Fichamento
Educação e Experiência
John Dewey
Cap. 1 – A Educação como necessidade da vida
I. A renovação da vida pela transmissão.
Seres vivos: conservação pela renovação.
converte as forças da natureza para continuidade de sua ação
(utilização da natureza como meio)
energia gasta < energia adquirida = crescimento
Finitude do processo de perpetuação (e crescimento) no indivíduo.
Reprodução = forma de conservação da vida, e não do indivíduo.
Problematização do conceito de “vida”
1. Coisa física
2. Conjunto de experiências, crenças, caráter, episódios
históricos e etc.
Renovação da existência física (indivíduo) leva a renovação da experiência
(agrupamento social).
Educação (em lato sensu) é o instrumento dessa continuidade da vida.
Finitude da vida física, mas não da experiência (“passam-se os depositários da
experiência, mas a vida do grupo continua” – pág. 2)
A condição de mortalidade e natalidade humana determinam a necessidade da
educação
Mortalidade do homem (depósitos da educação)
Incompletude ao nascer (capacidade originária) não é uma pura cópia
do passado
Surgimento do vão entre os jovens e antigos
Educação como supressão desse vão
A importância da transmissão para a subsistência da sociedade (biológica e
culturalmente)
Exemplo da aniquilação geral (epidemia: suprime um dos lados da
transmissão)
II. Educação e comunicação.
Sociedade é transmissão e é comunicação.
Fruto das coisas em comum
A comunicação é a forma de partilhar coisas.
Partilha de posições
Crítica à ideia do contrato social
É necessário haver genuína comunicação
Comunicar exige formular a experiência (ver pelos olhos do outro)
Formulação da experiência e sua comunicação = afetam os indivíduos,
são formas de educação.
Experiência social é educativa (menos quando engessada em um molde
e rotineira).
Conclusão:
A vida social não apenas exige a educação para sua continuidade, como
ela também é por si própria educação (amplia e ilumina a experiência).
Exercício da solidão = diminuiria a reflexão, ele não teria a experiência de seus
antepassados.
III. O papel da educação formal.
Educação casual x educação intencional
Casual = granjeada pela convivência/sociabilidade; é natural; é
subproduto de muitas instituições.
O contato com os jovens reflete a necessidade da educação (para fazê-
los participar da vida comum).
Necessidade da educação = “fato associativo”.
Exercício da tribo selvagem: não há educação intencional. Os jovens aprendem
pela socialização pura, pelo contato direto com as atividades (ou indiretamente
pelos brinquedos).
Progressão: As atividades adultas tornam-se mais complexas
Surge a impossibilidade de uma educação casual pelo contato direto
Surgimento da educação intencional (escola e os estudos)
A necessidade da educação formal para a transmissão da cultura em
sociedades complexas (para compreensão dos símbolos dos adultos)
Transição da educação intencional para a formal como causa de um
aprendizado distante, abstrato, morto.
Devido aos interesses da sociedade (transmissão e renovação) a medida
utilizada para julgar a educação é a praticidade (o contato com as atividades
humanas).
A dificuldade de evitar a separação entre o aprendizado formal e a educação
casual.
Cap. 2 – Educação como função social
I. Natureza e significação do meio.
Educação como alimento, cultivo dos mais jovens.
Condição de crescimento
Etimologia de educação = conduzir, elevar, guiar.
Educação como atividade modeladora
Pergunta: como se comunicam as experiências? De qual modo?
Método de educação
Influência do meio = molda as tendências do indivíduo.
Diferenciação de “meio”: não se trata do meio orgânico/físico.
Meio: ambiente que permitem ou desestimulam a atividade característica do
ser vivo. O objeto de uma ciência pode ser um meio (veja-se por
exemplo o explorador ártico que tem suas ações determinadas pelo polo
norte)
II. O ambiente social
Convivência associada meio social (pois as vontades e reprovações dos
outros determinam nossas atitudes).
Foco na determinação de como o meio social determina os jovens
Exercício do adestramento
Gera hábitos
Adestramento/treino = alteração dos estímulos da ação, e não da atitude
mental
Animais focam-se na recompensa e não na atividade
Não são companheiros associados
Não há compartilhamentos de interesses, ideias e emoções (ou seja,
não há transmissão da cultura)
Casos especiais = alguns adestramentos levam à mudança de comportamento
mental.
Surge a necessidade de encontrar a diferença essencial entre adestramento e
a educação.
Primeira forma de distinção: a participação na utilidade social
Quando há real modificação de seus impulsos originários, há também um
pertencimento ao grupo, um reconhecimento. (exemplo das lutas e guerras)
Análise do exemplo das guerras: o meio social não impõe desejos e ideias,
assim como também não se torna produção pura de hábitos musculares.
O meio social estabelece condições de procedimento, e se o indivíduo
estiver inclinado a seguir os fins do grupo então tornara-se participante da
atividade comum, assimilando o cabedal de conhecimentos do grupo.
Análise da linguagem como instrumento principal da educação:
Principal forma de aquisição do conhecimento.
Causa da ideia de que é possível transmitir diretamente um
conhecimento.
Estudo sobre o aprendizado da linguagem para compreensão de como a
linguagem leva-nos à ideia de transmissão direta.
Exemplo da criança aprendendo o que é “chapéu”: por observação e
repetição dos atos compartidos entre os homens (ela repete o que eles fazem).
Como aprende-se algo que não temos contato direto?
Uma palavra nada mais é que o símbolo de uma atividade compartida.
“O simples fato de que a linguagem consiste em sons mutuamente inteligíveis
basta para mostrar que sua significação exige que haja uma experiência
compartilhada”.
Compreensão = as coisas (até as palavras) tem para ambas mesmo valor, ao
se dedicarem a uma empreitada em comum.
As palavras ganham sentido graças ao uso em um ato de interesse e finalidade
comuns.
Reutilizar a palavra significa evocar mentalmente e participar da ação que
gerou a significação da palavra. “Capacete grego” leva-nos a imaginar a
época, os indivíduos, as vestimentas e etc que geraram essa palavra.
O aprendizado da linguagem é, portanto, desdobramento do princípio de
significação das palavras (a saber, a participação plena na atividade).
Adendo: quando as palavras se encontram em uma ação sem ser de forma
partilhada (ou seja, sem significação) elas servem como estímulo físico (veja-se
o exemplo do sinal de “mais” na aritmética).
É O MEIO SOCIAL, A ATIVIDADE COMPARTILHADA, O FIM EM COMUM
QUE GARANTEM O FUNCIONAMENTO DA LINGUAGEM!
III. O meio social como fator educativo
O meio privilegia o desenvolvimento de certos impulsos, sendo então inevitável
participar da vida do grupo em contato. * Esse é o influxo educativo ou
formativo que o meio proporciona, sem qualquer intencionalidade. *
Participação direta Educação casual Iniciadora dos jovens nas crenças do
grupo (é o alimento fundamental para a educação, mesmo para aqueles que
receberão a educação escolar).
! A associação social não cria os sentimentos de agrado ou desagrado perante
uma ação, mas proporciona o objeto à que eles se aplicam !
O modo de vida da sociedade define quais serão os objetos morais e
intelectuais a serem investigados
Tendemos a crer que os antigos não conheciam algo ou ignoravam certo
objeto por causa de uma estupidez inata deles, mas trata-se do fato que seu
modo de vida não clamava atenção para tais objetos.
Modo de vida define o modo de observar, recordar e imaginar.
Os efeitos do influxo educativo do ambiente:
O aprendizado da língua materna.
Cap. 6 – A educação conservadora e a progressiva
I. A educação como formação
Não crê no desenvolvimento ou desdobramento do espírito.
Não crê em faculdades inatas no homem.
Ilustração por meio de Herbart (e conceituação de apresentações):
O espírito produz reações, qualitativamente diferentes, baseado nas
realidades que atuam sobre ele.
Essas reações são chamadas apresentações.
As apresentações se mantêm no espírito, funcionando abaixo do limiar
da consciência, e suscitadas (ou revividas) por conexão com outras
apresentações.
As faculdades (atenção, memória, pensamento, percepção e
sentimentos) são conjugações de apresentações submersas.
O espírito é propriamente esse conteúdo/equipamento.
Em relação à educação:
1. A formação do espírito: trata-se de apresentar o material correto.
2. As apresentações primárias são as mais decisivas, sendo as
posteriores apenas suscitantes delas. “A direção virá de trás, do passado [...]”.
3. Surge o método. Dado que a educação trata de apresentar a matéria
nova, deve-se seguir alguns passos: a) preparação (reviver as apresentações
já tidas, trazê-las ao consciente); b) interação entre as velhas e novas
apresentações e, por fim, c) aplicação do conteúdo (conjugação nova
recentemente formada em execução). A educação torna-se universal e
uniforme.
Método: deveria considerar como o novo material seria apresentado, e em que
sucessão.
Problemas:
Reflete a opinião do pedagogo sobre a vida. Está sujeita à opinião deste.
Vê o professor apenas como mestre, sem sua capacidade de aprender.
Privilegia a influência do meio sobre o espírito: ignora que o meio
subentende a participação do espírito em uma atividade comum.
Exagera o apreço ao método, ignorando as disposições vitais.
Pensa no passado e esquece o novo e o imprevisível.
Em suma: toma em conta tudo que é educativo, menos a essência da
educação (a energia vital que procura oportunidades para seu eficaz exercício).
2. A educação como recapitulação e retrospecção
Teoria da educação como recapitulação biológica e cultural.
Indivíduo desenvolve-se analogamente aos processos de
desenvolvimento da humanidade, como um aperfeiçoamento das formas (das
mais simples até as mais complexas).
Maternidade: assimilado à época pré-histórica, com instintos de vaguear
e depredar. A matéria educativa adequada, portanto, será aquela produzida em
tal período: os mitos, folclores, canções e etc.
Infância: período pastoril.
E assim por diante até o estado atual de cultura.
O que é importante nesta teoria é o princípio implícito de que a educação é
essencialmente retrospectiva: ela toma o passado como modelo.
Falseamento do fundamento biológico da teoria:
Não há uma regra rigorosa de repetição na vida humana.
O desenvolvimento é o corte e as alterações no plano de repetição.
“Educacionalmente, a grande vantagem da imaturidade é habilitar-nos a
emancipar os educandos da necessidade de permanecer nessa projeção do
passado, de um passado já morto... O mister da educação é antes libertá-los
da necessidade de reviver, de reatravessar o passado, do que leva-los a uma
reiteração deste” (pág. 79)
Não se trata de ignorar o influxo do meio ou do passado (uma vez que o
ambiente social dos jovens é composto pela ação dos hábitos de pensar e
sentir dos homens civilizados), mas sim de poupar-lhes o esforço de
reconstituir toda a educação da humanidade passo-a-passo.
No princípio de tal teoria há duas verdades: 1. fisiologicamente há
atividades instintivas e cegas, não adaptadas ao ambiente imediato; e 2.
Utilizar-se do passado é aceitável enquanto for proveitoso para o futuro,
enquanto utilizada como recurso e não apenas modelo.
Sobre ambos os pontos:
1. Confunde-se a primeira verdade, pois ela conjuga-se à ideia de
hereditariedade (que relaciona erroneamente as determinações do passado
com as utilizações presentes do meio).
Vê-se a hereditariedade como determinadora daquilo que o indivíduo
deverá estudar, quando na verdade ela é apenas condição de estudo.
Ter certa característica por hereditariedade não significa ter um traço tão
fixo que seja imutável, mas sim ter uma capacidade inata, que não tem
pré-determinada sua futura utilização. É função da educação utilizá-las
da forma mais frutífera. Mas como? Primeiramente, reconhecendo as
aptidões e deficiências do educando, e, segundamente, proporcionando-
lhe um ambiente para acionamento de tais atividades. Coloca-se, assim
“a herança do passado em sua justa correlação com as exigências e
oportunidades do presente”.
2. Confunde-se a segunda ideia, pois se crê que a matéria apropriada à
educação se encontra nos produtos culturais dos séculos passados.
Trata-se de um exemplo do divórcio entre o processo e o resultado de
desenvolvimento (já criticado).
A verdadeira matéria educativa deve conservar vivo o processo de
crescimento e desenvolvimento.
Porém, o homem vive no presente.
O presente não é resultado do passado, ele é a vida que existia nos
passados quando estes eram presentes. Deste modo os produtos do passado
que influenciam o presente nada mais são que produtos de presentes já
passados.
O erro é acreditar que devemos tornar o presente uma imitação do
passado, nestes casos a cultura torna-se um ornamento ou um consolo, torna-
se um paraíso para o qual os homens fogem quando confrontados com as
durezas do presente.
Crer no passado como ideal da educação desconecta-nos do presente e
mata a utilidade da educação.
III. A educação como reconstrução
Definição técnica da educação: “é uma reconstrução ou reorganização da
experiência, que esclarece e aumenta o sentido desta e também a nossa
aptidão para dirigirmos o curso das experiências subsequentes”.