100% acharam este documento útil (1 voto)
290 visualizações10 páginas

A Sociologia de Durkheim

Durkheim definiu a sociologia como a ciência que estuda os fatos sociais. Ele argumentou que os fatos sociais se distinguem por sua coerção sobre os indivíduos, sua exterioridade em relação às vontades individuais, e sua generalidade, estando presentes em muitos grupos ao longo do tempo. Durkheim desenvolveu uma metodologia sociológica objetiva onde o pesquisador estuda os fatos sociais de forma isenta e os encara como "coisas" a serem observadas e medidas.

Enviado por

Anne Karyne
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
Formatos disponíveis
Baixe no formato PDF, TXT ou leia on-line no Scribd
100% acharam este documento útil (1 voto)
290 visualizações10 páginas

A Sociologia de Durkheim

Durkheim definiu a sociologia como a ciência que estuda os fatos sociais. Ele argumentou que os fatos sociais se distinguem por sua coerção sobre os indivíduos, sua exterioridade em relação às vontades individuais, e sua generalidade, estando presentes em muitos grupos ao longo do tempo. Durkheim desenvolveu uma metodologia sociológica objetiva onde o pesquisador estuda os fatos sociais de forma isenta e os encara como "coisas" a serem observadas e medidas.

Enviado por

Anne Karyne
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
Formatos disponíveis
Baixe no formato PDF, TXT ou leia on-line no Scribd
Você está na página 1/ 10

A sociologia de Émile ​Durkheim

1.​ ​O que é fato social


“É social todo fato que é geral, que se
repete para a maioria dos indivíduos”

A sociologia é a ciência que estuda a sociedade humana e cujo


desenvolvimento se deu a partir da necessidade de compreensão do homem e de sua
vida em grupo. ​Auguste Comte foi um de seus precursores e aquele que atribuiu o
nome sociologia às pesquisas sobre os princípios universais do comportamento
social.

Após a morte de Comte, a elaboração teórica na sociologia viveu um período


estacionário só quebrado com Émile Durkheim, na segunda metade do século XIX.
Para ele era tempo de entrar “mais diretamente em relação com os fatos", deixando
para trás atitudes meramente especulativas.

A retomada do estudo científico da sociedade foi favorecida pelo momento


histórico pelo qual atravessava a Europa e principalmente a França. A difusão do
socialismo, o v​i​goroso movimento operário e a crise constante da República Francesa
estimularam o estudo das bases da ordem social e do pacto entre os cidadãos. A
formação judaica de Émile Durkheim, por outro lado, favorecia a análise dos laços
comunitários e da coesão social.

Motivado por esses conflitos, Durkheim dedicou-se a um vasto repertório de


temas que vão da emergência do indivíduo à origem da ordem social, da moral ao
estudo da religião, da vida econômica à análise da divisão social do trabalho. Para
isso, Émile Durkheim valeu-se da história, da etnografia (estudo descritivo das
diversas etnias), do estudo das leis, da estatística e da filosofia. Herdeiro também do
positivismo, dedicou-se a constituir o objeto da sociologia e as regras para
desvendá-lo. A obra mais importante nesse sentido foi às r​egras do ​método
sociológico,​ na qual o autor procurou instituir a fronteira entre a sociologia e as
demais ciências, dando-lhe autonomia e objetividade. Nesse trabalho, definiu o que
entendia por fatos sociais.
Características dos Fatos Sociais
Coerção
Para Durkheim, os fatos sociais distinguem-se dos fatos orgânicos ou
psicológicos por se imporem ao indivíduo como uma poderosa força coercitiva à qual
ele deve, obrigatoriamente, se submeter. A adoção de um idioma, a organização
familiar e o sentimento de pertencer a uma nação são manifestações do
comportamento humano dotadas dessa força impositiva sobre o indivíduo, força essa
que Durkheim denominou ​coerção social​.
A força coercitiva dos fatos sociais se manifesta pelas "sanções legais" ou
"espontâneas” a que o indivíduo está sujeito quando tenta rebelar-se contra ela.
“Legais" são as sanções prescritas pela sociedade, sob a forma de leis, nas quais se
define a infração e se estabelece a penalidade correspondente. "Espontâneas" são as
que afloram como resposta a uma conduta considerada inadequada por um
determinado grupo ou por uma sociedade. Multas de trânsito, por exemplo, fazem
parte das coerções legais, pois estão previstas e organizadas pela legislação que
regula o tráfego de veículos e pessoas pelas vias públicas. Já os olhares de
reprovação de que somos alvo quando comparecemos a um local com a roupa
inadequada constituem sanções espontâneas. Embora não codificados em lei, esses
olhares têm o poder de conduzir o infrator para o comportamento esperado. Durkheim
afirma que, nesses casos:

"[...] a coerção é menos violenta; mas não deixa de existir. Se não me submeto
às convenções mundanas; se, ao me vestir, não levo em consideração os usos
seguidos em meu país e na minha classe, o riso que provoco, o afastamento
em que os outros me conservam, produzem, embora de maneira mais
atenuada, os mesmos efeitos que uma pena propriamente dita."
RODRIGUES, José Albertino (Org.)​. Durkheim.
São Paulo: Ática, 1981. p. 47.

Coerção social. Chamamos de coerção social a força da


coletividade e da sociedade sobre a vontade individual.

O comportamento desviante num grupo social pode não ter penalidade prevista
por lei, mas o infrator pode ser espontaneamente punido pelo grupo na medida em
que sua ação fere determinados valores e princípios. A reação negativa da sociedade
a certas atitudes ou comportamentos é, muitas vezes, mais intimidadora do que a lei.
A "educação" - entendida de forma geral, ou seja, a educação for mal e a
informal - desempenha, segundo Durkheim, uma importante tarefa nessa adequação
dos indivíduos à sociedade em que vivem, a ponto de, após algum tempo, as regras
estarem internalizadas nos membros do grupo e transformadas em hábitos. O uso de
uma determinada língua ou o gosto por determinada comida são internalizados no
indivíduo, que passa a considerar tais hábitos como pessoais.

Émile Durkheim (1858-1917) Nasceu em Épinal, na região francesa da Lorena,


descendente de uma família de rabinos. Iniciou seus estudos filosóficos na Escola
Normal Superior de Paris, indo depois para a Alemanha. Lecionou sociologia em
Bordéus, primeira cátedra dessa ciência criada na França. Transferiu -se em 1902 para
a Universidade de Sorbonne, em Paris, para onde levou inúmeros cientistas, entre eles
seu sobrinho Marcel Mauss, reunindo-os num grupo que ficou conhecido como escola
sociológica francesa. Suas principais obras foram​: Da divisão do trabalho social, ​A​s
regras do método sociológico, O suicídio, Formas elementares da vida religiosa,
Educação e sociologia, Sociologia e filosofia e Lições de sociologia ​(obra póstuma).

Exterioridade

A segunda característica dos fatos sociais é que eles existem e atuam


independentemente da vontade ou adesão consciente dos indivíduos, sendo, assim,
"exteriores" a eles. Ao nascer, já encontramos regras sociais, costumes e leis que
somos coagidos a aceitar por meio de mecanismos de coerção social, como a
educação. Não nos é dada a possibil​i​dade de opinar ou escolher, sendo, assim,
independentes de nós, de nossos desejos e vontades. Por isso, os fatos sociais são
ao mesmo tempo coercitivos e dotados de existência exterior às consciências
individuais.
Podemos experimentar a exterioridade dos fatos sociais nas formas de agir e
pensar que não adotaríamos de modo espontâneo ou como resultado apenas de
nossa vontade. Por exemplo, ao nos sentirmos pressionados a obedecer nosso lugar
numa fila quando nosso desejo nos impele a passar os outros para trás.

Generalidade
Além da coerção e da exterioridade, é possível distinguir fatos so ciais porque
eles não se apresentam como fatos isolados. Eles são do tados de generalidade,
envolvem muitos indivíduos e grupos ao longo do tempo, repetem-se e difundem-se.
Permitem, por isso, uma grande sondagem como a que Durkheim desenvolveu para
estudar o suicídio, fato social dotado de grande generalidade.
A assiduidade com que determinados fatos ocorrem na sociedade indica a sua
importância e a necessidade de estudá-los, assim como torna a estatística uma das
ferramentas que garante ao sociólogo a objetividade e o controle. É pela generalidade
que os fatos sociais exibem a sua natureza coletiva, sejam eles fatos observáveis,
como o modelo das habitações de um grupo, sejam fatos morais, como os valores e
as crenças.

A objetividade do fato social


Além de identificar as características dos fatos sociais, Durkheim desenvolveu
também uma metodologia própria dos estudos sociológicos. Herdeiro dos princípios
positivistas e dos pressupostos cartesianos, Durkheim procurou respeitar a distância e
a neutralidade do cientista diante de seu objeto de estudo, condição neces sária a
uma ciência objetiva.

Nesse sentido afirma:


"A ciência só aparece quando o espírito,
fazendo abstração de toda preocupação
prática, aborda as coisas com o único fim de
representá-las."
DURKHEIM, Émile. A​s r​e​gras do método sociológico.
São Paulo: Nacional, 1963. p. 20.

Durkheim aconselhava o cientista a estudar os *fatos sociais” como "coisas”, fenômenos que
lhe são exteriores e podem s​ ​e​r ​observados e medidos de forma objetiva.

Da mesma maneira que nas ciências naturais, o cientista social deveria


apreender a realidade que o cerca sem distorcê-la de acordo com seus desejos e
interesses particulares. Deveria deixar de lado seus preconceitos, isto é, valores e
sentimentos pessoais em relação aquilo que está sendo estudado, pois tudo que nos
mobiliza – nossas simpatias, paixões e opiniões - dificulta o conhecimento verdadeiro,
fazendo-nos confundir o que vemos com aquilo que queremos ver.
Levando às últimas consequências esse distanciamento que o cientista deve
manter em relação a seu objeto de estudo, Durkheim aconselhava o sociólogo a
encarar os fatos sociais como “coisas", isto é, objetos que lhe são exteriores. Diante
deles, deve se colocar isento de paixão, desejo ou preconceito, para analisá-los por
meio de instrumentos que lhe permitem medir suas minúcias e regularidades - a
observação, a descrição, a comparação e a estatística.
O sociólogo deve também se manter neutro diante da opinião dos próprios
envolvidos nas situações analisadas, pois elas representam apenas juízos de valor
individuais, aos quais Durkheim propõe o exercício da dúvida metódica, ou seja, a
necessidade de o cientista inquirir sobre a veracidade e objetividade dos fatos
estudados, procurando anular, sempre, a influência de seus desejos, interesses e
preconceitos.

Suicídio
"[...] Em 2003, cerca de 900 mil pessoas cometeram
suicídio no mundo inteiro. Em 2004, aproximadamente 8
mil brasileiros tira ram a própria vida. Embora a taxa
média no Brasil não seja consi derada alta [...], o
problema vem crescendo em certos segmentos da
população, como homens mais jovens, índios, idosos,
traba lhadores do setor agrícola que tiveram a saúde
prejudicada por pesticidas e mulheres jovens gestantes
moradoras de rua. [...]
Entre os idosos o crescimento de índices de suicídio geral
mente se relaciona ao abandono e à solidão em que
essas pes soas vivem, muitas vezes abatidas por doenças
crônicas ou de generativas. [...]"
Manual ajudará a prevenir suicídio. Ministério da Saúde.
Disponível em: w​ww.​saude.gov.br. Acesso em: 25 maio 2011.

Durkheim estudou profundamente o suicídio, utilizando nesse tra balho toda a


metodologia defendida e propagada por ele. Considerou-o fato social por sua
presença universal em toda e qualquer sociedade, e por suas características
exteriores e mensuráveis, completamente inde pendentes das razões que levam cada
suicida a acabar com a própria vida. Apesar de uma conduta marcada pela vontade
individual, o sui cídio interessa ao sociólogo por aquilo que tem de comum e coletivo e
que, certamente, escapa às consciências individuais dos envolvidos - do suicida e dos
que o cercam. Para Durkheim, a prova de que o suicídio depende de leis sociais e não
da vontade dos sujeitos estava na regularidade com que variavam as taxas de suicídio
de acordo com as alternâncias das condições históricas. Ele verificou, por exemplo,
que as taxas de suicídio aumentavam nas sociedades em que havia a acei tação
profunda de uma fé religiosa que prometesse a felicidade após a morte. É sobre fatos
assim concretos e objetivos, gerais e coletivos, cuja natureza social se evidencia, que
o sociólogo deve se debruçar.

"Com o auxílio de estatísticas, mostra em seguida Durkheim


que o suicídio é com certeza um fato social na medida em que,
em todos os países, a taxa de suicídios se mantém constante
de um ano para outro. A longo prazo, ainda por cima, a
evolução dos suicídios se inscreve em curvas que têm formas
similares para todos os países da Europa. Os desvios entre
regiões e paí ses são igualmente constantes."
LALLEMENT, Michael.
História das ideias sociológicas.
Petrópolis: Vozes, 2003. p. 218.

2. Normalidade e Patologia​ ​nos Fatos Sociais


A "​ ​generalidade” de um fato social representava, para Durkheim, o consenso social e a vontade
coletiva.

Função social. Conceito que procura justificar a existência de um determinado comportamento por
sua contribuição na manutenção do todo no qual se insere.
Consenso social. Estado em que se encontra uma sociedade caracterizada por uma forte coesão
entre seus membros, fazendo prevalecer os interesses da coletividade acima dos interesses e das
expectativas individuais.

Para Durkheim, a sociologia tinha por finalidade não só explicar a sociedade


como também encontrar soluções para problemas da vida social. A sociedade, como
todo organismo, apresenta estados que podem ser considerados "normais” ou
“patológicos", isto é, saudáveis ou doentios.
Pode-se considerar um fato social como “normal” quando se encontra
generalizado pela sociedade ou quando desempenha alguma função importante para
sua adaptação ou sua evolução. Assim, por exemplo, ele afirma que o crime é normal
não apenas por ser encontrado em toda e qualquer sociedade e em todos os tempos,
mas também por representar um fato social que integra as pessoas em torno de
determinados valores. Punindo o criminoso, os membros de uma coletividade
reforçam seus princípios, renovando-os. O crime tem, portanto, uma importante
função social. Dizer que o crime desempenha uma função social e que pode ser
considerado um fato normal não significa que o autor aceite o crime como positivo ou
desejável, mas que, por sua visão sociológica e normativa, é normal todo
acontecimento cuja incidência tenha uma distribuição "normal" do ponto de vista
estatístico. Trata-se de uma postura metodológica e não de um julgamento de valor
ético.
A “generalidade” de um fato social, isto é, sua unanimidade, é garantia de
normalidade na medida em que representa o consenso social, a vontade coletiva ou o
acordo de um grupo a respeito de determinada questão.

3. A consciência coletiva e a consciência


individual
Toda a teoria sociológica de Durkheim pretende demonstrar que os fatos sociais
têm existência própria e independem daquilo que pensa e faz cada indivíduo em
particular. Embora todos tenham sua “consciência individual”, seu modo próprio de se
comportar e interpretar a vida, podem-se notar, no interior de qualquer grupo ou
sociedade, formas padronizadas de conduta e pensamento. Essa constatação está na
base do que Durkheim chamou de “consciência coletiva”.
A consciência coletiva não se baseia na consciência de indivíduos singulares ou
de grupos específicos, mas está disseminada por toda a sociedade. Ela revelaria,
segundo Durkheim, o “tipo psíquico da sociedade”, que não seria apenas o produto
das consciências individuais, mas algo diferente, que se imporia aos indivíduos e
perduraria através das gerações.
A consciência coletiva é, em certo sentido, a moral vigente na sociedade. Ela
aparece como um conjunto de regras fortes e estabelecidas que atribuem valor e
delimitam os atos individuais. É a consciência coletiva que define o que, numa
sociedade, é considerado "imoral", "reprovável" ou "criminoso".
4. Morfologia social: as espécies sociais
Durkheim acreditava numa evolução geral das
espécies sociais a partir da horda.

Durkheim também considerava como um dos objetivos da sociologia a


comparação de uma sociedade com outra, constituindo-se numa morfologia social
(estudo comparativo dos sistemas estruturais de diferentes comunidades) para
classificar as espécies sociais à maneira que a biologia fazia com as espécies
animais.
Também inspirado nas ciências naturais, Durkheim propunha que toda
sociedade tivesse evoluído de uma forma social mais simples, a horda, constituída de
um único segmento de indivíduos. Das combinações entre essas formas simples e
igualitárias originaram-se as sociedades mais complexas, como os clãs (conjuntos de
famílias que se presumem ou são descendentes de ancestrais comuns) e as tribos
(grupos sociais autônomos que apresentam certa homogeneidade física, linguística,
cultural etc.).
Durkheim procurou, entretanto, diferenciar as espécies sociais das fases
históricas pelas quais passavam as sociedades. As transformações históricas são
mais efêmeras, enquanto a diversidade de espécies é mais constante. Em uma nota
​ , ele dizia:
de rodapé de As ​regras do método sociológico

"Desde suas origens, passou a França por formas de civilização


muito diferentes: começou por ser agrícola, passou em seguida pelo
artesanato e pelo pequeno comércio, depois pela manufatura e,
finalmente, chegou à grande indústria. Ora, é impossível admitir que
uma mesma individualidade coletiva possa mudar de espécie três ou
quatro vezes. Uma espécie deve definir-se por caracteres mais
constantes. O estado econômico, tecnológico etc. apresenta
fenômenos por demais instáveis e complexos para fornecer a base
para uma classificação."
DURKHEIM, Émile. As ​regras do método sociológico.
São Paulo: Nacional, 1963. p. 82.

Para os bons resultados desse trabalho de constituição de uma morfologia social,


Durkheim orienta os sociólogos a se valerem de apurada observação empírica. Foi
por meio dela que ele pode identificar dois tipos diferentes de solidariedade entre os
homens, provenientes da divisão social do trabalho: a solidariedade mecânica e a
solidariedade orgânica. A passagem de um tipo para outro constituía uma
metamorfose de um estágio inferior de vida social a outro superior.

Solidariedade mecânica e solidariedade orgânica


Solidariedade mecânica, para Durkheim, era aquela que predominava nas sociedades
pré-capitalistas, em que os indivíduos se identificavam por meio da família, da religião,
da tradição e dos costumes, permanecendo em geral independentes e autônomos em
relação à divisão social do trabalho. A consciência coletiva exerce aqui todo seu poder
de coerção sobre os indivíduos. Solidariedade orgânica seria aquela típica das
sociedades capitalistas, em que, pela acelerada divisão social do trabalho, os
indivíduos se tornavam interdependentes. Essa interdependência garante a união
social, em lugar. dos costumes, das tradições ou das relações sociais estreitas, como
ocorre nas sociedades contemporâneas. Nas sociedades capitalistas, a consciência
coletiva se afrouxa, ao mesmo tempo que os indivíduos se tornam mutuamente
dependentes, cada qual se especializa numa atividade e tende a desenvolver maior
autonomia pessoal.

5. Durkheim e a sociologia científica

Divisão social do trabalho.​ ​Entende-se por divisão social do trabalho a organização da sociedade
em diferentes funções, exercidas pelos indivíduos ou grupos de indivíduos. Nas sociedades mais
simples, predomina a divisão social do trabalho baseada principalmente em critérios biológicos de
sexo e idade. Em sociedades mais complexas, como a industrial, surge uma divisão social mais
complexa, com a criação de uma imensa gama de funções e atribuições diferenciadas.

Durkheim se distingue dos demais positivistas porque suas ideias ultrapassaram


a reflexão filosófica e chegaram a constituir um todo organizado e sistemático de
pressupostos teóricos e metodológicos sobre a sociedade. O empirismo positivista,
que pusera os filósofos diante de uma realidade social a ser especulada,
transformou-se, em Durkheim, numa rigorosa postura empírica. Essa postura estava
cen trada na verificação dos fatos que poderiam ser observados, mensu rados e
relacionados por meio de dados coletados diretamente pelo cientista. Observação,
mensuração e interpretação eram aspectos com plementares do método
durkheimiano.
Ainda que preocupado com as leis gerais capazes de explicar a evo lução das
sociedades humanas, Durkheim ateve-se também às parti cularidades da sociedade
em que vivia, aos mecanismos de coesão dos pequenos grupos e à formação de
sentimentos comuns resultantes da convivência social. Pode-se dizer que já se
delineava uma apreensão da sociologia em que se relacionavam harmonicamente o
geral e o particular. Em vista de todos esses aspectos tão relevantes e inéditos, os
limites antes impostos pela filosofia positivista perderam sua importância, fazendo dos
estudos de Durkheim um constante objeto de interesse da sociologia contemporânea.

Compreensão do texto
1. O que é fato social conforme a teoria desenvolvida por Durkheim?
2. Na versão de Durkheim, quais são as três características básicas que distinguem
os fatos
sociais dos fatos orgânicos ou psicológicos? Explique.

3. Quais são os passos que um cientista social deve seguir para garantir a sua
neutralidade na
análise dos fatos sociais?

4. Que lei geral Durkheim estabelece para a evolução das espécies sociais?

5. O que é solidariedade orgânica?

6. Por que o suicídio e o crime podem ser considerados fatos sociais normais, na
perpectiva
durkheimiana?

Você também pode gostar