Cibercultura Tecnologia e Vida Social Na Cultura Contemporanea
Cibercultura Tecnologia e Vida Social Na Cultura Contemporanea
a
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tecnologiaevidasociã
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b
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Fomoscolegasdedoutorado
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orientação
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de Miche
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l Maffes
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Lemossobreoassuntoqueestudava.Parecia
sa b e r tudo. E tu d o era s u rp re e nd e n te ,
inst
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gante
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descon
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ra mim. Entrei
ness
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e novo
novo mundo
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fascinante
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de seuamigo
seuamigo FedericoCasal
FedericoCasalegno,
egno, um
italianoquehojetrabalhanoMIT.
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Nessa
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época,
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descobri
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capacidad
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sa e de deba
debatte de Andr
André
é Lemos:
criougruposdeestudoepesquisa,viajoupela
Europaembuscademaisinformaçõessobre
seuobjeto,leutudooqueexistiasobreotema
e, não
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sempre encontr
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queaciberculturaeraumarealidadeincontor
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-
nável.
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crítica,
crítica, duvidava.
duvidava. O virtual
virtual era
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nasumamiragem;ocibermundo,umailusão.
Alguns
Alg uns anos depois, quando
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imagináriodanossaé
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negar a admiração
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intelect
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ual. É só
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JuremirMachadodaSilva
andrél
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An
A n d r é Lemos
CIB ERCULTUR
CIB ERCULTURA A , TECNOL OGIA
E VID A SOCI
SOCIAL
AL NA CULT
CULTUR
URAA CONTEMPORÂNEA
a
E d i t o r a S u l in
in a
L557c Brasil
Cibercultura, tecnologia e vida social na cultura
contemporânea/André Lemos
— Porto
Porto Alegre : Sulina, 2002.
328p.
ISBN: 85-205-0305-5
Informação I.TítuIo
I.TítuIo
CDD: 070.1
302.23
0
Edi tora Sulin
Sulina
a
Av. Osva
Av. Osvaldo
ldo Aranh
Aranha,
a, 44
4400 cj. 101
Cep: 90035-190 Porto Alegre-RS
Tel/Fax: (0xx51) 3311-4082
e-mail: [email protected]
www.editorasulina.com.br
Setembro/2002
I m pr
p r e s s o n o B r a s i l /P r i n t e d in B r a z i l
A g r a d e c i m e n t o
espec ialmente
especialme nte aos mem bros do Ciberpesquisa (C entro de Estudos e
Pesquisa em Cibercultur
Cibercultura),
a), pelo
pelo am adurecim
adurecimento ento profissional
profissiona l e pelo
excelente am ambiente
biente de diálogo,
diálogo, criti
criticismo
cismo e sincerida
sinceridade de que eles me
pro
p rop
p o r c io n a m , e ao C N P q p e la aj
ajuu d a ffin
inaa n c e ir
iraa atr
a traa v é s de
d e bo
b o ls
lsaa s de
doutorado e de pesquisa.
Este livro reflete a minha experiênc
experiência ia pessoal entre 1991 e 19 199595
em Paris e em docência
do cência e pesquisa na Facom/U
Facom/UFBa, FBa, de 19 1996
96 até hoje.
Aparecem
Aparec em aqui os resulresultados
tados da pesquisa “A ciberculturacibercu ltura no B Brasil”,
rasil”,
Sumário
A pr e s eenn t a ç ã o 11
p e c t i v a v j t a l i s t a s o b r e a c i b e r c u l t u r a 13
U ma pe r s pe
P o r P i e r r e Lévy
C i b e r c u l t u r a . pr i me i r a a pr
me pr o x i ma ç ã o 17
ma
Parte I-Téc
I-Téc n ic a e te
tecno
cno logia 25
C ap ítulo I 27
Capítu
Ca pítulo
lo IIII - O fenômeno tecnológico
tecnológico através
através da hist
h istória
ória 42
Parte
Pa rte II
IIII - A cibercultura 105
Ca pítulo
pítu lo I - O nascim
nascim ento da cibercultura:
cibercultura: a micro-inform ática 107
micro-informática
Capítulo
Ca pítulo II - A s estruturas antr
antropológicas do ciberespaço 136
opológicas
C a p ítulo
ítu lo II virtua l 166
III - Realidade virtual
Capítulo
Ca pítulo IV
IV - Co rpo e tecnologi
tecnologia
a 174
Cap ít
ítulo
ulo V - Cyberpunk:
Cyberpunk: ati
atitude no coraç
coração
ão da cibercult
cibercultura 200
ura 200
Capítulo
Ca pítulo VI - A rua e a te
tecnol
cnologia.
ogia. O s cyberpunks
cyberpunks reais 215
reais 215
Capítulo
Ca pítulo VI
VII - O espírit
espírito
o da cibercul
cibercultur
tura: apropriação,
a: en tre apropriação,
desvio e despesa improd utiva 257
im produtiva
Ca pítulo VI
VIII - O imaginário
imaginário da cibercultura.
cibercultura. Entre
E ntre neo-ludism
neo-ludismo,
o,
tecno-utopia, tecnoreal
tecnorealismo
ismo e tecnosurrealism
tecnosurrealism o 26
267
7
B i bl
bl i o g r a f i a g er
er a l 308
A p r e s e n t a ç ã o
Este livro é fruto de um incômodo pessoal que se traduz pela
necessidade de compreender
com preender o fenômeno
fenômeno técnico
técnico.. Este incômodo
incôm odo vem
da mistura de medo e fascinação que as novas tecnologias exercem
sob re as pessoa
sobre pessoas. s. Todo objeto técnico, da antigüida
antigüidade de aos no nossos
ssos dias,
mistura fé nessa arte do fazer humano e nostalgia de uma natureza
(biológica, psíquica, cultural) perdida (transformada, dominada) em
função desse mesmo m esmo fazer técn técnico
ico.. Trata
Tratase
se da nostalgi
nostalgiaa de um mun-
do sem artifíci
artifício,
o, convivendo lado a lado com um a fé quase cega nos
po
p o d eres
er es q u e d a í eem
m er
ergg em.
em . N ão po
pode
demm os p e n sa r a cu
c u lt
ltuu ra c o n te
temm po-
rânea
rân ea sem nos remetermos
rem etermos à questão da técni técnica.
ca.
Pretendemos, neste trabalho, analisar os impactos das novas
tecnologias na sociedade contemporânea, através da descrição da nova
cultura tecnológica planetária: a cibercultura. A tarefa é de monta,
tocando várias áreas da cultura contemporânea: do ciberespaço à en-
genharia
genh aria genética, dos celulares aos tamagotchis, das festas raves aos
zippies tecnopagãos,
tecnop agãos, do m arketing digital aos jog os eletrônicos..
eletrônicos....
Optei p or dirigir meu o olhar
lhar para onde suas m anifestações
anifestações apa-
apa -
reciam.
reciam. C omo um v viajant
iajantee que deve pegar um a determinada estrada,
tomei a rota da cultura eletrônica de rua.
rua. Pude ver
ver,, assim,
assim, u m a infini-
infini-
• A N D R É L EEM
MOS | II
Salvador, março
m arço de 2002.
2002.1
1
1 2 | C I BER
BE R C U L TU
T U R A , T E C N O L O G I A E V I D A S O C IA
IA L N A C U L T U R A C O N T E M P O R Â N E A •
U m a p e rs
r s p e c t iiv
v a v i t a llii s t a s o b r e a c i b e r c u l t u r a 1
po r Pi er r e Lé Lévyvy
O livro de André
An dré Lemos sobr sobree a cibercultura rompe com a pro-
dução contemporânea em filosofia e em ciências sociais através de
uma abordagem
ab ordagem aberta e “vita “vitalis
lista”.
ta”. Lemos tem o grande mérito de
não confundir
confu ndir a inteligência com a crítica si sistemática.
stemática. Ele reconhece
reconh ece a
cibercultura como um a manifestação
manifestação da vitalidade soci socialal contem po-
rânea e a analisa
ana lisa como
com o ta tal.
l.
Nãã o se d
N dev
evee cco
o n fu
funn d ir a c ib
iber
ercu
cult
ltu
u ra cco
om u
umm a su
s u b c u lt
ltuu ra pa
p a rt
rti-
i-
cular,, a cultura de um
cular umaa ou algumas “tribos”.
“tribos” . Ao contrário, a cibercu
cibercultura
ltura
• A N D R É L EEM
MOS /3
I 4 | C I BER
BE R C U L T U R A . T E C N O L O G I A E V I D A S O C IA
IA L N A C U L T U R A C O N T E M P O R Â N E A •
idéias,
ções emde
cominformações vire tuais
unidades virtuaide sserviços. tiNós
de todo tipo
po aoestabelecemos
longo das redesconversa-
móveis
em reconfiguração contínua.
contínua. Em pouco tempo, teremos todos nosso
site web. Em alguns anos imprimiremos nos coletivos humanos nos-
sas memórias,
memó rias, nossos projetos e nossas visões sob a forma form a de avatares,
ou de anjos numéricos
num éricos que dialogarão
dialogarão no ciberespaço. Cada Cad a indiví-
duo, cada grupo, cada forma de vida, cada objeto se tomará seu
automédium, seu próprio emissor de dados e de interpretações
interpretações em um
espaço de comunicação
com unicação onde a transparênci
transparênciaa e a riqueza se opõem
opõ em e
se estimulam.
À televisão sucederá a omnivisão:
omnivisão: através do ciberespaço, qual-
quer que seja o lugar onde nos encontrarmos,
encontrarmos, dirigiremos nós mes- m es-
mos nossos olhos a distância em direçãodireção à zona da realidade que es-
colheremos para observ
observar,
ar, e a intensidade
intensidade dos nossos olhares, comocom o a
força de nossas questões, fará nascer ao infinit
infinitoo novos detalhes. Am a-
durecidos
dureci dos pela nossa potência
potência de questionamento,
questionamento, poderem os tom tomarar
conhecimento de tudo o que pode ocupar o espírit espíritoo humano, das pai-
sagens estelares às situações
situações sociais,
sociais, das simulações
simulaçõ es ciencientíficas
tíficas às ficfic
ções interativas. Àquele que souber formular um problema, tudo se
tornará visível de qualquer ponto,
ponto, em todas as direções,
direções, eme m todo tem- tem -
po e e m to
todd as as esca
es cala
las.
s. M as esse
es se “to
“t o d o ” , lon
lo n ge d e p ree
re e x isti
is tirr a n o s-
sass questões e a nossas técnicas
sa técnicas,, será obra nunca acabada, impossível
de concluir. A realidade, mais
ma is e mais viva, inteligente e interconectada,
interconec tada,
se comportará como uma simulação interativa e será cada vez mais
concebida, aí compreend
com preendida
ida a realidade da vida,
vida, em matrizes nnum
uméri-
éri-
cas de mundos virtuais.
Jogaremos rorole
le playing gam es2 em rede, consistindo
play ing games2 consistindo em inven-
tar as leis dos mundos virt
virtuais
uais cada vez mais parecidos comco m o mundo
m undo
real (ou viceversa) e nos quais os ganhadores
ganhado res serão os mais engenho
eng enho- -
sos criadores de novas formas de cooperação. Aprenderemos as re-
gras sempre
semp re móveis
mó veis da colaboração criativa e da inteligência
inteligên cia coletiva
• A N D R É L E MO
MO S 15
C i b e r c u l ttu
u r a , p r i m e ir
ir a ap r o x i m aç ã o
• A N D R É L EEM
MOS /7
newtoniano
lado obscuroàeuma imposição
m esmo
mesmo racionalista
conspirat
con spiratório da vida
ogiassocial
ório das tecnologias
tecnol revelou
(controle o
soci-
al, poluição, isolamento). A modernidade se caracterizou por uma
conjunção de fator
fatores:
es: po r uma dominação técnica do social,
social, por um
individualismo
individuali smo ex
exacerbado,
acerbado, por um constrangimento social exerci-
do por uma moral burguesa e uma ética da acumulação, por uma
abordagem racionalista
racionalista do mundo
mundo.. A m moderni
odernidade,
dade, ao mesmo
m esmo tem-tem -
po,
p o, lan
la n ç o u e e sgo
sg o tou
to u o son
so n h o tec
te c n o lóg
ló g ico
ic o . O q u e c h a m a m o s d e n o -
vas tecnologias situase num novo contexto sociocultural, numa nova
ambiência
am biência social.
social. A tecnologia
tecno logia que foi foi o principal instrum
instrumentoento de
separação, de alienação, do desencantamento do mundo m undo (Weber)
(Weber) e
do individualismo positivist
positivista,a, vêse investida
investida pelas potências refuta- re futa-
das pelo racionalismo
racion alismo moderno.
m oderno.
O mundo da vida (Lebenswelt Habermas, Simm Simmel) el) vai
vai tomar
tomar
nas mãos as novas possibilidades
possibilidades da microeletrônica
micro eletrônica e do desenvo
dese nvol- l-
vimento de redes de comunicação.
com unicação. É o surgimento
surgim ento ddaa cibercultura2
cibercu ltura2,,
como veremos na terceira parte. Ela nasce nos anos 50 com a
inform ática e a cibernética, começa
informática com eça a se tornar
tornar popular
popu lar na décad décadaa de
70 com o surgimento do microcomputador
microcom putador e se estabelece comp co mpleta-leta-
mente
men te nos anos 80 e 90: 90: em 80 com a informática de massa e em 90
com as redes telemáticas, principal principalmente
mente com o boom d daa internet.
internet.
Noo ssa
N ss a arg
a rguu m e ntaç
nt açãã o est
e star
aráá cen
ce n trad
tr adaa na an
a n ális
ál isee ddaa ddin
inââ m ica
ic a eenn -
tre as novas tecnologias e a sociedade contemporânea, e é através
desta perspectiva que iremos analisar o surgimento da micro
informática, do ciberespaço, da realidade virtual. Mostraremos tam-
béé m c o m o o ima
b im a g iná
in á ri
rioo c ybe
yb e rpu
rp u n k m arca
ar cará
rá tod
to d a a c ibe
ib e rcu
rc u ltu
lt u ra
ra,, e x -
prim
pr imin
indo
dos
see na mod
m odaa e n a ficçã
fic ção
ocie
cientí
ntífíc
fíca,
a, nas açõ
a çõeses reai&iphreakers,
18 | C I B ER
E R C U L TU
T U R A , T E C N O L O G I A E V I D A S O C IA
IA L N A C U L T U R A C O N T E M P O R Â N E A •
• AN D R É L E M O S | (9
As novas tecnologias
tecn ologias não só estão presentes em todas as ativi-
dades
b
béé m topráticas
tom seecontemporâneas
m a m s contemporânea
v e to ress de e x pser
tore (da
eriê nmedicina
iên cias
ci as e sté à econom
st é tic
ticas
as,, ta
tann toia),
n o como
se
senn ti
tiddtam
tam-
o de-
arte,
art e, do Belo, como no sentido sentido de comunhão, de em emoções
oções co comp
mparti-
arti-
lhadas. Em bora esse fenômeno
fenôm eno não seja novo, ele parec parecee radicalizar
se nesse fim de século. Tratase de uma sociedade que aproxima a
técnica (o saber
sa ber fazer) do pra prazerzer estét
estético
ico e comunitário.
Como podemos constatar, desde os terminais bancários até o
acesso à internet, o termo “ciber” está em todos os lugares: cyberpunk,
cibersexo, ciberespaço, cypherpunks, ciber moda, ciber economia,
ciberraves, etc. Todos os termos mantêm suas particularidades, se-
melhanças e diferenças, formando, no seu conjunto, a cibercultura.
Todos eles
eles atestam uma um a atitude,
atitude, uma apropriação,
ap ropriação, vitalista, hedonista,
tribal e presenteísta da tecnologia.
Se a tecnocultura
tecnocu ltura moderna foi o paraíso de Apoio, a cibercu cibercultura
ltura
pó
p ó s
smm o d e rn
rnaa p a re
recc e se
serr o teat
te atro
ro de D io
ioni
niso
so.. A te
tecn
cno
o lo
logg ia m ic
icro
roe
ele
le
trônica é, ao mesmomesm o tempo, mágica mág ica (abolição
(abolição do espaço e do tempo;
telepresença) e agregadora
agregad ora (societári
(societária,
a, comunit
comunitária).
ária). Lem bremos
brem os que
a raiz “ciber” tem origem no grego Kubernetes (a arte do controle, con trole, da
pilo
pi lotatage
gemm , do g govovererno
no). ). No entan
en tanto
to,, co
comomo v ver
erem
emosos,, a cib
ciber
ercu
cultltu
u ra nã
não o
paa re
p recc e , c o m o ac acreredd it
itaa m a lgun
lg uns,
s, e st
staa r se
send
ndo o d o m ina
in a d a p o r u m B ig
Brother timoneiro. Nas diversas manifestações da cibercultura, não
po
p o d e m o s d izizee r q ue a v id idaa so
soci
cial
al se d e ixixee sim
si m p le
lesm
sm e n te g o v e rn
rnaa r o
ouu
pil
p ilo
o ta
tarr p
poor uumm a tetecc n o lo
logg ia au
autô
tôno
nomm a. Is Isso
so ta
tamm b é m n ã o s ig
ignn if
ific
icaa qu
quee
os efeitos dos controles tecnocráticos tenham desaparecido.
A form a “ciber”, lligada igada à didimen
mensão são das tecnolo
tecnologias gias m icroele
trônicas
trôni cas (digi
(digitai
tais),
s), vai manter uma relação complexa com os conteú-
dos da vida social. Esse não foi o caso da modernidade, onde a
tecnocultura tentou reduzir à normas racionais a complexidade do
vivido.
vivid o. G. Orw ell4 tentou, na metade do sécul século,o, exp ressar todo o ima-
ginário social antitecnológico (o perigo perigo da tecnocracia mo moderna)
derna) no
seu “ 1984”. O livro mo stra o sentimento pr provável,
ovável, e me mesmo
smo p previsí-
revisí-
vel,, de m
vel medo
edo do controle ttecnocrát ecnocráticoico e da homogeneização das m as-
sas.. O sonho da modernidade estava concent
sas concentrado
rado inte
inteiramente
iramente na pers-
pee c ti
p tivv a ra
racc io
ionn a li
list
staa d a vivia,
a, no d o m ínínio
io d a n a tu
turerezz a e n o c o n trtro
o le e
domesticação do homem e da sociedade. Mas o ano de 1984 vai ser
paa re
p reci
cid
do m
mai
aiss cco
o m o aam
m b ien
ie n te cyberpunk de W illiam GGibso
ibson5
n5,, do que
com aquele pessimista e homogeneizant
homogeneizantee de O rwel
rwell.l. A cibercultura é
20 | C IB
I B E R C U L TU
T U R A , T E C N O L O G I A E V I D A S O C I AL
AL N A C U L T U R A C O N T E M P O R Â N E A •
técnica
técnic
da a que emergiu
domesticação da dominação
energética do mundo da natureza (Descartes
(Heidegger), e Bacon) e
a cibercultura,
poo r sua
p su a vez,
ve z, é a form
fo rm a c o n tem
te m p o rân
râ n e a d a téc
té c n ica
ic a q u e j o g a c o m os
signos
sign os desta tecnonatureza
tecnonaturez a construída pela astúcia da tecnocracia. É,
ao mesmo tempo, ruptura e continuidade.
O que vemos nas diversas manifestações
manifestações da cibercultura é uma
apropriação de imagens, de obras atr através
avés de colagens,
c olagens, de discursos
não lineares, um verdadeiro za in g e hacking daquilo que Guy
z a p p ing
Debord chamou de sociedade do espetáculo7. Os exemplos são nu-
merosos: o neopaganismo dos zippies, o faça você mesmo dos
cyberpunks, a criptografia cara aos cypherpunks, o ativismo dos
hackers e a violência dos crackers,
crackers, os fanáticos dos jog jogos os eletrôni-
cos, o isolamento dos otakus japoneses, os delírios das raves e da
realidadee virtual,
realidad v irtual, a arte eletrônica,
eletrônica, a moda sintética ou ciber-fashion,
os transumanistas extropians... A tecnologia deve, como dizia nos
anos 50 o filósofo
filósofo G ilbert Simondon8
Simondon 8, fazer parte da cultura, já que
ela é constitutiva
constitutiva do homem. Refutar a técnica é refutar a huma hu manida-
nida-
de como
tética queum todo,
“deveria
“deve riaé ser”
refutar
ser ” . essa humanidade que “é”, “é” , por
po r uma hipo-
Nãã o i r e m o s , n e s t e l i v r o , f a l a r d o f u t u r o 9, m e s m o q u e a
N
cibercultura se pareça à um a revista revista em quadrinhos de fícçãocientífi
MOS | 2 1
• A N D R É L EEM
reP.
ssooFougeyrollas
p rogg ress
pro , d e tem mostra
te m po li
linn e a r e od oesgotamento
o timis
tim ism
m o teda
cnoonoção
tecn lóg icoode
ló g ic tãfuturo,
, tão ar o sdeà
o c aro
epistemologia moderna.
m oderna. A sociologia deve então então com preender
preend er a nova
cultura tecnológica que emerge nesse vácuo ideológico, temporal e
espacial.. Com
espacial C omoo afirma
afirm a o sociólogo francês,
francês, “nós pe dim os'à sociolo-
22 C IB
I B ER C U LT
L T U R A , T EC N O L O G I A E V I D A S O C IA
I A L N A C U L T U R A C O N T EM P O R Â N EA •
Notas
1 Ver
Ver número especial da Revue Sociétés n. 59. Technosocialité. De Boeck, Bru-
xelas, 1998.
2 Algumas publicidades veiculadas em 1995 na Europa, particularmente na Fran-
ça, mostram
m ostram bem eesse
sse espfrito do tempo: Thomson (“da tecnologia ao amor” ), TamTam de
France Télécom (“mantenha o contato com a sua tribo”),
tribo”), da IBM ((“é
“é louco como a tecnologia
aproxima as pessoas”) e da Apple (“o important
importantee não é o que a tecnologia pode fazer por
você, mas o que você pode fazer dela”). Gravadas pelo autor na televisão francesa em
1995.
3 O conceito de socialidade
social idade foi desenvolvido por Michel Maffesoli. Ela diferencia
se da sociabilidade
soc iabilidade já que esta está liga
ligada
da a agrupamen
agrupamentos
tos que têm uma função preci
precisa,
sa, ao
mesmo tempo
tem po objetiva e raci
racional.
onal. O indivíduo iinserese
nserese numa lógica do dever ser
ser.. Já a
socialidade está ligada a uma fenomenologia do social,
socialidade social, onde os sujeitos desenvolvem agru-
pamento
pam entoss fes
festivo
tivos,
s, emp
empáti
áticos
cos,, basea
baseados
dos em emo
emoçõe
çõess com
compar
partilha
tilhadas
das e em n
novo
ovoss tribali
tribalismos
smos..
A socialidade referese ao vivido, ao presente, ao estarjunto. Segundo Maffesoli, a vida
quotidiana contemporânea é marcada pela socialidade e não pela sociabilidade. Ver
Maffesoli, M. La Conquête du Présent. Pour une Sociologie de la Vie Quotidienne. Paris,
P.U.F., 1979.
4 Orwell, G. 1984, Paris, Gallimard: 1951.
5 Gibson, W. Neuromancien, Paris, J’ai Lu: 1985.
6 Ver Kroker, A. Weinstein, Michel A. Data Trash. The Theory of the Virtual
Class. NY. St. Martin's Press: 1994.
7 Ver Debord, G. L Laa Socié
Société té du Spectacle. Paris, Gallimard
Gallimard:: 19
1992.
92.
8 Simondon, G. Le Mode d d’Exist
’Existence
ence des Objets Techniques. Paris, Aubier: 19 1954
54..
9 Ver
Ver Rushkoff, D. Um Jogo Chamado Futuro.Como a Cultura dos Garotos pode
nos ensinar a sobreviver na era do caos. RJ E Editora
ditora Revan
Revan:: 19
1999
99,,
10 Ver Maff
Maffesoli,
esoli, M. Elog
Elogee de la Raison Sens
Sensible,
ible, Paris: 19
1997.
97.
11 Exemplos desta vida quotidiana podem ser encontrados em várias manifesta-
ções sociais como os encontros esportivos, o culto às estrelas do show bizz, a fascinação
porr ima
po imagens
gens,, o sin
sincre
cretis
tismo
mo,, o es
estilo
tilo e a mo
moda
da e, com
como o ten
tentam
tamos
os mo
mostra
strar,
r, na ati
atitud
tudee em
relação às novas tecnologias.
12 Fou
Fougeyr
geyrollas
ollas,, P
P.. L’Attracti
L’Attraction
on du F
Futur.
utur. in: Annales de 1
1’Institu
’Institutt Internat
International
ional de
Sociologie, Nouvelle
N ouvelle S
Série,
érie, vol. IV
IV,, 19
1994
94,, p.230.
p.230. D
Daqui
aqui em diante todas as ccitações
itações de
obras em inglês e francês são de tradução livre do autor.
24 C IB
I B ER C U LT
LT U R A , T EC N O L O G I A E V I D A S O C IA
IA L N A C U L T U R A C O N T E M P O R Â N EA •
Pa r t e I
Técnicaetecnologia
C a p ít u l o I
Compreender
essência do fenômeno as particularidades,
técnico, bem como complexidades
seu papel naouhistória mesmodaa
humanidade, não é um exercício fácil. fácil. Hoje, talvez mais que em ou- o u-
tras épocas, a influência da tecnologia nas sociedades ocidentais ociden tais tem
um lugar capital dentre as quest questões
ões que emergem com comoo prioritárias
prioritárias na
contemporaneidade.
Desde o surgimento das das primeiras sociedades até as complexas
cidades pósindustriais, o homem inventou o fogo, cultivou a terra,
domesticou animais, construiu cidades, dominou a energia,
implementou indústrias, conquistou o espaço cósmico, viajou aos
confins da matéria e do espaçotempo. Durante esse trajeto, a
tecnologia ganhou significações e representações diversas, em um
movimento de vaivém com a vida socia social.l. Em alguns mom momentos,entos, esta é
dominada, controlada, racionalizada pelas atividades científico
tecnológicas; em outras, é a tecnociência que deve negoc ne gociar iar e aceitar
ace itar
os ditames da sociedade
sociedade..
Naa e n tr
N traa d a d o séc
sé c ulo
ul o X X I, a tecn
te cnoo log
lo g ia e a s o c ied
ie d a d e n ã o p o -
dem mais
ma is ser reduzidas às análises unilaterais que
qu e se desenvolveram
desenvolvera m
durante os séculos da modernidade industrialista, e não precisamos
insistirr muito sobre a saturação dos paradigmas científicos
insisti científicos e os impasses
de seus métodos, para nos darmos conta co nta desse estado de coisas.
Estamos assim obrigados obrigados a mudar nosso olhar e buscar bu scar novas
ferramentas
ferrament as para
p ara compreender
com preender o fenômeno técnicocientífico
técnicocientífico contem-
porâ
po râne
neo.
o. E st
stee , pa
p a ra us
u s a r a exp
ex p ress
re ssãã o de Ber
B ertr
traa n d Gi
G i l l e 13, ins
in s e res
re see em
um novo paradigma sociocultural: a queda das grandes ideologias e
dos metadiscursos
desconfiança iluministas,
em relação o fracasso
cios do dos
aos benefícios
benefí sistemas
progresso políticos,
tecnológico
tecnológi co ae
científico,, a indifere
científico in diferença
nça social e irônica da
d a geraçã
ger açãoo X e Y 14, o novo
tribalismo
tribalismo que
q ue revelaria o fracasso do projeto individualista moderno,
a descrença
desc rença no futuro, as novas formas de comunicação
comu nicação gregárias
greg árias no
ciberespaço, os desafios
d esafios da manipulação genética, da AidsA ids e da droga
em nível
n ível planetário.
planetário. É precisamente este novo quadro ddaa civilização
civilização
contemporânea
contem porânea o berço da d a cibercul
cibercultur
tura.
a.
• A N D R É L EEM
M O S | 27
A tek
tekhn
hnè
è greg
gregaa
28 C I BER
B ER C U LT
LT U R A , T EC N O L O G I A E V I D A S O C IA
IA L N A C U L T U R A C O N T EM P O R Â N EA •
< '
em oposição
opo sição à outro conceito chave, a p ph is,, ou o princípio de gera-
h u s is
ção das coisas naturais. Tekhnè e p h u s is fazem parte de todo processo
ph
de vir a ser, de passagem da ausência à presença, ou daquilo que os
gregos
gre gos cha
chamavam
mavam d e p po
o iè s is '5.
'5.
O conceito de tekhnè é, assim, assim, fruto de uma prim eira filosofia
da técnica que qu e visa distinguir o fazer hu m an o16do fa zer da n natureza,
atureza,
este último
último aautopo utopoiético,
iético, guardand
guardando o em si os meca mecanismo
nismoss de sua auto
reprodução. A tekhnè é a arte1 arte 17 que coloca o hom homem
em no centro do
fazer p
poo iè ticc o , em confronto
ièti co nfronto direto com as coisas naturais. A tekhnè é
uma p poo iè s i s no sentido de revelar todo fazer humano. Como mostra
Stiegler, “a dança é tekhnè, as boas maneiras são tekhnè, a cozinha
é tekhnè ” 18.
O nascimento da filosofia grega, cinco séculos antes da nossa
era, vai ser decisivo para a formação da visão atual da tecnologia.
Como veremos, a crít crítica
ica contemporânea da tecnologia será marcada
po
p o r es
esta
ta fi
filo
loso
sofi
fiaa d
daa té
técn
cnic
ica,
a, infl
in flu
u en
encc ia
iadda p
pri
rin
n c ip
ipaa lm e n te p e lo p e n sa
sa--
mento de Platão e de Aristóteles.
Aristóteles.
Para os gregos, todo ato humano é tekhnè e “tod toda a ‘te k h n è ’ tem
p o r cca
a ra
racc te
terí
ríst
stic
ica
a fa zer nnaa scer uumm a ob
obra '”19. N um pri
ra'”1 primeiro
meiro momen-
to,, a fil
to filosofia
osofia grega vai isolar o qu éè m tempos préhistóri
préhistóricos
cos e mít
míticos
icos
• A N D R É L EM
EM O S | 2 9
que imitam o ser. ser. Como cópia, imitação ou simulacro, Platão desen- dese n-
volve a tese da desconfiança em relação à tekhnè.
Já em Aristóteles, a ati atividade
vidade prática é iinferior
nferior às coisas da na-
tureza, pois “ nenhuma cois coisa a fabrica da possui nela m esma o prin cí
io da f a b r i c a ç ã o ”21. As coisas artifi
pio
p artificiais,
ciais, frutos da tekhnè, são infe-
riores às coisas naturais, pois estas possuem o princípio do vir a ser.
Aquelas são formadas,
form adas, diferentemente das coisas naturais naturais,, pe
pela
la ação
externaa dos ho
extern homemens ns (ou animais). A inferiorida
inferioridade
de dos seres artifi
artificiais
ciais
em relação
relaç ão aos seres natur naturais
ais está lligad
igada,
a, segundo Aristóteles, à inca-
paa c id
p idaa d e do
doss p ri
rim
m ei
eiro
ross d a auto-poièses, ou seja da autpreprodução.
Aristóteles
Aristóte les mostra, com sua famos famosaa teoria das qu quatro
atro cau
causas
sas2 23, que a
tekhnè , como p
poo iè
ièsi s, está submetida à causa fi
sis, final
nal e à causa formal,
estranhas ao acaso da naturez
natureza. a. A tekhnè será as
assim
sim um saber prát
prático
ico
que imita e domina a p phh u s is 24.
O imaginário grego sobre as técnicas será influenciado pelas
narrativas míticas. Os mitos de origem do homem são também os
mitos de origem da técnica (Prometeu, Dédalo, ícaro, Hefaístos,
Atenas, Pandora...) que nos colocam diante da questão do homem
como ser da técnica. Aqui a antropogênese coincide com
tecnogênese.
tecnogê nese. A técnica, com
como o iimitação
mitação e violação da natureza, logo
inferior à contemplação e à p ph is,, será também fon te de violação
h u s is
dos limites sagr
sagrado
adoss imp
impostos
ostos ppelos
elos deuses aos hom enens2s25
5. A tekhnè
é, assim, ao mesm o tem
tempo,
po, inferior à natureza, à contem plaçã
plação o filo-
sófica, sendo também um instrumento de transgressão do espaço
sagrado imposto pelos deuses. Esta concepção marcará profunda-
mente nossa atual visão da tecnologia, como veremos no capítulo
sobre o imaginário
ima ginário da cibercultura.
A pe
persp
rspec
ectiva
tiva etn
etnoz
ozoo
oológ
lógica
ica
L Al
Além
ém da v
viisão ffiilosó fica, p o demo
demoss v
veer o ffeenô
nômemeno
no téc
écni
nico
co co
como
mo
um elemento zoológico da formação e da evolução dos primeiros
humanos. Ele vai mesmo caracteriza
caracterizar,
r, junta
juntam m ente
en te com o surgimento
de um pensam ento m mágicoreli
ágicoreligioso,
gioso, o ssurgimen
urgimento to do homosapiens.
homo sapiens.
A gêgese do
d o hom
homemem que somos hoje é tributária
tributária da gên gênese
ese da técnica.
> O hom em é um ser técnico po r defini definição!
ção! A pers pec tiva
30 C I BER
B ER C U LT
LT U R A , T EC N O L O G I A E V I D A S O C IA
IA L N A C U L T U R A C O N T EM P O R Â N EA •
ca ecomo
da a matéria
ma téria inanimada.
o resultado
result A técnica é, sob
ado do desenvolvimento
desenvolvimen to eesta
evoperspectiva,
perspe
lução ctiva,
evolução da vidainterpre
inorgânica
terpreta-
ta-
do homem, como com o uma
um a interfa
interfacece entre
entre a matéria orgânica viva e a ma- m a-
tériaa inerte deixada ao acaso na natureza.
téri natureza. O fenôm eno técnico
té cnico é um i
caso particular (zoológico) da relação entre o ser vivo e seu meio [
natural (a matéria inert inertee largada ao acaso na natureza).
A cultura, como tragédia de objetivação do sujeito e de
subjetivação dos objetos (Simmel), formase no coração do fenôme-
no técnico. Como mostra Bernard Stiegler, “a tendência não vem
simplesmente de uma fo rç a organi organizadora
zadora que seria o hom em (.. (...)
.) el
elaa
opera
oper a p o r sseleçã
eleção o d efo rm as numa rel ação do ser vivo humano com
relação
a matéria que ele e le organiza
organiza e pela qual ele se o organi
rganiza, ondee nenhum
za, ond
dos term os d desta
esta relação tem o segrsegredo
edo d
dooooutro
utro ” 27. A técnica dese
”2 de semm ,
pee nha
p nh a uum
m pape
pa pell fund
fu ndam
amee ntal
nt al na fo
form
rmaç
ação
ão d o h ome
om e m . I
A corticalização que define o homosapiens
homo sapiens se introduz nas pri-
meiras armas e ferramentas construídas a base de sílex talhado. É ppor or
isso que nós não podemos “ imaginar que o homem seja operador
como
com o inv
inventor
entor,, mas, ao contrário, com
comoo inven
inventa
ta d o ”.2 Até
A
.28
8
formação do córtex nós podemos dizer que a evolução da técnicatéa faseé de
de
* cunho zoológico, influenciando a evolução da espécie. PoucoPou co a pou-
po u-
co, a técnica vai desligandose desta evolução genética, tomandose
independente. Em um primeiro momento os objetos ajudam na for-
mação do córtex, numa
nu ma simbiose entre
entre o sílex
sílex e os neurônios
neurô nios (Leroi
Gourhan). Uma vez acabado esse processo, os objetos técnicos vão
seguir uma lógica própria
própria,, abordada brilhantemente
brilhantemente ppor
or G. Simondon,
com um modo
mo do de existência própri
próprio.
o.
Partindo desta hipótese,
hipótese, LeroiGourhan afirma
a firma que, pela
p ela li
libe-
be-
ração da mão e pela exteriorização
exteriorização do corpo humano,
hum ano, “a aparição x y
EM O S | 3 1
• A N D R É L EM
. do homem é a aparição da té
técni
cnica
ca.. É a ferramenta, isto
isto éé,, atekhn è,
atek hn è,
\ q u e inv
in v e n ta o h o m e m e n ã o o h o m e m q u e inv in v e n ta a té
técc n icà
ic à ” ”229. É
pee la e x ter
p te r ior
io r iz
izaa ç ã o tec
te c n o lóg
ló g ica
ic a d o c o rpo
rp o , q u e a m ã o v ai p e d ir o
instrumento e, em consequência,
consequ ência, esse gest gestoo vai proporc
pro porcionar
ionar a fala. fala.
Como explica LeroiGourhan, “a f “a fee r r a m e n ta p a r a a m ã o e a l in
guagem pa ra a fa c e são dois polos de um mesmo d ispositi vo ,,,,33°. N a
ispositivo
mesm a direção, aponta ap onta Stiegler,
Stiegler, o instrum
instrumento ento é resultado da ante ante
cipação e da exteriori
ex teriorização
zação mas, ao mesmo tempo, ele é a condição
mesma
me sma deste processo.
processo. Assim, a p
a prr ó tes
te s e n ã o é um s im p les
le s p r o lo n
gamento
'quanto hum do ano...
corpo
ano.. humano, ela é a constituição deste corpo en-
. ”31. en-
A formação do córtex, da técnica e da linguagem é assim
imbricada na coevolução
coevoluçã o zoológica da espécie espécie hum ana, já que sua
evolução vai ser potencializada
potencializada pela adaptação adaptação locomoti
locomo tiva va e técnica
técnica
do homem,
hom em, ao invés de ser a simples causa. causa. A corticalização seri seriaa
codeterminada pela exteriorização (a mão e a fala ou o gesto e a
paa lav
p la v ra,
ra , c o m o d e f ine
in e L e r o i
iGG o u rha
rh a n ) , p e lo c a r á ter
te r nnãã o g e n é tic
ti c o d o
■ inst
instrume
rument nto.
o.^A
^A essência
essê ncia da natureza humana human a situase no que pode
' remos cham c ham ar de processo de desnaturalização
desnaturalização do homem) na ssua ua
simbiose com a técnica e na formação da cultura com o surgimento surgimento
da linguagem. É esta genealogia da tecnicidade que vai interessa interessarr a
Gilbert Simondon.
A gên
gênese
ese e o m od
odoo de ex
existên
istência
cia dos ob
objetos
jetos téc
técnic
nicos
os
se cache
reconn en quelque
reconnaisson s, nous 11’’objet
aissons, matériel.
appelons, elleeAest
et ell travers luie. nous
délivrée.
délivré Iat
L’obje
objet
oü elle se cache
cache ou la sensation, puisque tout objet par
rapport à nous est sensation nous pouvon pouvonss très bien ne
le rencontrer jamais. Et c’est ainsi
ainsi qu’i
qu ’ill y a des heures de
notre vie qui ne ressusciteront jamais.”
M a r c e l Pr o u s t
32 C IB
I B ER C U LT
LT U R A , T EC N O L O G I A E V I D A S O C IIA
A L N A C U L T U R A C O N T EM P O R Â N EA •
luii segu
lu segundo
objetos ndo um a engendra,
técnicos lógica interna própria
então,
então, (a ttecnicidade).
um processoecnicidade).
perm anenAteapariçã
anenteapariçãoo de
de natura-
lização dos objetos e de objetivação da natureza (na construção de
uma segund
segundaa natureza artificial
artificial,, a tecnosfera).
A evolução da espéc
espécie
ie humana é fru fruto
to desse movimento
movimen to perpé-
tuo e infindável,
infindável, sendo a técnica
técnica responsável pela criação da segunda
naturezaa a cultur
naturez culturaa num
num proc
processessoo de desnat
desnaturali
uralização
zação do homem.
Os objetos técnicos formam uma espécie de ecossistema cultural,
onde a naturalização
naturalizaçã o do artifício
artifício modifica o meio natural, da mesm a
forma que o meio natural vai impondo limites à atividade técnica
humana. E sta naturali
naturalização
zação de objetos
objetos técni
técnicos
cos im pulsiona um
umaa pro-
gressiva artificialização do homem e da natureza, sendo mesmo
impensável a existência do homem e da cultura fora deste processo.
• A N D R É L E M O S | 33
f
faa z e m Simondon u r a ” para
p a r t e d a cpropõe,
u lt
ltu 32. explicar sua posi
posição,
ção, um a genealogia
da técnica a pa rtir da perspectiva de evol evolução
ução das form as (gestalt ), ), e
da evolução bergsoniana da vida. Simondon compreende a técnica
como uma form a particular que sur surge
ge do confl
conflit
itoo entre o homem e o
mundo, cuja evolução se daria daria por bifurc
bifurcações
ações e desdobrame
desdobramentos ntos su-
cessivos.
cessi vos. PPara
ara Simondo
Simondon, n, a compreensão da genealogia d daa técnica é a
única possibilidade
possibilidade de tomar consciên consciência
cia do modo de existência de
objetos técnicos e de seu papel na cultura contemp contemporânea.
orânea.
Para situarmos o surgimento
surgimento da tecnici
tecnicidade,
dade, devemos
devemo s emempreender
preender
um retomo
retom o ao momen
momento
to onde esta apaparece
arece pel
pelaa primeira ve
vez.
z. Simondon,
influenciado
influenciado pela teoria do élan vital de Bergson, propõe que a gênese da
técnica seja compreendida
c ompreendida com
como o uma forma particular de indivi
individuação
duação
no conflito
conflito homem
homemmundo.
mundo. Para Bergs
Bergson,
on, a técnica é conse
consequência
quência de
uma bifurcação do élan vital.
vital. N
Naa su
suaa “Evol
“Evolution
ution CCréa
réatrice
trice”3
”33
3ele vai vin-
cular a técnica à evolução da vida
vida.. Esta se reali
realiza
za por operações sucessi
sucessi-
-
vas de dissociações e de desdobramentos. A técnica aparece, então, no
V
34 C I BER
B ER C U LT
LT U R A , T EC N O L O G I A E V I D A S O C IA
I A L N A C U L T U R A C O N T EM P O R Â N EA •
p o r B e r g son
po so n , é q u e a te
tecc n icid
ic idaa d e a p a rec
re c e p a ra r e s o lve
lv e r p rob
ro b lem
le m a s
colocados pela fas fasee primitiva
primitiva da relação
relação homemmundo,
homem mundo, que qu e ele cha
cha- -
ma de fase m ágica. Esta caracteriza
caracterizase se como uma estrutura prétéc prétéc
nica e préreligiosa. Sem distinção entre técnica e religião, a fase
mágica caracterizase por uma vinculação vinculação global do hom homem em ao mun-
mun -
do. Esta unidade mágica primitiva primitiva se constit constituiui po
porr uma relação do
homem ao mundo (do estar no mundo) que é, ao mesmo tempo,
oobjetiva
sujeitoeesubjetiva,
subjet
o objeto.iva, não compreendendo aí nenhuma nenhum a distinção
distinção entre
A origem, ou gênese, da técnica corresponde, então, à um umaa fase
da relação homemmundo
homemm undo engendrada pelo pelo desdobramento,
desdobramen to, a partir
da saturação,
saturação, da fase mágica primiti primitiva. va. E pelo desdobramento
desdobrame nto dessa
pri
p rim
m ei
eira
ra esestr
truu tura
tu raçç ã o (a fa
fase
se m ágic
ág ica)
a),, q u e surg
su rgee a d isti
is tinn ç ã o e n tre
tr e fi-
fi -
gura (o objeto) e fundo (religi (religião).
ão). Na fase mágica, figura figu ra e fundfundoo não
se distinguiam
distinguiam no unive universo.
rso. A saturação
saturação da fase mágica m ágica descola
desc ola figura
e fundo, gerando
gerand o duas novas formas de solução desse conflit conflito: o: a for-
ma técnica, que responde aos problemas problema s de figura, e a forma religião,
que se ocupa dos fenômenos de fundo. fundo. Para Simondon,
Simond on, o homem hom em cria
a técnica para resolver os conflitos dos fenômenos da natureza, e a
religião
religi ão para tratar do espírit espírito,
o, do simbólico
sim bólico e do imaginário.
A evolução
evo lução da vida, seu élan vital, vital, faz com que o universo unive rso má-
gico entre em saturação originando, por duplicação, duas soluções
part
pa rtic
icuu lare
la ress p ara
ar a o dra
d ramm a da
d a re
r e laçã
la çãoo ho
h o m e m mun
m undodo.. A técn
té cnicicaa éé,, a s-
sim
sim como
com o a religi
religião,
ão, uma
um a solução particular
particular para a saturação do modo
mágico do homem estar no mundo. A tecnicidade não é nem uma
realidade isolada,
realidade isolada, nem uma realidaderealidade completa, já que é dependente
do modo religioso. Assim, os dois modos de relação homemm hom emmundo, undo,
desdobrados
desdob rados e individualizados
individualizados a partir do modo m odo mágico, são incom-
plet
pl etos
os e d e v em b u scasc a r nov
n ovas
as form
fo rmas
as d e con
c onvv ergê
er gênn cia.
ci a. E s sa form
fo rmaa dede
convergênc
conv ergência ia será para
pa ra Simondon efetuada
e fetuada pela estética35
estética35.
É através do pensamento estético estético que os objetos podem reve-
lar sua epifan
epifania ia áuri
áurica,
ca, seu fundo. Assim, o belo não nã o seria uma um a atri-
buu içã
b iç ã o d ir
iree ta d o s o b jeto
je toss m as um p o n to sin
si n g u lar,
la r, o c u p a d o e p e r p e -
trado pela experiência. O objeto belo é o bom objeto o bjeto no bom lugar e
no bom momento. O pensamento estético seria, assim, aquele que
vaii tentar reaproximar
va reaproxima r a figura figura do fundo, buscando a origem origem mágica
que não encontraremos jamais. Como explica Simondon, o pensa-
mento estético “...não
...não é uma fase , mais uma lembrança perma nen-
nen-••
E M O S | 35
• A N D R É L EM
( máquinas digitais
digitais (com
os tra N egro
eg ropo
pont
(computadores)
nte,
putadores) não manipulam mais matéria
gia. Agora tratase de traduzir a natureza em dados binários. Como
s*r m ostra e, “os bits ssub
ubstituem
stituem os á tom
to m o s”4
m atéria e ener-
s”40.
36 | C I B ER
E R C U L TU
T U R A , T E C N O L O G I A E V I D A S O C I AL
AL N A C U L T U R A C O N T E M P O R Â N E A •
Heidegger
He idegger e a essênci
essência
a da técnica
O hom
h omemem é u umm ser ttécnico
écnico que não se caracteriza apenas pelo
sentido zoológico (LeroiGourhan) ou genealógicogestáltico
(Simondon). M artin Heidegger vai mostrar mostrar,, com ma maestria,
estria, que a con-
cepção instrumental,
instrumental, ou aquilo que el elee chamav
chamavaa de concepção antro-
poló
po lóg
g ica
ic a d a té
técn
cnic
ica,
a, n ão p o d e no
noss re
revv e la
larr tto
o d a a e s s ê n c ia d a té
técn
cnic
ica.
a.
A técnica, definida como um saber fazer, uma arte, um meio e uma
atividade produtora (poiètica) do homem, é exata, como vimos, sem
ser necessariamente
necessariame nte a sua verdadeira essência: essência: “o que é exato não é
ainda verdadeiro", d diz
iz H eid
eidegg
egger4
er411.
Como vimos, tekhnè é p o i è s i s , produção. Por produção
Heidegger compreende
compreend e o processo que revela revela uma verdade, que faz
com que uma coisa passe do estado latente ou ausente à presença.
Produção é p poo ièsi s, que pode ser natural (a p
iè sis, ph is , o nascimento de
h u s is,
uma flor, por exemplo) ou artificial (a tekhnè, a construção de uma
mesa)
mes a).. H eideg
eidegger
ger vai explicar que a raiz latina da palavra prod produção
ução
vem de veritas, verdade. Assim, toda p po iè s is é ato de desvelamento
o iès
da verdade, logo toda técnica é um modo de desvelamento de uma
verdade,
verd ade, um modo de desvelamento do humano ao mundo. C Contraria-
ontraria-
mentee à perspectiva instrumental e antropológica, a técnica
ment técn ica não é so-
mente um meio zoológico de evolução da espécie, nem apenas um
modo de evo evolução
lução o originári
riginário o de uma unidade m ágica perdida. E Ela
la éé,,
segundo Heidegger, um modo de desvelamento, um m odo de existên-
cia do hom em no mundo mundo..
As diferenças entre as técnicas técnicas primitivas ou industriais
indu striais não se
situam no nível da p poo ièsi s, já que ambas são modos de de
iè sis, desvelamento
svelamento
do ser do hom em no mundo. A diferença entr entree as técnicas primiti p rimitivas,
vas,
ou préindustriais,
préindustriais, e a técnica moderna (tecnologia) está para Heidegge H eideggerr
na fundaç
fundação
ão científica desta últi
última.
ma. O que vai car
caracteriz
acterizar
ar a essência
da tecnologia
tecnologia moderna é um modo de desvelamento baseado na ciên-
cia moderna, originada no século XVII (empirismo, quantificação
matemática, paradigmas newtonianos de sujeito e objeto). Para
Heidegger, o modo de desvelamento (poièses ) da tecnociência mo-
derna é exercido como uma provocação da natureza, através da qual
esta é força
forçada
da a liberar matéria e energia para o livre controle e manu
manu- -
seio
seio humano. A essência da técnica
técnica moderna tem p or base este modo
de desvelamento:
desvelamento: um m odo de produção provocante da natu naturez
reza.
a.••
M O S | 37
• A N D R É L EEM
A natureza, desencantada
desenc antada e dessacralizada,
dessacralizada, pode, com o tal,
tal, ser
requisitada como objeto de exploração e pesquisa tecnocientífica. E
nessee modo de desvelamento que Heidegger si
ness situa
tua a dif
diferença
erença fund
funda-a-
mental entre as técnicas préindustriais e a tecnologia moderna. A
essência da tecnologia (a técnica moderna) está no que Heidegger
chamou de Gestell ou o arraisonnement (dispositivo)42,
(dispositivo)42, uma provo-
cação científica
cien tífica da nat natureza.
ureza. Em um discurso em 19 1955
55,, Heidegg
H eidegger er ssee
explicava: “nós podem os utilizar as coisas ttécnic écnicas,
as, nos ser
servir
vir nor
malmente
ma lmente mas, ao m esmo tempo tempo,, nos liberar delas de fo rm a que, a
form
todo momento, possampo ssam os coconservar
nservar uma distdistância
ância em rel
relação
ação a el as..
elas
Nó
N ós p
poo d e m o s u sa
sarr os ob
obje
jeto
toss técn
té cnic
icos
os co
com m o se dev
deve.
e. M a s p
poo de
dem os,,
m os
ao mesmo tempo, deixá-los a eles mesmos, como algo que não nos
atinge naquilo que nós nó s temos de mais ínti íntimo
mo e próprio. Nossa rela
ção
sível.com
sível Nósso admitimo
. Nó mundo técnico
admitimos torna-sttécnicos
torna-se
s os objetos e marav
maravilhosamente
écnicos ilhosamente
no nosso
nosso mundosi
simp
m undomples
les e p la
lau
quotidiano u
e ao mesmo
m esmo tempo nós os deixamos de fora. Isso signi fica que nós os
significa
deixamos
deixam os rrepousar les mesmos como coisas que não têm nada
epousar sobre eeles
de absoluto, mas que dependem de algo maior do que eles. Uma
velha
velh a palav ra se oferec
oferecee a nós para designar es esta atitude de sim e de
ta atitude
não ditos em conjunto
con junto ao mundo técnico: é a pa palav
lavra
ra ‘ge lass en he it’,,
heit’
‘serenidade', ‘igualdade da alma ” ’ 43
A visão bíblica já legiti
legitimava
mava o crescimento e a multiplicação da
espécie pela dominação da nature
natureza,
za, pela potênc
potência
ia humana. No en -
tanto, é a partir de filósofos como Francis Bacon e René Descartes
que o homem,
home m, com o centro do uni
universo,
verso, ganha legit
legitimidade
imidade para agir
sobre o mundo de forma racional e científica. Para Bacon, um saber
só é válido se ele tem como co consequência
nsequência atividades
atividades ou prod
produtos
utos prá-
ticos. Ele sela a máxima “saber é poder”. René Descartes, por sua
vez, afirmava a razão autocentrada do homem ( cogito ergo sum ),
onde este passa a se
serr o centro do universo int
inteligí
eligível;
vel; ele é o cen
centro
tro de
38 | C I B E R
RCC U L T UR
U R A , T E C N O L O G I A E V I D A S O C IA
IA L N A C U L T U R A C O N T E M P O R Â N E A •
M O S | 39
• A N D R É L EEM
40 C I B ER
E R C U L TU
T U R A , T E C N O L O G I A E V I D A S O CI
C I AL
AL N A C U L T U R A C O N T E M P O R Â N E A •
C a p í t u l o II
O F E N Ô M E N O T E C N O L Ó G I C O AT
A T R AV
A V ÉS
É S D A H IS
I S T Ó RI
RIA
todo sistem
sistemaa técnico só faz senti sentido do em meio a um determdeterminadoinado corpo
social. Sabemos que cada sistema técnico é expressão de relações
específicas entre a ciência, a filosofia, a sociologia, a economia e a
po
p o lí
líti
ticc a 48. Bu
Busc
scaa rem
re m o s, a p
paa rt
rtir
ir de um
umaa rá
ráp
p id
idaa h
his
istó
tóri
riaa d
daa té
técc n ic
icaa , v
vis
is-
-
lumbrar
lumb rar os simbolismos que esta assume em épocas distintas até che che- -
garmos à contemporaneidade. Ligado à complexidade das culturas,
todo sistema técnico é marcado por po r incoerênci
incoerências,as, bloqueios, pa parado
rado- -
xos e conflitos, da antigii a ntigiiidade
idade aos nossos dias dias..
Ass origens
A orig ens pré-his
pré -históric
tóricas
as
deuses ancestrais.
ancestrais. A mitologia grega está cheia de exemplos desdesta
ta potência
divina.
divina. O ho
home
mem m toma
tomase
se um invent
inventor,
or, um demiurgo, profana
profanadordor do uni-
verso sagrado,
sagrado, se
sendo
ndo aquele que “não
nã o rec
receb
ebe
e mais, el
elee inve
in ven
nta
ta”
”49-.
42 CIBERCU
CIBERCULTUR
LTURA,
A, TECNOLOGI
TECNOLOGIA
A E VIDA SOCIAL NA CULTURA CONTEMP
CO NTEMPORÂNEA
ORÂNEA •
N a b if
Na ifuu r c a ç ã o d o u n ive
iv e rso
rs o m á g ico
ic o p rim
ri m itiv
it ivoo , p r o p o s to p o r
Simondon, a técnica separase da religião, religião, sem perder, nesse mom en-
to, as referências ligadas ao sagrado sagrado.. Estamos
Estam os aqui no centro do pri- p ri-
meiro desdobramento
desdobram ento do universo mágico, onde técnica e religião se
separam, mesmo mantendo ainda um forte elo de recorrência. O sa-
grado e o profano se estabelecem. O primeiro como qualidade do
mundo (fundo) e o segundo como o mundo concreto, onde o homem
pod
p odee a g ir atra
at ravv és de seus
se us in
inst
stru
rumm ento
en toss (fig
(f iguu ra)5
ra )500. Na
N a o rig
ri g e m p réh
ré his
is--
tórica da técnica, o sagrado tornase lugar do interdito, do respeito e
daratransgressão,
pa
para os p rob le m a sjáde
ro b lem d que
e fig a técnica
f igur
ura)
a) mas, ém
ma s, tam
ta vinculada
bém p oao
bé m , à po tê nprofano
tên c ia divi (soluções
di vina
na.. A co
c on-
tradição
tradi ção e o paradoxo sagrado/profano
sagrado /profano estão na origem do fenômeno fenôm eno
técnico e, como com o veremos
verem os adiante,
adiante, permanecerão
perma necerão até os dias dias de hoje.
O m odelo da técnica préhistórica
préhistórica é o da fase mágica má gica proposta
poo r S im o n d o n . E s t a f a s e c a r a c t e r i z a s e c o m o u m a té c n i c a d e
p
sacralização, de acordo com Miguel e Ménard51. Aqui, o universo
técnico não é autônomo autônom o frente à natureza ou às esferas da vida soci- s oci-
al. A técnica é, ao mesmo tempo, um instrumento profano (trans-
gressão da ordem da natureza) natureza) e potência
potência mágica m ágica e simbólica
sim bólica (trans-
formação do mundo). Consequentemente, o objeto técnico, preso a
este esquema de transgressão será, para sempre, depositário de um
medo e de uma u ma fascinação que nos perseguem até os dias de hoje. É,
sem sombra de dúvida, o que vivemos na cibercultura, cibercultura, já que a ccivi-ivi-
li
lização
zação concontemporâne
temporâneaa mistura temor e deslum deslumbrambramento
ento pelos ob-
je
j e to s téc
té c n i c o s 52.
Este sentimento ambivalente
ambivalente caracteriza
caracteriza o que Miguel e Ménard M énard
cham am de “astúcia
chamam “astú cia tecnicista” do homem nas origens. A vida social social
era fechada numa rede de técnicas técnicas mágicas, e não existia um univer- u niver-
so técnico independente da vida social. social. O fim econôm
econô m ico e o esfor-
ço técnico eram secundári secundários os em relação ao imperativo de estar no
mundo.
mund o. M. M auss e J. Ellul5 Ellu l533 mostraram
mo straram como, com o, nesta
n esta fase, a magia
poo d e s e r c o n s ide
p id e r a d a u m a téc
té c n ica
ic a , talv
ta lvee z a téc
té c n i c a p o r e x c e lê
lênn c ia
das sociedades tradicionais. A técnica sagrada (magia) pode ser
traduzida como um desejo do homem primitivo primitivo em obter respostas respostas
de fundo,
como já que os
c oncebem
concebem este nunca
nun
hoje.
hoje . Ocapensamento
ligou
ligou seu destino
mágicoaoreligioso,
progresso
progre
reli ssoque
gioso, técnico,
funda
as primeiras
primeiras técnicas,
técnicas, é o oposto
oposto do que compreendemos
compreendem os com o ra-
zão instrum
ins trum ental
en tal m odern
od erna5
a544.•
• ANDRÉ LEMO
LEMOSS | 43
A s pr
prim
imei
eira
ras
s civiliza
civi lizaçõe
çõess e os gregos
gre gos
A revolução
revo lução do Neolítico
Neolítico (entre 8.000 e 5.000
5.000 a.C.)
a.C .) vai criar as
pri
p rim
m eira
ei rass c ivil
iv iliz
izaç
açõõ e s e um prim
pr imei
eiro
ro sist
si stem
emaa técn
té cnic
icoo d esen
es envv olvi
ol vidd o ,
aparecen do entre o quarto e o terceiro
aparecendo terceiro milênio
milênio às margens do Medi-
M edi-
terrâneo. Entramos na história.
Com as primeiras civilizações,
civilizações, surgem sociedades estruturadas
a partir de um
u m pode
p oderr hierarquizado,
hierarquizado, do crescimento
crescimento das primeiras ci-
dades
vimento e impérios, do surgimento
dos transportes, da metal da escrita
m etalurgia
urgia e da(3.500
(3. 500daa.C.),
arte do desen
guerra. desenvol-
vol-
Essa con
con--
junn tur
ju tu r a vai
va i form
fo rm a r o ppri
rim
m eiro
ei ro siste
si stem
m a técn
té cnic
icoo c oere
oe rent
ntee d a h u m anid
an ida-
a-
de, segundo
segu ndo os historia
h istoriadore
doress Gille5
G ille555 e Daum
Daumas. as.
Noo e nta
N nt a nto
nt o , o Egit
Eg itoo co
conhnhec
eceu
eu um verd
ve rdaa d eiro
ei ro sist
si stee m a técn
té cnic
icoo
sem, necessariamente, ser efetivamente inovador; e, quanto aos de-
senvolvimentos
senvolvim entos e invenções técnicas,
técnicas, os historiadores
historiadores notam uma certa
limitação.
limi tação. Gille explica que, de uma certa maneir m aneira,a, o desenvolvimento
desenvo lvimento
de uma civilização fechada fech ada e muito bem estruturada inibia as inova-
ções tecnológicas.
Já o sistema técnico grego é elaborado a partir do sexto século
antes da nossa
n ossa era, nas ilhas
ilhas Jônicas,
Jônicas, onde o progresso não é global
não há grandes inovações em relação à civilização egípcia e estão,
lado a lado, técnicas novas e técnicas artesanai
artesanais.
s. A ev
evolução
olução é quase
qu ase
imperceptível, existindo o que G Gill
illee chama de bloqueio técnico. Nes-
N es-
se momento,
mom ento, o nascimento
nascimen to da filosofi
filosofia,a, como vimos, exerce umu m a in-
in-
fluência muito
m uito grande. Segundo o historiador
historiador,, o bloqueio grego
g rego é de-
vido àa ciência,
nica três fatores
fatore
os slimites
liprincipais:
mites da ciência1. ao asassociar,
sociar,
grega pelaam
poderí
poderíam primeira
prim eira vez,
limitar o nívela téc-
do
desenvolvim
desen volvimento ento técnico; 2. 2. o sistema escravocrata pode ter sido um
dos fatores do bloqueio, já que, dispondo de escravos, os desenvolvi- desen volvi-
mentos técnicos não seriam fundamentais; 3. 3. a desconfiança
desconfian ça e o des-
prez
pr ezoo d a fifilo
loso
sofifiaa d e P latã
la tãoo e A ririst
stót
óteleles
es em rela
re laçã
çãoo à tekhnè, como
vimos, pode ter te r llimitado
imitado o progresso técnico. técnico. Para Gille, a explicação
mais convincente seria o incipiente incipiente desenvolvimento da ciência grega
que não
nã o permitia o desenvolvimento técnico. técnico. Já para Miguel
M iguel e Ménard,
M énard,
a causa
cau sa situase na visão v isão filosó
filosófica
fica da técnica5
técnica 56.
Noo e nta
N nt a nto
nt o , é n a c ivil
iv iliz
izaç
açãã o h e lêni
lê nica
ca que
qu e nasc
na scee u m a p rim
ri m e ira
ir a
pre
p reoo c u p ação
aç ão e m a c h a r expl
ex plicicaa ções
çõ es ra
r a cio
ci o na
nais
is em rerela
laçç ã o à c iên
iê n c ia e à
técnica. É a ppar artir
tir do sécu
séculolo V a.C. que a técnica técn ica vai, ppou ouco
co a*pouco,
pouco ,
44 | CIBERCULT
CIBERCULTURA,
URA, TECNOLOGIA E VIDA SOCIAL N A CULTURA CONT
CONTEMPOR
EMPORÂNEA
ÂNEA •
sendo laicizada
laicizad a e dessacral
dessacralizada.
izada. Os prim
primeiros
eiros filósofos, os ph si c o is
p h y sic
p rés
pré soo cr
crát
átic
icoo s (T
(Tha
hale
less d e M ile
ileto
to,, H er
erác
ácli
lito
to,, P it
itág
ágoo ra
ras)
s),, v ão se ininteter-
r-
rogar sobre as causas materiais da natureza. Os deuses detêm ainda
um grande papel na estrutur estruturação
ação do universo simbólico, mas a técnica
paa ss
p ssaa d e u m e ststad
adoo d e m er
eraa in
intu
tuiç
ição
ão a um no novovo e sta
st a d o d e in
invv e stig
st igaa -
ção, de demonstração, sendo investida pelo discurso filosófico, a
tekhnè. Um a incipi
incipiente
ente ciê
ciência
ncia gre
grega
ga está nascendo com o desenvo desenvol- l-
vimento
vime nto da ma matemática,
temática, d daa geom etria e da aritm aritmética5
ética57 7.
Pa ra J
Para JP.
P. Vernant5
Vernant58 8, são os sofistas
sofis tas quequ e efe
efetua
tuam m os p prim
rimeiro
eiross
esforços para desenvolver um pensamento técnico na Grécia, com
seus manuaisreceitas. Estes, são normas práticas sobre a moral, a
polít
po lític
ica,
a, a eecc o n o m ia e a re
r e li
ligi
gião
ão n u m a ppee rs
rspp ec
ecti
tiv
v a in
inst
stru
rumm e nt
ntal
al.. E m -
bo
b o ra a in
indd a m a rcrcad
adaa p el
elaa o rdem
rd em re
reli
lig
g io
iosa
sa ou m íti íticc a , a té
técc n ic
icaa e n tr
traa
aqui,, no m
aqui momento
omento de dessacralizaç
dessacralização, ão, sendo investida por um umaa enquete
filosófica, inscrevendose também na luta pelo poder, mais precisa-
mente na n a arte da guerra. A técnica se desenvolve ainda a inda em relação à
O Império Romano
A partir
pa rtir do primeiro século ant
antes
es da nossa era, os romano
romanoss em -
p reee n d e m um p ro
pre rocc e ss
ssoo ra
radi
dica
call d e ex
expp a n sã
sãoo e c o n q u ista
is tas.
s. A nt
ntig
igos
os
agricultores, eles vão, com a conquista de novos territórios, conhe conhecer
cer
novas técnicas e adquirir conhecimentos dos povos dominados. Os
romanoss assim
romano assimilam
ilam novas técnicas e vão est estendêlas
endêlas p por
or todo o impé-
rio, sem ser necessariamente inovadores.
inovadores. Existe assimilação, m mas as pouca
pouca••
• ANDRÉ LEMO
LEMOSS | 4 5
inovação. Mesm
M esmoo se a agricultura conhece algum pro progresso,
gresso, os histo-
riadores não sabem ao certo se esse desenvolvimento se deve aos
gregos, aos povos bárbaros
b árbaros ou, enfim, aos romanos.
Se em relação a equipamentos (ins
(instrume
trumentos
ntos,, ferramentas, mmáqui-
áqui-
nas) os rom
romanos
anos são conservadores, a grande invenção
inven ção destes situase no
campo da energ
energia
ia e d
daa administ
administração,
ração, incluindo aí o direit
direito,
o, a arquitet
arquitetura
ura
e a urbani
urbanização,
zação, famosa p por
or seus aquedu
aquedutos
tos e pela gestão administrat
administrativaiva
das cidades.
cidades. C Como
omo povo guerguerreiro
reiro,, os romanos desenvolveram algumas
ferramentas
ferramen tas e máq
máquinas
uinas de guerra, assim como alguns tratados técnicos.
Mas, como
co mo n nota
ota B
B.. Gille, o império não conheceu engenh
engenheiros
eiros e técnicos
remarcáveis: “...a sua genialidadefo i ter combinado todas estas técnic as
técnicas
e de utilizá-las até seus limites mais extremos...”60.
A civilização romana desenvolveu técnicas sociais, o direito
romano e a administração urbana, não apresentando inovações radi-
cais em relação ao sistsistema
ema técnico gr grego.
ego. D
Daum
aumas6
as61 assinala q
que
ue essa
organização social
social,, sem
mação, pela primeira vezgrandes inovações
na história técnicas,
da técnica, vaicon
de um ajud
ajudar
ar a for-
conjunto
junto ho-
mogêneo
mogê neo se difundindo através do mundo conhecido da época.
A estabili
estabilidade
dade técnica do ImpériImpério o Romano será a causa de um
movimento
movim ento inovador, lento e fraco
fraco,, mas constituirá uma fo forte
rte organi-
zação social e administrativa. Como afirma Gille, Gille, “a novidade téc nica
técnica
é semp
semprere gerado
geradorara de conf
conflit
litos.
os. Uma organização bem orden ordenada vivee
ada viv
necessa
nec essariam
riamente
ente so
sobre
bre téc
técnica
nicass iim
m ut
utáv
áveis ”62. Esta estabilidade
eis” estabilidad e vai ser
mantida
man tida do séc
século
ulo VII até o sécul
século o XVII. Assim, influenciado
influen ciado pelos
gregos, o simbolismo
simb olismo da técnica no Império Roma
Romano
no vai situarse no
mesmo registro, isto é, como atividade profana ligada ao medo da
transgressão da ordem
orde m divina.
Idade Média
46 CIBERCU
CIBERCULTUR
LTURA,
A, TECNOLOGIA E VIDA SOCIAL N A CULTURA CONTEM
CO NTEMPORÂN
PORÂNEA
EA •
O misti
misticismo
cismo e a contemplaç
contemplação ão medieval estestão,
ão, certamente, pre-
sentes
sent es e d
detêm
etêm uumm papel fundamental nesse enfr enfraquecimento.
aquecimento. E ntre-
tanto,
tant o, o espírito cont
contemplativo
emplativoreligi
religioso
oso está longe de ser geral. Com
Como o
explica
exp lica Gillle, “à pa rte a
alguns
lguns exemplos ra raro
ros,
s, existem ap
apena traços
enass traços
desse desprezo pelapelass té
técnicas evocado”” 64.
cnicas frequentem ente evocado
A técnica é, nesse período, elemento de reflexão, ao ponto de
Gille propor
propo r a existência
existência de uma “técni
“técnica
ca didáti
didática”,
ca”, onde a ciência
começa
com eça a sentir nece
necessi
ssidade
dade da técni
técnica
ca e a técnica da ciência, instau-
instau-
rando o germe da modernidade
mode rnidade tecnocientí
tecnocientífíca.
fíca. O emp
empirismo
irismo pass
passaa a
ter seu lugar no desenvolvimento de uma tecnologia ou, ao menos,
aparece como uma preocupação quanto à refl reflexão
exão ordena
ordenadada e sist
siste-
e-
mática
má tica da técnic
técnica.
a.
A utilização
utilização da energia é capit
capital
al para o sist
sistem
em a técnico m edi-
eval.. O grande m érito
eval érito desta época está na disponibili
disponibilidade
dade crescente
da energ ia uti
utilizada.
lizada. A utilização das energias hidráu lica e eólica é, é,
sem sombra de dúvida, a grande inovação medieval (o moinho a
vento é implantado na Europa no século XIII). O maquinismo e o
automa ti tismo
smo são bast
bastante
ante conhecidos nesta época, onde os relógios
e as novas máquinas de guerra fazem furor. O aperfeiçoamento na
utilização do metal permite o começo de uma atividade industrial,
ainda que incipiente, no começo
com eço do século XII, passando a indústria
têxtill p
têxti por
or algum m elhoramento
elhorame nto já no século seguint
seguinte.
e.
Agora, todos os elementos que preparam a modernidade estão
colocados:
colocado
matem s: uma sistema
ática, divisão técnico baseado
do tempo, no
o espí
espíritempirismo
rito
o co e na
conquistad orquantificação
nquistador quantificação
da natureza,
onde a técnica tornase laica e secul
secularizada
arizada.. E
Esta
sta profanaç
profanação
ão radi
radical
cal
da técnica devese portanto a trê
trêss fator
fatores:
es: a difusão e ba
banalizaçã
nalização o das
técnicas conhecidas, a urbanização e o desendesenvolvime
volvimento
nto dos métiers
métiers
nas corporações
corporaç ões de ofício
ofício..
O sistema técnico não será mais constituído sobre a codagem
sagrada de m edo de transgressão, passando a ser articulado em torn torno
o
de uma “escatologia
“ escatologia do social”” (Miguel e Ménard) onde,
d o progresso social
p elaa p ri
pel rim
m e ir
iraa ve
vez,
z, “ a técnica não remete mais à natureza (...) mas ao ao
prr ó p r io s e r h um
p umanano.
o. A té
técn
cnic
ica
a ten
te n de a se a n tro
tr o p o m o rfiz
rf iza is
a r ou, m a is
antropocentrar”65. Passamos do paradigm a clássi
exatamente, a se antropocentrar”65. Passamos clássico
co
de astúcia com a naturez natureza,a, para uma simbologia medieval q que
ue prepara
a modernidade
modernida de ao exercício de uma ast astúcia
úcia antropocêntrica da técni-
ca. Nasce, aqui, um novo código de conduta que vê na técnica um• um •
• ANDRÉ LEMO
LEMOSS | 47
“adoçã
adoção o de um poponto
nto de vist
vista
a mais funcion
funcional, das
al, racionalização das
técnicas,
técnicas, emergência de uma nova ordemordem onde a medmedida
ida quantitati
qua ntitati
va se reve
revelará
lará de
determ
term ina
inante
nte”
”66.
O Rena
Renasci
sciment
mento
o
48 | CIBERCULTURA,
CIBERCULTURA, TECNOLOG
TECNOLOGIA
IA E VIDA SOCIAL NA CULTURA
CULT URA CONTEMPOR
CONTEM PORÂNEA
ÂNEA •
si própri
próprio,
o, de fazê-la fa la r - ou de tr tradu
aduzí
zí-l
-laa - numa li lingu
nguage
agemm
matemática
matem ática muito m ais operat ória” 68.
operatória
A razão passa a ocupar o lugar de centro do u niverso inteligí-
vel e, a técnica, a encarnar o meio legítimo e ideal para a máxima
cartesia na de “co nqu
nquistar
istar e domina
dominarr a natureza” . O em pirismo de F F..
Bacon e o racionalismo de R. Descartes
Descartes aprox imam se aqui da fun-
ção de nos tornar “mestres e possuidores da natureza”. No seu
“Novun
“N ovun O rga
rganu
nun”6
n”699, Francis B acon faz um umaa apo logia à potê
potênc ncia
ia da
razão hum
hu m ana que deve atingir a “imensidão d das s”, e Descar-
as c o isa s”,
tes, no seu “Disc
“Discours
ours de la M Métho
éthode”
de” 70, vai com ba bater
ter a filoso
filosofia
fia
especulativa, fundando um racionalismo
racionalismo que separa mente e m até-
ria, corpo e alma,
a lma, ligando
ligand o o sujeito ao ato de fi filosofar.
losofar. A qui o cogito
é a causa de um verdadeiro deslocamento metafísico do homem,
onde este passa a ocupar
ocup ar o centro do
do universo inteligível, superand
superando o
a perspectiva teocêntrica: Deus morreu (Nietzsche) e o mundo se
desen canta (Weber)
(Weber)..
O que parece estar em jogo , no Renascimento, é a subst substitui
ituição
ção
de uma estrutura ontoteológica (explicações de ordem divina) para
umaa estru
um estrutura
tura on
ontoan
toantropo
tropológic
lógicaa (razão cien
científica)7
tífica)71
1, ating
atingindo
indo seu
ápice com a Revo
Revolução
lução Industri
Industrial
al no século XVIII.
A Rev
Revoluç
olução
ão Industrial
Como
Com o nos expli
explicam
cam os his
histor
toriador
iadores,
es, devemos co
compre
mpreender
ender que
não houve no século XVIII uma revolução no sent sentidoido de u uma
ma ruptura
radical, mas a colocação de um novo dispositivo simbólico que vai,
pro
p rog
g re
ress si
sivv a m e n te d
dee sd
sdee a IIda
dade
de M édédia
ia,, aau
u m e n ta
tarr o po
pod d e r e o al
alca
cannce
do complexo
comp lexo tecnoci
tecnocientí entífico
fico h humano.
umano. O que cham chamamosamos d dee Revolu-
ção Industrial
Industrial (RI (RI)) é o fenômeno observado na Inglaterra no m eio do
século XVIII: aquele que ocorre em torno de 1780 com a indústria
têxtil (entre 17601780),
17601780), a invenção da m máquina
áquina à vap vaporor (1769) e as
prim
pr im eira
ei rass a p li
licc aç
açõõ e s in
indu
dust
stri
riai
aiss cco
om a pproroddução d dee fe
ferr
rrood dee b
booa q
quua-
li
lidade
dade (1780)
(1780).. Seguindo o pensamento de Gill Gille,e, nessa éépocapoca pode
pode--
mos destaca r mais inovações (banalização (banalização e desenvolvimento de téc-
nicas antigas) do que invenções (técnicas radicalmente novas). De
mesm
me smaa opinião, Da Daumumas7as72
2 mo
mostra
stra que o q que
ue vai cacarac
racteriz
terizarar o século
XVIII
XV III é menos um p progresso
rogresso técnico no sentido de invençõ invenções, es, que o
acelerado ritmo das inovações, sendo preponderante a influência de• de •
• ANDRÉ LEMO
LEMOSS | 4 9
formada
forma da agora pela nova tríade meta metal, l, carvão e máquina à va vapo
por.r.
O dispositivo automático também ganha uma dimensão nova
pela
pe lass p
pri
rim
m ei
eira
rass m
máá qu
quin
inas
as au
auto
tom
m á tic
ticas
as de
d e cá
cálc
lcu
u lo (P
(Pas
ascc al,
al , L
Lee ib
ibni
nizz ). A
mecanização
meca nização industri
industrialal atinge um grande desenvolvimento nesta épo-
ca e a técnica é pensada, pela primeira vez, ligada à questão de uma
economia política (trabalho, industrialismo) com Marx. A partir do
século XIX, a ciência e a técnica vão ser ligadas, ligadas, m ais fortemente, à
formação profissional. O interesse para a organização de trabalho
aparece com a formação das unidades grandes de produç produção ão industr
industrial ial..
A literatura técnica atinge um desenvolvimento considerável. consideráve l. A idéia
de progresso técnico, como o explica Gille, implica a formação de
uma nova estrutura social. Marx vai se interessar, particularmente,
po
p o r e ss
ssee as
aspp e c to ao e st
stu
u d a r os efei
ef eitotoss d a té
técn
cnic
icaa n o n o v o m u n d o inin-
-
dustrial, na economia e no trabalho. Pela primeira vez, articulamse
técnica, trabalho e economia política. Desta forma, a característica
prin
pr incc ip
ipaa l d a R e v o luçã
lu çãoo In
Indd u st
stri
riaa l nã
nãoo se situ
si tuaa aap
p e n a s no
noss n ov
ovoo s us
usos
os
da energia e do advento de uma sociedade industrial, industrial, mas na am plia-
50 CIBERCULT
CIBERCULTURA,
URA, TECNOLOGIA E VIDA SOCIAL
SOCIAL N
NAA CULTURA CONTEMPO
CON TEMPORÂNEA
RÂNEA •
Tecnocultura e modernidade
ção
b
ba seindustrial
indust
a seaa d o n riallecolocase
coloca
a e letr
tric
icid see ,em
idad
ade n omarcha,
marcha
petr
pe tró le,ocriando
ó leo cri
, nando
o m oum
to r novo
tor à e x psistema
sist
losã ema
lo sãoo e técnico
técni co-
n as in-
in
dústrias de síntese química.química. DeD e acordo com Gille,G ille, esta revolução
revoluç ão in-
dustrial aparece em dois grandes períodos: períodos: de 1855 1855 a 1870,
1870, período
de adaptação de natureza técnica e econômica (crescimento
demográfico, rede bancária, organização industrial, aumento da de-
manda); e de 1880 1880 a 1900
1900,, onde as grandes mudanças entram em jog o
com a produção de energia em larga escala (turbocompressores e
motores a explosão e elétricos, aços especiais, química de síntese,
lubrificantes). Conjuntamente, vemos florescer a diversificação dos
novos m eios de transporte e de comunicação.
A primeira
prim eira Guerra Mundial, a crise crise econômica de 19291931,
19291931, o
enorme crescimento
crescimento da dem anda e a competição
competição entre os dois sistemassistemas
polít
po lític
icos
os prin
pr inci
cipa
pais
is to
t o m am se
s e o conju
con junt
ntoo a part
pa rtir
ir d o qua
q uall um
u m a nov
n ovaa era
técnica vê a luz do dia. Entramos em uma idade técnica onde o par
ciênciatécnica é determinante
determinante para a disseminação da idéia de progres-
so.. O progresso
so p rogresso é, então, compreendido como o deslocamento
deslocam ento dos pre-
conceitos e do pensamento
pen samento infantil
infantil para uma área sombria
som bria do espírito e
o recentramento metafísico do homem, colocado agora no centro do
universo inteligível
inteligível.. Este sistema técnico moderno
modern o vai criar
cri ar um descon-
desco n-
forto
forto,, ou o que
q ue Lewis Mumford chamou de mal estar da civilização e
Guattari e Deleuze
D eleuze de modo
mo do esquizofrêni
esquizofrênico co do capitalismo, misturando
medo e excitação, contradições e paradoxos. O progresso técnico en-
caixase, justam ente, nesta nova conjuntura
con juntura sociocultural
sociocultural..
M umford cham a esteeste período de Era Neotécnica, um a radicali-
radicali-
zação da megam áquina civil civilizac
izaciona
ional.l. A Era Neotécnica
N eotécnica sucede a era
Paleotécnica,
Paleotécni ca, associada por M umford à era autodestrutiva da Revo-
lução Industrial
Industrial da segunda metade do século de XV III capitaliscapitalismo
mo
industrial, exploração de matériasprimas e poluição. A era Paleo-
técnica sucede, por sua vez, vez, a era Eotécnica,
Eotécnica, caracterizada por uma
relação harmoniosa
harmo niosa entre o homem e a natureza
natureza (do século X ao sécu-
lo XVIII), utilizandose, basicamente, de energias renováveis (moi-
nhos d ’água e movidos à energia
energia eólica)
eólica).. M umford propõe
propõ e o conceito
de megam
me gamáquina
áquina para dar conta da formaforma de organização que qu e vai
vai se
estruturando
estruturando aos poucos a partir do III milênio antes da nossa era na•
na •
• ANDRÉLE
ANDRÉLEMOS
MOS | S I
Me sopotâmia,
Mesopotâm ia, como vimos. A modernidade é o ápice desta megam á
quina civilizacional.
civilizacional. A sociedade moderna é conseqli
conseqliência
ência do des
desen-
en-
52 CIBERCUL
CIBERCULTURA,
TURA, TECNOLOGIA E VIDA SOCI
SOCIAL
AL NA CULTURA CONTEMPORÂNE
CONTEM PORÂNEA
A•
pto,
poo lí
lític
ticaa ), c o m oauscultado
analisado, m o stro
st rouu msob
uito
ui toa bimparcialidade
e m G. Vattim
Va ttimo8o80
0. Trazão.
da u d o dÉe veste
e ser
se rovin-
is-
is -
tuito da técnica universal e do conhecimento
conhecim ento científ
científico.
ico. Este
E ste é neutro,
tendo como objetivo eliminar os epifenômenos do espírito (o imagi-
nário, o mito, a religião),
religião), a escória sensorial
sensorial que dificulta
d ificulta o desenvol-
desen vol-
vimento
vimen to livre da razão. A máquina
m áquina (indust
(industrial
rial,, info
informá
rmática)
tica) é o objeto
de culto central nesta religião
religião moderna (Spengler e Weber). Weber). Para MiguelM iguel
e Ménard, o que surge surge nessa modernidade tecnológica
tecnológica é a estruturação
do mundo
m undo pela potência do racional racional.. NãoN ão é por acaso que W Weber
eber de-
fi
fine
ne a técnica
técnica moderna
m oderna como a colocação de meios orientados in
tencionalmente e metodicamente em fun çã o de experiê experiências,
ncias, ref
refle
le
xões
xõ es,, e - p a ss
ssaa n d o p e la ra
raci
cio
o na
nali
lida
dade
de em se
seuu m a is a lt
ltoo g ra u - de
consideração científica ”81.
A modernidade é o esti estilolo de uma época produzido pela decom decom- -
poo s içã
p iç ã o d a raz
ra z ã o s u b s tan
ta n ti
tivv a , tí
típp ica
ic a d a s c o n c e p ç õ e s reli
re ligg ios
io s a s e
metafísi
me tafísicas
cas do mundo,
m undo, por uma razão instrumental, positiva, signifi-
cando que as concepções
concepçõ es e dogmas dogm as religiosos
religiosos não são mais ma is legítimos
legítimos
com
como o ernidade
fundamento
fundam ento
a modernidade
mod explicativo
é, para Habermas, da vida soci
social8
al822. 0 que
a independência e avai caracterizar
caracteriza
autonomia
au tonomia es-r
pee cí
p cífi
fica
ca pró
pr ó p ria
ri a s às esf
e sfer
eraa s da
d a ciê
c iênc
nciaia,, ddaa mor
m oral
al,, ddaa re
r e lig
li g iã
iãoo e d a arte
ar te..
Estas esferas passam a ser institucionali institucionalizadas, zadas, traduzidas
traduz idas por po r um dis-d is-
curso de segunda
segun da ordem que as indivi individuali
dualizam
zam e as decompõem.
decompõem . A
racionalidade formulada no século XVIII deprecia as tradições im-
pul
p ulsi
sioo n a n d o um
u m a tran
tra n sfo
sf o rmaç
rm açãoão rac
r acio
ionn al e radi
ra dica
call da
dass con
co n d içõ
iç õ e s soc
s oci-
i-
ais de existência.
existência. Com o explica Habermas, o processo de d e racionaliza-
ção “da cultura oc ocidental
idental significa
significa que os set setores
ores,, de ag agoraora eem md dian
ian
te tratados por especialistas (a ciência, a moral, a arte), tomam-se
autônom os e rompem suas ligaçõ ligações es com corrent
correntes es da tradição ”83.
Habermas vai mostrar como a ciência ciência e a tecnologia vão se cons-
tituir em ideologias
ideo logias na modernidade. Ciência C iência e técnica, enquanto enqu anto dis-
cursos de segunda
segu nda ordem (ideológica),
(ideológica), alimentam uma um a esperança
esperanç a des des
mesurada no controle das forças naturais, na administração racional
da socied
so ciedade ade (Freyer8
(Frey er844), no progresso
progre sso científico
científic o e tecnológic
tecno lógico, o, na
n a in-
gerência de tecnocratas
tecnocra tas especial
especialistas
istas e no desenvolvime
desenv olvimento nto do indiví-
duo autônomo. Aqui, a razão instrumental leva ao individualismo
(Dum
(D umont8
ont855). Pela prim eira vez na história
h istória da hum
humanida
anidade,
de, a técnica
técn ica se
ergue como
com o um valor e se impõe como força simbólica e mítica. mítica. A•
A•
• ANDRÉ LEMOS
EMOS 53
A técnica tornase
ças econômicas o instrumento
e do progresso do desenvolvimento
da cultura das for-
faustiana (Spengler). O
simbolismo da técnica moderna encontrase na potência do artefato
comoo instrumento
com instrumen to legítimo de dessacralização
dessacralização da naturezá, transfor
54 CIBERCU
CIBERCULTUR
LTURA,
A, TECNOLOGI
TECNOLOGIA
A E VIDA
VIDA SOCIA
SOCIALL NA CULTURA CONTEM
CONTEMPORÂNE
PORÂNEA
A•
totalitário
totalitário e de proliferação univeruniversal
sal,, a autono
autonomia mia e relati
relativa
va ind
indee
pe ndên
pend êncc ia,
ia , e n fim a g ra
rann de co
conc
ncre
retu
tud
d e da
d a té ni c a ,,,,9°. O reino da téc-
técc nic téc-
nica seria,
seria, então, estrangeiro ao humano, reinado cultural e simbóli-
co, onde o humano se tomaria um instrumento do desenvolvimento
técnico991. Entretanto, se a atividade técnica
técnico técnic a está imbricad
im bricadaa na em e m er-
gência
gênc ia da linguagem
linguagem,, toda atividade
atividade técnica é umaum a atividade simbóli-
sim bóli-
ca92 já que existe “ linguagem desde que existe técnica e, assim, a
atividade técnica e a atividade simbólica são indiss ociáveis.... ”93.
indissociáveis..
É a construção de Centros de Pesquisa e Desenvolvimento
(P&D),
(P&D ), na segunda metade
m etade do século
século XX, que finaliza o processo de
cientifização da d a técnica e de tecnicização da ciência,
ciênc ia, até então inédito
inédito..
A ciência é estimulada, daqui em diante, pelo Estado, e a relação sa sa
ber
be rpp ode
od e r baco
ba coni
nian
ana,
a, def
d efin
init
itiv
ivam
amen
ente
te selad
se lada.
a. A raci
ra cioo nali
na lida
dade
de cien
c ientíf
tífi
i
• ANDRÉ LE
LEMOS
MOS | 5 5
cotecnológica toma se instinstrumento
rumento de m odernização da sociedade,
sendo a racionalidade
racionalidade determinante para o modelo de desenvolvimen
desenvo lvimen- -
to moderno. Esta nova estrutura social, a tecnocultura, vai estabele-
cer um pod
poderer uunidimensionalizante
nidimensionalizante (Ma
(Marcuse9
rcuse94), onde a orga
organização
nização
de trabalho é pensada em e m termos de divisão de tarefas e da otimização
otimizaçã o
do tempo (taylori
(taylorismo,
smo, fordismo). O trabalho hum ano é ligado ao rit-
mo da indús
indústri
tria,
a, onde a velocidade das máquinas determina o tempo e
os movimentos do trabalhador.
O p aradigma eletricidade/
eletricidade/petról
petróleo,
eo, m otor elétri
elétrico
co e quím ica
de síntese do fim do século XIX muda, depois do Segunda Guerra
Mundial, para um novo paradiparadigma:
gma: en
energia
ergia n
nuclear
uclear,, informática, en
en--
genharia
genh aria genética. Este novo sistema técnico vai afetar a vida quoti-
diana de forma radiradical
cal com a for
formação
mação e planetarização da socieda-
de de consumo e do espetáculo. Este é o pano de fundo para o
surgimento da cibercultura.
• • •
legiado porque estão imersas na dimensão global. global. N esta fase, o olhar
em relação à técnica está próximo da indif
indiferenç
erença.a. A técnica não é uma
realidadee em si
realidad si,, independ
independente
ente das outras esfer
esferas
as da cultura.
A fase do conforto é localizada
localizada no princípio
princípio de m odernidade.
A na tureza é dessacralizada, control
controlada,
ada, explorada e transfor
transformada.
mada.
A mente
men te está separada do corpo. A razão tornase ind epen dente e é,
daqui em diante, a norm a que dirige
dirige o progress
progresso o das condições ma -
teriais de existência. A ciência
ciênc ia substi
substitui
tui a religião no m ono pólio da
verdade, e a tecnologia faz do homem um Deus na administração
racional do mundo. A cidade é o resultado do planejam ento urba urbanís-
nís-
ti
tico
co onde a tecnosfera prevalece sobre a ecosfe
ecosfera.
ra. A dime
dimensão
nsão soci
socio
o
técnica
técni ca dom ina o oikos (Morin). Aqui, o olhar sobre a técnica é o
olhar do tecnoc rata que, em uma mistura de coragem e fascinação,
explora, dom ina, territorializa o espaço
espaço e o tempo. A m odern idade é
56 | CIB
CIBERCUL
ERCULTURA,
TURA, TECNOLOGIA E VIDA SOCI
SOCIAL
AL NA CULTURA CONTEMPORÂNE
CONTEMPO RÂNEA
A•
Notas
13 Ver Gille
Gille,, B. Histoi
Histoires
res des Techniques. Paris, Pléiade: 197
1978.
8.
14 A Geraç3o X é aquela que nasce nos anos 70. Veja o excelente Copland, D.
Génération X. Paris: Robe
Robert rt Laffont, 19
1991
91.. A geração Y é aquela dos teen dos anos 90, que
tem por hábito ser fort
fortee consumidora de entret
entretenimento
enimento e dos produtos da era da
d a informa-
ção. Na América já existe o rótulo dela ser a geração do Teenspoliation, neologismo de
teen e spoliation, ou a geração da exploração dos adolescentes.
15 Ver Heidegger, M. La Question de Ia Technique. in: Essais et Conférences. Pa-
ris: Gallimard, 1958.
16 Partindo das premissas de Platão e Aristóteles, Heidegger vai mostra que a
poièsis
poiè sis é um pro
proces
cesso
so de produ
produção:
ção: uma flor que nasce rev
revela
ela um pr
proc
oces
esso
so poi
poièti
ètico,
co, da
mesma forma em que a construção de uma mesa. No entanto esta exige a presença de uma
inteligência externa, de um demiurgos que imite aquilo que a natureza faz por ela mesma.
17 Arte aqui não significa uma atividade à parte, ligada ao prazer estético como
compreendemos hoje.
18 Stiegler, B. La Technique et le Temps. 1. La Faute d’Epiméthée. Paris: Galilée,
1994.
19 Ar
Aristo
istote
te U Et
Ethiq
hique
ue à Nicom
Nicomanque
anque.. Paris: J. VrVrin,
in, 199
1990.
0.
20 Platão mostra a dicotomia entre o homem e a técnica, entre o inteligível e o
sensível, entre alma e corpo. Ve
Verr Platon, P h èd re , Paris, GarnierFla
GarnierFlamma
mmaríon,
ríon, Paris, 19
1989
89..
21 Em Platão, o tema da técnica aparece em várias obras (Banquete, Fedro, Timeu,
58 | CIBERCU
CIBERCULTUR
LTURA,
A, TECNOLOGIA
TECNOLOGIA E VIDA SOCIAL
SOCIAL NA
N A CULTURA CONTEMPOR
CONTE MPORÂNEA
ÂNEA •
• ANDRÉ LEMOS
EMOS 59
ca primitiva. Como afirma brilhantemente J. Ellul: “notre adoration de la technique est une
dérivation de
d e cette ances
ancestrale
trale adoration de 1 1’homme
’homme vis à vis du car caractère
actère mystérieux et
merveilleux
merv eilleux de 1 1’’oeuv
oeuvre
re de ses ma
mains”
ins”.. in Ellul, J. op.cit. 1968
1968,, p.24.
55 Voir Gille, B. op.cit.
56 Spengler, Mauss e LeroiGourhan seguem a perspectiva oigânica de Aristóteles.
60 CIBERCU
CIBERCULTUR
LTURA,
A, TECNOLOGI
TECNOLOGIA
A E VIDA
VIDA SOC
SOCIAL
IAL NA CULTURA CONTEMPORÂNEA
CONTEMPOR ÂNEA •
81 Weber, M. Econom
Econ omie
ie et Société. Pa
Paris:
ris: Plon, 1971, p.63.
82 Ver
Ver Latour, Bruno. Jamais
Jamai s Fomos Modernos. Rio Ri o de Janeiro
Janeiro:: Ed. 34, 1997
1997..
83 Habermas, J. La Modemité: un Projet Inachevé. In: Critique,
Criti que, n° 413, Paris:
Minuit, p. 95859.
84 Ver Freyer, Hans. Teoria da época atual, Rio de Janeiro: Zahar, 1965.
85 Ver Dumond, L. O Individualismo. Uma perspectiva antropológica da ideologia
moderna. Rio de Janeiro: Rocco, 1985.
86 Ellul, J. A Técnica e o desafio do século. Rio de Janeiro: P Paz
az e Terra, 19
1968
68..
87 Spengler, O. op.cit. p.148.
88 Hottois, G. Le Signe de Ia Technique. La Philosophie à 1’Epreuve de la
Technique. Paris: Aubier, 1984. p.60.
89 Idem, p.73.
90 Idem, p.122.
91 Entretanto, vimos no começo desse livro que a técnica
técnica é acima ddee tudo sim
simbóli-
bóli-
ca.
ca. Miguel e Ménard mostraram
m ostraram como o meio técnico é a expressão do sim simbólico
bólico e, como
po rtador
porta dores
es ddee hierof
hie rofani
anias,
as, os obj
objeto
etoss técnico
téc nicoss são ritu
rituali
alizad
zados
os na vida
vi da quo
quotid
tidian
iana.
a. A técni-
téc ni-
ca não está isolada do mundo
m undo simbólico.
simbólico. É a partir dos microrit
microrituais
uais coletivos de regenera-
ção do sagrado que qu e os diversos objetos técnicos
técnicos contemporâneo
contemporâneoss podem revelar todo o seu
potenc
pot encial
ial de hierof
hie rofani
ania.
a. Ma
Mas,s, pa
para
ra Ho
Hottois
ttois,, a téc
técnic
nicaa nã
nãoo ser
seria
ia inf
influe
luenc
nciad
iadaa pe
pelala ord
ordem
em
simbólica na medida em que o tecnocosmos teria a tendência à globalização, ao universal universal..
92 Hottois, G. op. cit.
93 Stiegler, B. op.cit. p.174.
94 Marcuse, H. LUomme Unidimensionnel. Paris: Les Editions du Minuit, 1968.
95 Grimel,
Grim el, Jean. La L a fin de 1'aven
1'avenir.
ir. Le Déclin Technologique et la crisecris e de 11'Occid
'Occident.
ent.
Paris: Seuil, 1992.
96 Virilio, Paul. Rat de Laboratoire. In:
In: L’
L’Autre
Autre Journal. Paris:
P aris: n°27
n°27,, p.32
p.32..•
• ANDRÉ LEMO
LEMOS
S 61
Pa r t e II
_•• A vid
_ vidaa socia
social
lcc o n tem
te m p o rân
râ n e a
C apítulo I
C o n d i ç ã o p ó s -m o d e r n a e c i b e r c u l t u r a
• ANDRÉ LEM
LEMOS 65
6 6 | CIBERCULTU
CIBERCULTURA,
RA, TECNOLOGIA E VIDA SOCIAL
SOCIAL NA CULTURA CONTEMPO
CONT EMPORÂNE
RÂNEAA•
Contemporâneo
Contemporâneo pós
pós-mo
-modem
demo?
o?
Osnis, em 193
1934.
4. Em 19
1959
59,, Irwing Ho
Howewe publica, na Partisan Review,
o artigo Sociedade de M assa e a Ficção Pôs-m oderna, on de fala da
decadência
decadê ncia da ficção eem
m m eio à cultura de massa. Ihab A ssan afirma
que o termo pósm odem o, na li literat
teratura,
ura, aparece com o crítica e di
di•
• ANDRÉ LEMO
LEMOSS | 6 7
ferencia
fere ncia çã
çãoo do m
movim
ovim ento das va
vangua
nguardas
rdas do alto m od ern ism o1
o10
08.
Pósmodernidade é a expressão do sentimento de mudança
cultural e social
social correspondente ao apareci
aparecimento
mento de um a ordem eeco-co-
nôm ica cha m ada de pósi pósindustr
ndustriali ialismo,
smo, nos anos 4050 nos E.U. A.
e em 1958 na França, com a 5a República. Os anos 60 serão um
pee rí
p ríoo d o d e tr
traa n s iç
içãã o , d e r e e n c a ix
ixee ( G id d e n s 109) d a s in
inss ti
titu
tu iç õ e s à
falência dos discursos. A parecem, aqui e aali li,, sintomas de desse
sse m malal es-
tar: contracultura, revolução verde, informatização da sociedade,
pó
p ó s c oPa
lo
lon
Paran ia
ra iali
D lis
s m ol B
Danie
aniel e pó
pell1
ó sin
s10ind
ell11 , adpósm
u st
stri
riaa li
lism
sm o .idade corresp
odem correspond
onde,
e, eexatam
xatam en-
te, à fase pósindustrial da sociedade de consumo, onde a produção
de bens e serviços
serviços (liga
(ligados
dos a grandes consumos de energia) é mod modifi-
ifi-
cada de acordo
aco rdo com as novas tecn
tecnologias
ologias (digitais)
(digitais) da informação. O
sociólogo americano
am ericano exp
explica
lica sua teoria
teoria at
através
ravés de estatísti
estatísticas
cas ec
econô
onô--
micas que mostram a redução do número de trabalhadores no setor
secundário e o aumento
au mento deles no setor de serviços
serviços (terciári
(terciário).
o). A ter-
ceira fase do capital é aquela do capitalismo multinacional, onde o
p lan
pla n et
etaa in
inte
teir
iroo se to m a u m gra
gr a nd
ndee m er
erca
cado
do:: a g lo
lobb a li
lizz a ç ã o . E n tr
traa -
mos na terceira fase do d o capital,
capital, na terceira fase da mmáquina,
áquina, na fase da
microeletrônica
microe letrônica e da energ
energia
ia nucl
nuclear.
ear. A fase pósindustri
pósindustrial al d daa socie-
dade não é uma ruptura com a di dinâmica
nâmica m monopolis
onopolista ta de capital
capitalismo,
ismo,
mas uma radicalização do desenvolvimento de sua própria lógica.
Em bora esta não sseja eja uma ruptura com a sociedade capitali
capitalista, sta, alguns
autores aceitam a existência
existência de umumaa nova ordem cultural.
cultural.
Jameson, por exemplo, consi considera
dera que essa fas
fasee do desenvolvi-
68 CIB
CIBERCU
ERCULTUR
LTURA,
A, TECNOLOGIA E VIDA SOCI
SOCIAL
AL NA CULTURA CONTEM
CONTEMPORÂNEA
PORÂNEA •
A
tí ciênci
ciência
tínuo,
nuo, doacatastrófico,
pósm odernadotornase
caótico,uma espécie
do com plexodee ci
ciênc
doênc ia do descon-
paradox al. Esta
nova ciência, afirma Lyotard, “sugere um modelo de legitimação
que não é aque le da m elhor performance, ma s aquele da diferença
com preen
preendida
dida com o pa ra lo g ia ’’1'1
'1..
Em termos filosóficos, Nietzsche é o primeiro a produzir uma
crítica significativa da razão moderna e do projeto apolíneo da
modernidade, opondo
op ondo a ordem moderna
mode rna ao passado arcaicodionisíaco
da força vital e do êxtase.
êxtase. O niilismo corresponde a um a revitalização
de valores vitais
vitais da sociedade contra o poder anestesiante
anestesian te da razão e
da moral modernas.
m odernas. O culto a Dionísio representa o fim do princípio
de individualização,
individualização, a vitória
vitória do p polimórfico.
olimórfico. No m esmo sentido, ca-
minha a filosofia de M.
M. H
Heidegg
eidegger,
er, ao mostrar que o pe pensam
nsam ento oci-
dental é um
umaa m
maneira
aneira de esconde
esconderr o ser em detrime
detrimento
nto do ente, atra
atra••
• ANDRÉ LEMOS
LEMOS | 6 9
vés da destruição
d estruição da m etafísietafísica ca (a razão filos
filosófica)
ófica) pela ciência objeti-
va (a razão científi
científica).ca).
Nos
N os an
anosos 60
60,, a fi filo
loso
sofifiaa de N ieietz
tzsc
schh e e d e H e id
idee g g e r sã
sãoo am -
pla
p lam
m e n te d ififuu n d id
idaa s no
noss E ststadados
os U ni
nido
dos,s, na F ra
rann ç a e n a A le lemm an
anhh a,
dentro da corrente pósestruturalista onde autores como Derrida,
Barthes, Foucault,
Fouc ault, Deleuze, Castoriadis ou Guattari vão criticar a ra- ra-
zão moderna
m oderna a partir de perspectivas difer diferenciadas.
enciadas. Cr Criticase
iticase a supe-
rioridade da razão, da ciência e da técnica técnica na mod modernidad
ernidadee ocidental
ocidental..
No
N o c am p o dasda s arartetes,
s, Jam
Ja m e so
sonn faz
fa z re
refe
ferê
rênn c ia às m u d a n ç a s e m
todas as áreas: a poesia de John Ashbery A shbery nos anos 60 em op oposição
osição à
po
p o e si
siaa a ca
cadd ê m ic
icaa , a a rqu
rq u it
itee tu
tura
ra de Ve
Ventu
nturi
ri c o n tr
traa a a rq
rquu it
itee tu
tura
ra m o -
derna e o In Inte
tern
rn a ti
tio ty le,, a arte Pop de Andy Warhol, a música
o n a l S tyle
concreta e m inima inimalistalista de John Cag Cagee e Philli
Phillipe
pe Glass, o punk e a N Nee w
Wave, o cine cinemama da N Nououve llee Vague, a literatur
vell literaturaa com Tho Thom m as Pynchon,
entre outroutros.
os. A arte pósmodem a apar apareceece como um mod modo o de protes-
to contra a arte do alto modernismo, quequ e conquistou galerias
ga lerias de arte,
museus e academias.
Uma das características proeminentes da arte pósmodema é a
quebra de fronteiras entre a alta cult
cultura
ura e a cultura popular
popu lar ou de massa.
O pósmodernismo
pósm odernismo dos anos 60 é fruto de uma vanguarda anárqui anárquica,
ca,
instituindose como uma ruptura com a institucionalização oficial da
cultura (entendida como artes e espetáculos). Os artistas começam a
descobrir
descob rir as possibi
possibilidades
lidades oferecidas pelas novas tecnologias a partir
da vídeoarte,
veremos da fotografia,
mais adiante no capítulodos satélites
sobr e dos
sobree a arte ele computadores, como
eletrônica.
trônica.
Com o afirma E. Subirats, o fi fim
m das possibilidades
possibilidades revoluc
re volucioná-
ioná-
ri
rias
as das vanguardas do começo do século XX, o pósmodernism o não
olha mais o passado sob o signo da paródia, mas sob o rótulo
do pastiche.
pastiche. D Desta
esta forma, a cul cultura
tura pósmodem
pósmodemaa não se prende à di-
mensão histórica
h istórica do futuro, mas ancorase no presente, revisitando o
paa ss
p ssaa do
do.. E s p ír
írit
ito
o d a é p o ca
ca,, a a rt
rtee d a p ó s m o d e m id
idaa d e é a a rt
rtee d o
“aqui e agora”, performática, participativa, aproveitando os objetos
do diaadia.
Para Jameson, a pósmodemidade caracterizase por uma in-
versão do milenarismo
milena rismo e pelo fim das gr grandes
andes ideologias. Com
Co m a crise
da idéia de futuro, as duas chaves para entender a mu dança espaço
temporal da pósmodem
pósm odem idade são, segundo o auto autor,
r, o pastiche e a
esquizofrenia. Já
J á que os artist
artistas
as não têm nada mmais
ais a inventar, a única
70 CIBERCULT
CIBERCULTURA,
URA, TECNOLOGIA E VIDA SOCIAL NA CULTURA CONTEM
CONTEMPORÂ
PORÂNEA
NEA •
poo s s ibil
p ib ilid
idaa d e e s tá nas
na s c o m b ina
in a ç õ e s m ú ltip
lt ipla
lass , n a s c o la
lagg e n s , nos
no s
happenings e nas performances.
A partir
pa rtir de uma perspectiva lacaniana
lacaniana,, mostrando
m ostrando que hoje estamos
diante de uma um a desconexão lingüística
lingüística e de uma um a desconexão
desconex ão do indiví-
duo em relação a uma sucessão temporal, Jameson propõe a idéia de
uma esquizofrenia pósmodema. Como a continuidade temporal está
quebrada, a experiência do presente fica mais forte, intensificando a
frustração e o desespero. A experiência esquizofrênica da pós
modemidade é a experiência de uma temporalidade descontínua, uma
experiência
experiênc ia temporal onde há uma desestabilização
desestabilização acelerada das per-
sonalidades em ruptura com a fase inaugural inaugural de modernidade. Nesta, o
pod
p oder
er discipli
disci plina
nar,
r, a unive
un iversa
rsalid
lidad
adee de valore
va lores,
s, os pr
prinincí
cípi
pios
os ideo
id eológ
lógico
icoss
e coercitivos
coercitivos fundaram uma u ma foima
fo ima de coesão social social através do fortale-
cimento do individual
individualismo
ismo e do racionalismo cego à complexidade.
com plexidade.
terizadaMaffesoli,
Maffesol i, por exemplo,
pelo advento de tri bos mostra
tribos em francacomo a pósmodem
pósmàodemidade
oposição figuraidade
modeé rna
modernacarac-
do
individualismo
indivi dualismo.. Para Jameson, também a morte m orte do sujeito,
sujeito, ou o fim do do
individualismo, é um dos componentes mais importantes da pós
modemidade.
modemidad e. É justamente
justamente o declínio
declínio de individual
individualismo
ismo que dá forma à
pósm
pó smododememididad
adee social. Para
Par a d a r conta
co nta das
da s relaç
re laçõe
õess sociais
socia is conte
co ntemm porâ
po râ-
-
neas,
nea s, não podemos
podem os falar mais mais a partir de uma u ma perspectiva individual
individualistista,
a,
contratual,
contratu al, a partir
pa rtir de uma estrutura mecânica que marcou a modernidade.
Pelo contrário, devemos estar atentos atentos aos múltiplos papéis dos d os sujeitos
sujeitos
sociais.
soci ais. Estes configuramse
configuram se como estruturas
estruturas complexas
comp lexas e orgânicas
orgân icas que,
sob as mais variadas forma formas, s, recusamse a reconhecerse em algum a lgum pro-
jeto
je to polít
p olítico
ico,, em qquaualq
lque
uerr finalida
fina lidade
de ideoló
ide ológic
gicaa ou uutóp
tópica
ica.. A pre
p reoc
ocup
upa-
a-
ção é com o aqui e agora, com um prese presente
nte vivido
vivido coletivamente.
coletivamente. Pode-P ode-
mos falar
fa larem
em mudanç
mudançaa de sensibili
sensibilidades
dades,, falas e práticas.
práticas.
Para Kroker,
Kroker, o contemporâneo
contemporâneo é marcado por po r cenas de pânico.
pânico.
A cultura pósmodema é vista como excesso, desperdício, despesa
improdutiva. Ela é marcada
m arcada por um niilismo
niilismo profundo
profun do e pela sedução,
sendo uma interface entre o êxtase
êxtase e a decadência, entre a melancolia
das grandes narrativas e o niilismo
niilismo extático, entre a prisão de corpo corp o e
o prazer de corpo, entre a fasc
fascinaçã
inaçãoo e o lamento.
lamento. Esta E sta cultura seria
aquela do excremento (Kroker), uma cultura em ruínas, imersa na
efemeridade das cenas ded e pânico (p a n ic sc en e s)
s)1 '8.. Sinais desta cultu-
1'8 cultu-
ra são numerosos
nume rosos na moda,
moda , nos videoclipes, nas nas doenças
doenç as sexuais, no
fim da grande
grand e arte, nos novos usos da informática, etc. etc.•
• ANDRÉ LEMOS
LEMOS | 71
Para Kroker,
K roker, este é o mom
momento
ento de implosão e de inversão, onde
a sensação mítica do primitivo é reconectada à sociedade tecnológi
tecnológica,
ca,
numa simbiose entre um hiper
hiperprimit
primitivismo,
ivismo, expressão de mitologi
mitologias
as
(o carnaval, o dionisíaco), e um hipertecnologismo, em direção às
tecnologias
tecnolo gias do virtual (image
(imagens
ns de sínt
síntese,
ese, realidade virtual
virtual,, multimídia,
ciberespaço, etc.) Para Kroker, "quan "quando do a tecnologi
tecnologia a e sua fa se
ultramodernista conectam-se de novo ao medo mítico radical do
prr i m i t iv is m o , n ã o s e t r a ta m a is d o m u n d o b a u d r i l la r d i a n o d o
p
simulacrum e hiper-realismo, mas de uma nova nova cena de
tecnol
te cnologia virtual e o fim da fantasia do Real ”1
ogia virtual ” 119.
A pósmodernidade é o terreno de desenvolvimento da
cibercultura. Ela se caracteriza por uma condição sociocultural que se
inscreve nessa cena cen a de pânico de que nos fala Kroker, instituindo uma
nova forma de relação espaçotemporal. O espaço e o tempo pós
modernos não podem mais ser percebidos como seus correlatos mo-
dernos.
der nos. Dav id Harvey desenvol desenvolve ve a tese de acordo com a qual uma
mudança cultural (espaçotemporal)
(espaçotemporal) est estáá em marcha desde, pelo me-
nos,
no s, a década d dee 70 com a est estabili
abilização
zação da cultura de massa.
Naa m
N mododererni
nida
dade
de,, o tem
te m po é lin
linea
earr (p
(pro
rogr
gres
esso
so e his
histó
tória
ria)) e o e sp
spaa -
ço é naturalizado e explorado enquanto lugar de coisas (direção, dis-
tância,
tânc ia, forma, volume). N Naa modernid
modernidade, ade, o tempo é um modo d dee escul-
pirr o es
pi espa paço
ço,, j á qu
quee o pr
progogre
resso
sso,, a inc
i ncam
amaç ação
ão do tetemm po lin
linea
ear,
r, im
impl
plic
icaa
a conquista do espaço físico.
físico. Na pósmodernidade, o sentimento é de
compressão do espaço e do tempo, onde o tempo real (imediato) e as
redes telemáticas,
telem áticas, desterrit
desterritoriali
orializam
zam (desespaci
(desespacializam)
alizam) a cultura, tendo
um forte impacto nas estrut
estruturas
uras econômicas, sociais
sociais,, p
políti
olíticas
cas e ccultu-
ultu-
rais. O tempo é, assim, um modo de aniquilar o espaço.
Este é o ambiente
am biente comu
comunicacional
nicacional da cibercult
cibercultura.
ura.
72 | CIB
CIBERCUL
ERCULTURA,
TURA, TECNOLOGIA E VIDA SOCIAL
SOCIAL N A CULTURA CONTEMPORÂ
CONTEM PORÂNEA
NEA •
• ANDRÉ LEMO
LEMOSS | 73
integração total
total dos sent
sentidos,
idos, des
deslocandonos
locandonos do parad igma m ecâ-
nico ao orgânico.
orgânico. M cLuhan mostra como a im prensa mod ificou aass
formas de nossa experiência do mundo, assiassim
m com o nossas ati
atitudes
tudes
mentais.
mentai
narcoses.dos
Se asenti
invenção
dos, qude
sentidos, er G utenberg
diz
dizer, encor
encorajou
ajou de
er, a exacerbação o que ele cham
só uma a de
sensação
(a visão para
par a a escrita e a imprensa), os novos media estari estariam
am favo-
recend o a tactil
tactilidade,
idade, o retorno à oralidade e à si simu
multaneidade.
ltaneidade. Mais
ainda, se as tecnologias são prolongamentos
prolongamen tos de nosso corpo, próteses
de no
noss
ssos
os s e n tid
ti d o s 126, os media são extensão do nosso sistema ner-
voso central.
A tipografia e a técnica de impressão estavam ligadas ao
raciona lismo e à persperspectiva,
pectiva, privilegiando o lado raciona
racional,
l, esqu er-
do do cérebro. A escrit escrita,a, e depois a iimprensa,
mprensa, teriam de stribalizado
o homem. A eletrônica e, mais tarde, o que será chamado de
multimídia, parecem
pa recem ajudar a criação de novas fformasormas de tribalização.
Para M cLuhan, a retri retribalização
balização engloba “a grande fam ília humana
em um
uma ó ttrr ib o " 127, a aldeia global.
a ssó global. O indivíduo destribalizado nas-
ceu no momento em que a instituição da escrita fonética realizou
uma cisão entre “o mund mundo o mágico da audição e o m und
undoo indiferen
te da visão m .
O m ulti
ultimídia,
mídia, entendido tanto como sua vertente off-line (CD
Rom) como on-line (inter (internet),
net), é hoj
hojee o exemplo mais claro dess dessaa si-
multaneidade e convergênci
convergência. a. C
Com
om as tecnologias analógicas, a trans-
missão, o armazenamento e a recuperação recuperação de inforinformação
mação eram com com--
ple
p leta
tamm e n te in
infl
flee x ív
ívee is
is.. C o m o d ig
igita
ital,
l, a fo
form
rm a d e d istr
is trib
ibuu iç
içãã o e de
armazenam ento são independentes
independentes,, m mult
ultimodai
imodais,s, onde a escolha em
obter uma informação sob a forma textual, imagética ou sonora é
independen
indepe ndente te do modmodo o pelo q qual
ual ela é transmiti
transmitida.
da. N Nesse
esse sentido, as
redes eletrônicas constituem
constituem um a nova forma de publicação (a eletrô-
nica), onde os computadores podem produzir cópias tão perfeitas
quanto o original
original..
A idéia de original parece tornarse problemática a tal ponto,
que essa questão está embutida em problemas de Copyright de obras
eletrônicas, como as imagens digitais e a música em formato MP3.
Podemos dizer, com Pool, que os novos m mee d ia eletrônicos são
“tecnologias da liberdade”'29. P Por
or tecnol
tecnologias
ogias da lliberdade
iberdade Pool en-
tendee aquelas que não se pod
tend podee controlar o conteúdo, que colocam em
questão hierarquias,
hierarqu ias, que prop
proporcionam
orcionam agregações soc
sociais
iais e que mul
74 CIBERCULT
CIBERCULTURA,
URA, TECNOLOGIA E VIDA SOCIAL NA CULTURA CONT
CONTEMPO
EMPORÂNE
RÂNEAA•
como fo n te de uma ri
riquez a e de um po de r que não conheceram
queza
nenhum a outra época e nenhuma outra tecnologia ” 131. A ti
tipp o g r a fi
fiaa •
• ANDRÉ
ANDRÉ LEM
LEMOS | 7 5
será, por
será, po r sua vez,
vez, o instrume
instrumento
nto do individualismo dentro
de ntro da soc
socie-
ie-
dade moderna.
mo derna. O impresso é a tecnologia de individu
individualismo
alismo que
qu e se
lê (só), em silêncio, para si132.
Os computadores
com putadores em rede parec
parecem
em ir na direção oposta àquela
da cultura do impresso, estando
e stando mais próximos
próximos do tribalismo anterior
an terior
à escrita
escrita e à imprensa.
imp rensa. Podemos
Pode mos dizer,
dizer, que a dinâmica
dinâm ica social atual do
ciberespaço
ciberesp aço nada mais
m ais é que esse desejo de
de conexão se realizando
realizan do de
forma planetária.
planetária. Ele é a transformação do PC (Personal Com puter
puter ),
),
o computado
com putadorr individual,
individual, desconectado, auster
austero,
o, feito pa
para
ra um indiví-
duo racional e objetivo,
objetivo, em um CC (Computador Coletivo),
Coletivo), os com -
pu
putad
(o tador
ores
es em
e m rede.
ciberespaço)redecom
. Assim
As sim,
, a conju
co njunç
nção
a socialidade ãocontemporânea
de uma
um a tecnol
tecn olog
ogia
ia
vairetriba
retrproduzir
ibaliz
lizan
ante
tea
cibercultura profetizada por McLuhan. Parece que a homogeneidade
cibercultura homogen eidade
e o individualismo da cultura do impressoimpresso cede, pouco a pouco, lugar
à conectividade
conec tividade e à retriretribalização
balização da
d a socied
sociedade.
ade.
Como mostraremos, a estrutura piramidal do poder mediático
massivo tornase disfuncional na emergente cibercultura. Não N ão é à toa
toa
que assistimos à fusões as mais diversas entre entre os gigantes da teleco-
municação e os provedores
provedores de conteúdo, como a recente compra com pra da
TimesWarner pelo provedor de acesso americano AOL (American
Online). Os gigantes buscam busca m se recolocar na nova configuraç
config uração
ão tecno
social,, percebe
social pe rcebendo
ndo que
q ue a cibercultura (digit
(digital,
al, imediata, múltimo
múltimodal,dal,
rizomática) requer a transversalidade, a descentralização, a
interatividade. Como afirma Lévy, ela é universal sem ser totalitá-
ri
riaa 133, tratand
trata ndoo de fluxos
flux os de inform
in formaçã
açãoo bidirecion
bidire cionais,
ais, imediato
ime diatoss e pla-
pla -
netários, sem uma homogenização dos sentidos, potencializando vo-
zes e visões diferenciadas.
Com a contração
transformamonos do planeta
não numa pelosglobal,
única aldeia novos mas
media digitais,
em várias e
idiossincráticas alde
aldeias globais, devido principalmente
ias globais, principalmente à implosão
implosão do
mundo ocidental pelo efeito das tecnologias microeletrônicas. Não
se trata de bens materiais, matériasprimas
matériasprimas e energia
energ ia retiradas da na-
tureza, mas de informações
informaç ões traduzidas sob a forma de bits, imateriais,
abstratas,
abstratas, lidas
lidas por uma
um a metamáquina
metamáq uina (o computador,
computador, o ciberespaço).
ciberespaço).
Atualizase, com o ciberespaço, o grande sonho enciclopédico de, em
um único media, armazenar todo o conhecimento da humanidade,
disponível a todos
todos..
É pela interatividade
interatividade digital
digital que possibilidades
possibilidades descentrali
descen tralizado
zado
76 CIBERCUL
CIBERCULTURA,
TURA, TECNOLOGIA E VIDA SOC
SOCIAL
IAL NA CULTURA CONTEMPORÂ
CONTEM PORÂNEA
NEA •
sem nenhuma
simulação interação.
de interação Paraverdadeiras
e não Baudrillard, o ciberespaço
inter
interações. Pa ra osópolêmico
ações. Para permite
pee n sa
p sadd o r fr
fran
ancc ês
ês,, os no
novo
voss media aumentam a espiral destruidora e
autista da comunicação, próximo, como veremos, das posições de
Lucien Sfez e Paul Viril Virilio.
io.
O pensame
pen samento nto baudrillardiano é aquele do excesso: qua
quanto
nto mais
trocamos informações,
informaçõ es, menos est estamos
amos em comunicação. Trocam
Trocamos os o
real pelo hiperreal, a verdadeira comunicação por sua simulação.
Estaríamos diante de uma encefalação eletrônica, onde o real desa desapa-
pa-
rece com a instituição do seu simulacro. No me
mesmo
smo sentido, para Paul
Virilio, as novas tecnologias do tempo real, do ao vivo {live), estabe-
lecem uma institucionalização do esquecimento (industrialization de• de •
• ANDRÉ LEMO
LEMOSS | 7 7
78 C IIB
B E R C U LLTT U R A , T E C N O L O G I A E V I D A S O C I A L N A C U L T U R A C O N T E M P O R Â N E A •
no da obscen
obs cenida
idade
de e d
daa radica
radicalizaç
lização
ão d
daa socie
sociedad
dadee do es
espe
petá
tácu
culo
lo1143. A
obscenidade começa mais precisamente
precisamente com o fim da so sociedade
ciedade do
espetáculo, onde não existe mais nada para ver, onde não há mais
ilusão,
ilusão, pois tudo tornouse transparente e visível. Esta seri
seriaa a maior de
todas as obsce
obscenidad
nidadee tudo ver
ver,, quando nã
não o há mais nada
nad a para ser
se r vist
visto.
o.
Como mostra Baudrillar
Baudrillard,
d, “não estam
estamos
os mais no dr
dram
ama a da alienação,
mas no êxtase
êxtase da ccomuni
omunicaçã
cação.o. E est
estee êxta
êxtase
se é ob sce no ”m . Ainda
obsce
segundo Baudrillard, “ cami
caminha
nhamos
mos para um mundo intinteir
eirament
amentee fu n
cional, operatório, racional, positivo sem o mínimo buraco, de uma
transparência total, logo extremamente mortal “l4 “ l45
5.
No
N o e n ta
tan n to
to,, a c rí
ríti
ticc a c o n tr
traa a d e s u m a n iz
izaa ç ã o d e v id
idaa à r a c io -
nalização técnica do social, típica de Baudrillard e Virilio, é vista
por
p or M u rp
rph h y c o m o o b s o leleta
ta,, já q u e os jo
jog g o s de lilin
n g u a g e m n ã o a u to -
rizam uma interpretação definitiva do fenômeno técnico. Segundo
Murphy,
Murp hy, é através dos jogo s de linguagem que ex existe
iste a possibilidade
de esca
escapar
par ao mund
mundo o técnico,
técnico, unidimensional, pintado po porr Baudrillard
e Virilio. Para Murphy “o que Ba Baudrillard
udrillard visivelm
visivelmente ente esqu eceu é
esqueceu
que a técnica (...) (...) não afeta os iindivíduos
ndivíduos de m aneira causai. Dito
maneira
de outra
outra form a, um fenôm eno não te temm nunc a um impacto dir eto
direto
sobre os indivíduos e isso porque a imaginação é indissociável da
realidad
real idade.e. (...
(...)) a realidade é ape apenasnas um
uma a interpretaç
interpretação ão que du ra ” 146.
dura
A comunicação mediatizada pelas novas tecnologias como a
internet,, po r exemp
internet exemplo, lo, criaria para Baudril
Baudrillard
lard um desedesertorto social, assim
com o a v veloc
elocidad
idadee ccria
ria para
pa ra Virilio o des deserto
erto no e sp aç o 147. Para
Baudrillard,
Baudrill ard, os modelos de simulação se degradam n naa form
formaa moderna,
técnica e estéril, que ele chama de comutação. Contudo, a atual
efervescência
efervescên cia das rredes
edes de computadores não pode, sob o risco de uma um a
simplificação
simplifi cação grosseira, ser reduzida à simpl
simpleses comu
comutação
tação entre os usu-
ários
ár ios.. N a fria infraestrutura
infraestrutura tecno
tecnológic
lógica,
a, pa
parece
rece infiltr
infiltrarse
arse toda a dindinâ-
â-
mica da vida social contemporânea. Mais, M ais, não existe a circulação pura,
já
j á qu
quee o imimpr
prev
evis
isto
to,, o ex
exce
cess
ssiv
ivo,
o, o ca
caót
ótic
icoo sem
se m pr
pree p o d e a p arec
ar ecer
er e
trazer resultados
resultados inesp
inesperados.
erados. O caos é o carrasco do determ
determinismo.
inismo.
Hoje, o ciberespaço parecparecee ser a consequência
consequên cia mais óbvia óbv ia dest
destaa
80 CIBERCUL
CIBERCULTURA,
TURA, TECNOLOGIA E VIDA SOCIAL
SOCIAL NA CULTURA CONTEM
CONTEMPORÂ
PORÂNEA
NEA •
mundial.
mundia
noção l. Tudo
de Tud
tempooisso
tempo real
real, em tempo real,
, inventada real
pe ,los
pelosinst
instantân
antâneo.
técnicos
técn eo.em
icos Como
Com o afirma Lévy,
informática, resume “a
bem o espíri
espírito
to da info
informáti
rmática:
ca: a co
condensação
ndensação do presente
presen te sobre a ope
ração em curso.
curso. (...
(...)) Po
Porr analogia com o tempo circu circularlar da or alidade
oralidade
pri
p rim
m á ria
ri a e o tem
tempo
po lin
lineaearr da
dass socie
so cieda
dade
dess hi
histó
stórica
ricas,
s, p
poo d er
eria m o s f a l a r
iam
de uma espécie de implosão cr cronol
onológic
ógica,
a, de um tempo po pontu
ntual
al instau
rado pela
pe lass redes ininfo
form rmát
átic
icas
as””151.
Lu cien S fez
Lucien fe z 152 vai acom
aco m panhar
pan har o penp ensam
sam ento
en to de V irilio
irilio e
Baudrillard. ParaPa ra Sfez, estaríamos
estaríamos vivendo o ápice da cultura faustiana,
que ele prefere chamar
chama r de Sociedade Franknstein.
Franknstein. A questão da críti-
críti-
ca da comunicação
comun icação deve, com razão, se deslocar para um umaa crítica
crítica da
tecnologia através de três formas: a metáfora do “ avec ” (a técnica é
exterior ao homem e é com ela que o homem molda o real), a do
“dans ” (o homem está dentro dentro de um ambiente de m máquinas
áquinas de comu-
com u-
nicar e só existe ali) e a do “par” (o homem só existe pelo objeto
técn
té cnic
icoo )15
)153. É esta
est a últim
ú ltimaa metáfo
me táfora
ra que
qu e ele cha
c ham
m a de tautismo (neolo
gismo entre tautologia e autismo) e seria esta a metáfora mais apro-
pria
pr iadd aCom
pa
p a raodBaudril
Como Be scre
sc revv elard,
r a c oSfez
audrillard, Sm u npensa
fez içã
iç ã o acon
pens c aonte
temm pnicação
o rân
râ n e a . como um a mori-
comunicação
comu
bu n d a m o rr
bun rree n d o p o r exc
e xces
esso
so.. C o m as nova
no vass tec
te c n o log
lo g ias
ia s esta
es tarí
ríaa m o s
vendo o nascimento de um Franknstein Franknstein tecnológico que instit institui
ui a re-
peti
pe tiçç ão e o iso
is o lam
la m ento
en to,, o taut
ta utis
ismm o. L ucie
uc ienn S
Sfe
fezz pro
p ropp õ e qu
q u e a co
c o m u n i-
cação contemporânea
contem porânea é marcada m arcada pelo
pelo imperativo tecnológi
tecnológico, co, agora
sob a forma de tecnologias da mente. Estas produzem uma forma
simbólica, o tautismo, como repetição e isolamento patológico do
mesmo
me smo,, tom andoan dose
se o símbolo
símb olo da cultura contem
con tem porân
po rânea ea1154.
A sociedade da comunicação,
comunicação, regida pela ameaça am eaça do Franknstei
Franknstein, n,
cria uma cultura tecnológica onde as tecnologias
tecnologias potencializam
potencializam,, ao
mesmoo tempo, a troca de informações
mesm informações e a debilitação
debilitação da comunica-
com unica-
ção: “a comu
comunicação excesso de comunicação e se acaba
nicação morre p o r excesso
em um
umaa inte
interm
rminá
inável
vel ago
a gonia
nia de es
esp is ”155. Tratase mesmo
p ira is”1 mesm o “do fim
fi m
da co m u n ic
icaa ç ã o ”156.•
• ANDRÉ LEMO
LEMOS
S
81
N o e n ta
No tann to
to,, é e st
staa tr
troo ca d e in
info
form
rm aç
açõõ es en
entr
tree in
indd ivíd
iv ídu
u o s ou
grupos ordinários
ordinários que compõe a singul singularid
aridade
ade daquilo que Léo Scheer
chama de Civilização do Virtual, em oposição oposiçã o às visões de Baudrillard,
Virilio
Virilio e Sfe
Sfez.
z. Es
Estata Civili
Civilização
zação é aquaquela
ela onde a informaçã
informação o é privada
de seu vínculo a um sentido (já que tudo é convertido em bits), per-
dendo toda referência
referên cia ao real, podendo circular mensagen mensagenss num jog o
ilimitado de figuras
figuras caleidoscópicas. As novas tecnologias eliminari- elimina ri-
am a opacidade
o pacidade do sujei sujeito
to e do objet
objeto,
o, instit
instituiríam
uiríam a troca frívol
frívola:a: não
deserto do real, mas efe efervescência
rvescência do frívolo.
frívolo.
O grande mito da modernidade fo foii o sonho de uma sociedade
de comunicação transparente, onde a difusão da informação se dá
através de redes cibernéticas. A idé idéia
ia de uma com comunicação
unicação racional
racional,,
instituindo
instit uindo uumama sociedade il iluminada
uminada e sem sem amb
ambiguidades
iguidades é, no fun-
do, um sonho
sonh o totalitário.
totalitário. A transparência elimina o jo jogg o de du alida -
82 | CIBERCULTU
CIBERCULTURA,
RA, TECNOLOGIA E VIDA SOCIAL N A CULTURA CONTEM PORÂNEA
PORÂ NEA <
LEMOS 83
• ANDRÉ LEM
84 | CIBERCU
CIBERCULTUR
LTURA,
A, TECNOLOGIA
TECNOLOGIA E VIDA
VIDA SOCIAL
SOCIAL NA CULTURA CONTEMPORÂN
CONTEM PORÂNEA
EA •
tóri
ória,
a, na ação objetiva e efi eficiente
ciente que desencadeia. A com unicação de
massa não constitui uma comunidade,
comu nidade, antes, diri
dirigese
gese às diversas co -
munidades do espaço público (a massa). O paradigma aqui é o da
televisão162.
O modelo
mode lo informat
informatizado,
izado, cujo exemplo é o ciberespaço, é aquel aquelee
onde a forma
form a do rizoma
rizo ma (redes digi
digitais)
tais) se constit
constitui
ui n
num
umaa estrutura co-
municativa de livre circulação
circulação de mensagens, agora não mais editada por
um centro, mas disseminada de forma form a transvers
transversal
al e verti
vertical,
cal, aleatória e
associativa. A nova racionalidade dos sistemas
sistemas inform
informatizados
atizados aagege sobre
um homem
hom em qu quee não mais recebe iinformações
nformações homogêneas de u umm centro
“editorcoletordistribuidor”, mas de forma form a caótica, multidirecional,
multidirecion al, en
trópica,
trópic a, coletiv
coletivaa e, ao mesm
mesmo o tempo, personalizada.
Diante de um a sociedade
sociedade massifi
massificada
cada (pouca informação com
redundância), passase a uma sociedade informacional, prevalecen-
dose o fluxo de uma quantidade gigantesca de informações para os
interagentes
interagen tes (C
(Caste
astells1
lls163) que terão o pod
poder
er de escolhe
escolher, r, triar e bu
buscar
scar
o que lhes ininteres
teressa.
sa. O que está em jog
jogoo nesse processo de digitali
digitalização
zação
do mundo é, segundo A dri
driano
ano Rodrigues, o desaparecimento da in
ins
s••
• ANDRÉ LEMOS
LEMOS | 85
tância legitimadora
legitimadora clássica do dis discurs
curso:o: eem
m issor e receptor fundem
se na d an ançaça de b its
it s 164.
Vamos
Vam os tentar m mostrar
ostrar nas pági
páginas
nas que seguem, qu quee a cibercul
tura é mais que o simpl simples es desert
desertoo do real
real,, tautismo ou indústria do
esquecime
esque cimento
nto vitali
vitalista,
sta, tr
tribal
ibal e presenteí
presenteísta.
sta. MMais
ais do que dese
deserto
rto e
reflexo, o tempo real da velocidade imediata imediata de trocas de informações
bin
b ináá ri
riaa s é um a ““man
maneiraeira de retor
retorno
no ao Kdíros
Kdíros dos sofis
sofistas.
tas. O con
conhe
he
cimento por simulação e interconexão em tempo real valorizam o o
momento oportuno, a ocasião, as circunstâncias relativas, opostas opostas
ao sentido m olar da históri história a ou à verda
verdade de fo ra do tempo e fo ra do do
lugar,
lug ar, q que
ue eram
eram,, talvez, ap apen
enas
as efeito
efe itoss de eesc
sc ritu
ri tura
ra ”165.
Mais do que deserto do real, a cibercultura está sincronizada
com a dinâmica da sociedade contemporânea, podendo mesmo ser
caracterizada com o uma cib
ciberso
ersocial
cialidade
idade..
A cib
ciber
erso
socia
cialida
lidade
de co
conte
ntem
m po
porân
rânea
ea
• ANDRÉ LEMOS
LEMOS | 87
A soc
socied
iedad
adee co
conte
ntem
m po
porâ
râne
neaa
A obra
ob ra de M. Maffesoli
Maffesoli é decisiva
decisiva para uma abordagem feno
menológica da sociedade
sociedade contemporânea ocidental
ocidental.. Com o veremos,
o conjunto de conceitos
conceitos que compõem
com põem a socialidade
socialidade maffesol
m affesoliniana
iniana
nos ajudará a compreende
com preenderr osos fenômenos recentes da cultura eletrô-
nica global.
global. Devem
De vemosos partir
pa rtir de uma fenomenologia
fenom enologia do social, enten
tendoo esta como os “ est
tend estudos
udos dos fenômeno s, isto
isto é, daquilo
daqu ilo que apa
a pa
rece à consciência,
con sciência, daqu
da quilo
ilo que
qu e é dado
dado . N
Neste
este
sentido, a sociolo
gia maffesoliniana é um a fenomenologia do social,social, tendo por
po r objetivo
objetivo
olhar aquilo que é dado, aquilo que é, e não aquiloaquilo que de
deve
ve ser uma
sociedade, insistindo na descrição das formas atuais das relações so-
ciais.
ciais. A ênfase
ên fase da sociologia maffesoliniana está nessa desc descrição
rição do
social “...tal qual ele se dá ” m .
qua l ele
Partindo dessa
de ssa visão fenome
fenomenológica
nológica do social,
social, M
Maffesoli
affesoli tenta
descrever
desc rever o que, segundo
segun do ele,
ele, vai marcar a atmosfera das sociedades
socieda des
ocidentais contemporâneas:
contemp orâneas: a socialidade
socialidade.. Ele mostra
m ostra com o o concei-
to de socialidade
socialidad e é definido em oposição
o posição àquele de sociabilidade. A
socialidade marcaria os agrupamentos urbanos contemporâneos, di-
ferenciandose da d a sociabilidade
sociabilidade ao colocar
coloca r ênfase na tragédia do pre-
sente, no instante vivido além de projeções futuristas ou morais, nas
relações banais
bana is do quotidiano, nos momentos não institucionais, racio-
naiss ou finalistas da vida de todo dia.
nai dia. Maffeso
M affesoli li procura
proc ura olhar
olha r a vida
como ela é, como com o diría Nelson Rodrigues Rodrigues (al
(aliás
iás,, amb
ambosos investem
inv estem numa
nu ma
pee rsp
p rs p e c tiv
ti v a e ró
róti
ticc a do socia
so cial).
l).
A socialidade é, para M. Maffesoli, um conjunto de práticas
quotidianas que escapam ao controle social (hedonismo, tribalismo,
pre
p resesenn teís
te ísmm o ) e q u e coconn stit
st ituu e m o subs
su bstr
trat
atoo ddee toda
to da v ida
id a em soc
so c ied
ie d a -
de, não só da socieda sociedade de contemporânea, mas de toda toda forma
form a social. É
a socialidade
socialidade que faz sociedade, sociedade, desde as sociedades
sociedades primitivas
prim itivas (mo(mo- -
mentos efervescen
efe rvescentes, tes, ritualísticos
ritualísticos ou mesmmesmoo festivos)
festivos) até as socie
socieda-da-
des tecnologicam
tecnolog icamente ente avançadas. A socialidade é, assim, a m ultiplici-
dade de experiências
expe riências coletivas baseadas, baseadas, não na homogehom ogeneizaçã
neizaçãoo ou ou
na institucionalização
institucionalização e racionalização
racionalização da vida, mas no amb a mbiente
iente ima-
ginário,
ginár io, passional, erótico eró tico e violent
violentoo do dia a dia, do quotidiano
quotidian o dos
homens sem qualidade (Musil) (Musil)..
Maffesoli mostra que existem existem momentos de uma um a determinada
sociedade
socie dade em que uma forma vai exprimir melhor a cultura vigente. vigente.
88 CIBERCULT
CIBERCULTURA,
URA, TECNOLOGIA E VIDA SOCIAL N A CULTURA CONT
CONTEMPORÂ
EMPORÂNEA
NEA •
Assim
Ass
ais im modernidade
da foi,
foi, por
po r exemplo,
exem plo, a forma
form a institucionalizada
institucionalizada
(sociabilidade). Em outras, como das relações soci-
so ci-
na sociedade
contemporânea,
contem porânea, é a socialida
socialidade
de não instit
institucional,
ucional, tribal
tribal que se sobres-
sai. Isso não significa que elas existam de maneiras estanques e
excludentes. O que é importante frisar é a pregnância
pregnânc ia de umumaa destas
destas
formas sobre a outra em determinados momentos mom entos históricos.
históricos.
A socialidade contemporânea vai se estabelecer, então, como
um politeísmo
politeísmo de d e valores
valores onde o indivíduo
indivíduo desempenha papéis, pro- p ro-
duzindo máscaras
m áscaras dele mesmo, agindo numa verdadeira teatral teatralidade
idade
quotid
qu otidian
iana1
a1772. É no quotidiano,
quotidiano , locus da prática dessad essa teatralidade
teatralid ade
através dos diversos papéis que encarnamos nas situações plurais plu rais do
dia a dia, que podemos
podem os ex-ister (ser
(ser,, no sentido de sair de si,
si, o D
Daa se in
sein
heideggeriano), sem sucumbir aos imperativos de uma moral ou de
uma racionalidade
rac ionalidade implacável, típicos
típicos do individuali
individualismo
smo moderno.
A socialidade
socialidade pósmodema, por colocar ênfase no presente, não
investe
inves te mais no dever
deve r ser
ser,, mas naquilo que é, no presente. A vida quo-
tidiana contemporâne
contem porâneaa vaivai insistir na dimensão
dimensão do
d o presente; num
nu m pre-
sentee caótico
sent caó tico e politeísta
politeísta em detrimento de perspectivas futuristas. A
socialidade não seria, assim, contratual, no sentido dos engajamentos
políti
po lítico
coss fixos
fix os ou dosd os perten
per tencimcimenentos
tos à classe
clas sess sociais
socia is defin
de finid
idas
as e e stan-
sta n-
ques.. Ela seria efêmera, imediata,
ques imediata, empática.
empática. Maffesoli
M affesoli dá vários exem- exem -
ploss dess
plo de ssaa socia
so cialid
lidad
adee nas suas
sua s anál
an álise
isess d a soci
so cied
edad
adee cont
co ntem
empp orân
or ânee a
(agrup
(ag rupamamento
entoss urbano
urb anos, s, festas e rituais, moda,
moda , tecno
te cnolog
logia,
ia, etc
e tc.)
.)1173.
A soc
socialid
ialidadadee encon
en contra tra sua forç
f orçaa na astúc
a stúcia
ia das m assa as sas1 s1774,
m arcada por p or uma espécie de passividade ativa, ativa, intersti
intersticial,
cial, subversi-
subv ersi-
va, e não por um ataque frontal de cunho revolucionário. Esse com-
por
p orta
tamm ento
en to riz
ri z omát
om áticicoo 175, esgu
es guio
io e efêm
ef êmerero,
o, vai
va i mar
m arcc ar profu
pro fundndamamen entete
a cibercultura, com comoo veremos mais adiante. adiante. Como afirma afirm a um zi zipp pi e,
pie,
um dos
do s expoentes
expoen tes dessa cibercultura:
cibercultura: “antes de lutar contra con tra o siste
s iste
ma, estamos ignorando-o ” .
Entretanto, se não existe mais uma unidade do social, isso não
significa uma
um a desagregação radical, radical, nem tão pouco o isolamen isolamento to pato-
lógico ou o fim do d o social,
social, como
com o vimos em Baudríllard,
Baudríllard, Virilio
Virilio ou Sfez.
Comoo afirma Maffesoli, se não podemos mais falar de unidade (fecha-
Com
da, acabada, objetiva
o bjetiva e instrumental),
instrumental), a análise da vida quotidiana
quotidian a nos
per
p erm
m ite ve
v e r uma
um a cert
ce rtaa unic
un icid
idad
adee ( unicité ). A un
unicidade
icidade se traduz como
uma união holística, como com o um processo em que elementos os mais m ais di-
versos agem em sinergia,
sinergia, dentro
dentro de uma mesma forma form a formante.
formante.••
• ANDRÉ
ANDRÉ LEMO
LEMOSS | 89
demos
dem os assim analisar
an alisar a cibercultura e, principalmente, o ciberespaço.
Tomemos por enquanto o ciberespaço. Este, enquanto forma
técnicaa é, ao mesmo
técnic m esmo tempo, limite e potência de uma um a estrutura social
de conexões
co nexões tácteis,
tácteis, que são as comunidades virtuais
virtuais elet
eletrônicas
rônicas ( chats,
muds e outras
o utras agregaçõe
agreg açõess eletrôn
e letrônicas1
icas1880). Em um m undo
und o saturad
sa turadoo de
objetos técnicos, será nesta forma técnica (as redes telem telemáticas)
áticas) que a
vida social vai imim por o seu vital
vitalismo.
ismo. As diversas m anifestações con- con -
temporâneas da cibercultura
cibercultura podem ser vist vistas
as como a expressão quoti-
diana da d a vida
v ida que se rebela contra as formas instituí instituídasdas e cristalizad
cristalizadas.as.
Segundo M affe affesoli
soli,, e aí está mais
mais um conceito
conceito importante
im portante para com- com -
pre
p reee n d e rmo
rm o s a soci
so cial
alid
idaa de,
de , e sta
st a rí
ríaa m o s a ssis
ss isti
tind
ndoo à p a ssa
ss a g e m (ou
(o u a
desintegração)
desintegraç ão) do indivíduo clássico à (na) tribo. tribo.
A erosão e o esgotamento da perspectiva individualista da
modernidade
mod ernidade (o que não significa
significa que não existam “indivíduosindivi
“indivíduosindivi
dualistas”) é co correlata
rrelata à formação
formação das mais diversas diversas tribos contemporâ-
contem porâ-
neas,, a nível planetário
neas plan etário.. Atravé
Atr avéss das inúmeras
inúm eras fo form
rmasas de trib
t ribalis
alism
m o181
contemporâneo, a organiz organizaçãoação da sociedade cede lugar, lugar, pouco
pouc o a pou-
co, à organicidade da soci alidade, ag
socialidade, agora
ora tribal
tribal e não mais racional ou
contratual. Se na modernidade,
m odernidade, afirma Maffesol Maffesoli, i, o indivíduo tinhatinh a uma
função, a pessoa {persona) pósmodema tem um papel, mesmo que
efêmero, hedonista ou cínico. cínico. A questão colocada assim não n ão significa
que esse fato seja novo, mas afirma que a preponderância da persona
sobre o indivíduo atinge seu paroxismo nesse ne sse final
final de milênio.
Para Maffeso
M affesoli,
li, a lógica individualis
individualista ta se apoiou sobre uma um a iden-
tidade fechada, sobre o indivíduo, enquanto qque ue a p
pee rs
rsoo n a só existe
em relação ao outro, agregandose. É por isso que esta tem necessi-
dade da tribo,
tribo, para se construir com o outro, pelo outro e no outro. O
indivíduo é assim “levado p o r uma pulsã o agregadora, ele é também
o protag
protagonista
onista de uma am biência afet afetuosa
uosa qu quee o fa z adader
erir
ir,, p
par
artici
tici
p a r m
maa g ic
icaa m en
ente
te a es
esse
sess p e q u en
enoo s cco
o n ju
junn to
toss vvis
isco
coso
soss q
quu e eeu pro p u s
u prop
chamar de tribos ” 182. Estaríam
Estar íamos os ven
v endodo hoje,
ho je, atra
a travé
véss dos diver
div ersos
sos
tribalismos
tribalismos contemporâneos
contem porâneos (religios
(religiosos,
os, esportivos, hedonistas, mu-
m u-
sicais,
sic
de ais, tecnológicos,
solidariedades etc.), o (re)surgimento
m ecânicas,
mecânicas, (re)
ousurgimento do que Durkheim
Durk heim
Weber de comunidades
comu nidades chama
emocionais,
em ocionais,
ou Marcei Bolle de Bal chama de reliance (Bolle de Bal)183. E isso
pa ra m e lho
para lh o r ou pior:
pior : solid
so lidar
arie
ieda
dade
dess raci
ra cist
stas
as,, cri
c rim
m inos
in osas
as e into
in tole
lera
rant
ntes
es
têm lugar
luga r também no tribalismo
tribalismo atual, sustenta Maffesoli.
Maffesoli.
O tribalismo referese, consequentemente, à vontade de estar• estar •
• ANDRÉ LEMO
LEMOS
S 91
p a ra
pa radd ig
igmm a eest
stét
étic
icoo . A soc
s ocia
iali
lida
dade
de tr
trib
ibal
al,, g
gre
reg
g á ri
riaa e em p á ti
ticc a , a ccu
u lt
ltuu-
ra do sentimento que se apóia sobre aass multipersonalidades (as m más-
ás-
caras do teatro quotidiano), agem a partir de um umaa ética da estética, e
não a partir de uma moral universalizante. A sociedade elabora um
éthos, uma m aneira de se ser,
r, um modo
m odo de exi stência “on
existência onde
de aaqu quiloilo que
é compartilhado com outros será será primordial
primordial.. É isso que eu designa
design a
reii pela
re pe la expressão
exp ressão ‘ética da estética
esté tica’’ ” 184.
A ética
é tica da estética vai impregnar todo todo o ambiente social e ccontami-
ontami-
narr o polít
na político,
ico, a comunic
comunicação,ação, o consumo,
consum o, os negócios, as artes e espetá-
culos, ou seja, a vida quotidiana no seu conjunto.conjunto. Essa
E ssa ética é, assim, um
conceito chave para ajudar a melhor discernir sobre o conjunto
desordenado
desor denado e versátil daquilo que M. Maffesoli ch chamamaa de social
socialidade.
idade.
Vejamos em relação aos media. As tecnologias do ciberespaço
vão potencializar a pulsão gregária, agindo como vetores de comu-
nhão, de compartilhamento
co mpartilhamento de sentimentos e de religação comunitária.
No cib
c iber
eres
espa
paço
ço,, a m
maa io
iorr pa
parte
rte d
doo us
usoo deve
de ves
see a ativ
at ivid
idad
ades
es ssoc
ocia
ializ
lizan
ante
tess
como chats, grupos de discussão, listas, muds, icq, entre outros. Na
cibercultura, o ciberespaço é uma rede soc
cibercultura, social
ial complexa, e não somente
tecnológica. Isto mostra que a tendência comunitária (tribalismo), a
ênfase no presente
p resente (presen
(presenteísmo)
teísmo) e o paradigma estético (ética da eesté-
sté-
tica) podem potencializar
po tencializar e ser potencializados
potencializados pelo desenvolvime
desenvolvimentonto
tecnológico. Podemos ver nas comunidades do ciberespaço a
aplicabilidade
aplicabilidade do co conceito
nceito de socialidade
socialidade (mas també
também
m de sociabilida-
de), definido por
p or ligações orgânicas, efêmeras e simbóli
simbólicas.
cas.
As expressões
expressõ es culturai
culturaiss mais ri
ricas
cas do fenôme
fenômeno
no da cibercultura
“religação” ( reliance) social potencializada
mostram, precisamente, a “religação”
pe la tec
pela tecnonolo
logi
giaa mic
micro roe
elet
letrô
rônic
nica.
a. C
Com
omo
o af
afirm
irmaa M af
affe
feso
soli,
li, a soc
socia
ialid
lidad
adee
pod
p odee e fe
feti
tiv en te,, “...caminha
v a m ente ...caminharr lado a lado com o desenvodesenvolvimento
lvimento
tecnológic
tecno lógico,o, ou mesmo
m esmo ser apoiada p o r 'ele 'ele (veja-se o m micro
icro ou o
M in i tel)
te l)”m
”m . Assim, podemos propor, como hipótese, que as novas
tecnologias
tecnol ogias de com unicação atuam como fatores fatores de difração do cará-
ter com unitário tribal típi típico
co da socialidade contem
contemporânea.
porânea.
92
| CIB
CIBERCU
ERCULTUR
LTURA,
A, TECNOLOGIA EVIDA
E VIDA SOCIAL NA CULTURA CONTEMPORÂ
CONTE MPORÂNEA
NEA •
Mais um
umaa vez, trata
tratase
se de uma
u ma mmudança
udança ^i
^iee escala. Em várivários
os
momentos
mom entos da história da hhumanidade
umanidade pudemos ver a tecnologia servir
como instrumento comunitário ou simplesmente agregador. Sabemos
que os íhaumata gregos eram apenas instrumentos de divertimento,
que a imprensa
imp rensa desestabili
desestabilizou
zou o poder
pod er da igreja ao dem
democratizar
ocratizar a in-
formação,
formaç ão, que o rádio po
podia,
dia, co
como
mo pensav
pensavaa B rec
recht1
ht1886, criar co
comu
munida
nida--
des solidárias à distância, e que mesmo a contracultura, sendo anti
tecnológica, não seria possível
possível sem drogas químicas, imagensimage ns (vídeo e
cinemaa experimental) e a guitarra eelét
cinem létri
rica.
ca. Mud
Mudança
ança de escal
escala:
a: en
entra-
tra-
mos em cade
cadeia
ia planetár
planetária
ia (aldeia
(aldeiass globais) com inform
informaçõesações tornando
se dispon
disponíveis
íveis ao planeta (ou entregues) em tempo real, imediato.
A cibercultura
cibercu ltura vai ssee caracterizar pela formação
formaçã o de um a socie-
dade estruturada através de uma conectividade
conectividade telem
telemática
ática generaliza-
da, ampliando o potencial comunicativo, proporcionando a troca de
informações sob as mais diversas formas, fomentando agregações
sociais.
soci ais. O ciberespaço cria um mundo operante, interli interligado
gado p
por
or ícones
ícones,,
port
po rtaa is
is,, sí
síti
tios
os e home pages, permitindo colocar o poder de emissão
nas mãos de uma cultura jovem jove m , tribal
tribal,, gregária, que vai pro
produ
duzir
zir in-
formação, agrega agregarr ruí
ruídos
dos e cola
colagens,
gens, jog ar excesso ao sistema.
Com
Co m o fen
fenôm
ômeno
eno das comunidade
comunidadess virtua
vir tuais1
is18
87 form
formadas
adas aatravés
través
da comunicação tel telemática
emática podemos dizer que est estamos
amos assisti
assistindo
ndo a
uma forma, crescente e planetária, do fenômeno, mostrando a perma-
• ANDRÉ LEMO
LEMOS
S 93
p a r a p a r tic
pa ti c ip a r d e u m a co
comm un
unid
idad
ade,
e, um p o u c o m íti
ítica
ca,, cu
cujo
jo im
imaagi
nário não é sem efei efeito
to no quot
quotid
idia
iano,
no, em pa
particula
rticularr porqu e ela acen
tua a comunicação sem objeto específico: a comunicação pela co
municação ” 191. Estam Esta m os longe dod o diagnó
diag nóstico
stico de
d e morte
m orte da
d a com
co m unica
un ica--
ção porp or excesso
exce sso tão caro a Sfez, Baudrill Baud rillard
ard e Viri
Virili
lio.
o.
É interessante not notar,
ar, também, que a tecnologia moderna
mode rna é fruto
fru to do
casamento da ciência ciênc ia com a técnica,
técnica, associada à racionalidade e à objeti-
vidade. Ela é, assim, oposta a toda e qualquer forma de socialidade (o
emocional,
emo cional, o subjetivo,
sub jetivo, o dionisíaco).
dionisíaco). Maffesoli aponta isso muito
m uito clara-
mente no prefácio de um u m número especial da revista francesa Sociétés
Sociétés,,
cujo tema era er a a “tecnosociali
“tecnosocialidade” dade” ( technosocialité ).
). Ele afirma: “ p odee
pod
pa
p a r e c e r p a r a d o x a l p e n s a r em um m esesm
m o m ov
ovimimen
entoto a té
técn
cnic
icaa e a
socialidade. Entretanto é este paradoxo que este número de Sociétés
pret
pr eten
ende
de coloca rf,, m . Assim, a tecnologia
colocarf tecnologia contemporânea é um dos fato-
res mais importantes de formação da socialidade contemporânea. contemp orânea.
O estranhamento
estranham ento atual atual em relação à técnica
técnica advém, justamente,
justam ente,
da simbiose
sim biose bizarra entre a socialidade,
socialidade, que recusa a positividade utó-
picc a e a ra
pi r a c ion
io n a lid
li d a d e indu
in dust
stri
rial
al,, e as
a s nov
n ovas
as tecn
te cnoo log
lo g ias,
ia s, fru
fr u to de
desta
stas.
s.
A cibercultura contemporânea mostra que é no coração mesmo da
racionalidade técnica que a socialidade aparece com força e ganha
novos conto
co ntorn rnosos1193. A cibercultura,
cibercu ltura, esse
e sse estilo da cultura
cu ltura técn
técnicaica con-
co n-
temporânea, é o produto social e cultural cultural da sinergia entre a socialidade
socialidade
estética contemporânea de que nos fala Maffesoli e as novas
tecnologias. Talvez estejamos estejamos buscando, pelas pelas tecnologias, uma um a nova
forma de agregação social (eletrônica, efêmera e planetária). Como
mostra magnificamente o sociólogo francês, “...por ma
mais
is paradox al
paradoxal
que isso possa parecer, nós podemos estabelecer uma estreita liga
ção ent
entre
re o desenvolvimento tecnol
tecnológic
ógicoo e a am plifi
plificação
cação da estéti
ca. A técnica que tinha sido o elemento essencial da reificação, da
separação,
separação, invert
inverte-se contrário e favo rece uma espécie de
e-se em seu contrário
tactilida
tac tilidade,
de, um
umaa ex
expe
periê
riênc
ncia
ia co
comm u m ”194.
A socialidade caótica e fractal vai ser alimentada pelas
tecnologias microeletrônicas,
microeletrônicas, numa espécie
e spécie de harmo
harmonie
nie confli
conflictuelle,
ctuelle,
ajudada pelo politeísmo
politeísmo de valores
valores e pelo excesso de imagens. A pro-
fusão (excesso) de imagens, e de tecnologias da imagem, pode ser
entendida aqui a partir da análise
análise do barroco enquanto form a socia
sociall
contemporânea. Para Maffesoli, a profusão de imagens (de todos os
um a baroquisation do mundo, exprimindo o
gêneros) está na base de uma
94 CIBERCUL
CIBERCULTURA,
TURA, TECNOLOGIA E VIDA SOCIAL NA CULTURA
CULTUR A CONTEM
CONTEMPORÂN
PORÂNEA
EA •
A cib
cibee rc
rcuu ltu
ltura
ra em pro
proces
cesso
so
• ANDRÉ
ANDRÉ LEM
LEMOS 95
via de ap
apropriação
ropriação do real, enquanto que o espetáculo da tecnocultura
tecnocu ltura
mo derna2
modern a201 se ap
aprop
ropria
ria do real ppor
or me
meioio da rep
represe
resentaç
ntação
ão d
doo mu
mundo
ndo
(através dos med ia de massa).
massa).
Mesmo se cibernética significa controle e pilotagem, a
ciberculturaa não é o result
cibercultur resultado
ado li
linear
near e determinist
deterministaa de uma programa-
ção técnica do social
social.. Ela parece se
ser,
r, ao contrário, o resultado de uma
apropriação
aprop riação simb
simbólica
ólica e soci
social
al da tecnol
tecnologia.
ogia. O que vai caracterizar
carac terizar a
cibercultura nascente não é um determinismo tecnocrático. Não se
trata de ex clu
cluir
ir a ssocialidade,
ocialidade, e tudo que ela tem de trágico, violento,
erótico ou lúdico comocom o inimiga de uma socie sociedade
dade racional, técnica e
9 6 | CIBE
CIBERCULT
RCULTURA,
URA, TECNOLOGIA E VIDA SOCIAL
SOCIAL NA
N A CULTURA CONTEMPORÂ
CONTEM PORÂNEA
NEA •
Se nós
dizer que retom armos
retomarmo
a forma s à análi
“ciber” análise
se formista
(tecnologias do de Maffesoli, poderi
ciberespaço) poderiamos
amos
vai manter
umaa relaç
um relação
ão d
dialóg
ialógica2
ica20
02 com os conteúd
conteúdos
os d
daa v
vida
ida social co
contem
ntem po
po--
rânea. Todo o sonho da modernidade foi concentrado na p perspectiva
erspectiva
racionalista e funcionalista da vida, na dominação da natureza e no
controle das pulsões selvagens. Contraditoriamente, é por uma um a atitu-
de dispersa, efêmera
efêm era e lúdi
lúdica,
ca, que a soci
sociedade
edade co
contem
ntem porân
porâneaea vai se
relacionar
relacion ar com as novas tecn
tecnologias.
ologias. Tratase de umumaa imbricação een-n-
tre a socialidade e a técnica contemporânea
contem porânea (transfo
(transforma
rmada
da em instru-
me nto co
mento conv
nvivia
ivial2
l203); aaíí está o que pare
parece
ce ca
carac
racteriz
terizar
ar a cib
cibersoc
ersocialidad
ialidade.
e.
Assim “é po ssív el de imaginar que, que, correlati
correlativamente
vamente ao desenvo
des envo lvi
mento tecnológico crescimento das tribos urbanas fav ore ce uma
tecno lógico o crescimento
palabre
pala bre informatizad
inform atizada a 204.
No
N o e n ta
tann to
to,, e m b o ra a s o c ia
iali
lid
d a d e e s teja
te ja p r e s e n te d e fo
form
rm a
marcante
marcan te nas principais expressões da cibercultura, isso não signif significa
ica
que esta não tenha suas práticas de sociabili sociabilidade.
dade. Sim, e muito muito.. Todo
o trabalho acadêmico, empresarial, comercial ou governamental no
Notas
98 CIBERCUL
CIBERCULTURA
TURA.. TECNOLOGIA
TECNOLOGIA E VIDA SOCIAL N A CULTURA
CULTUR A CONTEMPOR
CONTE MPOR ÂNEA •
base
ba sess qu
quee pe
perm
rmit
itir
iram
am o su
surg
rgim
imen
ento
to dos
do s novo
no voss m e d i a são várjgs.
várjgs. Primeiro, a possibilida-
de
umatécnica
melhordetransmissão
numerização e umda informação (o digital substitui
tratamento automático o analógico),
das mensagens. permitindo
Juntese a isso o
rápido progresso dos componentes eletrônicos e as técnicas eletrônicas de compressão
da informação. Como vemos atualmente, todos os m e d ia vão passar (e já estão passando)
pela
pe la num
nu m er
eriz
izaç
ação
ão,, se
senã
nãoo ddee cont
co nteú
eúdo
do,, ao meno
me noss em
e m sua
su a form
fo rmaa prod
pr odut
utiv
iva,
a, cheg
ch egan
ando
do hoje
ho je
ao multimídia e à internet.
122 É bom notar que o adjetivo “novo” é de certa forma abusivo. Toda inovação
tecnológica cria “novas” tecnologias. Nos parece que este adjetivo vem carregado de pro-
messas de uma nova era tecnológica substancialmente diferente das “antigas”. Devemos
estar atentos à esta conotação ideológica do adjetivo.
123 Victor Scardigli propõe a idéia de sociedade digital para dar conta desta rela-
ção. Estaríamos então em meio a uma sociedade digital porque as diversas inserções da
tecnologia na vida quotidiana não obedecem mais as leis leis da mecânica. Com o digital, todos
os suportes são reconvertidos em dados binários. O termo sociedade digital é utilizado por
Scardigli tentando escapar a uma visão linear do impacto tecnológico e à sua negação. Ver
Scardigli, V. Les Sens de la Technique. Paris, PUF. 1992.
124 Com o desenvolvimento dos media analógicos exigese um canal específico e
um receptor também específico para veicular as mensagens (tvhetziana, rádioondas, telé
grafosfios, telefonesfios, etc.). Podese classificálos em três categorias: autônomos (li-
vros, jornais, discos, fitas, softwares, videocassete, cinema, jogos eletrônicos), onde o con-
teúdo é dependente
depen dente do veículo e se realiza offIine
offIine;; teledifusão (broadc
(broadcasting
asting com
comoo a T
TV,
V, o
rádio) onde o conteúdo é dependente do suporte e que se realiza através de conexões à
distância por ondas hertzianas ou elétricas; digitais, que permitem uma comunicação
multidirecional, onde o suporte independe do conteúdo. Ver Baile, F.; Eymery, G. Les
Nouve
No uveaux
aux Media.
Me dia. Paris,
Pa ris, PUF
PUF,, 1984.
1984.
125 A descentralização é uma exigência mesma do sistema em redes digitais, onde
0 que importa é a troca de informações de todos para todos. A interatividade garante ao
usuário a possibilidade de interferir nos conteúdos dos programas consumidos (os jogos
eletrônicos são um exemplo muito popular).
1266 McLuhan, M. La Galaxie Gut
12 Gutenberg.
enberg. La Genèse de TH THomme
omme Typographique
1 e 2. Paris, Gallimard, 1967/1977.
127 McLuhan, M. op.cit. p. 34.
128 McLuhan, M. op.cit. p. 56.
129 Pool, Ithiel de Sola. Technologies of Freedom. Harvarde Press, 1983.
130 Rosello, Mireille. The Screener’s Maps: Michel de Certeau’s “Wandersmãner”
and Paul Auster’s Hypertextual Detective”. in Landow, George. Hyper/Text/Theory. The
John Hopkins University Press, 1994, p. 123.
131 citado por McLuhan, M. op.cit. p. 273.
132 Falase muito hoje em dia do isolamento causado (ou pretensamente causado)
peloss compu
pelo com putad
tadore
oress e nos esquec
esq uecem
emos
os frequen
freq uentem
tement
entee que um
umaa das tec
tecno
nolog
logias
ias da inteli-
inte li-
gência mais individualista é o livro. Ler um livro é, por definição, uma atividade isolante,
fechada 133
e individualista,
Ver Lévy, P. embora maravilhosa.
Cibercultura. RJ, Ed. 34, 1999.
1344 Virilio
13 Virilio,, Paul. Esthétique de la Disparit
Dispa rition
ion.,., Paris
Paris,, Livre de Poche, Galilée, 1989
1989..
1355 Viril
13 Virilio,
io, P. op.cit.
op. cit. p. 51.•
• ANDRÉ LEM
LEMOS 99
100 CIBERCU
CIBERCULTUR
LTURA,
A, TECNOLOGIA E VIDA SOCIAL NA CULTURA CONT
CONTEMPOR
EMPORÂNEA
ÂNEA •
ateniense era uma um a tekhnè polipolitiké,
tiké, uma arte do julgamento político
po lítico a partir da garantia da
palav
pal avra
ra ppar
araa todo
t odos,
s, a isegonia
iseg onia.. Para
P ara Scheer
S cheer,, ao cont
co ntrár
rário
io do qu
quee pe
pens
nsaa Vir
Virilio,
ilio, a democr
dem ocraci
aciaa
é, por
po r definição,
definição, o exercício do político em tempo real. O espaço político cibernético pode
ter uma função de Ágora eletrônica eletrônica,, simulacro da ÁgoraÁ gora gre
grega,
ga, espaço públic
público.o.
159 Mercier, PA . Plassard, F. Scardigli, V. La Société Digitale. Les Nouvelles
Technologies au Futur Quotidien. Paris, Seuil, 1984.
160 Ver
Ver Pool, I. Technologies
Technologies o f Freedom. op.cit.
161 Lévy,
L évy, P
P.. Construire
Construi re finte
f intellig
lligen
ence
ce collecti
collecti ve.
ve. in Le Monde
M onde Diplomatique.
Dip lomatique. Manie
de Voir Horssérie. internet et L’Extase de UEffroi. octobre 1996, p 35.
162 A experiência da Piazza Virtuale mostra bem a possibilidade digital de con-
vergência dos media. A Van Gogh TV, ou a Piazza Virtuale, foi uma experiência de 100
dias, 750 horas de transmissões para a Europa e Japão de uma televisão interativa, com
comunicações bidirecionais (com um telefone e um controle remoto podíamos participar),
prod
pr oduz
uzida
ida por
po r Po
Ponto
nton,n, cr
cria
iada
da em 1986 em Hamb Ha mburgurgoo na Ale
Alemamanha
nha.. Van Go Goghgh TV foi
distribuída pela ZDF durante o IX Documenta, durante o verão 1993. Poderíam ser
conectadas, ao mesmo tempo, vinte pessoas para fazer música com um orquestra virtual,
enviar fax ou falar entre eles. A Piazza Virtuale era uma espécie de BBS televisivo onde
“modemusers squirt text onto the television screen and faxes were displayed on camera;
there were QuikTime movies, animation, and even ISDN connections”. Desde o primeiro
dia, sem publicidade, 5.000 pessoas se conectaram. No dia seguinte, 100.000. A Deutsche
Telecom ganhou quase um milhão de dólares. Os criadores eram hackers, músicos, artistas
gráficos e técnicos italianos, alemães, franceses, austríacos, canadenses e americanos. Se-
gundo Karel Dudesek, um dos diretores de Panton “our major goal was live interaction; to
break throug
thr oughh the barr
ba rrie
ierr o f the screen;
scre en; to ddow
owngngrad
radee TV
T V from a maste
ma sterr mé
médiu
diumm into ju
j u st
one window onto a space" space " . Ver Marshall, Jules. Th Thee Médium is the Mission. in Wired,
n°1.05, nov.1993, p.6970.
163 Ver Castels, M. The Information Age; Economy, Society and Culture. Volume
I. The Rise of the Network Society. Massachusetts, Blackwell, 1996.
1644 Para Bougnoux
16 Bougnoux,, o paradoxparadoxoo da comunicação é que ela é produzida tecnicamen-
te mas, ao mesmo tempo, tenta escapar do mundo da técnica e corrigilo. Não há uma
determinação unívoca e linear da técnicatécnica ao social,
social, já que a inovação técnica é tão impor-
tante como a inovação social. Daí toda a crítica substancialista, metafísica da técnica,
tornandoa diabólica (Heidegger, Frankfurt, Ellul, Sfez, Baudrillard). A mediologia rejeita
autonomizar a técnica e esse parece ser um bom caminho para a compreensão
compreensã o da cibercultur
cibercultura.
a.
Sabemos que a utilização de uma inovação técnica sugere uma metamorfose e uma inter-
pretação
preta ção,, consti
con stitui
tuind
ndoo uma
um a dup
d upla
la articu
articulaçã
lação;
o; a lóg
lógica
ica do utensíl
uten sílio
io se im
imbr
brica
ica na lóg
lógica
ica do
usuário, modificandose
modifica ndose ambas nesse contato.
contato. Ver
Ver Bougnoux, D. Introd
Introdução
ução às Ciênc
Ciências
ias da
Informação e da Comunicação. Petrópolis, Vozes, 1994.
1655 Lévy , P. Les Technologies
16 Technologie s de LTntelligen
LTntel ligence.
ce. op.cit.
1666 Gras, Alain. Le Bonheur, Produit Surgelé. in Autremen
16 Autr ement,t, Technologies dduu
Quotidien, Paris, 1992, p. 1819.
167 Maffesoli, M. O Tempo das Tribos. O declínio do individualismo nas socieda-
des de massa. RJ. Forense, 1987. p. 150.
168 Os zippies (Zen Inspired Pagan Professional) são neohippies que utilizam as
novass tecnologias como
nova com o fonte de (re) aproximação
aproximação comunitária e de busca da espir
espiritualidade.
itualidade. Já
os ravers são os participantes das raves parties, festas tribais, cadenciadas pela música tecno•
tecno•
• ANDRÉ
ANDRÉ LEMOS 101
LEMOS
eletrônica.
eletrônica. Ver Lemos, A . , Ciber
Ciberrebeld
rebeldes.
es. in Guia da internet .BR
.BR,, RJ, Ediouro, 1996
1996..
169 Sobre o ciberespaço ver: Benedikt, M (ed). Cyberspace. First Steps. MIT,
1992. et Lévy, R L’Intelligence Collective. Pour une Anthropologie du Cyberspace. Paris,
La Découverte, 1995.
170 Ver Lyotard. JF. La Phenomenologie. Paris, PUF, 1959. p. 7.
171 Lyotard, JF. op.cit. p.7
172 Sobre a teatralidade quotidiana ver GofFman, E. La Mise en Scène de la Vie
Quotidienne. Paris, Minuit, 1973.
173 Ver Maffesoli, M. A Conquista do Presente. RJ. Rocco. 1984.
174 Ver Baudrillard, J. L'Ombre des Majorités... op.cit.
175 Ver Deleuze, G. Guattari, F. Capitalisme et Schizophrénie... op.cit.
176 Ver Simmel, G. La Tragédie da la Culture, Paris, Rivages, 1988.
177 Simmel, G. Philosophie de La Modemité. Paris, Payot, 1990. p.229.
178 Para Simmel, a vida tende a superar ela mesma, desenvolvendose no plano
dos valores vitais, enquanto vida (“Mehr Leben”), e tornandose mais do que a vida, supe
randoa (“MehrAlsLeben”). Sobre a obra de Simmel ver Jankélévitch, V. Georg Simmel,
philo
ph ilosop
sophe
he de la vie. in Sim
Simmel,
mel, G. La Tragéd
Tra gédie
ie da la Cu
Cultur
lture,
e, op.c
op.cit.
it.
179 Por exemplo, em todos os objetos técnicos, podemos ver como estes são, ao
mesmo tempo, limite e possibilidade de manifestação da vida soci
social,
al, sob a forma de uma
“tekhnè”.
180
180 Chats são fóruns (m
(muitas
uitas vezes temát
temáticos
icos paquer
paquera,
a, Brasil, hacker, sexo, etc.)
de bate papo online, em tempo real. Os M MUDs
UDs (Multi User Dungeons) são jog os online
(tipo role play games), onde os participantes criam mundos e personagens imaginários
através de uma ficção construída atravé
atravéss da escrita (alg
(alguns
uns são gráficos), também em e m tem-
po real. So
Sobre
bre os MU
MUDs
Ds e C
Chat
hatss enq
enquan
uantoto ccom
omuni
unidad
dades
es vir
virtuais
tuais ver, Rh
Rhein
eingo
gold,
ld, H. Virtual
Communities. Homestanding on the Electronic Frontier. NY, AddisonWesley. 1993.
181 Maffesoli, M. O Tempo das Tribos, op.cit.
182 Maffesoli, M. La Transfiguration du Politique. La Tribalisation du Monde.
Paris, Grasset, 1992, p.17.
183 Durkheim
183 Durkheim,, E, Les F
Formes
ormes Elémen
Elémentaires
taires de la Vi
Viee Religieuse. Paris, PUF, 19
1978
78..
Weber, M, Economie et Société. Paris, Plon, 1971. Bolle de Bal, M. La Tentation
Communautaire. Les paradoxes de la reliance et de la contreculture. Bruxelas, Ed. De
1’Université de Bruxelles. Bruxelas, 1985.
184 Estética aqui deve ser compreendida, afirma Maffesoli, como
“Gesamtkunstwerk”, como obra de arte total. Ver Maffesoli, M. Au Creux des Apparences.
Pour une Ethique de 1’Esthétique. Paris, Plon, 1990. p.12.
185 Maffesoli, M. O Tempo das Tribos... op.cit, p.110.
186 Brecht, B. El compromiso em Literatura y arte. Historia, Ciência, sociedad
102.
102. Edicio
Ediciones
nes Península, Barcelona, 19
1973
73.. Ver ca pí tu
tulo
lo ‘T eo
eoria
ria de la Rá
Rádio
dio (19271932
(19271932)”,
)”,
pp.819
pp. 8191.
1.
187 Sobre as comunidades virtuais ver Rheingold, R. Virtual Communities, op.cit.
Lemos, A. Les Communuatés Virtuelles. in Sociétés, n°45, pp. 253261, Paris, Dunod,
1994.
188 Sobre a Escola de Paio Alto ver, Watzlawick, P. La realité de la realité.
Confusion, désinformation, communication. Paris, Seuil, 1978.
189 Maffesoli, M. O Tempo das Tribos... op.cit. p. 61.
102 | CIBERCU
CIBERCULTURA
LTURA,, TECNOLOGIA E VIDA SOCI
SOCIAL
AL NA
N A CULTURA CONTEMPOR
CON TEMPORÂNEA
ÂNEA •
P a r t e III
------- • A c ib e r c u ltu r a
1
C apítulo I
O N A S C I M E N T O D A C IIB
BER
RCCUL
LTTURA
A:: A M IIC
C R O --II N F O R
RMMÁT1
1CCA
• ANDRÉ
NDRÉ l e m o s ] 107
108
108 CIBERCULTURA,
CIBERCULTURA, TECNOLOGIA E VIDA SOCIAL N A CULTURA CONT
CONTEMP
EMPORÂ
ORÂNEA
NEA •
formação do homem
desvinculase e da sociedade.
da compreensão sobre o Aque
invenção
é o homemde computadores
e sobre quais
seriam
seriam os impactos dessas máquinas
m áquinas em meio
m eio a sociedade, migrando
Ipara o desenvolvimento
desenvolvim ento de máquinas que tratarão (de formformaa mecâni
' ca) a informação
informaç ão basicamente
basicamen te calcular e co
conta
ntar.
r. Não
N ão é à toa que a
máquina chamase Computer aquele
aquele que conta
conta;; ou ordinateur — aquele
que põe ordem, automatiza, classifica. Ã informática segue, agora,
desvinculada da metafísica cibernética, sendo concebida dentro dos
ideais modernos de uma utopia tecnológica. Buscase a transforma-
ção e a administração racional da sociedade. sociedade. O modelom odelo será um p poo o l
formado pela IBM, militares, militares, universidades e institutos
institutos de pesquisa.
Embora
Em bora a microinfor
microinformática
mática popular só só surgisse em m eados da
década de 70, precur precursores
sores do que viría a ser a revolução da informá-
ti
tica
ca pess
pessoaloal (e do ciberespaço) começavam
começa vam a pensarpen sar em tornar
torna r o com-
com -
puu tad
p ta d or mai
m aiss am
a m igáv
ig ável
el desd
de sdee os ano
a noss 40.
40 . Ne
N e sta
st a déc
dé c a d a o pro
p robb lem
le m a da
informação preocupa os cientistas. Vanevar Bush, coordenador de
pes
p esqu
quisisaa da
d a s forç
fo rças
as arm
ar m adas
ad as amer
am eric
ican
anasas,, em
e m m e io a umu m a pro
p rofu
fusãsãoo ddee
informação,
infor
os mação, inventa
cientistas uma meta
a armazenar máquina
e indexar (nunca realizada)
informações nos seus para ajudar
diversos
campos de pesquisp esquisa,
a, o “Memex”
“M emex” . Outros pioneiros,
pioneiros, como Engelbart e
Licklider
Lickl ider,, vão cunhar
cun har noções comocom o interface e ambiente
am biente de resposta.
Doug Engelbart e sua equipe do Stanford Researsh Institute (SRI)
invent
inv entaa a interface
interface WYSIWYG
WYSIW YG ( “w ha tyou see is wh atyo u g e t” - “o
que você vê é o que você tem”), o processador de texto, o mouse m ouse e as
jane
ja nela
lass ccoo m os
o s men
m enus
us.. J.C.R
J. C.R.. Lick
L icklid
lider,
er, p esqu
es quis
isad
ador
or em psic
ps icoo log
lo g ia vai
levar adiante a idéia de interatividade
interatividade e propõe uma re relação
lação simbióti
simbióti
ca entre o homemhom em e o computador
computador..•
• ANDRÉ
ANDR É LEMOS
LEMOS | 109
ferramen
dos estudos ta de en sino da do
e processos matem ática
ática e de particularme
pensamento, anál
análiseise e desenvolvimento
particular me nte na área da
pee d a g o g ia e d a cco
p o g n iç
içãã o . A la
lann Ka
Kay,
y, iin
n fl
fluu e n c ia
iaddo p o r P
Paa p e rt
rt,, ccrr ia no
lab
la b or
oraa tó
tório
rio PA
PARC RC d a X Xer erox
ox 212, o R
Ree se
sea a rc
rchh L e a r n in
ingg G rorou u p e cujo
objetivo
objeti vo é integrar usuários di diversos
versos como crianças, m úsicos úsicos,, méd i-
cos, arquitetos. Os investigadores de PARC decidem construir um
com putador pessoal, o ALT ALTO, O, exper
experimental,
imental, funcionando em redes
locais (LAN , Ethernet). Em 197 1979,
9, havia já 1. 1.000
000 Altos, algumaalgumass
dezenas de impressoras e 25 terminais terminais Ethernet conectados em rede
local. Em 1976 1976,, Kay já pen pensava
sava nos com putadores po portáteis.
rtáteis.
Mas a m icroicroinformáti
informática ca será mai
maiss do que um conjunto de ino ino
110 I CIBERCULT
CIBERCULTURA,
URA, TECNOLOGIA E VIDA SOCIAL NA CU
CULTURA
LTURA CONTEMPORÂN
CONTEM PORÂNEA
EA •
vações técnicas.
técnicas. Com
C omo
o veremos, esta será consequência
consequ ência direta da aati-
ti-
tude contracultural
informatização. em relação
O primeiro aos computadores
microcomputador, e aos desafios
o Altair, nasceu em da
Albuquerque,, na Terr
Albuquerque Terraa do Encantamento, no Novo Nov o Mé
México,
xico, em 1975 1975..
Naa q u e le ano
N a no,, o A
Alt
ltai
airr é ven
ve n dido
di do a US$
U S$39
3977 se
senn do um k it cu
c u ja inc
in c lu
lusã
são
o
de monitores, discos e impressora elevava os custos para US$5.000.
Em 1977
1977 aparecem simultaneamente a cultura punk na Inglaterra Ing laterra e o
Apple II na garagem dos Steves (Jobs e Wozniak). Em 1981, o pri-
meiro PC (personal Computer) nasce de um modelo da IBM. O
surgimento do Apple Macint M acintosh,
osh, em 1984,
984, parece
parece ser emblem ático da
mudança paradigm ática ática que estava ocorrendo
ocorrendo ness
nessee momento.
O Macintosh, simbolizado por uma maçã mordida, criado em
uma garagem e pretendendo ser interativo, convival e democrático,
estava em ruptura total com os ideais modernos, cujo modelo era a
IBM, um empreendimento gigantesco, centralizado e relacionado à
pee squ
p sq u is
isaa milita
mi litar.
r. M ai
aiss que
qu e si
simm ples
pl es ino
in o vaçõ
va ções
es téc
té c n ic
icaa s, o nasc
na scim
im e n to
da microinform ática (e da cibercultura)
cibercultura) é fruto
fruto de movimentos
mov imentos soci-
ais. Aqui aparece uma nova lógica em relação às novas tecnologias
• ANDRÉ LEMO
LEMOS
S I I I
ginário com
ginário um ”
comum ”2216.
A atual dimensão da tecnologia na vida social contemporânea
mostra que são nos espaços existenciais de produção de sensações,
do vivido coletivam
coletivamente,
ente, que podem
podemos
os entender as forma
formass do imagi
f f2 I CIBERCUL
CIBERCULTURA,
TURA, TECNOLOGIA E VIDA SOCI
SOCIAL
AL NA CULTURA CONT
CONTEMPO
EMPORÂNEA
RÂNEA •
comunicação e da normalização
tecnologia, precisaríamos compreendda
compreender avida
er as social. Para
es da analisar
s representações
representaçõ tecnologiaa
em primeiro
prim eiro lugar,
lugar, ou seja, as inovações
inovações tecnológicas
tecno lógicas inseridas com
comoo
objetos de consumo.
consum o. De um certo modo, essasessas mitologias program a-
das são estratégias de transformação cultural que visam acelerar a• a•
• ANDRÉ LEMOS
LEMOS | 113
mudança tecnológica e reforçar o imaginário social da técnica en-
quanto meio m eio legíti
legítimo mo de manipulaç
manipulação ão do mundo. Para Guillaume, “to
dos os gestores do Estado E stado e do capital participam, assim, direta d ireta ou
indiretamente de uma um a mit
mitocraci
ocracia. a. M ais as mitologias assim pr prododuzi
uzi
das são instáveis já que elas dependem da evo evolução
lução da dass estrat égias.
estratégias.
E ela
el a s sãsão o a rtif
rt ific
icia
iais
is p o rq
rqu u e a p ro
rodd u ç ã o fu n c i o n a l d e s e n ti
tidd o n ão
fu n d a u m m ito it o ”
”2220.
As representações programadas e ttáti áticas
cas podem ser apli aplicadas
cadas
àquilo
àquil o que Gu il illaume
laume chama de télétechnologies, as tecnologias da
informação
inform ação e da comun comunicação.
icação. Estas constituem os pil pilares
ares da ciber
cultura, respondendo a um desejo de escapar parcialmente e mo-
men taneamente aos constrangi constrangimentos
mentos simbólico
simbólicoss de mo dernidade e
seus funcionalismos
funcion alismos total totalitári
itários.
os. O própri
próprio o sujeito individualista, fi-
lho da mod ernidade, tornase um espectro, espectro, porporque que desapa rece para
vagar em uma ordem simbólica que se tornou transparente. A es
pee c tr
p traa li
lidd a d e to
tornrnaa s
see u m ffee n ô m e n o de
d e m a ss
ssaa j á n o ccoo m eço d do o sécu-
lo XX, ccom om a difusão dos fil filmes
mes em salas de cinem cinema, a, com o rád rádio io e,
po
p o s te
terr io
iorr m e n te
te,, a te
t e le
levv is
isãã o , h
hoo je e n tr
traa n d o eem
m susuaa ffaa s e m a is v ir
iróó ti
ticc a
com a aparição da microinformmicroinformática ática e das redes telemáticas. A ssim
“existe comunicação espectral quando aqueles que dela partici
pa
p am a p po
o d e m f a z e r f
fii c a n d o e ve
ven n tu
tuaa lm e n te
te,, p
paa r c ia lm e n te e p r o v i s o
riamente,
riament e, sem nome, sem identidade defini definida,da, esc
escapan
apan do aos co ns
trangim
tran gim ento s da ide nti ntidada de ”12'.
Os indivíduos espectrai espectraiss reagem à funcionali funcionalidade dade racional e
àsuc
homogeneidade
es
essiva
siva s2 22. Para de
s22 comportamentos
G uillaum e, o que caprocurando
rac teriz
terizaa a so identificações
socied
cied ad e pós
moderna é sensação desta subversão pelo anonimato. Deleuze e
G uattar
uattari, i, em outro regist registro, ro, m ost
ostram
ram a espec trali tralidade
dade c om o dese-
jo
j o i n d iv id u a l d e to r n a r s e n ô m a d e , im ig r a n te n a s s u a s p r ó p r ia s c i -
dade, corpo e subjeti subjetividade.
vidade. E m bora os três três nívei
níveiss de açã o da téc-
nica propostos por Guillaume estejam presentes na
contem porane idade e na ci cibercultura,
bercultura, parecenos que o surgimento
da ciberc ultura de va m uito ao nível da aprop riação social, ao nível
tático. Podemos dizer que a microinformática “ não seria mais
culminada pe la esperança utópi utópicaca (..
(...)
.) mas el
elaa se aproxim aria da
sub ver
versão
são , a qu i e agor
agora,
a, pe lo se
seuu uso m e n o r ”123.
A idéia de ruptura radical transformase em uma mistura de
desconfiança e de apropriação (simbólica e quotidiana) das novas
• ANDRÉ LEMO
LEMOS
S 115
115
116 | CI
CIBERCULT
BERCULTURA.
URA. TECNOLOGIA
TECNOLOG IA E VIDA SOCIAL
SOCIAL NA CULTURA CONT
CONTEMPO
EMPORÂNEA
RÂNEA <
Interatividade, interface
A interface gráfica, e as
as novas formas de interação hom emm
emmáá
quina, foram decisivos para a apropriação social
social dos microcom puta
dores. Os estudos de Brenda Laurel sobre interfaces e interatividade
mostram bem como as novanovass tecnologi
tecnologias
as oferecem possibilidades para
experiências
experiên cias criati
criativas
vas e interat
interativas,
ivas, part
particularmen
icularmentete na form
formaa do dra-
ma. Já nos primeiros jog
jogos
os elet
eletrônicos
rônicos vemos a capa
capacidade
cidade das novas
máquinas informáticas para representar “açã “ ação
o no qual humanos p o
dem
de mp pa a r ti
ticc ip a r ”226.
Com o vimos, o presenteísmo
presenteísmo e a teatrali
teatralidade
dade da vida social vão
utilizar o potencial
potencial das novas máquinas digitai digitais.
s. Bsta teatralidade
teatralidade q quouo- -
tidiana
tidi ana será levada em conta no desenvolvimento da interface interface homhomemem
computador229.
A noção de interface gráfica (a manipulação de ícones pelo
intermédi
int ermédio o de um apontador o mouse mouse)) foi popularizada com o
Apple Macintosh. O objetivo do Macintosh era trazer ao grande
pú
p ú b li
licc o um s is iste
tem
m a d e m a n ipu
ip u laç
la ç ã o de in
info
form
rm a ç õ e s d e fá
fácc il m a n u -
seio fazendo analogias com os objetos do nosso dia a dia (pastas,
arquivos, lixeiras..
lixeiras...)..). O M acintosh, atr através
avés de sua interface
in terface gráfica,
instaura
inst aura um diál diálogo
ogo entre o homem e o com putador de form a quase
orgânica. Hoje, quando falamos falamos da int interface
erface gráfica ((ou ou GUI Gra-Gra-
p h i c U se
ph sers
rs In te facc e ) pensamos no mouse,
terr fa nos ícones e na barra de
mouse, nos
menus. Mas a evolução das interfaces homemcomputador come-
çou lentamente com os p os plu
lu g s e válvulas até chegar à imersão com-
ple
p leta
ta c o m a re
reaa li
lidd a d e vi
virt
rtua
ual.
l.
John Walker, fundador da empresa Autodesk, propôs o con-
ceito de conversationálity para definir a int
conversationálity para interação
eração hom em com pu-
tador. A idéia de conversationálity
conversationálity é muito próxima da noção de
conversação, na medida em que a interação é definida como um
diálogo em que usuário faz al algo
go e o com putado r responde. Assim, a
interatividade (a conexão, a conversação) precisa de um ambiente
que a proporcione e por isso não podemos definila sem a idéia de
interfac
inte rface.
e. Es
Este
te é o amb
ambiente
iente de diálog
diá logoo ou com o alg un
unss aauto
utores
res2
230•
• ANDRÉ LE
LEMOS
MOS //7
p refe
pre fere
rem
m , o comm on grou nd, o terreno
ground, terreno comum , o espaç o onde se dá
a interatividade: “um espaço co conjuntame
njuntamente
nte habi
habitado,
tado, o
ond
nd e o sen ti
do te
temm lugar e m olda a colabor
colaboração sucessivas aproximações
ação e as sucessivas
dos participantes ”
”2
231.
• ANDRÉ LEMOS
LEMOS | 119
p a rt
pa rtic
icip
ipaa d e u m p ro
rocc e ss
ssoo d u p lam
la m en
ente
te in
inte
tera
rativ
tivo:o: d e u m lalado
do,, u m a
interação
inter ação com a máquina, que chamaremos de analógico-eletro-me-
cânica225, e de outro, uma interação com os carros (motoristas) que
chamaremos
chamarem os simplesmente de in intetera
raçã
ção
o sso
o cia
ci a l226. A interatividade é,
l22
ao mesmo tempo, uma interação técnica (de tipo analógicomecâni
co) e social.
O telefone é um outro exemplo deste tipo de interação mas,
aqui,, a interação é basicam
aqui basicamente ente social
social,, existindo uma redu reduzida
zida interação
com o terminal,
term inal, de tipo analógico
analógicomecânica.
mecânica. E Esta
sta li
limitase
mitase à com
compo-
po-
sição
siçã o do número desejado através das teclas do aparelho (su (suaa interfa
interface)
ce)
sendo a interação com o outro o que faz do tel telefone
efone um a ferram
ferramenta
enta
120 | CIBERCULT
CIBERCULTURA,
URA, TECNOLOGIA E VIDA SOCIAL
SOCIAL N A CULTURA CONTEMPORÂNEA
CONTEMPO RÂNEA •
ex periênc
exper iência
ia do Videoway
Video
A televisão way no Canad
tradicionalCa nadá2
permiteá2440uma
, por interação
exemplo.
exem plo. com a máquina,
tipo analógicodigital (ligar, za
zap pe a r) sem perm itir uma interação di-
p pea
reta e mais ampla (que a simples simples votação por telefone),
telefone), com o conteú-
con teú-
do das emissões, o que seria uma interatividade eletrônicodigital.
Embora emissões brasileiras como Você Decide, ou Intercine sejam
interativas num sentido lato241, a interatividade se limita aqui a uma
escolha entre duas ou três opções a partir de ligações telefônicas. A
emissão Hugo (jogo eletrônico pela televisão com manipulação do
pee rs
p rsoo n a g e m c e n tra
tr a l) inc
in c o rpo
rp o ra e lem
le m e n tos
to s d e u m a v e r d a d e ira
ir a T V
interativa já que, a pa partir
rtir das teclas do telefone,
telefone, o espectad
esp ectador or se trans-
forma em jogad jog ador
or e modifica o conteúdo da emissão, no caso, o resul-
tado do jogo.
jog o. A televisão digitaldigital interativa
interativa pode viabilizar,
viabilizar, ao mesmo
tempo, interações mecânicoanalógica (com a máquina), eletrônico
digital (com o conteúdo) e social. Como exemplo desta fusão, temos
a experiência da Piazza Virtuale, como veremos a seguir.
Assim, além
a lém da interativi
interatividadedade de tipo analógicom ecânica ecân ica e da da
pinteração
rc ionn a r social,
social
u m a n, ova
podemos
podem os dizerd equenteosranovos
media digitais vão pro-
poo rcio um ov a qua
q ualid
lidad
adee de iint e raçã
ção,
o, ou o qu
q u e ch
c h am a m o s hoje
ho je
de interatividade digital digital:: uma interação técnica de tipo eletrônicodi-
eletrônicod i-
gital
gital correspondendo
corresponde ndo à superação
superação do paradigma analógicom
analógicomecânico.
ecânico.
Comoo vimos, a revolução digi
Com digital
tal possibilita
possibilita o que chamamos
cham amos aquiaqui
de uma
um a terceira interati
interatividade,
vidade, a interatividade
interatividade de tipo eletrônicodigi-
tal. Podemos notar que a interatividade se situa em três níveis não
excludentes: técnico analógico mecânico, técnico eletrônicodigital e
social (ou simplesmen
simple smente te interação).
interação). A interatividade digital é um tipo de
relação tecnoso
tec nosocial
cial e, nesse sentido,
sentido, “um equipamento ou um pro gra
ma é dito
dito interativ
interativo
o quando
quan do seu utilizador
utilizador pode
po de modificar
mo dificar o compor-•
compor-•
• ANDRÉ LEMO
LEMOS
S 121
tam
ta m e nt
ntoo o u o d es
esen
enro larr ”242. A tecnologia digital
rola digital possibilita ao usuário
interagir,, nã
interagir nãoo mais apenas com o objeto (a máquina ou a ferramenta),
mas com a informação, isto é, com o conteúdo. Isso vale tanto para
uma emissão da televisão interativa digital, como para os ícones das
interfaces
interfaces gráficas dos microcomputadores, como vi vimos.
mos.
A interação homemtecnologia
home mtecnologia ttem em evoluído a cad cadaa ano no sen-
tido
tido de uma
um a relação mais ági ágill e confo
confortável.
rtável. Vivemos hoje a épo épocaca da
comunicação
comun icação planetária for fortement
tementee m marcada
arcada por uma interação com
as inform
infor m aç
açõe
ões,
s, ccujo
ujo áápice
pice é a rearealidad
lidadee virt
virtua
ual2
l24
43. A in
intera
terativid
tividad
adee
digital caminha para a superação das barreiras físicas entre os agen-
tes (homens e máquinas) e para uma interação cada vez maior do
usuário com as informações, e não com objetos. E por isso que
Manzine fala da interatividade digital como “...uma interatividade
cujo program a não está inscri to na form a físic a macroscópica do
inscrito
objeto,
objeto, m
masas se encontra gravado nos suportes eletrônicos (cuja fo r-
(cuja
.ma físic a escapa a nossa escal a de percepção ) ”244.
escala
Esta nova qualidade da interatividade (eletrônicodigital),
com os comp utadores e o ciberespaço, vai afetar de form a radiradical
cal
a relação entre o sujeito e o objeto na contemporaneidade. Se os
objetos
objet os (inter
(interati
atividade
vidade mecânicoanalógi
mecânicoanalógica) ca) reagem de forma pa s-
siva, como por exemplo a maçaneta de uma porta, o que para
Manzine caracteriza uma interação assimétrica, os novos objetos
eletrônicodigitaiss interagem
eletrônicodigitai interagem de forma atiativa
va (interação simétrica)
simétrica),,
num diálogo constan
c onstante
te entre agentes ((Laurel).
Laurel). O objeto físico trans-
formase em um objeto-quase-sujeito , uma form a de interlocutor
virtual (Manzine). Com a interatividade digital, afirma Manzine,
desm ateriali
aterializase
zase toda a rrelação
elação do sujeit
sujeito
o com o objeto, do ob je-
to com a natureza e da natureza com o objeto. A mesma
desmaterialização foi percebida por E. Couchot quando da sua
análise
an álise das
d as im
imagagen
enss de síntese
s íntese e da ssim
im ula çã
ção2
o2445.
A relação não é mais passiva ou representativa, ela tomase
ativa,, baseada no princípio da simulação,
ativa simulação, perm itiitindo
ndo até a comunic
com unica-a-
ção inteligente entre máquinas e objetos sem a mediação humana
(marcada por objetos inteligentes, agentes inteligentes, sistemas
exper
ex perts,
ts, etc.
etc.)2
)24
46. N a inter
interativ
ativida
idade
de eletrô
eletrônic
nicod
odigita
igitall (si
(simm étrica
étri ca para
Manzine), o objeto/informação
objeto/informação realiza uma perf performance
ormance e produz sig-
nificados
nificados com paráveis à art articulação
iculação de um diál
diálogo
ogo através d dee espaços
de negociação chamados
c hamados de int interfa
erfaces.
ces. A evolução dos media digitais
2 | CIBERCULTURA, TECNO
122
12 TECNOLOGIA
LOGIA E VIDA SOCIAL N A CULTURA CONTEM
CON TEMPOR
PORÂNEA
ÂNEA •
einfo
dasrmativa,
respectivas
informativa, podeinterfaces,
nos ajudarproporcionando
am
melhor a febre de
elhor compreender interatividade
a influência das
novas tecnologias e a importância da noção de interatividade para a
cibercultura contemporânea.
A interatividade, seja ela analógica ou digital, é baseada numa
ordem mental, simbólica
simbó lica e imaginária,
imaginária, que estrutura a própria relação
do homem com o mundo. O imaginári
imaginárioo alimenta
alimenta a nossa relação
relação com a
técnica e vai impregnar
imp regnar a própri
própriaa forma de concepção das interfaces
interfaces e
da interatividade. Daí
Da í a utilização de metáforas com
comoo form
formaa de interface.
interface.
É a interface que possibilita a interatividade, sendo uma “superfície
onde troca-se informações, mas também estrutura profunda onde se
organizam
organiz am o flu xo de inf
informações
ormações que entram e sae m.... ”247. Segundo
saem..
M. Heim, a interface
interface é “o ponto misterioso, não-material onde os
sinais eletrônicos transformam-se em info rmação. ”248
informação.
Internet.
Internet. O ciberespaço planetário
“In cyberspace,
leotard like tea one thereyou
is no need to
possess in move about
physical it in (...)
reality. has
Imagine has costume
costume party at which you adop
adoptt not merely
has new set of clothes, goal has new leotard, has new
voice,
voice, andin has very fundamental
fundamental and literal judicio
judicious
us
has id
iden
enttitityy new
n ew””JOT
A internet,
internet, um conjunto
c onjunto de redes
redes planetárias de base telem
telemática,
ática,
começa
com eça a se construir há mais
mais de trinta
trinta anos.
anos. A origem do que conh
conhe-e-
cemos hoje como com o internet surge
surge com a rede Arpanet, criada pelo de-
p a rt
pa rtaa m ento
en to d e d e fesa
fe sa d o s E U A dura
du rann te a g u e rr
rraa fr
fria
ia c o m o solu
so luçã
çãoo
paa ra a sse
p ss e g u rar
ra r a m anu
an u tenç
te nção
ão da
dass in
info
form
rmaçaçõe
õess vita
vi tais.
is. H o je,
je , a re
redd e de
redes está em proce processo
sso de popularização.
popularização.
A revolução do impresso, com a invenção de Gutenberg, reti-
rou os livros
livros do monopólio
m onopólio da Igrej
Igreja,
a, o telefone
telefone perm
permiti itiuu um
umaa comu-
com u-
nicação instantânea entre pessoas, a TV e o rádio levaram informa-
ções à distância para uma um a massa de espectadores. A internet cria, hoj hoje,
e,
uma revolução
revo lução sem precedent
precedentes es na história da humanidade.
hum anidade. Pela pri- p ri-
meira vez o homem pode trocar informações, sob as mais diversas
formas, de maneirama neira instantânea e pla planetári
netária.
a. A idéia de aldeia a ldeia global
(embora seja mais exato falarmos no plural) está se tomando uma
realidade.
reali dade. Hoje
Ho je as possibili
possibilidades
dades já são enormes: consultaco nsulta de bancosbancos••
• ANDRÉ LEMOS
LEMOS | 123
A histór
his tória
ia da gran
gr ande
de re
rede
de
• ANDRÉ LEMOS
LEMOS | 125
In tern
Inte rn e t R e la
layy Ch at,, ICQ, Gooey e outros que permitem o diálogo
Chat
em tem po real, sincrônico entr entree usuári
usuários.
os. Cad
Cadaa dia novas ferram
ferramentas
entas
midiáticas são sã o iincubada
ncubadass na Rede.
Um dos ins instrument
trumentos os mais int
interess
eressantes
antes são os chamados Agen-
tes Inteligentes.
Ag e nt
ntes
es
Os agentes inteli
inteligentes
gentes estão em franca expansão, ddesde
esde m áqui-
nas de busca
busc a que cruzam inf
informaçõ
ormaçõeses de diferentes servidores ao re-
dor do m undo, até progr
programas
amas particul
particulares
ares que efetuam ppesquisa
esquisa para
seus usuários.
usuários. O ex
excesso
cesso de informação obriga a construçã
construçãoo de dispo-
sitivos que possam auxiliar os usuários e aprender com seus costu-
mes. Passarem os, assim, a delegar a um agente inteligente eletrônico
LEMOS | 12
• ANDRÉ LEMOS 127
7
128 |CICIBERCUL
BERCULTURA,
TURA, TECNOLOGIA
TECNOLOG IA E VIDA SOCIAL N A CULTURA CON
CONTEMPO
TEMPORÂNEA
RÂNEA •
• ANDRÉ LEMOS
LEMOS | 129
p e d id
pe idoo s d e c o m p ra
ras,
s, o rde
rd e n a r in
info
form
rm a ç ã o no
noss jo r n a is e le
letr
trô
ô n ic
icoo s, fi
fil-
l-
trar discussões nas conferências eletrônicas, procurar uma música,
guiar em um serviço eletr eletrônico...
ônico...
Hipertextos
O hipertexto
h ipertexto mundial que é o ciber ciberespaço
espaço ffez ez com que os pro-
dutores
dutor es culturais mudassem sua suass formas de concepção dos conteúdos
de seus produtos. Assim, se com o broadcasting os produtores ti-
nham com o objetivo realizar uma programação que captasse a audi-
ência de forma homogênea, com os novos media digitais interativos o
que está
está em jog o é um metadesign, ou seja “o desi designgn de ferramentas,
pa
p a r â m e tro
tr o s e c o n d iç
içõõ e s d e o p e raçã
ra ção
o q ue p
pee r m it
itee m a o u s u á ri
rioo fi n a l
a taref
tarefa a de interativame
interativamente l”259. Este metadesign
nte fa z e r o design fi n a l”2
deixa livre
livre o util
utilizador
izador para que ele parti participe
cipe também do d o p rocesso de
concepção em processos hi hipert
pertextuai
extuaiss com um CD Rom ou os sit sites
es
na Web.
Web. E Estabelece
stabelecese, se, dessa forma, um processo não nãolinear
linear de co con-n-
cepção e de utili utilização
zação (i (interat
nteratividade)
ividade) dos conteúdos on de a realiza-
ção da obra, ou d a ação como diría Laurel Laurel,, é impossível sem o usuá usuá- -
rio. Se não interagirmos com os hipertextos, seja ele um site ou um
jo
j o g o e le
letr
trô
ô n ic
icoo , n a d a a cco
o n te
tecc e e a a ç ã o n ão se c o n crcree ti
tizz a . D if
ifer
eren
ente
te
ação (al(alguns
guns d diríam
iríam passiva) ocorr ocorree com o oss media clássicos, como a
TV ou o rádio, onde o usuário assiste o que passa na telinha ou ouve
o que é em emitiitido
do p elo rádirádio,
o, poporr exemplo
exemplo..
Os hipertextos, seja on-line (Web) ou off-line (CDRom), são
informações textuai textuais, s, combinadas com imagens (animad (animadas as ou fixas) e
sons, organ
or ganizad
izadas as de form a a p prom
rom ove
overr um
umaa leitura26
leitura260(ou nave navegaç gação)
ão)
nãolinear,
nãoli near, baseada em in indexações
dexações e associa associaçõesções de idéias e concei- c oncei-
tos, sob a forma de
cam inhoslinks.
que abrem caminhos pa
parara outras
Os links funcionam
iinformaçõe
nformações2 61como
s26 portastovirtuais
. 0 hipertex
hipertexto é uma
obra com várias entradas, onde o leitor/navegador escolhe seu per-
curso pelos links.
Com
Co m a navegaçã
navegação o hipe
hipertext
rtextual
ual ou hiperm
hipermidiát
idiática,
ica, problematizase a
relação entre autor
a utor e usuário, entre escritor e leit leitor
or.. Segu
Segundondo Ge
Geoige
oige Landow,
as publicações eletrônicas “prom prometem
etem pr produ
oduzir
zir efeitos na nossa
nos sa cult ura,
cultura,
partic
par ticula
ularm rmen
entete na literatur
literatura,a, na educação, na crítica e no ensino, tão
radicais
radic ais como aqueles produzidos pe pelolo tipo mó
móvelvel de Gutenberg ”26 ”262.
O pioneiro, ancestral dos hipertextos, é o M e m e x (Memory
130 | CI
CIBERCULT
BERCULTURA,
URA, TECNOLOGIA
TECNOLOG IA E VIDA SOCIAL
SOCIAL N A CULTURA CONTEMPO
CON TEMPORÂNEA
RÂNEA •
er ), inve
E xtee n d er),
Ext inventado
ntado po r Vannevar Bush, conselheiro de Rooseve Roosevelt, lt,
no texto A s We M a y T hink hi nk de 19 1945452263. 0 M emex, qu quee nun ca existiu na
realidade, seria uma espécie espé cie de arquivo ou bibliot biblioteca
eca pessoal, um dis-
po
p o si
siti
tiv
v o p a ra es
esto
toca
car,
r, in
indd e x a r e v is
isu
u a li
lizz a r in
info
form
rm a ç õ e s (i
(imm agé
ag é tic
ticas
as,,
sonoras, textuais). A criação do nome hipertexto é atribuída a Ted
Nel
N elso
son n eem
m 19 1965
65,, qu
quaa n d o es
este
te llaa n ça o ppro
rojejeto
to X an
anad
aduu 264. 0 h ip
ipee rt
rtee xt
xtoo
é pensado por Nelson como um media liter literário
ário onde, a pa rtir de tex-
tos,
to s, poderiamos abrir jane la e janelas de janelas dando sobre mais e
mais inform
informações.
ações.
Hoje a Web é um exemplo popular do hipertexto. Nesta parte
multimídia da internet,
internet, o usuário pode naveg navegar ar d
dee inform
informação ação em in-
formação, de site em sit
sitee (de paí
paíss em país), em tempo real, através de
interfaces (os browsers como Netscape
Ne tscape,, Explorer ou o ppioneiro
ioneiro Mo
saic).
saic). Não existe aqui nenhum percurso apriorísticamente determ ina-
do, configurandose, assim, como um sistema desprovido
desprov ido de lineari-
dade265, próximo de uma ciber Jlânerie, como veremos adiante.
No
N o h ip
ipee rt
rtee x to di
digigita
tal,
l, com
co m o C D RRoo m ou a WeWeb, b, p o d e m o s n a-
vegar sem que aquele que o concebeu tenha o poder de determ inar o
perc
pe rcu
u rso
rs o (g
(guu a rd
rdanand d o cclar
laro,
o, os lim
l imite
itess de
d e opç
o pçõe
õess da
dadd a s)
s).. D e ss
ssaa fo
form
rma,
a,
• ANDRÉ LEMOS
LEMOS | 131
xão imediatamen
imed iatamente
te disponí
disponível.
vel. No caso do li livro,
vro, o leitor deve buscar
a referência, procurar
procura r numa bib
bibli
lioteca
oteca,, ach
achar
ar a correlação procurada.
N o c ib
No ibee re
resp
spaa ç o p a ss
ssam
am o s de rerefe
ferê
rênn cia
ci a s e m rerefe
ferê
rên
n c ia
ias,
s, d e se
servrvid
idoor
em servidor, de país em país com um simples click d o mouse, sem
saber onde começa e onde termina o processo. Como afirmava
McLuhan,
McL uhan, Gutenb
Gutenberg erg nos fez leitor
leitores,
es, a máquina Xerox nos fez edito-
res e a eletrô
e letrônic
nicaa e os ccomomputado
putadoresres em rede nos faz fazem
em auto
autores2
res2668.
Nes
N esse
se hipe
hi perte
rtextxtoo pl
plan
anet
etár
ário
io que
qu e é o ccib iber
eres
espa
paço
ço a prprát
átic
icaa do e s-
paço
pa ço ta
tam m bé
bém m é muit
m uitoo int
inter
eress
essan
ante.
te. N es
esse
se sen
sentid
tido,
o, po
pode
dem m os a p ro
roxixim
m ar
a fl
flââ n e r ie p
pelo
elo espaço urbano da navegação hipertextual. A prática do
cibemauta é muit
m uito
o próxima da fl
flââ n e r ie descrita por Baudelaire no sé-
culo XIX. Tratase, em ambos os prprocessos,
ocessos, de um rearran
rearranjo
jo do espaço
através de um modelo de conexão generalizada, descentralizada e cujo
pont
po nto
o de p a rt
rtid
idaa é co
cons
nsta
tant
ntem
emen
ente
te de
deslo
sloca
cado
do e atua
at uali
liza
zado
do atra
at ravé
véss de
uma atividade
a tividade de errância
errância.. Conform
Conformee mostra Rosell
Rosello:o: “eu g gosta ria de
ostaria
convencerr que pe nsa r sobr
convence sobree hipertext
hipertextos
os não é difdiferente
erente de pe ns nsarar so
bre nacionalismo, cultura, gênero, ou contar estórias, porque o
hipertexto
hiperte xto sem
semprepre co
coloca
loca uuma
ma redefinição entre corpo e eesp spaa ço "2
"2((fí.
Tecnicamente o hipertexto é uma forma de organização da in-
formação possibilitada pelos avanços da informática, traduzindose
em um co njunto de nós, li ligado
gado por conexõe
conexões, s, permiti
perm itindo
ndo a explora-
ção através de um processo de ‘leituranavegação’ nãolinear e
assoc
ass ociativo
iativo,, de
desce
scentra
ntraliza
lizado
do e rizom
rizomátic
ático2
o27
70. Aqui, ins
instala
talase
se uuma
ma se
qüência
qüên cia de processos interativos
interativos e criati
criativos
vos advindos das po possibili-
ssibili-
dades de tradução, transformação e passagens através de conexões
múltiplas em velocidade.
velocidade. Longe
L onge de ser apenas um novo suporte sup orte técni-
co para a informação, os hipe hipertex
rtextos
tos problematizam as formas d dee co
con- n-
ceber a produção e apreensão da informação e do conhecimento, ao
mesm
me smo o tem
tempopo q que
ue u um
m rea
rearran
rranjam jamento
ento do esp espaç
aço2o2771.
Land
La ndowow 272 vai além,
além , res
ressalta
saltando
ndo qu quee os hipe
hipertex
rtextos
tos são u umm a es-
péé cie
p ci e d
dee la
labb o ra
rató
tóri
rio
o on
ond d e as hihipópóte
tese
sess llee va
vant
ntad
adasas e susust
stee n ta
tadd as te
teoo ri
ri--
camente
cam ente pelos pósestruturalistas poderíam sser er testadas. Os hipertextos
perm
pe rm it
itee m o q quu e st
stio
ion
n a m e n to do p ensa
en sam m e n to lologg o c ên
êntr
tric
ico
o o cid
ci d en
enta
tall e
afirmam as idéias de Barthes, Derrida e Foucault sobre a falência falên cia dos
significado
signific adoss de m margargem
em,, hhierar
ierarquia
quia e line
linearida
aridade2
de27 73.
O hipertexto
h ipertexto seriseria,
a, em outros ttermos,
ermos, um modo de con concebe
ceberr como
pensa
pe nsamomoss e organ
organizaizamo
moss o pen
pensame
samento.
nto. PaPara ra Land
Landow,ow, “...devemos aba aban n
donar
don ar sis
sistemas
temas co conceptuais
nceptuais fun funda dado
doss nas idéi idéias
as de margem, hierar hierar--
2 CIBER
132
13 CIBERCUL
CULTU.
TU.RA,
RA, TECNO
TECNOLOGIA
LOGIA E VIDA SOCIAL NA CULTURA CON
CONTEM
TEMPORÂ
PORÂNEA
NEA •
quia,
quia, e linearidade e substituí-los p o r outros de m
multil
ultilinearidade, nós,,
inearidade, nós
links e redes
redes.. Qua
Quasese todos os estudiosos desta mu mudanç
dançaa de paradigm
paradigma, a,
que marea um a rev revolução
olução no pensam
pensamento
ento humano
humano,, percebem a escri ta
escrita
eletrônica
eletr ônica como uma res respos
posta
ta para as for ça s e fraq ue
uezas
zas do li
livro
vro im
prr e s s o ”274. Landow trat
p trataa o hipert
hipertexto
exto como umumaa estrutura sem centcentro.
ro.
O ponto do espaço esp aço tido como central (ou de partida) é constantemen
constantemente te
atualizado,
atuali zado, sensendo
do permanentemen
permanentemente te deslocado. Dito de outra forma, o
hipertexto é um sinônimo de rede. rede.
A rede hipertextual instaurase como um modelo de conexão
escrever
escre
turas.ver
O percursos além
andar do flâ dos
do s textos
textos construídos
construídos por suas macroestru
m acroestru
n e u r é, assim, ato de tomar posse, de márcar
simbolicamente
simbo licamente o espaço.
Tratase mesmo de apropriações silenciosas, minúsculas e ba-
nais do quotidiano,
quotidiano , de práticas de subversão intersticial, de possibili-
dades de se locomover
locom over escrevendo
escrevendo pequenas
pequenas histórihistórias as forma de apro-
pri
p riaa ç ão qu
q u e De
D e Cer
C erteteaa u cha
c ham
m o u ddee in
inve
venç nção
ão do d o quo
qu o tid
ti d ian
ia n o 276. A ssim
ss im,,
a partir destes gestos, o flâ n e u r e o cib c ibee r flâ
flân n e u r estariam, certamen-
te, imprimindo
imp rimindo traços, deixando deixando marcas (não é à toa toa que somos caça-
dos pelas impressões
im pressões eletrônicas
eletrônicas que deixamos na Web, nos cartões
eletrônicos, nos celulares, etc.). etc.). Longe de uma u ma simples consuma co nsumação ção
pass
pa ssivivaa d os e spa
sp a ç o s (urb
(u rban
anoo ou cibe
ci ber)r),, e sta
st a ríam
rí amoo s d ian
ia n te d e p roc
ro c e s-
sos de sedução, de desvio. Tanto a cidade como os hipertextos são
(des)organizados pela marca ma rca (escrita)
(escrita) nãolinear
nãolinear,, ind indexada
exada a associa-
ções as mais diversas. Aqui A qui o mapa
m apa não é o territó território
rio..
Os links, ou lexias como propôs Barthes, são obviamente de-
pend
pe nden ente
tess d e e stru
st rutu
tura
rass prév
pr évia
ias.
s. N o enentatant
nto,
o, esta
es tass e stru
st rutu
tura
rass n ã o são
sã o
totalmente determinantes. Como mostra Rosello, “quem observa o
flân
flâ n e u r ( ...
...)) tem qu
quee p pee n sa r a re
relaç
laçãã o en
entre
tre o c o rp
rpoo d o via
viaja
jann te e o
mapa
m apa,, m as tam bé bémm o sstatatutuss do m apa cocomm o uma rerenn d içã
ição o m eta
etafófóric a
rica
do
d o es
espp a ço
ço:: o c o rp
rpo o d o flân
flâneueur,
r, qu
quee nã
não o se
segu
guee uma ro rotata ou inven ta
inv enta
nov
n ovos
os ca
camm inhinhos
os p a r a um vvelhelhoo de
destin
stino,
o, tam
também
bém su
sub b v e rte a v isã o d
doo
espaço
espa ço como uma nave vazia, um mero
mero receptácul
receptáculo
o neutro
neutro da rede ” 27
277.
7.
134
134 | C1BER
C1BERCUL
CULTUR
TURA,
A, TECNOLOGIA E VI
VIDA
DA SOCIAL NA CULTURA CONTEMPORÂNEA
CONTEM PORÂNEA •
p ia,, f u n d a d a a n te
pia tess e m m u lt
lti
ipp er
erso
sona
nalid
lidad
adeses,, e m c o m u n id
idaa d e s s em
p ro
roxx im id
idad
adee e a tutuan
ando
do p o r id
iden
entif
tific
icaç
açõe
õess eefê
fêmm er
eras
as e suce
su cess
ssiv
ivas
as,, exa-
ex a-
p rox
pro x im id
idad
adee e a tu
tuan
ando
do p o r id
iden
entif
tific
icaç
açõe
õess eefê
fêmm er
eras
as e suce
su cess
ssiv
ivas
as,, exa
ex a
cerbase
cerb ase a pparti
artirr dos flux
fluxos
os virtualizantes2
virtualizantes27 78. D a m
mesm
esm a fo
forma
rma,, a di-
mensão de nãolugar do cibere ciberespaço,
spaço, consti
constituítuída
da a partir das caracte-
rísticas
rísticas co
combina
mbinadas das de aterri
aterritorial
torialidade,
idade, imateriali
imaterialidade,
dade, instantaneidade
e interatividade,
interatividade, circunscreve a analogia entre as metrópoles m etrópoles concretas
e as megacidades de bits.•
• ANDRÉ LEMOS
LEMOS | 135
135
C a p í t u l o II
A S E S T R U T U R A S A N T R O P O L Ó G I C A S D O C I B E R E S P A Ç O
O ciberespaço
ciberespaç o se encontra preso em estrut
estruturas
uras arcaicas, im agi-
nárias e simbólicas
simbólicas de toda vid
vidaa em socied
sociedade.
ade. Devemo
De vemos, s, assim, es-
clarecer
clare cer o con
conceito
ceito de ciberespaço sob a lluz
uz do herme
hermetismo,
tismo, da gnose,
dos ritos
ritos de passagem , do tempo realreal,, do espaço imag
imaginário
inário e da m me- e-
táfora evolucionista
evolucion ista e organici
organicista
sta da noosfer
noosfera,
a, do cybionte, d daa inteli-
gência coletiva e do rizoma.
O termo ciberespaço aparece quot quotidianamente
idianamente na im prensa e
nas discussões sobre as novas tecnologias de informação. Temos
uma idéia do ciberespaço como o conjunto de redes de telecomu ni-
cações criadas com o processo digital de circulação das informa-
ções. John Perry B arlow (um dos ffundadores
undadores da E Ele
le c tr
troo n ic F r o n ti
tiee r
Foundation), por exemplo, define o ciberespaço como o lugar em
que nos en contramos quando fal falamos
amos ao telef
telefone.
one. Se esta definição
nos dá uma imagem do que venha a ser o ciberespaço, ciberespaço, ela não ajuda
a com preen
preendermderm os todas as sua suass facetas.
facetas. Toda a econom ia, a cultu-
ra, o saber,
saber, a política do século XXI, vão passar (e já estão pa ssan-
do) por um p rocesso de negoci negociação,ação, dist
distorção,
orção, apropriação a partir
da nova dimensão espaçotemporal de comunicação e informação
pla
p lan
n e tá
tári
riaa s q u e é o c ib
ibee re
ress p a ç o .
O termo ciberespaço foi inventado pel peloo escritor cyberpunk de
ficção científica William Gibson no seu monumental Neuromancer, N euromancer, de
198428° p ara Gibson, o ciberespaço é um espaç espaço o não fí
físico
sico ou terri
territorial
torial
composto por um conjunto de redes de computadores através das
quais todas as informações (sob as suas mai maiss diversas formas)
form as) circu
circu--
lam. O ciberespaço gibsoniano é uma “alucinação consensual”. A
M atrix2
atrix28
81, com o ch
cham
am a G
Gibson,
ibson, é a mãe, o úte
útero
ro d
daa civiliz
civilizaçã
ação
o pós
136 | CI
CIBERCUL
BERCULTURA,
TURA, TECNOLOGIA E VIDA SOCIA
SOCIALL NA CULTURA CONTEMPORÂNEA
CONTEM PORÂNEA •
industrial onde
o nde os cibem auta
autass vã
vãoo pen
penetrar2
etrar2882. Ela sserá
erá ppov
ovoaoadada pelas
mais diversas tribos, onde os cowboys do ciberespaço circulam em
bu
b u sc
scaa de in
info
form
rm açõe
aç ões.
s. A M at
atri
rix
xddee G
Gib
ibso
son,
n, co
com m o tto
o d a a ssu
u a ob
obra
ra,, fa
fazz
uma caricatura
carica tura do real, do quotidiano.
quotidiano.
Podemos
Podem os en
entender
tender o ci
ciberespaç
berespaço o à luz de duas perspect
perspectivas:
ivas: com
como o
o lugar onde estamos quando entramos num ambiente simulado (real (realida-
ida-
de virtual)
virtual),, e como o conjunto de redes de co computadores,
mputadores, int interligadas
erligadas ou
não, em todo o planeta, a internet. Estamos caminhando para uma
interligaç
inter ligação
ão total das duas concepções do ciberespaço pois as redes vão
se interligar
interligar entr
entree si e, ao mesmo tempo, permitir a interação por mundos
virtuais em três dimensões. O ciberespaço é, assim, uma entidade real,
partee vita
part vitall d a cib
ciber
ercu
cultu
ltura
ra pla
planet
netári
áriaa que
qu e es
está
tá cre
cresc
scen
endo
do sosobb os nos
nossossos
olhos
olhos.. Ele nãnão o é desconectado da realida
realidade,
de, mas um com complexificador
plexificador do
real.. Com
real Como o afirm
afirmaa K Kellogg2
ellogg2883, ele au
aumen
mentata a realidade, j á qu quee supre o
espaço físico
físico em três dimensões de uma no nova
va camad
camadaa el
eletrôni
etrônica.
ca. No lu-
gar de um espaço fechado, desli desligado
gado do mundo real, o ciberespa
ciberespaço ço cola-
bora
bo ra pa
para
ra a ccria
riaçã
çãooddee u
umm a “re
“realid
alidade
ade aaum
umenentad
tada”
a”..
O ciberespaço
ciberespaç o é concebido como um espa espaço ço transnacional onde
o corpo é suspenso pela abolição do espaço e pelas p rs o n a s que
pee rso
entram em jogo nos mais diversos meios de sociabilização como os
BBS, os M UD UDs, s, ou o Minitel franfrancês2
cês28 84. Ass
Assimim se
sendo
ndo,, o cib
cibere
erespa
spaço ço é
um nãolugar,
nãolugar, um umaa u-topia onde devemos
devem os repensar
repen sar a signif
significação
icação sen
sorial
sor ial de no
nossa
ssa civil
civilização
ização babaseada
seada em informações digitais, coleti coletivas vas
e imediatas.
imediatas. Ele é um espaço imaginário, um enorm enormee hipertexto pla-
netár
ne tário2
io2885, co
comm o vim
vimosos anterio
an teriormrment
ente.
e.
Os novos meios de comunicação que coletam, manipulam, es-
tocam,
toca m, sim
simulam
ulam e transmitem os fluxos de informação criam um umaa nova
camadaa que vem a se sobrepor aos fluxos
camad fluxos materiai
materiaiss que estamos
estam os acoacos-
s-
tumados a receber. O ciberespaço é um espaço sem dimensões, um
universo de informações navegável de forma instantânea e reversí reversível.
vel.
Ele é, dessa forma, um espaço m mágico
ágico,, caracterizado pela ubiqüi ubiqüidade,
dade,
pelo
pe lo te
temm p o re
real
al e p el
eloo eesp
spaa ç o nã
não
ofís
físic
ico.
o. E stes
st es e le
lemm e n to
toss sã
sãoo c arac-
terísticos
terísticos da mag
magiaia como manipulação do mundo.
Depois da modernidade
m odernidade que controlou,
controlou, manipulou
manipu lou e organizou
o espaço físico,
físico, estamos diante d dee um proce
processo sso de desm
desmaterialização
aterialização
(pósmoderna) do mundo. O ciberespaço faz parte do processo de
desmaterialização do espaço e de instantaneidade temporal contem-
porâ
po rân
n eo
eos,
s, a pó
póss do
dois
is sé
sécc ulos
ul os de in
indd u st
stri
riaa liz
lizaç
ação
ão m o d e rn
rnaa q
quu e in
insi
sist
stiu
iu••
137
• ANDRÉ LEMOS
EMOS
138 | CIBERCULTURA,
CIBERCULTURA, TECNOLOGIA
TECNOLO GIA E VIDA SOCIAL
SOCIAL N A CULTURA CON
CONTEMPO
TEMPORÂN
RÂNEA
EA •
• ANDRÉ LE
LEMOS
MOS | 139
140 | CIBERCULTURA,
CIBERCULTURA, TECNOLOGIA E VIDA SOCIAL
SOCIAL N A CULTURA CONTEMPO
CON TEMPORÂNEA
RÂNEA •
N ã o e st
Nã staa re
remm o s e x a g e ra
rann d o se a fi
firm
rmaa rm
rmos
os qu
que,
e, c o m o ad
advv e n to d a
cibercultura,
cibercul tura, a cultura conte contemporânea
mporânea se coloca perante
pe rante um a veverda-
rda-
deira “infognose”,
“infognose” , um rito de passagem em direção à desma desmaterialização
terialização
da sociedade pósindustrial.
Ritos de passagem
indivíduo ou grupo, a mudança mu dança para um outro estado, seja ele biológi-
co ou social. Estes ritos fazem parte de um processo de iniciação
(nascimento, casamento, morte, mudança de estação, etc.) criados
com o objetivo de preservar
preserva r uma certa continuidade espaço espaçotemporal
temporal
e simbólica de um determinado corpo soci socialal.. C
Com
omo o um lugar de pas-
sagem, os ritos ritos se caracterizam por um espaço sim simbólico
bólico intermed
intermediá- iá-
rio, através do qual um indivíduo ou grupo se (re)integra à globalidade globalidad e
da vida socisocial.
al. O ciberespaço deve ser compreendido ccom omo o um rito de
paa ss
p ssaa g e m d a eera
ra in
indd ustr
us tria
iall à pós
p ósi
in
n du
dust
stri
riaa l, d a m o d e rn
rnid
idaa d e d os á to
to--
mos à pósmodernidade dos bits, como diría Negroponte.
Existem
Existe m várias si similaridades
milaridades entre as est estruturas
ruturas dos ritos de pas pas- -
sagem e os mecanismos
m ecanismos simból
simbólicos
icos do ciberespaç
ciberespaço. o. O ato de se conectar
ao ciberespaço sugere versões dos ritos ritos de agregação
agregaç ão e de separação,
onde a tela do monitor possibilita a passagem a um outro mundo. A
tela é a fronteira entre o individual e o coleti coletivo, vo, eentre
ntre o orgânico e o
artifici
arti ficial,
al, entre o corpo e o esp espíri
írito.
to. O ciberespaço é o espaço simbó- simbó -
lico onde se realizam, todos os dias, ritos de passagem do espaço
físico e analógico ao espaço digital sem fronteiras. Conectarse ao•
ao •
• A N D R É L E M O S | 141
uma entidade
en tidade ab
abstrata,
strata, efervescen
efervescente
te e vita
vitalist
lista.
a.
Tempo, espaço e híerofania de dados
O ciberespaço
c iberespaço é hoje o lugar pr privi
ivilegi
legiado
ado para o bservarmos o
reencantamento da tecnologia. Como todo espaço sagrado, o
ciberespaço acolhe um tempo também diferenciado,
diferenciado, qualitati
qualitativam
vamente
ente
outro, sendo um lugar de hierofanias. Assim, como ciberespaço é o
nome do novo espaço sagra sagrado
do contemporâneo, ttempo empo real é o nome
desta nova temporalidade. Podemos utilizar, aqui, os trabalhos do
mitólogo
mitólog o ro
rom
m eno
en o M ircea E liade
liade3300 para m ostrar o para
paralelo
lelo en
entre
tre o
ciberespaço
ciberesp aço e o esp
espaçotem
açotempo
po sagrado e rit ritualístico
ualístico do mito.
Com o toda hierofania, conectarse ao ciberespa
ciberespaço
ço é ter a expe-
riência de uma revelação de um outro mundo, de uma irrupção do
sagrado em plena
p lena luz do quotidiano. Isto não significa algo de sobre-
so bre-
natural ou esotérico, m mas
as a comprovação da vivência, da experiência
estética da vida. O ciberespaço proporciona aos usuários uma form formaa
de tempo e espaço diferenciados através de artefatos tecnológicos
digitais. Com os computadores experimentamos, na banalidade do
142 C IIB
B E R C U L T U R A , T E C N O L O G I A E V I D A S O C IA
IA L N A C U L T U R A C O N T E M P O R Â N E A •
pe oainda
po r exempoplo.
pode
ex empldeo.estar sendo visto
visto em tempo real por alguém eem
m Kosov
Kosovo,
o,
A hierofania aparece pela absorção. Passamos horas a fio
conectados
conec tados sem
se m nos darmos
darm os cont
conta.
a. Esta prática ligase
ligase ao antiqufssimo
desejo
dese jo de ubiqíiidade,
ubiqíiidade, acessando a consciência planetária. planetária. Não Nã o é exa-
exa -
gero afirmar
a firmar que, no ciberespaço,
ciberespaço, temos o sentimento de participar-
mos de uma um a manifest
manifestação
ação do sagrado,
sagrado, de aderirmos
aderirmos a uma u ma outra rea-
lidade, a um u m espaço
espaç o distinto daquele por po r onde circu
c irculam
lamos3
os3001, sem falar
no potencial para pa ra futuros desenvolvimentos
desenvolvim entos da realidade
realidad e virtual.
virtual.
Corroborando este sentimentsentimentoo de hierofania,
hierofania, o tempo real (aces-
so instantâ
instantâneo,
neo, como todo todo toque de uma “varinha de condão”) cond ão”) é simi-
lar ao temp
tempoo sagrado, circular e reversível,
reversível, descrito
de scrito porpo r Eliade comocom o
pre
p rese
senn te na e st
stru
rutu
tura
ra do mito.
mi to. O tem
te m p o sag
sa g rad
ra d o d o m ito
it o é u m tem
te m po
repetitivo que fixa determinada
determinad a memória
mem ória coletiva;
coletiva; e ele é reversível,
pois
po is o p a ssa
ss a d o é a fon
fo n te do sab
sa b e r n a p re
repp a raç
ra ç ã o d o p rese
re senn te e do
futuro. Ele atualiza o ilo íempore, o tempo primordial, de onde tudo
veio à existência. O tempo sagrado do mito302, assim como o tempo
real do ciberespaço, não é o tempo linear e progressivo da história,
mas o tempo de conexões, aqui e agora,
agora, um tempo presenteísta,
presen teísta, cor-
co r-
respondente
respond ente ao presenteísmo social contemporâneo.
Circular pela Web,
Web, participar
participar dos MUDs,
MUD s, recomeça
reco meçarr um jogo
eletrônico ou um CD Rom, perderse
p erderse nos links
links dos hipertextos como
um ciberflâneur, voltar várias vezes à homepage preferida,
prefe rida, etc., tudo
istoo faz do tempo real do ciberespaço um tempo especial que impreg-
ist
na toda a cultura contemporânea. O tempo real da informática é
correlat
correlato
trando, omais
ao tempo presenteís
prese
um a vez,
uma a nteísta
ta dadasociedade
essência socied ade tura:
contemporânea,
contemp
cibercultura:
cibercul imorânea,
bricaçãoencon
a imbricaçãoencon-
entre-
uma socialidade contemporânea
contem porânea e as as máquinas do ciberespaço. Hoje,
Hoje,••
• A N D R É L E M O S 143
os computadores
comp utadores pessoai
pessoaiss são cada vez menos “pessoais” e cada
cad a vez
mais com
computad
putadores
ores coletivos, máquinas de conexão.
Após termos visto o ciberespaço como um espaço gnóstico e
hermético, dotado de um tempo e de um espaço sagrados, represen-
tando o rito de passagem da tecnocul
tecnocultur
turaa mode
moderna
rna à cibercultura con-
temporânea, veremos o ciberespaço
ciberespaço como umumaa nova cama
camada
da do pla-
neta (noosfera ) e como um novo organismo complexo,
comp lexo, o Cibionte. O
ciberespaço pode ser visto à luz da teoria de Theillard de Chardin,
elaborada na década de 50. A expansão da Noosfera se traduz pela
formação
forma ção de um organism
organismoo rederi
rederizomático
zomático e autoorganizan
autoorganizante,
te, ou o
que o biólogo Joel de Rosnay chama de Cybionte.
N o se
No seuuFFee n ô m e n o HHu
u m a no
no3303, T he
heill
illar
arddd
dee Ch
Chaa rd
rdin
in co
conn sid
si d e ra a
evolução hum ana em termos intelectuai intelectuaiss e espirit
espirituais.
uais. Segu
Segundondo o pa-
dre jesuíta, no m mundo
undo físico exist
existem
em duas energias: uma um a energia radiradial al
(correspondente
(correspon dente ao con conceito
ceito de força newtoniana de causa e efeito) e
uma energia tangencial (que vem de dentro, de onde o divino apare-
ce).. E
ce) Esta
sta ene
energia
rgia tangencial seri seriaa de três ní níveis
veis:: p révida (os objetos
inanimados),
inanimado s), vida (os ser seres
es vivos) e consciênc
consciência ia (os hom
homens).
ens). A pré
vida correspon
corresponde de à formação da matéria inor inorgânic
gânica,a, a vida correspon
corresponde de
ao aparecimento
aparecimen to da matéria orgânica e a consciência ao aparecimen aparecimento to
do homem e, consequen
consequentemente,
temente, do pensamento reflexivo.
Camadas
Cam adas sucessivas vão ssee empilhando umas sobre as as o
ouu tra
tr a s : o
mundo mineral, o mundo ani animal
mal e o mundo da consciência.
consciência. A cama camada da
da consciência, Chardin chama de Noosfera. Como explica Chardin,
"estende-se desde então sobre o mundo das plantas e dos animais;
fo
f o r a e aci
a cimm a da biosfera
bios fera,, uma sf e r a " 304. A Noosfera é a rede invi-
um a N o o sfe
sível
sív el da consc
consciência
iência hum
humana ana que, virtualmente, eng engloba
loba todo o planeta.
Noo
N oosfsfer
eraa vem d dee no
noog
ogên
ênes
ese,e, ou mais
ma is pre
precis
cisamamen ente,
te, o de
dese
senv
nvololvi
vim
m en
ento
to
ou evolução do espírito. A Noosfera é uma membrana onde "a Terra
fa
f a z uma
um a n ova
ov a pele.
pe le. M e lho
lh o r ainda,
ainda , ela enco
en contrntra a sua
su a a lm a " 305.
O ciberespaço pode ser visto na metáfora da Noosfera. Uma
camad a da consciênc
camada consciênciaia humana digi
digital
talizada,
izada, na medida em que ele é a
“pele” abstrata e invisí
nvisível
vel pela qual circulam dados, com o espectros e
fantasmas digitais. Este ciberespaçoN
ciberespaçoNoosfera
oosfera está em via de expan -
são planetária como um tipo de consciência global. Isso nos leva à
144 | C IB
144 I B E R C U L T U R A , T E C N O L O G I A E V I D A S O C IA
IA L N A C U L T U R A C O N T E M P O R Â N E A •
OSS | 145
• A N D R É LE M O
os
casorizomas nã o têm eixo
das ramificações genéti
genético co como
arborescentes. Elesestrutur
estrutura
não nos am estr
estra,
dão aa,imagem
com
como o édeo
j uma hierarquia superior
su perior e determinante de um sistema centrali centralizado.
zado. O
modelo da árvore dominou, segundo os filósofos franceses, todo o
pen
p ensa
sam
m en
ento to o
ocicide
dentntal
al.. A cr
cris
isee da m
mod
oder
erni
nida
dade
de o
obr
brigiga
ann os a ffaa z e r c om
!que o modelo de árvore ceda lugar ao ri rizoma,
zoma, que p ulsa lat lateralmente,
eralmente,
j sem
se m c o n tr
troo le e s em e ix ixoo gera
ge radodor,
r, e q u e se e sp
spaa lh
lhaa h o ri
rizz o n ta
talm
lm e n te
jcom
jc omo o os ca
can n a is d e A m stster
erdã
dã..
O ciberespaço
ciberespaç o é um ambiente mediático, mediático, como um a incubado incubadora ra
de ferramentas de comunicação, logo logo,, como uma estrutura rizomáti-
ca, descentralizada,
descentralizada , conectan conectando do pontos ordinários
ordinários,, criando territterritoria
oria
lização e desterritorialização sucessivas. O ciberespaço não tem um
controle centralizado, multiplicandose
multiplicandose de forma form a anárquica
anárqu ica e extensa,
desordenadamente, a partir de conexões múltiplas e diferenciadas,
pee rm it
p itin
indd o a g re
reg g a ç õ e s o rd
rdin
ináá ri
rias
as,, po
p o n to a p
poo nt
nto,
o, fo
form
rm a n d o c o m u n i-
d a d es3
es 312 o rd
rdin
ináá ri
riaa s ( quelconquesm ). As conexões do ciberesp ciberespaço,
aço, as-
sim como aquelasaq uelas dos rizomas, modificam m odificam ssuas uas estruturas,
estruturas, carac
caracteri-
teri-
zandose como
com o sistemas
sistemas com
complexos
plexos e autoor
autoorganizantes.
ganizantes. Com o expli-
ca Deleuze e Guattar
Guattari,
i, a árvo rejm põe o ss£
£i^
i^oo rizom ao ^ e , e, e,.„” . Aí
está toda a força socia
sociall do ciberes
ciberespaço
paço como ambiente de co comp
mparti-
arti-
lhamento estéticocomunitári
estéticocomu nitário.
o.
146 | C IB
I B E R C U L T U R A , T E C N O L O G I A E V I D A S O C IA
IA L N A C U L T U R A C O N T E M P O R Â N E A <
As
A s red
redes
es infor
informm ática
áticassc
com
om o a
amm bie
biente
nte de pa
partilha
rtilha
Para podermos
poderm os entrar na análi análise
se das comunidades virtuais
virtuais como
forma paradigmática
paradigm ática da socialidade
socialidade na cibercultura, teremos que avali-
ar a estrutura dessa máquina de compartilhamento
compartilhamento que é o ciberespaço
ciberespaço,,
já
j á qu
quee a rev
r evo
o lu
luçç ão d
das
as re
rede
dess te
tele
lem
m át
átic
icas
as pa
pare
rece
ce se
serr “um
umaa rev olução da
revolução
mesm
me smaa dim
dimenensã
são o da revo
revolução
lução da im impr
pren
ensa ”31*. Esta revolução vai
sa”
afetar o conhecimento e o modo de transmitir, estocar e produzir a
informação, complexificando
com plexificando as trocas comunicativas e ab abalando
alando a es-
trutura centralizado
centralizadora ra dos mass media. N No
o entanto, a idéia
idéia de redes não
é nova e deve muito aos trabalhos de Saint Simon em pleno século
XIX315. Hoje, red
XIX31 redee significa um
umaa estrutura telem
telemática
ática ligad
ligadaa a cconceitos
onceitos
como interati
interatividade,
vidade, simul
simultaneidade,
taneidade, circulação e tactilidade.
As redes telemáticas foram invadidas, e o termo não parece ser
muito forte, pelo vitalismo social global
global que pene
penetrou
trou tod
todaa a iinfraestru-
nfraestru-
tura tecnológica contemporânea. Aqui, como vimos, as interações são
cada vez mais ligadas à comunicação como um jog jogo,
o, próximo
p róximo da intinterface
erface
teatral
teatral de B. Laur
Laurel
el e da socialidade de Maífesoli
Maífesoli.. N
Neste
este sentido, os usuári-
os são, na realidade, atores, agentes, pe
pers
rson as,, e o desenvolvimento do
onas
jog
jo g o sóOpe perte
rtenc
ncee à ev
ciberespaço evolu
oluçãção
é, comoo aauto
utoor
organ
vimos
vimos, ganiza
izante
, um nte do pró
própr
ecossistema prioiocom
sistema.
sistem
complexo
plexo a. onde
reina a interdependência entre o macrosistema tecnológico (a rede
de máquinas interligadas) e o microsistema social (a dinâmica dos
usuários),
usuários ), contruindose pe pela
la disseminação
disseminação da informação, pelo flux fluxo o
de dados e pelas relações sociais aí criad criadas.
as. EEm
m op
oposição
osição a um siste-
ma hierarquicamente fechado, o ciberespaço cria, pelas comunica-
ções multidirecionais, pela circulação dos espectros virtuais, um sis-
tema complexo onde o desenvolvi desenvolvimentomento do jog o com unicatiunicativo vo não
pee rt
p rtee n c e a u m a e nt
ntid
idaa d e c en
entr
tral
al,, ma
mass a es
este
te or
orgg a n ism
is m o r
ree d e . P o d e -
mos notar,
notar, na práti
práticaca daquilo que ssee convencionou ch am amarar de comucomu- -
nidade virtual, uma um a certa efervescência micropolítica, diária, dirigida
aos problem
problemas
as do dia o di
dia.
a.
Como em toda a história dos media, uma tecnologia não se
onde
p
pr atoprática
r e v is
isto lass foi
p e la e st
strucomp
ru tu rasslet
tura letamente
teamente
tecc n o c rá transformada
ráti
tic
c a s d o s la
labb opo r desvios
r a tó
tórr io noleuso
ioss d e te co -
municação france franceses.ses.
A estrutura fria fria e apolínea da rede de máquinas informacionais
será transform
transform ada pelas práticas subterr subterrâneas
âneas e banais, que pa passam
ssam a
estruturar
estrutu rar a vida quotidiana no ciberespaço. Vemos que as no novas
vas re-
des telemáticas agem, menos como fator de isolamento ou
hom ogen
ogeneização
eização social
social,, do que como vetores de tactil tactilidade
idade e de pro-
ximida
xim idadede gre
gregária
gária.. Talve
Talvezz a fó fórmrmulaula de N aisb
aisbitt1
itt117 “high-tech, high- high-
touch ” ” seja uma b boaoa síntese da cibercult
cibercultura. ura.
Agreg
Ag regaç
açõe
ões
s eletrô
ele trôn
n ica
icass e com unidad
un idades
es virtu
virtuais
ais
here
too much unfound
I say I wish I had words to tell you
I wish I ccould
ould make aliali o
off you understand her
but I don’t
don’t have w words
ords
but words are ali
ali I h
have
ave
but I have nothing”1
nothing”1''»
O ciberespaço
cibere spaço é hoje um espaço (relaci
(relacionai)
onai) de comunh
comunhão,
ão, co
colo-
lo-
cando em
e m con
contato,
tato, através do uso de téc
técnicas
nicas de comu
comutação
tação eletrônica,
p e ss
pe ssoo a s d o m u n d o tod
to d o . E las
la s e s tã
tãoo u ti
tili
lizz a n d o to
todd o p o te
tenn c ia
iall d a
telemática para se reunir
re unir por inter
interesses
esses comuns, para bate baterr papo, para
trocar arquivos, fotos, música, correspondência. O email eoschats
são hoje as ferramentas mediática mais mais utilizadas pela internet, com compro-pro-
vando nossa hipótese.
hipótese. Mais do que um fenômeno téc técnico,
nico, o ciberespaço
é um fenôme
fen ômenono soci
social.
al.
148 C IB
IB ER C U LT
L T U R A , T EC N O L O G I A E V I D A S O C IA
I A L N A C U L T U R A C O N T EM P O R Â N EA •
Top
To p 15 nations iin
n inte
interne
rnett use at ye
year-en
ar-end
d 1999
Rank N a tio
ti o n Intern et Users
Users
(000)
1. U n it e d S ta te s 1 1 0 ,8 2 5
2. J ap an 1 8 ,1 5 6
3. UK 1 3,975
4. Canada 13,277
5. G e rm a n y 1 2 ,2 85
6. Australia 6,837
7. B ra zil 6 ,7 9 0
8. China 6,308
9. France 5,696
South Korea
10
10.
11.. T aiw an 5,688
4 ,7 9 0
12..
12 Italy 4,745
13..
13 S w eden 3 ,9 5 0
14. N e t h e r la n d s 2 ,9 3 3
15..
15 Spain 2,905
Source:
Source: Computer
Compu ter Indust
Industry
ry Almanac
N o cont
No co ntex
exto
to de comun
com unica
icaçã
çãoo telemá
tele mática
tica,, plane
pla netá
tária
ria e multim
mul timod
odal,
al,
a rede pode a gregar pessoas
pessoas independentemente
independentemente de localidade geo- geo -
gráfica e não revelando,
rev elando, de imediato, referências
referências físicas, econôm
econômicas
icas
ou religiosas.
religiosas. Com
C om o ciberespaço,
c iberespaço, as pessoas
pessoas podem form ar coletivos
coletivos
mesmo
mesm o vivendo em cidades e cultur
culturas
as bem diferentes
diferentes.. Criamse assim
territoriali
territorialidades
dades simbólicas.
simbólicas. Neste sentido,
sentido, as com
comunidades
unidades formadas
a partir das redes telemáticas mostram como ás novas tecnologias• tecnologias •
• A N D R É L E M O S | 149
p o d e m a tu a r n ã o a p e n a s c o m o ve
po veto
tore
ress d e a li
liee n a ç ã o e d e d e sa
sagg re
regga-
ção, mas também
tam bém com o máquinas de comunhão, de compartil compartilhamento
hamento
de idéias e sentim entos entos,, d dee formaç
for mação
ão ccom
om unitária3
un itária31 19. Vejamos esta
citação retirada da Usen Usenet et::
“ Young people will have a place to meet and get to know each
other...to
other...to pl
play.
ay. They need to exchan
exchange
ge ideas and share the ir feel
feelings.
ings.
M ost likely way th that
at cyberspace and V R’ R’ss wil
willl affect people wwill
ill be as
as
a social ‘m eeting’
eetin g’ place. Society has always enabled young people p eople to
meet and court. And marrym arry and mat
mate”.
e”.
Como
Com o vimos, a tecnologia contemporânea parece potencializar a
ética da estética,
estética, com o mostramos n naa análise
análise da socialidade contemporâ-
nea a partir d
dee Sim
Simmel
mel e Maffesoli3
Maffesoli3220. A ciber
cibersocialidad
socialidadee ddaa qual faláva
mos vai estar
esta r presente nas vári
várias
as formas da cibercultura,
cibercultura, com
como o nas diver-
sas experiências agregadoras dad a internet (email, list
listas,
as, chats, Muds, BBSs,
Webring,
ciai
ciais newsgroups, de
s e independentes) fóru
fóruns..
ns...),
jogo
jogos s.),eletrôni
nos
ele cibercafés,
cibercafés
trônicos, ,n
cos, na mnos
os grupos e clubes
microinformática
icroinformática (ofi-
nôma
nôma- -
de, conectando
conec tando pessoas as mais diversas, nos website
websites...
s...
Podemos
Pode mos aplicar o conceito de estéti estética
ca social a uma análise da
eferv escência
efervescênc ia agregad
agregadoraora e comucomunitária
nitária no ciberespaço. Talvez, com como o
mostra o sociólogo belga Bolle de Bal, Bal, o ciberespaço form e com comuni- uni-
dades através da reliances, como consequência da deliance criada
pee la m o d e r n id a d e e x c e s s iv a m e n te in d iv i d u a l ista
p is ta , r a c io n a li
liss ta e
tecnicista.
tecnici sta. Este desejo de agregração, comunitário ou não, com como o ve-
remos, permite
pe rmite superar distânci
distâncias
as geográficas, categorias sociais, d
dee
raça e de religião.
religião. O que agrega os internautas são afinidades intelec-
tuais ou espirituais, formando coletivos
coletivos de interesses comuns.
Vimos, com Simmel, que a vida social é feita de agregações e
separações, coletividade
co letividade e individualidade sucessivas e simultâneas.
O sociólogo alemão utiliza, para descrever essa dinâmica social, a
metáfora da
d a ponte e da port
porta.
a. Para ele, a ponte provê ao olho a reali-
dade visível da
d a distância em relação ao outro e instaura o desejo de ir
150 CIBERCUL
CIBERCULTURA,
TURA, TECNOLOG
TECNOLOGIA
IA E VIDA SOCIAL N A CULTURA CONTEM PORÂN
PORÂNEA
EA •
lá, de to
lá, tocar
car e pe
perpetuar
rpetuar o elo de li
ligação
gação com
co m o outro. A po
ponte
nte seria,
então, a imagem do desejo de aagregação
gregação próprio a ttoda
oda v
vida
ida em socie-
dade.. O cibere
dade ciberespaço
spaço pode ser vist
visto
o por esta metáfora, com o um a rede
ou ponte de pontes, ligando potencialmente todos a todos. Ele pode
ser entendi
entendidodo como
com o “uma jun çã o ent entre
re term
termosos ddiss
issoo ci
ciaa d o s"
s"222'.
Já a porta é o que sep
separa
ara,, o que mmee mantém na minha interiinteriorid
oridade,
ade, na
minha individual
individualidad
idade,
e, aquela paparte
rte que não quer contato profundo com o
outro,
out ro, que quer ser só ela e mais na nada
da.. A porta é o que me fecha em mim
mesmo, evitando
evita ndo o outro, a socializ
socialização
ação.. Mais ainda, ela é a socialização que
mantém
mant ém suas distânc
distâncias
ias e que compõe o indivíd
indivíduo.
uo. O cibe
ciberespaço
respaço també
também mé
a porta que me
m e separa do mundo. Através d dela,
ela, posso abrir brechas de conta-
c onta-
to com o outro mas resgardar a minha pri privacida
vacidade,
de, o me
meuu isolamento e soli-
Comunidades
“a networked world offers
offers the possibility o f manytoma
manytomany
ny
communication, permitting widely separed individuais
to bin
bindd th
thems
emselv
elves
es iint
ntoo co
coll
llec
ecti
tive
ves”
s”3
323.
J a m e s Ca pio
M O S | 151
• A N D R É L EEM
I da cult
mo derna industri
cu ltura
indu strial
al e racionalis
racionalista.
ta. A contracultura
contrac ultura foi “ um
dize r que a
cibercultura vai se caracterizar pela utilização da tecnologia
telem
tel em ática numa sociedade em busca de reliance,reliance, potencializando
agregações sociais dos mais diversos tipos. Desde o uso mais ba-
nal, passando
hedonista dospeloschatsativistas
e muds,e oprofissionais,
que está ematéjogo a efervescência
é o uso do
ciberespaço com o ferramenta de vínculos vínculos ssociais
ociais,, como um am bi-
ente midiático d dee contato.
contato.
M ichel Maffesoli
M affesoli vai no mesmo sentido ao propor prop or a análise das
tribos contemporâneas a partir do que ele chama de rede de redes,
comoo vimos. O ciberespaço
com ciberespaç o encarna bem esta forma social, constitu-
indose
indo se como uma um a rede de redes
redes não só de máquinas mas também de
pess
pe ssoa
oas.
s. Ele
E le cri
c riaa uma
um a Matr
Ma trix
ix com
co m unic
un icac
acio
iona
nall que
qu e pote
po tenn ci
cial
aliz
izaa as mais
m ais
variadas formas de agregação, comunitárias ou não. Como afirma
152 | C IB
IB E R C U L T U R A . T E C N O L O G I A E V I D A S O C I A L N A C U L T U R A C O N T E M P O R Â N E A •
M affesoli, retoman
retomando do a metáfora simmeliana
simm eliana da ponte e da porta, "o
fa
f a t o d e s e r so
soli
litá
tári
rio
o s nã
nãoo si
sign
gnifi
ificc a v iv
ivee r is
isoo la d o s ”™. A realidade
pe ctiv
pect ivaa eev
v o lu
luci
cioo n is
ista
ta q
que
ue cons
co nsis
iste
te em m a rcrcaa r a p
paa ss
ssaa g em d e sso o c ie
iedda-
de tradicional (a comunidade) para a sociedade moderna (a socieda-
de).. N
de) Neste
este sentido, H H.. Spencer
Spe ncer mostrou esta evoluçã evolução o enqu
enquantoanto fala-
va de sociedades de fraca diferenciação e de sociedades fortemente
diferenciadas. E. Durkheim, por sua vez, demonstrou o surgimento
de formas orgânicas (da sociedade) em detrimento das formas
mecânicas
me cânicas (da comunidade). Já no pri princípio
ncípio deste século, Gabriel de
Tarde
Tar de explicava que comunidad comunidades es podiam ser formadas m esmo po r
pes
p esso
soasas se
sepp a ra
radd as
as,, se
s e m ccon
ontatato
to ffís
ísic
ico.
o. E stes
st es aag
g ru
rupp a m ento
en toss ffo
o rm ara
ar a m
um modo
m odo de coletividade mental (collectivité me ntale), espiritual.
mentale),
No
N o e n ta
tann to
to,, s er
eráá o soci
so ciól
ólog
ogo o al
alem
em ão F e rd rdin
inaa n d T õ n n ie
iess qu
que,
e,
em 18185757,, vai propo
proporr a diferenciação entre comun comunidadeidade (gemeinshaft )
e sociedade ( geselschaft ), ) , marcando profundamente os estudos em
ciências sociais. Para Tõnnies, a noção de comunidade é ligada às
sociedades
soci edades tradici
tradicionais,
onais, quer dizer à vida doméstica, à econom ec onom ia da
casa, às necessidades primária primárias, s, à reli
religião.
gião. PoPorr sociedade, ele entende
a sociedade m oderna, fundada na cidade, no com comércio,
ércio, na indúindústria
stria e
na ciência.
ciência. E
Emb
mbora
ora estas instâncias
instâncias não exist
existam
am nunca em estado puro,
a sociedade
sociedad e mo
moderna
derna atrofiari
atrofiariaa as iiniciati
niciativas
vas com
comunitárias.
unitárias.••
EM O S | 153
• A N D R É L EM
154 | C IB
I B E R C U L T U R A . T E C N O L O G I A E V I D A S O C IA
IA L N A C U L T U R A C O N T E M P O R Â N E A •
absorvendo uma
u ma cultura planetár
planetária,
ia, por exemplo. É este o sentimento
sentimento
de desencaixe. Desta
D esta forma, o ciberespaço,
ciberespaço, pela formação ded e suas mais
diversas formas ded e agregação, expressa bem este desencaixe.
desencaixe.
Por mais radical que esta agregação eletrônica possa parecer, a
idéia não é mais de uma comunidade (reliance) contra o sistema (deliance)
mas des diversas formações comunitárias indiferentes aos sistemas. Como
Com o
explica um ravercyberpunk, “ao invés de lu lutar
tar contra o sistema, a
ass no
vas ccom
omun
unas
as estão
e stão ignorando-o. E esta é a última rev
revol
oluç
uçãoão’’’33*. O u
ainda: “A internet é mais do que um centro comunitário; de fa to,, ela cria
fato
a sua pró
própria
pria fo
formrm a comu
comuni
nitár
tária,
ia, uma nova com unidade de super-
comunidade
conectados e de super-informados. Se conhecimento é poder, então, a
corrida pa
para
ra a domínio deste se dá na inte
interne t. Podem 4 0 milhões de
rnet.
aficcio
afic cionad
nados
os p
poo r com
computado
putadores
res estarem er
erra
rado
dos?
s?”
”333.
A americana
american a Rosanne Stone vai vai analisar as comunidad
com unidades es virtu-
ais e a idéia do ciberespaço numa perspectiva histórica. histórica. Os computa-
com puta-
dores são comocom o pontos de passagem, rit ritos
os de passagem co comm o vimos,
onde a p pee rs
rsoo n a o n -li ne pode romper com os limites do fora e do
-line
dentro, da presença física e do simulacro virtual. Para Stone, as co-
munidadess virtuais,
munidade virtuais, ou as diversas
diversas formas agregadoras
agreg adoras do ciberespaço,
“mostram o colapso da dass fron
fronteira
teirass entre o so social
cial e o tecnol ógico,
tecnológico,
entree o b
entr biológico
iológico e a máquin máquina, a, entr natura l e o artificial que são
entree o natural
pa
p a r te d o im
ima a g in
ináá ri
rioo p ós
ós-m-moo d er
ernn o . E la
lass ffa
a z e m p a r te d a cr
cres
esce ntee
cent
cação do humano às máquinas nas novas for m as sociais que eu
imbricação
imbri
chamo
cha mo de sis
sistem
temas
as v ir
irtu
tua
a is
is””336.
Stone propõe pensar
pe nsar a idéia
idéia de comunidade virtual
virtual em quatro
fases: a dos textos (século XVII), a das comunicações elétricas
(1900), da informática (1960),
(1960), e a fase do ciberespaço e da realirea lida-
da-
de virtual (1984). Na primeira
prim eira fase,
fase, Robert
Rob ert Boyle inventa,
inv enta, em 1669
1669,,
um método chamado testemunho virtual ( virtual witness) witness),, que per-
mitee form ar uma comunidade de cientistas
mit cientistas pelo testem
testemunho
unho virtual
(à distância) para a validação do trabalho de seus pares. Ele é, as-
sim, precursor do método “pe er-r evie w ed ” (analisado por pares)
er-revie
que hoje é usado e disseminado
disseminado pela comunidade
com unidade acadêmica
acadêm ica m undi-
al. Como explica Stone, “p o r esse tipo de escrita, um gru po de
p e s s o a s er
pe eraa capaz d dee ttee s te
temm u n h a r um eexx p e r im e n to s em e s t a r fi
f i s i c a
mente presente (. (...
..).
). Assi
Assim, m, tex tos tom am -se uma fo rm a d e c riar e
textos
mais tarde ccon ontrolar
trolar nova
novass fo rm a s de com co m un ida de s” s”3331.
A segunda
segun da fase é a dos meios de comu
comunicação
nicação com o o telégr
telégra
a
• A N D R É L E M O S | 155
156 | C IB
I B E R C U L T U R A , T E C N O L O G I A E V I O A S O C I AL
AL N A C U L T U R A C O N T E M P O R Â N E A •
soas em cada continent continentee também participam de grup gruposos sociais media
dos p o r computadores conheci conhecidos dos como comunidades virtuai s, e esta
virtuais,
po
p o p u la
laçç ã o eess tá cr
cree sc
scee n d o rra
a p id
idaa m e n te
te””340. A s comun
comunidades
idades virtu
virtuais
ais
são para o jorn jorn alista am americano
ericano “organizações so sociais quee em ergem
ciais qu
da N et quando um número suf suficie
iciente
nte de pess
pessoasoas leva adiante discus
sões públicas com um mínimo sent sentiment
imento o humano para fo rm ar tei as
teias
de relações pessoais no ciberespaço ”3 ”3441. J á p
paa ra B ru
ruce
ce S te
terl
rlin
ing,
g, a
formação comu co munitária
nitária é quase um corolário das redes telemáti telemáticas.
cas. EEle
le
afirma: “ onde quer que você crie uma rede de comunicação, você
cria também uma comunidade... ” ”3
342.
O que vemos com a di dinâmica
nâmica at atual
ual do cibere
ciberespaço
spaço é que ele
e le não
inibe a heterogeneidade e não cria necessariamente uma cultura
m ono
onolítica
lítica3343. NeNeste
ste sentid
sentido, o, o ativism
ativismo o político ta tamb
mbém
ém eestá
stá pre
presen
sente
te
no ciberespaço, onde comunidades como a EFF, EcoNet, PeaceNet,
GreenNet, ConfliNet, ou a pioneira PEN de Santa Mônica e outras
FreeNets pululam em todos lugares lugares no mundo. Podemos comp compreende
reenderr
o advento e a prolifer
proliferação
ação de comunidades
comunidades virtuvirtuais
ais como uma produ-
ção de microcolônias, como uma u ma experiência socsocial
ial não programada,
bas
b asea
eada
da no papara
radi
digm
gm a es
estét
tético
ico,, empá
em pátic
tico,
o, fo
form
rman
ando
do ag
agre
rega
gaçõ
çõeses atra
at ra- -
vés de redes telemátic
telemáticas.
as. Lá onde
on de há comunicação me mediada
diada por
po r com
compu-
pu-
tadores,
tadore s, há eefervescência
fervescência comunal e ccriação
riação de com
comunidad
unidades es virtua
virtuais.
is.
Para Rheingold
Rheingold:: “não apenapenasas eu habit
habito
omminha
inha com unidad
unidadee vvirtual ...))
irtual ((...
minha comu
c omunidade
nidade virtual habita também a minha vi da,, ” 344.
vida
Instrumentos Comunitários
nascimento da Arpanet)
nascimento Arpanet) trouxe,
trouxe, de certo modo, uma explosão de d e mensa-
m ensa-
gens planetárias. O fluxo
flux o de informação pelo correio eletrônico é, de acor-
aco r-
do com Saffo,
Saffo, “o ma
maior escritas desde o século X
ior boom em cartas escritas XVV ///”343.
Com o email as palavras
palavras escritas decolam se do papel a pas-
sam a ter como interface a forma eletrônica (ASCII), com uma um a tela
tela
de apoio para a visualização.
visualização. Além disso,
disso, o caráter eletrônico resga
resga- -
ta um pouco da cultura oral, mesmo sem presença corporal. É co-
mum o uso de smileys, ou emoticons, símbolos gráficos feitos com
os caracteres ASCII ti tipo
po ;))
;) ) para expressar
expressar emoções e sentimen-
tos só visualizados através do corpo346. Segundo Leslie, “o e-mail
nos trouxe de volta à aurora da pró pria escrit escrita, a, a um tem po onde o
conhecimento era transmitido oralmente ...”347. Através do email
poo d e m o s m a n ter
p te r c o n tato
ta to c o m a m igo
ig o s d ista
is tann tes,
te s, m a n ter
te r c o m u n ida
id a -
des já existentes
existentes e criarc riar novas.
novas.
Usenet: a conversação
conversação mundi
m undial
al
A rede Usenet
U senet pode ser conside consideradarada como uma um a das formas ele- e le-
trônicas mais populares
popu lares de organização social nas redes. redes. A Usenet U senet é
hoje, como afirmou em 1976 1976 um dos percursores M urray Turoff, uma
ferramenta
ferr amenta que qu e “for ne ce caminhos para que grupos humanos huma nos exerci
tem a capacidad
ca pacidadee de gerar ge rar inteligência coletiva ".
inteligência coletiva
A rede Usenet
U senet foifoi concebida por dois estudantes estudantes da universida-
de da Carolina do Norte N orte em 1979119791980 980,, quando perceberam que era
poo ssív
p ss ívee l po
p o r em coc o m u n icaç
ic açãoão vária
vá riass com
co m u n ida
id a d es ele
e letr
trôô n ica
ic a s aatr
trav
avésés
de umu m a conexã
con exãoo interne
inte rnet3 t3448. A Usene
U senett se propagou com o um vírus, de
campus em e m campus, de laboratórilaboratórios os de pesquisa em laboratórios
laboratórios de
pesq
pe squu isa
is a . A red
re d e é h o je u m sist si stee m a tele
te lem
m á tico
ti co q u e p e rm ite it e c o loc
lo c a r
pee sso
p ss o a s e m c o n tato
ta to,, ins
in s tau
ta u rar
ra r fór
f órun
unss d e co
c o n v e rsa
rs a ção
çã o , p ú b lic
li c o s e p la-
la -
netários, organizados a partir de grupos temáticos, os newsgroups,
que tratam de diversos temas.
Os grupos temáticos são divididos em hierarquias (alt, (alt, comp, rec,
etc.) e não há
etc.) h á um
u m controle central
central mas uma ética (a netiqueta) estabelecida
coletivamente onde os participantes ajustam seus problemas internos
de modo autônomo e coletivo. Os servidores de news, a alma da rede
Usenet, funcionam de forma livre mas organizada. Dessa maneira, a
natureza anárquica, não comercial e em crescimento geométrico,
geom étrico, mos-
tra que essa form
fo rmaa de agregação social
social é hoje uma realidade.
158 | C IB
I B E R C U LT
LT U R A , T E C N O L O G I A E V I D A S O C IIA
AL N A CU LTURA CON TEMPO RÂNEA •
BBSs
M O S | 15
• A N D R É L EEM 159
9
pr oxim
prox imid
idad
ade.
e. P a ra R
Rhe
hein
ingo
gold
ld,, “ p
poo d emo
em o s usa
u sarr um B BB B S p a r a org
o rgan
aniz ar
izar
um movimento, criar cria r um negócio,
negócio, coordenar campan has políticas... ”3
coo rdenar campanhas ”357.
Parece que o impulso de criar BBSs vem da necessidade de reliance,
como vimos, buscando desenvolver laços comunitários. Um exemplo
é a lendária comunidade eletrônica PEN (Rede Eletrônica Pública),
criada em 1989, em Santa Monica, Califórnia.
PEN é a primeira comunidade eletrônica criada com os financia-
mentos do governo americano. O objetivo é potencializar o
envolvimento de cidadãos com os problemas da comunidade, como
desemprego, os semteto,
semteto, etetc.
c. Também conhecidas como Freenets, es es- -
tas comunidades tele telemáticas
máticas buscam facil facilitar
itar o acesso às informações
por
p or pa
part
rtee do pú
públ
blic
ico;
o; aj
ajud
udar
ar o dedesesenv
nvololvi
vim
m en
entoto d o seto
se torr d e se
serv
rviç
iços
os,,
aumentar a comunicação entre cidadãos, dar acesso e facilitar a apro-
pria
pr iaçã
çãoo da
dass n
nov
ovas
as te
tecn
cnol
olog
ogias
ias pel
pelosos rres
esid
iden
ente
tes,
s, d
dis
istr
trib
ibuu ir a info
in form
rmaçaçãoão
de form
fo rmaa igualitária papara
ra toda a população
população,, entre outro outross objetivos3
obje tivos35 58.
Outro exemplo de Freenets é a D Dig
igit
ita it y , uma versão digital
a l C ity
da cidade de Amsterdã, com mais ou menos os mesmo mesmoss objetiobjetivos.
vos. A
Digital City foi fundada
fundad a em 19 1994
94 como umumaa experiênc
experiência
ia pil
piloto,
oto, para
formar uma rede de cidadãos,
cidadãos, tend
tendoo começado como u umm BBS, evevolu-
olu-
indo para uma
um a interface gráfica na WebWeb.. Há hoje mais d
dee 30
30.000
.000 habi-
tantes nesta cidade virtual, espelho da real Amsterdã. Há fóruns de
discussão, livrarias,
livrarias, M
MUU D s, possibilidade de contato com os poderes
púb
pú b li
licc o s, c af
afés
és,, sh
shoo pp
ppin
ings
gs,, eetc.
tc.
MUDS
160 | C IB
I B E R C U L T U R A , T E C N O L O G I A E V I D A S O C IA
IA L N A C U L T U R A C O N T E M P O R Â N E A •
(similares às utilizadas
utilizadas em rev
revista
ista em quadrinhos).
Hoje, há vários MUDs na internet
internet do qua
quall o Lamb
LambdaM
daM OO é um
dos mais famosos. LambdaM
Lam bdaMOOOO fofoii criado em 1991 ppor
or Pavel Curtis
no PARC (laboratório de pesquisas da Xerox). Como todo MUD, o
LambdaM
Lam bdaM OO é um tea teatr
troo vir
virtua
tuall onde o joga
jogado dorr pode “viver” , ist istoo é,
gastar horas do seu dia conectado. Segundo Quittnet, os usuários
“estão fa faze
zenn d o am
amigos
igos e iniinimigos
migos,, ampliando sua inteligência, cri
ando
and o suas pró
própria
priass comunidade
comunidades, s, escrevendo manifestos (. (...) estão
..) eles estão
criando comunidades vir virtua
tuais is,, novas for
form m as das pesspessoasoas entr arem
entrarem
em comunicação”360.
O MUD é um dos primeiros laboratórios para as comunidades
virtuais.
virtuai s. CComo
omo no Minit
Minitel,el, na Usenet ou nos cha chats,
ts, o usuário escolhe
esco lhe
sua identidade encarnando um papel, permitindo jogos identitários:
“cada novo MOO cria uma nova comunidade e uma nova cultura
emerge pa parara socializ
socializarar um lugalugarr onde tudo é pos possísível
vel.. A grand
grandee sur
prr e sa d a era d a in
p info
form
rmaç
açãoão é q quu e as p e ss
ssoo a s estã
estãoouusa
san n do s eu s cco
om
pu
p u ta
tad d o r es p
paa r a co
comm u ni
nica r ”3
car ”361.•
• A N D R É LE M
MOO S | 161
Chat
162 C IB
I B ER C U L T U R A , T EC N O L O G I A E V I D A S O C IA
I A L N A C U L T U R A C O N T EM P O R Â N EA •
Cibercafés
na, Pari
Pariss e BBerli
erlim,
m, com
como o um lug
lugarar so
socia
ciall pprivil
rivilegiado
egiado p para
ara conh
conhecer
ecer
pess
pe ssoa
oas.
s. O s c af
afés
és sã
são,
o, ai
ainn da ho
hojeje,, lug
lu g a r de gegen
n te c o m u m , b oê
oêm
m io
ios,
s,
artistas e intelectuais. Todos buscam uma atmosfera cujo pretexto é
ler o jorn
jornal,
al, eescrev
screver
er uma carta ou somente conv conversar
ersar um pouco.
p ouco. Este
conceito foi exportado para de outros outros países como a Inglaterra,
Ing laterra, EUA
ou Canadá. H oje os cibercafés são a atualização do conceito co nceito m moderno
oderno
de cafés. Exist
E xistem
em m ilhares de destes
stes esp
espalha
alhados
dos p pelo
elo m unundo
do3 369.
Naa Fr
N Fran
ança
ça o ccon
oncei
ceito
to foi intr
introdu
oduzido
zido po porr Fre
F red
d Fo
Forerest
st no cocome
meçoço
dos anos 90, o Café Elect
Electronique
ronique d dee Paris3
P aris3770, uma exexpe
periê
riênc
ncia
ia intine
intinerante
rante,,
diferente dos cibercafés de hoje, que limitamse a oferecer conexão à• à•
• A N D R É LEM O S 163
163
internet
internet.. Entretanto,
Entretanto, o conceito j á se desenvolvera com Le Less JJar dinss du
ardin
itel, criado por
Minitel,
Min po r Cécile Alvergn
Alvergnat,
at, em 1987
1987 no bairro de Montpamasse,
M ontpamasse,
um “lugar púb
público
lico em um lugar si
vés do consumo ded e um
uma
simpático
mpático onde se interconec
a bebida ou a
ali
liment
interconectam,
tam, atra
o, a materialidade do corpo
mento,
com a virtual
virtualidade
idade do espaço-tempo eletrôni
eletrônico
co ”m .
• • •
Para concluir,
concluir, podem
podemos os dizer que a idéia de comunid
com unidade
ade é, em
pri
p rim
m eiro
ei ro luga
lu gar,
r, u m a noç
no ç ão m oder
od erna
na,, uma
um a inve
in venç
nção
ão d e m o d e rnid
rn idaa de.
de .
Só quando aparece
aparec e uma forma de organização soc social
ial nova (a socieda-
socieda -
de moderna)
m oderna) é que o modelo prévio (a comunidade)
comu nidade) podepo de ser posto à
luz,, em contraposição.
luz c ontraposição.
O pensam ento social do século XIX vai desenvolve dese nvolverr uma teoria
da sociedade
socieda de que não está baseada na lei lei natural
natural (corporações,
(corporaç ões, fam í-
lia,
lia, guil
guildas,
das, comunidade).
com unidade). A modernidade cria o conceito de comu comuni- ni-
dade para rejeitála enquanto projeto de sociedade. Neste sentido, a
comunida
com unidade de significa
sign ifica um conjunto
con junto social
social primitivo
primitivo ou religioso, onde
pre
p redd o m ina
in a u m p roje
ro jeto
to c omu
om u m (um
(u m a cer
c erta
ta posi
po sitiv
tivid
idaa d e u tóp
tó p ica
ic a ), um
umaa
aderência à proximidade física e de formas formas de comunicação
comunicaç ão com pou-
ca ou inexistente mediação. É esta noção de comunidade, em sua
conotação moderna, que torna incompreen
incompreensíve
sívell a efervescência
efervescê ncia co-
co -
munitária
mu nitária das agregações.
Comoo frisamos,
Com frisamos, embora
em bora nem todas as as agregações sejam comu-
com u-
nitárias (existem
(ex istem listas que são, outras não, assim com
comoo chats, BBSs...),
BB Ss...),
as comunidades
comun idades no ciberespaço são, hoje,hoje, uma realidade. A aderência
aderênc ia
eletrônica, sem substituir o face
face a face físico,
físico, pode ser verificada
verificad a no
ciberespaço.
cibere spaço. Aqui,
A qui, o projeto
projeto comum, entendido na modernidade como com o
o compromisso
com promisso político,
político, com suas metas específicas
específicas de acordo
aco rdo com
um projeto
corado global,
nte.transformase
no presente.
prese transforma se na
O sentimento
sentimento busca de interesses
de aderência exclusivacomuns,
exclusiva ppassa an-
a n-
assa a per-
m itir múltiplos pertencimentos, onde o indivíduo
indivíduo pode naveg
n avegarar de um
grupo a outro.
D a mesm a forma, a noção de territoriali
territorialidade
dade não é, nas agrega-
ções eletrônicas, física. O constrangimento geográfico não é mais
determinante para a formação comunitária,
comunitária, embora algumas com uni-
dades não eletrônicas sejam também comunidades
comun idades sem territoriali
territorialidade
dade
física (as religiões dos livros sagrados, os judeus
jude us até o fim da 2a G uer-
ra, a comunida
com unidadede acadêmica,...).
acadêmica,...).
Graças às novas possibilidades abertas pelas tecnologias
164
164 C IB
I B ER C U L TU
T U R A , T EC N O L O G I A E V I D A S O C IA
IA L N A C U L T U R A C O N T EM P O R Â N EA •
teresses comuns
teresses comu ns e gostos compartilhados. A relação é, neste sentido,
mais empática que contratual. Vemos, assim, crescer sob os nossos
olhoss uma
olho um a ética da estética eletrônica
eletrônica que m ostra que, na cibercultura,
a dimensão social agregadora é um dos fatores mais importantes de
seu desenvolvimento.•
desenvolvimento. •
• A N D R É L E M O S | 16
165
5
C apítulo III
R e a l i d a d e v i r t u a l
N e st
Ne stee c a p ít
ítuu lo,
lo , va
vamm os m os
ostr
traa r a e v o lu
luçç ã o e o s im p a c to
toss (p
(poo
tenciais e futuros) da emergência
emergê ncia das tecnologias da realid realidade
ade virtual
(RV)
RV).. Em um primeiro mom momento,
ento, mostraremos a história da reali realidade
dade
A cons
co nstru
truçã
ção
o d e um m un
undo
do virtu
virtual
al
166
166 C IIB
B E R C U LT
LT U R A , T E C N O L O G IA E V I D A S O C I A L N A C U L T U R A C O N T E M P O R Â N E A •
O RB2
R B2 foi cri
criado
ado na empresa VPL, de Jaron Lam Lamier,
ier, um perso-
nagem m ítico, matemáti
matemático,
co, músico e expert em infor
informática,
mática, e Thomas
Zimm erman (o inventor das lu luvas
vas de dad
dados).
os). A V PL lança no merca-
do o primeiro sistema comerciali
comercializável
zável com capacetes e luvas luvas,, permi-
tindo a duas pessoas compartilharem
compartilharem um unive
universo
rso de imagens de sín-
tese. Desde então, as tecnologias da RV encontraram várias aplica-
ções: cozinha
cozinh a virtual (Matsushita), si
simuladores
muladores os mais dive diversos
rsos (pi-
lotos,
loto s, design, entret
entretenimento,
enimento, como o Battletech
Battletech C Center
enter em Chicago
ou m esmo cirúr
cirúrgico,
gico, com o o cadáver vvir
irtua
tuall da N ASA , VP L e o Cen -
tro Médico de Stanford).
Stanford). N o ent
entanto,
anto, não exexistem,
istem, ainda hoje, expe-
riências
riênci as em larga escala, a não ser algun
algunss jogo s eletr
eletrônicos.
ônicos.
O potencial da realidade virtual como meio de comunicação
existe, mas ainda está longe de ser um fato de impacto m massi
assivo.
vo.••
• A N D R É L E M O S | 16
167
7
Açã
A çã o na RV:
RV : im ersão
ersã o e navegação
168 | C IB
IB E R C U L T U R A , T E C N O L O G I A E V I D A S O C I A L N A C U L T U R A C O N T E M P O R Â N E A i
A g er
eraç
ação
ão d e Interfaces
A primeira
prime ira nasce no no fim dos anos 40 com os primeiros compu- com pu-
tadores eletrônicos. A interação com a máquina se dava através da
pro
pr o gram
gr am ação
aç ão,, c o nstit
ns tituí
uídada,, ness
ne ssee m omen
om entoto,, d e um a rrrran
anjo jo de c o n e -
xões entre cabos e p plu
lugg s . A segunda geração surge nos anos 50, a
paa rt
p rtir
ir da
d a inte
in terf
rfac
acee co
c o m cart
ca rtõeõess perf
pe rfur
urad
adosos.. O s an
a n os 6 0 cri
c riaa m a terc
te rcee i-
ra geração, com a técnica do tempo compartilhado ( time sharing ),
per
p ermm itind
iti ndoo prog
pr ogra
ramm a r a máqu
má quin inaa atra
at ravé
véss de com
co m ando
an doss impu
im puta tado
doss pelo
pe lo
teclado e visualizados através de monitores. A utilização utilização de d e janelas,
jane las,
menus p po up , on
o p up, onde
de o usuário seleciona e executa execu ta tarefas, é a caracte-
rística principal da quarta geração. Será o paradigma do apontar e
clicar,
clica r, a interface gráfica conhecida como ARCPARCM A RCPARCMAC, AC, que vai vai
caracterizar
caracteri zar a quinta
q uinta geração no desenvolvimento
desenvolvimento do diálogo homem homem
máquina.
máquin a. Com um mouse e um apontador ap ontador (seta),
(seta), a interatividade pas-
sa a simular o movimento da mão m ão (emblematicamente
(emblematicamente nos browsers
aparece o íeonetle uma mão apontando o dedo indicador sobre os
links) tocando « informação, agora visualizada sob a forma de um
ícone gráfico (pastas, lixeiras lixeiras,, fax...).
fax...). Entramos aqui na m anipulação
direta da informação.
A realidade virtu
virtual
alé
é,, atualment
atualmente,
e, oijltimop
oijltim opass
assop
oparea
area tmeisã
tm eisão
o
total. Através de um capacete estereoscópico, luvas ou roupas de da-
dos (datasuit ) podemos nos mover,
mover, escutar e tocar
tocar um mundo simula-
do em imagens digitais, atualizadas
atualizadas em tempo real por
po r computadores.
Aqui atualizamos o desejo, presente
presente no imaginário social,
social, de construir
con struir••
• A N D R É L E M O S | 169
novoss mun
novo mundo
dos.
s. A era ind
ndus
usttrial
rial,, já h a v ia fe ita is to s o b re a na
nattur
urez
eza.
a.
Agora, com a natureza já dominada, pa parti
rtimos
mos em direção à construção
de mundos
m undos simul
simulados.
ados. Hoje, com o desenvolvimento da realidade virtu-
al, a evolução do diálogo homem
homemcompu
computador tador va
vaii levar a interati
interatividade
vidade
a um
u m nível onde as frontei
fronteiras
ras parecem ser cad cadaa vez meno
menoss níti
nítidas.
das.
N o sim
No simpó
pósio
sio oi
oiga
ganiz
nizadado
o eem
m m aio
ai o d
dee 1993 ppel
elaa Es
Esco
cola
la Na
Nacion
cional
al
Superior de Belas
B elas Artes da França, cujo tí título
tulo era “A obra de arte na era
de sua realidade
realidad e numérica”, Edmond Co Couchot
uchot mostrou a ruptura radical
radical
em nossas construções (e nossas percepções
percepções)) das imagens com a entrada
em jo
jogo
go da técnica digi
digital
tal.. Com o dig
digit
ital,
al, podemos tratar a imagem mate-
maticamente, controlando ponto a ponto. Para Couchot, com a
digitalização
digitali zação das imagens, a representação do objeto tomase mais im-
po rtante
porta nte qque
ue o ob
objeto
jeto,, seu sim
simula
ulacro
cro é ma
maisis o
ope
perati
rativo
vo q
que
ue o o
obje
bjeto
to real.
Ainfografia cria imagens smtétieas (imagens de sínteses) que
são, de certo modo (em relação à fotografia, ao cinema e ao vídeo),
independentes de um objeto ori original
ginal.. Com
Como o mo
mostra
stra Cou
Couchot,
chot, o vídeo,
a televisão,
televisão, o cinema e a fot fotografia
ografia produzem imagens
imagens,, com possibili-
dades mais ou menos
m enos alargadas de manipulação, mas sempre partindo
de um objeto
o bjeto mmaterial
aterial ori
original
ginal:: o modelo do fotógrafo ou o cenário e
os atores na TV, no cinema e no vídeo. Estes media estão, assim,
intrinsecamente
intrinsecame nte ligados a um objeto original original (aquele que está na ori-
gem da imagem)
im agem) criando um sentido de correl correlação.
ação.
Com as image
magens ns vntna
vn tna is não há
há,, necessar
necessariament
iamente, e, um objeto ori
ori-
-
ginal a ser represen
representado,
tado, mas apenas fórm fórmulasmatemáticasealgorrtw
ulasmatemáticasealgorrtwios, ios,
lidos
lidos «t
«tra
radu
du zi
zido
do s porcompu
porcomputado tadores.
res. Vam
Vamos os a um exemplo. Tomemos
o quadro Souliers aux Laeets, pintado por Van Gogh em 1886. Este
quadro impressionista
im pressionista mostra um quart quartoo com um velho par de sapatos
jog
jo g a d o s no c h ã o 375. Vamos
Vam os aago
gora
ra digi
di gita
taliz
lizar
ar h
hip
ipot
otet
etic
icam
amen
ente
te o q
qua
uadr
dro.
o.
Sendo assim, a imagem
imag em passa a ser traduzida
traduzida por abstrações ma matemáti-
temáti-
cas, determinada ponto a ponto por pix pixel s-.. Os sapatos sintéticos são
els-
constituídos a partir
pa rtir de novas virtuali
virtualizações
zações (agora digitais) do sapato
real.
real. O quadro digit
digital
al nos pe
permite
rmite tirar toda a m materialidade
aterialidade do quadro,
pode
po dend
ndo
o a ss
ssim
im se
serr esto
es toca
cado
do,, dup
d uplic
licad
ado,
o, tra
trans
nsmimitid
tido.
o.
Se pensarm os na absurda possi possibili
bilidade
dade de rasg ar o quad ro de
Van Gogh, e ste estaria para sempre perdido. Não há possibilidade
170 C IB
I B ER C U L T U R A , T EC N O L O G I A E V I D A S O C I A L N A C U L T U R A C O N T EM P O R Â N EA •
Com o quadro
quad ro real (a iima
magem
gem analógica), a cópia é se semp
mprere a cópia,
uma analogia da analogia.
Transformaremos agora o quadro de Van Gogh em um mundo
virtual em 3Ds Neste (novo) ambiente virtual, a imagem passa a ser
tridimensional. Antes víamos o quadro à distância. Agora estamos
nele. O quadro em RV nos permite penetrar o ambiente (o quarto),
olhálo por diversos ângulos, ver os detalhes dos sapatos, tocálos e
mesmo, quem sabe, calçálos, tudo em tempo real. A cada gesto, te-
mos uma reação dinâmica gerada pelo sistema computacional. Este
simula objetos e o ambiente pintado pelo gênio holandês (o quarto, a
cama, o chão, o teto, a janela, o mundo* lá fora, os sapatos, etc.).
Nãã o som
N so m ç s m ai
aiss ob
obse
serv
rvad
ador
ores
es m a ra
ravi
vilh
lhaa do
doss co
comm a o br
bra,
a, ma
mass
agentes clentro da obra, navegadores, exploradores, atores (Brenda
Laurel)) em um mar de dados. Podemos interagir e ter uma expe
Laurel experiên-
riên-
cia diferente daquela de olhar o quadro em um museu, por po r exemplo.
Temos,
Temo s, assim, um
umaa verdad
verdadeiraeira experiência (e não u uma
ma ilusão), já que
estamos lidando com sensações corporais eestabelecidas
stabelecidas eentre
ntre o nosso
corpo e os objetos e am
ambientes
bientes simulados:
simulados: pode
podemos
mos sentir resistênci-
as, peso, texturas... Nesses espaços, podemos ver, ouvir e tocar coi-
sas que não podemos normalmente experienciar, com por exemplo
tocar em molécula
moléculass ou part
partícu
ículas
las,, bater em um tambor de 50 km de
diâmetro, ou andar
a ndar em u
uma
ma catedral gótica desaparecida...
Lon ge de ser um
Longe umaa ilusão
ilusão o
ou
u um un
universo
iverso oposto ao real, o virt
virtu-
u-
al,, que adjetiva a ex
al expressão
pressão R
RVV, incorpora e está ancora
ancorado
do eem
m sensa-
ções reais. O virtual não é oposto ao real.
V irtu a l
p õ e to d a re
põ reaa lid
li d a d e e tod
to d a e x p e ri
riêê n c ia e, n e st
stee sen
se n ti
tidd o , a rea
re a li
liddad e é
constituída no processo interminável
interminável de atuali atualizações
zações e virtual
virtualizações
izações
sucessivas. René Berger mostra bem que “o “ o que é realizado, logo logo
atual,, p as
atual assa
sa pel
p ela a fina lizaçã
liza ção o do que está suspen sus penso so no virtvi rtua l”376,
ua l”3
sendo
pa
pala raeste
s, o “a
lavv ras, a sdinâmica
“po
pos s ív
ívee l de tode
d e todadastodos
s as
a s di
dinosâmpossíveis
n ic
ica ”377. e, sem jogar com as
a s ”3 as
A palavra
palav ra virtua
virtuall sursurge
ge no princípio
princípio do século de X XVIII
VIII no cam -
po da
d a ótica,
ótic a, p
par
araa de
descscrereve
verr a im
imagagem
em rref
efra
rata
tada
da e re
refl
flet
etid
idaa d e um o obje
bjeto.
to.
No
N o séc
sé c u lo X IX , os fí físi
sicc o s c ri
riam
am o c o n ceceitito
o d e v e lolocc ida
id a d e v ir
irtu
tual
al
(momento virtual) de partículas. O conceito é usado para descrever o
comportamento de partículas subatômicas. Na informática, a palavra
virtual aparece
aparec e nos anos 70, quando a IBM lanç lançaa um produtoconceito
produtocon ceito
chamado
cham ado de memmemória ória vir
virtual,
tual, int
introduzido
roduzido nos seus mainframes.
mainframes. N N o en-
en-
tanto,, a idéia de realidade vir
tanto virtual
tual desponta,
desponta, comcomo o vimos, com o desen-
volvimento de d e mund
mundos os artif
artificiai
iciaiss formados p por
or imagens de síntese. O
computador, com c omo om máquina
áquina de simula
simulação,
ção, é, por si ssó, ó, uma
um a metamá
quina que, virtualmente, agrega uma enormidade de outras máquinas
ou ferramentas virtuais
virtuais (processador de ttexto, exto, de imagem, de som, som , de
vídeo...). Como propõe Woolley, “cada “cada computador é virtual”37*.
O conceito
conc eito de virtual
virtual,, no seu sentido
sentido telemático ou informático,
tem trazido à baila questões relativas relativas à desrealização da experiên ex periência cia e
o medo correlato
co rrelato da perda de con
contato
tato com o real. Para J. Larnier, os
sistemas de RV estimulam a experimentação. A representação do
mundo sempre é uma recons reconstit
tituição
uição e se
sempre
mpre uma construção de rea-
lidad
lid ade3
e37
79. O si
sign
gnific
ificad
ado
o do mu
mundo
ndo não está nas co
coisas,
isas, mas e ntre
ntr e elas,
na relação. A percepção da realidade, e a identificação do que esta
seja, se dão, nnão
ão nas coisas do mu
mundo,
ndo, mas no que está entre
en tre elas, nas
formas de percepção e interpretação dos eventos do mundo. O esta-
tuto do real não é nada evidente.*
A física do século de XX não reconhece a realidade como com o algo
desvelado por um observador neutro, objetivo e racional. O próprio
ato de observaç
obse rvação ão cria a real
realidade.
idade. A física contemp
conte mp orânea
orâne a relati
relativiza,
viza,
po
p o rtan
rt anto
to,, a cco
o n c e p ç ã o (n
(new
ew to
tonn ia
iann a) da re
r e a li
lidd ade
ad e . C o m o ale
a lert
rtaa Jac
J acoob,
“nosso equipamento
equipam ento sensorial nos perm permiteite v er se um tigre pe penetra
netra no no
nosso quarto. Ele não nos permite perceber a nuvem de partículas partículas
que os físico
físi co s afirmam constituir a realida realidade de do tigre ”.. 380
tigre ”
Podem os dize dizerr qu quee a reali
realidade
dade é um consenso mais ou menos
172 C IIBB E R C U L T U R A , T E C N O L O G IA E V ID A S O C IA
172 IA L N A C U L T U R A C O N T E M P O R Â N E A i
a idéia de virtual que é estranha estranha mas, como m ostra J. Lam ier, a pró-
pri
p riaa id
idéé ia d
dee re
reaa li
lidd ad
adee ta
tamm b ém o é . O que identificamos
identificamos co
como
mo rea
realida-
lida-
de é conseqüênc
con seqüência ia de condiçõe
condiçõess hist
históricas
óricas específ
específicas,
icas, de uma p er-
cepção particular
pa rticular do tempo e do espaço, da natureza e do art
artifí
ifício,
cio, da
vida e da morte. A realidade, ou aquilo que tomamos por real, pode
ser vista com o o ciberespaço de Gibs
Gibson,
on, como uma forma de “aluci-
nação consensual” produzida e mantida por um consenso (mais ou
menos temporário).
Todas asas tecnologias
tecnologias,, como afirmou
afirmou MMcLuhan,
cLuhan, com plexificam
nossa visão do mundo. A escrita, a imprensa, o carro, os satélites, o
telefone, o rádio, a televisão, e assim por diante, são tecnologias e
complexos tecnológicos que mudaram para sempre o modo de vida
ocidental. A realidade virt
ocidental. virtual
ual se enquadra bem nesta n esta perspectiva. Ela
perm
pe rmit
itee p
poo r em jo
jogg o co
conv
nvic
icçç õe
õess e cco
o m p lex
le x if
ific
icar
ar n o s sa v isã
is ã o d
doo m un-
do. Nesse sentido, “a tecnol tecnologia
ogia pode
pod e nos da r mais da realidade realidade do
quee a natureza”m
qu natureza”m .
O verdadeiro
verdad eiro problema é não dizer que ttudo udo será virtualizado e
que, por isso, vamos perder a senso da realidade, mas apontar com
um dedo arrogante o que éé,, ou o que deve ser “A” realidade. Sabemos
que todos os totalitarismos e atrocidades da humanidade foram co-
metidos em nome e d
metidos defesa
efesa de uma real
realidade
idade única, que deveria ser
imposta a uma outra, supostamente falsa ou perigosa. Como mostra
Jacob, (...) “nada é mais perigoso que a certeza de ter razão. (...)
Todo
To doss os massacres fora
fo ra m cometidos pela virtude n om e de uma
virtude,, em nom
religião verdadeira, de um nacionalismo legítimo, de uma política
nea, de uma ideologia justa... ”
idônea,
idô ”..382•
• ANDRÉ LE
LEMOS 173
MOS
C a p í t u l o IV
C o r p o e t e c n o l o g i a
Cibersexo
N o w t h a t’s wh at / c
No caa ll Virtual
Virtua l Sex! P e a c e & L ove
ov e & Fun.
Fun.
John
Jo hnny
ny H a eu sler
sl er “ J
174 | CIBERCULT
CIBERCULTURA,
URA, TECNOLOGIA E VIDA SOCIAL
SOCIAL NA CULTURA CON
CONTEMPO
TEMPORÂN
RÂNEA
EA •
• ANDRÉ LE
LEMOS
MOS | 17 5
Paris,
vivenciavam em 1994. e sta Uma
esta simulação pessoa na Alemanha
sexual.
sexual e uma poderíam
. Os participantes outra emParis se ver
po
p o r u m a tela. te la. A mulhmu lher er,, que
qu e e sta
st a va em Paris
Pa ris,, via
vi a a imaim a gem
ge m d o seu
se u
parc
pa rceieiro
ro,, q ue e sta st a v a n a A lemle m anha
an ha,, e vice
vi cev
ver
ersa
sa.. Pelo
Pe lo inte
in term
rm é d io de
um jo j o y s t i c k , os pa
participantes
rticipantes tocaram,
tocaram , através de uma seta, pontos do
corpo do outro. A parte tocada era sentida à distância pelo parceiro.
Claro que as sensações são, até agora, muito rudimentares, asseme-
lhandose
lhan dose a pequenas
pequen as desc d escarga
arga^elé^elétricas
tricas,, mas o potencial
potenc ial é enormen orm e38
e388.
Os computadores aumentaram muito nossa fascinação com a
po
p o ssib
ss ibililid
idad adee d e e x p e r im e n tar ta r nov
n ovas as form
fo rm as d e sex
se x u a li
lidd ade:
ad e: d e sde
sd e a
po
p o ssib
ss ibililid
idad adee d e e x p e rim ri m e n tar
ta r p a péis
pé is sex
se x uais
ua is d if
ifee ren
re n tes
te s (nos
(n os chats,
Mud
M uds, s, n e w s g ro rou u p s. ..)) até a excitação à distância com sensações
s... sensaçõe s cor
6 | CIBERCULTURA
176
17 CIBERCULTURA,, TECNOLOGIA
TECNO LOGIA E VIDA SOCIAL N A CULTURA CON
CONTEM
TEMPOR
PORÂNE
ÂNEA
A•
pa o"rais
po rainscrição
is com
co m o cda
o msexualidade
a RV3
R V3889. 0 c iber
ib
em erse
sexx o fa
f a z pa
computadores p a rte
rt e dée sse
ss e am
partea mde
b ien
ieuma
n te ond
on de
ten
dência largamente documentada que as pess oass têm de an
pessoa opom&rr-
antt ropom&
tfll r a r e o m p iU m i b r e s ”
fttf
ft ”3390.
corpo tornase um híbrido,
híbrido, campo de intervenções artifici
a rtificiais
ais com
comoo a
cirurgia plástica, a engenharia genética, as nanotecnologias.
nanotecno logias.
Donna Haraway, como veremos a seguir no capítulo sobre os
cyborgs, mostra que estes têm uma subjetividade híbrida, podendo,
assim,
assim, escapa
e scaparr a uma rigidez identit
identitária.
ária. O cyborg, m metade
etade orgânico,
metade artif
a rtifício,
ício, possui para Haraway uma identidade
ide ntidade parcial e con-
co n-
traditória,
traditória, aceitando a diferença em vez de lutar contra ela. O cibersexo
expõe este corpo cyborg. A cibercultura
cibercultura revela
revela o desejo
d esejo de junção
jun ção do
corpo biológico com os sistemas tecnológicos digitais, colocando
nos totalmente no cerne
c erne da sociedade informacional (Castells).
(Castells).
Cyborgs
D e Cláud
Cláudia
ia Liz à Michael Jackson, do ffísico
ísico Stephen
Stephen Hawking
Haw king à
vovó com marcapas
marcapasso,so, dos cibemautas da internet aos deserdados da
hemodiálisee de Pernambuco,
hemodiális Pernambuco, do corpo marcado por p or p
pie
ierc
rcin g s e tatoos,
ing
ao piloto que interage pelos olhos com o avião; um mesmo processo
está em jogo: a virtualização e cyborgização
cyborgização da cultura contemporânea.
A profusão ded e equipa
equipamentos
mentos baseados no princípio da informa-
ção, da comunicação e da miniaturização, nos revela, em todos os
momentos da vida quotidiana, a tecnologia onipresente, chegando a
colonizar
colon izar nossos corpos. É a relação íntima entre o orgânico e o ele ele••
• ANDRÉ
ANDRÉ LEMOS
EMOS / 77
A questão da artartific
ificiali
ialidade
dade está present
presentee desde a formaç
formaçãoão do
homem
home m e das primeiras sociedades
sociedades.. Toda formação social se estabele-
ce numa circunscrição (que necessit necessitaa o controle e a transformação)
transformação)
da natureza. A cultura emergente é resultado de um processo de
artificialização da natureza. Serge M oscovici trat tratou
ou desse
dess e assunto no
seu exc
e xcele
elente
nte “L a ssocié
ociété
té ccont
ontre
re n
nature
ature”3
”39
93.
[ O que causa o surgi
surgimento
mento do gênero humano, e sua supremacia
sobree os demais animais, é justam
sobr justamente
ente a possi
possibili
bilidade,
dade, em construindo
a cultura
cultura,, de elevarse acim
acimaa da natureza e para além dela. O processo
de cyborgização contemporâneo nada mais é que a continuação inelu-
tável
tável dessa ordem a parte formada pelo pelo homem
homem,, de sua saída d a natu-
rez a na construção de uma segunda or ordem
dem artif
artifici
icial.
al.
Analisando trabalhos de antropólogos e paleontólogos,
M oscovici mo stra que em nenhuma fase de sua evolução o hom em
esteve dep end ente apenas do orgânico ou do instintivo. A socied a-
de constituise,
constituise, justam ente, na af
afirmação
irmação de sua independênc ia em
relação à natureza (ir
(irracionalidade,
racionalidade, acas
acaso,
o, anim alidade, instintos,
etc.),
etc. ), num a posição de defesa contra as int
intem
em péries do m undo na-
tural.. A s ociedade é, ness e senti
tural sentido,
do, uma contra natureza. A ques-
tão do artificial se descola, assi
assim,
m, de uma possível dicoto m ia com
o natural, pois a sociedade e o homem se for form
m am no p rocesso de
artificialização do m undo. Assim, “o homem
“o hom em se
sem
maarr te
te,, se
semm té
técc n ic
icaa
gee s tu a l e m en
g enta
tal,
l, n o s é d e s c o n h e c id o ” 394.
O italia
italiano
no Ezio M anzin
anzine3 e3995 mostra, co com mp
precisã
recisão,
o, q
que
ue toda ação
humana se desenrola nos fatos culturais que, por sua vez, têm como
característica
caracterís tica essen
essencial
cial a ar
artificial
tificialidade.
idade. Co Como mo vim
vimos,
os, o artificial é tudo
aquilo produzido pelo hom em e qu e não tem por si mesm o apo apossi
ssibi
bi
178 I CIBERCULTUR
CIBERCULTURA,
A, TECNOLOGIA
TECNOLO GIA E VIDA SOCIAL N A CULTURA CON
CONTEMPO
TEMPORÂN
RÂNEA
EA •
• ANDRÉ LE
LEMOS 179
MOS
p riaa a tmo
pri tm o s fer
fe r a c u lt
ltuu ral,
ra l, so
soci
cial
al e e con
co n ô m ica
ic a d e sse
ss e fim
fi m d e s é c u lo q u e
e st
stáá em jo g o 403.
A civilização do virtual v irtual impõe, assim,
assim, a desordem
desordem,, o inespera-
inespera -
do, o ordinário.
ordinário. Se as massas m assas já não podem ser sondadas, é a própria
noção de social,
social, comocom o pensado pela sociologiasociologia clás
clássica,
sica, que desman
de sman- -
chase
ch ase pelas
pela s m aiorias
aio rias silenciosa
silenc iosas4s4004. 0 Big Bang
B ang dess
d essaa vez
ve z é social.4
so cial.4005
pClasse,
pro
robb lem atindivíduo,
le m atiz
izad
ados pe la alienação,
os pela efe
e ferv
rves
escê
cênc gênero
ncia
ia socia passam
so ciall tri
triba
bal,l, estéatica
es téti ser, pre
ca, prconceitos
e sent
se ntee ísta
ís ta
da cultura contemporânea, como vimos. É nesse contexto que pode
surgir o discurso sobre os cyborgs.
cyborgs.
Os cyborgs
cybo rgs só podem existir num m mundo
undo traduzido
traduzido em informa-
ções, tempo
temp o real e ciberespaço. O cyborg é capital para a cibercultura.
Ele simboliza
simbo liza todo o processo simbiótico
simbiótico da cultura contemporânea
com o advento das tecnologias do virtual406. Esse processo é a
cyborg
cyb orgizaçã
izaçãoo da
d a cultura,
cultura , a era
e ra da máqu
m áquina
ina vital40
vital407. Nã Nãoo é ao acaso
acas o que
o discurso sobre os cyborgs emerge em erge no contexto da pósmodernidade:
pósmode rnidade:
“não é p or acide
acidente
nte que o moderno tr tranfo rmou-see em pó s-m ode m o
anformou-s
assim como os humanos em cyborgs. Nem que a cibercultura está
expan dindo-se ex
expandindo-se exubera
uberante
nte e iinsidi
nsidiosamente,
osamente, como a intern
internet,
et, em re
crea
creaçã
ção,
o, tra
trabal
balho
ho ep o lítica ”m .
Co rpo hi
hipert
pertexto-
exto-
Nacivilização
N
do pela a virtuali
virtu aliza
zaçã
ção
dooexcesso
d acesso
ex cultu
cu ltura
ra contem
co ntempor
e dos porâne
múlt
múltiplosânea,
iplos a, o corp
co rpo
poderes40
poderes4 0o9.vai ser
se r m arca
0 corpo arpós
ca-
-
modemo é superfície de escrita de vários textos: ideológico (o corpo
inscrito no fluxo das modas), epistemológico (corpo cínico, travestido),
semiótico (o corpo
c orpo com
c omoo signo flutuante)
flutuante),, tecnológico (os media, as re-
des telemáticas, as nanopróteses), econômico (corpo desejo de consu-
mo) e políti
po lítico
co (corpo nas massas
massas). ). Como
C omo mostra
mo stra Kroker
Kroker,, o corpo entra
em sua fase pósmodem
pósm odemaa como um u m corpo virtual
virtual das tecnologias
tecnologias di digkais,
gkais,
metade carne, metade ciberespaço: “nervos de chipsr, visão espectral,
com personalidades fl flu
u tu
tuaa n te
tess que pr
pree
eenc
nche
hem
m o ciciber
beresp
espaç
açoo co
comm o tter
er
ceiro (tec
(tecnol
nológic
ógico)
o) eestág
stágioio da evo
evolução
lução h
huu m a n a”
a”4
410.
O corpo tomase um espaço de experiência numa espécie de
hacking bi
bioo lóg
ló g ic
icoo 411. E le é, assim
as sim,, “scaneado ”, interpretado enquan-
enqu an-
to sistema
sistema de processam ento de iinformação,
nformação, sendo, ao mesmo
mesm o tempo,
carne e informação. Na esfera e sfera do biológico,
biológico, como na esfera
e sfera do social,
social,
180 CIBERCU
CIBERCULTUR
LTURA,
A, TECNOLOGIA E VIDA SOCIAL NA CULTURA CONT
CONTEMPOR
EMPORÂNEA
ÂNEA •
tratase do desaparecimento do corpo
tratase co rpo “naturalizado”,
“naturalizado”, num processo
de exteriorização
ex teriorização e interiorização:
interiorização: hiperexteri
hiperexteriorização,
orização, com diversos
implantes (lentes de contato, marcapassos, hemodiálises e
nanotecnologias);
nano tecnologias); e hiperinteriorização,
hiperinteriorização, com a construção
con strução de subje
tividades pelos media e as novas redes eletrônicas (o ciberespaço).
Talvez possamos pensar, aqui, na idéia de “corpo sem órgãos” de
D ele
eleuz
uzee e G ua
uatta
ttari4
ri4112.
Seja
Se ja na radicalização discursi
discursiva,
va, seja pela artificiali
artificialização,
zação, o corpo
vive numa cultura do excesso413, passando por um processo de
restruturação, de obsolescência e virtuali
virtualização.
zação. O cyborg,
cybo rg, híbrido de
cibernética e organismo, só pode existir num mundo traduzido em
informaçõe
inform açõess binárias,
b inárias, regidas pelo princíp
p rincípio
io da cibernétic
ciber nética4
a4114. Cyborgs
são seres simbióticos, misturas de carne e máquinas cibernéticas415,
que surgem de novos paradigmas tecnocientíficos como o eletrôni
codigital e a biogenéti
biogenética.
ca.
Em ambos está em jogo a tradução do mundo em pequenas
quantidades de informação. Assim,Assim, os circuit
circuitos
os eletrônicos que ppo-
o-
dem ser implantados
implantados num nervo ótico ótico permitindo
permitindo um cego reconhe-
reconh e-
cerr texturas41
ce texturas416 e o projeto Genom
Gen omaa Humano, partem do mesmo
me smo prin-
cípioo informacional do mundo.
cípi mundo. É com o surgimento da sociedade de
informação e do corpo simulacro que a figura do cyborg pode pod e sair da
ficção científica
cien tífica e ingre
ingressar
ssar na vida quotidiana.
quotidiana.
Ficção e realidade
N o sso
No ss o im
i m agin
ag inár
ário
io é perm
pe rmea
eado
do ddee sere
se ress artif
ar tific
icia
iais
is.. E
Est
stes
es nos
no s che
ch e -
gam desde a Antiguidade: Galetéi G aletéia,
a, criada por Pigmalião, as estátuas estátuas
vivas de Dédalo, o Golem da tradição judaica, os homúnculos de
Paracelso, os autômatos
autôm atos artificiais
artificiais da Idade Média,
M édia, os robôs, andróides
a ndróides
e cyborgs do século XX.
Os primeiros
prime iros seres artificiai
artificiaiss vieram ao mundo
m undo pelo ato didivino;
vino;
ou é o sopro vital que anima o barro, ou o nome de Deus escrito e
colocado
coloca do na boca
bo ca do Golem, ou a descarga elétrica do Dr. Dr. Frankens
tein417, ou o amor pela Eva Futura de Villiers de L’IsleAdam... Com
as primeiras criaturas
c riaturas artificiais,
artificiais, o divino anima
an ima e realiza a obra dos
homens. Já os autômatos são animados
animados pela força da m mecânica,
ecânica, pe-
los paradigmas
paradigm as newtonianos
new tonianos de energia, fo força,
rça, movimento,
movim ento, regulari-
dade. Eles
E les não são mais a vida que se infiltra
infiltra no artifício,
artifício, mas
m as a vida•
vida •
• ANDRÉ LEMOS
LEMOS | 181
minados
min ados pelo trabalho e pelo poder d ditat
itatorial
orial.. Os autôm atos e os ro-
b ôs são
bôs sã o esc
e scra
ravv os d a rree g u la
laçç ã o m
mee câ
cân n ic
icaa de susuas
as p
pee ça
ças,
s, d e u m a eest
stri
rita
ta
gestão sincrônica do tempo e da sua ext externa
erna programação elet eletrome
rome
cânica.
O con
conceito
ceito de cyboig, na fi ficção
cção cientí
científica,
fica, parece surg surgirir de um
umaa
história de A rthur Clark de 19 1965
65,, intitulada
intitulada The City and Stars,,
an d the Stars
designan
desig nando
do os or organis
ganismo mo cibernéticos4
ciberné ticos42 20. O ccinem
inem a exp explorou
lorou muito
essa
es sa im ag
agemem on
ondede os re replic
plican antes
tes4421 de B
Blaladd e R u n n e r (Sco
(Scott,
tt, 1982), o
Terminator (Cam
(Cameron,
eron, 1991)1991) e o R Ro o b o co
cop p (Verhoeven, 1987), depois
do popular H Hoo m em d e Se Seisis M ililh
h õ e s d e D ólólar es.. Eles enriqueceram
ares
nosso imaginário com as possibilidades de simbioses entre os corpo
humano
huma no e máquinas4
máquinas42 22. 0 imaginário do do cyborg alcanç
alcançaa uma um a nov
novaa di-
mensão
me nsão na dé
décad
cadaa de 80 com a ficção ccientífica
ientífica ccybe
yberpun
rpunk4
k42
23.
Para os cyberpunks, a N New
ew Ed ge,, a nova fronteira eletrônica, é
Edge
marcada pela simbiose entre os homens e as novas tecnologias. A
enge
en genh
nhar
aria
ia gen
genétic
éticaa e as nanotecn
nanote cnolo
ologia
gias4
s42
24 são hoje um a realidade.
realida de.
Elas permitem a manipulação do ccorpo orpo humano (do seu código gené-
tico
tico e introdução de m máquinas/próte
áquinas/próteses) ses) com diversos objeti objetivos
vos (mé-
dico, erótico, estético).
estético). ComComo o profetiza u umm dos portavozes do m ovi-
mento
men to cyb
cyberpun
erpunk, k, R. U. Sir Sirius,
ius, editor da revista califo califom m iana M ondo
2000, “ com o século X X dese desenhando
nhando se seuu fim , a essênc
essência nossass
ia de nossa
atividades social
social,, popolíti ca e econômica acontece em um espaço não
lítica
f
fíí s ic o e m e d ia
iati
tiza
zadd o . S o m o s m e n o s e m e n o s ccri
riaa tu
tura
rass d
dee ca
carn
rne,
e, os so
osso
e sangue...; somos mais e mais criaturas de espírito-zapping, bits e
bytes
byt es movendo-se po r a í na vel veloci dade da luz ” 42S.
ocidade
2 | CIBERCULTU
182
18 C IBERCULTURA
RA TECNOLOGIA E VIDA SOCIA
SOCIALL N A CULTURA CONTEMPO
CONT EMPORÂNEA
RÂNEA •
narop
p
pro eporganismo; cyem
õ e v e r os cyb resumo
res
b o rg
rgss umo
c o m somos
o u m a todos
se
sexx u acyborgs
li
lid ”4
d a d e hí
híbb2ri
9.dDo
ridDa ,o n n adH
s en
end Ha
oaura
raw
mw ay
ay,,
o r-
ganismo que possui um umaa identi
identidade
dade parcial e contraditória, aceitando
a indiferenciação. Ele poderia, assim, assim, nos liberar das hierarquias
h ierarquias soci-
ais,, do rac
ais racismo
ismo e do sexismo que impera na civilização ocidental.
Levar a sério o imaginário do cyborg permite escapar do mito
falocêntrico do Pai criador e quebrar a visão unitária de gênero. Se o
cyborg é um híbrido, ele não é autopoiético, ele não pode replicar
cópias
cópi as dele m mesmo.
esmo. Embora, como insist insistee Hara
Haraway,
way, o discurso do cyboig
po ssaa se
poss serr um in
instr
strum
umen
ento
to de lib
liber
eraç
ação
ão fe
femm in
inist
ista,
a, ele
el e é, e m re
real
alid
idad
ade,
e,
fruto de um umaa socie
sociedade
dade tecnocrática, p patern
aternalista
alista e m ilitar4
ilitar43
30. Nesse
momento, o corpo se li livra
vra da met
metáfora materna,, já que o cyborg “nã
áfora materna nãoo
sonha com a comunidade sob o modelo da fam ília orgâni orgânica,
ca, desta vez
sem o projeto edipiano.
edipiano. O cyborg não reconhece o jardim jar dim do Éden, ele
não é feito
fe ito do barro
barro e não pode sonhar em voltar ao p ó ”43'.
Segundo Hara Haraway,
way, o cyborg sur surge
ge em meio à cultura contem contem- -
po
p o râ
rânnea a p
paa rt
rtir
ir de tr
três
ês ab
abal
alos
os d
dee fron
fr onte
teir
ira:
a: en
entr
tree os an
anim
im a is e os sser
eres
es
• ANDRÉ LEMOS
LEMOS | 1833
18
onde as fronteiras
fron teiras entre cultura e natureza entram
e ntram em colapso4
colapso 432.
A terceira
terc eira ruptura é diretamente ligada
ligada à segunda e referese
refe rese ao
nível de imprecisão da separação entre o físico e o nãofísico. Aqui,
estamos no centro da virtualização do mundo. A desmaterialização
numérica do mundo nos leva ao centro desse furacão dos sentidos
que é a indiferenciação cada
c ada vez maior
m aior entre o visível
visível e o não visível,
visível,
entre o físico e o nãofísico. A miniatur
m iniaturização
ização e a transformação
transform ação do
mundo em bits muda, de forma radicalradical,, a nossa experiência do mundo
newtoniano.
newtoni ano. Em contraposição
contraposição ao m undo analógico,
analógico, o cyborg nasce
da num erização do mundo.
O mito do cyborg surge para quebrar fronteiras, potencializar
fusões e simbioses, para abalar a hegemonia
hegemon ia do do discurso feminista
fe minista (e
de esquerda em geral), que consiste em pensar a vida social como
estabelecida
estabel ecida em dicotomias
dicotomias bem clara
claras.
s. Haraway pensa o m undo do
cyborg com o aquele
aqu ele em que as realidades
realidades social
social e corporal são vivi-
viv i-
das por uma sociedade que não tem medo de se juntar à matéria
inorgânica, de perder permanentemente suas identidades, de experi-
men tar a complexidade
mentar comp lexidade e a contradição.
contradição. Todo o jogo jo go político contem -
por
p orââ n e o e stá
st á no c o n fr
froo n to entr
en tree esta
es tass duas
du as pers
pe rspe
pect
ctiv
ivas
as..
No
N o m u n d o d o cybo
cy borg rg,, trat
tr ata
ase
se m uito
ui to m ais
ai s de a fi
finn ida
id a d e d o que
qu e
de identidade. Maffesoli
M affesoli fala da passagem de uma lógica da identidade
(típica da modernidade) a uma lógica da identificação. Esta estaria
dando exemplos
ex emplos na vida quotidiana
quotidiana contemporânea.
contemporânea. A lógica de iden-
tificação opera muito mais por afinidade que por identidade433. As
questões de classe,c lasse, raça e gênero nos foram impostas pelas terríveis terríveis
condições
lismo.
lis históricas
mo. A identidade
ide ntidade cyborgdo colonialis
colonialismo,mo,
se constitui
constit uido patriarcalismo
patriarcali
a partir de umasmo e do capita-
afinidade, lon-
ge da lógica da apropriação
ap ropriação de uma (e única) identidade.
identidade. Seria ela a
única a poder
po der criar uma polít política
ica que abrace o parcial,
parcial, o contraditório
con traditório
e as construções abertas, pessoais e coletivas.
Haraway
Hara way traça uma crítica
crítica contra o marxismo, o socialismo femi- fem i-
nista e o feminismo radical, mostrando como eles fracassaram como
estratégia
estrat égia de identidade (marxismo estrutura de classe e alienação
pelo
pe lo tr
trab
abal
alho
ho,, fem
fe m inis
in ista
tass socia
so cialist
listas
as traba
tra balho
lho com
co m o dom
do m inaç
in ação
ão m as-
as -
culina e capitalista,
capitalista, feminismo ra
radica
dicall desejo do outro, objetivação
objetivação do
• ANDRÉ LE
LEMOS 185
MOS
rodas motorizada,
motorizada, e sua voz é gerad
geradaa por um cir
circuit
cuito
o di
digital
gital e é a m
mesma
esma
quando ouvida
ou vida em presença do fís
físico
ico ou pelo tel
telef
efon
one:
e: u
uma
ma voz maquínica
indiferenciada. Outros exemplos, no campo da arte da performance, são
indiferenciada.
para
pa radig
digmá
mátic
ticos
os,, ccom
omo o o artist
art istaa austr
australia
aliano
no Ste
Stelarc
larc,, o h
hip
iper
erce
celis
lista
ta Yo Yo
Ma (onde homem, instrumentos, computadores e sensores se compor-
tam com
como ou
um m únic
único o sistema cibernético43
cibernético439), o cibernôm
cibe rnômade ade Steve M Mann
ann
do que vive de forma errante ligad ligado o por tecno
tecnologi
logias
as microel
microeletrô
etrô
nicas como computadores, celulares, satélites e, num outro nível, até o
corredor com seu w walkman
alkman ou o videocon
videoconferen
ferencist
cista.
a.
Um dos melhores exemplos do cyborg protético está nas
pee rf
p rfoo rm a n c e s d o c ibe
ib e r
raa rt
rtis
ista
ta Ste
Stela
larc
rc.. E le u til
tiliz
izaa se
seuu p ró
rópp ri
rioo c o rp
rpoo
como ambiente, expandindo o caráter ao mesmo tempo repulsivo e
fascinante da junçãjun çãoo corpomáqu
corpomáquina. ina. Stelarc
Stelarc leva ao extremo a fusão
do corpo com co m as novas tecnologias, utili utilizando
zando seu próprio corpo como com o
espaço, buscan
buscando do red
reduzir
uzir a oposi
oposição
ção entre o natural e o art artifici
ificial.
al. Seu
corpo é o seu simulacro.
Sua obra se resume a um umaa tent
tentatiativa
va de estender o corpo huma-
no com cibec iberm
rm eca
ecanis
nism m os, visando,
visand o, assim
assim,, red
redefin
efinir
ir o hu
hum m ano4
an o4440. As
evoluções das diversas próteses são realizadas em perfeita sintonia
com seu corpo, efetuadas p por
or movimentos voluntári
voluntários os e involunt
involuntários
ários
de seus músculos (o movimento de uma mão m ão robot
robotizada,
izada, por exem-
plo,
pl o, é co
com an dad o p pee lo
loss m ús
úscu
culo
loss d
dee seu
s eu es
estô
tômm a g o e d e ssu
u as p er
erna
nas)
s)..
Para Stelarc, “na era da sobrecar sobrecarga ga de informação, o q queue é sig
signifi
nifi
cativo
cati vo nnão
ão é m ais a li liberdade
berdade de idé idéiasias mas preferencial
preferencialmentemente a li
dadee de form as liberdade pa ra mod
berdad
ber modif ific
icar
ar,, liberdade pa ra m uda udar r
o seu corpo.
corpo. (..(...)
.) a liber
liberdade
dade fund am enta entall par
para a determ
determinarinar sseu
eu p ró
prr io d e stin
p st ino
o d o D N A (D (DN N A de
dest inyy j ”44
stin ”441.
O cyborg,
cyborg , ao qual se refere Hara Haraway,
way, é o cyborg protético, em
contato íntimo com c om p próteses
róteses arti
artifici
ficiais
ais desenvolvendo “ p per
erp p et
etuu a m en te
ente
identidades pa parcia is”.. Os cyborgs protéticos
rciais” protéticos possuem uma u ma subjetivi-
dade associada
assoc iada a um a combinação físi física
ca do biológi
biológico
co e do tecnológico.
Para Haraway, o cyborg protético libertase do mito falocêntrico da
origem
ori gem q que
ue fundou no Ocidente a di divisão
visão de
de gêneros. A í emerge todo
o potencial libertador do cyborg: ao fugir do mito falocêntrico, ele
escapa da estrutura da Civilização Ocidental, tomandose livre da
opressão da história. Visto que a opressão no Ocidente foi sempre
exercida pelo homem, Haraway propõe que os cyborgs protéticos
po
p o d e m se r pa
part
rtic
icuu la
larm
rm e n te libe
lib e rt
rtad
ador
ores
es pa
para
ra as m ul
ulhe
here
res.
s.
186 | CIBERCUL
CIBERCULTURA
TURA,, TECNOLOGIA E VIDA SOC
SOCIAL
IAL N A CULTURA CONTEMPOR
CONT EMPORÂNEA
ÂNEA •
O cinem
c inemaa nos mostra, de forma implacável
implacável,, outro tipo de cybor
cyborg,
g,
o interpretativo, como aqueles de Laranja Mecânica
Mecâ nica (Kubrick, 19
1971
71),
),
de Videodrom e (Cronnenberg, 1983 1983)) ou de 19
1984
84 (Orwell). Aqui não
está em jo go a fusão corpor
corporal
al da máquina e da carne. A ntes, o cyborg
interpretativo se constitui pela influência dos mass media, coagido
que é pelo poder da televisão ou
ou do cinema. Assim, a cultura de massa
e do espetáculo nos fez cyborgs interpretativos. O espetáculo forma
os cyborgs inte
interpret
rpretativos
ativos de acordo com a definição do espetáculo
dada por Debord442.
Corpo-rede
N o c ib
No ibee re
ress p a ç o o c o rp
rpoo d e sa
sapp ar
arec
ecee da
dann d o lu g a r a es
espp ec
ectr
tro
os
(Guillaume4
(Guillau me44 44) qu
quee circu
circulam
lam co
como
mo informações. Ros Rosannannee St
Ston
onee vai iden-
tificar nos intem
intemautas
autas do ciberespaço um cyborg envy , ou um desejo do do••
• ANDRÉ LEMO
LEMOSS | 18
187
7
cyborg. O exemplo
ex
e que desejam
dese emplo
jam dos ahackers
superar queentre
fronteira penetram os sistemas
o corpo físico e ainformatizados
físico rede, caracte-
ca racte-
riza este cyborg envy. Uma
Um a de suas característ
características
icas é a quebra ddee frontei-
ras: “o corpo uni
unitári
tário,
o, cercado e segura
seguramente constituíd o no
mente cuidado, constituído
quadro da modernidade
mode rnidade bur
burgues
guesa,
a, est
está
á entrando em um proceprocesso
sso gra
duall de translação pa ra as reconf
dua reconfiguraç
igurações
ões e reinscrições da ccomomuni
uni
dade do ciberespaç o. ”445. Stone vai mais longe e propõe que “catego
ciberespaço.
ri
rias
as analít
analíticas
icas têm se tom ad
adoo pouco conf
confiáve
iáveis
is para fa ze r uma distin
ção útil entre o biológic
biológico tecnológico.... ”446.
o e o tecnológico..
Para o netcyborg do planetário corporede,
corporede, queq ue é o ciberespaço,
ciberespaç o,
o corpo
corp o é um grande
gran de hipertexto44
hipertexto447 simbiótico ccom
om o am biente
bien te digital
das redes eletrônicas. A atual dinâmica do desenvolvimento
desenvolvim ento de redes
de computadores por todo o planeta e seu crescimento exponencial,
apresenta o ciberespaço como um sistema autoorganizante,
hipercomplexo
hipercom plexo e vivo.
vivo.
É neste sentido que J. de Rosnay analisao sob o conceito de
Cybionte, uma
u ma en
entidade
tidade cyborg formada pelos nossos
nossos neurônios
neurô nios e as
redes de circulação de informação digitais,
digitais, com
comoo vimos. O Cybionte
C ybionte
é, para Rosnay, um organismo, uma forma emergente da simbiose
entre a cibernética e o biológico,
biológico, um corporede, um cé cérebro
rebro planetá-
plane tá-
rio form
formado
ado pelo cérebro humano, computadores
computado res e redes. O Cybionte
Cyb ionte
é “um organis
organismomo planetário ún úniico
co,, a for m a mais ava nçada de um
avançada
cérebro
cérebr o planetário
plan etário em vias de constit uição ”448.
constituição
O homem simbiótico, ou o netcyborg, seria aquele “ conectado
biologicamente
biologicam ente ao cérebr
cérebro
o plane
planetário
tário do CyCybio
bionte ... ”44
nte... ”449. 0 ciberesp
cibe respaço
aço
é um imenso corpo sem órgãos, um corporede. Este corporede
Cybiôntico,
Cybiônti co, de maneira
m aneira diferente
diferente da atuação da grande rede que conhe- co nhe-
cemos
cem os da televisão, é plural, rizomático, aberto e não centralizado.
centraliza do. Ele
forma hoje o que poderiamos denominar
deno minar de World Wide Wide WeWebbed
bbed Bo dy
Body
(Kroker e Weinstein).
Weinstein). Assim,
A ssim, o corpo hipertexto
hipertexto do cyborg da d a rede nos
faz cyborgs interpretativos. Este corpo hipertexto está presente na
interface do WWW, nas multipersonalidades dos MUDs e IRCs, na
efervescência e agregação das comunidades virtuai virtuais.
s. No que
qu e se rrefere
efere
aos MUDs
MUD s e IRCs, onde os usuários
usuários podem assumir
assum ir diversas configu-
rações de gênero (masculino, feminino, travestido, sem gênero), fica
evidente o processo
proce sso de cyborgização da personalidade.
personalidade.
Elizabeth Reid toma a questão
questão por um mesmo
me smo ponto
p onto de vista, ao
mostrar os MUDs/IRC
M UDs/IRCss como
com o fenômenos que colocam
colocam o gênero, a sexu sexu
188 | CIBERCULTURA,
CIBERCULTURA, TECNOL
TECNOLOGIA
OGIA E VIDA SOCIAL N A CULTURA
CULTUR A CONTEM
CON TEMPOR
PORÂNE
ÂNEA
A•
alidade, a identidade e o ccorpo
alidade, orpo para além de suas fronte
fronteiras.
iras. O neicyborg
tem, assim, uma personalidade híbrida, constantemente construída e
reconstruída no ciberespaço450. Livre de todos os constrangimentos físi-
cos, o corpo tomase puro símbolo digital. No entanto, os usuários são
mais que simples quantidades de bits, “eles são cyborcyborgs,
gs, um
umaa ma
manifesta
nifesta
ção do eu pa
para
ra além da univem
univemss físico, exi
existindo em um espaço onde a
stindo
identidade é auto-definida
auto-de finida m
mais
ais do que pré-or
pré-ordenada*5
denada*5'
'
Um a inversão se reali
realiza
za sobre a questão da identidade quando
esta é pensada no contexto do ciberespaço. Se na vida real, o corpo
determina a identidade e as formas de sociabilidade
sociabilidade daí emergentes
(Goffman4
(Goffm an4552), no cib
ciberesp
erespaço
aço a iden
identidade
tidade é amambígua
bígua,, não existin
existindo
do
certezas (sexo, classe, raça) para a determinação das formas de
interaç
interação.
ão. Se
Semm um corpo físifísico
co como âncora, não há identidade fe-
chada, mas identificações efêmeras e sucessivas. Assim, se na vida
real o corpo indica e, de certa forma, determina as interações, no
ciberespaço não há identidade, mas identiidentificação
ficação (M affesoli
affesoli).
).
N ovas
Nov as form
fo rmasas d
dee soc
sociab
iabilid
ilidad
adeses pa
pass ssam
am a seserr ex
expe
peri
rim
m enentatada
dass pe-
los netcyborgs das redes elet eletrônic
rônicas.
as. Existe, então, a possibilidade d dee
jog
jo g o s de id
iden
entid
tidad
ades
es c om as sua suass vár
v ária
iass ffor
orma
mass d
dee id
iden
entif
tific
icaçação
ão (IR
(IRC,
C,
MUDs, BBS, Newsgroups, WWW, etc.). O WWW, por exemplo, age
como um a espécie de casa, um cartão de visi visita
ta do usuári
usuário.o. EEle le é aberto
a reco
reconfigura
nfigurações
ções futuras, e não é à toa que as H Hoo m e p a g e s estão sem-
pre, co
com m o a iide
dentntid
idad
adee aaíí revela
rev elada
da,, unde
underr constructi
construction.on. Já nos MUDs,
IRCs, Usenet, BBS, listas, etc,, o usuário pode ser outra pessoa/coisa,
ele pode jo jogg ar ccom
om caracteres e ident identidades
idades protegido pelo anonimat anonimato. o.
A sociabilidade on-line caracteri
caracterizase
zase como um umaa espécie de esconde
esconde, onde o usuário pode assumir e experimentar identificações
sucessivas às diversas comunidades virt virtuai
uais.
s.
O netcyborg está então livr livree para o exercício de multipersonali
multipersonali
dades, agindo por po r si
sinceridades
nceridades sucessivas ((Maffesoli),
Maffesoli), desenvolve
desenvolvendo, ndo,
assim,
assi m, uma
u ma foforma
rma de social
socialidade
idade eleletrônica
etrônica barro
barroca.
ca. As diversas comu- com u-
nidades virtuais emergentes do ciberespaço proporcionam emoções
coletivas, identificadoras, não com o indivíduo preso a uma identidade
fechada, mas co
fechada, com
m p
pee rs
rsoo n a s de diversas
diversas máscaras. No fund
fundo,
o, tratase de
uma forma
form a de comunicação muito próxima da comunhão, ond ondee as no-
vas tecnologias agem como vetores de agregação, criando redes de
convivialidade. Está em jogo a criação de uma obra de arte coletiva,
uma ética da est
estéti
ética.
ca.
• ANDRÉ LEMOS
LEMOS | 189
Com a me metáfora
táfora do cyboi
cyboig, g, principal
principalmente
mente o inter
interpretat
pretativo,
ivo, o
ciberespaço se constit c onstitui
ui como um espaço para refazer as categorias categorias
identificat
identi ficatórias
órias na cultura contemporân
contemporânea. ea. A
Assim,
ssim, sem um corpo físi-
co com
como o receptáculo d daa construção da identi identidade,
dade, o sujei
sujeitoto fica livre
paa ra j o g a r co
p comm cco
o m p o rt
rtaa m e n to
toss e iide
dent
ntid
idad
ades
es.. O c ib
ibee re
resp
spaa ç o p
pro
rod
duz
uma nova form formaa de sociabili
sociabilidade,
dade, criando um novo senso de identi identida-
da-
de, ao mesm o temp tempo o descentralizada e múlti múltipla.
pla.
O devircyborg não é fruto da contemporaneidade.
contemporaneidade. M ostra ostramosmos
que a gênese da técnica é resultado de um processo simbiótico que
forma o homem, a técnica e a cultura. O cyborg (protético e/ou
interpretativo) é fruto deste processo simbiótico ancestral, atualizado
e radicalizado com a cyborgização e virtuali virtualização
zação da ccultura
ultura contem
contem- -
porâ
po rân
n ea
ea.. O d
dis
iscc u r so d
doo s ccyb
ybor
orgs
gs se en
e n c a ix
ixaa as
assi
sim
m, d
dee n tr
trood
daa p
pee rs
rspp ec
ec--
tiva da pósmodernidade, onde as fronteiras e dicotomias bem
estabelecidas
estabeleci das passam po porr ref
reformulações
ormulações profunprofundas.
das.
Ciberarte
mia de
d e div
divers
ersos
os cam pos da ccultur
ulturaa com
comoo a ciênc
ciência,
ia, a arte, a m
mora
oral4
l45
53.
A arte moderna vai assim investir na racionalização do mundo e se
distanc
dista nciar
iar do ecletism
ec letismo
o do século XXIX4
IX45
54, rom
rompen
pendo
do d
definitiva
efinitivame
mente
nte
com a tradição cl
clássi
ássica.
ca. E
Ela
la adquire uma forma revolucionária, prepa-
rando a construção do futuro, superando o passado.
passado. O passado é evo-
ev o-
cado pela arte moderna
mod erna como um umaa paródia.
paródia. Neste sentido, a art
artee mo
190 CIBERCULTURA,
CIBERCULTURA, TECNOLOG
TECNOLOGIA
IA E VIDA SOCIA
SOCIALL NA CULTURA CON
CONTEM
TEMPOR
PORÂNEA
ÂNEA •
de m a é utópica, futuri
dem futuristasta e funcional,
funcional, onde as form formasas estéticas devem
servir à função (Bauhaus, International Style). A arte tem que fazer
paa rt
p rtee da v id
idaa so
soci
cial
al,, in
indd epen
ep endd ente
en te d
daa tra
tradi
diçã
çãoo cl
clás
ássi
sica
ca,, de
dese
sem
m penhan-
do um papel utópico, apres apresentandose
entandose como revolucionária, ajudan-
do a construção
co nstrução d doo fut
futuro.
uro.
Um a fronteira configur
configurase
ase entre a arte popular
pop ular e a arte erudi
erudita.
ta.
A arte moderna nasce de um projeto histórico em que o passado é
evocado, doravante, sob o signo da paródia,
paródia, em consonân cia com o
útil e o funcional, tendo como imperativo a submissão das formas
estéticas
estéti cas à função. O bonito é o funcional.
funcional. A B
Bauhaus
auhaus e o International
Style,
Styl e, de 19
1945,
45, expressam bem o repúdio do ecletismo de ornamornamentos
entos
e fachadas do século XI XIX.
X.
A arte
a rte moderna procura u uma
ma forma nova, coerente com a nova
ordem soci
social.
al. O funci
funcionalis
onalismo
mo arquitet
arquitetônico
ônico está a serviço do capita-
lismo tecnocrático. Os grandes mestres desse novo estilo (Gropius,
Le Corbusier, Van de derr Rohe, entre outros) acreditam na fusão da arte
com a indústria como m odelo de pr progresso
ogresso social, com o se um novo
espaço urbano produzisse uma nova organização da vida social. social. Como
mostra muito bem Subirats, “a utop utopia
ia social e cultural das vangu
vanguar
ar
das,, de signo revoluc
das revolucionário
ionário e emancipado
emancipador,r, trazia im plicitam ente os
movimentos de sua int integração
egração a um processo regress
regressivo
ivo de co
coloniza
loniza
ção tecnológica da vida e racionalização coercitiva da sociedade e
da cultura ” ”4
455.
A arte deve juntarse à in indústr
dústria,ia, servi
servindondo com o m odelo de um
pro
p roje
jeto
to p ro g r e ss
ssis
ista
ta d a o rga
rg a n iz
izaç
açãã o soci
so ciaa l. O s v a lo
lore
ress a rt
rtís
ísti
ticc o s d a
modernidade sintetizam os valores econômicos, tecnológicos e
epistemológicos do maquini m aquinismo.
smo.
O que
q ue se ch chamamaa de a arte p pósm
ósmodem
odem a4 a45
56 é aqu
aquela
ela ququee vai se
diferenciar dos movimentos do alto modernismo por preferir formas
lúdicas
lúdi cas e fragmentadas. A arte v vai
ai servir com
como o parâm
parâmetro
etro para exprimir
o imag
imaginário
inário da pósmodem
pósmodemidade,idade, não se est estruturando
ruturando mais na paródia
(o escárnio do passado), mas no pastiche (a apropriação do passado). A
única possibilidade, já que tudo foi feito e dito, é combinar, mescl mesclar,ar,
reapropriar. Como
Com o veremos,
verem os, a tecnologia ddigit
igital
al vai trazer possibilida-
des novas
n ovas e radicais para essa mistura e reapropriação d dee esti
estilos.
los.
A partir dos anos 60, a arte vai sofrer modificações profundas
em todos os níveis: na poesia de John Ashbery, na arquitetura de
Ventur
Vent uri,
i, na arte pop
p op d
dee Warhol
Warhol,, na m úsica eletrônica e m inimalis
inimalista,
ta, no
rock (incluindo
(incluindo aí o punk), no cinema da N No
o u v e ll
llee Vag ue de Godard,
Vague G odard,
na literatura
literatura de Thom T homasas Pynchon, no fotorealismo,
fotorealismo, nos happenirigs e
pee rf
p rfoo rm a n c e s , na arte ambiental...A arte pósmodema aparece, en-
tão, como um contraponto à arte arte do alto
alto modernismo, tentando des- d es-
truir as fronteiras entre e ntre a alta cultura e a cultura popular, tão discuti-
(92 CIBERCUL
CIBERCULTURA
TURA,, TECNOLOGIA E VIDA SOC
SOCIAL
IAL NA CULTURA CONTEMPORÂNE
CONTEM PORÂNEA
A•
recente,
(gram
(gra pois
m atica
aticais, toda
is, dia a espécie
dialétic
léticas
as e retó humana
retórica
ricas)462.se construiu por virtualizações
s)46
Toda arte (tekhnè
( tekhnè)4)463exprim
ex primee u
ummpproc
rocess
essoo de virt
virtua
ualiza
lizaçã
ção
oed
dee
atualização. Toda técnica é a virtualização virtualização de uma ação e, ao mesmo m esmo
tempo, a atualização (de u uma
ma questão) pelo dispositi dispositivo.
vo. A arte/técni
ca, como atividade p
atividade po o ié ticc a , é um
iéti um dom original (e não exclusivo) do
homem. Como afirma Agamben, “o homem tem na terra um status status
po
p o é ti
ticc o j á q u e é a p o iè
ièss i s q
quu e f u n d a pa r a eele
le o eesp
spaaço oorr ig
igin
ina
a l d e se
seuu
m u n d o ”46*. A arte é assi assim m constit
constituti utiva
va do homem. Ela não é nem um
objeto privilegiado, nem um valor cultural, nem mesmo um objeto
paa ra es
p espe
pect ctad
ador
ores
es,, afir
af irm
m a Ag Agam ambe ben.
n. A
Antntes
es,, ela é uumm a “dimensão mais mais
essencial po is permite que o homem a alcance
lcance sua pos posição
ição original n naa
hist
hi stór
óriaia e n noo te
temm p o ”465.
Os objetos e as máquinas
m áquinas virtualvirtualizam
izam funções motoras,
m otoras, cognitivas
ou termostáticas. Uma Um a fer ferramenta,
ramenta, mais do que uma exten extensãosão do cor-
po
p o (M cL cLuh uhan
an e Ler
L eroi
oiGGouourhrhanan),), é a vi
virt
rtua
ualiz
lizaç
ação
ão ddee u
umm a aç
açãã o (L
(Lévy
évy).).
Os produtos
produto s da tecnologia
tecn ologia virtualvirtualizamizam o corpo e as ações, atualizan
• ANDRÉ LEMOS
LEMOS | 193
194 | CIBERC
CIBERCULTUR
ULTURA,
A, TECNOLOGIA E VIDA SOCIA
SOCIALL N A CULTURA CON
CONTEMP
TEMPORÂ
ORÂNEA
NEA •
• ANDRÉ LEMOS
EMOS | 195
A r t e e novas
no vas tecno
te cnolog
logias
ias
196 CIBERCULTUR
CIBERCULTURA,
A, TECNOLOGIA E VIDA SOCIAL N A CULTURA CONT
CONTEMPOR
EMPORÂNEA
ÂNEA •
Ele troni
Eletro nicc NetWo rk , um sistema de confer
Net Work conferências
ências (informações, progra-
mas, etc.) que incluía sysops, escritores, intelectuais e artistas. A arte
começava, assim, a explorar todo o potencipotencialal do ciberespaço.
A vídeoarte
vídeo arte é uma pioneira nesse processo. A distodistorção
rção e desin-
tegração do sistema figurativo moderno surge quando o corea coreanono Nam
June Paik inverte
inve rte os circui
circuitos
tos de um aparelho rrecepto
eceptor,
r, perturba
perturbando
ndo a
constituição das imagens. A vídeoarte lançava então, a pulverização
do sistema renascentista perpetuado pela fotografia e o cinema470. A
vídeoarte não pretende representar a verdade (Godard dizia diz ia que o ci-
nema é a verdade 24 vezes po porr ssegundo
egundo),
), já que para Paik, n não
ão existe
verdade, pois não existe aquilo que podemos afirmar ser o real. Tudo/
não passa
pas sa ddee p
pura
ura inve
invençã
nção o e rearra
rearranjos
njos suc
sucessi
essivos
vos4471.
A geração bit é assim pósfotográfica, digital. Como afirma
Arlindo
Arli ndo M achado, a câm ara obscur obscuraa está fadada a desaparece
desaparecerr ee,, com
ela, todo o fundam
fundamento ento figurativo, naturalista, represen
representativo.
tativo. A grand
grandee
mudança
mud ança eem
m rerelação
lação a fo
fotografia
tografia (ou o cinem
cinemaa e a TV) é que a ciberarte <•
não mais
m ais rep rese
resenta
nta o mundo
mundo4 472. Com o sint
sintom
omaa da pós
pósmmododem
em idad e, i
o orig
o rigin
inal
al n ão eexi
xist
stee m ais
ais4473.
^ciber
ciberarte,A msendo
arte, úsica
úsic a atualizada
ele
eletrôn
trôn ica4
ica47 74 tamb
hoj
hojetambém
e com éma música
é um exexemem plo
tecno e ommovimento
arcan te da
dos zipp
z ippies
ies e rav
ravers
ers4475, que eeclo
clodir
diram
am na Ing
Inglate
laterra,
rra, n
naa déc
décadadaa de 80,
e atingem agora o mundo. Estes tecnopagãos mostram, talvez, um
dos exemplos mais interessantes da cibercultura, unindo de forma
hedonista, socialidade e tecnologia.
tecnologia. Um a cibersocialidade ocorre pela
fusão da música
m úsica futurista,
futurista, minimalista e rítmica (tecno) com os impul-
sos tribais contempo
contemporâneos.
râneos.
A arte eletrônica va vaii constit
constituiruir uma nova forma simbólica, atra-
vés da qual os art artista
istass util
utilizam
izam as novas tecnologia
tecnologiass nu ma po postura
stura ao
mesm o tem po crítica e lúdica, com o intui intuito
to de mu
multiplicar
ltiplicar suas possibi-
lidades estéticas. Ela vai explorar a num numerização
erização (trabalhando ind indife-
ife-
rentemente texto, sons, imagens fixas ou em movimento), a
espectral idade (a imageimagem m é autoreferent
autoreferente, e, não depen
dependendo
dendo d e um ob \
j
jee t o re
real
al e si
simm d e um mo modedelolo),
), o cibe
ci bere
resp
spaç
aço
o (o es
espa
paço
ço elet
el etrô
rôni
nico
co),
), a ,
instantaneidade (o tempo tem po real)
real),, e a interatividad
interatividade, e, quebrand
quebrando o a fronteira
entre produtor, consum idor e ed edititor
or.. O mundo ao qual ess essee ciberartista r
• ANDRÉ LEMO
LEMOSS | 19 7
ao corpoprótese, do tempo
tem po subjetivo e indi
individual
vidual ao tempo imediato
(real)
(real).. O que eestá
stá em jog
jogoo é uma certa edição da realidade (da socie-
dade de espetáculo?)
espetáculo? ) a partir de se
seus
us múltiplo
múltiploss fragme
fragmentos.
ntos. A estética
se recheia
reche ia de citações, referênci
referências,
as, colagens de todos os gêneros,
g êneros, num
pnic
nicos
poo pos
-s
-statentam
tent
tarr . am romper
rom per
O artista com a cultura
eletrônico
elet rônico de massa centralizada
contemporâneo centrali
é maiszada na figura
um eeditor
ditor do
de in-
formaç ões, aquele
formações, aqu ele que as disponibiliza
disponibiliza e as faz circular, desaparecen-desaparec en-
do a fronteira entre os que concebem, produzem e consomem arte.
Comoo afirma
Com afirm a Fred Forest,
Forest, “o artista (da com unicaç unicação) ão) transforma-
se num e m issor de mensage mensagens. ns. Ele ativa e acelera a com unicação na
quall ele infi
qua infiltra
ltra mensa
mensagensgens para sitas nas instit uições, ou cria a sua
instituições,
prr ó p r ia re
p rede
de p a r a le
lela
la e fu n c io
ionn a l; oc
ocaa si
sioo n a lm e n te eele
le eest
staa b e le nóss
lecc e nó
e conexões
conexõe s entre uns e out ros ”480.
outros
O mesm
mesmoo princípio
princípio encontramos
encontramos na arte em rede. Ela E la procura
levar ao extremo
extrem o o potencial
potencial comunicativo
comunicativo e interativo
interativo da estrutura
rizomática e híbrida do ciberespaço481. Como virtualização de uma
virtualização (Lévy), a arte em rede virtualiza o ciberespaço. O po-
tencial do ciberespaço
ciberespa ço para abrigar as artes eletrônicas eletrônicas é enorme.
eno rme. Seu
caráter aberto, interativo e não hierarquizado permite que seja um
espaço por po r excelência
excelên cia da art arte,
e, um espaço
espaço imaginário num tempo tem po ime-
diato, o tempo
temp o real. Dessa forma, conexão, conexã o, interação, simultaneidade
sim ultaneidade,,
p a rtic
pa rt icip
ipaa ç ã o plur
pl ural
al e inte
in tera
rativ
tiva,
a, con
co n stit
st ituu e m o e spa
sp a ç o h íbri
íb ridd o fun
fu n d a -
mental da ciberarte
cibe rarte hoje.
hoje.
A ciberarte aproveita
a proveita o poten
potencial
cial das novas tecnologias para pa ra ex-
plo
p lora
rarr os proc
pr oces
essososs de hibrid
hib ridaçação
ão da cicibebercrcul
ultu
tura
ra co
cont
ntem
empoporârâne
nea.
a. Em
síntese, a ciberarte tem, no processo de virtualização, digitalização e
desmaterialização do mundo, a sua força e particulari particularidade.
dade. Ela é interati
interativa
va
e atua dentro de processos híbridos híbridos da cultura
cultura contemporânea
contemp orânea (o espa-
ço, o tempo
tem po e o corpo). Por Po r ser imateri
imaterial,al, a arte eletrônica
eletrônica não se con-
some com o uso e pode p ode circular ao ao infinito,
infinito, escapando da d a lei entrópica
da sociedade
socieda de de consumo. É nesta circulação circulação frívola de bits que está o
coração da arte eletrônica da cibercultura.cibercultura. Mais sensual e intuiti intuitiva
va do
que racional e dedutiva, a ciberarte tenta produzir novos espaços de
experiências estéticas e interativas, sob a energia do digital.• digital. •
• ANDRÉ LEMO
LEMOSS | 19 9
C a p í t u l o V
C y b e r p u n k : a t i t u d e n o c o r a ç ã o d a c i ber c u l t u r a
O imaginário
imag inário cyberpunk vai m arcar ttoda oda a cibercultura. O ter-
mo tem suas origens no movimento homônimo de flcçãocientífica
que associa tecnologias digitais, psicodelismo, tecnomarginais,
ciberespaço, cyborgs e poder mediático, político e econômico dos
grandes conglome
cong lomerados
rados m mult
ultinacionais.
inacionais. Além da fi ficção,
cção, todo o ima-
ginário da cibercultura vai ser alimentado pela ação dos cyberpunks
reais, o underground da da informática.
Vejamos algum as definições do conceito:
“ uma emergente sub-culturajovem, jovem , Jusionando antiautoritarismo
pu
p u n k com
co m amo
am o r p elas
el as te
tecno
cnolog
logias
ias de po
ponn ta “ os so
sold
ldad
ados
os pion
pi onei
eiro
ross do
século
sécu lo XXL Embarc
Em barcand ando o na
n a nova
n ova front
fro nteieira
ra eletrô
ele trôninica
ca””462.
“ um mod o de vida centrado em torno d as tecno log ias
computacionais, música hardcore e agressividade adolescente. O
cyberpunkk nos dá a habilidade
cyberpun h abilidade de ser livr livree. A tecnologia pertenpe rtence ce ao
jo
j o v e m e de
d e v e se
s e r exp
ex p lora
lo rad d a em
e m seu
s eu pro
pr o veito
ve ito.. E sta
st a é a no er a.... ”4
n o va era.. ”483.
A ficção cyberpun k é refl reflexo
exo do que já acontecia no qu otidia-
no. Por isso, seus expoentes dizem não falar do futuro, mas fazer
uma paródia do presente. No entanto, fora da ficçãocientífica, o
imaginário cyberpunk aparece em vários formatos da cultura con-
temporânea: televisão (a série inglesa Max Headroom), o
underground high-te high-tech ch ( ph
p h r e a k e rs,
rs , hack
ha cker
ers,
s, cra
cr a cker
ck ers,
s, vírus
vír us,, raver
ra vers,s,
cypherpunks, zippies, Otakus), o tribalismo tribalismo tecno-hip-hop, a ciberart ciberartee
(vídeo,
(ví deo, inst
instalações,
alações, reali
realidade
dade virtua
virtual, l, perfor
performanc
mances es d
diversa
iversa s), os jo -
gos eletrônicos, as revistas em quadrinhos (Moebius, Tornatore,
Future Subjunkies, Akira), o cinema (Tron, Blade Runner, Total
Recall, Terminator, Matrix), os role playing games (GURPS
cyberpunk), as revistas (Mondo 2000, 2600, Black Ice), além de
sites e new sgrou ps os mais diversos no ci ciberespaço.
berespaço.
A po pularização da cultur
culturaa cyberpunk deve muito aos media de
massa com o jorn ais e revis
revistas.
tas. Além dos livr
livros
os de ficçãocientífica, as
revistas são responsáveis pela disseminação desse imaginário
tecnológico, principalme
princ ipalmente
nte as pioneiras B
Boi
oing
ng Boing,
Boin g, HackT
Ha ckTick,
ick, 2600,
200
20 0 | CIBERCULT
CIBERCULTURA.
URA. TECNOLOGIA E VIDA SOCIAL
SOCIAL NA CULTURA CONTEMPORÂN
CONTEM PORÂNEA
EA •
li ty H a c k e rs e depois M
R e a lity
Re Moo n d o 20
2000
00,, B lalacc k IIcc e ou a brasileira Ba-
rata Elétrica. Um a das mais expressivas
expressivas do movimento é a califom califomiana
iana
Mondo 2000, criada em 1989 por Queen Mü e R.U.Sirius, descen-
dente direto das antigas H Hig
igh
h F roront
ntie rs e R
iers Ree a li
lity
ty H ac
acke
kersrs.. M o n d o
2000 é a bíblia dos cyberpunk
cyberpunkss e uma das primeiras a m ostrar os vín-
culos entre a ficçãficçãocientífica
ocientífica e a vida realreal..
Para R.U.Sirius, o hacking (como veremos, ação emblemática
da cibercultura)
cibercultura) é um a forma de “con controlar
trolar nosso des tino ”487. P o d e -
destino
mos colocar nessa perspectiva, a atuação de artistas eletrônicos e as
suas diversas formas de d e expressão com as colagem digitais dos sig signos
nos
da sociedade do espetá espetáculo.
culo. O underground high-tech é u ma ati atitut
tutee
contra
co ntra o pe pesoso d daa tecn
tecnocra
ocracia.
cia. Para SirSirius,
ius, ele é a eexp xpre
ressã
ssão4o48
85 “de
uma nova formação social configurada eletronicamente chamada
cibercultura (...) (...) e que nos convida a cruzar cruza r o espaço de dados, c a
valgar a onda elet eletrôni
rônica,
ca, hip hop os seus la lapto
ptops,ps, pas
passe
sear
ar na reali
dade vi virt
rtual
ual,, pprojetar
rojetar comidas e plug ar em sincroenergétisincroenergéticos cos e d ro
gas intinteligent
eligentes es garantindo ampliar nossa potência cerebral e nossa
vida sexual ” ”4486.
No
N oppri
rimm ei
eiro
ro eedi
dito
toria
riall da rrev
evis
ista
ta M
Mon
ondo do 2200
000,0, R.U
R.U.Sirius
.Sirius propõe
“levar a cibecibercul
rcultur
turaa para as pess pessoa s", num mundo onde o “ eco-
oas",
fun
fu n d a m e n ta
tali
lism
sm o est
estáá fo
forr a , as teo
teoria
riass d a co
consnspi
pira
raçã
çãoo e st
stãã o de
demo dé,,
modé
as drogas são obsoletas". Ele proclama “a aurora de um novo
humanismo.
humani smo. Plugar
Plugar-se -se na tectecnolog
nologia ia para fortalecime
fortalecimento nto pessoal, j o
gos e entretenimento" e e nos
nos convida a “tom tomarmarm os anjos biôn icos ”487.
O poder
pod er está nas mãos dos cyberpunks: “voc vocêê pode fa z e r a sua própria
li
liter
teratur
atura,a, sua próprópria
pria músi
música,ca, sua própria tel televi são, sua própria vida
evisão,
- e mais import
importante ante de tu tudo
do - sua própria real realida
idadede ”4
”488.
M o n d o 2 0 0 0 tenta nos nos convenc
convencer er de que estamos frente à uma
revolução cultural
cultural sem precedentes que une une,, de modo inéditinédito,
o, a jo -
vem cultura urbana e as tecnologias digit digitais:
ais: a cu ltura do caos e as
novas tecno
tecnologias
logias (Ru(Ruskoskoff4ff48
89). A cibe
cibercultura
rcultura,, da qu qual
al o cyb
cyberpu
erpu nk
é um dos timoneiros, é o resultado de uma revolução sem slogans,
sem ideologias
ideo logias e sem emblem as históri
históricos;
cos; uma rebe
rebelião
lião intersticial,
intersticial,
uma nova fron
fronteira
teira el
eletrônica,
etrônica, a N dgee . A cibercultura
Nee w E dg cibercu ltura perm
permite
ite a
fusão entre
entre a N
Nee w Ed
Edge
ge High Tec
Techh e a N
Nee w A g e naturalista, espiritualis
ta e hedonist
h edonista.
a.
A contracultura
co ntracultura dos anos 60, que fundia liberalismo e tecnologia
(rock, vídeo experimental...)
ex perimental...) rej
rejeita,
eita, no plano global, o alargam ento ento••
• ANDR
ANDRÉÉ LEMOS 20/
A ficç
ficção-
ão-cie
científ
ntífica
ica cy
cybe
berp
rpun
unk
k
A primeira
prim eira expressão da cultura cyberpunk surge na ficçãocien-
tífica, caracterizandose por uma visão negra ou distópica do futuro.
Dentro de uma visão conspirató
conspiratória,
ria, que deve muito à lit
literatura
eratura ameri-
ame ri-
cana do pósguerra, a sociedade é dominada por grandes corporações
que controlam a política e a economia mundial.
mundial. As redes de computa-
com puta-
dores são o centro nervoso da vida social neste futuro paródia do pre-
sente. Vemor
Vem or Vinge é o pioneiro desta corrente. Ele escreveu,
escrev eu, em 1984
1984,,
“True Names
Na mes”,
”, considerada a primeira história
história do gênero.
A história
histó ria da ficçãocientífica começa
com eça bem antes, nos anos 20,
com a publicaç
publicaçãoão de histórias acerca do futuro e de conquistas inter
inter
galácticas. A popularização
po pularização do gênero vem com a revista A Ass to
tonn n in
ingg ,
com A rthur Clark, entre outoutros.
ros. Os anos 40 marcam a idad e de ouro
do gênero, com Azimov e o tema dos robôs. robôs. Os anos 50 vêem apare-
cer os andróides
andróid es e os cyborgs, com P P.. K. Dick. Estam os aqui
aqu i na base
da modernidade, em plena Guerra Fria (carro, aeroporto, mass me
dia, ameaça
am eaça nuclear).
nuclear).
Os anos 60, da N Nee w Wave, ou N No o u ve llee Vague, juntam ente com
vell com
a ficçãocientífica dos anos 70, 70, propõem uma visão sinistra do fut futuro,
uro,
com uma sociedade povoada por robôs que controlam tudo. O
consum ismo e o medo me do da ttecnologia
ecnologia são os principais fetiches dessas
escolas, fazendo desaparecer os monstros intergalácticos do início.
Nos
N os anos
an os 80
80,, aap
p a rec
re c e a fic
f icçã
çãoo cie
c ienn tí
tífi
fica
ca cyb
cy b erpu
er punk
nk c o m o suc
su c e s so de
públ
pú blic
icoo e críti
crí tica
ca d
dee “Neu
“N euro rom
m an
ance
cer”r”,, de Will
W illiaiamm Gib
G ibso
son,
n, p
pub
ubli
lica
cado
do em
em2 0
202
20 2 | CIBERCULT
CIBERCULTURA,
URA, TECNOLOGIA E VIDA SOCIAL N A CULTURA CONTEMPO
CON TEMPORÂNE
RÂNEAA•
1984. Aqui, Gibson mistura literatura fantástica e policial, altas
tecnologias, tribos, pessimismo e caos urbanos.
O termo cyberpunk é usado para designar a corrente ou m ovi-
mento da ficçãocientífica dos anos 80, 80, proposto por
p or Gardner
Gard ner Dozois,
editor da Isaac Asimov M agazine, a partir de uma história hom homôni-
ôni-
ma de Bruce Bethke aí publicada. Antes de ser conhecido como
cyberpunk, o Movimento, como também é chamado, cham ado, é herdeiro da
A g e de anos 60. Escritores
Nee w Ag
N Escritores como
com o Bruce Sterli
S terling,
ng, Rudy
Ru dy Rucker
R ucker,,
John Shirley, Pat Cadigan, entre outros,
outros, são os principais
principa is expoentes
expoe ntes
do gênero, influenciados pela literatura fantástica, policial e a fic-
çãocientífica high-tech.
O tema
tem a da tecnologia e sua relação
relação estreita com o quotidiano
quo tidiano é
recorrente, perpassando
perpa ssando todas as obras e unindo seus autores. O Oss óculos
espelhados viraram símbolo dó movimento. Os autores são, a partir
de então,
então, também conheci
conhecidos dos como M Mirirro
rors
rsh
h ad
ades
es G roup
ro upe.e. Segundo
Sterling, os óculos espelhados buscam refletir o ambiente dos anos
80, onde nos escondemos em imagens e simulacros, refletindo, ao
m esmo
esm o tempo,
tem po, o mundo
mu ndo e escoesconden
ndendo
do e dissim
dissimuland
ulandoo nosso
n osso olhai49
olhai491.
As características estilísticas
estilísticas trouxeram várias eti etiquetas
quetas para o
movimento: R Raa d ica
ic a l Ha S F , TecnoMarginais, Onda dos Anos 80,
H a rd SF
Neu
N euro
romm ânti
ân tico
cos,
s, C lã ddos
os Ó culo
cu loss Esp
E spel
elha
hado
dos.
s. C a d a um
u m a de
d e las
la s eexx p res-
re s-
sa uma faceta do imaginário cyberpunk. Podemos Podem os sintetizar a ficção ficção
científ
científicaica cyberpunk New
N ew
Wave dos anos 6070,utilizando
util izando estes
aparecendo naemblemas:
Onda dos ela Anosé herdeira
80, ondedao am-
bie
b ienn te é satu
sa tura
radd o de
d e alta
al tass tecn
te cnol
olog
ogia
iass e cao
c aoss urb
u rban
ano.
o. E les
le s ssão
ão os rad
ra d i-
caiss da ficçãocientífica
cai ficçãocientífica “dura” (Hard S-F), retratando uma sociedade
em que
q ue os piratas contrabandeiam
contrabandeiam dados (tecnomarginais),
(tecnomarginais), vestindo
vestindo
se quase sempre
semp re com um blusão de couro preto e óculos espelhados espelhados
(Clã dos ÓculosEspelhados), inseridos
inseridos em um ambiente
am biente social onde
misturase tecnologia, violência,
violência, droga e misticis
m isticism
m o (neuromânticos).
(neurom ânticos).
O ambiente tecnourbano, caótico, unindo visão distópica do
futuro e altas tecnologias caracteriza o imaginário cyberpunk. A
tecnologia tom ase o dispositivo
dispositivo pelo qual os “piratas de dados” atin-
gem seus objetivos (penetrar siste sistemas,
mas, colocar
colo car vírus, destruir dados
sensíveis).
sensí veis). Nas suas
suas histórias
histórias existe
existe sempre um “sistema” que dominado mina
a sociedade
so ciedade,, grand
g randes
es corporações
corpora ções atuando com
c omoo im
império
périoss religioso
re ligiosos4
s4992
que vão ampliando, através de redes telemáticas, seus domínios. O
último
último passo
p asso realizado na dist
distopia
opia cyberpunk
cyberpunk é a penetração ou colocolo••
• ANDRÉ LEMO
LEMOSS | 2 0 3
pdoo rpresente,
po ser re s ediferenciandose,
se r p res n teís
te ísta
ta (Ma
(M a ff
ffee soliassim,
so li),
), urb andas
ur b anaa , outrasrq ucorrentes
a n á rqu ica
ic a e m icrodop ogênero
ic rop lític
lít icaa .
Seus temas não estão e stão distantes do nosso di diaadia.
aadia. PorPo r iss
isso,
o, cyborgs,
hackers e redes telemáticas são os sujeitos
sujeitos centrais. O cyberpun
cyber punkk re-
trata as sociedades pósindustriais avançadas, onde a economia, a
cultura,
cultur a, o saber,
saber, já foram, háh á muito, traduzidos
traduzidos em informaç
in formações
ões biná-
b iná-
rias. O ambiente retratado mostra como “o po de r é de agora em di
ante aquele do saber, da informação: redes interligadas que tecem
uma teia de aran
aranha redorr do globo ”497.
ha telemática ao redo
O estilo
estilo cyberpunk
cyberp unk é visto por críticos
críticos como a apoteo
apoteose
se do pós
moderno, um representante
represe ntante central do imaginário da cibercultura
cibercu ltura dos
anos 8049
80498. 0 prefix
pre fixoo ciber vem
vem de cibernética,
cibernética, a ciência do estudo
e studo do
controle de processos de comunicação
com unicação entre homens e máquinas,
má quinas, ho-
ho -
mens e homens e máquinas e máquinas. O p u n k revela
pu revela a atitude, a
força da rua no que nela há de mais trágico, imediato e violento. Os
cyberpunks são outsiders, criminosos, visionários da tecnologia. Eles
encarnam, na ficção e na vida real, uma atitude de apropriaç
apropriação ão vitalista
204
20 4 CIBER
CIBERCULT
CULTURA,
URA, TECNOLOGIA E VIDA SOCIAL N A CULTURA CONT
CONTEMPOR
EMPORÂNEA
ÂNEA •
da tecnol
tecnologia.
ogia. O univer
universo
so de sua fificção
cção est
está,
á, justam ente, na conjun-
ção social
so cial do reino da tecnologia de pontponta,
a, da racionalidade, da hard-
science, com o lado subterrâneo, hedonista, tribal da sociedade de
hoje. Como parte da cibercultura,
cibercultura, o estilo
estilo cyberpunk apo
aponta
nta para uma
sinergia entre as tecnologias digitais do ciberespaço e a socialidade
contemporânea.
Os cyberpunk
cyb erpunks,s, reais e da fic
ficção,
ção, encarnam o mito dos antigos
aventureiros. A imagem do ciberespaço é aquela da conquista de
novos mundos, não significando aqui dominação ou o controle de
um território físico,
físico, mas exploraçã
exploração o de novos territórios simbólicos:
simb ólicos:
a colonizaç
colonizaçãoão do ciber
ciberespaço.
espaço. N ão é sem consequ ência que Norman
Spinrad propõe analisar a ficçãocientífica cyberpunk pela ótica
neurom ântica. O termo é um trocadilho entre neuro e mântico, crian-
neuromântica.
do mágicos cibernéticos, unindo a força racional da neurociência
com as potências desconhecidas da magia. De um certo modo, os
cyberpunks querem apropriarse
apropriarse da rracionalidade
acionalidade tecnológica mo-
derna, em butindo aí a fi
filosofia
losofia do do it byyo urself. Ele é “um m
mág
ág i
co de hoje cuja bruxaria consiste eemm efetuar diretam
diretam ente a interf ace
interface
entre seu sistema nervoso protoplásmico e o sistema eletrônico da
infosf
infosfera
era,, servindo de imagens para manipulá-las (e ser manipu la
da p o r el
elas)
as),, da mesma maneira que os xam ãs tradicionais se ser
viam de imagens para agir, pela droga ou o transe, nos espaços
míticos tradicionais ” ”49
499.
A m açã é m
mordida:
ordida: N
Neuro
eurom
m an
ancer
cer de Gibson e o Big Broth
Br other
er de Orwell
O rwell
N e u ro m a n c e r d e W. G ib
Ne ibso
son
n é p u b li
licc a d o e m 198
1984,
4, o a no d a
distopia
dist opia hom ônima de Orwell Orwell.. Va
Vamo
moss tentar mostrar que “ 198 1984”
4” de
Orwell não tem muito a ver com o verdadeiro ano de 1984, data da
p u b li
pu licc a ç ã o d e N eu
euro
rom
m an
ance
cer.
r. N o ttra
raba
balh
lhoo de O rwrwee ll
ll,, o G ra
rann d e Ir
Irmm ão
(Big Brother) controla e aniquila a vida social. Com Gibson, os
cyberpunks
cyberpun ks aniquilam, ou tent
tentam,
am, o Bi
Bigg Br
Broo th er cibernético. Esta pode
ther
ser uma boa metáfora da passagem da tecnocultura moderna para a
cibercultura pósmodem
pósmodem a.
“1984”, de G. Orwell foi publicado em 1949 a partir de um
manuscrito de 19 1948
48 chamado “O último homem da d a Europa”
Europa”.. A distopia
de Orwell busca denunciar os perigos do totalitarismo tecnocrático
em que a tecnologia re
reduz
duz o homem a uma função de simples máqui•
máqui•
• AN
AND
DRÉ LEMOS| 205
estejam presentes, a rua vai encontrar formas de ação sobre o desert deserto
o
da técnica pintado por Orwell. Talvez, aqui, estejamos vendo o
surgimento
surgim ento d
dee novas possibi
possibililidades
dades de apropriação tecnológica que
ir
irão
ão cara cteriza r a ci
cibercult
bercultura.
ura. Para a m
morte
orte da hum anidade, para o
desenc antam ento do mundo do “ 19 1984
84”” de Orwell,
Orwell, a realidade do ano
de 1984 vai v vivenciar
ivenciar o surgimento do Macintosh, representante, como
vimos, de um movime
movimento nto de oposi
oposição
ção à tecnocraci
tecnocraciaa (surgi
(surgimento
mento da
m icro
icroinf
inform
orm átic
ática)
a) e da
d a distopia
dis topia cyb
cyberpu
erpunk5
nk5000.
Parece
Pa rece,, então, que o verdadeiro ano de 19 1984
84 rejeita e luta con-
tra a prisão cibernética do Big Brother de OrwellOrwell.. “ 1984”
1984” de Orwell é
20 6 C I B ER C U LT
206 L T U R A , T EC N O L O G I A E V I D A S O C IA
IA L N A C U L T U R A C O N T EM P O R Â N EA •
Ela é da
duto o antimod
anti modelo
contracu
contracultura elo
lturadoamericana,
m
mundo
undo pin pintado
atado por Orwel
Orwell.
microinform l. Com
ática o vimos
vimos,, pro-
é conseqiiência
de uma atitude perante o mundo da tecnologia militar. Os radicais
califomianos,
califom ianos, infl
influenciados
uenciados pelas idéi idéias
as dos anos 70 (pac (pacifismo,
ifismo, liber-
dade sexual, ecologia, comunidade), vão competir com o sistema
tecnocrático através de uma um a posição próatpróativa. iva.
Nãã o h á n o va
N vass ut
utop
opiaias.
s. N ão sust
su stee n ta
tas
see a c o n fi
fiaa n ç a c e g a na
nass
pro
p rom
m es
essa
sass c ie
ienn tí
tífí
fíco
cot
tee cn
cnoo lóg
ló g icas
ic as.. V á ri
rioo s fa
fato
tore
ress c o n tr
trib
ibu
u ír
íraa m pa
para
ra
este estado de coisas: potência nuclear destrutiva, deterioração eco-
lógica,
lógica, militarização crescente, desigualdade soci social,
al, entre outros. Isto
nos obriga a manter
ma nter os olhos abertos perante as prom essas nã não o cum
cum••
MOS | 207
• A N D R É L EEM
prid
pr idaa s p e la m o d e rn
rnid
idaa d e tecn
te cnol
ológ
ógic
ica.
a. N ã o pod
po d e m o s s e r in
inggênuos e
p e n sa
pe sarr qu
quee o ssu
u rg
rgimim e n to d
doo Bi
Bigg Bro
B roth er esteja
ther esteja com pletamente afasta-
do. Bill Gates é a prova disso (mesmo que ele seja supervalorizado
em seu poder ou visão de futuro).
No
N o en
enta
tant
ntoo , pod
p odem
em o s d iz
izee r qu
que,
e, ao cco
o n tr
tráá ri
riood
dooq
quue p
pre
rev
v ia
iamm os
apocalípticos,
apocalíptico s, a sociedade dá sinais de vital vitalismo,
ismo, utilizand
utilizandoo a tecnolo
tecnologia
gia
com um vetor de catáli catálise
se comunitária.
comunitária. O social parece não estar mor- mo r-
to. O fenômeno da internet está aí para provar. Por mais que digam
que apenas comutamos bits, acontece muito mais nessas agregações
eletrônicas que são os chats, as li listas
stas de discussão, os M MUU D s.
Sendo assim, se não há mais utopia possível, isto não implica,
entretanto, uma homogeneização e um controle total da vida social.
Se a modernidade criou o imaginário da técnica infalível e positiva,
apontando
apon tando pa
para
ra o futuro, a cibercul
cibercultura
tura está ancorada no presente. A
maçã mordida
mo rdida do Macintosh é o ssímbolo
ímbolo do outono do homem indivi-
dualista, emancipa
em ancipado,
do, racional e obj
objetivo.
etivo. Em luga
lugarr de ser o mom
momento
ento
do desencanto radical do mundo esboçado por Orwell, o verdadeiro
ano de 198
1984
4 parece ser uma espécie de de reencantam ento da tecnologia
con tempo
contem porân
râneaea.. N eu
eurom
rom an
ance
cerr de WWilliam
illiam Gibso
Gibson5
n501 é, assim , o trab traba-
a-
lho que melhor reflete a cultura tecnourbana dos anos 80. O livro
po
p o p u la
lari
rizz a o m o v im e n to c y b er
erpu
punk
nk na fificç
cção
ãoc
cie
ienn tí
tífi
ficc a . E, o m ais
ai s
importante, ele vai form formarar e ampliar
am pliar o imaimaginário
ginário da cibercul
cibercultura.tura.
O universo cyberpunk cri criado
ado por Gibson apresenta um qu quotidi-
otidi-
ano cruel e banal, permeado perme ado por tribotriboss urbanas, onde o uso de droga drogass
e a pirataria nas redes de computador são práticas comuns. Gibson
não pretende falar fa lar do futuro, mas usálo com como o me
metáfora
táfora do presente.
Ele retrata o underground
undergrou nd da microinformática
m icroinformática que, a partir dos anos
60 vai se formando com os primei primeirosros phreakers (pirat
(piratas as do telefone) e
depois os hackers (os piratas piratas das redes de com computadores),
putadores), m odifican
odifican- -
do a form
form a de uso desses equipamentos. A motivaçã motivação o pri
principal
ncipal tradu-
ziase no prazer em comunicarse e viajar pelo universo de dados,
além de desm oralizar a segurança de sites sites sensí
sensíveis
veis.. E
Em m umaum a entrevis-
ta a Thimothy Leary, Gibson declarou: “o que é mais importante é
que istoisto é sobre o presente. realmente sobre um ftíturo
presente. Isto não é realmente
i m a g i n a d o ”5011.
E m N
Neu
euro
rom ce r, a M
m a n cer, Ma tr ix,, o ciberespaço, é mais importante
a trix
que o espaço euclidiano no qual vivemos e de onde percebemos o
mundo. O trabalho do antih
antiheróierói Case, como o dos phreake
phreakers
rs e hackers,
8 C IB
208
20 I B ER CU
CU L T U RA
R A , T EC N O L O G I A E V I D A S O C IA
I A L N A C U L T U R A C O N T EM P O R Â N EA •
consiste em pene
consiste penetrar
trar redes de computadores de grandes com panhias
multinacionais. O ambiente cyberpunk reflete, assim, o presente, a
globalização do m undo e a internacionali
internacionalização
zação da economia.
econom ia. Aqui,
A qui, a
aldeia global perde suas fronte
fronteiras
iras:: a geog
geografia
rafia vale menos q
que
ue o po-
der do tempo real.
real. D
Dee certa manei
maneira,
ra, Neurom ancer traz papara
ra a ficção
científíca o que já estava nas ruas (caos urbano, hacking, globalização,
falência dos projetos modernos...
modernos...).).
Nee st
N stee m e sm o a no
no,, 1984, o m un
undo
do co
conn h e c e aass pr
prim
im e ir
iraa s p ir
iraa ta
ta--
rias de com putador, os vírus e os primeiros artist artistas as cibern
cibernéticos.
éticos. Os
pr im eiro
prim ei ross hackers buscam apontar p para
ara novas possibili
possibilidade
dade e po postu-
stu-
ras inéditas frente ao mundo tecnológico. Contra a dominação
tecnológica, os cyberpunks reais (hackers, crackers, phreakers,
cypherpunks, ravers) propõem o delírio virtual do ciberespaço, as
guerrilhas quotidianas contra o Big Brother, as agregações, comuni-
tárias ou não, das tribos eletr eletrônicas,
ônicas, a luta pelos direitos dos netizens
(cidadão s do ciberespaço ). Con tra tra o Bi
Big
g B rother de “ 198 1984”,
4”,
Nee u ro
N romm a n c e r e o M ac
acin
into
tosh
sh,, nasc
na scid
idos
os e m 198
1984,
4, s im
imbb o li
lizz a m o p
pee sa
sa--
delo da modernidade tecnológi
tecnológica, ca, o surgi
surgimento
mento ddaa cibercul
cibercultura.tura.
Cyberpunk pós
pós-mode
-modemo
mo
Parte fundamental
fundamen tal da cibercultura
cibercultura contemporânea, a ficçãoci
ficçãocien
en
tífica cyberpunk é, segundo alguns estudiosos, um reflexo da cultura
pó
p ó s
smm o de
demm a. O s au
autor
tores
es cy
cybe
berp
rpun
unks
ks,, ati
ativi
vista
stass e ar
artis
tista
tass elet
el etrô
rôni
nico
coss
compõem a primeira geração de usuários para os quais os satélites,
computadore
com putadoress e redes de computador fazem parte do seu dia a dia. dia. Eles
são influenciados por escritores com
como o Thomas Pynchon, W., Burroughs
ou Ballard. Co
Como
mo explic
explicaa McC
McCaffery5
affery5003, a cultu
cultura
ra cyb
cyberp
erpunk
unk é u
umm estilo
(umaa ima
(um imagem
gem soci
sociocultural
ocultural)) da vida soci
socialal contemporânea,
contemporânea , qu quee alguns
autores identificam como tipicamente de pósmodem
pósmodemo. o.
A narrativa cyberpunk
cyberpun k é um exemplo. Ela caracterizase por ser
uma mistura de estilos (fantástico, distópico, urbano, tecnológico),
utilizandose
utilizand ose da sátira ((paródia
paródia e pastiche) e de outras formas literári-
as, com
co m o o horror, o polici
policial,
al, o fant
fantástico.
ástico. Para Csicsery
CsicseryRon
Ronay ay Jr.
Jr.,, a
MOS | 209
• A N D R É L EEM
210
21 0 C I BE
B E R C U LLT
T U R A . T E C N O L O G I A E V I D A S O C IIA
AL N A CULTURA CON TEM PORÂ NEA '
vidade é o equivalente
na pósmodemidade
pósmodem idade uma à alienação
inversã
inversão o dodo milenari
indivíduo
milenarismo,moderno.
smo, o fim dasJam esonogi-
ideol
ideologi- vê
as, da gra
grandende arte e das classes socia
sociais,is, além da crise de Leninismo,
Leninism o, da
democracia
dem ocracia social e do wel welfare State.. A
fare State Assim,
ssim, Hollinger, po porr sua vez, vai
mostrar que “o potencial no cyberpunk para tomar indeterminados
conceitos
con ceitos com o ‘sub subjetividade
jetividade ’ e ‘ide
identid
ntidad
ade’
e’ deriv
derivaa em par
partete de suas
pro
p rod
d u ç õ e s cco
o m o qu
quee te
temm sid
sido
o ch
chamamad adoo de ‘im
imag
agin
inaç
açãoão te
tecn
cnol
ológ
ógicicaa ’
(technological
(technolog ical iimaginat
magination),
ion), ist
isto
o éé,, cyberpunk
cyberpu nk é fic
ficçç ã o científi ca dura
científica
que reconhec
reconhecee o pape papell da tec
tecnolog
nologiaia nas sociedades pós-industriais ’,5 ’,5°8.
O cyb
c yberp
erpun
unkk é fascinado pelos ícones d daa cu
cultura
ltura eeletrôn
letrônica5
ica5009, o
que vai caracterizar, para Landon, sua narrativa. Esta realiza a con-
vergência entre os ma mass media,, escritores, vídeoartistas, infografistas
ss media
e web-designers. O ambiente da arte cyberpu cyberpunk nk é “a a rena glob al da
arena
cultura eletrônica ”51 ”510, afirma. Da me mesmsmaa fform
orma,a, Bru
B ruce
ce SSter
terlin
ling,
g, nnoo
pre
p refá
fácc io d o se
seuu li
livr
vro
o M irirro
rosh
shad
ades
es,, m o stra
st ra b em o p a rarale
lelo
lo e n tr
tree o
cyberpunk, a cultura de massa m assa e o underground, indicando infl influências
uências
que vão da literatura (Pynchon, Burroughs, Rimbaud, Dick), aos fil-
Mod a cyber
cyberpunk
punk
A moda
mod a cyberpunk ref reflet
letee bem o espírito do tempo. E la carac carac
terizase
teri zase por ser um “esti“estilolo de rua” composto de p pie
ierc
rcin
ingg s , tatuagens,
blu
bl u sõ
sões
es d e c o u ro p re
reto
to,, ó c ulos
ul os e sp
spel
elha
hado
dos,
s, ro
roup
upaa s in
inte
teli
ligg e n te
tess (q
(quue
mudam de cor, adaptamse à temperatura externa ou mesmo elimi-
nam bactérias),
bactérias), aatété o uso de weareables computers, tecnologias nô-
mades, computadores que podem ser vestidos.
Nos
N os atatu
u ai
aiss de
desf
sfil
ilee s d e m od
oda,
a, as úlúltim
tim a s te
ten
n dê
dênn c ia
iass tr
traa z e m ro u -
pass ““in
pa intetelig
ligen
entetes”
s” ou fafabr
bricicad
adasas a pa
part
rtir
ir d e tec
tecid
idos
os ““es
escu
culplpid
idos
os”” a laser.
A moda
m oda cyberpu
cyberpunk nk abusa
abu sa de materi
materiais
ais sintéticos,
sintéticos, utilizando acessó acessóri-ri-
os oriundos da ficçãocientífica, como máscaras antipoluição, rou-
pass com cir
pa c ircu
cuito
itoss elet
eletrô
rônic
nicosos,, bijute
bij uteria
riass com su suca
cata
ta d a era dig
digita
itall (c
(com
omoo
bri
b rin
n c o s de chips, colares com CDRoms, eetc tc).
). Com o uma cultura de
estilistas são adeptos do que se denom ina hoje de Street wear.
rua, os estilistas
2 / 2 | C I B ER
E R C U L TU
T U R A , T E C N O L O G I A E V I D A S O C IA
IA L N A C U L T U R A C O N T E M P O R Â N E A •
com unicação,
comunicaç ão, acessíveis a ttodos
odos e não um p privilégio
rivilégio da elit
elitee científi-
ca, ou militarindustrial. A tecnologia deve ser uma ferramenta de
construção existencial, aqui e agora. A modernidade futurista cede
lugar à pósmodernidad
pósmo dernidadee presenteí
presenteísta.
sta.
Como
Com o produto do espí
espírito
rito conte
contemporâneo,
mporâneo, a cibercultura caracte-
rizase por uma impregnação das novas tecnologias
tecnologias em umumaa vida social
social
cansada das promessas do futurofuturo e da severidade do individualismo mo-
derno. A cibercultura, apoiandose no sonho principal da modernidad
mod ernidade, e, a
informatização
informatiza ção da sociedade, vai ser o seu próprio pesadelo, em oposição
opo sição
à tecnocultura. Não é ao acaso que os mass media media e os poderes
tecnocráticos constituídos temem tanto a anarquia
anarq uia da internet, a pirataria
de software,
software, os hackers,
hackers, quanto o barulho da música tecno, os jogos
eletrônicos ou os vírus.
vírus. Hoje, a dimensão mais importante da cibercultura
está localizada nesta forma
form a de apropriação social da tecnologia.
tecnologia.
A rua vai dar colorações às novas tecnologias. Toda a
cibercultura vai ser dirigida por esta atitude, sendo a tecnologia, ao
mesmo tempo, instrumento de opressão e de salvação,
salvação, pela subver-
são. A cultura
são. c ultura cyb
cyberpunk
erpunk é, assim, a “a imbricação de universos ou- ou-
trora
tror a separados: o rei reino
no da tecnol
tecnologia
ogia de po
ponta
nta e os asp
aspectos
ectos mo
moder
der
nos do un de rg rgro '6.. Esta integração
ro un dp op ”5'6 integração é, claramente, um re refle-
fle-
xo dos anos 809 8090,0, sendo a junção entre a tecnologia e socialidade
pó
p ó s m o d e m a a m a rc
rcaa do
doss c yb
ybererpu
punk
nks.
s.
Para os cyberpunks
cyb erpunks a tecnologia é visceral, ela invade o corpo e
até mesmo
mesm o a mente. As redes de computador
computador,, os satélites e a multimídia
O cyberpunk
cyb erpunk é, assim, “o p il
ilo
o to que pens
pe nsa
a clara
cla ra e cr
criat
iativa
ivamm en
ente
te ”519(...)
”5
“inventores, escritores inovadores, artistas da tecno-fronteira, dire
tores que se arriscam, artistas expressi
expressionist
onistas,
as, cienti
cientistas,
stas, visioná
visionáriri
os, hackers elegantes, (...) todos aqueles que levam suas idéias lá
ondee eelas
ond las nnun
unca
ca ha
havia
viamm c h eg a d o ”520.
O conceito
conc eito de tecnocu
tecnocultura
ltura ffoi
oi usado para expressar, na moder- mode r-
nidade, uma cultura dominada
domina da pela
pela rracionalidade
acionalidade técnica instrume
instrumen- n-
tal, pela homogeneização do social e pela inevitável burocratização
dos modos
m odos de vida (Webe
(Weber,r, Freyer
Freyer,, Ell
Ellul,
ul, Mum
Mumford,
ford, HeHeidegger).
idegger). In-
cluise aí a perpetuação
perpetuaç ão ddo
o sist
sistema
ema capitali
capitalista,
sta, a divisão intinternacional
ernacional
de trabalho, a fragmentação social, a domesticação do corpo e da
natureza. A tecnologia moderna
mode rna é vi vista
sta com
como o mono
monolítilítica,
ca, controlad
controlado- o-
ra e totalitária521.
Os cyberpunks estão tentando mostrar que, com a mistura de
novas tecnologias
tecnolog ias e atitute
atitute apropriat
apropriativa,
iva, a visão mode
moderna
rna da tecnologia
não é mais capaz de dar conta da compreensão sobre fenômeno
tecnológico contempo
con temporâneo.
râneo. E eles tentarão mostrar
mo strar isso na ru
rua.
a.
2 /4 C IB
I B ER
E R C UL
U L TU
T U R A,
A , T E C N O L O G IA
I A E V I D A S O CI
C I AL
A L N A C U LT
LT U R A C O N T E M P O R Â N E A •
C a p ít u l o V I
A R U A E A T E C N O L O G I A . O S C Y B E R P U N K S R E A IS
M O S | 215
• A N D R É L EEM
Vejamos
Vejamos algumas definições
definições do newsgroup alt.cyberpunk:
6 | C IB
216
21 I B E R C U L T U RA
R A , T E C N O L O G I A E V I D A SO
SO C I A L N A C U L T U R A C O N T E M P O R Â N E A •
From: [email protected]
[email protected] (Bruce
(Bruce Arthu Bendler)
Subject: Re: Re: Philosophical Ram blings or Action
Organization: Universi
Un iversity
ty o
off Delaware
Date: Mon,
M on, 10 Jan 199
19944 05:44:16 GMGMTT
> Well w ha
hat’
t’ss y o u r d e f i n itio n ? Come o n , p u t i t o u t o n t h e S t r e e t.
t.
O r i s n ’t
> that information
inform ation free?
My be lief is
is that information should be free
If you have to break the law to learn, then do it.
do ciberespaço
ciberespa ço e de um
umaa críti
crítica
ca feroz ao desenvolvimento tecnológico.
O discurso parece ser: “querem
queremos os o ciberespaço m
mas
as nã
nãoo o RwindowS
RwindowS,,•
• A N D R É LE M
MOOS | 217
querem os internet
queremos internet,, m as não vigil
vigilância
ância eletr
eletrônica
ônica e spams, queremos
querem os
informação
info rmação livre
ivre,, ma
mass não sites
sites inseg
inseguro
uross que possam fe ri
rirr a nossa
pri
p rivv a c ida
id a d e , e tc..
tc ...”.
.”.
Podemos ver o fenômeno como um processo social onde a
socialidade (através das tribos) se dá através da apropriação destas
novas tecnologias. E isto para o melhor (a efervesc efervescênciaência com comunal,
unal, o
compartilhar de sentimentos, a informação altruísta, etc.) ou para o
pii o r (c
p (cri
rimm in a li
lid d a d e , a u s ê n c ia d e c o n ta
tato
to fí
físs ic
ico,
o, t e rro
rr o ri
riss m o , ví
víru
rus,
s,
pee do
p dofifili
lia,
a, eetc
tc.)
.)..
Phreakers
O s p
phh o n e phreakers são conhecidos como os piratas do te
telefo-
lefo-
ne. A palavra p phh r e a k é um
um neolog
neologismoismo de fr free a k , p h o n e , fr
free e . A ação
dos phreakers
phreak ers começa, nos anos 60, com a apropriação do sistem a de
telecomun
telec omun icação mundial
mundial,, tendo com como o objetivo viajar gratui gratuitamente
tamente
pel
p elas
as re
rede
des.
s. E les
le s o
org
rgaa n iza
iz a v a m as ffaa m os as p
osas paa r ty lines
lin es,, festas em lin linha
ha
com várias pessoas d e locais os mais dive diversos
rsos..
Jon Engressia é consider
considerado ado o pai dos phre phreaker
akers.s. C ego de nas-
cença, queria enconencontrar
trar ou
outros
tros cegos pelas linha
linhass m
mundiais
undiais de tele
telefoni
fonia.
a.
Um outro phreaker, John Drape Draper,r, amigo de Engressia e jov em técnico
da força aérea
aé rea americana, descobriu, por acaso, numa caix a de cereais,
um apito que produzia a freqüência de 2600 hz, tonalidade esta que
perm
pe rmit
itia
ia re
reaa li
liza
zarr ch
cham
amad
adas
as in
inte
tern
rnac
acio
iona
nais
is grat
gr atuit
uitas
as.. D ra
rapp er fi
fico
couu co-
co -
nhecido como Captain Crunch (o nome do cereal). A sua descoberta
incitou
incitou outros phreakers a produzirem equipamentos clandestinos (a (ass
blue boxes). Dra Draperper começou no phreaking em 19 1969
69,, com a idade d dee
218 | C IB
218 I B E RC
R C U L TTU
U R A , T E C N O L O G IIA
A E V I D A S O C IIA
AL N A CULTURA CO NTEM PORÂN EA •
ção é rebati
rebatizada
zada como TAP (Tech (Technolo
nological
gical Assist
Ass isten
ence
ce Prog
Pr ogra
ram) 526. TAP
m)5
é uma
um a paródia de docum documentos
entos de sistemas da ttelefônica
elefônica Bell,
Bell, de vocação
anarquista. Ela "... "...ensinava
ensinava a fabr
fa brica
icarr explos
explosivos
ivos,, indicando comocom o en
contrar certidões nascimento falsas. Ela publicava os esquemas das
certidões de nascimento
caixas azuis e era especialista
especialista em trocas de números de telefones difíceis difíceis
de obter,
obter, com
co m o aqu
a quel
eles
es ddoo Vaticano
Vaticano ou do d o Kremlin...
Kremlin.. . ”5”521.
Nos
N os aanonoss 70 as coi
c oisa
sass vão
vã o esque
esq uenta
ntar.
r. E
Emm ju n h o d
dee 1972, a re
revi
vista
sta
Ra
R pa rtss publica um diagrama
a m part diagram a ensinando a con construir
struir uma variante da
blue boxe. Phreaker
Phreakerss como M Mark
ark Bemay
Bemay,, Joe Engressia e John Draper D raper
serão os pais da cultura cyberpunk de rua. rua. Nesse m mesm
esmo o ano é criado o
PCC (People Computer Company), em Menlo Park, cujo princípio é
difundir e desmistificar
desm istificar os computadores, tendo como o objetivo
bjetivo descen
descen••
OSS | 2/9
• A N D R É LEM O
tralizar
dade. Em o poder
197 5, tecnocrático
1975, e disseminálo
aparece o primeiro microcom para
microcomputador, o conjunto
putador, o Alt daem
Altair,
air, socie-
A
Al-
l-
buqu
bu quer
erqu
que,
e, Ci
Cida
dade
de do N
Noo vo M éx
éxico
ico.. A pas
p assa
sagg em d
doop
phr
hrea
eaki
king
ng pa
para
ra o
hacking é então um umaa questão de ttempo
empo e desenvolvimento tecnológico.
Os últimos phreakers
phreake rs são os primeir
primeirosos hacker
hackers.s. C
Como
omo afirma um phre
aker, “não existe nenhuma razão para limitar o telefone celular às
fu n ç õ e s e scol
sc olh
h id
idas
as e o
ofe
fere
reci
cida
dass p e la
lass indú
indústria
strias.
s. Ist
Istoo si
sign
gnif
ific
ica
a qu
quee te
lefones
lefones celul
celulares
ares pod
podem hackeados!! ”5
em ser hackeados ”528.
Hackers
A história da m icroinformá
icroinformá tica tica está li
ligada
gada à ne cessidade de
descentralizar o poder da informação, como vimos em capítulos
anteriores. O Altair, o primeiro microcomputador, deveria fazer
isso: liberar a tecnologia. Mais tarde, dois membros do famoso
H o m e b r e w C lu lubb (Steve Jobs e Steve W oznia ozniak)k) cri
criam
am a A p p l e , sen-
do que o microcomputador A p p l e I I nasce em San Francisco, em
abril de 1977. Os textos promocionais da Apple diziam: “Nós
construimos um equipamento que dá às pessoas o mesmo poder
sobre a informação que grandes coorporações e governos têm
s o b re e l a s ’’529. Em 1981, a IBM cria o seu PC, tornandose, mais
tarde, um modelo mundial com o sistema operacional DOS, que
fez a fortuna
fortuna d a M ic icrr o s o ft
ft..
A rua vai assim marcar o destino da microinformática. Serão
os primeiros hackers (no sentido mais nobre da palavra) os resp responsá-
onsá-
veiss pelo na
vei nascimento
scimento da “ informática
informática para todos”. Est Estes
es foram os “vi-
ciados” em inform informática
ática que trabalhavam no MIT MIT..
A partir
pa rtir dos anos 70, a micro microinfor
informática
mática com
começa
eça a disseminar
disseminarse se
nos colégios, nas livrarias, nas universidades e nas casas co com m os primeiros
jogo
jo goss elet
eletrôn
rônico
icos.
s. Sã
Sãoo esses ado
adolesc
lescente
entess que vão apr
aprov
oveit
eitar
ar as po
possi
ssibil
bili-
i-
dades
dad es ddaa in
infor
formá
mática
tica e ten
tentar
tar leválas ao limit
limite5
e53
30. Eles serã
serãoo os h
hacke
ackersrs
que “saem à descoberta de u umm mundo m mais
ais real e mais excitante do que
220
22 0 C IB
I B ER C U LT
L T U R A , T EC N O L O G I A E V I D A S O CI
C I A L N A C U L T U R A C O N T EM P O R Â N EA •
O u,
“Le cyber
c yberpu
punk culture des autoroutes de Vinformation, de
nk est la culture
la réalité virtuelle, du multimédia et de rintelligence artificielle. Le
cyberpunk estp
es tpu
u n k car nous sommes impati impatient
ents.
s. Nous voulons util iser
u tiliser
toutes ces technologies
techn ologies dès aujou
au jourd hui. Je suis súr que le cyberespace
rd’’hui.
deviendra un univers quotidien. La réalité virtuelle sera le moyen de
communication
commu nication duJut
duJuturur.. Vous
ous le créerez
créerez pour vou s-même et vous pourrez
po ur vous-même
conta
co nta eterde
eter dess personnes
perso nnes réelle
réelless et d ’autres de votre inven tiorí '.534
votre inventiorí
“hacking
hac king is *not* about
ab out breaking things.
things. There was a p erio er iod in
d in
the ‘80s when the media used someo ne who breaks
u sed ‘ha ck er ’to mean someone
into Computer systems. They were using the word incorrectly. Some
pee o p le w h o carne o f a g e duri
p du rin
n g tha
th a t p e r io d b e lie
li e v e d the ed ia ’s
th e m edia
incorrect definit
definition,
ion, applied
ap plied it to themselve
themselves, s, an d now think they are
some sorts ort ofglo
o fglorio
rious
us outlaw hack
hacker
er.. These
These people
peo ple are sadly
sad ly mi
misguide
sguided.d.
Perhaps some s omeday
day they will figu re out ou t what hacking is really about.
really about.
Perha
Pe rhaps ps reading
read ing this newsgr
new sgroup
oup w ill heh e lp ”53S.
"an approp
app ropriate
riate ap
applicatio
plication n ofingenuity. (...) hack is a Creative
prr a c tic
p ti c a l j o k e ” 536.
536. /
222 C IIBB E RC
R C U L TU
T U R A , T E C N O L O G I A E V I D A S O C IIA
AL N A CULTURA CO NTEM PORÂN EA •
critas
cri tas,, mas
ma s reforçadas p o r pressão dos pares e pelo sentimento tri tribal
bal
(...)• H
Haa c k e rs n a su
s u a ma
m a ior
io r g ran
ra n d il
iloo q u ê n cia
ci a p e rce
rc e b e m -se
-s e c o m o a eeli
li
te de pioneiros
pione iros do novo mundo m undo eletrônico
eletrônico ”538. Mais ainda, eles são
“jo
jovv en s p ara
ar a quem
que m os computadores e as redes telemáticas telemática s são uma
obsess
obs essão,
ão, e que têm têm levado esta esta obsessão pa parara além do d o que os profis
pro fis
sionais da informática
informática consideram
consideram ético ou advogado advo gadoss consideram
aceitável. Eles são chamados de hackers”539.
As motivações são as mais variadas, desde o desafio de testar
grandess sist
grande sistema
emass digi
digitais,
tais, passando pelo desejo de uma com unicação
livre e planetária,
planetária, che chegando
gando ao praz
prazer
er de resolver problemas técni técnicos.
cos.
Segundo Len Rose ( Terminus ), participante ativo ativo do grupo aam m erica-
n o L
Lee g ion
io n o f D o o m , o motivo principal é o conhecimento:
conhec imento: “O conh co nhee
cim ento
en to é a, a, única busca. Existem ainda m uitos hackers hack ers verdadeiros
poo r a í (...)
p (...).. A p r e n d a o m á x imo
im o que
qu e v o cê pu
pude
der.
r. É imp
im p o rta
rt a n te que
qu e
você saiba que o conhecimento e a informação devem ser se r livr
livreses ”54
”540.
Sobre o papel dos hackers na sociedade contemporânea, as opi-
niõess são as mais ousadas e ambicios
niõe ambiciosas.
as. Para
Par a BM
BMT T (Bill Me Tuesday),
“existem mais
m ais de 20000
20 000 hackers p o r aí,
aí, e nnessa
essa coletividade,
coletividade, eles têm
mais pode
po derr do que todos os governos “. Ou, os “hackers
hac kers são anarquis
anar quis
tas. Governos são institucionalizados, regimentados, sistemas buro
cráticos”. Para os jornalistas Hafne
Hafnerr e Markoff, os hackers são a versão
real do cyberpunk da ficçãocientífica: “nos romances cyberpunk os
rebeld
reb eldes
es vivem em um mundo de futuro distdistópi
ópico,
co, um mundo
mu ndo domina
do mina
do pela t ecnologia
superpopulação e form
(...) alguns
(...) delad
deles o pela
es faz em suad ecadência
fazem urbana
vida comprando, e a
venden
do e rou
roubando
bando informa
informação,
ção, a moeda do futu ro computadorizado
comp utadorizado ”5
”541.
Os hackers constroem
constroe m seu próprio código de conduta, um a éti-
ca. O grupo alemão Caos Computer Club, de Hamburgo, criado na
década de oitenta, é um dos principais porta vozes, mantendo suas
atividades até hoje. Eles nos propõem o compartilhamento de infor-
mações
maçõ es e a éética
tica de nunca destru
destruirir ou “b
“bagu
agunça
nçar”
r” os ddad
ados
os alhe
alheios5
ios54
42.
Esta deo
d eonto
ntolog
logia
ia vai m arcar
arca r as futuras ge
geraçõ
rações
es ddee h
hack
ackers5
ers54
43.
A geração dos anos 80 irá popularizar o conceito através dos
media de m assa (jornais, rrevistas,
evistas, tv),
tv), defi
definindoos
nindoos ccom
om o os “piratas
das redes de com putadores”
putado res”.. A percepção socia
sociall será elaborad a de ttal
al
forma, que os hackers não serão mais vistos como exploradores do
ciberespaço, mas co
como
mo int
intrusos
rusos malicios
maliciosos
os e perve
perversos5
rsos54
44. 0 filme War
Games
Gam es (1983) ajuda na formação desta cul
cultura
tura dos hackers dos anos
anos••
• ANDRÉ LE
EMMOS 223
cas,
ca s, você fa z a guerr
guerra,a, você mat mata,
a, você mente e você tenta nos con
vencer que é para pa ra nossa felifelicidade,
cidade, novanovament mente,
e, nós é qu quee somo s os
crimi
cr iminos
nosos.
os. M eu cricrime
me é a curcurio
iosi
sida
dadede.. Meu crime é ju lg a ra s pesso
as pe lo o que elas dizem ou pensam (. .).. Eu sou um h ack er e esse é
(....)
meu manifesto. ”
- Em
Emman
manueluel Goldstein (Ed (Editor
itor da Revista 2600)2600):: “Os hackers
são aqueles q ue faz em muitas perguntas e aqueles que n ão acreditam
não
na obediência às regras todo o tempo. Se alguém dissesse: nunca
f
faa ç a isso, e le
less n ã o ac
acei
eita
tari
riaa m e f a r ia m o q ue é p pro
ro ib
ibidido o f a z e r ”.
- Rop G onggrijp (membro do Grupo tecnoanarquis tecnoanarquista ta hol
holandês
andês
Hac
H ackT
kTic)
ic):: “O veverd
rdaa de
deir
iro
o p a p e l d o s h a c kekers
rs é p o lí ticc o , q u e r dizer,
líti
são as pessoa s que fa faze
ze m prog
progredir
redir a in infor
formáti
mática.
ca. Os hackehackers rs estão
lutando
lut ando para conectar qualquer pessoa fo ra da tec tecnocrnocraciacia.a. Eles
são os atores da passagem da tecnocultura à ciberc cibercult ura. ”
ultura.
O s hackers em ação
O primeiro caso de hacking que resultou em processo penal
envolveu
envolve u um grugrupopo de adolescentes americanos, de 15 a 17 anos, que
pee n etra
p et rara
ramm o b a n c o d e d a d o s d a C ime
im e nt
ntss L a fa
farg
rge,
e, n o C a n a d á , em
1983. Nesta ação eles deixaram algumas mensagens irônicas, resul-
tando em vários arquivos apagados. Esta história inspirou a série
televisiva L Lee s P
Pee ti
tits
ts G én
énies
ies..
Nos
N os E .U.U.A
.A.,., no m es esm
m o ano,
an o, a po
políc
lícia
ia pr
proc
ocur
urav
avaa a B an
and d a dodoss
224
22 4 C IB
I B ER C U LT
LT U R A , T EC N O L O G I A E V I D A S O C IA
IA L N A C U L T U R A C O N T EM P O R Â N E A i
414, formada
form ada por
po r uma dezena
d ezena de estudante
estudantess secundaris
secundaristas
tas de Milwauke
(indicativo 414),
41 4), cujo líder era um engenheiro
enge nheiro da
d a IBM5
IBM 545. Este estuda
e studan-
n-
tes entraram
entraram no Centro de Pesquisa
Pesquisa em Los Alamos, no Novo No vo Méxic
M éxico,
o,
e no Centro
Ce ntro AntiCance
A ntiCancerr Sloan
Sloan Kettering
Kettering,, em Nova
N ova York, e apagaram,
acidentalmente (por falha ttécnica)
écnica),, arquivos de mais de 6 mil pacientes
tratados. Um dos piratas, Patrick, de 17 anos, declarou : “O qu
quee m ais
mais
nos surpreende
surpreendeu
u fo i a facilidade que encontr amos para pen etrar a
encontramos
ma ioria do
maioria doss banc
bancos
os de dad
dadosos ((...)
...) as pa
palav
lavras
ras ‘te
test
ste’
e’,, ‘d e m o ’ ou ‘siste
m a ’ eram suficien
suficientes
tes pa
para
ra su p era
er a ra s b
bar
arreir
reiras
as””546.
Vários casos se sucederam: em outubro de 1988, um pirata
bee lga
b lg a p e n e tr
traa a r e d e te
tele
lem
m á ti
ticc a B is
iste
tell e c o n s u lta
lt a a c a ix
ixaa p o s tal
ta l d e
todos os ministros do país. No Reino Unido, Steve Gold, jornalista
especiali
especi alizado
zado em com putador, de 25 anos, é um do prime p rimeiroiro a entrar
no sistema
Go
Gold Prestei,direto
ld era herdeiro um sistem
sist
dosema a telemático
phreakers
phr tipo
tipo o video
eakers.. Paralelamente,
Paralelam videotexto
ente,texto Minitel.
Triludan The
Warrio
Warr ior,
r, amigo de Gold, começa com eça também a invadir a rede Prestei Prestei..
Naa pr
N p r im e ira
ir a intr
in truu são
sã o , Tri
T rilu
ludd a n ten
te n ta a s e n h a 1234
12 34 e rer e c e b e a m e n sa-
sa -
gem: “ B Bee m -v
-vinin d o à P r e st
stee i”
i”5541. No hacking do correio eletrônico eletrônico do
prr ínc
p ín c ipe
ip e P h ilip
il ip e les
le s tr
troo c a ram
ra m a p á g ina
in a p r inc
in c ipa
ip a l p o r “/ do so enjoy
pu
p u z z e ls a n d ga gamm eses.. Ta Ta, P ip ! P i p ! H R H R o y a l H a c k e r ”. D o
mesmo modo, m odificaram odificaram a página econômica econôm ica da bolsa de valores, valores,
alterando a cotação da moeda (£1=$50). (£1=$50). Seis meses após, apó s, Triludan
(Robert
(Rob ert Schifreen) e Gold são presos. presos. Não Nã o havia
hav ia nenhum a llei ei espe-
cífica sobre o hacking até aquele momento. Sendo assim, ambos
foram condenad
con denados os por
p or falsifi
falsificação
cação de senhas.
A condenação
c ondenação mais pesada ffoi oi aplicada na Inglaterra contra Nick
W hiteley que, em 19 1990
90,, é o hacker mais mais conhecido da Grã Bretanha.
À noite,
noite, este jovem
jov em de 21
21 anos, que trabalha como com o operado
op eradorr de com- com -
puu tad
p ta d o res
re s e m u m e m p ree
re e n d im e n to q u ímic
ím icoo , d isf
is f a r ç a se
s e e m M ad
H acker
acke r e viaja pelo ciberespaço.
ciberespaço. Em 1988 1988,, faz seu primeiro hacking
aos computadores do Queen Mary College. Segundo depoimentos,
ele não estava interessado em roubar informações do sistema.
sistema. Na ver-
dade, queria saber como este funcionava e como podería explorar
todas as possibilidades
possibilidades da máquina
m áquina e,
e, a partir daí, explorar
explora r as comple-
xidades da rede.
Para Nick,
N ick, o ciberespaço era uma
um a obsessão:
obsessão: ‘‘Cinc
Cincooo ou
u sseis
eis h
hoo
ras pareciam cinco minutos. Isto era apenas um jogo: a excitação
vem quando sabemos
sab emos que o computador no
no quarto da casa pode
po de ser
ser••
• A N D R É LE M
MOOS | 225
225
garantia
garanti
pl
plan
anet
etáraia.
da. Seg
ária privacidade
p rivacidade
Se g undo
un do estaetístic
a expansão
es tatís ticas
as,, no global
n o fim de da00,
d e 2000
20 comunicação
comu hnicação
, o ha ck ingg atelemática
a ckin sites
sit es ccom
om
domínios
dom ínios “ponto
“pon to br” batem os de domíniodom ínio “ponto
“po nto com
co m ”55
”551.
6 C IB
226
22 I B ER C U LT
LT U R A , T EC N O L O G I A E V I D A S O C IA
I A L N A C U L T U R A C O N T E M P O R Â N EA •
• AN DR É LEMOS | 2 2 7
di
diano
ano.. Trat
maneira Trata-s
a-se,
e, pera
perante
criativa, nte uma
prática e ...técnica sofi
sofisti
sticada,
desrespeitosa cada,
”558. d
dee se co
comm por tar de
portar
Atualmente vários encontros realizamse nos EUA, na Europa,
em Buenos
Bue nos Aires, em
e m São Paulo, como
co mo o atual DEF
D EFCO
COM M 559, entre ou-
o u-
tros.
tros. Vamos tratar de dois que aconteceram
acontecera m na Holanda
H olanda:: ICATA
ICATA e HEU.
ICATA
228
22 8 C I BE
B E R C U LT
L T U R A , T E C N O L O G I A E V I D A S O C IIA
AL NA CULTURA CO NTEM PORÂ NEA •
informação, reclamando a
nunc iando a centralização dos canais de informação,
nunciando
liberdad
liberd adee d
dee a
ace
cesso
sso às redes ttele
elemm át
ática
icas”
s”5562.
O pronunciamento de abertura foi de Lee Felsenstein, ativista
tecnológico,
tecnológic o, cofunda
c ofundador
dor do projeto Communit
Communityy Me mory em Berkeley,
Memory Berkeley,
Califórni
Calif órnia.
a. Nesta fala ele advoga que os poderes da nova nov a era tecnológica
devem ser levados em conta com responsabilidade por todos os cida-
dãos do planeta. De acordo
aco rdo com Felsenstein,
Felsenstein, os cidadãos devem agir e
reconstituir a relação entre a tecnologia e o social, sendo necessário
restabelecer
restabel ecer uma comunicação
comunicação de mão dupla,dupla, sem hierarquia
hierarquia ou con-
c on-
trole
trole.. Buscase agir para selar o fim da anomia
anom ia social.
social.
A declaração
declara ção final do ICATA
ICATA,, lida em 4 de d e agosto
ago sto de 1989\
1989\ pro-
pro -
põee a troca
põ tro ca livre
liv re e sem
se m freio
fre io d a infor
in forma
maçã
ção.
o. R einv
ei nvin
indi
dica
cand
ndoo qu
q u e a po
p o-
pu laçã
pula ção
o tenh
te nhaa a poss
po ssib
ibili
ilida
dade
de,, s.enã
s.enãoo d e contro
con trola
lar,
r, ao
a o men
m enosos de
d e inte
in terv
rvir
ir
nas estruturas
estruturas constituídas
constituídas.. A tecnologia
tecnologia de informação tem que qu e alargar
e não reduzir este este direito,
direito, já que a informação
informação pertence a todos. todos. Ne-
nhum modelo
m odelo de informatizaç
informatização ão da sociedade
sociedade deve ser s er imposto
imposto de cima c ima
para
pa ra baixo
bai xo,, apro
ap rove
veita
itand
ndo o a estru
es trutu
tura
ra desc
de scen
entra
traliz
lizan
ante
te do ciber
cib eres
espa
paçoço.. A
informatização deve ser um bem que potencialize a emancipação, o
prog
pr ogre
ress
ssoo do bem
b em e star
st ar social
soc ial,, a form
for m ação
aç ão pro
p rofis
fissio
siona
nall e o lazer. A redered e
deve manter suas conexões sem restrições e sem intervenções
controladoras, a fim de garantir um verdadeiro espaç espaço o social.
social.
E M O S | 229
• A N D R É L EM
ao ar
a r llivre,
ivre, um hackroom (sala com arte eletrônica, stands de revistas
e vários computadores
com putadores ligados à inter internet
net).
). O público variava de a do-
lescentes,
lescent es, antigos hihippies,
ppies, pupunks
nks e “mauricinhos” em BMW s. O amb ambi-
i-
ente era bastante masculino e verdadeira
verdadeiramente
mente com unitári
unitárioo (tudo era
feito em conjunto,
con junto, desde o café da manhã até a limpeza de banheiros),
com quase
qu ase 10
1000
00 pessoas (os organizadores esperavam a metade).
Naa aabe
N bert
rtur
ura,
a, E. G ol
olds
dstei
teinn fal
falou
ou so
sobr
bree a cr
cria
iaçã
çãoo da re
revv ista
is ta 26
2600
00,,
também referiuse ao papel dos media na formação da imagem dos
hackers, à Operação Sun Devil e ao di direito
reito à liberdade da informação.
2600 foi criada, em 1984, com o objetivo de publicar informação do
mundo inteiro sobre computadores e sistemas telefônicos. De acordo
com Goldstein, a impren
imprensa
sa e as publi
publicações
cações eletrônicas na internet
interne t de-
vem ter a m
mesma
esma liberd
liberdade
ade que as pub
publicações
licações impre
impressas.
ssas. Par
Paraa Goldest
Goldestein,
ein,
as autoridades não eentendem
ntendem a ciber
cibercultura: “eles não entende
cultura: en tendemm a dife
rença
ren ça e o pap
papel
el das novas
n ovas form as de comunicações eletrônicas
eletrônicas como a
internet. As publicações eletrônicas têm que ter os mesmos direitos
que a imprensa escrita ou a liberdade de expressão”**.
Goldstein afirma que a desinformação e a espetacularização dos
media é evidente
evid ente e patética: “A “Ass p pee sso
ss o a s pen
pe n sam
sa m , e m g era co m
er a l, q ue com
um modem,
modem, os computadores
computadores podem destruir destruir o mundmundo. o. Eu posso f a
lar p o r mim e pelo meu círcu círculolo pequeno de amigos amigos.. Destruir
De struir o m un
do, para nós, é a ignorância e o medo difundido na população em
relação às nov novasas tecnologias
tecnolog ias de comunicação. Eu acredito acred ito que nós,nós,
hackers, deveriamos mudar esta situação e deveriamos ajudar as
pee s s o a s a d o m e s ti
p ticc a r a tec
te c n o log
lo g ia".
ia ". Segundo o editor da 2600, é
difícil lutar contra a ignorância e os media ajudam a perpetuar
muito difícil
esta situ
situação:
ação:
nossas vidas. “Eles
É ainda
são aatualmente
mesma
m esma hist
histór
ória.
ia. Os hackers
criminosos pod
podem
que podemem ler seus
destruir
arquivos e cartõe
c artõess de crédito, eles podem
po dem destruir
de struir sua vida ”.
Os hackers tentam desmistificar a fé irrestrita na segurança
tecnológica da qual se vangloriam os tecnocratas. tecnocratas. Os hackers
hac kers têm por
função fazer a transição de uma mentalidade tipicamente moderna
(tecnocultura) para a compreensão dos impactos socioculturais da
cibercultura. Assim, afirma Goldstein, “nós temos que fa la r com as
pee sso
p ss o a s, e x p li
licc a r n o s s o p o n to d e vista.
vist a. N ó s est
e staa m o s inte
in tere
ress
ssaa d o s em
em
mostrar o que acontece. Hoje não podemos mais acreditar nas
corporações mundiais e os governos ganham
corporações ganham força
for ça com os com
computa
puta
dores em suas mãos. Eu acredit
acreditoo que é m
muito
uito importante,
importante,fa la r às
230 C IB
I B ER C U L TU
T U R A , T EC N O L O G I A E V I D A S O C IA
I A L N A C U L T U R A C O N T EM P O R Â N EA •
pe sso
pess o a s, a tra
tr a i-la
i- lass p a r a as no
nova
vass te
tecn
cnol
olog
ogia
ias.
s. N ã o p o d e m o s d e ix
ixaa r
tudo isto
isto em mãos de tecnocr tecnocratas riminososs ”5
atas.. Nós não somos ccriminoso ”564.
A paranóia
pa ranóia é tão iimportante
mportante no meio que ha havia
via uma conferên
conferência cia
específica sobre o tema. Um hacker declara: "Eu sou paranóico. A
idéia
idé ia é fa la r da parparanóia.
anóia. A paranóia é muito rui ruim
m porque pode que
brar nossa coesão de grupo e causar desconfi anças e dificuldades em
desconfianças
nossas comunicações.
comunicações. Nós podem podemosos com
compartilhar aquii nossos medos
partilhar aqu
e nossas angú stias". Vemos
angústias". Vemos aqui que o sentimento de g grupo
rupo ou tribo é
muito importante
im portante para os ttecnoanar
ecnoanarquist
quistas.
as. Um
Umaa das poucas mulheres
depõe: "eles tentam infi infiltr
ltrar-se
ar-se mais para
pa ra destruir o grupo, que pa ra
para
encontrar informações. A meta é semear a destruição do grupó. Nós
devemos estar at atentos
entos par
para a que os grupo
gruposs não sucumbam
sucum bam ao terroris
mo da polícia". A solução proposta é a utilização da criptografia de
massa para
pa ra driblar o monitoramento das comunicações.
Noss workshops sobre BBSs,
No BBSs, mostrouse
m ostrouse claramente
claram ente o ffator
ator soci
social
al
como dominante das novas redes redes tel
telemát
emáticas
icas.. As agregações e comu
comuni-
ni-
dades eletrô
eletrônicas
nicas refle
refletem
tem be
bemm a vida so
social5
cial56
65. Em ou
outra
tra discuss
disc ussão
ão sob
sobre
re
o mito da segurança técni técnica,ca, um dos hacker
hackerss afirmou que o seu papel não
é criminoso, mas político,
político, tentando mostrar os defeitos de ssegurança egurança dos
sistemas. "Nós quer queremos
emos mostrar que as pesso pessoas as têm que en tender um
entender
pou
p oucc o m
mee lh
lhor
or cocomm o fu
fun n c io
ionn a ess
essee no
novo
vo siste
sistema
ma tetecn
cnol
ológ ico ". O mesmo
ógico
aplicase
aplica se ao phre
phreaking
aking.. An Andy,dy, do CCC, afirma que o phreaking e o hacking
“não têm p o r objeti
objetivo vo cau
causarsar danos econômicos
econômicos,, m as realmente mo strar
mostrar
os buracos nos sistemas de computador". Ele fala através do telefone
(talvez
(talvez um p phr
hreaeaki
kingng ?) com um ph phreak
reaker
er alem
alemão
ão de 18 anos:
M
Mu u ita
it a s p e s s o a s es
estã
tãoo in
inte
tere
ress
ssad
adas
as n
noo ssee u c om
omeç
eço.o. Você p o d e
nos fa la r um pouco?
D
Du u ra n te o v er erãã o 1989, eu o u v i f a l a r d a s b luluee b o x e a lg
lguuns
amigos
am igos me fala ra m que era um modo d e telefonar llivr ivrement
emente.e. Eu
comprei
com prei alguns livros e, program ando e reprograma reprogramando ndo a noite toda
essa caixa,
caixa, de súbitsúbito, o, os telefones soaram e f o i uma um a sensaç
sensação ão muito
agradável. Foi assim que eu comecei. Todo mundo pode aprender
isto,
sto, em m uito po poucuc o te tempo.
mpo.
Outra discussão teve por objet objeto o a prát
prática
ica da social engineer ing.
engineering.
Esta é uma astúci
astúciaa muito usada por hacker
hackerss e phreakers. U Umm hacke
hackerr
holandês explica: “é criar uma forma para achar informação que
não esteja facilmente disponível. A pessoa usa o telefone para, de
uma m aneira simples,
simples, adq uirir o que deseja "",, Definindo esta prát
adquirir prática
ica••
• A N D R É LE M
MOOS 231
de ação muito
underground m uitoecomplexas
compl
o sistemexas.
sis tem . .Meu desejo
a”.
a” desejo é abrir a comunicação entre entre o
Para Andy do d o CCC: “O hacking não é ilega ilegal.l. O obje
objetivo
tivo do hacking
ha cking
é penetrar
penetr ar os sistemas de co comp
mpututad
ador
or.. De outro
outro lado
lado,, as leis são uma
maneira de preve
pre venir
nir mudança
mudanças. s. Se eu entro
entro em um sistema de comp c omputauta
dorr e eeuu mudo
do mu do algo no sistemasistema,, há leis e para
pa ra mim
m im elas são ok. ok. M as se
você entra e mostra fur fu r o s de seguran
segur ançaça no sistema, a lei nã nãoo segu
se guee m ai
aiss ”.
Dentro desse espírito, Emmanuel Goldstein declara: “Olhem par p araa nós.
nós.
Nós
N ós so
som m os ato
atoreress político
polít icos.s. Eu p enso
en so ququee a m elho
el horr coisa
co isa é e d u car
ca r as
a s
pess
pe ssoo as com
co m o que
qu e sabemo
sab emos. s. Ela
Elass têm
tê m qu
quee enten
ent ende no sso p o n to de vista,
derr nosso
não em jorna
jor nais,
is, em artigos
artig os ou na televisão.
televisão. ” Andy acrescen ta: “o hacking
acrescenta: hac king
nos ajuda a mostrar o que acontece acontece hoje
hoje.. Os hackers mostram proble prob le
mas. EuE u não quero causar problem problemas as mas mostr
m ostrá-lo
á-los” s”..
N a sseg
Na eguunda m
mee ta
tadd e do
doss aano
noss 80,
80 , v
vár
ário
ioss pa
país
íses
es in
inst
stit
ituu ír
íraa m le
legi
gis-
s-
lações contendo
contend o restrições
restrições ao hacking. Nos Estados Unidos, a prim ei-
ra lei contra a criminalidade de computador data de 1986 (The
Computer Fraud e AbuseAb use Act)
Act).. As autoridades tentam proibir todas
as formas de hacking, mesmo aqueles que não tocam nos dados ou
que apenas querem mostrar os erros dos sistemas de segurança. Na
França, a Lei Godfrain, de 22 de dezembro de 19 1987 87,, foi criada não só
paa ra p u n ir o h a ck
p ckin
ing
g c ri
rimm in
inal
al,, com
co m o ta
tamm b é m p a ra im p e d ir o p a ss
ssee io
dos hackers pelo ciberespaço.
2322
23 C I BER
B ER C U LT
L T U R A , T EC N O L O G I A E V I D A S O C IIA
A L N A C U L T U R A C O N T EM P O R Â N E A •
secreto.
secret o. O jo g o da program ação nos fafasc
scina
ina literal
literalmente. Passamoss
mente. Passamo
aí noites inteiras. Eu creio que era para nós uma espécie de dro
g a ’’566. Vários autores ref
’’5 referemse
eremse aos hackers como Computer add icts
addicts
ou code junk ies. O computador é assim um parceiro da criação, da
junkies.
comunicação, da democratização e da liberdade da informação, mas
também um instrumento viciante.•
viciante. •
• A N D R É LE M
MOOS 233
se pela aparência ”
”5
569.
A leitura favorita é a ficçãocient
ficçãocientífic
ífica.
a. Os h
hackers
ackers nã
nãoo são m
mui-
ui-
to ligados aos esportes, mas alguns se aproximam do ciclismo, do
esqui, do skate, do su rf e das art
artes
es marciais
marciais.. Odeiam os mainframes
da IBM, a burocracia, pessoas incompetentes e as interfaces tipo ja-
nelas e menus. As comidas favoritas são os pratos exóticos e pizzas.
De tendência centroesquerda, são próximos do ateísmo e do misti-
cismo Zen, ligados a drogas químicas como o ecstasy, a maconh
ma conhaa e o
LSD. M ostram tolerâ
tolerância
ncia em relação à sexualidade e são contrários à
afirmação social
so cial pelo di
dinheiro.
nheiro. As m ulheres são raras e o am biente é
tecnomasculino,
tecnom asculino, talvez como conseqüê
conseqüência
ncia da civili
civilizaçã
zaçãoo indus
industri
trial
al
onde os valores da razão imperam com a masculinização da socieda-
de. Entretanto, mais
m ais recentemente, tanto na internet como nas tri
tribos
bos
de hackers,
hacke rs, a participaçã
participaçãoo das mulheres é cres
crescente.
cente.
Impacientes e nervosos, os hackers têm dificuldades para
234 C I BER
B ER C U LT
LT U R A , T EC N O L O G I A E V ID
I D A S O C I AL
A L N A C U L T U R A C O N T EM P O R Â N EA
pu
p u d esse
es semm encon
en contrá
trá-lo
-los.
s. Eles
El es nunc
nu nca a enco
en cont
ntra
rara
ram
m -se f i s ic a m e n te ”512.
Como vemos, esse underground high-tech é amorfo, formado
po
p o r tr
trib
ibos
os e m que
qu e a p a la
lav
v ra c h avavee é a c o m u n ic
icaa ç ã o p e la
lass re
red
d e s do
ciberespaço, principalmente os BBSs e os sites sites da internet. Com Como o ex-
plic
pl icaa m C lolou
u g h e t M un
ungo
go,, el
eles
es form
fo rm am o q u e ad
adv v o g ad
adoo s am e ri
rica
can nos
chamam de “ high tech Street Street gang ’ ”m . No Noss anos 80, as ttribos ribos mmulti-
ulti-
plic
pl icaa m s
see a n
nív
ível
el in
inte
tern
rnac
acio
iona
nal.l. T
Tal
alve
vezz po
poss
ssam
am o s ffaa la
larr d o ssur
urgi
gim
m en
entoto,,
a partir da década de 80 80,, de uma contracultura high-tech, formada em
várias gerações.
A primeira geração era composta por estudantes do MIT e as
prim
pr im e ir
iraa s g ra
rann d e s m á qu
quin
inas
as o nd
ndee tr
traa b a lh
lhav
avaa m p a ra p ro d u z ir no
novo
voss
softwares.
soft wares. Eles acredit
acreditavam
avam na li liberdade
berdade de informação
informaç ão e no acesso
total às novas tecnologias. A segunda geração foi aquela do Steve
Jobs e Steve Wozniak e o H Hoo m ebre
eb rew w C o m p u ter lu b. A meta era
te r C lub.
mudar
mud ar as máquinas e torn tornál
álas
as mais inter
interatiativas,
vas, conhec
conhecida ida como ar-
quitetura aberta (open architecture). Assim, a primeira geração dos
j
jee t o (o c o m p u ta
tadd o r)
r),, d e n tr
troo e fora
fo ra d a m a teteri
riaa li
lidd ad
adee , s e m co
con
n tu
tuddo
deixarem de ser cowboys, aventureiros, circulando em u
cowboys, aventureiros, um
m espaç
espaço o de
pu
p u ra in
info
form
rm açã
aç ã o , o cib
c iber
eres
esp p aç
aço.
o.
O hacker
ha cker da última geração é a oposição a uma das figuras su-
pre
p rem m as da m o d e rn
rnididaa d e, o eesp
spec
ecia
iali
list
sta.
a. E ste
st e p
pro
rocc u ra o c o n h ec
ecim
im e n to
total, enquanto o hacker, mais próximo do bricoleur, procura sobre-
bricoleur, procura
viver na pluralidade banal do quotidiano. O radical tecnológico dos
nossos dias não é mais, como com o poderiamos pensar, um ccientista ientista objeti-
vo, frio
frio,, assé
asséptico,
ptico, m masas um adolescente, rom romântico
ântico e aventureiro, sujo,
li
ligado
gado a sua pequen
pequenaa tribo e a algumas droga drogas, s, assim com como o ao m undo
da microelet
microeletrônica.
rônica.
Podemo
Pode mos,s, agora, tentar sintetizar
sintetizar o perfi
perfill dos hackers. A den deno- o-
minação de hacker corresponde àqueles que superaram diversos está está-
-
gios.. M ais que um a função, ser um hacker é uma disti
gios distinção
nção honorífi
honorífica.
ca.
O hacker é é o topo da cadeia que começa com o L La a m e r (usa
(usa alguns
pro
p rog
g ra
ramm a s p ro
ronn to
toss e b ri
rinn c a d e ser
se r h ac
acke
ker)
r),, p a ss
ssaa n d o p e lo Wannabe,
Wannabe,
que, como o nome diz, “quer ser” um hacker, começando a fazer
pee q u e n o s p rog
p ro g ra
ramm a s e e n te
tenn d e r a c o m p le
lexx id
idad
adee d a re
rede
de..
O pir
pirata
ata fra
franc
ncês
ês Landre
La ndreth5th57 75, me
memb
mbro ro d
daa cibergang Cénacle, dá a
cibergang Cénacle,
tipologia do hacker médio. Há cinco tipos: o novato, o estudante, o
turista,
turi sta, o vândalo, e o ladrão. Para o “novato”, geralmente jov jovem
em entre
12 e 14 aanos,nos, o hac
hacking
king é um jog jogo o ond
ondee ele se sente fazendo
fazen do algo p proi-
roi-
bido.
bid o. E ststes
es são
são,, d e long
lo nge,
e, a maior
ma ioria.ia. E ste
st e é o lamer.
lamer. O “estudante”
proc
pr ocururaa a p re
ren n d er tu
tudd o so
sobr
bree sistem
sis temasas inf
infor
orm m ático
át icoss e ag
agee c o m o um a
espécie de d e compensaçã
comp ensação o à busca do con conhecimento
hecimento e de d e inform
informação5
ação5776.
6
236
23 C I BE
BE R C U L T U R A
A.. T E C N O L O G I A E V I D A S O C IIA
AL N A CULTURA CON TEM POR ÂNE A •
siderado
“considera
consideramosummos hacker
hacqueker pelos
eles não hackers.
hack ers.dos
são Como ex
explica
nossos;
nossos;plica
pa rao nós
para hacker
hack(oer cracker)
Landret
Landreth:
h:é
um criminoso’’511. Segundo os verdadeiros verdadeiros hackers, o hacking é “uma
prr á ti
p ticc a so cia
ci a l a lte ti v a ”51*. Mas o cracking...
lt e r n a tiv
Crackers
• ANDRÉ LE
LEMOS
MOS 237
O hacking
ha cking criminal
criminal,, ou o que chamaremos aqui de cracking, é
realizado hoje para roubo de códigos de acesso, números de c artão de
8 CIBERCULT
238
23 CIBERCULTURA,
URA, TECNO
TECNOLOGIA
LOGIA E VIDA SOCIAL N A CULTURA CON
CONTEMPO
TEMPORÂNEA
RÂNEA •
crédito, códigos
código s de autorização
autorização telefônicos,
telefônicos, contrasenhas d
dee comp u-
tadores, etc. A existência do tráfico
tráfico internacional
internacional de inform ação atra-
a tra-
Operação
Op eração Sun Devil
Devil
• ANDRÉ LEMOS | 23
LEMOS 2399
de software
s oftware e não por
p or hackers, mas segundo Sterling,
Sterling, “hackers fi
fizz e r a m
isso.
isso. Co
Comm um vvírus.
írus. Um cava
cavalo
lo de tróia. Um software b
boo m b ”5M.
N o s dia
No d iass 1 e 2 de
d e julh
ju lhoo de 1990,
199 0, fora
fo ram
m atac
at acaa d o s o s sist
si stee m a s de
de
computadores em Washington, Los Angeles, Pittsburgh e São Fran-
cisco. No dia
d ia 17 de setem
setembro bro de 1990
1990,, estações
estações de switchs de AT&T
em Nova
No va Iorque são postas fora fora de atividade
atividade (as baterias de em emergên
ergên- -
cia e todo o sistema de segurança não funcionam). Os aeroportos
(Kennedy,
(Kenn edy, La Guardia
G uardia e Newark) são privados de comunicações (da-
dos e vocal). O FBI reage imediatamente e, em 9 de maio de 1990,
começa a Operação SunDevil contra as atividades dos hackers e
crackers, embora eles (policiais, juizes, advogados) não tivessem a
mínim a idéia do que
mínima qu e era isso!
isso!
Para m elhor entendimento
entendimento dessa blitz
blitz cibernéti
cibernética,
ca, podemos
podem os es-
tabelecer uma cronologia mais apurada dos acontecimentos. Tudo
começou no verão 1988, com a quarta Convenção de Hackers nos
EUA. Neste momento, a rede C B S 'faz
' faz um retrato dos hackers como
criminosos perigosos. Em novembro,
novemb ro, disseminase o vírus Worm (ver-
me) de Robert Morris Jr. pela internet585. O vírus desconectou 6.600
computado
com putadores
dezembro, res
um edosacarretou
membros perdas
do Lde
Leg 40n ao90
egio
ion fD omilhões de dólares.
o m , grupo de hackersEm
americanos, bastante ativo na época, consegue o documento E-9 E-91111
que explica o sistema informatizado da telefônica BellSouth e colo-
cao numa BBS. O autor da façanha é Knight Lightening, pseudôni-
mo de Craig Neidorf. Já em novembron ovembro de 19 1989
89,, o grupo Nu NuPrProm
ometethe
heusus
quebra o código fonte da Apple e, em dezembro, a revista H Ha rpee r
a rp
publ
pu blic
icaa ma
maté
téri
riaa so
sobr
bree uma
um a confe
con ferê
rênc
ncia
ia virtual
vir tual de
d e hack
ha ckererss na BBS
B BS Well,
uma das mais influentes comunidades
com unidades virtuais
virtuais do planeta.
Em 15 de janeir
jan eiroo de 1990
1990,, começam os ataques em massa m assa com a
para
pa ralis
lisaç
ação
ão do sisiste
stemm a tele
te lefô
fôni
nico
co da AT&T. Algu A lgunsns dias
dia s ddep
epoi
ois,
s, o ser
s er-
-
viço secreto americano
am ericano suspeita que A Acc id P
Phr
hrea k e Ph
eak Phiber Optik,, parti-
iber Optik
cipantes do Le
Legio
gionn of
ofDD o o m (L oD),, estão envolvidos
(LoD) e nvolvidos no ataque
ataq ue à AT&
AT&T.
Em 2 de fevereiro
feve reiro de 1990,
1990, o serviço secreto faz faz uma
um a batida na casa ca sa de
Terminus, pseudônimo
pseudônim o de Len Rose, também também participante
participante do LoD.
A história da cibergang LoD, criada por Le Lexx Luth
Luthor,or, um líder mis-
terioso que vive em algum lugar do sul dos E.U.A., está no coração da
blitz
19realiz
de 199rea
91.lizad
Aada
LaoD
LoDpelo
pe lo
eraFBI
FB I contr
co ntraaeosmais
a melhor tecnoana
tecno
mai anarqu
s ativa rquista
gangistas
s cyb
cyber
erpu
punk
cibernética
cibernéti ca nks
doss no verão
verãOo
EUA.
hacker mais expressivo é o famoso Marc Abene (Fibra Ótica), Ótica), um hacker
hack er
240
24 0 | CIBE
CIBERCUL
RCULTURA
TURA,, TECNOLOGIA E VIDA SOCIA
SOCIALL NA CULTURA CONT EMPO RÂNEA •
completo.
com pleto. Ele tinh
tinhaa 17 anos em 1989 quand
qua ndo
o entrou pa
para
ra o Lo
LoDD 586.
Em 7 de fevereiro, The Prophet (Robert Riggs), The Leftist
(Franklin Darden) e The Urville/Necron99 (Adão Grant) são
imterpelados
imterpe lados pelo FBI sob as mesmas acusaçõe
acusações.
s. Em 15 de fevereiro, o
serviço secreto prende Craig Neidorf, suspeito
suspeito de ter roubado
roubad o e publi-
pub li-
cado o documento E911 da Bell South. Ainda nesse mesmo mês, o
sysop da rede Jolnet é visitado também pelo serviço secreto porque o
docum ento foi achado em seu ser
servi
vidor
dor.. No começo
com eço de março, os fede
rais invadem o escritório de Steve Jackson por causa do jogo ( role
p layy in
pla ingg g am e ) chamado Gurps Cyberpunk. Dois meses depois, J.P.
Barlow (letri
(letrista
sta do grupo de rock Greatful Deads) é visitado
visitado pelo ser-
viço secreto por po r ter recebido um disquete contendo o código da Apple.
Em 9 de maio de 1990, o serviço secreto anuncia 28 batidas,
chamadas
chama das então de “Operação Sun Devil", em 14 cidades, com a apre apre-
-
ensão de 42 com putadores e 23.000 disquetes. disquetes. Surge aí uma prim
primeira
eira
reação através
a través da criação, por inic
iniciat
iativa
iva de Mitch Kapor (Lotos)
(Lotos),, John
Barlow, John Gilmore
G ilmore (Sun) e St Steve
eve Wozniak (Apple), en entre
tre outros,
da Fundação
Fun dação da Fronteir
Fronteiraa EElet
letrôni
rônica
ca (EFF).
(EFF). E
Esta
sta nasce pa
para
ra defender
os direitos
direitos dos cidadãos do ciberespaço, os netizens. Seus fundadores
são apóstolos da contracultura dos anos 60, renovados com os ares
dos anos 90 que qu e começavam.
O estatuto da EFF propõe: “um novo mu ndo está surgindo
mundo
na vasta
vasta rede di digit
gital
al ...O s media de comun
comunic ação, baseados em
icação,
comp utadores como corr correio
eio elet
eletrônico
rônico e conferênci
conferências, as, estão se tor
nando a base para novas form as de comuni comunidades
dades.. Estas comunida
des,, sem uma única e fix a local
des localização
ização geográfi ca, com preendem os
geográfica,
p r im e iro
pr ir o s a ju s tetess d a f r o n t e i r a e le
letr
trôô n ic
icaa . E n q u a n to a s n o r m a s c u l
turais e os princípios est estabelecidos
abelecidos criam criam a estrutestruturaura e coerência
dos usos dos media m edia conve ncionais ((.. ...)
.),, os novos med ia digitaisdigita is não
são fac ilm en te ad aptáveis aos enquadram entos exis existent
tentes.
es. (.. .) A
(...)
Fundação da Front Frontei eira
ra Elet
Eletrôni rônicaca fo i cricriada
ada para ajuda r a civil civilii
za
z a r a f r o n t e i r a e le
letr
trô
ô n ic
icaa ; p a r a f a z ê - l a v e r d a d e ir
iraa m e n te ú ti
till e b e
néfica
néf ica,, não ap enas pa ra uma eli elite
te ttécni
écnica,ca, m as pa ra qu alque r p e s
soa,
so a, de uma for m a que mant mantenha enha,, nas nossas soci sociedades,
edades, o li vre e
livre
aberto
abert o flu x o de inf
informação
ormação e comunicaçã
comunicação o ”5
”587.
A Operação Sun Devil
De vil éé,, assi
assim,
m, a primeira guerra do ciberespaço,
ciberespaço,
mas não a última. Recentemente, ataques a grandes sites trazem de
novo a caça aos hackers. Como
Com o vemos, a história não é nova, ma mass pela•
pela•
p rim
pri m ei
eirara ve
vez,
z, a m íd
ídia
ia gl
glob
obal
alm
m en
ente
te sint
si nton
onizizad
adaa fi
ficc a c o m m e d o do
doss
hackers. Em E m feve
fevereiro
reiro de 2000, quase 10 anos depois depois da O peração Su
Operação Sun
n
Devil
De vil,, os principais si
sites
tes do comércio eletreletrônico
ônico mundial sofreram ata-
ques do tipotipo DDS ( Distr
Di strib
ibut
uted
ed D en
enia
iall o fSe
fS e rvic
rv ice)
e) que os paralisaram588.
A técnica é simples e j á se suspeita de um hacker de 15 anos do Canadá,
codinome mafiaboy, como um dos responsáveis. Desde então, ataques
hackers estão se prolif proliferando,
erando, chegando ao estrago mundial criado pelo
vírus I Love
Lov e Yo You u, disseminado a partir das Fil Filipi
ipinas,
nas, em maio de 2000.
Em 1991990, 0, os hackers, e di diversos
versos ativist
ativistas as da fron
fronteira
teira eletrôni-
ca, diziam
diziam e star pregando a li liberdad
berdadee de inf informação
ormação e provando que
aquilo
aquil o que é vendido como seguro nã nãoo o é (ele
(eless chamam de “seguran-
ça pela ignorância”). Eles penetram os sistemas mais sofisticados e
importantes (sites governamentais, militares, educacionais e agora,
empresariais) com co m o intuito de desmoralizál
desmoralizálos, os, seja modificando suas
páá g in
p inas
as W eb (c (co
o m esc
e scri
rito
toss d
dee con
c ontetest
staç
ação
ão,, llin
inks
ks b iz
izar
arro
ross o
ouu im
imag
agenenss
po
p o rn
rnoo g rá
ráfi
ficc a s ou e sc
scaa toló
to lóg
g icas
ic as),
), s ej
ejaa pa
para
rali
lisa
san n d o cco
o m p leta
le tam
m e n te um
servidor,
servi dor, com
como o aconteceu recentemente.
O grupo (pelo menos as info informações
rmações afirmam que mais de um
hackerr estava em ação) utilizou
hacke utilizou um software que foi llivremivremente
ente colo-
cado na rede e, com pro procedimentos
cedimentos considerados simples, program programou ou
computadores “escravos” (ou zumbis) ser servindo
vindo como fon te dos ata-
ques aos sites.sites. Destes
D estes comp
computadores
utadores partiu o ataque aos sites da CNN,
ebay, etrade, buy.com, Amazon, Yahoo, dentre outros.
Até onde sabemos, parec parecee que tudo começou qu ando o jove m
hacker canadense mafiaboy criou a ferramenta de “ den denia
iall o f Service”
Trinoo.
Trino o. EEsteste foi um dos programas utilizados no at ataque.
aque. O FBI de des-
s-
cobriu mais tarde que o programa TFN2K ( Tribal Flood NetWork
2000), uma vari variação
ação do Trinoo, também usado, ttinha inha a assinatura de
seu criador, o hacker alemão Mixter. Em entrevista ao site
cnetnews.com, ele confirma a autori autoriaa do programa, mas nega a res-
po
p o n sa
sabb il
ilid
idad
adee so
sobr
bree os rec
re c en
ente
tess at
ataq
aque
ues.
s.
Uma outra variação do Trinoo, talvez inventada pelo hacker
alemão Randomizer,
R andomizer, foi também utili zada, o program a Stacheldraht.
utilizada,
Para Mixter, criar um programa program a e col colocálo
ocálo na rede significa cham ar a
atenção para a possibilidade de ataques ataques desse gênero. Ele vai mesmo mesm o
além, ao afirmar que “o problema real é a insegurança da maior
pa
p a r te d o s sser
ervv ido
id o res
re s e nnãão aass p e s s o a s q
que
ue es
estã
tãoo exp
e xplo
lorr a n d o isso.
isso . (.
(...)
..)
Eu
E u ac
ach ho aass s u s ta
tadd o r q u a n d o o p re
resisidd en
ente
te Clin
Cl into
ton
n p e n s a de
d e s ti
tinnar $240
242 CIBE
CIBERCUL
RCULTURA,
TURA, TECNOLO GIA E VIDA SOCIA
SOCIALL NA CU LTURA CONTE MPO RÂN EA •
milhões no único propósito de grampos e contro
controle dom éstico
le doméstico 589. Aqui
encontramos o mesmo espírito dos hackers do LoD, que causaram
estragos em grandes instituições
instituições americanas em 1990
1990..
Como
Co mo vemos, o medo da ciberguerra
ciberguerra não é novo, mas só agora a
internet é popular
p opular o bastante para merecer
merece r destaque nos jornais
jorn ais e TVs
T Vs
do mundo inteiro. É compreensível o fr e n e s i americano, já que eles
dominam o emergente, e já milionár
milionário,
io, comércio eletrônico.
eletrônico. Conseque
C onsequen-n-
temente, os governos americano e europeus estão mobilizando esfor-
ços policias, financeiros
financeiros e legais para manter funcionando, sem proble-
mas de segurança, o que é considerado hoje a grande revolução da era
informacional: o e-business. Segundo o FBI, os dados são sã o alarmantes:
em 1998
1998 registraramse 547
547 invas
invasões
ões e em 1999,1.15
199 9,1.154.
4.
O presidente Clinton reuniuse
reuniuse com 25 executivos
exec utivos das m mais
ais po-
derosas empresas
em presas de informática
informática americanas para traçar um plano de
segurança para a rede. Mesmo assustado, afirmou que não foi um
“Pearl Habor digital”. Por ironia, logo após pronunciar essa frase,
p a rt
pa rtic
icip
ipaa n d o de
d e um
u m cchh at na CN
C N N , o ppreresi
sidd ente
en te foi
fo i ha
h a c k e a d o em
e m p len
le n o
baa te p apo.
b ap o. U m h a c k e r c oloc
ol ocoo u o u tr
traa fras
fr ase,
e, c o m o se o p resi re sidd e n te a
tivesse dito: “Pessoal
Pessoalmente,
mente, eu gostaria
gostaria de ver mais m ais sites por nôs nô s na
internet”590. Este é o primeiro hacking ao vivo de um presidente (e
ainda mais dos EUA), EU A), no auge da discussão
discussão acerca da criação de me-
canismos
canis mos de segurança para garantir garantir a hegemonia americana am ericana nos ne-
gócios on-line.
O diretor
dire tor do FBI,
FB I, Louis Freeh, e o Advogado
Ad vogado Geral, Janet Jan et Reno,
solicitaram
solicit
nadosaram
tinados
ti um
u mbater
acréscimo
a combater
com ciberde
o cibercri $37
me. milhõe
crime. milhões
objetsivo
O objetivo sobre
eraos $ 100
criar10um
0 milhões já des-
organismo de
segurança e perseguir os supostos invasores. É bom lembrar que, du-
rantee a operação
rant ope ração Sun Devil, vários vários jovens
joven s foram presos sem nenhuma
pro
p rovv a con
c onvi
vinc
ncen
ente
te.. O m esm es m o pode
po de acon
ac onte
tece
cerr agor
ag ora.
a. O FBI
FB I j á susp
su spei
eita
ta
d e Mixter, R a n d o m izizee r e m af
afia boyy como
iabo com o vimos,
vimos, e também do hacker
americano Coolio, membro da cibertribo Global Hell, e que, suposta-
mente, teria hackeado computadores da universidade da Califórnia C alifórnia em,
Santa Barbara, e da Universidade de Stanford, de onde partiram os
ataques contra a ebay e a CNN, assim como o servidor da UCLA,
origem da d a investida contra a Amazon.com. Coolio é também também suspeito
de ter invadido um servidor na Rússia e o website w ebsite da RSA Security
Security,, a
mais importante firma de d e segurança
segurança por criptografi
criptografiaa dos EUA.
Recentemente, o FBI contraatacou
contraatacou colocando, através do seu• seu•
• ANDRÉ LEMOS | 243
LEMOS
quer evidência
evidência e certamente int
intenç
enção
ão de m inh
inha
a parte de fra ud ar qual
qu er p e ss
ssoo a ”59' .
Ciberanarquismo ou cibercr
cibercriminal
iminalidade?
idade? A questão é ambígua e
muito polêmica,
polêm ica, e fica, às vezes, muito difícil
difícil identificar quem está de
que lado. O medo
me do do ciberterrorismo aumenta
aumen ta devido a possibilidade
possibilidade
de os ataques serem, não obra de hackers, mas sabotagem industrial
244
24 4 CIBE
CIBERCUL
RCULTURA
TURA,, TECNOLOGIA E VIDA
VIDA SOCIAL
SOCIAL NA CULTURA CO NTEMP ORÂN EA •
• ANDRÉ LEMOS | 24
LEMOS 245
5
Vír
V íru
us
Vírus são m uito usados por hackers e crackers, fazendo fazend o parte
dessa “jo v em sub -cultura ”595. Co
sub-cultura Comm o um
u m a antecip
ant ecipaçã
açãoo da
d a cibe
c ibercu
rcultu
ltura
ra
contemporânea, as suas maiores expressões aparecem da ficçãoci
246 | CIB
CIBERCU
ERCULTU
LTURA,
RA, TECNOLOGIA E VIDA
VIDA SOCIA
SOCIALL NA CULTUR A CON TEM PORÂ NEA •
incorporadas ao vast
incorporadas vastoo programa que qu e é o sist
sistema
ema operaci
operacional onal,, p er
ndo contornar todos os procedimentos normais de segurança e
mitindo
miti
ter acesso
ac esso diretame
direta mentente a todos o oss arquivos de um c om pu tad or or” ”596. J
Jáá
o Cavalo de Tróia, como o recente I L o ve You (que também é um
Worm ) " é um programa que contém uma astúcia e que permite ao
hacker entrar no sistema. O mais simples e eficaz é dissimular o
Cavalo de Tró Tróia jogo ... ”597. A Bom
ia em um jogo... B om ba Lógic
Ló gicaa é um
u m a espécie
espé cie
de A rmadilha,
rmadilha, com hora certa certa para detonar
detonar,, a partir de um a ação es-
pee cífi
p cí fica
ca.. O Verme
Ve rme ou Worm é um um programa que se reproduz e se dis-
per
p ersa
sa,, p a ssa
ss a n d o de c o m p u tad
ta d o r a com
co m puta
pu tado
dor,
r, n a m a iori
io riaa das
da s veze
ve zes,
s,
a partir da lista
lista de endereços da pessoa ccontaminada.
ontaminada. O m ais conheci-
conh eci-
do dentre os pioneiros foi
foi o de R. Morris Jr em 91. HHoje
oje temos Melissa,
Melissa,
Chernobyl, I Love You, entre outros.
Há vários
vários problemas causados por vírus.vírus. A lguns bloqueiam
bloqu eiam o ,
sistema,
sistema, outros destroem soft
software,
ware, outros fazem a máquina
m áquina ficar
fica r len-
len-
ta, etc.
etc. A contam
co ntaminaçã
inaçãoo se dá por vias
vias de disquetes ou da rede m undi-
und i-
al de com putado
pu tadores,
res, vindo sempr
se mpree através
atravé s de um exe
e xecu
cutáv
tável5
el59
98. Mas
os vírus são acima de tudo programas e existem, grosso modo, dois
tipos de program
p rogramasas : os manipulados e os manipuladores. Os prim
primei-
ei-
ros são aplicati
ap licativos
vos que agem de forma independente de outros,
ou tros, e os
segundos são feitos
feitos para modificar outros programas.
programas. Um processado
p rocessadorr
de texto vai ser modificado para ajustarse a um ambiente
am biente do sistema
operacional.
Os vírus são programas que modificam negativamente
negativamen te o funcio-
namento de outros softwares e, consequentemente,
consequentemente, da máquina. Dessa•
Dessa •
Cypherpunks
çarr est
ça estee objeti
objetivo.vo. Cript
Criptoanáli
oanálise
se é a prática para defender
defen der atentados
atentados
a informações
inform ações privadas. Criptol Criptologia
ogia inclue tanto criptogra
criptografia fia quan
to c ri
ripp to a n á li se ”601. Para o jornalista C . Fiévet, os cypherpunks “es
lise
fo r ç a m - s e p a r a , a tiv
ti v a e co
conc
ncre
reta
tamm en
ente
te,, de
defen
fende r, à s v e z e s c o m o
der,
desrespeito às leis em vigor, a confidencialidade das informações informações
que transi
transitamtam pelo cibe ciberesp
respaço
aço ”m .
O programa P G P (Pretty Good Privacy)604 Privacy )604 criado por P.
Zimm ermann, o oss remailers anônimos e outros sistemas
remailers anônimos sistemas,, são as armas
fundamentais
fundam entais dos cyph cypherpu
erpunks.
nks. Pode
Podemos
mos encontrar tamb ém a m ística
248
24 8 | CIBE
CIBERCULT
RCULTURA,
URA, TECNOLOGIA E VI
VIDA
DA SOCIAL
SOCIAL NA CULTURA
C ULTURA CONT EMPO RÂN EA •
Ravers
• ANDRÉ LE
LEMOS
MOS I 249
24 9
p a rc
pa rcee ir
iroop
paa ra a ti
tinn g ir o
oss v al
alor
ores
es d a eera
ra d e A
Aqu
quár
ário
io.. A ss
ssim
im , o
oss co
com pu-
tadores e as redes telemáticas, são percebidos com como o vetores de forta-
250 CIBERCUL
CIBERCULTURA,
TURA, TECNOLOGIA E VIDA
VIDA SOCIA
SOCIALL NA CULTURA CON TEM PORÂ NEA •
impõe
pa
para junto
ra a jud
ju a c oon M
d a r ncom Mél
c eélo
p çoão
tr
trood
n e(tecl
(teclados
úsados
icaa peafitas
m úsic fit
raasfimagnéticas),
ma
film
lmesgnéticas),
es. . O Sync
Sy nclaconcebido
lavi
vier
er,, d o
com positor John Apelton, A pelton, em 1976 1976,, foi a primeira workstation musi-
cal. A empresa
empre sa Akai oferece, em 19 198686,, esse equipamento
equipam ento por po r $ 6.000
6.000..
A música eletrônica vai, pela primeira vez, usar a tecnologia
eletrônica em uma dimensão estética, sendo depois adaptada para o
ambiente da dança (dance m usic usic ) dos aanos
nos 70 8 0.0 termo termo tecno
tecno vaivai
marcar
ma rcar a cultura musical de rua dos anos 80 e 90. Baseada nos princí-
pio
p ioss rac
ra c ion
io n a is e e st
stru
rutu
tura
rantntes
es da m áqui
áq uina
na,, a m ú sic
si c a te
tecc n o s uper
up eraa os
limites meramente constituintes da tecnologia e vai caracterizarse
pee lo po
p p o ten
te n c ial
ia l de
d e agre
ag regg ar ruí
r uído
doss e inst
in stân
ânci
cias
as hipn
hi pnótótic
ico
o s
sen
ensó
sóri
riaa s.
Naa scid
N sc idasas e m Ibiz
Ib iza,
a, em 19861986,, as fe fest
stas
as house popularizamse,
sendo exportadas para a Inglaterra. O caráter subterrâneo das raves
levou à repressão policial e os participantes utilizavam velhas
tecnologias (emissora(em issorass de rádio que revelavam núm eros de telefone
port
po rtáá teis
te is,, p o r exem
ex em p lo)
lo ) e nova
no vass (tele
(te lefo
fone
ness cel
c eluu la
lare
res,
s, scanners e rádi-
os móveis) articulados em uma enorme rede de comunicação para
• ANDRÉ LE
LEMOS
MOS | 2 5 /
252 CIBERC
CIBERCULT
ULTURA,
URA, TECNOLOGI
TECNOLOGIA
A E VIDA SOCI
SOCIAL
AL N A CULTURA CONTEMPORÂNEA •
Zippies
• ANDRÉ LEMOS | 25
LEMOS 253
3
tecnologia,
tecnologi a, habilidades empree
empreendedoras
ndedoras - pa para
ra ccriar
riar uma nova era,era,
no m en
enor
or tem
tempopo p o ss íve
ív e l”
l”6
611.
Os zippies fazem pa parte
rte da fas
fasee inglesa da m úsica tecno, para a
qual é importante som ar as ttecnoloecnologias
gias do cibere
ciberespaço,
spaço, com o m ovi-
mento new age age e o anarquismo póspunk. Há, atualmente, mais de
300 BBSs na Inglat
Inglaterra
erra e na IrlIrlanda
anda sobre o movimento. Segundo um
sysop do BBS Fast Breeder,
Breeder, Mike Steventon, “neste “neste momento as as
com unidad
unidades es online são verdadeiramente ccomunidades,
omunidades, (... porq ue
(...)) porque
em todos o s lugares pesso
pessoas as divide
dividemm inf
informação
ormação e o fa ze m de uma uma
aberta ”6
maneira aberta ”6118. Me
Mesm
smo o tipic
tipicam
amente
ente inglês, po
pode
demm os di
dize
zerr que os
zippies
zippies já fazem p parte
arte de um fen fenômeno
ômeno mundial
mundial..
Os zippies, como os ravers, são uma mistura de vários movi-
mentos
ment os como a cena squatt inglesa,
inglesa, os fanzines,
fanzine s, os covers designs, os
designs, os
hackers, o ciberespaço,
ciberespa ço, a m música
úsica eletrôni
eletrônica.
ca. Para M arshall, os zippi
zippies
es
desenvolvem “... ...uma
uma confi
confiança
ança de que a tecnologi
tecnologiaa pode - na verda
de deve - ser colocada
col ocada a serviç serviço o de ob jet
jetivos
ivos espirit uais ee
espirituais
hedonistas ”619. 0 marc
hedonistas ”6 marcood
do ommovimento
ovimento zip piee é a publicação do fan
zippi fanzine
zine
Enc
E ncyc
yclo
lop
p ed
edia
ia Ps
Pscy
cych
ched
edel
elic
ica
a In
Inte
tern
rnat
atio nall pelo ex-hippie
iona Frase
ex-hippie F rase Clar
Clark.
k.
Qtakus
Os Otakus
Otak us são dependentes da cibercultura, presos à paixão em
armazenarr iinformação,
armazena nformação, participando
participando de pequenas tribos onde podem
compartilhar com outros essa experiência. Eles estão, assim, fecha-
dos em um mund mundo o de alaltas
tas tecnologi
tecnologias
as que lhes permitem inscri inscrições,
ções,
armazenamentos,
armazena mentos, produções, ci circulações
rculações e m manipulações
anipulações de informa-
ção,, como uma forma de pass
ção passate
atempo.
mpo. HHáá uma fascinação pe pela
la infor
infor- -
mação, mas não qualquer qu alquer umauma.. Eles buscam as mais estranhas ou di-
fíceis a serem obtidas. Sua notoriedade está, justamente, em deter a
informação mais m ais difíci
difícill sobre um determinad
determinado o tópico. Po r exemplo,
um Otaku de modelos,
m odelos, como C laudia Sc Schief
hieffer,
fer, irá procura
procurarr as as infor-
mações mais absurdas como, digamos, o núm número
ero de calcinhas pretas
que ela possui ou quantas vezes ela va vaii ao cabe
cabeleir
leireiro.
eiro.
A internet é o llocalocal privil
privilegiado
egiado de pesquisa de informação. Com Como o
par
p araa o s h ac
ackk e rs
rs,, a qu
quel
elee s q ue de
detê
têm
m a info
in form
rm açã
aç ã o , a d q u ir
iree a n o to
tori
riee -
dade e pode subir na escala hierárquica do grupo. Segundo Volker
Ciber-rebeldes?
Todas as tecnologias
tecnologias criam novos rebrebeldes.
eldes. No com eço do sécu-
lo XIX, os luddites ingleses quebraram máquinas nas indústrias com
medo de serem substitu
substituídos
ídos por el
elas.
as. O ccinema
inema popularizou os “rebel-
des sem causa” da geração baby-boom. Hoje, novos novo s rebeldes utilizam
utilizam
as tecnologias
tecnolo gias microeletrônicas, como vimos. Se a revolução
revoluçã o industri-
al viu
viu a emergênc
emergência
ia dos luddites, a cibercultura vai criar os rebeldes do
fronte cibernético: os ciberrebeldes. Suas figuras mais importantes
im portantes são
os phreakers, os hackers, os crackers, os cypherpunks, os ravers, os
zippies e os Otakus. São est
estes
es os novos cowboys da fronteira elet
eletrôni
rônica.
ca.
Os rebeldes da cibercultura nos mostram como a rua, na sua
dimensão quotidiana, encontra formas de “descarregar” todo o seu• seu •
• ANDRÉ LE
LEMOS
MOS | 255
C a p ít u l o V I I
O es pí r i t o d a c i b e r c u l t u r a : e n t r e a p r o p r i a ç ã o ,
DESVIO E DESPESA IMPRODUTIVA
capaz
ti
tivos
vos dadeingenuidade
ger ar novas humana
gerar narrativas
”
”6 populares ao redor de usos alterna
623.
a
• ANDRÉ LE
LEMOS
MOS | 2 57
digitais na
n a mú sica eletrônica, vão exprim
exprimir
ir este espírito transgressor,
desviante e apropr
apropriador,
iador, cheg
chegando
ando a sua disseminação pe pelo
lo corpo so-
cial, atingindo,
atingindo, m esmo indireta
indiretamente,
mente, toda
todass as pessoas qu e têm aces-
so às novas tecnologias. A cibercultura é a popula
popularização
rização da atitude
dos cyberpunks,
expressão tendo
de uma no hacking
astúcia se
seu
u emblem
emblema
do quotidiano, a fundamental.
permitindo Este é a
a apropriação
social
social da tecnologia em um contexto de des
desvios
vios e excessos.
Ap
A p ro
ropp ria
ri a çã
çãoo
258
25 8 | CIB
CIBERC
ERCULT
ULTURA
URA,, TECNOLOGIA E VID
VIDA
A SOCIA
SOCIALL NA CULTURA CONTEM PORÂN EA •
não consideram
considera m nem a subjetividade, nem as influências psicológicas,•
psicológicas,•
• ANDRÉ LEMOS | 25
LEMOS 2599
da
ria racionalidade
por informação científicomilitar
e conta
contato. transformase
to. Parece numa busca
que a afirmação bu
dos sca planetá-
p rocessos
irracionais (a festa, a violência, a paixão) encontrase potencializad
po tencializadaa
pelo
pe loss n o vo
voss re
recc u rs
rsoo s tecn
te cnol
ológ
ógic
icos
os..
Desvio e o utsiders
260
26 0 | CIBE
CIBERCUL
RCULTURA,
TURA, TECNOLOGIA E VI
VIDA
DA SO
SOCIA
CIALL NA CU LTURA CONTE MPO RÂNE A •
moral
dão eme do s bonsdocostu
função costumes.
mes.(aNocorrência
tempo o entan
entanto,
to, varia
variações
ções desta pe
e a frequência percepção
dercepção se
atos), do
grau
grau do ato (a relação entre quem comete o ato e o que é suposto de
ser um ato anticonvencional), e das consequências sociais do ato. A
deviance é um processo
proc esso de interação entre pessoas (ou grupos), entre
aqueles que cometem
com etem um ato e o oss outros que os julga
julgam
m , não send
sendo,
o,
assim, um problem
pro blem a “natural” ou patológico, mas um conflito políti-
cosocial.
B ecke
eckerr propõe então algumas categorias para os atos de desvios.
Há o anticonv
anticonvenciona
encionall que é vist
visto
o como tal mas, em verdade, obede
obedece
ce
a regras do grupo. Estes são os conformados anticonvencionais (por
262 CIB
CIBERC
ERCULTU
ULTURA,
RA, TECNOLOGIA
TECNOLOGIA E VIDA
VIDA SOC
SOCIAL
IAL NA CULTURA CO NTEM PORÂ NEA •
Despesa e excesso
Um a outra noção import
Uma importante
ante para comp
compreendermos
reendermos a ci cibercultura
bercultura
é a noção de despesa (dépense) e de excesso, excesso, particularmente com res-
peito
pe ito aaos
os cy
cybe
berp
rpun
unks
ks.. Tr
Trata
atase
se aqui
aq ui do exc
e xces
esso
so de inf
infor
orma
maçã
ção,
o, ttão
ão ffal
ala-
a-
do, causado pela popularização global da internet. A sociedade con-
temporânea instit
instituis
uisee como uma disseminação viróti virótica
ca de dados binbiná- á-
rios sob diversas formas: samplings musicais, vírus, pirataria, colagens
digitais, etc.
G. Ba
Bataill
taille6
e63
33 vai mmostra
ostrarr que uuma
ma socie
sociedad
dadee só eexis
xiste
te se ddeix
eixarar
um espaço reservado para despesas improdutivas, para perdas e ex-
cessos. Esta noção de excesso está na contramão do moralismo mo-
derno, já que a acumulação capitalista e produtivista é a norma. Se-
gundo Batail
Bataille,le, não há nada que nos permita definir o que é útil aos
homens, já que os julgamejulgamentos,
ntos, em geral, repousam sobre a produtivi-
dade social que, por sua vez, baseiase no princípio em que todo os
esforços e atividades devem de vem ser redutíveis às necessidades materiais
de produção e de conservação. Os prazeres furtivos, como a arte ou
os jogos, são então concessões, tendo um papel subsidiário na vida
social. Como mostra Bataille, “nesse sentido é trist tristee diz
dizerer que a hu
manidade
ma nidade consciente
co nsciente continua sendo minoria:minoria: ela reconhece o direi
to a adquirir, a conservar, ou a consumir racionalmente, mas ela
exclui, em princíp
prin cípio,
io, a despesa
desp esa impr
im prod
odutiv
utiva"
a"6 63*.
Para Bataille,
Bataille, há duas formas de consumo:
consumo: uma primeira, consi-
derada útil,
útil, direcionada para a continuação da vida e das ativi atividades
dades de
pro
pr o d u ç ã o , e um a se
segu
gundnda,
a, re
repp rese
re sen
n ta
tadd a p elas
el as a ti
tivv id
idaa d es im p ro
rodd u ti
ti--
vas, festivas, orgiásticas, excessivas. Esse autor propõe, então, que
esta atividade improdutiva assuma seu caráter nobre e seja vista, com como o
mostram sociólogos e antropólogos em estudos sobre as mais diver-
sas sociedades
sociedades primitprimitivas,
ivas, como um excesso que garante o verdad verdadeiro
eiro
cimento
cime nto social
social..
A noção de despesa como perda é ligada, aqui, à noção de sa-
crifício e destruição, fonte das coisas sagradas, dos jog os agonísticos
e da arte em geral. Podemos ver no Potlatch essa característica do
• ANDRÉ LE
LEMOS
MOS 263
26 3
sacrifício,
sacrifício, do dom
d om e da destruição, já que a festa das Ilhas
Ilhas Polinésias
“é o contrário
contrário ddoo princípio
princípio de conservação fi m à
conservação:: ela coloca um fim
estabilidade
estabilidade d
das
as fortu na s tal qual existi
existia
a no interi or da economia
interior
totêmica, on
onde
de a poss
po ssee era h ereditá
ere ditária
ria””635.
Bataille usa o termoterm o consumação para fazer referência ao aato to de
de
consumir a história e a vida. É no excesso que encontramos vida no
plane
pla neta
ta,, j á qu
q u e vivem
viv emos
os graça
gra çass as energi
ener gias
as eman
em anad
adas
as do Sol
S ol,, aq
aque
uele
le que
dá sem nada
n ada receber, permitindo a efervescência e a multi mu ltiplicação
plicação das
formas
fício estde
ão vida
estão na em todaãoa das
n a contramão
contram sua concepções
diversi
diversidade
dade..racionalist
As noções
noçõe
racional sasdeedespesa
istas de spesa
econôm
eco eicas
nômicas sacri-
sacrdo
i-
século XVII,
XV II, sendo que, no limiar do século XXI, a cibercultura
cibercu ltura parece
crescer
cresc er nesse excesso.
excesso. Não
N ão é à toa que Bataille
Bataille vai afirmar “o ód io à
ódio
despesa é a razão de ser
s er e a justif
justificação
icação da burgue
burguesi a: ele é, ao m esmo
sia:
tempo, o prin
princíp
cípio
io de
d e sua
su a as
assusta
sustador
doraa hip
h ipoc
ocris
risia
ia””636.
A cibercultura fornece vários vários exemplos de uma despesa despe sa exces-
siva, não acumulativa
acum ulativa e irracional
irracional de bits. Dançar por horas em festas
tecno, viajar por vínculos banais e efêmeros do ciberespaço, produzir p roduzir
vírus,
víru s, penetrar
pe netrar sistema
sistemass de computador, trocar informação frívola em
bate
ba te papo
pa poss e g rup
ru p o s tem
te m át
átic
icos
os,, etc.
et c.,, re
r e flet
fl etem
em e ssa
ss a oorg
rgia
ia de
d e sign
si gnos
os que
qu e
pree e n c h e m n o ssa
pr ss a rea
re a li
lidd ade
ad e q uoti
uo tidd ian
ia n a d e sse
ss e fim d e sécu
sé culo
lo.. M uito
ui toss
intelectuais contemporâneos criticam a internet justamente por esse
carater
cara ter frívolo,
frívolo, de despesa
de spesa e excesso improdutivo.
improdutivo.
Esse espírito conservador está na contramão das práticas so-
ciais da cibercultura.
cibercultura. A despesadesp esa é, comocom o propõe B audrillard, aquilo aquilo
que vai evitar,
evitar, por introduzir pequenos desastres, d esastres, o desa
desastre
stre total de
um
uma a racionalização
despesaracionalizaç
eletrônicaãoda dacibercultura
vida social,
social, oé deserto tecnológico
tecnoló gico
a possibilidade finaldodereal. A
resis-
tência à ditadura da tecnocracia, à prisão e à lógica da utilidade e da
acumulação eficaz. Nesse sentido, não é a falta, nem o excesso,
mas a abundância preservada e sem distr distribui
ibuição
ção que
qu e representa pro- p ro-
ble
b lem
m a s p a ra o h o m e m e p a ra o p lane
la netata..
Noo que
N qu e co
c o ncer
nc ernn e a cibe
ci berc
rcul
ultu
tura
ra,, toda
to da a açã
a çãoo de cy
c y berp
be rpun
unks ks co
c on-
sistee em gastar
sist ga star o máximo
máxim o de informação e colocar excessos no siste- siste-
ma. Contra
Co ntra o segredo e a acumulação da informação, os cyberpunks
pro
p ropp õ e m a o rgia
rg ia d e dad
da d os,
os , a d a nça
nç a de
d e bits pelo ciberespaço, a conta-
minação
minaç ão improdutiva
impro dutiva de vírus, o transe,
transe, a colagem, as piratarias.
piratarias. ComoC omo
afirma Bataille, a consumação
consuma ção inúti inútill “é o que me agrega (.. (...).
.). A con
sumação
suma ção é a via pe la q ual seres separados co m un icam ”631. .
264 CIBERCULT
CIBERCULTURA,
URA, TECNO LOGIA E VIDA SOCIAL
SOCIAL N A CULTURA CONT EM POR ÂNEA •
Do cybemanthrope ao cyberp
cyberpunk
unk
Se gundo
Segun do Henri Lefebvre6
Lefeb vre6338, a vida social caracte
ca racterizas
rizasee por
po r um
conjunto
conjun to de instâncias diferentes,
diferentes, em que os poderes constituídos como
co mo
a Igreja, o Estado, a família, o exército sempre tentaram combater
elementos residuais que causam resis
resistência
tência ao sistema homogeneizante.
Se utilizamos essa perspectiva de análise, podemos dizer que a
cibercultura foi criada por uma espécie de resistência ao poder da
tecnocracia, tratandose mesmo de uma diferenciação em relação à
utilização da tecnologia.
Usando a terminologia de Lefebvre, a grande figura da
modernidade
mo dernidade foi o cybemanthrope , que não é um robô, mas o huma- hum a-
no robotizado. O cybernanthrppe é, para o sociólogo francês, o
tecnocrata preso a uma fascinação cega pela técnica e a sua correlata
racionalidade instrumental.
instrumental. O robô éé,, como em um jog o de espelho, o
trabalho do cybemanthrope, não o próprio cybemanthrope.
As tecnologias modernas
m odernas reforçam
reforçam a requisição energ
energética
ética da
natureza, o controle da vida social pela administração racional a
cargo de especialistas
especialistas técnicos,
técnicos, a padronização dos costumes, a con-
vicção em ideologias progressis
progressistas
tas e a percepção do destino históri-
co. A figura que com anda esse es espetáculo
petáculo é o cybemanthrope. F i-
lho da tecnologia moderna, não sendo o autômato, mas o homem
automatizado que, cego, só vê o mundo pelo prisma autocentrado
de sua razão onipotente. O cybemanthrope é então o oposto da
figura que
cibercu ltura,poderiamos
cibercultura, identificar como a mais emblemática da
o cyberpunk.
O cybemanthrope que querr o controle, a restrição, a estabil
estabilidade.
idade.
Ele é asséptico, austero, objetivo,
objetivo, raci
racional.
onal. Com
Comoo explica Lefebvre,
“o cyb em an thro pe ignora o des desejo
ejo.. Se ele o reconhece é pa ra iludi-
iludi-
lo.. O dion
lo di onisía
isíaco
co lhe é estr an h o" 639. Em oposição, o cyberpunk parece
e stran
mais preso a uma certa magia da informática do que à rigidez
racionalista,
racionalista, mais dionisíaco do que apolíneo.
apolíneo. Um hacker , embora
em bora seja
um viciado em artefatos
artefatos técnicos
técnicos complexos, não está muito
mu ito preocu-
preoc u-
pado
pa do e m s e g u ir as
a s re
regr
gras
as d o sis
sistem
tema.
a.
O cyberpunk aceita a cultura técnica do cybemanthropes no
que ela tem de mais radical. O desespero é óbvio: se não podemos
escapar
escap ar ao mmundo
undo tecnológico, devemos devem os tornar as tecnologias
tecnologias ferra-
mentas de prazer, de comunicação e de conhecimento. É esta a men• men •
• ANDRÉ LE
LEMOS
MOS | 265
C a p í t u l o VIII
O IM A G
GII N Á RI
R I O D A C IB
IB E R C U
ULL T U R A.
A . E N T RE
R E N E O - LU
LU D D I S M O ,
TECNO-UTOPIA, TECNOREALISMO E TECNOSURREALISMO
O imaginári
imaginário
o da cibercul
cibercultura
tura é permeado p or uma polar
polarização
ização
que persegue a questão da técnica desde os tempos imem oriais: medo
e fascinação.
fascinação. Vemo
Vemoss hoje, com a se
seuu desenvo
desenvolvimento
lvimento (internet
(internet,, rea-
lidade virtual, cyborgs, hipertextos, etc.) o acirramento da querela
entre o que Um berto E Eco
co ch
chamou
amou de ap
apocalíptico
ocalípticoss e integ
integrad
rados6
os64
41. O
que surge nesse final de milênio é a radicalização
radicalização dos debates
deb ates intel
intelec-
ec-
tuais entre aqu
aqueles
eles que são ttaxados
axados de neo
neoluddit
luddites
es (contra a euforia
tecnológica) e os que são chamados de tecnoutópicos (promotores
dessa mesma
m esma euforia).
Com o objetivo de esgotar a querela e instaurar o consenso,
um grupo de intelectuais americanos criou, em março de 1998,
uma corrente de pensamento e posicionamento em relação à
tecnologia batizada de “Tecnorealismo”;
“Tecnorealismo”; uma espécie de movimmovimento
ento
intelectual
intelect ual pelo bom senso e pela fri
frieza
eza nas observ açõe s e análises
sobre a cultura tecnológica contemporânea. Nem luddites (pessi (pessi
mistasapocalípticos) nem utópicos (otimistasintegrados), os
tecnorealistas, como o nome expressa, pretendemse realistas (?),
sendo a voz da razão, da objetividade
objetividade e, m ais do que isso, da ne u-
tralidade.
tral idade. Eles buscam en contrar a posi
posição
ção do m eio, plantarse no
centro do deb ate sobre os iimpactos
mpactos sociais das n ovas tecnologias
de com unicaçã o, instaurando (i
(imm pondo?) o consenso. M ais do que
nunca, a questão da técnica emerge
emerge dessa m ist istura
ura esquizofrên ica
de amor e ódio.
Tratarem os aqui da polarização do im im aginário social da técni-
ca contemporânea, tentando
tentando mostrar que o m ovimento tecnorealist
tecnorealistaa
não passa de um a cruzada cont
contra
ra as posi
posições
ções extremada s de o timis-
tas e pessim
pessimistas,
istas, buscan
buscando
do a vi
viaa racional da cibercultura. N esse sen-
tido, talvez estejamos mais próximos de um tecnosurrealismo •
• ANDRÉ LE
LEMOS
MOS | 267
Neo-luddismo e tecno-
tecno-utopia
utopia
A cibercultura contempo rânea va vaii acirrar a am biguidade a n-
cestral que está na origem do fenômeno técnico. Estamos hoje no
fogo cruzado entre intelectuais que associam uma postura “críti-
ca” à uma visão negativa da tecnologia (por exemplo Virilio,
Ba udrillard, Shapiro, Postman) e aqueles ditditos
os utóp icos, que vêem
nas novas
novas tecno logias um enorme po tenci
tencial
al em ancipatório, fonte
de criação de inteligentes coletivos, de resgate comunitário e de
enriquecim ento do processo de aprendi
aprendizagem
zagem (Ne groponte, Lév Lévy,
y,
De Rosnay, Rheingold).
Como vimos, essas posturas não são novas, mas fruto do
desen volvim ento da tecnologia e de se
seuu imaginário nas sociedades
avanç adas. P or um lado, os neo-luddites que insistem
insistem em regu lar e
ma nter sob
sob co ntrole social as nova
novass tecnologias, alertando co ntra
o seu potencial destruidor (da sociedade, do homem e da nature-
za). Por outro, os tecnoutópicos tentando mostrar como as novas
tecnologias criam possibilidades inusitadas para a humanidade,
sendo uma espécie de panacéia contra os males da tecnocracia
moderna.
O neoludd ismo é inspi
inspirado
rado no movimento L
Lu it e s dos ope-
u d d ite
rários ingleses do século XIX, liderados por Ned Ludd (que deu
nome ao movimento), “a revo revoltlta luddites tornou-se exem plo
a dos luddites
legendário de um movimento anti-tecnológico ” M2. O m oviment ovimento o
com eçou em N otti ottingha
ngha m, em 18 181111,, e se espalhou pe las fábricas de
Yorkshire e La ncas hire, continuan do até até 18
1816 16,, quando co m eçou a
enfraquece r. H oje eles estão presentes na iinterne nterne t com o intuito de
desacelerar os ritmos da informatização da sociedade, alertando
contra os malefícios da cibercultura. Um dos seus expoentes é o
pee n s a d o r ffrr a n c ê s P a u l V ir
p iril
ilio
io q u e , e n tr
tree o u tr
troo s li
livv r o s , p u b li
licc o u u m
de entrevistas com o sintomático título de “Cybermonde. La
Politique du Pire ” 643. No site dos luddites on-line encontramos
essa
es sa inintr
troo d u ç ã o 644:
8 CIBER
268
26 CIBERCULTU
CULTURA,
RA, TECNO
TECNOLOGIA
LOGIA E VIDA SOCI
SOCIAL
AL NA CULTURA CON
CONTEM
TEMPOR
PORÂN
ÂNEA
EA •
novo patamar
pa tamar
sibilidades aténoentão
desenvolvimento
inexistentes de tecnoló
tecnológico
gico do ocidente,
comunicação abrindo
a brindo pos-
não massificada, de
acesso hipertextual à informação e de criação de coletivos inteligentes.
Para os tecnoutópicos, as novas tecnologias de comunicação (digital,
multimo
mu ltimodal
dal e imediata)6
imed iata)64 45causam
cau sam uumama reestrutu
ree struturaçã
raçãoo e descentraliz
descen tralizaçã
açãoo
das estruturas de d e po
pode
derr vigentes
vigentes (mediát
(mediático,
ico, político, social), descen
descentrali-
trali-
zandoo. Não é por acaso que Negroponte clama por uma “Vida Digi-
tal”6
ta l”6446e Pierr
Pie rree Lévy
Lé vy por
po r um
u m a “Inteli
“I nteligên
gência
cia Colet
Co letiva
iva”6
”6447.
Tecnorealismo
“As technorealists, we seek to expand the fertile middle
ground between technoutopianism
technoutopianism and n eoLud dism. We
are technology “critics” in
in the sam e way, and for the sam e
reasons, that others are food critics, art critics, or literary
critics. We can be passionately optimistic about some
technologies, skeptical and disdainful o f others. S till, till, our
goal is neither to Champion nor dismiss technology, but
rather to understand it and apply it in a manner more
consistent with basic human values.”
M a n i f e s t o T e c n o r e a l is t a
• ANDRÉ LE
LEMOS
MOS | 269
269
“ t h e h e a r t o f th
th e t e c h n o r e a l iiss t a p p r o a c h i n v o l v e s a
continuous criti
criticai
cai examinati
examination
on o f how technologies -
whether cutt
cutting-edge
ing-edge or mundane - might help or hinder
us in the struggle
struggle to improve th
thee qu alit
alityy o f ou r personal
lives, our communities, and our economic, social, and
p
poo li
liti
tica
ca l st
stru
ru ct
ctuu re s. In th
this
is he ad y a g e o f rraa p id te c h n o lo g ic a l
change, we all struggle to maintain our bearings. The
develop me nts that unfold each day in Comm unicati
unications
ons and
computing can be thrilling and disorienting. One
understandable reaction is to wonder: Are these changes
good or bad? Should
Should we w el
elcome
come or fear them? T he answ er
is both. Technology is making life more convenient and
enjo yab le, and m any of us healthier
healthier,, wea lthier, and wiser.
But it is also affecting work, family, and the economy in
unpredictable ways, introducing
introducing new form s of ttension
ension and
distraction, and posing new threat
distraction, threatss to tthe
he cohe sion o f our
p
phh y si c a l c o m m u n it i e s . ”
O m an
anifes
ifesto
to tem oito pontos assim exp
explicitado
licitados6
s65
52:
1. A tecnologia não é neutra. “Uma grande incompreensão
de nosso tempo é a idéia idéia de que as tecnologias
tecnologias estão estão com
co m pletam
pletamen en
te livres
livres de influências
influênc ias - porque porqu e são artefat
artefatosos inanimados, elas não
prr o m o v e m c e r tos
p to s ti
tipp o s d e com
co m p o rta
rt a m e n tos
to s em d e trim
tr im e n to d e o u
tr
tros
os.. Em verdade,
verdade, as tecnologias seguem de maneira ma neira intencion
inten cional al ou ou
não intencion
inten cional al as inclinações
inclinaç ões sociais, políticapolíticas, s, e eco
econôm
nômicas.
icas. Toda
Toda
fe
f e r r a m e n t a p r o p o r c ion
io n a p a r a s e u s usuá
us uáririos
os u m a m a n e ira
ir a p a r t i c u
lar de ver o mundo e caminhos específicos de interação com o ou
tro. É importante para cada um de nós considerar as influências
das várias tecnologias e procurar aquelas que refletem nossos va
lores e aspiraçõ
asp irações es ”.”.
2. A internet
inter net é revoluc
revolucionária,
ionária, mas não utópica. “A rede é uma
um a
ferr r a m e n ta d e co
fe c o m u n ica
ic a ç ã o ext
e xtra
raor
ordi
diná
nári
riaa que p r o v ê op
o p o rtu
rt u n ida
id a d e s
270
270 CIBERCULTUR
CIBERCULTURA,
A, TECNOLOG
TECN OLOG IA E VIDA SOCIAL
SOCIAL NA CULTURA CON TEM PORÂNE
POR ÂNEA
A •
drõesOs
one. abertos que são
mercados essenci
essenciais
encorajam ais para que u
a inovação, uma
ma re
mas rede
de interat
eles interativa
iva fu n c i
não necessaria
mente asseguram
assegu ram o inte
interes
resse
se púb lico".
4. Informação
In formação não é conheci
conhecimento.
mento. “A o redor de nós, a in inform
formaa
ção está se movendo mais rapi rapidamen
damentete e está fica nd o mais barato
ficand
adquirí-la, e os benefícios
bene fícios são manifestos
manifestos.. Isso dito,
dito, a pro liferação de
proliferação
dados também é um sério d desafio m edidas de disciplina
esafio e requer novas medidas
humana e ceticismo. Nós não devemos confundir a excitação em ad
quirir ou distribuir rapidamente a informação com a tarefa mais as
sustadora de converter isto em conhecimento e sabedoria. Embora
com o avanço dos nossos computadores, nós nunca deveriamos usá-
los como um substituto das nossas próprias
próp rias habilidades cogn
cognitiitivas
vas bá
sicas de consciência,
consciência, ppercepção,
ercepção, argumentação e jul julga
gamm en
ento"
to"..
• ANDRÉ LEMOS | 2 7
LEMOS /
tecnologia conduzirá
tecnologia c onduzirá à revolu
revolução
ção educacional profetizada pelo Pre
sidente Clinton e outros
outros.. A arte de ensino não pode
po de ser
s er reprod
reproduzida
uzida
p o r c ompu
po om puta
tado
dore
res,
s, a rede,
rede , o u po
p o r 'e duc
du c a ç ã o à d i s tâ n c ia '. E s tas
ta s f e r
ramentas j á podem,
podem , clar
claro,
o, potenc
potencializar
ializar experiênci
experiências as educacionais
de alta qualidade.
qualidade. M as co confiar
nfiar nelas como qualquerqua lquer tipo tipo de pana-
céia seria um engano”.
tual
tu
osal.. A resposta
respes.
existent
existentes.osta,
A o, entreta
Ao entretanto
contrárnto,
io,, temos
co ntrário, é não esmagar
esm
queagar os estatutos
atualizar leis e os princ
pr incípi
ípi
leis e interpretações
antiga
ant igas,
s, de
d e form
fo rm a que a informação
informação receba
receba a mesma proteção que
existe no contexto das da s velhas mídias.
mídias. A meta
m eta é a mesma:
mesm a: conferir
co nferir aos
autores controle
controle suficiente
suficiente sobre o trabalho
trabalho deles
deles,, d e form
fo rm a que te
nham incentivo
incentivo para criar, mantendo o direito direito do público de fa ze r
livre uso daquela informação. Em nenhum contexto a informação
querr ‘ser livre
que liv re’’. Ela precisa
prec isa ser
se r prote
pr otegid
gida”
a”..
272 | CIBE
CIBERCUL
RCULTURA
TURA,, TECNOLOGIA E VIDA
VIDA SOC
SOCIAL
IAL NA CULTU RA CONTEM PORÂ NEA •
Realistas?
• ANDRÉ LEMOS | 27
LEMOS 273
3
com o Qu
Luddites
Que poderíamnão
e a “tecnologia estar de acordo
é neut
neutra” com
ra” todos
todo quase todos
s sabemos. E sse eles.
eles. foi
alerta
dado há
h á algumas décadas por
po r pen
pensador
sadores
es como Ellul,
Ellul, Mum ford, Elias,
Elias,
Habermas, entre outros. Tanto utópicos como pessimistas concor-
dam com tal princípio, divergindo das conclusões daí
da í derivadas. Para
P ara
uns, a apropriação social resolve essa não neutralidade, para outros
ela é fonte de p oder e control
controle.
e.
Afirmando q ue a “internet
“internet é revolucionár
revolucionária
ia mas não utópica”,
u tópica”,
os tecnorealistas sublinham que as novas tecnologias
tecnologias estão m udando
a nossa m aneira de ver e estar no mundo, mundo, mas que, em si si,, elas não são
utópicas. Ora, o revolucionário é a essência mesma me sma da utopia. A uto- u to-
pia,
pi a, d e p ois
oi s de
d e Th
T h o m as M ore,
or e, é o “ não
nã o lug
lu g ar”
ar ” ina
i nalc
lcan
ançç áve
áv e l, imp
im p rev
re v is
is--
to, ou “o” lugar,lugar, o destino último.
último. Fundamental
Fundam ental mente, a internet é
utópica
utópi ca justam ente por ser revolucioná
revolucionária ria.. Mas parece
parece evidente que
os realistas estão chamando
chaman do a atenção para o fato de não ser s er possível
insistir na capacidade de uma mudança de cunho tecnológico (o
ciberespaço)
ciberespa ço) em resolver
res olver os problemas crônicos da sociedade.
A questão
os “governos da técnica
tenham é, desde
um papel sempre, uma
importante questão social.
na fronteira Que
eletrônica”
nos parece o mais óbvio e o mais mais unânime dos argumentos. M Mais
ais uma
vez, utópicos e pessimistas têm plena consciência consciênc ia desse fato. Uns lu-
tam por regulamentações
regulam entações (censura,
(censura, controle,
controle, normas, leis), outros pela
não intervenção total total e pela regulação socialmente sustentada, além
da garantia
garan tia de acesso amploam plo e irrestri
irrestrito
to às tecnologias
tecnologias da cibercultura.
c ibercultura.
O quarto ponto do manifesto chama a atenção para que não
confundam os informação com conhecimento. Mais uma um a vez, esse ar-
gumento
gumen to faz unanimidade. Os pessimistas
pessimistas sabem disso, ao afirmar afirma r que
que
o que existe no ciberespaço é uma mera circulação de informações,
sem necessariamente aportar um conhecimento articulado sobre um
determinado
determ inado assunto. Já os otimistas diríam diríam que as informações,
informa ções, antes
priv
pr ivililég
égio
ioss d e pou
po u cos,
co s, estã
es tão,
o, no cibe
ci bere
resp
spaç
aço,o, d is
ispp o n íve
ív e is a todo
to dos.
s. A
paa rt
p rtir
ir daí,
da í, têm
tê m a poss
po ssib
ibil
ilid
idad
adee d e reun
re uni
ila
las,
s, p o r cam
ca m inh
in h o s próp
pr ópri
rios
os
(hiperlinks),
(hiperl inks), na construção de um conhecimento
conhecim ento autônomo.
autônomo . Tanto na
crítica como na exaltação do excesso de informação está explicito o
27
274
4 CIBERCULT
CIBERCULTURA.
URA. TECNOLO GIA E VIDA SOCIAL
SOCIAL NA CULTUR A CONT EMPO RÂN EA •
cie de “ágoraeletrônica”,
“ ágoraeletrônica”, um espaço para formação comunitária
comu nitária e cria-
ção de coletivos inteligen
inteligentes,
tes, distribuindo
distribuindo e potencializando novas for-
mas de organização
orga nização social
social.. Vemos,
Vemos, assim,
assim, que não há qualquer
q ualquer novidade
(ou radicalidade) em reconhecer
reconh ecer que as relações entre as novas tecnologias
e a vida
vid a social
social são fundamentais para o exercício da cidadania.
Podemos, então, concluir qu quee o movimento tecnorealista afir-
afir-
ma, em seus oito princípios,
princípios, apenas obviedades que, necessariamente,
não
ção opara
diferenciam de
d ecriando
si próprio, utópicosmaisou
ou pessimistas.
pessimist as. Ele
um “ismo” tenta cham
e tentando ar aten-
aten-
resolver a
dualidade dos que acham tudo bom ou tudo ruim (não teríamos o
direitoo de amar
direit am ar ou odiar a tecnolog
tecnologia ia?),
?), numa
num a perspectiva meramente
elitis
el itista
ta,, com
co m o mos
m ostra
tra K atz6
atz 659.
O tecnorealismo
tecnorealismo parece ser se r uma ideologia
ideologia de tipo
tipo moderno
m oderno que
tenta desacreditar seus opostos (rapidamente tachados de otimistas
ou pessimistas) como excessivos, forçandoos a entrar na realidade
das coisas, a ver o “real” impacto da tecnologia digital na cultura
contem porânea. Com
contemporânea. C omoo mostra Gunn, os tecnorealistas
tecnorealistas querem
que rem dirigir
os debates,
deba tes, aparar
ap arar arestas e instaurar a hegemonia6
hegem onia6660. 0 tecnorealismo
tecnorea lismo
rejeita o que há de visionário
visionário ou de desmesura, desabonando
desabona ndo opiniões
divergentes, neutralizandoas no seu suposto excesso retórico. Com Comoo
mostram alguns autores, o tecnorealismo é um movimento próximo
d o legal realism de 1900 nos EUA, que pretendeu desenvolver um
pee n sam
p sa m e n to c ríti
rí ticc o e m rela
re laçã
çãoo ao m erca
er cado
do.. A m á x ima
im a p a rece
re ce ser:
“minha argumentação é realista, logo ela é racional, neutra, objeti
va,, d
va difer
iferente
ente dessas outra
outras,
s, excessi
excessivamente
vamente utópicas ou pess im ista
istas”
s”..
É interessante notar
n otar ai
ainda
nda que autores
autores como
com o Shapiro, Borsook
B orsook
ou Sparkman, criadores do movimento, parecem em seus textos mui-
to próxim
próximosos dos neoluddites.
neoluddites. Shapiro denuncia o caráter não neces-
sariamente democrático
dem ocrático da rede e insi
insiste
ste em afirmar o quanto esque- esq ue-
cemoss a riqueza do “face a face”; Paulina Borsook mostra
cemo m ostra os proble-
mas do Copyright e e vai argumentar
argum entar que a art
artee eletrônica é p
pla
lag
g ia
iari sm o \
rism
e R. Sparkman
Sparkm an vai questionar o papel
papel do computador
com putador na escola, res-
saltando
saltando que sua presença não representa qualquer
qualqu er revolução
revoluç ão na edu-
edu -
cação. Assim, parece
pare ce que o movimento tecnorealista
tecnorealista foi formado por po r
“ neo-luddites reform
reformados”
ados” que, sem querer
que rer aderir à crítica radical, e
reconhecendo
reconhe cendo certos benefícios
benefícios das novas
novas tecnologias,
tecnologias, pretendemse
pretend emse
hoje realistas.
realistas. Isso beira o tecnosurrealismo.
tecnosurrealismo.
276
276 |CIBE
CIBERCULT
RCULTURA,
URA, TECNOLOGIA E VIDA
VIDA SOCIA
SOCIALL NA CULTUR A CONTE MPO RÂNEA •
Tecnosurrealismo
• ANDRÉ LEMO
LEMOS
S | 27
277
7
C o n c l u s ã o :
ClBERCULTURA
278
|CIB
CIBERC
ERCULTU
ULTURA,
RA, TECNOLOGIA E VIDA S
SOCI
OCIAL
AL NA CULTURA CONTE MPOR ÂNEA •
espetáculo
espet áculo (a polêmica em tomo do formato musical musical MP3, por exem
exem- -
plo ). A te
plo). tecn
cnol
olog
ogia
ia digita
dig itall to
tomm a
ase
se media de contato. Ela
E la retribaliza o
mundo como
com o queria McLuhan e como afirma Maffesoli.Maffesoli.
A cibercultura, mistur
m isturando
ando tecnologia, imaginário e sociali
socialidade,
dade,
está no cerne dos
do s impactos sócioculturai
sócioculturais,
s, pondo em jo
jogg o essa mistura
inusitada
inusit ada e pa
paradoxal
radoxal entre razão aplicada, busca de tactilidade (agre-
gações as m ais diversas) e pensamento m mágicoreligi
ágicoreligioso.
oso. A idéia de
ciberdelia, como junção de cibernética e psicodelia, não é aqui um• um •
• ANDRÉ LEMOS | 27
LEMOS 279
9
exagero. Podemos
exagero. P odemos encontrar pist
pistas
as e exemplos concret
concretos
os que
qu e demons-
dem ons-
tram as novas
n ovas possibilidades
possibilidades estéticas,
estéticas, tanto no sentido da fusão com
a arte, como no sentido de um compartilhamento social. Se a
tecnocultura dessacralizou a vida soci
social,
al, a cibercultura contem porâ
porâ-
-
nea de
não parece p ossibilitar
possibilitar
certezas (e
(e é de possibi
ou causalidades possibilidades
fechadas)lidades queformas
novas estamos falando e
de reencan
tamento
tamen to social, através das diversas agregações eletreletrônicas
ônicas e do fazer
faz er
artísti
artístico.
co. A cibercultura potencializaria
potencializaria uma espécie de “fase mágica”
da tecnologia conexão generali
generalizada,
zada, desmaterialização,
desmaterialização, ubiqí
ubiqíii
iidade,
dade,
telepresença, complexificando
comp lexificando a noção de sociedade do espetáculo.
A cibercultura
cibercu ltura não é mais sociedade do espetáculo, no sentido
dado pelo
p elo situacionista francês
francês Guy Debord. Para Debord, a socieda-
de de consum
consumoo constituiu
constituiusese como uma sociedade do espetáculo,
espetáculo, onde
a realidade se esvazia
esv azia na sua representação imagética. O real tornase
apêndice de seus simulacros.
simulacros.
Tentamos mostrar que a sociedade de informação, berço da
cibercultura, não pode mais ser traduzida nesses termos. Podemos
mesmoo afirm
mesm afirmar
ar que a sociedade do espetáculo preparou o terreno para
a sociedade dad a simulação, a cibercul
cibercultura
tura.. Assim, evitam
evitamosos pensar esta
última como
com o a negaç
negaçãoão da primeira
primeira..
Com a sociedade do espetáculo, a imagem substitui o mundo,
tomand
tom
da andoo
oo irreal
irreal.. (falsa)
representação É, portant
(falportanto,
o, uma
um a sociedade
sa) da realidade
realidade.
. Como da cópia,Ddo
Co mo descreve simulacro,
ebord, essa é
a sociedade da reificação dos homens e das coisas, coisas, criando o fetichismo
fetichismo
em relação aos objetos, ao consumo trivi trivial
al e banalizado, acarretando
assim um pseudogozo.
pseud ogozo. A sociedade do espetáculo aniquil aniquila, a, pelo po-
derr técnicomediático, a realidade.
de realidade. A tecnologia é, sem dúvida, ne nesta
sta
pee r s p e c t i v a , u m a f e r r a m e n t a s u ti
p till d e c o n t r o l e d a s m a s s a s , d e
racionalidade tecnocrática
tecnoc rática e de homogeneização social. A sociedade
do espetáculo
espetácu lo lança os germes da sociedade de simulação.
A cibercultura, por sua vez, vez, vai radicalizar a sociedade do espetá-
culo,
cul o, já que os media de massa, principais atores do espetáculo, serão
prob
pr oble lem
m atatizizad
ados
os co
c o m a em
e m ergê
er gêncncia
ia dos
do s nov
n ovosos media digit
digitais,
ais, detento
detento- -
res de estrutura e funcionamento
funcionam ento di diferenci
ferenciados.
ados. A sociedade do espetá- espe tá-
culo é resultado do mo mododo de produção capitalista
capitalista industrial
industrial aplicada ao
entretenimento e à comunicação. Como afirma Debord, o espetáculo é
a meta
m eta do consumoconsum o capitalist
capitalista, a, sendo a negação
n egação de vida.vida. A cibercultura
paa r t e d o te r r e n o c o n s ti
p titt u í d o d o e s p e t á c u l o p a r a s u p e r á l o . N a
280 CIBE
CIBERCULT
RCULTURA,
URA, TECNO LOGIA E VIDA SOCIA
SOCIALL NA CULTU RA CONTEM PORÂ NEA •
tário,
tári
um o,
emm
multimodal
ultimodal
issor poten e bidireci
potenciabidirecional,
cial.
l. onal, em que o recepto
receptorr tomase,
tom ase, tam
também,
bém,
A imprensa,
im prensa, o rádi
rádio
o e a televisão nos entregam diariam ente no-n o-
tícias dessa frente cibernética (internet,
(internet, celulares, pag
pagers,
ers, PDA , CD
Rom, realidade virtual, etc.), como um reflexo de nossa sociedade
que se torna, cada vez mais, impactada e transformada pela simula-
ção, pela comunicação em rede e p pelas
elas micromáquinas que coloni-
zam nosso quotidiano. Vimos isso ao longo deste trabalho. Através
da cibercultura, associamos comportamentos
comportam entos e ações que surgem (no
p rin
pri n c íp
ípio
io d
doo s aano
noss 8
80)
0) a p
paa rt
rtir
ir d
daa co
conn fl
fluu ê nc
ncia
ia d
das
as te
tecn
cn o lo
logg ia
iass d
dig
igit
itaa is
e dos mass m edia edia de comunicação
c omunicação em sua relação relação direta e simbiótica
com a dinâm ica social,social, redef
redefinindo,
inindo, indubitavelmente, em nossas so-
ciedades contemporâneas, a noção de espaço e tempo, sujeito e obje-
to, comunida
com unidade de e indivíduo, natureza e artifício, real e virtual virtual..
A análise da cibercul
cibercultura,
tura, desenvol
desenvolvidavida ao longo deste liv livro,
ro, mostra
que esta caracterizase por uma atitude social de apropriação criativa
(vitalista,
(vita lista, hedonista, presenteísta) das novas tecnologias. Exemp Exe mplos los desta
com a sinergia
sinerg ia da revolução da d a microeletrônica e da vida quotidiana.
A geração da década de 80 viu surgir o walkman, a MTV, os
jog
jo g o s el
elet
etrô
rôni
nico
cos,
s, os vi
vide
deot
otex
exto
tos..
s...A
.A ge
gera
raçã
çãoo da d é ca
cadd a d e 9 0 jjáá es
está
tá
acostumada ao multimídia, à realidade virtual e às redes planetárias
telemáticas. A geração X, do caos (Ruskoff), encontrase inserida na
sociedade de simulação, das imagens de síntes síntesee e da inform
informação
ação gene-
ralizada.
ralizada. E
Esta
sta geraç
geração
ão não é mais liter
literári
ária,
a, individual e racionalista, como
a cultura enciclopédica dos livro livros.
s. A nova geração eletrônica é sim simultâ-
ultâ-
nea, como dizia
d izia McLu
McLuhan,han, presenteísta,
presenteísta, ttriba
riball e estét
estética,
ica, com o afirma
Maffesolii e é seu próprio simulacro, como explica Baudrillard. Ela acei-
Maffesol
ta o desafio da sociedade de simulação jogand jogando, o, através ddee colagens e
zapp
za ppin gs,, com
ings c om imagens e ícones da sociedade do es espetáculo.
petáculo.
A modernida
m odernidade de tecnocrática tento
tentouu excluir a dinâmica emp empática,
ática,
hedonista
hedon ista e triba
triball da social
socialidade,
idade, já que esta representav
representavaa tudo aquilo
que a huma
h umanidade
nidade carrega de trágico,
trágico, violent
violento,o, erótico e lúdico. Estas
características foram consideradas como inimigas de uma sociedade
racional, técnica e objetiva
o bjetiva que o projet
projetoo mo
moderno
derno pretend
pretendiaia fun
fundar.
dar. A
cibercultura não é formada pela exclusão técnica da socialidade, mas
autoorganizada pela sinergia
sinergia da sociali
socialidade
dade nas diversas expressões da
tecnologia contemporânea. Assim, ela não é apenas a cibem etização da
sociedade, mas também um a fforma
orma de tribal
tribalização
ização da cibernéti
cibernética.
ca. Pas-
samos, como vimos, do cybemanthrope ao cyberpunk.
A tragé
tra gédi
diaa da ci
cibe
berc
rcul
ultu
tura
ra
A cibercultura
cibercu ltura tem suas raízes no surgimento dos m ass media
media,,
mas ganha
g anha contornos defini
definidos
dos na atualidade
atualidade com o com putador pes
282
282 CIBERCUL
CIBERCULTURA
TURA,, TECNOLOGIA E VIDA S
SOCIAL
OCIAL NA CULTURA CONT
CONTEMPO
EMPO RÂNE A •
soai, a microeletrônica
m icroeletrônica de massa e as redes telemáticas.
telemáticas. É esta es ta sinergia
entre condição pósmodem pósmo demaa e as novas novas tecnol
tecnologias
ogias que vai marcar m arcar a
cultura contemporânea.
contemporânea.
Podemos
Podem os tomar
tom ar o termo cultura
cultura em sua conotação mais forte forte,, a
saber, como aquilo que se cultiva, que faz nascer, que dá forma. A
cultura é, então, o conjunto das formas sociais que emerg emergem em do ccon-on-
flito entre o homem e a natureza, construindo o que chamamos tem-
pora
po raririaa m e n te
te,, de
d e rrea
ealid
lidad
ade.
e.
Comoo vimos, podemos analisar a cibercultura a partir da ppers-
Com ers-
pee c tiv
p ti v a form
fo rmis ista
ta.. A cult
cu ltur
uraa m oder
od erna
na,, ou tecn
te cnoc
ocuu ltura
ltu ra,, e stá
st á m a rc
rcad
adaa
pe oor artifício.
po um
umaa re
r e laçã
la ção
Aocibercultura
es
espp ecíf
ec ífic
icaa ent
e ntre
re opor
vai, suj
s ujei
eito
suato vez,
e o ob
o bser
jeto
je to,
, en
um e nnovo
tre
tr e a estilo
n a ture
tu reza
za
da
cultura tecnológica na contemporaneidade. Conceitos de vida e for
ma são muito importantes para caracterizala. Como mostra
Jankélévitch, Simmel “ concebia a vida como o movime
movimento
nto e o esfor
ço pelo qual nossa consciência busca acrescentar um conteúdo à
uma form a ”664. Para o que nos interessa aqui, podemos ver como o
fenôm eno técnico expressa bem este ajuste.
fenômeno ajuste.
Durante a história da técnica vimos como
com o ela adaptase a conteú-
dos sociais,
sociais, ao mesmo
m esmo tempo em que os molda. O conteúdo
conteúd o da forma
técnica da modernidade é o que chamamos
chamam os de tecnocult
tecnocultura.
ura. Hoje, essa
forma técnica adquire novos conteúdos,
conteúdos, estabelecendo o qu quee estamos
nomeando, ao longo desse trabalho
trabalho,, de cibercultur
cibercultura.
a. A tecnologia não é
uma forma a priori que determinaria os conteúdos da vida social. A
verdade do fenômeno técnico está nessa interrelação dinâmica entre
formas “ imutáve
imutáveis
is e absolu tas” e conteúdos empíricos de nossa ação
absolutas”
diária.
diária. Como
Com o mostra Simmel “o segredo da fo form
rm a é qu
quee eela
la limi
limita,
ta, ela
ela
é ao mesmo tempo o objeto enquan
enquantoto tal e a subtração do ob objet
jeto,o, o
lugarr onde o se r e o não-mais-ser do objeto sã
luga são
o ap
apena ...,,,66S A
enass u m ...,
vida social contemporânea é incompreensível através de sínteses
unificadoras: “toda a hist
história
ória da sociedade tem po r li
linha
nha d
dee comba te o
combate
compromisso, as diversas conci
compromisso, concilia
liações
ções,, lentamente conquistada
conquistadass e ra
pid
pi d a m e n te pe
perd
rdid
idas
as,, en
entre
tre a ten
tendê
dênc
ncia
ia a fu s io n a r co
comm no
nosssso
o gr
grup o
upo
tendê ncia a dissociar-se dele individualmente ”
social e a tendência ”..666
Comoo já analisamos nos primeiros capítulos,
Com capítulos, a técnica é tekhnè,
arte, saber fazer.
fazer. Toda a arte expressa uma combinação
com binação dinâm
dinâ m ica en-
tre
tre formas e conteúdos, entre a subjeti
sub jetividade
vidade e a objetividade.
objetividade. O va-
lor estético de um objeto é, talvez, o grau mais alto desta relação•
relação •
284
284 CIBERCU
CIBERCULTUR
LTURA,
A, TECNOLOGIA E VIDA
VIDA SOCIA
SOCIALL N A CULTURA CO NTEM PORÂ NEA •
poposição
pró
rópp ri
riaa e permitiu
ind
in d e p end
en d ae nidentificaç
te das
da s icação
identif outr
ou tras
as da
ão e sfer
sftecnologia
eraa s d a a tiv
ti vcomo
ida
id a d e ohum
huinimigo
m ana.
an a. Enú-
sta
st a
mero
me ro um,
um , a enca
e ncarnaç
rnação ão radical
rad ical do racionalism
rac ionalismoo mod m odern
erno6o6770.
Podemos partir da hipótese de que a atividade tecnológica é
fruto da cultura
c ultura e, enquanto tal, tal, procura m anter sua estabilidade em
suas formas próprias, ficando assim vulneráveis às ações da vida. Se
retirarmos a tecnologia do campo da cultura, cultura, como sinalizou S Simondon,
imondon,
então não poderem
pode remos os mais ver as as ações da vida, mas apenas um siste-
m a técnico, isolante e homogeneizante.
hom ogeneizante. Aliás, as correntes da crítica
da tecnologia
tecnolog ia contemporânea,
contempo rânea, de Platão Platão à Heidegger, sendo atualiza-atu aliza-
da hoje com Virilio,
Virilio, Baudrillard e outros neosituacionistas, têm insis-
tido nesta
ne sta visão que nãon ão vê o mundo
mun do da vida67
vida671. Po Porém
rém o que
q ue falta
fa lta a
esta corrente
corren te “crítica” é a consideração de vida soci social.
al.
A dinâmica da sociedade contemporânea nos obriga a buscar
outras perspectivas
perspectivas para pensarmos o fenôm fenômeno eno tecnológico contem-
porâ
po râne
neo.
o. A vid
v idaa vem
ve m sem
se m pre
pr e luta
lu tarr cont
co ntra
ra a crist
cr istal
aliz
izaç
ação
ão mmor
orta
tall e mo
moral
ral
das formas, contra
con tra as fortalezas
fortalezas solidamente organizadas. A tecnologia
não é, e achar
tentado nun ca
nunca
acha foi,
foia, passagem
r um
uma imune à desorganizações
pequena, um defeito da vida. Esta estápara
minúsculo, sem
semprepre
po-
der expandirse. É aqui que o cyberpunk ultrapassa u ltrapassa o cybemanthrope.
A cibercultura
cibercu ltura é um exemplo forte dessa vida social que se quer
pre
p ress e n te e que
q ue ten
te n ta ro
r o m p e r e de
d e sorg
so rgan
aniz
izaa r o ddee sert
se rtoo rraa c ion
io n a l, o b jeti
je ti-
-
vo e frio
frio da tecnologia
tecnolog ia moderna. É necessário assim, estarmos estarmo s atentos
paa ra não
p nã o suc
su c u m b ir a um acad
ac adem emicicis
ismm o p e ssim
ss imis ista
ta q u e isois o la o u a um
otimism
otim ismoo histérico que só vê maravilhas.
maravilhas.••
• ANDRÉ LE
LEMOS 28
MOS 285
5
Notas
206 Breton,.
Breto n,. P.P. Une Histoire de LT LTnformatique.
nformatique. Paris,
P aris, Seuil, 19
1990
90..
207 Ver Bateson, G. Mente e Natureza. RJ, Francisco Alves, 1986.
208 Breton,
B reton, P.P. Un
Unee Hist
H istoi
oire
re...,
..., op.cit.
op.cit. p. 155.1
155.19. 9.
209 Wiener, N. Cibernética e Sociedade. O uso humano dos seres humanos. SP,
Cultrix. 1973.
210 Press, L. Before the Altair: The History of Personal Computing, in
Communic
Com munications
ations ooff AT
ATM,M, vol. 36, n.9, set.set. 1993
1993.. pp.. 28.
211 Press, L. op.cit. p. 29.
212 Pare foi realmente o berço tecnológico da cibercultura. Foi ali que Steve Jobs
apropriouse das inovações das interfaces gráficas e fez o Macinstosh. Anos depois foi a
vez de Bill Gates, apropriarse das idéias de Apple e criar o Windows.
213 Breton,
Breton, P. Une Histo
Histoire...,
ire..., op.citp.233.
214 Ver Levy
Levy,, S. Hackers,
Hackers , Her
Heroes
oes o f the Computers
Computer s Revolution. NY. NY. Anchor
Anch or Press, 1984
1984..
215 Breton, P. P. Une HiHisto
stoire
ire...,
..., op.cit. p.223.
216 Chalas, Y.; Torgue, H. L'immaginaire Technique Ordinaire. in Traverses, Pa-
ris, CGP. n. 26. p. 116.
217 Chalas,Y. Torgue,H. op.cit. p.117.
218 Guillaume, M. Téléspectres. in Traverses, Paris, CGP. CGP. nn.. 26, oct, 1982
1982
219 Guillaume, M. Téléspectres. op.cit. p.23.
220 Guillaume, M. op.cit. p. 21.
221 Guillaume, M. op.cit. p. 23.
222 A apropriação de sinais e códigos eletrônicos é semelhante ao fenômeno de
pichaç
pic hação
ão e grafite
graf ites,
s, ana
analis
lisado
adoss p or Baudrill
Bau drillard.
ard. Os dois
doi s são fenôm
fen ômeno
enoss urbano
urb anoss e margi
ma rgi-
-
nais que lutam contra a anomia, buscando uma pseudoidentidade pelo reconhecimento de
um título totêmico. A racionalidade tecnológica, presente nas novas tecnologias de comu-
nicação,
nicação, é desviada pela subvers
subversãoão de códigos
códigos programados
programados como sendo uma
um a sub cultu
cu ltura.
ra.
223 Guillaume, M. op.cit. p. 24.
224 Press, L. Before the Altair... op.cit.. p.29.
225 Proulx, S. La Pro Promotion
motion Sociale
Sociale de Ia Culture Inform atiq ue.
ue.,, iin
n Culture
Technique, n°21, Paris, CRTC, p.227, 1990.
226 Miguel, C. op.cit. p.45
227 Walker, J. Through the Looking Glass. Autodesk, internai paper, 1988, p.6.
228 Ver Lau
Laurel,
rel, Brenda,
Br enda, Comp
Co mputer
uter as Theather. NY. AddisonWesley.
AddisonWesley . 1993.
1993. pp.. 1.
um papel229 Os vez
cada jogos
maiseletrônicos
marcantesãona ovida
emblema
social: de
social: uma sociedade
simulação onde adesimulação
de máquinas tem
guerra, simu-
sim u-
lação da economia, dad a medicina
m edicina,, dos fenômenos ffs
ffsicoq
icoquími
uímicos,
cos, etc. A primeira experiên-
cia para exibir imagens animadas com possibilidade de interação em tempo real surge em
1962, com o estudante Steve Russell e seu “Space Invaders”. Em 1971, a invenção do
microprocessador permite a Nolan Bushnell, da universidade de Utah, fazer‘uma versão
286 | CIBERC
CIBERCULTURA,
ULTURA, TECNOLOG IA E VIDA SOCIA
SOCIALL N A CULTUR A CONTEM POR ÂNEA •
pa ra o g
gra
rand
nd e pú
públblic
icoo do “Sp
“Spacacee In
Invad
vaders
ers”,
”, cr
crian
iando
do o “C om pu pute
terr Sp
Spac
ace”
e” . A p par
arti
tirr dos
do s an
anos
os
80, os jog os intera
interativos
tivos ganham uma nova explosão com os com putadores pessoai pessoais, s, e com
formas de distribuição em rede através de BBSs e da internet. Em pesquisas com jogos
para
pa ra cr
crian
iança
ças,
s, co
com m o o s tra
traba
balho
lhoss d e S. T
Tur
urkl
klee e S. Pa
Paper
pert,
t, ten
tenta
tase
se m os
ostra
trarr ccom
om o o s jojoggos
pode
po demm sim ul
ularar proc
pr oces
esso
soss ric
ricos
os pa
para
ra as ativid
at ividad
ades
es co
cogn
gniti
itiva
vass (p
(penensam
sam en
ento
to,, memó
me mória, ria, de
deci-
ci-
sões, aprendizado). Os jogos eletrônicos marcam o conflito entre uma sociedade do im-
press
pr esso.
o. In
Insta
stala
las
see um co conf
nflit
litoo en
entre
tre ge
gera
raçõções
es,, co
conf
nflit
lito
o este
es te q ue pr prod
od uz a sepa
se pararaçã
çãoo e o
estranhamento.
230 Clark, H.H et Brennan, S.E. S.E. Grounding in Com munication, in Resnick, L.B.
Levine, J, Beherend, S.
S.D.
D. Sociall
Socially
y Shar
Shared
ed Cog nitio n, American Psychologi
Psychological
cal Associat
Association,
ion,
1990, citado po
porr Laurel, B. op.cit.
231 Laurel, Brenda, op.cit. p. 4.
232 Ver Lauiel, Brenda,
Bren da, op.cit. p. 10.
233 Laurel, Brenda, op.cit. p. 127.
234 Laurel, Brenda, op.cit. p. 131.
233 Embora saibamos que os automóveis estão caminhando para se tornarem ver-
dadeiras mãquinas de comunicar, tomamos esse exemplo partindo do estado ainda atual,
onde os carros são preenchidos de pequenas máquinas digitais,
digitais, mas a interatividade com a
máquina, embora ajudada pela microeletrônica, é ainda de tipo analógicomecânico. So-
bre o po
pote
tenc
ncial
ial d a mi
micr
croe
oelet
letrôn
rônica
ica nos au
autom
tomóv
óveis
eis ve
verr A
Albe
lberga
rganti
nti,, M. L’Ord
L’Ordin
inat
ateu
eurr e t les
satellites localisent les taxis parisiens. in Le Monde, 11/12/96, p.21.
236 Simmel é um dos primeiros sociólogos a tratar da interação social. Ele designa a
interação social como “Wechselwirkung”. Para Simmel, é a interação entre os indivíduos e
grupos que
qu e fu
fund
ndaa a socieda
sociedade.
de. Ver Simmel
Simmel,, G. Sociologie et épistémolog
épistémologie.
ie. Paris,
Pari s, P.U
P.U.P
.P.. 19
1981
81..
237 Iliich, I. La Convivialité. op.cit. p.43.
238 Negroponte, N. L’Homme Numérique, op.cit.
239 Sobre o zapping, Mercier mostra como, mesmo instituindo uma certa autono-
mia do telespectador (em relação à publicidade, por exemplo), o controle remoto faz com
que o telespectador fique ainda mais preso à TV. Podemos assistir TV e lavar pratos, por
exemplo. No entanto, para zappear, devemos estar eem m frent
frentee a TV
TV,, vendo ex
exatamente
atamente o qu
quee
zappeamos. Ver Mercier, P.A. Zapping: Le temps d’un regard. in Autrement, Technologies
du Quotidien, la Complainte du Progrès. Paris, 1992.
240 Sobre
So bre a televisão digital e interati
interativa
va ver Cohen, E. TVTV:: les enjeux écono
économique
mique
des nouvelles technologies. in Reinventing Television. Volume 1, Paris, Association
Télévision et Culture, 1995.
241
241 Ambas são emissões da Rede Globo de Televi
Televisão.
são. Em “Voc
“Vocêê Decide”, o eespec-
spec-
tador pode decidir, pelo voto por telefone, o final da história. Aqui a escolha se limita a
duas possibilidades
possibilidades de desf
desfecho
echo do dr
drama.
ama. Já em “Intercine”, os espectadores podem
escolher o filme que passará no dia seguint
seguinte,
e, escolhendo (também por telefone) a ppartir
artir de
três opções propostas pela emissora.
242 Nora, D. Les Conq
Conquérants
uérants du Cyberm
Cybermonde.
onde. Paris, CalmannL
CalmannLévy,
évy, 19
1995
95.. p.429.
p.429.
243 Nas novas formas de interatividade digital, como o ciberespaço e a realidade
virtual
virtual,, ex
existem
istem três formas d
dee ação: a imersão (se sentir dentro), a ruptura (desligamento
temporário da realidade ambiente) e ação/navegação (ou “agency”), que é a forma de
interagir com as informações. Sobre a realidade virtual, ver Rheingold, H. Virtual Reality.
Londres, Secker & Warburg, 1991.
1991.••
244 Manzine,
Ma nzine, E. A rtefacts. Ver
Verss une Ecologie de L’
L’environn
environnemen
ementt Artificiei.. Paris,
CGP, 1991.
245 Couchot,
Co uchot, E. La Synth
Synthèse
èse Numérique de L’L’Image:
Image: Ver
Verss un Nouvel O rdre Visue
Visuel,
l,
in Traverse, n.26, Les Réthoriques de la Technologie. Paris, CGP, 1982.
246 O projeto “Thin
“Things
gs that Thinks” do M.I
M.I.T.
.T. é, nesse sentid
sentido,
o, exemplar. Ver Hapgood,
F. The Media Lab at 10. in Wired, n. 3.11, novembro 1995, p.142. e a entrevista com N.
Negrop
Neg roponte
onte in Bass, T. A. Bein
BeinggN
Nicholas
icholas.. in Wire
Wired,
d, n. 3.11
3.11,, nove
novembro
mbro 1995, p.146.
247 Manzine, E. op.cit. p.193.
248 Heim, M. The Metaphysics of Virtual Reality. N.Y. Oxford University Press,
1993, p.78.
249 In cité par Rheingold, H. The Virtual Communities. op.cit. p. 191.
250 Negroponte, N. op.cit. p.226.
251 Castells, M. op.cit.
252 Barlow, J.P. Electronic Frontier. The Great Work. in Communications of the
ATM, vovol.
l. 35, jan.
ja n. 199
1992,
2, p.25
p.25..
253 Barlow, J.P. op.cit. p.26.
254 Os pioneiros da internet são Vincent Cerf, Charlie Herzfeld, chefe do escritó-
rio executivo do DARPA; Larry Roberts, que abre caminho para o processamento de dados
em rede no Lincol
Lincoln
n Laboratory do MIT; Wes.Clark que criou o proc processado
essadorr de mensa-
gens; Roger Scantlebury,
Scantlebury, ing
inglês
lês que também
tambémtrabalhou
trabalhou nas redes de computador; Bob Kahn
Kahn,,
teórico das redes; Dave Walden (o programador), Severo Ornstein, gênio dos hardware e
que criou mais tarde o CPSR
CP SR Computer Pr Profissiona
ofissionais
is for Soci
Social
al R
Responsability
esponsability e Ben
Barker (designer de hardware).
255 Len Kleinrock
K leinrock coordena o projeto e controla o fluxo de pacotes de dados. Doug
Engelbart, conhecido
con hecido como
com o o inventor do mouse, trabalha no segundo ponto da rede
r ede no SRI
International em Menlo Park, Califórnia e põe em marcha o Information Network Center.
Roland Bryan cria o terceiro ponto na Univeris
Univerisdade
dade da Califórnia em Santa Barbara. Post
Postei
ei
escreve o prim eiro programa Telnet e C erf e Kahns desenvolvem
desenvolvem o protocolo TCP
TCP/IP
/IP..
256 Sobre a Internet 2 veja o site da Rede Nacional de Pesquisa (RNP) em
www.mp.gov.br
257 LaQuey, T.T. The Internet Compani
Companion:
on: A B
Beginn
eginner's
er's Guide to Global Networking.
NY, Ad
Addison
disonWe
Wesley
sley.. 1993. p
p.27.
.27.
258 No evento Mediamatik, em agosto de 1992 em Amsterdã, Holanda. Gravado
pelo
pel o autor.
259 De Kerkhove, Derrick. TV Hates Interactivity. in Reinventing Television, Vo-
lume 1. Association Télévision et Culture, Paris, 1995. p. 68.
260 Poderiamos dizer que um livro como “Jogos de Am Amarelinha”,
arelinha”, de Cortázar
Cortázar,, ou
“Se um viajante numa noite de inverno” de Calvino, são interativos. A interatividade aqui
é subjetiva e individualizada, referindose à conexões a nossa memória literária, a nossa
capacidade de im aginar e penetrar no universo do au
autor
tor,, de buscar as referências dos pés de
pá ginaa e d
págin das
as not
notas
as d o ttra
radu
duto
torr que nos rem
remetem
etem de um tex
texto
to a out
outro,
ro, etc. O m es
esmo
mo ac
acon
onte-
te-
ce com um hipertexto. A diferença, entre os hipertextos digitais e o livro impresso, situase
na possibilidade imediata e concreta, fornecida
fornecida pela tecnologia digital,
digital, de passar de con
cone-
e-
xão em conexão em tempo real, sem deslocamento físico. Nesse sentido, em um hipertexto
as obras de Calvino e de Cortázar poderíam estar, por exemplo, num mesmo documento
“HTML”, acessível imediatamente através de “links”.
288 CIBE
CIBERCUL
RCULTURA
TURA,, TECNOLOGIA E VIDA SOCIAL
SOCIAL NA CULTURA CO NTEM PORÂ NEA •
Books, 1992.
267 Ver De Rosnay, J. L'Homme Symbiotique. Paris, Fayard, 1995.
268 Wooley, B. op.cit. p. 165.
269 Rosello, Mireille. The Screener’s Maps... op.cit. p. 123.
270 Land
Landow,
ow, George. Hypert
Hypertext.
ext. The Con vergence of Contemporary Criticai Theory
and Technology. The John Hopkins University Press. 1992
1992
271 Podemos pensar os links enquanto “um deslize entre produções diferentes
que, mesmo conservando as diferenças, proporciona pontos de encontro entre as mesmas
que diluem a nitidez das fronteiras”. Assim, tratase de uma “brisura” (do francês brisure)
que coloca o que é interior ou exterior à escritura entre parênteses
parênteses,, intensificando
intensificando o diálogo
entre textualidades. Ver Ribeiro e Jucá: A experiência da hipertextualidade e suas inver-
sões. In Lemos, A. A Página dos Hipertextos, in www.facom.ufba.br/hipertexto
www.facom.ufba.br/hipertexto..
272 Ver Landow, op. cit.
273 Para Derrida, “A época do logos, portanto, rebaixa a escritura, pensada como
mediação da mediação e queda na exterioridade do sentido. Pertencería a esta época a
diferença entre significado e significante, ou pelo menos o estranho desvio de seu
‘parale
paralelism
lismo’,
o’, e sua mútua exterioridade, por extenuada que sej
seja.
a. Esta
E sta pertença organizou
se e hierarquizouse numa história. A diferença entre significado e significante pertence de
maneira profunda e implícita à totalidade da grande época abrangida pela história da
metafísica..”, in Derrida, J. De La Grammatologie. Paris, Minuit, 1967
274 Landow, G. Hypertext. The Convergence... op.cit.. p.2.
275 Landow, G. Hypertext. The Convergence... op.cit. p.63.
276 Ver De Certeau, M. A Invenção do Quotidiano. Artes de fazer. Petrópolis,
Vozes, 1996, principalmente o capítulo VII.
277 Rosello, M. op.cit. p.134.
278 Estas reflexões fazem parte do artigo “A copacabana de Fausto Fawcett”, es-
crito em parceria com Simone Pereira de Sá.
279 Gibson, W. Neuromancien, op.cit. p.64
280 Gibson, W. op. cit.•
cit. •
EMOS 28
• ANDRÉ LEMOS 289
9
281 Sobre a Matrix, nome dado ao ciberespaço, ver Quaterman, J.S. The Matrix.
Computer NetWork and Conferencing Systems Worldwide. Digital Press, 1990.
282 Sobre a visão erótica do ciber
ciberespaço
espaço,, ver Hei
Heim,
m, M. The M etaphysics o f Vir
Virtu-
tu-
al Reality. op.cit.
283 Kellogg, W; Carroll, J.M.; Richards, J.T. Making Reality a Cyberspace. in,
Benedikt, M. “Cyberspace. First Steps”. op.cit.
284 BBS (Bulletin Board Systems), MUDS (Multi Users Dungeons), Minitel (sis-
tema videotexto francês). Sobre o Minitel ver Lemos, A. The Labyrinth of Minitel. in
Shields, R. (ed). “Cultures of Internet". Sage, Londres, 1996.
285 Ted Nelson é também o mentor do projeto Xanadu. Sobre esse projeto ver
Wolf, Gary. “T
“T he Cu
Curse
rse o
off Xan
Xanadu”
adu” , in Wired, 3.06, ju
juin
in 199
1995,
5, p. 13
137.
7.
286 Todo o desenvolvimento da m microi
icroinformátic
nformáticaa é ligado a ess
essaa “sopa cultural”.
Os micro computado
computadores,
res, a rede internet e a explosão do Web não são diretivas tec
tecnocráticas
nocráticas
de nenhuma instituição. Essa relação, entre a técnica e o social, sem que nenhum dos dois
tenha a cchave
have da equação, é que caracteriza a cibercultura.
287 Bolle de Bal mostra como a modernidade é marcada pela separação. A “tenta-
ção comunitária” leva a uma nova forma de relação que ele chama de “reliance”. Sobre a
"reliance” comunitária ver Bolle de Bal, M. La Tentation Communautaire. Les Paradoxes
de la Reliance et de Ia ContreCu
ContreCulture.
lture. Université de Bruxelles, Bruxelas, 19 1985
85..
288 Virilio, P.
P. Es
Esthéti
thétique
que de la Dispar
Disparition.
ition. P
Paris,
aris, Gali
Galilée,
lée, 19
1989
89..
289 Ver Zorach, R. New Medieval Aesthetic, in Wired, n° 2.01, p. 48. Ela analisa
a cultura do monastério e a estética dos manuscritos medievais como uma rede de “comu-
nidades de almas”.
290 Ver Davis, E. Techgnosis: Magic, Memory, and the Angels of Information, in Dery,
M. Flame Wars. The
Th e Discourse of
o f Cy
Cybercultu
berculture.
re. The South Atlantic Quarterly 92:4, fali 19
1993
93..
291 Ve
291 Verr Davis, Erik. Techgnosis... op. cit. p. 593.
292 Os cypherpunks são ativistas que lutam pela privaci
privacidade
dade na troca de informa-
ções eletrônicas.
eletrônicas. Sob
Sobre
re os cypherpunks ver L
Lev
evy,
y, S. Cryptorebels,
Cryptorebels, in Wired, 1.2 .; Lemos
Lemos,,
A. Technorebels, in Citizen K, Paris, dec, 19
1995
95 e Lemos, A. Ciberrebelde
Ciberrebeldes,
s, in A TARDE,
Salvador, 08/05/96.
293 Ver McLuhan, M. La Galaxie Gut Gutenberg.
enberg. op
op.cit.
.cit. A representação de um espa-
ço mágico, pleno de conexões e de estrutur
estruturas
as multi dimensiona
dimensionais is é a forma de estruturação
do ciberespaço. Como dizia Aggripa no seu De Occulta Philosophia,
Philosophia, existem três tipos de
magia: uma magia natural (manipuladora das forcas da natureza), uma magia matemática
(influenciada
(influenciada pela filosofia mística de Pitág
Pitágoras)
oras) e uma magia teológica (relativa à comu-
nicação angélica). Essa comunicação angélica se atualiza hoje com a disseminação de
agentes eletrônicos.' Os agentes são próximos da magia teológica de Aggripa.
294 Mauss e Ellul mostram como a magia é uma das primeiras expressões da técnica
humana. Ve
Ver. Mauss, M. Sociolog
Sociologie
ie et Anthropo
Anthropologie
logie.. op.cit et Ellul, J. A T
Téc
écnic
nica.,
a., op.cit
op.cit..
295 Ver Marshall, J. Zippies, in Wired, 2.05, maio 1994; The Roots of Techno, in
Mondo 2000, n° 2.07, Davis, E. Technopagans, in Wired, 3.07, julho, 1995 e Lemos, A.
Ciberrebeldes, op.cit..
296 Citado
C itado po
porr Davis, E. op.ci
op.cit.
t. p.180
p.180..
297 Sobre
Sob re a compressão espaçot
espaçotemporal
emporal ver Harve
Harvey,
y, D. Condição PósModem
PósModema.
a.
SP, Loyola, 1993.
298 Sobre o ciberespaço como rito de passagem, ver Tomas, D. Old Rituais for
290 |CIBE
CIBERCUL
RCULTURA
TURA,, TECNOLOG IA E VIDA SOCIAL
SOCIAL N A CULTURA CO NTEM PORÂ NEA •
N ew Sp
New Spac
aces.
es. R ite
itess de P
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WilliammG
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ibso
son’s
n’s Mo
Modedell ooff Cy
Cybe
bersp
rspac
ace.
e. in
in B
Ben
ened
edik
ikt,t, M.
op.cit.
299 Benedikt,
Ben edikt, M. Cyberspace. Some Proposal
Proposals.s. in Benedikt, M. (ed). Cyberspace;
First Steps. op.cit. p. 35.
300 Ver Eliade M. Le Sacré et le Profane. Paris, Gallimard, 1965.
301 Nesse
N esse sentido não é de se espantar que J.P.Bar
J.P.Barlow
low da E
EFF
FF identifique o espaço
da “vida
“v ida real
real”” com
comoo um “meat space”,
space”, ou “espaço da carne”, em oposição ao ciberespaço.
ciberespaço.
302 Ver Eliade, M. Mito e Realidade, SP, Perspectiva. 1977.
303 Theillard de Chardin, P. Le Phénomène Humain. Paris, Seuil, 1955.
304 Theillard de Chardin, op.cit. p. 179.
305 Idem.
306 Lévy, P. LTntelligence Collective... op.cit.
307 Lévy, P. op.cit, p. 29
308 De Rosnay insiste, talvez de forma exagerada, na transposição biológica para
a estrutura do ciberespaço. No entanto, a noção de organismo “auto-organizante” parece
ser pertinente.
309 DeVer De Rosnay,
Rosnay, J. L’Homme
op.cit. p. 315. Symbiotique. op.cit.
310 0 cyberpunk R. U. Sir Sirius
ius,, editor da revis
revista
ta califomiana
califomiana “Mondo 2000”, afirma que
somos “cyborgs”:
“cyborgs” : lentes de contato, marcapass
marcapassos,os, drogas sintética
sintéticas,
s, engenharia genética. Sobre a
perspectiva do “cyborg” como fusão entre o natura
naturall e o artificial
artificial ver Harawa
Haraway,
y, D. A Manifesto for
Cybotgs: Science, Technology, and Socialist Feminism in the 1980s. in Socialist Review, 1985.
311 Deleuze, G.; Guattari, F. Mille Plateaux. op.cit..
312 Sobre
So bre as comunida
comunidadesdes virtuais ver Lemos, A. Les Comunau Com unautés
tés Virtuelles. op.ci
op.cit.
t.
313 Ver Agamben, G. La Communauté qui Vient. Essais sur la Singularité
Quelconque. Paris, Seuil, 1990.
314 Michel Serres em entrevista ao programa La Marche du Siècle, France 3,
Paris, 1995, gravado pelo autor.
315 Sobre a idéia de rede ver Musso, P. Télécommunications et Philosophie des
Réseaux. La Postérité Paradoxale de Saint-Simon. Paris, PUF, 1997.
316 Guattari
Guattari,, F F.. Pour Une Ethiq
Ethique
ue Des M éd ias., iinn Le M on d e, 06 novembre
1991, p.2.
317 Naisbit
N aisbitt,
t, John. HHigh
igh Te
Tech
ch High Touc
Touch.h. Technology and ou ourr search o f meani
meaning.
ng.
NY.. Br
NY Broad
oadwawayy Boo
Books,
ks, 199
1999.
9.
318 Poem
P oemaa tirado
tirado da Usenet em 19 1993
93..
319 “é necessário entender que nós estamos vivendo uma revolução violent violenta.
a. O
plane
pla neta
ta intei
int eiro
ro é tra
transf
nsfor
orma
mado
do comp
co mplet
letam
amen
ente
te pela
pe la rea
realid
lidade
ade da tecno
tec nolog
logia.
ia. É ne
nece
cessá
ssário
rio
po r algum
por alg umas
as bas
bases
es ide
ideoló
ológic
gicas,
as, cria
criativa
tivas,s, bas
bases
es inte
interati
rativa
vass e filo
filosóf
sófica
icass qu
quee per
permi
mitem
tem as
pess
pe ssoa
oass ne
nele
le se pl
plug
ugar
ar (...) a natur
na turez
ezaa da músic
mú sicaa vai mudar. A mú músic
sicaa do fut
futuro
uro não
nã o será
um disco difundido aqui e lá. lá. Haverá alguém em Zâmbia, alguém na A Argentina,
rgentina, alguém na
Escócia e você, desde Berlim,
B erlim, entrará em comunicção
com unicção com eles, na rede, em tempo real. A
música será interativa, imediata... É o fim da revolução industrial e o começo da revolução
interativa”. Peter Rubin, artista multimídia, gravado pelo autor.
320 Como
Com o mostra Simmel
Simmel,, “ la qquest
uestion
ion sociale est non seulement question d ’éthique
mais d ’esthé
esthétique”.
tique”. in Simmel, G. G. La Tragédie de la Culture. op.cit. p.133.
321 Simmel, G. La Tr Trag
agédédie
ie...,
..., op.cit. p. 16
163.
3.
322 Simmel, G. La Trag Tr agédédie...,
ie..., op.cit.
op.cit. p.
p.164.
164.••
• ANDRÉ LE
LEMOS 29
MOS /
323 Capio, James. Bad Attitude:
Attitude: Business as Usual on the Info ba hn . in
in Wired,
Wired,
n°2.06, juin 1994, p.71.
324 Bolle de Bal, Marcei. La Tentation
Tentation Communautaire.
Comm unautaire. op.cit.
325 Bolle de Bal não vê, entretanto, o potencial agregador das novas tecnologias.
292 | CIBERCULT
CIBERCULTURA,
URA, TECNOLOGIA E VIDA
VIDA SOC
SOCIAL
IAL NA CULTURA CONT EMPO RÂNE A •
goal was to bring the gay rights movements into the digital age by applying the powerful
tools o f hightechno
hightechnology
logy to regional, St
Stat
ate,
e, and national grassroots orga
organizations”
nizations” . Os fóruns
são interessantes também para os jovens: “online interacti
interactions
ons gives teen a cha
chance
nce to unmask
themselves in a safe place, in a venue where individuais make themselves know by the
acuity o f their though and eexpressi
xpression,on, rather than by their phys
physical
ical appearence” . V
Ver
er Di-
gital Qu
Q u e e rs . In Wired. 1.04
1.04.. set
set/oct.
/oct. 199
1993,
3, p.30. e Silberman, Steve. We’re Teen, We’ We’re
re
Queer, and We’ve Got Em E m a il, in Wired, 2.11
2.11.. p.80.
344 Rheingold, H. idem. 10.
345 Saffo, Paul. Hot New Médium: T ex t., t. , in Wired, 1.
1.2.
2. p.48.
346 O smiley é uma espécie de corpo virtual, de duplo espectral do usuário.
347 Leslie, Jacques. Mail Bond Bonding.
ing. Email is Creating a New Oral Cu ltu re ., iin n
Wired, n° 2.03. mars 1994, p. 48.
348 Rheingold,
Rheingold, H. The VirtuahCo mm unity..., op.ci op.cit.
t.
349 FAQ para “frenquency asked questions” ou peiguntas frequentemente coloca-
das. Cada newsgroup produz sua FAQ.
350 Rheingold, H. H. The Virtual
Virtual Co
Comm mu
munity...,
nity..., op.
op.cit.
cit. p. 12
120
0121
121..
351 Powell, Thomas. Holy Wars on the El
Electronic
ectronic Fro
Front
ntie
ier.
r. In Axcess. n°3, v.2
v.2,, p.96.
p.96.
352 Dery, M. Flame Wars. The Discourse of Cyberculture. The South Atlantic
Quarterly. 92:4, fali, 1993. p. 561.
353 Godwin,
Godw in, Mike. ASCII is Too In tim ate.
at e. in Wired, n° 2.04, avril 199
1994,
4, p.69.
354 Há exemplos já clássicos de flames. Por exemplo, o newsgroup alt.pets foi
atacado pelo grupo alt.tasteless, como o nome indica, de conotação trash e anárquica. O
newsgroup alt.tastel
alt.tasteless
ess foi formado em 19 1990
90 e o alt.tast
alt.tasteless
eless é “ um gr grupo
upo devotad
devotado o ao
fenômeno da falta de bom gosto em todas as suas formas. Um lug lugarar para pessoas com um
doen tio senso de h umo r”. Ve Verr, Quittner, Josh. The War Between a lt.tasteless and
rec.pets.cats . In Wired. 1.04. set/oct. 1993, p.46.
355 Rheingold, H. The Virtual... op.cit. 139.
356 Dery,
Dery, M. Flame W ars ars.,
., In Der
Dery,
y, M. Flame War Wars.
s. o p .c it. , p.565
p.565..
357 Rheingold, H. The Virtual... op.cit. 132.
358 Em PEN exite um city hall, mais de 200 documentos de interesse público,
polít
po lítica
icass p
púb
úblic
licas.
as. Ela to
tomm av
ava
ase
se ass
assim
im um cent
ce ntro
ro ccom
om un
unitá
itário
rio (infor
(in formm ação
aç ão so
sobr
bree p
parq
arque
ues,
s,
Schuster. 1995.
360 Quittner,
Quittner, Josh. Why Playi
Playing
ng in MUD is Becoming the Addiction o f the ’’9
9 0 s .,
in Wired, n°2.02, march 1994, p.92.
361 Quittner, Josh. op.cit. p. 138.
362 Rheingold, H. The Virtual... op.cit. p.176.
363 Ver o site em www.icq.com
364 Reid, M. et E. Electropolis : Com
Communication
munication and Comm unity on Internet Rely
Chat, 1991. in <http://people.we.mediaone.net/elizrs/electropolis.html
< http://people.we.mediaone.net/elizrs/electropolis.html>.
>.••
• ANDRÉ LEMOS 29
LEMOS 293
3
366 Nestel, Philippe-Charles, Les Cafés Ele ctro niq ue s. in < http://www.univ-
pari
pa ris8
s8>>
367 Nestel, P-C. op.cit.
368 Sobre os cibercafés ver, <http://www.easynet.co.uk/pages/cafe/ccafe.html
< http://www.easynet.co.uk/pages/cafe/ccafe.html > ou
<http//www.easynet.co.uk/pages/cafe/ccafe.html
<http// www.easynet.co.uk/pages/cafe/ccafe.html> >
369 Ver <http://www.cybercafes.org
< http://www.cybercafes.org >
370 Idem.
371 Nestel, P-C. op.cit.
372 Rheingold, H. vitral reality, op. cit. p. 192.
373 Ver Merleau-Ponty,
Merleau-Ponty, M. Fenom
Fenomenologia
enologia da Percepção. SP. Ma Martins
rtins Fontes. 19
1994
94..
374 Krueger, M. Artficial Reality II. NY. Addison-Wesley. 1991.
375 Na origem do quadro temos duas opções: ou Van Gogh copiou um par de
sapatos reais ou a imagem de partida é purame
puramentente ment
mental.
al. N
Nos
os dois casos o quad ro será a
atualização de uma imagem virtual
virtual,, aquele que existe em potencial antes do aparecimento
no fenômeno (sua atualização). No primeiro caso, a pintura representa um par de sapatos
originais. No segundo, o par de sapatos é fruto da abstração imaginativa do pintor.
376 Berger, René. Le Virtue
Virtuell Jub ilatoire, Assomption ou Dissolution de la
Complexité. in Diogène, n°162, Avril-Jüin, Paris, Gallimard, 1993, p.7.
377 Berger, R. op.cit. p. 12.
378 Wooley, B. op.cit.
379 Weissbetg, J-L. op.cit. p.7.
380 Jacob, F.
F. Le Jeu du Po ssi
ssibl
ble.,
e., Paris, Fayard, 19
1981.
81. p.101.
381 Woolley, B. op.cit. p. 201.
382 Jacob, François. op.cit. p.12.
383 In mensa
mensagem
gem eletrôn
eletrônica
ica de 13-Jun
13-Jun-93
-93 08:29:26, #1211-Virtual Sex/Teledildonix,
Fm: Johnny Ha
Haeusle
euslerr 100042,560, To: Dennis Landi 75720,446, gravagravada
da da Usenet.
384 O erotismo sem pre foi um catalisador iimportante
mportante no surgimento de uma
um a nova
tecnologia como por exemplo as hot lines nos telefones, nos chats, nos sites pornográficos,
nas web-cams e em outras formas de sexo eletrônico.
eletrônico.
385 Aubron, Philippe.
P hilippe. Demain, le Cybersex . in Echo des Savanes. n°121, p.23.
386 Veja esse e-mail retirado de um dos grupos temáticos da Usenet sobre a visão
da RV. 1866 S13/Meet MONDOS 2000, 20-Jun-93 00:26:46, #1856-Cybergasm-
Teledildonix-N;
Teledildonix-N; Fm: Douglas W .... 75720,34
75720,3413;
13; To To:: H
Harold
arold W
W..
.... 71022,2233. “I guess if
people
peo ple wa
want
nt to ma
mastu
sturba
rbate
te with glo
gloves
ves on, th
thaa t't'ss ok
okay
ay for them
them.. 1 still thi
think
nk it will be a
while before VR tech gets to the point of being complex and subtle enough to stimulate
one’s erogenous zones with any degree of sensitivity or realism. Remember, sex is a two-
way Street, and even BAD sex has to have some sort of intrinsic mutual feedback; any VS
progr
pr ogram
am wo
would
uld hav
havee to nonott on
only
ly pr
provi
ovide
de sti
stimu
mulat
lation
ion,, b
but
ut aalso
lso re
respo
spond
nd to th
thee u se
ser’s
r’s ccues
ues o f
timing and arousal. Otherwise, it would be like hooking yourself up to a milking machine.
Could even
even be fatal
fatal...
...;; - Doug”
387 A palavra teledildonic foi forjada por Theodor Nelson (o inventor do termo
hipertexto e mentor do projeto Xanadu) em 19 1974
74 para descrever uma máquina inventada
porr um ha
po hack
cker
er de Sã
Sãoo Fra
Franci
ncisco
sco,, How Wach
Wachspre
spress.
ss. Es
Esta
ta má
máqu
quina
ina er
eraa ca
capa
pazz d e co
conv
nver
erter
ter
sons em sensações táteis. Desta forma, máqitlmwtetediWônieas são aquelas que podem
294 I CIBE
CIBERCUL
RCULTURA,
TURA, TECNOLOGIA E VIDA SOC
SOCIAL
IAL NA CULTURA CON TEM PORÂ NEA i
teledildos
estéreo, são sensórias
luvas realizadase com
roupascapacetes
de dadoscom omtelas
ccom de cristal
sensores líquido
nas zonas 3D, fones pe
de erógenas, dermitin
ouvidc
permitindc
dc
a excitação sexual à distância, entre dois ou mais usuários em tempo real.
388 Veja essa mensagem da Usenet. 2680 S13/Meet MONDOS 2000; 28-Jun-93
00:08:45; #2599-Virtual Sex/Teledildonix; Fm: Daniel... 71773,3571; To: Rasafraples
71740,2265; “1 may think ccompusex/VRSEX
ompusex/VRSEX is ju just
st fine Is VRSex possible? Can you put
on a helmet and a bod
body
y su
suit
it and fell as thou
though
gh you araree hav
having se x? If so then I would
ing sex?
consider
cons ider having VRsex cheating on your mate. For VR seems as real as R. And An d 1 would
interpret having VRsex the same way as getting someone into the sac with you no strings