Aprendizagem Social, Emocional & Ética
Aprendizagem Social, Emocional & Ética
emocionais e éticas. Nessa estrutura, estão incluídos currículos desenvolvidos para atender todas as etapas
da educação básica bem como um arcabouço de apoio para a formação de educadores, certificação de
facilitadores e desenvolvimento profissional contínuo. A Aprendizagem SEE baseia-se nas melhores práticas
dos programas de Aprendizagem Socioemocional (ASE) e expande-as, desenvolvendo novas práticas
pedagógicas e ampliando o corpo de pesquisa científica. Tais inovações compreendem o treino sistemático
da atenção, o cultivo da compaixão para si e para os outros, o fortalecimento das habilidades de resiliência
por meio do cuidado informado sobre o trauma, o pensamento sistêmico e o discernimento ético.
DIMENSÕES
Aprendizagem SEE
LIVRO DE APOIO
SISTÊMICO SOCIAL PESSOAL
APRENDIZAGEM
SOCIAL,
Consciência Compaixão Habilidades de
Interpessoal Pelos Outros Relacionamento
EMOCIONAL
& ÉTICA
Compreendendo a Reconhecendo a Engajamento
Interdependência Humanidade Comum Local & Global Educando o Coração e a Mente
ISBN 978-0-9992150-3-6
90000
compassion.emory.edu
Para mais informações, entre em contato através 9 780999 215036
do endereço [email protected]
Aprendizagem SEE
LIVRO DE APOIO
APRENDIZAGEM
SOCIAL,
EMOCIONAL
& ÉTICA
Educando o Coração e a Mente
Copyright © Emory University 2019.
ISBN 978-0-9992150-3-6
Índice
Agradecimentos 6
O Guia de Implementação
Seção 1 | Primeiros Passos 89
Seção 2 | Os Princípios para uma Sala de Aula Compassiva 95
Seção 3 | Os Múltiplos Papéis do Educador da Aprendizagem SEE 100
Seção 4 | Adaptando a Aprendizagem SEE às Necessidades dos 103
seus Alunos
Seção 5 | Avaliando a Aprendizagem 106
Seção 6 | Outros Pontos Cruciais para uma Implementação Bem-Sucedida 108
Glossário 111
No mundo de hoje, estamos todos interconectados. Os desafios que enfrentamos e que as futuras gerações enfrentarão
exigem cooperação internacional, interétnica e inter-religiosa. Devemos nos ver não como adversários, competindo
por recursos limitados, mas como irmãos e irmãs que estão juntos no único planeta que chamamos de lar. Portanto,
precisamos de um novo modo de pensar, um modo atualizado que reconheça nossa interdependência e a necessidade
de resolver problemas e de fomentar a mudança por meio do diálogo e da colaboração. Nossa compaixão não pode
ser limitada apenas àqueles com quem nos identificamos ou com quem compartilhamos cidadania ou fé. Baseados na
humanidade que compartilhamos, devemos estender essa compaixão de forma que todos os seres possam ser acolhidos.
Todas as religiões pregam a compaixão, mas para que essa abarque todos os seres, precisamos de uma abordagem ética
com apelo universal: uma ética secular que nutre valores humanos básicos como a empatia, a tolerância, o perdão e o
amor. Pesquisas recentes têm nos mostrado que tais valores podem ser cultivados por meio da educação e da prática,
fundamentadas no senso comum, na experiência e nas descobertas científicas. Tais valores podem ser interiorizados
em nossos corações e mentes, não através da imposição de regras, mas da aplicação voluntária do raciocínio e da
investigação.
Estou satisfeito em saber que a Universidade Emory e seu Centro de Ciência Contemplativa e Ética Baseada na
Compaixão adotaram essa abordagem em seu programa de Aprendizagem Social, Emocional e Ética (Aprendizagem
SEE). O foco desse programa é a educação integral da criança. A Aprendizagem SEE incorpora as mais recentes práticas
e pesquisas em educação, a fim de criar um material que gera grande benefício para as escolas, educadores e alunos.
Eu valorizo profundamente a parceria com a Universidade Emory, que começou há mais de vinte anos atrás, devido ao
nosso apreço comum pela educação do coração e da mente.
O grande número de conselheiros e colaboradores, que inclui não apenas os meus amigos dedicados da Universidade
Emory, mas também especialistas comprometidos vindos de diferentes países, demonstra que a aprendizagem ética é
uma iniciativa mundial. Desde o início, a Aprendizagem SEE foi concebida para implementação internacional e evoluiu
graças à cooperação de pessoas de diferentes culturas e nações, falantes de línguas diferentes.
A criação de uma iniciativa mundial para educar o coração e a mente é um sonho antigo. Eu gostaria de agradecer
aos muitos indivíduos e organizações que apoiaram este trabalho de várias maneiras. Aproveito para encorajar outros
educadores a explorarem este programa e seu enorme potencial. Minha esperança é que através de nossos esforços
coletivos possamos fazer uma contribuição significativa para o florescimento da humanidade por muitas gerações
vindouras.
23 de janeiro de 2019
PREFÁCIO
Quando escrevi Inteligência Emocional na metade dos anos 90, apresentei o conceito hoje conhecido como
“alfabetização emocional”. Esse conceito fala sobre a necessidade de educar crianças sobre suas próprias
emoções, sobre como lidar com estas de maneira benéfica, sobre como ser empático, e também sobre
como utilizar este conjunto de habilidades humanas para ter relações harmoniosas e tomar decisões sociais
adequadas.
Desde então, o conceito de alfabetização emocional tem se popularizado. Hoje em dia, escolas em diversos
países adotam abordagens de educação integral, e para isso vão além dos conteúdos acadêmicos.
Este movimento tem sido chamado de “Aprendizagem Socioemocional”. Tal movimento gerou os melhores
currículos, baseados em descobertas científicas de ponta sobre as emoções e o cérebro.
Contudo, alguns elementos importantes para uma educação integral ficaram de fora de tais programas.
Alguns desses elementos se tornaram evidentes para mim quando trabalhei com o Dalai Lama na
realização do livro Uma Força para o Bem: A Visão do Dalai Lama para o nosso Mundo. Educar o coração
é parte fundamental da visão dele para um mundo melhor. Tal educação inclui ajudar os alunos a ganhar
um direcionamento ético baseado na compaixão. Ainda segundo o Dalai Lama, para além da mera
compreensão conceitual, é necessário praticar de acordo com tais conceitos éticos ao longo de nossas vidas
para que possamos seguir em uma direção positiva. Sua Santidade aponta, “as pessoas do século XX” tem
criado problemas globais, entre eles notamos uma diferença crescente entre ricos e pobres, um aumento nos
conflitos baseados em visões equivocadas sobre “nós Vs. eles” e o aquecimento global que “as pessoas do
século XXI” terão que resolver.
A educação é a chave para o crescimento intelectual. Como o Dalai Lama tem dito por décadas, nós
precisamos incorporar valores humanos básicos e senso de responsabilidade universal na educação. Acima
de tudo, Sua Santidade vê o ensinamento da compaixão como algo essencial. E por isso reuniu especialistas
da Universidade Emory para o desenvolvimento do currículo da Aprendizagem SEE e apoia com entusiasmo
a sua implementação.
A escolha da Universidade Emory como plataforma para este programa remonta à uma brilhante relação
iniciada há mais de 20 anos entre o Dalai Lama e a instituição, que lhe concedeu o título de Professor
Honoris Causa no ano de 2007. A Aprendizagem SEE incorpora as ideias mais importantes de Sua
Santidade sobre uma educação básica para o futuro. Muitos dos seus livros, entre eles Além da Religião e
Ética para um Novo Milênio, foram referências importantes para o desenvolvimento da estrutura conceitual
da Aprendizagem SEE. Além dessas importantes obras, o livro do qual sou coautor com Peter Senge, O
Foco Triplo: Uma nova abordagem para a Educação, também se tornou um importante referencial. Nessa
obra, apresentamos um modelo de educação que busca nutrir a compaixão, aguçar a atenção e, ao mesmo
tempo, expandir a compreensão sistêmica, iluminando sistemas mais amplos que influenciam nossas vidas
de forma direta ou indireta.
A Aprendizagem SEE tem integrado brilhantemente todas estas inovações pedagógicas às salas de aula. Eu
tenho chamado a Aprendizagem SEE de uma versão 2.0 da Aprendizagem Socioemocional, uma versão
arrojada que estabelece as bases para uma nova abordagem na educação.
5
Agradecimentos
O programa de Aprendizagem Social, Emocional e Ética (Aprendizagem SEE) da Universidade Emory é o resultado
dos esforços de muitos indivíduos, muitos dos quais ofereceram seu tempo, trabalho, energia e esforços sem pensar
em recompensas ou mesmo reconhecimento. Visto que são várias centenas de benfeitores, seria muito difícil, senão
impossível, listar aqui os nomes de todos os consultores, especialistas, escritores, pesquisadores, professores,
conselheiros, administradores, funcionários e alunos que contribuíram significativamente para a criação do programa
e seus materiais. Para cada pessoa que contribuiu de alguma forma, a equipe da Aprendizagem SEE da Universidade
Emory oferece sinceros agradecimentos, e esperamos que o programa - agora e à medida que continua a crescer e
se desenvolver - reflita seu compromisso coletivo, insights, esperanças e visões. Um grupo de indivíduos com vasta
experiência em educação, psicologia do desenvolvimento e pesquisa serviram generosamente como consultores
especialistas no desenvolvimento da estrutura e currículos da Aprendizagem SEE. Entre eles, gostaríamos de agradecer
especialmente ao Dr. Daniel Goleman, ao Dr. Mark Greenberg, ao Dr. Thupten Jinpa, ao Dr. Robert Roeser, à Sophie
Langri e a Dra. Tara Wilkie. Devemos uma imensa dívida de gratidão às nossas especialistas e conselheiras, Dra.
Kimberly Schonert-Reichl, que contribuiu especialmente para o desenvolvimento do currículo, bem como do Livro de
Apoio da Aprendizagem SEE e o segmento de pesquisa e avaliação do programa; e Linda Lantieri, que supervisionou
cuidadosamente o desenvolvimento do currículo, a formação dos educadores e muitos outros aspectos do programa.
Expressamos nossa sincera gratidão também à nossa consultora especialista Elaine Miller-Karas e ao Trauma Resource
Institute, por apoiar o programa e permitir generosamente o uso de materiais importantes sobre trauma e resiliência.
Esses orientadores têm pacientemente e habilmente guiado e moldado a Aprendizagem SEE ao longo de vários anos,
pelos quais somos profundamente gratos.
A redação do currículo foi um esforço coletivo e reflete o trabalho e a experiência de dezenas de professores e
desenvolvedores de currículo. Agradecemos especialmente aos redatores de currículos e as consultoras Jennifer Knox,
Jennifer Kitil, Molly Stewart Lawlor, Emily Austin Orr, Kelly Richards, Julie Sauve, Jenna Whitehead e Jacqueline Maloney,
que também contribuíram para a seção de implementação da Aprendizagem SEE que é parte do Livro de Apoio. Somos
muito gratos àqueles que estavam engajados no processo de design e produção de livros, incluindo Brook Bolen, Ann
McKay Bryson e Estella Lum, bem como a XD Agency pelo desenvolvimento da plataforma online para formação de
educadores da Aprendizagem SEE. Somos imensamente gratos às escolas e seus gestores que se associaram conosco
para pilotar o programa em suas aulas, incluindo a Escola Paideia, a Escola Kindezi, a Academia Woodward, a Academia
Judaica de Atlanta e a Academia Excel na Geórgia, EUA; o distrito escolar de Peoria, Illinois; Escolas Públicas de Aspen,
Aspen Country Day School e Capela de Aspen; a Escola Tong-Len em Dharamsala, na Índia; e outras. Entre essas e outras
escolas, uma equipe altamente experiente de educadores de todos os níveis da educação básica desempenhou papel
importantes na criação de idéias para conteúdo curricular, pilotando o SEE Learning em suas salas de aula e fornecendo
importantes devolutivas. Entre eles estão Nicolas Alarcon, Martha Caldwell, Carri Carver, Penny Clements, José Cordero,
Ryder Delaloye, Tyson Deal, Aiden Downey, Rosalynne E. Duff, Barbara Dunbar, Jonathan B. Grainger, Mary Hastings,
Elizabeth Hearn, Tally Johnson, Ben Knabel, Megan Noonan, paróquia de Connie Zimmerman, Jonathan Petrash, Bonnie
Sparling, Tricia Underwood, Annette Wawerna, Connie White e Lindsay Wyczalkowski.
Agradecemos aos nossos muitos parceiros internacionais e aos membros do Comitê Consultivo Internacional da
Aprendizagem SEE, que trabalharam e continuam trabalhando para garantir que a Aprendizagem SEE possa ser útil em
todo o mundo e disponível em vários idiomas, países e culturas. Somos especialmente gratos a Veer Singh e à Vana
6
Foundation na Índia; Geshe Lhakdor, Presidente do Conselho de Educação e Diretor da Biblioteca de Obras e Arquivos
Tibetanos, Dharamsala, Índia; Ao Sr. Tsewang Phuntso, Diretor Executivo da Tibet House Brasil; TibetHaus Frankfurt,
Dra. Corina Aguilar-Raab e Silvia Wiesmann-Fiscalini; Instituto Lama Tzong Khapa, na Itália; e o Sr. Richard Moore da
Fundação Children in Crossfire na Irlanda do Norte.
O SEE Learning é um projeto do Centro de Ciência Contemplativa e Ética Baseada na Compaixão da Universidade
Emory, e cada membro da equipe do Centro contribuiu para o desenvolvimento deste programa, muitos de forma
essencial. O desenvolvimento da Aprendizagem SEE tem sido liderado e dirigido desde o início pelo Dr. Lobsang Tenzin
Negi, Diretor Executivo do Centro. Desde o início, o Dr. Brendan Ozawa-de Silva tem servido como Diretor Associado
da Aprendizagem SEE, que, junto com o Dr. Negi, serviu como principal coautor do quadro coceitual e supervisionou
a escrita do currículo e outros aspectos do programa. Todos os membros da equipe do Centro contribuíram para o
programa, e somos especialmente gratos pelas imensas contribuições de Carol Beck, Timothy Harrison, Geshe Dadul
Namgyal, Tyralynn Frazier, Tsondue Samphel, Lindy Settevendemie, Tenzin Sonam e Christa Tinari por seu importante
trabalho no desenvolvimento da Aprendizagem SEE. Também estamos agradecidos pela orientação e apoio do
Conselho Consultivo deste Centro, representando departamentos em toda a universidade e em particular, seus dois
copresidentes, o Dr. Gary Hauk e o Dr. Robert Paul. Também somos muito gratos à comunidade da Universidade Emory
por seu inestimável apoio, incluindo o gabinete da presidente Claire Sterk, o reitor do Emory College, Michael Elliott, e
os muitos outros departamentos e escritórios da universidade que contribuíram para o estabelecimento do centro e para
o bom andamento dos trabalhos.
Finalmente, agradecemos profundamente à Sua Santidade o Dalai Lama, sem o qual este projeto não teria sido possível,
por sua visão inspiradora e seu apoio constante, incluindo o apoio do Escritório de S.S. o Dalai Lama em Dharamsala, e
os Escritórios do Tibete em todo o mundo. Sob vários aspectos, SEE Learning é a culminação de uma parceria entre o
Dalai Lama e a Universidade Emory, que remonta a mais de 20 anos e que foi fundada em uma visão de colaboração
intercultural e interdisciplinar para o benefício de humanidade. O Dalai Lama tem lutado incansavelmente pela promoção
dos valores humanos básicos e pelo que ele chama de “ética secular” em todas as áreas da sociedade, especialmente
em sua visão de “educação para o coração e a mente”. O programa da Aprendizagem SEE procura ser um exemplo
do potencial desta abordagem corajosa e universal. O Dalai Lama esteve pessoalmente envolvido no financiamento
inicial deste programa, sem o qual nada disto teria sido possível. Somos imensamente gratos à Fundação Gaden
Phodrang do Dalai Lama na Suíça, à Fundação Omidyar, à Fundação Yeshe Khorlo, à Walton Family Foundation, à Robins
Foundation, bem como a Lexie e Robert Potamkin e Joni Winston por seu generoso apoio financeiro e sua confiança no
potencial deste programa. Como resultado de tantos esforços, esperamos que muitas gerações futuras se beneficiem
significativamente.
Com gratidão,
A Equipe de Desenvolvimento da AprendizagemSEE
7
1
Introdução
Este capítulo oferece uma visão global sobre a Aprendizagem SEE e descreve sua estrutura
conceitual. Os capítulos seguintes trazem detalhes de cada componente da estrutura. Estes são
seguidos de uma sessão sobre implementação e um glossário. O programa da Aprendizagem
SEE não é composto apenas de uma estrutura, mas também de uma série de currículos
baseados no presente documento. Os currículos traduzem as concepções presentes nesta
estrutura em sequências didáticas (denominadas “experiências de aprendizagem”) que apoiam
a construção de conhecimentos e habilidades dos alunos. O programa conta ainda com recursos
para a formação de educadores, implementação e avaliação do programa. Os currículos foram
elaborados para atender faixas etárias específicas e, assim como os recursos para implementação
do programa, encontram-se em volumes separados.
9
Uma Abordagem Ética Não-Sectária
A Aprendizagem SEE se destina a servir como uma abordagem que pode ser usada em diferentes
países e culturas, bem como em escolas que possam ser confessionais ou não. Sua abordagem
da ética não se baseia em nenhuma tradição religiosa ou cultural em particular. Trata-se de uma
abordagem da “ética secular”, uma perspectiva não-sectária da ética universal, que pode ser
aceita por pessoas de qualquer ou nenhum credo. Assim como o Aprendizagem SEE visa facilitar
uma melhor “alfabetização emocional”, também procura promover a “alfabetização ética”,
entendida aqui não como um conjunto de regras externas, mas como o cultivo de habilidades e
compreensões que podem promover comportamentos conducentes ao bem-estar próprio e alheio.
É preciso reconhecer que esta abordagem foi influenciada por um grande número de pensadores
pioneiros que têm refletido sobre as possibilidade e os potenciais de tal abordagem ética, e as
formas pelas quais ela pode contribuir para a nossa sociedade e o nosso mundo. Proeminente
entre estes pioneiros, está Sua Santidade o Dalai Lama, que tem apelado por uma abordagem
holística da educação. Tal abordagem vai além das disciplinas acadêmicas tradicionais e nutre uma
mentalidade benevolente e ética, fundamentada nos valores humanos básicos, valores esses que
podem ser discernidos a partir do bom senso, da nossa experiência compartilhada e da ciência. Os
escritos e ideias do Dalai Lama sobre a ética secular e sua implementação na educação decorrem
de mais de quatro décadas de conversas com cientistas, educadores e importantes líderes
religiosos do mundo todo. Recentemente, esse rico diálogo tem sido estudado e desenvolvido por
pensadores de uma variedade de disciplinas. Além disso, o Dalai Lama e a Universidade Emory
celebram uma parceria de mais de vinte anos que é tem fomentado diálogos internacionais e
interculturais. Essa colaboração entre o Dalai Lama e a Universidade Emory deu origem a pesquisas
pioneiras em áreas como a ciência da compaixão, que apoia a visão de uma educação para a
mente e o coração.
A ideia de que cultivar valores humanos básicos pode beneficiar a si mesmo e aos outros, tem
ganhando terreno rapidamente e pesquisas têm mostrado a conexão entre valores éticos e o
florescer humano em todo o mundo. A edição de 2016 do World Happiness Report contém um
capítulo inteiro sobre a ética secular, e observa: “Devemos avaliar o progresso humano na medida
em que as pessoas estão aproveitando suas vidas - pela prevalência da felicidade e, inversamente,
a ausência de miséria ... [Nós] deveríamos, em todas as nossas relações, realmente desejar a
felicidade de todos aqueles que podemos afetar, e devemos cultivar em nós mesmos uma atitude
de benevolência incondicional.” O relatório continua citando a declaração do Dalai Lama de que
“precisamos de uma abordagem à ética que possa ser igualmente aceitável por aqueles com fé
religiosa e aqueles sem. Precisamos de uma ética secular.1”
1
Layer, Richard. “Promoting Secular Ethics.” Ed. Helliwell, J., Layard, R., & Sachs, J. (2016). World Happiness Report
2016 [Reporte Mundial de la Felicidad 2016], Update (Vol. I). New York: Sustainable Development Solutions Network..
Uma vez que procura basear sua abordagem no bom senso, na experiência comum e na ciência,
a Aprendizagem SEE é um modelo inspirado e coconstruído por cientistas e pesquisadores nas
áreas de psicologia, educação e neurociência, que estão explorando a natureza fundamental dos
valores humanos, bem como as emoções pró-sociais e competências, e como estes podem ser
ensinados e cultivados. Finalmente, a Aprendizagem SEE baseia-se na experiência de educadores
que participaram de projetos piloto com aplicação parcial envolvendo crianças de diferentes faixas
etárias, em escolas de vários países. Essas experiências sugerem que a abordagem apresentada
neste quadro tem grande potencial para beneficiar a sociedade, além de ter fácil implementação
em escolas de diferentes contextos.
A Aprendizagem SEE baseia-se na ideia de que a educação pode, e de fato deve, ser expandida
para promover os valores e competências que conduzem à uma maior felicidade para indivíduos
e a sociedade à qual pertencem, ideia essa que ganha crescente apoio em vários círculos.
Cada vez mais, pesquisas sugerem que não é sábio que a educação se concentre apenas em
questões cognitivas, negligenciando as chamadas soft skills ou habilidades comportamentais,
como inteligência emocional e social, a capacidade de cooperar e colaborar com os outros e a
capacidade de lidar construtivamente com conflitos. O economista ganhador do prêmio Nobel,
Dr. James Heckman, que defende a inclusão de habilidades comportamentais na educação, cita
pesquisas que indicam que o sucesso nos diferentes aspectos da vida depende de tais habilidades,
que são tão importantes quanto o desempenho em testes de aptidão cognitiva2. Cada vez mais,
os empregadores em vários campos estão reconhecendo a importância crucial das habilidades
comportamentais quando se trata de contratar novos funcionários.
A intenção por trás da Aprendizagem SEE é criar uma estrutura inclusiva e abrangente para ser
2
Heckman, James J. and Tim D. Katuz. Hard Evidence on Soft Skills. National Bureau of Economic Research, June 2012.
Capítulo 1 | Introdução 11
usada em qualquer ambiente educacional e em todos os níveis de ensino, com o objetivo de
ensinar competências sociais, emocionais e éticas da mesma forma como os alunos aprendem
matemática, línguas estrangeiras, ciências ou qualquer outra disciplina. Esta estrutura conceitual
reconhece a importância da aplicação prática, e não apenas da abordagem teórica, e busca
ser específica o suficiente para propor teorias e práticas sobre como a ética secular pode ser
incorporada na sala de aula. Ao mesmo tempo, tal estrutura busca ser ampla o suficiente para que
professores e escolas possam abordar a ética secular de uma forma adequada à sua própria cultura,
às necessidades e habilidades dos alunos com os quais estão trabalhando e as oportunidades e
desafios que podem estar presentes.
Em consonância com esta estrutura, a Aprendizagem SEE não tem como finalidade promover
qualquer tipo de agenda moral sectária, nem deve impedir ou substituir o papel de família ou da
cultura em ajudar as crianças a se engajar construtivamente nos desafios da vida. A Aprendizagem
SEE funcionará melhor quando os esforços educacionais em sala de aula forem apoiados e
espelhados nos esforços conjuntos das famílias e da sociedade. Enquanto a Aprendizagem SEE
fornece enquadramento para conteúdos curriculares, reconhece também que uma verdadeira
educação pelas competências sociais, emocionais e éticas depende não apenas do currículo, mas
também do ambiente em que a aprendizagem ocorre.
Ao mesmo tempo que se baseia no trabalho pioneiro realizado pela comunidade de criadores da
ASE, a Aprendizagem SEE adiciona componentes muitas vezes ausentes na ASE, mas que têm
sido sugeridos como complementos importantes por alguns dos fundadores desse movimento.
O primeiro deles é a ênfase no cultivo da habilidade atencional. A atenção é uma habilidade
fundamental que afeta todos os aspectos da aprendizagem, no entanto, tem sido amplamente
3
http://www.casel.org/social-and-emotional-learning/core-competencies
Em segundo lugar, a Aprendizagem SEE adiciona um enfoque mais abrangente sobre ética.
Conforme descrito acima, não se trata de uma ética confessional, mas uma ética baseada em
princípios humanos básicos, como a compaixão. Os benefícios da gentileza e da compaixão são
explorados na Aprendizagem SEE, e, através de materiais e práticas, os alunos aprendem como
desenvolver sua capacidade para cuidar melhor de si e dos outros. O aumento de evidências
científicas tem apoiado a noção de que uma atitude compassiva e solidária é benéfica, em
termos de saúde física e emocional, não só para os outros mas também para quem a pratica, e
as implicações de tal atitude no nível do bem-estar social são claras. Dr. Goleman apontou para
a ausência deste componente crítico nas escolas: “Não é suficiente apenas saber como as outras
pessoas pensam ou sentem; também precisamos nos preocupar com eles e estar prontos para
ajudar. Acho que essa é um habilidade de vida essencial para crianças e adultos, e tal adição à ASE
seria um importante próximo passo para as escolas.5”
4
Goleman and Senge, El Triple Focus: Un nuevo acercamiento a la Educación (Florence, Mass: More than Sound, 2015), p. 27.
5
Goleman and Senge, The Triple Focus, 30
Capítulo 1 | Introdução 13
necessidade de preparar os estudantes para serem cidadãos globais, que possam navegar por um
mundo cada vez mais complexo, de forma responsável a contribuir com o florescimento deles e
dos outros. A Aprendizagem SEE inclui o ensino explícito da teoria de sistemas e também adota
uma abordagem sistêmica ela mesma. Uma abordagem sistêmica – isto é, uma abordagem que
reconheça que existimos em e somos afetados por sistemas interdependentes - é o próximo passo
lógico para programas que se concentram em ajudar os alunos a aprender práticas de altruísmo e
autocuidado.
Para que nossa ação possa ser construtiva – individual e coletivamente – primeiro é preciso
que nos tornemos conscientes do problema. Segundo, é preciso cuidar e desenvolver um
investimento emocional que gere motivação. Finalmente, precisamos conhecer meios hábeis
para agir.
Conciência Compaixão
ico
So
Engajamento
têm
cia
l
Sis
l Domínios l Dimensiones
ico
So
So
têm
cia
cia
l
Sis
Sis
centro das três dimensões desta concepção. Compaixão refere-se ao cultivo de um modo de
se relacionar consigo mesmo, com os outros e com a humanidade por meio da bondade, da
empatia e um cuidado genuíno com a felicidade e o sofrimento desses indíviduos. Considerando
que os valores da Aprendizagem SEE não se baseiam em injunções, mas sim no discernimento
pessoal e compreensão, o cultivo da compaixão e da bondade não deve acontecer por meio
de meras instruções para que alunos se comportem de forma compassiva. Portanto, crucial
As outras duas dimensões servem como apoio para a dimensão da compaixão: a consciência
dos nossos estados mentais e da vida mental dos outros – especialmente a forma como
experimentam felicidade e sofrimento – é essencial para cultivar autocompaixão e compaixão
pelos outros. A consciência da interdependência e dos sistemas mais amplos nos quais nós
existimos junto com outros, é essencial para o engajamento efetivo de cidadãos orientados pela
compaixão. De forma semelhante, as práticas de engajamento e as habilidades necessárias para
a compaixão –aquelas orientadas no sentido do autocuidado, do cuidado com aqueles que nos
cercam ou do cuidado com comunidades mais amplas – precisam ser aprendidas e, por sua vez,
tornam-se expressão e suporte da compaixão e do cuidado.
Muitas vezes, a compaixão é confundida com fraqueza – por permitir que os outros consigam
o que querem as custas daqueles que praticam a compaixão, ou até mesmo permitir o bullying
ou outros comportamentos negativos. Entretanto, na Aprendizagem SEE a compaixão é sempre
entendida como compaixão corajosa. Isto não implica fraqueza ou incapacidade de enfrentar a
injustiça, pelo contrário, ela significa uma postura de preocupação e consideração em relação
aos outros que resulta em maior força interior. Já que a ética se refere à maneira como nos
comportamos e interagimos entre nós, os estudiosos reconheceram que a consideração pelos
outros e suas experiências de bem-estar e sofrimento está no coração de todo pensamento
ético8.
6
Jinpa, Thupten. Um Coração Sem Medo: Porque a compaixão é o segredo mais bem guardado da felicidade (Ed.
Sextante), p.14.
7
Jinpa, T., Ibid.
8
Para exemplos de trabalhos na area da psicologia cultural e psicologia moral, veja Richard Schweder e Walter
Sinnott-Armstrong; em outras areas, o mesmo argumento foi apoiado por Martin Buber, Emmanuel Levinas, Arthur
Schopenhauer e outros.
Para que as competências individuais da Aprendizagem SEE tenham ressonância mais profunda
nos estudantes e no ambiente de aprendizagem, é importante que a compaixão se torne uma
postura consciente nas escolas que venham a implementar o programa . Quando professores,
pais e demais membros da comunidade modelam o comportamento compassivo em suas
atividades e relações interpessoais, esta postura integra-se ao ambiente escolar em geral.
Estabelecer a compaixão como um valor comum acordado entre os membros da comunidade
ajuda os professores a nutrir essa atitude em seus alunos.
Demonstrou-se que existem mais consequências negativas para as crianças vulneráveis, vivendo
em ambientes desprovidos, e resultados positivos para crianças na mesma situação, mas em
ambientes favoráveis10. Há também um corpo crescente de pesquisa mostrando os efeitos
benéficos da gentileza e cuidado na liberação do hormônio do estresse e na função imunológica
em crianças e até em animais11. Assim, tanto em termos de resultados na aprendizagem e na
saúde física, a compaixão e a gentileza no ambiente escolar têm implicações muito profundas.
9
Thapa, A., Cohen, J., Higgins-D’Alessandro, A., & Guffey, S. (2012). School climate research summary: August 2012.
School Climate Brief, 3, 1-21.
10
Bakermans-Kranenburg MJ, van Ijzendoorn MH. Research Review: genetic vulnerability or differential susceptibility in
child development: the case of attachment. J Child Psychol Psychiatry. 2007 Dec;48(12):1160-73.
Engajamento
É possível que tenhamos consciência de uma necessidade, e também a presença da
preocupação, mas ainda assim pode nos faltar a habilidade para agir de maneira apropriada.
É por isso que o engajamento é a terceira dimensão da Aprendizagem SEE. Engajamento
refere-se aos métodos pelos quais se põe em prática o que se adquiriu a partir das dimensões
da consciência e da compaixão. Esta dimensão refere-se ao aprendizado de comportamentos
e aos hábitos, atitudes, disposições e habilidades que nos conduzem ao bem-estar pessoal,
social e comunitário. Isto inclui práticas de autorregulação no domínio pessoal; habilidades
sociais e capacidade de se relacionar com os outros no domínio social; e no domínio sistêmico,
engajamento como um cidadão global que está ciente de sistemas maiores e age consciente e
compassivamente dentro deles.
Os Três Domínios
Ao estabelecemos a compaixão como o alicerce para a Aprendizagem SEE, o terreno está
pronto para que os alunos possam desenvolver ações físicas e verbais mais atentas e cuidadosas,
abandonando práticas que possam causar prejuízo à eles mesmos e aos outros. Isso nos leva ao
primeiro domínio da Aprendizagem SEE, o Pessoal, que está focado no autocuidado. O segundo
domínio, o Social, amplia o foco para incentivar os alunos à desenvolver uma consciência
11
Miller, J. G., Kahle, S., Lopez, M., & Hastings, P. D. (2015). Compassionate love buffers stress-reactive mothers from
fight-or-flight parenting. Developmental psychology, 51(1), 36. Keltner, Dacher. “Darwin’s Touch: Survival of the
Kindest.” Psychology Today, February 11, 2009. Albers, E. M., Marianne Riksen‐Walraven, J., Sweep, F. C., & Weerth,
C. D. (2008). Maternal behavior predicts infant cortisol recovery from a mild everyday stressor. Journal of Child
Psychology and Psychiatry, 49(1), 97-103.
12
Goleman e Senge, The Triple Focus: A New Approach to Education.
O Domínio Pessoal
A Aprendizagem SEE destina-se a ajudar os alunos no nível individual, nas diferentes relações interpessoais
e até mesmo como cidadãos globais cientes da importância de suas decisões. Embora os três domínios
possam ser abordados individualmente e em qualquer ordem, os domínios Social e Sistêmico estão, em
grande medida, apoiados no domínio Pessoal. Para que os alunos possam aprender a cuidar do próximo
e se envolver em processos sofisticados de tomada de decisão baseada na ética, antes eles precisam
aprender a cuidar deles mesmos. Para que eles aprendam a atentar-se às necessidades dos outros e de
comunidades maiores – do mundo todo, por exemplo – antes eles precisam aprender a atentar-se às suas
próprias necessidades e suas vidas interiores. No contexto da Aprendizagem SEE, esse processo se dá
por meio da “alfabetização emocional” e das habilidades que apoiam tal aprendizagem, como a atenção,
por exemplo. Alfabetização emocional tem muitos aspectos. Ela consiste na habilidade de reconhecer
e identificar emoções, conectar tais emoções à contextos maiores incluindo nossas necessidades,
desenvolver discernimento em relação aos efeitos das emoções, e navegar nas emoções de forma saudável.
Fundamentalmente, por meio da alfabetização emocional, alunos podem evitar comportamentos reativos
e impulsivos que são potencialmente perigosos. Ao mesmo tempo, eles podem cultivar a tranquilidade
mental necessária para tomar decisões que estejam alinhadas com seus interesses de longo prazo. Essas
são habilidades fundamentais para que possamos florescer como seres humanos.
O Domínio Social
A alfabetização emocional e a capacidade de se autorregular são habilidades de inquestionável
importância para alunos durante a vida escolar e, é claro, ao longo de toda a vida. Porém, por
sermos seres sociais por natureza, a habilidade de manter relações positivas com outras pessoas
é de igual importância. Embora tal habilidade tenha sido considerada como condição inata e
imutável, pesquisas tem sugerido que traços pró-sociais podem ser fortalecidos por meio da
aprendizagem, reflexão, e outras práticas intencionais. Os resultados desse tipo de treinamento
compreendem mudanças mensuráveis no cérebro, no corpo, e no comportamento, com ganhos
no bem-estar físico, mental e social. Evidências científicas têm provado que, uma educação
que visa o florescimento das crianças deveria oferecer aos alunos não apenas ferramentas para
desenvolver a autorregulação, mas também para fortalecer habilidades que sustentam o bom
O Domínio Sistêmico
No entanto, nós não interagimos apenas um com o outro, individualmente. Em um mundo
cada vez mais complexo, a compaixão, por si só, não é suficiente para alcançar o objetivo final
do engajamento ético; a compaixão deve ser complementada com uma tomada de decisão
responsável baseada na compreensão dos sistemas mais amplos em que vivemos. Se não
soubermos como abordar uma situação por múltiplas perspectivas ou avaliar um curso de ação
e suas prováveis conseqüências ao longo do tempo, até mesmo ações motivadas pela bondade
podem resultar em efeitos não intencionais negativos. O mundo no qual os estudantes estão
crescendo é cada vez mais complexo, global e interdependente. Os desafios enfrentados
por atuais e futuras gerações são expansivos e profundos, e as soluções exigirão uma nova
maneira de pensar e solucionar problemas, maneira essa que seja colaborativa, interdisciplinar e
orientada para o pensamento sistêmico.
As três dimensões e os três domínios podem ser visualizados em forma de gráfico (veja a figura 2).
Como cada dimensão será explorada dentro de cada domínio, teremos nove componentes. Para
facilitar a compreensão, cada componente também recebe seu próprio nome.
Em alguns casos, uma abordagem linear fará mais sentido na hora de ensinar a Aprendizagem
SEE, já que alguns tópicos, de certa forma, dependem de outros. Assim, por exemplo, avanços no
domínio Pessoal, como a aquisição de um grau de alfabetização emocional, abrirão caminho para os
domínios Social e Sistêmico. Ou seja, a alfabetização adquirida ao examinar suas próprias emoções
pode então ser aplicada aos outros e à sistemas mais amplos. Da mesma forma, as habilidades
adquiridas na dimensão da Consciência são empregadas e expandidas na medida do avanço do
alunos sobre as dimensões de Compaixão e Engajamento. No entanto, não é necessário que uma
abordagem estritamente linear seja seguida em todos os casos, já que o foco é na construção de
capacidades em todos os nove componentes e todos eles são altamente inter-relacionados.
SOCIAL
Figura 2 – Nove componentes dos Domínios e Dimensões. Os três domínios e três dimensões da Aprendizagem SEE
podem ser apresentados numa matriz que resulta em nove componentes.
CONHECIMENTO ADQUIRIDO
Habilidade para empregar conhecimentos
baseado em instrução ou aprendizagem
experimental
PENSAMENTO CRÍTICO
Momentos pessoais “a-há” decorrentes do
estudo aprofundado e da análise prolongada
COMPREENSÃO INCORPORADA
Conhecimento que foi internalizado para
tornar-se transformador e espontâneo.
23
Embora essencial, esse nível de conhecimento não é suficiente por si só, porque o conhecimento
ainda não se tornou pessoal. Os alunos também devem ser incentivados a usar o pensamento crítico
para investigar os temas com profundidade, usando diversas linhas de abordagem, aplicando-as ao
seu próprio contexto, atingindo dessa forma o segundo nível de “pensamento crítico.” Isso se refere
aos momentos “a-ha” nos quais os alunos obtêm insights pessoais, conectando o conhecimento
que receberam a suas próprias vidas e existências. Neste nível, o conhecimento não é meramente
recebido de fora, mas conduz à uma nova perspectiva sobre o mundo; os alunos se apropriaram
desse conhecimento, por meio de um processo participativo. Cada experiência proposta no currículo
da Aprendizagem SEE fornece várias “atividades de insight” para atingir essas novas perspectivas ao
longo do processo.
Estas perspectivas podem não ser estáveis no início, então para que elas se tornem forças de caráter
e traços de personalidade no sentido mais profundo, a familiarização repetida é necessária. Portanto,
os professores também são incentivados a ajudar os alunos a reforçar esses insights através da prática
sustentada, exercícios, discussão e debate, e outras ferramentas, até que o conhecimento se torne
transformador e espontâneo. Este é o nível de “compreensão incorporada”. O pensamento crítico
facilita a aquisição de conhecimento em cada um desses níveis sucessivos de compreensão.
Este modelo pedagógico resulta na investigação ativa por parte dos alunos, e não na instrução direta.
O papel do professor na Aprendizagem SEE, mais do que de um instrutor, é o de um facilitador. Os
alunos devem ser encorajados a pensar de maneira independente e a questionar tudo ao seu redor.
Essa é a única maneira para que eles possam progredir nos três níveis de compreensão.
Projetos de
Aprendizagem Expressão Aprendizagem
Engajamento
Ecológica Criativa Cooperativa
Comunitário
Objetivos
Cada uma das três dimensões da Aprendizagem SEE está vinculada à um objetivo amplo (veja a
figura 5). Este objetivo é de natureza aspiracional, e não pretende ser uma referência para medir o
progresso dos alunos. Serve como uma indicação da direção para qual a aprendizagem pode se
Capacidades Duradouras
As Capacidades Duradouras são semelhantes aos resultados das aprendizagens de ordem
superior, pois eles especificam o que os alunos devem ser capazes de fazer melhor conforme
eles passam pelo programa. No entanto, eles se distinguem dos resultados específicos de
OBJETIVOS
Consciência
Os alunos ganharão maior atenção e consciência em primeira
pessoa sobre seus próprios pensamentos e sentimentos;
maior consciência dos outros e de suas vidas mentais; e maior
consciência da interdependência no que se refere a sua própria
vida e os sistemas mais amplos em que vivem.
Compaixão
Os alunos cultivarão habilidades de higiene emocional e
autocuidado; empatia e compaixão para com os outros; e um
reconhecimento duradouro da humanidade compartilhada que
valoriza todas as pessoas em todos os lugares.
Engajemento
Os alunos desenvolverão habilidades de autorregulação cada
vez mais sofisticadas, comportamento criterioso sobre o que é
benéfico para si e para os outros e o que não é; a capacidade
de relacionar-se produtiva e carinhosamente com os outros; e a
capacidade de se envolver de forma eficaz e confiante em uma
comunidade de nível global para um amplo benefício social.
Consciência Compaixão
como os sistemas podem promover ou comprometer o bem-estar nos níveis
Habilidades de
cultural e estrutural, promovendo valores positivos ou perpetuando crenças e
Interpessoal
desigualdades problemáticas.
por Outros
Compreendendo a Relacionamento
Reconhecendo En
Interdependência a Humanidade Co
Elemento: Engajamento Local e Global Mútua
1 Explorando o potencial de um indivíduo para impactar positivamente na
comunidade e no mundo – Reconhecer o próprio potencial para efetuar
mudanças positivas baseadas em nossas habilidades e oportunidades,
individualmente ou colaborativamente.
2 Envolvendo-se em soluções locais e globais - Explorar e refletir sobre
soluções criativas para problemas que afetam a comunidade e o mundo.
Compreendendo a Reconhecendo Engajamento
Interdependência a Humanidade Comunitário
Mútua e Global
O primeiro dos três domínios é o Domínio Pessoal, que se refere à própria vida interior do aluno
como indivíduo13. Nesse domínio, as três dimensões da Aprendizagem SEE são ensinadas por
meio dos componentes de Atenção e Autoconsciência, Autocompaixão e Autorregulação. Estes
são brevemente descritos aqui e descritos em maiores detalhes abaixo, com uma seção sobre
cada um.
Atenção e autoconsciência referem-se a orientar a atenção para se tornar cada vez mais
consciente dos próprios estados físicos e mentais e o que eles podem indicar sobre nossos níveis
de estresse e bem-estar, nossas emoções e assim por diante. Além da dimensão de primeira
pessoa ou “subjetiva” na qual os alunos atendem diretamente a seus corpos e mentes para
que estejam cientes do que está acontecendo dentro deles, este componente também inclui
aprendizagem das emoções em terceira pessoa ou em uma perspectiva “objetiva”. Isso envolve
aprender sobre as emoções, seus tipos e suas características, para desenvolver o que pode ser
chamado de “mapa da mente”. Quando combinamos o mapa da mente com a capacidade em
primeira pessoa de reconhecer emoções e estados corporais à medida que estes surgem, a base
para a alfabetização emocional é estabelecida.
13
Este é um modelo heurístico (ex., destinado a clareza de apresentação), pois é entendido que as identidades
individuais dos alunos não podem ser separadas dos domínios Social e de Sistemas.
31
Com base nisso, o próximo componente, a Autocompaixão, nos mostra como podemos atribuir
sentido às emoções em um contexto maior. Isso envolve a percepção de que emoções não
surgem do nada, mas sim de causas, muitas vezes associadas às necessidades. À medida que os
alunos aprendem como atitudes, perspectivas e necessidades, contribuem para impulsionar suas
reações emocionais, tal reconhecimento leva a um segundo nível mais profundo de alfabetização
emocional. Também pode levar à maior autoaceitação. Ao compreender que as emoções não
são disparadas apenas por gatilhos externos, mas também por necessidades internas, os alunos
podem usar esse conhecimento para desenvolver uma atitude mais realista em relação a eles
mesmos, tornando-se menos autocríticos em relação às emoções que sentem, diminuindo
a autoculpa e o autojulgamento. Isso também pode contribuir para o desenvolvimento de
um senso de autoestima, para o reconhecimento do nosso valor, bem como a clareza sobre
nossos princípios. Os dois tópicos inter-relacionados neste componente são, portanto,
“Compreendendo as emoções de forma contextualizada” e “Autoaceitação”.
Atenção e Autoconsciência
O objetivo do domínio Pessoal é permitir aos alunos combinar uma percepção em primeira
pessoa do que seus corpos e mentes estão dizendo a eles com informações em terceira pessoa
sobre a mente e o corpo. Este é o primeiro passo para a alfabetização emocional. Em outras
palavras, os alunos aprendem a reconhecer diretamente uma emoção, como a raiva neles
mesmos, por meio da atenção em seus corpos e mentes, ao mesmo tempo que se envolvem
na compreensão intelectual do que a raiva é. É a combinação desses diferentes tipos de
conhecimento (observação direta em primeira pessoa e conhecimento adquirido em terceira
pessoa) que contribui para uma autoconsciência cada vez mais poderosa. Esses dois tipos de
conhecimento também poderiam ser chamados de subjetivo e objetivo, já que o primeiro surge
internamente através da percepção direta e da experiência, enquanto o segundo é aprendido
externamente e em segunda mão. (Observe que esse uso de subjetivo se refere a experiência
pessoal, diferente da descrição de algo que é meramente uma questão de opinião ou gosto.)
O subjetivo envolveria, portanto, vir a perceber como felicidade, raiva, ou empolgação se
manifestam dentro mim, no meu corpo e na minha mente. Por outro lado, o conhecimento
objetivo envolveria buscar compreender os modelos e definições gerais sobre as emoções e os
estados mentais (como em modelos científicos, por exemplo).
Os três tópicos principais deste componente são “Atentar-se no corpo e suas sensações”,
“Atentar-se nas emoções e sentimentos” e o “mapa da mente”. Cada um pode ser articulado
como uma capacidade duradoura (ver gráfico), e cada um é benéfico e útil por si só, bem como
quando combinados uns com os outros. Os dois primeiros referem-se ao cultivo da consciência
pessoal e direta do corpo e da mente, enquanto o terceiro se refere ao desenvolvimento de
conhecimentos gerais sobre a mente e as emoções.
Capacidades Duradouras
Começamos por atentar-nos no corpo e nas sensações. Nesse processo ajudamos os alunos
àquilo que está acontecendo Compaixão
a prestar atenção Consciência Habilidades
no interior de seus corpos, isto de
é, no nível das
Interpessoal
sensações. Quando por Outros
observado, o corpo é uma fonte Relacionamento
constante de informações sobre o estado
do nosso sistema nervoso. Os estados emocionais são tipicamente acompanhados por mudanças
fisiológicas que envolvem aspectos como a frequência cardíaca, tensão ou relaxamento muscular,
sensações de calor ou frio, de expansão ou contração, e assim por diante. O sistema nervoso
responde muito rapidamente à situações como a percepção de ameaça ou segurança, e o faz
de maneira que muitas vezes parece ignorar a cognição superior e a função executiva - o que
poderíamos chamar de cérebro consciente. Portanto, perceber o que acontece no corpo pode
ser um caminho muito mais rápido para informar a um aluno sobre seu estado emocional, do
Compreendendo a Reconhecendo Engajamento
que a análise isolada dos aspectos mentais de cada experiência. Considerando que aquilo que
Interdependência a Humanidade Comunitário
acontece dentro de nossos corpos pertence ao campo das sensações, e muitas vezes não é
Mútua e Global
conscientemente apreendido a menos que seja aplicada atenção sustentada, é necessário ajudar
os alunos a praticarem a observação das sensações.
A prática de observar as sensações no corpo já recebeu vários nomes, incluindo “atenção plena
às sensações”, “rastreamento” e “leitura do sistema nervoso”. No contexto da Aprendizagem
SEE, tal acompanhamento das sensações contribui para o desenvolvimento da alfabetização
emocional, mas mesmo quando isolado enquanto prática, tem se mostrado útil em uma
variedade de contextos. Por exemplo, devido a forma específica como um trauma afeta nosso
sistema nervoso, o rastreamento tem sido usado em várias intervenções criadas para pessoas
que sofrem de traumas. Todos as crianças passam por experiências que podem ser percebidas
como assustadoras ou ameaçadoras. Dessa forma, qualquer indivíduo pode se beneficiar deste
programa, e não apenas alguém que tenha vivido um trauma grave. No entanto, uma vez
14
Miller-Karas, Elaine. Building resilience to trauma: The trauma and community resiliency models. Routledge, 2015.
15
Miller-Karas, Elaine. Building resilience to trauma: The trauma and community resiliency models. Routledge, 2015.
Por exemplo, ao agrupar emoções em “famílias emocionais”, os alunos aprendem sobre o vários
tons, nuances e intensidades de emoções, bem como suas características comuns. Os alunos
também aprendem que a maioria das emoções não é inerentemente destrutiva, mas tornam-se
destrutivas quando são inadequadas ao contexto e à situação. O medo, por exemplo, pode ser
construtivo, pois pode nos proteger do perigo, mas torna-se contraproducente quando atinge
o ponto de ansiedade. O psicólogo Paul Ekman, um dos principais pesquisadores das emoções,
criou um recurso on-line chamado “Atlas das Emoções” que pode ser muito útil para ensinar
aos alunos os vários tipos de emoções e famílias emocionais, além de conduzi-los no sentido da
alfabetização emocional16.
O mapa da mente serve como um guia para esse cultivo da consciência emocional. Por exemplo,
aprender que a irritação é um estado emocional brando, mas que ainda assim é potencialmente
perigoso pois pode levar à raiva, e que a raiva mal avaliada, por sua vez, acaba resultando em
raiva descontrolada, pode ajudar um aluno a reconhecer as formas mais sutis das emoções e os
processos pelos quais se tornam estados emocionais incontroláveis. A exploração das emoções
em primeira pessoa e o cultivo da consciência emocional podem servir para aprofundar a
compreensão dos modelos de emoções apresentados no mapa do mente, ou pode até mesmo
servir como um campo de teste para saber se esses modelos são válidos para o aluno quando
16
http://www.paulekman.com/atlas-of-emotions/
Autocompaixão
A dimensão da Compaixão no domínio Pessoal é explorada sob o título de Autocompaixão.
Uma vez que a autocompaixão pode ser facilmente mal interpretada, Dr. Thupten Jinpa indica,
de maneira assertiva, o que ela não é: a autocompaixão não é autopiedade, autogratificação
indulgente, ou apenas autoestima em alta, que é baseada em autoavaliações e avaliações
dos outros17. Na Aprendizagem SEE, a autocompaixão refere-se ao processo de autocuidado
genuíno, particularmente no que diz respeito à vida interior de uma pessoa. O componente da
autocompaixão gira em torno de mais um aspecto vital para o desenvolvimento da alfabetização
emocional, que é a capacidade de entender emoções num contexto mais amplo, que inclua
as próprias necessidades. Esta camada extra da alfabetização emocional também permite a
autoaceitação, porque entender as causas das emoções e como as mesmas se relacionam com
suas necessidades, permite que os alunos se relacionem com suas próprias emoções de maneira
mais imparcial. Ao ver as emoções mais claramente e entender que elas são transitórias, surgem
de contextos e, portanto, não são fixas e imutáveis, os alunos podem desenvolver uma maior
autoconfiança e autoaceitação. Essa autoconfiança e autoaceitação criam, por sua vez, a base
para a navegação emocional, para a capacidade de aceitar críticas e lidar com contratempos
de forma construtiva e com resiliência, evitando que essas decepções levem a uma autocrítica
excessiva ou a perda da autoestima. Os dois tópicos desse componente são, portanto,
“compreendendo as emoções de forma contextualizada” e “autoaceitação”.
Capacidades Duradouras
17
Jinpa, T., A Fearless Heart, p. 29.
À medida que os alunos obtêm essas percepções, eles estão em melhor posição para reconhecer
e apreciar seu próprio valor e cultivar um senso duradouro de autoestima e confiança interior,
enquanto aprendem a identificar expectativas irreais que podem levar a um autojulgamento
destrutivo. Ao reconhecer como as reações emocionais costumam resultar de necessidades,
também podemos começar a avaliar criticamente tais necessidades, e nem todas são iguais. Isso
pode envolver a distinção entre necessidades e desejos por meio de uma apreciação profunda
de nossos próprios valores. Tal apreciação vem acompanhada de uma compreensão daquilo
que nos conduz a uma vida onde esses aspectos coexistem harmoniozamente. Em contraponto,
estão os desejos de curto prazo, que podem não nos conduzir a um bem-estar de longo prazo
por, muitas vezes, carecerem dessa coerência.
A habilidade de reconhecer o contexto mais amplo no qual as emoções surgem na vida de uma
pessoa também apoia o aspecto da autoaceitação presente no componente da autocompaixão.
A autoaceitação é de grande importância, já que temos observado a raiva sendo cada vez mais
interiorizada em nossas sociedades. A autocrítica excessiva, o ódio a si mesmo, e a autoaversão
não são prejudiciais somente para a saúde e felicidade individual, mas podem causar um
tremendo dano se desencadearem comportamento violento. Reforçar a autoestima não é a
melhor solução, já que essa é baseada em comparações com outros, e pesquisas sugerem que
a agressão interna e externa geralmente se manifestam quando a autoestima da pessoa está
ameaçada. Um método melhor é ajudar o aluno a cultivar fortaleza interior, resiliência, humildade
e coragem, chegando a um melhor entendimento de sua vida emocional, permitindo-lhe
reduzir idealizações perfeccionistas e seguir em direção a expectativas mais realistas sobre si e
outros. Quando um aluno tem compreensão e consciência limitadas de sua vida emocional, ele
terá maior dificuldade em tolerar desafios e retrocessos, e será menos provável que busque e
encontre oportunidades para mudanças e proatividade .
Uma perspectiva realista em relação às próprias limitações é crucial para contornar esse ciclo
destrutivo. Ao desenvolver paciência e compreensão em relação a suas dificuldades, inclinações
e pontos de partida, os alunos podem se tornar motivados e capazes para se afastarem dos
estados mentais e comportamentos prejudiciais. Ao mesmo tempo, os alunos podem perceber
que possuem autoestima independente de seu desempenho ou sua capacidade de cumprir
padrões arbitrários estabelecidos por eles mesmos ou por outros. Esse senso de autoestima
que não depende de circunstâncias externas pode servir como um poderoso suporte para a
resiliência.
A autocompaixão envolve bondade consigo, mas é também uma fonte de força interior,
resiliência e coragem. Não se trata de fingir que as coisas estão bem quando não estão; em
vez disso, a autocompaixão baseia-se numa avaliação realista das capacidades de cada um
e de como podemos influenciar a realidade ao redor. Caso não recebam uma educação que
fortaleça esse aspecto, indivíduos podem se desgastar tentando fazer além daquilo que são
capazes naquele momento. Naturalmente, emerge o sentimento de impotência, pois não há
capacidade para reconhecer as habilidades necessárias para influenciar positivamente. Como o
Autorregulação
Quando considerado como um todo, o foco dos tópicos cobertos no domínio Pessoal pode
ser entendido como o cultivo da alfabetização emocional, ou seja, da capacidade de identificar
a natureza e o contexto de suas emoções e saber como navegá-las efetivamente. Sem a
capacidade de negociar as complexidades deste terreno interior da mente e das emoções,
os alunos podem não ser capazes de superar padrões habituais profundos, limitando sua
capacidade de autocontrole e sua liberdade. Portanto, é essencial cultivar um nível mais
profundo de consciência emocional, juntamente com as ferramentas para discernir e regular
emoções potencialmente destrutivas. Já que o objetivo de navegar com sucesso em nosso
universo emocional é o de obter uma vida saudável e feliz, o desenvolvimento da alfabetização
emocional também pode ser descrito usando uma metáfora de cultivar boa higiene emocional.
Através da higiene física, separamos patógenos dos elementos contribuintes para a saúde.
Da mesma forma, ao cultivar a alfabetização emocional, distinguimos claramente as emoções
que podem ser prejudiciais ao seu bem-estar daquelas que são benéficas. Essas ferramentas e
habilidades específicas podem ser usadas pelos alunos para evitar sequestros emocionais e, em
vez disso, agir de forma que os ajude a florescer e ter sucesso.
Longe de ser egoísta ou contrário à ética, o tipo de autocultivo desenvolvido no domínio Pessoal
ajuda a estabelecer uma base para a ação ética, aprimorando capacidades resilientes dentro dos
18
Jinpa, T., A Fearless Heart, p. 31.
Os tópicos e práticas dos dois componentes anteriores estabelecem as bases para a autorregulação.
Este componente refere-se às práticas e comportamentos que são consonantes com e reforçam
as percepções e a consciência adquiridas em relação ao corpo, à mente e às emoções. Os três
tópicos para este componente são “equilibrando o corpo”, “controle cognitivo e de impulso” e
“navegando emoções”. Cada um deles se conecta à um tópico correspondente no Componente
“Atenção e Autoconsciência” (atentar-se no corpo e nas sensações, atentar-se nas emoções e
nos sentimentos, e mapa da mente). Em muitos casos, portanto, faz sentido ensinar esses tópicos
juntos. Em última análise, o objetivo deste componente é ajudar os alunos a navegar nas emoções
com sucesso, de modo que não causem problemas desnecessários para si ou para os outros - em
outras palavras, para que suas emoções se tornem aliadas, ao invés de obstáculos. Para navegar as
emoções deste modo, é necessário ter controle cognitivo e de impulsos. Contudo, tal controle não
pode ser cultivado quando o corpo se encontra em estados de hiper ou hipo-excitação, ou de outra
forma desregulado. Assim, é possível entender a lógica no encaixe dos três tópicos.
Capacidades Duradouras
1 Equilibrando o corpo – Regular o corpo e
o sistema nervoso, especialmente quando
ativados, estressados ou perdendo a energia,
com o objetivo de otimizar o bem-estar.
2 Controle Cognitivo e de Impulso – Sustentar
a atenção em um objeto, tarefa ou experiência,
utocompaixão Autorregulação
evitando distrações.
3 Navegando Emoções Navegando Emoções
– Responder de forma construtiva à impulsos
e emoções e cultivar os comportamentos e
atitudes que sustentam o bem-estar à longo
prazo.
Na Aprendizagem SEE, o equilíbrio do corpo serve como uma base importante para outras
práticas, como o cultivo da atenção e as práticas reflexivas. Três habilidades fundamentais
para equilibrar o corpo incluídas no programa são os recursos incorporados, a estabilização e
o rastreamento (explicado na barra lateral). Essas habilidades se concentram na regulação do
sistema nervoso e são desenvolvidas atavés dos cuidados informados sobre traumas, mas são
aplicáveis à todos os indivíduos, quer tenham sofrido um trauma grave ou não.
Ele, então, oferece o seguinte conselho para criar uma sala de aula emocionalmente segura:
19
Perry, Bruce D., Creating an emotionally safe classroom, [Creando un aula emocionalmente segura] Early Childhood
Today; Aug/Sep2000, Vol. 15 Issue 1, p35
Dr. Perry continua apontando a necessidade de estar em sintonia com os pontos de sobrecarga
de cada criança, e reservar tempo durante o dia para momentos de quietude e solitude, de
forma que o cérebro possa acompanhar e processar novas informações. Ele também sugere
que, particularmente com crianças pequenas, os professores podem promover uma sensação de
segurança mantendo os desafios iniciais leves, e os elogios mais significaivos. Isso permite que
todos os alunos possam desenvolver senso de sucesso, mitigando inseguranças desncecessárias
que possam estar sentindo.
O equilíbrio do corpo está relacionado à sintonia com a sensação de segurança em oposição à uma
sensação de estar sob ameaça. É claro que o primeiro passo é maximizar a segurança dos alunos no
ambiente de sala de aula, estendendo isso tanto quanto possível para toda a escola e comunidade.
Mas a sensação de segurança pode ser desenvolvida quando ajudamos os alunos a pensar e praticar
o acesso à “recursos”. Esses recursos podem ser externos, internos ou imaginários. Recursos externos
podem ser um amigo, um lugar favorito, uma lembrança agradável, um membro da família, um animal de
estimação, uma peça musical favorita ou músico favorito, e assim por diante. Recursos internos podem
ser uma habilidade que o aluno tem, um aspecto de si mesmo, como seu senso de humor, um hobby,
ou uma parte de seu corpo que se sente forte e confortável. Recursos imaginários permitem ao aluno
criar algo que pode servir como um recurso para ele, mesmo se ele não tenha experimentado tal recurso
pessoalmente. A ideia por trás desse recurso é trazer tal objeto imaginário à mente e explorá-lo em
20
Ibid.
Estabilização também é uma prática sensório-motora útil para gerar a sensação de segurança e para
trazer a mente de volta ao corpo. Esta prática envolve levar a atenção para qualquer contato físico que
gere uma sensação de apoio, segurança ou bem-estar. Isso pode envolver tocar ou segurar um objeto
que possua uma base firme ou um objeto onde o corpo está seguramente apoiado. Ao prestar atenção
em como o corpo se sustenta, os alunos devem ser encorajados a trocar de posição e observar como
essas mudanças trazem sensações de mais ou menos sustentação. Assim como a estratégia de recursos
descrita acima, a estabilização deve ser feita em conjunto com o rastreamento. Isso permitirá que o
aluno, ao perceber uma sensação desagradável, possa buscar e experimentar sensações agradáveis ou
neutras em outros lugares21. À medida que os alunos fortalecem as estratégias descritas acima, eles
gradualmente desenvolverão mais consciência dos processos em seu corpo, permitindo-lhes sentir a
tensão, ansiedade e estresse antes que estes se tornem difíceis de administrar.
Uma variedade de outras ferramentas também podem ser usadas para suplementar essas práticas
de equilíbrio do corpo. Yoga ou exercícios como o Tai-chi-chuan são populares em muitas escolas
americanas, canadenses e europeias22. Na Suécia, alunos rotineiramente fazem massagem uns nos
21
Elaine Miller-Karas e seus colegas do Insituto de Pesquisa sobre o Trauma utilizaram os Cuidados Informados Sobre o
Trauma para desenvolver o Modelo de Resiliência Comunitária, no qual essas e outras práticas de relaxamento são
descritas. Tais práticas podem ser muito úteis para preparar os alunos antes de treinos de atenção e exercpicios de
consciência emocional. Esses foram incorporados ao currículo do SEE Learning..
22
Ver a modo de ejemplo: Timmer, Cindy K., “Integrating yoga into elementary classrooms in order to create a
foundation of serenity and health early in life” [“Integración del yoga a las salas de clase de educación básica
para crear una base de serenidad y salud a temprana edad” ] (2009). School of Education Student Capstones and
Dissertations. Paper 779. Hagen, Ingunn and Nayar, Usha S. Yoga for children and young people’s mental health
and well-being: research review and reflections on the mental health potentials of yoga [Yoga para la salud y
bienestar mental de niños y jóvenes: revisión y reflexiones de una investigación sobre los potenciales del yoga en la
salud mental]. Frontiers in Psychiatry (April 2014, VOL. 5, Article 35). Converse, Alexander K., Elizabeth O., Travers,
Brittany G., and Davidson, Richard J. “Tai chi training reduces self-report of inattention in healthy young adults,” [“El
entrenamiento en Tai chi reduce la falta de atención en adultos jóvenes sanos”] Frontiers in Human Neuroscience.
2014; 8: 13
Entretanto, como observado acima, algumas práticas sensório-motoras que focam na respiração são
conhecidas por causar ansiedade, particularmente em indivíduos que sofreram traumas. Recomenda-se
que professores comecem oferecendo práticas de estabilização e recursos incorporados para que os
alunos desenvolvam ferramentas para lidar com experiências negativas, caso essas surjam. Portanto,
deve-se tomar cuidado para primeiro fornecer aos alunos ferramentas básicas que funcionem para eles
individualmente, antes de explorar as práticas sensório-motoras mais amplamente.
Equilibrar o corpo pode ser particularmente desafiador, mas também particularmente importante
para crianças que enfrentam circunstâncias difíceis como episódios emocionais confusos ou
condições médicas adversas. Assim como adultos, crianças têm fatores de estresse e quando
uma criança se comporta de forma inadequada, isso pode estar ligado ao fato de que ela está
sentindo desconforto em algum nível devido ao estresse. Ao ajudar os alunos a desenvolver a
capacidade de equilibrar o corpo, eles adquirem uma maneira de lidar com esse sentimento
imediato de desconforto. Em certas ocasiões, a habilidade de equilibrar o corpo pode
simplesmente servir como um método para a transição entre estados saudáveis de atividade
física para um trabalho mais focado. Por exemplo, quando é hora de prestar atenção numa lição
depois de um período de jogos ao ar livre.
23
Berggren, Solveig. “Massage in schools reduces stress and anxiety,” Young Children (September 2004). (El uso del
masaje en las escuelas reduce el estrés y la ansiedad)
A habilidade para navegar emoções está associada ao equilíbrio do corpo, mas também ao
controle cognitivo e de impulsos, sem o qual os estudantes ficariam à mercê de emoções
imediatas, sentimentos e impulsos. O controle cognitivo e de impulsos, por sua vez, depende
da capacidade de manter a atenção e não se envolver com distrações emocionais ou de outra
ordem. Essa capacidade portanto, depende do cultivo da atenção sustentada. Aqui, a atenção
refere-se ao a habilidade de focar a atenção em um objeto de sua escolha e sustentar o foco sem
distrações e sem gerar estresse desnecessário. O que é especialmente importante neste ponto
é que não falamos de qualquer tipo de atenção, mas uma atenção que pode ser internalizada
e que seja capaz de identificar mudanças no corpo e na mente à medida que essas ocorrem.
Como Daniel Goleman observa em O Triplo Foco, a atenção é a chave para o desenvolvimento
da consciência nos três domínios: interior, o outro, externo (chamados Pessoal, Social e
Sistêmico na Aprendizagem SEE). Esta habilidade atencional é importante quando o assunto é
o domínio social, quando precisamos cruzar os dados advindos da observação das respostas
internas com a presença dos sentimentos alheios. A habilidade atencional também está
relacionada com o domínio Sistêmico, que envolve observar a consciência interior e as respostas
à interdependência. Além disso, as práticas que conduzem à aprendizagem da habilidade de
observar podem ser combinadas com componentes de alfabetização emocional para contribuir
com o reconhecimento das emoções à medida que essas surgem, possibilitando maior controle
sobre elas antes que ganhem grandes proporções. Considerando que o corpo geralmente
sinaliza estados emocionais mais rápido do que a mente , podemos empregar práticas para
perceber como as emoções vão se acumulando no corpo, permitindo que os alunos reconheçam
as mudanças físicas como sinais de distúrbios emocionais, identificando-as antes que se tornem
incontroláveis.
A capacidade de manter a atenção também é necessária para que os alunos possam perseverar
em projetos de longo prazo ou com objetivos mais elevados. Tal competência é um componente
crucial daquilo que alguns na educação chamam de “garra”26. A garra nos permite olhar para
as dificuldades como obstáculos no caminho para o sucesso, ao invés de encará-las como falhas
em nossa capacidade individual. Tal perspectiva diante dos obstáculos é reforçada quando a
persistência está baseada nos valores dos próprios alunos e, dessa forma, eles entendem a razão
por trás de um determinado esforço27. Amir Raz, neurocientista cognitivo e principal pesquisador
sobre a atenção na Universidade McGill sugere que: “Se você tem um bom controle de atenção,
você pode fazer mais do que apenas prestar atenção em alguém que está dando uma palestra,
você pode controlar seus processos cognitivos, controlar suas emoções, articular melhor suas
ações. Você pode curtir e, ao mesmo tempo, estar bem posicionado na vida28.”
24
Diamond, Adele, and Lee, Kathleen. “Interventions shown to Aid Executive Function Development in Children 4–12
Years Old.” Science. 2011 August 19; 333(6045): 959–964
25
NICHD Early Child Care Research Network, “Do Children’s Attention Processes Mediate the Link Between Family
Predictors and School Readiness?” Developmental Psychology, 2003, Vol. 39, No. 3, p.583.
26
U.S. Department of Education, Office of Educational Technology. “Promoting Grit, Tenacity, and Perseverance: Critical
Factors for Success in the 21st Century,” February 14, 2013. p. vii
27
Ibid. p.x
28
Jackson, Maggie. “Attention Class”(Atención Clase) The Boston Globe, 29 June, 2008.
29
Kochanska, Gvazyna, Murray, Kathleen and Coy, Katherine C. “Inhibitory Control as a Contributor to Conscience in
Childhood: From Toddler to Early School Age.” Child Development, April 1997, Volume 68, Number 2, Pages 263-
277. Kochanska, Gvazyna, and Aksan, Nazan. “Children’s Conscience and Self-Regulation.” Journal of Personality.
Volume 74, Issue 6, pages 1587–1618, December 2006.
O controle cognitivo e de impulsos também pode ser uma ferramenta poderosa no combate ao
aumento do estresse, como tem sido demonstrado no trabalho de Jon Kabat-Zinn, o criador da
Redução do Estresse Baseada na Atenção Plena (MBSR), e do Dr. Herbert Benson, que primeiro
identificou os benefícios fisiológicos de invocar a assim chamada “resposta de relaxamento”.
Outros pesquisadores observaram que “quando os alunos usam atenção plena em seus
processos de aprendizagem, eles utilizam também a função criativa, experimentam flexibilidade
cognitiva, e são capazes de usar melhor as informações para melhorar a memória e a retenção
de instruções…. Eles foram mais capazes de se concentrar e relaxar, reduzir a ansiedade antes de
fazer uma prova, tomar melhores decisões quando em conflito, e foram capazes de redirecionar
a atenção mais facilmente quando envolvidos em comportamentos improdutivos em sala de
aula33. Deve-se notar que, embora a atenção plena possa ser definida de várias maneiras, o foco
na Aprendizagem SEE é o cultivo da atenção. Essa capacidade de observação servirá como base
para navegar nas emoções, bem como para as práticas reflexivas que, para surtirem os efeitos
desejados, requerem atenção estável.
30
Reudy et al. descobriu que comparados com indivíduos com pouca prática de plena atenção, os indivíduos bastante
cultivados nessa prática relatam se sentirem mais inclinados a agir eticamente, mais inclinados a manter padrões
éticos e mais propensos a usar abordagens baseadas em princípios para a tomada de decisão ética. Reudy, Nicole
E. and Schweitzer, Maurice E. “In the Moment: The Effect of Mindfulness on Ethical Decision Making.” Journal of
Business Ethics, September 2010, Volume 95, Supplement 1, pp 73-87
31
Diamond, Adele, and Lee, Kathleen. “Interventions shown to Aid Executive Function Development in Children 4–12
Years Old.” Science. 2011 August 19; 333(6045): 959–964
32
See Goleman and Senge, The Triple Focus, p. 21; and Linda Lantieri and Vicki Zakrzewski, “How SEL and Mindfulness
Can Work Together.” April 7, 2015. http://greatergood.berkeley.edu/article/item/how_social_emotional_learning_
and_mindfulness_can_work_together
33
Napoli, Maria, Krech, Paul Rock, and Holley, Lynn C. “Mindfulness Training for Elementary School Students: The
Attention Academy.” Journal of Applied School Psychology, Vol. 21(1) 2005.
O equilíbrio corporal e o cultivo do controle cognitivo e de impulsos são de grande valor eles
mesmos, mas eles também servem ao segmento final, que é navegar nas emoções. Equipado
com habilidades e conhecimentos de outros segmentos do domínio Pessoal, como a capacidade
de reconhecer e identificar emoções, bem como a capacidade de relacioná-las com as
necessidades mais profundas, surge agora a questão de como colocar esse conhecimento em
prática. Este constitui o passo restante da alfabetização emocional: a capacidade de usar o mapa
da mente e a consciência emocional para navegar com sucesso no mundo das emoções.
Como observado, é importante que os alunos não apenas aprendam sobre as emoções no
nível do conhecimento adquirido, mas que também desenvolvam experiência em primeira-
pessoa e convicção sobre como as emoções afetam suas mentes e corpos e até mesmo seu
comportamento. Este é um dos processos de discernimento que pode ser facilitado pelos
professores. Os alunos podem refletir sobre suas experiência à luz do mapa da mente e também
em um contexto mais amplo, considerando quais são os efeitos das emoções em si mesmos.
Para onde certas emoções me levam? O lugar para onde elas me levam é onde eu desejo estar?
À medida que os alunos desenvolvem discernimento emocional, eles também reconhecem que
certas atitudes e percepções afetam a forma como as emoções surgem. Isso ocorre porque
eles já aprenderam a reconhecer a relação entre as emoções e necessidades subjacentes.
Quanto mais puderem reconhecer as cadeias de causas que dão origem a certas emoções, mais
completa será a alfabetização emocional desses alunos. Isso permitirá que eles decidam quais
atitudes e percepções eles desejam fomentar neles mesmos e quais são aquelas que desejam
transformar. O reconhecimento das causas por trás dos episódios emocionais também pode
conduzir à uma compreensão sobre como lidar com emoções potencialmente prejudiciais e,
mais adiante, aplicar estratégias que sirvam para regular, transformar ou enfraquecer o impacto
negativo de tais emoções. Isso é o que chamamos de prática de navegar nas emoções.
O domínio Social é semelhante ao domínio Pessoal em diversos aspectos, exceto naquilo que
tange ao foco, que neste domínio está nos outros, e não em em nós mesmos. Igualmente
ao domínio Pessoal, ele se move através das três dimensões de Consciência, Compaixão e
Engajamento. A dimensão da Consciência aqui significa um tipo fundamental de consciência
sobre os outros e sobre nossa própria condição como seres sociais – isto é, alguém que existe
em relação aos outros, que afeta os outros e que precisa dos outros. Incluída na dimensão da
Consciência está também a consciência do que nós, como seres humanos, temos em comum
e o que nos diferencia, e como navegar nesses dois aspectos da coexistência. A dimensão
da Compaixão implica traduzir grande parte daquele conhecimento adquirido no domínio
Pessoal para uma compreensão que possa abranger os outros: entender as emoções dos outros
de forma contextualizada, gerando uma melhor compreensão sobre os outros e reduzindo
julgamentos reativos, e usando este entendimento para cultivar compaixão e outras emoções e
disposições pró-sociais, como gratidão, perdão, generosidade e humildade. Por fim, a dimensão
do Engajamento envolve o processo de levar a consciência e a visão de maneira articulada que
nos conduza a relações positivas e construtivas com os outros. Tal processo está relacionado
à capacidade de navegar nas relações interpessoais de forma que possamos desenvolver
comportamentos e habilidades que levam ao bem-estar dos outros – sempre reconhecendo que
51
ao beneficiar os outros, plantamos as sementes para nosso próprio bem-estar à longo prazo.
Embora a Aprendizagem SEE não precise necessariamente ser abordada de forma linear, o
progresso no domínio Pessoal certamente beneficiará os alunos à medida que eles acessam o
domínio Social. Tal benefício ocorre porque as habilidades necessárias para entrar em sintonia
com a própria vida emocional contribuem diretamente com a nossa capacidade de sintonizar
com a vida emocional dos outros. Os vários aspectos cultivados na alfabetização emocional
– tais como o mapa da mente, a consciência emocional e a capacidade de reconhecer como
as emoções estão ligadas às nossas necessidades – podem ser revisitados no domínio Social,
onde contribuirão para o cultivo de uma empatia genuína. Esse princípio é válido também para
o progresso geral das três dimensões, da Consciência, para a Compaixão, até o Engajamento:
os materiais e práticas do SEE Learning não precisam ser tomadas de maneira estritamente
linear. Os componentes se constroem, expandem e reforçam retroativamente na medida que os
alunos se desenvolvem. Tal fenômeno de progresso retroativo também se aplica à forma como o
domínio Social contribui para o domínio Pessoal, considerando que nos conhecemos melhor na
medida que conhecemos o outro melhor.
Consciência Interpessoal
“A apreciação é uma coisa maravilhosa: faz com que aquilo que é excelente nos outros pertença
a nós também34.” Como observou oportunamente o filósofo Voltaire (1694-1778), o apreço
pelos outros, além de promover sentimentos de bem-estar naqueles que o sentem, também
fortalece o sentimento de conexão interpessoal. Dessa forma, o apreço pelas qualidades alheias
é essencial para o desenvolvimento da empatia, da compaixão e da habilidade de relacionar-se
produtivamente com os outros. Mesmo que inicialmente haja uma tendência autocentrada, à
medida que nos relacionamos com os outros por meio dessa perspectiva do apreço estaremos
expandindo nossa mentalidade no sentido do altruismo.
34
Adler, Mitchel G. and Fagley, N. S. “Appreciation: Individual Differences in Finding Value and Meaning as a Unique
Predictor of Subjective Well-Being” (Apreciación: Diferencias individuales al encontrar Valor y Significado como un
Vaticinador Único del Bienestar Subjetivo) Journal of Personality, Febrero 2005. Vol. 73, No. 1, p.79-114.
Capacidades Duradouras
Atenção e 1 Autocompaixão
Atentar-se Autorregulação
na Realidade Social -
Autoconsciência Reconhecer nossa natureza inerentemente
social e perceber à presença de outros e
os papéis que desempenham em nossas
vidas.
2 Atentar-se na Realidade Compartilhada
com os Outros - Apreciar aquilo que
compartilhamos com os outros em
um nível fundamental, como a busca
pela felicidade e o desejo de evitar o
Consciência Compaixão Habilidades de
sofrimento, ou mesmo a presença de
Interpessoal por Outros Relacionamento
emoções e diferentes estados corporais,
entre outras experiências.
3 Compreender a diversidade e a
Diferença - Entender que parte de nossa
realidade compartilhada é a diversidade,
singularidade e diferença de indivíduos
e grupos, aprender a respeitar essas
diferenças e a maneira como estas
Compreendendo a Reconhecendo
agregam à nossa vida coletiva. Engajamento
Interdependência a Humanidade Comunitário
Mútua e Global
Em seu nível mais básico, atentar-se na realidade social consiste em reconhecer que somos
todos seres sociais – que nenhum homem ou mulher é uma “ilha”. É também a capacidade de
Este segmento pode ser explorado de formas e com profundidades diferentes à medida que
os alunos refletem sobre as pessoas que marcaram suas vidas, pessoas essas que continuam
influenciando suas existências e que afetarão em seu futuro. Os alunos devem ser convidados
a explorar os papéis que as pessoas desempenham em suas vidas, desde aqueles que lhes
garantem suas necessidades básicas até lazer, companheirismo, proteção e assim por diante.
Esse processo ajuda a estabelecer as bases para o cultivo da apreciação, da empatia e da
compaixão pelos outros. Em estágios mais avançados, os alunos podem explorar como a
individualidade é em si coconstruída na alteridade, à medida em que nosso autoconceito é
influenciado pelos outros, pelas complexidades da autoestima e assim por diante.
Depois de reconhecer a existência dos outros como sujeitos como nós mesmos, passamos a
reconhecer que esses também têm vidas emocionais e que podemos nos atentar à isso também.
Portanto, o reconhecimento fundamental da existência dos outros pode ser refinado quando
nos atentamos na realidade compartilhada. Este segundo segmento envolve ajudar os alunos
a reconhecer semelhanças entre eles e os outros, reconhecendo que essas semelhanças não
devem anular o apreço às diferenças. Mais importante ainda, é necessário que eles reconheçam
as semelhanças fundamentais enfatizadas no SEE Learning, aquelas no nível das experiências
humanas básicas e universais. Os outros, assim como nós, desejam o bem-estar próprio e evitam
o sofrimento. Os outros têm vidas emocionais que envolvem desejos, necessidades, medos,
esperanças e assim por diante. Os outros ficam doentes, têm limitações, encontram obstáculos,
experimentam alegrias e contratempos. O reconhecimento dessas semelhanças básicas é uma
habilidade que pode ser cultivada e, eventualmente, torna-se habitual. O treino para aprender a
atentar-se aos outros acaba melhorando a capacidade de reconhecer e identificar os sentimentos
alheios. Tal capacidade é um componente importante da empatia cognitiva, enquanto a
capacidade de identificar-se com os outros como semelhantes é um componente importante
da empatia afetiva. Assim, esta capacidade, quando combinada com a segunda dimensão, que
envolve compreender as emoções dos outros de maneira contextualizada, torna-se um poderoso
aliado da empatia.
1 Compreendendo os sentimentos e
as emoções dos outros dentro do
contexto - Entender os sentimentos dos
outros dentro do contexto e entender
que, assim como nós mesmos, outros têm
sentimentos provocados por suas próprias
necessidades
Consciência Compaixão 2 Habilidades
Compreendendode e Cultivando Bondade
Interpessoal por Outros Relacionamento
e Compaixão - Valorizar os benefícios da
bondade e da compaixão e cultivá-los
como disposição.
Nos seres humanos, a preferência por traços de bondade se manifesta em crianças muito
pequenas. Estudos feitos por pesquisadores da área da psicologia do desenvolvimento sugerem
que crianças de até três meses preferem indivíduos que exibam comportamento altruísta àqueles
que exibem perfil antissocial36. O pesquisador Kiley Hamlin observa: “Embora pensemos nelas
como seres interessados apenas em seus próprios desejos, quando a chance lhes é dada,
crianças menores de dois anos de idade demonstram generosidade. Nós os descobrimos
dispostos à compartilhar, à doar suas guloseimas. E isso os faz felizes.37”
Valorizar a bondade acima da crueldade pode parecer apenas bom senso, mas facilmente nos
De Waal, Frans, Age of empathy: Nature’s Lessosns for a Kinder Society, Broadway Books. 2010
35
36
Hamlin, J. K., & Wynn, K. (2011). “Young infants prefer prosocial to antisocial others.” Cognitive development,
26(1), 30-39.
37
Goleman, A Force for Good, 51.
Comum entre essas disposições éticas, é que elas se referem a qualidades internas que
beneficiam a vida e a felicidade do indivíduo, em vez de posses ou realizações. Ao apreciar as
pessoas e reconhecer como elas enriqueceram nossas vidas , nos afastamos da ideia de que
a auto-promoção e o acúmulo de bens materiais são a chave para a satisfação e felicidade a
longo prazo. É importante ajudar os alunos a reconhecer que essas qualidades interiores são tão
importantes, se não mais, do que posses e realizações externas. Pesquisas mostram que, embora
haja uma relação entre a percepção da satisfação com a vida e o nível de bem-estar material,
há fortes ligações entre gratidão e felicidade observadas em crianças, adolescentes e adultos.
Não só a gratidão está relacionada a uma maior satisfação com a vida, mas um sentimento
de apreciação pelos benefícios recebidos também é capaz de aumentar os comportamentos
pró-sociais38. A compreensão, a apreciação pela bondade ea gratidão podem se tornar um
38
Froh, Jeffrey J., Emmons, Robert A., Card, Noel A., Bono, Giacomo, Wilson, Jennifer A. “Gratitude and the
Reduced Costs of Materialism in Adolescents.” Journal of Happiness Studies. 2011. 12:289-302.
De forma prática, este elemento envolve o engajamento no pensamento crítico para desenvolver
a apreciação da bondade dos outros, que leva à gratidão, perdão e assim por diante. Um nível
mais profundo de apreciação surge quando compreendemos as maneiras pelas quais os outros
nos beneficiam. No tópico de apreciar a gentileza, os indivíduos podem explorar as formas em
que seu bem-estar depende das ações dos outros. Algumas percepções facilitam o cultivo da
apreciação e o processo de aprendizagem e aprofundamento dessas percepções expandem
enormemente a apreciação em relação aos outros. Esta análise, que pode ser muito ampla e
profunda, pode resultar no cultivo de um sentimento de gratidão genuíno e duradouro, que
serve como um elo poderoso de conexão com os outros. Por exemplo, pode-se perceber
que não é necessário que os outros tenham a intenção de nos beneficiar; é possível valorizar
resultados benéficos que vieram sem qualquer intenção específica.
O apreço pelos outros também pode ser cultivado por meio de reflexões não apenas sobre
aquilo que os outros fizeram, mas o que eles não fizeram também, como as vezes em que eles
inibiram comportamentos negativos. Através deste método, os podemos aprender a apreciar os
outros quando eles não nos causam danos, inconvenientes ou mágoas. Apenas o fato de não
roubarem, causarem danos ou nos insultarem em uma determinada situação pode ser alvo de
nossa apreciação. De fato, se todos se comportassem dessa maneira o tempo todo, não haveria
medo ou roubado. Em um nível mais avançado, os indivíduos podem aprender a apreciar os
benefícios advindos de circunstâncias aparentamente negativas. Essa capacidade de tomar uma
nova perspectiva é uma maneira poderosa de liberar a raiva, o ressentimento e o ódio e isso não
significa que devemos ser condescendentes em relação àquilo que é errado. Os alunos podem
estudar as biografias de pessoas que passaram por grandes dificuldades e, contra todas as
expectativas, sobreviveram e conseguiram transformar suas perspectivas a fim de levar uma vida
mais feliz e gratificante.
O apreço pelos outros pode agora se expandir para refletir sobre como os outros nos
beneficiam, e como a própria felicidade e bem-estar dependem dos inúmeros atos de
bondade dirigidos para nós. Mesmo estranho podem ser os autores de tais ações benéficas.
Esta apreciação naturalmente conduzirá à gratidão, o que, por sua vez facilitará a empatia (um
reconhecimento de estados emocionais dos outros e uma ressonância com eles) no nível da
preocupação empática, onde um se importa com o bem-estar do outro ou o sofrimento em uma
maneira pessoal, sem deixar que esta preocupação se transforme em uma angústia. Tal processo
pode ser fortalecido por meio da reflexão sobre as desvantagens de uma atitude totalmente
egocêntrica e as vantagens advindas de uma atitude altruísta. Isso pode ser explorado no nível
individual ou expandido para grupos e interações interpessoais. Além disso, assim como os
alunos fizeram com eles mesmos no domínio pessoal, eles podem aprender a reconhecer que os
O filósofo Adam Smith apontou há mais de dois séculos que a empatia exige que nos
imaginemos ativamente na situação do outro e, desse modo, é possível discernir e experimentar
em algum nível aquilo que o outro está sentindo. A empatia começa então pela tomada
da perspectiva do outro, uma habilidade por muito tempo considerada vital para o bom
desenvolvimento social39 e fundamental para o comportamento altruísta ativo40. Uma
descoberta especialmente importante para as escolas constatou que encorajar a tomada de
perspectiva empática é uma estratégia bem-sucedida para reduzir o preconceito social, e para
o reconhecimento de que a capacidade de tomar a perspectiva do outro está diretamente
relacionada à predisposição para cooperar41. Crianças em idade escolar que têm empatia são
menos propensas a se engajarem em agressões e bullying e demonstram um comportamento
pró-social mais desenvolvido. Elas, por exemplo, são mais propensas a intervir para proteger
alguém que está sendo vítima de alguma injustiça42 e na adolescência estão menos propensos a
Davis, M. H. (1983). Measuring individual differences in empathy: Evidence for a multidimensional approach.
39
Development, ed. Killen, Melanie, Smetana, Judith G., Psychology Press, 2013. p.190-191.
Há, no entanto, aspectos de empatia que não parecem estar tão diretamento relacionados com
a compaixão. Como o psicólogo Paul Bloom argumenta em seu livro Against Empathy: The
Case for Rational Compassion (Contra a empatia: O caso para a compaixão racional), a empatia
é muitas vezes irracional e problemática quando considerada de uma perspectiva ética45. As
respostas empáticas tendem a ser mais fortes quando há apenas uma única pessoa ou animal em
sofrimento; quando isso é expandido para dois ou mais indivíduos, a resposta empática diminui,
ao invés de aumentar. A empatia também tende a ser direcionada aos membros de um mesmo
grupo.
A empatia funciona de forma eficaz para apoiar essa competência - Compaixão pelos
Outros - quando esta se expande de forma neutra e imparcial, e quando ela tem o apoio da
Autorregulação e da Autocompaixão, não nos conduz ao sofrimento empático. Se trabalharmos
para expandir o senso de identificação com os outros, incluindo cada vez mais pessoas, até
mesmo aquelas que parecem ser muito diferentes, essa prática enfraquecerá as agudas divisões
de grupo já existentes , divisões essas que tornam a empatia desigual e limitada46. Além disso,
uma perspectiva sistêmica, que será explorada posteriormente neste documento, permite
uma ampliação de nossa capacidade natural de levar em consideração as perspectivas dos
outros e adotar uma visão de longo prazo. Alguns psicólogos sugerem que aprender a tomar a
perspectiva dos outros pode ajudar a evitar processos de identificação emocional excessiva que
levam a um sofrimento empático e a anulação daquele que sofre47. Quando sentimos o pesar
empático, ao testemunhar o sofrimento do outro, somos impelidos a agir não por preocupação
em relação àquele que sofre, mas sim por um desejo de eliminar nosso próprio desconforto. Essa
forma de empatia é distinta da preocupação empática e da compaixão, pois é auto-orientada e
não orientada para o outro.
Expandir a habilidade de tomar a perspectiva do outro para sermos mais inclusivos é um passo
crucial na manutenção de diversos relacionamentos. Além disso, podemos ter sucesso na escola
ou em qualquer ambiente coletivo. A psicóloga de desenvolvimento Carolyn Saarni observou
que, para ter sucesso no ambiente de aprendizagem, é necessário “ter habilidade para discernir
Chandler, Michael J., “Egocentrism and antisocial behavior: The assessment and training of social perspective-
43
empathy.” The Year in Cognitive Neuroscience 2009. Ann. N.Y. Acad. Sci. 1156: 81–96 (2009).
Bloom, Paul. Against Empathy: The Case for Rational Compassion. Ecco, 2016.
45
Galinsky, Adam D., Moskowitz, Gordon B., “Perspective-Taking: Decreasing Stereotype Expression, Stereotype
46
Accessibility, and In-Group Favoritism.” Journal of Personality and Social Psychology. 2000, Vol. 78, No~ 4, 708-724
Decety, Jean, an Lamm, Claus. “Human Empathy through the Lens of Neuroscience.” The Scientific World
47
Discutir histórias apropriadas para cada idade é um meio eficaz de ajudar as crianças a praticar
a tomada de perspectiva de outra pessoa de forma que ela não se sinta inibida49. Pesquisas
sugerem que os professores podem realizar a leitura de ficção como uma forma eficaz de cultivar
empatia, particularmente quando acompanhada de exercícios que estimulem a tomada de
perspectiva e a reflexão sobre o contexto e as vidas emocionais dos personagens50. A partir dos
adolescentes em diante, a leitura de ficção literária que tem como foco principal personagens
48
Saarni, Carolyn. “The development of emotional competence: Pathways for helping children to become emotionally
intelligent.” (El desarrollo de la competencia emocional: Vías para ayudar a niños a volverse emocionalmente
inteligentes) Educating people to be emotionally intelligent (2007): 15-35. Saarni, Carolyn.
49
Ornaghi, Veronica, Brockmeir, Jens, Grazzani, Ilaria. “Enhancing social cognition by training school children in
emotion understanding: a primary school study.” (El aumento de la percepción social mediante el entrenamientos de
niños escolares en el entendimiento de la emoción: un estudio en la educación primaria) Journal of Experimental Child
Psychology 2014, Vol. 119, 26–39.
50
Para exemplos desses estudos, veja os estudos conduzidos pelo pesquisador Keith Oatley. Mar, Raymond A.,
Keith Oatley, and Jordan B. Peterson. “Exploring the link between reading fiction and empathy: Ruling out individual
differences and examining outcomes.” Communications 34.4 (2009): 407-428.
Como observado, assim como os alunos aprenderam a relacionar suas próprias emoções a um
contexto mais amplo e reconhecer como suas emoções muitas vezes derivam de necessidades
subjacentes, os alunos podem aprender a estender isso para os outros, relacionando seus
comportamentos às emoções, e essas emoções às necessidades.
51
Chiate, Julian, “Novel Finding: Reading Literary Fiction Improves Empathy.” Scientific American,
October 4, 2013.
52
Para exemplos de pesquisa, veja, Varkey P, Chutka DS, and Lesnick TG. “The Aging Game: improving medical
students’ attitudes toward caring for the elderly.” J Am Med Dir Assoc. 2006. 7(4):224-9.
Este elemento é uma seção rica na qual os alunos podem explorar esses valores pró-sociais
no nível do conhecimento adquirido, explorando a literatura científica sobre gratidão, perdão,
preocupação empática e compaixão, bem como biografias, exemplos da história e eventos
atuais. Ao se envolverem em exercícios contemplativos e práticas reflexivas, eles podem então
explorar esses valores de maneira pessoal, em primeira pessoa, de modo a produzir percepções
críticas. Isso, então, prepara o terreno para explorar quais comportamentos devem surgir dessas
percepções e desses valores, que são explorados no próximo elemento.
Habilidades de Relacionamento
Mesmo se fundamentados na empatia, compaixão e compreensão, alguns comportamentos
se mostram contraprodutivos. Por exemplo, um aluno pode ter boas intenções, mas pode,
inadvertidamente, causar dificuldades para si e para os outros. Em outro cenário, o aluno pode
ter a intenção de interagir com os outros ou intervir em uma situação de maneira positiva,
mas não ter as habilidades necessárias para tornar essa interação bem-sucedida. Esta é uma
questão de experiência, o que explica a necessidade de praticar ativamente habilidades que
fortalecem a relação com os outros de uma forma positiva até que elas se tornem incorporadas e
naturais. Além disso, essas habilidades funcionam melhor quando associadas aos dois elementos
anteriores. Embora os alunos possam praticar e realmente aprendam habilidades de resolução
de conflitos e habilidades de sem, necessariamente, cultivar a consciência sobre os outros e
os valores pró-sociais, é a união desses elementos que cria uma combinação transformadora.
Pesquisas têm sugerido que o bem-estar a longo prazo está diretamente relacionado a
capacidade de formar e manter relações significativas e positivas, além de poder reconhecer
e acabar com as relações prejudiciais54. O ambiente escolar não é uma exceção; o processo
educacional é de cunho social, e o aprendizado é facilitado ou impedido pela forma como os
alunos podem se relacionar e se comunicar com professores e colegas55. Os jovens que não
conseguem desenvolver a competência social têm maior probabilidade de abandonar a escola e
53
Jinpa, Thupten. A Fearless Heart.
Vaillant, GE. Aging Well: Surprising Guideposts to a Happier Life from the Landmark Harvard Study of Adult
54
Os quatro tópicos neste elemento são categorias amplas, destinadas a englobar uma gama
de habilidades que poderiam ser cultivadas. Eles são Escuta Empática; Comunicação Hábil;
Ajudando os outros; e Transformação de Conflitos. Os dois primeiros tópicos concentram-se
na comunicação: a capacidade de ouvir e se comunicar com os outros. O terceiro engloba os
aspectos de ajuda que vão além da comunicação. O quarto Analisa a habilidade importante de
resolver e abordar os conflitos, envolvendo a si mesmos ou a terceiros.
A Escuta Empática tem a ver com ouvir os outros de uma forma aberta, abertura essa que
Reconhecendo Engajamento
é oposta à reatividade emocional. Ela reconhece a humanidade comum entre todos, e é
a Humanidade Comunitário
fundamentada no respeito e consideração pela outra pessoa, mesmo quando as visões das
Mútua e Global
pessoas envolvidas nesta comunicação sejam divergentes. Na Aprendizagem SEE, a escuta
empática é cultivada por “diálogos conscientes”, nos quais pares de alunos se revezam, ouvindo
um ao outro, sem comentários ou julgamento por alguns minutos. Ao desenvolver essa habilidade
fortalece as capacidades duradouras exploradas nos dois componentes anteriores, como
56
Gresham, Frank M., Van, Mai Bo, Cook, Clayton R. “Social skills training for teaching replacement behaviors:
remediating acquisition deficits in at-risk students.” Behavioral Disorders, August 2006. Vol. 31 (4), 363–377
A escuta empática é um dos aspectos mais importantes da Comunicação Habil, mas deve
ser complementada por meio do exercício de uma comunicação atenciosa, produtiva e
empoderadora para si e para os outros. O conceito de “empoderar a comunicação” refere-se à
capacidade dos alunos de aprender a falar respeitosa e articuladamente, de uma forma que se
conecte com seus valores e empodere a si e aqueles que podem não ser capazes de falar por
eles mesmos. O debate pode ser uma ferramenta poderosa para cultivar tanto a comunicação
empoderadora quanto o pensamento crítico, por exemplo, fazendo com que grupos de alunos
debatam ambos os lados de uma questão, incluindo o lado com o qual eles naturalmente
discordariam. Tais exercícios podem ser ferramentas poderosas para cultivar a humildades
epistêmica, a curiosidade intelectual, a empatia e o senso de humanidade comum, bem como
combater tendências negativas como a deslegitimação ou desumanização daqueles que se
opõem aos nossos pontos de vista.
Quando se trata de ouvir com empatia e se comunicar com outras pessoas, a Comunicação
Não-Violenta (CNV), às vezes conhecida como comunicação compassiva, é um método bem
estabelecido para ajudar os alunos a se expressarem honestamente enquanto criam um contexto
no qual o conflito pode ser resolvido de forma construtiva. Com base na ideia de que todas as
pessoas são dotadas da capacidade para o exercício da compaixão e que os hábitos físicos e
verbais mal-intencionados são culturalmente desenvolvidos, a CNV requer que os indivíduos
escutem e falem com empatia, discernindo a intenção, reconhecendo nossa humanidade e
interdependência57. Muitas das técnicas da CNV estão presentes no currículo da Aprendizagem
SEE.
Ouvir e comunicar são habilidade fundamentais, mas não esgotam por elas mesmas o leque
de possibilidade para nos ajudarmos mutuamente. “Ajudando os outros” se refere à praticar as
várias maneiras pelas quais podemos oferecer ajuda ou ir além da comunicação, de maneira
apropriada às necessidades dos outros e proporcional à sua própria capacidade. Muitas escolas
têm se engajado em projetos que envolvem serviço comunitário, voluntariado ou “Atos Casuais
de Gentileza”. Pesquisas sugerem que oferecer ajuda e ajudar de fato são ações que contribuem
mais para o próprio bem-estar do que simplesmente receber ajuda. Por essa razão, estar a serviço
dos outros é algo que deve ser praticado e nutrido desde cedo. Podemos ajudar os outros de
uma infinidade de formas. Na Aprendizagem SEE, no entanto, a prática de ajudar os outros não
deve vir simplesmente como uma imposiçãode cima para baixo. Em vez disso, a prática de ajudar
Da mesma forma que os alunos podem entender seu próprio comportamento e o dos outros,
a capacidade de entender como os sistemas operam também é inata. Ao aprofundar essa
consciência e aplicar o pensamento crítico a situações complexas, uma abordagem mais
abrangente - e prática - das relações humanas e engajamento ético pode surgir. Uma intenção
compassiva de se engajar em um determinado curso de ação pode então ser verificada com o
objetivo de entender se essa é realmente útil em larga escala e a longo prazo. Dessa forma, a
solução de problemas se torna um processo mais holístico, evitando a tendência de fragmentar
os problemas em pequenos pedaços desconectados.
Quando olhamos para qualquer coisa que existe, vemos que ela não existe no vácuo, mas
dentro de um conjunto de contextos, e vemos que ela surge de várias causas e condições.
69
Vemos também que o fenômeno ou evento em si contém outros fenômenos e processos - nesse
sentido, estamos obervando um sistema. Quando começamos a entender esses contextos
mais amplos e profundos, e como eles se relacionam e impactam nosso objeto de estudo, já
estamos nos envolvendo no pensamento sistêmico. Quando então aplicamos a mesma análise
a outros objetos e eventos relacionados, estamos construindo um reconhecimento de sistemas
mais amplos. Podemos, então, ver as propriedades emergentes do sistema, como as interações
entre os componentes do sistema, que resultam em algo mais do que a soma de suas partes.
Por exemplo, o compartilhamento de ideias entre duas pessoas pode resultar em algo maior do
que poderia ser realizado se cada indivíduo tivesse trabalhado por conta própria. Para alunos
mais avançados, o trabalho científico em áreas como a física quântica pode fornecer exemplos
poderosos de como a realidade interativa e interdependente é, e como ela pode ser contra-
intuitiva quando comparada a modelos mais simplistas de pensamento. Em um nível um pouco
menos complicado, a ecologia e o estudo do ambiente fornecem uma maneira acessível para
que os alunos possam contemplar a dinâmica interdependente e complexa dos sistemas.
No nosso mundo cada vez mais complexo, a compaixão, por si só, não tem sido suficiente para
alcançar o objetivo final de um engajamento ético eficaz no mundo; deve ser complementada
com uma tomada de decisão responsável, baseada na compreensão dos sistemas mais amplos
em que vivemos. Sem saber como engajar uma situação de múltiplas perspectivas ou ser
capaz de avaliar um curso de ação e suas prováveis conseqüências ao longo do tempo, ações
motivadas pela bondade podem, acidentalmente, resultar negativamente. O mundo em que
os jovens estão crescendo é cada vez mais complexo, global e interdependente. Os desafios
enfrentados pelas gerações atuais e futuras são vastos e, por natureza, de longo alcance, e as
soluções exigirão uma nova maneira de pensar e solucionar problemas que seja colaborativa,
interdisciplinar e de orientação sistêmica.
Ter contato com o domínio Sistêmico pode parecer intimidador no começo, mas estes são
baseados nos mesmos conhecimentos e habilidades explorados nos domínios Pessoal e
Social. Este nível estende-se para cenários mais amplos de comunidades locais, sociedades e
Compreendendo a Interdependência
A interdependência é o conceito de que as coisas e os eventos não surgem sem um contexto,
mas dependem de uma série de outras coisas e eventos para sua existência. Uma refeição
simples que se come, por exemplo, vem de um amplo arranjo de recursos de diferentes
áreas geográficas. A interdependência também significa que mudanças em uma área levam
a mudanças em outro lugar. Os efeitos têm origens e, de fato, podem surgir devido a uma
diversidade de causas e condições.
Como Daniel Goleman e Peter Senge escrevem em O foco Triplo, isso envolve “analisar a
dinâmica em que: quando eu faço isso, a consequência é esta, e, a partir disso, como usar esta
percepção para mudar o sistema para melhor.58” Como é evidente a partir desta citação, o
propósito não é apenas desenvolver uma compreensão seca de como os sistemas funcionam,
mas relacionar este conhecimento às nossas preocupações, que vão desde o cuidado com as
outras pessoas até com o planeta como um todo.
Assim, este elemento pode ser explorado através de dois tópicos: compreendendo sistemas
interdependentes e indivíduos dentro de um contexto de sistemas. O primeiro, relaciona-se
com a mudança de um foco “interno” e “outro” para um foco “externo” em sistemas mais
amplos: direcionando a consciência dos alunos para uma compreensão dos princípios de
interdependência e sistemas, como causa e efeito, de modo geral. O segundo, personaliza esse
conhecimento reconhecendo como a própria existência e a dos outros em torno de si mesmo
estão intrinsecamente relacionados a uma vasta gama de eventos, causas e pessoas ao redor
da comunidade e ao redor do mundo. Isso envolve reconhecer como outros eventos, mesmo
quando aparentemente distantes, afetam o próprio bem-estar e como alguém participa de um
contexto que afeta e impacta outras pessoas que, a princípio, podem parecer bem distantes, e
algumas vezes gera consequências não intencionais.
Capacidades Duradouras:
1 Compreendendo Sistemas
Interdependentes – Entender a
interdependência e as propriedades
dos sistemas através da exploração das
correntes de causa e efeito.
Compreendendo a 2 Reconhecendo Engajamento
Indivíduos dentro de um Contexto de
Interdependência a Sistemas
Humanidade Comunitário
– Reconhecer como nós e os
Mútua
outros e Global
existimos dentro de um contexto
de sistemas e afetamos ou somos afetados
por este contexto.
A interdependência é tanto uma lei da natureza quanto uma realidade fundamental da vida
humana. Ninguém é capaz de sustentar a vida, muito menos florescer, sem o apoio de outros
que trabalham para suprir as necessidades básicas de comida, água e abrigo, bem como a
infraestrutura de apoio de inúmeras instituições responsáveis pela educação, aplicação da lei,
governo, agricultura, transporte, saúde e assim por diante. A interdependência começa mesmo
antes do nascimento, quando um depende dos outros para a própria sobrevivência. Além disso,
a interdependência é necessária para uma ação bem-sucedida em larga escala. A atenção a
essa verdade nos tempos modernos tornou-se ainda mais urgente devido à “intensificação
das relações sociais mundiais (ligando) realidades distantes de tal forma que os eventos locais
são moldados por eventos ocorrendo a muitos quilômetros de distância, e vice-versa”59. As
principais crises bem divulgadas, como a recessão internacional de 2007-2009, e as crescentes
preocupações sobre a mudança climática e os conflitos globais violentos, demonstram esse tipo
de interdependência econômica e ecológica em nível global.
Em sociedades mais antigas e mais tradicionais, um senso de conexão com os outros estava
profundamente inserido na vida cotidiana. A sobrevivência muitas vezes dependia de
compartilhar e trocar recursos humanos e participar de outros tipos de cooperação social. Povos
vizinhos se uniram para colher culturas, construir estruturas necessárias, combater predadores ou
lidar com os elementos naturais. O conhecimento implícito de que o que ajudou ou prejudicou
uma parte da comunidade afetou o todo, muitas vezes ajudou a orientar a tomada de decisões e
o comportamento.
Para que tal compreensão de sistemas interdependentes se torne significativo, o mesmo deve
ser complementado com exercícios e materiais que tornem a interdependência reconhecida
em um nível pessoal: indivíduos dentro de um contexto de sistemas. Assim, em resposta à essa
tendência errônea para enxergar indivíduos desconectados uns dos outros, ou de alguma forma
independentes de um sistema maior, o exame da interdependência proposto pela Aprendizagem
SEE enfatiza os relacionamentos com outros seres humanos e a complexidade dos mesmos.
Isso sem descartar ou desvalorizar a interdependência que os humanos compartilham com
outras espécies animais e formas de vida, ou mesmo a Terra como um todo. Essa consciência
é de grande importância e está incluída neste elemento. No entanto, há um valor especial na
sintonia com profunda interconexão com outros humanos e, especialmente, no que se refere aos
muitos benefícios que uma pessoa recebe. Os resultados são três: (1) um sentimento crescente
de gratidão pelos outros em um nível sistêmico; (2) uma consciência mais profunda do potencial
que temos para influenciar a vida dos outros, devido à interconectividade; e (3) uma aspiração
crescente por agir de forma que o bem-estar mais amplo esteja assegurado e de forma que as
gentilezas que recebemos desta vasta rede composta de tantas outras pessoas seja retribuída.
Este resultado final em compreendendo a interdependência - quando relacionado a percepção
crítica que está no coração de reconhecendo a humanidade comum - contribui fortemente para
nossa disposição de expandir nosso senso de responsabilidade pelo bem-estar de cada vez mais
pessoas e buscar formas criativas de agir a seu favor, que é o elemento final: Envolvimento
Local e Global.
Começamos por aprender a prestar atenção aos outros para além das superficialidades. Tal
aprendizagem tem sido definida como “uma compreensão das atividades dos outros, que
fornece um contexto para a sua própria atividade”60. Em outras palavras, os alunos discernem
Dourish, P. and Bly, S., (1992), Portholes: Supporting awareness in a distributed work group, Proceedings of ACM
60
Crianças vulneráveis podem precisar de ajuda adicional para reconhecer que, apesar de terem
sido decepcionadas ou até mesmo prejudicadas por outros, existem pessoas que as beneficiaram
de alguma forma - talvez um amigo ou irmão ou um adulto fora de sua família. Gradualmente,
esse reconhecimento pode ser expandido para incluir estranhos, como o bombeiro ou o
trabalhador do saneamento, que fornecem serviços importantes que ajudam a tornar a vida mais
segura ou mais confortável. Com o tempo e com a prática, essa consideração pode crescer até
mesmo para incluir aqueles com quem se tem relações difíceis ou controversas. Pouco a pouco
se aprende que até mesmo pessoas desagradáveis são nossos benfeitores. Por exemplo, por trás
de duras críticas, podemos enxergar formas de conselhos úteis. Outro exemplo seria um forte
senso de justiça que nos motive a ajudar os outros, decorrente de uma experiência de injustiça
anterior. De fato, essa consideração das maneiras como os outros nos beneficiam já foi explorado
em elementos anteriores até um certo grau, como no elemento Compaixão Pelos Outros, mas
aqui ele é estendido a sistemas mais amplos e é explorado em mais nuances conforme os alunos
ganham mais conhecimento sobre o pensamento sistêmico. Os benefícios advindos dos outros
não devem ser reconhecidos apenas de forma objetiva, mas como pertencentes à uma ampla
rede de interdependência. Desta forma, isso naturalmente dará apoio ao seguinte elemento, o
de reconhecimento da humanidade comum.
Adler, Mitchel G. and Fagley, N. S. “Appreciation: Individual Differences in Finding Value and Meaning as a Unique
61
Predictor of Subjective Well-Being.” Journal of Personality, February, 2005. Vol. 73, No. 1, p.79-114.
Algoe, Sarah B., Haidt, Jonathan, Gable, Shelly L. “Beyond Reciprocity: Gratitude and relationships in everyday
62
life.” Emotion. 2008 Jun; 8(3): 425–429. Algoe, Sarah B., Fredrickson, BL, Gable, Shelly L. “The social functions of the
emotion of gratitude via expression.” Emotion. 2013 Aug;13(4):605-9.
Esse crescente senso de conexão com os outros funciona diretamente para combater o
isolamento social percebido (solidão), aumentando a capacidade para experimentar uma forma
solidária de alegria. Tal senso de conexão ainda permite esxperienciarmos o prazer genuíno
diante das realizações dos outros e fornece um antídoto para a inveja e o ciúme, bem como para
uma dura autocrítica ou comparações irrealistas com os outros.
1 Compreendendo a igualdade
fundamental de todos - Ampliar a
percepção da igualdade fundamental e
humanidade comum para aqueles que
estão fora dos círculos de convivência mais
próximos e, finalmente, para o mundo
mpreendendo a Reconhecendo Compreendendo como os sistemas
2 Engajamento
terdependência a Humanidade Comunitário
afetam o bem-estar - Reconhecer
Mútua e Global
como os sistemas podem promover ou
comprometer o bem-estar nos níveis
cultural e estrutural, promovendo valores
positivos ou perpetuando crenças e
desigualdades.
Em seu livro A Era da Empatia (The Age of Empathy) , Frans de Waal descreve um experimento
no qual os macacos-prego têm a opção de receber uma recompensa ou receber uma
recompensa e seu vizinho macaco também. Os macacos escolheram a opção pró-social – a
menos que o macaco vizinho fosse desconhecido pois, neste caso, eles voltavam a apresentar
um comportamento limitado apenas ao seu próprio interesse64. Como seres humanos, nossas
tendências iniciais podem ser incovenientemente semelhantes às dos macacos, na medida que
a bondade biológica necessária para a sobrevivência é tipicamente limitada a membros de
um grupo próximo. Se quisermos que o cuidado pelos outros seja a base para uma tomada de
decisão ética, tal cuidado deve ser expandido para além daqueles que nos beneficiam pessoal e
diretamente.
Sem a capacidade de superar os viéses que surgem de nossos interesses autocentrados, os fortes
sentimentos de apego pelas pessoas mais próximas podem se tornar motivo para o preconceito
e violência. Por exemplo, um professor que experimenta forte preferência por uma criança em
detrimento de outras, sem a consciência desse viés, não será justo ao mediar uma disputa entre
os dois. Tal falta de imparcialidade pode levar a sentimentos de ressentimento e falta de poder
na criança menos favorecida. E infelizmente, esse tipo de viés geralmente se estende além do
nível individual. O desejo de proteger os membros de um grupo em detrimento de outros é
responsável por muitas das atitudes e políticas que moldam as nossas sociedades, e é a raiz de
muitas das mais preocupantes injustiças e conflitos profundos que vemos em todo o mundo.
Embora a lealdade seja em muitos casos uma qualidade positiva, a lealdade excessiva àqueles
identificados como mais íntimos pode levar a julgamentos distorcidos e discriminação. Portanto,
5 Ways Giving Is Good for You,” Greater Good Science Center, Jill Suttie, Jason Marsh,
63
Felizmente, em comparação com os macacos-prego estudados pelo Dr. Waal, os seres humanos
têm a capacidade distinta de expandir seu círculo de empatia para além daqueles com quem
eles se identificam mais de perto. Aprendemos a estender o cuidado àqueles que estão fora
dos limites da experiência e das preferências pessoais, encontrando um terreno comum; e um
método poderoso para se sintonizar com esse senso comum da humanidade é refletir sobre as
aspirações compartilhadas por todos: o desejo de prosperar e o desejo de evitar sofrimento e
insatisfação. Ao identificar os outros como semelhantes, o grupo interno pode ser expandido
para incluir pessoas de diferentes nacionalidades, etnias, religiões e assim por diante. Esta
capacidade é demonstrada de várias maneiras em toda a sociedade, desde um indivíduo doando
sangue, até a expansão de doações de caridade que ocorre após um desastre natural, bem como
protestar contra as injustiças contra grupos dos quais não se faz parte.
O reconhecimento da humanidade comum será mais profundo quando for baseado em uma
empatia interpessoal, de modo que não permaneça meramente em um nível abstrato. Pode
ser aplicado na sala de aula de várias maneiras. Além disso, uma exploração de sistemas pode
facilitar o desenvolvimento da empatia. Este é o terreno para o segundo tópico deste elemento,
Compreendendo como os sistemas afetam o nosso bem-estar. Tal tópico envolve a habilidade
de reconhecer como os sistemas podem promover ou comprometer o bem-estar em níveis
culturais e estruturais, favorecendo valores positivos ou perpetuando crenças e desigualdades
problemáticas. Os alunos podem examinar, em um nível adequado à faixaetária, o que eles
Goleman, Daniel. Social Intelligence: The New Science of Human Relationships, Bantam, 2006, 54.
65
Cultivar uma empatia de escopo mais amplo como essa, ou seja, empregando uma perspectiva
sistêmica, é crucial porque, como seres humanos, nossa capacidade inata de empatia parece não
ter sido projetada para acomodar automaticamente problemas e sofrimento em larga escala. Por
exemplo, estudos mostram que temos uma tendência mais forte para ter empatia com uma única
vítima em relação a um grande número de vítimas, ou com uma pessoa que esteja à nossa frente,
em vez de uma pessoa que esteja longe. O sofrimento, no entanto, nem sempre é causado de
maneira óbvia ou direta, mas pode surgir de estruturas sociais e normas culturais. Por exemplo, se
o sistema dentro de uma organização incluir políticas e procedimentos opressivos ou desiguais,
isso influenciará o comportamento daqueles que trabalham nesse ambiente. Se uma sociedade
legalizar manifestações de discriminação ou políticas que são efetivamente discriminatórias,
isso cria um sistema em que o bem-estar das pessoas pode ser comprometido. Subjacentes a
essas estruturas estão as crenças culturais que justificam e reforçam tais estruturas: por exemplo,
a crença de que um grupo de pessoas é superior ao outro com base em gênero, raça, etnia ou
status social66. Ao aprender sobre violência estrutural e cultural, a valorização e o discernimento
dos alunos sobre o sofrimento aumentarão, assim como a sofisticação de suas respostas ao
sofrimento.
A compreensão mútua foi identificada como um objetivo curricular em muitos sistemas escolares
e em programas como o Bacharelado Internacional. Através do reconhecimento da humanidade
comum, os alunos podem aprender a se comunicar e cooperar entre grupos étnicos e sociais,
enquanto têm uma compreensão e expectativas mais realistas dos outros. Com uma maior
conscientização e compreensão do que se compartilha com os outros, os alunos poderão
apreciar, em vez de desconfiar das diferenças aparentes, levando à diminuição do preconceito e
do isolamento. Por meio da compreensão de como o bem-estar dos indivíduos é moldado pelos
sistemas, sua empatia será mais profunda e abrangente, assim como seu pensamento crítico
sobre possíveis soluções para o sofrimento humano.
Para uma apresentação mais detalhada dos níveis culturais e estruturais de paz e violência e como eles estão
66
relacionados com a ética secular e os valor humanos básicos, ver Flores, Thomas, Ozawa-de Silva, Brendan, and
Murphy, Caroline. “Peace Studies and the Dalai Lama’s Approach of Secular Ethics: Towards a Positive, Multidimensional
Model of Health and Flourishing,” Journal of Healthcare, Science and the Humanities, vol. 4, no. 2 (Fall, 2014), pp. 65-
92.
Embora o princípio de equidade esteja apoiado na crença de que todos os seres humanos têm
direitos iguais à felicidade e ao bem-estar, tal princípio não defende a igualdade de tratamento
independentemente das circunstâncias. Em vez disso, a eqüidade sugere que, em alguns
casos, certos alunos podem precisar de recursos diferentes para ter as mesmas oportunidades
de sucesso que os outros alunos. Desta forma, a perspectiva da equidade é semelhante à da
compaixão. A compaixão sugere, da mesma forma, que prestemos atenção ao contexto das
necessidades de alunos e comunidades de maneira individual, em vez de assumir que a mesma
abordagem deve ser aplicada a todos, independentemente do contexto e das necessidades.
Nos últimos anos, houve um aumento do foco na equidade na educação. Pesquisas sugerem que,
para abordar a equidade, devemos prestar atenção não apenas ao comportamento individual,
mas também a fatores estruturais, como leis, políticas, regulamentos, estruturas de financiamento
e assim por diante. Para uma solução de longo prazo, no entanto, deve-se prestar atenção não
apenas às mudanças em nível estrutural ou institucional, mas também às mudanças em nível
cultural, que incluem crenças, práticas, normas e valores. Isso porque as estruturas que criamos
e perpetuamos como seres humanos são reflexos de nossos valores. Na maioria das sociedades
modernas, por exemplo, o acesso à educação básica é considerado um direito para todos os
cidadãos. Essa crença reflete os valores culturais da sociedade. No caso desse tipo de sociedade,
acreditamos que o exercício da cidadania é benéfico para toda a sociedade, e essa crença cultural
se manifesta em estruturas, como leis que financiam escolas públicas, por exemplo. A partir disso,
podemos ver que uma perspectiva de sistemas inclui níveis estruturais e culturais. Esta análise de
como os valores culturais informam e moldam as instituições, e como ambos, portanto, impactam
os indivíduos na sociedade para melhor ou para pior, é tirada do campo dos estudos de paz
e é apresentada para que alunos mais velhos possam considerar tais aspectos no currículo da
Aprendizagem SEE.
O primeiro dos dois tópicos neste elemento é explorando o próprio potencial para empreender mudanças
positivas na comunidade e no mundo. A segunda é o engajamento em soluções locais e globais. Embora
semelhantes, a primeira envolve ajudar os alunos a reconhecer seu próprio potencial individual para efetuar
mudanças positivas com base em suas habilidades e oportunidades, sejam elas quais forem, individualmente
ou de forma colaborativa. A segunda envolve ajudar os alunos a explorar e refletir sobre soluções criativas
para questões que afetam sua comunidade ou o mundo; isto é, pensar em problemas complexos de
forma colaborativa e a partir de uma perspectiva sistêmica, mesmo que seja um problema que os alunos
não possam abordar ou resolver de forma imediata. No currículo da Aprendizagem SEE, esses tópicos
são explorados por meio de um projeto final que integra os conhecimentos e habilidades adquiridos em
todos os capítulos anteriores do currículo. Este projeto fornece diretrizes para cultivar as duas capacidades
duradouras nesse componente em relação a uma questão social específica que preocupa os alunos.
Capacidades Duradouras
Se quisermos que os alunos se envolvam com suas comunidades ou com o mundo para atender
as demandas de uma maneira que seja benéfica para todos, que não ceda ao desespero e que
seja realista e eficaz, devemos ajudá-los a entender suas limitações e suas capacidades. Com
relação a isso, é importante compreender que nem tudo está ao nosso alcance e que problemas
profundos levam tempo para se resolverem. Isso não significa que não se possa empreender
uma ação efetiva, no entanto. De fato, se os alunos se sentirem impotentes diante de questões
difíceis, isso tornará muito mais difícil cultivar a compaixão pelos outros e a autoestima, porque a
compaixão - o desejo ou a intenção de aliviar o sofrimento - depende da esperança - a crença de
que o sofrimento pode ser aliviado.
Certas estratégias podem ajudar a gerar confiança de que a mudança é possível e está ao
alcance se abordada de maneira apropriada e inteligente. Pode não ser possível alterar
um sistema inteiro, mas pode-se agir de modo a maximizar a mudança, concentrando-
se nos principais elementos de um mesmo sistema. Isso pode fornecer uma sensação de
empoderamento sem ser sobrecarregado pela escala de questões globais e num nível
sistêmico67. Se identificarmos os poucos fatores-chave que respondem pela maioria dos
efeitos em um sistema, podemos nos concentrar em abordar esses fatores e obter resultados
Como exemplo, o princípio de Pareto afirma que, em muitos casos, 20% dos insumos de um sistema representam
67
80% de seus produtos. Ou seja, 80% dos problemas de um sistema podem vir de 20% de seus componentes (como a
maior parte da poluição do sistema proveniente de uma minoria das atividades do sistema).
Mesmo quando motivadas pela compaixão, o impacto que as decisões dos alunos irão causar
depende de seu nível de compreensão da complexidade das situações que estão tentando
resolver, bem como de sua habilidade em se envolver em um pensamento crítico em torno
de questões complexas. Como qualquer outra habilidade, este tipo de pensamento crítico
pode aumentar com a prática e pode ser incluído no material pedagógico de um ambiente
de aprendizagem. Questões sociais e globais complexas precisam ser divididas em partes
menores que podem ser analisadas e envolvidas. Quando os alunos vêem como suas
ações podem abordar os elementos menores dos problemas e como estes se relacionam
interdependentemente em sistemas mais amplos, eles ganharão confiança e senso de ação
e empoderamento. Além disso, examinar histórias de indivíduos, especialmente jovens, que
causaram impacto em suas comunidades pode ser inspirador e encorajador, mostrando que a
mudança efetiva é possível.
Esse elemento, portanto, depende muito do pensamento crítico. Aqui, o pensamento crítico
envolve a prática de pensar através de questões complexas com base nos valores humanos
básicos. Esta é uma habilidade que pode ser desenvolvida e, portanto, deve ser ensinada
e praticada. Embora não haja garantia de que as ações tomadas serão necessariamente
consideradas benéficas por outros, esse tipo de pensamento crítico aumenta a probabilidade de
que um resultado construtivo seja obtido.
Este elemento de Engajamento Local e Global refere-se não apenas às ações dos alunos, mas
também ao cultivo de uma facilidade para o pensamento crítico que permite um envolvimento
efetivo e compassivo. É por isso que o segundo tópico, envolvendo soluções locais e globais,
envolve o processo de refletir sobre os problemas de uma forma que poderia levar a soluções,
mesmo que a implementação dessas soluções possa não estar ao alcance dos alunos naquele
momento. Esse tipo de pensamento crítico envolve muitas partes e é mediado por todos os
elementos da Aprendizagem SEE. Em um sentido mais robusto, pode incluir a integração dos
seguintes tópicos: (a) reconhecimento de sistemas e complexidade; (b) avaliar as consequências
de curto e longo prazo para vários grupos constituintes; (c) avaliar situações no contexto de
valores humanos básicos; (d) minimizar a influência de emoções e preconceitos; (e) cultivar uma
atitude de mente aberta, colaborativa e intelectualmente humilde; e (f) comunicar os prós e
Além disso, a habilidade de pensar criticamente sobre uma questão complexa de forma alinhada
com nossos valores pessoais é uma habilidade importante a ser desenvolvida. Ao pensar e avaliar
questões sociais e globais mais amplas, os alunos devem ser encorajados a se perguntarem
repetidamente como o assunto em questão se relaciona com os valores humanos básicos.
Desta forma, o seu envolvimento pode tornar-se cada vez mais orientado para o que promove
o florescimento individual, social e global. Isso está intimamente ligado ao reconhecimento
e à minimização do papel que as mentalidades e as emoções, como o preconceito, podem
desempenhar para impedir o pensamento crítico em torno de questões éticas. Aqui, muitas das
outras competências do SEE Learning desempenharão um papel de apoio, já que o próprio
cultivo de autorregulação pelos alunos, seu senso de empatia e apreciação dos outros e sua
compreensão da humanidade comum promoverão sua capacidade de minimizar as distorções
que tais emoções podem ter na tomada de decisão.
Conclusão
É evidente que a atual condição humana é complexa. Tanto crianças como adultos enfrentam
uma série de desafios em meio a inúmeros encontros individuais e situações sociais. Entretanto,
Guia de Implementação
1 | Primeiros passos 89
Ingressando na Plataforma para Educadores da Aprendizagem
SEE
Conectando-se a uma comunidade de aprendizagem profissional
Lendo o currículo para a faixa etária desejada
Preparando-se para Ensinar
Escolhendo uma opção de implementação
Usando a Aprendizagem SEE quando você está com pouco
tempo
Parabéns por embarcar na jornada da Aprendizagem SEE! Estamos felizes por você
compartilhar nosso entusiasmo pela educação do coração e da mente. Somos gratos por você
ter escolhido oferecer esta experiência significativa para seus alunos, seja em sua sala de aula,
escola ou organização comunitária. Entendemos que no início alguns educadores podem
se sentir inseguros diante de uma nova concepção de aprendizagem, com um currículo e
atividades ainda desconhecidos. Pode ainda estar se perguntando como seus alunos reagirão
às vivências propostas. Embora animado, você pode estar se sentindo incerto sobre sua
própria habilidade para ensinar as novas experiências. Todas essas são reações normais diante
de um novo desafio, então não deixe que esses sentimentos te tirem dos trilhos! Sabemos
que você provavelmente tem uma série de dúvidas sobre como implementar os currículos
da Aprendizagem SEE. Você talvez tenha sugestões de melhorias para a próxima edição da
Aprendizagem SEE. Se assim for, esperamos que você possa compartilhar conosco suas ideias
e reflexões. Acima de tudo, esperamos que você e seus alunos possam genuinamente apreciar
os benefícios, desafios e os resultados advindos do aprofundar de suas consciências, de sua
compaixão e do seu engajamento no mundo.
5 Fazer tempestade de ideias sobre possíveis soluções para desafios encontrados em sala
de aula durante a implementação da Aprendizagem SEE.
Guia de implementación 89
6 Discutir as necessidades de aprendizagem e o progresso dos alunos (mantendo a
confidencialidade apropriada).
Pratique os check-ins por conta própria ou com colegas, amigos e familiares. Os check-
ins duram apenas alguns minutos e os seus alunos se sentirão mais a vontade com eles
se você demonstrar um certo nível de familiaridade com eles. Alguns insights sobre como
seus alunos podem se sentir durante os checkins podem surgir na medida que você reflete
sobre suas próprias experiências. Para sua conveniência, gravações dos check-ins serão
disponibilizadas na plataforma para educadores.
Considere quando pode ser apropriado adicionar histórias e exemplos de sua própria vida
às experiências de aprendizagem. Alunos normalmente têm interesse em história reais.
Compartilhando suas próprias histórias, cuidadosamente escolhidas dentro dos limites
profissionais, pode ser uma maneira significativa de construir conexões e garantir que os
conceitos ganhem vida.
Guia de implementación 91
SEE com a melhor qualidade possível. As opções de implementação descritas abaixo fornecem
algumas orientações sobre como a Aprendizagem SEE pode ser integrada ao seu trabalho. Nós
encorajamos você a pensar criativamente sobre como as seguintes opções podem funcionar para
sua configuração.
Sala de Aula
Um professor de sala de aula que concluiu o Curso de Formação de Educadores on-line é
qualificado para utilizar a abordagem da Aprendizagem SEE em qualquer nível de ensino. O
educador pode ensinar o currículo apropriado para sua turma como parte do cronograma
acadêmico regular. Se alunos mais velhos puderem escolher quais aulas desejam incluir em suas
agendas, Aprendizagem SEE pode ser oferecida como uma eletiva. Recomendamos que as
experiências da Aprendizagem SEE sejam conduzidas semanalmente (ou com mais frequência)
para que os alunos possam relacionar aquilo que aprenderam com as experiências anteriores.
Se conseguir incorporar a Aprendizagem SEE à sua prática diária, recomendamos que explore
o material mais devagar, talvez quebrando as experiências de aprendizado em duas sessões.
Repetir ou estender uma experiência de aprendizagem pode ser benéfico, pois proporciona
tempo para que seus alunos explorem novos conceitos e pratiquem novas habilidades.
Orientação e Mentoria
Você pode usar o currículo durante os horários de orientação educacional ou de mentoria de
sua escola. Orientação e mentoria variam de escola para escola. Na maior parte das vezes são
turmas designadas para um educador que atua como orientador do grupo. O objetivo principal
é propiciar que professores e alunos possam se aproximar. Além disso, os professores mentores
muitas vezes ajudam os alunos com objetivos acadêmicos, socioemocionais e com seus objetivo
de longo prazo. Orientação e mentoria são frequentemente menores que os períodos de
aula típicos, e podem ser realizados mensalmente, duas vezes por mês ou semanalmente. A
Aprendizagem SEE pode ser usada em orientações ou mentorias e a quantidade de experiências
de aprendizagem a serem desenvolvidas vai depender da frequência dos encontros e também
do tempo de duração dos mesmo. Caso sua sessão de orientação ou mentoria dure menos de
25 minutos, consulte a seção “Uso da Aprendizagem SEE quando você está com pouco tempo.”
No âmbito da escola
Os gestores podem decidir apoiar a implementação da Aprendizagem SEE no âmbito da escola.
Nesse caso, recomendamos que seja criada uma comunidade de aprendizagem profissional que
abranja os educadores que estão implementando o currículo na escola. As reuniões desse grupo
devem ocorrer no mínimo mensalmente, para discutir desafios, sucessos e novas idéias, fornecer
uma rede de apoio que será útil durante todo o ano letivo. Nós também recomendamos que
À medida que educadores e alunos se sentem mais à vontade com o SEE Learning, a equipe
administrativa pode (por exemplo) procurar formas de conscientização e resiliência, práticas
podem ser incorporadas no código de conduta da escola em resposta ao mau comportamento
dos alunos. Os check-ins incluídos nas experiências de aprendizagem podem ser usados
durante as reuniões da equipe e dos pais. Diálogos conscientes poderiam ser usados para
entender perspectivas sobre questões potencialmente divisivas. Os princípios do SEE Learning,
como compaixão, poderiam estar alinhadas com as declarações de missão e visão da escola.
Estudantes poderiam se envolver na aprendizagem baseada em projetos, na qual eles procuram
resolver um problema social através da criação de “teias de interdependência” que lançam
luz sobre os potenciais impactos soluções propostas. Através de sua própria experiência, você
descobrirá muitas outras maneiras para implementar a Aprendizagem SEE em toda a escola. A
implementação em toda a escola é mais ambiciosa e demorada do que as alternativas, mas é
a maneira recomendada de implementar o SEE Learning se houver apoio administrativo e uma
visão de longo prazo. Se os gestores não têm certeza sobre sua prontidão para a implementação
em toda a escola, pode ser aconselhável adotar uma das demais formas de implementação
primeiro como uma etapa preparatória.
Guia de implementación 93
criatividade ao planejar a implementação da Aprendizagem SEE em ambientes não formais.
Independentemente da configuração do ambiente ou do perfil da população atendida, o Curso
de Formação de Educadores on-line irá ajudá-lo a desenvolver uma compreensão clara sobre
a estrutura conceitual da Aprendizagem SEE e seus currículo, uma abordagem que pode ser
conduzida por qualquer pessoa genuinamente interessada em promover a aprendizagem e o
bem-estar em um ambiente educador.
Caso não seja possível realizar todas Quando tiver tempo Quando você tem
as atividades de uma experiência de suficiente, escolha uma apenas 5 minutos,
aprendizagem, escolha uma delas. atividade da experiência veja as sugestões
Durante sua próxima sessão, conduza de aprendizagem e abaixo.
a próxima atividade. Continue fazendo conduza-a, usando as
experiências parciais de aprendizagem perguntas do check-
em seqüência. in e da conclusão
interrogativa (quando
apropriado) como
a atividade “o livro
termina”, por exemplo.
Se as aulas não puderem ser ministradas pelo menos semanalmente, você pode seguir usando
a Aprendizagem SEE em períodos curtos de 5 minutos, entre as experiências de aprendizagem.
Nesse caso, recomendamos as seguintes práticas ou exercícios breves de check-in:
• Exercício curto de recursos.
• Exercício curto de estabilização.
• Envolver-se em uma estratégia de “ajuda imediata”.
• Caminhada consciente.
• Concentrar a atenção na bondade advinda dos outros.
• Visualizar formas pelas quais podemos demonstrar bondade para com os outros.
• Planejar uma atividade pela qual eles podem demonstrar compaixão pelos outros.
• Realizar o check-in com um parceiro para trocar percepções sobre como nos sentimos.
• Escreva um parágrafo sobre compaixão, gentileza, empatia ou gratidão em diário.
• Ler uma citação inspiradora sobre bondade, empatia, respeito à diversidade, interdependência,
atenção, mindfulness, resiliência ou um tema relacionado, e compartilhar pensamentos com os
outros.
Guia de implementación 95
significativa (Katz, 2012). Os educadores desempenham um papel extremamente importante na
modelagem de apreciação e respeito por todos os alunos, independentemente do grupo étnico,
religião, gênero, habilidade ou outras diferenças. As crianças tornam-se sensíveis às diferenças
individuais e culturais ainda muito jovens e, a partir dessa percepção, podem acabar se sentindo
mais à vontade com outras pessoas que parecem semelhantes à sua própria família ou grupo
cultural. As crianças procuram os adultos para que estes as ajudem a entender o valor e o
significado da diversidade. Quando isso acontece, ao invés de propagar mensagens que buscam
justificativas para estereótipos, medos, intolerância e desiguladades baseadas em diferenças,
podemos usar essa oportunidade para reforçar as igualdades fundamentais e a humanidade
comum em todos os seres. O domínio Sistêmico presente na Aprendizagem SEE contempla
e valoriza as diferenças individuais e coletivas, valorizando-as dentro do contexto da unidade
fundamental. Nesse domínio também encontramos reflexões sobre como melhorar ou reformar
os sistemas sociais para que eles sejam mais eficazes na promoção do florescimento e do bem-
estar de todos os membros de uma sociedade. É importante, portanto, que o clima de sala de
aula/escola reflita tais valores. E este clima é definido em primeiro lugar pelos educadores e
gestores.
1 2 3 4 5
Demonstre gentileza Trate todos os alunos Ajude os alunos a Ofereça Peça aos
e atitude positiva de forma igualitária, considerar e explorar oportunidades alunos que
para que os alunos pratiquem a
em relação a todas oferecendo as mesmas a interdependência
possam questionar meditação da
as pessoas da sua oportunidades e a humanidade estereótipos e compaixão,
comunidade escolar de participação comum de todas explorar diferentes expandindo
perspectivas por sentimentos
(colegas, pais, e crescimento, as pessoas,
meio do diálogo de
alunos, funcionários), independentemente independentemente consciente e do amorosidade
independente de do sexo, habilidade, das diferenças pensamento crítico. para todos.
A Aprendizagem SEE baseia-se numa compreensão fundamental de que nós, seres humanos,
compartilhamos necessidades e valores comuns, bem como o desejo pela felicidade e bem-estar.
Apesar de quaisquer diferenças entre nós, dependemos uns dos outros de inúmeras maneiras
no caminho para essa felicidade almejada. Considerando essa realidade, os benefícios de uma
educação pela equidade se aplicam a todos.
• Adote uma abordagem científica e otimista, uma que seja eficaz no sentido de apoiar o
desenvolvimento pessoal dos alunos. Juntos, você e seu aluno, podem considerar respostas
para as perguntas: Por que isso aconteceu? Como você pode fazer uma escolha melhor da
próxima vez?
• Seja proativo na construção de relacionamentos positivos com todos os aluno, conheça-os
como indivíduos e não apenas como alunos. Saiba mais sobre suas vidas fora da escola para
poder expandir seus sentimentos de conexão e empatia em relação a eles.
• Seja o modelo de um comportamento autenticamente atencioso para com os outros. Como
diz o ditado, “ninguém se importa com o quanto você sabe até que saibam o quanto você se
importa”. Essa tarefa pode parecer mais difícil ainda quando nos deparamos com um aluno
que demonstra comportamento particularmente desafiador. É justamente nesse caso que tal
abordagem se faz mais importante.
• Pratique exercícios de bondade amorosa ou compaixão e dirija-os à esse aluno que lhe oferece
mais resistência, lembrando que eles também almejam a felicidade e o bem-estar.
Saiba que os alunos podem ter certas reações desencadeados por atividades dos currículos
da Aprendizagem SEE. As vezes, entrar em contato com o corpo por meio de exercícios de
percepção e respiração, por exemplo, pode evocar ansiedade, sentimentos desagradáveis
no corpo ou lembranças intrusivas de experiências passadas. É importante que o educador a
frente das experiências possa instruir os alunos a tomar consciência dessa possibilidade com
Guia de implementación 97
antecedência. Um jeito de resolver esse tipo de imprevisto é por meio da observação da
naturalidade e transitoriedade de tais sensações. Elas podem ser antecipadas e superadas. Para
isso, esteja preparado para ajudar seus alunos a desviar seu foco atencional para sensações
neutras ou positivas. Saiba também procurar por ajuda externa. Identifique possíveis parceiros
como conselheiros, orientadores ou enfermeiros que possam colaborar com você. O mais
importante é oferecer aos alunos espaço e tempo para descarregar ou processar suas emoções
mais intensas, reduzindo as chances de possíveis situações de confronto.
Muitos educadores foram apresentados às “práticas informadas sobre o trauma”. Essas são
práticas que podem ser usadas em sala de aula e que são baseadas no entendimento científico
do impacto do trauma no desenvolvimento biológico, social e emocional das crianças. Trauma
é a resposta de um indivíduo aos eventos ou circunstâncias percebidos como extremamente
desafiadores (Miller-Karas, 2015). Alguns exemplos são pobreza, exposição à violência,
abusos, desastres naturais e doenças. Uma pesquisa em nível global afirma que uma grande
porcentagem de crianças de todas as origens e culturas são afetadas pelo trauma.
Crianças afetadas por traumas podem sofrer impactos emocionais, psicológicos e físicos
que ameaçam o desenvolvimento de habilidades como a autorregulação, a atenção e a
aprendizagem em geral, bem como a capacidade de manter relacionamentos baseados
na confiança. Embora o trauma seja uma experiência universal, é possível que educadores
não consigam detectar quais alunos são afetados por experiências traumáticas. Como diz o
ditado: “Não é preciso conhecer a história para saber que há uma história para conhecer.” A
Aprendizagem SEE propõe uma compreensão holística, uma abordagem sobre o trauma
que compreenda as dimensões da mente e do corpo e que seja baseada na resiliência. Mais
especificamente, a aprendizagem SEE visa reforçar a resiliência das crianças de quatro maneiras:
Como escreve Daniel Goleman, “a inteligência sistêmica inata está presente desde os primeiros
anos. Se nutrida, pode desenvolver-se em escopo e profundidade surpreendentes nos alunos
mais velhos.” Na Aprendizagem SEE, as experiências que buscam cultivar o pensamento
sistêmico nos alunos estão presentes durante todo o currículo. Isso é explicitado no Capítulo
7 e no projeto final do grupo, quando os alunos trabalham juntos em um projeto artístico ou
de ação social. No entanto, o pensamento sistêmico será melhor cultivado se os educadores
reconhecerem as relações entre os conteúdos no currículo da Aprendizagem SEE e outros
conteúdos acadêmicos, bem como os outros aspectos do cotidiano escolar, incluindo esportes,
socialização e atividades extracurriculares. Desta forma, a Aprendizagem SEE se tornará um
veículo para ajudar os alunos a sintetizar suas aprendiazgens e, dessa forma, que possam sentir o
impacto daquilo que aprendem na resolução de problemas reais, na vida deles e dos outros.
No livro O Foco Triplo, Daniel Goleman e Peter Senge sugerem vários princípios pedagógicos
que se baseiam na união do pensamento sistêmico com a Aprendizagem Socioemocional. Esses
princípios incluem:
Permitir que os alunos criem seus próprios modelos, construam e testem suas próprias
maneiras de entender os problemas.
Guia de implementación 99
Incentivar a dinâmica de pares (peer learning), onde os alunos ajudam uns aos outros a
aprender.
Como educador, você pode incentivar o pensamento sistêmico, ajudando os alunos a fazer
conexões entre aquilo que estão aprendendo e suas próprias experiências de vida; encorajando-
os a olhar para sua decisões por uma perspectiva sistêmica. Além disso, é possível ajudar os
alunos a explorar como suas ações impactam os outros e como suas decisões são afetadas
por fatores que estão fora de seu controle. Essa perspectiva também pode ajudar a nutrir a
compaixão e a autocompaixão, já que ajuda a colocar as ações e sentimentos em um contexto
mais amplo.
Uma das razões mais importantes para a inclusão do pensamento sistêmico nos currículos da
Aprendizagem SEE é a importância da tomada de decisão ética e responsável. A tomada de
decisão irreflexiva pode ser muito nociva no longo prazo, tanto para o autor dela quanto para
aqueles que o cercam. É importante frisar que a Aprendizagem SEE não apresenta a ética
como um conjunto de mandamentos advindos de uma autoridade. Em vez disso, os alunos são
encorajados a cultivar discernimento sobre suas decisões e o impacto dessas decisões sobre eles
mesmos e sobre os outros. Quando combinado com um senso de compaixão e cuidado por si
mesmo e pelos outros, esse tipo discernimento e pensamento sistêmico provavelmente levarão
a uma tomada de decisão mais ética e responsável.
http://www.danielgoleman.info/daniel-goleman-what-are-the-habits-of-a-systems-thinker-2/
68
As vezes, alunos podem nos dar respostas inesperadas, talvez até respostas que parecem
erradas. Qual deve ser a resposta de um facilitador? Como facilitador, você deve priorizar
as necessidades de aprendizagem de seus alunos à medida que essas surgem, em vez de
se concentrar rigidamente nos seus próprios objetivos preconcebidos. Parte daquilo que
há de mais poderoso nas experiências de Aprendizagem SEE é o foco na investigação, na
exploração e na reflexão dos alunos. Ao invés de conduzir os alunos para respostas ou pontos
de vista determinados, o currículo os encoraja a se engajarem em diálogos conscientes e ouvir
ativamente, aplicar o pensamento crítico e usar as habilidades de tomada de perspectiva para
chegar a seu próprio entendimento sobre aquele assunto. É fundamental que o educador resista
ao impulso de querer conduzir as opiniões dos alunos para entendimentos específicos sobre
material. As experiências de Aprendizagem SEE serão mais benéficas caso estejam apoiadas
nos processos de questionamento, observação, hipotetização e discernimento. Dessa forma, os
alunos chegarão a seus próprios insights críticos, e poderão experimentar momentos “a-há”, o
que facilita a conexão com um tema da forma mais autêntica possível.
Daniel Goleman y Peter Senge, The Triple Focus: A New Approach to Education, More Than Sound.
69
Ser um facilitador da Aprendizagem SEE, e não apenas um instrutor tradicional, permitirá que
você participe das experiências com a postura de um aprendiz e isso, por sua vez, relaxará sua
autocobrança em relação às “respostas certas”. Afinal de contas, as capacidades duradouras
que a Aprendizagem SEE procura cultivar nos alunos se aplicam igualmente aos educadores
e, na verdade, a qualquer ser humano. São áreas de aprendizagem a serem desenvolvidas ao
longo da vida. Você pode escolher uma prática pessoal regular para cultivar uma ou mais dessas
capacidades duradouras. Isso pode significar a prática de recursos, estabilização, treinamento
de atenção, ou qualquer uma das práticas refletivas, diariamente ou algumas vezes por semana.
Se você decidir se comprometer com uma prática pessoal, sua compreensão e habilidades se
desenvolverão ao longo do tempo. Isso trara benefícios pessoais e também maior capacidade
de facilitar experiências junto aos alunos. Diversas ferramentas e cursos adicionais serão
disponibilizados através da plataforma on-line de educadores, bem como de seminários on-line
ao vivo, tudo isso para apoiar o desenvolvimento pessoal do educador.
Também recomendamos que você inicie uma prática reflexiva pessoal para desenvolver suas
habilidades em atenção consciente. Mesmo uma rotina de prática muito breve (cinco minutos
diários) pode trazer resultados, expandindo a conexão consciente com seu corpo, respiração,
pensamentos, emoções e ações. Essa consciência pode trazer uma atenção ampliada a
todas as áreas da sua vida, incluindo o seu papel profissional como educador. Seus alunos
certamente notarão, se beneficiarão e aprenderão com seus exemplos de atenção, compaixão e
engajamento em sala de aula.
Em geral, você sempre pode encurtar ou prolongar as atividades. Por exemplo, proponha
uma atividade em duas sessões separadas caso os alunos achem o tema particularmente
desafiador ou se for difícil manter a atenção durante a atividade. Você pode revisitar a mesma
lição ou conceito mais tarde se os alunos não entenderem totalmente na primeira vez. Como
alternativa, você pode estender a duração das atividades para que você e seus alunos possam
se aprofundar no material. Aumentar o tempo de discussão e oferecer oportunidades para
colocar as habilidades em prática através de projetos e de roleplaying são formas de atingir uma
compreensão mais aprofundada.
Aqui estão algumas sugestões adicionais para trabalhar com alunos que enfrentam desafios em
áreas específicas:
Atenção
Alunos que têm problemas de atenção podem resistir aos exercícios de reflexão. É possível
encurtar tais exercícios de acordo com as necessidades do grupo. Outra boa ideia é aumentar
o tempo dos check-ins paulatinamente (30 segundos de cada vez) para aumentar a capacidade
de seus alunos de sintonizar suas sensações e sua respiração, manter o foco e acalmar o corpo.
Os alunos também precisam mover seus corpos, a fim de liberar o excesso de energia e focar
suas mentes. Por isso, permitir que os alunos se estiquem ou se movam quando possível pode
ajudá-los a se concentrar na próxima tarefa. É possível que a janela de atenção dos alunos
diminua em sessões expositivas longas ou diante de uma atividade muita árida ou desconectada
Seguindo Instruções
Existem diversas razões por trás do comportamento combativo dos alunos em relação as
instruções de sala de aula. Para alguns, a atenção é a questão principal; para outros, um
problema de processamento de linguagem e interpretação pode ser a causa. É possível ajudar
esses alunos dividindo as instruções em partes menores e verificando a compreensão depois de
dar instruções. Em vez de perguntar: “Está claro?” “Alguma pergunta?” Ou “Você entende?”,
Peça aos alunos que repitam as instruções que você acabou de dar. Solicitar que os um aluno
explique a atividade para o outro também pode ser uma alternativa. Você pode pedir aos alunos
que expliquem o que devem fazer em etapas (começo, meio e fim). Se um aluno tiver muita
dificuldade para entender as instruções, peça a outro aluno que explique ou ajude. É sempre
bom disponibilizar as instruções de formas variadas (verbal, escrita e etc). Por fim, considere a
necessidade de modelar aquilo que quer dos seus alunos, em vez de dar-lhes instruções verbais
ou escritas o tempo todo.
Questões Linguísticas
Alunos que estão aprendendo um idioma, ou aqueles que têm problemas de processamento de
linguagem ou dificuldades de leitura, fala ou escrita podem precisar de suporte adicional para se
envolver totalmente no currículo. Eles podem se beneficiar do uso de:
Como a Aprendizagem SEE impactou na sua forma de pensar? Nos seus sentimentos? Nos
seus comportamentos?
O que a compaixão significa para você? Se todos agissem com bondade e compaixão, como
seria o mundo?
Descreva uma prática que você pode fazer para focar sua atenção.
Descreva uma prática que você pode fazer para colocar seu corpo em sua zona de resiliência.
Você também pode avaliar o aprendizado dos alunos por meio de suas próprias observações,
em particular, exemplos de insights críticos e compreensão incorporadas no comportamento
dos alunos e em seus trabalhos. Para conhecer melhor o desenvolvimento das habilidade dos
alunos, atente-se às seguintes áreas:
Recomendamos também a avaliação dos trabalhos dos alunos (desenhos, redações, projetos)
para buscar evidências sobre o desenvolvimentos das compreensões, questionamentos e
pensamentos críticos em torno do conteúdo da aprendizagem SEE. Ser um ouvinte despido
de julgamentos durante as discussões em sala de aula, somado ao trabalho em grupo também
pode ser uma forma de ganhar insight sobre a compreensão dos alunos. No entanto, é
importante reconhecer que evidências tangíveis do desenvolvimento dos alunos levarão
tempo para se manifestar, e aparecerão mais prontamente se o currículo for proposto de forma
consistente e sistemática, com certa regularidade.
Avaliando a classe
Além de avaliar o progresso individual dos alunos, você pode avaliar o progresso de sua turma
como um todo. Uma maneira de abordar isso é usar como guia os acordos de grupo que você
criou em conjunto com seus alunos. Considere as seguintes perguntas:
Avaliação do Educador
Embora a Aprendizagem SEE tenha sido desenvolvida para atender as necessidades dos alunos,
o desenvolvimento do educador é igualmente importante. A autoavaliação do educador é um
esforço holístico. A plataforma para educadores on-line oferece várias maneiras para que o
educador possa se autoavaliar, considerando suas metas pessoais.
Apoiando a Equipe:
Incentivar a equipe, principalmente para que concluam as formações necessárias, bem
como as formações continuadas, contribuindo para o estabelecimento uma comunidade de
aprendizagem.
Sustentabilidade:
Garantir o financiamento necessário para apoiar a iniciativa.
Planejar a sustentabilidade da iniciativa, além do vigor de uma determinada gestão,
indepedente das inevitáveis mudanças nos recursos humanos.
Considere como sua escola pode servir de modelo para atrair o apoio do governo municipal
ou estadual para a ampla implementação da Aprendizagem SEE.
• Peça aos alunos que realizem entrevistas familiares sobre alguns dos tópicos abordados no
currículo.
No futuro, gostaríamos de oferecer mais recursos para os pais que estão interessados na
Aprendizagem SEE, pois sabemos que a compreensão e o apoio deles têm um impacto
significativo no desenvolvimento de seus filhos. Como nós, educadores, compartilhamos um
objetivo comum com os pais – a felicidade e o bem-estar de seus filhos e filhas -, faz sentido
expandir as formas de cooperação para atingir esse objetivo.
Glosario 111
alfabetización Reconocer y entender las emociones en uno mismo y los demás. Un
emocional componente clave de la inteligencia e higiene emocional.
ameaça social Situação em que alguém percebe que poderá ser rejeitado ou excluído
pelos outros. Visto que o sistema nervoso responde à ameaça social de
maneira muito similar à ameaça física nas situações de sobrevivência, a
ameaça social pode ser uma grande fonte de estresse e trauma.
atenção plena O ato de reter um objeto na mente e não se esquecer dele, não
(mindfulness) se distrair dele ou perdê-lo de vista. Pode ser cultivada por meio
do treino da atenção. A definição para atenção plena no marco da
Aprendizagem SEE é diferente daquelas mais conhecidas, que a
definem como consciência não-crítica do momento presente.
atividade de insight Uma atividade planejada para despertar a compreensão pessoal sobre
(atividade de as capacidades duradouras da Aprendizagem SEE
compreensão)
burnout Estado de cansaço emocional. Tal estado pode ser provocado pela
(esgotamento) pela forma autocentrada da empatia (angústia empática), que é
diferente da forma centrada no outro (preocupação empática).
clima escolar Como uma escola é percebida em termos da atmosfera onde transitam
os alunos, professores, tal como amigável, receptiva, segura e etc.
Glosario 113
competências Habilidades vitalícias e graus de entendimento em áreas específicas
que devem ser cultivados ao longo do tempo. Na Aprendizagem SEE,
as comptências estão contidas na lista de capacidades duradouras.
construtivo Aquilo que conduz ao beneficio próprio e dos outros e não ao prejuízo
(usado para descrever emoções e comportamentos).
cultura escolar Normas, crenças, valores e práticas que são vistas como padrões em
uma escola.
destrutivo Aquilo que conduz ao prejuízo próprio e dos outros e não ao benefício
(usado para descrever emoções e comportamentos).
Glosario 115
empatia Compreender e ressoar com o estado emocional do outro. A empatia
pode ser dividida em empatia afetiva, que é o sentimento ou
ressonância com o estado emocional do outro, e empatia cognitiva,
que é reconhecer ou compreender o estado emocional do outro.
emoções perigosas Emoções que tem o potencial para causar danos significativos para
alguém e aqueles que o cercam caso elas se tornem muito intensas ou
não forem conduzidas de forma produtiva.
ética baseada na Uma abordagem da ética na qual valores humanos básicos como a
compaixão compaixão derivam do bom senso, da experiência comum, da ciência,
ao invés de uma religião ou ideologia específica. Essa abordagem foi
pensada para ser compatível com pessoas religiosas e não religiosas.
ética secular Uma abordagem não-sectária à ética universal, baseada no bom senso,
na experiência comum e na ciência que pode ser acolhida por pessoas
de qualquer religião ou de nenhuma. Ética secular é a abordagem
utilizada pela Aprendizagem SEE no contexto da educação.
higiene emocional Da mesma forma que buscamos a saúde física por meio da higiene
pessoal, somos capazes de cuidar das próprias vidas emocionais para
alcançar saúde e felicidade. Cultivo de práticas de discernimento e
regulação emocional para o benefício próprio e dos outros
Glosario 117
humanidad común El principio de todas las personas, independiente de sus diferencias,
son similares y por lo tanto, iguales a un nivel humano fundamental.
Estas similitudes incluyen el nacer, crecer y morir; el deseo de tener
felicidad y evitar el sufrimiento innecesario; tener emociones; tener un
cuerpo; requerir la ayuda de otros para crecer y sobrevivir.
humildade cultural Uma postura que reconhece o próprio viés cultural e suas limitações,
permanecendo aberta para aprender sobre os outros, suas origens e
perspectivas culturais sem preconceitos, estereótipos e julgamentos.
Na Aprendizagem SEE, este é um exemplo de humildade epistêmica.
mapa da mente Um modelo conceitual da mente e dos estados mentais que pode
crescer em sofisticação e sutileza e pode ser usado para navegar as
emoções e experiências. Embora esse modelo possa inicialmente
ser baseado em informações externas apresentadas por outros,
ele também deve ser construído com base na experiência pessoal,
observação e pensamento crítico.
necessidades Coisas que todos os seres humanos necessitam para ter bem-estar e
prosperar, como segurança, nutrição e companheirismo.
pensamento crítico Analisar, investigar e questionar algo por conta própria usando os
melhores recursos disponíveis. Esse processo envolve a tomada de
múltiplas perspectivas, coletar e considerar as informações disponíveis,
conversar e debater com outros, ou outros métodos de pesquisa. Na
Aprendizagem SEE, a mais importante forma de pensamento crítico
é aquele que discerne o que poderá zelar pelos melhores interesses
coletivos a longo prazo
Glosario 119
pensamento A habilidade de compreender como objetos e eventos existem
sistêmico interdependentemente com outros objetos e eventos em redes
complexas de causalidade.
práticas reflexivas Atividades nas quais os alunos direcionam a atenção para sua
experiência interior de forma sustentada e estruturada, a fim de
desenvolver uma compreensão pessoal mais profunda e internalizar
habilidades e tópicos específicos.
recursos / recurso O ato de trazer um recurso a mente de forma vívida com a finalidade
incorporado de aumentar o estado de bem-estar do corpo. A estratégia de
recursos incorporados deve ser combinada com a de rastreamento das
sensações corporais.
Glosario 121
sensação Devolutivas físicas que são percebidas em partes específicas do corpo.
Entre elas, podemos destacas o calor, o frio, a dor, a dormência, o
relaxamento, a rigidez, o peso, a leveza e assim por diante. Sensações
podem ser percebidas como experiências prezeirosas, desagradáveis
ou neutras.
sistema nervoso A parte do sistema nervoso responsável pelo controle das funções
autônomo (sna) corporais que não são conscientemente dirigidas, como a respiração,
o batimento cardíaco e os processos digestivos. O SNA alterna entre
ativação simpática (luta ou fuga) e parassimpática (repouso e digestão)
e pode se tornar desregulada devido ao trauma ou estresse excessívo.
sistema nervoso Uma das duas partes do sistema nervoso autônomo, o sistema nervoso
parasimpático (snp) parassimpático inibe os sistemas do corpo, como a respiração e a
freqüência cardíaca, e ativa sistemas como a digestão. Às vezes se
refere ao sistema de “descanso e digestão” em oposição ao sistema
nervoso simpático (SNS) (“lutar ou fugir”).
sistema nervoso Uma das duas partes do sistema nervoso autônomo, o sistema
simpático (sns) nervoso simpático (SNS) prepara o corpo para o perigo, alterando o
tônus muscular e a frequência cardíaca e desligando sistemas como a
digestão e a capacidade do corpo de relaxar e descansar. É chamado
de sistema de luta e fuga. Estresse excessivo ou ameaça pode
sobrecarregar o SNS resultando em desregulação do sistema nervoso
autônomo.
zona baixa Um estado físico e mental hipoativo, onde se pode sentir letárgico,
triste, deprimido, solitário, desinteressado em atividades, ou sem
entusiasmo pela vida. Contrasta-se com a zona de resiliência.
Glosario 123