANTOS BRITO, bem como também entregou uma moto para ser repassada a
JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA, a fim de que negociasse as dívidas de DAVI
AUGUSTO FILGUEIRAS VIANA com um cigano. Posteriormente, DAVI AUGUSTO
FILGUEIRAS VIANA foi até Salvador e conseguiu um empréstimo, dando, como
garantia, um documento falso de caminhão obtido por CLEBSON GLERISTON
SANTOS BRITO, e, com isso, pagou ao ora colaborador os valores referentes ao
carro e a moto, que superaram a quantia de R$ 100.000,00 (cem mil reais);

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- em uma operação no ano de 2014, o despachante CLEBSON
GLERISTON SANTOS BRITO conseguiu realizar a transferência do veículo VOLVO/
FGM 440 6x4R, ano 2010, RENAVAM 00514298006, mesmo este tendo uma
restrição judicial, inicialmente para seu nome e, depois, para o nome de NATALÍCIO
LOPES DE SOUZA (DUT falso - fl. 92 dos autos), a fim de utilizá-lo como garantia
numa operação realizada com NATALICIO LOPES DE SOUZA, o qual na verdade
aparenta atuar como “laranja” do seu empregador SÉRGIO MOREIRA CUNHA, que
utilizava o estabelecimento comercial para permitir fraudes no uso do
CONSTRUCARD em desfavor da CEF (fls. 212/213);

- teve conhecimento que o BNB da cidade de Seabra/Ba estava


sofrendo os mesmos “golpes” com anuência do gerente de nome TIAGO BARBOSA
BOAVENTURA, que depois foi transferido para a cidade de IRECÊ/BA.

c) CAMILA GOMES DE OLIVEIRA (fls. 73/75, 224/233 dos presentes autos e do


Apenso II, Vol. I dos autos nº 11400-66.2016.4.01.3304, em apenso):

- JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA utilizou nome falso no quadro


social da empresa BOGART para realizar empréstimo na agência da CEF/3802, sob
orientação de DAVI AUGUSTO FILGUEIRAS VIANA, e disse que tinha
providenciado uma carteira de identidade falsa;

- procurou a gerente DANIELA CUNHA MORENO, tendo sido a


documentação recepcionada pelo empregado ANDERSON MOREIRA, obtendo-se,
assim, a liberação de créditos que foram utilizados pelo próprio JOYMMIR
COUTINHO DE SOUZA e parte foi entregue a DAVI AUGUSTO FILGUEIRAS
VIANA;

- DAVI AUGUSTO FILGUEIRAS VIANA deu um relógio de R$


600,00 (seiscentos reais) a ANDERSON MOREIRA, empregado da agência CEF

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3802;

- foram trocados cheques emitidos pela empresa BOGART junto à


gerente DANIELA CUNHA MORENO e ANDERSON MOREIRA;

- LORENA DE SOUZA RIBEIRO indicou a colaboradora ao gerente


ANDERSON MATOS MOTA, da CEF SUBAE 1611, tendo obtido, nesta agência,
crédito no valor de R$ 70.000,00 (setenta mil reais), utilizando documentos falsos
em nome de KAMILLA GOMES OLIVEIRA (fl. 75), bem como a documentação da
empresa de confecções em nome de KAMILLA GOMES OLIVEIRA ME, sendo que a
documentação falsa (carteira de identidade e documentos desta empresa
envelhecidos) foi obtida por JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA;

- JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA sempre conseguia a


documentação na JUCEB com MARIA APARECIDA CEDRAZ, por intermédio de
AQUILEADE CARVALHO DOS SANTOS;

- JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA destruiu documentos, porque


foi avisado pela irmã AILA COUTINHO DE SOUZA que a Polícia Federal estava
atrás dele (após ela ter visto o nome de JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA e outros
num dossiê que foi entregue pela CEF);

- JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA obtinha, junto à JUCEB, o


“envelhecimento” das documentações das empresas, à semelhança do que fez com
a empresa KAMILA GOMES OLIVEIRA ME;

- AILA COUTINHO DE SOUZA também trocou a carteira de


identidade que continha uma foto de JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA utilizando
nome falso por outra que não permitia reconhecimento após ir à casa da ora
colaboradora e pedir a JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA para providenciar nova
identidade (fl.157 em que se constata a fraude realizada pela irmã de JOYMMIR

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COUTINHO DE SOUZA e empregada da CEF AILA COUTINHO DE SOUZA, tendo
sido encaminhado o dossiê pela gerente DANIELA CUNHA MORENO C.
MORENO);

- a empregada da CEF AILA COUTINHO DE SOUZA a procurou


quando JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA foi preso e disse que a Polícia Federal
não sabia que ela era irmã de JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA, sendo que ela
teria sido a responsável pela remessa do dossiê da CEF à PF;

- GRAZIELA LISBOA MARQUES realizou fraudes junto à CEF na


agência nº 0068, com a gerente TÉRCIA MARIA FREITAS DE LIMA, e na agência
SANTA MÔNICA 3802 e, inclusive, depois da operação ALI BABA, tendo lhe dito
que tinha quitado seus débitos;

- a ex-secretária de JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA, de nome


EMANUELE MIRANDA PEIXOTO, tem conhecimento das fraudes praticadas por
JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA, sendo que ela mantinha contato com os
funcionários da JUCEB e com o despachante CLEBSON GLERISTON SANTOS
BRITO;

- ÉRICO ROGÉRIO sempre fez abertura de empresa com


JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA (citando uma casa de show de nome ´Caravelas`
na Ilha de Itaparica), acrescentando que MAGALY, esposa de ÉRICO, também abriu
empresas, sendo ambos estelionatários;

- AILA COUTINHO DE SOUZA sabia que JOYMMIR COUTINHO


DE SOUZA utilizava nomes e empresas falsas, tendo facilitado a abertura de contas
na CEF 0068.

Partindo das informações acima narradas pelos colaboradores, a


Polícia Federal aprofundou as investigações e descortinou a participação decisiva

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de gerentes e empregados da Caixa Econômica Federal e do Banco do Nordeste do
Brasil, de servidor da Receita Federal do Brasil (ainda não identificado), de
funcionários públicos da JUCEB/FSA e outros nas fraudes perpetradas contra as
instituições bancárias CEF e BNB entre os anos de 2013 a 2016, e que perdurou
nos anos seguintes.
Observa-se que o modus operandi da organização criminosa
consistia na criação, por parte do contador JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA, de
empresas com datas retroativas (com a participação de servidores da JUCEB), em
sua maioria, sem funcionamento físico, criando uma fachada temporária, bem como
realizando alterações contratuais em outras empresas existentes, a fim de aproveitar
o tempo de constituição para satisfazer os requisitos das normativas dos bancos
para obtenção de crédito (que exigem mais de dois anos da empresa constituída),
havendo, ainda, o lançamento retroativo de declarações falsas de Imposto de Renda
no sistema da Receita Federal do Brasil (cuja validação era realizada por servidor,
ainda não identificado, envolvido nos delitos).

Mencione-se, por ser relevante, que a operação ASSEPTICUS


desvelou, também, um novo modus operandi da ORCRIM sob investigação: os
estelionatários abrem contas (a) em nome de pessoas físicas com documentos
falsos, (b) em nome de empresas “de fachada” ou (c) em nome de empresas
inicialmente idôneas, mas que tinham o seu faturamento adulterado para maior.
Após a abertura das contas, contraiam empréstimos e linhas de crédito e efetuavam
o pagamento de algumas parcelas para que o banco passasse a liberar linhas de
crédito maiores. Quando o banco liberava o que os estelionatários consideravam o
valor máximo como linha de crédito, eles a contratavam e, aí sim, deixavam de
efetuar o pagamento.

Frise-se a relevância da participação dos gerentes e empregados da


CEF e BNB para a perpetração dos ilícitos que, simplesmente, não realizavam visita
técnica ou, quando o faziam, não levavam em conta a discrepância entre a estrutura
física do estabelecimento e o faturamento apresentado.

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Ressalte-se que muitos destes estabelecimentos sequer existiam de
fato, uma vez que, em sua maioria, os investigados montavam apenas uma empresa
de fachada, que obtinha a aprovação dos empréstimos ilícitos a partir da conivência
dos empregados públicos que recebiam uma contrapartida financeira.
A investigação empreendida pela autoridade policial identificou,
nessa nova fase, a preponderância da liderança exercida na ORCRIM por
JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA e AQUILEADE CARVALHO DOS SANTOS,
tendo estes criado seu próprio grupo criminoso, cujo modus operandi consistia na
contratação de operações de crédito através de interpostas pessoas físicas e/ou
jurídicas inidôneas ou não, mediante documentação contábil confeccionada para a
prática das fraudes, com a participação decisiva de empregados das instituições
bancárias e funcionários públicos da JUCEB e Receita Federal do Brasil, sem a qual
as fraudes não obteriam êxito.

II. DO EXÍGUO PRAZO PARA O OFERECIMENTO DA DENÚNCIA DOS RÉUS


PRESOS. DA POSSIBILIDADE DE OFERECIMENTO POSTERIOR DE NOVA
DENÚNCIA:

Esclareça-se que a presente denúncia se restringe aos réus


presos na Operação Assepticus, deflagrada no dia 04/12/2019, e não
contempla todos os fatos delituosos por eles praticados, não havendo que se
falar em arquivamento implícito, mas sim em continuidade das investigações.

Saliente-se que a maior parte da materialidade delitiva recolhida em


razão do cumprimento dos mandados de busca e apreensão (contratos, documentos
e aparelhos de telefones celulares) encontra-se sob análise da Polícia Federal e, tão
logo seja encaminhada ao Parquet, dará ensejo à propositura de nova denúncia em
relação aos ora denunciados, bem como aos demais integrantes da presente
organização criminosa.

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III. DA INDIVIDUALIZAÇÃO DAS CONDUTAS:

III.1 JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA e III.2 AQUILEADE


CARVALHO SANTOS

Conforme já exposto, a presente denúncia se embasa na continuidade


das investigações das fraudes apuradas no âmbito da Operação Ali Babá, de 2016,
identificando o surgimento de nova ORCRIM, com modus operandi parcialmente
semelhante e alguns membros em comum à anterior, causando prejuízos ao Banco
do Nordeste (BNB) e Caixa Econômica Federal, em conluio com servidores públicos.

A extensão de célula da ORCRIM para o BNB foi mencionada,


inicialmente, pelo colaborador CARLOS ANDRÉ ALVES DE ARAÚJO, que indicou
que “o Banco BNB (…) estaria sendo alvo de ações semelhantes às investigadas”
(fl. 131 do vol. I dos autos principais) na Operação Ali Babá, o que foi confirmado
pelas apurações seguintes relacionadas aos gerentes JOSÉ JESUS DA SILVA e
TIAGO BARBOSA BOAVENTURA.

Cabe observar que tanto JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA quanto


AQUILEADE CARVALHO DOS SANTOS já atuavam na ORCRIM anterior:
JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA era responsável pela obtenção de documentos
falsos, regularização da situação fiscal das empresas, alteração de quadro social,
obtenção de certidões balancetes, alterações de endereço, elaboração de
declarações de IRPF e IRPJ dos agentes e suas empresas, bem como relações de
faturamento das empresas utilizadas nas fraudes; enquanto AQUILEADE
CARVALHO DOS SANTOS atuava como braço da ORCRIM na JUCEB, agilizando

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diligências e facilitando o “envelhecimento” de empresas.

JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA também utilizava nomes e CPFs


falsos para perpetrar e dissimular as fraudes: JOIMMIR COUTINHO DE SOUZA,
CPF.: 057.432.865-31; JOYMIR COUTINHO DE SOUZA, CPF.: 006.589.832-02;
JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA, CPF.: 049.582.045-80; JOYMMIR COUTINHO
DE SOUZA, CPF.: 050.426.225-43; JOEMIR COUTINHO E SOUSA, CPF.:
057.376.315-16 (fls. 1.458/1.461 do Inquérito Policial n.º 690/2013 e fls. 134 e ss. do
vol. I dos autos principais), que já foram objeto de denúncia nos autos nº 9859-
95.2016.4.01.3304, em trâmite nesta Vara Federal.

Com a experiência obtida no empreendimento criminoso anterior,


JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA e AQUILEADE CARVALHO DOS SANTOS se
juntaram para constituir o escritório CONTRATUS, que funcionou, inicialmente, na
Rua Leolinda Bacelar Lima, n.º 642, Feira de Santana/BA (fl. 301 do vol. 2 dos autos
principais) e, em seguida, na Rua Tapera, n.º 80, sala 06, São João, Feira de
Santana/BA (fl. 1861 do vol. VIII dos autos principais).

A passagem da posição de JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA de


mero assessor contábil e fornecedor de documentação para controlador das ações
da nova ORCRIM foi corroborada pelas declarações do colaborador AGNALDO
DOS SANTOS, que sustentou que JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA passou a
retirar empréstimos pessoalmente, indo além da atuação do antigo líder da
ORCRIM, DAVID AUGUSTO FILGUEIRAS VIANA (fl. 130 do vol. I dos autos
principais).

A posição proeminente de JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA pode ser


confirmada, ainda, pela sua postura agressiva para a preservação das atividades da
ORCRIM, tendo narrado o colaborador AGNALDO DOS SANTOS que sofreu
ameaças de morte por sua parte (fls. 30-31 do vol. I dos autos principais).

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O papel de liderança exercido por AQUILEADE CARVALHO DOS
SANTOS é confirmado por ele mesmo, que, em depoimento perante a autoridade
policial (fls. 1352 e ss. do vol. VI dos autos principais), alegou que é proprietário e
responsável pelo escritório CONTRATUS e que JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA
passou a se ausentar nos últimos tempos, em virtude de problemas de saúde.
As atividades da ORCRIM se estruturavam, nesse sentido, a partir
desse escritório, onde as funções de produção de documentos falsos, de criação de
pessoas físicas e jurídicas inidôneas e de assessoria para o sucesso dos negócios
nas instituições financeiras eram centralizadas, permitindo, também, o controle das
atividades dos demais membros mediante acompanhamento contábil.

Além da documentação estritamente contábil, JOYMMIR COUTINHO


DE SOUZA e AQUILEADE CARVALHO DOS SANTOS também providenciavam
identidades falsas para a constituição de empresas inidôneas, a saber, as pessoas
jurídicas GRAZIELA MARQUES SAMPAIO ME, CNPJ.: 17.763703/0001-74,
constituída com a identidade falsa GRAZIELA MARQUES SAMPAIO (conforme
minudentemente explicitado nos tópicos III.3 e III.4); MARCOS ROBERTO
SANTOS SILVA EIRELI, CNPJ.: 24.122.841/0001-30, constituída com a identidade
falsa MARCOS ROBERTO SANTOS SILVA (conforme minudentemente
explicitado nos tópicos III.7); e a identidade falsa de ANTÔNIO EDSON SILVA
ARAÚJO (constando a foto de ANTÔNIO EDSON RIBEIRO ARAÚJO, vulgo “SINHO
DE GARRONE”), encontrada em poder de AQUILEADE CARVALHO DOS SANTOS
(fl. 2.170 e 2.188 dos presentes autos).

Ademais, providenciavam a constituição de garantias inidôneas para as


operações financeiras fraudulentas, tais como CRLVs (Certificados de Registro de
Licenciamento de Veículos) de caminhões inexistentes, que eram obtidos com
CLEBSON GLERISTON SANTOS BRITO, cuja residência foi alvo de busca e
apreensão (relatório de diligências às fls. 1588 e ss. do vol. VII dos autos principais),
onde se localizou (fl. 1585 do vol. VII dos autos principais) 13 CRLVs em nome de
diversas pessoas e 31 (23 em um cômodo e 9 em outro) processos de transferência

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de veículos com CRLVs diferentes.

Em depoimento perante a autoridade policial (fls. 1919/1920 do vol. VIII


dos autos principais), CLEBSON GLERISTON SANTOS BRITO confirmou que
mantinha relações com JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA e que realizava
“decalques” de chassis e de motores de caminhões, providenciando, ainda, a
concretização de vistorias no DETRAN, mesmo sem a efetiva presença dos veículos
(que não existiam de fato).

As interceptações telefônicas e telemáticas realizadas também indicam


com clareza o elo entre os membros da ORCRIM, a divisão de tarefas e a
centralidade assumida por JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA e AQUILEADE
CARVALHO DOS SANTOS:

 *2;

 *;

 *;
 *;

 *;

 *;

 *.

Dando continuidade às investigações, foi realizada busca e apreensão


na sede da empresa CONTRATUS (análise de material apreendido às fls. 1873 e ss.
e relatório de diligência às fls. 1883 e ss., ambos do vol. VIII dos autos principais), a

2
As informações foram omitidas para fins de divulgação.
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qual logrou a obtenção de inúmeras evidências da prática de delitos:

 Documentos de Arrecadação do Simples (DAS) com valores


divergentes em relação à receita bruta (um documento
apresentava inexistência de receita – inatividade econômica –,
enquanto o outro, com os mesmos dados de identidade,
apontava receitas anuais milionárias), fl. 1893, do vol. VIII, dos
autos principais;

 Fotocópias de documentos de identidade com campo de


assinatura em branco ou assinatura divergente da original (fl.
1894 do vol. VIII dos autos principais);

 Documentos de abertura de contas de pessoas física e jurídica


no BNB com formulário vazio (fl. 1894 do vol. VIII dos autos
principais);

 Folha contendo 10 selos de autenticidade do TJ-BA (fl. 1875 do


vol. VIII dos autos principais).

Os documentos mencionados comprovam inequivocamente que o


escritório CONTRATUS, comandado por JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA e
AQUILEADE CARVALHO DOS SANTOS, tinha como finalidade principal a
instrumentalização documental dos ilícitos praticados pela ORCRIM, combinando a
especialização contábil com a capacidade de falsificação material e ideológica dos
documentos necessários para a realização das operações bancárias fraudulentas.

Foi efetuada, do mesmo modo, busca e apreensão na residência de


AQUILEADE CARVALHO DOS SANTOS (relatório de diligência às fls. 1361 e ss. do
vol. VI dos autos principais), na qual foram arrecadados três formulários de
propostas de operações bancárias junto ao BNB. Questionado, AQUILEADE

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CARVALHO DOS SANTOS não soube explicar a natureza dos documentos ou o
motivo de estarem em sua casa (fl. 1364 do vol. VI dos autos principais).

O depoimento de MARCOS ROBERTO DOS SANTOS (fls. 1450 e ss.,


do vol. VI, dos autos principais), colhido pelas autoridades policiais, também
converge com tudo o quanto foi apresentado nesta exordial acerca de JOYMMIR
COUTINHO DE SOUZA e AQUILEADE CARVALHO DOS SANTOS. MARCOS
ROBERTO DOS SANTOS sustenta que conheceu JOYMMIR COUTINHO DE
SOUZA em 2013, que sabia do seu envolvimento com fraudes, que também
conhecia AQUILEADE CARVALHO DOS SANTOS e que realizou negócios com
ambos nos seguintes moldes: AQUILEADE CARVALHO DOS SANTOS lhe “vendeu”
uma empresa que foi utilizada para a obtenção de empréstimos junto ao BNB. Os
empréstimos seriam adimplidos até que a consecução de créditos vultosos fosse
possibilitada, quando, então, os envolvidos deixariam de realizar os pagamentos,
causando prejuízo ao banco.

JOSÉ JESUS DA SILVA (fl. 1562 do vol. VII dos autos principais)
também confirmou, em depoimento, que conhecia JOYMMIR COUTINHO DE
SOUZA e AQUILEADE CARVALHO DOS SANTOS, tendo se encontrado com este
último em três oportunidades para tratar, supostamente, da prospecção de clientes
para o BNB, confirmando, ainda, a troca de 163 mensagens via WhatsApp sobre o
tema, o que consiste em mais uma prova da estrutura e do modo de atuação da
ORCRIM.

Por outro lado, as alegações de FABIANO TADEU LEFUNDES


SAMPAIO (fl. 1392 do vol. VI dos autos principais), GRAZIELA LISBOA MARQUES
(fl. 1399 do vol. VI dos autos principais) e GRINALSON DE ALENCAR DUTRA (fl.
1424 do vol. VI dos autos principais) de que não têm nenhum envolvimento com
AQUILEADE CARVALHO DOS SANTOS e JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA
podem facilmente ser desmentidas pelo teor dos diálogos mencionados
anteriormente, obtidos em interceptações telefônicas.

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Dessa forma, levando em consideração o narrado, deve-se imputar,
inicialmente, a JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA e AQUILEADE CARVALHO DOS
SANTOS a prática do delito tipificado no art. 2º, §3º e § 4º, II, da Lei n.º 12.850/2013,
tendo em vista que exerciam, em conjunto, a liderança da ORCRIM:
Art. 2º Promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente
ou por interposta pessoa, organização criminosa:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa, sem
prejuízo das penas correspondentes às demais infrações
penais praticadas.
(…) § 3º A pena é agravada para quem exerce o comando,
individual ou coletivo, da organização criminosa, ainda que não
pratique pessoalmente atos de execução.
§ 4º A pena é aumentada de 1/6 (um sexto) a 2/3 (dois terços):
(…) II - se há concurso de funcionário público, valendo-se a
organização criminosa dessa condição para a prática de
infração penal (…).

Os requisitos para a caracterização da organização criminosa (art. 1º, §


1º, da Lei n.º 12.850/2013) são preenchidos nos seguintes termos:

▪ Considera-se organização criminosa a associação de 4


(quatro) ou mais pessoas: no caso em questão, havia o
envolvimento de, pelo menos, oito pessoas (os presentes
denunciados);

▪ (…) estruturalmente ordenada: esse ponto deve ser


interpretado em conjunto com o art. 2, “c”, da Convenção das
Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional,
que associa o caráter estruturado à formação não fortuita do
grupo (a fim de não esvaziar o instituto do mero concurso de
pessoas). No caso em questão, o próprio período de atuação

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da nova ORCRIM (pelo menos, desde 2017, sob a direção
de JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA e AQUILEADE
CARVALHO DOS SANTOS) e as diversas infrações
cometidas comprovam a sua ordenação estrutural.

▪ (…) e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que


informalmente: no caso em questão, a divisão de tarefas é
clara: JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA e AQUILEADE
CARVALHO DOS SANTOS lideravam a ORCRIM,
providenciando os documentos para a prática das fraudes;
GRINALSON DE ALENCAR DUTRA, MARCOS ROBERTO
DOS SANTOS, GRAZIELA LISBOA MARQUES e FABIANO
TADEU LEFUNDES SAMPAIO eram os responsáveis por
obter os empréstimos em nome próprio, de pessoas jurídicas
ou de terceiros; enquanto JOSÉ JESUS DA SILVA e TIAGO
BARBOSA BOAVENTURA atuavam internamente no BNB,
facilitando a conclusão das operações financeiras danosas.

▪ (…) com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem


de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais
cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos: no
caso em questão, a vantagem era pecuniária, consistente no
dinheiro obtido com os empréstimos, enquanto a infração
penal utilizada como meio (estelionato) é punível, nos termos
do art. 171, § 3º, do Código Penal, com até seis anos e oito
meses de reclusão (cinco anos somados a um terço).

Tendo em vista, ainda, que ambos dominavam toda a cadeia de


operação da ORCRIM, tendo conhecimento e efetiva participação no planejamento
nos crimes de estelionato majorado (art. 171, § 3º, do Código Penal), cuja prática
pessoal ficava a cargo dos demais membros da organização, devem também ser

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responsabilizados por esses crimes:

Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em


prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro,
mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos
mil réis a dez contos de réis.
(...) § 3º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é
cometido em detrimento de entidade de direito público ou de
instituto de economia popular, assistência social ou
beneficência.

Para tanto, pode-se invocar a teoria do domínio do fato, especialmente


aplicável no âmbito das organizações criminosas, tem como intuito a
responsabilização daqueles que são os reais protagonistas da ação típica, por
arquitetarem intelectualmente a sua execução, ainda que não a pratiquem
pessoalmente.

Esse posicionamento foi recepcionado pelo Superior Tribunal de


Justiça, que, ao julgar o AREsp 829276 (DJ 25/08/2017), reconheceu que aquele
que domina o plano global da organização criminosa e fornece os elementos
materiais necessários para a concretização da fraude, deve ser responsabilizado
como coautor do crime de estelionato.

Por fim, ressalte-se que há diversos indícios da prática de


outros delitos de estelionato e corrupção ativa por JOYMMIR COUTINHO DE
SOUZA e AQUILEADE CARVALHO DOS SANTOS que não puderam ser objeto
desta denúncia, porque as provas da materialidade ainda estão sob análise da
polícia federal e não acompanharam o inquérito policial, não havendo que se
falar em arquivamento implícito, mas sim em continuidade das investigações.

Diante do quanto narrado, JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA e

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AQUILEADE CARVALHO DOS SANTOS devem assim responder, em concurso
material (art. 69, do CP), pela prática dos seguintes delitos:

1) art. 171, §3º, do CP, por duas vezes, pelos delitos de


estelionatos consumados em face da CEF, referente aos contratos firmados
pela pessoa jurídica GRAZIELA MARQUES SAMPAIO ME, CNPJ.:
17.763703/0001-74, conforme minudentemente abordado nos tópicos III.3 e
III.4;

2) art. 171, §3º, do CP, por duas vezes, pelos delitos de


estelionatos consumados em face do Banco do Nordeste, referente aos
contratos firmados pela pessoa física MARCOS ROBERTO SANTOS SILVA (um
contrato) e pela pessoa jurídica MARCOS ROBERTO SANTOS SILVA EIRELI
(um contrato), conforme minudentemente abordado no tópico III.7;

3) art. 297, caput, do CP, por três vezes, em razão de terem


confeccionado identidades falsas, a saber MARCOS ROBERTO SANTOS SILVA
(fl. 1101, vol. V, dos autos), GRAZIELA MARQUES SAMPAIO (fl. 466, vol. II, dos
autos) e ANTÔNIO EDSON SILVA ARAÚJO (fls. 2.170 e 2.188, vol. IX, dos
autos), que possuem potencialidade lesiva para a prática de diversos outros
delitos;

4) art. 2º, parágrafos terceiro e quarto, inciso II, ambos da Lei nº


12.850/13, por integrarem, pessoalmente, organização criminosa destinada a
praticar diversos delitos de estelionato em desfavor de várias instituições
financeiras, bem como exercerem a liderança, e a causa de aumento, em razão
do concurso dos funcionários do Banco do Nordeste para a prática dos delitos
de estelionato.

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III.3 FABIANO TADEU LEFUNDES SAMPAIO, alcunha
“GAGUETE”, CPF 705.289.505-68 (fls. 42/47 dos autos do IPL nº 0732/2017) e III.4
GRAZIELA LISBOA MARQUES, apelidada de “GAL”, CPF 970.550.505-53 (fls.
48/53 dos autos do IPL nº 0732/2017).

Do teor das investigações, observa-se que FABIANO TADEU


LEFUNDES SAMPAIO e GRAZIELA LISBOA MARQUES são estelionatários
contumazes e integram a organização criminosa em comento, sendo que
GRAZIELA LISBOA MARQUES pratica diversos tipos de delitos de uso de
documento falso e de estelionato sob a orientação do primeiro, que é seu
esposo, bem como recebem todo o suporte contábil para a constituição das
empresas e documentações falsas de JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA e
AQUILEADE CARVALHO SANTOS.

Os investigados, portanto, utilizando-se de documentações


falsificadas, constituíram empresas inidôneas, procederam a abertura de contas
bancárias, realizaram empréstimos em instituições financeiras, bem como a compra
de veículos automotores, conforme abaixo delineado.

Restou verificado que os mesmos solicitaram a confecção de


carteira de identidade falsa em nome de GRAZIELA MARQUES SAMPAIO (consta a
foto de GRAZIELA LISBOA MARQUES ), CPF.: 860.740.795-36, à fl. 466 do vol. II,
tendo o Laudo Pericial n. 206/2019-GID/DREX/SR/PF/BA (fls. 1.245/1.247 dos
autos do IPL 0732/2017) concluído que as digitais são distintas e que não existe
prontuário na SSP/BA em nome de GRAZIELA MARQUES SAMPAIO.

A partir da carteira de identidade falsificada acima descrita, os


acusados providenciaram, junto a JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA e AQUILEADE
CARVALHO DOS SANTOS, a constituição da pessoa jurídica GRAZIELA
MARQUES SAMPAIO ME, CNPJ.: 17.763703/0001-74, sendo que a utilizaram para
os seguintes fatos:

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- assinatura do contrato, firmado na Caixa Econômica Federal, de
Abertura de Limite de Crédito para operar na modalidade de cheques pré-datados,
em nome de GRAZIELA MARQUES SAMPAIO ME, CNPJ.: 17.763703/0001-74,
constituída sob o nome falso de GRAZIELA MARQUES SAMPAIO, CPF.:
860.740.795-36, no valor de R$ 40.000,00 (quarenta mil reais), com data de
06/12/2013 (fls. 427/431v do vol. II);

- assinatura da cédula de Crédito Bancário, firmado na Caixa


Econômica Federal, em nome de GRAZIELA MARQUES SAMPAIO ME, CNPJ.:
17.763703/0001-74, constituída sob o nome falso de GRAZIELA MARQUES
SAMPAIO, CPF.: 860.740.795-36, no valor de R$ 70.000,00 (setenta mil reais), com
data de 31/01/2014 (fls. 432/437 do vol. II);

- uso do documento falso GRAZIELA MARQUES SAMPAIO, em


28/10/2014, na ação revisional nº 11907-95.2014.4.01.3304 ajuizada perante a 2ª
Vara Federal da Subseção Judiciária de Feira de Santana/Ba (fls. 438/453 do vol. II);

Também restou evidenciado que o casal providenciou a confecção


da carteira de identidade falsa (consta a foto de GRAZIELA LISBOA MARQUES ),
bem como declaração de imposto de renda (24/03/2018), comprovante de
residência, todos em nome de HILDETE DE OLIVEIRA SANTOS (CPF.:
019.433.195-45), a fim de viabilizar a abertura e movimentação de conta corrente,
bem como a utilização de cartão de crédito, no Banco Santander, em 16/11/2018
(fls. 2.269/2.285, vol. X, destes autos).

Ressalte-se que todos os recebimentos da Loja SAMP´s (CNPJ.:


29.647.606/0001-03, nome fantasia SAMPs Modas Eirelli, constituída em nome da
empresária individual MARIA ALICE LISBOA MARQUES - mãe da denunciada
GRAZIELA LISBOA MARQUES, que funciona na Av. São Domingos, nº 310, Santa
Mônica, nesta cidade, ocorriam através da maquineta de cartão de crédito registrada

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em nome da “laranja” HILDETE DE OLIVEIRA SANTOS (CPF.: 019.433.195-45), a
fim de ocultar citados recebimento de valores e burlar o pagamento de impostos.

Observa-se, ainda, que também providenciaram a confecção da


carteira de identidade falsa (consta a foto de FABIANO TADEU LEFUNDES
SAMPAIO), em nome de HÉLIO DIAS DA SILVA, CPF.: 841.032.995-68, a partir da
qual realizaram a abertura e movimentação de conta corrente no Banco Santander,
além da aquisição de veículos e constituição de empresa (docs. fls. 2.173 e 2.178,
vol. IX, dos presentes autos).

Em seu depoimento perante a autoridade policial (fls. 1.399/1.401 do


vol. VI), GRAZIELA LISBOA MARQUES admitiu ter realizado empréstimos na Ag.
CEF/Santa Mônica utilizando o nome falso GRAZIELA MARQUES SAMPAIO.
Igualmente, admitiu ter realizado o financiamento do veículo NISSAN FRONTIER,
perante a CEF, utilizando o citado nome falso.

Apesar de ter aduzido nunca ter tido relação direta com JOYMMIR
COUTINHO DE SOUZA, verifica-se, em sentido contrário, que nas conversas
obtidas em seu Whatsapp, FABIANO TADEU LEFUNDES SAMPAIO se refere a
JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA como “JÓ”, sendo que GRAZIELA LISBOA
MARQUES concorda, o que reforça a ligação existente entre eles, bem como o fato
desta integrar a ORCRIM comandada por JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA e
AQUILEADE CARVALHO DOS SANTOS (Imagens 4 e 5, fls. 2.111 e 2.126/2.127 do
Vol. IX dos autos principais).

Semelhantemente, GRAZIELA LISBOA MARQUES aduziu não


saber o porquê dos recebimentos da Loja SAMP´s ocorrerem na maquineta em
nome de HILDETE DE OLIVEIRA SANTOS. Ocorre que, através da análise das
mensagens de Whatsapp printadas, verifica-se que GRAZIELA LISBOA MARQUES
detinha pleno conhecimento da utilização da carteira de identidade falsificada, bem
como das demais documentações forjadas em nome de HILDETE DE OLIVEIRA

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SANTOS, além das constantes movimentações ocorridas na conta corrente do
Banco Santander (transcrições policiais às fls. 2.111, 2.113/2.114, 2.116/2.121
referentes aos prints das telas acostados, respectivamente, às fls. 2.126/2.127,
2.133/2.134, 2.140/2.141, 2.144/2.146, 2.151/2.156, 2.158, 2.160/2.161, todos do
Vol. IX, dos autos principais), conforme abaixo destacado:
*3

Restou colhido o depoimento da verdadeira HILDETE DE OLIVEIRA


SANTOS (fls. 1.940/1.943 do vol. VIII), que aduziu ter conhecido FABIANO TADEU
LEFUNDES SAMPAIO no salão de uma amiga, e que este se ofereceu para ajudá-la
a abrir uma conta no banco, em razão de possuir contatos nas instituições
financeiras e, por conta disto, tirou uma foto de sua identidade. Posteriormente, ela
lhe avisou que tinha perdido sua identidade e, por isso, não tinha mais como abrir a
pleiteada conta. Aduziu, ainda, que somente nesta oportunidade soube que
FABIANO TADEU LEFUNDES SAMPAIO utilizava uma conta bancária com os
dados da declarante, bem como utilizava seus dados nas maquinetas da Loja
SAMPs.

Ademais, observa-se que GRAZIELA LISBOA MARQUES pretendia


utilizar a documentação fraudada (Carteira de Identidade e Declaração de Imposto
de Renda) em nome de HILDETE DE OLIVEIRA SANTOS (fls. 2.278/2.285, vol. X,
dos presentes autos) para realizar a abertura de outra conta corrente na CEF,
através da correspondente bancária JANAÍNA EVANGELISTA SANTOS (qualificada
à fl. 2.016/2.017 do vol. IX), o que não ocorreu, tendo em vista o alerta de FABIANO
TADEU LEFUNDES SAMPAIO acerca do benefício de bolsa família que a
verdadeira HILDETE recebia, o que podia chamar atenção para os delitos que
estavam cometendo (transcrição policial à fl. 2.114 e print da tela à fl. 2.135),
conforme transcrição abaixo:

3
As informações foram omitidas para fins de divulgação.
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Cite-se, ainda, o print da conversa de Whatsapp entabulada entre
FABIANO TADEU LEFUNDES SAMPAIO e GRINALSON DE ALENCAR DUTRA,
em que o primeiro afirma que pretende financiar um carro em nome de HILDETE
(transcrição de áudio do dia 22/11/19, enviado às 13:42-13:43h, à fl. 2.039, do vol.
IX, dos autos principais).
Diante disso, observa-se o status autônomo do delito insculpido no
art. 297, caput, do Código Penal, tendo em vista que GRAZIELA LISBOA MARQUES
e FABIANO TADEU LEFUNDES SAMPAIO pretendiam utilizar a documentação
fraudada em nome de HILDETE DE OLIVEIRA SANTOS para a prática de diversos
outros delitos.

Semelhantemente, FABIANO TADEU LEFUNDES SAMPAIO


utilizou indevidamente a Carteira Identidade falsa em nome de HÉLIO DIAS DA
SILVA, CPF.: 841.032.995-68 (fl. 2.173, vol. IX, dos autos), para diversas
finalidades, tais como abertura de conta corrente no banco Santander, constituição
de pessoa jurídica (nome fantasia Samps Modas, CNPJ 23.863.776/0001-30, fl.
2.178, vol. IX, dos autos), com o fim de praticar delitos, bem como aquisição de
veículo automotor, conforme se verifica nas transcrições das conversas de
Whatsapp, abaixo descritas, o que se leva a concluir pela autonomia do delito
insculpido no art. 297, caput, do Código Penal (transcrições policiais de fls.
2.114/2.115 e prints das telas, respectivamente, às fls. 2.136/2.137 dos presentes
autos de IPL), in verbis:

*4

Em seu depoimento perante a autoridade policial (fls. 1.392/1.395


dos autos do IPL), FABIANO TADEU LEFUNDES SAMPAIO admitiu ter constituído a
empresa GRAZIELA MARQUES SAMPAIO ME, CNPJ.: 17.763703/0001-74, a partir
da identidade falsa de GRAZIELA MARQUES SAMPAIO, CPF.: 860.740.795-36,
utilizando-se dos serviços de um indivíduo conhecido por RAMON, numa tentativa
de desvencilhar tal fraude da organização criminosa comandada por JOYMMIR
4
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COUTINHO DE SOUZA e AQUILEADE CARVALHO DOS SANTOS.

Ocorre que, nas investigações empreendidas pela Polícia Federal,


bem como do teor das delações premiadas que originaram a presente investigação,
restou desvelado que RAMON (falecido) trabalhava diretamente com JOYMMIR
COUTINHO DE SOUZA, de forma a viabilizar sua empreitada de abertura e
“envelhecimento” de empresas fraudulentas que eram constituídas, unicamente,
para a prática de delitos de estelionato em desfavor de instituições bancárias.

Acresça-se, ainda, que no registro da pessoa jurídica GRAZIELA


MARQUES SAMPAIO ME, CNPJ 17.763.703/0001-74, nome fantasia SAMPs, que
tem como responsável o CPF 860.740.795-36, registrado no nome falso GRAZIELA
MARQUES SAMPAIO, consta que o contador que assina por esta pessoa jurídica
denomina-se ANTÔNIO JOSÉ OLIVEIRA FILHO, sem registro no CRC/BA, cujas
investigações revelaram ser um nome falso utilizado por JOYMMIR COUTINHO DE
SOUZA (fl. 52 dos autos do IPL 0732/2017).

Somente a título de reforço, destaque-se que as conversas de


Whatsapp evidenciaram a relação de ambos com AQUILEADE CARVALHO DOS
SANTOS e JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA, conforme a seguir transcrito:

*5

Ressalte-se, também, a conversa interceptada na data 01/06/2019,


em que FABIANO TADEU LEFUNDES SAMPAIO (GAGO) e GRINALSON DE
ALENCAR DUTRA (GRILO) conversam sobre JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA
(JÓ), AQUILEADE CARVALHO DOS SANTOSS (AQUILE) e o gerente do BNB
JOSÉ JESUS DA SILVA, referente ao recebimento de valor de R$ 80.000,00 (oitenta
mil reais), oriundo da prática de estelionato praticado em desfavor do banco BNB,
que foi rateado entre JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA, AQUILEADE CARVALHO
DOS SANTOS, JOSÉ JESUS DA SILVA e outros, e afirmam que outro golpe estava
5
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sendo preparado para receber um valor de mais de R$ 200.000,00 (duzentos mil
reais), numa clara evidência de orquestração dos referidos membros da
ORCRIM para a prática de outros delitos de igual natureza. Ainda consta a
referência ao veículo Renault KWID que, em momento posterior, seria vendido por
GRINALSON DE ALENCAR DUTRA a JOSÉ JESUS DA SILVA (fls. 345/350, vol 2,
dos autos da cautelar, em apenso).

Cite-se, também, a conversa interceptada no dia 03/06/2019,


firmada entre GRAZIELA LISBOA MARQUES e FABIANO TADEU LEFUNDES
SAMPAIO, em que o segundo informa que está no escritório de AQUILEADE
CARVALHO DOS SANTOS (AQUILES), o que evidencia a relação existente entre os
membros da ORCRIM (fl. 362, vol. 2, dos autos da cautelar, em apenso).

Frise-se que restou evidenciado no Relatório Circunstanciado da


quarta prorrogação (fls. 605 e ss. dos autos nº 38-62.2019.4.01.3304 – medida
cautelar, em apenso) que FABIANO TADEU LEFUNDES SAMPAIO se encontrava,
diariamente, em atos preparatórios para aplicar novos delitos em desfavor de
instituições bancárias, solicitando a terceiros a disponibilização de contratos sociais
de empresas para ficarem “milionários”, o que demonstra que sua personalidade e
modo de vida são inteiramente voltados para a prática de crimes, notadamente
delitos de estelionato.

Por fim, ressalte-se que há diversos indícios da prática de


outros delitos de estelionato por GRAZIELA LISBOA MARQUES e FABIANO
TADEU LEFUNDES SAMPAIO que não puderam ser objeto desta denúncia,
porque as provas da materialidade ainda estão sob análise da polícia federal e
não acompanharam o inquérito policial, não havendo que se falar em
arquivamento implícito, mas sim em continuidade das investigações.

Diante do quanto narrado, GRAZIELA LISBOA MARQUES e


FABIANO TADEU LEFUNDES SAMPAIO devem assim responder, em concurso

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material (art. 69, do CP), pela prática dos seguintes delitos:

1) art. 171, §3º, do CP, por duas vezes, pelos delitos de


estelionatos consumados em face da CEF, referente aos contratos firmados
pela pessoa jurídica GRAZIELA MARQUES SAMPAIO ME, CNPJ.:
17.763703/0001-74;

2) art. 297, caput, c/c art. 304, caput, ambos do CP, por uma vez,
em razão de ter usado documento falso de GRAZIELA MARQUES SAMPAIO na
ação revisional nº 11907-95.2014.4.01.3304 ajuizada perante a 2ª Vara Federal
da Subseção Judiciária de Feira de Santana/Ba;

3) art. 297, caput, c/c art. 304, caput, ambos do CP, por duas vezes,
em razão de ter usado documento falso de Carteira de Identidade (consta a
foto de GRAZIELA LISBOA MARQUES) em nome de HILDETE DE OLIVEIRA
SANTOS para abertura de conta no Banco Santander e declaração de imposto
de renda ;
4) art. 297, caput, c/c art. 304, caput, ambos do CP, por três vezes,
em razão de ter usado documento falso de Carteira de Identidade (consta a
foto de FABIANO TADEU LEFUNDES SAMPAIO), em nome de HÉLIO DIAS DA
SILVA, CPF.: 841.032.995-68, para abertura de conta corrente no Banco
Santander, aquisição dum automóvel e constituição da pessoa jurídica de
CNPJ 23.863.776/0001-30;

5) art. 2º, caput e §4º, inciso II, ambos da Lei nº 12.850/13, por
integrar, pessoalmente, organização criminosa destinada a praticar diversos
delitos de estelionato em desfavor de várias instituições financeiras, e a causa
de aumento, em razão do concurso dos funcionários do Banco do Nordeste
para a prática dos delitos de estelionato.

III.5 GRINALSON DE ALENCAR DUTRA, CPF 808.877.245-15 (fls.

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708/714 e 715/716, dos autos do IPL 0732/2017, em apenso).

Há robusto material probatório nos autos quanto à participação de


GRINALSON DE ALENCAR DUTRA na organização criminosa liderada por
JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA e AQUILEADE CARVALHO DOS SANTOS,
notadamente nas interceptações telefônicas constantes nos autos nº 38-
62.2019.4.01.3304 – medida cautelar, em apenso), conforme abaixo descrito:

*6

Citados diálogos registram a grande proximidade entre GRINALSON


DE ALENCAR DUTRA e o gerente de pessoa jurídica do BNB JOSÉ JESUS DA
SILVA, sendo que o ora acusado representava o elo principal entre este e os demais
membros da ORCRIM.

Semelhantemente, obteve-se robusta comprovação do envolvimento


de GRINALSON DE ALENCAR DUTRA na ORCRIM em comento, em razão dos
prints das conversas de Whatsapp realizados pela autoridade policial, após a
apreensão do aparelho de telefone celular a ele pertencente (fls. 2.035/2.052, do vol.
IX, dos autos principais), conforme transcrições dos áudios pela polícia, abaixo em
destaque:

Extrai-se, ainda, do teor dos prints das conversas de Whatsapp


acima descritos, que GRINALSON possui envolvimento em diversas práticas de
estelionato (cuja materialidade ainda não se encontra nos presentes autos), bem
como ostenta padrão de vida bem acima da sua renda de cerca de R$ 1.200,00 (mil
e duzentos reais), auferida como vigilante da Câmara Municipal da cidade de Santa
Bárbara/Ba, possuindo, também, uma frota composta de seis veículos, quais sejam,

6
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uma Mercedes Benz C 180, ano 2012, p.p. OUF 0770; um KIA CERATO, p.p. NYM-
8282, ano 2010, sendo estes registrados em nome de seu genitor, Grevilson
Cardoso Dutra; bem como um Honda Civic, um bugre amarelo, um Chevette
vermelho e uma motoneta Honda Biz (fls. 710/711, vol. III, dos autos do IPL).

Restou, também, evidenciado pelas investigações a estreita ligação


de GRINALSON DE ALENCAR DUTRA com os integrantes da ORCRIM, no que se
refere ao modus operandi da troca de veículos realizada entre seus próprios
membros. No mês de maio de 2019, AQUILEADE CARVALHO DOS SANTOS
passou a utilizar o veículo HYUNDAI, p.p. JSK-0926, que estava com JOYMMIR
COUTINHO DE SOUZA, e FABIANO TADEU LEFUNDES SAMPAIO passou a
utilizar o veículo Mercedes C 180, p.p. OUF – 0777, antes pertencente a
GRINALSON DE ALENCAR DUTRA (fls. 878/879 do vol. IV, dos autos do IPL
0732/2017).

Há nos autos informação de que GRINALSON DE ALENCAR


DUTRA, à semelhança dos outros integrantes da Organização Criminosa em
comento, utiliza a identidade falsa em nome de GRINALSON DUTRA CAMPOS (fls.
710 e 716 do vol. III dos autos principais), a fim de encobrir os delitos por ele
praticados, bem como manter “limpa” a ficha criminal de seu verdadeiro nome, tendo
em vista, por exemplo, ter sido constatada a existência de um processo criminal nº
17-53.2017.805.0219, em que houve o indiciamento daquele com o nome falso
acima citado, que tramitou na Justiça Estadual da Comarca de Santa Bárbara,
arquivado em abril de 2017.

Tais fatos, portanto, reforçam a personalidade voltada para o crime


de GRINALSON DE ALENCAR DUTRA, que ostenta bens e relatos de gastos muito
superiores ao seu padrão de vida enquanto vigilante da Câmara de Vereadores do
município de Santa Bárbara e, por estar a todo tempo, conforme evidenciado pela
interceptação telefônica e pelos prints das telas de seu Whatsapp, arquitetando a
prática de delitos de estelionato em desfavor de instituições bancárias, através da

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participação decisiva do gerente de pessoa jurídica do BNB JOSÉ JESUS DA
SILVA.

Por fim, ressalte-se que há diversos indícios da prática de


delitos de estelionato por GRINALSON DE ALENCAR DUTRA que não puderam
ser objeto desta denúncia, porque as provas da materialidade ainda estão sob
análise da polícia federal e não acompanharam o inquérito policial, não
havendo que se falar em arquivamento implícito, mas sim em continuidade das
investigações.

Diante do quanto narrado, GRINALSON DE ALENCAR DUTRA deve


assim responder pela prática do seguinte delito:

1) art. 2º, caput e §4º, inciso II, da Lei nº 12.850/13, por integrar,
pessoalmente, organização criminosa destinada a praticar diversos delitos de
estelionato em desfavor de várias instituições financeiras, e a causa de
aumento, em razão do concurso de funcionários do Banco do Nordeste do
Brasil para a prática dos delitos de estelionato.

III.6 JOSÉ JESUS DA SILVA, CPF nº 986.924.025-91, Gerente de


Pessoa Jurídica do Banco do Nordeste do Brasil, com última lotação na sede do
BNB, no município de Fortaleza/CE.

Depreende-se do acervo probatório dos autos a participação ativa de


JOSÉ JESUS DA SILVA na organização criminosa liderada por JOYMMIR
COUTINHO DE SOUZA e AQUILEADE CARVALHO DOS SANTOS, notadamente
nas interceptações telefônicas constantes nos autos nº 38-62.2019.4.01.3304 –
medida cautelar, em apenso), já descritas minuciosamente no tópico da
individualização de conduta de GRINALSON DE ALENCAR DUTRA (tópico III.5).

Apenas a título de reforço, verifica-se que, nas interceptações

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telefônicas, restou claro a transferência de valores entre as contas de JOSÉ JESUS
DA SILVA e GRINALSON DE ALENCAR DUTRA, realçando a relação de maior
proximidade entre os dois, em que ultrapassa a mera relação cliente x gerente,
sendo que ambos se chamam de “irmãos”. Ademais, restou evidenciado um diálogo
entre GRINALSON DE ALENCAR DUTRA e FABIANO TADEU LEFUNDES
SAMPAIO em que o primeiro reclama de ter “ficado de fora” de um golpe no valor de
R$ 80.000,00 (oitenta mil reais), dos quais R$ 40.000,00 (quarenta mil reais) teria
sido direcionado a JOSÉ JESUS DA SILVA e o restante dividido com outros
membros da ORCRIM, tais como JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA, AQUILEADE
CARVALHO DOS SANTOS e outros, havendo, menção, ainda, a um outro golpe, no
montante de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais) que estaria sendo orquestrado por
JOSÉ JESUS DA SILVA.

Além destes, a interceptação telefônica também realçou a intensa


orquestração de fraudes pelo gerente JOSÉ JESUS DA SILVA, conforme abaixo
transcrito:

*7

Frise-se, ainda, que no Relatório de Análise de Dados de Whatsapp


(fls. 2.201/2.210, vol. IX, dos presentes autos), a autoridade policial, de forma ainda
preliminar, obteve a extração de vários áudios, aparentemente datados de
25/01/2019, em que JOSÉ JESUS DA SILVA negocia diretamente com JOYMMIR
COUTINHO DE SOUZA acerca da repartição do proveito criminoso oriundo de um
delito de estelionato ainda não identificado que teve a participação de um terceiro
denominado VÁLTER MERCÊS DE CARVALHO JÚNIOR, gerente de operações
bancárias do BNB de Camaçari/Ba.

Em seu depoimento perante a autoridade policial, JOSÉ JESUS DA


SILVA (fls. 1562/1566 do vol. VII dos autos do IPL) admitiu conhecer JOYMMIR

7
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COUTINHO DE SOUZA, AQUILEADE CARVALHO DOS SANTOS e GRINALSON
DE ALENCAR DUTRA. Salientou que intermediou um contrato de financiamento de
“Aquiles” (AQUILEADE CARVALHO DOS SANTOS) na agência do BNB de Catu/Ba
com o gerente geral TIAGO BARBOSA BOAVENTURA, referente a uma loja de gás
automotivo e acessórios, no valor aproximado de R$ 200.000,00 (duzentos mil
reais).

Frise-se que o citado contrato pode ter sido o mencionado na


interceptação telefônica, quando GRINALSON DE ALENCAR DUTRA comenta com
FABIANO TADEU LEFUNDES SAMPAIO acerca de uma nova fraude naquele valor
(tópico III.5), mas cuja comprovação demanda a análise da documentação
apreendida pela autoridade policial.

Por fim, observa-se que ainda há indícios de participação do


gerente JOSÉ JESUS DA SILVA em outros delitos de estelionato e corrupção
passiva que não puderam ser objeto desta denúncia, porque as provas da
materialidade ainda estão sob análise da polícia federal e não acompanharam
o inquérito policial, não havendo que se falar em arquivamento implícito, mas
sim em continuidade das investigações.

Diante do quanto narrado, JOSÉ JESUS DA SILVA deve assim


responder pela prática do seguinte delito:

1) art. 2º, caput e §4º, inciso II, da Lei nº 12.850/13, por integrar,
pessoalmente, organização criminosa destinada a praticar diversos delitos de
estelionato em desfavor de várias instituições financeiras, e a causa de
aumento, em razão do concurso de funcionário do Banco do Nordeste do
Brasil para a prática dos delitos de estelionato.

III.7 MARCOS ROBERTO DOS SANTOS, CPF nº. 733.227.175-34.

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MARCOS ROBERTO DOS SANTOS é estelionatário contumaz e
utiliza documentos de identificação falsos e de empresas de “fachada” para a prática
de delitos de estelionato em desfavor de instituições financeiras. 8
Com efeito, as investigações demonstraram que o modus operandi
da ORCRIM se aperfeiçoou após a operação ALI BABA. Até 2016, a ação do grupo
se caracterizava pela utilização de documentos de pessoas físicas falsos e de
empresas “de fachada” para a realização de empréstimos que não tinham uma
parcela sequer paga. Então, a partir de lista fornecida pelas instituições bancárias
das empresas que tomaram empréstimo e não pagaram a primeira prestação, com
facilidade, se identificava os possíveis estelionatários.

Contudo, a operação ASSEPTICUS desvelou que a ORCRIM


passou a agir da seguinte forma: os estelionatários abrem contas (a) em nome de
pessoas físicas com documentos falsos, (b) em nome de empresas “de fachada” ou
(c) em nome de empresas inicialmente idôneas, mas que tinham o seu faturamento
adulterado para maior. Após a abertura das contas, contraem empréstimos e linhas
de crédito e efetuam o pagamento de parcelas para que o banco passe a liberar
linhas de crédito maiores. Quando o banco libera o que os estelionatários
consideram o valor máximo como linha de crédito, eles a contratam e aí sim, deixam
de efetuar o pagamento.

Adotando esse novo modus operandi, o denunciado MARCOS


ROBERTO DOS SANTOS agiu perante o Banco do Nordeste. Vejamos o seu
depoimento colhido pela autoridade policial quando da sua prisão:

QUE AQUILEADE lhe vendeu a empresa JC

8
De acordo com relatório da Polícia Federal, fls. 636-640 da medida cautelar, MARCOS ROBERTO DOS
SANTOS já foi indiciado por uso de documento falso (art. 304 do Código Penal) em detrimento da Receita
Federal, em Inquérito Policial nº. 1161/2011. Este denunciado também, na cidade de Cruz das Almas/BA,
realizou alteração contratual da empresa COMERCIAL DE CONFECÇÕES COLIM LTDA, utilizando CPF
falso, fazendo-se passar por outra pessoa de nome MARCOS ROBERTO DOS SANTOS Santos Silva. O
referido denunciado também foi processado através da ação penal nº. 24484-15.2017.4.01.3300, 17ª Vara
Federal da Seção Judiciária da Bahia.
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ALIMENTOS por cerca de R$2.000,00, há
aproximadamente dois anos atrás e utilizada para
obter empréstimos junto ao BNB; […] QUE no caso da
JC ALIMENTOS, vem pagando normalmente o
empréstimo, pois o objetivo era ir melhorando o
relacionamento bancário para conseguir créditos
maiores e quando “chegasse no teto” iria parar de
pagar; QUE no passado já utilizou empresas para adquirir
mercadorias junto a grandes fornecedores e, quando
estava com bom crédito, fazia pedidos grandes e deixava
de pagar, revendendo a mercadoria e ficando com o lucro
(fls. 1450-1453 do IPL – Volume VI) [grifos aditados]

Com efeito, a JC ALIMENTOS é o nome fantasia da empresa


MARCOS ROBERTO SANTOS SILVA EIRELI, CNPJ 24.122.841/0001-30, que foi
constituída, pelo escritório do crime, com documentação falsa em nome de
MARCOS ROBERTO SANTOS SILVA, CPF.: 017.848.085-12. (fls. 1101/1102,
1156/1157 e 1191/1200 – Volume V, do IPL)

A empresa MARCOS ROBERTO SANTOS SILVA EIRELI obteve


um empréstimo fraudulento, consoante confessado pelo próprio denunciado em seu
depoimento, na modalidade de Cédula de Crédito Bancário, nº 325.2019.306.520, na
data de 27/01/2016, no valor de R$ 400.000,00 (quatrocentos mil reais), na agência
do Banco do Nordeste em Catu/Ba, em que tudo foi operacionalizado pelo gerente
TIAGO BARBOSA BOAVENTURA, conforme documentação constante às fls. 06/24,
do apenso V, do presente IPL.

O relatório de informação policial de fls. 1236/1238, consistente em


vistoria in loco da suposta sede da referida empresa, deixa indene de dúvidas que
se trata de empresa “de fachada”, armada para aplicar golpes. Dentro do
estabelecimento não havia mercadoria, mas tão somente alguns palletes de madeira

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vazios no chão.

Além de constituir pessoa jurídica inidônea usando nome falso,


consoante se observa às fls. 03/85, do apenso IV do IPL, MARCOS ROBERTO
DOS SANTOS utilizou o documento de identidade falso em nome de MARCOS
ROBERTO SANTOS SILVA para abrir uma conta pessoa física também no Banco
do Nordeste em Catu. Além de abrir a conta, o referido acusado fraudou as
declarações de imposto de renda no referido nome dos exercícios 2017 e 2018 e
teve liberado crédito pessoal no importe de R$ 40.000,00 (quarenta mil reais), em 10
de maio de 2019, sendo tal operação consolidada com a participação decisiva do
gerente TIAGO BARBOSA BOAVENTURA.

MARCOS ROBERTO DOS SANTOS também foi responsável pela


facilitação de empréstimo, por meio do gerente geral do BNB da cidade de Catu/Ba,
TIAGO BARBOSA BOAVENTURA, para a empresa de “fachada” MR CRUZ COM.
DE GÊNEROS ALIMENTÍCIOS EIRELLI, CNPJ.: 40.597.684/0001-75, cujo sócio é
MARCOS RIBEIRO DA CRUZ (documentação em anexo que ora requer juntada,
constante no pen drive de fl. 2.223). Trata-se da cédula de crédito nº
325.2019.327.531, no valor de R$ 300.000,00 (trezentos mil reais), em 21 de agosto
de 2019.

Às fls. 1201/1216 e 1230/1231, foi ouvido MARCOS RIBEIRO DA


CRUZ, o qual afirmou ser proprietário da MR CRUZ e que queria participar de
licitação. MARCOS RIBEIRO DA CRUZ informou que, em conversa com MARCOS
ROBERTO DOS SANTOS, lhe disse que trabalhava com ramo de frangos, mas que
não estava dando certo, que gostaria de mudar para o ramo de alimentos e,
inclusive, já estava com uma empresa em seu nome, a MR CRUZ. Que, então, o
acusado MARCOS ROBERTO DOS SANTOS lhe fez uma proposta de conseguir
capital de giro. Que, então, aquele solicitou seus documentos pessoais e disse que
providenciaria a documentação necessária para dar entrada no Banco do Nordeste
da cidade de Catu, pois conhecia o gerente.

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Que, posteriormente, o gerente TIAGO BARBOSA BOAVENTURA,
também denunciado, apareceu em uma noite e, sem sequer ter descido do carro
(uma S10 azul), aduziu que conseguiria levantar o capital junto ao banco. Que lhe foi
liberado o valor de R$ 280.000,00 (duzentos e oitenta mil reais). Que o dinheiro
entrou em sua conta pessoa jurídica, que o transferiu para sua conta pessoa física e
emitiu um cheque no importe de R$ 40.000,00 (quarenta mil reais) para o acusado
MARCOS ROBERTO DOS SANTOS.
Em nova oitiva (fl. 1.253 dos autos do IPL 0732/2017, em apenso),
MARCOS RIBEIRO DA CRUZ informou que desejava retificar as declarações
anteriores, aduzindo que não recebeu o valor de R$ 280.000,00 (duzentos e oitenta
mil reais). Salientou ter comparecido à agência do BNB da cidade de Catu/Ba para
obter uma cópia de seu contrato de financiamento, tendo sido informado, pela
empregada HELGA, que seu contrato não tinha sido aprovado em razão da
quantidade de meses, mas que seria refeito para um prazo menor. Naquela
oportunidade, assinou outro contrato (cédula de crédito bancário), no valor de R$
300.000,00 (trezentos mil reais), dividido em 32 (trinta e duas parcelas), fls.
1.255/1.270 – vol. V dos autos do IPL 0732/2017.

Por fim, MARCOS RIBEIRO DA CRUZ restou, novamente, inquirido


pela autoridade policial, ocasião em que confirmou ter sacado o montante de R$
270.000,00 (duzentos e setenta mil reais), consumando, assim, a fraude ora
minudenciada (fls. 2.235/2.236 do vol. IX dos autos do IPL).

Nesta oportunidade, reafirmou que a documentação apresentada


para abertura da conta bancária de sua empresa foi elaborada por MARCOS
ROBERTO DOS SANTOS, sendo que sua empresa não vendeu os valores
declarados no documento em relação ao ano de 2018 (declaração de faturamento),
tendo aduzido ter assinado diversos documentos sem ler

Durante citado depoimento, a autoridade policial lhe informou que

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entre os documentos apresentados há uma escritura pública de compra e venda em
que adquire a propriedade “Fazenda Santa Bárbara”, situada em Conceição de
Feira/Ba, do indivíduo EDGARD DA SILVA FILHO, oportunidade em que aduziu ser
este documento inidôneo, uma vez que nunca adquiriu citada propriedade e, apesar
de reconhecer sua assinatura, salientou nunca ter comparecido no Tabelionato do 5ª
Ofício de Notas em Salvador/Ba o que reforça, ainda, mais, a documentação
totalmente forjada que foi providenciada pelo ora acusado.

Ou seja, foi deferido financiamento por TIAGO BARBOSA


BOAVENTURA sem sequer a empresa possuir atividade, faturamento etc.

Registre-se que o vultoso valor do empréstimo somente foi


possível, porque o investigado MARCOS ROBERTO DOS SANTOS providenciou a
falsificação dos faturamentos da MR CRUZ. Embora o sócio MARCOS RIBEIRO DA
CRUZ tenha dito que a empresa não estava em atividade, os faturamentos
fraudulentos dão conta de que a empresa movimentava cerca de R$ 200.000,00
(duzentos mil reais) a R$ 400.000,00 (quatrocentos mil reais) mensalmente,
conforme documentação da empresa MR. CRUZ, anexa, que ora requer juntada
(constante no pen drive de fl. 2.223).

Ressalte-se que MARCOS ROBERTO DOS SANTOS continua


sendo investigado por diversos outros delitos de estelionato envolvendo o Banco do
Nordeste. Com efeito, ele cita, no seu depoimento, várias empresas cujos
empréstimos foram intermediados por ele, possivelmente seguindo o modo ilícito de
agir utilizado para a consecução do empréstimo pela MR CRUZ.

Outrossim, quando do cumprimento dos mandados de busca e


apreensão na sala de TIAGO BARBOSA BOAVENTURA e na agência do Banco do
Nordeste em Catu, consoante relatório de diligência policial de fls. 1489/1491, foi
encontrada uma lista contendo resumos de onze operações bancárias prospectadas
por MARCOS ROBERTO SANTOS SILVA (nome falso do ora acusado).

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Frise-se, por fim, que os delitos acima citados não puderam ser
objeto desta denúncia, porque as provas da materialidade ainda estão sob
análise da polícia federal e não acompanharam o inquérito policial, não
havendo que se falar em arquivamento implícito, mas sim em continuidade das
investigações.

Diante do quanto narrado, MARCOS ROBERTO DOS SANTOS deve


assim responder, em concurso material (art. 69, do CP), pela prática dos
seguintes delitos:

1) art. 171, §3º, do CP, por três vezes, pelos delitos de estelionatos
consumados em face do Banco do Nordeste, referente aos contratos firmados
pela pessoa física MARCOS ROBERTO SANTOS SILVA e pelas pessoas
jurídicas MR CRUZ COM. DE GÊNEROS ALIMENTÍCIOS EIRELLI e MARCOS
ROBERTO SANTOS SILVA EIRELI;

2) art. 297, caput, c/c art. 304, caput, ambos do CP, por uma vez,
em razão de ter usado documento falso, qual seja declaração de imposto de
renda, em nome de MARCOS ROBERTO SANTOS SILVA para abertura de
conta no Banco do Nordeste (fls. 03/10 do apenso IV);

3) art. 2º, caput e §4º, inciso II, ambos da Lei nº 12.850/13, por
integrar, pessoalmente, organização criminosa destinada a praticar diversos
delitos de estelionato em desfavor de várias instituições financeiras, e a causa
de aumento, em razão do concurso do funcionário do Banco do Nordeste para
a prática dos delitos de estelionato.

III.8 TIAGO BARBOSA BOAVENTURA, CPF nº. 976.640.815-72,


Gerente-Geral da agência do Banco do Nordeste do Brasil do município de Catu/Ba.

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Com efeito, a participação ativa de TIAGO BARBOSA
BOAVENTURA nas fraudes operadas por MARCOS ROBERTO DOS SANTOS resta
evidenciada com clareza solar.

MARCOS ROBERTO DOS SANTOS era considerado uma espécie


de consultor de negócios na agência do Banco do Nordeste de Catu/BA, cujo
Gerente-Geral era o presente acusado, e também fazia diversos favores pessoais ao
mesmo, tais como o pagamento de contas, a condução de seu veículo para conserto
e, ainda, o empréstimo do próprio veículo.

As interceptações telefônicas evidenciaram a estreita ligação


existente entre MARCOS ROBERTO DOS SANTOS e o gerente geral do BNB da
cidade de Catu/Ba, TIAGO BARBOSA BOAVENTURA, bem como o fato de que este
último conhecia a natureza voltada para o crime de MARCOS ROBERTO DOS
SANTOS.

Conforme diálogos transcritos na cautelar, volume III, fls. 650 e


seguintes, em 30 de agosto de 2019, um dos gerentes do Banco do Nordeste de
Catu, conhecido como RAY, descobriu, a partir de ligação anônima, que MARCOS
ROBERTO DOS SANTOS possui um passado como estelionatário e encaminhou a
informação direto para a Superintendência do Banco do Nordeste. Os diálogos
mostram que TIAGO BARBOSA BOAVENTURA ficou bastante incomodado com o
fato de RAY ter encaminhado as informações sem lhe ter comunicado previamente,
tentando, a todo custo, defender MARCOS ROBERTO DOS SANTOS perante os
seus colegas do Banco do Nordeste (Relatório da Quarta Interceptação Telefônica,
fls. 605 e ss., dos autos da cautelar, em apenso).

Mesmo após este episódio, TIAGO BARBOSA BOAVENTURA e


MARCOS ROBERTO DOS SANTOS continuaram em constante contato.

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Corroborando com a assertiva de que TIAGO BARBOSA
BOAVENTURA conhecia a natureza voltada para o crime de MARCOS ROBERTO
DOS SANTOS, e mais, era seu parceiro de empreitadas criminosas, se observa, às
fls. 660/666, dos autos da cautelar, um diálogo entre TIAGO BARBOSA
BOAVENTURA e o empresário conhecido como CARLOS PINTO, o qual insiste pela
liberação de contrato de financiamento a um primo estabelecido na cidade de
Capela do Alto Alegre/Ba, sendo que o referido contrato foi intermediado por
MARCOS ROBERTO DOS SANTOS (fls. 632/666 – Volume III da Cautelar).
Sem entrar no mérito do referido contrato (se fraudulento ou não),
o que importa nesse momento é que, no referido diálogo, o Gerente-Geral TIAGO
BARBOSA BOAVENTURA deixa claro que conhecia o histórico de MARCOS
ROBERTO DOS SANTOS e que não estava preocupado com a possibilidade de o
Banco do Nordeste ter prejuízo, deixando claro que a sua única preocupação era
que não poderia liberar financiamento intermediado por MARCOS ROBERTO DOS
SANTOS, naquele momento, uma vez que o passado delituoso deste último havia
sido descoberto por funcionários da agência, razão pela qual teria que aguardar um
pouco para não levantar suspeita.

Outra prova da participação ativa de TIAGO BARBOSA


BOAVENTURA nas fraudes orquestradas pela ORCRIM está em um diálogo
interceptado em 30 de agosto de 2019, em que este manda providenciar dois
documentos para MARCOS ROBERTO DOS SANTOS. No momento da ligação,
TIAGO BARBOSA BOAVENTURA está na cidade de Feira de Santana, o que indica
que os documentos seriam fabricados/montados no citado município. Esta
informação se confirma com outra fala de MARCOS ROBERTO DOS SANTOS, de
que os documentos do amigo JÓ (JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA, também
denunciado) seriam os melhores do Brasil (Autos da Cautelar, Vol. III, p. 642).

A oitiva de RAY ROGENYS FILGUEIRAS SANTOS (fls. 1922/1923


– Volume VIII do IPL) também demonstra o elo entre TIAGO BARBOSA
BOAVENTURA e MARCOS ROBERTO DOS SANTOS para o cometimento de

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práticas delituosas, conforme destacado:

Que TIAGO BARBOSA assumiu a gerência geral da


agência em fevereiro deste ano; QUE algum tempo
depois apareceu na agência a pessoa que se intitulava
MARCOS ROBERTO SANTOS SILVA, o qual abriu conta
pessoa jurídica e pessoa física; QUE sabe dizer que
MARCOS intermediou a abertura de contas de pessoas
jurídicas, sabendo que ele levava a documentação de
empresas, mas não presenciou os sócios dessas
empresas comparecendo à agência junto com MARCOS;
[…] QUE em 28.08.2019, a agência recebeu um
telefonema de um indivíduo que se identificou PAULO, o
qual afirmou que MARCOS ROBERTO seria um
estelionatário e inclusive já teria sido preso […]; QUE
resolveu formalizar os fatos que tinha conhecimento […];
QUE no documento 02, o TIAGO envia e-mail ao
Superintendente, ao declarante e a outros
empregados, onde informa que MARCOS ROBERTO
seria um cliente em potencial e honraria com os
financiamentos obtidos e inclusive apresentou
empresas ao BNB.

RAY ROGENYS FILGUEIRAS SANTOS também asseverou que


não é comum ao Banco do Nordeste oferecer CDC para pessoa física. No entanto,
TIAGO BARBOSA BOAVENTURA foi o responsável por fornecer um empréstimo
pessoal no importe de R$ 40.000,00 (quarenta mil reais a MARCOS ROBERTO
DOS SANTOS, que estava utilizando o nome falso de MARCOS ROBERTO
SANTOS SILVA.

Também foi ouvida a funcionária do Banco do Nordeste HELGA

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GAMELYER SAMPAIO RIBEIRO (fls. 1932/1933 – Volume VIII do IPL). No seu
depoimento, chama a atenção o esclarecimento de que, para a liberação de
empréstimos, seria necessária visita in loco às empresas pleiteantes, para a
verificação de que não se tratavam de empresa “de fachada”. No caso da
agência do Banco do Nordeste em Catu, todas as visitas eram realizadas por
TIAGO BARBOSA BOAVENTURA.

Nessa linha de intelecção, resta demonstrado, com clareza solar,


que TIAGO BARBOSA BOAVENTURA participou decisivamente da consecução
das fraudes relacionadas aos empréstimos fraudulentos concedidos às empresas
MARCOS ROBERTO SANTOS SILVA EIRELI e MR CRUZ COM. DE GÊNEROS
ALIMENTÍCIOS EIRELLI, pois se tratam de empresas “de fachada”, conforme
minudentemente explicitado no tópico que tratou da individualização da
conduta de MARCOS ROBERTO DOS SANTOS (tópico III.7).

Conforme documentação inserta nos autos, a empresa MARCOS


ROBERTO SANTOS SILVA EIRELI, CNPJ 24.122.841/0001-30, que foi constituída
com documentação falsa em nome de MARCOS ROBERTO SANTOS SILVA, CPF.:
017.848.085-12. (fls. 1101/1102, 1156/1157 e 1191/1200 – Volume V do IPL) obteve
um empréstimo fraudulento, na modalidade de Cédula de Crédito Bancário, nº
325.2019.306.520, na data de 27/01/2016, no valor de R$ 400.000,00 (quatrocentos
mil reais), na agência do Banco do Nordeste em Catu/Ba, em que tudo foi
operacionalizado por TIAGO BARBOSA BOAVENTURA, conforme se verifica
de suas assinaturas constantes às fls. 23/27, do apenso V, do presente IPL.

O relatório de informação policial de fls. 1236/1238, consistente em


vistoria in loco da suposta sede da referida empresa, deixa indene de dúvidas que
se trata de empresa “de fachada”, armada para aplicar golpes. Dentro do
estabelecimento não havia mercadoria, mas tão somente alguns palletes de madeira
vazios no chão.

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Ademais, consoante a documentação das fls. 03/85, do apenso IV
do IPL, MARCOS ROBERTO DOS SANTOS utilizou o documento de identidade
falso em nome de MARCOS ROBERTO SANTOS SILVA para abrir uma conta
pessoa física e, com a utilização de declarações de imposto de renda falsificados
dos exercícios de 2017 e 2018, obteve a liberação de crédito pessoal e cheque
especial, junto ao Banco do Nordeste do Brasil, no importe de R$ 40.000,00
(quarenta mil reais), em 10 de maio de 2019, sendo tal operação consolidada
com a participação decisiva do gerente-geral TIAGO BARBOSA BOAVENTURA,
em cujo contrato foi aposta sua assinatura (contrato às fls. 36/37, do apenso IV).

Verifica-se, também, a participação ativa do gerente geral do BNB


da cidade de Catu/Ba, TIAGO BARBOSA BOAVENTURA na consecução do
empréstimo para a empresa de “fachada” MR CRUZ COM. DE GÊNEROS
ALIMENTÍCIOS EIRELLI, CNPJ.: 40.597.684/0001-75, cujo sócio é MARCOS
RIBEIRO DA CRUZ (documentação em anexo que ora requer juntada, constante no
pen drive de fl. 2.223), que foi intermediada pelo acusado MARCOS ROBERTO
DOS SANTOS. Trata-se da cédula de crédito nº 325.2019.327.531, no valor de R$
300.000,00 (trezentos mil reais), em 21 de agosto de 2019.

Às fls. 1201/1216 e 1230/1231, foi ouvido MARCOS RIBEIRO DA


CRUZ, o qual afirmou ser proprietário da MR CRUZ e que queria participar de
licitação. MARCOS RIBEIRO DA CRUZ informou que, em conversa com o
denunciado MARCOS ROBERTO DOS SANTOS, lhe disse que trabalhava com
ramo de frangos, mas que não estava dando certo, que gostaria de mudar para o
ramo de alimentos e, inclusive, já estava com uma empresa em seu nome, a MR
CRUZ. Que, então, MARCOS ROBERTO DOS SANTOS lhe fez uma proposta de
conseguir capital de giro. Que este acusado solicitou seus documentos pessoais e
disse que providenciaria a documentação necessária para dar entrada no Banco do
Nordeste da cidade de Catu, pois conhecia o gerente.

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Que, posteriormente, o gerente TIAGO BARBOSA BOAVENTURA,
também denunciado, apareceu em uma noite, e sem sequer ter descido do carro
(uma S10 azul), aduziu que conseguiria levantar o capital junto ao banco. Que lhe
foi liberado o valor de R$ 280.000,00 (duzentos e oitenta mil reais). Que o dinheiro
entrou em sua conta pessoa jurídica e o declarante o transferiu para sua conta
pessoa física e emitiu um cheque no importe de R$ 40.000,00 (quarenta mil reais)
para o acusado MARCOS ROBERTO DOS SANTOS.

Em nova oitiva (fl. 1.253 dos autos do IPL 0732/2017, em apenso),


MARCOS RIBEIRO DA CRUZ informou que desejava retificar as declarações
anteriores, aduzindo que não recebeu o valor de R$ 280.000,00 (duzentos e oitenta
mil reais). Salientou ter comparecido à agência do BNB da cidade de Catu/Ba para
obter uma cópia de seu contrato de financiamento, tendo sido informado, pela
empregada HELGA, que seu contrato não tinha sido aprovado em razão da
quantidade de meses, mas que seria refeito para um prazo menor. Naquela
oportunidade, assinou outro contrato (cédula de crédito bancário), no valor de R$
300.000,00 (trezentos mil reais), dividido em 32 (trinta e duas parcelas)(fls.
1.255/1.270 – vol. V dos autos do IPL 0732/2017).

Por fim, MARCOS RIBEIRO DA CRUZ restou, novamente, inquirido


pela autoridade policial, ocasião em que confirmou ter sacado o montante de R$
270.000,00 (duzentos e setenta mil reais), consumando, assim, a fraude ora
minudenciada (fls. 2.235/2.236 do vol. IX dos autos do IPL).

Nesta oportunidade, reafirmou que a documentação apresentada


para abertura da conta bancária de sua empresa foi elaborada por MARCOS
ROBERTO DOS SANTOS, sendo que sua empresa não vendeu os valores
declarados no documento em relação ao ano de 2018 (declaração de faturamento),
tendo aduzido ter assinado diversos documentos sem ler

Durante citado depoimento, a autoridade policial lhe informou que

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entre os documentos apresentados há uma escritura pública de compra e venda em
que adquire a propriedade “Fazenda Santa Bárbara”, situada em Conceição de
Feira/Ba, do indivíduo EDGARD DA SILVA FILHO, oportunidade em que aduziu ser
este documento inidôneo, uma vez que nunca adquriiru citada propriedade e, apesar
de reconhecer sua assinatura, salientou nunca ter comparecido no Tabelionato do 5ª
Ofício de Notas em Salvador/Ba o que reforça, ainda, mais, a documentação
totalmente forjada que foi providenciada pelo acusado MARCOS ROBERTO
DOS SANTOS.
Desse modo, evidenciou-se que TIAGO BARBOSA
BOAVENTURA autorizou o financiamento à empresa MR CRUZ sem que esta
sequer possuísse atividade, faturamento etc.

Registre-se que o vultoso valor do empréstimo somente foi possível


porque MARCOS ROBERTO DOS SANTOS providenciou a falsificação dos
faturamentos da MR. CRUZ. Embora o sócio MARCOS RIBEIRO tenha dito que a
empresa não estava em atividade, os faturamentos fraudulentos dão conta de que a
empresa movimentava cerca de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais) a R$ 400.000,00
(quatrocentos mil reais) mensalmente, conforme documentação da empresa MR.
CRUZ, anexa, que ora requer juntada (constante no pen drive de fl. 2.223).

No que concerne ao empréstimo à pessoa física MARCOS


ROBERTO SANTOS SILVA, a participação do gerente geral TIAGO BARBOSA
BOAVENTURA quanto à fraude também se evidencia por todos os elementos que
demonstram o elo entre os dois e mais, corroborado pelo depoimento de RAY
ROGENYS FILGUEIRAS SANTOS, que informa que esta operação é incomum na
agência.

Por fim, ressalte-se que ainda há outros delitos praticados por


TIAGO BARBOSA BOAVENTURA que não puderam ser objeto desta denúncia
porque as provas da materialidade ainda estão sob análise da polícia federal e
não acompanharam o inquérito policial, não havendo que se falar em

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arquivamento implícito, mas sim em continuidade das investigações.

Diante do quanto narrado, TIAGO BARBOSA BOAVENTURA deve


assim responder, em concurso material (art. 69, do CP), pela prática dos
seguintes delitos:

1) art. 171, §3º, do CP, por três vezes, pelos delitos de estelionatos
consumados em face do Banco do Nordeste, referente aos contratos firmados
pela pessoa física MARCOS ROBERTO SANTOS SILVA e pelas pessoas
jurídicas MR CRUZ COM. DE GÊNEROS ALIMENTÍCIOS EIRELLI e MARCOS
ROBERTO SANTOS SILVA EIRELI;

2) art. 2º, caput, da Lei nº 12.850/13, por integrar, pessoalmente,


organização criminosa destinada a praticar diversos delitos de estelionato em
desfavor de várias instituições financeiras.

IV. DOS PEDIDOS

Do exposto, presentes indícios de autoria e comprovada a


materialidade, requer o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL:

a) autuação, registro e recebimento da presente denúncia;

b) citação dos denunciados para responder à acusação no prazo de 10


(dez) dias, ou, não apresentada resposta no prazo legal, que seja nomeado defensor
dativo para oferecê-la, designando, ato contínuo, dia e hora para audiência única de
instrução e julgamento;

c) que sejam requisitadas por esse Juízo junto a Polícia Civil e Federal,
à Justiça Federal e à Justiça Estadual da Bahia as Folhas de Antecedentes e
Certidões Criminais em nome dos denunciados;

d) ao final, a condenação de JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA,

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AQUILEADE CARVALHO DOS SANTOS, FABIANO TADEU LEFUNDES
SAMPAIO, GRAZIELA LISBOA MARQUES, GRINALSON DE ALENCAR DUTRA,
JOSÉ JESUS DA SILVA, MARCOS ROBERTO SANTOS e TIAGO BARBOSA
BOAVENTURA pelas práticas delitivas apontadas ao longo da exordial e
minudenciadas nos tópicos de III.1 a III.8.
Feira de Santana/BA, 27 de dezembro de 2019.
SAMIR CABUS NACHEF JUNIOR
Procurador da República

ROL DE TESTEMUNHAS:

1)*9

[assinatura eletrônica]
SAMIR CABUS NACHEF JUNIOR
Procurador da República

9
As informações foram omitidas para fins de divulgação.
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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA 1ª VARA
DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE FEIRA DE SANTANA – BAHIA.

Autos Judiciais nº. 39-47.2019.4.01.3304


Ref. IPL nº. 0732/2017
Operação ASSEPTICUS

COTA DA DENÚNCIA

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, por seu procurador da


República subscritor, ofereceu denúncia, em separado, contendo 56 laudas, em
relação a JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA, AQUILEADE CARVALHO DOS
SANTOS, FABIANO TADEU LEFUNDES SAMPAIO, GRAZIELA LISBOA
MARQUES, GRINALSON DE ALENCAR DUTRA, JOSÉ JESUS DA SILVA,
MARCOS ROBERTO SANTOS e TIAGO BARBOSA BOAVENTURA, em razão da
prática dos delitos insculpidos nos arts. 171, §3º; 297, caput, c/c art. 304, caput; 297,
caput; 317, caput, e §1º, c/c art. 327, caput; 333, caput, c/c art. 327, caput; todos do
Código Penal e art. 2º, caput, §3º e §4º, inciso II, estes da Lei nº 12.850/13.

I. DA NECESSIDADE DE MANUTENÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA

Nos autos da medida cautelar nº. 38-62.2019.4.01.3304 (autos


apartados), foi decretada a prisão preventiva de todos os ora denunciados, tendo em
vista que o robusto acervo probatório (interceptações telefônicas, documentações
apreendidas, colaborações premiadas) demonstrou que integram uma Organização
Criminosa comandada por JOYMMIR COUTINHO DE SOUZA e AQUILEADE

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CARVALHO DOS SANTOS destinada à prática reiterada de inúmeros delitos
(especialmente o insculpido no art. 171, §3º do Código Penal), notadamente para
obtenção de empréstimos fraudulentos junto à Caixa Econômica Federal, Banco do
Nordeste do Brasil e outras instituições bancárias, sendo que ocorrem há pelo
menos 10 (dez) anos, com grave lesão à ordem pública.

Ressalte-se que, no período imediatamente anterior às suas prisões,


restou evidenciado, pelas interceptações telefônicas, que os ora denunciados
estavam promovendo a divisão dos lucros obtidos com proveito criminoso
recentemente adquirido, bem como orquestrando a prática de inúmeros delitos
semelhantes, o que demonstra o funcionamento da ORCRIM a pleno vapor.

Verifica-se, assim, a necessidade imperiosa da manutenção de suas


prisões preventivas, notadamente para garantia da ordem pública, a fim de coibir a
prática de novos delitos de natureza semelhante; e conveniência da instrução
criminal, a fim de evitar a destruição e ocultação de provas ainda não colhidas, bem
como a coação e ameaça de testemunhas, tendo em vista a recente deflagração da
presente operação.

Diante disso, o MPF pugna pela manutenção da prisão


preventiva dos ora denunciados, reiterando todos os fundamentos aduzidos no
pedido de prisão preventiva acostado aos autos da medida cautelar nº. 38-
62.2019.4.01.3304 (autos apartados).

II. DA REITERAÇÃO DO PEDIDO DE AFASTAMENTO DO SIGILO TELEFÔNICO


E TELEMÁTICO (TÓPICO XII, PEDIDOS 7 e 8)

Da análise da decisão deste MM. Juízo que decretou a prisão


preventiva e outras medidas em relação aos ora denunciados, no bojo dos autos
da medida cautelar nº. 38-62.2019.4.01.3304 (autos apartados), verifica-se que,
por lapso, deixou de ser apreciado os pedidos finais 7 e 8, referentes à
fundamentação do tópico XII, abaixo transcritos na íntegra:

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XII- DAS QUEBRAS DE SIGILO TELEFÔNICO, TELEMÁTICO E
INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA

Nas representações de fls. 581/583, 584/588 e 599/604, a


autoridade policial requereu o afastamento dos sigilos telefônicos,
telemáticos e continuidade das interceptações telefônicas já
deferidas nos presentes autos.

Com efeito, verifica-se que os pedidos formulados pela


autoridade policial já se encontram acobertados pelos
fundamentos jurídicos referidos no pronunciamento ministerial de
fls. 20/28 e demais manifestações acostadas aos presentes
autos, bem como na decisão de fls. 31/39 e as demais exaradas
pelo MM. Juízo nestes autos.

Da análise dos relatórios circunstanciados de interceptação


telefônica constantes nos presentes autos, conforme narrado em
tópico anterior da presente manifestação, verifica-se que os
integrantes da ORCRIM continuam orquestrando a perpetração
de novos delitos de natureza semelhante em desfavor de
instituições bancárias.

Assim, em persistindo a mesma situação fática sob


investigação que estão acobertadas pelos fundamentos jurídicos
referidos no pronunciamento ministerial de fls. 20/28 e na decisão
de quebra do sigilo telefônico e telemático já deferida às fls. 31/39
e nas demais constantes nestes autos, e, dada a
imprescindibilidade da medida pleiteada para a continuidade das
investigações, o Ministério Público Federal pugna:

(...)

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- pelo deferimento do pedido de afastamento de sigilo
telefônico nos dispositivos móveis mencionados, e na forma
requerida, pela autoridade policial às fls. 581/583;

- pelo deferimento do pedido de afastamento de sigilo


telemático em sistemas de informática e telemática nos
endereços de e-mail mencionados, e na forma requerida, pela
autoridade policial às fls. 584/588.

(…)

XIX- DOS PEDIDOS

(...)

7. o deferimento do pedido de afastamento de sigilo telefônico


nos dispositivos móveis mencionados, e na forma requerida, pela
autoridade policial às fls. 581/583;

8. o deferimento do pedido de afastamento de sigilo telemático


em sistemas de informática e telemática nos endereços de e-mail
mencionados, e na forma requerida, pela autoridade policial às
fls. 584/588;

Diante disso, o MPF pugna pela apreciação dos pedidos acima


transcritos.

III. DO DESMEMBRAMENTO DOS PRESENTES AUTOS

Conforme já citado no corpo da denúncia, esta se restringe aos réus


presos na Operação Assepticus, deflagrada no dia 04/12/2019, e não contempla
todos os fatos delituosos por eles praticados, não havendo que se falar em
arquivamento implícito, mas sim em continuidade das investigações.

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A presente investigação evidenciou diversos indícios e provas da
prática de inúmeros delitos por parte dos ora denunciados presos, bem como dos
demais integrantes da organização criminosa que ainda não foram abarcados pela
presente denúncia, tendo em vista que a maior parte da materialidade delitiva
recolhida em razão do cumprimento dos mandados de busca e apreensão
(contratos, documentos e aparelhos de telefones celulares) encontra-se sob análise
da Polícia Federal e, tão logo seja encaminhada ao Parquet, dará ensejo à
propositura de nova denúncia em relação aos ora denunciados, bem como aos
demais integrantes da presente organização criminosa.

Diante disso, em face da exiguidade do prazo para o oferecimento


da denúncia quanto aos réus presos, o MPF pugna pelo desmembramento dos
presentes autos, devolvendo os autos físicos do presente inquérito policial à
autoridade policial, a fim de seja dada continuidade às investigações.

Feira de Santana, 27 de dezembro de 2019.

[assinatura eletrônica]
SAMIR CABUS NACHEF JUNIOR
Procurador da República

E:\Trabalho externo\IPL 0732-2017_Denúncia_Operação Assepticus_Versão Final.doc

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