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Gustave Courbet

Gustave Courbet foi um pintor francês do século XIX conhecido por seu realismo. Sua obra retratava cenas do cotidiano e pessoas comuns de forma crua e sem idealização, o que causou polêmica na época. Ele acreditava que a arte deveria refletir a sociedade de forma fiel.

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Gustave Courbet

Gustave Courbet foi um pintor francês do século XIX conhecido por seu realismo. Sua obra retratava cenas do cotidiano e pessoas comuns de forma crua e sem idealização, o que causou polêmica na época. Ele acreditava que a arte deveria refletir a sociedade de forma fiel.

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Gustave Courbet (1819-1877)

A BELEZA DA MATÉRIA VIVA

Ele pintava a tarde inteira e depois ia tomar cerveja com os amigos. Durante o
jantar, na Brasserie Andler, todos cantavam em coro Viva a Sopa de Queijo, uma
espécie de hino dos pintores realistas. Teorizava até altas horas, fulminando
principalmente os românticos, elogiando Proudhon (1809/65) e o socialismo,
dissertando longamente sobre as virtudes relativas do pincel e da espátula. Depois,
erguia o corpanzil, balançava de sono e se arrastava madrugada adentro. Ninguém
conseguia frear aquela extraordinária vitalidade.
A reputação de vulgaridade, entretanto, sempre acompanhou a vida e a obra
daquele pintor de cabeça assíria, generosa cabeleira e espessa barba ruiva. Alguns
cafés aristocráticos de Paris exibiam cartazes pedindo aos clientes que não
discutissem suas pinturas. Pior do que isso: num Salão de Outono, irritado,
Napoleão III chicoteou um de seus quadros, taxando-o de imoral. A tela
representava uma robusta camponesa que emergia nua de um lago, e estava muito
distante dos padrões da pintura erótica em voga, mascarada de exotismo. Não era
uma bailarina árabe, nem uma escrava romana, nem uma ninfa grega, mas uma
figura popularesca, retirada da realidade, recendente a suor.
A repulsa do público em relação à obra de Courbet foi provocada por sua
ostensiva adesão a um realismo brutal e, talvez, mais ainda, por suas ideias
políticas de extrema esquerda. O artista era adorado pelos inimigos do império,
enquanto que seus partidários o detestavam. Hoje, nada se reconhece nele de
escandaloso ou de explicitamente doutrinário. Apagado o fogo das paixões estéticas
e políticas que a presença de Courbet catalisava, pode-se ver em sua pintura
menos o panfleto social do que a graça e a sutileza com que exprimiu sua íntima
fascinação pela beleza da matéria viva, seja um nu feminino, uma folhagem
calcinada, corpos estendidos à beira da água, efígies rudes e tensas.
Atacando ruidosamente os arrivistas e peculatários que infestavam a corte de
Napoleão III, Courbet criou uma obra de assuntos sempre variados, cujo estilo
versátil jamais se encerrou numa única técnica. Recriando o espírito e a forma de
uma sociedade em mudança, Courbet se tornou o representante qualificado do
realismo e proclamou sua fé com a veemência de um temperamento inabalável.
AS HISTÓRIAS DA REVOLUCÃO FRANCESA

Gustave Courbet nasceu em Ornans, França, perto do rio Jura, a 10 de junho de


1819. Pertencia a uma família de prósperos vinhateiros e cresceu ouvindo histórias
da Revolução Francesa. Seu avô, Jean Antoi ne Oudot, participara do assalto à
Convenção em 1783, e orgulhosamente lhe narrava os episódios dos jacobinos, a
decapitação dos tiranos e as glórias do povo insurreto. O velho combatente ainda
orientava as leituras do neto — Voltaire (1694-1778) e Rousseau (1712-1778) – e
lhe insuflava o ódio aos que tinham traído a causa revolucionária, permitindo a volta
ao obscurantismo. Na adolescência, Gustave pôde ver o ímpeto revolucionário
reacender-se: sucediam-se as greves e começavam a se formar várias ligas
proletárias.
Entretanto, nem todos os membros da família Courbet tinham as veleidades
revolucionárias do avô. Régis Courbet, por exemplo, pai do futuro pintor, era um
agricultor que se beneficiara com a reforma agrária e a expropriação das terras do
clero. Gastava grande parte de sua fortuna em invenções arrojadas, como uma
nova máquina hidráulica e uma carruagem de cinco rodas. Por outro lado, Sylvie
Oudot, sua esposa, era uma mulher refinada, que se dedicava às atividades
culturais: todas as noites promovia pequenos concertos de flauta com uma de suas
filhas, Zélie. Gustave teve mais duas irmãs, Juliette e Zoé, esta última sua grande
amiga e confidente até casar-se com um ardente monarquista.
Em 1831, Courbet ingressa no Seminário de Ornans, onde se mostra um péssimo
aluno: seu interesse concentra-se apenas em desenho e política. É o ano da
insurreição dos tecelões de Lyon, que empolga todos os rapazes, especialmente
Gustave e Max Buchon, mais tarde um dos poetas e teóricos do Realismo. Juntos
irão postular uma nova arte, defender armados a Comuna de Paris e transitar pela
cadeia.
Os anos escolares constituíram para Courbet uma experiência bastante opressiva.
Em 1871, ele confessaria: "Quando eu tenho pesadelos, eles estão sempre
próximos das lembranças dos meus dias escolares". Num caderno escolar, comenta
e anota uma frase de Bonald — "o artista é um intérprete de sua própria natureza”
—, curiosa antecipação de suas doutrinas realistas, pois o jovem Gustave, como
todos, era um apaixonado adepto do Romantismo.
O pai, entretanto, não desiste da idéia de torná-lo engenheiro. Em 1837, ele faz os
estudos preparatórios para a Escola Politécnica. Todavia, falta às aulas e não
demonstra nenhum interesse pelos estudos.
COURBET, “O REI DA COR"

Quando seu pai finalmente desiste, Courbet aluga um atelier e dedica-se à pintura,
exercitando a gravura e o desenho. Passa a tomar lições com Flajoulot e pinta
paisagens de Ornans. O mestre foi o primeiro a reconhecer o talento do jovem
discípulo. E como se intitulasse, com algum exagero, “O rei do desenho”, proclamou
Courbet "o rei da cor".
Em 1840, morre Flajoulot. Courbet parte para Paris, onde freqüenta o Museu do
Louvre e a Academia Suíça. Admira os mestres venezianos, espanhóis, alemães e
flamengos dos séculos XVI e XVIII e demonstra grande admiração por Rembrandt
(1606/69). Mostra-se um estudante aplicado. Não obstante, sua pintura ainda é
inábil. Dentre as muitas telas deste período, apenas representativas de um
estudante esforçado, destaca-se Courbet com o Cão Negro (prancha 2), onde o
pintor, de forma bastante romântica, se idealiza como um impassível aristocrata
rural.
A partir de 1844, a pintura de Courbet aperfeiçoa-se prodigiosamente. Ele elabora
um estilo próprio, caracterizado pelo sentimento de vitalidade da natureza, isento do
intelectualismo neoclássico e do emocionalismo romântico. Abandona o pincel e
passa a usar uma espátula de aço, com a qual empasta generosamente a tinta
sobre a tela. Graças a essa técnica pioneira, sua pintura adquire materialidade, com
o gosto pela presença física da tinta, que depois despertará a imensa admiração de
Cézanne (1839-1906). Sob esse aspecto, Courbet é um dos grandes arautos da
arte moderna, e seu modo de pintar está associado ao seu modo de viver:
massagear a tinta sobre a tela constituía um requintado prazer tátil.
A perícia do artista fazia com que ele pintasse seus quadros sem dificuldade, ao
sabor da invenção. Cada quadro era uma sucessão de tentativas: refundia-os,
transformava-os sem cessar. Quando iniciava um trabalho, nunca sabia bem como
iria terminá-lo: “O quadro se imporá por si próprio”, dizia Courbet. Tema, cor e
composição nasciam durante o trabalho, realizado habitualmente na presença de
amigos, aos quais afirmava: “O pintor deve estar pronto a refundir seu melhor
quadro a qualquer momento".
Courbet pintava de maneira instintiva, e, sem nenhuma modéstia, afirmava que a
glória tardava a chegar: “É necessário que dentro de cinco anos eu tenha um nome
em Paris", escreveu em 1845. Na verdade, Courbet já demonstrava um talento fora
do comum. Em A Rede (prancha 6), tela pintada nesse período, ele apresenta a
primeira de suas grandes figuras femininas. No ambiente, há um vestígio de
romantismo que logo será renegado, mas a imagem lânguida já prenuncia a
placidez característica das mulheres do artista.
Essas imagens sólidas e repletas de densidade causavam indignação nos
românticos, pois não eram passíveis de inspirar
poemas: elas nada contavam, apenas eram, Revelavam aquele momentâneo
milagre em que a mulher comum ou desgraciosa, por simples força de sua
feminilidade, tornava-se o foco de todos os olhares.
Em O Homem Ferido (prancha 13), Courbet realiza um auto-retrato tão romântico e
complacente quanto o Courbet com o Cão Negro. O artista gostava de pintar a si
próprio e, em seus retratos, percebe-se o egocentrismo, uma incontrolável e
exagerada admiração por sua pessoa, a superioridade de sua moral, do seu
conceito de vida e de realidade.

Caçadores na neve (1867) - Óleo sobre tela 102x122,5 cm


Assinado e datado. Coleção particular, Paris.
Bahistas (1853) Óleo sobre tela 227 X 197cm. Assinado e datado. Museu Fabre,
Montpellier.

BIBLIOGRAFIA- MESTRES DA PINTURA- COURBET- ABRIL CULTURAL. 1°


EDIÇÃO MAIO DE 1978.

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