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Políticas Educacionais Inclusivas para A Criança Com Transtorno Do Espectro de Autismo Na Educação Infantil

Este documento discute as políticas educacionais inclusivas para crianças com Transtorno do Espectro Autista na educação infantil. Ele analisa como as leis de inclusão estão sendo implementadas nas escolas de educação infantil em Manaus e defende que a inclusão destas crianças deve ir além da matrícula para promover seu desenvolvimento em todos os espaços escolares.
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Políticas Educacionais Inclusivas para A Criança Com Transtorno Do Espectro de Autismo Na Educação Infantil

Este documento discute as políticas educacionais inclusivas para crianças com Transtorno do Espectro Autista na educação infantil. Ele analisa como as leis de inclusão estão sendo implementadas nas escolas de educação infantil em Manaus e defende que a inclusão destas crianças deve ir além da matrícula para promover seu desenvolvimento em todos os espaços escolares.
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POLÍTICAS EDUCACIONAIS INCLUSIVAS PARA A CRIANÇA COM

TRANSTORNO DO ESPECTRO DE AUTISMO NA EDUCAÇÃO


INFANTIL

Gisele de Lima Vieira 1 - UFAM


Maria Almerinda de Souza Matos2 - UFAM

Grupo de Trabalho – Diversidade e Inclusão


Agência Financiadora: não contou com financiamento

Resumo

Nossa pesquisa versa sobre As Políticas Educacionais Inclusivas para a Criança com
Transtorno do Espectro de Autismo na Educação Infantil. Pesquisa de cunho qualitativo,
documental e bibliográfico com o objetivo maior de analisar as políticas educacionais de
inclusão para as crianças com Transtorno do Espectro de Autismo no contexto das escolas de
educação infantil e como essas leis estão sendo efetivadas na realidade educacional das
escolas de educação infantil na cidade de Manaus. A educação infantil é a primeira etapa da
educação básica devendo atender as crianças de 0 a 3 anos em creches e de 4 e 5 anos em pré-
escolas, sendo obrigatória a partir dos 4 anos. As pessoas com deficiência vêm efetivando seu
direito à educação na rede regular de ensino e a partir da Declaração de Salamanca em 1994
tornou possível de forma mais democrática essa oportunidade de ensino. A criança com
Transtorno do Espectro de Autismo a partir da Lei 12.764/2012, denominada Lei Berenice
Piana, é considerada pessoa com deficiência para todos os efeitos legais, tendo dentre vários
direitos, o direito à educação em classes regulares de ensino e se houver necessidade. A
inclusão escolar na rede regular de ensino desde à Educação Infantil das crianças com
Transtorno do Espectro de Autismo é um direito assegurado e deve saltar das folhas de papel
e se efetivar na realidade não se restringindo apenas a meras matrículas, mas à inclusão destes
pequenos nos espaços escolares, na sala de aula, nas salas de recursos multifuncionais e a
outros espaços necessários para o desenvolvimento de suas potencialidades, pois, são
cidadãos de direitos que como qualquer outra criança, independente de uma deficiência.

Palavras-chave: Políticas educacionais inclusivas. Educação Infantil. Transtorno do Espectro


de Autismo.

1
Graduada em Normal Superior pela Universidade do Estado do Amazonas –UEA. Aluna de Mestrado do
Programa de Pós-Graduação em Educação pela Universidade Federal do Amazonas-PPGE/UFAM. Participante
do Núcleo de Pesquisa em Psicopedagogia Diferencial - NEPPED. E-mail: [email protected]
2
Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS. Professora titular pela
Universidade Federal do Amazonas do curso de Pós-Graduação PPGE/UFAM e Coordenadora do Núcleo de
Pesquisa em Psicopedagogia Diferencial – NEPPED. E-mail: [email protected]

ISSN 2176-1396
9823

Introdução

Educação Infantil é um direito assegurado a todas as crianças de zero a cinco anos de


idade. Esse direito constitucional é assegurado na nossa Carta Magna e em outros documentos
oficiais de cunho político legal que formalizam a efetivação do direito à educação desde a
mais tenra idade. Todos têm direito à educação, não importando a condição física, intelectual,
social e/ou cultural. Neste contexto de educação para todos, uma pequena parte da sociedade
que a muitos anos têm seu direito básico suprimido, vêm tendo destaque em nossa legislação
brasileira, através de lutas e reinvindicações da sociedade civil e órgãos governamentais
nacionais e internacionais, dessa forma, tendo reconhecimento legal de seus direitos mais
básicos, no caso em questão, a educação. A minoria retratada neste trabalho são as pessoas
com deficiência, pessoas que por muitos anos tiverem seus direitos negados e que agora, após
lutas travadas para a reconquista de seus direitos, emergem como fênix das cinzas resolutas,
lutando pela efetivação dos mesmos.
Trataremos da Educação Infantil em alguns documentos oficiais e essenciais que
motivaram a efetivação dos direitos das crianças à educação. Faremos um recorte e focaremos
em uma das deficiências, o Transtorno do Espectro de Autismo (TEA), mais sinteticamente, o
Autismo Infantil, seu conceito, características pertinentes às crianças com essa síndrome.
Traremos reflexões acerca da Políticas Inclusivas na Educação e como a criança com TEA
está sendo assistida pelos documentos oficiais de cunho político legal numa perspectiva de
educação inclusiva.

Educação Infantil: direito e obrigatoriedade

A educação infantil hoje nos documentos legais é compreendida como a primeira


etapa da educação básica, sendo ofertada gratuitamente às crianças de 0 a 5 anos de idade
sendo o Estado o responsável em promovê-la e ofertá-la (Constituição Federal de 1988; Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Infantil lei nº 9394 de 1996; Plano Nacional de Educação
2014-2024 sob a PL nº 13005 de 2014).
Nem sempre a educação infantil foi de responsabilidade do Estado nem seu público
alvo eram as crianças de 0 a 5 anos de idade e tampouco uma obrigatoriedade em território
nacional para as crianças de 4 anos de idade. O começo da escolarização de crianças da
primeira infância foi fato social entrelaçado a outros fatos sociais e históricos que
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aconteceram ao longo dos anos e que influenciaram e impulsionaram, a priori, órgãos não
governamentais para dar assistência às crianças abandonadas e as mais pobres da sociedade.
Etimologicamente, a palavra infância deriva do latim que quer dizer ausência de fala
ou incapacidade de falar. No dicionário Amora da língua portuguesa, infância significa
período de vida humana desde o nascimento até a puberdade, representa o começo, o
princípio dos primeiros anos e criança é “menino ou menina no período da infância”. Para o
Estatuto da Criança e do Adolescente, lei nº 8069 de 13 de julho de 1990, criança é a pessoa
até 12 anos de idade incompletos.
Essa ausência de fala ou incapacidade de falar ou de se expressar está intrinsicamente
associado às crianças da primeira infância, fase essa que compreende desde o nascimento até
aos sete anos de idade. Corsini (1996 apud KUHLMANN JR, 2010, p.16) a respeito da idade
cronológica diz que, como fato biológico permite várias restrições concernentes as fases da
vida e que não é o único fator que as determina. A infância, como qualquer outra fase da vida,
tem um significado mais abrangente dependendo da sociedade que está inserida, desempenha
papéis e divisões de idade por classes que lhe é atribuída.
Pesquisas realizadas em diversos países e inclusive no Brasil afirmam em seus
resultados a importância da educação para as crianças em idade de 0 a 6 anos. Essa
importância se dá tanto “para os processos de escolarização que se sucedem como para a
formação dos indivíduos em uma perspectiva mais global” (BRASIL, 2014a, p. 16). A
divulgação desses resultados, movimentou nessa última década, ações governamentais
concernentes à Educação Infantil em nossa sociedade, sendo destaque e prioridade já
evidenciado na primeira meta do novo Plano Nacional de Educação (PNE 2014-2024). Essas
ações são pautadas no reconhecimento da criança como sujeito de direitos e, esse
reconhecimento se dá em grande parte pelas bandeiras levantadas pelos movimentos sociais,
acima de tudo, das mulheres que necessitavam trabalhar e reivindicavam a criação de creches
e pré-escolas e ampliação das vagas nas já existentes (BRASIL 2014a, p. 16).
A escolarização de crianças menores de 7 anos no Brasil, segundo o Plano Nacional de
Educação de 2001, tem cento e cinquenta anos de história. Até então, não era atribuído ao
poder público, o dever de ofertar gratuita e obrigatoriamente a educação pública a crianças
menores de 7 anos. Esse direito constitucional é consolidado a partir da Constituição de 1988
incentivado pelos órgãos não governamentais e pela sociedade civil.
A educação dessas crianças intensificou-se a partir dos anos de 1970 e teve uma
aceleração notável até os anos de 1993 alcançando 5.320 municípios no ano de 1998. As
9825

faixas etárias de 0 a 3 anos eram de amparo das associações comunitárias e instituições não
governamentais, filantrópicas, de caráter assistencial cujo intuito era apenas de proporcionar
cuidados físicos, de saúde e de alimentação para essas crianças (BRASIL, 2001).
A Constituição Brasileira de 1988, em seu Artigo 208 diz que é “dever do Estado
promover a educação”, garantindo a oferta gratuita em creche e pré-escola às crianças até 5
anos de idade (Capítulo IV) e obrigatória e gratuita dos 4 aos 17 anos (Capítulo I).
Percebemos aqui a responsabilidade que o Estado assume em ofertar a educação gratuita às
crianças de 0 a 6 anos de idade evidenciada no Capítulo IV da Constituição Brasileira que,
antes era assumida pelas instituições comunitárias e filantrópicas e agora, delegada ao Estado.
A extensão da obrigatoriedade da educação para a faixa etária dos 4 aos 17anos de idade foi
oficializada mediante Emenda Constitucional nº 59/2009 (PNE, 2011).
Outro documento importante e de cunho internacional que sinalizou o compromisso
com a educação básica, foi a Declaração Mundial de Educação para Todos, realizada em
Jomtien em 1990. Nela consta a afirmação de que a educação básica “é a base para a
aprendizagem e o desenvolvimento humano permanentes” (Capítulo 1). Outro destaque, faz
menção à importância da aprendizagem logo após o nascimento, implicando “cuidados
básicos e educação inicial na infância, proporcionados seja através de estratégias que
envolvam as famílias e comunidades ou programas institucionais, como for mais apropriado”
(Artigo 5). Dessa forma, a Declaração de Jomtein é um indício para incluir a educação
infantil na educação básica, pois acredita na importância da aprendizagem logo nos primeiros
anos de vida.
Em 1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº 8069 em consonância com a
Constituição Brasileira, em seu Artigo 54, reafirma o dever do Estado em garantir a educação
às crianças e adolescentes. Para as crianças de 0 a 6 anos de idade dá a garantia do
atendimento em creche e pré-escola. (Capítulo IV). Um fato marcante em nossa legislação
brasileira ocorreu com a implementação da nova Leis de Diretrizes e Bases da Educação
(LDBN) de 20 de dezembro de 1996. Sob a Lei 9394/96, Artigo 29, é estabelecido pela
primeira vez na história do Brasil a Educação Infantil como sendo a “primeira etapa da
educação básica”.
Essa nova perspectiva de Educação Infantil em nossa legislação fez também repensar a
sua finalidade, que antes de cunho assistencial e agora, com cunho pedagógico favorecendo
“o desenvolvimento integral da criança de até cinco anos, em seus aspectos físico,
psicológico, intelectual e social [...]” (BRASIL, 1996).
9826

No Artigo 4º da LDBN, inciso IV, se afirma que: “O dever do Estado com educação
escolar pública será efetivado mediante a garantia de “[...] atendimento gratuito em creches e
pré-escolas às crianças de zero a seis anos de idade”. Creches e pré-escolas são apenas
nomenclaturas para a diferenciação das faixas etárias, ambas são consideradas instituições de
Educação Infantil (BRASIL, 1998 apud BRASIL, 1996, p.11).
A Educação Infantil sendo incluída à Educação Básica, começou a contar em 2007
com os recursos do financiamento do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação
Básica e Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB) mediante à uma medida de
política pública através da aprovação da Emenda Constitucional nº 59/2009, aqui, destacamos
outro fato importante: a Educação Infantil passa a ser obrigatória juntamente com o ensino
fundamental e o ensino médio, estendendo a obrigatória para a faixa etária de 4 a 17 anos
(BRASIL, 2014a, p.16).
Sendo então, a Educação Infantil a primeira etapa da educação básica, houve a
necessidade de formular um documento destinado aos profissionais da educação com uma
proposta pedagógica metodológica norteadora. Formula-se então, em 1998 o Referencial
Curricular para a Educação Infantil (RCNEI), documento que “constitui-se em um conjunto
de referências e orientações pedagógicas que visam a contribuir com a implantação ou
implementação de práticas educativas de qualidade que possam promover e ampliar as
condições necessárias para o exercício da cidadania das crianças brasileiras” (RCNEI, 1998).
Mais adiante, o Plano Nacional de Educação de 2001 na Lei 10.172, Capítulo II,
reafirma a Educação Infantil como a primeira etapa da Educação Básica e que “ela estabelece
as bases da personalidade humana, da inteligência, da vida emocional, da socialização”
(BRASIL, 2001, p. 8). Neste documento dá-se ênfase novamente a importância à educação
escolar oferecida logo nos primeiros anos de vida, sustentada pelos estudos na área da
infância de que as primeiras experiências, aquelas adquiridas na tenra infância, marcam
efetivamente a pessoa e essas experiências quando agregadas de forma positiva contribuirão
no reforço de atitudes de auto-confiança, cooperação, solidariedade e responsabilidade,
atitudes essas que acompanharão a criança ao logo de sua vida (BRASIL, 2001).
Em 25 de junho de 2014 foi sancionado a Lei 13.005 que faz entrar em vigor o Plano
Nacional de Educação – PNE 2014-2024. No novo PNE, com suas 20 metas estabelecidas
para a educação brasileira, por entender que a Educação Infantil é a primeira etapa da
Educação Básica, propositalmente, elegeu a Meta 1 para essa modalidade de ensino. Dessa
forma, vejamos o que diz a Meta 1 do novo PNE:
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Meta 1: universalizar, até 2016, a educação infantil na pré-escola para as crianças de


quatro a cinco anos de idade e ampliar a oferta de educação infantil em creches, de
forma a atender, no mínimo, 50% (cinquenta por cento) das crianças de até 3 (três)
anos até o final da vigência deste PNE. (BRASIL, 2014b)

No documento que faz menção às 20 metas do novo PNE, sob o título “Planejando a
próxima década: conhecendo as 20 metas do Plano Nacional de Educação”, dá-se a ênfase em
“investir fortemente na educação infantil” (p. 49), dando prioridade ao atendimento às
crianças de 0 a 5 anos. e também garantindo o acesso das crianças das camadas mais pobres
da sociedade, pois notou-se através de dados estatísticos as seguintes porcentagens com
relação à quantidade de crianças pobres atendidas em creches:

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, no ano


de 2013, o atendimento em creches atingia cerca de 28% das crianças e na pré-
escola o índice era de 95,2%. Ainda mais grave é a situação identificada em estudo
do mencionado instituto com base em dados do ano de 2010. O estudo demonstrou,
por exemplo, que, do total das crianças atendidas nas creches, 36,3% faziam parte
dos 20% mais ricos da população e apenas 12,2% integravam o estrato dos 20%
mais pobres (BRASIL 2014a, p. 16)

Esses dados refletem a história de privação à educação que as crianças mais pobres
tiverem (e ainda tem), restando a elas uma “educação preconceituosa em relação à pobreza e
descomprometida quanto à realidade do atendimento”. Kuhlmann Jr. (2001, p. 202).
Para a garantia do cumprimento da meta 1 o PNE 2014-2024 dispõe de estratégias que
vão desde: a definição de formas de expansão da rede de educação infantil nos entes
federativos, manutenção e expansão da rede, compra de equipamentos para melhoria das
escolas, levantamento estatístico da demanda por creche para as crianças de 0 a 3 anos,
acompanhamento e monitoramento do acesso e permanência das crianças na educação
infantil, formação inicial e continuada para os educadores, desenvolvimento e
aperfeiçoamento de mecanismos de avaliação da aprendizagem. (BRASIL, 2014b, p. 17-18).

Inclusão escolar de crianças com Transtorno do Espectro de Autismo na educação


infantil: um direito assegurado

A palavra “universalizar” que aparece na Meta 1 do PNE 2014-2024 nos parece bem
apropriada para contexto da inclusão na educação. Seu significado expressa uniformidade,
está associada a igualdade de direitos, desta forma, entendemos que a Educação Infantil será
ofertada de forma generalizada, alcançando à todas as crianças, alcançando as minorias
esquecidas e muitas vezes excluídas desse processo. Dentre as minorias, nos reportaremos as
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crianças com deficiência, uma parcela significativa da população, que a anos vem sendo
suprimida em seus direitos mais básicos, e que volta à tona em muitos documentos oficiais,
numa nova perspectiva de inclusão e empoderamento de seus direitos.
A Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência, ratificada pelo decreto nº
6.949/2009 no Art. 1 diz que “pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimento de
longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais em interação com
diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade
de condições com as demais pessoas”. São inúmeras as barreiras para a efetivação do direito à
educação (que é o direito retratado nesse trabalho), desde ao organizacional, preconceito e
desconhecimento das peculiaridades de cada deficiência. Dentre as deficiências, está o
Transtorno do Espectro de Autismo (TEA) incluído no grupo dos Transtornos Globais do
Desenvolvimento. As crianças com esta síndrome, são citadas no Art. 58 do Capítulo V da
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. A elas é garantido o direito de uma educação
pública desde a Educação Infantil, como mencionado também nesta lei neste mesmo artigo, a
saber: §3º A oferta da educação especial, dever constitucional do Estado, tem início na faixa
etária de zero a seis anos, durante a educação infantil (LDB, 1996, p.33).
Em Manaus no Estado do Amazonas, foi decretado e sancionado a Lei nº 1495 de 26
de agosto de 2010, reconhecendo Art.1º “a Pessoa com Diagnóstico de Autismo como
Portadora de Necessidades Especiais”. Essa lei disponibiliza atendimento especializado em
várias áreas, uma área em questão que nos chamou atenção foi a da educação no que tange à
estimulação precoce. No Inciso III diz: “Garantia de vagas na Rede Pública de Ensino a partir
de 2 (dois) anos, no atendimento de estimulação precoce e/ou essencial”.
No documento Diretrizes Educacionais sobre Estimulação Precoce (1995), documento
que aborda a estimulação precoce de crianças com deficiência de 0 a 3 anos de idade, diz que,
estimulação precoce ou essencial é o “conjunto dinâmico de atividades e de recursos humanos
e ambientais incentivadores que são destinados a proporcionar à criança, nos seus primeiros
anos de vida, experiências significativas para alcançar pleno desenvolvimento no seu processo
evolutivo”. (ESTIMULAÇÃO PRECOCE, 1995, p. 11). Nesta definição, a criança em
questão é a criança com deficiência, e “seus primeiros anos de vida” se refere a faixa etária de
0 a 3 anos. Para a criança com deficiência, segundo este documento “quanto mais cedo à
criança portadora de deficiência ou vulnerável a mesma dor detectada e submetida a
programas de estimulação tanto melhor será o prognóstico de sua reabilitação”.
(ESTIMULAÇÃO PRECOCE, 1995, p. 10).
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A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (de


07 de janeiro de 2008), tem como objetivo o acesso, a participação e a aprendizagem dos
alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades/superdotação nas escolas de regulares.
Em 27 de dezembro de 2012, foi instituído a Política Nacional de Proteção dos
Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro de Autismo sob a Lei 12.764. Que assegura
(entre outros direitos) no Art. 3º, IV o acesso à educação e no Art. 7º acarreta penalidade aos
gestores ou outras autoridades competentes caso seja negado o direito à matrícula às crianças
com TEA.
Desta forma, a inclusão escolar das crianças com TEA é uma realidade, um direito
adquirido por lei, que deve ser cumprido, pois com igualdade de oportunidades de ensino,
essas crianças poderão desenvolver-se cognitivamente, socialmente, como cidadãs plenas de
direitos. Drago (2014), a respeito da inclusão na educação infantil afirma:

Pensar a inclusão na educação infantil é lutar duas vezes: uma pelo direito da criança
pequena à educação de qualidade que veja como sujeito produtor de história, cultura
e conhecimento e outro por acreditar que a criança pequena com algum tipo de
comprometimento físico, mental ou sensorial tem capacidade de aprendizagem e
também é sujeito social que possui, produz e reproduz cultura, conhecimento e
história (p.96).

Escola inclusiva é uma escola para todos, onde enxerga cada um como único, com
possiblidades de superação de suas dificuldades educativas. Não enxerga suas deficiências
como empecilho para o não cumprimento do ensino. Drago (2014) a respeito da escola
inclusiva nos fala “a escola inclusiva direciona-se para um ensino que, além de reforçar os
mecanismos de interação solidária e os procedimentos cooperativos, auxilia o ser humano a se
ver e se perceber como parte de um todo que independe de suas características físicas” (p.78).
Ao incluir uma criança com TEA na escola regular estamos requerendo da mesma
uma mudança organizacional e pedagógica com uma nova visão de conceber a educação,
posturas profissionais diferentes ao lidar com essas crianças e não discriminatórias, visando
sua aprendizagem e continuidade na escola até os níveis de ensino finais.

Ao incluir o aluno com deficiência [...] na escola, estamos exigindo da instituição


novos posicionamentos diante dos processos de ensino e de aprendizagem, à luz de
concepções e práticas educativas mais evoluídas e uma mudança de atitude face à
avaliação dos alunos, à promoção para séries iniciais e níveis de ensino mais
avançados (MANTOAN, 1997, p. 94).
9830

Diante desse cenário de inclusão das pessoas com deficiências nas escolas regulares de
ensino, e em específico, das crianças com TEA, ressaltamos que essa inclusão deve ocorrer
desde as séries iniciais, na educação infantil, como preconiza a lei já mencionada
anteriormente.
Dessa forma, visando o desenvolvimento das potencialidades cognitivas, motoras, e
sociais das crianças com TEA, acreditamos que estas devem (direito adquirido) e podem estar
aprendendo juntas com outras crianças sem deficiências, pois “[...] se torna benéfico na
medida em que representa uma inserção de fato no universo social e favorece o
desenvolvimento e a aprendizagem, permitindo a formação de vínculos estimuladores, o
confronto com a diferença e o trabalho com a própria dificuldade”. (Referencial Curricular
Nacional para Educação Infantil, p. 35).
Uma escola inclusiva é imprescindível e importante para todas que nela estão, uma vez
que, inclusão implica melhoria da educação e na aprendizagem para todos os alunos. “A
inclusão é um desafio que, ao ser devidamente enfrentado pela escola comum, provoca a
melhoria da qualidade da educação básica e superior, pois para que os alunos com e sem
deficiência possam exercer o direito à educação em sua plenitude, é indispensável que essa
escola aprimore suas práticas, a fim de atender às diferenças” (MANTOAN, 2007 p. 45).
Um dos dilemas para a inclusão das crianças com TEA na Educação Infantil é o
desconhecimento. Profissionais da educação, pais, em muitas situações, desconhecem o
autismo e as características inerentes a esta síndrome. O desconhecimento gera escassez de
métodos, procedimentos pedagógicos, currículos e outros tantos instrumentos que facilitam a
inclusão e aprendizagem dessas crianças. No entanto, faz-se necessário conhecer, apropriar-se
de leituras sobre o assunto em questão. Neste sentindo, traremos uma breve conceituação e
caracterização do Transtorno do Espectro de Autismo no tópico a seguir.

Transtorno do Espectro de Autismo: conceito e caracterização

Muito se cogita a respeito do termo “autismo”, termo este, derivado do grego que
significa autos = si mesmo + ismos = orientação/disposição, termo emprestado de Bleuler, o
qual por sua vez, subtraiu o “eros” da expressão autoerotismos, cunhado por Ellis (FEDIDA,
1991 apud BAPTISTA e BOSA, 2002, p. 26).
As primeiras descrições sobre autismo infantil foram feitas na década de 1940, por
Leo Kanner (1943), psiquiatra americano, quando publicou um artigo com título “Austistic
9831

Disturbances of Affective Contact” (Distúrbios Autísticos do Contado Afetivo) na revista


Nervous Children.
Leo Kanner (1943) relatou um quadro sistemático de comportamentos característicos
observadas em um grupo de crianças que ele como profissional acompanhava. Kanner
constatou nas crianças que observava, um extremo isolamento que se dava desde seus
primeiros dias de vida, “o distúrbio fundamental mais surpreendente [...] é a incapacidade
dessas crianças em estabelecer relações de maneira normal com as pessoas e situações desde o
princípio de suas vidas” (KANNER, 1943 apud BAPTISTA e BOSA 2002, p.26). Outra
característica observada foi o atraso na aquisição da fala (não em todas as crianças), e seu uso
não comunicativo (ecolalia). Mas, para Kanner, uma das características chave do autismo era
a insistência obsessiva na manutenção da rotina. Em síntese, as principais características das
crianças autistas observadas por Kanner foram: isolamento extremo observado desde os
primeiros dias de vida, obsessividade pela manutenção da rotina, atraso na aquisição da fala e
ecolalia.
Hans Asperger aprofundou seus estudos sobre autismo observando também um grupo
de crianças; Asperger revelou características que não foram observadas por Kanner. Algumas
características apontadas por ele: o não fixar dos olhos em situação social, fez ressalvas sobre
olhar periférico e breve dessas crianças, a presença de estereotipias – gestos carentes de
significado, aproximação ingênua e inapropriada das pessoas e, notou a falta de percepção dos
pais em notar essas características antes dos três anos de vida da criança (ASPERGER, 1994
apud BAPTISTA e BOSA,2002, p. 25).
Autismo era o termo utilizado tanto por Kanner e Asperger. O primeiro pesquisador,
utilizou primeiramente o termo “Distúrbio Austístico do Contato Afetivo” por conta da
inabilidade do relacionamento social desde os primeiros dias de vida. Depois, utilizou o termo
Autismo Infantil Precoce. Já o segundo pesquisador, utilizou o primeiramente o termo
“Psicopatia Autística”. Apesar de Asperger discordar de Kanner em alguns aspectos sobre o
autismo, ambos concordavam que, as características principais apresentadas eram com relação
a dificuldade em manter um relacionamento afetivo de maneira espontânea e o isolamento
físico, ao qual Kanner denominou de “fechamento autístico extremo” (BAPTISTA e BOSA,
2002).
Schmidt (2013, p.29) fala das terminologias criadas para o autismo, que “ora como
generalização de um conjunto de sinais e sintomas, ora como um tipo específico de transtorno
do espectro de autismo (TEA)”. As terminologias Transtorno global do desenvolvimento
9832

(TGD), Transtorno do espectro de autismo (TEA) e Transtorno invasivo do desenvolvimento


(TID), segundo esse autor, “são terminologias para nomear o mesmo conjunto de sinais e
sintomas (DSM-IV-TR, APA, 2002)”. Também acrescenta que “no DSM-5 (lançado em 22
de maio de 2013), as subdivisões deixam de existir” e que a terminologia a ser utilizada é
TEA onde vão constar todas as outras subdivisões do autismo, sendo apenas diferenciado em
níveis de comprometimento (leve, moderado ou grave) p. 29
Em síntese, pessoas com Transtorno do espectro de autismo apresentam inabilidade
em se relacionar, dificuldades de comunicação (não quer dizer que não possam falar) com
repetições (ecolalia), apresentam obsessão pela rotina, gestos espontâneos sem comunicação
aparente (estereotipias) e fuga do mundo externo, isolando-se e sem interação espontânea.
Diante deste quadro clássico de características da TEA (as principais, embora existam outras),
talvez nos perguntemos se, indivíduos com autismo podem aprender e estudar em escolas
regulares e públicas?
No campo da aprendizagem, Kanner (1943) apud Baptista e Bosa (2002, p. 23),
observou algumas habilidades em crianças com autismo no que refere à memória e linguagem
(nenhuma dificuldade em pronomes e conjunções). Ele fala que essas habilidades
“testemunham uma boa inteligência no sentido comumente aceito desse termo”. O autor
também comenta que as crianças autistas possuíam um bom potencial cognitivo, apesar de
não demonstrarem essa inteligência, e que possuíam fisionomia expressivamente inteligentes
e sem comprometimento físico.

Considerações Finais

As pessoas com deficiência têm o direito à educação pública garantido em vários


documentos nacionais e internacionais e evidenciado em nossa Carta Magna, nossa
Constituição de 1988. Direito adquirido através de muitas lutas e reinvindicações da
sociedade civil e órgãos governamentais nacionais e internacionais. A garantia desse direito se
dá desde a Educação Infantil, que é a primeira fase da educação básica, destinada às crianças
desde de 0 a 5 anos de idade e a crianças que fazem 6 anos após o dia 30 de março. Após a
LBD de 1996, Educação Infantil passa ter uma finalidade pedagógica, proporcionando aos
pequeninos, uma educação voltada ao desenvolvimento integral em seus aspectos físicos,
psicológico, intelectual e social. (BRASIL, 1996).
O direito é garantindo às crianças com Transtornos do Espectro do Autismo de
estudarem em escolas regulares de ensino infantil, porém, somente estar matriculado não é
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garantia de inclusão. Para uma efetiva inclusão escolar e cumprimento da finalidade da


Educação Infantil, a escola necessita de uma reorganização pedagógica, com um currículo
inclusivo, que alcance a todas as crianças e garanta a aprendizagem em seus aspectos globais,
acreditando que todas podem aprender apesar das diferenças e, mais do que isso, que respeite
essas diferenças não diminuindo a criança àquela deficiência.
Temos hoje uma legislação rica em leis que favorecem as crianças no que diz respeito
ao acesso e permanência na Educação Infantil, no entanto, muitas são as barreiras (falta de um
currículo inclusivo, falta de capacitação para os professores, falta de recursos didático-
metodológicos, etc.) para que essas leis se efetivem verdadeiramente e garantam a cidadania
dessa parte da população, principalmente às crianças oriundas das classes mais humildades da
nossa sociedade. Esperamos que a escola não se torne um espaço segregador para essas
crianças, onde estarão apenas matriculadas, porém, distanciadas das práticas de
aprendizagem, sem contato com as demais crianças, nos cantos de sala de aula ou destinada a
frequentar somente a uma sala de recursos multifuncionais sem contato com a sala de aula
regular. Esperamos que essas crianças não sejam vistas apenas como índices de uma
estatística que aponte um número maior de matriculados nos tempos atuais diferente de outros
tempos, mas que a qualidade de ensino oferecida nas escolas de educação infantil atenda às
necessidades educativas e assegure o desenvolvimento de suas potencialidades.

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