Sem preconceito.
Perfil da Presidente da ABEME no
Estadão.
http://w w w .atenasonline.com.br/guia/sem-preconceito-perfil-da-presidente-da-abeme-no-estadao/ March 1, 2011
Ciça Vallerio
Acessórios eróticos seriam excomungados
tempos atrás. Hoje, já não causam tanto
furor. Prova disso é que o tema é explorado
em filmes e novelas. Em cartaz no cinema,
por exemplo, há a comédia De Pernas pro
Ar, estrelada por Ingrid Guimarães e que
alcançou a marca de 1,750 milhão de
ingressos vendidos. A atriz encarna uma
proprietária de sex shop que se mete em
várias trapalhadas com vibradores. A
sequência do longa já está garantida. Em
Passione, a personagem de Gabriela Duarte,
a fogosa Jéssica, era consumidora cativa de
fantasias sensuais, com direito até a
chicotinho – tudo para estimular o marido
Berilo, interpretado por Bruno Gagliasso.
“O preconceito está se dissipando, porém
falta muito para que as pessoas encarem
esse assunto com tranquilidade”, atesta a
publicitária Paula Aguiar, que assumiu em
setembro a presidência da Associação
Brasileira de Empresas do Mercado Erótico
e Sensual (Abeme), se tornando a primeira
mulher a conquistar tal cadeira. Ela lembra
bem das pedras no caminho no início da
expansão do mercado erótico, ramo em que
trabalha há mais de 10 anos:
– Ninguém queria o nome vinculado a
produtos de sex shop. Faltava profissional para fotografar acessórios, designer de internet para
elaborar os sites de venda e até provedor não aceitava hospedar lojas virtuais com esse perfil.
Como nem modelos topavam posar com fantasias sensuais para divulgar a roupa, o jeito era
escolher uma garota de programa bonitinha na Rua Augusta.
De lá para cá, muita coisa mudou. As mulheres se tornaram as principais consumidoras dos sex
shops e passaram a representar 70% das vendas. No comércio eletrônico, elas são pouco mais
do que os homens – 51%. Nas butiques de lingeries sensuais, onde os acessórios picantes ficam
num espaço reservado e discreto, a frequência feminina é maioria absoluta.
Aos 43 anos, a publicitária, casada e com dois filhos moços, virou referência no setor. Está à
frente de diversos estudos sobre consumo e tendência, além de um disputado seminário sobre
empreendedorismo realizado na Erotika Fair – feira que acontece em abril e outubro, em São
Paulo, e que oferece também atrações e vendas de produtos ao público em geral.
Comédia. No cinema, Ingrid Guimarães é dona de um sex shop
Novidades. Quem a vê de camiseta, bermuda e chinelo em Itanhaém, litoral sul, cuidando do
almoço com a empregada, não imagina sua ligação com o mercado erótico. Ao falar sobre as
novidades do setor, destaca o we-vibe: um vibrador anatômico que promete estimular ao mesmo
tempo o clitóris e o ponto G, e pode ser usado também na relação sexual. “Os brinquedos para
casal são a tendência.”
Paula entrou para o setor por acaso, no final dos anos 90, e conta que, antes de se acostumar
com o arsenal erótico, cogitou abandonar o trabalho. “Meu lado conservador não aceitava esse
mundo.” Fera em informática e comércio eletrônico, ela atuava como gerente de um provedor de
internet e professora voluntária de computação numa entidade filantrópica para idosos e pessoas
carentes. Um dia, um senhor a procurou. Queria dar de presente à namorada uma loja virtual de
produtos eróticos e precisava de alguém para desenvolver o site.
Durante a proposta, o visitante incauto abriu uma maleta repleta de acessórios eróticos. Pasmada
e constrangida, Paula o fez fechar a maleta rapidamente e o despachou ao marido, que é analista
de sistemas e assumiria a tarefa. Nem por isso se livrou dos produtos. A pedido do marido, ela
dava seus pitacos na criação da página virtual. A sua principal recomendação: não colocar
imagens pornográficas no site, um costume da época.
“Achava grosseiro e desnecessário”, conta. “Sempre acreditei, como mulher, que mais importante
do que as cenas de sexo explícito é investir na fantasia, no sensual.” Surgiram novos trabalhos e
Paula acabou aceitando o emprego numa distribuidora de produtos eróticos. Ficou sob sua batuta
a organização e o gerenciamento de todo o comércio eletrônico.
Para conseguir lidar com mais leveza com o mercado erótico, a novata decidiu encontrar o lado
“positivo” na infinidade de invencionices do setor. Voltou-se às lojistas e às histórias que
contavam. Descobriu casos de clientes felizes da vida porque salvaram o casamento ou fizeram o
marido largar de amante ao incluir acessórios eróticos na relação a dois.
“Comecei a orientar vendedoras a trabalhar positivamente os produtos, mostrando como usufruí-
los entre casal para apimentar a relação, independentemente da opção sexual.” Também se
arriscou como empresária. Com uma sócia, fabricou pétalas perfumadas, incensos e lançou uma
linha de lingeries sensuais. Teve, ainda, uma revendedora de produtos eróticos porta a porta, tal
como no filme De Pernas pro Ar. Chegou a trabalhar com 3 mil mulheres, mas não teve fôlego
financeiro e o negócio minguou.
Paula descobriu que administrar burocracia não é sua praia. “Valeu a experiência porque aprendi
muito.” A partir daí, passou a pesquisar o setor. Lançou a A.T.E.N.A.S, agência de notícias e
estratégia para negócios do ramo. Os números estão na ponta da língua.
Perfil nacional. A consumidora brasileira, por exemplo, compra em primeiro lugar os cosméticos
sensuais, que são óleos de massagens, excitantes e géis comestíveis. Desses, estão no topo os
produtos para sexo oral e o sabor campeão é o de morango. As brazucas têm perfil bem diferente
das norte-americanas. Enquanto as gringas pensam no próprio prazer e investem principalmente
em vibradores, as brasileiras querem melhorar sua performance e dar mais prazer ao parceiro.
“É cultural”, diz Paula. “Temos essa necessidade de agradar ao homem em primeiro lugar.”
Lingeries provocantes e fantasias também fazem parte dessa peculiaridade. Com a bagagem que
adquiriu, Paula lançou, numa tacada só, seis livros: dois volumes do SexShop.com – Guia de
Negócios, e quatro pequenos manuais que ensinam a usar e usufruir melhor os tipos de
vibradores mais vendidos no País: o rabbit, o realístico, o personal e o bullet. Alguns exemplares
ainda estão à venda em sex shops virtuais.
Dar mais visibilidade ao segmento e encabeçar sua regulamentação são, portanto, seus objetivos
na Abeme. Neste semestre, promete fundar a primeira sede da associação em São Paulo,
oferecer cursos e criar um departamento de auxílio ao consumidor. Não ganhará nada pois sua
função não é remunerada. Sua renda principal, aliás, não vem do setor. Autônoma, ganha criando
sites e campanhas com o marido.
“Só posso viver assim porque ele é um grande programador e dá tranquilidade financeira”,
confessa. “Mas espero poder me dedicar exclusivamente ao mercado erótico no futuro.” E já faz
planos de voltar a morar na capital.
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