0 notas0% acharam este documento útil (0 voto) 449 visualizações12 páginasO Lirismo em Si Mesmo
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| Manuel BandeiraO lirismo em si mesmo:
leitura de “Poética” de
Manuel Bandeira
Vida e poesia: & escuta do outro
este poema, temos um registro fonogréfico, na vor
de Manuel Bandeira.
Ler um poema é colocar-se & escuta de um outro
ser humano, no apenas de uma voz. Quem dentre
nés péde ouvir Manuel Bandeira ler os seus poemas, sabe que ele
05 lia como se cada poema fosse nascendo ao pasar por sua voz!.
Ler deste modo, ouvindo internamente, modulando e mobili-
zando os ritmos do outro, é situar-se naquele plano em que vida,
fala e mundo se aproximam e se unificam. O poema, assim como
© pensar, pode ser compreendido, em sua origem primeira, a
partir das imagens da natalidade e do nascimento. Retomando
a questao da natureza humana, que est4 no centro do pensa-
mento de Santo Agostinho, Hannah Arendt lembra-nos, em A
condigiio humana, de nossa irteverstvel insetcio no tempo:
A Terra é a quintesséncia da condicéo humana, ¢, ao que
81sabemos, sua natureza pode ser singular no universo, a tinica
capaz, de oferecer aos seres humanos um habitat no qual eles
podem mover-se ¢ respinar sem esforgo nem artificio. O mundo
— artificio humano — separa a existincia de um ambiente
‘meramente animal: mas a vida, em si, permanece fora deste
mundo artificial e através da vida o homem permanece liga
do a todos os seres vivos3.
i nesse espago de vida que se forma a nossa experiénc
mundo e da linguagem. Na experiéncia de vida de cada um, con-
frontam-se e reduzem-se & unidade — ao seu intimo, dificil pro-
cesso de articulago — linguagem, sentimento, mundo. Acolher
a poesia é dar abrigo a esta voz, e a uma relacéo entre o Eu e 0
Mundo. Que voz € esta que nos fala com tanta intensidade?
Estou farto do
irismo comedido
Indicando os diferentes modos de elaboragao da experiéncia
na arte e no texto literdrio, um atento aos muiltiplos planos do real,
outro que tende a deformagao do real, Gilda e Antonio Candido
procuram ver o que dé unidade a textos de ritmos ¢ formas tao
diversos. E esbogam uma interpretagéo de Estrela da vida inteira',
caracterizando o Eu lirico desses poemas:
A nossa atengao & despertada inicialmente pela voz lirica
deste Ex, que, ao construir 0s poemas, nos acompanha a cada
passo, dando a cada verso o seu timbre e a sua vida’.
Os poemas de Manuel Bandeira trazem sinais dessa vor, |
que deveremos tentar distinguir ¢ caracterizar. Abre-se, a quem
os quiser ler e ouvir, a experiéncia de um conhecimento da
solidao e de uma possibilidade de comunhao; a cla, porém, s6
poderemos reconhecer ao nos colocarmos & escuta da expresséo
82
JORGE KOSHIVAMA’
poética ¢ tentarmos compreender nesta o desdobrar-se de uma
experiéncia, de uma reflexao e de uma confidéncia do poeta. De
imediato, do reconhecimento da “voz lirica’, voltamo-nos para a
necessidade de responder & questo: Quem é 0 poeta?
Leitura do poema
Poética, poesia, poema
O que faz de um poema um poema? O titulo do poema,
— “Poética” — estd carregado de miiltiplas determinagées. Um
grande professor, Flavio di Giorgi, lembrou certa vez, em aula,
que estudar a etimologia das palavras é buscar as miiltiplas raizes
da formagao do sentido. Poética, do grego poiein (Fazer, criar) é
“o estudo da criagio poética em si mesma”’, Poema, do grego
poiein (Fazer, criar, produzir), é, em grego, o que é ou foi criado
pela mao do homem, um termo equivalente a artefito, resultado
de arte, artesanato). O que se discute a partir do termo poética € |
uma reflexdo sobre a ctiagdo, e como, nesta, a experiéncia do
mundo e a arte da poesia vém se interligar. Esperdvamos, pois,_|
uma arte de poesia. Mas 0 poema vai se propor algo que se distin-
gue nitidamente da elaboragao de uma poética formal, de uma
doutrina ou ciéncia da poesia, mas tenta dar uma expresso dire-
tamente poética & experiéncia do litismo. Nesta experiéncia,
através da palavra de um poeta, com o que entramos em contato?
A palavra desse poeta estabelece uma mediagio entre pottica ¢
litismo, procura fazer-nos refletir sobre um momento de uma
ctise, de um proceso de cisio social e psiquica, de que a lirica do
século XX dé um testemunho.
LEITURA DE POESIA 83Poética
A lirica é sempre uma resposta a uma experiéncia. Nao é
uma experiéncia fora da histéria. Se voltarmos as raizes, aos radi-
cais de poesia, poema, poética, verificaremos, como indicamos
acima, a intima associagio entre trabalho, linguagem, poesia.
Pela raiz verbal poiein, o poema aparecia como a condensacao de
um trabalho, mas, este é um nome tardio. Antes da diferenciagao
de poética e poesia de outros termos também utilizados para
designar aqueles que exerciam essas atividades, 0 edo dava nome
simultaneamente aquele que exercia a atte do canto ea arte de
narrar; 4 elogiiéncia de um tecer, com sua muisica ¢ linguagem,
a unidade de uma histéria, Mas, pouco a pouco, esse trabalho,
de que Homero era 0 exemplo méximo, passou para outras
mos. A poesia é esse trabalho de, através de uma experiéncia
com o Ser, lembrar e custodiar, mediante a forga de uma lin-
guagem bela e memordvel, aquilo que, nomeando-nos, € o sinal
de uma comunidade auténtica. A intensidade ético-religiosa da
representacao que Werner Jaeger nos oferece da vida e da agao do
poeta, definindo-o como Educador, mostrando os herdis de
Homero nao como forcas cegas, mas como seres humanos auté-
nomos que lutam para dominar essas forcas ¢ para cumprirem,
com autonomia, sua vida, contrasta com o realismo aristotélico.
Jaeger recorda que “o homem nao quer ser ou permanecer cego”;
em face da Ate ou da Moira, 0 homem conserva a claridade da
taz4o, mesmo no reino sombrio do Hades:
Homero concebe a ate, tal como a moira, dum modo estrita-
mente religioso, como uma forca religiosa & qual 0 homem
mal poderia resist. No entanto, principalmente no Canto IX,
0 homens aparece, sendo como senhor de seu destino, ao menos
como autor inconsciente dele. Hd uma profunda necessidade no
84 JORGE KOSHIYAMA
_fato de serem precisamente os Gregos, para quem a agiio herbi-
ca do Homem se situa no mais alto lugar, a sentir como algo
de demontaco o trdgico perigo da cegueira e a eterna oposigio &
agdo ¢ & aventura, enquanto a resignada sabedoria asidtica
tentava evitar o perigo pela inagizo e pela rentincia, A frase de
Heréclito: 0c avdponw Saipov encontra-se no termo de
um caminho criado e percorrido pelos Gregos no conhecimento
de seu destino. O poeta que criou a figura de Aquiles estd no
inicio desse caminho?.
Contrasta, com isso, 0 realismo do estagirita, ao considerar
@ estrutura ¢ a representacao poética das aces humanas, partindo
de processos e questdes de técnica pottica. Discutindo os erros dos
poetas € as objegdes que lhes sio feitas pels criticos, Aristételes
anota:
Outra questéo ¢ a categoria do erro, conforme fira os princt-
pios da arte, ou de outro dominio. Com eftito, ignorar que a
corca nado tem galhos é erro menos grave do que pintd-la
numa figura irreconhectvel. Além disso, se a censura ¢ de que
nao representam os originais quais sao, quigd os tenham figu-
rado quais deviam ser. Séfocles, por exemplo, dizia que ele
representava os homens como deviam ser e Euripides, como
cram. Essa a solugdo; se, porém, nem siio como sao, nem como
deviam ser, a solugao é que “assim consta’s por exemplo, no
caso dos deuses. Talvez nito os fagam melhores, nem como sio
na realidade, mas como ocorreu a Xenéfanes; “é como dizem’,
As vezes, quigd, nto haja havido methoras, e sim representou-
se como costumava ser; no caso das armas, “langas a prumo,
conto fincado no chao” porque esse era 0 costume do tempo,
como ainda hoje na Iliria’,
J& em Euripides, lembra ainda Jaeger, estamos diante de
dramas e destinos individuais. Aristételes constata uma cisdo en-
LEITURA DE POESIA 85tre um modo de representar 0 poeta como testemunha histérica
de uma comunidade, ou entéo como alguém que afirma uma
perplexidade individual diante de todos os valores, diante do
mundo. E a partir desta linhagem de poetas, de testemunhas de
uma oposicao entre a consciéncia e o mundo, que se inicia com
Euripides, que se constitui a poesia do Ocidente.
‘Agora, que Manuel Bandeira tenha dado o titulo de “Poé-
tica” a esse poema é significative de dois modos. Em primeiro
lugar, representaria um esforco de compreender, novamente, nao
uma arte da poesia, mas 0 que nela € nascimento, condicéo de
uma experiéncia; em segundo lugar, o que se quer é definir uma
arte poética, ou compreender a experiencia da poesia? O tema da
ctiagdo poética é um dos fios condutores desse poema de Ban-
deira. Mas, se podemos, no caso de um poeta do século XX, falar
de uma arte poética — ou de seu contrério —, de que modo
deveremos entender esse processo? Talvez. tentando pensar as
relagbes que o poeta brasileiro estabelece entre poética ¢ lirismo.
Poética e lirismo
1 Estou farto do lirismo comedido
Do litismo bem comportado
3 Do lirismo funciondrio publico com livro de ponto
[expediente protocolo e manifestagies de
[apreco ao st. diretor.
4 Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no
[diciondrio 0 cunhe yernéculo de um vocdbulo
Deve-se pesar a relagdo entre poética e lirismo. E é cutioso
que, no primeiro verso de um poema, trabalhe-se a relagao entre
pottica ¢ lirismo, Em nenhum momento do poema, Bandeira
fala de poesia, mas, sempre de lirismo. Para compreender a ori-
86 JORGE KOSHIYAMA
gem do lirismo, devemos voltar a consideragées sobre a Poética
de Aristételes. As nogoes de poética ¢ de poesia sao histéricas;
distinguindo a Poética da Teoria da Argumentagio e do Discurso
(a Retérica), ele caracteriza a poesia ¢ a teoria dos géneros poéti-
cos, distingue a epopéia, a tragédia e a comédia. Detenhamo-nos
no tratamento dado ao ditirambo, pois é nele que encontramos
2 origem do lirismo. Os disirambos cram os poemas corais entoa-
dos nas tragédias. O coro era acompanhado por instrumentos
como 0 aulds (forma de citara arcaica), a lira e diversos instru-
mentos de percussio, Deste instrumento, a lira, derivou o termo
lirismo, como sindnimo de canto. Depois de Safo de Mytilene,
ou de alguns pasos, quase incompreensiveis, nos ditirambos de
Estesicoro ¢ Arquiloco, o verdadeiro sentimento lirico sé reapa-
receria seiscentos anos depois, nas Tristes de Ovidio, nas jarchas
mogérabes?, nos cantos dos trovadores ¢ em Dante!®.
Caracteriza-se a Iitica como um processo de separacao entre
© canto € 0 epos (a arte de narrat). O canto, que volta-se, mediante
recusas sucessivas, para a interioridade pura, terminaria condu-
zindo a um conceito de poesia e a poéticas da negatividade em
que a consciéncia ea palavra constroem-se dialeticamente. Ou 0
canto reflui para si mesmo, mimetizando e reiterando a cisio
social e psiquica, ou ele constréi-se como uma resposta a esta
cisio. Ainda no século passado, Leopardi recusava-se a cindir, em
sua lirica, 0 canto ¢ 0 pensamento, a visio da natureza ¢ a
histéria. A cisdo apresenta duas faces, uma que indica um insula-
mento do poeta, que se colocaria como um ser maldito, e outta,
sombria, em que a nobreza de um poeta como Mallarmé era
negada.
A recusa do “lirismo comedido” representa algo que vai além
da inegfvel preocupagdo de Bandeira, naquele momento, 1928,
de intervir em um debate sobre o futuro da poesia, debate em que
ele participava como uma forca construtiva, ¢, ao mesmo tempo,
LEITURA DE POESIA 87impulsionando ¢ passando a Emilio Moura ¢ Carlos Drummond
de Andrade — ou a todos os que 0 amavam ¢ acolhiam — 0
testemunho insubstituivel de sua poesia. Ela é um exemplo de
fidelidade ao canto, que, nascido do coracdo, expressa-se, nesses
versos, apenas por uma caracterizagao negativa ¢ dialética do
litismo, ¢ isto em toda a série dos versos iniciais do poema. O
gesto de recusa (“estou farto de”) é reforcado pelo movimento
entoacional de um verso que se espraia, como uma onda rftmica.
Como que se retoma, aqui, o movimento de uma fala, que rompe
nossa expectativa de uma determinagio conceptual de “poética”.
O que temos ¢ uma expressio direta, indignada:
1 Estou farto do lirismo comedido
2 Dolirismo bem comportado
3. Dolirismo funcionério puiblico com livro de ponto
[expediente protocolo e manifestagoes de
faprego ao st. diretor.
4 Estou farto do lirismo que péra e vai averiguar no
[diciondrio o cunho vernéculo de um vocdbulo
Propée-se uma ruptura contra todos os que operam no
nivel da retdrica, que, por exemplo, separam os termos poéticos
dos ndo potticos. Na circunstancia de 1928, é claro, é contra os
passadistas, ou melhor, é contra os néo-poctas que ele se dirige.
Manifesto
Abaixo os puristas
‘Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
‘Todas as construgées sobretudo as sintaxes de excecio
Todos os ritmos sobretudo os inumerdveis
eI aw
88 JORGE KOSHIYAMA
poeta imita agora nao 0 tom de uma conversa, mas 0
tom de um manifesto. Em um primeiro modo de let, esses pre-
ceitos de poética podem ser aproximados seja de propostas do
ultrafsmo!! seja das propostas cubo-futuristas!2, Mas, se os lermos
como propostas de uma poktica prépria, pessoal, o que houve foi
uma ampliacao de ritmos, de possibilidades de criar. Em autores
de menores possibilidades criativas, como Oswald de Andrade,
houve uma adesdo de modo mais estrito a um tinico tipo de rup-
tura parodistica, sintético-semantica, que se reitera em uma
linha conceitual. Manuel Bandeira no se deixou prender a uma
obrigatoriedade desses processos ritmicos, desses preceitos, mas
20 colocar-se como programa operatério:
8 Todos os ritmos sobretudo os inumerdveis
valeu-se desses ritmos inumerdveis para dar uma musicalidade
extraordindria a “Evocagao do Recife”. Em sua poesia e na de Car-
los Drummond de Andrade, 0 verso livre acolhe esses “ritmos
inumerdveis”, mas também disciplina-se: é antes de tudo verso.
9 Estou farto do lirismo namorador
10 Politico
11 Raquitico
12 Sifilitico
Eis que se retoma, quase integralmente, 0 ritmo e 0 movi-
mento da primeira estrofe, com uma deslocagio de acento para
a rima — usada porém de um modo irdnico: “Politico/ Raqui-
tico! Sifilitico/”.
13 De todo lirismo que capitala a0 que quer que seja
[fora de si mesmo.
Através das caracterizagdes negativas usadas até agora, che"
gamos 20 que € lirismo. Mas, o que é lirismo? Ao recusar aceit
LEITURA DE POESIA 89© que “capitula ao que quer que seja fora de si mesmo”, pela
recusa do nio-lirismo, desse nao-canto, negando as negacées,
percebemos as determinagées rec{procas de lirismo e poesia.
Ora, essa identidade é a mais dificil de caracterizar, pois o que
nela vive é um modo de ser. O que capitula nao é poesia, quem
capitula nao é poeta. Resistir, no capitular, é um modo de exis-
téncia do ser e do “si mesmo” (0 Seif'de Jung). A afirmagio do
lirismo em si mesmo, que nos parecia uma estranha determi-
nagdo do principio de identidade ¢ néo-identidade, esta afir/
macio da identidade do ser humano consigo ¢ com os outros, d
uma presenga que o trabalho da linguagem ¢ a poesia funda
deixa de ser, para nds que o lemos, um paradoxo, pois o lirism:
& agora referéncia imediata a0 Self, a identidade fundamental
entre ser humano e ser humano. “O lirismo em si mesmo” €\
aquela experiéncia com a linguagem, em que se funda, para nés |
€ para os outros, a lembranga e a possibilidade de uma comu-
nhio auténtica. E 0 canto, que é feito da mediacio entre vic
mundo, linguagem, da escolha nossa, é palavra de um vivente.
Mas, antes, temos de passar por mais uma série de negacdes.
Talvez esta estrofe seja a menos necessdria; seu mérito € 0 de
constituir uma ponte a partir da qual seja possfvel a afirmacao do
lirismo:
14 De resto ndo € lirismo
15 Serd antes contabilidade, tabela de co-senos secretétio
[de amante exemplar com cem modelos de
[cartas e as diferentes maneiras de agradar as
[mulheres, etc.
O lirismo é ditirambo, didlogo coral. “Que é homem”?,
pergunta 0 coro em Edipo-Rei. O lirismo é 0 que se afirma em
face desta tiltima série de negagées. Nao capitular. Veja-se, agora,
a afirmagéo. Quem sou? Como vivemos? Que é a identidade de
90 JORGE KOSHIYAMA
lirismo e poesia, em um nivel mais profundo, se quisermos no
definir mas sentir a sua realidade, mesmo se isto é possivel ape-
nas a partir de graves feridas:
16 Quero antes 0 lirismo dos loucos
17 Ollirismo dos bébados
18 O lirismo dificil e pungente dos bébados
19 O lirismo dos clowns de Shakespeare
E curioso que, ao passar das negagoes para a afirmacio,
aparecem versos medidos: uma redondilha maior (7 sflabas),
uma redondilha menor (5 sflabas) e dois versos de arte maior,
como se fosse de modo a fazer-nos perceber que esta nao é poss{-
vel, sem uma miisica ou uma cadéncia e um determinado ritmo
livremente aceito.
O lirismo dos loucos
O litismo & a renovagio do canto ditirambico. Se o lirismo,
isto é a expresso do set humano que é portador da experiéncia
poética, ndo pode capitular “ao que quer que seja fora de si mes-
mo”, é estranho que ela seja nomeada mediante categorias nega-
tivas. Ao escrever “o litismo dos loucos”, Bandeira nao estaria
voltando ao Romantismo? Nao necessariamente. Porque o louco
nomeia a margem de fora, o lado mais obscuro, a partir do qual
nds nos movemos até alcangar, pela experiéncia da linguagem, a
possibilidade de nos colocarmos & procura de uma comunhéo.
‘Mas 0 louco, que teré de comum com o lirismo, ou, mais preci-
samente, com este poeta, a no ser a dor, o sentimento de uma
perda, de uma nostalgia? De modo muito mais radical que o liri-
co, 0 louco define-se por faltas, por caréncias, por uma retracao
frente ao mundo. A poesia é porém a afirmagio de uma identi-
LEITURA DE POESIA o1dade. Apesar da aproximagio romantica entre loucura poesia,
a ela nfo poderia elevar-se Kaspar Hauser, em seu insulamento
irreversivel, sem palavras. Porém, Isidoro Blikstein lembra-nos
que, para Kaspar Hauser, a paisagem do mundo é indecifrével,
talvez porque a experiéncia do mundo seja anterior & “codifi-
cacao lingiifstica”!3,
‘Talvez Manuel Bandeira fale do “lirismo dos loucos”, do
“lirismo dos bébados/ o dificil e pungente lirismo dos bébados”,
movido pela necessidade de dar nome as palavras dos homens,
mas, reconhecendo que vivemos em um perfodo de crise, de
uma cisfo social e ps{quica exasperada, ao dar nome &s palavras
¢ aos sofrimentos dos homens, entrega-nos, em custédia, 0 no-
me ea identidade de seres igualmente feridos. Esta identificagéo
do poeta a seres marginais, a seres feridos, a seres minimos, dé-
nos a medida da pungéncia e da compaixao caracterlsticas de sua
poesia. Aquilo de que Manuel Bandeira fala é do contetido de
‘uma poética negativa, para levar-nos & experiencia do lirismo em
si mesmo. A experiéncia da palavra, que encontra a sua sintese
mais alta na poesia, é emogio. E apenas porque o lirismo pro-
poe-se como projeto conservar plena e integra recordacao da
experincia individual ¢ social, que 0 poeta pode integrar a
experiéncia de seres que vivem 4 margem ¢ trazé-los, com a forga
compassiva de sua emogao ¢ de seu canto, para junto de nés.
Lirismo, libertagéo
20 nfo quero mais saber do lirismo que nao ¢ libertagéo
No meio da excentricidade em que vivemos, em meio &
dor 2 solidéo, ao espanto frente ao desenraizamento do presente,
irrompe, como um grito de vida e de esperanga — nostalgia de
uma comunhio, essa palavra que nos repde, mesmo corporal-
92. JORGE KOSHIVAMA
mente, a camino. Finalmente, compreende-se 0 lirismo como
emogao, como pungéncia, mas, a0 mesmo tempo, como um
caminho em que se fesgata a meméria de uma unidade, Saber-se
vivo — lembra 0 poeta japonés do século XVII Matsuo Bashé,
mestre na vida e na arte da poesia — é sentir que estamos a cami-
ho, em viagem. Extrema afirmagao de madureza e do canto ne-
cessdrio. Ao identificar a experiéncia humana, o lirismo e a liber-
tag, Manuel Bandeira deu nome & poesia, resgate e sinal nosso,
vivo. Deu nome & poesia em si mesma, Lirismo, libertagio.
Reflexdes
Caracterizar o lirismo em si mesmo é manter-se no ambito
de algo que pode ser compreendido como uma poética pessoal,
prépriaa Manuel Bandeira, ou deveria esta compreensao da poe-
sia como libertagao ser colocada como um conceito igualmente
coletivo de poética? Neste caso, se o texto em exame tem relagdes
com outros textos de poesia e poética do século XX, do Moder-
nismo europeu ¢ do Modernismo brasileiro, quais séo elas? Por
outro lado, ao pensar a relagao entre 0 Todo e as Partes, lembra-
mos que a relacao entre pottica ¢ lirismo deve ser repensada.
Localizando 0 poema na
obra de Manuel Bandeira e
no Modernismo brasileiro
Telé Porto Ancona Lopez lembra-nos, no Preficio 4 edicao
critica das Poesias completas de Mario de Andrade, da necessidade
LEITURA DE POESIA 93de precisar a circunstancia e de localizar cada poema na obra do
poeta, na histéria dos movimentos literdrios ¢ culturais!4. Precisar
© sentido de alusées ¢ de propostas dos grupos ¢ dos escritores
modernistas, por volta de 1930, permite-nos pensar o significado
de “Poética” no desenvolvimento da obra de Manuel Bandeira e
de uma visio de poesia. Qual o significado deste poema e da
poesia de Manuel Bandeira para Mério de Andrade e para poetas
mais jovens, como Carlos Drummond de Andrade?
Formalmente, “Poética” ¢ um poema escrito em versos
livres. E a recuperagao de um momento de uma conversa, reto-
mada a partir de um certo instante. Mas 0 poema é “forma”
(Aristételes). O poema imita sucessivamente o tom de uma con-
versa, 0 tom de um orador popular (“‘lirismo raquitico/ (...] inu-
merdveis”). A explosio exasperada, segue-se um movimento de
volta para si, de escuta interior, de confidéncia.
“Poética” ¢ 0 décimo poema de Libertinagem, 4° livro de
Manuel Bandeita. Poesias (1924) reunira seus livros anteriores
(Cinza das horas, Carnaval, Ritmo dissoluto). Ritmo dissoluto jé
retine poemas como “Os sinos”, “Quando perderes 0 gosto hu-
milde da tristeza”, “Meninos carvoeiros”, “Baldezinhos”. Todos
esses so poemas essenciais de sua obra. Em Libertinagem, 0 poe-
ma “Poética” aparece ao lado de “Nao sei dangar”, “Camelés”,
“Cacto”, “O porquinho da {ndia’, “Evocagio do Recife”, “Vou-me
embora pra Pasérgada’. Com esses poemas, “Poética” entra em
uma relagao dialética, uma vez que tais poemas vio responder &
proposta de poética de nosso autor, pelas formas mais estranhas,
de auto-ironia, de humor pungente, de “ligdes de infancia’” (“Ca-
melés”, “Evocagao do Recife”), de sonho, de libertagao.
Entre 1924 e 1930, desenvolvem-se, de um lado, as aventu-
ras paralelas da criago de Macunatma e Cobra Norato. No plano
da poética e da criagio literdria, textos de Mario de Andrade,
Losango cdqui e A poesia de 30, sintetizam um dos pélos da reno-
94 JORGE KOSHIYAMA
vacio literéria, € 0 Manifesto da Antropofagia também procurava
ampliar a liberdade de criagao, reconduzindo-nos a uma escuta
do mito, do lendério e do inconsciente, Em “Revistas re-vistas”,
posficio da Revista de Antropofagia, Augusto de Campos analisa
© quadro cultural daquele perfodo. Mas, ele valoriza, na poesia
daquele momento, um tinico aspecto, que aparecia sob as formas
de uma critica da linguagem. Cabe assinalat um veio em que a
poesia se cala. Embora se encontrem, no Martim Cereré, alguns
veios de ouro, estes se perdem, porém, no meio de discursos em
que a fala e a ideologia se enrijeceram em retética congelada.
‘Ao resenhar, em A poesia de 30, Poemas de Augusto Frede-
rico Schmidt, Alguma poesia de Carlos Drummond de Andrade,
Poemas, de Murilo Mendes, e Libertinagem de Manuel Bandeira,
Mirio de Andrade aponta a busca de um equilfbrio entre uma
liberdade interior de criagao e uma poesia que se busca e se cons-
tr6il5, Neste clima, qual a posicao de Manuel Bandeira e qual 0
sentido com que este poema intervém nesse debate sobre os
rumos da poesia? Bandeira propée simultaneamente uma poética
de libertagéo, mas, a0 mesmo tempo em que se volta contra as
propostas da poesia anterior, ele vai colocar-se, para poetas mais
jovens que cle, como Carlos Drummond de Andrade, como
exemplo de alguém que procura a poesia em uma confidéncia.
No debate em curso naqueles anos, a sua intervengao marcou
um ponto de sébrio reconhecimento de que a poesia nao pode
ser procurada em formas exteriores ao sentimento que se quer
exprimis, sejam esas processos discursivos ou retéricos, ¢ que a
poesia é, enquanto lirismo, aquilo que dé nome & nossa identi-
dade humana. Poética de um grupo, coletiva? Tal como Bandeira
a coloca, em sua poesia € nas cartas a Mario de Andrade e a
Carlos Drummond de Andrade, a sua poética volta-se, com
forca, contra tudo 0 que é negacio da pocsia. Em relagao & sua
propria poesia, a forca de sua linguagem compassiva, com a sua
LEITURA DE POESIA 95pungéncia, é a de alguém que nos fala ¢ resgata para nés, na
solidéo em que vivemos, um sentimento de comunhio.
‘Acima da circunstincia,
uma poética essencial
Acima do seu valor de intervengio no debate sobre a poe-
sia dos anos 20, esta € uma pottica essencial. Emogao ¢ palavra
alcangam-nos. E, por isto, melhor que todos, péde ler-te Carlos
Drummond de Andrade:
Nao € 0 canto da andorinha, debrucada nos telhados
[da Lapa
anunciando que vida passou & toa, 3 toa
Nio é 0 médico mandando exclusivamente tocar um
[cango argentino,
diante da escavagio do pulmao esquerdo ¢ do pulmao
[direito infilerado.
Nio sio os carvocirinhos raquiticos voltando
[encarapitados nos burros velhos.
Nao sao os mortos do Recife dormindo profundamente
{na noite.
Nem é tua vida, a vida do major veterano da guerra do
([Paraguai,
a de Bentinho Jararaca
ou a de Christina Georgina Rossetti
é tu mesmo, é tua poesia,
tua pungente, inefével poesia,
ferindo as almas, sob a aparéncia balsimica,
queimando as almas, fogo celeste, ao visitd-las;
€ 0 fendmeno pottico de que te constituiste 0 misterioso
{portador
96 JORGE KOSHIYAMA
€ que vem trazer-nos na aurora o sopro quente dos
[mundos, des amadas exuberantes e das
[situagées exemplares de que nao
[suspeitévamos.
€ pode mesmo dizé-lo:
0 poeta melhor que nés todos, o poeta mais forte
— mas, haverd lugar para a poesia?
(“Ode no cingiientendrio do poeta brasileiro”)
Drummond, poeta secreto, mais marcado pela dor e de to-
dos o mais reticente em relacio & comunicabilidade da experién-
cia poética, transforma Manuel Bandeira no representante de
todos os poetas e vé nessa pungéncia téo proxima de seu descon-
certo e de sua indignagio, de seu sentimento de desconsolo, de
desconfianga e de amor, um jugar que permite um intimo aco-
Ihimento ao ser humano. E isto, que se pense nas santas palavras
de Antigona, era 0 que o poeta e mtsico Séfocles indicava como
sua missdo: nomear, na intimidade do coragao, a possibilidade de
um reconhecimento rec{proco, que é, igualmente, acolhimento
a0 Ser.
Do lirismo em si
A liberdade moderna de ritmos, a que corresponde uma gran-
de mobilidade no arranjo da frase, ésigno de que se descobriu
@ se quer conscientemente aplicar na prética do poema, 0
principio duplo da linguagems: sensorial, mas discursvo, fnito,
‘mas aberto, clelico, mas vetorial,
fae)
Ora, a arte pottica, nivel mais alto e mais livre de organiza-
LEITURA DE POESIA 97¢4o da matéria fonica, pode ou néo reproducir este ritmo
Srdsico. O dilema, historicamente posto e resolvido em cada
texto pottico, ¢ julgar se a composigdo literdria deva destacar
do fluxo oral a esséncia nua da alternincia, e fisid-la, quer
dizer: deva extrair dos vdrios ritmos da linguagem 0 metro, 0
miimero'6,
Ao definir a dupla vocagao da poesia moderna, a alternan-
cia entre uma liberdade de ritmos ¢ padres formais estritos,
Alfredo Bosi aproximou a poesia da musica e de uma forma que,
no limite, visaria capturar a esséncia da temporalidade. Cons-
truindo-se como mtisica, cla, porém, rompe com esse padrao, ¢
quer construir um espago dentro do tempo. A poesia de Bandeira,
porém, independe dessa oposigao entre a liberdade de ritmos ¢
08 processos ¢ padres formais, pois, além de reunir os dois mo-
mentos, expande-se até abolir as fronteiras entre poesia e prosa,
€ responde por um conceito e por uma experiéncia do lirismo,
que é palavra que empenha o ser humano como um todo, ape-
nas nesse sentido pode ser compreendida enquanto criago. No
lirismo, a experiéncia foi reconduzida & intimidade absoluta, on-
de a palavra tem seu enraizamento'7. O lirismo, que aproxima
negatividade e reflexo, € a relacio entre a expressio ea intimidade
do si mesmo, de uma poética que é libertagao, apenas por ser con-
fidéncia, que nos abre a possibilidade de uma escuta, de acolhida
¢ de comunhao com todos os seres vivos.
Um poema coloca-se como momento de uma cadeia que
une poeta e leitor. E algo como uma conversa entre duas pessoas,
ou, para usar a expressiio de Martin Buber, é um Eu-Tu. Assim
Martin Buber descreve uma relacao interpessoal de natureza dia-
légica, nao solipsista, que é a relagao direta do homem com Deus
¢ € a norma para as relagdes entre os seres humanos. Somente,
no lugar da palavra frégil, fluente, que aguarda e espera a resposta
do interlocutor, um poema é algo que se coloca em uma relagio
98 JORGE KOSHIYAMA
em que a palavra construfda pelo poeta recusa a transitividade e
a fragilidade de uma conversa. Um poema é uma formagio, uma
palavra que vai & procura de alguém que a ouga ¢ a faga sua. As
duas metéforas da “fratura” e da “supléncia” colocam-se, em O
ser e 0 tempo da poesia, do professor Alfredo Bosi, como indi-
cadores de uma relagdo entre poesia ¢ linguagem. O poema,
como descreve Aristételes, modelo para o set humano, nio se
acha téo longe dessa concepcao de poesia como forma de reco-
nhecithento recfproco. Nao haverd forma de compreender essa
margem da poesia, em sua proximidade e distancia — os sinais
que nos fazem essas miltiplas linguagens? Em nossa histéria, nés
trazemos conosco “nao apenas os nossos feixes” (Salmo 125),
mas também os nossos cAnticos.
Notas
1 Conheso apenas um registro, raro, de uma Ieitura de alguns de seus poemas,
fem um disco que ou na casa do compositor Willy Correa de Olivia.
2 No primeito capitulo de A condigao humana, Hannah Arendt reavalia as con-
digées da existéncia humana na Terra: “o nascimento ¢ a morte: a natalidade ¢
a mortalidade” (p. 16). Na Introdugio a esse livro, Celso Lafer escreve: “O
primero item 2 ser mencionado ¢ a originalidade do ponto de partida de
Hannah Arendt, quando ela afirma que a natalidade, ¢ nio a mottalidade, & a
categoria central do pensamento politico” (p. VIII. Néo apenas do penss-
‘mento politico, driamos. O que ela quer, em seu ensaio, € refletr sobre 0 sen-
tido de nossa condigio: “o novo comeco inerente a cada nascimento pode
fazer-se sentir no mundo somente porque o recém-chegado pode iniciar algo
de nov, iso agit Net seid de incisive, todas a aividades do homem
ssuem um elemento de acio, e portanto, de natalidade. Além disso, como a
flo 4 alvidade pollca por nclenci a aide, ¢ no moralidade
ide constituir a categoria central do pensamento politico contraposto 20
pensamento metafio® (A pia acing es condigdo humana”, p. 18), Exami-
nar o que significa, & luz dessa inversio epistemolégica, o problema da natu-
reza humana, a questio mibi factus sum ("a questio que me tornei para mim
mesmo” de Santo Agostino) é 0 problema central de A condipdo humana.
3 Arendt, Hannah, op. cit, “Prélogo”, p. 10.
a Bande, Manuel Enrele de vide inti 7, Rio de, Janeiro, José Olympio,
1979.
LEITURA DE POESIA 995 Mello e Souza, Gilda ¢ Antonio Candido de, “Introd da vide
inteira, 7. ed., Rio de Janeiro, Jo
© Aristteles, Podtica. In: Aristéte srodusio a pottica cls
sica, Trad. Jaime Bruna. Introd. Roberto de Oliveira Brando, Sio Paulo,
Iix/Edusp, 1981
7 Jaeger, Werner. PAIDELA: A formasito do homem grego. Trad. de Arthur M.
t Aster, Lisboa, 1946). A frase de Her
TV, 40, 23. Cito a tradugio de José
anti de Souza: "Herdclito dizia que 0 ético no homem {é] 0 deménio (e
deminio é évco)” . Nota do tradutor: “A reversio do sentido, sugerida pelo que
indiquei entre parénteses, é permitida, sendo exigida, pela estruturagio da f
srega, que nao determina pela posicio o sujeito e o predi
primeico lugar pode ser predicativo e o que esta em
(Os pré-socrdricos — Herdelito de
Paulo, Abril, 1973). Zohes, em grego, refere-se & estrutura € a0 jufzo sobre a
agio humana. Dando ao que em nés estrutura essa agio (0 ético) a forma de
um génio ¢ colocando-o no interior do ser humano, Herdclito afirmava, pela
primeira vez, no pensamento antigo, a estructura dialética da agio humana.
Exhos e ética tém por radical um verbo que significa agit. Conduta e agio
humana © ages dos deuses © mitos so indicados pelo mesmo radical. A
tradusdo do prof. José Cavalcanti de Souza apreende a conduta, a a¢i0 dos
deuses e dos homens como reversive
Poética. In: Arist6teles, Horicio, Longino. A poétic cit, cap. XVI
poemas de amor aribico-andaluzes.
10 Quem quiser acompanhar a histéria da poesia no Ocidente, nos dez tltimos
séculos, pelos ensaios de Pound, em The spirit of romance (2. ed., Norfolk,
New Directions Books, 1930), em que este valoriza, contudo, uma visio inte.
lectualista da lirica e volta figuras, como a dos trovadores, a de Sor-
dello, de Dante e de Browning, pesando em que a acio desses grandes me
pode ainda ter de impacto criativo sobre a poesia do século XX.
"Yer o estudo de Jorge Schw 2 pottica de Olivero Girondo: V
ismo na epoca do Modernisma: Oswald de Andrade e Olivero Girondo,
slo, Perspectiva, 1983,
Os futuristas falavam de uma émaginagdo sem-fios, em uma poética que foi
jomada pelo grupo de Oswald de Andrade
13 Blikstein, Isidoro. Kaspar Ha fabricagéo da realidade, Sio Paulo,
trix, 1981
4 Ver o Prefcio & edigdo critica das Poesias compleras de Mirio
zada por Dilea Zanocto Manfio, So Paulo, Edusp, 1987.
5 Andrade, Métio de. Aspects da literatura brasileira. 4. ed., Sio Paulo, Martins
Fontes, 1975.
2
16 Bosi, Alfredo, “Frase: musica e siléncio”. In: O sere 0 rempo da poesia, Sio
Paulo, Culerix, 1977, pp. 76-7.
Adomo, T.W. *Conferéncia sobre lirica e sociedad”. In: Benjamin, Ws Ado
no, T.€ outs, Textosexcolhides, So Paulo, Abril, 1975.
100 JORGE KOSHIVAMA
Murilo Marcondes de Moura
Murilo Mendes