Manual Transporte Doente Critico PDF
Manual Transporte Doente Critico PDF
DO DOENTE
CRÍTICO
“Há muitos caminhos para chegar ao mesmo local.”
Versão 2.0
1ª Edição, 2012
ISBN 978-989-8646-06-4
9 789898 646064
TRANSPORTE DO
DOENTE CRÍTICO
PREFÁCIO
O Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) tem com situações de necessidade de transporte urgente
feito esforços consideráveis para melhorar a resposta de doentes críticos, situações habitualmente graves,
às situações de emergência médica, sobretudo no complexas e que exigem uma atuação segura e
que diz respeito aos tempos de resposta, ao acesso a tecnicamente adequada.
cuidados de emergência e à eficiência da sua atuação. Este Manual destina-se a Enfermeiros e Médicos,
Mas, este esforço para que o Sistema Integrado de permitindo-lhes aprofundar conhecimentos previamente
Emergência Médica trabalhe cada vez melhor não adquiridos e também adquirir novas competências,
pode ficar apenas por aqui. É também fundamental habilitando-os a uma atuação de teor avançado que
melhorar a nossa capacidade de intervenção no poderá fazer toda a diferença na vida daqueles que
terreno, as nossas competências técnicas e atualizar diariamente assistimos, em cenários muitas vezes
os conhecimentos, de forma permanente e continuada, complexos e hostis.
habilitando todos os operacionais a intervirem da Nestas páginas pode encontrar o trabalho de uma vasta
melhor forma possível. equipa, nas áreas técnicas, pedagógicas e, também,
Como sabem, o Transporte Secundário Urgente do audiovisuais, que trabalhou afincadamente para lhe
Doente Crítico é um elo da cadeia de cuidados de poder disponibilizar este Manual, que esperamos
urgência/emergência que estará, alegadamente, que se venha a revelar como uma ferramenta útil do
menos bem organizado, menos bem implementado. seu processo evolutivo de aquisição de novos e/ou
Nos últimos tempos, nomeadamente com o alargamento melhores conhecimentos. A toda esta equipa, cuja
da rede nacional de ambulâncias de Suporte Imediato composição encontrará na Ficha Técnica, aqui fica o
de Vida e com a sua integração, bem como das agradecimento do INEM pelo bom trabalho realizado.
Viaturas Médicas de Emergência e Reanimação, Termino, afirmando que o INEM conta com todos e com
nos Serviços de Urgência, esta atividade tem vindo cada um para garantir uma assistência tecnicamente
a ser progressivamente assumida pelo INEM, tanto qualificada, sempre com um elevado respeito e
em matéria de organização e planeamento como em consideração pela vida humana, a todos aqueles
termos da sua própria efetivação. que possam eventualmente necessitar do nosso
Assim, é com grande satisfação que lhe apresentamos saber e das nossas competências. Por isso, por essa
o novo Manual de Transporte de Doente Crítico, responsabilidade acrescida, temos a obrigação de
onde pode encontrar aquelas que são as boas aproveitar cada dia como uma oportunidade única
práticas atuais, consensualizadas a nível nacional e irrepetível para aprendermos, para melhorarmos.
e internacional, na organização e planeamento dos Que este manual seja um dos instrumentos a utilizar
transportes secundários urgentes de doentes críticos, na prossecução desse modo de vida.
bem como na assistência às vítimas criticamente
doentes durante a realização de um transporte.
Todos aqueles que desempenham funções Miguel Soares de Oliveira
operacionais afetas ao doente crítico, são confrontados Presidente do Conselho Diretivo do INEM
TRANSPORTE DO
DOENTE CRÍTICO
ficha tÉcnica
COORDENAÇÃO
TÉCNICO-CIENTÍFICA
Carlos Luz,
Hospital Garcia de Orta, Médico (Cirurgia)
Hélder Pereira,
Hospital Garcia de Orta, Médico (Cardiologia)
Design e Paginação
David Rafachinho
TRANSPORTE DO
DOENTE CRÍTICO
ÍNDICE
SECÇÃO 1:
TRANSPORTE: O NÍVEL DE CUIDADOS
1. Introdução 12
2. Definições 14
3. Indicações para transporte 16
4. Nível de cuidados no transporte secundário 18
SECÇÃO 2:
TRANSPORTE: A DECISÃO E O PLANEAMENTO
SECÇÃO 3:
TRANSPORTE: A EFETIVAÇÃO
1. Efetivação do transporte 54
a. Preparação prévia ao inicio do transporte 55
b. Checklist : Está pronto para partir? 56
c. Inicio e efetivação do transporte 56
d. Aspetos práticos na efetivação da transferência do doente quando efetuado por
meios INEM 57
2. Riscos no transporte do doente crítico 58
a. Avaliação inicial do doente incorreta 59
b. Via aérea comprometida 59
c. Extubação acidental 59
d. Complicações técnicas 59
e. Deterioração fisiopatológica (instabilidade hemodinâmica) 60
f. Doentes com aumento da PIC 60
g. Monitorização inadequada 60
h. Riscos relacionados com o suporte ventilatório 60
i. O doente agitado 60
j. O movimento adicional durante o transporte 60
l. Ausência de acesso imediato a exames complementares de diagnóstico ou tratamento 61
m. Número limitado de profissionais envolvidos no transporte 61
n. Mudança abrupta da equipa e inexistência de avaliação e/ou registo durante o transporte 61
SECÇÃO 4:
CUIDADOS DURANTE O TRANSPORTE
SECÇÃO 5:
UM DESAFIO 98
SECÇÃO 6:
BIBLIOGRAFIA E SIGLAS 106
TRANSPORTE DO
DOENTE CRÍTICO
10
SECÇÃO 1
TRANSPORTE:
O NÍVEL DE
CUIDADOS
11
TRANSPORTE DO
DOENTE CRÍTICO
12
SECÇÃO 1
TRANSPORTE:
O NÍVEL DE CUIDADOS
1. introdução
Definição e conceitos básicos
13
O transporte do doente crítico é uma inevitabilidade • Avaliação do estado geral da vítima; notas:
nos sistemas de saúde. O transporte pré-hospitalar • Avaliação da vantagem expetável com a transferência;
pode ser necessário após uma lesão major ou resultado • Inicio e manutenção dos cuidados de suporte
de uma condição com risco de vida, como exemplos: necessários, garantindo a ressuscitação e
EAM, hemorragia intracraniana, aneurisma da aorta, estabilização;
entre outros. • Confirmação/garantia da operacionalidade do
equipamento de transporte.
Vítimas críticas podem ser transportadas entre
instituições ou dentro da mesma instituição. Razões para Os princípios de transporte são idênticos no pré-
o transporte podem ser várias, desde procedimentos hospitalar, no intra-hospitalar e no inter-hospitalar. É
diagnósticos (ex. TAC, RM), a intervenção terapêutica particularmente importante que o benefício esperado
não disponível no local de origem (ex. Angioplastia) ou para a transferência da vítima/doente seja identificado.
por necessidade de cuidados diferenciados/intensivos. Neste âmbito, é obrigação de quem assiste, decide,
A rentabilização/centralização dos recursos do sistema planeia e transporta o doente crítico, identificar,
nacional de saúde, com a crescente cooperação e entender e minimizar os riscos envolvidos num
especialização das instituições, aumenta a necessidade transporte, efetuando as opções que contribuam
de proceder ao transporte de doentes (muitos em para a melhoria do prognóstico.
estado crítico).
Este módulo focará sobretudo o transporte primário
O transporte do doente crítico requer a manutenção de e secundário do adulto. No entanto, os princípios
cuidados de suporte de vida, num ambiente à partida do transporte são idênticos em vítimas pediátricas.
desfavorável. O insucesso na preparação quer da
vítima para transporte e/ou da equipa de transporte
pode levar a uma sub-optimização do nível de cuidados
prestados ao doente. Tal poderá constituir um risco
para os doentes bem como originar experiências/
incidentes indesejáveis com consequente situação
de stress e/ou possibilidade de ocorrer stress pós
traumático nos prestadores de cuidados. Assim sendo,
o risco e o benefício de uma transferência devem ser
avaliados durante a fase de planeamento, a qual deve
incluir também:
TRANSPORTE DO
DOENTE CRÍTICO
14
SECÇÃO 1
TRANSPORTE:
O NÍVEL DE CUIDADOS
2.
DEFINIÇÕES
Definição e conceitos básicos
15
DOENTE CRÍTICO
notas:
TRANSPORTE SECUNDÁRIO OU
Entende-se por doente crítico, aquele cuja INTER-HOSPITALAR
sobrevivência, por disfunção ou falência profunda Transporte realizado entre unidades de saúde.
de um ou mais órgãos ou sistemas, depende de meios
avançados de monitorização e terapêutica. Transporte Inter-hospitalar de doente crítico
urgente ou secundário de doente crítico urgente:
• Transporte de doentes críticos entre serviços de
TRANSPORTE urgência ou entre um serviço de urgência e uma
No dicionário de língua portuguesa o termo transporte unidade de cuidados intensivos ou unidade de
significa: deslocação ou condução de pessoas de um cuidados especializados (coronária, AVC, sépsis,
local para o outro, mediante a utilização de veículos queimados). A realização deste tipo de transporte
(ex. carro, comboio, avião, barco, helicóptero) ou por é responsabilidade (técnica e legal) das unidades
outros meios (ex. cadeira de rodas, maca). de saúde de origem. E, não existe, atualmente, uma
atribuição legal a uma entidade especifica para a
TRANSPORTE PRIMÁRIO coordenação desta atividade. Apesar disto, o INEM
OU PRÉ-HOSPITALAR tem vindo a prosseguir uma estratégia de crescente
Transporte realizado entre o local em que se dá a envolvimento no transporte secundário do doente
emergência extra-hospitalar e o hospital. crítico urgente, tanto a nível da coordenação como
Em Portugal cabe ao Instituto Nacional de Emergência do transporte. Este envolvimento progressivo decorre
Médica (INEM) a definição, organização, coordenação e depende do processo em curso de integração das
e avaliação das atividades do Sistema Integrado de VMER e das SIV nos Serviços de Urgência.
Emergência Médica (SIEM). O INEM assegura o
atendimento, triagem, aconselhamento das chamadas TRANSPORTE TERCIÁRIO
que lhe sejam encaminhadas pelo número 112 e OU INTRA-HOSPITALAR
aciona os meios de socorro apropriados no âmbito da Transporte de doentes na mesma unidade hospitalar.
emergência médica, através dos Centros de Orientação
de Doentes Urgentes (CODU), Centro de Orientação
de Doentes Urgentes para situações ocorridas no
mar (CODU-Mar), Centro de Informação Antivenenos
(CIAV), Subsistema de Transporte Inter-hospitalar
Pediátrico (TIP) que engloba o transporte de doentes
em idade pediátrica e também os Recém-Nascidos de
Alto Risco. É também responsável pela articulação com
os serviços de urgência e emergência hospitalares.
Tem à disposição os seguintes meios: Ambulâncias
INEM de SBV, Motos INEM de SBV, Ambulâncias
INEM de SIV, VMER e Helicópteros.
TRANSPORTE DO
DOENTE CRÍTICO
16
SECÇÃO 1
TRANSPORTE:
O NÍVEL DE CUIDADOS
3. INDICAÇÕES
PARA TRANSPORTE
Triagem
17
SECÇÃO 1
TRANSPORTE:
O NÍVEL DE CUIDADOS
4.
NÍVEL DE CUIDADOS
NO TRANSPORTE
SECUNDÁRIO
Triagem
19
um transporte secundário deve seguir as indicações o equipamento e o tipo de veículo, para qualquer nível
emanadas pela SPCI (2008). Essa avaliação deve de gravidade do doente, não desresponsabilizando o
ser efetuada pelo CODU e no serviço de origem, médico que toma a decisão de como deve ser efetuado
previamente ao transporte. O resultado (em pontos o transporte.
atribuídos) define as necessidades de recursos
0-2 Ambulância
“Standard”
(apenas com O2 e A normal Tripulante Nenhum
ambulância
linha EV ) Tipo A ou B
Acima descrito
+ Ventilador
transporte,
≥ 7 ou < 7 Ambulância
SpO2, ECG, FC, PA Material para a via
se algum item medicalizada Médico +
C e Capnografia se aérea avançada,
com ou helicóptero Enfermeiro
indicado Desfibrilhador com
pontuação 2 ambulância
pace. Seringas
e Bombas
perfusoras.
notas:
GRELHA PARA AVALIAÇÃO
DE TRANSPORTE SECUNDÁRIO DO CODU-INEM
1. VIA AÉREA ARTIFICIAL 8. PACEMAKER
Não 0 Não 0
Sim (tubo orofaríngeo) 1 Sim, definitivo 1
Sim (tubo traqueal ou traqueostomia recente) 2 Sim, provisório (externo ou endocavitário) 2
2. FREQUÊNCIA RESPIRATÓRIA 9. ESTADO DE CONSCIÊNCIA
FR entre 10 e 20/ min 0 GCS = 15 ou alterada por patologia prévia 0
FR entre 21 e 35 / min 1 GCS [9, 14] (de novo) 1
Apneia ou FR<10/min ou FR> 35/min ou
2 GCS ≤8 (de novo) 2
respiração irregular
10. SUPORTE TÉCNICO E
3. SUPORTE RESPIRATÓRIO
FARMACOLÓGICO
Não 0 Sem perfusões 0
Sim (Oxigénio) 1 Perfusões Grupo I: 1
Sim (Ventilação Mecânica) 2 Naloxona
4. ACESSOS VENOSOS Corticosteróides
Não / Obturado / Manutenção da via 0 Manitol a 20%
Acesso periférico com perfusão 1 Analgésicos
Acesso central 2 Dreno Torácico e/ou Perfusões Grupo II: 2
5. AVALIAÇÃO HEMODINÂMICA Inotrópicos
Estável 0 Vasodilatadores
Moderadamente estável 1 Antiarrítmicos
Instável 2 Bicarbonatos
6. MONITORIZAÇÃO DO ECG Trombolíticos
Não 0 Anticonvulsivante
Desejável (em doente estável) 1 Anestésicos Gerais
Sim (em doente instável) 2 Sedativos
7. RISCO DE ARRITMIAS TOTAL ....
Não 0
Sim, baixo risco 1
Sim, alto risco 2
21
TRANSPORTE DO
DOENTE CRÍTICO
22
SECÇÃO 2
TRANSPORTE:
A DECISÃO E O
PLANEAMENTO
23
TRANSPORTE DO
DOENTE CRÍTICO
24
SECÇÃO 2
TRANSPORTE:
A DECISÃO E O PLANEAMENTO
1. A DECISÃO
DE TRANSPORTE DO
DOENTE CRÍTICO
A decisão de transporte do doente crítico
25
O transporte de doentes críticos envolve as seguintes A decisão de transferência bem como a escolha/ notas:
notas:
2. NECESSIDADE DE
TRANSFERIR?
SIM
3. RISCO versus
BENEFÍCIO? NÃO Continuar
o plano de tratamento.
SIM
4. TRANSFERÊNCIA
ACEITE?
SIM
5. PLANEAR A
TRANSFERÊNCIA
6. TRANSPORTE
7. AVALIAÇÃO
27
SECÇÃO 2
TRANSPORTE:
A DECISÃO E O PLANEAMENTO
2. PLANEAMENTO
NA TRANSFERÊNCIA
DO DOENTE CRÍTICO
Planeamento na transferência do doente
crítico
29
O PLANEAMENTO notas:
DA TRANSFERÊNCIA QUESTÃO 2:
Um doente de 205 Kg com suspeita de
Qualquer transporte representa um risco adicional para meningite bacteriana e alteração do
o doente crítico. Como tal, um correto planeamento estado de consciência tem previsto
da transferência contribuirá para um transporte eficaz transferência por helicóptero (40 min.
e eficiente. de voo) de um SUMC para a UCI de um
É fundamental que, antes de abandonar o serviço de Hospital Central.
origem, se assegurem objetivamente os seguintes Como elemento da Equipa de
aspetos: transporte, quais os preparativos
1. Efetuar contacto prévio e personalizado com o que deve assegurar antes de iniciar o
Hospital/serviço de destino escolhido, assegurando transporte?
a disponibilidade e capacidade para a recepção do
doente;
2. Localização exata do destino; Resposta:
3. Escolha/validação do nível de cuidados necessários • Assegurar que o hospital de destino
ao doente e do meio de transporte apropriado está informado e preparado para
(realizar os procedimentos de ativação do mesmo); admitir o doente; saber quem será o
4. Identificação do percurso mais próximo do heliporto/ médico responsável pelo doente no
parque de ambulâncias para a unidade de destino; hospital de destino;
5. Verificação final das condições climatéricas • Qual é a condição fisiológica do
relacionadas a transferência por via terrestre/ doente? (O Exame Primário deve
aérea e planeamento de uma rota alternativa; ser a ferramenta de avaliação do
6. Identificação do médico responsável pela estado clínico). O doente necessita de
transferência, bem como do médico responsável proteção da via aérea ou de ventilação
pela recepção do doente no serviço de destino assistida? Quais são os parâmetros
(nome, cargo, e contacto); no ventilador (ex. PEEP; FiO2); Qual
7. Verificação/preparação de todo o equipamento o número de seringas infusoras e os
médico necessário para a transferência, antecipando fármacos em perfusão?
a abordagem em caso de deterioração da condição • Onde é que exatamente estão à
clínica do doente (ex. a preparação antecipada espera do doente? (ex. UCI/TAC
de fármacos e seringas infusoras será mais fácil ou RM/Serviço de Urgência) A
no ambiente protegido da UCI do que na célula Equipa e o equipamento necessário
sanitária do helicóptero/ambulância, muitas vezes estão preparados para continuar os
com luz insuficiente e espaço limitado; cuidados intensivos nessa área? – não
8. Identificação da duração total (esperada) da esquecer os limites de peso da maca,
transferência e consequente cálculo da quantidade número de seringas infusoras, entre
de oxigénio necessário, bem como fármacos e outros;
outros equipamentos (ex. baterias); • Quais são os meios alternativos
9. Elaboração da Nota de Transferência, onde conste de transferência? (ex. ambulância/
a identificação completa do doente, hipótese helicóptero);
diagnóstica e motivo da transferência; • Quais são as necessidades e
10. Processo do Doente, que deverá incluir os registos limitações específicas? (ex. limite
médicos e de enfermagem, exames laboratoriais de peso da maca; imposições legais
e imagiológicos; referentes à fixação de doentes no
11. Fornecer informação ao doente e à família sobre helitransporte, entre outros).
a transferência;
12. Ter conhecimento prévio de um plano alternativo,
com preparação subsequente de equipamento e
fármacos.
O planeamento meticuloso pode consumir algum tempo mas ajuda a reduzir o tempo efetivo de transporte.
TRANSPORTE DO
DOENTE CRÍTICO
30
notas:
A NECESSIDADE DE A EQUIPA RESPONSÁVEL
ESTABILIZAÇÃO PELA TRANSFERÊNCIA
Prestar cuidados ao doente crítico num espaço limitado
e em circunstâncias complexas é muito diferente de
No transporte do doente crítico há sempre
executar exatamente as mesmas intervenções no
um equilíbrio delicado entre a velocidade
ambiente controlado da UCI. Requer, para além das
e a segurança.
competências profissionais habituais, experiência na
transferência do doente crítico. Não existem ainda
A necessidade de estabilização deve compreender: estudos científicos/controlados sobre o transporte
• Avaliação da distância a percorrer e o respetivo do doente crítico mas há evidência circunstancial de
tempo de trajeto estimado; que equipas especializadas no transporte prestam
• Percepção de objetivos fisiológicos a manter durante melhores cuidados, com menor morbilidade durante
o transporte; e após o transporte. A transferência inter-hospitalar
• Seleção adequada de equipamento e terapêutica; (ambulância ou helicóptero) requer treino adicional para
• Seleção dos meios adequados de monitorização; que o Médico/Enfermeiro seja capaz de proporcionar
• Previsão/antecipação das complicações possíveis. cuidados adequados fora do ambiente da UCI.
O tempo necessário para estabilizar o doente crítico Apesar de muitas destas tarefas estarem claramente
varia de forma considerável e em algumas situações atribuídas a um dos membros da equipa (ex. condição
essa estabilização não é possível. As situações de da via ao condutor, condição do doente ao Médico/
enfarte agudo do miocárdio ou AVC devem implicar Enfermeiro) é do interesse de TODOS que toda
o transporte assim que possível para a Unidade de a equipa esteja ciente dos riscos e das possíveis
Hemodinâmica ou Unidade de AVC. alternativas durante a transferência. Atribuir funções
No entanto noutras situações poder-se-á despender específicas a cada um dos membros da Equipa
várias horas para optimizar a condição do doente antes de transporte optimiza o processo de cuidados ao
de efetuar a transferência (ex. antes da transferência doente crítico (ex. alguém está responsável pela
para terapia de substituição renal). monitorização da ventilação assistida incluindo os
parâmetros ventilatórios e posicionamento do tubo
A comunicação precoce é essencial já que dá tempo traqueal, enquanto outro elemento estará responsável
para organizar/mobilizar recursos adicionais. Se pela administração de fármacos).
a equipa de transporte não possui a experiência
necessária para cuidar do doente, será possível/ Durante a transferência inter-hospitalar a comunicação
necessário ativar pessoal qualificado para proceder à entre a equipa de transporte e os especialistas que
transferência (ex. no caso de transferência de neonato). transferiram e/ou receberão o doente poderá ser
necessária para resolver questões médicas específicas
ou para solicitar recursos adicionais.
Etiquetas de triagem
31
notas:
TRATAMENTO IMEDIATO
PARA ESTABILIZAÇÃO DO DOENTE
SIM
SIM
4. PLANEAR O TRANSPORTE
• Existe meio de transporte disponível?
• Está disponível equipa com condições e capacidades adequadas ao
transporte?
NÃO
• Foram assegurados os procedimentos prévios ao transporte?
CONTINUAR TRATAMENTO
ADEQUADO
• Doente no local mais apropriado;
SIM
• Comunicar com hospital de
destino:
Plano de suporte;
Solicitar recomendações;
5. PREPARAR DOENTE E FAMÍLIA Estabilizar o doente;
Validar condições do meio de
• Medidas terapêuticas para minimizar os riscos; transporte;
• Medidas para minimizar as complicações; • Reavaliar necessidade de
• Assegurar local de destino e consentimento informado; transferência.
• Compreender necessidades do doente/família;
• DOCUMENTAÇÃO CLÍNICA COMPLETA;
• COMUNICAÇÃO ENTRE MÉDICOS E ENFERMEIROS.
SIM
6. TRANSPORTE DO DOENTE
• Utilizar procedimentos e protocolos;
• Avaliar processo de transferência para melhoria da qualidade.
SECÇÃO 2
TRANSPORTE:
A DECISÃO E O PLANEAMENTO
3. A ESCOLHA DO TIPO
DE TRANSPORTE
A escolha do tipo de transporte
33
O modo de transporte pode ser terrestre (ambulância) A escolha do meio de transporte, deve ter em conta: notas:
notas:
TRANSPORTE POR TRANSPORTE POR VIA
VIA TERRESTRE AÉREA
O regulamento de transporte de doentes (Portaria Em Portugal continental o helitransporte é da
nº1147/2001, de 28 de Setembro), define as responsabilidade do INEM e funciona sem encargos
caraterísticas dos meios técnicos e humanos de cada financeiros ou humanos para os hospitais (emissor
tipo de ambulância (transporte terrestre), cabendo ou receptor).
ao INEM a atribuição de alvará e fiscalização do seu Os fatores limitantes mais frequentes para o
cumprimento. O transporte de doentes críticos deve helitransporte são as condições atmosféricas adversas.
ser realizado em ambulâncias de cuidados intensivos
(tipo C), normalmente o médico e enfermeiro destas
ambulâncias (solicitadas a entidades como a CVP ou
BV) são fornecidos pela unidade de saúde emissora
(que envia o doente).
A equipa que acompanha o doente crítico deve ser
constituída pela tripulação habitual da ambulância
e, pelo menos, mais dois elementos (médico e
enfermeiro), ambos com experiência em reanimação,
manuseamento e manutenção do equipamento.
O tipo de ambulância deve ser adequado ao risco do transporte e ao nível de cuidados que doente
necessita. (ver tabela 1)
A escolha do tipo de transporte
35
TRANSPORTE DO
DOENTE CRÍTICO
36
SECÇÃO 2
TRANSPORTE:
A DECISÃO E O PLANEAMENTO
4. FISIOLOGIA DE VOO
O inem em situação com multivítimas
37
FORÇAS DE ACELERAÇÃO
E DESACELERAÇÃO
oxigénio
A gravidade terrestre, expõe o ser humano a uma
azoto aceleração direta dirigida para o centro do planeta com
outros uma magnitude de 1G. Esta atração resulta numa força
conhecida por peso. Os transportes modernos podem
expor os profissionais a maiores acelerações, que
podem ter efeitos fisiológicos profundos. Acelerações
de longa duração (vários segundos acima de 1G),
Figura 3: Principais componentes do ar aumentam o peso dos objetos e resultam em alterações
fisiológicas dado que os fluidos e órgãos obedecem à
3ª lei de Newton do movimento e respondem com uma
reação oposta mas de igual magnitude à aceleração
Com o aumento da altitude, a pressão barométrica
aplicada.
e a temperatura diminuem e consequentemente a
pressão parcial de oxigénio no gás inspirado diminui.
Não ocorrem consequências fisiológicas no individuo
Sem oxigénio suplementar pode ocorrer hipóxia em
saudável em posição de sentado quando a força é
doentes críticos. O tipo de hipóxia mais relevante
aplicada segundo o eixo antero-posterior do corpo.
em voo é a hipóxia hipobárica, que surge acima dos
Quando uma vítima em decúbito dorsal é exposta a
3.048 metros (10.000 pés) em indivíduos saudáveis.
forças mantidas de aceleração ou desaceleração num
Sem oxigénio suplementar, a saturação de oxigénio no
veículo ou aeronave, o fluxo sanguíneo é direcionado
sangue arterial é de 98% ao nível do mar, diminuindo
para os pés ou cabeça dependendo da orientação da
para cerca de 90% aos 3048 metros (10.000 pés) e
vítima. Teoricamente, isto pode causar hipoperfusão
65% aos 6.096 metros (20.000 pés).
cerebral ou excesso de perfusão (se a força exceder
a autorregulação cerebral), com risco de deterioração
A designada “altitude de serviço” não passa dos
em vítimas com patologia intracraniana. A pré-carga e/
2.438 metros (8.000 pés), por isso a maioria dos
ou a pós-carga cardíaca podem ser influenciadas por
helicópteros não são pressurizados. Habitualmente
tais forças e podem causar deterioração em vítimas
os aviões voam a cerca de 2.743 metros (9.000 pés) e
com compromisso hemodinâmico (de acordo com a
os helicópteros a cerca de 762 metros (2.500 pés). As
lei de Starling, o débito cardíaco diminuirá a seguir,
células sanitárias dos aviões ambulâncias aéreas são
desencadeando respostas fisiológicas semelhantes
usualmente pressurizadas a uma pressão equivalente
às que ocorrem na hipovolémia). Em transportes
a 2.000 metros acima do nível do mar.
terrestres, forças exercidas nas vítimas devido a
desacelerações são mais frequentes dos que a devidas
Mesmo altitudes moderadas podem agravar doenças
a acelerações (mais problemática no transporte aéreo).
de descompressão. De acordo com a lei de Boyle (P
Estudos sobre os efeitos nefastos destas forças estão
∞ 1/V; a uma temperatura constante, o volume de
limitados a pilotos da força aérea, a sua relevância
uma dada massa de gás é inversamente proporcional
clínica para doentes críticos durante o transporte ainda
à pressão que suporta) o gás contido num espaço
não foi determinada. No entanto, o conhecimento
expande à medida que a densidade e a pressão
da dinâmica e fisiologia permitem estar alerta para
diminuem com o aumento da altitude.
possíveis consequências.
Se existir uma comunicação, uma abertura livre entre as
cavidades preenchidas por gás e a atmosfera exterior,
a expansão não causa dificuldade ou desconforto.
Do mesmo modo, se o aumento de volume não
puder ser aliviado, o estiramento de tecidos pode ser
TRANSPORTE DO
DOENTE CRÍTICO
38
39
INDICAÇÕES E
CONTRAINDICAÇÕES
PARA HELITRANSPORTE
INDICAÇÕES GERAIS PARA HELITRANSPORTE
• Transporte primário;
• Sempre que indicado mas não disponível o meio
VMER;
• Sempre que a distância por via terrestre, do local
de ocorrência - Hospital Polivalente de destino, for
superior à duração do trajeto base – local – Hospital
de destino;
• Transporte secundário;
• Por necessidade de meios de diagnóstico,
tratamento, vigilância não disponíveis no Hospital
de origem, e após contacto deste para o Hospital de
destino, assegurando vaga e médico responsável.
SECÇÃO 2
TRANSPORTE:
A DECISÃO E O PLANEAMENTO
5. HELITRANSPORTE
Helitransporte
41
notas:
ALERTAS:
• Sair da célula sanitária sempre com a cabeça baixa;
• Manter-se fora do disco do rotor;
• Proteger os olhos durante a aterragem e descolagem;
• Aproximação pelo lado mais baixo em terrenos inclinados;
• Não deixar objetos soltos nas proximidades do helicóptero;
• Não esquecer utensílios no interior do helicóptero;
• Não levantar objetos acima do ombro com o risco de atingir o rotor;
• Nunca deve aproximar-se pela traseira do helicóptero.
MINISTÉRIO DA SAÚDE
www.inem.pt
EMERGÊNCIA
MÉDICA
Figura 4: Helitransporte
TRANSPORTE DO
DOENTE CRÍTICO
42
notas:
O HELITRANSPORTE
O uso de transporte médico aéreo na Europa, nos
Estados Unidos da América e na Austrália difere
consideravelmente e é influenciado pelas distâncias
entre hospitais, pela história e desenvolvimento dos
serviços médicos, pela cooperação com militares e
entidades privadas, pela geografia e pelas políticas
de seguros de saúde.
PROCEDIMENTOS
DURANTE A ATERRAGEM
E A DESCOLAGEM
43
notas:
Os bombeiros são uma ajuda preciosa neste aspeto. A boa articulação entre estes, a equipa de
EPH no local e o CODU é fundamental.
• Fica ao critério dos Pilotos escolher outro local de aterragem se não estiverem reunidas
condições de segurança;
• Em caso de vento moderado a forte, o helicóptero fará a aproximação à ZA contra o vento.
notas:
45
desembarque?
Esperar SEMPRE pela autorização pilotos para desembarcar e/ou aproximar do Helicóptero.
notas:
4. Como preparar a vítima para helitransporte ?
O espaço de manobra dentro da célula sanitária do helicóptero poderá ser muito condicionado para
realizar alguns procedimentos (ex. ET). É fundamental antever qualquer procedimento que possa vir
a ser necessário durante o transporte:
• Manter acessos acessíveis para a administração de fármacos;
• No caso de infusão rápida de soros em voo, usar manga de pressão;
• Prever a substituição de perfusões, de material necessário, entre outros;
• Controlo da temperatura em voo (temperatura baixa com a altitude).
Helitransporte
47
Aterragem forçada:
• O OXIGÉNIO é desligado pela equipa médica,
utilizando insuflador manual se necessário (ex. se
doente ventilado a bordo);
• Colocar cintos (em todos os tripulantes e vítimas);
• Antes do impacto, colocar braços cruzados sobre
os joelhos com a cabeça no meio;
• Evitar sair do helicóptero enquanto rodarem as pás;
• Se possível esperar pela ordem de ABANDONO
da aeronave (que será dada pelo comandante);
• SE OS PILOTOS FICAREM inconscientes , um
elemento da equipa médica deve entrar no cockpit
e puxar as manetes indicadas para efetuar corte de
combustível.
• Saídas de emergência:
Abandono normal pela porta;
Saída pela janela, empurrando os cantos da
janela, esta soltar-se-á.
Fogo elétrico:
• Os pilotos fazem o corte da energia elétrica;
• Manter equipamentos Médicos com as baterias;
• O corte de oxigénio é realizado pela equipa médica;
• Abrir ventiladores (para ajudar a expelir os fumos),
usar o insuflador manual (se doente ventilado a
bordo);
• Se o fogo for identificado na célula sanitária utilizar
o extintor sobre as chamas;
• Se necessário, a aeronave deve aterrar.
Necessidade de desfibrilhação
e/ou cardioversão elétrica da vítima
durante o voo:
• Antes da intervenção, informar os pilotos;
• Tomar todas as precauções necessárias:
desligar todas as fontes oxigénio;
desligar equipamentos em contacto com a vítima;
cumprir as regras de segurança para tratamentos
elétricos recomendadas pelo ERC/CPR.
SECÇÃO 2
TRANSPORTE: A DECISÃO E O
PLANEAMENTO
6. EQUIPAMENTO
DE TRANSPORTE
Equipamento de transporte
49
EQUIPAMENTO DE ASPIRAÇÃO
Se a unidade de aspiração é necessária na aspiração
de um dreno torácico, outra unidade deverá estar
disponível para outras indicações (ex. aspiração de
secreções traqueias ou da cavidade oral).
TRANSPORTE DO
DOENTE CRÍTICO
50
notas:
VENTILAÇÃO MECÂNICA
O doente com disfunção respiratória severa a
QUESTÃO 5: Como poderá saber antes
necessitar de níveis elevados de PEEP, significa que
do transporte se o ventilador portátil é
seria mais seguro manter o doente sob ventilação
adequado para utilizar no transporte de
assistida recorrendo ao ventilador da UCI. No entanto
doentes com insuficiência respiratória
estes ventiladores necessitam frequentemente de
grave?
ar comprimido e fonte de energia, que pode não
estar disponível na ambulância. Se a oxigenação
Resposta:
do doente está dependente de PEEP elevada com
Em muitos ventiladores portáteis a pressão
falência respiratória grave associada, clampar o tubo
na via aérea depende da pressão do
traqueal antes de desconetar e mudar rapidamente de
cilindro de O2. Quando esta pressão é
ventilador, pode ser essencial para evitar o colapso
insuficiente para promover a pressão
pulmonar.
máxima e/ou PEEP necessária, pode
ocorrer hipoventilação ou dessaturação
CILINDROS COM O2
em doentes com insuficiência respiratória
E AR PRESSURIZADO
severa. Antes de transferir o doente para a
O número de cilindros de O2 a serem transportados
maca, um curto período de ventilação no
para assegurar o fornecimento adequado depende da
ventilador portátil (10-15 min.) permite aferir
duração da transferência e do tamanho/capacidade
se este é ou não adequado à condição
dos mesmos. É essencial assegurar que o(s) cilindro(s)
ventilatória do doente.
se encontra(m) cheio(s) antes do transporte.
QUESTÃO 6:
Como se calcula o tempo que um
Atenção! É necessário cuidado quando cilindro com O2 pressurizado durará?
se procede à clampagem do tubo traqueal
no final da inspiração, já que qualquer Resposta:
prolongamento desta manobra representa O barómetro do cilindro mostra a pressão
um risco acrescido de hipotensão ou mesmo (ex. 250 bar – significa 250 vezes a pressão
barotrauma. ambiente normal).
Para um cilindro de 5 litros, a quantidade de
O2 disponível será: 5 litros X 250 bar =1250
litros. Se o doente está a ser ventilado a 15
litros/min. com FiO2 50%, necessitará de
Durante a transferência do doente com 7,5 litros de O2 /min. O tempo até esvaziar
lesão cerebral traumática grave, sob o cilindro será 1250/7,5 =166 minutos.
ventilação mecânica, a monitorização do
EtCO2 é crucial para prevenir a hiper ou
hipocapnia e o provável fenómeno associado EQUIPAMENTO PARA
de vasodilatação ou vasoconstrição com
consequente alteração na PIC ou isquémia. SUPORTE CIRCULATÓRIO
O aumento da mortalidade foi associado
a hipocapnia severa (PaCO2 < 27 mmHg).
• Monitor/Desfibrilhador/Pace externo;
• Monitorização invasiva e não invasiva;
• Catéteres para acessos venosos (periféricos e
centrais) e arteriais;
• Soros (e mangas de pressão);
• Sistemas de soros e prolongamentos;
• Torneiras de 3 vias;
• Bombas e seringas infusoras;
• Seringas e agulhas;
• Elétrodos multifunções (desfibrilhação, pace externo,
monitorização).
DESFIBRILHADOR, PACEMAKER
Os dispositivos existentes hoje em dia já não necessitam
de elétrodos ou visores volumosos, para além disso são
fáceis de guardar. No entanto é essencial assegurar
a reposição efetiva dos elétrodos de uso único, com
as conexões após a sua utilização.
Equipamento de transporte
51
SERINGAS/BOMBAS INFUSORAS
A quantidade de fármacos disponíveis com duração de
OUTRO EQUIPAMENTO notas:
SECÇÃO 3
TRANSPORTE:
A EFETIVAÇÃO
53
TRANSPORTE DO
DOENTE CRÍTICO
54
SECÇÃO 3
TRANSPORTE:
A EFETIVAÇÃO
1. EFETIVAÇÃO
DO TRANSPORTE
Efetivação do transporte
55
A efetivação do transporte fica a cargo da equipa de no transporte aéreo). As drenagens torácicas não notas:
INÍCIO DO TRANSPORTE
Mudança para a
maca de transporte
A equipa de transporte, que assumirá a responsabilidade
A mudança para a maca de transporte representa
pelos cuidados ao doente crítico deve preparar-se de
um dos períodos de risco para o doente, devendo ser
forma eficaz. Essa preparação prévia ao início do
evitadas exteriorizações acidentais de tubos ou linhas.
transporte implica:
Durante a mudança dever-se-á manter monitorizado
• Observação do doente;
e ventilado com o equipamento do serviço de origem.
• Passagem do doente;
Depois da mudança deve verificar-se o posicionamento
• Mudança para a maca de transporte;
de todas as linhas, tubos e cateteres, assegurando
• Verificação final.
a sua permeabilidade. Concluída esta verificação
deve então mudar-se para o ventilador de transporte.
Observação e preparação
De seguida devem ser transferidas as seringas ou
do doente
bombas perfusoras.
A observação do doente é fundamental, antes
do início do transporte, com o objetivo de detetar
A equipa de transporte deve efetuar uma nova
alterações/complicações que possam surgir durante
observação do doente, já conetado ao ventilador de
o transporte. Devem rever-se, a história clínica e
transporte, de modo a detetar alterações em relação
os exames complementares que o doente efetuou
à observação inicial. Se não existirem alterações,
até à altura. Desta forma será possível antecipar as
transfere-se a monitorização para a de transporte,
necessidades do doente, durante o transporte (ex.
tapando-se, de seguida, o doente.
suporte transfusional).
De seguida deve efetivar-se a correta fixação do
doente à maca de transporte. A estabilidade deve
A ressuscitação e a estabilização do doente antes
ser assegurada pela fixação do doente à maca de
do transporte são essenciais na prevenção de
transporte e do respetivo equipamento de monitorização
complicações durante o transporte. A presença de
e/ou outro.
instabilidade hemodinâmica pode permitir que a equipa
de transporte participe na tentativa de estabilização
Verificação final
prévia e na tomada imediata de decisões terapêuticas.
Antes da saída, a equipa de transporte deve verificar
o funcionamento do sistema de comunicações a usar
Deve existir uma passagem formal à equipa de
(ex. telemóvel/SIRESP), e se possui os contactos do
transporte pelos médicos e enfermeiros do serviço
serviço de destino e de origem.
de origem. Essa passagem, para além dos dados
clínicos, deve incluir uma observação clínica seguindo
Os doentes conscientes deverão ser informados sobre
a metodologia ABCDE.
a transferência, assim como a sua família.
A permeabilidade da via aérea deverá ser avaliada:
se existir potencial compromisso, a entubação
A utilização de uma checklist pré-transporte assegura
endotraqueal e ventilação mecânica são mandatórias.
que que todos os preparativos foram realizados,
prevenindo a ocorrência de eventos adversos, pelo
Na presença ou forte suspeita de pneumotórax,
que se aconselha a utilização da mesma. Segue-se
deverá contemplar-se a inserção de um catéter de
um exemplo:
drenagem, com válvula unidirecional (mandatórias
TRANSPORTE DO
DOENTE CRÍTICO
56
notas:
CHECKLIST 2: INÍCIO E EFETIVAÇÃO DO
ESTÁ PRONTO PARA TRANSPORTE
PARTIR? Trajeto até à ambulância
O trajeto até à ambulância deve evitar zonas
O doente?
congestionadas do hospital e deve ser efetuado de
Estável para transporte?
forma serena.
Monitorização adequada;
Fluidoterapia em acessos permeáveis e
Colocação na ambulância
identificados;
A colocação do doente, a sua fixação, a fixação do
Curarização e/ou sedação adequada;
equipamento de monitorização e perfusão são aspetos-
Corretamente imobilizado;
chave que contribuem para minimizar o risco acidentes
Medidas para manter o controlo da temperatura
com o doente e os profissionais que o transportam.
corporal.
O acondicionamento do doente crítico dentro do veículo
deve ser efetuado no sentido de o proteger do efeito
A equipa?
prejudicial da vibração, do ruído e da temperatura.
Treinada e experiente?
Dever-se-á privilegiar a utilização de cintos de fixação
Informada adequadamente?
em vários pontos da maca, a climatização da célula
Apoio disponível?
sanitária, a utilização da manta isotérmica, a abolição
do uso de sirenes sempre que possível e o adequado
acondicionamento de todo o material, como fatores
O equipamento?
essenciais que contribuem para a qualidade do
Ambulância equipada;
transporte do doente crítico.
Equipamento e fármacos adequados;
Baterias confirmadas (suplentes disponíveis);
Cilindros de O2 e ar comprimido;
Rádio e/ou telemóvel com bateria. De igual forma também a equipa de
transporte deverá viajar sentada e com o
A organização? cinto de segurança aplicado.
Documentação completa: processo clínico e
exames laboratoriais e radiológicos;
Documento de transferência preparado;
Antes de iniciar a marcha, deve ser efetuada nova
Conhecido medico e hospital receptor;
observação ao doente, segundo aa metodologia
Unidade de destino avisada do horário de partida
ABCDE, verificando também a permeabilidade de
e chegada estimado(ETA);
tubos e linhas. Deve ficar acessível o acesso vascular,
Números de contacto disponíveis das unidades
onde vai ser efetuada a terapêutica pontual durante
emissora e receptora;
o transporte. Depois desta verificação final, inicia-se
Doente e Família informados;
o transporte para a instituição receptora.
Se necessário, providenciado transporte de
regresso;
No caso de ser necessária alguma intervenção
Tripulação da ambulância disponível e informada;
no doente, por segurança, a ambulância deverá
Apoio/escolta policial se necessário.
interromper a sua marcha.
Início do transporte?
Toda a monitorização deverá estar visível para a equipa
D o e n t e e E q u i p a m e n t o d e v i d a m e n t e
de transporte, assim como os restantes equipamentos
acondicionados e seguros;
de suporte (ex: ventilador, seringa infusora).
Equipamento elétrico ligado a fontes de energia
da ambulância (se disponível);
Ventilador acoplado a fonte de O2 e ar comprimido
da ambulância.
Efetivação do transporte
57
O nível de monitorização aconselhado deve ser, no do doente (ex. bombas infusoras); notas:
mínimo, igual ao do serviço de origem. A monitorização • O doente deverá sempre ser corretamente
deverá ser contínua e contemplar os seguintes acomodado na maca de transporte e fixado à
parâmetros: mesma através dos cintos de segurança da própria
• monitorização cardíaca contínua (ECG); maca;
• pressão arterial não invasiva; • Da mesma forma, a equipa de transporte deverá
• SpO2; viajar sentada e com o cinto de segurança colocado;
• Capnografia (em doentes ventilados). • Em caso de ser necessária alguma intervenção
no doente, por segurança, a ambulância deverá
Chegada ao hospital/serviço destino interromper a sua marcha;
Antes da transferência do doente, deve ficar claro • Em caso de acompanhamento por Enfermeiro,
para a equipa de transporte qual o serviço de destino deverá, o Enfermeiro SIV, seguir os Protocolos SIV
do doente. Não é aceitável a existência de tempos em vigor;
de espera adicionais, em serviços sem condições • O aconselhamento técnico/clínico ou mesmo a
mínimas para este tipo de doentes, enquanto a unidade validação de protocolos é da responsabilidade do
receptora promove a libertação de vaga. Esta é a Médico Regulador do CODU, pelo que o Enfermeiro
razão pela qual deve validada a existência de vaga SIV deverá contactá-lo sempre que necessário;
disponível antes do início do transporte. • Em caso de acompanhamento por Médico e
Enfermeiro, o Médico que realiza a transferência é
Passagem e registos do doente o responsável pelas ações clínicas (registadas no
A passagem do doente pela equipa de transporte deve Mobile Clinic);
ser efetuada de modo formal. A equipa de transporte • A equipa de acompanhamento poderá/deverá
deve proceder à entrega de toda a documentação e contactar o CODU sempre que exista alguma
registos, cessando, apenas a sua responsabilidade alteração importante no plano da transferência ou
aquando da transferência para o equipamento do para obter apoio técnico/clínico;
hospital/serviço destino. No que se refere aos registos, • No Hospital de Destino é necessário “passar
durante o transporte devem ser efetuados registos o doente”, à equipa que o recebe (ex. história
de parâmetros vitais com intervalos adequados e clínica, motivo entrada, motivo da transferência,
em particular todas as alterações na situação clínica avaliações, intercorrências), bem como entregar
do doente, intervenções efetuadas ou terapêuticas toda a documentação referente ao doente/processo
administradas. de transferência (ex. Nota de Transferência, Nota
de Enfermagem, Exames realizados no Hospital de
Origem);
TRANSFERÊNCIA DO
DOENTE QUANDO
EFETUADO POR MEIOS
INEM
• Deverá ser preenchida a Lista de Verificação para
Transporte Secundário antes da partida, garantindo
que todo o processo de preparação foi concluído;
• Antes da partida e já na ambulância, o doente deverá
ser novamente avaliado, segundo metodologia
ABCDE;
• A monitorização deverá ser contínua durante todo
o transporte;
• Os parâmetros vitais avaliados devem ser registados
no Mobile Clinic, durante o transporte, bem como
as ações/intervenções realizadas;
• Estes registos devem ser enviados para o Hospital
de Destino, através do Mobile Clinic (procedimento
igual ao de um Transporte Primário);
• Todo o equipamento deverá ser corretamente
acomodado e fixado no interior da célula sanitária da
ambulância. O equipamento solto poderá tornar-se
num “projétil” numa desaceleração mais brusca;
• Nenhum equipamento deverá ser colocado em cima
TRANSPORTE DO
DOENTE CRÍTICO
58
SECÇÃO 3
TRANSPORTE:
A EFETIVAÇÃO
2. RISCOS NO
TRANSPORTE DO
DOENTE CRÍTICO
Riscos no transporte do doente crítico
59
notas:
Deterioração fisiopatológica de transporte disponíveis poderão não possuir o
mesmo modo ventilatório, pelo que a conexão a esses
(Instabilidade Hemodinâmica) equipamentos deve ser efetuada na unidade de origem,
A estabilização hemodinâmica, antes do transporte, devendo ser dado o tempo necessário para adaptação
é fundamental para a redução da morbilidade e da do doente a esse novo equipamento. Só deverá ser
mortalidade destes doentes. Deve ser questionada pela iniciado o transporte após a estabilização e idealmente
equipa de transporte a efetivação da transferência, se após a documentação com gasimetria arterial.
o doente não está estável. A manter a indicação para
transferência, a equipa de transporte deve assegurar-se Muitos ventiladores de transporte não permitem
de que tem todos os meios terapêuticos ao seu alcance diversas modalidades ou níveis de ventilação (ao
(ex. suporte transfusional), para que o transporte seja contrário dos ventiladores existentes na UCI).
o mais seguro possível.
Doentes com pressão positiva aumentada na via
aérea (> 40-50 cmH2O) durante a ventilação: Alguns
Doentes com aumento da PIC ventiladores de transporte não produzem uma pressão
ou PEEP suficientes para oxigenar adequadamente
Muitas vezes não é possível elevar o tronco do doente
doentes muito obesos ou doentes com ARDS severo.
durante o transporte.
Na sequência da descida da cabeceira do doente com
lesão cerebral traumática, (da posição de Semi-Fowlers O doente agitado
para a posição de deitado, quando se pretende efetuar a É contraindicado o transporte de doentes com agitação
transferência para a maca da ambulância), pode ocorrer psicomotora sem sedação prévia. Mesmo após a
aumento da pressão intracraniana (PIC), hipotensão sedação, dever-se-á aplicar imobilizadores de tórax
arterial ou diminuição da saturação de oxigénio. e membros. O cuidado com a fixação do acesso
vascular é também uma prioridade para impedir a
sua exteriorização.
Monitorização inadequada: A terapêutica, em caso de agudização, deve estar
imediatamente disponível.
• da função cardiovascular e/ou
pulmonar; Os doentes em unidades de cuidados intensivos
encontram-se frequentemente sedados e analgesiados,
• do equipamento de perfusão/ em doses sedativas mínimas para manter o seu
conforto. Quando se inicia o seu transporte, a indução
infusão. de estímulos é muito maior sendo normal que as
A existência ou o risco elevado de pneumotórax deve
doses de fármacos administrados até então sejam
obrigar à sua drenagem, antes do início do transporte.
insuficientes para manter o estado sedativo. Em
Os drenos torácicos não devem ser “clampados”,
doentes entubados e ventilados, esta agitação pode
durante o transporte. Idealmente, não devem ser
manifestar-se por inadaptação ao ventilador, com
utilizados frascos coletores de vidro.
consequente diminuição da eficácia ventilatória. Para
além da sedação insuficiente, outro motivo para a
Por inexistência de equipamento/interface de
agitação é sem dúvida a dor. Por vezes a dose de
monitorização adequado ou devido ao movimento
sedativos é suficiente, mas a dose de analgésicos
causado pelo transporte (artefactos), entre outros. A
é insuficiente.
equipa de transporte deve estar familiarizada com o
equipamento da monitorização, devendo programar
os limites dos alarmes antes do início do transporte. O O movimento adicional durante
nível de monitorização deve ser adequado à gravidade
do doente.
o transporte
Os efeitos adversos, mais comuns a todos os meios
de transporte, do movimento sobre o doente são:
A fluidoterapia adequada é fundamental para a
• Enjoo;
estabilidade do doente durante o transporte. Idealmente
• Vibração;
deve ser efetuada através de bombas e seringas
• Ruído;
perfusoras, de modo a que a equipa de transporte
• Aceleração.
tenha a noção correta do volume administrado. Este
ponto é particularmente importante nos transportes
de longa duração.
Elementos do staff que recorrentemente
sofram de enjoo não devem ser selecionados
para fazer transporte, bem como aqueles
Riscos relacionados com o que não conseguem equalizar a pressão
no ouvido médio.
suporte ventilatório
A necessidade de suporte ventilatório, durante o
transporte, deve ser antecipada. Os ventiladores
Riscos no transporte do doente crítico
61
SECÇÃO 4
CUIDADOS
DURANTE O
TRANSPORTE
63
TRANSPORTE DO
DOENTE CRÍTICO
64
SECÇÃO 4
CUIDADOS DURANTE
O TRANSPORTE
1. MONITORIZAÇÃO
DO DOENTE CRÍTICO
Monitorização do doente crítico
65
A monitorização hemodinâmica permite avaliar diversos face às necessidades metabólicas do organismo. notas:
notas:
FISIOLOGIA Pós-carga
A pós-carga consiste na resistência que os ventrículos
CARDIOVASCULAR têm que vencer para ejetar sangue. Três fatores
determinam a pós-carga: resistência à saída do
Débito Cardíaco fluxo sanguíneo, o tónus vascular e a viscosidade
No contexto dos cuidados intensivos geralmente sanguínea. Resistências à saída do fluxo sanguíneo
o enfoque centra-se na melhoria da perfusão (a como a estenose valvular aórtica, hipertensão e
capacidade em entregar O2 e nutrientes aos tecidos). aterosclerose promovem grandes resistências e dessa
A monitorização hemodinâmica avalia os efeitos forma aumentam a pós-carga.
da perfusão e o cateter de Swan-Ganz avalia Aneurismas da aorta, nos quais o sangue em vez de
especificamente o débito cardíaco (DC) e os seus circular no lúmen interno da aorta circula através de
constituintes: pré-carga, pós-carga e contratibilidade um falso lúmen, promovem a diminuição da pós-carga.
do miocárdio. O débito cardíaco resulta do produto Também aqui a vasodilatação e a vasoconstrição
entre o volume sistólico (VS) e a frequência cardíaca afetam a pós-carga. A vasodilatação diminui a pós-
(DC = VS X frequência cardíaca). O VS representa carga enquanto a vasoconstrição aumenta a pós-carga.
a quantidade de sangue ejetada em cada contração A viscosidade de sangue afeta diretamente a pós-
ventricular e é determinado pela pré-carga, pós-carga carga. Condições como a policitemia provocam o
e contratibilidade do miocárdio. Tendo em conta que o aumento da pós-carga já que o aumento da viscosidade
VS resulta da combinação de três entidades distintas, a diminui o fluxo sanguíneo, comparativamente com
frequência cardíaca representa uma maior contribuição sangue com menor viscosidade. Este conceito é muito
e um efeito mais imediato no DC. importante e explica porque é que nesta condição,
baixos níveis de hemoglobina são frequentemente
melhor tolerados e por vezes considerados benéficos
em doentes em estado critico. Presumindo que a
Quando o operacional VMER/SIV for
hemoglobina disponível é suficiente para transportar
confrontado com um doente com DC baixo,
O2, valores abaixo dos considerados normais podem
deve avaliar a frequência cardíaca antes de
melhorar o DC através da diminuição da pós-carga.
investigar as componentes do VS.
Contratibilidade
A contratibilidade consiste no estado inotrópico do
Pré-carga
miocárdio ou a força com que o miocárdio se contrai.
A pré-carga representa o grau de distensão das
A contratibilidade não é passível de ser avaliada
fibras do miocárdio induzido pelo volume presente
diretamente através da monitorização hemodinâmica
no ventrículo, no final da diástole. A pré-carga é
convencional mas pode ser avaliada por eco-dopller.
determinada pelo volume total de sangue, pela
Existem seis fatores que influenciam a contratibilidade:
distribuição desse mesmo volume de sangue e pela
a condição do músculo cardíaco, o sistema nervoso
contração auricular. Estados de hipovolémia resultam
autónomo, diversos estados metabólicos, os iões,
numa diminuição da pré-carga e podem surgir devido
agentes farmacológicos e a frequência cardíaca.
a hemorragia, diaforese, estados prolongados de
A lesão do músculo cardíaco ou a isquemia pode
vómitos e diarreia, desidratação, queimaduras,
diminuir a contratibilidade de forma temporária ou
aspiração gástrica, entre outras. A hipervolémia que
permanente. O sistema simpático e parassimpático,
habitualmente resulta de excesso de administração
que são responsáveis pelo aumento e diminuição
de fluidos ou da insuficiência renal, reflete-se através
da frequência cardíaca, afetam simultaneamente a
do aumento da pré-carga.
contratibilidade.
A distribuição do sangue também afeta a pré-carga.
Estados metabólicos como a sépsis, a acidose e a
A venodilatação resultante da administração de
hipóxémia diminuem a contratibilidade.
drogas, a febre ou estados de choque distributivo
Existem três iões que influenciam de forma significativa
(ex. choque neurogénico ou sépsis) refletem-se numa
a contratibilidade: o cálcio, o sódio e o potássio.
diminuição da pré-carga. A vasoconstrição induzida
A hipocalcémia, a hiponatrémia e a hipercaliémia
por vasopressores, hipotermia ou choque cardiogénico
diminuem a contratibilidade do miocárdio.
induzem um aumento da pré-carga.
Vários fármacos influenciam a contratibilidade do
As alterações na pressão intratorácica que diminuem
miocárdio. Os agentes inotrópicos positivos (aumentam
o retorno venoso (ex. ventilação mecânica, uso de
a contratibilidade do miocárdio) incluem a digoxina,
PEEP ou pneumotórax) provocam uma diminuição
a dopamina, a dobutamina, o cálcio, a adrenalina e o
da pré-carga.
glucagon. Os agentes inotrópicos negativos incluem
As alterações da pressão intra-pericárdio resultantes
os beta-bloqueantes, os bloqueadores dos canais de
da pericardite e do tamponamento afetam a capacidade
cálcio e a procainamida.
de enchimento do miocárdio diminuindo dessa forma
Finalmente a frequência cardíaca pode influenciar
a pré-carga.
a contratibilidade do miocárdio pelo seu efeito no
tempo de diástole (enchimento dos ventrículos) e na
perfusão das artérias coronárias. Frequências mais
lentas apresentam tempo de diástole maior do que
Monitorização do doente crítico
67
frequências mais rápidas. O menor tempo de diástole que este se encontra conetado. O local de inserção notas:
(verificado em frequências elevadas) diminui a perfusão deve também ser examinado, documentando se este
das artérias coronárias e pode diminuir a perfusão do se encontra visivelmente limpo, seco e coberto por
miocárdio abaixo do nível necessário para obter uma penso oclusivo. É fundamental que o operacional
contratibilidade adequada. VMER/SIV esteja familiarizado com a manipulação
dos diversos tipos de cateter que estão a ser utilizados
num determinado doente ou, caso seja necessário,
Antes de mobilizar um doente com equipamento de Dependendo do padrão do voo e da altitude, o zerar
monitorização invasiva já instituída é fundamental deverá ser efetuado na conexão inicial do transdutor
avaliar esse mesmo equipamento, tomando nota ao monitor de transporte, uma vez alcançada a altitude
dos valores apresentados e identificando o sistema de cruzeiro durante o voo e de novo na chegada ao
de cada transdutor até ao cateter de monitorização a destino.
TRANSPORTE DO
DOENTE CRÍTICO
68
notas:
VARIAÇÃO RESPIRATÓRIA Alguns monitores de transporte estão limitados a
dois canais de monitorização de pressão. Nestas
condições é essencial decidir quais as pressões a
As alterações na pressão intratorácica resultam em
monitorizar durante o transporte. Qualquer doente com
variações na avaliação de pressões invasivas. De
monitorização da pressão da artéria pulmonar deve
forma a obter a medição exata da pressão invasiva
obrigatoriamente manter a monitorização contínua
é fundamental obter a leitura no final da expiração.
do lúmen distal (artéria pulmonar) com o objetivo
Isto porque apenas no final da expiração a pressão
de monitorizar a pressão de encravamento. A não
intratorácica está equalizada com a pressão
monitorização ou a ausência de curva pode resultar
atmosférica. A variação respiratória provoca o aumento
em enfarte pulmonar.
e diminuição da linha de base observada na onda
de pressão.
MONITORIZAÇÃO
Em doentes mecanicamente ventilados (ventilação
com pressão positiva), o final da expiração ocorre nas INVASIVA:
porções inferiores da linha de base (figura 13). O final COMPLICAÇÕES
da expiração em doentes em ventilação espontânea
(ventilação com pressão negativa) correlaciona-se POTENCIAIS DURANTE O
com o pico da linha de base (figura 14). TRANSPORTE
Desta forma, efetuando a leitura da PVC e da PA Provavelmente a complicação mais frequente no
no momento adequado, baseando-se no fato de o transporte do doente sob monitorização invasiva é o
doente estar ventilado ou em ventilação espontânea, o deslocamento ou a remoção acidental de uma linha
operacional VMER/SIV assegura que os valores obtidos ou cateter. Isto significa que o operacional VMER/SIV
no final da expiração não se encontram falseados por deve ser meticuloso na fixação de cateteres, linhas
alterações da pressão intratorácica. e sistemas conetados antes de mobilizar o doente
para a maca de transporte, efetuando verificações
sucessivas no que se refere à segurança e estabilidade
dos dispositivos. Assim minimizar-se-á o risco de
perda destas importantes formas de monitorização
e/ou acessos.
69
O acesso venoso central pode ter tantas complicações colocação inadequada, ou migração do cateter que notas:
como o acesso periférico. Algumas das complicações pode causar punção inadvertida e tamponamento
incluem formação de coágulos por fluxo inadequado, cardíaco.
ponto de partida de embolia, extravasamento por
notas:
Reconhecimento do Cada um dos tipos de choque possui achados
hemodinâmicos clássicos que ajudam a distinguir entre
choque eles. O choque carateriza-se pela redução sistémica
da perfusão tecidular, desta forma o reconhecimento e
O choque é uma causa frequente de morbilidade no reversão precoce do choque evita a rápida e irreversível
contexto dos cuidados intensivos. A monitorização sequência de morte celular (lesão de órgão, acidose
hemodinâmica pode ajudar a diferenciar entre os láctica em resultado do metabolismo anaeróbio,
diversos tipos de choque e permite avaliar a eficácia falência multissistémica e morte).
do tratamento durante o transporte.
O choque hipovolémico inclui a perda de volume Existem dois parâmetros hemodinâmicos que permitem
através de hemorragia aguda ou crónica, diurese distinguir os diferentes tipos de choque: DC e resistência
excessiva, perdas para o terceiro espaço e qualquer vascular sistémica (RVS). No choque hipovolémico
outra condição que provoque depleção do volume a pré-carga está diminuída em consequência da
intravascular. depleção do volume intravascular. A diminuição da
As causas de choque cardiogénico são variadas e pré-carga leva a uma diminuição do VS, que resulta
incluem a depressão do miocárdio devido a isquémia numa diminuição do DC. De forma a manter a perfusão
e/ou enfarte, miocardiopatias, arritmias que diminuem tecidular a RVS aumenta de forma a compensar o
o fluxo, anomalias mecânicas que conduzem à falência declínio do DC.
da bomba e condições obstrutivas tais como embolia O choque cardiogénico envolve uma cascata de eventos
pulmonar maciça, pneumotórax hipertensivo ou complexa que resulta na falência da bomba cardíaca,
tamponamento cardíaco. conduzindo à diminuição do DC. Habitualmente as
O choque distributivo pode ser surgir na sequência de RVS aumentam num esforço para manter o DC, o que
sépsis, SIRS, anafilaxia, envenenamento, condições resulta na exacerbação da falência do miocárdio e
neurogénicas como é o caso de lesão da espinal conduz a um aumento da pré-carga e a uma condição
medula e outras causas de vasodilatação. de hipervolemia total relativa.
No choque distributivo a vasodilatação é habitualmente
a causa primária e é identificada pela diminuição
significativa das RVS. Quando a pós-carga diminui
de forma dramática o DC aumenta.
Abreviaturas:
PECP, pressão de encravamento capilar pulmonar;
PVC, pressão venosa central;
RVS, resistência vascular sistémica;
RVP, resistência vascular pulmonar;
71
sobre monitorização
versus voo
As preocupações relacionadas com a fisiologia de voo
incluem os efeitos da hipoxia derivada à altitude e a
expansão de gazes. Mesmo numa cabine pressurizada
a saturação de O2 diminui em média 5,5% e aproxima-
se frequentemente de 90%. Nos doentes com saturação
de O2 baixa no solo, é expetável que venham a sofrer
um declínio mais acentuado. Uma monitorização
apertada por parte do operacional permite responder
às alterações na condição do doente, mantendo níveis
adequados de O2 inspirado.
notas:
Capnografia
A monitorização contínua do CO2 através da capnografia Nas páginas seguintes são apresentadas as alterações
(representação gráfica do CO2 exalado) e capnometria da onda de capnografia e as potenciais causas
(valor numérico do EtCO2) é essencial na monitorização associadas. A informação que se segue não dispensa
do doente em estado crítico já que fornece informação a consulta do anexo do manual de abordagem à
acerca de três funções fisiológicas: metabolismo vítima onde capnografia é apresentada de uma forma
celular, perfusão e ventilação. minuciosa.
Capnograma Normal
Indica que a via aérea está permeável
e que o doente está a ventilar. Um valor
de EtCO2 entre 30 e 40 mmHg indica
perfusão adequada dos tecidos.
Figura 15
Tabela 7
Tabela 8
Figura 16 Figura 17
Figura 18 Figura 19
Monitorização do doente crítico
73
notas:
Figura 20 Figura 21
Figura 22 Figura 23
notas:
APLICAÇÕES CLINICAS
DA CAPNOGRAFIA
NO PRÉ-HOSPITALAR
9-12
mmHg
12 - 64
mmHg
75
TRANSPORTE DO
DOENTE CRÍTICO
76
SECÇÃO 4
CUIDADOS DURANTE
O TRANSPORTE
2. VENTILAÇÃO
MECÂNICA
Ventilação mecânica
77
O ventilador mecânico é um dispositivo mecânico diminuição do fluxo sanguíneo a nível hepato/ notas:
gerador de uma determinada pressão, volume e fluxo renal, podem “enganar” o organismo (aparente
de ar, associado a uma percentagem variável de depleção de volume) provocando uma série de
oxigénio. A sua principal função é substituir parcial alterações hormonais (ex. aumento da atividade
ou totalmente o trabalho respiratório do doente, da aldosterona e da vasopressina, e diminuição
promovendo não só a ventilação alveolar através dos níveis da hormona natriurética). Todas estas
da entrada e saída de ar de e para os pulmões, mas alterações conduzem à retenção de líquidos.
também corrigindo problemas de oxigenação através
do fornecimento suplementar de oxigénio.
CAUSAS DE
No pré-hospitalar as principais indicações
para ventilação mecânica incluem: a apneia
FALÊNCIA RESPIRATÓRIA
e a insuficiência respiratória parcial ou total
O processo respiratório pode ser dividido em 4 fases :
de causa diversa.
ventilação alveolar (entrada e saída de ar dos alvéolos
pulmonares), difusão dos principais gases respiratórios
através da membrana alvéolo-capilar, transporte
A utilização da ventilação mecânica não é inócua e dos gases respiratórios pelos líquidos orgânicos e
pode ter efeitos adversos, tanto hemodinâmico, como regulação neuro-humoral .
pressóricos, com repercussão em vários sistemas: Qualquer alteração de uma das fases pode condicionar
• A lesão pulmonar induzida pela ventilação mecânica insuficiência e/ou falência respiratória, que de uma
pode ser classificada em: baro-volutrauma forma geral pode ser classificada em: falência de
(entidade funcional associada), biotrauma bomba (falência da função ventilatória) ou falência
(lesão de outros órgãos devido à libertação de pulmonar (falência do parênquima pulmonar).
mediadores inflamatórios) e atelectrauma (abertura
e encerramento repetitivo das unidades alveolares);
• O baro-volutrauma, que de uma forma geral se pode
manifestar por: pneumotórax, enfisema subcutâneo,
pneumomediastino (o edema pulmonar é a lesão
mais frequente);
• Do ponto de vista hemodinâmico o aumento da A falência de bomba pode causar
pressão intratorácica pode resultar na diminuição falência pulmonar devido à acumulação
do retorno venoso ao coração direito, resultando de secreções, ventilação inadequada e
na diminuição do débito cardíaco e hipotensão; atelectasias.
• O aumento da pressão intratorácica pode A falência pulmonar pode causar falência
comprometer o fluxo sanguíneo para o fígado e rins; de bomba devido à impedância elevada e
• A diminuição do retorno venoso, a diminuição à necessidade de ventilação aumentada.
do débito cardíaco, a hipotensão associada e a
notas:
PRINCÍPIOS FISIOLÓGICOS
SUBJACENTES À A lesão pulmonar associada à ventilação
mecânica pode ser causada por pressão
VENTILAÇÃO MECÂNICA (barotrauma) ou volume (volutrauma)
excessivo na via aérea.
O ventilador mecânico pode ser utilizado para:
• Controlar a eliminação de CO2 (ventilação alveolar);
• Melhorar a oxigenação;
• Assistir os músculos respiratórios.
Geralmente o pH com limite inferior de 7.25 é considerado seguro mas poderá ser necessário considerar objetivos
permissivos para o pH e PaCO2, em função da condição específica do doente. Em situações graves de doença
pulmonar obstrutiva ou restritiva, procurar obter os valores normais de pH e PaCO2 pode ser incompatível
com a segurança da ventilação mecânica. Nestes casos, objetivos menos ambiciosos serão provavelmente
necessários e envolvem algum grau de hipercapnia e acidémia.
Ventilação mecânica
79
notas:
Ventilação alveolar e ventilação minuto
As trocas gasosas entre o espaço alveolar e o sangue venoso que percorre aos capilares pulmonares ocorre
de forma contínua. Assim o espaço alveolar perde O2 e recolhe CO2 permanentemente. De forma a manter
trocas gasosas eficazes o alvéolo é continuamente preenchido com gases frescos ricos em O2 e livres de CO2.
Este “fluxo alveolar” é alcançado através do Vc, entregue a uma determinada frequência respiratória (Fr). O
Vc é intermitentemente inalado e exalado sobre a capacidade residual funcional (CRF), que é o volume de
gás que permanece no pulmão no final da expiração. Entretanto apenas parte do Vc, o volume alveolar (VA)
ventila os alvéolos. Parte do Vc, o volume do espaço morto (VEM) corresponde a áreas do sistema respiratório
que não estão envolvidas nas trocas gasosas. Portanto apenas uma parte do volume minuto (VM=Vc*Fr) é
utilizado nas trocas gasosas. Isto corresponde à ventilação alveolar (V’A=VA*Fr).
A taxa de eliminação de CO2 do sistema respiratório é proporcional à V’A. O controlo da PaCO2, e portanto o
controlo respiratório do pH depende do equilíbrio entre a V’A e a produção metabólica de CO2 (V’CO2).
PaCO2=k*V’CO2/V’A
Desta forma é possível durante a ventilação mecânica manipular a V’A de modo a atingir valores-alvo de PaCO2
e pH. Dado que na prática clínica não é possível saber o valor de k (expressa a dificuldade de eliminação do
CO2) ou a V’CO2 do doente, a manipulação da V’A é necessariamente efetuada por tentativas, verificando os
resultados das alterações introduzidas nos parâmetros, em termos de PaCO2, sabendo de antemão que o
aumento da V’A resultará no decréscimo da PaCO2 e vice-versa.
A questão é ainda complicada pelo facto de não se controlar diretamente a V’A. Em vez disso, controla-se
o volume minuto (VM) e a forma como o VM é entregue (ex. definindo o padrão ventilatório – Vc; Fr; relação I:E)
É impor tante ter presente que reduzindo o espaço morto do equipamento de ventilação,
aumentar-se-á a V’A para o mesmo VM.
Por um lado, as escolhas possíveis no padrão ventilatório afetam a relação entre VM e a V’A (com VM constante
a V’A diminui se a FR aumenta). Por outro lado as escolhas são limitadas pelos critérios de segurança mecânicos:
• O aumento do Vc pode estar associado a uma elevação perigosa da pressão de plateau;
• O aumento do Vc e/ou da FR e a diminuição da relação I:E pode estar associado a elevação perigosa do pico de
pressão na via aérea;
• O aumento da FR e/ou relação I:E pode estar associada a PEEP intrínseco, não desejável.
Em vítimas adultas, um ponto de partida razoável será um VM de 100 mL/Kg/min. No entanto o VM necessário
para um controlo adequado da PaCO2 e do pH é habitualmente maior (devido ao aumento da produção de
CO2 e pelo compromisso da função pulmonar). Nestas situações será necessário optar entre por:
• Abordagem agressiva: a manter enquanto os parâmetros do ventilador não entram em conflito com os critérios
de segurança mecânicos;
• Abordagem permissiva: envolvendo objetivos em termos gasimétricos menos ambiciosos e em particular
aceitando um determinado grau de hipercapnia.
TRANSPORTE DO
DOENTE CRÍTICO
80
notas: Escolha do volume corrente e frequência podem não ser eficazes, ou podem inclusive revelar-se
respiratória perigosas. Nos doentes com lesão pulmonar grave a
Um determinado VM pode ser entregue em diversas escolha do Vc e FR apropriados é um aspeto crítico e
combinações possíveis de FR e Vc. No entanto num deve ser baseada na efetividade e segurança.
determinado doente várias das possíveis combinações
Vc O Vc máximo seguro que pode ser entregue é mais complexo de prever: a tensão desenvolvida
máximo pelas fibras do tecido pulmonar em resposta à pressão e tensão/deformação do tecido devido
seguro ao volume pode ser avaliada através da avaliação da pressão transpulmonar.
Convencionalmente distingue-se entre lesão pulmonar devido a pressão por distensão aumentada
(barotrauma) e lesão pulmonar devido a volume elevado (volutrauma):
• A fisiologia respiratória mostra que pressão de distensão e volume pulmonar são duas expressões
distintas para o mesmo fenómeno;
• Quando pensa em termos de pressão é fácil avaliar e de forma inequívoca o risco hiperdistensão;
• No entanto a mesma avaliação torna-se muito mais difícil quando se perspetiva em termos de
volume.
Vítimas grávidas de termo têm um aumento do Vc de aproximadamente 40% e subsistem com uma
alcalose respiratória compensada. É fundamental ter estes aspetos presentes quando se ajustam
os parâmetros do ventilador.
No ARDS o Vc de 6 mL/Kg é fortemente recomendado. No entanto nos casos mais severos de ARDS
este valor baixo pode ainda ser demasiado elevado e a melhor opção pode ser pelo Vc mínimo
efetivo (4.4 mL/Kg).
Ventilação mecânica
81
notas:
O Vc diminuído pode até certa medida ser compensado pelo aumento da Fr. No entanto o
aumento da Fr tem uma importante desvantagem: o tempo expiratório (Te) pode diminuir
de tal forma que impede a exalação completa no ponto de equilíbrio definido pela PEEP
aplicada. Alcançar o equilíbrio no final do Te depende do equilíbrio entre o Te e a constante
expiratória do sistema respiratório (RCe).
Escolha A relação I:E normal varia entre 1:2 e 1:1.5, que corresponde a um ciclo inspiratório de 33-
da 40%. Em doentes com obstrução relação I:E mais baixa contribui com Fr mais baixa para
relação prolongar o Te e portanto minimiza a PEEP intrínseca. Em doentes com ARDS uma relação
I:E I:E mais elevada pode melhorar o recrutamento alveolar e a oxigenação através do aumento
da pressão média aplicada ao sistema respiratório.
Na vítima com obstrução da via aérea a Fr deve ser baixa de forma a permitir um Te longo evitando
desta forma a hiperinsuflação pulmonar.
O ajuste da relação I:E deve ser combinado com a frequência. A escolha de ambos os parâmetros
deve ser orientada pelo princípio de que a relação Te/RCe deve ser no mínimo 3 e nunca inferior a 2.
No doente com obstrução da via aérea a relação I:E pode ser reduzida apenas numa extensão
limitada, já que isto aumenta o fluxo inspiratório e dessa forma a pressão de pico na via aérea.
Vc
Volume espaço morto 4.4 mL/Kg
mínimo
Vc <25 cmH20 é segura
Pressão plateau
máximo >30 cmH2O é potencialmente perigosa
Fr Se >3, PEEPi está ausente ou é irrelevante
Te/RCe
máxima Se <2 PEEPi importante está a ser gerada
TRANSPORTE DO
DOENTE CRÍTICO
82
notas:
Abordagem da oxigenação e que requerem um grau de “expertise” considerável
para sua execução.
Na abordagem da vítima/doente para correção de
problemas de oxigenação (objetivo para a PaO2), a
No contexto de unidades de cuidados intensivos, a
normoxémia é o objetivo ideal. No entanto em cada
maioria dos ventiladores modernos de terceira e quarta
doente a PaO2 alvo deve ser escolhida tendo em conta a
geração dispõem de ferramentas integradas como
condição clínica e considerando os efeitos adversos do
estratégia complementar a melhoria da oxigenação
tratamento direcionado para a melhoria da oxigenação.
(Open Lung Tool, Curvas de Pressão-Volume, entre
Apesar da PaO2 de 80 mmHg ser desejável, este
outras). Em adição a ventilação em decúbito ventral,
objetivo pode ser diminuído para 60 mmHg (ou até
promove a abertura de alvéolos pulmonares colapsados
inferior) quando a hipoxemia é refratária ao tratamento
das regiões dependentes.
e o risco de efeito(s) adverso(s) relacionado com a
ventilação é maior.
A redução da pressão intra-abdominal pode ter também
um efeito benéfico no recrutamento alveolar e na
oxigenação. Durante a ventilação mecânica a aplicação
Normoxémia reflete uma PaO 2 de 100 de PEEP ou o prolongamento do tempo inspiratório
mmHg mas este ponto de referência diminui podem resultar no recrutamento alveolar de regiões
progressivamente com a idade. previamente colapsadas.
O objetivo para a PaO2 é menos flexível A aplicação de PEEP é limitada pelos efeitos adversos
que os objetivos para a PaCO2 e pH. que provoca quer ao nível pulmonar quer extrapulmonar.
A ventilação com PEEP provoca um aumento na
pressão transmural (aplicada ao alvéolo), que contribui
para a reabertura e estabilidade do alvéolo colapsado.
A hipoxemia devida a incompatibilidade V/Q pode
A utilização de PEEP pode proteger o pulmão já que
ser combatida de forma eficaz através do aumento
previne a lesão alveolar decorrente do ciclo colapso-
do oxigénio inalado (FiO2). A limitação da utilização
reabertura do alvéolo instável.
de FiO2 elevada é imposta pela toxicidade do O2. Por
princípio dever-se-á utilizar a FiO2 mais baixa que
permita uma oxigenação satisfatória. Uma FiO2 de 0.6
é considerada segura, mesmo quando administrada O aumento da pressão média intratorácica
por longos períodos. Níveis mais elevados de FiO2 pode reduzir o preenchimento do ventrículo
podem ser tóxicos para os pulmões mas são por direito diminuindo desta forma do débito
vezes utilizados (até por longos períodos) quando cardíaco e agravando desta forma a
clinicamente necessário para evitar hipoxemia severa. oxigenação do doente.
83
notas:
MODOS DE VENTILAÇÃO mecânica, minimizando desta forma os efeitos
adversos da ventilação com pressão positiva no estado
MECÂNICA hemodinâmico e nos órgãos extratorácicos do doente.
Isto significa que a escolha do modo e dos parâmetros
A manutenção da respiração espontânea melhora a de ventilação devem procurar manter alguma atividade
distribuição da ventilação e o recrutamento alveolar respiratória espontânea sempre que possível. Evitando
nas bases pulmonares devido ao tónus e à ação no entanto qualquer desconforto ou stress mecânico
de bomba do diafragma. Por outro lado reduz a no pulmão que conduza ao consumo de O2 devido à
pressão positiva intratorácica associada à ventilação atividade muscular.
Modos ventilatórios
Modo Volume espaço morto Indicação
85
Tabela 13
TRANSPORTE DO
DOENTE CRÍTICO
86
notas:
RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS NOTA FINAL
Sempre que exista qualquer problema com o ventilador A avaliação do sistema respiratório do doente em
o doente deve de imediato passar a ser ventilado com estado crítico implica o exame físico completo mas
recurso ao insuflador manual. Um bom princípio de também a consulta do processo clínico.
resolução de problemas relacionados com o ventilador A capacidade de determinar o estado basal do doente
é começar no doente e de forma metódica avaliar todo e de diferenciar entre achados normais/anormais
o equipamento. no sistema respiratório são aspetos cruciais para
prestar cuidados efetivos durante o transporte.
Apesar dos alarmes variarem de ventilador para Competências essências incluem a auscultação, a
ventilador os alarmes mais comuns são: avaliação da oxigenação e ventilação adequadas, a
• Bateria fraca: este alarme surge quando a fonte de parametrização e resolução de problemas relacionados
energia para abastecer o ventilador é inadequada, ou com o ventilador.
a pressão de entrada de gases é baixa. É resolvida Conceitos com o volume corrente, volume minuto e
através do restabelecimento da fonte de energia espaço morto anatómico são cruciais para perceber
adequada; a função respiratória.
• Alarme de baixa pressão: habitualmente devido a O transporte do doente crítico sob ventilação deve
fuga ou desconexão, esta alarme pode também surgir ser cuidadosamente planeado. Em primeiro lugar é
se o "cuff" do tubo traqueal ou da traqueostomia essencial estar familiarizado com o ventilador e ter
estiver desinsuflado ou com fuga; sempre por perto o insuflador manual. Em segundo
• Alarme de pressão elevada: este alarme surge lugar é fundamental:
quando o ventilador usa uma pressão demasiado • Saber porque é que o doente está ventilado e quais
elevada para entregar o volume corrente são os parâmetros, (ainda antes do transporte);
estabelecido. Pode ser causado por diversos fatores • Obter uma avaliação inicial do doente quando
(ex. broncospasmo, secreções, mordedura do conetado ao ventilador portátil antes de iniciar o
tubo traqueal, dobra do circuito externo, reflexo transporte;
de “gag”, tosse, hiperdistensão alveolar, volume • Monitorizar a performance do ventilador e da reposta
ou relação I:E inadequados).A causa mais grave do doente durante todo o transporte;
de pressão elevada é a migração do tubo traqueal • Verificar e documentar a permeabilidade da via
para o esófago ou o pneumotórax. Neste caso é aérea, a avaliação do estado respiratório, parâmetros
fundamental avaliar o doente de forma cuidada e e tempo de transferência.
implementar as intervenções apropriadas. Cumprindo escrupulosamente estas orientações
o transporte será seguro para o doente e para os
No caso de evacuações aéreas (os ventiladores operacionais.
pneumáticos não são exatos no voo) a utilização de
ventiladores portáteis deve restringir-se a ventiladores
eletrónicos. É essencial estar desperto para sinais
e sintomas de pneumotórax. Na transferência inter-
hospitalar de doentes com compromisso respiratório
grave o teste entre 15-30 minutos no ventilador de
transporte antes da partida pode ser a garantia de que
a mudança de ventilador será bem tolerada pelo doente.
Ventilação mecânica
87
TRANSPORTE DO
DOENTE CRÍTICO
88
SECÇÃO 4
CUIDADOS DURANTE
O TRANSPORTE
3. VENTILAÇÃO
NÃO INVASIVA
NO PRÉ-HOSPITALAR
Ventilação não invasiva
89
musculares
Mesmo sem gasimetria, existem sinais clínicos que,
se persistem após suplemento de O2 e tratamento Tabela 15
apropriado, indicam falência respiratória iminente e
necessidade de suporte ventilatório. *Nível de evidência (melhor=1 a pior=4) é baseado
na qualidade e consistência dos estudos científicos
publicados.
**Evidência muito variável de acordo com subgrupos de
doentes. Se há suspeita de pneumonia, principalmente
em doentes previamente saudáveis, devemos optar
pela ventilação invasiva ao mínimo sinal de falência
da VNI.
TRANSPORTE DO
DOENTE CRÍTICO
90
notas:
91
O EAP tem como principais efeitos O uso do CPAP no EAP tem os principais
fisiopatológicos: efeitos fisiológicos:
Figura 26 Figura 27
Tabela 18
TRANSPORTE DO
DOENTE CRÍTICO
92
notas:
Material:
• garrafa O2 ;
• capacidade para débito até 30 L/min;
• Máscara facial (oro-nasal) com válvula de Boussignac;
• Válvula expiratória: A máscara possui um orifício
central.
10 2,5 – 3,0
15 4,5 – 5,0
20 7,0 – 8,0
25 8,5 – 10,0
Figura 30: CPAP cmH2O
(>25) 30 > 10,0
O BCPAP é ideal para ser utilizado no pré-hospitalar porque: Necessita apenas de uma fonte de
O2 e um debitómetro de 30 Litros; Usa material descartável; É de fácil montagem; Tem excelente
portabilidade.
Ventilação não invasiva
93
notas:
DIAGNÓSTICO CLÍNICO
DE EAP Cardiogénico
Tratamento médico
(A) INICIAR
BCPAP
convencional
INDICAÇÕES BCPAP
• Respiração espontânea;
• Nível de consciência que permita
tossir e expectorar;
• FR> 25 cpm;
• SpO2 <95% com FiO2> 0,5;
RESPONDE
• Monitorizar;
• Manter tratamento;
• Transportar.
SUSPENDER BCPAP
notas:
Reavaliação e Transporte
BIPAP
Condições para BIPAP em Emergência Pré-Hospitalar
Com a exceção do edema agudo do pulmão cardiogénico, devemos fazer VNI sempre com BIPAP.
Neste capítulo é utilizado como exemplo o ventilador Trilogy-Respironics, por respeitar as caraterísticas
descritas. Podem ser utilizados outros ventiladores, e os parâmetros a regular podem ser ligeiramente
diferentes, ou ter outro nome.
Material: Utiliza-se o modo ventilatório S/T (spontaneous/
• Ventilador com modo BIPAP, que seja portátil e que timed): o ventilador fornece uma pressão positiva
tenha autonomia; maior na inspiração (IPAP) e menor expiração (EPAP);
• Máscara: facial (oro-nasal);
spontaneous porque é o doente que indica o início de
• Válvula expiratória: Na máscara ou no sistema que
cada inspiração (trigger inspiratório); timed porque se o
liga o ventilador à mascara.
doente deixar de ter estímulo (apneia) o ventilador entra
Parâmetros: em modo controlado (passa a iniciar cada inspiração
• Débito de O2 (L/min); de acordo com parâmetros escolhidos*).
• IPAP (cmH2O);
• EPAP (cmH2O);
• Rise Time (+ Respiratory Rate*, Inspiration Time*).
95
notas:
Reavaliação e Transporte
Alguns ventiladores calculam o valor das fugas. As fugas superiores a 25 L/min indicam problemas
no sistema. Perante esta situação deve verificar a adaptação da máscara, as conexões e defeitos
no material do sistema.
SECÇÃO 5
UM DESAFIO
97
TRANSPORTE DO
DOENTE CRÍTICO
98
SECÇÃO 5
1 UM DESAFIO
Um desafio
99
Com este capítulo pretende-se que através da Quais são os acidentes relacionados com a notas:
ATIVAÇÃO DE AMBULÂNCIA SIV PARA Existe algum problema de segurança que necessite
TRANSPORTE SECUNDÁRIO de resolução?
A existir este deve ser a prioridade ainda antes de
Tarde de verão atípica no Algarve, com chuva e fortes iniciar a abordagem da vítima.
rajadas de vento.
Uma Ambulância SIV é ativada para efetuar a Se estivesse perante uma situação com várias vítimas
transferência de uma vítima pré-afogada. como priorizaria abordagem das mesmas?
Masculino de 35 anos, assistido inicialmente e Utilizando o método START MODIFICADO preconizado
transportado por VMER ao Hospital de Portimão. pelo INEM, com o objetivo de identificar/categorizar
A transferência deverá ocorrer entre o Hospital de TODAS as vítimas seria possível identificar qual(ais)
Portimão e o Hospital de São José. A unidade que a(s) vítima(s) prioritária(s).
referencia o doente está a 20 minutos de distância.
Quais são os recursos previsivelmente necessários
Trata-se de um mergulhador, vítima de pré-afogamento, (humanos/materiais)?
de acordo com informação preliminar a vítima terá Depende essencialmente da condição da doente, os
sido entubada no local da ocorrência mas ainda assim dados disponíveis no momento não permitem identificar
apresenta problemas relacionados com a ventilação/ claramente as necessidades específicas do doente
oxigenação. Desconhece-se para já se há ou não mas depreende-se que a necessidade de transferência
trauma associado. para um hospital de terceira linha significa que não
estarão disponíveis todos os recursos necessários
para fazer face à situação clínica da vítima.
16h20
Status:
QUESTÃO 1 chegada ao local
A ATIVAÇÃO E A PREPARAÇÃO PARA
A ABORDAGEM À VÍTIMA
Uma vez chegado ao Hospital de Portimão, entra
Ainda dispõe de 20 minutos até chegar na sala de emergência conhece o enfermeiro, o
ao Hospital do Barlavento. Provavelmente anestesista e o cirurgião, que nesta instituição é
deverá querer recordar aquilo que o Team Leader.
aprendeu sobre a abordagem da vítima
de trauma. O anestesista já preparara o equipamento
relacionado com a abordagem à via aérea, incluindo
Quais são os aspetos organizacionais o ventilador. O cirurgião prepara-se para abordar
que necessitam de ser considerados? as lesões traumáticas, de acordo com as guidelines
do ATLS.
A dupla verificação deve ser entendido Como existe o perigo de perda da PEEP (com
com sinal de trabalho em equipa e não deterioração da oxigenação) durante a troca de
como um sinal de desconfiança! ventilador, como é que isto pode ser evitado?
Se a desconexão do ventilador/PEEP é inevitável (ex.
durante a troca e ventiladores), o tubo traqueal pode ser
clampado por um breve período no final da inspiração,
QUESTÃO 3 o ventilador desconetado e o novo ventilador conetado,
LESÕES QUE COLOCAM EM RISCO removendo-se de seguida o clamp do tubo traqueal.
A VIDA
Quais são as hipóteses que coloca quanto à O Team Leader quer prosseguir com a avaliação,
etiologia? qual é o próximo passo?
O edema do pulmão pode ser devido a: “C” – Circulação.
• afogamento; O ritmo cardíaco foi relatado com sendo fibrilhação
• aspiração de conteúdo gástrico; auricular (FA) desde o início da monitorização. A
• contusão pulmonar; resposta ventricular é de aproximadamente 140/min
• excesso de fluidos na reanimação volémica inicial;
e a PA sistólica é de 90 mmHg. No entanto, até este
• função cardíaca previamente comprometida;
• outra causa.
Um desafio
101
momento não há qualquer informação disponível Como deve ser estabilizada a vítima? notas:
acerca da história médica da vítima e o facto dele Agora que a equipa está razoavelmente confiante que
possuir (ou não) FA crónica. o doente não tem uma FA crónica, e que este é um
episódio agudo, que está a causar hipotensão num
Apesar da hipovolémia ser a principal causa de doente já sedado e conetado a prótese ventilatória.
hipoperfusão em vítimas de trauma, que outras Desta forma opta por realizar uma cardioversão
causas de compromisso cardíaco podem fazer sincronizada.
com que a FA se mantenha?
Considerar como diagnóstico diferencial a contusão Depois da cardioversão sincronizada o ECG revela
cardíaca, insuficiência cardíaca congestiva ou o um ritmo regular de 110 ppm e a PA Sistólica aumenta
pneumotórax. para 110 mmHg. O doente estará agora suficientemente
estável para ser transportado à sala de Imagiologia.
A vítima foi intubada no pré-hospitalar com recurso a
midazolam, cetamina e rocurónio, por isso a função Os exames radiológicos revelam uma hemorragia
neurológica é difícil de avaliar neste momento. No subaracnoídea, fratura de seis arcos costais à esquerda,
entanto, o tamanho das pupilas é simétrico. contusão pulmonar grave em ambos os campos
pulmonares, uma fratura aparentemente estável de
Que outra informação gostaria de obter do médico D12, fratura da escápula e glenoide esquerda.
da VMER acerca da vítima?
É necessário saber mais acerca do acidente, assim No caminho de regresso à sala de emergência, o
como informações sobre a história médica da vítima. estado hemodinâmico deteriora-se novamente,
com o ritmo sinusal a reverter para FA com uma
O médico da VMER explica que o condutor do barco frequência ventricular de aproximadamente 130/
baralhou-se com as mudanças enquanto manobrava o min e uma PA Sistólica de 90 mmHg. Para além
barco a motor. Em consequência disto, o mergulhador disso, um dos acessos ficou preso enquanto
de 35 anos caiu do barco para a água. Ele foi retirado se movia a maca e exteriorizou-se. Felizmente,
da água alguns minutos mais tarde. nenhum fármaco vasoativo estava a perfundir
nesse acesso.
O mergulhador não sofria de alergias, não tomava
regularmente qualquer tipo de medicação e não tinha A cardioversão deverá ser efetuada durante o
qualquer história médica significativa. Tinha tomado transporte?
pequeno-almoço algumas horas antes do acidente Dada a proximidade da sala de emergência, foi decidido
e à chegada da VMER apresentava uma dificuldade continuar o transporte e efetuar a cardioversão (elétrica
respiratória grave e um GCS de 12 (O-3; RV-3; RM-6). ou farmacológica) na sala de emergência.
16h50
Status: Dependendo da distância, do estado
No local he m o d inâmi c o d o d o e nte e d o s
recursos disponíveis, uma determinada
Foi efetuada uma radiografia de tórax que mostra intervenção pode ser apropriada durante
o tubo traqueal na posição correta, várias fraturas a transferência.
de costelas e um infiltrado bilateral difuso. No
entanto, não foi identificada qualquer causa
imediatamente tratável de insuficiência respiratória Como deve ser priorizado o tratamento das lesões
(ex. pneumotórax). O estado hemodinâmico identificadas?
deteriorou-se ainda mais. Depois da inserção de A abordagem deve ser discutida em equipa, pelo
uma linha arterial na radial direita, a PA Sistólica cirurgião, anestesista e o radiologista. A inexistência
é de 85 mmHg. de vaga em cuidados intensivos e a necessidade de
avaliação por neurocirurgião dita a necessidade de
transferência para um hospital central.
QUESTÃO 6
PL A N E A R A T R A N S F E R Ê N C I A , Qual é o hospital apropriado para esta vítima?
ESTABILIZAÇÃO DA DOENTE Uma unidade hospitalar que proporcione um nível de
cuidados adequados à condição clínica do doente.
Qual é o próximo passo para o diagnóstico? É fundamental considerar as capacidades médicas
Mais informação pode ser obtida por um TAC e o adequadas (ex. existência de intensivista dedicado;
cirurgião sugere que o doente deve ir neste momento a experiência da UCI em tratar doentes em fase de
à Imagiologia. desmame ventilatório, entre outros). Há evidência
A vítima está neste momento a ser ventilada com FiO2 que demonstra que centros que tratam certos grupos
de 100% e PEEP de 19 cmH20. A pressão de pico de diagnósticos com frequência (ex. vítimas de trauma
34 mmHg. A situação hemodinâmica não melhorou e o major), obtêm melhores prognósticos que os esperados.
doente precisa de ser estabilizado antes do transporte.
TRANSPORTE DO
DOENTE CRÍTICO
102
notas:
17h00 para tratar qualquer complicação que surja durante
Status: o transporte (ex. extubação acidental, deterioração
No local hemodinâmica ou outra).
103
notas:
1. VIA AÉREA ARTIFICIAL 8. PACEMAKER
Não 0 Não 0
Sim (tubo orofaríngeo) 1 Sim, definitivo 1
Sim (tubo traqueal ou traqueostomia recente) 2 Sim, provisório (externo ou endocavitário) 2
2. FREQUÊNCIA RESPIRATÓRIA 9. ESTADO DE CONSCIÊNCIA
FR entre 10 e 20/ min 0 GCS = 15 ou alterada por patologia prévia 0
FR entre 21 e 35 / min 1 GCS [9, 14] (de novo) 1
Apneia ou FR<10/min ou FR> 35/min ou
2 GCS ≤8 (de novo) 2
respiração irregular
10. SUPORTE TÉCNICO E
3. SUPORTE RESPIRATÓRIO
FARMACOLÓGICO
Não 0 Sem perfusões 0
Sim (Oxigénio) 1 Perfusões Grupo I: 1
Sim (Ventilação Mecânica) 2 Naloxona
4. ACESSOS VENOSOS Corticosteróides
Não / Obturado / Manutenção da via 0 Manitol a 20%
Acesso periférico com perfusão 1 Analgésicos
Acesso central 2 Dreno Torácico e/ou Perfusões Grupo II: 2
5. AVALIAÇÃO HEMODINÂMICA Inotrópicos
Estável 0 Vasodilatadores
Moderadamente estável 1 Antiarrítmicos
Instável 2 Bicarbonatos
6. MONITORIZAÇÃO DO ECG Trombolíticos
Não 0 Anticonvulsivante
Desejável (em doente estável) 1 Anestésicos Gerais
Sim (em doente instável) 2 Sedativos
7. RISCO DE ARRITMIAS TOTAL 14
Não 0
Sim, baixo risco 1
Sim, alto risco 2
SECÇÃO 6
BIBLIOGRAFIA
E SIGLAS
105
TRANSPORTE DO
DOENTE CRÍTICO
106
SECÇÃO 6
BIBLIOGRAFIA
107
Andrew N. Pollak editor. Critical Care Transport. Jones and Bartlett Publishers, Sudbury,
Massachusetts, USA; 2011
Azoulay E, et al. Palliative non invasive ventilation in patients with acute respiratory
failure. Intensive Care Med 2011; 37:1250.
Belway D, Henderson W, Keenan SP, Levy AR, Dodek PM. Do specialist transport
personnel improve hospital outcome in critically ill patients transferred to higher centers?
A systematic review. J Crit Care 2006
Cairo JM, Pilbeam SP. McPherson's respiratory care equipment. 8th ed. St Louis: Mosby
International; 2008
Crocker M, Cato-Addison WB, Pushpananthan S, Jones TL, Anderson J, Bell BA. Patient
safety and image transfer between referring hospitals and neuroscience centres: could
we do better? Br J Neurosurg 2010
Erik Lieshout, Kay Stricker, Patient Transportation, European society of intensive care
medicine, 2011
Fink M P, Abraham E, Vincent J.L and Kochanek P M (editors). Textbook of Critical Care,
5th Edn. Elsevier Saunders, Philadelphia USA; 2005
Gray A, et al. Non invasive ventilation in acute cardiogenic pulmonary edema. N Engl J
Med 2008;359:142.
Hinds CJ, Watson JD. Intensive Care: A Concise Textbook. 3rd edition. Saunders Ltd;
2008
Intensive Care Society, Guidelines for the transport of the critically ill adult, 2002
Jonathan Warren, et all, American College of Critical Care Medicine vol. 32, nº1,
Guidelines for the inter- and intrahospital transport of critically ill
Kristiansen et al. Journal of Trauma Management & Outcomes 2011, 5:9, Patients
Referred to a Norwegian Trauma Centre: effect of transfer distance on injury patterns,
use of resources and outcomes;
Marques A. Avoiding harm during intra- and inter-hospital transport. In: Chiche J-D,
Moreno R, Putensen C, Rhodes A, editors. Patient Safety and Quality of Care in Intensive
Care Medicine. Berlin: Medizinsch Wissenschaftliche Verlagsgesellschaft; 2009
Nava S, et al. Non invasive ventilation in respiratory failure. Lancet 2009. 374: 250.
Patients, 2004
Rouby JJ, Lu Q, Goldstein I. Selecting the right level of positive end-expiratory pressure
in patients with acute respiratory distress syndrome. Am J Respir Crit Care Med 2002
Singh JM, MacDonald RD. Pro/con debate: do the benefits of regionalized critical care
delivery outweigh the risks of interfacility patient transport? Crit Care 2009
SPCI, Transporte de doentes criticos, recomendações, 2008
Waldmann C, Soni N, Rhodes A, editors. Oxford Desk Reference: Critical Care. Oxford:
Oxford University Press; 2008
Warren J, Fromm RE Jr, Orr RA, Rotello LC, Horst HM; American College of Critical Care
Medicine. Guidelines for the inter- and intrahospital transport of critically ill patients. Crit
Care Med 2004
SECÇÃO 6
SIGLAS
111
BV IRpA SIV
Bombeiros Voluntários Insuficiência Respiratória Aguda Suporte Imediato de Vida
CODU O2 SPCI
Centro de Orientação de Doentes Oxigénio Sociedade Portuguesa de Cuidados
Urgentes Intensivos
OVA
CPAP Obstrução da Via Aérea SpO2
Continuos positive airway pressure Saturação periférica de oxigénio
PA
CVP Pressão arterial SUMC
Cruz Vermelha Portuguesa Serviço de Urgência Médico-Cirurgico
DC PaCO2 TAC
Débito Cardíaco Pressão parcial de CO2 Tomografia computorizada
ECG PAS VA
Eletrocardiograma Pressão Arterial Sistólica Via Aérea
EtCO2 RM
Fração expirada de dióxido de carbono Ressonância nuclear magnética
FA RVS
Fibrilhação Auricular Resistência Vascular Sistémica
FC RX
Frequência Cardíaca Raio X
TRANSPORTE DO
DOENTE CRÍTICO
TRANSPORTE
DO DOENTE
CRÍTICO
ISBN 978-989-8646-06-4
Versão 2.0
1ª Edição, 2012
9 789898 646064