Apostila de Jazz
Apostila de Jazz
Nota do Tradutor
A improvisação é o coração do jazz. Tocar
Tocar uma melodia e não improvisar não é jazz — por
mais "jazzística" que possa soar a execução e a harmonia da música. E, tanto quanto o jazz,
a arte da improvisação evoluiu na história. Daí a importância de Uma Introdução à
Improvisação no Jazz ( A Improvisation Primer ),
A Jazz Improvisation ), de Marc Sabatella, livro que associa a
história do jazz à evolução da teoria musical por trás dessa música, e aponta para o uso
dessa teoria na prática da improvisação. O livro também dá dicas de como tocar jazz em
grupo, traz uma excelente discografia comentada, e muito mais.
O autor colocou todo este livro gratuitamente à disposição de quem se interessa por saber
mais sobre improvisação no jazz, e o mesmo ocorre com esta edição em português. Além
de um excelente pianista de jazz — o que você pode atestar ouvindo um de seus discos,
como Falling Grace, à venda no site www.outsideshore.com —, Marc Sabatella é um cara
muito didático, e as explicações deste livro vão certamente ajudar a ampliar os horizontes
do músico que queira dominar a teoria e a técnica por trás da improvisação de jazz, bem
como daquele que, não sendo músico, aprecie o jazz e queira conhecer mais sobre o que
está por trás de sua evolução musical.
Esbarramos nesta tradução em diversos termos e expressões cuja versão para o português
oferece, ora várias alternativas, ora nenhuma. Optamos aqui, por exemplo, por traduzir
" playing changes" por "improvisar sobre progressões", e "chord changes", ou simplesmente
"changes" por "progressão harmônica" (ou de acordes), embora esta expressão seja também
conhecida como "sequência" ou "encadeamento" harmônico (ou de acordes). E a escolha
das notas para a execução de um acorde, que o músico de jazz chama em inglês de
"voicing ",
", virou para nós "abertura" (seguimos aqui a terminologia usada por Wilson Curia
em seus excelentes livros Manual de Improvisação e Harmonia Moderna e Improvisação),
embora haja quem utilize expressões como "distribuição", "posicionamento" e outros
termos. " Rhythm changes", um tipo de progressão harmônica popularizada no jazz pela
música I Got Rhythm, de George Gershwin, virou para nós a "progressão I Got Rhythm",
às vezes resumida para "progressão Rhythm", mas há quem a ela se refira por outros
termos, ou simplesmente a mantenha sem traduzir.
Para evitar entretanto usar múltiplas traduções, ou tomar partido de uma expressão em
detrimento de outra de maneira inapelável, em muitos casos optei por manter no próprio
texto as expressões em inglês, mesmo quando estas foram traduzidas ou explicadas em
português. Acho que isso facilitará a procura de outros materiais na internet sobre cada um
dos vários tópicos a que este livro se dedica.
Optei nesta tradução por manter as cifras de acordes usadas no texto original. Assim, o
leitor verá Cmaj7 para um acorde Dó com Sétima Maior, que muitas publicações brasileiras
grafariam como C7M. Espero poder em breve compilar uma tabela das cifras mais usadas
no jazz com suas equivalentes utilizadas pela música brasileira. Enquanto isso, achei
prudente manter as cifras originais porque
por que a maior parte das lead sheets, como são
conhecidas as partituras de jazz, faz uso dessas cifras.
Agradeço aos amigos que me ajudaram na revisão desta tradução. Paulo Trevisani Jr. e
Pedro Ramos colaboraram na fase inicial da revisão. Ion Muniz,
Muniz, um grande improvisador
brasileiro, ajudou com vários termos da "cozinha"
"coz inha" da música. Agradeço também aos
colegas dos fóruns www.batera.com.br e www.cifras.com.br por respostas à pergunta:
"como se diz isso em bom português?"
Encontrando algum erro, ou tendo alguma sugestão de como eu possa melhorar esta
tradução, por favor entre em contato
contato..
Bom proveito!
Objetivos
Do ponto de vista desta Introdução, somos todos músicos. Alguns de nós podem ser
músicos no tocar, enquanto a maioria
ma ioria de nós somos músicos no ouvir. A maioria daqueles
também são como estes. Tentarei usar as expressões músico e ouvinte respectivamente, em
vez de músico e não músico, quando me referir ao meu público. Esta Introdução é voltada
basicamente para músicos que queiram aprender
apr ender improvisação de jazz. Ela também se
destina aos ouvintes do jazz que queiram ampliar sua compreensão desse gênero musical.
Acredito que todos os músicos e ouvintes possam se beneficiar de uma compreensão maior
do jazz, já que esta pode levar a uma melhor apreciação dessa música.
Pressupomos em muitas partes no decorrer desta Introdução que o leitor tenha alguns
conhecimentos básicos de música, como uma certa familiaridade com a notação musical
padrão. É altamente recomendável que você tenha acesso a um piano e saiba tocar nele
exemplos simples. Os músicos devem já possuir um conhecimento técnico básico de seus
instrumentos para poder ganhar o máximo com esta Introdução. Os músicos ouvintes
devem fazer um esforço para suportar as discussões mais técnicas e não se deixar
desanimar por causa de detalhes que pareçam estar muito fora de seu alcance.
Esta Introdução tem três objetivos principais. Eles são: ensinar a você a linguagem do jazz,
aumentar a sua compreensão do jazz como ele é tocado por outros músicos, e, para os
músicos, fazer você começar a improvisar. A linguagem do jazz é basicamente uma
linguagem de estilos, história e teoria musical. Ela é a linguagem que você vê nos textos
que acompanham os álbuns de jazz, em entrevistas e livros universitários, e contém termos
como "bebop", "Trane", e "lídio dominante".
dom inante". Aprender esta linguagem também vai dar a
você uma base para a compreensão da música em si. Embora seja com certeza possível
gostar de John Coltrane sem entender nada de teoria musical, um conhecimento funcional
de harmonia pode dar a você uma nova base para a apreciação da música. Também é
possível improvisar sem muita bagagem teórica, mas as histórias de músicos famosos que
não conseguiam ler partitura são geralmente muito exageradas, e acredito que a capacidade
de tocar de qualquer músico pode ser aperfeiçoada com a aprendizagem de mais teoria.
Esboço
Esta Introdução está organizada como uma série de passos para se virar um músico de jazz
melhor, seja como um músico, seja como um ouvinte mais bem informado.
infor mado. A maioria das
etapas é voltada para o músico que toca, mas o músico ouvinte é estimulado a tentar tocar
tantos dos exemplos apresentados quanto possível. Isso deve ajudar você a sensibilizar o
Agradeço aos amigos que me ajudaram na revisão desta tradução. Paulo Trevisani Jr. e
Pedro Ramos colaboraram na fase inicial da revisão. Ion Muniz,
Muniz, um grande improvisador
brasileiro, ajudou com vários termos da "cozinha"
"coz inha" da música. Agradeço também aos
colegas dos fóruns www.batera.com.br e www.cifras.com.br por respostas à pergunta:
"como se diz isso em bom português?"
Encontrando algum erro, ou tendo alguma sugestão de como eu possa melhorar esta
tradução, por favor entre em contato
contato..
Bom proveito!
Objetivos
Do ponto de vista desta Introdução, somos todos músicos. Alguns de nós podem ser
músicos no tocar, enquanto a maioria
ma ioria de nós somos músicos no ouvir. A maioria daqueles
também são como estes. Tentarei usar as expressões músico e ouvinte respectivamente, em
vez de músico e não músico, quando me referir ao meu público. Esta Introdução é voltada
basicamente para músicos que queiram aprender
apr ender improvisação de jazz. Ela também se
destina aos ouvintes do jazz que queiram ampliar sua compreensão desse gênero musical.
Acredito que todos os músicos e ouvintes possam se beneficiar de uma compreensão maior
do jazz, já que esta pode levar a uma melhor apreciação dessa música.
Pressupomos em muitas partes no decorrer desta Introdução que o leitor tenha alguns
conhecimentos básicos de música, como uma certa familiaridade com a notação musical
padrão. É altamente recomendável que você tenha acesso a um piano e saiba tocar nele
exemplos simples. Os músicos devem já possuir um conhecimento técnico básico de seus
instrumentos para poder ganhar o máximo com esta Introdução. Os músicos ouvintes
devem fazer um esforço para suportar as discussões mais técnicas e não se deixar
desanimar por causa de detalhes que pareçam estar muito fora de seu alcance.
Esta Introdução tem três objetivos principais. Eles são: ensinar a você a linguagem do jazz,
aumentar a sua compreensão do jazz como ele é tocado por outros músicos, e, para os
músicos, fazer você começar a improvisar. A linguagem do jazz é basicamente uma
linguagem de estilos, história e teoria musical. Ela é a linguagem que você vê nos textos
que acompanham os álbuns de jazz, em entrevistas e livros universitários, e contém termos
como "bebop", "Trane", e "lídio dominante".
dom inante". Aprender esta linguagem também vai dar a
você uma base para a compreensão da música em si. Embora seja com certeza possível
gostar de John Coltrane sem entender nada de teoria musical, um conhecimento funcional
de harmonia pode dar a você uma nova base para a apreciação da música. Também é
possível improvisar sem muita bagagem teórica, mas as histórias de músicos famosos que
não conseguiam ler partitura são geralmente muito exageradas, e acredito que a capacidade
de tocar de qualquer músico pode ser aperfeiçoada com a aprendizagem de mais teoria.
Esboço
Esta Introdução está organizada como uma série de passos para se virar um músico de jazz
melhor, seja como um músico, seja como um ouvinte mais bem informado.
infor mado. A maioria das
etapas é voltada para o músico que toca, mas o músico ouvinte é estimulado a tentar tocar
tantos dos exemplos apresentados quanto possível. Isso deve ajudar você a sensibilizar o
seu ouvido e a reconhecer aspectos musicais do jazz que talvez não conseguisse reconhecer
de outra maneira.
Os passos apresentados nesta Introdução são:
ouvir a muitos estilos diferentes de jazz
entender os fundamentos do jazz
aprender as relações acorde/escala
aprender como utilizar a teoria na improvisação de jazz
aprender como acompanhar outros solistas
tocar em grupo
ouvir analiticamente
romper as regras
Cada uma dessas etapas será descrita em mais detalhe mais adiante. Parte do material
apresentado aqui é muito básico, e parte dele é um tanto avançado. Aqueles que já ouviram
muito jazz mas não são músicos provavelmente acharão as explicações sobre história do
jazz simplistas, e as discussões teóricas, assustadoras.
assus tadoras. Outros podem ficar impacientes com
explicações de conceitos tão básicos como a escala maior, mas ficarão embaralhados com o
número e a variedade
var iedade de músicos discutidos.
d iscutidos. Você
Você pode estar se perguntando por que uma
gama tão vasta de informações foi espremida nesta Introdução. Acredito que, para se
compreender a improvisação de jazz, é necessário entender a história, a teoria e as técnicas
do jazz. Penso que é importante fundir esses caminhos para que se possa desenvolver uma
compreensão ampla.
Outros Materiais
Esta Introdução não é a única fonte de informação que você pode ou deve utilizar para
aprender improvisação de jazz. Há livros escritos por Jerry Coker, David Baker e outros
autores que podem ser usados como um auxílio no aprendizado da improvisação jazzística.
Alguns desses livros são relativamente básicos e não cobrem tanto material quanto esta
Introdução. Outros são bem avançados, e esta Introdução, esperamos, dará a bagagem
necessária para se enfrentar esses textos.
Além de livros sobre jazz, um outro material importante para os músicos é o fakebook . Um
fakebook geralmente contém a partitura de centenas de músicas, mas apresenta somente a
melodia, a letra se for o caso, e as cifras dos acordes. Uma descrição de alguns dos
fakebooks disponíveis no mercado pode ser encontrada na Bibliografia Comentada.
Quando se está praticando, é geralmente útil tocar junto com uma seção rítmica (piano,
baixo e bateria). Isso, é claro, nem
ne m sempre está ao alcance. Jamey Aebersold criou uma
série de álbuns "play along" para solucionar este problema. Estes discos, cassetes ou CDs
vêm com livros contendo a partitura, no formato fakebook, das músicas do álbum. As
gravações contêm somente o acompanhamento, sem melodias ou solos. Tocá-los é com
você. O piano e o baixo estão em canais diferentes do som estéreo, de modo que possam ser
desligados individualmente se você toca um desses instrumentos. Eu recomendo que todos
os músicos consigam alguns desses álbuns. Os anúncios aparecem na revista Down Beat.
(N.T.: O Volume 1 da série de livros/discos play along de Aebersold foi editado em
português e está à venda em livrarias brasileiras.)
Outra opção é o programa de computador Band-In-A-Box. Esse programa roda em várias
plataformas diferentes. Ele permite que você digite as cifras dos acordes de uma música, e
aí ele gera as partes de uma seção rítmica e pode tocá-las, via porta MIDI, por meio de um
sintetizador, como um teclado eletrônico. Ele na verdade faz um trabalho muito bom de
gerar partes realistas, e se o seu teclado puder gerar sons realistas, talvez você nem consiga
perceber que não está tocando com uma gravação de uma seção rítmica de verdade. Há
discos há venda que contêm centenas de músicas já gravadas neste programa. Os anúncios
aparecem na revista Keyboard.
Estrutura
A maior parte do jazz desde a era do bebop é baseada numa forma que é na verdade bem
similar à forma sonata da teoria clássica: uma introdução opcional, a exposição ou tema
(possivelmente repetido), a seção do desenvolvimento e a recapitulação, possivelmente
seguida de uma coda. A introdução, se presente, dá o tom para a peça; a exposição é a
melodia principal; a seção de desenvolvimento é onde o compositor estende as ideias da
exposição; a recapitulação é uma reafirmação do tema; e a coda é um encerramento. Na
linguagem do jazz, essas seções de uma peça seriam chamadas introdução, tema
(possivelmente repetido), a seção de solo, a repetição do tema, e possivelmente uma coda
ou encerramento. A introdução estabelece o clima; o tema é a melodia principal; a seção de
solo é quando os solistas improvisam sobre a melodia e/ou a progressão de acordes da
música; a repetição do tema é uma reafirmação da melodia; e a coda ou encerramento é
uma conclusão.
Embora nem toda peça siga essa forma, a vasta maioria do jazz tradicional fica muito perto
dela. Durante a seção de solo, a seção rítmica geralmente continua seguindo a progressão
de acordes do tema enquanto os solistas se revezam na improvisação. Cada vez que a
progressão é repetida é chamada um chorus (pronuncia-se "córus"), e cada solista pode
tocar durante vários chorus. Nesse aspecto, a forma tema e variação da música clássica
também é uma analogia válida. Cada solista toca uma variação improvisada sobre o tema.
A improvisação é o aspecto mais importante do jazz, do mesmo modo que o
desenvolvimento é geralmente considerado a parte mais importante de uma sonata clássica.
Quando estiver ouvindo uma peça, tente cantar o tema para você mesmo por trás dos solos.
Poderá notar que alguns solistas, especialmente Thelonious Monk e Wayne Shorter,
geralmente baseiam seus solos no tema melódico tanto quanto na progressão harmônica.
Você também notará que frequentemente se tomam liberdades com o tema em si; músicos
como Miles Davis, Coleman Hawkins, Sonny Rollins e John Coltrane foram especialmente
adeptos de fazer declarações pessoais até mesmo quando tocavam somente o tema.
Há duas formas muito comuns de um tema no jazz. A primeira é a forma do blues, que
normalmente é uma forma de 12 compassos. Há muitas variantes das progressões
harmônicas do blues, mas a maioria é baseada na ideia de três frases de quatro compassos.
Em sua forma original, a segunda frase seria uma repetição da primeira, e a terceira seria
uma resposta a essa frase, embora raramente se siga essa convenção no jazz. Você pode dar
uma conferida nas progressões harmônicas do blues apresentadas mais adiante para ter uma
ideia de como elas soam, de modo que possa reconhecer as formas do blues quando ouvi-
las. Os textos nas capas e folhetos dos discos e os títulos das músicas também geralmente
ajudam a identificar quais faixas são baseadas no blues. Entre as músicas de jazz bem
conhecidas baseadas nas progressões do blues estão "Now's The Time" e "Billie's Bounce",
de Charlie Parker, "Straight, No Chaser" e "Blue Monk", de Thelonious Monk, e "Freddie
Freeloader" e "All Blues", de Miles Davis.
A outra forma comum no jazz é a forma AABA, amplamente usada na música popular
desde a virada para o século XX até o surgimento do rock and roll. Essa forma consiste de
duas seções, chamadas seção A e seção B, ou ponte (em inglês, bridge, de onde o "B"). A
forma é A1, A2, B (ponte), A3. As seções A são similares ou idênticas, exceto pela letra e
talvez os dois últimos compassos. A música "I Got Rhythm", de George Gershwin, é um
exemplo da forma AABA. Há literalmente centenas de músicas baseadas na progressão
harmônica dessa música, entre elas "Anthropology", de Charlie Parker, e "Oleo", de Sonny
Rollins. Outras músicas com a forma AABA incluem "Darn That Dream", de Jimmy Van
Heusen, e "There Is No Greater Love", de Isham Jones. Músicas como essas, canções da
música popular da primeira metade do Século 20 que foram interpretadas por muitos
músicos de jazz, são geralmente chamadas de standards do jazz.
Essas estruturas são somente modelos. Músicos como Cecil Taylor nos mostraram faz
tempo que é possível expressar-se sem estruturas tão bem definidas, e aliás esse tipo de
expressão é geralmente mais pessoal do que qualquer forma organizada. Eu descrevi essas
estruturas comuns para ajudar você a compreender o contexto em que muitos músicos
trabalham, não para sugerir que elas são a única maneira. Você deve aprender a discernir
por si só, quando estiver ouvindo outros músicos, que tipo de estruturas eles estão usando,
se estiverem. Você também precisa decidir por conta própria que estruturas usar quando
estiver tocando.
Relações Acorde/Escala
A maior parte da improvisação no jazz mainstream é baseada em progressões harmônicas.
A progressão harmônica é uma sequência de acordes que harmoniza a melodia. Geralmente
cada acorde dura um compasso; às vezes dois, às vezes só meio. Um fakebook mostra a
cifra que representa cada acorde específico acima do ponto correspondente na melodia.
Ainda mais importante do que os próprios acordes, entretanto, são as escalas implícitas
nesses acordes. Como improvisador, quando estiver tocando num acorde Ré Menor, cujo
símbolo é Dm, você vai normalmente tocar linhas construídas com notas da escala do Ré
Dórico. Essa seção documenta os vários acordes e as escalas associadas usadas no jazz.
Presume-se que você tenha familiaridade com o nome das notas e sua localização.
Se seu objetivo é virar um músico de jazz, deve praticar linhas de improvisação baseadas
em todas as escalas apresentadas aqui, e em todas os 12 tons. Ou você pode ficar com
somente um tom por escala, mas deve ainda assim praticar improvisação sobre cada relação
acorde/escala para melhor reconhecer os seus sons.
Intervalos
Há 12 notas diferentes na música tradicional: Dó, Dó Sustenido/Ré Bemol, Ré, Ré
Sustenido/Mi Bemol, Mi, Fá, Fá Sustenido/Sol Bemol, Sol, Sol Sustenido/Lá Bemol, Lá,
Lá Sustenido/Si Bemol e Si. Depois do Si vem o Dó uma oitava acima do primeiro Dó, e
este ciclo continua. Essa sequência é chamada de escala cromática. Cada etapa nessa escala
é chamada de um meio tom ou semitom. O intervalo entre duas notas é definido pelo
número de semitons entre elas. Duas notas distantes um semitom, como Dó e Dó Sustenido,
definem uma segunda menor. As notas que estão dois semitons distantes, como Dó e Ré,
definem uma segunda maior. Isso também é chamado um tom inteiro. De semitom em
semitom, os demais intervalos são a terça menor, terça maior, quarta justa, trítono, quinta
justa, sexta menor, sexta maior, sétima menor, sétima maior e, por fim, a oitava.
A maioria desses intervalos também tem outros nomes. Por exemplo, um trítono é às vezes
chamado de quarta aumentada se a notação das notas do intervalo parecer descrever uma
quarta. Por exemplo, o intervalo trítono de Dó a Fá Sustenido é chamado de quarta
aumentada, porque o intervalo de Dó para Fá é uma quarta justa. Por outro lado, se as notas
do intervalo parecerem descrever uma quinta, aí o trítono é às vezes chamado de quinta
diminuta. Por exemplo, o intervalo trítono do Dó ao Sol Bemol, que é na verdade o mesmo
que o intervalo de Dó a Fá Sustenido, é chamado uma quinta diminuta, porque o intervalo
de Dó a Sol é uma quinta justa. Em geral, se qualquer intervalo maior ou perfeito é
aumentado em um semitom pela inclusão de um acidente (a indicação de bemol ou
sustenido numa nota), o intervalo resultante é chamado aumentado, e se algum intervalo
menor ou perfeito é reduzido em um semitom pela adição de um acidente, o intervalo
resultante é chamado diminuto.
Modo Dórico
O modo dórico é construído no segundo grau da escala maior, usando-se as mesmas notas
dessa escala. Por exemplo, a escala dórica de Ré é montada com as notas da escala Dó
Maior, a partir do Ré, e consiste de "Ré, Mi, Fá, Sol, Lá, Si, Dó". O modo dórico é muito
parecido com uma escala menor, mas o sexto grau é elevado em meio tom. Ou seja, a
escala Ré Menor teria um Si Bemol, enquanto o modo dórico tem um Si. Como ele parece
tanto com a escala menor, é natural tocar esse modo sobre um acorde de sétima menor.
Aliás, ele é usado com mais frequência do que a própria escala menor. Se você for ao piano
e tocar um acorde Dm7 ("Ré, Fá, Lá, Dó") com a mão esquerda, e tocar as notas do modo
dórico de Ré e da escala menor de Ré na mão direita, vai provavelmente concluir que o
modo dórico soa melhor, porque o Si é menos dissonante contra um acorde Dm7 do que o
Si Bemol. Se você usar o modo dórico sobre um acorde de sétima menor, não há notas
evitadas.
Do mesmo modo que com o acorde de sétima maior, você pode acrescentar terças ao
acorde de sétima menor para fazer Dm9, Dm11 e Dm13. Esses acordes ainda implicam o
uso da mesmo modo dórico. Se você usar a escala menor natural, o acorde de décima
terceira contém a nota Si Bemol, que é um tanto dissonante nesse contexto. Esse acorde é
raramente usado, mas quando ele é pedido, é geralmente notado Dm7b6, e é uma das
poucas exceções à regra de que a maioria dos acordes são grafados em termos das
extensões com números ímpares acima da sétima. Essa regra vem do fato de que os acordes
são tradicionalmente feitos pela sobreposição de terças. A notação Dm6 é às vezes um
sinônimo de Dm13 quando o Si natural é explicitamente pedido.
Modo Frígio
O terceiro modo da escala maior é chamado de modo frígio. Na tonalidade de Dó, uma
escala frígia é construída sobre o Mi, e consiste de "Mi, Fá, Sol, Lá, Si, Dó, Ré". Essa
escala, como o modo dórico, também é similar à escala menor, exceto que o segundo grau
no modo frígio é rebaixado em meio tom. Ou seja, uma escala Mi Menor teria um Fá
Sustenido, enquanto o modo frígio tem um Fá. Se você tentar tocar a escala frígia sobre um
acorde de sétima menor, vai provavelmente achá-lo mais dissonante do que a escala menor,
por causa da segunda rebaixada. O modo frígio é usado ocasionalmente sobre um acorde de
sétima menor, embora geralmente o acorde seja notado como m7b9 como uma dica ao
improvisador de que o modo frígio deve ser usado. Há outras situações específicas em que
a escala frígia soa bem. Uma delas é sobre um acorde de sétima da dominante com uma
quarta suspensa (veja modo mixolídio, abaixo) e uma nona rebaixada, notada susb9. Outra
é sobre um acorde específico que eu vou simplesmente chamar de um acorde frígio. Um
acorde frígio sobre Mi seria "Mi, Fá, Lá, Si, Ré". Quando o modo frígio é tocado sobre esse
tipo de acorde, o resultado é um som um tanto espanhol, particularmente se você
acrescentar um Sol Sustenido à escala, resultando naquilo que é às vezes chamado de escala
frígia espanhola. Várias músicas de Chick Corea, entre elas "La Fiesta", e boa parte da
música do disco Sketches Of Spain, de Miles Davis, usam essa sonoridade extensivamente.
Modo Lídio
O quarto modo da escala maior é o modo lídio. Na tonalidade de Dó, uma escala lídia é
construída sobre o Fá, e consiste de "Fá, Sol, Lá, Si, Dó, Ré, Mi". Essa escala é como a
escala maior, exceto que ela contém um quarto grau aumentado. Ou seja, uma escala de Fá
Maior conteria um Si Bemol, enquanto a escala lídia contém um Si natural. Como o quarto
grau da escala maior é uma nota evitada sobre um acorde de sétima maior, essa escala dá ao
improvisador uma alternativa. Embora o som da quarta elevada possa soar um pouco
incomum no começo, você vai ver que ela é em geral preferível à quarta natural da escala
maior. Quando o símbolo Cmaj7 aparece, você tem a escolha entre as escalas maior e lídia.
Geralmente, se o modo lídio é especificamente desejado, vai aparecer o símbolo Cmaj7#11.
Lembre-se que um acorde Cmaj11 contém um Fá como a décima primeira; o Cmaj7#11
denota que essa nota deve ser elevada em meio tom.
Modo Mixolídio
O quinto modo da escala maior é o modo mixolídio. Na tonalidade de Dó, uma escala
mixolídia é construída sobre o Sol, e consiste das notas "Sol, Lá, Si, Dó, Ré, Mi, Fá". Essa
escala é como a escala maior, exceto que o sétimo grau é rebaixado em meio tom. Ou seja,
uma escala maior de Sol conteria um Fá Sustenido enquanto a mixolídia contém um Fá.
Como o acorde de sétima construído sobre o quinto grau da escala maior é uma sétima da
dominante, é natural que se toquem linhas baseadas no modo mixolídio sobre um acorde de
sétima da dominante. Por exemplo, a escala mixolídia de Sol pode ser usada sobre um
acorde G7.
Do mesmo modo que com a escala maior sobre um acorde de sétima maior, o quarto grau
da escala (Dó no caso do Sol Mixolídio) é uma nota um tanto evitada sobre um acorde de
sétima da dominante. Entretanto, existe um acorde chamado de acorde suspenso, notado
Gsus, Gsus4, G7sus, G7sus4, F/G, Dm7/G, ou G11 sobre o qual não há notas a evitar no
modo mixolídio de Sol. A notação F/G indica uma tríade de Fá Maior sobre a nota Sol no
baixo. O termo "suspensão" vem da harmonia clássica e se refere ao retardo temporário da
terça num acorde da dominante ao se tocar primeiro a quarta, antes de resolvê-la na terça.
No jazz, entretanto, a quarta geralmente não é nunca resolvida. O acorde suspenso consiste
da fundamental, quarta, quinta, e geralmente também a sétima. A música "Maiden Voyage",
de Herbie Hancock, consiste somente de acordes suspensos não resolvidos.
Modo Lócrio
O sétimo e último modo da escala maior é o modo lócrio. Na tonalidade de Dó, uma escala
lócria é construída sobre o Si, e consiste das notas "Si, Dó, Ré, Mi, Fá, Sol, Lá". O acorde
de sétima construído sobre essa escala ("Si, Ré, Fá, Lá") é um acorde de sétima meio
diminuto, Bm7b5. Esse símbolo vem do fato de que esse acorde é similar a um Bm7,
exceto que a quinta é rebaixada em meio tom. O símbolo clássico para esse acorde é um
círculo cortado por um "/" no meio. A escala lócria pode ser usada sobre um acorde de
sétima meio diminuto (também chamado de sétima menor com quinta bemol), mas o
segundo grau é um tanto dissonante e é às vezes considerado uma nota evitada.
Lídio Aumentado
O terceiro modo da escala menor melódica é conhecido como um modo lídio aumentado.
Numa menor melódica de Lá, uma escala lídia aumentada é construída sobre o Dó e
consiste de "Dó, Ré, Mi, Fá Sustenido, Sol Sustenido, Lá, Si". Essa escala contém um
acorde aumentado com sétima maior, "Dó, Mi, Sol Sustenido, Si". Não existe um símbolo
padrão para este acorde, mas se utiliza Cmaj7#5 ocasionalmente, como também Cmaj7-aug
ou Cmaj7+. Quando esse acorde é pedido, a escala lídia aumentada é uma escolha
apropriada. O acorde maj7#5 é usado principalmente como um substituto para um acorde
normal de sétima maior.
Lídio Dominante
O quarto modo da escala menor melódica é geralmente chamado de lídio dominante, ou
lídio com sétima bemol (lídio b7). Se você montá-lo, verá por quê. Numa escala menor
melódica em Lá, uma escala lídia dominante é feita a partir do Ré e consiste de "Ré, Mi, Fá
Sustenido, Sol Sustenido, Lá, Si, Dó". Esta escala lembra a escala Ré Maior, "Ré, Mi, Fá
Sustenido, Sol, Lá, Si, Dó Sustenido", mas com duas alterações: a quarta aumentada,
característica do modo lídio, e a sétima menor, característica do modo mixolídio. O modo
mixolídio foi descrito como uma possível escolha de escala para uso sobre um acorde de
sétima da dominante, mas o quarto grau era uma nota a se evitar. A escala lídia dominante
não contém esta nota a evitar. Do mesmo modo que com a escala lídia e a quarta aumentada
sobre um acorde de sétima maior, a escala lídia dominante pode soar incomum a princípio,
mas é geralmente mais interessante do que o modo mixolídio quando tocada sobre uma
sétima da dominante.
Este som específico, a quarta aumentada sobre um acorde de sétima da dominante, era
muito usado na era do bebop, e fez os primeiros músicos do bebop receber muitas críticas
pelo uso desses sons não tradicionais. Esse som foi também a gênesis da composição
"Raise Four", de Thelonious Monk, que apresenta com destaque a quarta aumentada na
melodia. O uso dessa escala é geralmente indicado explicitamente pelo símbolo D7#11.
Músicos do bebop geralmente chamavam essa nota de uma quinta bemol, grafando o
símbolo do acorde como D7b5, embora isso normalmente implique a escala diminuta, que é
discutida mais adiante.
Quinto Modo
O quinto modo da escala menor melódica não tem um nome estabelecido, e normalmente
só é usado sobre um acorde do V grau numa progressão ii-V-i de uma tonalidade menor.
Esse uso será discutido mais adiante.
Escala Alterada
O sétimo modo da escala menor melódica é geralmente chamado de escala diminuta de tons
inteiros, porque ele combina os elementos das escalas diminuta e de tons inteiros, que são
discutidas mais adiante. Outro nome para essa escala é escala alterada. Para ver por quê,
recorde-se da discussão introdutória sobre acordes. Os acordes são construídos pela
superposição de terças. Discutimos as tríades, que contêm três notas, bem como os acordes
de sétima, que contêm quatro notas. No tom de Dó, o acorde G7 é o acorde de sétima da
dominante. Ele contém uma fundamental (Sol), uma terça (Si), uma quinta (Ré), e uma
sétima (Fá). Se adicionarmos outra terça no topo, Lá, temos um acorde de nona, o G9. Se
acrescentarmos uma outra terça, Dó, temos um acorde de décima primeira, G11. O Dó é o
quarto grau dessa escala, e é normalmente uma nota evitada. Este símbolo é normalmente
usado somente quando a quarta é explicitamente exigida, como num acorde suspenso. Se
então adicionarmos uma outra terça, Mi, temos um acorde de décima terceira, G13. O Dó é
normalmente omitido desse acorde. Uma outra terça nos retornaria ao Sol.
Esse acorde pode ser alterado pela elevação ou rebaixamento de notas individuais em meio
tom. A fundamental, terça, e sétima não são normalmente alteradas, já que são as notas que
mais definem um acorde. Uma mudança em qualquer uma dessas destrói a sensação de
dominante do acorde. A décima primeira elevada já foi discutida. As outras alterações
interessantes são a quinta e a nona. Para um acorde G7, isso significa uma quinta rebaixada,
ou bemol (Ré Bemol), a quinta elevada, ou sustenida (Ré Sustenido), a nona rebaixada, ou
bemol (Lá Bemol), e a nona elevada, ou sustenida (Lá Sustenido).
Agora, vamos retornar à chamada escala alterada. Uma escala alterada de Sol pode ser
construída a partir da escala Lá Bemol Melódica, e consiste de "Sol, Lá Bemol, Si
Bemol/Lá Sustenido, Dó Bemol/Si, Ré Bemol, Mi Bemol/Ré Sustenido, Fá". Em primeiro
lugar, observe que essa escala contém Sol, Si, e Fá, a fundamental, terça e sétima do acorde
G7. As notas restantes, Lá Bemol, Si Bemol, Ré Bemol e Mi Bemol, são respectivamente a
nona bemol, a nona sustenida, a quinta bemol e a quinta sustenida. Em outras palavras,
todas as possíveis alterações num acorde de nona estão incluídas nessa escala. O acorde
implícito nessa escala é em geral notado simplesmente como G7alt, embora a notação
G7#9#5 também seja usada, como também a G7#9. Os símbolos b9 e b5 não são
normalmente usados nesse contexto, a despeito de estarem presentes na escala, por que eles
implicam a escala diminuta, que é discutida mais adiante.
O som da escala alterada e o acorde que ela implica são muito mais complexos do que
qualquer outra escala/acorde de sétima da dominante apresentado até aqui, e é um dos sons
mais importantes do jazz pós-bop. Talvez seja bom você investir mais tempo nessa escala
para se acostumar a ela. Tente ir ao piano e tocar a fundamental, terça, e sétima com a mão
esquerda, enquanto toca a escala alterada, e linhas melódicas baseadas nela, com a direita.
Você pode utilizar essa escala mesmo quando o acorde pareça ser um acorde de sétima da
dominante comum, mas deve fazê-lo com cautela num ambiente de grupo, porque outros
integrantes da banda podem estar tocando sons do modo mixolídio ou lídio dominante, e
sua escala alterada vai soar dissonante em relação a eles. Isso não é necessariamente errado,
mas você deve estar consciente do efeito produzido.
Escalas Simétricas
Quando um modo de uma dada escala produz o mesmo tipo de escala que a original, essa
escala é dita simétrica. Várias escalas importantes usadas por músicos de jazz são
simétricas. Por exemplo, a escala cromática é simétrica, já que cada modo individual dela é
uma outra escala cromática. Nesse caso, há na verdade somente uma escala cromática
única; todas as outras são somente modos dela. Em geral, se N modos de uma dada escala
produzem o mesmo tipo de escala (inclusive o primeiro modo, a própria escala original),
então há somente 12/N escalas diferentes desse tipo.
Uma coisa a se observar nas escalas discutidas nesta seção é que elas parecem se prestar a
tocar padrões melódicos, e às vezes é difícil conseguir não soar cliché quando se usa essas
escalas. Quando se tem vários compassos de um dado acorde, uma técnica comum é tocar
uma figura breve na escala a ele associada e repeti-la transposta a várias posições
diferentes. Por exemplo, um possível padrão em Dó Maior seria "Dó, Ré, Mi, Sol". Esse
padrão pode ser repetido várias vezes com o início em diferentes posições, talvez como
"Ré, Mi, Fá, Lá" ou "Mi, Fá, Sol, Si". Por alguma razão, muitas das escalas apresentadas
abaixo convidam a esse tipo de abordagem, e é fácil terminar com uns poucos clichés que
você acaba usando todas as vezes que é confrontado por essas escalas. Sempre fique atento
a isso. Você não deve se sentir como se uma escala estivesse ditando o que você pode ou
deve tocar.
Escalas Diminutas
Uma outra escala simétrica é a escala diminuta. Essa escala é também chamada de escala
tom-semitom, ou escala semitom-tom, porque ela é construída pela alternação de intervalos
de tons e semitons. Uma escala tom-semitom (vamos abreviá-la TS) em Dó consiste de
"Dó, Ré, Ré Sustenido, Fá, Fá Sustenido, Sol Sustenido, Lá, Si"; uma escala semitom-tom
(abreviada ST) consiste de "Dó, Ré Bemol, Mi Bemol, Mi, Fá Sustenido, Sol, Lá, Si
Bemol". Essas escalas contêm oito notas cada. Observe que, além da escala original, os
modos que se iniciam na terça, quinta, e sétima seja de uma escala TS ou de uma ST (além
do primeiro modo) formam outra escala TS ou ST, por isso há somente 12/4 ou 3 escalas
diminutas diferentes de cada tipo. Além disso, observe que a escala diminuta TS é
exatamente o segundo modo da escala diminuta ST, por isso, na verdade, há somente três
escalas diminutas distintas no total. As versões TS e ST dessa escala são, entretanto, usadas
em situações diferentes.
A escala diminuta ST delineia um acorde de sétima da dominante com uma nona e quinta
bemol. Por exemplo, C7b9b5 é "Dó, Mi, Sol Bemol, Si Bemol, Ré Bemol", e essas notas,
bem como a sexta, a quinta natural e a nona elevada, estão todas presentes na escala
diminuta ST de Dó. A escala ST é por isso uma boa escolha para se usar sobre acordes de
sétima da dominante b9b5. John Coltrane usou muito essa sonoridade.
Essa escala é muito similar à escala alterada, que, se você recorda, também é chamada de
escala diminuta de tons inteiros. A escala alterada em Dó contém as primeiro cinco notas da
escala diminuta ST de Dó e as quatro últimas (superpondo o Mi e o Fá Sustenido) da escala
de tons inteiros de Dó. Já que ambas as escalas contêm quintas rebaixadas e nonas
rebaixadas e elevadas, elas são às vezes usadas indistintamente sobre acordes de sétima da
dominante. Tente ir para o piano e praticar essas duas escalas com sua mão direita, sobre a
fundamental, terça e sétima na esquerda. Elas soam muito similares. Muitos fakebooks são
inconsistentes no uso dos símbolos alt, #9, b9, b5, #9#5, e b9b5. A lição aqui é que você vai
ter que contar com seus ouvidos e com o bom senso para se guiar no uso dessas duas
escalas.
A escala diminuta TS delineia um acorde de sétima diminuta e é por isso usado sobre
acordes diminutos. Por exemplo, a escala diminuta TS de Dó (Dó, Ré, Ré Sustenido, Fá, Fá
Sustenido, Sol Sustenido, Lá, Si) pode ser tocada sobre Cdim ou Cdim7. O símbolo
clássico para acordes diminutos, um pequeno círculo, também é usado às vezes. Observe
que essa escala é a mesma que as escalas diminutas TS de Ré Sustenido, Fá Sustenido, e
Lá, e na verdade Cdim7, D#dim7, F#dim7, e Adim7 são todas inversões do mesmo acorde.
Eles podem ser usados indistintamente.
Mais importante ainda é que essa escala é também o mesmo que as escalas diminutas ST
em Ré, Fá, Sol Sustenido, e Si. Essas escalas são associadas com seus respectivos acordes
dominantes com nona bemol e quinta bemol (b9b5). Os acordes diminutos Dó, Mi Bemol,
Fá Sustenido e Lá são por isso geralmente usados como substituições de acordes para os
respectivos acordes de sétima da dominante, e vice-versa. Na maioria dos lugares onde
você vê um acorde diminuto, pode substituí-lo por um dos respectivos acordes de sétima da
dominante. Uma progressão particularmente comum é | Cmaj7 | C#dim | Dm7 |. O acorde
C#dim aqui implica a escala diminuta TS de Dó Sustenido, que é o mesmo que as escalas
diminutas ST de Dó, Mi Bemol, Fá Sustenido, e Lá. Nesse caso, o acorde A7b9b5 pode ser
usado no lugar do acorde C#dim. Não apenas os acordes A7b9b5 e C#dim compartilham a
mesma escala, mas o acorde de Lá com Sétima da Dominante também resolve bem no
acorde de Ré Menor. Quaisquer escalas associadas com acordes de Lá com Sétima da
Dominante, como o Lá Mixolídio, Lá Lídio Dominante, Lá Alterado, ou Lá Blues, podem
ser assim tocadas sobre um acorde C#dim nesse contexto.
Escalas Pentatônicas
Há um grupo de escalas de cinco notas conhecidas coletivamente como escalas
pentatônicas. Os intervalos numa escala pentatônica tradicional são normalmente limitados
a tons inteiros e terças menores. Muitos músicos usam essas escalas relativamente simples
com bom resultado, entre eles McCoy Tyner e Woody Shaw. As duas escalas pentatônicas
básicas são a escala pentatônica maior e a escala pentatônica menor. Uma escala
pentatônica maior em Dó contém "Dó, Ré, Mi, Sol, Lá", e uma escala pentatônica menor
em Dó contém "Dó, Mi Bemol, Fá, Sol, Si Bemol". Observe que a escala pentatônica
menor em Dó é na verdade o quinto modo de uma escala pentatônica maior em Mi Bemol.
Outros modos das escalas pentatônicas também são usados, como por exemplo "Dó, Ré, Fá,
Sol, Si Bemol", que é o segundo modo da escala pentatônica maior em Si Bemol. Essa
escala pode ser chamada de escala pentatônica suspensa, embora essa terminologia não seja
de modo algum universal.
Como seus nomes implicam, as escalas pentatônicas maior, menor e suspensa podem ser
usadas sobre acordes maiores, menores e suspensos respectivamente. Por exemplo, a escala
pentatônica maior em Dó pode ser usada sobre Cmaj7. Esse acorde é às vezes grafado C6
para deixar mais enfatizado que a escala pentatônica maior deve ser usada. A escala
pentatônica menor em Dó pode ser usada sobre Cm7. A escala pentatônica suspensa em Dó
pode ser usada sobre um acorde C7sus.
Outras escalas de cinco notas também são usadas ocasionalmente. Por exemplo, a escala
"Mi, Fá, Lá, Si, Ré" é a tradicional "escala in sen" japonesa. Ela pode ser usada como uma
substituta para o modo frígio em Mi (observe que ela de fato define o acorde Mi Frígio)
para acrescer um sabor oriental à música. Entre as variações úteis dessa escala estão o
segundo modo, "Fá, Lá, Si, Ré, Mi", que pode ser usado sobre um acorde Fmaj7#11; o
quarto modo, "Si, Ré, Mi, Fá, Lá", que pode ser usado sobre um acorde Bm7b5; e o quinto
modo, "Ré, Mi, Fá, Lá, Si", que pode ser usado sobre um acorde Dm6.
Como há relativamente poucas notas numa escala pentatônica, uma única escala
pentatônica pode geralmente ser usada sobre vários diferentes acordes sem nenhuma nota a
se evitar realmente. Por exemplo, a escala pentatônica maior em Dó, "Dó, Ré, Mi, Sol, Lá",
pode ser usada sobre Cmaj7, C7, D7sus, Dm7, Em7b6, Fmaj7, G7sus, Gm7, ou Am7.
A Escala de Blues
e Outras Escalas Derivadas
As escalas nesta seção são principalmente derivadas de progressões de acordes, em vez de
acordes específicos. Na maioria das vezes, elas podem ser usadas como pontes entre
acordes, o que permite que você toque a mesma escala, ou escalas muito aproximadas,
sobre dois ou mais acordes diferentes. Isso é às vezes chamado de generalização
harmônica.
A Escala de Blues
A escala de blues é geralmente a primeira escala, depois da escala maior, ensinada a
iniciantes na improvisação, e em muitos casos é a única outra escala que aprendem. Essa
escala supostamente tem suas raízes na música afro-americana com surgimento na época da
escravidão, mas as origens exatas de sua encarnação moderna são desconhecidas. A escala
de blues em Dó consiste de "Dó, Mi Bemol, Fá, Fá Sustenido, Sol, Si Bemol". O segundo
grau dessa escala, que é a terça bemol da escala menor, é chamada de "blue note". Na
música vocal, ela é geralmente cantada em alguma parte entre um Mi Bemol e um Mi. Na
música instrumental, várias técnicas são empregadas para se alcançar o mesmo efeito, tais
como esticar a corda enquanto se toca um Mi Bemol em instrumentos de corda, tocar mais
baixo um Mi num instrumento de sopro, ou tocar Mi Bemol e Mi simultaneamente num
instrumento de teclado. A sétima e a quinta bemóis também são às vezes chamadas de blue
notes, e nem sempre são cantadas ou tocadas exatamente na altura grafada. Variações da
escala de blues que incluem uma terça, quinta ou sétima naturais também podem ser
usadas. Além disso, observe que se uma quinta bemol for omitida, a escala resultante é a
escala pentatônica menor. A escala pentatônica menor pode por isso ser usada como
substituta da escala de blues, e vice-versa.
A beleza da escala de blues é que ela pode ser tocada sobre toda uma progressão de blues
sem nenhuma nota evitada. Se você tentar linhas melódicas baseadas nessa maneira de
tocar, por exemplo, uma escala de blues em Dó sobre um acorde C7, você recebe um
retorno positivo instantâneo, já que quase tudo que você consegue fazer soa bem. Isso
infelizmente leva muitos músicos a usar demais essa escala, e a esgotar suas ideias
rapidamente. Há somente um número limitado de fraseados que podem ser tocados numa
escala de seis notas, e a maioria deles já foi tocada milhares de vezes a esta altura. Isso não
significa dizer que você não deva nunca usar a escala de blues; pelo contrário, ela é
vitalmente importante para o jazz. Mas não vá ficar tão encantado com a gratificação fácil
produzida por ela a ponto de praticar fraseados de blues exaustivamente, em vez de
expandir seu vocabulário harmônico.
A metáfora da língua é uma boa. É difícil dizer coisas interessantes com um vocabulário
limitado. Geralmente músicos como Count Basie são dados como exemplos de músicos que
tiram muito de muito pouco, mas há uma diferença entre dizer poucas palavras porque você
está escolhendo elas cuidadosamente, e dizer poucas palavras porque você não tem nada a
dizer ou porque seu vocabulário é muito limitado para exprimir suas ideias. Esse conselho
transcende a escala de blues, é claro.
Não é sempre necessário variar o conteúdo harmônico de sua música se você for
suficientemente criativo em outros aspectos. Uma maneira de criar um interesse maior
quando estiver usando a escala de blues é usar qualquer efeito especial à sua disposição
para variar seu som. Eles podem incluir honking (tocar uma mesma nota repetidas vezes) e
screaming (tocar notas nos registros mais altos) para saxofonistas, growling para baixistas,
ou o uso de clusters no piano.
Escalas Menores
A escala menor harmônica é às vezes tocada sobre acordes m-maj7. Seus modos não têm
nomes padronizados, e são raramente usados por músicos de jazz, exceto como pontes
sobre uma progressão harmônica ii-V-i. Por exemplo, considere a progressão | Bm7b5 |
E7alt | Am-maj7 |. Uma escala menor harmônica de Lá pode ser tocada sobre todos os três
acordes, em vez do tradicional uso das escalas Si Lócria, Mi Alterada e Lá Menor
Melódica. Outra maneira de dizer isso é que o segundo modo pode ser tocado sobre um
acorde m7b5, e que o quinto modo pode ser usado sobre um acorde alterado da dominante.
Mesmo quando você não está usando a escala menor harmônica sobre uma progressão
inteira, talvez seja uma boa usar o seu quinto modo sobre um acorde de V numa progressão
ii-V-i em tonalidade menor. A vantagem de usar essa escala nesse exemplo é que ela difere
das escalas Si Lócria e Lá Menor Melódica por somente uma nota cada. A desvantagem é
que a tônica da escala é uma nota evitada nesse contexto.
A escala menor melódica pode ser usada da mesma maneira; seu quinto modo pode ser
usado sobre o acorde V numa progressão ii-V-i para manter algum ponto em comum entre
as escalas usadas. Observe entretanto que o segundo modo da escala Lá Menor Melódica
não é uma escolha ideal sobre o acorde Bm7b5, porque essa escala tem Fá Sustenido em
vez de Fá. Essa é a única diferença entre as escalas menores harmônica e melódica. A
escolha em relação a se se deve usar o quinto modo das escalas menores harmônica ou
melódica sobre um acorde de sétima da dominante pode parcialmente depender da
tonalidade da música. Se Fá Sustenido estiver na armadura de tom, então a escala menor
melódica pode soar mais diatônica. Você pode optar por essa escala se esse for o som que
estiver tentando obter, ou pela menor harmônica se estiver tentando evitar soar diatônico.
Por outro lado, se o Fá Sustenido não estiver na armadura de tom, então a escala menor
harmônica pode soar mais diatônica. Uma outra questão a considerar é qual dessas escalas
está mais perto da escala que você está usando no acordes anterior e no posterior.
Dependendo do som que você estiver tentando conseguir, pode escolher a escala que tenha
mais ou menos notas em comum com as escalas adjacentes.
Escalas Bebop
A escala bebop maior é uma escala maior acrescida de uma quinta aumentada ou sexta
menor. A escala bebop maior de Dó contém "Dó, Ré, Mi, Fá, Sol, Sol Sustenido, Lá, Si".
Essa escala pode ser usada sobre acordes de sétima maior ou acordes aumentados de sétima
maior. A escala bebop maior de Dó pode também ser usada como uma ponte entre acordes
numa progressão como | Cmaj7 | Bm7b5 E7 | Am |; ou seja, a mesma escala pode ser tocada
sobre toda a progressão. Uma outra maneira de ver isso é dizer que estamos tocando a
escala bebop maior de Dó sobre o acorde Cmaj7, tocando seu oitavo modo sobre o acorde
Bm7b5, tocando seu terceiro modo sobre o acorde E7, e tocando seu sétimo modo sobre o
acorde Am. Esses modos lembram de perto as escalas maior, lócria, alterada e menor,
respectivamente. Observe que estamos usando uma escala bebop maior de Dó sobre uma
progressão ii-V-i em Lá Menor. Em geral, podemos usar a escala bebop maior em qualquer
tonalidade específica sobre uma progressão ii-V-i na relativa menor daquela tonalidade.
Entre as outras escalas bebop está a escala bebop da dominante, que é similar ao modo
mixolídio, mas com uma sétima maior adicional. A escala bebop dominante de Dó é
portanto formada por "Dó, Ré, Mi, Fá, Sol, Lá, Si Bemol, Si". Essa escala pode ser usada
sobre acordes de sétima da dominante. A sétima maior não é na verdade uma nota evitada
se você a usar como um tom de passagem entre o Dó e o Si Bemol. Ela também serve como
a quarta elevada do acorde Fmaj7 que provavelmente seguirá o acorde C7. Há também uma
escala bebop menor, que é uma escala dórica com uma terça elevada adicional. A escala
bebop menor de Dó é portanto "Dó, Ré, Mi Bemol, Mi, Fá, Sol, Lá, Si Bemol". Essa escala
pode ser usada sobre acordes de sétima menor, e é geralmente usada em progressões de
blues de tonalidades menores para dar um sabor mais de sétima da dominante aos acordes.
Escalas Sintéticas
As escalas de blues e bebop são às vezes chamadas escalas sintéticas, porque elas não se
encaixam bem na teoria clássica e parecem ter sido inventadas para se adequar a uma
situação particular. Em geral, um número ilimitado de escalas sintéticas pode ser construído
usando-se intervalos de segunda menor, maior ou aumentada. Talvez seja bom que você
experimente criar suas próprias escalas e procure oportunidades para usá-las.
Desenvolvimento Melódico
Uma de nossas principais preocupações deve ser tocar melodicamente. Isso não
necessariamente significa tocar bonitinho, mas é preciso haver algum senso de continuidade
para suas linhas melódicas, e elas precisam ser interessantes em si mesmas. Você também
precisa estar consciente do desenvolvimento rítmico e harmônico de suas improvisações; eu
incluo esses conceitos na expressão "desenvolvimento melódico". Isso é difícil ensinar, e é
provavelmente o aspecto da improvisação que requer mais criatividade. Qualquer um pode
aprender as relações entre acordes e escalas; o que você faz com esse conhecimento é o que
determina como sua música vai soar. O livro How To Improvise, de Hal Crook, tem muitas
informações sobre o desenvolvimento melódico, especialmente sobre variação rítmica,
voltadas para o músico de nível intermediário, enquanto The Lydian Chromatic Concept Of
Tonal Organization For Improvisation, de George Russell, e A Chromatic Approach To Jazz
Harmony And Melody, de David Liebman, contêm discussões avançadas e muito técnicas
sobre desenvolvimento harmônico.
Intensidade
Você precisa estar consciente do contorno de seu solo. Uma maneira comum de estruturar
um solo é baseada no modelo de como se conta uma história. Você começa de maneira
simples, vai acrescentando uma série de tensões menores até um clímax, e aí chega a uma
frase de desfecho. Isso funciona bem na maioria das situações. No entanto, você pode
querer ocasionalmente variar desse formato. Você pode decidir começar com mais força
para abrir seu solo, ou pode querer encerrar bem no clímax, e deixar de lado o arremate.
Pode querer manter todo o solo com um baixo nível de intensidade para passar uma
sensação relaxada, embora você nem por isso vá querer entediar seus ouvintes. Pode querer
manter o nível de intensidade num ápice controlado. Mais ou menos como um comediante
trabalhando num auditório, você pode querer alterar suas estratégias à medida que avalia o
clima da plateia. Você deve se esforçar para ter o controle da resposta emocional que sua
música gera nos ouvintes.
Há alguns expedientes comuns que podem ser usados para estruturar seu solo. Um dos mais
importantes é a repetição. Depois que um solista toca uma frase, ele frequentemente repete
ela, ou uma variação dela. Geralmente a frase, ou a variação, é tocada três vezes antes de se
passar para alguma outra coisa. A variação pode ser transportar a frase, ou alterar notas
importantes dentro dela para conformar a frase a um novo acorde/escala. A variação pode
consistir simplesmente de começar a frase num ponto diferente do compasso, como no
terceiro tempo em vez do segundo. A frase em si pode ser alterada ritmicamente, tocando-se
mais devagar ou mais rápido.
Relacionada à ideia da repetição, está a ideia de pergunta e resposta. Em vez de repetir a
frase original, você pode considerar a frase como uma pergunta ou chamado, e continuar
com uma resposta. Esta é a analogia musical a perguntar "você foi à loja hoje?", e então
responder "sim, eu fui à loja hoje".
Na maioria dos instrumentos, você pode aumentar a intensidade tocando com mais volume,
mais alto, e mais rápido; tocar mais suave, mais baixo, e mais lento geralmente reduz a
intensidade. Tocar padrões rítmicos simples, como semínimas e colcheias onde o acento cai
no tempo, é geralmente menos intenso do que tocar ritmos mais complexos, tais como
ritmos sincopados, onde a maioria dos acentos cai fora do tempo. Uma hemíola é um tipo
particular de esquema rítmico em que uma métrica é superimposta a outra. Um exemplo
disso é o uso de tercinas de semínimas quando se toca num compasso 4/4.
Uma nota longa sustentada consegue também gerar intensidade na maioria dos
instrumentos, embora os pianistas talvez precisem usar trinados ou oitavas quebradas
("rolling octaves") para alcançar esse tipo de sustentação. Uma única nota ou frase curta
repetida inúmeras vezes consegue produzir uma espécie similar de intensidade. Você
precisa usar seu próprio julgamento para decidir o quanto é o bastante.
Construção de Frases
As relações entre acordes e escalas não devem ser vistas como sendo limitadoras ou
determinantes de sua escolha de notas. Elas são simplesmente um auxílio, uma maneira de
ajudar você a relacionar ideias que possa ter a dedilhados em seu instrumento. Suas ideias
não devem, entretanto, ser ditadas pelas escalas. Observe que muito poucos cantores de jazz
usam escalas extensivamente; eles geralmente conseguem traduzir uma ideia para suas
vozes mais diretamente. Por esse motivo, os instrumentistas devem praticar a improvisação
cantando, além de praticar seus instrumentos. Não importa o quanto sua voz possa estar
destreinada, ela é mais natural a você do que seu instrumento, por isso você pode chegar à
conclusão que consegue desenvolver ideias melhor cantando-as em vez de tocando-as. Os
cantores também são geralmente limitados em sua capacidade de cantar ideias harmônicas
complexas, entretanto, porque eles não têm dedilhados bem praticados para os quais
retornar. A teoria das escalas pode ser de fato uma fonte de ideias; só assegure-se de que ela
não é sua única fonte.
Tente tocar linhas melódicas escalares que sejam baseadas principalmente em graus
conjuntos, linhas angulares que sejam baseadas principalmente em saltos, bem como linhas
que combinem as duas abordagens. Além de se preocupar com a escolha das notas, tente
variar o conteúdo rítmico de suas ideias. Improvisadores iniciantes geralmente tocam
inconscientemente quase todas as suas frases com somente umas poucas bases rítmicas.
Tente tocar linhas que sejam baseadas principalmente em mínimas e semínimas, linhas que
sejam baseadas principalmente em colcheias e tercinas, bem como linhas que combinam as
duas abordagens.
Improvisando sobre a
Progressão Harmônica
Uma vez que você tenha alguma ideia da associação entre as cifras dos acordes e as escalas,
e como desenvolver uma linha melódica, você pode começar a improvisar sobre
progressões harmônicas. Em situações de palco, a seção rítmica estará delineando as
progressões harmônicas no tempo, enquanto você toca linhas melódicas improvisadas
baseadas nas escalas que lhe são associadas. Geralmente haverá mudança de acorde a cada
compasso, e você precisa ficar trocando de escala para acompanhar. Entretanto, você não
deve pensar um acorde de cada vez. Você deve ficar tentando construir linhas que levem de
um acorde ao próximo.
A terça e a sétima de cada acorde são as notas que mais definem o som do acorde. Se você
enfatizar essas notas em sua improvisação, vai ajudar a garantir que suas linhas melódicas
vão implicar a progressão harmônica com precisão. Por outro lado, se você enfatizar os
outros tons da escala, pode adicionar uma riqueza harmônica aos sons. Você também é livre
para usar notas que nem sequer estejam na escala. Músicos de bebop geralmente usam uma
técnica chamada "enclosure", em que uma nota alvo é precedida por notas meio tom abaixo
e acima, algo como uma apojatura sucessiva. Isso é relacionado à ideia de uma nota
sensível, exceto que, no enclosure, o cromatismo é usado para enfatizar ou retardar uma
nota específica, em vez de para conectar duas outras notas. Outros tons de fora da escala
podem ser utilizados quando você achar interessante.
Embora haja muitas progressões harmônicas, há umas poucas peças fundamentais que
representam muitas das progressões que você verá. Se você familiarizar-se com essas
mudanças básicas, estará bem encaminhado para conseguir tocar sobre qualquer conjunto
de progressões que possa aparecer no seu caminho. Os músicos devem praticar as
progressões harmônicas descritas abaixo em todos os doze tons para ganhar a maior
fluência possível. Você pode tentar alguns fraseados específicos nessas progressões, mas o
mais importante é que você deve simplesmente explorar muitas ideias diferentes sobre cada
progressão de modo que torne-se confortável improvisar verdadeiramente sobre elas, em
vez de simplesmente tocar fraseados prontos com os quais se sinta confortável naquele tom.
Você deve experimentar diferentes abordagens e aprender como encaixar sua escolha de
notas para um dado tipo de acorde numa determinada situação para a sonoridade que você
está tentando alcançar.
Além de ler sobre esses conceitos, você deve buscar ouvir especificamente essas técnicas
sendo aplicadas por outros músicos. Os músicos de jazz mais populares dos anos 50 são um
bom ponto de partida. Nomes como Miles Davis, Clifford Brown, Sonny Rollins, John
Coltrane, Cannonball Adderly, Art Pepper, Red Garland, Hank Jones, Herb Ellis, Joe Pass,
Paul Chambers e Ray Brown. Qualquer álbum dessa época com um ou mais desses músicos
é recomendado para se aprender a respeito de improvisação sobre progressões de acordes.
ii-V
A progressão de acordes mais importante do jazz é a ii-V, que pode ou não resolver em I. A
maioria das músicas tem progressões ii-V em vários tons espalhadas por ela. Por exemplo,
tomemos a seguinte progressão de acordes:
| Cmaj7 | Dm7 G7 | Em7 | A7 | Dm7 | G7 | Cmaj7 |.
Há três progressões ii-V aqui. O compasso 2 forma um ii-V no tom de Dó, embora não haja
o próprio acorde C (I) no compasso 3. Os compassos 3 a 5 formam um ii-V-I no tom Ré
Menor, e os compassos 5 a 7 formam um ii-V-I em Dó novamente. Há muitos expedientes
que podem ser usados quando se toca sobre progressões ii-V. Alguns deles estão descritos
abaixo.
Tonalidade Maior
Numa tonalidade maior, a progressão ii-V-I consiste de um acorde de sétima menor, um
acorde de sétima da dominante, e um acorde de sétima maior. As primeiras escolhas de
escala que você aprendeu para esses acordes são a dórica, a mixolídia, e a maior. No tom
Dó, os acordes são Dm7 - G7 - Cmaj7, e as escalas associadas serão então Ré Dórico, Sol
Mixolídio, e Dó Maior. Como pode ter notado, esses são todos modos da mesma escala Dó
Maior. Por isso quando você vê uma progressão ii-V numa tonalidade maior, pode tocar a
escala maior do acorde I em toda a progressão. Isso deixa um tanto mais fácil construir
linhas que conduzam de um acorde ao próximo, ou transcendam os acordes individuais.
Esse tipo de progressão, em que as escalas associadas com cada um dos acordes são todas
modos de um deles, é chamado de progressão diatônica. Embora seja fácil tocar sobre
progressões diatônicas, elas podem rapidamente ficar maçantes, já que você está tocando as
mesmas sete notas durante um grande período de tempo. Você pode adicionar um pouco de
variedade usando uma das outras escalas associadas com cada acorde, como Ré Menor, Sol
Bebop Dominante e Dó Lídio.
A maneira mais comum de aumentar o interesse numa progressão ii-V é alterar o acorde da
dominante (V). Geralmente a alteração já vai estar especificada para você, mas mesmo
quando não estiver, você geralmente, tem a liberdade de acrescentar alterações a acordes da
dominante. Ajuda se o solista e os acompanhantes estiverem tocando as mesmas alterações,
mas isso nem sempre é prático quando se improvisa, a menos que seu acompanhante tenha
ouvidos incríveis e consiga notar as alterações que você estiver fazendo, e de qualquer
maneira isso não é na verdade tão importante assim.
No tom de Dó, você pode substituir o acorde G7 por um G7#11, um G7alt, um G7b9b5, ou
um acorde G7+, os quais ainda preenchem a função de dominante em Dó, mas implicam
escalas diferentes. Por exemplo, se você escolher G7#11, a progressão então vira Ré
Dórico, Sol Lídio Dominante, Dó Maior.
Outra alteração possível à dominante é chamada de substituição pelo trítono. Isso significa
substituir o acorde da dominante por um acorde de sétima da dominante a um trítono de
distância. No tom de Dó, isso significa substituir o G7 por um Db7. Pode parecer estranho,
mas há alguns motivos muito bons pelos quais isso funciona. A terça e a sétima de um
acorde são as duas notas mais importantes na definição da sonoridade e da função de um
acorde. Se você olhar um acorde Db7, verá que ele contém Ré Bemol, Fá, Lá Bemol, e Si,
que são respectivamente b5, 7, b9, e a 3 de um acorde G7. A terça e a sétima do acorde G7
(Si e Fá) tornam-se a sétima e a terça do acorde Db7. Assim, o Db7 é muito similar a um
acorde G7b9b5 em sonoridade e função. Além disso, a resolução melódica de Ré Bemol
para Dó no baixo é muito forte, funcionando quase como um tom de passagem.
Uma vez que você tenha feito a substituição do acorde, pode então tocar qualquer escala
associada com o acorde Db7, resultando por exemplo numa progressão de Ré Dórico, Ré
Bemol Mixolídio, Dó Maior. Usar uma outra escala que não a mixolídia vai gerar algumas
coisas surpreendentes. Tente uma escala Ré Bemol Lídia Dominante, que implica um
acorde Db7#11 para a dominante substituta. Parece ou soa familiar? É o que deve, porque
as escalas Ré Bemol Lídio Dominante e Sol Alterado são ambas modos da mesma escala
Lá Bemol Menor Melódica. Quando você toca linhas baseadas em Ré Bemol Lídio
Dominante, está tocando linhas que também são compatíveis com Sol Alterado. Por outro
lado, Ré Bemol Alterado e Sol Lídio Dominante são ambos modos da mesma escala Ré
Menor Melódica, e podem ser usadas indistintamente. Além disso, as escalas diminutas
semitom-tom de Ré Bemol e Sol são idênticas, do mesmo modo que as respectivas escalas
de tons inteiros. Esses são outros motivos pelos quais a substituição pelo trítono funciona
tão bem.
Tonalidade Menor
Progressões ii-V numa tonalidade menor geralmente não sofrem do problema de soar muito
diatônicas. Como a menor harmônica é normalmente usada para gerar progressões de
acordes na tonalidade menor, uma progressão ii-V em Lá Menor pode consistir de | Bm7b5
E7 | Am-maj7 |. Se tentarmos montar um acorde de nona a partir do E7, veremos que o Fá
natural no tom de Lá Menor Harmônico gera um acorde E7b9. Sem muita alteração
especial, essa progressão pode implicar uma Si Lócria, Mi diminuta ST, e Lá Menor
Melódica. Essas escalas são ricas o bastante para não precisar de alterações adicionais.
Entretanto, a maioria das mesmas técnicas usadas na tonalidade maior podem ser usadas
numa tonalidade menor também. Podemos usar as escalas menores melódica ou harmônica
a partir do acorde i, ou a escala bebop maior a partir de sua relativa maior, sobre toda a
progressão. Podemos usar uma variação diferente do acorde E7, como E7alt ou E7+, ou até
mesmo E7sus; podemos fazer uma substituição pelo trítono que vai gerar um Bb7; e assim
por diante. Podemos também substituir os acordes ii, por exemplo, usando a escala lócria
com segunda maior, ou substituir o Bm7b5 por um acorde Bm7 normal, em que o Fá
Sustenido vem do tom Lá Menor Melódico em vez do Lá Menor Harmônico. Se fôssemos
montar um acorde de nona, o Dó natural no tom Lá Menor Melódico geraria um acorde
Bm7b9, que implica uma escala Si Frígia. Podemos até trocar o acorde Bm (ii) por um
acorde B7 (II), especialmente um acorde B7alt, que contém o Ré do acorde Bm. Podemos
também alterar o acorde i, substituindo-o por um acorde Am7 simples, e usar qualquer das
várias possíveis escalas associadas com esse acorde, como Lá Menor, Lá Frígia, Lá Menor
Pentatônica, e assim por diante.
Blues
O termo "blues" é um tanto sobrecarregado, descrevendo tanto um estilo geral de música e
uma categoria mais específica de progressões harmônicas, como também seu sentido
coloquial de um sentimento de tristeza ou melancolia, como na frase "I've got the blues"
(Estou triste). O blues como um estilo tem uma rica história que está além do escopo desta
Introdução. A forma básica de blues de 12 compassos foi mencionada anteriormente. Em
sua forma original, ainda tocada geralmente na música rock e R&B, somente três acordes
são usados: o acorde I, o acorde IV, e o acorde V. A progressão básica do blues é a seguinte:
|| I | I | I | I | que, || F | F | F | F |
| IV | IV | I | I | no tom de Fá, | Bb | Bb | F | F |
| V | IV | I | I || gera: | C | Bb | F | F ||.
Os acordes são geralmente tocados todos como acordes de sétima da dominante, embora
eles não estejam de fato funcionando como acordes da dominante, já que eles não resolvem
numa tônica. A escala de blues em Fá pode ser tocada sobre toda essa progressão. Embora a
progressão de blues possa ser tocada em qualquer tom, os tons mais populares entre
músicos de jazz parecem ser Fá, Si Bemol, e Mi Bemol, enquanto músicos de rock
geralmente preferem Mi, Lá, Ré ou Sol. Isso tem muito a ver com a maneira como os
instrumentos são afinados. Os instrumentos mais usados no jazz, como o trompete e os
vários membros da família do saxofone, são geralmente afinados em Si Bemol ou Mi
Bemol, o que significa que um "Dó" na pauta, quando tocado nesses instrumentos, soa na
verdade como um Si Bemol ou um Mi Bemol, respectivamente. A música escrita para esses
instrumentos é portanto transposta. As posições dos dedos nesses instrumentos favorecem
tocar em Dó, que é na verdade Si Bemol ou Mi Bemol, dependendo do instrumento. As
guitarras tendem a dominar a música rock, e as guitarras são afinadas para favorecer os tons
que contêm sustenidos.
Tocar a escala de blues sobre a progressão básica de três acordes de blues num contexto de
jazz envelhece muito rapidamente. A partir da Era do Swing, e mais notavelmente na Era
do Bebop, os músicos começaram a adicionar elementos a essa fórmula simples. Uma
adaptação comum da progressão de blues, que ainda é considerada o padrão para sessões de
improviso de jazz (" jazz jam sessions"), é a seguinte:
|| F7 | Bb7 | F7 | F7 |
| Bb7 | Bb7 | F7 | D7alt |
| Gm7 | C7 | F7 | C7 |.
Essa progressão oferece uma gama maior de possibilidades de escala do que a progressão
básica de blues de três acordes. Por exemplo, os compassos 8 e 9 formam um V-i em Sol
menor, e os compassos 9 a 11 formam um ii-V-I em Fá.
A ideia de adicionar o ii-V à progressão de blues resulta em mais variações. Tomemos por
exemplo o seguinte:
|| F7 | Bb7 | F7 | Cm7 F7 |
| Bb7 | Bdim | F7 | Am7b5 D7alt |
| Gm7 | C7alt | F7 D7alt | Gm7 C7alt |.
Essa progressão usa a maioria das técnicas descritas acima. Pode ser uma boa você se
dedicar a tocar com essa progressão por um tempo.
B || Am7 | D7 | Dm7 | G7 |
| Gm7 | C7 | Cm7 | F7 ||
Essa progressão contém muitas progressões ii-V. Qualquer uma das alterações comuns
descritas no trecho sobre progressões ii-V acima podem ser usadas quando se está tocando
sobre uma progressão Rhythm. Muitas músicas contêm ligeiras alterações dessa progressão
básica, especialmente nos últimos quatro compassos das seções A. Algumas das alterações
comuns são substituir o segundo acorde G7 por um acorde diminuto Bdim, ou substituir o
quinto acorde Bbmaj7 pelo Dm7. A primeira substituição já foi descrita quando falamos da
escala diminuta. A segunda troca um acorde I por um acorde iii, que têm três das quatro
notas em comum, e cujas respectivas escalas diferem somente em uma nota. Além disso, o
Dm7 e o G7 que o seguem formam um ii-V em Dó Menor, por isso essa é uma substituição
especialmente forte harmonicamente.
As características importantes da progressão Rhythm são as repetidas sequências I-VI-ii-V
(ou substitutos) nos primeiros quatro compassos das seções A, e os movimentos básicos da
tonalidade em quintas na ponte, conduzindo de volta à tônica original da última seção A. Se
você quer virar um músico improvisador, deve ficar fluente na progressão Rhythm básica,
especialmente no tom Si Bemol, e ficar familiar com as variações particulares associadas
com músicas específicas. Essa também é uma boa oportunidade de testar o que você
aprendeu sobre o ii-V, e de praticar tocar em andamentos rápidos.
Progressão Coltrane
John Coltrane, por meio de composições originais como "Giant Steps" e "Countdown", do
álbum Giant Steps, e arranjos de standards como "But Not For Me" no álbum My Favorite
Things, ficou conhecido por usar uma progressão particularmente complexa que é
geralmente chamada de progressão Coltrane, embora ele não tenha sido o primeiro ou
único músico a fazer uso delas.
A característica básica da progressão Coltrane é o movimento de tonalidade por terças
maiores. A progressão de "Giant Steps" é a seguinte:
|| Bmaj7 D7 | Gmaj7 Bb7 | Ebmaj7 | Am7 D7 |
| Gmaj7 Bb7 | Ebmaj7 F#7 | Bmaj7 | Fm7 Bb7 |
| Ebmaj7 | Am7 D7 | Gmaj7 | C#m7 F#7 |
| Bmaj7 | Fm7 Bb7 | Ebmaj7 | C#m7 F#7 ||
O primeiro centro tonal aqui é o Si, depois Sol, em seguida Mi Bemol, e ele continua a
mover-se em ciclo por essas três tonalidades, que estão a uma terça maior de distância.
Coltrane conseguiu desenvolver essa ideia de várias maneiras. Por exemplo, ele a usou
como um substituto para uma progressão ii-V normal. A progressão de "Countdown" é
baseada por alto na progressão da composição de Miles Davis chamada "Tune-up". Essa
música começa com a seguinte progressão de quatro compassos:
| Em7 | A7 | Dmaj7 | Dmaj7 |,
Coltrane começa com o mesmo acorde ii, e depois modula para o acorde de sétima da
dominante meio-tom acima. A partir daí, ele inicia o ciclo de terças maiores, passando do
tom Si Bemol para Sol Bemol e voltando finalmente a Ré. Os quatro compassos seguintes
da música são idênticos harmonicamente, exceto que estão baseados num ii-V em Dó; os
quatro compassos seguintes são a mesma coisa em Si Bemol.
Solar sobre uma progressão Coltrane pode ser um desafio, já que o centro tonal aparente
muda tanto. Não dá para simplesmente tocar uma única escala diatônica sobre vários
compassos. As músicas geralmente são tocadas em andamentos rápidos, e também é fácil
cair na armadilha de não se tocar nada além de arpejos que delineiem os acordes. Você
precisa tentar ficar bastante atento e se lembrar de tocar melodicamente quando estiver
solando sobre uma progressão tão complexa como é a progressão Coltrane.
Improvisação Modal
Uma típica música modal pode ter somente dois ou três acordes, e cada um deles pode
durar por 8 ou até 16 compassos. Num certo sentido, tocar música modal é muito mais fácil
do que improvisar sobre progressões harmônicas, já que não exige que seu cérebro faça
tantos cálculos rápidos para mudar constantemente de escalas. Num outro sentido,
entretanto, ele impõe mais desafios, já que você não pode simplesmente jogar lá uns
fraseados de ii-V que praticou, nem contar com o uso inteligente de escalas e substituição
de acordes para encobrir problemas básicos do pensamento melódico durante o improviso.
Algumas músicas são com frequência consideradas modais, apesar de seguir progressões de
acordes tradicionais como as do blues. O conceito de modalidade tem tanto a ver com o que
é feito com a harmonia quanto com seu ritmo de mudança. Nos estilos derivados do bebop,
um solista pode manter a atenção dos ouvintes por sua escolha de notas sobre a harmonia,
inclusive dissonâncias, tensões, e liberações. Por exemplo, músicos de bebop gostavam
muito de encerrar frases com a quarta elevada sobre um acorde de sétima da dominante, só
pelo efeito que aquela nota tinha. Quando se sola sobre música modal, há menos ênfase nas
escolhas harmônicas, e mais no desenvolvimento melódico. A balada "Blue In Green" do
disco Kind Of Blue de Miles Davis tem tanto movimento harmônico quanto muitas outras
músicas, e seus acordes são acordes relativamente complexos, como o Bbmaj7#11 ou o
A7alt. E entretanto os solos nessa faixa não exploram a harmonia; em vez disso, eles se
concentram no interesse melódico de frases individuais. Os improvisadores do bebop
podem enfatizar as extensões dos acordes em seus solos, enquanto os improvisadores
modais tendem a enfatizar as notas básicas dos acordes. Os músicos do bebop são
geralmente mais inclinados a preencher todos os espaços com notas para definir
completamente a harmonia, enquanto os músicos modais são mais propensos a usar o
espaço rítmico como um elemento estruturador melódico. As duas abordagens são válidas,
mas é importante compreender as diferenças entre elas.
A música "So What" de Miles Davis, no álbum Kind Of Blue, é o exemplo clássico de uma
música modal. Ela segue uma estrutura básica AABA, em que a seção A consiste do modo
Ré Dórico, e a seção B consiste do modo Mi Bemol Dórico. Isso resulta em 16 compassos
consecutivos de Ré Dórico no começo de cada chorus, 24 se contados os últimos 8
compassos do chorus anterior. Você pode rapidamente começar a ficar sem ideias se você se
limitar a somente as sete notas da escala Ré Dórica, mas esse é o desafio. Você não pode
contar com a sonoridade geralmente bem-aceita de um Fá Sustenido sobre um acorde C7;
você precisa tocar melodicamente com as notas que lhe são dadas.
Você não está, entretanto, completamente limitado às notas da escala. Do mesmo modo que
acontece com as progressões ii-V, há alguns expedientes que você pode usar num contexto
modal para adicionar tensão. Um dos mais populares desses esquemas é chamado
" sideslipping ". Sobre um fundo de Ré Dórico, tente tocar linhas baseadas nas escalas Ré
Bemol ou Mi Bemol por um compasso ou dois. Essa dissonância cria uma tensão, que você
pode liberar ao voltar para a escala original. Você também pode usar notas de passagem
cromáticas. Por exemplo, sobre uma escala Ré Dórica, você pode tentar tocar "Sol, Sol
Sustenido, Lá", em que o Sol Sustenido é uma nota de passagem.
Você também pode variar a escala usada. Por exemplo, em vez da Ré Dórica, tente uma Ré
Menor Natural, ou uma Ré Menor Pentatônica, em uns poucos compassos. Você pode
alternar um acorde de tônica com um acorde de sétima da dominante nessa tonalidade. Por
exemplo, o acorde associado com Ré Dórico é o Dm7. Se você tratar ele como um acorde i,
o acorde V7 passa a ser o A7. Então você pode usar linhas de quaisquer das escalas
associadas com A7, A7b9b5, A7alt, ou outros acordes de sétima da dominante de Lá, em
momentos de sua improvisação. Isso vai criar um tipo de tensão que você pode resolver ao
retornar à escala original de Ré Dórico.
Na maioria das vezes, contudo, você deve tentar apegar-se à filosofia modal quando estiver
tocando músicas modais, e concentrar-se em ser tão melódico quanto possível com o acorde
e as notas do acorde básicos. Escalas pentatônicas são uma escolha especialmente
apropriadas para se tocar música modal, já que elas estreitam sua escolha para somente
cinco em vez de sete notas, forçam você ainda mais a pensar em usar espaço e tocar
melodicamente. Um som similar é obtido quando se tocam linhas montadas a partir do
intervalo de quarta. Isso é chamado harmonia quartal. Ela é particularmente eficiente em
músicas modais com poucas mudanças de acordes, embora esse tipo de linha possa ser
usado também em outras situações.
Cromatismo
Os estilos do bebop foram caracterizados anteriormente como explorando as harmonias
pela escolha de escalas com muitas cores tonais, enquanto o estilo modal foi caracterizado
como enfatizando as notas básicas dos acordes. Essas duas abordagens ainda usam, até
certo ponto, relações acorde/escala na maneira tradicional de escolher uma escala que
implica o som do acorde, e tocar principalmente dentro daquela escala. Uma outra
abordagem é manter a noção de progressões de acordes, mas tocar linhas que ficam em
grande parte fora das escalas associadas. Isso é às vezes chamado de cromatismo. Eric
Dolphy usou essa abordagem enquanto tocava com Charles Mingus e em alguns de seus
próprios álbuns, como Live At The Five Spot e Last Date. Woody Shaw e Steve Coleman
também são músicos cromáticos.
A esta altura, você provavelmente já tocou algumas notas de fora da escala, digamos um Lá
Bemol contra um acorde Cmaj7, possivelmente por acidente. Essas notas podem soar
erradas quando tocadas no contexto de uma melodia que de outro modo caminha dentro da
escala. Ao tocar uma melodia derivada de uma escala, você estabelece uma sonoridade
específica, e uma nota errada soará estranha. Entretanto, quando se toca uma melodia que
fica em sua maior parte fora da escala, as mesmas notas podem se encaixar muito mais
logicamente. Isso significa dizer que notas de fora da escala usadas melodicamente podem
com frequência soar consonantes (o oposto de dissonante).
Os músicos citados acima geralmente tocam linhas melódicas muito angulares, ou seja,
com intervalos grandes ou incomuns, e mudam de direção com frequência, em vez de tocar
basicamente se limitando a intervalos menores dentro de uma escala. Isso geralmente
parece estabelecer uma sonoridade em que notas erradas soam perfeitamente naturais. É
interessante notar que a abordagem oposta funciona também: linhas que contêm muitos
meios-tons geralmente soam corretas, apesar de consistir de muitas notas erradas. Essas
linhas são às vezes chamadas de cromáticas.
Você pode continuar a usar seu conhecimento das relações acorde/escala quando estiver
tocando cromaticamente. Por exemplo, você sabe que uma escala Ré Bemol Lídia não é
normalmente uma escolha apropriada para se tocar sobre um acorde Cmaj7, e você
provavelmente tem uma ideia de por quê. Essas mesmas notas erradas, entretanto, se usadas
melodicamente sobre o acorde, criam uma sonoridade que não é tão dissonante assim e têm
uma riqueza harmônica que soa muito moderna. Aliás, até ideias melódicas simples, como
arpejos e escalas, podem soar complexas neste contexto.
Você pode praticar essas ideias com álbuns do Jamey Aebersold, ou com o Band-In-A-Box,
ou com seus colegas músicos, embora deva estar preparado para alguns olhares estranhos.
Já se disse que não existem notas erradas, somente resoluções erradas. Isso certamente
explica por que notas de passagem e enclosures soam consonantes, mas eu sinto que essa
frase ainda dá um valor alto demais a tocar as notas sugeridas pelas relações tradicionais de
acorde/escala. Eu diria isso de outra maneira; as únicas notas erradas são as notas que você
não teve a intenção de tocar. Qualquer nota que você toque pode ser correta se estiver num
contexto que faça sentido e não soe como um acidente. Até cometer erros tem seu valor. O
segredo está em formar um todo coerente.
Improvisação Atonal
As expressões pantonal, não tonal e atonal descrevem o obscurecimento ou a eliminação da
tonalidade tradicional. A distinção entre esses termos nem sempre é clara, por isso vou usar
"atonal" para descrever a música que não tem um centro tonal específico, ou sobre a qual as
relações de acorde/escala nem sempre se aplicam.
Embora a música atonal possa aparentar ter progressões de acordes, os acordes individuais
são geralmente escolhidos por causa de sua sonoridade como um todo, em vez de por suas
resoluções. Qualquer acorde de qualquer tonalidade tem chance de ser usado se tiver a
sonoridade correta. Por exemplo, muitas das músicas nos álbuns E.S.P., Nefertiti, Miles
Smiles e Sorcerer, de Miles Davis, não têm centros tonais específicos, nem contêm muitos
ii-Vs tradicionais que indicariam centros tonais temporários. Muitos dos acordes são
relativamente complexos, por exemplo o Abmaj7#5, e cada acorde é escolhido por sua
sonoridade individual, não porque o acorde anterior resolva nele naturalmente ou porque
ele resolva no próximo acorde. Uma análise funcional tradicional da harmonia (ou seja, a
análise dos acordes em termos de suas relações com a tonalidade), nem sempre é a melhor
maneira de abordar esse tipo de música.
Talvez seja uma boa tratar essa música modalmente, e deixar que os próprios acordes ditem
a escolha de escalas. Mas você deve ter cuidado ao fazer isso. Muitas das relações
tradicionais acorde/escala foram criadas com resoluções tradicionais em mente. Uma frase
pode soar aleatória e desconexa se você cegamente mudar as escalas de acordo com a
progressão harmônica na música atonal. Você deve estar preparado para tratar as relações
acorde/escala mais relaxadamente do que faria se estivesse simplesmente improvisando
sobre uma progressão de acordes.
Na música tonal, as alterações de um acorde são geralmente consideradas meramente notas
de colorido que não afetam a função básica de um acorde, e os improvisadores são livres
para fazer suas próprias alterações ao acorde básico. Por exemplo, um acorde G7b9 tende a
ser um acorde de sétima da dominante, que se resolve em Cmaj7. Qualquer outro acorde
que sirva essa função, como o G7#11, ou até mesmo uma substituição pelo trítono como
um Db7, pode ser usado no lugar sem mudar radicalmente como a frase é percebida, por
isso improvisadores tonais com frequência fazem esse tipo de alteração à vontade, seja
explicitamente, seja implicitamente por sua escolha de escalas. Na música atonal,
entretanto, um acorde é geralmente pedido especificamente por causa de sua sonoridade
única, e não por causa da função dele numa progressão. O mesmo acorde G7b9 pode ter
sido escolhido por causa da dissonância específica do Sol contra o Lá Bemol, ou porque
aconteceu de ele ser a maneira mais conveniente de cifrar a abertura do acorde que o
compositor queria (uma abertura é simplesmente uma maneira de determinar as notas
específicas a serem tocadas num dado acorde). Mudar esse acorde para G7#11 pode mudar
o som do acorde mais radicalmente do que substituí-lo por um acorde que de outro modo
não seja relacionado, mas que tenha a mesma dissonância Sol/Lá Bemol, como um Abmaj7,
ou um que possa ter uma abertura similar, como o E7#9. Você pode ver que as escolhas de
escalas associadas com esses acordes são substituições mais apropriadas do que aquelas
baseadas na função tradicional de acorde da dominante do G7b9.
A verdadeira intenção da música atonal, entretanto, é liberar você das minúcias das relações
acorde/escala e permitir que você se concentre nas sonoridades em si. As linhas que você
toca não precisam ser analisadas em termos da relação delas com os acordes grafados, mas
podem em vez disso ser pensadas em termos de como eles se encaixam na sonoridade da
frase naquele ponto. Se o acorde num determinado compasso for um acorde maj7#5, é
preciso então ouvir a sonoridade desse acorde, e ficar à vontade para tocar qualquer linha
que implique essa sonoridade. Essa é uma implicação tanto emocional quanto racional. Para
mim, esse acorde em particular tem uma sonoridade aberta, questionadora, que eu associo
com intervalos abertos e com o uso de espaço rítmico. Eu provavelmente tenderia a tocar
linhas melódicas que refletissem essa sensação, independente das notas específicas
envolvidas. Além disso, a sonoridade desse acorde pode também ser afetada por seu
contexto na peça em si. Por exemplo, um acorde tocado por dois compassos numa balada
pode soar completamente diferente do mesmo acorde usado como um acento numa peça de
andamento acelerado. Relações acorde/escala mesmo assim podem ajudar a definir que
notas tendem a ser mais ou menos dissonantes contra um determinado acorde, mas você
deve tentar organizar seu pensamento em torno de linhas de sons, e usar as relações
acorde/escala somente como ferramentas para ajudar você a alcançar as sonoridades
desejadas.
Mesmo na música tonal, é claro, as relações acorde/escala podem ser consideradas como
ferramentas, e alguém pode dizer que a meta é sempre representar sonoridades. Entretanto,
você pode ver que músicas com muitos ii-Vs nelas tendem a "soar" a mesma coisa nesse
aspecto. A música atonal foi criada para fornecer uma paleta mais variada de sons, para
encorajar o ato de pensar em torno dessas linhas. Do mesmo modo como acontece com o
cromatismo e a música tonal, dá para tocar deliberadamente linhas que contradizem a
sonoridade de um acorde, se esse for o efeito desejado. O importante é que você perceba
uma progressão de acordes atonal como uma receita de sonoridades sobre as quais você
improvisa, e não como um esquema específico de resoluções de acordes.
Improvisação Livre
O próximo nível de liberdade em improvisação é eliminar os acordes totalmente.
Dependendo de até que ponto você esteja disposto a ir, você também pode dispensar a
melodia, ritmo, timbre ou forma tradicionais. Há muitas abordagens diferentes para se tocar
livremente, mas por sua própria natureza, não há regras. Em vez de detalhes técnicos, em
boa parte o que vamos usar são exemplos de outros músicos.
Muitas das composições de Ornette Coleman não têm nenhum acorde. A maioria das
gravações do quarteto freebop dele com Don Cherry para o selo Atlantic caem nessa
categoria. O tema (head ) consiste de uma melodia somente, e os solos são variações sobre a
melodia ou sobre a percepção da música em geral, e não sobre qualquer progressão de
acordes. Em sua maior parte, essas gravações ainda mostram uma abordagem muito
melódica e são acessíveis a muitos ouvintes. Uma linha do baixo e uma marcação 4/4 com
suingue na bateria são uma constante em toda a música, e a forma é a forma standard de
tema-solos-tema.
O álbum Free Jazz, do Ornette Coleman, que apresenta um quarteto duplo que inclui Eric
Dolphy e Freddie Hubbard, é decididamente diferente. Aqui Ornette está não somente
colocando de lado conceitos tradicionais de harmonia, mas também de melodia. Não há
tema definido para a faixa única que compreende esse álbum, e as improvisações são
menos melódicas do que nos álbuns com quarteto. O quarteto duplo também faz
experiência com a forma nesse álbum, geralmente tendo vários improvisadores tocando ao
mesmo tempo. Essa ideia é tão antiga quanto o próprio jazz, mas foi praticamente
esquecida com o advento da Era do Swing. A ideia dos músicos da improvisação livre de
uma improvisação coletiva é muito menos estruturada do que a dos músicos do Dixieland, e
os resultados são mais cacofônicos.
John Coltrane fez incursões similares no fim de sua carreira, em álbuns como Ascension.
Coltrane também fez experiências com ritmo, especialmente em álbuns como Interstellar
Space, que não apresenta nenhuma pulsação definida. Tanto Coleman quanto Coltrane, bem
como músicos influenciados por eles, como Archie Shepp e Albert Ayler,Ayler, também fizeram
experiências com timbre, descobrindo novas maneiras de extrair sons de seus instrumentos,
até mesmo ao ponto de tocar instrumentos em que tinham pouca ou nenhuma formação,
como Ornette fez com o trompete e o violino.
Cecil Taylor
Taylor toca o piano de uma maneira completamente livre, utilizando ele tanto com o
um instrumento de percussão, quanto um instrumento melódico ou harmônico. Suas
apresentações geralmente não contêm nenhum elemento estruturador tradicional de
harmonia, melodia ou ritmo. Ele cria suas próprias estruturas. Quando você toca música
livre numa apresentação solo, você tem completa liberdade para mudar as direções da
música a qualquer momento, e você responde somente a você mesmo. Você pode mudar o
andamento, pode tocar sem andamento, pode variar a intensidade de sua apresentação do
jeito que achar melhor. Quando você toca música sem forma estabelecida numa
configuração de grupo, a comunicação se torna especialmente importante, porque não há
uma moldura automática de referência para manter todos juntos. Cecil Taylor também toca
em grupo, e outros grupos como o Art Ensemble Of Chicago são conhecidos por esse tipo
de liberdade.
É difícil analisar esses estilos de música nos termos que estamos acostumados a usar. A
música precisa nos alcançar num nível emocional para cumprir sua missão, e as emoções de
cada pessoa podem ser afetadas diferentemente. Geralmente parece ser o caso de que
quanto mais livre a música, mais intensamente pessoal é a mensagem. Você precisa decidir
por si próprio até que ponto está disposto a ir em sua própria prática musical, bem como em
sua própria prática como ouvinte. Você
Você deve também estar ciente de que, para
par a muitas
pessoas, esse tipo de música é geralmente mais
ma is legal tocar do que ouvir. O desafio da
comunicação e a excitação da livre troca de ideias são coisas que alguns ouvintes não são
capazes de apreciar. Essa é uma maneira gentil de dizer que a sua experimentação pode
alienar parte de seu público original. Entretanto, há públicos que apreciam esse tipo de
música. Não se sinta desencorajado a tocar tão livremente quanto desejar.
Acompanhamento
O acompanhamento, ou comping , como os pianistas de jazz geralmente falam, é uma
habilidade vital para músicos da seção rítmica, porque eles geralmente passam mais tempo
acompanhando do que solando. Uma compreensão de acompanhamento também é útil para
outros instrumentistas, porque pode melhorar a comunicação musical entre o solista e quem
está tocando o acompanhamento. Os pianistas estão na posição única de fazer boa parte de
seu próprio acompanhamento, o que permite uma interação especialmente estreita. Alguns
dos aparatos musicais usados pelos músicos de acompanhamento podem também ser
adaptados para ser usados mais diretamente em solos por qualquer instrumentista.
Instrumentos Harmônicos
As principais preocupações para músicos de instrumentos harmônicos/polifônicos, ou
instrumentos que podem facilmente tocar mais de uma nota de cada vez, como o piano,
órgão, violão, e os vários instrumentos da família do xilofone, são aberturas de acordes (ou
voicing ),
), rearmonização, e acompanhamento rítmico.
Aberturas de Acordes
Acordes
No jazz, quando o músico pede um acorde Cmaj7, isso quase nunca significa que um
pianista deva tocar "Dó Mi Sol Si". Geralmente, o pianista escolhe alguma outra maneira de
tocar esse acorde, mesmo que seja simplesmente uma inversão da posição fundamental do
acorde. Livros inteiros foram escritos sobre o assunto de abertura de acordes ("voicing " em
inglês). A discussão aqui somente arranha a superfície das possibilidades. Eu categorizei
vagamente as aberturas descritas aqui como aberturas 3/7, aberturas em quartas (ou
quartais), poliacordes, aberturas de posição fechada e aberturas drop, e outras aberturas
baseadas em escalas.
Rearmonização
Um músico no acompanhamento pode ocasionalmente rearmonizar uma progressão de
acordes para sustentar o interesse, introduzir um contraste, ou criar tensão. Isso envolve
substituir alguns dos acordes grafados ou esperados por outros acordes. Uma substituição,
como a substituição pelo trítono, é um tipo de rearmonização.
Alguns músicos passam muito tempo tentando diferentes rearmonizações ao trabalhar numa
música. Entretanto, a menos que digam de antemão ao solista o que vão fazer, muitas das
rearmonizações que eles podem oferecer não são práticas para uso num acompanhamento,
já que o solista vai estar tocando a partir de um conjunto diferente
difer ente de mudanças de acordes.
Há algumas rearmonizações simples que podem ser usadas sem perturbar muito o solista. A
substituição pelo trítono é um exemplo; toda vez que um acorde de sétima da dominante é
pedido, o músico de acompanhamento pode substituí-lo
subs tituí-lo pelo acorde de sétima da
dominante a um trítono de distância. Isso cria exatamente o mesmo tipo de tensão que é
criada quando o solista faz ele mesmo essa substituição. Uma outra rearmonização simples
é mudar a qualidade do acorde. Ou seja, tocar um D7alt no lugar de um Dm, e assim por
diante.
Outra rearmonização comum
comu m é substituir um acorde da dominante por umau ma progressão ii-V.
ii-V.
Isso já foi demonstrado quando discutimos a progressão de blues; uma das progressões
substituiu o acorde F7 no compasso 4 por um Cm7 - F7. Isso é especialmente comum no
fim de uma frase, levando à tônica no começo da próxima frase. A maioria das opções de
escala que os solistas possam estar usando sobre um acorde F7 também funcionarão sobre o
acorde Cm7, por isso essa rearmonização geralmente não cria muita tensão. Essa técnica
pode ser combinada com a substituição pelo trítono para criar
cr iar uma rearmonização mais
complexa. Em vez de substituir o V por um ii-V,
ii-V, primeiro substitua o V pelo acorde a um
trítono, e aí sim substitua esse acorde por um ii-V.
ii-V. Por exemplo, no compasso
co mpasso 4 do blues
em Fá, primeiro troque o F7 pelo B7, e então troque isso por F#m7 - B7.
Outro tipo de rearmonização envolve o uso de alternação. Em vez de tocar vários
compassos de um dado acorde, o músico no acompanhamento pode alternar entre ele e o
acorde meio tom acima ou abaixo, ou um acorde da dominante uma quinta abaixo. Por
exemplo, num acorde G7, você pode alternar entre G7 e Ab7, ou entre G7 e F#7, ou entre
G7 e D7. Isso é especialmente comum nos estilos baseados no rock, em que a alternação é
executada ritmicamente. Se a alternação é executada regularmente, como por exemplo no
decorrer de um chorus inteiro, ou mesmo a música inteira, o solista precisa ser capaz de
captar isso e controlar a quantidade de tensão produzida, tocando junto com a
rearmonização ou tocando contra ela. Ou seja, o solista pode reduzir a tensão trocando
escalas à medida que você troca de acordes, ou aumentar a tensão mantendo a escala
original.
Acompanhamento
Acompanhamento Rítmico
Uma vez que tenha decidido que notas quer tocar, você precisa decidir quando tocá-las.
Não dá para tocar simplesmente semibreves ou mínimas; o seu acompanhamento precisa
em geral ser ritmicamente interessante, sem no entanto distrair o solista ou o ouvinte.
Há poucas instruções que possam ser dadas para se tocar acompanhamento com ritmo.
Como há muito pouca teoria em que se escorar, a primeira fração de conselho que eu posso
dar é ouvir a outros músicos de acompanhamento. Com muita frequência, tendemos a
ignorar todos, exceto o solista. Lembre-se de escolher álbuns que tenham músicos que,
além de fazer o acompanhamento, façam solos instrumentais. Entre os pianistas a serem
ouvidos devem estar Bud Powell, Thelonious Monk, Horace Silver, Bill Evans, Wynton
Kelly,
Kelly, Herbie Hancock e McCoy Tyner.
Tyner. Os pianistas devem também ouvir guitarristas
guitarr istas e
músicos de vibrafone ou xilofone; geralmente os limites desses instrumentos podem levar a
ideias que você não teria de outra maneira.
Guitarristas devem ouvir pianistas, mas também guitarristas de jazz como Herb Ellis, Joe
Pass, e Wes Montgomery.
Montgomery. Geralmente, os guitarristas trabalham paralelamente aos
pianistas, e o estilo deles quando há um pianista no grupo pode
p ode variar em relação a como
eles tocam quando são o único instrumento harmônico no acompanhamento. Por exemplo,
alguns guitarristas tocam somente acordes curtos em cada tempo se houver um pianista
tocando a maior parte do material rítmico. Outros ficam de fora (param de tocar)
completamente. Por esse motivo, é especialmente importante ouvir guitarristas em
diferentes tipos de contexto.
Também se deve ouvir gravações que não têm nenhum acompanhamento harmônico, como
qualquer um dos vários álbuns de Gerry Mulligan, Chet Baker, ou até mesmo do quarteto
Ornette Coleman. Tente tocar junto com eles. Isso vai muitas vezes ser difícil, já que a
música foi gravada com o entendimento de que não haveria acompanhamento harmônico,
por isso os solistas e outros que estão fazendo o acompanhamento geralmente deixam
pouco espaço para um piano ou violão. Praticar o acompanhamento nesse tipo de situação
pode ajudar você a evitar exagerar no acompanhamento. A maioria dos músicos iniciantes
de acompanhamento, como muitos solistas iniciantes, tende a tocar notas em excesso. Do
mesmo modo que o espaço pode ser uma ferramenta eficiente durante um solo, pode ser
ainda mais eficiente quando se está acompanhando. Deixe o solista tocar com somente o
baixista e o baterista durante uns poucos compassos, ou mais, de vez em quando. Ficar de
fora e deixar o solista sem acompanhamento de instrumento harmônico é às vezes chamado
de strolling (passear). McCoy Tyner, Herbie Hancock e Thelonious Monk frequentemente
ficavam de fora durante solos inteiros.
Imaginar a si próprio exercendo um papel secundário no arranjo de uma grande banda às
vezes ajuda. Quando estiver confortável com uma progressão de acordes específica, e não
mais tiver que se concentrar integralmente somente em tocar as notas "certas", você poderá
dedicar-se ao conteúdo rítmico e até melódico de seu acompanhamento. Ouça os
acompanhamentos de sopros em algumas gravações de orquestras de jazz, como as de
Count Basie, para ver como o acompanhamento pode ser melódico.
Certos estilos de música pedem padrões rítmicos específicos. Por exemplo, muitas formas
de música antes da Era do Bebop usavam o padrão stride na mão esquerda, que consiste em
alternar a nota do baixo em 1 e 3 com uma abertura de acorde em 2 e 4. Muitos estilos
baseados no rock também dependem de padrões rítmicos, geralmente específicos de uma
música individual. Embora os estilos brasileiros como a bossa nova e o samba, na maneira
como tocados pela maioria dos músicos de jazz, não tenham padrões de acompanhamento
bem definidos, outros estilos de jazz latino, especialmente as formas afro-cubanas que são
às vezes coletivamente conhecidas como salsa, usam um motivo repetido de dois
compassos, chamado montuno. Um padrão rítmico típico é o "e-do-1, e-do-2, e-do-3, e-do-
4; 1, 2, e-do-2, e-do-3, e-do-4". Esses dois compassos podem ser invertidos se o padrão de
bateria utilizado (ver abaixo) também for invertido. Uma descrição integral do papel do
piano no jazz latino e outros estilos está fora do escopo desta Introdução. Uma boa
discussão pode ser encontrada no livro The Jazz Piano Book , de Mark Levine.
O aspecto mais importante do acompanhamento na maioria dos estilos é como se
comunicar com o solista. Há várias formas que essa comunicação pode assumir. Por
exemplo, há a pergunta e resposta, em que você essencialmente tenta ecoar ou responder o
que o solista tocou. Isso é especialmente eficiente se o solista estiver tocando frases curtas,
simples, com pausas entre elas. Se o solista estiver trabalhando num motivo rítmico
repetido, geralmente dá para antecipar o eco e tocar na verdade junto com o solista. Às
vezes você também pode conduzir o solista a direções que de outro modo ele poderia não
ter tentado. Por exemplo, você pode iniciar um motivo rítmico repetido, o que pode
encorajar o solista a ecoar você. Alguns solistas gostam desse tipo de acompanhamento
agressivo, outros não. Você terá que praticar com cada solista para ver até que ponto poderá
conduzi-lo.
Aberturas 3/7
É quase uma vergonha que o tipo mais comum de abertura usado pela maioria dos pianistas
desde os anos 50 não tenha um nome amplamente aceito. Eu já vi esse tipo de abertura (ou
voicing ) ser chamado de abertura Categoria A e Categoria B, abertura Bill Evans, ou
simplesmente abertura da mão esquerda. Como elas são baseadas na terça e na sétima do
respectivo acorde, eu chamo elas de aberturas 3/7 ("três-sete" ).
A base dessas aberturas é que elas contêm tanto a terça quanto a sétima do acorde,
geralmente com pelo menos uma ou duas outras notas, e ou a terça ou a sétima está no
baixo. Como a terça e a sétima são as notas mais importantes que definem a qualidade de
um acorde, essas regras quase sempre produzem resultados que soam bem. Além disso,
essas aberturas podem automaticamente gerar bons encadeamentos de acordes, o que
significa que quando elas são usadas numa progressão de acordes, há muito pouco
movimento entre as aberturas. Frequentemente, essas mesmas notas podem ser mantidas de
uma abertura para a outra, ou no máximo uma nota pode ter que se mover um tom.
Por exemplo, considere uma progressão ii-V-I em Dó maior. Os acordes são Dm7, G7 e
Cmaj7. A maneira mais simples de formar uma abertura 3/7 sobre essa progressão seria
tocar o Dm7 como "Fá, Dó", o G7 como "Fá, Si", e o Cmaj7 como "Mi, Si". Observe que,
no primeiro acorde, a terça está no baixo; no segundo acorde, a sétima está no baixo; e no
terceiro acorde, a terça está no baixo. Observe também que, quando você passa de uma
abertura para a próxima, somente uma nota muda; as outras notas ficam constantes. Essa é
uma importante característica das aberturas 3/7: quando elas são usadas numa progressão ii-
V-I, ou qualquer progressão em que o movimento da fundamental se dá por quartas ou
quintas, você alterna entre a terça e a sétima no baixo. Um conjunto análogo de aberturas é
obtido quando se começa com a sétima no baixo: "Dó, Fá", "Si, Fá", "Si, Mi".
Normalmente, a gente usa mais do que somente a terça e a sétima. Geralmente, as notas
acrescentadas são a sexta (ou décima terceira) e a nona. Por exemplo, o ii-V-I em Dó Maior
pode ser tocado como "Fá, Dó, Mi", "Fá, Si, Mi", "Mi, Si, Ré", ou como "Fá, Lá, Dó, Mi",
"Fá, Lá, Si, Mi", "Mi, Lá, Si, Ré". As notas acrescentadas são todas sextas ou nonas, exceto
a quinta no primeiro acorde do segundo exemplo. Quando for tocar essas aberturas de
quatro notas no violão, qualquer nota acrescentada será geralmente adicionada acima da
terça e da sétima, do contrário sua abertura pode acabar contendo vários pequenos
intervalos, o que geralmente só é possível tocar com difíceis contorções da mão. Assim, o
ii-V-I em Dó Maior pode ser tocado com aberturas de quatro notas no violão como "Fá, Dó,
Mi, Lá", "Fá, Si, Mi, Lá", "Mi, Si, Ré, Lá".
Observe que nenhuma dessas aberturas contém a fundamental de seus respectivos acordes.
Pressupõe-se que o baixista vai tocar a fundamental em algum momento. Na ausência de
um baixista, os pianistas geralmente tocam a fundamental com a mão esquerda no primeiro
tempo, e então uma dessas aberturas no segundo ou terceiro tempo. Na verdade, geralmente
dá para nem sequer tocar a fundamental; em muitas situações, o ouvido antecipa a
progressão de acordes e cria o contexto adequado para a abertura mesmo sem a
fundamental. Não é proibido tocar a fundamental nessas aberturas, mas nem é obrigatório,
nem é melhor fazê-lo.
Essas aberturas básicas podem ser modificadas de várias maneiras. Às vezes, é preferível
omitir a terça ou a sétima. Geralmente, um acorde menor ou maior que esteja servindo
como uma tônica terá uma abertura com a terça, sexta e nona, e essas aberturas podem ser
intercaladas com aberturas 3/7 normais. Aberturas com a quinta ou alguma outra nota no
baixo também podem ser intercaladas com verdadeiras aberturas 3/7. Isso pode ser feito por
vários motivos. Um deles é que, quando tocadas no piano, observe que as aberturas
descritas até agora todas tendem a descer no teclado à medida que a fundamental se resolve
em quintas descendentes. A faixa normal para essas aberturas está nas duas oitavas a partir
do Dó abaixo do Dó Central do piano até o Dó acima do Dó Central. À medida que as
aberturas caminham para baixo, elas começam a soar muito graves, quando então é melhor
dar um salto para cima. Por exemplo, se você acabou num Dm7 como "Dó, Fá, Lá, Si"
abaixo do Dó Central, e precisa resolver num G7 e depois num Cmaj7, talvez seja
preferível tocar esses dois acordes como "Ré, Fá, Sol, Si" e "Mi, Lá, Si, Ré"
respectivamente, para levar as aberturas para cima, e ao mesmo tempo preservar um bom
encadeamento de acordes. Além disso, as fundamentais nem sempre caminham em quintas;
numa progressão como a de Cmaj7 para A7, talvez seja melhor fazer as aberturas como
"Sol, Si, Dó, Mi" para "Sol, Si, Dó Sustenido, Fá Sustenido" para preservar um bom
encadeamento de acordes.
Uma coisa a se observar sobre essas aberturas no contexto de um ii-V-I diatônico é que,
como os acordes implicam modos da mesma escala (Ré Dórico é o mesmo que Sol
Mixolídio que é o mesmo que Dó Maior), uma determinada abertura pode às vezes ser
ambígua. Por exemplo, "Fá, Lá, Si, Mi" pode ser tanto um Dm7 com a sétima omitida,
quanto um G7. No contexto de uma música modal como "So What", ela claramente define
a sonoridade do Dm7 ou Ré Dórico. No contexto de uma progressão ii-V, ela
provavelmente soa mais como um G7. Você pode tirar proveito dessa ambiguidade fazendo
uma abertura esticar sobre vários acordes. Essa técnica é especialmente útil quando
aplicada às aberturas mais gerais baseadas em escala discutidas mais adiante.
Outra coisa que você pode fazer com aberturas 3/7 é alterá-las com quintas ou nonas
elevadas ou rebaixadas. Por exemplo, se o acorde G7 for alterado para um acorde G7b9,
então ele pode ter uma abertura "Fá, Lá Bemol, Si, Mi". Em geral, as notas na abertura
devem vir da escala implícita no acorde.
Essas aberturas são bem adequadas no piano para se tocar com a mão esquerda, enquanto a
mão direita está solando. Elas também podem ser tocadas com duas mãos, ou com todas as
cordas na guitarra, acrescentando-se mais notas. Isso gera um som mais cheio quando se
está acompanhando outros solistas. Uma maneira de adicionar notas é escolher uma nota da
escala que ainda não está na abertura básica e tocá-la em oitavas acima da abertura básica.
Por exemplo, no piano, para Dm7 com "Fá, Lá, Dó, Mi" na mão esquerda, você pode tocar
"Ré, Ré" ou "Sol, Sol" na direita. Em geral, é uma boa ideia evitar dobrar notas numa
abertura, já que o som mais cheio geralmente é obtido quando se toca o maior número
possível de notas diferentes, mas a oitava da mão direita soa bem nesse contexto. A nota
uma quarta ou quinta acima do baixo da oitava também pode geralmente ser adicionada.
Por exemplo, com a mesma mão esquerda anterior, você pode tocar "Ré, Sol, Ré" ou "Sol,
Ré, Sol" na mão direita.
As aberturas 3/7 são talvez a mais importante família de aberturas, e muitas variações são
possíveis. Você deve tentar praticar muitas permutações de cada uma delas em muitas
tonalidades diferentes.
Aberturas Quartais
Um estilo de abertura (ou voicing ) popularizado por McCoy Tyner é baseado no intervalo
de quarta. Esse tipo de abertura é usado com mais frequência na música modal. Para
construir uma abertura quartal, simplesmente pegue qualquer nota da escala associada ao
acorde, e adicione a nota que está uma quarta acima, e uma quarta acima desta. Use quartas
perfeitas ou quartas aumentadas, dependendo de qual das notas estiver na escala. Por
exemplo, as aberturas quartais de Cm7 são "Dó, Fá, Si Bemol", "Ré, Sol, Dó", "Mi Bemol,
Lá, Ré" (repare a quarta aumentada), "Fá, Si Bemol, Mi Bemol", "Sol, Dó, Fá", "Lá, Ré,
Sol", e "Si Bemol, Mi Bemol, Lá". Esse tipo de abertura parece funcionar especialmente
bem com acordes menores (modo dórico), ou acordes da dominante em que esteja sendo
usada uma sonoridade suspensa ou pentatônica.
Essas aberturas são ainda mais ambíguas, em que uma determinada abertura quartal de três
notas pode soar como uma abertura para um sem número de acordes diferentes. Não há
nada de errado com isso. Entretanto, se você quiser reforçar o par acorde/escala específico
que estiver tocando, uma maneira de fazê-lo é caminhar com a abertura pela escala em
movimento paralelo. Se houver oito compassos de um dado acorde, você pode tocar uma
dessas aberturas nos primeiros acordes, daí elevá-la um tom durante alguns compassos. A
técnica de alternar a abertura com a fundamental no baixo, ou a fundamental e a quinta,
funciona bem aqui também. Num longo acorde Cm7, por exemplo, você pode tocar "Dó,
Sol" no primeiro tempo, e daí tocar algumas aberturas quartais em movimento paralelo
enquanto durar o acorde.
Do mesmo modo que as aberturas 3/7, essas aberturas são convenientes para a mão
esquerda no piano, ou aberturas de três ou quatro cordas no violão. Elas também podem ser
transformadas em aberturas para duas mãos ou cinco ou seis cordas, adicionando-se mais
quartas, quintas, ou oitavas acima delas. Por exemplo, o acorde Cm7 pode ter uma abertura
com "Ré, Sol, Dó" na mão esquerda e "Fá, Si Bemol, Mi Bemol" na mão direita, ou "Mi
Bemol, Lá, Ré" na esquerda e "Sol, Dó, Sol" na direita. A música "So What" do álbum
Kind Of Blue usa aberturas que consistem de três quartas e uma terça maior. Num acorde
Dm7, as aberturas usadas foram "Mi, Lá, Ré, Sol, Si" e "Ré, Sol, Dó, Fá, Lá".
Poliacordes e
Aberturas de Estrutura Superior
O poliacorde é um tipo de abertura (ou voicing ) cuja base é tocar dois acordes diferentes ao
mesmo tempo, como por exemplo um na mão esquerda e um na mão direita no piano. A
relação entre os dois acordes determina a qualidade do acorde resultante. Essas aberturas
são sempre para duas mãos no piano, ou aberturas de cinco ou seis notas no violão. Elas
produzem um som muito rico e complexo, se comparadas às aberturas apresentadas até
aqui.
O estilo mais simples da abertura do tipo poliacorde é tocar duas tríades; por exemplo, uma
tríade Dó Maior na mão esquerda do piano, e uma tríade Ré Maior na mão direita. Isso terá
como notação D/C. Essa notação tem mais de um significado, já que ela geralmente é
interpretada como querendo dizer uma tríade de Ré sobre uma nota Dó no baixo; nem
sempre fica claro quando uma abertura poliacorde é desejada. Os poliacordes raramente são
pedidos explicitamente na música escrita, por isso não existe maneira padrão de grafá-los.
Geralmente você precisa descobrir suas próprias oportunidades para tocar aberturas do tipo
poliacorde.
Se você pegar todas as notas nessa abertura D/C e enfileirá-las, verá que isso descreve ou
uma escala Dó Lídia ou uma escala Dó Lídia Dominante. Por isso, essa abertura pode ser
usada sobre qualquer acorde para os quais essas escalas sejam apropriadas. Se você tentar
outras tríades sobre uma tríade Dó Maior, vai descobrir várias combinações que soam boas
e descrevem escalas bem conhecidas. Entretanto, muitas dessas combinações envolvem
notas repetidas, que podem ser evitadas conforme descrito abaixo. Entre os poliacordes que
não envolvem notas repetidas estão Gb/C, que produz uma escala Dó Diminuta Semitom-
Tom, a Bb/C, que gera uma escala Dó Mixolídia, a Dm/C, que gera uma escala Dó Maior
ou Dó Mixolídia, a Ebm/C, que gera uma escala Dó Diminuta ST, a F#m/C, que também
produz uma escala Dó Diminuta, e a Bm/C, que gera uma escala Dó Lídia. Esses
poliacordes podem ser usados como aberturas para quaisquer acordes que se encaixem nas
respectivas escalas.
Você pode ter observado que Db/C, Abm/C, Bbm/C, e B/C também não envolvem notas
repetidas e soam muito interessantes, embora elas não descrevam obviamente nenhuma
escala padrão. Não existem regras sobre quando essas combinações de acordes podem ser
tocadas como aberturas. Quando seu ouvido fica acostumado com as nuanças e
dissonâncias particulares de cada uma, você pode encontrar situações em que poderá usá-
las. Por exemplo, o último poliacorde listado, B/C, soa bem quando usado como um
substituto para o Cmaj7, particularmente no contexto de uma progressão ii-V-I, e
especialmente no final de uma música. Você pode resolvê-la num abertura normal de
Cmaj7 se quiser.
Você pode montar poliacordes com uma tríade menor embaixo. Db/Cm produz uma escala
Dó Frígia; F/Cm gera uma escala Dó Dórica; Fm/Cm produz uma escala Dó Menor; A/Cm
produz uma escala diminuta ST; Bb/Cm produz uma escala Dó Dórica; e Bbm/Cm produz
uma escala Dó Frígia. Além disso, D/Cm gera uma escala interessante com sonoridade de
blues.
Eu mencionei antes o desejo de evitar notas repetidas. Uma maneira de montar poliacordes
que evita notas repetidas é substituir a tríade de baixo com, ou a terça e a sétima, ou a
fundamental e a sétima, ou a fundamental e a terça de um acorde dominante. Aberturas
montadas dessa maneira também são chamadas de acordes de estrutura superior. Elas
sempre implicam algum tipo de acorde dominante.
Por exemplo, há várias estruturas superiores de C7. Uma tríade Dbm sobre "Dó, Si Bemol"
gera um acorde C7b9#5. Uma tríade D sobre "Mi, Si Bemol" gera um acorde C7#11. Uma
tríade Eb sobre "Dó, Mi" gera um acorde C7#9. Uma tríade F# sobre "Dó, Mi" gera um
acorde C7b9b5. Uma tríade F#m sobre "Mi, Si Bemol" gera um acorde C7b9b5. Uma
tríade Ab sobre "Mi, Si Bemol" gera um acorde C7#9#5. Uma tríade A sobre "Dó, Si
Bemol" gera um acorde C7b9.
Você vai notar que precisa de muita prática para se tornar familiarizado o bastante com
essas aberturas a ponto de poder tocá-las no ato. Talvez seja preferível escolher algumas
músicas e planejar com antecedência onde você usará essas aberturas. O esforço bem que
vale a pena. A riqueza e variedade dessas aberturas podem adicionar muito ao seu
vocabulário harmônico.
Instrumentos Harmônicos
As principais preocupações para músicos de instrumentos harmônicos/polifônicos, ou
instrumentos que podem facilmente tocar mais de uma nota de cada vez, como o piano,
órgão, violão, e os vários instrumentos da família do xilofone, são aberturas de acordes (ou
voicing ), rearmonização, e acompanhamento rítmico.
Aberturas de Acordes
No jazz, quando o músico pede um acorde Cmaj7, isso quase nunca significa que um
pianista deva tocar "Dó Mi Sol Si". Geralmente, o pianista escolhe alguma outra maneira de
tocar esse acorde, mesmo que seja simplesmente uma inversão da posição fundamental do
acorde. Livros inteiros foram escritos sobre o assunto de abertura de acordes ("voicing " em
inglês). A discussão aqui somente arranha a superfície das possibilidades. Eu categorizei
vagamente as aberturas descritas aqui como aberturas 3/7, aberturas em quartas (ou
quartais), poliacordes, aberturas de posição fechada e aberturas drop, e outras aberturas
baseadas em escalas.
Rearmonização
Um músico no acompanhamento pode ocasionalmente rearmonizar uma progressão de
acordes para sustentar o interesse, introduzir um contraste, ou criar tensão. Isso envolve
substituir alguns dos acordes grafados ou esperados por outros acordes. Uma substituição,
como a substituição pelo trítono, é um tipo de rearmonização.
Alguns músicos passam muito tempo tentando diferentes rearmonizações ao trabalhar numa
música. Entretanto, a menos que digam de antemão ao solista o que vão fazer, muitas das
rearmonizações que eles podem oferecer não são práticas para uso num acompanhamento,
já que o solista vai estar tocando a partir de um conjunto diferente de mudanças de acordes.
Há algumas rearmonizações simples que podem ser usadas sem perturbar muito o solista. A
substituição pelo trítono é um exemplo; toda vez que um acorde de sétima da dominante é
pedido, o músico de acompanhamento pode substituí-lo pelo acorde de sétima da
dominante a um trítono de distância. Isso cria exatamente o mesmo tipo de tensão que é
criada quando o solista faz ele mesmo essa substituição. Uma outra rearmonização simples
é mudar a qualidade do acorde. Ou seja, tocar um D7alt no lugar de um Dm, e assim por
diante.
Outra rearmonização comum é substituir um acorde da dominante por uma progressão ii-V.
Isso já foi demonstrado quando discutimos a progressão de blues; uma das progressões
substituiu o acorde F7 no compasso 4 por um Cm7 - F7. Isso é especialmente comum no
fim de uma frase, levando à tônica no começo da próxima frase. A maioria das opções de
escala que os solistas possam estar usando sobre um acorde F7 também funcionarão sobre o
acorde Cm7, por isso essa rearmonização geralmente não cria muita tensão. Essa técnica
pode ser combinada com a substituição pelo trítono para criar uma rearmonização mais
complexa. Em vez de substituir o V por um ii-V, primeiro substitua o V pelo acorde a um
trítono, e aí sim substitua esse acorde por um ii-V. Por exemplo, no compasso 4 do blues
em Fá, primeiro troque o F7 pelo B7, e então troque isso por F#m7 - B7.
Outro tipo de rearmonização envolve o uso de alternação. Em vez de tocar vários
compassos de um dado acorde, o músico no acompanhamento pode alternar entre ele e o
acorde meio tom acima ou abaixo, ou um acorde da dominante uma quinta abaixo. Por
exemplo, num acorde G7, você pode alternar entre G7 e Ab7, ou entre G7 e F#7, ou entre
G7 e D7. Isso é especialmente comum nos estilos baseados no rock, em que a alternação é
executada ritmicamente. Se a alternação é executada regularmente, como por exemplo no
decorrer de um chorus inteiro, ou mesmo a música inteira, o solista precisa ser capaz de
captar isso e controlar a quantidade de tensão produzida, tocando junto com a
rearmonização ou tocando contra ela. Ou seja, o solista pode reduzir a tensão trocando
escalas à medida que você troca de acordes, ou aumentar a tensão mantendo a escala
original.
Acompanhamento Rítmico
Uma vez que tenha decidido que notas quer tocar, você precisa decidir quando tocá-las.
Não dá para tocar simplesmente semibreves ou mínimas; o seu acompanhamento precisa
em geral ser ritmicamente interessante, sem no entanto distrair o solista ou o ouvinte.
Há poucas instruções que possam ser dadas para se tocar acompanhamento com ritmo.
Como há muito pouca teoria em que se escorar, a primeira fração de conselho que eu posso
dar é ouvir a outros músicos de acompanhamento. Com muita frequência, tendemos a
ignorar todos, exceto o solista. Lembre-se de escolher álbuns que tenham músicos que,
além de fazer o acompanhamento, façam solos instrumentais. Entre os pianistas a serem
ouvidos devem estar Bud Powell, Thelonious Monk, Horace Silver, Bill Evans, Wynton
Kelly, Herbie Hancock e McCoy Tyner. Os pianistas devem também ouvir guitarristas e
músicos de vibrafone ou xilofone; geralmente os limites desses instrumentos podem levar a
ideias que você não teria de outra maneira.
Guitarristas devem ouvir pianistas, mas também guitarristas de jazz como Herb Ellis, Joe
Pass, e Wes Montgomery. Geralmente, os guitarristas trabalham paralelamente aos
pianistas, e o estilo deles quando há um pianista no grupo pode variar em relação a como
eles tocam quando são o único instrumento harmônico no acompanhamento. Por exemplo,
alguns guitarristas tocam somente acordes curtos em cada tempo se houver um pianista
tocando a maior parte do material rítmico. Outros ficam de fora (param de tocar)
completamente. Por esse motivo, é especialmente importante ouvir guitarristas em
diferentes tipos de contexto.
Também se deve ouvir gravações que não têm nenhum acompanhamento harmônico, como
qualquer um dos vários álbuns de Gerry Mulligan, Chet Baker, ou até mesmo do quarteto
Ornette Coleman. Tente tocar junto com eles. Isso vai muitas vezes ser difícil, já que a
música foi gravada com o entendimento de que não haveria acompanhamento harmônico,
por isso os solistas e outros que estão fazendo o acompanhamento geralmente deixam
pouco espaço para um piano ou violão. Praticar o acompanhamento nesse tipo de situação
pode ajudar você a evitar exagerar no acompanhamento. A maioria dos músicos iniciantes
de acompanhamento, como muitos solistas iniciantes, tende a tocar notas em excesso. Do
mesmo modo que o espaço pode ser uma ferramenta eficiente durante um solo, pode ser
ainda mais eficiente quando se está acompanhando. Deixe o solista tocar com somente o
baixista e o baterista durante uns poucos compassos, ou mais, de vez em quando. Ficar de
fora e deixar o solista sem acompanhamento de instrumento harmônico é às vezes chamado
de strolling (passear). McCoy Tyner, Herbie Hancock e Thelonious Monk frequentemente
ficavam de fora durante solos inteiros.
Imaginar a si próprio exercendo um papel secundário no arranjo de uma grande banda às
vezes ajuda. Quando estiver confortável com uma progressão de acordes específica, e não
mais tiver que se concentrar integralmente somente em tocar as notas "certas", você poderá
dedicar-se ao conteúdo rítmico e até melódico de seu acompanhamento. Ouça os
acompanhamentos de sopros em algumas gravações de orquestras de jazz, como as de
Count Basie, para ver como o acompanhamento pode ser melódico.
Certos estilos de música pedem padrões rítmicos específicos. Por exemplo, muitas formas
de música antes da Era do Bebop usavam o padrão stride na mão esquerda, que consiste em
alternar a nota do baixo em 1 e 3 com uma abertura de acorde em 2 e 4. Muitos estilos
baseados no rock também dependem de padrões rítmicos, geralmente específicos de uma
música individual. Embora os estilos brasileiros como a bossa nova e o samba, na maneira
como tocados pela maioria dos músicos de jazz, não tenham padrões de acompanhamento
bem definidos, outros estilos de jazz latino, especialmente as formas afro-cubanas que são
às vezes coletivamente conhecidas como salsa, usam um motivo repetido de dois
compassos, chamado montuno. Um padrão rítmico típico é o "e-do-1, e-do-2, e-do-3, e-do-
4; 1, 2, e-do-2, e-do-3, e-do-4". Esses dois compassos podem ser invertidos se o padrão de
bateria utilizado (ver abaixo) também for invertido. Uma descrição integral do papel do
piano no jazz latino e outros estilos está fora do escopo desta Introdução. Uma boa
discussão pode ser encontrada no livro The Jazz Piano Book , de Mark Levine.
O aspecto mais importante do acompanhamento na maioria dos estilos é como se
comunicar com o solista. Há várias formas que essa comunicação pode assumir. Por
exemplo, há a pergunta e resposta, em que você essencialmente tenta ecoar ou responder o
que o solista tocou. Isso é especialmente eficiente se o solista estiver tocando frases curtas,
simples, com pausas entre elas. Se o solista estiver trabalhando num motivo rítmico
repetido, geralmente dá para antecipar o eco e tocar na verdade junto com o solista. Às
vezes você também pode conduzir o solista a direções que de outro modo ele poderia não
ter tentado. Por exemplo, você pode iniciar um motivo rítmico repetido, o que pode
encorajar o solista a ecoar você. Alguns solistas gostam desse tipo de acompanhamento
agressivo, outros não. Você terá que praticar com cada solista para ver até que ponto poderá
conduzi-lo.
Baixo
A função do baixo numa seção rítmica tradicional é um tanto diferente daquela de um
instrumento harmônico. Do mesmo modo que o pianista, um baixista precisa normalmente
delinear as mudanças de acordes, mas o baixo geralmente enfatiza as fundamentais, terças e
quintas, em vez das extensões ou alterações. Nas formas tradicionais do jazz, o baixista
também tem um papel muito importante como o responsável pela marcação do tempo; tanto
quando o baterista, e talvez até mais do que ele. É por isso que os baixistas com tanta
frequência tocam linhas de baixo que consistem quase que exclusivamente de semínimas ou
ritmos que enfatizam fortemente a marcação do tempo.
Nesse aspecto, aprender a tocar linhas de baixo é geralmente mais fácil do que aprender a
solar ou a tocar aberturas de acordes. Você não precisa se preocupar tanto em relação a que
ritmos tocar, e suas escolhas de notas também são mais limitadas. Quando você ouve
grandes baixistas, como Ray Brown ou Paul Chambers, observa que uma grande parte do
que eles tocam são semínimas e linhas baseadas em escalas.
Quando um pianista toca num contexto de solo, ele frequentemente precisa criar seu
próprio acompanhamento de linha de baixo, por isso os pianistas também aprendem a
formar boas linhas de baixo.
Linhas de Baixo
Há algumas orientações simples que você pode usar para produzir linhas de baixo que soem
bem. Primeiro, você geralmente deve tocar a fundamental de um acorde no primeiro tempo
desse acorde. O tempo anterior deve estar a uma nota ou um semitom de distância. Por
exemplo, se o acorde F7 aparece no tempo "1" de um compasso, então você normalmente
toca o Fá nesse tempo. Você geralmente tocaria Mi, Mi Bemol, Sol, ou Sol Bemol no
compasso anterior, dependendo do acorde. Se o acorde anterior for um C7, então você pode
tocar ou Mi ou Sol, já que eles estão na escala mixolídia associada ao acorde. Ou você pode
pensar na escala diminuta semitom-tom ou na escala alterada para o acorde C7 e tocar Mi
Bemol ou Sol Bemol. O Sol Bemol também é a fundamental do acorde da dominante a um
trítono de distância, que já foi descrito como uma boa substituição, por isso o Sol Bemol é
uma escolha particularmente boa. A nota não necessariamente precisa ser justificável no
contexto de um acorde; ela pode ser pensada como uma nota de passagem para se chegar ao
primeiro tempo (o tempo forte) do compasso seguinte.
Essas duas primeiras orientações resolvem dois tempos de cada acorde. Em algumas
músicas, como as músicas baseadas na progressão Rhythm, isso é tudo que há para a
maioria dos acordes, assim sua linha de baixo pode ser quase completamente determinada
pela progressão harmônica. É claro que você provavelmente vai querer variar suas linhas.
Você não é obrigado a tocar a fundamental no primeiro tempo, nem tampouco obrigado a
aproximar-se dele com um tom. Lembre-se, essas são somente orientações iniciais.
Se você tiver mais que dois tempos para preencher num acorde específico, uma maneira de
preencher os tempos restantes é simplesmente escolher notas de qualquer escala associada
em movimentos geralmente de um tom. Por exemplo, se sua progressão harmônica é de C7
para F7, e você já decidiu tocar "Dó, X, X, Sol Bemol" para o acorde C7, então você pode
preencher os Xs com Ré e Mi, implicando a escala lídia dominante, ou Si Bemol e Lá
Bemol, implicando a escala alterada. Qualquer uma dessas escolhas pode também implicar
a escala de tons inteiros. Outro fraseado muito usado seria "Dó, Ré, Mi Bemol, Mi", em
que o Mi Bemol é usado como uma nota de passagem entre Ré e o Mi. Você provavelmente
vai descobrir outros fraseados que usará muito. Tocar fraseados geralmente é recebido com
ressalvas quando se está solando, momento em que se espera que você seja o mais criativo
possível. Quando estiver no acompanhamento, entretanto, os fraseados, como aqueles
fornecidos para aberturas, podem ser uma maneira eficaz de delinear a harmonia
consistentemente. Como baixista, espera-se que você toque virtualmente todos os tempos
de cada compasso durante toda a música. É geralmente mais importante ser sólido e
confiável do que ser o mais inventivo possível.
Baixo Pedal
A expressão baixo pedal (em inglês, " pedal point "), geralmente abreviada para somente
pedal , refere-se a uma linha de baixo que permanece numa nota durante uma mudança
harmônica. Certas músicas, como "Naima", de John Coltrane em seu álbum Giant Steps,
são escritas com baixo pedal explícito, seja com a notação "Eb pedal" nos quatro primeiros
compassos, ou pela notação dos acordes como
| Dbma7/Eb | Ebm7 | Amaj7#11/Eb Gmaj7#11/Eb | Abmaj7/Eb |.
Quando você vê uma música que pede explicitamente um baixo pedal, é geralmente uma
indicação para parar de tocar linhas de baixo e passar a tocar somente notas longas.
Você também pode descobrir suas próprias oportunidades para usar o baixo pedal. Numa
progressão ii-V-I, a quinta frequentemente pode ser usada como um baixo pedal. Por
exemplo, você pode tocar Sol durante a progressão | Dm7 | G7 | Cmaj7 |, ou somente nos
dois primeiros compassos. Durante o acorde Dm7, o Sol no baixo faz o acorde funcionar
como um acorde G7sus. A resolução para o acorde G7 tende então a seguir o uso
tradicional da música clássica para as suspensões, que sempre se resolvem dessa maneira.
Isso também é muito feito em progressões que alternam entre o ii e o V, como em | Dm7 |
G7 | Dm7 | G7 | Dm7 | G7 | Dm7 | G7 |.
Contraponto
Scott LaFaro iniciou uma pequena revolução na maneira de tocar jazz no começo dos anos
60 com seu uso do contraponto. Suas linhas de baixo eram quase tão interessantes do ponto
de vista rítmico e melódico quanto a melodia ou solo que ele estava acompanhando. Isso
pode ser uma distração para alguns solistas, e para algumas plateias, mas muitos acham o
efeito interessante.
Uma oportunidade de usar contraponto é em baladas ou músicas com suingue de
andamento médio em que a melodia tem notas ou pausas longas. Um dos exemplos mais
famosos do contraponto de Scott LaFaro está na versão de "Solar" gravada por Bill Evans,
Scott LaFaro, e Paul Motian no álbum Sunday At The Village Vanguard. A melodia é
principalmente em semínimas, com semibreves no fim de cada frase. Scott toca notas
longas enquanto a melodia está movimentada, e partes movimentadas quando a melodia
está parada.
Bob Hurst tem uma abordagem diferente para o contraponto. Em vez de tocar linhas que
sustentem sua própria atratividade melódica ou rítmica, ele toca linhas que criam tensão
rítmica na interação delas com o compasso. Uma técnica que ele usa com frequência é tocar
seis notas contra quatro tempos, ou duas tercinas de semínimas por compasso. Soa como se
ele tivesse tocando em três tempos, enquanto o resto da banda está em quatro. Esse tipo de
contraponto rítmico é difícil de sustentar por uma duração maior de tempo, e pode
confundir músicos inexperientes.
Quando você fizer experiências com contraponto, lembre-se que seu papel geralmente
ainda é o de acompanhamento. Sua meta é dar suporte aos músicos que você está
acompanhando. Se eles estiverem sendo desbancados pela complexidade resultante da sua
maneira de tocar, ou estiverem produzindo bastante tensão rítmicas por conta própria, então
pode não ser uma boa usar essa técnica. Você terá que usar seu próprio julgamento para
decidir quando a música vai se beneficiar do uso do contraponto.
Bateria
Assim como ocorre com o baixista, um dos papéis do baterista nas formas tradicionais do
jazz é tocar uma marcação constante no estilo da música. Por constante, eu quero dizer em
relação ao andamento, e não pretendo implicar que você não deva ser criativo e variar seus
padrões. Eu não estou habilitado a iluminar bateristas sobre os detalhes de técnicas de
bateria, mas posso descrever alguns estilos e padrões básicos, e dar algumas dicas sobre
outros aspectos do papel do baterista.
A marcação básica do suingue 4/4 consiste de dois componentes: o padrão do ride (prato de
condução) e o padrão do chimbal. O padrão fundamental do ride é o esquema "1, 2 e, 3, 4
e" ou "ding ding-a ding ding-a" tocado no prato de condução com colcheias suingadas. O
chimbal é normalmente fechado marcadamente no "2" e "4". É isso que a maioria das
baterias eletrônicas (drum machines) tocam quando a opção " swing " é selecionada. Esse
padrão é adequado para muitas músicas de jazz, especialmente standards ou músicas de
bebop, com andamento médio ou acelerado. Músicas mais lentas, como as baladas,
geralmente pedem o uso de vassourinhas na caixa de percussão em vez de baquetas nos
pratos como o padrão principal. Há alguns livros que podem ajudar você a formar padrões
para outros estilos; um desses livros é Essential Styles For The Drummer And Bassist. O
essencial dos estilos que você deve saber tocar estão descritos abaixo.
A marcação básica do shuffle consiste de colcheias no prato de condução e possivelmente
na caixa. Os tempos 2 e 4 também são geralmente enfatizados com mais força. O padrão
básico de uma valsa de jazz, ou suingue 3/4, consiste de "um, dois e, três" ou "ding ding-a
ding" no ride, com o chimbal no "2". Entre outras variações, estão o uso do chimbal no "2"
e no "3", ou em todos os três tempos; e o acréscimo da caixa no "e-do-2" ou no "3".
Três formas de jazz latino que você deve estar pronto para tocar são a bossa nova, o samba
e o mambo. A essência da maioria das formas do jazz latino é a clave, que é um tipo de
fórmula rítmica. A clave básica tem dois compassos, e consiste de "1, e-do-2, 4; 2, 3". Há
também uma clave africana ou clave da rumba, em que a terceira nota é tocada no "e-do-4"
em vez de no tempo. A bossa nova usa uma variação da clave básica em que a última nota
cai no "e-do-3", em vez de no tempo. Esses padrões de clave também podem ser invertidos,
trocando-se a ordem dos compassos. A clave é geralmente tocada como batidas na borda da
caixa numa bateria tradicional, embora com frequência não seja tocada explicitamente pelo
baterista, caso em que um percussionista auxiliar pode tocá-la.
A clave é suplementada por outros padrões em outros tambores. O bumbo pode tocar no "1"
e "3" com anacruse de colcheia. O chimbal é fechado no "2" e "4". Outros padrões podem
ser tocados num prato ou numa cowbell . Entre os padrões típicos do mambo estão "1, 2, 3,
e-do-3, e-do-4; 1, 2, e-do-2, e-do-3, e-do-4" ou "1, 2, 3, e-do-3; 1, e-do-1, e-do-2, e-do-3,
4". Um padrão simples que consiste de "2, 4, e-do-4" é tocado na borda da caixa e no tom-
tom acoplado em vez de uma clave. Numa bossa nova pode-se usar um padrão que consiste
de colcheias sem suingue no prato de condução. O samba tem uma sensação de andamento
dobrado. O padrão do prato é geralmente com colcheias sem suingue, e é geralmente tocado
num chimbal fechado. A caixa pode ser simplesmente tocada no "4" em vez de se tocar a
clave.
Certas composições, como "The Sidewinder", de Lee Morgan, ou "Sister Cheryl", de Tony
Williams, têm padrões de bateria únicos, que são indelevelmente associados com uma
música específica. Ouvir gravações de uma música a ser tocada antes de tentar tocá-la é
provavelmente mais útil aos bateristas do que a qualquer outro músico, já que os fakebooks
geralmente não fornecem muitas dicas para o baterista.
Um bom baterista não vai simplesmente tocar o mesmo padrão sem parar durante toda uma
música. Uma coisa que você pode fazer é variar o padrão, talvez tocando somente colcheias
no prato de condução, ou variando ocasionalmente o ritmo para "ding-a ding ding-a ding".
Ou você pode tocar o chimbal em cada pulso. Você também pode usar outros tambores,
como os tom-tons, como parte de seu pulso básico para uma música. Tony Williams é um
mestre em variar seus padrões dessa maneira.
Frequentemente, um baterista toca um pulso binário simples durante a apresentação inicial
do tema ("head "), e troca para semínimas sem suingue durante os solos. Uma das maneiras
mais fáceis de mudar a sensação rítmica de uma música é simplesmente trocar os pratos
para o padrão de ride, quando por exemplo há uma troca de solista, ou para marcar a ponte
de uma música. Marcar a forma de uma música é um outro papel importante do baterista. A
maioria das formas típicas de músicas têm frases de 4 ou 8 compassos. Ao final de cada
frase, o baterista geralmente toca padrões ou viradas mais complexos para conduzir até a
frase seguinte. Outra tática é mudar o pulso básico de frase para frase. Como baterista, você
deve estar sempre ciente da forma da música, e saber onde estão os breaks, introduções
especiais ou codas. Você deve ser capaz de cantar a melodia para si mesmo durante os solos
se necessário, de modo que consiga delinear a forma para o solista. Isso vai ajudar o solista
a manter seu lugar, ao permitir que ele reconheça quando você chegou à ponte, por
exemplo. Além disso, o solista geralmente estrutura suas próprias frases seguindo as linhas
da forma original. Ao aderir a essa forma, o baterista vai geralmente estar dando suporte ao
desenvolvimento das ideias do solista. Art Blakey é um mestre em tocar a forma e dar
suporte aos solista desta maneira.
Durante um solo, um instrumentista pode deixar pausas intencionais em suas frases. Assim
como ocorre com o pianista e o baixista, o baterista deve decidir se preenche esses espaços
com algum tipo de frase de resposta ou contrarritmo. Bateristas também podem criar tensão
por meio do uso da polirritmia, que são dois ou mais ritmos sobrepostos; por exemplo, 3
contra 4. Um baterista pode, ou tentar tocar dois ritmos diferentes ele próprio, ou trabalhar
com o baixista ou outro músico do acompanhamento, ou com o solista, para criar uma
polirritmia entre eles. Do mesmo modo que acontece com o uso do contraponto em linhas
de baixo, entretanto, você precisa equilibrar o desejo de variação rítmica com a
compreensão de que o resultado pode ser um entulho ou o caos se você for longe demais.
Como todos dependem do baterista para manter o andamento preciso, a estabilidade rítmica
é essencial. Entretanto, o interesse rítmico da parte da bateria também é importante, e é
vital durante solos de bateria. E percussão também não é só ritmo. Como um baterista, você
não pode tocar linhas que sejam interessantes num sentido melódico ou harmônico
tradicional, mas pode variar o timbre de suas linhas tocando com tambores e pratos de
alturas e timbres diferentes. Você deve pensar melodicamente quando toca bateria.
Outros Instrumentos
O uso de outros instrumentos, como instrumentos de sopro de metal ou madeira, na
qualidade de instrumentos de acompanhamento é geralmente limitado a uns poucos "riffs",
ou fraseados repetidos. Esse tipo de acompanhamento é bem usado em bandas de blues.
Geralmente um dos sopros toca uma linha simples baseada na escala de blues, e outros a
repetem.
As formas de free jazz permitem um acompanhamento menos estruturado. Se você ouvir os
discos Free Jazz, de Ornette Coleman, ou Ascension, de John Coltrane, notará que os
sopros que não estão solando ficam livres para tocar qualquer figura de fundo que queiram.
O resultado é geralmente cacófono, mas se esse for o efeito desejado, então não é ruim por
si só.
Na outra ponta desse espectro estão arranjos de big bands, que frequentemente têm
intricados fundos de sopros escritos para os solos. Arranjar para seções de sopros é similar a
acompanhar no piano, no sentido de que as partes geralmente formam aberturas de acordes
e são usadas numa maneira ritmicamente interessante. As partes são geralmente mais
suaves e mais melódicas do que um típico acompanhamento de piano, entretanto, tanto
porque a parte do piano é geralmente improvisada, enquanto o arranjo de sopros pode ser
planejado com antecedência, como porque é mais fácil para uma seção de sopros tocar
linhas melódicas distribuídas em acordes do que para um pianista. Arranjos para a seção de
sopros geralmente enfatizam a articulação, ou variações no ataque e na dinâmica, mais do
que o piano normalmente é capaz. Entre os artifícios usados geralmente em arranjos para a
seção de sopros estão o uso de sforzando, ou notas de volume repentino; alternar passagens
de staccatos, ou notas curtas, e legatos, ou notas longas; "bent notes", ou notas em que o
músico muda brevemente a altura da nota quando está tocando, e " falloffs", ou notas em
que o músico rapidamente reduz a altura da nota, às vezes em uma oitava ou mais,
geralmente para encerrar uma frase.
Você não precisa tocar numa big band ou ser um arranjador experiente para usar o
acompanhamento de uma seção de sopros. Frequentemente dois ou três instrumentos de
sopro são suficientes para tocar figuras de fundo interessantes. A maioria dos mesmos
princípios usados na abertura de acordes para o piano pode ser usada em aberturas para a
seção de sopros. Aberturas drop funcionam especialmente bem. Quando há somente dois
instrumentos de sopro, linhas que caminham em terças paralelas geralmente funcionam
bem. Ouça The Birth Of The Cool, de Miles Davis, ou qualquer dos discos de Art Blakey
with the Jazz Messengers, para ter ideias de como se pode arranjar para grupos
relativamente pequenos. O livro Arranging And Composing, de David Baker, também pode
dar ideias para você começar.
Tocando em Grupo
Assim que conseguir juntar um grupo adequado de músicos, você deve começar a tocar em
grupo. Isso ajuda por vários motivos. Primeiro, se vários músicos estão aproximadamente
no mesmo nível de habilidade, podem aprender juntos. Se um membro é mais avançado do
que os outros, pode ajudá-los durante os encontros. Uma boa seção rítmica frequentemente
pode dar ideias a um solista ou ajudar a dar-lhe a confiança que lhe permita arriscar mais.
Por outro lado, você deve evitar a tentação de ter muitos instrumentistas de sopro, pois vai
ver que as músicas se arrastam cada vez mais com cada um fazendo seu solo. A seção
rítmica vai se cansar da progressão de acordes e os solistas vão ficar impacientes à espera
da vez deles. Talvez seja contraproducente ter mais do que uns oito músicos ao mesmo
tempo para este propósito.
Organização
Uma vez que um grupo apropriado de pessoas foi reunido, é preciso decidir o que tocar. Se
todos no grupo tiverem acesso aos mesmos fakebooks, isso ajuda. Dessa maneira, quando
uma pessoa sugerir uma música, pode-se ter uma razoável certeza de que todos terão ela em
seus livros. The New Real Book, de Chuck Sher, é recomendado, já que ele está disponível
em versões transpostas para a maioria dos instrumentos de sopro, e contém uma boa
variedade de músicas. Talvez seja uma boa acertar com antecedência as músicas que serão
trabalhadas, para que todos tenham a chance de se familiarizar com as mudanças de
acordes.
Embora não seja necessário designar um líder para o grupo, ajuda que haja alguém para
escolher as músicas, decidir a ordem dos solistas, determinar o andamento, fazer a
contagem da música, e fazer andar as coisas em geral. Não é essencial que essa pessoa seja
o melhor músico do grupo, mas deve ser alguém com algumas habilidades de organização e
liderança.
Começos
Uma vez que tenha sido escolhida uma música, é preciso ter em mente as coisas que
dissemos sobre a forma. Normalmente, o grupo tocaria primeiro a melodia. Enquanto
estiver aprendendo uma música, você pode decidir que todos toquem em uníssono, mas
deve uma hora dar a cada músico a chance de tocar a apresentação inicial do tema ("head ")
sozinho, para permitir que todos trabalhem numa manifestação pessoal mesmo quando
estiverem simplesmente tocando a melodia. Além disso, numa apresentação é geralmente
mais interessante para o ouvinte escutar a melodia interpretada por um músico, em vez de
manifesta em uníssono. Isso é especialmente verdade para baladas. Músicas rápidas de
bebop são entretanto tocadas normalmente em uníssono.
Para músicas com forma de 32 compassos, o tema head é geralmente tocado só uma vez.
Para músicas de blues ou outras formas mais curtas, ele é geralmente tocado duas vezes. As
melodias de muitas músicas acabam no penúltimo compasso da forma. Por exemplo, o
blues de doze compassos "Sandu", de Clifford Brown, acaba no primeiro tempo do décimo
primeiro compasso. Geralmente a seção rítmica para de tocar nos últimos dois compassos
da forma para permitir ao primeiro solista dois compassos desacompanhados de
"passagem", ou intervalo do solo. Em algumas músicas, como em "Moment's Notice", de
John Coltrane, esse intervalo é geralmente observado em cada chorus, mas geralmente ele
só é feito como uma passagem para o primeiro solo, ou no máximo como uma passagem
para cada solo.
Meios
Uma vez que você esteja no seu solo, estará basicamente sozinho, embora deva ouvir o que
todos os outros estão fazendo em volta de você, reagindo ao que eles estão tocando, e
conduzindo-os com sua própria música. Essa é a sua chance de aplicar as técnicas que
aprendeu até agora. Pense melodicamente. Corra riscos. Divirta-se!
Já dissemos várias vezes que um solo deve contar uma história. Isso significa que ele deve
ter uma exposição clara, desenvolvimento, clímax e desfecho. Se você fosse fazer um
gráfico do nível de intensidade de um bom solo, com frequência descobriria que ele começa
num nível baixo e lentamente cresce até um clímax, depois do qual ele relaxa rapidamente
para abrir para o próximo solista, ou seja, o que for que vier em seguida. Iniciantes
geralmente têm dificuldade de decidir o número de chorus a tocar. Isso é uma coisa que
varia de músico para músico. Charlie Parker normalmente tocava somente um ou dois em
gravações, embora isso fosse parcialmente devido às limitações do formato dos discos de
78 RPM. John Coltrane frequentemente tocava dezenas de chorus, especialmente em
apresentações. Quando há muitos solistas, você deve tentar manter o número baixo, para
evitar que todo o resto do grupo se canse. De qualquer maneira, quando você está
aproximando o final de seu solo, deve de alguma maneira transmitir esse fato aos outros
músicos para que eles possam decidir quem entra em seguida, ou se eles querem fazer um
revezamento de quatro compassos, ou eliminar a apresentação inicial do tema.
Se você pretende revezar de quatro em quatro compassos depois do último solo, alguém
geralmente indica isso mostrando quatro dedos onde todos possam vê-los. Geralmente, os
solistas tocam na mesma ordem em que eles originalmente tocaram, tocando quatro
compassos cada um. O baixista geralmente fica de lado; às vezes o pianista também.
Frequentemente, o baterista toca quatro compassos entre cada um dos outros solistas. Ainda
mais do que durante os solos originais, a intensidade das frases de quatro compassos
estarão geralmente num nível consistentemente alto, e os solistas devem tentar desenvolver
e avançar as ideias uns dos outros. Esse ciclo pode ser repetido por quanto tempo se
desejar; alguém vai geralmente apontar sua cabeça ("head" em inglês) para indicar um
retorno à head , o tema.
Fins
Os encerramentos das músicas são, sem dúvida, os mais difíceis de fazer juntos. Quando
você tiver tocado uma determinada música várias vezes com o mesmo grupo de pessoas,
pode ter preparado e ensaiado os encerramentos. Mas quando se está tocando uma música
pela primeira vez com um grupo específico, o encerramento quase sempre resulta em caos.
Há entretanto alguns truques conhecidos que você pode usar para encerrar as músicas. Uma
vez que você esteja familiarizado com os encerramentos básicos, então tudo o que é preciso
é uma pessoa que aja como líder para que todos a acompanhem.
O encerramento mais fácil, usado em músicas aceleradas de bebop, é simplesmente
encerrar a música abreviando a última nota. Isso funciona para músicas com a progressão
Rhythm, como "Oleo", e outras formas de bop, como "Donna Lee". Como uma variação,
pode-se estender a última nota por um tempo. Ou você pode abreviar a última nota, mas aí
repeti-la e estendê-la depois de uma pausa de alguns tempos. Isso é especialmente feito em
formas de 32 compassos em que a melodia acaba no primeiro tempo do compasso 31. Essa
nota é abreviada, mas aí é repetida e estendida no primeiro tempo do compasso 32, ou
como uma antecipação no quarto tempo ou no "e" do quarto tempo do compasso 31.
Outro encerramento muito usado em baladas e músicas de suingue lento é o ritardando.
Simplesmente desacelere os últimos dois ou três compassos, e acabe na última nota da
melodia, que pode ser segurada por quanto tempo for desejado. Uma variação dessa técnica
é parar na antepenúltima nota, ou em qualquer nota perto do fim que caia no penúltimo
acorde, e um solista tocar uma cadência sem acompanhamento, sinalizando ao resto da
banda para voltar a tocar com a ele na última nota.
Quando estiver tocando músicas de andamento médio ou mais rápido, um encerramento
muito usado é tocar os últimos compassos três vezes antes da última nota. Numa forma de
32 compassos, em que a última nota está no primeiro tempo do compasso 31, você tocaria a
forma até o fim do compasso 30, aí tocaria os compassos 29 e 30 novamente, e aí mais uma
vez, antes de finalmente tocar o compasso 31. Isto pode ser combinado com o ritardando ou
a cadência, ou a última nota pode simplesmente ser abreviada.
Outra abordagem é a repescagem III-VI-ii-V. Se a música acaba com uma cadência ii-V-I
nos últimos quatro compassos, então dá para substituir o acorde I final com a progressão de
quatro acordes III-VI-ii-V, que pode ser repetida várias vezes. Por exemplo, na tonalidade
de Fá Maior, se a música acabar com
| Gm7 | C7 | F | F |,
Você também pode usar substituições pelo trítono em qualquer dos acordes dominantes.
Além disso, você pode usar um acorde I (Fá Maior) no lugar do acorde A7alt. Você pode
continuar com essa progressão de acordes por quanto tempo quiser, solando ou
improvisando coletivamente sobre ela. Isso se chama um "vamp". A música é finalmente
encerrada com um acorde I, geralmente precedido por um firme movimento de mãos, para
garantir que todos acabem juntos.
Outro encerramento bem popular é às vezes chamado de encerramento Duke Ellington,
porque ele está associado aos arranjos de músicas como "Take The A Train", que foram
escritas por Duke ou executadas pela orquestra dele. Esse encerramento pressupõe que a
música acaba no primeiro tempo do penúltimo compasso da forma, mas que o último
acorde é um acorde I, e que a última nota é a fundamental daquele acorde. Pressupondo que
a música seja em Dó Maior, você simplesmente substitui os últimos dois compassos por
"Dó, Mi, Fá, Fá Sustenido, Sol, Lá, Si, Dó", em que a segunda nota é uma sexta abaixo da
primeira, e não uma terça acima. Se você tentar tocar esta linha, acho que reconhecerá o
ritmo pretendido, por isso não tentarei fazer sua notação.
Ouvindo Analiticamente
Agora que você já tem uma ideia do que é preciso para tocar jazz, deve também ter um
ouvido muito mais crítico. Você estará menos inclinado a se impressionar com a mera
facilidade técnica, e pode ouvir buscando sofisticação melódica, harmônica, e rítmica. Por
outro lado, se a música ainda o toca emocionalmente, não se preocupe se ela não parecer
particularmente audaciosa quando examinada de perto. Não deixe sua análise dos aspectos
teóricos da música interferir na sua reação num nível emocional. O conhecimento teórico
deve ser uma ferramenta para ajudar você a compreender a música que de outra maneira
talvez você não apreciasse; ele não deve afastar você do desfrute de música alguma.
Como músico, agora que você alguma ideia das coisas que se esperam que um músico de
jazz faça, você pode ouvir os grandes do jazz e aprender com eles. Você pode ouvir as
primeiras gravações dos trios de Bill Evans e ver exemplos de interação dentro da seção
rítmica, e tentar desenvolver ouvidos tão apurados quanto os deles. Pode ouvir Thelonious
Monk e analisar a maneira como ele usava dissonância e síncope, e ver se consegue realizar
os mesmos efeitos. Pode ouvir as explosões emocionais de John Coltrane ou Cecil Taylor e
expandir sua noção de até que ponto você consegue se expressar diretamente.
Quebrando as Regras
Charles Ives foi um compositor cuja música era considerada de vanguarda em sua época.
Dizem que o pai o ensinava que "você precisa aprender as regras primeiro, para que você
saiba como quebrá-las". Isso é especialmente verdade numa música como o jazz, em que se
espera que você seja constantemente criativo. Seguir as regras o tempo todo resultaria numa
música previsível e maçante. Não prestar nenhuma atenção às regras pode facilmente
resultar em música que seja no final maçante em sua aleatoriedade.
Há muitas regras e convenções que foram apresentadas aqui. Entretanto, não há penalidades
criminais por se desrespeitar nenhuma delas. Você deve experimentar tanto quanto possível
para descobrir novas maneiras de fazer as coisas. As regras de harmonia apresentadas aqui
formam uma diretriz, mas não algo rígido. Eu já sugeri que a maneira como você utiliza
essas regras vai moldar como você soa. Como você foge das regras vai do mesmo modo
definir o seu próprio estilo. Fazer experiências com as regras de harmonia, contudo, é
somente o começo da individualidade. Procure outras maneiras, menos convencionais, de
se expressar. Tente tocar as teclas do piano com o pulso. Tente soprar seu saxofone com
toda a força. Tente remover o pino da primeira válvula de seu trompete. Há um número
infinito de possibilidades do que você pode fazer com seu instrumento.