Direito Comercial
Índice
INTRODUÇÃO..................................................................................................................................................... 3
NOÇÕES.........................................................................................................................................................................3
DELIMITAÇÕES DO OBJECTO E ÂMBITO DO DIREITO COMERCIAL..............................................................................................3
FONTES DO DIREITO COMERCIAL........................................................................................................................................3
O ESPÍRITO DO DIREITO COMERCIAL...................................................................................................................................5
FONTES DE DIREITO COMERCIAL........................................................................................................................................6
INTERPRETAÇÃO E INTEGRAÇÃO DE LACUNAS........................................................................................................................6
OBRIGAÇÕES ESPECIAIS DOS COMERCIANTES...................................................................................................... 7
SOCIEDADES COMERCIAIS................................................................................................................................... 8
O QUE SÃO SOCIEDADES COMERCIAIS?................................................................................................................................8
SOCIEDADES POR QUOTAS................................................................................................................................................8
SOCIEDADES ANÓNIMAS...................................................................................................................................................9
OUTRAS FORMAS DE SOCIEDADES COMERCIAIS...................................................................................................................10
OS ACTOS DE COMÉRCIO................................................................................................................................... 11
NOÇÃO........................................................................................................................................................................11
DISTINÇÃO ENTRE ACTOS E ACTIVIDADE MERCANTIL;............................................................................................................11
CONCEITO MATERIAL DA ACTIVIDADE COMERCIAL................................................................................................................11
CLASSIFICAÇÃO DOS ACTOS DE COMÉRCIO..........................................................................................................................13
TEORIA DO ACESSÓRIO...................................................................................................................................................13
NOÇÃO DE COMERCIANTE...............................................................................................................................................14
OBRIGAÇÕES DOS COMERCIANTES....................................................................................................................................17
OBRIGAÇÕES ESPECIAIS DOS COMERCIANTES......................................................................................................................18
PRINCÍPIOS GERAIS (INFORMADORES) DA CONSTITUIÇÃO DE FIRMAS.......................................................................................19
FORMALIZAÇÃO DA FIRMA..............................................................................................................................................20
O ESTABELECIMENTO COMERCIAL.....................................................................................................................................21
EMPRESAS........................................................................................................................................................ 23
CONCEITOS INICIAIS.............................................................................................................................................. 23
PESSOAS CAPAZES E ABSOLUTAMENTE INCAPAZES PARA A PRÁTICA DO COMÉRCIO....................................................................23
FUNDO DE COMÉRCIO....................................................................................................................................................25
DESIGNAÇÃO DE SOCIEDADE COMERCIAL...........................................................................................................................25
TÍTULOS DE CRÉDITO......................................................................................................................................... 26
O CRÉDITO...................................................................................................................................................................26
PRINCÍPIO DA INCORPORAÇÃO OU LEGITIMAÇÃO.................................................................................................................27
PRINCÍPIO DA CIRCULABILIDADE.......................................................................................................................................27
PRINCÍPIO DA LITERALIDADE............................................................................................................................................28
PRINCÍPIO DA AUTONOMIA..............................................................................................................................................28
PRINCÍPIO DA ABSTRACÇÃO.............................................................................................................................................28
TÍTULOS IMPRÓPRIOS.....................................................................................................................................................28
TIPOLOGIA...................................................................................................................................................................29
PRINCIPAIS TÍTULOS DE CRÉDITO......................................................................................................................................30
EXTINÇÃO DO DIREITO CARTOLAR.....................................................................................................................................30
A LETRA DE CÂMBIO......................................................................................................................................................31
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Direito Comercial
OS NEGÓCIOS JURÍDICOS CAMBIÁRIOS...............................................................................................................................32
Protesto....................................................................................................................................................................35
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Direito Comercial
Introdução
Noções
Entende-se por Direito Comercial o corpo de normas, conceitos e princípios jurídicos que, no domínio do
Direito Privado, regem os factos e as relações jurídico comerciais.
Trata-se, de um ramo de Direito Privado, por isso que cuida de relações entre sujeitos colocados em pé
de igualdade jurídica.
E é um ramo de Direito Privado Especial, já que estabelece uma disciplina para as relações jurídicas que
se constituem no campo do comércio, a qual globalmente se afasta da que o Direito Civil, como ramo
comum, estabelece para a generalidade das relações jurídicas privadas.
O Direito Comercial é o ramo de Direito Privado que, historicamente constituído e autonomizado para
regular as relações dos comerciantes relativas ao seu comércio, e visando, a satisfação de necessidades
peculiares a este sector da vida económica, se aplica também a outros sectores da actividade humana
que se entende conveniente sujeitar à mesma disciplina jurídica.
Adopta-se um conceito normativo, jurídico-positivo: está sujeito ao regime das normas jurídico-
mercantins aquilo que estas normas determinam que se inclui no seu âmbito de aplicação. A
delimitação do âmbito do Direito Comercial terá, pois, de basear-se nas próprias normas jurídicas
positivas, nomeadamente, nas chamadas normas qualificadoras: as que se caracterizam como comercial
certa matéria, dizendo que pessoas são comerciantes e que negócios são comerciais.
O Direito Comercial é encorpado por uma concepção essencial de liberdade de iniciativa, liberdade de
concorrência, mobilidade de pessoas e mercadorias, objecto legítimo de lucro, internacionalismo das
relações económicas.
Delimitações do objecto e âmbito do Direito Comercial
A primeira concepção que surgiu foi a concepção subjectivista, segundo ela, o Direito Comercial é o
conjunto de normas que regem os actos ou actividades dos comerciantes relativos ao seu comércio.
Por seu turno, para a concepção objectivista, o Direito Comercial é o ramo de Direito que rege os actos
de comércio, sejam ou não comerciantes as pessoas que os pratiquem.
Não há sistemas puros: em ambos existem actos de comércio objectivos e regras próprias da profissão
de comerciante. E, deste modo, pode-se dizer que, na essência, a diferença entre as duas concepções se
resume a isto: no sistema subjectivista, só são comerciantes os actos praticados por comerciantes e no
exercício do seu comércio, pelo que não se admitem actos comerciais isolados ou avulsos,
especialmente de não comerciantes; já no sistema objectivista, uma vez que assenta nos actos de
comércio, independentemente de quem os pratica, são também como tais considerados os actos
ocasionais, mesmo que não praticados por comerciantes ou alheios à actividade profissional de um
comerciante, desde que pertençam a um dos tipos de actos regulados na lei comercial.
Fontes do Direito Comercial.
Modo pelo qual surgem as normas jurídicas de natureza comercial são, num esquema, as seguintes:
a) Exclusão do Direito Civil - aplicação subsidiária - o direito comum preexiste ao Direito
Comercial (não é fonte do mesmo) 1, tomando este, de empréstimo daquele, várias regras, tais
1
O Art. 121 do Código Comercial estabelece: "As regras e disposições do direito civil para os contratos em geral são
aplicáveis aos contratos comerciais, com as modificações e restrições estabelecidas neste Código".
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como, capacidade, condições para registo, obrigações, etc., além dos modos como resolver
omissões e/ou lacunas2;
b) Leis comerciais, onde figuram o Código Comercial (1850) e o Regulamento 737
(como referenciais históricos); e extensa legislação complementar, como a Lei de
Falências (Decreto-lei nº 7.661, de 21-6-1945), Sociedades por Quotas de
Responsabilidade Limitada (Dec. nº 3.708, de 10-1-1919 - Revogada), Sociedades
por Ações (Lei nº 6.404, de 15-12-1976), Títulos de Crédito (Dec. nº 57.663, de 24-1-
1966 - LEI UNIFORME DE GENEBRA), Propriedade Industrial (Lei nº 9,279, de 14-5-
1996), Cheque (Lei nº 7.357, de 2-9-1985), Lei do Inquilinato (Fundo de
Comércio), (Lei nº 8.245, de 18-10-1991), etc.
* OBS. Em virtude do desenvolvimento da prática comercial, sobretudo para regulamentar as acções,
para proteger o terceiro de boa fé, sem esquecer as novas figuras como o factoring e o leasing,
buscando dar maior celeridade aos negócios (inerentes ao comércio), as leis comerciais foram cada vez
mais sendo regulamentadas, o que gerou um "formalismo antagónico" pelo excesso de burocracia,
prejudicando, assim, inclusive, a prática do comércio exterior (normas tributárias) que somente no início
dos anos 90 é que foi retomada.
c) Os usos comercias - o Direito Comercial é, por natureza, consuetudinário, fundado nos estilos
dos comerciantes medievais, o que fez com que Requião ressaltasse "a inteligência inventiva e
capacidade técnica dos comerciantes de criarem normas práticas".
A importância dos Usos Comerciais.
Em razão de sua importância para a formação do Direito Comercial, aos Usos (e costumes) mercantis foi
destinada a relevância que merecem3, sendo tratados, aqui, de forma detalhada:
a) Os usos comerciais surgem espontaneamente - um comerciante fixa uma determinada norma,
esta vai sendo adoptada por outros e assim nascem os usos locais;
b) Têm como exigências para sua formação, a prática uniforme, constante e por certo período de
tempo;
c) "Um rei faz leis, súbditos produzem costumes", dessa forma podemos elaborar uma
diferenciação, lembrando que os costumes surgem com o tempo, não necessitam serem
impostos, não prevêem penalizações para sua inobservância e não podem quebrar leis,
enquanto que estas últimas surgem de forma instantânea, são impostas coercitivamente pelo
poder, sempre trazem previsão de penalidades pelo seu incumprimento e, finalmente, podem
quebrar costumes (será?);
2
O Art. 291 do Código Comercial diz: "As leis particulares do comércio, a convenção das partes sempre que não
lhes for contrária, e os usos comerciais, regulam toda sorte de associação mercantil; não podendo recorrer-se ao
direito civil para decisão de qualquer dúvida que se ofereça, senão na falta de lei ou uso comercial".
3
Art. 154 do C.Com.: "O comitente é obrigado a pagar ao mandatário todas as despesas e desembolsos que este
fizer na execução do mandato, e os salários e comissões que forem devidas por ajuste expresso, ou por uso e
prática mercantil do lugar onde se cumprir o mandato, na falta de ajuste".
Art. 168 do C.Com.: "O comissário que aceitar o mandato, expressa ou tacitamente, é obrigado a cumpri-lo na
forma das ordens e instruções do comitente; na falta destas, e na impossibilidade de as receber em termo
oportuno, ou ocorrendo sucesso imprevisto, poderá exequir o mandato, obrando como faria em negócio próprio e
conformando-se com o uso do comércio em casos semelhantes".
Art. 186 do C.Com.: "Todo comissário tem direito de exigir do comitente uma comissão pelo seu trabalho, a qual,
quando não tiver sido expressamente convencionada, será regulada pelo uso comercial do lugar onde tiver
sido executado o mandato (art. 154)".
Art. 207 do C.Com.: Correm, porém, a cargo do vendedor os danos que a coisa vendida sofrer antes de sua entrega:
2. Quando, por condição expressa no contrato, ou por uso praticado em comércio, o comprador tem direito de a
examinar, e declarar se se contenta com ela, antes que a venda seja tida por perfeita e
irrevogável". (todos os grifos são meus).
V. tb. art. 291 do C.Com.
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Direito Comercial
d) Não são considerados como costumes, actos de mero favor ou tolerância, de liberdade ou
condescendência;
e) São de direito, os usos reconhecidos em lei e interpretativos ou convencionais, aqueles
que decorrem da prática espontânea dos comerciantes 4, decorrendo sua eficácia apenas da
vontade das partes;
f) As Juntas Comerciais têm competência para efectivarem os assentos relativos aos usos e
costumes comerciais de sua região e, O Departamento Nacional do Registo do Comércio (DNRC),
para propor a conversão em lei dos usos de carácter nacional.
O espírito do Direito Comercial.
Do que foi dito até agora como introdução ao Direito Mercantil, podemos destacar, como elementos
característicos básicos, que podem ser chamados de formadores de seu modo, os seguintes:
Cosmopolitismo
Em qualquer região do mundo, os "comerciantes constituem um só povo", unidos que estão pelo intuito
de lucro, "fato universal que desconhece fronteiras". Dessa forma, as regras que regulam o comércio
aqui, não são muito diferentes das que existem do outro lado do mundo, como sobre o cheque ou as
multinacionais.
Individualismo
Em tempos de volta ao pensamento liberal adaptado à sociedade de consumo, essa característica
desponta como basilar para se entender o comércio como um todo.
Estão presentes aí a predominância do interesse individual sobre o colectivo, restrições à intervenção do
Estado na actividade económica, a "livre iniciativa", e a liberdade contratual.
Onerosidade
Encontra razão de ser na busca do lucro, prescindindo de maiores comentários.
Informalismo
Devido à dinâmica própria do comércio, da necessidade de operações rápidas (conforme a natureza,
até, de alguns produtos) e à existência de operações "em massa", as convenções utilizadas na mecânica,
não exigem maiores formalismos para sua realização além da vontade das partes (com-trato).
Fragmentarismo
Conforme visto anteriormente, as regras de Direito Comercial são muito esparsas. Talvez, por sua
variedade de assuntos. Também não podemos nos esquecer da força destinada aos usos e costumes,
que têm função decisiva na realização das transacções. Por isso, diz-se que o Direito Comercial é
fragmentado.
Solidariedade.
Entende-se por solidariedade, a responsabilidade no que concerne à satisfação dos créditos resultante
das operações mercantis à prazo. A ocorrência de tal característica visa, sobretudo, a tutela do crédito,
4
O cheque "pré-datado", p.e..
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Direito Comercial
elemento de suma importância para que haja segurança5 na actividade empresarial, e que será
estudado de forma completa oportunamente.
Contudo, tal solidariedade não se presume, resultando sempre de lei, ou da vontade das partes.
Fontes de Direito Comercial.
a) A Lei
A fonte primordial do Direito Comercial é a lei, entendida no seu sentido mais amplo, isto é, abrangendo
a lei constitucional, a lei ordinária e também as normas regulamentares.
b) Os usos e costumes
O art. 3º CCom, não se refere aos usos e costumes entre as fontes do direito mercantil.
Quanto aos costumes, o Direito Comercial não os acolhe como fonte de direito, aliás à semelhança do
que sucede com o Direito Civil (art. 3º CC). Assim a sua consagração como regras vinculativas, por via
jurisprudencial, não é entre nós admissível na medida em que ela contraria os comandos legais acerca
das fontes de direito. Para o costume ter relevância:
Que exista uma lei expressa que determine a sua aplicação;
Mesmo que haja, esses usos e costumes não podem contrariar o princípio da boa fé.
c) Doutrina
As opiniões dos jurisconsultos poderão ser havidas como fonte de direito na medida em que sejam tidas
em conta pelos Tribunais e pelos sujeitos de direito, mormente como reveladoras de princípios gerais,
com vista à integração de lacunas na lei.
d) Jurisprudência
Caracteriza-se na influência jus-criativa das correntes jurisprudenciais que se vão uniformizando ou
prevalecendo.
e) Fontes internacionais
São várias as convenções existentes que são recebidas no nosso direito desde que sejam satisfeitos os
requisitos no art. 8º CRP:
Convenções sobre as leis uniformes sobre letras, livranças e cheques;
Convenção da união de Paris sobre a propriedade industrial;
Tratado de Adesão às Comunidades Europeias;
Decisões dos Tribunais Internacionais.
Interpretação e integração de lacunas
O preceito fulcral para a análise desta questão é o art. 3º CCom, em cujos termos: “se as questões sobre
direitos e obrigações comerciais não puderem ser resolvidas, nem pelo texto da lei comercial, nem pelo
seu espírito, nem pelos casos análogos nela prevenidos, serão decididas pelo Direito Civil”.
Em questões de interpretação da lei comercial, o Código Comercial remete-se para o art. 9º CC.
Em relação à integração de lacunas à uma disposição especial no Código Comercial (art. 3º), em que,
recorre-se às forças internas do Direito Comercial e depois às forças externas, aplicando-se as normas de
Direito Civil.
As normas de Direito Comercial formam um corpo autónomo, o que torna admissível a sua aplicação
analógica dentro do campo do próprio direito mercantil, e que não sucederia se fosse normas
excepcionais (art. 11º CC).
5
SEGURANÇA JURÍDICA, segundo Paulo Dourado de Gusmão, pode ser entendida como "a
relativa fixidez de uma ordem jurídica vigente", ou seja, a certeza de que os negócios
contratados, efetivar-se-ão no tempo e no espaço, havendo, assim, condição de se prever
tanto o futuro, como as decisões dos Tribunais.
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Direito Comercial
O art. 3º CCom, permite o recurso às normas de Direito Civil para preencher lacunas do Direito
Comercial. Trata-se da concretização da ideia de que o Direito Civil é direito subsidiário em relação ao
Direito Comercial.
O procedimento correcto a adoptar para definir o regime de uma relação jurídica de Direito Comercial
será o seguinte:
No primeiro momento, há que definir se tal relação jurídica é ou não comercial, objectiva e
subjectivamente. Para tal recorre-se às chamadas normas delimitadoras do âmbito de aplicação
do Direito Comercial – arts. 2º, 230º, 266º, 481º, etc., CCom. Como é óbvio, se a relação jurídica
não for comercial, será civil.
Num segundo momento assente que um dado acto ou relação jurídica é comercial, há que
definir-lhe o regime. Poderão então surgir questões de interpretação e de integração de lacunas
da regulamentação comercial, as quais serão deslindadas pelo art. 3º CCom.
Obrigações Especiais dos Comerciantes
Pelo art. 16º do CCom. os comerciantes são especialmente obrigados:
A adoptar uma firma;
A ter escritura mercantil;
A fazer inscrever no registo comercial os actos a ele sujeitos;
A dar balanço e a prestar contas.
Cumprindo estas condições, é possível distinguir claramente os comerciantes uns dos outros, bem como
os seus estabelecimentos e os seus produtos, é possível dar a conhecer em qualquer momento a sua
situação financeira do comerciante e das suas transacções, é possível dar publicidade a certos actos
importantes que podem influir na vida mercantil dos comerciantes.
Da firma (art. 18º a 41º do CCom) podemos dizer que é o nome com que o comerciante singular ou
colectivo exerce o seu comércio. Podemos distinguir 3 tipos de firma, a firma nome é formada pelo
nome de 1 ou mais sócios, a firma denominação é formada com expressão relativa ao ramo da
actividade comercial e a firma mista é formada pela união das anteriores, o nome e a actividade. A firma
tem como caracteres essenciais:
Princípio da Obrigatoriedade (art. 18º do CCom), todo o comerciante terá um nome comercial, o
qual constituirá a sua firma.
Princípio da Verdade, (art. 19º do CCom) a firma não deverá conter elementos susceptíveis de
provocar confusão.
Princípio da Exclusividade (art. 24º do CCom), qualquer comerciante tem o direito ao uso da sua
firma pode impedir outrem adopte uma igual ou tão semelhante que se preste a confusão.
Princípio da Novidade (art. 20º do CCom), a firma deve ser única, e insusceptível de confusão
com qualquer outra já registada.
O comerciante ao ter uma escritura mercantil (art. 42º a 57º do CCom) além de ser uma obrigação
imposta ao mesmo para garantia da actividade comercial, constitui também uma imperiosa necessidade
de regular e conscienciosa direcção dos seus negócios. É também obrigatória no interesse geral do
público porque demonstra a maneira de negociar do comerciante, o seu procedimento honesto ou a sua
má fé nas transacções, sobretudo no caso de falência em que se tem que reconstituir a sua vida
mercantil, para averiguar se houve negligência, fraude ou culpa sujeitas a punição. Assim podemos dizer
que a utilidade da escrituração mercantil se baseia em:
No interesse do próprio comerciante;
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Direito Comercial
No interesse das pessoas que com ele efectuam transacções;
No interesse geral do público.
O registo comercial (art. 58º a 61º do CCom) surgiu da necessidade de favorecer aqueles que
transaccionam com os comerciantes, forçoso é reconhecer também quanto estes podem aproveitar os
seus benefícios. O registo comercial abrange o depósito de documentos; a matrícula, inscrições e
averbamentos; a publicação em jornais oficiais.
O balanço e a prestação de contas estão directamente relacionados com a escrituração mercantil. Os
balanços (art. 60º a 61º do CCom) podem ser ordinários quando se efectuam em períodos certos,
geralmente anuais, para determinar a situação económico-financeira da empresa a apurar os resultados
do exercício a que se referem, se os balanços forem extraordinários não tem carácter periódico,
normalmente são elaborados para a determinação do valor real do património da empresa, muito
utilizados em caso de falência, dissolução de sociedades, fusão de sociedades….
Um balanço pode ser caracterizado por ser claro, exacto e completo, para que a sua leitura seja clara e
revele a verdadeira situação da empresa a que respeita. As prestações de contas (art. 63º do CCom)
devem efectuar-se no fim de cada uma quando se trata de negociações, anualmente quando se tratar
de transacções comerciais de curso seguido e no tempo de encerramento quando se tratar do contrato
de conta corrente.
Sociedades Comerciais
O que são sociedades comerciais?
São empresas constituídas mediante contrato de sociedade em que duas ou mais pessoas (sócios) se
reúnem para a prática de actos comerciais.
Se optar por constituir uma sociedade com sócios, pode escolher um dos seguintes tipos de sociedade
comercial:
Sociedade por Quotas;
Sociedade Anónima;
Sociedades por Quotas
As sociedades por quotas exigem um mínimo de dois sócios (excepto no caso das sociedades
unipessoais por quotas). A lei não admite sócios de indústria (que entrem com o seu trabalho). Todos
têm que entrar com dinheiro, ou com bens avaliáveis em dinheiro. O capital social mínimo é de 5 mil
euros, que não tem que ser integralmente realizado no momento em que o pacto social é outorgado
(podem ser diferidas 50 por cento das entradas em dinheiro, desde que o capital mínimo fique logo
realizado).
A responsabilidade dos sócios tem uma dupla característica: é limitada e solidária. É limitada porque
está circunscrita ao valor do capital social. Quer isto dizer que por eventuais dívidas da sociedade
apenas responde o património da empresa e não o dos sócios. É solidária na medida em que, no caso do
capital social não ser integralmente realizado aquando da celebração do pacto social, os sócios são
responsáveis entre si pela realização integral de todas as entradas convencionadas no contrato social
(mesmo que um dos sócios não cumpra com a sua parte).
A firma pode ser composta pelo nome ou firma de algum ou de todos os sócios, por uma denominação
particular ou uma reunião dos dois. Em qualquer dos casos, tem que ser seguida do aditamento
obrigatório “Limitada” por extenso ou abreviado - “Lda”.
Vantagens:
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Direito Comercial
A responsabilidade dos sócios é limitada aos bens afectos à empresa, havendo uma separação
clara do património da empresa. Logo, o risco pessoal é menor.
A existência de mais do que um sócio pode garantir uma maior diversidade de experiências e
conhecimentos nos órgãos de decisão da empresa.
Há maior probabilidade de se garantir os fundos necessários, pois podem ser mais pessoas a
entrarem no capital da empresa e o crédito bancário tende a ser mais fácil.
Desvantagens:
Um sócio pode ser chamado a responder perante os credores pela totalidade do capital.
O empresário não tem o controlo absoluto pelo governo da sociedade, já que existe mais do que
um proprietário.
As sociedades por quotas são mais difíceis de constituir e dissolver por imperativos formais de
carácter legal e, sobretudo, pela necessidade de acordo entre os sócios.
Os sócios não podem imputar eventuais prejuízos do seu negócio na declaração de IRS (os
resultados das sociedades são, obviamente, tributados em sede de IRC).
É obrigatória a entrada dos sócios com dinheiro ou, pelo menos, com bens avaliáveis em
dinheiro.
Recomendação:
Este tipo de sociedades é indicado para os empresários que queiram partilhar o controlo e a
gestão da empresa com um ou mais sócios, nomeadamente quando não possuem todos os
conhecimentos e competências necessárias para conduzir sozinho o negócio.
Sociedades Anónimas
São sociedades de responsabilidade limitada no rigoroso sentido do conceito, porquanto os sócios
limitam a sua responsabilidade ao valor das acções por si subscritas. Assim, os credores sociais só se
podem fazer pagar pelos bens sociais. O capital social mínimo é de 50 mil euros e está dividido em
acções de igual valor nominal (no mínimo igual a um cêntimo). Nas entradas em dinheiro, pode ser
diferida a realização de 70 por cento do valor nominal das acções, por um período máximo de cinco
anos. O número mínimo de sócios, normalmente designados por accionistas, é cinco, não sendo (à
semelhança das sociedades por quotas), admitidos sócios de indústria. No entanto, uma sociedade
anónima pode ter um único sócio, desde que seja uma sociedade e não um indivíduo. A firma pode ser
composta pelo nome (ou firma) de algum (ou de todos) os sócios, por uma denominação particular ou
uma reunião dos dois. Em qualquer dos casos, tem que ser seguida do aditamento obrigatório
“Sociedade Anónima”, ou abreviado - “S.A.”.
O contrato social deve conter, entre outros, os seguintes elementos:
Categorias de acções que sejam criadas, seu número e direitos;
Os tipos de acções (nominativas ou ao portador) e as regras para a sua eventual conversão;
O prazo para a realização do capital apenas subscrito;
A eventual autorização para a emissão de obrigações;
A estrutura adoptada para a administração e fiscalização da sociedade.
Vantagens:
Existe uma maior facilidade na transmissão dos títulos representativos da sociedade, seja por
subscrição privada ou pública.
A responsabilidade dos sócios está confinada ao valor da sua participação, não respondendo de
forma solidária com os sócios pelas dívidas da sociedade.
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Direito Comercial
A obtenção de montantes de capital mais elevados é mais fácil, seja pela via da emissão e venda
de novas acções da empresa ou através de financiamento bancário.
Desvantagens:
Existe, em regra, uma maior diluição do controlo sobre a empresa. Existem regras para a
protecção dos accionistas minoritários, que podem bloquear decisões importantes, como fusões
e aquisições de empresas.
É uma forma de organização mais dispendiosa, pois requer procedimentos burocráticos mais
complexos ao nível da sua constituição e dissolução.
Se for cotada num mercado de capitais, a empresa está sujeita a uma fiscalização muito mais
apertada por parte das entidades reguladoras (em Portugal, a Comissão do Mercado de Valores
Mobiliários - CMVM) e do próprio mercado em geral.
Recomendação:
A sociedade anónima é, sobretudo, indicada para empresas com volumes de negócios de
alguma dimensão que precisam de garantir financiamentos (seja através do crédito bancário,
seja da entrada de novos accionistas) de alguma envergadura para crescer.
Outras formas de sociedades comerciais
A lei prevê ainda mais dois tipos de sociedades comerciais:
Sociedades em nome colectivo.
Sociedades em comandita.
Nas sociedades em nome colectivo, os sócios respondem de uma forma ilimitada e subsidiária perante a
empresa e solidariamente, entre si, perante os credores. O número mínimo de sócios é dois e podem ser
admitidos sócios de indústria. A firma-nome deve ser composta pelo nome (completo ou abreviado), o
apelido, ou a firma (de todos, alguns ou, pelo menos, de um dos sócios), seguido do aditamento
obrigatório "e Companhia" (ou abreviado e "Cia"), ou qualquer outro nome que indicie a existência de
mais sócios (como, por exemplo, "e Irmãos", por extenso ou abreviado).
As sociedades em comandita são de responsabilidade mista pois reúnem sócios cuja responsabilidade é
limitada (comanditários) que contribuem com o capital, e sócios de responsabilidade ilimitada e
solidária entre si (comanditados) que contribuem com bens ou serviços e assumem a gestão e a direcção
efectiva da sociedade. Na sociedade em comandita simples o número mínimo de sócios é dois. A
sociedade em comandita por acções deve constituir-se com o número mínimo de cinco sócios
comanditários e um comanditado. Deve adoptar uma firma composta pelo nome (completo ou
abreviado), ou a firma, de pelo menos um dos sócios de responsabilidade ilimitada. É obrigatório o
aditamento "em Comandita" ou "& Comandita", para as sociedades em comandita simples e o
aditamento obrigatório "em Comandita por Acções" ou "& Comandita por Acções", para as sociedades
em comandita por acções.
Recomendação:
Quer um, quer outro tipo de sociedade comercial está francamente em desuso, pois impõem
uma responsabilidade ilimitada e solidária de todos ou de alguns sócios. Desta forma, as figuras
da sociedade por quotas e da sociedade anónima, que limitam a responsabilidade dos sócios ao
património da empresa, são muito mais atraentes e, portanto, as mais comuns no mundo
empresarial.
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Direito Comercial
Os actos de Comércio
Noção
Da leitura do art. 2º CCom emerge a ideia de que certos actos jurídicos, ou seja, certos acontecimentos
juridicamente relevantes são considerados como comerciais. No entanto, a palavra “acto” deve ser
tomada num sentido mais amplo de que o compreendido no seu significado básico corrente – o da
conduta humana –, pois aqui ela abrange:
a) Qualquer facto jurídico em sentido amplo, verificado na esfera das actividades mercantis e ao
qual sejam atribuídos efeitos jurídicos, designadamente:
Factos jurídicos naturais ou involuntários;
Factos jurídicos voluntários, isto é, actos jurídicos, quer lícitos, quer ilícitos;
Negócios jurídicos voluntários, mormente de carácter bilateral ou contratos.
b) Tanto os factos jurídicos isolados ou ocasionais, que podem ser praticados, muitas vezes, por
comerciantes ou por não comerciantes, como os actos que fazem parte de uma actividade
comercial, ou seja, de uma massa, cadeia ou sucessão de actos jurídicos interligados pela
pertinência a uma mesma obrigação – e por visarem a prossecução de fins comuns, quer do fim
imediato ou objecto – exploração de um determinado tipo de negócio –, quer o fim mediato –
consecução de lucros.
Distinção entre actos e actividade mercantil;
O corpo do art. 230º CCom, determina: “haver-se-ão por comerciais as empresas individuais ou
colectivas, que se propuserem:” seguindo-se uma série de números que referem diversas espécies de
actividades económicas.
As actividades das empresas enumeradas neste artigo estão classificadas como actos do comércio
objectivos.
O que em todo o caso ressalta evidente é que o art. 230º CCom, tem destacada importância como
norma qualificadora, quer pela relevância nele atribuída à empresa no plano conceitual, que sobretudo
por dele decorrer a sujeição ao Direito Comercial de todos os actos que se enquadrem nas actividades
das empresas em questão, mesmo que não tivessem se encarados isoladamente.
Os actos praticados no exercício de uma das actividades abrangidas pelo art. 230º CCom, serão sempre
actos de comércio, por não terem “natureza essencialmente civil”[1] e por serem praticados por um
comerciante no âmbito com o seu comércio.
A actividade comercial é, um encadeado de actos interligados e duradouro, sendo o art. 230º CCom,
que, no conjunto de actos que a integram, nos permite valorar cada um deles em termos jurídico-
comerciais.
Conceito material da actividade comercial
Não há, na lei comercial, uma definição material unitária de acto de comércio. E por outro lado, na
medida em que o art. 4º CCom, considera comerciais, em regra, todos os actos do comerciante no
exercício da sua actividade, mais difícil parece encontrar um conceito que a todos abrange, uma
factualidade típica que englobe todos os actos na sua multiplicidade.
Interpretação da 1ª parte do art. 2º do Código comercial
Lê-se na 1ª parte do art. 2º CCom: “serão considerados actos de comércio, todos aqueles que se
acharem especialmente regulados neste Código”.
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Direito Comercial
Quer o legislador referir-se a actos que devem a sua qualidade de actos de comércio à circunstância de
se acharem regulados em determinado diploma. Porque se trata de uma circunstância objectiva, que
nada tem a ver com os sujeitos que praticam esse acto, são eles designados como actos de comércio
objectivos.
a) Actos simultaneamente regulados na lei civil e na lei comercial: em princípio, estes actos serão
civis; no entanto, serão comerciais quando neles se verificarem aquelas características
específicas que a lei comercial estabelece como atributivas da comercialidade.
b) Actos exclusivamente regulados no Código Comercial: são os que se acham directa e
explicitamente referidos, de forma genérica, na 1ª parte do art. 2º CCom;
c) Actos regulados na legislação extravagante posterior ao Código Comercial.
Interpretação da 2ª parte do art. 2º do Código Comercial
Pela 2ª parte do art. 2º CCom, são também considerados como actos de comércio “todos os contratos e
obrigações dos comerciantes que não forem por natureza exclusivamente civil, se o contrário do próprio
acto não resultar”.
Trata-se pois, daqueles actos que são comerciais, não pelo factor objectivo consistente na lei em que
são regulados, mas sim pelo elemento subjectivo consistente em serem praticados pelos comerciantes.
Daí que se denominem actos subjectivos: é a qualidade do sujeito que os pratica, que lhes confere
comercialidade.
A lei parte do princípio de que, sendo o comerciante um profissional de comércio, actividade complexa
cujo exercício implica a montagem e orientação de uma organização potencialmente absorvente, deve-
se partir do pressuposto de que a sua actividade jurídica é, em regra, inerente à sua actividade
económica. Logo, até prova em contrário – pois a presunção é iuris tantum – os actos do comerciante
são actos de comércio por se presumir estarem ligados à sua empresa mercantil.
Precisamente por tal presunção deve ser ilidivel, a 2ª parte do art. 2º CCom, admitindo duas ressalvas ao
postulado base de que são actos de comércio “todos os contratos e obrigações dos comerciantes”.
Assim, estes actos não serão actos de comércio:
Se forem de natureza exclusivamente civil; e
Se o contrário do próprio acto não resultar.
a) “De natureza exclusivamente civil”
É aquele (acto) que for essencialmente civil, ou seja, que não possa ser praticado em conexão com o
comércio, que não possa ser “comercializado”, por ser impossível que tenha alguma conexão com o
exercício do comércio, nem poder deste derivar;
b) “Se o contrário do próprio acto não resultar”
Os actos dos comerciantes que não forem de natureza exclusivamente civil serão comerciais, se deles
mesmos não resultar que não têm relação com o exercício do comércio do comerciante que os pratica.
Esta exegese pretende-se com a própria redacção do artigo: “o contrário” reporta-se à frase do princípio
do artigo: “serão considerados actos de comércio…”. Os actos dos comerciantes serão considerados
comerciais se deles não resultar o contrário, isto é, que não são actos de comércio, por não terem
relação alguma com o comércio de quem os praticou, ou seja, que não têm natureza nem causa
mercantil.
É a interpretação que atende à razão de ser da norma: à presunção de que os actos jurídicos praticados
pelos comerciantes o são no exercício do comércio. Logo, quando do próprio acto resultar que ele não
tem qualquer ligação ou pertinência ao comércio de quem o praticou, conclui-se que ele não é um acto
de comércio.
Em resumo, o art. 2º CCom, abrange como actos de comércio:
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Direito Comercial
Os que estiverem regulados no Código Comercial e em outras leis em razão dos interesses do
comércio: actos objectivos;
E os que forem praticados por comerciantes – actos subjectivos –, presumindo-se que o são no
exercício ou em ligação com o seu comércio; presunção esta que será elidível pela
demonstração: ou de que o acto é de natureza exclusivamente civil, por não poder ser praticado
em relação com o comércio; ou de que do próprio acto resulta que é alheio à actividade
comercial de quem o praticou.
Classificação dos actos de comércio
Actos de Comércio subjectivos e objectivos
São actos de comércio objectivos, os que são regulados na lei comercial, em razão do seu conteúdo ou
circunstâncias.
São actos de comércio subjectivos, aqueles que a lei atribui comercialidade pela circunstância de serem
tais actos conexos com a actividade comercial dos seus autores.
Actos de comércio absoluto e por conexão ou acessórios
Os actos de comércio absolutos ou por natureza são comerciais devido à sua natureza intrínseca, que
radica do próprio comércio, na vida mercantil. São actos gerados e tipificados pelas necessidades da vida
comercial.
Podem-se distinguir duas espécies de actos dentro desta categoria:
Uns, – que são a maior parte – são actos absolutos em virtude de serem os actos
caracterizadores, típicos, essencialmente integrantes daquelas actividades que tornam o
objectivo material do Direito Comercial;
Outros são actos absolutos em razão da sua forma, ou do objecto sobre o qual incidem.
Os actos de comércio por conexão ou acessórios são comerciais apenas em virtude da sua especial
ligação a um acto de comércio absoluto ou a uma actividade qualificada de comercial.
Teoria do acessório
Partindo da constatação de que certos actos, civis pelas suas características, podem tornar-se comerciais
por serem praticados em ambiente comercial. Segundo a teoria do acessório, são actos de comércio
acessórios os actos praticados por um comerciante no exercício do seu comércio, e além disso, os actos
ligados a um acto de comércio absoluto.
Assim, para esta teoria há duas categorias de actos de comércio: os que estão ligados à actividade
comercial de um comerciante; e, os que adquirem comercialidade por terem relação com o de um acto
de comércio por natureza.
Desta teoria nada de novo resultaria que o nosso direito não reconhecesse já: os actos acessórios da
primeira categoria são os actos subjectivos (2ª parte do art. 2º CCom); e os da segunda categoria, não
sendo subjectivos, serão objectivos, isto é, seriam os actos de comércio simultaneamente objectivos e
acessórios, os actos de conexão objectiva.
A teoria do acessório conduz a incluir nesta segunda categoria de actos acessórios, certos actos que não
são em face dos preceitos da nossa lei: por ela, seriam também actos de comércio acessórios os actos
conexos com os actos de comércio objectivos e absolutos praticados por um não comerciante.
Actos substancialmente e formalmente comerciais
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Direito Comercial
Actos formalmente comerciais, os que são regulados na lei comercial como um esquema formal, que
permanece aberto para dar cobertura a um qualquer conteúdo, mas abstraem no seu regime do objecto
ou fim para que são utilizados.
Actos substancialmente comerciais, os que têm comercialidade em razão da própria natureza, ou seja,
por representarem, em si mesmos, actos próprios de actividades materialmente mercantis.
Actos de comércio causais e abstractos
Diz-se causal, todo o acto que a lei regula em ordem a preencher ou a realizar uma determinada e
específica causa-função jurídico-económica.
É abstracto, aquele que se revela adequado a preencher uma multiplicidade indeterminada de causas
funções, podendo a relação jurídica que dele resulta ter uma vida independente da relação que lhe deu
origem.
Actos bilateralmente comerciais ou puros e actos unilateralmente comerciais ou mistos
São bilaterais ou puros os actos que têm carácter comercial em relação às duas partes. E são unilaterais
ou mistos os actos que apenas são comerciais em relação a uma das partes, e civis em relação à outra
(art. 99º CCom).
Noção de comerciante
Noção de comerciante e a sua importância
O legislador não deu uma definição legal de comerciante, mas sim, indica quais sãos as categorias legais
de comerciantes (art. 13º CCom).
Tem-se segundo o entendimento tradicional do art. 13º CCom, por um lado os comerciantes que são
pessoas singulares – geralmente designados por comerciantes em nome individual – e os comerciantes
que são pessoas colectivas – as sociedades comerciais.
No domínio do Direito Comercial, deve prevalecer, em geral, a noção de comerciante que resulta do art.
13º CCom: comerciante é quem, enquadrando-se numa das duas categorias do art. 13º CCom, seja
titular de uma empresa que exerça uma das actividades comerciais, tais como as qualificam o art. 230º
CCom, e as demais disposições no avulsas que caracterizam e englobam no Direito Comercial certas
actividades económicas.
A aquisição da qualidade de comerciante é sempre originária, não podendo transmitir-se nem inter
vivos, nem mortis causa.
Portanto, quem organizar ou adquirir uma empresa comercial terá de preencher, em si mesmo, os
requisitos necessários para obter de si a qualidade de comerciante.
O art. 13º/1 CCom, refere-se a pessoas. Em geral, entende-se que aquele n.º 1, só abrange pessoas
singulares: os chamados comerciantes em nome individual. Mas pode questionar-se se ali se abrangerão
também pessoas colectivas.
Há, três casos especiais quanto ao problema do art. 13º/1 CCom:
a) As sociedades civis em forma comercial: a solução tradicional, que sustenta que não são
comerciantes, foi posta em dúvida face ao art. 42º/1 DL 42645, de 14 de Novembro de 1959, tal
como pode sê-lo hoje perante o art. 3º CRC, que sujeita tais sociedades à matrícula. Ora, a
matricula no registo comercial é um acto apenas aplicável aos comerciantes e às demais
entidades expressamente mencionadas no CRC. As sociedades civis em forma comercial não
são, pois comerciantes, já que apenas estão sujeitas, por equiparação, ao regime das sociedades
comerciais, mas não lhes és genericamente aplicável o regime dos comerciantes.
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Direito Comercial
b) Empresas públicas: serão comerciantes, face ao art. 13º/1 CCom? E se o não forem, deverão ser
qualificadas como comerciantes, mercê do respectivo regime estatutário geral (DL 260/76, de 8
de Março)? Em face destas duas normas, entre si conjugadas, afigura-se que, se as empresas
públicas não são rigorosamente qualificáveis como comerciantes, no entanto estão pela lei a
eles equiparadas, no que toca à capacidade jurídica e às normas aplicáveis às suas actividades; e
uma dessas normas será precisamente, a 2ª parte do art. 2º CCom.
c) Agrupamentos Complementares de Empresas (ACE): pessoas colectivas cujo regime jurídico
consta da Lei 4/73, e do DL 430/73, de 25 de Agosto. O objectivo geral destes agrupamentos
consiste em melhorar as condições de exercício ou os resultados das actividades económicas das
pessoas (singulares ou colectivas) nelas agrupadas. Devem pois, os ACE ter um escopo concreto,
relacionado com as actividades agrupadas. E podem ter um fim principal e fim ou fins
acessórios. Mas os ACE não podem ter por fim principal a realização e partilha de lucros, muito
embora possam ter esse fim como acessório, se o contrato constitutivo expressamente o
autorizar. As ACE por princípio, não são necessariamente comerciantes.
Os comerciantes em nome individual. A matrícula
O art. 13º/1 CCom, só abrange pessoas físicas: os usualmente denominados comerciantes em nome
individual.
Quando é que uma pessoas física se diz comerciante?
Em face do CRC, constata-se que a matrícula não é uma condição nem necessária, nem suficiente, para a
aquisição da qualidade de comerciante.
Não basta estar matriculado como comerciante mesmo sem matrícula. Esta não é, portanto, condição
nem suficiente nem necessária da aquisição da qualidade de comerciante em nome individual.
Requisitos de acesso à qualidade de comerciante
a) Personalidade jurídica
Quanto a este requisito, não há aqui a considerar quaisquer especialidades face ao regime geral do
Direito Civil.
Assim, além de assumir a personalidade jurídica das pessoas singulares (art. 66º CC), a lei comercial
atribui-a às sociedades comerciais (art. 5º CSC) e às sociedades civis em forma comercial (art. 1º/4 CSC).
b) Capacidade comercial
A capacidade jurídica constitui a medida dos direitos e obrigações de que uma pessoa é susceptível de
ser sujeito (art. 67º CC) e que a doutrina distingue entre a capacidade de gozo e a capacidade de
exercício. Dos arts. 14º/1 e 17º CCom, resultam restrições à capacidade comercial sem fim lucrativo e de
Direito Público.
Quanto à capacidade de exercício, deverá ter-se em conta o art. 7º CCom, que enuncia dois princípios
fundamentais: o da liberdade de comércio e o da coincidência entre a capacidade civil e a capacidade
comercial.
A plena capacidade comercial depende de uma pessoa – singular ou colectiva – ter capacidade civil e
não estar abrangida por alguma norma que estabeleça uma restrição ao exercício do comércio.
Podem os menores e os demais incapazes ser comerciantes?
O art. 13º/1 CCom, ao exigir capacidade para a prática de actos de comércio, pretende referir-se à
capacidade jurídica de exercício, tanto mais que alude ao carácter profissional do comércio, o que
pressupõe uma prática habitual de actos geradores, mediadores ou extintivos de direitos e obrigações.
Assim, parece que não pode conceber-se o exercício de uma profissão deste jaez por um incapaz: o
próprio conceito de profissão e, no caso, a circunstância de ela se traduzir numa contínua e habitual
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Direito Comercial
prática de actos e negócios jurídicos, sendo, portanto, absorvente e responsabilizante, afigura-se
incompatível com a situação jurídica de incapacidade.
A inclusão dos menores e interditos no art. 13º/1 CCom, deve entender-se cumgrano salis quanto ao
exercício profissional do comércio: considera-se que tal exercício será a prática habitual de actos
comerciais, não directa e pessoalmente pelos incapazes, mas pelos seus representantes em nome e por
conta daqueles. Isto, evidentemente, desde que os representantes obtenham a autorização judicial
eventualmente necessária, face aos arts. 1889º e 1938º CC.
c) Exercício profissional do comércio
Pressupõe e concretiza-se através da prática de actos de comércio. Mas não qualquer prática: só a
prática em termos de profissão.
Não basta a prática de actos de comércio isolados ou ocasionais: para se adquirir a qualidade de
comerciante é indispensável a prática regular, habitual, sistemática, de actos de comércio;
Não basta a prática, mesmo que habitual de quaisquer actos de comércio: nem todos estes
actos têm a mesma potencialidade de atribuir a quem os pratique a qualidade de comerciante;
É indispensável para que haja profissionalidade que o indivíduo pratique os actos de comércio
de forma a exercer como modo de vida uma das actividades económicas que a lei enquadra no
âmbito do direito mercantil;
Deve entender-se como indispensável que a profissão de comerciante seja exercida de modo
pessoal, independente e autónomo, isto é, em nome próprio, sem subordinação a outrem;
É indispensável que o comerciante organize factores de produção com vista à produção das
utilidades económicas resultantes de uma daquelas utilidades económicas que a lei considera
como comerciais.
Portanto, é comerciante quem possui e exerce uma empresa comercial: quem é titular de uma
organização daquelas que a lei qualifica como empresas comerciais para através dela exercer uma
actividade comercial.
Situações duvidosas quanto à aquisição da qualidade de comerciante
O art. 14º e 17º CCom, pretende evitar um alargamento excessivo da categoria de comerciante. O art.
14º/2 CCom, aplica-se aos acasos do art. 13º/1 CCom.
Quer as pessoas de fim desinteressado, quer as pessoas colectivas de fim interessado não económico,
não podem ser comerciantes.
Mandatário comercial, a doutrina entende que não são comerciantes, são sujeitos que a título
profissional executam um mandato comercial com representação.
Mandato mercantil, traduz-se na execução do mandato, pratica um conjunto de actos (um ou mais) de
comércio, realizados pelo mandatário comercial, produzem efeitos jurídicos na esfera jurídica do
mandante representado (art. 231º; 258º CCom).
a) Gerente (arts. 248º a 250º CCom)
Quem em nome e por conta de um comerciante trata do comércio desse comerciante, no lugar onde
esse comerciante tenha ou peça para actuar.
Tem um poder de representação (art. 249º CCom), é um poder geral e compreensivo de todos os actos
pertencentes e necessários ao exercício do comércio para que tenha sido dado, não são comerciantes.
b) Auxiliares de comércio (art. 256º CCom)
São encarregados de um desempenho constante em nome e por conta dos comerciantes de algum (s)
dos ramos de tráfico.
c) Caixeiros (art. 257º CCom)
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Direito Comercial
São empregados do comerciante, encarregados de funções várias. O poder de representação do caixeiro
(e dos auxiliares) é um poder de representação menor que dos gerentes (arts. 258º e 259º CCom).
São classificados no Código Comercial como mandatários com representação. Os poderes de
representação podem resultar de outros negócios jurídicos sem ser o contrato de mandato. Sendo
subordinados, praticam actos de comércio, por nome e por conta do empregador – para aquele negócio
não são comerciantes.
d) Comissários (dos comerciantes) – art. 266º CCom, contratos de comissão, art. 268º CCom)
Fica directamente obrigado com as pessoas com quem contratou como se o negócio fosse seu.
O comissário pratica os actos para o comitente, repercutem-se na esfera jurídica do comissário, fica o
titular dos bens adquiridos. Há uma segunda negativa que regula a relação que o comissário tem com o
comitente. O comissário vai receber do comitente além da sua remuneração (ordinária) um outro
montante.
Se o comissário, praticar actos de forma comercial, faz do comércio profissão para efeitos do art. 13º
CCom, é irrelevante se ele os pratica para ele ou por conta de outrem – ele é comerciante – fica
obrigado pela prática dos seus actos.
e) Mediadores
Pessoa colectiva ou singular, que servem de elo de ligação entre diversos sujeitos jurídicos, promove a
celebração de negócios entre duas pessoas. Executam actos de comércio, a sua actividade está incluída
no art. 230º/3 CCom.
f) Agentes comerciais
Promove por conta de outrem a celebração de contratos. Operador independente mediante retribuição.
O essencial da sua actividade é a promoção do contrato, pode celebrar também se tiver mandato para
isso.
Obrigações dos comerciantes
Forma
O princípio da consensualidade ou liberdade de forma (art. 219º CC) é por vezes aplicado de forma mais
extensa no âmbito do direito comercial: aqui o intuito de promover as relações mercantis, protegendo o
crédito e a boa fé, leva a promover a simplicidade da forma.
Solidariedade passiva
A solidariedade das obrigações não se presume: tem que resultar da lei ou da vontade das partes (art.
513º CC), assim é, em direito comum, ou seja, quanto às obrigações civis, nas quais, portanto, a regra é a
conjunção.
Mas não é assim nas obrigações comerciais, nas quais, salvo estipulação em contrário, os co-obrigados
são solidários (art. 100º CCom), a menos que se trate de actos de comércio unilaterais, nos quais não há
solidariedade para os obrigados em relação aos quais o acto não for comercial (art. 100º § único CCom).
Este regime constitui a ressalva constante da 2ª parte do art. 99º CCom, e tem por escopo o reforço do
crédito, que constitui um dos princípios inspiradores do Direito Comercial.
Responsabilidade dos bens dos cônjuges por dívidas comerciais
No actual regime dos efeitos do casamento sobre os direitos patrimoniais dos cônjuges, prevalece o
princípio da igualdade de direitos e deveres, a ambos pertencendo a orientação da vida em comum e a
direcção da família (art. 1671º CC). No tocante às dívidas contraídas pelos cônjuges, aquele primeiro
princípio tem como corolário, o disposto no art. 1690º/1 CC: qualquer dos cônjuges tem legitimidade
para contrair dívidas sem o consentimento do outro.
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Direito Comercial
No caso das dívidas contraídas no exercício do comércio pelo cônjuge comerciante, o legislador inverteu
o ónus da prova: de forma implícita, presume que elas foram contraídas pelo comerciante em proveito
comum do casal. E, portanto, estabelece que só não será assim se for provado – em regra pelo cônjuge
do comerciante ou eventualmente por este – que as dívidas não foram contraídas em proveito comum
do casal.
A lei não se basta com o já apontado regime do art. 1691º/1-d CC, para a protecção dos interesses dos
credores dos comerciantes, a bem do próprio comércio. Vai mais além, pois o art. 15º CCom, determina
que: “as dívidas comerciais do cônjuge comerciante presumem-se contraídas no exercício do seu
comércio”.
O art. 15º CCom, apenas se aplica aos casos de dívidas comerciais – isto é, resultante de actos de
comércio de um comerciante casado.
Se um credor de um comerciante fizer prova de que a dívida é comercial e o devedor é comerciante,
presume-se que a dívida foi contraída por este no exercício do comércio e, portanto, a dívida é da
responsabilidade de ambos os cônjuges (arts. 1691º/1-a e 1695º CC; art. 15º CCom).
Para afastar este regime é preciso que o cônjuge do comerciante ou mesmo este:
Ilida a presunção do art. 15º CCom, provando que a dívida do comerciante, apesar de ser
comercial, não foi contraída no exercício da actividade comercial daquele;
Ou, em todo o caso, ilida a presunção implícita no art. 1691º/1-d CC, provando que a dívida não
foi contraída em proveito comum do casal.
Obrigações especiais dos comerciantes
A firma
O comércio é executado sob uma designação nominativa, que constitui a firma. Há, porém, no direito
comparado duas concepções diversas de firma:
Para o conceito objectivo, a firma é um sinal distintivo do estabelecimento comercial. Daí decorrem,
como corolários, a possibilidade de tal designação ser composta livremente e ser transmitida com o
estabelecimento, independentemente de acordo expresso.
Para o conceito subjectivo, a firma é um sinal distintivo do comerciante – o nome que ele usa no
exercício da sua empresa: é o nome comercial do comerciante. Daí que, em relação ao comerciante
individual, nesta concepção, a firma deva ser formada, a partir do seu nome civil e, em princípio
intransmissível.
O art. 18º CCom[2], está relacionado com o estatuto de comerciante. Considera-se a firma o nome
comercial do comerciante, sinal que os identifica ou individualiza também o faz para alguns não
comerciantes – sociedades civis não comerciais.
Constituição da firma
A firma consoante os casos, pode ser formada com o nome de uma ou mais pessoas (firma-nome), com
uma expressão relativa ao ramo de actividade, aditada ou não de elementos de fantasia (firma-
denominação ou simplesmente denominação), ou englobar uns e outros desses elementos (firma
mista).
Em todo o caso, ele será um sinal nominativo e nunca emblemático: sempre uma expressão verbal, com
exclusão de qualquer elemento figurativo.
Sinais distintivos das diversas pessoas colectivas:
a) Firmas dos comerciantes individuais (art. 38º/1 e 3 RNPC):
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Direito Comercial
Tem de ser composta pelo seu nome completo ou abreviado para identificação, não podendo colocar
em regra a abreviação de um só vocábulo; pode ter expressões ou siglas; pode aditar uma alcunha ou
expressão alusiva à actividade comercial. O art. 40º RNPC, estabelece o estabelecimento individual de
responsabilidade limitada.
b) Sociedades comerciais
Poderão ter a alusão à actividade comercial (art. 177º/1 CSC). O art. 200º CSC, a firma que as sociedades
por cotas devem ser formadas com ou sem sigla, nome completo ou abreviado de todos ou alguns dos
sócios, tem de quer sempre o aditamento Lda.
Tem de dar a conhecer quanto possível o objecto da sociedade (art. 10º/3 CSC). Deve aludir ao objecto
social. Vale integralmente para as Sociedades Anónimas (art. 275º CSA) e para as sociedades em
comandita, a firma tem de ser composta pelo nome completo ou abreviado por todos os sócios
comanditados (art. 467º CSC).
Princípios gerais (informadores) da constituição de firmas
a) Princípio da verdade (art. 32º RNPC)
A firma deve corresponder à situação real do comerciante a quem pertence, não podendo conter
elementos susceptíveis de a falsear ou de provocar confusão, quer quanto à identidade do comerciante
em nome individual e ao objecto do seu comércio, quer, no tocante às sociedades, quanto à
identificação dos sócios, ao tipo e natureza da sociedade, à (s) actividade (s) objecto do seu comércio e
outros aspectos a ele relativos.
b) Princípio da distintividade ou capacidade distintiva
A firma deve possuir distintividade, esta não se limita a ser uma designação genérica.
O art. 32º/3 RNPC, exclui os vocábulos de uso corrente. Quanto às firmas dos comerciantes individuais e
às firmas nome, mistas das sociedades e dos ACE’s, são compostos por nomes de pessoas ou pelos
sócios dos associados, têm a capacidade distintiva.
As firmas de denominação por quotas das Sociedades Anónimas, dos ACE’s, das Empresas Públicas, das
Cooperativas e dos AEIE, as denominações devem dar a conhecer o respectivo objecto, sob pena de
incapacidade distintiva, a referência ao objecto não se basta com designações genéricas (como
sociedade de seguros) nem com vocábulos de uso corrente ou de proveniência.
c) Princípio da novidade (art. 33º RNPC)
Marca a prioridade da firma já registada ou licenciada procurando evitar surgir outra firma com a
mesma denominação da existente.
É aferida no âmbito da exclusividade, podendo haver firmas semelhantes se tiver âmbito de
exclusividade diferente, a racio legis, é não haver firmas iguais.
O juízo de confundabilidade (fundamentação de recurso) tem que ser de fundamentação global, tem
que atender aos elementos fundamentais da firma. É o nome da firma que o juízo de valor tem-se de
fundamentar.
d) Princípio da exclusividade (art. 35º RNPC)
A firma goza dum âmbito territorial de protecção, não é necessariamente o âmbito nacional.
No comerciante individual, se ele usar o seu nome, o âmbito de protecção é correspondente territorial
da conservatória onde está registado (art. 38º/4 RNPC).
Se ele aditar ao nome uma expressão distintiva já pode ser reconhecida extensão em todo o território
nacional.
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Direito Comercial
A firma das Sociedades Comerciais goza de um âmbito nacional de protecção (art. 37º/2 RNPC). Os arts.
39º e 40º RNPC, estendem a outros empresários individuais a responsabilidade limitada as regras
fundamentais relativas ao comerciante individual.
As associações e fundações, o âmbito de protecção se não for local tem protecção nacional, se nos
estatutos referir que é local, então só têm protecção local.
e) Princípio da unidade
O comerciante deve gerir a sua actividade sob uma única firma. O empresário individual não pode usar
mais do que uma firma (art. 38º/1 RNPC).
Este princípio tem de ser confrontado com o fenómeno da transmissão da firma, se houver transmissão
de firma, afecta os princípios que a lei refere?
Poria-se em causa o princípio da novidade se o alienante continuar a usar a firma alienada. Pressupõe-se
que o alienante perde a firma anterior, para continuar, tem que formar uma nova firma – princípio da
novidade.
O princípio da unidade é atingido se o alienante puder continuar a utilizar a firma anterior? Resposta
negativa, se alguém quiser adquirir a firma do alienante, deve criar nova firma. Pode continuar a firma
que tem, tendo que exercer simultaneamente a exploração da firma adquirida. Só pode utilizar a firma
do alienante se continuar a explorar a firma do alienante (art. 38º/2 RNPC), não se permitindo a
subsistência de firmas independentes. A lei permite a transmissão da firma (art. 44º RNPC), mas para
isso à que preencher determinados requisitos:
Transmissão tem que ocorrer em conexão com a transmissão do estabelecimento (art. 44º/4
RNPC);
Acordo das partes nesse sentido (negócio entre vivos);
A indicação tem que ser dada ao novo titular de que sucedeu ao antigo titular;
A subsistência do estabelecimento adquirido, exigindo-se a indicação da transmissão (art. 38º/2
RNPC).
Por transmissão “mortis causa” (art. 38º/2 RNPC), os sucessores também devem continuar gerir o
estabelecimento. A lei exige que haja/impõe uma conexão da firma ao estabelecimento para que a
continuidade na identificação não se torne enganosa.
Preocupação de defesa de terceiros, porque eles recebem a garantia de que se trata do exercício do
mesmo estabelecimento.
Formalização da firma
Depende do requisito, e só há direitos exclusivos, após o registo definitivo (art. 35º/1 RNPC).
O Estado em relação às firmas passou a ter uma tutela administrativa (essencialmente), por isso é
necessário que as pessoas tenham um certificado de admissibilidade de firma ou de denominação. Em
todo o processo administrativo necessário para a firma, este certificado é o elemento estratégico
essencial, em termos de direito para se poder iniciar os trâmites necessários para a constituição de firma
ou sociedade.
O certificado serve para atestar que os requisitos estão preenchidos, é deste certificado que depende
tudo, escritura pública, elementos destinados à constituição de pessoas colectivas de responsabilidade
limitada (art. 54º/1 RNPC).
A consequência da não existência do certificado é a nulidade (art. 55º RNPC), também a modificação do
objecto da sociedade obriga a um novo certificado (art. 54º/2 RNPC).
A firma está sempre ligada ao estabelecimento (tendência real); a firma liga-se ao comerciante
(tendência pessoal).
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Direito Comercial
A firma surge à partida com o nome comercial, designação usada pelo comerciante no exercício do seu
comércio.
O estabelecimento comercial
Noção de estabelecimento comercial
Organização do empresário mercantil, conjunto de elementos do comerciante que estão organizados
pelo comerciante para exercer a sua actividade comercial, de produção ou circulação de bens ou
prestação de serviços. Pressupõe:
Um titular: ele é um conjunto de meios predestinados por um empresário, titular de um
determinado direito sobre ele, para exercer a sua actividade;
Um acervo patrimonial: engloba um conjunto de bens e direitos, das mais variadas categorias e
naturezas, que têm em comum a afectação à finalidade coerente a que o comerciante os
destina;
Um conjunto de pessoas: pode reduzir-se à pessoa do empresário o seu suporte humano, nas
formas mais embrionárias da estrutura empresarial;
É uma organização: os seus elementos não são meramente reunidos, mas sim entre si
conjugados, interrelacionados, hierarquizados, segundo as suas específicas naturezas e funções
específicas, para que do seu conjunto possa emergir um resultado global: a actividade mercantil
visada;
Organização funcional: a sua estrutura e configuração e a sua identidade advêm-lhe de um
determinado objecto, que é uma actividade de um determinado ramo da economia.
Elementos do estabelecimento comercial
a) Elementos corpóreos
Nesta categoria devem considerar-se as mercadorias que são bens móveis destinados a ser vendidos,
compreendendo as matérias-primas, os produtos semi-acabados e os produtos acabados.
Faz também parte do imóvel onde se situem as instalações, quando o seu dono seja o comerciante, pois
se o não for, apenas integrará o estabelecimento o direito ao respectivo uso.
b) Elementos incorpóreos
Aqui deve-se considerar os direitos, resultantes de contrato ou outras fontes, que dizem respeito à vida
do estabelecimento: o direito ao arrendamento; direitos reais de gozo, etc.
c) Clientela
O nosso ordenamento consagra o direito à clientela, direito do estabelecimento, abrangendo a clientela
certa e clientela potencial, pode ser deferido por acções de concorrência desleal que tutelam elementos
gerais da empresa.
d) O aviamento
A capacidade lucrativa da empresa, a aptidão para gerar lucros resultantes do conjunto de factores nela
reunidos. Exprime pois, uma capacidade lucrativa e esta confere ao estabelecimento uma mais-valia em
relação aos elementos patrimoniais que o integram, a qual é tida em conta na determinação do
montante do respectivo valor global.
Negócios à volta do estabelecimento
A identidade jurídica do estabelecimento como, simultaneamente, universalidade de direito e bem
móvel incorpóreo, fornece uma base conceptual adequada para a estruturação do regime jurídico dos
negócios jurídicos que o tomam como um todo.
O trespasse
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É uma figura jurídica que recobre uma pluralidade de modalidades e não um negócio uniforme.
Diz-se trespasse todo e qualquer negócio jurídico pelo qual seja transmitido definitivamente e inter
vivos um estabelecimento comercial, como unidade. Ao alienante chama-se trespassante, e ao
adquirente trespassário.
Ficam porém, excluídos do âmbito do conceito os casos de transmissão mortis causa.
Mas o que é essencial, para que haja trespasse, é que o estabelecimento seja alienado como um todo
unitário, abrangendo a globalidade dos elementos que o integram (art. 115º/2-a RAU).
Pode, no entanto, algum ou alguns desses elementos ser especificamente dele retirados e subtraídos à
transmissão, que ainda assim haverá trespasse.
A regulamentação legal do trespasse é suficiente para o considerarmos assumido no nosso direito como
um negócio nominado (dentro da pluralidade de modalidades que pode recobrir), ainda que tal
regulamentação apenas diga respeito a aspectos parcelares do instituto.
Trata-se pois, de um acto de comércio objectivo, pois está regulado em lei comercial avulsa e em termos
que se destinam a satisfazer necessidades específicas das actividades e empresas comerciais.
O primeiro aspecto do regime do trespasse focado na lei é o da forma, já que o art. 115º RAU e o art.
80º-m CNot, condicionam a validade deste negócio jurídico à sua celebração por escritura pública, da
qual evidentemente, devem constar todos os seus elementos essenciais.
O segundo – art. 116º RAU – consiste no direito de preferência que é atribuído ao senhorio do prédio
arrendado no caso de trespasse por venda ou dação em cumprimento do estabelecimento.
É evidente que só ocorre a hipótese da norma quando o estabelecimento se ache instalado num imóvel
arrendado. Mas, como o objecto do trespasse não é a relação jurídica de arrendamento, e sim o
estabelecimento como bem unitário, é óbvio que o exercício do direito de preferência[3] pelo senhorio
terá que ter o mesmo objectivo, ou seja o estabelecimento, compreendendo todos os elementos que
integram, tais como o projectado trespasse os abrangeria.
Relativamente ao contrato de trabalho, o art. 37º/1 e 4 DL 49408 (LCT) determinam que a posição
contratual da entidade patronal se transmite para o novo empresário, não apenas nos casos de
alienação do estabelecimento, mas desde que ocorra qualquer acto que implique a transferência da
exploração do estabelecimento. Este preceito abrange, pois, não só os casos de trespasse, mas também
os de alienação por sucessão mortis causa, cessação de exploração etc.
Relativamente às dívidas do comerciante inerentes ao estabelecimento, o adquirente do
estabelecimento responde pelos débitos derivados da respectiva exploração e anteriores ao trespasse,
sem que o alienante fique libertado, salvo se nisso consentirem os credores. Consequentemente, haverá
que respeitar, para que se transmitam as dívidas, a exigência da concordância do credor de cada uma,
como resulta do disposto na lei civil quanto à transmissão de dívidas (arts. 595º e 596º CC) e quanto à
novação subjectiva por substituição do devedor (art. 858º CC).
Do trespasse faz nascer para o trespassante, independentemente de estipulação, a obrigação de não
concorrência (desleal) ao trespassário, isto é, de não exercer uma actividade análoga, em condições de
local, tempo e outras, que constituam uma forma eficaz de retomar a clientela do estabelecimento
alienado.
A violação deste dever constituirá concorrência ilícita, cuja sanção constituirá na responsabilidade pela
indemnização dos danos causados, bem como na aplicação de uma sanção pecuniária compulsória ao
violador, enquanto persista na conduta ilícita, isto é, na exploração concorrencial (art. 829º-A CC).
Usufruto
Tem o estabelecimento por objecto, um direito real limitado de gozo constituído sobre coisa alheia e
também tem de ser realizado por escritura pública (arts. 1439 segs. CC).
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O usufrutuário adquire o direito à exploração do estabelecimento, além dos poderes que lhe são
atribuídos de uso directo (exploração) do estabelecimento. Adquire também poderes de utilização
indirecta, contrariamente de alguém que tenha o mero direito de uso, quem tenha usufruto pode locar
também.
Empresas
CONCEITOS INICIAIS
Todas as empresas necessitam, a exemplo das pessoas naturais, de um nome para o exercício de sua
actividade profissional, comercial ou industrial. Não se deve confundir o nome comercial (firma ou
denominação) com o título do estabelecimento.
Registada uma sociedade, tem-se garantido a protecção ao nome comercial. Em razão disso, não
poderão haver nomes semelhantes. O órgão de registo do comércio usará de critérios e prerrogativas
para analisar as semelhanças de nomes comerciais.
É comum ocorrer confusão quando de titulação de empresa, grafando-se como "Razão Social" quando
na realidade, trata-se de "Denominação Social" e vice-versa, em virtude de não haver na legislação um
critério claro e objectivo para se fazer a distinção.
"Sociedade" é um acordo consensual, em que duas ou mais pessoas se obrigam a conjugar esforços ou
recursos, visando a obtenção de um fim comum. Portanto, podemos definir "Sociedade" como sendo a
reunião de duas ou mais pessoas, juridicamente capazes, que contratualmente se dispõem à exploração
de um objectivo comum.
"Pessoa", no seu conceito jurídico, é todo ente capaz de direitos e obrigações. As "Pessoas" podem ser
"físicas ou jurídicas".
PESSOA FÍSICA - É a pessoa natural; é todo ser humano, é todo indivíduo (sem qualquer excepção). A
existência da pessoa física termina com a morte. É o próprio ser humano. Sua personalidade começa
com o seu nascimento completo e com vida (artigo 66º do Código Civil). No decorrer da sua vida, a
pessoa física constituirá um património, que será afastado, por fim, em caso de morte, para
transferência aos herdeiros.
PESSOA JURÍDICA - É a existência legal de uma sociedade, associação ou instituição, que aferiu o direito
de ter vida própria e isolada das pessoas físicas que a constituíram. É a união de pessoas capazes de
possuir e exercitar direitos e contrair obrigações, independentemente das pessoas físicas, que através
das quais agem. É, portanto, uma nova pessoa, com personalidade distinta da de seus membros ( da
pessoa natural). Sua existência legal dá-se em decorrência de leis e só nascerá após o devido registo nos
órgãos públicos competentes (Cartórios ou Juntas Comerciais).
Pessoas capazes e absolutamente incapazes para a prática do comércio
Regra Geral, a mercância não é incompatível com outras profissões. Todavia, as leis, baseadas em
motivos de ordem ou conveniências pública, criam incompatibilidades entre exercícios da atividade
comercial e o desempenho de certos serviços, funções, empregos ou cargos.
Dos que podem comerciar
De acordo com o artigo 1º do Código Comercial e com o art. 9º do Código Civil, podem exercer o
comércio no Brasil:
a) Os maiores de 21 anos;
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b) Os menores de 21 anos e maiores de 18, que tiverem autorização dos pais ou tutores por
escritura pública.
Dos que não podem comerciar
a) Os menores de 18 anos,
b) Os menores de 21 anos não autorizados e não emancipados.
c) Os loucos de todo o género;
d) Os surdos-mudos, que não puderem exprimir a sua vontade;
e) Os ausentes, declarados como tais pelo Juiz.
São absolutamente incapazes para os actos da vida civil, bem como para o exercício do comércio, as
seguintes pessoas:
a) Os menores de 16 anos;
b) Os loucos de todo o género;
c) Os surdos-mudos, que não puderem exprimir a sua vontade;
d) Os ausentes, declarados como tais pelo Juiz (Lei 3.071, de 1-1-1916 - Código Civil Brasileiro -
artigo 5º).
Menores de 16 anos
Menor impúbere é caracterizado por aquele que possui idade inferior a 16 anos. A participação do
menor impúbere na sociedade só poderá ser feita, se o mesmo for representado pelo pai ou
responsável, o qual assinará todos os documentos. Não poderá ser atribuídos ao menor qualquer poder
de gerência ou administração na empresa.
São também considerados proibidos para praticar o acto de comércio: (Cód. Comercial, art. 2º)
Os chefes do Poder Executivo, nacional, estadual ou municipal;
Os magistrados vitalícios;
Os militares;
Os falidos;
Os corretores e leiloeiros.
Participação de menor na limitada
O Código Comercial Brasileiro, aprovado pela Lei 556, de 25 de junho de 1.850, somente admite o
ingresso de menores em sociedade comercial, quando estes sejam legitimamente emancipados.
Entretanto, tanto a doutrina como a Jurisprudência predominante atualmente, admitem a participação
do menor nas sociedades por quotas de responsabilidade limitada, desde que as quotas estejam
integralizadas e que o menor não assuma cargo de gerência ou administração da sociedade.
Tais condições são colocadas para proteger o patrimônio do menor em face de sua incapacidade civil.
No mesmo sentido as Juntas Comerciais adotaram idêntico entendimento sobre a matéria.
O sócio menor deverá ser assistido (quando maior de 16 anos e menor de 21 anos) ou representado
(quando menor de 16 anos) por pai, mãe ou tutor.
Por outro lado, por intermédio da emancipação, cessa a incapacidade, tornando-se o menor apto para a
prática de atos jurídicos e, por conseguinte, para o cargo de gerência ou administração na sociedade.
Segundo o artigo 9º, § 1º, Código Civil, a emancipação ocorre nas seguintes hipóteses:
a) Por concessão do pai ou da mãe (manifestada em instrumento próprio, observadas as
formalidades legais) ou por sentença judicial (no caso de órfão), se o menor tiver 18 anos
completos;
b) Pelo casamento;
c) Pelo exercício de emprego público efetivo;
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d) Pela colação de grau científico em curso de ensino superior;
e) Pelo estabelecimento civil ou comercial em economia própria.
As Juntas Comerciais não exigirão provas documentais de capacidade para o exercício de comércio de
menores de 21 anos e maiores de 18 anos, se houver qualificação no contrato social; ou se em
alterações contratuais posteriores constarem quaisquer das hipóteses de emancipação
retromencionadas.
(Artigos 1º e 308 do Código Comercial)
Relativamente incapazes
Os maiores de 16 anos e menores de 21 anos.
Poderá ser atribuído o poder de sócio gerente ao titular de firma individual, desde que o menor seja
emancipado. A emancipação se dará através do casamento, certificado de ensino superior ou de
emancipação no cartório civil de títulos e documentos.
Fundo de comércio
É o conjunto de direitos que se estabelecem a favor do comerciante. Pode ser representado pelo ponto,
em que o negócio está estabelecido; pela popularidade do estabelecimento, o que constitui a sua fama,
pela condição do negócio instalado, pela freguesia, pelo nome comercial, enfim, por todo e qualquer
elemento que disponha o comerciante para desenvolvimento e realização de seus negócios.
Contrato social
A sociedade adquire personalidade jurídica com o registo do contrato nos órgãos competentes e deverá
conter alguns requisitos imprescindíveis, como:
a) Preâmbulo: identificação e qualificação completa dos sócios;
b) As espécies e tipos de sócios;
c) A firma, razão social, ou denominação;
d) O objectivo da sociedade;
e) A sede social;
f) O capital social;
g) Os gerentes da sociedade e retiradas pró - laborem;
h) O tempo de duração;
i) Dissolução da sociedade;
j) j) Admissão ou demissão de sócios
k) Procedimento a ser adoptado em caso de morte;
l) Forma de deliberações sociais;
m) Exercício social e balanços;
n) Local, data e assinaturas (Decreto 3.708/19 e artigos 300 a 353 do Código Comercial Brasileiro).
Designação de sociedade comercial
Nome comercial (empresarial) é a designação sob o qual o comerciante individual ou a sociedade
mercantil exerce sua atividade e se obriga a actos a ela pertinentes.
O nome comercial não se confunde com o título do estabelecimento, que é o nome pelo qual o
comerciante identifica seu estabelecimento para o público. (Ex. Mappim, Casas Pernambucanas, etc.)
O nome comercial pode ser representado por firma ou razão social ou por denominação, sendo que a
firma ainda comporta a classificação de individual e social.
Tratando-se de sociedade, como regra geral, é o tipo de sociedade que direciona a adoção de firma ou
razão social.
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FIRMA ou RAZÃO SOCIAL: é o nome comercial adotado pela sociedade, formado com base no nome
civil ou patronímico ( sobrenome derivado do nome do pai) dos sócios, seguido da expressão indicativa
de seu tipo.. Ex. JOSÉ SILVA E CIA LTDA.
Neste caso usará sempre o nome por inteiro ou de forma abreviada. Embora não possua nome de
fantasia, poderá justapor ao seu nome uma expressão capaz de melhor identificá-lo. Ex. JOSÉ SILVA-
SAPATARIA.
DENOMINAÇÃO: é a designação típica da sociedade que não possui sócios de responsabilidade
ilimitada. Comummente é constituída pelo chamado nome de fantasia, o qual será sempre acrescido da
expressão designativa do tipo da sociedade (basicamente Ltda ou S/A). Consiste no emprego de uma ou
mais palavras indicadoras da espécie de negócio ou actividade que caracteriza a sociedade. Ex.
Floricultura Paulista Ltda.; Textil Paraíba Ltda;
Um ponto básico para a formação de uma razão social é o emprego do "&" que denomina "e" comercial.
Não se deve usar o "e" mas sim "& ".
NOME DE FANTASIA: além da firma ou razão social, a sociedade pode designar-se com um título de
propaganda ou marca da casa. Ex. Mapim , Jumbo, Droga Viva.
As sociedades por ações são designadas por uma denominação na qual deve ser acrescida a expressão
indicativa do seu tipo: Sociedade Anônima ou Companhia, ou abreviadamente S/A ou CIA, conforme
disposto no artigo 3º. da Lei nº 6.404/76. No inicio qualquer uma dessas expressões pode ser usada, mas
no fim somente é admitido o uso da primeira por extenso ou abreviado.
A vedação da utilização da expressão Companhia no final da denominação tem por finalidade evitar a
confusão com as sociedades de pessoas.
É vedado a reunião dos nomes comercial e de denominação social. Ex. Silva & Alves Calçados Passo Leve
Ltda.
Títulos de crédito
O Crédito
É essencialmente a troca de uma prestação presente por uma prestação futura, ou seja, o diferimento
no tempo de uma contra prestação.
O conceito de crédito comporta dois pressupostos básicos:
a) A confiança do credor na honestidade e solvabilidade do devedor, isto é, na sua aptidão moral e
patrimonial para cumprir a obrigação no prazo concedido, ou, pelo menos o valor das garantias
(pessoais ou reais) constituídas pelo devedor para assegurar a efectivação da prestação a que
obrigou;
b) Decurso do tempo entre a prestação actual do credor e a prestação futura do devedor,
normalmente fixado num período certo ou a prazo; ou, o carácter futuro ou diferido da
prestação do devedor.
A promoção do crédito seja um dos objectivos fundamentais do direito comercial, cuja prossecução está
na base e justifica a especialidade do regime dos actos do comércio.
Função e conceito de título de crédito
Todo o documento necessário para exercer um direito, que é um direito literal, autónomo, abstracto,
que está mencionado nesse próprio documento; verifica a incorporação do direito nesse título de que
somos detentores.
Esse direito que está ínsito nesse título, é designado no nosso sistema por um direito cartolar, há uma
incorporação expressa, uma conexão directa entre tal documento e o direito que se é titular.
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O título de crédito, tem uma eficácia que ultrapassa a de mera constituição do direito ao título adere
permanentemente ao direito, de modo tal que aquele é indispensável para que o direito possa ser
exercido e transmitido, ou seja, para que o seu titular possa dispor dele. Os títulos de crédito são
documentos dispositivos.
Características gerais dos títulos de crédito
A confiança constitui a base do desempenho dos títulos de crédito. Para que essa confiança exista, é
essencial que o regime para eles traçado proteja ao máximo os interesses do titular do direito, do
devedor e daqueles que venham a adquiri-los de boa fé. Todos eles se disporão a aceitar a emissão e
transmissão dos títulos se puderem ter absoluta confiança em que:
a) O titular é quem tem o título em seu poder e por isso está habilitado para exercer o direito nele
referido;
b) Cada titular poderá com toda a facilidade transmitir esse título, para realizar o valor dele, sem
necessitar de esperar pelo cumprimento da obrigação correspondente ao direito nele
mencionado.
c) O teor literal do título correspondente ao direito que ele representa; e
d) A posição jurídica do actual detentor do título não poderá ser posta em causa pela invocação de
excepções oponíveis aos anteriores detentores do título.
Princípio da incorporação ou legitimação
A detenção do título é indispensável para o exercício e a transmissão do direito nele mencionado (quem
for titular de um título é titular de um direito).
Tal característica consiste em que a posse do título legítima o portador para exercer ou transmitir o
direito. É mais preciso, designar esta característica por legitimação activa visto que ela se refere à
posição jurídica do sujeito activo do crédito, à sua aptidão para exercê-lo ou transmiti-lo.
A posse, ou melhor a detenção material do título segundo as regras de circulação que para ele estão
defendidas, que confere ao seu possuidor a legitimação formal para exercer ou transmitir o direito que
o título refere.
O regime jurídico dos títulos de crédito assenta numa presunção de boa fé dos sucessivos detentores do
título, através da qual se cimenta e robustece a formação e manutenção da confiança que constitui a
base da aceitação destes documentos.
Há igualmente que considerar uma legitimação passiva, relativa à posição e interesse do devedor: este
pode desonerar validamente da sua obrigação, correspondente ao direito cartolar, se a cumprir perante
o detentor do título segundo a respectiva lei de circulação.
Princípio da circulabilidade
Os títulos de crédito destinam-se a circular, o que significa que, a sua própria destinação jurídico-
económica implica a potencialidade de serem transmitidos da titularidade de uma pessoa para a outra
sucessivamente, acarretando cada transmissão do direito sobre o título a transmissão do direito por ele
representado, do direito cartolar.
Porque assim é, os documentos que não comportem a possibilidade de circulação não podem ser
considerados como títulos de crédito.
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Princípio da literalidade
O direito que está incorporado no título, é um direito literal, porque o documento vale nos precisos
termos que constam no próprio documento. O direito cartolar é aquele que está no documento
independentemente da forma como foi constituído, da relação subjacente do mesmo.
Princípio da autonomia
O tal direito cartolar (incorporado no documento), é em si um direito autónomo, porque a relação
cambiária tem vida própria, não está dependente de qualquer relação subjacente a essa letra de
câmbio. Importa distinguir dois sentidos:
a) Autonomia face ao direito subjacente
O direito cartolar tem a sua origem numa relação jurídica logicamente anterior ao surgimento do título
de crédito – a relação subjacente ou fundamental – e que ele é novo e diferente do direito subjacente
ou fundamental, tendo um regime próprio.
Assim, o direito cartolar é autónomo do direito subjacente, e por isso não podem ser opostos ao
portador do título, em princípio, meios de defesa (excepções) emergentes da relação fundamental (art.
17º in fine LULL).
b) Autonomia face aos portadores anteriores
O direito cartolar é autónomo, segundo este sentido, porque cada possuidor do título ao adquiri-lo
segundo a sua lei de circulação “adquire o direito nele referido de um modo originário, isto é,
independentemente da titularidade do seu antecessor e dos possíveis vícios dessa titularidade” como se
o direito tivesse “nascido ex-novo nas suas mãos” (art. 16º LULL)
Princípio da abstracção
O negócio cambiário é abstracto porque, esse negócio permite preencher um conjunto de funções
económico-jurídicas (ex. compra e venda).
A obrigação cambiária pressupõe sempre a existência de uma relação jurídica subjacente, a relação
pode preencher uma diversidade de funções económico-jurídicas, a obrigação cambiária só tem um fim
– pagamento ou garantia de pagamento. Não é por esse fim que determina o negócio cambiário. O
negócio cambiário é determinado por outro negócio celebrado entre as partes – a convenção executiva
– é a causa próxima do negócio cambiário, as partes determinam (através de convenção executiva) a
função desse negócio (art. 17º LULL).
Títulos impróprios
Habitualmente não são considerados como títulos de crédito certos documentos que, muito embora
tenham, em geral, as mesmas características daquelas todavia se afastam deles no tocante à sua função
jurídico-económica e, por isso, quanto à característica da circulabilidade, sendo designados como títulos
impróprios.
Dentro destes documentos, é usual distinguir ainda duas categorias: os títulos de legitimação e os
comprovantes de legitimação.
a) Títulos de legitimação, têm por função conferir ao seu possuidor a legitimação (activa) para o
exercício de certos direitos e, consequentemente, também conferem à outra parte a
correspectiva legitimação passiva.
b) Comprovantes de legitimação, conferem igualmente a legitimação activa e passiva
relativamente ao exercício de certos direitos, mas nem sequer têm a possibilidade de circular
por serem intransmissíveis.
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Tipologia
Critério da causa-função, ou do nexo com a relação subjacente
Consideram-se duas espécies de títulos:
São causais os títulos que se destinam a realizar uma típica e única causa-função jurídico-económica,
inerente a um determinado tipo de negócio jurídico subjacente, do qual resultam direitos cuja
transmissão e exercício o título de crédito se destina a viabilizar ou facilitar.
Os títulos abstractos são aqueles que não têm uma causa-função típica, pois são aptos a representar
direitos emergentes de uma pluralidade indefinidamente vasta de causas-funções. Além disso, estes
títulos são independentes da respectiva causa: em princípio, o devedor não pode invocar contra o
portador do título, excepções fundadas na relação subjacente, que é a causa (mediata) da sua obrigação
e do correlativo direito do portador.
Critério do conteúdo do direito cartolar
A maior parte dos títulos de crédito hoje em uso incorporam direitos de crédito em sentido estrito,
geralmente direitos a uma prestação pecuniária, e por isso se designam como títulos de crédito
propriamente ditos.
Outros títulos, entretanto, denominam-se títulos representativos, porque incorporam direitos sobre
determinadas coisas, em geral mercadorias.
Em terceiro lugar existem os títulos de participação social, assim designados por incorporarem uma
situação jurídica de participação social, ou seja, o complexo de direitos e obrigações que integra a
qualidade de sócio de uma sociedade. É o que sucede com as acções das sociedades anónimas e em
comandita por acções (arts. 298º segs. e 478º CSC).
Critério do modo de circulação
Segundo este critério os títulos podem ser ao portador, à ordem e nominativos.
a) Títulos ao portador: não identificam o seu titular e transmitem-se por mera tradição manual,
por entrega real do documento (art. 483º CCom): o titular é quem for o detentor do documento.
b) Títulos à ordem: mencionam o nome do seu titular, tendo este, para transmitir o título – e, com
ele, o direito cartular –, apenas de nele exarar o endosso (art. 483º CCom): uma declaração
escrita, no verso do título, ordenando ao devedor que cumpra a obrigação para com o
transmissário e/ou manifestando a vontade de transmitir para este o direito incorporado.
c) Títulos nominativos: mencionam o nome do seu titular e a sua circulação exige um formalismo
complexo, do qual é exemplo modelar o regime da circulação das acções nominativas (art. 326º
CSC): para que a sua transmissão seja válida, deve ser exarada no próprio título, pelo
transmitente, uma declaração de transmissão, bem como nele seja lavrado o pertence, isto é,
que no local adequado seja inserido o nome do novo titular; além disso, é ainda necessário o
averbamento do acto no livro de registo de acções da sociedade emitente.
Critério da natureza da entidade emitente
São títulos públicos aqueles que são emitidos pelo Estado e por outros entes públicos legalmente
habilitados para tanto, aos quais se refere o art. 483º CCom, como “títulos públicos negociáveis”. São
principalmente, os títulos da dívida pública.
Todos os demais títulos de crédito são títulos privados, por as pessoas ou entidades que os emitem não
terem a natureza de entes públicos, ou porque, quando tenham essa natureza, actuam de forma
indiferenciada em relação aos entes privados, colocando-se no mesmo plano de actuação destes. É o
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que se passa por exemplo, quando um qualquer organismo ou serviço público emite cheques para
efectuar os seus pagamentos.
Principais títulos de crédito
a) A letra
É um título de crédito, através do qual o emitente do título – sacador – dá uma ordem de pagamento –
saque – de uma dada quantia, em dadas circunstâncias de tempo e lugar, a um devedor – sacado –
ordem essa a favor de uma terceira pessoa – o tomador.
Como título de crédito é rigorosamente formal, a letra é destinada à circulação, a qual se efectua
através de endosso, sendo portanto, um título à ordem. O tomador poderá, portanto, assumir a
qualidade de endossante, transmitindo a letra a um endossado, o qual, por sua vez, poderá praticar acto
idêntico a favor de um outro acto endossado e assim por diante.
O principal obrigado em virtude da letra é o aceitante, que assume a obrigação de pagar a quantia nela
mencionada ao portador legitimado por uma série ininterrupta e formalmente correcta de endossos, ao
tempo do vencimento e no local devido.
b) A livrança
Menciona uma promessa de pagamento, de uma certa quantia, em dadas condições de tempo e lugar,
pelo seu subscritor ou emitente, a favor do tomador ou de um posterior endossado que for seu
portador legítimo no vencimento.
A livrança é, também um, título à ordem, transmissível por endosso e, rigorosamente formal, como se
constata pelos requisitos mencionados no art. 75º LULL.
c) O cheque
Exprime uma ordem de pagamento de determinada quantia, dada por um sacador a um sacado, que
tem a peculiaridade de ser necessariamente um banqueiro (art. 3º LUC), uma instituição de crédito
habilitada a receber depósitos de dinheiro mobilizáveis por esta forma, e a favor de uma pessoa
denominada tomador, portanto um meio de pagamento ao próprio depositante ou a terceiro, a realizar
pelas forças do depósito existente na instituição de crédito.
A destruição e extravio do documento: a reforma dos títulos de crédito
O título de crédito é um objecto material, um documento escrito geralmente em papel, o que o torna
muito facilmente perecível ou degradável, assim como sujeito a numerosas causas de perda ou extravio,
voluntárias ou involuntárias.
Ora, a característica da incorporação ou legitimação implica que só pode ser exercido ou transmitido o
direito cartolar mediante a posse material do título. E, por isso, a destruição do documento implica a
destruição do título de crédito, pois impossibilita o exercício ou transmissão do respectivo direito.
A reforma consiste na reconstituição do título, através da emissão de um novo documento, equivalente
ao que foi destruído ou extraviado, possibilitando assim a incorporação do direito no novo título, ou
seja, que o titular fique de novo legitimado para o seu exercício ou para fazer circular o direito. E isto
porque o título reformado equivale juridicamente ao que desapareceu, como se fosse o mesmo
documento (art. 484º CCom).
Extinção do direito cartolar
O título de crédito também se extingue quando ocorre a extinção do direito nele incorporado, a qual
pode ficar a dever-se à generalidade das causas de extinção das obrigações.
O cumprimento constitui a forma natural e mais frequente de extinção do direito cartular. Deve porém
notar-se que só assim acontece com o cumprimento efectuado pelo obrigado principal, quando existam
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outros co-obrigados garantes: se forem estes a pagar ao portador, ficam investidos no direito cartolar
em via de regresso.
Além disso, o cumprimento deve ser acompanhado da cessação da circulação do título, pela sua entrega
ao obrigado a efectuar o pagamento, para que não suceda que, apesar de cumprida a obrigação, o título
continue a circular, correndo o obrigado o risco de ter de pagar duas vezes (art. 39º I LULL).
A letra de câmbio
Requisitos formais da letra
1. A palavra “letra”:
Tem que constar no próprio texto do título e tem de ser expressa na língua que é utilizada para a
reclamação do título, este requisito adverte logo as pessoas, para a natureza do título e para o seu
regime jurídico.
2. Mandato puro e simples de pagar uma quantia determinada:
Tem de conter uma ordem de pagamento que deve ser pura e simples e respeitar uma quantia
determinada, essa ordem de pagamento emite a letra e confere à letra, ao título uma identidade própria
com o título de crédito, que tem o regime da letra. O sistema jurídico exige que a ordem de pagamento
puro e simples, não pode ter cláusulas acessórias que condicionem ou restrinjam o sentido e o alcance
da letra (do título). O saque é um acto jurídico que é incondicionável, tanto assim é, que o art. 2º LULL,
vem dizer que a condição que seja posta no saque “não produzirá efeito como a letra”.
3. O nome daquele que deve pagar (sacado):
O sacado da letra tem de indicar expressamente a pessoa à qual a ordem de pagamento é dirigida,
identificando a pessoa pelo nome completo, ou quando de forma abreviada esse nome tem de estar de
tal forma expresso, para que seja possível a concreta identificação do sacado sem recurso a outros
meios de prova.
4. Época de pagamento:
Data de vencimento da letra (art. 33º LULL), pode ser pagável – sacada:
À vista, ou seja, pagável no acto de apresentação ao sacado (art. 34º I LULL);
A um certo termo de vista, isto é, vence-se decorrido um certo prazo sobre o aceite ou o
protesto por falta de aceite (art. 35º LULL);
A um certo termo de data, quer dizer, decorrido um certo prazo sobre a data do saque;
Como pagável no dia fixado, na própria letra para esse efeito.
Se na letra não houver qualquer menção da época do pagamento, o art. 2º II LULL determina
supletivamente que a letra se entenderá pagável à vista.
5. Identificação do lugar a efectuar o pagamento:
Se esta referência não constar do título é suprida, nos termos do art. 2º III LULL, valendo para este
efeito, o lugar indicado ao lado do nome do sacado, como seu domicílio.
Relaciona-se com este requisito a regra do art. 4º LULL, que permite a chamada letra domiciliada, isto é,
pagável no domicílio de um terceiro. O uso mais corrente desta faculdade consiste na identificação
como local de pagamento de uma dependência de um banco.
6. O nome da pessoa a quem ou à ordem de quem deve ser paga (tomador):
Também a indicação do nome do tomador deve ser feita de modo a possibilitar a sua identificação, em
termos semelhantes aos referidos quanto ao nome do sacado. O art. 3º LULL, permite que o sacador se
identifique a si próprio como tomador.
7. Indicação da data e lugar em que a letra é paga:
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Se verificar a falta da data do saque, terá como consequência a não produção de efeitos daquele título
como letra (art. 2º I LULL), se faltar o lugar, vale como lugar aquele que foi indiciado ao lado do nome do
sacador (art. 2º IV LULL).
8. Assinatura de quem passa a letra (sacador)
O saque é o acto gerador da letra, que implica o nascimento da obrigação cambiária do sacador, por
essa razão é que o sacador tem de assinar a letra. O sacado só assume a obrigação mencionada nesse
título (obrigação cambiária) se e quando aceitar a ordem dada pelo sacador, assinando de forma
transversal no rosto do título da letra, e é esse acto de assinar do sacado que se denomina por aceite
que converte o sacado em aceitante da letra (art. 28º LULL).
A letra em branco ou incompleta
A partir de todos os elementos essenciais enumerados no art. 1º LULL, sobre o suporte mecânico da
letra, o título fica completado nos elementos essenciais constitutivos do título letra de câmbio, portanto,
esse instrumento, esse título fica a desempenhar a função para que esse título foi emitido por lei.
É muito frequente na prática a emissão de letras que falta um ou mais dos requisitos do art. 1º LULL,
conquanto delas conste pelo menos uma assinatura feita com a intenção de contrair uma obrigação
cambiária.
É o que se denomina geralmente de letra em branco (art. 10º LULL) para haver uma letra em branco é
necessário que preencha determinados requisitos:
1) Necessário que o instrumento, contenha já a assinatura de um dos obrigados cambiários;
2) Que haja o acordo prévio de preenchimento dos elementos restantes.
A letra em branco é em certo sentido uma letra incompleta, porque não contém no momento da sua
emissão, de todos os elementos que se deve revestir (art. 1º LULL). A LULL, ao contemplar a letra em
branco, denominava-a de letra incompleta (art. 10º LULL). Ou numa acepção mais restrita, as duas
designações, designam realidades distintas: letra em branco, aquela que tem atrás de si um acordo para
o preenchimento ulterior da letra de formação sucessiva. Enquanto que na letra incompleta, título
incompleto, título nulo, que não poderá valer como letra por falta dos elementos essenciais.
Os negócios jurídicos cambiários
Saque
Negócio jurídico cambiário que cria o título de crédito unilateral, abstracto que prescinde da causa.
Esse acto jurídico tem por objecto uma ordem que resulta da letra, ordem que é dirigida ao sacado para
que esse pague ao tomador ou pague à ordem do tomador uma certa quantia.
O conteúdo desse negócio envolve sempre uma promessa que é feita pelo sacador de que o sacado
obedecerá sempre a essa ordem, que o sacado pagará se isso não se verificar, é o próprio sacador que
assume essa responsabilidade6.
A emissão da letra é sempre consubstanciada no saque (ordem de pagamento incondicional). Tem como
modalidades (art. 30º LULL):
À ordem do próprio sacador;
Contra o próprio sacador;
Por ordem e conta de terceiro.
Ao subscrever o saque, o sacador assume todas as obrigações cambiárias referidas no art. 9º LULL, aí se
estabelece que o sacador é o garante tanto na aceitação como do pagamento da letra.
6
O saque é o acto jurídico que cria o título de crédito, neste caso a letra.
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O portador que tenha um direito de acção pode pagar-se através do saque de uma letra à vista, sacada
necessariamente sobre um dos co-obrigados, pagável no domicílio desse co-obrigado – o ressaque (art.
52º LULL), habilitará o credor cambiário a realizar imediatamente o seu direito se tiver meio de obter
Pode também incumbir juros e encargos resultantes do não pagamento da letra.
O aceite (arts. 21º a 29º LULL)
É a declaração de vontade pela qual o destinatário do saque – sacado – assume a obrigação cambiária
principal, ou seja, a de pagar, à data do vencimento, a quantia mencionada na letra a quem for o
portador legítimo desta (art. 28º LULL), passando a designar-se como aceitante.
O aceite é necessariamente escrito e assinado pelo sacado na letra. Exprime-se pela palavra “aceite” ou
outra equivalente, mas considera-se bastante a assinatura do sacado no rosto ou no verso da letra (art.
25º LULL). Usualmente, o aceite é feito por assinatura transversal do sacado no lado esquerdo do rosto
da letra.
O aceite tem de ser puro e simples (art. 26º LULL), não podendo, ser sujeito a qualquer condição ou
aditado de qualquer modificação ao conteúdo da letra, sob pena de se ter como recusado, o que faculta
de imediato ao portador exercer o direito de regresso contra os de mais co-obrigados cambiários. Mas
daí não advém a nulidade do aceite, tendo-se o aceitante por obrigado nos termos da sua declaração. A
lei permite, no entanto, que o aceite seja parcial, isto é, restrito a uma parte da quantia do saque.
Se não for feito o aceite pelo sacado, poderá sê-lo por outra pessoa: é o chamado aceite por
intervenção, que pode ocorrer devido a uma incumbência expressa na própria letra pelo sacador, um
endossante ou um avalista (art. 55º LULL), ou espontaneamente, sem incumbência (art. 56º LULL).
Endosso
O endosso realiza o que alguns chamam “a dinâmica da letra”. Constitui este acto uma nova ordem de
pagamento, dada pelo endossante[6] ao sacador para que pague a letra, no vencimento, ao portador,
através de uma declaração no verso da letra seguida da assinatura.
O endosso deve ser puro e simples (art. 12º LULL). Por vezes, limita-se à assinatura do endossante,
constituindo então o chamado endosso em branco (art. 13º LULL). Três modalidades legítimas de
endosso em branco:
a) O endosso que contém a ordem de pagamento, a assinatura do endossante, mas omite o nome
do endossante;
b) O endosso constituído unicamente pela assinatura do endossante no verso da letra ou folha
anexa;
c) Endosso ao portador, fórmula: “pague-se ao portador”.
A LULL prevê que qualquer dos endossantes que tenha pago uma letra pode riscar o seu endosso e dos
endossantes subsequentes (art. 50º LULL).
d) Endosso por procuração
Quando o endosso contém a menção – “valor a cobrar” ou “para cobrança” ou “por procuração” – ou
quando o endosso contém qualquer menção que implique um simples mandato, o art. 18º LULL, diz que
o portador pode exercer todos os direitos emergentes da letra, mas só pode endossar na qualidade de
procurador. O mandato não se extingue por morte ou por incapacidade legal que sobrevenha ao
mandatário.
e) Endosso em garantia
Valor em garantia, valor em penhor, ou quando o endosso contenha qualquer outra expressão que
implique uma caução. O art. 19º LULL, diz que o portador pode exercer todos os direitos emergentes da
letra, mas um endosso que seja feito por ele, só vale como endosso a título de procuração. Todos os co-
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obrigados não podem invocar contra o portador, as excepções fundadas sobre as relações pessoais
deles com o endossante, a menos que o portador ao receber a letra tenha procedido conscientemente
em detrimento.
O aval
Constitui um negócio cambiário unilateral, pelo qual um terceiro ou mesmo um signatário se obriga ao
seu pagamento, como garante de um dos co-obrigados cambiários (art. 30º, 31º LULL). Na falta de
indicação expressa do avalizado, a lei indica supletivamente que o aval valerá a favor do sacador (art.
31º LULL).
O aval pode respeitar à totalidade ou apenas a parte do montante da obrigação do avalizado (art. 30º
LULL).
O aval é uma garantia pessoal, que tem como característica própria, por não conceder ao avalista o
benefício da exclusão prévia, o avalista é solidariamente responsável (art. 32º e 47º LULL) com os outros
subscritores posteriores da letra.
Pagamento por intervenção
Pode realizar-se em todos os casos em que o portador de uma letra, aceitável, tem o direito de acção
antes do vencimento (art. 55º LULL). Nas hipóteses de recusa total ou parcial do aceite ou nos casos de
falência do sacado (art. 43º LULL).
Quando for indicada uma pessoa como aceitante por intervenção, o portador da letra, nunca pode
exercer o seu direito de acção antes do vencimento contra aquele que indicou essa pessoa e contra os
signatários subsequentes, a não ser que tenha apresentado a letra à pessoa designada e que caso esta
tenha recusado o aceite, se tenha feito protesto.
A LULL, admite expressamente, sobre certas condições a figura da letra não aceitável, isto é, a letra que
fica proibida de ser apresentada ao aceite. O art. 22º LULL, estatui que o sacador pode proibir na própria
letra a sua apresentação ao aceite excepto se tratar de uma letra pagável em domicílio de terceiro, ou
de uma letra pagável em localidade diferente do domicílio do sacado ou de uma letra sacada a termo de
vista.
Características da obrigação cambiária
a) Incorporação ou legitimação: só o possuidor legítimo da letra pode exercer o direito cartolar ou
transmiti-lo, isto é, só ele tem legitimação activa;
b) Literalidade: o conteúdo do direito cartolar e da obrigação a ele correspectiva são literais, e
consequentemente, não podem ser invocados contra o portador de boa fé quaisquer factos ou
circunstancias que extingam, modifiquem ou impeçam o seu direito, a não ser que
transpareçam do próprio texto do título.
c) Circulabilidade: a letra é manifestamente vocacionada para a circulação, como título à ordem
que é, demonstra-o o regime do endosso.
d) Autonomia: comporta dois sentidos distintos:
Autonomia do direito cartolar (art. 17º LULL): são inoponíveis ao portador, as excepções
decorrentes das relações pessoais do obrigado cambiário com os portadores anteriores ou com
o sacador.
Autonomia do direito sobre o próprio título: significa, que o adquirente do título é um
adquirente originário, cujo direito sobre a letra não está sujeito à arguição de ser ilegítima a sua
posse, em virtude da ilegitimidade de qualquer dos ante possuidores (art. 216º LULL).
e) Abstracção: a característica da abstracção da obrigação cambiária diz respeito em face da
relação subjacente ou fundamental preexistente. Dois sentidos:
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1) Porque não tem causa-função típica, antes pode prosseguir uma multiplicidade de causas-
funções, inerentes a diversos negócios jurídicos que podem estar na origem da relação
subjacente: compra e venda, mútuo, etc.
2) Porque a obrigação cambiária é independente da causa, e por consequência, não sofre as
consequências dos vícios da sua causa, isto é, são inoponíveis a portador mediato e de boa fé as
chamadas excepções causais, ou sejam as resultantes de possíveis vícios da relação subjacente
ou fundamental (art. 17º LULL).
f) Independência recíproca: a nulidade de uma das obrigações que a letra incorpora não se
comunica às demais (art. 7º LULL).
Vencimento e pagamento da letra
A ordem de pagamento que está inscrita numa letra de câmbio surge desde a sua origem histórica dessa
letra, marcada por uma dilação de vencimento sobre a data da sua emissão.
A lei no art. 33º LULL, diz expressamente que as letras com vencimentos diferentes ou com vencimentos
sucessivos, são nulas.
As letras são pagáveis à vista, vencem-se mediante a simples apresentação ao sacado, o que deverá ser
feito no prazo de um ano a contar da sua data, podendo o sacador aumentar ou reduzir esse prazo e os
endossantes encurtá-lo (art. 34º LULL). Também pode o sacador estabelecer que a letra não seja
apresentada antes de certa data, contando-se então o prazo a partir desta (art. 34º LULL).
Na letra a certo termo de vista, o prazo de vencimento conta-se do aceite ou do protesto por falta dele,
entendendo-se o aceite não datado como feito no último dia do prazo (art. 35º LULL).
Quanto às letras com vencimento em data certa ou a certo termo de data, deverão ser apresentadas a
pagamento na data do vencimento ou num dos dois dias úteis seguintes (art. 38º LULL).
Protesto
A falta de aceite ou a falta de pagamento devem ser certificadas através do protesto: trata-se de um
acto jurídico declarativo, não negocial, praticado perante um notário, destinado a comprovar e a dar
conhecimento aos intervenientes na cadeia cambiária da falta do aceite ou do pagamento, bem como a
salvaguardar a integridade do direito do portador.
Há dois protestos diferentes:
a) O protesto por falta de aceite: certifica que o sacado se recusou a aceitar a letra que para tal lhe
foi apresentada, ou que apenas a aceitou parcialmente;
b) O protesto por falta de pagamento: comprova que foi recusado o pagamento da letra para tal
apresentada ao sacado e é feito contra este, já que, ao aceitar, se obrigou a pagá-la no
vencimento (art. 44º LULL).
Prescrição
O direito cartolar está sujeito a prazos de prescrição extintiva, diferentes consoante as posições dos
sujeitos cambiários (art. 70º LULL):
a) Contra o aceitante, três anos a contar do vencimento;
b) Do portador contra o sacador e os endossantes, de um ano a contar da data do protesto, ou do
vencimento quando exista uma cláusula “sem protesto”.
c) Dos endossantes contra os outros e contra o sacado, de seis meses a contar da data em que o
endossante pagou ou foi accionado.
Acções de regresso
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Todos os subscritores de uma letra são solidariamente responsáveis pelo pagamento dela perante o
portador, o qual poderá accionar todos ou alguns deles, por qualquer ordem, sem prejuízo de poder vir
a accionar os restantes. Tem o mesmo direito o subscritor da letra que a tenha pago, quanto à acção de
regresso (art. 7º LULL).
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