INTEFISA – Instituto de Filosofia e Teologia São Francisco e Santa Clara de Assis.
Sociologia da Religião. Prof. José Ricardo Reis
ANTONIO CARLOS JOAQUIM FILHO, MPS 2º Ano de Filosofia
Mococa-SP, 30 de abril de 2020.
RESENHA: “A SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO DE MAX WEBER”
O texto separa Max Weber dos demais clássicos da Sociologia (Karl Marx e Émile
Durkheim) na medida em que o aponta como sendo o de maior influência na Sociologia da
Religião.
Um ponto importante a se considerar é que, diferentemente dos demais, ele considera
a religião como um aspecto majoritário na formação da sociedade, na medida em que afirma
que “essa sociedade [ocidental moderna] é fruto de uma conjunção única de fatores que
historicamente se combinaram no contexto a civilização ocidental judaico-cristã”. Aponta,
ademais, que seria característico dessa modernidade ocidental o Estado Moderno, “regido por
uma constituição e baseado no princípio de representação, como também o modo de
produção capitalista”. Referente à religiosidade, nota uma crescente secularização, alinhada,
nesse aspecto, à ciência e tecnologia.
Essa secularização é explicada pelo processo de racionalização, o qual é
compreendido mediante análise de diversas civilizações (estudos históricos e religiosos),
tendo, inclusive, levantado a hipótese de que a racionalização ocidental pode ter se dado pela
variada matriz cultural ocidental.
Na sequência, aponta, de diversas formas, o porquê de Weber poder ser chamado de
“antievolucionista”, haja vista que vai na contramão do materialismo histórico (Marx usava
do método materialista histórico-dialético) e do Darwinismo Social (teoria que afirma haver
uma evolução “natural” para todas as sociedades, independentemente de quão remotas elas
sejam). Nesse sentido, “concebia o fenômeno histórico como único e individual e negava a
existência de leis do devir histórico”, pois considera a especificidade temporal e espacial de
cada cultura. Assim, “evolução”, para Weber, deve ser usado unicamente enquanto
“transformação” e “mudança”. Como método, buscava se ater mais ao histórico-comparativo.
No que se refere a “racionalização” e “racionalidade”, diferentemente dos
iluministas, não as via como sinônimos de liberdade e progresso, pelo contrário, via que “essa
racionalização poderia transformar a sociedade moderna em prisão, uma jaula de ferro”.
Weber apontou a existência de diversos tipos de racionalidade, sendo característico
do ocidental moderno “um processo crescente de intelectualização com elaboração de
princípios, regras, critérios que pretendem ter validade universal e coerência interna”. Via
sua expressão nos mais diversos âmbitos, seja econômico, político, cultural, na ciência, na
arte e na religião. Ele via que nesse meio de racionalização, “as motivações dos indivíduos
para suas ações passam também a ser racionalmente construídas e explicadas”. Para explicar
essa racionalização, tange, diversas vezes, a religião, chegando, inclusive, a atrelar
protestantismo e capitalismo em uma relação de afinidade, sendo, inclusive, erroneamente
resumido seu pensamento nessa ligação.
Weber centra seu pensamento na ação dos indivíduos, e ele aponta que as mesmas
passam a ser racionalmente construídas e explicitadas. Buscando analisar essa racionalização,
se depara com a religião, motivo pelo qual deixa os estudos de economia e inicia no tema
religioso. Pode-se falar em um método compreensivo, porque ele “julga fundamental
entender as disposições subjetivas dos sujeitos para adotar ou não um estilo de vida”, e “a
religião interessa a Weber na medida em que ela é capaz de formar atitudes e disposições
para aceitar ou rejeitar determinados estilos de vida ou para criar novos”. O texto aponta
que “o sucesso do capitalismo moderno requer um novo estilo de vida”, e mais adiante
continua que “o protestantismo teria criado um estilo de vida [...] que teria uma afinidade
eletiva com o modo de produção capitalista”. E qual esse novo modo de vida? Enquanto
monges católicos “estavam retirados do mundo, criavam sua sociedade própria, não
afetavam a sociedade mais ampla. A ascese monástica católica era restrita a um pequeno
grupo [...]”, enquanto que “o protestantismo [...] pregava uma ascese no mundo”. O
protestantismo incentiva que todo o empenho ascético seja aplicado no trabalho, haja vista a
associação entre trabalho e vocação feita por Lutero ao traduzir a Bíblia.
Analisando as motivações religiosas por detrás dos processos históricos, apontou
“conflitos entre os profissionais do sagrado ([...] magos, sacerdotes e profetas), e as lutas
das massas contra esses profissionais”. Ligando às ações sociais, viu-as a partir de três
motivações – tradicional, carismática e racional – e associou-as aos ditos “profissionais do
sagrado” – o mago ligado à tradição, o sacerdote à racionalidade e o profeta ao carisma.
Posteriormente, analisa as ações de cada profissional do sagrado dentro dos mais variados
contextos na História, particularmente no Oriente Próximo, apontando seus tipos ideais. O
ponto de maior relevância do texto é o fato de que, diferentemente da maioria dos pensadores
do campo sociológico, Weber pôde perceber a religião não apenas como fenômeno integrativo
e conservador, mas como uma força capaz de proporcionar mudança social mediante o
carisma e religião.