Yanda Pan-Afrikanu - Ano I - #2-1
Yanda Pan-Afrikanu - Ano I - #2-1
A maioria negra no
Brasil pode ser vista
Como uma vantagem?
Por: Jomo Akanni (p. 8-9)
A Paz Quilombola
Mulher Preta,
e o Quilombismo
Mulher Preta,
Reflexões no Século XXI
Dialética Africana
Por: Abibiman S. Touré (p. 9-10)
F á b i o M a n d i n g o Fotografia de Maria Beatriz Nascimento
[17 de julho de 1942 - 28 de janeiro de 1995]
Página 2 – Editorial ,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,31 de julho de 2020 ,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,, ,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,, Yanda PanAfrikanu
EDITORIAL
O segundo número do Jornal Yanda Pan- com Maria Beatriz Nascimento (Brasil), o
EXPLICANDO O CONCEITO DE YANDA
fio condutor de um ideário Quilombola
Afrikanu sai às ruas no dia da mulher
pela paz; evocar a tempestade de lucidez
africana – 31 de julho. Essa data foi con-
do nosso sempre atual Marcus Garvey;
cebida no ano de 1962 após a Confe-
desbancar a imposição do gênero sobre
rência das Mulheres Africanas, realizada
as demandas africanas; traduzir a Ku-
em Dar-Es-Salaam (Tanzânia), uma das
jichagulia da renovação comunitária;
capitais internacionais do movimento
admirar a “Mulher-Maranhão” no ápice
Pan-Africanista no século 20. Nós, do
redentor das Equilibristas; fustigar o ra-
Yanda PanAfrikanu, estamos cientes de
cismo para retomar a força da vida sobre
que o Dia da Mulher Africana é simbólico,
a pandemia covidiana; questionar se há
uma data importante para reflexão, mas
vantagens de ser quantidade e de inte-
que em hipótese alguma pode ser o úni-
ragir com a nossa amada Senhora Amy YANDA quer dizer REDE em kimbundu,
co dia do ano em que a mulher africana é língua bantu concentrada no noroeste de
Jaques Garvey. Avançamos sobre o que
celebrada, como se faz na cultura capita- Angola, nomeadamente nas províncias de
elas empreendem no jogo dos livros e Luanda, Bengo, Malanje e Kwanza Norte, e
lista com o dia das mães, dias das crian- falada pelo povo Ambundu. A ideia para o
voltamos a Tanzânia, onde celebrarmos
ças, etc. Todos os dias são da mulher nome YANDA PANAFRIKANU partiu de
a ancestralidade da Maat-Mulher na ca- diferentes imagens de rede, tanto pela nossa
africana. Aproveitando-nos dessa data,
beça de um homem que fez a passagem. missão de uma construção política em rede,
indiscutivelmente relevante para a comu- entre filhos e filhas no continente africano e
O dia da mulher africana é o primeiro dia
nidade africana global, o Yanda PanAfri- na sua diáspora, para fortalecermos diálogos
da humanidade em seu berço civilizacio- e ações, como também na perspectiva de
kanu traz à tona a gênese da mulher uma rede que é lançada ao mar, buscando a
nal africano, na esfera do matriarcado.
africana no espírito da complementari- autonomia para pescarmos as nossas ideias,
31 de Julho é a data em que reafirma- identidades, culturas e alimentos. YANDA é
dade. Foi nessa evocação astral e política
mos a ordem sobre o caos. simultaneamente trabalho colectivo e traba-
que conseguimos estampar uma capa lho autônomo numa luta comum da negritude.
Os sacrifícios que os Negros fizeram pelas outras raças, são agora necessários em
nome de uma África que sangra¹
Marcus Mosiah Garvey*
Companheiros da Raça Negra, rido aos milhões em batalhas em nome da humanidade agora estão enfrentan- homem branco respeitará e cuidará de
saudação: dos homens brancos, precisamos en- do dificuldades em manter seu contro- um homem preto que não tem nada a
tender que temos apenas uma vida par- le sobre o sentimento do povo. As pró- mostrar sobre seu sucesso na vida, e o
Embora minha detenção me impeça a usar, e uma vez que essa vida pode- prias pessoas mudaram em seus senti- mesmo acontece com o homem amare-
de fazer muitas coisas para ajudar nos- ria ter sido usada na França, em Flan- mentos e perspectivas. Essa mudança é lo. Todos os homens devem emergir e,
sa causa, é meu dever enviar ocasio- dres, para a salvação de uma raça que chamada de revolução, e que um dia no sucesso geral, haverá uma aprecia-
nalmente palavras de encorajamento a não é a nossa, devemos ser sensatos o entronizará o domínio das massas e ção de todos.
meus irmãos em todo o mundo, que lu- suficiente para perceber que, se é para destruirá o privilégio das classes. Na Todos os pretos devem, portanto, in-
tam pela sua humanidade e pelo direito haver um sacrifício da vida, primeiro medida em que essa revolução estende gressar na nova revolução que busca
à liberdade. daremos essa vida à nossa própria cau- seu escopo às várias raças, devo dizer colocar a mente do homem no reino da
Esta é a era das ações úteis, e cabe a sa. que o Negro não pode se dar ao luxo elevação racial e destruir o monstro
todos os Negros ajudar seus irmãos a África, África que sangra, está pedindo de ficar em silêncio ou parado, ele hediondo do pensamento escravo. Ser
explorarem mais plenamente as opor- o serviço de toda mulher e homem Ne- também deve rebelar-se contra as um revolucionário de sucesso não sig-
tunidades da vida. Agora é a hora de gro para resgatá-la da escravização pe- ideias servis e subservientes do passa- nifica que você deve usar a espadas e a
todos nós, companheiros, nos unirmos lo homem branco. Todo o sacrifício do. A revolução sem sangue da socie- armas, mas usar as faculdades da in-
e ajudarmos na difusão das doutrinas que precisa ser feito, portanto, será do dade branca ensinou aos povos oprimi- vestidura de Deus e elevar-se ao mais
da Associação Universal para o Pro- Negro, pelo Negro e por mais nin- dos do mundo como se organizar e co- alto patamar possível para o homem.
gresso Negro. Temos que utilizar toda guém. Quer estejamos da América, Ca- mo agir. Não existe uma revolução tão Portanto, vamos unir nossas forças e
energia que possuímos para resgatar os nadá, Índias Ocidentais, América do bem-sucedida quanto a do triunfo do fazer uma corrida desesperada pelo ob-
milhões de nossa raça que estão dis- Sul ou Central, ou mesmo na África, o pensamento livre sobre as ideias escra- jetivo do sucesso. E agora que come-
persos. Não há tempo a perder com chamado à ação é exclusivamente nos- vas. O Negro tem sido escravo das çamos a progredir nos unindo, não
coisas tais como leste, oeste, norte ou so. As crianças dispersas da África não ideias do homem branco há trezentos poupemos esforços para seguir em
sul. A questão do Negro deve ser a úni- conhecem outro país, a não ser a sua anos, e chegou a hora de imitar as frente.
ca questão para nós. Permanecemos querida Pátria e Terra-Mãe. Podemos massas da sociedade branca e execrar
divididos por tempo suficiente para progredir na América, nas Índias Oci- a realeza e os privilégios. Tenho a honra de ser seu servo obe-
percebermos que nossa fraqueza como dentais e em outros países estrangei- Que todo Negro pense na revolução diente,
raça é causada pela nossa desunião. ros, mas nunca haverá nenhum pro- que um dia varrerá o continente Afri-
Não podemos mais permitir que o ini- gresso duradouro até que o Negro faça cano. Vamos sonhar e também planejar Marcus Garvey
migo penetre em nossas fileiras. Preci- da África uma república forte e pode- este dia. Certamente chegará o tempo
samos “cerrar fileiras” e assumirmos rosa o bastante para proteger o sucesso em que todos os homens cumprimenta-
por todo o mundo que: ou teremos ¹ Editorial do The Negro World, periódico
que obtivermos em terras estrangeiras. rão uns aos outros como irmãos, mas
total liberdade e democracia, ou mor- oficial da UNIA, do dia 04 de setembro de
O conflito de ideologias entre nações e esse tempo significará a ascensão uni- 1926. Edição: Vol. XXI Nº 04. Nova Iorque,
reremos lutando para obtê-las. A salva- raças está causando uma revolução en- versal do homem, quando homens pre- sábado, 4 de setembro de 1926.
ção de nossa raça depende da ação da tre os homens. As classes reais e privi- tos, amarelos e brancos, todos em seus * Marcus Garvey – Fundador e Presidente-
geração atual de nossos jovens. Nós, legiadas de ociosos que costumavam respectivos termos, se gabarão de seu Geral da Associação Universal para o
companheiros que poderíamos ter mor- tiranizar e oprimir as hordas humildes sucesso e de sua civilização. Nenhum Progresso do Negro.
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Embora perpetua-se até os dias atuais zes. A sexualidade sem os dogmas oci- bloqueia essa conexão, está fadada ao conta de toda uma aldeia, tribo, comuni-
perspectivas socioculturais e análises dentais é vista como fator de equilíbrio fracasso. dade, etc.
ocidentais sob a nossa cultura, precisa- de várias culturas milenares, como as Na aldeia Dagara, de acordo com o livro E mesmo os anciãos e conselheiros, que
mos dar nome as coisas, porque isso é inúmeras presentes no continente afrika- O Espírito da Intimidade de Sobonfu possuem um papel fundamental no equi-
epistemicídio. A proposta é de resgate. E no e também em territórios indígenas. A Somé, essa conexão só é possível atra- líbrio da comunidade, solicitam a ajuda
é nesse processo de nos afrikanizar que bíblia, com seu comportamento incivili- vés dos guardiões, pessoas que seriam espiritual dos guardiões para acessar os
precisamos compreender com cautela zado e fundamentado na cultura ociden- rotuladas aqui no ocidente como homos- portões e apoio em seus rituais.
toda história milenar que o nosso povo tal, tentou moldar o nosso comporta- sexuais. Os guardiões possuem ligação Não existe segregação homossexual em
construiu antes das colonizações. Nós, mento enquanto um povo alcalino e com o mundo físico e os portões espiri- uma comunidade. E diferente do oci-
enquanto comunidade preta, somos res- parte da coletividade no que relaciona a tuais da comunidade. Vivem no “limite” dente, o termo “gay” ou “lésbica” não
ponsáveis por cuidar e preservar o nosso essa questão. Tanto em África como nas dos dois mundos e tem o poder de trazer existem.
povo, e tudo que provém de nossa an- Diásporas visualizamos o modo de ope- a paz com a espada da verdade e inte- Além de não serem rotulados negativa-
cestralidade. É necessário dar continui- rar do ocidente definindo nossas identi- gridade. Justamente por estar entre os mente, também não são vistos como di-
dade ao nosso legado reeducando-nos dades físicas, espirituais e culturais, to- dois sexos. ferentes.
racialmente e colocando Áfrika no epi- do esse processo causado pela suprema- Todo homossexual é um guardião? Não. Pois em comunidade, não se define as
centro da nossa caminhada. cia brankkka causam grande confusão, Ser guardião não é definido pela orien- pessoas por orientação sexual. O
Ao olhar para o contexto histórico da principalmente, pelo distanciamento dos tação sexual, mas anunciado antes mes- importante é o seu papel dentro dela.
Maafa (holocausto africano) e todo o nossos valores tradicionais relacionados mo do nascimento da pessoa, por fazer
processo de invisibilidade física, históri- ao modo de nos definirmos e enxergar- parte do seu propósito de vida.
ca e cultural que ela causa, percebere- mos enquanto povo. Se estiver no Odu (destino) da pessoa
mos os caminhos que percorremos num Toda sexualidade tem como fundamento ser um guardião, mesmo diante da con-
modelo de alienação e as inúmeras ve- a espiritualidade. E se tirado de contex- firmação, existe o processo de iniciação *Organização comunitária e pan-africa-
zes que acabamos por nos minimizar to, torna-se algo controverso e passível rigorosa. É necessário assegurar que o nista – De Pé Raça Poderosa. Organiza-
para cabermos dentro do mesmo com- de exploração. Uma comunidade que poder que lhe é garantido, não seja mal ção fundada em Janeiro de 2018, na ci-
portamento praticado pelos nossos algo- não valoriza os portões espirituais ou empregado. Afinal, um guardião toma dade de Belo Horizonte/MG.
A autodeterminação é vital para com suas metas, vendendo o ouro após o arco-íris em riedade de fazer política ao que seja interessante so-
relação ao ingresso à universidade e o estado, algo que mente a nós mesmos.
toda criação humana. Não é, de forma geral, inacessível para a maioria de nós, foi Não há mais tempo e energia para se gastar com a in-
podemos partir de uma condição desenhado para ser assim. E quando vemos uma pessoa tegração, não há mais pontos a se considerar. Temos
preta lutar pela ressignificação de conceitos brancos também que responsabilizar e repelir essas narrativas
sujeitada pelo racismo, dentro do estabelecidos, por um quartinho na casa-grande, isso já derrotistas, mendicantes da nossa comunidade, porque
neocolonialismo, que limita o deveria ser interpretado como um atestado do embran- em grande medida, isso não vai ajudar na nossa ima-
quecimento, atestado da mucamagem, eles são escra- gem. Afinal, quem nunca ouviu dessas pessoas a ex-
nosso processo criativo, a nossa vos da casa gourmet. Afinal, acham mesmo que estaria pressão “África mítica”, quando falamos sobre pan-
existência e o nosso propósito. dentro da casa-grande senão fosse o mais assimilado? africanismo, nacionalismo preto, afrocentricidade, gar-
Não existe essa de “a casa grande surta quando a sen- veyismo e mulherismo africana?
Sim, nós temos escolhas e zala aprender a ler!”. Primeiro porque senzala tá den- Precisamos concentrar nossa energia, tempo e dinheiro
arcaremos com os custos delas, tro da jurisdição da casa-grande, o combate a casa- no quilombo, na capoeira, no candomblé, no samba…
grande se dá nos quilombos! O quilombo é a alternativa Recuperar o que é nosso vai depender de desaprender o
gostemos ou não! autodeterminada de existência. A casa-grande só vai branco e (re)aprender o preto. Ao nível de não pre-
surtar mesmo se a senzala botar fogo, o diálogo se dá cisarmos colocar “preto” depois de nenhum conceito
pela destruição e só. Porém, quantos de nós querem para poderem saber que é nosso. Já estará explícito e
“Para controlar um povo, você deve primeiro queimar a casa-grande? E quantos de nós não quererem implícito que ali vai dar ruim se alguém chegar atraves-
controlar o que ele pensa sobre si mesmo e como aprender a ler para pode servir a eles? sado.
ele considera sua história e sua cultura. E quando Como uma pessoa preta consegue enxergar possibilida- Não queremos dólares pretos. Não queremos francos
o colonizador fizer você se sentir envergonhado de des primeiramente a partir da bandeira brasileira senão pretos. Não queremos ser afro-brasileiros, não quero
sua cultura e sua história, ele não precisará de pelo embranquecimento subjetivo, pela desvalorização uma esquerda preta, não quero um capital representa-
da sua própria cultura e história? Estadunidense? Fran- tivo. Queremos Ujamaa! Queremos Umoja! Qual a pra-
paredes de prisão, nem correntes, para segurá-lo.”
cesa? Inglesa? Belga? Portuguesa? Sem ao menos se ticidade de se reivindicar uma Barbie preta? Se as for-
[John Henrik Clarke] inteirar do que se trata a bandeira da unidade africana. mas que se representava a estética entre nós era dife-
Como podemos nos orgulhar de fazer parte da cons- rente? Alguém aí realmente quer emular uma feminili-
trução de identidade dessas nações sendo que elas são dade branca? A sua masculinidade tá baseada no cris-
Na medida que identificamos posturas disfuncionais antíteses da nossa existência do começo ao fim? Por tianismo? Sério que ainda queremos servir aos exér-
dentro da nossa comunidade, geralmente ligadas ao que alguns de nós tem mais disposição para reivindicar citos deles? Representatividade negra na marinha ame-
embranquecimento, podemos identificar a visão distor- negritude dentro de espaços brancos ao em vez de pri- ricana? Mulher negra na aeronáutica americana? O tiro
cida que temos de nós mesmos. Essa visão, perspectiva meiramente se alocar em seus espaços pretos? Como dela será diferente nas nossas comunidades? Vamos co-
e inconsciente coletivo é construído através da absor- funciona essa lógica de se descobrir preto dentro da memorar os pretos na CIA espionando os nossos tra-
ção de conteúdos audiovisuais, violência, assédio, ex- universidade branca e não conseguir dialogar com or- balhos e defendendo a harmonia do ocidente? Até
ploração dentro de conceitos estabelecidos que nos sub- ganização preta autônoma? Como funciona dialogar quando uma pessoa preta valerá mais pelo que ela tem
valorizam enquanto pretos, ao passo que hipervalori- com a igreja e não com a capoeira? Por que acham cult de branco à disposição? E não pelo compromisso que
zam o branco, seja estética, ética, espiritual e filosofica- os progressistas e ficam tratando de forma pejorativa e ela tem por estar envolvida em iniciativas pretas autô-
mente falando. pelos cantos os pretos radicais? A ideologia, o com- nomas de viver?
Isso pode ser ilustrado inclusive naqueles exemplos que portamento que você leva a frente, tem apoio do bran- Kujichagulia é um dos valores mais importantes que
são vendidos pelos canais de mídia branca, como os co, do judeu, do árabe, do chinês, do nipônico, etc., e temos como base e podemos ter certeza que qualquer
nossos irmãos de mais valor, as “quebras de paradig- isso não te revela nenhum sinal a que caminho você coisa autodeterminada é melhor que toda quantia de
ma” (só que não né!?), valor esse que é medido pela está seguindo? Se você se descobriu preto a partir da dinheiro ou condecoração deles. A ruptura com esse ti-
quantidade de embranquecimento que esse preto possa antítese do que é ser branco. Tudo o que fizer partindo po de postura embranquecida é necessária para ontem.
performar. Seja na forma material escolhendo a misci- dessa premissa será embranquecido e em grande medi- Você não precisa saber de qual etnia você era origi-
genação, seja de uma forma subjetiva, na medida que da os seus problemas, suas soluções, suas ambições, nalmente em 1500 para saber que carregar um nome
uma pessoa preta consegue fazer se parecer branca na seus desejos, seus impulsos e seus discursos, vão partir persa e hebreu é um prejuízo.
sua linguagem, no comportamento, na postura, na cul- deles e daquilo que em alguma medida dialogue com Mude já a sua postura, arque com os custos! Assuma as
tura com a qual ele se identifica e gasta seus recursos, eles. responsabilidades, se organize coletivamente e tenha
seja tempo, energia ou dinheiro. Não coincidentemente A forma como nos definimos está intimamente ligada a um propósito, um programa político autodeterminado
a maioria dos pretos que estão envolvidos com gente forma como nos portamos nesse mundo. E a (re)cons- para levar a frente e saberá que nunca esteve tão certo
branca e em locais brancos conseguem valer por 10 trução da nossa visão de mundo a partir da nossa cul- na vida. Ainda que não colha os frutos de seu trabalhão
brancos quando estão fazendo militância esquerdista, tura e experiência histórica é inegociável, nosso direito nessa vida.
liberal, feminista, flertes absurdos com a meritocracia e de estar exclusivamente entre nós, a partir de algo nos-
o positivismo pelo público que eles pretendem atingir so, sobre nossos termos e condições, e com a arbitra- *Matheus Omowale, bartender e cozinheiro autônomo.
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Aos 24 anos em concurso público se destaca Dizia, o quanto o mundo hostil a oprimia
Torna-se a primeira professora daquela cidade Chorava, a sua e a dor do próximo
Já escrevias uns verso, poetisa de habilidade E então, quer fez das lágrimas sacerdócio
Pouco tempo depois, 1959 Sua participação na sociedade é constante
O livro Úrsula é publicado e a todos comove Na comunidade seu nome é importante
Mostrando seu posicionamento idealista Certo dia, mulheres cativas
Contra o sistema escravocrata uma abolicionista Perguntaram se um auto de boi ela escrevia?
Engrandece na sua obra a alma da pessoa preta De pronto, foi feito, cantando, encenado
Revive em memória, uma África cheia de belezas Mesmo sendo prisioneiras o boi foi brincado
Enquanto isso no seu dia a dia, assume seu posto Em 1880, se aposenta do ensino público oficial
Mulher intelectual, matriarca de seu povo Mas continua educando, sabia, educação é fundamental
Achou muito? Tem mais! Vou te falando Funda sua escola, briga, pra seja mista
Maria Firmina, dessas nossas heroínas, passa um pano Educando igualmente meninos e meninas
1860, é notória sua presença Uma revolução social pela educação
Na imprensa, seu nome aparece com insistência Pioneirismo subversivo, seu legado e contribuição
Sua poesia, reconhecida por seus contemporâneos 1887, escreve o romancete A Escrava
Enquanto isso ia adotando, crianças que na sua porta ia De ponto de vista abolicionista cartilha engajada
chegando Viveu pra ver o fim da escravidão
Uma maranhense Órfãos, filhos de mulheres escravizadas E pra ocasião, compôs o Hino da Abolição
Diop Kemet Menelik* Seus filhos do coração, como ela mesma falava Ela era o movimento negro, a força da mulher negra na
Continua a produzir, as letras paixão e arma vida
Ia vencendo os preconceitos por ser mulher letrada Um abraço de mãe, um prato de comida
Nasceu em São Luís, Maranhão Com posição e opinião, lançou seu livro de poesia Ao seu redor, juntava o povo pra externar seu pesar
1823, pros lados da são pantaleão Contos a beira mar, mais uma conquista Mostrar seu sorrir, seu dançar seu cantar
Mulher, preta, destinada a grandeza Olhando a baia de Cumã, aonde morreu Gonçalves Como não há verdade que fique pra sempre escondida
Que só a história com fortaleza alimenta Dias É resgatado seu legado sua obra sua vida
Sua mãe alforriada, seu pai livre também era então Ponto de encanto aonde cantava seus versos Maria E hoje pras crianças nós ensina
Estamos revivendo, o tempo, diante da escravidão Firmina Que ela morreu, em Guimarães, com mais de 90
Aos 7 anos, mudasse pra Guimarães, na baixada Via a mansidão do mar, a claridade daquele luar admirada e querida.
E é naquelas terras que escreverá sua saga E os pretos na senzala, canção chorosa, triste penar
Leitora voraz, competente, esforçada Sofria, o peso da sociedade escravista *Diop Kemet Menelik, escritor, poeta e pan-africanista.
Equilibristas
Dos becos as ruas Suposta, que ela nunca teve E a minha gera² se contenta
A realidade é crua Seu governo só gera a revolta Com a frase vamos fazer mais como?³
A vida é dura Nunca cumpre o que deve
Mutuh Nyaneka Faz dessa alma pura E quando ganha a sua aposta Não é nada bonito
Todo sofrimento atura Kassumbulam o que obteve Não tem nada artístico ou plástico
Como soldados para Do sofrimento fazer musiquinhas
concluir a formatura … De um destino trágico
Há muitos engraçadinhos
É longa a caminhada É mãe é filha Dançando com som desse choro
Pelas ruas de Luanda É tia é sobrinha O grito delas sustenta vidas
Quilometragem incalculável, É negócio de família Mas há espertinho a que os torna em couro
ao longo dessa estrada Ganha pão da minha vizinha Da parteira da vida
São guerras travadas É choro é gritaria Tiram-lhe a alegria
Batalhas enfrentadas É chão é correria Botam-na avenida
Derrotas apagadas Música e melodia A extrema agonia
Vitórias são guardadas, Nós ouvidos de quem caminha Só tem na voz ouvida
revividas, lembradas e fixadas Uma luz que alumia
Na galeria das suas almas O aparelho do estado E o fim da lágrima vertida
De onde vem a força Multiplica os gatunos Vem com nascer do novo dia
Esforço e reforço Prendendo zungueiras
Não apenas do músculo, Que alimentam alunos
mas também dos ossos Produzem esfomeados Glossário:
Que garante a janta, Que dá luz à noturnos
matabicho e almoço Matabicho: Café da manhã.
Que saem babados
Aiz: Sozinho.
Com firmeza no tronco A serviço no seu turno Kassumbulam: Recebem.
e habilidades do pescoço Que acabam no quadrado Zungueiras: Mulheres ambulantes.
Kabomba: policial.
Ao longo das vielas, É mãe em desespero Pero: sexo, nesse caso específico, um abuso
verdadeiras andarilhas Na cabeça só transtorno sexual.
É mãe é filha Sua auréola é a rodilha O kabomba quer dinheiro Porno: diminutivo de pornografia.
É tia é sobrinha Em bando ou em aiz A mãe almeja do filho que ¹Cena: diminutivo de cenário ou situação.
É negócio de família Encaram lobos em matilhas a casa faça o seu retorno ²Gera: diminutivo de geração.
Ganha pão da minha vizinha Mas para frente, caminha Sem dinheiro só com pero ³Com a frase vamos fazer mais como?³:
É choro é gritaria Como sempre, caminha É o cúmulo do suborno frase que denota conformismo.
É chão é correria O que digo não é exagero
Música e melodia O kandengue nas costas É só amostra do filme porno
É o seu fardo mais leve Mutuh Nyaneka – Pan-Africanista e
Nós ouvidos de quem caminha Essa cena¹ me esquenta
Educação é a proposta membro do Colectivo Muxima na
Mais que pão no forno Diáspora e da UCPA.
Ainda existia vida para viver OITO DIAS gas, o que viveram até ali, o que ainda mas quando ela nos alcança só fica a
viveriam. solidão. Mas as pessoas que dançavam,
Janete Marques*
Dias depois minha irmã me contaria que Do meu leito tinha a visão de três pa- bebiam, curtiam a vida do lado de fora
naquela semana leu no horóscopo que o cientes. Não sei porque vi meu pai na- seguiam festejando alheios a toda aquela
signo de Câncer passaria por um proces- quele vovozinho. Pensar no meu pai foi realidade.
so de reclusão, tendo que se afastar de bom, uma lembrança liberada. O vovo- Essa experiência só veio reforçar minha
todos por um tempo para estar consigo zinho recebeu alta e meu coração ficou crença no ser humano. Além de todas as
mesmo e que teria grandes aprendiza- em alegria. Depois veio D. Júlia, com vibrações positivas que recebi de fami-
gens. E assim foi. Oito dias dentro de dificuldade para respirar e carregando liares, amigos próximos e nem tão pró-
um hospital. Seis dias na UTI. Sim, sou uma tristeza inestimável no olhar. Ao ximos assim, que fizeram toda a diferen-
mais uma pessoa nesse mundão de meu longo dos dias a falta de ar foi embora, ça na minha recuperação, teve o apoio
Deus que teve COVID-19 e que ainda mas a melancolia não. Por aqueles cor- que recebi de pessoas desconhecidas.
está por aqui para poder contar essa his- redores vi uma menina de uns quinze Nesses oito dias vi empatia, sensibili-
tória. Não pretendo romantizar esse mo- anos voltando a caminhar. Foi um susto dade, afetividade em doses cavalares. Se
mento. Longe de mim. Mas preciso es- ver alguém tão novo ali, mas depois fi- tem gente boa no mundo? Nunca tive
crever para completar meu processo de quei sabendo que ela não era a única. dúvida. E digo mais, é a maioria. Nunca
cura. Nossos olhares se encontraram rapida- tive muita paciência pra gente que não
Sempre gostei de me ver como uma mu- mente e aconteceu algo, tinha uma men- gosta de gente, que desiste do outro e
lher destemida. Ao enfrentar meus me- sagem que ficou no ar. Numa manhã S. por consequência de si mesmo. O que
dos gostava de imaginar a emoção de José que permanecia vivo com o auxílio aquelas pessoas fizeram por mim não
uma montanha russa: o frio na barriga do respirador, abriu os olhos, mas a al- tem preço e vai muito além do profis-
Olá! Sou Janete Marques, mulher negra no começo, o prazer durante o percurso ma ficou em algum lugar. De vez em sional. Além dos medicamentos, foram
latina americana, diaspórica, contadora e no final aquela satisfação. Mas dessa quando vinha um médico e o chamava. palavras, gestos, atenção, um celular pa-
de histórias e escritora (faz pouco tempo vez foi muito diferente, não tinha a no- Eu do meu canto vibrava para que ele ra uma videochamada com a família e
que assumi a coragem de me apresentar ção real para onde estava indo e o que voltasse. Ainda existia vida para viver. tudo isso fez com que a solidão não pe-
como escritora). Eu amo contar histó- encontraria. Adentrar aquela UTI foi Porém, a alma ainda vagava. Para outros sasse tanto. Sou toda gratidão. Agora, é
rias. Ao sentar em roda para uma narra- aterrador. Estava consciente, poderia en- era o fim mesmo. Uma história sem um preciso devolver ao universo todo ca-
tiva, sinto que estou conectada com mi- trar caminhando se quisesse, mas des- desfecho. Imaginava a dor daqueles fa- rinho recebido. Sinto urgência em fazer
nha ancestralidade. Sou mãe de duas confio que se tentasse não conseguiria. miliares sem nem poder velar seus mor- o bem e em continuar tentando ser a me-
meninas. Ao ver a relação das minhas fi- Vi a face de todos os meus maiores me- tos. No dia mais difícil pra mim, psico- lhor versão de mim mesma.
lhas com o mundo da leitura, imaginei dos de perto, com direito a lente de au- logicamente falando, conheci uma se- Foram oito longos e dolorosos dias, que,
que elas poderiam ser personagens de mento e tudo. E não foi nada legal. Quis nhora cheia de vida que me encheu de com certeza, não serão esquecidos tão
uma história. E foram. Foram às perso- chorar e não foram poucas as vezes. esperança. Olhos grandes transbordando cedo. Quero ficar com a imagem da ja-
nagens do meu primeiro livro infantil: Mas tinha a convicção de que se a pri- alegria e muito amor pelas suas netas e nela da enfermaria, daquele jardim que
Um livro pra Nini… Um livro pra meira lágrima rolasse não conseguiria filhos. Sabe aquela pessoa que te con- me encheu de esperança por dias melho-
Nana… (2019). Neste ano fui selecio- mais parar. Então, não me permiti o vida para um abraço? No dia da minha res. Virar a página e viver, viver plena-
nada pela Festa Literária das Periferias pranto. alta trocamos um “boa sorte”. mente. No dia de voltar para casa o céu
(FLUP 2020) para compor um grupo de Logo no primeiro dia percebi que se Teve uma tarde que o ambiente foi in- era azul, as nuvens convidavam à imagi-
210 mulheres negras. Estamos escreven- quisesse sobreviver psicologicamente vadido por música. Perto do hospital nação e eu só queria a poesia que pudes-
do um livro em formato diário, de forma àquela experiência teria que bloquear tinha festa. Naquele momento não exis- se descrever a beleza que é a luz do sol
coletiva e colaborativa, a partir da relei- lembranças e a saudade que sentia dos tia gosto musical, era música que expul- tocando a verde folha.
tura da obra de Carolina Maria de Jesus, meus familiares e amigos. Foi o que fiz. sava aquele zunido angustiante do moni-
O Quarto de Despejo. Como não podia viver as minhas me- tor cardíaco. Foi um alívio! Mas fiquei
Mas hoje, quero compartilhar com vo- mórias, a contadora de história que habi- ali matutando sobre a contradição em
cês, Oito dias, a história do número de ta em mim pôs-se a imaginar as narrati- tudo aquilo, as pessoas estavam que- *Janete Marques é mulher negra latina america-
dias que fiquei internada no hospital me na, mãe, escritora, contadora de histórias, educa-
vas dos pacientes que me cercavam. brando o isolamento, fazendo festa ao dora infantil, graduada em licenciatura em his-
tratando da infecção por Covid-19. Uma Pensar naqueles personagens: quem lado de um hospital de campanha. A Co- tória pela Universidade Federal do Recôncavo
escrita para ecoar às dores e silêncios eram, quem esperava por eles, eram vid é a doença da coletividade, afeta o da Bahia (UFRB), que é considerada a univer-
que me habitam, para curar e (re)existir. mães, pais, tios, padrinhos, filhos, ami- coletivo, precisa de ações do coletivo, sidade mais negra do Brasil.
Toda essa longa introdução é fundamen- mais constante da história colonial das livres, embora passíveis de escravidão”. imediatamente no Maestro KL Jay fa-
tal porque foi justamente o esforço Américas, desde que os primeiros afri- [6] lando no disco do DMN, “aê rapa,
empreendido pela UCPA ao lançar as kanos foram trazidos pra esse continen- aqui, é um dos poucos lugares onde a
Obras Completas de Beatriz Nascimen- te até os dias de hoje. Com uma percepção fantástica em que gente se sente livre… aqui a gente se
to, que me permitiu ter contato aos 43 É por entender dessa maneira, que o alia a imensa competência enquanto his- sente livre, mas lá fora não é tão bem
anos de idade, e 24 anos após a morte pensador militante Abdias do Nasci- toriadora e uma intuição pessoal afiada, assim…”, ou Matheuzza falando no iní-
da autora, com o conceito de “Paz Qui- mento vai propor o Quilombismo en- Beatriz Nascimento aponta pra o que se cio de um evento na Winnie Mandela,
lombola”, e que me motivou a buscar quanto perspectiva de centralidade afri- configura como um dos grandes vazios “Boa noite a todos, aqui estamos em
compreender um diálogo possível entre kana a partir da experiência afro-brasi- da historiografia sobre as populações território afrikano”, ou Rosemeire di-
a “Paz Quilombola” e o conceito do leira: afrikanas no Brasil, sem deixar de ana- zendo no Quilombo Rio dos Macacos,
“Quilombismo”, do mestre Abdias do lisar os motivos pra que essa lacuna se num daqueles dias em que a Marinha
Nascimento, que inclusive teve relança- “Condenada a sobreviver rodeada ou estabeleça, esquece de massacrar a comunidade,
da recentemente pelo IPEAFRO, a obra permeada de hostilidade, a sociedade “fiquem à vontade meus irmãos, aqui é
em que estabelece e consolida o concei- afro-brasileira tem persistido nesses “…o Quilombo é um momento histórico nossa terra”.
quase quinhentos anos sob o signo de brasileiro de longa duração e isto gra-
to. Prontos pra a Guerra, em paz entre os
permanente tensão. Tensão essa que ças a esse espaço de tempo que chama-
O diálogo proposto se insere na pers- nossos.
consubstancia a essência e o processo mos de ‘paz’, embora muitas vezes ela
pectiva da necessidade visualizada por do Quilombismo”.[2] não surja na literatura existente. Creio Fazendo do tempo vivido, o tempo da
Lélia González de dar as “nossas que se o escravo negro brasileiro tivesse liberdade possível, construindo um por-
contribuições específicas ao mundo Essa perspectiva não é portanto contem- podido deixar um relato escrito, com vir ampliado, sem perder de vista com o
pan-africano”,[1] e como vem junto plação estática ou teorização idealista da certeza, teríamos mais fontes da ‘paz’ Mestre Abdias do Nascimento, que Qui-
com a perspectiva de troca de ideia com realidade. É pulsão de sobrevivência em quilombola do que de guerra”.[7] lombo e Quilombismo são termos de
o irmão-malungo Allan da Rosa em suas luta e atenção permanente contra o sis- guerra e de disputa,
percepções, provavelmente vai ser um tema escravocrata de supremacismo Beatriz estabelece a sua pesquisa sobre
pouco mais breve que a própria introdu- as experiências quilombolas no Brasil e “Há de se consolidar uma teoria cientí-
branco. Entretanto, como Abdias não
ção. suas ligações com as origens angolanas, fica inextrincavelmente fundida à nossa
deixa de apontar, o Quilombo é antes de
tendo inclusive ido a Angola na busca prática histórica que efetivamente con-
tudo uma perspectiva civilizacional: tribua à salvação da comunidade negra,
Paz na Guerra, o desafio quilombola “Como sistema econômico o quilombis- de aprofundar essa pesquisa estabele-
a qual vem sendo inexoravelmente ex-
mo tem sido a adequação ao meio bra- cendo relações com a historiografia lo-
terminada seja pela matança direta da
sileiro do comunitarismo e do uja- cal e também fazendo investigações in
fome, seja pela miscigenação compulsó-
Estamos no desafio de pensar a nossa
maaismo da tradição afrikana”.[3] O loco, embora o momento político do ria, seja pela assimilação do negro aos
história numa perspectiva de longo pra- país tenha dificultado o seu trabalho. padrões e ideais ilusórios do lucro oci-
que nos leva à premissa de Chancelor
zo. Muito longo prazo. O mais longo Uma mulher preta em processo. Uma dental. Não permitamos que a derroca-
Williams, que nos diz que, apesar de o
prazo. Que se inicia nas primeiras mi- historiadora em processo. Uma pesqui- da desse mundo racista, individualista e
enorme esforço dispendido por árabes e
grações humanas desde o centro-sul do sadora em pleno processo, Beatriz não inimigo da felicidade humana afete a
europeus para destruir a Civilização
Continente Africano ao Vale do Nilo, deixa de determinar, existência futura daqueles que efetiva-
Africana, bastam cinco minutos de paz
até os dias de hoje. Olhando assim, os mente e plenamente nunca a ele perten-
e meia dúzia de pedras pra que os afri-
quase 500 anos em que resistimos con- “A análise dos ‘Quilombos’ não pode ceram: nós, negro-africanos e afro-bra-
kanos reiniciem a construção de seus sileiros”.[9]
tra as tentativas de supremacismo bran- obedecer a linha de interpretação utili-
Impérios Fundadores.[4] Abdias refor- zada para os movimentos designados
co nesse território, são parte integrante
ça, modernos, aqueles que ocorreram na Iê!sse é o início do jogo… solta a man-
de um processo histórico de agressões e
resistências que se iniciam com a inva- Europa Ocidental desde o século XVIII, dinga aê mano Allan da Rosa!
“Quilombo não significa escravo fugido. que são encaixados dentro do quadro
são dos hicsos no território Egípcio Quilombo quer dizer reunião fraterna e socialista. Menos ainda aos movimentos Mandingo, 21 de julho de 2020
(penso que podemos incluir a invasão livre, solidariedade, convivência, comu- operários e socialistas desse século.
de Creta (por volta de 1400 a.C.) pelos nhão existencial. Repetimos que a socie- […] Logo, uma interpretação vinculada REFERÊNCIAS (simplificadas e por ordem no
aqueus, considerando Creta como uma dade Quilombola representa uma etapa às teorias de mudança social, notada- texto):
civilização diretamente afrikana), por no progresso humano e sóciopolítico em mente a marxista, soa em relação a eles GONZÁLEZ, Lélia. Primavera para as rosas
volta de 1600 a.C., tendo como marcos termos de igualitarismo econômico”.[5] de modo exótico”.[8] negras. Diáspora Africana: Editora Filhos da
principais o domínio árabe sobre o norte África, 2018. [1] Pág. 331.
do continente a partir do século VII, a E é nesse contexto civilizacional do Junto com Abdias e Clóvis Moura (olha NASCIMENTO, Beatriz. Intelectual e
Quilombo enquanto experiência históri- Quilombola: Possibilidade nos dias da
colonização da América pelos Europeus aí o jogo Allan), Beatriz instaura o Qui- destruição. Diáspora Africana: Editora Filhos da
a partir do século XV (e a Diáspora de- ca prolongada – não sendo difícil en- lombo como experiência sobre a qual se África, 2018. [6] pág. 76; [7] pág. 76; [8] pág.
corrente), a invasão holandesa no sul da contrar quilombos no Brasil que exis- pode construir uma perspectiva de mun- 216-217.
África no século XVII, e o Colonialis- tiram por mais ou menos um século – do afrikana no Brasil, indicando mesmo NASCIMENTO. Abdias do. O Quilombismo.
mo posterior à Conferência de Berlim, que a historiadora Beatriz Nascimento a necessidade de uma metodologia espe- Rio de Janeiro: Ed. IPEAFRO, 2019. [2] Pág.
encontra espaço pra indagar sobre a Paz 228; [3] pág. 290; [9] pág. 290-291.
em 1885. cífica para que essa perspectiva possa WILLIAMS, Chancelor. The Destruction of
Nesse sentido, os Quilombos, Cumbes, Quilombola. Olha aí a ginga ligeira ser conduzida como prática de pesquisa. Black Civilization. Ed. do Autor, 1987. [4] Pág.
Palenques e Maroons, são a expressão Allan… Em jogo com o Quilombismo, a Paz 160.
maior da saúde histórica das populações Quilombola parece estabelecer um
afrikanas contra o escravismo nas três “Entre um ataque e outro da repressão equilíbrio dinâmico entre a contingência *Fábio Oliveira Nascimento – Mandingo
oficial ele [Quilombo] se mantém, ora Professor – SMED-Salvador
“Américas”, são experiências constantes bélica da luta contra a escravidão, e a
retroagindo, ora se reproduzindo. Este Historiador (UcSal-Ba)
e muitas vezes prolongadas, de autono- contingência humana do humano afrika-
momento chamaremos de ‘Paz Quilom- Especialista em História Social e Cultura
mia contra a desumanização imposta no bola’, pelo caráter produtivo que o Qui- no que nunca aceitou se tornar objeto
Afro-Brasileira (ACEB-Fetrab)
contexto das colônias americanas. A lombo assume como núcleo de homens reativo dessa mesma contingência béli- Mestre em Educação (Universidade do
ação Quilombola é possivelmente a face ca. A Paz Quilombola me faz pensar Estado da Bahia)
No fim do século XIX na Europa, a partir de um tra- até se tornarem brancos. mentos nos quais poderia persistir ainda alguns traços
dicional e histórico sentimento xenofóbico, os brancos Em 1911 o Congresso Universal das Raças em Paris, do negro”.
desenvolveram uma teoria, conhecida por Eugenia, com foco no racialismo e sua relação com o desen- As ideias eugenistas e suas variações se perpetuaram
com o objetivo de ressaltar uma dita superioridade volvimento das nações, recebeu o médico João Baptista por mais três décadas no Brasil, fazendo parte inclu-
racial e classificar todos os demais povos como de Lacerda, que, ao representar o Brasil, apresentou um sive da política oficial do país, e após muitos prejuízos
inferiores. Muito intelectuais brasileiros adotaram as artigo que fazia uma previsão que dentro de um século foram sendo abolidas após o fim da Segunda Guerra
teses da eugenia e a partir delas desenvolveram uma haveria um considerável progresso para o país com a Mundial.
outra dentro do contexto das Américas, a Tese do sobreposição dos traços negros a partir da miscige- O Brasil seguiu com o ideal de se tornar uma nação
Branqueamento. nação… “A população mista do Brasil deverá ter pois, mais branca, porém com base em outros mecanismos,
A tese do branqueamento se baseava na ideia de que o no intervalo de um século, um aspecto bem diferente do ora pela exclusão social e econômica dos não brancos,
“sangue branco” predominaria sobre todos os outros, atual. As correntes de imigração europeia, aumentando ora pela violência do estado e pelo apagamento das
dessa forma os descendentes de negros e brancos ou a cada dia mais o elemento branco desta população, produções intelectuais dos pretos.
índios e brancos, ficariam gradativamente mais claros, acabarão, depois de certo tempo, por sufocar os ele-
Yanda PanAfrikanu ,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,31 de julho de 2020 ,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,, ,,,,,,,,Página 9
No entanto, no ano de 2010, pouco antes do término da No fim do século XVIII, os pretos representavam
previsão de Lacerda, pela primeira vez na história a 50,5% da população, esse percentual foi reduzido para
população branca deixava de ser maioria no país. Se- 34,5% em 1850 e 19,7% em 1872.
gundo os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística – IBGE, os negros correspondiam a 50% do Distribuição percentual da população, segundo cores selecionadas, no
contingente nacional. Brasil - 1872-2010
O Movimento Negro adotou estratégias de denúncias, Cores 1872 1890 1920(1) 194 1950 1960 1970(1) 198 1991 2000 2010
com a argumentação de que mesmo sendo maioria no 0 0
país os negros permanecem excluídos de todas as áreas Parda 38,1 44,0 … 63,5 61,7 61,0 … 54,2 51,6 53,7 41,6
centrais de poder e ocupam os piores indicativos so- Parda 42,9 41,4 … 21,2 26,5 29,5 … 38,8 42,6 38,9 41,6
ciais. Preta 19,7 14,5 … 14,6 11,0 8,7 … 5,9 5,0 6,2 8,2
Mas ainda assim, poderia haver algum tipo de situação Fonte: Carmargo (2010). IBGE (2010); Wood; Carvalho; Horta (2010). (1) Quesito
não pesquisado.
confortável diante dessa superioridade numérica dos
negros?
A classificação NEGROS– engloba dois grupos dentro Fatores como a proibição e a dificuldade do ingresso
dos critérios de cor e raça, e segundo definição do Es- de novos africanos para o Brasil assim como vinda de
tatuto da Igualdade Racial: “é o conjunto de pessoas muitos europeus, beneficiados com terras oferecidas
que se autodeclaram pretas e pardas, conforme o que- pelo estado, foram responsáveis pela queda desses nú-
sito cor ou raça usado pela Fundação Instituto Brasi- meros.
leiro de Geografia e Estatística (IBGE), ou que adotam Com o fim da escravidão, foi o racismo e as políticas
autodefinição análoga”. de estado que se encarregaram de reduzir o número de
O quesito Cor/Raça – PRETOS – pode ser identificado pretos no Brasil.
pelas pessoas com fenótipos relacionados a ascendên- A Redenção de Cam, pintura de Modesto Brocos, 1895.
Independente das pautas e posicionamentos políticos,
cia africana como a pele escura. indivíduos e organizações pretas, que se propõe a tra-
No entanto, no quesito Cor/Raça – PARDOS – se en- Em 1911 quando Lacerda apresentou suas teses, exibiu var uma luta de resistência, deveriam pensar em for-
quadram todos aqueles que são frutos das variadas uma cópia do quadro “A Redenção de Cam” que traz a
formas de miscigenação; entre povos nativos e bran- mas para possibilitar a continuidade do Povo Preto,
imagem de uma família composta por uma avó preta,
cos, povos nativos e pretos, entre pretos e brancos, en- identificando na miscigenação seu propósito histórico
um casal inter-racial e uma criança de colo branca: à es-
tre brancos e amarelos, etc. de aniquilação. Certamente essa proposição resulta em
querda, a senhora negra olha para os céus em gesto de
Com isso, nem todas as pessoas do quesito PARDOS extrema complexidade, principalmente por todas as
agradecimento, provavelmente pelo fato de ter uma neta
possuem ancestralidade africana. E mesmo os PAR- outras questões que já nos assolam, porém, ações que
DOS que a possuem, tem sido o resultado de suces- branca – neta essa que é segurada por sua mãe uma estariam ao nosso alcance, podem se efetivar não só
sivas miscigenações com pessoas brancas ou mais pró- mestiça; e à direita, um homem branco pai da criança com a geração de descendentes, mas com a adoção, tu-
ximas do ideal de branquitude almejado, já que os fe- que observa a cena com certo distanciamento. tela e acompanhamento de crianças pretas, se respon-
nótipos dos pretos seguem sendo odiados e persegui- A imagem do quadro transmite categoricamente a tese sabilizando pela construção de núcleos familiares nos
dos. Na verdade, a miscigenação no Brasil pode ser do branqueamento através das gerações. O livro sagrado moldes africanos.
vista como o próprio branqueamento do povo preto. para os cristãos, a Bíblia, traz a história de Cam, filho Lacerda foi criticado por suas previsões serem muito
Para além dos efeitos do branqueamento físico, os de Nóe, amaldiçoado pelo pai. A história de Cam, foi in- imediatas, considerando o curto espaço de 100 anos,
descendentes de africanos de pele mais clara poderiam terpretada no contexto do século XIX, que o “escu-
se autodenominar como PRETOS, a partir dos critérios no entanto outros intelectuais racistas estimaram que
recimento” dos descendentes de Cam teria resultado nos
de autodeclaração do IBGE, se estivessem envolvidos esse branqueamento se daria em um tempo maior, em
pretos africanos, e que poderia ser recuperado por meio
num processo de reconhecimento e orgulho às suas torno de 200 anos.
da mistura com a raça branca.
raízes africanas. No entanto, ao se denominarem – De qualquer maneira esse processo segue em ritmo
Quando observamos as fotos das famílias pretas em tor-
PARDOS – buscam relativizar sua pretitude com ar- acelerado, pela perpetuação do racismo, pela continui-
gumentos de que são o resultado de uma mistura racial no dos anos de 1950, com as características atuais de dade das políticas de extermínio do estado e pela nossa
que ocorre no Brasil, desconsiderando a violência his- seus netos e bisnetos percebemos que muitos deles se ausência em construir estratégias diante dessa outra si-
tórica e o racismo que permeia todas as relações inter- tornaram tão claros que sequer poderiam ser identifica- tuação de genocídio.
raciais. Logo essa vantagem em termos percentuais no dos como descendentes de africanos. Se a demonização
número de PARDOS possivelmente não traduz numa da cultura e das religiões africanas se fizer presente
maioria que esteja disposta a construir uma frente de nessa análise estamos muito próximos da ideia da Re- *Ativista pan-africanista e integrante da UCPA (União dos Co-
resistência e luta contra nosso genocídio. denção de Cam. letivos Pan-Africanistas).
Amy Jacques Garvey dizia que seu ho- nente não seria o mesmo sem a sua ge- vos e nações Africanas, em última aná- do, mas não despercebido, aos olhos
mem gostava muito de um certo autor – neral, Dahia al-Kahina… lise, das famílias (não família nuclear, atentos de John Henrik Clarke: Clitus
Terentius Afer; ou simplesmente Terên- Enquanto você tinha, em África, mulhe- mas estendida, ampliada, alargada; por- Niger, um homem, Africano, era o gene-
res em posições de autoridade, no co- que Africana…), e isso está historica- ral das tropas de Alexandre Magno!
cio, o Afro. Não só pelo epíteto – cha-
mando, governando nações, como che- mente documentado pela Paleta de Nar- Onde não impera amnésia, reina distor-
mando a atenção para uma característica
fes de Estado, as mulheres macedônicas, mer, em sendo o Vale do Nilo “uma ro- ção histórica, e o que pode ter sido um
fenotípica – nos chama a atenção uma
gregas ou romanas etc., elas não tiveram dovia cultural”, um entreposto civiliza- acordo de paz entre o homem e a mulher
frase do dramaturgo, nascido numa Car- a mesma sorte – não a mulher branca. tório, um celeiro de diversas culturas, o Africana, é reduzido ao recuo de Ale-
tago em rápida dissolução, que costu- Com esse respaldo histórico, deduzimos ideal manifesto de unidade na diversi- xandre, “o Grande”… antes fosse ape-
mava dizer: “Eu sou um homem: nada que devia ser uma vergonha para o ho- dade – atualizando para os dias de hoje, nas isso! Na real, esta é nossa agenda
do que é humano me é estranho”. Tenha mem branco, e uma ameaça à sua “mas- um traço característico de egoísmo es- histórica sequestrada, ou seja, refletida
essa adágio em mente. culinidade”, sua mulher ser reconhecida sencial para a sobrevivência… pelos modos, gestos e valores projetados
O homem vivia dizendo isso. Seus opo- como sua igual; veja bem, não estamos Em se tratando da primeira hipótese, te- da história branca, suas fraquezas e con-
sitores diziam que qualquer tentativa de nem falando de uma concepção de opos- mos que o homem Africano é negado, e tradições internas, que não podem ser
definir o homem – dentro aqui das nos- tos-complementares, talvez esta seria a mulher afirmada – mas sempre para solucionadas em suas próprias casas,
sas intenções, a mulher preta – passa por uma noção sofisticada demais para o cé- fins de estupro, físico, material, psíqui- pois isso implicaria em sua auto-conde-
sua desumanização… o que dizer, então, rebro do homem branco operar… co… sempre como sujeito, sujeita: seu nação – o que, graças à Camus e Sartre
dos que negam a raça como fator?! O contexto Africano é diferente. Na dia- homem deve ser morto, senão preso. (apud Stokely Carmichael), sabemos
Como povos colonizados, é necessário lética Africana dos opostos-complemen- Mas isso é, antes, consciência historica- que não é possível.
nomear – e sendo até redundante, se au- tares, o homem e a mulher Africana mente determinada do que produto das Tendo sido consumada a morte do rei da
tonomear, definir a si mesmo: a mulher cumprem um mesmo propósito, uma de- modernas estruturas sociais. É tão antigo Báctria (por motivo torpe, diga-se, pelo
preta não é recorte da história Africana, terminação em comum: a construção da quanto o tempo, Carlos Moore dirá. Ra- próprio Alexandre, que chorou quando
como o povo preto não é aparte da histó- Família Africana. É uma questão de ló- cismo como estrutura de pensamento, viu que não tinha mais ninguém pra ma-
ria branca. De fato, se não há capitalis- gica. linguagem, cognição. Racismo por ódio, tar… pouco importa se ele se suicidou
mo sem tráfico escravista, também não John Henrik Clarke baseia seu conceito na última das hipóteses, racismo por me- ou foi suicidado!) antes do famoso ocor-
existe história Africana sem o protago- de Pan-Africanismo numa dialética pa- do da aniquilação genética, como um rido, então estamos errados. Caso con-
nismo preponderante do nosso “mulhe- recida: se, por um lado (como antítese mecanismo de defesa “em si e para si”. trário, trata-se de mais um caso de “es-
rio”, como diria Lélia Gonzalez… Isso ao eurocentrismo), o ataque e a destrui- O que seria um “acidente histórico”, tudiosos” que negam a raça como fator
ficou mais bem registrado na história ção da estrutura familiar Africana gera- Amanirenas? Afirmada enquanto heroí- determinante, e nesse caso pode ter sido
Kemética. Não existiria Akhenaten ou ram a necessidade do Pan-Africanismo, na, pouco se lembra que – do outro lado a pele bem preta do rei-guerreiro refleti-
Tutankhamen sem a Rainha Mãe Tiye, por outro (como uma tese em si), o Pan- do front, quando da passagem relatada da na pele cor de ébano da Candace…
por exemplo. Definitivamente, o conti- Africanismo surge com a união dos po- por Calístenes, Estrabão… Passou bati- Neste ponto, os extremos se tocam.
Página 10 ,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,31 de julho de 2020 ,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,, Yanda PanAfrikanu
É muito importante entender, e sempre Epistemologias do Renascimento Afri- Anta Diop estão aí e não nos deixa minha mulher e minha filha, Tiye…
bom frisar, que não podemos perder cano, Vol. III, Págs. 157-173, 301-315, mentir! E se as mulheres são a van- talvez porque eu vejo essas mulheres
certas coisas de vista… sobretudo por se Editora Filhos da África, 2019) aborda guarda, os homens são a retaguarda… Africanas na prática, o Mulherismo
tratar do nosso matrimônio – sim, ma- justamente o papel da mulher Africana, de Amanirenas à Clitus Niger, de al- Africana na vanguarda da nossa luta
trimônio, e não “patrimônio”. Parafra- sua função social de participação ativa, Kahina à Kuseila… teórica, e isso não afeta a minha con-
seando o Dr. Clarke: se J.A. Rogers nos como sujeito, agente e protagonista no Nossas mulheres estão à frente dos ter- dição de homem… a mulher preta, Afri-
ensinou a olhar a questão do sexo (e do ordenamento das sociedades tradicionais reiro. São nossas mulheres, administran- cana, igual aquela que me permitiu re-
sexo, não reduzidas a binarismos de Africana; além de apontar uma solução, do bibliotecas comunitárias. Duas mu- tornar do Orun…
gênero) – Cheikh Anta Diop ensina que na prática, pros problemas que enfrenta- lheres traduziram o livro de Amos Wil- O homem deve se submeter, não por
viemos de um berço matriarcal, falando mos, como e enquanto povo. Pois a mu- son, que será publicado pela Editora Po- coerção, mas porque é cultural. Pois mãe
em termos de “Mátria”: a Unidade Cul- lher Africana jamais foi presa em cintos der Afrikano. “Às Irmãs” é o título do é uma só! Como dizia o Honorável Ala-
tural da África Preta; e visitamos tempos de castidade, ou deixada de lado, posta à livro do nosso irmão Abiṣogun, e agora ru:
históricos onde o regime de sucessão margem, em lugar de submissão, que é, lembramos as palavras do mais velho “Salve a Sagrada, Amada e Gloriosa
matrilinear é regra… Onde África é, a repetimos, a posição vergonhosa – pro Hamilton naquele seu texto: a Reaja é Mãe África!”.
um só tempo, Continente Mãe e Berço, homem branco – ocupada pela sua mu- menina pai…
da Humanidade e Civilização. Definindo lher. A mulher Africana, não: ela teve A Yanda é uma rede, também a UCPA é
por nós mesmos: falemos em matriotis- poder de fato, decidiu soberana em todas ela…
mo – matripotência – Maat-ria! instâncias, sem com isso abalar seu ho- Essa é a dialética – a lógica – a Maat- *Historiador Autodidata, fundador do Grupo
Essa reflexão sobre Mãe África e o mem. emática é essa! de Estudos Kwame Ture, administrador da
matriarcado é proposital – o Mulherismo A Família Garvey, o Clã Shakur – os Particularmente, meu primeiro “filho”, é página Povo Preto, Pan-Africanismo &
Africana (Coleção Pensamento Preto: estudos de John Henrik Clarke e Cheikh uma menina… minha mãe, duas irmãs, Poder Preto.
YP: Qual o seu público-alvo? boca e, pensando na interação, é uma página onde achamos que as crianças são mini-adultos e temos
D.A: Eu produzo livros e jogos com diferentes a criança trabalha com os números e assim são as que submetê-los às nossas regras e ponto e
temas, mas, o carro-chefe são os Quiet Books páginas, cada uma tem seu porquê de estar ali; ah, esquecemos que seu cérebro tem um tempo para
Afro e os Jogos e brinquedos nessa mesma linha. junto com o livro eu envio um texto sobre as amadurecer; quando batemos ou castigamos um
Eu comecei a estudar sobre nosso povo em 2016 referências para quem quiser se pesquisar sobre os bebê e ele deixa de fazer aquilo não é porque ele
num curso do Ciclo de Formação Marcus Garvey assuntos também. compreendeu cognitivamente é porque ele tem
na zona Sul de SP, e foi para mim um divisor medo, eu não quero criar uma criança que tenha
muito grande, entrei em conflito comigo mesma e YP: Quantos produtos tens desenvolvido e quais medo de mim ou ache que vou abandoná-lo
não me conformava de com 33 anos nunca ter os mais procurados? quando ele precisar, nosso povo precisa de
escutado falar de Garvey, Diop, etc., então D.A: Além dos livros em feltro tenho amor… meu filho vai ser um homem preto que
comecei a estudar mais (ainda não estudo nada desenvolvidos jogos e brinquedos, já criei Jogo da vai valorizar seu povo e sua parceira preta!; são
perto do que deveria); em 2018 chegou meu Memória, Dominó, Jogo da Velha Baobá, Máscara escolhas que vou conseguir apontar os efeitos
filho… a família paterna é angolana e comecei a Alinhavo e sigo assim, tudo que aprendo no curso daqui a alguns anos, mas percebo retornos
me aproximar um pouco também de lá, o que foi procuro criar uma versão preta dele. Estou agora positivos, principalmente no que diz respeito à
outro conflito já que eu tinha uma África pensando no Kwanzaa então logo terei mais um confiança.
romantizada na cabeça e não me dava conta dos lançamento. Assim que conseguir pagar o que Na rotina em casa nos dividimos entre brincar de
efeitos devastadores da colonização no Continente investi, tenho planos de ter alguns para doação para ler, de desenhar, de brinquedo, de “não
Africano; isso foi triste, ainda é um pouco espaços e bibliotecas que trabalham com nossas brinquedo”, com a quarentena e o trabalho acabei
dolorido ter uma parte da família do meu filho crianças e ainda sonho com uma escola afro- aderindo aos vídeos, que era algo mais comum
inserida na cultura cristã evangélica… me dói um centrada para matricular meu filho quando entrar quando ele estava com a vó materna, mas eles
pouco… o que fizeram e fazem com nossas em idade escolar. O que tem mais procura é o também auxiliaram na aprendizagem dele das
mentes é foda. Quiet Book Afro, desde que lancei nas redes letras e números então tento não sofrer muito
Voltando aos livros, eu penso nele como uma sociais toda semana tenho encomendas dele, e cada (rsrsrs).
possibilidade de nossos bebês e crianças estarem um é único, pois estou em constante pesquisa e Meu filho é o controle de qualidade na Fulelê
em contato com a cultura africana e afro-brasileira substituo algumas páginas e também dá a (rsrsrs), o primeiro a tocar e brincar com o que
desde sempre, seja em casa, na escola ou qualquer possibilidade, para quem vai adquirir, de escolher o produzo já que a primeira peça é feita para ele,
espaço que esteja; eu produzo para as mães, para que quer a partir da idade da criança, no momento também quando faço algum animal eu pergunto o
os pais, para os professores, para as famílias, os consigo atender desde bebês até o início da idade que é, se ele responder certo quer dizer que o
bibliotecários, os artistas, os contadores de escolar. desenho está entendível (rsrsrs).
histórias, os psicólogos, etc., produzo para todos
que tiverem interesse em apresentá-los para uma YP: Há algum tempo nas tuas redes sociais YP: Em tempos de pandemia onde o
criança. Vendo para todas as pessoas. Procuro assistimos a um vídeo que demonstrava com isolamento social deixa todo mundo mais
seguir sempre que possível o “Compre de preto e toda tranquilidade o teu filho falando todas as tempo com seus filhos, esses brinquedos são
venda para todos”, tanto que a minha professora letras do seu nome, sendo que ele ainda não ótimos para aumentar o repertório de
dos livros é uma mulher preta com uma família tinha completado 2 anos, creio que é um feito entretenimento, não é? O que acrescentaria
preta linda. raro, me fala se o resultado dessa façanha tem para finalizar?
alguma ligação com os produtos que tens D.A: Acredito que esse momento onde alguns tem
YP: Por quem foi idealizado? desenvolvido? a possibilidade de estar mais com suas crianças,
D.A: Cada página foi uma escolha pensada: a D.A: Meu filho é muito inteligente (rsrsrs) e não temos que aproveitar para aproximá-los da nossa
Sereia (que é muito pedida e elogiada) foi falo porque sou mãe só, no começo eu achava cultura africana como for possível, se puder ver
inspirada em uma música chamada Mami Wata normal, é meu único filho então não tinha como um desenho, ler um livro, escutar uma música,
que escuto com meu filho então pesquisando comparar, mas estudando sobre psicologia do aproveite para conversar sobre nosso povo,
encontrei a Kianda também e desenvolvi essa desenvolvimento eu percebi que ele é muito independente se ele parecer não ter idade para
página de uma sereia preta, não aprofundei ainda, avançado. Eu, desde sempre leio para ele, desde entender, em algum momento ele vai entender.
mas como tudo foi roubado do nosso povo não vai que estava na barriga, acho que isso ajudou muito. Enquanto não tivermos nossas escolas, temos que
me espantar saber que essa sereia branca foi Coloco músicas africanas para ele ter familiaridade complementar o que eles aprendem. Sei que
inventada a partir desses outros seres já que com as línguas do continente também e o pai parece meio romântico já que trabalhar a semana
possuem elementos narrativos que se parecem; ensina músicas e brincadeiras que ele aprendeu na toda é supercansativo, mas uma hora do dia ou da
uma outra página, minha última criação, é a do infância. Aqui em casa nós fazemos o papel de semana que pudermos parar para nos dedicarmos
Jacaré Bangão que é uma história que se passou mediadores de aprendizagem, quando percebemos a apresentar um pouco de África para nossos
no Bengo, província de Angola, meu companheiro o interesse dele estimulamos, não usamos de filhos vai fazer muita diferença no futuro.
me contou, pesquisei como contadora de histórias violência em nenhum momento e quando erramos, Quem tiver interesse em saber mais sobre o que
para narrar, aí criei essa página para o livro seja falando alto ou descuidando em algum desenvolvo na Fulelê é só seguir a página no
também, uma jacaré com um saco de dinheiro na momento, pedimos desculpas a ele. Às vezes insta: @fulele_infancia.
Kwesi Ta Fari*
Fari
O professor Ernest Wamba Dia Wamba foi decisiva para o funcionamento coe- Yoporeka Somet, Ayesha Attah, Jacques tos do Kemet deveriam ser parte impor-
rente de uma série de entidades de pes- Depelchin, Edward Apenteng-Sackey tante das leituras nas escolas. As diretri-
desapareceu do plano físico aos 78 anos zes para a vida moral devem ser enfati-
de idade em um hospital universitário de quisa. Nas décadas de 1980-1990, a uni- entre outros. Dr. Wamba foi quadro do
versidade de Dar es Salaam (Tanzânia) e Shemsw Bak, órgão da Per Ankh res- zadas.”
Kinshasa, República Democrática do
o Conselho para o Desenvolvimento de ponsável pela tradução de textos em
Congo, sua terra de nascimento. A pas- Os trabalhos do Professor Wamba dia
Pesquisas em Ciências Sociais na Áfri- Medu Neter (Hieróglifos) para outras
sagem do Mestre ocorreu no último dia Wamba sobre filosofia africana e para a
ca/CODESRIA (Senegal) foram duas línguas africanas. Alguns dos textos ori-
15 de julho de 2020. A frase título deste tradução de Medu Neter propiciaram a
das bases institucionais que obtiveram a ginais em Medu Neter traduzidos para o
pequeno memorial foi escrita há mais de restauração de poderosas mensagens de
sua colaboração direta. Grandes estudio- Kikongo foram: Ndaba ya Sanhat, mku-
4 mil anos no Kemet (antigo Egito) e é sabedoria do Kemet em Kikongo, por
sos foram beneficiados pelas supervi- lu ya Kemet (A história de Sanhat, um
um retrato fiel do espírito de Ernest exemplo:
sões acadêmicas do Mestre Wamba, en- dignitário do Kemet), Nsamu wa mvati
Wamba dia Wamba, um homem da Re- tre eles o Professor Lumumba H. Sha- (O conto do camponês), Za nkunga'an-
nascença Africana. Medu Neter:
baka (Cabo Verde), seu estudante em zola yilutidi (Grande Amor) e Nkotolo
A biografia de Wamba dia Wamba é a de Dar es Salaam e autor da tese Transfor- mu malongi Ptahhotep (Os Ensinamen-
um dos maiores politólogos em ativida- mation of ‘Old’ Slavery into Atlantic tos de Ptahhotep).
de nos últimos quarenta anos do século Slavery: Cape Verde Islands, circa Reagindo ao desaparecimento físico de Transliteração: m kahsw xft wsr.k tm spr
20, um intelectual que conseguiu recu- 1500-1879. seu amigo e mestre, o pesquisador Yo- bw-jw r.k
perar a dignidade e sofisticação do Pala- No Brasil durante o ano de 2008, após poreka Somet (Costa do Marfim) afir-
ver Comunal, uma das formas tradicio- percorrer alguns estados do país, Dr. mou que: “O professor Wamba dia Tradução para Kikongo: Ni bobo lenda
nais de se fazer política no contexto afri- Wamba exprimiu suas sensações ao Wamba contribuiu para o projeto de lembwa bwilwa kwa mbi. Lundidi diam-
cano. A vida de Wamba dia Wamba foi constatar a existência de uma África vi- tornar acessíveis textos da literatura do bu dia mpasi, dikitukidi mole.
uma mescla equilibrada de militância va fora do continente africano, dessa ex- Kemet (antigo Egito) na língua Kikon-
política popular e produção científica de periência nasceu a poesia Traços das go”. Tradução para Português: Não mostre
alta qualidade. Nos Estados Unidos da Lembranças do Brasil: Uma das consequências do trabalho da arrogância só porque você tem poder.
América, por exemplo, Dr. Wamba foi Per Ankh (e de outras entidades do gê- Esse é o caminho para evitar que o mal
simultaneamente professor universitário “Na descoberta de um Brasil que toma nero) é o movimento que objetiva tornar pegue você.
(Harvard/Boston College) e militante de Ardentemente consciência de o Medu Neter uma escrita continental
Sua outra história africana, considerando que há um paren- Nos seus últimos meses no plano físico,
movimentos sociais da comunidade afri- A história africana de seus
cano-americana. Na ocasião de uma vi- tesco genético dessa escrita com a gran- Mestre Wamba esteve engajado no com-
Fundamentos complexamente diversos e
sita à R.D. Congo nos anos de 1980, Dr. Contraditórios, mesmo antagônicos de família de escritas e línguas africa- bate à pandemia da Covid-19 no seu
Wamba foi acusado de produzir uma li- Um grito: a história afro-brasileira nas, inclusive as do complexo linguísti- bairro, ao mesmo tempo em que divul-
teratura subversiva e em seguida preso (…) co Bantu, do qual o Kikongo faz parte. gava entusiasticamente os avanços da
durante um ano pelo governo de Mobutu Estamos longe da história a banir Outra consequência importante dessa medicina tradicional em Madagascar, da
Sese Seko. Na época dessa prisão polí- Mesmo do instinto ou do subconsciente movimentação foi a elaboração do soft- tecnologia robótica para testagens em
tica, Dr. Wamba exercia o cargo de pro- onde ware Amon Font para a escrita em Medu Ruanda e dos investimentos da Etiópia
Tudo era recusado ao escravo Neter, uma iniciativa de Cheikh M’ba- no transporte aéreo de insumos para po-
fessor contratado da Universidade de Seu próprio corpo
Dar es Salaam (Tanzânia). cké Diop, filho do multicientista Cheikh pulações de diversas regiões do conti-
Sua própria língua Anta Diop (Senegal), o primeiro autor nente africano, inclusive de Cabo Verde.
No decorrer da década de 1990, Wamba Seu espírito africano de uma gramática para o Medu Amanhã e depois, Dr. Wamba será lem-
dia Wamba decidiu sacrificar a sua car- Somente este sopro deixando o corpo
Neter. brado como um homem africano do po-
reira acadêmica nos EUA para unir-se a À noite para ter com os Deuses
As correntes pesadas e grossas Os mais recentes trabalhos escritos pelo vo e a serviço do povo. Mestre Wamba
movimentos sociais que se posiciona-
Não podiam prendê-lo Mestre Wamba foram especialmente di- dia Wamba fez o certo!
vam contra a opressão neocolonial do Deixamos aqui os nossos mais sinceros
Ele estava com Xangô recionados à construção da unidade afri-
governo Laurent-Désiré Kabila na R.D. cana por meio de um grande Renasci- respeitos à família Wamba. Sabemos
Ele estava com Oludumare
Congo. Dr. Wamba assumiu o comando Ele estava com Muanda Kongo mento. Dr. Wamba entendia que os prin- que no plano extrafísico ganhamos um
do grupo rebelde Rassemblement Con- Ele estava com Nzambi Mpungu Tulendo cípios de justiça, ordem, reciprocidade e guia ancestral de elevado poder espiri-
golais pour la Démocratie, arcando com Dezo equilíbrio – que os Kemetiyu (antigos tual.
todas as consequências dramáticas dessa O corpo com o qual o mestre se deitava egípcios) denominavam Maat – deve- Encerramos o nosso breve memorial a
opção. Esses conflitos ocorreram entre Não tinha alma um mecanismo sexual riam servir como base para esse Renas- Ernest Wamba dia Wamba com o cora-
os anos de 1998-2003, aquecendo a Se- Como o dia de trabalho cimento. Maat poderia ser o paradigma ção de libação e a resignação renovada
gunda Guerra do Congo, que envolveu A alma estava longe
(…)
fundamental dos embates políticos, eco- para o caminho da Renascença Africa-
corrupção econômica na extração dia- nômicos e educacionais para uma reor- na… sempre no espírito de MAAT! Dwa
A descendência inesgotável sobrevive
mantífera, opressão política sobre o po- Torturados e humilhados absolutamente ganização do continente africano. Nesse Ta Mery! Dwa Wamba dia Wamba!
vo e relações neocoloniais do Ocidente Em grossas correntes intuito, Mestre Wamba lançou axiomas
com a R.D. Congo. Nessa mesma déca- Os trabalhos pesados de vida e de morte que delinearam a fisionomia da Renas-
WAMBA, Ernest Wamba dia. Traços das
da de 1990, foram notórias as participa- Não exterminaram cença Africana para as futuras gerações Lembranças do Brasil (2008).
ções de Ernest Wamba Dia Wamba em Os escravos africanos de mulheres, homens, crianças e comu- SHEMSW BAK .smi n skhty pn..Per Ankh:
processos políticos importantes para a A descendência inesgotável nidades do continente: Popenguine, 2016.
justiça social na África do Sul, no Bu- Nas favelas http://mildredbarya.com/the-future-of-
rundi, na Tanzânia (ao lado de Julius Mantida ainda sob vigilância “O Renascimento Africano também deve african-writing/
Na ponta do fuzil significar uma luta real contra o capita- http://jornaldeangola.sapo.ao/mundo/morte-
Neyrere) e posteriormente na R.D. Con- Da polícia militar no Rio de Janeiro
go, onde ele assumiu uma cadeira no Se- lismo (…) As implicações que determi- de-ernest-wamba-dia-wamba-africa-perde-
Nas ruas nam o Renascimento Africano são im- activista-pro-democracia
nado. Pouco além portantes. Isso significa que todo o siste- Foto original alterada pelo autor:
As contribuições do Professor Wamba Sobrevive petulante (…)” ma educacional pós-colonial precisa ser https://www.montageafrica.com/renowned-
no campo das ciências sociais buscaram reformulado, levando em consideração o congolese-scholar-wamba-dia-wamba-
a qualificação endógena das pesquisas, No Senegal, Wamba dia Wamba foi que deve ser feito para provocar o des- passes-on/
especialmente nas áreas da sociologia, membro da renomada Cooperativa de pertar exigido. A história e a civilização
filosofia, história e economia. A pers- Editores Per Ankh (Popenguine), traba- do Kemet devem ser feitas uma parte im- *Historiador, membro de iniciativas Pan-
pectiva Pan-Africanista do Dr. Wamba lhando ao lado do Sr. Aye Kwey Armah, portante do currículo escolar – os escri- Africanistas e do Movimento Rastafari.