biomas
e formações veGetais do brasil
Mapas: Allmaps/Arquivo da editora
O Brasil possui um território 55º O
Brasil: vegetação nativa
com cerca de 8,5 milhões de quilô-
RR
metros quadrados ocupando quase AP
Equador
metade do continente sul-america- 0º
no. Como vimos no capítulo 8, nos-
so país possui vários tipos climáti- AM PA
cos. Essa diversificação contribui MA
CE
RN
para a formação de diferentes bio- PI PB
mas: Floresta Tropical Úmida (Flo- PE
AC
AL
resta Amazônica e Mata Atlântica), RO TO
SE
Floresta Subtropical, Cerrado, Caa- MT BA
tinga e Campos, além do Pantanal.
DF
No capítulo 6 estudamos que o Bra-
Formações florestais
sil também possui um extenso mar GO
Florestas Amazônicas
MG
territorial e zona econômica exclu- Matas Atlânticas
MS ES
siva de 200 milhas marítimas. Com Mata dos Cocais OCEANO
Mata dos Pinhais (araucária) ATLÂNTICO
cerca de 3,5 milhões de km2, o país Formações arbustivas e herbáceas
SP
RJ
Trópico de
C apricórni
tem soberania sobre essa área, que Cerrado PR
o
juntamente com o litoral apresenta Caatinga
Campos SC
grande variedade de ecossistemas,
Formações complexas e litorâneas
como os recifes de corais, as restin- Vegetação do Pantanal
(cerrados, campos inundáveis) RS
gas, os manguezais, as lagoas, os Vegetação litorânea 0 400
(mangues, restingas, jundus)
estuários e as dunas. O mapa ao km
lado mostra a distribuição original Adaptado de: GIRARD, Gisele; ROSA, Jussara Vaz. Atlas geográfico do estudante. São Paulo: FTD, 2011. p. 26.
da vegetação no território brasileiro.
Essa variedade de biomas rela- Brasil: retração da vegetação nativa 1980-2000
ciona-se à grande diversidade da fau-
na e da flora brasileiras, das quais Equador
0º
muitas espécies são nativas do Brasil.
É o caso da jabuticaba, do amendoim,
do abacaxi e da castanha-do-pará.
Isso acontece porque aqui encontra-
mos a maior biodiversidade do mun-
do: estimativas apontam que cerca
de 20% do total de espécies endêmi-
cas do planeta estão em nosso terri-
tório. Essa variedade já sofreu gran-
des impactos negativos nos últimos
séculos, como se pode constatar no
mapa ao lado.
OCEANO
ATLÂNTICO
Florestas Trópico de C
ap ricórnio
Cerrado
Caatinga
Campinarana (Campos)
desde o início da colonização, o desenvol-
p
Campos
vimento das atividades econômicas e a
Áreas pioneiras
consequente ocupação do território vêm 0 400
Área antropizada
provocando desmatamento e outras 55º O km
agressões à vegetação nativa.
Adaptado de: IBGE. Atlas geográfico escolar. 5. ed. Rio de Janeiro, 2009. p. 102.
biomas e formações veGetais: classificação e sitUação atUal 205
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as características das formações vegetais Brasileiras
As principais formações vegetais no território Devido ao predomínio das planícies e dos planaltos
brasileiro são: de baixa altitude, a topografia não provoca modifica-
• Floresta Amazônica (floresta pluvial equatorial): é ções profundas na fisionomia da floresta, que apre-
a maior floresta tropical do mundo, totalizando cer- senta três estratos de vegetação:
ca de 40% das florestas pluviais tropicais do planeta. – caaigapó (‘mata molhada’, em tupi-guarani) ou
No Brasil ela se estende por 3,7 milhões de km2 e 10% igapó: desenvolve-se ao longo dos rios, numa
dessa área constituem unidades de conservação, área permanentemente alagada. Em compara-
que estudaremos a seguir. Cerca de 15% da vegeta- ção com os outros estratos da floresta é a que
ção da Floresta Amazônica foi desmatada, sobretu- possui menor quantidade de espécies e é consti-
do a partir da década de 1970 com a construção de tuída por árvores de menor porte, incluindo pal-
rodovias e a instalação de atividades mineradoras, meiras, e plantas aquáticas, destacando-se a vi-
garimpeiras, agrícolas e de exploração madeireira. tória-régia;
Edson Grandisoli/Pulsar Imagens
p vitória-régia em manaus (am), em 2012.
– várzea: área sujeita a inundações
Rogério Reis/Pulsar Imagens
periódicas, com a vegetação de
médio porte raramente ultrapas-
sando os 20 m de altura, como o
pau-mulato e a seringueira. Como
se situa entre as matas de igapó e
de terra firme, possui característi-
cas de ambas;
– caaetê (‘mata seca’, em tupi-guara-
ni) ou terra firme: área que nunca
inunda, na qual se encontra vege-
tação de grande porte, com árvo-
res chegando aos 60 metros de al-
tura, como a castanheira-do-pará e
o cedro. O entrelaçamento das co-
pas das árvores forma um dossel
que dificulta a penetração da luz,
originando um ambiente sombrio
e úmido no interior da floresta. p vista aérea da floresta amazônica e do rio araguari (aP), em 2012.
206 GeoGrafia física e meio ambiente
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• Mata Atlântica (f loresta plu-
Armando Catunda/Pulsar Imagens
vial tropical): originalmente co-
bria uma área de 1 milhão de
km2, estendendo-se ao longo do
litoral desde o Rio Grande do
Norte até o Rio Grande do Sul e
alargando-se significativamente
para o interior em Minas Gerais
e São Paulo. É um dos biomas
mais importantes para a preser-
vação da biodiversidade brasi-
leira e mundial, mas é também
o mais ameaçado. Restam ape-
nas 7% da área original da Mata
Atlântica. Desses 7% remanes-
centes, quatro quintos estão lo-
calizados em propriedades pri-
vadas. As unidades de conser-
vação abrangendo esse bioma
constituem apenas 2% da Mata
Atlântica original, que foi o ha-
bitat do pau-brasil, hoje quase
extinto.
p interior da mata atlântica em são sebastião (sP), em 2011.
• Mata de Araucárias ou Mata
Gerson Gerloff/Pulsar Imagens
dos Pinhais (f loresta pluvial
subtropical): nativa do Brasil, é
uma floresta na qual predomina
a araucária (Araucaria angusti-
folia), também conhecida como
pinheiro-do-paraná ou pinheiro
brasileiro, espécie adaptada a
climas de temperaturas mode-
radas a baixas no inverno, solos
férteis e índice pluviométrico
superior a 1 000 mm anuais. Ori-
ginariamente, essa floresta do-
minava vastas extensões dos
planaltos da região Sul e pontos
altos da serra da Mantiqueira
nos estados de São Paulo, Rio de
Janeiro e Minas Gerais. Nesse
bioma é comum a ocorrência de
erva-mate, além de grande va-
riedade de espécies valorizadas
pela indústria madeireira, como
os ipês. Foi desmatada, sobretu-
do com a retirada de madeira
p araucária em bom retiro (sc), em 2012. para a fabricação de móveis.
biomas e formações veGetais: classificação e sitUação atUal 207
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• Mata dos Cocais: esta forma-
Ricardo Teles/Pulsar Images
ção vegetal se localiza no estado
do Maranhão, encravada entre a
Floresta Amazônica, o Cerrado
e a Caatinga, caracterizando-se
como mata de transição entre
formações bastante distintas. É
constituída por palmeiras, com
grande predominância do baba-
çu e ocorrência esporádica de
carnaúba; desde o período colo-
nial, a região é explorada econo-
micamente pelo extrativismo
de óleo de babaçu e cera de car-
naúba. Atualmente, porém, vem
sendo desmatada pelo cultivo
de grãos para exportação, com
destaque para a soja.
p carnaúbas e vegetação de cerrado em Guadalupe (Pi), em 2011.
• Caatinga: vegetação xerófila,
Delfim Martins/Pulsar Imagens
adaptada ao clima semiárido,
na qual predominam arbustos
caducifólios e espinhosos; ocor-
rem também cactáceas, como o
xique-xique e o mandacaru, co-
muns no Sertão nordestino. A
palavra caatinga significa, em
tupi-guarani, ‘mata branca’, cor
predominante da vegetação du-
rante a estação seca. No verão,
em razão da ocorrência de chu-
vas, brotam folhas verdes e flo-
res. Sua área original era de
740 mil km2. Atualmente 50%
de sua área foi devastada e me-
nos de 1% está protegida em
unidades de conservação.
∏ caatinga em salgueiro (Pe), em 2012.
essa foto foi tirada no período de seca,
quando a vegetação está sem folhagem.
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• Cerrado: originalmente cobria cerca de 2 milhões vas abundantes no verão e inverno seco, desenvol-
de km2 do território brasileiro, mas cerca de 40% de vendo-se, sobretudo, no Centro-Oeste brasileiro.
sua área foi desmatada. É constituído por vegetação Esse bioma também ocupa porções significativas do
caducifólia (ou estacional), predominantemente ar- estado de Roraima. Nas regiões Sudeste e Nordeste
bustiva, de raízes profundas, galhos retorcidos e cas- do país aparecem em manchas isoladas, cercadas
ca grossa (que dificulta a perda de água). Duas das por outro tipo de vegetação. Em regiões mais úmi-
espécies mais conhecidas são o pequizeiro e o buriti. das, como nas baixadas próximas aos grandes rios,
A vegetação próxima ao solo é composta por gramí- nas proximidades do Pantanal e outras, esta forma-
neas, que secam no período de estiagem. É uma for- ção se torna mais densa e com árvores maiores, ca-
mação adaptada ao clima tropical típico, com chu- racterizando o chamado “cerradão”.
Haroldo Palo Jr./kino.com.br
∏ cerrado em brasília (df),
em 2012.
João Prudente/Pulsar Imagens
Podemos encontrar pequenas forma-
ções florestais em meio a outros tipos de
vegetação, tais como:
• Mata de galeria ou mata ciliar:
tipo de formação vegetal que acom-
panha o curso de rios do cerrado,
onde é muito frequente, e da caatin-
ga. Nas áreas próximas às margens
dos rios perenes, o solo é perma-
nentemente úmido, criando condi-
ções para o desenvolvimento dessa
mata, mais densa do que o bioma
onde está encravada.
• Capão: em localidades que corres-
pondem a pequenas depressões,
com baixos índices de chuvas, o ní-
vel hidrostático (ou lençol freático,
que estudamos no capítulo 10) aflo-
ra ou chega muito próximo à super- p mata ciliar (ou mata galeria) no rio atibaia, em campinas (sP), em 2012.
fície. Aí se desenvolvem os capões, esta formação é muito importante para a conservação dos rios. Quando
chove, a mata funciona como um verdadeiro filtro da água que escoa pela
formações arbóreas geralmente ar- superfície, uma vez que provoca a sedimentação do material em suspen-
redondadas em meio à vegetação são. Quando a mata é retirada, a sedimentação ocorre no leito dos rios,
mais rala ou rasteira. provocando assoreamento e outros problemas ambientais.
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• Pantanal: estende-se, em terri-
Ernesto Reghran/Pulsar Imagens
tório brasileiro, por 140 mil km2
dos estados de Mato Grosso do
Sul e Mato Grosso, em planícies
sujeitas a inundações. No Pan-
tanal há vegetação rasteira, flo-
resta tropical e mesmo vegeta-
ção típica do cerrado nas re-
giões de maior altitude. O Pan-
tanal, portanto, não é uma for-
mação vegetal, mas um comple-
xo que agrupa várias formações
e que também abriga fauna
muito rica. Esse bioma vem so-
frendo diversos problemas am-
bientais, decorrentes principal-
mente da ocupação em regiões
mais altas, onde nasce a maioria
dos rios. A agricultura e a pe-
cuária provocam erosão dos so-
los, assoreamento e contamina-
ção dos rios por agrotóxicos.
p vista aérea do Pantanal em corumbá (ms), em 2010.
• Campos naturais: formações
Haroldo Palo Jr./kino.com.br
rasteiras ou herbáceas constituí-
das por gramíneas que atingem
até 60 cm de altura. Sua origem
pode estar associada a solos rasos
ou temperaturas baixas em re-
giões de altitudes elevadas, áreas
sujeitas a inundação periódica ou
ainda a solos arenosos. Os cam-
pos mais expressivos do Brasil lo-
calizam-se no Rio Grande do Sul,
na chamada Campanha Gaúcha
– apropriados inicialmente como
pastagem natural, atualmente
são amplamente cultivados tanto
para alimentar o gado quanto
para produção agrícola mecani-
zada. Destacam-se, ainda, os
campos inundáveis da ilha de
Marajó (PA) e do Pantanal (MT e
MS), utilizados respectivamente
para criação de gado bubalino e
bovino, além de manchas isola-
das na Amazônia, com destaque
ao estado de Roraima, e nas re-
p Pampas em vacaria (rs), em 2010. giões serranas do Sudeste.
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• Vegetação litorânea: são consideradas formações número de espécies de peixes, moluscos e crustá-
vegetais litorâneas a restinga e os manguezais. A ceos. Desenvolvem-se nos estuários e a vegetação
restinga se desenvolve no cordão arenoso formado – arbustiva e arbórea – é halófila (adaptada ao sal
junto à costa, com predominância de vegetação da água do mar), podendo apresentar raízes que,
rasteira, chamada de pioneira por possibilitar a fi- durante a maré baixa, ficam expostas. As principais
xação do solo e permitir a ocupação posterior por ameaças à preservação dessas formações vegetais
arbustos e algumas árvores, como chapéu-de-sol, são o avanço da urbanização, a pesca predatória, a
coqueiro e goiabeira. Os manguezais são nichos poluição dos estuários e o turismo desordenado,
ecológicos responsáveis pela reprodução de grande incentivando a instalação de aterros.
Edson Grandisoli/Pulsar Imagens
p mangue no período de maré baixa em itacaré (ba), em 2012.
os domínios morfoclimáticos
Allmaps/Arquivo da editora
Brasil: domínios morfoclimáticos
Em 1965, o geógrafo Aziz Ab’Sá- OCEANO
ATLÂNTICO
ber (1924-2012) estabeleceu uma clas-
Equador
sificação dos domínios morfoclimáti- 0º
cos brasileiros, na qual cada domínio
corresponde a uma diferente asso-
ciação das condições de relevo, clima
e vegetação. Trata-se de uma síntese
do que foi estudado isoladamente nos
capítulos anteriores. Assim, por exem-
plo, o domínio equatorial amazônico
é formado por terras baixas (relevo),
florestadas (vegetação) e equatoriais
(clima). Observe o mapa.
rnio
Trópico de Capricó
compare este mapa com o da vegetação
p
nativa do brasil, na página 205. você perce-
berá que há uma relativa coincidência
entre formações vegetais e domínios mor- 0 560 1120
foclimáticos. isso ocorre porque a vegeta-
km 55º O
ção é a face mais visível dos domínios.
Adaptado de: AB’SÁBER, Aziz. Os domínios de natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003. [s.n.].
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