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Cidades Rebeldes Resenha

O documento discute como David Harvey, em seu livro "Cidades Rebeldes", analisa a constituição do espaço urbano contemporâneo a partir das rebeliões das cidades e do direito à cidade. Harvey se inspira em Lefebvre para mostrar como as relações capitalistas moldam as cidades e como a urbanização é um meio para absorver o excedente de capital. O livro critica a especulação imobiliária e seu papel nas crises capitalistas.
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Cidades Rebeldes Resenha

O documento discute como David Harvey, em seu livro "Cidades Rebeldes", analisa a constituição do espaço urbano contemporâneo a partir das rebeliões das cidades e do direito à cidade. Harvey se inspira em Lefebvre para mostrar como as relações capitalistas moldam as cidades e como a urbanização é um meio para absorver o excedente de capital. O livro critica a especulação imobiliária e seu papel nas crises capitalistas.
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A REBELDIA DAS CIDADES COMO GÊNESE DA

resenha
CONSTITUIÇÃO DO ESPAÇO URBANO CONTEMPORÂNEO

CITIES’ REBELLION AS A GENESIS OF CONTEMPORARY


URBAN SPACE CONSTITUTION

Maysa Mayara Costa de Oliveira*


José Benevides Queiroz**

HARVEY, David. Cidades rebeldes: do direito à cidade à revolução urbana. Tradução Je-
ferson Camargo. São Paulo: Martins Fontes, 2014.

David Harvey, atualmente professor – de François Lyotard sobre a cultura con-


do Departamento de Antropologia da City temporânea. Em Cidades rebeldes, fazendo
University of New York, apesar da publica- jus à sua formação de geógrafo centrada
ção de A justiça social e a cidade, que data na pesquisa do fenômeno urbano, Harvey
de 1980, ficou muito conhecido entre nós retoma seu objeto de estudo principal: a ci-
somente em 1992, quando da publicação dade. Nesta obra, fruto de anos de pesqui-
de Condição pós-moderna, obra na qual, sas e que teve alguns esboços de capítulos
a partir de uma perspectiva heterodoxa publicados na Socialist Register e na New
do marxismo, propunha uma abordagem Left Review, busca-se mostrar a especifici-
alternativa ao livro – de título homônimo dade da cidade moderna, onde as relações

*Maysa Mayara Costa de Oliveira é mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Uni-
versidade Federal do Maranhão (São Luís/MA/Brasil), graduada em sociologia pela Universidade Federal
do Maranhão (UFMA). Atualmente está desenvolvendo uma pesquisa sobre a transferência dos moradores
de palafitas, de São Luís/MA, para conjuntos de apartamentos construídos pelo Programa de Aceleração
do Crescimento (PAC), que faz parte da política do governo federal. [email protected].
**José Benevides Queiroz é graduado em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Ceará, com mes-
trado em Sociologia e doutorado em Ciências Sociais pela UNICAMP. É professor e pesquisador do Depar-
tamento de Sociologia e Antropologia e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da UFMA
(São Luís/MA/Brasil). [email protected].

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sociais capitalistas, principalmente a ação propulsor ideal ao desenvolvimento da
das classes, seus conflitos e suas disputas, produção de excedente de capital. O livro,
moldam o espaço citadino. além de tomar como referencial as duas
Como ponto de partida, David Harvey obras de Lefebvre, tem a pretensão de dar
inspira-se em duas obras do sociólogo “continuidade” às preocupações do soció-
francês Henri Lefebvre: O direito à cidade logo francês que, desde a década de 1970,
e A revolução urbana. Isso porque, para ao tratar do problema urbano, já lançava
Lefebvre, as consequentes transformações questões sobre o que as cidades estavam
decorrentes do processo de industrializa- destinadas a se tornar. Sob esta influência
ção deram na modernidade outro caráter às e referenciado em fatos históricos, Harvey
cidades; diversamente, as cidades pré-in- expõe as diversas crises urbanas que asso-
dustriais eram locais de criação de obras e laram e ainda fustigam indistintamente as
não de produtos. Essa nova característica, grandes e as pequenas cidades, bem como,
de acordo com Henri Lefebvre, distingue-se e principalmente, o ressurgimento da dis-
na medida em que a cidade deixa de ter um cussão a respeito do direito à cidade através
valor de uso e passa a ter um valor de troca, das mobilizações dos movimentos urbanos
orientando-se irreversivelmente às trocas, difusos por todo o mundo.
ao dinheiro, ao comércio e aos produtos Dividido em duas partes, Cidades rebel-
(2001, p. 12). Com a industrialização firma- des apresenta na primeira uma espécie de
se um marco na composição dos espaços e dossiê, no qual Harvey destaca os diversos
dos tipos de relações que ali se constituem. casos de crises e escândalos que envolvem
Lefebvre identifica essa mudança na predo- os booms imobiliários atrelados ao modo de
minância que as relações de troca passam a urbanização que ocorre em escala global, as
ter sobre as relações de uso, configurando crises geradas pela grande especulação fi-
agora a nova realidade urbana. Em fins da nanceira e as altas taxas de juros decorren-
década de 1960, em A revolução urbana, tes do capital fictício. Todos esses três aspec-
ao observar as diversas mudanças na paisa- tos são abordados levando em consideração
gem de Paris e a crise existencial na qual a a extensão em que afetam a vida urbana.
cidade se encontrava (a velha Paris com seu A segunda parte dedica-se aos exemplos
modo de vida comunitário, com cafés, pra- de reivindicações de vários movimentos de
ças, fontes, jardins, e a nova Paris com suas diversas regiões do globo, apontando a ne-
vias expressas, seus blocos de apartamen- cessidade de que os habitantes das cidades
tos e a desintegração dos laços comuns), participem das lutas e articulações políticas,
ele destacou a necessidade de repensar o para que a ocupação dos espaços de fato
conceito de urbano e de buscar alternativas parta de iniciativas coletivas. Neste ponto,
para um novo modo de vida que fosse vol- ele destaca o caso da Bolívia, pelo modo
tado para as necessidades comuns. como a articulação da população de Cocha-
Em Cidades rebeldes essa perspectiva bamba e El Alto, por meio da associação de
é retomada por David Harvey na medida pessoas, conseguiu superar as dificuldades e
em que, para ele, o direito à cidade envol- adversidades que são impostas à vida coti-
ve uma luta por direitos comuns. Não por diana daquelas distintas localidades.
acaso, o tema que perpassa toda a obra é Já no primeiro capítulo, denominado “O
aquele que trata a urbanização como meio direito à cidade”, Harvey, com o intuito de

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elucidar a natureza desse direito, discute as estilo de vida voltado para o consumo, em
circunstâncias de como se processa o atual que locais como shopping centers, restau-
fenômeno da urbanização, destacando o rantes, bares, cafés, centros comerciais, con-
papel primordial do mercado imobiliário domínios fechados etc. significam cada vez
para os Estados Unidos e também para os mais a divisão da cidade em partes distintas:
projetos urbanos de outras partes do mun- a dos que podem pagar e ter acesso a todos
do, como por exemplo os da China e da os tipos de serviços e a dos que são cada vez
Índia. Além disso, o autor retoma discus- mais subjugados a esse tipo de urbanização,
sões sobre alguns pontos referentes à obra sem direito aos serviços de saneamento e
de Karl Marx, tentando mostrar como sua passíveis de casos de desapropriação, o que é
teoria pode ainda contribuir para a com- destacado e definido por Harvey como “des-
preensão do argumento central de seu livro, truição criativa” (p. 47-48).
particularmente aquele que diz respeito ao Fazendo uma análise mais estrutural a
papel que a urbanização tem desempenha- respeito das crises capitalistas em decor-
do para a absorção de mercadorias exce- rência das bolhas imobiliárias, tanto nos
dentes. É o caso novamente dos Estados Estados Unidos como em outras partes do
Unidos, como destaca, pois seu processo de mundo, Harvey, no segundo capítulo “As
suburbanização, após o período da Segun- raízes urbanas das crises capitalistas”, des-
da Guerra, não foi apenas infraestrutural, taca o papel do Banco Mundial como um
mas implicou a transformação de um estilo grande favorecedor do capital especulativo.
de vida com a inserção de novos produtos, O autor lança críticas às teorias dos consul-
como casas pré-fabricadas e a introdução tores do Banco Mundial por desconsidera-
de outros bens duráveis nos subúrbios: rem que a maioria das centenas de crises,
aparelhos de ar condicionado, geladeiras e principalmente no período de 1973 a 2000,
carros, ou seja, novas “necessidades” que está relacionada ao desenvolvimento imo-
contribuíram para absorver o excedente de biliário e urbano (p. 71). No mesmo sentido,
capital decorrente do período pós-guerra ele critica tanto a teoria econômica sistê-
(p. 38). Ao mesmo tempo, como contra- mica, de extração burguesa, pois que essa
ponto, ele chama atenção para o fato de desconsidera e não relaciona o desenvolvi-
que a urbanização passa a ser um processo mento urbano com os desarranjos macroe-
que ocorre em escala global, sendo assim conômicos, como os teóricos marxistas,
necessário não centrar-se exclusivamente uma vez que deixam de lado os fenômenos
na análise do caso americano. Nesse sen- do aumento dos aluguéis e dos processos
tido, a análise do processo de urbanização de desapropriação (p. 81). Ainda em disso-
em escala global significa, de acordo com nância com estes últimos teóricos, o autor
Harvey, uma assombrosa integração dos levanta alguns pontos de discussão a res-
mercados financeiros, que usam sua flexi- peito de como a abordagem de Marx sobre
bilidade para financiar projetos em diversas as leis gerais de circulação do capital man-
partes do mundo (p. 41). tém sua importância para a compreensão
A urbanização como algo resultante da do momento atual. Assim, as análises de
produção de excedentes transformou tam- Marx desmontariam o “discurso” do capi-
bém a qualidade de vida em uma mercado- tal fictício na medida em que ele considera
ria. Projetos urbanísticos que prometem um que este capital é um fenômeno superficial

A rebeldia das cidades como gênese da constituição do espaço urbano contemporâneo 307
que mascara algo importante nas relações quão importante é romper com as amarras
sociais (p. 88). A partir desse referencial, de pensar a propriedade, a cidade e o espa-
Harvey denuncia as formas predatórias de ço urbano como algo privado (p. 135-136).
taxação de juros e os esquemas de pirâmi- Além disso, destaca a dominação do capi-
des, entre outras formas fraudulentas como talismo sobre as culturas locais analisando
o mercado imobiliário americano atuou e a renda de monopólio atrelada à lógica da
vem atuando, e que geraram grandes crises acumulação de capital, por meio da qual
financeiras, pois o enorme crescimento da este tem mecanismos para extrair exceden-
demanda não possibilitou que houvesse o tes a partir das diferenças e das variações
mesmo crescimento da oferta, contradizen- dessas culturas, exemplificados pelos tipos
do o argumento de um “livre funcionamen- de turismo realizados em periferias como o
to do mercado”. Harlem, em Nova York, ou as favelas do Rio
Segundo Harvey, outro aspecto revela- de Janeiro, da África do Sul ou de Mumbai
dor dos esquemas fraudulentos do merca- (p. 202). Mesmo assim, Harvey chama aten-
do imobiliário americano é evidenciado na ção para a importância que a cultura popu-
guerra de classe desencadeada pela crise lar tem na produção de relações comuns na
urbana. Os preconceitos de classe e raça vida cotidiana, na construção de espaços
expressos pelo sistema financeiro são ex- alternativos contra os efeitos globalizantes,
plícitos, visto que é na população afro-a- e na fundamentação de uma política de an-
mericana de baixa renda que se concentra timercantilização.
o maior percentual de perdas de ativos, cer- Como alternativa ou possível movimen-
ca de 71 a 93 bilhões dólares, decorrentes to de oposição aos efeitos da dominação
de práticas imobiliárias predatórias. Como dos interesses privados na construção dos
consequência disso, ressalta ele, ocorreram espaços citadinos, o autor, na segunda par-
fortes processos de desapropriações de imó- te do livro, discute a forma que poderia to-
veis, que chegaram em duas ondas: uma no mar a luta em relação ao direito à cidade.
período de 1995 a 1998 e a outra depois de Nesse aspecto, Harvey chama atenção para
2001 (p. 113). a constituição do espaço urbano como um
Para contrapor-se à forma de pensar a espaço de crucial importância para a ação
cidade e a urbanização como categorias política. Isso pode ser observado pelo his-
atreladas aos investimentos privados, Har- tórico dos movimentos revolucionários em
vey discute o conceito de “comum” des- Paris, desde 1789 até a Comuna em 1871, e,
tacando a citação de Garret Hardin, em A posteriormente, em várias partes do mun-
tragédia dos comuns, e opondo-se às suas do, como Xangai, Seattle, Barcelona (na
argumentações para destacar as diferenças Guerra Civil Espanhola), nas insurreições
entre os bens públicos e os espaços públi- urbanas dos Estados Unidos, na década de
cos. A discussão centra-se em torno de uma 1960, e nos recentes protestos em Madri,
reflexão sobre a cidade como um lugar co- Atenas, Cidade do México, Cochabamba
mum em meio aos interesses do capital pri- e El Alto, Buenos Aires, Santiago etc. (p.
vado. Sendo assim, para enfrentar os pro- 209-210). Além de sua importância para a
blemas já destacados no livro, em decor- ação política, como destaca o autor, nes-
rência da influência desse capital financei- ses espaços os movimentos reivindicatórios
ro nos projetos urbanísticos, ele mostra o têm igualmente a capacidade de exercerem

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uma forte influência sobre a dinâmica da Isso faz com que o autor tenha uma forte
economia urbana. convicção de que a forma de reestabelecer
Essa abrangência dos movimentos rei- regras para a redistribuição da riqueza entre
vindicatórios no espaço urbano, pois que as cidades deve ocorrer através do consenso
influencia esse espaço diretamente tanto na democrático entre os sujeitos coletivos do-
sua dimensão física quanto na econômica, tados de poder decisório (p. 265). Não por
exige uma redefinição do conceito de pro- acaso, em outra publicação recente, o autor
letariado, segundo Harvey. Primeiro, porque mostra como isso ocorreu no Brasil, no caso
o conceito foi cunhado quando do advento do Orçamento Participativo, particularmente
da revolução industrial para identificar um na experiência que se desenvolveu nos últi-
segmento social – destituído de meios de mos anos em Porto Alegre (HARVEY, 2013);
vida e de produção – vinculado à produção dentro da mesma perspectiva, poderíamos
do capital. Segundo, em razão de o prole- ainda citar mais dois exemplos brasileiros
tariado sempre ser considerado como van- atuais: as iniciativas locais por parte de as-
guarda dos movimentos da classe operária sociação de moradores para revitalização/
e expressão do conjunto dos trabalhadores apropriação de espaços públicos, como a
fabris. Terceiro, porque não é mais plausível Associação dos Amigos do Parque Minho-
pensarmos na existência de um grande pro- cão em São Paulo, que visa transformar o
letariado fabril, uma vez que hoje ele foi ra- antigo viaduto em parque, e, na cidade de
dicalmente reduzido em termos de número. Recife, o movimento Ocupe Estelita (BUENO,
Na nova concepção que propõe Harvey, o 2014) que, desde 2012, vem lutando contra
grosso do proletariado encontra-se distante as modificações propostas pela especulação
do processo produtivo em si; ele agora deve imobiliária da área do Cais José Estelita.
ser considerado “proletariado urbano”, pois Para além da periferia do capitalismo
sua luta volta-se então para ter o direito de globalizado, Harvey destaca, como exem-
controlar a cidade que ajuda maciçamente a plos das alternativas de enfrentamento,
construir (p. 232). dois marcantes momentos dos embates dos
A partir dessa redefinição, para exempli- movimentos urbanos contestatórios. O pri-
ficar como os atuais movimentos anticapita- meiro em Londres, no ano de 2011, em que
listas se orientam e agem, o autor menciona analisa o momento de total insustentabili-
o caso da organização das mobilizações na dade do sistema capitalista ao denominá-lo
Bolívia, mais especificamente nas cidades de de “feroz”. Tal denominação justifica-se na
Cochabamba e El Alto. Os dois casos expres- medida em que não há mais condições para
sam um forte sentimento de solidariedade, que os moradores das cidades arquem com
baseados na associação de pessoas e lugares, os gastos do dinheiro público em fraudes,
mostrando como são importantes os laços investimentos em empresas privadas, ope-
comuns. Nesse sentido, as lutas de El Alto, radores de custos de risco, e companhias
como qualquer outra luta anticapitalista, que manipulam e detêm o dinheiro público,
necessitam que sua consolidação seja vista “mandam e desmandam” no que será in-
com certo nível de generalidade, o que ex- vestido na cidade, contradizendo sempre as
plica Harvey voltar suas preocupações para necessidades da maioria de seus habitan-
a busca de coerência dos movimentos ur- tes (p. 274). O ápice disso, como segundo
banos que possuem suas pautas específicas. momento, ocorre nos Estados Unidos por

A rebeldia das cidades como gênese da constituição do espaço urbano contemporâneo 309
meio do “Partido de Wall Street”, que tem espaço ou decorrem da sua reprodução, e
capacidade de dominar políticos, meios de por isso fazem dele o verdadeiro ponto de
comunicação, e também grande parte do confronto.
aparato judiciário, em especial a Suprema
Corte. O movimento “Occupy Wall Street” Referências
coloca-se como forma de enfrentamento da
população cansada dos ditames do poder BUENO, C. Ocupe Estelita: movimento social e cul-
instaurador da classe capitalista, reivindi- tural defende marco histórico de Recife. Revista
cando um sistema político alternativo que Ciência e Cultura, vol. 66, nº 4, São Paulo, p. 5 – 6.
visa organizar a produção, a distribuição e out/dez. 2014.
o consumo em benefício da população (p. HARVEY, D. A liberdade da cidade. In: MARICA-
282). Em síntese: esses movimentos, embo- TO, E. [et al.]. Cidades rebeldes: passe livre e as
ra pareçam não tratar de imediato do espa- manifestações que tomaram as ruas do Brasil. São
ço urbano, ocorrem e se desenvolvem no Paulo: Boitempo/Carta Maior, p. 47 – 61. 2013.
interior das cidades afetando-as de modo _______. A justiça social e a cidade, São Paulo:
marcante na sua estrutura física, organiza- Hucitec, 1980.
cional e de funcionamento.
_______. Condição pós-moderna, São Paulo: Edi-
A partir do exposto, pode-se afirmar que ções Loyola, 1992.
Cidades rebeldes é a atualização das ques-
tões tratadas na década de 1960 por Henri _______. O direito à cidade. Revista Piauí, n. 82,
p. 1 – 11. jul. 2013.
Lefebvre, só que em um novo patamar. En-
quanto o sociólogo francês mostrava como LEFEBVRE, H. A revolução urbana. Belo Horizon-
a ideologia do consumo repercutia no dia a te: Ed. UFMG, 2008. 3ª reimpressão.
dia das cidades implicando num determi- _______. O direito a cidade. Tradução Rubens
nado tipo de urbanismo, Harvey destaca o Eduardo Frias. 5. ed. São Paulo: Centauro, 2011.
tipo globalizante de urbanização atrelado 3ª reimpressão.
ao capital financeiro e com consequências
devastadoras no modo de vida urbano. Ao
mesmo tempo, como o sociólogo francês,
seus estudos mostram que, em reação ao
poder do capital, inúmeros movimentos
sociais urbanos são capazes de influir na
dinâmica ou apontar alternativas que satis-
façam aos interesses das comunidades cita-
dinas; ou seja, são esses movimentos, tendo
à frente o proletariado urbano, que podem
conquistar e garantir – lutando e exercendo
o controle coletivo sobre a produção, prin-
cipalmente do espaço urbano – o direito à
cidade. Por isso Harvey conclui que hoje,
mais do que na época de Lefebvre, “a re-
volução tem de ser urbana”, pois as atuais
Recebido em: 03/11/15
e repetidas crises ocorrem no interior desse
Aprovado em: 15/12/15

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