A Europa nos séculos XVII e XVIII – sociedade, poder e dinâmicas coloniais
A população da Europa nos séculos XVII e XVIII: crises e crescimento
Quais os fatores que provocam estes ciclos de crescimento e depressão
demográficas?
Base económica agrícola;
Deficiências tecnológicas (utensílios rudimentares, falta de fertilizantes e
inseticidas);
Variações climáticas;
Os agricultores viviam à mercê da fertilidade natural da terra.
Quais são as principais características?
Economia pré-industrial: sistema económico caracterizado pela prevalência da
agricultura e por debilidades tecnológicas;
A produção depende do trabalho humano;
Na Europa pré-industrial existem ciclos de crescimento demográfico que
alternam com os ciclos de crise;
Os recursos alimentares disponíveis limitam a possibilidade de crescimento
demográfico;
O equilíbrio entre os alimentos disponíveis e a população existente rompe-se
com frequência;
O preço dos cereais sobe, a fome e a morte ceifam os mais pobres;
Os picos de aumento de mortalidade são uma característica do modelo
demográfico do Antigo Regime.
Estratificação social e poder político nas sociedades do Antigo Regime
O Antigo Regime refere-se ao sistema social, político, económico e demográfico
que entre os séculos XVI a XVIII vigorou na maior parte dos países europeus.
É caracterizado pela existência de regimes centralizados e absolutistas, em que
o poder estava concentrado nas mãos do rei.
A sociedade está organizada em ordens ou estados, politicamente está
dominada pelas monarquias absolutas e do ponto de vista económico
desenvolve-se o capitalismo comercial.
O que é uma ordem ou estado?
É uma categoria social definida pelo nascimento e pelas funções sociais que os
indivíduos desempenham;
A cada ordem corresponde um estatuto jurídico diferente que confere aos seus
membros determinadas honras, direitos e deveres;
Existe uma distinção entre os grupos privilegiados (clero, nobreza) e o povo que
não tinham privilégios.
As ordens distinguem-se pelo traje e pela forma de tratamento.
Quais são as ordens existentes?
A sociedade divide-se em três ordens ou estados: Clero, Nobreza e Terceiro
Estado.
Esta organização social é herdada da Idade Média, no entanto ao longo dos
séculos estas ordens foram-se fracionando em diversos grupos diferentes, cada
um com o seu próprio estatuto.
O clero ou o primeiro estado
É o estado mais digno porque é aquele que está mais próximo de Deus;
Privilégios:
Isento de impostos;
Isento de prestar serviço militar;
Lei privada, “foro eclesiástico”, os seus membros regem-se por leis inscritas no
Direito Canónico, são julgados em tribunais próprios;
Privilégio de conceder asilo aos fugitivos;
Não são obrigados a alojar os soldados do rei.
O clero é uma ordem rica:
Grandes proprietários;
Recebem um imposto a dizima (décima de Deus);
Recebem muitas outras doações, prendas e heranças.
É o único estado a que não se acede por nascimento mas sim pela tonsura;
Fazem parte do clero membros de todos os grupos sociais mas ocupam cargos
distintos;
O Alto Clero (cardeais, arcebispos, bispos e abades dos mosteiros)
É fundamentalmente constituído pelos filhos segundos da nobreza;
Vivem luxuosamente;
Desempenham cargos na Corte e na administração central;
Muitos são professores nas Universidades;
O Baixo Clero (padres das paróquias)
É na maior parte dos casos, constituído por pessoas do povo;
São pouco instruídos, salvo raras exceções;
Clero Regular (monges que vivem em conventos)
Vai perdendo, pouco a pouco, a importância económica que tivera na Idade
Média, no entanto o seu número vai aumentando.
Nobreza ou segundo estado
A nobreza beneficiava dos cargos mais importantes quer na administração central quer
no exército;
Os seus membros ocupam os cargos mais importantes da Igreja;
Tem um regime jurídico (leis) próprio;
São grandes proprietários fundiários; Estão isentos de impostos;
Cobram rendas e direitos senhoriais como a corveia aos camponeses;
Têm direito ao porte de espada;
A nobreza também apresenta estatutos diferentes:
A nobreza de sangue ou nobreza de espada:
São as velhas famílias, constituem o topo deste grupo social (príncipes, duques,
condes, marqueses), vivem na Corte e convivem com o monarca, ocupam os
cargos principais;
Pequena nobreza rural:
Têm dificuldades para conseguir os rendimentos necessários para manter uma
vida condizente com a sua posição;
Nobreza de toga:
Uma nobreza que tinha origem na burguesia letrada que foi chamada a ocupar
cargos administrativos no governo central e foram agraciados pelo rei com um
título nobiliárquico.
O Povo ou Terceiro Estado
É a ordem mais heterogénea, desde burgueses ricos e letrados que algumas
vezes forma promovidos pelo rei à nobreza até pessoas que viviam numa
miséria extrema;
Homens de letras:
Professores das universidades
Cargos administrativos
Ofícios:
Considerados superiores como de joalheiro, boticário, etc.;
São os burgueses, a elite do Terceiro Estado;
Lavradores:
Possuem terras próprias;
“Ofícios Mecânicos”:
Os artesãos;
Assalariados:
Trabalham por um salário;
Mendigos, vagabundos e indigentes:
Não trabalham
Todos os membros do Terceiro Estado, ricos ou pobres, pagam impostos;
Os camponeses representam 80%, ou mais, da população;
A mobilidade social
Cada grupo social tinha os seus comportamentos e vestuários próprios;
A Igreja continuava a afirmar que a cada ordem correspondia uma tarefa social
(clero-rezar; nobreza-combater; povo-trabalhar), e por isso validava a
desigualdade entre pessoas e a existência de ordens privilegiadas e outras não;
Cada um vestia-se conforme o seu estatuto:
A nobreza usava espada e roupas feitas de tecidos caros;
O clero era identificado pela tonsura (o alto da cabeça rapado);
Em locais públicos os não privilegiados tinham de se afastar e dar passagem aos
privilegiados;
Os membros do povo só se podiam falar com os privilegiados se expressamente
autorizados para tal;
Aos privilegiados não eram aplicados castigos corporais.
Se condenados à morte, as pessoas do povo eram enforcadas e as da nobreza
decapitadas;
A mobilidade social era muito difícil devido ao facto do nascimento marcar o
grupo social de cada um;
Só o rei podia decidir a mudança de estatuto de alguém;
A burguesia tentou subir na sociedade através do casamento, muitos nobres
arruinados casavam com burgueses endinheirados para recuperar as suas
finanças;
Por outro lado, a cada vez maior complexidade de governar um país levava a
que muitos burgueses ocupassem cargos importantes no Estado;
Esta ascensão social foi lenta, com avanços e recuos;
A nobreza permaneceu agarrada aos seus privilégios que lentamente foi
perdendo;
A burguesia foi ascendendo fruto do seu progressivo enriquecimento através
das atividades comerciais e financeiras;
Na Inglaterra e Holanda a ascensão da burguesia foi mais rápida enquanto
noutros países como a França, Portugal ou Espanha a sociedade de ordens
manteve-se durante mais tempo.
O absolutismo régio
As monarquias absolutas concentram no rei todo o poder do Estado:
Executivo
Legislativo
Judicial
Tal é legitimado por ser essa a vontade de Deus
Não existem quaisquer impedimentos à governação do monarca com exceção
das leis de Deus;
O clérigo francês Bossuet foi um dos principais teorizadores do absolutismo, segundo
ele as principais características do poder absoluto são as seguintes:
É sagrado:
provém de Deus que conferiu aos monarcas o poder para estes governarem em
seu nome
É incontestável:
O rei deve ter a obrigação de governar para o bem da população e da Nação;
É paternal:
O rei era uma espécie de pai dos seus súbditos e, na governação, deve ter em
conta o bem estar do povo;
É absoluto:
O rei não tem de prestar contas a ninguém das suas ações, deve assegurar o
respeito pelas leis de maneira a criar justiça no seu reino;
Está submetido à razão:
É esta inteligência que lhe permite governar e fazer o povo feliz.
Deve demonstrar certas qualidades como bondade, firmeza, força de carácter,
prudência e capacidade de previsão.
O rei concentra todo o poder do estado, ele governa (poder executivo), julga
(poder judicial) e faz as leis (poder legislativo);
O rei substitui o estado, daí a célebre afirmação de luís xiv, “o estado sou eu”;
não existe qualquer organismo que controle o seu poder.
No entanto nenhum desses organismos foi realmente abolido;
O rei era o único garante da ordem social, jura-o na cerimónia da sua coroação;
qualquer tentativa de alterar este estado de coisas é considerado um
desrespeito e uma traição.
As cortes régias, durante o absolutismo adquirem uma grande importância;
Tornam-se um espelho do poder: Versalhes
O rei francês, Luís XIV, o exemplo do monarca absoluto, funda Versalhes;
Vivia-se num clima de luxo e festa permanente, a nobreza arruinava- se para
manter o seu nível de vida e passava a depender da distribuição de dinheiro
por parte do rei;
Na corte existiam uma hierarquia, normas e uma etiqueta extremamente
rígidas;
Esta sociedade de corte servia de modelo a toda a realeza europeia;
Os monarcas favoreciam a sua existência pois era uma forma de controlarem a
principal nobreza do seu país.
O quotidiano em Versalhes era uma encenação do poder e da grandeza do rei;
Sociedade e poder em Portugal
A sociedade portuguesa apresenta as características do Antigo Regime com as
suas especificidades;
Após a Restauração de 1640, Portugal torna-se novamente independente, após
60 anos de domínio filipino (Castela);
A nobreza portuguesa revoltou-se e restaurou a monarquia na pessoa do
Duque de Bragança;
Seguiu-se um período conturbado, com uma guerra com Castela e com a
deposição do rei Afonso VI;
A nobreza portuguesa, nos finais do século XVII, detinha o poder;
O Império ultramarino português nunca esteve baseado na existência de uma
burguesia mercantil;
Os cargos desse império foram preenchidos pela nobreza;
O rei usou esses cargos para recompensar a nobreza portuguesa;
Os nobres, tratavam de enriquecer às custas dos interesses do reino;
Apesar das muitas críticas, a nobreza manteve até meados do século XVIII,
praticamente em regime de exclusividade, o acesso a esses cargos no ultramar;
Em Portugal, a nobreza fundiária, para além dos rendimentos da terra, tem
acesso a outros rendimentos proporcionados pelos cargos e pela prática do
comércio;
É uma nobreza mercantilizada, no entanto, ao contrário da burguesia, aplicava
os seus lucros na compra de mais terras ou, ainda mais frequentemente,
gastava os seus lucros na ostentação e luxo;
A nobreza portuguesa nunca revelou uma mentalidade capitalista na
exploração do comércio colonial; Fruto desse domínio da nobreza a burguesia
portuguesa teve muitas dificuldades para se afirmar
A criação do aparelho burocrático do Estado absoluto português
Após a Restauração da independência de 1640, os monarcas portugueses
reorganizaram a burocracia do Estado adaptado às necessidades da
centralização do poder;
D. João IV criou a base da administração central, as secretarias, bem como
outros órgãos administrativos (Conselhos, Mesas e Juntas);
O rei delegava nestes órgãos funções governativas;
Ao longo dos séculos XVII e XVIII a administração foi-se aperfeiçoando;
As Cortes, reúnem-se raramente (pela última vez em 1697) e perdem
importância;
O absolutismo joanino
Foi D. João V, admirador de Luís XIV, que em Portugal melhor encarnou o ideal
absolutista;
Procedeu a uma reforma administrativa no sentido de melhor controlar o
governo do país;
No entanto a burocracia continuava pesada e lenta;
D. João V não reuniu as Cortes no seu reinado;
Copiando Luís XIV, afirmou-se através do luxo, da etiqueta, da teatralização do
poder, ou seja através da criação de uma sociedade de corte;
O rei é o centro do poder;
Foi favorecido pela descoberta de ouro no Brasil que vai tornar possível a
ostentação do rei que sobretudo se evidenciaram nas cerimónias públicas e nas
embaixadas enviadas ao estrangeiro;
Pratica o mecenato das artes e das letras (Fundou a Real Academia de História,
apoiou a Biblioteca da Universidade de Coimbra);
Inicia uma política de grandes construções (Construção do Palácio- Convento
de Mafra, remodelação do Paço da Ribeira. Aqueduto das Águas Livres, etc.);
Perante os vários conflitos que nessa época se desenrolaram promoveu a
neutralidade do país;
Recebeu do Papa o título de Fidelíssimo e o arcebispo de Lisboa foi elevado à
categoria de Cardeal-patriarca;
Atraiu para a corte portuguesa artistas portugueses e estrangeiros que irão
contribuir para o desenvolvimento do Barroco português, sobretudo os
italianos.
A Europa dos Parlamentos: sociedade e poder político
Em 1568, os Países Baixos do Norte (Holanda) revoltaram-se contra o domínio
Espanhol.
A declaração de independência originou uma guerra com Espanha;
As Províncias Unidas formaram uma república formada por 7 províncias sobre a
a Holanda;
Esta república, demonstrou grande tolerância religiosa e respeito pela
liberdade individual e de pensamento que criava um grande contraste com a
maioria dos países europeus que eram governados por governos absolutos;
Formaram uma República Federal (Federação de Estados), cada província tinha
alguma autonomia em relação ao governo central, cada província tem o seu
próprio governo.
A República das Províncias Unidas era uma federação de estados com uma
estrutura bastante descentralizada;
Os cargos políticos eram disputados pela nobreza e pela burguesia;
Os nobres desempenhavam, as funções militares.
As famílias burguesas dominavam os cargos políticos das províncias e da
República;
Forma-se uma elite burguesa que assume o controlo político das Províncias
Unidas;
Muitos deles abandonam os negócios e dedicam-se em exclusivo à política;
Os interesses do estado eram os interesses do comércio;
As Províncias Unidas vão-se tornar uma grande potência marítima e colonial;
Luís XIV, chamava-lhes de forma depreciativa “República de mercadores”.
Nos finais do século XVI, vários países, sobretudo os holandeses, procuravam
ter acesso a esse mares e contestavam esta divisão dos mares entre os reinos
ibéricos;
As pretensões ibéricas baseavam-se na primazia da descoberta;
Estes direitos à muito que vinham a ser contestados por vários países e pela
atividade de corsários;
Com o desenvolvimento do seu poderio comercial, os Holandeses, nem sempre
defenderam e puseram em prática as ideias de liberdade dos mares, e muitas
vezes defenderam os seus interesses económicos pela força das armas;
A recusa do absolutismo na sociedade inglesa
Desde a assinatura da Magna Carta (1215) o rei inglês viu os seus poderes
limitados, este documento, proibia o monarca de lançar impostos ou novas leis
sem o consentimento do Parlamento;
O que é um Parlamento?
É uma assembleia política que na maior parte dos casos tem uma função
legislativa.
O Parlamento inglês data da assinatura da Magna Carta em 1215;
Sufrágio censitário - O parlamento português é a Assembleia da República é a
concessão do direito do voto apenas àqueles cidadãos que atendem certos
critérios normalmente de ordem económica
Quando no século XVII o absolutismo se impôs na Europa, os reis ingleses,
Jaime I (1603-1625), Carlos I (1625-1649) e Jaime II (1685- 1688), tentaram
governar de forma absoluta o que desencadeou a violência na sociedade;
Às questões políticas juntam-se as de ordem religiosa, pois os ingleses estavam
divididos entre protestantes que apoiavam o Parlamento e os Católicos que
apoiavam o rei;
As diferenças entre o Rei e o Parlamento agudizaram-se no reinado de Carlos I,
face às ilegalidades cometidas pelo soberano e perante a reação do Parlamento
inglês;
Em 1628, Carlos I, é obrigado a assinar a Petição dos Direitos em que se
comprometia a respeitar as leis, e impede-o de proceder a prisões arbitrárias
bem como lançar impostos sem o consentimento do Parlamento;
Carlos I, dissolve o Parlamento e começa a governar de modo absoluto;
Em 1642 eclode uma guerra civil entre os apoiantes do parlamento e os do rei;
A guerra termina em 1649 com a execução do rei;
As lutas e divisões no Parlamento levaram Cromwell a instaurar um governo
ditatorial a partir de 1653; Encerra o Parlamento e, sob o título de Lord
Protector, organiza um governo pessoal e repressivo;
Cromwell morre em 1658 e a monarquia é restaurada, sobe ao trono Carlos II,
filho do Carlos I;
A Carlos II, sucede-lhe Jaime II, católico pretende restaurar o catolicismo e
governar de modo absoluto;
Em 1688, desembarcou em Inglaterra à frente de um exército e Jaime II, sem
apoiantes, abandonou o país;
Esta revolução, a Glorius Revolution, contribui para a consolidação do regime
parlamentar;
Guilherme de Orange, em 1689, assinou a Petição dos Direitos que confirma a
monarquia controlada pelo Parlamento, reafirma os princípios das liberdades
individuais, reconhece a liberdade de culto para os protestantes, impede o rei
de lançar impostos sem o acordo do parlamento e reconhece a independência
do poder judicial;
Em 1695 é abolida a censura e é estabelecido o direito de livre reunião;
O poder do rei era controlado pelos seus súbditos representados no
Parlamento, este passa a ter as funções legislativas do Estado, ficando o
monarca com as funções executivas.