SBP + AULA - PEDIATRIA - NATÁLYA LARYSSA - 2019.
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DOENÇA DO REFLUXO GASTRO OFÁGICO
● Refluxo Gastroesofágico
(RGE) = passagem do
conteúdo gástrico para o
esôfago com ou sem
regurgitação ou vômitos.
● RGE Fisiológico = normal,
regurgitação e/ou vômitos
diários ou não, ou mesmo
assintomáticos, geralmente
de curta duração (<3min),
pós prandial, sem acarretar
nenhum incômodo ou
repercussão nos hábitos de
sono. Em crianças, pela
imaturidade.
● Doença do Refluxo
Gastroesofágico (DRGE) = é o
RGE associado a sintomas
e/ou complicações.
Regurgita perto ou longe
das mamadas, criança não
quer mama, tem sono agitado - ruminando ou gemendo durante sono, e ainda pode ter ronco ou
até asma.
○ afeta até 60% de todos os lactentes e inicia-se antes de oito semanas. 90-95% dos casoso
resolvem até o primeiro ano de vida.
MECANISMOS DE BARREIRA ANTIRREFLUXO
➔ diafragma: comprime e reduz luz durante tosse ou esforço físico
➔ ligamento frenoesofágico: impede ascensão do EEI para região torácica
➔ esfíncter esofágico inferior: musculatura circular que mantém fechado e abre durante deglutição
➔ ângulo de His: angulação entre esôfago abdominal e fundo gástrico. Praticamente não existe nos
menores, por isso é mais comum ter refluxo fisiológico nos lactentes.
◆ DRGE ocorre quando além da falha dos mecanismos de barreira antirrefluxo se tem o
desequilíbrio dos mecanismos de defesa e agressão.
DEFESA AGRESSÃO
- clareamento esofágico - empurram - frequência do RGE
alimento para baixo, depois que - relaxamento transitório do EEI
empurra, esfíncter fecha: - hipotonia do EEI
- secreção salivar - hérnia hiatal
- peristaltismo esofágico - aumento da Pabdominal
(clearance esofágico) - esvaziamento gástrico lento
- gravidade (quando mamam - composição do RGE
deitados tem mais facilidade de - HCI, pepsina, ácidos biliares e
ter refluxo) tripsina (refluxo
duodenogástrico)
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QUADRO CLÍNICO
RGE - bebê regurgitado feliz
- Inicia pelo 2º- 4º mês de vida
- Pico entre 4º - 5º mês
- Reduz em torno de 1 ano
- Vômitos/regurgitações após as mamadas ou horas após
- Bom ganho de peso
- Sem sinais de alarme
- O bebê que teve RGE não necessariamente vai ter DRGE no futuro. Os vômitos podem ser de
pequena ou grande quantidade.
DRGE
- Recusa alimentar (para de mamar - empurra o peito, chora e começa a mamar, mas depois para e
não aceita mais)
- Vômitos/regurgitações
- Baixo ganho de peso
- Irritabilidade/choro
- Alterações do sono (sono gemente, se mexe muito, não consegue dormir deitado)
- Sintomas respiratórios (sempre secretivo e ronca muito)
- Apnéia/soluços
- Posição de Sandifer (pescoço para trás como mecanismo de defesa)
SINAIS DE ALARME
- Investigar também outras causas como: neuropatia, APLV, ITU, TORCHS, Erro inato do metabolismo.
Abaulamento de fontanela Hepatoesplenomegalia
Convulsões Letargia
Diarreia Macro/microcefalia
Distensão abdominal Perda de peso
Febre Parada crescimento
Hematêmese/hematoquezia Vômitos biliosos
Início de vômitos após 6 m Anemia importante
DRGE EM CRIANÇAS MAIORES E ADOLESCENTES
- Em lactentes, DRGE é curável. Já em crianças > 1 ano, adolescentes e adultos, não é;
- Períodos de remissão e recidiva
- Mais frequente evoluir para cronicidade
- Se não tiver sinal de alarme, já pode iniciar o teste terapêutico.
- Geralmente os sintomas são suficientes para o diagnóstico
- As principais manifestações clínicas do TGI são azia, dor retroesternal ou epigástrica.
DRGE SINAIS DE ALARME
Dor abdominal / retroesternal Perda de peso
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Vômitos / regurgitação Disfagia
Queimação retroesternal (azia ou pirose) Entalo
Pigarro - investigar dx diferenciais: ESOFAGITE
Mau hálito EOSINOFÍLICA, HÉRNIA DE HIATO,
Vômitos noturnos ACALASIA, ESTENOSE PÉPTICA.
GRUPOS DE RISCO - + grave e difícil tto, podem acabar indo para cirurgia
- Neuropatas e pós operados de atresia de esôfago → dismotilidade esofágica, diminuição do
clareamento esofágico e disfunção de EEI (esôfago mais preguiçoso).
- Pneumopatas → tosse crônica reduz pressão torácica e aumenta pressão abdominal
- Quimioterapia → vômitos recorrentes
- Hérnia de hiato → facilidade do retorno do conteúdo gástrico
- Obesidade
- Prematuridade
- Fibrose cística ou displasia broncopulmonar
- Antecedente familiar de DRGE
- Malformação congênita de TGI alto - hérnia hiatal, hérnia diafragmática, atresia esofágica, fístula
traqueoesofágica.
SINTOMAS EXTRADIG TIVOS E ATÍPICOS QUE DEVE-SE COGITAR INV TIGAR DRGE
- Asma de difícil controle SIM
- Sibilância de difícil controle SIM - não dá dx de asma em < 3 meses. É um lactente sibilante. Pensar
naqueles que não respondem ao tto, que está estão no último step e continuam com crises.
- Pneumonia recorrente SIM – NEUROPATAS OU DOENÇAS MUSCULARES
- Crises de apneia SIM
- Erosões dentárias SIM
- Evento de quase morte súbita - ALTE (eventos com aparente risco de vida) NÃO - bradicardia,
cianose, palidez, perda de força muscular (por alteração dos canais de cálcio do coração) →
melhora quando coloca para dormir de barriga para cima.
- Tosse crônica, rouquidão, eritema de laringe, sinusite e otite média serosa NÃO
DIAGNÓSTICO - a suspeita dx deve ser fundamentalmente clínica
● Para selecionar pacientes que necessitam de tto, prescrever tto mais adequado, evitar uso
desnecessário de medicações em paciente portadores de RGE fisiológico.
● Em crianças maiores e adolescentes, a história e o EF são geralmente suficientes para dx e iniciar tto.
● Anamnese e EF são importantes para excluir outras causas e identificar complicações.
● Crianças > 2 anos, sem sinais de alarme e com clínica clássica não precisam de exames
complementares. Parte para teste terapêutico e dá dx.
EXAM COMPLEMENTAR - não dão dx de DRGE
- RX Esôfago/Estomago/Duodeno (RX EED): Solicitado para descartar anormalidades anatômicas como
estenose, hérnia de hiato ou má rotação. Para lactentes que começaram a regurgitar muito cedo e que
não estão ganhando peso. Apresentar episódio de regurgitação no momento do exame, não quer dizer nada.
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- US Abdome: Solicitado em casos selecionados para descartar estenose hipertrófica de piloro
- Cintilografia Esofagogástrica: Solicitada para avaliar aspiração pulmonar naqueles com sintomas
respiratórios crônicos e para avaliar esvaziamento gástrico – teste normal não exclui aspiração
pulmonar e esvaziamento gástrico lentificado não confirma DRGE. Para pacientes com sintomas
pulmonares ou gastroparesia.
- Manometria Esofágica: Solicitada para pacientes com quadro sugestivo de dismotilidade esofágica
(disfagia/odinofagia). Faz DxD com acalasia se paciente tiver disfagia, entalo ou perda de peso muito grave.
➔ Os 3 exames mais indicados são: PHMETRIA ESOFÁGICA / IMPEDANCIOPHMETRIA / ENDOSCOPIA
DIGESTIVA ALTA.
- não tem padrão outro para dx de DRGE
- depende do quadro clínico da criança. Por exemplo:
- vomita e entala → EDA (descarta esofagite erosiva)
- Não há manifestação clara de regurgitação → pHmetria
- Neuropata ou paciente que se movimenta muito → pHmetria não seria possível.
pHmetria
- Avalia o paciente em condições fisiológicas
- Para crianças que colaborem
- Correlaciona os episódios com sinais e sintomas
- Não detecta refluxos não ácido ou fracamente ácidos
- Indicações: avaliar sintomas atípicos ou extradigestivos; pesquisar refluxo oculto; avaliar resposta ao
tratamento nas DRGE de difícil controle; avaliar pré e pós operatório; ver relação temporal entre
refluxo e sintomas
- Tem valores de referência estabelecidos em crianças (pH < 4,0 teve RGE)
- Difícil fazer em criança muito agitada.
- Em menores que 6 meses não capta.
Impedanciometria
- Detecta pH ácidos e não ácidos. Sólidos, líquidos ou gasosos.
- Sempre utilizado em conjunto com monitorização do pH – IMPEDANCIOPHMETRIA
- Limitação: até o momento não tem valores de referência para crianças
- Padrão ouro em adultos. Exame que dá dx mais fidedigno.
Endoscopia digestiva alta
- Possibilita diagnosticar complicações – esofagite/estenose péptica/esôfago de Barret
- Ajuda no diagnóstico diferencial com outras doenças – Esofagite eosinofílica(EEo)/Esofagite fúngica/
Úlcera duodenal/Gastrite por H. pylori/Neoplasias
- Exame normal não significa que não tenha DRGE.
TRATAMENTO
Medidas comportamentais Terapia medicamentosa Técnica cirúrgica
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No lactente
RGE FISIOLÓGICO - “happy spitter”
- Em geral antes do final do primeiro ano de vida.
- Tranquilizar e acolher os pais
- Orientar quanto a benignidade e melhora com o crescimento.
- Quando alimentação é mantida, boa aceitação alimentar e ganho de peso adequado, dx pende para
RGE fisiológico.
- Só medidas comportamentais já podem ser suficientes.
- RGE melhora com 6 meses a 1 ano naturalmente
- Retornos frequentes para avaliar sinais de alarme e ganho de peso (15 a 20 dias)
- Orientar técnica correta de amamentação e medidas comportamentais: regrar bebê para mamar de
3/3h, deixar na vertical por 30 minutos após mamada, evitar chacoalhar, deitar, trocar fralda
após mamada. Em períodos de sono → decúbito dorsal com elevação de 30 a 40°.
- Fórmulas AR (anti-regurgitação) : leite que é líquido, mas ao chegar no estômago vira goma com a
acidez, que não volta. Tem só efeito cosmético, para mãe não ver leite voltando, ou seja, NÃO
TRATA. Somente para crianças que já estão em fórmula!
DRGE
- Principais sintomas: vômitos propulsivos, recusa alimentar, irritabilidade, baixo ganho ponderal,
sintomas disfágicos e alterações de sono.
- Resolução espontânea com o crescimento é frequente e o curso em geral benigno e sem complicações
- Sintomas aparecem devido à distensão gástrica: lactente suporta no máximo 100ml a cada 3h.
- 1º) Medidas posturais - e retorno em 15 dias. Se, ao retornar, continua mal, golfando,
perdendo peso e irritado →
- 2º) Teste terapêutico para Alergia a Proteína do Leite de Vaca (APLV) – 2 a 4 semanas - pois APLV
pode fazer DRGE-like. Se bebê está em AME, a mãe tem que parar de consumir leite e
derivados por 2 a 4 semanas. Se está em fórmula, mudar para fórmula hipoalergênica,
que é extensamente hidrolisada ou fórmula e aminoácidos. Se melhorou, era alergia. Se
voltar e não melhorou →
- 3º) Medicação: Se antiácido > preferência para bloqueador H2 (RANITIDINA) em < 1 ano.
- ATENÇÃO: Há vários estudos que mostram que a supressão ácida não controla sintomas
como choro, irritabilidade e agitação que são interpretados como DRGE – geralmente a
causa não é acidez e sim o volume com distensão abdominal
- NÃO se tem evidência nenhuma que os Procinéticos (DOMPERIDONA E BROMOPRIDA)
interferem no tratamento da DRGE. Domperidona aumenta esvaziamento gástrico de forma
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moderada. Bromoprida - acelera esvaziamento gástrico, aumenta pressão do EEI e diminui
ocorrência de regurgitação e vômito.
Nas crianças maiores e adolescente
DRGE
- Teste empírico com Inibidores de Bomba de Prótons (IBPs) - OMEPRAZOL por 4 semanas – se
melhora clínica manter por 10-12 semanas
- Nas crianças, o único liberado > 1 ano é o OMEPRAZOL. Para moderada e grave. Não tem taquifilaxia
e tem poucos EC.
- Dose é de 1-2 mg/kg/dia com um máximo de 80 mg/dia.
- Pantoprazol é liberado a partir de 5 anos.
- Esomeprazol para > 20 kg.
- Associado com medidas comportamentais
1. Evitar refeições volumosas e calóricas 5. Perda de peso para os pacientes obesos
2. Evitar alimentos gordurosos (lentificam 6. Não usar roupas apertadas
trânsito intestinal) 7. Evitar uso de fármacos que exacerbam o
3. Evitar chocolates, refrigerantes, chá preto e RGE (anticonvulsivantes, difícil controle pois
café (são irritantes que facilitam que haja são de uso contínuo)
mais relaxamento do esfíncter ao decorrer 8. Orientar infusões lentas nas crianças com
do dia) SNG
4. Não comer próximo a hora de dormir 9. Evitar tabagismo e bebida alcoólica
- Hidróxido de alumínio ou hidróxido de magnésio nos intervalos das refeições para tamponar o pH
ácido para alívio imediato dos sintomas (porque IBP demora 24-48h para fazer efeito) – 3 dias
- Se não teve melhora clínica com teste terapêutico > pedir exames complementares.
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Tratamento cirúrgico
- Raramente indicada.
- Indicação absoluta no Esôfago de Barrett e estenose esofágica
- Ponderar nos > 2 anos com esofagite e/ou sintomas respiratórios resistentes ao tratamento clínico
- Fundoplicatura: não consegue vomitar. Precisa continuar tratando com domperidona.
- Complicações: disfagia, incapacidade de eructar ou vomitar, herniações e retardo do esvaziamento
esofágico
COMPLICAÇÕES
- Esofagite de refluxo - mais comum nas crianças.
- Estenose péptica
- Esôfago de Barret
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