CAP. 1 - Análise e Resolução de Problemas Profissionais
CAP. 1 - Análise e Resolução de Problemas Profissionais
Problemas Profissionais
Marcelo Bandiera
Autor Capítulo 1
Sumário
CAPÍTULO 1
1. Definição e Análise de Problemas ........................................................... 03
1.1 Apresentação ...................................................................................... 03
1.2 Estabelecer o Contexto dos Problemas .............................................. 04
1.2.1 Problemas em Contextos Simples ............................................... 06
1.2.2 Problemas em Contextos Complicados ....................................... 07
1.2.3 Problemas em Contextos Complexos .......................................... 08
1.2.4 Problemas em Contextos Caóticos .............................................. 10
1.3 Para Resolver Problemas, encontre o Método Certo .......................... 10
1.4 O Nosso Método para Analisar e Resolver Problemas ....................... 14
1.4.1 Reconhecer o Problema: Passo 1 ................................................ 15
1.4.2 Estratificar o Problema: Passo 2 .................................................. 16
1.4.3 Analisar as Causas do Problema: Passo 3 .................................. 20
1.5 Síntese ................................................................................................ 25
1.6 Referências Bibliográficas ................................................................... 26
Análise e Resolução de Problemas Profissionais
1.1 Apresentação
O mundo que surgiu no início Então, o século XXI é o lugar dos influências e jogos de poder
deste século está colocando novos problemas que, uma vez durante a guerra fria, haja vista
muita gente para pensar, não solucionados, podem afetar que as decisões eram tomadas
apenas pela velocidade da positivamente milhões de em poucos centros de poder.
mudança, mas pela complexidade pessoas. Esse novo mundo
com que a tecnologia vem ganhou uma nova terminologia: Com a ascensão de novas
evoluindo e trazendo soluções VUCA. potências, novas decisões e
para antigos problemas como dinâmicas surgiram e retiraram a
doenças crônicas ou fome O termo VUCA (VICA em pouca previsibilidade existente.
endêmica. Em contrapartida, vem Português) é um acrônimo criado Ademais, o surgimento de
criando novos problemas de difícil pelo Exército Americano para grandes companhias
solução. explicar o mundo após a Guerra transnacionais influenciando as
Fria. Se antes existia um claro políticas nacionais e globais e
As crianças que estão nascendo antagonismo entre Estados ONGs de escopo global
agora, provavelmente terão uma Unidos e União Soviética a influenciando a opinião pública,
expectativa de vida próxima aos realidade de hoje aponta para o temos um cenário muito mais
100 anos, isso se questões crescimento da influência de mais instável e difícil de analisar e
globais como as mudanças nações no Oriente Médio ou no prever.
climáticas não afetarem de forma Leste Asiático.
significativa a produção de Então, a nossa capacidade de
alimentos ou a criação de novas Com um número menor de atores prever e planejar cenários vem
doenças até então não relevantes no cenário global, era perdendo força, isso se deve a
desenvolvidas. mais simples compreender as partir de quatro características
ligadas ao termo VUCA, a saber:
Volatilidade (Volatile): a velocidade das mudanças tem sido cada vez maior. Planejamentos de 05
anos são incapazes de prever mudanças que ocorrem no próximo mês. O inesperado é cada vez mais
frequente e embora o acesso a informação seja enorme, estar atento ao que importa exige uma
observação atenta e focada.
Incerteza (Uncertain): cada novidade traz uma mudança, e como o volume de lançamento das novas
ideias e tecnologias é alto, o resultado das nossas ações e das ações dos outros não é mais tão
previsível. As nossas escolhas agora devem prever a redução de risco fazendo com que não devamos
“colocar todos os ovos na mesma cesta”.
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Essa forma de pensar vem trazendo às Ao final deste capítulo, esperamos que
organizações novas formas de observar o você esteja apto a:
mundo e tomar decisões mais frequentes e
com revisões permanentes, ou seja, - Identificar as linhas de raciocínio utilizadas
analisar e resolver problemas deixa de para compreensão e resolução de
acontecer em um momento específico e problemas;
passa a ser um comportamento do cotidiano - Contextualizar um problema, caracterizar
das pessoas. seus tipos e medir impactos nas nossas
vidas e das organizações;
E o seu cotidiano, vem sendo alterado por - Descrever, selecionar e aplicar métodos e
essas mudanças? Quantas tecnologias ferramentas utilizadas para análise de um
surgiram e que alteraram a sua rotina problema;
pessoal? A sua profissão vem mudando? - Buscar informações que sejam confiáveis e
Quais as novas técnicas e ferramentas que aplicáveis à resolução de um problema;
surgiram por conta dessas mudanças? - Analisar as causas que geram um
problema de forma estruturada.
Mas principalmente: você se sente
preparado(a) para resolver os problemas Vamos lá?
que estão surgindo?
Vimos que devido ao mundo VUCA os problemas batem a nossa porta de forma cada vez mais
frequente, mas o que são problemas?
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Análise e Resolução de Problemas Profissionais
Problema pode ser definido como uma situação O pesquisador David Snowden é professor da
não desejada. Uma doença, uma injustiça, Universidade de Harvard e desenvolveu um
defeitos em um produto, um conflito entre modelo conceitual denominado Cynefin
pessoas, não aprender determinado conteúdo, Framework, que nos ajuda a entender o contexto
faturamento abaixo do esperado e segue a lista em que os problemas estão imersos para, então,
interminável de situações que podem ser de definir que tipo de abordagem os tomadores de
simples resolução, pois podemos identificar com decisão devem adotar, seja no campo pessoal ou
clareza as suas causas e efeitos de uma profissional.
solução, entretanto, existem problemas em que
essas relações possuem uma elevada O Cynefin Framework (SNOWDEN, BOONE,
quantidade de causas e muitas delas não 2007), define 05 tipos de contextos onde o
claras. problema que você deseja resolver está presente:
simples, complicados, complexos, caóticos ou em
desordem (Figura 1).
DESORDENADO
COMPLEXO
Sonde
Sinta
Responda
CAÓTICO COMPLICADO
Aja DESORDEM Sinta
Sinta Analise
Responda Responda
SIMPLES
Sinta
Categorize
Responda
ORDENADO
Figura 1. Cynefin Framework
Fonte: (SNOWDEN; BOONE, 2007, tradução nossa)
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Em Suits, vemos o dia a dia de um escritório de advocacia corporativa, onde casos de clientes são
resolvidos não apenas com o conhecimento da lei, mas também com o entendimento profundo dos
negócios dos clientes.
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Nos problemas do contexto complicado, não existe Recomendamos aqui a escuta do usuário, do
mais a melhor prática, mas sim boas práticas que consumidor ou do cliente final de uma solução que
podem ser aplicadas e chegarem a resultados está sendo desenvolvida. Sob o ponto de vista
igualmente satisfatórios, a partir de uma análise empírico ele tem muito a agregar, mas
adequada de acordo com os campos do principalmente, do ponto de vista humano é
conhecimento que forem acessados. importante considerar as pessoas impactadas com
o problema na busca da solução.
Um risco desse tipo de contexto está na não
aceitação de opiniões vindas de fora do campo do No contexto complicado, além de buscar os
conhecimento, o que, eventualmente, pode conhecimentos específicos você normalmente
inviabilizar a criação de soluções inovadoras pela também já possui dados em volume e qualidade
agregação de novos conhecimentos. Em parte, pela suficiente para a resolução de um problema ou
crença do especialista que os seus anos de estudo para a tomada de decisão. No entanto, quando a
são o suficiente para a lidar com o problema. resposta certa não é facilmente descrita ou você
possui apenas dados incompletos, então
Assim, é recomendado aos tomadores de decisão provavelmente, o problema faz parte de um
fazer uma consulta aos especialistas, mas, caso contexto complexo e não um contexto complicado.
seja possível, buscar opiniões ou alternativas de
solução fora do campo de conhecimento.
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É no campo da complexidade que também surge a possibilidade de a inovação surgir, pois não
existem respostas prontas para os problemas apresentados e, neste caso, a experimentação assume
um papel chave. A técnica consiste em fazer testes em pequenas partes do problema como forma de
sondar quais destas alternativas gera algum tipo de efeito positivo, mesmo que não resolva o
problema. Entretanto, uma vez descoberta a solução (ou um caminho para) deve-se produzir uma
solução em maior escala.
Esse é o método experimentado por muitas startups 1 que atuam com projetos inovadores: lançar um
protótipo (ou produto mínimo viável) e verificar a resposta dos consumidores, que, caso positiva,
estabiliza uma determinada característica da oferta de valor ou, caso negativa, deve ser
imediatamente corrigida.
VOCÊ SABIA?
Nesse TED Talk o cientista Astro Teller, do laboratório de Inovação do Grupo Google, fala
sobre como o grupo desenvolve iniciativas de alto risco, mas com alto potencial de impacto
na sociedade ao utilizar métodos de pequenos testes antes de lançar grandes iniciativas.
https://www.ted.com/talks/astro_teller_the_unexpected_benefit_of_celebrating_failure
Dica: grande parte das palestras do TED estão em inglês. Caso seja necessário, basta no rodapé do vídeo
habilitar a legenda em português.
No contexto complexo, é necessário tolerar e gerenciar o fracasso, pois ele vai acontecer e você
deve aprender com ele rapidamente para reformular e oferecer uma solução mais adequada ao
problema que você está atacando. O autor apresenta algumas dicas e ferramentas para gerenciar
em um contexto complexo:
Abrir a discussão: você vai precisar de uma equipe multidisciplinar, além de ouvir pontos
de vista diversos;
Defina barreiras: o erro é aceitável, mas é importante definir qual a margem. Lembre, por
exemplo, que no mercado de ações o investidor determina um limite máximo para perdas;
Faça testes para ver o que funciona: crie pequenos testes em ambientes específicos
para entender o comportamento das pessoas, da economia ou em sistemas biológicos;
Encoraje a diversidade: desavenças controladas podem ser extremamente benéficas se
gerarem novas ideias e padrões;
1
De acordo com Eric Ries (2012), uma startup é uma instituição humana desenhada para criar um novo produto ou serviço pag. 09
em condições de extrema incerteza.
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Nesse momento, surgem os profissionais e líderes excepcionais. É o caso das situações de grave
crises, como guerras ou depressões econômicas. Compete ao líder tomar decisões baseado nas
informações possíveis e avançar com inteligência no ambiente caótico.
Muitas pessoas e mesmo profissionais experientes preferem não encarar os problemas acreditando
que eles vão sumir por conta própria, no entanto, mesmo que isso possa acontecer, a tendência é
que um problema se agrave até a sua causa ser eliminada.
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A abordagem aqui defendida é que os problemas não devem ser evitados! Devemos buscar os
problemas (e as suas causas) de forma ativa, pois esse é o comportamento de profissionais que
buscam se diferenciar no mercado de trabalho. O professor Vicente Falconi, um dos melhores
consultores do Brasil, nos diz:
Existem dois tipos de problema: o ruim e o bom. O problema ruim de uma organização é
aquele que decorre do desvio das operações de rotina. É um problema que cai em seu colo
sem que você espere.
O problema bom é aquele criado por você. Isso acontece quando você está insatisfeito
com os resultados atuais e deseja melhorá-los. Aqui me refiro aos indicadores de vendas,
de custos, de produtividade fabril, entre outros, que existem nas diversas áreas da
companhia.
Se você vende 1.000 peças por mês e quer aumentar para 1.200, acaba de criar um
problema bom que deve ser resolvido utilizando o método gerencial. É por isso que todos
nós deveríamos ser “exímios resolvedores de problemas”. Quanto mais competente você
for na operação do método, mais útil você será para sua organização.
Fonte: https://www.falconi.com/gesta-a-vista/resolver-problemas-ou-evita-los/
Trazemos à tona, então, uma palavra estudar toda a matéria. Então, a escolha
importante para a análise e resolução de do método deve ter como foco
problemas: Método. o problema que você quer ver resolvido,
ou mesmo, de que forma você deve atuar
Talvez você não tenha percebido, mas já para que um problema não venha surgir
faz uso de métodos constantemente, pois pela falta de uma intervenção.
ele é a forma de fazer as coisas, como uma
lista de compras com o objetivo de não A origem da palavra já explica muito bem
esquecer um item quando em um o seu significado. De origem grega,
supermercado, ou um roteiro de estudo que methodos é junção de meta (através de) e
possa cobrir toda a matéria até a prova. hodos (caminho), ou seja, o método é
uma forma de organizar o caminho para
Nos dois exemplos supracitados temos se chegar a um destino ou chegar a
problemas que podem ser evitados: resolução de um problema. Em resumo,
esquecer de comprar coisas e não método é o caminho para a realização de
algo.
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Análise e Resolução de Problemas Profissionais
Assim, a partir desse ponto, vamos falar extensamente sobre métodos para análise e resolução
de problemas, tendo foco na resolução de problemas simples ou complicados haja vista que
temos um tempo limitado (como tudo na vida) para abordar um tema de tamanha importância.
Afinal, como você acha que os problemas foram resolvidos no decorrer dos séculos? Inicialmente
se usou a observação e a capacidade do cérebro humano de descrever padrões. As estações do
ano foram o meio encontrado para saber o momento certo para plantar, e assim, nos
estabilizamos em um território e as nossas cidades puderam crescer.
Como foi anteriormente exposto, os problemas estão cada vez mais frequentes, complicados e
complexos, não cabendo mais a simples observação como uma alternativa para a sua resolução,
precisamos, então, nos aprofundar na análise para a sua compreensão.
Para facilitar a aprendizagem, tradicionalmente, o corpo humano foi separado em sistemas como o
digestivo, ósseo, muscular, respiratório, circulatório, dentre tantos outros. Ao separar e estudar
cada uma dessas parte de forma individualizada nos foi possível ter uma maior compreensão do
seu funcionamento. Ou seja, pegamos um todo e dividimos em partes para facilitar a nossa
capacidade de interpretar os fenômenos que acontecem conosco.
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Análise e Resolução de Problemas Profissionais
Entretanto, vejam que nenhuma dessas partes é capaz de sobreviver sem as outras. Então, os
profissionais da saúde se aprofundam na compreensão de cada parte, mas também nas relações
dessas partes dentro de um todo interconectado e mutuamente dependente. O nome dessa
segunda linha de raciocínio é a síntese.
Muitas vezes o processo de resolução de um problema vai necessitar desse exercício, analisar
ao separar por partes, e realizar a síntese para se chegar a uma conclusão. Conforme nos
afirma SEVERINO (2007, p. 83): “análise e síntese, embora se oponham, não se excluem. Pelo
contrário, complementam-se”.
Outro tipo de pensamento, baseado na lógica, e para a constatação desse fato e a construção
caracterizado por duas linhas que nos habilitam de soluções adequadas.
a chegada de conclusões é a INDUÇÃO e a
DEDUÇÃO (SEVERINO, 2007). Ambos Quando o Direito cria jurisprudência tem-se um
importantes para que possamos chegar ao exemplo de raciocínio indutivo, afinal, se em
resultado de um problema. determinado caso se chega a uma conclusão,
caso as condições de outros casos sejam
O raciocínio indutivo é um procedimento lógico idênticas pode-se pressupor que a decisão
pelo qual passamos a generalizar certos também será igual.
fenômenos a partir do comportamento de fatos
particulares. Esse é um processo importante, Já o raciocínio dedutivo passa do geral para o
pois permite a criação de pressupostos particular. Se determinada teoria aponta para
universais e padrões que simplificam a nossa um resultado, então, todos os elementos
forma de ver o mundo. Um exemplo seria: sujeitos à mesma tendem a ter o mesmo
“Tenho visto muitos cisnes e eles eram todos resultado. Trata-se da aplicação de regras
brancos. Portanto, todos os cisnes são gerais para todos os elementos de um conjunto.
brancos”. Se a teoria nos diz que um metal tem
determinado coeficiente de dilatação (uma
A probabilidade ajuda a compreender essa regra geral), então todos os objetos compostos
linha de pensamento. Por exemplo, se um com este metal se dilatarão na mesma razão.
profissional da saúde está fazendo a triagem na
emergência de um hospital e muitas pessoas Voltando ao exemplo da epidemia, se a
chegam com os mesmos sintomas, é natural Secretaria de Saúde aponta o surgimento de
pensar que uma epidemia está surgindo na sua uma epidemia na sua região, e chegam casos
região e embora essa constatação não seja na emergência de um hospital com os mesmos
uma certeza, essa linha de raciocínio permitirá sintomas, então, pode-se deduzir que existe
aos órgãos públicos definir uma linha de ação uma alta probabilidade de ser a doença
relacionada à epidemia.
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Análise e Resolução de Problemas Profissionais
A linha de raciocínio indutiva é mais propensa a falhas, afinal somos incapazes de conhecer toda a
extensão da realidade e muitas vezes a ciência é surpreendida por novos fatos que derrubam
teorias consagradas. Mas é esse o grande desafio dos cientistas: provar teorias que sustentem os
fatos como eles são e não mudar os fatos para se encaixar em uma teoria pré-estabelecida. Dessa
forma a ciência e a humanidade progridem.
Defenderemos aqui que, para analisar e resolver um problema, necessariamente devemos percorrer
7 passos importantes:
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Análise e Resolução de Problemas Profissionais
Neste capítulo, vamos, discutir sobre como reconhecer, estratificar e analisar as causas de um
problema (Passos 1 a 3). No capítulo 2, continuaremos a nossa jornada, buscando descobrir como
encontrar soluções, priorizar ações e criar e negociar um plano de ação para resolver um problema
Passos 4 a 7).
MÃO NA MASSA
Reflita sobre os últimos problemas que você tem se deparado e como a falta de uma
definição correta ou a reflexão sem os conhecimentos certos para isso fez com que o
mesmo permanecesse, ou mesmo, se agravasse.
Definir bem um problema e seus impactos é uma das estratégias mais eficazes para engajar outras
pessoas na resolução do mesmo, afinal, quão mais complexo o problema, maior a quantidade de
pessoas ou orçamento necessário no processo de intervenção.
O ponto chave desse passo é a medição, transformando o problema em números. Seria redundante
falar de números na área de exatas, entretanto, na área da saúde existem escalas que medem até
mesmo a dor (Diagrama de Corlett) de um paciente. No direito existem critérios para o cálculo da
pena de um condenado (Dosimetria da Pena), medimos a quantidade de pessoas impactadas pela
comunicação (cobertura) e quando o assunto é uma organização, fica fácil sensibilizar o tomador de
decisão se você inferir o tamanho de um problema em seu impacto financeiro.
A análise do problema passa pelo raciocínio científico básico abordado anteriormente, separá-lo em
partes para compreender de forma segmentada o seu impacto, de forma a atuar para minimizar ou
eliminar as causas que geram os principais efeitos.
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Análise e Resolução de Problemas Profissionais
João é proprietário de uma lanchonete especializada em produtos naturais que funciona no quintal
de sua residência, todos os dias a partir das 17:00 até às 22:00. No cardápio ele possui uma linha
de sanduíches, saladas de pote, sopas e sucos. No último ano, ele vem sentindo uma queda no
faturamento. Então, ele elaborou uma tabela com os seguintes resultados:
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Análise e Resolução de Problemas Profissionais
Então, em um contexto complicado, pois exige algum conhecimento sobre como funciona uma
lanchonete de produtos naturais, além de precisarmos saber as razões para a queda do faturamento
ao trazer um especialista em gestão. Embora o senso comum possa chegar a uma conclusão,
certamente um especialista vai trazer resultados mais precisos.
Para fazer a análise vamos dividir o problema em partes menores, verificando quais foram as perdas
de faturamento por linha de produto:
Sopas: redução de 4.300
Saladas: redução de 1.950
Sucos: aumento de 950
Sanduíches: aumento de 186
Analisando os dados, concluímos que não temos um problema com os sucos e sanduíches, que
chegaram a aumentar o valor, mas sim com as saladas e sopas. Perceba que ao estratificar, ou seja,
criar estratos, segmentos, nós conseguimos identificar as causas que mais impactam na perda de
faturamento. Veja que, no caso apresentado, o nosso problema são as sopas, pois representa uma
redução de 4.300 do faturamento. Estamos aqui, portanto, usando o raciocínio de analisar as partes
para se compreender o todo.
Se quisermos fazer uma análise ainda mais detalhada, podemos estratificar mais ainda a análise das
causas do problema. Nesse caso, recomendamos usar o Princípio de Pareto (ou regra do 80/20),
que afirma que 80% dos efeitos vem de 20% das causas.
Vilfredo Pareto foi um cientista político, sociólogo e economista italiano. Ele chegou ao
Princípio de Pareto ao analisar a concentração de renda na Itália e perceber que 80% das terras
pertenciam a apenas 20% da população.
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Análise e Resolução de Problemas Profissionais
Para tal, na Tabela 2, observamos que dos quatro produtos da lanchonete, apenas três já
correspondem a 94% do prejuízo do faturamento. Para chegar a essa conclusão, foi preciso
identificar os produtos com as maiores perdas no faturamento, calcular o quanto cada redução no
faturamento representa do percentual em relação ao total da perda do faturamento (6.600) e, por fim,
gerar o cálculo da soma gradativa desses percentuais, a fim de observar quais produtos ao terem o
seu percentual somado alcançam acima de 80% (do Princípio de Pareto), isto é, 94% na coluna
“acumulado %” [Sopa de cebola (45%) + Salada de Folhas Verdes e Tofu (26%) + Caldo Verde
(23%)]. Dessa forma, observe que se solucionarmos o problema no faturamento de apenas três
produtos do cardápio (sopa de cebola, salada de folhas verdes e caldo verde), já resolveríamos a
quase totalidade da queda de faturamento da lanchonete do João.
e Tofu
(sopa)
sem glútem
Ao lembrar que temos 12 produtos no cardápio e que apenas três deles (que equivale a 25%) já
resolvem a questão da queda de faturamento, percebe-se o Princípio de Pareto funcionando (80%
dos efeitos vem de 20% das causas), e dessa forma, fica o aprendizado de focar apenas em poucos
itens que geram grande impacto no resultado final.
Percebe que ao segmentar o problema global temos um caminho para resolvê-lo apenas fazendo o
exercício de estratificar os dados?
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Análise e Resolução de Problemas Profissionais
Existem diversos métodos disponíveis para o entendimento das causas de um problema, entretanto,
selecionamos aqui o Diagrama de Ishikawa pela sua facilidade de uso e compreensão. Talvez você
o conheça por outros nomes como Espinha de Peixe ou Diagrama de Causa Efeito (Figura 2):
PROBLEMA
Conforme pode ser observado na Figura 2, a aplicação desse método se dá pela disposição do
problema identificado na caixa localizada do lado direito (na cabeça do peixe), para posteriormente
tentar compreender as causas que geram aquele problema específico. O criador do método, Kaoru
Ishikawa, propôs dividir as causas em seis categorias, os seis M´s, a saber:
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Análise e Resolução de Problemas Profissionais
Esse não é um método engessado. Ocasionalmente você pode encontrar novas formas de nomear
cada espinha do peixe. Entretanto, para iniciantes, nós recomendamos utilizar as categorias criadas
pelo autor desse método. Outro ponto importante é que essa divisão exige esforço no raciocínio para
encontrar tantos fatores, mas não se sinta obrigado a encontrar causas em cada um dos braços,
porque pode ser que não haja causas relacionadas ao problema em questão.
Recomendamos fortemente que esse método seja aplicado por meio de um grupo de pessoas, com
formações e experiências diferentes, pois a discussão vai trazer pontos de vista muito ricos. A
diversidade de pessoas e multidisciplinaridade são fatores chave para o sucesso na aplicação do
digrama de Ishikawa.
Vamos, então, voltar ao nosso estudo de caso e simular uma análise de causa-efeito para a entender
a razão da queda do faturamento das sopas na lanchonete de produtos naturais do João.
Outro produto que faturou menos de um ano para o outro foi a salada de folhas verdes com Tofu, que teve
uma queda de 35% no faturamento. Então, realizamos uma outra análise de causa efeito que pode ser
observada na Figura 4:
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Análise e Resolução de Problemas Profissionais
Na Figura 4, percebemos mais duas mudanças possíveis que podem justificar o problema. Ao comprar
Tofu em um novo fornecedor a qualidade não ficou a mesma e teve-se que mudar a ficha técnica para
adaptar a essa mudança. Passamos uma vez mais a entrevistar os clientes. Confira os resultados:
Vemos que as causas para a queda nas vendas da salada de folhas verdes e Tofu foram diferentes da
queda das sopas, significa que devemos tomar decisões distintas para cada caso e desenvolver planos
de ação que, em tese, poderão amenizar a queda do faturamento da lanchonete do João.
MÃO NA MASSA
Para facilitar a aplicação do Diagrama de Ishikawa, estamos disponibilizando um arquivo
em Microsoft PowerPoint para livre utilização. Recomendamos que você faça uso imediato
da mesma para resolver algum problema que esteja enfrentando de forma que, além de
praticar, você ainda vai poder atestar a eficácia do método.
Faça download: http://bit.ly/2SUXA9w
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Análise e Resolução de Problemas Profissionais
Criado pelo engenheiro japonês Taiichi Ohno, um dos principais responsáveis pelo surgimento do
método Toyota de Produção, o método 5 porquês (OHNO, 1997) tem como objetivo determinar
a causa raiz de um problema, onde após identificar a causa inicial, vamos fazendo novos porquês até
exaurir as respostas e chegar à causa raiz.
Vamos usar como exemplo o caso da salada de folhas verdes e Tofu. Para tanto, mais uma vez vamos
recorrer à percepção dos clientes por meio de uma pesquisa de campo.
Por quê?
Por quê?
Causa 03: O sabor estava mais amargo e a consistência estava mais esfarelada.
Por quê?
Uma quarta causa não poderia ser explicada pelo cliente, talvez pelo nutricionista da lanchonete,
mas a investigação já identificou um fator suficientemente forte para montarmos um plano de
ação que consiga reverter os resultados negativos. Ou seja, ao identificar a causa raiz, aquela
que origina as consequências visíveis, podemos montar um plano de ação para atacar
exatamente o que deve ser o fator gerador do problema.
MÃO NA MASSA
No “Mão na massa” anterior, foi proposto o desafio de aplicar o Diagrama de Ishikawa
para um problema que você esteja enfrentando. Continuamos nessa abordagem e agora
te propomos a aplicação do teste dos 05 porquês para identificar a causa raiz de
problemas que você ainda não conseguiu compreender, se for o caso, utilize o mesmo
problema.
Faça download: http://bit.ly/2EekrVh
Antes de fazer a conclusão desta fase é necessário apontar para uma importante questão: a
qualidade da informação coletada e que vai ser utilizada para resolver o problema em questão e
para identificar as causas prováveis.
Acesso a informação não é mais um problema no século em que vivemos, pois ela é abundante e
acessível, sendo o desafio dos profissionais (e cidadãos) da atualidade se preocupar com a
confiabilidade dos dados. Um dos assuntos que está em ascensão nos mais diversos setores da
sociedade é a emergência das notícias falsas, as chamadas Fake News.
As informações geradas a partir de pesquisas de outras pessoas são chamados dados secundários,
e não existe problema em utilizar para pesquisas científicas ou para a resolução de problemas,
entretanto, a seguir damos algumas recomendações que servem como filtro para validação do
conteúdo recebido: pag. 23
Análise e Resolução de Problemas Profissionais
No nosso estudo de caso fizemos uso de pesquisas próprias, geramos os dados a partir de
pesquisas realizadas pela própria equipe da lanchonete ou por consultores contratados, neste
caso, esses são chamados de dados primários. Caso a pesquisa tenha sido conduzida com
rigor científico e metodológico, temos dados com altíssimo grau de confiabilidade, pois foram
produzidos no ambiente na qual se pretende estudar.
Dados Primários: São produzidos pelo pesquisador (ou resolvedor do problema) diretamente no
campo de estudo. Para tanto, são utilizadas técnicas de observação, entrevistas, aplicação de
questionários ou uso de ferramentas para aferição como sensores ou instrumentos diversos. Eles
muitas vezes têm custo elevado para coleta, entretanto, podem resolver o problema com maior
precisão.
Dados Secundários: São adquiridos por meio da pesquisa relatórios, artigos ou reportagens
realizadas por outras pessoas. Você não tem acesso aos dados originais ou ao campo de
estudo, então deve se basear nos resultados encontrados por outros pesquisadores. Neste caso,
você deve usar o raciocínio indutivo para levantar hipóteses que se apliquem ao seu problema..
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Análise e Resolução de Problemas Profissionais
1.5 Síntese
pag. 25
1.6 Referências Bibliográficas
CORLETT, E. N.; MANENICA, I. The effects and measurement of working postures. Applied
Ergonomics, v. 11, p. 7-16, 1980.
RIES, Eric. A Startup Enxuta: como os empreendedores atuais utilizam a inovação contínua para
criar empresas extremamente bem sucedidas. São Paulo: Lua de Papel, 2012.
SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 23. Ed. São Paulo: Cortez 2007.
SNOWDEN, D. J.; BOONE, M. E. A leader’s framework for decision making. Harvard Business
Review, November, 2007.
OHNO, Taiichi, O Sistema Toyota de Produção: além da produção em larga escala. Bookman,
Porto Alegre, 1997.
pag. 26