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AUTOR XXXXXXX Brasileira, Viúva, Pensionista, Portadora Da

A autora move uma ação declaratória de inexistência de débito contra um banco. Ela alega que o banco implantou um empréstimo de Reserva de Margem para Cartão de Crédito Consignado sem sua solicitação, e vem descontando valores mensalmente de seu benefício previdenciário. Ela afirma que nunca solicitou ou foi informada sobre tal modalidade de empréstimo. Pede a restituição dos valores descontados indevidamente e indenização por danos morais.

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Érika Fernandes
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AUTOR XXXXXXX Brasileira, Viúva, Pensionista, Portadora Da

A autora move uma ação declaratória de inexistência de débito contra um banco. Ela alega que o banco implantou um empréstimo de Reserva de Margem para Cartão de Crédito Consignado sem sua solicitação, e vem descontando valores mensalmente de seu benefício previdenciário. Ela afirma que nunca solicitou ou foi informada sobre tal modalidade de empréstimo. Pede a restituição dos valores descontados indevidamente e indenização por danos morais.

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUÍZ DE DIREITO DA VARA CIVEL

DA COMARCA DE XXXXX – ESTADO XXX

AUTOR XXXXXXX brasileira, viúva, pensionista, portadora da


carteira de identidade nºXXXXXXX, inscrita nocadastro de pessoa física sob
nºXXXX, residente e domiciliado na Rua XXXXXXXXXXX, por seu advogado
que esta subscreve fulano, OAB/PR n° XXXXX (procuração anexa),
com endereço profissionalna Rua XXXXXX , onderecebe intimações e
notificações, vem, perante Vossa Excelência, com fulcrono art. 319 do CPC,
propor:

AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE


DÉBITO c/c RESTITUIÇÃO DE VALORES, COM PEDIDO
DE TUTELA DE URGÊNCIA E INDENIZAÇÃO POR DANO
MORAL

Em face do BANCO XXXXXXXX, pessoa jurídica de direito


privado, inscrito no CNPJ sob nº -XXXXX, com endereço na Avenida
XXXXXXXXX, em São Paulo-SP, pelas razões de fato e de direito a
seguir expostas..

I - DOS FATOS

Inicialmente, cumpre esclarecer que a parte autora recebe


beneficio previdenciário (NB .....), o qual é depositado na conta aberta
pela Autarquia Previdenciária, sendo seu único meio de sustento.
Valendo-se desta condição e tendo acesso a linhas de crédito
mais vantajosa, a parte autora realizou, ou acreditou ter realizado,
contrato de empréstimo consignado junto a parte Requerida, sendo
informada que o pagamento seria realizado em uma determinada
quantidade de parcelas e com descontos mensais realizados
diretamente de seu benefício, conforme sistemática de pagamento dos
empréstimos consignados.

Ocorre que, em determinado momento, ao verificar seu extrato


de pagamento, a autora constatou que a Ré, sem que houvesse
qualquer solicitação da parte autora, implantou um empréstimo de
Reserva de Margem para Cartão de Crédito Consignado, passando a
debitar todos os meses R$ 88,60, a título de RMC, os quais se dão de
forma ilegal, tendo em vista que tal modalidade de empréstimo nunca foi
solicitada ou sequer informada à parte requerente.

Assim, entrou em contato com a requerida para


esclarecimento do ocorrido e só então foi informada que o empréstimo
formalizado não se tratava de um empréstimo consignado ''normal'', mas
sim de um empréstimo consignado pela modalidade cartão de crédito, o
qual deu origem a constituição da reserva de margem consignável
(RMC) e que desde então a empresa tem realizado a retenção de
margem consignável no percentual de 5% sobre o valor de seu
benefício.

Ocorre, no entanto, que referidos serviços em momento


algum foram solicitados ou contratados.

Em nenhum momento houve a intenção de contratação de


cartão de crédito consignável, nem mesmo a informação pela ré a
respeito da constituição da reserva de margem consignável (RMC),
inclusive sobre o percentual a ser averbado.

Em todos os empréstimos realizados anteriormente, a


assinatura de contrato se deu com base na confiança e por acreditar
que as informações que lhe foram repassadas eram dotadas de
veracidade, contudo nunca houve qualquer informação relativa a cartão
de crédito consignável.

Logo, se a parte consumidora não foi informada da


contratação do referido cartão, seja por omissão ou mesmo má-fé da
empresa, nunca houve sua contratação, pois não pode o consumidor
arcar com falha na prestação de serviço e ausência de informação da
instituição financeira.

Assim, mesmo sem a parte autora ter requerido o cartão, a


empresa simulou uma contratação de cartão crédito consignado e
sequer oportunizou a parte autora a possibilidade de escolher a
porcentagem que seria reservada, gerando a imobilização do crédito do
(a) autor (a), já que o comprometimento da RMC impede ou diminui a
margem de outros empréstimos que queira o (a) autor (a) tomar,
restringindo-se assim, sobremaneira a liberdade de escolha e de
decisão quanto a tomada de empréstimo na modalidade de crédito
consignado, cuja decisão, somente compete (ou competia) ao (a) autor
(a), e não a instituição financeira, ora réu (ré), que sem qualquer
autorização, vinculara o empréstimo a um cartão de crédito. Somente
por este motivo, a condenação do (a) réu (ré) já se justificaria, ante a
evidente má-fé do (a) réu (ré).

Contudo, o que mais lhe causou espanto foi descobrir que os descontos
mensalmente efetuados em sua conta não abatem o saldo devedor, uma
vez que o desconto do mínimo cobre apenas os juros e encargos
mensais do cartão.

Assim, verifica-se que tal modalidade de empréstimo por si só


é abusiva, uma vez que gera lucro exorbitante à instituição financeira,
deixando o consumidor em situação de extrema desvantagem,
constatação esta que já fora objeto de AÇÃO CIVIL PÚBLICA NO
ESTADO DO MARANHÃO, a qual revela que a questão em análise não
se limita apenas a parte requerente, mas a milhares de aposentados e
pensionistas do INSS que ao longo dos últimos períodos realizaram
alguma forma de empréstimo consignado.
A parte autora nem mesmo utilizou cartão algum, o que afasta
por completo qualquer possibilidade de eventual alegação de
contratação e cobrança do mesmo.

A descaracterização do contrato acarretará prejuízos


incalculáveis a parte autora, visto que o pagamento mínimo não é um
parcelamento e sim um financiamento da dívida, que sempre será
prorrogado para a próxima fatura, tornando a dívida impagável.

Conforme se denota do extrato acostado (em anexo), tais


desconto vêm sendo efetuado mensalmente do benefício do (a) autor (a)
referente à RMC desde 09/05/2017, apesar do (a) autor (a) não fazer
uso do cartão de crédito algum. Destarte, como se vê, d. Julgador (a),
não se trata de engano justificável perpetrado pela instituição financeira
(o que poderia excluir a sua responsabilidade), mas de verdadeira
conduta ilícita perpetrada com extrema má-fé, com o fito de lesar a
boa-fé objetiva que deve existir em todas relações contratuais,
pois, o consumidor, sempre acredita que a instituição financeira
agirá com transparência e lealdade, inexistente, no caso em tela.

Foram realizadas tentativas de resolução administrativa junto


a ré, porém a parte requerente não obteve êxito em seus pedidos.

Importante salientar que através das recentes alterações


realizadas na lei dos empréstimos consignados, foi permitido o aumento
da reserva de margem de 5% (cinco por cento) para cartão de crédito.
Assim, o aposentado pode consignar 30% (trinta por cento) para
empréstimo com desconto em folha de pagamento e mais 5% (cinco por
cento) como utilização de cartão na modalidade crédito, com o
pagamento das faturas debitadas em seu beneficio, limitadas ao
percentual.

Diante da alteração referida e visando a possibilidade de


potencializar seus lucros, a parte ré, sem qualquer prévia
comunicação com a parte autora, realizou o aumento e reservou a
margem de 5% (cinco por cento) dos descontos.
Habituado a fazer empréstimos consignados, com taxa de
juros baixas e com desconto em folha, o(a) autor(a) jamais imaginou
estar contraindo uma dívida impagável.

Evidente que ao perceber os descontos em seu extrato de


pagamento a parte consumidora acreditou estar realizando a quitação
de um empréstimo consignado, afinal a sistemática do pagamento e do
valor disponibilizado a parte requerente ocorreu de forma idêntica aos
empréstimos realizados até então.

Como parte fornecedora de serviços, a instituição financeira, a


luz do código de defesa do Consumidor, tem o dever de informar da
forma mais clara os serviços por ela ofertados, o que não ocorreu no
presente caso.

Ora, não é crível que o consumidor tenha consentido em


contratar um empréstimo impagável, que tenha consentido que a ré
realize descontos de seu benefício sem que os mesmos possam quitar a
dívida contraída.

Diante da conduta arbitrária da ré, a parte autora está


impossibilitada de contrair empréstimo em qualquer outra instituição,
mesmo que em condições melhores, pois sequer foi possível contratar o
valor desejado, já que a reserva de margem foi pré- determinada pela
instituição financeira.

Tais fatos não são novos! No entanto, somente agora, nestes


últimos meses que se tem intensificado o número de ações de igual jaez
que estão tramitando perante a JUSTIÇA PARANAENSE. Quanto ao
tema, tanto E. TJPR como também a Colenda Turma Recursal do
Estado do Paraná, já tiveram a oportunidade de enfrentá-lo, quando
sedimentaram as seguintes teses:

a. É ilegal o contrato de empréstimo consignado quando


não faz referência a Reserva de Margem de Crédito (RMC),
bem como ao percentual, gerando o dano moral;
b. É ilegal a RMC, quando não há comprovação da
disponibilização de valores, bem como a prova da entrega e
desbloqueio do Cartão de Crédito, gera dano moral;

c. É ilegal o desconto da RMC, quando não provado a


contratação.
Aplicação da Súmula nº532 do STJ (envio de cartão de
crédito não solicitado) dá azo a condenação ao dano moral;

d. É ilegal a imobilização do crédito do (a) autor (a) em


razão da RMC por cartão de crédito não solicitado;

e. É ilegal a falha na prestação de serviço pela ausência de


informação que leva o consumidor a crer estar contratando
modalidade de empréstimo diversa da ofertada, gerando dano
moral;

f. É ilegal a modalidade de empréstimo que gera ônus


excessivo ao consumidor, colocando-o em situação de
extrema desvantagem perante a instituição financeira,
ensejando a aplicação de dano moral.

Com efeito, ressai-se que, incidindo a conduta do (a) réu (ré)


em algumas das situações supra, pratica ele (a) ato ilícito, passível de
indenização. E, note bem, d (a). Julgador (a), in casu, é justamente o
que se tem, como a seguir passaremos a expor.

II – DO DIREITO

II.I – DA NÃO CONTRATAÇÃO – AUSÊNCIA DE

INFORMAÇÃO – VIOLAÇÃO DO CDC E INSTRUÇÃO


NORMATIVA DO INSS 28/2008 – ART. 3º INC. III E ART. 15
§ 1º – DESCUMPRIMENTO – PRÁTICA ILEGAL – DANO
MATERIAL EVIDENCIADO – DANO MORAL ''IN RE IPSA''
A Requerida incidiu em falha na prestação dos serviços, do
que decorreram danos à esfera moral e patrimonial da parte requerente.
Preenchidos, portanto, os pressupostos da responsabilidade civil,
conforme dicção do art. 186 e 927, do Código Civil, e art. 5º, X, da
Constituição Federal.

Importa destacar, de início, que a disponibilização de serviço


não contratado, tal qual ocorrido no caso em tela, configura manifesto
ato ilícito, consoante art. 39, III, do CDC. Ora, não poderia a requerida, à
revelia da requerente, disponibilizar os serviços de crédito sem o real
consentimento do consumidor.

Pois bem, como narrado, a causa versa sobre a RMC (reserva


de margem de crédito), vinculada ao cartão de crédito não solicitado,
o que contraria frontalmente o CDC e o inc. III do art. 3º da
Instrução Normativa do INSS 28/2008, alterada pela Instrução
Normativa 39/2009, que assim aduz, veja:

“Art. 3º Os titulares de benefícios de aposentadoria e


pensão por morte, pagos pela Previdência Social,
poderão autorizar o desconto no respectivo benefício
dos valores referentes ao pagamento de empréstimo
pessoal e cartão de crédito concedidos por
instituições financeiras, desde que: (Alterado pela
INSTRUÇÃO NORMATIVA INSS/PRESS Nº 39, DE
18 DE JUNHO DE 2009).

III - a autorização seja dada de forma expressa,


por escrito ou por meio eletrônico e em caráter
irrevogável e irretratável, não sendo aceita
autorização dada por telefone e nem a gravação de
voz reconhecida como meio de prova de ocorrência.
(Alterado pela INSTRUÇÃO NORMATIVA
INSS/PRESS Nº 39, DE 18 DE JUNHO DE 2009)”
(grifamos)
A parte autora, Excelência, nunca formalizou e nem pretendeu
formalizar nenhum contrato de RMC com o banco requerido, tanto é que
sequer houve a utilização de qualquer cartão pela parte autora.

Ora, além da ausência de autorização expressa em caráter


irretratável e irrevogável do consumidor, que por si só, contraria
disposição legal cogente (inc. III do art. 3º da Instrução Normativa do
INSS 28/2008, alterada pela Instrução Normativa 39/2009), a parte
autora também nunca fora cientificada de que qualquer empréstimo
realizado com a ré se dava na modalidade de cartão de crédito,
implicando também na violação do inc. III e IV do art. 6º do CDC.

Gize-se, a mesma foi induzida a erro, crente de que contratava


um serviço, quando, em verdade, outro lhe foi vendido, guinada, a parte
ré, pela mais firme má-fé contratual. Não houve consentimento do (a)
autor (a) por nítida omissão de informações!!!

Estabelece o Código de Direito do Consumidor, no art. 6º, os


direitos básicos do consumidor, como, por exemplo, a informação sobre
o produto contratado:

Art. 6º São direitos básicos do


consumidor:
(...)
III - a informação adequada e clara sobre os
diferentes produtos e serviços, com especificação
correta de quantidade, características, composição,
qualidade e preço, bem como sobre os riscos que
apresentem;
IV - a proteção contra a publicidade enganosa e
abusiva, métodos comerciais coercitivos ou
desleais, bem como contra práticas e cláusulas
abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e
serviços” (grifamos) (grifou-se)

Já o inciso III, do art. 39 do CDC, proibe o envio de produtos


sem solicitação prévia.
Art. 39- É vedado ao fornecedor de produtos ou
serviços dentre outras praticas abusivas:

III - enviar ou entregar ao consumidor, sem


solicitação prévia, qualquer produto, ou fornecer
qualquer serviço;
(grifou-se)

O STJ, por meio da súmula 532, já consolidou o entendimento


de que o envio de cartão sem prévia solicitação é ato ilícito passível de
indenização.

STJ - Súmula 532:


''Constitui prática comercial abusiva o envio de
cartão de crédito sem prévia e expressa solicitação
do consumidor, configurando-se ato ilícito
indenizável e sujeito à aplicação de multa
administrativa.''

Em consonância a súmula, a Turma Recursal do Paraná,


editou os enunciados 1.8 e 2.10, que assim versam:

“Enunciado N.º 1.8– Cobrança de serviço não


solicitado – dano moral - devolução em dobro: A
disponibilização e cobrança por serviços não
solicitados pelo usuário caracteriza prática abusiva,
comportando indenização por dano moral e, se tiver
havido pagamento, restituição em dobro, invertendo-
se o ônus da prova, nos termos do art. 6º, VIII, do
CDC, visto que não se pode impor ao consumidor a
prova de fato negativo.”

“Enunciado N.º 2.10 – Envio de cartão de crédito


sem solicitação – inscrição - reparação dos
danos: A inscrição de dívida oriunda de encargos de
cartão de crédito não solicitado pelo consumidor
constituiu prática abusiva vedada pelo art. 39, III, do
CDC e enseja reparação por danos (morais e
materiais).”

Ausente a informação clara ao consumidor quanto ao


comprometimento da margem consignável, deve-se reputar que a RMC
constituída padece de ilegalidade e de inexistência de contratação.

As informações prestadas a parte autora foram viciadas, uma


vez que na prática a empresa realizou operação completamente diversa
da ofertada.

Ora, se a parte Autora nada contratou com a requerida,


nenhum débito ou reserva com este há que lhe atribuir.

Por esse motivo, reservou o que não lhe é devido, pelo que
deve ser declarada a inexistência de qualquer reserva em desfavor da
parte autora em relação ao banco requerido, o que se requer se dê por
sentença.

Ademais, Excelência, não bastasse a frontal contrariedade,


supra narrada, a prática ainda vai contra o §1º do art. 15 da mesma
Instrução Normativa, que assim prevê:

Art. 15. Os titulares dos benefícios


previdenciários de aposentadoria e pensão por
morte, pagos pela Previdência Social, poderão
constituir RMC para utilização de cartão de crédito,
de acordo com os seguintes critérios, observado no
que couber o disposto no art. 58 desta Instrução
Normativa: I - a constituição de RMC somente poderá
ocorrer após a solicitação formal firmada pelo titular
do benefício, por escrito ou por meio eletrônico,
sendo vedada à instituição financeira: emitir
cartão de crédito adicional ou derivado; e cobrar
taxa de manutenção ou anuidade; (grifamos)
A propósito, brilhantes os acórdãos proferidos pela Ilustríssima
Senhora Doutora Juíza MANUELA TALLÃO BENKE do E. TJPR,
proferidos recentemente sobre idêntica matéria, que bem entendeu
pela ilegalidade da prática e fixou os danos morais em R$ 7.000,00,
veja:

(RECURSO INOMINADO: 0011806-


17.2015.8.16.0024 JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA
COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE
CURITIBA ? FORO REGIONAL DE ALMIRANTE
TAMANDARE RECORRENTE: INDIANARA LAMEK
DA SILVA RECORRIDO: AGIPLAN FINANCEIRA
S.A. - CRÉDITO, FINANCIAMENTO E
INVESTIMENTO) ”Relatório em sessão. II. Passo ao
voto. Presentes os pressupostos de admissibilidade,
o recurso deve ser conhecido. Na petição inicial, a
reclamante pede o cancelamento de cartão de
crédito e de reserva de margem consignável, bem
como indenização por danos morais. Diz nunca
ter firmado contrato com o reclamado e que, ao fazer
um empréstimo, tomou conhecimento da reserva de
margem consignável sobre seu benefício. Na
contestação, o reclamado diz que a reclamante
firmou contrato que autoriza a reserva da margem
consignável. Então na impugnação à contestação,
a reclamante afirma que celebrou contrato de
empréstimo consignado junto à ré, reconhecendo
ter assinado o contrato de mov. 14 mas que
jamais foi sua intenção contratar cartão de
crédito. Diz que o contrato é de adesão, estando
incluída de maneira camuflada e pouco clara que
a contratação de empréstimo implicaria a
contratação de cartão de crédito. Pois bem. Bem
analisando o contrato de mov. 14.4, afere-se
realmente a existência de contratação de cartão de
crédito consignado: Todavia, o contrato nada
dispõe a respeito da constituição da reserva de
margem consignável (RMC) ? inclusive sobre o
percentual da reserva a ser averbado. Sendo
assim, deve-se reconhecer que de fato ficou
obscura a contratação no contrato a respeito
da RMC. Ainda que ela seja decorrente da
contratação de crédito consignado, a consumidora
ficou sem compreender qual seria o limite de
comprometimento de sua margem consignável ?
que, no caso, segundo a reclamante, foi de 5%.
Ausente a informação clara ao consumidor quanto ao
comprometimento da margem consignável, deve-se
reputar que a RMC constituída padece de
ilegalidade. Frisa-se que isso em nada afeta o
empréstimo pessoal contratado pela reclamante no
mesmo instrumento contratual ? em que esta
assumiu 12 parcelas de R$ 181,07, as quais
inclusive estão sendo regularmente descontadas em
sua conta corrente (como convencionado no
contrato) ? mov. 29.2: Sendo assim, pelo exposto,
cabe acolher o pedido de cancelamento do cartão
de crédito (este pode ser feito a qualquer
momento pelo consumidor) e da margem
consignável. A reserva de margem consignável
sem autorização contratual constitui ato ilícito
gerador de dano moral, prejudicando o
consumidor ao acesso de outros créditos no
mercado capazes de lhe proporcionar melhores
condições de subsistência. Portanto, também
comporta acolhimento o pedido de indenização
por danos morais. Quanto ao valor, entende-se
que R$ 7.000,00 (sete mil reais) se prestam a
compensar o ilícito e punir o transgressor.
Verificando-se que o reclamante tinha razão, afasta-
se a pena de litigância de má-fé definida em
sentença. Diante do exposto, o voto é pelo
provimento do recurso, para o fim de: a) determinar
ao reclamado que promova o cancelamento do
cartão de crédito consignável em cinco dias úteis; b)
determinar o cancelamento da reserva de margem
consignável relativo ao contrato em discussão,
mediante a expedição de ofício ao INSS; c) condenar
o reclamado ao pagamento de indenização por
danos morais ao reclamante, de R$ 7.000,00 (sete
mil reais), corrigidos monetariamente pela média do
INPC e do IGPD-I desde este julgamento e com juros
de mora de 1% ao mês desde a citação. III.
Dispositivo Ante o exposto, esta Turma Recursal
resolve, por unanimidade de votos, CONHECER E
DAR PROVIMENTO ao recurso. Sem condenação
em verbas de sucumbência, diante do resultado do
julgamento. O julgamento foi presidido pelo Senhor
Juiz Marco Vinicius Schiebel (sem voto), e dele
participaram os Senhores Juízes Manuela Tallão
Benke, Camila Henning Salmoria e Marcelo de
Resende Castanho. Curitiba, 12 de maio de 2016.
MANUELA TALLÃO BENKE Juíza Relatora.”
(grifamos)
“(RECURSO INOMINADO Nº 0000215-
37.2016.8.16.0052 JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA
COMARCA DE BARRACÃO RECORRENTE:
BANCO BMG S.A RECORRIDO: ARÍLSON FORTES
RELATORA: MANUELA TALLÃO BENKE).
AUSÊNCIA DA ENTREGA DO CARTÃO E
DISPONINILIZAÇÃO DE VALORES. II. Passo ao
voto. Presentes os pressupostos de
admissibilidade, o recurso deve ser conhecido. Da
análise dos autos, verifica-se que a controvérsia
cinge acerca da contratação e recebimento de cartão
de crédito consignado. Pois bem. Restou
comprovado nos autos, a contratação do cartão de
crédito consignado através do contrato devidamente
assinado pelo reclamante (mov. 29.2), o qual não foi
impugnado pelo autor, razão pela qual, afasta-se
qualquer hipótese de realização de fraude por
terceiros. Ainda, restou comprovado o bloqueio da
reserva de margem consignável e os descontos no
benefício da parte reclamante, contudo, não restou
comprovado pelo réu a disponibilização dos valores
e a entrega de tal cartão ao autor. O desconto de
valores junto a benefício previdenciário sem
anuência da parte reclamante causa dano moral,
eis que suprime do beneficiário o direito de
usufruir totalmente de sua verba alimentar.
Precedente de casos análogos: ‘AÇÃO
DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO
C/C REPARAÇÃO DE DANOS MORAIS E
MATERIAIS COM PEDIDO LIMINAR? CARTÃO DE
CRÉDITO CONSIGNADO NÃO CONTRATADO
PELO AUTOR? RESERVA DE MARGEM
CONSIGNÁVEL? DESCONTOS EFETUADOS A
TÍTULO DE EMPRÉSTIMO SOBRE A RMC?
AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DA
CONTRATAÇÃO DO EMPRÉSTIMO? REPETIÇÃO
EM DOBRO DOS DESCONTOS INDEVIDOS?
DEVER DE INFORMAÇÃO NÃO OBSERVADO?
DANOS MORAIS DEVIDOS. QUANTUM FIXADO
EM R$ 5.000,00? APLICAÇÃO DO ENUNCIADO
12.13B? DA TRU/PR? SENTENÇA MANTIDA.’
(TJPR - 2ª Turma Recursal - 0011688-
41.2015.8.16.0024/0 - Almirante Tamandaré - Rel.:
Marco Vinícius Schiebel - - J. 12.05.2016)
‘RECURSO INOMINADO. INDENIZATÓRIA. RMC.
RESERVA DE MARGEM CONSIGNÁVEL
INDEVIDA REALIZADA NO BENEFÍCIO
PREVIDENCIÁRIO DA AUTORA. ENVIO DE
CARTÃO DE CREDITO SEM SOLICITAÇÃO.
PRÁTICA ABUSIVA. APLICAÇÃO DA SÚMULA
532 DO STJ POR ANALOGIA. DESCONTO
INDEVIDO. AUSÊNCIA DE JUNTADA DE
CONTRATO. FALHA NA PRESTAÇÃO DOS
SERVIÇOS. VENDA DA CARTEIRA DE CARTÃO
DE CRÉDITO AO BANCO PAN. LEGITIMIDADE
PASSIVA DA PARTE DO RÉU. SENTENÇA QUE
JUGOU EXTINTO O PROCESSO SOB A
ALEGAÇÃO DE PRESCRIÇÃO DO ARTIGO 206,
PARÁGRAFO 3º, INCISO V, DO CÓDIGO CIVIL.
INAPLICABILIDADE. RELAÇÃO DE CONSUMO.
APLICABILIDADE DO ARTIGO 27 DO CÓDIGO
DE DEFESA DO CONSUMIDOR.CONTAGEM
DO PRAZO A PARTIR DO CONHECIMENTO DO
DANO E DE SUA AUTORIA. PRESCRIÇÃO
AFASTADA. DECRETADA A FALÊNCIA DO BANCO
CRUZEIRO DO SUL S.A JULGANDO ASSIM
EXTINTO O PROCESSO EM FACE DO MESMO,
ANTE CONTIDO NO ARTIGO 8º DA LEI Nº
9.099/95. DANOS MORAIS E MATERIAIS
CONFIGURADOS. DEVER DE INDENIZAR.
RESTITUIÇÃO DEVIDA. SENTENÇA REFORMADA.
RECURSO DO RÉU CONHECIDO E DESPROVIDO.
RECURSO DA AUTORA CONHECIDO E
PROVIDO.’ (TJPR- 2ª Turma Recursal - 0012682-
66.2015.8.16.0025/0 - Araucária- Rel.: James
Hamilton de Oliveira Macedo - Rel. Desig. p/ o
Acórdão: Manuela Tallão Benke - - J. 12.05.2016). O
valor arbitrado a título de danos morais (R$
10.000,00) comporta redução para R$ 7.000,00 (sete
mil reais), para se adequar ao caso concreto e aos
valores que tem sido arbitrado por este Colegiado
em casos análogos. Com relação à repetição de
indébito dos valores indevidamente cobrados, esta
deve se operar na forma dobrada, eis que tem
aplicação o art. 42, parágrafo único, do Código de
Defesa do Consumidor, pelo qual incide a devolução
simples caso presente o engano justificável, o que
não é o caso dos autos. Concernente a restituição do
crédito recebido, resta prejudicada tal análise, vez
que não restou comprovado nos autos, tal repasse
ao reclamante. Quanto à imposição da multa por
obrigação de fazer, não há irregularidade, tendo ela
sido fundamentada no art. 537 do Código de
Processo Civil/2015. O valor arbitrado (R$
7.000,00) não é excessivo, considerando-se que o
reclamado é um banco e que a multa tem de ser
expressiva para criar o efeito coercitivo da
sanção aplicada. III. Dispositivo: Ante o exposto,
esta Turma Recursal resolve, por unanimidade de
votos, CONHECER E DAR PARCIAL PROVIMENTO
ao recurso, nos exatos termos do voto.
Restando parcialmente vencido o recorrente,
condeno-o ao pagamento dos honorários
advocatícios, os quais fixo em 15% do valor da
condenação, nos termos do artigo 55 da Lei nº
9.099/95. Custas nos moldes da Lei Estadual n°
18.413/14. O julgamento foi presidido pelo Senhor
Juiz Marco Vinicius Schiebel (sem voto), e dele
participaram os Senhores Juízes Camila Henning
Salmoria e Marcelo de Resende Castanho. Curitiba,
11 de agosto de 2016. MANUELA TALLÃO BENKE
Juíza Relatora.” (grifamos)

Ora, a parte ré guinou seu caminho pautada em uma série de


ilegalidades e arbitrariedades, o que não poderá passar despercebido
por este douto Juízo, vez que, conforme demonstrado nos acórdãos
recentemente proferidos a prática é abusiva e por demais onerosa ao
consumidor, de forma que vem sendo aplicada reiteradamente em
todo o país, especialmente contra pessoas idosas.
Aliás, firmando a ilegalidade da prática, reiteradamente tem
decidido o TJPR, veja:

“TJ-PR - PROCESSO CÍVEL E DO TRABALHO


Recursos Inominado RI 000683420201481600300
PR 0006834-20.2014.8.16.0030/0 (Acórdão) (TJ-
PR) Data de publicação: 18/12/2015 Ementa:
RECURSO INOMINADO. RESERVA DE MARGEM
CONSIGNÁVEL (?RMC?) PARA UTILIZAÇÃO DE
CARTÃO DE CRÉDITO. DESCONTO EM
BENEFÍCIO DO INSS. CARTÃO NÃO UTILIZADO.
DESCONTO INDEVIDO. DESCONTOS QUE
EXTRAPOLAM INCLUSIVE O PRAZO DA ?RMC?.
REPETIÇÃO DO INDÉBITO EM DOBRO DOS
VALORES COBRADOS. FALHA NA PRESTAÇÃO
DE SERVIÇOS EVIDENCIADA. SUPRESSÃO DO
DIREITO DE LIVRE UTILIZAÇÃO DO BENEFÍCIO
PREVIDENCIÁRIO EM SUA INTEGRALIDADE.
DANO MORAL CONFIGURADO. RECURSO
PROVIDO. , esta Turma Recursal resolve, por
unanimidade de votos, CONHECER E DAR
PROVIMENTO ao recurso, nos exatos termos do vot
(TJPR - 2ª Turma Recursal - 0006834-
20.2014.8.16.0030/0 - Foz do Iguaçu - Rel.: Manuela
Tallão Benke - - J. 11.12.2015)” (grifamos)

“TJ-PR - PROCESSO CÍVEL E DO TRABALHO


Recursos Recurso Inominado RI
002777518201481600210 PR 0027775-
18.2014.8.16.0021/0 (Acórdão) (TJ-PR) Data de
publicação: 16/09/2015 Ementa: EMENTA: AÇÃO
E INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS
COMBINADA COM INEXISTÊNCIA DE DÉBITO ?
CARTÃO DE CRÉDITO CONSIGNADO NÃO
CONTRATADO PELO AUTOR ? RESERVA DE
MARGEM CONSIGNÁVEL ? DESCONTOS
EFETUADOS A TÍTULO DE ?
EMPRÉSTIMO SOBRE A RMC? ? AUSÊNCIA DE
COMPROVAÇÃO DA CONTRATAÇÃO DO
EMPRÉSTIMO ? REPETIÇÃO EM DOBRO DOS
DESCONTOS INDEVIDOS ? DEVER DE
INFORMAÇÃO NÃO OBSERVADO ? DANOS
MORAIS ? DEVIDOS ? QUANTUM FIXADO EM
R$ 5.000,00 ? SENTENÇA REFORMADA.
Recurso conhecido e provido. , resolve esta Turma
Recursal, por unanimidade de votos, conhecer do
recurso e, no mérito, dar-lhe provimento, nos exatos
termos do vot (TJPR - 2ª Turma Recursal -
0027775-18.2014.8.16.0021/0 -
Cascavel - Rel.: Marco VinÃcius Schiebel - - J.
14.09.2015)” (grifamos)

Desta feita, assim como tem entendido a Colenda Turma


Recursal do Paraná, deverá o cartão de crédito da parte autora ser
cancelado, bem como lhe ser restituído tudo o que fora
indevidamente pago/descontado em seu benefício, de forma
dobrada e ser fixado dano moral, tal qual entende pacificamente o E.
TJPR.

II.II – DA IMOBILIZAÇÃO DO CRÉDITO DO (A)


AUTOR (A) PELA RESERVA DE MARGEM DE CRÉDITO
EM RAZÃO DE EMPRÉSTIMO VINCULADO A CARTÃO DE
CRÉDITO

É ilegal a imobilização do crédito do (a) autor (a) em razão


da RMC (reserva margem de crédito) por empréstimo consignado
vinculado a cartão de crédito, mesmo na hipótese em que o banco junta
o contrato, pois, como alhures exposto, o (a) autor (a) jamais fora
cientificado realizou a contratação de um empréstimo vinculado ao
cartão de crédito, que como se sabe, somente traz vantagens ao banco
em razão dos juros serem maiores. E, se não fora cientificado ou
informado acerca desta modalidade de crédito consignado, por motivos
óbvios que o (a) autor (a), consumidor, não é obrigado a se resignar
com o contrato firmado, mormente, tratando-se muitas vezes de venda
casada, que como que se sabe, é uma prática bastante usual de que
tem se valido as instituições financeiras no intuito de aumentar ainda
mais os seus lucros. Sorte dos consumidores que a JUSTIÇA está
atenta a estes tipos de abusividades (venda casada), in verbis:
“SEGUNDA TURMA RECURSAL Recurso
Inominado nº 0008250-07.2015.8.16.0024 Origem:
Juizado Especial Cível de Almirante Tamandaré
Recorrente: Banco BMG S/A Recorrido: Maria
José dos Santos Proença Relator: Juiz Marcelo
de Resende Castanho RECURSO INOMINADO.
CARTÃO DE CRÉDITO CONSIGNADO. RESERVA
DE MARGEM CONSIGNÁVEL. VENDA CASADA.
AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE ENVIO E DA
INADIMPLÊNCIA. ÔNUS DA INSTITUIÇÃO
FINANCEIRA. SENTENÇA EXTRA PETITA.
INOCORRÊNCIA. INOVAÇÃO RECURSAL.
SENTENÇA MANTIDA POR SEUS PRÓPRIOS
FUNDAMENTOS. Recurso desprovido. I ? Relatório
Trata-se de demanda indenizatória de danos
materiais e morais. Alega a autora que contratou
empréstimo consignado, mas teve utilizado o limite
de margem consignável para pagamento de cartão
de crédito, do qual não solicitou e não recebeu.
Sobreveio sentença de parcial procedência da
demanda, declarando o cancelamento do cartão e
condenando ao pagamento de danos morais.
Irresignado, o réu interpôs recurso com o fim de
reforma da sentença, alegando que a contratação se
deu de forma regular, existindo saldo em aberto que
justifica a cobrança. Sustenta também que a
sentença foi extra petita, julgando além dos pedidos
da inicial. É o relatório. II ? Fundamentação
Satisfeitos os pressupostos processuais
viabilizadores da admissibilidade do recurso, tanto os
objetivos quanto os subjetivos, deve ser ele
conhecido. Sem razão, contudo. Percebe-se que as
alegações recursais tratam-se em verdade de
inovações, vez que na contestação e demais
oportunidades ofertadas para manifestação o
recorrente não aduziu nenhuma das teses que
pretende ser analisadas em recurso. Em primeiro
grau tratou a causa como se fosse fraude, alegando
que a assinatura aposta em contrato é mesmo da
recorrida. Entretanto, não é essa a discussão
instaurada nos autos, pois a recorrida se insurge
quanto ao cartão de crédito não recebido e, portanto,
não utilizado, mas mesmo assim cobrado. Da
análise dos autos percebe-se que a sentença
deve ser mantida por seus próprios
fundamentos, pois a solicitação de cartão estava
adstrita ao contrato de empréstimo, tratando-se
pois de venda casada. Ademais, não houve
qualquer comprovação acerca do envio, utilização e
inadimplência por parte da recorrida, ônus que cabia
ao recorrente demonstrar. Por fim, não há que se
falar em sentença extra petita, vez que há pedido
expresso na inicial. Deste modo, correta a sentença
singular, sendo seu fundamento harmônico com o
entendimento desta turma julgadora, inclusive no
tocante ao montante da indenização, motivo pelo
qual mantenho-a por seus próprios fundamentos,
com base no art. 46 da Lei 9099/95. Este é o voto
que proponho. III - Dispositivo Diante do exposto,
resolve esta Turma Recursal, conhecer e negar
provimento ao recurso interposto, conforme
fundamentação supra. Condeno o recorrente ao
pagamento de honorários advocatícios de 20% sobre
o valor da condenação, conforme art. 55 da LJE.
Custas devidas conforme art. 4º da Lei 18.413/2014
e art. 18 da IN 01/2015 do CSJE. O julgamento foi
presidido pelo Juiz Dr. Marco Vinícius Schiebel, com
voto, e dele participou a juíza Dra. Manuela Tallão
Benke. Intimações e diligências necessárias.
Curitiba, 12 de novembro de 2015. Marcelo de
Resende Castanho Juiz Relator.” (grifei)

“APELAÇÃO CÍVEL E RECURSO ADESIVO.


CONTRATOS DE CARTÃO DE CRÉDITO. AÇAO
DECLARATORIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO
CUMULADA COM DANOS MORAIS. VENDA
CASADA. COBRANÇA DE ANUIDADE. BLOQUEIO
DE CARTÃO DE CRÉDITO. VENDA CASADA.
A venda casada é prática abusiva vedada nas
relações de consumo, conforme o inciso I do
artigo 39 do Código de Defesa do Consumidor
(CDC), cabível, portanto a devolução dos valores
indevidamente cobrados. Não há prova suficiente
nos autos para afastar a verossimilhança das
alegações da autora. Venda casada configurada.
DANO MORAL CONFIGURADO. O conteúdo
probatório trazido pela parte autora, somado ao fato
de que a parte ré não se desincumbiu de comprovar
justo motivo para bloqueio dos três cartões da autora
e nem provou a solicitação e utilização do cartão
visa internacional platinum para justificar a
cobrança de anuidade enseja a indenização por
danos morais. O bloqueio de três cartões da parte
autora transcende o patamar de mero dissabor e
aborrecimento. VALOR DA CONDENAÇÃO. O
quantum indenizatório deve ser fixado de acordo
com os princípios da proporcionalidade e da
razoabilidade, guardando proporção com a ofensa
praticada, sem representar qualquer enriquecimento
indevido. Valor fixado de acordo com os parâmetros
adotados por esta Câmara em casos semelhantes.
JUROS DE MORA. Incidência a partir do evento
danoso. Súmula 54 do STJ. Todavia, a fim de evitar a
reformatio in pejus, fica mantida a sentença no ponto.
APELAÇÃO CÍVEL DESPROVIDA RECURSO
ADESIVO...
DESPROVIDO.” (Apelação Cível Nº 70065586042,
Vigésima Quarta Câmara Cível, Tribunal de Justiça
do RS, Relator: Altair de Lemos Junior, Julgado em
26/08/2015). (TJ-RS - AC: 70065586042 RS, Relator:
Altair de Lemos Junior, Data de Julgamento:
26/08/2015, Vigésima Quarta Câmara Cível, Data de
Publicação: Diário da Justiça do dia 28/08/2015)
(grifei)

Mas, o que salta os olhos mesmo está no fato de que, a


instituição financeira, abusando da boa-fé objetiva do (a) autor (a)- o
consumidor sempre acredita que o contratado está agindo nos limites da
lei, máxime, por ser uma instituição financeira de grande porte- vinculara
o empréstimo consignado ao cartão de crédito que, repito, jamais fora
solicitado pelo (a) autor (a), e tampouco lhe fora cientificado de que o
cartão lhe comprometeria pelo menos 5% da margem de crédito
consignável. E a consequência disso é nefasta, já que o cliente busca o
representante do banco com a finalidade de obtenção de empréstimo
consignado e a instituição financeira, nitidamente, ludibriando o
consumidor, realiza outra operação: a contratação de cartão de
crédito com RMC. Somente este fato, já é o suficiente para
fundamentar o direito a indenização aos danos morais e materiais.

Aliás, em razão da indevida reserva de margem realizada pela


ré, a parte autora está impossibilitada de contrair empréstimo em
qualquer outra instituição.

Nem mesmo foi possível contratar o valor desejado, ja que a


reserva de margem foi pré-determinada pela instituição financeira,
prejudicando o consumidor ao acesso de outros créditos no mercado
capazes de lhe proporcionar melhores condições de subsistência.

Concluindo, sob qualquer viés o (a) autor (a) é lesado: a.


em razão da ausência de informações quanto a modalidade de
crédito; b. pela imobilização da margem de crédito sem ciência e
autorização; c. pelo fato de que o empréstimo pago via cartão de
crédito ser mais oneroso em razão da taxas de juros serem bem
maior do que o empréstimo feito de forma convencional.

Por este motivos, a responsabilização civil da instituição


financeira pelos danos causados ao (a) autor (a) torna-se medida de
rigor!
II.III – DO EMPRÉSTIMO CONSIGNADO POR
CARTÃO DE CRÉDITO – MODALIDADE DE EMPRÉSTIMO
ABUSIVA POR SI SÓ – OPERAÇÃO FINANCEIRA QUE
TRAZ VANTAGEM EXCESSIVA A INSTITUIÇÃO
FINANCEIRA

Ainda que não contratado o cartão de crédito consignável, vale


tecer algumas considerações à respeito de tal modalidade de
empréstimo, a qual por si só é abusiva, tendo em vista que impõe ao
consumidor ônus excessivo, pois o desconto do mínimo não abate
qualquer valor da dívida, mas tão somente os encargos do cartão.

Assim, ainda que a Requerida tivesse informado o consumidor


de forma clara os termos do empréstimo de cartão de crédito
consignado (o que não aconteceu), tal prática se configuraria abusiva
pela manifesta vantagem excessiva, nos termos do CDC, in verbis:

Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou


serviços, dentre outras práticas abusivas:
(...)
V - exigir do consumidor vantagem manifestamente
excessiva;

Embora tal prática seja recente por algumas empresas do


ramo financeiro, alguns tribunais já tem verificado a abusividade
existente em tal modalidade de empréstimo.

RESPONSABILIDADE CIVIL.
APELAÇÃO. AÇÃO DE REVISÃO
CONTRATUAL C/C REPETIÇÃO DE
INDÉBITO E INDENIZAÇÃO POR
DANOS MORAIS. REPETIÇÃO DE
INDÉBITO. CONTRATO DE
EMPRÉSTIMO. SIMULAÇÃO.
CONTRATO DE CARTÃO DE CRÉDITO
CONSIGNADO. VÍCIO. ABUSIVIDADE.
DANOS MORAIS. IN RE IPSA.
PROVIMENTO. I - Afigura-se ilegal
conduta de instituição financeira que,
via consignação em folha, procede a
descontos variáveis e por prazo
indefinido nos vencimentos de
consumidor, que acreditou ter apenas
contratado empréstimo para pagamento
por prazo determinado e em parcelas
fixas, e não cartão de crédito consignado
com prazo indeterminado; II - o dano
moral não exige prova, a lesão é ipsa re,
bastando, tão- somente, a demonstração
do ilícito, detentor de potencialidade
lesiva; III - [...] a oferta de reserva de
margem consignável (RMC), na prática
configura-se um empréstimo
impagável. Nesta modalidade de
empréstimo, disponibiliza-se ao
consumidor um cartão de crédito de
fácil acesso, ficando reservado certo
percentual, dentro do qual poderão ser
realizados contratos de empréstimos. 5.
O consumidor firma o negócio jurídico
acreditando tratar-se de um contrato
de empréstimo consignado, com
pagamento em parcelas fixas e por
tempo determinado, no entanto,
efetuou a contratação de um cartão de
crédito, de onde foi realizado um
saque imediato e cobrado sobre o
valor sacado, juros e encargos bem
acima dos praticados na modalidade
de empréstimo consignado, gerando
assim, descontos por prazo
indeterminado. 6. É vedado ao
fornecedor de produtos ou serviços,
dentre outras práticas abusivas, exigir do
consumidor vantagem manifestamente
excessiva, como no caso dos autos, com
o desconto do valor mínimo diretamente
nos vencimentos ou proventos do
consumidor, correspondente apenas aos
juros e encargos de refinanciamento do
valor total da dívida, o que gera lucro
exorbitante à instituição financeira e torna
a dívida impagável. [...] declarou resolvido
o contrato celebrado, em face do seu
adimplemento integral, condenando ainda
a instituição financeira a restituir ao autor
o valor de R$ 2.242,11, referentes às
parcelas descontadas a mais, com
atualização monetária e juros de mora.
[...] (Recurso 0010075-49.2013.811.0006,
Turma Recursal Cível e Criminal de
Caxias, Rel. Juiz Paulo Afonso Vieira
Gomes, j. 16.10.2014); IV - o dever de
lealdade imposto aos contraentes deve
ser especialmente observado nos
contratos de adesão, em que não há
margem à discussão das cláusulas
impostas aos consumidores aderentes,
obrigando o fornecedor a um destacado
dever de probidade e boa-fé; V -
apelação provida. (TJ-MA - APL:
0436332014 MA 0027424-
10.2013.8.10.0001, Relator: CLEONES
CARVALHO CUNHA, Data de
Julgamento: 14/05/2015, TERCEIRA
CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação:
18/05/2015).
Importante notar que o público alvo da requerida, em geral, é
formado por pessoas idosas, com baixo poder aquisitivo e pouca
margem para negociação.

Tal prática, inclusive, já foi e é alvo de reclamações no


judiciário, tanto é que fora objeto de AÇÃO CIVIL PÚBLICA NO
ESTADO DO MARANHÃO (nº10064-91.2015.8.10.0001)3, justamente
em razão da sua abusividade onerosa em detrimentos dos aposentados
e pensionistas, nesta mesma matéria, o defensor público Jean Carlos
Nunes Pereira, um dos responsáveis pela referida ação, de forma
sucinta explica como a prática ocorre, veja:

3
Disponível em: “http://www.contrafcut.org.br/noticias/bancos-sao-
acusados-de-enganar-aposentados-e- pensionistas-no-maranhao-5cbc”;
“https://jornalpequeno.com.br/2016/05/04/dpema-garante-fim-de-
obrancas-de-bancos-por-ilegalidades-em-consignados/'';
”http://www.condege.org.br/noticias/473-ma-defensoria-promove-a
%C3%A7%C3%A3o-civil-p%C3%BAblica-contra-bancos-por-
legalidades-em- consignados.html''

“O cliente busca o representante do banco com a


finalidade de obtenção de empréstimo consignado e
a instituição financeira, nitidamente, ludibriando o
consumidor, realiza outra operação: a contratação
de cartão de crédito com RMC. Na sua folha de
pagamento será descontado apenas o
correspondente a 6% do valor obtido por empréstimo
e o restante desse valor e mais os acréscimos é
enviado para pagamento sob a forma de fatura que
chega mensalmente à casa do consumidor. Se este
pagar integralmente o valor da fatura, que é o próprio
valor do empréstimo, estará quitada a dívida; se,
entretanto, como ocorre em quase todos os
casos, o pagamento se restringir ao desconto
consignado no contracheque (6% apenas do total
devido), sobre a diferença não paga, isto é, 94%
do valor devido, incidirão juros que são duas
vezes mais caros que no empréstimo consignado
normal. Jean Carlos esclarece que, na prática, todos
os meses em que a fatura não é paga em sua
integralidade ocorre novo empréstimo e incidem
juros sobre juros.” (grifei)

Embora os fatos narrados acima sejam relacionados aos


servidores do Estado do Maranhão, a prática realizada com os
beneficiários do INSS se da de forma idêntica ao fatos narrados pelo
defensor público Jean Carlos Nunes Pereira, nos autos da ação civil
pública supra mencionada.

Tal modalidade de empréstimo não era a querida pela parte


autora, sequer conhecida, e, em verdade, somente é benéfica ao (a)
réu (ré),

Aliás, se a empresa já debita o limite estabelecido em lei a


título de RMC (5%), qualquer valor que seja exigido a título de RMC do
consumidor além desta porcentagem irá ultrapassar o limite legal.

Neste sentido, nesta modalidade de empréstimo, além de


debitar o limite legal (5%), a empresa exige do consumidor o pagamento
da fatura, o qual também se faz a título de RMC, verificando-se,
inclusive, que conduta praticada pela ré é ilegal.

Aliás, evidente que a intenção do legislador ao limitar a


porcentagem consignável do salário das pessoas que percebem
benefício previdenciário foi de assegurar o mínimo necessário à
sobrevivência própria e de sua família, bem como ofertar a possibilidade
de conseguir empréstimos com linha de crédito mais favoráveis ao
consumidor.

Ao separar as duas modalidades (consignado e cartão de


crédito consignado), o legislador deixa claro que as intenções seriam
diversas. Se o beneficiário optar por empréstimo consignado, ele poderá
adquirir um empréstimo consignado vinculados em sua folha de
pagamento, com juros baixos, e, em caso de aquisição de produtos,
poderá adquirir um cartão de crédito consignado, que será vinculado ao
seu benefício, de forma que não inadimplirá, e assim, não gerará um
prejuízo excessivo.

Como se observa, as operações são distintas, mas conexas


no sentido de serem mais vantajosas para os consumidores que os
demais cartões ou empréstimos convencionais.

É evidente que houve um desvio de finalidade, de forma que


não foi respeitado os princípios da boa-fé objetiva e da transparência, a
instituição financeira vende um produto em que a parte ré está
habituada a pactuar, e se aproveitando da confiança da parte autora,
entregou produto diverso, somente visando a vantagem, o lucro.

A forma de cobrança do produto é ainda mais inadmissível.


Depois de desviar a função social do contrato, fazendo com que o
consumidor acredite estar adquirindo um empréstimo consignado com
número determinado de parcelas, a ré cobra o valor total da dívida em
um único mês, para que assim, debite o mínimo do cartão em sua folha
de pagamento nos meses subsequentes e, pela falta de informação, o
beneficiário nunca quitará a presente dívida, acreditando estar pagando
a parcela do empréstimo.

É claro o objetivo da instituição financeira em deixar que o


autor acredite se tratar de um empréstimo consignado, pois dessa forma
não terá um limite de parcelas para debitar, e poderá receber 5% do
salário de benefício do autor até a sua morte.

Em parâmetros delineados na instrução normativa, o autor


poderá pagar até 5% de seu salário de benefício a título RMC para
amortização do saldo devedor.

O conceito de amortização é o processo de


extinção de uma dívida através de pagamentos
periódicos, que são realizados em função de um
planejamento, de modo que cada prestação
corresponde a soma do reembolso do capital ou
dos juros do saldo devedor (juros sempre são
calculados sobre o saldo devedor), podendo ainda
ser o reembolso de ambos.

Pagamento mínimo de cartão do cartão de crédito não é, em


hipótese nenhuma, amortização de dívida. Pelo contrário, a dívida do
consumidor só tende a aumentar.
Logo, a dívida nunca será quitada, pois o desconto do valor
mínimo corresponde ao pagamento apenas dos juros e encargos do
cartão, por outro lado, gera ao consumidor a expectativa de que o
pagamento esteja sendo realizado.

Sob uma outra perspectiva, mas, igualmente relevante,


mesmo que tivesse havido o desbloqueio/uso do cartão, tal fato não
tem o condão de afastar a responsabilidade civil da instituição
financeira, isto porque, como alhures exposto, o
(a) réu (ré) abusara da boa-fé objetiva do (a) autor (a), pois, esta
confiava que a instituição atuaria nos limites da legalidade, o que não
ocorrera na hipótese dos autos, já que realizara o empréstimo
consignado vinculado a um cartão de crédito, sem que tivesse sido
solicitado pelo (a) autor (a). E, o pior, se informar ao (a) ele (a) de que
haveria o comprometimento de pelo menos 5% da margem de
crédito consignável. Destarte, sob esta perspectiva, a instituição
financeira também praticara ato ilícito passível de responsabilização.

Assim, Excelência, conclui-se que a modalidade de


empréstimo em debate, na forma como é praticada pelas instituições
financeiras, por si só é abusiva, uma vez que o consumidor sai da
empresa acreditando ter formalizado empréstimo cosignado, quando na
verdade a operação realizada pela ré foi diversa, sendo que ao verificar
os débitos realizados em sua conta o consumidor acredita estar
pagando a dívida, quando na verdade está pagando apenas os juros do
cartão, gerando, assim, um lucro exorbitando para instituição bancária.
II.IV – DO ILÍCITO E SUA REPARAÇÃO

A situação, Excelência, causou prejuízo moral e material a


parte Autora, dano este indenizável, o que se pleiteia e seja
reconhecido.

Isso porque, da análise da situação fática, verifica-se que a


culpa adveio exclusivamente da conduta da ré, posto que em ato
infundado, ocasionou os danos ora reclamados, gerando manifesta e
excessiva vantagem para empresa requerida.

Aplicável na espécie o artigo 186 do CC:

Art. 186. aquele que, por ação ou omissão


voluntária, negligência ou imprudência, violar direito
e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente
moral, comete ato ilícito.

Envidando-se novamente pelo Código de Defesa do


Consumidor, no que se refere aos direitos básicos do consumidor, Art.
6º, inciso VI: “a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e
morais, individuais, coletivos e difusos”.

Evidente a desvirtuação do contrato firmado entre as partes,


bem como a falha na conduta da ré, que afirma que a parte realizou a
contratação do cartão de crédito consignado, porém passou a realizar
os descontos de encargos de cartão que sequer foi enviado, utilizado ou
mesmo desbloqueado.

Em recentes decisões proferidas pelo TJ/PR, restou


reconhecida a conduta ilegal praticada pela requerida em casos de igual
semelhança.

RECURSO INOMINADO. INDENIZATÓRIA.


CARTÃO DE CRÉDITO CONSIGNADO.
CONTRATAÇÃO EM CONJUNTO COM
EMPRÉSTIMO. AVERBAÇÃO DE RESERVA DE
MARGEM CONSIGNÁVEL (RMC). CONTRATO
QUE NÃO PREVÊ A RESERVA E NÃO INDICA
SEU PERCENTUAL. AVERBAÇÃO DE RESERVA
DE 5% SEM LASTRO CONTRATUAL. OFENSA AO
DIREITO DE INFORMAÇÃO DO CONSUMIDOR.
RESERVA QUE SE REPUTA ILEGAL.
CONSUMIDOR QUE SE VÊ IMPEDIDO DE
CONTRATAR EMPRÉSTIMO DIANTE DA
AUSÊNCIA DE MARGEM CONSIGNÁVEL. DANO
MORAL CONFIGURADO. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ
DA CONSUMIDORA. INEXISTÊNCIA. SENTENÇA
REFORMADA. RECURSO PROVIDO. Ante o
exposto, esta Turma Recursal resolve, por
unanimidade de votos, CONHECER E DAR
PROVIMENTO ao recurs (TJ-PR - RI:
001180617201581600240 PR 0011806-
17.2015.8.16.0024/0 (Acórdão), Relator: Manuela
Tallão Benke, Data de Julgamento: 13/05/2016, 2ª
Turma Recursal, Data de Publicação: 23/05/2016)
(grifou-se)

AÇÃO DECLARATÓRIA E INDENIZATÓRIA ?


CARTÃO DE CRÉDITO CONSIGNADO ?
RECLAMANTE ALEGA AUSÊNCIA DE
CONTRATAÇÃO ? RESERVA DE MARGEM
CONSIGNÁVEL ? DESCONTOS EFETUADOS A
TÍTULO DE ?EMPRÉSTIMO SOBRE A RMC? ?
AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DA
CONTRATAÇÃO DO EMPRÉSTIMO ? REPETIÇÃO
EM DOBRO DOS DESCONTOS INDEVIDOS ?
DEVER DE INFORMAÇÃO NÃO OBSERVADO ?
DANOS MORAIS ? DEVIDOS ? QUANTUM
FIXADO EM R$ 10.000,00 ? VALOR
CONSIDERADO ADEQUADO E COADUNA COM
PRECEDENTES DESTA TURMA
RECURSAL ? SENTENÇA REFORMADA.
Recurso conhecido e provido. ,resolve esta Turma
Recursal, por maioria de votos, conhecer dos
recursos e, no mérito, dar- provimento ao recurso do
autor, nos exatos termos do vot (TJ-PR - RI:
003550835201481600210 PR 0035508-
35.2014.8.16.0021/0 (Acórdão), Relator: Marco
VinÃcius Schiebel, Data de

A reserva de margem consignável sem autorização contratual


constitui ato ilícito gerador de dano moral, prejudicando o consumidor ao
acesso de outros créditos no mercado capazes de lhe proporcionar
melhores condições de subsistência.

No entanto, cumpre-nos fazer algumas considerações acerca


da fixação do dano moral, que, conforme exaustivamente demonstrada,
é certa em casos assim. Primeiramente, deve-se observar que a
prática de induzir o consumidor em erro é rotineira por parte do
réu, inclusive objeto de Ação Civil Pública no Estado do Maranhão, o
que nos leva a deduzir que tal prática ocorre em todo território nacional,
gerando um lucro enorme a ré, deixando como sugestão o valor de R$
42.000,00 (quarenta e dois mil reais) a título de dano moral, conforme
precedente da Turma Recursal do Paraná acima, não só pela
capacidade econômica da ré e demais circunstâncias, mas também para
se coibir a prática de novos ilícitos,

Em segundo lugar, acresça-se o fato que de o público alvo


dessa prática são pessoas idosas, por vezes pouco instruídas ou
mesmo analfabetas, que acreditam contratar um de empréstimo, quando
em verdade, contratam outro serviço, que muitos ônus lhe traz, tudo
isso na obscuridade omitindo informações, induzindo essas
pessoas em erro.

Desta forma, não é forçoso perceber, que o aspecto


corretivo/punitivo e inibidor de novos ilícitos não está sendo alcançado
pelos E. Tribunais de Justiça, razão pela qual, deve-se haver a
aplicação de danos morais significativos a fim de evitar que tais práticas
perpetuem.

Ademais, nem mesmo após contato com o serviço de


atendimento da requerida a parte autora teve seu problema solucionado,
demonstrando a ineficiência do sserviço de call center da ré, o que por
si só configura dano moral, nos termos do enunciado nº 1.6., do TJPR.

Assim, aplicável ao caso:

Enunciado nº 1.6 – Callcenter ineficiente – dano


moral: Configura dano moral a obstacularização,
pela precariedade e/ou ineficiência do serviço de
call center, por parte da empresa de telefonia,
como estratégia para não dar o devido
atendimento aos reclamados do consumidor.

A parte requerida, ao que tudo indica, pretendia obter


vantagem indevida ao acreditar que a requerente, e outros aposentados
e pensionistas em situação similar, não tomaria nenhuma atitude diante
da cobrança imposta, denotando má-fé em sua conduta – a qual deve
ser rechaçada inclusive em caráter pedagógico.

Ainda em relação aos danos experimentados pela parte


autora, mister frisar que mensalmente lhe é descontado o valor de
R$ 88,60, desconto este realizado desde 07/07/2021 de forma
completamente indevida, tendo alcançado até o presente momento
(3 meses) o valor de R$ 265,80 (duzentos e sessenta e cinco reais e
oitenta centavos de forma que, nos termos da fundamentação
supra aventada, especialmente com amparo no § único do art. 42
do CDC, deverá se dar a restituição em sua forma dobrada.

Desta forma, especialmente sob o prisma da uniformização


da jurisprudência, novel instituto preconizado pela CPC/2015, nos
arts. 926 e seguintes, não deve ser outro o entendimento deste Douto
Juízo acerca da incidência de danos materiais e morais, de forma que
aqueles devem ocorrer na sua forma de restituição em dobro, nos
termos do § único do art. 42 do CDC4.

Assim, dada a nítida presença dos ilícitos perpetrados pela


parte ré, por uma questão de respeito ao ordenamento pátrio e, acima
de tudo, à dignidade da pessoa humana, como sujeito de direitos que é,
não dever ser outra à medida que não seja a de condenação do (a) réu
(ré), nos exatos termos dos pedidos, abaixo elencados.

Da Inversão do Ônus da Prova

A Súmula n° 297 do STJ é conclusiva quando diz que “o


Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições
financeiras”.

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO


AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO
ESPECIAL. AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO DE
CARTÃO DE CRÉDITO. CAPITALIZAÇÃO MENSAL
DOS JUROS. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA.
AUSÊNCIA DE PACTUAÇÃO. SÚMULAS 5 E 7 DO
STJ. REVISÃO DO PACTO. REPETIÇÃO DO
INDÉBITO. POSSIBILIDADE NA FORMA
SIMPLES. AGRAVO REGIMENTAL NÃO
PROVIDO. 1.(...). 2. A submissão das instituições
financeiras

“Art. 42. Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não


será exposto a ridículo, nem será submetido a qualquer tipo de
constrangimento ou ameaça.
Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à
repetição do indébito, por valor igual ao
dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e
juros legais, salvo hipótese de engano justificável”
ao CDC e a possibilidade de revisão judicial do
contrato são reconhecidas pela reiterada
jurisprudência do STJ (Súmula 297). 3. A
jurisprudência iterativa da Terceira e Quarta Turma
orienta-se no "sentido de admitir, em tese, a
repetição de indébito na forma simples,
independentemente da prova do erro, ficando
relegado às instâncias ordinárias o cálculo do
montante, a ser apurado, se houver" (AgRg no REsp
749830/RS, Rel. Min. Fernando Gonçalves, DJU de
05.09.2005) 4. Agravo regimental a que se nega
provimento. (STJ - AgRg no Ag: 1404888 SC
2011/0043690-3, Relator: Ministra MARIA ISABEL
GALLOTTI, Data de Julgamento: 04/11/2014, T4 -
QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJe
10/11/2014)
(grifo nosso)

No julgamento do REsp: 57974 RS 1994/0038615-0, o ministro


Ruy Rosado, afirmou no que tange aos bancos:

"está submetido às disposições do CDC, não por


ser fornecedor de um produto, mas porque
presta um serviço consumido pelo cliente, que é
o consumidor final desses serviços. (...) nas
relações bancárias há difusa utilização de
contratos de massa e onde, com mais evidência,
surge a desigualdade de forças e a
vulnerabilidade do usuário".

Sendo assim, o Código de Defesa do Consumidor, artigo 6º,


VII, impõe:

“Art. 6º São direitos básicos do consumidor: VIII


- a facilitação da defesa de seus direitos,
inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu
favor, no processo civil, quando, a critério do
juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele
hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de
experiências.”

Diante do exposto, tem a parte autora o direito à inversão do


ônus da prova, dada a sua hipossuficiência, considerando que a parte
se encontra em situação de impotência/inferioridade na relação de
consumo, ou seja, está em desvantagem em relação ao fornecedor.

III - DOS PEDIDOS

Diante do Exposto, requer:

Deferimento liminar da Tutela de Urgência para que:

a) determinar que a ré exiba nos autos a cópia do contrato de


empréstimo, objeto desta ação, nos termos do art. 524, do CPC;

No mérito, requerer que seja julgada procedente, para o fim


de se confirmar a liminar, firmando-se as seguintes teses de que:

a. É ilegal o contrato de empréstimo consignado quando não


faz referência a Reserva de Margem de Crédito (RMC), bem como ao
percentual, gerando o dano moral;
b. É ilegal a RMC, quando não há comprovação da
disponibilização de valores, bem como a prova da entrega do Cartão de
Crédito, gera dano moral;

c. É ilegal o desconto da RMC, quando não provado a


contratação. Aplicação da Súmula nº532 do STJ (envio de cartão de
crédito não solicitado) dá azo a condenação ao dano moral;
5
Art. 926. Os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-la
estável, íntegra e coerente.
§ 1o Na forma estabelecida e segundo os pressupostos fixados no
regimento interno, os tribunais editarão enunciados de súmula
correspondentes a sua jurisprudência dominante.

§ 2o Ao editar enunciados de súmula, os tribunais devem ater-se


às circunstâncias fáticas dos precedentes que motivaram sua
criação.

d. É ilegal a falha na prestação de serviço pela ausência de


informação que leva o consumidor a crer estar contratando modalidade
de empréstimo diversa da ofertada, gerando dano moral;

e. É ilegal a modalidade de empréstimo que gera ônus


excessivo ao consumidor, colocando- o em situação de extrema
desvantagem perante a instituição financeira, ensejando a aplicação de
dano moral; especialmente sob o viés de uniformização da
jurisprudência, preconizado pelo CPC, nos arts. 926 5 e seguintes, para o
fim de:

I- Seja a pretensão julgada procedente, declarando a


inexistência da contratação de EMPRÉSTIMO CONSIGNADO
DA RMC (cartão de crédito), igualmente a RESERVA DE
MARGEM CONSIGNÁVEL (RMC);

II- Suspender os descontos referentes a RMC diretamente


no benefício da parte autora, com a expedição de ofício ao
INSS;

III- Condenar o (a) réu (ré) a restituição em dobro no valor


de R$531,60, quantia esta indevidamente cobrada da parte autora
a título de RMC, ou ainda dentro do limite do suposto contrato,
cujo valor deverá ser apurado nos termos do §3º, 4º e 5º do art.
524 do CPC;
IV- Na remota hipótese de comprovação de contratação do
cartão de crédito consignado (RMC) via apresentação de contrato
devidamente assinado pela parte autora e formalizado nos termos
da legislação específica, requer, alternativamente ao pedido
acima, seja realizada a readequação/conversão do empréstimo de
cartão de crédito consignado (RMC) para empréstimo consignado,
sendo os valores já pagos a título de RMC utilizados para
amortizar o saldo devedor, o qual deverá ser feito com base no
valor liberado (negociado) a parte autora, desprezando-se o saldo
devedor atual, ou seja, não deverá ser considerado para o cálculo
o valor acrescido de juros e encargos;

V- Condenar o réu ao pagamento de danos morais no


importe de R$ 40.000,00, ou outro valor que Vossa Excelência
entender conveniente, dadas as condições ímpares do caso;
atualizado desde a data do ilícito, in casu, início dos descontos
indevidos;

Outrossim, requer ainda:

VI- A aplicação do CDC no caso em tela , especialmente no


concerne a inversão do ônus da prova, por ser o consumidor a
parte hipossuficiente da relação, nos termos do art. 6º, VIII, do
CDC;

VII- Concessão das benesses da Justiça Gratuita , nos termos


da lei e declaração anexa;

VIII- A citação da Demandada, por AR, na pessoa de seu


representante legal, para comparecer à audiência designada e,
para, querendo, oferecer resposta, no prazo legal, sob pena de
revelia e confissão;

IX- Informa a parte autora seu desinteresse na audiência


conciliatória, requerendo a intimação da requerida, nos termos do
art. 334, §4º, I, do CPC, visto o caráter subsidiário da lei
processual, para que informe se tem interesse na realização da
audiência inaugural.

X- Seja a requerida intimada para trazer aos autos cópia do


contrato de empréstimo que comprove a contratação de
empréstimo consignado na modalidade cartão de crédito (RMC),
bem como eventuais faturas emitidas no período;

XI- Condenar o (a) réu (ré) aos pagamentos das custas


processuais e honorários advocatícios fixados em percentual
usual de 20%.

Por fim, protesta provar o alegado por todos os meios de


provas em direito permitidas, especialmente pela documentação que
segue acostada, novas juntadas, depoimento pessoal se necessário, e
outras que se fizerem necessárias no decorrer da lide.

Dá-se a causa o valor de R$ 40.531,60 (quarenta mil


quinhentos e trinta e um reais e sessenta centavos).

Nestes termos,
pede deferimento.

CIDADE, DATA

ADVOGADO
OAB n°

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