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Cibercultura Tecnologia e Vida Social Na Cultura Contemporanea

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Lucas Muller
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   a
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tecnologiaevidasociã 
naculturacontem porânea

   u
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tes
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c  Acompa
 Aco
se de Andr
mpanhe
André
nhei
é Le
Lemo
i o desen
mos
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s sobre
volvim
viment
obre a ciber
ento
bercult
o da
da
ultura.
ura.
Fomoscolegasdedoutorado
Fomoscolegasdedoutoradoem
em Pari
Paris,
s,sob
sob a
orientação
orientaçãode
de Miche
Michel
l Maffes
Maffesoli
oli.
. Desculpe
Desculpem
m a
nosta
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: belo
belos
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Desde o prin
princí
cípi
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o,
fi
fiqu
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ei mar
maravi
avilhad
lhado
o com
om o conh
conhec
ecim
imen
entto de

Lemossobreoassuntoqueestudava.Parecia
sa b e r tudo. E tu d o  era s u rp re e nd e n te ,
inst
instiigant
gante
e, desc
descon
onhe
heci
cido
do para
ra mim. Entrei
ness
nesse
e novo
novo mundo
mundo fascina
fascinante
nte por
por infl
influê
uênci
ncia
a
delee
deleede
de seuamigo
seuamigo FedericoCasal
FedericoCasalegno,
egno, um
italianoquehojetrabalhanoMIT.

Ness
Nessa
a époc
época,
a, desco
descobri
bri a capaci
capacidad
dade
e

de pesqu
esquiisa
sa e de deba
debatte de Andr
André
é Lemos:
criougruposdeestudoepesquisa,viajoupela
Europaembuscademaisinformaçõessobre
seuobjeto,leutudooqueexistiasobreotema
e, não
não bastassetudo
bastassetudo is
isso
so,
, sempreenc
sempre encontr
ontrou
ou
prazerem
prazerem partilharsuas
partilharsuas descobertas
descobertas com
com os
os
neóf
neófit
itos
os como
como eu.
eu. Aos
Aos pou
poucos,
cos, most
mostro
rou-
u-me
me
queaciberculturaeraumarealidadeincontor
queaciberculturaeraumarealidadeincontor-
-

nável.
nável. Hoje
Hoje,
, is
isso
so deve
deve soarestranho
soarestranhoee óbvio
óbvio,
,
maseu,naminhaingenuidadepretensamente
crítica,
crítica, duvidava.
duvidava. O virtual
virtual era
era para
para mim
mimape
ape
nasumamiragem;ocibermundo,umailusão.

 Alguns
 Alg uns anos depois, quando
qua ndo lio
i oorig
origi
i
nal
nal deste li
livr
vro,
o, atualizado
atualizado em
em relação
relaçãoàà tese
tese,
,
dadaavertigemdaevoluçãotecnológica,reno

vei o meu enca


encant
ntam
amenento
to:
: André
André Lemo
emos é o
grandeespecialista
grande especialista brasileiro
brasileiroda
dacibercu
cibercultura.
ltura.
Oleitorencontraránestaspáginasumasuma,
umacartogr
umacartografia
afia,
, um
um inven
inventár
tário,
io, uma
uma genealo
gia,
ia, um compênd
compêndio
io e, ao mesmo
mesmo temp
tempo,
o, um
roman
romance
ce sobr
sobre
e as
as tecno
tecnolo
logi
gias
as de comuni
comunica
ca
ção,taléasensaçãodenovidadequeotexto
provocaeoprazerdaleitura.Estaéumaobra

que não
que não pode
pode faltar
faltar na bibli
bibliote
oteca
ca de
de nenh
nenhum
um
estudiosodo
estud iosodoimaginárioda
imagináriodanossaé
nossaépoca
poca..

A n d ré  Lem os foi de v a n g ua rd a  em


Paris.AFrançamaldescobriaaInterneteele
 já na
 já nave
vegav
gavaa como
co mo um velh
ve lho
o m ari
arinh
nheir
eiro,
o, com
muitas histór
muitas histórias
ias pa
parara cont
contar
ar,
, nas
as quais
quais todos
todos
ospersonagenseramfabulososevirtualmen
teconcretos.Quandooconheci,acheiqueera
cari
ca rioc
oca
a ou ba
baia
iano
no. . Depo
Depoiis,
s, compr
compree eend
ndíí que
vivianumnão-lugar,numainterfacedeRiode
Jane
Ja neiiro,
ro, Sa
Sallvado
vador,r, Paris,
s, Cal
Calif
ifór
órni
nia
a e ciber
iber-
-
mundo.

O to
tom
m de
dest
sta
a apre
apresesent
ntaçação
ão é afet
afetiivo,
vo,
pois
po is não
não posso
posso negar
negar a admiração
admiração queque si
sint
nto
o
peloautordolivroapresentado,masoconteú
do desteédomai
do desteédo maissal
alto
tonív
nível
el int
intelect
electual.
ual. É só
só
conferir.

JuremirMachadodaSilva
andrél
le
emos,

40,édoutoremsociologiapela Université Réne 


Descartes, Paris V, Sorbonne, é professor
adjuntoda Faculdade de Comunicação da UFBa, 
coordenadordo Centro de Estudos e Pesquisa 
em Cibercultura (Ciberpesquisa). Já publicou
vários artigos e capítulos de livros sobre a
ciberculturanoBrasilenoexterior.Éautordolivro
Cultura das Redes,
Redes, Ciberensaios para o século 
XXI(Edufba,2002).

 An
 A n d r é Lemos

CIB ERCULTUR
CIB ERCULTURA A , TECNOL OGIA  
E VID A SOCI
SOCIAL
AL NA CULT
CULTUR
URAA CONTEMPORÂNEA
a
E d i t o r a S u l in
in a

© A ndré Lemos, 2002

Concepção de capa:  Mar


 Martt Fiorelli 
Finalização de capa:  Dani
 Daniel
el Ferreira da Silva 
Foto: Afonso Jr
Jr.
Projeto gráfico e editoração:  Daniel Ferreira da Silva 
Revisão:  Márcia Abraão
Ab raão

Coordenação editorial:  Lui


 Luiss Gomes

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação ( CIP ) 


Bibliotecár ia Responsáve
Bibliotecária Responsável:
l: Ginam
Ginamara
ara Lima Jacqu
Jacques
es Pinto CRB 10/12
10/1204
04

L557c Brasil
Cibercultura, tecnologia e vida social na cultura  
contemporânea/André Lemos 
— Porto
Porto Alegre : Sulina, 2002.
328p.
ISBN: 85-205-0305-5

1.Meios de Comunicação Social 2.Meios de  

Informação I.TítuIo
I.TítuIo
CDD: 070.1
302.23

0
Edi tora Sulin
Sulina
a

Todos os direitos desta edição reservados


à E d it o r a  M e r id io n a l  L t d a .

Av. Osva
Av. Osvaldo
ldo Aranh
Aranha,
a, 44
4400 cj. 101 
Cep: 90035-190 Porto Alegre-RS 
Tel/Fax: (0xx51) 3311-4082  
e-mail: [email protected] 
www.editorasulina.com.br

Setembro/2002

I m pr
p r e s s o   n o  B r a s i l /P r i n t e d   in  B r a z i l

 A  g r a d e c i m e n t o

Este livro é uma adaptação da minha tese de doutorado em so-


ciologia defendida em 1995 na Université René Descartes, Paris V,
Sorbonne,  e aprovada pelos professores André Akoun, Pierre
Fougerollas e Pierre Lévy, sob a orientação do sociólogo Michel
Maffesoli. Sem a sua orientação e os trabalhos
Maffesoli. trabalhos do Groupe de Recherche 
sur la Technique et le Quotidien   (GRETECH), criado por mim em
1993 no Centr
Centree d ’Etudes sur VActuel Quotidien  (CEAQ/ParisV,
VA ctuel et le Quotidien
Sorbonne), este trabalho não chegaria a seu término. Agradeço aos
colegas do C EAQ p elo ambiente de pesquisa e camaradagem.
A pesquisa foi enriquecida pela minha ex periência como p ro-
fessor da Facu ldade de Com unicação da UFBa e com o bolsista do
CNPq. Agradeço assi
assim,
m, aos ccoleg
olegas
as da Faculdade de Comunicação,

espec ialmente
especialme nte aos mem bros do Ciberpesquisa (C entro de Estudos e
Pesquisa em Cibercultur
Cibercultura),
a), pelo
pelo am adurecim
adurecimento ento profissional
profissiona l e pelo
excelente am ambiente
biente de diálogo,
diálogo, criti
criticismo
cismo e sincerida
sinceridade de que eles me
 pro
 p rop
p o r c io n a m , e ao C N P q p e la aj
ajuu d a ffin
inaa n c e ir
iraa atr
a traa v é s de
d e bo
b o ls
lsaa s de
doutorado e de pesquisa.
Este livro reflete a minha experiênc
experiência ia pessoal entre 1991 e 19 199595
em Paris e em docência
do cência e pesquisa na Facom/U
Facom/UFBa, FBa, de 19 1996
96 até hoje.
Aparecem
Aparec em aqui os resulresultados
tados da pesquisa “A ciberculturacibercu ltura no B Brasil”,
rasil”,

em andamento com apoio do CNPq, entre 1997 e 2000. Agradeço


também à Greice Menezes e à Messias (brincando de deus) Bande Bandeira
ira
 pee la a ju
 p judd a n a re
revv isão
is ão do te
text
xto,
o, e a Ir
Iren
enee P in
inee ir
iroo q u e m e supo
su porto
rtouu
durante o período de preparação da tese.

Sumário

 A pr e s eenn t a ç ã o   11

p e c t i v a  v j t a l i s t a  s o b r e  a  c i b e r c u l t u r a   13 
U ma  pe r s pe
P o r  P i e r r e  Lévy

C i b e r c u l t u r a . pr i me i r a  a pr
me pr o x i ma ç ã o   17
ma

Parte I-Téc
I-Téc n ic a e te
tecno
cno logia 25
C ap ítulo I 27
Capítu
Ca pítulo
lo IIII - O fenômeno tecnológico
tecnológico através
através da hist
h istória
ória 42

Parte II - A vida soc


sociial contem po râne
râneaa6
63
3
Capítulo
Ca pítulo I - Condiç
Cond ição
ão pós-modema
pós-modem a e cibercultura 65

Parte
Pa rte II
IIII - A cibercultura 105
Ca pítulo
pítu lo I - O nascim
nascim ento da cibercultura:
cibercultura: a micro-inform ática 107 
micro-informática
Capítulo
Ca pítulo II - A s estruturas antr
antropológicas do ciberespaço 136 
opológicas
C a p ítulo
ítu lo II virtua l 166 
III - Realidade virtual
Capítulo
Ca pítulo IV
IV - Co rpo e tecnologi
tecnologia
a 174
Cap ít
ítulo
ulo V - Cyberpunk:
Cyberpunk: ati
atitude no coraç
coração
ão da cibercult
cibercultura 200 
ura 200
Capítulo
Ca pítulo VI - A rua e a te
tecnol
cnologia.
ogia. O s cyberpunks
cyberpunks reais 215 
reais 215
Capítulo
Ca pítulo VI
VII - O espírit
espírito
o da cibercul
cibercultur
tura: apropriação, 
a: en tre apropriação,
desvio e despesa improd utiva 257 
im produtiva
Ca pítulo VI
VIII - O imaginário
imaginário da cibercultura.
cibercultura. Entre
E ntre neo-ludism
neo-ludismo,
o,
tecno-utopia, tecnoreal
tecnorealismo
ismo e tecnosurrealism
tecnosurrealism o 26
267
7

Conclusão: Cibercultura 278

B i bl
bl i o g r a f i a  g er
er a l   308

 A p r e s e n t a ç ã o
Este livro é fruto de um incômodo pessoal que se traduz pela
necessidade de compreender
com preender o fenômeno
fenômeno técnico
técnico.. Este incômodo
incôm odo vem
da mistura de medo e fascinação que as novas tecnologias exercem
sob re as pessoa
sobre pessoas. s. Todo objeto técnico, da antigüida
antigüidade de aos no nossos
ssos dias,
mistura fé nessa arte do fazer humano e nostalgia de uma natureza
(biológica, psíquica, cultural) perdida (transformada, dominada) em
função desse mesmo m esmo fazer técn técnico
ico.. Trata
Tratase
se da nostalgi
nostalgiaa de um mun-
do sem artifíci
artifício,
o, convivendo lado a lado com um a fé quase cega nos
 po
 p o d eres
er es q u e d a í eem
m er
ergg em.
em . N ão po
pode
demm os p e n sa r a cu
c u lt
ltuu ra c o n te
temm po-
rânea
rân ea sem nos remetermos
rem etermos à questão da técni técnica.
ca.
Pretendemos, neste trabalho, analisar os impactos das novas
tecnologias na sociedade contemporânea, através da descrição da nova
cultura tecnológica planetária: a cibercultura. A tarefa é de monta,
tocando várias áreas da cultura contemporânea: do ciberespaço à en-
genharia
genh aria genética, dos celulares aos tamagotchis,  das festas raves aos
zippies tecnopagãos,
tecnop agãos, do m arketing digital aos jog os eletrônicos..
eletrônicos....
Optei p or dirigir meu o olhar
lhar para onde suas m anifestações
anifestações apa-
apa -
reciam.
reciam. C omo um v viajant
iajantee que deve pegar um a determinada estrada,
tomei a rota da cultura eletrônica de rua.
rua. Pude ver
ver,, assim,
assim, u m a infini-
infini-

dade de eventos no Brasil e na Europa. Busquei também, durante


todo o trabalho, estar conectado ao ciberespaço, pois esse parecia
ser,
ser, já em 199
1991,1, o terreno de expansão da ciberc
cibercultura
ultura planetária. O
ciberespaço me m e permitiu veverr, em imagem e a cores, os espectros da
cibercultura.. A internet j á é hoje, em 2000, um fenôm
cibercultura fenômeno
eno hegemônico,
embora ainda minoritário. Em breve, ela será percebida como uma
infraestrutura banal, com o as de redes de água, luz ou telefone.
Parti também ao encontro dos hackershackers,, dos tecnoanarquis
tecnoanarquistas,
tas,
dos profissionais de informática, dos publicitários, dos sociólogos,
dos artistas
artistas e d
dos
os jornalistas. Fui a vári
vários
os encontros na Europa, prin-
cipalmente n a Holanda, na BélgicBélgica,
a, na França e na Inglat
Inglaterra.
erra. Con-
Con -
versei com intelectuais,
intelectua is, crí
críticos
ticos e pensadores d dessa
essa cultura
cultu ra eletrônica
emergente, tentando compreender
com preender o fenômeno em sua integrintegralida
alidade.
de.

• A N D R É L EEM
MOS | II
 

Os resultados deste percurso (e suas falhas)


falhas) aparecerão ao longo des-
te livro.
 N e s t e p e r c u r s o , t e n te i r e t e r o  ze
 z e i t g e i s t   contemporâneo: o
 pre
 p rese
senn te
teís
ísm
m o (no futur e)  da jove m cultura ur urbana,
bana, as tecnologias do
tempo real e as agregações, comunitárias ou não, nas redes telemáticas,
a veiculação
ve iculação digit
digital al do erotismo e mesmo do po rnográfico (Mini (M initel
tel
Rose, Sites X, WebCams), as lutas micropolíticas e globais (tecno
anarquistas, visionários)
visionários),, o misticismo e o he hedonismo
donismo (ravers, zippies)..
zippies)....
O objetivo
o bjetivo deste livro é escutar a vi vida
da social
social que fala através do
 baa rulh
 b ru lho o m a q u ín
ínic
icoo e e le
letr
trô
ô n ic
icoo da ttee c n o lo
logg ia c o n tem
te m p o rân
râ n e a .
Devo advertir o leitor, que alguns capítulos deste livro foram
 pu
 p u b lic
li c a do
dos,
s, c o m aalt
lter
eraç
açõõ es
es,, em c ol
olet
etânâneaeas,s, jo
jorn
rn a is
is,, rev
re v is
ista
tass nac
n acioion
n a is
e internacionais.

Salvador, março
m arço de 2002.
2002.1
1
1 2  | C I BER
BE R C U L TU
T U R A , T E C N O L O G I A E V I D A S O C IA
IA L N A C U L T U R A C O N T E M P O R Â N E A •
 

U m a p e rs
r s p e c t iiv
v a v i t a llii s t a s o b r e a c i b e r c u l t u r a 1
po r Pi er r e Lé Lévyvy

O livro de André
An dré Lemos sobr sobree a cibercultura rompe com a pro-
dução contemporânea em filosofia e em ciências sociais através de
uma abordagem
ab ordagem aberta e “vita “vitalis
lista”.
ta”. Lemos tem o grande mérito de
não confundir
confu ndir a inteligência com a crítica si sistemática.
stemática. Ele reconhece
reconh ece a
cibercultura como um a manifestação
manifestação da vitalidade soci socialal contem po-
rânea e a analisa
ana lisa como
com o ta tal.
l.
 Nãã o se d
 N dev
evee cco
o n fu
funn d ir a c ib
iber
ercu
cult
ltu
u ra cco
om u
umm a su
s u b c u lt
ltuu ra pa
p a rt
rti-
i-
cular,, a cultura de um
cular umaa ou algumas “tribos”.
“tribos” . Ao contrário, a cibercu
cibercultura
ltura

é a nova forma da cultura.


cultura. Entramos hoje na cibercultura como com o pene-
tramos na cultura alfabética há alguns séculos. Entretanto, a
cibercultura não é uma negação da oralidade ou da escrita, ela é o
 pro
 p rolo
lonn g a m e n to d e sta
st a s; a flor,
flor , a g er
ermm in
inaa çã
çãoo . S e ja
jamm o s v it
itaa li
list
staa s a té o
fim!
fim! Se considerarmos
conside rarmos a linguagem com como o uma forma de vida, o aper-
feiçoamento dos meios de comunicação e do tratamento da informa-
ção representa uma evolução de seu m mecanismo
ecanismo reprodutor.
reprodutor.
Graças ao código digita digitall do DNA, a vida orgânica dos microorganis
microorganis- -
mos e das plantas surgiu lentamente da matéria inerte. inerte. Emergindo
Emergi ndo da sensi-
 bilidadee vegetativa, o códig
 bilidad código o digital do sistema nervoso
nerv oso engengend
endrourou os mun mun- -
dos suntuosos, sonoros, perfumados e coloridos dos animais. O código
digital
digital da linguagem humanahum ana abriabriuu o espaço infinito
infinito das questões, das nar-
rativas, dos saberes, dos signos da arte e da religião. religião. A linguagem
lingua gem fez cres-
cer uma
um a nova
no va vida no coração da antiga antiga,, aquela dos signos,
signos, da cultura e das
técnicas. A linguagem
lingu agem vive vive.. Ela elevase em direção a formas mais leves,
mais rápidas, mais evolutivas que a existência org orgânica.
ânica. Com
Co m a escrita, ela
adquiriu uma
um a memória
me mória autônoma. DigitaliDigitalizada
zada pelo alfabeto
alfabeto,, essa memória
mem ória
conquistou um umaa eficácia univ universal.
ersal. A escrita forjou seu próprio sistema sistem a de
autoreprodução através
através da impimprens
rensa.
a. A cada etapa da evoluçã
evolução o da lingua-
gem, a cultura humana tomase mais potente, mais criativa, mais rápida.
Acompanhando
Acompan hando o progres
progresso
so das
das mídias, os espaços culturais multiplica1
multiplica1

1Tradução André Lemos.

• A N D R É L EEM
MOS /3
 

ramse e enriqueceramse: novas formas artísticas, divinas, técnicas,


revoluções industriais
industriais,, revoluções políticas.
políticas. O ciberespaço
ciberespa ço re
representa
presenta o
mais recente desenvolvimento da evplução da linguagem.
linguagem. Os signos da
cultura, textos, música, imagens, mundos
mu ndos virtuais
virtuais,, simulações,
simulaç ões, softwa
res, moedas, atingem
atinge m o último
último estágio da digit
digitalização.
alização. Eles tomam
tom amse
se
ubiqüitários
ubiqüitár ios na rede  no momento em que eles estão estão em algum lugar
lugar,,

eles estão em toda parte  e interconecta


interconectamse
mse em um único tec tecido
ido mul
ticor, ffactal, volátil, inflacionista, que é, de toda forma, o metatexto
englobante
englob ante da cultura humana. Os signos são adquiridos, po r intermé-
dio do software,
software, dessa dessa eescri
scrita
ta toma
tomada
da vi
viva;
va; uma potência da ação au-
tônoma d e um ambiente num érico que lhe é pr próprio.
óprio. O ciberespaço
tomase
tom ase o sistema ecológico do mundo das idéias, idéias, uma noosfera abun-
dante, em transformação acelerada, que começa a tomar o controle
do conjunto da biosfera e a dirigir sua evol evolução
ução a seu
seuss próprios fi
fins
ns.. A
vida em sua completude
comp letude elevase em direção ao v virt
irtual,
ual, ao infinito,
infinito,
 pee la p o rta
 p rt a d
daa lin
li n g u a g e m hu
humm an
ana.
a.
Isso é muito bonito, mas nos perguntariam: qual perspectiva
crítica
crít ica adotar? O Onde
nde se encontram o “bem” e o “m al” sobre um terri- terri-
tório virtual tão novo que a tradição de gerações passadas não dá
conta? Um dos grandes méritos da cibercultura cibercultura é dede nos confrontar
co nfrontar à
nossa própria
pró pria liberdade, à nossa própria responsab responsabilidade.
ilidade.
A internet é um espaç espaçoo de comunicação propriamente
propriame nte surreali
surrealista,
sta,
do qual “nada
“na da é excluído” , nem o bem, nem o mal, nem suas múltiplas
definições,, nem a dis
definições discussão
cussão que tende a se separál
parálos
os sem jam ais conse-
guir
gu ir.. A internet encarna a presença da hum anidade a eela la própria, já
que todas as culturas, todas as disciplinas, todas as paixões aí se en-
trelaçam.
trel açam. Já que q ue tudo é possípossível,
vel, ela manifes
manifestata a conexão do hom em
com a sua própria essência, essência, que é a aspir
aspiração
ação à liberdade.
O bem e o mal mal,, assim como a mentira e a verdade, pertencem ao
mundo da d a linguagem e crescem com ele, complexificamse
complexificamse com ele. ele. O
que é esse caos que rei reinana no ciberespaço
ciberespaço como na human
humanidade
idade contem-
 po rânea
 porân ea?? O nde
nd e se en
enco
cont
ntra
ra a or
orde
dem?
m? A í está
es tá o qu
quee nós go
gost
star
aríam
íamos
os de
saber. Procuramos e corremos em todos os sentidos, nos reunimos em
clãs, nos opomos, nos distdistanciamos,
anciamos, bri
brigamos.
gamos... .. Denunciamo
D enunciamoss o “mal”
“m al” à
direita e à esquerda. C Cada
ada um aponta
apon ta o dedo sobre os outros. Nos preci-
 pitam
 pit amos
os co
comm av
avide
idezz sobr
sobree “bens”
“be ns” de tod
todoo tipo. E, assim
ass im fazen
faz endo
do,, co
comp
mpli-
li-
camos tudo, desempenham
desem penhamos os nosso pape
papell de aceleradores da evolução,
como
com o os animais, as correntes e os ventos
ventos que dispersam as ssementes
ementes deI
deI

I 4  | C I BER
BE R C U L T U R A . T E C N O L O G I A E V I D A S O C IA
IA L N A C U L T U R A C O N T E M P O R Â N E A •
 

uma ecologia vegetal em evolução.


evolução. Porque ela coloca em jogo
jo go a liberda-
liberda-
de, que é a essência da linguag
linguagem,
em, a internet
internet vai nos fazer
faze r descobrir a
verdadeira hierarquia do bem: uma hierarquia complexa, hipertextual,
emaranhada,, viva, móvel, abundante,
emaranhada abundante, turbilhante
turbilhante como
com o um a biosfera.
biosfera.
Muitos entre nós já participamos
participamos online de múlti
mú ltiplas
plas trocas de

idéias,
ções emde
cominformações vire tuais
unidades virtuaide sserviços. tiNós
de todo tipo
po aoestabelecemos
longo das redesconversa-
móveis
em reconfiguração contínua.
contínua. Em pouco tempo, teremos todos nosso
site web. Em alguns anos imprimiremos nos coletivos humanos nos-
sas memórias,
memó rias, nossos projetos e nossas visões sob a forma form a de avatares,
ou de anjos numéricos
num éricos que dialogarão
dialogarão no ciberespaço. Cada Cad a indiví-
duo, cada grupo, cada forma de vida, cada objeto se tomará seu
automédium, seu próprio emissor de dados e de interpretações
interpretações em um
espaço de comunicação
com unicação onde a transparênci
transparênciaa e a riqueza se opõem
opõ em e
se estimulam.
À televisão sucederá a omnivisão:
omnivisão: através do ciberespaço, qual-
quer que seja o lugar onde nos encontrarmos,
encontrarmos, dirigiremos nós mes- m es-
mos nossos olhos a distância em direçãodireção à zona da realidade que es-
colheremos para observ
observar,
ar, e a intensidade
intensidade dos nossos olhares, comocom o a
força de nossas questões, fará nascer ao infinit
infinitoo novos detalhes. Am a-
durecidos
dureci dos pela nossa potência
potência de questionamento,
questionamento, poderem os tom tomarar
conhecimento de tudo o que pode ocupar o espírit espíritoo humano, das pai-
sagens estelares às situações
situações sociais,
sociais, das simulações
simulaçõ es ciencientíficas
tíficas às ficfic
ções interativas. Àquele que souber formular um problema, tudo se
tornará visível de qualquer ponto,
ponto, em todas as direções,
direções, eme m todo tem- tem -
 po e e m to
todd as as esca
es cala
las.
s. M as esse
es se “to
“t o d o ” , lon
lo n ge d e p ree
re e x isti
is tirr a n o s-
sass questões e a nossas técnicas
sa técnicas,, será obra nunca acabada, impossível
de concluir. A realidade, mais
ma is e mais viva, inteligente e interconectada,
interconec tada,
se comportará como uma simulação interativa e será cada vez mais
concebida, aí compreend
com preendida
ida a realidade da vida,
vida, em matrizes nnum
uméri-
éri-
cas de mundos virtuais.
Jogaremos rorole
le playing gam es2 em rede, consistindo
play ing games2 consistindo em inven-
tar as leis dos mundos virt
virtuais
uais cada vez mais parecidos comco m o mundo
m undo
real (ou viceversa) e nos quais os ganhadores
ganhado res serão os mais engenho
eng enho- -
sos criadores de novas formas de cooperação. Aprenderemos as re-
gras sempre
semp re móveis
mó veis da colaboração criativa e da inteligência
inteligên cia coletiva

2 Jeu de rôle em francês (N. T.).

• A N D R É L E MO
MO S   15
 

em um universo onde se misturam fontes de sentido sempre mais


heterogêneas.
heterogên eas. Essa
Es sa aprendizagem
aprendizagem acontecerá nas comunidades virtuais,
as quais não se saberá
sab erá mais muito bem se elas são universidades oon- n-
li
line,
ne, empresas de comunicação, universos universos de jogo jog o ou ágoras dem o-
cráticas desterritorializadas.
Face ao futuro que nos espera, nenhuma nenhum a referência,
referência, nenhuma nenh uma
autoridade, nenhum dogma e nenhuma certeza se mantêm. Desco-
 bri
 b rim
m o s q u e a re
reaa li
lidd a d e é u m a c ri
riaa ç ã o c o m p a r tilh
ti lhaa d a .  E
 Ess tam
ta m o s to
dos pensan do na m esma rede rede.. Tal é nossa condição desde sempre,
mas o ciberespaço a apresenta diante de noss nossosos olhos com tamanha
força que não podemos mais dissimulála. É chegado o tempo da
responsabilidade.
 / 6 C I B E R C U L T U R A , T E C N O L O G I A E VI
VID A S O C IA L N A C U L T U R A C O N T E M P O R Â N E A •
 

C i b e r c u l ttu
u r a , p r i m e ir
ir a ap r o x i m aç ã o

Para m ostrar as caract


caracterí erísti
sticas
cas da cibercul
cibercultura,
tura, devem
devemosos fazer
fa zer
um pequeno percurso em retrocesso, mostrando os simbolismos da
técnica através da história, suas dimensões sociais, culturais, filosófi-
cas.
ca s. Compreend
Com preender er a cibercultur
ciberculturaa contemporân
contemporânea ea é impossível sem um umaa
compreensão global do fenômeno téc técnico,
nico, já que esta faz parte de um
 pro
 p roce
cess
ssoo m ai
aiss am p lo d a rree la
laçç ã o een
n tr
tree té
técn
cnic
icaa e so
soci
ciee da
dade
de..
 N ã o e x is
istt e a q u i a idé
id é ia
ia,, f r e q ü e n te m e n te v e ic
icuu lad a, d e um
determinismo
determ inismo social. Ao contr contrário,
ário, a motivação desse livro é mostrar mo strar
que a forma técnica da cultura contemporânea é produto de uma
sinergia entre o tecnológico e o social. Compreender a cibercultura
unicamente pela sua dimensão técnica é um reducionismo que nós
tentaremos evitar
e vitar ao longo deste trabalho. trabalho.
Em bora vivamos num m mundo
undo alt altamente
amente tecnológi
tecnológico, co, existe um
 prof
 pr ofun
undo
do d e sc
scoo n h e ci
cimm e n to d o ffee nô
nôm m e no té técn
cnic
ico.
o. A id
idéé ia b
báá sic
si c a aaqu
quii
é tentar descrever
abordagem este fenômeno
multidisciplinar passando e, para
pe latant
pela tanto,o, voucríti
filosofia me ca
críticaa poiar
d numa
daa técnica,
 pela
 pe la p
pee rs
rspp ec
ecti
tiv
v a eetn
tnoo zo
z o o ló
lógg ica
ic a d
dee A nd
ndré
ré Le
L e ro
roi
iGG o u rha
rh a n e fi
filo
losó
sófi
fica
ca
de Bernard Stiegler, pela abordagem genealógica e gestáltica de G.
Simondon, pela filosofia da técnica de de M. H eidegg
eidegger er e, po
porr ffim,
im, pela
 pers
 pe rspe
pectctiv
iva,
a, q u e po
podd e m o s c h am a r de só sóci
cioo a n tr
troo p o lóg
ló g ic
icaa d e J. El
Ellu
lul,
l,
L. MMum
umford
ford e O. Spengler.
Podemos dizer que exis existete uma relação simb ióti ióticaca e ntre o ho-
mem, a naturez a e a sociedade. A cada época da história da hum a-
nidade
nid ade corresponde uma cultura técnica técnica parti
particular.
cular. Num segundo
momento, vamos mostrar as principais características da socieda-
de de comun icação (cham ada ta também
mbém de sociedade da informação
ou informacional), onde a saturação dos ideais da modernidade
(razão, progresso, futuro, etc.), aliada às novas possibilidades da
microeletrônica,
microelet rônica, parece prop orcionar o surgimen to de novas fo r-
mas de sociabilidade.
A cultura contemporânea, associada às tecnologias digitais
(ciberespaço, simulação, tempo real, processos de virtualização,

• A N D R É L EEM
MOS /7
 

etc.), vai criar


etc.), c riar uma nova
no va relação entre a técnica e a vida social que
cham aremos
aremo s de cibercultura. Hoje podemos dizer que um a verda-
deira estética do social cresce sob nossos olhos, alimalim entada pelas
p elas
tecnologias do ciberespaço. Como mostraremos ao longo deste
livro, as novas tecnologias tornamse vetores de novas formas de
agregação social.
social. A tese de fundo é que a cibercultura result
resu ltaa da
convergência entre a socialidade contemporânea e as novas
tecnologias
tecno logias de base microe
mic roeletrôn
letrôn ica1
ica 1.
Tendemos a ver os efeitos nefastos das tecnologias em sua
interface com
co m a cultura, com a vida social,
social, com a política. A associ-
asso ci-
ação de uma tecnologia eletromecânica apoiada no paradigma

newtoniano
lado obscuroàeuma imposição
m esmo
mesmo racionalista
conspirat
con spiratório da vida
ogiassocial
ório das tecnologias
tecnol revelou
(controle o
soci-
al, poluição, isolamento). A modernidade se caracterizou por uma
conjunção de fator
fatores:
es: po r uma dominação técnica do social,
social, por um
individualismo
individuali smo ex
exacerbado,
acerbado, por um constrangimento social exerci-
do por uma moral burguesa e uma ética da acumulação, por uma
abordagem racionalista
racionalista do mundo
mundo.. A m moderni
odernidade,
dade, ao mesmo
m esmo tem-tem -
 po,
 p o, lan
la n ç o u e e sgo
sg o tou
to u o son
so n h o tec
te c n o lóg
ló g ico
ic o . O q u e c h a m a m o s d e n o -
vas tecnologias situase num novo contexto sociocultural, numa nova
ambiência
am biência social.
social. A tecnologia
tecno logia que foi foi o principal instrum
instrumentoento de
separação, de alienação, do desencantamento do mundo m undo (Weber)
(Weber) e
do individualismo positivist
positivista,a, vêse investida
investida pelas potências refuta- re futa-
das pelo racionalismo
racion alismo moderno.
m oderno.
O mundo da vida (Lebenswelt   Habermas, Simm Simmel) el) vai
vai tomar
tomar
nas mãos as novas possibilidades
possibilidades da microeletrônica
micro eletrônica e do desenvo
dese nvol- l-
vimento de redes de comunicação.
com unicação. É o surgimento
surgim ento ddaa cibercultura2
cibercu ltura2,,
como veremos na terceira parte. Ela nasce nos anos 50 com a
inform ática e a cibernética, começa
informática com eça a se tornar
tornar popular
popu lar na décad décadaa de
70 com o surgimento do microcomputador
microcom putador e se estabelece comp co mpleta-leta-
mente
men te nos anos 80 e 90: 90: em 80 com a informática de massa e em 90
com as redes telemáticas, principal principalmente
mente com o boom  d  daa internet.
internet.
 Noo ssa
 N ss a arg
a rguu m e ntaç
nt açãã o est
e star
aráá cen
ce n trad
tr adaa na an
a n ális
ál isee ddaa ddin
inââ m ica
ic a eenn -
tre as novas tecnologias e a sociedade contemporânea, e é através
desta perspectiva que iremos analisar o surgimento da micro
informática, do ciberespaço, da realidade virtual. Mostraremos tam-
 béé m c o m o o ima
 b im a g iná
in á ri
rioo c ybe
yb e rpu
rp u n k m arca
ar cará
rá tod
to d a a c ibe
ib e rcu
rc u ltu
lt u ra
ra,, e x -
 prim
 pr imin
indo
dos
see na mod
m odaa e n a ficçã
fic ção
ocie
cientí
ntífíc
fíca,
a, nas açõ
a çõeses reai&iphreakers,

18  | C I B ER
E R C U L TU
T U R A , T E C N O L O G I A E V I D A S O C IA
IA L N A C U L T U R A C O N T E M P O R Â N E A •
 

hackers, crackers, ravers, zippies, cypherpunks ),


nas artes... Como
veremos, todas as formas da socialidade3contem
socialidade3contemporân
porânea
ea aí estão
estão pre-
sentes:Visamos
o presenteísmo,
fornecer opistas
tribalismo, o erotismo, aaviolência.
para compreender cibercultura. Va-
mos rabiscar, aqui e ali, algumas definições. Para isso, antes de nos
fecharmos num discurso acadêmicoacadêmico descolado da vidav ida da rua, decidi-
mos dar a palavra aos expoentes desta cultura high-tech.   Pegamos
traços que aparecem ao longo deste deste trabalho
trabalho:: víamos comunidad
com unidadeses se
formarem, mesmo sem presença corporal e/ou territorial; víamos
smileys  e fla
 f la m e s  nas trocas
trocas de mensagens; sexo e violência; pirataria
pirata ria e
hedonismo. Buscávamos escutar a vida social que fala através dos
artefatos tecnológicos contemporâneos.
É a vida social contemcontemporânea,
porânea, enfim, que deve
de ve ser observada,
não numa perspectiva de conceitos congelados, mas pela ótica do
movimen
mov imento
to caótico e sempre inacabado entre as formas técnicas e os
conteúdos da vida social
social.. Para
Pa ra Simmel, a tragédia da cultura está liga-
da ao processo dialógico entre as formas e os conteúdos; entre a
subjetivação do objeto e a objetivação do sujeito. Levar em conta a
dimensão técnica da vida quotidiana significa dirigir nosso olhar ao
mundo da d a vida.
vida. Esta é uma tentativa
tentativa de reconhecer a técnica no cam -
 poo d a c u ltu
 p lt u r a . S e n a m o d e r n i d a d e p r e v a lec
le c e u o i m a g i n á r i o d a
homogeneização
hom ogeneização e da racionalidade
racionalidade instrumental,
instrumental, a épo época
ca atual
atual impõe
uma atit
a titude
ude complexa
com plexa do fenômeno
fenômen o técnic
técnico. o.
Podemos
Podem os perceber
perceb er que, em todos os lugares, a tecnolog tecnologia ia mistu-
ra desejo de potência
po tência e medomed o de transgressão,
transgressão, utilidade
utilidade e objetividade
com despesa
despes a improdutiva
im produtiva (Bataill
(Bataille),
e), racionalidade
racionalidade e imaginário, funcio-
nalidade
nali dade e estét
estética.
ica. Esta configuração vai marcar ma rcar a cibercultura. Propo-
nho então
en tão ao leitor um exercício
e xercício excita
excitante:
nte: pensar
pen sar a tecno
tecnologia
logia na soci-
edade contemporânea
c ontemporânea e na histó históriria.
a. Da
D a mecânica à eletricidade,
eletricidade, da micro
eletrônica às nanotecnologias, a tecnologia propagase a uma enorme
velocidade, infiltrandose
infiltrandose tanto em objetos objetos do quotidiano com co m o no cor-
 poo h u m a n o , e m u m m o v ime
 p im e n to inc
in c e ssa
ss a n te d e m inia
in iatuturr iza
iz a ç ã o , de
estetização,
estetização, de automação
au tomação e autoregulação. As novas tecnologias pare-
cem caminhar
cam inhar para uma forma de onipresença, onipresença, misturandose
misturandose de ma-
neira radical e quase imperceptível ao nosso ambiente cultural através
do devir
dev ir micro (tomarse
(tom arse invisí
invisível)
vel) e do devir estético
estético (toma
(to marse rse belo).
belo).
Este movimento vai, como veremos, aproximar a tecnologia contem-
 por
 p orân
ânea
ea d o p raze
ra zerr esté
es tétic
ticoo e do
d o com
co m part
pa rtilh
ilham
amenentoto socia
so cial.l.

• AN D R É L E M O S | (9
 

As novas tecnologias
tecn ologias não só estão presentes em todas as ativi-

dades
 b
 béé m topráticas
tom seecontemporâneas
m a m s contemporânea
v e to ress de e x pser
tore (da
eriê nmedicina
iên cias
ci as e sté à econom
st é tic
ticas
as,, ta
tann toia),
n o como
se
senn ti
tiddtam
tam-
o de-
arte,
art e, do Belo, como no sentido sentido de comunhão, de em emoções
oções co comp
mparti-
arti-
lhadas. Em bora esse fenômeno
fenôm eno não seja novo, ele parec parecee radicalizar
se nesse fim de século. Tratase de uma sociedade que aproxima a
técnica (o saber
sa ber fazer) do pra prazerzer estét
estético
ico e comunitário.
Como podemos constatar, desde os terminais bancários até o
acesso à internet, o termo “ciber” está em todos os lugares: cyberpunk, 
cibersexo, ciberespaço, cypherpunks,   ciber moda, ciber economia,
ciberraves, etc. Todos os termos mantêm suas particularidades, se-
melhanças e diferenças, formando, no seu conjunto, a cibercultura.
Todos eles
eles atestam uma um a atitude,
atitude, uma apropriação,
ap ropriação, vitalista, hedonista,
tribal e presenteísta da tecnologia.
Se a tecnocultura
tecnocu ltura moderna foi o paraíso de Apoio, a cibercu cibercultura
ltura
 pó
 p ó s
smm o d e rn
rnaa p a re
recc e se
serr o teat
te atro
ro de D io
ioni
niso
so.. A te
tecn
cno
o lo
logg ia m ic
icro
roe
ele
le
trônica é, ao mesmomesm o tempo, mágica mág ica (abolição
(abolição do espaço e do tempo;
telepresença) e agregadora
agregad ora (societári
(societária,
a, comunit
comunitária).
ária). Lem bremos
brem os que

a raiz “ciber” tem origem no grego Kubernetes  (a arte do controle, con trole, da
 pilo
 pi lotatage
gemm , do g govovererno
no). ). No entan
en tanto
to,, co
comomo v ver
erem
emosos,, a cib
ciber
ercu
cultltu
u ra nã
não o
 paa re
 p recc e , c o m o ac acreredd it
itaa m a lgun
lg uns,
s, e st
staa r se
send
ndo o d o m ina
in a d a p o r u m B ig
Brother timoneiro. Nas diversas manifestações da cibercultura, não
 po
 p o d e m o s d izizee r q ue a v id idaa so
soci
cial
al se d e ixixee sim
si m p le
lesm
sm e n te g o v e rn
rnaa r o
ouu
 pil
 p ilo
o ta
tarr p
poor uumm a tetecc n o lo
logg ia au
autô
tôno
nomm a. Is Isso
so ta
tamm b é m n ã o s ig
ignn if
ific
icaa qu
quee
os efeitos dos controles tecnocráticos tenham desaparecido.
A form a “ciber”, lligada igada à didimen
mensão são das tecnolo
tecnologias gias m icroele
trônicas
trôni cas (digi
(digitai
tais),
s), vai manter uma relação complexa com os conteú-
dos da vida social. Esse não foi o caso da modernidade, onde a
tecnocultura tentou reduzir à normas racionais a complexidade do
vivido.
vivid o. G. Orw ell4 tentou, na metade do sécul século,o, exp ressar todo o ima-
ginário social antitecnológico (o perigo perigo da tecnocracia mo moderna)
derna) no
seu “ 1984”. O livro mo stra o sentimento pr provável,
ovável, e me mesmo
smo p previsí-
revisí-
vel,, de m
vel medo
edo do controle ttecnocrát ecnocráticoico e da homogeneização das m as-
sas.. O sonho da modernidade estava concent
sas concentrado
rado inte
inteiramente
iramente na pers-
 pee c ti
 p tivv a ra
racc io
ionn a li
list
staa d a vivia,
a, no d o m ínínio
io d a n a tu
turerezz a e n o c o n trtro
o le e
domesticação do homem e da sociedade. Mas o ano de 1984 vai ser
 paa re
 p reci
cid
do m
mai
aiss cco
o m o aam
m b ien
ie n te cyberpunk  de W illiam GGibso
ibson5
n5,, do que
com aquele pessimista e homogeneizant
homogeneizantee de O rwel
rwell.l. A cibercultura é

20   | C IB
I B E R C U L TU
T U R A , T E C N O L O G I A E V I D A S O C I AL
AL N A C U L T U R A C O N T E M P O R Â N E A •
 

mais complexa, não sendo totalmentetotalmente dominada por um a “classe vir-


tual” (Arthur Kroker6). A atitude dispersa, efêmera e hedonista da
socialidade contemporânea vai marcar, de forma constitutiva, a
cibercultura.
cibercul tura. Esta é, como
com o proponho, a form
formaa cultural da tecnologia
contemporânea e, como toda forma, forma, ela é composta por relações com-
com -
 ple
 p lexx as c o m o socia
so cial.l.
Se continuarmos atentos
atentos ao mundo
m undo da vida,
vida, poderemos escutar
um coração que bate nos transes dionisíacos das tecnoraves, ver à
tr ompe Vo eil  as paisagens místicas dos mundos de imagens
trompe imagen s de síntese
e seres virtuais, entrar de corpo e alma nas comunidades virtuais,
redescobrir
redescob rir o prazer de navegar
nav egar por territór
territórios
ios de informação, sofrer
os malefícios de um vírus digit
digital.
al.
A atual cultura eletrônica não busca mais, como foi o caso da
tecnocultura moderna, a dominação
dom inação técnica
técnica da natureza e do socia
social.
l.
Tratase mesmo de uma atitude sociocultural que se expande sobre
uma natureza
n atureza já dominada e transformada
transformada em bits  e bytes, em espec-
tros virtuais do ciberespaço. Se a tecnocultura moderna foi a forma

técnica
técnic
da a que emergiu
domesticação da dominação
energética do mundo da natureza (Descartes
(Heidegger), e Bacon) e
a cibercultura,
 poo r sua
 p su a vez,
ve z, é a form
fo rm a c o n tem
te m p o rân
râ n e a d a téc
té c n ica
ic a q u e j o g a c o m os
signos
sign os desta tecnonatureza
tecnonaturez a construída pela astúcia da tecnocracia. É,
ao mesmo tempo, ruptura e continuidade.
O que vemos nas diversas manifestações
manifestações da cibercultura é uma
apropriação de imagens, de obras atr através
avés de colagens,
c olagens, de discursos
não lineares, um verdadeiro  za in g   e hacking   daquilo que Guy
 z a p p ing
Debord chamou de sociedade do espetáculo7. Os exemplos são nu-
merosos: o neopaganismo dos zippies, o faça você mesmo dos
cyberpunks,   a criptografia cara aos cypherpunks,   o ativismo dos
hackers e a violência dos crackers,
crackers, os fanáticos dos jog jogos os eletrôni-
cos, o isolamento dos otakus japoneses, os delírios das raves e da
realidadee virtual,
realidad v irtual, a arte eletrônica,
eletrônica, a moda sintética ou ciber-fashion, 
os transumanistas extropians... A tecnologia deve, como dizia nos
anos 50 o filósofo
filósofo G ilbert Simondon8
Simondon 8, fazer parte da cultura, já que
ela é constitutiva
constitutiva do homem. Refutar a técnica é refutar a huma hu manida-
nida-
de como
tética queum todo,
“deveria
“deve riaé ser”
refutar
ser ” . essa humanidade que “é”, “é” , por
po r uma hipo-
 Nãã o i r e m o s , n e s t e l i v r o , f a l a r d o f u t u r o 9, m e s m o q u e a
 N
cibercultura se pareça à um a revista revista em quadrinhos de fícçãocientífi

MOS | 2 1
• A N D R É L EEM
 

ca. Ao contrário, tentaremos mostrar que, mesmo em sua fase embri-


onária, ela é um
umaa realidade social pl
planetár
anetária.
ia.
A saturação
saturaçã o dos meta relatos e dos grandes sistema sistemass explicati
ex plicati
vos é hoje uma evidência, levandonos a pensar em novos desafios
 para
 pa ra a s o c iolo
io logg ia e a c omu
om u nic
ni c ação
aç ão.. E x ige
ig ese
se aqu
aq u ilo
il o q u e o soci
so cióó log
lo g o
Edgar Morin
M orin chama
cham a de pensamento
pensamento complexo. A vida social social não pode
ser desvelada, em toda a sua complexidade,
complexidade, por um pensamento pensam ento redu-
red u-
zido à causas e efeitos simples,
simples, à linearidade
linearidade pprogressiva
rogressiva do tempo e
da
mentoHistória, ao determinismo
com plexo,
complexo, explica Morin, econômico
M orin, não podeousetecnológico.
limitar a redução
reduçãUmopensa-
analí-
an alí-
tica do mundo ou a uma síntese global dos fenômenos sociais. Ao
contrário, ele deve agir por retroações, por recorrências, por uma
dialógica não dialética (que aceite a concorrência dos antagônicos
sem sínteses posteriores), e pelo diálogo entre entre os sa saberes
beres quequ e se tor-
naram compartimentali
com partimentalizados. zados.
O pensamento complexo proposto por Morin é talvez a única
 poo s si
 p sibb ilid
il idaa d e de inst
in staa u rar
ra r um
u m p e n sam
sa m e n to se senn síve
sí vell (M a f f e soli
so li110) que
qu e
 podd e inte
 po in tera
ragg ir c o m a v ida id a q u o ti
tidd ian
ia n a c o m o u m a e spé sp é c ie de  p pee n s a 
mento-vida  ligado ao que as coisas coisas são são.. Maffesoli propõe uma um a p pen
enséséee -  
caressante   para dar conta das dinâmicas politeísta, hedonista e
 prr e sen
 p se n teís
te ísta
ta c ara
ar a c terí
te ríst
stic
icas
as d a v ida
id a quo
qu o tid
ti d ia
iann a c o n tem
te m p o rân
râ n e a . E sta
st a
seria refratária
refratá ria em relaçãore lação ao fazer políticopolítico partidário e às ideologias
em relação ao futuro".
É no coração
co ração mesmom esmo do fenômeno técnico técnico que são introduzidas
introduzidas
experiências vitais, vitais, induzindo à socialidade de que nos fala Maffes M affesoli oli..
São os resíduos (V. Pareto) dessa vida sem qualidades que qu e vai marcar
m arcar
 pro
 p rofu
funn d a m e n te a cib
ci b e rcul
rc ultu
tura
ra.. A ssim
ss im,, po
p o r exem
ex empl plo,
o, a ffoo rm a de
d e esta
es tar
r
 junn to,
 ju to , a q u e la q ue d ir
irig
igee a vida
vi da soci
so cial
al,, e n c o n tra
tr a se
seuu c o rre
rr e spo
sp o n d e n te
nas comunidades virtuais do ciberespaço. O desenvolvimento
tecnológico, longe de ser apenas agente de separação, de alienação e
de esgotamento
esgotam ento de formas de solidariedadesolidariedade sociais,
sociais, pode servir como
vetor de reliance, como instrumento de cooperação mútua e de soli
dariedades múltipl
m últiplas.
as.

reP.
ssooFougeyrollas
 p rogg ress
 pro , d e tem mostra
te m po li
linn e a r e od oesgotamento
o timis
tim ism
m o teda
cnoonoção
tecn lóg icoode
ló g ic tãfuturo,
, tão ar o sdeà
o c aro
epistemologia moderna.
m oderna. A sociologia deve então então com preender
preend er a nova
cultura tecnológica que emerge nesse vácuo ideológico, temporal e
espacial.. Com
espacial C omoo afirma
afirm a o sociólogo francês,
francês, “nós pe dim os'à sociolo-
22  C IB
I B ER C U LT
L T U R A , T EC N O L O G I A E V I D A S O C IA
I A L N A C U L T U R A C O N T EM P O R Â N EA •
 

gia, não de discernir mi


gia, miraculos
raculosamente futu ro que avança em  
amente esse futuro
nossa
nos sa direçã
direção,
o, m as de integ
integrá-lo
rá-lo à ssua
ua pro
proble
blemm átic
ática...
a... ”
”1
12.
McL uhan, na época de llançame
ançamentonto de sseu
eu Galáxia Gutenberg, 
falava da complexidade
complex idade dos media  e das das tecnologias de comucomunicação
nicação
mostrando como estas alteram, e mesmo moldam, nossa maneira de
ver e interpretar o mundo. Para dar conta de uma situação tão com-
 plex
 pl exa,
a, M cL u h a n p ro
roppunha u
umm m ét
étod
odoo em
e m m os
osai
aico
co,, c o m o u m a m e tá
tá--

foraa de um olhar em fragmentos, disperso no real.


for real. O m osaico é uma
abordagem em m movimento,
ovimento, atenta a fragmentos do real.real. A cibercultura
 pode
 po de se
serr an
a n al
alis
isaa d a at
atra
rav
v és d e st
stee m os
osai
aico
co..
• A N D R É LE M
MOO S   23
 

Notas

1 Ver
Ver número especial da Revue Sociétés n. 59. Technosocialité. De Boeck, Bru-
xelas, 1998.
2 Algumas publicidades veiculadas em 1995 na Europa, particularmente na Fran-
ça, mostram
m ostram bem eesse
sse espfrito do tempo: Thomson (“da tecnologia ao amor” ), TamTam de
France Télécom (“mantenha o contato com a sua tribo”),
tribo”), da IBM ((“é
“é louco como a tecnologia
aproxima as pessoas”) e da Apple (“o important
importantee não é o que a tecnologia pode fazer por
você, mas o que você pode fazer dela”). Gravadas pelo autor na televisão francesa em
1995.
3 O conceito de socialidade
social idade foi desenvolvido por Michel Maffesoli. Ela diferencia
se da sociabilidade
soc iabilidade já que esta está liga
ligada
da a agrupamen
agrupamentos
tos que têm uma função preci
precisa,
sa, ao
mesmo tempo
tem po objetiva e raci
racional.
onal. O indivíduo iinserese
nserese numa lógica do dever ser
ser.. Já a
socialidade está ligada a uma fenomenologia do social,
socialidade social, onde os sujeitos desenvolvem agru-
 pamento
 pam entoss fes
festivo
tivos,
s, emp
empáti
áticos
cos,, basea
baseados
dos em emo
emoçõe
çõess com
compar
partilha
tilhadas
das e em n
novo
ovoss tribali
tribalismos
smos..
A socialidade referese ao vivido, ao presente, ao estarjunto. Segundo Maffesoli, a vida
quotidiana contemporânea é marcada pela socialidade e não pela sociabilidade. Ver
Maffesoli, M. La Conquête du Présent. Pour une Sociologie de la Vie Quotidienne. Paris,
P.U.F., 1979.
4 Orwell, G. 1984, Paris, Gallimard: 1951.
5 Gibson, W. Neuromancien, Paris, J’ai Lu: 1985.
6 Ver Kroker, A. Weinstein, Michel A. Data Trash. The Theory of the Virtual
Class. NY. St. Martin's Press: 1994.
7 Ver Debord, G. L Laa Socié
Société té du Spectacle. Paris, Gallimard
Gallimard:: 19
1992.
92.
8 Simondon, G. Le Mode d d’Exist
’Existence
ence des Objets Techniques. Paris, Aubier: 19 1954
54..
9 Ver
Ver Rushkoff, D. Um Jogo Chamado Futuro.Como a Cultura dos Garotos pode
nos ensinar a sobreviver na era do caos. RJ E Editora
ditora Revan
Revan:: 19
1999
99,,
10 Ver Maff
Maffesoli,
esoli, M. Elog
Elogee de la Raison Sens
Sensible,
ible, Paris: 19
1997.
97.
11 Exemplos desta vida quotidiana podem ser encontrados em várias manifesta-
ções sociais como os encontros esportivos, o culto às estrelas do show bizz, a fascinação
 porr ima
 po imagens
gens,, o sin
sincre
cretis
tismo
mo,, o es
estilo
tilo e a mo
moda
da e, com
como o ten
tentam
tamos
os mo
mostra
strar,
r, na ati
atitud
tudee em
relação às novas tecnologias.
12 Fou
Fougeyr
geyrollas
ollas,, P
P.. L’Attracti
L’Attraction
on du F
Futur.
utur. in: Annales de 1
1’Institu
’Institutt Internat
International
ional de

Sociologie, Nouvelle
N ouvelle S
Série,
érie, vol. IV
IV,, 19
1994
94,, p.230.
p.230. D
Daqui
aqui em diante todas as ccitações
itações de
obras em inglês e francês são de tradução livre do autor.
24 C IB
I B ER C U LT
LT U R A , T EC N O L O G I A E V I D A S O C IA
IA L N A C U L T U R A C O N T E M P O R Â N EA •
 

Pa r t e   I

Técnicaetecnologia
 

C a p ít u l o   I

Compreender
essência do fenômeno as particularidades,
técnico, bem como complexidades
seu papel naouhistória mesmodaa
humanidade, não é um exercício fácil. fácil. Hoje, talvez mais que em ou- o u-
tras épocas, a influência da tecnologia nas sociedades ocidentais ociden tais tem
um lugar capital dentre as quest questões
ões que emergem com comoo prioritárias
prioritárias na
contemporaneidade.
Desde o surgimento das das primeiras sociedades até as complexas
cidades pósindustriais, o homem inventou o fogo, cultivou a terra,
domesticou animais, construiu cidades, dominou a energia,
implementou indústrias, conquistou o espaço cósmico, viajou aos
confins da matéria e do espaçotempo. Durante esse trajeto, a
tecnologia ganhou significações e representações diversas, em um
movimento de vaivém com a vida socia social.l. Em alguns mom momentos,entos, esta é
dominada, controlada, racionalizada pelas atividades científico
tecnológicas; em outras, é a tecnociência que deve negoc ne gociar iar e aceitar
ace itar
os ditames da sociedade
sociedade..
 Naa e n tr
 N traa d a d o séc
sé c ulo
ul o X X I, a tecn
te cnoo log
lo g ia e a s o c ied
ie d a d e n ã o p o -
dem mais
ma is ser reduzidas às análises unilaterais que
qu e se desenvolveram
desenvolvera m
durante os séculos da modernidade industrialista, e não precisamos
insistirr muito sobre a saturação dos paradigmas científicos
insisti científicos e os impasses
de seus métodos, para nos darmos conta co nta desse estado de coisas.
Estamos assim obrigados obrigados a mudar nosso olhar e buscar bu scar novas
ferramentas
ferrament as para
p ara compreender
com preender o fenômeno técnicocientífico
técnicocientífico contem-
 porâ
 po râne
neo.
o. E st
stee , pa
p a ra us
u s a r a exp
ex p ress
re ssãã o de Ber
B ertr
traa n d Gi
G i l l e 13, ins
in s e res
re see em
um novo paradigma sociocultural: a queda das grandes ideologias e
dos metadiscursos
desconfiança iluministas,
em relação o fracasso
cios do dos
aos benefícios
benefí sistemas
progresso políticos,
tecnológico
tecnológi co ae
científico,, a indifere
científico in diferença
nça social e irônica da
d a geraçã
ger açãoo X e Y 14, o novo
tribalismo
tribalismo que
q ue revelaria o fracasso do projeto individualista moderno,
a descrença
desc rença no futuro, as novas formas de comunicação
comu nicação gregárias
greg árias no
ciberespaço, os desafios
d esafios da manipulação genética, da AidsA ids e da droga
em nível
n ível planetário.
planetário. É precisamente este novo quadro ddaa civilização
civilização
contemporânea
contem porânea o berço da d a cibercul
cibercultur
tura.
a.

• A N D R É L EEM
M O S | 27
 

Compreender os desafios da cibercultura nos obriga a buscar,


nas raízes do fenômeno
fenôme no técnic
técnico,1
o,1a compreensão da cultura
c ultura co
contem
ntempo-
po-
rânea. Não podemos
pod emos co
comp
mpreender
reender os paradoxos, as potencialidades e
os conflitos da tecnologia
tecno logia na at
atualidade
ualidade sem uma visão da história da

tecnologia e de seus simbolismos respectivos; sem ter percorrido as


 pri
 p rinn c ip
ipaa is c o rr
rree n te
tess d
daa fil
f ilos
osoo fi
fiaa d
daa técn
té cnic
ica.
a. N e sta
st a p
pri
rim
m e iriraa p
paa rt
rtee , eem
m-
 prr e e n d e r e m o s u m a p e q u e n a v ia
 p iag
g e m a trtraa v é s d o s s im b o li liss m o s d a
tecnologia
tecnolog ia na história da humanidade: sua genealogia, genealogia, filosofia e his-
tória.
tór ia. Tentaremos retraç retraçar ar a gênese do fenômeno técnico desde a an-
tiguidade até os nossos dias, mostrando as parti particularidades
cularidades d a cultura
tecnológica
tecno lógica contem
contemporânea,
porânea, a cibercultura.
cibercultura.
Veremos que o fenôm eno técnico nasce com a aaparição parição do ho ho--
mem, depois será enquadrado pelo discurso filosófico e a noção de
tekhnè  (arte, os saberes práticos) para, enfim, entrar no processo de
cientifização com o surgimento da tecnociência, tecnociência, ou o que cham chamamos amos
hoje de tecnologia. Vamos Vamos insistir nas dif diferenças
erenças en entre
tre a tecnoc
tecnoculturaultura
e a cibercultura. O surgimento da cibercultura não é só fruto de um
 pro
 p rojejeto
to tétécn
cnic
ico,
o, ma
mass de um a re relalaçã
ção
o e stre
st reit
itaa ccom
om a sso o c ie
iedd a d e e a ccu u l-
tura contemporâneas.

 A tek
tekhn
hnè
è greg
gregaa

Para compreendermos os desafios do fenômeno técnológico


contemporâneo devemos, num primeiro momento, precisar as dife-
renças entre técnica e tecnologia, pois estes conceitos não são facil-
mente diferenciados. Hoje compreendemos por tecnologia os objetos objetos
técnicos, as máquinas
máq uinas e seus respecti
respectivos vos processos de fabricação.
fabricação . Do
mesmo modo, utilizamos o termo técnica para abranger áreas tão
díspares
díspa res co
como
mo a dança, a economia, as ativi atividades
dades esportivas ou mes-
mo objetos, instrumentos e máquinas. A confusão de termos é im-
 pre
 p ress
ssio
iona
nant
nte.
e.
Técnica, na sua acepção original e etimológica, vem do grego
tekhnè,  que podem os tradu traduzirzir po r art
arte.
e. A tekhnè  com  compreende
preende as ativi-
dades práticas, desdede sde a elaboração de leis leis e a habili
habilidade
dade p para
ara con tar e
medir, passando pela arte do artesão, do médico ou da confecção do
 pão,
 pã o, até
at é as a rt
rtes
es p lá
lást
stic
icaa s o
ouu be
bela
lass ar
arte
tes,
s, es
esta
tass ú lt
ltim
imaa s c o n sid
si d e ra
raddas a
mais alta expressão da tecnicidade humana. Tekhnè   é um conceito
filosófico que visa descrever
desc rever as ar artes
tes práticas,
práticas, o saber faz fazerer humano

28 C I BER
B ER C U LT
LT U R A , T EC N O L O G I A E V I D A S O C IA
IA L N A C U L T U R A C O N T EM P O R Â N EA •
 

< '

em oposição
opo sição à outro conceito chave, a p  ph is,,  ou o princípio de gera-
h u s is
ção das coisas naturais. Tekhnè e p h u s is  fazem parte de todo processo
 ph
de vir a ser, de passagem da ausência à presença, ou daquilo que os
gregos
gre gos cha
chamavam
mavam d e p  po
o iè s is '5.
'5.
O  conceito de tekhnè  é, assim, assim, fruto de uma prim eira filosofia
da técnica que qu e visa distinguir o fazer hu m an o16do fa zer da n natureza,
atureza,
este último
último aautopo utopoiético,
iético, guardand
guardando o em si os meca mecanismo
nismoss de sua auto
reprodução. A tekhnè   é a arte1 arte 17 que coloca o hom homem
em no centro do
fazer p
 poo iè ticc o ,  em confronto
ièti co nfronto direto com as coisas naturais. A tekhnè é  
uma p poo iè s i s  no sentido de revelar todo fazer humano. Como mostra
Stiegler, “a dança é tekhnè, as boas maneiras são tekhnè, a cozinha  
é tekhnè  ” 18.
O nascimento da filosofia grega, cinco séculos antes da nossa
era, vai ser decisivo para a formação da visão atual da tecnologia.
Como veremos, a crít crítica
ica contemporânea da tecnologia será marcada
 po
 p o r es
esta
ta fi
filo
loso
sofi
fiaa d
daa té
técn
cnic
ica,
a, infl
in flu
u en
encc ia
iadda p
pri
rin
n c ip
ipaa lm e n te p e lo p e n sa
sa--
mento de Platão e de Aristóteles.
Aristóteles.
Para os gregos, todo ato humano é tekhnè  e “tod toda a ‘te k h n è ’ tem  
 p o r cca
a ra
racc te
terí
ríst
stic
ica
a fa zer nnaa scer uumm a ob
obra '”19. N um pri
ra'”1 primeiro
meiro momen-
to,, a fil
to filosofia
osofia grega vai isolar o qu éè m tempos préhistóri
préhistóricos
cos e mít
míticos
icos

ainda não era, po r um llado,


ado, a tekhnè, com o saber prático, e po porr out
outro,
ro,
a épistèmé, como saber ccontemplati
ontemplativo vo ou teóri
teórico.
co. Podem os dizer que
o homem
hom em préfil
préfilosófico
osófico não conheceu dicot dicotomias
omias eentre
ntre as artes e os
conhecimentos teóricos, já que estava imerso num mundo fechado,
simultâneo, onde não nã o existia
existia ainda com partimentalização
partimen talização dos saberes
em esferas independentes
indepen dentes e estestanques.
anques.
A crítica de Platão aos sofistas buscava mostrar como a con-
templação filosófica era a atividade mais digna dos hom ens, ac acima
ima da
tekhnè  e longe dos manuais e das receit receitas as sofisti
sofisticas.
cas. Nã
Não o é à toa que
os sofistas são chamados de tekhnai  por Platão. A partir par tir de Platão, a
tekhnè vai ser colocada em oposição ao saber teórico teóricocontemplativo,
contemplativo,
à épistèmé  (a
 (a contem
con tem plaç
plação
ão ffilosó
ilosófica
fica)2 )20
0. A filo
filosof
sofia
ia de PPlatã
latão2
o21 induz
nossa percepção
percep ção em relação às artes práticas, que são aind aindaa hoje co con-
n-
sideradas menores
men ores em relação à ati atividade
vidade intelectualconceitual.
O pensame
pensa mento
nto filosófico vavai,
i, pela primeira vez, ass assoc
ociar
iar a técni-
ca aos destinos
destinos do homem e da  p  poo li s.  O artista, aquele que possui o
lis.
dom de uma tekhnè,  é para Plat Platão
ão um demiurgo, um imitador, prod produ-u-
tor de cópias e de simulacros. Os objetos técnicos são assim
a ssim produtos

• A N D R É L EM
EM O S | 2 9
 

que imitam o ser. ser. Como cópia, imitação ou simulacro, Platão desen- dese n-
volve a tese da desconfiança em relação à tekhnè.
Já em Aristóteles, a ati atividade
vidade prática é iinferior
nferior às coisas da na-
tureza, pois “ nenhuma cois coisa a fabrica da possui nela m esma o prin cí
io da f a b r i c a ç ã o ”21. As coisas artifi
 pio
 p artificiais,
ciais, frutos da tekhnè,   são infe-
riores às coisas naturais, pois estas possuem o princípio do vir a ser.
Aquelas são formadas,
form adas, diferentemente das coisas naturais naturais,, pe
pela
la ação
externaa dos ho
extern homemens ns (ou animais). A inferiorida
inferioridade
de dos seres artifi
artificiais
ciais
em relação
relaç ão aos seres natur naturais
ais está lligad
igada,
a, segundo Aristóteles, à inca-
 paa c id
 p idaa d e do
doss p ri
rim
m ei
eiro
ross d a auto-poièses, ou seja da autpreprodução.
Aristóteles
Aristóte les mostra, com sua famos famosaa teoria das qu quatro
atro cau
causas
sas2 23, que a
tekhnè , como p
 poo iè
ièsi s,  está submetida à causa fi
sis, final
nal e à causa formal,
estranhas ao acaso da naturez
natureza. a. A tekhnè   será as
assim
sim um saber prát
prático
ico
que imita e domina a p  phh u s is 24.
O imaginário grego sobre as técnicas será influenciado pelas
narrativas míticas. Os mitos de origem do homem são também os
mitos de origem da técnica (Prometeu, Dédalo, ícaro, Hefaístos,
Atenas, Pandora...) que nos colocam diante da questão do homem
como ser da técnica. Aqui a antropogênese coincide com

tecnogênese.
tecnogê nese. A técnica, com
como o iimitação
mitação e violação da natureza, logo
inferior à contemplação e à p  ph is,,  será também fon te de violação
h u s is
dos limites sagr
sagrado
adoss imp
impostos
ostos ppelos
elos deuses aos hom enens2s25
5. A tekhnè  
é, assim, ao mesm o tem
tempo,
po, inferior à natureza, à contem plaçã
plação o filo-
sófica, sendo também um instrumento de transgressão do espaço
sagrado imposto pelos deuses. Esta concepção marcará profunda-
mente nossa atual visão da tecnologia, como veremos no capítulo
sobre o imaginário
ima ginário da cibercultura.

 A pe
persp
rspec
ectiva
tiva etn
etnoz
ozoo
oológ
lógica
ica

L Al
Além
ém da v
viisão ffiilosó fica, p o demo
demoss v
veer o ffeenô
nômemeno
no téc
écni
nico
co co
como
mo
um elemento zoológico da formação e da evolução dos primeiros
humanos. Ele vai mesmo caracteriza
caracterizar,
r, junta
juntam m ente
en te com o surgimento
de um pensam ento m mágicoreli
ágicoreligioso,
gioso, o ssurgimen
urgimento to do homosapiens.
homo sapiens.
A gêgese do
d o hom
homemem que somos hoje é tributária
tributária da gên gênese
ese da técnica.
> O hom em é um ser técnico po r defini definição!
ção! A pers pec tiva

etnoló gica de André LeroiG


etnológica LeroiGourhan2
ourhan26
6 propõe analisar a téc
técnica
nica co
como
mo
um tendência
tendên cia universal e determinante da evolução da espé
espécie
cie huma

30 C I BER
B ER C U LT
LT U R A , T EC N O L O G I A E V I D A S O C IA
IA L N A C U L T U R A C O N T EM P O R Â N EA •
 

na, inspirada na idéia de evolução de Bergson. A técnica se situa,


assim,
assim, como
com o uma
um a solução zoológi
zoológica
ca da espécie
espécie hum ana na sua con-
frontação com a natureza.
frontação natureza. A tecnicidade
tecnicidade humana
human a aparece com o uma (
tendência universal
un iversal e hegemônica, se
sendo
ndo a primeira
prim eira característica
carac terística do j
fenômeno humano. A antropogênese
antropogênese coincide
coincide com a tecnogênese, já ,
que o homem não pode ser definido antropoloantropologicam
gicamente
ente sem a di i
mensão da tecnicidade.
tecnicidade.
A técnica seria um caso específico
específico e particular
pa rticular da zoologia
zoolog ia na
medida em que o fenômeno técnico aparece como uma relação
artificializada
artificializada (mediada
(me diada por artefatos)
artefatos) entre a matéria viva ou orgâni-
org âni-

ca ecomo
da a matéria
ma téria inanimada.
o resultado
result A técnica é, sob
ado do desenvolvimento
desenvolvimen to eesta
evoperspectiva,
perspe
lução ctiva,
evolução da vidainterpre
inorgânica
terpreta-
ta-
do homem, como com o uma
um a interfa
interfacece entre
entre a matéria orgânica viva e a ma- m a-
tériaa inerte deixada ao acaso na natureza.
téri natureza. O fenôm eno técnico
té cnico é um i
caso particular (zoológico) da relação entre o ser vivo e seu meio [
natural (a matéria inert inertee largada ao acaso na natureza).
A cultura, como tragédia de objetivação do sujeito e de
subjetivação dos objetos (Simmel), formase no coração do fenôme-
no técnico. Como mostra Bernard Stiegler, “a tendência não vem  
simplesmente de uma fo rç a organi organizadora
zadora que seria o hom em (.. (...)
.) el
elaa 
opera
oper a p o r sseleçã
eleção o d efo rm as numa rel ação do ser vivo humano com  
relação
a matéria que ele e le organiza
organiza e pela qual ele se o organi
rganiza, ondee nenhum  
za, ond
dos term os d desta
esta relação tem o segrsegredo
edo d
dooooutro
utro ” 27. A técnica dese
”2 de semm ,
 pee nha
 p nh a uum
m pape
pa pell fund
fu ndam
amee ntal
nt al na fo
form
rmaç
ação
ão d o h ome
om e m . I
A corticalização que define o homosapiens
homo sapiens se introduz nas pri-
meiras armas e ferramentas construídas a base de sílex talhado. É ppor or
isso que nós não podemos “ imaginar que o homem seja operador  
como
com o inv
inventor
entor,, mas, ao contrário, com
comoo inven
inventa
ta d o ”.2  Até
 A
.28 

formação do córtex nós podemos dizer que a evolução da técnicatéa faseé de
de
* cunho zoológico, influenciando a evolução da espécie. PoucoPou co a pou-
po u-
co, a técnica vai desligandose desta evolução genética, tomandose
independente. Em um primeiro momento os objetos ajudam na for-
mação do córtex, numa
nu ma simbiose entre
entre o sílex
sílex e os neurônios
neurô nios (Leroi
Gourhan). Uma vez acabado esse processo, os objetos técnicos vão
seguir uma lógica própria
própria,, abordada brilhantemente
brilhantemente ppor
or G. Simondon,
com um modo
mo do de existência própri
próprio.
o.
Partindo desta hipótese,
hipótese, LeroiGourhan afirma
a firma que, pela
p ela li
libe-
be-
ração da mão e pela exteriorização
exteriorização do corpo humano,
hum ano, “a aparição  x y

EM O S | 3 1
• A N D R É L EM
 

. do homem é a aparição da té
técni
cnica
ca.. É a ferramenta, isto
isto éé,, atekhn è,  
atek hn è, 
 \ q u e inv
in v e n ta o h o m e m e n ã o o h o m e m q u e inv in v e n ta a té
técc n icà
ic à ” ”229.  É
 pee la e x ter
 p te r ior
io r iz
izaa ç ã o tec
te c n o lóg
ló g ica
ic a d o c o rpo
rp o , q u e a m ã o v ai p e d ir o
instrumento e, em consequência,
consequ ência, esse gest gestoo vai proporc
pro porcionar
ionar a fala. fala.
Como explica LeroiGourhan, “a f “a fee r r a m e n ta p a r a a m ã o e a l in
guagem pa ra a fa c e são dois polos de um mesmo d ispositi vo  ,,,,33°. N a
ispositivo
mesm a direção, aponta ap onta Stiegler,
Stiegler, o instrum
instrumento ento é resultado da ante ante
cipação e da exteriori
ex teriorização
zação mas, ao mesmo tempo, ele é a condição
mesma
me sma deste processo.
processo. Assim, a p
a prr ó tes
te s e n ã o é um s im p les
le s p r o lo n

gamento
'quanto hum do ano...
corpo
ano.. humano, ela é a constituição deste corpo en- 
. ”31. en-  
A formação do córtex, da técnica e da linguagem é assim
imbricada na coevolução
coevoluçã o zoológica da espécie espécie hum ana, já que sua
evolução vai ser potencializada
potencializada pela adaptação adaptação locomoti
locomo tiva va e técnica
técnica
do homem,
hom em, ao invés de ser a simples causa. causa. A corticalização seri seriaa
codeterminada pela exteriorização (a mão e a fala ou o gesto e a
 paa lav
 p la v ra,
ra , c o m o d e f ine
in e L e r o i
iGG o u rha
rh a n ) , p e lo c a r á ter
te r nnãã o g e n é tic
ti c o d o
■ inst
instrume
rument nto.
o.^A
^A essência
essê ncia da natureza humana human a situase no que pode
' remos cham c ham ar de processo de desnaturalização
desnaturalização do homem) na ssua ua
simbiose com a técnica e na formação da cultura com o surgimento surgimento
da linguagem. É esta genealogia da tecnicidade que vai interessa interessarr a
Gilbert Simondon.

 A gên
gênese
ese e o m od
odoo de ex
existên
istência
cia dos ob
objetos
jetos téc
técnic
nicos
os

“...chaque heure de notre vie, aussitôt morte, s’incame


s ’incame et

se cache
reconn en quelque
reconnaisson s, nous 11’’objet
aissons, matériel.
appelons, elleeAest
et ell travers luie. nous
délivrée.
délivré Iat
L’obje
objet
oü elle se cache
cache  ou la sensation, puisque tout objet par
rapport à nous est sensation nous pouvon pouvonss très bien ne
le rencontrer jamais. Et c’est ainsi
ainsi qu’i
qu ’ill y a des heures de
notre vie qui ne ressusciteront jamais.”
M a r c e l  Pr o u s t

Ao lado de Martin Heidegger, Gilbert Simondon é um dos mais m ais


importantes filósofos da técnica do século XX. Ele vai empreender
um esforço na compreensão
com preensão da gênese e da essência desta. desta. A mplian-
do a análise anterior, Simondon desenvolve uma perspectiva quase
 bio
 b ioló
lógg ica
ic a ddaa te
t e cnic
cn icid
idaa d e hum
h uman
ana.
a. A tec
te c n o log
lo g ia m o d e rna
rn a va
vaii se ca
c a rac
ra c 

32 C IB
I B ER C U LT
LT U R A , T EC N O L O G I A E V I D A S O C IIA
A L N A C U L T U R A C O N T EM P O R Â N EA •
 

terizar pela instauração de máquinas e sistemas sistemas m aquínico


aquínicoss que vão,
 pou
 po u c o a p o uc
uco,
o, af
afaa st
staa n d o o h om em d o qu
quee até
at é e n tã
tãoo c a r a c te
teri
rizz a v a a
relação homemtécnica: a manipulação de instrumentos e ferramen-
tas.
tas. A máquina,
máqu ina, segundo Simondon, será a responsável pela sensação
contemporânea de que a tecnologi tecnologiaa não faz parte da cultura humana
(ou é sua inimiga).
inimiga). Essa separação seria uma espécie
espé cie de defesa ccontra
ontra
a posição que ocupa a máquina
máq uina na civil
civilização
ização indust
industrial.
rial. Com o o ho
ho--
mem não m anipula mais instrumentos,
instrumentos, o fenôm
fenômeno
eno técnico eem
m geral
não teria lugar
lugar dentre as áreas nobres da cultur
cultura.
a. Assim, se a tekhnè  
grega era a técnica na cultura,
cultura, a técnica mo
moderna
derna seria a cultura sem
técnica ou melhor, contra a técnica.
Contra
Con tra esta visão errônea de separação entre técnica e cultura,
Simondon pretende fundar uma verdadeira “tecnologia” (um logos  
d a tekhnè),  não como ciência aplicada, mas como uma filosofia dos
mecanismos. A esta ele propõe o nome d dee “me
“mecanologia”
canologia” . O mmodo
odo d e .
existência dos objetos técnicos, que
que vai caracterizar a tecnologia
tecnolog ia con-
temporânea, corresponde à uma lógica interna, um caráter genético
do desenvolvime
dese nvolvimento nto das técni
técnicas
cas primit
primitivas.
ivas.
Os objetos são, no começo de sua evolução, dependentes de
uma ação inventiva e primiti primitiva
va dos homens (a fase zoo zoológica);
lógica); mas, a
 paa rt
 p rtir
ir d a fo
form
rm a ç ã o do córt
có rtex
ex,, os ob
obje
jeto
toss té
técn
cnic
icos
os v ã o s e g u ir u m a ló
ló--
gica interna
interna (a inovação de uma peça pode mu mudar
dar completamente os
rumos de evolução de uma um a máquina,
máquina, por exemp
exemplo),
lo), criando um gên gêne-e-
ro.. Assim, na m odernidade,
ro odernidade, o homem não é mais mais verdad
verdadeiramen
eiramente te um
simples inventor,
inventor, mas operador de um conjunto m maquínico
aquínicoss que evo evo- -

luii segu
lu segundo
objetos ndo um a engendra,
técnicos lógica interna própria
então,
então, (a ttecnicidade).
um processoecnicidade).
perm anenAteapariçã
anenteapariçãoo de
de natura-
lização dos objetos e de objetivação da natureza (na construção de
uma segund
segundaa natureza artificial
artificial,, a tecnosfera).
A evolução da espéc
espécie
ie humana é fru fruto
to desse movimento
movimen to perpé-
tuo e infindável,
infindável, sendo a técnica
técnica responsável pela criação da segunda
naturezaa  a cultur
naturez culturaa  num
num proc
processessoo de desnat
desnaturali
uralização
zação do homem.
Os objetos técnicos formam uma espécie de ecossistema cultural,
onde a naturalização
naturalizaçã o do artifício
artifício modifica o meio natural, da mesm a
forma que o meio natural vai impondo limites à atividade técnica
humana. E sta naturali
naturalização
zação de objetos
objetos técni
técnicos
cos im pulsiona um
umaa pro-
gressiva artificialização do homem e da natureza, sendo mesmo
impensável a existência do homem e da cultura fora deste processo.

• A N D R É L E M O S | 33
 

A técnica m oderna segue, assim,


assim, uma lógica evolutiva pró-
 p r i a n a o r g a n i z a ç ã o d a m a t é r i a i n e r t e , c r i a n d o u m a m a t é r i a
. inorgânica orga nizada tendendo à sua própria naturalização naturalização . Po-
demos dizer que a oposição entre técnica, homem e cultura não
tem fundamento. A cultura moderna estaria, segundo Simondon,
deseq uili
uilibrada
brada ao considerar a máquina com o estrangeira à cultu-
ra. Esse
Esse dese quilíbri
quilíbrio o aparece quando a cultur culturaa mo derna reco nhe -
ce o objeto estético
estético (art (arte)
e) no mundo das signifi significaçõe
caçõe s, mas recu sa
e afasta
afasta os objetos técnicos para um mundo à parte, como um sis-
tema autônomo (veremos com Jacques Ellul) completamente fe-
chado, sem estrutura ou significações. Como explica Simondon,
“ a mais fo rte causa de alalienação
ienação no m undo contemporâneo re resi de 
side
nesse desconhecimento da máquina, que não é uma alienação  
causada pela máquimáquina,
na, mais pelo não conhecimento de sua natu
reza
re za e de sua essênci
essência,
a, pela sua ausência do mundo das sign ifi ifica
ca
ções,
çõe s, e pe la sua om iss
issão
ão na tabel
tabela
a de valor es e dos con ceitos que  
valores

 f
 faa z e m Simondon u r a ” para
p a r t e d a cpropõe,
u lt
ltu 32. explicar sua posi
posição,
ção, um a genealogia
da técnica a pa rtir da perspectiva de evol evolução
ução das form as (gestalt ), ), e
da evolução bergsoniana da vida. Simondon compreende a técnica
como uma form a particular que sur surge
ge do confl
conflit
itoo entre o homem e o
mundo, cuja evolução se daria daria por bifurc
bifurcações
ações e desdobrame
desdobramentos ntos su-
cessivos.
cessi vos. PPara
ara Simondo
Simondon, n, a compreensão da genealogia d daa técnica é a
única possibilidade
possibilidade de tomar consciên consciência
cia do modo de existência de
objetos técnicos e de seu papel na cultura contemp contemporânea.
orânea.
Para situarmos o surgimento
surgimento da tecnici
tecnicidade,
dade, devemos
devemo s emempreender
preender
um retomo
retom o ao momen
momento
to onde esta apaparece
arece pel
pelaa primeira ve
vez.
z. Simondon,
influenciado
influenciado pela teoria do élan vital de Bergson, propõe que a gênese da
técnica seja compreendida
c ompreendida com
como o uma forma particular de indivi
individuação
duação
no conflito
conflito homem
homemmundo.
mundo. Para Bergs
Bergson,
on, a técnica é conse
consequência
quência de
uma bifurcação do élan vital.
vital. N
Naa su
suaa “Evol
“Evolution
ution CCréa
réatrice
trice”3
”33
3ele vai vin-
cular a técnica à evolução da vida
vida.. Esta se reali
realiza
za por operações sucessi
sucessi-
-
vas de dissociações e de desdobramentos. A técnica aparece, então, no

fim de múltiplas bifurcações. Para Bergson: “se nonossos


ssos órg
órgãos
ãos sã
são
o instru
mento s natur
mentos naturais,
ais, n
nossos
ossos instrum
instrumentos
entos são órgãos artiartifici
ficiais.
ais. O instru
mento do operário continua seu brbraço;
aço; ofe
oferram entall da humanidade éé,, 
rram enta
assim, um pro
prolon
longa
game
mento
nto de seu cco
o rp
rpoo ”34.
A hipótese genealógicoevolutiva
genealógicoevolutiva de Simondon, influenciada

 V
34  C I BER
B ER C U LT
LT U R A , T EC N O L O G I A E V I D A S O C IA
I A L N A C U L T U R A C O N T EM P O R Â N EA •
 

 p o r B e r g son
 po so n , é q u e a te
tecc n icid
ic idaa d e a p a rec
re c e p a ra r e s o lve
lv e r p rob
ro b lem
le m a s
colocados pela fas fasee primitiva
primitiva da relação
relação homemmundo,
homem mundo, que qu e ele cha
cha- -
ma de fase m ágica. Esta caracteriza
caracterizase se como uma estrutura prétéc prétéc
nica e préreligiosa. Sem distinção entre técnica e religião, a fase
mágica caracterizase por uma vinculação vinculação global do hom homem em ao mun-
mun -
do. Esta unidade mágica primitiva primitiva se constit constituiui po
porr uma relação do
homem ao mundo (do estar no mundo) que é, ao mesmo tempo,

oobjetiva
sujeitoeesubjetiva,
subjet
o objeto.iva, não compreendendo aí nenhuma nenhum a distinção
distinção entre
A origem, ou gênese, da técnica corresponde, então, à um umaa fase
da relação homemmundo
homemm undo engendrada pelo pelo desdobramento,
desdobramen to, a partir
da saturação,
saturação, da fase mágica primiti primitiva. va. E pelo desdobramento
desdobrame nto dessa
 pri
 p rim
m ei
eira
ra esestr
truu tura
tu raçç ã o (a fa
fase
se m ágic
ág ica)
a),, q u e surg
su rgee a d isti
is tinn ç ã o e n tre
tr e fi-
fi -
gura (o objeto) e fundo (religi (religião).
ão). Na fase mágica, figura figu ra e fundfundoo não
se distinguiam
distinguiam no unive universo.
rso. A saturação
saturação da fase mágica m ágica descola
desc ola figura
e fundo, gerando
gerand o duas novas formas de solução desse conflit conflito: o: a for-
ma técnica, que responde aos problemas problema s de figura, e a forma religião,
que se ocupa dos fenômenos de fundo. fundo. Para Simondon,
Simond on, o homem hom em cria
a técnica para resolver os conflitos dos fenômenos da natureza, e a
religião
religi ão para tratar do espírit espírito,
o, do simbólico
sim bólico e do imaginário.
A evolução
evo lução da vida, seu élan  vital, vital, faz com que o universo unive rso má-
gico entre em saturação originando, por duplicação, duas soluções
 part
 pa rtic
icuu lare
la ress p ara
ar a o dra
d ramm a da
d a re
r e laçã
la çãoo ho
h o m e m mun
m undodo.. A técn
té cnicicaa éé,, a s-
sim
sim como
com o a religi
religião,
ão, uma
um a solução particular
particular para a saturação do modo
mágico do homem estar no mundo. A tecnicidade não é nem uma
realidade isolada,
realidade isolada, nem uma realidaderealidade completa, já que é dependente
do modo religioso. Assim, os dois modos de relação homemm hom emmundo, undo,
desdobrados
desdob rados e individualizados
individualizados a partir do modo m odo mágico, são incom-
 plet
 pl etos
os e d e v em b u scasc a r nov
n ovas
as form
fo rmas
as d e con
c onvv ergê
er gênn cia.
ci a. E s sa form
fo rmaa dede
convergênc
conv ergência ia será para
pa ra Simondon efetuada
e fetuada pela estética35
estética35.
É através do pensamento estético estético que os objetos podem reve-
lar sua epifan
epifania ia áuri
áurica,
ca, seu fundo. Assim, o belo não nã o seria uma um a atri-
 buu içã
 b iç ã o d ir
iree ta d o s o b jeto
je toss m as um p o n to sin
si n g u lar,
la r, o c u p a d o e p e r p e -
trado pela experiência. O objeto belo é o bom objeto o bjeto no bom lugar e
no bom momento. O pensamento estético seria, assim, aquele que
vaii tentar reaproximar
va reaproxima r a figura figura do fundo, buscando a origem origem mágica
que não encontraremos jamais. Como explica Simondon, o pensa-
mento estético “...não
...não é uma fase , mais uma lembrança perma nen-
nen-••

E M O S | 35
• A N D R É L EM
 

te da ruptura da unidade do modo de ser mágico e uma busca da  


dade fu tur a ”36.
unidade
uni
É da objetivação do mundo que surge o objeto técnico e, da sua
subjetivação, o pensamento
pensam ento religioso.
religioso. Aparecem o primeiro
prim eiro sujeito e
o primeiro objeto. Sabemos,
Sabem os, por estudos antropológicos e etnográficos,
que o universo mágicoreligioso
mágico religioso estruturase por
po r reticulações em lu-
gares
mentoprivilegiados;
privilegi ados; os
do fundo37. lugares
Para sagrados
Simondon, quelugares
esses participam do reco
reconheci-
nheci-
privilegiados são
 poo n tos
 p to scc h ave
av e (points-clés),  lugar de hierofanias,
hierofanias, com
comoo nos propõe
propõ e o
mitólogoo romeno
mitólog rom eno Mircea
M ircea Eliade3
Eliad e388. A dissolução do modo
m odo mágico
má gico ocor-
oco r-
re quando esses pontoschave
po ntoschave se cristali
cristalizam
zam e se descolam
desc olam do
d o univer-
so global
global ao qual eles aderiam, quando se tomam tom am funcionais
func ionais e instru-
mentais
men tais (mitos e ritos religiosos).
Surgem três tipos de realidade: o mundo, o sujeito e o objeto.
Técnica e religião vão também entrar em saturação exigindo novos
desdobramentos e bifurcações39. Elas vão desdobrarse em figura e
fundo constituindo, respectivamente, novas soluções: tecnologia e
ciência para a saturação técnic técnica;
a; dogma
dogm a e ética para a saturação reli-
giosa, segundo Simondon.
Para a compreensão da evolução dos objetos objetos técnicos na histó-
ri
ria,
a, Simondon
Sim ondon propõep ropõe três níveis
níveis de desenvolvimento: o elem elemento
ento (a
ferramenta), o iindivíduo
ndivíduo (a máquina) e o conjunto (indústrias).
(indústrias). A téc-
nica transform
transformasease em tecnologia a partir ddoo nível
nível dos indivíduos téc-
nicos.
nicos
do, . O nível
como veremos
veremo doss elementos
elemen
adiante,tosa idéia
persiste
persist
idéia dee progresso
atéogresso
pr o século XVIII, introduzin-
contínuo. introd uzin-
O segundo
. nível,
nível, o dos indivíduos,
indivíduos, corresponde ao momento mom ento em que a máquina máqu ina
í toma o llugar
ugar do homem
hom em como
com o manipulador de instrumentos.
instrumentos. E a fase
do controle e domínio da natureza. Aqui estamos no coração da
modernida
mo dernidade de técnicocientífi
técnicocientífica.ca.
O nível dos conjuntos técnicos, a partir da segunda revolução
industrial, caracteriza a era da energia termodinâmica e nuclear. Às
 port
 po rtaa s do sécu
sé culo
lo X X I, ve
vemm os um outr
ou troo pa
p a rad
ra d igm
ig m a de
d e ev
e v o luçã
lu çãoo , o que
qu e
 p ropp o n h o c h a m a r de nível das redes (como interligação de conjun
 pro
tos).
tos ). A cibercultura
c ibercultura aparece e desenvolvese neste nível. nível. Aqui
A qui as meta

( máquinas digitais
digitais (com

os tra N egro
eg ropo
pont
(computadores)

nte,
putadores) não manipulam mais matéria
gia. Agora tratase de traduzir a natureza em dados binários. Como
s*r m ostra e, “os bits ssub
ubstituem
stituem os á tom
to m o s”4
m atéria e ener-

s”40.

36   | C I B ER
E R C U L TU
T U R A , T E C N O L O G I A E V I D A S O C I AL
AL N A C U L T U R A C O N T E M P O R Â N E A •
 

Heidegger
He idegger e a essênci
essência
a da técnica

O hom
h omemem é u umm ser ttécnico
écnico que não se caracteriza apenas pelo
sentido zoológico (LeroiGourhan) ou genealógicogestáltico
(Simondon). M artin Heidegger vai mostrar mostrar,, com ma maestria,
estria, que a con-
cepção instrumental,
instrumental, ou aquilo que el elee chamav
chamavaa de concepção antro-
 poló
 po lóg
g ica
ic a d a té
técn
cnic
ica,
a, n ão p o d e no
noss re
revv e la
larr tto
o d a a e s s ê n c ia d a té
técn
cnic
ica.
a.
A técnica, definida como um saber fazer, uma arte, um meio e uma
atividade produtora (poiètica) do homem, é exata, como vimos, sem
ser necessariamente
necessariame nte a sua verdadeira essência: essência: “o que é exato não é  
ainda verdadeiro",  d  diz
iz H eid
eidegg
egger4
er411.
Como vimos, tekhnè   é  p o i è s i s ,   produção. Por produção
Heidegger compreende
compreend e o processo que revela revela uma verdade, que faz
com que uma coisa passe do estado latente ou ausente à presença.
Produção é  p  poo ièsi s,  que pode ser natural (a  p
iè sis,  ph is ,  o nascimento de
h u s is,
uma flor, por exemplo) ou artificial (a tekhnè,  a construção de uma
mesa)
mes a).. H eideg
eidegger
ger vai explicar que a raiz latina da palavra prod produção
ução
vem de veritas,  verdade. Assim, toda p  po iè s is  é ato de desvelamento
o iès
da verdade, logo toda técnica é um modo de desvelamento de uma
verdade,
verd ade, um modo de desvelamento do humano ao mundo. C Contraria-
ontraria-
mentee à perspectiva instrumental e antropológica, a técnica
ment técn ica não é so-
mente um meio zoológico de evolução da espécie, nem apenas um
modo de evo evolução
lução o originári
riginário o de uma unidade m ágica perdida. E Ela
la éé,,
segundo Heidegger, um modo de desvelamento, um m odo de existên-
cia do hom em no mundo mundo..
As diferenças entre as técnicas técnicas primitivas ou industriais
indu striais não se
situam no nível da p  poo ièsi s,  já que ambas são modos de de
iè sis, desvelamento
svelamento
do ser do hom em no mundo. A diferença entr entree as técnicas primiti p rimitivas,
vas,
ou préindustriais,
préindustriais, e a técnica moderna (tecnologia) está para Heidegge H eideggerr
na fundaç
fundação
ão científica desta últi
última.
ma. O que vai car
caracteriz
acterizar
ar a essência
da tecnologia
tecnologia moderna é um modo de desvelamento baseado na ciên-
cia moderna, originada no século XVII (empirismo, quantificação
matemática, paradigmas newtonianos de sujeito e objeto). Para
Heidegger, o modo de desvelamento (poièses ) da tecnociência mo-
derna é exercido como uma provocação da natureza, através da qual
esta é força
forçada
da a liberar matéria e energia para o livre controle e manu
manu- -
seio
seio humano. A essência da técnica
técnica moderna tem p or base este modo
de desvelamento:
desvelamento: um m odo de produção provocante da natu naturez
reza.
a.••

M O S | 37
• A N D R É L EEM
 

A natureza, desencantada
desenc antada e dessacralizada,
dessacralizada, pode, com o tal,
tal, ser
requisitada como objeto de exploração e pesquisa tecnocientífica. E
nessee modo de desvelamento que Heidegger si
ness situa
tua a dif
diferença
erença fund
funda-a-
mental entre as técnicas préindustriais e a tecnologia moderna. A
essência da tecnologia (a técnica moderna) está no que Heidegger
chamou de Gestell ou o arraisonnement  (dispositivo)42,
  (dispositivo)42, uma provo-
cação científica
cien tífica da nat natureza.
ureza. Em um discurso em 19 1955
55,, Heidegg
H eidegger er ssee
explicava: “nós podem os utilizar as coisas ttécnic écnicas,
as, nos ser
servir
vir nor
malmente
ma lmente mas, ao m esmo tempo tempo,, nos liberar delas de fo rm a que, a  
form
todo momento, possampo ssam os coconservar
nservar uma distdistância
ância em rel
relação
ação a el as.. 
elas
 Nó
 N ós p
poo d e m o s u sa
sarr os ob
obje
jeto
toss técn
té cnic
icos
os co
com m o se dev
deve.
e. M a s p
poo de
dem os,, 
m os
ao mesmo tempo, deixá-los a eles mesmos, como algo que não nos  
atinge naquilo que nós nó s temos de mais ínti íntimo
mo e próprio. Nossa rela

ção
sível.com
sível Nósso admitimo
. Nó mundo técnico
admitimos torna-sttécnicos
torna-se
s os objetos e marav
maravilhosamente
écnicos ilhosamente
no nosso
nosso mundosi
simp
m undomples
les e p la
lau
quotidiano u  
e ao mesmo
m esmo tempo nós os deixamos de fora. Isso signi fica que nós os 
significa
deixamos
deixam os rrepousar les mesmos como coisas que não têm nada  
epousar sobre eeles
de absoluto, mas que dependem de algo maior do que eles. Uma  
velha
velh a palav ra se oferec
oferecee a nós para designar es esta atitude de sim e de  
ta atitude
não ditos em conjunto
con junto ao mundo técnico: é a pa palav
lavra
ra ‘ge lass en he it’,, 
heit’
‘serenidade', ‘igualdade da alma ” ’ 43
A visão bíblica já legiti
legitimava
mava o crescimento e a multiplicação da
espécie pela dominação da nature
natureza,
za, pela potênc
potência
ia humana. No en -
tanto, é a partir de filósofos como Francis Bacon e René Descartes
que o homem,
home m, com o centro do uni
universo,
verso, ganha legit
legitimidade
imidade para agir
sobre o mundo de forma racional e científica. Para Bacon, um saber
só é válido se ele tem como co consequência
nsequência atividades
atividades ou prod
produtos
utos prá-
ticos. Ele sela a máxima “saber é poder”. René Descartes, por sua
vez, afirmava a razão autocentrada do homem ( cogito ergo sum ),
onde este passa a se
serr o centro do universo int
inteligí
eligível;
vel; ele é o cen
centro
tro de

todo gênio e de toda arte de modificar a natureza a partir da razão


científica e da intervenção tecnológi
tecnológica.
ca. O h
homem
omem racional tem, a par-
tir do século XV
XVII,
II, o po
poder
der de ser o senhor da verdade, portador do
ato cognitivo puro, afastado de toda e qualqu
qualquer
er supersti
superstição,
ção, eesta
sta con-
siderada agora com o epifenômeno do espírit
espíritocrenças,
ocrenças, tradições, re-
ligiões, imaginário.
O Gestell  é, para Heidegger, a forma que a técnica moderna
tem para arraisonner  a natureza e tornála um dispositivo
dispo sitivo livre para a

38  | C I B E R
RCC U L T UR
U R A , T E C N O L O G I A E V I D A S O C IA
IA L N A C U L T U R A C O N T E M P O R Â N E A •
 

man ipulação humana. Assim, o Gestell, a essência da técnica moder-


manipulação
na, não tem nada de técnico. Ele revelase antes do surgimento da
técnica moderna, com a Revolução Industrial inglesa do século
sécu lo XVIII.
Heidegger preconiza a tecnociência moderna em pleno século XVII
com a funda
fundação
ção da ciência (físi (física)
ca) moderna,
m oderna, cartesiana e newtoniana.
É a física moderna que prepara o terreno para o surgimento da
tecnologia moderna. Aparece A parece assim, pelapela primeira vez na história ddoo
homem, uma um a atividade técnica sendo result resultante
ante de uma ciência
ciên cia aplica-
da, tom
tomando
ando a natureza como campo de requisição e controle.
A tecnologia moderna
m oderna nada mais é que a concretização
concre tização dos pla- pla -
nos dessa  Bi Big
g Sc ie n c e , marcando o surgimento de uma
S c ien um a forma
form a técnica,
a tecnologia, de uma forma sociocultural, a tecnocultura, e de uma
forma ecológica, a tecnosfera. A tecnologia, ou a tecnociência mo-
derna, é resultado do casamento entre a ciência e a técnica num pro-
cesso de cientifização da técnica e de tecnização tecnização da cciência
iência (Ba
(Bartholo
rtholo
Jr.)
Jr.).. A tecnologia
tecnolog ia moderna é a tecnociência tornandose autônoma autôno ma e
instrumental sendo, na maioria das vezes, associada a projetos políti-
cos tecnocráticos e, como tais, futuristas e totalitários.
 Naa m o d erni
 N er nidd ade,
ad e, é toda
to da a tecn
te cnic
icid
idad
adee h u m a n a q u e v ê se
s e re
redd u -
zida à pura inst
instrumentalidade
rumentalidade da tecnociência, autônoma, autônom a, racionalis
ra cionalista ta
e objetiva.
objetiva. NãoNã o é à toa que essa mesma mesm a tecnologia vai ser rotulada de
fria, artificial, oposta a toda e qualquer realização nobre do espírito
humano4
hum ano444. Com
Co m a tecnolog
tec nologia
ia moderna,
mode rna, afirma
afirm a Heidegger,
Heide gger, é o próprio
próp rio
destino
dest ino do homem
hom em no mundo
m undo que está
está em jogo,
jogo , transformando o seu
modo de existência num desvelamento enquanto provocação científi- científi-
ca da natureza para uso meramente instrumental. O Gestell,   como
destino do ser do homem no mundo m undo seria
seria,, para Heidegger, o perigo
supremo da moderni
m odernidade.
dade. O perigo não é de ligar
ligar o homem às máqui-
nas,, mas a essa forma
nas form a específica
específica de estar no mundo. Para
P ara Heidegger,
H eidegger,

sua essência. E a essência da técnica, enquanto um destino de   


“não existe n
nada
ada d
dee demoníaco
demo níaco na técnica,
técnica, m as existe o m istério de

desvelam ento, que é o pe


p e ri
rigg o ”45.
Citando o poeta alemão Hõlderlin,
Hõlderlin, Heidegger
H eidegger mostra
mo stra que é nes-
se perigo, no centro da essência da técnica
técnica moderna, que
q ue cresce aqui-
lo que aniquila
aniqu ila e o que também pode nos salvar.
salvar. O Gestell é, ao mes-
mo tempo, Geschick  (destino)
  (destino) e Gefahr  (perigo).
 (perigo).
Em 1969
1969 Heidegger se pronuncia maismais uma vez sobre
sob re a técnic
técnica:
a:
“eu não so
souu contra
c ontra a técnic
técnica.
a. Eu nunca disse nada
nad a contra
co ntra a técnica•
técnica •

M O S | 39
• A N D R É L EEM
 

ou contra seus aspectos demoníacos; eu quero, simplesmente, com


 prr e e n d e r a eess
 p ssêê n ci
ciaaddaa téc
técni
nica
ca.. (..
(...)
.) O q
que
ue eu ve
vejo
jo na té
técn
cnic
ica,
a, na su a 
sua
essência,
essênci a, é que o homem se suj sujeitou
eitou a um po de derr qu
quee o desafia ef ace 
efa
ao qual ele perde sua liberdade, que alguma coisa se anuncia aí,  
uma relação do ser se r do homem. E que a rel relaçã
açãoo que é escon dida na  
escondida
essência
essên cia da técnica poderá, tal talvez,
vez, um dia apa aparece
recerr em ple
plena
na lu z. Eu 
luz.
ignoro se isso acontecerá. Consequentemente, eu vejo na essência da 
técnica a prim eira aparição de alguma coisa de muito profundo, que 
primeira
eu cha
chamo mo de dispo sitivo ’ ” 46.
dispositivo

Historicamente podemos dizer que a técnica precedeu a ciêncciência.


ia.
A técnica foi, durante séculos, impulsionada por tentativas e erros, sem
necessariamente ter nenhuma explicação
explicação teóric
teóricaa cientifícamente con
con--
trolável. Vimos que a técnica é constitutiva do fazer humano e que,
durante a fase zoológica, como mostraram os trabalhos de Leroi
Gourhan,
Gou rhan, Stiegle
Stieglerr e Simondon, a técnica ttem
em um papel vital na form
forma-
a-
ção da espécie humana, onde não sabemos ao certo quem é o inventor
e o inventado. Depois, vimos como a técnica se vê investida por um
discurso filosófico, enquadrada no campo da tekhnè  como atividade
(poiètica) nascida da confrontação entre o homem e o ambiente.
A partir
pa rtir d
do
o sé
século
culo XVII, a atividade técnica vai estar ligada ao
conhecimento científico. Este processo vai culminar no século XX,
com os Centros de Pesquisa e Desenvolvimento
Desenvolvimento (P&D(P&D)) determinando
a junção definitiva da ciência com a técnica. Podemos dizer que a
técnicaa préhistóri
técnic préhistóricaca é produt
produtoo de uma experiência empírica do mun-
do, sem necessidade
neces sidade de explicações científ
científicas
icas (as pri
primeiras
meiras fe
ferrame
rramen-
n-
tas,, instrumentos e máquinas). A técnica é o fazer ttransfo
tas ransforma
rmadordor hu-
mano quequ e prepara a natur
natureza
eza à formação da espécie e da cultura hu-
mana. Ela é uma provocação da natureza gerando um processo de
naturalização dos objetos técnicos na construção de uma u ma segun
segunda da na-
tureza povoada
povo ada de matéria
m atéria orgânica, de matéria iinorgâ norgânica
nica e de ma maté-té-
ria inorgânica organizada (os objetos técnicos).
A técnica moderna, ou o que chamamos hoje de tecnologia, é
 pro
 p rod
d u to d a ra
radd ic
icaa li
liza
zaçç ã o d e ss
ssaa seg
se g un
unda
da na
natu
ture
reza
za,, d a n atu
at u ra
rali
lizz a ç ã o
dos objetos técnicos e da sua fusão com a ciência. Não sabem os mais
onde com eçam e onde terminam a ciência e a técnica. Estamo Estamoss aqui
no coração da modernidade. Aqui, a natureza e a vida social serão

requisitadas como objetos de intervenções tecnocientíficas. Como

40 C I B ER
E R C U L TU
T U R A , T E C N O L O G I A E V I D A S O CI
C I AL
AL N A C U L T U R A C O N T E M P O R Â N E A •
 

mostra Stiegler, “este mundo extensivoextensivo ao plan


planeta
eta é aq uele onde a  
aquele
ciência e a técnica ocidentais têm atado uma nova nov a relação —mun mundodo  
da tecnociência”41.
Com
Co m o advento da tecnologia moderna, as contradições do fenô- fenô -
meno técnico alcançam seu clímax. A ação técnica humana mudou a
natureza
nat ureza,, transformando
transformandoa a em umuma'
a' tecnosf
tecnosfera!
era! como também a na nature-
ture-
za do homem, associando o potenci potencialal inventivo humano, ao potencial
destrutivo
destruti vo da técni
técnica.
ca. A mmodernidade
odernidade nos mostrou o lado perv perverso
erso do
desenvolvimento
desenvolvi mento tecnológ
tecnológico.
ico. A tecnolo
tecnologiagia moderna tomase
tomase,, assim, o
inimigo
inimigo público n núme
úmeroro e, como tal,
tal, passa a ser excluída das áreas no-
 bres da
d a cu
cultu
ltura
ra.. A te
tecn
cnoc
ocul
ultu
tura
ra m
mod
oder
erna
na m
mos
ostr
traa su
suas
as g
gar
arra
ras,
s, se
send
ndoo for-
fo r-
mada por um
u m a tecnociência autônoma, universal e totalitár
totalitária.
ia.••
• ANDRÉ LEM
LEMOS   41
 

C a p í t u l o   II
O F E N Ô M E N O T E C N O L Ó G I C O AT
A T R AV
A V ÉS
É S D A H IS
I S T Ó RI
RIA

Vimos os conceitos de íekhnè, técnica e tecnologia e devemos


agora ten tar rretraçar,
etraçar, rapidamente, a evolução h
histórica
istórica dos sist
sistemas
emas
técnicos para um a melhor compreensão dos des desafios
afios contemporâneos
da cibercultura
cibercu ltura nascente.
A história da técnica, como nos propões B. Gille, é um a disci-
 p lin
 pli n a q u e te
temm p o r o b je
jeti
tiv
v o e st
stuu d a r a ló
lógi
gica
ca e v o lu
luti
tiv
v a d o s sist
si stee m as
técnicos através de inovações e invenções de ferramentas, instrumen-
tos e máquinas ou, na terminologia de Simondon, elem elementos,
entos, indiví-
duos, conjuntos.
conjuntos. A fim de evitarmos um umaa hist
história
ória basicamente ou uni-
camente
cam ente tecnicista, devemos coloca colocarr em destaque, també também, m, as inter
relações dos sistsistema
emass técnicos e socia sociais.
is.
A própria
p rópria separação desses domíni domínios os já é problemáti
problemática, ca, já que

todo sistem
sistemaa técnico só faz senti sentido do em meio a um determdeterminadoinado corpo
social. Sabemos que cada sistema técnico é expressão de relações
específicas entre a ciência, a filosofia, a sociologia, a economia e a
 po
 p o lí
líti
ticc a 48. Bu
Busc
scaa rem
re m o s, a p
paa rt
rtir
ir de um
umaa rá
ráp
p id
idaa h
his
istó
tóri
riaa d
daa té
técc n ic
icaa , v
vis
is-
-
lumbrar
lumb rar os simbolismos que esta assume em épocas distintas até che che- -
garmos à contemporaneidade. Ligado à complexidade das culturas,
todo sistema técnico é marcado por po r incoerênci
incoerências,as, bloqueios, pa parado
rado- -
xos e conflitos, da antigii a ntigiiidade
idade aos nossos dias dias..

 Ass origens
 A orig ens pré-his
pré -históric
tóricas
as

Com o vimos, a origem do homem coincide com a orige


Como origemm da técn
técnica.
ica.
De acordo com B. Gille, os primeiros sistemas técnicos instauramse a
 partir de dois motiv
motivos
os principais: a potência
potênci a dos Deuse
Deusess e a imita
imitação
ção da
natureza.
natu reza. A técnica é, nesse momento, um
umaa arte,
arte, designando uuma
ma ativi
atividade
dade
 práticaa manual e material, de orige
 prátic origemm divina. A técnica préhistó
préhistórica
rica nasce,
assim, como desvio e imitação da natureza, segundo moldes cedidos por

deuses ancestrais.
ancestrais. A mitologia grega está cheia de exemplos desdesta
ta potência
divina.
divina. O ho
home
mem m toma
tomase
se um invent
inventor,
or, um demiurgo, profana
profanadordor do uni-
verso sagrado,
sagrado, se
sendo
ndo aquele que “não
nã o rec
receb
ebe
e mais, el
elee inve
in ven
nta
ta”
”49-.

42  CIBERCU
CIBERCULTUR
LTURA,
A, TECNOLOGI
TECNOLOGIA
A E VIDA SOCIAL NA CULTURA CONTEMP
CO NTEMPORÂNEA
ORÂNEA •
 

 N a b if
 Na ifuu r c a ç ã o d o u n ive
iv e rso
rs o m á g ico
ic o p rim
ri m itiv
it ivoo , p r o p o s to p o r
Simondon, a técnica separase da religião, religião, sem perder, nesse mom en-
to, as referências ligadas ao sagrado sagrado.. Estamos
Estam os aqui no centro do pri- p ri-
meiro desdobramento
desdobram ento do universo mágico, onde técnica e religião se
separam, mesmo mantendo ainda um forte elo de recorrência. O sa-
grado e o profano se estabelecem. O primeiro como qualidade do
mundo (fundo) e o segundo como o mundo concreto, onde o homem
 pod
 p odee a g ir atra
at ravv és de seus
se us in
inst
stru
rumm ento
en toss (fig
(f iguu ra)5
ra )500. Na
N a o rig
ri g e m p réh
ré his
is--
tórica da técnica, o sagrado tornase lugar do interdito, do respeito e
daratransgressão,
 pa
 para os p rob le m a sjáde
ro b lem d que
e fig a técnica
f igur
ura)
a) mas, ém
ma s, tam
ta vinculada
bém p oao
bé m , à po tê nprofano
tên c ia divi (soluções
di vina
na.. A co
c on-
tradição
tradi ção e o paradoxo sagrado/profano
sagrado /profano estão na origem do fenômeno fenôm eno
técnico e, como com o veremos
verem os adiante,
adiante, permanecerão
perma necerão até os dias dias de hoje.
O m odelo da técnica préhistórica
préhistórica é o da fase mágica má gica proposta
 poo r S im o n d o n . E s t a f a s e c a r a c t e r i z a  s e c o m o u m a té c n i c a d e
 p
sacralização, de acordo com Miguel e Ménard51. Aqui, o universo
técnico não é autônomo autônom o frente à natureza ou às esferas da vida soci- s oci-
al. A técnica é, ao mesmo tempo, um instrumento profano (trans-
gressão da ordem da natureza) natureza) e potência
potência mágica m ágica e simbólica
sim bólica (trans-
formação do mundo). Consequentemente, o objeto técnico, preso a
este esquema de transgressão será, para sempre, depositário de um
medo e de uma u ma fascinação que nos perseguem até os dias de hoje. É,
sem sombra de dúvida, o que vivemos na cibercultura, cibercultura, já que a ccivi-ivi-
li
lização
zação concontemporâne
temporâneaa mistura temor e deslum deslumbrambramento
ento pelos ob-
 je
 j e to s téc
té c n i c o s 52.
Este sentimento ambivalente
ambivalente caracteriza
caracteriza o que Miguel e Ménard M énard
cham am de “astúcia
chamam “astú cia tecnicista” do homem nas origens. A vida social social
era fechada numa rede de técnicas técnicas mágicas, e não existia um univer- u niver-
so técnico independente da vida social. social. O fim econôm
econô m ico e o esfor-
ço técnico eram secundári secundários os em relação ao imperativo de estar no
mundo.
mund o. M. M auss e J. Ellul5 Ellu l533 mostraram
mo straram como, com o, nesta
n esta fase, a magia
 poo d e s e r c o n s ide
 p id e r a d a u m a téc
té c n ica
ic a , talv
ta lvee z a téc
té c n i c a p o r e x c e lê
lênn c ia
das sociedades tradicionais. A técnica sagrada (magia) pode ser
traduzida como um desejo do homem primitivo primitivo em obter respostas respostas

de fundo,
como já que os
c oncebem
concebem este nunca
nun
hoje.
hoje . Ocapensamento
ligou
ligou seu destino
mágicoaoreligioso,
progresso
progre
reli ssoque
gioso, técnico,
funda
as primeiras
primeiras técnicas,
técnicas, é o oposto
oposto do que compreendemos
compreendem os com o ra-
zão instrum
ins trum ental
en tal m odern
od erna5
a544.•

• ANDRÉ LEMO
LEMOSS | 43
 

 A s pr
prim
imei
eira
ras
s civiliza
civi lizaçõe
çõess e os gregos
gre gos

A revolução
revo lução do Neolítico
Neolítico (entre 8.000 e 5.000
5.000 a.C.)
a.C .) vai criar as
 pri
 p rim
m eira
ei rass c ivil
iv iliz
izaç
açõõ e s e um prim
pr imei
eiro
ro sist
si stem
emaa técn
té cnic
icoo d esen
es envv olvi
ol vidd o ,
aparecen do entre o quarto e o terceiro
aparecendo terceiro milênio
milênio às margens do Medi-
M edi-
terrâneo. Entramos na história.
Com as primeiras civilizações,
civilizações, surgem sociedades estruturadas
a partir de um
u m pode
p oderr hierarquizado,
hierarquizado, do crescimento
crescimento das primeiras ci-

dades
vimento e impérios, do surgimento
dos transportes, da metal da escrita
m etalurgia
urgia e da(3.500
(3. 500daa.C.),
arte do desen
guerra. desenvol-
vol-
Essa con
con--
 junn tur
 ju tu r a vai
va i form
fo rm a r o ppri
rim
m eiro
ei ro siste
si stem
m a técn
té cnic
icoo c oere
oe rent
ntee d a h u m anid
an ida-
a-
de, segundo
segu ndo os historia
h istoriadore
doress Gille5
G ille555 e Daum
Daumas. as.
 Noo e nta
 N nt a nto
nt o , o Egit
Eg itoo co
conhnhec
eceu
eu um verd
ve rdaa d eiro
ei ro sist
si stee m a técn
té cnic
icoo
sem, necessariamente, ser efetivamente inovador; e, quanto aos de-
senvolvimentos
senvolvim entos e invenções técnicas,
técnicas, os historiadores
historiadores notam uma certa
limitação.
limi tação. Gille explica que, de uma certa maneir m aneira,a, o desenvolvimento
desenvo lvimento
de uma civilização fechada fech ada e muito bem estruturada inibia as inova-
ções tecnológicas.
Já o sistema técnico grego é elaborado a partir do sexto século
antes da nossa
n ossa era, nas ilhas
ilhas Jônicas,
Jônicas, onde o progresso não é global 
não há grandes inovações em relação à civilização egípcia e estão,
lado a lado, técnicas novas e técnicas artesanai
artesanais.
s. A ev
evolução
olução é quase
qu ase
imperceptível, existindo o que G Gill
illee chama de bloqueio técnico. Nes-
N es-
se momento,
mom ento, o nascimento
nascimen to da filosofi
filosofia,a, como vimos, exerce umu m a in-
in-
fluência muito
m uito grande. Segundo o historiador
historiador,, o bloqueio grego
g rego é de-

vido àa ciência,
nica três fatores
fatore
os slimites
liprincipais:
mites da ciência1. ao asassociar,
sociar,
grega pelaam
poderí
poderíam primeira
prim eira vez,
limitar o nívela téc-
do
desenvolvim
desen volvimento ento técnico; 2. 2. o sistema escravocrata pode ter sido um
dos fatores do bloqueio, já que, dispondo de escravos, os desenvolvi- desen volvi-
mentos técnicos não seriam fundamentais; 3. 3. a desconfiança
desconfian ça e o des-
 prez
 pr ezoo d a fifilo
loso
sofifiaa d e P latã
la tãoo e A ririst
stót
óteleles
es em rela
re laçã
çãoo à tekhnè, como
vimos, pode ter te r llimitado
imitado o progresso técnico. técnico. Para Gille, a explicação
mais convincente seria o incipiente incipiente desenvolvimento da ciência grega
que não
nã o permitia o desenvolvimento técnico. técnico. Já para Miguel
M iguel e Ménard,
M énard,
a causa
cau sa situase na visão v isão filosó
filosófica
fica da técnica5
técnica 56.
 Noo e nta
 N nt a nto
nt o , é n a c ivil
iv iliz
izaç
açãã o h e lêni
lê nica
ca que
qu e nasc
na scee u m a p rim
ri m e ira
ir a
 pre
 p reoo c u p ação
aç ão e m a c h a r expl
ex plicicaa ções
çõ es ra
r a cio
ci o na
nais
is em rerela
laçç ã o à c iên
iê n c ia e à
técnica. É a ppar artir
tir do sécu
séculolo V a.C. que a técnica técn ica vai, ppou ouco
co a*pouco,
pouco ,

44  | CIBERCULT
CIBERCULTURA,
URA, TECNOLOGIA E VIDA SOCIAL N A CULTURA CONT
CONTEMPOR
EMPORÂNEA
ÂNEA •
 

sendo laicizada
laicizad a e dessacral
dessacralizada.
izada. Os prim
primeiros
eiros filósofos, os ph si c o is  
 p h y sic
 p rés
 pré soo cr
crát
átic
icoo s (T
(Tha
hale
less d e M ile
ileto
to,, H er
erác
ácli
lito
to,, P it
itág
ágoo ra
ras)
s),, v ão se ininteter-
r-
rogar sobre as causas materiais da natureza. Os deuses detêm ainda
um grande papel na estrutur estruturação
ação do universo simbólico, mas a técnica
 paa ss
 p ssaa d e u m e ststad
adoo d e m er
eraa in
intu
tuiç
ição
ão a um no novovo e sta
st a d o d e in
invv e stig
st igaa -
ção, de demonstração, sendo investida pelo discurso filosófico, a
tekhnè.   Um a incipi
incipiente
ente ciê
ciência
ncia gre
grega
ga está nascendo com o desenvo desenvol- l-
vimento
vime nto da ma matemática,
temática, d daa geom etria e da aritm aritmética5
ética57 7.
Pa ra J
Para JP.
P. Vernant5
Vernant58 8, são os sofistas
sofis tas quequ e efe
efetua
tuam m os p prim
rimeiro
eiross
esforços para desenvolver um pensamento técnico na Grécia, com
seus manuaisreceitas. Estes, são normas práticas sobre a moral, a
 polít
 po lític
ica,
a, a eecc o n o m ia e a re
r e li
ligi
gião
ão n u m a ppee rs
rspp ec
ecti
tiv
v a in
inst
stru
rumm e nt
ntal
al.. E m -
 bo
 b o ra a in
indd a m a rcrcad
adaa p el
elaa o rdem
rd em re
reli
lig
g io
iosa
sa ou m íti íticc a , a té
técc n ic
icaa e n tr
traa
aqui,, no m
aqui momento
omento de dessacralizaç
dessacralização, ão, sendo investida por um umaa enquete
filosófica, inscrevendose também na luta pelo poder, mais precisa-
mente na n a arte da guerra. A técnica se desenvolve ainda a inda em relação à

uma natureza plena de segredos, como nos primeiros momentos da


humanidade,
human idade, mas ela é, pouco a pouco, dessacralizada pe pela
la busca de
explicações
explicaçõ es racionais
racionais..
Ainda longe do humanismo do quattrocento , a técnica especi-
alizase e tende a tomarse uma atividade meramente profana e ins-
trumental. A cité  grega
  grega se estabelece,
estabelece, não mais sobre um autoridade
religiosa, mas sobre o império do logos. Nesse sentido, é na Grécia
clássica que a técnica,
técnica, na sua acepção moderna, é gestada. A civiliza-
ção grega é a primeira a exercer uma atividade racional e filosófica
coerente,
coerent e, mesmo que esta ati
atividade
vidade não seja ai
ainda
nda compreendida
com preendida como
motor do desenvolvimento de uma atividade prática. A racionaliza-
ção das atividades práticas não está ligada
ligada à uma ciênc
ciência
ia experim en-
tal,, com o con
tal conhece
hecemomoss hoje com a tecnociên
tecno ciência
cia m
mode
oderna5
rna59
9.

O Império Romano

A partir
pa rtir do primeiro século ant
antes
es da nossa era, os romano
romanoss em -
 p reee n d e m um p ro
 pre rocc e ss
ssoo ra
radi
dica
call d e ex
expp a n sã
sãoo e c o n q u ista
is tas.
s. A nt
ntig
igos
os
agricultores, eles vão, com a conquista de novos territórios, conhe conhecer
cer
novas técnicas e adquirir conhecimentos dos povos dominados. Os
romanoss assim
romano assimilam
ilam novas técnicas e vão est estendêlas
endêlas p por
or todo o impé-
rio, sem ser necessariamente inovadores.
inovadores. Existe assimilação, m mas as pouca
pouca••
• ANDRÉ LEMO
LEMOSS | 4 5
 

inovação. Mesm
M esmoo se a agricultura conhece algum pro progresso,
gresso, os histo-
riadores não sabem ao certo se esse desenvolvimento se deve aos
gregos, aos povos bárbaros
b árbaros ou, enfim, aos romanos.
Se em relação a equipamentos (ins
(instrume
trumentos
ntos,, ferramentas, mmáqui-
áqui-
nas) os rom
romanos
anos são conservadores, a grande invenção
inven ção destes situase no
campo da energ
energia
ia e d
daa administ
administração,
ração, incluindo aí o direit
direito,
o, a arquitet
arquitetura
ura
e a urbani
urbanização,
zação, famosa p por
or seus aquedu
aquedutos
tos e pela gestão administrat
administrativaiva
das cidades.
cidades. C Como
omo povo guerguerreiro
reiro,, os romanos desenvolveram algumas
ferramentas
ferramen tas e máq
máquinas
uinas de guerra, assim como alguns tratados técnicos.
Mas, como
co mo n nota
ota B
B.. Gille, o império não conheceu engenh
engenheiros
eiros e técnicos
remarcáveis: “...a sua genialidadefo i ter combinado todas estas técnic as  
técnicas
e de utilizá-las até seus limites mais extremos...”60.
A civilização romana desenvolveu técnicas sociais, o direito
romano e a administração urbana, não apresentando inovações radi-
cais em relação ao sistsistema
ema técnico gr grego.
ego. D
Daum
aumas6
as61 assinala q
que
ue essa

organização social
social,, sem
mação, pela primeira vezgrandes inovações
na história técnicas,
da técnica, vaicon
de um ajud
ajudar
ar a for-
conjunto
junto ho-
mogêneo
mogê neo se difundindo através do mundo conhecido da época.
A estabili
estabilidade
dade técnica do ImpériImpério o Romano será a causa de um
movimento
movim ento inovador, lento e fraco
fraco,, mas constituirá uma fo forte
rte organi-
zação social e administrativa. Como afirma Gille, Gille, “a novidade téc nica  
técnica
é semp
semprere gerado
geradorara de conf
conflit
litos.
os. Uma organização bem orden ordenada vivee  
ada viv
necessa
nec essariam
riamente
ente so
sobre
bre téc
técnica
nicass iim
m ut
utáv
áveis ”62. Esta estabilidade
eis” estabilidad e vai ser
mantida
man tida do séc
século
ulo VII até o sécul
século o XVII. Assim, influenciado
influen ciado pelos
gregos, o simbolismo
simb olismo da técnica no Império Roma
Romano
no vai situarse no
mesmo registro, isto é, como atividade profana ligada ao medo da
transgressão da ordem
orde m divina.

Idade Média

O período que compreende a segunda metade do século XII at


atéé
o século XIV, longe de ser unicamente caracterizado como a idade

das trevas, foi uma


um a época de intensa
intensa ati
atividade
vidade técnica. N
Noo sécu
século
lo XII
XII,,
a população
populaçã o aum enta consideravelmente e o feudalismo se insta
instala,
la, as
Cruzadas abrem as portas do Oriente e o comércio de técnicas se
mantém até o século XIII. No século XIV, as tensões sociais apare-
cem com crashes  financeiros, epidemias e guerras intermináv
crashes financeiros, intermináveis,
eis, cri-
ando tensõ
te nsões
es qu
quee irão en
enfraq
fraquec
uecer
er as inovaç
inovações6
ões63
3.

46  CIBERCU
CIBERCULTUR
LTURA,
A, TECNOLOGIA E VIDA SOCIAL N A CULTURA CONTEM
CO NTEMPORÂN
PORÂNEA
EA •
 

O misti
misticismo
cismo e a contemplaç
contemplação ão medieval estestão,
ão, certamente, pre-
sentes
sent es e d
detêm
etêm uumm papel fundamental nesse enfr enfraquecimento.
aquecimento. E ntre-
tanto,
tant o, o espírito cont
contemplativo
emplativoreligi
religioso
oso está longe de ser geral. Com
Como o
explica
exp lica Gillle, “à pa rte a
alguns
lguns exemplos ra raro
ros,
s, existem ap
apena traços  
enass traços
desse desprezo pelapelass té
técnicas evocado”” 64.
cnicas frequentem ente evocado
A técnica é, nesse período, elemento de reflexão, ao ponto de
Gille propor
propo r a existência
existência de uma “técni
“técnica
ca didáti
didática”,
ca”, onde a ciência
começa
com eça a sentir nece
necessi
ssidade
dade da técni
técnica
ca e a técnica da ciência, instau-
instau-
rando o germe da modernidade
mode rnidade tecnocientí
tecnocientífíca.
fíca. O emp
empirismo
irismo pass
passaa a
ter seu lugar no desenvolvimento de uma tecnologia ou, ao menos,
aparece como uma preocupação quanto à refl reflexão
exão ordena
ordenadada e sist
siste-
e-
mática
má tica da técnic
técnica.
a.
A utilização
utilização da energia é capit
capital
al para o sist
sistem
em a técnico m edi-
eval.. O grande m érito
eval érito desta época está na disponibili
disponibilidade
dade crescente
da energ ia uti
utilizada.
lizada. A utilização das energias hidráu lica e eólica é, é,
sem sombra de dúvida, a grande inovação medieval (o moinho a
vento é implantado na Europa no século XIII). O maquinismo e o
automa ti tismo
smo são bast
bastante
ante conhecidos nesta época, onde os relógios
e as novas máquinas de guerra fazem furor. O aperfeiçoamento na
utilização do metal permite o começo de uma atividade industrial,
ainda que incipiente, no começo
com eço do século XII, passando a indústria
têxtill p
têxti por
or algum m elhoramento
elhorame nto já no século seguint
seguinte.
e.
Agora, todos os elementos que preparam a modernidade estão

colocados:
colocado
matem s: uma sistema
ática, divisão técnico baseado
do tempo, no
o espí
espíritempirismo
rito
o co e na
conquistad orquantificação
nquistador quantificação
da natureza,
onde a técnica tornase laica e secul
secularizada
arizada.. E
Esta
sta profanaç
profanação
ão radi
radical
cal
da técnica devese portanto a trê
trêss fator
fatores:
es: a difusão e ba
banalizaçã
nalização o das
técnicas conhecidas, a urbanização e o desendesenvolvime
volvimento
nto dos métiers
métiers  
nas corporações
corporaç ões de ofício
ofício..
O sistema técnico não será mais constituído sobre a codagem
sagrada de m edo de transgressão, passando a ser articulado em torn torno
o
de uma “escatologia
“ escatologia do social”” (Miguel e Ménard) onde,
d o progresso social
 p elaa p ri
 pel rim
m e ir
iraa ve
vez,
z, “ a técnica não remete mais à natureza (...) mas ao  ao 
 prr ó p r io s e r h um
 p umanano.
o. A té
técn
cnic
ica
a ten
te n de a se a n tro
tr o p o m o rfiz
rf iza is  
a r ou, m a is 
antropocentrar”65. Passamos do paradigm a clássi
exatamente, a se antropocentrar”65. Passamos clássico
co
de astúcia com a naturez natureza,a, para uma simbologia medieval q que
ue prepara
a modernidade
modernida de ao exercício de uma ast astúcia
úcia antropocêntrica da técni-
ca. Nasce, aqui, um novo código de conduta que vê na técnica um• um •

• ANDRÉ LEMO
LEMOSS | 47
 

instrumento de transformação radical do mundo, passando a ser m es-


mo a condição ontológica de uma “escatologia do progresso”.
A evolução do conjunto ttécnico
écnico medieval será marcada
ma rcada po r um
relaxamento progressivo da codificação simbólica tradicional, favo-
recendo
recend o um a nova on
onda
da de desenvolvimento téc
técnico.
nico. Passa a ex
existir
istir a

“adoçã
adoção o de um poponto
nto de vist
vista
a mais funcion
funcional, das  
al, racionalização das
técnicas,
técnicas, emergência de uma nova ordemordem onde a medmedida
ida quantitati
qua ntitati
va se reve
revelará
lará de
determ
term ina
inante
nte”
”66.

O Rena
Renasci
sciment
mento
o

Sob o ponto de vista da evolução das técnicas, o Renascim Renascimento ento


será conhecido
conhec ido como a era do maquinismo. maquinismo. Segundo historiadores,
essa época pode ser considerada como aquela que implantou um
 prr o g r e s s o c o n s i d e r á v e l e m r e l a ç ã o às té c n i c a s m e d i e v a i s . O
 p
surgimento
surgi mento do siste sistema ma “biela
“bielaman
man ivela” va vaii p roporciona r um a ver-
dadeira revolução maquínica cuja performance performance estava limitada à uti-
lização da madeira. O maquinismo do Renascimento será, então,
formado r de uma sis sistema
tema técnico demandante de energia, fazendo
do século XV o terreno de uma primeira revolução formada pela
tríade bússola, pó lvora e iimprensa. mprensa.
Aparecem
Ap arecem tam bém alguns manuais técnicos técnicos,, principalm
principalmente ente na
Itália do norte e no sul da Alemanha, demonstrando que o espírito
tecnológico entrava em cena. Como explica explica Gill Gille,
e, “...é um novo
no vo sis
tema técnico que nasce, na medida em que todas invenções  
todas as nova s invenções
são co
com
m plem ent
entare
aress um
umasas das ooutr
utras”
as”6 61.
 No
 N o e n ta
tann to
to,, m a is q u e u m a re
revv o lu
luçç ã o p u ra
ramm e n te té
técc n ic
icaa , o
Renascim
Ren ascimento
ento vai caracterizarse como uma radical revolu revoluçãoção na ra-
zão, uma revolução epistemológica que prepara o imaginário social
 para
 pa ra o surg
su rgimimee n to d a m ododer ern
n id
idad
ade.e. AqAqui
ui ra
radd ic
icaa li
lizz a s
see a fafasc
scin
inaa ç ã o
 pelo
 pe lo e sp
spír
írit
itoo d e d e sc
scoo b e rt
rtaa c ien
ie n tí
tífi
ficc o, a po
potê
tên
n cia
ci a d a ra razz ã o p rá
rátic
ticaa , a
crença no ser humano como reordenador do cosmo pela ação tecno
científica,
científi ca, a natureza como objeto ob jeto d dee livre
livre conquist
conquista. a. Vemos o nasci-
mento, ainda embrionário,
emb rionário, da ciência moderna e da ttecno ecnologia
logia com
como o
resultado do estreitamento das relações relações entre ciência aplicada e inter-
venção técnica. Como Co mo notam M Miguel
iguel e Menard, “o método não é mai maiss  
uma submissão à natureza em se contentando em inferir classifica
ções e taxonomias; ele te temm a incumbênci
incumbência a de sub
subme meter ter a natureza a

48  | CIBERCULTURA,
CIBERCULTURA, TECNOLOG
TECNOLOGIA
IA E VIDA SOCIAL NA CULTURA
CULT URA CONTEMPOR
CONTEM PORÂNEA
ÂNEA •
 

si própri
próprio,
o, de fazê-la fa la r - ou de tr tradu
aduzí
zí-l
-laa - numa li lingu
nguage
agemm 
matemática
matem ática muito m ais operat ória” 68.
operatória
A razão passa a ocupar o lugar de centro do u niverso inteligí-
vel e, a técnica, a encarnar o meio legítimo e ideal para a máxima
cartesia na de “co nqu
nquistar
istar e domina
dominarr a natureza” . O em pirismo de F F..
Bacon e o racionalismo de R. Descartes
Descartes aprox imam se aqui da fun-
ção de nos tornar “mestres e possuidores da natureza”. No seu
“Novun
“N ovun O rga
rganu
nun”6
n”699, Francis B acon faz um umaa apo logia à potê
potênc ncia
ia da
razão hum
hu m ana que deve atingir a “imensidão d das s”,  e Descar-
as c o isa s”,
tes, no seu “Disc
“Discours
ours de la M Métho
éthode”
de” 70, vai com ba bater
ter a filoso
filosofia
fia
especulativa, fundando um racionalismo
racionalismo que separa mente e m até-
ria, corpo e alma,
a lma, ligando
ligand o o sujeito ao ato de fi filosofar.
losofar. A qui o cogito  
é   a causa de um verdadeiro deslocamento metafísico do homem,
onde este passa a ocupar
ocup ar o centro do
do universo inteligível, superand
superando o
a perspectiva teocêntrica: Deus morreu (Nietzsche) e o mundo se
desen canta (Weber)
(Weber)..
O que parece estar em jogo , no Renascimento, é a subst substitui
ituição
ção
de uma estrutura ontoteológica (explicações de ordem divina) para
umaa estru
um estrutura
tura on
ontoan
toantropo
tropológic
lógicaa (razão cien
científica)7
tífica)71
1, ating
atingindo
indo seu
ápice com a Revo
Revolução
lução Industri
Industrial
al no século XVIII.

 A Rev
Revoluç
olução
ão Industrial

Como
Com o nos expli
explicam
cam os his
histor
toriador
iadores,
es, devemos co
compre
mpreender
ender que
não houve no século XVIII uma revolução no sent sentidoido de u uma
ma ruptura
radical, mas a colocação de um novo dispositivo simbólico que vai,
 pro
 p rog
g re
ress si
sivv a m e n te d
dee sd
sdee a IIda
dade
de M édédia
ia,, aau
u m e n ta
tarr o po
pod d e r e o al
alca
cannce
do complexo
comp lexo tecnoci
tecnocientí entífico
fico h humano.
umano. O que cham chamamosamos d dee Revolu-
ção Industrial
Industrial (RI (RI)) é o fenômeno observado na Inglaterra no m eio do
século XVIII: aquele que ocorre em torno de 1780 com a indústria
têxtil (entre 17601780),
17601780), a invenção da m máquina
áquina à vap vaporor (1769) e as
 prim
 pr im eira
ei rass a p li
licc aç
açõõ e s in
indu
dust
stri
riai
aiss cco
om a pproroddução d dee fe
ferr
rrood dee b
booa q
quua-
li
lidade
dade (1780)
(1780).. Seguindo o pensamento de Gill Gille,e, nessa éépocapoca pode
pode--
mos destaca r mais inovações (banalização (banalização e desenvolvimento de téc-
nicas antigas) do que invenções (técnicas radicalmente novas). De
mesm
me smaa opinião, Da Daumumas7as72
2 mo
mostra
stra que o q que
ue vai cacarac
racteriz
terizarar o século
XVIII
XV III é menos um p progresso
rogresso técnico no sentido de invençõ invenções, es, que o
acelerado ritmo das inovações, sendo preponderante a influência de• de •

• ANDRÉ LEMO
LEMOSS | 4 9
 

uma técnica sobre as outras, cricriando


ando aquil
a quilo
o que Ellul vai chamar, mais
tarde,
tarde, de sistem a técnico ( système techni
technicien)
cien)..
Começa
Com eça ha
haver
ver um
umaa inter
interpenetr
penetração
ação da ciência na técnica (conheci-
mentos básicos de princípios
princípios físi
físicos
cos,, químicos e biológicos) e da técnica
na ciência (instrumentos os mais diversos),
diversos), embora a máqmáquina
uina à vavapo
por,
r,
símbolo maior
m aior desta época, tenha sido desenvol
desenvolvida
vida sem ajudas subst
substan-
an-
ciais da
d a ciên
ciência7
cia733. A despe
despeito
ito de u
umm certo d
desenvo
esenvolvimen
lvimentoto científico, e d
dee
uma busca
b usca cad
cadaa vez mmaior
aior de proces
processos
sos de cientifí
cientifízação
zação da técnica, “o 
 prog
 pr ogre
resso
sso té
técn
cnico
ico se dá à bas
basee d e observa
observação,
ção, d e expe
experiê
riênc
ncia
ia aná
anárqrquic a 
uica
e de imaginação, e não através de uma reflexão contruída, salvo em  
algu
al guns
ns c as
asoo s rar
raros ”14.  As mutações técnicas tomamse cada vez mais
os”
globais e a trilogia do n novo
ovo sistema expandese pelo mundomu ndo O Ocident
cidental,
al,

formada
forma da agora pela nova tríade meta metal, l, carvão e máquina à va vapo
por.r.
O dispositivo automático também ganha uma dimensão nova
 pela
 pe lass p
pri
rim
m ei
eira
rass m
máá qu
quin
inas
as au
auto
tom
m á tic
ticas
as de
d e cá
cálc
lcu
u lo (P
(Pas
ascc al,
al , L
Lee ib
ibni
nizz ). A
mecanização
meca nização industri
industrialal atinge um grande desenvolvimento nesta épo-
ca e a técnica é pensada, pela primeira vez, ligada à questão de uma
economia política (trabalho, industrialismo) com Marx. A partir do
século XIX, a ciência e a técnica vão ser ligadas, ligadas, m ais fortemente, à
formação profissional. O interesse para a organização de trabalho
aparece com a formação das unidades grandes de produç produção ão industr
industrial ial..
A literatura técnica atinge um desenvolvimento considerável. consideráve l. A idéia
de progresso técnico, como o explica Gille, implica a formação de
uma nova estrutura social. Marx vai se interessar, particularmente,
 po
 p o r e ss
ssee as
aspp e c to ao e st
stu
u d a r os efei
ef eitotoss d a té
técn
cnic
icaa n o n o v o m u n d o inin-
-
dustrial, na economia e no trabalho. Pela primeira vez, articulamse
técnica, trabalho e economia política. Desta forma, a característica
 prin
 pr incc ip
ipaa l d a R e v o luçã
lu çãoo In
Indd u st
stri
riaa l nã
nãoo se situ
si tuaa aap
p e n a s no
noss n ov
ovoo s us
usos
os
da energia e do advento de uma sociedade industrial, industrial, mas na am plia-

ção da aplicação técnica a todos todos os domínios da vida social. social.


 No
 N oppla
lan
n o ssim
imbó bólic
lico,
o, a novi
no vida
dadede ddaa R
Rev
evo o lu
luçã
çãoo IIn
n du
dust
stri
riaa l es
está
tá na
 pree te
 pr tenn sã
sãoo e m in
inst
staa u ra
rarr u
umm a eesc
scaa tolo
to logg ia do
d o pr
prog
ogreress
sso
o , cco
o m o a fifirm
rmaa m
Miguel e Ménard. O progresso não é, é, da
daqui
qui em diante, mais um po s-
sível devir, mas o possível em vias de ssee rea realiz
lizar.
ar. Estam os no ce cem m e do
mito fundador da modernidade: o mito do progresso pela realização
tecnológica do destino humano. Como mostra Spengler, é precisa-
mente no século XIX “que se apresenta pela prim primeira
eira vez o prob
problemalema  
da técnica e de ssua uass rerelações
lações com a cultura e com a h históri
istória”a”1 15.

50 CIBERCULT
CIBERCULTURA,
URA, TECNOLOGIA E VIDA SOCIAL
SOCIAL N
NAA CULTURA CONTEMPO
CON TEMPORÂNEA
RÂNEA •
 

Tecnocultura e modernidade

A partir da segunda metade do século XIX uma outra revolu-

ção
 b
 ba seindustrial
indust
a seaa d o n riallecolocase
coloca
a e letr
tric
icid see ,em
idad
ade n omarcha,
marcha
petr
pe tró le,ocriando
ó leo cri
, nando
o m oum
to r novo
tor à e x psistema
sist
losã ema
lo sãoo e técnico
técni co-
n as in-
in
dústrias de síntese química.química. DeD e acordo com Gille,G ille, esta revolução
revoluç ão in-
dustrial aparece em dois grandes períodos: períodos: de 1855 1855 a 1870,
1870, período
de adaptação de natureza técnica e econômica (crescimento
demográfico, rede bancária, organização industrial, aumento da de-
manda); e de 1880 1880 a 1900
1900,, onde as grandes mudanças entram em jog o
com a produção de energia em larga escala (turbocompressores e
motores a explosão e elétricos, aços especiais, química de síntese,
lubrificantes). Conjuntamente, vemos florescer a diversificação dos
novos m eios de transporte e de comunicação.
A primeira
prim eira Guerra Mundial, a crise crise econômica de 19291931,
19291931, o
enorme crescimento
crescimento da dem anda e a competição
competição entre os dois sistemassistemas
 polít
 po lític
icos
os prin
pr inci
cipa
pais
is to
t o m am se
s e o conju
con junt
ntoo a part
pa rtir
ir d o qua
q uall um
u m a nov
n ovaa era
técnica vê a luz do dia. Entramos em uma idade técnica onde o par
ciênciatécnica é determinante
determinante para a disseminação da idéia de progres-
so.. O progresso
so p rogresso é, então, compreendido como o deslocamento
deslocam ento dos pre-

conceitos e do pensamento
pen samento infantil
infantil para uma área sombria
som bria do espírito e
o recentramento metafísico do homem, colocado agora no centro do
universo inteligível
inteligível.. Este sistema técnico moderno
modern o vai criar
cri ar um descon-
desco n-
forto
forto,, ou o que
q ue Lewis Mumford chamou de mal estar da civilização e
Guattari e Deleuze
D eleuze de modo
mo do esquizofrêni
esquizofrênico co do capitalismo, misturando
medo e excitação, contradições e paradoxos. O progresso técnico en-
caixase, justam ente, nesta nova conjuntura
con juntura sociocultural
sociocultural..
M umford cham a esteeste período de Era Neotécnica, um a radicali-
radicali-
zação da megam áquina civil civilizac
izaciona
ional.l. A Era Neotécnica
N eotécnica sucede a era
Paleotécnica,
Paleotécni ca, associada por M umford à era autodestrutiva da Revo-
lução Industrial
Industrial da segunda metade do século de XV III  capitaliscapitalismo
mo
industrial, exploração de matériasprimas e poluição. A era Paleo-
técnica sucede, por sua vez, vez, a era Eotécnica,
Eotécnica, caracterizada por uma
relação harmoniosa
harmo niosa entre o homem e a natureza
natureza (do século X ao sécu-
lo XVIII), utilizandose, basicamente, de energias renováveis (moi-
nhos d ’água e movidos à energia
energia eólica)
eólica).. M umford propõe
propõ e o conceito
de megam
me gamáquina
áquina para dar conta da formaforma de organização que qu e vai
vai se
estruturando
estruturando aos poucos a partir do III milênio antes da nossa era na•
na •

• ANDRÉLE
ANDRÉLEMOS
MOS | S I 
 

Me sopotâmia,
Mesopotâm ia, como vimos. A modernidade é o ápice desta megam á
quina civilizacional.
civilizacional. A sociedade moderna é conseqli
conseqliência
ência do des
desen-
en-

volvimento da megam áquina atravé atravéss do model


modelo o do pent
pentágono:
ágono: “ener
gia, política (poder), propriedade, lucro, privilégio”16.
 No
 N o s é c u lo X V II
IIII a c iê
iênn c ia e a té
técc n ic
icaa g a n h a m v a lo
lore
ress r e c o -
nhecidos como dominantes
dominantes:: objet
objetiviividade,
dade, racionali
racionalidadedade instr
instrum um en-
tal77
tal77, un
univer
iversalism
salism o (das aplicaç
aplicações)ões) e neutralidad
neutralidade. e. C riase um a or or- -
ganização racional e tecnocrática da vida social. O conhecimento
científico tornase autônomo e institucionalizase em valor (Mer
ton).. A ciên cia e a ttécnica
ton) écnica são os val valores
ores supremos da em emancipaçã
ancipação o
sociall po sitiva e il
socia iluminada.
uminada. A técnica é envolvida por um ssimb imb olis-
mo que a associa a um instrumento (legítimo)
(legítimo) de transform ação so-
cial.. A técn ica e a cciência
cial iência transformamse em id ideolog
eologia
ia (Habermas)
legitima
leg itimado
dora
ra do progr
progresso
esso so
social7
cial78
8. A con
conjunçã
junção
o científico tec
tecno
noló
ló
gica vai ser investida
inv estida de “...uma...uma nova fun çã o ssacralizada
acralizada de utilida
de social que a m obiliza no intuit intuito o de dom inar a natureza e regene
sociedade   ”79. O estatuto de par sagrado (ciênciatécnica),
rar a sociedade 
conduzindo a huma nidade ao progr progress
esso,
o, consti
constitui tui a novidade sim-
 bó
 b ó li
licc a d a R e v o luç
lu ç ã o In d u s tr
tria
iall e d a m o d e rn
rnid
idaa d e e m e r g e n te
te..

A ciência moderna (newtoniana e cartesiana) aponta no hori-


zonte simbólico da m odernidade para desvelar os mistérios da nature-
za.. Crenças,
za C renças, tabus ou explicações mágicas ficam gravad gravadas as no terreno
da tradição, longe da potência transformadora e positiva da
tecnociência. Nã Nãoo é à toa que nesse período A. Com te busca superar,
com sua ciência posi positiva,
tiva, a pulsã
pulsão o da com
comunidade
unidade pela organização
da sociedade, separandoa
separand oa dos est estágios
ágios religioso
religioso e m metafísico
etafísico anterio-
res. A tecnologia moderna será o instrumento legítimo que permite
transformar e regenerar
regenera r o mundo. mundo. Ela agregase
agregase à ciência criando a
tecnociência,
tecnociênci a, o araut
arauto o supremo d daa era moderna, transmutandose em
operador privilegiado da potência do racional e do dispositivo
(iarraisonement, Gestell) 
Gestell) heideggeriano.
heideggeriano.
A máquina aparece como o objeto central de um culto novo,
 pre
 p rese
senn te
te,, h o je e m d iaia,, n a fe
f e b re e fa
fasc
scin
inaa çã
çãoo p elas
el as n ov
ovasas te
tecn
cno o lo
logi
gias
as..
Essa nova religião (Spengler) estrutura estruturase
se em pleno século X XIX,
IX, am
ama-a-
durecendo plenam ente no século século XX. O soci social
al tom ase transparente
 pee la g e st
 p stãã o tetecn
cnoo c rá
ráti
ticc a , a n a tu
ture
rezz a é li
lid
d a e tr
traa d u z id
idaa p e lo
loss o lh
lhos
os
implacáveis da ciência, a com
comunicação
unicação tomase instantânea e planetá-
ria na troca sem ruído de informações. Aqui aparece um outro mito

52 CIBERCUL
CIBERCULTURA,
TURA, TECNOLOGIA E VIDA SOCI
SOCIAL
AL NA CULTURA CONTEMPORÂNE
CONTEM PORÂNEA
A•
 

supremo da modernidade: a transparência (social, comunicacional,

 pto,
 poo lí
lític
ticaa ), c o m oauscultado
analisado, m o stro
st rouu msob
uito
ui toa bimparcialidade
e m G. Vattim
Va ttimo8o80
0. Trazão.
da u d o dÉe veste
e ser
se rovin-
is-
is -
tuito da técnica universal e do conhecimento
conhecim ento científ
científico.
ico. Este
E ste é neutro,
tendo como objetivo eliminar os epifenômenos do espírito (o imagi-
nário, o mito, a religião),
religião), a escória sensorial
sensorial que dificulta
d ificulta o desenvol-
desen vol-
vimento
vimen to livre da razão. A máquina
m áquina (indust
(industrial
rial,, info
informá
rmática)
tica) é o objeto
de culto central nesta religião
religião moderna (Spengler e Weber). Weber). Para MiguelM iguel
e Ménard, o que surge surge nessa modernidade tecnológica
tecnológica é a estruturação
do mundo
m undo pela potência do racional racional.. NãoN ão é por acaso que W Weber
eber de-
fi
fine
ne a técnica
técnica moderna
m oderna como a colocação de meios orientados in
tencionalmente e metodicamente em fun çã o de experiê experiências,
ncias, ref
refle
le
 xões
 xõ es,, e - p a ss
ssaa n d o p e la ra
raci
cio
o na
nali
lida
dade
de em se
seuu m a is a lt
ltoo g ra u - de 
consideração científica  ”81.
A modernidade é o esti estilolo de uma época produzido pela decom decom- -
 poo s içã
 p iç ã o d a raz
ra z ã o s u b s tan
ta n ti
tivv a , tí
típp ica
ic a d a s c o n c e p ç õ e s reli
re ligg ios
io s a s e
metafísi
me tafísicas
cas do mundo,
m undo, por uma razão instrumental, positiva, signifi-
cando que as concepções
concepçõ es e dogmas dogm as religiosos
religiosos não são mais ma is legítimos
legítimos
com
como o ernidade
fundamento
fundam ento
a modernidade
mod explicativo
é, para Habermas, da vida soci
social8
al822. 0 que
a independência e avai caracterizar
caracteriza
autonomia
au tonomia es-r
 pee cí
 p cífi
fica
ca pró
pr ó p ria
ri a s às esf
e sfer
eraa s da
d a ciê
c iênc
nciaia,, ddaa mor
m oral
al,, ddaa re
r e lig
li g iã
iãoo e d a arte
ar te..
Estas esferas passam a ser institucionali institucionalizadas, zadas, traduzidas
traduz idas por po r um dis-d is-
curso de segunda
segun da ordem que as indivi individuali
dualizam
zam e as decompõem.
decompõem . A
racionalidade formulada no século XVIII deprecia as tradições im-
 pul
 p ulsi
sioo n a n d o um
u m a tran
tra n sfo
sf o rmaç
rm açãoão rac
r acio
ionn al e radi
ra dica
call da
dass con
co n d içõ
iç õ e s soc
s oci-
i-
ais de existência.
existência. Com o explica Habermas, o processo de d e racionaliza-
ção “da cultura oc ocidental
idental significa
significa que os set setores
ores,, de ag agoraora eem md dian
ian
te tratados por especialistas (a ciência, a moral, a arte), tomam-se  
autônom os e rompem suas ligaçõ ligações es com corrent
correntes es da tradição  ”83.
Habermas vai mostrar como a ciência ciência e a tecnologia vão se cons-
tituir em ideologias
ideo logias na modernidade. Ciência C iência e técnica, enquanto enqu anto dis-
cursos de segunda
segu nda ordem (ideológica),
(ideológica), alimentam uma um a esperança
esperanç a des des
mesurada no controle das forças naturais, na administração racional
da socied
so ciedade ade (Freyer8
(Frey er844), no progresso
progre sso científico
científic o e tecnológic
tecno lógico, o, na
n a in-
gerência de tecnocratas
tecnocra tas especial
especialistas
istas e no desenvolvime
desenv olvimento nto do indiví-
duo autônomo. Aqui, a razão instrumental leva ao individualismo
(Dum
(D umont8
ont855). Pela prim eira vez na história
h istória da hum
humanida
anidade,
de, a técnica
técn ica se
ergue como
com o um valor e se impõe como força simbólica e mítica. mítica. A•
A•

• ANDRÉ LEMOS
EMOS 53
 

mo dernidade tecnológica, apo


modernidade apoiandose
iandose na
na produção e na organização
tecnocrática dos modos
m odos de vida, torna
tornase
se ela mesma terreno de novas
mitologias. Embora a nossa sociedade menospreze o simbólico, ela
elege a máquina
má quina com
comoo um símbolo
símbolo mágico
m ágico e místico.
místico.
Jacques
Jacqu es Ellul propõe o conceito de sistema técnico para cara
carac-
c-
terizar o conjunto da técnica moderna. Para o pensador francês, o
sistema técnico formaria um dispositivo automático, um fenômeno
total e universal. Por ser autônomo e cego aos valores subjetivos, o
sistema técnico teria
teria quatro característ
características:
icas: modificação
mo dificação ininterrupta
de elementosque
tecnocrático queajusta
transformam a configuração
os aspectos de vida social, do sistema,
os domíniosum todo da
vida social estão sob o domínio da técnica; o sistema não aceita ne-
nhumaa realimentação
nhum realimentaçã o e funciona a partir partir de sua lógica interna. interna. A par-
tir destas características, alguns valores fundam o sistema técnico:
unidade (forma um conjunto homogêneo), universalidade (indiferente
aos detalhes culturais),
culturais), acumulação
acu mulação (inclui todos todos os aspectos da exis- ex is-
tência), e a autonomia (lógica interna hegemônica sobre outras). Na
modernidade,, criase
modernidade criase uma
um a tecnocultura
tecnocultura como um fenôm eno técnico técnico
expandindose
expand indose para todos os domínios da vida social, social, sendo a preocu- p reocu-
 paa ção
 p çã o pri
p rinn ci
cipa
pall “pro
procur
curarar em todas as coisas o método abso absolutam
lutamen en
te mais eficiente  ”86.
O progresso técnico é, daqui em diante, indiscutível, e não há
escolha entre dois métodos técnicos. É a eficiência maximizada ao
extremo
extr emo que a determina
determina sendo que a idéia idéia do progresso nunca é ob-
 jeto
 je to de dis
d iscucussssão
ão.. A fala
fa la téc
t écni
nica
ca se
s e im
impõ
põee sob
s obrere fa
f a las
la s ddee out
o utra
rass ord
o rden
enss
 j jáá que,
qu e, com
co m o ad a d vent
ve ntoo da
d a mod
m odererni
nida
dade
de,, en
e n tra
tr a m os n u m a fasefa se d a ev
e v o lu-
lu -
ção histórica de eliminação de tudo o que não é técnico, sendo o
desafio da modernidade um desafio técnico. O progresso técnico,
irreversível e em progressão
prog ressão geométrica,
geom étrica, é a lei
lei simbólica principal do
imaginário tecnológico
tec nológico moderno. De acordo com Hans H ans Freyer, a ppla la
nificação é o modo m odo de consumir
con sumir a história
história e o progresso, sua própria
 per
 p erso
sonn if
ific
icaa ç ã o . E s ta é a pala
pa lavv ra m ágic
ág icaa da époc
ép oca.
a. A “ad
“a d m inis
in istr
traa çã
çãoo
das coisas”,
coisas ”, como propõe Freyer, Freyer, espalhase
espalhase por todo o campo
cam po social
sob a responsabilidade
responsab ilidade do especialista técnico técnico..

A técnica tornase
ças econômicas o instrumento
e do progresso do desenvolvimento
da cultura das for-
faustiana (Spengler). O
simbolismo da técnica moderna encontrase na potência do artefato
comoo instrumento
com instrumen to legítimo de dessacralização
dessacralização da naturezá, transfor

54 CIBERCU
CIBERCULTUR
LTURA,
A, TECNOLOGI
TECNOLOGIA
A E VIDA
VIDA SOCIA
SOCIALL NA CULTURA CONTEM
CONTEMPORÂNE
PORÂNEA
A•
 

mando paradoxalmente a técnica técnica num totem sagrado,


sagrado, num Deus su-
 prem
 pre m o d a sociedade.
socieda de. Com
Co m o diz Spengler, com
co m o adve
ad vento
nto d o racion
rac ionalis
alismmo
moderno, “a técnica é eterna e imortal, como Deus Pai. Ela traz a  
salvação da Humanidade como Deus Filho, e ela nos ilumina como  
 Deu
 D euss Es
Espí
píri
rito
to San
Santo.
to. E sua
su a ado
adora
raçã
çãoo é o sn
snoo b pr
prog
ogre
ress
ssis
ista
ta d
doo s te
tem po s  
m pos
m o d e rn
rnoo s”*1.
G. Hottoi
H ottoiss vai levar mais longe as teses de Ellul
E llul mostrando
mostrand o que
a técnica moderna não é uma um a ferramenta
ferramenta de mediação
m ediação entre nós e o
mundo mas,
m as, de maneira
m aneira mais
mais radical,
radical, um instrumento
instrumento de imposição da
ordem cultural (o artifício)
artifício) sobre o ambiente
am biente natural, substituindoo.
substituindoo.
Para Hottois, o verdadeiro idioma da técnica é o cálculo, a ma manipula-
nipula-
ção de forma operati
operativa.
va. A ciência não só é um domínio
dom ínio teórico mas,
também, revestese
reve stese de uma natureza ttécnica.
écnica. É nesse casamento
casam ento que
surge o termo tecnociência, “ cuja técnica constitui o   'meio natural'  
de desen
de senvo
volvim
lvimen
ento
to e também
tam bém o pr
princ
incípio
ípio m oto
otor”
r”*
**.
Agindo deste modo, a técnica afasta o homem de sua perma-
nência simbólica no universo.
universo. Toda a experiência
experiência da realidade
rea lidade tomou
tomo u
se tecnológica. Para Hottoi
H ottoiss a mediação técnica substitui a experiên-
cia,
cia, afastando o homem
hom em do simbólico.
simbólico. Diferenciando
Diferenciando a ação simbólica
da ação tecnológica, Hottoi
H ottoiss afirma que “o símbolo não rompe a pa i
sagem, não consome a florest
sagem, floresta,
a, não manipula o se
serr vivo;
vivo; ele dá sen
s en
tido, organiza, finaliza ”89. A especificidade da técnica contemporâ-
nea estaria na constituição de um meio, de um sistema, de um reino
isolado das outras esferas da cultura, a formação
formaçã o de uma
um a tecnocultura.
Hottois usa o termo reino para evocar
evo car “o dinamismo ded e crescimento 
crescimento

totalitário
totalitário e de proliferação univeruniversal
sal,, a autono
autonomia mia e relati
relativa
va ind
indee
 pe ndên
 pend êncc ia,
ia , e n fim a g ra
rann de co
conc
ncre
retu
tud
d e da
d a té ni c a ,,,,9°. O reino da téc-
técc nic téc-
nica seria,
seria, então, estrangeiro ao humano, reinado cultural e simbóli-
co, onde o humano se tomaria um instrumento do desenvolvimento
técnico991. Entretanto, se a atividade técnica
técnico técnic a está imbricad
im bricadaa na em e m er-
gência
gênc ia da linguagem
linguagem,, toda atividade
atividade técnica é umaum a atividade simbóli-
sim bóli-
ca92 já que existe “ linguagem desde que existe técnica e, assim, a 
atividade técnica e a atividade simbólica são indiss ociáveis.... ”93.
indissociáveis..
É a construção de Centros de Pesquisa e Desenvolvimento
(P&D),
(P&D ), na segunda metade
m etade do século
século XX, que finaliza o processo de
cientifização da d a técnica e de tecnicização da ciência,
ciênc ia, até então inédito
inédito..
A ciência é estimulada, daqui em diante, pelo Estado, e a relação sa sa
 ber
 be rpp ode
od e r baco
ba coni
nian
ana,
a, def
d efin
init
itiv
ivam
amen
ente
te selad
se lada.
a. A raci
ra cioo nali
na lida
dade
de cien
c ientíf
tífi
i

• ANDRÉ LE
LEMOS
MOS | 5 5
 
cotecnológica toma se instinstrumento
rumento de m odernização da sociedade,
sendo a racionalidade
racionalidade determinante para o modelo de desenvolvimen
desenvo lvimen- -
to moderno. Esta nova estrutura social, a tecnocultura, vai estabele-
cer um pod
poderer uunidimensionalizante
nidimensionalizante (Ma
(Marcuse9
rcuse94), onde a orga
organização
nização
de trabalho é pensada em e m termos de divisão de tarefas e da otimização
otimizaçã o
do tempo (taylori
(taylorismo,
smo, fordismo). O trabalho hum ano é ligado ao rit-
mo da indús
indústri
tria,
a, onde a velocidade das máquinas determina o tempo e
os movimentos do trabalhador.
O p aradigma eletricidade/
eletricidade/petról
petróleo,
eo, m otor elétri
elétrico
co e quím ica
de síntese do fim do século XIX muda, depois do Segunda Guerra
Mundial, para um novo paradiparadigma:
gma: en
energia
ergia n
nuclear
uclear,, informática, en
en--
genharia
genh aria genética. Este novo sistema técnico vai afetar a vida quoti-
diana de forma radiradical
cal com a for
formação
mação e planetarização da socieda-
de de consumo e do espetáculo. Este é o pano de fundo para o
surgimento da cibercultura.
• • •

O desenvolvimento tecnológico, como vimos, sempre esteve


imerso no imaginário social.
social. Podem
Podemos os pensar a históri
históriaa do desen
desenvol-
vol-
vimento tecnológico
tecno lógico em três grandes fase
fases:
s: a fase d
dee ind
indiferença
iferença (até
a Idade Média), a fase do confort
conforto o (modernidade) e a fase da ubiqui-
dade (pósmodernidade).
A primeira
prim eira fase é carac
caracterizada
terizada pela mistura entre arte, religião,
religião,
ciência e mito. A vida social
social é um todo coerente
coerente que g ira em tom o de
um universo
un iverso sagra
sagrado.
do. A técnica e a ciência não têm um estatuto privi-
p rivi-

legiado porque estão imersas na dimensão global. global. N esta fase, o olhar
em relação à técnica está próximo da indif
indiferenç
erença.a. A técnica não é uma
realidadee em si
realidad si,, independ
independente
ente das outras esfer
esferas
as da cultura.
A fase do conforto é localizada
localizada no princípio
princípio de m odernidade.
A na tureza é dessacralizada, control
controlada,
ada, explorada e transfor
transformada.
mada.
A mente
men te está separada do corpo. A razão tornase ind epen dente e é,
daqui em diante, a norm a que dirige
dirige o progress
progresso o das condições ma -
teriais de existência. A ciência
ciênc ia substi
substitui
tui a religião no m ono pólio da
verdade, e a tecnologia faz do homem um Deus na administração
racional do mundo. A cidade é o resultado do planejam ento urba urbanís-
nís-
ti
tico
co onde a tecnosfera prevalece sobre a ecosfe
ecosfera.
ra. A dime
dimensão
nsão soci
socio
o
técnica
técni ca dom ina o oikos   (Morin). Aqui, o olhar sobre a técnica é o
olhar do tecnoc rata que, em uma mistura de coragem e fascinação,
explora, dom ina, territorializa o espaço
espaço e o tempo. A m odern idade é
56 | CIB
CIBERCUL
ERCULTURA,
TURA, TECNOLOGIA E VIDA SOCI
SOCIAL
AL NA CULTURA CONTEMPORÂNE
CONTEMPO RÂNEA
A•
 

a fase da ideo logia em substituição


substituição à do mito, sendo a ideologia um
discurso que atua como promessa de transformação e controle da
vida social.
social. Poderiamos d izer que essa
essa é a fase do co nforto (domí-
nio da natureza) e de preparação do futuro. A modernidade
tecno lógica foi estrut
estruturada
urada pela mistura de conv icções e sonhos na
força racional do homem, na conquista do espaço, no progresso
tecnológico e científico,
científico, n
naa urbanização e na util
utilização
ização intensiva em
energia.
M as o pesadelo tomou o lugar do sonho prometéico:
prometéico: polui
poluição,
ção,
desigualdades sociais, econômicas e políticas, caos urbanos, violên-
cia, drogas,
drog as, eetc.
tc. Jean G rimp el9
el95
5 m ostra bem ess e fim d o futuro
tecnológico moderno.
m oderno. A fase da ubiqii
ubiqiiidade
idade pósm ode
odemm a, ou fase da
comunicação
com unicação e da informação
informação digi
digital
tal,, corresponde à conclusão da fase
do conforto (a natureza é agora controlável) e ao surgimento da
tecnologia digital permitindo escapar do tempo linear e do espaço

geográfico. Entram em jogo a telepresença, os mundos virtuais, o


tempo instantâneo, a abolição do espaço físico, em suma, todos os
 pode
 po dereress de tr traa n sc
scee n d ê n c ia e d e c ontr
on tro
o le sim
si m b ó li
licc o d o e sp
spaa ç o e do
tempo. Virilio
Virilio mostra bem a necessidade de um pensam ento m míst
ístico
ico
 paa ra d a r cco
 p o n ta da
dass no
novavass a ngús
ng ústia
tiass ca
caus
usaa da
dass p e la
lass n o va
vass te
tecn
cnoo lo
logg ias
ia s
digitais: “Aí   referências místicas são as únicas que permitem com
 prr e e n d e r as tele-
 p tel e-te
tecn
cnololog
ogiaias,
s, já
j á qu
quee toca
to camm a ubiq
ub iqiiiiiida
dade
de,, a o imed
im ediaia
to, ao instantâneo, a omnividência, que q ue são atributo divin o e não  
atr ibutoss do divino
do humano  ”96.
Esta última
ú ltima fase é a fase da ubiquidade, a fase da sim simulação,
ulação, a
fase da cibercultura. As ideologias da modernidade perdem forças e
são substituídas pela ênfase no presente, numa sociedade cada vez
mais refratária às falas futurist futuristas,as, cada vez m mais
ais subm
submergida
ergida em jogo s
de linguagem. Estamos no vácuo espaçotemporal que alguns cha-
mam de fim da História. Vamos analisar agora esta nova dinâmica
cultural que se instaura no século XX a fi fim
m de desc
descrever
rever o enraizame
enraizamento nto
social da cibercultura.
cibercultura.••
• ANDRÉ LEMOS
LEMOS | 5 7
 

Notas

13 Ver Gille
Gille,, B. Histoi
Histoires
res des Techniques. Paris, Pléiade: 197
1978.
8.
14 A Geraç3o X é aquela que nasce nos anos 70. Veja o excelente Copland, D.
Génération X. Paris: Robe
Robert rt Laffont, 19
1991
91.. A geração Y é aquela dos teen dos anos 90, que
tem por hábito ser fort
fortee consumidora de entret
entretenimento
enimento e dos produtos da era da
d a informa-
ção. Na América já existe o rótulo dela ser a geração do Teenspoliation, neologismo de
teen e spoliation, ou a geração da exploração dos adolescentes.
15 Ver Heidegger, M. La Question de Ia Technique. in: Essais et Conférences. Pa-
ris: Gallimard, 1958.
16 Partindo das premissas de Platão e Aristóteles, Heidegger vai mostra que a
 poièsis
 poiè sis é um pro
proces
cesso
so de produ
produção:
ção: uma flor que nasce rev
revela
ela um pr
proc
oces
esso
so poi
poièti
ètico,
co, da
mesma forma em que a construção de uma mesa. No entanto esta exige a presença de uma
inteligência externa, de um demiurgos que imite aquilo que a natureza faz por ela mesma.
17 Arte aqui não significa uma atividade à parte, ligada ao prazer estético como
compreendemos hoje.
18 Stiegler, B. La Technique et le Temps. 1. La Faute d’Epiméthée. Paris: Galilée,
1994.
19 Ar
Aristo
istote
te U Et
Ethiq
hique
ue à Nicom
Nicomanque
anque.. Paris: J. VrVrin,
in, 199
1990.
0.
20 Platão mostra a dicotomia entre o homem e a técnica, entre o inteligível e o
sensível, entre alma e corpo. Ve
Verr Platon, P h èd re , Paris, GarnierFla
GarnierFlamma
mmaríon,
ríon, Paris, 19
1989
89..
21 Em Platão, o tema da técnica aparece em várias obras (Banquete, Fedro, Timeu,

Política, República) onde aquela é tributária de simulacros, uma imitação da natureza.


Segundo Goffi, a filosofia da técnica em Platão comporta trê trêss aspectos: um antropológico,
um ontológico e um outro
outro avali
avaliativo
ativo.. Em seu S ofi sta , Pl
Platão
atão vavaii dividir a tecknè como
arte de produção (seres artificiais) e de aquisição (apropriação da natureza).Ver, Goffi, JP.
La Philosophie de la Technique. Paris: P.U.F. 1988.
22 Aristote. Physique. Paris: Belles Lettres, livre 2, 1990.
23 As quatro causas são: material, formal, eficiente e final. Ver Aristote.
Métaphysique. Paris: Librairie Philosophique Jean Vrin, 1991.
24 N a L’
L’étique
étique à Nicomanque Arist
Aristóteles
óteles va
vaii distinguir a technè da épistèmé, onde
as diferenças entre o artificial e o natural são valorizadas. Ver Aristote. L’Ethique à
 Nicom
 Ni comanq
anque.
ue. op.
op.cit
cit.. ca
capít
pítulo
uloss 3 e 4.
25 Ver Hooykaas, R. A Religião e o Nascimento da Ciência Moderna Moderna.. Brasíli
Brasília:
a:
Polis, 1988.
26 Ver LeroiGourhan, A. L’Evolut L’Evolution
ion des Techniques: Tome II:: Ho
Hommmmee et la
Matière. et Tome
Tom e II: Milieu et Te Technique.
chnique. Paris: Albin Michel, 19431971
19431971.. Ver também Le
Geste et la Parole. Paris: Albin Michel, 1964.
27 Stiegler, B. op.cit. p.64.
28 Stiegler, B. op.cit. p.145.
29 Stiegler, B. op.cit. p.152.

58   | CIBERCU
CIBERCULTUR
LTURA,
A, TECNOLOGIA
TECNOLOGIA E VIDA SOCIAL
SOCIAL NA
N A CULTURA CONTEMPOR
CONTE MPORÂNEA
ÂNEA •
 

30 LeroiGourhan, A. Le Geste et la Parole, op.cit.


op.cit. p. 34.
31 Stiegler, B. op.cit. p.162.
32 Simondon, G. op.cit. pp.910.
33 Bergson, H. L'Evolution Créatrice. in: Oeuvres. Paris: P.U.F, 1939.
34 Bergson, H. Deux Sources de la Morale et de la Religion. in: Oeuvres, op.cit.
 p.1238
 p.1 238..
35 É interessante
râneos guardam interess
umaantecarga notar
dessequedesejo
não é de
poraproximar
um acaso figura
que os eobjetos
fundo técnicos contempo-
pela estetização. O
design nada mais é do que essa tentativa tentativa de introduzir
introduzir o belo em objetos criados em indús-
trias,
trias, como um resgate de alguma qualidad qualidadee perdida naquilo que é marcado pela quantida-
de. A cibercultura nos dá exemplos desse prazer estético instaurado nos objetos técnicos
microeletrôni
microel etrônicos.
cos. A magia do tempo real, real, a supressão
supressão de fronteiras
fronteiras físicas e geográficas
 propo
 pro porci
rcion
onado
adoss pel
p eloo cibe
c iberes
respaç
paço, o, a danç
d ançaa e músic
mú sicaa tribal
trib al e mini
mi nima
malis
lista
ta das
d as ci
ciber
berra
rave
ves,
s, as
criaturas virtuais de mundos artificiais em três dimensões, só para citar alguns, atestam a
 busc
 bu scaa em fund
fu ndar
ar um espa
es paço
ço mágico
mág ico perdido.
perd ido. As novas
nova s tecnol
tec nologi
ogias
as parece
par ecemm possibil
pos sibilitar
itar,,
 porr at
 po atua
uarr n es
essa
sa in
inte
terf
rfac
acee entr
en tree a figu
fi gura
ra e o fu
fund
ndo,
o, entr
en tree o té
técn
cnic
icoo e o rereli
ligi
gios
oso,
o, es
essa
sa
reaproximação. Ver Maffesoli, M. La Contemplation du Monde. Figures du Style
Communautaires. Paris: Grasset, 1993.
36 Simondon, G. op.cit. p.160.
37 Ver
Ver Huizinga,
Huizi nga, L’Homo Ludens. Paris: Gallimard Gall imard,, 1931
1931 e Gliade,
Gliade, M. Le Sacré
et le Profane. Paris: Gallimard, 1965.
38 Eliade, M. op.cit.
39 Ver Simmel, G. Philosophie de la Modemité. Modem ité. Paris:
Paris: Payot, 1990
1990..
40 Negroponte.
Negrop onte. N. L’Homme
L’Homme Numérique. Paris: Fayard, 1995 1995..
41 Ver Heidegger,
Heidegger, M . , op.ci op.cit.
t.
42 Ver Heidegger, M. op.cit.
43 Gravado
Gra vado pelo autor auto r em emissão da televisão francesafrancesa ARTE,
AR TE, em 1994 1994..
44 A separação entre a técnica e a arte na modernidade é muito interessante e
tornase mesmo
mesm o sintom
sintomática
ática desse estado de coisas. Ver Ver Ladrière,
Ladrière , J. Les Enjeux de la
Rationalité. Paris: Aubier, 1977.
45 Gravado pelo autor na televisão francoalemã (ARTE), em Paris em 1995
46 Gravado pelo autor na televisão francoalemã (ARTE), em Paris em 1995.
47 Stiegler,
S tiegler, B . , op.cit.
op.cit. p. 102.
02.
48 Gille, Bretrand. Histoires des Techniques.
Techniques. Paris: Pléiade, 1978
1978..
49 Gille, B. op.cit.p.127.
50 Ver Eliade, Mircea. Le Sacré et le Profane, op.cit.
51 Miguel, C. e Ménard, G. La Ruse de la Technique. Les Symbolisme de la
Technique à Travers VHistoire. Paris: Méridiens, 1988.
52 Ver Brun, J. Les Masques du Désir. Paris: Buchet/Chastel, 1981
53 Ver Ellul, J.
J. Le Système Technicien.
Technicien. Paris: CalmannLévy, 1977. 1977. e Mauss,
Maus s, M.
Sociologie et Anthropologie. Paris: PUF, 1962.
54 Como veremos adiante, as novas tecnologias com noções como tempo real e
ciberespaço vão manter toda essa carga mágica. Com a cibercultura, a técnica estará, tal-
vez, empreendendo um retorno paradoxal à magia dos tempos ancestrais, já que em todas
as suas formas de expressão
expressã o ela guarda esta característica
característica mágicosimbólica.
mágicosim bólica. A cibercultura
 parec
 pa recee ser
se r ass
a ssim
im uma
um a atuali
atu alizaç
zação
ão dessa
des sa relação
rela ção mágic
má gicor
oreli
eligio
giosa
sa que
q ue carac
ca racte
teriz
rizou
ou a técni
técn i••

• ANDRÉ LEMOS
EMOS 59
 

ca primitiva. Como afirma brilhantemente J. Ellul: “notre adoration de la technique est une
dérivation de
d e cette ances
ancestrale
trale adoration de 1 1’homme
’homme vis à vis du car caractère
actère mystérieux et
merveilleux
merv eilleux de 1 1’’oeuv
oeuvre
re de ses ma
mains”
ins”.. in Ellul, J. op.cit. 1968
1968,, p.24.
55 Voir Gille, B. op.cit.
56 Spengler, Mauss e LeroiGourhan seguem a perspectiva oigânica de Aristóteles.

Em Spengler, a técnica é uma “ta


“tactique
ctique de la vie” . V
Ver
er,, Spengler,
Spengler, O. UH om
omme
me et la Technique.
Paris: Gallimard, 1958
1958.;
.; Mauss, M. Les Techniques et la Technologie. In: Sociologi Sociologiee eett
Anthropolog
Anthr opologie.
ie. Paris: P.
P.U.
U.F.
F. 1948.; et LeroiGourhan, A. Le GestGestee et la Parole... op.cit.
57 Sobre a ciência grega ver E. E.R.Lloyd,
R.Lloyd, G. Une Histoire de la Science Grecque.
Paris: La Découverte, 1990.
58 Vemant, JPJP.. Mythe et Société en Grèce Ancienne. Pa Paris:
ris: La Découverte, 19
1974
74..
59 As inovações gregas pertencem, nessa época, a quatro domínios principais: o
transporte (portuário e naval), a guerra e os armamentos, as máquinas hidráulicas e as artes,
incluindo aí a arquitetura, a escultura, a cerâmica e, principalmente, as máquinas maravilho-
sas, os “tha
“thaumat
umatas”
as”,, máquinas sem grande uti utilidade,
lidade, ancestrais dos autômatos. Segundo
Miguel , “aux machine
machiness techniques lesles grecques
grecques semblent avoir préférer les thaumatas,
machines merveilleuses et merveilleusement inutiles...” . Miguel et Ménard, op.cit. p.89.
60 Gille, B. op.cit. p.42122.
61 Daumas, M. Histoire Générale des Techniques. Paris: P.U.E 19621979.
62 Gille, B. op.cit. p.382.
63 Gille, B. op.cit. et Daumas, M. op.cit.
64 Idem, p.520.
65 Idem, p.167.
66 Miguel et Ménard, op.cit. p.142.
67 Gille, B. op.cit. p.663.
68 Miguel et Ménard, op.cit.p.187.
69 Baco
Bacon,
n, F. Nov
Novun
un Organun. Paris: P.U
P.U.F
.F.. 198
1986.
6.
70 Descarte
Desc artes,
s, R. Disco
Discours
urs de la Métho
Méthode.
de. Paris: 101
1018,
8, 195
1951.
1.
71 Lima
Li ma Vaz
Vaz,, H. Religião e Modernidad
Modernidadee Filosofíca. ISER, Petrópolis: 19
1990
90..
72 Daumas, M. op.cit.
73 Gille, B. op.cit.p.689.
74 Idem, p.691.
75 Spengler, O. op.cit. 1958, p.33.
76 Goffi, op.cit. p.103.
77 A racionalidade instrumental é, nesta perspectiva, a adequação de processos
(meios) na procura do aumento da eficiência econômica e técnica fina
finall do processo. Quan-

do a racionalidade é meramente formal e separada do processo social entramos no terreno


da tecnocracia, no coração da tecnocultura. A racionalidade, como adequação de meios
 para
 pa ra fi
fins
ns de
dete
term
rm in
inad
ad os sem pr
preo
eocu
cupa
paçã
çãoo in
inere
erente
nte em re
rela
laçã
çãoo ao
aoss ef
efee it
itoo s gl
glob
obai
ais,
s, é o
 pa radigm
 parad igmaa d a ra
razão
zão tec
tecno
nocie
cientí
ntífic
ficaa na mod
modern
ernidad
idade.
e. A cr
crise
ise d a ra
razão
zão mo
mode
derna
rna apa
aparec
recee
nos efeitos negativos da tecnologia no homem e no seu ambiente. Esta crise, posta em
evidência a partir
parti r da ssegunda
egunda guerra mundial, coloca em xeque as premissas da d a modernidade.
78 Ver Habermas, H. Técnica e Ciência enquanto ideologia. Coleção os Pensado-
res, SP: Abril, 1980.
79 Miguel et Ménard, op.cit.p.232.
80 Vattimo, G. La Société Trasparente. Bruxelas. Desclée de Brouwer, 1990.

60 CIBERCU
CIBERCULTUR
LTURA,
A, TECNOLOGI
TECNOLOGIA
A E VIDA
VIDA SOC
SOCIAL
IAL NA CULTURA CONTEMPORÂNEA
CONTEMPOR ÂNEA •
 

81 Weber, M. Econom
Econ omie
ie et Société. Pa
Paris:
ris: Plon, 1971, p.63.
82 Ver
Ver Latour, Bruno. Jamais
Jamai s Fomos Modernos. Rio Ri o de Janeiro
Janeiro:: Ed. 34, 1997
1997..
83 Habermas, J. La Modemité: un Projet Inachevé. In: Critique,
Criti que, n° 413, Paris:
Minuit, p. 95859.
84 Ver Freyer, Hans. Teoria da época atual, Rio de Janeiro: Zahar, 1965.
85 Ver Dumond, L. O Individualismo. Uma perspectiva antropológica da ideologia
moderna. Rio de Janeiro: Rocco, 1985.
86 Ellul, J. A Técnica e o desafio do século. Rio de Janeiro: P Paz
az e Terra, 19
1968
68..
87 Spengler, O. op.cit. p.148.
88 Hottois, G. Le Signe de Ia Technique. La Philosophie à 1’Epreuve de la
Technique. Paris: Aubier, 1984. p.60.
89 Idem, p.73.
90 Idem, p.122.
91 Entretanto, vimos no começo desse livro que a técnica
técnica é acima ddee tudo sim
simbóli-
bóli-
ca.
ca. Miguel e Ménard mostraram
m ostraram como o meio técnico é a expressão do sim simbólico
bólico e, como
 po rtador
 porta dores
es ddee hierof
hie rofani
anias,
as, os obj
objeto
etoss técnico
téc nicoss são ritu
rituali
alizad
zados
os na vida
vi da quo
quotid
tidian
iana.
a. A técni-
téc ni-
ca não está isolada do mundo
m undo simbólico.
simbólico. É a partir dos microrit
microrituais
uais coletivos de regenera-
ção do sagrado que qu e os diversos objetos técnicos
técnicos contemporâneo
contemporâneoss podem revelar todo o seu
 potenc
 pot encial
ial de hierof
hie rofani
ania.
a. Ma
Mas,s, pa
para
ra Ho
Hottois
ttois,, a téc
técnic
nicaa nã
nãoo ser
seria
ia inf
influe
luenc
nciad
iadaa pe
pelala ord
ordem
em
simbólica na medida em que o tecnocosmos teria a tendência à globalização, ao universal universal..
92 Hottois, G. op. cit.
93 Stiegler, B. op.cit. p.174.
94 Marcuse, H. LUomme Unidimensionnel. Paris: Les Editions du Minuit, 1968.
95 Grimel,
Grim el, Jean. La L a fin de 1'aven
1'avenir.
ir. Le Déclin Technologique et la crisecris e de 11'Occid
'Occident.
ent.
Paris: Seuil, 1992.
96 Virilio, Paul. Rat de Laboratoire. In:
In: L’
L’Autre
Autre Journal. Paris:
P aris: n°27
n°27,, p.32
p.32..•

• ANDRÉ LEMO
LEMOS
S   61
 

Pa r t e   II
 _•• A vid
 _ vidaa  socia
social
lcc o n tem
te m p o rân
râ n e a

C apítulo  I
C o n d i ç ã o   p ó s -m o d e r n a   e  c i b e r c u l t u r a

A idéia de modernidade, como vimos, está ligada ao próprio


nascimento
nascimen to da fil
filosofia
osofia ocident
ocidental.
al. Modernidade
Mod ernidade significa um modo
de p ensar e julg ar o te
tempo.
mpo. O nascimento da razão filosófi
filosófica
ca na
nass
ilhas Jônicas no século V a.C. impôs uma outra maneira de enten-
dermoss e apreenderm os a experiência temporal e, consequen
dermo con sequentemen
temen -
te, espac
espacial.
ial. O nascim ento da razão filosófica, do logos como centro
simbólico da civilização grega, é a possibilidade de um a revolução
na represen
repre sentação
tação do tem po9 po97 7. A dimensão
dime nsão ffilosófic
ilosóficaa do p presen
resentete é,
daqui em diante, o lugar luga r pri
privilegi
vilegiado
ado para en entender
tender e julg ar o passapassa- -
do, preparando o futuro.
A modernidade é uma m aneira aneira de estar no temp tempo o e no espa
espaço,
ço,
vivida de forma
form a diferente pelas civilizações
civilizações mítmíticas
icas tradicionais. O sim-
 bo
 b o li
lism
sm o d
doom
mito
ito,, eem
m ssua
ua e st
stru
rutu
tura
ra re
repe
petit
titiv
iva,
a, p
pee rd
rdee , cco
om o nnaa sc
scim
im e n -
to da razão filosófica,
filosófica, a sua dignidade como princípio legitimado
legitim adorr e
mobilizad
mo bilizador
or da socieda
sociedade de (Bartholo Jr
Jr.9
.98
8). Se a m ode
odernida
rnidade
de é uum
m
conceito
conce ito filos
filosófico,
ófico, sua pregnância se dá a partir do século X XIX,
IX, ana-
lisada poeticam
poe ticamente
ente po
porr Baudelaire99na sua descriç
d escrição
ão flan
flaneurística
eurística d
daa
sociedade industrial, e sociologicamente por Weber,Weber, na sua análise da
m od
odern
ernida
idade
de bu
buro
rocr
crát
átic
ica1
a10
00.
Max Weber defi definene a modernidade como o p rocesso de racio-
nalização da vida
v ida socia
sociall no término do século X VII. E ste processo

abriu as vias para a industrialização e a modernização global do


Ocidente, sendo um processo p rocesso gl global,
obal, iintegrando
ntegrando a econo m ia capita-
lista, o Estado Nação, a administração científica do trabalho e da
 prr o d u ç ã o , o d e se
 p senn v o lv
lvim
im e n to in
indd u st
stri
riaa l e te
tecc n o ló
lógg ic
icoo . S ã o c ri
riaa d a s,
na sinergia de racionalidade e emancipação, as condições de uma
administração racional da vida social. Devese depreciar as tradi-
ções, gerando um a transformação radical das das condições de existên-
cia.
ci a. A m odernidade é inexoravelmente ut utópica,
ópica, alimentando
alimen tando a espe-
rança (crença?) no contr controle,
ole, domínio e dom esticação racional, cien-
tífica e técn ica das fo forças
rças n
natura
aturais,
is, com o afirm a H Habab er
ermm as1
as 101.
Habermas, contudo, não rejeita a modernidade. Ele pretende• pretende •

• ANDRÉ LEM
LEMOS 65
 

corrigir os rumos do racionalismo


racionalismo moderno,
m oderno, aceitando
aceitando as críticas
críticas de
W
(l eberrepressivo
(lado
ado (burocratização
(buro cratização
repressi vo da razãodad a vida social),
social),dadenatureza
dominação H orkh
orkheim
eimer
er home
e do e A do
homemdorno
mrno1 102
pelo
homem
hom em)) ou de Fouc
Fo ucau
ault1
lt1003(as estruturas do d o conhecim
con hecimento/p
ento/pode
oder).
r). Para
Habermas, a correção deste processo só será possível com o nasci-
mento de uma u ma razão que possa reconduzir os excessos da parte ins-
trumental que a dominou na modernidade. Para o sociólogo alemão,
o problema não é a razão, mas o predomínio da razão instrumental
sobre a razão
raz ão substan
sub stantiva
tiva (Rou
(R ouan
anet1
et1004). Através da razão
raz ão com
c omun
unicati-
icati-
va, conseguiriamo
conseg uiriamoss chegar
cheg ar ao consenso, única possibilidade
pos sibilidade de corri-
gir o processo filosófic
filosóficoo da modernidade.
modernidade. A modernidade seria um
 prr o jeto
 p je to i n a c a b a d o 105. P a r a H a b e rm a s, “no lugar de renunciar à  
modernidade
mod ernidade e a seu proj eto, deveriamos tirar lições dos desvios que  
projeto,
marcaram esse projeto e d dos
os erros comet
cometidos
idos p o r abusivos prog ra
mass de su pe raçã
ma ra çã o”'06
o”'06.
A modernidade é a expressão
expressão da existência
existência de uma
um a mentalidade
mentalidade
técnica, de uma tecnoestrutura e de uma tecnocultura que se enraiza
em instituições, incluindo toda
tod a a vida social
social na burocratização,
burocra tização, na secu
larização
lari
lizadazação
dasdaesferas
religião,
religião,
d a no
da individuali
individualismo
ciência, smo
da arte e na
e da diferenciação
moral. ciên ciainstituciona-
A ciência instituciona-
vinculase,
vincul ase,
como vimos, ao desenvolvimento
desenv olvimento da tecnologia
tecnologia e à produção
produ ção industri-
industri-
al;; a arte é retirada de seu contexto religioso
al religioso e passa
pa ssa a ser
se r espetáculo,
espetáculo,
sustentada pela publicidade e por um mecenato m ecenato;; a moral é enquadrada
enquad rada
na secularização
secularizaçã o individualista da ética
ética protestante e do espírito do capi-
talismo (Weber).
(Weber). NoN o plano econômico e político,
político, com
comoo mostra
mos tra Rouanet,
a sociedade modern
m odernaa é,é, verdadeiramente, a sociedade industrial; de pro-
dução de bens e serviços massivos,
massivos, da utilização
utilização intensiva da d a energia,
do trabalho qualificado
qualifica do dos especi
especialistas
alistas e da hierarquização
hierarqu ização sócioeco
nômica dos donos do capitalcapital.. O espaço dividese
dividese em espaç
espaçoo privado, de
liberdades
liber dades individuais,
individuais, e em espaço públ público,
ico, de dever
d ever cívico. O cidadão
consum
con sumidor
idor deve
dev e circular neste
neste espaço de universali
universalidade
dade e de igualda-
de. É no espaço público que as ações ações são tomadas pela sociedade orga-
nizada (sindicatos, associações,
associações, ONGs,
ONG s, partidos políticos).
políticos). A demo
de mocra-
cra-
cia representativa constituise
constituise como um jog jogoo político com
comoo representa
representa- -
ção legítima da d a sociedade.
sociedade.
O modo de d e produção capitalista requer um indivíduo que
qu e deve
ajustarse
ajustarse às novas exigências econômicas, com normas universais de
consumo. Na modernidade, o indivíduo é o consumidor. Podemos

6 6 | CIBERCULTU
CIBERCULTURA,
RA, TECNOLOGIA E VIDA SOCIAL
SOCIAL NA CULTURA CONTEMPO
CONT EMPORÂNE
RÂNEAA•
 

dizer que o indivíduo moderno é filh filho


o da filosofi
filosofiaa das luze
luzes,
s, da em an-
cipação e d a universalização da moral ocident
ocidental
al judaicocristã. A m moral
oral
moderna
mode rna estabelecese, assim, como secular, universalista e individu-
ind ividu-
alista, supervisionada pela razão, estando, daqui em diante, em har-
monia com as necessidades da sociedade capitalista industrial.
industrial. E no-
n o-
tável
táv el com
comoo as artes e a arquitetur
arquiteturaa são investidas por essa racionaliza-
raciona liza-
ção do mundo, estando em rompimento com o ecletismo do século
XIX. O pas
passad
sadoo é e de
deve
ve ser rej
rejeita
eitado
do1107. Ao térm
término
ino d o quattrocento  
e do Século das Luzes, o homem ocident
ocidentalal em ancipase dos constran-
gimentos tradicionais,
tradicionais, entrando
entrando em jog o uma concepção linear e pro-
gressiva da história.
história. O progresso é uma conseqüêncconseqüência ia da própria exis-
tência da histór
história.
ia.
A crise
c rise da linea
linearidad
ridadee histór
histórica,
ica, como cam
caminho
inho inevitável para o
 prog
 pr ogre
ress
sso,
o, eex
x p re
ress
ssaa a c rise
ri se d
daa idé
idéia
ia de m
mod
oder
erni
nida
dade
de e se
seus
us p
par
arad
adigigm
m as
fundadores. Não há m odernidade se não é mais possível fala falarr de futu-
ro. O fim da história é o fim da modernidade.
m odernidade.
O advento
a dvento da sociedad
sociedadee de consumo e dos ma ss medi media a  ajudou
muito para o reconhecimento ou ou consciênci
consciênciaa (pósm odem a?) de rup-
tura com a modernidade. A influência dos meios de com comunicação
unicação e a
dinâmica da sociedade de consumo são as principai principaiss razões d a crise
da noção de história e da crise das m metanarrati
etanarrativas
vas mmodernas.
odernas.

Contemporâneo
Contemporâneo pós
pós-mo
-modem
demo?
o?

A idéia de pósmodernidade aparece


aparece na segunda metade do sé-
culo XX com o advento da sociedade
sociedade de consumo e dos ma ss media
media,, 
associados à qued a das grande
associados grandess ideologi
ideologias
as modernas e de idéias cen-
trais como história, razão, progresso. Agora, os campos da política,
da ciência e da tecnologia, da economia, da moral, da filosofia, da
arte,
ar te, da v ida quot
quotidiana,
idiana, do conhecimento e da comu nicação vão so-
frer um a m modificação
odificação radic
radical.
al.
O termo pósmoderno aparece, pela primeira vez, na esfera
estética,
estét ica, m ais precisamente no dom ínio da crít
crítica
ica literár
literária,
ia, em uma
antologia de poesia espanhola e hispanoame ricana de Federico de

Osnis, em 193
1934.
4. Em 19
1959
59,, Irwing Ho
Howewe publica, na Partisan Review,
o artigo Sociedade de M assa e a Ficção Pôs-m oderna,  on de fala da
decadência
decadê ncia da ficção eem
m m eio à cultura de massa. Ihab A ssan afirma
que o termo pósm odem o, na li literat
teratura,
ura, aparece com o crítica e di
di•

• ANDRÉ LEMO
LEMOSS | 6 7
 

ferencia
fere ncia çã
çãoo do m
movim
ovim ento das va
vangua
nguardas
rdas do alto m od ern ism o1
o10
08.
Pósmodernidade é a expressão do sentimento de mudança
cultural e social
social correspondente ao apareci
aparecimento
mento de um a ordem eeco-co-
nôm ica cha m ada de pósi pósindustr
ndustriali ialismo,
smo, nos anos 4050 nos E.U. A.
e em 1958 na França, com a 5a República. Os anos 60 serão um
 pee rí
 p ríoo d o d e tr
traa n s iç
içãã o , d e r e e n c a ix
ixee ( G id d e n s 109) d a s in
inss ti
titu
tu iç õ e s à
falência dos discursos. A parecem, aqui e aali li,, sintomas de desse
sse m malal es-
tar: contracultura, revolução verde, informatização da sociedade,

 pó
 p ó s  c oPa
lo
lon
Paran ia
ra iali
D lis
s m ol B
Danie
aniel e pó
pell1
ó sin
s10ind
ell11 , adpósm
u st
stri
riaa li
lism
sm o .idade corresp
odem correspond
onde,
e, eexatam
xatam en-
te, à fase pósindustrial da sociedade de consumo, onde a produção
de bens e serviços
serviços (liga
(ligados
dos a grandes consumos de energia) é mod modifi-
ifi-
cada de acordo
aco rdo com as novas tecn
tecnologias
ologias (digitais)
(digitais) da informação. O
sociólogo americano
am ericano exp
explica
lica sua teoria
teoria at
através
ravés de estatísti
estatísticas
cas ec
econô
onô--
micas que mostram a redução do número de trabalhadores no setor
secundário e o aumento
au mento deles no setor de serviços
serviços (terciári
(terciário).
o). A ter-
ceira fase do capital é aquela do capitalismo multinacional, onde o
 p lan
 pla n et
etaa in
inte
teir
iroo se to m a u m gra
gr a nd
ndee m er
erca
cado
do:: a g lo
lobb a li
lizz a ç ã o . E n tr
traa -
mos na terceira fase do d o capital,
capital, na terceira fase da mmáquina,
áquina, na fase da
microeletrônica
microe letrônica e da energ
energia
ia nucl
nuclear.
ear. A fase pósindustri
pósindustrial al d daa socie-
dade não é uma ruptura com a di dinâmica
nâmica m monopolis
onopolista ta de capital
capitalismo,
ismo,
mas uma radicalização do desenvolvimento de sua própria lógica.
Em bora esta não sseja eja uma ruptura com a sociedade capitali
capitalista, sta, alguns
autores aceitam a existência
existência de umumaa nova ordem cultural.
cultural.
Jameson, por exemplo, consi considera
dera que essa fas
fasee do desenvolvi-

mento capitalista corresponde à cultura pósmode pósmodema ma,, visto estestarmos


armos
diante de um a nova configuração do Estado e da econom ia, trazendo,
em seu bojo, um umaa nova forma de exercício da pol políti
ítica.
ca. Para
P ara Rouane
Rouanet, t,
a política
política pósm
pósmoderna
oderna seri
seriaa uma “política segmentária,
segm entária, exercida po r  
grupos particulares, política micro-lógica, destinada a combater o  
 po
 p o d e r inst
in sta
a lad
la d o n os inte
in ters
rstíc
tício
ioss os
o s m a is imp
im p e rce
rc e p tí
tíve
veis
is d a v ida
id a q u o
tidiana... ” m. A meta não é mais a polít política
ica do universal, mas aquelas
microscópicas,
microscó picas, política das minorias, das massas que desapa des aparece
recem m em
sua astucios
astu ciosaa ind
indiferenç
iferença, a, como
com o aafirma
firma BaBaud
udrillard
rillard 112. O sujeito bus b us- -
ca, incessantemente, a conquista
co nquista do pr presente,
esente, como m ostra MaffesoliM affesoli,,
aqui e agora.
agora. Se o ano 2000 era “o” futuro para a geração do d o começ
começo o
deste século, o “aqui e agora” ago ra” é a úni
únicaca saída para a geração d doo século
que começa. Aqui, vivemos a globalização do llocal ocal e localização do

68   CIB
CIBERCU
ERCULTUR
LTURA,
A, TECNOLOGIA E VIDA SOCI
SOCIAL
AL NA CULTURA CONTEM
CONTEMPORÂNEA
PORÂNEA •
 

global. Entramos no ambiente social onde a dimensão estética e


hedonista imp imp regna todos os aspectos da vida contemporânea.
A realidade social tomase produto de processos de desmateria desm ateria
lização e de simulação do mundo (Baudrillard), impulsionados pelo
desenvolvimento
desenvolv imento de máquinas de informação (os comp computadores).
utadores). ComComo o
afirma Rouanet, o home homem m histéri
histéricoparanói
coparanóico
co mod
moderno
erno morreu, dando
lugar ao homhomemem esquizoconform
esquizoconformista ista (Baudrillard) ou esquizoanarquis
ta (Deleuz
(De leuzee e G ua uattar
ttari1
i113), habitand
habitando o um mun
mundo
do ddee im
imag
agens
ens hiperreais:
a sociedade do espetáculo.
Com o observa corretamente L Lyota
yotard,
rd, o homem pósmod erno
obedece às enun ciações de vária váriass ordens através de jog os de lingua-
gem, escapando das formas totalitárias da razão instrumental mo-
d e rna
rn a 114. L yo tar
tardd va
vaii mo
mostrar,
strar, que
que,, na co nd
ndiçã
içãoo p ó s
smm o d e rn
rnaa 115, o
conhecimento científico entra em crise das próprias metanarrati
vas. A ciência pósmoderna (pósnewtoniana) procura novas for-
mas de consenso naqu il ilo
o que o fi filósofo
lósofo fra
francês
ncês cham a de “paralo-
gia”. A ciência moderna, segundo ele, foi construída na síntese do
discurso
discurs o e do em piri
pirismo,
smo, procurando o consenso, a efici
eficiência,
ência, a ce r-
tezaa e o determinismo. Ao contrári
tez contrário,
o, a ciência pósm oderna (a teo-
ria do caos, as lógicas nãodenotativas, o paradigma cibernético
informacional,
informaci onal, a teori
teoriaa dos jogos, a mecânica quântica, a matemá ti ti-
-
ca fractal,
fractal, etc.) legiti
legitimase
mase pelo paradoxo e pela paralogia, re velan-
do o heterog
heterogêneo
êneo e a diferença. A questão não é mais “de cconh onh ece r  
o que é o a dversário (a natu
naturez a), mas sa ber qua l jo g o ele jo g a  ”1
reza),  ” 116.

A
tí ciênci
ciência
tínuo,
nuo, doacatastrófico,
pósm odernadotornase
caótico,uma espécie
do com plexodee ci
ciênc
doênc ia do descon-
paradox al. Esta
nova ciência, afirma Lyotard, “sugere um modelo de legitimação  
que não é aque le da m elhor performance, ma s aquele da diferença 
com preen
preendida
dida com o pa ra lo g ia ’’1'1
'1..
Em termos filosóficos, Nietzsche é o primeiro a produzir uma
crítica significativa da razão moderna e do projeto apolíneo da
modernidade, opondo
op ondo a ordem moderna
mode rna ao passado arcaicodionisíaco
da força vital e do êxtase.
êxtase. O niilismo corresponde a um a revitalização
de valores vitais
vitais da sociedade contra o poder anestesiante
anestesian te da razão e
da moral modernas.
m odernas. O culto a Dionísio representa o fim do princípio
de individualização,
individualização, a vitória
vitória do p polimórfico.
olimórfico. No m esmo sentido, ca-
minha a filosofia de M.
M. H
Heidegg
eidegger,
er, ao mostrar que o pe pensam
nsam ento oci-
dental é um
umaa m
maneira
aneira de esconde
esconderr o ser em detrime
detrimento
nto do ente, atra
atra••

• ANDRÉ LEMOS
LEMOS | 6 9
 

vés da destruição
d estruição da m etafísietafísica ca (a razão filos
filosófica)
ófica) pela ciência objeti-
va (a razão científi
científica).ca).
 Nos
 N os an
anosos 60
60,, a fi filo
loso
sofifiaa de N ieietz
tzsc
schh e e d e H e id
idee g g e r sã
sãoo am -
 pla
 p lam
m e n te d ififuu n d id
idaa s no
noss E ststadados
os U ni
nido
dos,s, na F ra
rann ç a e n a A le lemm an
anhh a,
dentro da corrente pósestruturalista onde autores como Derrida,
Barthes, Foucault,
Fouc ault, Deleuze, Castoriadis ou Guattari vão criticar a ra- ra-
zão moderna
m oderna a partir de perspectivas difer diferenciadas.
enciadas. Cr Criticase
iticase a supe-
rioridade da razão, da ciência e da técnica técnica na mod modernidad
ernidadee ocidental
ocidental..
 No
 N o c am p o dasda s arartetes,
s, Jam
Ja m e so
sonn faz
fa z re
refe
ferê
rênn c ia às m u d a n ç a s e m
todas as áreas: a poesia de John Ashbery A shbery nos anos 60 em op oposição
osição à
 po
 p o e si
siaa a ca
cadd ê m ic
icaa , a a rqu
rq u it
itee tu
tura
ra de Ve
Ventu
nturi
ri c o n tr
traa a a rq
rquu it
itee tu
tura
ra m o -
derna e o  In  Inte
tern
rn a ti
tio ty le,, a arte Pop de Andy Warhol, a música
o n a l S tyle
concreta e m inima inimalistalista de John Cag Cagee e Philli
Phillipe
pe Glass, o punk e a  N  Nee w  
Wave, o cine cinemama da N  Nououve llee Vague, a literatur
vell literaturaa com Tho Thom m as Pynchon,
entre outroutros.
os. A arte pósmodem a apar apareceece como um mod modo o de protes-
to contra a arte do alto modernismo, quequ e conquistou galerias
ga lerias de arte,
museus e academias.
Uma das características proeminentes da arte pósmodema é a
quebra de fronteiras entre a alta cult
cultura
ura e a cultura popular
popu lar ou de massa.
O pósmodernismo
pósm odernismo dos anos 60 é fruto de uma vanguarda anárqui anárquica,
ca,
instituindose como uma ruptura com a institucionalização oficial da
cultura (entendida como artes e espetáculos). Os artistas começam a
descobrir
descob rir as possibi
possibilidades
lidades oferecidas pelas novas tecnologias a partir

da vídeoarte,
veremos da fotografia,
mais adiante no capítulodos satélites
sobr e dos
sobree a arte ele computadores, como
eletrônica.
trônica.
Com o afirma E. Subirats, o fi fim
m das possibilidades
possibilidades revoluc
re volucioná-
ioná-
ri
rias
as das vanguardas do começo do século XX, o pósmodernism o não
olha mais o passado sob o signo da paródia, mas sob o rótulo
do pastiche.
pastiche. D Desta
esta forma, a cul cultura
tura pósmodem
pósmodemaa não se prende à di-
mensão histórica
h istórica do futuro, mas ancorase no presente, revisitando o
 paa ss
 p ssaa do
do.. E s p ír
írit
ito
o d a é p o ca
ca,, a a rt
rtee d a p ó s m o d e m id
idaa d e é a a rt
rtee d o
“aqui e agora”, performática, participativa, aproveitando os objetos
do diaadia.
Para Jameson, a pósmodemidade caracterizase por uma in-
versão do milenarismo
milena rismo e pelo fim das gr grandes
andes ideologias. Com
Co m a crise
da idéia de futuro, as duas chaves para entender a mu dança espaço
temporal da pósmodem
pósm odem idade são, segundo o auto autor,
r, o pastiche e a
esquizofrenia. Já
J á que os artist
artistas
as não têm nada mmais
ais a inventar, a única

70 CIBERCULT
CIBERCULTURA,
URA, TECNOLOGIA E VIDA SOCIAL NA CULTURA CONTEM
CONTEMPORÂ
PORÂNEA
NEA •
 

 poo s s ibil
 p ib ilid
idaa d e e s tá nas
na s c o m b ina
in a ç õ e s m ú ltip
lt ipla
lass , n a s c o la
lagg e n s , nos
no s
happenings  e nas performances.
A partir
pa rtir de uma perspectiva lacaniana
lacaniana,, mostrando
m ostrando que hoje estamos
diante de uma um a desconexão lingüística
lingüística e de uma um a desconexão
desconex ão do indiví-
duo em relação a uma sucessão temporal, Jameson propõe a idéia de
uma esquizofrenia pósmodema. Como a continuidade temporal está
quebrada, a experiência do presente fica mais forte, intensificando a
frustração e o desespero. A experiência esquizofrênica da pós
modemidade é a experiência de uma temporalidade descontínua, uma
experiência
experiênc ia temporal onde há uma desestabilização
desestabilização acelerada das per-
sonalidades em ruptura com a fase inaugural inaugural de modernidade. Nesta, o
 pod
 p oder
er discipli
disci plina
nar,
r, a unive
un iversa
rsalid
lidad
adee de valore
va lores,
s, os pr
prinincí
cípi
pios
os ideo
id eológ
lógico
icoss
e coercitivos
coercitivos fundaram uma u ma foima
fo ima de coesão social social através do fortale-
cimento do individual
individualismo
ismo e do racionalismo cego à complexidade.
com plexidade.

terizadaMaffesoli,
Maffesol i, por exemplo,
pelo advento de tri bos mostra
tribos em francacomo a pósmodem
pósmàodemidade
oposição figuraidade
modeé rna
modernacarac-
do
individualismo
indivi dualismo.. Para Jameson, também a morte m orte do sujeito,
sujeito, ou o fim do do
individualismo, é um dos componentes mais importantes da pós
modemidade.
modemidad e. É justamente
justamente o declínio
declínio de individual
individualismo
ismo que dá forma à
 pósm
 pó smododememididad
adee social. Para
Par a d a r conta
co nta das
da s relaç
re laçõe
õess sociais
socia is conte
co ntemm porâ
po râ-
-
neas,
nea s, não podemos
podem os falar mais mais a partir de uma u ma perspectiva individual
individualistista,
a,
contratual,
contratu al, a partir
pa rtir de uma estrutura mecânica que marcou a modernidade.
Pelo contrário, devemos estar atentos atentos aos múltiplos papéis dos d os sujeitos
sujeitos
sociais.
soci ais. Estes configuramse
configuram se como estruturas
estruturas complexas
comp lexas e orgânicas
orgân icas que,
sob as mais variadas forma formas, s, recusamse a reconhecerse em algum a lgum pro-
 jeto
 je to polít
p olítico
ico,, em qquaualq
lque
uerr finalida
fina lidade
de ideoló
ide ológic
gicaa ou uutóp
tópica
ica.. A pre
p reoc
ocup
upa-
a-
ção é com o aqui e agora, com um prese presente
nte vivido
vivido coletivamente.
coletivamente. Pode-P ode-
mos falar
fa larem
em mudanç
mudançaa de sensibili
sensibilidades
dades,, falas e práticas.
práticas.
Para Kroker,
Kroker, o contemporâneo
contemporâneo é marcado por po r cenas de pânico.
pânico.
A cultura pósmodema é vista como excesso, desperdício, despesa
improdutiva. Ela é marcada
m arcada por um niilismo
niilismo profundo
profun do e pela sedução,
sendo uma interface entre o êxtase
êxtase e a decadência, entre a melancolia
das grandes narrativas e o niilismo
niilismo extático, entre a prisão de corpo corp o e
o prazer de corpo, entre a fasc
fascinaçã
inaçãoo e o lamento.
lamento. Esta E sta cultura seria
aquela do excremento (Kroker), uma cultura em ruínas, imersa na
efemeridade das cenas ded e pânico (p a n ic sc en e s)
s)1 '8.. Sinais desta cultu-
1'8 cultu-
ra são numerosos
nume rosos na moda,
moda , nos videoclipes, nas nas doenças
doenç as sexuais, no
fim da grande
grand e arte, nos novos usos da informática, etc. etc.•

• ANDRÉ LEMOS
LEMOS | 71
 

Para Kroker,
K roker, este é o mom
momento
ento de implosão e de inversão, onde
a sensação mítica do primitivo é reconectada à sociedade tecnológi
tecnológica,
ca,
numa simbiose entre um hiper
hiperprimit
primitivismo,
ivismo, expressão de mitologi
mitologias
as
(o carnaval, o dionisíaco), e um hipertecnologismo, em direção às
tecnologias
tecnolo gias do virtual (image
(imagens
ns de sínt
síntese,
ese, realidade virtual
virtual,, multimídia,
ciberespaço, etc.) Para Kroker, "quan "quando do a tecnologi
tecnologia a e sua fa se  
ultramodernista conectam-se de novo ao medo mítico radical do  
 prr i m i t iv is m o , n ã o s e t r a ta m a is d o m u n d o b a u d r i l la r d i a n o d o  
 p
simulacrum e hiper-realismo, mas de uma nova nova cena de  
tecnol
te cnologia virtual e o fim da fantasia do Real  ”1
ogia virtual  ” 119.
A pósmodernidade é o terreno de desenvolvimento da
cibercultura. Ela se caracteriza por uma condição sociocultural que se
inscreve nessa cena cen a de pânico de que nos fala Kroker, instituindo uma
nova forma de relação espaçotemporal. O espaço e o tempo pós
modernos não podem mais ser percebidos como seus correlatos mo-
dernos.
der nos. Dav id Harvey desenvol desenvolve ve a tese de acordo com a qual uma
mudança cultural (espaçotemporal)
(espaçotemporal) est estáá em marcha desde, pelo me-
nos,
no s, a década d dee 70 com a est estabili
abilização
zação da cultura de massa.
 Naa m
 N mododererni
nida
dade
de,, o tem
te m po é lin
linea
earr (p
(pro
rogr
gres
esso
so e his
histó
tória
ria)) e o e sp
spaa -
ço é naturalizado e explorado enquanto lugar de coisas (direção, dis-
tância,
tânc ia, forma, volume). N Naa modernid
modernidade, ade, o tempo é um modo d dee escul-
 pirr o es
 pi espa paço
ço,, j á qu
quee o pr
progogre
resso
sso,, a inc
i ncam
amaç ação
ão do tetemm po lin
linea
ear,
r, im
impl
plic
icaa
a conquista do espaço físico.
físico. Na pósmodernidade, o sentimento é de
compressão do espaço e do tempo, onde o tempo real (imediato) e as
redes telemáticas,
telem áticas, desterrit
desterritoriali
orializam
zam (desespaci
(desespacializam)
alizam) a cultura, tendo
um forte impacto nas estrut
estruturas
uras econômicas, sociais
sociais,, p
políti
olíticas
cas e ccultu-
ultu-
rais. O tempo é, assim, um modo de aniquilar o espaço.
Este é o ambiente
am biente comu
comunicacional
nicacional da cibercult
cibercultura.
ura.

O ambiente comunicacional contemporâneo

Podemos dizer que a avent aventura


ura das “novas
“novas tecnologias de comcomu-u-
nicação” (NTC) teve seu boom,  não n no
o sécul
século o XX, como pensamos
comumente, mas no século XIX. Aqui, por meio de artefatos eletro
eletrônicos (telégrafo, rádio, telefone, cinema), o homem amplia o
desejo de agir a distância, da ubiquidade. A idéia de Brecht sobre o
rádio parece ser bem esclarecedora deste desejo. Ele vai afirmar o
 po
 p o te
tenn c ia
iall rree li
liaa n te
te,, soci
so cial
al e co
comm u n it
itáá ri
riood
dee ss
ssee media , em
embora,
bora, na prá

72 | CIB
CIBERCUL
ERCULTURA,
TURA, TECNOLOGIA E VIDA SOCIAL
SOCIAL N A CULTURA CONTEMPORÂ
CONTEM PORÂNEA
NEA •
 

tica, este nunca


tica, nu nca tenha sido pl plenamente
enamente real
realizado.
izado. Esta utopia
utop ia brechteana
está transformand
transformandose ose em uma verdadeira topia  com o cibere ciberespaço.
spaço.
O s media  podem ser consi considerados
derados como inst
instrumentos
rumentos de simu-
lação, formas técnicas de alterar o espaçotempo. Se Será
rá no século XIX
que diversas inovações mediáticas aparecerão, a começar em 1837
com o telégrafo elétrico, o telefone em 1875, o telégrafo por ondas
hertzianas em 190 19000 e um ano antes, o ci cinema.
nema. E m 1961964,4, o primeiro
primeiro
satélite de com unicação, o Tel Telst
star,
ar, revoluciona nossa v visão
isão de mmundo
undo
e instaura um espaço de informação cobrindo todas as áreas do plane- plan e-
ta 120. A gran
grandede nov
novidade
idade d doo sé
século
culo XX será as novas tecn
tecnolog
ologias
ias d
digi-
igi-
tais e as rerede
dess ttel
elem
em át
átic
icas
as1121.
O que
qu e ch
chamam
amamos os de novas tecnologias1
tecn ologias122d
2dee com unica
unicação
ção e in-
formação surge a partir de 1975, com a fusão das telecomunicações
analógicas com a informát
informática,
ica, possibil
possibilitando
itando a veiculação
veiculação,, sob um m mes-
es-
mo suporte  o compu
computador
tador  , de diver
diversas
sas for
formatações
matações de mensage
mensagens.
ns.
Esta rev
revoluç
olução
ão ddigita
igital1
l123implica, progressivam
progressivamente,
ente, a pass
passage
agemmd do
o mass  
media  (cujos símbolos são a TV, o rádio, a imprensa, o cinema) para
formas individuali
individualizadas
zadas de produç
produção,ão, difusão e estoque de infor
informação.
mação.
Aqui a circulação de informações não obedece à hierarquia da árvore
(umtod
(um todos)
os) e ssim
im à m multipl
ultiplicida
icidadede do riz
rizom
omaa (t
(tod
odos
osto
todo
dos)1
s)12
24.
As novas tecnologias de informação devem ser consideradas

em função da comunicação bidirecional entre grupos e indivíduos,


escapando da difusão centralizada da informação massiva. Várias
tecnologias ccomp
tecnologias omprovam
rovam a falência da centr centralida
alidadede d dos
os media  de mas-
sa:: os vide
sa videotex
otextos,
tos, os BBSs, a rede mundial mund ial internet
interne t em tod todasas as suas
 paa rt
 p rtic
icu
u la
lari
rid
d a d e s (w
(web
eb,, w ap
ap,, chats,  listas, newsgroups, muds...).  E m
todos estes novos media  estão embutidas noções de interatividade e
de desce
de scentraliz
ntralizaçãação o da informaçã
informação, o, cocomomo verem os a sseg eg u ir1
ir1225.
Pensarr essa nova forma de comunicação exige esforços teóri-
Pensa
cos consideráveis. Alguns autores contemporâneos fizeram tentat tentativas
ivas
neste sentido. Mas tudo começou com McLuhan. Para o pensador
canadense, os media  m odificam nossa vis visão ão do mundo. E Ele
le mostrou
como a imprensa transformou o mundo da cultura oral, da mesma
forma como a eletricidade estaria modificando o que ele chama de
media do individuali
individualismo smo e do racional
racionalismo, ismo, a impren
imprensa sa de Gutenbe
Gutenberg. rg.
Para McLuhan, a eletricidade faz do mundo uma aldeia glo-
 baa l, a o m e sm o te
 b temm p o qu
q u e e st
staa ri
riaa rree tr
trib
ibaa li
lizz a n d o a eex
x p e r iê
iênn c ia so
soci
cial
al..
Estaríamos entrando na era da simultaneidade e da tactili tactilidade,
dade, numanuma••

• ANDRÉ LEMO
LEMOSS | 73
 

integração total
total dos sent
sentidos,
idos, des
deslocandonos
locandonos do parad igma m ecâ-
nico ao orgânico.
orgânico. M cLuhan mostra como a im prensa mod ificou aass
formas de nossa experiência do mundo, assiassim
m com o nossas ati
atitudes
tudes

mentais.
mentai
narcoses.dos
Se asenti
invenção
dos, qude
sentidos, er G utenberg
diz
dizer, encor
encorajou
ajou de
er, a exacerbação o que ele cham
só uma a de
sensação
(a visão para
par a a escrita e a imprensa), os novos media  estari  estariam
am favo-
recend o a tactil
tactilidade,
idade, o retorno à oralidade e à si simu
multaneidade.
ltaneidade. Mais
ainda, se as tecnologias são prolongamentos
prolongamen tos de nosso corpo, próteses
de no
noss
ssos
os s e n tid
ti d o s 126, os media  são extensão do nosso sistema ner-
voso central.
A tipografia e a técnica de impressão estavam ligadas ao
raciona lismo e à persperspectiva,
pectiva, privilegiando o lado raciona
racional,
l, esqu er-
do do cérebro. A escrit escrita,a, e depois a iimprensa,
mprensa, teriam de stribalizado
o homem. A eletrônica e, mais tarde, o que será chamado de
multimídia, parecem
pa recem ajudar a criação de novas fformasormas de tribalização.
Para M cLuhan, a retri retribalização
balização engloba “a grande fam ília humana 
em um
uma ó ttrr ib o " 127, a aldeia global.
a ssó global. O indivíduo destribalizado nas-
ceu no momento em que a instituição da escrita fonética realizou
uma cisão entre “o mund mundo o mágico da audição e o m und
undoo indiferen
te da visão m .

O m ulti
ultimídia,
mídia, entendido tanto como sua vertente off-line  (CD
Rom) como on-line  (inter  (internet),
net), é hoj
hojee o exemplo mais claro dess dessaa si-
multaneidade e convergênci
convergência. a. C
Com
om as tecnologias analógicas, a trans-
missão, o armazenamento e a recuperação recuperação de inforinformação
mação eram com com--
 ple
 p leta
tamm e n te in
infl
flee x ív
ívee is
is.. C o m o d ig
igita
ital,
l, a fo
form
rm a d e d istr
is trib
ibuu iç
içãã o e de
armazenam ento são independentes
independentes,, m mult
ultimodai
imodais,s, onde a escolha em
obter uma informação sob a forma textual, imagética ou sonora é
independen
indepe ndente te do modmodo o pelo q qual
ual ela é transmiti
transmitida.
da. N Nesse
esse sentido, as
redes eletrônicas constituem
constituem um a nova forma de publicação (a eletrô-
nica), onde os computadores podem produzir cópias tão perfeitas
quanto o original
original..
A idéia de original parece tornarse problemática a tal ponto,
que essa questão está embutida em problemas de Copyright de obras
eletrônicas, como as imagens digitais e a música em formato MP3.
Podemos dizer, com Pool, que os novos  m  mee d ia   eletrônicos são
“tecnologias da liberdade”'29. P  Por
or tecnol
tecnologias
ogias da lliberdade
iberdade Pool en-
tendee aquelas que não se pod
tend podee controlar o conteúdo, que colocam em
questão hierarquias,
hierarqu ias, que prop
proporcionam
orcionam agregações soc
sociais
iais e que mul

74 CIBERCULT
CIBERCULTURA,
URA, TECNOLOGIA E VIDA SOCIAL NA CULTURA CONT
CONTEMPO
EMPORÂNE
RÂNEAA•
 

tiplicam o pólo da emissão não centralizada. Assim, por exemplo,


com os hipertextos, a liberdade liberdade de naveganavegação ção do usuário desestabiliza
distinçõess clássicas entre leito
distinçõe leitorr e autor.
autor.
Diante de uma um a obra mulmultimídi
timídiaa em CDRCDRom, om, ou diante
d iante das home  
 pa
 p a g e s  da internet, não nos colocamos mais como com o leitores de um livro
ou espectadores das formas clássicas clássicas do espetáculo. Agora, Ag ora, devemos,
devem os,
 para
 pa ra qquue hhaa ja a co
conn teci
te cimm en
ento
to,, v
vee r e in
inte
tera
ragi
gir,
r, sim
si m u lt
ltaa n ea
eamm e n te
te,, cco
om a
obra. Este agir se dá através da interatividade digital (clicar (c licar em ícones
os mais diversos), como veremos adiante. Podemos, também, mani-
 pul
 p ulaa r c a d a u
umm a das
da s ffo
o rm as m edediá
iátitica
cass à v
von
onta
tad
d e, e d e ffoo rm a in
i n d e p en
en--
dente (som,
(som, im imagens,
agens, textos). Tomamon
Tom amonos, os, não mais lleitores,
eitores, no sen-
tido
tido estrito,
estrito, mas atores, exploradores, navegad navegadores
ores ou screeners como
 pref
 pr efer
eree M. R o se lllloo 130. A aç
ação
ão n ão o b e d e c e n nee c e ss
ssaa ri
riaa m e n te a p
pee rc
rcuu r-
soss determinados
so determinad os a priori  (a linearidade),
linearidade), mas pod podee ser feita por des-
vios, conexões, adições (links),  como uma forma de p assei asseio o pelo es-
 paço
 pa ço c ib
iber
ern
n é ti
tico
co,, co
com m o u m f
 fll â n e u r  digital,
  digital, o ciber-flâneur.   Voltare-
mos mais tarde a esta discussão.
Como dizíamos, para McLuhan, a cultura do impresso é coe-
rente com o processo de racionalização da modernidade, típico do
século XV, resultando na organização do espaço e do tempo sobre
uma base filosófica de tipo moderna. Como vimos, a modernidade
afasta a tradição, investindo num numaa visão utópica e racionalista do fu-
turo
tu ro.. Esta tend
tendência
ência foi impulsionada pela imprensa,
imprensa, com a padroni-
zação de caracteres que poderíam ser reprodutíveis ao infinito, infinito, e pela
 pee rs
 p rspp ec
ectiv
tiva,
a, qu
quee c o lo
locc a o ol
olho
ho hum
hu m a no c o m o ccee n tr
troo , o u p o n to p ri
rivv i-
legiado, da visão.
A cultura do impresso, que vinga do século XV até fins do
século XX, separousepa rou a vi visualidade
sualidade (a leitura silenciosa)
silenciosa) da oralidade
(a leitura em voz alta), como a separação do texto da música. Os
caracteres de repetitibilidade,
repetitibilidade, de co
continuidade
ntinuidade e de lógica, presentes
na cultura do impresso, são derivados dos mesmos caracteres pre-
sentes nas ciências m atemáticas e na física clássica.
clássica. Isto cara
caracteriza
cteriza
a própria
própria tecnologia da moder
modernidade
nidade:: ho mo geneização, pad roniza-
ção e narcose (um só ponto de vista,
vista, como na persp ectiva ren asc
ascen-
en-
tista). Como explica McLuhan, “a ho mog eneização dos hom ens e 
dos objetos vai se tornar o grande objetivo da era de Gutenberg,  

como fo n te de uma ri
riquez a e de um po de r que não conheceram  
queza
nenhum a outra época e nenhuma outra tecnologia ” 131. A ti
tipp o g r a fi
fiaa •

• ANDRÉ
ANDRÉ LEM
LEMOS | 7 5
 

será, por
será, po r sua vez,
vez, o instrume
instrumento
nto do individualismo dentro
de ntro da soc
socie-
ie-
dade moderna.
mo derna. O impresso é a tecnologia de individu
individualismo
alismo que
qu e se
lê (só), em silêncio, para si132.
Os computadores
com putadores em rede parec
parecem
em ir na direção oposta àquela
da cultura do impresso, estando
e stando mais próximos
próximos do tribalismo anterior
an terior
à escrita
escrita e à imprensa.
imp rensa. Podemos
Pode mos dizer,
dizer, que a dinâmica
dinâm ica social atual do
ciberespaço
ciberesp aço nada mais
m ais é que esse desejo de
de conexão se realizando
realizan do de
forma planetária.
planetária. Ele é a transformação do PC (Personal Com puter 
puter ),
),
o computado
com putadorr individual,
individual, desconectado, auster
austero,
o, feito pa
para
ra um indiví-
duo racional e objetivo,
objetivo, em um CC (Computador Coletivo),
Coletivo), os com -

 pu
 putad
(o tador
ores
es em
e m rede.
ciberespaço)redecom
. Assim
As sim,
, a conju
co njunç
nção
a socialidade ãocontemporânea
de uma
um a tecnol
tecn olog
ogia
ia
vairetriba
retrproduzir
ibaliz
lizan
ante
tea
cibercultura profetizada por McLuhan. Parece que a homogeneidade
cibercultura homogen eidade
e o individualismo da cultura do impressoimpresso cede, pouco a pouco, lugar
à conectividade
conec tividade e à retriretribalização
balização da
d a socied
sociedade.
ade.
Como mostraremos, a estrutura piramidal do poder mediático
massivo tornase disfuncional na emergente cibercultura. Não N ão é à toa
toa
que assistimos à fusões as mais diversas entre entre os gigantes da teleco-
municação e os provedores
provedores de conteúdo, como a recente compra com pra da
TimesWarner pelo provedor de acesso americano AOL (American
Online). Os gigantes buscam busca m se recolocar na nova configuraç
config uração
ão tecno
social,, percebe
social pe rcebendo
ndo que
q ue a cibercultura (digit
(digital,
al, imediata, múltimo
múltimodal,dal,
rizomática) requer a transversalidade, a descentralização, a
interatividade. Como afirma Lévy, ela é universal sem ser totalitá-
ri
riaa 133, tratand
trata ndoo de fluxos
flux os de inform
in formaçã
açãoo bidirecion
bidire cionais,
ais, imediato
ime diatoss e pla-
pla -
netários, sem uma homogenização dos sentidos, potencializando vo-
zes e visões diferenciadas.
Com a contração
transformamonos do planeta
não numa pelosglobal,
única aldeia novos mas
media   digitais,
em várias e
idiossincráticas alde
aldeias globais,  devido principalmente
ias globais, principalmente à implosão
implosão do
mundo ocidental pelo efeito das tecnologias microeletrônicas. Não
se trata de bens materiais, matériasprimas
matériasprimas e energia
energ ia retiradas da na-
tureza, mas de informações
informaç ões traduzidas sob a forma de bits, imateriais,
abstratas,
abstratas, lidas
lidas por uma
um a metamáquina
metamáq uina (o computador,
computador, o ciberespaço).
ciberespaço).
Atualizase, com o ciberespaço, o grande sonho enciclopédico de, em
um único media,  armazenar todo o conhecimento da humanidade,
disponível a todos
todos..
É pela interatividade
interatividade digital
digital que possibilidades
possibilidades descentrali
descen tralizado
zado

76 CIBERCUL
CIBERCULTURA,
TURA, TECNOLOGIA E VIDA SOC
SOCIAL
IAL NA CULTURA CONTEMPORÂ
CONTEM PORÂNEA
NEA •
 

ras do pod er podem se estab


estabele
elecer.
cer. Para McLuhan,
McL uhan, a inter
interativi
atividade
dade

(embora ele não utilize esta palavra) situase em termos de media  


quentes ou frios. Os media  quentes são aqueles aqueles que pe permitem
rmitem pouca
ou nenhum
nen hum a interação do es especta
pectador.
dor. São media de  d e alt
altaa definição onde
não existe possibilidade de int intervenção.
ervenção. Nesse sentido, os media  quen-
tes são o rádio, o cinema, a fotografia, o teatro e o alfabeto fonético.
Por outro lado, os media  frios são aqueles em que a interatividade é
 perm
 pe rmiti
itida
da,, de
deix
ixan
andd o um espa
es paço
ço on
onde
de os us
usuá
uário
rioss po
podd em p pre
reen
ench
cher
er.. S
São
ão
media frios a palavra, a televis
televisão,
ão, o telefo
telefone,
ne, e os alfabetos pictográfi
cos. Nesse
cos. Ne sse sentido, as tecnologi
tecnologiasas de cibercultura são media frios, inte-
rativos
rativos e retribalizant
retribalizantes.
es. NNão
ão é po
porr acaso que o tribalismo d
daa socialida
de contemporâne
contem porâneaa (Maffesol
(Maffesoli)i) alimentase da potência reliante das tec-
nologias da
d a cibercultura
cibercultura..
A cibercultura
c ibercultura ser
seráá uma configuração soci
sociotécnica
otécnica onde h have-
ave-
rá modelos tribais associados às tecnologias digitais, opondose ao
individualis
individualismomo da cultura do impr
impresso,
esso, moderna e tecnocrát
tecnocrática.
ica. Com
a cibercultura, estamos diante de um processo de aceleração, reali-
zando a abolição do espaço homogêneo e delimitado por fronteiras
geopolíticas e do tempo cronológico e linear, dois pilares da
modernidade ocidental. No entanto, esta conectividade generalizada
não é isenta de
d e críticas.
Jean Baudrillar
B audrillard,
d, por exemplo, ttem
em uma visão muito
mu ito menos en
en--
cantadora que McLuhan e, de forma bastante pessimista, vai propor
que, com as novas tecnologias digitais de comunicação, estaríamos
diante não de uma retribalização,
retribalização, mas de uma m
mera
era circulação de in-
formações. Esta nos faz indivíduos terminais que comutam entre si,

sem nenhuma
simulação interação.
de interação Paraverdadeiras
e não Baudrillard, o ciberespaço
inter
interações. Pa ra osópolêmico
ações. Para permite
 pee n sa
 p sadd o r fr
fran
ancc ês
ês,, os no
novo
voss media  aumentam a espiral destruidora e
autista da comunicação, próximo, como veremos, das posições de
Lucien Sfez e Paul Viril Virilio.
io.
O pensame
pen samento nto baudrillardiano é aquele do excesso: qua
quanto
nto mais
trocamos informações,
informaçõ es, menos est estamos
amos em comunicação. Trocam
Trocamos os o
real pelo hiperreal, a verdadeira comunicação por sua simulação.
Estaríamos diante de uma encefalação eletrônica, onde o real desa desapa-
pa-
rece com a instituição do seu simulacro. No me
mesmo
smo sentido, para Paul
Virilio, as novas tecnologias do tempo real, do ao vivo {live), estabe-
lecem uma institucionalização do esquecimento (industrialization de• de •

• ANDRÉ LEMO
LEMOSS | 7 7
 

1'oubli), já que elas requerem respo


1'oubli),  respostas
stas imedia
imediatas tas,, não privi
privilegiando
legiando a
reflexão,
reflexã o, o debate ou mesm o o exercíci exercício o da mem
memóri ória.
a.
 Naa ssu
 N u a E
 Ess th
théé tiq
ti q u e d
dee lla
a D isp
is p a ri
riti o n l34, Paul V irili
tio irilio
o m os
ostra
tra qu
quee
as novas tecnologias privi privilegiam
legiam o fluxo de dados que circulam no
ciberespaço de forma inst instantâ
antânea,
nea, sendo regidasregidas,, assim, pelo refle-
xo e não pela reflexão ou a memória. Virilio afirma que “mais o  o 
sab er cresce e mais o desconhecido aumenta ou ou,, m elho r diz endo,  
dizendo,
mais se precipita a informação-número, mais nós somos normal
mente conscientes de sua essê
essênci
nciaa in
incomple
completa
ta fragm entá ria  ” ,3S. Pa
entária P a ra
Virilio, com os computadores, é a informação que é transportada,
mas não as sensações. O processamento dos dados é sinal de uma
 fazend o com que, quanto mais informado esteja o homem,
apathéia, fazend
apathéia,
mais, ao seu redor, cresça o deserto do mundo. Para V iri irilio,
lio, “o p en
same nto coletivo imposto pe los diversos medi a visava aniqu ilar a  
media
originalidade
originalida de das sensaçõe
sensaçõess ((..
...)
.),, um est
estoque
oque de inform
informaçõe
açõess de sti
nado
na do a pr
prog
og ra
ramm a r sua
suass m em
emória
órias”1s”136.
Virilio
Viri lio afi
afirma
rma que o tempo re real
al e a velocidade mudaram a rela-

ção do ho mem com


contemporâneo como
das oteletecnologias
o am biente u urban
rbano,
o, soc
social
tornouse ialume cult
cultural.
ural. Opassivo,
receptor usuári
usuário o
tendo
tend o que responde
responderr a eestímulos
stímulos imediimediatos
atos.. Isto
Isto causaria um umaa com -
 pree en
 pr ensã
são
o pa
parcrcia
iall da
dass s it
itua
uaçõçõeses às q ua
uais
is e le e s tá e x p o sto
st o (im
(i m ag
agee n s
televisivas,
televisi vas, informações do ciberespaço)
ciberespaço).. Ele entra no “ciberm “cibermund undo”o”
com susuaa po
polític
líticaa do p io r1
r1337, ond
ondee o tem po real co cond
nduzuz “...nossa von vontata
zero.. ” 138 tra
de a zero..  traze
zend
nd o à ba baililaa “o desapar
desapareciment
ecimento consciência  
o d a consciência
como percepçã o diret diretaa dos fenô
fenôm m eno
enoss que nos inf informamam
ormamam sobr sobree  
nossa pró
p rópria
pria exexistê
istênc
nciaia”'3
”'39.
Sob a batuta do tempo real, a sociedade contem porânea estaria
imersa na pura circulação de informação, gerando um processo de
mera
me ra co m uta
utaçã ção1
o14
40. N o entan
entanto,
to, a circulação da iinfornformm açã
ação
op process
rocessa
a
se de form a entrópica e viróticav irótica ee,, talv
talvez,
ez, seja essa virose digital o que
 po
 p o s sa im p e d ir a d
dee st
stru
ruiç
ição
ão to
tota
tal,
l, co
comm o a firm
fi rm a B au
audr
dril
illa
lard
rd..
Para Baudrillard e Viri Virilio
lio,, a existência contemp
contemporânea
orânea está imersa
em uma espiral autodestrutiva. Quanto mais meios de comunicação
temos ao nosso dispor, menos comunicamos. A informatização da

sociedade seria a encarnação da racionalidade moderna onde o


 pa
 p ti c o m  do Big Broth
a n o p tic Brotherer se inser
inseree na cultura contem porâ
porânea
nea 141. 0
real torn
tornasasee a v
vítim
ítimaa de um crim
crimee q
quas
uasee pe
perfe
rfeito
ito 142.
Essa sociedade de comunicação generalizada é vivida sob o sig sig

78  C IIB
B E R C U LLTT U R A , T E C N O L O G I A E V I D A S O C I A L N A C U L T U R A C O N T E M P O R Â N E A •
 

no da obscen
obs cenida
idade
de e d
daa radica
radicalizaç
lização
ão d
daa socie
sociedad
dadee do es
espe
petá
tácu
culo
lo1143. A
obscenidade começa mais precisamente
precisamente com o fim da so sociedade
ciedade do
espetáculo, onde não existe mais nada para ver, onde não há mais
ilusão,
ilusão, pois tudo tornouse transparente e visível. Esta seri
seriaa a maior de
todas as obsce
obscenidad
nidadee tudo ver
ver,, quando nã
não o há mais nada
nad a para ser
se r vist
visto.
o.
Como mostra Baudrillar
Baudrillard,
d, “não estam
estamos
os mais no dr
dram
ama a da alienação, 
mas no êxtase
êxtase da ccomuni
omunicaçã
cação.o. E est
estee êxta
êxtase
se é ob sce no ”m .  Ainda
obsce
segundo Baudrillard, “ cami
caminha
nhamos
mos para um mundo intinteir
eirament
amentee fu n
cional, operatório, racional, positivo sem o mínimo buraco, de uma  
transparência total, logo extremamente mortal  “l4 “ l45
5.
 No
 N o e n ta
tan n to
to,, a c rí
ríti
ticc a c o n tr
traa a d e s u m a n iz
izaa ç ã o d e v id
idaa à r a c io -
nalização técnica do social, típica de Baudrillard e Virilio, é vista
 por
 p or M u rp
rph h y c o m o o b s o leleta
ta,, já q u e os jo
jog g o s de lilin
n g u a g e m n ã o a u to -
rizam uma interpretação definitiva do fenômeno técnico. Segundo
Murphy,
Murp hy, é através dos jogo s de linguagem que ex existe
iste a possibilidade
de esca
escapar
par ao mund
mundo o técnico,
técnico, unidimensional, pintado po porr Baudrillard
e Virilio. Para Murphy “o que Ba Baudrillard
udrillard visivelm
visivelmente ente esqu eceu é  
esqueceu
que a técnica (...) (...) não afeta os iindivíduos
ndivíduos de m aneira causai. Dito  
maneira
de outra
outra form a, um fenôm eno não te temm nunc a um impacto dir eto  
direto
sobre os indivíduos e isso porque a imaginação é indissociável da  
realidad
real idade.e. (...
(...)) a realidade é ape apenasnas um
uma a interpretaç
interpretação ão que du ra  ” 146.
dura
A comunicação mediatizada pelas novas tecnologias como a
internet,, po r exemp
internet exemplo, lo, criaria para Baudril
Baudrillard
lard um desedesertorto social, assim
com o a v veloc
elocidad
idadee ccria
ria para
pa ra Virilio o des deserto
erto no e sp aç o 147. Para
Baudrillard,
Baudrill ard, os modelos de simulação se degradam n naa form
formaa moderna,
técnica e estéril, que ele chama de comutação. Contudo, a atual
efervescência
efervescên cia das rredes
edes de computadores não pode, sob o risco de uma um a
simplificação
simplifi cação grosseira, ser reduzida à simpl
simpleses comu
comutação
tação entre os usu-
ários
ár ios.. N a fria infraestrutura
infraestrutura tecno
tecnológic
lógica,
a, pa
parece
rece infiltr
infiltrarse
arse toda a dindinâ-
â-
mica da vida social contemporânea. Mais, M ais, não existe a circulação pura,
 já
 j á qu
quee o imimpr
prev
evis
isto
to,, o ex
exce
cess
ssiv
ivo,
o, o ca
caót
ótic
icoo sem
se m pr
pree p o d e a p arec
ar ecer
er e
trazer resultados
resultados inesp
inesperados.
erados. O caos é o carrasco do determ
determinismo.
inismo.
Hoje, o ciberespaço parecparecee ser a consequência
consequên cia mais óbvia óbv ia dest
destaa

ausência de pura circulação.


circulação. Com o veremos, o ciberespaço não é só
um espaço de comutação. Exemplos pululam neste sentido: chats, 
muds, fóruns, newsgmups. Todos de conteúdos os mais diversos (aca-
dêmico, erótico, revolucionário, marginal, político ou de lazer). O
ciberespaço não é o deser
deserto
to do real
real,, assi
assimm com não é o fim da com u
 
• ANDRÉ LEM
LEMOS
I 79
nicação ou do social. Da mesma
m esma forma, os vívírus
rus de computador, como
também
tamb ém as piratarias
piratarias dos hackers, são expressões ffortes
ortes desta impro-
impro -
visação tecnosocial.
Baudrillard percebe estes fenômenos como com o possibilidade de es-
capar
cap ar ao desastre
desa stre total,
total, ao crime perfeito.
perfeito. Os vírus, como os hackers
e suas invasões espetaculares, seriam a expressão mais mortífera (e
assim, vital) des
desta
ta transparên
transparência
cia e circulação pura da informação.
informa ção. A
assepsia
ção um apodería
à uma nos conduzir,
purificação tecnológica
tecno lógicade de
acordo
nossos com Baudrillard,
corpos em dire-
e subjetividades.
Esta assepsia pode tornarse mesmo mortal pois pois é, justam ente como com o
nos organismos vivos, pela supressão da heterogeneidade dos siste-
mas que eles são conduzidos à morte. O vírus, como as ações dos
hackers, são sã o desastres efêmeros e infecciosos que vão ten tentar
tar evitar o
grande desastre. Para Baudrillard, “o virtual e o viral caminham  
 ju
 j u n t o s ”'4
”'48
8“...a
.. .a re
rece
cent
ntee ir
irru
rup
p ç ã o d o s víru
ví russ e le
letr
trô
ô n ic
icoo s of
ofee re
rece
ce um
umaa 
anomalia remarcável: diriamos que existe um prazer moleque das  
má quinas em amplif
máquinas amplifica
icar,
r, ou em pro
produduzir
zir efeitos perve
perversos,
rsos, em ex ce
der suas finalidad es pelas suas próprias opera operaçõe
ções.s. Exist
Existee a í um uma a 
 pee r ip
 p ipéé c ia irôn
ir ônic
icaaeaapa
paix
ixon
onan
ante
te.. P o d e ssee r qu
quee a in
inte
teli
ligg ê n c ia a r ti
tifi
ficc i
al se parod ie a ela mesma nessa patologia vi vira l, inaugurando aqui  
ral,
uma esp espécie
écie de verda
verdadeira
deira inteligên
inteligência”'
cia”'4 49.
O que m obiliza
obiliza o imaginário socia
sociall da cibercultura é eessa
ssa viru-
lência da informa
informação,
ção, que se dá de várias
várias fo
formas:
rmas: por
p or vírus de compu-
comp u-
tador,
tador, pelos ataques
a taques dos hackers (estes gostam de ataca
a tacarr instit
instituições
uições
que encarnam
enc arnam o espírito da modernidade),
modernidade), pelo erotismo do cibersexo,
 pelo
 pe lo tra
tr a n se d o s div
di v e rso
rs o s esti
es tilo
loss d a m úsic
ús icaa tecn
te cno,
o, p e lo e x c e sso
ss o de in-
in -
formação
formaç ão no ciberespaço. É devido a estas estas várias
várias formas de virulênci-
as e de apropriações que a racionalidade do sistema, sua transparên-
cia total e mortífera, não atinge completamente o apogeu. Vemos,
assim, que é por p or esta atitude
atitude virulent
virulenta,a, presenteísta
presen teísta e comco m unitária que
a vida social
social cocontemporâne
ntemporâneaa evit evitaa sucumbir
sucumb ir ao deserto da técnica. Aí
está o que caracteriza a cibercultura do final de século XX. Como
afirma Baudrillard: “a verdadeira catástrofe, a catástrofe absoluta  
seria a onipresença de todas as redredes
es,, a transparênc
transparência
ia total da infor
mação,
maçã o, as qua
quais
is,, felizmente, os vírus da informática
informática no
noss protege
protegemm  ”
 ”1150.
A cibercultura
cibercultura é um a configuração
configuração sociotécnica
sociotécnica de produção de
 pe quen
 pequ enas
as catástr
ca tástrofe
ofess que
qu e se alime
ali menta
ntamm das
da s fusões,
fusõ es, impulsõ
imp ulsões
es e simbio
sim bioses
ses
contemporâneas:
contem porâneas: o usuário interativo
interativo da cibercultura
cibercultura nasce do desapa

80  CIBERCUL
CIBERCULTURA,
TURA, TECNOLOGIA E VIDA SOCIAL
SOCIAL NA CULTURA CONTEM
CONTEMPORÂ
PORÂNEA
NEA •
 

recimento do social (Baudril


(Baudrillard)
lard) e da implosão do individualismo mo-mo -
derno.. Homens
derno Hom ens e máquinas (nanotecnologias,
(nanotecnologias, próteses) tomams
toma msee qua-
se isomórficos, simbióticos,
simbióticos, indiferenciados.
indiferenciados. O tribalismo, o presenteísm
pres enteísmoo
e o hedonismo das comunidades virtuais abalam a rigidez das formas
sociais modernas (partidos, classes, gênero). A cibercultura seria a in-
clusão de pequenas catástrofes em meio à infraestrutura tecnológica

mundial.
mundia
noção l. Tudo
de Tud
tempooisso
tempo real
real, em tempo real,
, inventada real
pe ,los
pelosinst
instantân
antâneo.
técnicos
técn eo.em
icos Como
Com o afirma Lévy,
informática, resume “a 
bem o espíri
espírito
to da info
informáti
rmática:
ca: a co
condensação
ndensação do presente
presen te sobre a ope
ração em curso.
curso. (...
(...)) Po
Porr analogia com o tempo circu circularlar da or alidade  
oralidade
 pri
 p rim
m á ria
ri a e o tem
tempo
po lin
lineaearr da
dass socie
so cieda
dade
dess hi
histó
stórica
ricas,
s, p
poo d er
eria m o s f a l a r  
iam
de uma espécie de implosão cr cronol
onológic
ógica,
a, de um tempo po pontu
ntual
al instau
rado pela
pe lass redes ininfo
form rmát
átic
icas
as””151.
Lu cien S fez
Lucien fe z 152 vai acom
aco m panhar
pan har o penp ensam
sam ento
en to de V irilio
irilio e
Baudrillard. ParaPa ra Sfez, estaríamos
estaríamos vivendo o ápice da cultura faustiana,
que ele prefere chamar
chama r de Sociedade Franknstein.
Franknstein.  A questão da críti-
críti-
ca da comunicação
comun icação deve, com razão, se deslocar para um umaa crítica
crítica da
tecnologia através de três formas: a metáfora do “ avec ” (a técnica é
exterior ao homem e é com ela que o homem molda o real), a do
“dans ” (o homem está dentro dentro de um ambiente de m máquinas
áquinas de comu-
com u-
nicar e só existe ali) e a do “par” (o homem só existe pelo objeto
técn
té cnic
icoo )15
)153. É esta
est a últim
ú ltimaa metáfo
me táfora
ra que
qu e ele cha
c ham
m a de tautismo (neolo
gismo entre tautologia e autismo) e seria esta a metáfora mais apro-
 pria
 pr iadd aCom
pa
p a raodBaudril
Como Be scre
sc revv elard,
r a c oSfez
audrillard, Sm u npensa
fez içã
iç ã o acon
pens c aonte
temm pnicação
o rân
râ n e a . como um a mori-
comunicação
comu
 bu n d a m o rr
 bun rree n d o p o r exc
e xces
esso
so.. C o m as nova
no vass tec
te c n o log
lo g ias
ia s esta
es tarí
ríaa m o s
vendo o nascimento de um Franknstein Franknstein tecnológico que instit institui
ui a re-
 peti
 pe tiçç ão e o iso
is o lam
la m ento
en to,, o taut
ta utis
ismm o. L ucie
uc ienn S
Sfe
fezz pro
p ropp õ e qu
q u e a co
c o m u n i-
cação contemporânea
contem porânea é marcada m arcada pelo
pelo imperativo tecnológi
tecnológico, co, agora
sob a forma de tecnologias da mente.  Estas produzem uma forma
simbólica, o tautismo, como repetição e isolamento patológico do
mesmo
me smo,, tom andoan dose
se o símbolo
símb olo da cultura contem
con tem porân
po rânea ea1154.
A sociedade da comunicação,
comunicação, regida pela ameaça am eaça do Franknstei
Franknstein, n,
cria uma cultura tecnológica onde as tecnologias
tecnologias potencializam
potencializam,, ao
mesmoo tempo, a troca de informações
mesm informações e a debilitação
debilitação da comunica-
com unica-
ção: “a comu
comunicação excesso de comunicação e se acaba  
nicação morre p o r excesso
em um
umaa inte
interm
rminá
inável
vel ago
a gonia
nia de es
esp is ”155. Tratase mesmo
p ira is”1 mesm o “do fim
fi m  
da co m u n ic
icaa ç ã o ”156.•

• ANDRÉ LEMO
LEMOS
S
 
81
 N o e n ta
 No tann to
to,, é e st
staa tr
troo ca d e in
info
form
rm aç
açõõ es en
entr
tree in
indd ivíd
iv ídu
u o s ou
grupos ordinários
ordinários que compõe a singul singularid
aridade
ade daquilo que Léo Scheer
chama de Civilização do Virtual, em oposição oposiçã o às visões de Baudrillard,
Virilio
Virilio e Sfe
Sfez.
z. Es
Estata Civili
Civilização
zação é aquaquela
ela onde a informaçã
informação o é privada
de seu vínculo a um sentido (já que tudo é convertido em bits), per-
dendo toda referência
referên cia ao real, podendo circular mensagen mensagenss num jog o
ilimitado de figuras
figuras caleidoscópicas. As novas tecnologias eliminari- elimina ri-
am a opacidade
o pacidade do sujei sujeito
to e do objet
objeto,
o, instit
instituiríam
uiríam a troca frívol
frívola:a: não
deserto do real, mas efe efervescência
rvescência do frívolo.
frívolo.
O grande mito da modernidade fo foii o sonho de uma sociedade
de comunicação transparente, onde a difusão da informação se dá
através de redes cibernéticas. A idé idéia
ia de uma com comunicação
unicação racional
racional,,
instituindo
instit uindo uumama sociedade il iluminada
uminada e sem sem amb
ambiguidades
iguidades é, no fun-
do, um sonho
sonh o totalitário.
totalitário. A transparência elimina o jo jogg o de du alida -

des. Hoje, o mito da neutralidade técnica é transform ado p ela apro-


 pri
 p riaa ç ã o d iá
iári
riaa e a d in â m ica
ic a d a so
socc ie
iedd a d e c o n te
temm p o râ
rânn e a . E s ta n ã o
nos permite falar de uma sociedade homogênea homog ênea ou transparente, tau
tista ou Frank nstein.
Léo Sch
Scheer,
eer, analisando o que el elee cham a de civilização do virtu-
al,, explica
al ex plica que entramos na crise da noção de históri históriaa com a queda do
muro de Berlim. Assim, se não há uma história, o sujeito histórico
desaparece, assim como a noção de Estado Nação, afetando a dimen dimen- -
são política,
política, traduzindose numa desconexão entre esta e o quotidia-
no. Para Scheer, os télécitoyens   são o ssímbolo ímbolo mesmmesmo o do fim das
grandes narrativas da modernidade e o começo das pequenas h ist istóri-
óri-
as, sustentandose sob três pilares pilares pri
principa
ncipais: is: a informática, a ccom omuta-
uta-
ção e a comunicação, substitui substituindo
ndo os pilpilares
ares da m modernidade
odernidade repre-
sentados pelo exército, pela família/produção e pela religião.
A sociedade virt virtual
ual seria a socied
sociedade ade de comunicação (fundada
na redundância da difusão da mensagem); a sociedade da
informação (fundada no estereótipo do terminal) e a sociedade de
comutação (de equivalência
equivalência entr entree o em iss
issor
or e o receptor na r e d e ).
Para Scheer, a sociedade virtual é a sociedade onde “a inteligência  
do central coloca o usuário no desaf desafioio de pro du
duzir
zir seu próprio espe
táculo,
tácu lo, seu prpróp
óprio
rio imagi
imaginário
nário,, seu pró
próprio
prio desafi
desafio.
o. As sim este modo  
Assim
reconstitui
recon stitui um tetecido
cido co m un
unitár
itário”'5
io”'57
7.
 A C iv
ivil
iliz
izaa ç ã o d o Virtu al,  para Léo Scheer, marca a cibercul
Virtual, cibercultu
tu
ra, criand
criando o ainda três excessos que colocam as visões dos seus conter

82  | CIBERCULTU
CIBERCULTURA,
RA, TECNOLOGIA E VIDA SOCIAL N A CULTURA CONTEM PORÂNEA
PORÂ NEA <
 

râneos franceses em desafio:


desafio: um excesso de inf
informação,
ormação, um excesso
de tecnologia
tecnolog ia e um excesso do soc
social
ial.. A desmateriali
desmaterialização
zação ddaa ordem
natural das coisas pela numerização generalizada pod
podee ser vista como
um a transgressão da realidade pela li
liberação
beração do eexcesso
xcesso potencial ou
virtual
virtual da infor
informação,
mação, ha
havendo
vendo um descolamento dos constrangim
constrangimen-
en-
tos materiais (imagens de síntese,
síntese, simulação, realidade virtual). A abu
abun-
n-
dância
dân cia de inform
informações
ações e de ttecnologias
ecnologias informacionais, criadas e ge-
radas constantemente no ci ciberes
berespaço,
paço, faz entrar em jog o a dépense  
(Bataille).
Por m ais paradoxal que seja seja,, a tecnologi
tecnologiaa m
microelet
icroeletrônica
rônica co-
loca a civilização
civilização contem
contemporânea
porânea no excess
excesso,
o, na despe
despesa
sa im produti-
va, n a o
orgia
rgia d
dee ccód
ód igo
igos1
s15
58. Neste
Ne ste sentido, a so
socied
ciedade
ade de inform ação
não se interessa mais pelo político, havendo uma separação entre o

contrato moderno e o tribalismo orgânico e grupai das sociedades


contemporâneas. Estas são refratárias às promessas ideológicas, aos
 pro
 p rog
g ra
ramm a s e p ar
arti
tid
d o s p o lít
lític
icos
os trtraa di
dici
cion
onai
ais.
s. E la
lass se a p ro
rox x im a m m ais ai s
da tribo, ligada por mitologias e não por ideologias. Estamos Estam os aqui no
que S cheer cham a de excesso do social social,, não morte do soci socialal..
 No
 N o im
imaa g in
ináá ri
rioo te
tecn
cno o lóg
ló g ico
ic o m o dedern
rno,
o, d o q
quu a l Sf
Sfez
ez,, B au
aud d ri
rill
llaa rd
e Virilio
Virilio são os herdeiros m mais
ais famosos, toda a vida social está fecha-
da em um sistema técnico. Toda a vida social é homogeneizada pela
razão tecnocrática. A escola de Frankfurt criticou, de forma oportu-
na, o caráter homogeneizan
hom ogeneizante te da tecnologia
tecnologia e dos media,  assim como
o perigo da vinculação entre tecnologia e poder. poder. Os elem entos vit vitais
ais
de uma sociedade (a orgia, a violência, a comunidade, o jogo
agonístico) seriam eliminados pela razão científica instrumental instrumental e pelo
totalitarismo
totalitarismo de desem
desempenho
penho tecnológi
tecnológico.
co.
Entretanto, como veremos, a objetividade perfeita, a reprodu-
ção exata da realidade, projetada a priori  nos escritórios dos tecno
cratas, não corresponde
correspond e à realidade
realidade do quotidi
quotidiano.
ano. Aqui,
A qui, o m
mapa
apa não

corresponde ao território. Diversos exemplos estão presentes na ci


 bee rc
 b rcuu lt
ltuu ra qu
quee e n co
cora
raja
jamm a m u lti
ltipp li
lica
caçç ão d e eesp
spee c if
ific
icid
idaa d e s lo
loca
cais
is e
múltiplas. As mais contundentes expressões estão presentes na di-
mensão quotidiana, onde diversas tribos tribos acham seus nichos em meio m eio
aos interstícios
interstícios do desenvo
desenvolvimento
lvimento tecnológico. Es Esta ta cibercultura, a
que existe e está ancorada no dia a dia, não se vê na metáfora da
sociedade Franskstein, tautística como pretende Sfez. Ela não é re-
 pre
 p ress e n ta
tadd a ta
tamm bé
bémm pepela
la so
soci
cied
edad
adee o nde
nd e a c o m u n icicaçação
ão de
desasapp a re
recc e •

LEMOS   83
• ANDRÉ LEM
 

através de seus excessos comunicativos e sociais, como afirma Bau


drillard.
drill ard. Ela está ain ainda da distante da constituição
constituição de um a civilização do
esquecimento,
esquecim ento, com o mostra Vir Viril
ilio.
io. Embora os perigos visualizados
 po
 p o r est
estes
es p e n sa
sadd o re
ress ssej
ejaa m re
reai
ais,
s, a ccib
iber
ercu
cult
ltu
u ra c o n te
temm p o râ
rânnea p
paa re
re--
ce r sser,
cer er, hoje, irredutível à esta vi visão.
são. Aqui, o mun mundo do da vida
v ida inserese
no deserto do real da tecnologiatecnologia..
Todo impacto da cibercultura
cibercu ltura est
estáá na simbiose pa paradoxal
radoxal entre
tecnicidade e socialidade.
socialidade. Ela pode sser er mesmo com compreen
preendida
dida como a
expressão
expre ssão ttecnocultural
ecnocultural desta Civilização Virtual, pondo em m marcha
archa
um processo de apropriação e de construção de tecnosocialidades,
ou cibersocialidades.
cibersocialidades. Podemos dizer com M ercier que “ os usuários  
não se contentam em se sub subme
me terá tétécn
cnic a. E seu papel supera aquele 
ica.
de escolhas elementares do tipo adquirir/não adquirir, ou utilizar  
bem/não utilizar (...) os novos objetos técnicos. São eles que, pelas  
 prr á tic
 p ti c a s q u e e le
less vã
vãoop
pro
rog
g re
ress
ssiv
ivaa m en
ente
te d e se
senn v o lv
lvee r e afinar
afinar,, d e te
terr
m inarão, no fin a l das cont as, a incidência efetiva das novas  
contas,
tecnologias sobre a transformação
transformaçã o de suas vidas quotidi anas. Existe  
quotidianas.
a í um proce
processosso de reapr
reapropri
opriação
ação mais ou menos cconsciente onsciente das téc
nicas que o pú público
blico nem concebeu nem explici tamente desejou  ” 159.
explicitamente
• • •

Os novos media  (digitais) aparecem com a revolução da micro


eletrônica,
eletrônica, na segunda metade d
daa década de 70, através de convergências
e fusões, principalmente no que se rrefere
efere à inf
informática
ormática e às telecomu
telecomunica-
nica-
ções160. Os media  digitais vão agir em duas frentes: ou prolongando e
multiplicando a capac
capacidade
idade dos tradici
tradicionais
onais (como satélit
satélites,
es, cabos, fibras
ópticas); ou criando novas tecnologias, na maiorias das vezes híbridas
(computadores,
(compu tadores, Minitel, celulares, Pagers, TV Digital, PDAs,
PDA s, etc.
etc.).
).
Podemos
Podem os d
dizer
izer que o ttermo
ermo m ulti
ultimídia
mídia int
interativa
erativa expressa bem
o espírito tecnológico da época, caracterizandose por p or uma hibridação
de diversos dispositivos, infiltrados de chips  e memórias m emórias eletrôni
eletrônicas.
cas.
As novas tecnologias são o resultado de convergências tecnológicas
que transformam as antigas através de revisões, invenções ou jun-
ções.. A
ções Ao o mode
modelo lo UmTodos dos media  tradicionais opõemse o mo-
delo Tod
T odos
osToTododos1s161, ou seja, a form
formaa descen
desc entraliz
tralizada
ada e un
univer
iversal
sal (tudo
 pod
 p odee se
serr co
c o n v er
erti
tid
d o e m bits -  sons, imagens, textos, vídeo...) de cir-
culação das informações.
Os novos media  permitem a comunicação
com unicação individualizada, per-
sonalizada e bidirecional, em tempo real real.. Isto vem cau
causándo
sándo m mudan
udan

84  | CIBERCU
CIBERCULTUR
LTURA,
A, TECNOLOGIA
TECNOLOGIA E VIDA
VIDA SOCIAL
SOCIAL NA CULTURA CONTEMPORÂN
CONTEM PORÂNEA
EA •
 

ças estruturais na produção e distribuição da informação, tanto em


 jorn
 jo rnaa is
is,, te
tele
lev
v is
isõõ e s, rád
rá d ios
io s e re
r e v is
ista
tass al
além
ém d o se
seto
torr d
dee e n tr
tree te
tenn im e n to
como o cinem a e a música. A ttecnologia ecnologia digital
digital propo
proporciona,
rciona, assim,
uma dupla ruptura: no modo de conceber a informação (produção
 porr p
 po prorocc e ss
ssoo s m ic
icroroe
ele
letr
trô
ô n ic
icoo s) e no m o do d e d if ifu
u n d ir as in info
form
rm a -
ções (modelo TodosTodos). Alguns autores chegam mesmo a falar
de um dom ínio dos meios de produção pelo públic público. o.
Para concluir este capítulo, podemos dizer que, na evolução
das vias
vias da com un ica icaçã
çã o,vemos a passagem do modelo iinformal nformal da
comunicação para o modelo da comunicação de m assa e deste para o
atual mode
modelo lo de rredes
edes de comunicação informatizadas. O mo modelo
delo in-
formal estabelece uma relação direta entre o homem e o mundo. A
linguagem não representa
represe nta o mundo, antes, ela é o próp
próprio
rio mundo. A
falaa produz aq
fal aquilo
uilo que enuncia.
enuncia. A com unicação informal constitui o
reconhecimento do pertencimento a uma comunidade
comun idade e sua eficiência
situase no plano mítico,
m ítico, simbólico e reli
religioso.
gioso.
Já o m odelo massivo é aquele onde a linguagem se autonomiza.
Ela não mais é o mmundo,
undo, ela representa
representao.
o. AAss palavras nã
nãoo se con
confun-
fun-
dem mais com as coisas e a racional
racionalidade
idade assume o valo
valorr do discurso.
A eficácia não se dá m
mais
ais no pl
plano
ano religi
religioso,
oso, mas na dinâm ica opera

tóri
ória,
a, na ação objetiva e efi eficiente
ciente que desencadeia. A com unicação de
massa não constitui uma comunidade,
comu nidade, antes, diri
dirigese
gese às diversas co -
munidades do espaço público (a massa). O paradigma aqui é o da
televisão162.
O modelo
mode lo informat
informatizado,
izado, cujo exemplo é o ciberespaço, é aquel aquelee
onde a forma
form a do rizoma
rizo ma (redes digi
digitais)
tais) se constit
constitui
ui n
num
umaa estrutura co-
municativa de livre circulação
circulação de mensagens, agora não mais editada por
um centro, mas disseminada de forma form a transvers
transversal
al e verti
vertical,
cal, aleatória e
associativa. A nova racionalidade dos sistemas
sistemas inform
informatizados
atizados aagege sobre
um homem
hom em qu quee não mais recebe iinformações
nformações homogêneas de u umm centro
“editorcoletordistribuidor”, mas de forma form a caótica, multidirecional,
multidirecion al, en
trópica,
trópic a, coletiv
coletivaa e, ao mesm
mesmo o tempo, personalizada.
Diante de um a sociedade
sociedade massifi
massificada
cada (pouca informação com
redundância), passase a uma sociedade informacional, prevalecen-
dose o fluxo de uma quantidade gigantesca de informações para os
interagentes
interagen tes (C
(Caste
astells1
lls163) que terão o pod
poder
er de escolhe
escolher, r, triar e bu
buscar
scar
o que lhes ininteres
teressa.
sa. O que está em jog
jogoo nesse processo de digitali
digitalização
zação
do mundo é, segundo A dri
driano
ano Rodrigues, o desaparecimento da in
ins
s••

• ANDRÉ LEMOS
LEMOS | 85
 

tância legitimadora
legitimadora clássica do dis discurs
curso:o: eem
m issor e receptor fundem
se na d an ançaça de b its
it s 164.
Vamos
Vam os tentar m mostrar
ostrar nas pági
páginas
nas que seguem, qu quee a cibercul
tura é  mais que o simpl simples es desert
desertoo do real
real,, tautismo ou indústria do
esquecime
esque cimento
nto  vitali
vitalista,
sta, tr
tribal
ibal e presenteí
presenteísta.
sta. MMais
ais do que dese
deserto
rto e
reflexo, o tempo real da velocidade imediata imediata de trocas de informações
 bin
 b ináá ri
riaa s é um a ““man
maneiraeira de retor
retorno
no ao Kdíros
Kdíros dos sofis
sofistas.
tas. O con
conhe
he
cimento por simulação e interconexão em tempo real valorizam o  o 
momento oportuno, a ocasião, as circunstâncias relativas, opostas  opostas  
ao sentido m olar da históri história a ou à verda
verdade de fo ra do tempo e fo ra do do  
lugar,
lug ar, q que
ue eram
eram,, talvez, ap apen
enas
as efeito
efe itoss de eesc
sc ritu
ri tura
ra ”165.
Mais do que deserto do real, a cibercultura está sincronizada
com a dinâmica da sociedade contemporânea, podendo mesmo ser
caracterizada com o uma cib
ciberso
ersocial
cialidade
idade..
 A cib
ciber
erso
socia
cialida
lidade
de co
conte
ntem
m po
porân
rânea
ea

“parler de technologie de la vie quotidienne, prise comme


 processus global de socialisation et un système d ’actions,
’actions,
fait d’abord référence, par conséquent, à la manière dont
1’indivi
’individu
du perçoi
perçoitt son monde et agit sur llui.
ui. La vie de
tous les jours, la vie domestique comme celle qui se
déroule aux points de jonct
jonctions
ions ave
avecc les macrosystèmes
(cabines téléphoniques, routes, gares, etc.) sont dès lors
les lieux privilégiés de cette nouvelle mise en forme du
social”.
Al n  G r a s s '6 6
a iin

Com vimos nos capítul


capítulos
os anteri
anteriores,
ores, a soci
sociedade
edade con
contemporâne
temporâneaa

está imersa num culto da técnica e seus objetos. A cibercultura, pela


socialidadee que nela atua, parece, antes de isolar indivíduos termina
socialidad terminais,is,
colocar a tecnologia digital contemporânea como um instrumento de
novas formas de d e sociabili
sociabilidade
dade e de vínculos associativos e comu comunitári-
nitári-
os. Como afirma Maffesoli, “todos “todos os micro-rituais (...) parecem ter  
esse papapepell de desvio da técni
técnica
ca de sua fun çãção o meramente uti utili
litár
tária, de  
ia, de
agrupamento
agrupam ento de indiví
indivíduos
duos em torno d dee uma atividade
atividade comum, de uma uma  
 pa
 p a ix
ixãã o ccom
ompaparti
rtilha
lhada
da.. Po
Pode
deri
riam
amos
os eent
ntão
ão f a l a r qu
quee o d
des
estin
tinoo da té
técn
cnii
ca moderna reside também na sua apropriação dionisíaca e, assim,  assim, 
num
nu m a ressa
ressacral
cralizaçã
ização,o, um ree
reenca
ncantam
ntamentoento do mu mund
ndo”1
o”161.

86   | CIBERCULTURA, TECNO


TECNOLOGIA
LOGIA E VIDA SOCIAL NA CULTURA CONTEM
CON TEMPOR
PORÂNE
ÂNEA
A•
 

Vamos analisar as novas formas de sociabilidade emergentes


com as tecnologias do ciberespaço. As diversas manifestações da
cibercultura
cibercul tura contemporânea como, por exemplo, a efervescência so-
cial da internet; as comunidades virtuais, as festas raves e a música
eletrônica, o underground high-tech  com os cyberpunks; o misticis-
mo dos zippie
zip pies1
s1668, o ativismo
ativism o dos cypher
c ypherpunk
punks,s, exprim
ex primem
em o encon
en contro
tro
das tecnologias digitais com a socialidade
socialidade contem
con temporân
porânea
ea de que nos
fala Michel
M ichel Maffesoli no conjunto de sua obra.
A tecnologia, que foi durante
durante a modernidade
m odernidade um instrumento
instrumento
de racionalização e de separação,
separação, parece
parece transformarse num a fer-
ramenta convivial
con vivial e comuni
comunitár
tária.
ia. O objetivo desse capítulo é mos-
m os-
trar como as noções que definem a socialidade contemporânea
(tribalismo, presenteísmo, vitalismo, ética da estética e formismo)
 poo d e m e x p lic
 p li c a r o fen
fe n ô m e n o d a c ibe
ib e r c u ltu
lt u ra e nos
no s a jud
ju d a r a c o m p re
re--
enderr o que proponho chamar de cibersocialidade. A cibersocialidade
ende cibersocialidade
é a sinergia entre a socialidade contemporâneacontemporâne a e as novas tecnologias
do ciberespaço.
Para compreendermos os impactos das novas tecnologias na
cultura e na comunicação
com unicação contemporâneas
contemporâneas,, devemos devem os dirigir
d irigir nosso olhar
 paa ra a ssoo cie
 p ci e d a d e en
enqq u anto
an to um p roce
ro cess
ssoo (que
(q ue se c ria
ri a ) en
e n tre
tr e as form
fo rmasas
e os conteúdos (Simmel). (Simmel). É isso, no fundo, o que nos propõe prop õe Michel
M ichel
Maffesoli. Tratase, a partir da perspectiva formista simmeliana, de
mostrar a dinâm ica sóciotécnica
sóciotécnica que se instaura nesse final de século
misturando,
misturand o, de forma
form a inusitada,
inusitada, as tecnologias digitais e a socialidade
 póó s mo
 p m o d e m a , form
fo rmanandd o a cibe
ci berc
rculultu
tura
ra..
A fim de compreendermos
compreendermos m elhor essa cibercultura cibercultura plane-
tária,
tári a, vamos ten tar m ostrar como conceitos tais tais como o ttribalis-
ribalis-
mo, o presenteísm
presenteísm o, o vitalismo vitalismo e o formism o, m arcas indiscu tí-
veis da socialidade contemporânea, podem ser aplicáveis para
descrev er a relaçãorelação en tre as as novas tecnologias
tecnologias e a sociedade c on-
temporânea. Estes miniconceitos, como afirma Maffesoli, vão
 poo n t u a r t o d o s o s c a m p o s d a c u l t u r a c o n t e m p o r â n e a , n ã o s ó a
 p
cibercultura (comunidades virtuais, jogos eletrônicos, imaginá-
rio cybe
cy berpu
rpu nk , ciberse xo , realidade
realida de v irtual, cib eres er es p aç o 169), mas
todos os acontecimentos quotidianos, todas as formas de agre-
gação
edades(banal, festiva,
festiva, esporti
contemporâneas.
contemporâneas.•esportiva,
• va, m ediática)
ediática) que m arcam as soci-

 
• ANDRÉ LEMOS
LEMOS | 87
 A soc
socied
iedad
adee co
conte
ntem
m po
porâ
râne
neaa

A obra
ob ra de M. Maffesoli
Maffesoli é decisiva
decisiva para uma abordagem feno
menológica da sociedade
sociedade contemporânea ocidental
ocidental.. Com o veremos,
o conjunto de conceitos
conceitos que compõem
com põem a socialidade
socialidade maffesol
m affesoliniana
iniana
nos ajudará a compreende
com preenderr osos fenômenos recentes da cultura eletrô-
nica global.
global. Devem
De vemosos partir
pa rtir de uma fenomenologia
fenom enologia do social, enten
tendoo esta como os “ est
tend estudos
udos dos fenômeno s, isto
isto é, daquilo
daqu ilo que apa
a pa
rece à consciência,
con sciência, daqu
da quilo
ilo que
qu e é dado
dado . N
 Neste
este
sentido, a sociolo
gia maffesoliniana é um a fenomenologia do social,social, tendo por
po r objetivo
objetivo
olhar aquilo que é dado, aquilo que é, e não aquiloaquilo que de
deve
ve ser uma
sociedade, insistindo na descrição das formas atuais das relações so-
ciais.
ciais. A ênfase
ên fase da sociologia maffesoliniana está nessa desc descrição
rição do
social “...tal qual ele se dá  ” m .
qua l ele
Partindo dessa
de ssa visão fenome
fenomenológica
nológica do social,
social, M
Maffesoli
affesoli tenta
descrever
desc rever o que, segundo
segun do ele,
ele, vai marcar a atmosfera das sociedades
socieda des
ocidentais contemporâneas:
contemp orâneas: a socialidade
socialidade.. Ele mostra
m ostra com o o concei-
to de socialidade
socialidad e é definido em oposição
o posição àquele de sociabilidade. A
socialidade marcaria os agrupamentos urbanos contemporâneos, di-
ferenciandose da d a sociabilidade
sociabilidade ao colocar
coloca r ênfase na tragédia do pre-
sente, no instante vivido além de projeções futuristas ou morais, nas
relações banais
bana is do quotidiano, nos momentos não institucionais, racio-
naiss ou finalistas da vida de todo dia.
nai dia. Maffeso
M affesoli li procura
proc ura olhar
olha r a vida
como ela é, como com o diría Nelson Rodrigues Rodrigues (al
(aliás
iás,, amb
ambosos investem
inv estem numa
nu ma
 pee rsp
 p rs p e c tiv
ti v a e ró
róti
ticc a do socia
so cial).
l).
A socialidade é, para M. Maffesoli, um conjunto de práticas
quotidianas que escapam ao controle social (hedonismo, tribalismo,
 pre
 p resesenn teís
te ísmm o ) e q u e coconn stit
st ituu e m o subs
su bstr
trat
atoo ddee toda
to da v ida
id a em soc
so c ied
ie d a -
de, não só da socieda sociedade de contemporânea, mas de toda toda forma
form a social. É
a socialidade
socialidade que faz sociedade, sociedade, desde as sociedades
sociedades primitivas
prim itivas (mo(mo- -
mentos efervescen
efe rvescentes, tes, ritualísticos
ritualísticos ou mesmmesmoo festivos)
festivos) até as socie
socieda-da-
des tecnologicam
tecnolog icamente ente avançadas. A socialidade é, assim, a m ultiplici-
dade de experiências
expe riências coletivas baseadas, baseadas, não na homogehom ogeneizaçã
neizaçãoo ou ou
na institucionalização
institucionalização e racionalização
racionalização da vida, mas no amb a mbiente
iente ima-
ginário,
ginár io, passional, erótico eró tico e violent
violentoo do dia a dia, do quotidiano
quotidian o dos
homens sem qualidade (Musil) (Musil)..
Maffesoli mostra que existem existem momentos de uma um a determinada
sociedade
socie dade em que uma forma vai exprimir melhor a cultura vigente. vigente.

88   CIBERCULT
CIBERCULTURA,
URA, TECNOLOGIA E VIDA SOCIAL N A CULTURA CONT
CONTEMPORÂ
EMPORÂNEA
NEA •
 

Assim
Ass
ais im modernidade
da foi,
foi, por
po r exemplo,
exem plo, a forma
form a institucionalizada
institucionalizada
(sociabilidade). Em outras, como das relações soci-
so ci-
na sociedade
contemporânea,
contem porânea, é a socialida
socialidade
de não instit
institucional,
ucional, tribal
tribal que se sobres-
sai. Isso não significa que elas existam de maneiras estanques e
excludentes. O que é importante frisar é a pregnância
pregnânc ia de umumaa destas
destas
formas sobre a outra em determinados momentos mom entos históricos.
históricos.
A socialidade contemporânea vai se estabelecer, então, como
um politeísmo
politeísmo de d e valores
valores onde o indivíduo
indivíduo desempenha papéis, pro- p ro-
duzindo máscaras
m áscaras dele mesmo, agindo numa verdadeira teatral teatralidade
idade
quotid
qu otidian
iana1
a1772. É no quotidiano,
quotidiano , locus da prática dessad essa teatralidade
teatralid ade 
através dos diversos papéis que encarnamos nas situações plurais plu rais do
dia a dia, que podemos
podem os ex-ister   (ser
(ser,, no sentido de sair de si,
si, o D
 Daa se in  
sein
heideggeriano), sem sucumbir aos imperativos de uma moral ou de
uma racionalidade
rac ionalidade implacável, típicos
típicos do individuali
individualismo
smo moderno.
A socialidade
socialidade pósmodema, por colocar ênfase no presente, não
investe
inves te mais no dever
deve r ser
ser,, mas naquilo que é, no presente. A vida quo-
tidiana contemporâne
contem porâneaa vaivai insistir na dimensão
dimensão do
d o presente; num
nu m pre-
sentee caótico
sent caó tico e politeísta
politeísta em detrimento de perspectivas futuristas. A
socialidade não seria, assim, contratual, no sentido dos engajamentos
 políti
 po lítico
coss fixos
fix os ou dosd os perten
per tencimcimenentos
tos à classe
clas sess sociais
socia is defin
de finid
idas
as e e stan-
sta n-
ques.. Ela seria efêmera, imediata,
ques imediata, empática.
empática. Maffesoli
M affesoli dá vários exem- exem -
 ploss dess
 plo de ssaa socia
so cialid
lidad
adee nas suas
sua s anál
an álise
isess d a soci
so cied
edad
adee cont
co ntem
empp orân
or ânee a
(agrup
(ag rupamamento
entoss urbano
urb anos, s, festas e rituais, moda,
moda , tecno
te cnolog
logia,
ia, etc
e tc.)
.)1173.
A soc
socialid
ialidadadee encon
en contra tra sua forç
f orçaa na astúc
a stúcia
ia das m assa as sas1 s1774,
m arcada por p or uma espécie de passividade ativa, ativa, intersti
intersticial,
cial, subversi-
subv ersi-
va, e não por um ataque frontal de cunho revolucionário. Esse com-
 por
 p orta
tamm ento
en to riz
ri z omát
om áticicoo 175, esgu
es guio
io e efêm
ef êmerero,
o, vai
va i mar
m arcc ar profu
pro fundndamamen entete
a cibercultura, com comoo veremos mais adiante. adiante. Como afirma afirm a um  zi  zipp pi e,  
pie,
um dos
do s expoentes
expoen tes dessa cibercultura:
cibercultura: “antes de lutar contra con tra o siste
s iste
ma, estamos ignorando-o  ” .
Entretanto, se não existe mais uma unidade do social, isso não
significa uma
um a desagregação radical, radical, nem tão pouco o isolamen isolamento to pato-
lógico ou o fim do d o social,
social, como
com o vimos em Baudríllard,
Baudríllard, Virilio
Virilio ou Sfez.
Comoo afirma Maffesoli, se não podemos mais falar de unidade (fecha-
Com
da, acabada, objetiva
o bjetiva e instrumental),
instrumental), a análise da vida quotidiana
quotidian a nos
 per
 p erm
m ite ve
v e r uma
um a cert
ce rtaa unic
un icid
idad
adee ( unicité ). A un
unicidade
icidade se traduz como
uma união holística, como com o um processo em que elementos os mais m ais di-
versos agem em sinergia,
sinergia, dentro
dentro de uma mesma forma form a formante.
formante.••

• ANDRÉ
ANDRÉ LEMO
LEMOSS | 89
 

Comoo vimos, a modernidade insisti


Com insistiuu na assepsia social marcada
 p o r um
 po u m a rac
ra c ion
io n a li
lidd ade
ad e inst
in stru
rumm enta
en tal.l. E la bu
b u sca
sc a v a do
d o m e s tic
ti c a r (ou
(o u ani-
an i-
quilar) as imperfeições
imperfeiçõ es (tidas como com o escórias
escórias sensoriais) da vida, como
as emoções
emoçõe s desmedidas,
desm edidas, a violência e o imaginário simbólico. Entre-
tanto,
tant o, a contemporaneidade,
contempo raneidade, insiste insiste M. Maffesoli,
Maffesoli, vai ser marc marcada ada por
um imaginário
imag inário dionisíaco
dionisíaco (sensual, ttribal ribal),
), além de prerrogativas pu- pu -
ramente
rame nte instrumentais. Podemos Podem os ver exemplos nas diversas situações
que marcam
m arcam a cadência
cadê ncia das ações minúsculas do presente. E as nova novass
tecnologias vão desempenhar um papel muito importante nesse pro-
cesso. Ao A o invés de inibir as as situações lúdicas,
lúdicas, comun
comunitárias
itárias e imaginá-
im aginá-
rias da vida social, elas vão agir como com o vetores potencializadores
potencializadore s des-
sas situaç
situações,
ões, da social idade.idade.
A análise formista, que vê na forma social algo que é também
“formante”
“form ante” de conteúdo, tem origem nos trabalhos de G. Simmel, Sim mel, influ-
ência marcante
m arcante na obra de Maffesoli.
Maffesoli. As formas (institucionai
(institucionais, s, simbó-
simb ó-
licas,
licas, técnicas) de uma um a cultura visam enquadrar a vida, vida, regulála, control
controláá
la.s. Para
la
te
tes o formismo
da forma.formAismo
vidade Simmel,daa vida
necessita formasepara
impõe sempre
“ex-istir  con
contra
” , da
”, tra osalimi-
mesma
mesm ma-
neira em que qu e ela busca expandirse para além das formas. É nesse em em- -
 bate,
 ba te, ness
ne ssee con
co n fl
flit
itoo ent
e ntre
re forma
for mass e cont
co nteú
eúdo
dos,s, que
qu e en
e n raiz
ra izaa se
s e o trági
trá gico
co
da socie
so cieda
dade
de1177. A forma
for ma seria uma
um a matriz, ambiente
am biente ddee nascim
n ascimentoento e
morte de diversos elementos da d a vida em sociedade.
sociedade. A formaform a seria então
formante. Como Co mo mostra Simmel, as formas sociais são o invólucro invóluc ro “na  
qual esta vida se vest veste,e, como a maneira necessária sem a qual qu al a vida 
não pod e aparecer enquanto fenômeno... ”1
enquanto fenômeno...  ” 177.
A evolução
e volução das formas da cul cultura
tura est
estabelecese
abelecese num processoproc esso pa-
radoxal entre a vida, que quer qu er superar suas formas (que é a possibilidade
mesma de “ex-istência”), e estas, que revestem a vida e que tendem a
cristalizála.
cristali zála. Para
P ara Simmel,
Simm el, e aí está a idéia de vitalismo social presente pre sente nos
trabalhos de Maffesoli, a fecundidade da vida obriga as formas a
reconstituíremse num processo con contínuo
tínuo.. A forma
form a teria,
teria, assim, duas fun-
ções contra
c ontraditórias
ditórias:: ela é ao a o mesmo
me smo tempo
temp o suporte e prisão
pris ão ddaa vida
vi da1178.
As formas de uma um a determinada sociedade vão cristalizarse nos
objetos técnicos,
técnicos , nas instituições as mais diversas e no ima imaginá
gináriorio sim-
sim -
 bólic
 bó lico.
o. E sta
st a s ten
te n d e m a dese
de senn v o lve
lv e r
rse
se de m a n eira
ei ra a u tôn
tô n o m a e ind
in d e -
 pend
 pe nden
ente
te.. P a ra Sim
Si m m el
el,, a c u ltura
ltu ra se real
re aliz
iza,
a, ness
ne ssaa trag
tra g é d ia,
ia , no p ro-
ro -
cesso de objetivação do sujeito (a forma “formando” o conteúdo) e
de subjetiv
su bjetivaçã
açãoo dos objetos (o conteúdo impondo imp ondose se à form
f orma)Ja)J779. Po
90 | C I BE
B E R C U LT
L T U R A , T E C N O L O G I A E V I D A S O C I AL
AL N A C U L T U R A C O N T E M P O R Â N E A •
 

demos
dem os assim analisar
an alisar a cibercultura e, principalmente, o ciberespaço.
Tomemos por enquanto o ciberespaço. Este, enquanto forma
técnicaa é, ao mesmo
técnic m esmo tempo, limite e potência de uma um a estrutura social
de conexões
co nexões tácteis,
tácteis, que são as comunidades virtuais
virtuais elet
eletrônicas
rônicas ( chats,
muds  e outras
o utras agregaçõe
agreg açõess eletrôn
e letrônicas1
icas1880). Em um m undo
und o saturad
sa turadoo de
objetos técnicos, será nesta forma técnica (as redes telem telemáticas)
áticas) que a
vida social vai imim por o seu vital
vitalismo.
ismo. As diversas m anifestações con- con -
temporâneas da cibercultura
cibercultura podem ser vist vistas
as como a expressão quoti-
diana da d a vida
v ida que se rebela contra as formas instituí instituídasdas e cristalizad
cristalizadas.as.
Segundo M affe affesoli
soli,, e aí está mais
mais um conceito
conceito importante
im portante para com- com -
 pre
 p reee n d e rmo
rm o s a soci
so cial
alid
idaa de,
de , e sta
st a rí
ríaa m o s a ssis
ss isti
tind
ndoo à p a ssa
ss a g e m (ou
(o u a
desintegração)
desintegraç ão) do indivíduo clássico à (na) tribo. tribo.
A erosão e o esgotamento da perspectiva individualista da
modernidade
mod ernidade (o que não significa
significa que não existam “indivíduosindivi
“indivíduosindivi
dualistas”) é co correlata
rrelata à formação
formação das mais diversas diversas tribos contemporâ-
contem porâ-
neas,, a nível planetário
neas plan etário.. Atravé
Atr avéss das inúmeras
inúm eras fo form
rmasas de trib
t ribalis
alism
m o181
contemporâneo, a organiz organizaçãoação da sociedade cede lugar, lugar, pouco
pouc o a pou-
co, à organicidade da soci alidade, ag
socialidade,  agora
ora tribal
tribal e não mais racional ou
contratual. Se na modernidade,
m odernidade, afirma Maffesol Maffesoli, i, o indivíduo tinhatinh a uma
função, a pessoa {persona) pósmodema tem um papel, mesmo que
efêmero, hedonista ou cínico. cínico. A questão colocada assim não n ão significa
que esse fato seja novo, mas afirma que a preponderância da persona
sobre o indivíduo atinge seu paroxismo nesse ne sse final
final de milênio.
Para Maffeso
M affesoli,
li, a lógica individualis
individualista ta se apoiou sobre uma um a iden-
tidade fechada, sobre o indivíduo, enquanto qque ue a p
 pee rs
rsoo n a  só existe
em relação ao outro, agregandose. É por isso que esta tem necessi-
dade da tribo,
tribo, para se construir com o outro, pelo outro e no outro. O
indivíduo é assim “levado p o r uma pulsã o agregadora, ele é também  
o protag
protagonista
onista de uma am biência afet afetuosa
uosa qu quee o fa z adader
erir
ir,, p
par
artici
tici
 p a r m
maa g ic
icaa m en
ente
te a es
esse
sess p e q u en
enoo s cco
o n ju
junn to
toss vvis
isco
coso
soss q
quu e eeu pro p u s  
u prop
chamar de tribos ” 182. Estaríam
Estar íamos os ven
v endodo hoje,
ho je, atra
a travé
véss dos diver
div ersos
sos
tribalismos
tribalismos contemporâneos
contem porâneos (religios
(religiosos,
os, esportivos, hedonistas, mu-
m u-
sicais,
sic
de ais, tecnológicos,
solidariedades etc.), o (re)surgimento
m ecânicas,
mecânicas, (re)
ousurgimento do que Durkheim
Durk heim
Weber de comunidades
comu nidades chama
emocionais,
em ocionais,
ou Marcei Bolle de Bal chama de reliance  (Bolle de Bal)183. E isso
 pa ra m e lho
 para lh o r ou pior:
pior : solid
so lidar
arie
ieda
dade
dess raci
ra cist
stas
as,, cri
c rim
m inos
in osas
as e into
in tole
lera
rant
ntes
es
têm lugar
luga r também no tribalismo
tribalismo atual, sustenta Maffesoli.
Maffesoli.
O tribalismo referese, consequentemente, à vontade de estar• estar •

• ANDRÉ LEMO
LEMOS
S 91
 

 j u n t o ( être-ensemble ), onde o que importa é o com partilham


 ju partilhamento
ento de
emoções em comum . Isso vai for formar
mar o que o pensador frafrancês
ncês identi-
fica como cultura do sentimento, relações tácteis
tácteis e grupais de em
empatia.
patia.
Esta cultura não se iinscreve
nscreve mais em nenhuma
ne nhuma finali
finalidade
dade prospectiva,
tendo como única preocupação o presente vivido. Maffesoli propõe
analisar
analis novaa ambiance  com
ar essa nov  comunit
unitária
ária a parti
partirr do que ele c hama de

 p a ra
 pa radd ig
igmm a eest
stét
étic
icoo . A soc
s ocia
iali
lida
dade
de tr
trib
ibal
al,, g
gre
reg
g á ri
riaa e em p á ti
ticc a , a ccu
u lt
ltuu-
ra do sentimento que se apóia sobre aass multipersonalidades (as m más-
ás-
caras do teatro quotidiano), agem a partir de um umaa ética da estética,   e
não a partir de uma moral universalizante. A sociedade elabora um
éthos,  uma m aneira de se ser,
r, um modo
m odo de exi stência “on
existência onde
de aaqu quiloilo que  
é compartilhado com outros será será primordial
primordial.. É isso que eu designa
design a
reii pela
re pe la expressão
exp ressão ‘ética da estética
esté tica’’  ” 184.
A ética
é tica da estética vai impregnar todo todo o ambiente social e ccontami-
ontami-
narr o polít
na político,
ico, a comunic
comunicação,ação, o consumo,
consum o, os negócios, as artes e espetá-
culos, ou seja, a vida quotidiana no seu conjunto.conjunto. Essa
E ssa ética é, assim, um
conceito chave para ajudar a melhor discernir sobre o conjunto
desordenado
desor denado e versátil daquilo que M. Maffesoli ch chamamaa de social
socialidade.
idade.
Vejamos em relação aos media.  As tecnologias do ciberespaço
vão potencializar a pulsão gregária, agindo como vetores de comu-
nhão, de compartilhamento
co mpartilhamento de sentimentos e de religação comunitária.
 No cib
c iber
eres
espa
paço
ço,, a m
maa io
iorr pa
parte
rte d
doo us
usoo deve
de ves
see a ativ
at ivid
idad
ades
es ssoc
ocia
ializ
lizan
ante
tess
como chats, grupos de discussão, listas, muds, icq, entre outros. Na
cibercultura, o ciberespaço é uma rede soc
cibercultura, social
ial complexa, e não somente
tecnológica. Isto mostra que a tendência comunitária (tribalismo), a
ênfase no presente
p resente (presen
(presenteísmo)
teísmo) e o paradigma estético (ética da eesté-
sté-
tica) podem potencializar
po tencializar e ser potencializados
potencializados pelo desenvolvime
desenvolvimentonto
tecnológico. Podemos ver nas comunidades do ciberespaço a
aplicabilidade
aplicabilidade do co conceito
nceito de socialidade
socialidade (mas també
também
m de sociabilida-
de), definido por
p or ligações orgânicas, efêmeras e simbóli
simbólicas.
cas.
As expressões
expressõ es culturai
culturaiss mais ri
ricas
cas do fenôme
fenômeno
no da cibercultura
“religação” ( reliance) social potencializada
mostram, precisamente, a “religação”
 pe la tec
 pela tecnonolo
logi
giaa mic
micro roe
elet
letrô
rônic
nica.
a. C
Com
omo
o af
afirm
irmaa M af
affe
feso
soli,
li, a soc
socia
ialid
lidad
adee
 pod
 p odee e fe
feti
tiv en te,, “...caminha
v a m ente ...caminharr lado a lado com o desenvodesenvolvimento
lvimento  
tecnológic
tecno lógico,o, ou mesmo
m esmo ser apoiada p o r 'ele 'ele (veja-se o m micro
icro ou o  
 M in i tel)
te l)”m
”m .  Assim, podemos propor, como hipótese, que as novas
tecnologias
tecnol ogias de com unicação atuam como fatores fatores de difração do cará-
ter com unitário tribal típi típico
co da socialidade contem
contemporânea.
porânea.

92
 
  | CIB
CIBERCU
ERCULTUR
LTURA,
A, TECNOLOGIA EVIDA
E VIDA SOCIAL NA CULTURA CONTEMPORÂ
CONTE MPORÂNEA
NEA •
Mais um
umaa vez, trata
tratase
se de uma
u ma mmudança
udança ^i
^iee escala. Em várivários
os
momentos
mom entos da história da hhumanidade
umanidade pudemos ver a tecnologia servir
como instrumento comunitário ou simplesmente agregador. Sabemos
que os íhaumata  gregos eram apenas instrumentos de divertimento,
que a imprensa
imp rensa desestabili
desestabilizou
zou o poder
pod er da igreja ao dem
democratizar
ocratizar a in-
formação,
formaç ão, que o rádio po
podia,
dia, co
como
mo pensav
pensavaa B rec
recht1
ht1886, criar co
comu
munida
nida--
des solidárias à distância, e que mesmo a contracultura, sendo anti
tecnológica, não seria possível
possível sem drogas químicas, imagensimage ns (vídeo e
cinemaa experimental) e a guitarra eelét
cinem létri
rica.
ca. Mud
Mudança
ança de escal
escala:
a: en
entra-
tra-
mos em cade
cadeia
ia planetár
planetária
ia (aldeia
(aldeiass globais) com inform
informaçõesações tornando
se dispon
disponíveis
íveis ao planeta (ou entregues) em tempo real, imediato.
A cibercultura
cibercu ltura vai ssee caracterizar pela formação
formaçã o de um a socie-
dade estruturada através de uma conectividade
conectividade telem
telemática
ática generaliza-
da, ampliando o potencial comunicativo, proporcionando a troca de
informações sob as mais diversas formas, fomentando agregações
sociais.
soci ais. O ciberespaço cria um mundo operante, interli interligado
gado p
por
or ícones
ícones,,
 port
 po rtaa is
is,, sí
síti
tios
os e home pages, permitindo colocar o poder de emissão
nas mãos de uma cultura jovem jove m , tribal
tribal,, gregária, que vai pro
produ
duzir
zir in-
formação, agrega agregarr ruí
ruídos
dos e cola
colagens,
gens, jog ar excesso ao sistema.
Com
Co m o fen
fenôm
ômeno
eno das comunidade
comunidadess virtua
vir tuais1
is18
87 form
formadas
adas aatravés
través
da comunicação tel telemática
emática  podemos dizer que est estamos
amos assisti
assistindo
ndo a
uma forma, crescente e planetária, do fenômeno, mostrando a perma-

nência (senão o renascimento) de comunidades de base, aquilo que a


Escola de Paio Alto chamou de proxemia (proxémiem ). Segundo
Maffesoli, a socialidade
socialidade no ciberespaço mostra que a tecnolotecnologiagia “nã o 
não
chega a erradicar a potência da ligação (da re-ligação) e, às vezes, 
serve-lhe
serve-lhe até de coadjuvan te”189. A potê
coadjuvante” p otênc
ncia
ia d
dee li
liga
gaçã
çãoo da
dass ccom
om un
unid
ida-
a-
des virtuais
virtuais do ciberespaço encaixamse bem no que U. Hamm H ammerz,erz, cha
cha--
ma de comunidade sem proxim idade ,  inst
proximidade institui
ituindo,
ndo, nã
nãoo um territó
rio físico,
físico, mas um terri
territóri
tório
o simbóli
simbólicoco (embora o pepertencimento
rtencimento sim
simbó- bó-
lico
lic o não seja exclusividade das comunidades eletr eletrônicas)
ônicas)..
As comunidades virtuais eletrônicas são agregações em torno
de interesses comuns, independentes de fronteiras ou demarcações
territoriais
territ oriais fi
fixas.
xas. M
Mais
ais um
umaa vez
vez,, Maffesoli vem con statar “ que a evi
dência táctil
tác til pa
passa
ssa atual
atualmente,
mente, (.
(...
..),
), pelo desen
desenvolvime
volvimentonto tecnológico  
(...)
(...) onde se exerce uma int interdependência
erdependência societária inegável
inegável...... ” llJ
llJ0
0.
A sociedade contemporânea, ajudada pela tec tecnologi
nologia,a, mergulha nes-
sa dime
dimensão
nsão d daa social
socialidade.
idade. AAqui
qui “o indiví
indivíduo
duo se exclue enquanto
enqu anto tal tal••

• ANDRÉ LEMO
LEMOS
S 93
 

 p a r a p a r tic
 pa ti c ip a r d e u m a co
comm un
unid
idad
ade,
e, um p o u c o m íti
ítica
ca,, cu
cujo
jo im
imaagi
nário não é sem efei efeito
to no quot
quotid
idia
iano,
no, em pa
particula
rticularr porqu e ela acen
tua a comunicação sem objeto específico: a comunicação pela co
municação ” 191. Estam Esta m os longe dod o diagnó
diag nóstico
stico de
d e morte
m orte da
d a com
co m unica
un ica--
ção porp or excesso
exce sso tão caro a Sfez, Baudrill Baud rillard
ard e Viri
Virili
lio.
o.
É interessante not notar,
ar, também, que a tecnologia moderna
mode rna é fruto
fru to do
casamento da ciência ciênc ia com a técnica,
técnica, associada à racionalidade e à objeti-
vidade. Ela é, assim, oposta a toda e qualquer forma de socialidade (o
emocional,
emo cional, o subjetivo,
sub jetivo, o dionisíaco).
dionisíaco). Maffesoli aponta isso muito
m uito clara-
mente no prefácio de um u m número especial da revista francesa Sociétés
Sociétés,,
cujo tema era er a a “tecnosociali
“tecnosocialidade” dade” ( technosocialité ).
). Ele afirma: “ p odee  
 pod
 pa
 p a r e c e r p a r a d o x a l p e n s a r em um m esesm
m o m ov
ovimimen
entoto a té
técn
cnic
icaa e a 
socialidade. Entretanto é este paradoxo que este número de Sociétés 
 pret
 pr eten
ende
de coloca rf,, m . Assim, a tecnologia
colocarf tecnologia contemporânea é um dos fato-
res mais importantes de formação da socialidade contemporânea. contemp orânea.
O estranhamento
estranham ento atual atual em relação à técnica
técnica advém, justamente,
justam ente,
da simbiose
sim biose bizarra entre a socialidade,
socialidade, que recusa a positividade utó-
 picc a e a ra
 pi r a c ion
io n a lid
li d a d e indu
in dust
stri
rial
al,, e as
a s nov
n ovas
as tecn
te cnoo log
lo g ias,
ia s, fru
fr u to de
desta
stas.
s.
A cibercultura contemporânea mostra que é no coração mesmo da
racionalidade técnica que a socialidade aparece com força e ganha
novos conto
co ntorn rnosos1193. A cibercultura,
cibercu ltura, esse
e sse estilo da cultura
cu ltura técn
técnicaica con-
co n-
temporânea, é o produto social e cultural cultural da sinergia entre a socialidade
socialidade
estética contemporânea de que nos fala Maffesoli e as novas
tecnologias. Talvez estejamos estejamos buscando, pelas pelas tecnologias, uma um a nova
forma de agregação social (eletrônica, efêmera e planetária). Como
mostra magnificamente o sociólogo francês, “...por ma
mais
is paradox al  
paradoxal
que isso possa parecer, nós podemos estabelecer uma estreita liga
ção ent
entre
re o desenvolvimento tecnol
tecnológic
ógicoo e a am plifi
plificação
cação da estéti
ca. A técnica que tinha sido o elemento essencial da reificação, da  
separação,
separação, invert
inverte-se contrário e favo rece uma espécie de  
e-se em seu contrário
tactilida
tac tilidade,
de, um
umaa ex
expe
periê
riênc
ncia
ia co
comm u m ”194.
A socialidade caótica e fractal vai ser alimentada pelas
tecnologias microeletrônicas,
microeletrônicas, numa espécie
e spécie de harmo
harmonie
nie confli
conflictuelle, 
ctuelle,
ajudada pelo politeísmo
politeísmo de valores
valores e pelo excesso de imagens. A pro-
fusão (excesso) de imagens, e de tecnologias da imagem, pode ser
entendida aqui a partir da análise
análise do barroco enquanto form a socia
sociall
contemporânea. Para Maffesoli, a profusão de imagens (de todos os
um a baroquisation do mundo, exprimindo o
gêneros) está na base de uma

94 CIBERCUL
CIBERCULTURA,
TURA, TECNOLOGIA E VIDA SOCIAL NA CULTURA
CULTUR A CONTEM
CONTEMPORÂN
PORÂNEA
EA •
 

caldo cultural multiforme que constitui aass sociedades ocidentais. Esta


ambiance   barroca está presente, de forma radical, no culto quase
mágico aos objetos técnicos, seja a televisão,
televisão, o videotexto, a micro-
informática e a telecópia,
telecópia, todos aniquilam prom otores  
aniquilam o futu ro e são promotores

de um instante eterno”'95.  Tóquio, Times Square, Beaubourg ou


Piccadilly Circus mostram bem a pregnância das imagens e a
 baa rr
 b rroo q u iz
izaa çã
çãoo e st
stéé ti
ticc a d a cult
cu ltu
u ra co
conn tem
te m p o râ
rânnea.

 A cib
cibee rc
rcuu ltu
ltura
ra em pro
proces
cesso
so

Podemos compreender como, a partir da análise da socialidade


contemporânea
contem porânea proposta po porr Michel Maffesol
Maffesoli, i, a cibercultura se constitui
como
com ou
umm a ciber
cibersocialid
socialidade
ade1196ou seja, u
uma
ma estétic
estéticaa social alim
alimenta
entada
da pelo
que poderiamos
poderiam os ch chama
amarr de tecnologi
tecnologiasas do ciberespaço (redes informát
informáticas,
icas,
realidade virtual, multimídia).
multimídia). A cibercultura fformase,
ormase, preprecisame
cisamente,
nte, da
convergência entre o socisocial
al e o tecnológi
tecnológico,
co, sendo através
a través da incl
inclusão
usão da
socialidad
socialidadee na prática diária da tecnologi
tecnologiaa que ela adquire seus contornos
mais nítidos. Não se trata, obviamente, de nenhum determinismo social
ou tecnológico, e sim de um processo simbiótico, onde nenhuma das
 partes det
d eter
ermm in
inaa imp
impied
iedos
osam
amenente
te a ou
outr
tra1
a19
97.
Hoje em dia, vemos o prefixo “ciber” em tudo : cyberpunk,
cibersexo, ciberespaço, cibermoda, ciberraves, cibercidades, cibercidad es, ciberarte,
etc.
etc. Cada expressão forma, com sua suass particularidades, semelhanças e
diferenças,
difer enças, o conjunto da cibercul cibercultura tura.. As tribos cyberpunks, as com comu-u-
nidades virtuais das redes redes informáticas (mu muds, chats, fórun
ds, chats,  fóruns,
s, BBSs, sites
e newsgroups ), o hedonismo e o presenteísmo das raves (festas tecno
eletrônicas), os fanáticos por jog jogos os eletrônicos,
e letrônicos, o ativismo rizo rizomático
mático e
 po
 p o lí
líti
ticc o  a n a rq u is
ista
ta d os m il
ilit
itaa n te
tess e letr
le trô
ô n ic
icoo s ( hackers, crackers, 
cypherpunks...) entre outros, outros, mostram com como o o mundo da vida está em

simbiose ativa com


co m o munmundo do da técn
técnica.
ica.
A contracultura das anos 70, por exemplo, foi um movimento
de oposição à cultura “desligante” (déliante) da modernidade, como
 pro
 p ropõ
põee o so
soci
ció
ó lo
logg o b e lga
lg a B ol
olle
le de Bal
Bal.. E sta
st a c o n tr
traa c u lt
ltuu ra re
refu
futa
tavva a
tecnologia, pois ela encarnava o símbolo maior do totalitarismo da
razão científica,
científica, causa principal
principal da racionalização dos m modos
odos de vida
e da domina
dominaçãoção da natureza atra através
vés da urbanização e industrialização
das cidades ocidentais. A cibercultura toma por herança esta
contracultura, mas ela não recusa a tecnologitecnologia. a.••

• ANDRÉ
ANDRÉ LEM
LEMOS 95
 

Fruto da geraç geração ão X 198, a sociedade


socieda de co contem
ntem por
porâne
âneaa aceaceita,
ita, tam -
 bém
 b ém , a ttee c n o lo
logg ia a part
pa rtir
ir de u m a pe
pers
rsp
p e c ti
tivv a lú
lúdi
dica
ca,, er
eróó ti
ticc a , v
vio
iole
lenn ta
e comunitári
com unitária. a. N este senti
sentido,
do, a tecnologi
tecnologia, a, que foi o instrum
instrumento ento prin-
cipal da alienação, do desencantamento do mundo mu ndo e do indiv
individualis-
idualis-
mo, vêse investida
inve stida pelas potência
potênciass da socialidade.
socialidade. A cibercu
cib ercultura
ltura que
se forma sob os nossos olhos, mostra, para o melhor ou para o pior,
como
com o as novas tecnologias estão sendo
sendo,, efeti
efetivamente,
vamente, utilizadas como
ferramentas
ferr amentas d dee uma eferves
efervescência
cência soci
social
al (comp
(comparti
artilhamento
lhamento de em o-
ções, de con
convivia
vivialidad
lidadee e de formação
forma ção ccom
om ununitária
itária)1
)19
99. A ciberc
cibercultura
ultura
é a socialidade com o prática da tecnol
tecnologia.
ogia.
A geração
geraçã o 90 está habituada à multimídia, à rea realidad
lidadee virtual e
às redes
redes telem áticas. Ela não é somente lliterári
iterária,
a, ind
individual
ividual e racio
racio--
nal,, mas também simultânea, como diria McLuhan, presenteísta, trib
nal tribal
al
e estética
estética com o afirm a Maffesol
Maffesolii e simulacro dela mesm a como no noss
explica Baudrillard. Ela se compõe como um  z  za in g   de signos,
a p p ing
como apropriação de bits   num espaçotempo em profundas trans-
formações.
A cibercultura aceita o desafio
desafio da sociedade de simsimulação
ulação e jogjogaa
( samplings, zappings ) com os símbolos da sociedade do espetáculo.
 No
 N o e n ta
tann to
to,, a c ib
iber
ercu
cult
ltu
u ra nã
nãoo p e rt
rtee n ce m ais
ai s à so
socc ie
iedd a d e d o e sp
spee tá
tá--
culo, no se sentid
ntido o da
dado
do a esta pe pelo
lo situ
situacio
acionista
nista fra
francncês
ês G
Guy
uy D eb
ebor
ord2
d20
00.
Ela é mais do que o espetáculo, configurandose como uma espécie
de manipulação
man ipulação digital do espet espetáculo.
áculo.
Para Debord,
D ebord, o espetáculo é a repres representação
entação do m undo através
dos mass m edia, edia, enquanto que a cibercul cibercultura tura é a simulação do m undo
 pela
 pe lass te
tecc n o lo
logg ia
iass d
doo vi
virt
rtua
ual.
l. A cib
c ibee rc
rcuu lt
ltuu ra su
surg
rgee co
c o m o s media  digi-
tais, ou seja, com a informática, as redes telemáticas, o multimídia
interativo,
interati vo, a realidad
realidadee virtua
virtual. l. A cibercultura ttoma oma a sim ulação com o

via de ap
apropriação
ropriação do real, enquanto que o espetáculo da tecnocultura
tecnocu ltura
mo derna2
modern a201 se ap
aprop
ropria
ria do real ppor
or me
meioio da rep
represe
resentaç
ntação
ão d
doo mu
mundo
ndo
(através dos med ia de massa).
massa).
Mesmo se cibernética significa controle e pilotagem, a
ciberculturaa não é o result
cibercultur resultado
ado li
linear
near e determinist
deterministaa de uma programa-
ção técnica do social
social.. Ela parece se
ser,
r, ao contrário, o resultado de uma
apropriação
aprop riação simb
simbólica
ólica e soci
social
al da tecnol
tecnologia.
ogia. O que vai caracterizar
carac terizar a
cibercultura nascente não é um determinismo tecnocrático. Não se
trata de ex clu
cluir
ir a ssocialidade,
ocialidade, e tudo que ela tem de trágico, violento,
erótico ou lúdico comocom o inimiga de uma socie sociedade
dade racional, técnica e

9 6 | CIBE
CIBERCULT
RCULTURA,
URA, TECNOLOGIA E VIDA SOCIAL
SOCIAL NA
N A CULTURA CONTEMPORÂ
CONTEM PORÂNEA
NEA •
 

objetiva. A cibercultura não é uma cibemetizaçãoda sociedade m as a


tribalização da
d a cibernéti
cibernética.
ca.

Se nós
dizer que retom armos
retomarmo
a forma s à análi
“ciber” análise
se formista
(tecnologias do de Maffesoli, poderi
ciberespaço) poderiamos
amos
vai manter
umaa relaç
um relação
ão d
dialóg
ialógica2
ica20
02 com os conteúd
conteúdos
os d
daa v
vida
ida social co
contem
ntem po
po--
rânea. Todo o sonho da modernidade foi concentrado na p perspectiva
erspectiva
racionalista e funcionalista da vida, na dominação da natureza e no
controle das pulsões selvagens. Contraditoriamente, é por uma um a atitu-
de dispersa, efêmera
efêm era e lúdi
lúdica,
ca, que a soci
sociedade
edade co
contem
ntem porân
porâneaea vai se
relacionar
relacion ar com as novas tecn
tecnologias.
ologias. Tratase de umumaa imbricação een-n-
tre a socialidade e a técnica contemporânea
contem porânea (transfo
(transforma
rmada
da em instru-
me nto co
mento conv
nvivia
ivial2
l203); aaíí está o que pare
parece
ce ca
carac
racteriz
terizar
ar a cib
cibersoc
ersocialidad
ialidade.
e.
Assim “é po ssív el de imaginar que, que, correlati
correlativamente
vamente ao desenvo
des envo lvi
mento tecnológico crescimento das tribos urbanas fav ore ce uma 
tecno lógico o crescimento
palabre
pala bre informatizad
inform atizada a   204.
 No
 N o e n ta
tann to
to,, e m b o ra a s o c ia
iali
lid
d a d e e s teja
te ja p r e s e n te d e fo
form
rm a
marcante
marcan te nas principais expressões da cibercultura, isso não signif significa
ica
que esta não tenha suas práticas de sociabili sociabilidade.
dade. Sim, e muito muito.. Todo
o trabalho acadêmico, empresarial, comercial ou governamental no

ciberespaço caracterizase por relações de sociabilidades, relações


contratuais, formais,
formais, instit
institucionalizadas.
ucionalizadas. A contradcontradição ição e o paradoxo
entree uma hiper
entr hiperracionali
racionalidadedade inst
instrumenta
rumentall e um a transcendente ap apro-
ro-
 pri
 p riaa ç ão so
soci
cial
al d a te
tecn
cnoo log
lo g ia pe
p e la ru
ruaa eest
stáá no cco
o ra
raçç ã o d a ccib
iber
ercc u lt
ltuu ra
ra..
A cibercultura criase por uma astúcia dos usos, uma invenção do
quotidia
qu otidianono (De C Certeau
erteau)) em direç
direçãoão a con
convivia
vivialidade
lidade (Ivan Illich)2
Illich)20 03.

Notas

97 Etimologicamente, a palavra moderno é uma derivação do advérbio temporal


latino “modo” que pode ser traduzido por agora, recente, presente, atual. O adjetivo mo-
derno aparece no francês medieval no sécul
século
o XIV e o substanti
substantivo
vo abstrato modernidade no
século XIX, no trabalho do poeta Charles Baudelaire.
98 Ver Bartholo Jr. Os Labirintos do Silêncio. Cosmologia e Tecnologia na
Modernidade. SP, Ed. Marco Zero: 1986.
99 Ver Benjam
Benjamin,
in, W. Obra
Obrass Escolhidas III. S
SP,
P, Brasiliense: 199
1997.
7.
100 Weber, M. A lógica protestante e o espírito do capitalismo. SP, Livraria Pio-
neira: 1983.
101 Habermas, J. op.cit.
102 \f
\fer
er Horkheimer, M.; Adorno. T. La Dialectique de Ia Raison. Paris, Gallimai
Gal limaid:
d: 19
1974.
74.
103 Foucault, M. A Microfísica do Poder. RJ, Graal: 1986.
104 Ver Rouanet, S.P.S.P. As Razões do IIluminismo.
luminismo. SP
SP,, Cia das Letras: 19 1987
87..
105 Ver Habermas, J. Modemité un Projet Inachevé. op.cit.
106
106 Habe
Habermas,
rmas, J. Mode
Modemité...
mité... op.ci
op.cit.
t. p.
p.963.
963.

107 Ver Vattimo, G. La Société Trasparente. Bruxelas, op.cit.


108 Rouanet, S.P. op.cit, p.255.
109
109 Ve
Verr Giddens
Giddens,, A. The Con
Consequences
sequences o
off Modemity. Cambridge, Polity Press: 19
1990
90..
110 Ver Bell, D. A sociedade pósindustrial. SP, Cultrix: sd.
111 Rouanet, op.cit. p.237.
112 Baudrillard, J. L'O mb
mbre
re des Majorités Silen
Silencieuses.
cieuses. Paris, Cahiers dTJtop
dTJtopie:ie: 19
1978
78..
113 Deleuze, G. Guattari, F. Milles Plateaux. Capitalisme et Schizophrénie. Paris,
Les Editions du Minuit, 1980.
114 Nesse sentido, Michel Foucault vai falar de uma rede de micropoderes onde a
 práti
 pr ática
ca da raz
razão
ão mo
mode
derna
rna é um
umaa fon
fonte
te de po
poder
der dis
discip
ciplin
linar
ar (asil
(asilo,
o, pri
prisão
são,, hos
hospit
pital,
al, esco
escola).
la).
De acordo com Foucault, os discursos são manipulados pelas regras do poder disciplinar e
 panópt
 pan óptico.
ico. A ge
gene
nealo
alogia
gia de Fou
Foucau
cault
lt é um tra
trabalh
balho
od dee ar
arque
queolog
ologia,
ia, de pe
pesqsquis
uisaa das reg
regras
ras
e dos modos do discurso; uma pesquisa da ori
origem
gem e da dinâmica do poder na modernidad
modernidade.
e.
O conhecimento científico moderno vinculase às metanarrativas da razão Iluminista, à
filosofia hegeliana de emancipação e da dialética do espírito.
115 Lyotard, JF
JF.. L
Laa condition postmodeme. Paris, Les Editions
Editi ons du Minuit
Minuit,, 19
1979
79..
116 Lyotard, JF. op.cit. p. 93.
117 Lyotard, JF. op.cit. p.97.
118 Kroker, A. Panic... op.cit.
119 Kroker, A. idem, op.cit. p.15.
120 A crise espaçotemporal contemporânea deve muito aos media.  A invenção da
escrita separou o enunciado do enunciador, instituindo uma nova maneira de conceber o
tempo e o espaço. O rádio enviou vozes a distâ
distância,
ncia, a TV image
imagens...
ns...
121 Os novos media   diferenciamse dos anteriores por seu caráter digital. As

98  CIBERCUL
CIBERCULTURA
TURA.. TECNOLOGIA
TECNOLOGIA E VIDA SOCIAL N A CULTURA
CULTUR A CONTEMPOR
CONTE MPOR ÂNEA •
 

 base
 ba sess qu
quee pe
perm
rmit
itir
iram
am o su
surg
rgim
imen
ento
to dos
do s novo
no voss  m e d i a  são várjgs.
várjgs. Primeiro, a possibilida-

de
umatécnica
melhordetransmissão
numerização e umda informação (o digital substitui
tratamento automático o analógico),
das mensagens. permitindo
Juntese a isso o
rápido progresso dos componentes eletrônicos e as técnicas eletrônicas de compressão
da informação. Como vemos atualmente, todos os  m e d ia  vão passar (e já estão passando)
 pela
 pe la num
nu m er
eriz
izaç
ação
ão,, se
senã
nãoo ddee cont
co nteú
eúdo
do,, ao meno
me noss em
e m sua
su a form
fo rmaa prod
pr odut
utiv
iva,
a, cheg
ch egan
ando
do hoje
ho je
ao multimídia e à internet.
122 É bom notar que o adjetivo “novo” é de certa forma abusivo. Toda inovação
tecnológica cria “novas” tecnologias. Nos parece que este adjetivo vem carregado de pro-
messas de uma nova era tecnológica substancialmente diferente das “antigas”. Devemos
estar atentos à esta conotação ideológica do adjetivo.
123 Victor Scardigli propõe a idéia de sociedade digital para dar conta desta rela-
ção. Estaríamos então em meio a uma sociedade digital porque as diversas inserções da
tecnologia na vida quotidiana não obedecem mais as leis leis da mecânica. Com o digital, todos
os suportes são reconvertidos em dados binários. O termo sociedade digital é utilizado por
Scardigli tentando escapar a uma visão linear do impacto tecnológico e à sua negação. Ver
Scardigli, V. Les Sens de la Technique. Paris, PUF. 1992.
124 Com o desenvolvimento dos media analógicos exigese um canal específico e
um receptor também específico para veicular as mensagens (tvhetziana, rádioondas, telé
grafosfios, telefonesfios, etc.). Podese classificálos em três categorias: autônomos (li-
vros, jornais, discos, fitas, softwares, videocassete, cinema, jogos eletrônicos), onde o con-
teúdo é dependente
depen dente do veículo e se realiza offIine
offIine;; teledifusão (broadc
(broadcasting
asting com
comoo a T
TV,
V, o
rádio) onde o conteúdo é dependente do suporte e que se realiza através de conexões à
distância por ondas hertzianas ou elétricas; digitais, que permitem uma comunicação
multidirecional, onde o suporte independe do conteúdo. Ver Baile, F.; Eymery, G. Les
 Nouve
 No uveaux
aux Media.
Me dia. Paris,
Pa ris, PUF
PUF,, 1984.
1984.
125 A descentralização é uma exigência mesma do sistema em redes digitais, onde
0 que importa é a troca de informações de todos para todos. A interatividade garante ao
usuário a possibilidade de interferir nos conteúdos dos programas consumidos (os jogos
eletrônicos são um exemplo muito popular).
1266 McLuhan, M. La Galaxie Gut
12 Gutenberg.
enberg. La Genèse de TH THomme
omme Typographique
1 e 2. Paris, Gallimard, 1967/1977.
127 McLuhan, M. op.cit. p. 34.
128 McLuhan, M. op.cit. p. 56.
129 Pool, Ithiel de Sola. Technologies of Freedom. Harvarde Press, 1983.
130 Rosello, Mireille. The Screener’s Maps: Michel de Certeau’s “Wandersmãner”
and Paul Auster’s Hypertextual Detective”. in Landow, George. Hyper/Text/Theory. The
John Hopkins University Press, 1994, p. 123.
131 citado por McLuhan, M. op.cit. p. 273.
132 Falase muito hoje em dia do isolamento causado (ou pretensamente causado)
 peloss compu
 pelo com putad
tadore
oress e nos esquec
esq uecem
emos
os frequen
freq uentem
tement
entee que um
umaa das tec
tecno
nolog
logias
ias da inteli-
inte li-
gência mais individualista é o livro. Ler um livro é, por definição, uma atividade isolante,
fechada 133
e individualista,
Ver Lévy, P. embora maravilhosa.
Cibercultura. RJ, Ed. 34, 1999.
1344 Virilio
13 Virilio,, Paul. Esthétique de la Disparit
Dispa rition
ion.,., Paris
Paris,, Livre de Poche, Galilée, 1989
1989..
1355 Viril
13 Virilio,
io, P. op.cit.
op. cit. p. 51.•

• ANDRÉ LEM
LEMOS   99
 

136 Vlrilio, P. op.cit. p. 5253.


137 Virilio, Cybermonde. La Politique du Pire. Paris, Editions Textuel, 1996.'
138 Virilio, P. op.cit.
op. cit. p. 116.
139 Vir
Virili
ilio,
o, P
P.. op
op.ci
.cit.
t. p. 11
117.
7.
140 Poderiam
Poderiamos os questionálo aqui. Este deserto parece não se verificar. O cibem
cibemauta
auta
não age passivamente àquilo que se desenrola sob seus olhos. Ele é ativo pois, diferente-
mente da televisão, é ele que deve buscar a informação. E, mesmo com o tempo real, nada
garante que as reações tenham que ser imediatas ou impensadas pela urgência do livre.
Com as novas tecnologias telemáticas e as televisões por cabo ou satélite, privilegiase o
“meu tempo”: posso assistir a um programa em horários diferentes, assistir aos jornais
televisivos em momentos alternados, etc. O livre perde parte do seu impacto por causa do
meu tempo de exposição.
141 Murphy, John
John,, W.
W. De LL’lmplo
’lmplosion
sion Technique de la Réa Réalité
lité et des Mo
Moyens
yens d d’y
’y
Echapper., in Diogène, n°162, avriljuin, 1993, Paris, Gallimard. p.29.
142
142 Baudrillard, JJ.. Le Crime PPar
ar fa
fait.
it. , Paris, Gallilée, 19
1995
95..
143
143 Ve
Verr Debo
Debord,
rd, G. La Société du Spectacle. op.cit.
144
144 Baudrillard, Jean. El Otro por S Sii MMisism
m o.,
o. , Barcelona, Anagrama, 191988
88,, p. 18.
145 idem, p.72.
146 Murphy, J. W. op.cit. p. 37.
147 A cibercultura tem suas raízes na manipulação digital da sociedade de consu-
mo. Toda a cibercultura, dos jogos eletrônicos ao cibersexo, vai ser preenchida por esta
desmaterialização do mundo, pela divagem entre o real e o virtual, entre o artificial e o
natural. A materialização do mundo, ou a economia de átomos como explica Negroponte,
teve sua feitura durante a modernidade. Como vimos, a técnica contemporânea não é liga-
da à uma restrição energética da natureza, mas a uma manipulação de informação, da
segunda natureza formada pela tecnocultura moderna. A cibercultura não é produção, no
sentido da sociedade industrial, mas simulação. Há uma nova forma de domínio da nature-
za: em oposição à cultura moderna, a cibercultura ttrabalha
rabalha por modelos de simulação, uma
requisição (Heidegger) digital do mundo.
148 Bau
Baudrilla
drillard,
rd, J. La Tran
Transpare
sparence
nce du Mal. Paris, Galilée.
Galilé e. 1990
1990,, p. 7
70.
0.
149 Baudrillard, J. Le Xerox et LTnfini
LTn fini.,
., in Traverse, n. 4445, Paris, CG
CGP.
P. 19
1987
87.. p.19.
150 Baudrillard, J. La Tr Tran
anspa
sparen
ren ce...
ce...,, op.cit. p. 75.
151 Lévy, Pierre. Les Tec Technologies
hnologies de L’L’intelligence.
intelligence. L’aven
L’avenir
ir de la pensée à ll’’ère
Infor
In form
m ati
atiqu
que.,
e., Paris, Editions ddee la D
Découverte,
écouverte, 191990
90.. p. 130
13013
131.
1.
152
15 2 Sfez, L. Critiqu
Critiquee de la Co
Com m mu nic
nicatio
atio n., Paris, Seuil, 19
1992
92..
153 O autor associa a metáfora do “com” à perspect perspectiva
iva mecânica da comunicação
simbolizada pelo jogo
jo go de bilhar, ou seja pela teoria da comunicação clássica e linear (emi (emis s
sorcanalreceptor). A metáfora do “dentro”, é mais orgânica, sistêmica, centrada na escola
de Paio Alto. Sfez associa esta metáfora à figura da criatura. A cibernética seria herdeira
da metáfora do bilhar e percursora da perspecti
perspectivava da cri
criatura.
atura.
154 Sfez, L. idem, p.17.

155 Sfez, L. idem, p.47.


156 Sfez,L. idem, p.49.
157
157 Scheer, Léo. La Démo
Démocrac
cracie
ie Virtuelle. Paris Flammar
Flammarion,
ion, 1994
1994.. p.55.
158
158 Com
Comoo mostra Sche
Scheer,
er, a demo
democracia
cracia grega era, por excelência
excelência,, a opinião contra-
ditória em um espaço público, um exercício do diálogo, em tempo real. A de.mocracia

100  CIBERCU
CIBERCULTUR
LTURA,
A, TECNOLOGIA E VIDA SOCIAL NA CULTURA CONT
CONTEMPOR
EMPORÂNEA
ÂNEA •
 
ateniense era uma um a tekhnè polipolitiké,
tiké, uma arte do julgamento político
po lítico a partir da garantia da
 palav
 pal avra
ra ppar
araa todo
t odos,
s, a isegonia
iseg onia.. Para
P ara Scheer
S cheer,, ao cont
co ntrár
rário
io do qu
quee pe
pens
nsaa Vir
Virilio,
ilio, a democr
dem ocraci
aciaa
é, por
po r definição,
definição, o exercício do político em tempo real. O espaço político cibernético pode
ter uma função de Ágora eletrônica eletrônica,, simulacro da ÁgoraÁ gora gre
grega,
ga, espaço públic
público.o.
159 Mercier, PA . Plassard, F. Scardigli, V. La Société Digitale. Les Nouvelles
Technologies au Futur Quotidien. Paris, Seuil, 1984.
160 Ver
Ver Pool, I. Technologies
Technologies o f Freedom. op.cit.
161 Lévy,
L évy, P
P.. Construire
Construi re finte
f intellig
lligen
ence
ce collecti
collecti ve.
ve. in Le Monde
M onde Diplomatique.
Dip lomatique. Manie
de Voir Horssérie. internet et L’Extase de UEffroi. octobre 1996, p 35.
162 A experiência da Piazza Virtuale mostra bem a possibilidade digital de con-
vergência dos media. A Van Gogh TV, ou a Piazza Virtuale, foi uma experiência de 100
dias, 750 horas de transmissões para a Europa e Japão de uma televisão interativa, com
comunicações bidirecionais (com um telefone e um controle remoto podíamos participar),
 prod
 pr oduz
uzida
ida por
po r Po
Ponto
nton,n, cr
cria
iada
da em 1986 em Hamb Ha mburgurgoo na Ale
Alemamanha
nha.. Van Go Goghgh TV foi
distribuída pela ZDF durante o IX Documenta, durante o verão 1993. Poderíam ser
conectadas, ao mesmo tempo, vinte pessoas para fazer música com um orquestra virtual,
enviar fax ou falar entre eles. A Piazza Virtuale era uma espécie de BBS televisivo onde
“modemusers squirt text onto the television screen and faxes were displayed on camera;
there were QuikTime movies, animation, and even ISDN connections”. Desde o primeiro
dia, sem publicidade, 5.000 pessoas se conectaram. No dia seguinte, 100.000. A Deutsche
Telecom ganhou quase um milhão de dólares. Os criadores eram hackers, músicos, artistas
gráficos e técnicos italianos, alemães, franceses, austríacos, canadenses e americanos. Se-
gundo Karel Dudesek, um dos diretores de Panton “our major goal was live interaction; to
 break throug
thr oughh the barr
ba rrie
ierr o f the screen;
scre en; to ddow
owngngrad
radee TV
T V from a maste
ma sterr mé
médiu
diumm into ju
j u st
one window onto a space" space " . Ver Marshall, Jules. Th Thee Médium is the Mission. in Wired,
n°1.05, nov.1993, p.6970.
163 Ver Castels, M. The Information Age; Economy, Society and Culture. Volume
I. The Rise of the Network Society. Massachusetts, Blackwell, 1996.
1644 Para Bougnoux
16 Bougnoux,, o paradoxparadoxoo da comunicação é que ela é produzida tecnicamen-
te mas, ao mesmo tempo, tenta escapar do mundo da técnica e corrigilo. Não há uma
determinação unívoca e linear da técnicatécnica ao social,
social, já que a inovação técnica é tão impor-
tante como a inovação social. Daí toda a crítica substancialista, metafísica da técnica,
tornandoa diabólica (Heidegger, Frankfurt, Ellul, Sfez, Baudrillard). A mediologia rejeita
autonomizar a técnica e esse parece ser um bom caminho para a compreensão
compreensã o da cibercultur
cibercultura.
a.
Sabemos que a utilização de uma inovação técnica sugere uma metamorfose e uma inter-
 pretação
 preta ção,, consti
con stitui
tuind
ndoo uma
um a dup
d upla
la articu
articulaçã
lação;
o; a lóg
lógica
ica do utensíl
uten sílio
io se im
imbr
brica
ica na lóg
lógica
ica do
usuário, modificandose
modifica ndose ambas nesse contato.
contato. Ver
Ver Bougnoux, D. Introd
Introdução
ução às Ciênc
Ciências
ias da
Informação e da Comunicação. Petrópolis, Vozes, 1994.
1655 Lévy , P. Les Technologies
16 Technologie s de LTntelligen
LTntel ligence.
ce. op.cit.
1666 Gras, Alain. Le Bonheur, Produit Surgelé. in Autremen
16 Autr ement,t, Technologies dduu
Quotidien, Paris, 1992, p. 1819.
167 Maffesoli, M. O Tempo das Tribos. O declínio do individualismo nas socieda-
des de massa. RJ. Forense, 1987. p. 150.
168 Os zippies (Zen Inspired Pagan Professional) são neohippies que utilizam as
novass tecnologias como
nova com o fonte de (re) aproximação
aproximação comunitária e de busca da espir
espiritualidade.
itualidade. Já
os ravers são os participantes das raves parties, festas tribais, cadenciadas pela música tecno•
tecno•
• ANDRÉ
ANDRÉ LEMOS   101
LEMOS
 

eletrônica.
eletrônica. Ver Lemos, A . , Ciber
Ciberrebeld
rebeldes.
es. in Guia da internet .BR
.BR,, RJ, Ediouro, 1996
1996..
169 Sobre o ciberespaço ver: Benedikt, M (ed). Cyberspace. First Steps. MIT,
1992. et Lévy, R L’Intelligence Collective. Pour une Anthropologie du Cyberspace. Paris,
La Découverte, 1995.
170 Ver Lyotard. JF. La Phenomenologie. Paris, PUF, 1959. p. 7.
171 Lyotard, JF. op.cit. p.7
172 Sobre a teatralidade quotidiana ver GofFman, E. La Mise en Scène de la Vie
Quotidienne. Paris, Minuit, 1973.
173 Ver Maffesoli, M. A Conquista do Presente. RJ. Rocco. 1984.
174 Ver Baudrillard, J. L'Ombre des Majorités... op.cit.
175 Ver Deleuze, G. Guattari, F. Capitalisme et Schizophrénie... op.cit.
176 Ver Simmel, G. La Tragédie da la Culture, Paris, Rivages, 1988.
177 Simmel, G. Philosophie de La Modemité. Paris, Payot, 1990. p.229.
178 Para Simmel, a vida tende a superar ela mesma, desenvolvendose no plano
dos valores vitais, enquanto vida (“Mehr Leben”), e tornandose mais do que a vida, supe
randoa (“MehrAlsLeben”). Sobre a obra de Simmel ver Jankélévitch, V. Georg Simmel,
 philo
 ph ilosop
sophe
he de la vie. in Sim
Simmel,
mel, G. La Tragéd
Tra gédie
ie da la Cu
Cultur
lture,
e, op.c
op.cit.
it.
179 Por exemplo, em todos os objetos técnicos, podemos ver como estes são, ao
mesmo tempo, limite e possibilidade de manifestação da vida soci
social,
al, sob a forma de uma
“tekhnè”.
180
180 Chats são fóruns (m
(muitas
uitas vezes temát
temáticos
icos  paquer
paquera,
a, Brasil, hacker, sexo, etc.)
de bate papo online, em tempo real. Os M MUDs
UDs (Multi User Dungeons) são jog os online
(tipo role play games), onde os participantes criam mundos e personagens imaginários
através de uma ficção construída atravé
atravéss da escrita (alg
(alguns
uns são gráficos), também em e m tem-
 po real. So
Sobre
bre os MU
MUDs
Ds e C
Chat
hatss enq
enquan
uantoto ccom
omuni
unidad
dades
es vir
virtuais
tuais ver, Rh
Rhein
eingo
gold,
ld, H. Virtual
Communities. Homestanding on the Electronic Frontier. NY, AddisonWesley. 1993.
181 Maffesoli, M. O Tempo das Tribos, op.cit.
182 Maffesoli, M. La Transfiguration du Politique. La Tribalisation du Monde.
Paris, Grasset, 1992, p.17.
183 Durkheim
183 Durkheim,, E, Les F
Formes
ormes Elémen
Elémentaires
taires de la Vi
Viee Religieuse. Paris, PUF, 19
1978
78..
Weber, M, Economie et Société. Paris, Plon, 1971. Bolle de Bal, M. La Tentation
Communautaire. Les paradoxes de la reliance et de la contreculture. Bruxelas, Ed. De
1’Université de Bruxelles. Bruxelas, 1985.
184 Estética aqui deve ser compreendida, afirma Maffesoli, como
“Gesamtkunstwerk”, como obra de arte total. Ver Maffesoli, M. Au Creux des Apparences.
Pour une Ethique de 1’Esthétique. Paris, Plon, 1990. p.12.
185 Maffesoli, M. O Tempo das Tribos... op.cit, p.110.
186 Brecht, B. El compromiso em Literatura y arte. Historia, Ciência, sociedad
102.
102. Edicio
Ediciones
nes Península, Barcelona, 19
1973
73.. Ver ca pí tu
tulo
lo ‘T eo
eoria
ria de la Rá
Rádio
dio (19271932
(19271932)”,
)”,

 pp.819
 pp. 8191.
1.
187 Sobre as comunidades virtuais ver Rheingold, R. Virtual Communities, op.cit.
Lemos, A. Les Communuatés Virtuelles. in Sociétés, n°45, pp. 253261, Paris, Dunod,
1994.
188 Sobre a Escola de Paio Alto ver, Watzlawick, P. La realité de la realité.
Confusion, désinformation, communication. Paris, Seuil, 1978.
189 Maffesoli, M. O Tempo das Tribos... op.cit. p. 61.

102  | CIBERCU
CIBERCULTURA
LTURA,, TECNOLOGIA E VIDA SOCI
SOCIAL
AL NA
N A CULTURA CONTEMPOR
CON TEMPORÂNEA
ÂNEA •
 

190 Maffesoli, M. Au Creux des Apparences... op.cit.j2.45.


191 Maffeso
Maffesolili,, M. Au Creux des Apparence
Apparences..
s.... op.
op.cit
cit.. p. 286.
192 Maffesoli, M. Préface. in Sociétés, “Dossier Technosocialité”. n. 51, Paris,
GauthierVillars, 1996. p.l.
193 Maffesoli, M. La Transfiguration du Politique. La tribalisation du poiitique.
Paris, Grasset, 1992.
194 Maffesoli, M. La Transfiguration du Politique... op.cit. p. 255.
195 Maffesoli, M. Au Creux des Apparences... op.cit. p.160.
196
19 6NNeologism
eologismo o a partir de “cib
“ciber”
er”  tecno
tecnologias
logias do cciberesp
iberespaço,
aço, e socialidade  a
socialidade contemporânea.
197 Nesse processo, superase a natureza naquilo que Negroponte chama de subs-
tituição dos “átomos” pelos “bits”. Ver Negroponte, N. A Vida Digital. SP, Cia das Letras,
1995.
199 5. V
Ver
er também Manzini
Manzini,, E. ArtArtefact
efacts.
s. CG
CGP,
P, Pari
Paris,
s, 19 1991
91..
198 Ver o interessante livro, Coupland, D. Génération X. Paris, Robert Laffont,
1991.
199
19 9 Para o melhor
melhoree para o pior, é tto
om que fique claro. Os diversos ffundamundamentalism
entalismos
os
religiosos, os grupos neonazistas, as redes de pedofilia, entre outras formas de agregação
tribal, emocional, fazem parte também desta socialidade contemporânea.
200 Detord, G. La Société du Spectacle. op.cit.
201
201 Aqui ut utili
ilizo
zo o termo tecnocultura para identificar a cult cultura
ura técnica modema
 basseada na el
 ba elet
etro
rom
meecâ
câni
nica
ca e nas ide
ideoolo
log
gia
iass da mmo ode
dern
rnid
idaade. Ob
Obvi
viam
amen
entete,, nu
num
m ssen
enti
tido
do
lato, a cibercultura é uma tecnocultura. Esta tipologia, mesmo que insuficiente, pode nos
ajudar a discernir as diferenças entre as duas.
202 Morin, E. La M Méthode
éthode I. La Nature de Ia Nature. Pari Paris,
s, Seui
Seuil,
l, 19
1977
77..
203 Illich, I. La Convivialité. Paris, Seuil, 1973.
204 Maffesoli,
Maffesoli, M M.. Le Tem
Temps
ps des Tr
Tribibus
us..
...,
., op.cit. p.38.
205 Illich, I. La Convivialité. Paris,...•
Paris,...•
 
• AND RÉ LEMOS   103
ANDRÉ 103

P a r t e   III

------- • A c ib e r c u ltu r a
1

C apítulo  I
O N A S C I M E N T O D A C IIB
BER
RCCUL
LTTURA
A:: A M IIC
C R O --II N F O R
RMMÁT1
1CCA

Vamos situar o nascimento da cibercultura no surgimento da


microinformática na metade dos anos 70. A cibercultura, embora a
expressão dev
devaa muito à ciber
cibernética,
nética, não é, no sentido exato, correlata
corre lata
a esta ciência. Antes, a cibercultura surge como os impactos
socioculturais da microinformática. Mais do que uma questão
tecnológica, o que vai marcar a cibercultura não é somente o potenci ,
al das novas tecnologias, mas um a atitude
atitude que, no meio dos anos 70, j
influenciada pela contracult
contracultura
ura americana, acena contra o pod er '
• tecnocrático.
tecnocrático. O lema da microinformática será:será: “computadores
“comp utadores para
o povo” (“(“Compute
Computerr to the p
pee o p le”
le ”).
O advento
a dvento de tecnologi
tecnologiaa do computador pode ser s er expli
explicado
cado por
três condições históricas: as condições técnica, social e ideológica
^ (Breton2
(Breto n20
06). A inform ática será um
umaa ciência (basea
(b aseada
da na cibern
cibernética)
ética)
de produção, organização, armazenamento e distribuição
distribuição automatizada
autom atizada
da informação, agora traduzida em bits  (códigos binários tipo 0 e 1) 1).!
.!

A informática é, assim, uma forma de aliar


a liar o conhec
conhecimento
imento d
daa nature
nature
*za às formas
formas de funcionamento da sociedade moderna. C riase a pos-
sibilidade de leitura da realidade, traduzida pela linguagem digital,
autom atizando a infor
automatizando informação.
mação.
Com o vimos, o mundo da moderni
modernidade
dade é o mundo quantificado
através da matemática e das tecnologias analógicas. Aqui, a aproxi-
mação
ma ção ma
matemática,
temática, quantitat
quantitativa
iva e experi
experimental
mental da naturez
naturezaa é a base
do racionalismo analítico
analítico e dedutivo moderno, herdeiro d dee D escart
escartes.
es.
A organização
organizaç ão sóciopolítica e a adm administ
inistração
ração buro
burocrática
crática e racional
da vida social generalizouse.
generalizouse. A cibercultura tem origem n nesse
esse mu
mundo
ndo
hiperquantificado, hiperracionalista, que tenta integrar, ou melhor,
traduzir, e não mais representar a natureza através das tecnologias
digitai
digi tais.
s. Esta condição técn
técnica,
ica, da qual a cibercultura é sua coconsequên-
nsequên-
cia,
cia, é resultante do progresso
p rogresso da matem
matemática
ática e das ciências a ppartir
artir d
doo
meados do século XVII.
A formação
forma ção da microinformática devese ao desenvolvim ento
de domínios
do mínios ccientí
ientíficos
ficos a pa
parti
rtirr d
dos
os ano
anoss 40: a cibernética (1948
(1948),), aa••

• ANDRÉ
NDRÉ l e m o s ] 107
 

inteligência artificial (1956), a teoria da auto autoorganizaçã


organização o e de siste-
mas (dos anos 60), a tecnologia de comunicação de massa (rádio,
televisão e telefone) e a telemática
telemá tica (d (dee 19
1950
50).
). Os primeiros passos
p assos no
v tratamento automáautomático tico da informação foram dados entre 194 19400 e 196
960.
0.
Aqui os princípios essenciais e as inovações inovações estratégicas são influen influen- -
ciadas fortemente pela cibernética. O segundo, de 1960 a 1970, ca-
racterizase por sistemas centralizados ligados às universidades e à
 pee sq
 p squu is
isaa m il
ilit
itaa r (os m in
inic
icom
om puta
pu tado
dore
res)
s) e o te
terc
rcei
eiro
ro,, de
d e 19
1970
70 aos
a os n o s-
sos dias, com o surgimento dos microcomputadores e das redes
telemáticas. Breton para aí a í sua cronologi
cronologia. a. Poderiam
Poderiamos, os, para diferen-
difere n-
ciar a informatização da soci sociedade
edade em 70 desta que estamos vivendo
em 2000, propoproporr uma qu quarta
arta ffase
ase.. E sta seria
seria a que apaparece
arece na metade
dos anos 80, caracterizada pela popularização do ciberespaço e sua
inserção na cultura contemporânea. Se a terceira fase foi a do comp u-
tador pessoal (PC), a década de 90 (e o século
século que se aprox
aproxima)
ima) é a
fase do com putador conect ado  (CC).
conectado
Como
Com o ex
explica
plica Bret
Breton,
on, na primeir
primeiraa fase da informática o desen-
volvimento de computadores é influenciado fortemente pela teoria
cibernética (noções de realimentação, informação, programação,
regulação, controle, sistemas complexos). As máquinas cibernéticas
vão tentar imitar o cérebro humano e simular seres vivos (e
maquínicos). Este é o período metafísico da informática, segundo
Breton. A teoria cibernética de Wiener, em 1948, vai estabelecer a
relação entre a individuali
individualidade
dade humana
hu mana e as tr
trocas
ocas de inform
informação.
ação.
A informação
inform ação é, assi
assim,
m, a chave mais import
importante
ante para definir o ser
humano, até mesmo em seu sentido biológico (o DNA). Wiener vai
criar um modelo informacional onde a relação entre o homem e seu
ambiente se estabelece a partir de trocas de info
informação.
rmação. EEstas
stas de
determi-
termi-
nam sua
s ua evoluç
evolução
ão e sobrevivência. De acordo co
comm Wiener
Wiener,, toda a socie
, dade deve ser analisada a partir de ttrocas rocas de iinformação
nformação (a “difer ença que  
diferença
I f
 faaz d
dif
ifer
eren ça ” , como def
ença define
ine BaBateson
teson2 207) porque tod
todaa a vida (bio
(biológlógicaica e
social)) é estruturad
social estruturadaa a p partir
artir de processos de com comunicação.
unicação.
Pouco a pouco a cibernética vai se separar da informática. A
 pró
 pr ó x im a fa
fase
se va
vaii se
serr c a ra
racc te
teri
rizz ad
adaa pe
pelo
lo ac
acen
ento
to n a a u to
tomm a ti
tizz a ç ã o d a
informação e nos processos de transmissão. A informática será uma
técnica de manipulação de informação, ou afomação da informação,
enquanto a cibernética pretende ser um modo de reflexão sob os usos

das ferramentas de comunicação. Para Wiener


Wiener,, a meta da cibern
cibernética
ética é

108
108  CIBERCULTURA,
CIBERCULTURA, TECNOLOGIA E VIDA SOCIAL N A CULTURA CONT
CONTEMP
EMPORÂ
ORÂNEA
NEA •
 

criar uma técnica nos permitindo tratar problemas de regulação da


comunicação
com unicação e da inform
informação
ação em geral.
geral. Como afirm
afirmaa Breton, “a s e
 pa
 p a r a ç ã o en
entre
tre a iin
n fo
form
rm át
átic
ica
a e a c ib
ibee rn
rnét
étic
icaa pro
prove
vem
m , tal
talve
vez,
z, em p
paa r te  
das tomadas
toma das de decisão de Wien Wiener er hostis à instituição mili militar(.. .). O t  
tar(...).
 fu
 f u n d a d o r d a c ib
ibee rn
rnéé ti
ticc a f o i en
entã
tão
o m a rg
rgin
ina
a l e m re rela
laçã
ção
o a tu do que 
tud
tocava de pe rto ou de longe ao co comp
mputador
utador ((.....) (...)) um  
.).. Wiener f o i (...
dos prim eiros a se interrogar
interrogar sobre os desafios éticos e os u usos
sos soci
aiss desses nov
ai novosos dom
domíniosínios ”  ”2208.
Co m o explícito
Com ex plícito em “Cibern
“C ibernética
ética e Socieda
Soc iedade
de”2
”2009, Wiener
Wien er prevê
prev ê
uma estratégia de pilotagem informacional da vida social. A primeira
prim eira
informática
informática vai ser concebida como uma utopia, cujo objetivo é a trans-

formação do homem
desvinculase e da sociedade.
da compreensão sobre o Aque
invenção
é o homemde computadores
e sobre quais
seriam
seriam os impactos dessas máquinas
m áquinas em meio
m eio a sociedade, migrando
Ipara o desenvolvimento
desenvolvim ento de máquinas que tratarão (de formformaa mecâni
' ca) a informação
informaç ão  basicamente
basicamen te calcular e co
conta
ntar.
r. Não
N ão é à toa que a
máquina chamase Computer    aquele
aquele que conta
conta;; ou ordinateur — aquele
que põe ordem, automatiza, classifica. Ã informática segue, agora,
desvinculada da metafísica cibernética, sendo concebida dentro dos
ideais modernos de uma utopia tecnológica. Buscase a transforma-
ção e a administração racional da sociedade. sociedade. O modelom odelo será um  p  poo o l 
formado pela IBM, militares, militares, universidades e institutos
institutos de pesquisa.
Embora
Em bora a microinfor
microinformática
mática popular só só surgisse em m eados da
década de 70, precur precursores
sores do que viría a ser a revolução da informá-
ti
tica
ca pess
pessoaloal (e do ciberespaço) começavam
começa vam a pensarpen sar em tornar
torna r o com-
com -
 puu tad
 p ta d or mai
m aiss am
a m igáv
ig ável
el desd
de sdee os ano
a noss 40.
40 . Ne
N e sta
st a déc
dé c a d a o pro
p robb lem
le m a da
informação preocupa os cientistas. Vanevar Bush, coordenador de
 pes
 p esqu
quisisaa da
d a s forç
fo rças
as arm
ar m adas
ad as amer
am eric
ican
anasas,, em
e m m e io a umu m a pro
p rofu
fusãsãoo ddee
informação,
infor
os mação, inventa
cientistas uma meta
a armazenar máquina
e indexar (nunca realizada)
informações nos seus para ajudar
diversos
campos de pesquisp esquisa,
a, o “Memex”
“M emex” . Outros pioneiros,
pioneiros, como Engelbart e
Licklider
Lickl ider,, vão cunhar
cun har noções comocom o interface e ambiente
am biente de resposta.
Doug Engelbart e sua equipe do Stanford Researsh Institute (SRI)
invent
inv entaa a interface
interface WYSIWYG
WYSIW YG ( “w ha tyou see is wh atyo u g e t” -  “o
que você vê é o que você tem”), o processador de texto, o mouse m ouse e as
 jane
 ja nela
lass ccoo m os
o s men
m enus
us.. J.C.R
J. C.R.. Lick
L icklid
lider,
er, p esqu
es quis
isad
ador
or em psic
ps icoo log
lo g ia vai
levar adiante a idéia de interatividade
interatividade e propõe uma re relação
lação simbióti
simbióti
ca entre o homemhom em e o computador
computador..•

• ANDRÉ
ANDR É LEMOS
LEMOS | 109
 

Com o vemos, a perspecti


perspectiva
va de interat
interativi
ividade
dade foi discernida muito
cedo. Nos anos 60 um real impulso ffoioi dado pelas pesquisas de Ivan
Sutherland com o Sketchpad (1963), um software onde o usuário
atua diretamente sobre a tela do monitor com uma light pen.   Este
 pro
 p rog
g r a m a “ abriu o campo da computação gráfica e apresentou in
venções
vençõ es co
como
mo o cu
curs
rsor
or,, a
ass jan ela s (zooming, scrol
scrolli ng, clipping...) e 
ling,
reco
re co nh ec
ecim
im en to ge stu ai
ais”
s”2 210.  Em 1962, John Kemeny e Thomas
Kurtses
Kurt ses da Faculdade de Dart Darthmouth
hmouth  EUA, implantam linguagens
simples de programação como o DTSS ( D  Da a rt
rthh m o u th ti
timm e sh
shaa r in
ingg 
system ) e o BASIC. A interatividade
interatividade camcaminha,
inha, assi
assim,
m, para sist
sistemas
emas
mais simples e os primeiros computadores interativos
interativos nascem
nasce m nos anos
50 como o W hirlwind de Jay Forr Forrest
ester.
er. Est
Estee trat
tratava
ava a inform
informaçãoação em
(tempo real) e de forma m mais
ais interat
interativa
iva por meio de um monito monitor. r.
 N e ss
 Ne ssee m om e nt
ntoo do de
dese
sen
n v o lv
lvim
imee n to d a in
info
form
rm átic
át icaa u
umma o
ouu tr
traa
idéia forte começava
começa va a aparecer:
aparecer: a de comunidade eletrônica
eletrô nica ou virtu-
al.. Licklide
al L ickliderr e Tayl
Taylor,
or, percursores da microinformá
microinformática, tica, perceberam
percebera m
rapidamente, já em 1968 1968,, todo
todo o desafio de reunir pessoa pessoass através de
comunicações
comu nicações mediada
mediadass p or computador
computadores, es, o que seria concreti
concretizado
zado
mais tarde com a expansão da cibercultura através do ciberespaço.
Licklider e outros pesquisadores
pesquisadores contemporâneos encorajaram a for-
mação da rede ARPAN
ARPANET, ET, origem da at
atual
ual int
internet,
ernet, entrando eem
m op
ope-
e-
ração em 1969. Eles afirmavam: “o que as com unidades interativas
interativas  
online
online se rã o? Na maiori
maioria
a do
doss campos elas consist irão de membros  
consistirão
separados geograficament
geograficamente, e, às vezes agrupados em peq uen as agre
gações, às vezes trabalhando individualmente. Elas serão comuni
dades não de locali
localidade
dade comum, m as de inter esse com um ”211.
interesse
Em 191970
70,, Seym our Papert desenvolve a linguagem Lego com o

ferramen
dos estudos ta de en sino da do
e processos matem ática
ática e de particularme
pensamento, anál
análiseise e desenvolvimento
particular me nte na área da
 pee d a g o g ia e d a cco
 p o g n iç
içãã o . A la
lann Ka
Kay,
y, iin
n fl
fluu e n c ia
iaddo p o r P
Paa p e rt
rt,, ccrr ia no
lab
la b or
oraa tó
tório
rio PA
PARC RC d a X Xer erox
ox 212, o  R
 Ree se
sea a rc
rchh L e a r n in
ingg G rorou u p e   cujo
objetivo
objeti vo é integrar usuários di diversos
versos como crianças, m úsicos úsicos,, méd i-
cos, arquitetos. Os investigadores de PARC decidem construir um
com putador pessoal, o ALT ALTO, O, exper
experimental,
imental, funcionando em redes
locais (LAN , Ethernet). Em 197 1979,
9, havia já 1. 1.000
000 Altos, algumaalgumass
dezenas de impressoras e 25 terminais terminais Ethernet conectados em rede
local. Em 1976 1976,, Kay já pen pensava
sava nos com putadores po portáteis.
rtáteis.
Mas a m icroicroinformáti
informática ca será mai
maiss do que um conjunto de ino ino

110  I CIBERCULT
CIBERCULTURA,
URA, TECNOLOGIA E VIDA SOCIAL NA CU
CULTURA
LTURA CONTEMPORÂN
CONTEM PORÂNEA
EA •
 

vações técnicas.
técnicas. Com
C omo
o veremos, esta será consequência
consequ ência direta da aati-
ti-

tude contracultural
informatização. em relação
O primeiro aos computadores
microcomputador, e aos desafios
o Altair, nasceu em da
Albuquerque,, na Terr
Albuquerque Terraa do Encantamento, no Novo Nov o Mé
México,
xico, em 1975 1975..
 Naa q u e le ano
 N a no,, o A
Alt
ltai
airr é ven
ve n dido
di do a US$
U S$39
3977 se
senn do um k it cu
c u ja inc
in c lu
lusã
são
o
de monitores, discos e impressora elevava os custos para US$5.000.
Em 1977
1977 aparecem simultaneamente a cultura punk na Inglaterra Ing laterra e o
Apple II na garagem dos Steves (Jobs e Wozniak). Em 1981, o pri-
meiro PC (personal Computer)  nasce de um modelo da IBM. O
surgimento do Apple Macint M acintosh,
osh, em 1984,
984, parece
parece ser emblem ático da
mudança paradigm ática ática que estava ocorrendo
ocorrendo ness
nessee momento.
O Macintosh, simbolizado por uma maçã mordida, criado em
uma garagem e pretendendo ser interativo, convival e democrático,
estava em ruptura total com os ideais modernos, cujo modelo era a
IBM, um empreendimento gigantesco, centralizado e relacionado à
 pee squ
 p sq u is
isaa milita
mi litar.
r. M ai
aiss que
qu e si
simm ples
pl es ino
in o vaçõ
va ções
es téc
té c n ic
icaa s, o nasc
na scim
im e n to
da microinform ática (e da cibercultura)
cibercultura) é fruto
fruto de movimentos
mov imentos soci-
ais. Aqui aparece uma nova lógica em relação às novas tecnologias

digitais, onde a lógica tradicional “cede, em parte, o lugar a uma  


imagem lúdica, criativa, enriquecedora da informática  ”2  ”213.
A m icroinformática
icroinformática é uma invenção de radicais califomianos,
como explica Breton, tendo por meta m eta lutar
lutar contra a centralização e a
 po
 p o sse
ss e d a info
in form
rm açã
aç ã o (e, con
co n seq
se q u e n tem
te m e n te,
te , d o d e stin
st inoo d a soci
so ciee d a d e
informatizada) pela casta ca sta científica,
científica, econômica,
econôm ica, industrial e milit militar.
ar.
Ela é resultado de d e dois adventos impo importante
rtante deste fim de século, um
técnico e um outro sociocultural.
sociocultural. Primeiro o advento adve nto das tecnologias
digitai
digi taiss e seu processo de miniaturiz
miniaturização ação de componentes
compo nentes e correlato
correlato
aumento da mem ória e da velocidade de processamento. Temos, as-
si
sim,
m, máquinas
máqu inas m ais potentes
potentes e baratas.
baratas. Segundo, a efervescên eferv escênciacia so-
cial,, de cunho tecnom ísti
cial ísticoanarquista,
coanarquista, que lançou as bases ba ses das nos-
sas contem porâneas
porâne as sociedades digitais. digitais. A atitude
atitude cyberpunk
cybe rpunk,, que dá
origem à cibercultura dos anos 80, nasce aqui e vai marcar todo o
imaginário da cibercultura, como veremos verem os adiante.
adiante.
 Nãã o s erá
 N er á e x a g e rad
ra d o a fi
firm
rm a r ququee a c ibe
ib e rcu
rc u ltu
lt u ra surg
su rgee c o m a
microinformática
microi nformática,, com o um a mobilizaçãomobilização social social e um a espécie de
guerrilha dos primeiros hackers  d o  H
 do  Hoo m ebre
eb rew
w C lub
lu b  (Steve Levy214)
contra o peso da segunda
segun da informática (sistemas
(sistemas centralizados,
centralizado s, objeti-
vos militares, tecnocrac
tecno cracia
ia científicoindustrial, especialistas técnicos)•
técnicos)•

• ANDRÉ LEMO
LEMOS
S I I I 
 

que seguiam paradigmas reforçando as ideologias da modernidade


(ideologias políticas, tecnociência, progresso, burocratização dos
modos de vida, desenvolvimento, etc.).
A microinformática
m icroinformática vai acentuar a democratização do acesso
ac esso à
informação. Na
N a sociedade de comunicação e redes telemáti
telemáticas
cas deve ser
garantido o direito à liberdade de expressão e privacidade.
privacidade. O radicalis-
mo califomiano,
califomian o, que deu origem a essa nova configuração
configuração socio ttécni
écni
ca, era então uma mistur
misturaa de esoterismo Zen, ecologia e ficçãocientí
ficçãocientífi
fi
ca. A revolução
revoluçã o da m
microinformática
icroinformática consti
constituis
tuisee com
comoo “...uma espé
cie de revolução na revolução e seu radicalismo esteve, em grande  
 parte
 pa rte,, n
naa or
orig
igem
em d
daa 'cu
'cultur
lturaa d a info
inform
rmáti
ática
ca ''” ,s.. Assim
”2,s  Assim,, a cibercultura,
com a m micro
icroinfor
informática
mática,, tomase mais que o desenvolvimento linear
da lógica ci cibernética,
bernética, surgind
surgindo o como uma espécie de m movimento
ovimento soc
social
ial..
A dem ocratização dos computador
computadores es vai trazer à tona a discus-
discu s-
são sobre os desafios da infor informatiz
matização
ação das sociedades contempo
contemporâ-râ-
neas já que estes não só devem servir como m áquin áquinas as de ccalcular
alcular e de
ordenar,
orden ar, mas também como ferrament
ferramentas as de criação,
criação, prazer e com uni-

cação; como ferramentas


cibercultura, de convívio.
é fruto de uma apropriaçãoA microinformática, base daa
social. Como sabemos,
sociedade não é passiva
pa ssiva à inovação tecnológica, sendo o nascim
nascimento
ento
da microinformática um caso exemplar, mostrando a apropriação
social
social das tecnologias, para além de sua ffuncionalidade
uncionalidade econôm ica ou
eficiência técnica. Esta prática estabelecese como um duplo movi-
mento de dom inação e aapropriação
propriação simból
simbólica.ica.
A parte interna do desenvolvimento tecnológico (pesqu (pesquisa,
isa, de
de--
senvolvimento
senvolvim ento e produção industrial
industrial)) dita
dita,, por um lado, as regras do
 jo g o ; e la d o m ina
 jog in a con
co n d u ta
tass e im
impõ
põee fo
form
rmas
as d e c o m p o rt
rtaa m e n to
toss em
relação aos objetos técnicos.
técnicos. No caso da microinformática, podem os
dizer que a relação entre o campo social e as novas tecnologias é
construída pela pe la apropriação simból
simbólica,
ica, onde à ffunciona
uncionalidade
lidade técnica
e à eficácia econômica
econô mica (o (oss sonhos da modernidade tecnológica) adicio-
namse delírios,
delírios, esperanças e invenções quotidianas que dese desestabiliza
stabilizam m
as regras do jogo. Esta apropriação “desvia ou prolonga os usos de  
maneira inesperada e desenvol desenvolve ve práticas sociais enraizadas no im imaa

ginário com
ginário um  ”
comum  ”2216.
A atual dimensão da tecnologia na vida social contemporânea
mostra que são nos espaços existenciais de produção de sensações,
do vivido coletivam
coletivamente,
ente, que podem
podemos
os entender as forma
formass do imagi

f f2 I CIBERCUL
CIBERCULTURA,
TURA, TECNOLOGIA E VIDA SOCI
SOCIAL
AL NA CULTURA CONT
CONTEMPO
EMPORÂNEA
RÂNEA •
 

nário tecnológico contemporâneo. O que conta para a invenção do


mundo da vida não é simplesmente o útil ou o funcional, mas este
universo simbólico que enraízase em espaços do vivido: “o mundo  
dos objetos é assim um imenso campo de delí rio e de invenção que 
delírio
vasculha
vasc ulham
m as regras pr ev ist
istas
as ”2'1
'1..
M arc Guillau
G uillaum m e21
e218vai desenvo
dese nvolver
lver o conceito
conc eito ded e espectra
esp ectralidad
lidadee
 par
 p araa te
t e n tar
ta r da
darr con
co n ta dos
do s novo
no voss m ecan
ec anis
ism
m os p osto
os toss e m p ráti
rá ticc a s pe
pela
lass
tecnologias microeletrônicas. Segundo Segund o ele,
ele, a relação entre a tecnologia
eretórico
a sociedade
socieda de se dá em
(discursos três nívei
níveis:
publicitários,s:media,
estratégico (empresas,
(em presas,
  poderes gove
governos),
públicos) e rnos),
tático
(usos
(usos no quotidiano).
quo tidiano). Os dois primeiros níveis
níveis estruturam se no que
Guillaume cham
ch amaa de “mitologia programada”
programad a”.. Mas é no último nível
que residem as possibilidades de desvi
desvios,
os, de apropriações.
Segundoo Guill
Segund Gu illaume
aume,, as interseções
interseções entre a tecno
tecnologia
logia e a soci-
edade acontecem
aco ntecem em um nível estrat
estratégico,
égico, onde a tecnologia é impulsio-
impulsio-
nada pelo Estado, pelas grandes empresas, pelos Centros
Cen tros de Pesquisa
Pes quisa e
Desenvolvimen
Desenv olvimentoto (R&D)
(R&D ) e pelos grupos sociais
sociais organizados; em um
nível retórico, onde
ond e são incluídas
incluídas estruturas de representaçã
represe ntaçãoo de obje-
tos através da publicidade, dos media  e dos poderes públicos; e em
um nível tático, ou seja, o nível dos usos quotidianos, das práticas
minuciosas e anônimas que rejeitam
rejeitam e transformam
transformam a lógica funcion
funcionalal
imposta pelos dois outros níveis. Os primeiros dois níveis são onde
nascem as mitologias programadas.
O nível tático é o espaço livre da programação,
program ação, ononde
de podem
pode m ser
ludibriadas as regras do jogo: um espaço onde encontramo
enco ntramoss elemen-
elemen -
tos essenciais de uma
tos u ma mmitol
itologia
ogia não programada, o imaginário soci
social
al
 puro
 pu ro da
d a técn
té cnic
ica.
a. Estes
Es tes são
sã o "os mitosfund
fundado
adores
res de nossas tecn
tecnologias,, 
ologias
mitos que nos permitem investi-los de nossos desejos e de nossas  
angústias “2I9. É no nível tático que encontramos as verdadeiras mi-
tologias
tologias,, onde a vida quotidiana pode inserir imaginários e simbologias
na sua relação com c om os artefatos tecnológicos.
tecnológicos.
As tecnologias marcam profundamente a totalidade do corpo
social através dos modos de produção e de consumo, das formas de

comunicação e da normalização
tecnologia, precisaríamos compreendda
compreender avida
er as social. Para
es da analisar
s representações
representaçõ tecnologiaa
em primeiro
prim eiro lugar,
lugar, ou seja, as inovações
inovações tecnológicas
tecno lógicas inseridas com
comoo
objetos de consumo.
consum o. De um certo modo, essasessas mitologias program a-
das são estratégias de transformação cultural que visam acelerar a• a•

• ANDRÉ LEMOS
LEMOS | 113
 
mudança tecnológica e reforçar o imaginário social da técnica en-
quanto meio m eio legíti
legítimo mo de manipulaç
manipulação ão do mundo. Para Guillaume, “to
dos os gestores do Estado E stado e do capital participam, assim, direta d ireta ou 
indiretamente de uma um a mit
mitocraci
ocracia. a. M ais as mitologias assim pr prododuzi
uzi
das são instáveis já que elas dependem da evo evolução
lução da dass estrat égias. 
estratégias.
 E ela
el a s sãsão o a rtif
rt ific
icia
iais
is p o rq
rqu u e a p ro
rodd u ç ã o fu n c i o n a l d e s e n ti
tidd o n ão  
 fu n d a u m m ito it o  ”
 ”2220.
As representações programadas e ttáti áticas
cas podem ser apli aplicadas
cadas
àquilo
àquil o que Gu il illaume
laume chama de télétechnologies,  as tecnologias da
informação
inform ação e da comun comunicação.
icação. Estas constituem os pil pilares
ares da ciber
cultura, respondendo a um desejo de escapar parcialmente e mo-
men taneamente aos constrangi constrangimentos
mentos simbólico
simbólicoss de mo dernidade e
seus funcionalismos
funcion alismos total totalitári
itários.
os. O própri
próprio o sujeito individualista, fi-
lho da mod ernidade, tornase um espectro, espectro, porporque que desapa rece para
vagar em uma ordem simbólica que se tornou transparente. A es
 pee c tr
 p traa li
lidd a d e to
tornrnaa s
see u m ffee n ô m e n o de
d e m a ss
ssaa j á n o ccoo m eço d do o sécu-
lo XX, ccom om a difusão dos fil filmes
mes em salas de cinem cinema, a, com o rád rádio io e,
 po
 p o s te
terr io
iorr m e n te
te,, a te
t e le
levv is
isãã o , h
hoo je e n tr
traa n d o eem
m susuaa ffaa s e m a is v ir
iróó ti
ticc a
com a aparição da microinformmicroinformática ática e das redes telemáticas. A ssim
“existe comunicação espectral quando aqueles que dela partici
 pa
 p am a p po
o d e m f a z e r f
 fii c a n d o e ve
ven n tu
tuaa lm e n te
te,, p
paa r c ia lm e n te e p r o v i s o
riamente,
riament e, sem nome, sem identidade defini definida,da, esc
escapan
apan do aos co ns
trangim
tran gim ento s da ide nti ntidada de ”12'.
Os indivíduos espectrai espectraiss reagem à funcionali funcionalidade dade racional e

àsuc
homogeneidade
es
essiva
siva s2 22. Para de
s22 comportamentos
G uillaum e, o que caprocurando
rac teriz
terizaa a so identificações
socied
cied ad e pós
moderna é sensação desta subversão pelo anonimato. Deleuze e
G uattar
uattari, i, em outro regist registro, ro, m ost
ostram
ram a espec trali tralidade
dade c om o dese-
 jo
 j o i n d iv id u a l d e to r n a r  s e n ô m a d e , im ig r a n te n a s s u a s p r ó p r ia s c i -
dade, corpo e subjeti subjetividade.
vidade. E m bora os três três nívei
níveiss de açã o da téc-
nica propostos por Guillaume estejam presentes na
contem porane idade e na ci cibercultura,
bercultura, parecenos que o surgimento
da ciberc ultura de va m uito ao nível da aprop riação social, ao nível
tático. Podemos dizer que a microinformática “ não seria mais  
culminada pe la esperança utópi utópicaca (..
(...)
.) mas el
elaa se aproxim aria da 
sub ver
versão
são , a qu i e agor
agora,
a, pe lo se
seuu uso m e n o r ”123.
A idéia de ruptura radical transformase em uma mistura de
desconfiança e de apropriação (simbólica e quotidiana) das novas

114  | CIBERCULTURA, TECNOLOGIA


TECNOLO GIA E VIDA SOCIAL N A CULTURA CONTEMPO
CONT EMPORÂN
RÂNEA
EA •
 

tecnologias. Se não há um futuro possível, se a história, com seus


componentes ideológicos (futuro, progresso, razão) não têm suporte
social mobilizador, então, a única saída é tomar nas mãos o destino
tecnológi
tecnológico.
co. Esta apropria
apropriação
ção desesperada da tecnologia contemp
contempo- o-
rânea é visível através dos vír
vírus
us de com
computador,
putador, dos hackers,  da rea-
lidade
lidade virtual, do cibersexo, das comunidades
comun idades virt
virtuais.
uais. A h
história
istória da
microinform ática mostra qu
que,
e, na sua ori
origem,
gem, a cibercu ltura é con
conse-
se-
quência
quên cia da atitude social em relação à informátic
informática. a.
Em 197
1972,
2, a revista radical Peopl
Peoplee Com puter Company  (PCC),
do subúrbio industrial de São Francisco, cria um banco de dados
eletrônico urbano acessível e út útil
il à comunidade.
comun idade. SurgSurgem
em os primei-
prime i-
ros BBSs ( B u l e t t i n B o a r d S y s t e m s ) .   Bob Albrecht, um dos
idealizadores,
ideali zadores, propõe a esta comunidade um a base de dados dispo -
nível em rede telemática que funcionasse como “um centro onde  
crianças e adultos joga m , escrescrevem
evem programas em Basic e dem an

dam que os com putadores sejam usados ‘pela s pe ssoa s e não co n


tr a ela s" ,lu.  Em 1973 aparece um segundo projeto, o Community 
ry,,  p
 Mee m o ry
 M  propond
ropondo o a uti
utilização
lização de uma rede de tterminais erminais dispersad a
na região da baía de São Franci Francisco,
sco, tentando estabelecer um modo
de de
dem m ocrac ia di direta,
reta, sem controle central e onde cada pa participante
rticipante
 pod
 po d e le
lerr e iin
n tr
troo d u z ir m en
ensasaggens p pró
róp p ri
rias
as.. N e ste
st e p
pee rí
río
odo, v váá ri
rioo s g ru -
 poss p e n s a v a m n a p o s s ib
 po ibililid
idaa d e d e c r ia r uum m a tetecc n o lo g ia a lt
ltee rn a ti
tivv a,
democrática,
dem ocrática, interativa e de simples util utilização.
ização. O ssonho onho de com uni-
dades virtuais
v irtuais com eçava a se concretizar. concretizar.
 Nee s ta é p o c a o p
 N pee rf
rfil
il do u suá
su á r io d a iinn f o r m á ti
ticc a ttaa m b é m m u d a -
va e era sintomático da sit situação
uação que ora se apresentava. N a primeira
informática
informá tica o analist
analistaprogram
aprogram ador é u umm mamatemáticoprogram
temáticoprogram ador,
um analista de sistemas ligado à pesquisa militar e às grandes uni-
versidades e institutos de pesquisa. Na segunda informática, a dos
minicomputadores, esse profissional tornase um expert  em   em infor-
mática, trabalhando em escritórios de grandes empreendimentos.
Com o surgimento da microinformática, o usuário não é mais, ou
não precisa necessariamente ser, um profissional, um especialista,
um analista de sistemas
sistemas ou programador. Passamo
Passamoss do reino do es-
 p e c ia
 pe iali
liss ta
ta,, f ig
iguu r a tí
típp ic
icaa e m a rc
rcaa n te d a m o d e rn
rnid
idaa d e , ao re
rein
ino
o do
amador, tipicamente pósmoderno.
Hoje não n ão é preciso ser um profi profissional
ssional da informática
inform ática para cir-
cular pelo universo de informação, já que os desenvolvimentos das• das •

• ANDRÉ LEMO
LEMOS
S 115
115
 

interfaces gráficas, surgidas com os microcomputadores,


microcompu tadores, e sua poste-
rior banalização, permitem,
permitem, a qualquer pessoa, pessoa, ter acesso aos benefí-
cios e malefícios da informatização da sociedade. Com a micro
informática, e a atitude anárquica de apropriação social, podemos
começar
com eçar a fafalar
lar de um
umaa incipi
incipiente
ente ci cibercultur
berculturaa em formação. Estamos,
assim, na quarta fase da informática,
informática, a do ciberespaço e seus com pu-
tadores conectados
conectado s (CC). Assim, a ciberculturacibercultura formase com a micro
informática, adquirind
ad quirindo o seus contornos ma maisis nítidos
nítidos com a qua quarta
rta fase
fase
da informática.
A socialidade contemporânea
contempo rânea va vaii aprove
aproveitar itar o potencial com u-
nitário
nitário,, associati
associativo,
vo, ou simples
simplesmente mente ag agregador
regador dessa nova tecnologia.
Se os radicais que criaram os microcomputadores na década de 70
 pro
 p rop
p u n h am a in
info
form
rm á ti
tica
ca p a ra to todo
dos,s, os in
inte
tem m a u ta
tass d a d é c a d a d e 90
 pro
 p rop
p õ e m a c o n e x ã o g e n e ra
rali
lizz a d a . A m icric r o i
inn fo
form
rm á ti
ticc a , b e rç
rçoo da
cibercultura, surge na sinergia da qual falávamos entre e ntre a sosocialidade
cialidade e
as tecnologias digitais. Nesse sentido, o canad canadenseense S. Proulx vai ana-
lisar os movimentos sociais que se formam em torno da micro
informática para mostrarm ostrar que a informatiz
informatização ação da sociedade é um pro-
cesso
cess o social
social:: “ desde o nascimento da m micro-
icro-informáti
informática ca na Califór
Califórniania 
no começo dos d os anos 70, os primeiros hackers ssee associam a um m o
vimento social que prega a contestação do poder do establishment  
que con
controla
trola a g gra
rand
ndee inf
infor
orm
m át
átic
ica”
a”2 225.
Longe de u umm a racionalização
racionalização simpl
simples es de práti
práticas,
cas, a tecnologia é
motor
mo tor de m itologias e é nes nesse
se sentido
sentido que C. Miguel vai m ostrar que
a prática do microinformática não corresponde corresponde ao imaginário de um umaa
máquina objetiva, como qualquer qu alquer objeto técni técnico
co funcional
funcional.. Ao con con- -
tr
trári
ário,
o, o com putador é portador de um universo imaginário com ple-
xo, com uma micromitologia própria, sendo visto como um objeto
 para
 pa radd o x a l, a o m
mee sm o te
temm po fe
ferr
rraa m e n ta d
dee or
orgg a n iz
izaç
açãã o e d
dee aad
d m in
inis
is-
-
tração racional da vida socia sociall e objeto sagrado, onde indivíduos parti-
cipam de um pensamento mágico, de uma hierof
hierofania
ania quot
quotidiana.
idiana. Como
afirma M iguel, “a pesq uisa permiti
permitiu,
u, nesse sentido de con
confirma
firmarr (...) 
(...)
que,, n
que naa nossa sociedade, o sagrado crist cristaliza-se
aliza-se de ma
maneira
neira efêm era  
efêmera
sobre
so bre um ob
obje
jeto
to téc
técnic
nico
o””.226  As formas de
.22 d e interati
interatividade
vidade e de inter
interfaces
faces
vão aguçar
aguç ar ainda mais esta sacralização das novas tecnologias.

116   | CI
CIBERCULT
BERCULTURA.
URA. TECNOLOGIA
TECNOLOG IA E VIDA SOCIAL
SOCIAL NA CULTURA CONT
CONTEMPO
EMPORÂNEA
RÂNEA <
 

Interatividade, interface

“When you are interacting with a Computer, you are not


conversing with another person. You are exploring ano
ther world”
J o h n  W a l e r  227
k er

A interface gráfica, e as
as novas formas de interação hom emm
emmáá
quina, foram decisivos para a apropriação social
social dos microcom puta
dores. Os estudos de Brenda Laurel sobre interfaces e interatividade
mostram bem como as novanovass tecnologi
tecnologias
as oferecem possibilidades para
experiências
experiên cias criati
criativas
vas e interat
interativas,
ivas, part
particularmen
icularmentete na form
formaa do dra-
ma. Já nos primeiros jog
jogos
os elet
eletrônicos
rônicos vemos a capa
capacidade
cidade das novas
máquinas informáticas para representar “açã “ ação
o no qual humanos p o
dem
de mp pa a r ti
ticc ip a r ”226.
Com o vimos, o presenteísmo
presenteísmo e a teatrali
teatralidade
dade da vida social vão
utilizar o potencial
potencial das novas máquinas digitai digitais.
s. Bsta teatralidade
teatralidade q quouo- -
tidiana
tidi ana será levada em conta no desenvolvimento da interface interface homhomemem
computador229.
A noção de interface gráfica (a manipulação de ícones pelo
intermédi
int ermédio o de um apontador  o mouse mouse)) foi popularizada com o
Apple Macintosh. O objetivo do Macintosh era trazer ao grande
 pú
 p ú b li
licc o um s is iste
tem
m a d e m a n ipu
ip u laç
la ç ã o de in
info
form
rm a ç õ e s d e fá
fácc il m a n u -
seio fazendo analogias com os objetos do nosso dia a dia (pastas,
arquivos, lixeiras..
lixeiras...)..). O M acintosh, atr através
avés de sua interface
in terface gráfica,
instaura
inst aura um diál diálogo
ogo entre o homem e o com putador de form a quase
orgânica. Hoje, quando falamos falamos da int interface
erface gráfica ((ou ou GUI  Gra-Gra-  
 p h i c U se
 ph sers
rs In te facc e )  pensamos no mouse,
terr fa  nos ícones e na barra de
mouse, nos
menus. Mas a evolução das interfaces homemcomputador come-
çou lentamente com os p os  plu
lu g s  e válvulas até chegar à imersão com-
 ple
 p leta
ta c o m a re
reaa li
lidd a d e vi
virt
rtua
ual.
l.
John Walker, fundador da empresa Autodesk, propôs o con-
ceito de conversationálity  para definir a int
conversationálity para interação
eração hom em com pu-
tador. A idéia de conversationálity
conversationálity   é muito próxima da noção de
conversação, na medida em que a interação é definida como um
diálogo em que usuário faz al algo
go e o com putado r responde. Assim, a
interatividade (a conexão, a conversação) precisa de um ambiente
que a proporcione e por isso não podemos definila sem a idéia de
interfac
inte rface.
e. Es
Este
te é o amb
ambiente
iente de diálog
diá logoo ou com o alg un
unss aauto
utores
res2
230•

• ANDRÉ LE
LEMOS
MOS //7
 

 p refe
 pre fere
rem
m , o comm on grou nd,  o terreno
ground, terreno comum , o espaç o onde se dá
a interatividade: “um espaço co conjuntame
njuntamente
nte habi
habitado,
tado, o
ond
nd e o sen ti
do te
temm lugar e m olda a colabor
colaboração sucessivas aproximações  
ação e as sucessivas
dos participantes  ”
 ”2
231.

Laurel vai afirmar que a int interação


eração não só é um m odo de con -
versação e conexão (pôr perguntas e adquirir respostas), mas um
contexto on de as partes são “agentes” engajados em ações. Ela va vaii
utilizar a noção de d e agente no sentido aristotéli
aristotélico
co ( po
 p o iè s is ), que, comcomoo
vimos, significa aquiloaq uilo que inicia uma ação e produ z um resultado,
uma produção. A int interação
eração acontece em um contexto de com unica-
ção complexo, onde o computador e o usuário são ambos agentes
em ação. A interface é esse ground, este terreno simbólico onde a
interatividade acontece.
A metáfora da da mmesa
esa de trabal
trabalho
ho ((<<desktop) é usada para p ara ajudar os
usuários
usuár ios na
nass suas ações, já que est
estes
es podem reconhecer objetos famili familiares
ares
do dia a dia a partir dos ícones gráf gráfico
icos.s. Estas metáfor
metáforas as icônicas agem,
assim,
assi m, co
como
mo mediadores cogniti
cognitivos.
vos. A idéia de interfa
interfacece teatral proposta
 porr La
 po Laure
urell vê no pape
papell do des
design
igner
er de interfa
interfaces
ces um par
parale
alelolo com o papel
do diretor
direto r de teatro: “ambo
amboss criam repr
represent
esentação
ação de ob jetos e ambientes  
objetos
que criam
c riam um contexto pa para
ra aação
ção (...
(...)) ambos criam represen
representaçõestações do 
mundo
mun do que sã são
o ccom
omo o a realida
realidade,
de, ape
apenas nas um po
pouc
ucood dife
ifere
rentnte”
e”223,2.
A interface gráfica é a ar
arena
ena onde ttanto
anto humanos com o compu-
com pu-
tadores
tadores desenvolvem tar
tarefas
efas num contexto de ação com papéis defi-
nidos. Esta interface teatral, importante para compreendermos a co-
nexão que caracteriza o conjunto da cibercultura, expressase pela
sigla WYSIWYG (wha whatt you see is what you get), ou a interface que
conhecemos hoje como Windows, por exemplo. Dessa forma, a
interação por interfaces gráficas
gráficas é uma forma de emp empreen
reender
der ações e
“ter aquilo qu quee se v ê ”.  A ação se dá na representação, que r di dizer,
zer, na
 po
 p o ss
ssib
ibil
ilid
idad
adee de pa
part
rtic
icip
ipaa çã
çãoo de aage
gent
ntes
es..
Para Laurel, as idéias de interface gráfica e de interatividade
devem ser vist vistas
as a partir de uma perspectiva dramáti
dramática,
ca, com unicati
unicativa,
va,
conectiva. Essa visão muito se aproxima da teatralidade quotidiana
analisada por Goffman e Maffesoli. Esta marca nossas sociedades
contem porâneas. A teatralteatralidade
idade soci
social
al permite, assim, uma ótima aab-b-
sorção da interface gráfica à vida quotidiana, como se a vida social
contem porâne
porâneaa fosse trans
transposta,
posta, de alalguma
guma forma, para as interfaces
gráficas, proporcio
proporcionand
nando o uma interati
interatividade
vidade comu
comunicativa.
nicativa. •

118   I CIBERCULTURA, TECN


TECNOLO
OLOGIA
GIA E VIDA SOCIAL N A CULTURA
CULTUR A CO
CONTE
NTEMPO
MPO RÂN
RÂNEA
EA •
 

Basead a em trocas em real tempo (o presenteí


Baseada presenteísmo)
smo) e na eficá-
cia da ação pela representação de papéis (teatr
(teatralidade,
alidade, personas), a
interface
int erface gráfica apoiase no presente (no drama), no imediat
imediato.
o. E
Ela
la

funda no ssa relação com a m icro icroinf


informáti
ormática.ca. Neste senti
sentido,
do, o com -
 p u ta
 pu tadd o r nã
nãooéu umm a si
simm p les
le s fe
ferr
rram
am e nt
nta,
a, m a s u
umm a meta
me tam
m á q u in
ina:
a: “q u e  
representa mundos virtuais em direção da perspectiva da interação  
dramática  ”.233 O u co comm o aafirm
firmaa Bre
Brenna
nnan,n, “as expectativas das pesso pessoasas  
em rel
relação
ação à interação humano/com
humano/computador putador são freque ntem ente ine
rentes ao que qu e ela
elass espe
esperam
ram da interação hu hum m an
ano/h
o/h um an o”
o”2 234.
Assim, a int interat
erativi
ividade
dade é hoje em dia um umaa palavra de ordem no
mundo dos media  elet  eletrônicos
rônicos,, palavra chave da éépoca poca e dos sist
sistemas
emas de
RV. Hoje tu tudo
do se vende com como o interativo;
interativo; da publicidade aaos os fom os de
microondas. Temos agora, ao nosso alcance, redes interativas como
internet, jogos eletrônicos interativos, televisões interativas, cinema
interativo.
inter ativo...A
..A noção d dee int
interat
erativi
ividade
dade está diretamente ligadligadaa aos novos
media  digi
 digitais.
tais. O que compreendem
compreendemos os hoje por interatividade nada mais
é que uma nova fo forma
rma de inter
interação
ação técn
técnica,
ica, de cunh
cunho o elet
eletrônicodigi
rônicodigital,
tal,
diferente
diferen te d
daa interação analógica que caracter
caracterizou
izou os media  tradicionais.
Experim entam
entamos,os, todos os dias, formas de interação ao mesmo
tempo técnicas e sociais.
sociais. Nossa
No ssa rrelação
elação com o m mundo
undo é um a rel relação
ação
interativa onde, a ações variadas correspondem retroações as mais
diversas.
diversa s. Esta interação funda toda vida em sociedade. Vamos tr tratar
atar
aqui não da interação social, mas do que se vem chamando de
interatividade (digital)
(digital) relaci
relacionada
onada aos novos media  (em  (embora
bora est
estaa es-
teja sempre ligada à primeira).
primeira). Isso pressupõ
pressupõee delimita
delimitarr a interatividade
como uma ação dialógica entre o homem e os objetos tecnológicos.
A tecnologia é, e sempre foi, inerente ao social. Utilizada no seu
sentido mais amplo, ela é constit
constitutiva
utiva do ho
homem
mem e de
d e tod
todaa vida em socieda-
de. A interação homemtecnologia é uma atividade tecnosocial presente
em todas as etapas da civilização.
civilização. O qu
quee vemos hoje, com as tecnologias do
digital,
digital, não é a criaç
criação
ão da interatividade
interatividade propriamen
propriamentete dita,
dita, mas de proce
proces-s-
sos baseados em manipulações de informações bináriasbinárias..

Interatividade e interação social

Um exemplo quotidiano quando falamos em interação tecno


social é o trânsito. O fluxo de automóveis depende de um sistema
interativo,
interativo, autoorga
autoorganizante
nizante e partici
participativo.
pativo. No
N o trânsito, o m otorista
otorista •

• ANDRÉ LEMOS
LEMOS | 119
 

 p a rt
 pa rtic
icip
ipaa d e u m p ro
rocc e ss
ssoo d u p lam
la m en
ente
te in
inte
tera
rativ
tivo:o: d e u m lalado
do,, u m a
interação
inter ação com a máquina, que chamaremos de analógico-eletro-me-  
cânica225, e de outro, uma interação com os carros (motoristas) que
chamaremos
chamarem os simplesmente de in intetera
raçã
ção
o sso
o cia
ci a l226.  A interatividade é,
l22
ao mesmo tempo, uma interação técnica (de tipo analógicomecâni
co) e social.
O telefone é um outro exemplo deste tipo de interação mas,
aqui,, a interação é basicam
aqui basicamente ente social
social,, existindo uma redu reduzida
zida interação
com o terminal,
term inal, de tipo analógico
analógicomecânica.
mecânica. E Esta
sta li
limitase
mitase à com
compo-
po-
sição
siçã o do número desejado através das teclas do aparelho (su (suaa interfa
interface)
ce)
sendo a interação com o outro o que faz do tel telefone
efone um a ferram
ferramenta
enta

convivial, no sentido dado por p or Illich


Illich.. Para Illich, o telefone é um eexem
xem- -
 plo de
d e cco
o n v iv
ivia
ialid
lidad
adee pois
po is “nenhu
nenhum m buro
burocrat
crata a poderá fix a r a priori o  
conteúdo de uma comunicação  ”23 ”237. Existe
Ex iste,, ccom
om o ttele
elefo
fone
ne,, um
umaa forte
f orte
interação social,
social, n numa
uma fraca intinteração
eração tétécnic
cnica. a. Com o diz NNegroponte,
egroponte,
o telefone não é inteligente (interativo), pois o que queremos fazer
com ele é falar com o outro, não pegar o telefone, esperar a linha,
disc
di scar
ar os nú
núm m ero
eros,
s, et
etc..
c...2
.23
38.
Podemos ter como hipót hipótese
ese (e vár
vários
ios exemplos aparecem a cada
dia) que a evolução da relação homemtecnologia vai neste sentido,
ou seja, no privilégio da interação social e no desaparecimento pro-
gressivo da interatividade técnica. Vamo Vamoss em direção a um a interface
zero, a uma simbiose com completa,
pleta, cujo exemplo m aior é a realidade vir-
tual,, com o verem os nos próximos capítu
tual capítulos.
los.
Se pensarmos
pensarm os sobre o percurso tecnológico
tecnológico da televisão, pode-
remos verver,, com clareza, a evolução da interação técnica em u um
m aapare-
pare-
lho de pouca
pouc a interação social
social,, embora muit
muitosos autores insistam sobre o
caráterr coletivo e tr
caráte tribal
ibal da televisão,
televisão, principalmente com a noção de
“missa televisiva”. Num primeiro momento, que vou chamar de
interação nível 0, a TV é em preto e branco, com apenas um ou dois
canais. A interatividade
interatividad e aqui é limitada à ação de ligar ou de desligar desliga r
o aparelho, regu lar volume, bril brilho
ho ou contraste.
contraste. Depois aparec
aparecee a TV
em cores e outras opções de canais. O controle remoto vai permitir
que o telespectador possa  za ppee a r,   isto é, navegar por emissões e
 zapp
cadeiass de TV as m ais diversa
cadeia diversas, s, insti
institui
tuindo
ndo um
umaa certa autonom ia da
tele
te lesp
spec
ecta
taçç ão
ão2239 (n
(nív
ível
el 1 ) . O  za
 zapp p in
ingg é  assim
 assim um antecessor da nave-
gação
gaçã o contemporânea na World Wide Web (WW W ou Web Web).).
 No
 N o nív
nível
el 2, alalgu
guns
ns eqequi
uipa
pam m en
ento
toss in
inva
vade
dem
m a te
tele
levi
visã
são
o , co
commo o

120  | CIBERCULT
CIBERCULTURA,
URA, TECNOLOGIA E VIDA SOCIAL
SOCIAL N A CULTURA CONTEMPORÂNEA
CONTEMPO RÂNEA •
 

vídeo, as câmaras portáteis ou as consoles


consoles de jogos
jogo s eletrônicos,
eletrônicos, fazen-
do com que o telespectador se
se aproprie do objeto TV (para outros fins
fins,,
com o ver
como ve r vídeos ou jogar)
jog ar) e das emissões
emissões (gravar e assistir
assistir o programa
na hora que quiser), instituindo
instituindo uma temporalidade próp própria
ria e indepen-
inde pen-
dente do fluxo das mesmas. É no nível 3 que aparecem sinais sinais de uma
um a
interatividade
interativi dade de cunho digital,
digital, onde o usuário pode interferir no con-
teúdo das emissões
em issões a partir de telefones,
telefones, fax ou email. No nível 4, onde
estamos atualmente, a chamada televis
televisão
ão interativa
interativa surge, possibilit
possibilitan-
an-
do a participação, via telemática, ao conteúdo informativo das emis-
sões em tempo real (escolher ângulos e câmeras, por po r exemplo)
exem plo) como
com o a

ex periênc
exper iência
ia do Videoway
Video
A televisão way no Canad
tradicionalCa nadá2
permiteá2440uma
, por interação
exemplo.
exem plo. com a máquina,
tipo analógicodigital (ligar, za
 zap pe a r)  sem perm itir uma interação di-
p pea
reta e mais ampla (que a simples simples votação por telefone),
telefone), com o conteú-
con teú-
do das emissões, o que seria uma interatividade eletrônicodigital.
Embora emissões brasileiras como Você Decide, ou Intercine sejam
interativas num sentido lato241, a interatividade se limita aqui a uma
escolha entre duas ou três opções a partir de ligações telefônicas. A
emissão Hugo (jogo eletrônico pela televisão com manipulação do
 pee rs
 p rsoo n a g e m c e n tra
tr a l) inc
in c o rpo
rp o ra e lem
le m e n tos
to s d e u m a v e r d a d e ira
ir a T V
interativa já que, a pa partir
rtir das teclas do telefone,
telefone, o espectad
esp ectador or se trans-
forma em jogad jog ador
or e modifica o conteúdo da emissão, no caso, o resul-
tado do jogo.
jog o. A televisão digitaldigital interativa
interativa pode viabilizar,
viabilizar, ao mesmo
tempo, interações mecânicoanalógica (com a máquina), eletrônico
digital (com o conteúdo) e social. Como exemplo desta fusão, temos
a experiência da Piazza Virtuale, como veremos a seguir.
Assim, além
a lém da interativi
interatividadedade de tipo analógicom ecânica ecân ica e da da

 pinteração
rc ionn a r social,
social
u m a n, ova
podemos
podem os dizerd equenteosranovos
media  digitais vão pro-
 poo rcio um ov a qua
q ualid
lidad
adee de iint e raçã
ção,
o, ou o qu
q u e ch
c h am a m o s hoje
ho je
de interatividade digital digital:: uma interação técnica de tipo eletrônicodi-
eletrônicod i-
gital
gital correspondendo
corresponde ndo à superação
superação do paradigma analógicom
analógicomecânico.
ecânico.
Comoo vimos, a revolução digi
Com digital
tal possibilita
possibilita o que chamamos
cham amos aquiaqui
de uma
um a terceira interati
interatividade,
vidade, a interatividade
interatividade de tipo eletrônicodigi-
tal. Podemos notar que a interatividade se situa em três níveis não
excludentes: técnico analógico mecânico, técnico eletrônicodigital e
social (ou simplesmen
simple smente te interação).
interação). A interatividade digital é um tipo de
relação tecnoso
tec nosocial
cial e, nesse sentido,
sentido, “um equipamento ou um pro gra
ma é dito
dito interativ
interativo
o quando
quan do seu utilizador
utilizador pode
po de modificar
mo dificar o compor-•
compor-•

• ANDRÉ LEMO
LEMOS
S   121
 

tam
ta m e nt
ntoo o u o d es
esen
enro larr ”242. A tecnologia digital
rola digital possibilita ao usuário

interagir,, nã
interagir nãoo mais apenas com o objeto (a máquina ou a ferramenta),
mas com a informação, isto é, com o conteúdo. Isso vale tanto para
uma emissão da televisão interativa digital, como para os ícones das
interfaces
interfaces gráficas dos microcomputadores, como vi vimos.
mos.
A interação homemtecnologia
home mtecnologia ttem em evoluído a cad cadaa ano no sen-
tido
tido de uma
um a relação mais ági ágill e confo
confortável.
rtável. Vivemos hoje a épo épocaca da
comunicação
comun icação planetária for fortement
tementee m marcada
arcada por uma interação com
as inform
infor m aç
açõe
ões,
s, ccujo
ujo áápice
pice é a rearealidad
lidadee virt
virtua
ual2
l24
43. A in
intera
terativid
tividad
adee
digital caminha para a superação das barreiras físicas entre os agen-
tes (homens e máquinas) e para uma interação cada vez maior do
usuário com as informações, e não com objetos. E por isso que
Manzine fala da interatividade digital como “...uma interatividade  
cujo program a não está inscri to na form a físic a macroscópica do  
inscrito
objeto,
objeto, m
masas se encontra gravado nos suportes eletrônicos   (cuja fo r-  
(cuja
.ma físic a escapa a nossa escal a de percepção ) ”244.
escala
Esta nova qualidade da interatividade (eletrônicodigital),
com os comp utadores e o ciberespaço, vai afetar de form a radiradical
cal
a relação entre o sujeito e o objeto na contemporaneidade. Se os
objetos
objet os (inter
(interati
atividade
vidade mecânicoanalógi
mecânicoanalógica) ca) reagem de forma pa s-
siva, como por exemplo a maçaneta de uma porta, o que para
Manzine caracteriza uma interação assimétrica, os novos objetos
eletrônicodigitaiss interagem
eletrônicodigitai interagem de forma atiativa
va (interação simétrica)
simétrica),,
num diálogo constan
c onstante
te entre agentes ((Laurel).
Laurel). O objeto físico trans-
formase em um objeto-quase-sujeito , uma form a de interlocutor
virtual (Manzine). Com a interatividade digital, afirma Manzine,

desm ateriali
aterializase
zase toda a rrelação
elação do sujeit
sujeito
o com o objeto, do ob je-
to com a natureza e da natureza com o objeto. A mesma
desmaterialização foi percebida por E. Couchot quando da sua
análise
an álise das
d as im
imagagen
enss de síntese
s íntese e da ssim
im ula çã
ção2
o2445.
A relação não é mais passiva ou representativa, ela tomase
ativa,, baseada no princípio da simulação,
ativa simulação, perm itiitindo
ndo até a comunic
com unica-a-
ção inteligente entre máquinas e objetos sem a mediação humana
(marcada por objetos inteligentes, agentes inteligentes, sistemas
exper
ex perts,
ts, etc.
etc.)2
)24
46. N a inter
interativ
ativida
idade
de eletrô
eletrônic
nicod
odigita
igitall (si
(simm étrica
étri ca para
Manzine), o objeto/informação
objeto/informação realiza uma perf performance
ormance e produz sig-
nificados
nificados com paráveis à art articulação
iculação de um diál
diálogo
ogo através d dee espaços
de negociação chamados
c hamados de int interfa
erfaces.
ces. A evolução dos media  digitais

2  | CIBERCULTURA, TECNO
122
12 TECNOLOGIA
LOGIA E VIDA SOCIAL N A CULTURA CONTEM
CON TEMPOR
PORÂNEA
ÂNEA •
 

einfo
dasrmativa,
respectivas
informativa, podeinterfaces,
nos ajudarproporcionando
am
melhor a febre de
elhor compreender interatividade
a influência das
novas tecnologias e a importância da noção de interatividade para a
cibercultura contemporânea.
A interatividade, seja ela analógica ou digital, é baseada numa
ordem mental, simbólica
simbó lica e imaginária,
imaginária, que estrutura a própria relação
do homem com o mundo. O imaginári
imaginárioo alimenta
alimenta a nossa relação
relação com a
técnica e vai impregnar
imp regnar a própri
própriaa forma de concepção das interfaces
interfaces e
da interatividade. Daí
Da í a utilização de metáforas com
comoo form
formaa de interface.
interface.
É a interface que possibilita a interatividade, sendo uma “superfície  
onde troca-se informações, mas também estrutura profunda onde se  
organizam
organiz am o flu xo de inf
informações
ormações que entram e sae m.... ”247. Segundo
saem..
M. Heim, a interface
interface é “o ponto misterioso, não-material onde os  
sinais eletrônicos transformam-se em info rmação. ”248
informação.

Internet.
Internet. O ciberespaço planetário

“In cyberspace,
leotard like tea one thereyou
is no need to
possess in move about
physical it in (...)
reality. has
Imagine has costume
costume party at which you adop
adoptt not merely
has new set of clothes, goal has new leotard, has new
voice,
voice, andin has very fundamental
fundamental and literal judicio
judicious
us
has id
iden
enttitityy new
n ew””JOT

A internet,
internet, um conjunto
c onjunto de redes
redes planetárias de base telem
telemática,
ática,
começa
com eça a se construir há mais
mais de trinta
trinta anos.
anos. A origem do que conh
conhe-e-
cemos hoje como com o internet surge
surge com a rede Arpanet, criada pelo de-
 p a rt
 pa rtaa m ento
en to d e d e fesa
fe sa d o s E U A dura
du rann te a g u e rr
rraa fr
fria
ia c o m o solu
so luçã
çãoo
 paa ra a sse
 p ss e g u rar
ra r a m anu
an u tenç
te nção
ão da
dass in
info
form
rmaçaçõe
õess vita
vi tais.
is. H o je,
je , a re
redd e de
redes está em proce processo
sso de popularização.
popularização.
A revolução do impresso, com a invenção de Gutenberg, reti-
rou os livros
livros do monopólio
m onopólio da Igrej
Igreja,
a, o telefone
telefone perm
permiti itiuu um
umaa comu-
com u-
nicação instantânea entre pessoas, a TV e o rádio levaram informa-
ções à distância para uma um a massa de espectadores. A internet cria, hoj hoje,
e,
uma revolução
revo lução sem precedent
precedentes es na história da humanidade.
hum anidade. Pela pri- p ri-
meira vez o homem pode trocar informações, sob as mais diversas
formas, de maneirama neira instantânea e pla planetári
netária.
a. A idéia de aldeia a ldeia global
(embora seja mais exato falarmos no plural) está se tomando uma
realidade.
reali dade. Hoje
Ho je as possibili
possibilidades
dades já são enormes: consultaco nsulta de bancosbancos••

• ANDRÉ LEMOS
LEMOS | 123
 

de dados, correio eletrônico, transações


transações comercias, fóruns de tend
tendên-
ên-
cia as mais variadas, consultas médicas, agregações sociais (chats,
MU Ds, listas...)
MUDs, listas...),, rádios de vári
várias
as partes do m mundo,
undo, jorn
jornais,
ais, revist
revistas,
as,
música, vídeo, museus, arte. Os exemplos são numerosos.
J.P.Ba
J.P .Barlo
rlow,
w, cofun
cofundador
dador ddaa Elec
 Electronic
tronic Fm n ti
tier
er Fo
Foun
unda datio
tionn (EFF),
 prop
 pr opõe
õe v e r a in
inte
tern
rnet
et com
co m o um exexem
emplplo
o do “Po
“Pontntoo O m e g a” pro
propo
posto
sto
 porr Te
 po Teilla
illard
rd d e Ch
Charardi
din.
n. Es
Este
te é o pont
po nto
o o nd
ndee a co
cons
nscc iê
iênc
ncia
ia hu
humm an
anaa
converge, uma unidade central criando um organismo coletivo inteli-
gente. Pierre Lévy vai desenvolver a mesma idéia, embora com um
enfoque bem diferente no seu In  Inte
telli
llige
genc
ncee C
Coll
ollec tive.. Pode
ective  Podemosmos dize
dizerr o
mesmo de Negroponte com seu  Be  Beining
g D ig itall250 ou Joêl de Rosnay
igita
com o VHomme Symbiotique.  Todos mostram a passagem da era in-
dustrial, base
baseada
ada nos átomos (produção em série, uniform uniformidade),
idade), papara
ra a
 pósi
 pó sind
ndus
ustria
triall ((ec
econ
onom
omiaia de esca
escala,
la, div
diver
ersif
sifica
icaçã
ção,
o, ttem
empo po re
real).
al). Es
Esta
ta é a
era da socied
so ciedadadee infor
informa
macion
cionalal com
como o prefere M Manoe
anoell C Cast
astells
ells2251.
• A inter
internet,
net, como o foi a microi
microinformátic
nformática, a, ao menos em sua confi-
guração atual, não é o resultado somente de um umaa estratégia tecnocrática de
cima para baixo
baixo,, mas produto de um umaa apropriação
apropriação soc social
ial.. Ela age como
 potencialmente descentralizado
descentralizadora ra do poder tecnoindu
tecnoindustrial
strialmediático
mediático abrin-
do “uma rede verdadeiramente aberta e acessível (...) um ambiente de 
expressões on
onde
de nen
nenhu
hum mggove
overno
rno ppod
odee contr
controlar
olar” ”252. C
 Como
omo exemplos deste
ambiente aberto, e de d e di
difícil
fícil controle,
controle, podemos citar as informações p passa-
assa-
das ao Ocidente pelos estudant
estudanteses da p praça
raça Tia
Tiananmen
nanmen na China, ou aque aquelas
las
sobre o golpe de
d e Estado
Estad o na exUnião Soviética
Soviética,, ou, recentemen
recentemente, te, as idéias
dos zapatistas mexicanos, sem contar todo o movimento sobre o direito
autoral (MP3) ou as formas de emissão de informação que n
autoral não
ão necessitam
mais do pode
p oderr mediáti
mediático
co clás
clássic
sico.
o. Bruce Sterl
Sterling
ing mostra que n noo caso do
golpe na Rússia “era impossív
impossívelel para o po
pode
derr geriá
geriátrico
trico do Kremli
Kremlin n ssupri
upri
mir a diss
disseminação
eminação da ve verd
rdad
ade.
e. Mensagens de fa x e e-mail dei xaram a  
deixaram
oposição mais informada dos desenvolvimentos do que a KGB com seu  
sistema de informaçã
informaçãoo hierárqu
hierárquico
ico pode
podería
ría possive
possivelme
lmente
nte s e r ”253.

 A histór
his tória
ia da gran
gr ande
de re
rede
de

A idéia de un ir computadores em rede é desenvolvida por Bob


Taylor, diretor em 1966 do DARPA, Departamento de Projetos de
Pesqu
Pe squisa
isa Avanç
Avançadas
adas ddaa Ag
Agênc
ência
ia de De
Defesa
fesa Am
America
ericana2
na25
54. U m dos p
pas-
as-
sos fundame
funda mentais
ntais foi dado em 191969
69,, quando o processador
processado r de mensa
124  CI
CIBERC
BERCULTURA
ULTURA,, TECNOLOGIA E VIDA SOCI
SOCIAL
AL NA CULTURA CONTEM PORÂNEA •
 

gens é construído em um minicomputador na Universidade de


Califórnia em Los Angeles (UCLA). Este foi o primeiro ponto da
então
en tão rede
re de A rpa
rpane
net2
t25
55. E m 198
1980, 0, Da
Darpan
rpanetet se div
dividiu
idiu eme m du
duas as no
novas
vas
redes: ArpaA rpanet
net (científica) e Milnet (mil (militar)
itar).. No entanto, as conex conexões
ões
feitas
feit as entre as duas redes permitiram continuar a troca de com unica-
ções eletrônicas. Esta interconexão
interconexão foi cham ada de Darp a internet no
 pri
 p rinn c íp
ípio
io o
ouu so
somm ente
en te inte
in tern
rnee t, lim
l imit
itad
adaa aos
a os ccie
ienn ti
tist
staa s e m ili
ilita
tare
res.
s.

Surgem depois redes cooperativas e descentralizadas como a


UU CP (em UN IX) e a Usene Usenett ( Users NetWork), já na década de 70 70,,
 paa ra ssee r v ir a co
 p com m u n id
idaa d e ac
acad
adêm
êmicica,
a, a soci
so cied
edad
adee em ge gera
rall e d
dee p oi
oiss as
organizações
organizaçõ es comerciais. No princípio dos anos 80, as redes C SNE SNET T
{Compu
{Co mputer ter Science NetWork) e a Bitnet
Scien ce NetWork) B itnet {Be
{Becau
cause
se it ’s tim NetWo rk) 
t imee to NetWork)
expandiram ainda mais a internet. A formação da rede NSFNET
{National Science Founda Fou ndation tion NetWork
NetWork), ), unindo alguns investigado-
res americanos à cinco centros centros com supercom
supercomputadores,
putadores, transforma
se no grande marco da história da internet. A NSFNET substituiu
Arpanet que desapareceu em m arç arçoo de 191990
90 e a CSNET, ex ti tinta
nta em
1991
19 91.. H oje a internet é formada po porr mai
maiss de 8.000 redes, interligando
todos os continentes. A internet não só está em exp expansão
ansão em núm número ero
de usuários, mas também tamb ém em tipos de aplicações. Atualm ente o gran-
de projeto é a internet 2, criada para ligar, ligar, a altas veloc
velocidades,
idades, centro
de pes
p esququisaisa e u uni
nive
versi
rsida
dadedes2
s2556.
A int
internet
ernet,, com
como o um
umaa red
redee de rede
redes,
s, é formada po porr LANs {Local 
 Area
 Are a Nerw
Ner w ork or k  ou Redes Locais), MANs {Metro {Metropolit
politan
an Area NetWork  ou
Ar ea NetWork 
redes Metropolitanas)
Metrop olitanas) e WAN {Wo rld Area NetWork  ou
{World  ou redes mundiais).
Estas são conectadas por redes telefônicas, satélites, microondas, cabos
coaxiaiss e fibra
coaxiai fibrass ótica
óticas,
s, permitindo a comunicação ccom om os computadores
que utilizam
utilizam protocol
protocolosos comuns (re (regras
gras e acordo
acordoss que perm
permitem
item o víncu-
lo e a comunicação entre máquinas diferent diferentes).
es). O idioma de comp
computado-
utado-
res na rede internet é o protocolo TCP/IP {Trans {Transmissi
mission
on Control Pmtoco l7  
Co ntrol Pmtocol7 
 Inter
 Int ernet Proto col),, desenvolvido nos anos 70 no Darpa e usado
net Protocol) usa do pela prpri-
i-
meira vez em 19 1983
83 na Arpanet
Arpanet.. O interessant
interessantee a ser ressaltado aquaquii é que
o TCP/IP
TCP /IP foi desenvolvido com capitai capitaiss públicos sendo, de desde
sde sempre,
considerado livre,
livre, signifi
significando
cando que nenhum
nenhumaa companhia possui seu mo-
nopólio.
nopól io. A Net j á nasce com esse espí espírit
rito:
o: o TCP/IP
T CP/IP e demais softsoftwares
wares
 básico
 bás icoss q
quu e pe
perm
rmite
item
m aces
ac essa
sarr a gran
g rande
de re
rede
de são gra
gratui
tuitos
tos e disp
dispon
oníve
íveis
is
em vários
vários servidores ao redor do mundo.
A rede internet é composta de hierarquias diferente: as redes•
redes •

• ANDRÉ LEMOS
LEMOS | 125
 

centrais de alta velocidade (high-speed central networks), os backbo


nes, ou espinha dorsal. Existem redes de nível médio ([mid-level ne
tworks), que ligamse aos backbones e distribuem
distribuem a informação para
os usuários.
usuários. Co
Como
mo ex
explica
plica LaQuey,
LaQuey, não existe nen
nenhum
hum a gestão cen-
tralizada
tralizada da rede: “gente é a palavra operativa
operativa aqui
aqui.. A internet pa re
ce ser institucional e anti-institucional ao mesmo tempo, massiva e  
intima,
intima, organizada
org anizada e caótica.
caótica. Em um sentisentido,
do, a internet é um empre
emp re
endimento
endim cooperativo.... ”
ento cooperativo..  ”2257.
Toda organização dos computadores da internet é estruturada
com domínios
d omínios específi
específicos
cos para cada máquina.
máquina. O DNS ( Dom  D om a ine Na m e  
in e Nam
System ) normaliza nomes dos computadores: edu (educação), com
(comércio), gov (o governo), mil (exército), org (organizações), etc.
Duas letrascódigo identifi
ide ntificam
cam o paí
paíss (normalm
(normalmente
ente os EUA não tem
nenhuma terminação) como “fr” para a França, “br” para Brasil e
assim sucessivamente. Outras redes, que tem protocolos de transfe-
rência de arquivo diferentes, fora de internet, são chamadas de
outernets. E  Estas
stas podem ser iinterconectadas
nterconectadas à grande red redee po r email
através de e-mailgateways  ou passarelas para troca de correio ele-
trônico. As redes mais m ais conhecidas neste gênero são FidoNet, Bitnet,
UUCP,
UUC P, CompuS
CompuServe, erve, AAmérica
mérica Onli
Online,ne, etc.
etc. Outro serviço/rede dispo -
nível na internet é o network news  ou Usenet. Esta rede é dividida em
newsgroups  temáti
temáticoscos formad
formados os po
porr artigo
artigoss onde qu qualqu
alquer er pessoa pode
 part
 pa rtic
icip
ipar
ar.. Vo
Volta
ltare
remo
moss a este
es te p on
onto
to m ais
ai s aadi
dian
ante
te q u a n d o fo
form
rm o s a n a -
lisar as com
comunid
unidades
ades vvirt
irtuais.
uais.
A internet oferece várias
várias ferramentas para a navegaçã nave gação o em seu
ambiente, agindo
agind o como uma ve verdadei
rdadeira ra incubadora mediática, já que
dá espaço para a criação de diversos dispositivos comunicacionais,
como o correio eletrônico (emai (email) l);; o programa telnet (que permite pe rmite a
conexão remremotaota a outr
outros
os computadores)
computadores);; o FT FTP P {files tranferprotocol  
-  para transferência de arquivos, permitindo a troca de arquivos de
forma anônima); o WWW ( World Wide Web)  ou Web, a parte
multimídia
mu ltimídia e mais popular hoje hoje da internet
internet que permite a n navegação
avegação
 po
 p o r pá
pági
gin
n as d
dee inf
infor
orm
m aç
ação
ão ((Ho
Home
me Pa
Page
ges,
s, Si
Sites
tes)) at
atra
ravé
véss d
dee lin
links
ks,, le
lexia
xiass
hipertextuais que induzem a navegação de informação em informa-
ção, de site em site, de país em país através de softwares  como o
antigo Mosaic ou os atuais Nestcape,
Nestcape, Explorer ou mesm o o m agrinho
Opera;
Ope ra; os agentes inteligentes, softwares que buscam informação à la 
carte para o usuário como o Archie, WAIS, entre outros; o IRC, ou

6   CIBERCULTURA, TECNOLOGIA E VIDA SOCIA


126 
12 SOCIALL N A CULTURA CON
CONTEM
TEMPORÂ
PORÂNEA
NEA •
 

 In tern
 Inte rn e t R e la
layy Ch at,,  ICQ, Gooey e outros que permitem o diálogo
Chat
em tem po real, sincrônico entr entree usuári
usuários.
os. Cad
Cadaa dia novas ferram
ferramentas
entas
midiáticas são sã o iincubada
ncubadass na Rede.
Um dos ins instrument
trumentos os mais int
interess
eressantes
antes são os chamados Agen-
tes Inteligentes.

 Ag e nt
ntes
es

Os agentes inteli
inteligentes
gentes estão em franca expansão, ddesde
esde m áqui-
nas de busca
busc a que cruzam inf
informaçõ
ormaçõeses de diferentes servidores ao re-
dor do m undo, até progr
programas
amas particul
particulares
ares que efetuam ppesquisa
esquisa para
seus usuários.
usuários. O ex
excesso
cesso de informação obriga a construçã
construçãoo de dispo-
sitivos que possam auxiliar os usuários e aprender com seus costu-
mes. Passarem os, assim, a delegar a um agente inteligente eletrônico

a tarefa de encon trar iinformações


nformações que desejamos
desejamos..
Algunss programas foram desenvolvidos nesse sentido antes da
Algun
Web e têm hoje um a ffunção unção marginal como o ARC ARCHIEHIE (desenvolvido
 po
 p o r P a te
tern
rno
o s te
terr De
Deuu ts
tsch
ch na M cG ill U ni
nivv ersi
er sity
ty em M o n tr
tree a l) q
quue p
pro
ro-
-
cura informação a parti p artirr de um nome de arquivo ou uma palavr palavra; a; o
WAIS,
WAI S, disponível livremente na rede criado por Brew ster Kahles, Dow
Jones, Think Machine e Apple para rastrear, como um vírus worm, 
informações; ou os Knowbots, Rosenbaud ou Gopher Goph er (esse desenv
desenvol-ol-
vido na Universidade de d e Minnesota), entre out outros.
ros. No entanto, novos
agentes surgem
su rgem a cadcadaa didia.
a. Eles são imp
imprescindíve
rescindíveis is para a nossa vida
no ciberespaço.
Estes programas residentes nas redes telemáticas, operados de
forma autônom
autônomaa e automática, aprendem processos e realizam tar tarefas
efas..
Como
Com o espectros, estes agentes ci circulam
rculam no ciberespaço à caça das mai maiss
diversas formas de informação. Já há várias aplicações em funciona-
mento: NewT (para grupos temáticos na Usenet), Ringo (recomenda-
ções em música), Maxims (filtrar e ordenar as cartas eletrônicas);
Calendar (elaborar agendas e horários), WWWagent (recomendações
na informação
informaçã o disponível
disponível no WW
WWW);
W); e mmáquinas
áquinas de buscas populares
como Yahoo!, Webcrawler, AltaVista, Excite, entre outras.
Os agentes
agen tes podem agir como filt
filtros,
ros, como ajudantes, guias ou
monitores críticos nas tarefas diárias de seus mestres. No entanto,
devemos chamar a atenção à mudança em relação a interatividade
homemm
hom emm áquina. Se até aqui a natureza da iinteração
nteração era a manipula
manipula••

LEMOS | 12
• ANDRÉ LEMOS 127 

 

ção direta da informação, com


c om os agentes
agentes,, a interatividade passa a ser
delegada, tornandose
torna ndose assim, indi
indiret
reta.
a. Se os agentes pode
podemm fac
facilit
ilitar
ar
nossa vida num mundo com excesso de informação, por outro lado,
corremos o risco de nos fecharmos. A lei aqui é a seguinte: “meu
agente só tem que procurar
pro curar a iinformação
nformação que eu quero. P Por
or exemplo:
esporte mas não economia; discussões da conferência alt.cybe
a lt.cyberpun
rpunk’k’
mas não alt.pets”, etc. Se os agentes podem ser reais instrumentos de
teleação aberta no mundo, eleseles também podem tornarse instrumen-
instrum en-
tos de nossa própria prisão, na medida
m edida em que o acaso, os encontros
inesperados estão, de certa maneira, descartados
descartados pela certeza u utili
tilitá-
tá-
ria do programa. A possibilidade de se cair em algo de estranho, de
diferente, é reduzida
reduz ida a zero.
zero. Aqui, só
só encontramo
encontramoss o que procu
procuramo
ramos. s.
Os agentes ajudam também o nosso nosso nomadismo
noma dismo eletrôni
eletrônico.
co. Em

tempos de autoestrada eletrônicas, algumas mudanças vão se fazer


sentir em relação à nossa mobilidade (nomadismo) e à nosso espaço
 priv
 pr ivaa d o (a ccas
asa)
a).. Esta
Es tass m od odifific
icaç
açõe
õess são eesb
sboç
oçaa da
dass eem
m totodd o s lu
luga
gareres:
s:
no teletrabalho (ou a casaescritório), no teleensino (ou a casaes
cola), nas redes telemáticas (ou a casaenciclopédia), nos diversos
dispositivos de telecompras (ou a casashopp casashopping),ing), etc.
etc. A cibercu
ciberculturaltura
vai,, pouco a pouco, redefinindo nossa prática do esp
vai espaço
aço e do tempo,
 par
 p arti
ticc u la
larm
rm e n te no quq u e ssee re
refe
fere
re aao
on nov
ovo o no
n o m a d ism
is m o te
tecc n o ló
lógg ico
ic o e às
fronteiras entre o espaço público e o espaço privado. C Com
om os telefo-
nes celulares, os fax, os computadores portáteis, modem e satélites,
estamos em casa o tempo todo. Como disse Barlow num evento
multimídiaa em Amsterdã, “minha casa é meu e-mail”25i.  O espaço
multimídi
 pri
 p riv
v a d o se im b riricc a no e spspaa ç o p ú bl
blic
icoo e vi
vice
cev
ver
ersa
sa,, n u m a v er
erd d a d e ir
iraa
 pu
 p u b li
licc iz
izaa ç ã o d o ppri
rivv a d o e d e pri
p riv
v a ti
tizz a çã
çãood
doo pú
públblic
ico.
o.
O tempo
tem po real da comunicação inst instantânea
antânea e o espaço físico com com--
 pri
 p rim
m id
ido o e d ililu
u íd
ídoo n a frfro
o n te
teir
iraa e letr
le trôô n ic
icaa d o c ib
iber
eres
esp
p a ço c ri
riaa m um a
contradição
contradiç ão enentre
tre o imobili
imobilismo smo da casa e o nom adismo proporciona-

do pelas novas tecnol tecnologias


ogias.. Estas permitem que eu esteja em qualquer
lugar sempre conectado. Assi A ssim,
m, quanto mais a casa é p perfurada
erfurada por
canais que nos unem as informaçõ
informações es binár
binárias
ias que nos chega
chegamm do mun-
do, mais nos tom tomam
am os nômades, cow-boys  do ciberespaço, armados
de máquinas de comunicar (computadores portáteis, celular wap, 
 pa
 p a g e r s ,  celulares, Palm computers). Podemos, assim,
assim, ag ir como nô-
mades, num m odo de exíli exílio
o per
permanente
manente.. M ais uma vez, não é o espa-
ço físico que conta (minha casa rreal), eal), mas o ciberespaço (meu
(m eu endere

 
128 |CICIBERCUL
BERCULTURA,
TURA, TECNOLOGIA
TECNOLOG IA E VIDA SOCIAL N A CULTURA CON
CONTEMPO
TEMPORÂNEA
RÂNEA •

ço eletrônico, minha home page, meu número ICQ, meu pager...).


A casa já é, nas sociedades modernas, uma estrutura porosa,
mesmo que supostamente limitada fisicamente por paredes, portas e
 jann e las
 ja la s . E s ta p o rosi
ro sidd a d e é subt
su bter
errâ
râne
nea,
a, e sco
sc o n d ida
id a e m red
re d e s q u e no
noss
entregam,
(rádio, tv, diariamente,
esgoto, água,oluz, fluxo material
correio, etc).e informacional
Ao acordarmosdopela mundo
ma-
nhã, deparamonos
deparamon os com um mundo que está dentro de casa: casa: eletrici-
dade, esgotos, caixas de correio
correio,, ondas de rádio
rád io e televisão,
televisão, telefone.
telefone.
A casa é assim um hardware , uma ilha, ilha, um espécie
espé cie de ma
machine vivre 
chine à vivre
como dizia o arquiteto
a rquiteto Le Corbusier.
Corbusier.
 Noo e n tant
 N ta ntoo , o hardware-casa  não faz um lar, lar, não funda o meum eu
lugar. O meu lugar não é um hardware , mas tudo aquilo que me faz
reconhecer esse lugar como meu. meu. O lar é assim uma espécie
espé cie de software 
da casa, um conjunto de códigos e programas que nos fazem ter a
sensação de estar
e star no chez moi.
moi.  O lar é produtor de sensações particu-
lares e simbólicas, um espaço de mem memória,
ória, subjetividade
sub jetividade e intimidade.
intimidade.
O lar é o nãoespaço
nãoespa ço da casa. Ritualizado e míti mítico,
co, o lar
la r é a alma
alm a da
casa e o paraíso de nossa individualidade privada. É aqui que nós
somos, de uma vez por todas, nós mesmos, que nos diferenciamos
dos outros, tentamos evitar as interferências
interferências do espaço público.
púb lico. Aqui
A qui,,
o tempo não é mais aquele de Cronos, linear linear e positivo, mas o Kairós 
circular: o tempo
circular: tem po do dia o dia pára,
pára, deixando fluir o “meu tempo”
temp o”.. O
lar caracterizase por ser um espaço imaginário, simbólico; um con-
 ju n to d e p ráti
 jun rá ticc a s c o n cr
cret
etas
as e ri
ritu
tuai
aiss ima
im a g iná
in á rio
ri o s q u e faz
fa z e m d e m inh
in h a
casa algo sem se m igual
igual..
Hoje, com internet, o meu larcasa tornase o ponto de agluti-
nação de informação, como uma espécie de buraco negro onde en-
tram, além das formas form as tradicionais de captação de m atéria, energia e
informação, palavras, imagens e sons do ciberespaço. Mas, M as, aqui, in-
troduzse uma um a diferença fundamental: o larcasa larcasa também é um u m ponto
de disseminação
disseminaçã o de espectros e fantasmas pelo ciberespaço: ciberespaço: os agen-
tes inteligentes, programas que circulam buscando informações dis-
tantes e precisas, via ciberespaço.
ciberespaço.
Os agentes vão circular no ciberes ciberespaço
paço em busca de informação
 per
 p erso
sonn aliz
al izaa d a, tra
tr a n sfo
sf o rman
rm andd o o n um ime
im e n so e coss
co ssis
iste
temm a . C o m o os
cachorros que vão procurar o chinelo dos seus mestres, os agentes
inteligentes,
inteligent es, a partir
pa rtir de instruções dadas pelo usuário, realizam re alizam diver-
d iver-
sas tarefas como buscar um artigo em um banco de dados, passar• passar •

• ANDRÉ LEMOS
LEMOS | 129
 

 p e d id
 pe idoo s d e c o m p ra
ras,
s, o rde
rd e n a r in
info
form
rm a ç ã o no
noss jo r n a is e le
letr
trô
ô n ic
icoo s, fi
fil-
l-
trar discussões nas conferências eletrônicas, procurar uma música,
guiar em um serviço eletr eletrônico...
ônico...

Hipertextos

O hipertexto
h ipertexto mundial que é o ciber ciberespaço
espaço ffez ez com que os pro-
dutores
dutor es culturais mudassem sua suass formas de concepção dos conteúdos
de seus produtos. Assim, se com o broadcasting   os produtores ti-
nham com o objetivo realizar uma programação que captasse a audi-
ência de forma homogênea, com os novos media  digitais interativos o
que está
está em jog o é um metadesign, ou seja “o desi designgn de ferramentas, 
 pa
 p a r â m e tro
tr o s e c o n d iç
içõõ e s d e o p e raçã
ra ção
o q ue p
pee r m it
itee m a o u s u á ri
rioo fi n a l 
a taref
tarefa a de interativame
interativamente l”259.  Este metadesign  
nte fa z e r o design fi n a l”2
deixa livre
livre o util
utilizador
izador para que ele parti participe
cipe também do d o p rocesso de
concepção em processos hi hipert
pertextuai
extuaiss com um CD Rom ou os sit sites
es
na Web.
Web. E Estabelece
stabelecese, se, dessa forma, um processo não nãolinear
linear de co con-n-
cepção e de utili utilização
zação (i (interat
nteratividade)
ividade) dos conteúdos on de a realiza-
ção da obra, ou d a ação como diría Laurel Laurel,, é impossível sem o usuá usuá- -
rio. Se não interagirmos com os hipertextos, seja ele um site ou um
 jo
 j o g o e le
letr
trô
ô n ic
icoo , n a d a a cco
o n te
tecc e e a a ç ã o n ão se c o n crcree ti
tizz a . D if
ifer
eren
ente
te
ação (al(alguns
guns d diríam
iríam passiva) ocorr ocorree com o oss media  clássicos, como a
TV ou o rádio, onde o usuário assiste o que passa na telinha ou ouve
o que é em emitiitido
do p elo rádirádio,
o, poporr exemplo
exemplo..
Os hipertextos, seja on-line (Web) ou off-line (CDRom), são
informações textuai textuais, s, combinadas com imagens (animad (animadas as ou fixas) e
sons, organ
or ganizad
izadas as de form a a p prom
rom ove
overr um
umaa leitura26
leitura260(ou nave navegaç gação)
ão)
nãolinear,
nãoli near, baseada em in indexações
dexações e associa associaçõesções de idéias e concei- c oncei-
tos, sob a forma de
cam inhoslinks.
que abrem caminhos pa
parara  outras
Os links  funcionam
iinformaçõe
nformações2 61como
s26 portastovirtuais
. 0 hipertex
hipertexto é uma
obra com várias entradas, onde o leitor/navegador escolhe seu per-
curso pelos links.
Com
Co m a navegaçã
navegação o hipe
hipertext
rtextual
ual ou hiperm
hipermidiát
idiática,
ica, problematizase a
relação entre autor
a utor e usuário, entre escritor e leit leitor
or.. Segu
Segundondo Ge
Geoige
oige Landow,
as publicações eletrônicas “prom prometem
etem pr produ
oduzir
zir efeitos na nossa
nos sa cult ura, 
cultura,
 partic
 par ticula
ularm rmen
entete na literatur
literatura,a, na educação, na crítica e no ensino, tão 
radicais
radic ais como aqueles produzidos pe pelolo tipo mó
móvelvel de Gutenberg ”26  ”262.
O pioneiro, ancestral dos hipertextos, é o  M e m e x   (Memory

130  | CI
CIBERCULT
BERCULTURA,
URA, TECNOLOGIA
TECNOLOG IA E VIDA SOCIAL
SOCIAL N A CULTURA CONTEMPO
CON TEMPORÂNEA
RÂNEA •
 

er ),  inve
 E xtee n d er),
 Ext  inventado
ntado po r Vannevar Bush, conselheiro de Rooseve Roosevelt, lt,
no texto A s We M a y T hink  hi nk  de 19 1945452263. 0 M emex, qu quee nun ca existiu na
realidade, seria uma espécie espé cie de arquivo ou bibliot biblioteca
eca pessoal, um dis-
 po
 p o si
siti
tiv
v o p a ra es
esto
toca
car,
r, in
indd e x a r e v is
isu
u a li
lizz a r in
info
form
rm a ç õ e s (i
(imm agé
ag é tic
ticas
as,,
sonoras, textuais). A criação do nome hipertexto é atribuída a Ted
 Nel
 N elso
son n eem
m 19 1965
65,, qu
quaa n d o es
este
te llaa n ça o ppro
rojejeto
to X an
anad
aduu 264. 0 h ip
ipee rt
rtee xt
xtoo
é pensado por Nelson como um media  liter  literário
ário onde, a pa rtir de tex-
tos,
to s, poderiamos abrir jane la e janelas de janelas dando sobre mais e
mais inform
informações.
ações.
Hoje a Web é um exemplo popular do hipertexto. Nesta parte
multimídia da internet,
internet, o usuário pode naveg navegar ar d
dee inform
informação ação em in-
formação, de site em sit
sitee (de paí
paíss em país), em tempo real, através de
interfaces (os browsers  como Netscape
Ne tscape,, Explorer ou o ppioneiro
ioneiro Mo
saic).
saic). Não existe aqui nenhum percurso apriorísticamente determ ina-
do, configurandose, assim, como um sistema desprovido
desprov ido de lineari-
dade265, próximo de uma ciber Jlânerie, como veremos adiante.
 No
 N o h ip
ipee rt
rtee x to di
digigita
tal,
l, com
co m o C D RRoo m ou a WeWeb, b, p o d e m o s n a-
vegar sem que aquele que o concebeu tenha o poder de determ inar o
 perc
 pe rcu
u rso
rs o (g
(guu a rd
rdanand d o cclar
laro,
o, os lim
l imite
itess de
d e opç
o pçõe
õess da
dadd a s)
s).. D e ss
ssaa fo
form
rma,
a,

a leitura não é mais, necessariamente, lin linear.


ear. Ela transfo
transformarmasese em um
estado de “atençãonavegaçãointeração”. O percurso pode ser cir-
cular. Com
Co m o m mostr
ostraa Wooley2
Wooley26 66, a interativid
interatividadeade ddigital
igital é m ais p próx
róxim
imaa
das colagens e cut-ups dos dadaístas, do que da narrativa romanesca.
O ciberespaço
cibe respaço é, assim, um hipertexto mundial interativo, onde
cada um pode adicionar, retirar e modificar partes dessa estrutura
telemática, como um texto vivo, um organismo autoorganizante, um
Cybionte
Cyb ionte2 267em cucurso
rso ddee concretiza
concretização.ção. Entretan
Entretanto,
to, a id
idéia
éia ddee hipe
hipertexto
rtexto
não é somente
som ente aplicável ao ci ciberespaç
berespaço. o. N a leitura
leitura cl
clássica,
ássica, po r exem-
exem -
 plo
 p lo (text
(te xtos
os imimpr
pres
esso
sos)
s),, o le
leit
itor
or se en engg aja
aj a e m u m p rorocc e ss
ssoo ta
tamm b ém
hipertextual, já que a leitura é feita por interconexões (à memória do
leitor,
lei tor, às referências do text texto,
o, aos índices)
índices) que remetem
rem etem o mesm mesmo o para
fora de uma “linearidade” do texto. Assim, todo texto escrito é tam-
 bém,
 bé m, e m sent
se ntid
ido
o lat
lato,
o, um hihipe
perte
rtexto
xto,, o
ond
ndee o mot
m otor
or d
daa in
inte
tera
rativ
tivid
idad
adee ssee
situa
situa na m mememória
ória do le
leitor
itor e a interat
interatividade
ividade na relação ao objeto livr livro.
o.
Toda leitura
leitura exige um estad
estado o de atenção, de lapsos e de correla-
ções similares ao surfar na We Web. b. No entanto, a diferediferença
nça situase no
fato de que, no ciberespaço, a conexão é em tempo real, imediata,
live.  Ela nos p
permite
ermite passar de um a refer
referência
ência à outr
outra,
a, sendo a cone
cone••

• ANDRÉ LEMOS
LEMOS | 131
 

xão imediatamen
imed iatamente
te disponí
disponível.
vel. No caso do li livro,
vro, o leitor deve buscar
a referência, procurar
procura r numa bib
bibli
lioteca
oteca,, ach
achar
ar a correlação procurada.
 N o c ib
 No ibee re
resp
spaa ç o p a ss
ssam
am o s de rerefe
ferê
rênn cia
ci a s e m rerefe
ferê
rên
n c ia
ias,
s, d e se
servrvid
idoor
em servidor, de país em país com um simples click   d o mouse,   sem
saber onde começa e onde termina o processo. Como afirmava
McLuhan,
McL uhan, Gutenb
Gutenberg erg nos fez leitor
leitores,
es, a máquina Xerox nos fez edito-
res e a eletrô
e letrônic
nicaa e os ccomomputado
putadoresres em rede nos faz fazem
em auto
autores2
res2668.
 Nes
 N esse
se hipe
hi perte
rtextxtoo pl
plan
anet
etár
ário
io que
qu e é o ccib iber
eres
espa
paço
ço a prprát
átic
icaa do e s-
 paço
 pa ço ta
tam m bé
bém m é muit
m uitoo int
inter
eress
essan
ante.
te. N es
esse
se sen
sentid
tido,
o, po
pode
dem m os a p ro
roxixim
m ar
a fl
 flââ n e r ie  p
 pelo
elo espaço urbano da navegação hipertextual. A prática do

cibemauta é muit
m uito
o próxima da fl
 flââ n e r ie  descrita por Baudelaire no sé-
culo XIX. Tratase, em ambos os prprocessos,
ocessos, de um rearran
rearranjo
jo do espaço
através de um modelo de conexão generalizada, descentralizada e cujo
 pont
 po nto
o de p a rt
rtid
idaa é co
cons
nsta
tant
ntem
emen
ente
te de
deslo
sloca
cado
do e atua
at uali
liza
zado
do atra
at ravé
véss de
uma atividade
a tividade de errância
errância.. Conform
Conformee mostra Rosell
Rosello:o: “eu g gosta ria de  
ostaria
convencerr que pe nsa r sobr
convence sobree hipertext
hipertextos
os não é difdiferente
erente de pe ns nsarar so
bre nacionalismo, cultura, gênero, ou contar estórias, porque o  
hipertexto
hiperte xto sem
semprepre co
coloca
loca uuma
ma redefinição entre corpo e eesp spaa ço "2
"2((fí.
Tecnicamente o hipertexto é uma forma de organização da in-
formação possibilitada pelos avanços da informática, traduzindose
em um co njunto de nós, li ligado
gado por conexõe
conexões, s, permiti
perm itindo
ndo a explora-
ção através de um processo de ‘leituranavegação’ nãolinear e
assoc
ass ociativo
iativo,, de
desce
scentra
ntraliza
lizado
do e rizom
rizomátic
ático2
o27
70. Aqui, ins
instala
talase
se uuma
ma se
qüência
qüên cia de processos interativos
interativos e criati
criativos
vos  advindos das po possibili-
ssibili-
dades de tradução, transformação e passagens através de conexões
múltiplas em velocidade.
velocidade. Longe
L onge de ser apenas um novo suporte sup orte técni-
co para a informação, os hipe hipertex
rtextos
tos problematizam as formas d dee co
con- n-
ceber a produção e apreensão da informação e do conhecimento, ao
mesm
me smo o tem
tempopo q que
ue u um
m rea
rearran
rranjam jamento
ento do esp espaç
aço2o2771.
Land
La ndowow 272 vai além,
além , res
ressalta
saltando
ndo qu quee os hipe
hipertex
rtextos
tos são u umm a es-
 péé cie
 p ci e d
dee la
labb o ra
rató
tóri
rio
o on
ond d e as hihipópóte
tese
sess llee va
vant
ntad
adasas e susust
stee n ta
tadd as te
teoo ri
ri--
camente
cam ente pelos pósestruturalistas poderíam sser er testadas. Os hipertextos
 perm
 pe rm it
itee m o q quu e st
stio
ion
n a m e n to do p ensa
en sam m e n to lologg o c ên
êntr
tric
ico
o o cid
ci d en
enta
tall e
afirmam as idéias de Barthes, Derrida e Foucault sobre a falência falên cia dos
significado
signific adoss de m margargem
em,, hhierar
ierarquia
quia e line
linearida
aridade2
de27 73.
O hipertexto
h ipertexto seriseria,
a, em outros ttermos,
ermos, um modo de con concebe
ceberr como
 pensa
 pe nsamomoss e organ
organizaizamo
moss o pen
pensame
samento.
nto. PaPara ra Land
Landow,ow, “...devemos aba aban n
donar
don ar sis
sistemas
temas co conceptuais
nceptuais fun funda dado
doss nas idéi idéias
as de margem, hierar hierar--

2  CIBER
132
13 CIBERCUL
CULTU.
TU.RA,
RA, TECNO
TECNOLOGIA
LOGIA E VIDA SOCIAL NA CULTURA CON
CONTEM
TEMPORÂ
PORÂNEA
NEA •
 

quia,
quia, e linearidade e substituí-los p o r outros de m
multil
ultilinearidade, nós,, 
inearidade, nós
links e redes
redes.. Qua
Quasese todos os estudiosos desta mu mudanç
dançaa de paradigm
paradigma, a,  
que marea um a rev revolução
olução no pensam
pensamento
ento humano
humano,, percebem a escri ta 
escrita
eletrônica
eletr ônica como uma res respos
posta
ta para as for ça s e fraq ue
uezas
zas do li
livro
vro im
 prr e s s o ”274.  Landow trat
 p trataa o hipert
hipertexto
exto como umumaa estrutura sem centcentro.
ro.
O ponto do espaço esp aço tido como central (ou de partida) é constantemen
constantemente te
atualizado,
atuali zado, sensendo
do permanentemen
permanentemente te deslocado. Dito de outra forma, o
hipertexto é um sinônimo de rede. rede.
A rede hipertextual instaurase como um modelo de conexão

generalizada e, neste sentido, flanar numa cidade ou navegar por


hipertext
hiper textos
os evo
evocaca um mesmo proces
processo:so: uma relação descentralizada
e rizom
rizom ática com o espaço.
espaço. Estabelecese
E stabelecese a interconexão eentrentre o pro-
cesso de leitura (relação entre, o corpo e o texto) e o mapeamento
(relação entre o corpo e o espaço) fundindo as figuras do leitor (que
seguee o m apa) e do escritor ((que
segu que fafazz o mapa). Com o m ostra Landow
“...
...já
já que siste
sistemm as hipertextuais perpermm item ao le
leitor otarr um texto  
itor an ota
inidividual e linkar
link ar pa ra out
outros
ros,, até textos contraditóri
contraditórios,os, isso des- 
trói uma das mais importantes características do texto impresso -  
sua separação e univocalid ade. Sempre que colocam os um texto numa  
univocalidade.
redee de outros text
red textos,
os, refor
reforçamos
çamos a sua existência com o pa rte d dee um  
diálogo complexo  ”  ”2
275.
Todo sistema hipertext
hipertextual
ual inst
instaura
aura um híbrido de leitor e escri
escritor
tor,,
de aventureiro e conformista, na figura daquilo que Rosello R osello cham a de
screener. Não é p por
or acaso qque
ue parar diante de um imóve
imóvell que pertenceu
a nossa infância, sentir os cheiros e ruídos que só a nó nóss faz sen
sentido,
tido, ou
clicar num link que a você surg surgee naquele instante interessante, parece
fazer parte
parte de um m mesmo
esmo processo hiperhipertext
textual.
ual. A Assim,
ssim, da fl â n e r ie  do
 flâ
 poet
 po etaa ur
urbabano no à ciber-flânerie eletrônica   do intemauta não há, neste
sentido,
sent ido, mu muitaita dist
distância.
ância. Tra
Trata
tase
se de um mesmo processo de meta
construção das estruturas (urbana e tecnológica tecnológica  o ciberespaço). Va Va--
gar pela cidade e clicar clica r em sit
sites
es na internet éé,, assim, “esc “escrev
reverer lendo”
lendo”,, é
deixar marcas a partir de mapas dados, é imprim imprimir ir um traço no espaço,
ao mesmo
mesm o tem tempo po maleáve
maleávell e iinflexivo
nflexivo do quot quotidiano.
idiano.
O f fll â n e u r , com
comoo o nav
navegador
egador de hipertextos eletrônicos, é esse
 pee rs
 p rsoo n ag
agee m p paa ra q u e m o an
andd ar não
n ão é ne
necc e ss
ssaa ri
riaa m e n te in
inte
tenn cio
ci o na
nall ou
objetivo. Ele tomase observador que olha sem julgar, que busca a
imersão e não a compreensão. A fl â n e r ie  no ciberespaço e nas cida-
 flâ
des (como ato de desmesura) permite perm ite jog ar com o espaço inst instituí
ituído,
do,

escrever
escre
turas.ver
O percursos além
andar do flâ dos
do s textos
textos construídos
construídos por suas macroestru
m acroestru
n e u r   é, assim, ato de tomar posse, de márcar
simbolicamente
simbo licamente o espaço.
Tratase mesmo de apropriações silenciosas, minúsculas e ba-
nais do quotidiano,
quotidiano , de práticas de subversão intersticial, de possibili-
dades de se locomover
locom over escrevendo
escrevendo pequenas
pequenas histórihistórias as  forma de apro-
 pri
 p riaa ç ão qu
q u e De
D e Cer
C erteteaa u cha
c ham
m o u ddee in
inve
venç nção
ão do d o quo
qu o tid
ti d ian
ia n o 276. A ssim
ss im,,
a partir destes gestos, o flâ n e u r e o cib  c ibee r flâ
flân n e u r  estariam, certamen-
te, imprimindo
imp rimindo traços, deixando deixando marcas (não é à toa toa que somos caça-
dos pelas impressões
im pressões eletrônicas
eletrônicas que deixamos na Web, nos cartões
eletrônicos, nos celulares, etc.). etc.). Longe de uma u ma simples consuma co nsumação ção
 pass
 pa ssivivaa d os e spa
sp a ç o s (urb
(u rban
anoo ou cibe
ci ber)r),, e sta
st a ríam
rí amoo s d ian
ia n te d e p roc
ro c e s-
sos de sedução, de desvio. Tanto a cidade como os hipertextos são
(des)organizados pela marca ma rca (escrita)
(escrita) nãolinear
nãolinear,, ind indexada
exada a associa-
ções as mais diversas. Aqui A qui o mapa
m apa não é o territó território
rio..
Os links,  ou lexias como propôs Barthes, são obviamente de-
 pend
 pe nden ente
tess d e e stru
st rutu
tura
rass prév
pr évia
ias.
s. N o enentatant
nto,
o, esta
es tass e stru
st rutu
tura
rass n ã o são
sã o
totalmente determinantes. Como mostra Rosello, “quem observa o  
 flân
 flâ n e u r ( ...
...)) tem qu
quee p pee n sa r a re
relaç
laçãã o en
entre
tre o c o rp
rpoo d o via
viaja
jann te e o  
 mapa
 m apa,, m as tam bé bémm o sstatatutuss do m apa cocomm o uma rerenn d içã
ição o m eta
etafófóric a 
rica
 do
 d o es
espp a ço
ço:: o c o rp
rpo o d o flân
flâneueur,
r, qu
quee nã
não o se
segu
guee uma ro rotata ou inven ta 
inv enta
 nov
 n ovos
os ca
camm inhinhos
os p a r a um vvelhelhoo de
destin
stino,
o, tam
também
bém su
sub b v e rte a v isã o d
doo 
espaço
espa ço como uma nave vazia, um mero
mero receptácul
receptáculo
o neutro
neutro da rede ” 27
277.
7.

O ciberespaço, como uma metacidade de  b its,,  é um imenso


 bits
hipertexto mundial
mu ndial interativo, onde cada um pode ad adicionar,
icionar, retirar e
m odificar partes desse texto vivo, vivo, escrevendo sua pequena hhistór istória.
ia. A
aproximação entre fl â n e r ie   urbana e navegação hipertextual
 flâ hipertextual parece
estimulante,
esti mulante, um a vez que permite a apreensão de ambos os processos processos
não em oposição  como sugere sugere uma determina determinada da corrent
correntee crítica,
crítica, a
 paa rt
 p rtir
ir da
d a sup
su p o si
siçç ã o de
d e irr
i rree alid
al idaa d e ddaa exp
ex p eriê
er iênn c ia v irtu
ir tual
al  m as,
as , ccoo m o
contínuos. A c  cib
iber
er-flâ
-flânn e rie  po
   p o d e ssee r com
co m p reen
re endididd a co
c o m o u m a fo
f o rma
rm a
de amp
a mpli liação
ação metafórica do flânar urbano urbano..
É importante
im portante ressaltar,
ressaltar, também, as especificidades de cada um
dos processos de flâ n e r ie    ou suas diferenças diferenças de escala.escala. Se, na vida
real, a concretude e a materi
real, m ateriali
alidade
dade do corpo e do espaço físico deter-
minam e constrangem a identi
identidade,
dade, a relação
relação indivíduomundo e as
formas
for mas de sociabil
sociabilidad
idadee  e portan
portantoto a flâ n e r ie    toda
toda uma outra
outra for
for--
m a de socialidade caótica e fractal
fractal,, descentrali
descentralizada,zada, dispersa e múlt
múlti
i

134
134  | C1BER
C1BERCUL
CULTUR
TURA,
A, TECNOLOGIA E VI
VIDA
DA SOCIAL NA CULTURA CONTEMPORÂNEA
CONTEM PORÂNEA •
 

 p ia,, f u n d a d a a n te
 pia tess e m m u lt
lti
ipp er
erso
sona
nalid
lidad
adeses,, e m c o m u n id
idaa d e s s em
p ro
roxx im id
idad
adee e a tutuan
ando
do p o r id
iden
entif
tific
icaç
açõe
õess eefê
fêmm er
eras
as e suce
su cess
ssiv
ivas
as,, exa-
ex a-
 p rox
 pro x im id
idad
adee e a tu
tuan
ando
do p o r id
iden
entif
tific
icaç
açõe
õess eefê
fêmm er
eras
as e suce
su cess
ssiv
ivas
as,, exa
ex a
cerbase
cerb ase a pparti
artirr dos flux
fluxos
os virtualizantes2
virtualizantes27 78. D a m
mesm
esm a fo
forma
rma,, a di-
mensão de nãolugar do cibere ciberespaço,
spaço, consti
constituítuída
da a partir das caracte-
rísticas
rísticas co
combina
mbinadas das de aterri
aterritorial
torialidade,
idade, imateriali
imaterialidade,
dade, instantaneidade
e interatividade,
interatividade, circunscreve a analogia entre as metrópoles m etrópoles concretas
e as megacidades de bits.•
• ANDRÉ LEMOS
LEMOS | 135
135
 

C a p í t u l o   II
 A S E S T R U T U R A S A N T R O P O L Ó G I C A S D O C I B E R E S P A Ç O

“ O ciberespaço. Uma alucinação consensual vivida quo


quo
tidianamente por dezenas de milhares de operadores em
todos os países...Uma
países...Uma representação gráfica de dados ex-
traídos das memórias
memórias de todos os computadores do siste-
ma humano. Uma complexidade impensável. Traços de
luz dispost
dis postos
os no nã
nãoes
oespaço
paço do es
espír
pírito
ito...
...”2
”279
W. G i b s o n

O ciberespaço
ciberespaç o se encontra preso em estrut
estruturas
uras arcaicas, im agi-
nárias e simbólicas
simbólicas de toda vid
vidaa em socied
sociedade.
ade. Devemo
De vemos, s, assim, es-
clarecer
clare cer o con
conceito
ceito de ciberespaço sob a lluz
uz do herme
hermetismo,
tismo, da gnose,
dos ritos
ritos de passagem , do tempo realreal,, do espaço imag
imaginário
inário e da m me- e-
táfora evolucionista
evolucion ista e organici
organicista
sta da noosfer
noosfera,
a, do cybionte, d daa inteli-
gência coletiva e do rizoma.
O termo ciberespaço aparece quot quotidianamente
idianamente na im prensa e
nas discussões sobre as novas tecnologias de informação. Temos
uma idéia do ciberespaço como o conjunto de redes de telecomu ni-
cações criadas com o processo digital de circulação das informa-
ções. John Perry B arlow (um dos ffundadores
undadores da  E Ele
le c tr
troo n ic F r o n ti
tiee r  
Foundation),  por exemplo, define o ciberespaço como o lugar em
que nos en contramos quando fal falamos
amos ao telef
telefone.
one. Se esta definição
nos dá uma imagem do que venha a ser o ciberespaço, ciberespaço, ela não ajuda
a com preen
preendermderm os todas as sua suass facetas.
facetas. Toda a econom ia, a cultu-
ra, o saber,
saber, a política do século XXI, vão passar (e já estão pa ssan-
do) por um p rocesso de negoci negociação,ação, dist
distorção,
orção, apropriação a partir
da nova dimensão espaçotemporal de comunicação e informação
 pla
 p lan
n e tá
tári
riaa s q u e é o c ib
ibee re
ress p a ç o .
O termo ciberespaço foi inventado pel peloo escritor cyberpunk de
ficção científica William Gibson no seu monumental Neuromancer, N euromancer, de
198428° p ara Gibson, o ciberespaço é um espaç espaço o não fí
físico
sico ou terri
territorial
torial
composto por um conjunto de redes de computadores através das
quais todas as informações (sob as suas mai maiss diversas formas)
form as) circu
circu--
lam. O ciberespaço gibsoniano é uma “alucinação consensual”. A
M atrix2
atrix28
81, com o ch
cham
am a G
Gibson,
ibson, é a mãe, o úte
útero
ro d
daa civiliz
civilizaçã
ação
o pós

136   | CI
CIBERCUL
BERCULTURA,
TURA, TECNOLOGIA E VIDA SOCIA
SOCIALL NA CULTURA CONTEMPORÂNEA
CONTEM PORÂNEA •
 

industrial onde
o nde os cibem auta
autass vã
vãoo pen
penetrar2
etrar2882. Ela sserá
erá ppov
ovoaoadada pelas
mais diversas tribos, onde os cowboys do ciberespaço circulam em
 bu
 b u sc
scaa de in
info
form
rm açõe
aç ões.
s. A M at
atri
rix
xddee G
Gib
ibso
son,
n, co
com m o tto
o d a a ssu
u a ob
obra
ra,, fa
fazz
uma caricatura
carica tura do real, do quotidiano.
quotidiano.
Podemos
Podem os en
entender
tender o ci
ciberespaç
berespaço o à luz de duas perspect
perspectivas:
ivas: com
como o
o lugar onde estamos quando entramos num ambiente simulado (real (realida-
ida-

de virtual)
virtual),, e como o conjunto de redes de co computadores,
mputadores, int interligadas
erligadas ou
não, em todo o planeta, a internet. Estamos caminhando para uma
interligaç
inter ligação
ão total das duas concepções do ciberespaço pois as redes vão
se interligar
interligar entr
entree si e, ao mesmo tempo, permitir a interação por mundos
virtuais em três dimensões. O ciberespaço é, assim, uma entidade real,
 partee vita
 part vitall d a cib
ciber
ercu
cultu
ltura
ra pla
planet
netári
áriaa que
qu e es
está
tá cre
cresc
scen
endo
do sosobb os nos
nossossos
olhos
olhos.. Ele nãnão o é desconectado da realida
realidade,
de, mas um com complexificador
plexificador do
real.. Com
real Como o afirm
afirmaa K Kellogg2
ellogg2883, ele au
aumen
mentata a realidade, j á qu quee supre o
espaço físico
físico em três dimensões de uma no nova
va camad
camadaa el
eletrôni
etrônica.
ca. No lu-
gar de um espaço fechado, desli desligado
gado do mundo real, o ciberespa
ciberespaço ço cola-
 bora
 bo ra pa
para
ra a ccria
riaçã
çãooddee u
umm a “re
“realid
alidade
ade aaum
umenentad
tada”
a”..
O ciberespaço
ciberespaç o é concebido como um espa espaço ço transnacional onde
o corpo é suspenso pela abolição do espaço e pelas  p rs o n a s   que
 pee rso
entram em jogo nos mais diversos meios de sociabilização como os
BBS, os M UD UDs, s, ou o Minitel franfrancês2
cês28 84. Ass
Assimim se
sendo
ndo,, o cib
cibere
erespa
spaço ço é
um nãolugar,
nãolugar, um umaa u-topia  onde devemos
devem os repensar
repen sar a signif
significação
icação sen
sorial
sor ial de no
nossa
ssa civil
civilização
ização babaseada
seada em informações digitais, coleti coletivas vas
e imediatas.
imediatas. Ele é um espaço imaginário, um enorm enormee hipertexto pla-
netár
ne tário2
io2885, co
comm o vim
vimosos anterio
an teriormrment
ente.
e.
Os novos meios de comunicação que coletam, manipulam, es-
tocam,
toca m, sim
simulam
ulam e transmitem os fluxos de informação criam um umaa nova
camadaa que vem a se sobrepor aos fluxos
camad fluxos materiai
materiaiss que estamos
estam os acoacos-
s-
tumados a receber. O ciberespaço é um espaço sem dimensões, um
universo de informações navegável de forma instantânea e reversí reversível.
vel.
Ele é, dessa forma, um espaço m mágico
ágico,, caracterizado pela ubiqüi ubiqüidade,
dade,
 pelo
 pe lo te
temm p o re
real
al e p el
eloo eesp
spaa ç o nã
não
ofís
físic
ico.
o. E stes
st es e le
lemm e n to
toss sã
sãoo c arac-
terísticos
terísticos da mag
magiaia como manipulação do mundo.
Depois da modernidade
m odernidade que controlou,
controlou, manipulou
manipu lou e organizou
o espaço físico,
físico, estamos diante d dee um proce
processo sso de desm
desmaterialização
aterialização
(pósmoderna) do mundo. O ciberespaço faz parte do processo de
desmaterialização do espaço e de instantaneidade temporal contem-
 porâ
 po rân
n eo
eos,
s, a pó
póss do
dois
is sé
sécc ulos
ul os de in
indd u st
stri
riaa liz
lizaç
ação
ão m o d e rn
rnaa q
quu e in
insi
sist
stiu
iu••

  137
  • ANDRÉ LEMOS
EMOS

na dominação física de energia e de matérias e na comparti


mentalização do tempo. O ciberespaç ciberespaço o é, então
então,, um operad or meta
social (Benedikt), um espaço póstribal, uma arena cultural criati-
va28
va2 86, um un
unive
iverso
rso de pupurara inform
informação.
ação.
O ciberespaç
ciberespaço o é a incamação tecnológi
tecnológica
ca do velho sonho de cria-
ção de um mundo paralel
paralelo, o, de um
umaa memória col coleti
etiva,
va, do imaginár
imaginário, io, dos
mitos e símbolos
sím bolos que perseguem o homem desde os tempos ancestra ancestrais.is.
 Noss te
 No tem
m po
poss im
imememori
oriais
ais,, a po
potê
tênc
ncia
ia d o im
imagi
aginá
nário
rio e ra ve
veic
icul
ulad
adaa pe
pelas
las
narrações míticas, pelos ritos. Eles agiam como um verdadeiro media  
entre os homens
hom ens e os seus univers
universos os simbóli
simbólicos.
cos. Hoje, o ciberespaço fun-
ciona um pouco d desta
esta forma
forma.. Ele coloca em relação, ele incita a abolição
do espaço e do tempo
tempo,, ele tran
tranforma
formasese em lugar de culto ssecular
ecular e digi-
tal.
tal. Este é u
umm espaç
espaço o imaginai onde as novas tecnolotecnologias
gias mostram
mostram,, para-
doxalmente, todo o seu potenc potencial ial como veículo de reliance287 (Bolle de
Bal), isto é, como
com o vetor
v etor de agregaç
agregação
ão soci
social.
al.
Paradoxalmente, a racionalidade tecnológica, herdeira da
modernidade, anda lado a lado com o simbólico, o mítico e o religioso.
Esta mistura vai ma marcar
rcar toda a ciber
cibercultur
culturaa nascent
nascente.e. O ciberespaço é,
em consequênc
consequência,ia, um a casa da imagi
imaginação
nação,, o lugar onde se encontram
racionalidade tecnológica, vitalismo social
social e pensamento m ágico. Não
é à toa q
que
ue u
umm auto
autorr pess
pessimista
imista co
como
mo Viri
Virilio2
lio2888, clam a p
por
or um conh
conheci-
eci-
mento mágico para com preender a tecno tecnologia
logia cont
contemporânea.
emporânea.

Herm etismo e gnostici


gnosticismo
smo nas red
redes
es

O termo hermetismo é empregado para descrever a literatura


hermética. Esta caracteri
caracterizase
zase pela busca de conh ecimentos secretos
secretos
ou gnósticos. O ciberespaço pode ser visto com
comoo um
umii espaço sagrado,
lugar de m ovimen tação de conhe
conhecimentos
cimentos e de informações, um es-
 p a ç o d
 pa dee e n c ru
ruzz ilh
il h a d a s 289. As
Assi
sim
m se
send
ndo,
o, po
podd e m o s t ra
raçç a r pa
para
rale
lelo
lo s en -
tre o ciberespaço
ciberespaço e a arte hermética da memóri memória, a, a criptografia dem demo- o-
níaca
nía ca e a c os
osmm ol
olog
ogia
ia g
gnó
nóstic
stica2
a2990.
O hermetismo é um a técni técnicaca mágica de armazenamento e de
tratamento de informações.
informações. O pensa
pensamento
mento mágico é imerso num mundo
de informações
informaç ões as mais diversa
diversass (nomes rituais,
rituais, códigos secretos, cor-
respondências astrológica
astrológicas,s, signos, imagens)
imagens) onde o ssucesso
ucesso da busca
se realiza na manipulação
ma nipulação de desta
stas.
s. O conhecimento herm ético visa or-
ganizar este vasto saber através de uma arte da memória (Francês

138   | CIBERCULTURA,
CIBERCULTURA, TECNOLOGIA
TECNOLO GIA E VIDA SOCIAL
SOCIAL N A CULTURA CON
CONTEMPO
TEMPORÂN
RÂNEA
EA •
 

Yates) que consiste na criação de espaços imaginários, como uma


vasta edificação.
edificação. Esta arte
arte da memória, ou mnem ônica, se aproxima
da idéia do poeta grego Simonide de Céos (556469
(556469 aC) q que
ue pensava
a mem ória como umaum a habitação
habitação onde depositarí
depositaríamos
amos informações emem
cada peça. A recuperação das informações se dava por um percurso
imaginário p or entre as partes desta habitação.
habitação.
Podem os pensar a arte
arte da mem ória
ória como uma técnica utili-
utili-
zada para perco rrer um espaço imaginário.
imaginário. A ssim,
ssim, a m anipulação
mágica das informações
informações no hermet
hermetis
ismo
mo e no gn osticismo
osticismo encon tra
um paralelo com as m anipulaçõ
anipulações
es de dados nas redes
redes de c om puta-
dores e nos sistemas
sistemas de realidade
realidade virtual
virtual.. Como um espa ço herm é-
ti
tico,
co, o ciberespa
ciberespa ço é um espaço da mem ória,ória, um espaç o im aginá-
rio povoad o de imagens, de encruzilhadas,
encruzilhadas, um inner space  (Santo
Agostinho).
A arte medieval da memória, baseada na alegor a legoria,
ia, que o poeta
catalão Lull chamava de  A  Arr b o r S c ie
ient ae,, estruturase enquanto um
ntae
conjunto de conhecimentos
conhec imentos agrupados em florestas florestas de árvores, sendo
a imagem das árvores
árvores uma
um a metáfora para para o crescimento da natureza
natureza e
do saber.
saber. Da m esma forma,
form a, a me
metáfora
táfora da teia (a Web), que liga todas
as inform
informações
ações disponíveis no planeta, serve serve hoje com o imagem
image m para
o ciberespaço.
ciberespaço. As interfaces
interfaces gráficas
gráficas são também metáforas e alegori-
as cognitivas visando buscar informações
informações (o que chamam os metafori-m etafori-
camente de navegação). Assim, manipular os ícones gráficos das
interfaces
inter faces revela a essência da manipulação m ágica que está presente
no ciberespaço.
ciberespaço. A manipulação
manipulação mágica do mundo, com o a manipula-
ção de dados no ciberespaço,
ciberespaço, situamse na mesma dinâmica.
As imagens, os totens e os ícones, mais
mais que simples representa-
ções, são simulações do mundo: eles funcionam “como se” fossem a
coisa real.
real. Da mesma
m esma forma que no voudou, a manipul
m anipulação
ação da boneca é
a manipulação
ma nipulação do alvo, na metáfora
metáfora do desktop , os ícones (pastas, lixei-
lixe i-
ras, arquivos, programas)
program as) simulam objetos reais (arquivos, pa pastas,
stas, lixei-
lixei-
ras, etc.) permitindo a manipulação virtual destes “quaseobjetos”
(Manzine). Como as alegorias medievais, as redes de computadores
“funde
fun dem ma ass image
imagens ns com abs abstra
trações,
ções, elas tendem pa ra um uma a comp
complexilexi
dade barroca, contendo operações mágicas e hiperdimensionais, e  
 free q ü e n te
 fr temm e n te repres
rep resen entam tam espac
esp aciaialm
lmenentete ssua
uass a abb s tra
tr a ç õ e s ”*91.
A batalha atual dos cypherpunks 292 pe la ad oç ão de sistem siste m as
 pú
 p ú b li
licc o s d e c r i p t o g r a f i a d e m e n s a g e n s , e n c o n tr
traa e c o n a m ís ti ticc a da
da

• ANDRÉ LE
LEMOS
MOS | 139
 

cabala e nas criptografias antigas. A criptografia de mensagens


era vinculada à v alorização do pod
poder,
er, não com o sim ples sab er ou
ou
conhecim ento, mas como código secresecreto,
to, como conhec im ento her-
m ético, acessív el som ente aos
aos iniciados.
iniciados. A quebra dos códigos se-
cretos era fonte do poder máximo, pois o hermetismo é fundado
nas técnicas de num erologia a partir das quais, podemos desv en-
dar mensagens esotéricas. O desenvolvimento da criptografia de
massa pelos cypherpunks  (assim como o de agentes) faz com que
o ciberespaço seja um espaço de circulação
circulação de códigos secretos e
de anjos (ou demônios) digitais. Não é ao acaso que McLuhan
dizia que, com o advento da eletricidade, nós entramos em um
“tempo de iluminação  ”
 ”2
293.

Deus) Aé, gnose


mais do (do grego
que uma conhecimento,
transcendência ligado
mística,aouma
conhecimento
bu
busca de
sca afinada
de info
informações
rmações q ue, colocadas juntas, trazem
trazem à tona conhecimentos
conhecim entos
revelados a poucos. A gnose é uma técnica mágica, uma tekhnè 294,
forma de manipulação
ma nipulação prática de informações
informações (nomes secretos,
sec retos, códi-
gos, etc.). A gnose é atualizada hoje pela nova forma de esoterismo
que emerge com a cibercultura
cibercultura na forma do tecnopaganismo típico
dos ravers
rav ers e zippies
zip pies2
295. Estes são personagen
perso nagenss da ciberc
cib ercultu
ultura
ra que mis-
turam esoterism o e novas tecnol
tecnologias,
ogias, principalmente aquelas que dão
acesso ao cibere
ciberespaço.
spaço.
Esses tecnopagãos visam restabelecer a tecnologia como parte
da cultura, buscando
buscand o formas rituaritualísticas
lísticas pagã
pagãss e contemporâneas
contem porâneas (fes-
tas, sexo e drogas).
drogas). O ciberesp
ciberespaçoaço é para os tecnopagãos
tecnopagão s um esp aço
imaginário. Eles se interessam pela ficção científica, pela realidade
virtual e, obviamente, pelos MUDs, espaço imaginário por excelên-
cia.
ci a. C
Com omoo define um tecnopagão "viver on-l ine fa z pa rte da minha 
on-line
 pra
 p ra ti
ticc a d iá
iári
ria
a (...
(. ..)) é um tip
ti p o d e ex
expp e ri
riên
êncc ia er
erem
emita
ita,, c o m o e n tr
traa r  

numa caverna  ',',2


296. Eles
E les criam
cria m , de
desta
sta forma,
form a, u
umm a rede
re de eclét
ec lética
ica que
mistura tecnologia, ciência, espiritualidade, teosofia, hermetismo e
medicina natural.
natural. Eles incorporam estes valores à cibercultura, atuali-
zando o movim ento da contracultur
contracultura, a, aceitando a tecnologia. No N o en-
tanto, esta aceitação não se dá de forma simplesmente conformista.
Eles implantam,
implantam , com suas práticas, um ciberpsicodelismo,
ciberpsicodelism o, valorizan-
do a utilização com unitária e espir
espiritual
itual das novas tecnologias.
O ciberespaço é visto como potencializador das dimensões
lúdicas, eróticas, hedonistas e espirituais
espirituais na cultura contem porânea.

140  | CIBERCULTURA,
CIBERCULTURA, TECNOLOGIA E VIDA SOCIAL
SOCIAL N A CULTURA CONTEMPO
CON TEMPORÂNEA
RÂNEA •
 

 N ã o e st
 Nã staa re
remm o s e x a g e ra
rann d o se a fi
firm
rmaa rm
rmos
os qu
que,
e, c o m o ad
advv e n to d a
cibercultura,
cibercul tura, a cultura conte contemporânea
mporânea se coloca perante
pe rante um a veverda-
rda-
deira “infognose”,
“infognose” , um rito de passagem em direção à desma desmaterialização
terialização

da sociedade pósindustrial.
Ritos de passagem

Vimos como o ciberespaço


ciberespaço se comporta como um espaço m má-
á-
gico e que, se durante a modernidade o espaço e o tempo eram enti-
dades concretas, transformadas
transforma das pela indust
industriali
rialização,
zação, hoje, com o pro-
cesso de desmaterialização engendrado pelas economias avançadas,
o espaço
esp aço é cocomm prim ido pelo tem tempo po rea
real2
l29
97. Assim, o ccibere iberespa
spaço
ço pode
ser visto também como uma fronteira, um espaço intermediário na
 paa ss
 p ssaa g em d o ind
in d us
ustr
tria
iali
lism
smoo p ar
araa o p ó s
sin
ind
d u stri
st riaa li
lism
sm o 398. E le é tatam
m-
 bém
 bé m (c(com
om o o es
espp el
elhho d
dee A lic
lice)
e) um e sp
spaa ç o d
dee p
paa ss
ssaa g e m do inindd ivíd
iv ídu
uo
austero ao indivíduo religado (do individualismo
individualismo ao tribalismo, com como o
vimos), participante do fluxo de informações do mu mundo ndo contem porâ porâ- -
neo. Ele é um rito de passagem obrigatório
ob rigatório para os novos cidad cidadãosãos da
cibercultura.
Os ritos de passagem são eventos que marcam, na vida de um

indivíduo ou grupo, a mudança mu dança para um outro estado, seja ele biológi-
co ou social. Estes ritos fazem parte de um processo de iniciação
(nascimento, casamento, morte, mudança de estação, etc.) criados
com o objetivo de preservar
preserva r uma certa continuidade espaço espaçotemporal
temporal
e simbólica de um determinado corpo soci socialal.. C
Com
omo o um lugar de pas-
sagem, os ritos ritos se caracterizam por um espaço sim simbólico
bólico intermed
intermediá- iá-
rio, através do qual um indivíduo ou grupo se (re)integra à globalidade globalidad e
da vida socisocial.
al. O ciberespaço deve ser compreendido ccom omo o um rito de
 paa ss
 p ssaa g e m d a eera
ra in
indd ustr
us tria
iall à pós
p ósi
in
n du
dust
stri
riaa l, d a m o d e rn
rnid
idaa d e d os á to
to--
mos à pósmodernidade dos bits,  como diría Negroponte.
Existem
Existe m várias si similaridades
milaridades entre as est estruturas
ruturas dos ritos de pas pas- -
sagem e os mecanismos
m ecanismos simból
simbólicos
icos do ciberespaç
ciberespaço. o. O ato de se conectar
ao ciberespaço sugere versões dos ritos ritos de agregação
agregaç ão e de separação,
onde a tela do monitor possibilita a passagem a um outro mundo. A
tela é a fronteira entre o individual e o coleti coletivo, vo, eentre
ntre o orgânico e o
artifici
arti ficial,
al, entre o corpo e o esp espíri
írito.
to. O ciberespaço é o espaço simbó- simbó -
lico onde se realizam, todos os dias, ritos de passagem do espaço
físico e analógico ao espaço digital sem fronteiras. Conectarse ao•
ao •

• A N D R É L E M O S | 141
 

ciberespaço significa ainda,


ainda, mesmo que simboli
simbolicamente,
camente, a passagem
da modernidade (onde o espaço é esculpido pelo tempo) à pós
modem
mo dem idade (onde o tempo comprime o eespaço);spaço); de um social mar-
cado
ca do p
pelo
elo indiv
indivíduo
íduo autôn
autônom
omo o e isolado
isolad o ao co
coletivo
letivo tribal e dig
digital2
ital29
99.
Como
Co mo rit
rito
o de passa
passagem,
gem, hermetismo e gnost
gnosticis
icismo,
mo, o ciberespaço
impõe um a interface entre o profano e o sagrado, um umaa fronteira entre a
existência banal do dia a dia e o espaço eletrônico de circulação de
informações
informações.. M ais uma vez, retretomam
omamos os à gnose e ao hermetis
hermetismo.
mo. O
ciberespaço é, desta
de sta forma, um
umaa int
interface
erface entre a estrutura de máquinas
de comunicação e a massa de informações numéricas despejadas na
consciência planetária (o grande sonho dos enciclopedistas de reunir,
num só media,  todo o conhecimento da humanid
humanidade)
ade)..
O ciberespaço, no
n o ent
entanto,
anto, não é um lugar assépti
assépticoco perm
permeado
eado por
informações
inform ações precisas, objetivas ou util
utilitári
itárias.
as. O grand
grandee interesse socioló-
gico e antropológico
an tropológico do ciberespaço resi
reside,
de, justamente, no vitalismo so-
cial que ele permite canal
canalizar.
izar. T
Todas
odas as formas de socialidade contempo
contempo- -
râneas encontram, nesse ambiente rizomático, um potencializador, um
catalisador
catalisador,, u
umm inst
instrumento
rumento de conexão. O ciberespaço não é um umaa enti-
dade purame
puramentente cibernética (no se
sentido
ntido de contr
controle
ole ou pilotagem), mas
m as

uma entidade
en tidade ab
abstrata,
strata, efervescen
efervescente
te e vita
vitalist
lista.
a.
Tempo, espaço e híerofania de dados

O ciberespaço
c iberespaço é hoje o lugar pr privi
ivilegi
legiado
ado para o bservarmos o
reencantamento da tecnologia. Como todo espaço sagrado, o
ciberespaço acolhe um tempo também diferenciado,
diferenciado, qualitati
qualitativam
vamente
ente
outro, sendo um lugar de hierofanias. Assim, como ciberespaço é o
nome do novo espaço sagra sagrado
do contemporâneo, ttempo empo real é o nome
desta nova temporalidade. Podemos utilizar, aqui, os trabalhos do
mitólogo
mitólog o ro
rom
m eno
en o M ircea E liade
liade3300 para m ostrar o para
paralelo
lelo en
entre
tre o
ciberespaço
ciberesp aço e o esp
espaçotem
açotempo
po sagrado e rit ritualístico
ualístico do mito.
Com o toda hierofania, conectarse ao ciberespa
ciberespaço
ço é ter a expe-
riência de uma revelação de um outro mundo, de uma irrupção do
sagrado em plena
p lena luz do quotidiano. Isto não significa algo de sobre-
so bre-
natural ou esotérico, m mas
as a comprovação da vivência, da experiência
estética da vida. O ciberespaço proporciona aos usuários uma form formaa
de tempo e espaço diferenciados através de artefatos tecnológicos
digitais. Com os computadores experimentamos, na banalidade do

142  C IIB
B E R C U L T U R A , T E C N O L O G I A E V I D A S O C IA
IA L N A C U L T U R A C O N T E M P O R Â N E A •
 

quotidiano, o uso u so de umaum a máquina imagética,


imagética, escriturística
escriturística e hiper
conectada, desempenhando
desem penhando uma forma form a lúdica e espetacul
espetacular.ar.
Com os computadores, conseguimos conseguimos executar
e xecutar tarefas diferen-
diferen-
ciadas, já que estes são máquin m áquinas as polivalente
polivalentes, s, metamáquinas,
m etamáquinas, cujo
comportamento
com portamento se dá por progra programas.
mas. Assim, a cada execução de um
 pro
 p rogg ram
ra m a , a m á q u ina
in a g a n h a u m a nov
no v a funç
fu nção
ão.. E n a v e rda
rd a d e , n o seu
se u
uso banal, o usuário nem sequer imagina como com o ela funciona.
funciona. É como
apertar
ap ertar um botão e ver ve r algo acontecer
acontece r à distância:
distância: eu teclo e as letras
voam para uma tela de luz. Esta experiência instaura, no dia a dia,
uma dimensão
dim ensão mágica:
mágica: o que qu e eu tecl
tecloo aqui, aparece numa
num a tela di distante
stante

 pe oainda
 po r exempoplo.
pode
ex empldeo.estar sendo visto
visto em tempo real por alguém eem
m Kosov
Kosovo,
o,
A hierofania aparece pela absorção. Passamos horas a fio
conectados
conec tados sem
se m nos darmos
darm os cont
conta.
a. Esta prática ligase
ligase ao antiqufssimo
desejo
dese jo de ubiqíiidade,
ubiqíiidade, acessando a consciência planetária. planetária. Não Nã o é exa-
exa -
gero afirmar
a firmar que, no ciberespaço,
ciberespaço, temos o sentimento de participar-
mos de uma um a manifest
manifestação
ação do sagrado,
sagrado, de aderirmos
aderirmos a uma u ma outra rea-
lidade, a um u m espaço
espaç o distinto daquele por po r onde circu
c irculam
lamos3
os3001, sem falar
no potencial para pa ra futuros desenvolvimentos
desenvolvim entos da realidade
realidad e virtual.
virtual.
Corroborando este sentimentsentimentoo de hierofania,
hierofania, o tempo real (aces-
so instantâ
instantâneo,
neo, como todo todo toque de uma “varinha de condão”) cond ão”) é simi-
lar ao temp
tempoo sagrado, circular e reversível,
reversível, descrito
de scrito porpo r Eliade comocom o
 pre
 p rese
senn te na e st
stru
rutu
tura
ra do mito.
mi to. O tem
te m p o sag
sa g rad
ra d o d o m ito
it o é u m tem
te m po
repetitivo que fixa determinada
determinad a memória
mem ória coletiva;
coletiva; e ele é reversível,
 pois
 po is o p a ssa
ss a d o é a fon
fo n te do sab
sa b e r n a p re
repp a raç
ra ç ã o d o p rese
re senn te e do
futuro. Ele atualiza o ilo íempore, o tempo primordial, de onde tudo
veio à existência. O tempo sagrado do mito302, assim como o tempo
real do ciberespaço, não é o tempo linear e progressivo da história,
mas o tempo de conexões, aqui e agora,
agora, um tempo presenteísta,
presen teísta, cor-
co r-
respondente
respond ente ao presenteísmo social contemporâneo.
Circular pela Web,
Web, participar
participar dos MUDs,
MUD s, recomeça
reco meçarr um jogo
eletrônico ou um CD Rom, perderse
p erderse nos links
links dos hipertextos como
um ciberflâneur, voltar várias vezes à homepage  preferida,
prefe rida, etc., tudo
istoo faz do tempo real do ciberespaço um tempo especial que impreg-
ist
na toda a cultura contemporânea. O tempo real da informática é

correlat
correlato
trando, omais
ao tempo presenteís
prese
um a vez,
uma a nteísta
ta dadasociedade
essência socied ade tura:
contemporânea,
contemp
cibercultura:
cibercul imorânea,
bricaçãoencon
a imbricaçãoencon-
entre-
uma socialidade contemporânea
contem porânea e as as máquinas do ciberespaço. Hoje,
Hoje,••

• A N D R É L E M O S   143
 

os computadores
comp utadores pessoai
pessoaiss são cada vez menos “pessoais” e cada
cad a vez
mais com
computad
putadores
ores coletivos, máquinas de conexão.
Após termos visto o ciberespaço como um espaço gnóstico e
hermético, dotado de um tempo e de um espaço sagrados, represen-
tando o rito de passagem da tecnocul
tecnocultur
turaa mode
moderna
rna à cibercultura con-
temporânea, veremos o ciberespaço
ciberespaço como umumaa nova cama
camada
da do pla-
neta (noosfera ) e como um novo organismo complexo,
comp lexo, o Cibionte. O
ciberespaço pode ser visto à luz da teoria de Theillard de Chardin,
elaborada na década de 50. A expansão da Noosfera se traduz pela
formação
forma ção de um organism
organismoo rederi
rederizomático
zomático e autoorganizan
autoorganizante,
te, ou o
que o biólogo Joel de Rosnay chama de Cybionte.

Noosfera eletrônica, cybionte e inteligência coletiva

 N o se
 No seuuFFee n ô m e n o HHu
u m a no
no3303, T he
heill
illar
arddd
dee Ch
Chaa rd
rdin
in co
conn sid
si d e ra a
evolução hum ana em termos intelectuai intelectuaiss e espirit
espirituais.
uais. Segu
Segundondo o pa-
dre jesuíta, no m mundo
undo físico exist
existem
em duas energias: uma um a energia radiradial al
(correspondente
(correspon dente ao con conceito
ceito de força newtoniana de causa e efeito) e
uma energia tangencial (que vem de dentro, de onde o divino apare-
ce).. E
ce) Esta
sta ene
energia
rgia tangencial seri seriaa de três ní níveis
veis:: p révida (os objetos
inanimados),
inanimado s), vida (os ser seres
es vivos) e consciênc
consciência ia (os hom
homens).
ens). A pré
vida correspon
corresponde de à formação da matéria inor inorgânic
gânica,a, a vida correspon
corresponde de
ao aparecimento
aparecimen to da matéria orgânica e a consciência ao aparecimen aparecimento to
do homem e, consequen
consequentemente,
temente, do pensamento reflexivo.
Camadas
Cam adas sucessivas vão ssee empilhando umas sobre as as o
ouu tra
tr a s : o
mundo mineral, o mundo ani animal
mal e o mundo da consciência.
consciência. A cama camada da
da consciência, Chardin chama de Noosfera. Como explica Chardin,
"estende-se desde então sobre o mundo das plantas e dos animais;  
 fo
 f o r a e aci
a cimm a da biosfera
bios fera,, uma sf e r a " 304.  A Noosfera é a rede invi-
um a N o o sfe
sível
sív el da consc
consciência
iência hum
humana ana que, virtualmente, eng engloba
loba todo o planeta.
 Noo
 N oosfsfer
eraa vem d dee no
noog
ogên
ênes
ese,e, ou mais
ma is pre
precis
cisamamen ente,
te, o de
dese
senv
nvololvi
vim
m en
ento
to
ou evolução do espírito. A Noosfera é uma membrana onde "a Terra 
 fa
 f a z uma
um a n ova
ov a pele.
pe le. M e lho
lh o r ainda,
ainda , ela enco
en contrntra a sua
su a a lm a " 305.
O ciberespaço pode ser visto na metáfora da Noosfera. Uma

camad a da consciênc
camada consciênciaia humana digi
digital
talizada,
izada, na medida em que ele é a
“pele” abstrata e invisí
nvisível
vel pela qual circulam dados, com o espectros e
fantasmas digitais. Este ciberespaçoN
ciberespaçoNoosfera
oosfera está em via de expan -
são planetária como um tipo de consciência global. Isso nos leva à

144  | C IB
144  I B E R C U L T U R A , T E C N O L O G I A E V I D A S O C IA
IA L N A C U L T U R A C O N T E M P O R Â N E A •
 

hipótesee levantada por Pierre


hipótes Pierre Lévy segundo a qual o ciberespaço é o
rec eptác
recep táculo
ulo de um a inteligê
in teligênci
nciaa cole
coletiva
tiva3
306.
Para Pierre Lévy, as novas tecnologias do ciberespa
ciberespaçoço podem
podem,,
verdadeirame
verda deiramente,
nte, ajudar a criar a ci
circulação
rculação do saber, circulação esta
que form a o que ele cham
chamaa de inteligência
inteligência colet
coletiva.
iva. Pa
Partindo
rtindo da análi-
se antropológica
antropológic a do espaço,
espaço, Lévy mostra que depois da terra (espaço
do mito e do rito, marcado por uma ligação completa do homem ao
cosmos),
cosm os), do território (fruto da revolução neoneolít
lítica,
ica, onde su
surge
rge a agri-
cultura, as prime
primeiras
iras cidades, a escri
escrita
ta e o Estado), do mmercado
ercado (espa-
ço do trabalho e da velocidade, instaurado no século XVI com as
conquistas marítimas e a globalização
globalização dos m mercados
ercados com os fluxos de
matéria prima, de mão de obra e de capital), o ciberespaço seria o
formador de um quarto espaço, um espaço do saber. Estes espaços
antropológicos não são excludentes, podendo interagir como cama-
das comunicantes.
O espaço
espa ço do sa
saber
ber é cri
criado
ado a partir da ex
expansão
pansão dos medias  de
com unicação e dos meio
meioss de tr
transport
ansporteses modernos (paradoxalm en-
te existe um relação direta entre o aumento do potencial de locom loco m o-
ção  transport
transportes, es, e o aument
aumento o de ci circulação
rculação d dee informa ção  os
media)  e, principalmen
principalmen te, com o nasc nascimento
imento da nova eco nom ia ba-
seada na aceleração
ace leração de trocas trocas,, na abolição de limites geográficos em
tempo real. De acordo com Lévy, o quarto espaço antropológico
 po
 p o d e i n s ta u r a r u m a v e rd
rdaa d e ir
iraa in teli
te lig
g ê n c ia c o leleti
tiv
v a , “ uma inteli
gência distribuída em todas as direções, valorizada sem cessar,  
coordenada em tempo real, e que chega a uma v alorização e mo bi
lizaçã
liza çãoo eefet
fetiva
iva de co m pe tê tên
n ci
ciaa s”
s”3
307.
O ciberespaço é um ambiente de circulação de discussões
 plu
 p lura
rali
list
staa s, re
refoforç
rçaa n d o c o m p et
etên
ênci
cias
as d ififee re
renn c ia
iadd a s e a p ro
rovv e it
itaa n d o o
caldo de conhecimento
conhecimen to que é gerado dos laço laçoss comun
comunit itários,
ários, poden-
do po tencializar a troca de competências, gerando a coletivizaçã coletivização o dos
saberes. A dinâmica
dinâm ica atualatual do desenvolvimento das redes de com computa-puta-
dores e seu crescimento exponenci exponencial al caract
caracterizam
erizam o ciberespaço como
um organismo complexo, interativo e autoorganizante. De acordo
com Joél de de RRosnay
osnay,, o ciberespaço é hoje um umaa entidade
entidade quase biológi-
ca, um o rga nism o híb rido
rido3
308. Ro snay ccham
ham a este o rga nism o de
Cybionte, uma forma
form a emergente da simbiose entre as máq
máquinas
uinas ciber-
néticas e o orgânico.
Para Rosnay, o Cybionte é um cérebro planetário form ado pelo
pelo••

OSS | 145
• A N D R É LE M O
 

conjunto dos cérebros humanos e de redes conectadas


conectadas por
p or computa-
dores: “um organismo planetário únic únicoo (..
(...)
.),, a fo
form
rm a mamaisis avançada  
de um cérebro plane
planetário
tário em vias de constit uição ”3
constituição ”3009. S
Seeg u n d o R
Ros
osna
nay,
y,
o Cybionte faz parte da tendência pósorgânica da civilização con-
temporâ
tem porânea
nea,, n
num
um a fusão de
d e ho
homen
menss e m
máquin
áquinas3 as3110. E ste o organ
rganismo
ismo
. planetário, o Cybionte/Ciberespa
Cybionte/Ciberespaço, ço, vai gan
ganharhar a form a daqu daquiloilo que
I Guattari
Gu attari e D eleuze
eleuze3311chamaram de estrutura rizomâtica. U m a estru-
tura rizom
rizom ática é um sist
sistema
ema de multip
multipli
licidad
cidade, e, um sistema de bifur-
cações como
com o um verdadeir
verdadeiro o ri
rizoma,
zoma, uma extensão ramificada em to-
dos os sentidos, sem centro.
De acordo com Deleuze e Guattari, um rizoma pode ser
conectado a q ualquer outro ri rizoma.
zoma. Como multipli
multiplicidade,
cidade, um rizoma
não tem nem
n em sujeit
sujeito
o nem objeto e cresce de acordo com a dinâm dinâmica
ica de
suas conexões. Os rizomas se ramificam e se reticulam permitindo
estratificações e territórios,
territórios, da mesma
m esma form
formaa que cria linhas de fuga
fug a e
de desterritorialização
d esterritorialização e reterri
reterritoriali
torialização.
zação. Avesso
Avessoss à ce
centralização,
ntralização,

os
casorizomas nã o têm eixo
das ramificações genéti
genético co como
arborescentes. Elesestrutur
estrutura
não nos am estr
estra,
dão aa,imagem
com
como o édeo
 j uma hierarquia superior
su perior e determinante de um sistema centrali centralizado.
zado. O
modelo da árvore dominou, segundo os filósofos franceses, todo o
 pen
 p ensa
sam
m en
ento to o
ocicide
dentntal
al.. A cr
cris
isee da m
mod
oder
erni
nida
dade
de o
obr
brigiga
ann os a ffaa z e r c om
!que o modelo de árvore ceda lugar ao ri rizoma,
zoma, que p ulsa lat lateralmente,
eralmente,
 j sem
se m c o n tr
troo le e s em e ix ixoo gera
ge radodor,
r, e q u e se e sp
spaa lh
lhaa h o ri
rizz o n ta
talm
lm e n te
 jcom
 jc omo o os ca
can n a is d e A m stster
erdã
dã..
O ciberespaço
ciberespaç o é um ambiente mediático, mediático, como um a incubado incubadora ra
de ferramentas de comunicação, logo logo,, como uma estrutura rizomáti-
ca, descentralizada,
descentralizada , conectan conectando do pontos ordinários
ordinários,, criando territterritoria
oria
lização e desterritorialização sucessivas. O ciberespaço não tem um
controle centralizado, multiplicandose
multiplicandose de forma form a anárquica
anárqu ica e extensa,
desordenadamente, a partir de conexões múltiplas e diferenciadas,
 pee rm it
 p itin
indd o a g re
reg g a ç õ e s o rd
rdin
ináá ri
rias
as,, po
p o n to a p
poo nt
nto,
o, fo
form
rm a n d o c o m u n i-
d a d es3
es 312 o rd
rdin
ináá ri
riaa s ( quelconquesm ). As conexões do ciberesp ciberespaço,
aço, as-
sim como aquelasaq uelas dos rizomas, modificam m odificam ssuas uas estruturas,
estruturas, carac
caracteri-
teri-

zandose como
com o sistemas
sistemas com
complexos
plexos e autoor
autoorganizantes.
ganizantes. Com o expli-
ca Deleuze e Guattar
Guattari,
i, a árvo rejm põe o ss£
£i^
i^oo rizom ao ^ e , e, e,.„” . Aí
está toda a força socia
sociall do ciberes
ciberespaço
paço como ambiente de co comp
mparti-
arti-
lhamento estéticocomunitári
estéticocomu nitário.
o.
146   | C IB
I B E R C U L T U R A , T E C N O L O G I A E V I D A S O C IA
IA L N A C U L T U R A C O N T E M P O R Â N E A <
 

 As
 A s red
redes
es infor
informm ática
áticassc
com
om o a
amm bie
biente
nte de pa
partilha
rtilha

“...aucun point n’est privilégié par rapport à un autre,


aucun n’est univoquement subordonné à tel ou tel; ils ont
on t
chacun leur puissance propre”
M i c h e l  S e r r e s

Para podermos
poderm os entrar na análi análise
se das comunidades virtuais
virtuais como
forma paradigmática
paradigm ática da socialidade
socialidade na cibercultura, teremos que avali-
ar a estrutura dessa máquina de compartilhamento
compartilhamento que é o ciberespaço
ciberespaço,,
 já
 j á qu
quee a rev
r evo
o lu
luçç ão d
das
as re
rede
dess te
tele
lem
m át
átic
icas
as pa
pare
rece
ce se
serr “um
umaa rev olução da  
revolução
mesm
me smaa dim
dimenensã
são o da revo
revolução
lução da im impr
pren
ensa ”31*.  Esta revolução vai
sa”
afetar o conhecimento e o modo de transmitir, estocar e produzir a
informação, complexificando
com plexificando as trocas comunicativas e ab abalando
alando a es-
trutura centralizado
centralizadora ra dos mass media. N  No
o entanto, a idéia
idéia de redes não
é nova e deve muito aos trabalhos de Saint Simon em pleno século
XIX315. Hoje, red
XIX31 redee significa um
umaa estrutura telem
telemática
ática ligad
ligadaa a cconceitos
onceitos
como interati
interatividade,
vidade, simul
simultaneidade,
taneidade, circulação e tactilidade.
As redes telemáticas foram invadidas, e o termo não parece ser
muito forte, pelo vitalismo social global
global que pene
penetrou
trou tod
todaa a iinfraestru-
nfraestru-
tura tecnológica contemporânea. Aqui, como vimos, as interações são
cada vez mais ligadas à comunicação como um jog jogo,
o, próximo
p róximo da intinterface
erface
teatral
teatral de B. Laur
Laurel
el e da socialidade de Maífesoli
Maífesoli.. N
Neste
este sentido, os usuári-
os são, na realidade, atores, agentes, pe
 pers
rson as,, e o desenvolvimento do
onas

 jog
 jo g o sóOpe perte
rtenc
ncee à ev
ciberespaço evolu
oluçãção
é, comoo aauto
utoor
organ
vimos
vimos, ganiza
izante
, um nte do pró
própr
ecossistema prioiocom
sistema.
sistem
complexo
plexo a. onde
reina a interdependência entre o macrosistema tecnológico (a rede
de máquinas interligadas) e o microsistema social (a dinâmica dos
usuários),
usuários ), contruindose pe pela
la disseminação
disseminação da informação, pelo flux fluxo o
de dados e pelas relações sociais aí criad criadas.
as. EEm
m op
oposição
osição a um siste-
ma hierarquicamente fechado, o ciberespaço cria, pelas comunica-
ções multidirecionais, pela circulação dos espectros virtuais, um sis-
tema complexo onde o desenvolvi desenvolvimentomento do jog o com unicatiunicativo vo não
 pee rt
 p rtee n c e a u m a e nt
ntid
idaa d e c en
entr
tral
al,, ma
mass a es
este
te or
orgg a n ism
is m o r
ree d e . P o d e -
mos notar,
notar, na práti
práticaca daquilo que ssee convencionou ch am amarar de comucomu- -
nidade virtual, uma um a certa efervescência micropolítica, diária, dirigida
aos problem
problemas
as do dia o di
dia.
a.
Como em toda a história dos media,   uma tecnologia não se

impõe unilateralmente e os usuários têm, pelos meios mais


inimagináveis, a possibilidade de apropriarse destas. Félix G uattari
cham a a atenção em relação às às novas tecnologias digitai
digitais:
s: “não po
demos espera r reperepercuss
rcussões
ões positivas das novas tecnologias que a a  
condição que est estas criativas  
as sejam assumidas a p ar tir de prá ticas criativas
individu
ind ividuais
ais e cco
o let
letiva
iva s”3'6.. Guattari menciona o exemplo do M ini
s”3'6 initel
tel,,

onde
 p
 pr atoprática
r e v is
isto lass foi
p e la e st
strucomp
ru tu rasslet
tura letamente
teamente
tecc n o c rá transformada
ráti
tic
c a s d o s la
labb opo r desvios
r a tó
tórr io noleuso
ioss d e te co -
municação france franceses.ses.
A estrutura fria fria e apolínea da rede de máquinas informacionais
será transform
transform ada pelas práticas subterr subterrâneas
âneas e banais, que pa passam
ssam a
estruturar
estrutu rar a vida quotidiana no ciberespaço. Vemos que as no novas
vas re-
des telemáticas agem, menos como fator de isolamento ou
hom ogen
ogeneização
eização social
social,, do que como vetores de tactil tactilidade
idade e de pro-
ximida
xim idadede gre
gregária
gária.. Talve
Talvezz a fó fórmrmulaula de N aisb
aisbitt1
itt117 “high-tech, high- high- 
touch ”  ”  seja uma b boaoa síntese da cibercult
cibercultura. ura.

 Agreg
 Ag regaç
açõe
ões
s eletrô
ele trôn
n ica
icass e com unidad
un idades
es virtu
virtuais
ais

“you are not alone


ali are lost
in cyberspace
ali is lost

here
too much unfound 
I say I wish I had words to tell you
I wish I ccould
ould make aliali o
off you understand her 
 but I don’t
don’t have w words
ords
 but words are ali
ali I h
have
ave
 but I have nothing”1
nothing”1''»

O ciberespaço
cibere spaço é hoje um espaço (relaci
(relacionai)
onai) de comunh
comunhão,
ão, co
colo-
lo-
cando em
e m con
contato,
tato, através do uso de téc
técnicas
nicas de comu
comutação
tação eletrônica,
 p e ss
 pe ssoo a s d o m u n d o tod
to d o . E las
la s e s tã
tãoo u ti
tili
lizz a n d o to
todd o p o te
tenn c ia
iall d a
telemática para se reunir
re unir por inter
interesses
esses comuns, para bate baterr papo, para
trocar arquivos, fotos, música, correspondência. O email eoschats
são hoje as ferramentas mediática mais mais utilizadas pela internet, com compro-pro-
vando nossa hipótese.
hipótese. Mais do que um fenômeno téc técnico,
nico, o ciberespaço
é um fenôme
fen ômenono soci
social.
al.

 
148   C IB
IB ER C U LT
L T U R A , T EC N O L O G I A E V I D A S O C IA
I A L N A C U L T U R A C O N T EM P O R Â N EA •

O uso planetário é notório, como mostra a tabela abaixo. E


mesm o no ambiente
am biente Web,
Web, onde navegavam
navegavamosos sós, temos a possibili-
dade de conversar ao vivo com pessoas
pessoas que estão acessando o m es-
m o site   no mesmo momento. Sem falar nos  M  MUU D s, ne
neww sgro u ps   e
sg rou
BBSs que pululam na cibercul
cibercultura.
tura. A dinâmica social
social do ciberespaço
cria, assim, novos programas que permitem a interatividade social, e
é nesse sentido que nos referi
referimos
mos ao ciberespaço como
com o um a incuba-
dora espontâne
espo ntâneaa de formas mediáticas
mediáticas..

Top
To p 15 nations iin
n inte
interne
rnett use at ye
year-en
ar-end
d 1999

Rank   N a tio
ti o n Intern et Users
Users
(000)
1. U n it e d S ta te s 1 1 0 ,8 2 5
2. J ap an 1 8 ,1 5 6
3. UK 1 3,975
4. Canada 13,277
5. G e rm a n y 1 2 ,2 85
6. Australia 6,837
7. B ra zil 6 ,7 9 0
8. China 6,308
9. France 5,696
South Korea
10
10.
11.. T aiw an 5,688
4 ,7 9 0
12..
12 Italy 4,745
13..
13 S w eden 3 ,9 5 0
14. N e t h e r la n d s 2 ,9 3 3
15..
15 Spain 2,905
Source:
Source: Computer
Compu ter Indust
Industry
ry Almanac

 N o cont
 No co ntex
exto
to de comun
com unica
icaçã
çãoo telemá
tele mática
tica,, plane
pla netá
tária
ria e multim
mul timod
odal,
al,
a rede pode a gregar pessoas
pessoas independentemente
independentemente de localidade geo- geo -
gráfica e não revelando,
rev elando, de imediato, referências
referências físicas, econôm
econômicas
icas
ou religiosas.
religiosas. Com
C om o ciberespaço,
c iberespaço, as pessoas
pessoas podem form ar coletivos
coletivos
mesmo
mesm o vivendo em cidades e cultur
culturas
as bem diferentes
diferentes.. Criamse assim
territoriali
territorialidades
dades simbólicas.
simbólicas. Neste sentido,
sentido, as com
comunidades
unidades formadas
a partir das redes telemáticas mostram como ás novas tecnologias• tecnologias •

• A N D R É L E M O S | 149
 

 p o d e m a tu a r n ã o a p e n a s c o m o ve
 po veto
tore
ress d e a li
liee n a ç ã o e d e d e sa
sagg re
regga-
ção, mas também
tam bém com o máquinas de comunhão, de compartil compartilhamento
hamento
de idéias e sentim entos entos,, d dee formaç
for mação
ão ccom
om unitária3
un itária31 19. Vejamos esta
citação retirada da Usen Usenet et::

#: 792 S13/Meet MONDO 2000


08Jun93 20:49:44
Sb: #314V
#31 4Virt
irtual
ual Sex/Teledildoni
Sex/Teledildonix
x
Fm: Harold W. Mann, Jr. 71022,2233
To:: Lily Ow ens 71333,2653
To

“ Young people will have a place to meet and get to know each
other...to
other...to pl
play.
ay. They need to exchan
exchange
ge ideas and share the ir feel
feelings.
ings.
M ost likely way th that
at cyberspace and V R’ R’ss wil
willl affect people wwill
ill be as
as
a social ‘m eeting’
eetin g’ place. Society has always enabled young people p eople to
meet and court. And marrym arry and mat
mate”.
e”.
Como
Com o vimos, a tecnologia contemporânea parece potencializar a
ética da estética,
estética, com o mostramos n naa análise
análise da socialidade contemporâ-
nea a partir d
dee Sim
Simmel
mel e Maffesoli3
Maffesoli3220. A ciber
cibersocialidad
socialidadee ddaa qual faláva
mos vai estar
esta r presente nas vári
várias
as formas da cibercultura,
cibercultura, com
como o nas diver-
sas experiências agregadoras dad a internet (email, list
listas,
as, chats, Muds, BBSs, 

Webring,
ciai
ciais newsgroups, de
s e independentes) fóru
fóruns..
ns...),
jogo
jogos s.),eletrôni
nos
ele cibercafés,
cibercafés
trônicos, ,n
cos, na mnos
os grupos e clubes
microinformática
icroinformática (ofi-
nôma
nôma- -
de, conectando
conec tando pessoas as mais diversas, nos website
websites...
s...
Podemos
Pode mos aplicar o conceito de estéti estética
ca social a uma análise da
eferv escência
efervescênc ia agregad
agregadoraora e comucomunitária
nitária no ciberespaço. Talvez, com como o
mostra o sociólogo belga Bolle de Bal, Bal, o ciberespaço form e com comuni- uni-
dades através da reliances,  como consequência da deliance   criada
 pee la m o d e r n id a d e e x c e s s iv a m e n te in d iv i d u a l ista
 p is ta , r a c io n a li
liss ta e
tecnicista.
tecnici sta. Este desejo de agregração, comunitário ou não, com como o ve-
remos, permite
pe rmite superar distânci
distâncias
as geográficas, categorias sociais, d
dee
raça e de religião.
religião. O que agrega os internautas são afinidades intelec-
tuais ou espirituais, formando coletivos
coletivos de interesses comuns.
Vimos, com Simmel, que a vida social é feita de agregações e
separações, coletividade
co letividade e individualidade sucessivas e simultâneas.
O sociólogo alemão utiliza, para descrever essa dinâmica social, a
metáfora da
d a ponte e da port
porta.
a. Para ele, a ponte provê ao olho a reali-
dade visível da
d a distância em relação ao outro e instaura o desejo de ir 

150  CIBERCUL
CIBERCULTURA,
TURA, TECNOLOG
TECNOLOGIA
IA E VIDA SOCIAL N A CULTURA CONTEM PORÂN
PORÂNEA
EA •
 

lá, de to
lá, tocar
car e pe
perpetuar
rpetuar o elo de li
ligação
gação com
co m o outro. A po
ponte
nte seria,
então, a imagem do desejo de aagregação
gregação próprio a ttoda
oda v
vida
ida em socie-
dade.. O cibere
dade ciberespaço
spaço pode ser vist
visto
o por esta metáfora, com o um a rede
ou ponte de pontes, ligando potencialmente todos a todos. Ele pode
ser entendi
entendidodo como
com o “uma jun çã o ent entre
re term
termosos ddiss
issoo ci
ciaa d o s"
s"222'.
Já a porta é o que sep
separa
ara,, o que mmee mantém na minha interiinteriorid
oridade,
ade, na
minha individual
individualidad
idade,
e, aquela paparte
rte que não quer contato profundo com o
outro,
out ro, que quer ser só ela e mais na nada
da.. A porta é o que me fecha em mim
mesmo, evitando
evita ndo o outro, a socializ
socialização
ação.. Mais ainda, ela é a socialização que
mantém
mant ém suas distânc
distâncias
ias e que compõe o indivíd
indivíduo.
uo. O cibe
ciberespaço
respaço també
também mé
a porta que me
m e separa do mundo. Através d dela,
ela, posso abrir brechas de conta-
c onta-
to com o outro mas resgardar a minha pri privacida
vacidade,
de, o me
meuu isolamento e soli-

dão. O ciberespaço enquadra


enquadrase, se, portanto,
portanto, tanto na dinâmic
dinâmicaa social da ponte,
que me
m e liga ao outro
outro,, ccomo
omo n naa dinâmi
dinâmica
ca da por
porta,
ta, que me separa do mund mundo.
o.
Para Simmel,
Simm el, toda vida soci social
al se estabelece neste ciclo de passa-
gens sucessivas da ponte à porta e viceversa. Toda sociedade é, ao
mesmo tempo, form formada ada por indivíduo
indivíduoss separados e indivíduos agrupa- agrupa -
dos.. O fa
dos fazer
zer sociedade sempre se deu nesta dialógica entre a ponte e a
 porta.
 por ta. O m es
esm
m o aaco
cont ntec
ecee h
hoje
oje com
co m o cib
ciber
eres
espa
paço
ço:: in
indi
diví
vídu
duos
os iso
isolad
lados
os
em seus quartos,
quartos, com a porta bem fechada, bu buscam,
scam, ao me mesmo
smo tempo,
individualizar e sociali
socializar,
zar, fazendo pontes e fec fechando
hando p portas
ortas na sua re-
lação com o outro e o mundo. No ciberespaço, com
como o em tod
todaa vida em
sociedade, “separaçã
separaçãoo e rel
religação
igação são dois aspectos do m esm
esmo o ato  ”3
 ”322.

Comunidades
“a networked world offers
offers the possibility o f manytoma
manytomany
ny
communication, permitting widely separed individuais
to bin
bindd th
thems
emselv
elves
es iint
ntoo co
coll
llec
ecti
tive
ves”
s”3
323.
J a m e s  Ca pio

A análise de Bolle d dee B


Bal3
al324 pod
podee nos aajuda
judarr a co
comp
mpree
reende
nderr as
agregações eletrônicas
eletrônicas do ciberes
ciberespaço.
paço. Podemos ver esta rede de redes a
 parti
 pa rtirr da an
análi
álise
se da reliance (reli
 (religaçã
gação)o) e do que o sociólogo belga chama
de “tentação comunitária”. Para Para el
ele,
e, a comunidade exerce u uma
ma sedução e
toda agregação comunitária é efêmera (fadada ao fracasso), incerta e
contraditória, paradoxal e sistêmica (complexa). No entanto, a comuni-
dade permite
perm ite vínculos, rel
religações
igações ( reliance) de caráter
cará ter quase mís
místi
tico.
co.
Para de
d e Bal, a crise dos valor
valoreses m
modernos
odernos seria conseqíiência de

desagregações (deliances ) que ocorreram no nível sóciopsicológico


sóciopsicológico••

M O S | 151
• A N D R É L EEM
 

(esqu izofrenia capitalista),


(esquizofrenia capitalista), sóciotécnico (alienação no trabalho), só
cioeconômico (desemprego estrutural) e ainda ontológico (aliena-
ção pela
pe la sociedade do espetáculo e dos simulacros)
simulacros).. A deliance  m
 moo -
derna
individu
ind é produto
ividualista teda
dcnicista3
alista e tecnica lógica
ista3225do
. Asis
sistema
tema
importânc
impo tecnocient
tecn
rtância iaocientífi
fundamífico,
fundamenta co,lda
ental d a sociedade
da revoluçã
revo luçãoo
do ciberespaço
ciberespaço é que ela radic radicali
aliza
za  tornand
tornandoo mais visível visível  a ambi-
guidade que caracteriza todo fenômeno técnico: processos do fazer
que circulam entre o natural e o arti artifici
ficial,
al, trazendo no bojo sementes
da serventia
serven tia e liberdade,
liberdade, separação e agregação.
O ciberespaço é fruto da lógica industrial moderna (fonte de
deliance)   e um verdadeiro instrumento de contato ( reliance ). Para
evitar confundirmos
confundirm os simples agregações com vínculos comunitários,
 pre
 p refe
feri
rimm o s d ize
iz e r que
qu e o cib
c iber
eree p a sço
sç o po
p o ten
te n c ializ
ia lizaa ag
a g reg
re g a ç õ e s ele
e letr
trôô n i-
cas, que podem
po dem ser estas de tipo comunitáricomun itárioo ou não. Neste N este sentido,
"a comunidade é bem mais do que uma experiência reveladora e  
criadora de val valores
ores,, de aspirações e de contradi contradições.ções. E la é ma is do 
estrutura de acolhimento para desviantes em fa lta de  
que uma estrutura
religaç
rel igações,
ões, m ais do que u um contracultural.. Ela éé,, ou 
m grupo de ação contracultural
torna-se rapidamente, um laboratório de vida, um seminário  
m ai
aiêutico,
êutico, um at
atel
elie
ierr in
inic
iciá
iátic
tico
o ’’326.
ÇA^contracu
on tracu ltura aos
ao s ãnõT fÕ^afirma
fÕ^a firma Bolle
B olle de Bal,
B al, expressou
exp ressou
o dese
desejojo de reliance  contra ã separação
separação individu
individualist
alistaa causada
caus ada pela

 /  cultura moderna

I da cult
mo derna industri

cu ltura
indu strial
al e racionalis
racionalista.
ta. A contracultura
contrac ultura foi “ um

ura moderna. De forma aproximada, podemos dizer


uma
estrutura de reliance sim bólica  ” 327 c o n t r a a desligação  ( deliance )

dize r que a
cibercultura vai se caracterizar pela utilização da tecnologia
telem
tel em ática numa sociedade em busca de reliance,reliance, potencializando
agregações sociais dos mais diversos tipos. Desde o uso mais ba-

nal, passando
hedonista dospeloschatsativistas
  e muds,e  oprofissionais,
que está ematéjogo a efervescência
é o uso do
ciberespaço com o ferramenta de vínculos vínculos ssociais
ociais,, como um am bi-
ente midiático  d  dee contato.
contato.
M ichel Maffesoli
M affesoli vai no mesmo sentido ao propor prop or a análise das
tribos contemporâneas a partir do que ele chama de rede de redes, 
comoo vimos. O ciberespaço
com ciberespaç o encarna bem esta forma social, constitu-
indose
indo se como uma um a rede de redes
redes não só de máquinas mas também de
 pess
 pe ssoa
oas.
s. Ele
E le cri
c riaa uma
um a Matr
Ma trix
ix com
co m unic
un icac
acio
iona
nall que
qu e pote
po tenn ci
cial
aliz
izaa as mais
m ais
variadas formas de agregação, comunitárias ou não. Como afirma

152  | C IB
IB E R C U L T U R A . T E C N O L O G I A E V I D A S O C I A L N A C U L T U R A C O N T E M P O R Â N E A •
 

M affesoli, retoman
retomando do a metáfora simmeliana
simm eliana da ponte e da porta, "o
 fa
 f a t o d e s e r so
soli
litá
tári
rio
o s nã
nãoo si
sign
gnifi
ificc a v iv
ivee r is
isoo la d o s ”™.  A realidade

sociall é form aada


socia
constituindo po
por
rrede
ede r ad
deadesões
esõescomo
redes sucessivas
sucessivas,
um , po
porr cruzamen
umaa estruturacruzamentos
com tos m“...a
complexa:
plexa: últi
últiplos,
plos,
rede 
de redes não envia mais a um espaço onde os diversos elementos  
adicionam,
adici onam, se justap
justapõemõem , onde as ativi atividades
dades sociais se ordenam co con n
 fo
 f o r m e u m a ló
lógg ic
ica
a da se sepa
pararaçãção,
o, m as a n tetess d e tud
tudo,
o, a um es espapaçoço  
onde tudo se conjuga,
conjuga, se m multultipl
iplica
ica form anandodo figu ra s caleidoscópicas 
de contornos
co ntornos diversifi cados  ”
diversificados  ”3329(..
(...)“
.)“a red
redee de redes apresen ta-se como  
apresenta-se
uma arquitetura que só vale pelo peloss elemen
elementostos que a compõem™.   E m -
 bo
 b o ra M af
affe
feso
soli
li nã
não
o eest
stee ja ffal
alan
ando
do aqaqui
ui d
doo ccib
iber
eres
espp aç
açoo, p
poo de
demm o s, li
lite
te--
ralmente, compreend
com preendêlo
êlo a pa
partir
rtir desta análi
análise.
se.
Devemos agora compreender a noção clássica de comunidade
 para
 pa ra an
anal
alis
isar
arm
m os as ag
agre
rega
gaçõ
ções
es ele
eletr
trôn
ônic
icas
as co
cont
ntem
empo
porâ
râne
neas
as.. A noçã
no ção
o
de comunidade
comu nidade está sempre ligada à idéia de um espaço de partilha, a
uma sensação, a um sentimento de pertenci pertencimento,
mento, de interrel
interrelacion^
acion^
mento ínti
íntimo
mo a determinado agrupamento soci social.
al.
Sociologicamente, a idéia de comunidade é uma invenção dos
 prim
 pr imei
eiro
ross ex
expp o e n te
tess do
doss es
estu
tudo
doss so
socia
ciais.
is. El
Eles
es p a rt
rtir
iraa m de u m a p e rs
rs--

 pe ctiv
 pect ivaa eev
v o lu
luci
cioo n is
ista
ta q
que
ue cons
co nsis
iste
te em m a rcrcaa r a p
paa ss
ssaa g em d e sso o c ie
iedda-
de tradicional (a comunidade) para a sociedade moderna (a socieda-
de).. N
de) Neste
este sentido, H H.. Spencer
Spe ncer mostrou esta evoluçã evolução o enqu
enquantoanto fala-
va de sociedades de fraca diferenciação e de sociedades fortemente
diferenciadas. E. Durkheim, por sua vez, demonstrou o surgimento
de formas orgânicas (da sociedade) em detrimento das formas
mecânicas
me cânicas (da comunidade). Já no pri princípio
ncípio deste século, Gabriel de
Tarde
Tar de explicava que comunidad comunidades es podiam ser formadas m esmo po r
 pes
 p esso
soasas se
sepp a ra
radd as
as,, se
s e m ccon
ontatato
to ffís
ísic
ico.
o. E stes
st es aag
g ru
rupp a m ento
en toss ffo
o rm ara
ar a m
um modo
m odo de coletividade mental (collectivité me ntale),  espiritual.
mentale),
 No
 N o e n ta
tann to
to,, s er
eráá o soci
so ciól
ólog
ogo o al
alem
em ão F e rd rdin
inaa n d T õ n n ie
iess qu
que,
e,
em 18185757,, vai propo
proporr a diferenciação entre comun comunidadeidade (gemeinshaft )
e sociedade ( geselschaft ), ) , marcando profundamente os estudos em
ciências sociais. Para Tõnnies, a noção de comunidade é ligada às
sociedades
soci edades tradici
tradicionais,
onais, quer dizer à vida doméstica, à econom ec onom ia da
casa, às necessidades primária primárias, s, à reli
religião.
gião. PoPorr sociedade, ele entende
a sociedade m oderna, fundada na cidade, no com comércio,
ércio, na indúindústria
stria e
na ciência.
ciência. E
Emb
mbora
ora estas instâncias
instâncias não exist
existam
am nunca em estado puro,
a sociedade
sociedad e mo
moderna
derna atrofiari
atrofiariaa as iiniciati
niciativas
vas com
comunitárias.
unitárias.••

EM O S | 153
• A N D R É L EM
 

Tõn nies avança


Tõnnies av ança a perspectiva
perspectiva de ordem topológica porque, para
ele, há duas formas
form as da vontade humana: uma orgânica (com (comunidade)
unidade)
e outra reflexiva (sociedade). O sociólogo alemão afirma que a pri-
meira é dirigida ao passado (disposição) e a segunda aaoo futuro (aspi-
(a spi-
ração). O testamento reflexivo é um produto de sociedades. Já a co-
munidade seria um modo
m odo orgânico de produção, de organizaçã
organizaçãoo soci-
al e de pensamento. A comunidade estabelecese pelo que ele chama cham a
de status e a sociedade,
sociedad e, pelo contrato.
contrato. É importante insistir que est
estas
as
categorias não existem em estado pupuro.
ro. Temos relações
relações não contratuais
mesmoo em ambientes
mesm am bientes de trabalho,
trabalho, instituindo
instituindo o processo infindável de
 paa ssa
 p ss a g e m d e e st
staa d o s greg
gr egár
ário
ioss e soci
so ciee tári
tá rioo s ou cont
co ntra
ratu
tuai
ais.
s.
Para o que nos interessa qui, qui, podemos dizer que nem toda asso-
ciação no ciberespaço é comunitária, existindo, de forma muito ex-
tensa, agregações comunitáricom unitárias as e contratuais
contratuais de tipo societ societário.
ário. Gos-
G os-
taríamos, então, de evitar falar em comunidades virtuais generaliza-
das, mas atestar o fator agregador do ciberespaço. A tecnologia foi,
na modernidade, instrumento de separação (alienação, individualis-
mo, racionalismo). Atualmente, as novas tecnologias servem para
constituir
con stituir e, permanentemente,
permanentem ente, destruir a dimensão dime nsão agregadora. Este E ste
é um dos paradoxo da cibercult cibercultura.
ura. A tecnologia m oderna passa a ser
apropriada
aprop riada pela socialidade, vetor de reliance.
O m aior uso da internet hoje é para troca de email, batepapo batepapo
em chats ou participação
pa rticipação em coletivos sociai sociaiss comocom o fóruns e listas de
discussão.
discu ssão. Empiri
Em piricamente,
camente, a int internet
ernet é um espaçoe spaço de agregações so-
ciais múltiplas
múltiplas.. Evidentemente que nem toda forma de agregação agregaç ão é
comunitária: existem chats, listas ou fóruns que podem ou não ser
comunitári
comu nitários.
os. Mas
M as parece evidente que as tecnologias da cibercultura cibercu ltura
 poo d e m a gre
 p gr e gar,
ga r, talv
ta lvezez c o m o form
fo rmaa d e luta
lu tarr ccoo n tra
tr a o iso
is o la
lamm e n to m o -
derno. Como
Co mo diz d iz Simmel:
Simmel: “é necessário que as coisas sejam prim eiro  
umas sem as outras outras para que em seguida seguida possam ser umas com as  
outras”331.  Alguns depoimentos retirados retirados de newsgroups da Usenet
comprovam essa reliance332.
O sociólogo inglês Anthony Giddens vai, por sua vez, falar de
desencaixe.
desenca ixe. O desencaixe é uma um a situação
situação sociocult
sociocultural ural em que os indi-
víduos sentemse deslocados, fora do eixo da individualidade333,
correspondendo
coercitivo s aemdizer
mais coercitivos que àsosinterações
relação constrangimentos de espaço não
entre os indivíduos. Estesão
fe-
nômeno surge com a modernidade.
modernidade. Podese,
Podese, assim,
assim, viver em Salvador 

154  | C IB
I B E R C U L T U R A . T E C N O L O G I A E V I D A S O C IA
IA L N A C U L T U R A C O N T E M P O R Â N E A •
 

absorvendo uma
u ma cultura planetár
planetária,
ia, por exemplo. É este o sentimento
sentimento
de desencaixe. Desta
D esta forma, o ciberespaço,
ciberespaço, pela formação ded e suas mais
diversas formas ded e agregação, expressa bem este desencaixe.
desencaixe.
Por mais radical que esta agregação eletrônica possa parecer, a
idéia não é mais de uma comunidade (reliance) contra o sistema (deliance) 
mas des diversas formações comunitárias indiferentes aos sistemas. Como
Com o
explica um ravercyberpunk, “ao invés de lu lutar
tar contra o sistema, a
ass no
vas ccom
omun
unas
as estão
e stão ignorando-o. E esta é a última rev
revol
oluç
uçãoão’’’33*.  O u
ainda: “A internet é mais do que um centro comunitário; de fa to,, ela cria  
 fato
a sua pró
própria
pria fo
formrm a comu
comuni
nitár
tária,
ia, uma nova com unidade de super- 
comunidade
conectados e de super-informados. Se conhecimento é poder, então, a  
corrida pa
para
ra a domínio deste se dá na inte
interne t. Podem 4 0 milhões de  
rnet.
aficcio
afic cionad
nados
os p
poo r com
computado
putadores
res estarem er
erra
rado
dos?
s?”
”333.
A americana
american a Rosanne Stone vai vai analisar as comunidad
com unidades es virtu-
ais e a idéia do ciberespaço numa perspectiva histórica. histórica. Os computa-
com puta-
dores são comocom o pontos de passagem, rit ritos
os de passagem co comm o vimos,
onde a  p  pee rs
rsoo n a o n -li ne   pode romper com os limites do fora e do
-line
dentro, da presença física e do simulacro virtual. Para Stone, as co-
munidadess virtuais,
munidade virtuais, ou as diversas
diversas formas agregadoras
agreg adoras do ciberespaço,
“mostram o colapso da dass fron
fronteira
teirass entre o so social
cial e o tecnol ógico, 
tecnológico,
entree o b
entr biológico
iológico e a máquin máquina, a, entr natura l e o artificial que são  
entree o natural
 pa
 p a r te d o im
ima a g in
ináá ri
rioo p ós
ós-m-moo d er
ernn o . E la
lass ffa
a z e m p a r te d a cr
cres
esce ntee  
cent
cação do humano às máquinas nas novas for m as sociais que eu  
imbricação
imbri
chamo
cha mo de sis
sistem
temas
as v ir
irtu
tua
a is
is””336.
Stone propõe pensar
pe nsar a idéia
idéia de comunidade virtual
virtual em quatro
fases: a dos textos (século XVII), a das comunicações elétricas
(1900), da informática (1960),
(1960), e a fase do ciberespaço e da realirea lida-
da-
de virtual (1984). Na primeira
prim eira fase,
fase, Robert
Rob ert Boyle inventa,
inv enta, em 1669
1669,,
um método chamado testemunho virtual ( virtual witness) witness),, que per-
mitee form ar uma comunidade de cientistas
mit cientistas pelo testem
testemunho
unho virtual
(à distância) para a validação do trabalho de seus pares. Ele é, as-
sim, precursor do método “pe er-r evie w ed ”  (analisado por pares)
er-revie
que hoje é usado e disseminado
disseminado pela comunidade
com unidade acadêmica
acadêm ica m undi-
al. Como explica Stone, “p o r esse tipo de escrita, um gru po de  
 p e s s o a s er
 pe eraa capaz d dee ttee s te
temm u n h a r um eexx p e r im e n to s em e s t a r fi
 f i s i c a
mente presente (. (...
..).
). Assi
Assim, m, tex tos tom am -se uma fo rm a d e c riar e 
textos
mais tarde ccon ontrolar
trolar nova
novass fo rm a s de com co m un ida de s” s”3331.
A segunda
segun da fase é a dos meios de comu
comunicação
nicação com o o telégr
telégra
a

• A N D R É L E M O S | 155
 

fo, o telefone, o rádio e a televisão, e antes o fonógrafo. Este conside-


c onside-
rado como um modo de compartilhar com os músicos, à distância,
uma determidada peça musical. Os ouvintes de uma rádio, o
telespectador
telespecta dor da TV
TV,, o usuário do telef
telefone,
one, etc., todos com partilham
uma experiênc
e xperiência ia simi
similar
lar,, estando com o outro a dis distância.
tância. A ssim, para
Stone, esses media
media   de massa vão criar vínculos virtuais, formando
uma com unida
unidade de de espectadores, ouvint ouvinteses e ttelespectadores.
elespectadores.
 No
 N o en
enta
tant
nto,
o, é no
noss ananosos 70,
70 , c o m o prprim
imeieiro
ro c o m p u ta
tadd o r e os
 prim
 pr imeir
eiros
os BBBB S s qu
quee su
surg
rgee “a p
“a pri
rim
m ei
eira
ra co
com
m un
unid
idadadee vir
virtu
tua
a l ba
base
sead
ada na  
a na
tecnologi
tec nologia a da informaçã
informação o ”3
”33
38. P
Por
or ú
último,
ltimo, a qqua
uarta
rta fase ser
seráá m marc
arcada
ada
 para
 pa ra S ton
to n e pe
pelo
lo su
surg
rgim
imen
ento to d o imag
im aginá
inário
rio c yb
ybererpu
punk
nk d e G ib ibso
son,n, em
seu Neuromancer, e o surgimento do ciberespaço, criando o que cha-
mamos
mam os hoje, na falta de um termo melhor, de com comunidad
unidadee virtual da dass
redes telemáticas, ou comunidades mediadas m ediadas por computadores.
• • -•
Podemos dizer que as agregaçõ agregações es do ciberespaço parecem ser
fruto de um desejo de reliance  (Bolle de Bal) ancorado no cora
reliance (Bolle coraçãoção da
tecnologia contemporânea.
contemporân ea. Se a tecnologia mod
moderna
erna (a ttecnocultura)
ecnocultura)
inibiaa a ag
inibi agregação
regação com unitári
unitária,
a, a cibercult
cibercultura,
ura, através do ciberespaço
ciberesp aço
e suas tecnologias, parece instit
instituir
uir um contato generalizado, uma re-
lação
laç ão de proximidade e de sentiment
sentimento o comunit
comunitári
ário,
o, m esmo sem con con--
tato
tato físico.
físico. C
Cham
ham ar algumas formas de agregação social no ciberespaço
de comunidades
com unidades virtuais é possí
possível,
vel, se mantivermos a idéia de com comu-u-
nidade como definida pela sociologia e se soubermos q queue ser vi
virtual
rtual
(no sentido de à distância) não significa aqui uma novidade, como

atestam as quatro fases propostas por Stone.


M. Godwin
Go dwin elenelenca
ca nove pri princípios
ncípios fundamentais para a coesão
de comunidades virtuais, entendendose estas como qualquer forma
de agregação
a gregação social por redes tel telemáticas
emáticas.. São el eles:
es: o uso d dee software
software  
que perm ita discussão em grupo, a ausência d dee li
limitação
mitação em trocas de
mensagens, a possibilpossibilidade
idade de acesso para pessoas diversas, a possibi-
lidade de deixar que os usuários usuários resolvam seus problemas, a promo- prom o-
ção de um a m emória da comunidade comunidade;; a promoção da continuidade, o
 bo
 b o m rree c e b im
imee n to d
dos
os n eó
eófí
fíto
tos,
s, a pro
promm o ção
çã o d
dee ááre
reas
as pa
para
ra c ri
riaa n ça
ças;
s; e a
confrontação dos usuários nas crises das comunidades. Para ele, no
ciberespaço, "o sent sentimento
imento comunitár
comunitário io é muit
muito o fo rte ”
”mm.
Da mesma maneira, H. Rheingold analisa as comunidades ele-
trônicas insistindo
insistindo no seu crescimento geométrico: ““milhões milhões de pes-

156   | C IB
I B E R C U L T U R A , T E C N O L O G I A E V I O A S O C I AL
AL N A C U L T U R A C O N T E M P O R Â N E A •
 
soas em cada continent continentee também participam de grup gruposos sociais media
dos p o r computadores conheci conhecidos dos como comunidades virtuai s, e esta 
virtuais,
 po
 p o p u la
laçç ã o eess tá cr
cree sc
scee n d o rra
a p id
idaa m e n te
te””340. A s comun
comunidades
idades virtu
virtuais
ais
são para o jorn jorn alista am americano
ericano “organizações so sociais quee em ergem  
ciais qu
da N et quando um número suf suficie
iciente
nte de pess
pessoasoas leva adiante discus
sões públicas com um mínimo sent sentiment
imento o humano para fo rm ar tei as 
teias
de relações pessoais no ciberespaço ”3 ”3441. J á p
paa ra B ru
ruce
ce S te
terl
rlin
ing,
g, a
formação comu co munitária
nitária é quase um corolário das redes telemáti telemáticas.
cas. EEle
le
afirma: “ onde quer que você crie uma rede de comunicação, você  
cria também uma comunidade... ”  ”3
342.
O que vemos com a di dinâmica
nâmica at atual
ual do cibere
ciberespaço
spaço é que ele
e le não
inibe a heterogeneidade e não cria necessariamente uma cultura
m ono
onolítica
lítica3343. NeNeste
ste sentid
sentido, o, o ativism
ativismo o político ta tamb
mbém
ém eestá
stá pre
presen
sente
te
no ciberespaço, onde comunidades como a EFF, EcoNet, PeaceNet,
GreenNet, ConfliNet, ou a pioneira PEN de Santa Mônica e outras
FreeNets pululam em todos lugares lugares no mundo. Podemos comp compreende
reenderr
o advento e a prolifer
proliferação
ação de comunidades
comunidades virtuvirtuais
ais como uma produ-
ção de microcolônias, como uma u ma experiência socsocial
ial não programada,
 bas
 b asea
eada
da no papara
radi
digm
gm a es
estét
tético
ico,, empá
em pátic
tico,
o, fo
form
rman
ando
do ag
agre
rega
gaçõ
çõeses atra
at ra- -
vés de redes telemátic
telemáticas.
as. Lá onde
on de há comunicação me mediada
diada por
po r com
compu-
pu-
tadores,
tadore s, há eefervescência
fervescência comunal e ccriação
riação de com
comunidad
unidades es virtua
virtuais.
is.
Para Rheingold
Rheingold:: “não apenapenasas eu habit
habito
omminha
inha com unidad
unidadee vvirtual ...)) 
irtual ((...
minha comu
c omunidade
nidade virtual habita também a minha vi da,, ” 344.
vida

Instrumentos Comunitários

Vejamos agora alguns instr


Vejamos instrumentos
umentos que ajudam
ajud am a cr
criar
iar formas
de agregações
agre gações sociais nas redes tel
telemáticas
emáticas planetárias com
comoo o email
email,,
os chats, os Muds, os BBSs, entre outros.

E-mail

O correio eletrônico (email)


(email) é o serviço mais usado no ciberespaço,
 permit indo a troc
 permitindo trocaa de informaç
informação
ão escrita (e tam
também
bém en
envio
vio de arquivos,
imagens, vídeos, softwares, etc.)
etc.) cuja transmissão é mais rápida do que
q ue o
correio tradicional. Hoje, no mundo, o fluxo de mensagem pelo correio
eletrônico está superando aquele pelo correio tradicional (snail-mail). O
advento do correio eletrônico,
eletrônico, em 19
1969
69,, (sendo a primeira ferram
ferramenta
enta no
no••
• A N D R É LE M O
OSS 151
151
 

nascimento da Arpanet)
nascimento Arpanet) trouxe,
trouxe, de certo modo, uma explosão de d e mensa-
m ensa-
gens planetárias. O fluxo
flux o de informação pelo correio eletrônico é, de acor-
aco r-
do com Saffo,
Saffo, “o ma
maior escritas desde o século  X
ior boom em cartas escritas  XVV ///”343.
Com o email as palavras
palavras escritas decolam se do papel a pas-
sam a ter como interface a forma eletrônica (ASCII), com uma um a tela
tela
de apoio para a visualização.
visualização. Além disso,
disso, o caráter eletrônico resga
resga- -
ta um pouco da cultura oral, mesmo sem presença corporal. É co-
mum o uso de smileys,  ou emoticons, símbolos gráficos feitos com
os caracteres ASCII  ti tipo
po ;))
;) ) para expressar
expressar emoções e sentimen-
tos só visualizados através do corpo346. Segundo Leslie, “o e-mail 
nos trouxe de volta à aurora da pró pria escrit escrita, a, a um tem po onde o 
conhecimento era transmitido oralmente ...”347. Através do email
 poo d e m o s m a n ter
 p te r c o n tato
ta to c o m a m igo
ig o s d ista
is tann tes,
te s, m a n ter
te r c o m u n ida
id a -
des já existentes
existentes e criarc riar novas.
novas.

Usenet: a conversação
conversação mundi
m undial
al

A rede Usenet
U senet pode ser conside consideradarada como uma um a das formas ele- e le-
trônicas mais populares
popu lares de organização social nas redes. redes. A Usenet U senet é
hoje, como afirmou em 1976 1976 um dos percursores M urray Turoff, uma
ferramenta
ferr amenta que qu e “for ne ce caminhos para que grupos humanos huma nos exerci
tem a capacidad
ca pacidadee de gerar ge rar inteligência coletiva  ".
inteligência coletiva
A rede Usenet
U senet foifoi concebida por dois estudantes estudantes da universida-
de da Carolina do Norte N orte em 1979119791980 980,, quando perceberam que era
 poo ssív
 p ss ívee l po
p o r em coc o m u n icaç
ic açãoão vária
vá riass com
co m u n ida
id a d es ele
e letr
trôô n ica
ic a s aatr
trav
avésés
de umu m a conexã
con exãoo interne
inte rnet3 t3448. A Usene
U senett se propagou com o um vírus, de
campus em e m campus, de laboratórilaboratórios os de pesquisa em laboratórios
laboratórios de
 pesq
 pe squu isa
is a . A red
re d e é h o je u m sist si stee m a tele
te lem
m á tico
ti co q u e p e rm ite it e c o loc
lo c a r
 pee sso
 p ss o a s e m c o n tato
ta to,, ins
in s tau
ta u rar
ra r fór
f órun
unss d e co
c o n v e rsa
rs a ção
çã o , p ú b lic
li c o s e p la-
la -
netários, organizados a partir de grupos temáticos, os newsgroups,  
que tratam de diversos temas.
Os grupos temáticos são divididos em hierarquias (alt, (alt, comp, rec,
etc.) e não há
etc.) h á um
u m controle central
central mas uma ética (a netiqueta) estabelecida
coletivamente onde os participantes ajustam seus problemas internos
de modo autônomo e coletivo. Os servidores de news,  a alma da rede
Usenet, funcionam de forma livre mas organizada. Dessa maneira, a
natureza anárquica, não comercial e em crescimento geométrico,
geom étrico, mos-
tra que essa form
fo rmaa de agregação social
social é hoje uma realidade.

158   | C IB
I B E R C U LT
LT U R A , T E C N O L O G I A E V I D A S O C IIA
AL N A CU LTURA CON TEMPO RÂNEA •
 

A red e Usene t é um enorme fórum de discussão temático, um


melting
melt ing p o t  de
 de culturas,
culturas, onde os debates ocorrem n o interior dos vá-
rios grupos. Há milhares destes em todo o planeta e cada um deles
 po
 p o ss
ssuu e u m a FA
FAQQ 349. C
Coo m o a fi
firm
rm a R h ei
einn g o ld,
ld , “A Usenet continua a  
se r regulada p o r normas, não p o r indiví indivíduos
duos ou organ
organizações...3
izações...35
50.
Assim, os newsgroups   mostram a faceta efervescente da
cibercultura onde os participantes constituem agrupamentos sociais
temáticos,
temá ticos, eestabe
stabelece
lecendondose
se co
comm o um esp espaço
aço púb
público
lico eeletrôn
letrônico3
ico35 51.
Como
Com o afirma um responsável
responsável pela rede SFNet, es estes
tes são comcomunida-
unida-
des de interesse, sem territorialidade física onde “as pessoas são  
 ju lg a d a s ppee lo q u e d diz
izee m 352.
 No
 N o en
entan
tanto
to,, eesta
stass com
comun unida
idades
des nã
nãoo ssão
ão ass
assep
eptiza
tizada
das,
s, e é ba
basta
stante
nte
freqiient
freqi ientee as guerras p poror ema
email.
il. No ciberespaço, estas são cha chamada
madass de
 fla
 fl a m e s.   O s Jl
 Jlam es  mostram que toda a vida em sociedade se expressa
ames
livrementee nas redes de
livrement d e comput
computador
ador,, estando b bem
em distantes da cibercul
cibercultura
tura
contro
co ntrolada
lada pel
pelaa ass
assepepsia
sia das máq
máquinas
uinas ccibern
ibernétic
éticas3
as35
53. Os jl a m e s,  às ve-
 jla
zes, são públicos (em listas, chats   ou newsgroups),  remetido à grupos
inteiros,, e outras vezes chega
inteiros chegam m pelo email, de form formaa privada. Talvez, as
condições de comunicação
co municação nas redes contribuam para dar um sentimento
de impunidade. Para Dery, analisar os fl a m e s  nos permite entender as
 fla
mudanças psicológicas
psicológicas e so socia
ciais
is post
postas
as em evidência pelos meios novos
de comuni
com unicaç cação,
ão, mais pa particular
rticularmente
mente pelas re redes
des de ccom
ompuputad
tador3
or35 54.

BBSs

O primeiro BBS, ou  B  Bul


ulle
leti
tinn B o a r d Sy
Syste m ,  redes de com
stem computa-
puta-
dores comunitárias e independentes de uma grande rede telemática,
foi criado em 16 de janejaneiro
iro de 19
1978
78 por Christensen e Suess, em Ch Chi-
i-
cago, interligando
interligando computadores com um a velocidade de transf transferên-
erên-
cia da ordem de 100 bps. Hoje existem milhares BBS no mundo. A
 pro
 p rog
g re
ress
ssãã o é en
enor
orm
m e.
Interligando todos eles no ciberespaço, temos a rede de BBSs
Fidonet, criada
criad a por
po r Tom Jennings em 1984 1984.. A F
Fidonet
idonet permite, aos
diversos BBSs, trocar mensagens e instalar fóruns ou conferências
entre eles. Tom Jennings cria, em dezembro de 1983, Fido BBS #1.
Em jan
janeiro
eiro d
dee 19
1984
84 nasce em Balt
Baltimore
imore a Fido
Fido BBS #2 e assim suces-
sivamente, até a formação da cadeia do BBSs Fidonet em 1985 198519
1986.
86.
Em 1991, há dez m mil
il pon
pontos
tos de ccontato
ontato e mais de 100.0
100.000
00 us
usuár
uários3
ios35
55.•

M O S | 15
• A N D R É L EEM 159
9
 

Como o explica um dos participantes, o mais interessante é que os


BBSs, “atu atualm
alm ente
en te criam
cr iam um sentimento
sentim ento de lu
l u g a r ”356.
Podemoss definir os BBSs como red
Podemo redes
es independentes que unem,
 pela
 pe la lin
linha
ha te
tele
lefô
fôni
nica
ca e atra
a travé
véss d
dee um
um m
mod
odem
em,, co
com m pu
puta tado
dore
res.
s. El
Eles
es p e r-
mitem criar, rapidamente, diferentes formas de associação social de

 pr oxim
 prox imid
idad
ade.
e. P a ra R
Rhe
hein
ingo
gold
ld,, “ p
 poo d emo
em o s usa
u sarr um B BB B S p a r a org
o rgan
aniz ar  
izar 
um movimento, criar cria r um negócio,
negócio, coordenar campan has políticas... ”3
coo rdenar campanhas  ”357.
Parece que o impulso de criar BBSs vem da necessidade de reliance, 
como vimos, buscando desenvolver laços comunitários. Um exemplo
é a lendária comunidade eletrônica PEN (Rede Eletrônica Pública),
criada em 1989, em Santa Monica, Califórnia.
PEN é a primeira comunidade eletrônica criada com os financia-
mentos do governo americano. O objetivo é potencializar o
envolvimento de cidadãos com os problemas da comunidade, como
desemprego, os semteto,
semteto, etetc.
c. Também conhecidas como Freenets, es  es- -
tas comunidades tele telemáticas
máticas buscam facil facilitar
itar o acesso às informações
 por
 p or pa
part
rtee do pú
públ
blic
ico;
o; aj
ajud
udar
ar o dedesesenv
nvololvi
vim
m en
entoto d o seto
se torr d e se
serv
rviç
iços
os,,
aumentar a comunicação entre cidadãos, dar acesso e facilitar a apro-
 pria
 pr iaçã
çãoo da
dass n
nov
ovas
as te
tecn
cnol
olog
ogias
ias pel
pelosos rres
esid
iden
ente
tes,
s, d
dis
istr
trib
ibuu ir a info
in form
rmaçaçãoão
de form
fo rmaa igualitária papara
ra toda a população
população,, entre outro outross objetivos3
obje tivos35 58.
Outro exemplo de Freenets  é a D  Dig
igit
ita it y , uma versão digital
a l C ity
da cidade de Amsterdã, com mais ou menos os mesmo mesmoss objetiobjetivos.
vos. A
Digital City foi fundada
fundad a em 19 1994
94 como umumaa experiênc
experiência
ia pil
piloto,
oto, para
formar uma rede de cidadãos,
cidadãos, tend
tendoo começado como u umm BBS, evevolu-
olu-
indo para uma
um a interface gráfica na WebWeb.. Há hoje mais d
dee 30
30.000
.000 habi-
tantes nesta cidade virtual, espelho da real Amsterdã. Há fóruns de
discussão, livrarias,
livrarias, M
 MUU D s,  possibilidade de contato com os poderes
 púb
 pú b li
licc o s, c af
afés
és,, sh
shoo pp
ppin
ings
gs,, eetc.
tc.

MUDS

Os MUDs (ou  M  Muu lti


lt i U ser
se r D ung eo n)   são jogos em rede, tido
un g eon)
como uma das principais comunidades virtuais existentes hoje no
ciberespaço. Os MU
MUDsDs são jogos
jogos,, semelhantes aos rol rolee playing games, 
pla ying games,
construindo
construind o universos ficcionai
ficcionaiss atravé
atravéss de palavras escrit
escritas,
as, criando
uma ambiente
am biente lúdicoimaginário com m múlti
últiplos
plos usuári
usuários.
os. Eles foram
inventados em 198
19800 por Roy Traubshaw e Richard Bartle na Unive Univer-
r-
sidade de Essex,
Esse x, Ingl
Inglaterr
aterra.
a.

160  | C IB
I B E R C U L T U R A , T E C N O L O G I A E V I D A S O C IA
IA L N A C U L T U R A C O N T E M P O R Â N E A •
 

A internet criou o ambiente propício para o dese nvo nvolvime


lvimento
nto
destas agregações, como um a espécie de tteatro eatro virt
virtual.
ual. C Cada
ada usuá
rio/participante atua através através de avatares construído de aco rdo com
o gênero do MUD . Os MUDs podem ser vis vistos
tos cocomomo m undos ima-
ginários, onde a flutuação por formas identitárias pode ser explo-
rada a vontade. S. Turkle explorou bem esse tema em seu  L  Lif on  
ifee on
Screen359.   Os MUDs criam mundos imaginários a partir de siste-
Screen359.
mas onde os usuários usam palavras escritas para improvisar me-
lodramas, em uma decoração construída pela imaginação (ob-
 je to s , a m b ien
ie n te
tes,
s, a rm
rmas
as,, pe
p e rso
rs o n ag
agee n s, e tc
tc.)
.).. H oj
oje,
e, j á e x iste
is te m M U D s
gráficos baseados em mundos administrados por sistemas próxi-
mos da rea lidade vi virtu
rtual.
al.
A experiência
experiênc ia pioneira
pioneira de H Habit
abitat,
at, da LucasFilm, é um exem e xemplo
plo
magnífico, embora
em bora já ant
antigo.
igo. Ha
Habitat
bitat é um mundo artifici
artificial,
al, interativo
e virtual, vivido por avat
avatares
ares (representaçõ
(representações es virtuais dos pparticip
articipan-
an-
tes),, sendo um jogo on-line
tes)  multiutilizado
on-line multiutili zadorr onde os avatare
avataress com
comuni-
uni-
camse e comparti
c ompartilham
lham uma cidade com toda a sua comp complexidade
lexidade (eco-
nomia, leis, regras de conduta, etc.). A experiência de Habitat tem
início em 1985 sendo multiinterativa, acessível graças a uma linha
telefônica e um simples Comodoro 64. No jogo, os avatares apare-
cem como humanóides e os diálogos são representados por bolhas

(similares às utilizadas
utilizadas em rev
revista
ista em quadrinhos).
Hoje, há vários MUDs na internet
internet do qua
quall o Lamb
LambdaM
daM OO é um
dos mais famosos. LambdaM
Lam bdaMOOOO fofoii criado em 1991 ppor
or Pavel Curtis
no PARC (laboratório de pesquisas da Xerox). Como todo MUD, o
LambdaM
Lam bdaM OO é um tea teatr
troo vir
virtua
tuall onde o joga
jogado dorr pode “viver” , ist istoo é,
gastar horas do seu dia conectado. Segundo Quittnet, os usuários
“estão fa faze
zenn d o am
amigos
igos e iniinimigos
migos,, ampliando sua inteligência, cri
ando
and o suas pró
própria
priass comunidade
comunidades, s, escrevendo manifestos (. (...) estão 
..) eles estão 
criando comunidades vir virtua
tuais is,, novas for
form m as das pesspessoasoas entr arem  
entrarem
em comunicação”360.
O MUD é um dos primeiros laboratórios para as comunidades
virtuais.
virtuai s. CComo
omo no Minit
Minitel,el, na Usenet ou nos cha chats,
ts, o usuário escolhe
esco lhe
sua identidade encarnando um papel, permitindo jogos identitários:
“cada novo MOO cria uma nova comunidade e uma nova cultura  
emerge pa parara socializ
socializarar um lugalugarr onde tudo é pos possísível
vel.. A grand
grandee sur
 prr e sa d a era d a in
 p info
form
rmaç
açãoão é q quu e as p e ss
ssoo a s estã
estãoouusa
san n do s eu s cco
om
 pu
 p u ta
tad d o r es p
paa r a co
comm u ni
nica r  ”3
car   ”361.•

• A N D R É LE M
MOO S | 161
 

Chat

Os chats, ou IRC {Internet Relay Chat),  Chat),  são uma técnica de


comunicação
comu nicação q que
ue permite o diálogo dir direto,
eto, em tempo real, sincrônico,
sincrônico,
entre usuários. O IRC foi desenvo desenvolvidolvido por Jarkko Oikarinen da U Uni-
ni-
versidade de Oulu, na Finlândia, em 1988, como um programa de
multiusuários,
multiusuári os, de com comunicação
unicação em tempo real. real. Como um terreno pri-
vilegiado para pesquisas em estudos sociais, os usuários do IRC se-
guem regras
regras,, rituais e estestilos
ilos de comunicação que os constituem como com o
uma verdadeira cultura, um fenômeno social inegável. Segundo
Rheingold o “ In I n te
terr n et Re
Rela
layy C
Chahatt (IR
(IRC
C ) p er
ermm itiu
it iu que
qu e u
umm a su
subb cu
cult
ltur
uraa 
global
glob al pudess
pu dessee con
constrstruir-s e.... ’’
uir-se..  ’’36
362.

Os “vIRCiados” também usam muito os smileys smileys   como uma


forma de passar emoções de um corpo ausente. Por exemplo: )
ou ; )
) ou :  ( , ou por um asaster
terisco
isco par
paraa ref
reforçar
orçar algumas cois
coisas,
as,
como “eu não gosto *disso*”. O IRC, como as outras formas de
com unicação mais utilutilizadas
izadas na int
internet
ernet,, prova a efervescên cia soci-
al presen te hoje no ciberespaço. O uso é intenso, e são mu muitos
itos aque-
less que ali constat
le constatam
am esta efer
efervescência,
vescência, mesmo que banal e efêm e-
ra. Hoje, existem vários programas disponíveis, sendo um dos do s mais
famosos o ICQ363.
A tese d dee Reid3
Re id36 64 con
confirm
firmaa no
nossa
ssa hipótes
hipótese, e, m ostra
ostrandondo qu quee os
 paa rt
 p rtic
icip
ipaa n te
tess se b e n e f ic
icia
iam
m d a fa
falt
ltaa de p ro
roxx im id
idad
adee g e o g rá
ráfi
ficc a p a ra
criar algumas comunidades alternativas através de palavras escritas,
onde o contato físico não é primordial. Os chats podem ser vistos
como um umaa forma d dee agregação (podendo ser comunitária)
comunitária),, de caráter
global e mundial, na m edida em que os parti participant
cipanteses elaboram meca-
nismos de controle sociais que vão ajustar os problemas postos por
esse novo media media   (a netiqueta,
netiqueta,   por exemplo). Como mostra a FAQ
sobre IRC, enconencontrada
trada na Usenet
Usenet,, “o IRC ganhou fam a int intern
ernaciacioo
nal durante a guerra do Golfo Golfo em 19 1991
91,, onde notícias
notícias de todas as as  
 pa
 p a r te
tess d o m u n d o cheg
ch egaa vam
va m a tra
tr a vé
véss d o s fio
fi o s , e m u ito
it o s u su
suáá rio quee 
ri o s qu
estavam
estav am online ao m esmo tempo tempo podiam discutir sobre estas no tíci
as.. O IRC teve um uso similar durante o golpe contra Boris
as B oris Ye Yelt
ltsin 
sin
em setembro de 199 3, onde usuários do IRC, desde Moscou, davam  
1993,
relatoss a
relato aoo vivo sob
sobre
re a situ
si tuaa çã o ”365.

162  C IB
I B ER C U L T U R A , T EC N O L O G I A E V I D A S O C IA
I A L N A C U L T U R A C O N T EM P O R Â N EA •
 

Cibercafés

Um outro exemplo de agregação a partir das redes telemáticas


são os cafés eletrônicos ou cibercafés. O primeiro café eletrônico é
fundado por Kate Galloway e Sherrie Rabinowitz, em 1984: o Café
Internacional Eletrônico,
E letrônico, na ocasião das Olimpíadas de Los Angeles. A ngeles.
Segundo Nestel, eles criaram “um evento eletrônico visando ligar  
vários
vári os bai
bairros,
rros, simb
simbolizando
olizando etnias difer
diferentes
entes —uma
—uma redredee com obobje
je
tivo de
d e de
destr
struir
uir as fro nt
nteir
eiras
as entre ooss g u et
eto
o s”
s”3
366.
A agregação
agreg ação eletrôn
eletrônica,
ica, da qual falávamos,
falávamos, encoencontra
ntra me
meio
io de for-
mação neste bistrô real e eletrônico ao mesmo tempo. Os primeiros
cibercafés eram lugares “alternativos de manifestações artísticas, de  de  
interação
interação cult
cultural
ural,, de deba
debatestes de idé
idéias
ias..
.... Eles são,
são, também, fre
frequ
qu en
tementee lugares nômades
tement nômades,, animados p o r tribos vi virtuais
rtuais que se enco
encon n
tram no tempo de um acontecimento ou performance, uma  
videoconferência
videocon ferência ou qua
qualqulquer
er outra m
manifesta
anifestaçãoção te
tecn
cno-c
o-cultu
ultura
ral”
l” 361.
Os antigos cafés surgi
surgidos
dos na Europa utilizam o espaço de d e socia-
lização habitual para expandiremse em direção a um modo virtual
onde as pessoas podem comunicarse umas com as outr
outras.
as. Aqui, m is-
turamse relação face a face e relação mediada por computadores.
 No s aatu
 Nos tuai
aiss ccib
ibee rc
rcaf
afés
és po
pode
dem
m os een
n v ia
iarr em
emaa il, n a v e g a r no ccib
ibee re
resp
spaa ço
e participar de de videoconferências
videoconferências.. Mais um espaço d daa vida quotidiana
expandese, aumenta a sua realidade, com a entrada em jogo de
tecnologias telemáticas. Os lendários lendários cafés entram na cibercu cibercultura
ltura e
abrem suas portas e janelas eletrônicas para o mundo. O conceito é
muito simples e constitui uma prova do acoplamento das novas
tecno
tec nolog
logias
ias cocommav vida
ida q
quo
uotid
tidia
iana
na3368.
Os cafés tomaram
toma ramsese populares no princípio do século em Vie-

na, Pari
Pariss e BBerli
erlim,
m, com
como o um lug
lugarar so
socia
ciall pprivil
rivilegiado
egiado p para
ara conh
conhecer
ecer
 pess
 pe ssoa
oas.
s. O s c af
afés
és sã
são,
o, ai
ainn da ho
hojeje,, lug
lu g a r de gegen
n te c o m u m , b oê
oêm
m io
ios,
s,
artistas e intelectuais. Todos buscam uma atmosfera cujo pretexto é
ler o jorn
jornal,
al, eescrev
screver
er uma carta ou somente conv conversar
ersar um pouco.
p ouco. Este
conceito foi exportado para de outros outros países como a Inglaterra,
Ing laterra, EUA
ou Canadá. H oje os cibercafés são a atualização do conceito co nceito m moderno
oderno
de cafés. Exist
E xistem
em m ilhares de destes
stes esp
espalha
alhados
dos p pelo
elo m unundo
do3 369.
 Naa Fr
 N Fran
ança
ça o ccon
oncei
ceito
to foi intr
introdu
oduzido
zido po porr Fre
F red
d Fo
Forerest
st no cocome
meçoço
dos anos 90, o Café Elect
Electronique
ronique d  dee Paris3
P aris3770, uma exexpe
periê
riênc
ncia
ia intine
intinerante
rante,,
diferente dos cibercafés de hoje, que limitamse a oferecer conexão à• à•

• A N D R É LEM O S 163
163
 

internet
internet.. Entretanto,
Entretanto, o conceito j á se desenvolvera com  Le Less JJar dinss du  
ardin
itel,  criado por
 Minitel,
 Min po r Cécile Alvergn
Alvergnat,
at, em 1987
1987 no bairro de Montpamasse,
M ontpamasse,
um “lugar púb
público
lico em um lugar si
vés do consumo ded e um
uma
simpático
mpático onde se interconec
a bebida ou a
ali
liment
interconectam,
tam, atra
o, a materialidade do corpo  
mento,
com a virtual
virtualidade
idade do espaço-tempo eletrôni
eletrônico
co ”m .
• • •

Para concluir,
concluir, podem
podemos os dizer que a idéia de comunid
com unidade
ade é, em
 pri
 p rim
m eiro
ei ro luga
lu gar,
r, u m a noç
no ç ão m oder
od erna
na,, uma
um a inve
in venç
nção
ão d e m o d e rnid
rn idaa de.
de .
Só quando aparece
aparec e uma forma de organização soc social
ial nova (a socieda-
socieda -
de moderna)
m oderna) é que o modelo prévio (a comunidade)
comu nidade) podepo de ser posto à
luz,, em contraposição.
luz c ontraposição.
O pensam ento social do século XIX vai desenvolve dese nvolverr uma teoria
da sociedade
socieda de que não está baseada na lei lei natural
natural (corporações,
(corporaç ões, fam í-
lia,
lia, guil
guildas,
das, comunidade).
com unidade). A modernidade cria o conceito de comu comuni- ni-
dade para rejeitála enquanto projeto de sociedade. Neste sentido, a
comunida
com unidade de significa
sign ifica um conjunto
con junto social
social primitivo
primitivo ou religioso, onde
 pre
 p redd o m ina
in a u m p roje
ro jeto
to c omu
om u m (um
(u m a cer
c erta
ta posi
po sitiv
tivid
idaa d e u tóp
tó p ica
ic a ), um
umaa
aderência à proximidade física e de formas formas de comunicação
comunicaç ão com pou-
ca ou inexistente mediação. É esta noção de comunidade, em sua
conotação moderna, que torna incompreen
incompreensíve
sívell a efervescência
efervescê ncia co-
co -
munitária
mu nitária das agregações.
Comoo frisamos,
Com frisamos, embora
em bora nem todas as as agregações sejam comu-
com u-
nitárias (existem
(ex istem listas que são, outras não, assim com
comoo chats, BBSs...),
BB Ss...),
as comunidades
comun idades no ciberespaço são, hoje,hoje, uma realidade. A aderência
aderênc ia
eletrônica, sem substituir o face
face a face físico,
físico, pode ser verificada
verificad a no
ciberespaço.
cibere spaço. Aqui,
A qui, o projeto
projeto comum, entendido na modernidade como com o
o compromisso
com promisso político,
político, com suas metas específicas
específicas de acordo
aco rdo com
um projeto
corado global,
nte.transformase
no presente.
prese transforma se na
O sentimento
sentimento busca de interesses
de aderência exclusivacomuns,
exclusiva ppassa an-
a n-
assa a per-
m itir múltiplos pertencimentos, onde o indivíduo
indivíduo pode naveg
n avegarar de um
grupo a outro.
D a mesm a forma, a noção de territoriali
territorialidade
dade não é, nas agrega-
ções eletrônicas, física. O constrangimento geográfico não é mais
determinante para a formação comunitária,
comunitária, embora algumas com uni-
dades não eletrônicas sejam também comunidades
comun idades sem territoriali
territorialidade
dade
física (as religiões dos livros sagrados, os judeus
jude us até o fim da 2a G uer-
ra, a comunida
com unidadede acadêmica,...).
acadêmica,...).
Graças às novas possibilidades abertas pelas tecnologias

164
164  C IB
I B ER C U L TU
T U R A , T EC N O L O G I A E V I D A S O C IA
IA L N A C U L T U R A C O N T EM P O R Â N EA •
 

telemáticas, comunidades planetárias podem formarse


fo rmarse a partir
p artir de in-

teresses comuns
teresses comu ns e gostos compartilhados. A relação é, neste sentido,
mais empática que contratual. Vemos, assim, crescer sob os nossos
olhoss uma
olho um a ética da estética eletrônica
eletrônica que m ostra que, na cibercultura,
a dimensão social agregadora é um dos fatores mais importantes de
seu desenvolvimento.•
desenvolvimento. •
• A N D R É L E M O S | 16
165
5
 

C apítulo   III
R  e a l i d a d e   v i r t u a l
 N e st
 Ne stee c a p ít
ítuu lo,
lo , va
vamm os m os
ostr
traa r a e v o lu
luçç ã o e o s im p a c to
toss (p
(poo
tenciais e futuros) da emergência
emergê ncia das tecnologias da realid realidade
ade virtual
(RV)
RV).. Em um primeiro mom momento,
ento, mostraremos a história da reali realidade
dade

virtual com o dispositivo técni


virtual técnico.
co. Em seguid
seguida,
a, as gerações da interface
interface
homemcomputador.. Util
homemcomputador Utilizar
izaremos
emos um exemplo a p artir de um quadro
de Van
Van Gogh. F Finalmente,
inalmente, vam
vamosos concluir com umumaa crítica ao vir
virtual.
tual.

 A cons
co nstru
truçã
ção
o d e um m un
undo
do virtu
virtual
al

O acesso ao que chamamos de RV se faz, hoje, através de


 pró
 p róte
tese
ses:
s: d e ca
capp a c e te
tess c o m óc
ócul
ulo
o s e so
sons
ns e s te
tere
reo
o s có
cópp ic
icoo s, luva
lu vass de
dados (data glove ) e mesmo roupas (data suits), através dos quais o
corpo faz interface
interface com um com putador que produz, em tempo real,
as imagens e as interações. O sistema gera um m mundo
undo tridimensional
onde podemos
podem os modificálo pela interaç interação
ão direta e corporal
corporal.. Esta, como
veremos, dividese
divides e em navegaç
navegaçãoão e iimersão.
mersão.
A realidade virvirtual
tual nasce de pesquisas militares para construção
l  de sim uladores de vôos p para
ara práticas de pilotos. O qu e perm itiu a
construção de d e dispositivos de RV foi a conve convergência
rgência tecnoc
tecnocientífica,
ientífica,
isto
isto é, a confluência da ciência da com computaç
putação,
ão, da neurologi
neurologia, a, da psi
psi
, cologia e da ótica. A RV nasc nasceu eu em centros de pesq pesquisa
uisa científicas e
ll  militare
 militaress no fim dos anos 70 70..
A partir
pa rtir dessa idéia, Morton Heilig cria o Sensorama em 1962.
O Sensorama perm itia aaos os usuári
usuários os passear por uma M anhattan vir-
tual com uma motocicleta. O usuário, sentado em uma motocicleta
estacionária, fica olhando para uma tela onde vão desfiland o imagens
 pode
 po dend
ndo,
o, ao m esesm
m o ttem
empo
po,, e sc
scut
utaa r ruí
ruído
dos,
s, se
senn ti
tirr od
odoo re
ress e v e r a ccid
id a -
de. Ne
Nesta
sta experiência não havia imersão, com como o nos futuros disposdispositi-iti-
vos de RV.
Doug las Elgelbart é um pioneir pioneiro o da informática e um dos pri-
meiros cientistas a se preocupar quanto ao futuro da relação ho-
mem computador. No meio do século XX, ele insistia na possibili

166
166  C IIB
B E R C U LT
LT U R A , T E C N O L O G IA E V I D A S O C I A L N A C U L T U R A C O N T E M P O R Â N E A •
 

dade de construir máquinas


máquinas quejjode riam agir como “amplifi
“amplificado-
cado-
res da m ente” (min d amplifiers).
amplifiers). E le estava construindo a noção de
interface, passo importantíssimo
importantíss imo para o desenvo
desenvolvime
lvimento
nto da R
RV
V, com o
vimos anteriormente.
 Nee s te p e rí
 N río
o d o , o u tro
tr o in v e stig
st igad
ad o r, o J .C .R L ic ickk li
lidd e r, t r a b a -
lhava no laboratório PARC /Xe /Xeroxrox uti
utilizando
lizando modelos matem áticos
 paa ra e n t e n d e r as b a s e s d a a u d içã
 p iç ã o h u m a n a . P a r a e l e , a RV d e v e r ia
formarse no aprofundamento da noção de simbiose. Assim , as teo-
rias de Eng elbart
elba rt e Licklider, a ssaber aber,, interatividade e ssimb imb iose, vão
ser as bases para os desenvolvimentos futuros de dispositivos
tecnoló
tecn ológico
gicoss d e R RVV.
Em 19 196565 IIvan
van Sutherland, do Lincoln Laboratory, desen desenvolvia
volvia
os primeiros sistemas interativos gráficos. Sutherland tentou usar a
noção de Licklider de “íntim “íntimoco oco ntato” entre o pensamento hum ano e
os computadores, buscando a imersão dos usuários. Em 1966,
Sutherland e alguns colegas realizaram realizaram as primeiras experim entações
com HMDs (Head M ountad Display), Display), financiado pela Harvard, Ha rvard, ARPA
e a M arinha Americ
Americana.
ana.
Os pro jetos de RV cristalizaramse, no entanto, ano s m ais tar-
de, no Centro de P esquisa da NASA , em M ontain Vi View
ew,, na metade
dos anos 80
80.. Com Scott Ficher, a NA SA foi a prime primeira
ira instituição a
lançar a exploração p ública da realidade virt virtual
ual e ab rir o complexo
industrialmilitar para a nova era das tecnologias do virtual
virtual.. Mas fo
foii
o kit RB2 (re
(reali ty b uild fo r two   real
ality realidade
idade constr
construída
uída para dois)
que p opula
opularizou
rizou a R RV
V.

O RB2
R B2 foi cri
criado
ado na empresa VPL, de Jaron Lam Lamier,
ier, um perso-
nagem m ítico, matemáti
matemático,
co, músico e expert em infor
informática,
mática, e Thomas
Zimm erman (o inventor das lu luvas
vas de dad
dados).
os). A V PL lança no merca-
do o primeiro sistema comerciali
comercializável
zável com capacetes e luvas luvas,, permi-
tindo a duas pessoas compartilharem
compartilharem um unive
universo
rso de imagens de sín-
tese. Desde então, as tecnologias da RV encontraram várias aplica-
ções: cozinha
cozinh a virtual (Matsushita), si
simuladores
muladores os mais dive diversos
rsos (pi-
lotos,
loto s, design, entret
entretenimento,
enimento, como o Battletech
Battletech C Center
enter em Chicago
ou m esmo cirúr
cirúrgico,
gico, com o o cadáver vvir
irtua
tuall da N ASA , VP L e o Cen -
tro Médico de Stanford).
Stanford). N o ent
entanto,
anto, não exexistem,
istem, ainda hoje, expe-
riências
riênci as em larga escala, a não ser algun
algunss jogo s eletr
eletrônicos.
ônicos.
O potencial da realidade virtual como meio de comunicação
existe, mas ainda está longe de ser um fato de impacto m massi
assivo.
vo.••

• A N D R É L E M O S | 16
167
7
 

 Açã
 A çã o na RV:
RV : im ersão
ersã o e navegação

A RV é um ambiente simulado que permite interações, onde on de os


usuários recebem estímulos corporais. O corpo real migra para um
mundo de pura pu ra informação. Assim, as tecnologias
tecnologias da RV nos permi-
tem, não só olhar olh ar uma paisagem, por exemplo, mas experim expe rimentar
entar uma
interação tátil,tátil, como se estivéssemos dentro de um novo mundo. m undo. ComoCom o
nos explica Rheingold, “enquanto o cinema mostra a realidade ao  
 pú
 p ú b lic
licoo , o c ib
iber
eree sp
spaç
açoo dá um co corp
rpo
o vir
virtua l, um p a p e l a c a d a um. A 
tual,
imprensa e o rádio falam eatro e o cinema mostram, o ciberespaço  
fala m , o tteatro
incorpora
incorpor a ( ‘em
embod ies ’) ”372.
bodies
É, exatamente, a noção paradoxal de incorporação que vai ca-
racterizarr a RV
racteriza RV. A realidade virtual
virtual propo
proporciona
rciona uma experiên
e xperiência cia cor-
 por
 p oral
al a tr
traa v és da supr
su pree ssão
ss ão m e sma
sm a do
d o ccor
orpp o fís
f ísic
icoo e da
d a dis
d istâ
tânn c ia g e o -
gráfica. Estas noções, aparentemente contraditórias, de sensação e
ausência de corpo, criam o conceito de telepresença, cunhado por
Marvin Minsky
M insky em 1979
1979,, definido
definido como a supressão,
supressão, através de me-
diações tecnológicas, da distância e da fronteira física física..
Entende
Ente nderr a RV
RV nos obriga a levar em conta dois elementos
elem entos fun-
damentais
dam entais da telepresença:
telepresença: a idéia de imersão e a de navegação. Estas
duas noções são ligadas ao modo pelo qual interagimos
interagimos com co m o mundo
simulado, construído por imagens de síntese síntese em três dimensões.
dimen sões. Po-
demos dizer
d izer que a navegação e a imersão
imersão são formas de interação
interação e
comunicação em um m mundo
undo virtua
virtual,
l, assi
assimm como o são em nosso mun-
do físico, relação aberta ao mundo através do corpo, como mostra a
feno
fe nom
m enolo
en ologia
gia de M erleau
erlea u Pon
P onty3
ty3773.
Através da imersão podemos nos sentir parte deste mundo, mun do, sen-
do este o sentimento de pertencimento a uma realidade. realidade. Já a navega-
nav ega-
ção é a forma como nos deslocamos nos mundos de síntese. Assim,
em um mundo simulado (uma molécul molécula, a, uma cidade, uma casa, uma
cozinha), a imersão permite
perm ite que tenhamos o sentimento de estarmos estarmo s
dentro de um universo. Já a navegação é a sensação de no noss deslocar,
de poder
pod er olhar a partir de outras perspect
perspectiva ivas,
s, de tocar
toca r e mesm o mu-
m u-
dar o curso
cu rso dos acontecimentos.
acontecimentos. A navegação
navegação é o trajeto
trajeto pelo fluxo
fluxo
da informação.
Foi precisamente esta qualidade da ação de imersãonavegação
 poo r univ
 p un iver
erso
soss virtuais
virtu ais que
qu e inspi
ins piro
rouu artistas
artista s como
com o Myro
My ronn Kru
K rueg
eger
er3374, um
dos primeiros a realizar experiências
experiências de RV
RV e analisar
a nalisar as consequências
conseq uências

 
168 | C IB
IB E R C U L T U R A , T E C N O L O G I A E V I D A S O C I A L N A C U L T U R A C O N T E M P O R Â N E A i
 

de seu valor artísti


artístico.
co. Krueger
Krueg er propõe que a realidade virtual deva ser
 pee n s a d a , e d e v a s e r c o n s tru
 p tr u íd a , c o m o u m a m b ie n te d e r e s p o s ta
(responsive environment), baseado em interações em em tem po real.
real. Es-E s-
ses ambientes podem ser grandes laboratórios para experiências em
educação, psicologia e arte. Explorada por artistas, a RV é a última
conseqüência da evolução tecnológica nos sistemas informatizados,
trazendo
trazend o inovações
inovaçõe s radicais nas formas de interatividade e de interfaces
homemcomputador.

 A g er
eraç
ação
ão d e Interfaces

Em setembro de 1988, John Walker, criador da empresa


Autodesk, circula um artigo intitulado Throught the Looking Glass, 
 pro
 p rop
p o n d o u m a tax
ta x ino
in o m ia fun
fu n d ada
ad a nas
na s form
fo rm as d e inte
in tera
raçç ão e n tr
tree os
usuários e os computadores. Para ele há cinco gerações de interface.

A primeira
prime ira nasce no no fim dos anos 40 com os primeiros compu- com pu-
tadores eletrônicos. A interação com a máquina se dava através da
 pro
 pr o gram
gr am ação
aç ão,, c o nstit
ns tituí
uídada,, ness
ne ssee m omen
om entoto,, d e um a rrrran
anjo jo de c o n e -
xões entre cabos e  p  plu
lugg s .  A segunda geração surge nos anos 50, a
 paa rt
 p rtir
ir da
d a inte
in terf
rfac
acee co
c o m cart
ca rtõeõess perf
pe rfur
urad
adosos.. O s an
a n os 6 0 cri
c riaa m a terc
te rcee i-
ra geração, com a técnica do tempo compartilhado ( time sharing ),
 per
 p ermm itind
iti ndoo prog
pr ogra
ramm a r a máqu
má quin inaa atra
at ravé
véss de com
co m ando
an doss impu
im puta tado
doss pelo
pe lo
teclado e visualizados através de monitores. A utilização utilização de d e janelas,
jane las,
menus p  po up , on
o p up,  onde
de o usuário seleciona e executa execu ta tarefas, é a caracte-
rística principal da quarta geração. Será o paradigma do apontar e
clicar,
clica r, a interface gráfica conhecida como ARCPARCM A RCPARCMAC, AC, que vai vai
caracterizar
caracteri zar a quinta
q uinta geração no desenvolvimento
desenvolvimento do diálogo homem homem 
máquina.
máquin a. Com um mouse  e um apontador ap ontador (seta),
(seta), a interatividade pas-
sa a simular o movimento da mão m ão (emblematicamente
(emblematicamente nos browsers  
aparece o íeonetle uma mão apontando o dedo indicador sobre os
links)   tocando « informação, agora visualizada sob a forma de um
ícone gráfico (pastas, lixeiras lixeiras,, fax...).
fax...). Entramos aqui na m anipulação

direta da informação.
A realidade virtu
virtual
alé
é,, atualment
atualmente,
e, oijltimop
oijltim opass
assop
oparea
area tmeisã
tm eisão
o
total. Através de um capacete estereoscópico, luvas ou roupas de da-
dos (datasuit ) podemos nos mover,
mover, escutar e tocar
tocar um mundo simula-
do em imagens digitais, atualizadas
atualizadas em tempo real por
po r computadores.
Aqui atualizamos o desejo, presente
presente no imaginário social,
social, de construir
con struir••

• A N D R É L E M O S | 169
 

novoss mun
novo mundo
dos.
s. A era ind
ndus
usttrial
rial,, já h a v ia fe ita is to s o b re a na
nattur
urez
eza.
a.
Agora, com a natureza já dominada, pa parti
rtimos
mos em direção à construção
de mundos
m undos simul
simulados.
ados. Hoje, com o desenvolvimento da realidade virtu-
al, a evolução do diálogo homem
homemcompu
computador tador va
vaii levar a interati
interatividade
vidade
a um
u m nível onde as frontei
fronteiras
ras parecem ser cad cadaa vez meno
menoss níti
nítidas.
das.

Mergulho nas imagens: /es soulier s aux llaeets


aeets de Van Gogh

 N o sim
 No simpó
pósio
sio oi
oiga
ganiz
nizadado
o eem
m m aio
ai o d
dee 1993 ppel
elaa Es
Esco
cola
la Na
Nacion
cional
al
Superior de Belas
B elas Artes da França, cujo tí título
tulo era “A obra de arte na era
de sua realidade
realidad e numérica”, Edmond Co Couchot
uchot mostrou a ruptura radical
radical
em nossas construções (e nossas percepções
percepções)) das imagens com a entrada
em jo
jogo
go da técnica digi
digital
tal.. Com o dig
digit
ital,
al, podemos tratar a imagem mate-
maticamente, controlando ponto a ponto. Para Couchot, com a

digitalização
digitali zação das imagens, a representação do objeto tomase mais im-
 po rtante
 porta nte qque
ue o ob
objeto
jeto,, seu sim
simula
ulacro
cro é ma
maisis o
ope
perati
rativo
vo q
que
ue o o
obje
bjeto
to real.
Ainfografia cria imagens smtétieas (imagens de sínteses) que
são, de certo modo (em relação à fotografia, ao cinema e ao vídeo),
independentes de um objeto ori original
ginal.. Com
Como o mo
mostra
stra Cou
Couchot,
chot, o vídeo,
a televisão,
televisão, o cinema e a fot fotografia
ografia produzem imagens
imagens,, com possibili-
dades mais ou menos
m enos alargadas de manipulação, mas sempre partindo
de um objeto
o bjeto mmaterial
aterial ori
original
ginal:: o modelo do fotógrafo ou o cenário e
os atores na TV, no cinema e no vídeo. Estes media   estão, assim,
intrinsecamente
intrinsecame nte ligados a um objeto original original (aquele que está na ori-
gem da imagem)
im agem) criando um sentido de correl correlação.
ação.
Com as image
magens ns vntna
vn tna is não há
há,, necessar
necessariament
iamente, e, um objeto ori
ori-
-
ginal a ser represen
representado,
tado, mas apenas fórm fórmulasmatemáticasealgorrtw
ulasmatemáticasealgorrtwios, ios,
lidos
lidos «t
«tra
radu
du zi
zido
do s porcompu
porcomputado tadores.
res. Vam
Vamos os a um exemplo. Tomemos
o quadro Souliers aux Laeets,  pintado por Van Gogh em 1886. Este
quadro impressionista
im pressionista mostra um quart quartoo com um velho par de sapatos
 jog
 jo g a d o s no c h ã o 375. Vamos
Vam os aago
gora
ra digi
di gita
taliz
lizar
ar h
hip
ipot
otet
etic
icam
amen
ente
te o q
qua
uadr
dro.
o.
Sendo assim, a imagem
imag em passa a ser traduzida
traduzida por abstrações ma matemáti-
temáti-
cas, determinada ponto a ponto por  pix  pixel s-..  Os sapatos sintéticos são
els-
constituídos a partir
pa rtir de novas virtuali
virtualizações
zações (agora digitais) do sapato
real.
real. O quadro digit
digital
al nos pe
permite
rmite tirar toda a m materialidade
aterialidade do quadro,
 pode
 po dend
ndo
o a ss
ssim
im se
serr esto
es toca
cado
do,, dup
d uplic
licad
ado,
o, tra
trans
nsmimitid
tido.
o.
Se pensarm os na absurda possi possibili
bilidade
dade de rasg ar o quad ro de
Van Gogh, e ste estaria para sempre perdido. Não há possibilidade

170  C IB
I B ER C U L T U R A , T EC N O L O G I A E V I D A S O C I A L N A C U L T U R A C O N T EM P O R Â N EA •
 

de reverter o tempo e restabelecer o quadro original. Na obra digi-


tal
al,, no entanto,
en tanto, o qua quadro
dro não existe materialmente porqu porquee é coloca
do em uma m emória eletrõnicaTm form a dedados dedadosbinár
binários.
ios. Is Isto
to
 pee rm it
 p itee d r ib la r o te
temm p o e c o p ia
iarr ao in
infi
fin
n it
itoo a im a g e m . N o p ro
rocc e ss
ssoo
numérico, a última cópia é também, em certo sentido, o original.

Com o quadro
quad ro real (a iima
magem
gem analógica), a cópia é se semp
mprere a cópia,
uma analogia da analogia.
Transformaremos agora o quadro de Van Gogh em um mundo
virtual em 3Ds Neste (novo) ambiente virtual, a imagem passa a ser
tridimensional. Antes víamos o quadro à distância. Agora estamos
nele. O quadro em RV nos permite penetrar o ambiente (o quarto),
olhálo por diversos ângulos, ver os detalhes dos sapatos, tocálos e
mesmo, quem sabe, calçálos, tudo em tempo real. A cada gesto, te-
mos uma reação dinâmica gerada pelo sistema computacional. Este
simula objetos e o ambiente pintado pelo gênio holandês (o quarto, a
cama, o chão, o teto, a janela, o mundo* lá fora, os sapatos, etc.).
 Nãã o som
 N so m ç s m ai
aiss ob
obse
serv
rvad
ador
ores
es m a ra
ravi
vilh
lhaa do
doss co
comm a o br
bra,
a, ma
mass
agentes clentro da obra, navegadores, exploradores, atores (Brenda
Laurel)) em um mar de dados. Podemos interagir e ter uma expe
Laurel experiên-
riên-
cia diferente daquela de olhar o quadro em um museu, por po r exemplo.
Temos,
Temo s, assim, um
umaa verdad
verdadeiraeira experiência (e não u uma
ma ilusão), já que
estamos lidando com sensações corporais eestabelecidas
stabelecidas eentre
ntre o nosso
corpo e os objetos e am
ambientes
bientes simulados:
simulados: pode
podemos
mos sentir resistênci-
as, peso, texturas... Nesses espaços, podemos ver, ouvir e tocar coi-
sas que não podemos normalmente experienciar, com por exemplo
tocar em molécula
moléculass ou part
partícu
ículas
las,, bater em um tambor de 50 km de
diâmetro, ou andar
a ndar em u
uma
ma catedral gótica desaparecida...
Lon ge de ser um
Longe umaa ilusão
ilusão o
ou
u um un
universo
iverso oposto ao real, o virt
virtu-
u-
al,, que adjetiva a ex
al expressão
pressão R
RVV, incorpora e está ancora
ancorado
do eem
m sensa-
ções reais. O virtual não é oposto ao real.

 V irtu a l

Para Pierre Lévy, o virtua


virtuall pode se
serr entendido com o um proces-
so de questionam ento, de descolamento do “aqui e ag agora”
ora” . Podem
Podemos
os
dizer,
dizer, assim, que tod
todaa forma de leit
leitura
ura (int
(interpretação)
erpretação) é u
umm proc
processo
esso
de virtualização
virtualização e, na direção opost
oposta,a, toda forma de escrita é um p ro-
cesso de atualização. O processo de virtualizaçãoatualização com

 p õ e to d a re
 põ reaa lid
li d a d e e tod
to d a e x p e ri
riêê n c ia e, n e st
stee sen
se n ti
tidd o , a rea
re a li
liddad e é
constituída no processo interminável
interminável de atuali atualizações
zações e virtual
virtualizações
izações
sucessivas. René Berger mostra bem que “o “ o que é realizado, logo  logo  
atual,, p as
atual assa
sa pel
p ela a fina lizaçã
liza ção o do que está suspen sus penso so no virtvi rtua l”376, 
ua l”3

sendo
 pa
 pala raeste
s, o “a
lavv ras, a sdinâmica
“po
pos s ív
ívee l de tode
d e todadastodos
s as
a s di
dinosâmpossíveis
n ic
ica  ”377. e, sem jogar com as 
a s  ”3 as  
A palavra
palav ra virtua
virtuall sursurge
ge no princípio
princípio do século de X XVIII
VIII no cam -
 po da
d a ótica,
ótic a, p
par
araa de
descscrereve
verr a im
imagagem
em rref
efra
rata
tada
da e re
refl
flet
etid
idaa d e um o obje
bjeto.
to.
 No
 N o séc
sé c u lo X IX , os fí físi
sicc o s c ri
riam
am o c o n ceceitito
o d e v e lolocc ida
id a d e v ir
irtu
tual
al
(momento virtual) de partículas. O conceito é usado para descrever o
comportamento de partículas subatômicas. Na informática, a palavra
virtual aparece
aparec e nos anos 70, quando a IBM lanç lançaa um produtoconceito
produtocon ceito
chamado
cham ado de memmemória ória vir
virtual,
tual, int
introduzido
roduzido nos seus mainframes.
mainframes. N  N o en-
en-
tanto,, a idéia de realidade vir
tanto virtual
tual desponta,
desponta, comcomo o vimos, com o desen-
volvimento de d e mund
mundos os artif
artificiai
iciaiss formados p por
or imagens de síntese. O
computador, com c omo om máquina
áquina de simula
simulação,
ção, é, por si ssó, ó, uma
um a metamá
quina que, virtualmente, agrega uma enormidade de outras máquinas
ou ferramentas virtuais
virtuais (processador de ttexto, exto, de imagem, de som, som , de
vídeo...). Como propõe Woolley, “cada “cada computador é virtual”37*.
O conceito
conc eito de virtual
virtual,, no seu sentido
sentido telemático ou informático,
tem trazido à baila questões relativas relativas à desrealização da experiên ex periência cia e
o medo correlato
co rrelato da perda de con
contato
tato com o real. Para J. Larnier, os
sistemas de RV estimulam a experimentação. A representação do
mundo sempre é uma recons reconstit
tituição
uição e se
sempre
mpre uma construção de rea-
lidad
lid ade3
e37
79. O si
sign
gnific
ificad
ado
o do mu
mundo
ndo não está nas co
coisas,
isas, mas e ntre
ntr e elas,
na relação. A percepção da realidade, e a identificação do que esta
seja, se dão, nnão
ão nas coisas do mu
mundo,
ndo, mas no que está entre
en tre elas, nas
formas de percepção e interpretação dos eventos do mundo. O esta-
tuto do real não é nada evidente.*
A física do século de XX não reconhece a realidade como com o algo
desvelado por um observador neutro, objetivo e racional. O próprio
ato de observaç
obse rvação ão cria a real
realidade.
idade. A física contemp
conte mp orânea
orâne a relati
relativiza,
viza,
 po
 p o rtan
rt anto
to,, a cco
o n c e p ç ã o (n
(new
ew to
tonn ia
iann a) da re
r e a li
lidd ade
ad e . C o m o ale
a lert
rtaa Jac
J acoob,
“nosso equipamento
equipam ento sensorial nos perm permiteite v er se um tigre pe penetra
netra no no 
nosso quarto. Ele não nos permite perceber a nuvem de partículas  partículas  
que os físico
físi co s afirmam constituir a realida realidade de do tigre  ”.. 380
tigre ”
Podem os dize dizerr qu quee a reali
realidade
dade é um consenso mais ou menos

estável, produto de virtualizações


virtualizaçõe s e atualizações sucessivas. Nã
Nãoo é só

172  C IIBB E R C U L T U R A , T E C N O L O G IA E V ID A S O C IA
172 IA L N A C U L T U R A C O N T E M P O R Â N E A i
 

a idéia de virtual que é estranha estranha mas, como m ostra J. Lam ier, a pró-
 pri
 p riaa id
idéé ia d
dee re
reaa li
lidd ad
adee ta
tamm b ém o é . O  que identificamos
identificamos co
como
mo rea
realida-
lida-
de é conseqüênc
con seqüência ia de condiçõe
condiçõess hist
históricas
óricas específ
específicas,
icas, de uma p er-

cepção particular
pa rticular do tempo e do espaço, da natureza e do art
artifí
ifício,
cio, da
vida e da morte. A realidade, ou aquilo que tomamos por real, pode
ser vista com o o ciberespaço de Gibs
Gibson,
on, como uma forma de “aluci-
nação consensual” produzida e mantida por um consenso (mais ou
menos temporário).
Todas asas tecnologias
tecnologias,, como afirmou
afirmou MMcLuhan,
cLuhan, com plexificam
nossa visão do mundo. A escrita, a imprensa, o carro, os satélites, o
telefone, o rádio, a televisão, e assim por diante, são tecnologias e
complexos tecnológicos que mudaram para sempre o modo de vida
ocidental. A realidade virt
ocidental. virtual
ual se enquadra bem nesta n esta perspectiva. Ela
 perm
 pe rmit
itee p
poo r em jo
jogg o co
conv
nvic
icçç õe
õess e cco
o m p lex
le x if
ific
icar
ar n o s sa v isã
is ã o d
doo m un-
do. Nesse sentido, “a tecnol tecnologia
ogia pode
pod e nos da r mais da realidade realidade do 
quee a natureza”m
qu natureza”m .
O verdadeiro
verdad eiro problema é não dizer que ttudo udo será virtualizado e
que, por isso, vamos perder a senso da realidade, mas apontar com
um dedo arrogante o que éé,, ou o que deve ser “A” realidade. Sabemos
que todos os totalitarismos e atrocidades da humanidade foram co-

metidos em nome e d
metidos defesa
efesa de uma real
realidade
idade única, que deveria ser
imposta a uma outra, supostamente falsa ou perigosa. Como mostra
Jacob, (...) “nada é mais perigoso que a certeza de ter razão. (...)  
Todo
To doss os massacres fora
fo ra m cometidos pela virtude n om e de uma  
virtude,, em nom
religião verdadeira, de um nacionalismo legítimo, de uma política  
nea, de uma ideologia justa...  ”
idônea,
idô  ”..382•

• ANDRÉ LE
LEMOS   173
MOS
 

C a p í t u l o   IV
C o r p o   e t e c n o l o g i a

Cibersexo

I’m currently in Amsterdam and found this postcard


which I think is very funny.
funny. Maybe
M aybe you all know it, maybe
it’s got nothing to do here, maybe you don’t like it, but I
think it adds a short smile to the topic...
It’s plain black and has these words written in white all
over it:
hi earthling,
here I am, a creature
from out o f space
space
I have transformed my self into
this piece of paper 

right now fingers


with your I am having sex
I know you like it
 because you are smiling
 please send me on to someone else or
o r stay with me

 N o w t h a t’s wh at  /  c
 No  caa ll Virtual
Virtua l Sex! P e a c e & L ove
ov e & Fun.
Fun. 
 John
 Jo hnny
ny H a eu sler
sl er  “ J

Como todas as práticas radicais da cibercultura, o cibersexo é


uma apropriação
apro priação dionisíaca das novas tecnologias digi digitais.
tais. Elas pare
pare--
cem, como em todas as práticas sociais da cibercultura, agir como
vetores de socia
socialidade
lidade,, aqui
aqu i reforçados
re forçados pelo erotism
ero tism o38
o384. Não é à toa
que hoje, no ciberespaço, abundam sites X -  pornográfi
porn ográficos,
cos, (pedoffli
cos); chats eróticos,
erótico s, WebCams e, em menor me nor grau, a realidade virtual.
virtual.
Com as tecnologias da cibercul
cibercultura
tura,, o erotismo é um dos principai
principaiss
vetores de apropriação diária das novas tecnologias. As tecnologias
da cibercultura vão agir como formas de propagação dessa Parte  
it a  (Bataille).
 M a ld ita

174  | CIBERCULT
CIBERCULTURA,
URA, TECNOLOGIA E VIDA SOCIAL
SOCIAL NA CULTURA CON
CONTEMPO
TEMPORÂN
RÂNEA
EA •
 

Parece que, com


co m a ampli
am pliação
ação e melhori
m elhoriaa da eficiência das redes
de com putadores, o desenvolvimento
desenvolvimento de tecnologias da realidade vir- vir-
tual vai trazer
traze r ainda grandes possibi
possibili
lidades
dades para a em
emergência
ergência de no-
vas práticas
práticas da sexualidade
sexualidade no novo ambiente
am biente eletrônico.
eletrônico. Não
N ão estamos
falando de ficçã
ficçãocien
ocientíf
tífica,
ica, já que algumas experiências utilizando
utilizando a
internet e a realidade virtual
virtual já foram exibidas.
exibidas.
O que
qu e entendemos porp or cibersexo
cibersexo é hoje popularizado pelos CD
Romss eróticos e os diversos sites na internet
Rom internet com  cha
 chats,
ts, P ee
eep-
p-Sh
Sho ow,
vídeos e imagens
image ns fotográficas.
fotográficas. TraTrata
tase,
se, neste momento
mom ento ao menos,
m enos, de
uma transferência
transferência (como em outras outras áreas) da pornografia da cult cu ltura
ura
de radical,
ou m assa ,para
radical a pornografia
pornografi
a pornografia
pornografi a noaciberespaço
do ciberespaço.
cibere
cibere spaço.
spaço Sem
é m era ser m
muito
uito criati
transposição crdoiativa
va
que
ocorre na sociedade dos  m  mas me dia..  Trata
asss media Tratase se de repetir os mesmos m esmos
chavões
chav ões e estereótipos veiculados pelos vídeos X, pelas revistas im-
 pre
 p ress
ssas
as e p o r rede
re dess d e pro
pr o stit
st ituu ição
iç ão e o u tra
tr a s a ti
tivv ida
id a d es d o gêne
gê nero
ro..
 Noo ci
 N cibe
bere
resp
spaç
açoo há várias
vária s ativida
ativ idades
des eróticas:
erótic as: jogjo g o s intera
int erativ
tivos
os em
CDRo
CD Rom m (Virtual
(Virtual Valér
Valérieie,, p.ex.), sites
sites da internet ou nos serviços de vi
deotexto como
com o o Minitel,
Minitel, grupos de discussão na n a Usenet (alt.sex.
(alt.sex.bondag
bondage,e,
 porr exem
 po ex emplo
plo),), imag
im agenenss e vídeos,
ví deos, divers
div ersasas revista
rev ista eletrô
ele trônic
nicas,
as, C D ÁÁud
udio
io
erótico 3D (como
(c omo Cyborgasm), entre outr outros.
os. Segundo
Segun do Lisa Palac, edito edito
rachefe da revista consagrada ao cibersexo, cibersexo, “Future Sex” Sex”,, de San Fran-
F ran-
cisco, há oibereexo sempre “quando umamáquincrset ve ve de intermediá
 rio entre você
voc ê e uma experiê
experiência
ncia erót
er ótic
icaa ,,yss.
Se analisarmos o cibersexo na internet
internet,, podemos
podem os perceber
perce ber o im-
 pact
 pa ctoo q u e tem
te m o sexo
se xo c o m form
fo rmaa d e apro
ap ropp riaç
ri ação
ão soci
so cial
al d a s nova
no vass
tecnologias.. Nos
tecnologias N os  ch ats , ou na Usenet
 chats U senet por exemplo, a forma de excita- excita-
ção se dá através de palavras digitadas, mas podem utilizar imagens
através de web-cams e também a voz. voz. As pessoas passam suas experiên-
cias,
ci as, ou excitamse
excitam se mutuamente, sob a máscara másca ra do pseudônimo, ou so-
 bree a imag
 br im agemem d o outr
ou troo (que
(q ue q uase
ua se sem
se m pre
pr e não
nã o se
s e d ei
eixa
xa ver
ve r o rosto)
ros to)..
Podem
Pode m os realizar
rea lizar fantasias
fantasias as mais diversas, na tranquilidade do
quarto, estando sós, sem estarmos isolados. Mais ainda, experimen-
tando uma relação erótica com um outro imaginário, mas presente.
 Noo fund
 N fu ndo,o, p o u c o imp
im p orta
or ta quem
qu em seja
se ja o outr
ou tro;
o; e le n ã o p a ssa
ss a d e um
 pre
 p rete
text
xtoo p a ra p rod
ro d uçã
uç ã o d e fant
fa ntas
asia
iass e de erot
er otis
ismm o . C o m o as antig
an tigasas
histórias literárias,
literárias, o sexo em rede é um mundo m undo imaginário,
ima ginário, construído
 pela
 pe lass fan
fa n tasi
ta siaa s e d e sejo
se joss esc
e scoo ndid
nd idoo s d os inte
in tem
m a u tas
ta s q u e s e rev
re v e lam
la m ,
escondendose.••
escondendose.

• ANDRÉ LE
LEMOS
MOS | 17 5
 

Além da relação com um outro, o cibersexo pode ser experi-


mentado também nas páginas Web, nos vídeos e fotos. Aqüi, o
cibersexo é realmente solitário e conservador: buscamse produtos
como aqueles que encontramos nas bancas ou locadoras de vídeo.
Com as Web-Cams  e Peep-Shows  cibernét
 cibernéticos,
icos, a janela
jan ela não é mais o
vidro espelhado
espelha do dos sex-shops,  mas a tela do monitor. Esta perm
p ermite
ite o
voyerismo à distância.
distância.
A facilidade do meio e a possibilidade de ser emissor (novidade
das tecnologias
tec nologias da cibercultura em relação à cultura dos mass media) têm
feito das WebCams
Web Cams um fenômeno mundial.
mundial. Assim o é com o sexo.sexo. Qual-
quer pessoa pode, de sua casa, revelar seu corpo e viver experiências
vigiadas
vigia das por
po r um olhar
olha r onipresente
onipresen te e virtual de toda
to da a hum
h umani
anida
dade3
de3886.
Arealidada virtual será o próximo passo na utilização das
tecnologias digitais para osexo. Graças ao ciberespaço, a tecnologia
da realidade virtual (roupasdeclados, sensores táteis para estimular
zonas erógenas, etc.) vai radicalizar o paradoxo presençaausência
com o sexo
sex o à distancia. Como
Com o nos sistemas
sistemas de realidade virtual,
v irtual, o que
existe, como vimos, é uma sinwlação^dcsensaçõescorporais. O
cibersexo com dispositivos
dispositivos deste
deste gênero é experimentado
experim entado com o uma
forma de excitação erótica à distância por contato corporal. Co Com m com-
co m-
 put
 p utaa d o res
re s unid
un ido
o s p o r m o dem
de m s e linha
lin hass e spec
sp eciaiali
liza
zada
das,
s, m u n idos
id os c om
roupas cheias de d e sensores em lugarlugares
es precisos, e das telas interpostas
interpostas
ou dentro de um mundo virtual completamente simulado, podemos
agir
ag ir à distânc
distâ ncia,
ia, pratica
pra ticand
ndoo a teledildôn
teled ildônicaica3387.
Tivemos a oportunidade de presenciar a experiência de sexo
virtual
virtual à distância (teledüdôm
(teledüdô m ea) no evento Vo Voyagyagee Cybe rnétiquee  em
Cybernétiqu

Paris,
vivenciavam em 1994. e sta Uma
esta simulação pessoa na Alemanha
sexual.
sexual e uma poderíam
. Os participantes outra emParis se ver
 po
 p o r u m a tela. te la. A mulhmu lher er,, que
qu e e sta
st a va em Paris
Pa ris,, via
vi a a imaim a gem
ge m d o seu
se u
 parc
 pa rceieiro
ro,, q ue e sta st a v a n a A lemle m anha
an ha,, e vice
vi cev
ver
ersa
sa.. Pelo
Pe lo inte
in term
rm é d io de
um jo j o y s t i c k , os pa
participantes
rticipantes tocaram,
tocaram , através de uma seta, pontos do
corpo do outro. A parte tocada era sentida à distância pelo parceiro.
Claro que as sensações são, até agora, muito rudimentares, asseme-
lhandose
lhan dose a pequenas
pequen as desc d escarga
arga^elé^elétricas
tricas,, mas o potencial
potenc ial é enormen orm e38
e388.
Os computadores aumentaram muito nossa fascinação com a
 po
 p o ssib
ss ibililid
idad adee d e e x p e r im e n tar ta r nov
n ovas as form
fo rm as d e sex
se x u a li
lidd ade:
ad e: d e sde
sd e a
 po
 p o ssib
ss ibililid
idad adee d e e x p e rim ri m e n tar
ta r p a péis
pé is sex
se x uais
ua is d if
ifee ren
re n tes
te s (nos
(n os chats, 
 Mud
 M uds, s, n e w s g ro rou u p s. ..))  até a excitação à distância com sensações
s... sensaçõe s cor

6   | CIBERCULTURA
176 
17 CIBERCULTURA,, TECNOLOGIA
TECNO LOGIA E VIDA SOCIAL N A CULTURA CON
CONTEM
TEMPOR
PORÂNE
ÂNEA
A•
 

 pa o"rais
 po rainscrição
is com
co m o cda
o msexualidade
a RV3
R V3889. 0 c iber
ib
em erse
sexx o fa
f a z pa
computadores p a rte
rt e dée sse
ss e am
partea mde
b ien
ieuma
n te ond
on de
ten
dência largamente documentada que as pess oass têm de  an
pessoa opom&rr- 
 antt ropom&
tfll r a r e o m p iU m i b r e s  ”
 fttf
 ft  ”3390.
corpo tornase um híbrido,
híbrido, campo de intervenções artifici
a rtificiais
ais com
comoo a
cirurgia plástica, a engenharia genética, as nanotecnologias.
nanotecno logias.
Donna Haraway, como veremos a seguir no capítulo sobre os
cyborgs, mostra que estes têm uma subjetividade híbrida, podendo,
assim,
assim, escapa
e scaparr a uma rigidez identit
identitária.
ária. O cyborg, m metade
etade orgânico,
metade artif
a rtifício,
ício, possui para Haraway uma identidade
ide ntidade parcial e con-
co n-
traditória,
traditória, aceitando a diferença em vez de lutar contra ela. O cibersexo
expõe este corpo cyborg.  A cibercultura
cibercultura revela
revela o desejo
d esejo de junção
jun ção do
corpo biológico com os sistemas tecnológicos digitais, colocando
nos totalmente no cerne
c erne da sociedade informacional (Castells).
(Castells).

Cyborgs

“ No bifocais or trifocals needed here


 Neverclo
 Neve rclosing
sing
 Never sleeping
 Never requiring prosthetics like Oliver People
Pe ople glasses
an eye electronic without myopia or detached retinas
or glaucoma or hardened lenses
Finally liberated from the cosmetology
Of eyelashes and eyebrows
the glint chip eye opens to a 3D world
of artificial life, animated memory, and digital optics
 M a y b e i t n e e d s s o m e a r t i f i c i a l t e a r s .  ” 391
A r t h u r    K r o k e r  

D e Cláud
Cláudia
ia Liz à Michael Jackson, do ffísico
ísico Stephen
Stephen Hawking
Haw king à
vovó com marcapas
marcapasso,so, dos cibemautas da internet aos deserdados da
hemodiálisee de Pernambuco,
hemodiális Pernambuco, do corpo marcado por p or p
 pie
ierc
rcin g s  e tatoos, 
ing
ao piloto que interage pelos olhos com o avião; um mesmo processo
está em jogo: a virtualização e cyborgização
cyborgização da cultura contemporânea.
A profusão ded e equipa
equipamentos
mentos baseados no princípio da informa-
ção, da comunicação e da miniaturização, nos revela, em todos os
momentos da vida quotidiana, a tecnologia onipresente, chegando a
colonizar
colon izar nossos corpos. É a relação íntima entre o orgânico e o ele ele••

• ANDRÉ
ANDRÉ LEMOS
EMOS / 77
 

trônico que pretendemos an alisar aqui


aqui,, já que ela nos ccoloca
oloca em meio
a um a sociedade cyborg onde o humano e o tecnológi tecnológicoco se constróem
mutuamente.
O objetivo deste capítulo é problematizar o lugar do arti artifici
ficial
al
(tekhnè)  e do natural (phusis (phusis)) na cultura contemporânea, tendo no
cyborg um dos mitos extr extremos
emos da cibercu
cibercultur
ltura.
a. A ccultura
ultura e a natureza
só podem ser co compreendidas
mpreendidas em relaç
relação.
ão. Elas não existem com como o en-
ti
tidd ad
adee s p u ra
rass 392.

Cyborgização da cultura contemporânea

A questão da artartific
ificiali
ialidade
dade está present
presentee desde a formaç
formaçãoão do
homem
home m e das primeiras sociedades
sociedades.. Toda formação social se estabele-
ce numa circunscrição (que necessit necessitaa o controle e a transformação)
transformação)
da natureza. A cultura emergente é resultado de um processo de
artificialização da natureza. Serge M oscovici trat tratou
ou desse
dess e assunto no
seu exc
e xcele
elente
nte “L a ssocié
ociété
té ccont
ontre
re n
nature
ature”3
”39
93.
[ O que causa o surgi
surgimento
mento do gênero humano, e sua supremacia
sobree os demais animais, é justam
sobr justamente
ente a possi
possibili
bilidade,
dade, em construindo
a cultura
cultura,, de elevarse acim
acimaa da natureza e para além dela. O processo
de cyborgização contemporâneo nada mais é que a continuação inelu-
tável
tável dessa ordem a parte formada pelo pelo homem
homem,, de sua saída d a natu-
rez a na construção de uma segunda or ordem
dem artif
artifici
icial.
al.
Analisando trabalhos de antropólogos e paleontólogos,
M oscovici mo stra que em nenhuma fase de sua evolução o hom em
esteve dep end ente apenas do orgânico ou do instintivo. A socied a-
de constituise,
constituise, justam ente, na af
afirmação
irmação de sua independênc ia em
relação à natureza (ir
(irracionalidade,
racionalidade, acas
acaso,
o, anim alidade, instintos,
etc.),
etc. ), num a posição de defesa contra as int
intem
em péries do m undo na-
tural.. A s ociedade é, ness e senti
tural sentido,
do, uma contra natureza. A ques-
tão do artificial se descola, assi
assim,
m, de uma possível dicoto m ia com
o natural, pois a sociedade e o homem se for form
m am no p rocesso de
artificialização do m undo. Assim, “o  homem
“o hom em se
sem
maarr te
te,, se
semm té
técc n ic
icaa 

 gee s tu a l e m en
 g enta
tal,
l, n o s é d e s c o n h e c id o ” 394.
O italia
italiano
no Ezio M anzin
anzine3 e3995 mostra, co com mp
precisã
recisão,
o, q
que
ue toda ação
humana se desenrola nos fatos culturais que, por sua vez, têm como
característica
caracterís tica essen
essencial
cial a ar
artificial
tificialidade.
idade. Co Como mo vim
vimos,
os, o artificial é tudo
aquilo produzido pelo hom em e qu e não tem por si mesm o apo apossi
ssibi
bi
178   I CIBERCULTUR
CIBERCULTURA,
A, TECNOLOGIA
TECNOLO GIA E VIDA SOCIAL N A CULTURA CON
CONTEMPO
TEMPORÂN
RÂNEA
EA •
 

lidade de se autoreproduzir (auto-poiètico ) ou de criar um gênero.


Dessa forma,
form a, a história do artifi
artificial
cial e da humanidade coincide c oincide plena-
mente,
ment e, já que “ p
 paa r a o home
ho mem,
m, p r o d u z ir o a r tifi
ti ficc ial
ia l é u m a a ti
tivi dade 
vid
ab so
solu
luta
tamm ente
en te na tura
tu rall ”3
”396.
O  arti
 artificial
ficial,, longe do que
imag
imaginamos
inamos no senso comum,
com um, é pro-
fundamente
fundame nte humano. Isto posto,
posto, a dicotomia
dicotom ia entre
entre o artifici
artificial
al e o na-
tural perde sentido e a questão do cyborg pode ser colocada como
estrutural da própria humanidade e como característica
estrutural característica inegável da
cibercultura.
cibercul tura. É nessa perspectiva que deveremos pen pensar
sar a cyborgização
da cultura
cu ltura contemporânea.
contemporânea.
O devir
de vir da humanidade é um devir dev ir cyborg.
cyborg. O primeiro homem,
que de uma pedra faz uma arma e um instrumento, é o mais antigo
ancestral
anc estral dosd os cyborgs.
c yborgs. Bernard
Bern ard Stiegler3
S tiegler3997, utilizandose
utilizand ose dos estudos estud os
de André
An dré LeroL eroiG
iGou ourhan
rhan3398, m ostra comocom o a form
for m ação do hom ho m em e da
técnica se estabelece num processo simbiótico, onde não se sabe ao
certo se o homem produz ou é produzido por ela. Como vimos nos
 pri
 p rim
m e ir
iroo s cap
c apít
ítuu los,
lo s, a gê
g ê nese
ne se do H om omoo Sa
S a p ien
ie n s é trib
tr ibuu tá
tárr ia da
d a gên
g ênes
esee
da técnica.
técnica. A técnica
técnica é uma solução solução zoológica da espécie huma h umana na na
sua conf
co nfronrontaç
tação
ão com
co m a natun aturez
reza3a3999.
A civiliza
c ivilização
ção do virtual40
virtual400está imersa
im ersa nesse
n esse proc
p rocessessoo simb
simbiótico
iótico
entre o homem e os artefatos artefatos.. O processo de conversão do mundo m undo em
dados binários, através das novas tecnologias do virtual, atravessa
todos os aspectos da cultura contemporânea (educação, economia,
 polít
 po lític
ica,
a, laze
la zer,
r, et
etc.)
c.).. A v ir
irtu
tual
aliz
izaç
açãã o d a c u ltu
lt u ra é u m p roc ro c e sso
ss o d e r e -
quisição401 digital do mundo, realizado pelas tecnologias do virtual.
Esta requisição traduz o mundo em informação, instituindo excessos:
social, tecnológico, virótico.
Bataille propôs, na Parte Maldita402, que o excesso (dom, fes-
tas,, sacrifícios) sempre
tas sem pre estruturou
estruturou as sociedades
so ciedades arcaicas, insist insistindo
indo
numaa visão construtiva da inuti
num inutilidad
lidade.
e. Durkheim
D urkheim falava
fala va de efervescência
 paa ra e x p ress
 p re ssaa r aqu
a quel
eles
es m ome
om e ntos
nt os que
qu e e scap
sc apam
am à ra
racc ion
io n a lid
li d a d e e que
qu e
se configuram
configura m como co mo cimento
cim ento social.
social. É no excesso que a cultura con- con -
temporânea
temp orânea adquire
a dquire
izaçãoseus
A virtualização
virtual contornos,
do mundo afetafundase
de formaeirreversível
enraízase.
enraízase. a socieda-
de contemporânea. A partir da possibili
possibilidade
dade de virtualização do mun
mun--
do, tudo está disponível (possível)
(possível) a uma requisição
requ isição digital.
digital. O tudo é
 p o s s íve
 po ív e l, a f ir
irmm a S c h e e r, m ina
in a o d e ter
te r m inis
in ism
m o d a r a c io n a lid
li d a d e
tecnológica que constitui o pilar da sociedade de consumo. É a pró• pró •

• ANDRÉ LE
LEMOS   179
MOS
 

 p riaa a tmo
 pri tm o s fer
fe r a c u lt
ltuu ral,
ra l, so
soci
cial
al e e con
co n ô m ica
ic a d e sse
ss e fim
fi m d e s é c u lo q u e
e st
stáá em jo g o 403.
A civilização do virtual v irtual impõe, assim,
assim, a desordem
desordem,, o inespera-
inespera -
do, o ordinário.
ordinário. Se as massas m assas já não podem ser sondadas, é a própria
noção de social,
social, comocom o pensado pela sociologiasociologia clás
clássica,
sica, que desman
de sman- -
chase
ch ase pelas
pela s m aiorias
aio rias silenciosa
silenc iosas4s4004. 0 Big Bang
B ang dess
d essaa vez
ve z é social.4
so cial.4005

 pClasse,
 pro
robb lem atindivíduo,
le m atiz
izad
ados pe la alienação,
os pela efe
e ferv
rves
escê
cênc gênero
ncia
ia socia passam
so ciall tri
triba
bal,l, estéatica
es téti ser, pre
ca, prconceitos
e sent
se ntee ísta
ís ta
da cultura contemporânea, como vimos. É nesse contexto que pode
surgir o discurso sobre os cyborgs.
cyborgs.
Os cyborgs
cybo rgs só podem existir num m mundo
undo traduzido
traduzido em informa-
ções, tempo
temp o real e ciberespaço. O cyborg é capital para a cibercultura.
Ele simboliza
simbo liza todo o processo simbiótico
simbiótico da cultura contemporânea
com o advento das tecnologias do virtual406. Esse processo é a
cyborg
cyb orgizaçã
izaçãoo da
d a cultura,
cultura , a era
e ra da máqu
m áquina
ina vital40
vital407. Nã Nãoo é ao acaso
acas o que
o discurso sobre os cyborgs emerge em erge no contexto da pósmodernidade:
pósmode rnidade:
“não é p or acide
acidente
nte que o moderno tr tranfo rmou-see em pó s-m ode m o  
anformou-s
assim como os humanos em cyborgs. Nem que a cibercultura está  
expan dindo-se ex
expandindo-se exubera
uberante
nte e iinsidi
nsidiosamente,
osamente, como a intern
internet,
et, em re
crea
creaçã
ção,
o, tra
trabal
balho
ho ep o lítica ”m .

Co rpo hi
hipert
pertexto-
exto-

 Nacivilização
 N
do pela a virtuali
virtu aliza
zaçã
ção
dooexcesso
d acesso
ex cultu
cu ltura
ra contem
co ntempor
e dos porâne
múlt
múltiplosânea,
iplos a, o corp
co rpo
poderes40
poderes4 0o9.vai ser
se r m arca
0 corpo arpós
ca-
-
modemo é superfície de escrita de vários textos: ideológico (o corpo
inscrito no fluxo das modas), epistemológico (corpo cínico, travestido),
semiótico (o corpo
c orpo com
c omoo signo flutuante)
flutuante),, tecnológico (os media, as re-
des telemáticas, as nanopróteses), econômico (corpo desejo de consu-
mo) e políti
po lítico
co (corpo nas massas
massas). ). Como
C omo mostra
mo stra Kroker
Kroker,, o corpo entra
em sua fase pósmodem
pósm odemaa como um u m corpo virtual
virtual das tecnologias
tecnologias di digkais,
gkais,
metade carne, metade ciberespaço: “nervos de chipsr, visão espectral, 
com personalidades fl  flu
u tu
tuaa n te
tess que pr
pree
eenc
nche
hem
m o ciciber
beresp
espaç
açoo co
comm o tter
er
ceiro (tec
(tecnol
nológic
ógico)
o) eestág
stágioio da evo
evolução
lução h
huu m a n a”
a”4
410.
O corpo tomase um espaço de experiência numa espécie de
hacking  bi
 bioo lóg
ló g ic
icoo 411. E le é, assim
as sim,, “scaneado  ”, interpretado enquan-
enqu an-
to sistema
sistema de processam ento de iinformação,
nformação, sendo, ao mesmo
mesm o tempo,
carne e informação. Na esfera e sfera do biológico,
biológico, como na esfera
e sfera do social,
social,

 
180 CIBERCU
CIBERCULTUR
LTURA,
A, TECNOLOGIA E VIDA SOCIAL NA CULTURA CONT
CONTEMPOR
EMPORÂNEA
ÂNEA •
tratase do desaparecimento do corpo
tratase co rpo “naturalizado”,
“naturalizado”, num processo
de exteriorização
ex teriorização e interiorização:
interiorização: hiperexteri
hiperexteriorização,
orização, com diversos
implantes (lentes de contato, marcapassos, hemodiálises e
nanotecnologias);
nano tecnologias); e hiperinteriorização,
hiperinteriorização, com a construção
con strução de subje
tividades pelos media e as novas redes eletrônicas (o ciberespaço).
Talvez possamos pensar, aqui, na idéia de “corpo sem órgãos” de
D ele
eleuz
uzee e G ua
uatta
ttari4
ri4112.
Seja
Se ja na radicalização discursi
discursiva,
va, seja pela artificiali
artificialização,
zação, o corpo
vive numa cultura do excesso413, passando por um processo de
restruturação, de obsolescência e virtuali
virtualização.
zação. O cyborg,
cybo rg, híbrido de
cibernética e organismo, só pode existir num mundo traduzido em
informaçõe
inform açõess binárias,
b inárias, regidas pelo princíp
p rincípio
io da cibernétic
ciber nética4
a4114. Cyborgs
são seres simbióticos, misturas de carne e máquinas cibernéticas415,
que surgem de novos paradigmas tecnocientíficos como o eletrôni
codigital e a biogenéti
biogenética.
ca.
Em ambos está em jogo a tradução do mundo em pequenas
quantidades de informação. Assim,Assim, os circuit
circuitos
os eletrônicos  que ppo-
o-
dem ser implantados
implantados num nervo ótico ótico permitindo
permitindo um cego reconhe-
reconh e-
cerr texturas41
ce texturas416 e o projeto Genom
Gen omaa Humano, partem do mesmo
me smo prin-
cípioo informacional do mundo.
cípi mundo. É com o surgimento da sociedade de
informação e do corpo simulacro que a figura do cyborg pode pod e sair da
ficção científica
cien tífica e ingre
ingressar
ssar na vida quotidiana.
quotidiana.

Ficção e realidade

 N o sso
 No ss o im
i m agin
ag inár
ário
io é perm
pe rmea
eado
do ddee sere
se ress artif
ar tific
icia
iais
is.. E
Est
stes
es nos
no s che
ch e -
gam desde a Antiguidade: Galetéi G aletéia,
a, criada por Pigmalião, as estátuas estátuas
vivas de Dédalo, o Golem da tradição judaica, os homúnculos de
Paracelso, os autômatos
autôm atos artificiais
artificiais da Idade Média,
M édia, os robôs, andróides
a ndróides
e cyborgs do século XX.
Os primeiros
prime iros seres artificiai
artificiaiss vieram ao mundo
m undo pelo ato didivino;
vino;
ou é o sopro vital que anima o barro, ou o nome de Deus escrito e
colocado
coloca do na boca
bo ca do Golem, ou a descarga elétrica do Dr. Dr. Frankens
tein417, ou o amor pela Eva Futura de Villiers de L’IsleAdam... Com
as primeiras criaturas
c riaturas artificiais,
artificiais, o divino anima
an ima e realiza a obra dos
homens. Já os autômatos são animados
animados pela força da m mecânica,
ecânica, pe-
los paradigmas
paradigm as newtonianos
new tonianos de energia, fo força,
rça, movimento,
movim ento, regulari-
dade. Eles
E les não são mais a vida que se infiltra
infiltra no artifício,
artifício, mas
m as a vida•
vida •

• ANDRÉ LEMOS
LEMOS | 181
 

simulad a em m ovimentos mecâni mecânicos. cos. Os autômatos


autômatos procuram im i-
tar a vida da forma mais realista possível, identificandoa com o
movimento. Desta forma, eles são privados do sopro vital, ficando
 prr e s o s p a r a s e m p r e n as g a rr
 p rraa s d e suas
su as p o li
liaa s e e n g re
renn a g e n s. E le
less
são o gozo d a im it itação
ação da vida, como os thaumatas  gregos, máqui-
nas do teatro, automatismos de p rodução de il ilusão
usão e de dive rtim rtim en-
to, se
sem m ne
nenh nh um ca caráráter
ter u tilitário
tilitário4 418.
O imaginário
im aginário do robô nos propõe seres dotados de algu algum m a inte-
inte-
ligência, mas diferentes do humano, mantendo m antendo uma fronteira de deli-
mitação
mita ção eentre
ntre o aartificial
rtificial e o natural b bem
em nítida4
nítida41 19. Presos ao d dete
eterm
rm i-
nismo da máquina, os robôs simbolizam a prisão, o confinamento.
Quando
Quan do Kapek escreve, em 1921 1921,, a peça R. R.U.R
U.R   R o s s u m ’s U ni nivv er
sal Robots,   os robôs aparecem pela pri primeira
meira vez como escravos, do- do -

minados
min ados pelo trabalho e pelo poder d ditat
itatorial
orial.. Os autôm atos e os ro-
 b ôs são
 bôs sã o esc
e scra
ravv os d a rree g u la
laçç ã o m
mee câ
cân n ic
icaa de susuas
as p
pee ça
ças,
s, d e u m a eest
stri
rita
ta
gestão sincrônica do tempo e da sua ext externa
erna programação elet eletrome
rome
cânica.
O con
conceito
ceito de cyboig, na fi ficção
cção cientí
científica,
fica, parece surg surgirir de um
umaa
história de A rthur Clark de 19 1965
65,, intitulada
intitulada The City and Stars,, 
an d the Stars
designan
desig nando
do os or organis
ganismo mo cibernéticos4
ciberné ticos42 20. O ccinem
inem a exp explorou
lorou muito
essa
es sa im ag
agemem on
ondede os re replic
plican antes
tes4421 de  B
 Blaladd e R u n n e r  (Sco
(Scott,
tt, 1982), o
Terminator  (Cam
(Cameron,
eron, 1991)1991) e o R  Ro o b o co
cop p  (Verhoeven, 1987), depois
do popular  H  Hoo m em d e Se Seisis M ililh
h õ e s d e D ólólar es..  Eles enriqueceram
ares
nosso imaginário com as possibilidades de simbioses entre os corpo
humano
huma no e máquinas4
máquinas42 22. 0 imaginário do do cyborg alcanç
alcançaa uma um a nov
novaa di-
mensão
me nsão na dé
décad
cadaa de 80 com a ficção ccientífica
ientífica ccybe
yberpun
rpunk4
k42
23.
Para os cyberpunks, a N  New
ew Ed ge,, a nova fronteira eletrônica, é
Edge
marcada pela simbiose entre os homens e as novas tecnologias. A
enge
en genh
nhar
aria
ia gen
genétic
éticaa e as nanotecn
nanote cnolo
ologia
gias4
s42
24 são hoje um a realidade.
realida de.
Elas permitem a manipulação do ccorpo orpo humano (do seu código gené-
tico
tico e introdução de m máquinas/próte
áquinas/próteses) ses) com diversos objeti objetivos
vos (mé-
dico, erótico, estético).
estético). ComComo o profetiza u umm dos portavozes do m ovi-
mento
men to cyb
cyberpun
erpunk, k, R. U. Sir Sirius,
ius, editor da revista califo califom m iana M ondo
2000, “ com o século X X dese desenhando
nhando se seuu fim , a essênc
essência nossass  
ia de nossa
atividades social
social,, popolíti ca e econômica acontece em um espaço não  
lítica
 f
 fíí s ic o e m e d ia
iati
tiza
zadd o . S o m o s m e n o s e m e n o s ccri
riaa tu
tura
rass d
dee ca
carn
rne,
e, os so  
osso
e sangue...; somos mais e mais criaturas de espírito-zapping, bits e  
bytes
byt es movendo-se po r a í na vel veloci dade da luz ” 42S.
ocidade

2  | CIBERCULTU
182
18 C IBERCULTURA
RA TECNOLOGIA E VIDA SOCIA
SOCIALL N A CULTURA CONTEMPO
CONT EMPORÂNEA
RÂNEA •
 

A questão do cyborg, dentro dos estudos da cultura (cultural 


studies),  foi introduzida com o  M  Maa n ife
if e s to f o r Cybo
Cy borg
rgs,
s,  de Donna
Haraw
Ha raway4
ay4226. Tentase ccha
hamm ar a atenção para
p ara u umm novo
nov o cam po d do
o sa
saber
ber
chamado
cham ado ddee “cyborgologi
“cyborgologia”4a”427. 0 objeti
objetivo vo de Haraw
Haraway ay ap
aparece
arece logo
na primeira
prim eira frase: “esse ensaio é um esforço esforço para constru ir um mito  
pa ra construir
 poo lí
 p líti
ticc o f i e l a o fem
fe m inis
in ism
m o , soci
so ciaa li
lism
smoo e ma
m a te
teri
riaa lism
li sm o (...).
(... ). N o c e ntro
nt ro  
da minha
m inha f é irôni irônica,
ca, minha
minh a blasfêmia, está a imagem ima gem do cyborg” cybo rg”442*.
 A  me
 medicina
dicina moderna, através dos diversos acoplam entos entre
o orgânico e o inorgânico e o uso militar de tecnologias de ponta
(principalmente no que Haraway identifica
identifica com o C3Icom
C3Icomandoco
andocon
n
trolecomunicaçãoinformação) mostram que, nesse fim de século,
“somos todos quimeras,
quimeras, teorizad
teorizados
os e híbridos
h íbridos fabrica
fabr icado
doss de máqui
má qui

narop
 p
 pro eporganismo; cyem
õ e v e r os cyb resumo
res
b o rg
rgss umo
c o m somos
o u m a todos
se
sexx u acyborgs
li
lid  ”4
d a d e hí
híbb2ri
9.dDo
ridDa ,o n n adH
s en
end Ha
oaura
raw
mw ay
ay,,
o r-
ganismo que possui um umaa identi
identidade
dade parcial e contraditória, aceitando
a indiferenciação. Ele poderia, assim, assim, nos liberar das hierarquias
h ierarquias soci-
ais,, do rac
ais racismo
ismo e do sexismo que impera na civilização ocidental.
Levar a sério o imaginário do cyborg permite escapar do mito
falocêntrico do Pai criador e quebrar a visão unitária de gênero. Se o
cyborg é um híbrido, ele não é autopoiético, ele não pode replicar
cópias
cópi as dele m mesmo.
esmo. Embora, como insist insistee Hara
Haraway,
way, o discurso do cyboig
 po ssaa se
 poss serr um in
instr
strum
umen
ento
to de lib
liber
eraç
ação
ão fe
femm in
inist
ista,
a, ele
el e é, e m re
real
alid
idad
ade,
e,
fruto de um umaa socie
sociedade
dade tecnocrática, p patern
aternalista
alista e m ilitar4
ilitar43
30. Nesse
momento, o corpo se li livra
vra da met
metáfora materna,, já que o cyborg “nã
áfora materna nãoo 
sonha com a comunidade sob o modelo da fam ília orgâni orgânica,
ca, desta vez  
sem o projeto edipiano.
edipiano. O cyborg não reconhece o jardim jar dim do Éden, ele  
não é feito
fe ito do barro
barro e não pode sonhar em voltar ao p ó ”43'.
Segundo Hara Haraway,
way, o cyborg sur surge
ge em meio à cultura contem contem- -
 po
 p o râ
rânnea a p
paa rt
rtir
ir de tr
três
ês ab
abal
alos
os d
dee fron
fr onte
teir
ira:
a: en
entr
tree os an
anim
im a is e os sser
eres
es

humanos, entre o orgânico e o inorgânico, e entre o físico e o não


físico.
físico. NNum
um prim eiro momento, tratase da rruptura
uptura entre a na
natureza
tureza e
a cultura, no aspecto biológico e evolutivo da biosfera. O surgimento
surgime nto
de novos animais de laboratório e o movimento de defesa dos ani-
mais, exemplifi
exemp lifica
ca Haraway
Haraway,, most
m ostram
ram a imbricação do humano e do
animal. O cyborg, ao contrário da ideologia biológicodeterminista,
não se preocupa
preocu pa em tentar separar o homem das outras espécies vi-
vas, ele busca o acoplam
acoplamento
ento mais radi
radical.
cal.
A segunda ruptura é aquela ent
entre
re os animais (dentre eles o homem)
hom em)

• ANDRÉ LEMOS
LEMOS | 1833
18
 

e as máquinas. Aqui o cyborg pode aparecer,


aparecer, fenomenologicamente fa-
lando,, como
lando com o um ser simbiótíco
simbiótíco dotado, ao mesmo
mesm o tempo, de partes orgâ-
nicas e inorgânicas.
inorgânicas. Esta ruptura se radicaliza
radicaliza com as novas
nova s tecnologias,

onde as fronteiras
fron teiras entre cultura e natureza entram
e ntram em colapso4
colapso 432.
A terceira
terc eira ruptura é diretamente ligada
ligada à segunda e referese
refe rese ao
nível de imprecisão da separação entre o físico e o nãofísico. Aqui,
estamos no centro da virtualização do mundo. A desmaterialização
numérica do mundo nos leva ao centro desse furacão dos sentidos
que é a indiferenciação cada
c ada vez maior
m aior entre o visível
visível e o não visível,
visível,
entre o físico e o nãofísico. A miniatur
m iniaturização
ização e a transformação
transform ação do
mundo em bits muda, de forma radicalradical,, a nossa experiência do mundo
newtoniano.
newtoni ano. Em contraposição
contraposição ao m undo analógico,
analógico, o cyborg nasce
da num erização do mundo.
O mito do cyborg surge para quebrar fronteiras, potencializar
fusões e simbioses, para abalar a hegemonia
hegemon ia do do discurso feminista
fe minista (e
de esquerda em geral), que consiste em pensar a vida social como
estabelecida
estabel ecida em dicotomias
dicotomias bem clara
claras.
s. Haraway pensa o m undo do
cyborg com o aquele
aqu ele em que as realidades
realidades social
social e corporal são vivi-
viv i-
das por uma sociedade que não tem medo de se juntar à matéria
inorgânica, de perder permanentemente suas identidades, de experi-
men tar a complexidade
mentar comp lexidade e a contradição.
contradição. Todo o jogo jo go político contem -
 por
 p orââ n e o e stá
st á no c o n fr
froo n to entr
en tree esta
es tass duas
du as pers
pe rspe
pect
ctiv
ivas
as..
 No
 N o m u n d o d o cybo
cy borg rg,, trat
tr ata
ase
se m uito
ui to m ais
ai s de a fi
finn ida
id a d e d o que
qu e
de identidade. Maffesoli
M affesoli fala da passagem de uma lógica da identidade
(típica da modernidade) a uma lógica da identificação. Esta estaria
dando exemplos
ex emplos na vida quotidiana
quotidiana contemporânea.
contemporânea. A lógica de iden-
tificação opera muito mais por afinidade que por identidade433. As
questões de classe,c lasse, raça e gênero nos foram impostas pelas terríveis terríveis

condições
lismo.
lis históricas
mo. A identidade
ide ntidade cyborgdo colonialis
colonialismo,mo,
se constitui
constit uido patriarcalismo
patriarcali
a partir de umasmo e do capita-
afinidade, lon-
ge da lógica da apropriação
ap ropriação de uma (e única) identidade.
identidade. Seria ela a
única a poder
po der criar uma polít política
ica que abrace o parcial,
parcial, o contraditório
con traditório
e as construções abertas, pessoais e coletivas.
Haraway
Hara way traça uma crítica
crítica contra o marxismo, o socialismo femi- fem i-
nista e o feminismo radical, mostrando como eles fracassaram como
estratégia
estrat égia de identidade (marxismo  estrutura de classe e alienação
 pelo
 pe lo tr
trab
abal
alho
ho,, fem
fe m inis
in ista
tass socia
so cialist
listas
as  traba
tra balho
lho com
co m o dom
do m inaç
in ação
ão m as-
as -
culina e capitalista,
capitalista, feminismo ra
radica
dicall  desejo do outro, objetivação
objetivação do

184  | CIBERCULTURA, TECNOLOGIA


TECNOL OGIA E VIDA SSOCIAL
OCIAL N A CULTURA CONTEM
CONTEMPOR
PORÂNEA
ÂNEA •
 

sexo feminino, marxismo sexualizado). Essas abordagens são regula-


das po r tot
totaliza
alizações
ções e não po
porr fragmentação
fragmentação ou explicação parc
parcial
ial..
Longe
Lon ge ddee estrut
estruturas
uras globais expl
explicat
icativas,
ivas, vem
vemosos em ergir frag-
mentos parciais, rupturas de fronteiras. O cyborg é um mito sobre
identidade
ident idade e frontei
fronteiras.
ras. O discurs
discursoo do cyborg se enquadra na perspec-
ti
tiva
va pósm ode
odem m a que desloca o dualismo hierárquico de identidades
identidades
naturalizadas434.
A civili
civilização
zação ocidental tem se caracterizado pela requisição do
outro (negros, homossexuais, mulheres, natureza) num processo de
dominação
dominaç ão e controle. O dualismo estrutura esta civili
civilizaçã
zaçãoo ocidental
através da separação entre mente e corpo, realidade e aparência, na-
tureza e cultura. No tem
tempopo de micromáquinas, de redes
red es digitais e da
realidade virtual, todos nos transformam
transformamosos em seres híbridos, cyborgs
da civilização do virtual,
virtual, onde à conex
conexão
ão a todo tipo de artefato tor-
nase, dia após dia, mais numerosa. A cibercultura contemporânea
subverte esses dualismos a ponto de não sabermos direito onde com
come-
e-
ça o hom em e onde termina a máqui
máquina.
na.
Em nível do corpo biológico, mas também em nível do corpo
social,
social, transformam onos em sist
sistemas
emas bióticos híbridos, regidos pela

com unicação e pela troca de informações4


comunicação informações43 35. 0 mito do cyb
cyborg
org im
impli-
pli-
ca na não legitimação de di discursos
scursos totalizantes
totalizantes e na refutação de um umaa
metafísica
metafísi ca aantici
nticientífi
entífica
ca e anti
antitecnol
tecnológica,
ógica, aprov
aproveitando
eitando pa
para
ra com u-
nicar com os outros, expandir fronteiras e anular dicotomias
 pree
 pr eest
stab
abel
elec
ecid
idas
as.. C om
omo o ex
expp ri
rimme mmagagis
istr
tral
alm
m en
ente
te Ha
Haraw
raway
ay,, "euprefe
ría ser um cyborg a uma deusa  ”
riría
ri  ”4
436.

Cyborgs protéticos e interpretativos

Podemos pensar dois “ideais tipo” (Weber) de cyborgs: o


interpretativo e o protético, embora não haja nenhuma unanimidade437.
Os cyborgs protéticos simbolizam a simbiose entre o orgânico e o
inorgânico, mais especifícadamente entre as nanotecnologias ciberele
trônicas e o corpo, ou como chamchamamam os cyberpunks, a carne. Segu Segundo
ndo o
Unab ridge Dictionary,  podemos definir um cyborg
Webster ’s N ew Unabridge
 protéti
 pro tético
co co
como
mo “ uma pessoa cuj cujo
o funcionam
funcionamento
ento fisiológico é ajuda do 
ajudado
 por,
 por, ou depen
dep ende
dent
ntee de, aparelhos
apare lhos eletrônic
eletrô nicos
os ou mecâ
me cânic os  ”4
nicos  ”43
38. C
Chhego u
se a afirm
afirmar
ar que os cyborgs pr
protéticos
otéticos são 10
10%
% da populaç
população ão americana.
Um exemplo é o físico
físico Steph
Stephen
en Hawkin
Hawking.g. Ele viv
vivee numa cadeira de
de••

• ANDRÉ LE
LEMOS   185
MOS
 

rodas motorizada,
motorizada, e sua voz é gerad
geradaa por um cir
circuit
cuito
o di
digital
gital e é a m
mesma
esma
quando ouvida
ou vida em presença do fís
físico
ico ou pelo tel
telef
efon
one:
e: u
uma
ma voz maquínica
indiferenciada. Outros exemplos, no campo da arte da performance, são
indiferenciada.
 para
 pa radig
digmá
mátic
ticos
os,, ccom
omo o o artist
art istaa austr
australia
aliano
no Ste
Stelarc
larc,, o h
hip
iper
erce
celis
lista
ta Yo Yo
Ma (onde homem, instrumentos, computadores e sensores se compor-
tam com
como ou
um m únic
único o sistema cibernético43
cibernético439), o cibernôm
cibe rnômade ade Steve M Mann
ann
do que vive de forma errante ligad ligado o por tecno
tecnologi
logias
as microel
microeletrô
etrô
nicas como computadores, celulares, satélites e, num outro nível, até o
corredor com seu w walkman
alkman ou o videocon
videoconferen
ferencist
cista.
a.
Um dos melhores exemplos do cyborg protético está nas

 pee rf
 p rfoo rm a n c e s d o c ibe
ib e r
raa rt
rtis
ista
ta Ste
Stela
larc
rc.. E le u til
tiliz
izaa se
seuu p ró
rópp ri
rioo c o rp
rpoo
como ambiente, expandindo o caráter ao mesmo tempo repulsivo e
fascinante da junçãjun çãoo corpomáqu
corpomáquina. ina. Stelarc
Stelarc leva ao extremo a fusão
do corpo com co m as novas tecnologias, utili utilizando
zando seu próprio corpo como com o
espaço, buscan
buscando do red
reduzir
uzir a oposi
oposição
ção entre o natural e o art artifici
ificial.
al. Seu
corpo é o seu simulacro.
Sua obra se resume a um umaa tent
tentatiativa
va de estender o corpo huma-
no com cibec iberm
rm eca
ecanis
nism m os, visando,
visand o, assim
assim,, red
redefin
efinir
ir o hu
hum m ano4
an o4440. As
evoluções das diversas próteses são realizadas em perfeita sintonia
com seu corpo, efetuadas p por
or movimentos voluntári
voluntários os e involunt
involuntários
ários
de seus músculos (o movimento de uma mão m ão robot
robotizada,
izada, por exem-
 plo,
 pl o, é co
com an dad o p pee lo
loss m ús
úscu
culo
loss d
dee seu
s eu es
estô
tômm a g o e d e ssu
u as p er
erna
nas)
s)..
Para Stelarc, “na era da sobrecar sobrecarga ga de informação, o q queue é sig
signifi
nifi
cativo
cati vo nnão
ão é m ais a li liberdade
berdade de idé idéiasias mas preferencial
preferencialmentemente a li
dadee de form as   liberdade pa ra mod
berdad
ber modif ific
icar
ar,, liberdade pa ra m uda udar r  
o seu corpo.
corpo. (..(...)
.) a liber
liberdade
dade fund am enta entall par
para a determ
determinarinar sseu
eu p ró
 prr io d e stin
 p st ino
o d o D N A (D (DN N A de
dest inyy j  ”44
stin ”441.
O cyborg,
cyborg , ao qual se refere Hara Haraway,
way, é o cyborg protético, em
contato íntimo com c om p próteses
róteses arti
artifici
ficiais
ais desenvolvendo “ p  per
erp p et
etuu a m en te  
ente
identidades pa parcia is”.. Os cyborgs protéticos
rciais” protéticos possuem uma u ma subjetivi-
dade associada
assoc iada a um a combinação físi física
ca do biológi
biológico
co e do tecnológico.
Para Haraway, o cyborg protético libertase do mito falocêntrico da
origem
ori gem q que
ue fundou no Ocidente a di divisão
visão de
de gêneros. A í emerge todo
o potencial libertador do cyborg: ao fugir do mito falocêntrico, ele
escapa da estrutura da Civilização Ocidental, tomandose livre da
opressão da história. Visto que a opressão no Ocidente foi sempre
exercida pelo homem, Haraway propõe que os cyborgs protéticos
 po
 p o d e m se r pa
part
rtic
icuu la
larm
rm e n te libe
lib e rt
rtad
ador
ores
es pa
para
ra as m ul
ulhe
here
res.
s.

186   | CIBERCUL
CIBERCULTURA
TURA,, TECNOLOGIA E VIDA SOC
SOCIAL
IAL N A CULTURA CONTEMPOR
CONT EMPORÂNEA
ÂNEA •
 

O cinem
c inemaa nos mostra, de forma implacável
implacável,, outro tipo de cybor
cyborg,
g,
o interpretativo, como aqueles de Laranja Mecânica
Mecâ nica (Kubrick, 19
1971
71),
),
de Videodrom e (Cronnenberg, 1983 1983)) ou de 19
1984
84 (Orwell). Aqui não
está em jo go a fusão corpor
corporal
al da máquina e da carne. A ntes, o cyborg
interpretativo se constitui pela influência dos mass media,  coagido
que é pelo poder da televisão ou
ou do cinema. Assim, a cultura de massa
e do espetáculo nos fez cyborgs interpretativos. O espetáculo forma
os cyborgs inte
interpret
rpretativos
ativos de acordo com a definição do espetáculo
dada por Debord442.

Para o situacionista francês, o espetáculo é a m ais sutil e cruel


das armas do capitalismocap italismo avançado, cuja função na sociedade seria a
 prod
 pr oduçução ão c onontítínu
nuaa da alie
al iena
naçãção
o e da opr
opres
essã
são.
o. PePelos
los ef
efei
eito
toss d a so
soci
cie-
e-
dade do espetáculo, seríamos todos cyborgs interpretativos, do dom m ina-
dos e transformados em pura prog programação
ramação tecnológi
tecnológica, ca, um a ssubjeti
ubjeti- -
vidade dominada
dom inada e controlada.
controlada. No entanto, o fi fimm de
desta
sta socieda
sociedade de do
espetáculo (ou dessa perspectiva da sociedade do espetáculo) nos re- re -
mete a n o v as p o ten cialid ad es lib ertad o ras p ara o s cy b o rg s
interpretativos
interpretati vos das redes, ou como proponho cham chamar,ar, os netcyborgs.
O s netcyborgs   têm a possibil possibilidade
idade de esvaz
esvaziariar o co ntrole dos
media,  que fizeram da sociedade do espet espetáculo
áculo uma realirealidade.
dade. Pode-
riamos argílir se o potencial opressivo não estaria minimizado pelo
caráter dos novos meios eletrônicos, que, diferentemente dos media  
de massa, não são baseados em um sistema UmTodos, mas auto
organizados a pa rtir de conexões Todos TodosTodo
Todos. s. A conec
conectividad
tividad e ge-
neralizada parece ser muito difícil de ser instrumentalizada por um
 po
 p o d e r ccee n tr
traa li
lizz a d o r e to
tota
tali
litá
tári
rioo co
comm o no c a s o d e L a ra
rann ja M ececân
ânic
icaa

ou 1984. A estrutura do ciberespaço abriría, então, potencialidades


emancipatórias para os cyborgs interpretativos das redes. Como ex-
 plic
 pl icaa K ro k e r e W ei
eins
nste
tein
in,, “ levando a sério o desejo de virtualidade,
virtualidade, 
elee dem anda seus direitos
el direitos telemáti cos par a ser um corpo jun cio na l  
telemáticos
interfa
int erfacetad
cetado; o; s er um pensado
pens adorr mult
multimí
imídia por tas B U S em suas  
dia,, colar portas
ciber-cam
cibe r-cam es enquanto ele navega navega a boa gravidade da internet  f  f . . ) ”4
”44
43.

Corpo-rede

 N o c ib
 No ibee re
ress p a ç o o c o rp
rpoo d e sa
sapp ar
arec
ecee da
dann d o lu g a r a es
espp ec
ectr
tro
os
(Guillaume4
(Guillau me44 44) qu
quee circu
circulam
lam co
como
mo informações. Ros Rosannannee St
Ston
onee vai iden-
tificar nos intem
intemautas
autas do ciberespaço um cyborg envy , ou um desejo do do••

• ANDRÉ LEMO
LEMOSS | 18
187 

 

cyborg. O exemplo
ex
e que desejam
dese emplo
jam dos ahackers
superar queentre
fronteira penetram os sistemas
o corpo físico e ainformatizados
físico rede, caracte-
ca racte-
riza este cyborg envy. Uma
Um a de suas característ
características
icas é a quebra ddee frontei-
ras: “o corpo uni
unitári
tário,
o, cercado e segura
seguramente constituíd o no 
mente cuidado, constituído
quadro da modernidade
mode rnidade bur
burgues
guesa,
a, est
está
á entrando em um proceprocesso
sso gra
duall de translação pa ra as reconf
dua reconfiguraç
igurações
ões e reinscrições da ccomomuni
uni
dade do ciberespaç o. ”445. Stone vai mais longe e propõe que “catego
ciberespaço.
ri
rias
as analít
analíticas
icas têm se tom ad
adoo pouco conf
confiáve
iáveis
is para fa ze r uma distin
ção útil entre o biológic
biológico tecnológico.... ”446.
o e o tecnológico..
Para o netcyborg  do planetário corporede,
corporede, queq ue é o ciberespaço,
ciberespaç o,
o corpo
corp o é um grande
gran de hipertexto44
hipertexto447 simbiótico ccom
om o am biente
bien te digital
das redes eletrônicas. A atual dinâmica do desenvolvimento
desenvolvim ento de redes
de computadores por todo o planeta e seu crescimento exponencial,
apresenta o ciberespaço como um sistema autoorganizante,
hipercomplexo
hipercom plexo e vivo.
vivo.
É neste sentido que J. de Rosnay analisao sob o conceito de
Cybionte, uma
u ma en
entidade
tidade cyborg formada pelos nossos
nossos neurônios
neurô nios e as
redes de circulação de informação digitais,
digitais, com
comoo vimos. O Cybionte
C ybionte
é, para Rosnay, um organismo, uma forma emergente da simbiose
entre a cibernética e o biológico,
biológico, um corporede, um cé cérebro
rebro planetá-
plane tá-
rio form
formado
ado pelo cérebro humano, computadores
computado res e redes. O Cybionte
Cyb ionte
é “um organis
organismomo planetário ún úniico
co,, a for m a mais ava nçada de um 
avançada
cérebro
cérebr o planetário
plan etário em vias de constit uição  ”448.
constituição
O homem simbiótico, ou o netcyborg, seria aquele “ conectado  
biologicamente
biologicam ente ao cérebr
cérebro
o plane
planetário
tário do CyCybio
bionte ... ”44
nte... ”449. 0 ciberesp
cibe respaço
aço
é um imenso corpo sem órgãos, um corporede. Este corporede
Cybiôntico,
Cybiônti co, de maneira
m aneira diferente
diferente da atuação da grande rede que conhe- co nhe-
cemos
cem os da televisão, é plural, rizomático, aberto e não centralizado.
centraliza do. Ele
forma hoje o que poderiamos denominar
deno minar de World Wide Wide WeWebbed
bbed Bo dy  
Body
(Kroker e Weinstein).
Weinstein). Assim,
A ssim, o corpo hipertexto
hipertexto do cyborg da d a rede nos
faz cyborgs interpretativos. Este corpo hipertexto está presente na
interface do WWW, nas multipersonalidades dos MUDs e IRCs, na
efervescência e agregação das comunidades virtuai virtuais.
s. No que
qu e se rrefere
efere
aos MUDs
MUD s e IRCs, onde os usuários
usuários podem assumir
assum ir diversas configu-
rações de gênero (masculino, feminino, travestido, sem gênero), fica
evidente o processo
proce sso de cyborgização da personalidade.
personalidade.
Elizabeth Reid toma a questão
questão por um mesmo
me smo ponto
p onto de vista, ao
mostrar os MUDs/IRC
M UDs/IRCss como
com o fenômenos que colocam
colocam o gênero, a sexu sexu

188   | CIBERCULTURA,
CIBERCULTURA, TECNOL
TECNOLOGIA
OGIA E VIDA SOCIAL N A CULTURA
CULTUR A CONTEM
CON TEMPOR
PORÂNE
ÂNEA
A•
 
alidade, a identidade e o ccorpo
alidade, orpo para além de suas fronte
fronteiras.
iras. O neicyborg 
tem, assim, uma personalidade híbrida, constantemente construída e
reconstruída no ciberespaço450. Livre de todos os constrangimentos físi-
cos, o corpo tomase puro símbolo digital. No entanto, os usuários são
mais que simples quantidades de bits, “eles são cyborcyborgs,
gs, um
umaa ma
manifesta
nifesta
ção do eu pa
para
ra além da univem
univemss físico, exi
existindo em um espaço onde a  
stindo
identidade é auto-definida
auto-de finida m
mais
ais do que pré-or
pré-ordenada*5
denada*5' 

Um a inversão se reali
realiza
za sobre a questão da identidade quando
esta é pensada no contexto do ciberespaço. Se na vida real, o corpo
determina a identidade e as formas de sociabilidade
sociabilidade daí emergentes
(Goffman4
(Goffm an4552), no cib
ciberesp
erespaço
aço a iden
identidade
tidade é amambígua
bígua,, não existin
existindo
do
certezas (sexo, classe, raça) para a determinação das formas de
interaç
interação.
ão. Se
Semm um corpo físifísico
co como âncora, não há identidade fe-
chada, mas identificações efêmeras e sucessivas. Assim, se na vida
real o corpo indica e, de certa forma, determina as interações, no
ciberespaço não há identidade, mas identiidentificação
ficação (M affesoli
affesoli).
).

 N ovas
 Nov as form
fo rmasas d
dee soc
sociab
iabilid
ilidad
adeses pa
pass ssam
am a seserr ex
expe
peri
rim
m enentatada
dass pe-
los netcyborgs  das redes elet eletrônic
rônicas.
as. Existe, então, a possibilidade d dee
 jog
 jo g o s de id
iden
entid
tidad
ades
es c om as sua suass vár
v ária
iass ffor
orma
mass d
dee id
iden
entif
tific
icaçação
ão (IR
(IRC,
C,
MUDs, BBS, Newsgroups, WWW, etc.). O WWW, por exemplo, age
como um a espécie de casa, um cartão de visi visita
ta do usuári
usuário.o. EEle le é aberto
a reco
reconfigura
nfigurações
ções futuras, e não é à toa que as H  Hoo m e p a g e s  estão sem-
 pre, co
com m o a iide
dentntid
idad
adee aaíí revela
rev elada
da,, unde
underr constructi
construction.on.  Já nos MUDs,
IRCs, Usenet, BBS, listas, etc,, o usuário pode ser outra pessoa/coisa,
ele pode jo jogg ar ccom
om caracteres e ident identidades
idades protegido pelo anonimat anonimato. o.
A sociabilidade on-line  caracteri
 caracterizase
zase como um umaa espécie de esconde
esconde, onde o usuário pode assumir e experimentar identificações
sucessivas às diversas comunidades virt virtuai
uais.
s.
O netcyborg  está então livr livree para o exercício de multipersonali
multipersonali
dades, agindo por po r si
sinceridades
nceridades sucessivas ((Maffesoli),
Maffesoli), desenvolve
desenvolvendo, ndo,
assim,
assi m, uma
u ma foforma
rma de social
socialidade
idade eleletrônica
etrônica barro
barroca.
ca. As diversas comu- com u-
nidades virtuais emergentes do ciberespaço proporcionam emoções
coletivas, identificadoras, não com o indivíduo preso a uma identidade
fechada, mas co
fechada, com
m p
 pee rs
rsoo n a s  de diversas
diversas máscaras. No fund
fundo,
o, tratase de
uma forma
form a de comunicação muito próxima da comunhão, ond ondee as no-
vas tecnologias agem como vetores de agregação, criando redes de
convivialidade. Está em jogo a criação de uma obra de arte coletiva,
uma ética da est
estéti
ética.
ca.
• ANDRÉ LEMOS
LEMOS | 189
 

Com a me metáfora
táfora do cyboi
cyboig, g, principal
principalmente
mente o inter
interpretat
pretativo,
ivo, o
ciberespaço se constit c onstitui
ui como um espaço para refazer as categorias categorias
identificat
identi ficatórias
órias na cultura contemporân
contemporânea. ea. A
Assim,
ssim, sem um corpo físi-
co com
como o receptáculo d daa construção da identi identidade,
dade, o sujei
sujeitoto fica livre
 paa ra j o g a r co
 p comm cco
o m p o rt
rtaa m e n to
toss e iide
dent
ntid
idad
ades
es.. O c ib
ibee re
resp
spaa ç o p
pro
rod
duz
uma nova form formaa de sociabili
sociabilidade,
dade, criando um novo senso de identi identida-
da-
de, ao mesm o temp tempo o descentralizada e múlti múltipla.
pla.
O devircyborg não é fruto da contemporaneidade.
contemporaneidade. M ostra ostramosmos
que a gênese da técnica é resultado de um processo simbiótico que
forma o homem, a técnica e a cultura. O cyborg (protético e/ou
interpretativo) é fruto deste processo simbiótico ancestral, atualizado
e radicalizado com a cyborgização e virtuali virtualização
zação da ccultura
ultura contem
contem- -
 porâ
 po rân
n ea
ea.. O d
dis
iscc u r so d
doo s ccyb
ybor
orgs
gs se en
e n c a ix
ixaa as
assi
sim
m, d
dee n tr
trood
daa p
pee rs
rspp ec
ec--
tiva da pósmodernidade, onde as fronteiras e dicotomias bem
estabelecidas
estabeleci das passam po porr ref
reformulações
ormulações profunprofundas.
das.

como umaO quesimpl


nos es
simplesint
interessa
eressa é mostrar
mediadora na relque
açãoa do
relação tecnol
tecnologia
hom ogia
homem não
em aao po
pode
o mundo. de se
ser
Ar vis
vista
ta
rela-
ção homemtécnica
hom emtécnica é um cont contínuo.
ínuo. Não podemos insisti
insistirr numa separa-
ção nítida entre os hom
homens ens e seus artef
artefatos
atos.. Est
Estaa dicotomia é estabelecida
a partir de uma m mitologi
itologização
zação da relação homemtécnica, assoc associando
iando o
humano ao divino e a técnica ao profano. O dualismo cartesiano nos
impediría de compreend
com preender er a verdadeira relação entre p h u s is  e tekhnè.
 ph
Entendendo o processo simbiótico entre o homem e a técnica,
cujo cyborg é sua forma paroxística na contemporaneidade, pode-
mos, então, reco
reconhe
nhecercer na cultura ararti
tifici
ficial
al a sua human
humanidade.
idade. P Pode
ode--
mos, assim, desfazernos de identidades rígidas e jogar com a
 plu
 p lura
rali
lid
dade e a d
div
ivee rs
rsid
idad
adee .

Ciberarte

A arte exprime sempre o imaginário de sua época. Como vi-


mos, a mo
modernidade
dernidade configurase,
configurase, para Habermas, a partir da autono
autono--

mia de
d e div
divers
ersos
os cam pos da ccultur
ulturaa com
comoo a ciênc
ciência,
ia, a arte, a m
mora
oral4
l45
53.
A arte moderna vai assim investir na racionalização do mundo e se
distanc
dista nciar
iar do ecletism
ec letismo
o do século XXIX4
IX45
54, rom
rompen
pendo
do d
definitiva
efinitivame
mente
nte
com a tradição cl
clássi
ássica.
ca. E
Ela
la adquire uma forma revolucionária, prepa-
rando a construção do futuro, superando o passado.
passado. O passado é evo-
ev o-
cado pela arte moderna
mod erna como um umaa paródia.
paródia. Neste sentido, a art
artee mo

190  CIBERCULTURA,
CIBERCULTURA, TECNOLOG
TECNOLOGIA
IA E VIDA SOCIA
SOCIALL NA CULTURA CON
CONTEM
TEMPOR
PORÂNEA
ÂNEA •
 

de m a é utópica, futuri
dem futuristasta e funcional,
funcional, onde as form formasas estéticas devem
servir à função (Bauhaus, International Style). A arte tem que fazer
 paa rt
 p rtee da v id
idaa so
soci
cial
al,, in
indd epen
ep endd ente
en te d
daa tra
tradi
diçã
çãoo cl
clás
ássi
sica
ca,, de
dese
sem
m penhan-
do um papel utópico, apres apresentandose
entandose como revolucionária, ajudan-
do a construção
co nstrução d doo fut
futuro.
uro.
Um a fronteira configur
configurase
ase entre a arte popular
pop ular e a arte erudi
erudita.
ta.
A arte moderna nasce de um projeto histórico em que o passado é
evocado, doravante, sob o signo da paródia,
paródia, em consonân cia com o
útil e o funcional, tendo como imperativo a submissão das formas
estéticas
estéti cas à função. O bonito é o funcional.
funcional. A B
Bauhaus
auhaus e o International
Style,
Styl e, de 19
1945,
45, expressam bem o repúdio do ecletismo de ornamornamentos
entos
e fachadas do século XI XIX.
X.
A arte
a rte moderna procura u uma
ma forma nova, coerente com a nova
ordem soci
social.
al. O funci
funcionalis
onalismo
mo arquitet
arquitetônico
ônico está a serviço do capita-
lismo tecnocrático. Os grandes mestres desse novo estilo (Gropius,
Le Corbusier, Van de derr Rohe, entre outros) acreditam na fusão da arte
com a indústria como m odelo de pr progresso
ogresso social, com o se um novo
espaço urbano produzisse uma nova organização da vida social. social. Como
mostra muito bem Subirats, “a utop utopia
ia social e cultural das vangu
vanguar
ar
das,, de signo revoluc
das revolucionário
ionário e emancipado
emancipador,r, trazia im plicitam ente os  
movimentos de sua int integração
egração a um processo regress
regressivo
ivo de co
coloniza
loniza
ção tecnológica da vida e racionalização coercitiva da sociedade e  
da cultura  ” ”4
455.
A arte deve juntarse à in indústr
dústria,ia, servi
servindondo com o m odelo de um
 pro
 p roje
jeto
to p ro g r e ss
ssis
ista
ta d a o rga
rg a n iz
izaç
açãã o soci
so ciaa l. O s v a lo
lore
ress a rt
rtís
ísti
ticc o s d a
modernidade sintetizam os valores econômicos, tecnológicos e
epistemológicos do maquini m aquinismo.
smo.
O que
q ue se ch chamamaa de a arte p pósm
ósmodem
odem a4 a45
56 é aqu
aquela
ela ququee vai se
diferenciar dos movimentos do alto modernismo por preferir formas
lúdicas
lúdi cas e fragmentadas. A arte v vai
ai servir com
como o parâm
parâmetro
etro para exprimir
o imag
imaginário
inário da pósmodem
pósmodemidade,idade, não se est estruturando
ruturando mais na paródia
(o escárnio do passado), mas no pastiche (a apropriação do passado). A
única possibilidade, já que tudo foi feito e dito, é combinar, mescl mesclar,ar,
reapropriar. Como
Com o veremos,
verem os, a tecnologia ddigit
igital
al vai trazer possibilida-
des novas
n ovas e radicais para essa mistura e reapropriação d dee esti
estilos.
los.
A partir dos anos 60, a arte vai sofrer modificações profundas
em todos os níveis: na poesia de John Ashbery, na arquitetura de
Ventur
Vent uri,
i, na arte pop
p op d
dee Warhol
Warhol,, na m úsica eletrônica e m inimalis
inimalista,
ta, no

rock (incluindo
(incluindo aí o punk), no cinema da N  No
o u v e ll
llee Vag ue  de Godard,
Vague G odard,
na literatura
literatura de Thom T homasas Pynchon, no fotorealismo,
fotorealismo, nos happenirigs e 
 pee rf
 p rfoo rm a n c e s , na arte ambiental...A arte pósmodema aparece, en-
tão, como um contraponto à arte arte do alto
alto modernismo, tentando des- d es-
truir as fronteiras entre e ntre a alta cultura e a cultura popular, tão discuti-

das pela eescola


stética de
A estética Frankfurt
Frankf
é agora urt.. a, pósindustrial
anárquica,
anárquic pósindustrial e pósrevolucionária,
se distanciando do imaginário racionalista
racionalista e futurista
futurista da mode
modernidade.
rnidade.
Como afirma Baudrillard, “a arte contemporânea dedica- dedica-se
se pre
precisa
cisa
men te a isso
mente isso:: apropriar-se da banal
banalidad
idade,
e, do desej
desejo,
o, d
daa me diocridade  
mediocridade
como valor e ideologia. Nessas inúmeras instalações, performances,  
há apenas o jogo de compromisso com a situação, ao mesmo tempo  
que com todas as for m as passadas da histór ia da arte  ”457.
história
As novas possibilidades tecnológicas começam a interessar os
artistas
artistas contem porâneos
porâne os (fotografia, cinema, televisão e vídeo) a par-
tir da décad
dé cadaa de 70. Nesta N esta época, os artistas
artistas utilizam
utilizam efetivam
efe tivamente
ente as
novas tecnologias,
tecnologias, com comoo os computado
com putadores
res e as redes de telecomuni-
cação (TV e satélites),
satélites), criando umaum a arte
arte aberta,
aberta, rizomática
rizomá tica e interativa,
interativa,
em que autor e público se misturam.misturam. A ênfase da arte eletrônica incide,
incide,
agora,
agor a, na
n a circulação de informações e na comunicação,
com unicação, herderia dire-
ta da p forr m a n c e  e dos happenings dos anos 60.
 pee r fo
A arte na era eletrônica vai abusar abu sar da interatividade, das possi-
po ssi-
 b
 bil
ilid
 pro
 p ida
rocc easso
d eosship
ss hfr
ipe
frace rte
rttais
acta eisx tua
tue acis,
isomp
, das
om dpaslex
lecola
co oslage
x os, ,gens
d ansnão
nã( o line
sampling ) de informações,
li near idaa deinform
arid d o disc ações,
di scu rs o .....dos
u rso .A
idéia de rede, aliada a possibilidade possibilidade de recombinações sucessivas de
informações e a uma comunicação interativ interativa, a, toma
tomasese o motor
mo tor princi-
 pall da cib
 pa c iber
erar
arte
te4458. A arte a rte ele
e letr
trôn
ônic icaa é um
umaa arte
ar te da com
c omuu nica
ni caçç ão.
ão . Com
C omoo
afirma um dos patrocinadores da exposição expo sição Mediascape, sobre arte e
novas tecnologias
tecno logias da imagem, realizada em Nova No va York
York em 1996,
1996, “arte  
é comunicação  ”459.
O paradigm a digital
digital e a circulação de informaç
informação
ão em rede pare-
cem constituir a espinha dorsal da contemporaneidade. É neste con-
texto que devem os pensar a questão da arte eletrônica ou digital, poi poiss
ela vai aceitar e explorar a desmaterialização
desmaterialização por qual passa e se fun-
fun -
damenta
dam enta a civilização
civilização do virtua
virtual.
l. A arte eletr
eletrônica
ônica contemporâne
contem porâneaa toca
o cerne desta civilização: a desmaterialização do mundo pelas
tecnologias do
d o virtual, a interatividade e as possibilidades hipertextuais,
a circulação (virótica) de informações por redes planetárias. A arte

(92 CIBERCUL
CIBERCULTURA
TURA,, TECNOLOGIA E VIDA SOC
SOCIAL
IAL NA CULTURA CONTEMPORÂNE
CONTEM PORÂNEA
A•
 

entra no processo global de virtualivirtualização


zação do mundo. Com preender a
artee desse final de século é compreender o imaginário da cibercultura
art
A civili
civilização
zação do vir
virtual
tual engendra, assim, um movimento
mov imento geral de \
virtualização,
virtual ização, afetando todos os campos da cultura contemporânea. A
virtualização é um processo de fundo, muito mais extenso que a simples
numerização
nume rização (digit
(digitalização)
alização) do mundo
mundo.. Lévy aassume
ssume um
umaa posição me-
nos catastrófica do que Baudrillard e Virilio
Virilio,, afirmando
afirm ando ququee a virtualiza-
ção se encaixa num processo histórico de perseguição da hominiza
ção46
ção4 60. A virtualiza
virtu alização
ção não sseria
eria a morte d do
ommund
undo,
o, mas o de deviro
viroutro
utro
do humano. Como C omo vimos em capítul
capítulos
os anterio
anteriores,
res, o virtu
virtualal tem m muito
uito
 pouc
 po uco o a v e r c o m o fals
fa lso
o ou com
co m o ilusório
ilus ório.. To
Toda
da a cibe
ci berc
rcul
ultu
tura
ra es
está

imersa no proc
processo
esso de desterri
desterritori
torialização/
alização/virt
virtualização,
ualização, principalme
principalmen- n-
te com a valoriza
valorização
ção da informação e do conh conhecim
ecimento4
ento46 61.
A virtualização não é o desaparecimento
desaparecimen to ou uma um a il ilusão.
usão. Ela é,
afirma Lévy, uma dessubstancialização
dessu bstancialização que se inclina na desterritoria
lização, num efeito Moebius, na passagem sucessiva do privado ao
 pú
 p ú b lic
licoo , d o inte
in teri
rioo r ao e x te
teri
rio
o r e vi
vice
cev
ver
ersa
sa.. A s u b je
jeti
tiv
v aç
açãã o (dis
(d isp
po-
sitivos técnicos, semióticos
semió ticos e sociasociais
is no funcionam
funcionamentoento somático
som ático e ffisio-
isio-
lógico
lóg ico do iindiví
ndivíduo)
duo) e a objetivaç
objetivação ão (influência dos atos a tos su
subjetivo
bjetivoss na
construção do mundo) são dois movimentos complementares desse
 pro
 p rocc e ss
ssoo v ir
irtu
tual
aliz
izan
ante
te.. P ar
araa Lé
Lévy,
vy, a vir
v irtu
tual
aliz
izaç
ação
ão nã
nãooéu umm ffee n ô m e n o

recente,
(gram
(gra pois
m atica
aticais, toda
is, dia a espécie
dialétic
léticas
as e retó humana
retórica
ricas)462.se construiu por virtualizações
s)46
Toda arte (tekhnè
( tekhnè)4)463exprim
ex primee u
ummpproc
rocess
essoo de virt
virtua
ualiza
lizaçã
ção
oed
dee
atualização. Toda técnica é a virtualização virtualização de uma ação e, ao mesmo m esmo
tempo, a atualização (de u uma
ma questão) pelo dispositi dispositivo.
vo. A arte/técni
ca, como atividade p
atividade po o ié ticc a , é  um
iéti   um dom original (e não exclusivo) do
homem. Como afirma Agamben, “o homem tem na terra um status  status  
 po
 p o é ti
ticc o j á q u e é a p o iè
ièss i s q
quu e f u n d a pa r a eele
le o eesp
spaaço oorr ig
igin
ina
a l d e se
seuu 
m u n d o ”46*.  A arte é assi assim m constit
constituti utiva
va do homem. Ela não é nem um
objeto privilegiado, nem um valor cultural, nem mesmo um objeto
 paa ra es
 p espe
pect ctad
ador
ores
es,, afir
af irm
m a Ag Agam ambe ben.
n. A
Antntes
es,, ela é uumm a “dimensão mais  mais  
essencial po is permite que o homem a alcance
lcance sua pos posição
ição original n naa 
hist
hi stór
óriaia e n noo te
temm p o ”465.
Os objetos e as máquinas
m áquinas virtualvirtualizam
izam funções motoras,
m otoras, cognitivas
ou termostáticas. Uma Um a fer ferramenta,
ramenta, mais do que uma exten extensãosão do cor-
 po
 p o (M cL cLuh uhan
an e Ler
L eroi
oiGGouourhrhanan),), é a vi
virt
rtua
ualiz
lizaç
ação
ão ddee u
umm a aç
açãã o (L
(Lévy
évy).).
Os produtos
produto s da tecnologia
tecn ologia virtualvirtualizamizam o corpo e as ações, atualizan

• ANDRÉ LEMOS
LEMOS | 193
 

dose na utilização efetiva de seus dispositivos. Como exemplifica


Lévy,
Lév y, o fogo p ode s er vir
virtua
tual.
l. Ele é vir
virtual
tual em todos os lugares onde
existe um fósfor
fósforo.
o. O fósforo virtualiza a ação de produ
produzir
zir fogo. A tuali-
zamos esta virtuali
virtualização
zação cada vez que o acendemos. O objeto técnico/
artístico é um operado
op erado r de virtual
virtualização.
ização.
A arte é uma virtual
virtualização
ização da virt
virtualização
ualização (Lévy), encon tran-
dose no m eio dos processos de virtualização
virtualização da linguagem , da téc-
nica e da ética, buscando, ao mesmo tempo, escapar do aqui e do
agora (virtualizando) e propor soluções concretas
concretas às suas questões
(atualizando). Este processo não é exclusivo da arte eletrônica, fa-
zendo parte de toda forma artística. Toda arte é virtualização de
uma virt
virtualização,
ualização, j á que ela procura trazer ao sensível problem ati
zações do real e alarg ar os limites do possível
possível.. No con texto da arte
eletrônica contemporânea, este processo atinge uma radicalização
sem precedent
precedentes.es.
^ A civi
civili
lização
zação do vi
virt
rtual
ual se fo
forma,
rma, afi
afirma
rma Sch
Schee
eer,
r, na cris
crisee da
representação clássica. Como vimos, as novas imagens são geradas
artificialmente, pela linguagem dos algoritmos, traduzidas por uma
máquina binária e, independentemente do objeto original, descolan-
dose do mundo.
m undo. Os algo
algorit
ritmos
mos são procedimentos lógicos que con-
duzem a solução de problemas, através de uma seqüência lógica de
Icá
cálcu
lculo4
lo46
66. C om as imagen
ima genss d
dee ssínte
íntese
se (num éric
éricas,
as, d
digit
igitais
ais),
), não se
'tra ta mais de representar o mundo
mundo,, mas de simulá
simulálo.
lo.
Em um plano epistemológico mais amplo, podemos afirmar
que o desenvolvimento tecnológico contemporâneo é herdeiro do
desejo moderno
m oderno de ver o mundo pelopeloss olhos da ciência e de adm inis-
trar tecnicam ente a vida soci
social.
al. Nem sempre este desejo se afirma de
forma linear. Nesse contexto, a imagem ganha um novo status
epistemológico.
Depois da filosofia de Descartes, a imaginação, as imagen
imagenss e os
símbolos são considerados com o escórias sensor
sensoriai
iais,
s, eepifenôm
pifenômenos
enos e,
como tais, não podem a judar a const
construção
rução do ato cognitivo veverdadei-
rdadei-
ro.. Todo o arcabouço valorativo
ro valorativo da m oderni
odernidade
dade visa errad icar e ocul-
tar as possibilidades
possibilidades simbólica
simbólicass da imagem e do im aginário na cons-
trução do conhecimento.
l' Com a digitalização do mundo, a imagem age com o um modelo
dinâmico
dinâm ico de construção do conhecim
conhecimento
ento sobre o rreal
eal (e de constru-

ção de um novo real). Ela não é mais um epifenômeno. Ela é um

194  | CIBERC
CIBERCULTUR
ULTURA,
A, TECNOLOGIA E VIDA SOCIA
SOCIALL N A CULTURA CON
CONTEMP
TEMPORÂ
ORÂNEA
NEA •
 

instrumento de compreensão e de modelização do real. O modelo :


digital é, assim, mais real que o real, fazendo deste, a vítima de um '
crime (quase) perfeito (Baudrillard).
As novas formas
form as de criação de imagens são um meio me io mais efi-
caz de se apropriar do mundo e de fazêlo funcionar através de um
modelo (o simulacro), concebido sob a forma numérica. Com as ima ima ^
gens digitais,
digitais, o referencial
referencial desaparece pela simulação matemática.
ma temática. O ■
que importa é o novo status do sujeito, do objeto e da natureza.
A fotografia
fotog rafia produz, afirma Barthes,
B arthes, “o
“o analgon perfeito  ”467.
As im
im agens de síntese, ao contrário, não são analogons  perfeitos do
real, mas
m as simula
sim ulacro
cross digi
digitais4
tais4668. Toda imagem
ima gem ana
a nalóg
lógica
ica é uma
um a im
imita-
ita-

ção, uma representação,


Entretanto, ou síntese
as imagens de uma ressurreição,
ressurrei
não sãoção, como
comrepresentações
mais o propõe Barthes
B arthes.
(no. t
sentido das
das imagens
ima gens analógicas), desaparece
desaparecendondo o referente
referen te conc
concre
re ( 
to. À simulação
simu lação será então, um
um modelo
m odelo que fa
fazz com que
qu e as imagens
funcionem como o objeto real, não pela sua apresentação sob uma
nova forma
form a (bidimensiona
(bidimensional),
l), mas pelo modelo
m odelo interno e externo
extern o de
seuu funcionamen
se funcionamento. to.
 Nãã o é m a is a rea
 N re a lid
li d a d e d a n a ture
tu rezz a q u e é r e p res
re s e n tad
ta d a p e las
la s /
imagens, mas o modelo de uma realidade que é simulado na ima-
gem. A imagem digital constituise então como um modeloimagi .
náriomatemático, e não mais como uma representação representação da nature n atureza/za/
O digital
digital vai modelar a natureza
natureza,, permitindo
permitindo a simulação,
simulação, ou o m o  ,
delo em processo. Tudo pode ser assim digitalizado, perdendo a '
referência
referên cia ou o enraizamento ao mundo natural. natural. A natureza é subs ) 
tituída por um simulacro. É isto que Baudrillard chama de hyper- 
réalité   (hiperrealidade). Agora, a modelização é mais importante
que o objeto.
Embora
Em bora as imagens digitais
digitais desnaturalizem o objeto, perdendo
o vínculo de pertinência à natureza (o objeto na realidade é um pro-
grama), o desaparecimento do objeto
objeto não significa
significa que este perca \
completamente sua importância. É a partir de objetos (referências^ *
originais) que se criam os model
m odelos
os que permitem
perm item sua digitalização e
simulação. Vivemos, portanto, o paradoxo de desnaturalizarmos o
mundo
mu ndo e, ao mesmo
mesm o tempo, dependermos material
material e simbolicamente
do meio físico que nos cerca.

 
• ANDRÉ LEMOS
EMOS | 195

 A r t e e novas
no vas tecno
te cnolog
logias
ias

e meios A utilização das novasvai


de comunicação, tecnologias
constituirpela ar
arte,
o que te,podemos
aliando informática
chamar de
ciberarte, cujos exemplos
exem plos mais importantes são a vídeoarte, a tecno
 bo
 b o d y a
art
rt (S
(Ste
tela
larc
rc,, O
Orl
rlan
an),
), o m
mul
ulti
tim
m íd
ídia
ia,, a rrob
obót
ótic
icaa e aass eess c u lt
ltuu ra
rass v ir
ir--
tuaiss (Marc P
tuai Pauline
auline e o SRL), a arte hal halográfi
ográficaca e inform
informática ática (ima-
gens de síntese, poesias
p oesias visuais, internet e suas home pages, arte ASCII,
smileys, exposiçõe
expo siçõess virtuais), a realidade virtual virtual e, obviam ente, a dan-
ça, o teatro e a música tecnoeletrônica469.
As experimentações com a arte em rede eletrônica remontam
aos anos 70. O objetivo
ob jetivo era conec
conectar
tar arti
artistas
stas de diferentes p
pontos
ontos do
globo, insistindo na idéia de processo interativo, em rede. P Para
ara a arte
eletrônica
eletrôn ica nascente, im
importava
portava menos o produto ffinal
inal que o processo
de criação coletivo, aberto e quase sempre inacabado. Interessava Interessa va aos
 pri
 p rim
m ei
eiro
ross ar
arti
tist
staa s c ib
iber
erné
néti
tico
coss a fo
form
rm a q
quu e e m erg
er g ia d a c o m u n ic
icaç
ação
ão
“todostodos”
“todosto dos”,, ttípica
ípica da form
formaa tel
telemática.
emática.
Um dos pioneir
pioneiros os da arte eletr
eletrônica
ônica em rede é Douglas Davi Daviss
que, em 19 1976
76,, cri
criouou a performance Seven Thoughts,  util utilizando
izando saté-

lites. Em 1977, o projeto Sattelite Ars Project   (G allo w ay e


Rabinowitz) liga os dois lados da América. No mesmo ano, Paik,
Beuys e Davois apresentam o Performance Television  via satélite,
no Documenta VI, em Kassel, Alemanha. Em todas essas
 pee rf
 p rfoo rm a n c e s s ã o e n fa fati
tizz a d a s a u tili
ti lizz a ç ã o d o n o v o e s p a ç o e l e t r ô n i-
co, do tempo real e da interatividade. Os mesmos Galloway e
Rabino
Ra binowitzwitz vão, em 1980 1980,, criar H  Hoo le in Spa S pacece,,  interligando câmeras
e mon itores de T V em L.A. e N.Y .Y.. p or satélit
satélites.
es.  H Hoo le in S p a c e  pro-
 po
 p o rc
rcii o n a v a a iin
n ter
te r a ç ã o e n tre
tr e ooss p e d e s tr
tree s d e N.Y. e L .A ., a tr traa v é s d e
uma vitrine com m onitores onitores e câmera câmeras, s, transm iti itindo
ndo as im agens de
uma para a outra cidade. cidade. A experiência propõe um esp aço híbri híbrido do
eletrônico sendo, talvez, a primeira metáfora artística do ciberespaço.
Em 19 198484,, eles criam o  E  Eleleír
íroo n ic C afe
af e In terte r n a ti
tioo n a l  em L.A., o pri-
meiro
me iro cibercaf
cibercafé. é.
Uma das primeiras redes eletrônicas internacionais de artistas
foi a ARTEX, criada em 1980, organizada por Robert Adrian X. Ela
 perm
 pe rmit itia
ia vá
vário
rioss ev
evenentotoss tele
te lem m áti
ático
cos,
s, cecentntra
rado
doss babasisica
cam m enente
te em te texto
xtoss

(ASCII, email), onde realizavamse trabalhos de construção de textotextoss


coletivos
coletivos e quase sempre iinac
nacabado
abados.
s. Em 19
1986
86,, a W ELL llan
an ça
çaoo A
 Art
rtC
C om

196   CIBERCULTUR
CIBERCULTURA,
A, TECNOLOGIA E VIDA SOCIAL N A CULTURA CONT
CONTEMPOR
EMPORÂNEA
ÂNEA •
 

 Ele troni
 Eletro nicc NetWo rk , um sistema de confer
Net Work  conferências
ências (informações, progra-
mas, etc.) que incluía sysops,  escritores, intelectuais e artistas. A arte
começava, assim, a explorar todo o potencipotencialal do ciberespaço.
A vídeoarte
vídeo arte é uma pioneira nesse processo. A distodistorção
rção e desin-
tegração do sistema figurativo moderno surge quando o corea coreanono Nam
June Paik inverte
inve rte os circui
circuitos
tos de um aparelho rrecepto
eceptor,
r, perturba
perturbando
ndo a
constituição das imagens. A vídeoarte lançava então, a pulverização
do sistema renascentista perpetuado pela fotografia e o cinema470. A
vídeoarte não pretende representar a verdade (Godard dizia diz ia que o ci-
nema é a verdade 24 vezes po porr ssegundo
egundo),
), já que para Paik, n não
ão existe
verdade, pois não existe aquilo que podemos afirmar ser o real. Tudo/
não passa
pas sa ddee p
pura
ura inve
invençã
nção o e rearra
rearranjos
njos suc
sucessi
essivos
vos4471.
A geração bit é assim pósfotográfica, digital. Como afirma
Arlindo
Arli ndo M achado, a câm ara obscur obscuraa está fadada a desaparece
desaparecerr ee,, com
ela, todo o fundam
fundamento ento figurativo, naturalista, represen
representativo.
tativo. A grand
grandee
mudança
mud ança eem
m rerelação
lação a fo
fotografia
tografia (ou o cinem
cinemaa e a TV) é que a ciberarte <•
não mais
m ais rep rese
resenta
nta o mundo
mundo4 472. Com o sint
sintom
omaa da pós
pósmmododem
em idad e, i
o orig
o rigin
inal
al n ão eexi
xist
stee m ais
ais4473.

^ciber
ciberarte,A msendo
arte, úsica
úsic a atualizada
ele
eletrôn
trôn ica4
ica47 74 tamb
hoj
hojetambém
e com éma música
é um exexemem plo
tecno e ommovimento
arcan te da
dos zipp
z ippies
ies e rav
ravers
ers4475, que eeclo
clodir
diram
am na Ing
Inglate
laterra,
rra, n
naa déc
décadadaa de 80,
e atingem agora o mundo. Estes tecnopagãos mostram, talvez, um
dos exemplos mais interessantes da cibercultura, unindo de forma
hedonista, socialidade e tecnologia.
tecnologia. Um a cibersocialidade ocorre pela
fusão da música
m úsica futurista,
futurista, minimalista e rítmica (tecno) com os impul-
sos tribais contempo
contemporâneos.
râneos.
A arte eletrônica va vaii constit
constituiruir uma nova forma simbólica, atra-
vés da qual os art artista
istass util
utilizam
izam as novas tecnologia
tecnologiass nu ma po postura
stura ao
mesm o tem po crítica e lúdica, com o intui intuito
to de mu
multiplicar
ltiplicar suas possibi-
lidades estéticas. Ela vai explorar a num numerização
erização (trabalhando ind indife-
ife-
rentemente texto, sons, imagens fixas ou em movimento), a
espectral idade (a imageimagem m é autoreferent
autoreferente, e, não depen
dependendo
dendo d e um ob \
 j
 jee t o re
real
al e si
simm d e um mo modedelolo),
), o cibe
ci bere
resp
spaç
aço
o (o es
espa
paço
ço elet
el etrô
rôni
nico
co),
), a ,
instantaneidade (o tempo tem po real)
real),, e a interatividad
interatividade, e, quebrand
quebrando o a fronteira
entre produtor, consum idor e ed edititor
or.. O mundo ao qual ess essee ciberartista r  

referese, não é mais aquele dos fenômenos, mas o m mundo


undo virtual dos 1
simulacros. A arte eletrônica (e não só a que utiliza diretamente das
imagens digitais) se desloca da representação para a simulação. ‘•

• ANDRÉ LEMO
LEMOSS | 19 7
 

A ciberarte, em todas as suas expressões, atua sob o paradigmaparadigm a


do digital. A sociedade do espetáculo (uma espécie de enciclopédia
de informações para os ciberartistas) representou o mundo através
da cultu
c ultura
ra d
dee m
mas
assa
sa m ediá
ediática
tica (jor
(jornal,
nal, TV
TV,, rádio, sho
shows,
ws, teatro
teatro,, et
etc.)4
c.)47
76.
A cibercultura parece
parece jog
jogar
ar com elemen
elementos
tos da soci
sociedade
edade do espetácu-
lo, colando informações, produzindo ruídos, reapropriando e simu-
la lando o mundo. A arte eletrônica é indiferente
indiferente a objetos originais, ela
 bu scaa a cir
 busc circu
cula
laçã
ção
o de info
inform
rmaç
açõe
ões,
s, o híbrido
híb rido,, a co
comm un
unic
icaç
ação
ão e inte
intera
raçã
çãoo
 \   em tempo real, a tradução do mundo em bits,  estes manipuláveis e
v posto
postoss em circulação na velocidade da lluz. uz.
A arte eletrônica é fru fruto,
to, também, do processo de descon desconstrução
strução
dos m etadiscur
etadiscursos sos que legilegititimaram
maram a moderni
modernidade.dade. E la é coerente
com a desconstrução,
descon strução, a virtualização e a desm aterialização do mundo
 pee la q ua
 p uall e st
staa m o s p as
assa
sann d o c o m o d e se
senn v o lv
lvim
im e n to d a c ib
iber
ercc u lt
ltuu ra
ra,,
í incluindo aí a figura do cyborg, a fusão do corpo biológic biológico o com as
' na
nanonotec
tecno
nolog
logias
ias iintelig
nteligente
entess e imp
implantes
lantes os ma maisis div
divers
ersosos4
477.
A ciberarte tenta transitar pela cultura do híbrido: do espaço
físico
físi co e do ciberesp
ciberespaço,aço, do tempo
temp o individual
individual e do temp tempo o real, do orgâ
orgâ- -
nico e do inorgânico. Ela exprime bem o imag imaginário
inário da ci cibercultura.
bercultura.
A dança de Merce Cunnigam, e se seuu programa para simular simu lar coreogra-
fias, transporta para o espaço físico movimentos realizados no
ciberespaço. A exposição  In  Inte
tera
ract
ctiv
ivee P
Pla
lannt GGrorow
w in g,   um jardim vir-
ing,
tual onde os participantes tocam em plantas reais e vêem um jardim
virtual
virt ual se formar, simu simulando
lando o crescimento real das plantas, mo mostrastra a
hibridação do espaço, do tempo e do corpo na interatividade. O m es-
mo podemos dizer dos instrumentos virtuais, que simulam similares
inexistentes e seus sons respectivos (um tambor de 20 km de diâme-
tro, um violoncelo
violonc elo de 20m, etc., ou mesm mesmo o instrume
instrumentos
ntos híbrido
híbridos),
s), ou
do artista J. Shaw, que trabalha com a idéia de espaços virtuais e
interativos,
interati vos, onde o espe
espectador
ctador pode penetrar na obra de arte (“cidade
lisível”
lisív el”,, “m
“muse
useu
u vir
virtua
tual”
l”,, entr
entree o
outras
utras)4
)47
78.
A hibridação (espaço, tempo e corpo) parece ser o paradigma
das artes eletrônicas deste fim de século. século. Ela permite um m ovime
ovimentonto
contínuo de passagem
passag em do espaço físi físico
co ao eletrônico, do corpo físico

ao corpoprótese, do tempo
tem po subjetivo e indi
individual
vidual ao tempo imediato
(real)
(real).. O que eestá
stá em jog
jogoo é uma certa edição da realidade (da socie-
dade de espetáculo?)
espetáculo? ) a partir de se
seus
us múltiplo
múltiploss fragme
fragmentos.
ntos. A estética
se recheia
reche ia de citações, referênci
referências,
as, colagens de todos os gêneros,
g êneros, num

198   | CIBERCULTURA, TECNOL


TECNOLOGIA
OGIA E VIDA SOCIAL N A CULTURA
CULT URA CONTEM
CON TEMPOR
PORÂNE
ÂNEA
A•
 

contexto em que q ue a arte vem e volta à rua,


rua, sem necessariamente
ne cessariamente passar
 pel
 p elos
os c ir
ircc u ito
it o s d e marchands,  galerias ou museus.
A ciberart
c iberartee vai operar um  za zap
p p in
ingg  de signos,
signos, desestabilizando
os discursos lineares, iinvestindonvestindo na falência do futuro e na sua trágica
vinculação
vincu lação ao presente4
presen te4779. Por
Po r exemplo, na música m úsica eletrô
e letrônica
nica (como
(com o o
rap e a tecno), está em jogo jog o esta colagem de informações (sampling ).
 Nee st
 N stee co
c o n tex
te x to,
to , o p a p el d o a rt
rtis
ista
ta ele
e letr
trôô n ico
ic o m uda.
ud a. C o m o o D .J.,
.J ., q u e
se coloca numa posição de participante do evento, os artistas eletrô-

 pnic
nicos
 poo pos
-s
-statentam
tent
tarr . am romper
rom per
O artista com a cultura
eletrônico
elet rônico de massa centralizada
contemporâneo centrali
é maiszada na figura
um eeditor
ditor do
de in-
formaç ões, aquele
formações, aqu ele que as disponibiliza
disponibiliza e as faz circular, desaparecen-desaparec en-
do a fronteira entre os que concebem, produzem e consomem arte.
Comoo afirma
Com afirm a Fred Forest,
Forest, “o artista (da com unicaç unicação) ão) transforma-  
se num e m issor de mensage mensagens. ns. Ele ativa e acelera a com unicação na  
quall ele infi
qua infiltra
ltra mensa
mensagensgens para sitas nas instit uições, ou cria a sua  
instituições,
 prr ó p r ia re
 p rede
de p a r a le
lela
la e fu n c io
ionn a l; oc
ocaa si
sioo n a lm e n te eele
le eest
staa b e le nóss  
lecc e nó
e conexões
conexõe s entre uns e out ros ”480.
outros
O mesm
mesmoo princípio
princípio encontramos
encontramos na arte em rede. Ela E la procura
levar ao extremo
extrem o o potencial
potencial comunicativo
comunicativo e interativo
interativo da estrutura
rizomática e híbrida do ciberespaço481. Como virtualização de uma
virtualização (Lévy), a arte em rede virtualiza o ciberespaço. O po-
tencial do ciberespaço
ciberespa ço para abrigar as artes eletrônicas eletrônicas é enorme.
eno rme. Seu
caráter aberto, interativo e não hierarquizado permite que seja um
espaço por po r excelência
excelên cia da art arte,
e, um espaço
espaço imaginário num tempo tem po ime-
diato, o tempo
temp o real. Dessa forma, conexão, conexã o, interação, simultaneidade
sim ultaneidade,,
 p a rtic
 pa rt icip
ipaa ç ã o plur
pl ural
al e inte
in tera
rativ
tiva,
a, con
co n stit
st ituu e m o e spa
sp a ç o h íbri
íb ridd o fun
fu n d a -
mental da ciberarte
cibe rarte hoje.
hoje.
A ciberarte aproveita
a proveita o poten
potencial
cial das novas tecnologias para pa ra ex-
 plo
 p lora
rarr os proc
pr oces
essososs de hibrid
hib ridaçação
ão da cicibebercrcul
ultu
tura
ra co
cont
ntem
empoporârâne
nea.
a. Em
síntese, a ciberarte tem, no processo de virtualização, digitalização e
desmaterialização do mundo, a sua força e particulari particularidade.
dade. Ela é interati
interativa
va
e atua dentro de processos híbridos híbridos da cultura
cultura contemporânea
contemp orânea (o espa-
ço, o tempo
tem po e o corpo). Por Po r ser imateri
imaterial,al, a arte eletrônica
eletrônica não se con-
some com o uso e pode p ode circular ao ao infinito,
infinito, escapando da d a lei entrópica
da sociedade
socieda de de consumo. É nesta circulação circulação frívola de bits  que está o
coração da arte eletrônica da cibercultura.cibercultura. Mais sensual e intuiti intuitiva
va do
que racional e dedutiva, a ciberarte tenta produzir novos espaços de
experiências estéticas e interativas, sob a energia do digital.• digital. •

• ANDRÉ LEMO
LEMOSS | 19 9
 
C a p í t u l o   V 
C  y b e r p u n k  : a t i t u d e  n o  c o r a ç ã o  d a  c i ber c u l t u r a

O imaginário
imag inário cyberpunk vai m arcar ttoda oda a cibercultura. O ter-
mo tem suas origens no movimento homônimo de flcçãocientífica
que associa tecnologias digitais, psicodelismo, tecnomarginais,
ciberespaço, cyborgs e poder mediático, político e econômico dos
grandes conglome
cong lomerados
rados m mult
ultinacionais.
inacionais. Além da fi ficção,
cção, todo o ima-
ginário da cibercultura vai ser alimentado pela ação dos cyberpunks
reais, o underground  da  da informática.
Vejamos algum as definições do conceito:
“ uma emergente sub-culturajovem, jovem , Jusionando antiautoritarismo 
 pu
 p u n k com
co m amo
am o r p elas
el as te
tecno
cnolog
logias
ias de po
ponn ta “ os so
sold
ldad
ados
os pion
pi onei
eiro
ross do
século
sécu lo XXL Embarc
Em barcand ando o na
n a nova
n ova front
fro nteieira
ra eletrô
ele trôninica
ca””462.
“ um mod o de vida centrado em torno d as tecno log ias  
computacionais, música hardcore e agressividade adolescente. O 
cyberpunkk nos dá a habilidade
cyberpun h abilidade de ser livr livree. A tecnologia pertenpe rtence ce ao  
 jo
 j o v e m e de
d e v e se
s e r exp
ex p lora
lo rad d a em
e m seu
s eu pro
pr o veito
ve ito.. E sta
st a é a no er a....  ”4
n o va era.. ”483.
A ficção cyberpun k é refl reflexo
exo do que já acontecia no qu otidia-
no. Por isso, seus expoentes dizem não falar do futuro, mas fazer
uma paródia do presente. No entanto, fora da ficçãocientífica, o
imaginário cyberpunk aparece em vários formatos da cultura con-
temporânea: televisão (a série inglesa Max Headroom), o
underground high-te high-tech ch  ( ph
 p h r e a k e rs,
rs , hack
ha cker
ers,
s, cra
cr a cker
ck ers,
s, vírus
vír us,, raver
ra vers,s,  
cypherpunks, zippies, Otakus), o tribalismo tribalismo tecno-hip-hop,  a ciberart ciberartee
(vídeo,
(ví deo, inst
instalações,
alações, reali
realidade
dade virtua
virtual, l, perfor
performanc
mances es d
diversa
iversa s), os jo -
gos eletrônicos, as revistas em quadrinhos (Moebius, Tornatore,
Future Subjunkies, Akira), o cinema (Tron, Blade Runner, Total
Recall, Terminator, Matrix), os role playing games   (GURPS
cyberpunk), as revistas (Mondo 2000, 2600, Black Ice), além de
sites e new sgrou ps os mais diversos no ci ciberespaço.
berespaço.
A po pularização da cultur
culturaa cyberpunk deve muito aos media  de
massa com o jorn ais e revis
revistas.
tas. Além dos livr
livros
os de ficçãocientífica, as
revistas são responsáveis pela disseminação desse imaginário
tecnológico, principalme
princ ipalmente
nte as pioneiras B
 Boi
oing
ng Boing,
Boin g, HackT
Ha ckTick,
ick, 2600,
200
20 0   | CIBERCULT
CIBERCULTURA.
URA. TECNOLOGIA E VIDA SOCIAL
SOCIAL NA CULTURA CONTEMPORÂN
CONTEM PORÂNEA
EA •
 

li ty H a c k e rs  e depois  M
 R e a lity
 Re  Moo n d o 20
2000
00,, B lalacc k IIcc e  ou a brasileira Ba-
rata Elétrica. Um a das mais expressivas
expressivas do movimento é a califom califomiana
iana
Mondo 2000, criada em 1989 por Queen Mü e R.U.Sirius, descen-
dente direto das antigas  H  Hig
igh
h F roront
ntie rs   e  R
iers  Ree a li
lity
ty H ac
acke
kersrs.. M o n d o  
2000  é a bíblia dos cyberpunk
cyberpunkss e uma das primeiras a m ostrar os vín-
culos entre a ficçãficçãocientífica
ocientífica e a vida realreal..
Para R.U.Sirius, o hacking  (como veremos, ação emblemática
da cibercultura)
cibercultura) é um a forma de “con controlar
trolar nosso des tino  ”487. P o d e -
destino
mos colocar nessa perspectiva, a atuação de artistas eletrônicos e as
suas diversas formas de d e expressão com as colagem digitais dos sig signos
nos
da sociedade do espetá espetáculo.
culo. O underground high-tech  é u ma ati atitut
tutee
contra
co ntra o pe pesoso d daa tecn
tecnocra
ocracia.
cia. Para SirSirius,
ius, ele é a eexp xpre
ressã
ssão4o48
85 “de  
uma nova formação social configurada eletronicamente chamada  
cibercultura (...) (...) e que nos convida a cruzar cruza r o espaço de dados, c a
valgar a onda elet eletrôni
rônica,
ca, hip hop os seus la lapto
ptops,ps, pas
passe
sear
ar na reali

dade vi virt
rtual
ual,, pprojetar
rojetar comidas e plug ar em sincroenergétisincroenergéticos cos e d ro
gas intinteligent
eligentes es garantindo ampliar nossa potência cerebral e nossa 
vida sexual  ”  ”4486.
 No
 N oppri
rimm ei
eiro
ro eedi
dito
toria
riall da rrev
evis
ista
ta M
 Mon
ondo do 2200
000,0,  R.U
 R.U.Sirius
.Sirius propõe
“levar a cibecibercul
rcultur
turaa para as pess pessoa s",   num mundo onde o “ eco- 
oas",
 fun
 fu n d a m e n ta
tali
lism
sm o est
estáá fo
forr a , as teo
teoria
riass d a co
consnspi
pira
raçã
çãoo e st
stãã o de
demo dé,, 
modé
as drogas são obsoletas".   Ele proclama “a aurora de um novo  
humanismo.
humani smo. Plugar
Plugar-se -se na tectecnolog
nologia ia para fortalecime
fortalecimento nto pessoal, j o
gos e entretenimento"  e  e nos
nos convida a “tom tomarmarm os anjos biôn icos ”487.
O poder
pod er está nas mãos dos cyberpunks: “voc vocêê pode fa z e r a sua própria  
li
liter
teratur
atura,a, sua próprópria
pria músi
música,ca, sua própria tel televi são, sua própria vida 
evisão,
- e mais import
importante ante de tu tudo
do - sua própria real realida
idadede ”4
 ”488.
 M o n d o 2 0 0 0  tenta nos nos convenc
convencer er de que estamos frente à uma
revolução cultural
cultural sem precedentes que une une,, de modo inéditinédito,
o, a jo -
vem cultura urbana e as tecnologias digit digitais:
ais: a cu ltura do caos e as
novas tecno
tecnologias
logias (Ru(Ruskoskoff4ff48
89). A cibe
cibercultura
rcultura,, da qu qual
al o cyb
cyberpu
erpu nk
é um dos timoneiros, é o resultado de uma revolução sem slogans,
sem ideologias
ideo logias e sem emblem as históri
históricos;
cos; uma rebe
rebelião
lião intersticial,
intersticial,
uma nova fron
fronteira
teira el
eletrônica,
etrônica, a N dgee . A cibercultura
 Nee w E dg cibercu ltura perm
permite
ite a
fusão entre
entre a N
 Nee w Ed
Edge
ge High Tec
Techh e a N
 Nee w A g e  naturalista, espiritualis
ta e hedonist
h edonista.
a.
A contracultura
co ntracultura dos anos 60, que fundia liberalismo e tecnologia
(rock, vídeo experimental...)
ex perimental...) rej
rejeita,
eita, no plano global, o alargam ento ento••

• ANDR
ANDRÉÉ LEMOS 20/
 

dos impactos da tecnologia da vida quotidiana. Embora a cultura


cyberpunk p ossa se
serr vista como herdeira da contracultura,
contracultura, ela hão é
mais antitecnológica,
antitecnológ ica, nostálgica. Na realidade,
realidade, a celebração das no-
vas possibilidades abertas pela
pelass tecnologias
tecnologias eletrônicas pode ser vista
como uma “ alien
alienaç
ação
ão levad
levadaaaaoon nível
ível de êxtase"*9
êxtase"*90
0.
O imaginário cyberpunk impõe, assim, uma visão ao mesmo
tempo cínica e distópica em relação às possibilidades abertas pelas
novas tecnologias. Aqui, o futuro não faz mais sentido e as grandes
metanarrativas desabaram. O lema dos cyberpunks é: “a inform ação  
informação
devee se
dev serr llivr
ivre;
e; o acesso a aos
os computado
computadores res deve ser ilimitado e tot al.. 
total
 Des
 D escc o n fie
fi e d a s au
a u to
tori
rid
d a d es
es,, lu
lute
te co
conn tr
traaoppo
o d e r; co
colo
loq
q u e b a ru lh
lhoo no  
si
sist
stema,
ema, surfe essa fronteir fronteira, a, fa ça você mesm o".

 A ficç
ficção-
ão-cie
científ
ntífica
ica cy
cybe
berp
rpun
unk 

A primeira
prim eira expressão da cultura cyberpunk surge na ficçãocien-
tífica, caracterizandose por uma visão negra ou distópica do futuro.
Dentro de uma visão conspirató
conspiratória,
ria, que deve muito à lit
literatura
eratura ameri-
ame ri-
cana do pósguerra, a sociedade é dominada por grandes corporações
que controlam a política e a economia mundial.
mundial. As redes de computa-
com puta-
dores são o centro nervoso da vida social neste futuro paródia do pre-
sente. Vemor
Vem or Vinge é o pioneiro desta corrente. Ele escreveu,
escrev eu, em 1984
1984,,
“True Names
Na mes”,
”, considerada a primeira história
história do gênero.
A história
histó ria da ficçãocientífica começa
com eça bem antes, nos anos 20,
com a publicaç
publicaçãoão de histórias acerca do futuro e de conquistas inter
inter
galácticas. A popularização
po pularização do gênero vem com a revista A  Ass to
tonn n in
ingg , 
com A rthur Clark, entre outoutros.
ros. Os anos 40 marcam a idad e de ouro
do gênero, com Azimov e o tema dos robôs. robôs. Os anos 50 vêem apare-
cer os andróides
andróid es e os cyborgs, com P P.. K. Dick. Estam os aqui
aqu i na base
da modernidade, em plena Guerra Fria (carro, aeroporto, mass me
dia,  ameaça
am eaça nuclear).
nuclear).
Os anos 60, da N  Nee w Wave,  ou  N  No o u ve llee Vague, juntam ente com
vell com
a ficçãocientífica dos anos 70, 70, propõem uma visão sinistra do fut futuro,
uro,
com uma sociedade povoada por robôs que controlam tudo. O
consum ismo e o medo me do da ttecnologia
ecnologia são os principais fetiches dessas
escolas, fazendo desaparecer os monstros intergalácticos do início.
 Nos
 N os anos
an os 80
80,, aap
p a rec
re c e a fic
f icçã
çãoo cie
c ienn tí
tífi
fica
ca cyb
cy b erpu
er punk
nk c o m o suc
su c e s so de
 públ
 pú blic
icoo e críti
crí tica
ca d
dee “Neu
“N euro rom
m an
ance
cer”r”,, de Will
W illiaiamm Gib
G ibso
son,
n, p
pub
ubli
lica
cado
do em
em2 0

 
202
20 2  | CIBERCULT
CIBERCULTURA,
URA, TECNOLOGIA E VIDA SOCIAL N A CULTURA CONTEMPO
CON TEMPORÂNE
RÂNEAA•
1984. Aqui, Gibson mistura literatura fantástica e policial, altas
tecnologias, tribos, pessimismo e caos urbanos.
O termo cyberpunk é usado para designar a corrente ou m ovi-
mento da ficçãocientífica dos anos 80, 80, proposto por
p or Gardner
Gard ner Dozois,
editor da Isaac Asimov M agazine, a partir de uma história hom homôni-
ôni-
ma de Bruce Bethke aí publicada. Antes de ser conhecido como
cyberpunk, o Movimento, como também é chamado, cham ado, é herdeiro da
A g e  de anos 60. Escritores
 Nee w Ag
 N Escritores como
com o Bruce Sterli
S terling,
ng, Rudy
Ru dy Rucker
R ucker,,
John Shirley, Pat Cadigan, entre outros,
outros, são os principais
principa is expoentes
expoe ntes
do gênero, influenciados pela literatura fantástica, policial e a fic-
çãocientífica high-tech.
O tema
tem a da tecnologia e sua relação
relação estreita com o quotidiano
quo tidiano é
recorrente, perpassando
perpa ssando todas as obras e unindo seus autores. O Oss óculos
espelhados viraram símbolo dó movimento. Os autores são, a partir
de então,
então, também conheci
conhecidos dos como  M  Mirirro
rors
rsh
h ad
ades
es G roup
ro upe.e.  Segundo
Sterling, os óculos espelhados buscam refletir o ambiente dos anos
80, onde nos escondemos em imagens e simulacros, refletindo, ao
m esmo
esm o tempo,
tem po, o mundo
mu ndo e escoesconden
ndendo
do e dissim
dissimuland
ulandoo nosso
n osso olhai49
olhai491.
As características estilísticas
estilísticas trouxeram várias eti etiquetas
quetas para o
movimento:  R  Raa d ica
ic a l Ha S F , TecnoMarginais, Onda dos Anos 80,
H a rd SF
 Neu
 N euro
romm ânti
ân tico
cos,
s, C lã ddos
os Ó culo
cu loss Esp
E spel
elha
hado
dos.
s. C a d a um
u m a de
d e las
la s eexx p res-
re s-
sa uma faceta do imaginário cyberpunk. Podemos Podem os sintetizar a ficção ficção
científ
científicaica cyberpunk  New
 N ew
Wave dos anos 6070,utilizando
util izando estes
aparecendo naemblemas:
Onda dos ela Anosé herdeira
80, ondedao am- 
 bie
 b ienn te é satu
sa tura
radd o de
d e alta
al tass tecn
te cnol
olog
ogia
iass e cao
c aoss urb
u rban
ano.
o. E les
le s ssão
ão os rad
ra d i-
caiss da ficçãocientífica
cai ficçãocientífica “dura” (Hard S-F), retratando uma sociedade
em que
q ue os piratas contrabandeiam
contrabandeiam dados (tecnomarginais),
(tecnomarginais), vestindo
vestindo
se quase sempre
semp re com um blusão de couro preto e óculos espelhados espelhados
(Clã dos ÓculosEspelhados), inseridos
inseridos em um ambiente
am biente social onde
misturase tecnologia, violência,
violência, droga e misticis
m isticism
m o (neuromânticos).
(neurom ânticos).
O ambiente tecnourbano, caótico, unindo visão distópica do
futuro e altas tecnologias caracteriza o imaginário cyberpunk. A
tecnologia tom ase o dispositivo
dispositivo pelo qual os “piratas de dados” atin-
gem seus objetivos (penetrar siste sistemas,
mas, colocar
colo car vírus, destruir dados
sensíveis).
sensí veis). Nas suas
suas histórias
histórias existe
existe sempre um “sistema” que dominado mina
a sociedade
so ciedade,, grand
g randes
es corporações
corpora ções atuando com
c omoo im
império
périoss religioso
re ligiosos4
s4992
que vão ampliando, através de redes telemáticas, seus domínios. O
último
último passo
p asso realizado na dist
distopia
opia cyberpunk
cyberpunk é a penetração ou colocolo••

• ANDRÉ LEMO
LEMOSS | 2 0 3
 

nização do corpo humano. Surge, aqui, a banalização dos cyborgs,


híbridos com próteses as mais m ais diversas, como
com o Case ou Molly, perso-
nagens centrais de N
 Neu
euroromm an
ance
cer.
r.
Assim, no contexto dos anos 80, nasce um novo estilo de fic
çãocientífica
çãocien tífica em sintonia
s intonia com os humores da época: surgimento
su rgimento do
computad
com putador
or pessoal, redes telemáticas,
telemáticas, telefones portáteis, engenha-
engenh a-
ria genética, problemas ecológicos, crises dos sistemas políticos,
fundamentalismos religiosos. É isto que encontramos nos autores
cyberpunks: “um futu ro com múlti múltiplas
plas facetas, complexo, int egrado 
integrado
em uma visão globa l (..
(...) cibernética, da biotecnologia, d as redes 
.) da cibernética,
co municação.... ”493.
de comunicação..
As personagens,
personag ens, frutos dos princípios de de incerteza da modern
m oderni-
i-
dade, são antiheróis que buscam, no diaadia, encontrar soluções
 p a ra seu
 pa s euss pro
p robb lem
le m a s ex
e x iste
is tenn ci
ciaa is
is.. Ne
N e ste
st e sen
s enti
tido
do,, a fic
fi c ç ã o cy
cyberpun k é
herdeira de Burroughs494. As personagens não são hérois mas “...um  
bando de piratas form ad o po r perde perdedores
dores,, putas, drogados (.. .).. O 
...)
 futu
 fu turr o , n ó s o v e m o s p o r ccim
ima,a, ta
tall ccom
om o e le é v ivivid
idoo e n ã o m a is co
com m o 
especulação esté ril ”4 ”4995. 0 cyberpun
cyb erpunkk é, irremediav
irrem ediavelm elmente,
ente, “a ccul
ultutu
ra dos ano anoss 880,
0, com su suaa estranha e crescente integração integraçã o da mod moda a e 
da tecnologia  ”4  ” 496.
Embora
Em bora seja
se ja ficçãocientí
ficçãocientífica, fica, o estil
estiloo cyberpunk
cyberpu nk faz uma sátira sátira

 pdoo rpresente,
 po ser re s ediferenciandose,
se r p res n teís
te ísta
ta (Ma
(M a ff
ffee soliassim,
so li),
), urb andas
ur b anaa , outrasrq ucorrentes
a n á rqu ica
ic a e m icrodop ogênero
ic rop lític
lít icaa .
Seus temas não estão e stão distantes do nosso di diaadia.
aadia. PorPo r iss
isso,
o, cyborgs,
hackers e redes telemáticas são os sujeitos
sujeitos centrais. O cyberpun
cyber punkk re-
trata as sociedades pósindustriais avançadas, onde a economia, a
cultura,
cultur a, o saber,
saber, já foram, háh á muito, traduzidos
traduzidos em informaç
in formações
ões biná-
b iná-
rias. O ambiente retratado mostra como “o po de r é de agora em di
ante aquele do saber, da informação: redes interligadas que tecem  
uma teia de aran
aranha redorr do globo  ”497.
ha telemática ao redo
O estilo
estilo cyberpunk
cyberp unk é visto por críticos
críticos como a apoteo
apoteose
se do pós
moderno, um representante
represe ntante central do imaginário da cibercultura
cibercu ltura dos
anos 8049
80498. 0 prefix
pre fixoo ciber  vem
 vem de cibernética,
cibernética, a ciência do estudo
e studo do
controle de processos de comunicação
com unicação entre homens e máquinas,
má quinas, ho-
ho -
mens e homens e máquinas e máquinas. O  p u n k  revela
 pu   revela a atitude, a
força da rua no que nela há de mais trágico, imediato e violento. Os
cyberpunks são outsiders, criminosos, visionários da tecnologia. Eles
encarnam, na ficção e na vida real, uma atitude de apropriaç
apropriação ão vitalista

204
20 4  CIBER
CIBERCULT
CULTURA,
URA, TECNOLOGIA E VIDA SOCIAL N A CULTURA CONT
CONTEMPOR
EMPORÂNEA
ÂNEA •
 

da tecnol
tecnologia.
ogia. O univer
universo
so de sua fificção
cção est
está,
á, justam ente, na conjun-
ção social
so cial do reino da tecnologia de pontponta,
a, da racionalidade, da hard-  
science,   com o lado subterrâneo, hedonista, tribal da sociedade de
hoje. Como parte da cibercultura,
cibercultura, o estilo
estilo cyberpunk apo
aponta
nta para uma
sinergia entre as tecnologias digitais do ciberespaço e a socialidade
contemporânea.
Os cyberpunk
cyb erpunks,s, reais e da fic
ficção,
ção, encarnam o mito dos antigos
aventureiros. A imagem do ciberespaço é aquela da conquista de
novos mundos, não significando aqui dominação ou o controle de
um território físico,
físico, mas exploraçã
exploração o de novos territórios simbólicos:
simb ólicos:
a colonizaç
colonizaçãoão do ciber
ciberespaço.
espaço. N ão é sem consequ ência que Norman
Spinrad propõe analisar a ficçãocientífica cyberpunk pela ótica
neurom ântica. O termo é um trocadilho entre neuro e mântico, crian-
neuromântica.
do mágicos cibernéticos, unindo a força racional da neurociência
com as potências desconhecidas da magia. De um certo modo, os
cyberpunks querem apropriarse
apropriarse da rracionalidade
acionalidade tecnológica mo-
derna, em butindo aí a fi
filosofia
losofia do do it byyo urself.  Ele é “um m
mág
ág i
co de hoje cuja bruxaria consiste eemm efetuar diretam
diretam ente a interf ace  
interface
entre seu sistema nervoso protoplásmico e o sistema eletrônico da  
infosf
infosfera
era,, servindo de imagens para manipulá-las (e ser manipu la
da p o r el
elas)
as),, da mesma maneira que os xam ãs tradicionais se ser
viam de imagens para agir, pela droga ou o transe, nos espaços  
míticos tradicionais  ”  ”49
499.

 A m açã é m
mordida:
ordida: N
Neuro
eurom
m an
ancer
cer de Gibson e o Big Broth
Br other
er de Orwell
O rwell

 N e u ro m a n c e r d e W. G ib
 Ne ibso
son
n é p u b li
licc a d o e m 198
1984,
4, o a no d a
distopia
dist opia hom ônima de Orwell Orwell.. Va
Vamo
moss tentar mostrar que “ 198 1984”
4” de
Orwell não tem muito a ver com o verdadeiro ano de 1984, data da
 p u b li
 pu licc a ç ã o d e N eu
euro
rom
m an
ance
cer.
r. N o ttra
raba
balh
lhoo de O rwrwee ll
ll,, o G ra
rann d e Ir
Irmm ão
(Big Brother)   controla e aniquila a vida social. Com Gibson, os
cyberpunks
cyberpun ks aniquilam, ou tent
tentam,
am, o Bi
 Bigg Br
Broo th er  cibernético. Esta pode
ther 
ser uma boa metáfora da passagem da tecnocultura moderna para a
cibercultura pósmodem
pósmodem a.
“1984”, de G. Orwell foi publicado em 1949 a partir de um
manuscrito de 19 1948
48 chamado “O último homem da d a Europa”
Europa”.. A distopia
de Orwell busca denunciar os perigos do totalitarismo tecnocrático

em que a tecnologia re
reduz
duz o homem a uma função de simples máqui•
máqui•

• AN
AND
DRÉ LEMOS| 205
 

na, reg ida


ida,, vigiada e controlada pel
pelo
o onipresent
onipresentee Big Brot
Brother,
her, entida-
de supre
s upremm a, líder da soci
sociedade
edade..
O m undo estestáá em guerra em
em “ 19
1984
84”” : mundo da Políc
Polícia
ia do Pen-
sam ento, q ue tenta evitar o pensamento ao máxi máximo, mo, considerado este
uma traiç
traição
ão int
intolerável
olerável;; mundo da busca de uma língua cientí científica,
fica, cuja
meta principa
prin cipall é diminuir o número de pa palavra
lavrass em dicionários tentan-
do, dese spera
speradamdam ente, redureduzir
zir as possi
possibili
bilidades
dades de expressividad
expressividadee d do
o
ser hum anano;o; mun
mundo do do Ministéri
Ministério o da Ve Verd
rdade
ade que, de fat fato,
o, man
manipula
ipula
informa
infor maçõe
çõess ccom
om int
intuitos
uitos polí
político
ticos,s, misturando fficçãoicção e rrealidade;
ealidade; m mun-un-
do do M inistério do A Amor
mor onde tort torturas
urasee e reintegras
reintegrasee desajust
desajustados.
ados.
Este é o mumundo
ndo de Orwell, traz trazido
ido pelpelaa ali
aliança
ança de um pod poder er polí
polítitico
co
totalitário e o poder das novas tecnologias de comunicação.
O universo
unive rso de Orwell, nest nestee fat
fatídi
ídicoco “ 19
1984
84”,”, é vverdadeiramente
erdadeiramente
kafkiano, onde todos são supervisionados por um olhar ameaçador,
fechados num verdadeiro p  pa
a n o p ticu
ti cumm  eletrôni
 eletrônico.co. A so sociedad
ciedadee hiper
tecnológica de Orwell é constituída por indivíduosnúmeros, unidos
 po
 p or u
umm a e sp
spéé c ie d e reli
re ligi
gião
ão ci
cien
entítífi
fica
ca.. A re
reli
lig
g iã
iãoo , eest
stee se
senn ti
timm e n to d e
enca nto de e star liga
ligado
do a outr
outros
os ou a algo maior (re-ligare ), transfor-
mase e m ideologia de mass
massa,
a, em contr
controle
ole do pensamento, em morte
morte
do hum ano
ano.. A ficção “ 19
1984”
84” representa um deserto imposto pela con-
 ju n ç ã o d a ra
racc io
ionn a li
lidd a d e , do to
totatali
lita
tari
rism
sm o e d a te
tecncnoo lo
logg ia:
ia : m u n d o d e -
sencantad
senc antado,o, d iría Max W Web eber
er..
 No
 N o e n ta
tann to
to,, e m b o ra a ffic
icçãçãoo “ 198
1984”4” no
noss sir
s irv
v a cco
o m o a la
larm
rm e so
so- -
 bree o
 br oss p o te
tenn c ia
iais
is p e ri
rig
gos d do
o qu
q u e eest
stam
am os vi
vivv em o s h oj
oje,
e, o m u n d o rreal
eal
do ano de d e 1984 vai ser diferente daquele esboçad esboçado o por Orwell. 19 1984
84
será o ano do nascimento da revolta contra o controle tecnocrático,
contra esta
e sta aliança entre poder e tecnol tecnologiogia:
a: o nascimento da atitude atitude
cyberpunk. Embora os perigos do aparecimento de um  Bi  Big
g B roth er  
ro ther 

estejam presentes, a rua vai encontrar formas de ação sobre o desert deserto
o
da técnica pintado por Orwell. Talvez, aqui, estejamos vendo o
surgimento
surgim ento d
dee novas possibi
possibililidades
dades de apropriação tecnológica que
ir
irão
ão cara cteriza r a ci
cibercult
bercultura.
ura. Para a m
morte
orte da hum anidade, para o
desenc antam ento do mundo do “ 19 1984
84”” de Orwell,
Orwell, a realidade do ano
de 1984 vai v vivenciar
ivenciar o surgimento do Macintosh, representante, como
vimos, de um movime
movimento nto de oposi
oposição
ção à tecnocraci
tecnocraciaa (surgi
(surgimento
mento da
m icro
icroinf
inform
orm átic
ática)
a) e da
d a distopia
dis topia cyb
cyberpu
erpunk5
nk5000.
Parece
Pa rece,, então, que o verdadeiro ano de 19 1984
84 rejeita e luta con-
tra a prisão cibernética do Big Brother de OrwellOrwell.. “ 1984”
1984” de Orwell é

20 6   C I B ER C U LT
206  L T U R A , T EC N O L O G I A E V I D A S O C IA
IA L N A C U L T U R A C O N T EM P O R Â N EA •
 

a oposição radical aos sonhos da mo


modernidade
dernidade tecnológica. O reverso
da utopia técnica e dos sonhos do progresso científico.
científico. A utopia m
mo-
o-

derna e a distopia de “ 1984 1984”,


”, verso
verso e reverso de uma um a m esma moeda,
insistem, por
po r ângulos diferentes, nos poderes ilimitados da tecnologia tecnolo gia
e seu sistema
sistema autôno
autônomo mo (Jac
(Jacques
ques El
Ellul
lul).
). Se a modern
modernidade
idade represen
representa ta
o sonho positivo de uma u ma sociedad
sociedadee per
perfeit
feita,
a, racional e asséptica, “ 19 1984
84””
é seu simétrico contrário, o pesadelo, o controle, a robotização do
homem, a morte d daa humanidade pela técnic
técnica, a, a artifícialização da vivida.
da.
Aqui a tecn ologia
olog ia determina a vida sociasocial.l.
 No
 N o e n ta
tann to , o an
ano
o d e 1984
198 4 é a q u e le o n d e as p ro
rom
m e ss
ssaa s da
modernidadee tecnocrática d
modernidad desabaram,
esabaram, como referido anteriormente. Dois
eventos são marcantes: a publicação de “Neuromancer” de William
Gibson e a aparição do Macintosh. Neuromancer bate o  Bi  Big
g Broth
Br otherer,, 
da memesma
sma form a que o Macint Macintoshosh bate o  Bi  Big Bl ue,, a gigante IBM.
g Blue
A maçã mordida, marca da  A  Ap le ,   é o símbolo da queda, do
p p le,
 peca
 pe cadodo ororig
igin
inal
al p el
elo
o qu
qual
al a hum
hu m an
anid
idad
ade, e, d e fifin
n it
itiv
ivam
am e nt
nte,
e, sai d
daa nnaa tu
tu--
reza divina e entra no humano, na cult culturaura m mundana,
undana, coloca
colocandondo o ho-ho -
mem no ciclo eter eternono do sofrimento e do trabal trabalho. ho. O M acintosh, com -
 pu
 p u ta
tadd o r pe
pess
sso
o a l, in
inte
tera
rativ
tivo
o (íc
(ícon
ones
es,, ja
j a n e la
lass e m ou ouse
se)) e co
conn v iv
ival
al vai
 pr opor
 prop orci
cion
onar
ar,, p
pee la p
pri
rim
m ei
eira
ra v
vez,
ez, ao g
gra
rand
ndee p
púú bl
blic
ico,
o, a aap
p ro
ropp ri
riaa ç ã o té
técc -
nica,
nica, simbólica e social da informáti
informática,ca, até então proprieda
propriedade de privada
de uma elite científic
c ientíficaa e industri
industrial.
al.
A maçã
m açã m ordida guarda aqu aquii toda sua carga simbólica.
simbólica. Ela ilus- ilus-
tra,
tra, no caso ddaa microinformática, o pecado da mo modernidade,
dernidade, seu ver-
dadeiro pesadelo
pesad elo tecnológico:
tecnológico: desce
descentralização
ntralização do podepoderr e a possibi-
lidade da rua encontrar formas novas de uso da tecnologia. A maçã
mordida é um golpe poderoso no coração da modernidade tecnocr tecnocráti ática.
ca.

Ela é da
duto o antimod
anti modelo
contracu
contracultura elo
lturadoamericana,
m
mundo
undo pin pintado
atado por Orwel
Orwell.
microinform l. Com
ática o vimos
vimos,, pro-
é conseqiiência
de uma atitude perante o mundo da tecnologia militar. Os radicais
califomianos,
califom ianos, infl
influenciados
uenciados pelas idéi idéias
as dos anos 70 (pac (pacifismo,
ifismo, liber-
dade sexual, ecologia, comunidade), vão competir com o sistema
tecnocrático através de uma um a posição próatpróativa. iva.
 Nãã o h á n o va
 N vass ut
utop
opiaias.
s. N ão sust
su stee n ta
tas
see a c o n fi
fiaa n ç a c e g a na
nass
 pro
 p rom
m es
essa
sass c ie
ienn tí
tífí
fíco
cot
tee cn
cnoo lóg
ló g icas
ic as.. V á ri
rioo s fa
fato
tore
ress c o n tr
trib
ibu
u ír
íraa m pa
para
ra
este estado de coisas: potência nuclear destrutiva, deterioração eco-
lógica,
lógica, militarização crescente, desigualdade soci social,
al, entre outros. Isto
nos obriga a manter
ma nter os olhos abertos perante as prom essas nã não o cum
cum••

MOS | 207
• A N D R É L EEM
 

 prid
 pr idaa s p e la m o d e rn
rnid
idaa d e tecn
te cnol
ológ
ógic
ica.
a. N ã o pod
po d e m o s s e r in
inggênuos e

 p e n sa
 pe sarr qu
quee o ssu
u rg
rgimim e n to d
doo Bi
 Bigg Bro
B roth er  esteja
ther   esteja com pletamente afasta-
do. Bill Gates é a prova disso (mesmo que ele seja supervalorizado
em seu poder ou visão de futuro).
 No
 N o en
enta
tant
ntoo , pod
p odem
em o s d iz
izee r qu
que,
e, ao cco
o n tr
tráá ri
riood
dooq
quue p
pre
rev
v ia
iamm os
apocalípticos,
apocalíptico s, a sociedade dá sinais de vital vitalismo,
ismo, utilizand
utilizandoo a tecnolo
tecnologia
gia
com um vetor de catáli catálise
se comunitária.
comunitária. O social parece não estar mor- mo r-
to. O fenômeno da internet está aí para provar. Por mais que digam
que apenas comutamos bits, acontece muito mais nessas agregações
eletrônicas que são os chats,  as li listas
stas de discussão, os  M  MUU D s.
Sendo assim, se não há mais utopia possível, isto não implica,
entretanto, uma homogeneização e um controle total da vida social.
Se a modernidade criou o imaginário da técnica infalível e positiva,
apontando
apon tando pa
para
ra o futuro, a cibercul
cibercultura
tura está ancorada no presente. A
maçã mordida
mo rdida do Macintosh é o ssímbolo
ímbolo do outono do homem indivi-
dualista, emancipa
em ancipado,
do, racional e obj
objetivo.
etivo. Em luga
lugarr de ser o mom
momento
ento
do desencanto radical do mundo esboçado por Orwell, o verdadeiro
ano de 198
1984
4 parece ser uma espécie de de reencantam ento da tecnologia
con tempo
contem porân
râneaea.. N eu
eurom
rom an
ance
cerr de WWilliam
illiam Gibso
Gibson5
n501 é, assim , o trab traba-
a-
lho que melhor reflete a cultura tecnourbana dos anos 80. O livro
 po
 p o p u la
lari
rizz a o m o v im e n to c y b er
erpu
punk
nk na fificç
cção
ãoc
cie
ienn tí
tífi
ficc a . E, o m ais
ai s
importante, ele vai form formarar e ampliar
am pliar o imaimaginário
ginário da cibercul
cibercultura.tura.
O universo cyberpunk cri criado
ado por Gibson apresenta um qu quotidi-
otidi-
ano cruel e banal, permeado perme ado por tribotriboss urbanas, onde o uso de droga drogass
e a pirataria nas redes de computador são práticas comuns. Gibson
não pretende falar fa lar do futuro, mas usálo com como o me
metáfora
táfora do presente.
Ele retrata o underground
undergrou nd da microinformática
m icroinformática que, a partir dos anos
60 vai se formando com os primei primeirosros phreakers (pirat
(piratas as do telefone) e
depois os hackers  (os piratas piratas das redes de com computadores),
putadores), m odifican
odifican- -
do a form
form a de uso desses equipamentos. A motivaçã motivação o pri
principal
ncipal tradu-
ziase no prazer em comunicarse e viajar pelo universo de dados,
além de desm oralizar a segurança de sites sites sensí
sensíveis
veis.. E
Em m umaum a entrevis-
ta a Thimothy Leary, Gibson declarou: “o que é mais importante é  
que istoisto é sobre o presente. realmente sobre um ftíturo  
presente. Isto não é realmente
i m a g i n a d o ”5011.
E m  N
 Neu
euro
rom ce r,   a  M
m a n cer,  Ma tr ix,, o ciberespaço, é mais importante
a trix
que o espaço euclidiano no qual vivemos e de onde percebemos o
mundo. O trabalho do antih
antiheróierói Case, como o dos phreake
phreakers
rs e hackers,

8   C IB
208 
20 I B ER CU
CU L T U RA
R A , T EC N O L O G I A E V I D A S O C IA
I A L N A C U L T U R A C O N T EM P O R Â N EA •
 

consiste em pene
consiste penetrar
trar redes de computadores de grandes com panhias
multinacionais. O ambiente cyberpunk reflete, assim, o presente, a
globalização do m undo e a internacionali
internacionalização
zação da economia.
econom ia. Aqui,
A qui, a
aldeia global perde suas fronte
fronteiras
iras:: a geog
geografia
rafia vale menos q
que
ue o po-
der do tempo real.
real. D
Dee certa manei
maneira,
ra, Neurom ancer traz papara
ra a ficção
científíca o que já estava nas ruas (caos urbano, hacking,  globalização,
falência dos projetos modernos...
modernos...).).
 Nee st
 N stee m e sm o a no
no,, 1984, o m un
undo
do co
conn h e c e aass pr
prim
im e ir
iraa s p ir
iraa ta
ta--
rias de com putador, os vírus e os primeiros artist artistas as cibern
cibernéticos.
éticos. Os
 pr im eiro
 prim ei ross hackers  buscam apontar p para
ara novas possibili
possibilidade
dade e po postu-
stu-
ras inéditas frente ao mundo tecnológico. Contra a dominação
tecnológica, os cyberpunks reais (hackers, crackers, phreakers,  
cypherpunks, ravers)   propõem o delírio virtual do ciberespaço, as
guerrilhas quotidianas contra o Big Brother, as agregações, comuni-
tárias ou não, das tribos eletr eletrônicas,
ônicas, a luta pelos direitos dos netizens  
(cidadão s do ciberespaço ). Con tra tra o Bi
Big
g B rother de “ 198 1984”,
4”,
 Nee u ro
 N romm a n c e r e o M ac
acin
into
tosh
sh,, nasc
na scid
idos
os e m 198
1984,
4, s im
imbb o li
lizz a m o p
pee sa
sa--
delo da modernidade tecnológi
tecnológica, ca, o surgi
surgimento
mento ddaa cibercul
cibercultura.tura.

Cyberpunk pós
pós-mode
-modemo
mo

Parte fundamental
fundamen tal da cibercultura
cibercultura contemporânea, a ficçãoci
ficçãocien
en
tífica cyberpunk é, segundo alguns estudiosos, um reflexo da cultura
 pó
 p ó s
smm o de
demm a. O s au
autor
tores
es cy
cybe
berp
rpun
unks
ks,, ati
ativi
vista
stass e ar
artis
tista
tass elet
el etrô
rôni
nico
coss
compõem a primeira geração de usuários para os quais os satélites,
computadore
com putadoress e redes de computador fazem parte do seu dia a dia. dia. Eles
são influenciados por escritores com
como o Thomas Pynchon, W., Burroughs
ou Ballard. Co
Como
mo explic
explicaa McC
McCaffery5
affery5003, a cultu
cultura
ra cyb
cyberp
erpunk
unk é u
umm estilo
(umaa ima
(um imagem
gem soci
sociocultural
ocultural)) da vida soci
socialal contemporânea,
contemporânea , qu quee alguns
autores identificam como tipicamente de pósmodem
pósmodemo. o.
A narrativa cyberpunk
cyberpun k é um exemplo. Ela caracterizase por ser
uma mistura de estilos (fantástico, distópico, urbano, tecnológico),
utilizandose
utilizand ose da sátira ((paródia
paródia e pastiche) e de outras formas literári-
as, com
co m o o horror, o polici
policial,
al, o fant
fantástico.
ástico. Para Csicsery
CsicseryRon
Ronay ay Jr.
Jr.,, a

narrativa cyberpunk reflete a apoteose do pósmodemismo por ser,


ao memesmo
smo tempo, negação (da filos filosofia,
ofia, do corpo, da história, da po-
lítica...)
lítica...) e afirmação, ccontra
ontra a ttecnocracia.
ecnocracia. Assim, cyb
cyberpun
erpunk k não é só
um conceito, mas conseqüência da síntese social, nascida nos anos• anos •

MOS | 209
• A N D R É L EEM
 

80, pela m istura de cultura tecnológica e ativi


ativismo
smo underground.  Para
o escritor Bruce Sterling,
Sterling, o cyberpunk é mais umumaa cultura do que um
movimento
mov imento literár
literário.
io.
Ro nay Jr
Ronay Jr.. aponta para as dif
diferenças
erenças entre a fi
ficção
cção ccybe
yberpun
rpun k e
as outras correntes. Para este, no iníci
início
o dos anos 50, a ficç
ficçãocientífi
ãocientífi
ca era de caráter
cará ter expansionista (exploração intergalácticas), refletin-
do a utopia tecnicista da modernidade e seu otimismo ideológico
científico. Em 1960, este vetor futurista e conquistador é invertido,

sendo a fase da d a implosã


implosão o e destruição da ideologia li liberal
beral da tecnologia.
Podese dizer
dize r que a fic ficçãocient
çãocientífi
ífica
ca nom eada N  Nee w Wa ve,  da década
Wave,
de 60, é dominante, e a corrente cyberpunk a sua atualização. Os
computadores entram, neste contexto, representando a possibilidade
de m odelar (si(simular)
mular) o mundo e o corpo humano. A ficção cyberpunk
vai explorar as ramificações
ramificações da tecnol
tecnologia
ogia em um ccontexto
ontexto de capita-
c apita-
lismo
lismo tardi
tardio,o, pósindustrial e mediaticamente satur saturado.
ado. G ibson exexplo-
plo-
ra bem
be m e sta cultura
cultu ra cocontem
ntem poporâne
râneaa em seu livro, Id Idoru
oru 504, unindo cucul-
l-
tura de massa,
ma ssa, cultura do espetáculo e clones cibernéticos.
Ficção e arte cyberpunk atuam na apropri apropriação
ação de signos da so-
ciedade do espetáculo. De acordo com Hol Holli
linger
nger,, o cyberpun k ad adqui-
qui-
re uma forma antihumanista, como um sintoma da nova condição
 pós
 pó sm
m o d e rn
rnaa . A fi
ficc ç ão c yber
yb erpu
punn k é "uma express
expressãoão nova e fa sc i
nante de uma herança an anti
tiga,
ga, uma consequênci
consequência a do pró prio sistema  
nervoso humano;
hum ano; o impulso para pa ra invent
inventarar a hiper
hiper-reali dade e então  
-realidade
viver conectado (...). Mais precisamente, ciberpunk é uma manifes
cultura l..... ”505. O conceito
tação cultural... conc eito CCyb
yber/
er/Pu
Punk
nk vin
vincu
cula,
la, ass
assim
im,, pas
passa
sado
do

e futuro, apolíneo e dionis


dionisíaco,
íaco, articul
articulando,
ando, irremediavelme
irremediavelmente, nte, altas
tecnologias e atitude social anárquica, tribal; características da
socialidade
sociali dade pósmo
pósmoderna.
derna.
Ao associar cibernética (o controle maquínico sobre a vida) e
 pu
 p u n k  (élan
 (élan vital contra os controles),
controles), a ficçãocientífica
ficçãocientífica cyberpunk ade-
re desesperadamente
desesperadam ente ao pre presente.
sente. O cyberpunk representa o "colapso  
do futuro no presente  ”506. Não exist ex istee ma
mais
is a gr
gran
ande
de his
histór
tória.
ia. A go gora
ra
estamos na vertigem do fluxo de pequenas histórias. A parte “ciber”
mostra a relação estreita entre
entre nosso sistema nervoso central e a micro
eletrônica (ciberespaço, implant
implantes,
es, nanotecnolog
nanotecnologias).ias). A parte p
 puu n k  soma,
 soma,
 para
 pa ra alalém
ém do m unundo
do d a ci
cibe
bern
rnéti
ética
ca,, a ap
apro
ropr
pria
iaçã
ção,
o, a pa
paixixão
ão trtriba
iball e
urbana, a atitude “faça você mesmo” no coração da racionalidade
tecnológica.
tecnológi ca. Pa
Para
ra Porush "o cyberpunk
cyberpun k é a reinser
reinserção
ção e a readaptação

210
21 0  C I BE
B E R C U LLT
T U R A . T E C N O L O G I A E V I D A S O C IIA
AL N A CULTURA CON TEM PORÂ NEA '
 

do código genético sobre o código industrial que tentou suprimi-lo.  


 Elee é a gu
 El guee rr
rraa entr
entree na
natu
tura
rall e arti
artificia
ficial,
l, e sua
su a iine
nevi
vitá
táve
vell de
desc
scon
onst
stru
ruçã o 
ção
(.
(...
..).
). E
Ele
le é a gu
guerra paixã o e tecnologia  “5
erra entre paixão “507.
O imaginário
im aginário cyberpunk coloca em evidência a quebra de fronte frontei-
i-
ras entre o orgânico
orgân ico e o inorgâni
inorgânico,co, o indivíduo e a tribo, o natural e o
artifici
arti ficial.
al. Es
Essa
sa desconstrução é uma de suas características
características pósmoder
nas.. Com o afirma F
nas F.. JJameson,
ameson, a fragmentação pósm pó smode
odemama da ssubjeti-
ubjeti-

vidade é o equivalente
na pósmodemidade
pósmodem idade uma à alienação
inversã
inversão o dodo milenari
indivíduo
milenarismo,moderno.
smo, o fim dasJam esonogi-
ideol
ideologi- vê
as, da gra
grandende arte e das classes socia
sociais,is, além da crise de Leninismo,
Leninism o, da
democracia
dem ocracia social e do wel welfare State.. A
fare State  Assim,
ssim, Hollinger, po porr sua vez, vai
mostrar que “o potencial no cyberpunk para tomar indeterminados  
conceitos
con ceitos com o ‘sub subjetividade
jetividade ’ e ‘ide
identid
ntidad
ade’
e’ deriv
derivaa em par
partete de suas  
 pro
 p rod
d u ç õ e s cco
o m o qu
quee te
temm sid
sido
o ch
chamamad adoo de ‘im
imag
agin
inaç
açãoão te
tecn
cnol
ológ
ógicicaa ’ 
(technological
(technolog ical iimaginat
magination),
ion), ist
isto
o éé,, cyberpunk
cyberpu nk é fic
ficçç ã o científi ca dura  
científica
que reconhec
reconhecee o pape papell da tec
tecnolog
nologiaia nas sociedades pós-industriais ’,5  ’,5°8.
O cyb
c yberp
erpun
unkk é fascinado pelos ícones d daa cu
cultura
ltura eeletrôn
letrônica5
ica5009, o
que vai caracterizar, para Landon, sua narrativa. Esta realiza a con-
vergência entre os ma mass media,, escritores, vídeoartistas, infografistas
ss media
e web-designers. O  ambiente da arte cyberpu cyberpunk nk é “a a rena glob al da  
arena
cultura eletrônica  ”51 ”510, afirma. Da me mesmsmaa fform
orma,a, Bru
B ruce
ce SSter
terlin
ling,
g, nnoo
 pre
 p refá
fácc io d o se
seuu li
livr
vro
o M irirro
rosh
shad
ades
es,, m o stra
st ra b em o p a rarale
lelo
lo e n tr
tree o
cyberpunk, a cultura de massa m assa e o underground, indicando infl influências
uências
que vão da literatura (Pynchon, Burroughs, Rimbaud, Dick), aos fil-

mes e vídeos (George Romero, David Cronenberg, o Ridley Scott),


chegando
chegan do m esmo à música (New Age, PósIndustrial, T Tecno).
ecno).
O que amalgama o cyberpunk à cultura de massa e o under
ground é   uma atitude de desafio em relação às normas estéticas e
culturais
cultur ais e, ao m esmo tempo, de desconfi desconfiança ança para com a racionali-
dade dos discursos
discu rsos e atitatitudes
udes ligados à ttecnologia.
ecnologia. P or iss isso,
o, as esté-
ticas eletrônica e  p  puu n k   vão fazer com que os cyberpunks usem as
tecnologias como armas de sobrevivência sobrevivência na sociedade contem po-
rânea, unindo o grotesco e o bizarro, abusando das colage colagens ns e sam-  
 plin
 pl ingg s: “s e u s tra
tr a b a lh
lhoo s sã
sãoo sa tu
tura
ra d o s c o m v á ri rio
o s te
temm as e p reo c u
 pa
 p a ç õ e s s im b ó lic
li c a s - p a r a n ó ia
ia,, v io
iola
laçç ã o e m a n ip ipu laçç ã o s e x u a l e 
u la
 pss íq
 p íquu ic
icaa , o d e se jo d e a d q u iririr
ir tr
traa n sc
scee n d ê n c ia a tr
traa v é s d e d ro
roga s,  
gas,
religião
reli gião ou da d dança
ança de dad dados
os gerada po r com pu tad ore s’ s’’’5" .•
• A N D R É L EM
EM O S 21 1
 

Mod a cyber
cyberpunk 
punk 

A moda
mod a cyberpunk ref reflet
letee bem o espírito do tempo. E la carac carac
terizase
teri zase por ser um “esti“estilolo de rua” composto de p  pie
ierc
rcin
ingg s , tatuagens,
 blu
 bl u sõ
sões
es d e c o u ro p re
reto
to,, ó c ulos
ul os e sp
spel
elha
hado
dos,
s, ro
roup
upaa s in
inte
teli
ligg e n te
tess (q
(quue
mudam de cor, adaptamse à temperatura externa ou mesmo elimi-
nam bactérias),
bactérias), aatété o uso de weareables computers, tecnologias nô-
mades, computadores que podem ser vestidos.
 Nos
 N os atatu
u ai
aiss de
desf
sfil
ilee s d e m od
oda,
a, as úlúltim
tim a s te
ten
n dê
dênn c ia
iass tr
traa z e m ro u -
 pass ““in
 pa intetelig
ligen
entetes”
s” ou fafabr
bricicad
adasas a pa
part
rtir
ir d e tec
tecid
idos
os ““es
escu
culplpid
idos
os”” a laser.
A moda
m oda cyberpu
cyberpunk nk abusa
abu sa de materi
materiais
ais sintéticos,
sintéticos, utilizando acessó acessóri-ri-
os oriundos da ficçãocientífica, como máscaras antipoluição, rou-
 pass com cir
 pa c ircu
cuito
itoss elet
eletrô
rônic
nicosos,, bijute
bij uteria
riass com su suca
cata
ta d a era dig
digita
itall (c
(com
omoo
 bri
 b rin
n c o s de chips,  colares com CDRoms, eetc tc).
). Com o uma cultura de
estilistas são adeptos do que se denom ina hoje de Street wear.
rua, os estilistas

Um a das dem onstr


Uma onstrações
ações priprincipai
ncipaiss dessa moda pode ser encon-
trada no covert design 512 (um (umaa ap aprop
ropriaç
riação
ão d dee mmarca
arcass fam osa
osas,s, sub
vertendose sentidos, numa num a espécie de hacking), nos cyber-suits (rou-
 pass c o m m a te
 pa teri
riaa is si
sint
ntét
étic
ico
o s e inte
in telig
ligenente
tess qu
quee ag
agee m c o m o u m a se se--
gunda pele, absorvendo a transpiração) e nos wearable systems   e
acessórios cibernéticos, como por exem exemplo plo os ciberbon
ciberbonés és produzidos
 pee la N A S A q u e is
 p isoo la
lamm o ccéé re
rebr
broo da
dass ra
rad
d ia
iaçç õ e s ex
exte
tern
rnas
as.. A q u i, m ais
ai s
uma vez encontramos o mesmo princípio do hacking , uma arte da
apropriação, edição de informações.
Para os cyberpunks, as roupas não são só hardware,  cobertura
material
mater ial,, mas
m as tamb
também ém software, programas que tratam a informação. A
roupa deve ser práticprática, a, efici
eficiente
ente e inte
intelig
ligente
ente,, em sintoni
sintoniaa com a socie-
dade
da de pó
pósin
sindus
dustrial5
trial5113. E m LLondr
ondres,es, n
naa Itália, na França,
Franç a, nnos
os PPaíses
aíses BaBai-i-
xos e nos EUA, há várias lojas especializadas. Como expressão da
cibercult
ciber cultura,
ura, a m oda ccyberpunk
yberpunk é aquela do lifutu futurop
ropós-
ós-indu strial, que  
industrial,
será real
realizado
izado através da ccombinaçã
ombinação o do arcaico e do cibernético ”5  ”514.
• • •

A cultura cyberpunk não é somente uma corrente da ficção


científica, mas um fato sociológico irrefutável, uma mistura de
esoterismo, programação de comput
esoterismo, computador,
ador, pirat
pirataria
aria e ficçãocientífi-
ca, influenciada pela contracultura americana e pelos humores dos
anos 80
80.. Cu
Cultura
ltura hipertecnológi
hipertecnológica,
ca, ela está presente em vários países,
com formas diferentes de expressão. A atitudeatitude cyb erpunk é, acim a

2 / 2 | C I B ER
E R C U L TU
T U R A , T E C N O L O G I A E V I D A S O C IA
IA L N A C U L T U R A C O N T E M P O R Â N E A •
 

de tudo, um comportamento irreverente e criativo frente às novas


tecnologias digitais: “se você é um tecno-junkie ou um info-junkie, 
info-junkie,  
então pro
provave
vavelmen
lmente
te você po
pode
de considerar-se um c yb yberp
erp un k”
k”55'5
'5..
Com o imaginário
imaginário tecnológi
tecnológicoco cyberpunk (mistura de fi ficção
cção
científica e realidade quotidiana) a radicalização da racionalidade
tecnológica m oderna mescla
m esclase
se a uma forma de so sociali
cialidade,
dade, estética e
emocional.
emo cional. Se a tecnolog
tecnologia
ia na modernidade foi o bastião de Apoio, a
cibercultura pósm odem a par
parece,
ece, com os cyberpunks
cyberpunks,, expressar uma
atitude dionisíaca no coração da tecnocracia. O dionisíaco da
socialidade
socialidade co
contemporânea
ntemporânea fundes
fundesee com a tecnol
tecnologia.
ogia.
Os cyberpunks recusam a utopiutopiaa tecnol
tecnológica
ógica.. Eles joga m com
as regras impostas pelo sistema tecnocrático
tecnocrático e procuram,
procuram , pela sub
subver-
ver-
são e prazer,
prazer, questionar o poder tecnológico
tecnológico mod
moderno
erno e po pularizar a
idéia de que computadores são ferramentas de liberdade, prazer e

com unicação,
comunicaç ão, acessíveis a ttodos
odos e não um p privilégio
rivilégio da elit
elitee científi-
ca, ou militarindustrial. A tecnologia deve ser uma ferramenta de
construção existencial, aqui e agora. A modernidade futurista cede
lugar à pósmodernidad
pósmo dernidadee presenteí
presenteísta.
sta.
Como
Com o produto do espí
espírito
rito conte
contemporâneo,
mporâneo, a cibercultura caracte-
rizase por uma impregnação das novas tecnologias
tecnologias em umumaa vida social
social
cansada das promessas do futurofuturo e da severidade do individualismo mo-
derno. A cibercultura, apoiandose no sonho principal da modernidad
mod ernidade, e, a
informatização
informatiza ção da sociedade, vai ser o seu próprio pesadelo, em oposição
opo sição
à tecnocultura. Não é ao acaso que os mass media  media   e os poderes
tecnocráticos constituídos temem tanto a anarquia
anarq uia da internet, a pirataria
de software,
software,   os hackers,
hackers,   quanto o barulho da música tecno, os jogos
eletrônicos ou os vírus.
vírus. Hoje, a dimensão mais importante da cibercultura
está localizada nesta forma
form a de apropriação social da tecnologia.
tecnologia.
A rua vai dar colorações às novas tecnologias. Toda a
cibercultura vai ser dirigida por esta atitude, sendo a tecnologia, ao
mesmo tempo, instrumento de opressão e de salvação,
salvação, pela subver-
são. A cultura
são. c ultura cyb
cyberpunk
erpunk é, assim, a “a imbricação de universos ou-  ou- 
trora
tror a separados: o rei reino
no da tecnol
tecnologia
ogia de po
ponta
nta e os asp
aspectos
ectos mo
moder
der
nos do un de rg rgro '6.. Esta integração
ro un dp op ”5'6 integração é, claramente, um re refle-
fle-
xo dos anos 809 8090,0, sendo a junção entre a tecnologia e socialidade
 pó
 p ó s m o d e m a a m a rc
rcaa do
doss c yb
ybererpu
punk
nks.
s.
Para os cyberpunks
cyb erpunks a tecnologia é visceral, ela invade o corpo e
até mesmo
mesm o a mente. As redes de computador
computador,, os satélites e a multimídia

fascinam esses autor


autores.
es. M esmo as
assi
sim,
m, a cultura cybe
cyberpunk
rpunk não pode
ser definida somente
som ente pela tecno
tecnologi
logia.
a. E
Ela
la é, antes, uma atitude em q
que
ue
as tecnologias vinculamse ao p presente
resente mais urgente, como um a for-
ma do “homem sem qualidades
qualidades”” escapar às prpressões
essões da racionali
racionalidade
dade
moderna. Todas as formas são boas, desde a subversão de signos,
 p iraa ta
 pir tari
riaa s, im
impp ro
rovv is
isaa ç ão
ão,, a té a ccri
riaa çã
ção o ar
artí
tíst
stic
ica.
a. A q u i, a p
paa rt
rtee p
 pu u n k  da
 da
expre
ex pressãssão og gan
anha
ha força
fo rça.5 .51
17
A solução proposta pelos cyberpunks é: “fa ç a você m esm esmo o de  
sua vida um a obra de art arte,
e, aaqui
qui e agor
agora. a. A tecnologia está a í pa parara te  
ajudar. Mas desconfie das promessas da ciência e da tecnologia.  
 Exx p lo
 E lore
re a s p o s s ib
ibil
ilid
idaa d e s si
sim
m b ó li
licc a s e co
concncre
reta
tass d a u ti
tili zaçç ã o d o s  
liza
objetos técnictécnicos.
os. Pegue em suas mãos o destino destino tecnológico do p la
neta. ComComuniquunique,e, troque, toda a inform informação ação é boa e de deve
ve ssee r llivre”
ivre”5 51*. 

O cyberpunk
cyb erpunk é, assim, “o p il
ilo
o to que pens
pe nsa
a clara
cla ra e cr
criat
iativa
ivamm en
ente
te ”519(...) 
”5
“inventores, escritores inovadores, artistas da tecno-fronteira, dire
tores que se arriscam, artistas expressi
expressionist
onistas,
as, cienti
cientistas,
stas, visioná
visionáriri
os, hackers elegantes, (...) todos aqueles que levam suas idéias lá  
ondee eelas
ond las nnun
unca
ca ha
havia
viamm c h eg a d o ”520.
O conceito
conc eito de tecnocu
tecnocultura
ltura ffoi
oi usado para expressar, na moder- mode r-
nidade, uma cultura dominada
domina da pela
pela rracionalidade
acionalidade técnica instrume
instrumen- n-
tal, pela homogeneização do social e pela inevitável burocratização
dos modos
m odos de vida (Webe
(Weber,r, Freyer
Freyer,, Ell
Ellul,
ul, Mum
Mumford,
ford, HeHeidegger).
idegger). In-
cluise aí a perpetuação
perpetuaç ão ddo
o sist
sistema
ema capitali
capitalista,
sta, a divisão intinternacional
ernacional
de trabalho, a fragmentação social, a domesticação do corpo e da
natureza. A tecnologia moderna
mode rna é vi vista
sta com
como o mono
monolítilítica,
ca, controlad
controlado- o-
ra e totalitária521.
Os cyberpunks estão tentando mostrar que, com a mistura de
novas tecnologias
tecnolog ias e atitute
atitute apropriat
apropriativa,
iva, a visão mode
moderna
rna da tecnologia
não é mais capaz de dar conta da compreensão sobre fenômeno
tecnológico contempo
con temporâneo.
râneo. E eles tentarão mostrar
mo strar isso na ru
rua.
a.

2 /4 C IB
I B ER
E R C UL
U L TU
T U R A,
A , T E C N O L O G IA
I A E V I D A S O CI
C I AL
A L N A C U LT
LT U R A C O N T E M P O R Â N E A •
 

C a p ít u l o   V I
 A R U A E A T E C N O L O G I A . O S C Y B E R P U N K S R E A IS

“présenté parfois comme un effet pervers


pervers,, le problème
du détournement de 1’informatique, détournement par
rapport à sa fonction technique première, doit être re
 poséé dans son con
 pos contex
texte
te socia
sociall : le M ini
initel
tel ros
rose,
e, les vi-
ras antigrands systèmes informatiques,
informatique s, le piratage des
logiciels
logic iels ou 1
1’’expéd
expédition
ition de ttéléfax
éléfax en Chine dén dénon
on
çant les massacres de Tien An Men ne sontils pas des
actes comparables,
comp arables, un refus de 1 1’usage
’usage pen
pensé
sé pa
parr le
less
ingénieurs et une réappropriation intelligente? Ceei
ferait du détournement un acte non seulement salutai
re, mais nécessaire à la survie collective, obligatoire
 pour
 po ur le cito
citoyen
yen en que
quelqu
lquee sosorte
rte alor
al orss que la loi, en
revanche, a tendance à adopter le point de vue de la
fonction technique. Le détournement, dont fait partie
le piratage informatique, montre que l’homme com
mun est capable d’agir sur un savoir sacralisé par les
 prêtes
 prê tes de la tec
techn
hnos
oscie
cience
nce”” .
A l a i n  G r a s

A formação do underground high-tech  é diretam


diretam ente influen-
ciada pela contracultura americana e pela consolidação consolidação da socieda-
de dos meios de comunicação de massa. O desenvolvimento das
tecnologias de com unicação m icroeletrôni icroeletrônicas, cas, assim com o a ati-
tude sociocultural dos anos anos 6070, contri contribuem
buem para a em ergência
de dois
dois fenôm enos m uit uitoo im port
portante
antess para a consolidação da c ul-
tura cyberpunk: os phreakers e os hackers,   os primeiros e verda-
deiros cyberpunks da rua. Como vimos, com o nascimento da mi
croinformática, os cyberpunks tornamse os precursores da ci
 bee r c u l tu r a , c r ia n d o a c o n tr
 b traa c u lt
ltuu r a d ig it
itaa l a tr
traa v é s d e u m a a ti
titu
tud
de
contestadora do sistema tecnológico vigente. R.U.Sirius explica:
“as prim eiras pesso as a se ident identif ificar em como cyberpu nks fora m  
icarem
hackers adolescentes relacionados aos personagens dos mundos  
criados nos livros de William Gibson, Bruce Sterling, John Shir-  
ley, e outros  ”  ”5 522.•

 
M O S | 215
• A N D R É L EEM

O s mass m ediaedia  mostram, diariamente, o lado espetacular


espetac ular e, ao
mesmo
mesm o tempo, neg negativo
ativo da atit
atitude
ude cyberpunk, geralmente
geralm ente associando
o s hackers  a vândalos pir piratas
atas que penetram
penetram sistemas de com putado-
res, podendo aniquilar
a niquilar ssisistemas
temas com vír vírus,
us, apagar informações e rea-
lizar outras ações do gênero. Atualmente, mais do que no início da
formação da cu cultura
ltura elet
eletrônica
rônica,, o alarme dirigido às ações d os hackers  
dos
 po
 p o v o a m d ia
iari
riaa m e n te as
as n
not
otíc
ícia
ias.
s.
Os últimos ataques contra o oss gigantes do e-business,  no come-
ço de 2000, são exemp exemplares.
lares. Vamos
Vamos voltar a estes at ataques
aques mais adadian-
ian-
te. Importa aqui a compreensão de que os verdadeiros hackers,  ao
contrário dos marginais ou vândalos, buscam desmascarar a falta de
segurança
seguran ça de sist
sistemas
emas e reve
revelar
lar o ppapel
apel das novas tecnolog
tecnologias
ias de in-
formação na sociedad
sociedadee globali
globalizada.
zada. A idéia básica é não recusar, mas
dispor da tecnologia para combater, em pequenas guerrilhas, as der-
rapagens do sistema glo globalbal..
A atitude cyberpunk é, assim, negativa em dois níveis níveis:: o p pessi-
essi-
mismo (em relação ao futuro, as ideologias) e o descontentamento
 paa ra c o m a te
 p tecn
cno
oes
estr
truu tu
tura
ra.. E la nã
nãoo é co
con n tu
tudd o, an
anti
tit
tee c n ol
olóó g ic
icaa . O
tecnoanarquismo (grupo
(gruposs como Legion o off Doom, H Hacktic,
acktic, CCC, Lof Loft,t,
entre outros) é uma forma
form a de neganegação
ção do poder da tecnocrac
tecnocracia ia e uma
maneira de afirmar, de forma positiva, a vitalidade social através das
novas tecnologia. O int intenso
enso e imediat
imediato o praz
prazer er em tempo real real,, o des-
 pree z o p el
 pr eloo fu
futu
turo
ro,, a a veventntururaa e a c o n q u ista
is ta d e n ov
ovoo s te
terr
rrit
itó
ó ri
rioo s s im -
 bóli
 bó lico
coss do cicib
b er
eree sp
spaa ço
ço,, a aan n arq
ar q u ia d
doo cib
c iber
eres
espa
paço
ço,, as a g re
regg a ç õ e s so
so--
ciais, todas características da cibercultura, mostram o vitalism o social
contem porâne
porâneo o no coração da tecnologia digit digital.
al.
 Nee st
 N stee ca
capp ít
ítuu lo
lo,, b
buu sc
scararee m os ddee scre
sc revv e r os cy
cybb e rp
rpuu n k re
reai
aiss ccoom o
os phreakers, os hackers, os crackers, os cypherpu cypherpunks,nks, os otakus, os
ravers e os zippies. Em seguida, tentaremos analisar este fenômeno
sob o prisma
prisma da deviance  (Becker), da dépense  (Bataill  (Bataille) e) e da aproapro- -
 pri
 p riaa ç ã o d o u so (P
(Per erri
riau
ault)
lt)..

Vejamos
Vejamos algumas definições
definições do newsgroup  alt.cyberpunk:

Tue, 21 Dec 1993 18:39:20 GMT


alt.cyberpunk 
> You cann
cannot
ot be a cyberpunk and at the same tim
timee agree that

> certain information


inform ation should
should be banned, censored or outlawed.

6   | C IB
216 
21 I B E R C U L T U RA
R A , T E C N O L O G I A E V I D A SO
SO C I A L N A C U L T U R A C O N T E M P O R Â N E A •
 

From: [email protected]
[email protected] (Bruce
 (Bruce Arthu Bendler)
Subject: Re: Re: Philosophical Ram blings or Action
Organization: Universi
Un iversity
ty o
off Delaware
Date: Mon,
M on, 10 Jan 199
19944 05:44:16 GMGMTT

>1 totally disagree. I think cyberpunk


cyberpunkss truly enjoy the idea o off lliving
iving
>in a ‘Bla
Blade-
de-run
runner
nerish’
ish’ future, but they kno
knoww tha
thatt in reality, it
itss not
>going
>go ing to largely happen. However, in Blad Blade-ru
e-runne
nnerr & tthe
he llike,
ike,
we really
>never got to see what the rest of the world was like. The
cyberpu
cyb erpunker
nkerss o f course will >choo
>choosese to llive
ive in the cities, (LA, Tokyo,
 NY
 N Y etc.)
et c.)
Your cpun
cpunkk may live in a fíctional
fíctional w
world,
orld, mine d
doe
oe sn’t
sn ’t,, and II’m
’m
sure that many out there will say that there life is not fíctional. It is
more like the
the ideas of the h
hackers
ackers of Califórnia and Berkley. To bring
tech to the
the people, and put the power in the hands o f the masses
m asses thru
technology.

Tue, 21 Dec 1993 18:45:11 GMT


alt.cyberpunk 
Flux
Fl ux 1 pa
parm
rmii 10
Article 794 Re
Re:: A Call to Arms
shroom
shroo m @ theporc
theporch.raider.net
h.raider.net
sHrO om at The M aclnt
aclnterest
eresteds
eds o f Nashvill
Nashville,
e, Tn.

> Well w ha
hat’
t’ss y o u r d e f i n itio n ? Come o n , p u t i t o u t o n t h e S t r e e t.
t.

O r i s n ’t
> that information
inform ation free?
My be lief is
is that information should be free
If you have to break the law to learn, then do it.

Os cyberpunks reais não são homogêneos. O núcleo comum


das tribos eletrônicas é a mistura de fascinação, de apropriação, de
diversão e de
d e impertinência
impertinência em relação às tecnologias do ciberespaço.
Segundo
Segund o afirma
afirmam m os próprios cyberpunks, eles procuram o praze
prazer,
r, o
conhecimen
conh ecimentoto e a comunicação através do uso intensivo das tecnologi
tecnologias
as

do ciberespaço
ciberespa ço e de um
umaa críti
crítica
ca feroz ao desenvolvimento tecnológico.
O discurso parece ser: “querem
queremos os o ciberespaço m
mas
as nã
nãoo o RwindowS
RwindowS,,•

 
• A N D R É LE M
MOOS | 217

querem os internet
queremos internet,, m as não vigil
vigilância
ância eletr
eletrônica
ônica e spams, queremos
querem os  
informação
info rmação livre
ivre,, ma
mass não sites
sites inseg
inseguro
uross que possam fe ri
rirr a nossa 
 pri
 p rivv a c ida
id a d e , e tc..
tc ...”.
.”.
Podemos ver o fenômeno como um processo social onde a
socialidade (através das tribos) se dá através da apropriação destas
novas tecnologias. E isto para o melhor (a efervesc efervescênciaência com comunal,
unal, o
compartilhar de sentimentos, a informação altruísta, etc.) ou para o
 pii o r (c
 p (cri
rimm in a li
lid d a d e , a u s ê n c ia d e c o n ta
tato
to fí
físs ic
ico,
o, t e rro
rr o ri
riss m o , ví
víru
rus,
s,
 pee do
 p dofifili
lia,
a, eetc
tc.)
.)..

Phreakers

O s p
 phh o n e  phreakers são conhecidos como os piratas do te
telefo-
lefo-
ne. A palavra p  phh r e a k é  um
 um neolog
neologismoismo de fr free a k , p h o n e , fr
free e .  A ação
dos phreakers
phreak ers começa, nos anos 60, com a apropriação do sistem a de
telecomun
telec omun icação mundial
mundial,, tendo com como o objetivo viajar gratui gratuitamente
tamente
 pel
 p elas
as re
rede
des.
s. E les
le s o
org
rgaa n iza
iz a v a m as ffaa m os as p
osas  paa r ty lines
lin es,, festas em lin linha
ha
com várias pessoas d e locais os mais dive diversos
rsos..
Jon Engressia é consider
considerado ado o pai dos phre phreaker
akers.s. C ego de nas-
cença, queria enconencontrar
trar ou
outros
tros cegos pelas linha
linhass m
mundiais
undiais de tele
telefoni
fonia.
a.
Um outro phreaker, John Drape Draper,r, amigo de Engressia e jov em técnico
da força aérea
aé rea americana, descobriu, por acaso, numa caix a de cereais,
um apito que produzia a freqüência de 2600 hz, tonalidade esta que
 perm
 pe rmit
itia
ia re
reaa li
liza
zarr ch
cham
amad
adas
as in
inte
tern
rnac
acio
iona
nais
is grat
gr atuit
uitas
as.. D ra
rapp er fi
fico
couu co-
co -
nhecido como Captain Crunch (o nome do cereal). A sua descoberta
incitou
incitou outros phreakers a produzirem equipamentos clandestinos (a (ass
blue boxes).  Dra Draperper começou no phreaking em 19 1969
69,, com a idade d dee

passan do então a construir e comercializar as blue boxes.


26 anos, passando boxes. a,
O mo vimento tinha uma conotação polít política
ica de tipo anarquist
anarquista,
cujo objetivo era apropri
apropriarse
arse do sistema telefônic
telefônico o americano para
fins hedonistas (celebrar a comunicação). O objetivo era conhecer
 pess
 pe ssoa
oass n
noo m un
undd o iint
ntei
eiro
ro aatr
trav
avés dass p
és da  paa rt
rtie
iess lines
lin es  ou festas nas linhas
telefô
tel efônic
nicasas5523. C om o expexplica
lica C loug
loughheM ungo,, “uma vez,
Mungo vez, faze
fa zenn do li
gaçõ es ao redor
gações re dor do mundo, D raper primeiro ligou para pa ra Tokyo
okyo,, que o  
conectou à África do Sul, Sul, África do Sul para a América do Sul, Sul, d a í a  
 Lond
 Lo ndre
res,
s, q u e o c o nec
ne c tou
to u a N e w York,
York, q ue o ccon
onec
ecto
touu a um o p e rad
ra d o r  
em LA... ”5
 ”52
24. D rap er é preso du duas
as vezes
v ezes (qua
(quatro
tro m
mese
esess n
naa pris
prisão
ão ffed
ede-
e-
ral de L
Lom
om poc, na Califórnia, em 19
1976
76,, e, um ano depo is, mais dois

218  | C IB
218 I B E RC
R C U L TTU
U R A , T E C N O L O G IIA
A E V I D A S O C IIA
AL N A CULTURA CO NTEM PORÂN EA •
 

meses na prisão do est


estado
ado de Northampton, na Penn
Pennsylvania).
sylvania). H
Hoje,
oje,
o phreak
phreaking ing é atualizado com a pirataria de telefones ccelulares. elulares.
 No
 N o iníc
in ício
io,, o p
pri
rinc
ncíp
ípio
io eera
ra se dive
di verti
rtir,
r, aad
d q u ir
irir
ir um a cco
o m u n ic
icaç
açãã o
livre do monopólio das Telecoms e viajar pelas redes a fim de criar
novas formas comunitárias. A ATT tinha ttoma omado do a decisão, nos anos
50 ,^
,^ááe utiliza
utilizarr um sistema de co comutaç
mutação ão a partir de freqíiências m uito
 pree c is
 pr isaa s, c h a m a d o m ul
ultif
tifre
reqü
qüên
êncc ia
ia,, ou M F (p (pararaa motherfucker , na
gíria dos phreakers). Este sis sistema
tema transforma os núm eros do dial   do
telefone em sons semelhantes às notas musicais. A fronteira entre os
 p
 phh re
uma reaaação
k er
erss ae outra.
hackers  desaparece hoje e, normalm
normalmente,
ente, eles passapassam m de
Em 1971, Mark Bemay é o primeiro a revelar os mecanismos
necessários para pa ra fazer
faz er li
ligações
gações telefôn
telefônicas
icas sem pagar, quando
quan do a revist
revistaa
 Esqu
 Es quir iree publica o artigo “Os segredos
segredos da pequen
pequenaa blue box box”” contando
a história de Joe Engressia. Seu hobbie era o  p  ph
h o n e-tr
e- trip
ipp in g,   isto é,
p ing,
fazerr viagens pela rede telef
faze telefônica
ônica mundial
mundial com o objetivo de criar con-
ferências online.  Buscavase a subvers subversão
ão do sist
sistema,
ema, não a sua destrui-
ção. Procuravase trocar informações, encontrar pessoas, formar co-
munidades. Outro
Ou tro artigo,
artigo, de Ron Rosenbaum na me mesma
sma revista, revela
estas máquinas clandestinas e fornecefornece ao público americano as primei- prim ei-
ras notícias da contracultur
co ntraculturaa high-tech  em formação. Assim, “na pa s
sagem dos
d os anos
ano s 60 cultura jov em    uma mistura de 
6 0 aos anos 70, a cultura
úsica,
úsi po stura adolescente   se to m o u m a is r a d ica
ca, m oda e postura ic a l’’
l’’525.
Em mamaioio de 19
1971
71,, Abbei Hoffman e Al Bell criam um umaa publicação
subversiva, a Youth Internacional Party Une,  e alguns anos depois, na
separação de ph
 phre
reak
aker
ers-c
s-cien
ientífi coss e ph
tífico  phrea
reake
kers-
rs-an
anarq
arquis tas,, a organiza-
uistas

ção é rebati
rebatizada
zada como TAP (Tech (Technolo
nological
gical Assist
Ass isten
ence
ce Prog
Pr ogra
ram) 526. TAP
m)5
é uma
um a paródia de docum documentos
entos de sistemas da ttelefônica
elefônica Bell,
Bell, de vocação
anarquista. Ela "... "...ensinava
ensinava a fabr
fa brica
icarr explos
explosivos
ivos,, indicando comocom o en
contrar certidões nascimento falsas. Ela publicava os esquemas das  
certidões de nascimento
caixas azuis e era especialista
especialista em trocas de números de telefones difíceis difíceis 
de obter,
obter, com
co m o aqu
a quel
eles
es ddoo Vaticano
Vaticano ou do d o Kremlin...
Kremlin.. . ”5”521.
 Nos
 N os aanonoss 70 as coi
c oisa
sass vão
vã o esque
esq uenta
ntar.
r. E
Emm ju n h o d
dee 1972, a re
revi
vista
sta
 Ra
 R pa rtss  publica um diagrama
a m part diagram a ensinando a con construir
struir uma variante da
blue boxe.  Phreaker
Phreakerss como M Mark
ark Bemay
Bemay,, Joe Engressia e John Draper D raper
serão os pais da cultura cyberpunk de rua. rua. Nesse m mesm
esmo o ano é criado o
PCC (People Computer Company), em Menlo Park, cujo princípio é
difundir e desmistificar
desm istificar os computadores, tendo como o objetivo
bjetivo descen
descen••

OSS | 2/9
• A N D R É LEM O
 

tralizar
dade. Em o poder
197 5, tecnocrático
1975, e disseminálo
aparece o primeiro microcom para
microcomputador, o conjunto
putador, o Alt daem
Altair,
air, socie-
A
Al-
l-
 buqu
 bu quer
erqu
que,
e, Ci
Cida
dade
de do N
Noo vo M éx
éxico
ico.. A pas
p assa
sagg em d
doop
phr
hrea
eaki
king
ng pa
para
ra o
hacking é então um umaa questão de ttempo
empo e desenvolvimento tecnológico.
Os últimos phreakers
phreake rs são os primeir
primeirosos hacker
hackers.s. C
Como
omo afirma um phre
aker, “não existe nenhuma razão para limitar o telefone celular às  
 fu n ç õ e s e scol
sc olh
h id
idas
as e o
ofe
fere
reci
cida
dass p e la
lass indú
indústria
strias.
s. Ist
Istoo si
sign
gnif
ific
ica
a qu
quee te
lefones
lefones celul
celulares
ares pod
podem hackeados!! ”5
em ser hackeados  ”528.

Hackers

“Hackito ergo sum”


C h e s h ir
ir e  C a t a l y s t

“any technology, no matter how advanced, almost


immediately falis to the levei Street”
Jo h n  M a r k o f f  

A história da m icroinformá
icroinformá tica tica está li
ligada
gada à ne cessidade de
descentralizar o poder da informação, como vimos em capítulos
anteriores. O Altair, o primeiro microcomputador, deveria fazer
isso: liberar a tecnologia. Mais tarde, dois membros do famoso
 H o m e b r e w C lu lubb  (Steve Jobs e Steve W oznia ozniak)k) cri
criam
am a A p p l e ,  sen-
do que o microcomputador  A p p l e I I  nasce em San Francisco, em
abril de 1977. Os textos promocionais da Apple diziam: “Nós  
construimos um equipamento que dá às pessoas o mesmo poder  
sobre a informação que grandes coorporações e governos têm  
s o b re e l a s ’’529.  Em 1981, a IBM cria o seu PC, tornandose, mais
tarde, um modelo mundial com o sistema operacional DOS, que
fez a fortuna
fortuna d a  M ic icrr o s o ft
ft..
A rua vai assim marcar o destino da microinformática. Serão
os primeiros hackers  (no sentido mais nobre da palavra) os resp responsá-
onsá-
veiss pelo na
vei nascimento
scimento da “ informática
informática para todos”. Est Estes
es foram os “vi-
ciados” em inform informática
ática que trabalhavam no MIT MIT..
A partir
pa rtir dos anos 70, a micro microinfor
informática
mática com
começa
eça a disseminar
disseminarse se
nos colégios, nas livrarias, nas universidades e nas casas co com m os primeiros
 jogo
 jo goss elet
eletrôn
rônico
icos.
s. Sã
Sãoo esses ado
adolesc
lescente
entess que vão apr
aprov
oveit
eitar
ar as po
possi
ssibil
bili-
i-
dades
dad es ddaa in
infor
formá
mática
tica e ten
tentar
tar leválas ao limit
limite5
e53
30. Eles serã
serãoo os h
hacke
ackersrs
que “saem à descoberta de u umm mundo m mais
ais real e mais excitante do que

220
22 0   C IB
I B ER C U LT
L T U R A , T EC N O L O G I A E V I D A S O CI
C I A L N A C U L T U R A C O N T EM P O R Â N EA •
 

aque le apresentado nos livros ”5


aquele ”531. Com
Comoom mostr
ostraa Q o u g h e M ung
ungo,o, “seus 
hábitos eram excêntricos: eles frequ
 fre quen
ente
temm ente
en te tr
trab
abalh
alhav
avam
am toda noi te  
tod a a noite
ou 36 horas ininterruptas, então desapareciam por dois dias (...) eles  
eram um ramo ram o anarqui
anarquista.
sta..... ”
 ”5532
Os hackers for formam,
mam, nest nestee m
momento,
omento, a eli elite
te da infor
informática.
mática. Em
um primeiro
prim eiro mom momento
ento ele
eless preten
pretendemdem liberar aass infor informações
mações e os com -
 pu
 p u ta d o r e s d o p o d e r m i l i t a r e i n d u s t r ia l . C o m o v i m o s , a m ic
icrr o 
informática foi, por si só, uma espécie de rebelião contra o peso da
 p rim
 pri m ei
eira
ra in
info
form
rm á tica
ti ca (g
(gra
rand
ndes es com
co m p ut
utaa do
doreress li
ligg a do
doss à p e sq u is
isaa m il
ili-
i-
tar).
tar). Para eles, todas as informações devem ser llivres, ivres, as redes devem
ser democráticas e os computadores acessíveis a todos e utilizados
com o um a ferramenta de sobrevivênci sobrevivênciaa na sociedade pósindu pósindustri strial.
al.
 N e s te in
intu
tu it
itoo, o
oss p rim
ri m e iro
ir o s ha
hacc k e rs v is
isaa v a m d e m o n s t r a r as f a -
lhas das redes, levando assim à invasão dos sistemas de com putad o-
res.. A m ensag em é simples: “se te dizem que tudo
res tud o é seguro, que não  
há possibilidade s de falha s, desconfi desconfiem, em, po is é prov avelm ente um  
engodo”.  Os hackers alemães do Chãos Co mputer Club  de Ham-
 bu
 b u rg
rgo o , p o r e x e m p l o , p e n e tra
tr a ra
ramm o s iste
is temm a d a C a ix a E c o n ô m i c a lo -
cal, retiraram
retiraram em poucas horas milhar milhares es de m arcos e, no dia seguin-
te, foram à agência devolver e mostrar as falhas do sistema. Por
isso, os hackers tornaramse conhecidos como os  R  Ro oo d   d a
o b in W ood 
cibercultura.
O que importa aqui é a constatação. Através da tecnologia, os
hâckers denunciam a p própri
rópriaa racion
racionalidalidade
ade tecnológica e o pode poderr cons-
tituído
tituído po porr grandes empresas e insti instituiçõ
tuiçõeses governamentais. O s hackers  
são considerados, aainda
inda hoj
hoje,
e, os magos da comcomunidade
unidade digital tentan-
do, de todas as maneiras, desvendar mistérios di digitais,
gitais, código
códigoss secre-
tos,, desbrava
tos desbravarr novo
novoss espaços virt
virtuai
uais.
s. Eles conhece
conhecemm muito bem o fun-
cionamento dos sistemas e nem sempre seguem as regras. Vejamos
Vejamos como
se auto definem os hackers e o que dizem de suas ações.

From: KA MAR O_KID@


From: O_KID@.. ....
..com
com
 New
 N ew sg
sgro
rou
u ps
ps:: alt.
al t.cy
cybe
berp
rpuu nk 
Subject: Re: H ackers and crackers
Date: Wed, 15 DEC 93 21:33:14 EST

>Well.. My idea of a hacker is someone who can take a 64k


Atari 800x1 and with >outside interference, add 4meg of ram, a•
a•
M O S | 221
A N D R É L EEM
 

minimum o f CG A graphi graphics cs capabi


capabilility
ty,, digi
digital
tal >audio and make
ma ke that
1.79m
.79mhzhz ma
machchine
ine “bla
“blaze ze”” at 1Omhz..
Omhz..
Yes,
Ye s, now tha
thatt iiss a hack
hacker er indeed
indeed!!
>And
>A nd not some
som e guy that had hi hiss momm y buy him a 486 alrea
already
dy
 beef
 be efed
ed w ith
>8m eg o f ram and al alll the tr
trimmings.
immings.
 A n d I agre
ag ree, th is is not.  ”
e, this  ”5
533

O u,
“Le cyber
c yberpu
punk culture des autoroutes de Vinformation, de  
nk est la culture
la réalité virtuelle, du multimédia et de rintelligence artificielle. Le  
cyberpunk estp
es tpu
u n k car nous sommes impati impatient
ents.
s. Nous voulons util iser  
u tiliser 
toutes ces technologies
techn ologies dès aujou
au jourd hui. Je suis súr que le cyberespace  
rd’’hui.
deviendra un univers quotidien. La réalité virtuelle sera le moyen de  
communication
commu nication duJut
duJuturur.. Vous
ous le créerez
créerez pour vou s-même et vous pourrez  
po ur vous-même
conta
co nta eterde
eter dess personnes
perso nnes réelle
réelless et d ’autres de votre inven tiorí '.534
votre inventiorí 
“hacking
hac king is *not* about
ab out breaking things.
things. There was a p erio er iod in 
d in
the ‘80s when the media used someo ne who breaks 
u sed ‘ha ck er ’to mean someone
into Computer systems. They were using the word incorrectly. Some  
 pee o p le w h o carne o f a g e duri
 p du rin
n g tha
th a t p e r io d b e lie
li e v e d the ed ia ’s 
th e m edia
incorrect definit
definition,
ion, applied
ap plied it to themselve
themselves, s, an d now think they are 
some sorts ort ofglo
o fglorio
rious
us outlaw hack
hacker
er.. These
These people
peo ple are sadly
sad ly mi
misguide
sguided.d. 
Perhaps some s omeday
day they will figu re out ou t what hacking is really about. 
really about.
Perha
Pe rhaps ps reading
read ing this newsgr
new sgroup
oup w ill heh e lp ”53S.

"an approp
app ropriate
riate ap
applicatio
plication n ofingenuity. (...) hack is a Creative 
 prr a c tic
 p ti c a l j o k e ” 536.
536. / 

“the free-wh eeling intell intellectual


ectual expl
explorati on o f the highest a nd  
oration
deepest po tentia l o f Comput Computer er syste ms. Hacking can describe the 
systems.
determination
determinati on to m ake access to computers and information information as fre e  
as open as a s possible. (...) (...) the heartfelt conviction that tha t beauty can be 
 fo
 f o u n d in comco m puputeters
rs,, tha
th a t the
th e f i n e a esth
es thet
etic
ic in a pe
p e r fe c t pr ca n  
p r o g r a m can
liberat
libe ratee the mind min d and spirit   ”5
an d spirit  ”537.
Os hackers
hacke rs agregam se em torn tornoo de uma postura anarquista, de
rebeldia contra o poder po der industr
industrial ial e contra as companhias que contro-
lam e detêm o monopólio das telecomunicações. telecomunicações. O hacking é um mis-
to de rom
romantism
antismo o e vandalismo, alt altruísmo
ruísmo e individualismo,
individualismo, comp co mpar-
ar-
tilhado por um sentimento
sen timento de grupo. Como aafirma firma Sterl
Sterling,
ing, os “hackers  
têm suas regras.... Estas regras, entretanto, não são na maioria es-

222   C IIBB E RC
R C U L TU
T U R A , T E C N O L O G I A E V I D A S O C IIA
AL N A CULTURA CO NTEM PORÂN EA •
 

critas
cri tas,, mas
ma s reforçadas p o r pressão dos pares e pelo sentimento tri tribal
bal  
(...)• H
 Haa c k e rs n a su
s u a ma
m a ior
io r g ran
ra n d il
iloo q u ê n cia
ci a p e rce
rc e b e m -se
-s e c o m o a eeli
li
te de pioneiros
pione iros do novo mundo m undo eletrônico
eletrônico  ”538. Mais ainda, eles são
“jo
jovv en s p ara
ar a quem
que m os computadores e as redes telemáticas telemática s são uma  
obsess
obs essão,
ão, e que têm têm levado esta esta obsessão pa parara além do d o que os profis
pro fis
sionais da informática
informática consideram
consideram ético ou advogado advo gadoss consideram  
aceitável. Eles são chamados de hackers”539.
As motivações são as mais variadas, desde o desafio de testar
grandess sist
grande sistema
emass digi
digitais,
tais, passando pelo desejo de uma com unicação
livre e planetária,
planetária, che chegando
gando ao praz
prazer
er de resolver problemas técni técnicos.
cos.
Segundo Len Rose ( Terminus ), participante ativo ativo do grupo aam m erica-
n o L
 Lee g ion
io n o f D o o m , o  motivo principal é o conhecimento:
conhec imento: “O conh co nhee
cim ento
en to é a, a, única busca. Existem ainda m uitos hackers hack ers verdadeiros 
 poo r a í (...)
 p (...).. A p r e n d a o m á x imo
im o que
qu e v o cê pu
pude
der.
r. É imp
im p o rta
rt a n te que
qu e  
você saiba que o conhecimento e a informação devem ser se r livr
livreses ”54
 ”540.
Sobre o papel dos hackers na sociedade contemporânea, as opi-
niõess são as mais ousadas e ambicios
niõe ambiciosas.
as. Para
Par a BM
BMT T (Bill Me Tuesday),
“existem mais
m ais de 20000
20 000 hackers p o r aí,
aí, e nnessa
essa coletividade,
coletividade, eles têm  
mais pode
po derr do que todos os governos “. Ou, os “hackers
hac kers são anarquis
anar quis
tas. Governos são institucionalizados, regimentados, sistemas buro
cráticos”. Para os jornalistas Hafne
Hafnerr e Markoff, os hackers são a versão
real do cyberpunk da ficçãocientífica: “nos romances cyberpunk os  
rebeld
reb eldes
es vivem em um mundo de futuro distdistópi
ópico,
co, um mundo
mu ndo domina
do mina

do pela t ecnologia
superpopulação e form
(...) alguns
(...) delad
deles o pela
es faz em suad ecadência
fazem urbana
vida comprando, e a 
venden
do e rou
roubando
bando informa
informação,
ção, a moeda do futu ro computadorizado
comp utadorizado ”5
 ”541.
Os hackers constroem
constroe m seu próprio código de conduta, um a éti-
ca. O grupo alemão Caos Computer Club,  de Hamburgo, criado na
década de oitenta, é um dos principais porta vozes, mantendo suas
atividades até hoje. Eles nos propõem o compartilhamento de infor-
mações
maçõ es e a éética
tica de nunca destru
destruirir ou “b
“bagu
agunça
nçar”
r” os ddad
ados
os alhe
alheios5
ios54
42.
Esta deo
d eonto
ntolog
logia
ia vai m arcar
arca r as futuras ge
geraçõ
rações
es ddee h
hack
ackers5
ers54
43.
A geração dos anos 80 irá popularizar o conceito através dos
media  de m assa (jornais, rrevistas,
evistas, tv),
tv), defi
definindoos
nindoos ccom
om o os “piratas
das redes de com putadores”
putado res”.. A percepção socia
sociall será elaborad a de ttal
al
forma, que os hackers não serão mais vistos como exploradores do
ciberespaço, mas co
como
mo int
intrusos
rusos malicios
maliciosos
os e perve
perversos5
rsos54
44. 0 filme War
Games
Gam es (1983) ajuda na formação desta cul
cultura
tura dos hackers dos anos
anos••

• ANDRÉ LE
EMMOS 223
 

80. Pela primeira vez, o grande público via o phone phreaking, o


hacking, a social engineering e outras práticas que já estavam nas
ruas. Antes, em 1982, o filme Blade Runner dá a estética do movi-
mento. Vejamos alguns depoimentos de hackers conhecidos:
 Michae
Michaell Syn
Synerg
ergie
ie (hacker )):: “Eu sou um dependente, um jun kie  
sensório.
sensório. Eu quero incent
incentivo
ivos,
s, e imediatamente. Quand
Quandoo eu pen etro  
penetro
os sistemas de computador eu não olho nada: correio pessoal, arti
gos, notas, programas, etc. Eu preciso aprender. ”
-  The Mentor (membro do  L  Lee g io
ionn o fD o o m ) :   “Esse é o nosso  
mundo. O m undundo o de elétr
elétrons,
ons, beleza e baud servido res  
baud.. Usamos os servidores
existentes sem pagar e eles nos identificam como criminosos. Nós  
exploramos... e você
v ocê diz que nós somos os cri minosos. N ós existimos  
criminosos.
sem d istingu
istinguir
ir a c or da pele, a nacional
nacionalidade,
idade, a relreligi ão.... e você diz  
igião..
que nós somos
som os os cri
criminosos.
minosos. VoVoccê constrói algum
algumas as bom bas atô atômmi

cas,
ca s, você fa z a guerr
guerra,a, você mat mata,
a, você mente e você tenta nos con
vencer que é para pa ra nossa felifelicidade,
cidade, novanovament mente,
e, nós é qu quee somo s os  
crimi
cr iminos
nosos.
os. M eu cricrime
me é a curcurio
iosi
sida
dadede.. Meu crime é ju lg a ra s pesso
as pe lo o que elas dizem ou pensam (. .).. Eu sou um h ack er e esse é  
(....)
meu manifesto. ”
-  Em
Emman
manueluel Goldstein (Ed (Editor
itor da Revista 2600)2600):: “Os hackers  
são aqueles q ue faz em muitas perguntas e aqueles que n ão acreditam  
não
na obediência às regras todo o tempo. Se alguém dissesse: nunca  
 f
 faa ç a isso, e le
less n ã o ac
acei
eita
tari
riaa m e f a r ia m o q ue é p pro
ro ib
ibidido o f a z e r ”.
-  Rop G onggrijp (membro do Grupo tecnoanarquis tecnoanarquista ta hol
holandês
andês
 Hac
 H ackT
kTic)
ic):: “O veverd
rdaa de
deir
iro
o p a p e l d o s h a c kekers
rs é p o lí ticc o , q u e r dizer, 
líti
são as pessoa s que fa faze
ze m prog
progredir
redir a in infor
formáti
mática.
ca. Os hackehackers rs estão 
lutando
lut ando para conectar qualquer pessoa fo ra da tec tecnocrnocraciacia.a. Eles 
são os atores da passagem da tecnocultura à ciberc cibercult ura. ”
ultura.

O s hackers em ação
O primeiro caso de hacking que resultou em processo penal
envolveu
envolve u um grugrupopo de adolescentes americanos, de 15 a 17 anos, que
 pee n etra
 p et rara
ramm o b a n c o d e d a d o s d a C ime
im e nt
ntss L a fa
farg
rge,
e, n o C a n a d á , em
1983. Nesta ação eles deixaram algumas mensagens irônicas, resul-
tando em vários arquivos apagados. Esta história inspirou a série
televisiva L  Lee s P
Pee ti
tits
ts G én
énies
ies..
 Nos
 N os E .U.U.A
.A.,., no m es esm
m o ano,
an o, a po
políc
lícia
ia pr
proc
ocur
urav
avaa a B an
and d a dodoss

224
22 4  C IB
I B ER C U LT
LT U R A , T EC N O L O G I A E V I D A S O C IA
IA L N A C U L T U R A C O N T EM P O R Â N E A i
 

414, formada
form ada por
po r uma dezena
d ezena de estudante
estudantess secundaris
secundaristas
tas de Milwauke
(indicativo 414),
41 4), cujo líder era um engenheiro
enge nheiro da
d a IBM5
IBM 545. Este estuda
e studan-
n-
tes entraram
entraram no Centro de Pesquisa
Pesquisa em Los Alamos, no Novo No vo Méxic
M éxico,
o,
e no Centro
Ce ntro AntiCance
A ntiCancerr Sloan
Sloan Kettering
Kettering,, em Nova
N ova York, e apagaram,
acidentalmente (por falha ttécnica)
écnica),, arquivos de mais de 6 mil pacientes
tratados. Um dos piratas, Patrick, de 17 anos, declarou : “O qu
quee m ais  
mais
nos surpreende
surpreendeu
u fo i a facilidade que encontr amos para pen etrar a  
encontramos
ma ioria do
maioria doss banc
bancos
os de dad
dadosos ((...)
...) as pa
palav
lavras
ras ‘te
test
ste’
e’,, ‘d e m o ’ ou ‘siste
m a ’ eram suficien
suficientes
tes pa
para
ra su p era
er a ra s b
bar
arreir
reiras
as””546.
Vários casos se sucederam: em outubro de 1988, um pirata
 bee lga
 b lg a p e n e tr
traa a r e d e te
tele
lem
m á ti
ticc a B is
iste
tell e c o n s u lta
lt a a c a ix
ixaa p o s tal
ta l d e
todos os ministros do país. No Reino Unido, Steve Gold, jornalista
especiali
especi alizado
zado em com putador, de 25 anos, é um do prime p rimeiroiro a entrar

no sistema
Go
Gold Prestei,direto
ld era herdeiro um sistem
sist
dosema a telemático
phreakers
phr tipo
tipo o video
eakers.. Paralelamente,
Paralelam videotexto
ente,texto Minitel.
Triludan The
Warrio
Warr ior,
r, amigo de Gold, começa com eça também a invadir a rede Prestei Prestei..
 Naa pr
 N p r im e ira
ir a intr
in truu são
sã o , Tri
T rilu
ludd a n ten
te n ta a s e n h a 1234
12 34 e rer e c e b e a m e n sa-
sa -
gem: “ B  Bee m -v
-vinin d o à P r e st
stee i”
i”5541.  No hacking do correio eletrônico eletrônico do
 prr ínc
 p ín c ipe
ip e P h ilip
il ip e les
le s tr
troo c a ram
ra m a p á g ina
in a p r inc
in c ipa
ip a l p o r “/ do so enjoy  
 pu
 p u z z e ls a n d ga gamm eses.. Ta Ta, P ip ! P i p ! H R H R o y a l H a c k e r ”.  D o
mesmo modo, m odificaram odificaram a página econômica econôm ica da bolsa de valores, valores,
alterando a cotação da moeda (£1=$50). (£1=$50). Seis meses após, apó s, Triludan
(Robert
(Rob ert Schifreen) e Gold são presos. presos. Não Nã o havia
hav ia nenhum a llei ei espe-
cífica sobre o hacking até aquele momento. Sendo assim, ambos
foram condenad
con denados os por
p or falsifi
falsificação
cação de senhas.
A condenação
c ondenação mais pesada ffoi oi aplicada na Inglaterra contra Nick
W hiteley que, em 19 1990
90,, é o hacker mais mais conhecido da Grã Bretanha.
À noite,
noite, este jovem
jov em de 21
21 anos, que trabalha como com o operado
op eradorr de com- com -
 puu tad
 p ta d o res
re s e m u m e m p ree
re e n d im e n to q u ímic
ím icoo , d isf
is f a r ç a se
s e e m M ad
H acker
acke r e viaja pelo ciberespaço.
ciberespaço. Em 1988 1988,, faz seu primeiro hacking
aos computadores do Queen Mary College. Segundo depoimentos,
ele não estava interessado em roubar informações do sistema.
sistema. Na ver-
dade, queria saber como este funcionava e como podería explorar
todas as possibilidades
possibilidades da máquina
m áquina e,
e, a partir daí, explorar
explora r as comple-
xidades da rede.
Para Nick,
N ick, o ciberespaço era uma
um a obsessão:
obsessão: ‘‘Cinc
Cincooo ou
u sseis
eis h
hoo
ras pareciam cinco minutos. Isto era apenas um jogo: a excitação  
vem quando sabemos
sab emos que o computador no
no quarto da casa pode
po de ser
ser••

 
• A N D R É LE M
MOOS | 225
225

usado pa ra entrar em inst


instalaçõe
alaçõess de milhões de Libr as. Esta era a  
Libras.
sensação de pass
passea
ea r ao redor do mundo eleletr
etronic
onicamente .... ”548. Nick
amente..
é o estereótipo do hacker: um adolescente
ado lescente querendo
queren do se divertir.
divertir. Como
a maioria
m aioria do hackers,
h ackers, ele deseja descar
descarregar
regar,, no teclado, suas fantasi-
as. Ali ele não é mais
m ais Nick, mas  M a d Ha Hack cker
er..
 Noo s E U A , P a t R idd
 N id d le a tac
ta c a a a n tig
ti g a A rp
rpaa n et,
et , v a len
le n d o  se d a
técnica do War Dialing,  utilizando
utilizando um software que fornece instru- instru-
ções ao computador para continuar compondo as permutações de
números até chegar à boa combinação,
combinação, acessando
acessando um modem e iden-
tificando,
tificando, assim, o código
cód igo de acesso. A A Arpanet
rpanet era um jo jogg o para
p ara Pat:
Pat:
“ele via iss
isso
o co
comomo uma no novava fron teira pa ra jogar. Ele pula va d dee  
com putador em com putador dentr
computador dentroo do sissiste
tema,
ma, acessando tu tudo,
do, ddes
es
de os computadores do Controle de Rede até os mainframes do  
Pentágono, instalações da Força A Aére
érea,a, ddoo Exércit
Exército o e dos centros de  
 pesq
 pe squ u isa
is a . El
Elee d iz
izia
ia q u e e ra co
com m o 'an
'a n d a r at
atra
ra vé
véss d e m a p a s e le
letr
trô
ôni
cos,
co s, tentando p eg ar algum alguma a coi
coisa,
sa, m
masas sem sab er direit
direitooo on n de ' (.
(...). 
..).
Pat diz que el elee er
eraa fa sc in a d o ' pela s novas tec tecnologias.
nologias. ‘Esta é a er eraa 
da infor
informa maçãoção'', afirma. ‘Voc ocêê pode
pod e brin
brincar
car com os compu
com putado res'  ”349.
tadores'   ”349.
Pat usava o pseudo de Captai Captain n Za
Zapp  por referência ao software Super  
 Za
 Z a p ,  cujo código font fontee ele já havia anterior
anteriormente
mente quebrado.
Atualmente, várias histórias são contadas sobre hackers como
Pulsen, Mitnik, Fibra Ótica, entre
entre outros.
outros. Em todas, podemo
pode moss resga-
tar, de alguma forma,
tar, form a, o ativismo anarquista contra instituições gover go ver
namentais e comerciais,
com erciais, em geral, a característ
característica
ica marcante
marcan te da cultura
mundial
mund ial dos hackers.
 Noo Brasil verificase,
 N verifica se, na segunda
segu nda metad
me tadee d a déca
dé cada
da de 90, o grande
grand e
boom  d dos
os ataques
ataque s de hackers
hacke rs brasileiros em sites ao redore dorr do mundo5
mu ndo5550.
Hoje, a eles somam
som amse se artistas,
artistas, intelectuais
intelectuais e cidadãos em geral preocu- preoc u-
 pado
 pa doss com
co m a liber
lib erdd ade
ad e de infor
inf orma
maçãção,
o, d e expr
ex pres
essã
são,
o, rein
re invv ind
in d ican
ic ando
do a

garantia
garanti
 pl
 plan
anet
etáraia.
da. Seg
ária privacidade
p rivacidade
Se g undo
un do estaetístic
a expansão
es tatís ticas
as,, no global
n o fim de da00,
d e 2000
20 comunicação
comu hnicação
, o ha ck ingg atelemática
a ckin sites
sit es ccom
om
domínios
dom ínios “ponto
“pon to br” batem os de domíniodom ínio “ponto
“po nto com
co m ”55
”551.

O Caos C om pu ter Club: o sur


surgi
gimento
mento do tec
tecno-
no-anar
anarqui
quismo
smo

Há vários exemplos de hacking ético, sem intenção de violar,


destruir ou espionar
e spionar dados alheios
alheios.. Às vezes,
vezes, a meta é a desmitificação
da suposta segurança
segura nça dos sis
sistemas
temas.. A ação dos Caos Computer
Com puter Clube
Clube

6   C IB
226 
22 I B ER C U LT
LT U R A , T EC N O L O G I A E V I D A S O C IA
I A L N A C U L T U R A C O N T E M P O R Â N EA •
 

(CCC) de Hamburgo é exemplar nesse sentido. Suas atividades co-


meçam em 1984
1984 com ataque
ataquess ao sis
sistema
tema TELEB OX e ao sist
sistema
ema de
BTX. Através deste sistema, eles desviaram 135.000 DM da Caixa

Econômica de Hamburgo. No dia seguinte, procuraram o banco e


dev olveram o dinheir
devolveram dinheiro,o, alertando para aass falhas de segurançsegurançaa do sis-
tema e para a ignorância
ignorân cia dos cliclientes.
entes. Em 1987 1987,, os hackers do d o CCC
 pee n e tr
 p traa m m a is d e 135 re red
d e s, inv
in v a d in
indd o os v á ri
rioo s c o m p u ta d o re s
(NASA,
(NA SA, navegaç
navegação ão aérea, etc
etc.)
.) ddee nove países industriali
industrializados.
zados. Eles
exploravam as falhas de segurança dos sistemas operacionais VMS
dos computadores VAZ.
O CCC foi cri criado
ado em fevereir
fevereiro o de 19 1984
84 pelo jorn alista Herw art
(Wau) Holand e Steffen Wernery na livraria Schwarzmarkt  (câmbio   (câmbio
negro) de Hamburgo. No programa de base do CCC podemos ler:
“nós reclama
reclamamosmos o reconhecimento de um novo direito do homem, o  
direito
direit o a umuma
a com
comunicação
unicação livivre
re,, sem entrave e sem controlcontrole,e, a través  
através
do mundo inteiro, entre todos os homens dotados de inteligência,  
sem exceção  ”  ”55
552.
Em 19 1986
86,, o CCC é reconhecido como um a associação de utili-
dade pública na Alemanha.
A lemanha. No seu estatuto, afi afirmam:
rmam: “as te tecno logiass  
cnologia
de informação e de comunicação modificam as relações do homem  
com a máquina, e dos homens entr entree eles.
eles...
.. O CCC
CC C é uma com unidade  
comunidade
galáctica de seres vivos, independente de idade, sexo, raça ou de  
 po
 p o s iç
içãã o so
soci
cial
al,, q u e se de
dedi
dica
ca,, p a r a a lé
lémm d a s fr
froo n te
teir
ira
a s , a li b e r a r a 
lib
informação, a colocar em evidência os efeitos dessas tecnologias  
sobre a sociedade,
sociedade, assim como com o sobre os indi indivíd uos, e fa z e r progredir  
víduos,
o sa
sabeberr q
que
ue pperp
erp as
assasa essa rev
revolu
oluçãção”
o”5 553.
Como
Co mo vem
vemos, os, os hackers éti éticos
cos têm assim um umaa dupla posiçposição:ão: de
um lado, atacam o mit mito o do computador e da tecnocraci
tecnocraciaa com uma ir iro-
o-
nia subversiva (mostrando
(m ostrando as fa falhas
lhas dos sist
sistemas
emas e o concontrole
trole da infor-
mação), de outro, não abominam abom inam seu inimiginimigo. o. Não
Nã o são adversários dos
computadores,
com putadores, acreditando que esta má máquina
quina possa ser instrumento de
comunicação e de d e convivi
convivialialidade
dade.. O verdadeiro hackerhacke r busca assim “ um  
outro uso d do o com pu putad
tadoror dif
diferente
erente desse que rei reina
na aatu
tual
almm en
ente”
te”555*.
 Naa p
 N pri
rim
m ei
eirara eedi
diçã
ção
o de su
suaa revis
re vista,
ta,  D
 Dieie D
Daa te
tens
nsch
chleleud
uderer,, em feve-
reiro de 1984, registram: “ O CCC CC C é uma com comunidade
unidade gal áctica sem 
galáctica
estruturas
estrut uras fixas. Os computadores devem ser instrumentos de jogo jogo,, de  
trabalho
traba lho e de pensame
pensamento; nto; mas eles são sobretudo o m mais
ais import
importante ante 
dos novos
nov os med
media
ia e nós o utilizamos de m
maneira
aneira crí
crític
tica.
a. Nó
Nóss nos insur-

•   AN DR É LEMOS | 2 2 7
 

gimos contra a política do pânico e de cretinização que aparece em  


matéria de computadores, e contra as medidas de grupos industriais  
internacionais,
interna cionais, os mo monop
nopólio
ólio ddos
os corre
correios
ios e do
doss go
govevernrnos
os ”555.
Sobre os motivos
m otivos da pirataria
pirataria ética afirmam: “ a curiosidade, o 
ética afirmam:
 jogg o , o d e sa
 jo safi
fioo té
técn
cnic
icoo e a at
atra
raçã
çãoo p e lo pr
proi
oibi
bido
do,, isisto
to é, o d e se
sejo
jo  
irresistív
irresi stível
el de bu busca
scarr aquilo que se esconde no noss pa
países
íses ddee dados. Os 
hacker
hac kerss nã
nãoo qquer
ueremem pilhar, 'm
'mas
as so
some
mente
nte aadm
dmirirar
ar'' ”
”5556. Assim, de acordo
com o CCC, os hackers não são vândalos ou criminosos, já que têm
uma regra, uma deontologia própria, expressa em seis pontos: 1. O
acesso ao computador e tudo que está ligado ao funcionamento deste
mundo
mun do deve ser sem limites;
limites; 2. Toda a informação deve ser livre
livre e sem
restrição; 3. Julgue um hacker
hack er de acordo com seus atos e não a partir de
critérios
critérios com o o aspecto externo, idade, raça, sexo ou posição
po sição social; 4.
O computador permite a criação artística e estética; 5. O computador
 pode
 po de m elho
el hora
rarr sua
su a exist
ex istên
ênci
cia;
a; 6. Não
N ão bag
b agun
unce
ce os dad
d ados
os alhe
al heio
ios.
s.
Como afirma o hacker francês Mad, um verdadeiro hacker  
não se comporta
comp orta como um vândalo
vândalo.. Um vândal
vândaloo pen
penetra
etra para qque
ue
brar, destruir, apagar... É realmente um infeliz se encontra aí o seu  
 prr a z e r " 551.  Para Wau Holland
 p Holland do CCC, “o hac
hackingfa
kingfazz parte do quoti

di
diano
ano.. Trat
maneira Trata-s
a-se,
e, pera
perante
criativa, nte uma
prática e ...técnica sofi
sofisti
sticada,
desrespeitosa cada,
”558. d
dee se co
comm por tar de 
portar
Atualmente vários encontros realizamse nos EUA, na Europa,
em Buenos
Bue nos Aires, em
e m São Paulo, como
co mo o atual DEF
D EFCO
COM M 559, entre ou-
o u-
tros.
tros. Vamos tratar de dois que aconteceram
acontecera m na Holanda
H olanda:: ICATA
ICATA e HEU.

ICATA

Icata foi umaum a das primeiras


primeiras reuniões de hackers na Europa. Com C om
o sugestivo nome foi criada criada a In
 Inte
tern
rnat
atio
ionn a l C
Con
onfe
fere
renc
ncee o f  Alt tivv e  
A ltee r n a ti
Use o f TTechnol
echnology, ogy,  realizada em Amsterdã, em agosto de 1989, em
um velho
ve lho teatro,
tea tro, o Parad
Par adiso5
iso5660. Algumas
Algum as presenç
pre sençasas im portan
po rtantes tes valo
v alo- -
rizaram o evento, como com o John Draper
Drap er (Capitan
(Capitan Crunch), Wau Holand,
Stephen Wémery,
Wém ery, Bemd Be md Fix, Pengo (CCC), Joseph Weizenbaum, Steve
Levy,, Lee F eselstein e Marieke Nelissen.
Levy Nelissen.
 Nee li
 N liss
ssee n , u m a das
da s rara
ra rass m ulhe
ul here
ress no even
ev ento
to,, exp
ex p li
licc o u u m dos do s
objetivos do congresso: libertar os hackers de sua imagem negati-

va561. Em Am sterdã, tratavase de denu


va56 d enunciar
nciar a repressão
repre ssão aos hackers,
mostrando todas as contradições da pirataria do ciberespaço: “de-

228 
22 8   C I BE
B E R C U LT
L T U R A , T E C N O L O G I A E V I D A S O C IIA
AL NA CULTURA CO NTEM PORÂ NEA •
 

informação, reclamando a  
nunc iando a centralização dos canais de informação,
nunciando
liberdad
liberd adee d
dee a
ace
cesso
sso às redes ttele
elemm át
ática
icas”
s”5562.
O pronunciamento de abertura foi de Lee Felsenstein, ativista
tecnológico,
tecnológic o, cofunda
c ofundador
dor do projeto Communit
Communityy Me mory  em Berkeley,
Memory Berkeley,
Califórni
Calif órnia.
a. Nesta fala ele advoga que os poderes da nova nov a era tecnológica
devem ser levados em conta com responsabilidade por todos os cida-
dãos do planeta. De acordo
aco rdo com Felsenstein,
Felsenstein, os cidadãos devem agir e
reconstituir a relação entre a tecnologia e o social, sendo necessário
restabelecer
restabel ecer uma comunicação
comunicação de mão dupla,dupla, sem hierarquia
hierarquia ou con-
c on-
trole
trole.. Buscase agir para selar o fim da anomia
anom ia social.
social.
A declaração
declara ção final do ICATA
ICATA,, lida em 4 de d e agosto
ago sto de 1989\
1989\ pro-
pro -
 põee a troca
 põ tro ca livre
liv re e sem
se m freio
fre io d a infor
in forma
maçã
ção.
o. R einv
ei nvin
indi
dica
cand
ndoo qu
q u e a po
p o-
 pu laçã
 pula ção
o tenh
te nhaa a poss
po ssib
ibili
ilida
dade
de,, s.enã
s.enãoo d e contro
con trola
lar,
r, ao
a o men
m enosos de
d e inte
in terv
rvir
ir
nas estruturas
estruturas constituídas
constituídas.. A tecnologia
tecnologia de informação tem que qu e alargar
e não reduzir este este direito,
direito, já que a informação
informação pertence a todos. todos. Ne-
nhum modelo
m odelo de informatizaç
informatização ão da sociedade
sociedade deve ser s er imposto
imposto de cima c ima
 para
 pa ra baixo
bai xo,, apro
ap rove
veita
itand
ndo o a estru
es trutu
tura
ra desc
de scen
entra
traliz
lizan
ante
te do ciber
cib eres
espa
paçoço.. A
informatização deve ser um bem que potencialize a emancipação, o
 prog
 pr ogre
ress
ssoo do bem
b em e star
st ar social
soc ial,, a form
for m ação
aç ão pro
p rofis
fissio
siona
nall e o lazer. A redered e
deve manter suas conexões sem restrições e sem intervenções
controladoras, a fim de garantir um verdadeiro espaç espaço o social.
social.

HEU: Hacklngg at the


Hackln the End oft he Unive
Universe
rse

Em agosto de 1993, tivemos a oportunidade de participar do


 Ha
 H a c k ing
in g a t th
thee E n d o f t h e U ni
nive rsee (H E U ),   uma continuação do
vers
ICATA
ICATA de 1989,1989, ainda nos Países Baixos,
Baixos, mais precisame
precisa mente
nte num cam
cam 
 p ing
 pin g na c idaid a d e d e L e lystly stad
ad,, pró
pr ó x ima
im a a A m st ster
erdã
dã.. N e s ta o casi
ca siãã o , foi
 po
 p o ssív
ss ívelel c o n h e c e r d dee pert
pe rto
o o m undo
un do dos
do s hack
ha ckererss e c o n st
staa r a forç
fo rçaa do
do
movimento
mov imento assim chamado de tecnoanarquist tecnoanarquista. a. Tivemos a oportuni-
dade de ouvir ou vir e falar com personalidades como Emmanuel Em manuel Goldstein
da 2600, Rop R op Gonggrijp da HackTic HackTick, k, Andy MuellerMaguhn
MuellerMaguhn do CCC
de Hamburgo, entre outros. O evento reuniu especialistas, hackers,
 phr
 p hree a k ers,
er s, jo
j o rn a li
liss tas
ta s e estu
es tuda
dant
ntee s, p a ra a disc
di scuu s são
sã o d e tem
te m as vari
va riaa -
dos: BBS, internet, hacking, engenharia social, paranóia,  p  phh o n e - 
 ph
 p in g ,  criptog
h r e a k ing  criptografia,
rafia, leis e direitos,
direitos, etc.
etc.
O local
local foi organizado com uma grande tenda para conferências
e pequenas tendas para workshops workshops  que na sua maiori m aioriaa aconteciam
aconteciam••

E M O S | 229
• A N D R É L EM
 

ao ar
a r llivre,
ivre, um hackroom  (sala com arte eletrônica, stands de revistas
e vários computadores
com putadores ligados à inter internet
net).
). O público variava de a do-
lescentes,
lescent es, antigos hihippies,
ppies, pupunks
nks e “mauricinhos” em BMW s. O amb ambi-
i-
ente era bastante masculino e verdadeira
verdadeiramente
mente com unitári
unitárioo (tudo era
feito em conjunto,
con junto, desde o café da manhã até a limpeza de banheiros),
com quase
qu ase 10
1000
00 pessoas (os organizadores esperavam a metade).
 Naa aabe
 N bert
rtur
ura,
a, E. G ol
olds
dstei
teinn fal
falou
ou so
sobr
bree a cr
cria
iaçã
çãoo da re
revv ista
is ta 26
2600
00,,
também referiuse ao papel dos media  na formação da imagem dos
hackers, à Operação Sun Devil  e ao di direito
reito à liberdade da informação.
2600 foi criada, em 1984, com o objetivo de publicar informação do
mundo inteiro sobre computadores e sistemas telefônicos. De acordo
com Goldstein, a impren
imprensa
sa e as publi
publicações
cações eletrônicas na internet
interne t de-
vem ter a m
mesma
esma liberd
liberdade
ade que as pub
publicações
licações impre
impressas.
ssas. Par
Paraa Goldest
Goldestein,
ein,
as autoridades não eentendem
ntendem a ciber
cibercultura: “eles não entende
cultura: en tendemm a dife
rença
ren ça e o pap
papel
el das novas
n ovas form as de comunicações eletrônicas
eletrônicas como a 
internet. As publicações eletrônicas têm que ter os mesmos direitos  
que a imprensa escrita ou a liberdade de expressão”**.
Goldstein afirma que a desinformação e a espetacularização dos
media  é evidente
evid ente e patética: “A “Ass p pee sso
ss o a s pen
pe n sam
sa m , e m g era co m  
er a l, q ue com
um modem,
modem, os computadores
computadores podem destruir destruir o mundmundo. o. Eu posso f a
lar p o r mim e pelo meu círcu círculolo pequeno de amigos amigos.. Destruir
De struir o m un
do, para nós, é a ignorância e o medo difundido na população em  
relação às nov novasas tecnologias
tecnolog ias de comunicação. Eu acredito acred ito que nós,nós, 
hackers, deveriamos mudar esta situação e deveriamos ajudar as  
 pee s s o a s a d o m e s ti
 p ticc a r a tec
te c n o log
lo g ia".
ia ".   Segundo o editor da 2600, é
difícil lutar contra a ignorância e os media  ajudam a perpetuar
muito difícil

esta situ
situação:
ação:
nossas vidas. “Eles
É ainda
são aatualmente
mesma
m esma hist
histór
ória.
ia. Os hackers
criminosos pod
podem
que podemem ler seus  
destruir 
arquivos e cartõe
c artõess de crédito, eles podem
po dem destruir
de struir sua vida ”.
Os hackers tentam desmistificar a fé irrestrita na segurança
tecnológica da qual se vangloriam os tecnocratas. tecnocratas. Os hackers
hac kers têm por
função fazer a transição de uma mentalidade tipicamente moderna
(tecnocultura) para a compreensão dos impactos socioculturais da
cibercultura. Assim, afirma Goldstein, “nós temos que fa la r com as 
 pee sso
 p ss o a s, e x p li
licc a r n o s s o p o n to d e vista.
vist a. N ó s est
e staa m o s inte
in tere
ress
ssaa d o s em
em 
mostrar o que acontece. Hoje não podemos mais acreditar nas  
corporações mundiais e os governos ganham
corporações ganham força
for ça com os com
computa
puta
dores em suas mãos. Eu acredit
acreditoo que é m
muito
uito importante,
importante,fa la r às

230  C IB
I B ER C U L TU
T U R A , T EC N O L O G I A E V I D A S O C IA
I A L N A C U L T U R A C O N T EM P O R Â N EA •
 

 pe sso
 pess o a s, a tra
tr a i-la
i- lass p a r a as no
nova
vass te
tecn
cnol
olog
ogia
ias.
s. N ã o p o d e m o s d e ix
ixaa r  
tudo isto
isto em mãos de tecnocr tecnocratas riminososs  ”5
atas.. Nós não somos ccriminoso  ”564.
A paranóia
pa ranóia é tão iimportante
mportante no meio que ha havia
via uma conferên
conferência cia
específica sobre o tema. Um hacker declara: "Eu sou paranóico. A  
idéia
idé ia é fa la r da parparanóia.
anóia. A paranóia é muito rui ruim
m porque pode que
brar nossa coesão de grupo e causar desconfi anças e dificuldades em  
desconfianças
nossas comunicações.
comunicações. Nós podem podemosos com
compartilhar aquii nossos medos 
partilhar aqu
e nossas angú stias".   Vemos
angústias". Vemos aqui que o sentimento de g grupo
rupo ou tribo é
muito importante
im portante para os ttecnoanar
ecnoanarquist
quistas.
as. Um
Umaa das poucas mulheres
depõe: "eles tentam infi infiltr
ltrar-se
ar-se mais para
pa ra destruir o grupo, que pa ra  
para
encontrar informações. A meta é semear a destruição do grupó. Nós  
devemos estar at atentos
entos par
para a que os grupo
gruposs não sucumbam
sucum bam ao terroris
mo da polícia".   A solução proposta é a utilização da criptografia de
massa para
pa ra driblar o monitoramento das comunicações.
 Noss workshops sobre BBSs,
 No BBSs, mostrouse
m ostrouse claramente
claram ente o ffator
ator soci
social
al
como dominante das novas redes redes tel
telemát
emáticas
icas.. As agregações e comu
comuni-
ni-
dades eletrô
eletrônicas
nicas refle
refletem
tem be
bemm a vida so
social5
cial56
65. Em ou
outra
tra discuss
disc ussão
ão sob
sobre
re
o mito da segurança técni técnica,ca, um dos hacker
hackerss afirmou que o seu papel não
é criminoso, mas político,
político, tentando mostrar os defeitos de ssegurança egurança dos
sistemas. "Nós quer queremos
emos mostrar que as pesso pessoas as têm que en tender um 
entender
 pou
 p oucc o m
mee lh
lhor
or cocomm o fu
 fun n c io
ionn a ess
essee no
novo
vo siste
sistema
ma tetecn
cnol
ológ ico ". O  mesmo
ógico
aplicase
aplica se ao phre
phreaking
aking.. An Andy,dy, do CCC, afirma que o phreaking e o hacking
“não têm p o r objeti
objetivo vo cau
causarsar danos econômicos
econômicos,, m as realmente mo strar  
mostrar 
os buracos nos sistemas de computador". Ele fala através do telefone
(talvez
(talvez um p  phr
hreaeaki
kingng ?) com um ph phreak
reaker
er alem
alemão
ão de 18 anos:
  M
 Mu u ita
it a s p e s s o a s es
estã
tãoo in
inte
tere
ress
ssad
adas
as n
noo ssee u c om
omeç
eço.o. Você p o d e  
nos fa la r um pouco?
  D
 Du u ra n te o v er erãã o 1989, eu o u v i f a l a r d a s b luluee b o x e a lg
lguuns 
amigos
am igos me fala ra m que era um modo d e telefonar llivr ivrement
emente.e. Eu 
comprei
com prei alguns livros e, program ando e reprograma reprogramando ndo a noite toda  
essa caixa,
caixa, de súbitsúbito, o, os telefones soaram e f o i uma um a sensaç
sensação ão muito  
agradável. Foi assim que eu comecei. Todo mundo pode aprender  
isto,
sto, em m uito po poucuc o te tempo.
mpo.
Outra discussão teve por objet objeto o a prát
prática
ica da social engineer ing. 
engineering.
Esta é uma astúci
astúciaa muito usada por hacker
hackerss e phreakers. U Umm hacke
hackerr
holandês explica: “é criar uma forma para achar informação que  
não esteja facilmente disponível. A pessoa usa o telefone para, de  
uma m aneira simples,
simples, adq uirir o que deseja "",,  Definindo esta prát
adquirir prática
ica••

• A N D R É LE M
MOOS 231
 

como uma interação social, continua: “É uma form


for m a de adquirir
a dquirir in
 fo r m a ç õ e s direta
 for dir etame
mente
nte.. Hacke
Ha ckers,
rs, phre
ph reak
aker
ers,
s, usam
us am mmuito.
uito. A razã
ra zãoo p a ra  
a qual
qu al eu a uso, uso, ou eu a usava (ri (risos
sos),
), é a facilida
fac ilidade
de para
pa ra adquirir 
adq uirir  
respost
res postasas para
par a minhas perguntas de um modo m odo pouco
pou co burocráti
burocrático.co. É  
muito
mui to fá c il”
il ”.  Na prática, a art
artee da social engineering  é uma mise-en- 
scène,  uma forma teatral onde desempenhamos papéis, passandose
 po
 p or o
ouu tr
traa p e ss
ssoo a pa
para
ra o b te
terr iinf
nfor
orm
m aç
açãã o, de fo
form
rm a ág
ágil
il e sim
si m pl
ples
es..
Os hackers encarnam
encarna m a ati atitude
tude cyberpunk ou ttecnoanarqu
ecnoanarquista. ista.
Um a discussão muito inter
interessant
essantee acontec
aconteceu
eu na mesa redonda H
Hacking
acking
the Law. Um hacker alemão explica: “a polícia só se preocupa
preocu pa com 
as leis e não com a form
for m a pela qual pirateamos.
pirateamos. Vive
Vivemos
mos um período  
quente na metade
m etade dos anos 8800, quando alguns
alguns hackers atacaram sis
temas de segurança
seguran ça de computadores
com putadores em todos lugar
lugares.
es. Eu viajei po r  
dez anos ao redor dodo planeta enquanto
enquanto trabalhava
trabalhava com sistemas
sistemas de 
seguran
seg urança
ça e eu noto isso: há muita distância entre
entre o undergro
und erground
und e a 
comunidade de programad
programadores
ores.. O underground tem várias formfor m as  

de ação muito
underground m uitoecomplexas
compl
o sistemexas.
sis tem . .Meu desejo
a”.
a” desejo é abrir a comunicação entre entre o  
Para Andy do d o CCC: “O hacking não é ilega ilegal.l. O obje
objetivo
tivo do hacking
ha cking  
é penetrar
penetr ar os sistemas de co comp
mpututad
ador
or.. De outro
outro lado
lado,, as leis são uma  
maneira de preve
pre venir
nir mudança
mudanças. s. Se eu entro
entro em um sistema de comp c omputauta
dorr e eeuu mudo
do mu do algo no sistemasistema,, há leis e para
pa ra mim
m im elas são ok. ok. M as se 
você entra e mostra fur  fu r o s de seguran
segur ançaça no sistema, a lei nã nãoo segu
se guee m ai
aiss ”. 
Dentro desse espírito, Emmanuel Goldstein declara: “Olhem par p araa nós.
nós. 
 Nós
 N ós so
som m os ato
atoreress político
polít icos.s. Eu p enso
en so ququee a m elho
el horr coisa
co isa é e d u car
ca r as
a s 
 pess
 pe ssoo as com
co m o que
qu e sabemo
sab emos. s. Ela
Elass têm
tê m qu
quee enten
ent ende no sso p o n to de vista, 
derr nosso
não em jorna
 jor nais,
is, em artigos
artig os ou na televisão.
televisão. ” Andy acrescen ta: “o hacking
acrescenta: hac king  
nos ajuda a mostrar o que acontece acontece hoje
hoje.. Os hackers mostram proble prob le
mas. EuE u não quero causar problem problemas as mas mostr
m ostrá-lo
á-los” s”..
 N a sseg
 Na eguunda m
mee ta
tadd e do
doss aano
noss 80,
80 , v
vár
ário
ioss pa
país
íses
es in
inst
stit
ituu ír
íraa m le
legi
gis-
s-
lações contendo
contend o restrições
restrições ao hacking. Nos Estados Unidos, a prim ei-
ra lei contra a criminalidade de computador data de 1986 (The  
Computer Fraud e AbuseAb use Act)
Act)..  As autoridades tentam proibir todas
as formas de hacking, mesmo aqueles que não tocam nos dados ou
que apenas querem mostrar os erros dos sistemas de segurança. Na
França, a Lei Godfrain,  de 22 de dezembro de 19 1987 87,, foi criada não só
 paa ra p u n ir o h a ck
 p ckin
ing
g c ri
rimm in
inal
al,, com
co m o ta
tamm b é m p a ra im p e d ir o p a ss
ssee io
dos hackers pelo ciberespaço.
2322 
23 C I BER
B ER C U LT
L T U R A , T EC N O L O G I A E V I D A S O C IIA
A L N A C U L T U R A C O N T EM P O R Â N E A •
 

Tribalismo dos hackers

Hackers são outsiders


outsiders da  da informática que, através de um com-
 port
 po rtaa m e n to lú
lúdd ic
icoo e ccri
riat
ativ
ivo,
o, tom
to m a m o
oss cco
o m p u ta
tadd o re
ress n
nãã o cco
o m o um a
simples ferramenta
ferramen ta de cálculo, mas como com o um media
media de  de comunicação.
Mais ainda, utilizam as ferramentas da informática e da telemática
como armas, contra o que identi identificam
ficam como sendo a ameaç ameaçaa do controle
e do poder
pod er sobre a infor
informação
mação e consequentemente
consequenteme nte sobre a soci sociedade.
edade.
Como vimos em capítulos anteriores, eles formam uma verdadeira
tribo,
tribo, sendo o hahacking
cking um
umaa prática (t
(tecnológica
ecnológica e astuciosa) ccontraontra a
sociedade tecnocrática.
tecnocrática. Podem os então expor algumas características
destas tribos,
tribos, mesm o que de forma caricat
caricatural.
ural.
O comp
co mputador
utador é a porta
porta de entr
entrada
ada na tri
tribo,
bo, onde os enco
encontros
ntros
físicos
fís icos não são indispensáveis.
indispensáveis. Po
Podendo
dendo entrar em contato com co m o ou-
tro através
através das redes telemáticas, o oss hackers utili
utilizam
zam os com putado
putado--
res como um instrumento de comunhão. M ais ainda, ainda, a com unicação,
livre
livre de constrangimento fí físic
sicos,
os, econômicos ou sociais, é um a com comu-u-
nicação baseada em interesses comuns, caracterizando o que alguns
autores chamam de comunidades virt virtuais
uais,, como vimos. Assim sendo,
o luga
lugarr de socialização é o própri
próprioo ciberespaço, po podend
dendoo ttam
am bém ser
festas,
fest as, convençõ
convençõeses e encontros os mais diversos. Na con configuração
figuração das
agregações sociais do underground,
underground,   a preferência está na vida o n
 principalmente nos BBSs e sites da internet. Nesses encontros,
line, principalmente
line,
compartil
com partilhase
hase um conjunto de perí
perícia
ciass técnicas,
técnicas, conq
conquistas,
uistas, códigos,
software piratas,
p iratas, jog
jogos
os e contrasenhas
contrasenhas..
A socialização se dá assim em torno dos computadores e suas
redes. Desta forma, o objeto de culto é o computador e todos os
acessórios que permitem a navegação pelo ciberespaço (scanners (scanners,,
telefones celulares, modem,  etc.).
modem, etc. ). A paixão cria uma form
formaa de depe
depen-
n-
dência, sendo a tecnologia eletrônica associada a uma droga. Pode-
mos citar aqui o depoimento de um programador que mostra bem
essa relação. A prática
p rática da programação é para ele ““um
um autêntico
autên tico culto 
culto

secreto.
secret o. O jo g o da program ação nos fafasc
scina
ina literal
literalmente. Passamoss  
mente. Passamo
aí noites inteiras. Eu creio que era para nós uma espécie de dro
g a ’’566.  Vários autores ref
’’5 referemse
eremse aos hackers como Computer add icts  
addicts
ou code junk ies.   O computador é assim um parceiro da criação, da
junkies.
comunicação, da democratização e da liberdade da informação, mas
também um instrumento viciante.•
viciante. •

• A N D R É LE M
MOOS 233
 

Par a os hackers, a cibercultura v


Para vai
ai questionar os valores do sis-
tema tecnocrát
tecnocrático, ico, com o um a forma de apropriação
apropriação social dion dionisí
isíaca.
aca.
 N e s ta c u l t u r a , a s a ç õ e s tê m c o m o f in a li lidd a d e e x p l o r a r to d a s as
 pot
 p oten
enci cial
alid
idad
ades
es ddas
as no
nova
vass má
máqu quin
inas
as,, c o m o um
umaa e sp spéc
écieie d
dee br
bric
icol
olag
agemem
high-tech.   Como mostra J. Jouêt, “as novas tecnologias e a  
informática
infor mática particularmente, parecem te terr tomado o luga r de outros 
tipos de bricolagem técnica (mecâ (mecânica,
nica, eeletricid
letricidade ade ...)”
...)”** 1. M ais ain-
ain-
da: “toda sua sociabilidade é construída em tomo da informática  
que abre para eles um cír círcul
culo o de n
novas
ovas relaç
relações"
ões"**.**.
O corpo, com a cibernética de Wiener, e hoje com o projeto
Genom a H umano, é vis visto
to como pura in infor
formação.
mação. Há a influência do
esoterismo (tipo  N  Nee w A g e ) ,   onde o corpo é visto como fonte de
il
ilusão,
usão, dev endo ser superado para alcançar o espíri espírito to puro. O cibe-
respaço e a realidade vir virtua
tuall podem ser vi visto
stoss também nesta pers-
 pee c ti
 p tivv a . O s h a c k e rs nã
nãoo e st
stãã o m u it
itoo p re o c u p a d o s c o m seseuu s co
corp
rpo o s.
Eles são conhecidos pelas roupas sujas, cabelos longos e despentea
dos e pelo isolamento do mundo externo. Claro que isso é apenas
uma caricatura,
c aricatura, mas com o tal tal,, expressa, exagerando, os hackers reai reais. s.
Com o diz J. Weizenbaum , ““.... suas roupas avacalhadas, seus rost rostos os  
m al lavados e m al barb barbeados
eados,, seus cabelos despentead os atestam atestam  
que eles esquecem de seus corpos e do mundo que os envolve”. 
Para Raymond, autor do dicionário dos hackers,   estes “ vestem-se  
 pa
 p a r a o co
conn fo
fort
rto
o , fu n ç ã o e m a n u te
tenn ç ã o m ín
ínim
ima tirr -  
a , a o in v é s d e v e s ti

se pela aparência  ”
 ”5
569.
A leitura favorita é a ficçãocient
ficçãocientífic
ífica.
a. Os h
hackers
ackers nã
nãoo são m
mui-
ui-
to ligados aos esportes, mas alguns se aproximam do ciclismo, do
esqui, do skate, do su rf e das art
artes
es marciais
marciais.. Odeiam os mainframes  
da IBM, a burocracia, pessoas incompetentes e as interfaces tipo ja-
nelas e menus. As comidas favoritas são os pratos exóticos e pizzas.
De tendência centroesquerda, são próximos do ateísmo e do misti-
cismo Zen, ligados a drogas químicas como o ecstasy,  a maconh
ma conhaa e o
LSD. M ostram tolerâ
tolerância
ncia em relação à sexualidade e são contrários à
afirmação social
so cial pelo di
dinheiro.
nheiro. As m ulheres são raras e o am biente é
tecnomasculino,
tecnom asculino, talvez como conseqüê
conseqüência
ncia da civili
civilizaçã
zaçãoo indus
industri
trial
al
onde os valores da razão imperam com a masculinização da socieda-
de. Entretanto, mais
m ais recentemente, tanto na internet como nas tri
tribos
bos
de hackers,
hacke rs, a participaçã
participaçãoo das mulheres é cres
crescente.
cente.
Impacientes e nervosos, os hackers têm dificuldades para

234 C I BER
B ER C U LT
LT U R A , T EC N O L O G I A E V ID
I D A S O C I AL
A L N A C U L T U R A C O N T EM P O R Â N EA
 

interagir em meios sociais; eles são desorganizados em relação às


coisas do m undo fís físico.
ico. Os pseudôni
pseudônimos mos são um umaa mistura de insinu-
ação high-tech (Phiber Optic, Optic, por exemplo) ou de instabil instabilidades
idades (como
Perfect Assholé). P  Para
ara Clough e Mungo : “p o r detrás detrá s destes às vezes 
diabólicos pseudos, frequentemente se esconde um adolescente de  
14 ou 15 1 5 anos. (...) Há um grande
grand e elemento de role-playing no hacking, hacking, 
uma necessidade de se r aceito aceito dentr
dentro comunidade, não como uma  
o da comunidade,
 pee s s o a q u e ele
 p el e é realm
rea lmenente,
te, m a s p e la pe
p e s s o a su
s u g erid a n o p s e u d o  ”s7°.
er ida
O pertenc
pertencimento
imento a tri
tribos
bos é um fatofato.. Com
Como ommostr
ostraa Mad, u umm hacker
francês, “Em Paris, por exemplo, tínhamos o Clean Crack Band, o  
KLU, os o s Pirats,
Pirats, o Strac
Stracke
ker.
r...
.. D e minha parte,
parte, eu pertenc
per tenc í durante mui m ui
to tempo ao Solex Crack Band, Band, que se for m ou durante o verão verão de 1984 
e que compreendia uma dezena, de membros. Acontecia às vezes de  
 pa
 p a s s a r d e um
u m ban
b anda
da à outr
ou traa p o rqu
rq u e nos
no s cans
ca nsáv ávam
am os ded e ata
at a c a r semp
se mprere  
o mesmo sistema... Quando trocávamos de grupo, mudávamos tam
bém o pseud
ps eudoo para cortar verdadei
verdadeirame nte o cordão  ”5
ramente  ” 571.
Louis Marie
M arie Horeau, do jornal francês Canard Encha
Enchainé,iné, explica
o encontro de duas tribos de hackers: “esses dois grupos informais,  
não estruturados,
estruturados, eram ri
riva
vais
is.. Eles provocavam
provoca vam uns aos outros
ou tros quan
do se cruzavam sobre os mesmos computadores. Eles usurpavam as  
conquistas de seus adversários, assinando com seus pseudos ou, ao  
contrári
contrário,
o, deixavam referênci
referências
as telefônicas pa ra que  
telefônicas de seus inimigos para

 pu
 p u d esse
es semm encon
en contrá
trá-lo
-los.
s. Eles
El es nunc
nu nca a enco
en cont
ntra
rara
ram
m -se f i s ic a m e n te ”512.
Como vemos, esse underground high-tech é   amorfo, formado
 po
 p o r tr
trib
ibos
os e m que
qu e a p a la
lav
v ra c h avavee é a c o m u n ic
icaa ç ã o p e la
lass re
red
d e s do
ciberespaço, principalmente os BBSs e os sites sites da internet. Com Como o ex-
 plic
 pl icaa m C lolou
u g h e t M un
ungo
go,, el
eles
es form
fo rm am o q u e ad
adv v o g ad
adoo s am e ri
rica
can nos
chamam de “ high tech Street Street gang ’ ”m . No  Noss anos 80, as ttribos ribos mmulti-
ulti-
 plic
 pl icaa m s
see a n
nív
ível
el in
inte
tern
rnac
acio
iona
nal.l. T
Tal
alve
vezz po
poss
ssam
am o s ffaa la
larr d o ssur
urgi
gim
m en
entoto,,
a partir da década de 80 80,, de uma contracultura high-tech,  formada em
várias gerações.
A primeira geração era composta por estudantes do MIT e as
 prim
 pr im e ir
iraa s g ra
rann d e s m á qu
quin
inas
as o nd
ndee tr
traa b a lh
lhav
avaa m p a ra p ro d u z ir no
novo
voss
softwares.
soft wares. Eles acredit
acreditavam
avam na li liberdade
berdade de informação
informaç ão e no acesso
total às novas tecnologias. A segunda geração foi aquela do Steve
Jobs e Steve Wozniak e o  H  Hoo m ebre
eb rew w C o m p u ter lu b.   A meta era
te r C lub.
mudar
mud ar as máquinas e torn tornál
álas
as mais inter
interatiativas,
vas, conhec
conhecida ida como ar-
quitetura aberta (open architecture). Assim, a primeira geração dos

hackers (1960) desenvolveu soft software,


ware, a segunda (1970) hardware.
A terceira geração (1980), presente na Europa e nos Estados
Unidos, é formada
fo rmada p or adoles
adolescentes
centes que receberam de presentes dos
 pai
 p aiss u m c o m pu
putatad
d or
or,, p e rm it
itin
indd o tr
traa v a r o s prim
pr im eiro
ei ross c o n ta
tato
toss c o m a
microinformática e os jogos jogo s eleeletr
trônicos
ônicos.. A quarta geração é aquela
onde os PCs se popularizaram.
popularizaram. E esta geração que faz o hac hacking
king comcomo o
conhecemos hoje, é a geração do Gala Galacticctic H a c ke r’s Part
Party, y,   onde se
declara que “...a ...a tec
tecnologia
nologia do computador não deve sser er usada po r  
governos
govern os ou corpora
corporações ções par
para a controlar e opr oprimir
imir as p pes
es so a s” s”5
51*.
Esta geração encarna uma espécie de transfiguração do mito
 pu
 p u e r ae
aete
tern us..  Eles têm, ao mesmo ttempo,
rnus empo, um umaa face angelical e end endi-i-
abrada, são jov jovens
ens,, puros, ingênuos, alegres e, simultaneam ente, vân-
dalos, piratas,
piratas, perigosos, malignos. Eles vi vivem
vem em funçfunção ão de um ob -

 j
 jee t o (o c o m p u ta
tadd o r)
r),, d e n tr
troo e fora
fo ra d a m a teteri
riaa li
lidd ad
adee , s e m co
con
n tu
tuddo
deixarem de ser cowboys,  aventureiros, circulando em u
cowboys, aventureiros, um
m espaç
espaço o de
 pu
 p u ra in
info
form
rm açã
aç ã o , o cib
c iber
eres
esp p aç
aço.
o.
O hacker
ha cker da última geração é a oposição a uma das figuras su-
 pre
 p rem m as da m o d e rn
rnididaa d e, o eesp
spec
ecia
iali
list
sta.
a. E ste
st e p
pro
rocc u ra o c o n h ec
ecim
im e n to
total, enquanto o hacker, mais próximo do bricoleur,  procura sobre-
bricoleur, procura
viver na pluralidade banal do quotidiano. O radical tecnológico dos
nossos dias não é mais, como com o poderiamos pensar, um ccientista ientista objeti-
vo, frio
frio,, assé
asséptico,
ptico, m masas um adolescente, rom romântico
ântico e aventureiro, sujo,
li
ligado
gado a sua pequen
pequenaa tribo e a algumas droga drogas, s, assim com como o ao m undo
da microelet
microeletrônica.
rônica.
Podemo
Pode mos,s, agora, tentar sintetizar
sintetizar o perfi
perfill dos hackers. A den deno- o-
minação de hacker  corresponde àqueles que superaram diversos está está-
-
gios.. M ais que um a função, ser um hacker é uma disti
gios distinção
nção honorífi
honorífica.
ca.
O hacker  é   é o topo da cadeia que começa com o  L  La a m e r  (usa
  (usa alguns
 pro
 p rog
g ra
ramm a s p ro
ronn to
toss e b ri
rinn c a d e ser
se r h ac
acke
ker)
r),, p a ss
ssaa n d o p e lo Wannabe,
Wannabe,  
que, como o nome diz, “quer ser” um hacker, começando a fazer
 pee q u e n o s p rog
 p ro g ra
ramm a s e e n te
tenn d e r a c o m p le
lexx id
idad
adee d a re
rede
de..
O pir
pirata
ata fra
franc
ncês
ês Landre
La ndreth5th57 75, me
memb
mbro ro d
daa cibergang  Cénacle, dá a
cibergang Cénacle,
tipologia do hacker médio. Há cinco tipos: o novato, o estudante, o
turista,
turi sta, o vândalo, e o ladrão. Para o “novato”, geralmente jov jovem
em entre
12 e 14 aanos,nos, o hac
hacking
king é um jog jogo o ond
ondee ele se sente fazendo
fazen do algo p proi-
roi-
 bido.
 bid o. E ststes
es são
são,, d e long
lo nge,
e, a maior
ma ioria.ia. E ste
st e é o lamer.
lamer.   O “estudante”
 proc
 pr ocururaa a p re
ren n d er tu
tudd o so
sobr
bree sistem
sis temasas inf
infor
orm m ático
át icoss e ag
agee c o m o um a
espécie de d e compensaçã
comp ensação o à busca do con conhecimento
hecimento e de d e inform
informação5
ação5776.

6  
236 
23 C I BE
BE R C U L T U R A
A.. T E C N O L O G I A E V I D A S O C IIA
AL N A CULTURA CON TEM POR ÂNE A •
 

Já o turista, o vândalo e o ladrão procuram o prazer


pra zer e a aven
aventu-
tu-
ra. O objetivo é encontrar soluções engenhosas para penetrar siste-
mas. O turista gosta de passear pela rede, mos
mostrar
trar falhas,
falhas, conhe
co nhecer
cer os
sistemas. Já o vândalo e o ladrão são crackers e não hackers. O pri-
meiro muda
m uda páginas, abre contas dentro do do sistema, bisbilhota infor-
mação alheia. Seu objetivo não é roubar, mas “vandalizar”. O ladrão
atua bastante em grandes empresas. É o pirata do colarinho branco
que rouba sistemas estando dentro deles. Há também o ladrão inter-
nacional que age espionando
espionand o e roubando informações.
informaçõ es.
O vândalo age, às vezes, sem um motivo lógico, sendo guiado
 pel
 p eloo d e sejo
se jo d e d e stru
st ruir
ir o m áxim
áx imoo de cois
co isaa s que
qu e p u d e r e, assi
as sim
m , tor-
to r-
narse de certa formaform a célebre perante seusseus pares. O ladrão não é con- co n-

siderado
“considera
consideramosummos hacker
hacqueker pelos
eles não hackers.
hack ers.dos
são Como ex
explica
nossos;
nossos;plica
pa rao nós
para hacker
hack(oer cracker)
Landret
Landreth:
h:é  
um criminoso’’511.  Segundo os verdadeiros verdadeiros hackers, o hacking é “uma 
 prr á ti
 p ticc a so cia
ci a l a lte ti v a ”51*. Mas o cracking...
lt e r n a tiv

Crackers

Os crackers encarnam, com força,


força, o segundo termo
term o da expres-
são cyberpunk. Eles são aqueles que “quebram” (to crack) tudo na
fronteira cibernética. São a versão negra dos hackers, sendo por p or iisso
sso
rejeitados por p or estes últimos.
últimos. Aqui, a atitudeatitude p  puu n k ha
h a rdco
rd corere  penetra de
forma radical,
rad ical, violenta e anárquica no reino asséptico da tecnologia.
Os crackers penetram sistemas sistemas com o intuito intuito de apagarap agar e rou-
 baa r info
 b in form
rm açõ
aç õ e s, inse
in serr ir pod
po d ero
er o sos
so s e d e stru
st ruti
tivv o s v írus
ír us.. O o b jeti
je tivv o é
destruir
des truir a socieda
sociedade de da informática
inform ática e sabotar,
sabotar, ao máximo, os grandes
sistemas de computadores
comp utadores ou apenas roubar roub ar e ganhar
ganh ar muito dinheiro.
dinheiro.
 Nee st
 N stee sen
se n tido
ti do,, os c rack
ra cker erss são
sã o o pepesa
sadd e lo d o a tual
tu al e-business,   um
fenômeno
fenôm
“I Loveeno planetário
You”, que já vem
que destruiu mostrando
m ostrando
sistemas
sistemas e paralisou
paralis suas
suaous garras
em
empresas como
comem
presas eomnotodo
vírus
víruos
mundo, nos roubos dentro de empresas, ou na simples sabotagem de
sites,, fruto de
sites d e espionagem
espion agem industrial
industrial de ponta.
Os crackers são assim o lado perverso dos hackers, o retrato
mais fiel do imaginário
im aginário cyberpunk da ficçãocientífica.
ficçãocientífica. Mas eles são
 bee m rea
 b re a is:
is : em
e m m ai
aioo de
d e 95,
95 , um
u m cra
c racc k e r bra
br a sile
si leir
iroo ppee n e tro
tr o u os sist
si stem
emas
as
de computado
com putadores res de três universidades e um Institut Institutoo de Pesquisa
Pesq uisa no
 paí
 p aíss d e st
stru
ruin
indd o tod
to d os os dado
da dos.
s. D eieixo
xouu a seg se g u inte
in te m ensaen sagg em:
em : “ os

• ANDRÉ LE
LEMOS
MOS 237
 

seus sistemas de computador são lixo. Não há uma segurança. Eu  


estou de volta pa ra sem
semear
ear o terror na in tern et”..  O fenômeno tève a
ternet”
cobertura das mídias de massa,
m assa, se
sendo
ndo um
umaa das manchetes do principal
 jo r n a l ttee le
levv is
isiv
ivo
oddoo pa
país.
ís.
Cracker é a denominação dada pela geração de hackers para
se diferen ciar dos criminosos do ciberespaço. Como veremo veremoss adian
adian--
te, tratase do um grupo de outsiders,  (desviantes), dentro de um
outro grupo de desviantes (Becker). Os crackers são assim de svian -
tes para os hackers (já que não seguem a sua regra deontológica),
que po r sua vez não ssee consideram enqua enquantonto tal
tal.. M as a divisão não
é unânime.
Podemos
Podem os v
ver
er no anarquismo cracker
crack er muit
muito o dos hackers. Talv
Talvez
ez
a diferença esteja no ato criminoso. Os hackers não roubam ou des
troem aleatoriamente. No entanto, com a iminente e já testada gue guerra
rra
cibernética, mercenários hackers se aproximam dos crackers.
R.U.Sirius expõe a confusão: “alguns dizem que o cracking repre
senta qualque
qua lque r fo form
rm a de queb
quebrar
rar re
regr
gras a tividades ilegais usando  
as,, atividades
um computador. Outros definem o cracking somente como um ato  
criminoso destrutivo particular. Ainda, outros clamam que os pri
meiros hackers eram explicitamente anarquist anarquistas as e que os atos de de s
truição contra ‘o siste m a’faz em par parte te do ethos dos hackers, send sendo o o 
termo c racke r insul tantee  ”
insultant  ”5579.
O problema é que a idade de ouro do romantismo dos hackers
morreu. Agora eles confundemse numa massa de piratas, explora-
dores cibernéticos que vão pilhar de várias várias formas os no novos
vos territóri-
os de dados. C Como
omo vemos, desde os ano anoss 80, muita coisa mudou e a
 pira
 pi rata
tari
riaa m a lé
léfi
ficc a, d ig
igaa m o s as
assim
sim,, c resc
re sceu
eu a p
poo n to d e se tr
traa n s fo
form
rm a r
em espionagem
espion agem internacional
internacional,, militar e industri
industrial,
al, em g guerra
uerra cibern
ciberné- é-
tica 580. M ich
tica5 ichel
el Rou
Rouzier,
zier, d daa Franc
Francee Télé
Télécom
com , exp
explica
lica q
que
ue “os pir atass  
pirata
 pro
 p rocc u r a m n o c o m e ç o d iv
iver
ersã
sãoo mas,
mas , n a m e d id
idaa e m q u e e le
less to
tomm am  
consciência de seu po podeder,
r, uma minoria busca,busca, sesemm dúvida, tirar pr proo
veito”5*'.  Para o comissário Rossion “é verdadeiramente uma pena  
que os hackers sejam consider consideradosados como peq ueno s gêni gênios.
os. Eles ata
cam aspectos funda m entais da soci sociedade
edade moder
moderna. na. Eles são tão p e
rigosos como os bandidos da Idade Média que prejudicavam o de
senv
se nvolv
olvimimen
ento
to do co m ér érci
cioo ”5*2.

O hacking
ha cking criminal
criminal,, ou o que chamaremos aqui de cracking, é
realizado hoje para roubo de códigos de acesso, números de c artão de

8   CIBERCULT
238 
23 CIBERCULTURA,
URA, TECNO
TECNOLOGIA
LOGIA E VIDA SOCIAL N A CULTURA CON
CONTEMPO
TEMPORÂNEA
RÂNEA •
 

crédito, códigos
código s de autorização
autorização telefônicos,
telefônicos, contrasenhas d
dee comp u-
tadores, etc. A existência do tráfico
tráfico internacional
internacional de inform ação atra-
a tra-

vés do cracking  é confirmada pela existência de BBS piratas e grupos


na Usenet
Use net (tribos de crackers espalhados pelo ciberespaço).
A história de Leslie Lynne Lynne Doucette é muito interessante e mos- m os-
tra que as tribos de crackers podem também ser coordenada coorde nadass p
por
or uma
mulher. Leslie era descrita como a mulher fatal no mundo da
informática, um a profissional,
profissional, operando com códigos cód igos de acesso rou
rou- -
 bad
 ba d o s, c artõ
ar tõee s d e c réd
ré d it
itoo , cart
ca rtõ
õ es te
tele
lefô
fôn n ic
icoo s (AT&T,
(AT &T, M C I, e tc..
tc ...)
.),,
senhas de computadores e de voic voicee m ail (VM). Doucette usava uma
rede de jov ens en s crackers de 15 a 17 anos pelo país (o EUA). Graças Gra ças à
sua rede, ela recebia números de d e cartões de crédito de várias fontes. A
quadrilha ficou conhecida comp  B  Ba -s ittee r,  causando danos avalia-
a b y -sitt av alia-
dos em US$1,6 milhões. Em 17 de agosto de 1990, Doucette é con-
denada a 27 meses de prisão por um juiz de Chicago.

Operação
Op eração Sun Devil
Devil

“...Computer intrusion, as a non profit act of intellectual

exploration and ;mastery,


United States but thatis electronic
in slow decline,
fraud,at least in the
especially
telccommunication crime, is growing by leaps and
 bounds”58’.
B r u c e  St e r l i n g

A operação Sun Devil  foi motivada por inúmeros ataques de


hackers e crackers ao sistema
sistema d
dee telecomunicação
telecomunicaçã o americano. A cria-
ção da Fundação da Fronteira Eletrônica (EFF) está ligada direta-
mente às consequên
conse quências cias desta Operação, iniciada em 1991, 1991, conhecida
conh ecida
como o H a c k e r C ra rack
ckdo w n  (Sterling)
dow  (Sterling).. O objetivo
ob jetivo era por
po r em xeque
xeq ue o
 pot
 p oten
enci
cial
al a n árq
ár q u ico
ic o que
qu e a m icro
ic roi
inf
nfo
o rmát
rm átic
icaa crio
cr iou
u h á m ais
ai s de trin
tr inta
ta
anos.. Podemos
anos Podem os dizer
d izer que o iníci
início o do ativismo
ativismo político no ciberespaço
cibere spaço
constituise a partir da Operação Sun Devil.
A operação
op eração Sun Devil, conhecida como a blitz aos hackers ame- ame -
ricanos,, começou
ricanos com eçou em e m 15 de janeiro de 1990 1990,, quando o sistema de cha- ch a-
mada de longa distância do operador AT&T americano foi paralisad paralisado: o:
sessenta mil pessoas ficaram sem telefone e alguns setenta milhões de
chamadas
cham adas permanec
perm aneceram eram sem respost
respostas.
as. Era o Martin Luther
L uther King Day.Day.
Segundo
Segu ndo autoridade
auto ridadess da AT&T
AT&T,, o crash de 1990 1990 ffoi
oi causa
causado
do por
po r falhas
falhas••

• ANDRÉ LEMOS | 23
LEMOS 2399
 

de software
s oftware e não por
p or hackers, mas segundo Sterling,
Sterling, “hackers fi
 fizz e r a m  
isso.
isso. Co
Comm um vvírus.
írus. Um cava
cavalo
lo de tróia. Um software b
boo m b ”5M.
 N o s dia
 No d iass 1 e 2 de
d e julh
ju lhoo de 1990,
199 0, fora
fo ram
m atac
at acaa d o s o s sist
si stee m a s de
de
computadores em Washington, Los Angeles, Pittsburgh e São Fran-
cisco. No dia
d ia 17 de setem
setembro bro de 1990
1990,, estações
estações de switchs  de AT&T
em Nova
No va Iorque são postas fora fora de atividade
atividade (as baterias de em emergên
ergên- -
cia e todo o sistema de segurança não funcionam). Os aeroportos
(Kennedy,
(Kenn edy, La Guardia
G uardia e Newark) são privados de comunicações (da-
dos e vocal). O FBI reage imediatamente e, em 9 de maio de 1990,
começa a Operação SunDevil  contra as atividades dos hackers e
crackers, embora eles (policiais, juizes, advogados) não tivessem a
mínim a idéia do que
mínima qu e era isso!
isso!
Para m elhor entendimento
entendimento dessa blitz
blitz cibernéti
cibernética,
ca, podemos
podem os es-
tabelecer uma cronologia mais apurada dos acontecimentos. Tudo
começou no verão 1988, com a quarta Convenção de Hackers nos
EUA. Neste momento, a rede C B S 'faz
' faz um retrato dos hackers como
criminosos perigosos. Em novembro,
novemb ro, disseminase o vírus Worm (ver-
me) de Robert Morris Jr. pela internet585. O vírus desconectou 6.600

computado
com putadores
dezembro, res
um edosacarretou
membros perdas
do  Lde
 Leg 40n ao90
egio
ion fD omilhões de dólares.
o m ,   grupo de hackersEm
americanos, bastante ativo na época, consegue o documento  E-9  E-91111  
que explica o sistema informatizado da telefônica BellSouth e colo-
cao numa BBS. O autor da façanha é Knight Lightening, pseudôni-
mo de Craig Neidorf. Já em novembron ovembro de 19 1989
89,, o grupo Nu  NuPrProm
ometethe
heusus  
quebra o código fonte da Apple e, em dezembro, a revista  H  Ha rpee r  
a rp
 publ
 pu blic
icaa ma
maté
téri
riaa so
sobr
bree uma
um a confe
con ferê
rênc
ncia
ia virtual
vir tual de
d e hack
ha ckererss na BBS
B BS Well,
uma das mais influentes comunidades
com unidades virtuais
virtuais do planeta.
Em 15 de janeir
jan eiroo de 1990
1990,, começam os ataques em massa m assa com a
 para
 pa ralis
lisaç
ação
ão do sisiste
stemm a tele
te lefô
fôni
nico
co da AT&T. Algu A lgunsns dias
dia s ddep
epoi
ois,
s, o ser
s er-
-
viço secreto americano
am ericano suspeita que A  Acc id P
Phr
hrea k  e Ph
eak  Phiber Optik,, parti-
iber Optik
cipantes do Le
 Legio
gionn of
ofDD o o m (L oD),, estão envolvidos
(LoD) e nvolvidos no ataque
ataq ue à AT&
AT&T.
Em 2 de fevereiro
feve reiro de 1990,
1990, o serviço secreto faz faz uma
um a batida na casa ca sa de
Terminus,  pseudônimo
pseudônim o de Len Rose, também também participante
participante do LoD.
A história da cibergang LoD, criada por Le  Lexx Luth
Luthor,or,  um líder mis-
terioso que vive em algum lugar do sul dos E.U.A., está no coração da
 blitz
19realiz
de 199rea
91.lizad
Aada
LaoD
LoDpelo
pe lo
eraFBI
FB I contr
co ntraaeosmais
a melhor tecnoana
tecno
mai anarqu
s ativa rquista
gangistas
s cyb
cyber
erpu
punk
cibernética
cibernéti ca nks
doss no verão
verãOo
EUA.
hacker mais expressivo é o famoso Marc Abene (Fibra Ótica), Ótica), um hacker 
hack er 

240
24 0   | CIBE
CIBERCUL
RCULTURA
TURA,, TECNOLOGIA E VIDA SOCIA
SOCIALL NA CULTURA CONT EMPO RÂNEA •
 

completo.
com pleto. Ele tinh
tinhaa 17 anos em 1989 quand
qua ndo
o entrou pa
para
ra o Lo
LoDD 586.
Em 7 de fevereiro, The Prophet   (Robert Riggs), The Leftist  
(Franklin Darden) e The Urville/Necron99   (Adão Grant) são
imterpelados
imterpe lados pelo FBI sob as mesmas acusaçõe
acusações.
s. Em 15 de fevereiro, o
serviço secreto prende Craig Neidorf, suspeito
suspeito de ter roubado
roubad o e publi-
pub li-
cado o documento E911 da Bell South. Ainda nesse mesmo mês, o
sysop  da rede Jolnet é visitado também pelo serviço secreto porque o
docum ento foi achado em seu ser
servi
vidor
dor.. No começo
com eço de março, os fede
rais invadem o escritório de Steve Jackson por causa do jogo ( role 

 p layy in
 pla ingg g am e )  chamado Gurps Cyberpunk.  Dois meses depois, J.P.
Barlow (letri
(letrista
sta do grupo de rock Greatful Deads) é  visitado
  visitado pelo ser-
viço secreto por po r ter recebido um disquete contendo o código da Apple.
Em 9 de maio de 1990, o serviço secreto anuncia 28 batidas,
chamadas
chama das então de “Operação Sun Devil", em 14 cidades, com a apre apre-
-
ensão de 42 com putadores e 23.000 disquetes. disquetes. Surge aí uma prim
primeira
eira
reação através
a través da criação, por inic
iniciat
iativa
iva de Mitch Kapor (Lotos)
(Lotos),, John
Barlow, John Gilmore
G ilmore (Sun) e St Steve
eve Wozniak (Apple), en entre
tre outros,
da Fundação
Fun dação da Fronteir
Fronteiraa EElet
letrôni
rônica
ca (EFF).
(EFF). E
Esta
sta nasce pa
para
ra defender
os direitos
direitos dos cidadãos do ciberespaço, os netizens.  Seus fundadores
são apóstolos da contracultura dos anos 60, renovados com os ares
dos anos 90 que qu e começavam.
O estatuto da EFF propõe: “um novo mu ndo está surgindo  
mundo
na vasta
vasta rede di digit
gital
al ...O s media de comun
comunic ação, baseados em  
icação,
comp utadores como corr correio
eio elet
eletrônico
rônico e conferênci
conferências, as, estão se tor
nando a base para novas form as de comuni comunidades
dades.. Estas comunida
des,, sem uma única e fix a local
des localização
ização geográfi ca, com preendem os 
geográfica,
 p r im e iro
 pr ir o s a ju s tetess d a f r o n t e i r a e le
letr
trôô n ic
icaa . E n q u a n to a s n o r m a s c u l
turais e os princípios est estabelecidos
abelecidos criam criam a estrutestruturaura e coerência  
dos usos dos media m edia conve ncionais ((.. ...)
.),, os novos med ia digitaisdigita is não 
são fac ilm en te ad aptáveis aos enquadram entos exis existent
tentes.
es. (.. .) A  
(...)
Fundação da Front Frontei eira
ra Elet
Eletrôni rônicaca fo i cricriada
ada para ajuda r a civil civilii
 za
 z a r a f r o n t e i r a e le
letr
trô
ô n ic
icaa ; p a r a f a z ê - l a v e r d a d e ir
iraa m e n te ú ti
till e b e
néfica
néf ica,, não ap enas pa ra uma eli elite
te ttécni
écnica,ca, m as pa ra qu alque r p e s
soa,
so a, de uma for m a que mant mantenha enha,, nas nossas soci sociedades,
edades, o li vre e 
livre

aberto
abert o flu x o de inf
informação
ormação e comunicaçã
comunicação o  ”5
 ”587.
A Operação Sun Devil
De vil éé,, assi
assim,
m, a primeira guerra do ciberespaço,
ciberespaço,
mas não a última. Recentemente, ataques a grandes sites trazem de
novo a caça aos hackers. Como
Com o vemos, a história não é nova, ma mass pela•
pela•

• ANDRÉ LEMOS | 241


LEMOS
 

 p rim
 pri m ei
eirara ve
vez,
z, a m íd
ídia
ia gl
glob
obal
alm
m en
ente
te sint
si nton
onizizad
adaa fi
ficc a c o m m e d o do
doss
hackers. Em E m feve
fevereiro
reiro de 2000, quase 10 anos depois depois da O peração Su
Operação Sun

 Devil
 De vil,, os principais si
sites
tes do comércio eletreletrônico
ônico mundial sofreram ata-
ques do tipotipo DDS ( Distr
 Di strib
ibut
uted
ed D en
enia
iall o fSe
fS e rvic
rv ice)
e)  que os paralisaram588.
A técnica é simples e j á se suspeita de um hacker de 15 anos do Canadá,
codinome mafiaboy, como um dos responsáveis. Desde então, ataques
hackers estão se prolif proliferando,
erando, chegando ao estrago mundial criado pelo
vírus I Love
Lov e Yo You u, disseminado a partir das Fil Filipi
ipinas,
nas, em maio de 2000.
Em 1991990, 0, os hackers, e di diversos
versos ativist
ativistas as da fron
fronteira
teira eletrôni-
ca, diziam
diziam e star pregando a li liberdad
berdadee de inf informação
ormação e provando que
aquilo
aquil o que é vendido como seguro nã nãoo o é (ele
(eless chamam de “seguran-
ça pela ignorância”). Eles penetram os sistemas mais sofisticados e
importantes (sites governamentais, militares, educacionais e agora,
empresariais) com co m o intuito de desmoralizál
desmoralizálos, os, seja modificando suas
 páá g in
 p inas
as W eb (c (co
o m esc
e scri
rito
toss d
dee con
c ontetest
staç
ação
ão,, llin
inks
ks b iz
izar
arro
ross o
ouu im
imag
agenenss
 po
 p o rn
rnoo g rá
ráfi
ficc a s ou e sc
scaa toló
to lóg
g icas
ic as),
), s ej
ejaa pa
para
rali
lisa
san n d o cco
o m p leta
le tam
m e n te um
servidor,
servi dor, com
como o aconteceu recentemente.
O grupo (pelo menos as info informações
rmações afirmam que mais de um
hackerr estava em ação) utilizou
hacke utilizou um software que foi llivremivremente
ente colo-
cado na rede e, com pro procedimentos
cedimentos considerados simples, program programou ou
computadores “escravos” (ou zumbis) ser servindo
vindo como fon te dos ata-
ques aos sites.sites. Destes
D estes comp
computadores
utadores partiu o ataque aos sites da CNN,
ebay, etrade, buy.com, Amazon, Yahoo, dentre outros.
Até onde sabemos, parec parecee que tudo começou qu ando o jove m
hacker canadense mafiaboy  criou a ferramenta de “ den denia
iall o f Service” 
Trinoo.
Trino o. EEsteste foi um dos programas utilizados no at ataque.
aque. O FBI de des-
s-
cobriu mais tarde que o programa TFN2K ( Tribal Flood NetWork  
2000),  uma vari variação
ação do Trinoo, também usado, ttinha inha a assinatura de
seu criador, o hacker alemão Mixter. Em entrevista ao site
cnetnews.com,  ele confirma a autori autoriaa do programa, mas nega a res-
 po
 p o n sa
sabb il
ilid
idad
adee so
sobr
bree os rec
re c en
ente
tess at
ataq
aque
ues.
s.
Uma outra variação do Trinoo, talvez inventada pelo hacker
alemão Randomizer,
R andomizer, foi também utili zada, o program a Stacheldraht.  
utilizada,
Para Mixter, criar um programa program a e col colocálo
ocálo na rede significa cham ar a
atenção para a possibilidade de ataques ataques desse gênero. Ele vai mesmo mesm o
além, ao afirmar que “o problema real é a insegurança da maior  
 pa
 p a r te d o s sser
ervv ido
id o res
re s e nnãão aass p e s s o a s q
que
ue es
estã
tãoo exp
e xplo
lorr a n d o isso.
isso . (.
(...)
..)  
 Eu
 E u ac
ach ho aass s u s ta
tadd o r q u a n d o o p re
resisidd en
ente
te Clin
Cl into
ton
n p e n s a de
d e s ti
tinnar $240

242   CIBE
CIBERCUL
RCULTURA,
TURA, TECNOLO GIA E VIDA SOCIA
SOCIALL NA CU LTURA CONTE MPO RÂN EA •
 
milhões no único propósito de grampos e contro
controle dom éstico 
le doméstico 589. Aqui
encontramos o mesmo espírito dos hackers do LoD, que causaram
estragos em grandes instituições
instituições americanas em 1990
1990..
Como
Co mo vemos, o medo da ciberguerra
ciberguerra não é novo, mas só agora a
internet é popular
p opular o bastante para merecer
merece r destaque nos jornais
jorn ais e TVs
T Vs
do mundo inteiro. É compreensível o fr e n e s i americano, já que eles
dominam o emergente, e já milionár
milionário,
io, comércio eletrônico.
eletrônico. Conseque
C onsequen-n-
temente, os governos americano e europeus estão mobilizando esfor-
ços policias, financeiros
financeiros e legais para manter funcionando, sem proble-
mas de segurança, o que é considerado hoje a grande revolução da era
informacional: o e-business.  Segundo o FBI, os dados são sã o alarmantes:
em 1998
1998 registraramse 547
547 invas
invasões
ões e em 1999,1.15
199 9,1.154.
4.
O presidente Clinton reuniuse
reuniuse com 25 executivos
exec utivos das m mais
ais po-
derosas empresas
em presas de informática
informática americanas para traçar um plano de
segurança para a rede. Mesmo assustado, afirmou que não foi um
“Pearl Habor digital”. Por ironia, logo após pronunciar essa frase,
 p a rt
 pa rtic
icip
ipaa n d o de
d e um
u m cchh at na CN
C N N , o ppreresi
sidd ente
en te foi
fo i ha
h a c k e a d o em
e m p len
le n o
 baa te p apo.
 b ap o. U m h a c k e r c oloc
ol ocoo u o u tr
traa fras
fr ase,
e, c o m o se o p resi re sidd e n te a
tivesse dito: “Pessoal
Pessoalmente,
mente, eu gostaria
gostaria de ver mais m ais sites por nôs nô s na  
internet”590. Este é o primeiro hacking ao vivo de um presidente (e
ainda mais dos EUA), EU A), no auge da discussão
discussão acerca da criação de me-
canismos
canis mos de segurança para garantir garantir a hegemonia americana am ericana nos ne-
gócios on-line.
O diretor
dire tor do FBI,
FB I, Louis Freeh, e o Advogado
Ad vogado Geral, Janet Jan et Reno,

solicitaram
solicit
nadosaram
tinados
ti um
u mbater
acréscimo
a combater
com ciberde
o cibercri $37
me. milhõe
crime. milhões
objetsivo
O objetivo sobre
eraos $ 100
criar10um
0 milhões já des-
organismo de
segurança e perseguir os supostos invasores. É bom lembrar que, du-
rantee a operação
rant ope ração Sun Devil,  vários vários jovens
joven s foram presos sem nenhuma
 pro
 p rovv a con
c onvi
vinc
ncen
ente
te.. O m esm es m o pode
po de acon
ac onte
tece
cerr agor
ag ora.
a. O FBI
FB I j á susp
su spei
eita
ta
d e  Mixter, R a n d o m izizee r e m af
afia boyy  como
iabo com o vimos,
vimos, e também do hacker
americano Coolio, membro da cibertribo Global Hell, e que, suposta-
mente, teria hackeado computadores da universidade da Califórnia C alifórnia em,
Santa Barbara, e da Universidade de Stanford, de onde partiram os
ataques contra a ebay e a CNN, assim como o servidor da UCLA,
origem da d a investida contra a Amazon.com. Coolio é  também  também suspeito
de ter invadido um servidor na Rússia e o website w ebsite da RSA Security
Security,, a
mais importante firma de d e segurança
segurança por criptografi
criptografiaa dos EUA.
Recentemente, o FBI contraatacou
contraatacou colocando, através do seu• seu•
• ANDRÉ LEMOS | 243
LEMOS
 

Centro de Proteção de InfraEstrutura Nacional (NIPC), um alerta e


um software que ajuda, não a evitar ataques tipo DDS, mas a detectá
los.. É a prim
los primeira
eira vez que o FBI empreende esse tipo de ação (restri
(restrita
ta
a apenas 2,6 mil indivíduos). O programa disponibilizado
dispon ibilizado serve para
detectar se uma máquina esta sendo
sendo usada como “escrava” para fazer
os ataques. No caso de feverei
fevereiro
ro de 2000, haviam máquinas
máq uinas escravas
espalhadas pelo mundo. Agora o Pentágono anunciou que tomarátoma rá parte
parte
das investigações e começará a checar os 7600 sistemas militares e
identificar se foram utilizados no ataque ataque como “escravos”
“escravo s”..
O cerco
ce rco está se fechando e as dimensões do ciberespaço assusta assustam:m:
320 milhões de usuári usuários,
os, $32 bilhões
bilhões em transações
transações eletrônicas
eletrônicas e 43 mi-
lhões de servidores dividindo informação. informação. Os hackers afirma afirmam m que “co
nhecer o programa
programa é uma form a de pode poderr se defender dele" dele",,  e que se
diferenciam,
diferencia m, pela
pe la ética,
ética, do criminoso,
criminoso, do vândalo, do cracker crack er  aqueles
que destroem
de stroem dados, roubam informaçõesinformações vitais vitais ou dinhei
dinheiro.ro. Juntamse
Juntam se a
estes,
este s, os criminosos de d e colarinho branco da informática (bancos e em empre-
pre-
sas) que representam o grosso da d a criminalidade
criminalidade no ciberespaço.
Assim, os hackers éticos, ou os que assim se dizem dizem,, comparam
compa ram
se a um pesquisador que isola um vírus e o mostra à comunidade
científica. Ele não está buscandobusca ndo incenincentivar
tivar os usos indevidos do d o vírus
(armas, tráfico,
tráfico, etc.) e sim a cura. Mas os hackers vão além a lém desta
d esta ética
médica. Para os hackers é comum uma postura micropolítica, anar-
quista,
quist a, visando derrub
de rrubarar ou modificar sistemas.
sistemas. O objetivo é reve revelar
lar a
insegurança
inseguran ça e, assim, desmoralizál
desmora lizálos os enquanto
enqu anto instituições.
instituições.
 Nãã o d e v e m o s e squ
 N sq u e c e r qu
q u e os
o s hack
ha cker erss é tic
ti c o s são
sã o resp
re spoo n sáv
sá v eis
ei s
 pel
 p elaa micr
mi cro
oin
info
formrmát
átic
ica,
a, ppel
eloo mode
mo dem, m, pop o r vário
vá rioss progr
pro gramamas as da
d a intern
inte rnet,
et,
sendo os líderes de opinião em questões questões como com o segurança, criptografia,
criptografia,
direito autoral, cibercrimes,
cibercrime s, etc.etc. O mais famoso deles, Kevin Mitnick, M itnick,
quando sai da prisão de Lampo, Califórni C alifórnia, a, depois de 5 anos declara
que o que faz é inofensivo. Ele explica: “eu queria conhecer tanto  
quanto eu pudesse sobre como as redes de telefonia trabalhavam e 
todos os po
porme
rme nore
noress ssobre
obre se
segurança
gurança de computad
computadores.
ores. N
Não
ão há qu al

quer evidência
evidência e certamente int
intenç
enção
ão de m inh
inha
a parte de fra ud ar qual
qu er p e ss
ssoo a ”59' .
Ciberanarquismo ou cibercr
cibercriminal
iminalidade?
idade? A questão é ambígua e
muito polêmica,
polêm ica, e fica, às vezes, muito difícil
difícil identificar quem está de
que lado. O medo
me do do ciberterrorismo aumenta
aumen ta devido a possibilidade
possibilidade
de os ataques serem, não obra de hackers, mas sabotagem industrial

244
24 4  CIBE
CIBERCUL
RCULTURA
TURA,, TECNOLOGIA E VIDA
VIDA SOCIAL
SOCIAL NA CULTURA CO NTEMP ORÂN EA •
 

realizada por concorrentes.


concorrentes. Assim como os hackers passaram, n a dé-
cada de noventa, a trabalhar p para
ara empresas
empresas,, temese
tem ese que, nos p próxi-
róxi-
mos anos, eles possam
po ssam v vir
ir a at
atuar
uar como mercenários para governos
ou empresas em guerras cibernéticas. Parece ficção científica, mas
não é. Há anos já se regi
registr
stram
am cas
casos
os de hacking envolvendo o M  Muu s s a d  
(polícia secreta de Israel),
Israel), a DST francesa e KGB russa
russa,, caracteriza
caracterizan-n-
do espionagem
espionag em industrial
industrial int
internaciona
ernacional.l. Os ataques aos gigantes ddoo e-  
business   podem ter sido deflagrados não por hackers, mas por
ciberterroristas.
Se for
fo r mesmo comcomprovado
provado serem
serem os hackers,
hackers, parece m uito pro-
vávell que o ataque tipo DDS reali
váve realizado
zado seja a persist
persistência
ência da dim en-
são ativista e micropolítica do underground   digital contra o novo
“sistema”
“sist ema” , a nova classe virvirtua
tuall (Kroker)
(Kroker) formada p or jove ns e já mi-
lionários do e-business. Lembremse que, que, no começo de 2000, o m ai-
or prov edor de internet no mundo, a AOL, com prou o grupo Time Time
Wamer.. N ão há limite
Wamer limitess às fusões e ao crcrescimento
escimento do comércio ele-
trônic
trô nico.
o. Co mo forma de expressar u um
m descontentamento contra a di-
mensão
me nsão com
comercial
ercial da interne
internet,
t, dimensão esta que estaria invadind
invadindo oe
destruindo a agregação comunitári
comunitáriaa do ciberespaço, eles atacaram os
sites
sites (para ddesm
esm onta
ontarr a falácia da segurança e bloqu
bloquear
ear os servidores,
gerando prejuízo e medo). A inda é cedo para sabermos aao o certo o que
aconteceu, mas o ataque foi sugestivo.
A história se repete.
repete. Como
Com o no nascime
nascimentonto da microinformática,
microinform ática,
nos ataques que resultaram na Operação Sun Devil,  nas bat batalhas
alhas con-
tra o chip CL CLIPPE
IPPER R de vigil
vigilância,
ância, contra a censura, ccontra ontra a violação
da privacidade, contrac ontra os spammers e agora contra con tra o e-business; tra-
tase de uma m esma dinâm dinâmica ica de guerrilha
guerrilha microsocial contra o peso
dos grandes sistemas e instituições governamentais.
A questão é preocupant
preocupantee já que o que o governo americano está
 pre
 p rep
p a ra
rann d o u m a ssér
érie
ie d
dee o
ofe
fens
nsiv
ivas
as c o nt
ntra
ra a p
pri
riv
v a c id
idad
adee e o a n o n im a -
to na internet.
internet. As medidas são draconianas e não atingem o cerne da
questão: sabemos
sabe mos que o aviso sobre as possibilidades de ataques como com o
estes foram feitos desde 98 e que, em 99, a Carnegie Mellon sofreu
algo paparec
recido
ido5 592. D ev
evese
ese esta
e starr atento e vigilante
vig ilante pa
parara mo
mostrar,
strar, aos
 pod
 po d er
eree s p
púb
úbli
lico
cos,
s, qu
quee seg
s egur
uran
ança
ça nnão
ão é iinc
ncom
om patí
pa tíve
vell cco
o m li
libb er
erda
dade
de de
expressão, privacidade e com uma um a rede democrática
dem ocrática e abert
aberta.a. O pe
peri-
ri-
go está aí:aí: o advogado
adv ogado Jean R Reno
eno já soli
solicit
citou
ou um reforço do Computer  
Fraud Abuse Act,  acionando medidas não só para autorizar juizes a• a•

• ANDRÉ LEMOS | 24
LEMOS 245
5
 

grampear e retraçar comunicações de todos os servidores america-


nos, mas também , para aum aumentar
entar as pen
penas.
as.
A mensagem dos hackers faz sentido nesta sociedade
informacional. Estamos numan uma fase de transição
transição de um mo modelo
delo centra-
lizado, mecânico
mec ânico e linear (a estrutura
estrutura piramidal da era industrial), para
um outro, mais complexo, aberto, orgânico e multilinear. Vejamos
dois exemplos recentes que ilsutram a com complexidade
plexidade da situação.
Em 16 de ja
jane
neir
iroo de 2000, ha
hackers
ckers russos5
russo s5993an
anunc
unciam
iam qu
quee estão
estã o
vendendo CDRom com informações pessoais (endereço, telefone,
imposto de renda, etc.)
etc.) de mais de 7 milhões de pessoas. Afirm Afirmamam que
compilaram os dados, de forma lega legal,
l, a partir do cruzamen
cruzamento to de catá-
logos telefônicos e outras
outras bases de dados. Alguns juristas
jurista s consideram
ilegal e provavelmente estão certos. No entanto, o problema é mais
complexo: com o nossas informações
informações podem ser acessadas
acessadas legalmente
sem que saibamo
saibamos? s?
Outro caso foi o processo aberto contra o site mp3.com   que
fornece um serviço de criação virtu virtual al de uma ju k e - b o x  pessoal. O seu
CD, transformado
transformado em MP3, é enviado para sit sitee cri
criando
ando suasu a ju
 jukk e - b o x .  
Através de qualquer
qualqu er com computador
putador conectado
conectado a internet no mundo, você
 pode
 po de a ce
cess sá
sál
la.
a. S eg
egunundodo os a dm in inisistr
trad
ador
ores
es d o sisite
te,, n a d a é ileg
il egalal j á
que os usuários compraram os CDs e estão gravando para uso pró-
 prio.
 pr io. A R IA A , aga g ê n c ia q u e con
co n gr
gree ga aass pri
p rinc
ncip
ipaa is ggra
ravv a d o ras
ra s , so
s o lic
li c i-
tou o fechamento do site. site. Podem? Mais um a vez estruturas estruturas de poder pode r
ultrapassadas buscam,
bus cam, pela via mais simples, perpetuar o status quo.
O fundamental,
fundam ental, mais uma um a vez,
vez, é esquec
esquecido.
ido. Não há h á compreensão
dos desafios da complexidade da sociedad sociedadee da informação
informação.. Como Com o afir-
ma Bruce
Bruc e Sterling, no seu ManifestoM anifesto de 3 de Janeiro de 2000: “Isto é  
confu
con fuso
so e parece carecer de seri seriedade
edade moral - mas apena apenass segundo os  
 p a d rõ
 pa rões
es ríg
rígid
idos
os o úl
últim
timoo sé
século
culo,, am
amararga
gamm enente
te o b ce
ceca
cadodo co
com m ef
efic iên-- 
iciên
cias definiti
definitivas
vas e so
soluções
luções fi
 fin
n a is m
mali
align
gnas
as.. Ag
Agoo ra p re
recc is
isaa m o s d e op
opor
tunidades,
tuni dades, não de efieficiênc
ciências.
ias. Precisamos de improvisação inspir ada, 
inspirada,
não de soluções.. ”5
d e soluções  ”594

 Vír
 V íru
us

Vírus são m uito usados por hackers e crackers, fazendo fazend o parte
dessa “jo v em sub -cultura  ”595. Co
sub-cultura Comm o um
u m a antecip
ant ecipaçã
açãoo da
d a cibe
c ibercu
rcultu
ltura
ra
contemporânea, as suas maiores expressões aparecem da ficçãoci

246  | CIB
CIBERCU
ERCULTU
LTURA,
RA, TECNOLOGIA E VIDA
VIDA SOCIA
SOCIALL NA CULTUR A CON TEM PORÂ NEA •
 

entífica. Em 1979, John Brunner publica Schockwave,   onde aparece


um vírus de tipo Worm. Em 1984, Fred Cohen, baseado em teorias
matemáticas dos anos 60 (tratamento matemático de epidemias) pu-
 bli
 b licc a s u a te
t e se Com puter Viru
Viruses:
ses: theory an d experiments. Em 1984,
experiments.
aparece
apare ce o jogo Core War,  que é uma um a batalha entre vírus.
vírus. Em
E m 1985,
1985, o
CCC publica
pub lica o artigo
artigo de Cohen e começa
com eça discutir a questão de vírus
vírus
que disseminam
dissem inamse se pelas redes telemáticas e/ou através de disquetes.
Em 19861986,, aparece a primeira infecção
infecção viral
viral em um sistema de comp
co mpu-
u-
tador da universidade de Berlim e um um ano depois, o vírus Noêl é de
de-
-
tectado
tect ado na n a Universidade de Delaware em Newark, Delaware.
Podemos dizer que existem quatro tipos de vírus: Armadilha,
Cavalo de Tróia, Verme e Bomba Lógica. O vírus Armadilha, como
explica Landreth, é composto de “«ma série de instruções especiais  

incorporadas ao vast
incorporadas vastoo programa que qu e é o sist
sistema
ema operaci
operacional onal,, p er
ndo contornar todos os procedimentos normais de segurança e 
mitindo
miti
ter acesso
ac esso diretame
direta mentente a todos o oss arquivos de um c om pu tad or or” ”596. J
 Jáá
o Cavalo de Tróia, como o recente  I L o ve You  (que também é um
Worm ) " é um programa que contém uma astúcia e que permite ao  
hacker entrar no sistema. O mais simples e eficaz é dissimular o  
Cavalo de Tró Tróia jogo ...  ”597. A Bom
ia em um jogo... B om ba Lógic
Ló gicaa é um
u m a espécie
espé cie
de A rmadilha,
rmadilha, com hora certa certa para detonar
detonar,, a partir de um a ação es-
 pee cífi
 p cí fica
ca.. O Verme
Ve rme ou Worm é  um  um programa que se reproduz e se dis-
 per
 p ersa
sa,, p a ssa
ss a n d o de c o m p u tad
ta d o r a com
co m puta
pu tado
dor,
r, n a m a iori
io riaa das
da s veze
ve zes,
s,
a partir da lista
lista de endereços da pessoa ccontaminada.
ontaminada. O m ais conheci-
conh eci-
do dentre os pioneiros foi
foi o de R. Morris Jr em 91. HHoje
oje temos Melissa,
Melissa,
Chernobyl, I Love You, entre outros.
Há vários
vários problemas causados por vírus.vírus. A lguns bloqueiam
bloqu eiam o ,
sistema,
sistema, outros destroem soft
software,
ware, outros fazem a máquina
m áquina ficar
fica r len-
len-
ta, etc.
etc. A contam
co ntaminaçã
inaçãoo se dá por vias
vias de disquetes ou da rede m undi-
und i-
al de com putado
pu tadores,
res, vindo sempr
se mpree através
atravé s de um exe
e xecu
cutáv
tável5
el59
98. Mas
os vírus são acima de tudo programas e existem, grosso modo, dois
tipos de program
p rogramasas : os manipulados e os manipuladores. Os prim
primei-
ei-
ros são aplicati
ap licativos
vos que agem de forma independente de outros,
ou tros, e os
segundos são feitos
feitos para modificar outros programas.
programas. Um processado
p rocessadorr
de texto vai ser modificado para ajustarse a um ambiente
am biente do sistema
operacional.
Os vírus são programas que modificam negativamente
negativamen te o funcio-
namento de outros softwares e, consequentemente,
consequentemente, da máquina. Dessa•
Dessa •

• ANDRÉ LEMOS | 247


LEMOS
 

forma, “ p  poo d e m o s co


con n si
sidd e ra
rarr es
essa
sass mo
modidific
ficaçaçõe
õess co
comm o maman n ip
ipuu la es  
laçç õ es
típicas dos sistemas informáticos (.. (...)
.) um progra
programa ma de vírus é sem
 prr e m a n ip
 p ipul
ulaa nt
nte,
e, j á q u e e le m odif
od ific
icaapprr o g ra
ram el es  
m a s q u e s ã o p a r a eles
estrangeiros,
estrang eiros, m ultip
ultiplican
licando-do-sese ao m mesm
esm o te temm p o ”599.  Por exemplo,
Cohen tentou produ
produzir
zir u
um
m vírus posit
positivo
ivo (vírus
(vírus de compres
compressão)são) redu
redu- -
zindo o tamanho do software  na memória.
software na
O problem a principal
principal dos víru
víruss é que eles “vivem suas
s uas próp rias  
próprias
vidas
vidas,, so
sobre
bre a qua
quall aquele que o concebeu tem uma influência limita
começou  ”6
da uma vez que a propagação começou ”60
00. Co
Comm o m ostra
os tra o jo rn a l do
CCC, de fevereiro de 1986, “não “não são os vírus que causam proble
mas,, m as as catástrof
mas catástrofes
es engendradas pela dependê
dependência
ncia em relrelação
ação à à  
tecnologia”60'.

Cypherpunks

Os cypherpunks (neol (neologismo


ogismo formado a partir de cyberpunks e
criptografia  cypher) são tecnoanarquist
tecnoanarquistas as que lut
lutam
am pela ma manuten-
nuten-
ção da privacidade no ciberespaço através da difusão de programas
de criptografia de massa (proibidos até bem pouco tempo em vários
 país
 pa íses
es).
). B u s c a m g a ra
rann tir
ti r a li
libe
berd
rdad
adee in
indi
divi
vidu
dual
al e a p
pro
rote
teçç ão d a p
pri
riv
va-
cidade dentro das redes de computado computadores. res.
Estes ciberrebeldes
c iberrebeldes se or organizam
ganizam contra as tentativas governa governa- -
mentais ou empresariais de retraçar nossas vidas a partir das pistas
deixadas quando utilizamosutilizamos qualquer sis sistema
tema eletrônico,
eletrônico, com o car-
tões de crédito, banco eletrônico ou redes de computad computadores. ores. Segundo
S egundo
Peter Meyer, a criptografia
criptografia é “a arte ou a ciência da escrita secr eta,, 
secreta
ou mais exatamente, a ciência de estoque de informação sob uma  uma  
 f
 foo r m a q u e p e r m it
itee s e r re
reve
vela
lada
da a p e n a s à q u e le quee  
less q u e v o cê q u e r qu
tenham acesso.
acesso. Um ssist istema
ema de cripto
criptograf
grafiaia é um m étodo pa ra alcan

çarr est
ça estee objeti
objetivo.vo. Cript
Criptoanáli
oanálise
se é a prática para defender
defen der atentados
atentados  
a informações
inform ações privadas. Criptol Criptologia
ogia inclue tanto criptogra
criptografia fia quan
to c ri
ripp to a n á li se ”601.  Para o jornalista C . Fiévet, os cypherpunks “es
lise
 fo r ç a m - s e p a r a , a tiv
ti v a e co
conc
ncre
reta
tamm en
ente
te,, de
defen
fende r, à s v e z e s c o m o  
der,
desrespeito às leis em vigor, a confidencialidade das informações  informações  
que transi
transitamtam pelo cibe ciberesp
respaço
aço ”m .
O programa P G P   (Pretty Good Privacy)604 Privacy )604 criado por P.
Zimm ermann, o oss remailers  anônimos e outros sistemas
remailers anônimos sistemas,, são as armas
fundamentais
fundam entais dos cyph cypherpu
erpunks.
nks. Pode
Podemos
mos encontrar tamb ém a m ística

248 
24 8   | CIBE
CIBERCULT
RCULTURA,
URA, TECNOLOGIA E VI
VIDA
DA SOCIAL
SOCIAL NA CULTURA
C ULTURA CONT EMPO RÂN EA •
 

da cabala e do pensamento hermético em consonância com a


criptografia de dados eletrônicos. Dentro desse mesmo espírito
esotérico se organizam os tecnopagãos: os ravers e os zippies, com o
veremos adiante.
Em seu M anifesto C Cypherpunk,
ypherpunk, Eric Eric Hughes afir afirma:
ma: “A p riv a
cidade é necessária pa ra uma sociedade aberta ab erta na idade eletr ônica. 
eletrônica.
Privacidade não é segre segredo. do. Um assunto privad o é algo que uma  
 pee s s o a n ã o q u e r qu
 p q u e o m u n d o inte
in teiro
iro saib
sa iba,a, m a s u m a ssu ss u n to secr
se cret o 
eto
é algo que uma pessoa não q uer que qualquer pesso a saiba. saiba. Privaci
dade é o p o d er de seletivamente
seletivamente revel revelar-ar-se se a si mesm o pa ra o mundo. 
 Nó
 N ó s oso s C yph
yp h erp
er p u n ks d edic
ed ica a m o s no
n o sso
ss o tra
tr a b a lho
lh o a c o n s tru si stee m a s  
tr u ir sist
anônimos. Nós estamos defendendo nossa privacidade com  
criptogr
cri ptografi afia,
a, com sistemas
sistemas de encaminham ento anôn anônimoimo d e correi
correio, o, 
com assina turas tura s digit ais, e com dinheiro eletrônico  ”
digitais,  ”6
605.
P. Zimm ermann, criador do PGP (sistema de chavepública,
 prr a t i c a m e n te i n v io lá v e l , c u ja e x p o r t a ç ã o e s t á s e n d o p r o i b i d a nos
 p no s
EUA), acred ita que a criptografia ttem em que func ionar como o siste-
ma postal tradicional, garantindo ao grande público acesso livre.
O governo americano está proibindo o uso da criptografia, pois
teme que a mesma impulsione o desenvolvimento do terrorismo
eletrônico e, para iss isso,
o, pretende im por o sistem a de crip togra fia d dee
 po
 p o u c o s b it
itss . S e g u n d o Z i m m e r m a n n , “se a criptografia é ilegal,  
apenas os fora -da -lei terão terão cript
criptograf
ografia.
ia. Ag ências de inteligên
inteligên
cia têm acesso a bons sistemas tecnológicos de criptografia. O  
me smo se ap lica as gran des exércitos e trafica trafica ntes de drogas. (...)  
drogas. (...)
 M a s a s p e s s o a s c o m u n s e a s o r g a n iz a çõ es p o lític a s de b a se não 
iza
devem ter acesso ao grau m ilitar ilitar da tecnologia de criptog rafia de  
chave -púb li lica.
ca. A té agora. ”m ”m
Mas uma vez, o espírito de apropriação social da tecnologia
aparece nas ações dos Cypherpunk C ypherpunks, s, mostrando o carácaráter
ter constestador
e social das tecnologias
tecnolog ias da cibercul
cibercultura.
tura. Assu
Assunto
nto urgente e emergente
a nível
nível m undial, o debate no Brasi Brasill ainda é m muito
uito incipiente.

Ravers

Herdeiros diretos da contracultura dos anos 70, os ravers utili-


zam o que os hippies   identificaram como o inimigo: a tecnologia.
Para esses neo-hippies   dos anos 90, a tecnologia é, e deve ser, um•
um •

• ANDRÉ LE
LEMOS
MOS I 249
24 9
 

 p a rc
 pa rcee ir
iroop
paa ra a ti
tinn g ir o
oss v al
alor
ores
es d a eera
ra d e A
Aqu
quár
ário
io.. A ss
ssim
im , o
oss co
com pu-
tadores e as redes telemáticas, são percebidos com como o vetores de forta-

lecimento comun itár itário


io (as comunidades virtua virtuais),
is), de um a gnose ou
 p e n sa
 pe samm en to m á gi gico
co (a mmaa ni
nipu
pula
laçã
çãoom mís
ísti
ticc a de d
daa do
dos)
s),, d
dee um
u m a es
esté
téti
ti--
ca (imagens
(im agens de síntese, reali realidade
dade virtual,
virtual, hologramas), da festa e do
 pra
 p razz e r cco
o rp
rpoo ra
rall (a dadanç
nça,
a, o se
sexo
xo,, as drog
dr ogas
as,, a m ús
úsicica)
a)..
Os ravers (do inglês to rave), simbolizam,
rave), simbolizam, talvez, a mais bela
síntese da cibercultura. Através da música tecno, misturada ao
hedonismo do corpo e do espírito pela dança, unese o primitivo ao
tecnológico. Eles se agregam em megafestas (as raves) com o int intuito
uito
de dan çar horas a fio fio.. M úsica trib
tribal
al (repeti
(repetitiva,
tiva, percursiva), drogas do
am or (o ecstasy)
ecstasy) e  e todo um aparaaparatoto de telef
telefones
ones celulares e de redes
de computadores para escapar do controle policial (as raves foram
 proi
 pr oibb id
idasas e ag
agororaa sãsão
o ob
objejeto
to de c on
ontr
trol
olee em vá vári
rios
os p a íse
ís e s ) m os
ostr
tram
am
com o as novas tecnologias se apr aproximam,
oximam, pelo uso, a formas de agre-
gação social. Mais um umaa vez confirmarse a relação so social
cial potencializada
 pel
 p elas
as tecn
te cn o lo
logg ia
iass d
daa ci
cibe
berc
rcuu lt
ltur
ura.
a. O m ov
ovim
imee n to rrav
avee é aass s im a o m
mes
es-
-
mo tem po cultural, social e políti político.
co.
O termo parece ter origem na expressão “tecnorebeldes”, reti-

rada do livro “A Terceir


Terceiraa Onda”
Onda”,, de A Alvin
lvin TTofoffl
fler
er.. O mov
movimenimen to pode
ser entendido como a convergência da ideol ideologia
ogia do “paz e am or” dos
anos 60, da estética “disco” dos anos 70, da ironia e do cinismo da
década de 80 e das novas tecnologias dos anos 90. A mistura de
tecnologia high-tech
high-tech   e hedonismo, a marca central do movimento,
conjugaa música tecnoeletrônica, imagens e projeções visuais, dança
conjug
(livre de todas as imposições gestuais), dr drogas,
ogas, m moda
oda Street  (clubber )
e sma
smartrt drinks.
drinks. M M ais um expoente da cibercult
cibercultura, ura, a cen
cenaa tecno-rave
tecno-rave  
é  um
  um mistura de tecnologia eletrônica e socialidade gregária. Como
explica JeanYves
JeanYves Leloup, redator da revis revista ta francesa Coda, o m ovi-
mento rave “leva à glob globalidade
alidade de trocas e de criação. EssencialemEssen cialemte te  
instrumental a m úsica ab abole
ole as barreiras llinquí
inquístisticas.
cas. A inf ormática,  
informática,
o surgimento
surgimento da re rede
de internet - media tecno p o r excelência -, -, fa c ili
tam ainda a circulação de sons, de imagens, de informação. Nesse  Nesse  
meio,
mei o, rejei
rejeitamos
tamos o egego o dos grupos de roc rockk papara
ra privilegia r o anoni
mato dos cria dores  ” . M ais ainda: “a
criadores “a fi
 filo
lo s o fia
fi a te
tecn
cno o é le um a  
levv a d a p o r uma
espé
es pécie
cie ddee id
idea
eall uni
unive
vers
rsalis
alista
ta e co le
letiv
tiv o ”601.
Como diría McLuhan, a eletrônica devolve a nossa cultura
tecnológicaa a dimensão
tecnológic dim ensão tát
tátil
il e simultânea que a invenção de G utenberg

250 CIBERCUL
CIBERCULTURA,
TURA, TECNOLOGIA E VIDA
VIDA SOCIA
SOCIALL NA CULTURA CON TEM PORÂ NEA •
 

tentou destruir pela narco narcose. se. A microelectrô


microelectrônica, nica, fruto da tecnocracia
apolínea,
apolí nea, parece
pa rece transformarse
transformarse em vetor dionisíaco dionisíaco de agregações
agregações
sociais. Para Paul Hartnoll, do grupo Orbital, a atitude tribalista,
efêmera, lúdica e hedonista da cena tecnorave tecnorave difere de engajamentos
 po
 p o lí
líti
tico
coss tr
trad
adicicio
iona
nais:
is: “...
“. ..aa o invés de estarmos
estarmo s tentando lutar luta r contra  
o sistema,
sistema, pa rece s er mais interess ante desenvolver um a atitude de  
interessante
'esquecer o sistema e termos termos apenas o q ue de desejam os’. A s pessoas  
sejam os’.
 fa z e m e sta
st a co
c o is
isaa trib
tr iba
a l d e est
e sta
a rem
re m ju n t a s em
em ggra
ra n d e s grup
gru p o s, pa
p a ssa n
do um bom mom ento e dançando dançando p o r sei s, sete horas no embalo  ’
seis,  ’,,6<)8.
A origem
o rigem do movimento
m ovimento tem rai raizz na música eletrônica dos anos
70. Esta é particularmente
particularmen te influenciada
influenciada pela fusão eletrônica do funk
americano e pela música maquínimaquínica ca do grupo alemão Kraftwerk,
Kraftwerk, sen-
do uma derivação da house music,  nome advindo das Wharehouse  
 pa
 p tiee s  em Chicago,
a r ti C hicago, a partir de 1986
986. A cena
ce na tecno-rave contemporâ-
nea é também herdeira da música concreta concreta feita na academia, a partir
de 1950. Um dos seus pioneiros é Pierre Schaeffer, que lançou os
 prin
 pr incc ípio
íp ioss d o samplerím, afirmando, em meados dos anos 50, ter in-
ventado o instrumento de música universal. Em 1970, o sampler  se  se

impõe
 pa
 para junto
ra a jud
ju a c oon M
d a r ncom  Mél
c eélo
p çoão
tr
trood
n  e(tecl
(teclados
úsados
icaa peafitas
m úsic fit
raasfimagnéticas),
ma
film
lmesgnéticas),
es. . O Sync
Sy nclaconcebido
lavi
vier
er,, d o
com positor John Apelton, A pelton, em 1976 1976,, foi a primeira workstation  musi-
cal. A empresa
empre sa Akai oferece, em 19 198686,, esse equipamento
equipam ento por po r $ 6.000
6.000..
A música eletrônica vai, pela primeira vez, usar a tecnologia
eletrônica em uma dimensão estética, sendo depois adaptada para o
ambiente da dança (dance m usic usic ) dos aanos
nos 70 8 0.0 termo termo tecno
tecno vaivai
marcar
ma rcar a cultura musical de rua dos anos 80 e 90. Baseada nos princí-
 pio
 p ioss rac
ra c ion
io n a is e e st
stru
rutu
tura
rantntes
es da m áqui
áq uina
na,, a m ú sic
si c a te
tecc n o s uper
up eraa os
limites meramente constituintes da tecnologia e vai caracterizarse
 pee lo po
 p p o ten
te n c ial
ia l de
d e agre
ag regg ar ruí
r uído
doss e inst
in stân
ânci
cias
as hipn
hi pnótótic
ico
o s
sen
ensó
sóri
riaa s.
 Naa scid
 N sc idasas e m Ibiz
Ib iza,
a, em 19861986,, as fe fest
stas
as house  popularizamse,
sendo exportadas para a Inglaterra. O caráter subterrâneo das raves
levou à repressão policial e os participantes utilizavam velhas
tecnologias (emissora(em issorass de rádio que revelavam núm eros de telefone
 port
 po rtáá teis
te is,, p o r exem
ex em p lo)
lo ) e nova
no vass (tele
(te lefo
fone
ness cel
c eluu la
lare
res,
s, scanners  e rádi-
os móveis) articulados em uma enorme rede de comunicação para

fazer a festa e escapar ao controle


controle policial
policial.. O movimento
mo vimento é assim so-
cial e político.
Um dos
d os organizadores do evento sobre arte eletrônica EWerk
EWerk••

• ANDRÉ LE
LEMOS
MOS | 2 5 /
 

de Berlin, R alf Regitz, afirma “pe pela


la prim eira vez, com a música tecno 
primeira
e house,
house, tratamos a tecnologia pelas vias do sen sentido. E conseguimos  
tido.
d a í retirar iima
magens
gens e cri
criativ
atividade.
idade. Resultado
Resultado,, o original existee  
origina l não exist
mais. Os meios de comuncomunicicar,
ar, de fa z e r art
arte,
e, estão se mo
modifican do",, 
dificando"
Para Peter Rubin, também
tamb ém do mesmo evento evento,, “Chrom apark é muito 
Chromapark
calorosa
cal orosa,, m uito humana. P Para
ara mim é uma tentativa de sucesso. P Pes
es
soas, todo um grupo, toda uma cultura que vive em um ambiente  
tecnológico, passa a utilizar a tecnologia para comunicar global
mente. Que
Q ue tipo de com
comunicação?
unicação? Eles agrupam-s
agrupam-se,
e, dançam
dançam,, reunem- 
reunem-

se em um ambiente caloroso, em um ambiente criativo, uma combi


nação entre tecnologi
tecnologia filoso fia  ”
a e filosofia  ”6
610.
O DJ, figura
figu ra suprem
supremaa da ce cena,
na, não é só aquele que escolhe e faz
as músicas através de samplings, drum machines, vocoders   e
sintetizadores. Ele é mais que isto, uma espécie de tecnoxamã, um
alquimista, capaz de modificar, eletronicamente e, em tempo real, o
ambiente do qual faz parte. Como Com o sabemos, os antigos antigos xam
xamãs ãs são técni-
cos que entram em contato com o mundo dos espíritos. espíritos. Eles agem pel peloo
transe,
trans e, com alteração dos estados de consciência. A técnica xam xamânica
ânica
é, assim,
assim, u uma
ma m manipulação
anipulação simbólica (cânt (cânticos,
icos, palavras, combinação
de ervas...)
ervas...).. Em Embora
bora a comparação p pareça
areça exagerada, a m música
úsica eletrô-
nica e o DJs
D Js traze
trazem mp para
ara as raves o espírito tribal,tribal, ritualí
ritualístico
stico e xam
xamânico
ânico
(ritmos rep repetitivo
etitivos, s, trans
transee coletivo
coletivo,, m manip
anipula
ulação
ção de sson
ons...)6
s...)6111.
O DJ's situamse entre o músico e o ouvinte, sendo um dos
 pri
 p rin
n cip
ci p ai
aiss p rod
ro d u to
toss d
daa civ
c ivil
iliz
izaa ç ã o d
daa in
info
form
rmaçação
ão.. N a mmúú s ic
icaa ttec
ecno
no,, o
valor da informação está ancorado na circulação de sons e nas
recom binaçõ
binações es infinitas,
infinitas, superando o limite físico dos instrumentos.
A informação,
informaç ão, com o em todos os exemplos da cibercultura, entra em
um tempo
temp o circul
circular,ar, sendo destruída e recriada em espiral, superando a
noção de sociedade do espetáculo. Com a cena tecnorave, todo o
sistema da sociedade do espetáculo está ameaçado por circuitos e
selos indep
ind epend enden entes6
tes61
12. Os D J's não são m úsicos, n noo se
sentido
ntido ca
canôn
nônico
ico
do termo. Assim, os DJs “são editores da rua, usando a tecnologia  
 pa
 p a r a e str
st r u tu r a r u
umm a re
real
alid
idad
adee sso
o n o ra a lt
ltee rn
rnaa ti va  ”6
tiva  ”613.
As fronteiras entre consumidores, compositores, músicos, intérpre-
tes e produtores fica cada vez menos definida. A característica comum
dessa música é a manipulação
ma nipulação de info informação
rmação,, tomada com como o manipulação
do espetáculo  ter as melhores font fontes,
es, cortar ped pedaços
aços e co colar
lar ao inf
infin
init
ito,
o,
interferir em tempo real na manipulação das amostras de sons, fazer 

252 CIBERC
CIBERCULT
ULTURA,
URA, TECNOLOGI
TECNOLOGIA
A E VIDA SOCI
SOCIAL
AL N A CULTURA CONTEMPORÂNEA •
 

scratchs. Assim, o DJ manipula e edita os produtos da sociedade do espe-


scratchs. 
táculo,
táculo, sendo um
umaa espécie de hacker m
musi
usical.
cal. Com
Comoo mos
mostra
tra o D
DJJ Spooky
“scracthing é reinterpretar o som...colocando ssua
ua presen
presença
ça nel e. Você é  
nele.
uma espécie de destruidor do objeto recebido
recebido da cultura cor
corpora
porativa
tiva,, co
locando a su
locando sua
a próp
própria
ria visão nenele
le.. Ao
A o inv
invés
és de sserer um consum
consumidor passivo  
idor passivo
que apenas recerecebe,
be, voc
vocêê começa a tr tran
ansm
smititir
ir.. Em um certo sent sentido, isto  
ido, isto
 perten
 pe rtence
ce ao hacking. Is
Isto
to é o hack
hacking
ing da reali
realida
dade  ”61
de ” 614.
Podemos dizer
dize r que um bom DJ será aquele que opera com des-
treza
treza sua
suass m
máquinas
áquinas e que tem uma bagagem m musica
usicall e de info
informações
rmações
que lhe permita fazer as melhores edições e mixagens de sons. Eles
 prod
 pr oduz
uzem
em os nonovo
voss so
sons
ns d a cibe
ci berc
rculultu
tura
ra,, ap
aproropr
pria
iand
ndo
oss e d a cu
cult
ltur
uraa
musical legada pela tecnocultura do espetáculo. Os DJs manipulam,
desta forma,
forma, a realidade musical, transfor
transformandoa,
mandoa, à vontade, em infor- infor-
mação digital, intercambiável, como uma forma de destino entrópico
do ritmo.
Para
Pa ra M arc D ery6
ery6115, a cultura ravravee enq
enquadruadrase
ase no qu e popodemdemosos
chamar de tecnopaganismo,
tecnopaganismo, uma mistura de neopaganismo (séri (sériee de
religiões
religiões politeí
politeístas
stas contemporâneas  New Age) e as tecnologias di-
gitais, fazendo uma ponte entre a cibercultura dos anos 90 e a
contracultura dos anos 60. Um outro exemplo de tecnopaganismo
tem forte
forte expres
expressão
são no fenômeno dos zippies.

Zippies

Surgido em 1987, o movimento  zi  zip ie   é tipicamente inglês,


p p ie
embora
embo ra tenha ganhado aderentes em vári várias
as partes do m mundo.
undo. O m ovi-
mento foi criado p or Frase Clark com o intuito de utilizar o potencial
das novas tecnologias para pa ra refor
reforçar
çar laç
laços
os com unitár
unitários.
ios. Ho je existem
mais de 200.000 zippies no Reino Unido. Unido. Segundo Fras Frasee Clark o o zip
 zipp ie  
p ie
é “alguém que tem balan balanceado
ceado seus hemisf
hemisférios
érios pa parara adqu
adquiriririr a f u
são do
d o te
tecn
cnolológógico
ico e do e sp
spiriritu
itual
al””616.
 Zip
 Z ipp ie   significa  Z
p ie  Zee n In
Insp
spir
ired
ed P ag
aga a n P ro
rofefess
ssio
iona ls,,  herdeiros
nals
dos travellers  (hippies nômades) e da cena house
travellers (hippies  que cria, por sua
house que
vez, o movim
movimento ento tecno, os zip
zippies
pies rrepresentam
epresentam a fusão entre os hippies hippies  
o fll o w e r p o w e r  e as tecnologias cibe
e ravers, entre o f cibernéticas,
rnéticas, deixand
deixando o
de lado o medo
m edo ou rejeição naturalista da tecnologia. S Segundo
egundo ViviVivianan
Sobchak, o z
o zip
ippp ie “s e n te o teterr
rro o r e a p r o m e s sa d a ssit
ituuação d doop
pla
la n e
ta e está preparado para usar qualquer f  fo
o r m a d e vio
vi o lê
lênn c ia - ma
magia
gia,,•

• ANDRÉ LEMOS | 25
LEMOS 253
3
 
tecnologia,
tecnologi a, habilidades empree
empreendedoras
ndedoras - pa para
ra ccriar
riar uma nova era,era,  
no m en
enor
or tem
tempopo p o ss íve
ív e l”
l”6
611.
Os zippies fazem pa parte
rte da fas
fasee inglesa da m úsica tecno, para a
qual é importante som ar as ttecnoloecnologias
gias do cibere
ciberespaço,
spaço, com o m ovi-
mento new age age   e o anarquismo póspunk. Há, atualmente, mais de
300 BBSs na Inglat
Inglaterra
erra e na IrlIrlanda
anda sobre o movimento. Segundo um
sysop do BBS Fast Breeder, 
Breeder,  Mike Steventon, “neste “neste momento as  as  
com unidad
unidades es online são verdadeiramente ccomunidades,
omunidades, (... porq ue  
(...)) porque
em todos o s lugares pesso
pessoas as divide
dividemm inf
informação
ormação e o fa ze m de uma  uma 
aberta  ”6
maneira aberta  ”6118. Me
Mesm
smo o tipic
tipicam
amente
ente inglês, po
pode
demm os di
dize
zerr que os
zippies
zippies já fazem p parte
arte de um fen fenômeno
ômeno mundial
mundial..
Os zippies, como os ravers, são uma mistura de vários movi-
mentos
ment os como a cena squatt  inglesa,
 inglesa, os fanzines,
fanzine s, os covers designs, os
designs, os
hackers, o ciberespaço,
ciberespa ço, a m música
úsica eletrôni
eletrônica.
ca. Para M arshall, os zippi
zippies
es
desenvolvem “... ...uma
uma confi
confiança
ança de que a tecnologi
tecnologiaa pode - na verda
de deve - ser colocada
col ocada a serviç serviço o de ob jet
jetivos
ivos espirit uais ee  
espirituais
hedonistas ”619. 0 marc
hedonistas ”6 marcood
do ommovimento
ovimento zip piee é a publicação do fan
 zippi fanzine
zine
 Enc
 E ncyc
yclo
lop
p ed
edia
ia Ps
Pscy
cych
ched
edel
elic
ica
a In
Inte
tern
rnat
atio nall pelo ex-hippie
iona  Frase
ex-hippie F rase Clar
Clark.
k.

Qtakus

O fenôm eno dos O Otakus


takus é ttipicamente
ipicamente japo
japonês
nês.. Eles são joven
jovenss
que vivem
vive m na soc
sociedade
iedade pósindustr
pósindustrial
ial e rrecusam
ecusamse
se a sair da adoles-
cência. Os O takus são coletores e colecionadores de inform ação nos
seus mais variados formatos
form atos (monstros, íídolos,
dolos, boneca
bonecas,s, vídeo eróti-
co, etc.
etc.).
). Seg
Segund
undo
o algumas
algum as esti
estimativas,
mativas, existem aprox
aproxima
imadam
damente
ente 100
mil Otakus no Japão. Estes são jovens
jove ns qu
quee trabalham de dia e, à noi noite,
te,
se isolam em seus quartos para contemplar e manter as suas várias
coleções, frequentemen
freque ntemente,te, com um compo
comportamento
rtamento niilista e antiso-
cial.
cial. Os Otakus são a caricatura mais perversa desta so sociedade
ciedade hiper
hiper
informatizada
inform atizada que é o Japão.
Japão.
O termo Otaku  foi criado pelo escritor japo
Otaku foi japonês
nês Akio N Nakamori.
akamori.
Como ele mesmo explica: “em japonês Otaku significa o ‘vous’, a  a 
educação, a polidez, m as também a casa. casa. H
Há colecionadores  
á Otakus colecionadores
de revista em quadrinhos, de vídeos, em suma, todos aqueles que  que 
vivem seus hobbies como uma paixão. Eu não sei se os Otakus des
 pre
 p reza
zamm cocomm p le
leta
tam
m e n te o
ouu p o te
tenn ci
ciaa liza
li zam
m a so
soci
cied
eda ade ddee iinfo
nformrmaç ão.. 
ação
 Ma
 M a s el
eles
es s ã o o ref
reflexo
lexo.. E le
less a enenca
carnrna a m ve
verd
rda
a d ei
eira
ram
m en
ente  ”6
te ” 620.
254
254 |CIBE
CIBERCUL
RCULTURA,
TURA, TECNOLO GIA E VIDA SOC
SOCIAL
IAL NA CULTURA CO NTEM PORÂ NEA •
 

Os Otakus
Otak us são dependentes da cibercultura, presos à paixão em
armazenarr iinformação,
armazena nformação, participando
participando de pequenas tribos onde podem
compartilhar com outros essa experiência. Eles estão, assim, fecha-
dos em um mund mundo o de alaltas
tas tecnologi
tecnologias
as que lhes permitem inscri inscrições,
ções,
armazenamentos,
armazena mentos, produções, ci circulações
rculações e m manipulações
anipulações de informa-
ção,, como uma forma de pass
ção passate
atempo.
mpo. HHáá uma fascinação pe pela
la infor
infor- -
mação, mas não qualquer qu alquer umauma.. Eles buscam as mais estranhas ou di-
fíceis a serem obtidas. Sua notoriedade está, justamente, em deter a
informação mais m ais difíci
difícill sobre um determinad
determinado o tópico. Po r exemplo,
um Otaku  de modelos,
m odelos, como C laudia Sc Schief
hieffer,
fer, irá procura
procurarr as as infor-
mações mais absurdas como, digamos, o núm número
ero de calcinhas pretas
que ela possui ou quantas vezes ela va vaii ao cabe
cabeleir
leireiro.
eiro.
A internet é o llocalocal privil
privilegiado
egiado de pesquisa de informação. Com Como o
 par
 p araa o s h ac
ackk e rs
rs,, a qu
quel
elee s q ue de
detê
têm
m a info
in form
rm açã
aç ã o , a d q u ir
iree a n o to
tori
riee -
dade e pode subir na escala hierárquica do grupo. Segundo Volker

Grassmu ck, pesqu


Grassmuck, pesquisador
isador na Universidade de Tóquio, os Otakus "for
mam um underundergrouground,
nd, m as eles não se opõe opõem m ao sist sistema..
ema.. Eles m moo
dific
dif icam,
am, man ipul ipulam
am e subvert
subvertem em produ tos fabr icad os, m as ao  
mesmo tempo el eles
es são a apoteose do consumismo e do ideal da fo rç a  
forç
de trabalho do capitalismo contemporâneo ”621. Segundo Zero, um
Otaku de 25 anos, "Eu me sinto sinto mais confortável com os com putado
ress do que co
re comm as pessoas. Mu Muitos
itos Otakus vivem suas vidas em cam
 po
 p o s re
rela
lati
tivo
voss à s n o v a s te
tecn
cnol
olog
ogia
ias,
s, c o m o d e si
sigg n e r s d e p ro
rogr
gram as,, 
amas
engenheiros de d e sist
sistemas,
emas, infografi stas ”62
infografistas  ”622.

Ciber-rebeldes?

Todas as tecnologias
tecnologias criam novos rebrebeldes.
eldes. No com eço do sécu-
lo XIX, os luddites ingleses quebraram máquinas nas indústrias com
medo de serem substitu
substituídos
ídos por el
elas.
as. O ccinema
inema popularizou os “rebel-
des sem causa” da geração baby-boom. Hoje, novos novo s rebeldes utilizam
utilizam
as tecnologias
tecnolo gias microeletrônicas, como vimos. Se a revolução
revoluçã o industri-
al viu
viu a emergênc
emergência
ia dos luddites,  a cibercultura vai criar os rebeldes do
fronte cibernético: os ciberrebeldes. Suas figuras mais importantes
im portantes são
os phreakers, os hackers, os crackers, os cypherpunks, os ravers, os
zippies e os Otakus. São est
estes
es os novos cowboys da fronteira elet
eletrôni
rônica.
ca.
Os rebeldes da cibercultura nos mostram como a rua, na sua
dimensão quotidiana, encontra formas de “descarregar” todo o seu• seu •

• ANDRÉ LE
LEMOS
MOS | 255
 

vitalismo (para o m elhor ou o pior)


vitalismo pior),, a pa
partir
rtir da utili
utilização
zação das tecnolo-
gias do ciberespaço. A tecnologia, tecnologia, at atéé então vista como um fator de
separação, de homogeneização e de racionalização, se vê investida
 pee la
 p lass fo
forç
rçaa s ((si
simm b ó li
licc a s, iim
m ag
agin
inár
ária
ias,
s, sso
o c io
iocc ul
ultu
tura
rais
is)) iin
n ib
ibid
idaa s aao
o lo
lonn-
go de dois
do is séculos de modernidade indust industrial
rial.. A me
mensagem
nsagem é simpl simples:
es:
“se um retorno a uma um a época pré-tecno
pré-tecnológica
lógica é impossível, o m elhor  elho r  
a fa ze r é tomar as tecnol tecnologiogiasas na
nass mãos".
 No
 N o e n ta
tann to
to,, se o futu
fu turo
ro nã
nãoo e x iste
is te m a is,is , e se as id
idee o lo
logg ias
ia s se
esgotaram, não existe mais uma rebelião possível, mas rebeliões
efêmeras,
efême ras, estéticas e lúdicas, presas ao aqui e agora. Assim, A ssim, os ciber
rebeldes não podem p odem buscar “a” revolução,revolução, mas peq pequenas
uenas guerril
guerrilhashas
 po
 p o nt
ntuu ai
ais.
s. A es
esq q u iv
ivaa , o d e sca
sc a so e a m
maa le
leaa b ili
ilidd a d e sã
sãoo m ais
ai s im p o rt
rtan
an-
-
tes que um ataque frontal. Afinal, se não existem mais ideologias,
certezas ou esperanças, contra quem, e com que objetivo, podería
haver um a revolu
revolução?ção?
256   CIBERCUL
CIBERCULTURA,
TURA, TECNOLO GIA E VIDA SOCIAL
SOCIAL NA CULTURA CONT EMPO RÂN EA •
 

C a p ít u l o   V I I
O es pí r i t o   d a   c i b e r c u l t u r a : e n t r e   a p r o p r i a ç ã o  ,
DESVIO E DESPESA IMPRODUTIVA

O hacking é o símbol símbolo o m aior da cibercul


cibercultura, tura, podendo
pod endo ser vis visto
to
 pee la ó ti
 p ticc a d a a ststú
ú c ia do
doss usos
us os (Per
(P erri
riaa ul
ult)
t),, d o d e sv
svioio (B e ckcker
er)) e d a
despesa improdutiva (Bataille). Neste sentido, as novas tecnologias
da cibercultura
cibercultura estão em relação es estrei
treitata com a dinâmica socia sociall con
con- -
temporânea. Vamos mostrar mo strar que esta dinâmica estabelecesestabelecesee quando
a microinform ática é apropriada pela vida social, social, alimentando
alime ntando as in-
dústrias do virtual. Esta apropriação se dá como um método de im-
 pro
 pr o v is
isaa ç ã o , o
onn d e os d e sv
svio
ioss d
doo us
usoo sã
são o re
r e sp
spoo n sá
sávv eis
ei s p elo
el o s d e se
senn v o l-
vimentos na n a indústria da informática e por sua popularização. Assim,
a sociedade
sociedade da inform informaçãoação entra numa fase de excesso e de profusão
desenfreada de informações.
A forma como os media   tradicionais tratam o fenômeno do
hacking reforça a infantilização
infantilização desta
desta cul
cultura,
tura, como um m modo
odo de tom tomá á
la trivial e com isso neutralizála. Como vimos, o hacker   pode ser
visto
vist o como um am ador que mistur misturaa negligência e interesse,interesse, ma marcado
rcado
 p o r u m a n o v a re
 po rela
laçã
çãoo entr
en tree a co
conn tr
traa c u lt
ltuu ra e as te
tecc n o lo
logg ias
ia s m ic
icro
ro
eletrônicas.
eletrôni cas. Se a contracultura dos anos 70 foi baseada, com o mo mostra
stra
Ross, numa tecnologia do folclore (orientalismo, misticismo, idéias
antitecnológicas, natureza) a cibercultura seria uma cultura baseada
numa espécie
esp écie de folclore da tecnologia (realidade virtual, virtual, ciberespaço,
 pó sh
 pós h u m a n is
ismm o ). P a ra R os
oss,
s, a ccu
u lt
ltuu ra cco
o n te
temm p o râ
rânnea d
dee v e ssee r cap
capaz
az
“de reescrever os programprogramas as cultur
culturaisais e reprogramar os valores soci ais 
sociais
que fa
 f a z e m o terr
te rren
eno o da s no
novv a s te
tecn
cno o lo
logi
gias
as;; um c o n h e c im e n to h hacke r, 
acker,

capaz
ti
tivos
vos dadeingenuidade
ger ar novas humana
gerar narrativas
 ”
 ”6 populares ao redor de usos alterna
623.
a

E a partir da idéia do hacking que formase o imaginário da


cibercultura. Notamos a popularização e até mesmo a trivialização
deste imaginário onde a máxima é: “tudo pode na internet, a rede é  
livre, a informação deve ser livre, a privacidade é um direito  
inalienável, etc".   O acesso às redes de computadores, à realidade
virtual
virtual,, aos jog os eletrônicos, às imagens
imagens d
dee síntese, às m
manipulações
anipulações••

• ANDRÉ LE
LEMOS
MOS | 2 57 
 

digitais na
n a mú sica eletrônica, vão exprim
exprimir
ir este espírito transgressor,
desviante e apropr
apropriador,
iador, cheg
chegando
ando a sua disseminação pe pelo
lo corpo so-
cial, atingindo,
atingindo, m esmo indireta
indiretamente,
mente, toda
todass as pessoas qu e têm aces-
so às novas tecnologias. A cibercultura é a popula
popularização
rização da atitude

dos cyberpunks,
expressão tendo
de uma no hacking
astúcia se
seu
u emblem
emblema
do quotidiano, a fundamental.
permitindo Este é a
a apropriação
social
social da tecnologia em um contexto de des
desvios
vios e excessos.

 Ap
 A p ro
ropp ria
ri a çã
çãoo

Podemos dizer que a cibercultura nasce pela apropriação


tecnológica. Como afirma Castells, a cibercultura, ou a sociedade
informacional, é fruto da sinergia da  B
 Big
ig Sc
Scie ncee , dos militares e do
ienc
underground624. A cibercultura é, diferentem
underground624. diferentementeente da atm atmosfera
osfera eletro
mecânica do começo do século XX, favo favoráve
rávell a nova
novass formas de apro-
 pria
 pr iaçã
çãoo ssoc
ocia
iall d
dos
os ob
obje
jeto
toss te
tecn
cnol
ológ
ógic
icos
os.. O quo
qu o ti
tidd ia
iano
no é o tter
erre
reno
no o
ond
ndee
se desenvolve um a maneira, senão inte inteirament
iramentee nova
nova,, ao m enos inusi
inusi--
tada, de relação eentre ntre os hom
homensens e a tecnologia
tecnologia:: a atitude cy cyberpun
berpunkk
(raiz da cibercultura) é expressão desta batalha contraditória contrad itória entre os
homens e seus artefatos
artefatos..
Estamos no coração da sociedade pósindustrial, associando

assepsia científica e tecnológica


tecnológ ica ao caos urban
urbano o e ao lado dionisíaco
da socialidade contemporânea,
contemporânea, comcomoo mostramos em capítulos anterio-
res.
res. Assim sendo, o im
imaginário
aginário ttecnológico
ecnológico da cibercultura parece estar
em ruptura com os paradigmas que legitimaram o imaginário da
modernidade.
mod ernidade. Para os principais expoent
expoenteses da cibercultura, como
com o vi-
mos, o hacking m ostra a apropr
apropriação
iação quotidi
quotidianaana da técnica no presen-
te, sem engajam ento perenes ou idéia de utopia tecnológic
tecnológica.
a.
A s n o v as p o ssib ilid ad es o ferecid as p ela rev o lu ção d a
informática permitem que a rua possa influenciar os destinos da
tecnologia.
tecnol ogia. Podem os dizer que há um processo de diferenciação so-
cial produzido por micropoderes, por ações de grupos ativistas
(hackers, cypherpunks, zippies, ravers,  ravers,   etc.) que vão compor o
mo saico de forças eentre
ntre a tecnologia e a vida social.
social. Ao desenc anta
mento do m undo (M ax Weber Weber), ), os cyberpunks  propõem a segui
cyberpunks propõem seguinte
nte
solução: “sobrevive
sob revive r graça
graçass a truques (hacks), piratarias, tráfi co  
tráfico
de signos,
signo s, de lingu
linguage
agens,
ns, de c o n ex õ es ”625.
A análise da lógica dos usos, desenvolvida por Jacques

258 
25 8   | CIB
CIBERC
ERCULT
ULTURA
URA,, TECNOLOGIA E VID
VIDA
A SOCIA
SOCIALL NA CULTURA CONTEM PORÂN EA •
 

Perriault, será útil aqui para entenderm entendermos os a ciberc


cibercultura
ultura e, m mais
ais es-
 pee c if
 p ific
icaa m e n te,
te , a re
reaa l p a rt
rtic
icip
ip a ç ã o d o s c y b e rp u n k s . D e a c o rd o c o m
Perriault, o uso dos objetos tecnológicos não é apenas tributário das
estratégias de empreendimentos de acordo com a objetividade da
função do objeto, ou de acordo com uma racionalidade técnica in-
trínseca aos mo dos de usar (a (ass bulas e manuais técnicos). S ua hipó-
tese é de que os “ usuários têm uma estratégia utilização dessas  
estratégia de utilização
má quinas de comunicação ”6  ”626.
A sociologia dos usos visa assim entender o modo pelo qual
usamos os objetos técnicos no quotidiano, quotidiano, descrevend
descrevendo o uma perspec-
tiva que flutua entre a etnometodologia e a psicologia. Talvez seja
mais apropriado falar em astúcia dos usos, já que este termo, mais
aberto ao imprevisto, escapa.à idéia de “lógica”, como sustenta
Perriault.
Perria ult. S
Sabe
abem
m os, co
comm D e C erte
erteau6
au62
27, com o os usu
usuários
ários inven
inventam
tam o
quotidiano, com
comoo eles inve
investem
stem conteúdo
conteúdoss simbólicos, imprimindo seus
traços na mais banal ação do diaadia.
diaadia. Não h á uma lógica, mas antes
uma dialógica complexa (Morin) entre os objetos, os usos e as obri-
gações funcionais destes mesm
mesmos os obj
objetos.
etos.
A apropriação tem sempre uma um a dime
dimensão
nsão técnica (o ttreinamen
reinamen--
to técnico, a destreza na utilização
utilização do objeto) e uma outra simbólica
(uma descarga subjetiva, o imaginário). A apropriação é assim, ao
mesmo tempo, form formaa de utilizaçã
utilização,
o, aprendizagem e dom domínio
ínio técnico,
mas também forma de desvio desvio (deviance) em relação às instruções de
uso, um espaço completado pelo usuário na lacuna não programada
 pelo
 pe lo pr
pro
o du
duto
tor/
r/in
inve
venn to
tor,
r, ou m es
esm
mo ppel
elas
as f in
inal
alid
idad
ades
es p re
revi
vist
stas
as in
inic
icia
ial-
l-
m en
ente
te p
pel
elas
as in
inst
stitu
ituiç
içõe
ões6
s6228.
Pela apropriação, está em jo jogo
go um certo esvaziam ento do tota-
litarism
litari smoo do obje
objeto.
to. Co
Com m o mos
mostra
tra Sch
Schwawach6
ch62 29, a socio
sociolog
logiaia do ususoo
tem po r objetivo descortinar o usuário sob o ponto ponto de vista psicoló
psicológi-gi-
co e sociológico, com o mérito de ter retiretirado
rado desses estudos os pre-
conceitos antitecnológicos. Sabemos que o uso de um objeto
tecnológico, do mais
m ais simples aos mais complexos, nunca está e stá dado,
sendo, também , determinado p or suasuass utiliz
utilizações.
ações.
Os sociólogos
so ciólogos do uso trab
trabalham
alham com “ ideais tipo”
tipo” w
weberianos,
eberianos,
estando mais interessados em descrições ancoradas, em geral, sobre a
vida social
social e ps
psíquica
íquica de cada usuário
usuário.. A s categorias sócioeconôm i
cas rígidas identificam os usos de acordo com velhos diagram
diagramas as que

não consideram
considera m nem a subjetividade, nem as influências psicológicas,•
psicológicas,•

• ANDRÉ LEMOS | 25
LEMOS 2599
 

nem as mudanças culturais mais sutis. De acordo com Schwach, é


necessário deixar as portas abertas a uma transdisciplinaridade em
três níveis:
níveis: a funcionalidad
funcionalidadee técni
técnica,
ca, os m ecanismos
ecanism os psicológico
psicológicoss de
apropriaç ão e o fa
apropriação fazer
zer coletivo, socio
sociológico.
lógico.
O século XIX é o palco de grandes
grandes invenç
invenções
ões para a comunica-
ção: animação,
anim ação, fotografia, cinema, m máquinas
áquinas de calcular
calcular,, fonógrafo,
telégrafo e telefone. Segundo Perriault, haveria uma linhagem que
uniría as máquinas de comunicação aos seus respectivos usos. Esta
linhagem é marcada, em toda a históri históriaa dos media
media,, por um desejo de
simulação (dé (désir simulation)..  A cibercultura estaria, dessa forma,
sir de simulation)
marcada pelas tecnologias da simulação, proporcionando o sentimen- sentimen -
to de descolamento do aqui e agora, do espaço e do tempo. As
tecnologias
tecnolo gias do virt
virtual
ual seriam então um resultado desse desejo ond e
“o uso das m áquinas de comunicaç
comunicação ão favo
favorec
rec e a criação de redes dede  
soci
so cia
a bi
bilid
lida
a de 6
63
30
Sendo assim, ao analisar os usuários,
usuários, devemos superar a perspec-
tiva do uso correto ou não das máquinas de comunicação, marcados
 pa ra se
 para semm pr
pree p
pel
elo
o es
esti
tigm
gm a do ccon
onsu
sum
m id
idor
or pa
pass
ssiv
ivoo e en
envo
volv
lvid
ido
oppoo r um
umaa
rede de estratégias dos produt
produtores.
ores. Devem
Devemos os vêlo como agente. H Hoje,
oje,
se observarmos a dinâmdinâmica
ica soci
social
al da inter
internet,
net, poderemos ident
identific
ificar,
ar, na
evolução do uso das máquinas de comunicar, uma certa busca de
tactilidade,
tactili dade, reforça
reforçando ndo ainda m maisais a apropriação social destas.
Com o vim os anteri anteriormente,
ormente, a tactil
tactilidade
idade soci
socialal potencializada
 pela
 pe la m ic icro
roeeleletr
trôô n ica
ic a po
podd e s e r c o m p ro
rova
vada
da p e la
lass in
inúú m e ra
rass a g re
regga-
ções sociais. Ela é fruto de uma utilização não program ada das novas
tecnologias, e não um projeto de iinstâncias nstâncias superior
superiores.es. V árias ferra-
mentas disponíveis
disponív eis na internet foram criadas por usuários de fo form
rmaa a
 po
 p o te
tenn c iali
ia lizz a r o lado
la do táct
tá ctil
il da
dass no
novavass te
tecn
cnol
olog
ogia
iass . A ss
ssim
im,, o e x p o en te

da
ria racionalidade
por informação científicomilitar
e conta
contato. transformase
to. Parece numa busca
que a afirmação bu
dos sca planetá-
p rocessos
irracionais (a festa, a violência, a paixão) encontrase potencializad
po tencializadaa
 pelo
 pe loss n o vo
voss re
recc u rs
rsoo s tecn
te cnol
ológ
ógic
icos
os..

Desvio e o utsiders

Podem os consid erar ooss expoentes da cibercultura sob o prisma


do desvio social, pela ótica do outsider   ou, como propõe Howard
Becker631, pela lógica da devience
devience   (“desvio”). Os outsiders
outsiders   d a

260
26 0   | CIBE
CIBERCUL
RCULTURA,
TURA, TECNOLOGIA E VI
VIDA
DA SO
SOCIA
CIALL NA CU LTURA CONTE MPO RÂNE A •
 

cibercultura vão operar um desvio na lógica da produção e consum o


das novas tecnologias contemporâneas. Embo ra mino
minoritários,
ritários, sua in-
fluência não é menor, menor, sendo mesm mesmo o dominante no uso dos intem intemautas
autas
hoje. De certa forma, todos encarnamos o espírito do hacking, ao
lutarmos con tra os spams,  contra a invasão de privacidade, pela libe liber-
r-
dade de expressão
expres são no ciberespaço, contra a censura, etc. etc.
B eck
eckerer llança
ança a hipótese segundo a qual os cientistas (sociais e
 bio
 b iom
m édédic icoo s ) ccri
riaa ria
ri a m u
umm a co
con
n ce
cepç
pção
ão aart
rtif
ific
icia
iali
liss ta e, ao m esm es m o tem
te m -
 po,, eeli
 po liti
tiss ta d o d e svsvio
io s oc
ocia
ial.
l. E sta
st a é a ma
m a ne
neiriraa d
dee een n q u a n d rá
rál
lo
o s co
commo
outsiders  ou desviantes, já que estes pensam o desvio a partir das
seguintes premissas: os desviantes são aqueles que não fazem parte
da média, da norm alidade social. social. Assim, os desviantes são “doentes” “doe ntes”
(portadores de um a patol patologia).
ogia).que
que não se integram às regras gerais da
norm alidade social. Mas esta normalidade não é, por assim dizer,
normalidade dizer, na
tural. Ela não é, necessariamente,
necessariamente, patológica neste sentido, nem p ro-
duto de uma
um a enfermidade mental,
mental, mas um conconstructo,
structo, uma teo
teoria
ria..
A função
funç ão de um grupo social
social,, ou de uma organização, é defini-
da em um contexto históricopolítico e não pela natureza intrínseca
do grupo. Entend er o fenômeno da deviance,  de acordo com Becker,
requer aceitar que a visã
visãoo funci
funcional
onal é inoper
inoperante,
ante, limitando a co mp re-
ensão do fenômeno. A deviance é  produto  produto da sociedade, é uma falfalha
ha
na obediência
obediên cia às regras
regras impostas. Os grupos sociais criam a deviance, 
fazendo suas próprias regras. Nesse sentido, a deviance   não é uma
qualidade do ato, mas a consequência da aplicação de regras com comuns
uns
a grupos tidos comco m o tal
tal.. A í estão os outsiders.
Um ato
a to é considerado como anti anticonvencion
convencional al em relação a ou-
tross de a cordo com a reaç
tro reação,
ão, tendo por parâmetro as regras gerais da

moral
dão eme do s bonsdocostu
função costumes.
mes.(aNocorrência
tempo o entan
entanto,
to, varia
variações
ções desta pe
e a frequência percepção
dercepção se
atos), do
grau
grau do ato (a relação entre quem comete o ato e o que é suposto de
ser um ato anticonvencional), e das consequências sociais do ato. A
deviance  é um processo
proc esso de interação entre pessoas (ou grupos), entre
aqueles que cometem
com etem um ato e o oss outros que os julga
julgam
m , não send
sendo,
o,
assim, um problem
pro blem a “natural” ou patológico, mas um conflito políti-
cosocial.
B ecke
eckerr propõe então algumas categorias para os atos de desvios.
Há o anticonv
anticonvenciona
encionall que é vist
visto
o como tal mas, em verdade, obede
obedece
ce
a regras do grupo. Estes são os conformados anticonvencionais (por 

exemplo, criminosos que


q ue são vist
vistos
os como tal
tal,, mas não se importam). O
desviante puro é aquele que realmente está fora das regras impostas,
mas que mantém,
m antém, de form
formaa conveni
conveniente,
ente, seu desvio no segredo (fum(fuma-
a-
dores de maconha,
ma conha, por
po r exemplo). Podemos aaplicar
plicar a análise de Beck
Becker
er
aos desviantes da cibercult
cibercultura,
ura, aos hackers e outros outsiders da era da
informação, aos cyberpunks
cyberpu nks eemm ger
geral.
al.
Estes são ant
anticonvencionais
iconvencionais em relação aos analistas profissio-
nais.
nais. Mais ainda, hackers ou ccrackers
rackers também são considerados como
desviantes por seus pares. Um hac k e r   considera um c rac k e r  
desv iante, mas não se enquadra enqu
enquanto
anto ttal
al.. A lguns atos são leva-
dos em conta sem que a pessoa saiba que tal ato é proibido ou
anticonvencional. Os primeiros hackers afirmam que suas ações fo-
ram reali
realizadas
zadas na pura legali legalidade,
dade, que não fazem nada de doloso e
que, em uma sociedade científica, tecnológica e de informação, o
desejo de sab er (os (os sist
sistemas
emas de com putador), de lliberdade
iberdade (de infor-
mação) e de apropriação (da técnica) não podem ser vistos como
ilegais ou anticonvencionais.
De acordo com Becker, um anticonvencional é alguém que não
vive de acordo com as regras da maioria do seu grupo social. Os
hackers estão nestane sta categori
categoriaa de desviantes
desviantes,, estranhos aos programa
programa- -
dores profissionais,
profissiona is, legisl
legisladores
adores e polí
políticos
ticos.. Eles não se vêem ccomo omo
criminosos mas “como exploradores em um mundo m undo eletrônico cujas  
regra
reg rass não s ão c la r a s ”6*2.  Os cyberpunks não compa
nã o são compartilham
rtilham posições
do grupo dominante (a tecnocracia) e a imagem que lhes oferece os
mass media.
De fato, o desenvolvimento
desenvolvimen to do viver em sociedade é inst instituí
ituídodo
 po
 p o r um j o g o p r o g r e s si
sivv o d e at
atos
os p ró e c o n tr
traa as n o rm a s e i n s ti
titu
tu i-
ções. As leis e as regras morais evoluem neste embate e, por isso,
caracterizamse como um processo aberto, sendo fruto de lutas e
 pro
 p ro c e ss
ssoo s s o c ia
iais
is c o m p lex
le x o s. N o c a s o de h a c k e rs
rs,, su
suas
as a ç õ e s sã
sãoo
atos de diferenciação, de destaque, para uma elite de infonautas (é
assim
assi m que um hacker  é admitido e, sendo brilhante, adquire ad quire um status
de mestre).
A deviance  cibernética tem um valor simbólico. simbólico. De acordo com
Becker, esse curso iniciático é reali realizado
zado dentro de um grupo org ani-

zado, como os BBSs piratas, por exemplo. Os grupos ou tribos ten-


dem a reforçar a deviance  porque isto os une. Ao mesmo tempo, o
discur
dis curso
so dos pa
paladinos
ladinos da era da in
informação
formação mostra como esses g
grupos
rupos

262  CIB
CIBERC
ERCULTU
ULTURA,
RA, TECNOLOGIA
TECNOLOGIA E VIDA
VIDA SOC
SOCIAL
IAL NA CULTURA CO NTEM PORÂ NEA •
 

tendem, também , a racionalizar as sua


suass práticas e a encon
encontrar
trar ju
justifi-
stifi-
cativas plausíveis, tentando escapar do rótulo de outsider.  Becker
cham a isto de razão egojustificada ou ideologi
ideologia.
a.

Despesa e excesso
Um a outra noção import
Uma importante
ante para comp
compreendermos
reendermos a ci cibercultura
bercultura
é a noção de despesa (dépense) e de excesso, excesso, particularmente com res-
 peito
 pe ito aaos
os cy
cybe
berp
rpun
unks
ks.. Tr
Trata
atase
se aqui
aq ui do exc
e xces
esso
so de inf
infor
orma
maçã
ção,
o, ttão
ão ffal
ala-
a-
do, causado pela popularização global da internet. A sociedade con-
temporânea instit
instituis
uisee como uma disseminação viróti virótica
ca de dados binbiná- á-
rios sob diversas formas: samplings musicais, vírus, pirataria, colagens
digitais, etc.
G. Ba
Bataill
taille6
e63
33 vai mmostra
ostrarr que uuma
ma socie
sociedad
dadee só eexis
xiste
te se ddeix
eixarar
um espaço reservado para despesas improdutivas, para perdas e ex-
cessos. Esta noção de excesso está na contramão do moralismo mo-
derno, já que a acumulação capitalista e produtivista é a norma. Se-
gundo Batail
Bataille,le, não há nada que nos permita definir o que é útil aos
homens, já que os julgamejulgamentos,
ntos, em geral, repousam sobre a produtivi-
dade social que, por sua vez, baseiase no princípio em que todo os
esforços e atividades devem de vem ser redutíveis às necessidades materiais
de produção e de conservação. Os prazeres furtivos, como a arte ou
os jogos, são então concessões, tendo um papel subsidiário na vida
social. Como mostra Bataille, “nesse sentido é trist tristee diz
dizerer que a hu
manidade
ma nidade consciente
co nsciente continua sendo minoria:minoria: ela reconhece o direi
to a adquirir, a conservar, ou a consumir racionalmente, mas ela  
exclui, em princíp
prin cípio,
io, a despesa
desp esa impr
im prod
odutiv
utiva"
a"6 63*.
Para Bataille,
Bataille, há duas formas de consumo:
consumo: uma primeira, consi-
derada útil,
útil, direcionada para a continuação da vida e das ativi atividades
dades de
 pro
 pr o d u ç ã o , e um a se
segu
gundnda,
a, re
repp rese
re sen
n ta
tadd a p elas
el as a ti
tivv id
idaa d es im p ro
rodd u ti
ti--
vas, festivas, orgiásticas, excessivas. Esse autor propõe, então, que
esta atividade improdutiva assuma seu caráter nobre e seja vista, com como o
mostram sociólogos e antropólogos em estudos sobre as mais diver-
sas sociedades
sociedades primitprimitivas,
ivas, como um excesso que garante o verdad verdadeiro
eiro
cimento
cime nto social
social..
A noção de despesa como perda é ligada, aqui, à noção de sa-
crifício e destruição, fonte das coisas sagradas, dos jog os agonísticos
e da arte em geral. Podemos ver no Potlatch  essa característica do

• ANDRÉ LE
LEMOS
MOS 263
26 3
 

sacrifício,
sacrifício, do dom
d om e da destruição, já que a festa das Ilhas
Ilhas Polinésias
“é o contrário
contrário ddoo princípio
princípio de conservação fi m à  
conservação:: ela coloca um fim
estabilidade
estabilidade d
das
as fortu na s tal qual existi
existia
a no interi or da economia  
interior
totêmica, on
onde
de a poss
po ssee era h ereditá
ere ditária
ria””635.
Bataille usa o termoterm o consumação para fazer referência ao aato to de
de
consumir a história e a vida. É no excesso que encontramos vida no
 plane
 pla neta
ta,, j á qu
q u e vivem
viv emos
os graça
gra çass as energi
ener gias
as eman
em anad
adas
as do Sol
S ol,, aq
aque
uele
le que
dá sem nada
n ada receber, permitindo a efervescência e a multi mu ltiplicação
plicação das
formas
fício estde
ão vida
estão na em todaãoa das
n a contramão
contram sua concepções
diversi
diversidade
dade..racionalist
As noções
noçõe
racional sasdeedespesa
istas de spesa
econôm
eco eicas
nômicas sacri-
sacrdo
i-
século XVII,
XV II, sendo que, no limiar do século XXI, a cibercultura
cibercu ltura parece
crescer
cresc er nesse excesso.
excesso. Não
N ão é à toa que Bataille
Bataille vai afirmar “o ód io à  
ódio
despesa é a razão de ser
s er e a justif
justificação
icação da burgue
burguesi a: ele é, ao m esmo  
sia:
tempo, o prin
princíp
cípio
io de
d e sua
su a as
assusta
sustador
doraa hip
h ipoc
ocris
risia
ia””636.
A cibercultura fornece vários vários exemplos de uma despesa despe sa exces-
siva, não acumulativa
acum ulativa e irracional
irracional de bits. Dançar por horas em festas
tecno, viajar por vínculos banais e efêmeros do ciberespaço, produzir p roduzir
vírus,
víru s, penetrar
pe netrar sistema
sistemass de computador, trocar informação frívola em
 bate
 ba te papo
pa poss e g rup
ru p o s tem
te m át
átic
icos
os,, etc.
et c.,, re
r e flet
fl etem
em e ssa
ss a oorg
rgia
ia de
d e sign
si gnos
os que
qu e
 pree e n c h e m n o ssa
 pr ss a rea
re a li
lidd ade
ad e q uoti
uo tidd ian
ia n a d e sse
ss e fim d e sécu
sé culo
lo.. M uito
ui toss
intelectuais contemporâneos criticam a internet justamente por esse
carater
cara ter frívolo,
frívolo, de despesa
de spesa e excesso improdutivo.
improdutivo.
Esse espírito conservador está na contramão das práticas so-
ciais da cibercultura.
cibercultura. A despesadesp esa é, comocom o propõe B audrillard, aquilo aquilo
que vai evitar,
evitar, por introduzir pequenos desastres, d esastres, o desa
desastre
stre total de
um
uma a racionalização
despesaracionalizaç
eletrônicaãoda dacibercultura
vida social,
social, oé deserto tecnológico
tecnoló gico
a possibilidade finaldodereal. A
resis-
tência à ditadura da tecnocracia, à prisão e à lógica da utilidade e da
acumulação eficaz. Nesse sentido, não é a falta, nem o excesso,
mas a abundância preservada e sem distr distribui
ibuição
ção que
qu e representa pro- p ro-
 ble
 b lem
m a s p a ra o h o m e m e p a ra o p lane
la netata..
 Noo que
 N qu e co
c o ncer
nc ernn e a cibe
ci berc
rcul
ultu
tura
ra,, toda
to da a açã
a çãoo de cy
c y berp
be rpun
unks ks co
c on-
sistee em gastar
sist ga star o máximo
máxim o de informação e colocar excessos no siste- siste-
ma. Contra
Co ntra o segredo e a acumulação da informação, os cyberpunks
 pro
 p ropp õ e m a o rgia
rg ia d e dad
da d os,
os , a d a nça
nç a de
d e bits  pelo ciberespaço, a conta-
minação
minaç ão improdutiva
impro dutiva de vírus, o transe,
transe, a colagem, as piratarias.
piratarias. ComoC omo
afirma Bataille, a consumação
consuma ção inúti inútill “é o que me agrega (.. (...).
.). A con
sumação
suma ção é a via pe la q ual seres separados co m un icam ”631. .

264  CIBERCULT
CIBERCULTURA,
URA, TECNO LOGIA E VIDA SOCIAL
SOCIAL N A CULTURA CONT EM POR ÂNEA •
 
Do cybemanthrope ao cyberp
cyberpunk 
unk 

Se gundo
Segun do Henri Lefebvre6
Lefeb vre6338, a vida social caracte
ca racterizas
rizasee por
po r um
conjunto
conjun to de instâncias diferentes,
diferentes, em que os poderes constituídos como
co mo
a Igreja, o Estado, a família, o exército sempre tentaram combater
elementos residuais que causam resis
resistência
tência ao sistema homogeneizante.
Se utilizamos essa perspectiva de análise, podemos dizer que a
cibercultura foi criada por uma espécie de resistência ao poder da
tecnocracia, tratandose mesmo de uma diferenciação em relação à
utilização da tecnologia.
Usando a terminologia de Lefebvre, a grande figura da
modernidade
mo dernidade foi o cybemanthrope , que não é um robô, mas o huma- hum a-
no robotizado. O cybernanthrppe   é, para o sociólogo francês, o
tecnocrata preso a uma fascinação cega pela técnica e a sua correlata
racionalidade instrumental.
instrumental. O robô éé,, como em um jog o de espelho, o
trabalho do cybemanthrope, não o próprio cybemanthrope.
As tecnologias modernas
m odernas reforçam
reforçam a requisição energ
energética
ética da
natureza, o controle da vida social pela administração racional a
cargo de especialistas
especialistas técnicos,
técnicos, a padronização dos costumes, a con-
vicção em ideologias progressis
progressistas
tas e a percepção do destino históri-
co. A figura que com anda esse es espetáculo
petáculo é o cybemanthrope.  F i-
lho da tecnologia moderna, não sendo o autômato, mas o homem
automatizado que, cego, só vê o mundo pelo prisma autocentrado
de sua razão onipotente. O cybemanthrope   é então o oposto da

figura que
cibercu ltura,poderiamos
cibercultura, identificar como a mais emblemática da
o cyberpunk.
O cybemanthrope que querr o controle, a restrição, a estabil
estabilidade.
idade.
Ele é asséptico, austero, objetivo,
objetivo, raci
racional.
onal. Com
Comoo explica Lefebvre,
“o cyb em an thro pe ignora o des desejo
ejo.. Se ele o reconhece é pa ra iludi- 
iludi-
lo.. O dion
lo di onisía
isíaco
co lhe é estr an h o" 639. Em oposição, o cyberpunk parece
e stran
mais preso a uma certa magia da informática do que à rigidez
racionalista,
racionalista, mais dionisíaco do que apolíneo.
apolíneo. Um hacker , embora
em bora seja
um viciado em artefatos
artefatos técnicos
técnicos complexos, não está muito
mu ito preocu-
preoc u-
 pado
 pa do e m s e g u ir as
a s re
regr
gras
as d o sis
sistem
tema.
a.
O cyberpunk aceita a cultura técnica do cybemanthropes   no
que ela tem de mais radical. O desespero é óbvio: se não podemos
escapar
escap ar ao mmundo
undo tecnológico, devemos devem os tornar as tecnologias
tecnologias ferra-
mentas de prazer, de comunicação e de conhecimento. É esta a men• men •
• ANDRÉ LE
LEMOS
MOS | 265
 

sagem dos cyberpunks contra os robotizados cybernanthropes.   As


novas tecnologias da cibercultura devem nos ajudar a fazer diaria-
mente de nossa vida uma obra de arte, aqui e agora; a tecnologia
tecnolog ia deve
tomarse
tom arse um instrume
instrumento
nto fundamental
fundamental de compartilhamento de expe-
riências, de prazer estético e de busca de informação multimodal e
multidirecional.
O s cybernanthropes,  ao contrário, têm uma missão histórica,
enquanto
enquan to que os cyberpunks navegam no presente
presente mais urgente. Po-
demos dizer
d izer que a estratégia do cyberpunk, através das suas diversas
ações, será assim “fun da da sobr
sobree as perturb açõess da ordem e dos 
perturbaçõe
equilíbrios cybernanthrópicos.
cybernan thrópicos. Ele deverá perpe
perpetualm
tualm ente in
inve
vent ar,, 
ntar
se inventar, se reinventar, queimar as pistas e os mapas do  
cybernanthrope, decep
decepcioná-lo
cioná-lo e su
surpree
rpreendê-l
ndê-lo.o. Para venc
vencer
er,, e me
mess
mo pa
para
ra enga
engajar-se
jar-se na bat
batalh
alha,
a, ele só pod
podee vvalorizar
alorizar suas impe
imperfei
rfei
ções: desequilíbrios, problemas, esquecimentos, lacunas, excessos,  

desejos, paixão, ironia... ”640.


A cibercultura, com o arquétipo do hacker-cyberpunk,  substi-
tui a tecnocultura moderna com o seu especialista-cybernanthrope. 
Hoje, ao contrário do que acreditam pensadores de renome como
Virilio
Viri lio e Baudrillard, não existe um sistema tecnológico qu quee aniquile a
vida social. É a rua que vai dar formas ao novo sistema técnico da
cibercultura. Esta é a expressão do uso subversivo da tecnologia e,
consequentemente, produto de uma atitude atitude ati
ativa
va em relação aos dis-
 poo si
 p siti
tivv o s técn
té cnic
icoo s. E s te fen
fe n ô m e n o est
e stáá pre
p rese
senn te em
e m to
todd a s as
a s açõ
a çõee s da
vida diária,
diária, m arcando a falência dos cybernanthropes.
266   | CIBE
CIBERCUL
RCULTURA,
TURA, TECNO LOGIA E VIDA SOCIAL
SOCIAL N A CULTURA CO NTEM PORÂ NEA •
 

C a p í t u l o   VIII
O IM A G
GII N Á RI
R I O D A C IB
IB E R C U
ULL T U R A.
A . E N T RE
R E N E O - LU
LU D D I S M O , 
TECNO-UTOPIA, TECNOREALISMO E TECNOSURREALISMO

“Your idea is crazy, but it isn’t crazy enough to be true”


 N e il
il s  Bo h r 

O imaginári
imaginário
o da cibercul
cibercultura
tura é permeado p or uma polar
polarização
ização
que persegue a questão da técnica desde os tempos imem oriais: medo
e fascinação.
fascinação. Vemo
Vemoss hoje, com a se
seuu desenvo
desenvolvimento
lvimento (internet
(internet,, rea-
lidade virtual, cyborgs, hipertextos, etc.) o acirramento da querela
entre o que Um berto E Eco
co ch
chamou
amou de ap
apocalíptico
ocalípticoss e integ
integrad
rados6
os64
41. O
que surge nesse final de milênio é a radicalização
radicalização dos debates
deb ates intel
intelec-
ec-
tuais entre aqu
aqueles
eles que são ttaxados
axados de neo
neoluddit
luddites
es (contra a euforia
tecnológica) e os que são chamados de tecnoutópicos (promotores
dessa mesma
m esma euforia).
Com o objetivo de esgotar a querela e instaurar o consenso,
um grupo de intelectuais americanos criou, em março de 1998,
uma corrente de pensamento e posicionamento em relação à
tecnologia batizada de “Tecnorealismo”;
“Tecnorealismo”; uma espécie de movimmovimento
ento
intelectual
intelect ual pelo bom senso e pela fri
frieza
eza nas observ açõe s e análises
sobre a cultura tecnológica contemporânea. Nem luddites (pessi (pessi
mistasapocalípticos) nem utópicos (otimistasintegrados), os
tecnorealistas, como o nome expressa, pretendemse realistas (?),
sendo a voz da razão, da objetividade
objetividade e, m ais do que isso, da ne u-
tralidade.
tral idade. Eles buscam en contrar a posi
posição
ção do m eio, plantarse no
centro do deb ate sobre os iimpactos
mpactos sociais das n ovas tecnologias
de com unicaçã o, instaurando (i
(imm pondo?) o consenso. M ais do que
nunca, a questão da técnica emerge
emerge dessa m ist istura
ura esquizofrên ica
de amor e ódio.
Tratarem os aqui da polarização do im im aginário social da técni-
ca contemporânea, tentando
tentando mostrar que o m ovimento tecnorealist
tecnorealistaa
não passa de um a cruzada cont
contra
ra as posi
posições
ções extremada s de o timis-
tas e pessim
pessimistas,
istas, buscan
buscando
do a vi
viaa racional da cibercultura. N esse sen-
tido, talvez estejamos mais próximos de um tecnosurrealismo •

• ANDRÉ LE
LEMOS
MOS | 267
 

(R.U.Sirius) do que da unanimidade da visão tecnorealista. Como


vimos
vi mos na pe quena digressão históri
histórica
ca dos primeiros capítulos (ne-
cessária para compreenderm os a origem
origem de ssa tensã
tensão),
o), essa polari-
zação não
nã o é um fato novo na h
história
istória da técnic
técnica.
a.

Neo-luddismo e tecno-
tecno-utopia
utopia
A cibercultura contempo rânea va vaii acirrar a am biguidade a n-
cestral que está na origem do fenômeno técnico. Estamos hoje no
fogo cruzado entre intelectuais que associam uma postura “críti-
ca” à uma visão negativa da tecnologia (por exemplo Virilio,
Ba udrillard, Shapiro, Postman) e aqueles ditditos
os utóp icos, que vêem
nas novas
novas tecno logias um enorme po tenci
tencial
al em ancipatório, fonte
de criação de inteligentes coletivos, de resgate comunitário e de
enriquecim ento do processo de aprendi
aprendizagem
zagem (Ne groponte, Lév Lévy,
y,
De Rosnay, Rheingold).
Como vimos, essas posturas não são novas, mas fruto do
desen volvim ento da tecnologia e de se
seuu imaginário nas sociedades
avanç adas. P or um lado, os neo-luddites  que insistem
insistem em regu lar e
ma nter sob
sob co ntrole social as nova
novass tecnologias, alertando co ntra
o seu potencial destruidor (da sociedade, do homem e da nature-
za). Por outro, os tecnoutópicos tentando mostrar como as novas
tecnologias criam possibilidades inusitadas para a humanidade,
sendo uma espécie de panacéia contra os males da tecnocracia
moderna.
O neoludd ismo é inspi
inspirado
rado no movimento  L
 Lu it e s  dos ope-
u d d ite
rários ingleses do século XIX, liderados por Ned Ludd (que deu
nome ao movimento), “a revo revoltlta luddites tornou-se exem plo  
a dos luddites
legendário de um movimento anti-tecnológico ”  M2. O m oviment ovimento o
com eçou em N otti ottingha
ngha m, em 18 181111,, e se espalhou pe las fábricas de
Yorkshire e La ncas hire, continuan do até até 18
1816 16,, quando co m eçou a
enfraquece r. H oje eles estão presentes na iinterne nterne t com o intuito de
desacelerar os ritmos da informatização da sociedade, alertando
contra os malefícios da cibercultura. Um dos seus expoentes é o
 pee n s a d o r ffrr a n c ê s P a u l V ir
 p iril
ilio
io q u e , e n tr
tree o u tr
troo s li
livv r o s , p u b li
licc o u u m
de entrevistas com o sintomático título de “Cybermonde. La  
Politique du Pire ” 643. No site dos luddites on-line   encontramos
essa
es sa inintr
troo d u ç ã o 644:

8   CIBER
268 
26 CIBERCULTU
CULTURA,
RA, TECNO
TECNOLOGIA
LOGIA E VIDA SOCI
SOCIAL
AL NA CULTURA CON
CONTEM
TEMPOR
PORÂN
ÂNEA
EA •
 

“Do you loathe computers? Does advanced industrial


society really
really annoy you? L ook ing for a bike lane on the
inform
infor m ation
ation sup erhighway? L uddites O nLine is the the only
 p l a c e in c y b e r s p a c e d e v o t e d e x c l u s i v e l y t o l u d d i t e s ,
technophobes and other refugees from the Information

Revolution. Our userfriendly graphic interface allows


you to discuss strategies for undermining the growing
cybourgeoisie and explore ludditerelated links on the
hated internet. We even have tshirts (printed by hand
o f course). Feeling like
like roadkill on the infoba hn ? Tune
in, tum off and click here.”

Os tecnoutópicos, embora não reivindicando o rótulo,


rótulo, são consi-
derados intelectuai
intelectuaiss para os quais as novas tecnologias representam um

novo patamar
pa tamar
sibilidades aténoentão
desenvolvimento
inexistentes de tecnoló
tecnológico
gico do ocidente,
comunicação abrindo
a brindo pos-
não massificada, de
acesso hipertextual à informação e de criação de coletivos inteligentes.
Para os tecnoutópicos, as novas tecnologias de comunicação (digital,
multimo
mu ltimodal
dal e imediata)6
imed iata)64 45causam
cau sam uumama reestrutu
ree struturaçã
raçãoo e descentraliz
descen tralizaçã
açãoo
das estruturas de d e po
pode
derr vigentes
vigentes (mediát
(mediático,
ico, político, social), descen
descentrali-
trali-
zandoo. Não é por acaso que Negroponte clama por uma “Vida Digi-
tal”6
ta l”6446e Pierr
Pie rree Lévy
Lé vy por
po r um
u m a “Inteli
“I nteligên
gência
cia Colet
Co letiva
iva”6
”6447.

Tecnorealismo
“As technorealists, we seek to expand the fertile middle
ground between technoutopianism
technoutopianism and n eoLud dism. We
are technology “critics” in
in the sam e way, and for the sam e
reasons, that others are food critics, art critics, or literary
critics. We can be passionately optimistic about some
technologies, skeptical and disdainful o f others. S till, till, our
goal is neither to Champion nor dismiss technology, but
rather to understand it and apply it in a manner more
consistent with basic human values.”
M a n i f e s t o  T e c n o r e a l is t a

O movimento tecnorealista surge nos EUA com o objetivo


de encontrar o caminho do meio, alternativo tanto a tecnoutópi-
cos como a neoluddites.
neoludd ites. O movimenmovimento to ffoi
oi criado em 12 de março
de 1998
1998,, a p artir de um encontro de 12 escritores e intele intelectua
ctuais
is no
Bistrô L e s D e u x G a m in s ,  n
 noo Gre
G reen
enww ich Villa
Village
ge,, em N ov a Yo
York6
rk6448.•

• ANDRÉ LE
LEMOS
MOS | 269
269
 

O movimento surge a partir de um documento proposto por


Shap iro, Sh
Shenenkk e Johns
Joh nson
on 649. A tualm ente o m ov
ovime
ime nto tem um
site na internet (www.technorealism.org
( www.technorealism.org), ), uma lista de discussão
(getrea
(ge treal-16
l-165
50) e m
mais
ais de 1500 as
assin
sinan
antes
tes..
Atravéss do seu manifesto, o movimento expõ
Atravé expõee sua visão sobre a
cultura tecnológica
tecnológ ica contemporânea
contem porânea e define sua poposiç
sição:
ão:

“ t h e h e a r t o f th
th e t e c h n o r e a l iiss t a p p r o a c h i n v o l v e s a
continuous criti
criticai
cai examinati
examination
on o f how technologies -
whether cutt
cutting-edge
ing-edge or mundane - might help or hinder
us in the struggle
struggle to improve th
thee qu alit
alityy o f ou r personal
lives, our communities, and our economic, social, and
 p
 poo li
liti
tica
ca l st
stru
ru ct
ctuu re s. In th
this
is he ad y a g e o f rraa p id te c h n o lo g ic a l
change, we all struggle to maintain our bearings. The
develop me nts that unfold each day in Comm unicati
unications
ons and
computing can be thrilling and disorienting. One
understandable reaction is to wonder: Are these changes
good or bad? Should
Should we w el
elcome
come or fear them? T he answ er
is both. Technology is making life more convenient and
enjo yab le, and m any of us healthier
healthier,, wea lthier, and wiser.
But it is also affecting work, family, and the economy in
unpredictable ways, introducing
introducing new form s of ttension
ension and
distraction, and posing new threat
distraction, threatss to tthe
he cohe sion o f our
 p
 phh y si c a l c o m m u n it i e s . ”

O m an
anifes
ifesto
to tem oito pontos assim exp
explicitado
licitados6
s65
52:
1. A tecnologia não é neutra. “Uma grande incompreensão  
de nosso tempo é a idéia idéia de que as tecnologias
tecnologias estão estão com
co m pletam
pletamen en
te livres
livres de influências
influênc ias - porque porqu e são artefat
artefatosos inanimados, elas não 
 prr o m o v e m c e r tos
 p to s ti
tipp o s d e com
co m p o rta
rt a m e n tos
to s em d e trim
tr im e n to d e o u
tr
tros
os.. Em verdade,
verdade, as tecnologias seguem de maneira ma neira intencion
inten cional al ou ou  
não intencion
inten cional al as inclinações
inclinaç ões sociais, políticapolíticas, s, e eco
econôm
nômicas.
icas. Toda
Toda 
 fe
 f e r r a m e n t a p r o p o r c ion
io n a p a r a s e u s usuá
us uáririos
os u m a m a n e ira
ir a p a r t i c u
lar de ver o mundo e caminhos específicos de interação com o ou
tro. É importante para cada um de nós considerar as influências  
das várias tecnologias e procurar aquelas que refletem nossos va
lores e aspiraçõ
asp irações es ”.”.

2. A internet
inter net é revoluc
revolucionária,
ionária, mas não utópica. “A rede é uma
um a 
 ferr r a m e n ta d e co
 fe c o m u n ica
ic a ç ã o ext
e xtra
raor
ordi
diná
nári
riaa que p r o v ê op
o p o rtu
rt u n ida
id a d e s

270
270  CIBERCULTUR
CIBERCULTURA,
A, TECNOLOG
TECN OLOG IA E VIDA SOCIAL
SOCIAL NA CULTURA CON TEM PORÂNE
POR ÂNEA
A •
 

novas para pessoas, comunidades, negócios e governo. Como o  


ciberespaço se torna mais povoado a cada dia, ele assemelha-se a  
uma grande sociedade em toda sua comple
complexid
xidade.
ade. Para todo aspe
aspecc
to potencializador e iluminador da rede, haverá também dimensões  
que são maliciosas, perversas, ou bastante ordinárias".

3. O governo tem um papel importante na fronteira eletrônica.


“A o contrário ddee alguma
algumass reivi
reivindi
ndicaçõe
cações,
s, o ciberespaço nã
não
o é fo r
malmen
ma lmente
te um lug ar o ou
u jurisd
jurisdição
ição sepa
separada
rada da Ter ra.. Os governos  
erra
deveríam respeitar as regr
regras
as que su rgiram no ciberespaço, eles não  
surgiram
deveríam a ba
bafar
far es
este mun do novo com regulamentos ineficientes ou 
te mundo
censura; é tolo dizer que o público não tem nenhuma soberania em  
relação ao que um cidadão errante o ouu uma ccorporaçã
orporação o fra
fraud
ud ule nta  
ulenta
 fa z e m on
on-li
-line
ne.. Co
Comm o re
repr
pres
esen
enta
tant
ntee d as p e ss
ssoo a s e o g u a rd
rdiã
ião
o de va
lores democráticos, o Estado tem o direito e a responsabilidade de  
ajudar a integrar o ciberes
ciberespaço
paço à sociedade convenci
convencional.
onal. A s inova
ções tecnológicas e as questões de privacidade, por exemplo, são  
muito important
importantes
es par
paraa serem reg
regida
idass apenas pela
pelass fo
forç
rç a s d
doo m er
cado
cado.. As empresa
empresass de softwar
softwaree têm pouco int
interes
eresse
se em preserv
preservar ar p a

drõesOs
one. abertos que são
mercados essenci
essenciais
encorajam ais para que u
a inovação, uma
ma re
mas rede
de interat
eles interativa
iva fu n c i
não necessaria
mente asseguram
assegu ram o inte
interes
resse
se púb lico".

4. Informação
In formação não é conheci
conhecimento.
mento. “A o redor de nós, a in inform
formaa
ção está se movendo mais rapi rapidamen
damentete e está fica nd o mais barato 
ficand
adquirí-la, e os benefícios
bene fícios são manifestos
manifestos.. Isso dito,
dito, a pro liferação de  
proliferação
dados também é um sério d desafio m edidas de disciplina 
esafio e requer novas medidas
humana e ceticismo. Nós não devemos confundir a excitação em ad
quirir ou distribuir rapidamente a informação com a tarefa mais as
sustadora de converter isto em conhecimento e sabedoria. Embora  
com o avanço dos nossos computadores, nós nunca deveriamos usá-  
los como um substituto das nossas próprias
próp rias habilidades cogn
cognitiitivas
vas bá
sicas de consciência,
consciência, ppercepção,
ercepção, argumentação e jul julga
gamm en
ento"
to"..

5. Interligar as escolas não as salvarão. “Os prob lemass com as 


problema
escolas
escol as púb licas da América - fundos
fundos,, prom oção soc
socia
ial,
l, classes in
chadas, infr
chadas, infra-estr
a-estrutura
utura def
defic
icie
iente
nte,, fa lta de pad
padrões
rões - não tem quase 
tem
nada a ver com a tecnologia. Por conseguinte, nenhum aporte de• de •

 
• ANDRÉ LEMOS | 2 7
LEMOS  /
tecnologia conduzirá
tecnologia c onduzirá à revolu
revolução
ção educacional profetizada pelo Pre
sidente Clinton e outros
outros.. A arte de ensino não pode
po de ser
s er reprod
reproduzida
uzida 
 p o r c ompu
 po om puta
tado
dore
res,
s, a rede,
rede , o u po
p o r 'e duc
du c a ç ã o à d i s tâ n c ia '. E s tas
ta s f e r
ramentas j á podem,
podem , clar
claro,
o, potenc
potencializar
ializar experiênci
experiências as educacionais  
de alta qualidade.
qualidade. M as co confiar
nfiar nelas como qualquerqua lquer tipo tipo de pana-  
céia seria um engano”.

6. A informação quer ser protegida. “É verdade que o 


ciberespaço e outros recentes desenvolvimentos estão desafiando  
nossas leis de proteção aos direitos
direitos autorais e à propriedade intelec

tual
tu
osal.. A resposta
respes.
existent
existentes.osta,
A o, entreta
Ao entretanto
contrárnto,
io,, temos
co ntrário, é não esmagar
esm
queagar os estatutos
atualizar leis e os princ
pr incípi
ípi  
leis e interpretações
antiga
ant igas,
s, de
d e form
fo rm a que a informação
informação receba
receba a mesma proteção que  
existe no contexto das da s velhas mídias.
mídias. A meta
m eta é a mesma:
mesm a: conferir
co nferir aos  
autores controle
controle suficiente
suficiente sobre o trabalho
trabalho deles
deles,, d e form
fo rm a que te
nham incentivo
incentivo para criar, mantendo o direito direito do público de fa ze r  
livre uso daquela informação. Em nenhum contexto a informação  
querr ‘ser livre
que liv re’’. Ela precisa
prec isa ser
se r prote
pr otegid
gida”
a”..

7. O público possui as ondas aéreas. “O público deveria bene


 fi c ia r - s e d o seu
 fic se u uso. A rece
re cent
ntee ab
a b e rtur
rt uraa do e spe
sp e ctro
ct ro d igit
ig itaa l ddee u m a r
gem para o corrupto e ineficiente abuso dos recursos públicos na  
arena da tecnologia.
tecnologia. O cidadão,
cidadão, defo
de formrm a coleti
coletiva,
va, deveria
deve ria benefici
ar-se do uso de frequêncfrequ ências
ias públicas
públicas e deveria reter uma porção porçã o do 
espectro, para acesso público a usos educacionais, culturais. Nós  
deveriamos exigir mais uso privado da propriedade pública. pública. ”

8. Compreender a tecnologia deveria ser um componente es-


sencial de cidadania global. “Em um mundo dirigido dirigido pelo fluxo
flu xo de 
info
in formaç
rmação,
ão, as inter
interfac
faces
es - e o códi
código
go subjacent
subjacentee - que fazem
faze m a 
informação visível estão se tornando uma enorme e poderosa força  
soci
so cial.
al. Entender
Enten der as força
for ça s e as limitações
limitações e,
e, até mesmo participar
pa rticipar na 
criação
cria ção de ferram
ferra m entas
en tas melhor
melhoreses,, deveria
deveria ser
s er uma parte importante
importante 
na constituição de um cidadão engajado. Estas ferramentas afetam  
nossas vidas tanto quanto as leis e nós deveriamos sujeitá-las a um 
mesmo escrutínio democrático”.

272  | CIBE
CIBERCUL
RCULTURA
TURA,, TECNOLOGIA E VIDA
VIDA SOC
SOCIAL
IAL NA CULTU RA CONTEM PORÂ NEA •
 

Realistas?

A partir dos oito pontos acima descritos, várias reações surgi-


ram no cib ciberes
erespaç
paço,o, a ex
exememplo
plo do site “tecno
“tecnosensentim
timen entalis
talismm o”6
o”65
53, que
faz um a p paró
aródia
dia do mo movimen
vimento, to, ou do aartigo
rtigo “tecn
“tecnosu osurrea
rrealism
lismo”6
o”65
54,
de R.U.Siri
R.U .Sirius,us, tentando m ostrar o delíri delírioo da im imposição
posição do realismo.
realismo.
Vamos voltar mais tarde a esse ponto.
Pretendem os, agora, fazer uma análise análise crícrítica
tica do mo movimento,
vimento, a
 paa rt
 p rtir
ir d
dee ssua
uass p re
remm is
issa
sass b
bás
ásic
icaa s e dos
do s pon
p onto
toss eex
x p li
licc it
itad
adoo s no se
seuu m a-
nifesto6
nife
diz sto65
Gunn:55. Alg
Alguns
“nós unssomos
críticos reterã
reterão
críticos odadess
dessaa pro
propoposta
tecnologia, stada
alg
algoo pró
próxim
mesma ximo oddo
maneirao quee 
 pee la s m e sm a s ra
 p razõ
zõeses qu
quee ou
outr
tros
os sãsãoo cr
crít
ític
icoos g
gas
astr
troo nôm
nô m ic
icos
os,, c rí
ríti coss  
tico
de a rt
rtee o
ouu cr
críti
ítico
coss llite
iterá
rári
rios
os.”
.”6
65. 6 
Poderiamoss com eçar nossa análi
Poderiamo análise
se explorando o próprio nome
do movimento. Várias Várias questões emergem: em meio à falência das ideo-
logias (os metarelatos da modernidade) será possível sustentar mais
um “ismo”? Numa época de profundas transformações e incertezas,
será possível atingir a “realidade” das cois coisas,
as, ainda m ais levando em
conta as rápidas metamorfoses do fenômeno técnico? Os tecnoreali tecnorealistas stas
 par
 p arec
ecem
em d iz
izee r qu
quee si
sim,
m, ao q
quu e re
rerr inst
in stau
aura
rarr u m ““ra
raci
cio
o n alis
al ism
m o rree a li
list
sta”
a”
com a prete
pretensão
nsão de criar o consen
consenso. so. A questão aqui é epistemológica:
será possível instaurar um novo projeto racionalista em meio a uma
contemporaneidade em que o real real,, há muito, deixou
deixou de ser uma ev evi-i-
dência
dên cia em vários cam campospos (da física
física à biologia, das mídias de massa m assa à
realidade virtual..
virtual...)?.)? Será poss
possível
ível instaurar o consens
consenso? o? N esse senti-
do, não seria o movimento tecnorealista um resgate da perspectiva

moderna (“crítica”), tentando dar um ponto final a essa suposta


infantili
infant ilidade
dade que consist
consistee em ser si simplesmente
mplesmente contra ou a favor? Para
responde
respo nderr a isso
isso,, o movime
movimento nto tecnorealist
tecnorealistaa argumenta: “...o debate  
sobre a tecnologia tem sido dominado p o r vozes ext extremi
remist stas, novo,, 
as, um novo
mais
ma is balanceado consenso tem se conf configu
igurado
rado.. Este docum
documentoento bus
ca articular algumas das cr crença
ençass com
comparti
partilhadas
lhadas p o r detrás do ccon on
senso, o qu quee tem os ch cham
amadadood dee tecno
tecnorea
realismo
lismo ” ”66S1.
Em primeiro
p rimeiro lugar
lugar,, embora o movim
movimentoento se pretenda planetário
(e não é po r acaso que se propaga via inter internet)
net) el
elee é nitidamente ame-
ricano. A questão da educação (ponto 5) é uma resposta explícita à
 polít
 po lític
icaa am
amer
eric
icaa na d
dee int
inter
erlig
ligar
ar toda
todass as esc
escol
olas
as e bib
biblioliote
teca
cass à inte
interne
rnet.
t.
Os oito princípios revelam, também, apenas ap enas o óbvio e, tanto utópicos•
utópicos•

• ANDRÉ LEMOS | 27
LEMOS 273
3
 

com o Qu
Luddites
Que poderíamnão
e a “tecnologia estar de acordo
é neut
neutra” com
ra” todos
todo quase todos
s sabemos. E sse eles.
eles. foi
alerta
dado há
h á algumas décadas por
po r pen
pensador
sadores
es como Ellul,
Ellul, Mum ford, Elias,
Elias,
Habermas, entre outros. Tanto utópicos como pessimistas concor-
dam com tal princípio, divergindo das conclusões daí
da í derivadas. Para
P ara
uns, a apropriação social resolve essa não neutralidade, para outros
ela é fonte de p oder e control
controle.
e.
Afirmando q ue a “internet
“internet é revolucionár
revolucionária
ia mas não utópica”,
u tópica”,
os tecnorealistas sublinham que as novas tecnologias
tecnologias estão m udando
a nossa m aneira de ver e estar no mundo, mundo, mas que, em si si,, elas não são
utópicas. Ora, o revolucionário é a essência mesma me sma da utopia. A uto- u to-
 pia,
 pi a, d e p ois
oi s de
d e Th
T h o m as M ore,
or e, é o “ não
nã o lug
lu g ar”
ar ” ina
i nalc
lcan
ançç áve
áv e l, imp
im p rev
re v is
is--
to, ou “o” lugar,lugar, o destino último.
último. Fundamental
Fundam ental mente, a internet é
utópica
utópi ca justam ente por ser revolucioná
revolucionária ria.. Mas parece
parece evidente que
os realistas estão chamando
chaman do a atenção para o fato de não ser s er possível
insistir na capacidade de uma mudança de cunho tecnológico (o
ciberespaço)
ciberespa ço) em resolver
res olver os problemas crônicos da sociedade.

A questão
os “governos da técnica
tenham é, desde
um papel sempre, uma
importante questão social.
na fronteira Que
eletrônica”
nos parece o mais óbvio e o mais mais unânime dos argumentos. M Mais
ais uma
vez, utópicos e pessimistas têm plena consciência consciênc ia desse fato. Uns lu-
tam por regulamentações
regulam entações (censura,
(censura, controle,
controle, normas, leis), outros pela
não intervenção total total e pela regulação socialmente sustentada, além
da garantia
garan tia de acesso amploam plo e irrestri
irrestrito
to às tecnologias
tecnologias da cibercultura.
c ibercultura.
O quarto ponto do manifesto chama a atenção para que não
confundam os informação com conhecimento. Mais uma um a vez, esse ar-
gumento
gumen to faz unanimidade. Os pessimistas
pessimistas sabem disso, ao afirmar afirma r que
que
o que existe no ciberespaço é uma mera circulação de informações,
sem necessariamente aportar um conhecimento articulado sobre um
determinado
determ inado assunto. Já os otimistas diríam diríam que as informações,
informa ções, antes
 priv
 pr ivililég
égio
ioss d e pou
po u cos,
co s, estã
es tão,
o, no cibe
ci bere
resp
spaç
aço,o, d is
ispp o n íve
ív e is a todo
to dos.
s. A
 paa rt
 p rtir
ir daí,
da í, têm
tê m a poss
po ssib
ibil
ilid
idad
adee d e reun
re uni
ila
las,
s, p o r cam
ca m inh
in h o s próp
pr ópri
rios
os
(hiperlinks),
(hiperl inks), na construção de um conhecimento
conhecim ento autônomo.
autônomo . Tanto na
crítica como na exaltação do excesso de informação está explicito o

reconhec imento de que informação não é conhecimento.


reconhecimento
Da mesma
me sma maneira
m aneira que informação
informação nãonão é conhecimento, a sim-
 pless amp
 ple am p liaçã
lia ção
o d o fluxo
flu xo infor
inf orm
m ativo
ati vo não
nã o gara
ga rante
nte m elho
el hori
riaa n a e duca
du ca-
-
ção. Esse é o argumento do quinto ponto, que parece também não ser 

 
27 
274
4 CIBERCULT
CIBERCULTURA.
URA. TECNOLO GIA E VIDA SOCIAL
SOCIAL NA CULTUR A CONT EMPO RÂN EA •

algo de divergências entre apocalípticos e integrados. Os pessimistas


vêem, com razão, a informatização da educação, que atinge hoje várias
escolas e universidades, apenas como umau ma investida de marketing. Estas,
na maioria das vezes, contentamse em disponibilizar equipamentos
de acesso a int
internet
ernet como um forma de modernização, sem necessar
necessaria-
ia-
mente promove
pro moverr alguma melhor
melhoria
ia da
dass condições de ensino, não se preo-
cupando com aspectos pedagógicos ou treinamentos de professores.
Por outro lado, os otimistas têm consciência de que interligar escolas
não irá salvál
salválas,
as, mas comcompreendem
preendem o quanto é fundamental que uma
escola
esco la aproveite o manancial disponível hoje na internet internet..
O sexto ponto
pon to do manifesto é o mais polêmico e, ao mesmo mesm o tempo,
o mais conservador. Diferente da atitude atitude cyberpu
cyberpunknk que mmarcou
arcou o início
da microinformática e do ciberespaciberespaço, ço, pregando que “toda informação
deve ser
s er llivre”
ivre”,, os tecnorealist
tecnorealistas as buscam p proteger
roteger a informaçã
informação o (“a infor-
mação deve ser controlada”). A máxima cyberpunk nos parece muito
mais arrojada, projetiva
proje tiva e crítica
crítica do que aquela tecnorealista. O Oss realistas
estão preocupados, com justeza, com quest questões
ões com
como o Copyright, privaci-
dade e segurança
seguranç a das ttrocas
rocas de informação. Mas, da me mesm
smaa forma
forma,, estão
também os pes pessimi
simistas.
stas. O que toma o ciberespaço um fenômenofenôm eno social é
a disponibilidade
disponibilidade dos int intemautas
emautas em fornecer livremente
livremente informações as
mais diversas, seja em lis listas
tas,, email, grupos de discussão o ou
u páginas
página s We
Web.
b.
O que mantém vivo o cibere ciberespaço
spaço é a livre circulação de inform
informação
ação e
não o seu controle. A generalidade da argumentação a toma inócua (é
claro que devem existir inf informaçõe
ormaçõess livres
livres e controladas).
controladas).
O sétimo ponto também não susci suscita
ta discórdias entre utópicos ou
 pes simista
 pessim istas.
s. Ali afi
afirm
rmas
asee que
qu e o públi
pú blico
co possu
possuii as ond
ondas
as aér
aéreaeas,
s, dev
deven
endo
do
utilizálas em seu benefício em atividades educaceducacionais,
ionais, culturais e afins.
E m Techno
Technologi
logies Freedomfó8, Ithel de So
es o f Freedom Sola
la Poo
Pooll m
mos
ostra
tra ccom
omo o a utili-
zação de emissões p por
or ondas aé aéreas
reas ou ter
terrest
restres
res depend
dependee da tecnolog
tecnologia ia
e da estrutura social que a organiza.
organiza. Não há nada de radical ou inovad inovadoror
nesse ponto. O mesmo podería ser dito do último item do manifesto
sobre a necessidade de “entender que a tecnologia é um componente  
essencial
essenci al da cidadania
cidadania glob al”.. Quem podería negar essa afirmação?
g lobal”

Tanto neoluddites como tecnoutópicos fazem coro nesse ponto. Os


 pr imeir
 prim eiros
os vã
vãoo afi
afirm
rmar
ar que a tecn
tecnolo
ologia
gia é im
impo
porta
rtante
nte,, ma
mass q ue p
pod
odee estar
esta r
atrofiando a dimensão
dime nsão púb
pública
lica e po
políti
lítica,
ca, ao isolar cidadãos queque,, a partir
de então, apenas comutam
com utam informações
informações.. Já os tecnoutópicos, argumen-
tarão
tarão que o ciberespaço pode p proporci
roporcionar
onar aaos
os cidadãos uma nova espé espé••
• ANDRÉ LEMOS | 27
LEMOS 275
5
 

cie de “ágoraeletrônica”,
“ ágoraeletrônica”, um espaço para formação comunitária
comu nitária e cria-
ção de coletivos inteligen
inteligentes,
tes, distribuindo
distribuindo e potencializando novas for-
mas de organização
orga nização social
social.. Vemos,
Vemos, assim,
assim, que não há qualquer
q ualquer novidade
(ou radicalidade) em reconhecer
reconh ecer que as relações entre as novas tecnologias
e a vida
vid a social
social são fundamentais para o exercício da cidadania.
Podemos, então, concluir qu quee o movimento tecnorealista afir-
afir-
ma, em seus oito princípios,
princípios, apenas obviedades que, necessariamente,

não
ção opara
diferenciam de
d ecriando
si próprio, utópicosmaisou
ou pessimistas.
pessimist as. Ele
um “ismo” tenta cham
e tentando ar aten-
aten-
resolver a
dualidade dos que acham tudo bom ou tudo ruim (não teríamos o
direitoo de amar
direit am ar ou odiar a tecnolog
tecnologia ia?),
?), numa
num a perspectiva meramente
elitis
el itista
ta,, com
co m o mos
m ostra
tra K atz6
atz 659.
O tecnorealismo
tecnorealismo parece ser se r uma ideologia
ideologia de tipo
tipo moderno
m oderno que
tenta desacreditar seus opostos (rapidamente tachados de otimistas
ou pessimistas) como excessivos, forçandoos a entrar na realidade
das coisas, a ver o “real” impacto da tecnologia digital na cultura
contem porânea. Com
contemporânea. C omoo mostra Gunn, os tecnorealistas
tecnorealistas querem
que rem dirigir
os debates,
deba tes, aparar
ap arar arestas e instaurar a hegemonia6
hegem onia6660. 0 tecnorealismo
tecnorea lismo
rejeita o que há de visionário
visionário ou de desmesura, desabonando
desabona ndo opiniões
divergentes, neutralizandoas no seu suposto excesso retórico. Com Comoo
mostram alguns autores, o tecnorealismo é um movimento próximo
d o legal realism  de 1900 nos EUA, que pretendeu desenvolver um
 pee n sam
 p sa m e n to c ríti
rí ticc o e m rela
re laçã
çãoo ao m erca
er cado
do.. A m á x ima
im a p a rece
re ce ser:
“minha argumentação é realista, logo ela é racional, neutra, objeti

va,, d
va difer
iferente
ente dessas outra
outras,
s, excessi
excessivamente
vamente utópicas ou pess im ista
istas”
s”..
É interessante notar
n otar ai
ainda
nda que autores
autores como
com o Shapiro, Borsook
B orsook
ou Sparkman, criadores do movimento, parecem em seus textos mui-
to próxim
próximosos dos neoluddites.
neoluddites. Shapiro denuncia o caráter não neces-
sariamente democrático
dem ocrático da rede e insi
insiste
ste em afirmar o quanto esque- esq ue-
cemoss a riqueza do “face a face”; Paulina Borsook mostra
cemo m ostra os proble-
mas do Copyright  e  e vai argumentar
argum entar que a art
artee eletrônica é p
 pla
lag
g ia
iari sm o \  
rism
e R. Sparkman
Sparkm an vai questionar o papel
papel do computador
com putador na escola, res-
saltando
saltando que sua presença não representa qualquer
qualqu er revolução
revoluç ão na edu-
edu -
cação. Assim, parece
pare ce que o movimento tecnorealista
tecnorealista foi formado por po r
“ neo-luddites reform
 reformados”
ados” que, sem querer
que rer aderir à crítica radical, e
reconhecendo
reconhe cendo certos benefícios
benefícios das novas
novas tecnologias,
tecnologias, pretendemse
pretend emse
hoje realistas.
realistas. Isso beira o tecnosurrealismo.
tecnosurrealismo.
276
276 |CIBE
CIBERCULT
RCULTURA,
URA, TECNOLOGIA E VIDA
VIDA SOCIA
SOCIALL NA CULTUR A CONTE MPO RÂNEA •
 

Tecnosurrealismo

Contrapondo a euforia tecnorealista, R.U. Sirius (que se pro-


nuncia “are you sirius ”, ou “você é sério”) editor da revista Mondo
2000 e cyberpunk convicto, propõe que a cibercultura já atravessou
quatro fases, chegando agora à tecnosurrealista. A primeira delas é
conhecida com o “Nerdism
“Nerdismo o Puro”, durou de 19 1976
76 a 1988,
1988, e caracte-
rizouse por um a subcult
subcultura
ura da info
informátic
rmática,a, pregando que tod a in-
formação deveria ser livre, que o ciberespaço era de todos e que os
computadores
com putadores dev
deveríam
eríam ser acacessívei
essíveiss e de ffácil
ácil utili
utilização.
zação. A segun -
da, denominada “Tecnoanarquista”, de 1989 a 1992, representa a
fase do amadurecimento do ciberespaço e da celebração do caráter
rizomático e anárquico da rede. Foi a época do apogeu da revista
M ond
ondo o 200
20006
066
61. A terc
terceira
eira fase ca
carac
racteri
teriza
zase
se pe
pelo
lo “Tec
“Tecno
nolibera
liberalis
lis
mo”” , tendo com
mo como o expoe
expoente
nte a revista W ired6
ired6662, mos
mostrand
trando
o a força
forç a dos
conglomerados do capitali capitalismo smo pósindustr
pósindustrial ial e a entrada d a inter internet
net
na era do com ércio eletrônico eletrônico (e-commerce, e-business, e-business, e-money).
e-m oney).
Usan do da sag acidade e ironia que llhe he é particular,
particular, Sirius su s-
tenta que a qu arta fase da ciber cibercultur
culturaa é a do tecnorealismo, já supe-
rada (durou apenas uma semana: de 12 a 19 de março de 1998).
Para Sirius, todo realismo sem imaginação é mero reducionismo,
sendo preciso muita m uita imaginaç
imaginação ão para viver num fluxo de informação
caótico que supera, em muito, nossa capacidade de entendimento.
 Nãã o eex
 N x is
istt e , p o rt
rtaa n to , ttee c n o r e a li
liss m o , j á qu e n ã o é p o s s ív e l, e m m e io
a essa explosão da informação, a existência existência de um co nsenso sobre
qual o m étodo real, objet objetivo, ivo, imparcial de conh ecerm os nos nossa sa reali-
dade sociotécnica.
O tecnorealismo nasceu e morr morreu eu tendo sido o desejo de um pe-
queno grupo
g rupo da inteligênc
inteligência ia norteamericana de encontrar, encontrar, no en entendi-
tendi-
mento dos impactos tecnológicos, um norte em um umaa época hiperbóli
hiperbólica,ca,
umaa linearidade em uma época hi
um hipertextual
pertextual,, umumaa “tecnopomposidade
“tecnopom posidade”, ”,
com o m mostr
ostraa K Katz6
atz66 63. No fund fundo o o prob
problem lema,
a, co
comm o af
afirm
irmaa Sirius
Sirius,, não
está na escolha
escolh a legítima entre ser um otim
otimista
ista ou um pessim
pessimista.
ista. O real
 pr oble
 prob lemm a d a cibe
ci berc
rcul
ultu
tura
ra es
está
tá no te
tecn
cnos
osur
urre
realalis
ismm o do
doss qu
quee ac
acre
redi
dita
tam
m
em tudo e dos que não acreditam em nad nada.
a.••

• ANDRÉ LEMO
LEMOS
S | 27
277
7
 

C   o n c l u s ã o  :
ClBERCULTURA

Para finalizar esse livro, gostaria de retomar alguns pontos e


esboçar
esboç ar uma
um a visão global da cibercul
cibercultura.
tura. Como
Com o vimos, os impactos
das novas tecnologias obrigamnos a reconsiderar
reconsidera r o fenômeno
fenôm eno técni-
co em sua totali
totalidade.
dade. Hoje, computadores
comp utadores são metamáquinas,
metamáqu inas, dispo-
sitivos de simulação, não mais equipamentos industriais nem ferra-
mentas de produção, no sentido de manuseio de matérias primas e
energia. A conquista da natureza e sua transformação pelo
industrialismo
industrialismo é substituída
substituída agora pela simulação digital, numérica
num érica do
mundo, falar
cessivo pela requisição informacional
de substituição, algo estádamuitonatureza. Embora
próximo seja ex-
da visão do
guru N. Negroponte sobre a tendência dos bits  tomarem a cena dos
átomos. Na cibercultura,
c ibercultura, como
com o afirma com pertinência Lévy, Lévy, não po-
po -
demos falar de lógica de substituição nem de simples transposição,
mas de um fenôm
fe nômenoeno global de mudanças
muda nças socioculturais complexas.
comp lexas.
É neste
n este terreno que
qu e cresce a atual cibercultura
cibercultura planetária.
Podemos
Podem os dizer
d izer que a dominação energéticomater
energéticomaterial ial da nature-
za foi
foi uma
um a conquista da modernidade
modernidade e que algo está está em mudança
mudan ça na
contemporaneidade.
contempo raneidade. ComC om a cibercul
cibercultura
tura,, estaríamo
estaríamoss além da domina-
domina -
ção técnica de tipo industrialista que dessacralizou a natureza e de-
sencantou
sencant ou o mundo. A cibercultura
cibercultura cresce
cresce no terreno
terreno da dominação
dom inação
energética e material
m aterial do mundo, no reino do Ge-stell, com o mostrou m ostrou
Heidegger (provocação da natureza, extração das energias/matérias
disponíveis na natureza), mas vai se sedimentar, pouco a pouco, sob
uma natureza já dominada e tr transf
ansformad
ormada. a.
 Não
 N ão é a o aca
ac a so que
qu e cons
co nsta
tata
tam
m os que
qu e tod
to d a a c u lt
ltuu ra c o n tem
te m p o -
rânea passa pelo processo de desmaterial ização (os med
desm aterialização medias
ias on-line,
on-line,  a
arte eletrônica, o entretenimento, etc). Nesta
N esta cibercultura, ruas reais
reais
são aumentadas, e não substituídas,
substituídas, pela força
força do ciberespaço, como
o projeto cyberstreet  em
 em Londres; pilotos
pilotos treinam em terrenos virtu-
ais e em simuladores, cientistas simulam fenômenos e sistemas do
meio biológico, próteses digitai
digitaiss e nanotecnologias são implantadas
im plantadas
no corpo humano...
human o... Os exemplos são inúmeros
inúmeros..

 
278
 |CIB
CIBERC
ERCULTU
ULTURA,
RA, TECNOLOGIA E VIDA S
SOCI
OCIAL
AL NA CULTURA CONTE MPOR ÂNEA •

As novas tecnologias tornamse onipresentes ao ponto de não


 pode
 po derm
rmos
os d
dis
isce
cern
rnir
ir clara
cla ram
m en
ente
te o
ond
ndee com
co m eç
eçam
am e o
ond
ndee term
te rmin
inam
am (chips  
em geladeiras, automóveis ou relógios, cartões eletrônicos, smart  
cards, celulare
 celulares,
s, etc.)
etc.).. Nas artes (música, filmes, televisã
televisão, o, víde
vídeo,
o, etc)
etc),,
nos media,  na medicina, na economia, em todas as esferas da cultura,
a cibercultura encarna a transformação
transformação da sociedade de consum o e da
sociedade do espetáculo. O fenômeno
fenômeno técnico contemp
contemporâneo
orâneo parece
apropriarse
aprop riarse dos detritos, rresto
estoss e sobr
sobras
as da tecno
tecnocultura,
cultura, traduzindo
os pela manipulação
man ipulação digit
digital,
al, pela informação.
informação. As tecno
tecnologias
logias deriva-
das da microeletrônica desmaterial
desm aterializam
izam a natureza pela nume
numerização,
rização,
situandose
situando se aí a parti
particularidad
cularidadee da cibercult
cibercultura,
ura, com suas implicações
socioculturais
socioc ulturais e políticas correlatas.
A cibercultura
cibercultu ra é fruto de novas formas de relaçã
relaçãoo social. A vida

social moderna foi concebida segundo imperativos da racionalidade


administrativa e tecnocrática, cuja face emblemática é o que descre-
vemos como tecnocultura. A anomia social foi detectada como uma
das consequências nefasta
nefastass dessa modernidade. Parece paradox
paradoxalal que
a cibercultura, mesmo estando em sintonia com os parâmetros da
racionalidade moderna, potencializa um certo vitali
vitalismo
smo social que nos
impede de falar de deserto do soci
social
al,, de morte da co
comu
municação
nicação ou de
hom ogeneizaçã
ogeneização o cultural
cultural.. Vemo
Vemoss assi
assim,m, a expressã
expressãoo de um
umaa estéti
estética
ca
social (Maffesoli) com a efervescência das relações no ciberespaço
(chats, fóruns, listas, comunidades virtuais, etc.) onde o internauta/
consum idor vai inventar o cibe
ciberespaço
respaço (De C ert
erteau)
eau)..
De alguma
algu ma forma, a sociedade de consumo é problematizada pela
simulação e o espetáculo, sampleada através das novas máquinas d digi-
igi-
tais.. Tratase m
tais mesmo
esmo de uma apropria
apropriação,
ção, de um hacking, um  za
 zapp
ppin g 
ing
de signos da sociedade do espetáculo. Não é por acaso que todas as
formas canônicas da cultura do espetáculo começam,
começam , pou
pouco
co a pouco, a
emanar
em anar do indivíduo comum, escapando aos mon
monopólios
opólios deste mesmo

espetáculo
espet áculo (a polêmica em tomo do formato musical musical MP3, por exem
exem- -
 plo ). A te
 plo). tecn
cnol
olog
ogia
ia digita
dig itall to
tomm a
ase
se media  de contato. Ela
E la retribaliza o
mundo como
com o queria McLuhan e como afirma Maffesoli.Maffesoli.
A cibercultura, mistur
m isturando
ando tecnologia, imaginário e sociali
socialidade,
dade,
está no cerne dos
do s impactos sócioculturai
sócioculturais,
s, pondo em jo
jogg o essa mistura
inusitada
inusit ada e pa
paradoxal
radoxal entre razão aplicada, busca de tactilidade (agre-
gações as m ais diversas) e pensamento m mágicoreligi
ágicoreligioso.
oso. A idéia de
ciberdelia,  como junção de cibernética e psicodelia, não é aqui um• um •

• ANDRÉ LEMOS | 27
LEMOS 279
9
 

exagero. Podemos
exagero. P odemos encontrar pist
pistas
as e exemplos concret
concretos
os que
qu e demons-
dem ons-
tram as novas
n ovas possibilidades
possibilidades estéticas,
estéticas, tanto no sentido da fusão com
a arte, como no sentido de um compartilhamento social. Se a
tecnocultura dessacralizou a vida soci
social,
al, a cibercultura contem porâ
porâ-
-

nea de
não parece p ossibilitar
possibilitar
certezas (e
(e é de possibi
ou causalidades possibilidades
fechadas)lidades queformas
novas estamos falando e
de reencan
tamento
tamen to social, através das diversas agregações eletreletrônicas
ônicas e do fazer
faz er
artísti
artístico.
co. A cibercultura potencializaria
potencializaria uma espécie de “fase mágica”
da tecnologia  conexão generali
generalizada,
zada, desmaterialização,
desmaterialização, ubiqí
ubiqíii
iidade,
dade,
telepresença, complexificando
comp lexificando a noção de sociedade do espetáculo.
A cibercultura
cibercu ltura não é mais sociedade do espetáculo, no sentido
dado pelo
p elo situacionista francês
francês Guy Debord. Para Debord, a socieda-
de de consum
consumoo constituiu
constituiusese como uma sociedade do espetáculo,
espetáculo, onde
a realidade se esvazia
esv azia na sua representação imagética. O real tornase
apêndice de seus simulacros.
simulacros.
Tentamos mostrar que a sociedade de informação, berço da
cibercultura, não pode mais ser traduzida nesses termos. Podemos
mesmoo afirm
mesm afirmar
ar que a sociedade do espetáculo preparou o terreno para
a sociedade dad a simulação, a cibercul
cibercultura
tura.. Assim, evitam
evitamosos pensar esta
última como
com o a negaç
negaçãoão da primeira
primeira..
Com a sociedade do espetáculo, a imagem substitui o mundo,

tomand
tom
da andoo
oo irreal
irreal.. (falsa)
representação É, portant
(falportanto,
o, uma
um a sociedade
sa) da realidade
realidade.
. Como da cópia,Ddo
Co mo descreve simulacro,
ebord, essa é
a sociedade da reificação dos homens e das coisas, coisas, criando o fetichismo
fetichismo
em relação aos objetos, ao consumo trivi trivial
al e banalizado, acarretando
assim um pseudogozo.
pseud ogozo. A sociedade do espetáculo aniquil aniquila, a, pelo po-
derr técnicomediático, a realidade.
de realidade. A tecnologia é, sem dúvida, ne nesta
sta
 pee r s p e c t i v a , u m a f e r r a m e n t a s u ti
 p till d e c o n t r o l e d a s m a s s a s , d e
racionalidade tecnocrática
tecnoc rática e de homogeneização social. A sociedade
do espetáculo
espetácu lo lança os germes da sociedade de simulação.
A cibercultura, por sua vez, vez, vai radicalizar a sociedade do espetá-
culo,
cul o, já que os media de massa, principais atores do espetáculo, serão
 prob
 pr oble lem
m atatizizad
ados
os co
c o m a em
e m ergê
er gêncncia
ia dos
do s nov
n ovosos media  digit
 digitais,
ais, detento
detento- -
res de estrutura e funcionamento
funcionam ento di diferenci
ferenciados.
ados. A sociedade do espetá- espe tá-
culo é resultado do mo mododo de produção capitalista
capitalista industrial
industrial aplicada ao
entretenimento e à comunicação. Como afirma Debord, o espetáculo é
a meta
m eta do consumoconsum o capitalist
capitalista, a, sendo a negação
n egação de vida.vida. A cibercultura
 paa r t e d o te r r e n o c o n s ti
 p titt u í d o d o e s p e t á c u l o p a r a s u p e r á  l o . N a

280   CIBE
CIBERCULT
RCULTURA,
URA, TECNO LOGIA E VIDA SOCIA
SOCIALL NA CULTU RA CONTEM PORÂ NEA •
 

modernidade, o espetáculo destinous


destinousee a tom
tomar
ar o m
mundo
undo reifi
reificado,
cado, sendo
resultado direto da requisição energética e material da d a natureza.
A passagem da sociedade do espetáculo para a sociedade de
simulação corresponde à passagem gradual de tecnologias de repre-
sentação
senta ção an
analó
alógica
gicass  os media  clássicos, para os novos media  digi-
tais. Se a sociedade do espetáculo manipulou as representações
massivas do real (a tel
televisão
evisão,, o cinema, o rádio), a cibercultura parece
crescer sob a manipulação dos ícones da sociedade do espetáculo
( samplings , colage
colagens
ns digitais, hacking, apropriações, etc). Nã Nãoo sendo
mais representação, a cibercultura
cibercultura,, pela simulação, é uma man manipula-
ipula-
ção das representações do mundo criadas pela sociedade do espetá-
culo. A sim ulação digital manipula
ma nipula o espetáculo analógico.
A cibercultura, em todas suas manifestações, caracterizase pela p ela
manipulação de informações binárias. Ela é a simulação do mundo
 pel
 p elos
os p ó s m e d ias
ia s (red
(r edeses d e co
comm pu
puta
tado
dor,
r, te
tele
lefo
fone
ness m óv
óvei
eis,
s, te
tele
levi
visã
sãoo
interativa, satélites, etc.). O espetáculo difundiuse pelo fluxo
unidirecional
unidir ecional de mensagens, pela difusão centrali centralizada
zada ao receptor dis-
 pers
 pe rso,
o, h om o ge
geneneizizaa d o e ti
tido
do co
com
m o p as
assi
sivo
vo (e
(emm b o ra e s tu
tudd o s d e re
re-
-
cepção mostrem o contrário). Já a cibercultura é produto da
digitalização
digitalização dos media , do advento de um fluxo de mensag
mensagens
ens plane

tário,
tári
um o,
emm
multimodal
ultimodal
issor poten e bidireci
potenciabidirecional,
cial.
l. onal, em que o recepto
receptorr tomase,
tom ase, tam
também,
bém,
A imprensa,
im prensa, o rádi
rádio
o e a televisão nos entregam diariam ente no-n o-
tícias dessa frente cibernética (internet,
(internet, celulares, pag
pagers,
ers, PDA , CD
Rom, realidade virtual, etc.), como um reflexo de nossa sociedade
que se torna, cada vez mais, impactada e transformada pela simula-
ção, pela comunicação em rede e p pelas
elas micromáquinas que coloni-
zam nosso quotidiano. Vimos isso ao longo deste trabalho. Através
da cibercultura, associamos comportamentos
comportam entos e ações que surgem (no
 p rin
 pri n c íp
ípio
io d
doo s aano
noss 8
80)
0) a p
paa rt
rtir
ir d
daa co
conn fl
fluu ê nc
ncia
ia d
das
as te
tecn
cn o lo
logg ia
iass d
dig
igit
itaa is
e dos mass m edia edia  de comunicação
c omunicação em sua relação relação direta e simbiótica
com a dinâm ica social,social, redef
redefinindo,
inindo, indubitavelmente, em nossas so-
ciedades contemporâneas, a noção de espaço e tempo, sujeito e obje-
to, comunida
com unidade de e indivíduo, natureza e artifício, real e virtual virtual..
A análise da cibercul
cibercultura,
tura, desenvol
desenvolvidavida ao longo deste liv livro,
ro, mostra
que esta caracterizase por uma atitude social de apropriação criativa
(vitalista,
(vita lista, hedonista, presenteísta) das novas tecnologias. Exemp Exe mplos los desta

atitude estão entre nós


nós:: a febre dos jogos
jog os eletrônicos, a efervescência
efervescência••

• ANDRÉ LEMOS | 281


LEMOS
 

das agregações sociais no ciberespaço, o ativismo político de tecno


anarquistas, o hedonismo das raves, a potência dos vírus e o erotismo
do cibersexo, entre outros. Se a tecnocultura moderna foi o paraíso para íso de
Apoio, a cibercultura pósmo
pó smodem
demaa é o teat
teatroro di
digital
gital de Dionísio.
Essa atitude global da cibercultura mostra que os potenciais
comunitário, artístico
artístico e ativista
ativista cont
contemporâneos
emporâneos não são inibidos pelo
desenvolvim
desenv olvimento
ento tecnológico. Atualmente é difíci difícill não ver que, mes-
mo com a ameaça perene do  B  Big ro thee r,  a tecnologia tornase ins-
ig B roth
trumento de conquista do mundo (abolição do espaço, real tempo,
onipresença) e de formação comunitária (chats, Muds, listas, BBSs,
etc.).
etc.). A cibercu
cibercultura
ltura seria precis
precisame
amente
nte uma tendênc
tendência ia que se esboç
esboçaa

com a sinergia
sinerg ia da revolução da d a microeletrônica e da vida quotidiana.
A geração da década de 80 viu surgir o walkman, a MTV, os
 jog
 jo g o s el
elet
etrô
rôni
nico
cos,
s, os vi
vide
deot
otex
exto
tos..
s...A
.A ge
gera
raçã
çãoo da d é ca
cadd a d e 9 0 jjáá es
está

acostumada ao multimídia, à realidade virtual e às redes planetárias
telemáticas. A geração X, do caos (Ruskoff), encontrase inserida na
sociedade de simulação, das imagens de síntes síntesee e da inform
informação
ação gene-
ralizada.
ralizada. E
Esta
sta geraç
geração
ão não é mais liter
literári
ária,
a, individual e racionalista, como
a cultura enciclopédica dos livro livros.
s. A nova geração eletrônica é sim simultâ-
ultâ-
nea, como dizia
d izia McLu
McLuhan,han, presenteísta,
presenteísta, ttriba
riball e estét
estética,
ica, com o afirma
Maffesolii e é seu próprio simulacro, como explica Baudrillard. Ela acei-
Maffesol
ta o desafio da sociedade de simulação jogand jogando, o, através ddee colagens e
 zapp
 za ppin gs,, com
ings  c om imagens e ícones da sociedade do es espetáculo.
petáculo.
A modernida
m odernidade de tecnocrática tento
tentouu excluir a dinâmica emp empática,
ática,
hedonista
hedon ista e triba
triball da social
socialidade,
idade, já que esta representav
representavaa tudo aquilo
que a huma
h umanidade
nidade carrega de trágico,
trágico, violent
violento,o, erótico e lúdico. Estas
características foram consideradas como inimigas de uma sociedade
racional, técnica e objetiva
o bjetiva que o projet
projetoo mo
moderno
derno pretend
pretendiaia fun
fundar.
dar. A
cibercultura não é formada pela exclusão técnica da socialidade, mas
autoorganizada pela sinergia
sinergia da sociali
socialidade
dade nas diversas expressões da
tecnologia contemporânea. Assim, ela não é apenas a cibem etização da
sociedade, mas também um a fforma
orma de tribal
tribalização
ização da cibernéti
cibernética.
ca. Pas-
samos, como vimos, do cybemanthrope ao cyberpunk.

 A tragé
tra gédi
diaa da ci
cibe
berc
rcul
ultu
tura
ra

A cibercultura
cibercu ltura tem suas raízes no surgimento dos m ass media
media,, 
mas ganha
g anha contornos defini
definidos
dos na atualidade
atualidade com o com putador pes

282
282  CIBERCUL
CIBERCULTURA
TURA,, TECNOLOGIA E VIDA S
SOCIAL
OCIAL NA CULTURA CONT
CONTEMPO
EMPO RÂNE A •
 

soai, a microeletrônica
m icroeletrônica de massa e as redes telemáticas.
telemáticas. É esta es ta sinergia
entre condição pósmodem pósmo demaa e as novas novas tecnol
tecnologias
ogias que vai marcar m arcar a
cultura contemporânea.
contemporânea.
Podemos
Podem os tomar
tom ar o termo cultura
cultura em sua conotação mais forte forte,, a
saber, como aquilo que se cultiva, que faz nascer, que dá forma. A
cultura é, então, o conjunto das formas sociais que emerg emergem em do ccon-on-
flito entre o homem e a natureza, construindo o que chamamos tem-
 pora
 po raririaa m e n te
te,, de
d e rrea
ealid
lidad
ade.
e.
Comoo vimos, podemos analisar a cibercultura a partir da ppers-
Com ers-
 pee c tiv
 p ti v a form
fo rmis ista
ta.. A cult
cu ltur
uraa m oder
od erna
na,, ou tecn
te cnoc
ocuu ltura
ltu ra,, e stá
st á m a rc
rcad
adaa
 pe oor artifício.
 po um
umaa re
r e laçã
la ção
Aocibercultura
es
espp ecíf
ec ífic
icaa ent
e ntre
re opor
vai, suj
s ujei
eito
suato vez,
e o ob
o bser
jeto
je to,
, en
um e nnovo
tre
tr e a estilo
n a ture
tu reza
za
da
cultura tecnológica na contemporaneidade. Conceitos de vida e for
ma são muito importantes para caracterizala. Como mostra
Jankélévitch, Simmel “ concebia a vida como o movime
movimento
nto e o esfor
ço pelo qual nossa consciência busca acrescentar um conteúdo à  
uma form a  ”664. Para o que nos interessa aqui, podemos ver como o
fenôm eno técnico expressa bem este ajuste.
fenômeno ajuste.
Durante a história da técnica vimos como
com o ela adaptase a conteú-
dos sociais,
sociais, ao mesmo
m esmo tempo em que os molda. O conteúdo
conteúd o da forma
técnica da modernidade é o que chamamos
chamam os de tecnocult
tecnocultura.
ura. Hoje, essa
forma técnica adquire novos conteúdos,
conteúdos, estabelecendo o qu quee estamos
nomeando, ao longo desse trabalho
trabalho,, de cibercultur
cibercultura.
a. A tecnologia não é
uma forma a priori que determinaria os conteúdos da vida social. A
verdade do fenômeno técnico está nessa interrelação dinâmica entre
formas “ imutáve
imutáveis
is e absolu tas” e conteúdos empíricos de nossa ação
absolutas”
diária.
diária. Como
Com o mostra Simmel “o segredo da fo form
rm a é qu
quee eela
la limi
limita,
ta, ela 
ela
é ao mesmo tempo o objeto enquan
enquantoto tal e a subtração do ob objet
jeto,o, o  
lugarr onde o se r e o não-mais-ser do objeto sã
luga são
o ap
apena ...,,,66S   A
enass u m ...,
vida social contemporânea é incompreensível através de sínteses
unificadoras: “toda a hist
história
ória da sociedade tem po r li
linha
nha d
dee comba te o  
combate
compromisso, as diversas conci
compromisso, concilia
liações
ções,, lentamente conquistada
conquistadass e ra
 pid
 pi d a m e n te pe
perd
rdid
idas
as,, en
entre
tre a ten
tendê
dênc
ncia
ia a fu s io n a r co
comm no
nosssso
o gr
grup o 
upo
tendê ncia a dissociar-se dele individualmente  ”
social e a tendência  ”..666
Comoo já analisamos nos primeiros capítulos,
Com capítulos, a técnica é tekhnè, 
arte, saber fazer.
fazer. Toda a arte expressa uma combinação
com binação dinâm
dinâ m ica en-
tre
tre formas e conteúdos, entre a subjeti
sub jetividade
vidade e a objetividade.
objetividade. O va-
lor estético de um objeto é, talvez, o grau mais alto desta relação•
relação •

• ANDRÉ LEMOS | 283


LEMOS
 

entre formas e conteúdos. Mas esse esteticismo não é propriedade

exclusiva das belas art


no desenvolvimento artes:
es:
da podemos encontrála
enc ontrála nos
microinformática. objetos de
A análise técnicos
Davide
Gelemter em Th Thee M Macachihine
ne BeBeauauty6 67 demonstra a influência de um
ty66
 pee n sam
 p sa m e n to e sté
st é ti
ticc o infl
in fluu enc
en c ian
ia n d o a m icro
ic roi
inn fo
form
rmát
átic
ica.
a.
Podemos pensar também a estética como aquilo que põe em
relação, que proporciona a catarse pelo prazer compartilhado, pela
comunicação. Com as novas tecnologias, a estética, como
compartilhamento,
com partilhamento, vêse vê se radicali
radicalizada.
zada. Assim, a definição de SimmelSimm el
sobre a moda
mo da pode ser
se r muito bem aplicada à técnica.
técnica. A cultura
c ultura técni-
ca contemporânea
contem porânea seria então uma solução
solução particular do conflito
conflito en-
en -
tre o sujeito e o objeto, entre a tecnologia que escraviza
escrav iza e o social que
reage. A cibercultura é o resultado desse processo no campo da
tecnologia contemporânea.
A tecnologia faz parte
parte da cultura
cultura humana e não podem os pen-
sar o aparecimento do ser humano sem a dimensão da tecnicidade.
Em momentos da história da humanidade, o fenômeno técnico tem
um conteúdo
conteú do específi
espec ífico;
co; como
com o a magia nas técnicas
técnicas primitivas, como
com o
razão
mamoscientífica da tecnociência
um ecossistema tecnoccomplexo
iência moderna, e hoje,
com nossoshoje,objetos
a cibercultura. For-
técnicos. A
forma técnica transforma
transforma a vida,vida, ao mesmo
mesmo tempo em que é perma-
nentemente transformada por ela. ela. A cibercultura faz faz parte desse mo-
vimento de vaievem entre formas e conteúdo. Próximo Próxim o das teses de
Simmel e Stiegler,
Stiegler, Simondon
S imondon afirmaa firma que os objetos técnicos têm um um
modo
mo do de existência
ex istência que lhe são próprios. próprios.
Tentamos mostrarmo strar ao longo desse livro livro que a cibercultura
cibercu ltura tenta
reverter,
revert er, como uma revoltarevo lta da vidavida sob uma forma estagnada, a lógica
mortífera da padronização tecnológica. Esta é mesmo a “situação 
 pro
 pr o b le
lemm á tic
ti c a , tã
tãoo ca
cara
racc te
terí
ríst
stic
icaa do h o m e m m o d e r n o ”666, já que,
que, du-
rante a modernidade, vivemos uma espécie de “au auto-g
to-gozoozo d a técnica, 
da
tendo perd
pe rdido
ido o ccam
aminho
inho que leva aos su
suje
jeito
ito s”
s”6
669.
A cibercultura tem mostrado mostrado que a oposição entre entre a cultura e a
tecnologia não é mais sustentável.
sustentável. Esta oposição é o resultado de uma
 pee rs
 p rspp ecti
ec tivv a e rr
rrôô n e a que
qu e con
co n sist
si stee em sep
se p a rar
ra r e red
re d u z ir p a ra c o m p re
re--
ender.. É esta
ender e sta oposição que qu e nos priva de umaum a compreensã
comp reensãoo de todas as
facetas complexas da tecnologia contemporânea. Assim, este corte
reduz a complexidade
com plexidade do fenômeno, col
colocandoo
ocandoo como um universo
universo
isolado, como se as realizações tecnológicas tivessem
tivessem uma
um a dinâmica

284
284  CIBERCU
CIBERCULTUR
LTURA,
A, TECNOLOGIA E VIDA
VIDA SOCIA
SOCIALL N A CULTURA CO NTEM PORÂ NEA •
 

 poposição
 pró
rópp ri
riaa e permitiu
ind
in d e p end
en d ae nidentificaç
te das
da s icação
identif outr
ou tras
as da
ão e sfer
sftecnologia
eraa s d a a tiv
ti vcomo
ida
id a d e ohum
huinimigo
m ana.
an a. Enú-
sta
st a
mero
me ro um,
um , a enca
e ncarnaç
rnação ão radical
rad ical do racionalism
rac ionalismoo mod m odern
erno6o6770.
Podemos partir da hipótese de que a atividade tecnológica é
fruto da cultura
c ultura e, enquanto tal, tal, procura m anter sua estabilidade em
suas formas próprias, ficando assim vulneráveis às ações da vida. Se
retirarmos a tecnologia do campo da cultura, cultura, como sinalizou S Simondon,
imondon,
então não poderem
pode remos os mais ver as as ações da vida, mas apenas um siste-
m a técnico, isolante e homogeneizante.
hom ogeneizante. Aliás, as correntes da crítica
da tecnologia
tecnolog ia contemporânea,
contempo rânea, de Platão Platão à Heidegger, sendo atualiza-atu aliza-
da hoje com Virilio,
Virilio, Baudrillard e outros neosituacionistas, têm insis-
tido nesta
ne sta visão que nãon ão vê o mundo
mun do da vida67
vida671. Po Porém
rém o que
q ue falta
fa lta a
esta corrente
corren te “crítica” é a consideração de vida soci social.
al.
A dinâmica da sociedade contemporânea nos obriga a buscar
outras perspectivas
perspectivas para pensarmos o fenôm fenômeno eno tecnológico contem-
 porâ
 po râne
neo.
o. A vid
v idaa vem
ve m sem
se m pre
pr e luta
lu tarr cont
co ntra
ra a crist
cr istal
aliz
izaç
ação
ão mmor
orta
tall e mo
moral
ral
das formas, contra
con tra as fortalezas
fortalezas solidamente organizadas. A tecnologia
não é, e achar
tentado nun ca
nunca
acha foi,
foia, passagem
r um
uma imune à desorganizações
pequena, um defeito da vida. Esta estápara
minúsculo, sem
semprepre
po-
der expandirse. É aqui que o cyberpunk ultrapassa u ltrapassa o cybemanthrope.
A cibercultura
cibercu ltura é um exemplo forte dessa vida social que se quer
 pre
 p ress e n te e que
q ue ten
te n ta ro
r o m p e r e de
d e sorg
so rgan
aniz
izaa r o ddee sert
se rtoo rraa c ion
io n a l, o b jeti
je ti-
-
vo e frio
frio da tecnologia
tecnolog ia moderna. É necessário assim, estarmos estarmo s atentos
 paa ra não
 p nã o suc
su c u m b ir a um acad
ac adem emicicis
ismm o p e ssim
ss imis ista
ta q u e isois o la o u a um
otimism
otim ismoo histérico que só vê maravilhas.
maravilhas.••

• ANDRÉ LE
LEMOS   28
MOS 285
5
 

Notas
206 Breton,.
Breto n,. P.P. Une Histoire de LT LTnformatique.
nformatique. Paris,
P aris, Seuil, 19
1990
90..
207 Ver Bateson, G. Mente e Natureza. RJ, Francisco Alves, 1986.
208 Breton,
B reton, P.P. Un
Unee Hist
H istoi
oire
re...,
..., op.cit.
op.cit. p. 155.1
155.19. 9.
209 Wiener, N. Cibernética e Sociedade. O uso humano dos seres humanos. SP,
Cultrix. 1973.
210 Press, L. Before the Altair: The History of Personal Computing, in
Communic
Com munications
ations ooff AT
ATM,M, vol. 36, n.9, set.set. 1993
1993.. pp.. 28.
211 Press, L. op.cit. p. 29.
212 Pare foi realmente o berço tecnológico da cibercultura. Foi ali que Steve Jobs
apropriouse das inovações das interfaces gráficas e fez o Macinstosh. Anos depois foi a
vez de Bill Gates, apropriarse das idéias de Apple e criar o Windows.
213 Breton,
Breton, P. Une Histo
Histoire...,
ire..., op.citp.233.
214 Ver Levy
Levy,, S. Hackers,
Hackers , Her
Heroes
oes o f the Computers
Computer s Revolution. NY. NY. Anchor
Anch or Press, 1984
1984..
215 Breton, P. P. Une HiHisto
stoire
ire...,
..., op.cit. p.223.
216 Chalas, Y.; Torgue, H. L'immaginaire Technique Ordinaire. in Traverses, Pa-
ris, CGP. n. 26. p. 116.
217 Chalas,Y. Torgue,H. op.cit. p.117.
218 Guillaume, M. Téléspectres. in Traverses, Paris, CGP. CGP. nn.. 26, oct, 1982
1982
219 Guillaume, M. Téléspectres. op.cit. p.23.
220 Guillaume, M. op.cit. p. 21.
221 Guillaume, M. op.cit. p. 23.
222 A apropriação de sinais e códigos eletrônicos é semelhante ao fenômeno de
 pichaç
 pic hação
ão e grafite
graf ites,
s, ana
analis
lisado
adoss p or Baudrill
Bau drillard.
ard. Os dois
doi s são fenôm
fen ômeno
enoss urbano
urb anoss e margi
ma rgi-
-
nais que lutam contra a anomia, buscando uma pseudoidentidade pelo reconhecimento de
um título totêmico. A racionalidade tecnológica, presente nas novas tecnologias de comu-
nicação,
nicação, é desviada pela subvers
subversãoão de códigos
códigos programados
programados como sendo uma
um a sub cultu
cu ltura.
ra.
223 Guillaume, M. op.cit. p. 24.
224 Press, L. Before the Altair... op.cit.. p.29.
225 Proulx, S. La Pro Promotion
motion Sociale
Sociale de Ia Culture Inform atiq ue.
ue.,, iin
n Culture
Technique, n°21, Paris, CRTC, p.227, 1990.
226 Miguel, C. op.cit. p.45
227 Walker, J. Through the Looking Glass. Autodesk, internai paper, 1988, p.6.
228 Ver Lau
Laurel,
rel, Brenda,
Br enda, Comp
Co mputer
uter as Theather. NY. AddisonWesley.
AddisonWesley . 1993.
1993. pp.. 1.

um papel229 Os vez
cada jogos
maiseletrônicos
marcantesãona ovida
emblema
social: de
social: uma sociedade
simulação onde adesimulação
de máquinas tem
guerra, simu-
sim u-
lação da economia, dad a medicina
m edicina,, dos fenômenos ffs
ffsicoq
icoquími
uímicos,
cos, etc. A primeira experiên-
cia para exibir imagens animadas com possibilidade de interação em tempo real surge em
1962, com o estudante Steve Russell e seu “Space Invaders”. Em 1971, a invenção do
microprocessador permite a Nolan Bushnell, da universidade de Utah, fazer‘uma versão
286   | CIBERC
CIBERCULTURA,
ULTURA, TECNOLOG IA E VIDA SOCIA
SOCIALL N A CULTUR A CONTEM POR ÂNEA •
 

 pa ra o g
gra
rand
nd e pú
públblic
icoo do “Sp
“Spacacee In
Invad
vaders
ers”,
”, cr
crian
iando
do o “C om pu pute
terr Sp
Spac
ace”
e” . A p par
arti
tirr dos
do s an
anos
os
80, os jog os intera
interativos
tivos ganham uma nova explosão com os com putadores pessoai pessoais, s, e com
formas de distribuição em rede através de BBSs e da internet. Em pesquisas com jogos
 para
 pa ra cr
crian
iança
ças,
s, co
com m o o s tra
traba
balho
lhoss d e S. T
Tur
urkl
klee e S. Pa
Paper
pert,
t, ten
tenta
tase
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ostra
trarr ccom
om o o s jojoggos
 pode
 po demm sim ul
ularar proc
pr oces
esso
soss ric
ricos
os pa
para
ra as ativid
at ividad
ades
es co
cogn
gniti
itiva
vass (p
(penensam
sam en
ento
to,, memó
me mória, ria, de
deci-
ci-
sões, aprendizado). Os jogos eletrônicos marcam o conflito entre uma sociedade do im-
 press
 pr esso.
o. In
Insta
stala
las
see um co conf
nflit
litoo en
entre
tre ge
gera
raçõções
es,, co
conf
nflit
lito
o este
es te q ue pr prod
od uz a sepa
se pararaçã
çãoo e o
estranhamento.
230 Clark, H.H et Brennan, S.E. S.E. Grounding in Com munication, in Resnick, L.B.
Levine, J, Beherend, S.
S.D.
D. Sociall
Socially
y Shar
Shared
ed Cog nitio n, American Psychologi
Psychological
cal Associat
Association,
ion,
1990, citado po
porr Laurel, B. op.cit.
231 Laurel, Brenda, op.cit. p. 4.
232 Ver Lauiel, Brenda,
Bren da, op.cit. p. 10.
233 Laurel, Brenda, op.cit. p. 127.
234 Laurel, Brenda, op.cit. p. 131.
233 Embora saibamos que os automóveis estão caminhando para se tornarem ver-
dadeiras mãquinas de comunicar, tomamos esse exemplo partindo do estado ainda atual,
onde os carros são preenchidos de pequenas máquinas digitais,
digitais, mas a interatividade com a
máquina, embora ajudada pela microeletrônica, é ainda de tipo analógicomecânico. So-

 bre o po
pote
tenc
ncial
ial d a mi
micr
croe
oelet
letrôn
rônica
ica nos au
autom
tomóv
óveis
eis ve
verr A
Albe
lberga
rganti
nti,, M. L’Ord
L’Ordin
inat
ateu
eurr e t les
satellites localisent les taxis parisiens. in Le Monde, 11/12/96, p.21.
236 Simmel é um dos primeiros sociólogos a tratar da interação social. Ele designa a
interação social como “Wechselwirkung”. Para Simmel, é a interação entre os indivíduos e
grupos que
qu e fu
fund
ndaa a socieda
sociedade.
de. Ver Simmel
Simmel,, G. Sociologie et épistémolog
épistémologie.
ie. Paris,
Pari s, P.U
P.U.P
.P.. 19
1981
81..
237 Iliich, I. La Convivialité. op.cit. p.43.
238 Negroponte, N. L’Homme Numérique, op.cit.
239 Sobre o zapping, Mercier mostra como, mesmo instituindo uma certa autono-
mia do telespectador (em relação à publicidade, por exemplo), o controle remoto faz com
que o telespectador fique ainda mais preso à TV. Podemos assistir TV e lavar pratos, por
exemplo. No entanto, para zappear, devemos estar eem m frent
frentee a TV
TV,, vendo ex
exatamente
atamente o qu
quee
zappeamos. Ver Mercier, P.A. Zapping: Le temps d’un regard. in Autrement, Technologies
du Quotidien, la Complainte du Progrès. Paris, 1992.
240 Sobre
So bre a televisão digital e interati
interativa
va ver Cohen, E. TVTV:: les enjeux écono
économique
mique
des nouvelles technologies. in Reinventing Television. Volume 1, Paris, Association
Télévision et Culture, 1995.
241
241 Ambas são emissões da Rede Globo de Televi
Televisão.
são. Em “Voc
“Vocêê Decide”, o eespec-
spec-
tador pode decidir, pelo voto por telefone, o final da história. Aqui a escolha se limita a
duas possibilidades
possibilidades de desf
desfecho
echo do dr
drama.
ama. Já em “Intercine”, os espectadores podem
escolher o filme que passará no dia seguint
seguinte,
e, escolhendo (também por telefone) a ppartir
artir de
três opções propostas pela emissora.
242 Nora, D. Les Conq
Conquérants
uérants du Cyberm
Cybermonde.
onde. Paris, CalmannL
CalmannLévy,
évy, 19
1995
95.. p.429.
p.429.
243 Nas novas formas de interatividade digital, como o ciberespaço e a realidade
virtual
virtual,, ex
existem
istem três formas d
dee ação: a imersão (se sentir dentro), a ruptura (desligamento
temporário da realidade ambiente) e ação/navegação (ou “agency”), que é a forma de
interagir com as informações. Sobre a realidade virtual, ver Rheingold, H. Virtual Reality.
Londres, Secker & Warburg, 1991.
1991.••

• ANDRÉ LEMOS   257


LEMOS
 

244 Manzine,
Ma nzine, E. A rtefacts. Ver
Verss une Ecologie de L’
L’environn
environnemen
ementt Artificiei.. Paris,
CGP, 1991.
245 Couchot,
Co uchot, E. La Synth
Synthèse
èse Numérique de L’L’Image:
Image: Ver
Verss un Nouvel O rdre Visue
Visuel,
l,
in Traverse, n.26, Les Réthoriques de la Technologie. Paris, CGP, 1982.
246 O projeto “Thin
“Things
gs that Thinks” do M.I
M.I.T.
.T. é, nesse sentid
sentido,
o, exemplar. Ver Hapgood,
F. The Media Lab at 10. in Wired, n. 3.11, novembro 1995, p.142. e a entrevista com N.
 Negrop
 Neg roponte
onte in Bass, T. A. Bein
BeinggN
Nicholas
icholas.. in Wire
Wired,
d, n. 3.11
3.11,, nove
novembro
mbro 1995, p.146.
247 Manzine, E. op.cit. p.193.
248 Heim, M. The Metaphysics of Virtual Reality. N.Y. Oxford University Press,
1993, p.78.
249 In cité par Rheingold, H. The Virtual Communities. op.cit. p. 191.
250 Negroponte, N. op.cit. p.226.
251 Castells, M. op.cit.
252 Barlow, J.P. Electronic Frontier. The Great Work. in Communications of the
ATM, vovol.
l. 35, jan.
ja n. 199
1992,
2, p.25
p.25..
253 Barlow, J.P. op.cit. p.26.
254 Os pioneiros da internet são Vincent Cerf, Charlie Herzfeld, chefe do escritó-
rio executivo do DARPA; Larry Roberts, que abre caminho para o processamento de dados

em rede no Lincol
Lincoln
n Laboratory do MIT; Wes.Clark que criou o proc processado
essadorr de mensa-
gens; Roger Scantlebury,
Scantlebury, ing
inglês
lês que também
tambémtrabalhou
trabalhou nas redes de computador; Bob Kahn
Kahn,,
teórico das redes; Dave Walden (o programador), Severo Ornstein, gênio dos hardware e
que criou mais tarde o CPSR
CP SR  Computer Pr Profissiona
ofissionais
is for Soci
Social
al R
Responsability
esponsability e Ben
Barker (designer de hardware).
255 Len Kleinrock
K leinrock coordena o projeto e controla o fluxo de pacotes de dados. Doug
Engelbart, conhecido
con hecido como
com o o inventor do mouse, trabalha no segundo ponto da rede
r ede no SRI
International em Menlo Park, Califórnia e põe em marcha o Information Network Center.
Roland Bryan cria o terceiro ponto na Univeris
Univerisdade
dade da Califórnia em Santa Barbara. Post
Postei
ei
escreve o prim eiro programa Telnet e C erf e Kahns desenvolvem
desenvolvem o protocolo TCP
TCP/IP
/IP..
256 Sobre a Internet 2 veja o site da Rede Nacional de Pesquisa (RNP) em
www.mp.gov.br 
257 LaQuey, T.T. The Internet Compani
Companion:
on: A B
Beginn
eginner's
er's Guide to Global Networking.
 NY, Ad
Addison
disonWe
Wesley
sley.. 1993. p
p.27.
.27.
258 No evento Mediamatik, em agosto de 1992 em Amsterdã, Holanda. Gravado
 pelo
 pel o autor.
259 De Kerkhove, Derrick. TV Hates Interactivity. in Reinventing Television, Vo-
lume 1. Association Télévision et Culture, Paris, 1995. p. 68.
260 Poderiamos dizer que um livro como “Jogos de Am Amarelinha”,
arelinha”, de Cortázar
Cortázar,, ou
“Se um viajante numa noite de inverno” de Calvino, são interativos. A interatividade aqui
é subjetiva e individualizada, referindose à conexões a nossa memória literária, a nossa
capacidade de im aginar e penetrar no universo do au
autor
tor,, de buscar as referências dos pés de
 pá ginaa e d
 págin das
as not
notas
as d o ttra
radu
duto
torr que nos rem
remetem
etem de um tex
texto
to a out
outro,
ro, etc. O m es
esmo
mo ac
acon
onte-
te-
ce com um hipertexto. A diferença, entre os hipertextos digitais e o livro impresso, situase
na possibilidade imediata e concreta, fornecida
fornecida pela tecnologia digital,
digital, de passar de con
cone-
e-
xão em conexão em tempo real, sem deslocamento físico. Nesse sentido, em um hipertexto
as obras de Calvino e de Cortázar poderíam estar, por exemplo, num mesmo documento
“HTML”, acessível imediatamente através de “links”.

288  CIBE
CIBERCUL
RCULTURA
TURA,, TECNOLOGIA E VIDA SOCIAL
SOCIAL NA CULTURA CO NTEM PORÂ NEA •
 

261 Para Colombo, “from a technically strict point of view,


261 view, the notion o f hypertext
refers to a type o f software and the cont
contents
ents in a rational and non sequentia
sequentiall manner and
the forms o f access to them”. in Colombo, F F.. Hypertext. in Oltre il Villagio Globale, EElecta,
lecta,
Milão, 1993.
262 Shi, Susan. Electronic B oo ks ., iinn aXcess, n°3, v.2
v.2,, p.92.
263 Bush,
Bu sh, V
V.. As We May Think, in Atlantic, Aug August,
ust, 1945.
1945.
264 Sobre
So bre a história dos hipertextos ver Lauffer
Lauffer,, R.; Scavetta, D. Texte, Hypertexte,
Hypermédia. Paris, PUF, 1992.
263 A informat
informatização
ização ganh
ganhou
ou toda a cadeia de informação dos jornais,
jorna is, d
daa televisão,
do rádio e das revistas (redação, transmissão por rede, organização dos artigos, fotos e publi-
cidade, design gráfico). Os recursos do hipertexto atraíram empresas jornalísticas. Os jor-
nais, por exemplo, em suas versões eletrônicas na internet, passaram a incorporar a não
linearidade. Num primeiro momento eles migram para a internet sob o modelo transpositivo.
(simples transcrição eletrônica dos cadernos). O novo formato (hipertextual) exige adapta-
ções. Um jorn
jornal
al na Web tem que oferecer links, propondo leituras nãolineares, tornar dispo-
dispo -
nível arquivos, estimular a participação do público, embutir recursos multimídia, etc.
266 Wooley,
Wooley, B. Vi Virtua
rtuall Wor
Worlds.
lds. A Joum ey in Hype and Hyperreality, Penguin

Books, 1992.
267 Ver De Rosnay, J. L'Homme Symbiotique. Paris, Fayard, 1995.
268 Wooley, B. op.cit. p. 165.
269 Rosello, Mireille. The Screener’s Maps... op.cit. p. 123.
270 Land
Landow,
ow, George. Hypert
Hypertext.
ext. The Con vergence of Contemporary Criticai Theory
and Technology. The John Hopkins University Press. 1992
1992
271 Podemos pensar os links enquanto “um deslize entre produções diferentes
que, mesmo conservando as diferenças, proporciona pontos de encontro entre as mesmas
que diluem a nitidez das fronteiras”. Assim, tratase de uma “brisura” (do francês brisure)
que coloca o que é interior ou exterior à escritura entre parênteses
parênteses,, intensificando
intensificando o diálogo
entre textualidades. Ver Ribeiro e Jucá: A experiência da hipertextualidade e suas inver-
sões. In Lemos, A. A Página dos Hipertextos, in www.facom.ufba.br/hipertexto
www.facom.ufba.br/hipertexto..
272 Ver Landow, op. cit.
273 Para Derrida, “A época do logos, portanto, rebaixa a escritura, pensada como
mediação da mediação e queda na exterioridade do sentido. Pertencería a esta época a
diferença entre significado e significante, ou pelo menos o estranho desvio de seu
‘parale
paralelism
lismo’,
o’, e sua mútua exterioridade, por extenuada que sej
seja.
a. Esta
E sta pertença organizou
se e hierarquizouse numa história. A diferença entre significado e significante pertence de
maneira profunda e implícita à totalidade da grande época abrangida pela história da
metafísica..”, in Derrida, J. De La Grammatologie. Paris, Minuit, 1967
274 Landow, G. Hypertext. The Convergence... op.cit.. p.2.
275 Landow, G. Hypertext. The Convergence... op.cit. p.63.
276 Ver De Certeau, M. A Invenção do Quotidiano. Artes de fazer. Petrópolis,
Vozes, 1996, principalmente o capítulo VII.
277 Rosello, M. op.cit. p.134.
278 Estas reflexões fazem parte do artigo “A copacabana de Fausto Fawcett”, es-
crito em parceria com Simone Pereira de Sá.
279 Gibson, W. Neuromancien, op.cit. p.64
280 Gibson, W. op. cit.•
cit. •

EMOS   28
• ANDRÉ LEMOS 289
9
 

281 Sobre a Matrix, nome dado ao ciberespaço, ver Quaterman, J.S. The Matrix.
Computer NetWork and Conferencing Systems Worldwide. Digital Press, 1990.
282 Sobre a visão erótica do ciber
ciberespaço
espaço,, ver Hei
Heim,
m, M. The M etaphysics o f Vir
Virtu-
tu-
al Reality. op.cit.
283 Kellogg, W; Carroll, J.M.; Richards, J.T. Making Reality a Cyberspace. in,
Benedikt, M. “Cyberspace. First Steps”. op.cit.
284 BBS (Bulletin Board Systems), MUDS (Multi Users Dungeons), Minitel (sis-
tema videotexto francês). Sobre o Minitel ver Lemos, A. The Labyrinth of Minitel. in
Shields, R. (ed). “Cultures of Internet". Sage, Londres, 1996.
285 Ted Nelson é também o mentor do projeto Xanadu. Sobre esse projeto ver
Wolf, Gary. “T
“T he Cu
Curse
rse o
off Xan
Xanadu”
adu” , in Wired, 3.06, ju
juin
in 199
1995,
5, p. 13
137.
7.
286 Todo o desenvolvimento da m microi
icroinformátic
nformáticaa é ligado a ess
essaa “sopa cultural”.
Os micro computado
computadores,
res, a rede internet e a explosão do Web não são diretivas tec
tecnocráticas
nocráticas
de nenhuma instituição. Essa relação, entre a técnica e o social, sem que nenhum dos dois
tenha a cchave
have da equação, é que caracteriza a cibercultura.
287 Bolle de Bal mostra como a modernidade é marcada pela separação. A “tenta-

ção comunitária” leva a uma nova forma de relação que ele chama de “reliance”. Sobre a
"reliance” comunitária ver Bolle de Bal, M. La Tentation Communautaire. Les Paradoxes
de la Reliance et de Ia ContreCu
ContreCulture.
lture. Université de Bruxelles, Bruxelas, 19 1985
85..
288 Virilio, P.
P. Es
Esthéti
thétique
que de la Dispar
Disparition.
ition. P
Paris,
aris, Gali
Galilée,
lée, 19
1989
89..
289 Ver Zorach, R. New Medieval Aesthetic, in Wired, n° 2.01, p. 48. Ela analisa
a cultura do monastério e a estética dos manuscritos medievais como uma rede de “comu-
nidades de almas”.
290 Ver Davis, E. Techgnosis: Magic, Memory, and the Angels of Information, in Dery,
M. Flame Wars. The
Th e Discourse of
o f Cy
Cybercultu
berculture.
re. The South Atlantic Quarterly 92:4, fali 19
1993
93..
291 Ve
291 Verr Davis, Erik. Techgnosis... op. cit. p. 593.
292 Os cypherpunks são ativistas que lutam pela privaci
privacidade
dade na troca de informa-
ções eletrônicas.
eletrônicas. Sob
Sobre
re os cypherpunks ver L
Lev
evy,
y, S. Cryptorebels,
Cryptorebels, in Wired, 1.2 .; Lemos
Lemos,,
A. Technorebels, in Citizen K, Paris, dec, 19
1995
95 e Lemos, A. Ciberrebelde
Ciberrebeldes,
s, in A TARDE,
Salvador, 08/05/96.
293 Ver McLuhan, M. La Galaxie Gut Gutenberg.
enberg. op
op.cit.
.cit. A representação de um espa-
ço mágico, pleno de conexões e de estrutur
estruturas
as multi dimensiona
dimensionais is é a forma de estruturação
do ciberespaço. Como dizia Aggripa no seu De Occulta Philosophia,
Philosophia, existem três tipos de
magia: uma magia natural (manipuladora das forcas da natureza), uma magia matemática
(influenciada
(influenciada pela filosofia mística de Pitág
Pitágoras)
oras) e uma magia teológica (relativa à comu-
nicação angélica). Essa comunicação angélica se atualiza hoje com a disseminação de
agentes eletrônicos.' Os agentes são próximos da magia teológica de Aggripa.
294 Mauss e Ellul mostram como a magia é uma das primeiras expressões da técnica
humana. Ve
Ver. Mauss, M. Sociolog
Sociologie
ie et Anthropo
Anthropologie
logie.. op.cit et Ellul, J. A T
Téc
écnic
nica.,
a., op.cit
op.cit..
295 Ver Marshall, J. Zippies, in Wired, 2.05, maio 1994; The Roots of Techno, in
Mondo 2000, n° 2.07, Davis, E. Technopagans, in Wired, 3.07, julho, 1995 e Lemos, A.
Ciberrebeldes, op.cit..
296 Citado
C itado po
porr Davis, E. op.ci
op.cit.
t. p.180
p.180..
297 Sobre
Sob re a compressão espaçot
espaçotemporal
emporal ver Harve
Harvey,
y, D. Condição PósModem
PósModema.
a.
SP, Loyola, 1993.
298 Sobre o ciberespaço como rito de passagem, ver Tomas, D. Old Rituais for 

 
290 |CIBE
CIBERCUL
RCULTURA
TURA,, TECNOLOG IA E VIDA SOCIAL
SOCIAL N A CULTURA CO NTEM PORÂ NEA •

 N ew Sp
 New Spac
aces.
es. R ite
itess de P
Pass
assag
agee an
andd Willia
WilliammG
Gib
ibso
son’s
n’s Mo
Modedell ooff Cy
Cybe
bersp
rspac
ace.
e. in
in B
Ben
ened
edik
ikt,t, M.
op.cit.
299 Benedikt,
Ben edikt, M. Cyberspace. Some Proposal
Proposals.s. in Benedikt, M. (ed). Cyberspace;
First Steps. op.cit. p. 35.
300 Ver Eliade M. Le Sacré et le Profane. Paris, Gallimard, 1965.
301 Nesse
N esse sentido não é de se espantar que J.P.Bar
J.P.Barlow
low da E
EFF
FF identifique o espaço
da “vida
“v ida real
real”” com
comoo um “meat space”,
space”, ou “espaço da carne”, em oposição ao ciberespaço.
ciberespaço.
302 Ver Eliade, M. Mito e Realidade, SP, Perspectiva. 1977.
303 Theillard de Chardin, P. Le Phénomène Humain. Paris, Seuil, 1955.
304 Theillard de Chardin, op.cit. p. 179.
305 Idem.
306 Lévy, P. LTntelligence Collective... op.cit.
307 Lévy, P. op.cit, p. 29
308 De Rosnay insiste, talvez de forma exagerada, na transposição biológica para
a estrutura do ciberespaço. No entanto, a noção de organismo “auto-organizante” parece

ser pertinente.
309 DeVer De Rosnay,
Rosnay, J. L’Homme
op.cit. p. 315. Symbiotique. op.cit.
310 0 cyberpunk R. U. Sir Sirius
ius,, editor da revis
revista
ta califomiana
califomiana “Mondo 2000”, afirma que
somos “cyborgs”:
“cyborgs” : lentes de contato, marcapass
marcapassos,os, drogas sintética
sintéticas,
s, engenharia genética. Sobre a
 perspectiva do “cyborg” como fusão entre o natura
naturall e o artificial
artificial ver Harawa
Haraway,
y, D. A Manifesto for
Cybotgs: Science, Technology, and Socialist Feminism in the 1980s. in Socialist Review, 1985.
311 Deleuze, G.; Guattari, F. Mille Plateaux. op.cit..
312 Sobre
So bre as comunida
comunidadesdes virtuais ver Lemos, A. Les Comunau Com unautés
tés Virtuelles. op.ci
op.cit.
t.
313 Ver Agamben, G. La Communauté qui Vient. Essais sur la Singularité
Quelconque. Paris, Seuil, 1990.
314 Michel Serres em entrevista ao programa La Marche du Siècle, France 3,
Paris, 1995, gravado pelo autor.
315 Sobre a idéia de rede ver Musso, P. Télécommunications et Philosophie des
Réseaux. La Postérité Paradoxale de Saint-Simon. Paris, PUF, 1997.
316 Guattari
Guattari,, F F.. Pour Une Ethiq
Ethique
ue Des M éd ias., iinn Le M on d e, 06 novembre
1991, p.2.
317 Naisbit
N aisbitt,
t, John. HHigh
igh Te
Tech
ch High Touc
Touch.h. Technology and ou ourr search o f meani
meaning.
ng.
 NY.. Br
 NY Broad
oadwawayy Boo
Books,
ks, 199
1999.
9.
318 Poem
P oemaa tirado
tirado da Usenet em 19 1993
93..
319 “é necessário entender que nós estamos vivendo uma revolução violent violenta.
a. O
 plane
 pla neta
ta intei
int eiro
ro é tra
transf
nsfor
orma
mado
do comp
co mplet
letam
amen
ente
te pela
pe la rea
realid
lidade
ade da tecno
tec nolog
logia.
ia. É ne
nece
cessá
ssário
rio
 po r algum
 por alg umas
as bas
bases
es ide
ideoló
ológic
gicas,
as, cria
criativa
tivas,s, bas
bases
es inte
interati
rativa
vass e filo
filosóf
sófica
icass qu
quee per
permi
mitem
tem as
 pess
 pe ssoa
oass ne
nele
le se pl
plug
ugar
ar (...) a natur
na turez
ezaa da músic
mú sicaa vai mudar. A mú músic
sicaa do fut
futuro
uro não
nã o será
um disco difundido aqui e lá. lá. Haverá alguém em Zâmbia, alguém na A Argentina,
rgentina, alguém na
Escócia e você, desde Berlim,
B erlim, entrará em comunicção
com unicção com eles, na rede, em tempo real. A
música será interativa, imediata... É o fim da revolução industrial e o começo da revolução
interativa”. Peter Rubin, artista multimídia, gravado pelo autor.
320 Como
Com o mostra Simmel
Simmel,, “ la qquest
uestion
ion sociale est non seulement question d ’éthique
mais d ’esthé
esthétique”.
tique”. in Simmel, G. G. La Tragédie de la Culture. op.cit. p.133.
321 Simmel, G. La Tr Trag
agédédie
ie...,
..., op.cit. p. 16
163.
3.
322 Simmel, G. La Trag Tr agédédie...,
ie..., op.cit.
op.cit. p.
p.164.
164.••

 
• ANDRÉ LE
LEMOS   29
MOS  /
323 Capio, James. Bad Attitude:
Attitude: Business as Usual on the Info ba hn . in
in Wired,
Wired,
n°2.06, juin 1994, p.71.
324 Bolle de Bal, Marcei. La Tentation
Tentation Communautaire.
Comm unautaire. op.cit.
325 Bolle de Bal não vê, entretanto, o potencial agregador das novas tecnologias.

Para ele tecnologia é um fator de isola isolamento,


mento, criando uma'estrutura de confiança mera-
mente artificial.
artificial. Como explica Bolle de Bal, a televisão televisão é o instrumento de uma confianconfiançaça
 para
 pa rado
doxa
xall p or
orqu
quee sep
s epara
ara,, ato
a tomi
miza
za e desint
des integ
egra,
ra, e o mesm
me smo o pode
po dería
ría se r dito
dit o do
d o comp
co mputa
utadodor:
r:
“il favorise Ia communication fonctionnelle (...) au détriment de la communication
existentielle (parler des choses
chos es et d ’autres en soi), alors que celleci es t Ia plus signifiante
sign ifiante
en matière de reliance”Bolle de Bal, M. op.cit. p. 120.
326 Bolle de Bal, M. op.cit. p. 173
327 Bolle de Bal, M. op.cit. p. 141.
328 Maffesoli,
M affesoli, M. Le Temps des T rib us ..., op.cit. p.195. p.195.
329 Maffesoli, M. idem. p. 206.
330 Maffesoli, M. idem. p. 207.
331 Simmel, G. La Tragédie... op.cit. p.161.
332 "Since that, my attitudes to other peoples, races and religions changed,
since 1 had more cha nce s to to talk
talk with othe r peoples aroun d the wo rld. When first
exchanging mail with people from Yellowknife, Yukon, I had a real strange feeling :
getting message and chatting with people that far from from me. I noticed around me that a
lot of people have opinion s and positions about politics politics that are for them selves, w ithout
ithout
knowing oth ers” . Ou *‘O f course, com putermed iated social interaction is not properly
a crutch to substitute for face toface encounters,
encounters, but the ability
ability to conv erse via keyboard
and modem with real people at the other end of the line has translated
translated into the reallife
ability for me to reach out to peo ple without the m ediating
ediating use o f a Compu
Computeter.
r. My life
life
has improved. I wo uldn’t trade my experience with the Net for anything ”.Ou ainda “I
have found friends on the Net. A lover. And two of the friends I met, also met online
and got married. I attended the wedding (in Califórnia). I met my fiancee 4 years ago
over the net. I was at Ohio State, and she was in in Princeton, and we started talking
about an article of hers I’d read in rec.games.fr. We got to talking, eventually met,
found we liked each othe r, and the rest is history.
history. We’ll be marrying soon.” Ver tam -
 bé m H au be n, M ic
 bém icha
ha el e t R on da . N et
etiz
izen
ens:
s: O n the
th e hist
hi sto
o ry an d Im pac
pa c t o f U
Use
sene
ne t and
an d the
th e
Internet, in <http://www.columbia.edu/~hauden/netbook 
< http://www.columbia.edu/~hauden/netbook 
333 Giddens, A. The Consequences of Modemity., op.cit.
334 Mair,
Mair, A. The new Communes. Get it To ge ther.
th er. In iiD,
D, mars 1994,
1994, p.17.
335 Marcus, Ton
Tony.
y. News From the the N e t. In iD, march 1994,
1994, p.29.
336 Rosanne Stone, A. Will the Real Body Please Stand Up?. in Benedikt, M.
Cyberspace. First Steps. op.cit. p. 85.
337 Rosanne Stone, A. op.cit. p. 86.
338 Rosanne Stone, A. op.cit. p. 88.
339 Godwin, Mike. Nine Principies
Principies for
for Making Virtu
Virtual
al Com munities
mun ities Wo rk, in
Wired, n°2.06, juin 1994, p.72.
340 Rheingold, Howard. The Virtual Community. op.cit. p.l.
341 Rheingold, H. The Virtual Community. op.cit. p. 5.
342 Sterling, Bruce. The Hacker
H acker Crackdown. Law and Disorder on the Electronic

Frontier., Viking, 1992. p.156.

292 | CIBERCULT
CIBERCULTURA,
URA, TECNOLOGIA E VIDA
VIDA SOC
SOCIAL
IAL NA CULTURA CONT EMPO RÂNE A •
 

343 A s minorias, como os hom


homossexuai
ossexuais,
s, tiram partido dessa possibilidade reliante
do ciberespaço. Há várias comunidades gays no ciberespaço como o Gay and Lesbians at
Microsoft (GLEAM
(GL EAM ) e Apple Lambda. Digi
Digital
tal Queers fo
foii fundad a em 19
1992
92:: “DQ ’s initi
initial
al

goal was to bring the gay rights movements into the digital age by applying the powerful
tools o f hightechno
hightechnology
logy to regional, St
Stat
ate,
e, and national grassroots orga
organizations”
nizations” . Os fóruns
são interessantes também para os jovens: “online interacti
interactions
ons gives teen a cha
chance
nce to unmask
themselves in a safe place, in a venue where individuais make themselves know by the
acuity o f their though and eexpressi
xpression,on, rather than by their phys
physical
ical appearence” . V
Ver
er Di-
gital Qu
Q u e e rs . In Wired. 1.04
1.04.. set
set/oct.
/oct. 199
1993,
3, p.30. e Silberman, Steve. We’re Teen, We’ We’re
re
Queer, and We’ve Got Em E m a il, in Wired, 2.11
2.11.. p.80.
344 Rheingold, H. idem. 10.
345 Saffo, Paul. Hot New Médium: T ex t., t. , in Wired, 1.
1.2.
2. p.48.
346 O smiley é uma espécie de corpo virtual, de duplo espectral do usuário.
347 Leslie, Jacques. Mail Bond Bonding.
ing. Email is Creating a New Oral Cu ltu re ., iin n
Wired, n° 2.03. mars 1994, p. 48.
348 Rheingold,
Rheingold, H. The VirtuahCo mm unity..., op.ci op.cit.
t.
349 FAQ para “frenquency asked questions” ou peiguntas frequentemente coloca-
das. Cada newsgroup produz sua FAQ.
350 Rheingold, H. H. The Virtual
Virtual Co
Comm mu
munity...,
nity..., op.
op.cit.
cit. p. 12
120
0121
121..
351 Powell, Thomas. Holy Wars on the El
Electronic
ectronic Fro
Front
ntie
ier.
r. In Axcess. n°3, v.2
v.2,, p.96.
p.96.
352 Dery, M. Flame Wars. The Discourse of Cyberculture. The South Atlantic
Quarterly. 92:4, fali, 1993. p. 561.
353 Godwin,
Godw in, Mike. ASCII is Too In tim ate.
at e. in Wired, n° 2.04, avril 199
1994,
4, p.69.
354 Há exemplos já clássicos de flames. Por exemplo, o newsgroup alt.pets foi
atacado pelo grupo alt.tasteless, como o nome indica, de conotação trash e anárquica. O
newsgroup alt.tastel
alt.tasteless
ess foi formado em 19 1990
90 e o alt.tast
alt.tasteless
eless é “ um gr grupo
upo devotad
devotado o ao
fenômeno da falta de bom gosto em todas as suas formas. Um lug lugarar para pessoas com um
doen tio senso de h umo r”. Ve Verr, Quittner, Josh. The War Between a lt.tasteless and
rec.pets.cats . In Wired. 1.04. set/oct. 1993, p.46.
355 Rheingold, H. The Virtual... op.cit. 139.
356 Dery,
Dery, M. Flame W ars ars.,
., In Der
Dery,
y, M. Flame War Wars.
s. o p .c it. , p.565
p.565..
357 Rheingold, H. The Virtual... op.cit. 132.
358 Em PEN exite um city hall, mais de 200 documentos de interesse público,
 polít
 po lítica
icass p
púb
úblic
licas.
as. Ela to
tomm av
ava
ase
se ass
assim
im um cent
ce ntro
ro ccom
om un
unitá
itário
rio (infor
(in formm ação
aç ão so
sobr
bree p
parq
arque
ues,
s,

serviços de recreação, art


arte,
e, cultur
cultura).
a). Disseminavas
Disseminavasee o serviço de em ail entre o
oss cidadãos
e os poderes públicos, fóruns e conferências, calendários de eventos, et etc..
c.. Hoje temos
exemplos como Balcksbourg, Digital City de Amsterdã, Bolonha, entre outras.
359 Turkle, S. Life on Screen. Identity in the age of the Internet. NY, Simon & 

Schuster. 1995.
360 Quittner,
Quittner, Josh. Why Playi
Playing
ng in MUD is Becoming the Addiction o f the ’’9
9 0 s .,
in Wired, n°2.02, march 1994, p.92.
361 Quittner, Josh. op.cit. p. 138.
362 Rheingold, H. The Virtual... op.cit. p.176.
363 Ver o site em www.icq.com
364 Reid, M. et E. Electropolis : Com
Communication
munication and Comm unity on Internet Rely
Chat, 1991. in <http://people.we.mediaone.net/elizrs/electropolis.html
< http://people.we.mediaone.net/elizrs/electropolis.html>.
>.••

• ANDRÉ LEMOS   29
LEMOS 293
3
 

365 Ver IRC Frequently Asked


A sked Question
Questionss (FAQ
(FAQ).). Helen Trill
Trillian
ian Ro
Rose
se at Th e Evil
Fascist IRC Admins From Hell, Inc ([email protected]
( [email protected]),), na Usenet.

366 Nestel, Philippe-Charles, Les Cafés Ele ctro niq ue s. in < http://www.univ-
 pari
 pa ris8
s8>>
367 Nestel, P-C. op.cit.
368 Sobre os cibercafés ver, <http://www.easynet.co.uk/pages/cafe/ccafe.html
< http://www.easynet.co.uk/pages/cafe/ccafe.html > ou
<http//www.easynet.co.uk/pages/cafe/ccafe.html
<http// www.easynet.co.uk/pages/cafe/ccafe.html> >
369 Ver <http://www.cybercafes.org
< http://www.cybercafes.org >
370 Idem.
371 Nestel, P-C. op.cit.
372 Rheingold, H. vitral reality, op. cit. p. 192.
373 Ver Merleau-Ponty,
Merleau-Ponty, M. Fenom
Fenomenologia
enologia da Percepção. SP. Ma Martins
rtins Fontes. 19
1994
94..
374 Krueger, M. Artficial Reality II. NY. Addison-Wesley. 1991.
375 Na origem do quadro temos duas opções: ou Van Gogh copiou um par de
sapatos reais ou a imagem de partida é purame
puramentente ment
mental.
al. N
Nos
os dois casos o quad ro será a
atualização de uma imagem virtual
virtual,, aquele que existe em potencial antes do aparecimento
no fenômeno (sua atualização). No primeiro caso, a pintura representa um par de sapatos
originais. No segundo, o par de sapatos é fruto da abstração imaginativa do pintor.
376 Berger, René. Le Virtue
Virtuell Jub ilatoire, Assomption ou Dissolution de la
Complexité. in Diogène, n°162, Avril-Jüin, Paris, Gallimard, 1993, p.7.
377 Berger, R. op.cit. p. 12.
378 Wooley, B. op.cit.
379 Weissbetg, J-L. op.cit. p.7.
380 Jacob, F.
F. Le Jeu du Po ssi
ssibl
ble.,
e., Paris, Fayard, 19
1981.
81. p.101.
381 Woolley, B. op.cit. p. 201.
382 Jacob, François. op.cit. p.12.
383 In mensa
mensagem
gem eletrôn
eletrônica
ica de 13-Jun
13-Jun-93
-93 08:29:26, #1211-Virtual Sex/Teledildonix,
Fm: Johnny Ha
Haeusle
euslerr 100042,560, To: Dennis Landi 75720,446, gravagravada
da da Usenet.
384 O erotismo sem pre foi um catalisador iimportante
mportante no surgimento de uma
um a nova
tecnologia como por exemplo as hot lines nos telefones, nos chats, nos sites pornográficos,
nas web-cams e em outras formas de sexo eletrônico.
eletrônico.
385 Aubron, Philippe.
P hilippe. Demain, le Cybersex . in Echo des Savanes. n°121, p.23.
386 Veja esse e-mail retirado de um dos grupos temáticos da Usenet sobre a visão
da RV. 1866 S13/Meet MONDOS 2000, 20-Jun-93 00:26:46, #1856-Cybergasm-
Teledildonix-N;
Teledildonix-N; Fm: Douglas W .... 75720,34
75720,3413;
13; To To:: H
Harold
arold W
W..
.... 71022,2233. “I guess if
 people
 peo ple wa
want
nt to ma
mastu
sturba
rbate
te with glo
gloves
ves on, th
thaa t't'ss ok
okay
ay for them
them.. 1 still thi
think
nk it will be a
while before VR tech gets to the point of being complex and subtle enough to stimulate
one’s erogenous zones with any degree of sensitivity or realism. Remember, sex is a two-
way Street, and even BAD sex has to have some sort of intrinsic mutual feedback; any VS
 progr
 pr ogram
am wo
would
uld hav
havee to nonott on
only
ly pr
provi
ovide
de sti
stimu
mulat
lation
ion,, b
but
ut aalso
lso re
respo
spond
nd to th
thee u se
ser’s
r’s ccues
ues o f
timing and arousal. Otherwise, it would be like hooking yourself up to a milking machine.
Could even
even be fatal
fatal...
...;; - Doug”
387 A palavra teledildonic foi forjada por Theodor Nelson (o inventor do termo
hipertexto e mentor do projeto Xanadu) em 19 1974
74 para descrever uma máquina inventada
 porr um ha
 po hack
cker
er de Sã
Sãoo Fra
Franci
ncisco
sco,, How Wach
Wachspre
spress.
ss. Es
Esta
ta má
máqu
quina
ina er
eraa ca
capa
pazz d e co
conv
nver
erter
ter
sons em sensações táteis. Desta forma, máqitlmwtetediWônieas são aquelas que podem

294   I CIBE
CIBERCUL
RCULTURA,
TURA, TECNOLOGIA E VIDA SOC
SOCIAL
IAL NA CULTURA CON TEM PORÂ NEA i
 

tmirmitir r rnnvrtrr iiwputsoirTWHlLuu on» üensaçõaa ■otpowiis. Hoje experiências com

teledildos
estéreo, são sensórias
luvas realizadase com
roupascapacetes
de dadoscom omtelas
ccom de cristal
sensores líquido
nas zonas 3D, fones pe
de erógenas, dermitin
ouvidc
permitindc
dc
a excitação sexual à distância, entre dois ou mais usuários em tempo real.
388 Veja essa mensagem da Usenet. 2680 S13/Meet MONDOS 2000; 28-Jun-93
00:08:45; #2599-Virtual Sex/Teledildonix; Fm: Daniel... 71773,3571; To: Rasafraples
71740,2265; “1 may think ccompusex/VRSEX
ompusex/VRSEX is ju just
st fine Is VRSex possible? Can you put
on a helmet and a  bod
 body
y su
suit
it and fell as thou
though
gh you araree hav
having se x? If so then I would
ing sex?
consider
cons ider having VRsex cheating on your mate. For VR seems as real as R. And An d 1 would
interpret having VRsex the same way as getting someone into the sac with you no strings

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