OBRAS LITERÁRIAS
Nome:__________________________________________________ N.º:____________
Série: 3.ª Turma:__________ Turno:__________ Unidade: BJ____________________
CLARA DOS ANJOS – 1948
LIMA BARRETO
FONTE: <https://www.companhiadasletras.com.br/autor.php?codigo=02224>. Acesso em: 27/06/18, às 15h34min.
1. O AUTOR
Afonso Henriques de Lima Barreto nasceu no Rio de Janeiro, em 13 de maio de 1881, filho de um
tipógrafo e de uma professora primária, ambos mulatos e de condição humilde, mas muito preocupados em
oferecer aos filhos uma educação de qualidade. Órfão de mãe desde pequeno, frequentava a Colônia dos
Alienados, um asilo de loucos no qual seu pai passou a trabalhar na função de almoxarife, desde que perdera
o emprego após a Proclamação da República. Graças a protetores, como o Visconde de Ouro Preto, Lima
Barreto completou seus estudos secundários e ingressou na Escola Politécnica, que teve de abandonar na
metade do curso em virtude de o pai ter enlouquecido, sendo internado no mesmo hospício em que trabalhara.
O jovem encarregou‑se de prover sustento à família, conseguindo um emprego burocrático na Secretaria
de Guerra ao mesmo tempo em que passou a colaborar em quase todos os jornais do Rio de Janeiro e iniciou
a carreira de romancista. Lima Barreto, de espírito rebelde e combativo, inconformado com a mediocridade
CLARA DOS ANJOS – 1948 1
OBRAS LITERÁRIAS
reinante e fazendo duras críticas aos letrados nativos, teve muitas dificuldades na vida econômica. Como
se já não bastasse, sentiu fortemente o preconceito racial, o que o fez desenvolver certa agressividade em
relação à sociedade, na representação das elites, dos políticos e também da classe média. Figura controversa
e excêntrica, o autor não raro trajava‑se provocadoramente, usando roupas sujas com o objetivo de chocar e
se diferenciar das pessoas das classes a que tanto criticava.
Frente a uma vida de tons adversos, Lima Barreto entregou‑se ao álcool, o que o levou à primeira
internação, em 1914, no hospital de alienados mentais, onde passou dois meses. Contínuas crises de
depressão e a ingestão abusiva de bebidas alcoólicas o levaram a outras internações. Em 1919, já aposentado,
pela primeira vez candidatou‑se inutilmente a uma vaga na Academia Brasileira de Letras. Ele tentaria ainda
mais duas vezes, tendo, na última, retirado sua candidatura antes da eleição.
Morreu de um colapso cardíaco, em absoluta miséria, aos 41 anos de idade, em 01 de novembro de
1922. Há muito tempo Barreto já não publicava textos de relevância, caindo em esquecimento ainda durante
a vida. Somente na década de 1970 seu valor seria finalmente reconhecido e sua obra passaria a circular
com mais vigor. Deixou uma obra de dezessete volumes, sendo que grande parte de seus escritos, entre eles
romances, crônicas, contos, memórias e críticas literárias, foram publicados após a sua morte.
Sua produção artística – em especial Clara dos Anjos – é também uma nítida denúncia do preconceito
em um período em que o racismo permanecia arraigado aos costumes, independente da abolição já haver
sido extinta no Brasil.
Com relação à ideia de liberdade dos negros, há um ótimo texto de Lillia Moritz Schwarcz, autora
do livro Lima Barreto Triste Visionário. A leitura desse texto faculta acesso à perspectiva de liberdade
desse grande autor brasileiro, que sofreu na pele as agruras do preconceito racial e social.
Disponível em: <http://www.blogdacompanhia.com.br/conteudos/visualizar/
13-de‑maio‑Liberdade‑hoje‑e-seu‑dia>. Acesso em: 03/07/18, às 15h08min.
O ESTILO DO AUTOR
Podendo ser visto como herdeiro de Machado de Assis, contagiado por novas tendências estéticas e
conturbado por uma vida de fracassos, Lima Barreto constitui importante elo entre o Realismo e o Modernismo
brasileiros. O estilo do autor demonstra uma liberdade formal que o aproxima da coloquialidade e o coloca
na intersecção das conquistas modernistas. A busca pela simplicidade, entretanto, não estava a serviço de
projetos nacionalistas, mas da tentativa de fazer com que sua mensagem fosse compreendida pelo leitor.
Barreto acreditava que a Literatura não deveria ser um fim em si mesmo, mas antes um poderoso
instrumento de denúncia e de transformação social. Tal posicionamento, aliado à objetividade e à aspereza
da sua prosa, temperada com uma boa dose de sarcasmo, levou‑ o a receber uma fria recepção por parte da
crítica literária e dos jornais da época.
O crítico Alfredo Bosi afirma que a opção do autor pelas realidades sociais – ainda que elaboradas
pelo ponto de vista afetivo e polêmico do narrador – não parecem estar ali como ilustração subjetiva. Antes,
conferem à obra de Barreto, simultaneamente, um estilo realista e intencional, o que o aproxima da crônica:
“nos romances de Lima Barreto há, sem dúvida, muito de crônica: ambientes, cenas cotidianas, tipos de café,
de jornal, da vida burocrática, às vezes só mencionados ou mal esboçados, naquela linguagem fluente e
2 CLARA DOS ANJOS – 1948
OBRAS LITERÁRIAS
desambiciosa que só se atribui ao gênero.” Bosi amplia a reflexão na medida em que relata que a influência da
linguagem jornalística na obra de Lima Barreto só acrescentou valor a ela, uma vez que facultou à realidade
“entrar sem máscara no texto literário”. Observe como essa questão permeia o trecho a seguir de Clara dos
Anjos, em que Cassi encontra Inês, a sua primeira vítima.
“— Olá! Olá! Seu Cassi! Ó Seu Cassi!
Insensivelmente, ele parou, para verificar quem o chamava. De dentro da taverna, com
passo apressado, veio a seu encontro uma negra suja, carapinha desgrenhada, com um
caco de pente atravessado no alto da cabeça, calçando umas remendadas chinelas de
tapete. Estava meio embriagada. Cassi espantou‑se com aquele conhecimento; fazendo
um ar de contrariedade, perguntou amuado:
— Que é que você quer?
A negra, bamboleando, pôs as mãos nas cadeiras e fez com olhar de desafio:
— Então, você não me conhece mais, Seu “canaia”? Então você não “si” lembra da Inês,
aquela crioulinha que sua mãe criou e você...” (BARRETO, 2011, p. 135-136)
Essa perspectiva da linguagem é importante na medida em que se observa que outros autores pós-Lima
usaram desse expediente linguístico com frequência em suas produções, como vimos ocorrer, por exemplo,
com os autores da Geração de 30.
Para saber mais a respeito da vida e obra de Lima Barreto, releia, em nosso livro didático, as
páginas 234 e 235. Resolva também os exercícios 05, 06, 07, 09, 10, 12 e 14, a partir da página 240.
2. A OBRA
Clara dos Anjos é um romance inacabado de Lima
Barreto que, apesar de escrito em 1922, só foi publicado
pela primeira vez em 1948. Para melhor analisarmos a
narrativa, convém entendermos o contexto em que ela
foi gerada.
A época retratada – início no século XX – deriva
de um período em que a abolição da escravatura,
o surgimento da indústria e o incremento do comércio
e dos serviços na área central do Rio de Janeiro –
então Capital Federal – fazem com que se solidifiquem
as classes sociais e se inicie a luta pelo espaço,
gerando conflitos que irão se refletir no âmbito urbano.
Lima Barreto considerava que os problemas da cidade
eram gerados pela modernidade, responsável, portanto,
pelo empobrecimento das massas.
Além disso, a política higienista de Oswaldo Cruz,
entre várias medidas polêmicas, estabelecia a “ideologia FONTE: <www.estantevirtual.com.br/livros/lima‑barreto/clara
‑dos‑anjos/601392760>. Acesso em: 28/06/18, às 17h22min.
CLARA DOS ANJOS – 1948 3
OBRAS LITERÁRIAS
da higiene”, o que deu início à destruição dos cortiços, fenômeno que ajudou a empurrar a população pobre
para longe do centro da cidade, que começou a ser redesenhado. A “expulsão” dos pobres das áreas centrais
vai fazer com que os espaços mais distantes – os subúrbios – cresçam. A implantação de trens e bondes
vai ajudar a orientar essa separação: no início do século XX, os trens serão meios fundamentais para a
ocupação das áreas suburbanas das cidades, enquanto os bondes servirão à Zona Sul, que começará a se
desenhar como espaço elitizado.
É assim, em meio a um contexto de conflitos, mudanças e bruscas transformações econômicas, políticas
e sociais, que Lima Barreto retrata a vida no subúrbio em seu romance Clara dos Anjos.
Sendo o subúrbio “o refúgio dos infelizes”, o ambiente é caracterizado de maneira desnuda e
desapaixonada, que mostra a precariedade do espaço, com todas as implicações que isso traz, como se
observa no capítulo VII:
O subúrbio propriamente dito é uma longa faixa de terra que se alonga, desde o Rocha ou
São Francisco Xavier, até Sapopemba, tendo para eixo a linha férrea da Central. [...]
Há casas, casinhas, casebres, barracões, choças, por toda parte onde se possa fincar quatro
estacas de pau e uni‑las por paredes duvidosas. Todo material para essas construções
serve: são latas de fósforos distendidas, telhas velhas, folhas de zinco, e, para as nervuras
das paredes de taipa, o bambu, que não é barato.
Há verdadeiros aldeamentos dessas barracas, nas coroas dos morros, que as árvores e
os bambuais escondem aos olhos dos transeuntes. Nelas, há quase sempre uma bica para
todos os habitantes e nenhuma espécie de esgoto. Toda essa população, pobríssima, vive
sob a ameaça constante da varíola [...]. (BARRETO, 2011, p. 85)
O aspecto social também é explorado nesse capítulo, com a exposição dos comportamentos das pessoas
que vivem em meio ao subúrbio:
O estado de irritabilidade, provindo das constantes dificuldades por que passam, a incapacidade
de encontrar fora de seu habitual campo de visão motivo para explicar o seu mal‑estar, fazem
‑nas (as donas de casa) descarregar suas queixas, em forma de desaforos velados, nas
vizinhas com que antipatizam por lhes parecer mais felizes. Todas elas se têm na mais alta
conta, provindas da mais alta prosápia (linhagem); mas são pobríssimas e necessitadas. Uma
diferença acidental de cor é causa para que possa se julgar superior à vizinha; o fato de o
marido desta ganhar mais do que o daquela é outro. [...] (BARRETO, 2011, p. 86)
É interessante observar como as misérias humanas são tratadas, de maneira a se aproximar do Realismo
machadiano, tanto na objetividade quanto na ironia do texto.
Uma das questões mais importantes dessa obra é a capacidade de atualização que ela mantém. Ao
lermos determinados trechos, podemos facilmente acreditar que dizem respeito a aspectos da nossa sociedade
contemporânea, não de um período que remonta há quase cem anos: “Mais ou menos é assim o subúrbio,
na sua pobreza e no abandono em que os poderes públicos o deixam.”. (BARRETO, 2011, p. 87-88) Nessa
frase, há a denúncia do abandono de uma coletividade de marginalizados, nos aspectos físicos, sociais e
econômicos: “Aquela zona não lhes oferece outra vantagem. [...] não há esgotos; não há médicos; não há
farmácias.”. (BARRETO, 2011, p. 88) Voraz e contundente, a crítica se torna mais dolorosa porque, expressa
ficcionalmente, é pautada em imagens e vivências reais, inclusive do próprio autor. No abandono e na carência,
o drama da exposição da miséria moral a que será relegada a personagem principal se torna mais crível.
Com relação ao tempo, a narrativa apresenta marcações cronológicas que a situa próximo a 1922:
“Vieram as xícaras de café e a conversa tomou outro rumo. Falaram sobre as festas do centenário da
Independência, sobre a crise financeira [...].” (BARRETO, 2011, p. 78)
4 CLARA DOS ANJOS – 1948
OBRAS LITERÁRIAS
Após falarmos sobre contexto, tempo e espaço, importantíssimos em uma obra dessa abrangência,
passemos ao enredo.
No romance, o narrador em terceira pessoa, que verbaliza suas opiniões e tece julgamentos, nos
aproxima de Clara, jovem de dezoito anos, mulata, filha de Joaquim dos Anjos, carteiro, e dona Engrácia,
dona de casa. A família mora no subúrbio carioca. Clara é uma jovem criada pelos pais de forma protegida
e isolada, o que não a preparou para as armadilhas da vida. Ingênua, sonhadora e ansiosa por viver a vida,
foi presa fácil para Cassi Jones, um malandro “modinheiro” (cantador de modas de viola) que costumava
envolver, seduzir e abandonar as moças que caíam em sua lábia.
A jovem, descrita pelo narrador como sendo “uma natureza amorfa, pastosa, que a modelassem e
fixassem” (BARRETO, 2011, p. 107), é a cruel representação de um grupo de mulheres que passaram por
situações similares: iludida por um rapaz branco e de melhor condição social, Clara é metáfora do mestiço
como objeto daqueles que detém o poder na sociedade, reforçando a exclusão e a marginalidade do grupo
que ela representa, negro e pobre.
“A filha do carteiro, sem ser leviana era, entretanto, de um poder reduzido de pensar, que não lhe permitia
meditar um instante sobre o destino, observar os fatos e tirar ilações e conclusões. A idade, o sexo e a falsa
educação que recebera, tinham muita culpa nisso tudo; mas a sua falta de individualidade não corrigia a
sua obliquada visão da vida.” (BARRETO, 2011, p. 107) A ausência de idealização é recorrente no autor,
que se afasta definitivamente das narrativas românticas e se faz valer do realismo das descrições e análises
dos personagens, por meio de uma linguagem diferenciada que representava a população. Para o autor,
a linguagem se constituía em instrumento de poder, e era assim que ele entendia a relação entre, de um
lado, intelectuais e literatos – aos quais dirigia suas farpas – e, de outro, a massa informe da população. Era
essa relação intermediada pela linguagem.
Amplificando a denúncia da discriminação racial e social, a escolha de Clara como protagonista engloba
três aspectos fundamentais: ela é mulher, negra e pobre em uma sociedade patriarcal, racista e preconceituosa
– observe as falas de Dona Salustiana, quando procurada por Clara, ao descobrir‑se grávida de Cassi Jones:
“— Que é que você diz, sua negra?”,
ou ainda,
“— Casado com gente dessa laia... Qual!... Que diria meu avô, Lorde Jones, que foi cônsul
da Inglaterra em Santa Catarina – que diria ele, se visse tal vergonha? Qual!”. (BARRETO,
2011, p. 155-156)
Daí que a fala final do livro significa muito, à época e agora. De volta da casa de Cassi, onde junto com
Dona Margarida houvera ido para pedir “reparação” – sendo humilhada e escarnecida pela mãe do rapaz –,
Clara parece se apossar de uma súbita consciência sobre seu frágil papel na sociedade:
“— Nós não somos nada nesta vida.” (BARRETO, 2011, p. 158)
REFERÊNCIAS
GONZAGA, Sergius. Curso de literatura brasileira. 2. ed. Porto Alegre: Leitura XXI, 2007. p. 254. (Adaptado)
MOISÉS, Massaud. A Literatura Brasileira através dos textos. 1. ed. São Paulo: Editora Cultrix, 1971. (Adaptado)
BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 49. ed. São Paulo: Cultrix, 2013. p. 340. (Adaptado)
BARRETO, Lima. Clara dos Anjos. 4. ed. São Paulo: Martim Claret, 2011. (Apresentação – Adaptado)
CLARA DOS ANJOS – 1948 5
OBRAS LITERÁRIAS
BARRETO, L. Entre a loucura e a lucidez. Disponível em: <https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/literatura/
lima‑barreto.htm>. Acesso em: 28/06/18, às 17h44min.
BARRETO, L. A construção do espaço em “Clara dos Anjos”. Disponível em: <periodicos.pucminas.br/index.
php/cadernoscespuc/article/download/2438/2843>. Acesso em: 02/07/18, às 16h02min.
AS FAVELAS no Rio de Janeiro: Origem e situação atual. Disponível em: <https://www.maxwell.vrac.
puc‑rio.br/16168/16168_4.PDF>. Acesso em: 02/07/18, às 17h57min.
O PORTUGUÊS de Lima Barreto. Disponível em: <http://conhecimentoliteratura.com.br/o‑portugues‑ de‑lima
‑barreto/>. Acesso em: 03/07/18, às 16h01min.
EXERCÍCIOS DE VESTIBULAR
1. (UFPR) Considere o seguinte trecho do romance Clara dos Anjos, de Lima Barreto:
Por esse intrincado labirinto de ruas e bibocas é que vive uma grande parte da população da
cidade, a cuja existência o governo fecha os olhos, embora lhe cobre atrozes impostos, empregados
em obras inúteis e suntuárias noutros pontos do Rio de Janeiro. (BARRETO, p. 38)
Com base no trecho selecionado e na leitura integral do romance Clara dos Anjos, de Lima
Barreto, assinale a alternativa correta.
a) O narrador é imparcial ao descrever os cenários do subúrbio e de outros pontos da cidade, demons‑
trando neutralidade na constatação das diferenças entre as regiões.
b) O subúrbio é descrito ora de modo realista, ora de modo idealizado, contribuindo para a construção
de uma visão, por vezes, romantizada da pobreza.
c) O narrador disseca com rigor quase sociológico os problemas políticos da época, citando fatos e
personagens históricos reais que se misturam à narrativa.
d) O romance apresenta o ambiente do subúrbio, aliando a descrição pormenorizada do espaço físico
à caracterização dos personagens que o habitam.
e) Os vários bairros e personagens que estão nos arredores da linha férrea do trem urbano são descritos
como um conjunto indiferenciado, como se cada bairro não tivesse sua característica própria.
2. (UFPR) A respeito dos romances Clara dos Anjos, de Lima Barreto, e Fogo morto, de José Lins
do Rego, assinale a alternativa correta.
a) Clara dos Anjos é um romance memorialístico, no qual os acontecimentos rememorados permitem
compreender a origem da família da protagonista; Fogo morto é um romance intimista que dá a
conhecer a vida de um núcleo familiar aristocrático ao longo da década de 1930.
b) Os pontos de vista narrativos desses romances diferem um do outro, porque, em Clara dos
Anjos, o narrador participa da trama como personagem, narrando acontecimentos de que parti‑
cipou, enquanto, em Fogo morto, o narrador é onisciente, dedicando-se a investigar a alma dos
personagens.
6 CLARA DOS ANJOS – 1948
OBRAS LITERÁRIAS
c) Nos dois romances, as mulheres pobres não recebem educação formal e são submetidas a uma
rotina de violência familiar. Seu destino é o enlouquecimento, como acontece com Marta e Neném
em Fogo morto, ou a insubmissão, como acontece com Clara dos Anjos, que abandona a casa dos
pais.
d) Nos dois romances, a cultura popular aparece representada pela música, que agrada a diferentes
personagens: em Clara dos Anjos, a modinha aproxima Cassi Jones da família de Clara; em Fogo
morto, as histórias cantadas por José Passarinho ecoam o sofrimento dos personagens.
e) Nos dois romances, observa-se a geografia suburbana, com favelas construídas em torno da linha
férrea, com aglomerados humanos miscigenados e também com o subemprego dos personagens,
como o carteiro Joaquim dos Anjos e o seleiro José Amaro.
3. (IFNMG – Adaptada) Sobre o romance Clara dos Anjos, de Lima Barreto, é correto afirmar que
a) a linguagem de Lima Barreto mostra‑se distante do universo retratado, o que gera uma ruptura na
denúncia que o autor pretende fazer sobre a marginalidade carioca.
b) a problemática fundamental da obra é a ingenuidade e fragilidade feminina, representadas por Clara
dos Anjos, que é enganada por Cassi Jones, assim como tantas outras.
c) a obra denuncia o preconceito racial e social por meio dos destinos da personagem Clara e traça um
retrato do subúrbio carioca no início do século XX.
d) é uma obra representativa do realismo brasileiro, embora se encontrem traços inequívocos que a
aliem ao Romantismo, como a idealização da protagonista.
e) Cassi Jones é um exemplar herói ao melhor estilo romântico, que se entrega à paixão de modo
espontâneo, por meio das modinhas que canta.
4. (UFLA – Adaptada) O enredo da obra Clara dos Anjos, de Lima Barreto, retoma uma das constantes
da ficção que predomina entre o período da implantação do Naturalismo e do Modernismo, que
é a questão
a) da solidão humana, retratando‑a por meio de romances conflituosos e reprimidos, a exemplo do
envolvimento de Clara e Cassi, cujo final pouco acrescenta para a história de ambos.
b) da desilusão amorosa, reafirmando a triste realidade daqueles que não “enxergavam” a diferença de
classes, como se observa no relacionamento de Inês e Cassi.
c) do preconceito racial e social vivenciados pela personagem principal, que desperta para o pouco
valor que lhe é atribuído, como mulher, negra e pobre.
d) da injustiça contra os oprimidos, revelando o jogo de mentira e poder a que as pessoas estão
sujeitas em troca de um mínimo de reconhecimento social.
e) do jogo político, uma vez que a precariedade da vida dos personagens do subúrbio está vinculada à
falta de políticas públicas, voltadas às pessoas mais abastadas.
CLARA DOS ANJOS – 1948 7
OBRAS LITERÁRIAS
5. (UFU – Adaptada)
A muito custo, devido às insistências de Dona Margarida, consentira em ajudá‑la nos bordados,
trabalhados para fora, com o que ia ganhando algum dinheiro. Não que ela fosse vadia, ao contrário,
mas tinha um tolo escrúpulo de ganhar dinheiro por suas próprias mãos. Parecia tolo a uma moça
ou a uma mulher.
BARRETO, Lima. Clara dos Anjos. São Paulo: Tecnoprint/Ediouro, s/d, p.72.
A respeito da relação entre as personagens D. Margarida e Clara, é correto afirmar que
a) Dona Margarida é caracterizada, no romance, como alguém indiferente aos sofrimentos de Clara
dos Anjos, tornando‑se, a cada dia, uma triste senhora, muito apática e distante dos compromissos
e dos relacionamentos familiares.
b) Dona Margarida, sogra de Clara dos Anjos, sempre se compadeceu da nora, menina simples e
pobre, tratando, desde sempre, de ajudá‑la financeiramente, ensinando‑a a ganhar seu próprio
dinheiro com pequenos trabalhos de agulha.
c) Dona Margarida, personagem secundária do enredo de Lima Barreto, tem enorme influência no
desenvolvimento emocional e psíquico de Clara dos Anjos, incentivando‑a, inclusive, a se casar com
o aventureiro Cassi Jones.
d) Dona Margarida pode ser considerada uma personagem oposta à protagonista Clara dos Anjos,
uma vez que é uma mulher mais objetiva e pragmática frente à vida, menos sonhadora e mais
realista diante dos relacionamentos humanos.
e) Dona Margarida é uma mulher apática e fechada, de temperamento acanhado e, às vezes, mal
humorada, que, entretanto, ao contato com Clara, torna‑se doce e amorosa, orientando a jovem a
respeito do absurdo relacionamento desta com o violeiro Cassi Jones.
6. (Unimontes – Adaptada) Assinale a alternativa incorreta acerca do romance Clara dos Anjos,
e do estilo do autor Lima Barreto.
a) O romance de Lima Barreto demonstra a opção do autor pelos pobres, oprimidos, negros e mulatos,
denunciando a marginalidade em que eles vivem.
b) No livro, o autor aborda, enfaticamente, as disparidades sociais do Brasil, por isso opta pelo espaço
do subúrbio, que, segundo ele, é “o refúgio dos infelizes”.
c) Um dos alvos do escritor é a figura do literato empoado da belle époque, contra quem a escrita de
Barreto se opõe pela linguagem e por se aproximar do drama do povo.
d) A ambientação no subúrbio da cidade do Rio de Janeiro traz à tona a vida simples, bucólica e pacata
dos moradores pobres da cidade.
e) Clara dos Anjos expõe o drama de uma camada da sociedade afastada das possibilidades de
ascensão social e relegadas aos espaços miseráveis em que irão se cristalizando.
8 CLARA DOS ANJOS – 1948
OBRAS LITERÁRIAS
7. (UFU – Adaptada)
— Mamãe, Mamãe!
— Que é minha filha?
— Nós não somos nada nesta vida.
BARRETO, Lima. Clara dos Anjos. Tecnoprint/Ediouro, s/d. p. 77.
De acordo com esse trecho e tendo por base a leitura na íntegra de Clara dos Anjos, é correto
afirmar que
a) o diálogo entre dona Engrácia e sua filha Clara simboliza de forma alegórica a desumanização
da mulher negra e pobre, em uma sociedade regida por D. Pedro I, mas manipulada por uma elite
branca preconceituosa.
b) esse pequeno diálogo, que fecha o romance Clara dos Anjos, pode ser considerado uma metáfora
do sofrimento de uma classe social que continuava estigmatizada etnicamente, apesar do fim da
escravidão.
c) o diálogo entre Clara e sua mãe, Engrácia, aparece ao final do romance Clara dos Anjos, publicado
em plena Monarquia, e simboliza a falta de perspectiva da mulher negra, analfabeta e pobre.
d) esse pequeno diálogo pode ser considerado uma metáfora de uma classe social típica da Primeira
República: indivíduos escravos, sem perspectiva de ascensão econômica, engessados cultural e
socialmente.
e) o pequeno diálogo corrobora a consciência que acompanha as personagens desde o início do
romance: a sensação de não pertencimento em uma sociedade branca, elitizada e preconceituosa.
8. (UEPB – Adaptada) Considere as afirmações a seguir a respeito de Clara dos Anjos.
I. Os pensamentos de Clara revelam as dificuldades da mulher em geral, negra em particular, nas últimas
décadas do século XIX e primeiras décadas do século XX, em ter seus direitos assegurados em um
país que se transforma, mas ainda mantém velhas estruturas oligárquicas de exclusão: “Ela devia ter
aprendido da boca dos seus pais que a sua honestidade de moça e de mulher tinha todos por inimigos”.
II. As trajetórias de Cassi e Clara demonstram ao longo do romance como as relações sociais no início
do século XX ainda são fortemente racializadas: “Ora, uma mulatinha, filha de um carteiro!”.
III. O romance Clara dos Anjos, em meio a seus muitos tipos humanos, mostra na narrativa persona‑
gens nos quais sobressai uma espécie de força moral incorruptível, humana e solidária, como D.
Margarida: “O que era preciso, tanto a ela como as suas iguais, era educar o caráter, revestir‑se
de vontade, como possuía essa varonil D. Margarida, para se defender de Cassi e semelhantes, e
bater‑se contra todos os que se opusessem, por este ou aquele modo, contra a elevação dela, social
e moralmente”.
É correto o que se afirma em
a) I, II e III. d) apenas I e II.
b) apenas I. e) apenas II.
c) apenas II e III.
CLARA DOS ANJOS – 1948 9
OBRAS LITERÁRIAS
9. (CEPBJ) Analise o que se afirma a respeito do enredo do romance Clara dos Anjos e assinale V
para o que for verdadeiro e F para o que for falso.
( ) Do breve romance entre Clara dos Anjos e Cassi Jones, ocorreu a gravidez dela, que se tornaria
mãe solteira em um contexto social que a colocaria em situação desonrosa.
( ) O assassinato do padrinho de Clara, Marramaque, personagem que tentava alertá‑la a respeito
de Cassi Jones, faz com que a protagonista finalmente conheça o verdadeiro caráter de Cassi
Jones, de quem se afasta enojada.
( ) O romance mostra o processo de amadurecimento de Clara, que percebe a sua condição frente
à sociedade em que está inserida, que se configura na fala final da personagem.
( ) Dona Salustiana não aceita Clara dos Anjos, pois a moça representa o oposto de Cassi Jones:
ela é afrodescendente, pertence à classe baixa da sociedade e reside em áreas marginais.
Assinale a alternativa que responde corretamente à questão.
a) V – F – F – V. d) F – F – V – V.
b) V – F – V – V. e) V – V – V – V.
c) F –V – V – F.
10. (UEPB)
A educação que recebera, de mimos e vigilâncias, era errônea. Ela devia ter aprendido da boca
dos seus pais que a sua honestidade de moça e de mulher tinha todos por inimigo, mas isto ao vivo,
com exemplos, claramente... O bonde vinha cheio. Olhou todos aqueles homens e mulheres... Não
haveria um talvez, entre toda aquela gente de ambos os sexos, que não fosse indiferente à sua
desgraça... Ora, uma mulatinha, filha de um carteiro! O que era preciso, tanto a ela como as suas
iguais, era educar o caráter, revestir‑se de vontade, como possuía essa varonil D. Margarida, para se
defender de Cassi e semelhantes, e bater‑se contra todos os que se opusessem, por este ou aquele
modo, contra a elevação dela, social e moralmente. Nada a fazia inferior às outras, senão o conceito
geral e a covardia com que elas o admitiam...
Chegaram em casa; Joaquim ainda não tinha vindo. D. Margarida relatou a entrevista, por entre o
choro e os soluços da filha e da mãe. Em um dado momento, Clara ergueu‑se da cadeira em que se
sentara e abraçou muito fortemente a mãe, dizendo, com um grande acento de desespero:
— Mamãe! Mamãe!
— Que é minha filha?
— Nós não somos nada nesta vida.
BARRETO, Lima. Clara dos Anjos. 4. ed. São Paulo: Martin Claret, 2011. p. 157-8.
Com relação ao fragmento, às características do autor e ao enredo do romance como um todo,
é correto afirmar que
a) Clara dos Anjos é ambientado em uma cidade imaginária na qual a estrutura agrária do Brasil
colonial e de suas relações sociais tradicionais não permitia casamentos entre brancos e negros.
b) a linguagem de Lima Barreto em Clara dos Anjos é o português parnasiano, no qual o trabalho
retórico com a linguagem tinha prioridade sobre sua comunicabilidade.
10 CLARA DOS ANJOS – 1948
OBRAS LITERÁRIAS
c) o romance Clara dos Anjos é narrado em terceira pessoa por um narrador que emite opiniões e
juízos de valor sobre as personagens e as cenas que narra.
d) os personagens de Clara dos Anjos são pobres que, à força de viverem em uma sociedade de privi‑
légios, sucumbem, sem exceção, à corrupção e à miséria.
e) Clara dos Anjos é, acima de tudo, um romance de resignação, que prega a aceitação do lugar que
nos é previamente reservado na sociedade.
11. (Fuvest) A obra de Lima Barreto
a) reflete a sociedade rural do século XIX, podendo ser considerada precursora do romance regiona‑
lista moderno e, portanto, modelo para a Geração de 30.
b) tem cunho social, embora esteja presa aos cânones estéticos e ideológicos românticos, e influen‑
ciou fortemente os romancistas da Primeira Geração Modernista.
c) é considerada pré‑modernista, uma vez que reflete a vida urbana paulista antes da década de 1920,
durante o apogeu do ciclo de café na região.
d) gira em torno da influência do imigrante estrangeiro na formação da nacionalidade brasileira, refle‑
tindo uma grande consciência crítica dessa problemática.
e) é pré‑modernista, refletindo forte sentimento nacional e grande consciência crítica de problemas
brasileiros.
12. (CEPBJ)
Mesmo ela [Clara] não tinha nenhum ardor musical, nem de repetir, nem de reproduzir, nem de
criar; aprazia‑lhe ouvir, e era o bastante para sua natureza elementar. Nem a relativa independência
que o ensino de música e piano poderia lhe fornecer, animava‑a a aperfeiçoar os seus estudos.
O seu ideal de vida não era adquirir uma personalidade, não era ser ela, mesmo ao lado do pai ou do
futuro marido. Era constituir função do pai, enquanto solteira, e do marido, quando casada. [...] Não
via que, adquirida uma pequena profissão honesta e digna do seu sexo, auxiliaria seus pais e seu
marido, quando casada fosse.
A leitura do fragmento, em consonância com a obra na íntegra, aponta para o perfil da protagonista,
que se pode entender como
a) o resultado de uma criação errônea em que ela sempre foi o centro das atenções.
b) a inabilidade em lidar com a frustração amorosa causada pelo rompimento com Cassi.
c) a recusa em aceitar os pontos de vista que se opunham aos seus.
d) a imobilidade passiva frente a uma realidade que era passível de transformação.
e) a ingenuidade maliciosa da mulher que usa do sexo para conquistar o amado.
GABARITO
1. D 2. D 3. C 4. C 5. D 6. D
7. B 8. C 9. B 10. C 11. E 12. D
CLARA DOS ANJOS – 1948 11