REIS, Toni.
Vencendo a homo/lesbo/transfobia – Avanços e desafios [transcrição de
apresentação oral]. In.: Psicologia e diversidade sexual: desafios para uma sociedade de
direitos/ Conselho Federal de Psicologia. – Brasília: CFP, 2011. p. 169 – 178.
No decreto de 04 de junho de 2010 no Art. 1.º Fica instituído o dia 17 de maio como o Dia
Nacional de Combate à Homofobia. Luiz Inácio Lula da Silva.
“[...] o presidente Lula decretou o dia 17 de maio como o Dia Nacional de Combate à
Homofobia.” (p. 176).
FACCHINI, Regina. Visibilidade é legitimidade? O movimento social e a promoção da cidadania
LGBT no Brasil. In.: Psicologia e diversidade sexual: desafios para uma sociedade de direitos/
Conselho Federal de Psicologia. – Brasília: CFP, 2011. p. 179 – 197.
“Agremiações de pessoas que se reconhecem ou que são reconhecidas como homossexuais não
são um fato um fato recente, seja no Brasil ou em outros países [...].” p. 180.
As restrições legais e médicas ao comportamento homossexual, explícitas ou não, geraram um
tipo de atitude reversa, quando os próprios sujeitos identificáveis como homossexuais passaram a
se enxergar como uma categoria à parte e a criar laços de identidade e esferas de sociabilidade.
Antes que houvesse um movimento homossexual organizado, desenvolveram-se redes de
sociabilidade que aos poucos delinearam um conjunto de traços que seriam, posteriormente,
associados a uma ‘identidade gay’, normalmente ligada ao meio urbano e ao crescimento das
cidades. p. 181.
No âmbito internacional, as décadas de 1960 e 1970 marcam uma crescente visibilização e
radicalização do incipiente movimento por direitos homossexuais cujas primeiras referências
datam dos anos 1940 e 50. Essas organizações são caracterizadas por um discurso de
autoafirmação e liberação, a exemplo de grupos como Society of Individual Rights, organização
homossexual de São Francisco. O grande marco internacional do movimento homossexual nesse
período, que perdura até hoje, foi a revolta de Stonewall, um bar de frequência homossexual em
Nova York. Constantemente abordados pela polícia, os frequentadores do bar partiram para o
confronto aberto com os policiais em 28 de junho de 1969, data que se internalizou como o ‘Dia
do Orgulho Gay’. p. 181-182.
No Brasil, a passagem dos anos 1960 para a década seguinte é marcada pelo endurecimento da
ditadura militar. Um movimento estudantil questionador começa a ganhar visibilidade, mas seria
duramente reprimido pelo regime durante aproximadamente duas décadas. Enquanto isso, grupos
clandestinos de esquerda combatiam a ditadura. Em meados dos anos 1970, ganha visibilidade o
movimento feminista, e, na segunda metade da década, surgem as primeiras organizações do
movimento negro contemporâneo, como o Movimento Negro Unificado, e do movimento
homossexual, como o Somos – Grupo de Afirmação Homossexual, de São Paulo. p. 182.
O Somos, que acabou por ser visto como o protótipo dos grupos nesse período, admitia
exclusivamente homossexuais e suas atividades tinham como foco principal as ‘reuniões de
identificação’, com o compartilhamento das experiências pessoais. Uma proposta marcante desse
grupo era o esvaziamento do caráter pejorativo das palavras ‘bicha’ e ‘lésbica´. p. 185.
“A partir de 1980 se inicia a atuação do Grupo Gay da Bahia [...]” p. 185.
O movimento feminista chamou atenção para o caráter político do que está no campo do privado
e o movimento homossexual teve e tem até hoje um impacto muito grande ao nos convidar a
pensar na sexualidade como algo que não é restrita ao campo pessoal ou à natureza. O
movimento homossexual descortina nosso olhar para o fato de que a sexualidade é questão
cultural e política por excelência. [...] as questões de sexualidade estão no cerne de debates sobre
o reconhecimento social e político do que pode ser considerado como família, por exemplo, e que
isso interfere nos direitos da população como um todo. O movimento homossexual nos mostra e
continua mostrando que a sexualidade não é, de modo algum, e não deve ser tomada como [...]
uma questão restrita ao ‘natural’ ou ao campo do que é íntimo ou pessoal. p. 186.
“O GGB e o Grupo Triângulo Rosa são os primeiros a se formalizarem legalmente como
associações voltadas para os direitos de homossexuais, evocando o direito à associação. ” (p.
187).
Outra mudança importante desse período é a noção do termo ‘orientação sexual’, de modo a
deslocar a polarização acerca da homossexualidade pensada como uma ‘opção’ ou como uma
‘condição’ inata. O uso do termo ‘orientação sexual’ implica afirmar que não se trata de escolha
individual racional e voluntária, mas não se trata também de pensar numa determinação simples.
(p. 188).
Em 1995 ocorre a fundação da primeira e maior rede de organizações LGBT brasileiras, a
ABGLT (Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Travestis) que reúne cerca de 200
organizações espalhadas por todo o país, sendo considerada a maior rede LGBT na América
Latina. Além de um investimento sistemático de esforços no combate à Aids e variadas
articulações com órgãos públicos, a ABGLT promove uma série de ações no âmbito legislativo e
judicial, orientadas para acabar com diferentes formas de discriminação e violência contra a
população LGBT, como é o caso das campanhas de sensibilização de parlamentares e da
população em favor da aprovação de projetos de lei, como o 1151/95, que reconhece a parceria
civil, e o 122/2006, que criminaliza a homofobia.
A partir da fundação da ABGLT, há um processo de multiplicação de redes nacionais. Em 2007,
havia sete redes, a ABGLT, a Associação Brasileira de Lésbicas (ABL), a Liga Brasileira de
Lésbicas (LBL), tem a Associação Nacional de Travestis (Antra), o Coletivo Nacional de
Transexuais (CNT), o Coletivo Brasileiro de Bissexuais (CBB) e a Rede Afro LGBT. Há ainda a
criação de redes locais, como é o caso do Fórum Paulista LGBT, que nasceu com a missão de
congregar todos os grupos, de todas as tendências existentes no Estado de São Paulo. (p. 191).
Ao citar Carrara e Ramos (2006), Facchini (2011, p. 195) expõe que “[e]xistem formas de
violência de gênero que fazem com que homens homo e bissexuais sofram mais violência em
espaços públicos, enquanto mulheres homo e bissexuais são mais vitimizadas em ambientes
privados, sobretudo no ambiente familiar e de vizinhança.”
CARRARA, Sérgio e RAMOS, Sílvia. Política, direitos, violência e homossexualidade:
Pesquisa 9ª. Parada do Orgulho GLBT – Rio 2004. Rio de Janeiro: CEPESC/CLAM, 2005.;
CARRARA, Sérgio, RAMOS, Sílvia, SIMÕES, Júlio Assis e FACCHINI, Regina. Política,
direitos, violência e homossexualidade: Pesquisa 9ª. Parada do Orgulho GLBT – São Paulo 2005.
Rio de Janeiro: CEPESC/CLAM, 2006.