Edifício sede do IMS Paulista
A alta resistência e a leveza do aço a serviço da
arquitetura
(Alexandre M. Jordão 1; Leonardo M. Silvestre 2; Marcelo H. Morettin 3; Vinícius H. de Andrade 4; José Luis Canal 5; Yopanan Rebello 6; Giselly Diniz 7)
1. Eng. civil, mestrando em eng. civil pelo IPT; 2. Eng. metalurgista; 3. Arquiteto, mestrando em arquitetura pela FAU/USP; 4. Arquiteto; 5. Eng. civil, doutor
em arquitetura; 6. Eng. civil, doutor em arquitetura; 7. Eng. civil, especialista em eng. de estruturas
Introdução
O Instituto Moreira Salles (IMS) é um centro cultural brasileiro dedicado à coleção, exibição
e discussão de arte, especialmente fotografia. Sua nova sede está localizada na Av. Paulista,
um dos lugares mais interessantes e vibrantes da cidade de São Paulo. O IMS foi planejado
como um espaço aberto e integrado, com uma conexão direta com a cidade.
Implantado entre edifícios, este museu vertical tem seu centro – seu ponto de convergência
– em uma praça aberta criada 17 m acima do nível da avenida, de onde o visitante alcança
uma perspectiva totalmente diferente da cidade. A partir da Praça IMS, pode-se subir, pelas
escadas do átrio vertical, para as salas de exposição, ou descer para o auditório e a biblioteca.
Para que o edifício tivesse a leveza e transparência imaginadas para este projeto, era
necessário que sua estrutura fosse igualmente leve e surpreendente. A solução de
concentrar todas as circulações e infraestruturas em um núcleo longitudinal de concreto -
que funciona como a “âncora” do edifício – e resolver as outras demandas estruturais com
estruturas metálicas, surgiu naturalmente desta premissa fundamental de leveza.
O artigo a seguir explora os desafios envolvidos na concepção, dimensionamento, fabricação
e montagem da estrutura do edifício do Instituto Moreira Salles. Mais especificamente, trata
das possibilidades de uso de aço de alta resistência microligado ao nióbio nos perfis e sua
repercussão no projeto, especialmente quando o foco recai sobre os benefícios de se aliar
resistência à leveza nas soluções estruturais.
Histórico
No ano de 2005 o arquiteto mexicano Ricardo Legorreta foi convidado pelo IMS para
trabalhar no projeto de sua nova sede paulistana. Mesmo tendo sido interrompido em 2008,
o sonho manteve-se vivo tanto pelo conselho de administração do instituto quanto pela
família Moreira Salles.
Em 2009 iniciou-se um estudo de viabilidade para implantação do edifício com a ajuda do
escritório UNA Arquitetura e o resultado foi a escolha de um terreno de 1.000m2 em plena
avenida Paulista, palco tradicional do circuito de artes da cidade de São Paulo, que contava
com o MASP, Conjunto Nacional e atualmente com o Sesc Paulista, entre outros. Deste
estudo surgiu um pré-projeto que se tornaria a base para o concurso que escolheria o projeto
vencedor.
Em 2011, após prudente maturação, como bem expressou Fernando Serapião, crítico de
arquitetura e editor da revista Monolito, o IMS decidiu organizar um concurso fechado entre
arquitetos brasileiros, para a escolha do projeto. Vinícius Andrade e Marcelo Morettin
venceram cinco destacadas equipes de arquitetos que se encaixaram no interessante critério
previamente assumido de não serem profissionais ultra experientes e amplamente
premiados
Fig.1 Maquete apresentada pelos arquitetos durante a fase de concurso
Cortesia: Andrade Morettin Arquitetos Associados
O concurso contou com a curadoria de Karen Stein, editora, consultora de arquitetura, co-
presidente do Conselho de Arquitetura e Design do Museu de Arte Moderna de Nova York
(MoMa) e jurada do Prémio Pritzker (o Nobel da arquitetura). Quinze foram os escritórios
inicialmente pré-selecionados por Karen Stein e Fernando Serapião, sendo que no final do
processo seriam apenas seis, efetivamente selecionados, que apresentaram seu trabalho
para uma equipe de jurados brasileiros e estrangeiros.
Compuseram o júri, presidido por Pedro Moreira Salles, quatro estrangeiros: Karen Stein;
Richard Koshalek, diretor do Hirshhorn Museum de Washington (EUA) que foi membro do
comitê de seleção do novo projeto arquitetônico da Tate Modern de Londres e do comitê do
projeto do Walt Disney Concert Hall; Jean-Louis Cohen, historiador de arquitetura, professor
da New York University e diretor do Institut Français d’Architecture; e o arquiteto mexicano
Ricardo Legorreta, ex-júri do Premio Pritzker, laureado com a medalha de ouro da AIA (em
2000) que participou via teleconferência. Os integrantes brasileiros foram André Corrêa do
Lago, diplomata, critico de arquitetura e membro do Conselho de Arquitetura e Design do
MoMa; Fernando Serapião, e Flávio Pinheiro, superintendente-executivo do Instituto
Moreira Salles.
Projeto Arquitetônico
O resultado da distribuição dos espaços solicitados pelo programa aliado aos desafios que o
local proporcionava levou os arquitetos à uma solução surpreendente, principalmente
considerando a dificuldade de se projetar um museu verticalizado.
O uso público do térreo deveria encaixar-se dentro de um conceito amplo daquilo que foi
resumido por João Moreira Salles, presidente do instituto, como “um espaço aberto e
democrático”. Desta forma a solução apresentou um térreo que se estende no quinto andar
a 17 m de altura em relação a avenida Paulista. Valendo-se do privilégio de um pé direito
duplo, o térreo elevado, abriga recepção, livraria, café e o acesso às áreas expositivas e
multimídia.
O projeto Maison de Vèrre de Pierre Charreau em Paris serviu como inspiração para os
arquitetos quanto ao fechamento e translucidade do edifício que seria envolvido por uma
segunda pele de vidro proporcionando uma visão difusa para o público externo. Apesar dos
panos de vidro, o edifício não se configura como uma caixa fechada uma vez que o já citado
térreo elevado possui um belo mirante com uma vista privilegiada para a avenida Paulista.
Fig.2 Praça IMS, vistas das escadas de acesso vertical, da avenida Paulista e do fechamento de vidro da fachada
Cortesia: Andrade Morettin Arquitetos Associados
O acesso ao térreo elevado utiliza escadas rolantes e as demais circulações verticais se dão
através de escadas e elevadores. No total são dois subsolos. No primeiro sub-solo estão as
áreas técnicas e de logística e no segundo fica o estacionamento. A administração, as galerias
e demais espaços ocupam os andares superiores
Fig.3 Escadas rolantes dão acesso ao térreo elevado. Galerias e demais espaços ocupam os andares superiores
Cortesia: Andrade Morettin Arquitetos Associados
Projeto Estrutural
“Acreditamos muito na construção industrializada, racional e tentamos usar componentes
industrializados”. A frase de Vinícius Andrade corrobora o entendimento de Marcelo
Morettin quando expressa que a escolha do aço como elemento estrutural e suas ligações
parafusadas aparentes devem transmitir a ideia de que o edifício foi construído em partes
que iriam compor um todo. Essa tem sido a tônica da grande contribuição que o aço tem
proporcionado à arquitetura de uma maneira geral.
Foi dos arquitetos primeiramente a sugestão aos engenheiros estruturais, liderados pelo
engenheiro Yopanan Rebello, que o edifício deveria ter um núcleo de concreto com estrutura
metálica em seu entorno, devendo esta última ser tão leve quanto possível, tarefa que
tornou o aço uma solução estrutural inequívoca, desde as fases concepção do projeto.
Fig.4 Perspectiva esquemática da estrutura integrada a partir do núcleo de concreto e da estrutura metálica, com e sem as lajes
Cortesia: Andrade Morettin Arquitetos Associados
A estrutura dos pisos é formada por vigas mistas de aço e concreto, com perfis laminados e
painéis de concreto armado tipo “pré-laje”, que utilizou stud bolts como conectores de
cisalhamento para que a laje pudesse colaborar com as mesas comprimidas dos perfis
durante as solicitações de flexão.
As vigas de piso, são apoiadas em uma das extremidades no núcleo de concreto, através de
insertos metálicos, e na outra em uma estrutura formada por três mega treliças metálicas,
que apresentam altura igual ao pé-direito dos pisos que elas apoiam. Duas dessas treliças
têm altura de 5,0m sendo uma correspondente ao pé-direito entre o sexto e sétimo andares
e a outra entre o oitavo e nono andares, conforme pode ser visto na figura 4. A terceira treliça
tem cerca de 6,0m em uma extremidade e 7,5m na outra, acompanhando a inclinação do
piso do cinema que se encontra entre o terceiro e quarto andares, conforme pode ser visto
na figura 5.
Fig.5 Corte Esquemático Longitudinal com detalhe
Cortesia: Andrade Morettin Arquitetos Associados
Essas mega treliças possuem vão central de 25m e balanços em ambos os lados de 7,5m
representando uma proporção entre vão e balanços bastante econômica. Essas treliças
apoiam-se em apenas dois pilares metálicos que vão até a cobertura. Estes pilares metálicos
nascem sobre dois pilares de concreto que morrem no primeiro andar.
Os membros das mega treliças e as seções dos pilares metálicos, são compostos por perfis
“I” soldados
O núcleo de concreto funciona como estrutura de contraventamento para cargas horizontais
tais como as de vento.
O primeiro andar, apoia-se nas treliças através de tirantes formados igualmente por perfis
“I” soldados. O segundo e quarto andares apoiam-se nas vigas mistas através de tirantes
semelhantes aos descritos no primeiro andar.
Todos os perfis soldados utilizados no projeto foram compostos a partir de chapas de aço de
alta resistência microligado ao nióbio fornecido pela Gerdau até a espessura de 22 mm e pela
Usiminas com espessuras acima de 22 mm
Um dos maiores desafios para o projeto da estrutura metálica foi o aspecto de esbeltez dos
elementos estruturais que deveriam ser delgados e possibilitar grandes vãos e espaços
abertos. Um caso particular foi a ocorrência de um dos pilares de sustentação das mega
treliças com 12m de comprimento destravado e com carga em torno de 700 ton. limitado
pela arquitetura por dimensões de 350x350mm. A solução foi o uso do forro inclinado sobre
a escada rolante para esconder uma treliça horizontal de contraventamento ligada por uma
cantoneira que funcionou como um diafragma rígido. Alguns pilares atingiram cargas de até
1200 ton.
Fig.6 Estrutura de sustentação da escada rolante com pilar destravado ao fundo e esquemático com detalhe das ligações
típicas parafusadas
Cortesia: Andrade Morettin Arquitetos Associados
Seleção de Materiais Estruturais
Com exceção do núcleo e das lajes que são em concreto armado com vergalhões em aço, a
supra estrutura é basicamente em estruturas metálicas composta por perfis laminados em
todo o sistema de piso e perfis soldados no restante dos elementos do sistema estrutural tais
como as mega treliças, tirantes, pilares e vigas de grandes vãos.
As ligações entre os elementos estruturais montados “in loco” foram parafusadas utilizando
parafusos de alta resistência em aço ASTM A325. Para a composição dos perfis soldados foi
utilizado o processo SAW1 de soldagem por arco submerso.
Todo o aço utilizado no projeto estrutural do edifício foi de alta resistência em sua grande
maioria através de perfis e chapas em ASTM A572 GR50 (Le ≥ 355Mpa).
Porém o aspecto inovador na seleção dos materiais ficou por conta do uso do aço de alta
resistência ASTM A572 GR60 (Le ≥ 420Mpa) na grande maioria dos perfis laminados
1 Submerged Arc Welding
utilizados no sistema de apoio de piso dos andares que recebem as exposições e em alguns
elementos das mega treliças.
Ambos os tipos de aço utilizados são microligados ao nióbio e foram fornecidos pela Gerdau,
unidade de Ouro Branco/MG. Uma ótima calibração da receita dos aços desenvolvidos pela
Gerdau, com teores de carbono abaixo de 0,18% e micro adição de nióbio entre 0,02 e 0,04%,
permitiram a obtenção de um excelente produto cumprindo com muita segurança os
requisitos da norma ASTM A572 nos graus 50 e 60.
Norma e Aço C Mn Si Nb LE LR Along
% % % % MPa MPa %
ASTM A572 Gr 50 Limites Norma Max 0,23 Max 1,35 Max 0,40 Max 0,06 Min 345 Min 415 Min 20
Real IMS 0,17 1,25 0,19 0,022 399 542 26
ASTM A572 Gr 60 Norma Max 0,26 Max 1,35 Max 0,40 Max 0,06 Min 415 Min 520 Min 16
Real IMS 0,13 1,37 0,19 0,036 460 564 27
Tab.1 Visão simplificada com valores de referência de alguns teores e propriedades dos aços adotados no IMS. Baseado na
norma ASTM A572 GR50 e GR60
Fig. 7 Parte dos certificados de qualidade dos aços ASTM A572 GR50 e GR50
Cortesia: Eleve Construções em Aço
A tabela 1 e figura 7 mostram que os aços cumpriram plenamente as demandas de
propriedades mecânicas da norma e especificamente com relação ao Grau 60, pode-se
observar um teor mais baixo de carbono e uma excelente performance de alongamento com
mais de 10% acima do limite inferior da norma.
O uso de aço de alta resistência microligado ao nióbio (ASTM A572 GR50 e G60), ao invés do
aço carbono-manganês convencional (ASTM A36), proporcionou a redução das seções dos
elementos estruturais, possibilitando maior flexibilidade para a arquitetura na obtenção de
espaços mais amplos e com maiores vãos e pés-direitos mais altos
De maneira geral o uso do nióbio em pequenas quantidades no aço, contribui para a redução
das taxas de carbono, proporcionando excelente soldabilidade ao material, e também para
o refino de grãos na microestrutura durante o processo de laminação, conforme pode ser
observado na figura 8, que aliado ao menor teor de carbono, traz melhora significativa nas
propriedades mecânicas tais como alongamento, tenacidade, ductilidade e
conformabilidade, além da própria resistência mecânica.
Fig.8 Foto em microscópio eletrônico com aumento de 200x demonstrando tamanho de grãos de aço ASTM A572 GR50
microligado ao nióbio à esquerda e ASTM A36 carbono – manganês convencional à direita
Cortesia: Silvestre et al.
O projeto havia sido originalmente todo projetado com aço ASTM A572 GR50 produzido em
larga escala pelas usinas siderúrgicas em chapas e perfis laminados para suportar sobrecargas
que variavam de 200Kgf/m2 ~ 1000Kgf/m2, conforme tabela 2. As vigas de piso receberam
contra flechas de tal forma que durante o regime de trabalho as deflexões deveriam ser nulas
(Δ=0).
PAVIMENTO SOBRECARGA Kgf/m2 PERMANENTE Kgf/m2
2.o Subsolo 400 0
1.o Subsolo 400 0
Térreo 600 150
1.o Pavimento 300 150
2.o Pavimento 300 150
3.o pavimento 300 150
4.o Pavimento 600 150
5.o Pavimento 600 150
6.o Pavimento 1000 150
7.o Pavimento 600 150
8.o Pavimento 600 150
9.o Pavimento 600 150
Ático 200 150
Cobertura 200 150
Tab. 2 Distribuição de cargas permanentes e sobrecargas por pavimentos
Entretanto, com o avanço da obra e a partir de uma parceria com a Gerdau, viabilizou-se o
uso de um aço de maior performance estrutural e melhores propriedades mecânicas como
o ASTM A572 GR60 para todos os andares que, segundo a curadoria do museu, poderiam vir
a abrigar possíveis e futuras exposições itinerantes de esculturas mais pesadas.
A partir de então, o desafio seria manter as dimensões originais dos perfis tal qual
dimensionados para não interferir com as instalações prediais que utilizaram aberturas na
alma dos perfis (ver figura 11) e o próprio pé direito das galerias, além de manter a inércia
necessária para atender aos requisitos quanto ao ELS (Estado Limite de Serviço) 2
O sucesso da substituição se deu partir de um trabalho conjunto entre os engenheiros
estruturais e o gerenciador da obra no sentido de elencar uma gama de perfis que pudessem
substituir os originalmente projetados e ao mesmo tempo atender as propriedades
geométricas envolvidas nos cálculos dos deslocamentos, e os lotes mínimos de fornecimento
da usina siderúrgica.
Desta forma, a listagem final de perfis ASTM A572 GR60 que substituíram os perfis ASTM
A572 GR50 encontram-se listados na tabela 2. Os critérios de seleção dos novos perfis que
substituiriam os anteriores foram basicamente dois:
1. Manutenção do Momento de Inércia para atender ao ELS, mantendo a altura da alma
e, portanto, momento de inércia próximo do original;
2. Superação da capacidade de carga no ELU (Estado Limite Último) 3 , através da opção
pelo maior perfil dentro de cada família
PERFIS LAMINADOS - ASTM A572 GR50 PERFIS LAMINADOS - ASTM A572 GR60
Seções Kgf/ Comp. Peso Seções Kgf/ Comp. Peso
Originais m (m) (Kgf) Finais m (m) (Kgf)
W150x13 13,0 7,0 91,0
W150x22,5 22,5 57,0 1282,5 W150x37,1 37,1 102,0 3784,2
W150x37,1 37,1 38,0 1409,8
W200x31,3 31,3 113,0 3536,9 W200x31,3 31,3 113,0 3536,9
W200X86 86,0 86,0 7396,0 W200X86 86,0 86,0 7396,0
W310X21 21,0 178,0 3738,0
W310X44,5 44,5 200,0 8900,0
W310X44,5 44,5 22,0 979,0
W310X97 97,0 443,0 42971,0
W310X107 107,0 478,0 51146,0
W310X107 107,0 35,0 3745,0
W360X32,9 32,9 499,0 16417,1
W360X44 44,0 1004,0 44176,0
W360X44 44,0 505,0 22220,0
W360X51 51,0 13,0 663,0
W360X64 64,0 114,0 7296,0
W360X64 64,0 101,0 6464,0
W410X38,8 38,8 33,0 1280,4 W410X38,8 38,8 33,0 1280,4
W530X74 74,0 378,0 27972,0
W530X82 82,0 578,0 47396,0 W530X85 85,0 966,0 82110,0
W530X85 85,0 10,0 850,0
W530X92 92,0 124,0 11408,0 W530X109 109,0 375,0 40875,0
2 Critérios de segurança que estão relacionados ao conforto dos usuários, durabilidade da estrutura,
aspecto e boa utilização de modo geral. As flechas ou deslocamentos máximos verticais são
restringidas nestes critérios ou Estado Limite
3
Critérios de segurança que estão relacionados ao colapso, ou a qualquer outra forma de ruína
estrutural, que determine a paralisação do uso da estrutura
W530X101 101,0 68,0 6868,0
W530X109 109,0 183,0 19947,0
Peso Total 226634,7 Peso Total 250500,5
Tab. 3 Listagem de perfis em ASTM GR50 que foram substituídos por perfis em ASTM A572 GR60
O resultado foi uma diferença de aproximadamente 24 ton. ou 10,5% em relação ao peso
inicial das vigas de piso com uma contrapartida significativa de aumento na capacidade de
sobrecarga, conforme demonstrado na tabela 3. Essa diferença de peso em relação ao
material substituído se deu principalmente:
• Pela necessidade de uniformização de bitolas com objetivo de viabilizar o
fornecimento dentro dos volumes mínimos exigidos pela siderúrgica;
• Pela necessidade de se preservar seções com mesmo momento de inércia em torno
do eixo principal em função das restrições de dimensionamento dentro do ELS
(Estado Limite de Serviço);
• Pela necessidade de se manter a configuração de altura livre entre andares,
preservando os espaços previamente pensados pela arquitetura além do arranjo das
utilidades dentro da chamada zona estrutural4 atravessando as vigas nas aberturas
feitas nas almas;
• Pela falta de tempo dentro do cronograma de entrega do projeto para que se
pudesse recalcular todo o edifício com um aço de maior resistência, o que
proporcionaria maior otimização entre capacidade estrutural e peso final da
estrutura de piso, prejudicando, porém, a entrega final dentro do prazo;
Afim de demonstrar o aumento na capacidade de sobrecarga apontado acima, foram
calculadas por amostragem três vigas de diferentes seções em pavimentos distintos e com
sobrecargas variadas, localizadas nos pavimentos conforme demonstrado na figura 9. A
premissa deste recálculo foi trabalhar as vigas no limite da flecha admissível para o ELS
conforme a prescrição da NBR8800:2008 para este tipo de ocupação e verificar qual a
sobrecarga limite que cada uma das vigas com diferentes tipos de aço poderia suportar e
então compará-los quantitativamente.
Os cálculos foram feitos utilizando-se as mesmas condições de contorno para ambos os tipos
de aço em questão.
PAV. SEÇÃO VÃO SC ORIG GR50 GR60 % GANHO
Δ=0 SC FINAL SC FINAL
Δ = LIM Δ = LIM
3.o Pav. W360x44,0 10,0m 200Kgf/m2 200 250 25,0
6.o Pav. W530x85,0 10,0m 1000Kgf/m2 1000 1250 25,0
8.o Pav. W530x109,0 10,0m 600Kgf/m2 1500 1800 20,0
Tab. 4 Comparativo de ganho percentual a partir do uso do aço Grau 50 e Grau 60
Após realizados os cálculos com base nas premissas descritas acima, os resultados estão
descritos na tabela 4 cujas colunas possuem os seguintes significados:
4
Região entre o piso e a laje onde se localizam a estrutura de apoio das lajes, normalmente composta
por vigas que podem ter abertura na alma para acomodar as utilidades
• PAV. – Descrição do pavimento/andar em que se encontra a viga que foi utilizada
como amostra;
• SEÇÃO – Descrição da seção nominal conforme catálogo do fornecedor da viga que
foi utilizada como amostra. O padrão descreve após a letra “W” a altura nominal da
viga seguido do peso por metro linear da seção;
• VÃO – Vão teórico de apoio da viga que foi utilizada como amostra;
• SC ORIG Δ = 0 – Sobrecarga acidental conforme projeto, cuja deflexão (flecha) final
foi nula em função da contra flecha dada;
• GR50 SC FINAL Δ = LIM – Sobrecarga acidental máxima admissível considerando o
aço GR50 e a deflexão limite conforme NBR8800:2008;
• GR60 SC FINAL Δ = LIM – Sobrecarga acidental máxima admissível considerando o
aço GR60 e a deflexão limite conforme NBR8800:2008;
• % GANHO – Porcentagem de ganho de sobrecarga acidental máxima entre os aços
GR50 e GR60
Fig. 9 Vista esquemática dos pavimentos e da localização das vigas utilizadas para a análise comparativa entre os aços Grau 50
e Grau 60
Conforme demonstrado, a porcentagem de ganho para a amostra do 3.o PAV. foi de 25%, do
6.o PAV. foi de 25% e do 8.o PAV. de 20%, números bastante expressivos considerando os
10,5% de aumento de peso conforme demonstrado na tabela 2 acima, principalmente
considerando as justificativas para este aumento de peso listados logo na sequência.
Fabricação e Montagem da Estrutura Metálica
Todo o edifício com projeto especial demanda um plano de ação singular e neste caso a
coordenação da obra idealizou um plano em 4 etapas principais listadas abaixo:
1. construção das paredes diafragmas de contenção para viabilizar a escavação dos
andares do subsolo de maneira à não afetar a segurança do metrô e edificações
vizinhas;
construção do núcleo de concreto onde estão abrigados os elevadores, escadas de
emergência, áreas técnicas e de serviços em concreto aparente com formas no
sistema trepante incluindo insertos metálicos de ligação para as vigas que se
apoiariam neste núcleo;
2. montagem da estrutura metálica a partir das três mega treliças principais.
3. Execução das instalações prediais, fachada e acabamentos dentro do padrão
proposto pelos arquitetos para que fossem atendidas as mesmas especificações dos
melhores museus internacionais e que ao mesmo tempo fossem aceitas pelas
normas brasileiras vigentes, incluindo as instruções normativas do Corpo de
Bombeiros do Estado de São Paulo.
A execução dessas etapas em um terreno sem espaço para canteiro atendendo as normas
restritivas de acesso à Avenida Paulista definiu a jornada de trabalho em regime especial.
Sendo assim, durante o dia, atividades planejadas eram realizadas e durante a noite os
materiais eram recebidos e utilizados em tempo real nas atividades de curto prazo, uma vez
que não se dispunha de área de estocagem.
O uso de estruturas metálicas torna-se fundamental em projetos com tais restrições, sendo
que as principais vantagens nesse quesito podem ser apontadas da seguinte forma:
• Pouca necessidade de área de estocagem uma vez que as peças da estrutura podem
ser lançadas do transporte diretamente para a posição final de montagem ou
permanecer por tempos bastante curtos no canteiro otimizando espaço
• Redução da perturbação do tráfego local quando comparado com o uso de concreto
bombeado que requer dezenas de caminhões que operam durante o dia e
congestionam os acessos no entorno do empreendimento, considerando terrenos
sem espaços de canteiro
• Rapidez na montagem diminuindo a perturbação junto a vizinhança que deixa de
conviver durante prolongado período com grandes equipamentos de içamento de
carga, equipes de montagem, ruídos e riscos de acidentes mais elevados quando
comparados às fases de acabamentos
Em uma das frentes, após a concretagem de cada nível específico do núcleo, insertos
metálicos especialmente projetados eram cuidadosamente locados para servir de ligação
com a estrutura metálica.
Em outra frente, após a montagem dos pilares principais apoiados nas estruturas de
transição das fundações, montou-se a primeira mega treliça na zona da Biblioteca o que na
sequência permitiu a montagem de todas as vigas de apoio das pré lajes desta zona.
O projeto estrutural proporcionou uma estrutura extremamente esbelta e com detalhes
muitos interessantes sobretudo nas ligações parafusadas que uma vez desenvolvidas para
serem aparentes, produziram um efeito esteticamente agradável atendendo o conceito AESS
(Architechturally Exposed Structural Steel)5 como pode ser visto na figura 6.
Fig.10 A esquerda vista do terreno e do pequeno espaço disponível para trabalho. A direita montagem das vigas mistas com
ligação nos insertos metálicos no núcleo de concreto
Cortesia: José Luiz Canal
Outro aspecto importante foi a preocupação com o tratamento que a estrutura receberia
para o atendimento à várias e rigorosas demandas necessárias, tais como:
5
Conceito difundido principalmente nos EUA em que a arquitetura explora a exposição proposital da
estrutura metálica de maneira a demonstrar além da estética, toda a funcionalidade do sistema
• Durabilidade. Apesar de oferecerem boa resposta em atmosferas urbanas apenas
com tratamento adequado de superfície, recebimento de fundo e pintura, a
estrutura metálica foi galvanizada a fogo (200 micras de zinco), recebendo pintura
de acabamento sobre pintura intumescente
• Resistência ao fogo. Devido a severa normativa do corpo de bombeiros que exigiu
que a estrutura suportasse 120 min de TRRF (Tempo Requerido de Resistência ao
Fogo) foi contratada uma empresa especializada para aplicação de pintura
intumescente de alta performance importada da Inglaterra
Com o andamento simultâneo em três frentes, conforme citado, no auge da ocupação
durante a montagem e construção, enquanto concretava-se os últimos níveis do núcleo de
concreto, a estrutura metálica da Biblioteca era montada e as instalações e acabamentos dos
andares inferiores iniciavam-se.
Fig.11 A esquerda vigas laminadas do sistema de piso de um dos andares de exposição em aço GR60 com abertura na alma para
passagem de instalações. A direita grua de montagem, uma das mega treliças posicionadas e núcleo de concreto
Cortesia: José Luiz Canal
Com a desmontagem da grua de transporte de carga vertical e fechamento do vão destinado
a ela, as instalações e acabamento dos demais andares puderam avançar.
Um ano antes da inauguração do museu ao público iniciou-se o fechamento do edifício com
painéis de vidro especiais projetados pela Front e desenvolvidos pela Jetacorp. Estes painéis
são compostos por peças de vidro duplo laminado insulado com peso entre 280 @ 320 kg
cada o que demandou a montagem de um sistema de plataformas e sistema de içamento
dos vidros para que a montagem fosse eficiente e segura sem acidentes de nenhuma ordem.
Fig.12 Montagem do sistema de fechamento em vidro
Cortesia: Andrade Morettin Arquitetos Associados
Este sistema de fachada possui alta performance acústica e térmica a partir da composição
em várias camadas com alternância de uma câmara de ar. O resultado foi tanto estético
quanto de conforto nos quesitos citados acima, apesar dos intensos ruídos emitido pela
avenida Paulista.
Durante o último ano de obra, o empreendimento contou com mais de 250 profissionais de
mais de 40 empresas de diferentes áreas de aplicação atuando de maneira coordenada num
ritmo acelerado guiados por uma programação cuidadosamente montada para que as ações
fossem em todos os onze andares para evitar retrabalhos, maximizar qualidade e segurança.
Conclusões
A estrutura metálica no projeto do IMS, além de ampliar o repertório da arquitetura
permitindo trabalhar vãos maiores e pés-direitos mais altos proporcionando mais leveza ao
conjunto, também tornou possível vencer os desafios de construção impostos pela
localização da obra em plena avenida Paulista em um terreno estreito e cercado de outros
edifícios.
Do ponto de vista estrutural o principal ponto a se destacar foi o ganho que se obteve, num
primeiro momento com o uso do aço de alta resistência microligado ao nióbio ASTM A572
GR50 ao invés do convencional aço carbono-manganês ASTM A36, principalmente devido a
fatores tais como melhor soldabilidade, maior tenacidade e aumento de resistência, este
último diretamente ligado à redução das seções dos perfis e finalmente do peso final da
estrutura.
Mas ainda quanto à estrutura, num segundo momento, pela substituição parcial do aço
ASTM A572 GR50 pelo aço também microligado ao nióbio ASTM A572 GR60 que demonstrou
ser bastante eficiente quanto ao acréscimo de até 25% na capacidade de sobrecarga
acidental dos pisos dos andares que abrigariam as exposições conforme decisão do cliente e
graças a parceria com a siderúrgica Gerdau.
Percebeu-se a partir deste estudo, que os ganhos com o uso do aço GR60 seriam
consideravelmente maiores se tivessem sido considerados desde o início do projeto.
Mudanças em fases de execução de obras são uma realidade e muitas vezes inevitáveis, mas
trazem seu ônus que neste caso resultou num aumento do peso da estrutura, compensado
pelo aumento na já citada capacidade de sobrecarga dos andares.
Este trabalho também serviu para apontar o quanto a ampliação da oferta de distribuição de
aços de maior performance por parte das usinas siderúrgicas para uso em maior escala por
parte dos engenheiros de estruturas e arquitetos poderia alavancar o uso deste material na
construção civil brasileira e talvez estimular o surgimento de projetos mais arrojados do
ponto de vista arquitetônico e estrutural, além de reafirmar a eficiência do uso do aço em
obras onde a velocidade e a racionalidade de processos construtivos são necessários
objetivando rapidez nos processos de montagem, otimização de espaço em canteiros e
extrema redução de impacto na rotina da mobilidade urbana do entorno das edificações em
grandes centros urbanos.
Ficha Técnica
Projeto Arquitetônico Andrade Morettin Arquitetos Associados
Projeto Estrutural em aço e concreto Ycon Engenharia
Gerenciamento da Obra Canal&Musse
Fabricação e Montagem da Estrutura Metálica Eleve Comércio e Montagem de
Estruturas Metálicas
Fornecimento do aço Gerdau S.A. (Perfis e Chapas até 22 mm)
Usiminas S.A. (Chapas acima de 22 mm)
Peso total da Estrutura Metálica 556 ton.
Apoio
CBMM – Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração
IMS – Instituto Moreira Salles
Gerdau S.A.
Referências
MONOLITO. São Paulo: Editora Monolito, n. 8, abril/maio 2012
SILVESTRE et al. High Strength Steel as a Solution for the Lean Design of Industrial Buildings.
Journal of Material Research and Technology. Amsterdan. p. 35-41. apr. 2012
Entrevistas
Marcelo Morettin e Vinícius Andrade – arquitetos responsáveis pelo projeto, responsáveis
pela Andrade Morettin Arquitetos Associados
Jânio Gomes – diretor executivo do IMS paulista
José Luiz Canal – engenheiro civil, gerente de projetos, responsável pela Canal&Musse
Yopanan Rebello – engenheiro civil, responsável pelo dimensionamento das estruturas de
concreto e metálicas, responsável pela Ycon Engenharia
Wilson Ramos da Silva Filho – engenheiro civil, diretor geral da Eleve Comércio e Montagem
de Estruturas Metálicas, responsável pela fabricação e montagem da estrutura