Cap 21 - Um Estudo Sistemático de Doutrina Bíblica
A DOUTRINA DA EXPIAÇÃO
A palavra expiação ocorre só uma vez na versão do Rei Tiago em o Novo Testamento.
Vide Romanos 5:11. Aqui está uma tradução de katallage. Este substantivo grego ocorre em três
outras passagens: uma vez em Romanos 11:15, onde está traduzido reconciliando; uma vez em
2 Coríntios 5:18, onde está traduzido !reconciliação? e uma vez no verso seguinte, onde outra
vez está traduzido ?reconciliação?.
O verbo grego !katallasso?, correspondente ao nome !katallage?, acha-se também em 2
Coríntios 5:18,19; em Romanos 5:10 e 1 Coríntios 7:11. Em cada um destes casos está
traduzido para significar !reconciliar?.
Segundo o uso do grego, a palavra ?expiação? pode ser usada tanto da provisão da
base objetiva de salvação, na qual temos uma expiação potencial, como da realização atual da
salvação, na qual temos uma expiação atual na aplicação dos benefícios da morte de Cristo e a
oferenda do Seu sangue no templo celestial.
O verbo grego !katallasso? está usado no primeiro sentido em 2 Coríntios 5:19, onde
lemos: !Deus estava em Cristo reconciliando o mundo consigo mesmo, não lhes imputando os
seus pecados?. O sentido aqui é que Deus estava reconciliando o mundo Consigo mesmo por
lançar os seus pecados sobre Cristo. Refere-se, pois, a passagem ao que se realizou na morte
de Cristo e não ao que se realizou através do Seu ministério Profético, predicante.
É neste sentido que a palavra !expiação? é ordinariamente empregada nas discussões
teológicas, sentido em que a usamos neste capítulo.
I. A IMPORTÂNCIA DA EXPIAÇÃO
A expiação é o tema central do cristianismo. Tudo que a precede, olha para frente e tudo
que a segue olha para ela atrás. Pode-se ver sua importância revendo os fatos seguintes:
1. ELA É O TRAÇO DISTINTIVO DO CRISTIANISMO
O cristianismo é a única religião com uma expiação. Conta-se que há alguns anos
passados, quando se reuniu uma Parlamento de Religião na Exposição de Chicago, Joseph
Cook, de Boston, o orador escolhido do cristianismo, levantou-se, depois de terem sido
apresentadas outras religiões, e disse: !Eis aqui Lady Macbeth com as suas mãos manchadas
com a morte infame do Rei Duncan. Vede-a como perambula pelas salas e corredores de sua
casa palacial, detendo-se para gritar. !Fora, mancha danada! Nunca mais estas mãos ficarão
limpas?? O representante do cristianismo virou-se para os adeptos de outras religiões e os
desafiou triunfantemente: !Pode alguém de vós que estais tão ansiosos de propagar vossos
sistemas religiosos proporcionar qualquer eficácia purificadora para o pecado e a culpa do crime
de Lady Macbeth? Emudeceram, porque nenhum deles teve uma expiação a oferecer.
2. ELA VINDICA A SANTIDADE E A JUSTIÇA DE DEUS
Não podia haver em Deus verdadeira santidade e justiça se Ele permitisse ao pecado
passar impune. A santidade proíbe semelhante encorajamento do pecado. A justiça requer
retribuição.
3. ELA ESTABELECE A LEI DE DEUS
Sem expiação a salvação dos crentes deixaria a lei vã, letra morta. Vide Romanos 3:31 e
Hebreus 2:2.
4. ELA MANIFESTA A GRANDEZA DO SEU AMOR
De nenhum outro modo podia Deus ter manifestado maior amor pelo Seu povo do que
por dar o Seu único Filho unigênito para morrer em lugar dele povo. Vide João 3:16, 15:13;
Romanos 5:8; I João 4:9.
5. ELA PROVA A AUTORIDADE DIVINA DOS SACRIFÍCIOS DO VELHO TESTAMENTO
Vemos na expiação de Cristo o antítipo mais belo dos sacrifícios do Velho Testamento. E
vemos nesses sacrifícios um método efetivo de apontar à necessidade de expiação e um tal
quadro da expiação real como guiaria o iluminamento a espiritualmente inculcar através do véu
de sombra à verdadeira luz. A divina autoridade dos sacrifícios do Velho Testamento não
apresenta dificuldades ao que crê que a morte de Cristo foi substitucionária; mas, os que
desejam negar este último fato também sabem que Deus instituiu os sacrifícios de animais do
Velho Testamento.
6. ELA FORNECE A PROVA DEFINITIVA DOS SISTEMAS TEOLÓGICOS
Por sua atitude para com a expiação, os sistemas teológicos classificam-se em pagãos
ou cristãos. A oposição deles quanto à expiação também reflete sua idéia da natureza de Deus,
de Sua Lei e do pecado.
II. A NATUREZA DA EXPIAÇÃO
1. IDÉIAS FALSAS DA EXPIAÇÃO
(1). A idéia governamental
Esta idéia sustenta que o propósito da expiação foi impedir que o perdão dos
pecadores por Deus encorajasse o pecado. A salvação dos pecadores não exige que eles levem
a penalidade dos seus pecados. O seu virar do pecado para Deus é suficiente para justificar
Deus em salva-los; mas o perdão dos culpados, sem alguma exibição do ódio de Deus contra o
pecado e de Sua consideração pela Lei, licenciaria o pecado e roubaria qualquer autoridade
sobre as consciências dos homens.
(2). A idéia de exemplo
Esta idéia sustenta em comum com a governamental que a morte de Cristo não foi
substitucionária: sustenta que Deus não precisou de ser propiciado em benefício do pecador;
que o único óbice à salvação dos pecadores jaz na prática contínua do pecado pelo pecador.
Reforma, portanto, é o remédio adequado e isto pode ser efetuado pela própria vontade do
homem. Para encorajar-nos nisto Jesus morreu como um nobre mártir, exemplificando uma
devoção abnegada que escolheu a morte antes que falhasse do Seu dever a Deus e ao homem.
Somos salvos, não por confiar nEle como nosso porta-pecado senão por confiar em Deus
segundo Seu exemplo e assim devotando-nos à justiça.
(3). A idéia de Influência Moral.
Esta idéia sustenta em comum com ambas as primeiras que o pecado não traz culpa
que deva ser removida: não é a culpa senão a prática do pecado que impede a salvação. A
morte de Cristo foi somente uma exibição de amor para abrandar o coração do homem e leva-lo
ao arrependimento. !Os sofrimentos foram necessários, não para remover um obstáculo ao
perdão de pecadores que existe na mente de Deus senão para convencer os pecadores de que
não existe tal obstáculo? (Strong).
(4). A idéia de depravação gradualmente extirpada.
Esta idéia está definida por Strong como segue:
!Cristo tomou a natureza humana como ela estava em Adão, não antes mas depois da
queda, - a natureza humana, portanto, com a corrupção nata e predisposta para o mal moral;
que, não obstante a possessão desta natureza inquinada e depravada, Cristo, pelo poder do
Espírito Santo, ou de Sua divina natureza, não só guardou Sua natureza humana de se
manifestar em pecado atual ou pessoal, mas purificou-a gradualmente, por meio de luta e
sofrimento até que na Sua morte Ele extirpou completamente sua depravação original e a reuniu
com Deus. Esta purificação subjetiva da natureza humana na pessoa de Jesus constitui Sua
expiação e os homens não são salvos por qualquer propiciação objetiva senão somente por se
tornarem através da fé participantes da nova humanidade de Cristo?.
Há outras duas idéias da expiação que os teólogos comumente discutem sob teorias
falsas ou inadequadas da expiação aqui não daremos tratamento especial. Referimo-nos a idéia
de acidentes e à comercial. A primeira sustenta que a morte de Cristo foi um acidente imprevisto
e não antecipado por Cristo. Esta idéia é tão manifestamente absurda que não merece aqui o
espaço que ela tomaria para refuta-la. Não damos aqui atenção especial à idéia comercial da
expiação porque ela envolve tanta verdade que achará exame sob a epígrafe da idéia correta da
expiação.
2. A IDÉIA CORRETA DA EXPIAÇÃO.
A idéia correta da expiação, que concebemos como sendo a correta, reconhece o
elemento de verdade em cada uma das seguintes teorias que tem recebido especial menção e
também combina o que são costumeiramente chamadas idéias comercial e ética, mas esta vai
mais longe do que qualquer delas.
(1). Verdades reconhecidas noutras idéias.
A. Uma falha em punir o pecado derrubaria o governo divino.
Este é o elemento de verdade na idéia governamental, mas isto é só um dos muitos
elementos de verdade envolvidos na expiação. Uma simples exibição do ódio de Deus contra o
pecado sem medir uma justa penalidade, portanto, não consegue e não conserva inteiramente
os interesses do governo divino. Qualquer exibição do ódio divino para com o pecado agirá como
um óbice ao pecado e assim tenderá a manter governo, mas, até ao ponto em que essa exibição
do ódio divino se fruste da justa penalidade, ela fracassa em fornecer um óbide ao pecado que
honre completamente o governo divino.
B. Na morte de Cristo temos um exemplo inspirador.
É um exemplo de abnegada devoção a Deus e ao homem. E o povo salvo (não os
perdidos) são mandados seguir este exemplo. Vide Mateus 16:24; Romanos 8:17; 1 Pedro 2:21,
3:17 e 18; 4:1 e 2. Mas, que Cristo não morreu meramente como um nobre mártir, evidente é de
Sua própria atitude para com a Sua morte. Se Ele morreu apenas como exemplo, então Ele
supriu exemplo muito pobre. Muitos mártires humanos tem ido para a fogueira sem um sinal de
angustia; todavia, o Senhor Jesus Cristo suou como se fossem grandes gotas de sangue no
horto. Muitos mártires desfrutaram um vívido senso da presença de Deus na hora da morte, mas
o Senhor Jesus Cristo foi desertado pelo Pai na hora da morte. Contrastai a atitude de Cristo
perante a morte com a de Paulo.
C. Na morte de Cristo temos uma exibição de amor de Deus.
Vide João 3:16; Romanos 5:8; 15:13; 1 João 4:9. E esta exibição deveria mover os
homens ao arrependimento. Este é o elemento de verdade na idéia de influência moral da
expiação; mas, que a expiação foi mais do que uma simples exibição de amor far-se-á manifesta
ao passo que avançamos.
D. Através da morte de Cristo somos feitos participantes da vida de Cristo.
Vide 2 Coríntios 4:11; 5:14-17; 12:9 e 10; Gálatas 2:20; 2 Pedro 1:4. Este é o elemento
de verdade na idéia de depravação gradualmente extirpada da expiação; mas, atingimos esta
nova vida em Cristo em conjunção com a fé nEle como nosso porta-pecado. Esta idéia recém
mencionada nega:
(2). Outras verdades reconhecidas.
A verdadeira idéia da expiação reconhece todas as verdades das outras idéias, mas
reconhece mais. Erram os que acentuam um elemento de verdade com exclusão de outros.
Outras verdades reconhecidas pela verdadeira idéia da expiação, são:
A. A verdade quanto à natureza de Deus.
Tudo das falsas idéias a que temos dado especial atenção nega que haja qualquer
obstáculo que seja em a natureza de Deus ao perdão dos pecadores. O entrave supõe-se ser
todo ele de parte do pecador. O sofrimento de Cristo não foi em nenhum sentido uma satisfação
de qualquer princípio em a natureza divina.