0 notas0% acharam este documento útil (0 voto) 447 visualizações27 páginasUma Criança É Espancada Freud 1919 - Texto
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a
“UMA CRIANGA E ESPANCADA’
NTRIBUICAO AO ESTUDO DA ORIGEM
UMA CO!
DAS PERVERSOES SEXUAIS
(1919)NOTA DO EDITOR INGLES
“EIN KIND WIRD GESCHL AGEN'
BEITRAG ZUR KENNTNIS DER ENTST
SEXUELLER PER VERSIONE!
(a) EDIGOES ALEMAS:
1919 Int. Z. Psychoanal. §, 181-72,
1922, S.K.S.N.,5, 195-228,
1924
1926 Ps) lyse der Neurosen, 50-84.
1931 Sexualtheorie und Traumlehre, 124-35.
1947 G.W., 12, 197-226.
(0) TRADUGAO INGLESA:
“A Child is being Beaten”
A Contribution to the Study of the Origin
of Sexual Perversions’
1920 Int. J. Psycho-Anal., 1, 371-95. (Trad. de A. e J. Strachey.)
1924 C.P., 2, 172-201. (Os mesmos tradutores.)
A presente tradugio inglesa é versio corrigida da publicada em 1924.
Numa carta a Ferenczi, datada de 24 de janeiro de 1919, Freud anunciava
que estava escrevendo um artigo sobre o masoquismo. O artigo foi concluido
erecebeu o presente titulo em mmeadoeds mango d= 1519, € foi publicado no
verao do mesmo ano.
A maior parte do artigo consiste em um inquérito clinico muito detalhado
sobre um tipo i As descobertas de Freud elucidaram
particularmente o problema do masoquismo, e, como esta implicito no
subtitulo, o artigo era também destinado a ampliar o nosso conhecimento
sobre as perversdes de um modo geral. Desse ponto de vista, pode ser
considerado como um complemento ao primeiro dos Trés Ensaios sobre a
Teoria da Sexualidade (1905d).
Além do mais, no entanto, o artigo inclui uma exposi¢do, a qual Freud
atribuiu consideravel importincia, dos motivos que colocam_em.agio_a_
Tepressao, com especial referéncia as duas teorias sobre o tema, propostas
rib ye a Awe wre sec huctey C1 5 Diss
les Lif rushc>
| )_ ©) ponTespectivamente Por Fliess e por Adler (cf.
Tepressiio é exaustivamente discutido em do
Freud —em ‘Repressi
Mas a questo dos moti
Ultima parte da anilise
pags, 34-37), oO me
dis artigos Metapsicoldgicos de
io" (191 5d) ena Segio [V de'Q Inconsciente* (19150)
fivos que conduzem a Teptessdo, embora se
‘anismo dy
i0 tocada ng
do “Homem dos Lobos? (19185), pig, 1 lGescg., deste
volume, em nenhum outro trabalho é mais ple le examinada do que no
Presente artigo. Ce Ente ¢1
¢ 0 havi
referéne’
mM muitas
1950a). Jé bem no fim da
a esse problema, na Ultima Parte da sua
Terminavel ¢ Intermindvel’ (1937c), onde novamente discuti;
teorias de Fliess e de Adler.
ja as
194‘UMA CRIANGA E ESPANCADA’
UMA CONTRIBUICAO AO ESTUDO DA ORIGEM DAS
PERVERSOES SEXUAIS
pa (Vert 4 >
4 GAO V9 a
pred tt Yo gn?
wo 8 le ye
E surpreendente a freqiiéncia com que as pessoas que procuram um
tratamento analitico para a_histeria ou uma neurose obsessiva, confessam
haver-se abandonado A fantasia: ‘Uma crianga é espancada.” E muito prova-
vel que haja exemplos ainda mais freqiientes em um numero muito maior de
pessoas que nao foram obrigadas a procurar andlise por causa de uma doenga
manifesta.
‘A fantasia tem sentimentos de prazer relacionados com ela e, por causa
{ deles, o paciente reproduziu-aem inumeraveis ocasides, no passado, ou pode
‘até mesmo ainda continuar a fazé-lo. No climax da situagdo imaginaria, ha
Jauase invariavelmente uma satisfagdo masturbatéria — realizada, em outras
|palavras, nos drgios genitais. De inicio, isso acontece voluntariamente, mas
240) de do paciente e com as caracteristicas de uma
APES SLES HY TEE a
YO 6
Aye AE PETC A
MN he perce] 0 4
art! S
e essa fantasia é confessada. O seu primeiro
certeza. O tratamento analitico do problema
vergonha e 0 sentimento de culpa sio
talvez mais intensamente provocados em relago a essa fantasia, do que
quando sao feitos relatos semelhantes de lembrangas do inicio da vida sexual.
Eventualmente torna-se possivel estabelecer que as s primeiras fantasias —
dessa natureza foram nutridas muito cedo: certamente antes da idade escolar
re jamais depois do quinto ou ‘To sexto ano de vida. Quando a crianga estava
Fa Boole 6 vis outras crianigas sendo espancadas pelo professor, essa expe-
riéncia, se as fantasias estavam entio dormentes, despertava-se de novo, ou,
se ainda estavam presentes, reforgava-as € modificava-lhes perceptivelmente
o contetdo. A partir dessa ocasiiio, era ‘um nimero indefinido’ de criangas
que estavam sendo espancadas. A influéncia da escola era tio clara que 0s
pacientes em questio ficaram inicialmente tentados a atribuir as suas fanta-
sias de espancamento exclusivamente a essas impresses da vida escolar, que
tinham data posterior 4 do sexto ano de idade, Mas nunca Ihes foi possivel
manter essa posigao; as fantasias ja existiam antes disso.
195on Ua codes
Embora nas séries mais adiantadas da escola nao rhais se batesse nas
S se batesse nas
angas, a influéncia dessas ocasides era © mais do que sub cs
tua, pelos efeitos da leitura, ea importincia destes em breve seta
No milleu dos meus pacientes, eram quase sempre os mesmos lime
contetido dava um novo estimulo as fantasias de espancamentoy seacye
/acessiveis aos joven, tais como os que erat conhecids como “Bibliomene
‘yl rose’,' A Cabana do Pai Tomés etc, A 5
crianga comegava a competir com _/
S lessas obras de ficc’o, produzindo as suas proprias fantasi:
Ltaquinagens e seu mau comportamento,
5 Essa Tantasia “ina crianga € espancada’ — era invariavelmente catexie
; zada com um alto grau de prazer ¢ tinha a sua descarga num ato dé agradavel ~
1, + satisfac atito-erdtica, Poder-se-ia esperar, portanto, quea visiode outracrianga ~~
3 sendoespancada na escola fosse também uma fonte de prazer semelhante. Na ©
iS realidade, porém, isto jamais acontecia. A experiéncia das cenas reais de espan- ~~
|? Camento na escola produzia na crianga que as testemunhava um sentimento
KSYX)_ peculiarmente excitado, que era provavelmente de cariter misto € no qual a
“cc Sqwfepugnaneia tinha larga parcela. Em alguns poucos casos, a experiéncia real das
_ cenas de espancamento era sentida como algo intolerdvel. Ademais, era sempre
uma condigao das fantasias mais sofisticadas, dos anos posteriores, que o castigo
substituida,
0 “yy
vs
y (ass
yO
no causasse & crianga qualquer dano mais sério.
ae
Avo yu
ra
A guestiio estava em conex
com saber Hi ia haver entre a
importéncia das fantasias de espancamento ¢.0 papel que esse castigo corporal
de verdade poderia fazer desempenhado na educago das criancas em casa. Foi
“Tmipossivel, por causa da parcialidade do material, confirmar a primeira suspeita
de que a relago era inversa. Os individuos dos quais foram obtidos os dados
para as andlises haviam sido muito raramente espancados na infancia, ou n3o
haviam sido, em todo caso, educados com ajuda da vara. Naturalmente, contudo,
cada uma daquelas criangas estava destinada a tomar conhecimento, mais cedo
ou mais tarde, da forga fisica superior dos pais ou educadores; o fato de que, em
todo quarto de brinquedos ou jardim de infancia, as proprias criangas chegam
por vezes as vias de fato, nao exige destaque especial.
No que diz respeito as fantasias simples e primitivas que nao podiam,
obviamente, ser atribuidas & influéncia das impressoes escolares ou de cenas
(
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7
1. [Famosa série de livros de Mme. De Ségur, dentre os quais Les Malheurs de Sophie era alvez
‘mais popular.}
a
196, titadas de livros, seria necessério maior informagio. Quem era.a erianga que
nda espancada? A que estava ctiando a fantasia, ov uma outra? Era
re a mesma crianga, ou ds vezes era una, diferente? Quem estava bater de
: Pessoa adulta? Se era, quem? Ou.a criunea imaginavarce «
si mesma batendo em outa? Nada do que foi apurado pode esclarecer todas
as perguntas; apenas a resposta hes ae
Perguntas; apenas a resposta hesitante: ‘Nada mais sei s aa
lespaticando uma erianga, mais sei sobre isto: estio
“As pergunt
tivers
Bunlas quanto ao sexo da crianga que estava sendo espancada
m mats €xito, mas, ainda assim, nenhuma trouxe o esclarecimento. As
vezes @ resposta era: ‘Sempre rapazes’, ou ‘Apenas meninas’; com mais
freqiiéncia era: ‘Nao sei’, ou ‘Nao importa’, No entanto, jamais foi constatado
© ponto a que as perguntas se dirigiam, a descoberta de alguma relagao
constante entre o sexo da crianga que cria a fantasia e o da crianga que esta
sendo espancada. De vez em quando, surgia outro detalhe caracteristico do
contetido da fantasia: “Uma crianga esta sendo espancada, estdio-Ihe batendo
no traseiro nu.
Nessas circunstincias era impossivel, de inicio, até mesmo decidir se 0
prazer relacionado a fantasia de espancamento deveria ser descrito como
sidico ou como masoquista.
Il
Uma fantasia dessa natureza, nascida, talvez, de causas acidentais na
primitiva infancia, e retida com 0 propdsito de satisfac¢ao auto-erdtica, sé
“pode, 4 Tuz do n0ss6 conhecimento atual, ser considerada como um trago
primario de perversio. Um dos componentes da Tungao sexual desenvolv
Se; a0 que parece, a frente do resto, tomou-se prematuramente independente,
sofreu uma fixagio, sendo por isso afastadas dos processos posteriores de
desenvolvimento, e, dessa forma, da evidéncia de uma constitui¢ao peculiar
¢ anormal no individuo. Sabemos que uma perversao infantil desse tipo nio
‘persiste necessariamente por toda a vida; mais tarde pode ser submetida
repressao, substituida por uma formacao reativa ou transformada por meio
da sublimagio,_(E possivel que a sublimagao nasca de algum processo
especial’ que seria detido pela repressio.) Se esses processos, contudo, nfo
1 [Isto pode ser relacionado teoria da sublimagdo citada no Capitulo III de O Ego e 0 Id
(19236).]
a 197ocorrem, a perversio persiste até a maturidade; e Sempre que encontramos
uma aberragao sexual em adultos — perversao, fetichismo, inversao —temos
motivos para esperar que a investigagao 2 ésica revele um evento como
o que sugeri, que conduza a uma fixacdo na infancia. De fato, muito antes da
era da psicandlise, observadores como Binet conseguiam atribuir as estranhas
aberracdes sexuais da maturidade a impressées similares, e Precisamente ao
mesmo periodo da infancia, ou seja, 0 quinto ou o sexto ano de vida.' Nesse
ponto, porém a investigacio defrontava-se com as limitagdes do nosso
conhecimento; pois as impressdes que provocavam a fixagZo nao tinham
qualquer forga traumatica. Eram, na sua maioria, corriqueiras e nao excitantes
para outras pessoas. Era impossivel dizer por que o impulso sexual se
submetera particularmente a uma fixacdo nessas. impressdes. Era possivel,
no entanto, procurar o seu significado no fato de que ofereciam uma ocasiio
para fixacdo (embora acidental) exatamente ao componente que se desenvol-
vera prematuramente e estava pronto para se colocar em primeiro plano. Em
todo caso, tinhamos de estar preparados para chegar a um fim provisério,
num ponto ou noutro, ao tracar a seqiiéncia da conexio causal; e a constitui-
4o congenital parecia corresponder exatamente ao que se exigia para uma
parada dessa natureza. >
Se_o componente sexual que se soltou prematuramente é o sddico,
podemos esperar, com base no conhecimento derivado de outras fontes, que
a sua subseqiiente repressio resultard numa inclinacao para‘a neurose obses-)”
_Siva Nao se pode dizer que essa expectativa fosse contrariada pelos-resu
tados da pesquisa. O presente artigo baseia-se no estudo exaustivo de seis
casos (quatro femininos e dois masculinos). Destes, dois eram casos de
neurose obsessiva; um extremamente grave e inqualificavel; 0 outro, de
severidade moderada e bastante acessivel a influéncia. Havia um terceiro caso
que, de qualquer maneira, exibia claramente tragos individuais marcados de
neurose obsessiva. O quarto caso, temos que admitir, era de franca histeria,
com dores e inibigdes; € 0 quinto paciente, que chegou a andllise simplesmente
por causa de indecisao na vida, nao teria absolutamente sido classificado pelo
diagnéstico clinico comum, ou teria sido rejeitado como ‘psicasténico’.’ Nao
ha necessidade de sentir desapontamento quanto as estatisticas. Em primeiro
1 [Essa observaco de Binet foi mencionada por Freud nos seus Trés Ensaios e comentada em
nota acrescentada aquela obra em 1920 (Edic3o Standard Brasileira, Vol. VII, pag. 156,
IMAGO Editora, 1972).
[Ver ‘A Disposigao & Neurose Obsessiva’ (1913i).]
[Nada é dito quanto ao sexto caso.]
we
198lugar,
um dis\
aabemos que nem toda tendéncia se de
bio; em segundo lugar, devemo-nos contenta
que estio diante de nds, e deviamos, vin de regra,
algo que ndo ocorreu,
A presente et
‘senvolve necessariamente para
em explicar os fatos
evitar a tarefa de esclarecer
‘apa do nosso conhecimento permitir-nos-ia abrir caminho,
por enquanto, ¢ no mais além, no sentido da compreensao das fantasias de
espancamento. Na mente do médico analitico, € verdade, resta uma apreen-
siva suspeita de que isso nao é uma solugdo final do problema, Ele é obrigado
a admitir para si proprio que, em grande medida, essas fantasias subsistem &
parte do resto do conteiido de uma neurose e nao encontram lugar adequado
na sua estrutura, Mas impressdes dessa espécie, conforme sei por experiéncia
propria, siio apenas postas de lado muito Pprontamente.
Il
Rigorosamente considerado — e Por que nao deveria essa questdo ser
considerada com todo o rigor? —, 0 traba ho-analitico s6 merece ser reco-_
nhecido como psicanilis quando consegue remover a amnésia que oculta do__
adulto 0 seu conhecimento da infancia desde o inicio (isto é, desde um periodo
aproximadaménte entre 0 segundo 0 quinto ano de vida). Entre os analistas,
isto ndo pode ser dito com muita énfase ou repetido com muita freqiiéncia.
Os motivos para desconsiderar este lembrete so, na verdade, compreensi-
veis. Seria desejavel obter resultados praticos num periodo mais curto e com
menos problemas. Na época atual, porém, 0 conhecimento tedrico é ainda
muito mais importante para todos nés do que 0 éxito terapéutico, e quem quer
que negligencie a anilise infantil esta fadado a cair nos mais desastrosos
erros. A énfase que é dada aqui 4 importancia das primeiras experiéncias nao
implica em subestimar a influéncia das experiéncias posteriores. As impres-
sdes posteriores da vida, contudo, falam alto o bastante através da boca do
paciente, ao passo que é 0 médico que tem que elevar a voz em favor das
reivindicagdes da infancia.
E na infancia, entre os dois e os quatro ou cinco anos de idade, que os
fatores libidinais congénitos so despertados pela primeira vez pelas expe-
riéncias reais e se ligam a determinados complexos. As fantasias de espan-
camentos que agora estamos considerando, s6 se mostram_ mais para 0 final
‘desse periodo, ou apds o seu término. Assim, pode muito bem ser que tenham
um histérico anterior, que atravessem um process0-de desenvolvimento, que
‘Tepresentam unit ima manifestagdo inicial, ~~Essa suspeita é confirmada pela anilise. A aplicagao Sistematica da
andlise demonstra que as fantasias de espancamento tém um desenvolvimen-
to histérico que nao é, de modo algum, simples, ¢ no decorre,
mais de uma vez modificadas em muitos aspectos
relagio com o autor da fantasia, e qu
cado,
Com a finalidade de tornar mais facil seguir essas transformagses nas
fantasias de espancamento, devo arriscar-me agora a restringir as minhas
descriges a casos femininos, os quais, sendo quatro contra dois, constituem
de qualquer modo a maior parte do meu material. Ademais, as fantasias de
espancamento nos homens estio ligadas a outra questo, que deixarei de lado
neste artigo." Na minha descricdo, terei o cuidado de evitar ser mais esque-
matico do que o inevitavel na apresentagio de um caso comum. Se entio,
numa observagao posterior, vier a tona uma maior complexidade de circuns-
JL 6 Sancias, estarei certo, ndo obstante, de termos diante de nés uma ocorréncia
WA hy otipica e que, de mais a mais, nao é de natureza incomum.
wf NS" A primeira fase das fantasias de espancamento nas meninas deve perten-
K wy &cer, portanto, a um periodo muito primitivo da infancia. Alguns aspectos
‘XY’ permanecem curiosamente indefinidos, como se fossem uma questio de
YL indiferenga. A escassa informago forecida pelas pacientes na sua primeira
9% afirmagao, ‘uma crianga é espancada’, parece justificar-se em relagiio a essa
y fase. Um outro dos seus aspectos, porém, pode ser estabelecido com segu-
’ ranga, eno mesmo sentido, em todos os casos. A criangaem que esto batendo
ndo é jamais a que cria a fantasia, mas, invariavelmente, outra crianga, com
mais freqiiéncia um irmao ou uma irma, se existem. De vez que essa outra
crianga pode ser um menino ou uma menina, nao ha relagao constante entre
© sexo da crianga que cria a fantasia ¢ o daquela que estd sendo espancada.
A fantasia, entdo, nao € certamente_masoquista. Seria tentador chamé-la
Sadica, mas nao se pode esquecer 0 fato de que aci jue cria a fantasia
nido € a que bate, A identidade real da pessoa que bate permanece obscura,
~Tinicialmente.
adulto. Mais tatde, esse adulto
“mente r
econhecivel como o pai (da mgnina).
t do qual sio
— no que diz respeito &
anto ao seu objeto, contetido e signifi-
1 [Na verdade, Freud expe adiante (pig. 201 ¢ segs.) as fantasias de espancamento nos
homens. A base especificamente feminina das fantasias era, provavelmente, o que tinha em
mente ao falar de ‘outra questdo’.]
200Essa primcira fase da fantasia de es;
representada pela frase ‘O meu pai est
Pancamento é, portanto, inteiramente
(a baten
‘On ratendo na crianga’. Estarei denu
ciando uma grande parte do que ser4 exposto depois, quando, em lugar disso,
disser: ‘O meu pai est batendo ni
nco na crianga que ewoideta*. Pode-se, ad
hesitar em dizer se as caracteristicas de™ fantasia’
atribuidas a esse primeiro passo no sentido de uma posterior fantasia de
espancamento. E, talvez, antes uma Questo de recordagies de eventos que
foram testemunhados, ou de desejos que despertam em varias ocasides. Essas
duvidas, porém, nao sao importantes,
Entre essa fase ¢ a seguinte, ocorrem profundas transformagises. E certo
que @ pessoa que bate continua a ser a mesma (isto é, 0 Pai); mas a crianca
em que esti batendo transformous
el Se €m outra € torna-se, invariavelmente,
aquela que produz a fantasia. A fantasia € acompanhada por um alto grau de
" Prazer € adquire, ento, um contedido significalivo, a cuja origem nos dedi.
_£aremos depois. Agora, portanto, as palavras seriam: “Extousendo espancada
pelo meu pai.’ O que € de um carater inequivocamente-masoquista~
Essa segunda fase é a mais importante e a mais significativa de todas.
Pode-se dizer, porém, que, num certo sentido, jamais teve existéncia real.
Nunca é lembrada, jamais conseguiu tornar-se consciente. E uma construgao
da andlise, mas nem por isso é menos uma necessidade.
A terceira fase assemelha-se uma vez mais a primeira. Tem as palavras
q ‘se n05 toraranr familiares por meio da afirmagio do paciente. A pescoa
que bate nunca-€-o pai, mas sim, ou € deixada indeterminada tal como na
primeira fase, ou se transforma irae:
n substituto do
pai, tal como um professor. A figura da crianca que cria a fantasia ndo mais
aparece nesta. Em resposta as prementes Perguntas, as pacientes declaram
apenas: ‘Provavelmente estou olhando.” Em vez de uma crianca sendo
espancada, ha agora, via de regra, varias criancas presentes. Com maior
freqiiéncia so meninos que esto sendo espancados (nas fantasias de meni-
nas), mas nenhum deles é pessoalmente conhecido pela pessoa. A situacdo
do espancamento, que originalmente era simples e monétona, pode passar
Por alteracdes e elaboragdes as mais complicadas; castigos ¢ humilhacdes de
Qutra natureza podem substituir_o proprio espan¢amento. A caracteristica
essencial que distigue mesmo as mais simples fantasias dessa fase daquelas
da primeira, e que estabelece a ligago com a fase intermediaria, é, contudo,
a seguinte: a fantasia liga-se agora a uma forte e inequivoca excitacdo sexual,
Proporcionando, assim, um meio para a satisfaco masturbadora. E precisa-
mente isto, porém, que é desconcertante. Por que caminho a fantasia de
meninos estranhos e desconhecidos sendo espancados (uma fantasia que,
201i
Nip pavers esuliar Ge mis mesmes 0 fito de cue as interrelanes 2
fantasia &
PEnCamento, bem come todes 2s suas
ininteli givers.
fantasias de espancamento ¢ do qual so eoondadas. ela nos mostra a cunca
envolvida nas ag;
feigdes de mening esto fixadas no pai, ue provavelmente fez mda
As sfeigses de mening asco fixadas ne pal, que provavelmente fez &
© que potis pars conguIsEr os
Sementes d¢ um
Ver ts Chin = Senco, ear imipeto 2 uma ree
Sedicasdo mie. Nio & ponim, com a relago entre a mening e mae GUE 2
fantasia de espancamento esti Higada, Hi outas criangs 3 volta, apenas
alguns anos mais vethas ou mais novas, de quem no gosta por toda ape
de motives, mas principalmente porque o amor dos pais tem de ser compar
tilhado com elas, que, ademais, por essa razdo, so repelidas com toda a
energia selvagem caracteristica da vida emocional nessa idade. Se a crianca
€m questo é uma irmi ou irmio mais nove (como em tes dos meus quam,
casos), € desprezada ¢ odiada: ainda assim atrai para si a parcela de azeigo
que os cegos pais estio sempre prontos a dar ao cagula, e isto sum espeticulo
Cuja visdo no pode ser evitada, Depressa se aprende gue sex espancado, ©
2 gue sez espancado, ©
| mesmo gue nia dos mula signi un POS Saree ae
Sees uns hum
$30. E -muutas criangas. qué s® acreditavam: segurameni_eatenadas na
“inabaldvel_afsigio dos pais, forum de um so golpe aeewNadas We todas os
é ipoténcia imagingria. A idgia de o pat hatendo nessa odiesa
Srianga_é, portanto, _agradavel, independent de ter sido realmente
agindo i
Sa_enlan¢ga, ama
o da fantasia de espancamento n>
/_sua_primeira_fase. A fantasia obvi iticao_ciume da ens
/ Sepende do lado-erstice-da sta-vidanmas é, também, podemsamente refor.
cada pelos interesses egoistas da erianea. Resta, portanto, a davida quanto a
' 202| saber sea fantasia pode ser descrita com:
= 10 puramente * .
arriscar-nos a chama-la de ‘s '¢_“sexual’, ou se podemos
Como € sabido, todos 0 sinais sobre os quais nos
basear as nossas distingSes, tendem a perder aclareza & medidy on cae
nos aproximamos da fonte. Assim, talvez possamos diver eons were te
recordam a profecia feita pelas Trés Feiticeiras a Banquo. “Nao clanren,
te sexual, nem sddica, em si, mas ainda assim a natureza ratea ambos
| os impulsos surgirio depois.’ Em todo caso, contudo, nio ha motives pare
suspeitar de que nessa primeira fantasia jd esteja a servico de uma
| excitago_que envolve os genitais e encontra saida por me eoceuma
|
|
|
6 meio ti
masturbatorio. de um ato
___E.claro que a vida sexual da crianga atingiu 0 estadio de organizacao.
_genital, agora que 0 Seu amor incestuos0 Conseguiw-essa prematura esco-
Tha de objeto. Isto pode ser demonstrado mais facilmente no-caso de
meninos, é, Contudo, também indiscutivel no caso de meninas. Algo como
uma premonigao do que sao, depois, os objetivos sexuais normais e finais,
governa as tendéncias libidinais da crianga. Podemo-nos perguntar, com
razdo, por que tem de ser assim; porém, podemios considera-lo prova do
fato de que os genitais ja comegaram a desempenhar_o seu_papel_no
processo_de excitagio. Nos meninos, 0 desejo dé procriar um filho, com
a mie, jamais est ausente; nas meninas, 0 desejo de obter uma crianca
do pai € igualmente constante; € isto, apesar de serem inteiramente
incapazes de formar qualquer idéia clara da maneira de realizarem esses
desejos. A crianga parece estar convencida de que 0s genitais tém algo-a
-vercom 0 assunto, muito embora, em suas constantes cogitagdes, pos
procurar peta esséncia da presumida intimidade emitre os pais em relagdes
de outra espécie, tais como no fato de dormirem juntos, de urinarem-na
presenca um do outro etc,; ¢ 0 material desse ultime tipa pode ser mais
facilmente_apreendido em imagens verbais, do que 0 mistério queesta
relacionado com os genitais. ~
~~ Mas chega a época em que esse florescimento prematuro € estragado
pela-geataNenhum desses amores incestuosos pode evitar o destino da
“tepressio, Podem sucumbir a ela por ocasiio da descoberta de algum
“Svento éxterno que leva a desiluso — tal como o desprezo inesperado, ©
indesejado nascimento de um novo irmao ou irma (que € sentido come
uma infidelidade) etc.; ou pode acontecer a mesma coisa devido a condi-
des internas alheias a tais eventos, talvez simplesmente porque o anscio
permaneceu por muito tempo insatisfeito. E inquestionavelmente certo
que tais eventos nao sfo as causas efetivas, mas sim, que esses casos de
{ 203Aaoee:
amor esto de
nados a fracas. Ss cedo ov : 4
inados a fhicassar, mats cedo ow mais tarde, embora nao
possamos dizer qual o obsticulo especiticw. O mais provavel ¢ que eles
passem, porque © sew periods acabou, porque as eriangas ingressaram
a par
Incestvosa, tal como, numa etapa anterior, foram obri
ma nova fase de desenvelyimento, na qual sho compelidas a recapitular
ir da historia da humanidade, a repressio de uma escotha objetal
adas a efetuar uma
ssa mesma natureza.’ Na nova fase, nenhum produto
escotha objetal di
mental dos impulsos de amor incestuosos que esteja inconscientemente
presente € assumido pela conscigneia: ¢ nada que pi tenha aleangado a
Sacia é dela expulso. Ao mesmo tempo em que ocerre esse processo
le € também de origem
conse
de repressdo, surge um sentimento de culpa.
desconheeida, mas nio ha diivida de que, por qualquer que seja, esti
stuosos e justificada pela persisténcia desses dese-
hgada aos desejos ine
no inconsciente.?
A fantasia do periodo de amor incestuoso havia dito: ‘Ele (0 meu pai)
soamaamim,¢ nao a outra crianga, pois esta batendo nela.” O sentimento
de culpa ndo pode descobrir um castigo mais severo do que a inversio
desse triun Nao, ele ndo ama voces, pois esta batendo em voce.” Desse
modo, a fantasia da segunda fase, a de ser espaneada pelo pai, & uma
expressio direta do sentimento de culpa da menina, ao qual o scu amor
pelo pai sucumbiu agora. A fantasia, portanto, tornou-se masoquista. Até
onde sei, é sempre assim; um sentimento de culpa é invariavelmente 0
fator que converte o sadismo em masoquismo. Certamente, porém, nio é
este o contetido total do masoquismo. O sentimento de culpa nao pode ter
conquistado o campo sozinho; uma parcela deve ser atribuida ao impulso
de amor. Devemo-nos lembrar de que estamos lidando com criangas cujo
componente sadico conseguiu, por motivos constitucionais, desenvolver-
se prematura e isoladamente. E preciso nio abandonar esse ponto de vista.
exatamente essas criangas que acham particularmente facil voltar 4
organizagao pré-genital, anal-sddica, da vida sexual. Se a organizagio
genital, que mal conseguiu firmar-se, defronta-se com repressio, a con-
seqiiéncia ndo é apenas a de que toda representacao psiquica do amor
incestuoso se torna inconsciente, ou permanece inconsciente, mas existe
também outro resultado: um rebaixamento regressivo da propria organi-
jo:
1 Compare-se 0 papel descmpenhado pelo Destino no mito de Edipo.
2 [Nota de rodapé acrescentada em 1924: Ver a continuagio dessa linha de pensamento em
*A Dissolucdo do Complexo de Edipo’ (1924d).
204
_ —amen
zagdo genital para um nivel mais baixo. ‘9
expressar wm sentido genital; devido a Tegress:
par esti me batendo (estou sendo €spancado pelo meu :
espaneadg € agora wma convergéncia do sentimereg ne esac
sevnal, Mo é apenas o castigo pela relaca ulpa ¢ do amor
» substituto regressive daquel
ercitayio libidinal que se liga
escoamento em atos m
Meu pai me ama’ queria
#40, COnverte-se em ‘O. meu
ag ! proibida, mas também
ssa ultima fonte deriva a
a fantasia a Partir de ent:
; f ao, € que encontra
asturbatorios. Aqui temos, Pela primeira vez, a
mo, .
esséneia do masoquii
pelas mies dos colegas ou outras mulh
jeres que, de alguma forma, se
ssemelhavam a ela. Nao nos devemos esquecer de que, quando a fantasia
incestuosa de um menino se converte na fantasia masoquista correspon-
dente, ocorreu uma inversio a mais do que no caso de uma menina, ou
A, a substituigao da atividade pela passividade; e esse grau adicional de
distor¢do pode salvar a fantasia de ter que permanecer inconsciente, em
conseqiiéncia da repressiio. Dessa maneira, o sentimento de culpa seria
satisfeito pela regressdio, em vez de o ser pela repressio. Nos casos
femininos, 0 sentimento de culpa, em si talvez mais preciso, s6 podia ser
apaziguado por uma combinagio das duas.
Em dois dos meus quatro casos femininos, uma elaborada superestrutura
de devaneios, que era de grande significado para a vida da pessoa em questo,
desenvolvera-se sobre a fantasia masoquista de €spancamento. A fungao
dessa superestrutura era tornar possivel um sentimento de excitaco satisfei-
ta, mesmo que houvesse abstengio do ato masturbatério. Em um desses
casos, permitia-se que 0 contetido — ser espancado pelo pai — se arriscasse
outra vez pela consciéncia, na medida em que 0 proprio ego do sujeito se
tornasse irreconhecivel por meio de um pobre disfarce. O herdi dessas
historias era invariavelmente espancado (ou, depois, apenas punido, humi-
Ihado etc.) pelo seu pai.
Repito, no entanto, que a fantasia, via de Tegra, ermanece incon a ae
© S60 pode ser reconstruida no decorrer da anilise. Esse fato i Ne a sui
Os pacientes que dizem lembrar-se de que, para eles, a masturba¢!
205antes da terceira fase da fantasia de espancamento (0 que sera discutido
adiante), e que essa fase era apenas uma adi¢ao posterior, feita talvez sob a
impressio das cenas na escola, Toda vez que dei crédito a essas afirmagoes,
senti-me inclinado a presumir que a masturbagio estava, inicialmente, sob 0
dominio das fantasias inconscientes e que as conscientes s6 as substituiram
depois.
Considero a fantasia de espancamento, na sua terceira fase, que € a mais
familiar e é a sua forma final, um substituto desse tipo. Aqui a crianga que
cria a fantasia aparece quase como um espectador, ao passo que 0 pai persiste,
sob a forma de um professor ou qualquer outra autoridade. A fantasia, que
entio se assemelha a da primeira fase, parece haver-se tomado, uma vez mais,
sddica. E como que se na frase ‘O meu pai esta batendo na crianga, ele s6
ama a mim’, a énfase tenha-se deslocado para a primeira parte, depois que a
segunda sofreu repressio. Contudo, apenas a forma dessa fantasia é sAdica;
a satisfagao que deriva assumiu a catexia libidinal da porgao reprimida e, ao
mesmo tempo, 0 sentimento de culpa que esta ligado ao contetido daquela
porgiio. Todas as criangas niio especificadas, que esto sendo espancadas pelo
professor, afinal de contas, nada mais sio do que substitutos da propria
crianga.
Também pela primeira vez encontramos aqui algo como uma cons-
tancia do sexo nas pessoas que desempenham um papel na fantasia. As
criangas que estZo sendo espancadas sao quase invariavelmente meninos,
tanto nas fantasias destes, quanto nas das meninas. Essa caracteristica nao
deve ser naturalmente explicada por qualquer rivalidade entre os sexos,
como se nas fantasias dos meninos devessem as meninas ser espancadas;
e nada tem a ver com o sexo da crianga que era odiada na primeira fase.
No entanto, tal caracteristica assinala uma complicagao no caso de meni-
nas. Quando elas se afastam do amor incestuoso pelo pai, com o seu
significado genital, abandonam com facilidade o papel feminino. Poem
em atividade o seu ‘complexo de masculinidade’ (Van Ophuijsen [1917])
€, a partir de entdo, querem apenas ser meninos. Por esse motivo, os bodes
expiatérios que as representam sio também meninos. Em ambos 0s casos
de devaneio — um dos quais quase se elevou ao nivel de uma obra de arte
— os herdis eram sempre rapazes; na verdade as mulheres ndo costuma-
vam, absolutamente, surgir nessas criagdes e s6 fizeram a primeira apari-
¢ao depois de muitos anos, e, ainda assim, em papéis de menor
importancia.
206
aiiervagoes Podem ser utilizadas em
Rénese das perversdes em geral e do
ar © papel desempenhado pela dife-
varios sentidos: para esclarecimento da
masoquismo em particular, e para avali
renga de sexo na dindmica da neurose,
O resultado mais ébvio de tal discussio € a sua aplicacdo a origem das
perversdes. O ponto de vista que trouxe Para primeiro plano, a esse respeito,
o reforgo constitucional ou 0 crescimento
te sexual, na verdade nao esta abal.
a Verdade. A perversion
Prematuro de um unico componen-
lado: mas verifica-se que no abrange toda
0 mais é um fato isolado na vida sexual da crianga,
mas encontra 0 seu lugar entre os processos tipicos, para ndo dizer normais,
de desenvolvimento que nos sio familiares. E levada a uma relagdo com 0
objeto de amor incestuoso da crianga, com o seu complexo de Edipo.
Destaca-se, de inicio, na esfera desse complexo; € depois que 0 complexo
sucumbiu, permanece, quase sempre por si, como herdeiro da carga de libido
daqucle complexo, oprimido pelo sentimento de culpa ligado a ele. A
constituigéo sexual anormal, finalmente, mostrou a sua forga impondo ao
complexo de Edipo uma determinada ditey3o ¢ compelindo-o a deixar para
tris um residuo incomum
Uma perversao na infancia, como € sabido, pode tornar-se a base
para a construgdo de uma perversdo que tenha um sentido similar e que
persista por toda a vida, uma perversio que consuma toda a vida sexual
do sujcito, Por outro lado, a perversio pode ser interrompida e perma-
necer ao fundo de um desenvolvimento sexual normal, do qual, no
entinto, continua a retrar uma determinada quantidade de energia. A
primeira dessas alternativas j4 era conhecida antes da era da andlise.
Contudo, a investigagio analitica de casos io plenamente desenvolvi-
dos praticamente cobre a lacuna entre as duas. Pois descobrimos muitas
Vezes que esses pervertidos também fazem uma tentativa para desen-
Volver uma atividade sexual normal, geralmente durante a puberdade,
Mas a tentativa no tinha forga suficiente € foi abandonada diante dos
obstaculos que inevitavelmente se levantam, apés-o que voltam a fixa-
io infantil de uma vez por todas.
207; Naturalmente seria importante Saber se a origem das Perversies
infantis a partir do complexo de Edipo pode ser afirmada come urs
prinefpio geral. Embora isto ndo possa ser resolvido sem mais investiga,
des, ndo parece impossivel. Quando nos lembramos das anamneses que
foram obtidas em casos de perversdo em adultos, nao podemos deixar de
notar que a impressio decisiva, a ‘primeira experiéncia’, de todos os
pervertidos, fetichistas etc. dificilmente se refere a um periodo anterior
ao sexto ano de vida. Nessa época, no entanto, o dominio do complexo de
Edipo ja cessou; a experiéncia que é recordada, e que foi efetiva de modo
tio desconcertante, pode muito bem representar 0 legado daquele com.
plexo. As ligagées entre a experiéncia ¢ 0 complexo, que por essa época
esta reprimido, estdo destinadas a permanecer obscuras na medida em que
a analise nao esclarece o periodo anterior a primeira impressdo ‘patogé-
nica’. De modo que se pode imaginar como é pequeno o valor que se deve
atribuir, por exemplo, a uma afirmagiio de que um caso de homossexua-
lismo é congénito, quando o motivo dado para se acreditar que 0 seja é
que, desde os seis ou os oito anos, a pessoa em questdo sé sentiu
inclinagdes para o seu proprio sexo. .
Se, no entanto, a derivagao das perversées a partir do complexo de
Edipo pode ser estabelecida de modo geral, a nossa estimativa quanto
A sua importancia terd adquirido fora adicional. Porque, na nossa
opiniao, o complexo de Edipo é 0 verdadeiro nucleo das neuroses e a
sexualidade infantil que culmina nesse complexo é que determina real-
mente as neuroses. O que resta do complexo no inconsciente representa
a inclinagio para o posterior desenvolvimento de neuroses no adulto.
Dessa forma, a fantasia de espancamento ¢ outras fixagdes perversas
andlogas também seriam apenas residuos do complexo de Edipo, cica-
trizes, por assim dizer, deixadas pelo processo que terminou, tal como
0 notério ‘sentimento de inferioridade’ corresponde a uma cicatriz
narcisica do mesmo tipo. Ao assumir esse ponto de vista do assunto,
devo dizer que concordo sem reservas com Marcinowski (1918), que
recentemente o expés de modo mais feliz. Como é sabido, esse delirio
neurético de inferioridade é apenas parcial e inteiramente compativel
com a existéncia de uma superautovalorizagao derivada de outras fon-
tes. A origem do préprio complexo de Edipo e do destino que compele
o homem, provavelmente sozinho entre todos os animais, a iniciar duas
vezes a sua vida sexual, primeiro, como todas as criaturas, na primitiva
infancia, e depois, apés uma longa interrupgao, uma vez mais na puber-
dade — todos os problemas ligados a ‘heranga arcaica’ do homem —,
208ja foram por mim debatidos em outra Parte, ¢ ndo tenho intencio de
adentrar-me neles, neste artigo.' aie
A nossa exposigio da fantasia de Espancamento pouco esclareceu a
génese do masoquismo, Para comegar, parece hav, :
de vista de que 0 Masoquismo nio é a manifestag:
sc origina do sadismo que foi volt
et confirmagao do ponto
410 de um instinto primario,
ado contra 0 eu (self)
meio de regressio de um objeto para o ego.? Pode-se ter com
instintes com propésito passiv
— 0u seja, por
No certo que os
‘0 existem, particularmente entre as mulheres.
A passividade, contudo, nao € a totalidade do masoquismo. A caracteristica
do desprazer também pertence a ele — um desconcertante acompanhamento
para a satisfagdo de um instinto, A transformagio do sadismo em masoquis-
mo parece dever-ser a influéncia do sentimento de culpa que participa do ato
de repressio. Assim, a repressio opera, aqui, de trés modos: torna incons-
cientes as conseqiiéncias da organizacao genital, obriga essa organizagio a
regredir ao anterior estadio sadico-anal e transforma o sadismo desse estidio
em masoquismo, que é passivo € novamente, num certo sentido, narcisico.
O segundo desses trés efeitos torna-se possivel pela fraqueza da organizagiio
genital, que deve ser pressuposta em tais casos. O terceiro torna-se necessario
porque 0 sentimento de culpa faz tantas objecdes ao sadismo, como a escolha
objetal incestuosa, genitalmente concebida. Mais uma vez, a andlise nao nos
fornece a origem no proprio sentimento de culpa. Parece ser trazido pela nova
fase em que a crianca ingressa e, se persiste depois, parece corresponder a
uma formago semelhante a uma cicatriz, como a do sentimento de inferio-
ridade. De acordo com a nossa orientagio atual na estrutura do ego, que ainda
é incerta, deviamos atribui-lo a instancia mental que se instala como uma
consciéncia critica sobre o resto do ego, que produz o fenémeno funcional
de Silberer [1910] nos sonhos e que se desprende do ego nos delirios de
observacio. -
Também podemos notar, de passagem, que a anilise da perversio
infantil tratada aqui ¢ igualmente de grande ajuda na solugdo de um velho
n suas Conferencias
1 [Freud havia discutido amplamente essas questdes, pouco tempo antes, em
aaa (1916-17) asticularmente nas Conferéncias XXle XXII. Cf. também adiante,
Ors ‘pio de Prazer (19208).
Cros ime suas Vicissitudes’ (1915c). — [Em Além do Principi ede Precee (17208)
Edicao Standard Brasileira, Vol. XVIII, pags. 74-5, pace a 5
que poderia haver, afinal de contas, um masoquismo primério) sg
3 [Ver a Pane III do artigo de Freud sobre o narcisismo (1914¢), Sn 5
descrita mais tarde como ‘superego’. Cf. o Capitulo Ill de O Ego €0 ld ( .enigma — enigma que, na vendade, sempre perturbou aqueles que nao
aceitaram a psicanilise mais do que accitaram os proprios analistas, Isto,
ainda que, reventemente, até mesmo Bleuler (1913. Cf. Edigio Standard
Brasileira, Vol. VU, pag. 185 n., IMAGO Editora, 1972] tenha considerado
importante ¢ inexplicivel o fato de que os neurdticos fazem da masturbagio
© ponto central do seu sentimento de culpa, Ha muito presumimos que esse
sentimento de culpa se relaciona com a masturbagio da primitiva infiincia, ¢
nao com a da puberdade; e que, no essencial, deve-se liga-lo no com o ato
da masturbagiio, mas sim com a fantasia que, embora inconsciente, esta na
sua raiz — ou seja, com o complexo de Edipo.'
No que diz respeito a terveira fase da fantasia de espancamento, aparen-
temente sadica, j expus [pigs. 206] 0 significado que cla adquire como
veiculo da excitac3o que impele a masturbagdo; e demonstrei como desperta
atividades da imaginagao que, por um lado, prosseguem a fantasia ao longo
da mesma linha, e, por outro, a neutralizam através da compensacio. Nio
obstante, a segunda fase, a fase inconsciente e masoquista, € incomparavel-
mente a mais importante. Nio apenas porque continua a operar através da
instancia da fase que toma o seu lugar; podemos também detectar efeitos
sobre 0 carater, derivados diretamente da sua forma inconsciente. Pessoas
que abrigam fantasias dessa espécie, desenvolvem uma sensibilidade e uma
irritabilidade especial contra quem quer que possam incluir na categoria de
‘pai’. Sao facilmente ofendidas por uma pessoa assim e, desse modo (para
sua propria tristeza), efetuam a realizado da situag’o imaginada de serem
espancadas pelo pai. Nao me surpreenderia se algum dia fosse possivel provar
que a mesma fantasia é a base do delirante espirito litigioso da paranéia.
Vi
Teria sido impossivel dar uma visio clara das fantasias infantis de
espancamento, se nao me houvesse limitado, exceto em uma ou duas relagoes,
4 situago feminina. Recapitularei rapidamente as minhas conclusdes. A
fantasia de espancamento da menina passa por trés fases, das quais a primeira
© terceira sdo lembradas conscientemente, ao passo que a do meio perma-
nece inconsciente. As duas fases conscientes parecem ser sddicas, enquanto
1 [Ver, por exemplo, o que esté exposto no caso clinico do ‘Rat Man’ (1909d), Standard Ed.,
10, 202 e segs.)
210segunda, a inconsci ir i
ae Soe € indubitavelmente de natureza my,
e i i
™ Ser a crianga espancada pelo pai, e far ¢ acompanhar
de uma carga libidinal e de um Sentimento de culpa, N
fantasia, a criangaem que esto batendo é valguemanentecae
que a imaging na fase ten eee sempre asm que no sea uel
: S na, € sempre a propria criang:
_ n a crianga; na terceira
e sempre Meninos que esto sendo espane:
bate é, a partir da primeira, 0 Pai, substituido.
categoria patet fantasia i ‘
categori a a ema A fantasia Iconsciente da fase média tinha primariamente
um ee icado genital e evoluiu, por mcio da Tepressio ¢ da regressio, de
m des ces! i , ;
um aie incestuoso de ser amada pelo pai. Um outro fato, ainda que parega
a0 ter liga¢ao mais estreita com o Testo, € que entre a segunda e a terceira
fase ina e i i i
as meninas mudam de sexo, pois nas fantasias da Ultima fase transfor-
mam-se em meninos.
Nao consegui progredir tanto no meu conhecimento das fantasias de
espancamento nos meninos, talvez porque o meu material nao era favoravel,
Esperava, naturalmente, encontrar uma analogia completa entre a situagao no
caso dos meninos e no das meninas, em que a mie toma o lugar do pai na
fantasia. Essa expectativa parecia confirmar-se, pois 0 contetido da fan
masculina que seria tomado como correspondente era, na verdade, o de ser
espancado pela mie (ou, mais tarde, por uma substituta dela). Entretanto, e:
fantasia, na qual o proprio eu (se/f) do menino era mantido como a Pessoa
que estava sendo espancada, diferia da segunda fase das meninas porque
conseguia tornar-se consciente. Se, por causa disso, tentarmos, no entanto,
tracar um paralelo entre ela ¢ a ferceira fase da fantasia feminina, encontra-
remos uma nova diferenga, pois a figura do proprio menino nio é substituida
por um numero de criangas desconhecidas e indeterminadas, menos ainda
por uma série de meninas. Portanto, era enganosa a expectativa de haver um
paralelo completo.
Os meus casos masculinos com uma fantasia infantil de espancamento
eram apenas uns poucos pacientes que nao exibiam qualquer outro dano grave
nas atividades sexuais; inclufam também um grande nimero de pessoas que
teriam que ser descritas como auténticos masoquistas, no sentido de serem
pervertidos sexuais. Ou eram pessoas que obtinham sal 0 sexual exclu
sivamente pela masturbagdo acompanhada de fantasi mrasoquistas; ou cram
pessoas que haviam conseguido combinar 0 masoquismo coma sua atividade
genital, de tal modo que, paralclamente a experiducias nasoquistas € sob
condigdes semelhantes, conseguiram chegar a eregiio e ejaculagio, ou levar
acabo uma relagéo normal. Além desses, haviao caso mais raro em. que um
masoquista é perturbado nas suas atividades pervertidas pelo aparecimento
Oquista; seu
dos. A pessoa que
depois por alguém escolhido na
Qude idéias obsessivas de intensidade insuportavel. Entretanto, os pervertidos
que conseguem obter satisfacdo raramente tém ocasiao de procurar analista,
No que diz respeito, porém, as trés categorias de masoquistas que foram
mencionadas, pode haver fortes motivos para induzi-los a ir a um analista, 0
masturbador masoquista descobre que é absolutamente impotente se, afinal,
tenta manter relagdes com uma mulher; ¢ o homem que sempre efetuou a
relacdio com o auxilio de uma idéia ou uma proeza masoquista, faz, de repente,
a descoberta de que a alianga que cra tio conveniente para ele ndo mais
funciona, de que scus drgdos genitais deixaram de reagir ao estimulo maso-
quista, Estamos acostumados a prometer confiantemente a recuperacao aos
pacientes psiquicamente impotentes que nos procuram para tratamento; mas
deveriamos ser mais precavidos ao fazer esse prognéstico, na medida em que
a dinamica do distirbio nos € desconhecida. E uma surpresa desagradavel se
a andlise revela que a causa da impoténcia ‘meramente psiquica’ é uma
atitude tipicamente masoquista, talvez profundamente arraigada desde a
infancia.
No que concerne aos masoquistas do sexo masculino, no entanto, uma
descoberta nos adverte para nao mais seguirmos a analogia entre 0 caso destes
¢ 0 das mulheres, mas para julga-los independentemente. A razio é que
emerge o fato de que, nas suas fantasias masoquistas, bem como nos artificios
que utilizam para a realizagio destas, eles invariavelmente se transferem para
0 papel de uma mulher; ou seja, a sua atitude masoquista coincide com uma.
atitude feminina. Isto pode ser facilmente demonstrado a partir de detalhes
das fantasias; muitos pacientes, porém, estao, eles proprios, cénscios desse
fato e dio-Ihe expressao como convicgao subjetiva. Nao faz diferenga se, num
embelezamento fantasioso da cena masoquista, eles sustentam a ficgdo de
que um menino malvado, ou um pajem, ou um aprendiz, vai ser castigado.
Por outro lado, as pessoas que aplicam o castigo séo sempre mulheres, nas
fantasias como nos desempenhos. Isto é bastante confuso; e outra questo
que deve ser colocada é saber se essa atitude feminina ja forma a base do
elemento masoquista na fantasia de espancamento infantil.'
Deixemos, portanto, de lado as consideragées sobre a situagdo em casos
de masoquismo adulto, que é tao dificil de esclarecer, e voltemos a fantasia
de espancamento infantil no sexo masculino. A andlise dos primeiros anos
da infancia uma vez mais permite-nos fazer uma descoberta surpreendente
1 [Nota acrescentada em 1924:] Mais observacies sobre este tema serdo encontradas em ‘O
Problema Econémico do Masoquismo’ (1924c).
212cado pelo meu pai
we enTaa, Na verdade, a Segunda fase
familiar
” Esse estadio preliminar
e \ da fantasia na menina. A
€consciente, ‘Estou sendo espancado pela minha mae’, toma
nal na sua existéncia, pois vejo pi
com Upos mais complicados.
antasia masculina— como a chamarei sumariamente e, espero, sem
seer sco de ser mal interpretado — o ser espancado também significa
© (Gum sentido genital), embora rebaixado a um nivel inferior, por
Tegress3o, De maneira que a forma original da fantasia masculina
t2 N30 era a que demos Provisoriamente até aqui, ‘Estou sendo
) pelo meu pai’, mas, antes, ‘Sou amado pelo meu pai.” A fantasia
“ormada, por processos que nos so familiares, em fantasia conscien-
Estou sendo espancado pela minha mae’. A fantasia de espancamento
SO menino é portanto, passiva desde o comego e deriva de uma atitude
2 em relac3o ao pai. Corresponde ao complexo de Edipo tal como a
mina (a da menina); apenas a relagao paralela que esperavamos
rontamente a possibilidade de
encontrar entre as duas, deve ser abandonada em favor de um carater comum
ongem numa ligacdo incestuosa com o pai.'
Ajudard a tornar as coisas mais claras se, nesse ponto, enumero as demais
milaridades e diferengas entre as fantasias de espancamento em ambos os
s2xos. No caso da menina, a fantasia masoquista inconsciente parte da atitude
edipiana normal; no caso do menino, parte da atitude invertida, na qual o pai
€ tomado como objeto de amor. No caso da menina, a fantasia tem um estadio
preliminar (a primeira fase), no qual o espancamento nao tem um significado
especial e é feito sobre uma pessoa vista com rancor ciumento. Ambos esses
aspectos estdo ausentes no caso do menino, mas essa diferenga particular é
uma das que poderiam ser removidas por uma observacao mais afortunada.
1 [Uma fantasia de espancamento desempenha um pequeno papel na andlise do ‘Homem dos
{Ur
Lobos’ (1918h). Ver pags. 7€ 97.
213