Introdução À Psicopedagogia
Introdução À Psicopedagogia
SUMÁRIO
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1 O QUE É PSICOPEDAGOGIA?
Fonte:www.sme.pmmc.com.br/site2011
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A Psicopedagogia Clínica busca investigar as possíveis dificuldades no
processo educacional - observando os aspectos físicos, sociais, emocionais e
cognitivos - e intervir de modo a remover ou minimizar as barreiras que impedem
ou dificultam a aprendizagem.
O Psicopedagogo realiza entrevistas, avaliações, atividades lúdicas e
diferentes instrumentos para identificar estas barreiras. Ele intervém orientando
os pais, os professores e ajuda o próprio indivíduo (ou grupo) a conhecer seus
mecanismos de aprendizagem, entendendo-o como sujeito ativo e protagonista
deste processo.
Vivenciar Psicopedagogia é um estado de ser e estar sempre em
formação, projetação e em processo de criação.
Para entender o que é Psicopedagogia, acredito ser importante ir além da
simples junção dos conhecimentos oriundos da Psicologia e da Pedagogia, que
ocorre com bastante frequência no senso comum, isto porque, em sua própria
denominação Psicopedagogia aparece “suas partes constitutivas – psicologia
mais pedagogia – e que oferece uma definição reducionista a seu respeito”,
como nos ensina Julia Eugenia Gonçalves.
Na realidade, a Psicopedagogia é um campo do conhecimento que
se propõe a integrar, de modo coerente, conhecimentos e princípios de
diferentes Ciências Humanas com a meta de adquirir uma ampla compreensão
sobre os variados processos inerentes ao aprender humano.
Enquanto área de conhecimento multidisciplinar, interessa a
Psicopedagogia compreender como ocorre os processos de aprendizagem e
entender as possíveis dificuldades situadas neste movimento. Para tal, faz uso
da integração e síntese de vários campos do conhecimento, tais com a
Psicologia, a Psicanálise, a Filosofia, a Psicologia Transpasso-a, a Pedagogia,
a Neurologia, entre outros.
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2 POR QUE A PSICOPEDAGOGIA NÃO TEM SEU PAPEL CLARO NA
FORMAÇÃO DO/A PSICOPEDAGOGO/A?
Fonte:www.google.com.br
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Fonte:ipegex.com.br
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como desafio a ser superado. O modelo argentino de Psicopedagogia, com o
trabalho multidisciplinar em hospitais e escolas também teve sua trajetória de
luta, como em muitos momentos nos apontaram Jorge Visca e Alícia Fernandéz.
Realmente em nosso país, esta atuação ainda é restrita de fato. E um ponto
essencial para tal é a regulamentação da profissão: esta questão é primordial
para o avançar da profissionalidade do psicopedagogo. A meu ver, é um
processo muito rico a ser vivido por todos nós psicopedagogos.
Fonte:faepefamerp.org.br
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possibilidades. E tudo é processo, movimento. Precisamos acreditar, cada vez
mais, no ensinamento de nossa mestra Ivani Fazenda, que nos diz da
importância da espera, da humildade, do conduzir-se com harmonia e
perseverança em tudo o que se refere a mudanças de paradigmas. O cuidado
maior, a meu ver, deve ser efetivamente, com a proliferação dos cursos de
Psicopedagogia pelo Brasil sem as devidas orientações.
Fonte:www.fundacaoaprender.org.br
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3 PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL UMA VISÃO SISTÊMICA
Fonte:www.cursogratisonline.com.br
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3. Intervenção;
4. Integração.
O Psicopedagogo também pode atuar como Assessor Psicopedagógico
em instituições escolares, direcionando a potencialização da competência dos
professores. Geralmente a assessoria é utilizada como um recurso, a fim de que
estas possam dar uma resposta adequada às necessidades dos alunos diante
das dificuldades para aprender, bem como facilitar a relação ensino /
aprendizagem.
Para trabalhar em instituições, o psicopedagogo deve adquirir
competências na área administrativa e de planejamento estratégico, conhecer
teorias sobre liderança, comportamento grupal e análise de potencial e
desempenho.
Fonte:cyberspaceandtime.com
“Somos aqueles que podem ajudá-las a lidar melhor com suas vidas, a
enfrentar as frustrações e a compensar suas fraquezas. Também somos os
que podem ajudá-las a perceber seus dons e a valorizar seu jeito único de ser.”
(Sandra Rief,1993)
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Em uma época que muito se discute sobre dificuldades, inclusão e
até mesmo o conhecido fracasso escolar de crianças e jovens e ao mesmo
tempo multiplicam-se diversas descobertas da neurociência, não poderíamos
deixar de ressaltar a importância da intervenção psicopedagógico como forma
de significação do aprender.
Fonte:www.unip.br
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resgate de sua autoestima e autonomia individual tornando assim mais fácil sua
socialização com os demais colegas.
De acordo com Maluf (2009), para estabelecer um bom diagnóstico
é necessário ter conhecimento do desenvolvimento individual da criança bem
como centrar-se em serviços especializados que vão além dos farmacológicos.
Para que todo este processo ocorra, sabemos que há uma grande necessidade
de participação da família e da instituição escolar com vistas a juntos
constituirmos meios afetivos e de estimulação cognitiva de forma que estas
intervenções se tornem eficazes e alcancem seus reais objetivos que é o resgate
e o gosto por aprender.
Fonte:tiakatiasouto.blogspot.com.br
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mas sim o que o cérebro processou para que a boca dissesse (ou a mão
escrevesse). ” (GOODMAN, 1969)
O erro sempre foi considerado um dos principais mal-estares
presentes nas escolas desde os primórdios da educação. Mesmo com o passar
dos anos com avanços tecnológicos e diversas mudanças, muitos educadores
ainda o tratam da mesma forma as quais muitas vezes é o grande causador do
fracasso escolar nas instituições.
Mas como mudarmos estas antigas concepções e incorporarmos
uma nova visão a partir dos erros dos alunos? Este é um fato que de certa forma
não depende somente das escolas, mas também dos educandos e da própria
família. De acordo com Luckesi (1998)1[6], existe um preconceito por parte do
próprio aluno que de certa forma tem um juízo culposo e punitivo de si mesmo
quando não consegue acompanhar aos demais.
Fonte:www.buzzero.com
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assim um ato construtivo tanto para educandos quanto para educadores. Através
da intervenção psicopedagógico, partimos das diversas hipóteses as quais
fizeram o aluno chegarem a tal resposta e só assim poderemos traçar estratégias
de ajuda com vistas chegar a formulação correta.
Cabe ressaltarmos que em muitos casos o erro também poderá
ocorrer devida uma distração ou até mesmo falta de atenção/concentração por
parte do aluno não podendo assim ser considerado como um não aprendizado
efetivo do conteúdo. Sobre este prisma consideramos de suma importância o
trabalho psicopedagógico que através de técnicas diferenciadas este profissional
estará apto a identificar os reais motivos da não aprendizagem o que de certa
forma evitará o fracasso e a evasão escolar que pode originar-se por atos falhos
ou avaliações não condizentes ao real problema.
Fonte:www.construindooaprender.com.br
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BIBLIOGRAFIA
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DISPONÍVEL EM: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
84862010000100009
Rinaldo MolinaII
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Psicologia e de Pós-Graduação em Psicopedagogia da Universidade
Presbiteriana Mackenzie/SP
RESUMO
MÉTODO:
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unitermos: Educação. Psicologia social. Aprendizagem.
SUMMARY
METHODS: For the theoretical development was carried out dialogue between
the authors of the pedagogy of reflexive practice and popular education. The
participants of this case study were 11 educators of the Association of Education
and Social Welfare on the outskirts of São Paulo. The process lasted one year,
a total of 18 meetings distributed among the following activities: 1) participant
observation in meetings with the coordination of the project and with the group of
educators, 2) the construction of a panel of complaints to understand what
problems they experienced educators, 3) before complaints were made drawings
from the projective technique "par educativo" in revealing their conceptions of
teaching and learning, to understand what each one had to act responsibly in
their teaching, 4) activities were aimed at understanding the action models for
teaching used by teachers; 5) from theoretical readings were discussed issues
relevant to the issues identified in the moments before and, finally, 6) was a
dynamic proposal to build a conceptual map for reflection on the experienced and
the daily practice of educators.
RESULTS: The teachers have produced a new work proposal on the basis of
disciplinary proceedings, it had as the cultural reality and the production of a work
aimed at rescuing the history of students, residents of the periphery, course
participants, and build with them idea of citizenship for a more just and humane.
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INTRODUÇÃO
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das possibilidades do cronograma institucional da Associação em que o grupo
de sujeitos da pesquisa atuava.
No processo de intervenção junto aos educadores foram utilizados: A) a
análise dos documentos da Associação para entender seu processo histórico; B)
a observação participante10; C) dinâmica de grupo e construção de um painel de
queixas; D) a técnica do "par educativo"11; E) reflexão autobiográfica12; F)
estudos de textos acadêmicos13 e; G) elaboração de mapa conceitual14.
Algumas informações complementares necessárias são: 1) para
formalizar a participação na pesquisa, com intuito de evitar faltas éticas na
aquisição e análise dos resultados da pesquisa, foram utilizadas a "Carta de
informação sobre pesquisa à instituição", a "Carta de informação ao sujeito de
pesquisa" e o "Termo de consentimento livre e esclarecido" lidos e assinados
pelos educadores e pela instituição; 2) no corpo do texto, cada educador ou
educadora foi nomeado com as iniciais do seu nome, a fim de garantir a
preservação da privacidade; 3) e, por se tratar de um trabalho voluntário, o
número de participantes das atividades, acima apresentadas, variou de acordo
com a disponibilidade dos envolvidos.
Para desenvolvimento do artigo, inicialmente, apresenta-se uma
discussão teórica fundamentada nas referências da psicopedagogia
institucional, da prática reflexiva e da educação popular, posteriormente,
explicita-se a evolução do processo de intervenção.
A Psicopedagogia Institucional
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Discordâncias entre professores [educadores] vistas apenas como questão de
"temperamento" ou "política" poderiam ser encaradas através do "modelo de
aprendizagem" de cada um? A atualização da escola apenas em metodologias
de ensino não poderia estar deixando de lado as questões de aprendizagem? 15.
Foram esses questionamentos que levaram ao aparecimento da
psicopedagogia institucional. Para ela, no desenvolvimento do trabalho
psicopedagógico, a instituição, enquanto espaço físico e psíquico da
aprendizagem, seria o objeto de estudo da psicopedagogia, uma vez que se
avaliariam os processos didático-metodológicos e a dinâmica institucional que
interfere no processo de aprendizagem.
Então a psicopedagogia institucional16:
[...] está vinculada a uma concepção crítica da Psicopedagogia
e, consequentemente, da educação, que muito tem a contribuir
com as situações de não aprendizagem na escola e com sua
consequente superação. Desta forma, a ação do psicopedagogo
está centrada na prevenção do fracasso e das dificuldades
escolares, não só do aluno como também dos educadores e
demais envolvidos neste processo. Para tanto, é necessário que
a intervenção psicopedagógico invista na melhoria das relações
de aprendizagem e na construção da autonomia não só dos
alunos, mas, principalmente, dos educadores. A construção da
autonomia do professor [educador], a postura crítica em relação
a sua ação pedagógica e o desenvolvimento da autoria de
pensamento pode acontecer pela intervenção psicopedagógico
na escola.
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possibilitar a elaboração do conhecimento sobre si e do outro27; e contribuir para
a reflexão sobre a prática28.
A Educação Popular
A educação popular surgiu na década de 1970, como um movimento
inovador capaz de produzir possibilidades educativas para a democratização da
Educação em espaços não formais29,30.
Seriam seus objetivos31:
"Desenvolver um trabalho no qual as pessoas sejam capazes de
compreender o seu contexto sócio-político-econômico-cultural, exercendo, neste
entorno, sua cidadania de forma adequada. O que revela tratar-se, assim como
a educação formal, de uma ação intencional e, portanto, destinada a alcançar
determinados fins, porém não em nível escolar. No que tange à educação não
formal, a concepção de educação permanente apresenta grandes semelhanças
com a de desenvolvimento cultural da comunidade, não podendo ser posta em
ação sem mudanças sociais profundas.
Esta educação se diferenciou de outras, pois sua preocupação era
"estimular a participação política [para] transformação das condições opressivas
de sua existência social [por base no] desenvolvimento de habilidades básicas,
como a leitura e a escrita"32.
A interlocução entre psicopedagogia institucional e educação popular se
fundamentaria na dimensão social envolvida no processo de aprendizagem
(além dessa temos também as dimensões biológica e cognitiva), pois, com ela,
haveria a garantia da continuidade do processo histórico e a preservação da
sociedade como tal, por meio de transformações evolutivas e estruturais33.
Esta dimensão cumpriria um papel relevante na ruptura das classes
sociais, pois supõe transformações, incitando assim a necessidade da educação
de promover, conscientizar e motivar a militância para essa transformação.
Esta abordagem sociopolítica estava presente nas raízes da educação
popular e teve como base teórica, a prática e o discurso de Paulo Freire34,35.
A criticidade no processo de aprendizagem se construiria e se
desenvolveria na "curiosidade epistemológica", concebida como um aprender
crítico em que a experiência da produção de saberes, que não permite a mera
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transferência de conteúdo, favoreceria um conhecimento mais abrangente do
objeto24.
Se de um lado do processo existe a aprendizagem, e com destaque a
aprendizagem social, do outro existe o ensino, a ensinagem.
Freire24 indicou alguns saberes indispensáveis a uma prática educacional
crítica e progressista do educador comprometido com a educação popular. Para
ele, ensinar inexiste sem aprender e vice-versa e, este ensinar não seria
meramente a transferência de conhecimento, mas a possibilidade da sua
produção, criação e construção.
Assim, a experiência de cada aprendente seria considerada importante no
momento da ensinagem e, produzir-se-ia a oportunidade de, no ensinar, deixar
transparecer, a quem aprende, a peculiaridade do ser humano em "estar no
mundo e com o mundo", como ser histórico. Possibilitar-se-ia com isso
condições, por meio do ensinar, para que o sujeito do aprender se assumisse
como ser social, por isso capaz de transformar, criar e pensar.
Deste modo, as ideias de Freire24,33,34 fazem eco ao olhar da
psicopedagogia institucional, uma vez que esta promoveria a aprendizagem de
forma a criar vínculos saudáveis e críticos com o conhecimento.
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que explicam os processos de ensino-aprendizagem e oferecem normas e
regras para a sua aplicação racional; na segunda, tem lugar a aplicação na
prática real ou simulada de tais normas e regras, de modo que o docente adquira
competências e capacidades requeridas para uma intervenção eficaz".
Neste sentido, Zeichner37 defendeu que o processo reflexivo não se
limitaria a questões metodológicas do ensino ou a organização da sala de aula,
o que poderia significar incorporar novas experiências em velhas estruturas. Esta
incluiria também a problematização de aspectos que envolveriam a organização
escolar e sua cultura, por exemplo, práticas concorrentes, estruturas
hierárquicas, atuações excludentes, entre outras.
Para Nóvoa38, na formação do professor (educador), a preocupação da
técnica e do conhecimento deveria ser superada, permitindo um avanço para a
socialização e a reflexão de sua configuração profissional.
"A formação deve estimular uma perspectiva crítico-reflexiva, que forneça
aos professores [educadores] os meios de um pensamento autônomo e que
facilite as dinâmicas de auto formação participada. Estar em formação implica
investimento pessoal, trabalho livre e criativo sobre os percursos e os projetos
próprios, com vista à construção de uma identidade profissional."
Ainda para este autor, deveriam ser criados espaços permanentes dessa
formação, em ambientes que favorecessem a troca de experiências e a partilha
dos saberes, em que cada um dos profissionais seria chamado ao papel de
"formador" e também ao papel de "formando". Este seria o único caminho para
a conquista do exercício da autonomia.
"O trabalho centrado na pessoa do professor [educador] e na sua
experiência é particularmente relevante nos períodos de crise e mudança, pois
uma das fontes mais importantes de stress é o sentimento de que não se
dominam as situações e os contextos de intervenção profissional38."
Este tipo de formação valorizaria os paradigmas de formação que
promovem a preparação de educadores reflexivos para assumirem
responsabilidades frente ao seu próprio desenvolvimento profissional, diante dos
desafios do ato de ensinar. "As situações que os professores [educadores] são
obrigados a enfrentar (e a resolver) apresentam características únicas, exigindo,
portanto, respostas únicas"38.
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Para a formação de educadores reflexivos, o desafio estaria na
concepção de um espaço institucional educativo, que concebesse o trabalho
prático e a formação de seus profissionais, não como atividades distintas, mas
como um processo permanente, integrado ao cotidiano da instituição.
Ou seja, sua metodologia de trabalho se apoiaria na produção de espaços
reflexivos coletivos de formação, presentes nas próprias instituições em que os
educadores trabalham, que compreenderiam as possibilidades de reflexão e
tomada de consciência das limitações sociais, culturais, pedagógicas
contextuais e da própria profissão.
Diante do contexto teórico colocado, apresentamos a seguir o relato e a
análise de uma intervenção psicopedagógico realizada com educadores sociais,
na educação não formal. O olhar psicopedagógico, as intervenções e o processo
reflexivo contribuíram para que o grupo participasse efetivamente na sugestão
de propostas para o trabalho que desenvolviam, buscando autonomia na sua
prática e melhorando as condições de aprendizagem dos seus educandos.
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ajudar os educandos, tanto na parte da formação humana, quanto no que se
refere à parte educacional"; B) "O tempo que nos atropela"; C) "Falhas
educacionais aberrantes"; D) "Dificuldade de entendimento dos educandos"; E)
"Alternância de humor dos educadores e coordenação".
As "queixas A e B" trouxeram o conceito do tempo que educandos e
educadores teriam para superar as "queixas C e D". Segundo Bonals e
González21, essas se apresentaram como queixas ilimitadas, pois indicaram o
caráter de dificuldade diante de uma situação, em que não estava definida a
forma de superação da mesma, causando, muitas vezes, o desânimo e a
impotência.
A "queixa D" sugeriu uma separação nas relações entre aprender e
ensinar, fato entendido por Freire24 como impossível numa relação pedagógica.
Assim, evidenciou-se uma queixa de delegação21, pois houve a transferência da
não aprendizagem, centrando-a no outro, no caso o educando.
A "queixa E" teve como característica a busca de uma reação psicológica
a falta de enfrentamento, a não superação dos problemas de aprendizagem dos
educandos, caracterizando-se como uma queixa jogo21.
A segunda categoria foi nomeada como "Queixas de problemas de ordem
individual": A) "Falta de material de apoio para as aulas de Biologia.
Esclarecendo - o meu computador está na UTI. Problema pessoal!"; B) "Acho o
tempo insuficiente para se trabalhar as disciplinas / sei a importância das
optativas, mas acho que deveríamos ter mais aulas, pois acho a quantidade que
temos insuficiente"; C) "Conversas excessivas na turma D, porém considero ser
imaturidade específica desta turma por conta da faixa etária"; D) "Uma coisa que
me incomodou muito quando comecei a trabalhar com o 'Curso C' foi a minha
inexperiência em dar aulas, porque apesar de trabalhar com educação popular
e formação em Fé e Política há muito tempo me dei conta que eram coisas
diferentes"; E) "Educandos engraçadinhos"; F) "Quando trabalho com uma aula
na turma, sinto a falta do trabalho na turma"; G) "Tempo para organizar a aula
de laboratório / tenho muitas atividades na memória do computador".
A criação dessa categoria apontou, de maneira geral, para a consciência
dos educadores de que poderiam e deveriam fazer algo para mudar. Também
confirmavam a importância do processo de intervenção e das reflexões
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propostas, já que as mesmas sugeriram a revisão de algumas ideias, atitudes e
propósitos diante de sua atuação.
Na terceira categoria, segundo a reflexão e classificação dos educadores,
encontramos as "Queixas de problemas a serem resolvidos": A) "Falta de uma
definição mais clara de tarefas e responsabilidades secundárias nos eventos
(semanas / atividades especiais)"; B) "Falta de colaboração dos educadores
(todos) na organização de eventos, semana da acolhida, por exemplo. Sempre
as mesmas pessoas cuidam dos detalhes de providenciar materiais, etc."; C)
"Existe ainda uma deficiência de logística quanto a preparar as atividades extras
com as 'semanas', as reuniões de orientação, as saídas planejadas"; D)
"Organicidade dos educadores e coordenação"; E) "Eu creio que deveríamos ser
mais assíduos nos horários, pois temos pouco tempo para nos prepararmos
melhor, devemos otimizar melhor o nosso tempo"; F) "Acho que também, às
vezes, acabamos por deixar passar algumas atitudes de alguns educandos.
Creio que devemos ser severos com eles, não se esquecendo de sua realidade,
mas que essa realidade não sirva de pretexto para deixarmos passar essas
atitudes (bagunça, falta de respeito, atrasos, conversas, desinteresse, etc.)"; G)
"Decisões que deveriam e devem ser tomadas por toda a equipe reunida"; H)
"Algumas coisas que foram ditas que seriam para serem feitas de um jeito e que
depois foram feitas totalmente diferente"; I) "Falta de pontualidade"; J)
"Questões, decisões em aberto, às vezes não fica claro o que foi decidido ou
acabamos nem decidindo. Isso dificulta o andamento do trabalho"; K)
"Desorganização (horário)"; L) "Poucos jovens a procura do apoio no plantão de
dúvidas. Principalmente os que estão começando"; M) "Às vezes falta limite para
as brincadeiras, isso nos faz perder tempo e o foco do que estamos discutindo".
As "queixas A B, C, D, G, H e J" evidenciaram a insatisfação com o
trabalho coletivo, além das queixas de falta de organização da coordenação para
que esse trabalho acontecesse. Interessante notar que estas se apresentaram
de maneira imperativa, como queixas que demandavam uma expectativa de
mudança de atitude de outras pessoas para haver colaboração na realização
das tarefas educativas.
A presença das "queixas E, I, K" retomaram o tema da falta de
organização, mas especificamente ligadas à questão do tempo. A temática do
tempo esteve presente no grupo "Queixas externas ao trabalho", porém agora
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apareceram com uma conotação diferente já que se tornaram fatores a serem
considerados no processo educativo, ou seja, não mais tão externas as
atividades realizadas pelos educadores.
As "queixas F e M" referiam-se diretamente ao comportamento de
determinados educandos na realização das atividades.
A "queixa L" revelou o descontentamento quanto a pouca frequência dos
educandos no plantão de dúvidas, espaço que possibilitaria o atendimento
individualizado e uma tentativa de reverter o quadro de não aprendizagem.
Diante das queixas apresentadas, foi iniciada uma ação que objetivou
conhecer e analisar o que cada um dos educadores manifestava como
responsabilidade no seu ato de ensinar e como entendia as relações entre
ensinam-te e aprendem-te e, assim tivesse a possibilidade de refletir sobre como
se via neste processo. Foi utilizada para este trabalho a técnica do "par
educativo". Nela cada educador desenhou uma pessoa que aprende e uma que
ensina e formulou uma história envolvendo esses personagens.
AD ao escrever sobre o desenho, uma situação de trânsito feito na frente
e no verso da folha com riqueza de detalhes, afirmou que: "essa pessoa que está
ensinando [...] não está deixando a pessoa que está aprendendo à vontade e
com a calma necessária para aprender, não respeitando o seu tempo e seu
raciocínio [...]". Salientou, com isso, que o educador não deveria se eximir de
suas responsabilidades, porém deveria respeitar a experiência que tem o
educando ao favorecer outros esquemas de aprendizagem. Sua frase para o
desenho foi: "Aprendendo a dirigir de forma espantosa e assustada".
FR ao referir-se ao seu desenho, um adulto e uma criança com sua
bicicleta na rua, afirmou: "Estar presente em todos eles" seria fundamental ao
educador para acompanhar o processo de desenvolvimento da aprendizagem
do educando. Fazer-se presente seria o desafio do acompanhamento
permanente, características da maternagem39. Sua frase para o desenho foi:
"Sou eu ensinando meu filho a andar de bicicleta".
A escrita da história do desenho realizado por LC, uma situação de conflito
entre educandos com a presença passiva do educador, pareceu incomodá-lo no
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momento em que realizava o desenho. Em sua história os educandos brigavam,
mas não sabiam o motivo. Quando da intervenção do educador presente no
desenho o destaque esteve na frase: "Paulo [educador nomeado no desenho]
não podia deixar aquilo acontecer". Indicou-se um conflito quanto à resolução de
problemáticas advindas das relações que os educandos criaram. A história
terminou de maneira bastante afetiva "um grande abraço"! Sua frase para o
desenho foi: "A necessidade de compreensão, por parte do mediador, dá
importância, dá proximidade e compreensão na construção de um ambiente de
aprendizagem".
No desenho realizado por FB, crianças brincavam o jogo de amarelinha.
Não havia presença de um adulto que fizesse o papel de quem ensinava. Na
escrita da história do desenho, houve destaque para a ideia de que o lúdico
envolveu a criança e nela as situações de aprendizagem espontânea ficariam
mais fortes que as situações formais de aprendizagem. A transmissão do
conhecimento aconteceu de maneira bastante espontânea entre as crianças que
ensinavam, a outras crianças, as regras da brincadeira. Essa característica
pareceu muito peculiar, já que FB também lecionava aulas na Educação Infantil.
Sua frase para o desenho foi: "Ensinar e aprender em situações não escolares.
É importante não escolarizar todos os conhecimentos, eles são da vida.
Aprende-se no brincar, e em cada fase com coisas diferentes".
Para EC o ambiente da aprendizagem também estava relacionado ao
espaço não formal. Ele trouxe em sua narrativa a presença de um ambiente
cercado por árvores, em que um educador, no desenho representado por um
homem cercado por crianças, que aprendeu com "os mais velhos" transmitia
para crianças, de forma oral, seus saberes e vivências. Sua frase para o desenho
foi: "Conhecer para preservar".
Numa mesma tendência, ou seja, uma história de aprendizagem e ensino
que acontecia em um ambiente extraclasse, BR representou em seu desenho
uma criança e um adulto contemplando e conversando embaixo de uma árvore.
Em sua apresentação, foi pertinente a afirmativa sobre as dificuldades que os
educadores encontravam em ensinar em um ambiente que não fosse a sala de
aula. Sua frase para o desenho foi: "Aprender com a realidade do cotidiano, de
maneira informal, apreciando o conhecimento".
29
Ao narrar a história de seu desenho, uma área urbana com muitos carros
e uma escola, EZ tomou o lugar de seus educandos para relacionar o aprender
e o ensinar. Detalhadamente apontou a observação dos educandos sobre a
realidade como ponto de partida para que a aprendizagem acontecesse em sala
de aula. Sua frase para o desenho foi: "Observando e decifrando a paisagem".
O desenho de NZ foi um resgate em sua memória do que viveu no período
escolar com sua educadora de Língua Portuguesa. NZ definiu que ensinar seria
viver aquilo que se sabe com "magia, amor, empatia [...]" e aprender seria
"descobrir que o conhecimento pode ser mágico - lugar da criatividade, da
experiência do novo - amor, empatia [...]". NZ afirmou que repetiu a palavra
empatia, para aprender e ensinar, por se tratar de um processo de uma "via de
mão dupla". Sua frase para o desenho foi: "Para aprender e ensinar é preciso
amor ao conhecimento, empatia, acolhida, partilha [...]".
As memórias negativas do ambiente escolar formal foram lembradas por
PL. Em seu desenho, o professor de matemática, a sua frente, ensinava sem se
dar conta de que seu aluno pouco entendia do que ele falava. Na narrativa sobre
o desenho, PL destacou que o aprendido pelo aluno foram apenas as palavras:
"Blá, Blá, Blá", dando a conotação de que o conteúdo apresentado pelo professor
não possuía nenhum sentido. Sua frase para o desenho foi: "O professor de
matemática está ensinando e o aluno não está aprendendo. Enquanto o
professor fala, pensa no que ouve, isto é, não entende o raciocínio do professor,
mas não tem coragem de falar que não está entendendo".
Outra situação de trânsito foi criada para representar a situação de ensino
e aprendizagem. Desta vez, SL apresentou em seu desenho, com riqueza de
detalhes, personagens que foram descritos em sua narrativa como cumpridores
de regras específicas para o "trânsito". Demonstrou preocupação com o papel
que cada indivíduo deveria ocupar para que o processo de ensino e
aprendizagem pudesse acontecer. Sua frase para o desenho foi: "Aprender
também é saber respeitar".
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transparecer, a quem aprende, a peculiaridade do ser humano em estar no
mundo e com o mundo, como ser histórico, intervindo no mundo. Assim, deve-
se considerar a experiência do aprendente no momento da ensinagem;
• Sete educadores apontaram para a necessidade de construção da
proximidade entre educador e educando (PL, LC, AD, FR, EZ, EC e NZ) e, com
isso, nos remeteram aos "saberes necessários à prática educativa" (Freire 24), em
que ensinar exige do educador o respeito ao que o educando sabe e, além disso,
autonomia do ser educando;
• para FR, aprender e ensinar significou também o acompanhamento
permanente do educando pelo educador;
• FB assinalou a importância da aprendizagem não escolarizada, ou seja,
essa também se dá na vida e no prazer de viver;
• Três desenhos relacionaram-se a paisagens: dois deles à paisagem
natural (BR e EC) e outro à paisagem urbana (EZ). Mais uma vez, a formação
dos educadores se fez presente: os dois educadores que representaram a
paisagem natural eram formados na área de Biologia e responsáveis por alguns
projetos ambientais da Associação. O desenho da paisagem urbana foi feito pelo
educador da área de Geografia;
• Dois desenhos apresentaram a temática do trânsito e suas regras. Os
educadores que os realizaram (AD e SL) ministravam disciplinas das Ciências
da Natureza e Matemática, o que evidenciou a preocupação que tinham com as
ordens e regras, exigências dessas disciplinas para se alcançar um resultado
exato;
• Três desenhos representaram a situação escolar com a presença física
do responsável pelo ensinar - o professor (PL, LC e NZ). Interessante notar que
nos desenhos o professor presente faz toda diferença para o processo de quem
aprende. Em um dos desenhos, o professor estava distante e não percebeu as
dificuldades do aluno, já nos outros dois, a interferência e a proximidade do
professor facilitaram a aprendizagem do aluno;
• Dois desenhos tratavam do lúdico (FB e FR). O lúdico se apresentou na
convivência diária ao favorecer a construção de uma relação de proximidade
entre as pessoas, assim como facilitador na aproximação dos conteúdos à vida
dos educandos, o que tornaria o aprender prazeroso e favoreceria a melhoria da
aprendizagem24,34,35.
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Esta atividade, além de ser um momento de bastante descontração no
grupo, deixou claro que seus componentes valorizavam as atividades educativas
não formais, já que em várias situações quem ensina e quem aprende não
estavam identificados especificamente com esta função e não estavam no
ambiente formal de educação.
Outra questão presente nas discussões da psicopedagogia, e que se
evidenciou nos desenhos e na fala dos educadores foi que no processo
educativo, aspectos biológicos, afetivos e intelectuais sofreriam influências e
seriam influenciados pelas condições socioculturais do indivíduo e do seu
meio27.
32
O nome de um educador, do próprio grupo, foi citado como modelo. Tal
situação decorreu da característica comum de que um grupo de educadores
passou pela Associação como educando e hoje trabalha nela, tendo no grupo de
trabalho esse antigo educador. A maneira peculiar de como tratava cada um
deles favoreceu o resgate, pois tinha uma postura de cumplicidade ao mesmo
tempo em que dominava o conteúdo.
Apresentaram-se modelos familiares que ajudaram a construir a maneira
de atuar. O caráter, os valores e atitudes de respeito diante do educando e das
diferenças que cada um apresentava eram, segundo os relatos, contribuições de
aprendizagens que construíram dentro das relações familiares.
Outros modelos para a prática pedagógica foram lembrados pelo domínio
de certo conteúdo e a aproximação do mesmo com a realidade, modelos esses
baseados em profissionais de diversas áreas do mercado de trabalho.
Um último dado relevante foi que apenas dois educadores não relataram
como modelo educadores/professores antigos, das disciplinas que ministravam
no curso.
33
mapa, também era permitido apagar uma ideia colocada anteriormente, ou
relacioná-la com outras. O grupo aceitou e reagiu com muita expectativa.
Ao final da construção, foi pedido que cada educador registrasse, por
escrito, o que era possível ler no que haviam acabado de construir. Quando
encerraram esta etapa, houve a partilha e alguns deles relataram ver uma grande
confusão e que não podiam explicar tudo o que estava colocado no mapa
conceitual.
No encontro seguinte, cada educador recebeu uma cópia do mapa
conceitual construído coletivamente. A intenção foi promover uma discussão
entre duplas que objetivava o repensar do mapa com a produção de uma nova
organização para clarear a atuação do grupo.
Para finalizar esse trabalho, a partir da reorganização do mapa, foi criada
uma proposta de atividades que tinha como base as atividades já desenvolvidas
no "Curso C", ou seja, simulados, encontros dos educadores, a metodologia
utilizada em sala de aula, a organização das turmas, o cronograma de horários
e o material para os educandos.
A reflexão nas duplas foi um momento de muito trabalho criativo, em que
os educadores trocaram e leram a forma como enxergavam cada ponto colocado
na primeira proposta do mapa conceitual.
O momento seguinte serviu para a partilha das duplas.
A primeira dupla, AD e SL, relatou que a partir do momento que se
dedicaram ao mapa algumas coisas pouco compreendidas inicialmente fizeram
sentido. Propuseram atividades para além do curso do qual estavam envolvidos:
organização de um cronograma específico por eixo temático de aulas
"diferentes"; realização de simulados mensais nos finais de semana e; a
realização de atividades culturais e esportivas complementares.
A segunda dupla, EC e FR, apresentou uma releitura que evidenciou a
saída do caos em que se encontravam frente a tantas questões emergentes.
Quanto às sugestões concluíram: algumas semanas temáticas da instituição
(atividades semestrais em que alguns temas relacionados a questões ambientais
e de cidadania eram estudados durante uma semana por todos os educandos
que participavam da Associação) deviam ser agregadas e repensadas em seu
tempo de duração; que era necessário intensificar os temas dos eixos com
atividades conjuntas; que o momento coletivo e mensal de assistir um filme, para
34
reflexão de um tema proposto pela Associação, contasse com participação dos
educandos em sua preparação; que acontecessem simulados nos finais de
semana; que houvesse estímulo aos educandos e aos outros educadores da
instituição na participação em lutas sociais e políticas; além da garantia de um
dia de encontro por eixo no cronograma de atividades semanais dos educandos.
A terceira dupla, FB e BR, organizou o mapa conceitual por cores, em
torno de quatro eixos de atuação: o contexto individual, o contexto coletivo, o
que ofereciam no curso e as dúvidas que surgiram no processo. Sugeriram
muitas propostas: encontros de formação do grupo de educadores com mais
afinidade temática; otimização do tempo de planejamento coletivo; exploração
dos diversos espaços da instituição; preparação dos conteúdos com
oportunidades para que os educandos se expressassem por meio de registros;
aulas temáticas; o uso de material de apoio, pronto ou elaborado pelos
educadores; estudo de meio com diversidade de temas; simpósios preparados
pelos educandos; organização da semana da primavera e da cidadania;
participação dos educandos na preparação da atividade intitulada cine fórum; e
integração dos eixos, projeto de vida e atividades complementares.
A última dupla, EZ e LC, ao apresentar seu mapa conceitual, provocou
um grande debate, caracterizado pela confusão que, segundo os outros
participantes, ainda apresentavam em sua leitura. A dupla conseguiu explicar
que o processo que fizeram era de separar o antes e depois da passagem dos
educandos no curso. Sugeriram: adequação do espaço, com diferenciação da
organização tradicional de escola; exposições artísticas que atingissem e
influenciassem o espaço da sala de aula; semanas temáticas por eixos; mais
estudos do meio e; reorganização do cronograma de aulas.
As discussões trouxeram novos ares para as relações entre os
educadores e, para finalizar, todas as sugestões foram encaminhadas à
coordenação geral do projeto como demonstração da necessidade de
reformulação de aspectos importantes na produção do trabalho pedagógico com
os educandos.
35
CONSIDERAÇÕES FINAIS
36
Na observação desse grupo, foi possível entender um conceito defendido
por M. Freire43 de que todo educador é um "alfabetizador", não só entendido
como aquele que nos primeiros anos de vida escolar ensina a linguagem escrita
à criança, mas como um profissional preocupado com outras linguagens e, em
qualquer faixa etária da vida.
Para tanto, sugere-se que a prática de intervenção crie espaços
sistematizados de acompanhamento desses educadores, em uma constante
entre: a) uma prática estética: apropriação do seu pensamento por meio de
referências culturais e pessoais; b) uma prática reflexiva sobre a ação
pedagógica: momento para pensar com o outro, estruturar hipóteses, registrar o
processo para revê-lo, aprofundar e ampliar suas ideias e; c) uma prática teórica:
significação da realidade por meio de estudos para recriar a prática16,24,28.
Neste processo de intervenção psicopedagógico, o desenvolvimento do
trabalho foi mediado pelas práticas estéticas, reflexivas e teóricas, o que
possibilitou a produção de propostas do grupo de educadores, para a
Associação.
Nesse contexto de educação popular, em que se considerou a realidade
sociocultural do educando, possibilitou-se o avanço da intervenção de maneira
crítica sobre a atuação dos educadores. Com isso finalizaram com propostas
que, fundamentadas na melhoria do trabalho educativo, pretenderam resgatar a
história dos educandos da periferia e construir, com eles, discussões sobre a
cidadania para uma sociedade mais justa e humana, como pretende essa
concepção de educação.
Por fim, cabe ressaltar a importância do distanciamento do profissional
psicopedagogo do processo vivenciado. Desafio importante para que o
envolvimento necessário possibilitasse intervenções profundas com o devido
"cuidado do cuidador"33,45.
37
REFERÊNCIAS
Outeiral JO. Trabalho com grupos na escola. In: Zimerman DE, Osorio LC,
eds. Como trabalhamos com grupos. Porto Alegre: ArtMed;1997. p.359-72.
38
Freire P. Pedagogia da autonomia. Rio de Janeiro: Paz e Terra;1996.
Melo Neto J, Rosas A. Ed. Popular: enunciados teóricos. Vol. 2. João Pessoa:
UFPB;2008.
Fagali EQ. Função materna. In: Psicopedagogia clínica. São Paulo: Ed.
UPM;2008. p.35-49.
39
Freire M. Educador, educa a dor. Rio de Janeiro: Paz e Terra;2008.
RESUMO:
40
PALAVRAS-CHAVE: Psicopedagogia; aprendizagem; conhecimentos;
Educação.
INTRODUÇÃO
41
papel social e não podem ser consideradas como problemas dos alunos.
PARENTE e RENÑA- Scoz(1987 op. cit. Sisto 2008)
Considerando a escola responsável por grande parte da formação do ser
humano, o trabalho do Psicopedagogo na instituição escolar tem um caráter
preventivo no sentido de procurar criar competências e habilidades para solução
dos problemas. Com esta finalidade e em decorrência do grande número de
crianças com dificuldades de aprendizagem e de outros desafios que englobam
a família e a escola, a intervenção psicopedagógico ganha, atualmente, espaço
nas instituições de ensino.
O presente trabalho tem o objetivo de fazer uma abordagem sobre a
atuação e a importância do Psicopedagogo dentro da instituição escolar.
Segundo Rubinstein,
A Psicopedagogia surgiu da inquietação e insatisfação dos profissionais
que tratavam das dificuldades de aprendizagem. ... quero ressaltar que o que
estava em evidencia era o tratamento das dificuldades, pouca preocupação
havia sobre sua origem levando em conta a história do aprendiz. A ênfase estava
em afastar o mal funcionamento por meio de uma boa "ensinagem", e, como
consequência, o aprendiz poderia inteirar-se voltando a aprender normalmente.
Rubinstein apud SCOZ, et, al (2003, p. 127-128):
Os primeiros Centros Psicoterápicos foram fundados na Europa, em 1946
por Boutonier e George Mauco, com direção médica e pedagógica. Estes
Centros uniam conhecimentos da área da psicologia, psicanálise e pedagogia
onde se tentava readaptar crianças com comportamentos socialmente
inadequados na escola ou lar e atender muitas outras com dificuldades de
aprendizagem apesar destas serem crianças inteligentes. Esperava-se na época
através da união psicologia-psicanálise-pedagogia conhecer a criança e o seu
meio para que fosse possível compreender o caso para determinar uma ação
reeducadora, diferenciando os que não aprendiam dos que aprendiam daqueles
que apresentavam algumas deficiências mentais, físicas ou sensoriais.
42
Esta corrente europeia influenciou significativamente a Argentina, tendo
surgido aí há mais de 30 anos sendo Buenos Aires a primeira cidade a oferecer
o curso. Foi na década de 70 que surgiram lá os Centros de Saúde Mental, onde
equipes de psicopedagogos atuavam fazendo diagnóstico e tratamento.
Percebendo estes que um ano após o tratamento os pacientes resolviam seus
problemas de aprendizagem, mas desenvolveram distúrbios de personalidade
como deslocamento de sintoma. Assim resolveram incluir o olhar e a escuta
clínica psicanalítica nas suas práxis.
Sisto adverte:
Convém lembrar, também, que a relação entre desenvolvimento e
aprendizagem, na teoria psicanalítica, é de causa e efeito, tendo o
desenvolvimento emocional como gerenciador primaz do processo de relação
com o mundo e determinante de aprendizagens e seus problemas. Sisto, et al.
(2008, p. 43)
Nesta época as dificuldades de aprendizagem eram associadas a uma
disfunção neurológica denominada de disfunção cerebral mínima (DCM) que
virou moda neste período, servindo para camuflar problemas sociopedagógicos.
Inicialmente, os problemas de aprendizagem foram estudados e tratados por
médicos na Europa no século XIX e no Brasil. Ainda hoje é comum receber no
consultório crianças que já foram examinadas por um médico, por indicação da
Escola ou mesmo por iniciativa da família, devido aos problemas que este
indivíduo está apresentando na escola.
A Psicopedagogia foi introduzida aqui no nosso país baseada em modelos
médicos e foi assim que se iniciaram nos anos 70 cursos de formação de
especialistas em psicopedagogia na clínica médico-pedagógica com duração de
dois anos.
De acordo com Visca (1987):
A Psicopedagogia foi num primeiro momento uma ação subsidiada da
Medicina e da psicologia, perfilando-se como saber independente e
complementar, possuída de um objeto de estudo – o processo aprendizagem –
e de recursos diagnósticos, corretores e preventivos próprios. VISCA (1987, op.
cit. CHAMAT. 2008)
43
Em 1996 foi aprovado em Assembleia Geral no III Congresso Brasileiro
de Psicopedagogia, o Código de Ética que assinala dentre outras coisas, que a
Psicopedagogia é um campo de atuação em saúde e educação que lida com o
processo de aprendizagem humana, é de natureza interdisciplinar e o trabalho
pode se dar na clínica ou instituição, de caráter preventivo e/ou remediativo e
cabe ao psicopedagogo por direito e não por obrigação, seguir esse código.
1.2 – Regulamentação
44
determinará seu modo de ser perante a criança e seus familiares, bem como
diante da equipe a que pertence. Mery (1985, p. 48)
O trabalho do psicopedagogo, possui as seguintes especificidades:
·o "distúrbio de aprendizagem" é encarado como uma manifestação de
uma perturbação que envolve a totalidade da personalidade;
·o desenvolvimento infantil é considerado a partir de uma perspectiva
dinâmica, e é dentro dessa evolução dinâmica que o sintoma "distúrbio de
aprendizagem" é estudado;
·a neutralidade do papel de psicopedagogo é negada, e este conhece a
importância da relação transferencial entre o profissional e o sujeito da
aprendizagem;
·o objetivo do psicopedagogo é levar o sujeito a reintegrar-se a vida
normal, respeitando as suas possibilidades e interesses.
O psicopedagogo deverá respeitar a escola tal como ela é, com suas
imperfeições, porque é através da escola que o aluno se situará em relação aos
seus semelhantes, aí ele optará por uma profissão e participará da construção
coletiva da sociedade a qual pertence. Porém, esse fato não impedirá que o
psicopedagogo colabore com a melhoria das condições de trabalho numa
determinada escola ou na conquista de seus objetivos fazendo com que a
criança enfrente a escola de hoje e não a de amanhã, sem impor a mesmas
normas arbitrarias ou sufocar a individualidade. Busca-se sempre desenvolver e
expandir a personalidade do indivíduo, favorecendo as suas iniciativas pessoais,
suscitando os seus interesses, respeitando os gostos.
Fini, conclui que:
Diante do quadro que se apresenta, é compreensível que um grande
número de estudiosos e pesquisadores, em especial nos últimos anos, venha se
dedicando a investigar e discutir as razões que contribuem para que algumas
crianças tenham sucesso na escola e outras, não.
Quais são as causas do insucesso do aluno na escola? Como
compreender o rendimento insatisfatório? Quais são as dificuldades dos alunos?
Como enfrentar a situação? Como ajudar alunos e educadores? Fini (2008 op.
cit. SISTO, 2008, p. 645)
45
Ao psicopedagogo cabe saber como se constitui o sujeito, como este se
transforma em suas diversas etapas de vida, quais os recursos de conhecimento
de que ele dispõe e a forma pela qual produz conhecimento e aprende. É preciso,
também, que o psicopedagogo saiba o que é ensinar e o que é aprender; como
interferem os sistemas e métodos educativos; os problemas estruturais que
intervêm no surgimento dos transtornos de aprendizagem e no processo escolar.
No trabalho clínico, conceber o sujeito que aprende como um sujeito epistêmico-
epistemofílico implica procedimentos diagnósticos e terapêuticos que
considerem tal concepção. Para isso, é necessária uma leitura clínica na qual,
através da escuta psicopedagógico, se possa decifrar os processos que dão
sentido ao observado e norteiam a intervenção.
46
Numa linha preventiva, o psicopedagogo pode desempenhar uma prática
docente, envolvendo a preparação de profissionais da educação, ou atuar dentro
da própria escola. Na sua função preventiva, cabe ao psicopedagogo detectar
possíveis perturbações no processo de aprendizagem; participar da dinâmica
das relações da comunidade educativa a fim de favorecer o processo de
integração e troca; promover orientações metodológicas de acordo com as
características dos indivíduos e grupos; realizar processo de orientação
educacional, vocacional e ocupacional, tanto na forma individual quanto em
grupo.
Segundo Weiss (2001, p 30), o sucesso de um diagnóstico não reside no
grande número de instrumentos utilizados, mas na competência e sensibilidade
do terapeuta em explorar a multiplicidade de aspectos revelados em cada
situação.
Numa linha terapêutica, o psicopedagogo trata das dificuldades de
aprendizagem, diagnosticando, desenvolvendo técnicas remediativas,
orientando pais e professores, estabelecendo contato com outros profissionais
das áreas psicológicas, psicomotora.
Fonoaudiológica e educacional, pois tais dificuldades são multifatoriais em
sua origem e, muitas vezes, no seu tratamento. Esse profissional deve ser um
mediador em todo esse processo, indo além da simples junção dos
conhecimentos da psicologia e da pedagogia.
O psicopedagogo pode atuar tanto na Saúde como na Educação, já que
o seu saber visa compreender as variadas dimensões da aprendizagem
humana. Da mesma forma, pode trabalhar com crianças hospitalizadas e seu
processo de aprendizagem em parceria com a equipe multidisciplinar da
instituição hospitalar, tais como: psicólogos assistentes sociais, enfermeiros e
médicos.
Nesse aspecto, segundo Pinchon-Rivière (1981),
Existe uma estreita ligação entre o vínculo e a aprendizagem. Aquele que
se faz portador de uma problemática vincular, inefavelmente terá problema de
vinculação com o "Ser que ensina", transferindo isso para o "conhecimento" para
com a família e até com amigos. PINCHON-RIVIÈRE (1981, op. cit. CAMAT,
2008, p. 31),
47
No campo empresarial, o psicopedagogo pode contribuir com as relações,
ou seja, com a melhoria da qualidade das relações inter e intrapessoais dos
indivíduos que trabalham na empresa.
De acordo com o projeto de Lei nº 3.124/97, o psicopedagogo está
capacitado para:
·Intervenção psicopedagógico visando à solução dos problemas de
aprendizagem, tendo por enfoque o indivíduo ou a instituição de ensino público
ou privado;
·Possibilitar intervenção visando à solução dos problemas de
aprendizagem tendo como enfoque o aprendiz ou a instituição de ensino público
ou privado;
·Apoio psicopedagógico aos trabalhos realizados nos espaços
institucionais;
·Atuar na prevenção dos problemas de aprendizagem;
·Desenvolver pesquisas e estudos científicos relacionados ao processo
de aprendizagem e seus problemas;
·Oferecer assessoria psicopedagógico aos trabalhos realizados em
espaços institucionais;
·Orientar, coordenar e supervisionar cursos de especialização de
Psicopedagogia, em nível de pós-graduação, expedidos por instituições ou
escolas devidamente autorizadas ou credenciadas nos termos da legislação
vigente.
Segundo Scoz (1992), a atuação do Psicopedagogo remete-se ora à
identidade clínica, ora à institucional, mas ressalta que ambas estão vinculadas
ao processo de aprendizagem, sendo assim, o Psicopedagogo é um profissional
ligado historicamente à educação.
Entretanto, independentemente da abordagem seguida pelo
Psicopedagogo, existem certos princípios éticos que devem fazer parte da
atuação deste profissional. Visando assegurar esses princípios, a Associação
Brasileira de Psicopedagogia, em assembleia realizada no III Congresso de
Psicopedagogia, aprovou o Código de Ética.
48
2. EDUCAÇÃO E PSICOPEDAGOGIA
PATTO (1991 op. cit. Fini) em seu livro "A Produção do Fracasso Escolar":
mostrou que a problemática do fracasso escolar não é contemporânea.
Sucessivos levantamentos, dos anos 30 a 90, mostraram sempre elevado índice
de evasão e reprovação, principalmente nos primeiros anos na escola pública
brasileira, em contraste com a falta de melhoria das mesmas.
É possível que alunos se defrontem com dificuldades e sejam
prejudicados em determinado período escolar. Quaisquer que sejam as razões,
os alunos podem ser prejudicados em relação ao melhor aproveitamento de
oportunidades de acesso ao saber socialmente valorizado e do desenvolvimento
de habilidades e hábitos relacionados ao processo de construção de
conhecimento. Tolaine (apud SISTO, etal, 2008 p.65)
Considerando os fatores implicados no processo da aprendizagem,
poderíamos pensar no papel de psicopedagogo com relação ao fracasso
escolar. O que a família pensa, seus anseios, seus objetivos e expectativas com
relação ao desenvolvimento de seu filho também são de grande importância para
o psicopedagogo chegar a um diagnóstico. Vale lembrar o que diz Bossa (1994)
sobre o diagnóstico:
O diagnóstico psicopedagógico é um processo, um contínuo sempre
revisável, onde a intervenção do psicopedagogo inicia segundo vimos afirmando,
numa atitude investigadora, até a intervenção. É preciso observar que esta
atitude investigadora, de fato, prossegue durante todo o trabalho, na própria
intervenção, com o objetivo de observação ou acompanhamento da evolução do
sujeito. Bossa(1994, p. 29)
Na maioria das vezes, quando o fracasso escolar não está associado às
desordens neurológicas, o ambiente familiar tem grande participação nesse
fracasso. Boa parte dos problemas encontrados são lentidão de raciocínio, falta
de atenção e desinteresse. Esses aspectos precisam ser trabalhados para se
obter melhores rendimentos intelectuais. Lembramos que a escola e o meio
social também têm a sua responsabilidade no que se refere ao fracasso escolar.
49
A família desempenha um papel decisivo na condução e evolução do
problema acima mencionado, pois, muitas vezes, não quer enxergar essa
criança com dificuldades, essa criança que, muitas vezes, está pedindo socorro,
pedindo um abraço um carinho, um beijo e que não produz na escola para
chamar a atenção para o seu pedido, a sua carência. Esse vínculo afetivo é
primordial para o bom desenvolvimento da criança.
50
2008), as rupturas no vinculo familiar causam, geralmente, bloqueios e ruptura
no vínculo com o "conhecimento". Daí à afirmação que, "afetivo e cognitivo
permanecem lado a lado" e, muitos autores apontam que a quebra ou
defasagem na relação do "Ser que ensina" como o "Ser que aprende" é
desastrosa do ponto de vista da aprendizagem.
O escasso vínculo com o conhecimento torna a aprendizagem e vida
social insatisfatória. Chamat (2008) enfatiza que:
Esse vínculo se encontra evidenciado ou com sequela da ausência dessa
vinculação. Essa vinculação, segundo a autora é responsável, pela criatividade
e pelo desejo de busca, de lidar com o conhecido e desconhecido, que é o
"conhecimento". Chamat (2008, p. 32),
Ter um olhar psicopedagógico de um processo de aprendizagem é buscar
compreender como eles utilizam os elementos do seu sistema cognitivo e
emocional para aprender. É também buscar compreender a relação do aluno
com o conhecimento, a qual é permeada pela figura do professor e pela escola.
A Psicopedagogia preocupa-se, portanto, como a criança aprende.
Segundo Scoz (2003) é na escrita do discurso parental que adquirimos
elementos que nortearão a posição da criança na estrutura familiar permitindo-
nos localizar no sintoma o que é da criança e o que está na marca familiar.
51
Com isso, o trabalho psicopedagógico na instituição escolar deve
direcionar seu olhar e escuta, passando pelas relações pessoais e vínculos entre
o ensinar e o aprender, nas modalidades de aprendizagem dos sujeitos
envolvidos neste processo, nas relações do poder, no mostrar e esconder, na
divisão de papeis, tarefas e funções e nas relações entre escola, família e
comunidade. Estas contribuições da Psicopedagogia devem procurar propostas
que favoreçam a solução de problemas, vislumbrar mudanças, abrir espaços de
pensamentos favorecendo que todos desempenhem suas atividades com mais
satisfação.
Segundo Visca (2008):
O psicopedagogo, no papel de agente corretor, deve priorizar o
"conhecimento" do paciente, mesmo que para tal tenha de realizar
encaminhamento a outros profissionais. Seu papel é de focalizar a problemática
dentro do contexto causa/sintoma e atuar sobre eles. Deve planejar sua atuação
desde o contato telefônico. Visca (op. cit. CHAMAT, 2008, p. 26)
Após o contato telefônico, virá a entrevista com os responsáveis pelo
paciente, expondo a causa dos sintomas e a mudança de atuação dos mesmos
em relação ao sujeito. Será marcada entrevista com todos os envolvidos com o
sujeito, para ouvir a problemática e levantar o diagnóstico.
Analisar a escola, a luz da psicopedagogia significa no processo que inclui
questões metodológicas, relacionais e socioculturais, englobando o ponto de
vista de quem ensina e de quem aprende, abrangendo, conforme já foi dito, a
participação da família e da sociedade.
Existem diferentes enfoques em relação ao que se entende por
Psicopedagogia na escola. (...) è dar-se ao professor e ao aluno tempo;
possibilitar-se uma postura crítica em relação à estrutura da escola e da
sociedade que ela representa. Para isto é necessário um posicionamento sobre
o que a escola produz. Bossa (1994, p. 68).
Reconhecendo que o ensino precisava de uma mudança, o Programa de
Formação de Profissionais da Educação na SMED, propôs uma transformação
não só com os professores, mas, com todos aqueles que tem a ver com ensino
aprendizagem.
52
O projeto de uma escola pública eficaz, que cumpre a função de ensinar
a todos, depende fundamentalmente da formulação de uma política
comprometida com esse objetivo.
E estas decisões governamentais e a teoria pedagógica privilegiam a
formação do professor como meio para implementar transformações no sistema
de ensino.
Aos professores cabia o papel de agente modernizador das nossas
escolas.
Até início da década de 80, na área da alfabetização foram feitas
tentativas para inverter a ineficiência da escola em relação à aprendizagem da
leitura e da escrita, introduzindo novas metodologias.
Segundo Zorzi (2005):
A leitura corresponde a um ato de compreensão, ou seja, a uma busca
daquilo que o texto pode significar. Para que a leitura seja possível, há
necessidade de se compreender os símbolos ou letras e a significação por eles
representados, ou seja, a relação entre símbolos (significantes) e aquilo que eles
simbolizam (significados). Zorzi (2005, p. 23)
Então, teve início a teoria construtivista enfocando o desenvolvimento da
psicologia genética e da linguística contemporânea, onde possibilitou uma nova
compreensão do processo da leitura e da escrita. Com isto, o processo de
mudanças em relação à alfabetização proporcionou uma redefinição da escola
enquanto institucional, como a redefinição da ação didática faz parte igualmente
deste processo. Essa mudança na postura do ensino continua turbulenta e
temerosa, possivelmente, porque pode acarretar no nível de poder insegurança
a quem se julga o dono deste.
Renovar, abrir espaço para o novo é se submeter a ser construtor do seu
conhecimento, e dar abertura ao pensar, a autonomia.
Questiona-se a postura da a escola permitindo aos nossos professores e
alunos o espaço de autoria, ou se é construída dentro de uma falsa autonomia.
Uma proposta pedagógica favorecedora e estimulante ao pensamento
crítico, a autoria, a cooperação, possibilita ao sujeito fazer parte desta mudança
de ensino e, com certeza, uma mudança de vida.
53
Precisa-se trabalhar no sentido de resgatar o desejo de aprender de
alunos e alunas, professores e professoras, em um jogo de troca de lugares de
quem ensina e de quem aprende, sem que se perda o seu lugar. É uma das
possibilidades de humanizarmos a escola, pois, é o desejo que nos marca como
seres humanos.
54
O objetivo acima também requer a existência do conhecimento mútuo, da
formação de vínculos e do estabelecimento de acordos entre esses contextos
originários como condição necessária para que o potencial de desenvolvimento
de cada um deles chegue a se concretizar. Cada escola é em si mesma, uma
comunidade que estabeleceu, ao longo de sua trajetória, uma história de relação
e afeto entre seus membros, entre a equipe de docentes, com os alunos, entre
a equipe e as famílias. Em cada caso, esses aspectos são diferentes.
Os psicopedagogos podem contribuir de maneira proveitosa para o
estabelecimento de canais fluidos de comunicação entre a família e a escola.
Quando ocorrem, essas relações são conduzidas pela confiança e pelo respeito
mútuos e articulam-se em torno de algumas metas ou objetivos concernentes a
ambos os sistemas. São relações nas quais se buscam os aspectos positivos
que possuem todos os interlocutores. Paralelamente, os pais respeitam a tarefa
educacional da escola, criando-se, desse modo, um contexto de relação cômoda
para todos.
O grau em que os familiares possam elaborar expectativas positivas em
relação ao bem-estar e à educação de seus filhos na escola depende da acolhida
que esta oferecer não somente aos alunos, mas à família em seu conjunto, assim
como dos esforços destinados a manter e a cuidar dessa relação. Assim, há uma
variedade de intervenções que estão vinculadas à cultura da escola em relação
às famílias.
O psicopedagogo pode colaborar, também, para que a escola sinta
interesse em conhecer a opinião dos pais, seja quanto às questões globais, seja
quanto a outras mais específicas relacionadas à educação de seu filho.
Todas as intervenções têm como fim prioritário melhorar a comunicação
entre a família e a instituição educacional e fomentar entre elas relações
positivas. Portanto, a família é peça fundamental para o tratamento dos
problemas de aprendizagem. Segundo Fernández (1991), se o paciente é uma
criança ou adolescente, o modo de diagnosticar pode estar relacionado com o
olhar-conhecer por meio da família.
A presença da família ajuda a observar mais rapidamente a existência de
significações sintomáticas localizadas em vínculos relacionados ao aprender,
permite realizar diagnósticos diferenciais entre sintoma (problema de
aprendizagem-sintoma) e problema de aprendizagem reativo.
55
O psicopedagogo deve buscar o que significa o aprender para esse sujeito
e sua família, tentando descobrir a função do não aprender. Conhecer como se
dá à circulação de conhecimento na família, qual a modalidade de aprendizagem
da criança, não perdendo de vista qual o papel da escola na construção do
problema de aprendizagem apresentado, tentando também engajar a família no
projeto de atendimento para ampliar seu conhecimento sobre a dificuldade,
modificando seu modo de pensar e de agir com relação à criança.
Em cada um de nós, podemos observar um particular "modalidade de
aprendizagem", quer dizer, uma maneira pessoal para aproximar-se do
conhecimento e para conformar seu saber. Tal modalidade de aprendizagem
constrói-se desde o nascimento, e através dela nos deparamos com a angústia
inerente ao conhecer-desconhecer. A modalidade de aprendizagem é como uma
matriz, um molde, um esquema de operar que vamos utilizando nas diferentes
situações de aprendizagem. Fernandez (1991: p. 109).
A modalidade de aprendizagem revela a forma e o conteúdo do processo
de estruturação da aprendizagem do sujeito, trazendo em seu bojo a criação do
material pedagógico como um objeto resultante do processo de ensino-
aprendizagem. Diferentemente do modelo de aprendizagem geral e
universalista, a modalidade de aprendizagem é sempre singular e específica.
Fernández (1991) fala de um enfoque clínico que significa preocupar-se
com os processos inconscientes e não somente com a patologia; é fazer uma
escuta particular do sujeito que possibilite não só encontrar as causas do não-
aprendizado, mas também organizar metodologias para facilitar a aprendizagem
e o desempenho escolar.
As rupturas no vinculo familiar causam, geralmente, bloqueios e rupturas
no vínculo com o "conhecimento". Os afetivos e cognitivos permanecem lado a
lado. É sabido que toda quebra na vinculação afetiva acarreta perdas e ou
bloqueios cognitivos. Pode acontecer de ocorrerem ambos simultaneamente.
É importante que o ensinante introduza o conhecimento ao aprendiz de
forma prazerosa através do lúdico, onde de forma inconsciente o brincar vai
criando vínculo com conhecimento.
56
CONCLUSÃO
57
as condições, as interações de fatores de ordens diversas na construção do
conhecimento, daquela criança daquela família daquele professor, e daquela
instituição. Observa se os conteúdos trabalhados e se as práticas pedagógicas
daquela instituição estão de acordo com o Projeto Pedagógico e com o
Regimento Escolar da mesma, para poder dar uma devolutiva de forma que
venha a contribuir para o crescimento desta através de mudanças que virão a
ocorrer de comum acordo com todos.
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intervined between the individual and its difficulties of learning, she must know
the problems and interpret it for then intervining in the way most correct. Of this
form, the Psicopedagogo will go to assist the individual to return the normal
passage from the learning, being established a positive bond with the same and
its familiar ones, objectifying to rescue the pleasure to learn. Detaching as
referencial theoretician.
BIBLIOGRAFIA
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contribuição para a educação pós-moderna. Petrópolis, RJ: Vozes; São
Paulo: ABPp, 2003.
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