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Resenha - O Próprio e o Alheio, de Tânia Carvalhal

1) O livro O próprio e o alheio: Ensaios de literatura comparada reúne onze ensaios da autora Tânia Franco Carvalhal sobre diversos aspectos da literatura comparada no Brasil e no mundo. 2) Os ensaios abordam temas como teorias em literatura comparada, relações com a globalização e interdisciplinaridade, Weltliteratur, períodização e regionalização literárias. 3) A obra teve o objetivo de ampliar a bibliografia básica da literatura comparada no Brasil e contribuiu para sistem

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Resenha - O Próprio e o Alheio, de Tânia Carvalhal

1) O livro O próprio e o alheio: Ensaios de literatura comparada reúne onze ensaios da autora Tânia Franco Carvalhal sobre diversos aspectos da literatura comparada no Brasil e no mundo. 2) Os ensaios abordam temas como teorias em literatura comparada, relações com a globalização e interdisciplinaridade, Weltliteratur, períodização e regionalização literárias. 3) A obra teve o objetivo de ampliar a bibliografia básica da literatura comparada no Brasil e contribuiu para sistem

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CARVALHAL, Tânia Franco. O próprio e o alheio: ensaios de literatura


comparada. São Leopoldo: Editora Unisinos, 2003.

Seguindo sua vasta produção na seara da literatura comparada, a


comparatista, professora, pesquisadora, crítica literária, escritora e fomentadora de
debates fundamentais para a divulgação da literatura comparada Tânia Franco
Carvalhal (1943-2006) escreveu O próprio e o alheio: Ensaios de literatura
comparada. Responsável, entre outros feitos, por fundar a Associação Brasileira de
Literatura Comparada (ABRALIC) — associação civil sem fins lucrativos, de caráter
cultural, que congrega professores universitários, pesquisadores e estudiosos de
literatura comparada no Brasil — Carvalhal era formada em Letras, mestre em
Literatura Brasileira e doutora em Teoria Literária e Literatura Comparada pela
Universidade de São Paulo (USP). Atuou como professora em diversas instituições
de ensino superior, dentro e fora do país. Entre seus vários livros, encontram-se, por
exemplo, Literatura Comparada: textos fundadores, que organizou em parceria com
Eduardo F. Coutinho; Literatura Comparada; e O próprio e o alheio: Ensaios de
literatura comparada, obra abordada nesta resenha crítica.
Publicado no ano de 2003 pela editora Unisinos (RS), o livro O próprio e o
alheio: Ensaios de literatura comparada está dividido em onze títulos, nos quais
Carvalhal discorre sobre aspectos diversos da literatura comparada no Brasil e no
mundo: múltiplas faces do fenômeno literário; teorias em literatura comparada;
relações com temas como globalização, interdisciplinaridade, cultura; prática
comparatista; entre outros. Os temas abordados dialogam entre si, tornando a obra
integralmente coerente — um feito admirável, dada a não-sincronia da escrita dos
textos que a compõem.

Como anunciam o título e a introdução da obra, ela consiste numa coletânea


de textos elaborados para eventos diversos, como palestras, aulas e apresentações
em congressos, em diferentes momentos da vida de Carvalhal. O livro foi publicado
a fim de ampliar a bibliografia básica da disciplina de literatura comparada no Brasil
— escassa, em parte devido à sua recente instituição como campo de estudos no
mundo dos estudos literários: o que ocorreu, de fato, no último decênio do século
XX. A comparatista seguiu à risca, ao longo de sua carreira, essa missão de ampliar
a bibliografia da disciplina. Nos parágrafos iniciais da introdução, Carvalhal anuncia
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sinteticamente que: “ao reunir estudos resultantes de uma atuação contínua em


literatura comparada, compreendida como prática crítica e campo de investigação
teórica, esta publicação tem o propósito de ser útil” (p. 8). ‘

O primeiro artigo da obra, intitulado Teorias em literatura comparada, analisa


as transformações pelas quais a disciplina passou ao longo de sua sistematização,
em face de seu diálogo com outros estudos literários, como a crítica, as teorias e a
historiografia literárias. Nesse texto, um dos momentos em que fica evidente a
pluralidade dos estudos na disciplina é o debate quanto à sua própria nomenclatura.
Carvalhal aponta que alguns estudiosos propõem alternativas diversas ao termo
literatura comparada, como: comparatismo literário, literaturas comparadas (no
plural), crítica comparada, poética comparada, estudos literários comparados, entre
outros. Esse apanhado de reflexões do artigo funciona, brilhantemente, como
introdução para os demais títulos do livro.

Comparatismo e interdisciplinaridade, o título seguinte, examina as


possibilidades de expansão das áreas de atuação da disciplina, partindo justamente
da relação estabelecida com suas interfaces. A autora afirma que, se em suas
origens a literatura comparada tinha sua especificidade na restrição de sua atuação,
atualmente ocorre o oposto: “essa mesma especificação é lograda pela atribuição à
literatura comparada da possibilidade de mover-se entre várias áreas, apropriando-
se de diversos métodos, exigidos pelos objetos que coloca em relação” (p. 35). No
texto, Carvalhal cita, por exemplo, a música na obra de Machado de Assis para
ilustrar as relações interdisciplinares a que o título do texto se refere.

O terceiro estudo, Literatura comparada e globalização, ocupa-se de traçar


paralelos entre a globalização, a mundialização cultural e os problemas que de
ambas derivam e as indagações relacionadas à prática comparatista. A
multiplicidade e heterogeneidade culturais, tratada nesse texto a partir do velho e do
novo, dá o tom dos próximos títulos, que tratam de conceitos como intertextualidade
e Weltliteratur.

Intertextualidade: a migração de um conceito, quarto estudo da obra, a autora


retoma o conceito de globalidade (globalização), associando-o aos conceitos de
“comunidade” e “continuidade”, que, por sua vez, relacionam-se à definição de
intertextualidade. Carvalhal afirma, com propriedade, que intertextualidade é um dos
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princípios básicas da teoria textual, sendo, portanto, útil ao estudo das relações
literárias empreendido pelo comparatista. A comparatista traz a seguinte definição
para esse termo, com base em Kristeva: a intertextualidade “é explicada como uma
propriedade do texto literário, que ‘se constrói como um mosaico de citações, como
absorção e transformação de outro texto’” (p. 72). Ao longo do texto, Carvalhal
estabelece reflexões de suma relevância para os estudos em literatura comparada e
para os próprios comparatistas, explorando o papel da intertextualidade atrelada à
essa disciplina.

No texto seguinte, intitulado A Weltliteratur em questão, a autora aborda esse


termo, que definiu prévia e brilhantemente na introdução do livro: “pensar hoje esse
termo significa articular a reflexão sobre o universal com outros dados como o local,
o nacional, o familiar, o marginal, o institucional, o universal e noções como as de
particular e geral” (p. 9). O título é composto de quatro subtítulos, que conferem uma
noção geral das nuances desse texto, a saber: Literatura mundial, cânone e valor; A
noção revista; Um plural combinatório das diferenças; Os novos fatores em jogo.

O sexto estudo trata, como aponta seu título, da Periodização e


regionalização literárias. Como a própria comparatista afirma, esses temas são
essenciais para tecer reflexões quanto à historiografia literária. Nesse texto,
examinam-se conceitos básicos como “o discurso da intermediação”, com base nas
contribuições de Otto Maria Carpeaux aos estudos críticos e historiográficos
brasileiros. Esse título fomenta o próximo estudo, que trata do “próprio” e do “alheio”
na literatura do Brasil.

Parte do título do estudo seguinte é, também, parte do título da obra em si: O


próprio e o alheio no percurso literário brasileiro. Esse texto trata de um problema
central para a investigação comparatista: a constituição das literaturas, levando em
conta os processos de apropriação do estrangeiro para a construção do particular,
tema muito estudado por teóricos como o brasileiro Antonio Candido. No estudo,
Carvalhal cita a polêmica entre os escritores José de Alencar e Joaquim Nabuco
acerca do nacionalismo literário, que é resgatada através da leitura de Quarup, obra
de Antonio Callado.

No oitavo estudo, Fronteiras da crítica e crítica de fronteiras, são tratados


temas, que seguem muito pertinentes, dezesseis anos após a publicação da edição
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da obra aqui resenhada. Talvez seja possível dizer que tais assuntos são, hoje,
ainda mais discutidos que na época em que Carvalhal, refletindo além de seu tempo,
abordou-os: “o incerto, o híbrido, o reconhecimento do apagamento das margens, a
alteração dos conceitos de centro e periferia” (p. 10).

O texto a seguir, Memória e discurso da intermediação, trata, em suma, de


temática que gira em torno da premissa de que a intermediação é necessária à
memória. Em outras palavras, a continuidade histórica é estabelecida no sujeito,
fixado num ponto — o meio — e na leitura crítica. Essa leitura crítica vê,
simultaneamente, passado e presente e termina por interligá-los.

O décimo estudo, Literatura comparada e estudos culturais, tem como tema a


relação entre literatura comparada e os estudos culturais, apontando a
complementaridade de ambos os estudos. Vale ressaltar que, novamente, a
comparatista estava a frente de seu tempo, vislumbrando rumos que, anos depois,
tornar-se-iam muito fortes e relevantes na disciplina. Nesse título, Carvalhal discorre
sobre temas como multiculturalismo, pós-colonialismo e conflito de etnias.

O último texto do livro, Tradução e recepção na prática comparatista, aborda


os pormenores da literatura comparada e da prática do comparatista frente aos
desafios impostos pelo elemento tradução nas obras literárias a serem analisadas.
Segundo a autora, a tradução denota a irreconciliáveis diferenças entre línguas,
linguagens e afins.

Em suma, evidenciam-se, através da O próprio e o alheio: Ensaios de


literatura comparada, aspectos que tornam Carvalhal uma das mais importantes
estudiosas da literatura comparada, não apenas do Brasil como do mundo. Seus
esforços, ao longo da vasta e rica carreira, a fim de sistematizar identidade e
bibliografia para a literatura comparada enquanto campo de estudo autônomo e
relacionável a outras disciplinas é de grande relevância para os estudos literários
como um todo. Desse modo, esse livro e suas outras obras consistem em fontes de
pesquisa e estudo fundamentais para estudantes de literatura comparada e
comparatistas.

Paola Cristina Ribeiro Marcellos


Discente de Letras-Inglês (Licenciatura)
Instituto Federal de Brasília (IFB), Campus Riacho Fundo
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Referências Bibliográficas

BUNGART NETO, P. Augusto Meyer proustiano: a reinvenção memorialística


do eu. Rio Grande do Sul: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2007.

COUTINHO, Eduardo F. Tânia Carvalhal e as trilhas do comparatismo: esboço


de um perfil. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, Via Atlântica,
nº 9 jun/2006.

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