100% acharam este documento útil (1 voto)
551 visualizações26 páginas

Trabalho de Introducao Aos Estudos Linguísticos

Este documento apresenta um resumo dos principais tópicos da linguística, incluindo: (1) a linguística como ciência, (2) fonética e fonologia, (3) evolução da escrita. O documento discute como a linguística é o estudo científico da linguagem humana e como diferentes abordagens, como a fonética e fonologia, estudam aspectos diferentes da linguagem. A evolução da escrita ao longo do tempo também é abordada.

Enviado por

rogerio fernando
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
Formatos disponíveis
Baixe no formato DOCX, PDF, TXT ou leia on-line no Scribd
100% acharam este documento útil (1 voto)
551 visualizações26 páginas

Trabalho de Introducao Aos Estudos Linguísticos

Este documento apresenta um resumo dos principais tópicos da linguística, incluindo: (1) a linguística como ciência, (2) fonética e fonologia, (3) evolução da escrita. O documento discute como a linguística é o estudo científico da linguagem humana e como diferentes abordagens, como a fonética e fonologia, estudam aspectos diferentes da linguagem. A evolução da escrita ao longo do tempo também é abordada.

Enviado por

rogerio fernando
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
Formatos disponíveis
Baixe no formato DOCX, PDF, TXT ou leia on-line no Scribd
Você está na página 1/ 26

0

Ana Paula Segunda

Linguística

Curso de Licenciatura em Ensino Básico

Universidade Rovuma
Rogerio Fernando
Extensão de Cabo Delgado

2021
1

Ana Paula Segunda

Linguística

Curso de licenciatura em Ensino Básico

Trabalho individual de carácter avaliativo a


ser entregue ao docente da cadeira de
Introdução aos Estudos Linguísticos,
leccionado no curso de licenciatura em
Ensino Básico, 3oAno, 1o semestre sob
orientação por: Dr Félix Alexandre Nhambe

Universidade Rovuma

Extensão de Cabo delgado

2021
2

Índice
1. Introdução...........................................................................................................2

1. Linguística como Ciência...................................................................................3

2. Fonética e Fonologia...........................................................................................4

3. Evolução da Escrita............................................................................................5

4. Princípios da Morfologia....................................................................................7

4.1. Classes Morfológicas......................................................................................7

5. Princípios da Sintaxe, semântica e Paradigma....................................................8

6. Linguística, entrando no terreno da Pragmática...............................................15

7. Princípios da Psicolinguística...........................................................................17

7.1. Vertentes teóricas da psicolinguística...........................................................19

8. Princípios da Sociolinguística...........................................................................21

9. Conclusão..........................................................................................................23

10. Referencias Bibliográfica..............................................................................24


3

1. Introdução
Linguagem pode ter um uso não especializado bastante extenso, podendo referir-se
desde a linguagem dos animais até outras linguagens - música, dança, pintura, mímica
etc. -convém enfatizar que a Linguística detém-se somente na investigação científica da
linguagem verbal humana. No entanto, é de se notar que todas as linguagens (verbais ou
não-verbais) compartilham uma característica importante - são sistemas de signos
usados para a comunicação. Esse aspecto comum tornou possível conceber-se uma
ciência que estuda todo e qualquer sistema de signos. Saussure a denominou
Semiologia; Peirce a chamou de Semiótica. A Linguística é, portanto, uma parte dessa
ciência geral; estuda a principal modalidade dos sistemas sígnicos, as línguas naturais,
que são a forma de comunicação mais altamente desenvolvida e de maior uso Os
estudos linguísticos não se confundem com o aprendizado de muitas línguas: o linguista
deve estar apto a falar "sobre" uma ou mais línguas, conhecer seus princípios de
funcionamento, suas semelhanças e diferenças. A Linguística não se compara ao estudo
tradicional da gramática; ao observar a língua em uso o linguista procura descrever e
explicar os fatos: os padrões sonoros, gramaticais são lexicais que estão sendo usados,
sem avaliar aquele uso em termos de um outro padrão: moral, estético ou crítico
4

1. Linguística como Ciência


MUSSALIN & BENTES (2001), a Linguística é construída a partir de uma divisão, já
que ela é conhecida como ciência da língua (enquanto sistema de signos e conjuntos
lógicos) e das línguas (idiomas históricos falados por outros povos). Assim sendo, na
história da linguística, nenhuma questão é definitivamente respondida e nem posta de
lado. Após ficar certo tempo deslocado, volta à cena. É importante mencionar que
existem inúmeras tendências e abordagens no campo da Linguística actualmente.
Abordagens como a Linguística Cognitiva e a Sociolinguística oferecem uma gama
diversificada de estudos e possibilidades de se pensar a língua.
Portanto Orlandi, (2009), a Linguística como é conhecida hoje teve início com o Curso
de Linguística Geral, do suíço Ferdinand de Saussure, mestre da Universidade de
Genebra e pai da Linguística Moderna. Com Saussure a Linguística ganha um objecto
específico: a língua.
Na década de 1950, Noam Chomsky oferece outras possibilidades teóricas para a
Linguística: a gramática gerativa. Para ele a tarefa do linguista é descrever a
competência do falante de produzir e compreender todas as frases de sua língua. Os
estudos do norte-americano são baseados na sintaxe e trazem contribuições da
matemática e da biologia para a área.
Segundo Orland (2009), a Linguística é uma ciência recente, inaugurou-se no início do
século XX. Mas muito antes disso a humanidade já demonstrava grande interesse pelas
questões da linguagem e da mente humana. A Linguística como conhecimento
sistematizado teve que demonstrar suas metodologias e delimitar precisamente seu
objecto de estudo. Podemos defini-la como o estudo científico que visa descrever ou
explicar a linguagem verbal humana. É importante destacar que o estudo da linguagem é
distinto do estudo da gramática tradicional normativa. A Linguística não tem como
objectivo transcrever normas ou ditar regras de correcção para uso da linguagem, mas
sim, analisar e estudar o que faz parte da língua em si. Essa ciência se interessa e tem
como matéria de reflexão os estudos da linguagem concentrados na parte oral, verbal e
também na modalidade escrita.
Conforme MUSSALIN & BENTES (2001), a Linguística é construída a partir de uma
divisão, já que ela é conhecida como ciência da língua (enquanto sistema de signos e
conjuntos lógicos) e das línguas (idiomas históricos falados por outros povos). Assim
sendo, na história da linguística, nenhuma questão é definitivamente respondida e nem
posta de lado. Após ficar certo tempo deslocado, volta à cena. É importante mencionar
5

que existem inúmeras tendências e abordagens no campo da Linguística actualmente.


Abordagens como a Linguística Cognitiva e a Sociolinguística oferecem uma gama
diversificada de estudos e possibilidades de se pensar a língua.

2. Fonética e Fonologia
Bechara (2009), a fonética e a fonologia estudam o aspecto físico-fisiológico, isto é, o
aspecto fónico. A fonética se ocupa do aspecto acústico e fisiológico dos sons reais e
concretos dos actos linguísticos: sua produção, articulação e variedades.
Já para a fonologia, a unidade básica não é o som, mas o fonema, visto como unidade
acústica que desempenha função linguística distintiva de unidades linguísticas
superiores dotadas de significado. Assim, em tinta, a fonética, levando em conta a
realidade acústica na pronúncia carioca, distingue dois sons diferentes de t, enquanto a
fonologia considera funcionalmente um só t, pois, apesar de articulado diferentemente
nas várias realizações, o falante se considera diante de uma mesma palavra: tinta.
Para PIZZOLATO (2014), na actividade linguística, o importante para os falantes é o
fonema, e não a série de movimentos articulatórios que o determina. Assim sendo,
enquanto a análise fonética se preocupa tão-somente com a articulação, a fonêmica
atenta apenas para o fonema que, reunindo um feixe de traços que o distingue de outro
fonema, permite a comunicação linguística. A fonética pode reconhecer, e realmente o
faz, diversas realizações para o / t/ da série ta-te-ti-to-tu; a fonêmica não leva em conta
as variações (que se chamam alofones), porque delas não tomam conhecimento os
falantes de língua portuguesa. Um fonema admite uma gama variada de realizações
fonéticas que vai até a conservação da integridade do vocábulo: quando isto não ocorre,
diz-se que houve mudança de fonema.
Compreende-se assim que um mesmo fonema possa variar amplamente na sua
realização, conforme o ambiente fonético ou as peculiaridades do sujeito falante”
(Bechara, 2009).
Fonologia não se opõe a fonética: a primeira estuda o número de oposições utilizadas e
suas relações mútuas, enquanto a fonética experimental determina a natureza física e
fisiológica das distinções observadas (Bechara, 2009).Ambas disciplinas pertencem ao
nível biológico do falar condicionado psicofisicamente.

3. Evolução da Escrita
Deparamo-nos que no decorrer do tempo à escrita vem sofrendo uma constante
evolução, seja na forma falada ou na forma escrita. Na antiguidade usavam-se a escrita
6

pictograma, que eram utilizadas pinturas rupestres, aonde nómadas se comunicavam


através de pinturas em paredes. Para produzir essas pinturas eram utilizados materiais
como terra colorida, sangue e pelo de animais (Penna, 1986).
A mesma é representada por cerca de 2000 sinais escritos da direita para esquerda, era
bastante usada na administração e contabilidade, pois ajudava no auxílio de registos de
bens, transacções comerciais entre outros. Conforme Pozzer a escrita cuneiforme:
A escrita cuneiforme foi utilizada para se gravar em paredes de rochedos, corpos de
estátuas e grandes monumentos, sendo sempre as inscrições um decalque do texto
escrito no tablete de argila. Lê-se um texto em escrita cuneiforme da esquerda para a
direita e de cima para baixo, como em português. [...] o tablete de argila possui, em
geral, 10 cm (a dimensão da palma da mão), mas pode variar de 3 cm a mais de 50 cm.
(POZZER, 1998, P. 41).
Escrita que vem do ano de 1963, primeira escrita com forma de desenhos, com uma
história um pouco diferente, está então, acredita-se que o criador seja Harvery Ross.
Bal, que criou uma campanha chamada de “CAMPANHA DA AMIZADE”, aonde o
objectivo era de incentivar seus funcionários a ter uma melhor interacção com o
publico, nesta usava-se uma bola redonda amarela com a imagem de um rosto sorrindo.
Foi ai então, que passou a ser usada em notícias que transmitiam alegria para o leitor.
Estes smileys inspiraram também Scott Fahlman em um fórum de discussão em 1982.
A partir de então, surgiu os emoticons através de Fahlman um cientista de computação
da Universidade Carnegie Mellon dos Estados Unidos da América, que teve a brilhante
ideia de sugerir aos usuários de lista de avisos electrónicos que se usam dois pontos, um
traço e um parêntese, para que fosse notável quando a pessoa estava rindo ou sendo
irónica..
Depois de um tempo, quando o “emoji” já havia sido esquecido pela grande maioria,
Kurita resolveu juntarse com algumas pessoas e a partir dai criaram 176 imagens que
poderiam expressar todas ou a maioria das emoções humanas. Foi ai então, que todos
passaram a optar pela escrita teclada, com emojis, smileys e emoticons. A sociedade em
que vivemos hoje está bastante avançada, apressada e a criação de emoticons ou figuras
que representam sentimentos é constante, pois facilita à escrita e a vida de quem vive
sempre correndo contra o tempo e acabam utilizando seus computadores, celulares,
tablets para a forma teclada, pois é muito mais eficiente e garante um resultado melhor
do que a escrita em pergaminhos, folhas ou pinturas em paredes. Claro, que ainda
7

possuímos pessoas que não se identificam muito com essa tecnologia, mas com o
decorrer do tempo irão se adaptar e gostar do mesmo.
.

4. Princípios da Morfologia
Portanto para FERRARI, (2010), na língua portuguesa, a morfologia é uma parte da
linguística que estuda as estruturas e/ou as formação das palavras. Do grego, a palavra
morfologia corresponde a união dos termos “morfo” (forma) e “logia” (estudo).

4.1. Classes Morfológicas


Bechara (2009), De maneira geral, a morfologia estuda a origem, as derivações e as
flexões das palavras, expressas, na língua portuguesa, por dez classes morfológicas ou
gramaticais de acordo com a função de cada.
Elas são classificadas em:

 Palavras variáveis: substantivo, adjectivo, pronome, numeral, artigo e verbo.


Elas podem variar em género (masculino e feminino), número (singular e plural) e grau
(aumentativo e diminutivo)
 Palavras invariáveis: preposição, conjunção, interjeição e advérbio.

Substantivos: nomeiam os seres em geral sendo classificados em substantivos: simples,


composto, concreto, abstracto, primitivo, derivado, colectivo, comum e próprio.

Adjectivos: atribuem qualidades e estados aos seres sendo classificados em adjetivos:


simples, composto, primitivo e derivado.

Pronomes: acompanham os substantivos de maneira que podem substituí-los; são


classificados em pronomes: pessoais (caso reto e caso oblíquo), possessivos,
demonstrativos, tratamento, indefinidos, relativos, interrogativos.

Numerais: determinam a quantidade de tudo que existe sendo classificados em:


cardinais, ordinais, fraccionários, colectivos e multiplicativos.

Artigos: determinam o número e o género das palavras sendo classificados em artigo


definido e indefinido.

Verbos: indicam acções, estado ou fenómeno sendo classificados em verbos regulares e


irregulares.
8

Preposições: conectam dois termos da oração por meio de uma relação de subordinação.
Dessa maneira, conforme a circunstância estabelecida, são classificadas em preposição:
lugar, modo, tempo, distância, causa, instrumento e finalidade.

Conjunções: conectam dois termos semelhantes gramaticalmente, sendo classificados


em: conjunção coordenativa (aditivas, adversativas, alternativas, conclusivas e
explicativas); e conjunção subordinativa (integrantes, causais, comparativas,
concessivas, condicionais, conformativas, consecutivas, temporais, finais e
proporcionais).

Interjeições: indicam emoções, sentimentos, sensações e estado de espírito sendo


classificadas em interjeições de: advertência, saudação, ajuda, afugentamento, alegria,
tristeza, medo, alívio, animação, aprovação, desaprovação, concordância, desejo,
desculpa, dúvida, espanto, contrariedade.

Advérbios: modificam um verbo, um adjectivo ou outro advérbio sendo classificados de


acordo com a circunstância que expressam: modo, intensidade, lugar, tempo, negação,
afirmação, dúvida.

Note que a morfologia é um termo utilizado em outras áreas, por exemplo, na biologia
(morfologia vegetal, morfologia animal, etc.), geologia (estudo das formas de relevo),
dentre outras.

5. Princípios da Sintaxe, semântica e Paradigma


Num pensar de Cunha (1991), as formas linguísticas são símbolos e valem pelo que
significam. São ruídos bucais, mas ruídos significantes. É a constante referência mental
de uma forma a determinado significado que a eleva a elemento de uma língua. Não há
nenhuma relação entre o semantema (ou lexema ou morfema lexical – unidade léxica,
que compõe o léxico) cão e um certo animal doméstico a não ser o uso que se faz desse
semantema para referir-se a esse animal. Cada língua “recorta” o mundo objectivo a seu
modo, o que Humboldt chama “visão do mundo”. Registe-se a existência da linguagem
figurada, a metáfora, uso de uma palavra por outra, subjazendo à segunda a significação
da primeira.
Há que se levar em conta a denotação (significado mais restrito) e a conotação (halo de
emoção envolvendo o semantema casa / lar).
9

Enquanto que para Schaf (1968), Semântica é o estudo do significado, isto é a ciência
das significações, com os problemas suscitados sobre o significado: Tudo tem
significado?
Significado é imagem acústica, ou imagem visual? O homem sempre se preocupou com
a origem das línguas e com a relação entre as palavras e as coisas que elas significam, se
há uma ligação natural entre os nomes e as coisas nomeadas ou se essa associação é
mero resultado de convenção.
Nesse estudo consideram-se também as mudanças de sentido, a escolha de novas
expressões, o nascimento e morte das locuções.
Para Câmara (s.d), a semântica como estudo das alterações de significado prende-se a
Michel Bréal e a Gaston Paris. Um tratamento sincrónico descritivo dos fatos da
linguagem e da visão da língua como estrutura e as novas teorias do símbolo datam do
século. XX.
O estudo dos semantemas é difícil, pois são em número infinito e sua significação
fluida, sujeita às variações sincrónica, sintópica etc. A polissemia faz da significação
dos semantemas um conglomerado de elementos e não um elemento único: ele anda a
passos largos / anda de carro / anda doente. Quanto à significação interna dos
morfemas, (ou gramema ou morfema gramatical) ela se distribui nas categorias
gramaticais que enquadram um dado semantema numa gama de categoria – género,
número etc. para maior economia da linguagem.
Os elementos lexicais que fazem parte do acervo do falante de uma língua podem ser:
 Simples – cavalo
 Compostos – cavalo-marinho
 Complexos – a olhos vistos, briga de foice no escuro (são sintagmáticos)
 Textuais orações, pragas, hinos (são pragmáticos, não entram nos dicionários de
língua, a não ser por comodidade. O conceito de gato não está contido em "à
noite todos os gatos são pardos”)
Nem todo lexema é, portanto, uma palavra, às vezes é um conjunto, em geral
idiomático: favas contadas, nabos em saco etc.
Nesse caso, falamos em sentido figurado, oposto a sentido literal.
Nas alterações sofridas nas relações entre as palavras estão as chamadas figuras de
retórica clássica:
a) Metáfora – comparação abreviada
10

b) Metonímia transferência do nome de um objecto a outro, com o qual guarda


alguma relação de:
 Autor pela obra – Ler Machado de Assis
 Agente pelo objecto – Comprar um Portinari
 Causa pelo efeito – Viver do seu trabalho
 Continente pelo conteúdo – Comeu dois pratos
 Local pelo produto – Fumar um havana etc.
c) Sinédoque (para alguns é caso de metonímia) parte pelo todo Completar 15
primaveras singular pelo plural – O português chegou à América em 1500
d) Catacrese – extensão do sentido de uma palavra a objectos ou acções que não
possuem denominação própria embarcar no ônibus; o pé da mesa
No levantamento da tipologia das relações entre as palavras assinalamse ainda os
fenómenos da sinonímia, antonímia, homonímia, polissemia e hiponímia.
Os sinónimos se dizem completos, quando são intercambiáveis no contexto em questão.
São perfeitos quando intercambiáveis em todos os contextos, o que é muito raro, a não
ser em termos técnicos.
Por exemplo, em: casamento, matrimónio, enlace, bodas, consórcio, há um fundo
comum, um "núcleo"; os empregos são diferentes, porém próximos. Nem todas as
palavras aceitam sinónimos ou antónimos. A escolha entre séries sinonímicas é, às
vezes, regional. (Ex: pandorga, papagaio, pipa).
Quanto à homonímia, pode ocorrer coincidência fónica e/ou gráfica. A coincidência de
grafemas e fonemas pode decorrer de convergência de formas (Ex: são verbo ser,
sinónimo de sadio, forma variante de santo derivando respectivamente de sunt, sanum,
sanctum). Ou é resultado de existência coincidente do mesmo vocábulo em línguas
diferentes (Ex: manga – parte da roupa ou fruto, provindo, respectivamente do Latim e
do Malaio).
Cumpre distinguir homonímia de polissemia, o que nem sempre é fácil.
A distinção pode ser:
Descritiva – considerando ser a palavra um feixe de semas, se entre duas palavras com a
mesma forma, houver um sema comum, diz-se ser um caso de polissemia (Ex: coroa
adorno para a cabeça ou trabalho dentário). Em caso contrário, será homonímia (Ex
pena – sofrimento ou revestimento do corpo das aves) .
Diacrónica – se as palavras provêm do mesmo léxico, diz-se ocorrer um caso de
polissemia; (Ex: cabo – acidente geográfico e fim de alguma coisa)
11

No contrário, ocorrerá um caso de convergência de formas (Ex: canto – verbo cantar e


ângulo).
De acordo com PRONKO (1946), o estudo da homonímia e da polissemia envolve,
portanto, o problema de significação, principalmente universal, e de significação,
marginalmente ocasional. Quando a mesma forma fónica cobre significações diferentes,
embora correlatas, tem-se a polissemia; quando cobre significações completamente
diferentes, tem-se a homonímia.
A polissemia envolve matizes emocionais, é determinada pelo contexto; constitui, às
vezes, linguagem figurada e linguagem literária.
A tarefa do ouvinte é fazer uma selecção entre as significações alternativas, por meio do
contexto em que se acha o signo. Diz-se serem os homónimos lexemas iguais e palavras
diferentes, isto é, com conteúdo semântico diferente. Como os lexemas também podem
se apresentar com mais de uma forma, a descrição de homonímia precisa ser refinada
para se distinguir homonímia parcial de homonímia total, considerando-se aqui a não
coincidência entre língua escrita e falada.
Já a polissemia só ocorre com lexemas simples. É, por vezes, difícil distingui-la de
homonímia. Um dos critérios é o etimológico, não relevante na linguagem estrutural.
O principal, aqui, é haver relação entre significados. Permanece o problema do
dicionário: deve haver uma ou mais de uma entrada lexical? Ex: pupila – parte do olho /
menor de que se deve cuidar têm a mesma etimologia. Mas deve-se considerar a relação
sincrónica entre os Significados. O fato de a língua sofrer alterações dificulta o
problema.
Quanto à sinonímia, os lexemas podem ser completamente sinónimos ou não, conforme
sejam intercambiáveis em todos os contextos ou não.
A sinonímia total é muito rara, só ocorre em termos científicos.
A distinção é, por vezes, sutil, inclui o factor eufemismo. (vide anexo).
Podemos dizer que um lexema se relaciona a outros pelo sentido e se relaciona com a
realidade pela denotação. Sentido e denotação são interdependentes.
Isomorfia total entre duas línguas é difícil, ocorre mais frequentemente em empréstimos
decorrentes de intercâmbios cultural (Ex. a palavra camisa, herdada pelos romanos aos
iberos).
As relações hiponímicas provêm do fato de um termo ser mais abrangente que outro:
(Ex: flor> rosa, orquídea etc.)
12

Um grande número de palavras aceita polissemia. Escapam os termos técnicos, palavras


muito raras e palavras muito longas.
O deslizar de sentido ocorre por muitas causas:
 Interpretações analógicas – (Ex: mamão).
 Transferência do adjectivo ao substantivo – (Ex: pêssego, burro).
 Adaptação de palavras estrangeiras – (Ex: forró).
Na evolução semântica, as palavras ganham conotação pejorativa (tratante que faz um
trato), ou valorativa (ministro – que serve os alimentos); ampliam o significado
(trabalhos instrumento de tortura), ou restringem (anjo – mensageiro).
Fontes de renovação do léxico em suas acepções, são as gírias (falares grupais), aí
incluídos os jargões profissionais (chutar, no sentido de mentir; o doente fez uma
hipoglicemia).
As siglas são outra fonte do léxico, dando até palavras derivadas (CLT → celetista).
O signo linguístico quebra a convencionalidade no caso da derivação, que é um caso de
motivação intra-linguística e se prende à semântica gramatical (caju → cajueiro; pena
de ave Õpena de caneta) e no caso das onomatopeias (sibilar). Há estudiosos
defendendo a ideia de que, originalmente, seria tudo onomatopeia.
As onomatopeias são iconográficas; na poesia exploram-se as virtualidades da
representação natural. (“Um fino apito estrídulo sibila / rangem as rodas num arranco
perro” O trem de ferro – Batista Rebelo)
Na chamada linguagem figurada há várias ocorrências: elipse (bife com fritas);
similaridade (chapéu-coco); sinestesia (cor berrante); contiguidade (beber Champanhe);
perda de motivação (átomo); eufemismo (vida-fácil). Por vezes,
o eufemismo provém de um tabu linguístico mal dos peitos, doença ruim, malino<
maligno etc. Esses fenómenos são grupais, acabam por convencionalizar-se.
Toda criação de palavras repousa, portanto, em associações, sendo a língua uma
estrutura. O valor de uma palavra se estabelece em relação a outras e em relação ao
sistema, é o centro de uma constelação associativa; toda mudança em um conceito
resulta em mudança nos conceitos vizinhos (mulher / senhora; sopa fria / água fria)
Em resumo, a significação lexical é a significação, no sentido de uma noção apropriada,
experimentada em conexão com o uso da palavra em causa.
A significação gramatical está ligada aos morfemas, sem se desligar da significação
léxico; refere-se às propriedades e relações dos signos verbais dados e às propriedades e
13

relações dos objectos reais que são reflectidos na linguagem e no pensamento: género,
número etc. A significação sintáctica é, por assim dizer, uma extensão da significação
gramatical – lato-sensu, diz-se que a significação dos morfemas é um elemento da
significação sintáctica; na significação sintáctica sempre se acrescenta um elemento
qualquer à significação léxico; isso provém dos morfemas, das regras da ordem das
palavras e das palavras funcionais. Quando o quadro de morfemas é pobre, a ordenação
e as palavras auxiliares tornam-se importantes. Essas últimas são morfemas, tanto
quanto os afixos, pois sempre aparecem em companhia das palavras mais lexicais e
acrescentam algo à significação dessas
(Ex. bater no / com o carro de Maria).
As significações linguísticas consideram a significação interna ou gramatical referente
aos morfemas e a semântica externa ou lexical, isto é, objectiva, referente aos
semantemas.
Pode ser diacrónica ou descritiva (como as línguas interpretam o mundo). A
significação interna, como já se disse, distribui-se pelas categorias gramaticais para
maior economia e eficiência da linguagem.
A estrutura sintagmática é também relevante para o significado, donde poder-se falar
em significado gramatical; esse depende da regência, da colocação e, até, de factores
como pausa, entonação que, na linguagem escrita são assinaladas, tanto quanto possível,
pela pontuação.
O significado da sentença não é portanto a soma do significado dos seus elementos
lexicais, muito embora a relevância do significado de cada um deles.
O significado de uma sentença depende, portanto, do Significado dos seus lexemas
constituintes e o Significado de alguns lexemas dependerá, por sua vez, da sentença em
que aparece. Mas a estrutura da sentença é relevante para a determinação do
Significado.
Devemos, por conseguinte, considerar o Significado gramatical como componente para
o Significado da sentença. Já o Significado do enunciado envolve o Significado de
sentença, mas não se esgota nele. Depende de factores contextuais.
Há teorias afirmando que o Significado do enunciado extrapola a linguística
constituindo a pragmática.
É preciso considerar que as línguas possuem variadas funções.
As proposições podem ser declarativas, imperativas, ou imperativas. As declarativas
podem ser afirmativas ou negativas (falsas ou verdadeiras). Há, então, uma grande
14

divisão entre Significado descritivo e não-descritivo. (Ex. João levanta tarde (! ? ...)
dependendo da entonação, será uma informação ou uma exteriorização de sentimentos).
No significado não-descritivo inclui-se o significado social, quando este visa a manter
ou estabelecer papéis sociais.
Há informações portanto, mórficas e sintácticas, apontadas já no dicionário. (p. ex.
subst. fem., v. trans. etc).
O conceito de semântica gramatical se torna claro ao compararmos: O menino mordeu
o cachorro / O cachorro mordeu o menino.
Há também, a considerar, as variações estilísticas: o emprego do condicional é mais
gentil que o presente do indicativo.
Consideremos, ainda, o fato de existirem, nas línguas naturais, sentenças com:
Pressuposição – Quanto tempo ele ficou em Brasília? – supõe: Ele foi a Brasília.
Implicação – Muitos estudantes não foram capazes de responder à pergunta. –
Implica: – Só alguns estudantes responderam.
A compreensão dos significados das sentenças envolve os elementos lexicais isolados e
o modo como eles se relacionam.
A análise do significado das palavras requer o uso de regras semânticas. Menino implica
macho, jovem, humano: são os traços pertinentes ou componentes semânticos, que se
apontam na análise componencial.
O significado da palavra é um complexo de componentes semânticos ligados por
constantes lógicas. X bate em Y – implica – Y apanha de X; Caso Paulo venha, Pedro
partirá.
Implica – Caso Paulo não venha, Pedro não partirá. Pedro continua a beber –
Pressupõe – Pedro bebia antes. A pressuposição com a frase negativa continua a mesma:
Pedro não toma bebida alcoólica – pressupõe –
Pedro não gosta, ou está proibido pelo médico, ou por autoridade religiosa, de tomar
bebida alcoólica.
Enfim, o sentido das palavras não é transcendental nem produzido pelo contexto; é a
resultante de contextos já produzidos.
A relação entre significante e significado é flutuante, está sempre em aberto. Disso
resultam os problemas lexicográficos. Mesmo aqui, usamos termos como palavra,
vocábulo e outros sobre cujas acepções divergem os estudiosos, muito embora o seu
fundo comum, do qual temos, inclusive os leigos, um conhecimento intuitivo.
15

6. Linguística, entrando no terreno da Pragmática.


Essa ciência pode, em brevíssimas palavras, ser definida como “relações da linguagem
com seus usuários.” Ou por outra, exame dos discursos formadores da e formados pela
visão do mundo. Sendo a língua uma abstracção, um agregado de dialectos, de
socioletos, de idioletos, é a fala que tem existência real, merecedora de atenção por
parte de todos que se interessam pelos fenómenos da linguagem. Quando se fala, fazse
mais que trocar informações. A fala é cooperação, mas é também conflito, persuasão,
negociação. Todo ato de fala se realiza em determinadas condições psicológicas, dentro
de um contexto sociocultural que, mais ou menos, as controlam.
Para AUSTIN (1970), além do simples fenómeno de emissão de sons bucais dotados de
significação clara e permanente, coesos e coerentes, há necessidade de se situar a
emissão, aceitar o emissor, perceber-lhe a intenção (ou, ao menos, a intenção frontal)
para que ocorra a informação. Desse modo, podem os actos de fala, por si, mudar uma
situação. Por exemplo, quando o juiz afirma ao casal de noivos – Eu os declaro marido e
mulher – essas pessoas passam da condição de solteiros para a de casados. Muitos
exemplos podem ser apresentados, inclusive o inicial de todos eles e de tudo mais
“Faça-se a luz”. As religiões, inclusive em suas cosmogonias, atribuem valor aos actos
de fala, com recomendações de que sejam seguidos à risca para que surtam efeito.
Para BORIN (2010), nos aptos declarativos, há que se distinguir entre locutor e
enunciador. Locutor será o autor das palavras, o que diz; enunciador será o indivíduo a
quem o locutor atribui a responsabilidade do foi dito. Por exemplo, no enunciado “O
homem teria chegado ao Brasil há 45.800 anos” o locutor é o jornalista que redige a
notícia e o enunciador a arqueóloga que faz a afirmação.
O uso do Futuro do Pretérito, muito usado no discurso jornalístico, exime o jornalista da
responsabilidade quanto à veracidade das palavras.
A essa superposição de falas dá-se o nome de polifonia.
O locutor dá voz a um ou vários enunciadores, cujos discursos ele difunde,
organizando-os e não deixando de manifestar a própria posição. Se o enunciador não é
reconhecido pelo ouvinte (caso das citações muito repetidas “Penso, logo existo”) esse
fato não impede a comunicação, logo não impede o sucesso do ato de fala.
O mesmo se pode dizer da ironia, da hipérbole, que, mesmo quando não de imediato
percebidas, de alguma forma atingem os objectivos do falante.
Outra situação remarcável é dos tropos: desvio de um sentido literal, primitivo a um
sentido implícito.
16

A Pragmática é observável em todos os contextos. Porém , em algumas situações, torna-


se mais evidente o trato da linguagem como instrumento de manipulação. É o que
acontece nos discursos político, pedagógico, religioso e até no discurso amoroso.
Em todos esses casos, há uma base afirmativa que, manipulada, serve aos objectivos do
emissor. A diferença está no grau de consciência quanto aos recursos utilizados para o
convencimento.
A linguagem publicitária prima na utilização desses recursos para mudar ou manter a
opinião do público-alvo.
Como um estranho não tem autoridade para mandar, a publicidade adopta técnicas
variadas:
Fazer-agir: Beba Coca-Cola!
Fazer-crer; Só Omo lava mais branco!
A mensagem publicitária, utilizando a moderna tecnologia, promete, abundância,
progresso, lazer, beleza, juventude.
Ao contrário das catástrofes noticiadas nos jornais, a publicidade fala de um mundo
bonito e prazeroso. Esse prazer está associado ao uso de determinado objecto, criando a
linguagem da marca, o ícone do produto. Possuir certos objectos passa a ser sinónimo
de felicidade. Se na linguagem do quotidiano muito pouco se usam as ordens,
preferindo formas eufemísticas (faça o favor de entrar), a publicidade pode ser mais
directa: – Abuse e use C & A!
A publicidade diz e, também, sugere sem dizer explicitamente. Usa recursos estilísticos:
a) Fonéticos: onomatopeias, aliterações etc.
b) Léxicosemânticos: criação de termos novos, novos significados, clichés, duplo
sentido etc.
c) Morfossintáticos: grafias inusitadas, flexões novas, sintaxe não linear etc.
A Ericsson fez um telefone com tudo em cima!
No domínio dessa linguagem, parece dizer-se sempre uma só coisa, utilizando-se o já
utilizado, vendendo ilusão para vender produtos e serviços.
De tudo, parece válido concluir ser a linguagem uma variável com participação
fundamental nos processos de convivência com a realidade física e social, além de sua
importância na maneira de organizar as ideias sobre a realidade que nos rodeia. Sendo
assim, a linguagem nunca se esgota em simples instrumento de referência ao mundo
externo.
Ao falarmos, manifestamos a nossa perspectiva, nossa avaliação do conteúdo do dito.
17

Essa posição é resultado da soma de nossas experiências, de nossa própria ideologia,


desaguando num discurso que, de modo algum pode ser simples e objectiva descrição
da realidade. Todo discurso quer converter a uma ideologia e essa ideologia será,
evidentemente, a ideologia do falante.
Uma linguagem que vise, apenas, a reproduzir as próprias coisas esgota seu poder de
informação a dados de fatos.
Uma forma de expressão, se é produtiva, deve conter não só informações, como levantar
procuras.
O mesmo se pode dizer das artes visuais. Mesmo quando se dizem meramente
representativas, na verdade, nunca o são. Sempre haverá a dimensão criativa.
A linguagem apenas prolonga a percepção e essa percepção sempre se mostrará dotada
de uma dimensão produtiva.

7. Princípios da Psicolinguística
De acordo com Balieiro Jr. (apud MUSSALIN; BENTES, 2003), os estudos que
indicavam uma colaboração entre a psicologia e a linguística, em sua origem,
abordavam a questão do relacionamento entre o pensamento (também entendido como
comportamento) e a linguagem (expressão). Nesses estudos, o objectivo era entender as
questões que eram comuns às duas disciplinas, mantendo o foco, portanto, em duas
abordagens: mentalista e comportamentalista. Entretanto, após a Primeira Guerra
Mundial, a corrente mentalista perde forças, devido à desestruturação da Europa, no
período pós-guerra (BORIN, 2010).
Após a Segunda Guerra Mundial, surge um quadro diferente e mais consistente do
ponto de vista epistemológico para a disciplina. Destacam-se, então, dois teóricos:
Shannon e Weaver (1975).
Esses teóricos apresentam uma unidade de comunicação, formada pela estrutura a
seguir.
Fonte → Transmissor/codificador → Receptor/decodificador → Destino
Esta proposta de unidade comunicacional seria formada por: uma fonte, um transmissor
(codificador), por meio do uso de um canal, e um receptor (decodificador). Conforme
Borin (2010), esse é um modelo mecanicista, pelo fato de ser regido pelas leis da física,
particularmente pela cinemática, ou seja, o estudo dos movimentos e da estática. Nessa
abordagem, estuda-se o equilíbrio dos corpos e a dinâmica, observando-se a força que
produz os movimentos.
18

De acordo com a autora, esse foi um estudo amplamente utilizado pela pesquisa da
década de 50, com fortes acentos comportamentalistas, o que acabou influenciando na
abordagem empregada na psicolinguística (BORIN, 2010).
Segundo Osgood e Sebeok (1954 apud TITONE, 1976, p. 24),
a psicolinguística pode ser definida como o “[...] estudo dos processos
de codificação e decodificação no ato da comunicação na medida em
que ligam [relacionam] estados das mensagens e estados dos
comunicadores [...]”. Os autores, ao indicarem os elementos fonte,
transmissor/codificador, canal, receptor, de codificador e destino,
ampliam a pesquisa e editam o material que haviam elaborado
anteriormente.
Em 1954, Osgood e Sebeok participam de um simpósio na Universidade de Indiana, e, a
partir deste marco, a ciência da psicolinguística fica mais definida e os métodos e
limites de actuação passam a ser mais objectivamente definidos.
No entanto, em 1959, o operacionalismo, característico do comportamentalismo e do
estruturalismo, passa a ser criticado com ênfase por Noam Chomsky. Chomsky propõe
uma abordagem racionalista e dedutiva para a ciência que investiga o funcionamento
das linguagens. Com essas inserções do teórico, os fundamentos da psicolinguística
ficam abalados e, gradativamente, ocorre uma diminuição da abordagem
comportamentalista. Em contrapartida, ocorre um aumento do mentalismo (BORIN,
2010).
A partir disso, a psicolinguística, como disciplina do saber, assume um paradigma
teórico centrado no modelo proposto para a linguística de acordo com a abordagem de
Chomsky. O modelo chomskyano propõe a seguinte abordagem (CASTRO, 2007):
a) As sentenças faladas (estruturas superficiais) seriam derivadas de es- truturas
profundas, por meio de regras transformacionais, as quais são organizadas em
uma gramática (ou sintaxe);
b) O componente sintáctico (Gramática Universal [GU]), capaz de gerar uma
língua, deveria ser inato à espécie;
c) É necessário distinguir competência (conhecimento que um falante nativo ideal
tem de sua língua) de performance  (actividade do falante em uma situação
comunicativa concreta).
A relação entre teoria e prática (competência e performance) torna-se evidente, e, à
teoria da linguística, cabe o estudo da competência do falante, com o componente
centrado na sintaxe da língua. Assim, o objectivo do modelo chomskyano seria a
19

elaboração e apresentação de uma possível Gramática Universal, a qual possibilitasse o


entendimento de como a linguagem surge e se diferencia em línguas distintas, a partir
dos movimentos da mente humana.
Contudo, isso não seria fácil. Como comprovar? Como apresentar evidências
experimentais para a sustentação da teoria?
Assim, o distanciamento dessa teoria foi ocorrendo, devido à dificuldade de se encontrar
evidências que a sustentassem apenas com base na sintaxe, uma vez que a semântica e a
pragmática também deveriam ser consideradas relevantes para o processamento das
sentenças.
Noam Chomsky (Avram Noam Chomsky) é linguista, sociólogo, filósofo, activista
político, cientista cognitivo, etc. Formado pela Universidade da Pensilvânia, teve um
papel fundamental para a transformação do campo da linguística em uma disciplina
concreta.
Chomsky formulou o conceito de gramática transformacional, ou gerativa, com a
distinção entre níveis diferentes de análise das estruturas frasais: estrutura profunda e
estrutura superficial. O pesquisador não tem como foco a acepção social da língua, mas
sim o entendimento da aquisição da linguagem.

7.1. Vertentes teóricas da psicolinguística


A inclusão dos factores semânticos e pragmáticos alterou a teoria chomskyana e
enriqueceram a psicolinguística. Conforme aponta Castro (2007), observa-se uma
abordagem mais cognitivista, na qual os aportes da teoria linguística, embora ainda
importantes, perderam seu carácter de exclusividade, sendo a linguagem apenas um
factor de cognição. Ou seja, são incluídos outros factores, como memória, percepção,
interpretação e processo de cognição pelos diferentes sujeitos, para o entendimento da
realidade psicologia das estruturas e operações sintácticas.
Assim, essas estruturas passam a ser observadas a partir da sua interferência (o que
sofrem em relação à memória e aos processos de cognição; i.e., como são influenciadas
e como influenciam) na memória e nos processos de cognição.
Parte-se, então, para uma interpretação mais ampla, em que as estruturas linguísticas
não são adquiridas de forma separada dos conceitos semânticos e das funções
discursivas, além da submissão aos princípios cognitivos. Os processos que estão
envolvidos na aquisição da linguagem passam a ser explicados como resultantes da
interacção de diferentes factores, como, por exemplo, interacção com o meio ambiente e
20

com o meio social. Afasta-se, assim, da centralidade na gramática. O paradigma


cognitivo é ampliado e torna a psicolinguística um campo mais diversificado, inclusive
aproximando-a de outras ciências, como antropologia, filosofia da linguagem,
inteligência artificial, entre outras.
Em suma, segundo Borin (2010), considera-se que o período linguístico que a
psicolinguística herda de Chomsky, em 1957 o modelo gerativo, propõe uma
abordagem racionalista e dedutiva para essa ciência, o que se contrapõe com as teorias
de Skinner, que apresentavam um carácter marcadamente operacionalista. Ou seja, para
Skinner, a concepção da psicologia estava baseada em operações comportamentalistas,
desprezando, dessa forma, os aspectos exteriores à consciência (BORIN, 2010).
O período cognitivo, por sua vez, é considerado como aquele em que as teorias
linguísticas não perderam sua importância, mas perderam o carácter exclusivista do
período anterior, por isso os “cognitivistas” postulavam que a linguagem humana estaria
subordinada a factores cognitivos mais fundamentais (p. ex., memória, atenção,
percepção, representação), dos quais a linguagem seria mais um dos factores integrantes
(BORIN, 2010). Chomsky também enfatizava o aspecto cognitivo que está presente na
linguística, visto que, para ele, os linguistas eram psicólogos cognitivos (BORIN, 2010).
Portanto, a linguagem pode ser explicada como o resultado da interacção entre
diferentes factores, e os sistemas linguísticos podem ser descritos como produto de
estruturas cognitivas que são tanto básicas quanto profundas.
Assim, a psicolinguística deve ser percebida como um campo multidisciplinar, uma vez
que é necessário considerar linguagem e cérebro, fundamentos biológicos de influência
no desenvolvimento da linguagem, questões sociais, factores económicos, sistemas de
processamento na mente, sistemas linguísticos (fonética, sintaxe, semântica, etc.), entre
outros. Da mesma forma, é funda mental considerar os subsistemas psíquicos, os quais
envolvem percepção, memória, conhecimento de mundo, entre outros, todos em uma
relação com as unidades, como o texto e o discurso, e com aprendizagem de outros
sistemas linguísticos, como a leitura e a escrita (CASTRO, 2007).
Para Scliar-Cabral (1991), os assuntos listados a seguir se apresentam como de interesse
para a psicolinguística:
 Relações entre pensamento e linguagem;
 Aquisição da linguagem;
 Neurofisiologia da linguagem;
 Factores inatos, maturacionais e experienciais;
21

 Processamento dos sinais linguísticos;


 Processamento textual;
 Memória semântica;

8. Princípios da Sociolinguística
Segundo Slobin (1979), a sociolinguística ou sociologia da linguagem, é uma disciplina
da linguística que estuda os aspectos resultantes da relação entre a língua e a sociedade,
concentrando-se em especial na variabilidade social da língua.
Apesar da falta de estudos sistemáticos que comprovem estas observações, é possível
verificar que o português falado na região de Lisboa tem sofrido profundas alterações
desde os finais dos anos 80, na medida em que a cidade recebeu uma onda de imigração
de origem africana com grande impacto cultural e demográfico, o que afectou a língua
falada em Lisboa, nomeadamente ao nível do léxico com palavras como: "dama", "bué",
etc.
Pode também observar-se que a língua muda de geração em geração, e que palavras
como "chato", "chatice" e "chatear", que nas décadas de 60 e 70 eram consideradas
calão, são hoje palavras que circulam num nível corrente de linguagem. Também parece
haver diferenças entre a linguagem usada pelos homens e a linguagem usada pelas
mulheres. Note-se, por exemplo, que ainda nos nossos dias o uso de palavrões está mais
associado às comunidades masculinas do que às femininas, como se pode observar pelo
número praticamente inexistente de mulheres seguidoras da modalidade de comédia
mediática que é o stand-up comedy, muito apoiado no cómico de linguagem com base
no calão.
Além de fenómenos relacionados com a variação étnica e etária das línguas, a
sociolinguística procura explicar também a formação de "variantes de prestígio", de que
são exemplos as designações de "português padrão" ou "português correcto",
anteriormente correspondentes à variedade falada em Coimbra, mas mais recentemente
identificadas com a variante falada em Lisboa.
Qualquer estudo sociolinguístico deve partir de uma análise cuidadosa do mapa
sociológico de uma comunidade, uma vez que quanto mais complexo for o seu tecido
social, mais heterogéneo será o uso que essa comunidade faz da língua. Em geral, os
factores sociais que apresentam o maior poder de influência sobre a variação linguística
dentro de uma comunidade são o sexo, a idade, o nível de instrução, o nível
sociocultural e a etnia a que pertence um determinado grupo. É óbvio que nem todos os
22

factores têm que funcionar de forma idêntica em todas as comunidades e para cada
comunidade é preciso ter em consideração o contexto em que está inserida, ou seja, as
suas coordenadas sociais, geográficas, culturais, económicas, históricas e temporais. As
consequências da variação linguística afectam maioritariamente os planos fonético-
fonológico e morfológico das línguas, ainda que outros planos possam ser afectados.
Seguem-se a título de exemplo alguns fenómenos de variação dependentes do nível de
instrução em português europeu:
Processos de elevação de uma variedade linguística ao estatuto de língua
Fenómeno do tabú linguístico (nomes de genitais, actos sexuais ou escatológicos, de
doenças, da morte ou do Diabo) e dos eufemismos (expressões alternativas que atenuam
o significado dos tabús linguísticos) usados para substituir esses tabús linguísticos.
Variação social como mecanismo catalisador da mudança linguística ao longo do
tempo.
8.1. Aspectos relacionados com o uso social da língua:
De acordo com Bechara (2009), formas de tratamento como expressão da cortesia ou do
princípio da delicadeza subjacente a uma interacção verbal (em português possuímos
um sistema de formas de tratamento que alterna basicamente entre a 2.ª pessoa - tu e a
3.ª pessoa - você, embora neste caso exista uma diversidade social bastante complexa -
ex: "o senhor/a", "o Sr(a). Dr(a).", "o/a Sr(a). Professor+a) ", etc.; já em japonês as
formas de tratamento distribuem-se por sete níveis)
- Relações de poder social entre sujeitos falantes (o estatuto social dos intervenientes
determina as escolhas linguísticas)
Rituais linguísticos de tomada de palavra durante a conversação
A sociolinguística como ciência surgiu nos finais dos anos cinquenta com o trabalho de
Marcel Cohen, Pour une sociologie du langage (1956), tendo-se alargado a Itália, com
os trabalhos de Tullio Mauro (1963), e aos Estados Unidos, com as pesquisas empíricas
de W. Labov (1966) e de M. Halliday (1971). Foram duas as perspectivas teórico-
metodológicas que surgiram em sociolinguística: uma, de pendor mais sociológico,
preocupada com a identificação e explicação das relações subjacentes às estruturas
sociais e às estruturas linguísticas, e outra, de carácter mais antropológico, interessada
pelo comportamento linguístico das comunidades à luz de uma dimensão cultural e
social.
23

9. Conclusão
Conclui que um iniciante na Linguística precisa saber o que é a ciência da linguagem,
saber que há outras formas de estudar as línguas, que vão além do prescritivismo que
hoje invade os meios de comunicação, saber que a Linguística pretende descrever e
explicar os fenómenos linguísticos; conhecer como se processa a comunicação humana;
perceber que as línguas não são nomenclaturas, mas formas de categorizar o mundo;
conhecer os cinco principais objectos teóricos criados pela ciência da linguagem nos
séculos XIX e XX: a langue, a competência, a variação, a mudança e o uso; aprender os
rudimentos da análise Linguística, em seus diferentes níveis, o fonético, o fonológico, o
morfológico, o sintáctico, o semântico, o pragmático e o discursivo. Em suma, o que se
pretende num curso de Introdução à Linguística é que o aluno se aproprie de conceitos,
para que possa operar, de maneira científica, com os fatos da língua. O que se deseja é
que ele vá além do senso comum na observação dos fenómenos linguísticos e comece a
ter uma posição investigaria diante da linguagem humana.
24

10. Referencias Bibliográfica


AUSTIN, J. L. Quand dire c’est faire. Paris: Seuil, 1970.
BECHARA, Evanildo. A moderna gramática da língua portuguesa, 27ª edicao
actualizada pelo novo acordo ortográfico. 2009
BORIN, M. A. Psicolinguística. Santa Maria: UAB, 2010. Disponível em:
https://repositorio. ufsm.br/bitstream/handle/1/16439/Curso_Let-Portug-Lit_Psicolingu
%C3%ADstica. pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em:28/10/2021.
CASTRO, J. S. A pesquisa em psicolinguística. In: AGUIAR, V. T.; PEREIRA, V. W.
(org.). Pesquisa em letras. Porto Alegre: EdiPUCRS, 2007. p. 119–123. Disponível em:
http://www.pucrs.br/edipucrs/online/pesquisaemletras.pdf. Acesso em: 28/08/2021.
CÂMARA JR. , Joaquim Mattoso. Princípios de linguística geral. Rio de Janeiro:
Padrão, [s/d.].
CARVALHO, Nelly de . Publicidade, a linguagem da sedução. São Paulo: Ática, 1996.
CUNHA, José C. C. da. Pragmática lingüística e didáctica das línguas. Belém: UFPA,
1991.
GNERRE, Maurizio. Linguagem, escrita e poder. São Paulo: Martins Fontes, 1994.
GUIRAUD, Pierre. La semantique. Paris: Seuil, 1955.
ILARI et alii. Semântica. São Paulo: Ática, 1992.
LYONS, John. Linguagem e linguística. Rio de Janeiro: Zahar, 1982
ORLANDI, Eni P. A linguagem e seu funcionamento. São Paulo: Brasiliense, 1993.
ORLANDI, Eni de Lourdes Puccinelli. O que é lingüística?. São Paulo: Brasiliense,
2009. Texto originalmente publicado em
https://www.infoescola.com/portugues/linguistica/
PENNA, Antonio G. Comunicação e linguagem. Rio de Janeiro: Eldorado, 1986.
RECTOR, Mônica, YUNES, Eliana. Manual de semântica. Rio de Janeiro:
Ao Livro Técnico, 1980
SCHAF, Adam. Introdução à semântica. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968

ALIERIRO Jr., A. P. Psicolinguística. In: MUSSALIM, F.; BENTES, A. C.


(org.). Introdução à
psicolinguística. São Paulo: Cortez, 2004. (Domínio e Fronteiras, v. 2).
MUSSALIN, F.; BENTES, A. C. Introdução à linguística. 2. ed. São Paulo: Cortez,
2001.
PIZZOLATO, J. E. Aquisição de linguagem: teorias e representações cinematográficas.
25

In: CONGRESSO NACIONAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA, 14., 2014, São


Paulo. Anais [...].
São Paulo: SEMESP, 2014. Disponível em: http://conic-semesp.org.br/anais/files/2014/
trabalho-1000016672.pdf..
PRONKO, N. H. Language and psycholinguistics: a review. Psychological Bulletin,
Wa-shington, v. 43, p. 189–239, 1946.
RÉ, A. D. et al. Aquisição da linguagem: uma abordagem psicolinguística. São Paulo:
Contexto, 2010.
SCLIAR-CABRAL, L. Introdução à psicolingüística. São Paulo: Ática, 1991.
SHANNON, C. E.; WAEVER, W. A teoria matemática da comunicação. São Paulo:
DIFEL, 1975.
TITONE, R. Psicolinguística aplicada. Buenos Aires: Kapelusz, 1976.
Leituras recomendadas
DIAS, J. F. Breve história da psicolinguística. Ideias: Revista do Curso de Letras, Santa
Maria, 2006. Disponível em: http://w3.ufsm.br/revistaideias/Artigos%20em%20PDF
%20 revista%2023/breve%20historia%20da%20psico.pdf. Acesso em: 28/08/2021.
ENGELKAMP, J. Psicolinguística. Madrid: Gredos, 1981.
FERRARI, L. Modelos de gramática em linguística cognitiva: princípios convergentes e
perspectivas complementares. Cadernos de Letras da UFF – Dossiê: Letras e
Cognição,
Rio de Janeiro, n. 41, p. 149–165, 2010. Disponível em: http://www.cadernosdeletras.
uff.br/joomla/images/stories/edicoes/41/artigo7.pdf. Acesso em: 28/08/2021.
SLOBIN, I. Psicolingüística. São Paulo: Nacional, 1979.

Você também pode gostar