Sole-Cava-Evolução Vol 1 Livro
Sole-Cava-Evolução Vol 1 Livro
Evolução
Evolução
Volume 1 Antonio Solé Cava
Edson Pereira da Silva
Gisele Lôbo-Hajdu
Apoio:
Fundação Cecierj / Consórcio Cederj
Rua Visconde de Niterói, 1364 – Mangueira – Rio de Janeiro, RJ – CEP 20943-001
Tel.: (21) 2334-1569 Fax: (21) 2568-0725
Presidente
Masako Oya Masuda
Vice-presidente
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Material Didático
ELABORAÇÃO DE CONTEÚDO Departamento de Produção
Antonio Solé Cava
Edson Pereira da Silva EDITORA PROGRAMAÇÃO VISUAL
Gisele Lôbo-Hajdu Tereza Queiroz Fábio Guimarães
COORDENAÇÃO DE DESENVOLVIMENTO COORDENAÇÃO EDITORIAL COORDENAÇÃO DE
INSTRUCIONAL Jane Castellani ILUSTRAÇÃO
Cristine Costa Barreto Eduardo Bordoni
COPIDESQUE
DESENVOLVIMENTO INSTRUCIONAL E Nilce Rangel Del Rio ILUSTRAÇÃO
REVISÃO Fabiana Rocha
REVISÃO TIPOGRÁFICA
José Meyohas Kátia Ferreira dos Santos CAPA
Maria Helena Hatschbach Patrícia Paula Fabiana Rocha
Marta Abdala
COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO GRÁFICA
REVISÃO TÉCNICA PRODUÇÃO Patricia Seabra
Marta Abdala Jorge Moura
S685e
Solé-Cava, Antonio.
Evolução v.1 / Antonio Solé-Cava. – Rio de Janeiro: Fundação
CECIERJ, 2010.
172p.; 19 x 26,5 cm.
ISBN: 85-7648-065-4
CDD: 576.8
2010/1
Referências Bibliográficas e catalogação na fonte, de acordo com as normas da ABNT.
Governo do Estado do Rio de Janeiro
Governador
Sérgio Cabral Filho
Universidades Consorciadas
UENF - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO UFRJ - UNIVERSIDADE FEDERAL DO
NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO RIO DE JANEIRO
Reitor: Almy Junior Cordeiro de Carvalho Reitor: Aloísio Teixeira
Referências _______________________________________169
1
AULA
Introdução. A dialética da
Evolução. Algumas perguntas
objetivos
INTRODUÇÃO Evolução é o processo unificador da Natureza. É ela que nos liga, por laços
de ancestralidade, a todos os seres vivos do planeta. Ela é a nossa história,
a origem das relações ecológicas, da diversidade do planeta. É na evolução
que encontramos a explicação para a taxonomia. Foi a evolução que gerou a
complexidade celular, as relações fisiológicas e os processos bioquímicos. Todas
essas frases refletem o papel da evolução na formação histórica do mundo atual.
Foi por isso que a frase sobre a importância fundamental da evolução (“...nada
faz sentido senão à luz da evolução.”) foi citada, tanto na Aula 8, de Grandes
Temas em Biologia, como na primeira aula do curso de Genética.
De fato, o estudo da evolução envolve tantos outros estudos, que essa matéria é
dada somente após os alunos de Biologia terem sido devidamente apresentados
à Genética, à Dinâmica da Terra, à Ecologia e à Taxonomia dos Seres Vivos.
A evolução é a explicação integradora da biodiversidade em todos os seus
níveis. Seu estudo envolve a observação dos seus resultados e a formulação de
hipóteses sobre como foram produzidos esses resultados. Ele envolve também
a previsão, baseada nessas hipóteses, sobre resultados ainda não observados.
Mas... o que é a evolução? Pense e responda: como você definiria evolução?
8 CEDERJ
Organic life beneath the shoreless waves
1
Was born and nursed in ocean’s pearly caves;
AULA
First forms minute, unseen by spheric glass,
Move on the mud, or pierce the watery mass;
These, as successive generations bloom,
New powers acquire and larger limbs assume;
Whence countless groups of vegetation spring,
And breathing realms of fin and feet and wing.
CEDERJ 9
Evolução | Introdução. A dialética da Evolução. Algumas perguntas
10 CEDERJ
EVOLUÇÃO COMO PROCESSO DIALÉTICO
1
AULA
A base da teoria evolutiva é a dialética entre o que muda e o que
permanece. A teoria evolutiva também deve levar em conta o resultado
da mudança que a coisa alterada provoca em seu redor. Assim, em vez
de vermos apenas o ambiente como guia das mudanças adaptativas dos
organismos, vemos também os organismos mudando o ambiente. Um
exemplo bem claro desse processo é a evolução da aerobiose no planeta.
Como nos outros planetas do nosso sistema solar, onde freqüentemente
o oxigênio está ausente, a concentração de oxigênio livre na atmosfera
primitiva da Terra era muito baixa (0,01%). Isso permitiu o aparecimento
e a concentração de compostos orgânicos nos oceanos, sem que eles
sofressem ataques oxidativos dos gases da atmosfera neles dissolvidos.
Após o surgimento da vida e sua primeira diversificação, todos os
organismos viviam em condições anaeróbicas (ou seja, sem oxigênio),
conforme ainda encontramos em alguns grupos de bactérias no oceano
(em fontes hidrotermais no mar profundo) ou em terra (como a bactéria
do tétano, que morre em contato com o oxigênio, e por isso a água
oxigenada é eficaz para ajudar a limpar feridas). A maneira anaeróbica
de viver permaneceu no planeta por muitos milhões de anos usando,
como fonte de energia para vida, os compostos orgânicos e inorgânicos
acumulados nos oceanos nos milhões de anos anteriores.
No entanto, eventualmente surgiram bactérias capazes de usar
uma nova forma de energia: a luz do Sol. A vantagem de usar a luz
solar como fonte de energia para a vida era enorme, por ela ser abundante.
como era feito anteriormente pelas bactérias anaeróbicas, essa energia
era usada para reduzir compostos orgânicos, dessa vez, porém, era usada
com o hidrogênio nascente da hidrólise da água (H2O 2 H+ + O-). Se
o hidrogênio produzido era útil para a bioquímica dessas células, o mesmo
não se pode dizer do oxigênio, que era tóxico; desse modo, a evolução da
fotossíntese só foi possível com os efeitos da diluição do oxigênio na água
(lembre-se de que tudo isso estava acontecendo na água, onde se originou
e permaneceu, por milhões de anos, a vida). Você observou o título desta
seção, “A evolução como processo dialético”? No dicionário, vemos que
“dialética” é, segundo a Filosofia, o “desenvolvimento de processos gerados
por oposições que provisoriamente se resolvem em unidades”. Então me diga:
Onde está a dialética dessa história do oxigênio que estamos vendo? Quais
são as oposições? E qual foi a resolução dessas oposições?
CEDERJ 11
Evolução | Introdução. A dialética da Evolução. Algumas perguntas
12 CEDERJ
meio ambiente seleciona as espécies e as espécies modificam o ambiente,
1
em processo contínuo. Você pode pensar em outros exemplos em que as
AULA
espécies mudam o ambiente, permitindo a evolução de outras espécies?
PENSANDO A NATUREZA
CEDERJ 13
Evolução | Introdução. A dialética da Evolução. Algumas perguntas
14 CEDERJ
6. Por que as baleias e golfinhos não têm brânquias?
1
AULA
7. Por que gêneros de répteis que vivem a vida inteira
em locais sem nenhuma luz têm olhos (ainda que ocultos) por
baixo da pele?
bb
bb = Broto do Braço
bp = Broto da Perna
bp
CEDERJ 15
Evolução | Introdução. A dialética da Evolução. Algumas perguntas
Figura 1.3
cm
16 CEDERJ
É possível, inclusive, estabelecer modelos matemáticos complexos para
1
cada uma dessas curvas e escrever relações sofisticadas, do tipo: “quando
AULA
os gatos têm 10cm, eles apresentam 130g; depois, eles devem diminuir
de peso, por causa da energia despendida no desenvolvimento gonadal.
Depois, aos 20cm, eles sofrem uma grande engorda, passando de 1kg.
A partir daí, seu envelhecimento começa, de modo que, aos 50cm, eles
voltam a pesar 900 gramas”.
Para que a Ciência seja possível, devemos ser capazes de escolher entre
as explicações alternativas para os fenômenos. Essa decisão é melhor tomada
através da verificação experimental (por exemplo, aumentando o número de
medidas ao longo da curva), como também pelo princípio da parcimônia.
Nesse caso, usamos o que ficou conhecido como A Navalha de Occam, que
recebeu esse nome por ter sido usada freqüentemente pelo filósofo e teólogo
franciscano, do século XIII, William de Occam (nome de uma cidadezinha
inglesa). Pelo princípio da Navalha de Occam, se temos duas ou mais
explicações para um determinado fenômeno e não temos nenhuma razão
para crer que uma seja melhor que a outra, devemos escolher aquela que
dependa do menor número de pressupostos. Em outras palavras, devemos
usar a navalha para cortar as explicações desnecessariamente complicadas
e escolher a que for mais simples. A Navalha de Occam é instrumento
fundamental para os cientistas.
Tente, então, rever as respostas que você deu a cada uma das 12
perguntas anteriores e aplicar a Navalha de Occam para escolher aquelas
que são mais simples.
RESUMO
CEDERJ 17
Evolução | Introdução. A dialética da Evolução. Algumas perguntas
ATIVIDADES FINAIS
1. “No princípio era a sopa”. Essa sopa era sem vida, mas rica em nutrientes produzidos
quimicamente, a partir da atmosfera redutora primitiva e acumulados durante
milhões de anos. Ela permitiu o início da vida, pois representava uma quantidade
razoável de energia química acumulada. Assim, a primeira vida na Terra deve ter
sido heterotrófica, usando essa energia. Porém, durante o crescimento dessa vida,
tal sopa foi sendo consumida rapidamente, e a vida na Terra, nesse momento, corria
o risco de se extinguir ou permanecer em níveis muito baixos, porque o processo
de geração de alimentos quimicamente era muito lento. A vida, então, gerava sua
primeira contradição: consumir sem produzir. O que permitiu que essa contradição
fosse superada? E que nova contradição surgiu a partir dessa superação?
RESPOSTA
A superação dessa contradição se deu através do aparecimento de bactérias que
conseguiam obter energia de uma fonte nova – o Sol. Essas bactérias usavam
a luz para quebrar a molécula da água, produzindo hidrogênio, que era útil
para reduzir compostos orgânicos e aumentar sua complexidade. A superação
da contradição da heterotrofia, então, foi a fotossíntese. A nova contradição
foi o acúmulo do produto tóxico desse processo, o oxigênio, que foi resolvida
posteriormente com o aparecimento da respiração aeróbica, onde o oxigênio
passou de tóxico a fundamental.
2. Newton vê uma maçã cair da árvore. Ela pode ter caído porque voou até o
chão, através de seu desejo interno de se encontrar com o solo, onde lançará suas
sementes; ela pode ter caído porque o espírito da floresta passava pela árvore
naquele momento e a empurrou em direção ao chão; ela pode ter caído porque
existe uma força de atração entre os corpos, que depende da massa e da distância
entre eles. Como a Terra tem uma enorme massa, ela atraiu a maçã; ela pode ter caído
porque Newton tinha poderes para normais e, sem saber, desejou que ela caísse.
Entre essas possibilidades, Newton escolheu uma. Qual foi? Por que ele escolheu
essa, dentre tantas outras explicações, como hipótese mais plausível? E o que foi
necessário fazer para verificar se sua hipótese era, de fato, a mais provável?
18 CEDERJ
1
RESPOSTA
AULA
A explicação que Newton encontrou foi a Lei da Gravidade. O critério de escolha foi a
simplicidade (=parcimônia); ou seja, Newton usou a Navalha de Occam. A maneira
de verificar sua hipótese foi observar a sua abrangência (Será que pedras também
caem? Será que as coisas caem também fora das florestas? Será que as coisas
caem mesmo quando Newton não está olhando para elas?) e procurar modelar,
através da Matemática e de observações controladas, o seu comportamento.
AUTO-AVALIAÇÃO
Esta é uma aula introdutória. Se você está curioso para entender um pouco
mais esse processo incrível que é a Evolução, então ela cumpriu seu papel. As
dificuldades que você pode ter tido talvez estejam relacionadas às definições de
micro e macroevolução ou à idéia da Navalha de Occam. Não se preocupe muito
com os conceitos por enquanto: você vai vê-los de novo ao longo do curso. Já a
idéia da Navalha de Occam é fundamental, não só para o nosso curso, mas para
sua futura formação, como profissional. Mesmo que nem sempre fique explícito
para quem a usa, essa Navalha está presente o tempo todo nas análises científicas.
Mas seu conceito é fácil de aprender: quando temos várias explicações para um
determinado fenômeno, procuramos escolher a mais simples em primeiro lugar.
Ela pode até não ser a correta, mas é um bom ponto de partida.
Você pode ter tido dificuldade, também, em responder às perguntas que fizemos
ao longo da aula, e para as quais não demos resposta. Se deixou alguma em branco,
faça um esforço para respondê-la. O importante não é acertar ou errar, é pensar
nas alternativas. Neste momento, você pode até brincar de ignorar a Navalha de
Occam, e procurar explicações rebuscadas. Mas não deixe de responder a nenhuma
das questões – elas serão revistas ao longo do curso e servirão, como medida de
seu progresso no aprendizado de Evolução.
CEDERJ 19
2
AULA
Evidências da Evolução
objetivos
22 CEDERJ
EVIDÊNCIA 1 – O REGISTRO FÓSSIL
2
AULA
Duas informações do registro fóssil constituem importantes evidências
da evolução da vida. A primeira é a ordem cronológica em que os fósseis se
encontram, nas várias camadas geológicas. A segunda é a existência de formas
intermediárias entre grupos considerados aparentados evolutivamente.
Para entender a importância da primeira evidência, vamos considerar
que você, por acaso, não goste muito de arrumar
sua mesa de trabalho (o mesmo raciocínio pode
ser usado para o chão do seu quarto!). Dessa
forma, ao longo dos dias, você vai colocando
toda a correspondência que chega em uma pilha
em cima da mesa (ou as roupas usadas em várias
camadas em algum canto do chão do quarto).
Depois de duas semanas (Figura 2.1), você se
lembra de que precisa pagar uma conta de telefone
que chegou há dez dias e está para vencer. Onde
você vai procurá-la? No topo da pilha?
CEDERJ 23
Evolução | Evidências da Evolução
não sejam os que conhecemos hoje em dia, pois são organismos muito
simples, unicelulares. Organismos multicelulares levam outro bilhão de
anos para aparecer (e mais vários metros de rocha para cima da pilha).
Os primeiros animais só vão aparecer em rochas de cerca de meio bilhão
de anos (580 milhões) e são exatamente o que esperaríamos encontrar
nas partes mais profundas: esponjas e anêmonas do mar. A partir daí,
o processo se acelera: em rochas com apenas 20 milhões de anos a mais
do que aquelas em que estão as esponjas e anêmonas, já encontramos
os primeiros moluscos e equinodermas. Até hoje não foi encontrada
nenhuma rocha com mais de 500 milhões de anos que apresentasse
animais terrestres. Tais animais (principalmente insetos) só vão aparecer
em rochas de 400 milhões de anos, e os primeiros répteis e aves só
apareceram nas camadas mais superficiais, de 300 milhões de anos. Os
mamíferos, então, só vão aparecer em rochas de 100 milhões de anos.
A mesma estratigrafia é observada com as plantas. Nenhuma rocha
estudada até hoje, de mais de 200 milhões de anos, tem fósseis de plantas
de flores, apesar de essas rochas apresentarem fósseis de samambaias,
cuja resistência à fossilização é a mesma que a das fanerógamas. Apesar
de as plantas que se reproduzem por flores serem predominantes hoje em
dia, no registro fóssil elas só vão aparecer nas camadas mais superficiais,
com menos de 70 milhões de anos. Quer dizer, então, que a maioria dos
dinossauros nunca viu uma flor?
24 CEDERJ
Agora responda: Por que as camadas de rochas mais antigas
2
apresentam fósseis geralmente diferentes dos encontrados nas
AULA
camadas mais recentes?
CEDERJ 25
Evolução | Evidências da Evolução
26 CEDERJ
2
Biblioteca
AULA
História Biologia Culinária
Européia
Taxonomia
Africana
Evolução
Asiática
A palavra primitivo tem várias conotações no uso diário das pessoas. Alguns
associam primitividade a coisa atrasada, de pouco valor. Como na frase “Ventilador
é muito primitivo; bom mesmo é ar-condicionado”. Outras pessoas idolatram a idéia
de primitivo, acham que o primitivo é o melhor, entendendo aí o primitivo como a
Natureza, em oposição ao progresso e suas mazelas. Como na frase “o que eu queria
mesmo era ter uma vida primitiva, sem as complicações do escritório”. Quando um
evolucionista fala de primitivo, ele usa a palavra no seu significado mais puro. Primus,
em latim, quer dizer “o primeiro”. Então, primitivas são as espécies mais ancestrais,
e os caracteres (morfológicos, moleculares etc.) que elas possuem. O oposto de
primitivo, para um evolucionista, é derivado. Observe que usar a palavra “primitivo”
para uma espécie atual, mesmo que ela seja pertencente a um dos primeiros grupos
a aparecerem na evolução (como as esponjas, por exemplo) é incorreto. Afinal, se
os animais primitivos eram esponjas, isso não significa que uma esponja que existe
hoje em dia seja também primitiva. Afinal, ela teve mais de 500 milhões de anos para
evoluir até o que ela é agora. E, como todos descendemos de um ancestral comum,
isso significa que elas tiveram exatamente o mesmo tempo que nós para evoluir! Só
que nós seguimos outros caminhos evolutivos, que provocaram grandes divergências
morfológicas em relação aos nossos ancestrais, enquanto que as esponjas atuais
permanecem mais parecidas com as esponjas primitivas.
CEDERJ 27
Evolução | Evidências da Evolução
28 CEDERJ
Agora, peça-lhes que tentem juntar esses animais em grupos de dois ou três.
2
Anote os grupos formados. Depois, peça que os reagrupe em grupos maiores.
AULA
Anote os novos supergrupos. Continue o processo até que todos os animais
e grupos formem um único grupo, que seria chamado “animais” (ou, mais
corretamente, Metazoa).
Use as informações dos grupos sugeridos por cada pessoa,
para construir uma árvore filogenética. Compare as árvores. Elas são
parecidas ou diferentes?
Metazoários (animais)
estrela-do-mar
algas verdes
samambaias
cogumelos
chimpanzé
marsupiais
crustáceos
crocodilos
leveduras
coqueiros
pinheiros
moluscos
humanos
esponjas
medusas
bananas
lagartos
bactéria
anfíbios
iguanas
musgos
lacraias
insetos
baleias
feijões
cobras
grama
peixes
vacas
aves
A plumas
placenta
apenas um pêlos,
cotilédone na
duas
exoesqueleto fenestras B sangue
semente
no crânio quente
sementes âmnio
encobertas dedos
sementes mandíbulas
Xilema e floema
vértebras
protostômios deuterostômios
Sistema nervoso e
Cloroplastos circulatório
órgãos
Mitocôndria, núcleo
Um ancestral comum hipotético
C
uma mudança de caracter herdada
por todos os decendentes
Figura 2.5: Árvore filogenética com representantes dos principais grupos vivos na Terra.
CEDERJ 29
Evolução | Evidências da Evolução
30 CEDERJ
experimento (HILLIS et al., 1992), em que uma filogenia verdadeira foi
2
construída usando-se vírus bacteriófagos, que são fáceis de cultivar e se
AULA
multiplicam rapidamente (Figura 2.6).
CEDERJ 31
Evolução | Evidências da Evolução
32 CEDERJ
EVIDÊNCIA 5 – FORMAS VESTIGIAIS
2
AULA
Se as espécies evoluem a partir de outras, elas herdam dessas outras
os genes que determinam seus caracteres morfológicos e bioquímicos,
mesmo que nem sempre esses genes sejam úteis às novas condições de
vida. Os caracteres que já não são úteis nas novas condições de vida das
espécies deixam de ser mantidos pela seleção natural (como você verá
na Aula 5), de modo que as mutações aleatórias que surgem nos genes
que os codificam não são mais eliminadas. As formas determinadas por
esses genes tornam-se, então, vestigiais.
Lamarck estava plenamente consciente de tais formas vestigiais,
mas via nelas uma evolução necessária e conseqüente do desuso. Para
Darwin, no entanto, as formas vestigiais seriam apenas uma evidência
do que acontece com as características que deixam de ser mantidas
pela seleção natural. Existem vários exemplos de formas vestigiais na
Natureza. Temos, assim, os olhos de várias espécies fossoriais (que vivem
em cavernas onde não existe luz), como algumas variedades do peixe
Astianax mexicanus e da salamandra Proteus anguinus que, apesar de
viverem em total escuridão e serem cegas, têm, ainda assim, olhos (no caso
de Proteus, os olhos, apesar de invisíveis externamente, estão escondidos
sob a pele). As jibóias, que são répteis descendentes de animais de quatro
patas, apresentam vestígios de quadris, apesar de já não terem nenhum
vestígio de pernas. Estruturas vestigiais encontram-se também em plantas.
Por exemplo, os dentes-de-leão (Taraxacum sp.) possuem sementes, mas
elas são produzidas assexuadamente; no entanto, produzem pólen como
se fossem plantas sexuadas. No caso do dente-de-leão, o pólen produzido
é perdido, e representa, assim, uma estrutura vestigial dos seus ancestrais
sexuados.
Existem também formas vestigiais diretas nos genes. No nosso
genoma, por exemplo, cerca de 20% das seqüências reconhecíveis
como codificantes (as “cadeias de leitura aberta”, que você aprendeu
em Genética) são de pseudogenes, que podem ser vistos como vestígios de
genes. Os pseudogenes são, em geral, produzidos pela duplicação de genes
funcionais. Essa duplicação permite o relaxamento da seleção natural em
uma das cópias, que passa a acumular mutações até não produzir mais
uma proteína funcional. Os pseudogenes, assim, não exercem sua função
original, mas servem como indicadores dos genes que já existiram. Dessa
CEDERJ 33
Evolução | Evidências da Evolução
34 CEDERJ
EVIDÊNCIA 7 – A HERANÇA COMUM DO ÚTIL
2
AULA
Quando espécies semelhantes têm estruturas ou moléculas
semelhantes, uma explicação alternativa à ancestralidade em comum é a
convergência evolutiva. Assim, pode ser que o fato de termos cinco dedos nas
mãos, como os macacos, não esteja ligado ao fato de sermos descendentes da
mesma espécie, mas a alguma vantagem de ter cinco, em vez de quatro ou
seis dedos na mão. No entanto, se fosse demonstrado que o número de dedos
não era importante para sua função (digamos que, por exemplo, qualquer
número entre quatro e dez fosse igualmente útil), então, ter o mesmo número
de dedos poderia ser interpretado mais facilmente como evidência de origem
comum. No caso dos dedos, não temos essa evidência; no entanto, em alguns
caracteres moleculares amplamente estudados, como o gene do citocromo c
(que faz parte da cadeia de transporte de elétrons), isso já foi demonstrado.
Essa proteína existe em todos os seres vivos que usam oxigênio como aceptor
final de elétrons na respiração. Curiosamente, apesar de fundamental, essa
proteína aceita ampla variação em sua seqüência, desde que respeitada sua
estrutura tridimensional. Assim, foi demonstrado que leveduras nas quais
o gene do citocromo c foi retirado conseguem sobreviver usando citocromo
c humano, apesar de as duas proteínas terem mais de 40% de diferenças
(TANAKA et al., 1989).
Estudos de modelagem em computador e confirmações
experimentais mostraram que o número de seqüências de aminoácidos,
que são igualmente eficazes em manter a função do citocromo c, é
superior ao número de átomos no universo. Assim, não existiria nenhuma
vantagem adaptativa que pudesse explicar uma semelhança entre o
citocromo c de espécies próximas, de modo que seqüências semelhantes
seriam mais bem explicadas pela existência de um ancestral comum.
Portanto, se encontrássemos espécies consideradas muito próximas, mas
que tivessem seqüências de aminoácidos do citocromo c muito diferentes,
teríamos um falseamento da hipótese evolutiva. Quando comparamos
as seqüências de aminoácidos do citocromo c de humanos e as dos
chimpanzés, no entanto, verificamos que elas são idênticas.
CEDERJ 35
Evolução | Evidências da Evolução
EVIDÊNCIAS 8, 9, 10
RESUMO
36 CEDERJ
ATIVIDADES FINAIS
2
AULA
1. Qual seria o impacto, para a teoria evolutiva, se fossem encontrados, em todos
os estratos geológicos, fósseis idênticos de todos os tipos de animais e plantas?
RESPOSTA
Seria muito difícil sustentar a teoria evolutiva se não existisse diferenciação
estratigráfica entre os vários fósseis. Se encontrássemos fósseis de seres humanos
junto a fósseis de dinossauros, por exemplo, teríamos de rediscutir o conhecimento
atual da evolução dos vertebrados.
RESPOSTA
Porque essas vias metabólicas foram estabelecidas no início da evolução da
vida e foram mantidas com poucas alterações pela seleção natural nos vários
organismos.
RESPOSTA
Porque o compartilhamento de características úteis pode ser o resultado de
convergência evolutiva. Assim, o fato de morcegos e pardais terem asas ocorreu
porque, em suas evoluções, houve a convergência para uma estrutura (a asa)
que era extremamente útil na sua biologia (uma maneira mais correta de
descrever essa convergência é dizer que, dentro das linhagens das aves e dos
morcegos, organismos que tinham capacidade de vôo foram selecionados).
CEDERJ 37
Evolução | Evidências da Evolução
RESPOSTA
Evidências morfológicas: estruturas vestigiais, evolução de características
como modificação de outras preexistentes (asas do morcego); evidências
bioquímicas: vias metabólicas comuns, uso do ATP como fonte de energia;
evidências genéticas: padrões filogenéticos concordantes com o uso de genes
diferentes, posição igual de íntrons e pseudogenes.
RESPOSTA
Se o acusado fosse inocente, seria esperado que, ao se fazer uma árvore
filogenética com as seqüências dos vírus, as seqüências do rapaz de 15 anos
se juntariam com as das outras 16 pessoas, em alguma posição aleatória na
árvore. No entanto, as seqüências do vírus do rapaz e do acusado ficaram
mais próximas umas das outras do que daquelas dos vírus de 16 pessoas da
população local. Isso demonstrou que o vírus do rapaz e o vírus do acusado
tinham origem comum.
38 CEDERJ
AUTO-AVALIAÇÃO
2
AULA
Existe uma quantidade enorme de evidências na Natureza para o fato da Evolução.
No entanto, freqüentemente essas evidências são negadas ou confundidas, como você
verá na aula sobre creacionismo (Aula 29 de nosso curso). Esperamos que você, nesta
aula, tenha concluído que a quantidade enorme de evidências pode ser explicada,
de maneira simples e lógica, pela evolução da vida na Terra. Se você entendeu bem
essas evidências, e é capaz de usá-las até em um bate-papo informal sobre evolução,
parabéns! Algumas das evidências apresentadas são mais simples de entender, como
o registro fóssil ou as restrições evolutivas à evolução da forma. Outras são um
pouco mais difíceis, pois exigem conhecimentos prévios sobre filogenia ou biologia
molecular, como as evidências na evolução dos pseudogenes e dos íntrons. Talvez seja
interessante você dar uma revisada nessas partes, se tiver dificuldade em entender
essas evidências. O exercício 5 é importante, pois mostra como o conhecimento
de Evolução pode ter aplicações nas áreas mais improváveis, como numa Corte de
Justiça. Mas ele também é difícil de responder. Se você não conseguiu respondê-lo
na primeira tentativa, leia-o agora que você já viu a resposta e procure seguir a
explicação dada.
CEDERJ 39
3
AULA
Histórico do estudo da Evolução
objetivos
INTRODUÇÃO Como você estudou na aula anterior, a diversidade de seres vivos que
observamos hoje à nossa volta, em todo o mundo, não esteve sempre aqui
e, mais do que isto, as espécies estão mudando ao longo do tempo. Contudo,
como essa mudança é muito lenta e o tempo de que falamos está numa escala
muito maior do que a que somos capazes de perceber na nossa vida diária (ver
Aula 14 do curso Diversidade dos Seres Vivos: Tempo geológico e fósseis), às
vezes é difícil imaginar como esse processo de mudança das espécies se dá
(algumas exceções são os vírus, como você estudou na aula passada).
Essa dificuldade não é só sua e, durante muito tempo, antes que pudéssemos
entender de maneira adequada esse processo de mudança, era comum
pensarmos que as espécies que vemos hoje sempre estiveram aqui, com
a mesma forma e quantidade. Esse era o tempo da “pré-história” das idéias
evolutivas, período em que a idéia de que as espécies não mudavam (conhecido
como fixismo) era dominante. Antes de começarmos a entender como é possível
as espécies mudarem ao longo do tempo e, mais que isto, como esse processo
de mudança, ao longo do tempo, foi capaz de produzir todos os seres vivos
que conhecemos hoje, mesmo aqueles já extintos, vamos estudar um pouco
a “pré-história” das idéias evolucionistas.
42 C E D E R J
produção de todos os outros seres menos perfeitos, como as mulheres, as
3
aves, os escravos, os animais terrestres etc. assim, tomando o homem como
AULA
a expressão mais perfeita da idéia, todos os outros seres seriam estágios
degenerativos dessa idéia perfeita. Por isto mesmo, o homem seria o senhor
de todos os outros seres vivos. Essa concepção platônica de Criação foi
reformulada por ARISTÓTELES (384-322 a.C.), que foi seu aluno.
Tendo escrito há quatro séculos da Era Cristã, Aristóteles via ARISTÓTELES
a Natureza organizada gradualmente, da matéria inanimada até os Filho de Nicômaco,
seres vivos. Contudo, ao contrário do seu mestre Platão, Aristóteles um médico, nasceu em
Estagira, Macedônia,
não aceitava idéias transformistas nem mesmo na Criação; para ele, toda em 384 a.C. Foi
discípulo de Platão,
variação era estática desde o começo. Os indivíduos eram a diferente juntamente com
quem representa
expressão do mesmo tipo e as variações observadas entre eles eram
uma das referências
consideradas imperfeições na expressão da Idéia. As espécies vivas, mais importantes do
pensamento ocidental.
portanto, eram fixas desde sempre e a biodiversidade representava
apenas a expressão de uma ordem maior que existe por trás de todo o
Universo. A Natureza, e nela todos os seres vivos, era apenas uma parte
dessa grande ordem universal que Aristóteles buscava entender.
De maneira muito semelhante às idéias de Platão e Aristóteles,
o Livro do Gênesis ocupa-se com a explicação das origens. A Bíblia
estabelece a existência do Universo e de sua ordem por obra da Criação
Divina. O Jardim do Éden é o centro de criação de todas as espécies
animais e vegetais, e a espécie humana tem a prerrogativa de dominar
a Terra e todos os seus animais e plantas.
Esse conjunto de idéias, que engloba o pensamento de Platão,
Aristóteles e a Bíblia, é o que temos chamado aqui genericamente de
fixismo, e que pode ser denominado, no campo filosófico, fixismo
platônico-aristotélico e, no da religião, criacionismo judaico-cristão.
Tal conjunto é parte fundamental da nossa cultura, a cultura ocidental,
e é fortemente marcado pela noção de perfeição. Vem daí a crença de
que a Natureza é uma total harmonia, de que todos os seres vivos foram
desenhados, de que todos os órgãos e sistemas funcionam da melhor
maneira possível, etc. ERASMUS DARWIN
As idéias do criacionismo e da imutabilidade das espécies Naturalista
inglês e avô de
perduraram até o Renascimento, no século XVI, quando começaram Charles Darwin.
a ser postas em questão. No século XVIII, por exemplo, ERASMUS DARWIN Contribuiu para o
desenvolvimento
(1731-1802), avô de Charles Darwin, publica um livro intitulado do pensamento
evolucionista.
Zoonomia, no qual defende a idéia de que as espécies poderiam sofrer
CEDERJ 43
Evolução | Histórico do estudo da Evolução
44 C E D E R J
A teoria evolutiva darwiniana está entre as idéias mais importantes
3
de toda a Biologia, fundamentalmente por dois motivos: primeiro, porque
AULA
ela tem um caráter unificador, ou seja, ela, assim como a teoria celular,
o conceito de gene e a própria definição da vida e sua origem, integra
todos os seres vivos como objeto de estudo único que a Biologia se propõe
a entender; segundo, porque a teoria evolutiva darwiniana ainda está na
base de todas as teorias evolutivas modernas. É por isto que dizemos que
a história da teoria evolutiva começa com Darwin. Antes dele, como já
vimos, tivemos aquilo que chamamos, numa metáfora, de pré-história
da evolução. Mas o que, de tão importante, Darwin escreveu no seu
livro A origem das espécies; o que nele ainda se mantém atual; qual
a novidade da teoria evolucionista darwiniana em relação a outras que
foram produzidas antes, como a de Lamarck?
QUAL A NOVIDADE?
CEDERJ 45
Evolução | Histórico do estudo da Evolução
46 C E D E R J
uma exposição de Darwin sobre sua teoria, uma dama da aristocracia
3
inglesa teria dito a seu marido: “Espero que a teoria do Sr. Darwin não
AULA
seja verdadeira, e se for, que não se torne muito conhecida.”
Ainda era necessário, porém, explicar que forças determinariam o
processo de divisão da variação; ou seja, qual o mecanismo da evolução.
QUAL O MECANISMO?
CEDERJ 47
Evolução | Histórico do estudo da Evolução
3 Observações
1) D>P 2 Conclusões
2) N=k A) Mortalidade
Onde:
D= Descendentes N= Tamanho da população
P= Parentais K= Número constante
Figura 3.1: Resumo esquemático das três observações e duas deduções de Darwin,
expostas no Capítulo 3 de A origem das espécies.
48 C E D E R J
QUAL O PROBLEMA?
3
AULA
PANGÊNESE
Para que o processo evolutivo ocorra, a primeira condição é que
Era uma hipótese
haja variação presente nas populações e que esta seja herdável. De outro criada por Darwin
para tentar explicar
modo, não é possível que haja mudança ao longo das gerações. Darwin
fenômenos como: o
propunha que todos os organismos descenderiam de ancestrais comuns, atavismo (retorno
nas proles atuais
através de um processo lento e contínuo de modificações, dirigido pela de características
presentes nos
ação da seleção natural sobre os indivíduos. Porém, a teoria darwinista antepassados mas
há muito tempo
explicava a herança das modificações pelo processo da PANGÊNESE, no
desaparecidas);
qual gêmulas, formadas em todas as partes do corpo, contribuiriam as características
intermediárias
para as características adquiridas. De certa forma, tal teoria era uma apresentadas pelos
híbridos (herança
atualização das idéias já formuladas por Lamarck, de herança dos por mistura); e as
caracteres adquiridos. Deste modo, a teoria darwinista não foi capaz, leis de uso e desuso
e herança dos
na sua época, de explicar nem a origem nem a natureza da variação, que caracteres adquiridos
de Lamarck; em
era o material da evolução. suma, os mecanismos
de herança. Esta
Foi a redescoberta dos trabalhos de Mendel, no início do século hipótese aparece
XX, que trouxe explicações novas sobre a herança que, daquele momento pela primeira vez em
1868, no trabalho
em diante, passou a ser definitivamente transferida dos pais para os The variation of
animals and plants
filhos, através dos “fatores” hereditários. O trabalho de Mendel é under domestication.
Segundo essa
um dos primeiros a apresentar um modelo matemático preciso sobre hipótese, todas as
um fenômeno biológico, seguindo as normas do método científico utilizado células enviariam
gêmulas para os
pela Física. Uma das novidades dos trabalhos de Mendel estava no fato de órgãos reprodutivos
antes da fertilização.
estudar-se a herança a partir de características discretas e pouco influenciadas Desta forma, cada
célula teria uma
pelo ambiente. Mas tudo isto, você já viu nas suas aulas de Genética.
participação na
A genética mendeliana foi, inicialmente, encarada como um formação da prole.
O atavismo teria sua
golpe fatal no darwinismo, pois, se o darwinismo tinha a preocupação origem no retorno de
gêmulas que teriam
de explicar a mudança evolutiva, o mendelismo se preocupava com ficado dormentes
a estabilidade dos processos de herança, desprezava a variação contínua, durante muito
tempo. Os híbridos
base do darwinismo, e enfatizava a variação discreta. teriam gêmulas das
duas espécies que
lhes deram origem. A
herança de caracteres
O PERÍODO NEO-DARWINISTA adquiridos e o uso
e desuso seriam
A contradição entre mendelismo e darwinismo se estendeu de explicados devido
ao fato de que todas
1900, com a redescoberta dos trabalhos de Mendel, até a década as características
adquiridas enviariam
de 1930, quando foi estabelecida a Teoria Sintética. gêmulas para os
órgãos reprodutivos.
O grupo dos mendelistas, geralmente, era caracterizado por Esta hipótese estava
pesquisadores de tradição experimental, para os quais, o trabalho completamente
errada.
com mutações visíveis e herança de caracteres discretos favorecia a
CEDERJ 49
Evolução | Histórico do estudo da Evolução
50 C E D E R J
3
Perfeição Progresso
AULA
Pré-história Fixismo X Lamarckismo
(Fixismo platônico-aristotélico) (Evolucionismo)
(Criacionismo judaico-cristão)
Estabilidade Mudança
Mendelismo X Darwinismo
História
(Experimentalismo) (História Natural)
(Variação discreta) (Variação contínua)
(Pensamento tipológico) (Pensamento populacional)
Ortogênesis
Neo-Lamarckismo
Geoffroyismo
Neo-Darwinismo
Figura 3.2: Resumo esquemático das idéias evolutivas da sua “pré-história” até o
período neo-darwinista.
CEDERJ 51
Evolução | Histórico do estudo da Evolução
RESUMO
Nesta aula, estudamos que, antes das teorias evolutivas, a idéia dominante era
a de que os seres vivos não sofriam um processo de mudança. Estas idéias, que
perduram até hoje, compõem o fixismo. O fixismo platônico-aristotélico e o
criacionismo judaico-cristão são as versões mais importantes destas idéias para
a cultura ocidental. Vimos também que, antes da teoria darwinista, existiam
outras idéias evolutivas, mas que foi a perspectiva materialista da variação e a
interpretação do processo de especiação, como um processo de transformação
de variação intrapopulacional em variação interpopulacional, as duas grandes
novidades da teoria de Darwin. Estas novidades têm muitas conseqüências
importantes, entre elas a percepção de que a evolução ocorre pela ação de processos
naturais, como a seleção natural e que, portanto, não tem desenho. Do mesmo
modo, se olharmos para trás, por este processo, veremos que todos os seres vivos têm
um ancestral comum. A despeito de toda sua importância, a teoria darwinista tinha
um problema: explicar a origem e a natureza da variação. Por conta deste
problema, entre 1900 e 1930, outras idéias competiram com a teoria darwinista
para explicar a evolução. Entre estas explicações alternativas encontravam-se o
mutacionismo, a ortogênese e geoffroyismo.
52 C E D E R J
EXERCÍCIOS
3
AULA
1. Por que a perspectiva materialista da variação, trazida pela teoria darwiniana,
se contrapõe a uma visão tipológica (ou platônica) da Natureza?
RESPOSTA
Porque traz uma perspectiva populacional para interpretação da variação
observada entre os indivíduos dentro das populações. Por conta disso, as
diferenças deixam de ser defeitos dos indivíduos em relação a um tipo
perfeito.
RESPOSTA
A perspectiva materialista da variação e a interpretação do processo de
especiação, como um processo de transformação de variação intrapopulacional
em variação interpopulacional.
3. Darwin, no seu Capítulo 3 (Luta pela existência) d' A origem das espécies, dá
à Seleção Natural uma roupagem lógica nova. Quais são as observações e deduções
que ele realiza para que isto seja possível?
RESPOSTA
Darwin observa que o número de parentais é, geralmente, menor que o número
de descendentes produzidos. Contudo, o tamanho das populações varia pouco,
ao longo das gerações. Diante destas duas observações, Darwin chega à sua
primeira conclusão: existe uma mortalidade. Como os indivíduos não são todos
iguais, mas variam em relação a características que podem ser importantes
para sua sobrevivência, Darwin conclui que esta mortalidade não deve se dar
ao acaso, mas por um processo de seleção natural.
RESPOSTA
Mutacionismo, geoffroyismo, ortogênese, neo-lamarckismo.
CEDERJ 53
Evolução | Histórico do estudo da Evolução
RESPOSTA
Não. Darwin respeitava as idéias lamarckistas. Porque ele não tinha uma boa
explicação para a origem e a natureza da variação, usava a herança dos
caracteres adquiridos para resolver este problema da sua teoria. Inclusive, a
teoria da pangênese tem muito das idéias lamarckistas de uso e desuso.
54 C E D E R J
4
AULA
A nova síntese evolutiva
objetivos
KARL CORRENS que são importantes para entender os problemas enfrentados para a constituição
56 C E D E R J
freqüentemente, que o sangue, de alguma forma, poderia ser o responsável
4
pela transmissão dos traços hereditários (a associação do sangue às questões
AULA
de hereditariedade persiste até hoje em expressões do tipo “sangue azul” e
“cavalo puro-sangue”). Não deixa de ser irônico, portanto, que o trabalho
experimental que deu origem à nossa compreensão sobre a hereditariedade
tenha sido realizado com uma planta, a ervilha-de-cheiro Pisum sativum,
que, claramente, estava fora destas questões sanguíneas.
Outro dado interessante, a respeito do modelo mendeliano
de herança, é que ele, para funcionar, precisava assumir a existência
de entidades desconhecidas, objetos dos quais não era possível demonstrar a
existência naquele momento; os fatores hereditários, os famosos ‘A’ (azões)
e ‘a’ (azinhos). Mendel teve a coragem de imaginar, na razão, a existência
do seu objeto de estudo, um objeto novo, os fatores hereditários, mais
tarde denominados genes. Estava assim inaugurada uma ciência nova, de
um objeto novo, a Genética. Desta forma, uma das grandes novidades dos
trabalhos de Mendel foi a aventura de construir estes objetos racionais
para explicar as suas observações de como as características discretas das
ervilhas-de-cheiro estavam sendo herdadas ao longo da gerações. Mendel
não tinha como demonstrar a existência material dos fatores hereditários,
que sustentavam a realidade apenas no interior do seu modelo. A Genética
começava ali, na própria construção teórica dos fatores hereditários, que
tinham a interessante característica de estarem aos pares (mesmo sem se
conhecer, na época, o que significava ser haplóide ou diplóide), e o intrigante
comportamento de se segregarem de forma independente na formação
das células reprodutivas (mesmo sem serem conhecidos, na época, os
mecanismos de mitose e meiose). O esquecimento, durante 40 anos, do
modelo mendeliano de herança pode ser devido, entre outras coisas, ao
caráter marginal e revolucionário destes trabalhos.
Logo depois da redescoberta dos trabalhos de Mendel, em 1900,
alguns cientistas tomaram, como desafio, produzir trabalhos experimentais
de acordo com a interpretação dos fatos dada pelo modelo mendeliano
de herança. Estes trabalhos deram origem ao que chamamos grupo dos
mendelistas. Entre os mendelistas, De Vries e WILLIAM BATESON (1861-1926)
opuseram-se violentamente ao darwinismo. Influenciados pelos exemplos WILLIAM BATESON
de herança de características discretas, oferecidos pelo modelo mendeliano, Biólogo inglês, um dos
primeiros a aceitar as
estes dois pesquisadores entendiam a evolução como um processo com base
leis mendelianas de
na herança de grandes diferenças entre os organismos e com pouca influência herança; denominou
de Genética a nova
da seleção natural. Como já vimos na aula anterior, uma das versões desta ciência da herança
idéia daria origem ao mutacionismo. biológica.
CEDERJ 57
Evolução | A nova síntese evolutiva
58 C E D E R J
NO CAMINHO DA SÍNTESE
4
AULA
No meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
(ANDRADE, 1928)
CEDERJ 59
Evolução | A nova síntese evolutiva
60 C E D E R J
Ernest Mayr (1904-), por exemplo, acredita que a teoria sintética não teve
4
origem no trabalho dos bean bag geneticists (geneticistas dos saquinhos
AULA
de feijão, como ele chama os pesquisadores de genética de populações,
em contraposição aos pesquisadores de História Natural). Segundo ele,
a teoria sintética seria o resultado de uma síntese do campo dos estudos ERNEST MAYR
de História Natural (sistemática, paleontologia, genética experimental) e Alemão, nasceu em
1904 e continua
o evolucionismo de tradição darwinista. Neste sentido, os trabalhos de produtivo. Reside
atualmente nos EUA.
THEODOSIUS DOBZHANSKY (1900-1975), GEORGE GAYLORD SIMPSON (1902-1984)
e dele mesmo teriam tido um papel crucial na definição da nova síntese.
Embora o trabalho destes cientistas tenha tido, incontestavelmente,
grande impacto ao estender a síntese como um teoria unificadora em
Biologia, acreditamos que o coração da teoria sintética da evolução
tenha sido, de fato, a capacidade de entender o modelo mendeliano não
como uma teoria da estabilidade, mas como um modelo que poderia
ser visto também como uma ciência do movimento e da mutabilidade.
Neste aspecto, não existe dúvida de que a genética de populações foi
a disciplina que melhor estabeleceu esta nova visada, abrindo caminho
para um entendimento mais profundo do processo evolutivo, por meio da THEODOSIUS
teoria sintética. O trabalho destes três gigantes da genética de populações, DOBZHANSKY
Nasceu na Ucrânia,
Haldane, Fisher e Wright, foi o que definiu a síntese evolutiva. em 1900, e estudou na
Universidade de Kiev
O trabalho dos três gigantes foi, ao mesmo tempo, unificado e
(Rússia). Em 1927, foi
diferente. Fisher, em 1930, e Wright, em 1931, construíram sistemas para a Universidade
de Columbia, nos
teóricos distintos para explicar o processo evolutivo. Fisher se concentrou EUA, naturalizando-se
americano, em 1937.
em uma teoria geral da seleção natural, que demonstrava o efeito da
seleção natural sobre pequenas mutações em populações muito grandes.
A idéia de Wright, por outro lado, interpretava o processo evolutivo
como ocorrendo em populações estruturadas (pequenas populações da
mesma espécie, separadas no espaço, mas não isoladas), de modo que
as oscilações ao acaso das freqüências gênicas tivessem um efeito na
diferenciação destas pequenas populações. Segundo ele, isto possibilitaria
às espécies explorar diferentes situações adaptativas (este tema será
melhor discutido no Módulo 2 do curso de Evolução, na Aula 19, sobre
Adaptação e Adaptacionismo). O sistema construído por Fisher era
G. G. SIMPSON
matematicamente simples e facilmente testável; entretanto, era também Nasceu em Chicago,
extremamente reducionista, ignorando as complexas interações entre os em 1902, e é
conhecido pela sua
genes no genótipo e destes com o ambiente. O sistema de Wright, por contribuição para a
síntese evolutiva.
outro lado, levava em consideração as complexas interações gênicas,
CEDERJ 61
Evolução | A nova síntese evolutiva
BRAÇOS FORTES
62 C E D E R J
mais importante de Dobzhansky, para divulgação da teoria sintética da
4
evolução, tenha sido o seu livro Genetics and origin of species, publicado
AULA
primeiramente em 1937, mas que teve uma série de edições. Ao final
destas edições, este livro se transformou no seu outro livro Genetics of
the evolutionary process, que pode ser encontrado em português (como
Genética do processo evolutivo) e é uma leitura muito interessante.
Edmund Brisco Ford (1901-1988), no Reino Unido, iniciou
programa de pesquisas semelhante àquele desenvolvido por Dobzhansky.
Seus trabalhos envolviam o estudo da ação da seleção natural em
populações naturais, especialmente de mariposas. Ford chamou o seu
campo de pesquisas de Genética Ecológica e publicou, em 1964, um livro
homônimo, no qual sumarizava os resultados dos seus muitos anos de
pesquisa. Os trabalhos de HENRY BERNARD DAVIS KETTLEWELL (1901-1979), HENRY KETTLEWELL
Formou-se em
com a mariposa Biston betularia, é um dos mais famosos estudos da área Medicina; só mais
de genética ecológica (rever o sumário destes estudos nas suas aulas do tarde, a Entomologia
seria sua atividade
curso de Grandes Temas em Biologia). O programa de pesquisas de Ford principal quando,
então, realizou os
tinha a colaboração de Ronald Fisher. Um dos estudos em colaboração seus famosos estudos
destes dois pesquisadores buscava demonstrar que o efeito da deriva sobre o melanismo
industrial.
genética não era importante nas mudanças evolutivas observadas na
mariposa Panaxia dominula. Obviamente, uma das motivações que
animava esta pesquisa era a discordância, entre Fisher e Wright, na
maneira de interpretar o processo evolutivo.
Além dos trabalhos na área da genética experimental, realizados
por Dobzhansky e Ford, outros pesquisadores foram muito importantes
na extensão da síntese a todos os campos da Biologia. Ernest Mayr, por
exemplo, publicou, em 1942, seu livro Systematics and the origin of
species, no qual combate o conceito tipológico de espécie. Segundo o
conceito tipológico, as espécies seriam grupos de organismos homogêneos
morfologicamente. Esta semelhança entre os indivíduos era medida
em função de um indivíduo-tipo. Desta forma, todas as espécies
teriam alguns indivíduos semelhantes ao tipo, e outros, desviantes.
Os indivíduos desviantes seriam produto de alguma forma de erro. Mayr,
no seu livro, defende uma visão populacional de espécie, fundamentada
na perspectiva darwinista da variação e nos fundamentos dos estudos
da genética de populações. O processo evolutivo, como já vimos, se
dá pelas alterações de freqüências gênicas em populações mendelianas.
A espécie, então, passa a ser o conjunto de populações que trocam genes
CEDERJ 63
Evolução | A nova síntese evolutiva
64 C E D E R J
está preocupada com o estudo dos genótipos de grupos de indivíduos,
4
as populações, e como esta constituição genética pode mudar ao longo
AULA
das gerações. A mudança da composição genética das populações, ao
longo das gerações, constitui o processo evolutivo e, por isto mesmo,
estudar genética de populações é também estudar o processo evolutivo.
Assim, o trabalho de medir e caracterizar a variação gênica presente em
populações naturais, bem como o entendimento dos mecanismos que
determinam o seu padrão de distribuição nas populações, é condição
fundamental para se estudar e entender o processo evolutivo.
O processo evolutivo tem como resultado a ramificação das
diferenças, seja entre indivíduos dentro da mesma população, populações
dentro da mesma espécie, espécies dentro do mesmo gênero e assim por
diante. O processo de diferenciação das populações dentro de uma mesma
espécie pode levar àquilo que chamamos de especiação. A especiação,
como você já deve ter notado, é um dos temas mais importantes dentro
do estudo da evolução; não é por acaso que o livro de Darwin se chamava
A origem das espécies. Você verá especiação, em detalhe, na Aula 24
de nosso curso.
Para terminar esta aula, gostaríamos de tirar duas conclusões
importantes a respeito do processo evolutivo, como o temos visto até
aqui. Primeira, que a evolução é um fato natural, inapelável, tanto quanto
a gravidade. Isto, porque, como a evolução, em última análise, resulta
de mudanças nas freqüências gênicas, e, como a deriva genética, que é a
ação do acaso, modifica as freqüências gênicas de populações naturais de
seres vivos; então, é impossível pensar em uma população que não esteja
evoluindo. Não é necessário nem mesmo a seleção natural para que isto
ocorra, embora a sua existência facilite e otimize o processo.
CEDERJ 65
Evolução | A nova síntese evolutiva
TEORIA SINTÉTICA
Especiação Alopátrica
Figura 4.1: Resumo esquemático dos aspectos mais importantes da Teoria Sintética
da Evolução, representando, ao final, o processo de especiação por isolamento
geográfico.
66 C E D E R J
4
RESUMO
AULA
Nesta aula, vimos que a Teoria Sintética da Evolução é um fenômeno de duas
faces: a produção de variação (mutação, recombinação, migração) e a escolha de
variantes (seleção natural e deriva genética). Contudo, estudamos também que,
“no meio do caminho” da síntese havia alguns problemas como, por exemplo,
explicar a herança de caracteres de variação contínua pelo modelo mendeliano
de herança e demonstrar que a seleção natural poderia produzir as mudanças
evolutivas defendida pelos darwinistas.
Estes problemas foram resolvidos pelo trabalho teórico de Fisher, Haldane
e Wright. Logo após isto, a teoria sintética da evolução foi estendida para
todas as áreas da Biologia por pesquisadores como Dobzhansky, Mayr, Simpson,
Stebbins, Ford e outros. Desde então, a Teoria Sintética da Evolução é a teoria
mais abrangente da Biologia, unificando as observações realizadas nas suas mais
diversas áreas.
EXERCÍCIOS
RESPOSTA
A primeira “pedra” era compatibilizar a genética mendeliana de herança
de caracteres discretos e invariantes com a variação contínua presente nas
populações naturais. A segunda “pedra” era demonstrar que a seleção natural
poderia operar sobre populações mendelianas, de modo a produzir os efeitos
esperados pela teoria evolutiva darwiniana.
CEDERJ 67
Evolução | A nova síntese evolutiva
RESPOSTA
A primeira “pedra” era compatibilizar a genética mendeliana de herança
de caracteres discretos e invariantes com a variação contínua presente nas
populações naturais. A segunda “pedra” era demonstrar que a seleção natural
poderia operar sobre populações mendelianas, de modo a produzir os efeitos
esperados pela teoria evolutiva darwiniana.
RESPOSTA
A variação de origem recombinacional é imensa e suficiente para fornecer
material para evolução.
4. A Teoria Sintética propõe que a evolução seja um processo que se dá pela ação
de mecanismos que produzem variação e mecanismos que diminuem variação
nas populações naturais. Enumere os mecanismos para cada um destes casos.
RESPOSTA
Os mecanismos que produzem a variação são: recombinação, mutação, seleção
natural e migração. Os mecanismos que diminuem a variação são: deriva
genética e seleção natural.
68 C E D E R J
Freqüências gênicas e genotípicas,
heterozigosidade, populações,
AULA
modelos e introdução ao Equilíbrio
de Hardy-Weinberg
Meta da aula
Apresentar a disciplina Genética
de Populações e os conceitos de
freqüências gênicas e genotípicas.
objetivos
Pré-requisito
Para acompanhar mais facilmente esta aula, é importante
que você reveja alguns conceitos das aulas sobre padrões
de herança (Aula 9 da disciplina Genética Básica),
estrutura de DNA e cromossomos (Aulas 4, 6 e 8 da
disciplina Biologia Molecular), espécie e diversidade
biológica (disciplina Diversidade dos Seres Vivos).
Evolução| Freqüências gênicas e genotípicas, heterozigosidade, populações, modelos e introdução
ao Equilíbrio de Hardy-Weinberg
INTRODUÇÃO Nesta aula, vamos falar um pouco mais sobre a diversidade genética dos organismos
e sobre como podemos estudar essa diversidade, não de forma isolada, mas, sim,
em um grupo de organismos. A disciplina que estuda a variabilidade genética
em um grupo de indivíduos é a Genética de Populações. Para entendermos os
conceitos e mecanismos da Genética de Populações, vamos começar revisando
alguns termos que já são nossos conhecidos.
DIVERSIDADE GENÉTICA
GENÓTIPO E FENÓTIPO
70 CEDERJ
!
5
Relembre os experimentos de Gregor Mendel, o
AULA
“pai” da Genética, aquele que formulou as leis
fundamentais da herança. Releia as Aulas 4 e 5 da
disciplina Genética Básica.
LOCO E ALELO
CROMOSSOMO
DNA
LOCOS
GÊNICOS
CEDERJ 71
Evolução| Freqüências gênicas e genotípicas, heterozigosidade, populações, modelos e introdução
ao Equilíbrio de Hardy-Weinberg
POPULAÇÕES
GENES NA POPULAÇÃO
72 CEDERJ
As populações ditas mendelianas ou 'demes' têm continuidade
5
genética tanto no tempo como no espaço; no espaço, por causa
AULA
do intercruzamento de seus membros e, no tempo, por causa das
interconexões reprodutivas entre as gerações.
Podemos imaginar uma espécie sendo composta de várias
populações mendelianas, cada uma tendo algumas conexões genéticas
com a subseqüente, formando uma série de unidades de transição inter-
relacionadas.
Estas populações genéticas têm dois atributos importantes: as
freqüências gênicas e o conjunto gênico.
No estudo das populações mendelianas, muitas descobertas básicas
ocorreram a partir do momento em que as populações de genes passaram
a ser focalizadas, no lugar de populações de indivíduos.
Os genes mantidos pelos indivíduos em uma deme são considerados,
coletivamente, um conjunto de genes (em inglês: seu pool gênico). Este
conjunto de genes torna-se temporariamente disperso pelos indivíduos da
população, na forma de um conjunto de determinados genótipos.
A composição genética da população pode ser descrita, para qualquer
loco gênico, em termos das freqüências de seus alelos ou genótipos.
FREQÜÊNCIAS GENOTÍPICAS
Genótipos AA Aa aa
CEDERJ 73
Evolução| Freqüências gênicas e genotípicas, heterozigosidade, populações, modelos e introdução
ao Equilíbrio de Hardy-Weinberg
Aa Aa
1 2
Ambos os pais
produzem gametas
dos tipos A e a.
3 Aa 4 aa 5 AA
FREQÜÊNCIAS GÊNICAS
Genótipo AA AB BB TOTAL
Número de
borboletas 30 60 10 100 borboletas
Nº de alelos A 60 60 0 120 alelos
Nº de alelos B 0 60 20 80 alelos
74 CEDERJ
Cada indivíduo contém dois genes; assim, nós contamos 200 genes
5
representativos nesses locos. Cada indivíduo AA contém dois alelos A
AULA
(homozigoto) e cada indivíduo AB contém um alelo A (heterozigoto). Logo,
existem 120 alelos A e 80 alelos B na amostra. A freqüência do alelo A é 60%
ou 0,6 (ou seja, 120 alelos divididos pelo número total de alelos, que é 200)
e a freqüência do alelo B é 40% ou 0,4 (80 divididos por 200 alelos).
Para expressar essas relações de uma forma mais geral, vamos
considerar:
Genótipo AA AB BB TOTAL
Número de genótipos n1 n2 n3 = N
CEDERJ 75
Evolução| Freqüências gênicas e genotípicas, heterozigosidade, populações, modelos e introdução
ao Equilíbrio de Hardy-Weinberg
ATIVIDADES
Exercício 5.1
A mariposa Panaxia dominula apresenta uma geração por ano. Na
Inglaterra, existem três formas que as diferem entre si: pela quantidade
de pintas brancas nas asas superiores, de cor preta, e na quantidade de
preto nas asas inferiores vermelhas. Sabe-se, a partir de experimentos
de cruzamentos, que as diferenças de pigmentação são causadas por
diferenças alélicas em um único loco (essa única diferença gênica com
dois efeitos fenotípicos é um exemplo de pleiotropia). O sistema é co-
dominante, ou seja, o heterozigoto é um intermediário entre ambos
os homozigotos. O genótipo A1A1 é o que apresenta muitas pintas
brancas, A1A2 é o heterozigoto e A2A2 é o genótipo com a asa superior
mais escura (menos pintas brancas). Entre os anos 1939 e 1970, foi
coletado um determinado número de mariposas de cada genótipo:
RESPOSTA
Freqüências genotípicas:
Número total de mariposas = 18.385
A1A1 = 17.062/18.385 = 0.928
A1A2 = 1.295/18.385 = 0.070
A2A2 = 28/18.385 = 0.002
Note que a soma de todas as freqüências genotípicas sempre corresponde à
unidade ou 100% (0.928+0.070+0.002 = 1).
Freqüências gênicas:
Número total de cópias dos genes 18.385 x 2 = 36.770 alelos
A1 = (17.062 x 2) + (1.295 x 1) = 35.419; f A1 = 35.419/36.770 = 0.963
A2 = (28 x 2) + (1.295 x 1) = 1.351; f A2 = 1.351/36.770 = 0.037
Note que a soma das freqüências gênicas sempre corresponde à unidade ou
100% (0.963+0.037 = 1).
76 CEDERJ
5
AULA
Exercício 5.2
Considere o gene humano CCR5, que codifica para um co-receptor
de macrófagos para o HIV-1, agente causador da AIDS. Os genótipos
homozigotos para uma deleção de 32 aminoácidos (CCDR5-∆32) são
extremamente resistentes à infecção pelo HIV-1. Em uma amostra de
294 parisienses estudados para os alelos + (normal) e ∆32 (deleção), os
números de indivíduos com cada genótipo foram os seguintes:
______________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
RESPOSTA
Freqüências genotípicas:
Número total de indivíduos: 294
+/+ = 224/294 = 0.762
+/∆32 = 64/294 = 0.218
∆32/∆32 = 6/294 = 0.020
HETEROZIGOSIDADE
CEDERJ 77
Evolução| Freqüências gênicas e genotípicas, heterozigosidade, populações, modelos e introdução
ao Equilíbrio de Hardy-Weinberg
POPULAÇÃO 02
do mesmo indivíduo, apresentem
baixa variabilidade.
Figura 5.5: Esquema apresentando duas populações: com baixa (popu-
lação 01) e alta heterozigosidade (população 02), em relação a um loco
que determina número de manchas na pelagem de coelhos.
78 CEDERJ
MODELOS
5
AULA
Nesta aula, definiremos 'modelo' como simplificação intencional
de uma situação complexa, designada para eliminar detalhes exagerados,
de modo a focar o essencial.
Em Genética de Populações, lidamos com fatores como tamanho
de população, padrões de acasalamento, distribuição geográfica de
indivíduos, mutação, migração e seleção natural (sobrevivência diferencial
ou sucesso reprodutivo). Embora desejemos, em última instância, entender
os efeitos combinados de todos esses fatores, eles são tão numerosos e
interagem de modos tão complexos que, normalmente, não podem ser
compreendidos de uma vez. Situações mais simples então são usadas, de
forma que poucos fatores identificáveis possam ser analisados e, outros,
negligenciados. Isso se chama "redução" das variáveis, e essa abordagem
chama-se reducionismo.
Um modelo freqüentemente usado em Genética de Populações
é o modelo matemático, que constitui um conjunto de hipóteses
que especificam relações matemáticas entre medidas ou quantidades
mensuráveis (parâmetros) que caracterizam uma população.
Os modelos matemáticos podem ser extremamente úteis. Eles
expressam precisamente a quantidade hipotética de relação entre
parâmetros, revelam quais parâmetros são os mais importantes em um
sistema e sugerem experimentos críticos ou observações. Servem como
guias para a coleção, organização e interpretação dos dados observados,
além de fazerem predições quantitativas sobre o comportamento do sistema
que podem, dentro de limites, ser confirmadas ou refutadas como falsas.
Modelos matemáticos são sempre mais simples do que as situações
reais para as quais eles foram designados como elucidativos. Várias
características do sistema real são intencionalmente deixadas fora do
modelo, já que incluir todos os aspectos do sistema pode fazer o modelo
tornar-se muito complexo e inexeqüível. A construção de um modelo
sempre envolve compromisso entre realismo e gerenciamento. Um
modelo completamente real será provavelmente complexo demais para
ser manuseado matematicamente, enquanto um modelo matematicamente
simples pode ser tão fora da realidade que se torna inútil. Idealmente, um
modelo deve incluir todos os caracteres essenciais do sistema e excluir os
não-essenciais. O quanto um modelo é bom ou útil depende do quanto
ele está próximo da situação ideal.
CEDERJ 79
Evolução| Freqüências gênicas e genotípicas, heterozigosidade, populações, modelos e introdução
ao Equilíbrio de Hardy-Weinberg
80 CEDERJ
As freqüências genotípicas são influenciadas também por várias
5
forças evolutivas, inclusive mutação, migração e seleção natural. Neste
AULA
ponto do nosso curso, essas forças evolutivas serão consideradas ausentes
ou de pequena magnitude, pois estamos começando com os modelos
mais simples. As freqüências genotípicas são afetadas por flutuações
estatísticas ao acaso, que ocorrem em todas as populações pequenas,
mas, por enquanto, partiremos da suposição de que cada população
local seja suficientemente grande para que os efeitos das populações
pequenas sejam irrisórios.
WILHELM
W E I N B E R G (18 62
– 193 7)
O PRINCÍPIO DE HARDY-WEINBERG
Médico alemão. Na
verdade, Weinberg não
O modelo populacional com o qual se começou, em grande era um acadêmico,
parte, a pensar em Genética de Populações é conhecido como Lei de mas um prático e
obstetra com grande
Hardy-Weinberg. Este nome se refere a duas pessoas, GODFREY HARDY, experiência, atuando
na cidade de Stuttgart,
matemático, e WILHELM WEINBERG, físico. Em 1908, eles publicaram artigos Alemanha. Enquanto
Hardy só deixou
independentes sobre o assunto.
uma contribuição na
Genética, Weinberg
trabalhou com esta
disciplina durante toda
O mais importante modelo populacional é conhecido como Equilíbrio sua vida. Mesmo com a
de Hardy-Weinberg (EHW). Nesta disciplina, utilizamos os termos Lei, vida agitada da prática
Modelo, Postulado, Princípio, Teorema e Teoria de Hardy-Weinberg médica, Weinberg
como sinônimos de EHW.
publicou um número
de artigos fundamentais
em diversos tópicos da
Genética: estudo de
Para entendermos essa Lei, imagine uma população de organismos
gêmeos, mutações em
diplóides que possuem dois alelos A e B em um determinado loco, e que humanos, estatística
médica e aplicação
a freqüência de A = p e a de B = q, onde p + q = 1,0. Nessa população das leis de herança
para populações. Seu
hipotética, vamos admitir que: trabalho mais famoso
1) Os genitores se cruzam ao acaso, em relação a esses alelos (isto nesta última área, que
ficou conhecido como
é, em panmixia). Lei de Hardy-Weinberg,
foi publicado em 1908,
2) A população é infinitamente grande e, portanto, erros de alguns meses antes
amostragem ou deriva genética são desprezíveis. do artigo de Hardy.
Weinberg desconhecia o
3) Não ocorrem mutação, migração ou seleção. trabalho de Hardy.
CEDERJ 81
Evolução| Freqüências gênicas e genotípicas, heterozigosidade, populações, modelos e introdução
ao Equilíbrio de Hardy-Weinberg
Gametas femininos
A B
p q
A AA AB
Gametas masculinos p p2 pq
B AB BB
q qp q2
Genótipo: AA AB BB
Freqüência: p2 2pq q2
82 CEDERJ
5
AULA
Freqüência genotípica
RESUMO
CEDERJ 83
Evolução| Freqüências gênicas e genotípicas, heterozigosidade, populações, modelos e introdução
ao Equilíbrio de Hardy-Weinberg
AUTO-AVALIAÇÃO
Você conseguiu fazer os exercícios sem olhar o gabarito? Sim? Ótimo! Você está
preparado para a próxima aula. Não? Volte ao exemplo das borboletas e releia,
com calma, o processo de resolução. Aplique o mesmo procedimento para os
exercícios: é só substituir as borboletas por mariposas ou genes humanos. Caso
ainda persistam dúvidas, recorra ao seu monitor e não passe à aula seguinte sem
se sentir seguro no cálculo de freqüências gênicas e genotípicas.
84 CEDERJ
6
AULA
Equilíbrio de Hardy-Weinberg:
aplicações e implicações
Meta da aula
Apresentar as aplicações e conseqüências
do Equilíbrio de Hardy-Weinberg (EHW) em
uma população.
objetivos
Pré-requisito
Para acompanhar esta aula, é essencial
que você domine o cálculo das
freqüências gênicas e genotípicas que
aprendemos na Aula 5 da disciplina
Evolução.
Evolução | Equilíbrio de Hardy-Weinberg: aplicações e implicações
INTRODUÇÃO Nesta aula, vamos falar sobre a aplicação do conceito do equilíbrio das
freqüências, as implicações desse princípio e como testar se determinada
população está em equilíbrio.
!
Lembre-se dos conceitos e das vantagens da utilização
de modelos matemáticos que vimos na aula passada!!
86 CEDERJ
6
AULA
Gametas
O zigoto se desenvolve
Zigoto e origina um adulto com
A junção de dois
determinado fenótipo
gametas (n) origina
o zigoto (2n)
2n
Adulto fenótipo
Figura 6.1: Representação esquemática do ciclo de vida de um organismo, em que os gametas formarão os
zigotos, que se desenvolvem nos adultos. Esses, por sua vez, apresentam determinado fenótipo e produzem
os gametas da geração seguinte, fechando, assim, o ciclo.
CEDERJ 87
Evolução | Equilíbrio de Hardy-Weinberg: aplicações e implicações
Freqüência de genótipos
Freqüência da prole
Cruzamento de cruzamentos AA Aa aa
AA x AA D2 1 0 0
AA x Aa 2DH ½ ½ 0
AA x aa 2DR 0 1 0
Aa x Aa H2 ¼ ½ ¼
Aa x aa 2HR 0 ½ ½
aa x aa R2 0 0 1
Onde:
D´ = D2 + 2DH/2 + H2/4 = (D + H/2)2 = p2
H´ = 2DH/2 + 2DR + H2/2 + 2HR/2 = 2(D + H/2)(R + H/2) = 2pq
R´= H2/4 + 2HR/2 + R2 = (R + H/2)2 = q2
!
O conceito mais importante do Equilíbrio de
Hardy-Weinberg é a constância das freqüências
gênicas e genotípicas, ao longo das gerações.
88 CEDERJ
APLICAÇÕES DO PRINCÍPIO DE HARDY-WEINBERG
6
AULA
Existem três situações em que a aplicação da Lei de Hardy-Weinberg
é muito útil.
1) Para calcular a freqüência gênica de um alelo recessivo.
2) Para calcular a freqüência de ´portadores`.
3) Para testar o Equilíbrio de Hardy-Weinberg.
Exemplo 6.1
O albinismo é a expressão fenotípica de um genótipo recessivo
homozigoto. Uma fonte avalia que a freqüência de albinos na população
norte-americana é de 1 em 20.000. Que percentagem da população é de
heterozigotos para este gene?
RESOLUÇÃO
A freqüência de homozigotos recessivos é igual a q2 = 1/20.000 =
0,00005; assim, a raiz quadrada deste valor é igual a q = 0,007. Sabemos
que p + q = 1,0, de modo que, se q = 0,007, p = 1 - 0,007 = 0,993.
Tendo os valores das freqüências gênicas p e q, é fácil calcular a
freqüência de heterozigotos para o alelo do albinismo. Pela Teoria de
Hardy-Weinberg, sabemos que a freqüência de heterozigotos é igual a
2pq, então, 2pq = 2 x 0,993 x 0,007 = 0,013902 ou aproximadamente
1,4% (1 em 71 pessoas).
CEDERJ 89
Evolução | Equilíbrio de Hardy-Weinberg: aplicações e implicações
Exemplo 6.2
ALCAPTONÚRIA
A ALCAPTONÚRIA, que resulta da expressão do homozigoto de um
É um distúrbio
hereditário, gene autossômico recessivo, ocorre em cerca de 1 em 1 milhão de pessoas.
resultante de um erro
inato do metabolismo Qual a proporção de 'portadores' heterozigotos na população?
(uma enzima– cujo
gene sofreu mutação
– que não executa
mais sua função), e
que se caracteriza RESOLUÇÃO
pelo escurecimento
da urina causado
Da mesma forma que no exemplo anterior, a freqüência de
por acúmulo de homozigotos recessivos é igual a q2 = 1/1.000.000 = 0,000001. Então,
ácido homogentísico
(similar à melanina). q = √0,000001 = 0,001 e p = 1 - 0,001 = 0,999. A freqüência de
heterozigotos é igual a 2pq = 2 x 0,999 x 0,001 = 0,001998 (2%) ou
cerca de 1 em 500 pessoas.
H´ = 2q(1-q) = 2q
(1-q)2 + 2q(1-q) 1+q
90 CEDERJ
Exemplo 6.3
6
Vamos aplicar a fórmula apresentada nos casos de albinismo e
AULA
alcaptonúria:
1) Para o albinismo, onde q = 0,007, temos que H’ = 2q/1 + q
= 2 x 0,007 / 1 + 0,007 = 0,013902 ou aproximadamente 1,4% (1 em
71 pessoas).
2) Para a alcaptonúria, onde q = 0.001, temos que H’ = 2q/1 + q =
2 x 0,001 / 1 + 0,001 = 0,001998 (2%) ou cerca de 1 em 500 pessoas.
TESTE DO QUI-QUADRADO
CEDERJ 91
Evolução | Equilíbrio de Hardy-Weinberg: aplicações e implicações
X 2
=
∑ (obs − esp)2
,
esp
92 CEDERJ
N = graus de liberdade
6
0,0001
AULA
0,0003
0,0005
0,001
N=
0,002
N= 3
N == 4
1
N 5
N == 6
2
0,005
N 7
N == 8
N
N = 12
0,01
N = 14
Probabilidade
N == 16
N 18
10
N == 20
0,02
N
0,03
N=
N=
0,05
25
30
0,08
0,10
0,15
0,20
0,30
0,40
0,50
0,60
0,70
0,80
0,90
1,00
50 40 30 25 20 16 12 9 7 5 3 10 0,1
18 14 10 8 6 4 2 0,6 0,2
0,4
Valor de X2
X2 = 0,32 e gl = 1 = P = 0,63
CEDERJ 93
Evolução | Equilíbrio de Hardy-Weinberg: aplicações e implicações
ATIVIDADES
a) as freqüências genotípicas;
b) as freqüências gênicas.
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
______________________________________________________________
____________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
Vimos, nesta aula, que uma das aplicações do EHW seria calcular a freqüência
gênica de um alelo recessivo. Na PKU, os heterozigotos não podem ser
distinguidos dos homozigotos para o alelo dominante; mas, se os genótipos
estiverem nas proporções da Lei de Hardy-Weinberg, não há necessidade de
conhecer as freqüências dos três tipos de genótipos. Se f, por exemplo, for o
alelo recessivo que, em homozigose, origina a fenilcetonúria, e se esse alelo tem
freqüência igual a q, então a freqüência de homozigotos ff é igual a q2. Assim,
a freqüência gênica será igual à raiz quadrada da freqüência do homozigoto
recessivo. Vamos tentar com os números do exercício:
a) a freqüência genotípica ff será: q2 = 5/55,715 = 0,000089; e
b) a freqüência gênica de f (q) será a raiz quadrada de 0,000089; q = 0,00947,
94 CEDERJ
logo a freqüência de F(p) = 1 – 0,00947 = 0,99053.
6
Tendo as freqüências gênicas de f(q) e F (p), podemos calcular as freqüências
AULA
genotípicas dos homozigotos FF e dos heterozigotos Ff. Assim, FF = p2 = 0,99053
x 0,99053 = 0,9811 e Ff = 2pq = 2 x 0,99053 x 0,00947 = 0,0188.
RESPOSTA COMENTADA
Da mesma forma que no exercício 6.1, não é possível distinguir os homozigotos
TT dos heterozigotos Tt, já que ambos são capazes de sentir o gosto do PTC. No
entanto, podemos calcular a freqüência do genótipo tt que será: q2 = 37/125
= 0,29. A freqüência gênica de t (q) será a raiz quadrada de 0,29; q = 0,54;
logo, a freqüência de T (p) = 1 – 0,54 = 0,46. Tendo as freqüências gênicas
de t (q) e T (p), podemos calcular as freqüências genotípicas dos homozigotos
TT e dos heterozigotos Tt. Assim, TT = p2 = 0,46 x 0,46 = 0,21 e Tt = 2pq =
2 x 0,46 x 0,54 = 0,50.
CEDERJ 95
Evolução | Equilíbrio de Hardy-Weinberg: aplicações e implicações
RESPOSTA COMENTADA
O valor do X2 é calculado como: x 2 = ∑ (obs − esp)2 / esp. ,
ASSIM:
(17, 062 − 17, 061)2 (1, 295 − 1, 287)2 ( 28 − 37 )2
X2 = + + =
17, 061 1, 28737 37
RESPOSTA COMENTADA
Freqüências genotípicas:
Número total de pessoas testadas = 1.000
SS = 99 /1.000 = 0,099
Ss = 418 /1.000 = 0,418
ss = 483 /1.000 = 0,483
Note que a soma de todas as freqüências genotípicas sempre corresponde à
unidade ou 100% (0,099 + 0,418 + 0,483 = 1).
Freqüências gênicas:
Número total de cópias dos genes 1.000 x 2 = 2.000 alelos
S = (99 x 2) + (418 x 1) = 616; fS = p = 616/2.000 = 0,308
s = (483 x 2) + (418 x 1) = 1.384; fs = q = 1.384/2.000 = 0,692
Note que a soma das freqüências gênicas sempre corresponde à unidade ou
100% (0,308 + 0,692 = 1).
96 CEDERJ
6
Também podemos calcular a freqüência gênica de s (q) como a raiz
AULA
quadrada de 0,483; q = 0,69; logo, a freqüência de S (p) = 1 – 0,69 = 0,31.
Resumindo:
RESUMO
Existem três situações em que a aplicação da Lei de Hardy-Weinberg é muito útil:
para calcular a freqüência gênica de um alelo recessivo; para calcular a freqüência
dos heterozigotos ou “portadores” de anormalidades recessivas e para testar se
as freqüências em determinada população estão ou não em equilíbrio de Hardy-
Weinberg. Esse teorema não possui aplicabilidade universal; apenas fornece uma
linha básica de comparação com modelos mais reais. Uma das implicações importantes
do Princípio de Hardy-Weinberg é a de que as freqüências dos alelos permanecem
constantes, geração após geração, quando ocorre cruzamento ao acaso.
CEDERJ 97
Evolução | Equilíbrio de Hardy-Weinberg: aplicações e implicações
AUTO-AVALIAÇÃO
Você entendeu como se aplica o teste do qui-quadrado? Releia a seção desta aula,
em que descrevemos como utilizamos números para calcular a probabilidade de
determinados genes de uma população estarem ou não em EHW. Faça os exercícios,
e sempre retorne aos exemplos, quando houver as dúvidas. Passe à aula seguinte
somente quando se sentir seguro no cálculo do teste do qui-quadrado.
98 CEDERJ
Equilíbrio de Hardy-Weinberg:
violações dos pressupostos – alelos
AULA
múltiplos, genes ligados ao sexo e
mais de um loco
Meta da aula
Apresentar as conseqüências das violações
do Equilíbrio de Hardy-Weinberg (EHW) em
uma população.
objetivos
Pré-requisito
Para acompanhar esta aula, é essencial que
você domine o cálculo das freqüências gênicas
e genotípicas no Equilíbrio, e a aplicação do
teste do qui-quadrado, que aprendemos na
Aula 6 desta disciplina.
Evolução | Equilíbrio de Hardy-Weinberg: violações dos pressupostos – alelos múltiplos, genes
ligados ao sexo e mais de um loco
INTRODUÇÃO Nesta aula, vamos falar sobre o que acontece com as freqüências gênicas e genotípicas
quando são rompidas as condições básicas do Equilíbrio de Hardy-Weinberg (EHW).
ALELOS MÚLTIPLOS
Gametas masculinos
Alelos A1 A2 A3
Freqüência p1 p2 p3
Alelos Freqüência
A1 p1 A1A1 A1A2 A1A3
Gametas p1 2
p1p2 p1p3
femininos A2 p2 A2A1 A2A2 A2A3
p2p1 p 22 p2p3
A3 p3 A3A1 A3A2 A3A3
p3p1 p3p2 p32
100 C E D E R J
Com três alelos existem seis genótipos diplóides e, sob cruzamento
7
ao acaso, as freqüências esperadas são a expansão da fórmula:
AULA
(p1A1 + p2A2 + p3A3)2
Onde:
p1 + p2 + ... + pn = 1
Exemplo 7.1
Em 108 moscas adultas de uma população foram analisados
polimorfismos de isoenzimas. O gene Xdh, que codifica para a enzima
xantina desidrogenase, possui quatro alelos: Xdh-1, Xdh-2, Xdh-3 e Xdh-4,
com freqüências estimadas de p1 = 0,08, p2 = 0,21, p3 = 0,62 e p4 = 0,09.
(a) Quantos genótipos são possíveis e (b) quais as freqüências
esperadas desses genótipos?
RESOLUÇÃO
(a) O número de genótipos possíveis é obtido com a combinação
dos alelos de dois em dois, assim:
Xdh-1/Xdh-1, Xdh-1/Xdh-2, Xdh-1/Xdh-3, Xdh-1/Xdh-4;
Xdh-2/Xdh-2, Xdh-2/Xdh-3, Xdh-2/Xdh-4;
Xdh-3/Xdh-3, Xdh-3/Xdh-4;
Xdh-4/Xdh-4.
C E D E R J 101
Evolução | Equilíbrio de Hardy-Weinberg: violações dos pressupostos – alelos múltiplos, genes
ligados ao sexo e mais de um loco
Exemplo 7.2
Considere as seguintes freqüências para os alelos do sistema
sangüíneo ABO: IA = p = 0,38; IB = q = 0,11 e i = r = 0,51. Complete o
quadro abaixo:
RESOLUÇÃO:
102 C E D E R J
fenótipo, tipo sangüíneo A, e a freqüência é a soma de 0,144 (14,4%) e
7
0,388 (38,8%) que corresponde a 0,532 ou 53,2%.
AULA
ATIVIDADE
A
, IB e i. Genótipos IAIA e IAi originam fenótipo de grupo
I e IBi originam fenótipo de grupo sangüíneo
B B
B
origina fenótipo de grupo sangüíneo AB. Em um teste em 6313
RESPOSTA COMENTADA
a) Com três alelos existem seis genótipos que determinam os quatro
fenótipos, que são:
grupo sangüíneo O = ii = p32 = 0,6755 x 0,6755 = 0,4563;
grupo sangüíneo A = I AI A + IAi = p 12 + 2p 1p3 = 0,2593 x 0,2593 + 2 x
0,2593 x 0,6755 = 0,0672 + 0,3503 = 0,4175;
grupo sangüíneo B = I BI B + I Bi = p22 + 2p2p3 = 0,0625 x 0,0625 + 2 x
0,0625 x 0,6755 = 0,0039+ 0,0844= 0,0883;
grupo sangüíneo AB = IAI B = 2p1p2 = 2 x 0,2593 x 0,0625 = 0,0324.
Note que os valores são apresentados em percentagem (freqüências de
fenótipos) e o exercício pede o número esperado de pessoas com cada
tipo sangüíneo. Para obtermos o número de pessoas, basta multiplicar
a freqüência pelo número total de indivíduos analisados, que foi 6313.
Assim:
grupo sangüíneo O = 0,4563 x 6313 = 2880,6;
grupo sangüíneo A = 0,4175 x 6313 = 2635,7;
C E D E R J 103
Evolução | Equilíbrio de Hardy-Weinberg: violações dos pressupostos – alelos múltiplos, genes
ligados ao sexo e mais de um loco
ALELOS RECESSIVOS
freqüência de aa = q x q = q2
freqüência de a = √q2= q
104 C E D E R J
Sexo homogamético
7
Genótipo: AA Aa aa
AULA
Freqüência: p2 2pq q2
Sexo heterogamético
Genótipo: A a
Freqüência: p q
Sexo homogamético
Genótipo: AA Aa* a*a*
Freqüência: 0,9801 0,0198 0,0001
Sexo heterogamético
Genótipo: A a*
Freqüência: 0,99 0,01
Gametas masculinos
Alelos no X Alelos no Y
Alelos XA Xa
Freqüência p q
Alelos Freqüência
XA p XAXA XAXa XAY
Gametas p2 pq p
femininos Xa q XaXA XaXa XaY
qp q2 q
C E D E R J 105
Evolução | Equilíbrio de Hardy-Weinberg: violações dos pressupostos – alelos múltiplos, genes
ligados ao sexo e mais de um loco
Sexo homogamético
Genótipo: XAXA XAXa XaXa
Freqüência: p2 2pq q2
Sexo heterogamético
Genótipo: XAY X aY
Freqüência: p q
ATIVIDADE
RESPOSTA COMENTADA
Em genes ligados ao sexo, as freqüências genotípicas serão p 2, 2pq e q2 para os genótipos
XAXA, XAXa e XaXa do sexo homogamético, e serão iguais a p e q (ou seja, iguais às
freqüências gênicas) nos genótipos XAY e XaY do sexo heterogamético. Então:
Freqüência de homens cegos para cores = q = 7% = 0,07. p = 1 – q = 0,93.
a) mulheres portadoras = XAXa = 2pq = 2 x 0,93 x 0,07 = 0,13 ou 13%.
b) mulheres cegas para cores = XaXa = q2 = 0,07 x 0,07 = 0,0049 ou 4,9%.
Mais de um loco
106 C E D E R J
enquanto os alelos de A e de B mantêm-se associados de forma não
7
aleatória nos gametas que formam cada geração. A Figura 7.1 mostra
AULA
que isto é possível.
fA = p1 fB = p
1 1 1
fA2 = p2 fB2 = p2
p 1 + p2 = 1 q1 + q2 = 1
P11 = p1 + q1
P12 = p1 + q2
P11 + P12 + P21 + P22 = 1
P21 = p2 + q1
P22 = p2 + q2
C E D E R J 107
Evolução | Equilíbrio de Hardy-Weinberg: violações dos pressupostos – alelos múltiplos, genes
ligados ao sexo e mais de um loco
Alelos do gene A
Alelos A1 A2
Freqüência p1 p2
Alelos Freqüência
B1 q1 A1B1 A2B1
Alelos do p1q1 p2q1
gene B B2 q2 A1 B 2 A2B2
p1q2 p2q2
Exemplo 7.3
Um exemplo de desequilíbrio de ligação é encontrado nos genes
que controlam os grupos sangüíneos MN e Ss em populações humanas.
Em um grupo de 1000 ingleses, as freqüências de M, N, S e s são,
respectivamente, iguais a p1 = 0,5425, p2 = 0,4575, q1 = 0,3080 e q2 =
0,6920. A seguir é apresentado o cálculo das freqüências esperadas no
EHW e o da aplicação do teste do qui-quadrado.
RESOLUÇÃO
Se os locos estiverem em equilíbrio de ligação, as freqüências
gaméticas serão p1q1 para MS, p1q2 para Ms, p2q1 para NS e p2q2 para
Ns. Assim, entre os 1000 genótipos os números esperados de cada
genótipo serão:
108 C E D E R J
MS = 2 x 0,5425 x 0,3080 x 1000 = 334,2
7
Ms = 2 x 0,5425 x 0,6920 x 1000 = 750,8
AULA
NS = 2 x 0,4575 x 0,3080 x 1000 = 281,8
Ns = 2 x 0,4575 x 0,6920 x 1000 = 633,2
MS = 474
Ms = 611
NS = 142
Ns = 773
X2 = Σ (obs –esp)2
esp
C E D E R J 109
Evolução | Equilíbrio de Hardy-Weinberg: violações dos pressupostos – alelos múltiplos, genes
ligados ao sexo e mais de um loco
RESUMO
As freqüências genotípicas, sob cruzamento ao acaso, de um gene com múltiplos alelos
A1, A2, ... An e correspondentes freqüências gênicas p1, p2, ... pn, onde p1 + p2 + .... + pn
= 1, serão iguais a pi2 para homozigotos AiAi e 2pipj para heterozigotos AiAj.
Os genes que estão situados nos cromossomos sexuais atingem uma situação de
Equilíbrio de Hardy-Weinberg ligeiramente diferente. No sexo homogamético, as
freqüências de EHW são as mesmas que as dos genes autossômicos, enquanto no
sexo heterogamético, as freqüências genotípicas são idênticas às freqüências gênicas
em equilíbrio.
Quando se considera mais de um loco, aparecem dois parâmetros adicionais: a
interação gênica e a ligação. Sob cruzamento aleatório, os alelos de qualquer gene
serão associados ao acaso no genótipo, de acordo com as freqüências da proporção
do Equilíbrio de Hardy-Weinberg. Cada gene presente na mesma população obedece
ao EHW, individualmente, enquanto seus alelos mantêm-se associados de forma
não aleatória nos gametas que formam cada geração. Genes que se encontram em
associação ao acaso são ditos em estado de equilíbrio de ligação; os que não estão
em associação ao acaso são ditos em estado de desequilíbrio de ligação.
AUTO-AVALIAÇÃO
Parabéns por ter chegado ao final desta aula; o conteúdo foi puxado e exigiu
bastante esforço de sua parte! No caso de algumas dúvidas persistirem, recomendo
procurar seu tutor no Pólo. O conceito do Equilíbrio de Hardy-Weinberg é essencial
para entendermos o destino da variabilidade genética ao longo do processo
evolutivo.
110 C E D E R J
8
AULA
Marcadores moleculares no
estudo da Evolução
Meta da aula
Definir marcadores moleculares, descrever
os principais métodos moleculares e avaliar,
pelas características de cada marcador, o
mais adequado para o estudo de diferentes
problemas em evolução.
objetivos
Pré-requisito
Para acompanhar bem esta aula, é importante que você
domine as informações básicas de Biologia Molecular,
especialmente os Módulos 1 e 2. Seria bom também
que você revisse a aula sobre Filogenia na disciplina
Diversidade dos Seres Vivos. Para entender por que os
marcadores moleculares constituem boa ferramenta para
o estudo da evolução é importante, ainda, que aulas
anteriores, sobre freqüências gênicas e genotípicas e
Equilíbrio de Hardy-Weinberg, estejam claras para você.
Evolução | Marcadores moleculares no estudo da Evolução
112 C E D E R J
Tal fato faz com que proteínas diferentes possam apresentar cargas
8
diferentes, movimentando-se com diferentes velocidades, sob a ação de
AULA
campo elétrico; em outras palavras: diferentes proteínas podem manifestar
diferentes mobilidades eletroforéticas.
Outro fato importante é que, pelos princípios da Biologia Molecular,
espera-se certa correspondência entre a seqüência de nucleotídeos no DNA
e a seqüência de aminoácidos na proteína por ele codificada, isto é, entre
o gene e seu produto (ver Aula 6 do curso Diversidade dos Seres Vivos:
Introdução às macromoléculas). Finalmente, é sabido que a atividade e,
portanto, a presença de algumas enzimas, pode ser visualizada em extratos
simples de organismos, através de coloração histoquímica.
Para se realizar uma eletroforese, algumas condições básicas são
necessárias:
1 – fonte de eletricidade que produzirá campo elétrico, em função
do qual as partículas, no caso as enzimas, estarão deslocando-se;
2 – suporte (geralmente gel de amido, agarose ou poliacrilamida)
onde serão aplicadas amostras dos organismos que se quer estudar, no
qual o campo elétrico estará agindo;
3 – extração das enzimas, que é feita a partir da homogeneização
de indivíduos inteiros (caso de pequenos insetos, por exemplo), órgãos
ou tecidos (caso de organismos maiores, como peixes, camundongos ou
o próprio homem);
4 – coloração histoquímica, que é a precipitação, oxidação ou
fluorescência de um corante em função das reações catalisadas pelas
enzimas;
5 – interpretação dos padrões observados.
A eletroforese de aloenzimas está representada na Figura 8.1.
Observe, nesta figura, as condições que foram descritas acima.
C E D E R J 113
Evolução | Marcadores moleculares no estudo da Evolução
População
natural
Amostra de
tecido dos
indivíduos
Homogeneização
Suporte
Fonte
Eletrólise
Coloração
histoquímica
Interpretação
mendeliana
Padrão
Interpretação
de
bandas
Figura 8.1: Resumo da
aplicação da técnica de
eletroforese de aloenzi-
mas para amostragem
da variação gênica em
populações naturais.
114 C E D E R J
Como você pôde verificar na Figura 8.1, existe entre os indivíduos
8
amostrados uma variação no padrão de bandas observadas. Essa variação
AULA
pode ser interpretada diretamente como variação gênica. A interpretação
é simples: indivíduos que apresentem apenas uma banda no gel são
interpretados como homozigotos (AA ou BB); indivíduos que apresentem
as duas formas da enzima, com mobilidades eletroforéticas diferentes, são
interpretados como heterozigotos (AB). Como você já deve ter deduzido,
o padrão de bandas na eletroforese de aloenzimas é co-dominante (ver
Aula 8 do curso de Genética básica: do gene ao fenótipo).
ATIVIDADE
Figura
e responda:
a) Quantos alelos estão presentes nessa população?
b) Quais as freqüências genotípicas?
c) Quais as freqüências gênicas?
Respostas:
a) 2 alelos, A e B
b) f(AA) = 25%; f(AB) = 50%; f(BB) = 25% ou 1:2:1
c) f(A) = f(B) = 0,5
RESPOSTA COMENTADA
Você acabou de realizar uma descrição sucinta da variação gênica nesta
população. Para tanto, você utilizou não só as facilidades do método de
eletroforese, mas, também, os seus conhecimentos sobre freqüências gênicas
e genotípicas.
C E D E R J 115
Evolução | Marcadores moleculares no estudo da Evolução
116 C E D E R J
8
TE C N O L O G I A DO DNA RECOMBINANTE
AULA
Tecnologia do DNA é o nome que se dá ao conjunto de técnicas de Engenharia genética, como a clonagem e a reação
em cadeia da polimerase (PCR em inglês). Essas técnicas consistem, basicamente, na possibilidade de cortar, unir e
inserir seqüências do DNA de uma espécie em outra. Isso se tornou possível com o entendimento do fenômeno da
restrição, que é a impossibilidade de reprodução de certas linhagens de vírus dentro de certas linhagens de bactérias.
Esse fenômeno se deve à ação das endonucleases de restrição, que são enzimas capazes de reconhecer uma seqüência
específica de bases do ácido esoxirribonucléico (DNA) e de romper, por clivagem da molécula, a continuidade da
dupla-hélice. O mecanismo de restrição cumpre o importante papel de proteger a bactéria do ataque do vírus. Uma
característica importante desse fenômeno é que a clivagem é assimétrica e característica para cada tipo de enzima de
restrição; por isso, os fragmentos formados pela ação das enzimas são de tamanhos variáveis, mas, fundamentalmente,
com extremidades que apresentam seqüências de bases semelhantes. Assim, mesmo que se utilizem DNAs de origens
diferentes (espécies diferentes, por exemplo), os fragmentos têm em comum a assimetria e a complementaridade das
suas extremidades. Isso possibilita o pareamento indiscriminado dos fragmentos. A soldagem posterior é efetuada
por outra enzima, a ligase; dessa forma, são obtidas moléculas híbridas de DNA. Esse é o fundamento da Tecnologia
do DNA recombinante.
C E D E R J 117
Evolução | Marcadores moleculares no estudo da Evolução
Indicadores
Denaturação
(separar a fita
dupla de DNA Duas novas
em fita simples) fitas de DNA
(94ºC, 30 seg)
118 C E D E R J
segmentos se dá pela coloração desses géis por substâncias como
8
brometo de etídio ou prata, que revelam a variação como bandas em
AULA
diferentes posições no gel. Cada banda corresponde a um grupo de
moléculas de mesmo tamanho. Um padrão diferente de bandas entre
indivíduos significa diferença genética entre eles. O conjunto dessa
variação interindividual representa a variação gênica da população,
que pode ser a mesma ou variar entre as populações, em função da
ação das forças evolutivas.
C E D E R J 119
Evolução | Marcadores moleculares no estudo da Evolução
Locos de Minissatélite
Padrão de bandas
de minissatélites
de loco único para
3 indivíduos
Padrão de bandas
de minissatélites de
multiplos locos (locos
1 a 4 acima) para os
mesmos 3 indivíduos
Figura 8.3: Esquema representando os padrões de bandas obtidos para quatro locos de minissatélite de loco
único e o padrão de fingerprint (minissatélite de múltiplos locos) que seria obtido pela composição deles.
120 C E D E R J
A técnica de RFLP envolve a utilização de enzimas de restrição que
8
irão cortar o DNA, amplificado pelo PCR, em função do reconhecimento
AULA
de seqüências específicas. Por exemplo, a enzima de restrição Eco RI,
— assim chamada por ter sido extraída da bactéria Escherichia coli
— reconhece e digere a seqüência específica 5’-GAATTC-3’. Assim,
diferentes indivíduos, numa dada população, poderão apresentar, para
a mesma seqüência de DNA, diferentes mutações. Essas mutações podem
determinar que a enzima de restrição Eco RI não reconheça mais um sítio
de restrição (se mudar a seqüência de 5’-GAATTC-3’ para 5’-GTATTC-
3’, por exemplo) ou, alternativamente, que passe a reconhecer um novo
sítio (a operação inversa, por exemplo, mudando uma seqüência
5’-GTATTC-3’ para 5’-GAATTC-3’). Muito complicado? Então, observe
a Figura 8.4, pois ela pode auxiliar você a entender esse processo.
Ganho de sítio
Figura 8.4: Mapa de restrição indicando o padrão de corte de uma determinada enzima
e um esquema representando a separação dos fragmentos em um suporte (gel de KILOBASE (KB)
agarose ou poliacrilamida) e seus respectivos tamanhos em Kb. MM é um marcador
É uma unidade de
molecular que apresenta um conjunto de bandas com tamanhos conhecidos.
medida de peso
molecular do DNA.
1kb significa um
Ficou mais claro para você, agora? É interessante notar que o conjunto de 1.000
nucleotídeos.
padrão mostrado na Figura 8.4 é haplóide, ou seja, é para uma seqüência
única de DNA que se origina de um cromossomo apenas. Para organismos
diplóides, a seqüência tem origem de um par de cromossomos. Desse
modo, o indivíduo apresentará um padrão semelhante àqueles mostrados
na Figura 8.4 (A, B ou C) apenas se for homozigoto. No caso de
indivíduos heterozigotos, o padrão de bandas será uma composição
C E D E R J 121
Evolução | Marcadores moleculares no estudo da Evolução
ATIVIDADE
Indivíduos
RESPOSTA COMENTADA
Você identificou que os três indivíduos são heterozigotos. O primeiro indivíduo
(AB) e o segundo (AC) apresentam número de bandas que é igual à soma do
número de bandas de cada um dos alelos. O terceiro indivíduo (BC) apresenta
uma banda a menos do que a soma do número de bandas de cada um dos
alelos. Isso se dá porque os alelos B e C apresentam banda de mesmo tamanho;
logo, essas bandas apresentam a mesma mobilidade eletroforética.
122 C E D E R J
As facilidades da técnica de PCR podem ser utilizadas para
8
amplificar segmentos aleatórios de DNA ao longo de todo o genoma
AULA
dos organismos. Esse é o caso da técnica de RAPDs (DNA polimórfico
amplificado aleatoriamente, do inglês Randomly Amplified Polimorphic
DNAs). Nessa estratégia, iniciadores pequenos (por volta dos 10 pares
de base) e de seqüência aleatória são utilizados para o PCR com
temperaturas que permitam seu pareamento em diversas regiões do
genoma, amplificando, desta forma, grande número de segmentos
de DNA dos mais diversos tamanhos e origens. O padrão de bandas
observado é muito semelhante àquele obtido para minissatélites de locos
múltiplos; contudo, a diferença fundamental entre esses dois fingerprints
é que, no primeiro caso, sabemos que as bandas equivalem a alelos de
locos definidos e, no caso dos RAPDs, as bandas observadas equivalem
a regiões do genoma amplificadas ao acaso.
As técnicas de DNA que descrevemos são mais próximas da
variação real do genoma que a eletroforese de aloenzimas; contudo,
à exceção do seqüenciamento total, marcadores moleculares de DNA
também são uma estimativa indireta da variação gênica. Como em toda
técnica, estudos fundamentados em polimorfismo de DNA obtidos por
PCR também possuem alguns pressupostos. Primeiramente, é preciso
assumir como verdade que o produto obtido pelo PCR é o desejado. A
reação em cadeia da polimerase é tanto mais específica quanto maiores
forem as temperaturas usadas, embora nada impeça que alguma outra
região do genoma, semelhante àquela com a qual acreditamos estar
trabalhando, possa ser amplificada juntamente com a desejada ou no
lugar da que se deseja amplificar.
Outro pressuposto importante que assumimos é que todos os alelos
estão sendo certamente e igualmente amplificados. Isso significa dizer
que, quando observamos um homozigoto, ele, certamente, possui apenas
aquela banda no gel, e nenhuma outra deixou de ser amplificada pela
reação ou foi amplificada de maneira que não pudéssemos observar. Em
alguns casos, seqüências diferentes podem ser mais difíceis de amplificar
que outras, o que invalidaria nosso pressuposto.
Finalmente, assumimos que os segmentos de DNA amplificados
são comuns por descendência, e não por convergência (ver Aula 3
da disciplina Diversidade dos seres vivos: filogenia); ou seja, quando
observamos os padrões de bandas de dois indivíduos diferentes e
C E D E R J 123
Evolução | Marcadores moleculares no estudo da Evolução
percebemos que eles são iguais, admitimos que aqueles indivíduos partilham
de um ancestral comum. Porém, outra possibilidade seria a de que elas, por
acaso, apresentassem a mesma mobilidade eletroforética; estaríamos, então,
inferindo que um parentesco, de fato, não existe entre esses dois indivíduos.
124 C E D E R J
Aloenzimas, por sua vez, são adequadas para pesquisa em nível
8
populacional, uma vez que apresentam padrões de co-dominância e
AULA
níveis moderados de variação. Os microssatélites, que são abundantes
no genoma e exibem grande variação alélica, são especialmente indicados
para estudos de populações altamente endocruzadas (inbred), típicas em
sistemas de cultivo em massa (agricultura, aquacultura etc.).
Marcadores que evoluem mais lentamente são mais adequados
para os estudos que envolvem diferentes espécies ou táxons supra-
específicos. Nesse caso, como a taxa de mudança é mais lenta, indivíduos
proximamente aparentados, como aqueles que pertencem à mesma família
ou população, não apresentarão diferenças, sendo todos iguais, quando
estudados por esse marcador. Técnicas como RFLPs e seqüenciamento são
bons exemplos desse tipo de marcador; daí serem indicadas para estudos
de Filogenia, por exemplo.
Outro critério importante a ser observado é o tipo de material
disponível para estudo. Trabalhos com aloenzimas demandam
quantidade razoável de material biológico (10 a 50mg por loco gênico
analisado), que deve estar obrigatoriamente fresco ou congelado. Dessa
forma, dependendo do organismo, a amostragem para os trabalhos com
aloenzimas pode ser destrutiva, impondo limitações para sua utilização
em estudos com organismos muito pequenos (ou larvas), bem como com
espécies raras. Trabalhos que utilizam as facilidades da técnica de PCR
não oferecem esse tipo de problema. Em tais casos, porém, as limitações
estão relacionadas ao custo da técnica (reagentes, equipamentos), ao
tempo e à experiência necessários para obtenção dos dados (conhecimento
especializado, equipamento sofisticado), o que restringe, por exemplo, os
tamanhos de amostra que podem ser utilizados nestes estudos.
A escolha do marcador molecular adequado depende de análise de custo
e benefício, bem como de precisa definição do problema a ser investigado.
C E D E R J 125
Evolução | Marcadores moleculares no estudo da Evolução
CONCLUSÃO
RESUMO
Moléculas, tais como as aloenzimas e o DNA, podem ser usadas para amostrar
a variação gênica presente nas populações; para tanto, utilizam-se técnicas,
como a eletroforese de aloenzimas, PCR, microssatélites, minissatélites, RFLPs e
RAPDs. Quando usamos aloenzimas, precisamos assumir o pressuposto de que a
seqüência de aminoácidos na proteína equivale à seqüência de nucleotídeos no
DNA, e ter claro, também, que a quantidade de variação amostrada é sempre
uma subestimativa da variação total. Marcadores moleculares de DNA, por outro
lado, são mais próximos da variação real do genoma, mas também é necessário
assumir pressupostos para se trabalhar com eles: o produto obtido é o desejado;
todos os alelos estão sendo amplificados igual e certamente; os segmentos de DNA
amplificados são comuns por descendência e continuam sendo uma estimativa
indireta da variação gênica. Diferentes marcadores moleculares apresentam
diferentes taxas evolutivas, sendo úteis para o estudo de diferentes problemas
da Evolução.
126 C E D E R J
ATIVIDADES FINAIS
8
AULA
1. Por que a variação amostrada pelo método de eletroforese de aloenzimas é
uma subestimativa da variação total?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
COMENTÁRIO
Como você já viu nesta aula, são características como a subestimativa da variação
que fazem da eletroforese um método conservador, ou seja, se tem muita segurança
em relação À variação revelada pelo método.
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
COMENTÁRIO
Você deve ter percebido que os métodos moleculares apresentam limitações
técnicas, e este é um exemplo desse tipo de limitação..
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
COMENTÁRIO
Esperamos que nesta questão tenha ficado evidente para você que nenhum método
molecular é universal. Para escolher o melhor método molecular é preciso conhecer
todas as características de todos os métodos.
C E D E R J 127
Evolução | Marcadores moleculares no estudo da Evolução
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
COMENTÁRIO
Se você respondeu bem esta questão, significa que já está tomando decisões a
respeito do melhor marcador molecular para cada problema em Evolução. Parabéns!
Você alcançou o objetivo desta aula.
___________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
COMENTÁRIO
Além de ter de conhecer muito bem as características de todos os métodos para
você utilizar os marcadores moleculares em Evolução, deve também, ter boa
definição do problema biológico a ser estudado.
AUTO-AVALIAÇÃO
Esperamos que você tenha conseguido realizar a atividade proposta sem problemas;
caso isso não tenha ocorrido, retorne à explicação, que as coisas devem ficar mais
claras. Quanto aos exercícios, eles seguem uma ordem crescente de dificuldade; logo,
comece pelo primeiro e siga sem medo até o fim. A última questão é um desafio,
aceite-a como tal e divirta-se! Confira suas respostas e aprenda com seus erros!
128 C E D E R J
INFORMAÇÕES SOBRE A PRÓXIMA AULA
8
AULA
Nas primeiras quatro aulas desta Disciplina, você estudou Evolução sob uma
perspectiva histórica. Nas Aulas de 5 a 8, foi apresentado o material da
Evolução: estudou-se como medir, descrever e amostrar a variação gênica.
Nas próximas aulas, vamos estudar as forças evolutivas. A primeira delas será
a Mutação, que é a força evolutiva que deu origem a toda variação gênica.
C E D E R J 129
9
AULA
Mutação. Suas origens e efeitos
evolutivos
Meta da aula
Apresentar o conceito de mutação como força evolutiva
em populações naturais.
objetivos
Pré-requisito
Para acompanhar mais facilmente esta aula, é importante
que você reveja os conceitos de estrutura de DNA (Aulas 3 e
4, disciplina Biologia molecular) e, principalmente, a aula de
Mutação e reparo de DNA (Aula 13, da mesma disciplina).
Evolução | Mutação. Suas origens e efeitos evolutivos
INTRODUÇÃO Nesta aula, de forma distinta das disciplinas Genética Básica e Biologia Molecular,
vamos falar sobre mutação como fonte de nova variabilidade genética e como
força evolutiva que altera as freqüências dos genes em uma população.
132 C E D E R J
9
AULA
Transcrição Transcrição
CROMOSSOMO
Códon 1 Códon 2 Códon n
Tradução Tradução
Alelo Selvagem Alelo Mutante
MUTAÇÃO
Figura 9.1: Visão geral do processo de mutação e expressão de alelos selvagem e mutante.
C E D E R J 133
Evolução | Mutação. Suas origens e efeitos evolutivos
134 C E D E R J
Comparando as velocidades de mutação por nucleotídeo com
9
as velocidades por gene, temos que a velocidade de mutação média
AULA
corresponde a 10-4 a 10-7, por geração, para um gene constituído de
cerca de 1.200 pares de bases (codificando para um polipeptídeo com
400 aminoácidos).
O tratamento com agentes mutagênicos pode aumentar a
freqüência de mutações em várias ordens de magnitude. A freqüência
de mutação por gene, nas bactérias e vírus, pode ser aumentada para
mais de 1% pelo tratamento com potentes mutágenos químicos.
Por definição, as mutações ocorrem ao acaso, ao longo do genoma
de um organismo. No entanto, existem seqüências de nucleotídeos mais
propensas a ocorrência de um evento mutacional. Tais sítios de mutação
são chamados pontos quentes (em inglês: hotspots) e apresentam número
de mutações maior do que o esperado para uma distribuição aleatória
(10 a 100 vezes a mesma mutação no mesmo sítio). Um exemplo seria
uma doença hereditária humana, a fibrose cística, em que 70% dos
alelos mutantes contêm a mesma deleção das três bases que originam a
proteína mutante.
C E D E R J 135
Evolução | Mutação. Suas origens e efeitos evolutivos
136 C E D E R J
As mutações que envolvem mudanças em sítios específicos de um gene
9
são chamadas mutações de ponto ou pontuais. Elas incluem a substituição
AULA
de um par de bases por outro, ou a inserção ou deleção de um ou alguns
pares de nucleotídeos em um sítio específico de um gene.
As mutações de ponto são de três tipos: (1) transições, substituições
de purina por purina e de pirimidina por pirimidina; (2) transversões,
substituições de purina por pirimidina e de pirimidina por purina; e (3)
mudanças de matriz de leitura (frameshift), adições ou deleções de um
ou dois pares de nucleotídeos, que alteram a matriz de leitura do gene
distal ao sítio da mutação (Figura 9.4).
PURINAS
PIRIMIDINAS
C E D E R J 137
Evolução | Mutação. Suas origens e efeitos evolutivos
Mutação não-recorrente
Mutação recorrente
A1 u A2
138 C E D E R J
Se a freqüência de A1 em uma geração é po, a freqüência dos alelos
9
mutantes novos A2, na próxima geração, será upo. Assim, a nova freqüência
AULA
gênica de A1 é po - upo, e a mudança na freqüência gênica é -upo.
pt = po(1 - u)t
C E D E R J 139
Evolução | Mutação. Suas origens e efeitos evolutivos
Velocidade de mutação A1 u A2
v
Freqüência gênica inicial po qo
up = vq
ou
p/q = v/u
u- uq = vq
que leva a
q=u/v+u
Da mesma forma
p=v/u+v
140 C E D E R J
Exemplo 9.1
9
1) No modelo de mutação recorrente bidirecional, qual a
AULA
freqüência de equilíbrio p de A1 se:
a) u = 10-5 e v = 10-6 ?
b) u é aumentado 10x?
c) v é aumentado 10x?
d) ambas as velocidades de mutação são aumentadas 10x?
Resolução
Vimos que p = v / u + v. Assim, se substituirmos os valores de 10-5 e
10-6 por 0,00001 e 0,000001, respectivamente, teremos:
a) p = 0,000001/0,00001 + 0,000001 = 0,000001/0,000011 = 1/11
= 0.91;
b) p = 0,000001/0,0001 + 0,000001 = 0,000001/0,000101 = 1/101
= 0.0099;
c) p = 0,00001/0,00001 + 0,00001 = 0,00001/0,00002 = 1/2 = 0.50;
d) p = 0,00001/0,0001 + 0,00001 = 0,00001/0,00011 = 1/11 = 0.91.
Note que quando as velocidades são aumentadas proporcionalmente
(item d, aumento de 10 vezes), o resultado final não sofre alteração!
Podemos buscar, do mesmo modo que para o caso das mutações
unidirecionais, uma equação que nos descreva a relação entre as velocidades
de mutação, as freqüências alélicas iniciais e a freqüência esperada em uma
geração t qualquer a partir da geração 0 (zero) inicial.
Usemos a mesma simbologia acima, u e v como velocidades de
mutação de A1 para A2 e vice-versa, e tomemos pt e qt como as freqüências
de A1 e A2, respectivamente, na geração t, tanto que pt + qt = 1. Um alelo
A1 na geração t pode se originar em qualquer um de dois caminhos
possíveis. Ele pode ter sido um alelo A1 na geração t -1 que escapou
de mutar para A2 (o que ocorre com probabilidade 1 – u), ou pode ter
sido um alelo A2 na geração t –1 que mutou para A1 (o que ocorre com
probabilidade v). Colocando isto em símbolos, temos:
pt = pt – 1(1 - u) + (1 - pt – 1) v
pt = pt – 1 (1 - u - v) + v
C E D E R J 141
Evolução | Mutação. Suas origens e efeitos evolutivos
pt - A = (pt – 1 - A)B
pt = pt – 1B +A(1 - B)
142 C E D E R J
Duas conclusões podem ser tiradas para o efeito da mutação nas
9
freqüências gênicas. Com velocidades de mutação ´normais`, geralmente
AULA
muito baixas (10-5 ou 10-6, por geração, para a maioria dos locos e
organismos), mutação sozinha pode produzir somente mudanças muito
vagarosas nas freqüências gênicas. Apenas 1 em 100.000 ou 1 em 1.000.000
dos gametas carregariam o alelo mutante em um loco particular.
Estudos de mutação reversa (do mutante para o ´tipo selvagem`)
mostram que, usualmente, esta é muito menos freqüente que as ´para
frente` (do selvagem para o tipo mutante). Se as mutações reversas são um
décimo das ´para frente`, a freqüência gênica de equilíbrio resultante da
mutação deveria ser 10% do tipo selvagem e 90% do tipo mutante. Em
outras palavras, o tipo mutante deveria ser a forma mais comum, e o tipo
selvagem, a forma rara. Como esse não é o caso nas populações naturais, é
claro que as freqüências desses genes não constituem o produto da mutação
sozinha. Veremos, nas aulas seguintes desta disciplina, que a raridade do
tipo mutante deve-se, muito provavelmente, à atuação da seleção.
C E D E R J 143
Evolução | Mutação. Suas origens e efeitos evolutivos
ATIVIDADE
-5
e de A2 para A1 é de 10-6, sendo
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
COMENTÁRIO
Para resolver este exercício você deve aplicar a fórmula: pt - v/ u + v = [po – (v/
u + v)](1 - u - v)t, já que queremos calcular a p100, ou seja, a freqüência do alelo
A1 na centésima geração, E são fornecidos todos os parâmetros necessários
à aplicação da fórmula. Consideraremos que: a freqüência alélica p de A1 na
geração 100 é igual a p100; u = 10-5 = 0,00001; v = 10-6 = 0,000001; po = 0,5
e t = 100. Substituindo na fórmula, temos:
p100 - 0,000001/0,00001 + 0,000001 = [0,5 – (0,000001/0,00001
+ 0,000001)](1 - 0,00001 - 0,000001)100,
p100 - 0,1 + 0,000001 = [0,5 – (0,1 + 0,000001)](1 - 0,00001
- 0,000001)100,
p100 - 0,1 + 0,000001 = [0,5 – (0,100001)](0,0999989)100,
p100 - 0,1 + 0,000001 = [0,399999](0,0999989)100,
p100 - 0,100001 = [0,399999](0,0999989)100,
p100 = [0,399999](0,0999989)100 + 0,100001,
p100 = [0,399999](0,9989) + 0,100001,
p100 = 0,3996 + 0,100001,
p100 = 0,4996.
A freqüência alélica p de A1 na geração 100 será de 0,4996 ou,
aproximadamente, 0,5 (a mesma freqüência inicial!). Note que mutação é
uma força evolutiva fraca quando age sozinha, sem os efeitos da seleção,
migração ou deriva gênica.
Observe que o uso desta fórmula permite que você faça uma previsão do efeito
da mutação como força evolutiva ao longo de gerações futuras.
144 C E D E R J
ATIVIDADE
9
AULA
assumindo
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
COMENTÁRIO
Assim como no exemplo 9.1, calculamos a freqüência de equilíbrio p de A
através da fórmula p = v / u + v. Se u = 1 em 10.000 = 0,0001 e v = 1 em
100.000 = 0,00001, temos:
p = 0,00001/0,0001 + 0,00001= 0,00001/0,00011 = 1/11 = 0,91;
q = 1 – p = 1 – 0,91 = 0,09.
Tendo p e q, podemos calcular as freqüências genotípicas no equilíbrio:
AA = p2 = 0,91 x 0,91 = 0,8281;
Aa = 2pq = 2 x 0,91 x 0,09 = 0,1638;
aa = q2 = 0,09 x 0,09 = 0,0081.
Quando dobramos a velocidade de mutação em ambas as direções, temos: u
= 0,0002 e v = 0,00002; assim, aplicando esses valores na fórmula p = v / u
+ v, resulta em: p = 0,00002/0,0002 + 0,00002= 0,00002/0,00022 = 1/11
= 0,91. Mais uma vez, como vimos no exemplo 9,1, nota-se que quando as
velocidades são aumentadas de maneira proporcional, o resultado final não
é alterado.
C E D E R J 145
Evolução | Mutação. Suas origens e efeitos evolutivos
RESUMO
O termo mutação refere-se tanto à (1) mudança no material genético quanto
(2) ao processo pelo qual ocorre a mudança. A mutação é a principal fonte de
variabilidade genética necessária para a evolução; é um processo normalmente ao
acaso e não adaptativo, que pode ocorrer de forma espontânea ou ser induzido
por agentes mutagênicos. O processo de mutação em nível molecular envolve
diversos mecanismos.
Um exemplo de mutação espontânea em nível molecular é a modificação
tautomérica sofrida pelas bases nitrogenadas que compõem os nucleotídeos
durante o processo de replicação. As mutações que envolvem mudanças em sítios
específicos de um gene são chamadas mutações pontuais e incluem a substituição
de um par de bases por outro, ou a inserção ou deleção de um ou alguns pares
de nucleotídeos em um sítio específico de um gene.
Os efeitos da mutação nas propriedades genéticas de uma população diferem
caso estejamos examinando um evento mutacional raro ou um evento que ocorre
repetidamente.
Duas conclusões podem ser tiradas para o efeito da mutação nas freqüências
gênicas: (1) com velocidades de mutação ´normais` geralmente muito baixas
(10-5 ou 10-6 por geração, para a maioria dos locos e organismos), mutação sozinha
pode produzir somente mudanças muito vagarosas nas freqüências gênicas, e (2)
as freqüências dos genes mutantes não são o produto da mutação sozinha.
AUTO-AVALIAÇÃO
Acredito que, ao final desta aula, você tenha notado a diferença do processo de
mutação como gerador de diversidade e como força evolutiva. Caso permaneçam
dúvidas quanto aos mecanismos de mutação em nível de nucleotídeos do DNA,
vale a pena reler a Aula 13 da disciplina Biologia Molecular com bastante
atenção. Para executar os cálculos, você precisa recordar conceitos do Equilíbrio
de Hardy-Weinberg. Apesar da quantidade de variáveis nas fórmulas, as deduções
e interpretações não são complicadas. Evolua no entendimento desta disciplina!
Não se deixe abater pelos cálculos; o importante é compreender o papel da
mutação no processo evolutivo.
146 C E D E R J
INFORMAÇÕES SOBRE A PRÓXIMA AULA
9
AULA
Na próxima aula, analisaremos modelos estatísticos, que são maneiras eficientes de
representar os fenômenos naturais. Definiremos modelos deterministas e estocásticos e,
também, veremos os efeitos da amostragem em populações pequenas.
C E D E R J 147
10
AULA
Modelos deterministas e
estocásticos em Evolução
Meta da aula
Diferenciar determinismo e acaso na Evolução;
relacionar o acaso com o destino evolutivo dos alelos em
populações pequenas.
objetivos
INTRODUÇÃO Nas próximas aulas, você aprenderá como a seleção natural pode determinar
o destino evolutivo de um alelo. Você verá que se um alelo tiver vantagem
adaptativa sobre outro (ou um menor coeficiente seletivo), sua freqüência na
população aumentará até que atinja a freqüência na qual o nível adaptativo
médio da população será maior. A evolução das freqüências gênicas, nesses
casos, será determinada pelas forças evolutivas agindo sobre os alelos (no caso, a
seleção natural). Se o alelo A de um gene, por exemplo, tiver um valor adaptativo
(w) de 5% a mais do que o outro (se A tiver w = 1,05, enquanto que a tenha
w = 1,00), ele aumentará progressivamente até se fixar (Figura 10.1).
Figura 10.1
Gerações
Eles têm esse nome porque a evolução da variável (por exemplo, a freqüência
do alelo A no caso anterior) é determinada diretamente pela equação, em
função de seus parâmetros (no nosso caso, o tempo e a vantagem adaptativa).
A maior parte dos modelos que usamos em Ciência é determinista. Alguns
exemplos bem conhecidos de modelos deterministas são aqueles de movimento
dos corpos desenvolvidos por Newton, os modelos de cinética enzimática, em
Bioquímica, e os modelos de crescimento populacional, em Ecologia.
150 C E D E R J
Rastros branquiais em C. anguillaris
10
AULA
Rastros branquiais
Você deve ter visto que, como a relação apresentada é linear, você pode
extrapolar a partir da linha apresentada. Assim, o ponto em que a linha passa
pelo valor projetado, no eixo das ordenadas, a 300mm de comprimento, vai
corresponder, no eixo das abscissas, a 33 rastros branquiais.
C E D E R J 151
Evolução | Modelos deterministas e estocásticos em Evolução
152 C E D E R J
10
Vamos considerar, também, que exista, a cada período de
dez segundos, uma probabilidade X de que ele se dirija no
AULA
sentido correto da casa, e que exista uma probabilidade
Y (no caso, Y = 1-X) de que ele se dirija
no sentido oposto à sua casa, por estar
desorientado (Figura 10.3).
Figura10.3: Os parâmetros
de nosso modelo: A é
a probabilidade de o
bêbado deslocar-se em
direção de sua casa; R é
a probabilidade de ele
desorientar-se e, conseq
üentemente,deslocar-se
para longe de casa.
2 0,95 0,05
4 0,80 0,20
6 0,60 0,40
8 0,30 0,70
C E D E R J 153
Evolução | Modelos deterministas e estocásticos em Evolução
154 C E D E R J
10
No nosso exemplo das quatro cervejas, A4 = 0,80 e R4 = 0,20. Assim,
a conta seria:
AULA
E(4 cervejas) = (0,80 x 5) – (0,20 x 1) = 4 – 0,2 = 3,8 metros
Agora divida a distância do bar até a casa (200 metros) pela distância
percorrida em 10 segundos para cada quantidade de cervejas (ou seja, as
Esperanças). Como essas distâncias eram as esperadas para um deslocamento
durante 10 segundos, você precisa multiplicar por 10, para ter o valor
total em segundos (no caso das quatro cervejas, como vimos, seriam 526
segundos). Vamos lá, preencha a Tabela 10.2 com seus resultados.
Tabela 10.2: A Esperança dos bêbados
C E D E R J 155
Evolução | Modelos deterministas e estocásticos em Evolução
cerveja (Figura 10.4). As várias linhas são lisinhas, bem comportadas. Elas são
baseadas em Esperanças, ou seja, são idealizações da relação entre consumo
de cerveja e deslocamento, e representam o que seria o movimento de bêbados
idealizados, que seguem perfeitamente o modelo que desenhamos.
2 cervejas
4 cervejas
6 cervejas
8 cervejas
Modelo determinista
Figura10.4: O bêbado e
o determinista. Relações
Metros
deterministas entre
consumo de cerveja e
o deslocamento entre
o bar e casa.
Tempo (segundos)
156 C E D E R J
10
Tabela 10.4: Deslocamentos estocásticos de uma pessoa, de acordo com o modelo
para ingestão de 6 garrafas de cerveja. Unidades de tempo = 10 segundos. Como, no
AULA
modelo, a chance de andar na direção certa é de 60%, o sentido do deslocamento
será considerado certo (5 metros para a frente) quando o número aleatório for
menor ou igual a 0,60, e será considerado errado (1 metro para trás) quando for
superior a 0,60.
Percurso em direção
Tempo Número aleatório Sentido Metros a casa
1 0,601 errado -1,0 -1
2 0,431 certo 5,0 4
3 0,438 certo 5,0 9
4 0,027 certo 5,0 14
5 0,567 certo 5,0 19
6 0,387 certo 5,0 24
7 0,631 errado -1,0 23
8 0,530 certo 5,0 28
9 0,447 certo 5,0 33
10 0,992 errado -1,0 32
11 0,131 certo 5,0 37
12 0,061 certo 5,0 42
13 0,259 certo 5,0 47
14 0,017 certo 5,0 52
15 0,686 errado -1,0 51
16 0,661 errado -1,0 50
17 0,411 certo 5,0 55
18 0,172 certo 5,0 60
19 0,675 errado -1,0 59
20 0,014 certo 5,0 64
21 0,904 errado -1,0 63
22 0,327 certo 5,0 68
23 0,266 certo 5,0 73
24 0,434 certo 5,0 78
25 0,078 certo 5,0 83
26 0,447 certo 5,0 88
27 0,929 errado -1,0 87
28 0,438 certo 5,0 92
29 0,065 certo 5,0 97
30 0,800 errado -1,0 96
31 0,226 certo 5,0 101
32 0,962 errado -1,0 100
33 0,711 errado -1,0 99
34 0,186 certo 5,0 104
35 0,430 certo 5,0 109
36 0,229 certo 5,0 114
37 0,521 certo 5,0 119
38 0,399 certo 5,0 124
39 0,220 certo 5,0 129
40 0,957 errado -1,0 128
41 0,491 certo 5,0 133
42 0,684 errado -1,0 132
C E D E R J 157
Evolução | Modelos deterministas e estocásticos em Evolução
158 C E D E R J
10
92 0,84 errado -1,0 262
AULA
93 0,20 certo 5,0 267
94 0,50 certo 5,0 272
95 0,38 certo 5,0 277
96 0,84 errado -1,0 276
97 0,81 errado -1,0 275
98 0,88 errado -1,0 274
99 0.05 certo 5,0 279
100 0.82 errado -1,0 278
Estocástico 6 cervejas
metros
tempo (segundos)
Figura10.5: Deslocamentos estocásticos de uma pessoa entre o bar e sua casa, após
seis garrafas de cerveja.
C E D E R J 159
Evolução | Modelos deterministas e estocásticos em Evolução
Figura10.6: Deslocamento
de 10 pessoas, conforme
nosso modelo estocástico
para movimentos de
pessoas sob efeito de seis
garrafas de cerveja. A
linha grossa representa a
média dos deslocamentos
das 10 pessoas.
Tempo (segundos)
Chega de cerveja!
160 C E D E R J
10
dois tipos de modelo. Mas o que isso tem a ver com Evolução? Bom, a
resposta é... tudo, é claro! Os cientistas dos vários campos da Ciência se
AULA
preocupam com padrões gerais, que são bem representados por modelos
deterministas. Mas, em Evolução, o acaso é uma coisa importante demais
para ser desprezada. Mais do que um “ruído” nos gráficos, como seria
visto por deterministas, a variação é a fonte da Evolução.
Mesmo que o comportamento dos genes, na média, acabe seguindo
um modelo determinista, a evolução acontece a cada passo, como aquele
bêbado que queria voltar para casa. Assim, se queremos entender como
procede a evolução das espécies, devemos entender tanto dos modelos
deterministas (como quando estudamos seleção natural) como dos
estocásticos (quando estudamos deriva gênica, que será nossa próxima
aula). A grande diferença entre o exemplo do bêbado e a evolução dos
genes nas populações é que, no caso do bêbado, o que provocava a
variação em seus passos era um efeito externo (a quantidade de álcool
ingerido); no caso da evolução das populações, a maior fonte de variação
aleatória é o número de indivíduos da população.
Por que será que os genes nas populações pequenas variam
mais ao acaso do que nas populações grandes? Repare, de novo, na
Figura 10.6. Cada bêbado segue um caminho diferente, e a média dos
caminhos dos bêbados é bem mais regular que o caminho de cada um
individualmente. Se tivéssemos 100 bêbados, as linhas continuariam
bem espalhadas, mas a linha média seria ainda mais regular. Com um
número infinito de bêbados, a linha média seria igual à linha esperada
no modelo determinista da Figura 10.4. Por que a linha média de 10
bêbados é mais irregular que a linha média de 100 bêbados?
C E D E R J 161
Evolução | Modelos deterministas e estocásticos em Evolução
A MOSTRAGEM COM
REPOSIÇÃO Se as freqüências são 0,6 e 0,4, isso significa que existem 60% de P
Em Estatística, temos dois e 40% de C na população. Como são 100 alelos, isso significa que teremos
tipos de amostragem.
Quando cada amostra 60 alelos pretos e 40 alelos carioquinhas. Então faça isso: coloque 60 alelos
retirada não é colocada
de volta, dizemos que P e 40 alelos C em um saco e misture bem. Essa é a nossa população.
a amostragem é sem
reposição. Quando ela Vamos fazer um experimento de AMOSTRAGEM COM REPOSIÇÃO.
é colocada de volta,
dizemos que é com Se pegarmos 10 alelos, qual a Esperança para cada tipo de alelo
reposição. Por que
alguém iria se preocupar que vamos retirar? Como a probabilidade de pegar cada tipo de alelo é
em colocar de volta
alguma coisa que retirou a sua freqüência (ou seja, quanto mais freqüente é o tipo de alelo, mais
para contar/medir/pesar
etc. Na verdade, colocar
provável é pegá-lo), as Esperanças são E(P) = fP x N; e E(C) = fC x N,
de volta é uma maneira onde N é o número de feijões que pegamos. As Esperanças, então, são
que temos de simular
um tamanho infinito, de que peguemos 6 alelos pretos e 4 alelos carioquinhas, certo? Ou seja,
se não, a cada vez que
retiramos um objeto da em um modelo determinista, o esperado seria que, todas as vezes que eu
amostragem, modificamos
a probabilidade para retirasse 10 alelos, seis fossem P e quatro fossem C.
a retirada do próximo
objeto. Por exemplo, se Vamos ver o que acontece quando incorporamos o acaso. Vamos
temos três bolas brancas
e sete bolas pretas em um amostrar 10 “alelos”. Como a amostragem é com reposição, pegue os dez
saco, a probabilidade de
retirar uma bola branca é feijões, anote as cores e os devolva ao saco (sacudindo bem, para misturar).
de 3/10 = 30%. Digamos,
então, que retiramos, ao O que você encontrou? Faça isso de novo mais 9 vezes e preencha a Tabela
acaso, uma bola do saco,
e ela foi branca. Qual a
10.5. Faça também o total dos 10 experimentos de amostragem.
chance de que a próxima
bola seja branca? Se a Tabela 10.5: Amostragem aleatória dos alelos P (preto) e C (carioquinha). São feitos
amostragem fosse com 10 experimentos de amostragem de 10 feijões, com reposição.
reposição, a chance
continuaria a ser de 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 total
30%. No entanto, se
não for com reposição, Alelo P
a proporção de bolas
brancas e pretas no saco Alelo C
vai ter se modificado,
pois agora teremos 2
bolas brancas e 7 pretas, Qual a proporção média dos alelos P e C na sua amostragem?
o que dá uma proporção
de bolas brancas de 2/9 =
0.222 ou 22,2%.
162 C E D E R J
10
A proporção média dos alelos é calculada pelo número total de
cada alelo, dividido pelo total de alelos. No nosso caso, como foram
AULA
amostrados 10 vezes 10 alelos, o total será de 100 alelos. Então fP =
(Total P) / 100.
Coloque no gráfico da Figura 10.7 todos os pontos das suas 10
amostragens. Nas colunas “P” e “C” coloque pontos correspondentes
às freqüências dos alelos em cada repetição (se houver valores iguais,
coloque um ao lado do outro). Você terá, no final, 10 pontos na coluna
C e 10 pontos na coluna P. Repare que você deve registrar, no gráfico,
as freqüências relativas dos alelos P e C (ou seja, não coloque o número
total de alelos, e sim a proporção deles em cada amostragem. No nosso
caso, como eram 10 alelos, a proporção de cada alelo será a quantidade
de alelos dividida por 10; ou seja, se você encontrou 3 feijões pretos, a
freqüência do alelo P é 3/10, ou seja, 0,3).
C E D E R J 163
Evolução | Modelos deterministas e estocásticos em Evolução
Nos dez casos, você deve ter tido desvios em relação ao esperado,
que era de 6 alelos P e 4 alelos C. No entanto, é provável que a média
dos alelos tenha se aproximado mais da Esperança do que cada uma das
10 amostragens. Isso é semelhante ao que você havia observado no caso
dos bêbados da Figura 10.6. Coloque os valores das freqüências médias
de P e C na Figura 10.7, com uma outra cor para ressaltá-los.
Se você tivesse pego cinco feijões ao acaso, em vez de 10, o que
você acha que teria acontecido com a variação das freqüências de P e M
em cada experimento? Vamos experimentar! (Tabela 10.7)
Tabela 10.7. Amostragem aleatória dos alelos P (preto) e C (carioquinha). São feitos
10 experimentos de amostragem de 5 feijões, com reposição.
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 total
Alelo P
Alelo C
Figura10.8: Freqüências
dos alelos P e C em 10
amostragens sucessivas,
cada uma de 5 alelos,
com reposição.
164 C E D E R J
10
Compare as Figuras 10.7 e 10.8. O que aconteceu com a variação
dos pontos em torno da média em cada um? Provavelmente ela foi
AULA
maior na Figura 10.8 do que na Figura 10.7. Essa variação representa a
variância das freqüências, que vai ser tanto menor quanto maior for o
tamanho amostral (no nosso caso, o número de feijões retirados do saco).
Então, não se esqueça: quanto maior for o número de alelos amostrados
de cada vez, mais próximas serão as proporções dos alelos das proporções
originais na população. Ou, quanto mais feijões a gente amostra, maior a
chance de que a proporção de cada um seja parecida com as quantidades
dentro do saco.
Na Aula 11, sobre deriva gênica, você verá como em populações
pequenas os genes evoluem de maneira mais “bêbada”, enquanto em
populações grandes eles evoluem de maneira mais regular.
RESUMO
ATIVIDADES FINAIS
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
Modelos deterministas não levam em conta o acaso. Nos modelos deterministas,
é possível fazer extrapolações e interpolações. Nos modelos estocásticos, o acaso
é considerado a cada passo, e extrapolações e interpolações exatas não são
possíveis.
C E D E R J 165
Evolução | Modelos deterministas e estocásticos em Evolução
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
___________
RESPOSTA COMENTADA
A Esperança é calculada como Probabilidade vezes Resultado (no nosso caso, o
prêmio em reais). Então, a Esperança, para cada aposta, é de um em um milhão
(1/1.000.000 = 0,000001) vezes o prêmio (R$ 300.000), ou seja, 300.000 x
0,000001 = R$ 0,30 por aposta. Como a aposta custa R$ 2, a Esperança, por real,
é de R$ 0,15 (os outros R$ 0,85 são os lucros do governo, da loja etc.).
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
________-
RESPOSTA COMENTADA
É uma amostragem sem reposição: cada pessoa só passa uma vez pela roleta.
166 C E D E R J
10
4. Vamos supor que, em uma população de índios brasileiros, tenham sido
observadas as seguintes freqüências gênicas: Rh+ = 0,45 e Rh- = 0,55 nos anos
AULA
1960. Nos anos 1990, foram amostradas as freqüências dos mesmos genes em
crianças desses índios, observando-se as freqüências: Rh+ = 0,53 e Rh- = 0,47. Um
colega seu, ao ver esses resultados, falou que isso devia ser porque o alelo Rh+ era
vantajoso na população, e aumentou por seleção natural. Que outras explicações
você poderia dar para esse aumento?
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
___________
RESPOSTA COMENTADA
O aumento da freqüência poderia ser devido à seleção, mas pode ter acontecido,
também, por acaso, principalmente se se considerar que o tamanho populacional
dos grupos indígenas é, em geral, bastante reduzido.
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
Em um modelo determinista, consideraríamos que os valores apresentados seriam
dois pontos em uma reta. Assim, se em 10 dias (entre o dia 110 e o dia 120) a
percentagem de eclosão havia aumentado 70% (de 10% para 80%), então, em
cinco dias ela iria aumentar a metade (35%). Ou seja, com 115 dias a percentagem
de eclosões seria de 10% + 35% = 45%. Em um modelo estocástico tal previsão
não seria possível, pois seria necessário levar em conta a probabilidade, a cada
dia, de haver eclosões, e essas probabilidades poderiam acontecer ou não, pois
precisaríamos considerar o acaso.
C E D E R J 167
Evolução | Modelos deterministas e estocásticos em Evolução
AUTO-AVALIAÇÃO
Esta aula é fundamental para que você possa entender um dos processos mais
importantes na evolução das populações naturais: a deriva gênica. Ela também
é importante na questão filosófica que distingue os modelos deterministas e
estocásticos. Se você entendeu bem essa diferença, poderá compreender mais
facilmente vários modelos em Ecologia e outros ramos da Biologia. O mais
importante, nesta aula, é verificar, com seus próprios cálculos, como a variância
dos pontos em torno da média é maior quando o tamanho amostral é menor.
Isso deve ter ficado claro na comparação entre as Figuras 10.7 e 10.8. Pode até ter
acontecido, no seu caso, que essas variâncias não tenham sido muito diferentes
(afinal, o acaso pode levar a muitas coisas estranhas!). Mas o mais provável é que
a nuvem de pontos em volta do valor de 0,6 para o “alelo” P (os feijões pretos)
tenha sido mais espalhada na Figura 10.8 (tamanho amostral de 5) que na Figura
10.7 (tamanho amostral de 10). Da mesma forma, a média na Figura 10.7 deve ter
ficado mais próxima do valor populacional original (0,6) do que a média na Figura
10.8. Observar os dados que você mesmo produziu é a melhor maneira de perceber
esse fenômeno. Então, se você não preencheu as tabelas (talvez não haja feijões à
mão neste momento), procure preenchê-las depois. Não é obrigatório que sejam
feijões, podem ser pedrinhas, bolas-de-gude, botões, fichas etc. O importante é
que sejam mais ou menos do mesmo tamanho, para que o sorteio seja ao acaso.
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Evolução
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