Algebra Linear
Algebra Linear
Álgebra linear
2012
Álgebra Linear
Universidade Federal de Uberlândia
Universidade Aberta do Brasil
Centro de Educação a Distância
Álgebra linear
Faculdade de Matemática
Álgebra Linear
PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Dilma Vana Rousseff
MINISTRO DA EDUCAÇÃO
Aloizio Mercadante
VICE-REITOR
Eduardo Nunes Guimarães
SUPLENTE UAB/UFU
José Benedito de Almeida Júnior
COORDENADORA
Fabiana Fiorezi de Marco Matos
PROFESSOR
Guilherme Chaud Tizziotti
EQUIPE DO CENTRO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA DA UFU - CEaD/UFU
ASSESSORA DA DIRETORIA
Sarah Mendonça de Araújo
EQUIPE MULTIDISCIPLINAR
Alberto Dumont Alves Oliveira
Gustavo Bruno do Vale
João Victor da Silva Alves
Otaviano Ferreira Guimarães
REVISORA
Paula Godoi Arbex
ESTAGIÁRIOS
Antonio Mourão
Bruno Madureira
Cristhian Zanforlin Lousa
Daniel Kenji Nishiyama
Gustavo Lemes Mendonça
Gustavo Piccolo
Heldson Luiz da Silva
Janaína Batista do Nascimento
Julian Degutis de Freitas Garcia
Maíla Moura Suriani
Marcos Andrade Oliveira Júnior
Matheus Lacerda Domingos Medeiros
Rodrigo Junqueira Buzzi
Thiago Pereira Freitas
Sumário
Sobre o curso 11
Módulo 1 - Matrizes e Sistemas Lineares 15
Adição de Matrizes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
Produto de Matrizes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
Matrizes Transposta, Simétrica e Ortogonal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
Escalonamento de Matrizes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
Inversão de Matrizes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
Sistemas Lineares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
Sistemas Lineares e suas Matrizes Ampliadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
Módulo 2 - Espaços Vetoriais 65
Espaços e subespaços vetoriais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
Combinação Linear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
Subespaço vetorial gerado por um conjunto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
Dependência e Independência Linear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
Base e Dimensão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
Coordenadas e matriz mudança de base . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98
Módulo 3 - Transformações Lineares 101
Transformação Linear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102
Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
Núcleo e Imagem de uma Transformação Linear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109
Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117
Representação Matricial de uma Transformação Linear . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120
Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 128
Operadores Lineares do Plano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 134
Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 139
Módulo 4 - Espaços com produto interno 141
Produto Interno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 142
Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145
Ortogonalidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 147
Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151
9
10 Álgebra Linear
Sobre o curso
• Matrizes;
• Sistemas lineares;
• Espaços vetoriais;
• Transformações lineares;
12 Álgebra Linear
Anotações
Álgebra Linear 13
14 Álgebra Linear
Módulo 1
Matrizes e Sistemas
Lineares
⊲ Matriz;
⊲ Matriz quadrada;
⊲ Matriz inversa;
O leitor interessado em aperfeiçoar e ampliar seus conhecimentos nos assuntos tratados neste
módulo encontrará o suporte necessário nos seguintes textos: [1, 2, 6].
Álgebra Linear 15
Adição de Matrizes
Ao final desta seção você deverá ser capaz de:
Nesta primeira seção, veremos como representar uma matriz e como são definidas certas
matrizes especiais.
Quando falamos em matrizes, o que lhe vem à mente? Certamente a resposta é um quadro, ou
tabela, formados por números. Bem, a definição de matriz passa por isso mesmo, como veremos
na definição a seguir.
Definição 1 (Matriz ). Chamamos de matriz de ordem m por n um quadro com m linhas e n colunas
cujos elementos, que podem ser números, funções, etc., estão dispostos em m linhas e n colunas,
como abaixo
a a12 a13 . . . a1n
11
a21 a22 a23 . . . a2n
a31 a32 a33 . . . a3n .
.. .. .. .. ..
. . . . .
am1 am2 am3 . . . amn
Em geral, denotamos uma matriz por uma letra maiúscula, por exemplo A, M ou I . E escrevemos
“A é uma matriz m × n", para dizer que A tem ordem m por n, lembrando que m denota o número
de linhas e n o número de colunas da matriz. Para efeito de simplificação, usa-se também a
notação A(m,n) ou Am×n , para dizer que A é uma matriz de ordem m por n.
Outra notação importante é a representação dos elementos de uma matriz, que também são
chamados de entradas. Se A é uma matriz m × n, denotam-se os elementos, ou entradas, de A
por aij , onde o primeiro índice, i, indica a linha, e o segundo índice, j , a coluna a que o elemento
aij pertence. Usando esta notação, pode-se representar uma matriz por A = (aij ), ou ainda,
A = [aij ], onde i varia de 1 a m (isto é, i = 1, 2, . . . , m), e j varia de 1 a n (isto é, j = 1, 2, . . . , n).
De agora em diante, representaremos uma matriz B por (bij ), uma X por (xij ) e assim por diante.
Denota-se o conjunto das matrizes Am×n com entradas reais por Mm×n (R). Já o conjunto das
matrizes Am×n cujas entradas são números inteiros, é denotado por Mm×n (Z), etc.
16 Álgebra Linear
Neste material, em geral, vamos trabalhar com matrizes em Mm×n (R).
Matriz quadrada: É uma matriz na qual o número de linhas é igual ao número de colunas, ou
seja, é uma matriz de ordem n por n.
1 0 1
A matriz 9 2 −2 é uma matriz quadrada.
4 3 7
Álgebra Linear 17
Duas definições importantes no estudo de matrizes relacionada a matrizes quadradas são as
seguintes.
Definição 2. Seja A = (aij ) uma matriz quadrada de ordem n. Os elementos aij , com i = j , ou
seja, a11 , a22 , . . . , ann , são chamados de elementos principais e constituem a diagonal principal
da matriz A.
−1 8 3 0
4 3 2 1
Por exemplo, a diagonal principal da matriz é formada por 1, 3, 0 e −7.
7 2 0 −4
0 2 1 −7
Definição 3. Seja A = (aij ) uma matriz quadrada de ordem n. O traço de A, denotado por tr(A),
é a soma dos elementos da diagonal principal de A, ou seja,
n
X
tr(A) = aii .
i=1
−1 8 0
Por exemplo, o traço da matriz 4 3 2 é dado por: tr(A) = −1 + 3 + 1 = 3.
0 2 1
Matriz diagonal: Uma matriz quadrada A = (aij ), de ordem n, é chamada de matriz diagonal se
os elementos aij são iguais a zero se i 6= j .
1 0 0
A matriz 0 5 0 é um exemplo de matriz diagonal.
0 0 −1
Matriz triangular: Uma matriz quadrada A = (aij ), de ordem n, é chamada de matriz triangular
superior se os elementos aij são iguais a zero se i > j . No caso em que os elementos aij são
iguais a zero se j > i, dizemos que a matriz quadrada A = (aij ) é uma matriz triangular inferior.
18 Álgebra Linear
1 0 0 0
6 1 3
7 0 0 0
A matriz A = 0 −2 7 é triangular superior. Já a matriz B = é triangular
9 2 −3 0
0 0 8
10 0 8 2
inferior.
Matriz nula: Uma matriz A = (aij ) é chamada de matriz nula se todos os seus elementos aij são
iguais a zero. Em geral, denota-se uma matriz nula simplesmente por 0.
0 0
Um exemplo de matriz nula é a matriz .
0 0
Além das matrizes que definimos até o momento, uma em particular é muito importante tanto
no estudo de matrizes quanto para todo o decorrer deste curso. A matriz a que estamos nos
referindo é a matriz identidade que é definida da seguinte maneira.
Matriz identidade: Uma matriz diagonal que possui todos os elementos de sua diagonal iguais
a 1 é chamada de matriz identidade. Se esta matriz tem ordem n a denotamos In . Ainda pode-se
denotá-la por Id , ou simplesmente por I .
1 0 0 0
1 0 0 1 0 0
Exemplos de matrizes identidade são I2 = e I4 =
.
0 1 0 0 1 0
0 0 0 1
TOME NOTA. Note que, para uma matriz ser uma matriz identidade ela antes tem que ser
uma matriz diagonal, que por sua vez tem que ser uma matriz quadrada. Portanto, uma
matriz identidade é antes de tudo uma matriz quadrada!
Uma observação importante que não pode ser deixada de lado é a seguinte.
Álgebra Linear 19
Observação. Duas matrizes A = (aij ) e B = (bij ), ambas de ordem m por n, são iguais
se aij = bij , para quaisquer i e j.
7 2 0 −3 7 2 0 −3
Por exemplo, as matrizes A = e B = são iguais, isto é,
1 8 3 1 1 8 3 1
7 2 0 −3 7 2 0 −3
= .
1 8 3 1 1 8 3 1
É perfeitamente possível definirmos operações que envolvam matrizes. Nesta seção, vamos
definir a adição, e como consequência a subtração, de matrizes. Na próxima seção veremos
como definir o produto de uma matriz por um escalar e o produto de duas matrizes.
TOME NOTA. Note que a adição e a subtração de duas matrizes só podem ser feitas se
ambas as matrizes possuem a mesma ordem.
Exemplo
1.
0 2 −2 1 0 + (−2) 2+1 −2 3
1 −1 1 1 1+1 −1 + 1 2 0
+ = =
3 0 −1 2 3 + (−1) 0+2 2 2
−5 7 3 −4 −5 + 3 7 + (−4) −2 3
20 Álgebra Linear
Exemplo
2.
1 −1 0 2 0 4 1−2 −1 − 0 0 − 4 −1 −1 −4
− = =
3 6 2 −5 3 1 3 − (−5) 6−3 2−1 8 3 1
Utilizando as definições de adição a subtração de matrizes não é difícil mostrar a veracidade das
quatro propriedades acima. Deixaremos a cargo do leitor, como exercício, comprovar que tais
propriedades são realmente válidas.
Seguindo os exemplos feitos nesta seção, faça os exercícios a seguir para uma melhor fixação
do conteúdo estudado.
EXERCÍCIOS
2 a−1 2 3
1. Dadas as matrizes A = eB= , encontre a e b de modo que
2
−1 b + 1 −1 10
as matrizes A e B sejam iguais.
3 8
x + 1 y3
2. Será que existem x e y de modo que as matrizes M = eN = 1 0
1 0
1 1
sejam iguais? Justifique.
3. Dadas as matrizes A = 2 −1 , B = 0 1 e C = −2 0 , calcule A + B , A + (B −
C) e B − (C − A).
Álgebra Linear 21
0 3
2 −1
4. Faça o mesmo que no exercício anterior para os casos em que A =
,
−1 5
1 10
−1 −2 1 6
0 1 0 0
B=
eC=
.
1 7 −1 2
−3 4 8 5
22 Álgebra Linear
Produto de Matrizes
Ao final desta seção você deverá ser capaz de:
Começaremos esta seção definindo o produto de uma matriz A por um número real α. Na
linguagem de matrizes, como na de vetores que veremos mais à frente, o número real α será
chamado de escalar.
Produto de uma matriz por um escalar: Sejam α um escalar e A = (aij ) uma matriz m × n. O
produto de A por α é uma matriz B = (bij ) também m × n tal que bij = αaij para quaisquer i e j .
Costuma-se denotar por αA = (αaij ) a matriz que é o produto do escalar α pela matriz A.
Por exemplo,
2 −1 0 3 4.2 4.(−1) 4.0 4.3 8 −4 0 12
4. = =
1 0 −2 1 4.1 4.0 4.(−2) 4.1 4 0 −8 4
1) (αβ)A = α(βA)
2) (α + β)A = αA + βA
3) α(A + B) = αA + βB
4) 1.A = A
Vamos mostrar somente a segunda propriedade. As demais podem ser mostradas de forma
análoga e serão deixadas como exercício para o leitor.
Vejamos que dados dois escalares α e β , e uma matriz A = (aij ), de ordem m × n, quaisquer,
então (α + β)A = αA + βA.
De fato, (α + β)A é, por definição, uma matriz B = (bij ), onde bij = (α + β)aij .
Álgebra Linear 23
Agora, (α + β)aij = αaij + βaij . Assim, bij = αaij + βaij . Sendo αA = (αaij ) e βA = (βaij ),
então, por definição de soma de matrizes, segue que B = αA+βA. Portanto, (α+β)A = αA+βA.
Dadas duas matrizes A e B será que sempre é possível fazer o produto de A por B ? Será que o
produto de A por B é igual ao produto de B por A? A partir de agora vejamos como responder
estas e outras questões relacionadas ao produto de matrizes cuja definição é dada abaixo.
Produto de matrizes: Sejam A = (aij ) uma matriz m × n e B = (bij ) uma matriz r × s. De-
finimos o produto de A por B , e denotamos A.B , ou simplesmente AB , da seguinte maneira:
primeiramente, temos que ter n = r , esta condição é necessária para se definir o produto de
duas matrizes; sendo n = r , o produto A.B será a matriz C = (cij ), de ordem m × s, tal que
cij = ai1 b1j + ai2 + b2j + ai3 b3j + . . . + ain bnj , com i = 1, 2, . . . , m e j = 1, 2, . . . , s.
1 2 5 1.5 + 2.6 17
Exemplo 3. . = =
3 4 6 3.5 + 4.6 39
1 1 −1
0 2 −1 0 5 2 0
Exemplo 4. .
3 −2 4 1 3 −4 7
9 1 0
0.1 + 2.5 + (−1).3 + 0.9 0.1 + 2.2 + (−1).(−4) + 0.1 0.(−1) + 2.0 + (−1).7 + 0.0
=
3.1 + (−2).5 + 4.3 + 1.9 3.1 + (−2).2 + 4.(−4) + 1.1 3.(−1) + (−2).0 + 4.7 + 1.0
7 8 −7
=
14 −16 25
TOME NOTA. Note que em geral, não temos a igualdade AB = BA. Primeiro que para
ambos os produtos existam é necessário, pela definição de produto de matrizes, que A seja
uma matriz m × n e que B seja uma matriz n × m. Segundo, mesmo que isso ocorra,
podemos não ter AB = BA, como veremos nos exemplos a seguir.
24 Álgebra Linear
1 0 −2
0 2 1
Exemplo 5. Sejam A = eB=
0 −1 4 . Então,
3 0 −1
3 5 2
1 0 −2
0 2 1
AB = .
0 −1 4
3 0 −1
3 5 2
0.1 + 2.0 + 1.3 0.0 + 2.(−1) + 1.5 0.(−2) + 2.4 + 1.2 3 3 8
= =
3.1 + 0.0 + (−1).3 3.0 + 0.(−1) + (−1).5 3.(−2) + 0.4 + (−1).2 0 −5 −8
.
1
Exemplo 6. Sejam A = 2 e B = −3 0 5 . Assim,
4
1 1.(−3) 1.0 1.5 −3 0 5
AB = 2 . −3 0 5 = 2.(−3) 2.0 2.5 = −6 0 10 que é uma matriz 3 × 3.
4 4.(−3) 4.0 4.5 −12 0 20
1
BA = −3 0 5 . 2 = (−3).1 + 0.2 + 5.4 = 17 que é uma matriz 1 × 1.
4
0 1 1 −1
Exemplo 7. Sejam A = eB= . Então,
1 −1 0 2
0 1 1 −1 0.1 + 1.0 0.(−1) + 1.2 0 2
AB = . = =
1 −1 0 2 1.1 + (−1).0 1.(−1) + (−1).2 1 −3
Álgebra Linear 25
1 −1 0 1 1.0 + (−1).1 1.1 + (−1).(−1) −1 2
BA = . = =
0 2 1 −1 0.0 + 2.1 0.1 + 2.(−1) 2 −2
Mas existem matrizes A e B tais que AB = BA. Um exemplo óbvio é quando B = A. Outro
exemplo é quando A é uma matriz quadrada de ordem n e B = In , neste caso tem-se AIn = In A.
Além disso, usando a definição de produto de matrizes, mostra-se que AIn = In A = A.
3 −1 0 1
Considere as matrizes A = eB= .
1 0 −1 3
3 −1 0 1 3.0 + (−1).(−1) 3.1 + (−1).3 1 0
Então, AB = . = = .
1 0 −1 3 1.0 + 0.(−1) 1.1 + 0.3 0 1
0 1 3 −1 0.3 + 1.1 0.(−1) + 1.0 1 0
E BA = . = = .
−1 3 1 0 (−1).3 + 3.1 (−1).(−1) + 3.0 0 1
Matriz inversa: Dada uma matriz quadrada de A de ordem n. A matriz B (quando existir) tal que
AB = BA = In é chamada de matriz inversa de A. Veremos que se uma matriz A possui inversa
esta será única. Diante disso denotamos a inversa da matriz A por A−1 .
Falaremos mais sobre matriz inversa nas aulas seguintes, onde veremos suas propriedades e
como encontrá-la. Mas adiantamos que nem todas matrizes possuem uma inversa. Note na
definição acima que uma condição necessária para uma matriz A ter uma inversa é que A seja
uma matriz quadrada. Porém, veremos mais adiante que está condição não é suficiente, isto é,
existem matrizes quadradas que não possuem inversa.
Apesar de não ser comutativo o produto de matrizes satisfaz algumas importantes propriedades
que vemos a seguir.
Seguindo os exemplos feitos nesta seção, faça os exercícios para uma melhor fixação do produto
de matrizes.
E XERCÍCIOS
5 0 2 −1
−1 3 0 1 4
1. Sejam A = ,B= , C = 2 4 e D = 1 5 . Em cada
1 2 1 −2 7
−1 1 0 3
um dos itens abaixo encontre o produto pedido ou diga, justificando, que não é possível
fazê-lo.
a) AB
b) BC
c) A(C + D)
d) B(C + D)
e) (C + D)B
f) A(BC)
g) B(AC)
Álgebra Linear 27
2 −1 x z
2. Dadas as matrizes A = eB= . Determine os valores de x, y, z e w
0 2 y w
para que AB = I2 .
1
0 2 5
3. Sejam A = , B =
2 e C = 3 4 . Verifique que A(BC) = (AB)C .
−1 1 0
3
28 Álgebra Linear
Matrizes Transposta, Simétrica e Ortogonal
Ao final desta seção você deverá ser capaz de:
Matriz transposta: Seja A = (aij ) uma matriz m × n. A matriz transposta de A, denotada por
AT , ou At , é uma matriz n × m obtida, a partir de A, trocando as linhas pelas colunas de mesmo
índice. Ou seja, se A = (aij ), então a matriz transposta de A é definida por AT = (aji ).
−1 9
−1 2 0 3 2 17
T
Exemplo 8. a) Seja A = . Então, A = .
9 17 11 8 0 11
3 8
a11 a12 a13
a a a a
a21 a22 a23
11 21 31 41
b) Se A = , então AT =
a12 a22 a32 a42 .
a31 a32 a33
a13 a23 a33 a43
a41 a42 a43
1
2
c) Se B = , então B T = 1 2 3 4 .
3
4
Temos algumas propriedades que podem ser úteis quando tratamos de matrizes transpostas.
Tais propriedades são as seguintes.
Agora, vejamos que (αA)T = αAT , onde A = (aij ) é uma matriz m × n. Pela definição de produto
de uma matriz por um escalar, temos αA = (αaij ). Assim, segue que (αA)T = (αaji ) = αAT .
Matriz simétrica: Uma matriz quadrada A = (aij ) é uma matriz simétrica se AT = A, ou seja, se
aij = aji para quaisquer i e j .
1 3 1 3
Exemplo 9. a) A matriz A = é simétrica, já que AT = = A.
3 1 3 1
2 −4 0 2 −4 0
b) A matriz A = −4 1 16 é simétrica, pois AT = −4 1 16 = A.
0 16 5 0 16 5
TOME NOTA. Uma propriedade interessante envolvendo uma matriz quadrada e sua trans-
posta é a seguinte: seja A uma matriz quadrada, então A.AT é uma matriz simétrica, ou
seja, A.AT = C, onde C é uma matriz simétrica.
De fato, suponha que A = (aij ) seja uma matriz quadrada de ordem n. Então, AT = (aji ) que
também é uma matriz quadrada de ordem n. Pela definição de produto de matrizes, temos que
A.AT = C , com C = (cij ) quadrada de ordem n e cij = ai1 aj1 + ai2 aj2 + ai3 aj3 + . . . + ain ajn . Assim,
vemos que cji = cij , e portanto C = C T . Logo, A.AT = C é simétrica.
30 Álgebra Linear
0 2 1 0 3 4
T
Exemplo 10. Seja A = 3 −1 5 . Então, A = 2 −1 0 .
4 0 8 1 5 8
Logo,
0.0 + 2.2 + 1.1 0.3 + 2.(−1) + 1.5 0.4 + 2.0 + 1.8 5 3 8
A.AT = 3.0 + (−1).2 + 5.1 3.3 + (−1).(−1) + 5.5 3.4 + (−1).0 + 5.8 = 3 35 52 ,
4.0 + 0.2 + 8.1 4.3 + 0.(−1) + 8.5 4.4 + 0.0 + 8.8 8 52 80
0 3 0 −3
Exemplo 11. a) A matriz M = é antissimétrica, já que M T = = −M .
−3 0 3 0
0 1 −5 0 −1 5
b) A matriz B = −1 0 −7 é antissimétrica, pois B T = 1 0 7 = −B .
5 7 0 −5 −7 0
TOME NOTA. Note que se A = (aij ) é uma matriz antissimétrica, então ela é uma matriz
quadrada com os elementos da diagonal principal sendo todos nulos e os elementos dispostos
simetricamente em relação à diagonal principal sendo opostos.
cos θ −senθ cos θ senθ
Exemplo 12. Considere a matriz G = . Então, GT = .
senθ cos θ −senθ cos θ
Álgebra Linear 31
cos θ −senθ cos θ senθ
Logo, G.GT = .
senθ cos θ −senθ cos θ
2 2
cos θ + sen θ cos θsenθ − senθ cos θ 1 0
= = .
2 2
senθ cos θ − cos θsenθ sen θ + cos θ 0 1
Seguindo os exemplos feitos nesta seção, faça os exercícios para uma melhor fixação das defi-
nições e propriedades estudadas.
E XERCÍCIOS
1 8
a) A = −3 0
5 2
0 6
2 −7
b) M = 2 1
4 1
5 5
0 0 1 −1 3 0 0
c) H =
1 0 0 −1 −5 4 8
p p
11 12
d) P = p21 p22
p31 p32
0 1 3 2
2. Sejam M = 2 −1 e N = −3 0 , calcule.
4 5 1 3
32 Álgebra Linear
a) (M + N)T
b) (2.M)T
c) (MN)T
0 −1 −1 1
1 0 0 1
a) A =
1 0 0 −1
−1 −1 1 0
1 2
b) B = 2 0
0 1
1 −4
c) C =
−4 0
0 9 1
d) D = 9 0 −2
1 −2 0
√1 √1
2 2
a) C =
√1 − 12
√
2
−1 0
1
1
2
b) T =
4 3
− 13 − 41
Álgebra Linear 33
cos θ −senθ 0
c)W = senθ cos θ 0
0 0 1
34 Álgebra Linear
Escalonamento de Matrizes
Ao final desta seção você deverá ser capaz de escalonar uma matriz quadrada de ordem m × n.
Nesta seção vamos descrever um processo muito útil no tratamento não só de matrizes,
que nos ajuda a calcular o determinante de uma matriz de ordem n, mas também a solução
de sistemas lineares, como veremos mais adiante. Tal processo utiliza operações chamadas
elementares de matrizes e é chamado de escalonamento ou triangulação de matrizes. Antes,
porém, vamos definir alguns conceitos importantes que justificam este processo.
Note que se L0 = [ 0 0 0 . . . 0 ] for uma matriz nula, então tomando αi = 0, para todo
i = 1, 2, . . . , k , temos que
L0 = 0.Li1 + 0.Li2 + . . . + 0.Lik .
TOME NOTA. Note que se uma das linhas Lij for igual a L0 , então Li1 , Li2 , . . . , Lik são
linearmente dependentes.
Álgebra Linear 35
De fato, sem perda de generalidade, suponhamos que Li1 = L0 . Assim,
1) A dependência ou independência linear das linhas de uma matriz não se altera se trocar-
mos a ordem dessas linhas.
2) Se Li1 , Li2 , . . . , Lik são linearmente dependentes, então Li1 , Li2 , . . . , Lik , Lik+1 também são
linearmente dependentes. Ou seja, acrescentar uma linha em um conjunto linearmente depen-
dente mantém a dependência linear.
3) Se Li1 , Li2 , . . . , Lik são linearmente dependentes (independentes), então Li1 , Li2 , . . . , α.Lij , . . . , Lik
também é linearmente dependente (independente) se α 6= 0. Ou seja, multiplicar uma das linhas
por um escalar não nulo mantém a dependência (independência) linear.
4) Se Li1 , Li2 , . . . , Lis , . . . , Lij , . . . , Lik são linearmente dependentes (independentes), então
Li1 , Li2 , . . . , Lis , . . . , Lij +Lik , . . . , Lik também é linearmente dependente (independente). Ou seja,
somar uma das linhas a uma linha mantém a dependência (independência) linear.
3) Substituir uma linha por uma linha formada pela soma da linha que está sendo substituída
com uma outra linha da matriz previamente multiplicada por um número diferente de zero, ou
seja, substituir Li por Li + k.Lj , com k 6= 0.
Observamos que, de forma análoga, as operações elementares também são definidas sobre
as colunas da matriz.
O processo de escalonamento possui várias etapas, onde, em cada uma delas, vamos anu-
lando as entradas abaixo (ou acima) da diagonal principal de uma submatriz quadrada de maior
ordem possível, ou da diagonal principal da própria matriz no caso de a matriz a ser escalonada
seja quadrada.
Vejamos como fazer o escalonamento de uma matriz não nula A = (aij ) de ordem m × n.
a11 a12 . . . a1n
a21 a22 . . . a2n
Seja A = .
.. .. ..
.. . . .
am1 am2 . . . amn
Suponhamos que a11 6= 0. Se a11 = 0, basta trocar linhas ou colunas de forma a colocar
um elemento não nulo na posição de a11 . O primeiro passo é adicionar a primeira linha a todas
as outras restantes, multiplicada por fatores de forma que anulem todos os elementos seguintes
da primeira coluna que estão abaixo de a11 . Dessa forma, obtemos a matriz abaixo, que é
equivalente à matriz A,
a a12 . . . a1n
11
0 a22 . . . a2n
∼A
.. .. .. ..
. . . .
0 am2 . . . amn
Álgebra Linear 37
A seguir, procedemos com a22 em relação à segunda coluna, como procedemos com a11 em
relação à primeira coluna. Daí, obtemos a matriz
a11 a12 a13 . . . a1n
0 a22 a23 . . . a2n
0 0 a33 . . . a2n ∼ A
.. .. .. ..
. . . .
0 0 am3 . . . amn
E assim, procedemos de modo análogo para os restantes aii até que o escalonamento termine
ou porque não há mais linhas ou porque as linhas que existem são todas formadas por zeros. A
matriz ao final do processo, dada abaixo, terá uma forma onde nela figure uma matriz ou uma
submatriz triangular da maior ordem possível com elementos principais não nulos.
a a a . . . a1k . . . a1n
11 12 13
0 a22 a23 . . . a2k . . . a2n
0 0 a33 . . . a3k . . . a3n
∼A
0 0 0 . . . a4k . . . a4n
.. .. .. ..
. . . .
0 0 0 ... ... 0
Ao final, podemos dividir cada linha i, onde aii for não nulo, por aii , de modo a ter 1 no lugar
destes aii .
2 4 −1
Exemplo 13. Seja A = 0 −3 2 .
6 1 0
1o ) Temos que a11 = 2. Como a entrada a21 , logo abaixo de a11 , é igual a zero, o primeiro passo
(ou etapa) é substituir a linha 3 pela linha 1 multiplicada por (−3) e somada pela linha 3. Vamos
representar esta operação por: L3 → (−3).L1 + L3 . Assim, obtemos a matriz
2 4 −1
0 −3 2
0 −11 3
2o ) Tendo a primeira coluna no modo desejado, o próximo passo é deixar o elemento a32 igual a
11
0. Para isso basta multiplicar a segunda linha por − e somar com a terceira. Assim, obtemos
3
2 4 −1 2 4 −1
11
0 −3 2 L3 → − .L2 + L3 ∼ 0 −3 2
3
13
0 −11 3 0 0 −
3
E o processo acaba, já que chegamos a uma matriz na forma desejada. Caso quiséssemos
1
deixar os elementos principais iguais a 1, bastaria multiplicar a primeira linha por , a segunda
2
1 3
por − e a terceira por − . Assim, temos
3 13
2 4 −1 1 2 − 12
A ∼ 0 −3 2 ∼ 0 1 − 32
13
0 0 − 0 0 1
3
2 4 −1
11
∼ 0 −3 2 L3 → − .L2 + L3
3
0 −11 3
2 4 −1 L1 → 21 .L1 1 2 − 12
∼ 0 −3 2 L2 → − 31 .L2 ∼ 0 1 − 32
13
3
0 0 − L3 → − 13 .L3 0 0 1
3
Álgebra Linear 39
0 3 2 −1
Exemplo 14. Seja A = 2 8 0 4 . Vamos escalonar a matriz A.
1 5 −1 2
1o ) Note que a11 = 0 e que a31 = 1. Assim, vamos trocar as linhas 1 e 3 de posição. Podería-
mos também trocar as linhas 1 e 2, já que a21 = 2 6= 0. Então, temos que:
0 3 2 −1 1 5 −1 2
2 8 0 4 ∼ 2 8 0 4
1 5 −1 2 0 3 2 −1
2o ) Agora,
substituindo
a linha multiplicada por −2 e somando com a linha 2
2 pela linha 1
1 5 −1 2 1 5 −1 2
temos: 2 8 0 4 ∼ 0 −2 2 0
0 3 2 −1 0 3 2 −1
1 5 −1 2 1 5 −1 2
1
3o ) Multiplicando a linha 2 por − , temos 0 −2 2 0 ∼ 0 1 −1 0
2
0 3 2 −1 0 3 2 −1
o
4 ) Substituindo
a
linha 3 pela linha2 multiplicada por −3 e somada com a linha 3, temos
1 5 −1 2 1 5 −1 2
0 1 −1 0 ∼ 0 1 −1 0
0 3 2 −1 0 0 5 −1
1
Finalmente, multiplicamos a linha 3 por , e obtemos
5
1 5 −1 2 1 5 −1 2
0 1 −1 0 ∼ 0 1 −1 0 .
0 0 5 −1 0 0 1 − 51
40 Álgebra Linear
2 1 4
1 1 0
Exemplo 15. Seja M = 0 2 3 , escalone a matriz M .
−1 4 −5
3 2 6
2 1 4
1 1 0
L →L
1 2
0 2 3
L →L
2 1
−1 4 −5
3 2 6
1 1 0
2 1 4 L2 → −2.L1 + L2
∼ 0 2 3 L4 → L1 + L4
−1 4 −5 L5 → −3.L1 + L5
3 2 6
1 1 0
L → − 1.L
2 2
0 −1 4
L → 2.L + L
3 2 3
∼ 0 2 3
L → 5.L + L
4 2 4
0 5 −5
L5 → −1.L2 + L5
0 −1 6
1 1 0
0 1 −4
1
∼ 0 0 11 L3 → .L3
11
0 0 15
0 0 2
Álgebra Linear 41
1 1 0
0 1 −4
L → −15.L + L
4 3 4
∼ 0 0 1
L → −2.L + L
5 3 5
0 0 15
0 0 2
1 1 0
0 1 −4
∼ 0 0 1
0 0 0
0 0 0
Portanto,
1 1 0
0 1 −4
M ∼ 0 0 1
0 0 0
0 0 0
Seguindo os exemplos feitos nesta seção, faça os exercícios para uma melhor fixação do método
de escalonamento.
E XERCÍCIOS
1 2 −1
a) A = 0 1 2
3 −1 1
2 −1 4
0 0 1
b) B = .
6 1 3
−1 1 2
42 Álgebra Linear
2 0 2 0
c) C = −2 2 2 1
1 1 1
0 1 −1 4
3 1 1 2
d) M =
1 0 −2 3
2 4 0 1
2 4 −2 0 1
1 1 1 4 2
4 2 −1 0 0
e) L =
0 0 0 2 2
−2 0 6 2 −1
5 2 1 0 −1
Álgebra Linear 43
Inversão de Matrizes
Ao final desta seção você deverá ser capaz de encontrar a inversa de uma matriz quadrada.
Nesta seção apresentaremos um método para se obter a inversa de uma matriz. Antes porém,
vejamos importantes definições e propriedades relacionadas à matriz inversa.
−1 3
Exemplo 16. A matriz A = é uma matriz singular.
−2 6
1 5
Já a matriz B = é não-singular.
2 7
Observação. Se A é uma matriz singular, então ela não possui inversa. Mas, se A é
não-singular, então ela possui inversa. Lembre que det(I) = 1 e que se A possui inversa,
então A.A−1 = I.
2) Se A é uma matriz não-singular, então sua inversa A−1 também é não-singular. Além disso, a
inversa de A−1 é A, ou seja, (A−1 )−1 = A.
4) Sabemos que det(AT ) = det(A). Logo, se A é não-singular, então é claro que AT também será
não-singular. Agora, vejamos que (A−1 )T é a inversa de AT .
De fato, (A−1 )T .AT = (A.A−1 )T = I T = I . Portanto (A−1 )T = (AT )−1 . c.q.d.
Um método para se inverter uma matriz quadrada A utilizando as operações elementares, dadas
na seção onde estudamos escalonamento, é o seguinte:
3o ) a matriz que estará à direita da matriz I , ao final do processo, será a inversa de A, que é A−1 .
Álgebra Linear 45
3 −2
Exemplo 17. Vamos determinar a inversa de A = .
2 −1
3 −2 1 0
2 −1 0 1
1 − 23 1
3
0
⇒ −→ L2 → 2.L1 − L2
2 −1 0 1
1 − 32 1
3
0
⇒ −→ L2 → −3.L2
0 − 13 2
3
−1
1 − 32 1
0
⇒ 3 −→ L1 → 2 .L2 + L1
0 1 −2 3 3
1 0 −1 2
⇒
0 1 −2 3
−1 2
Portanto, a inversa de A será A−1 = .
−2 3
3 −2 −1 2 3.(−1) + (−2).(−2) 3.2 + (−2).3 1 0
Note que . = = .
2 −1 −2 3 2.(−1) + (−1).(−2) 2.2 + (−1).3 0 1
−2 4 0
Exemplo 18. Determine a inversa da matriz M = 1 0 0 .
3 6 −1
46 Álgebra Linear
A primeira coisa a fazer é colocar a matriz I à direita de M , separando-as com um traço.
−2 4 0 1 0 0
1 0 0 0 1 0
3 6 −1 0 0 1
1 0 0 0 1 0
⇒ −2 4 0 1 0 0 −→ L2 → 2.L1 + L2
3 6 −1 0 0 1
1 0 0 0 1 0
1
⇒ 0 4 0 1 2 0 −→ L2 → .L2
4
3 6 −1 0 0 1
1 0 0 0 1 0
1 1
⇒ 0 1 0 4 2 0 −→ L3 → 3.L1 − L3
3 6 −1 0 0 1
1 0 0 0 1 0
⇒ 0 1 0 41 21 0 −→ L3 → 6.L2 + L3
0 −6 1 0 3 −1
1 0 0 0 1 0
⇒ 0 1 0 41 12 0
0 0 1 23 6 −1
0 1 0
Logo, temos que M −1 = 1 1
0 .
4 2
3
2
6 −1
Álgebra Linear 47
Faça os produtos M.M −1 e M −1 .M e comprove que de fato eles resultam na matriz identidade.
Seguindo os exemplos feitos nesta seção, faça os exercícios para uma melhor fixação do método
para encontrar matrizes inversas.
E XERCÍCIOS
1. Encontre a inversa, caso exista, de cada uma das matrizes abaixo. No caso em que a
matriz não possua inversa, justifique sua resposta.
1 2 −1
a) A = 2 1 2
3 −1 1
1 2 −1
b) A = 0 0 1
1 2 0
1 2 −1
0 1 2
c) A =
3 −1 1
2 5 7
0 1 −1 4
3 1 1 2
d) A =
1 0 −2 3
2 4 0 1
2 −1 0 3
4 1 −1 1
e) A =
1 0 −2 3
7 3 2 5
48 Álgebra Linear
Sistemas Lineares
Ao final desta seção você deverá ser capaz de:
Nesta seção, vamos estudar sistemas de equações lineares, que constituem um tópico de muito
interesse prático. Veremos como classificá-los e resolvê-los.
TOME NOTA. Dica de leitura: O artigo Sobre o ensino de sistemas lineares, de Elon
Lages Lima, é muito interessante e vale a pena ser lido.
Álgebra Linear 49
Exemplo 19. O sistema
−x + 2y = 0
x−y =1
Sistema impossível: Um sistema linear é chamado de sistema impossível quando não possui
solução.
Sistema homogêneo: Quando os termos independentes de um sistema linear são todos nulos
o chamamos de sistema homogêneo.
é um sistema homogêneo.
50 Álgebra Linear
TOME NOTA. Note que um sitema homogêneo sempre possui pelo menos uma solução,
que é x1 = x2 = . . . = xn = 0. Essa solução é chamada de solução trivial.
Sistemas equivalentes: Dizemos que dois, ou mais, sistemas de equações lineares são equi-
valentes quando eles possuem a mesma solução.
e
−2x + 4y = 0
2x − 2y = 2
3) Substituição de uma equação por sua soma com outra equação previamente multiplicada por
um número real diferente de zero.
Observação. Observe que estas operações elementares são análogas às dadas na seção
onde aprednemos a escalonar matrizes. O processo que será feito para resolver um sistema
linear será essencialmente o mesmo para escalonar uma matriz.
Álgebra Linear 51
Primeiramente, vejamos como encontrar a solução de um sistema de n equações com n variá-
veis. Veremos dois métodos para esse propósito, o método de Gauss-Jordan e o método da
matriz inversa.
1o ) coloca-se ao lado da matriz dos coeficientes a matriz coluna dos termos independentes,
separadas por um traço vertical (de maneira semelhante ao processo de inversão de matrizes);
2o ) transforma-se, por meio de operações elementares, a matriz dos coefientes na matriz iden-
tidade, aplicando-se, simultanemente, à matriz coluna dos termos independentes, as mesmas
operações;
3o ) transformada a matriz dos coeficientes na matriz identidade, a matriz dos termos indepen-
dentes ficará transformada, ao final, na solução do sistema.
O primeiro passo é colocar a matriz coluna dos termos independentes ao lado da matriz dos
coeficientes, separadas por um traço vertical. Ou seja, construir a matriz ampliada do sistema,
que é dada abaixo.
52 Álgebra Linear
3 2 −5 8
2 −4 −2 −4
1 −2 −3 −4
Agora, analogamente ao processo feito para encontrar a inversa de uma matriz, vamos usar ope-
rações elementares para transformar a matriz dos coefientes na matriz identidade, aplicando-se,
simultanemente,
à
matriz coluna dos termos independentes, as mesmas operações. Vejamos.
3 2 −5 8
1
2 −4 −2 −4 −→ L1 → L1
3
1 −2 −3 −4
2
1 3
− 35 8
3
⇒ 2 −4 −2 −4 −→ L2 → L2 + (−2)L1
1 −2 −3 −4
2
1 3
− 35 8
3
⇒ 0 − 16 4
− 28 −→ L3 → L3 + (−1)L1
3 3 3
1 −2 −3 −4
2
1 3
− 35 8
3
3
⇒ 0 − 16 4
− 28 −→ L2 → − L2
3 3 3 16
8 4 20
0 −3 −3 − 3
2
1 3
− 53 8
3
8
⇒ 0 1 − 14 7
−→ L3 → L3 + L2
4 3
0 − 83 − 34 − 20
3
2
1 3
− 53 8
3
2
⇒ 0 1 − 14 47 −→ L1 → L1 − L2
3
0 0 −2 −2
1 0 − 32 3
2
1
⇒ 0 1 − 14 47 −→ L3 → − L3
2
0 0 −2 −2
Álgebra Linear 53
1 0 − 23 3
2
3
⇒ 0 1 − 14 7 −→ L1 → L1 + L3
4 2
0 0 1 1
1 0 0 3
1
⇒ 0 1 − 41 7 −→ L2 → L2 + L3
4 4
0 0 1 1
1 0 0 3
⇒ 0 1 0 2
0 0 1 1
3x + 2y − 5z = 8
Portanto, os sistemas 2x − 4y − 2z = −4
x − 2y − 3z = −4
x + 0y + 0z = 3
e 0x + y + 0z = 2 são equivalentes.
0x + 0y + z = 1
a11 a12 a13 . . . a1n x b
1 1
a21 a22 a23 . . . a2n x2 b2
Tomando A = .. .. .. .. .. , X = .. e B = ..
. . . . . . .
an1 an2 an3 . . . ann xn bn
54 Álgebra Linear
o sistema pode ser representado na forma matricial A.X = B . Se a matriz A possui inversa,
tem-se A−1 .A.X = A−1 .B . Logo, X = A−1 .B e temos a solução do sistema.
Portanto, se A possui inversa, a solução do sistema A.X = B é obtida de uma forma muito
simples, bastando multiplicar A−1 pela matriz B . Vejamos como fazer isso usando o exemplo
anterior.
Fazendo
o procedimento
dado na seção onde estudamos a inversão de matrizes encontramos
1 1 −3
4 2 4
1
A−1 = − 18 − 81 .
8
1 1
0 4 −2
1 1 −3
x 4 2 4
8 3
Assim, temos y = 8 − 81 − 18 . −4 = 2
1
.
z 0 14 − 21 −4 1
3 1 3 1
1 2 2
1 2 2
2
⇒ 1 −2 −1 −→ L2 → L2 − L1 ⇒ 0 − 27 − 32 −→ L2 → − L2
7
0 0 0 0 0 0
3 1
1 2 2
1 0 − 71
3
⇒ 0 1 73 −→ L1 → L1 − L2 ⇒ 0 1 3
.
2 7
0 0 0 0 0 0
x + 0.y = − 71
2x + 3y = 1
Essa matriz corresponde ao sistema 0.x + y = 73 que é equivalente ao sistema x − 2y = −1
0.x + 0.y = 0
4x + 6y = 2
Note que a terceira equação 0.x + 0.y = 0 não estabelece nenhuma condição para x e y , pois
ela é satisfeita para quaisquer valores de x e y . Portanto, a solução do sistema será dada pelas
1 3
duas primeiras equações: x + 0.y = − 17 e 0.x + y = 73 , cujas soluções são x = − e y = .
7 7
Resolução.
56 Álgebra Linear
1 −3 4 −1 2 1 −3 4 −1 2
−→ L2 → L2 − 2L1 ⇒ −→ L2 → 1 L2
2 −1 3 −2 19 0 5 −5 0 15 5
1 −3 4 −1 2 1 0 1 −1 11
⇒ −→ L1 → L1 + 3L2 ⇒
0 1 −1 0 3 0 1 −1 0 3
1 0 1 −1 11 x = 11 − z + w
A matriz corresponde ao sistema , que é equivalente
0 1 −1 0 3 y =3+z
ao sistema dado.
Resolução.
2 −6 −4 1 −3 −2
1
1 3 1 −→ L1 → L1 ⇒ 1 3 1 −→ L2 → L2 − L1
2
4 12 2 4 12 2
1 −3 −2 1 −3 −2
1
⇒ 0 6 3 −→ L3 → L3 − 4L1 ⇒ 0 6 3 −→ L2 → L2
6
4 12 2 0 24 10
1 −3 −2 1 0 − 21
⇒ 0 1
1−→ L → L + 3L ⇒ 0 1
1 −→ L3 → L3 − 24L2
2 1 1 2 2
0 24 10 0 24 10
1 0 − 21
⇒ 0 1 21
0 0 −2
Álgebra Linear 57
x + 0.y = − 12
A matriz acima corresponde ao sistema 0.x + y = 21 , que é equivalente ao sistema dado.
0.x + 0.y = −2
Mas não existem valores de x e y que satisfaçam a equação 0.x + 0.y = −2. Portanto, o sistema
é incompatível.
Seguindo os exemplos feitos nesta seção, faça os exercícios para uma melhor fixação do con-
teúdo estudado.
E XERCÍCIOS
2x − 6y + z = 0
a) −x + 3y + 2z = 0
4x − 12y − z = 0
x − y + 2z = 2
b) −2x + 2y − 4z = −4
3x − 3y + 6z = 6
4x − y + 2z = 5
c) −x + 2y − 3z = −1
3x − y + z = 2
−2x − y + 3z = 6
d) 3x + 2y − z = 2
x + y − 2z = −4
5x − y − 2z = 7
e) 3x + 2y + 4z = 10
x − y − 6z = −2
58 Álgebra Linear
Sistemas Lineares e suas Matrizes Ampliadas
Ao final desta seção você deverá ser capaz de classificar um sistema linear utilizando sua matriz
ampliada.
Nesta seção vamos estudar como a matriz ampliada de um sistema linear pode nos ajudar a
classificá-lo como possível, determinado ou indeterminado, ou impossível.
Nos três exemplos que finalizaram a aula anterior, obtivemos as seguintes matrizes escadas:
1 0 − 71
i) 0 1
3 do Exemplo 26.
7
0 0 0
1 0 1 −1 11
ii) do Exemplo 27
0 1 −1 0 3
1 0 − 21
iii) 0 1 21 do Exemplo 28
0 0 −2
Observe o modo como estão dispostos os números 1 em cada uma das matrizes acima. Esta
disposição é que dá origem ao nome matriz escada.
Denotaremos
por AE a matriz dos coeficientes das variáveis na matriz escada. Assim, em i)
1 0
1 0 1 −1
AE = 0 1 . Já em ii) temos AE = .
0 1 −1 0
0 0
Característica da matriz ampliada S : O número de linhas com elementos não todos nulos de
Álgebra Linear 59
E (matriz escada do sistema) é chamado de característica de S (a matriz ampliada do sistema).
Esse número será denotado por pS .
TOME NOTA. Observe que pS ≥ pA . Isto se deve ao fato de que a matriz AE está dentro
da matriz E. Assim, as linhas de AE com elementos não todos nulos estão contidas em
mesmas linhas de E com elementos não todos nulos, implicando termos no mínimo pA = pS .
Cada solução (x0 , y0 ) deste sistema pode ser vista como um ponto P no plano cartesiano,
cujas coordenadas são P = (x0 , y0 ). Sob este ponto de vista, cada uma das equações do
sistema é a equação de uma reta nesse plano e cada uma das soluções do sistema é um ponto de
interseção destas retas. Ou seja, se r1 e r2 são as retas definidas pelas equações a11 x+a12 y = b1
e a21 x + a22 y = b2 , respectivamente, então as soluções do sistema são os pontos P = (x0 , y0) que
pertencem à interseção r1 ∩ r2 .
Resolvendo este sistema, vemos que ele possui uma única solução dada por x = 1 e y = 1.
Portanto, as retas r1 e r2 são concorrentes, sendo P = (1, 1) o ponto de interseção entre elas.
Resolvendo este sistema, vemos que ele não possui solução. Portanto, as retas r1 e r2 são
paralelas.
Resolvendo este sistema, vemos que ele possui infinitas soluções. Portanto, as retas r1 e r2
são coincidentes.
Do mesmo ponto de vista, podemos olhar cada solução (x0 , y0, z0 ) do sistema
a x + a12 y + a13 z = b1
11
a21 x + a22 y + a23 z = b2
a x+a y+a z =b
31 23 33 3
Álgebra Linear 61
como sendo um ponto P no espaço tridimensional, cujas coordenadas cartesianas são
P = (x0 , y0 , z0 ). Analogamente ao caso bidimensional, podemos ver cada equação do sistema
acima como sendo equações de planos no espaço tridimensional, e cada uma das soluções
como sendo pontos comuns aos planos.
Exemplo 32. Suponhamos que A1 , A2 e A3 são planos cujas equações são dadas por:
A1 : x − 2y + z = 1
A2 : x − 2y + z = 0
A3 : x − 2y + z = −1
A partir destas equações, obtemos o seguinte sistema linear:
x − 2y + z = 0
x − 2y + z = 1
x − 2y + z = −1
Claramente, vemos que este sistema linear não possui soluções. Assim, temos que
A1 ∩ A2 ∩ A3 = ∅.
Exemplo 33. Agora, suponha que A1 , A2 e A3 são planos cujas equações são dadas por:
A1 : x + y − z = 0
A2 : 2x + y + z = 3
A3 : x − 2y + z = 2
Com estas equações, obtemos o sistema linear:
x+y−z =0
2x + y + z = 3
x − 2y + z = 2
Seguindo os exemplos feitos nesta seção, faça os exercícios para uma melhor fixação do método
de escalonamento.
EXERCÍCIOS
2x − 6y + z = 0
a) −x + 3y + 2z = 0
4x − 12y − z = 0
62 Álgebra Linear
x − y + 2z = 2
b) −2x + 2y − 4z = −4
3x − 3y + 6z = 6
4x − y + 2z = 5
c) −x + 2y − 3z = −1
3x − y + z = 2
−2x − y + 3z = 6
d) 3x + 2y − z = 2
x + y − 2z = −4
5x − y − 2z = 7
e) 3x + 2y + 4z = 10
x − y − 6z = −2
Álgebra Linear 63
64 Álgebra Linear
Módulo 2
Espaços Vetoriais
O leitor interessado em aperfeiçoar e ampliar seus conhecimentos nos assuntos tratados neste
módulo encontrará o suporte necessário nos seguintes textos: [1, 2, 6]. A os interessados em
aprofundar nestes conteúdos indicamos: [3, 4].
Álgebra Linear 65
Espaços e subespaços vetoriais
Definição 6 (Espaços vetoriais ). Dado um conjunto V , não vazio, sobre o qual estão definidas as
operações de adição e produto por escalar, isto é:
∀u, v ∈ V, u + v ∈ V
∀α ∈ R, ∀u ∈ V, αu ∈ V.
O conjunto V com estas duas operações é chamado espaço vetorial se forem verificadas as seguintes
propriedades:
A) Em relação à adição:
A1 ) (u + v) + w = u + (v + w), ∀u, v, w ∈ V
A2 ) u + v = v + u, ∀u, v ∈ V
A3 ) ∃0 ∈ V, ∀u ∈ V, u + 0 = u
A4 ) ∀u ∈ V, ∃(−u) ∈ V, u + (−u) = 0
M1 ) (αβ)u = α(βu)
M2 ) (α + β)u = αu + βu
M3 ) α(u + v) = αu + αv
M4 ) 1u = u, ∀u, v ∈ V e ∀α, β ∈ R
A2 ) u + v = (x1 , y1 ) + (x2 , y2 )
= (x1 + x2 , y1 + y2 )
= (x2 + x1 , y2 + y1 )
= (x2 , y2 ) + (x1 , y1 )
= v+u
u + 0 = (x1 , y1 ) + (0, 0)
= (x1 + 0, y1 + 0)
= (x1 , y1 )
= u
M2 ) (α + β)u = (α + β)(x1 , y1 )
= ((α + β)x1 , (α + β)y1)
= (αx1 + βx1 , αy1 + βy1 )
= (αx1 , αy1) + (βx1 , βy1)
= α(x1 , y1 ) + β(x1 , y1 )
= αu + βu
M4 ) 1u = 1(x1 , y1 )
= (1x1 , 1y1 )
= (x1 , y1)
= u
Exemplo 35. Da geometria analítica se sabe que um par ordenado (x1 , x2 ) de números reais repre-
senta um ponto ou um vetor do plano R2 , assim como uma terna (x1 , x2 , x3 ) representa um ponto
ou um vetor no R3 . Em geral, uma quádrupla (x1 , x2 , x3 , x4 ) é um ponto ou um vetor de R4 e uma
n-upla (x1 , x2 , ..., xn ) é um ponto ou um vetor de Rn .
Procedendo como no Exemplo 34, verifica-se que os conjuntos R3 , R4 ,..., Rn são também espaços
vetoriais com as operações usuais de adição e multiplicação por escalar.
68 Álgebra Linear
Exemplo 36. O conjunto R, em relação às operações usuais de adição e de multiplicação por escalar,
é um espaço vetorial. De fato, sabe-se que a adição de números reais satisfaz os axiomas A1 , A2 , A3
e A4 e que, na multiplicação, se verificam os axiomas M1 , M2 , M3 e M4 .
Exemplo 37. O conjunto R2 = {(a, b); a, b ∈ R} não é um espaço vetorial em relação às operações
assim definidas:
(a, b) + (c, d) = (a + c, b + d)
Propriedades dos espaços vetoriais: É possível mostrar que, da definição de espaço vetorial
V , decorrem as seguintes propriedades:
8) αv = 0, implica α = 0 ou v = 0.
Subespaços
70 Álgebra Linear
Definição 7 (Subespaços vetoriais). Dado um espaço vetorial V e um subconjunto não vazio S ⊂ V ,
dizemos que S é um subespaço vetorial de V se são satisfeitas as condições:
S1 ) Se u, v ∈ S, então u + v ∈ S.
S2 ) Se u ∈ S e α ∈ R, então αu ∈ S.
A seguir veremos alguns exemplos de subconjuntos que são subespaços vetoriais e outros
que não são.
Exemplo 39. Os subconjuntos {0} e V são subespaços vetoriais do espaço vetorial V e são conhecidos
como subespaços vetoriais triviais.
−2x − 3y
Exemplo 41. Sejam V = R3 e S = {(x, y, z) ∈ R3 ; 2x + 3y + 4z = 0} = x, y, .
4
−2x1 − 3y1 −2x2 − 3y2
Note que S 6= ∅, pois (0, 0, 0) ∈ S. Dados u = x1 , y1, , v = x2 , y2 , ∈S
4 4
e α ∈ R, então:
−2x1 − 3y1 −2x2 − 3y2
i) u + v = x1 , y1 , + x2 , y2,
4 4
−2x1 − 3y1 −2x2 − 3y2
= x1 + x2 , y1 + y2 , +
4 4
−2(x1 + x2 ) − 3(y1 + y2 )
= x1 + x2 , y1 + y2 , ∈ S.
4
−2x1 − 3y1
ii) αu = α x1 , y1 ,
4
−2x1 − 3y1
= αx1 , αy1, α
4
−2αx1 − 3αy1
= αx1 , αy1, ∈ S.
4
Portanto, S é um subespaço vetorial de R3 .
Da geometria analítica sabe-se que a equação que define o subespaço S no exemplo anterior,
72 Álgebra Linear
é a equação de um plano em R3 que passa pela origem. Utilizando o Teste do 0, conclui-se que,
se um plano não passa pela origem, então ele não é um subespaço vetorial do R3 .
Exemplo 43. Aplicando novamente o Teste do 0, pode-se concluir que, se um sistema linear for
não-homogêneo, então o seu conjunto solução não será um subespaço vetorial.
É preciso tomar cuidado ao usar o Teste do 0, pois ele só afirma que S não é subespaço
Álgebra Linear 73
vetorial quando não possuir o elemento neutro 0 da soma. Porém, ele nada afirma quando 0 ∈ S .
De fato, no próximo exemplo se exibe um subconjunto contendo o 0 que não é subespaço vetorial.
Exemplo 44. Seja V = R2 . O subconjunto S = {(x, y); x ≥ 0} de V não é subespaço vetorial, pois
não satisfaz a condição S2 ) da Definição 7.
EXERCÍCIOS
Resposta: Não.
(d) R2 , com as operações
α(x, y) = (α2 x, α2 y)
Resposta: Não.
(e) R2 , com as operações
α(x, y) = (αx, 0)
Resposta: Não
(f) A = {(x, y) ∈ R2 ; y = 5x}, com as operações usuais. Resposta: Sim.
Álgebra Linear 75
Combinação Linear
Nesta seção introduziremos o conceito de combinação linear de vetores com o intuito de definir
subespaços gerados por um conjunto, bem como, espaço vetorial finitamente gerado.
v = a1 v1 + a2 v2 + · · · + an vn
Notaremos nos exemplos abaixo que o fato de um vetor ser ou não uma combinação linear de
outros vetores dados está ligado ao fato de um certo sistema linear ser possível ou impossível.
Pela condição de igualdade de vetores, segue a igualdade das respectivas coordenadas e portanto
obtemos o sistema:
−a1 + 7a2 = 17
2a1 − 2a2 = −10 (2.1)
3a + a = −7
1 2
cuja solução é a1 = −3 e a2 = 2.
Exemplo 46. No espaço vetorial R3 , o vetor v = (5, 2, 7) é uma combinação linear dos vetores v1 e
v2 do Exemplo 45, pois v = 2v1 + v2 . (Verifique!)
No próximo exemplo apresentamos um vetor que não é combinação linear dos vetores v1 e v2
dados no Exemplo 45.
76 Álgebra Linear
Exemplo 47. Mostre que o vetor v = (13, −2, 4) de R3 não é combinação linear dos vetores v1 e v2
do Exemplo 45.
A idéia agora é mostrar que não existem escalares a1 e a2 tais que v = a1 v1 + a2 v2 . Procedendo como
no Exemplo 45, temos
(13, −2, 4) = a1 (−1, 2, 3) + a2 (7, −2, 1),
o que resultará num sistema parecido com (2.1), mudando somente os termos independentes, isto é,
−a + 7a2 = 13
1
2a1 − 2a2 = −2 .
3a + a = 4
1 2
Como este sistema é impossível, segue que v não pode ser escrito como combinação linear de v1 e v2 .
Exemplo 48. Determine o valor de m para que o vetor u = (13, −2, m) seja combinação linear de
v1 e v2 do Exemplo 45.
Pelo Exemplo 47, o objetivo é obter m tal que o seguinte sistema seja possível:
−a + 7a2 = 13
1
2a1 − 2a2 = −2 ,
3a + a = m
1 2
Exemplo 49. Verifique de quantas maneiras diferentes o vetor w = (5, 2) ∈ R2 pode ser escrito como
combinação linear dos vetores w1 = (1, 0), w2 = (0, 1) e w3 = (2, 4).
(5, 2) = a1 w1 + a2 w2 + a3 w3
= a1 (1, 0) + a2 (0, 1) + a3 (2, 4)
= (a1 , 0) + (0, a2 ) + (2a3 , 4a3 )
= (a1 + 2a3 , a2 + 4a3 ),
Álgebra Linear 77
Assim, para cada valor atribuído a a3 obtemos valores para a1 e a2 . Portanto, w pode ser escrito de
infinitas maneiras como combinação linear de w1 , w2 e w3 .
Afirmação: O conjunto S de todos os vetores de V que são combinações lineares dos vetores
de A é um subespaço vetorial de V .
I) u+v = (a1 v1 +a2 v2 +···+anvn )+(b1v1 +b2 v2 +···+bnvn ) = (a1 +b1 )v1 +(a2 +b2 )v2 +···+(an +bn )vn
S = [v1 , v2 , . . . , vn ] = {v ∈ V ; v = a1 v1 + · · · + an vn ; ai ∈ R, i = 1, . . . , n}.
Definição 9 (Finitamente gerado). Dizemos que um espaço vetorial V é finitamente gerado se existir
um subconjunto A de V tal que V = [A].
Nos exemplos a seguir ficará claro que Rn é um espaço vetorial finitamente gerado para
qualquer número natural n.
Exemplo 50. Os vetores e1 = (1, 0) e e2 = (0, 1) geram o espaço vetorial V = R2 , pois qualquer par
(x, y) ∈ R2 é combinação linear de e1 e e2 . De fato,
Exemplo 52. Os vetores e1 = (1, 0, ..., 0), e2 = (0, 1, . . . , 0),. . . ,en = (0, 0, . . . , 1) geram o espaço
vetorial V = Rn , pois dado um vetor v = (x1 , x2 , . . . , xn ) ∈ Rn qualquer, ele pode ser escrito como
combinação linear de e1 , e2 , . . . , en . De fato, basta tomar as coordenadas de v como os escalares da
combinação linear:
= (x1 , x2 , . . . , xn ).
Um espaço vetorial finitamente gerado V pode ser gerado por subconjuntos diferentes. Este
fato é evidenciado nos próximos exemplos.
Exemplo 53. O conjunto A = {u = (1, 2), v = (3, 5)} gera o R2 . De fato, para que o conjunto A
gere o R2 é necessário que qualquer vetor w = (x, y) ∈ R2 seja combinação linear de u e v, isto é,
devem existir números reais α e β, tais que:
w = αu + βv
(x, y) = α(1, 2) + β(3, 5)
(x, y) = (α, 2α) + (3β, 5β)
(x, y) = (α + 3β, 2α + 5β).
α = −5x + 3y e β = 2x − y,
Exemplo 54. Os vetores e1 = (1, 0), e2 = (0, 1) e u = (7, 4) geram R2 . De fato, para que os vetores
e1 , e2 e u gerem o R2 é necessário mostrar que para qualquer vetor w = (x, y) ∈ R2 , existem números
reais a, b e c tais que
w = ae1 + be2 + cu
(x, y) = a(1, 0) + b(0, 1) + c(7, 4)
(x, y) = (a, 0) + (0, b) + (7c, 4c)
(x, y) = (a + 7c, b + 4c).
Dessa igualdade resulta o sistema
a + 7c = x a = x − 7c
ou
b + 4c = y b = y − 4c
a = x − 14 b=y−8
e, portanto,
(x, y) = (x − 14)e1 + (y − 8)e2 + 2u,
isto é, [e1 , e2 , u] = R2 .
EXERCÍCIOS
140
Resposta: (a) w1 = −3u + 5v (b) 23
Álgebra Linear 81
Dependência e Independência Linear
Vimos no Exemplo 50 que o conjunto {e1 = (1, 0), e2 = (0, 1)} gera o R2 . Com um pouco de
reflexão é possível concluir que os conjuntos {e1 , e2 , v1 } e {e1 , e2 , v1 , v2 } também geram o R2 ,
para quaisquer v1 , v2 ∈ R2 . Ou seja, o espaço vetorial R2 pode ser gerado por dois vetores, ou
também por três, ou quatro, etc. Porém em nossos estudos estamos interessados em conjuntos
geradores que tenham o menor número possível de vetores. De fato, vimos que para gerar o R2
são necessários somente dois vetores. Assim, outros vetores que eventualmente aparecem no
conjunto gerador são desnecessários.
A noção de dependência e independência linear será muito útil para a determinação do menor
conjunto gerador de um espaço vetorial.
α1 v1 + · · · + αn vn = 0. (2.2)
Note que ela possui pelo menos uma solução que é a trivial:
α1 = α2 = · · · = αn = 0.
Definição 10 (LI e LD). Dizemos que o conjunto {v1 , . . . , vn } é linearmente independente, ou simples-
mente que os vetores v1 , . . . , vn são LI, se a equação (2.2) admitir somente a solução trivial. Se existir
solução com algum αi 6= 0, dizemos que {v1 , . . . , vn } é linearmente dependente, ou simplesmente que
os vetores v1 , . . . , vn são LD.
Exemplo 55. O conjunto {e1 = (1, 0), e2 = (0, 1)} do espaço vetorial R2 é LI. Com efeito,
(0, 0) = α1 e1 + α2 e2
= α1 (1, 0) + α2 (0, 1)
= (α1 , 0) + (0, α2 )
= (α1 , α2 )
o que implica α1 = 0 e α2 = 0.
82 Álgebra Linear
Exemplo 56. Procedendo de maneira análoga ao exemplo anterior, podemos concluir que os vetores
e1 = (1, 0, 0), e2 = (0, 1, 0) e e3 = (0, 0, 1) do espaço vetorial R3 são LI.
(0, 0) = α1 v1 + α2 v2
= α1 (6, 4) + α2 (15, 10)
= (6α1 , 4α1 ) + (15α2 , 10α2 )
= (6α1 + 15α2 , 4α1 + 10α2 ).
2
(6, 4) = (15, 10).
5
Por outro lado, se dois vetores são múltiplos entre si, isto é, v1 = βv2 , para algum β ∈ R, é
fácil concluir que eles serão LD, pois a equação α1 v1 + α2 v2 = 0 admite solução não trivial, a
saber, α1 = 1 6= 0 e α2 = −β .
Esta propriedade é generalizada para mais que dois vetores no seguinte resultado.
α1 v1 + · · · + αi vi + · · · + αn vn = 0.
Nos exemplos seguintes usaremos a proposição anterior para concluir que um determinado
conjunto é LD.
Exemplo 58. O conjunto {e1 = (1, 0), e2 = (0, 1), v = (a, b)} de vetores de R2 , onde (a, b) é qualquer
vetor de R2 , é LD. Com efeito, podemos escrever v como combinação linear de e1 e e2
Exemplo 59. Os vetores v1 = (1, 1, 1), v2 = (−2, 0, 2) e v3 = (2, 3, 4) do R3 são LD. De fato,
v3 = a1 v1 + a2 v2
(2, 3, 4) = a1 (1, 1, 1) + a2 (−2, 0, 2)
= (a1 , a1 , a1 ) + (−2a2 , 0, 2a2 )
= (a1 − 2a2 , a1 , a1 + 2a2 ).
0 = α1 v1 + α2 v2 + α3 v3
= α1 (2, 1, 2, 1) + α2 (1, 2, 1, 0) + α3 (−3, 0, 5, 0)
= (2α1 , α1 , 2α1 , α1 ) + (α2 , 2α2 , α2 , 0) + (−3α3 , 0, 5α3, 0)
= (2α1 + α2 − 3α3 , α1 + 2α2 , 2α1 + α2 + 5α3 , α1 ).
84 Álgebra Linear
que equivale ao sistema linear
2α1 + α2 − 3α3 = 0
α + 2α = 0
1 2
2α1 + α2 + 5α3 = 0
α = 0
1
E XERCÍCIOS
1. Assinale como verdadeira ou falsa as seguintes afirmações. Justifique sua resposta pro-
vando a afirmação se for verdadeira e dando um contra-exemplo caso for falsa:
( ) Seja B um subconjunto de A ⊂ Rn . Se B é LD então A também é LD.
( ) Seja B um subconjunto de A ⊂ Rn . Se A é LI então B também é LI.
( ) Se v ∈ Rn é um vetor não nulo, então o conjunto {v} é LI.
( ) Se v ∈ Rn , então o conjunto {v} é LI.
Resposta: V - V - V - F
3. Considere dois vetores (a, b) e (c, d) no plano. Se ad − bc = 0, mostre que eles são LD.
ad − bc 6= 0, mostre que eles são LI.
Álgebra Linear 85
Base e Dimensão
Vejamos alguns exemplos de conjuntos que são bases dos espaços vetoriais R2 , R3 , . . . , Rn .
Exemplo 61. O conjunto C = {e1 = (1, 0), e2 = (0, 1)} é base de R2 , conhecida como base canônica
de R2 . De fato, vimos no Exemplo 50 que C gera R2 e no Exemplo 55 que C é LI.
Exemplo 62. O conjunto B = {(1, 1), (0, 1)} também é uma base de R2 . Com efeito, se
temos a = b = 0, ou seja, B é LI. Além disto, dado (x, y) ∈ R2 qualquer, podemos escrever
isto é, todo vetor de R2 é uma combinação linear de (1, 1) e (0, 1), provando que B gera R2 .
No entanto, nem todo conjunto com dois elementos forma uma base de R2 . Vejamos um
exemplo disto.
Exemplo 63. O conjunto {(−1, 0), (5, 0)} não é base de R2 , pois (5, 0) = −5(−1, 0), isto é, o conjunto
é LD.
Exemplo 64. O conjunto {e2 = (0, 1, 0), e3 = (0, 0, 1)} não é base de R3 . Apesar de LI ele não gera
todo o R3 , ou seja, [e2 , e3 ] 6= R3 . De fato, notemos que todo elemento de R3 da forma (a, 0, 0), a ∈
R \ {0}, não pertence ao espaço [e2 , e3 ].
Exemplo 65. Os vetores e1 = (1, 0, 0), e2 = (0, 1, 0) e e3 = (0, 0, 1) formam uma base de R3 , chamada
base canônica de R3 .
86 Álgebra Linear
Exemplo 66. Mais geralmente, não é difícil ver que os vetores e1 , . . . , en ∈ Rn , onde e1 = (1, 0, . . . , 0),
e2 = (0, 1, . . . , 0), . . . , en = (0, 0, . . . , 1), formam uma base de Rn , conhecida como base canônica de
Rn .
Do próximo resultado concluiremos que duas bases quaisquer de um espaço vetorial finita-
mente gerado têm o mesmo número de vetores.
Teorema 1. Se B = {v1 , v2 , . . . , vn } é uma base de um espaço vetorial V , então todo conjunto com
mais de n vetores é linearmente dependente.
a1 w1 + a2 w2 + · · · + am wm = 0. (2.3)
Como B é uma base de V , cada vetor wi de B ′ é uma combinação linear dos vetores de B, isto
é, existem números α1i , α2i , . . . , αni , tais que
Como {v1 , . . . , vn } são LI, os coeficientes dessa combinação linear são nulos, ou seja,
a α + · · · + am α1m = 0
1 11
..
. .
a α +···+a α =0
1 n1 m nm
Esse sistema linear homogêneo possui m variáveis a1 , a2 , . . . , am e n equações. Como m > n, tal
sistema admite soluções não-triviais, isto é, ai 6= 0 para algum i ∈ {1, ..., m}.
Logo, B ′ = {w1 , w2 , . . . , wm } é LD.
Álgebra Linear 87
Corolário 1. Duas bases quaisquer de um espaço vetorial finitamente gerado têm o mesmo número
de vetores.
Exemplo 67. A dimensão do espaço vetorial R2 é 2, pois a base canônica, e portanto qualquer base
de R2 , tem 2 elementos. Da mesma forma, dim R3 = 3. Mais geralmente, dim Rn = n.
Exemplo 68. O conjunto B = {(1, 2), (−1, −1)} é base de R2 , pois sabemos que dim R2 = 2 e B é
LI, uma vez que (1, 2) não é múltiplo de (−1, −1).
88 Álgebra Linear
Observação. Sejam V um espaço vetorial com dim V = n e S um subespaço de V . Então
dim S ≤ n. No caso em que dim S = n, tem-se S = V .
Exemplo 70. Encontre uma base de R3 que contenha o vetor (2, 1, 1).
Como dim R3 = 3, precisamos encontrar dois vetores v1 , v2 ∈ R3 que juntos com (2, 1, 1)
formam um conjunto LI. Tomando v1 um vetor que não seja múltiplo de (2, 1, 1) já teremos que
{(2, 1, 1), v1} é LI. Assim, consideremos v1 = (1, 0, 0). Para completar, escolhemos v2 que não seja
combinação linear de (2, 1, 1)e(1, 0, 0). Dentre os infinitos existentes, tomemos v2 = (0, 1, 0). Logo,
{(2, 1, 1), (1, 0, 0), (0, 1, 0)} é LI e portanto é uma base de R3 .
E XERCÍCIOS
3. Encontre valores de m para que o conjunto {(−2, −m), (m, 3)} seja uma base do R2 .
√
Resposta: m 6= ± 6
4. O conjunto B = {(2, −1), (−3, 2)} é uma base do R2 . Escrever qualquer vetor de R2 como
combinação linear de B .
Resposta: (x, y) = (2x + 3y)(2, 1) + (x + 2y)(−3, 2)
Resposta: (b) Uma base é {(0, 1, 1), (1, 1, 0), (0, 0, 1)}
8. Determinar a dimensão e uma base para cada um dos seguintes espaços vetoriais:
Resposta: (a) dim = 2 (b) dim = 1 (c) dim = 1 (d) dim = 1 (e) dim = 2 (f) dim = 2
9. Encontre uma base e a dimensão do espaço solução dos seguintes sistemas lineares:
x + 2y − 2z − t = 0
(a) 2x + 4y + z + t = 0
x + 2y + 3z + 2t = 0
x + 2y − z + 3t = 0
(b) 2x − y + z − t = 0
4x + 3y − z + 5t = 0
x − 2y − z = 0
(c) 2x + y + 3z = 0
x + 3y + 4z = 0
2x + 2y − 3z = 0
(d) x − y − z = 0
3x + 2y + z = 0
x + y − 2z + t = 0
(e)
2x + 2y − 4z + 2t = 0
obter:
Resposta: (a) dim S1 = 3 e uma base é {(1, 0, −1, 0), (0, 1, −1, 0), (0, 0, 0, 1)}
(b) dimS2 = 2 e uma base é {(2, 1, 0, 0), (0, 0, 3, 1)}
92 Álgebra Linear
Coordenadas e matriz mudança de base
Teorema 2. Seja B = {v1 , v2 , . . . , vn } uma base de um espaço vetorial V . Então, todo vetor v ∈ V
se escreve de maneira única como combinação linear dos vetores de B .
Demonstração. Dado um vetor v ∈ V , pela definição de base, sabemos que v pode ser expresso
como combinação linear dos vetores da base B . Suponha que existam duas tais combinações
lineares:
v = α1 v1 + α2 v2 + · · · + αn vn
v = β1 v1 + β2 v2 + · · · + βn vn .
Assim,
α1 v1 + α2 v2 + · · · + αn vn = β1 v1 + β2 v2 + · · · + βn vn
ou seja,
(α1 − β1 )v1 + (α2 − β2 )v2 + · · · + (αn − βn )vn = 0.
α1 − β1 = α2 − β2 = · · · = αn − βn = 0,
isto é,
αi = βi , para todo i = 1, . . . , n
v = α1 v1 + · · · + αn vn .
ou em notação matricial
α
1
..
[v]B = . .
αn
Exemplo 72. Considere a base B = {(1, 0, 0), (1, 1, 0), (1, 1, 1)} do R3 . Encontre as coordenadas do
vetor (3, 2, 1) com relação a B.
Álgebra Linear 93
Devemos obter a, b e c tais que
(3, 2, 1) = a(1, 0, 0) + b(1, 1, 0) + c(1, 1, 1)
= (a + b + c, b + c, c)
o que equivale ao sistema linear:
a+b+c = 3
b+c=2
c = 1
donde a = 1, b = 1 e c = 1. Assim,
(3, 2, 1)B = (1, 1, 1).
Exemplo 73. Encontre o vetor v ∈ R3 cujas coordenadas na base B = {(1, 0, 0), (1, 1, 0), (1, 1, 1)} é
vB = (1, 2, 3).
Pela definição de coordenadas com relação à uma base, basta fazer:
v = α1 u 1 + · · · + αn u n
(2.5)
v = β1 v1 + · · · + βn vn
..
.
vn = a1n u1 + a2n u2 + · · · + ann un
94 Álgebra Linear
Substituindo (2.6) em (2.5) vem
v = β1 v1 + · · · + βn vn
α1 = a11 β1 + · · · + a1n βn
..
.
αn = an1 β1 + · · · + ann βn ,
[v]B1 = [I]B
B1 [v]B2 .
2
Chamamos [I]B B1 de matriz mudança da base B2 para a base B1 . Esta matriz contribui para
2
alcançar nosso objetivo, pois ela transforma as coordenadas de um vetor v na base B2 em coor-
denadas do mesmo vetor v na base B1 .
Álgebra Linear 95
Observação. (Dica para o cálculo da matriz [I]B
B1 )
2
Exemplo 74. Calcule a matriz mudança da base B2 = {(2, −1), (1, 3)} para a base B1 = {(1, 0), (1, 1)}.
Sabendo que vB2 = (5, 3), calcule vB1 .
Assim,
3 −2
[I]B
B1 =
2 .
−1 3
96 Álgebra Linear
TOME NOTA. Um fato importante é que as matrizes [I]B B1
B1 e [I]B2 são invertíveis e
2
−1
[I]B2
B1 = [I]B
B2 .
1
Exemplo 75. Calcule a matriz mudança da base canônica C = {(1, 0), (0, 1)} para a base
B = {(−1, 2), (4, 3)}. Obtenha as coordenadas do vetor (5, 8) em relação a B.
Note que é mais fácil obter a matriz [I]B
C mudança da base B para C, pois os vetores da base B
já estão em coordenadas na base canônica, ou seja,
Logo,
−3 4 17
11 11
5 11
[vB ] = [I]C
B [v]C =
= ,
2 1 18
11 11
8 11
ou seja, vB = ( 17 , 18 ).
11 11
Exemplo 76. Seja B = {(1, 1, 0), (0, 2, 0), (0, 0, 5)} uma base do R3 e denote por C sua base canônica.
Calcule a matriz mudança da base canônica para a base B.
O que nos dá
Álgebra Linear 97
a11 = 1
a12 = 0
a =0
13
a11 + 2a21 = 0 , a12 + 2a22 = 1 , a13 + 2a23 = 0
5a = 0
5a = 0
5a = 1
31 32 33
isto é,
a =1 a =0 a =0
11 12 13
a21 = −1
2
, a22 = 21 , a23 = 0 .
a = 0
a = 0
a = 1
31 32 33 5
Logo,
1 0 0
[I]C = −1 1
0 .
B 2 2
1
0 0 5
B1 −1
[I]B
B1 = [I]B2
2
. Deixamos como exercício o cálculo desta matriz inversa que é:
−1 −1 3
2 2 2
[I]B2
= 1 0 −1 .
B1
−1 1 1
2 2 2
EXERCÍCIOS
Calcular:
5. Sabendo que B = {(1, 3), (2, −4)} é base do R2 e que a matriz M de mudança de base de
B para C é:
−7 6
M = ,
−11 8
determinar a base C .
Resposta: C = {(3, −2), (−2, 1)}
Álgebra Linear 99
6. Considere as bases B = {(1, 0, 0), (0, 1, 0), (0, 0, 1)} e C = {(1, 0, −1), (0, 1, −1), (−1, 1, 1)}
do R3 .
v1 = u1 − u2 − u3
v2 = 2u2 + u3
v3 = 2u1 + u3
⊲ Transformação linear;
O leitor interessado em aperfeiçoar e ampliar seus conhecimentos nos assuntos tratados neste
módulo encontrará o suporte necessário nos seguintes textos: [1, 2, 6]. A os interessados em
aprofundar nestes conteúdos indicamos: [3, 4].
Note que toda transformação linear de R em R só pode ser da forma apresentada no exemplo
anterior.
De fato, T (x) = T (x · 1) e, sendo T linear e x um escalar, podemos escrever T (x · 1) = xT (1).
Denotando T (1) = k , temos T (x) = kx.
Exemplo 82. Uma matriz A de ordem 3 × 2 determina uma transformação da seguinte maneira:
TA : R2 → R3
u 7→ TA (u) = Au.
A ideia apresentada no exemplo anterior pode ser generalizada para qualquer matriz de or-
dem m × n como segue.
Exemplo 83. Em geral, dada uma matriz A de ordem m × n, fica determinada a transformação
linear TA : Rn × Rm cuja imagem TA (u) do vetor u ∈ Rn é dada pelo produto da matriz Am×n com
o vetor coluna un×1 :
TA (u) = Am×n · un×1 = (Au)m×1 .
Mais adiante veremos que o contrário também acontece, ou seja, toda transformação linear
T : Rn → Rm pode ser representada por uma matriz de ordem m × n.
Exemplo 84. A transformação T : R2 → R2 , dada por T (x, y) = (x2 , 2y) não é linear.
De fato, dados u = (x1 , y1 ), v = (x2 , y2 ) ∈ R2 temos
porém
T (u) + T (v) = (x21 , 2y1 ) + (x22 , 2y2) = (x21 + x22 , 2(y1 + y2 ))
o que implica
T (u + v) 6= T (u) + T (v),
A próxima observação nos dá uma maneira de detectar algumas transformações que não são
lineares.
É claro que isto vale para uma combinação linear qualquer em U , isto é,
Isto nos revela que, caso U seja um espaço vetorial finitamente gerado, a transformação linear T
fica completamente determinada se conhecermos seus valores nos elementos de uma base de
U . De fato, seja B = {u1 , ..., un } uma base de U tal que são conhecidos os vetores
T (u) = T (α1 u1 + · · · + αn un )
= α1 T (u1 ) + · · · + αn T (un )
= α1 v1 + · · · + αn vn .
Exemplo 85. Seja T : R2 → R2 um operador linear e B = {(1, 1), (1, −1)} uma base do R2 . Supondo
que T (1, 1) = (2, 6) e T (1, −1) = (−2, 2), determine T (5, 3) e T (x, y).
Expressando o vetor (5, 3) como combinação linear dos vetores de B, temos:
ou
a + b = 5
a − b = 3
ou
a + b = x
a − b = y
x+y x−y
que tem solução a = eb= . Assim,
2 2
T (x, y) = T ( x+y
2
(1, 1) + x−y
2
(1, −1))
x+y x−y
= 2
T (1, 1) + 2
T (1, −1)
x+y x−y .
= 2
(2, 6) + 2
(−2, 2)
= (x + y, 3x + 3y) + (−x + y, x − y)
= (2y, 4x + 2y)
Se calculássemos primeiro T (x, y) = (2y, 4x + 2y) poderíamos calcular o vetor T (5, 3) por
Exemplo 86. Seja T : R3 → R2 uma transformação linear e B = {(1, 1, 1), (1, 1, 0), (1, 0, 0)} uma
base de R3 . Sendo T (1, 1, 1) = (−2, 1), T (1, 1, 0) = (4, 0) e T (1, 0, 0) = (1, 3), determine T (x, y, z).
Expressando (x, y, z) como combinação linear dos elementos em B, temos
ou
a+b+c=x
a+b =y
a = z
ou
x + 2y + 2z = −1
x + 2y − z = 8
−x + y + 4z = −11
EXERCÍCIOS
Resposta: As transformações dos itens (a), (d), (g), (h), (j), (k) e (l) são lineares.
Álgebra Linear 107
2. Considere uma transformação linear T : R2 → R3 tal que T (−1, 1) = (3, 2, 1) e
T (0, 1) = (1, 1, 0). Determine:
(a) T (2, 3)
(b) T (x, y)
(c) v ∈ R2 tal que T (v) = (−2, 1, −3).
Resposta: (a) T (2, 3) = (−1, 1, −2) (b) T (x, y) = (−2x + y, −x + y, −x) (c) v = (3, 4)
3. Dada a transformação linear T : R3 → R2 definida por T (1, 1, 1) = (1, 2), T (1, 1, 0) = (2, 3) e
T (1, 0, 0) = (3, 4). Determine:
(a) T (x, y, z)
(b) v1 ∈ R3 tal que T (v1 ) = (−3, −2)
(c) v2 ∈ R3 tal que T (v2 ) = (0, 0)
5. (a) Ache a transformação linear T : R3 → R2 tal que T (1, 0, 0) = (2, 0), T (0, 1, 0) = (1, 1) e
T (0, 0, 1) = (0, −1).
(b) Encontre v de R3 tal que T (v) = (3, 2).
Resposta: (a) T (x, y, z) = (2x + y, y − z) (b) v = (x, 3 − 2x, 1 − 2x)
Note que N(T ) 6= ∅, pois, uma vez que T (0) = 0, o vetor nulo de U sempre pertence a N(T ).
a qual é x = y = 0.
Logo, N(T ) = {(0, 0)}.
y
sistema que admite como solução x = 4
ez= −3
4
y.
Logo,
N(T ) = {( y4 , y, −3
4
y); y ∈ R}
= { y4 (1, 4, −3); y ∈ R}
= [(1, 4, −3)].
A seguir veremos que o conceito de imagem de uma transformação linear coincide com o
conceito de imagem de uma função qualquer.
O O
N (T ) Im(T )
U V
FIGURA 3.1
Note que Im(T ) é sempre não vazia, pois como T (0) = 0 temos que 0 ∈ Im(T ).
Exemplo 92. A transformação nula T : U → V , T (u) = 0, ∀u ∈ U, tem Im(T ) = {0}, enquanto que
o núcleo é todo U.
O próximo resultado nos diz que os conjuntos núcleo e imagem de uma transformação linear
T : U → V são subespaços de U e V , respectivamente.
Demonstração. (1) Como visto, 0 ∈ N(T ), logo N(T ) 6= ∅. Dados u1 , u2 ∈ N(T ) e α ∈ R temos
2. Dizemos que T é sobrejetora se Im(T ) = V , ou seja, para todo v ∈ V existe pelo menos um
u ∈ U tal que T (u) = v.
O próximo resultado nos auxilia na verificação de uma transformação linear ser ou não inje-
tora.
Proposição 3. Uma transformação linear T : U → V é injetora se, e somente se, N(T ) = {0}.
Teorema 3 (do núcleo e imagem). Seja T : U → V uma transformação linear, onde U tem dimensão
finita. Então,
dim N(T ) + dim Im(T ) = dim U.
Demonstração. Tome uma base {v1 , ..., vn } de N(T ). Como N(T ) é um subespaço de U, podemos
completar este conjunto de modo a obter uma base de U. Seja {v1 , ..., vn , u1, ..., um } uma tal base de
V.
Mostraremos que {T (u1), ..., T (um)} é uma base de Im(T ), ou seja,
u = α1 v1 + ·... + αn vn + β1 u1 + ·... + βm um .
Além disto,
γ1 T (u1 ) + · · · + γm T (um) = 0,
γ1 u1 + · · · + γm um = δ1 v1 + · · · + δn vn
ou
γ1 u1 + · · · + γm um − δ1 v1 − · · · − δn vn = 0.
Como {v1 , ..., vn , u1 , ..., um } é uma base de V , em particular é LI, concluímos que
γ1 = · · · = γm = δ1 = · · · = δn = 0.
Exemplo 94. Verifique nos exemplos anteriores as dim N(T ), dim Im(T ) e dim U.
ou seja,
(x, y, z) ∈ N(T ) ⇔ (x + 2y + 2z, y − x, 4y − x + 2z) = (0, 0, 0)
x + 2y + 2z = 0
⇔ −x + y = 0
−x + 2y + 2z = 0
3 3
N(T ) = {(x, x, − x); x ∈ R} = [(1, 1, − )].
2 2
para algum (x, y, z) ∈ R3 . Ou seja, (a, b, c) ∈ Im(T ) se existe (x, y, z) ∈ R3 tal que
Escalonando a matriz ampliada deste sistema concluímos que ele só admite solução se
−a − 2b + c = 0. Assim,
Im(T ) = {(a, b, c) ∈ R3 ; −a − 2b + c = 0}
= {(−2b + c, b, c); b, c ∈ R2 }
= {b(−2, 1, 0) + c(1, 0, 1); b, c ∈ R}
= [(−2, 1, 0), (1, 0, 1)].
Note que dim Im(T ) = dim R3 − dim N(T ) = 3 − 1 = 2. Desta forma, podemos concluir que o
conjunto {(−2, 1, 0), (1, 0, 1)} é uma base de Im(T ).
Exemplo 96. Seja T : R3 → R2 a transformação linear tal que T (1, 0, 0) = (−1, 1), T (0, 1, 0) = (3, 2)
e T (0, 0, 1) = (1, 0).
(b) Inicialmente vamos obter a expressão que define T . Para isto escrevemos
Agora,
(x, y, z) ∈ N(T ) ⇔ T (x, y, z) = (0, 0)
⇔ (−x + 3y + z, x + 2z) = (0, 0)
−x + 3y + z = 0
⇔
x + 2z = 0
cuja solução geral é (−2z, −z, z), z ∈ R. Logo, N(T ) = {(−2z, −z, z); z ∈ R} = [(−2, −1, 1)] e
portanto dim N(T ) = 1.
(c) Como dim Im(T ) = 3 − dim N(T ) = 3 − 1 = 2, segue que Im(T ) = R2 e então qualquer base de
R2 é base de Im(T ), por exemplo, a base canônica {(1, 0), (0, 1)}. Além disto, T é sobrejetora.
Exemplo 97. Determine uma transformação linear T : R4 → R3 cujo núcleo seja gerado por
(1, 0, 0, 1) e (0, −1, 0, 1).
Sendo dim R4 = 4 e dim N(T ) = dim[(1, 0, 0, 1), (0, −1, 0, 1)] = 2, temos que
dim Im(T ) = 4 − 2 = 2.
O primeiro passo é completar o conjunto {(1, 0, 0, 1), (0, −1, 0, 1)} a uma base de R4 . Para isso basta
acrescentar os vetores (0, 0, 1, 0) e (0, 0, 0, 1), pois
se, e somente se, α = β = γ = δ = 0. Agora, basta tomar o cuidado das imagens de (0, 0, 1, 0) e
Álgebra Linear 115
(0, 0, 0, 1) pela T serem LI. Para isto, definimos T : R4 → R3 tal que
T (0, 0, 1, 0) = (0, 1, 0), T (0, 0, 0, 1) = (0, 0, 1), T (1, 0, 0, 1) = (0, 0, 0) e T (0, −1, 0, 1) = (0, 0, 0).
Assim,
a qual é uma transformação linear cujo núcleo é gerado por (1, 0, 0, 1) e (0, −1, 0, 1).
(a) T é sobrejetora.
(b) T é injetora.
(c) T é bijetora.
Sob o ponto de vista da álgebra linear, dois espaços vetoriais isomorfos são equivalentes. Isto
é, para um algebrista estes espaços são "iguais".
116 Álgebra Linear
Note que, pelo Corolário 2, se T : U → V é uma transformação linear e dim U = dim V , então,
para verificar que T é isomorfismo, basta provar que T é injetora (N(T ) = {0}) ou é sobrejetora.
E XERCÍCIOS
Resposta: (a) T (x, y, z) = (0, y, z); (b) T (3, −4, 5) = (0, −4, 5).
2. Uma transformação linear T : R2 → R3 é tal que T (−1, 1) = (3, 2, 1) e T (0, 1) = (1, 1, 0).
Determinar:
(a) T (2, 3)
(b) T (x, y)
(c) v ∈ R2 tal que T (v) = (−2, 1, −3).
Resposta: (a) T (2, 3) = (−1, 1, −2), (b) T (x, y) = (−2x + y, −x + y, −x) e v = (3, 4)
3. Seja T ; R3 → R2 a transformação linear definida por T (1, 1, 1) = (1, 2), T (1, 1, 0) = (2, 3) e
T (1, 0, 0) = (3, 4). Determinar:
(a) T (x, y, z)
(b) v1 ∈ R3 tal que T (v1 ) = (−3, −2)
(c) v2 ∈ R3 tal que T (v2 ) = (0, 0)
Resposta: (a) T (x, y, z) = (3x − y − z, 4x − y − z); (b) v1 = (1, 6 − z, z); (c) v2 = (0, −z, z)
4. Dado o operador linear T : R2 → R2 , T (x, y) = (2x + y, 4x + 2y), decidir quais dos seguintes
vetores pertencem a N(T ):
Resposta: v1 e v3 .
(a) v1 = (2, 4)
(b) v2 = ( −1
2
, −1)
(c) v3 = (−1, 3).
Resposta: (a) N(T ) = {(x, 3x); x ∈ R}, BN (T ) = {(1, 3)} e dimN(T ) = 1; Im(T ) =
{(−y, y); y ∈ R}, BIm(T ) = {(−1, 1)} e dimIm(T ) = 1.
(b) N(T ) = {(0, 0)}, N(T ) não possui base e dimN(T ) = 0; Im(T ) = {(x, y, z) ∈ R3 ; 2x −
2y − z = 0}, BIm(T ) = {(1, 0, 2), (0, 1, −2)} e dimIm(T ) = 2.
(c) N(T ) = {(0, 0)}, N(T ) não possui base e dimN(T ) = 0; Im(T ) = R2 , BIm(T ) =
{(1, 0), (0, 1)} e dimIm(T ) = 2.
(d) N(T ) = {(− y3 ), y, 5y
3
; y ∈ R}, BN (T ) = {(− 31 , 1, 53 )} e dimN(T ) = 1; Im(T ) = R2 , BIm(T ) =
{(1, 0), (0, 1)} e dimIm(T ) = 2.
Resposta: (a) N(T ) = [(1, 1, 0)]. Uma base N(T ) = {(1, 1, 0)}
(b) dim Im(T ) = 3 − dim N(T ) = 2
(c) Não. dim Im(T ) = 2.
Nesta unidade, veremos que o estudo das transformações lineares está fortemente ligado ao
estudo das matrizes. De fato, vimos no Exemplo 83 que a qualquer matriz m × n podemos
associar uma transformação linear T : Rn → Rm . No que segue, vamos estabelecer o contrário,
ou seja, veremos que, fixadas bases do Rn e Rm , a toda transformação linear T : Rn → Rm está
associada uma única matriz.
v = α1 v1 + α2 v2 + α3 v3 ou vA = (α1 , α2 , α3 ),
ou T (v)B = (β1 , β2 ).
Por outro lado,
Sendo T (v1 ), T (v2 ) e T (v3 ) vetores de W podemos escrevê-los como combinação linear dos
vetores de B , ou seja,
T (v1 ) = a11 w1 + a21 w2
Denotando por [T ]A
B , a matriz (aij )2×3 acima, podemos escrever:
[T (v)]B = [T ]A
B [v]A .
A matriz [T ]A
B é chamada matriz de T em relação às bases A e B .
TOME NOTA. Uma observação importante para se obter [T ]A B é que suas colunas são as
componentes das imagens dos vetores da base A em relação à base B, o que é compravado
pelas igualdades em (3.3):
A seguir, veremos alguns exemplos deste processo de obter a matriz de uma transformação
linear relacionada a bases dadas.
Considere as bases A = {v1 = (−1, −1), v2 = (1, 2)} do R2 e B = {w1 = (1, 0, 0), w2 = (1, 1, 0), w3 =
(1, 1, 1)} do R3 .
(a) Determine [T ]A
B
ou seja,
a + a21 + a31 = 1 a =9
11 11
a21 + a31 = −8 ⇒ a21 = −11
a = 3
a = 3
31 31
isto é,
a + a22 + a32 = −3 a = −14
12 12
a22 + a32 = 11 ⇒ a22 = 13 .
a = −2
a = −2
32 32
Assim,
9 −14
A
[T ]B = −11 13
3 −2
isto é,
−a + b = 5 a = −6
⇒
−a + 2b = 4 b = −1
Exemplo 99. Considere a mesma transformação linear do exemplo anterior e a mesma base A do
R2 . Seja C = {(1, 0, 0), (0, 1, 0), (0, 0, 1)} a base canônica do R3 .
(a) Determine [T ]A
C.
(a)
T (v1 ) = T (−1, −1) = (1, −8, 3) = 1(1, 0, 0) − 8(0, 1, 0) + 3(0, 0, 1)
Note que, sendo C a base canônica do R3 , T (v)C = T (v) também poderia ser obtido diretamente
da lei que define T ,
Exemplo 100. Considere a mesma transformação linear e sejam C ′ = {(1, 0), (0, 1)} e
C = {(1, 0, 0), (0, 1, 0), (0, 0, 1)} as bases canônicas do R2 e do R3 , respectivamente.
′
(a) Determine [T ]C
C .
′
(b) Se v = (5, 4) calcule T (v)C utizando [T ]C
C .
(a)
T (1, 0) = (1, 5, −4) = 1(1, 0, 0) + 5(0, 1, 0) − 4(0, 0, 1)
Assim,
1 −2
′
[T ]C = 5 3 .
C
−4 1
(b) Note que T (v)C não depende da base do domínio, mas sim do vetor v e da base C e como
tais objetos são idênticos aos do exemplo anterior teremos novamente T (v)C = (−3, 37, −16).
Observe que calcular T (v) pela matriz [T ] é o mesmo que fazê-lo pela expressão de T , como
pode ser observado no último exemplo: T (5, 4) = (−3, 37, −16).
124 Álgebra Linear
Os exemplos anteriores ilustram que dada uma transformação linear T , a cada dupla de bases
A e B corresponde uma matriz [T ]A
B . Por outro lado, no próximo exemplo veremos que dadas uma
matriz e um par de bases A e B , pode-se obter a expressão de T .
Exemplo 101. Dadas A = {(1, 1, 1), (1, 1, 0), (1, 0, 0)} base do R3 e B = {(1, 0), (1, 1)} base do R2 ,
determine a transformação linear T : R3 → R2 tal que
1 0 1
[T ]A
B =
.
2 −1 −1
1 0 1
[T (1, 1, 1)]B = , [T (1, 1, 0)]B = e [T (1, 0, 0)]B = .
2 −1 −1
Assim,
T (1, 1, 1) = 1(1, 0) + 2(1, 1) = (3, 2)
T (1, 1, 0) = 0(1, 0) − 1(1, 1) = (−1, −1)
T (1, 0, 0) = 1(1, 0) − 1(1, 1) = (0, −1).
Conhecidas as imagens dos vetores numa base A do domínio R3 de T , expressando o vetor genérico
(x, y, z) ∈ R3 como combinação linear dos elementos desta base A, obteremos T (x, y, z):
Ou seja,
(x, y, z) = z(1, 1, 1) + (y − z)(1, 1, 0) + (x − y)(1, 0, 0).
Dado um espaço vetorial V , lembre-se que um operador linear T sobre V nada mais é do que
uma transformação linear T : V → V . Neste caso, para tomar uma representação matricial de T ,
é comum considerar a mesma base no domínio e no contradomínio, isto é, fazer A = B . A matriz
Álgebra Linear 125
resultante, denotada simplesmente por [T ]A , é chamada matriz de T em relação à base A. Por
exemplo, o leitor pode verificar que a matriz do operador T : R2 → R2 , T (x, y) = (2x + y, x − 3y)
em relação à base A = {(−1, −1), (0, 1)} é
3 −1
[T ]A = .
5 −4
Um exercício fácil, porém interessante, é mostrar que tanto T1 + T2 quanto αT1 são transfor-
mações lineares. Este exercício, a princípio um tanto ingênuo, mostra que o conjunto de todas
as transformações lineares de V em W com as operações definidas acima é na realidade um
espaço vetorial, geralmente denotado por
Além disso, não é difícil mostrar que se V e W têm dimensões finitas, A é base de V e B é
base de W , então
[T1 + T2 ]A A A
B = [T1 ]B + [T2 ]B
e
[αT1 ]A A
B = α[T1 ]B .
Composição:
Considere agora duas transformações lineares T1 : V → W e T2 : W → U . A composta de T1
com T2 , denotada por T2 ◦ T1 : V → U é dada por
Verifique que T2 ◦ T1 é uma transformação linear. Pode-se mostrar que, se A, B e C são bases
126 Álgebra Linear
de V, W e U , respectivamente, então:
[T2 ◦ T1 ]A B A
C = [T2 ]C · [T1 ]B .
Determine:
(a) T1 + T2
(a)
(T1 + T2 )(x, y, z) = T1 (x, y, z) + T2 (x, y, z)
= (3x − 2y + z, z − 4x) + (2x + y, 3y − z) .
= (5x − y + z, 3y − 4x)
(b)
(5T1 − 3T2 )(x, y, z) = 5(3x − 2y + z, z − 4x) − 3(2x + y, 3y − z)
= (15x − 10y + 5z, 5z − 20x) + (−6x − 3y, −9y + 3z) .
= (9x − 13y + 5z, 8z − 20x − 9y).
(c)
9 −13 5
[5T1 − 3T2 ] =
−20 −9 8
3 −2 1 2 1 0
= 5 −3
−4 0 1 0 3 −1
= 5[T1 ] − 3[T2 ].
Exemplo 103. Dados os operadores lineares no R2 : T (x, y) = (2x, −y) e S(x, y) = (x + y, x − y).
Determine: (a)S ◦ T (b)T ◦ S (c)T 2 = T ◦ T (d)S 2 = S ◦ S.
E XERCÍCIOS
3. Sabendo que a matriz de uma transformação linear T : R2 → R3 nas bases B = {(−1, 1), (1, 0)}
do R2 e C = {(1, 1, −1), (2, 1, 0), (3, 0, 1)} e do R3 é:
3 1
[T ]B = 2 5
C
1 −1
4. Seja
1 −2
[T ] = 2 0
−1 3
128 Álgebra Linear
a matriz canônica de uma transformação linear T : R2 → R3 . Se T (v) = (2, 4, −2), calcular
v.
Resposta: v = (2, 0)
onde C é a base canônica do R2 e B = {(1, 0, 1), (−2, 0, 1), (0, 1, 0)}, base do R3 . Qual a
imagem do vetor (2, −3) pela T ?
Resposta: (11, −13, 2)
sendo B1 = {(0, 1, 1), (1, 0, 0), (1, 0, 1)} e B2 = {(−1, 0), (0, −1)} bases do R3 e do R2 , res-
pectivamente.
Resposta: (a) T (x, y, z) = (−2y + z, −x + y), (b) Im(T ) = R2 , BIm(T ) = {(1, 0), (0, 1)}, (c)
N(T ) = {(x, x, 2x); x ∈ R}, BN (T ) = {(1, 1, 2)} e (d) T não é injetora e T é sobrejetora.
T : R2 → R2
(x, y) 7→ (x + 2y, x − y)
e as bases A = {(−1, 1), (1, 0)}, B = {(2, −1), (−1, 1)} e C a base canônica de R2 .
Determinar [T ]A , [T ]B , [T ]C .
−2 1 3 −1 1 2
Resposta: [T ]A = , [T ]B = e [T ]C = [T ] =
−1 2 6 −3 1 −1
Resposta: (a) T (v1 )B = (2, −1), T (v2 )B = (1, −3) (b) T (v1 ) = (−1, 0), T (v2 ) = (−8, −5),
T (x, y) = (−6x + 5y, −5x + 5y)
I : Rn → Rn
v 7→ v ,
(a) T(u)=u
(b) T(v)=2v
(c) T(w)=(4,4)
T1 : R2 → R3 T2 : R2 → R3
e .
(x, y) 7→ (x − y, 2x + y, −2x) (x, y) 7→ (2x − y, x − 3y, y)
(a) T1 − T2
(b) 3T1 − 2T2 .
Resposta: (a) T1 (x, y) = (−x, x + 4y, −2x − y) (b) T2 (x, y) = (−x − y, 4x + 9y, −6x − 2y)
(a) S + T (d) S ◦ T
(b) T − S (e) T ◦ S
(c) 2S + 4T (f ) S ◦ S
Resposta: (a) (S + T )(x, y) = (3x − 2y, 0) (b)(T − S)(x, y) = (x + 2y, −2y)
(c) (2S + 4T )(x, y) = (10x − 4y, −2y) (d) (S ◦ T )(x, y) = (2x + 2y, −y)
(e) (T ◦ S)(x, y) = (2x − 4y, −y) (f) (S ◦ S)(x, y) = (x − 4y, y)
S : R3 → R4 T : R2 → R3
e
(x, y, z) 7→ (x + y, z, x − y, y + z). (x, y) 7→ (2x + y, x − y, x − 3y).
(a) Sendo B = {(1, 0, −1), (1, 1, 1), (1, 0, 0)} uma base do R3 , determinar a matriz [S ◦ T ]B .
(b) Determinar [T ◦ S]B′ e [T ◦ S]B′′ , sendo B ′ = {(1, 1), (0, −1)} e B ′′ a base canônica.
−1 −4 −1
Resposta: (a) 1 0 1
0 5 0
1 −1 0 1
(b) e
1 −2 1 −1
Álgebra Linear 131
16. Sendo S e T operadores lineares do R3 definidos por S(x, y, z) = (x, 2y, x − y) e
T (x, y, z) = (x − z, y, z), determinar:
(a) [S ◦ T ]
(b) [T ◦ S].
1 0 −1
Resposta: (a) 0 2 0
1 −1 −1
0 1 0
(b) 0 2 0
1 −1 0
18. Sejam B = {(1, −1), (0, 2)} e C = {(1, 0, −1), (0, 1, 2), (1, 2, 0)} bases de R2 e R3 respectiva-
mente e
1 0
B
[T ]C = 1 1 .
0 −1
(a) Determinar T .
(b) Se S(x, y) = (2y, x − y, x), determinar [S]B
C.
1 0
(c) Determinar uma base A de R3 tal que [T ]B = 0 0 .
A
0 1
x−y x−y
Resposta: (a) T (x, y) = , , 2x + y
2 2
1 2 1 2
19. Se [T ] = e [S] = , determinar T ◦ S .
−1 3 −1 3
(a) [T ◦ S]
132 Álgebra Linear
(b) [S ◦ T ].
0 2 −2
Resposta: (a) [T ◦ S] = 1 1 −2 e
−1 0 1
1 −2
(b) [S ◦ T ] =
−2 1
−1 −2
21. Seja T : R2 → R2 tal que [T ] = . Determinar os vetores u, v tais que
0 1
(a) T (u) = u
(b) T (v) = −v
Nesta unidade apresentaremos alguns exemplos especiais de transformações lineares. Mais es-
pecificamente, vamos trabalhar com certos operadores lineares do plano, ou seja, certas trans-
formações lineares do plano no plano, sob um ponto de vista geométrico. Em especial, veremos
que reflexões, expansões, contrações, rotações e certas deformações podem ser descritas por
transformações lineares. Mostrar que tais aplicações são lineares não é tarefa difícil e por isto
será confiada aos leitores nos exercícios.
1) Reflexões
Leva cada vetor (x, y) ∈ R2 para o vetor (x, −y) simétrico em relação ao eixo x:
T : R2 → R2
.
(x, y) 7→ (x, −y)
T
y v
x
x
−y T (v)
1 0
Note que sua matriz canônica é: [T ] = .
0 −1
Leva cada vetor (x, y) ∈ R2 para o vetor (−x, y) simétrico em relação ao eixo y . Portanto é a
transformação linear T : R2 → R2 definida por T (x, y) = (−x, y).
2) Expansões e contrações
T : R2 → R2
, α ∈ R.
(x, y) 7→ α(x, y)
Matricialmente,
x x α 0 x
7→ α =
y y 0 α y
.
Note que,
• se α = 1, T é a identidade;
T : R2 → R2
, α > 0.
(x, y) 7→ (αx, y)
T : R2 → R2
, α > 0.
(x, y) 7→ (x, αy)
y v Tθ y v
r
θ
φ φ
x a x
3) Rotações
Dado um vetor v = (x, y) ∈ R2 considere Tθ (x, y) = (a, b) o vetor obtido rotacionando-se (x, y)
de um ângulo θ no sentido anti-horário (ver Figura 3.3).
p
Seja r ≥ 0 o comprimento do vetor v = (x, y), ou seja, r = x2 + y 2 .
Note que x = r cos φ e y = r sen φ. Além disto, as coordenadas do vetor rotacionado
Tθ (x, y) = (a, b) tem mesmo comprimento r do vetor v . Pela Figura 3.3 temos:
e
b = r sen(φ + θ) = r cos φ sen θ + r sen φ cos θ = x sen θ + y cos θ.
Logo,
Tθ (x, y) = (x cos θ − y sen θ, x sen θ + y cos θ).
Ou seja,
Tθ (e1 ) = cos θe1 + sen θe2 e Tθ (e2 ) = − sen θe1 + cos θe2 .
Logo, a matriz canônica de Tθ é a descrita em 3.4. Tal matriz é conhecida por matriz de rotação
(anti-horária) de um ângulo θ, 0 ≤ θ ≤ 2π .
π
Por exemplo, a imagem do vetor v = (1, 2) pela rotação θ = 2
é obtida por
Tπ/2 (1, 2) = (1 cos π/2 − 2 sen π/2, 1 sen π/2 + 2 cos π/2) = (−2, 1).
T : R2 → R2
.
(x, y) 7→ (x + αy, y)
P N′ p
N
T
O M O M
T : R2 → R2
.
(x, y) 7→ (x, αx + y)
Exemplo 105. Sobre o plano efetua-se uma rotação anti-horária de ângulo θ, em seguida realiza-se
uma contração de fator 41 na direção Oy e, finalmente, uma reflexão em torno da reta y = −x.
Determine a transformação linear que realiza o efeito do conjunto das três transformações citadas.
A rotação é dada por: Tθ (x, y) = (x cos θ − y sen θ, x sen θ + y cos θ).
A contração é dada por: T1 (x, y) = (x, 41 y).
Por fim, a reflexão em torno da reta y = −x é: T2 (x, y) = (−y, −x).
Logo, a transformação T é obtida pela composição
T (x, y) = (T2 ◦ T1 ◦ Tθ )(x, y)
= T2 (T1 (Tθ (x, y)))
= T2 (T1 (x cos θ − y sen θ, x sen θ + y cos θ))
= T2 (x cos θ − y sen θ, 41 x sen θ + 41 y cos θ)
= (− 41 x sen θ − 14 y cos θ, −x cos θ + y sen θ)
Exemplo 106. Determine o vértice C do triângulo equilátero A = (2, −1), B = (6, 1) e C = (x, y),
utilizando uma rotação.
Como o triângulo é equilátero seus ângulos internos, bem como suas arestas, são todos iguais.
−→ −→
Assim, temos que o vetor AC tem comprimento igual ao do vetor AB e pode ser obtido deste, por
uma rotação de 600 ou −600 , (faça uma figura para se convencer disto). No caso da rotação de
600 = π/3 temos:
−→ −→
AC = T π3 (AB),
−→ −→
onde AB = (6 − 2, 1 − (−1)) = (4, 2), AC = (x − 2, y + 1) e
√ √
π π π π 1 3 3 1
T π3 (x, y) = (x cos − y sen , x sen + y cos = ( x − y, x + y).
3 3 3 3 2 2 2 2
Assim,
−→ √ √
(x − 2, y + 1) = AC = T π3 (4, 2) = (2 − 3, 2 3 + 1)
√ √ √ √
ou, x = 4 − 3 e y = 2 3. Isto é, C = (4 − 3, 2 3).
O caso da rotação de −600 = −π/3 é análogo e, portanto, deixado como exercício.
3. Obtenha a matriz canônica das transformações lineares dos itens: 1) (ii)-(v), 2) (ii)-(iii) e 4)
(i)-(ii).
4. Faça uma figura descrevendo o comportamento do retângulo OMP N (da Figura 3.4) ao
aplicar um cisalhamento vertical.
5. Faça uma figura descrevendo o comportamento do retângulo OMP N (da Figura 3.4) ao
aplicar uma dilatação horizontal. Compare este comportamento com o comportamento do
cisalhamento horizontal.
(a) θ = π
π
(b) θ = 4
π
(c) θ = 3
9. Qual é a aplicação T que representa uma contração de √1 seguida por uma rotação horária
2
de 45o?
Resposta: T (x, y) = ( x+y
2
, y−x
2
)
10. Os pontos A = (2, −1) e B = (−1, 4) são vértices consecutivos de um quadrado ABCD .
Determinar os vértices C e D , utilizando rotação no plano.
Resposta: C = (4, 7) e D = (7, 2) ou C = (−6, 1) e D = (−3, −4)
11. Em um triângulo ABC , os ângulos B e C medem 75o cada um. Sendo A = (1, 1) e
B = (−1, 5), calcular as coordenadas do vértice C .
√ √ √ √
Resposta: C = (−1 − 3, 2 3) ou C = (3 − 3, 2 + 2 3)
⊲ Produto interno;
⊲ Norma;
⊲ Base ortonormal.
O leitor interessado em aperfeiçoar e ampliar seus conhecimentos nos assuntos tratados neste
módulo encontrará o suporte necessário nos seguintes textos: [1, 3, 5, 6].
Definição 19 (Produto interno). Seja V um espaço vetorial. Um produto interno sobre V é uma
função de V × V em R, denotada por h, i, que associa a cada par de vetores u, v ∈ V um número
real hu, vi e que satisfaz as seguintes propriedades:
i) hu, ui > 0, se u 6= 0.
ii) hu, vi = hv, ui, para quaisquer u, v ∈ V .
iii) hu + v, wi = hu, wi + hv, wi, para quaisquer u, v, w ∈ V .
iv) hλ.u, vi = λ.hu, vi, para quaisquer u, v ∈ V e λ ∈ R.
Esta função é um produto interno sobre Rn , chamado de produto interno canônico. Vejamos
se as quatro propriedades da definição de produto interno são de fato satisfeitas.
n
X n
X
n
i) Seja u = (u1 , . . . , un ) 6= (0, 0, . . . , 0) em R . Logo, hu, ui = ui .ui = u2i . Como,
i=1 i=1
Xn
(u1 , . . . , un ) 6= (0, 0, . . . , 0), então ui 6= 0 para pelo menos um i ∈ {1, 2, . . . , n}. Daí, u2i > 0, ou
i=1
seja, hu, ui > 0.
ii) Dados u = (u1 , . . . , un ) e v = (v1 , . . . , vn ) em Rn , temos que
n
X n
X
hu, vi = ui .vi = vi .ui = hv, ui.
i=1 i=1
Exemplo 108. Seja f uma função de R2 × R2 em R, dedinida, para cada u = (u1 , u2 ) e v = (v1 , v2 )
em R2 , por
f (u, v) = 2u1v1 + u2 v2 .
Definição 20 (Norma). Seja V um espaço vetorial com um produto interno h, i. Para cada v ∈ V ,
p
o número real kvk = hv, vi é chamado de norma, ou comprimento, do vetor v.
Seja V um espaço vetorial com pruduto interno h, i. Então, das definições de produto interno
e de norma, temos que:
• kvk = 0 se, e somente se, v = 0.
• kvk ≥ 0, para todo v ∈ V .
• kλ.vk = |λ|.kvk, para quaisquer v ∈ V e λ ∈ R.
v
TOME NOTA. Observe que se v é um vetor não nulo qualquer em V , então o vetor u =
kvk
é um vetor unitário. Verifique!
Exemplo 109. Considere o espaço vetorial R2 com o produto interno canônico. Então, para cada
p
v = (v1 , v2 ) ∈ R2 , tem-se que kvk = v12 + v22 . Assim, o vetor v = (1, 0) tem norma 1.
Exemplo 110. Agora, considere o espaço vetorial R2 com o produto interno dado no Exemplo
p
108. Logo, para cada v = (v1 , v2 ) ∈ R2 , tem-se que kvk = 2v12 + v22 . Daí, com respeito a esta
√
norma, o vetor v = (1, 0) tem norma igual a 2.
144 Álgebra Linear
Observação. É interessante observar que se V é um espaço com produto interno h, i,
então, para quaisquer u, v ∈ V , tem-se que
O teorema que veremos a seguir apresenta uma desigualdade, conhecida por Desigualdade
de Schwarz, que é muito útil no estudo da Álgebra Linear, além de outros ramos da Matemática.
Teorema 4. (Desigualdade de Schwarz) Seja V um espaço vetorial com produto interno. Então,
Agora, como f é uma função quadrática, da forma ax2 + bx + c, não negativa, segue que o
discriminante ∆ = b2 − 4ac ≤ 0, ou seja, (−2hu, vi)2 − 4kuk2kvk2 ≤ 0.
Portanto, 4(hu, vi)2 − 4kuk2kvk2 ≤ 0 ⇒ |hu, vi| ≤ kuk.kvk.
Seguindo os exemplos feitos nesta seção, faça os exercícios para uma melhor fixação do con-
teúdo abordado nesta seção.
EXERCÍCIOS
1. Verifique se cada uma das funções abaixo é um produto interno. No caso de a função ser
um produto interno, determine a norma dos vetores u e v dados e compare com a normas
obtidas a partir dos produtos internos canônicos.
Definição 22. Seja V um espaço com produto interno h, i. Dizemos que u, v ∈ V são ortogonais,
indicamos u⊥v , se hu, vi = 0.
Observe que o vetor nulo 0 é ortogonal a todos elementos de um espaço vetorial V com
produto interno, já que h0, vi = 0, ∀v ∈ V .
Exemplo 111. Considere o espaço R2 com o produto interno canônico. Então, os vetores
u = (2, −1) e v = (2, 4) são ortogonais, já que hu, vi = 2.2 + (−1).4 = 0.
Exemplo 112. Considere R2 com o produto interno canônico. Seja A = {(−1, 2), (6, 3)}. Então,
A é um conjunto ortogonal, pois h(−1, 2), (6, 3)i = (−1).6 + 2.3 = −6 + 6 = 0. Mas, A não é
p √
ortonormal, já que k(−1, 2)k = (−1)2 + 22 = 5 6= 1.
( √ √ √ √ )
2 2 2 2
Exemplo 113. Considere R3 com o produto interno canônico. Seja A = ( , , 0), ( ,− , 0) .
2 2 2 2
√ √ √ √ √ √
2 2 2 2 2 2
Então, A é um conjunto ortonormal, pois h( , , 0), ( ,− , 0)i = 0, k( , , 0)k = 1 e
√ √ 2 2 2 2 2 2
2 2
k( ,− , 0)k = 1.
2 2
hv, wk i
Como wk 6= 0, para todo k , e hwk , wk i = kwk k2 , segue que ak = .
kwk k2
n
X hv, wi i
Portanto, v = .wi .
i=1
kwi k2
b) Sejam a1 , a2 , . . . , an ∈ R tais que a1 w1 + a2 w2 + . . . + wn = 0.
Daí, para cada k = 1, 2, . . . , n, temos que
n
X n
X
0 = h0, wk i = h ai wi , wk i = ai hwi , wk i = ak hwk , wk i.
i=1 i=1
Como hwk , wk i 6= 0, para todo k , pois wk 6= 0, então ak = 0, para todo k , e segue que W é
linearmente independente.
Definição 24 (Base ortonormal). Uma base B de um espaço vetorial V é chamada de base orto-
normal, se B for ortonormal.
Exemplo 114. Considere Rn com o produto interno canônico. Então, a base canônica {e1 , e2 , . . . , en }
de Rn é um conjunto ortonormal, já que hei , ej i = 0, se i 6= j , e hei , ei i = 1 ⇒ kei k = 1, para todo
i = 1, 2, . . . , n. Assim, a base canônica é um exemplo de base ortonormal de Rn .
A resposta é sim. Veremos que, se V é um espaço de dimensão finita com produto interno, é
possível, a partir de uma base qualquer de V , construir uma base ortonormal de V . Este processo
é chamado de processo de ortonormalização de Gram-Schmidt e consiste no seguinte.
Dada uma base B = {v1 , v2 , . . . , vn } do espaço V , primeiramente obteremos uma base orto-
gonal B ′ = {w1 , w2 , . . . , wn } de V . A seguir, obtemos a base ortonormal B ′′ = {u1 , u2 , . . . , un },
wi
onde, para cada i = 1, 2, . . . , n, ui = .
kwi k
Seja V um espaço vetorial de dimensão finita n com produto interno. Seja B = {v1 , v2 , . . . , vn }
uma base de V .
1) defina w1 = v1
hw1 , v2 i
2) defina w2 = v2 − .w1
hw1 , w1 i
É importante observar que w2 6= 0 , já que {v1 , v2 } é linearmente independente.
k
X hwi , vk+1 i
wk+1 = vk+1 − .wi .
i=1
hwi , wi i
wi
Assim, temos que B ′ = {w1, w2 , . . . , wn } é uma base ortogonal de V . Daí, tomando ui = ,
kwi k
para cada i = 1, 2, . . . , n, segue que B ′′ = {u1, u2 , . . . , un } é uma base ortonormal de V .
Exemplo 115. Considere o espaço R2 com o produto interno usual. Utilizando o processo de
ortonormalização de Gram-Schmidt, vamos construir uma base ortonormal de R2 a partir da
base B = {(2, 0), (−1, 1)}, a qual claramente não é ortonormal.
Sejam v1 = (2, 0) e v2 = (−1, 1).
1) w1 = (2, 0)
h(2, 0), (−1, 1)i (−2)
2) w2 = (−1, 1) − .(2, 0) = (−1, 1) − .(2, 0) = (−1, 1) − (−1, 0) = (0, 1)
h(2, 0), (2, 0)i 4
(2, 0) (2, 0)
Finalmente, tomando u1 = = = (1, 0) e u2 = w2 = (0, 1), já que kw2 k = 1, temos
k(2, 0)k 2
que {u1 , u2 } é uma base ortonormal de R2 .
Exemplo 116. Considere o espaço R3 com o produto interno usual. Encontre uma base ortonor-
mal para R3 a partir da base {(1, 1, 1), (0, 2, 1), (0, 0, 1)}.
Sejam v1 = (0, 0, 1), v2 = (1, 1, 1) e v3 = (0, 2, 1).
1) w1 = (0, 0, 1)
h(0, 0, 1), (1, 1, 1)i 1
2) w2 = (1, 1, 1) − .(0, 0, 1) = (1, 1, 1) − (0, 0, 1) = (1, 1, 0)
h(0, 0, 1), (0, 0, 1)i 1
h(0, 0, 1), (0, 2, 1)i h(1, 1, 0), (0, 2, 1)i
3) w3 = (0, 2, 1) − .(0, 0, 1) − .(1, 1, 0)
h(0, 0, 1), (0, 0, 1)i h(1, 1, 0), (1, 1, 0)i
= (0, 2, 1) − (0, 0, 1) − (1, 1, 0) = (−1, 1, 0)
Assim, temos que:
w1 (0, 0, 1)
u1 = = = (0, 0, 1)
kw1 k 1
w2 (1, 1, 0) 1 1
u2 = = √ = ( √ , √ , 0)
kw2 k 2 2 2
w3 (−1, 1, 0) 1 1
u3 = = √ = (− √ , √ , 0)
kw3 k 2 2 2
150 Álgebra Linear
1 1 1 1
Logo, a base ortonormal procurada será (0, 0, 1), ( √ , √ , 0), (− √ , √ , 0) .
2 2 2 2
Seguindo os exemplos feitos nesta seção, faça os exercícios para uma melhor fixação do pro-
cesso de ortonormalização de Gram-Schmidt.
E XERCÍCIOS
2. Seja V um espaço vetorial com produto interno. Para quaisquer vetores u, v ∈ V , prove que
kuk.v + kvk.u e kuk.v − kvk.u são ortogonais.
[1] Boldrini, J.L., Costa, S. R., Figueiredo, V. L. e Wetzler, H. G.; Álgebra Linear. 3a ed., São
Paulo, Harbra, 1980.
[2] Callioli, C., Costa, R. e Domingues, H.; Álgebra linear e aplicações. 6a ed., SÃo Paulo, Atual,
1995.
[3] Coelho, F. e Lourenço, M. Um curso de Álgebra linear. 2a ed., São Paulo, Edusp, 2001.
[4] Hoffman, K. e Kunze, R. Álgebra Linear; traduzido por A. P. Bergamasco, São Paulo, Polí-
gono, 1971.
[5] Lages Lima, E. Álgebra Linear, Coleção Matemática Universitária, Rio de Janeiro, IMPA,
2012.
[6] Steinbruch, A. e Winterle, P.; Álgebra Linear.. 2a ed., São Paulo, Makron, 1987.
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